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RESUMO: No Brasil, a cada ano, são registrados quase 60 mil novos casos de câncer de mama. Entretanto, das
mais de 10 milhões de mamografias esperadas em mulheres na faixa etária dos 50 aos 69 anos, apenas 2,5
milhões foram realizadas em 2013. O rastreamento populacional por meio da mamografia vem se mostrando uma
estratégia eficaz na redução de mortes em mulheres principalmente acima dos 50 anos. O objetivo deste estudo
foi avaliar os fatores socioeducacionais associados ao diagnóstico tardio do câncer de mama e a valorização
do rastreamento por meio da mamografia em mulheres assintomáticas. Entre janeiro de 2000 a dezembro de
2014, 26 artigos foram selecionados em todo o território nacional e revisados. A população do estudo foi de
mulheres na faixa-etária entre 25 a 69 anos. Observou-se que 68,2% dos casos avaliados eram mulheres de
baixa renda, 94,1%, com baixa escolaridade, e 72,7 % demonstraram total dependência do SUS. Os dados ainda
indicaram que 61,2% do diagnóstico para o câncer de mama encontravam-se em estádios avançados (lll e lV).
O diagnóstico tardio e, por vezes, a terapêutica inadequada contribuem para que o câncer de mama continue
sendo a principal causa de morte entre as mulheres brasileiras. Deve-se considerar a educação para autonomia
e corresponsabilidade do público feminino nos cuidados de sua saúde na expectativa de minimizar o tempo
prolongado entre a suspeita da anormalidade nas mamas e a confirmação diagnóstica por falta de realização da
mamografia e a adesão de mulheres assintomáticas aos programas de prevenção.
*
Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Brasil.
**
Departamento Anatomia e Imagem, Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); E-mail: mamede.mm@gmail.com
64 A mamografia e seus desafios: fatores socioeducacionais associados ao diagnóstico tardio do câncer de mama
Tabela 2. Estadiamento clínico das pacientes com câncer assintomáticas aos programas de rastreamento e
de mama, avaliadas na amostra disponibilizar o acesso ao exame de mamografia na
Estádio Frequência % faixa etária indicada pelo Ministério da Saúde. A Figura
I 490 9,8 1 identifica que a maior tendência à não realização da
II 1450 29,0 mamografia é caracterizada pelo perfil educacional da
III 2230 44,6 população feminina adulta e sua percepção distorcida
IV 830 16,6 do câncer e seus tratamentos.
Total 5000 100,0
Nota: Somente os estudos realizados em hospitais de referência Tabela 3. Principais causas da não realização da
oncológica, hospitais universitários e clínicas privadas contabili- mamografia e os artigos relacionados às causas
zaram o estadiamento tumoral.
Causas da não realização da
Artigos
mamografia
Considerando a mamografia o método de
Atitude e prática educativa dos
imagem capaz de diagnosticar precocemente o 3, 19, 22, 36
profissionais frente à mamografia
câncer de mama e consequentemente melhorar o
Disponibilidade de mamógrafos e
presente cenário brasileiro, a Tabela 3 mostra os 16, 17,18, 23,27
capacidade de utilização do recurso
desafios na realização da mamografia. De acordo com Frequência na realização do exame e
6,12, 15, 25, 30
os dados evidenciados, é imprescindível a capacitação acompanhamento clínico
profissional, visando conscientizar a população Perfil educacional da população e sua 1, 2, 5, 13, 20,
feminina sobre a atenção especial que se deve dar compreensão do câncerPercepção 21,24, 29, 31,32,
distorcida da doença e dos tratamentos 33,35
à saúde das mamas, objetivando alcançar mulheres
No contexto brasileiro, nota-se que o exame pela maioria das mulheres (72,7%) e uma pequena
clínico das mamas (75,7%) é mais prevalente, porcentagem de mulheres fez uso da assistência
contrastando com os dados referentes à mamografia privada (27,3) (Tabela 4).
(24,3%). O Sistema Único de Saúde (SUS) foi utilizado
Tabela 4. Frequência relativa das práticas preventivas e Na Tabela 5, pode-se observar que o
do uso dos serviços de saúde das pacientes avaliadas na conhecimento sobre o perfil educacional, social,
amostra
econômico e cultural da população feminina adulta
Variáveis % do país possibilita melhor planejamento das ações de
Práticas preventivas prevenção, acompanhamento e controle do câncer de
Exame clínico 75,7 mama.
Mamografia 24,3
Uso dos Serviços de Saúde
SUS 72,7
Privado 27,3
Quadro 1. Fatores associados ao diagnostico tardio do câncer de mama das pacientes avaliadas na amostra de acordo com
o cenário estudado pelos autores
(continua)
ARTIGO CENÁRIO FATORES
Qualidade técnica da mamografia para o diagnóstico
Alvares e Almeida (2009) Radiologia/CAISM-UEC, (Campinas, SP)
precoce
Inquérito Multicêntrico de Saúde-UEC (São Acesso à mamografia e política de conscientização da
Amorim et al. (2008)
Paulo, SP) população feminina
Secretaria Municipal de Saúde (Brasília,
Barros et al. (2011) Atrasos no diagnóstico e tratamento
DF)
Inquérito Populacional Guarapuava, Ações de prevenção na atenção integral à saúde da
Bim et al. (2008)
(Paraná, PR) mulher
Unid. Básica Saúde/Univ. Federal Bahia
Coelho et al. (2005) Baixa cobertura da mamografia e acesso ao serviço
(Salvador, BA)
Baixa cobertura da mamografia e grandes
Costa e Matos (2003 PNDA 2003-UFMG (Minas Gerais, MG)
desigualdades sociais
Revisão de Artigos/USP São José do Rio Conscientização da população feminina e capacitação
Fogaça e Garrote (2001)
Preto (S J R P, SP) profissional
Hospital de Referência Oncológica (Aracajú, Desigualdades socioeconômicas da população e
Gonçalves (2008)
SE) programas de acesso
Artigos Nacionais e Internacionais-UERJ, Baixo grau de escolaridade representa menores
Guerra et al. (2004)
(Rio de Janeiro RJ) oportunidades de diagnóstico precoce
Discrepâncias entre disponibilidade e acesso à
IBGE (2009) IBGE (Rio de Janeiro, RJ)
população
Características da imagem e condições da paciente e
INCA (2001) Recomendações /INCA (Rio de Janeiro, RJ)
acesso ao tratamento
Qualificação dos profissionais, aumento na oferta de
Secretaria Municipal de Saúde-UERN
Jácome et al. (2008) exames mamográficos e educação em saúde para a
(Mossoró, RN)
população
Inquérito Populacional/Univ. Federal Piauí Retardo no diagnóstico, não realização de mamografia
Lages et al. (2011)
(Teresina, PI) de rastreamento
Revisão de Artigos Nacionais-UFMG (Minas
Lotti et al. (2006) Conscientização-educação da população feminina
Gerais, MG)
Secretaria Municipal de Saúde São Carlos Conscientização-educação da população feminina e
Machetti (2007)
(São Carlos, SP) políticas nacionais
Martins et al. (2011) DATA-SUS 2011-UFRJ (Rio de Janeiro, RJ) Revisão das recomendações oficiais vigentes
(conclusão)
Artigo extraído da Dissertação de Conscientização dos fatores de risco, acesso ao exame
Matos et al. (2006)
Mestrado-UEM, (Maringá, PR) de mamografia
Centro Convivência/Univ. Federal do Ceará Baixo nível de instrução, percepção distorcida da
Pinho et al (2004)
(Fortaleza, CE) doença.
Artigos Nacionais e Internacionais USP (São Desigualdades socioeconômicas da população, hábitos
Ribeiro e Nardocci (2008)
Paulo, SP) culturais e sociais
Centro Convivência/Zona Leste – USP (São
Santos e Chubaci (2007) Conscientização-educação da população feminina
Paulo, SP)
Inquérito Populacional/Univ. Severino
Santos et al. (2009) Conscientização-educação da população feminina
Sombra (Vassouras, RJ)
Revisão de Artigos/Univ. Federal do espirito
Silva et al. (2006) Baixo grau de instrução e dependência do SUS
Santo (Vitória, ES)
Hospital de Referência Oncológica, (Montes
Soares et al. (2009) Confirmação diagnóstica tardia e estadiamento clínico
Claros, MG)
Secretaria Municipal de Saúde (Porto Conscientização-educação da população feminina e
Stein et al. (2009)
Alegre, RS) dos profissionais de saúde
Pesq. Mundial de Saúde no Brasil 2003, Desigualdades socioeconômicas e desempenho do
Szwarcwald et al. (2003)
Fundação Osvaldo Cruz (Rio de Janeiro, RJ) SUS
Revisão de Artigos-UERJ (Rio de Janeiro,
Zapponi et al. (2011) Conscientização dos profissionais de saúde
RJ)
BIM, C.R. et al. Diagnóstico precoce do câncer de COSTA, M. F. L.; MATOS, D. L. Prevalência e Fatores
mama e colo uterino em mulheres do município associados à Realização da Mamografia na Faixa-
de Guarapuava, PR, Brasil. Revista Escola de Etária de 50-69 anos: um estudo baseado na (PNDA
Enfermagem. USP, v. 44 n. 4 p. 940-946, jan, 2010. 2003). Caderno Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 23,
n.7, p. 1665-1673, jul. 2007.
BRASIL. Ministério da Saúde. INCA Instituto Nacional de
Câncer. Programa Nacional de Controle do Câncer EDGE, S. B. et al. American Joint Committee on
de mama. Programa Viva Mulher, desmembrado em Cancer. American Cancer Society. AJCC Cancer
Programa Nacional de Controle do Câncer do Colo do Staging Handbook: From the AJCC Cancer Staging
Útero e Programa Nacional de Controle do Câncer de Manual. 7th ed. New York: Springer, 2010. 649p.
Mama (INCA, 2010). Brasília, DF: Divisão de Apoio à
ABREU, E.; KOIFMAN, S. Fatores prognósticos no câncer
Rede de Atenção Oncológica, 2011.
da mama feminina. Prognostic factors in womam
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Câncer, INCA. Mamografia da prática ao controle. Rio de Janeiro, v. 48, n. 1, p. 113-131, jan. 2002.
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de Câncer, 2007. p. 29-35. FOGAÇA, E. I. C.; GARROTE, L. F. Câncer de mama:
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Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Instituto Nacional de 2005 a 2008 num serviço público de oncologia