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Resumo
Objetivo: verificar a incidência de sífilis congênita nas Regiões de Saúde Entre Rios e
Verdes Vales do Rio Grande do Sul. Método: estudo ecológico, a partir de dados do
Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde, Sistema de Informação de
Nascidos Vivos e Sistema de Informação de Agravos de Notificação, de casos
notificados de sífilis congênita no período de 2010 a 2018. Os dados foram
transferidos para planilha Microsoft Excel 2010, analisado pela estatística descritiva,
conforme a distribuição da frequência absoluta e relativa, relacionando as duas regiões
de saúde. Resultados: em ambas regiões de saúde a incidência de sífilis congênita é
superior ao preconizado pelos órgãos oficiais, na Região de Saúde Verdes Campos, a
taxa incidência acumulada por 1.000 nascidos vivos foi de 10,21, na região Entre Rios
apresentou 1,98 por 1.000 Nascidos vivos. A maior parte das gestantes que seus filhos
tiveram sífilis congênita, eram da raça/cor branca, baixa escolaridade e as gestantes
tinham realizado pré-natal. Conclusão: Para a redução da sífilis congênita, é
necessário repensar quais estratégias precisam serem potencializadas, sendo pautadas
nos determinantes e condicionantes do processo saúde-doença e nos atributos da
Atenção Primária à Saúde e na qualidade do pré-natal.
Palavras chave: Pré-natal; Sífilis; Sífilis Congênita; Sistemas de Informação.
Abstract
Objective: to verify the incidence of congenital syphilis in the Health Regions Between
Rivers and Green Valleys of Rio Grande do Sul. Method: ecological study, using data
from the Department of Informatics of the Unified Health System, Information System
of Live Births and System Information System for Notifiable Diseases, of notified cases
of congenital syphilis in the period from 2010 to 2018. Data were transferred to
Microsoft Excel 2010 spreadsheet, analyzed by descriptive statistics, according to the
distribution of absolute and relative frequency, relating the two health regions. Results:
in both health regions, the incidence of congenital syphilis is higher than that
recommended by official bodies, in the Verdes Campos Health Region, the accumulated
incidence rate per 1,000 live births was 10.21, in the Entre Rios region it presented 1.98
per 1,000 births alive. Most of the pregnant women whose children had congenital
syphilis, were of white race / color, low educational level and the pregnant women had
received prenatal care. Conclusion: for the reduction of congenital syphilis, it is
necessary to rethink which strategies need to be enhanced, being based on the
determinants and conditions of the health-disease process and the attributes of Primary
Health Care and the quality of prenatal care.
Keywords: Prenatal; Syphilis; Congenital syphilis; Information systems.
INTRODUÇÃO
A sífilis é uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST), acometida pela
bactéria espiroqueta Treponema Pallidum, de natureza crônica, suscetível a cura, sendo
restrita ao ser humano. Caso não receba corretamente o tratamento, evolui apresentando
estágios sintomáticos e assintomáticos, e, em casos graves acomete órgãos e os sistemas
do corpo. Sua principal forma de transmissão é por meio do ato sexual, entretanto,
também ocorre de forma vertical no período da gestação da mãe para feto, quando
tratada inadequadamente ou não realizou tratamento (BRASIL, 2020).
Sendo classificada em três fases por suas manifestações clínicas: fase primária,
secundária e terciária com sinais características próprias, que pela sintomatologia e
sinais inicialmente leves, passam despercebidas e a cadeia de transmissão não é
rompida, o que leva a infectar outras pessoas. Quando a mulher é acometida pela sífilis
durante gestação, não havendo o manejo adequado do quadro clínico durante o pré-
natal, a criança será infectada pela sífilis, ao nascer desencadeando a Sífilis Congênita
(SC) (PEELING et al., 2017).
Segundo estudo realizado as dificuldades encontradas, estão relacionadas à
adesão ao tratamento do parceiro, a multiplicidades de parceiros e outros que a mulher
se recusa a falar; negação da existência de algum parceiro sexual por parte das
mulheres. Quando há casos de múltiplos parceiros é difícil realizar o diagnóstico; medo
existente ao contar seu diagnóstico principalmente pela culpabilização. Os homens
comparecem pouco à unidade de saúde, relatam que é doença da mulher e não tem
porque procurar o serviço, devido a não sintomatologia e quando faz o tratamento, não
faz o seguimento (RODRIGUES et al., 2016).
A sífilis é um agravo de notificação compulsória, sendo utilizado o Sistema de
Informação de Agravos de notificação (SINAN) que permite aos profissionais de saúde
realizarem o planejamento em saúde. Estudo realizado sobre a percepção dos
profissionais de saúde sobre os fatores associados à subnotificação no SINAN,
identificaram fragilidades nas condutas dos profissionais de saúde, e dificuldades no
processo de notificações, bem como, problemas relacionados ao usuário e ou familiares,
o que demonstra que a subnotificação ainda é uma realidade (MELO, et al., 2018).
A partir do diagnóstico precoce é possível promover a erradicação da SC,
realizando tratamento adequado da sífilis gestacional, mesmo sendo fácil seu
diagnóstico e terapia de baixo custo e efetivo, é apresentado como um problema de
saúde pública. A sífilis, apresenta falhas assistenciais no pré-natal, erros nas realizações
dos exames de triagem Venereal Disease Research Laboratory (VDRL), tratamento
inadequado nas gestantes e primordialmente nos parceiros sexuais. Estudos no Brasil,
relatam condutas não apropriadas de tratamento dos parceiros sexuais sendo o principal
fator para erradicação da SC (MONTEIRO; CÔRTES, 2019).
O diagnóstico da sífilis em Unidades Básicas de Saúde (UBS) é realizado a
partir dos Testes Rápidos (TR) treponêmicos, realizados sem necessidade de uma
estrutura laboratorial com resultado em até 30 minutos. Para confirmar o diagnóstico, é
realizado o teste não treponêmicos Venereal Disease Research Laboratory (VDRL),
realizado em laboratório com amostra sanguínea. Em gestantes, caso o teste
treponêmico, ou mesmo o não treponêmico seja reagente, já se inicia o tratamento
(BRASIL, 2020).
O número de consultas de pré-natal realizadas pelas gestantes no Brasil vem
aumentando nos últimos anos, entretanto, é perceptível o aumento de sífilis congênita,
caracterizando-se como um sério problema de saúde pública. Nesta perspectiva tem-se a
seguinte questão de pesquisa: Como encontra-se a incidência da sífilis congênita nas
Regiões de Saúde Verdes Campos e Entre Rios no Rio grande do Sul? Com o objetivo
de verificar a incidência de sífilis congênita nas Regiões de Saúde Entre Rios e Verdes
Campos do Rio Grande do Sul.
MÉTODO
Estudo ecológico retrospectivo em duas Regiões de Saúde do Rio Grande do Sul
Verdes Campos e Entre Rios dos casos notificados de sífilis congênita. Os estudos
ecológicos são fáceis de serem realizados, baixo custo, representam características das
populações e geralmente pertencem a área geográfica definida (MEDRONHO et al.,
2009)
As Regiões de Saúde no Rio Grande do Sul são em número de 30, estruturada e
organizada, pensando no planejamento, nas características culturais, facilidade de
acesso e capacidade instalada.
As Regiões de Saúde Verde Campos e Entre Rios, compõem a 4ª Coordenadoria
de Saúde (CRS), localizada no município de Santa Maria/RS, compostas por 32
municípios. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística de 2010
(IBGE) com uma população de 541.247. A primeira congrega os municípios de Agudo,
Dilermando de Aguiar, Dona Francisca, Faxinal do Soturno, Formigueiro, Itaara, Ivorá,
Júlio de Castilhos, Nova Palma, Paraíso do Sul, Pinhal Grande, Quevedos, Restinga
Seca, Santa Maria, São João do Polêsine, São Martinho da Serra, São Pedro do Sul, São
Sepé, Silveira Martins, Toropi, Vila Nova do Sul. A segunda Região de Saúde abrange
os municípios de Cacequi, Capão do Cipó, Itacurubi, Jaguari, Jarí, Mata, Nova
Esperança do Sul, Santiago, São Francisco de Assis, São Vicente do Sul, Unistalda
(GTPMAG, PLANO ESTADUAL SAÚDE 2016/2019, 2016, p. 26).
RESULTADOS
No período de 2010 a 2018 foram notificados 489 casos de SC, das quais; 466
casos foram registrados na Região de Saúde Verdes Campos e 23 casos na Região de
Saúde Entre Rios.
GRÁFICO - 1 Incidência de sífilis congênita nas regiões de Saúde Verdes Campos e Entre Rios. Período
20
18 17.38 17.83
16
14 14.14
12.66
12
10
8 7.56 7.87
6 6.62
5.34
4 4.14 4.04
3.4 3
2 2.25 1.65
0.75 0.79
0 0 0
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
Fonte: DATASUS.
A taxa incidência acumulada durante 2010 a 2018 foi de 10,21 por 1.000NV a
maior taxa de incidência ocorreu no ano de 2017 representando 17,83 por 1.000 NV.
Na Região de Saúde Entre Rios foram notificados 23 casos de SC congênita em
menores de um ano, com taxa incidência acumulada durante 2010 a 2018 de 1,98
1.000NV, a maior taxa de incidência ocorreu no ano de 2016 representando
5,341.000NV.
As variáveis sociodemográficas dos casos notificados de SC em ambas as
regiões de saúde são descritas na tabela1.
Tabela 1- Condições sociodemográficas das mães de filhos com SC por regiões de Saúde Verdes
Campos e Entre Rios, período de 2010 a 2018. Rio Grande do Sul.
Raça da mãe n % n %
Ign/Branco 42 9,01% 0 0%
Branca 342 72,39% 23 100%
Parda 53 11,37% 0 0%
Preta 29 6,22% 0 0%
Indígena 0 0% 0 0%
Amarela 0%
0 0% 0
Escolaridade da mãe n % n %
Ign/Branco 83 17,81% 5 21,74%
Analfabeto 3 0,64% 0 0%
1ª a 4ª série incompleta do EF 15 3,22% 0 0%
4ª série completa do EF 9 1,93% 0 0%
5ª a 8ª série incompleta do EF 167 35,84% 6 26,09%
Ensino fundamental completo 52 11,16% 0 0%
Ensino médio incompleto 49 10,52% 4 17,39%
Ensino médio completo 70 15,02% 3 13,04%
Educação superior incompleta 8 1,72% 3 13,04%
Educação superior completo 7 1,50% 2 8,70%
Não se aplica 3 0,64% 0 0%
Fonte: DATASUS
A maioria dos casos, eram filhos de mãe de raça/cor branca em ambas regiões de
saúde 342 (72,39%); n 23(100%) respectivamente. A incidência SC referente as duas
Regiões de saúde estão acompanhada de baixa escolaridade, quase a metade dos casos
de SC (43%) na Região Entre Rios são analfabetas, Ensino médio incompleto; 295
(63,30%) dos casos da Região Verdes Campos.
Tabela 2- Realização do pré-natal em casos de SC no período de 2010 a 2018 nas regiões de saúde
Verdes Campos e Entre Rios.
Realização pré-natal
Fonte: DATASUS
80.00% 73.91%
60.73%
60.00%
40.00% 33.69%
20.00% 13.04% 13.04%
1.29% 0.00% 3.86% 0.43% 0.00%
0.00%
co l o
n ta ge
m rto ad
ra -na a pa iz
/ B ré et so al
o p c ur ó re
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e o/ Ap o
n or ra ar
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Ig Du p
do
to
en
o m
m
No
Fonte: DATASUS
20.00%
13.04%
10.00% 8.37%
0.00%
Ign/Branco Sim Não
Fonte: DATASUS
Na Região Verdes campos 209, (44,85%), na região Entre Rios 13, (56,52%)
não realizaram o tratamento, um agravante para desencadeamento da SC, embora na
Região Verdes Campos 218 (46,78%) e 7 (30,43%), Entre Rios realizaram o tratamento
do parceiro.
GRÁFICO- 4 Evolução dos casos de recém-nascido notificados de mães com sífilis congênita. Período
de 2010 a 2018 nas regiões de saúde Verdes Campos e Entre Rios.
96%
85.62%
90.00%
60.00%
30.00%
0.43% 0% 1.72% 0% 0.86% 4%
0.00%
Fonte: DATASUS
A evolução dos casos de sífilis congênita, a evolução por óbito pelo agravo
notificado na região Entre Rios 1 (4,35%) e 4(0,86 %) na Região Verdes Campos.
DISCUSSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A SC, persiste como problema de saúde pública nas duas Regiões de Saúde,
evidenciou-se que a incidência de SC está muito acima do preconizada pela OMS e MS.
Não houve diferenças em ambas regiões de saúde quanto as condições
sociodemográficas. A grande maioria das gestantes que seus filhos tiveram SC eram da
raça/cor branca. A escolaridade das mães, a maioria apresentou baixo grau de
escolaridade, possivelmente seja fator que dificulta a comunicação do profissional de
saúde com gestante e parceiro, a respeito de orientações para prevenção, diagnóstico e
tratamento, dificultando assim e conscientização dos mesmos, sobre as complicações
que sífilis na gestante pode causar ao feto.
A grande maioria gestantes com sífilis gestacional realizaram pré-natal, mas não
foi suficiente para que seus filhos não nascessem SC, sendo um desafio a ser vencido,
principalmente quanto a inclusão dos parceiros na atenção pré-natal.
Para a redução da SC, é necessário repensar a abordagem à gestantes e
companheiros, não apenas na lógica da prescrição e a instituição do tratamento como
forma de erradicação, mas conjeturar como as estratégias estão sendo realizadas,
pautada nos determinantes e condicionantes em saúde do processo saúde-doença e nos
atributos da APS, se estão realmente sendo efetivados.
Apesar das duas regiões de saúde apresentarem incidência superior de SC ao
preconizado, é prudente verificar a capacidade instalada dos serviços de saúde para
detectar fragilidades quanto a organização dos serviços.
Verificou-se que as notificações ignoradas e em branco foram menores na
Região entre Rios, o que pode ser inferido a qualidade da informação.
Cabe a equipe de saúde da APS realizar buscas ativas das gestantes faltantes a
consultas de pré-natal e exames. Os serviços de saúde devem realizar condutas
preconizadas pelo MS, com isso desenvolver estratégias para o enfrentamento da SC,
realizar educação permanente com profissionais de saúde a respeito do tema, promover
educação em saúde, educação popular aos usuários pautados em significados, de
pertencimentos para conscientização do autocuidado. A sociedade precisa estar inserida
no contexto de cuidado a respeito relação sexual desprotegida, ser coparticipante do
autocuidado, com o foco na vulnerabilidade para o enfrentamento SC.
O estudo realizado encontrou limitações a respeito de algumas variáveis
importantes para a avaliação deste estudo que não estavam disponíveis, no momento da
coleta de dados como: esquema tratamento adequado da mãe: Adequado, Inadequado,
não realizado e Ignorado, e a identificação da faixa etária da mãe.
Sugere-se novos estudos que abordem quais os motivos das gestantes que
realizam pré-natal e seus parceiros não realizam o tratamento para evidenciar cuidados
para a diminuição da SC.
REFERÊNCIAS