Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO
Avaliar o perfil e os fatores associados à baixa adesão ao exame citológico em um grupo de mulheres
férteis. Estudo analítico transversal realizado em uma UBS no município de Patos de Minas-MG. A
amostra constituiu-se de 44 mulheres entre 25 e 59 anos. Os dados foram coletados no período de
março a dezembro de 2018 por meio de entrevista, durante atividades realizadas na UBS. As mulheres
que apresentaram menor adesão à realização do exame citológico foram as de raça parda/preta, sem
companheiros, com baixa escolaridade e renda familiar, que iniciaram a vida sexual precocemente e
que já tiverem histórico de aborto. As variáveis raça, ocupação, renda familiar, escolaridade, situação
conjugal, sexarca e histórico de abortamento foram significativamente associadas à adesão de
prevenção de câncer de colo de útero.
Palavra Chave: Promoção da saúde; Neoplasias do colo do útero; Diagnóstico precoce; Fatores de
Risco.
ABSTRACT
To analyze the profile and the factors associated with low adherence to the cytological exam in a
group of women of childbearing age. An observational, transversal study conducted in health unid,
Patos de Minas-MG. The sample consisted of 44 women of childbearing. Data were collected during
the period from March to December 2018 through interviews, during medical appointments. Womens
who presented lower adherence to the Papanicolaou testing were black and brown race,single, with
low education and family income, with initiation of early sexual life and already aborted. The
variables of breed, occupation, education level, marital situation and sexarch were significantly
associated with completion of the Papanicolaou test.
Keywords: Health Promotion; Uterine cervical neoplasms; Early diagnosis; Risk Factors.
O Sistema Único de Saúde (SUS), tem como principal ferramenta a Atenção Primária à Saúde
(APS), por meio das Unidades Básicas de Saúde (UBS), as quais são a porta de entrada para o sistema.
A APS possui, entre as suas diversas abordagens, o desenvolvimento de ações para a prevenção do
câncer de colo do útero, visto que está mais próximo do cotidiano das mulheres e as acompanham ao
longo de suas vidas.
Tais ações de prevenção permeiam tanto a educação, quanto a detecção precoce. As
abordagens educativas devem estar presentes no processo de trabalho das equipes de saúde, sendo
fundamental a disseminação da necessidade dos exames e da sua periodicidade, bem como dos sinais
de alerta que podem significar câncer.
Com relação à detecção precoce, a maior parte dessas ações também ocorre na Atenção
Primária. Tanto ações de rastreamento, que consistem em realizar sistematicamente testes ou exames
em pessoas sadias, quanto ações de diagnóstico precoce, que consistem em captar precocemente
alguém que já tenha sintomas ou alterações no exame físico; devem ser realizadas no cotidiano das
equipes (BRASIL, 2013).
O método de rastreamento do câncer de colo do útero, e de suas lesões precursoras é o exame
citopatológico (Papanicolau). O início da coleta deve ser aos 25 anos de idade, para as mulheres que
já tiveram atividade sexual, e deve seguir até os 64 anos (BRASIL, 2016).
Segundo a OMS, a priorização desta faixa etária como a população-alvo justifica-se por ser a
de maior ocorrência das lesões de alto grau, passíveis de serem tratadas efetivamente para não
evoluírem para o câncer. A incidência deste câncer aumenta nas mulheres entre 30 e 39 anos de idade
e atinge seu pico na quinta ou sexta décadas de vida.
Uma das causas do câncer de colo do útero está associado à infecção persistente por
subtipos oncogênicos do vírus HPV (Papilomavírus Humano), especialmente o HPV-16 e o HPV-18,
responsáveis por cerca de 70% dos cânceres cervicais (WHO. HPV Information Centre, 2010).
Além de aspectos relacionados à própria infecção pelo HPV, outros fatores ligados à
imunidade, à genética e ao comportamento sexual parecem influenciar os mecanismos ainda incertos
que determinam a regressão ou a persistência da infecção e também a progressão para lesões
precursoras ou câncer. Desta forma, o tabagismo, a iniciação sexual precoce, a multiplicidade de
parceiros sexuais, a multiparidade e o uso de contraceptivos orais são considerados fatores de risco
para o desenvolvimento de câncer de colo do útero (INCA,2015).
Com uma cobertura da população-alvo de, no mínimo, 80% e a garantia de diagnóstico e
tratamento adequados dos casos alterados, é possível reduzir, em média, de 60 a 90% a incidência do
câncer cervical invasivo (WHO,2008) .
2 METODOLOGIA
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Tabela 1: Características socioeconômicas e demográficas das mulheres em idade fértil entrevistadas. Bairro Várzea,
Patos de Minas-MG,2018.
FREQUÊNCIA
CARACTERÍSTICAS ABSOLUTA PORCENTAGEM
Idade 25 a 39 anos 15 34,1%
40 a 59 anos 29 65,9%
Total 44 100,0%
Situação nutricional Abaixo do peso 2 4,5%
Peso normal 10 22,7%
Sobrepeso 20 45,5%
Obesidade 12 27,3%
Total 44 100,0%
Raça Branca 19 43,2%
Não preta/parda 19 43,2%
Preta/parda 6 13,6%
Total 44 100,0%
Escolaridade Nunca frequentou a escola 1 2,3%
Tabela 2: Características ginecológicas e obstétricas das mulheres em idade fértil entrevistadas. Bairro Várzea, Patos de
Minas-MG, 2018.
Tabela 3: Características socioeconômicas e demográficas de mulheres em idade fértil, conforme a realização do exame
colpocitológico. Bairro Várzea, Patos de Minas-MG, 2018.
Realização PCCU
Realiza com
Nunca realizou Não realiza com frequência
(n=4) frequência (n=9) (n=31) P - Valor
Idade 25 a 39 anos (n=15) 13,33% 13,33% 73,33% 0,591
Renda Familiar menor ou igual a 1 salário mínimo 6,67% 40,00% 53,33% 0,069
(n=15)
Valor de p obtido pelo Teste do Qui-quadrado para heterogeneidade de proporções. Fonte:Dados da pesquisa, 2018.
Observa-se que resultados deste estudo corroboram com achados anteriores. Alguns autores
encontraram menor prevalência de realização do exame para as mulheres que, eram solteiras, baixa
renda familiar, de menor escolaridade. Neste estudo, 40% das mulheres que nunca fizeram o exame
colpocitológico são solteiras, além do que nota-se que as pessoas com maior nível de escolaridade,
ensino médio (83,33%) e ensino superior (87,50%), realizam mais frequentemente o exame, quando
comparados com pessoas com menor nível de escolaridade, resultado que vem de acordo ao
encontrado em outros estudos.
Pesquisa que investigou a cobertura e adequação do exame citopatológico e fatores associados
em 41 municípios brasileiros identificou que as mulheres acima de 25 anos de idade e maior
escolaridade aderiram em maior percentagem ao exame, ao contrário das primíparas e com menor
nível socioeconômico (Correa MS, et al, 2012). No presente estudo, a maioria das mulheres que
aderiu ao papanicolau possuíam o ensino médio e ensino superior. A limitação escolar dificulta o
entendimento do exame, assim ações de promoção e prevenção de saúde ficam restritas a
compreensão das mulheres. Já as com maior nível de ensino zelam pela sua saúde, buscando o serviço
com maior frequência (JORGE, et al, 2012).
Neste estudo, também chama atenção o maior percentual de mulheres que realizou o
exame e que relatou trabalhar (83,33%). Na literatura, há relato de que as mulheres que trabalham
fora de casa apresentam proporção mais elevada de atitude adequada em face do exame
colpocitológico, ou seja, para elas, há necessidade de fazer o exame periódico. Questões de gênero
possivelmente permeiam essa associação, fazendo com que mulheres que trabalham exclusivamente
em casa tenham menos autonomia para tomar decisões relativas à sua saúde. Outra possibilidade é a
de que mulheres que trabalham fora de casa, têm maior acesso a informações nos contatos com outras
trabalhadoras ou empregadoras, o que pode estimular práticas preventivas de saúde (Silva DW, 2006).
Apesar da análise dos dados ginecológicos não evidenciar uma correlação entre gestação
e realização do preventivo, estudos apontam que mulheres que tiveram no máximo uma gestação
também apresentaram maior chance de ter realizado o preventivo com periodicidade anual do nunca
engravidaram. O período gestacional e o puerpério poderiam ser vistos como situações nas quais as
4 CONCLUSÃO
A análise permitiu atentar para as diferenças entre os grupos de mulheres que nunca
realizaram; realizaram, mas não regularmente, ou que nunca realizaram regularmente a citologia para
prevenção de câncer do colo uterino. Os resultados mostraram que que a prevalência de realização da
citologia dentro do período recomendado foi significativamente mais elevada entre mulheres da raça
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Costa MCN, Hogan VK, Araújo TM, Dias AB, Oliveira LOA. A utilização da variável
raça/cor em Saúde Pública: possibilidades e limites. Interface comum saúde educ.
2009;13(31):383-94.
BRASIL. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Coordenação de Prevenção e
Vigilância. Divisão de Detecção Precoce e Apoio à Organização de Rede. Diretrizes brasileiras para
o rastreamento do câncer do colo do útero. – 2. ed. rev. atual. – Rio de Janeiro, 2016.
BRASIL. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Estimativa 2016. Incidência
do Câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA, 2015
CARMO CC, Luiz RR. Survival of a cohort of women with cervical cancer diagnosed in a Brazilian
cancer center. Rev Saúde Públ. 2011;45(4):661-7
CORREA MS, Silveira DS, Siqueira FV, Facchini LA, Piccini RX, Thumé E, et al. Cobertura e
adequação do exame citopatológico de colo uterino em estados das regiões Sul e Nordeste do
Brasil. Cad Saúde Pública. 2012; 28(12):2257-66.
DUAVY, Lucélia Maria; BATISTA, Fátima Lúcia Ramos; JORGE, Maria Salete Bessa; SANTOS,
João Bosco Feitosa dos. A percepção da mulher sobre o exame preventivo do câncer cérvico-uterino:
estudo de caso. Ciência & Saúde Coletiva 2007, v.12, n.3, pp. 733- 742.
JORGE, Roberta Jeane Bezerra; DIÓGENES, Maria Albertina Rocha; MENDONÇA, Francisco
Antonio da Cruz; SAMPAIO, Luís Rafael Leite; JÚNIOR, Roberto Jorge. Exame Papanicolaou:
sentimentos relatados por profissionais de enfermagem ao se submeterem a esse exame. Ciência &
Saúde Coletiva 2011, v.16, n.5, pp. 2443-2451.
SANTOS ERR, Silva KCL, Bezerra AFB. Desafios para organização do rastreamento do câncer no
colo uterino em um município da região metropolitana do Recife. Rev Ciênc Méd Campinas. 2012
; pp. 45-54.
SILVA DW, Andrade SM, Soares DA, Turini B, Schnechk CA, Lopes ML. Coverage and factors
associated with Papanicolaou testing in a city of Southern Brazil Rev Bras Ginecol Obstet. 2006;
28(1):24-31. Portuguese
SILVEIRA DS, Siqueira FV, Facchini LA, Piccini RX, Thumé E, et al. Cobertura e adequação do
exame citopatológico de colo uterino em estados das regiões Sul e Nordeste do Brasil. Cad Saúde
Pública. 2012; 28(12). pp2257-66.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Obesity: Preventing and managing the global epidemic. WHO
Technical Report Series no. 894. Geneva: WHO, 2000.