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Avaliação do perfil e da adesão ao colpocitológico de mulheres em idade fértil.

Evaluation of the profile and accession to the colpocytological of women in


fertility.

Recebimento dos originais: 08/10/2019


Aceitação para publicação: 15/10/2019

Caroline Rodrigues Marques


Discente Centro Universitário de Patos de Minas – UNIPAM
carolinerm@unipam.edu.br

Aline Cardoso de Paiva


Docente do Centro Universitário de Patos de Minas
alinecp@unipam.edu.br

RESUMO

Avaliar o perfil e os fatores associados à baixa adesão ao exame citológico em um grupo de mulheres
férteis. Estudo analítico transversal realizado em uma UBS no município de Patos de Minas-MG. A
amostra constituiu-se de 44 mulheres entre 25 e 59 anos. Os dados foram coletados no período de
março a dezembro de 2018 por meio de entrevista, durante atividades realizadas na UBS. As mulheres
que apresentaram menor adesão à realização do exame citológico foram as de raça parda/preta, sem
companheiros, com baixa escolaridade e renda familiar, que iniciaram a vida sexual precocemente e
que já tiverem histórico de aborto. As variáveis raça, ocupação, renda familiar, escolaridade, situação
conjugal, sexarca e histórico de abortamento foram significativamente associadas à adesão de
prevenção de câncer de colo de útero.

Palavra Chave: Promoção da saúde; Neoplasias do colo do útero; Diagnóstico precoce; Fatores de
Risco.

ABSTRACT

To analyze the profile and the factors associated with low adherence to the cytological exam in a
group of women of childbearing age. An observational, transversal study conducted in health unid,
Patos de Minas-MG. The sample consisted of 44 women of childbearing. Data were collected during
the period from March to December 2018 through interviews, during medical appointments. Womens
who presented lower adherence to the Papanicolaou testing were black and brown race,single, with
low education and family income, with initiation of early sexual life and already aborted. The
variables of breed, occupation, education level, marital situation and sexarch were significantly
associated with completion of the Papanicolaou test.

Keywords: Health Promotion; Uterine cervical neoplasms; Early diagnosis; Risk Factors.

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1 INTRODUÇÃO

O Sistema Único de Saúde (SUS), tem como principal ferramenta a Atenção Primária à Saúde
(APS), por meio das Unidades Básicas de Saúde (UBS), as quais são a porta de entrada para o sistema.
A APS possui, entre as suas diversas abordagens, o desenvolvimento de ações para a prevenção do
câncer de colo do útero, visto que está mais próximo do cotidiano das mulheres e as acompanham ao
longo de suas vidas.
Tais ações de prevenção permeiam tanto a educação, quanto a detecção precoce. As
abordagens educativas devem estar presentes no processo de trabalho das equipes de saúde, sendo
fundamental a disseminação da necessidade dos exames e da sua periodicidade, bem como dos sinais
de alerta que podem significar câncer.
Com relação à detecção precoce, a maior parte dessas ações também ocorre na Atenção
Primária. Tanto ações de rastreamento, que consistem em realizar sistematicamente testes ou exames
em pessoas sadias, quanto ações de diagnóstico precoce, que consistem em captar precocemente
alguém que já tenha sintomas ou alterações no exame físico; devem ser realizadas no cotidiano das
equipes (BRASIL, 2013).
O método de rastreamento do câncer de colo do útero, e de suas lesões precursoras é o exame
citopatológico (Papanicolau). O início da coleta deve ser aos 25 anos de idade, para as mulheres que
já tiveram atividade sexual, e deve seguir até os 64 anos (BRASIL, 2016).
Segundo a OMS, a priorização desta faixa etária como a população-alvo justifica-se por ser a
de maior ocorrência das lesões de alto grau, passíveis de serem tratadas efetivamente para não
evoluírem para o câncer. A incidência deste câncer aumenta nas mulheres entre 30 e 39 anos de idade
e atinge seu pico na quinta ou sexta décadas de vida.
Uma das causas do câncer de colo do útero está associado à infecção persistente por
subtipos oncogênicos do vírus HPV (Papilomavírus Humano), especialmente o HPV-16 e o HPV-18,
responsáveis por cerca de 70% dos cânceres cervicais (WHO. HPV Information Centre, 2010).
Além de aspectos relacionados à própria infecção pelo HPV, outros fatores ligados à
imunidade, à genética e ao comportamento sexual parecem influenciar os mecanismos ainda incertos
que determinam a regressão ou a persistência da infecção e também a progressão para lesões
precursoras ou câncer. Desta forma, o tabagismo, a iniciação sexual precoce, a multiplicidade de
parceiros sexuais, a multiparidade e o uso de contraceptivos orais são considerados fatores de risco
para o desenvolvimento de câncer de colo do útero (INCA,2015).
Com uma cobertura da população-alvo de, no mínimo, 80% e a garantia de diagnóstico e
tratamento adequados dos casos alterados, é possível reduzir, em média, de 60 a 90% a incidência do
câncer cervical invasivo (WHO,2008) .

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O Ministério da Saúde recomenda que o rastreamento do câncer de colo do útero deve ocorrer
na própria Unidade Básica de Saúde, podendo ser feito durante a consulta ou em agendamentos
específicos para esse fim. A estratégia de mutirão em horários alternativos permite atingir mulheres
que geralmente não conseguem ter acesso ao exame. Usuárias que não comparecem espontaneamente
podem ser convocadas para realização do exame (BRASIL,2016).
Contudo, nota-se que o padrão predominante do rastreamento no Brasil é oportunístico, ou
seja, as mulheres têm realizado o exame de Papanicolau quando procuram os serviços de saúde por
outras razões.
Consequentemente, 20% a 25% dos exames têm sido realizados fora do grupo etário
recomendado e aproximadamente metade deles com intervalo de um ano ou menos, quando o
recomendado são três anos. Assim, há um contingente de mulheres super rastreadas e outro
contingente sem qualquer exame de rastreamento (INCA,2015).
Fatores analisados por Castro (2010) e Duavy et al. (2007), identificam que as informações
acerca do exame têm origem na própria Unidade Básica de Saúde, assim como pelo ginecologista e
influência de amigos. O grau de escolaridade, renda familiar, sintomatologia são fatores que
incentivam a procura pela realização do exame, entretanto, estado civil não interfere na busca pela
prevenção. A acessibilidade aos serviços de saúde é fator preponderante para esta realização, sendo
que em comunidades mais carentes, torna-se um item negativo ao prognóstico das diversas
neoplasias.
Sendo assim, não basta apenas introduzir a oferta dos exames preventivos na rede básica. É
preciso mobilizar as mulheres mais vulneráveis a comparecerem aos postos de saúde. A prevenção
do câncer ginecológico, assim como o diagnóstico precoce e o tratamento, requerem a implantação
articulada de medidas como sensibilização e mobilização da população feminina; investimento
tecnológico e em recursos humanos; organização da rede; disponibilidade dos tratamentos, e melhoria
dos sistemas de informação. (POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL Á SAÚDE DA
MULHER,2004).
Assim, faz-se necessário a realização de estudos que busquem, além de analisar os índices de
cobertura do exame citológico, identificar os fatores associados à realização do exame preventivo –
como características sociodemográficas, culturais, reprodutivas, acesso aos serviços de saúde e de
fatores biopsicossociais- que são importantes para subsidiar intervenções qualificadas e efetivas,
capazes de impactar na incidência do câncer de colo de útero em subgrupos vulneráveis.
O presente estudo teve por objetivo analisar o perfil e a adesão de mulheres, em idade fértil,
atendidas em uma UAPS no município de Patos de Minas-MG, ao exame preventivo de Câncer de

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Colo de Útero. Além disso, buscou-se verificar os fatores culturais, sociais, econômicos e
comportamentais que podem ser determinantes para adesão ao exame.

2 METODOLOGIA

Trata-se de um estudo analítico transversal, realizado no período de abril a dezembro de 2018,


com as mulheres da faixa etária de 25 a 59 anos usuárias da Unidade Básica de Saúde da Várzea, no
município de Patos de Minas-MG. A UBS atende tanto demanda espontânea, quanto demanda
programada, nas quais, prioritariamente, às segundas-feiras, são agendadas consultas ginecológicas.
As usuárias que frequentaram a Unidade no período de coleta dos dados foram convidadas a participar
do estudo e só fizeram parte do estudo aquelas que assinaram o termo de consentimento livre e
esclarecido.
As voluntárias que aceitaram participar, responderam a um questionário previamente
estruturado com perguntas sobre aspectos socioeconômicos, antecedentes ginecológicos e
conhecimento/adesão ao exame citológico.
Quanto aos aspectos sociodemográficos, foi avaliada as variáveis: idade (25 a 39; 40 a 59
anos); raça/cor da pele autorreferida (não preta/ parda; preta/parda); escolaridade (nunca frequentou
a escola; ensino fundamental I; ensino fundamental II; ensino médio; ensino superior); situação
conjugal (casada/união estável; solteira; separada/divorciada/ desquitada/viúva); renda familiar
(menor ou igual a 1 salário mínimo; maior ou igual a dois salários mínimos); e desempenho de
atividade remunerada (sim; não).
Em relação aos antecedentes ginecológicos, obstétricos e de sexualidade, as variáveis
independentes foram: idade na primeira relação sexual (menos de 20 anos; 20 anos ou mais); número
de parceiros nos últimos três meses (nenhum; um ou mais); uso de método contraceptivo (sim; não);
uso de preservativo (sim; não); história de IST (sim; não); ter filhos (sim; não); número de filhos
(menos de quatro; quatro ou mais); número de partos (menor ou igual a três; quatro ou mais); e
abortamento (sim; não).
No que se refere ao conhecimento e adesão ao exame, foram utilizadas perguntas subjetivas
sobre: conhecimento sobre o Papanicolau (já ouviu falar sobre o exame preventivo e sabe sua
finalidade e importância); frequência de realização do exame; motivo da não adesão (medo, vergonha,
questões relacionados à infraestrutura e ao atendimento da unidade de saúde), e uma possível sugestão
para a melhoria da abrangência à prevenção.
Após a coleta de dados, foi realizada uma aferição do peso e estatura para avaliação do estado
nutricional das voluntárias.

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Para aferição do peso corporal dos participantes, foi utilizada uma balança eletrônica
microdigital, marca Filizola, capacidade de 150Kg e precisão de 100g utilizando-se o mínimo de
roupa possível em um mesmo horário pré-definido.
A altura foi determinada utilizando-se um antropômetro vertical milimetrado, com escala
de 0,5 cm. Em ambas as situações, os indivíduos deverão encontrar-se em pé, em posição firme, com
os braços relaxados e cabeça no plano horizontal. Foi calculado o Índice de Massa Corporal (IMC)
que relaciona o peso (Kg) e a altura (metros) ao quadrado, para classificação do estado nutricional
dos voluntários (WHO 2000, WHO 2008).
Posteriormente, os dados recolhidos foram tabulados no programa Windows Excel e analisados
estatisticamente no programa Statistical Package for the Social Science (SPSS). Com o objetivo de
analisar as associações entre as variáveis da pesquisa que são compostas por perguntas, com a escala
de respostas das variáveis nominal ou ordinal, foi utilizado o Teste de Independência Qui-Quadrado.
Para isso, foram adotados como resultados estaticamente significativos, os resultados de significância
de Pearson Chi-Square (p≤0,05). Contudo, o teste Qui-Quadrado exige que nenhuma frequência
esperada seja inferior a 1, e também não deve ser aplicado se 20% das observações ou valores
esperados forem inferiores a 5. Nos casos, em que verificou-se que os pressupostos não foram
atendidos, utilizou-se o método de Monte Carlo para adequá-los, possibilitando assim a correção do
Qui-Quadrado Calculado, e tornando-o exato, por meio de métodos de reamostragem. Dessa forma,
foi possível a utilização do teste Qui-Quadrado de Independência.
O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) do Centro
Universitário de Patos de Minas–UNIPAM, atendendo as especificações da Resolução CNS no 196,
de 16 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde/ Ministério da Saúde.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Participaram do estudo 44 mulheres em idade fértil, sendo 25 e 59 as idades mínima e máxima.


Quanto às características socioeconômicas e demográficas, 65,9% pertenciam ao grupo etário com
idade entre 40 e 59 anos, 43,2% se autodeclaravam brancas e outras 43,2% se autodeclaravam não
preta/parda. Com relação a escolaridade, 38,6% das entrevistadas não haviam completado o Ensino
Médio. Além disso, a maioria das mulheres (47,7%), são casadas ou vivem em uma relação estável,
possuindo em 65,9% dos casos uma renda maior ou igual a dois salários mínimos (Tabela 1). Na
análise da situação nutricional observa-se que 45,5% das participantes encontram-se acima do peso.
Na tabela 2 podem ser observadas ainda as características ginecológicas e obstétricas das mulheres
entrevistadas. Do total, 61,4% relatou ter tido a sexarca antes dos 20 anos de idade, 61,4% mantêm

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atualmente relações sexuais com mais de um parceiro, além do que a maior parte não utiliza métodos
contraceptivos (77,3%) e nem fazem uso de preservativo (86,4%), durante as relações sexuais.

Tabela 1: Características socioeconômicas e demográficas das mulheres em idade fértil entrevistadas. Bairro Várzea,
Patos de Minas-MG,2018.

FREQUÊNCIA
CARACTERÍSTICAS ABSOLUTA PORCENTAGEM
Idade 25 a 39 anos 15 34,1%
40 a 59 anos 29 65,9%
Total 44 100,0%
Situação nutricional Abaixo do peso 2 4,5%
Peso normal 10 22,7%
Sobrepeso 20 45,5%
Obesidade 12 27,3%
Total 44 100,0%
Raça Branca 19 43,2%
Não preta/parda 19 43,2%
Preta/parda 6 13,6%
Total 44 100,0%
Escolaridade Nunca frequentou a escola 1 2,3%

Ensino fundamental I 17 38,6%


Ensino médio 18 40,9%
Ensino superior 8 18,2%
Total 44 100,0%
Situação conjugal Casada/união estável 21 47,7%
Solteira 10 22,7%
Separada/divorciada 7 15,9%
Desquitada/viúva 6 13,6%
Total 44 100,0%
Renda Familiar Menor ou igual a 1 salário mínimo 15 34,1%
Maior ou igual a dois salários mínimos 29 65,9%
Total 44 100,0%
Fonte: Dados da pesquisa, 2018

Tabela 2: Características ginecológicas e obstétricas das mulheres em idade fértil entrevistadas. Bairro Várzea, Patos de
Minas-MG, 2018.

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Frequência
Absoluta Porcentagem
Idade da primeira relação sexual menos de 20 anos 27 61,4%
20 anos ou mais 16 36,4%
Virgem 1 2,3%
Total 44 100,0%
Número de parceiros nos últimos três Nenhum 17 38,6%
meses um ou mais 27 61,4%
Total 44 100,0%
Usa métodos contraceptivo Sim 10 22,7%
Não 34 77,3%
Total 44 100,0%
Uso de preservativo Sim 6 13,6%
Não 38 86,4%
Total 44 100,0%
História de IST’s Sim 0 0,0%
Não 44 100,0%
Total 44 100,0%
Possui filhos Sim 32 72,7%
Não 12 27,3%
Total 44 100,0%
Número de filhos Nenhum 11 25,0%
menos de quatro 30 68,2%
quatro ou mais 3 6,8%
Total 44 100,0%
Número de partos Nenhum 21 47,7%
menor ou igual a três 22 50,0%
quatro ou mais 1 2,3%
Total 44 100,0%
Abortamento Sim 10 22,7%
Não 34 77,3%
Total 44 100,0%
Realização PCCU Nunca realizou 4 9,1%
Não realiza com frequência 9 20,5%
Realiza com frequência 31 70,5%
Total 44 100,0%
Fonte: Dados da pesquisa, 2018

Contudo, mesmo diante de um alta prevalência de abstinência ao uso de preservativos,


observa-se que 100% das mulheres não possuem um histórico de Infecções Sexualmente
Transmissíveis (IST’s). Do total de mulheres na faixa etária analisada, 72,7%
possuem filhos, sendo que 68,2% possuem de um até quatro filhos, de modo que a metade (50%) das
mulheres optaram pelo menos em uma das gestações por parto normal. Em relação à abortos, 22,7%
das mulheres relataram a perda pelo menos uma vez na vida.

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Em relação a realização do exame Preventivo Colpocitologico de Câncer de Colo de Útero
(PCCU), nota-se que 9,1% das mulheres em idade fértil nunca realizaram o exame e 20,5% não o
realiza com a frequência orientada pelo Ministério da Saúde.
Observa-se na pesquisa que 61,4% das mulheres iniciaram a vida sexual precocemente, 61,4%
possuem um ou mais parceiros sexuais, e 75% das entrevistadas possuem pelo menos um filho
(Tabela 2). Dessa forma, a maioria das mulheres em idade fértil na UAPS analisada, apresentam
fatores de risco associados como iniciação precoce, multiplicidade de parceiros sexuais e
multiparidade, como descrito pelo INCA, ao desenvolvimento de câncer de colo uterino.
A Tabela 3 expõem os resultados da análise bruta e ajustada das variáveis previsoras
associadas ao desfecho “realização do exame colpocitológico”. Na análise do primeiro bloco, foram
incluídas as variáveis demográficas, de acordo com os critérios estabelecidos e as demais variáveis
no segundo bloco.
Em seguida, foram avaliadas as variáveis dos demais blocos do modelo teórico,
correspondendo as características sociodemograficas, ginecológicas e obstétricas (Tabela 3 e 4).
Dentre as variáveis previsoras incluídas no modelo, mostraram efeito significatico sobre a realização
do exame colpocitologico as seguintes variáveis: raça, escolaridade, situação conjugal, realização de
atividade remunerada, primeira relação sexual antes dos 20 anos, número de parceiros nos últimos
três meses e abortamento.

Tabela 3: Características socioeconômicas e demográficas de mulheres em idade fértil, conforme a realização do exame
colpocitológico. Bairro Várzea, Patos de Minas-MG, 2018.

Realização PCCU
Realiza com
Nunca realizou Não realiza com frequência
(n=4) frequência (n=9) (n=31) P - Valor
Idade 25 a 39 anos (n=15) 13,33% 13,33% 73,33% 0,591

40 a 59 anos (n=29) 6,90% 24,14% 68,97%

Situação nutricional aaixo do peso (n=2) 50,00% 0,00% 50,00% 0,349

peso normal (n=10) 10,00% 10,00% 80,00%

sorepeso (n=20) 10,00% 20,00% 70,00%

oesidade (n=12) 0,00% 33,33% 66,67%

Raça branca (n=19) 0,00% 10,53% 89,47% 0,008

não preta/parda (n=19) 21,05% 15,79% 63,16%

preta/parda (n=6) 0,00% 66,67% 33,33%

Escolaridade nunca frequentou a escola (n=1) 100,00% 0,00% 0,00% 0,008

ensino fundamental I (n=17) 5,88% 41,18% 52,94%

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ensino médio (n=18) 5,56% 11,11% 83,33%

ensino superior (n=8) 12,50% 0,00% 87,50%

Situação conjugal casada/união estável (n=21) 0,00% 19,05% 80,95% 0,008

solteira (n=10) 40,00% 10,00% 50,00%

separada/divorciada (n=7) 0,00% 42,86% 57,14%

desquitada/viúva (n=6) 0,00% 16,67% 83,33%

Renda Familiar menor ou igual a 1 salário mínimo 6,67% 40,00% 53,33% 0,069
(n=15)

maior ou igual a dois salários 10,34% 10,34% 79,31%


mínimos (n=29)

Possui alguma atividade Sim (n=18) 16,67% 0,00% 83,33% 0,008


remunerada
Não (n=26) 3,85% 34,62% 61,54%

Valor de p obtido pelo Teste do Qui-quadrado para heterogeneidade de proporções.


Fonte: Dados da pesquisa, 2018.

Tabela 4 – Características ginecológicas e obstétricas de mulheres em idade fértil, conforme a


realização do exame colpocitológico. Bairro Várzea, Patos de Minas-MG, 2018.
Realização PCCU
Não realiza com Realiza com frequência
Nunca realizou (n=4) frequência (n=9) (n=31) P - Valor
Idade da primeira menos de 20 3,70% 18,52% 77,78% 0,058
relação sexual anos (n=27)
20 anos ou 12,50% 25,00% 62,50%
mais (n=16)
Virgem 100,00% 0,00% 0,00%
(n=1)
Número de parceiros nenhum 17,65% 29,41% 52,94% 0,098
nos últimos três meses (n=17)
um ou mais 3,70% 14,81% 81,48%
(n=27)
Usa métodos Sim (n=10) 10,00% 10,00% 80,00% 0,754
contraceptivo Não (n=34) 8,82% 23,53% 67,65%

Uso de preservativo Sim (n=6) 16,67% 16,67% 66,67% 1


Não (n=18) 7,89% 21,05% 71,05%
História de DST Sim 0,00% 0,00% 0,00% Não aplicado
Não 9,09% 20,45% 70,45%
Possui filhos Sim (n=32) 6,25% 21,88% 71,88% 0,731
Não (n=12) 16,67% 16,67% 66,67%
Número de filhos Nenhum 18,18% 18,18% 63,64% 0,207
(n=11)
menos de 6,67% 16,67% 76,67%
quatro
(n=30)
quatro ou 0,00% 66,67% 33,33%
mais (n=3)
Número de partos nenhum 9,52% 19,05% 71,43% 1
(n=21)

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menor ou 9,09% 22,73% 68,18%
igual a três
(n=22)
quatro ou 0,00% 0,00% 100,00%
mais (n=1)
Abortamento Sim (n=10) 10,00% 50,00% 40,00% 0,028
Não (n=34) 8,82% 11,76% 79,41%

Valor de p obtido pelo Teste do Qui-quadrado para heterogeneidade de proporções. Fonte:Dados da pesquisa, 2018.

Observa-se que resultados deste estudo corroboram com achados anteriores. Alguns autores
encontraram menor prevalência de realização do exame para as mulheres que, eram solteiras, baixa
renda familiar, de menor escolaridade. Neste estudo, 40% das mulheres que nunca fizeram o exame
colpocitológico são solteiras, além do que nota-se que as pessoas com maior nível de escolaridade,
ensino médio (83,33%) e ensino superior (87,50%), realizam mais frequentemente o exame, quando
comparados com pessoas com menor nível de escolaridade, resultado que vem de acordo ao
encontrado em outros estudos.
Pesquisa que investigou a cobertura e adequação do exame citopatológico e fatores associados
em 41 municípios brasileiros identificou que as mulheres acima de 25 anos de idade e maior
escolaridade aderiram em maior percentagem ao exame, ao contrário das primíparas e com menor
nível socioeconômico (Correa MS, et al, 2012). No presente estudo, a maioria das mulheres que
aderiu ao papanicolau possuíam o ensino médio e ensino superior. A limitação escolar dificulta o
entendimento do exame, assim ações de promoção e prevenção de saúde ficam restritas a
compreensão das mulheres. Já as com maior nível de ensino zelam pela sua saúde, buscando o serviço
com maior frequência (JORGE, et al, 2012).
Neste estudo, também chama atenção o maior percentual de mulheres que realizou o
exame e que relatou trabalhar (83,33%). Na literatura, há relato de que as mulheres que trabalham
fora de casa apresentam proporção mais elevada de atitude adequada em face do exame
colpocitológico, ou seja, para elas, há necessidade de fazer o exame periódico. Questões de gênero
possivelmente permeiam essa associação, fazendo com que mulheres que trabalham exclusivamente
em casa tenham menos autonomia para tomar decisões relativas à sua saúde. Outra possibilidade é a
de que mulheres que trabalham fora de casa, têm maior acesso a informações nos contatos com outras
trabalhadoras ou empregadoras, o que pode estimular práticas preventivas de saúde (Silva DW, 2006).
Apesar da análise dos dados ginecológicos não evidenciar uma correlação entre gestação
e realização do preventivo, estudos apontam que mulheres que tiveram no máximo uma gestação
também apresentaram maior chance de ter realizado o preventivo com periodicidade anual do nunca
engravidaram. O período gestacional e o puerpério poderiam ser vistos como situações nas quais as

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mulheres têm maior chance de estar em contato com os serviços de saúde e, portanto, de realizar
exames médicos
A predominância da raça da raça branca (89,47%) na realização do PCCU se torna um fator
de proteção para esse grupo, visto que outro estudo encontrou maior proporção de casos de câncer do
colo do útero em mulheres brancas (Carmo CC, Luiz RR,2011).
Além disso, um estudo demonstrou que a variável raça/cor pode ser usada como marcador
demográfico de desigualdades em saúde às quais grupos sociais estão expostos, sendo assim essa
variável deve ser utilizada como um marcador social mais relacionado aos fatores ambientais a que a
mulher está exposta que aos fatores genéticos (Araújo EM, et al, 2009). Dessa forma, percebe-se que
a raça não preta/parda e preta/parda possui um baixo acesso aos serviços de promoção de saúde
oferecidos pelo SUS.
Além disso, a justificativa para não realização do exame foi questionada com uma questão
aberta e dentre as respostas encontradas observou-se que muitas mulheres por serem virgens, ou não
serem sexualmente ativas, acharam que não necessitava da realizar a coleta. Ademais, a única
paciente analfabeta entrevistada, afirmou que mesmo frequentando a UAPS regularmente e com 52
anos de idade, ninguém a informou que deveria realizar o procedimento, ou seja, a falta de informação
oferecida pelo UAPS é um fator limitante na abrangência da prevenção. Outro problema encontrado
que dificulta a realização reside no horário de funcionamento da Unidade de Saúde. Como a grande
maioria das mulheres trabalham fora conseguir uma dispensa no serviço para a consulta ginecológica
é difícil, assim elas deixam de realizar a prevenção, pelo fato de a UAPS só funcionar em horário
comercial.
Por fim, outra queixa de duas entrevistadas reside na dor, incômodo, vergonha e até mesmo
consequências que tiveram durante o exame. Uma delas afirmou que não realiza mais pois o
profissional de saúde a machucou da última vez e não respeitou e/ou valorizou a sua queixa de dor
durante o procedimento. Das 44 pacientes, somente 3 referiu possuir acesso à rede suplementar de
saúde e utilizá-la para a realização do exame, seja por preferência, ou pelo motivo que não sabia que
a UAPS fazia o procedimento.

4 CONCLUSÃO

A análise permitiu atentar para as diferenças entre os grupos de mulheres que nunca
realizaram; realizaram, mas não regularmente, ou que nunca realizaram regularmente a citologia para
prevenção de câncer do colo uterino. Os resultados mostraram que que a prevalência de realização da
citologia dentro do período recomendado foi significativamente mais elevada entre mulheres da raça

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branca, com companheiro, que possuíam trabalho remunerado, com melhor nível de escolaridade e
renda familiar acima de um salário mínimo. Contudo, observa-se que mesmo a maioria das mulheres
realizam o exame frequentemente, elas apresentam comportamentos de risco, como a iniciação sexual
precoce, multiparidade, peso acima do recomendado e relações sexuais desprotegidas.
Dessa forma, os dados aqui apresentados mostraram que há necessidade de intensificar a
oferta do exame colpocitologico às mulheres em idade fértil, visto que a maior parte do grupo faz uso
dos serviços oferecidos pela UBS. Sugere-se que novos estudos sejam desenvolvidos de forma a
encontrar novas estratégias de adesão dessas mulheres para a realização do exame, após sua iniciação
sexual.
Além disso, deve-se ser instituído atividades de educação acerca de comportamentos de risco
para o câncer presentes entre o grupo, por meio de informações, de modo a diminuir a exposição aos
fatores de risco para esse tipo de câncer. E como forma do aumento da adesão, sugere-se uma
formação continuada dos profissionais de saúde, capacitando-os cada vez mais para lidar com a saúde
da mulher, além da ampliação dos horários de atendimentos oferecidos pela UBS.

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