Você está na página 1de 12

ARTIGO ORIGINAL

21

Milena de Oliveira
Pérsico Monteiro1 Fatores associados à ocorrência de sífilis
Maria Conceição
O. Costa2
Graciete Oliveira
em adolescentes do sexo masculino,
Vieira3
Carlos Alberto Lima feminino e gestantes de um Centro de
Referência Municipal/CRM - DST/HIV/
da Silva4

AIDS de Feira de Santana, Bahia


Factors associated with the occurrence of syphilis in adolescents
male, female and pregnant women in a Municipal Reference
Center/MRC - STD /HIV/AIDS of Feira de Santana, Bahia

> RESUMO
Objetivo: O presente estudo teve como objetivo investigar fatores associados à sífilis entre adolescentes na faixa de idade
entre 11 e 18 anos, de ambos os sexos e gestantes, cadastrados no Centro de Testagem e Aconselhamento/CTA do Centro
de Referência Municipal/CRM de Feira de Santana, Bahia/Brasil. Métodos: Trata-se de um estudo observacional tipo coorte
transversal, desenvolvido a partir da revisão de 33.665 registros de atendimento no Sistema de Informação do CTA, no
período de 2003 a 2012. Foram avaliadas 3.482 fichas de registros de pacientes com resultado reagente de Pesquisa do
Laboratório de Doença Venérea (Venereal Disease Research Laboratory-VDRL) e investigada a associação com características
sociodemográficas e clínico-comportamentais. Resultados: Entre 2003 e 2012, a prevalência de sífilis foi de 0,86%, sendo
de 1,95% (13) para o sexo masculino, 1,18% (14) para o feminino e 0,18% entre as gestantes adolescentes. Conclusão: No
grupo das mulheres não gestantes, observou-se coinfecção HIV-sífilis, além de associação entre o uso de drogas e álcool com
a ocorrência de sífilis. Em mulheres não gestantes foi verificada associação entre sífilis e o uso de drogas/álcool e coinfecção
HIV. Esses achados sinalizam para a necessidade de medidas de prevenção da infecção da sífilis, sobretudo nas situações de
vulnerabilidade, como o uso de drogas e HIV.

> PALAVRAS-CHAVE
Sífilis, gestantes, fatores de risco, adolescente.

1
Mestrado na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) – Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGSC-UEFS). Psicóloga
Supervisora do Centro de Referência Municipal de DST/ HIV/AIDS. Feira de Santana, BA, Brasil.
2
Pós-doutorado na Université du Québec à Montréal (UQAM)/Canadá. Professora Titular do Departamento de Saúde (UEFS). Coordenadora
do NNEPA - UEFS e Professora do PPGSC - UEFS. Feira de Santana, BA, Brasil.
3
Doutorado na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Professora Titular do Departamento de Saúde (UEFS). Coordenadora do Núcleo de
Pesquisa e Extensão em Saúde (NUPES) e Professora do PPGSC - UEFS. Feira de Santana, BA, Brasil.
4
Pós-doutorado na UFBA (ISC) - Salvador, BA. Professor Adjunto do Departamento de Saúde (UEFS) e Coordenador do Comitê de Ética em
Pesquisa da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (SESAB). Feira de Santana, BA, Brasil.

Milena de Oliveira Pérsico Monteiro (milapersico@hotmail.com)- Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Av.
Transnordestina, S/N, Bairro Novo Horizonte. Feira de Santana, BA. CEP: 44036-900.
Recebido em 03/06/2015 – Aprovado em 09/07/2015

Adolescência & Saúde Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 12, n. 3, p. 21-32, jul/set 2015
22 FATORES ASSOCIADOS À OCORRÊNCIA DE SÍFILIS EM ADOLESCENTES Monteiro et al.
DO SEXO MASCULINO, FEMININO E GESTANTES DE UM CENTRO DE
REFERÊNCIA MUNICIPAL DST/HIV/AIDS DE FEIRA DE SANTANA, BAHIA

> ABSTRACT
Objective: This study aimed to investigate factors associated with syphilis among teenagers in the age group between 11-
18 years, of both sexes and pregnant women, registered in the Testing and Counseling Center / CTA Municipal Reference
Center/CRM Feira de Santana, Bahia / Brazil. Methods: This was an observational cross-sectional cohort study, developed
from the review of 33.665 records of service on the CTA Information System, for the period 2003 to 2012. 3.482 records
of patients with results from Venereal Disease Research Laboratory-VDRL reagent were evaluated and the association with
sociodemographic and clinical and behavioral characteristics were investigated. Results: Between 2003 and 2012, the
prevalence of syphilis was 0.86% and 1.95% (13) for males, 1.18% (14) for females and 0.18% among adolescent pregnant
women. Conclusion: In the group of non-pregnant women, it was observed HIV-syphilis coinfection, besides association
between the use of drugs and alcohol. In non-pregnant women the association between syphilis the use of drugs/alcohol
and HIV coinfection was observed. These findings point to the need for measures to prevent syphilis infection, especially in
vulnerable situations, such as drug use and HIV.

> KEY WORDS


Syphilis, pregnant women, risk factors, adolescent.

> INTRODUÇÃO de Informação de Agravos de Notificação (SI-


NAN) 21.382 casos de sífilis em gestantes, com
A sífilis é uma doença sexualmente transmis- taxas de transmissão vertical de 4,7% por 1.000
sível que ainda se configura como um grave pro- nascidos vivos e incidência de 5,30% na região
blema de saúde pública em todo o mundo. Nos Nordeste7. Dessa forma, percebeu-se que a sífilis,
Estados Unidos, a incidência de sífilis na popula- quando associada à gravidez na adolescência,
ção geral foi de 2,1 casos por 100.000 habitantes, constituiu-se em um grave problema de saúde
em 20001. Outro estudo realizado na América La- pública por envolver a saúde materno-infantil,
tina, em 2001, com 22.298 doadores de sangue, necessitando de cuidados especiais no pré-na-
de diversas faixas de idade, estimou prevalência tal, a fim de prevenir a transmissão vertical8.
de sífilis de 1,10%, com maior proporção para Apesar de existirem muitos estudos que
sexo masculino (93%), moradores da zona urba- investigaram os fatores associados às doenças
na (60%) e com média de idade de 33 anos2. sexualmente transmissíveis (DST), poucos foram
No Brasil, cerca de 1,0% da população bra- realizados na faixa etária da adolescência, perío-
sileira (937 mil) foi infectada pela sífilis, confor- do que apresenta características comportamen-
me dados do Ministério da Saúde3. Um estudo tais, afetivas e sexuais peculiares, as quais se rela-
realizado na cidade de Vitória (ES), com mulhe- cionam com o desenvolvimento da autonomia,
res entre 18 e 29 anos, em 2012, demonstrou vivência da sexualidade plena, experimentação
prevalência de sífilis de 1,20% (IC 95% 0,5-1,9), e troca de parceiros, além da crença no mito
com mediana de idade de 23 anos4. No entanto, da invulnerabilidade. Dessa forma, esses indi-
observou-se uma escassez de estudos de preva- víduos arriscam-se sem previsão de danos ou
lência de sífilis na adolescência, pois a maioria consequências9. Ademais, utilizam substâncias
das pesquisas engloba a faixa etária adulta ou psicoativas (SPA) com o intuito de relaxamento,
traz dados da prevalência de sífilis congênita5. diversão, quebra da timidez e fuga da realidade.
Com relação à prevalência de sífilis gesta- Tal comportamento expõe esses indivíduos a di-
cional, verificou-se, no âmbito mundial, a pro- versos riscos, como as relações sexuais eventuais
porção de 0,64% em 2010 e 0,39% em 2013, e desprotegidas10. Na perspectiva social, a ado-
conforme os percentuais médios de 29 países. lescência representa um período de crise, pela
No Brasil, essas taxas foram 1,60% nos dois tentativa de integração às exigências sociais.
anos6. Em 2013, foram registrados no Sistema Os homens sofrem maior pressão para iniciar

Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 12, n. 3, p. 21-32, jul/set 2015 Adolescência & Saúde
Monteiro et al. FATORES ASSOCIADOS À OCORRÊNCIA DE SÍFILIS EM ADOLESCENTES 23
DO SEXO MASCULINO, FEMININO E GESTANTES DE UM CENTRO DE
REFERÊNCIA MUNICIPAL DST/HIV/AIDS DE FEIRA DE SANTANA, BAHIA

precocemente a relação sexual, como prova da não pardo), ocupação (estudante ou outras) e
masculinidade. Por outro lado, as mulheres são zona de residência (rural ou urbana); 2- clíni-
mais responsabilizadas pela definição do com- cas: presença de outras DST nos 12 meses que
portamento sexual. Entretanto, confiam no par- antecederam à realização do exame e soropo-
ceiro e apresentam desvantagens na negocia- sitividade para HIV; 3- comportamentais:motivo
ção, quanto ao uso do preservativo nas relações da procura do serviço (prevenção e exposição a
sexuais, com aumento de risco de gravidez e de riscos ou suspeita de DST/AIDS); uso de drogas
DST, a exemplo da sífilis10. (maconha, cocaína aspirada, cocaína injetável,
Alguns estudos demonstram que a inci- crack, heroína, anfetamina), uso de álcool; tipo
dência da sífilis continua crescente, apesar das de exposição à sífilis (relação sexual ou outros,
estratégias de promoção e prevenção à saúde5. como transfusão de sangue, compartilhamento
Portanto, faz-se necessário o levantamento de de seringas; transmissão vertical, transmissão
indicadores nessa temática e conhecimento dos ocupacional e sem relato de risco biológico);
seus determinantes em populações específicas, multiplicidade de parceiros; uso de preservativo
de modo a direcionar medidas de intervenção. nos últimos 12 meses e na última relação sexual
O objetivo do atual estudo foi investigar os fa- que antecedeu à realização do exame, com par-
tores associados à ocorrência de sífilis em ado- ceiro fixo e/ou eventual e motivos para não usar
lescentes de ambos os sexos e gestantes cadas- preservativo (fatores pessoais, fatores relaciona-
trados no Centro de Referência Municipal DST/ dos ao parceiro e fatores externos). Como fato-
HIV/AIDS (CRM DST/HIV/AIDS) de Feira de San- res pessoais, consideraram-se algumas opções
tana, na Bahia, no período de 2003 a 2012. para o não uso do preservativo: não acredita
na eficácia do condom; não sabe usar; não dis-
punha no momento; confia no parceiro; estava
> MÉTODOS sob efeito de drogas/álcool; não acreditava na
possibilidade de contaminação; não acreditava
Trata-se de um estudo de coorte trans- na hipótese de soropositividade; não tinha in-
versal, desenvolvido com dados secundários formação; não tem condições financeiras para
oriundos do Sistema de Informação do Cen- aquisição do condom; relação sexual não pro-
tro de Testagem e Aconselhamento (SI-CTA) gramada; desejo de ter filho; disfunção sexual
do Centro de Referência Municipal de Feira de ou alergia ao produto. Foram classificados como
Santana/Bahia. Os sujeitos da pesquisa foram fatores relacionados ao parceiro, para não uso
adolescentes entre 11 e 18 anos, de ambos os do preservativo: parceiro não aceita; não conse-
sexos, e gestantes da mesma faixa de idade, que gue negociar ou negociou não usar. O tamanho
realizaram testagem para sífilis, no período de do preservativo e a violência sexual foram consi-
2003 a 2012. A faixa etária escolhida obedeceu à derados como fatores externos.
preconização do Ministério da Saúde (MS) e do Os dados foram analisados com a ajuda do
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) para pacote estatístico Statistical Package for the
a adolescência. A sífilis foi definida conforme os Social Sciences (SPSS), versão 9.0 for Windows,
resultados do Venereal Disease Research Laborato- 1999. Inicialmente, foram descritas e compara-
ries (VDRL), sendo considerados como positivos das as características dos adolescentes do sexo
apenas os que apresentaram doença ativa, com masculino e feminino, bem como do grupo de
exclusão da análise das cicatrizes sorológicas. As mulheres gestantes com as não gestantes. A
demais variáveis foram classificadas em: 1-socio- seguir, foi realizada análise bivariada das carac-
demográficas: estado civil (casado/união estável terísticas associadas ao VDRL, segundo o sexo
ou solteiro), escolaridade (< 8 anos de estudo e gravidez. As diferenças de proporções foram
ou ≥ 8 anos de estudo), cor da pele (pardo ou testadas quanto à significância estatística, por

Adolescência & Saúde Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 12, n. 3, p. 21-32, jul/set 2015
24 FATORES ASSOCIADOS À OCORRÊNCIA DE SÍFILIS EM ADOLESCENTES Monteiro et al.
DO SEXO MASCULINO, FEMININO E GESTANTES DE UM CENTRO DE
REFERÊNCIA MUNICIPAL DST/HIV/AIDS DE FEIRA DE SANTANA, BAHIA

meio do qui-quadrado (c2) de Pearson. Adicio- A prevalência de sífilis, na adolescência,


nalmente, nas caselas com valores esperados foi de 0,86% (30), com proporções de 1,95%
inferiores a 5 realizou-se o ajuste com o Teste (13) para o sexo masculino, 1,18% (14) para o
Exato de Fisher. Para ambos os testes foi adota- feminino e 0,18% (3) para gestantes. A relação
do o nível de significância <0,05. homem/mulher foi de 2:1.
A análise multivariada não foi realizada, pois Quanto às análises das variáveis sociode-
não foi possível converter a maioria das variáveis mográficas e clínico-comportamentais verifi-
ao modelo logístico, devido à baixa prevalência cou-se resultados significantes, segundo o sexo
de sífilis encontrada nesse estudo. O projeto foi (masculino vs feminino) e entre adolescentes
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da gestantes e não gestantes, em relação à maior
Universidade Estadual de Feira de Santana, sob parte das características: estado civil, ocupação,
o Certificado de Apresentação para Apreciação presença de outras DSTs, uso de drogas, uso de
Ética (CAAE) nº 14500213.6.0000.0053. álcool, relação sexual como principal fator de
exposição à sífilis, multiplicidade de parceiros
sexuais, não uso do preservativo nos últimos 12
> RESULTADOS meses antes da realização do VDRL e na última
relação sexual, com os parceiros fixo e/ou even-
No período de 2003 a 2012, o CTA de Feira
tuais e fatores pessoais, como principal motivo
de Santana realizou 33.665 atendimentos, sen-
para não usar preservativo com os parceiros fixo
do 14.407 (42,80%) do sexo feminino, 10.010
(29,70%) do sexo masculino e 9.248 (27,50%) e/ou eventuais. Da mesma forma, as análises
gestantes, em diferentes faixas etárias. No mes- comparativas, entre as gestantes e não gestan-
mo período, foram registrados 3.482 (10,40%) tes, apontaram resultados com diferenças signi-
atendimentos de adolescentes de ambos os se- ficantes, para escolaridade, zona de residência
xos e gestantes, sendo 34% (1.183) do sexo fe- e motivos da procura pelo serviço (Dados não
minino, 19% (664) do sexo masculino e 47% apresentados em tabelas).
(1.635) gestantes. Na análise bivariada, não foram encontra-
Para a maioria das caracteristicas sociode- das associações entre a sífilis e as características
mográficas e clínico-comportamentais pesqui- sociodemográficas de adolescentes de ambos os
sadas, as proporções foram semelhantes entre sexos e gestantes (Tabela 1). Entretanto, quan-
adolescentes de ambos os sexos, com exceção do avaliadas características clínicas comporta-
da variável “multiplicidade de parceiros sexuais” mentais (Tabela 2) das mulheres não gestantes,
(masculino: 70%, feminino: 37,8%). Entretan- verificou-se associações entre a sífilis e a procura
to, comparando-se adolescentes gestantes com do serviço, devido à exposição ou suspeita de
aquelas não gestantes, as respostas mostraram DST/AIDS (p=0,03), uso de drogas (p=0,003)
proporções diversas entre os grupos, principal- e uso de álcool (p= 0,02). Vale ressaltar que a
mente nas variáveis: “presença de DST” (gestan- coinfecção HIV-sífilis foi constatada em 100%
tes: 5,5%, não gestantes: 26,7%), “uso de dro- dos homens (13) e em 78,6% (11) das mulheres
gas” (gestantes: 8,9% e não gestantes: 26,6%), não gestantes (p= 0,000).
“multiplicidade de parceiros sexuais” (gestantes: Foi observado que, independente do status
14,4% e não gestantes: 37,8%) e realizar sorolo- sorológico, a relação sexual e a baixa prevalên-
gia por exposição a riscos ou supeitar de DST/ cia do uso do preservativo se mostraram como
AIDS” (gestantes: 2,7% e não gestantes: 68,2%) principais formas de exposição à sífilis em am-
(Dados não apresentados em tabelas). bos os sexos e gestantes adolescentes.

Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 12, n. 3, p. 21-32, jul/set 2015 Adolescência & Saúde
Tabela 1. Análise bivariada das características sociodemográficas de adolescentes de ambos os sexos e gestantes, associadas ao diagnóstico de sífilis. Centro de
Testagem e Aconselhamento/CTA, Feira de Santana (Bahia), 2003 a 2012.
FEMININO
Monteiro et al.

MASCULINO GESTANTES
(não gestantes)

Adolescência & Saúde


VDRL – VDRL + Valor p* VDRL – VDRL + Valor p* VDRL – VDRL + Valor p*
n % n % n % n % n % n %
TOTAL DE
651 18,70 13 0,37 1169 33,57 14 0,40 1632 46,86 3 0,08
ADOLESCENTES N=3482
CARACTERÍSTICAS SOCIODEMOGRÁFICAS
Estado civil
Casado/união estável 65 10,2 2 16,7 0,35 211 18,9 2 14,3 0,5 981 62,2 2 66,7 0,68

Solteiro 574 89,8 10 83,3 906 81,1 12 85,7 596 37,8 1 33,3
Escolaridade
< 8 anos 303 47,9 8 66,7 0,16 539 47,7 10 71,4 0,06 887 56,5 1 33,3 0,40

≥ 8 anos 330 52,1 4 33,3 591 52,3 4 28,6 682 43,5 2 66,7
Cor da pele¹
Pardo (a) 108 21,3 2 16,7 0,51 214 22,9 1 7,1 0,13 232 20,8 1 33,3 0,50

Não pardo (a) 400 78,7 10 83,3 722 77,1 13 92,3 886 79,2 2 66,7

Ocupação
Estudante 422 75,4 9 75 0,60 880 81,9 12 92,3 0,3 1013 71,2 1 33,3 0,20

Outros² 138 24,6 3 24 194 18,1 1 7,1 409 28,8 2 66,7


Zona de residência
Rural 25 3,8 - - 0,60 54 4,6 - - 0,5 202 12,4 0 0 0,67
Urbana 626 98,2 13 100 1115 95,4 14 100 1430 87,6 3 100
FONTE: SI-CTA de Feira de Santana. *Teste qui-quadrado (c2) de Pearson para as categorias das variáveis do estudo e status sorológicos; **p<0,05 (estatisticamente significante). ¹Variável autorreferida.
REFERÊNCIA MUNICIPAL DST/HIV/AIDS DE FEIRA DE SANTANA, BAHIA
DO SEXO MASCULINO, FEMININO E GESTANTES DE UM CENTRO DE
FATORES ASSOCIADOS À OCORRÊNCIA DE SÍFILIS EM ADOLESCENTES

Opção não pardo refere-se a: amarelo, indígena, branco e ignorado.² sem ocupação bem definida.
25

Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 12, n. 3, p. 21-32, jul/set 2015


26
Tabela 2. Análise bivariada das características clínico-comportamentais de adolescentes de ambos os sexos e gestantes, associadas ao diagnóstico de sífilis. Centro de
Testagem e Aconselhamento/CTA, Feira de Santana (Bahia), 2003 a 2012.

MASCULINO FEMININO (não gestantes) GESTANTES


VDRL – VDRL + Valor p* VDRL – VDRL + Valor p* VDRL – VDRL + Valor p*
n % n % n % n % n % n %
TOTAL DE ADOLESCENTES
651 18,7 13 0,37 1169 33,5 14 0,40 1632 46,8 3 0,08
N=3482
TOTAL DE ADOLESCENTES
651 35,8 13 48,1 1169 64,2 14 51,9 1632 58,3 3 17,6

Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 12, n. 3, p. 21-32, jul/set 2015


N=3482
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS
Presença de outras DST
Sim 145 22,3 2 15,4 0,42 310 26,5 6 42,9 0,17 87 5,3 1 33,3 0,15
Não 506 77,7 11 84,6 859 73,5 8 57,1 1545 94 2 66,7
DO SEXO MASCULINO, FEMININO E GESTANTES DE UM CENTRO DE
REFERÊNCIA MUNICIPAL DST/HIV/AIDS DE FEIRA DE SANTANA, BAHIA
FATORES ASSOCIADOS À OCORRÊNCIA DE SÍFILIS EM ADOLESCENTES

Soropositivo para HIV


Sim 7 1,1 - - 0,86 9 0,8 3 21,4 0,000** 5 0,3 - - 0,99
Não 626 98,9 13 100 1111 99,2 11 78,6 1580 99,7 3 100
CARACTERÍSTICAS COMPORTAMENTAIS
Motivos da procura pelo serviço
Conhecimento sorologia¹ 194 30,3 1 7,7 0,06 366 32,1 1 7,1 0,03** 1584 97,3 3 100 0,77
Exposição a riscos/suspeita
446 69,7 12 92,3 775 67,9 13 92,9 44 2,7 - -
DST/Aids
Uso de drogas²
Sim 255 39,2 4 30,8 0,38 306 26,2 9 64,3 0,003** 146 8,9 - -
Não 396 60,8 9 69,2 863 73,8 5 35,7 1486 91,1 3 100
(continua)

Adolescência & Saúde


Monteiro et al.
(continuação da Tabela 2)

MASCULINO FEMININO (não gestantes) GESTANTES


VDRL – VDRL + Valor p* VDRL – VDRL + Valor p* VDRL – VDRL + Valor p*
Monteiro et al.

n % n % n % n % n % n %

Adolescência & Saúde


Uso de álcool
Sim 213 83,5 3 75 0,52 284 93,1 6 66,7 0,02** 126 86,9 - - -
Não 42 16,5 1 25 21 6,9 3 33,3 19 13,1 - -
Tipo de exposição à sífilis
Relação sexual 582 94,3 10 100 0,56 1052 96,8 14 100 0,63 1619 99,7 3 100 0,99
Outros³ 35 5,7 - - 35 3,2 - - 5 0,3 - -
Multiplicidade de parceiros
Sim 374 69,8 8 80 0,38 373 37,6 7 50 0,24 229 14,4 - - 0,63
Não 162 30,2 2 20 691 62,4 7 50 1357 85,6 3 100
Uso do preservativo nos últimos 12 meses com parceiro fixo
Sim 112 35,6 - - 0,27 196 23,3 1 11,1 0,34 174 11,3 - - 0,69
Não 203 64,4 3 100 647 76,7 8 88,9 1372 88,7 3 100
Uso do preservativo na última relação com parceiro fixo
Sim 60 25,6 - - 0,55 119 16,5 2 22,2 0,45 85 5,7 1 33,3 0,16
Não 174 74,4 2 100 604 83,5 7 77,8 1397 94,3 2 66,7
Motivos de não usar preservativo com parceiro fixo
Fatores pessoais 165 71,1 3 100 0,54 415 58,9 5 55,6 0,88 882 60,6 1 33,3 0,52
Fatores relacionados ao
61 26,3 - - 277 39,3 4 44,4 515 35,4 2 66,7
parceiro
Fatores externos 6 2,6 - - 13 1,8 - - 58 4 - -
(continua)
REFERÊNCIA MUNICIPAL DST/HIV/AIDS DE FEIRA DE SANTANA, BAHIA
DO SEXO MASCULINO, FEMININO E GESTANTES DE UM CENTRO DE
FATORES ASSOCIADOS À OCORRÊNCIA DE SÍFILIS EM ADOLESCENTES
27

Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 12, n. 3, p. 21-32, jul/set 2015


28
(continuação da Tabela 2)

MASCULINO FEMININO (não gestantes) GESTANTES


VDRL – VDRL + Valor p* VDRL – VDRL + Valor p* VDRL – VDRL + Valor p*
n % n % n % n % n % n %
Uso do preservativo nos últimos 12 meses com parceiro eventual
Sim 218 54,8 3 33,3 0,17 144 43,5 1 16,7 0,18 70 45,8 - - -
Não 180 45,2 6 66,7 187 56,5 5 83,3 83 54,2 - -
Uso do preservativo na última relação com parceiro eventual

Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 12, n. 3, p. 21-32, jul/set 2015


Sim 60 22,6 1 14,3 0,51 37 18 - - 0,45 26 28 - - -

Não 206 77,4 6 85,7 168 82 4 100 67 72 - -

Motivos de não usar preservativo com parceiro eventual

Fatores pessoais 220 84,6 6 85,7 0,81 117 57,9 4 100 0,24 65 68,4 - - -
DO SEXO MASCULINO, FEMININO E GESTANTES DE UM CENTRO DE
REFERÊNCIA MUNICIPAL DST/HIV/AIDS DE FEIRA DE SANTANA, BAHIA
FATORES ASSOCIADOS À OCORRÊNCIA DE SÍFILIS EM ADOLESCENTES

Fatores relacionados ao
28 10,8 1 14,3 41 20,3 - - 23 24,2 - -
parceiro

Fatores externos 12 4,6 - - 44 21,8 - - 7 7,4 - -

FONTE: SI-CTA Feira de Santana.*Teste qui-quadrado (c2) de Pearson para as categorias das variáveis do estudo e status sorológicos; **p<0,05 (estatisticamente significante). ¹corresponde a: prevenção ou
encaminhamentos do pré-natal. ²maconha, cocaína aspirada, cocaína injetável, crack, heroína, anfetamina e outras drogas. ³transfusão de sangue, compartilhando seringas/agulhas, transmissão vertical,
ocupacional, não relata risco biológico, outros, não informado.

Adolescência & Saúde


Monteiro et al.
Monteiro et al. FATORES ASSOCIADOS À OCORRÊNCIA DE SÍFILIS EM ADOLESCENTES 29
DO SEXO MASCULINO, FEMININO E GESTANTES DE UM CENTRO DE
REFERÊNCIA MUNICIPAL DST/HIV/AIDS DE FEIRA DE SANTANA, BAHIA

> DISCUSSÃO de comportamentos entre os gêneros, entretan-


to, observou-se que, tanto mulheres não gestan-
A atual pesquisa que avaliou adolescentes tes, como homens, se expuseram aos fatores de
de ambos os sexos e gestantes, cadastrados em riscos, com menor frequência do uso de preser-
um serviço de referência para triagem e sorologia vativo entre as mulheres – importante medida
das DST/HIV/AIDS do SUS, demonstrou prevalên- de prevenção contra as DSTs. As principais di-
cia de sífilis na faixa adolescente semelhante às ferenças entre as características sociodemográfi-
estimativas da população brasileira, ou seja, em cas e clínico-comportamentais entre adolescen-
torno de 1,10%, conforme dados do Ministério tes de ambos os sexos (exceto gestantes) que
da Saúde7. No entanto, essa prevalência foi eleva- podem explicar a maior prevalência de sífilis no
da, se comparada a estudos realizados entre ado- sexo masculino foram a maior exposição ao uso
lescentes e jovens adultas, sexualmente ativas, no de drogas, a multiplicidade de parceiros sexuais
interior de Goiás (2007 a 2009), que mostraram e a ausência de ocupação profissional definida.
proporções de sífilis de 0,14% (IC 95% 0,00- No atual estudo, as características clínico-
0,79)¹¹; assim como no Ceará, outro estudo rea- -comportamentais das mulheres não gestantes
lizado com adolescentes e adultos entre 12 e 49 associadas com o VDRL positivo foram: busca
anos (2007), foi observada prevalência de sífilis pelo serviço devido à exposição ou suspeita de
de 0,20% (IC 0,0-1,1)12. Esses estudos sugerem DST/AIDS (p= 0,03), uso de drogas (p= 0,003),
que os adolescentes iniciam a vida sexual preco- uso de álcool (p= 0,02) e coinfecção (p= 0,000)
cemente e, em consequência, estão mais expos- com o HIV.
tos aos fatores de risco das DSTs e AIDS. No que concerne à exposição e/ou suspeita
É preciso lembrar que a interpretação e de DST/AIDS, estudos demonstram que a ado-
a comparação entre estudos de prevalência lescência apresenta maior vulnerabilidade quan-
em sífilis apresentam dificuldades e limitações, to ao comportamento sexual e ao uso irregular
considerando que os Sistemas de Vigilância das do preservativo, especialmente entre as adoles-
DSTs diferem quanto à captação e adequação centes14,15. Por sua vez, essas são mais vulnerá-
das informações em diferentes regiões, além de veis às DST/HIV/AIDS, não apenas pela consti-
que o quadro clínico da doença pode ser assin- tuição biológica do trato genital feminino, como
tomático, ou apresentar sintomas inespecíficos também pela frequência com que são vítimas de
que limitam o acesso ao diagnóstico. submissão e violência em função das questões
Ademais, no Brasil, a sífilis adquirida – diag- de gênero, resultando no baixo controle sobre
nosticada fora do período gestacional – não é sua atividade sexual e uso do preservativo.
uma doença de notificação compulsória. Assim, Outro dado, que corroborou a discussão
as estimativas são realizadas com base nos estu- acima, foram os percentuais do atual estudo,
dos que utilizam amostras de conveniência com quanto ao uso do preservativo nas relações se-
gestantes e puérperas, candidatos a doação xuais, com parceiros eventuais, nos 12 meses
de sangue, ou grupos populacionais de maior (que antecederam a coleta de dados), que se
vulnerabilidade, como usuários de drogas, en- apresentaram abaixo dos percentuais nacionais,
carcerados, ou pacientes atendidos em serviços evidenciados em pesquisa da Organização Pan-
de DST12,13. Por sua vez, no presente estudo, os -Americana de Saúde, em 20136. Esses resultados
dados sobre a sífilis representam estimativas do podem ser entendidos através da interpretação
número de casos atendidos em um serviço de dos motivos referidos pelos adolescentes quan-
Referência para DST/HIV/AIDS. to a não utilização do preservativo nas relações
Os dados da presente pesquisa demonstra- sexuais: parceiro não ter aceitado, ou ter nego-
ram maior frequência de sífilis entre adolescen- ciado não usá-lo, ou pela confiança no mesmo
tes do sexo masculino, sugerindo variabilidade – motivos apresentados pelas mulheres. Quan-

Adolescência & Saúde Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 12, n. 3, p. 21-32, jul/set 2015
30 FATORES ASSOCIADOS À OCORRÊNCIA DE SÍFILIS EM ADOLESCENTES Monteiro et al.
DO SEXO MASCULINO, FEMININO E GESTANTES DE UM CENTRO DE
REFERÊNCIA MUNICIPAL DST/HIV/AIDS DE FEIRA DE SANTANA, BAHIA

to ao sexo masculino, os motivos para não usar -se maior proporção da doença, com o avançar
preservativo foram: a falta desse no momento da idade, como pode ser verificado através da
do ato sexual, ou por não estar convencido dos prevalência de 1,50%, encontrada em pesquisa
seus benefícios. Esses dados sugerem a submis- realizada com gestantes adolescentes e jovens
são do gênero feminino e a falta do empodera- adultas, no período de 2004 a 2008, em Feira
mento da mulher para negociação do uso do de Santana. Esse resultado corrobora as estima-
preservativo e, consequentemente, maior expo- tivas do Ministério da Saúde que apontam pre-
sição às situações de risco de infecção. valência de sífilis de 1,60% em parturientes de
Quanto ao uso de drogas e álcool, segundo diversas faixas etárias.
o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Segundo estudos desta entidade, em 2014,
(CEBRID) o uso de substâncias psicoativas (SPA) houve um aumento nas testagens para sífilis em
se inicia na adolescência, entre 12 e 14 anos, gestantes entre os anos de 2011 e 2013 e, con-
com maior prevalência para o sexo masculino, sequentemente, redução da prevalência da sífilis
sejam as drogas lícitas ou ilícitas16. Entretanto, gestacional daquelas que receberam cuidados
estudos enfatizam o aumento do consumo de pré-natais. No entanto, pesquisa realizada em
drogas pelas mulheres, com maior exposição às 2012, que estimou a incidência de sífilis congê-
relações sexuais casuais e desprotegidas17,18. nita e identificou sua relação com a cobertura
No que tange a comorbidade HIV-sífilis, da Estratégia de Saúde da Família, sugeriu que,
pela presente pesquisa, foi verificada a presen- apesar do aumento das coberturas de pré-natal,
ça de coinfecção em 100% dos homens (n= 13) ainda se observa uma baixa efetividade dessas
e em 78,6% (n= 11) entre mulheres não ges- ações para a prevenção da sífilis congênita²0.
tantes; entretanto, apenas no último grupo, foi Esse dado se torna mais preocupante quando se
verificada associação significante com o VDRL refere à prevenção de sífilis congênita em ges-
positivo (p= 0,000). Estudos sobre coinfecção tantes adolescentes.
demonstraram ser a sífilis a principal DST asso- Estudos verificaram que a ocorrência de sí-
ciada ao HIV, sendo que o tratamento pode ser filis na gestação é maior em primigestas meno-
complexo, diante do alto comprometimento do res de 14 anos de idade, com baixa escolarida-
sistema imunológico. Ademais, a infecção pelo de e que não utilizam preservativo nas relações
HIV pode levar ao estágio terciário da sífilis, com sexuais durante a gravidez. Pesquisa realizada
graves sequelas, como também abrevia o tem- no Rio de Janeiro, no período de 1999 e 2000,
po entre o aparecimento das formas primária e mostrou que as abordagens realizadas durante o
secundária. Em alguns casos, pode-se encontrar pré-natal obtiveram baixo impacto quanto à re-
indivíduos com superposição desses quadros19. dução da infecção em gestantes, o que permite
Apesar de esta pesquisa não ter observado a perpetuação do ciclo materno-fetal da sífilis²0.
significância estatística entre o grupo de gestan- Apesar de as mulheres adolescentes repre-
tes adolescentes e a ocorrência de sífilis, faz-se sentarem a principal clientela do CTA, em com-
necessário, neste momento, discutir alguns as- paração aos homens adolescentes, observou-
pectos sobre a sífilis na gestação e a sífilis congê- -se que, tanto os homens como as mulheres
nita, tendo em vista a magnitude dessa proble- não gestantes procuraram o Sistema de Saúde
mática para a saúde pública. No atual estudo, o por motivos de exposição a situações de risco,
grupo de gestantes adolescentes mostrou pre- ou por apresentarem sintomas relacionados às
valência de 0,18%. Pesquisa semelhante, reali- DSTs/AIDS. No caso das gestantes, a procura
zada em Belo Horizonte, no período de 1999 a pelo setor deve-se aos encaminhamentos de ro-
2000, demonstrou baixa prevalência da infec- tina do pré-natal, como medida de prevenção às
ção (0,17% IC 1,2-2,2) em gestantes entre 15 e infecções, considerando que o Programa DST/
19 anos. Todavia, estudos indicam que registra- HIV/AIDS de Feira de Santana constitui a refe-

Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 12, n. 3, p. 21-32, jul/set 2015 Adolescência & Saúde
Monteiro et al. FATORES ASSOCIADOS À OCORRÊNCIA DE SÍFILIS EM ADOLESCENTES 31
DO SEXO MASCULINO, FEMININO E GESTANTES DE UM CENTRO DE
REFERÊNCIA MUNICIPAL DST/HIV/AIDS DE FEIRA DE SANTANA, BAHIA

rência do SUS para a realização de triagem soro- tes, mesmo em se tratando de um subgrupo da
lógica para HIV e sífilis. mesma faixa etária, pois os fatores associados
Conclui-se que os fatores associados à infec- à sífilis, relacionados às características clínico-
ção por sífilis se comportaram de modo diverso, -comportamentais, se apresentaram de modo
quando se avaliou adolescentes de ambos os se- diferente no grupo de mulheres não gestantes.
xos e gestantes adolescentes. No grupo de ado- A baixa adesão ao uso do preservativo nas
lescentes não gestantes foi verificada a presença relações sexuais, especialmente entre as mulhe-
de coinfecção HIV-sífilis, além de associação en- res, pode estar relacionada às desigualdades de
tre o uso de drogas e álcool com o VDRL positi- gênero para a negociação do uso do preservati-
vo. Já entre os homens e as mulheres gestantes vo com parceiro fixo ou eventual. Diante do ris-
adolescentes não foram encontrados fatores pre- co de ocorrência de sífilis, torna-se fundamental
ditivos para sífilis. É necessário destacar que as a sensibilização dos adolescentes para mudança
medidas de prevenção e intervenção devem ser de atitude, com incentivo à autoproteção.
compatíveis com as especificidades de cada gru- Na operacionalização de políticas públicas
po, pois a variabilidade de comportamento está multissetoriais direcionadas aos adolescentes, é
associada a diferentes riscos de adoecer. preciso considerar as singularidades e especi-
É importante enfatizar a escassez de estu- ficidades deste grupo, que apresenta compor-
dos na adolescência, sendo que a maioria das tamento diferenciado, no que diz respeito aos
pesquisas inclui a faixa de adultos e jovens, ou aspectos psicossociais, sexuais e reprodutivos.
a população geral. Mesmo considerando a rele- Ao considerar os níveis de complexidade que
vância de estudos que avaliam a frequência de envolvem essa faixa de idade, faz-se necessário
um evento em grupos populacionais específicos, avançar na organização dos serviços, de modo
para a definição de uma linha de base de me- a possibilitar a participação dos adolescentes
didas de prevenção, intervenção e controle dos nas instituições de saúde, ampliando sua aces-
agravos, é preciso considerar as limitações desta sibilidade às ações preventivas, além de garan-
pesquisa que, por se tratar de estudo transver- tir uma assistência de qualidade nas dimensões
sal, não permite estabelecer nexo causal entre as preconizadas pelo SUS.
características estudadas. Neste sentido, é preciso implementar ações
de educação em saúde nas escolas e comunida-
des, em parceria com as instâncias educacionais,
> CONSIDERAÇÕES FINAIS judiciais e organizações não governamentais
(ONG), podendo os serviços de saúde funcionar
Os resultados desta pesquisa evidenciaram como um relevante canal de interlocução dos
que as situações de vulnerabilidade são diferen- adolescentes.

> REFERÊNCIAS
1. Risser WL, Bortot AT, Benjamins LJ, Feldmann JM, Barratt MS, Eissa MA, et al. The epidemiology of sexually
transmitted infections in adolescents. Semin Pediatr Infect Dis. 2005;16:160-7.
2. Pérez DF, Mattar SV. Prevalência de marcadores infecciosos en el banco de sangre del Hospital San Jerónimo
de Montería: 1996 – 2001. Infectio. 2003;7(1):15-20.
3. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e Aids. Prevalências
e freqüências relativas de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) em populações selecionadas de seis
capitais brasileiras, 2005. Brasília: Ministério da Saúde; 2008.

Adolescência & Saúde Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 12, n. 3, p. 21-32, jul/set 2015
32 FATORES ASSOCIADOS À OCORRÊNCIA DE SÍFILIS EM ADOLESCENTES Monteiro et al.
DO SEXO MASCULINO, FEMININO E GESTANTES DE UM CENTRO DE
REFERÊNCIA MUNICIPAL DST/HIV/AIDS DE FEIRA DE SANTANA, BAHIA

4. Miranda AE, Figueiredo NC, Pinto VM, Page K, Talhari S. Fatores de risco para sífilis em mulheres jovens,
atendidas pelo programa de saúde da família em Vitória (ES), Brasil. An Bras Dermatol. 2012;87(1):76-83.
5. Organização Mundial da Saúde. Eliminação mundial da sífilis congênita: fundamento lógico e estratégia
para ação, 2008. Geneva: OMS; 2008.
6. Pan American Health Organization. 2014 Update: elimination of mother-to-child transmission of HIV and
syphilis in the Americas. Washington, DC: PAHO; 2014.
7. Brasil. Ministério da Saúde. Secretária de Vigilância à Saúde. Programa Nacional de DST e Aids, 2010.
Boletim Epidemiológico da AIDS E DST [Internet]. 2010 [citado 2014 Jan 12];Ano VII(1). Disponível em:
www.aids.gov.br.
8. Rodrigues CS, Guimarães MDC. Positividade para sífilis em puérperas: ainda um desafio para o Brasil. Rev
Panam Salud Publica. 2004;16(3):168-75.
9. Taquette SR, Vilhena MM, Paula MC. Doenças sexualmente transmissíveis e gênero: um estudo transversal
com adolescentes no Rio de Janeiro. Cad Saude Publica. 2004;20(1):282-90.
10. Wiese IRB, Saldanha AAW. Vulnerabilidade dos adolescentes às dst/aids: ainda uma questão de gênero?
Psic Saude Doenças. 2011;12(1):105-18.
11. Garcia FLB. Prevalência de sífilis em adolescentes e jovens do sexo feminino no estado de Goiás. [dissertação].
Goiás: Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública. Universidade Federal de Goiás; 2009.
12. Oliveira VM, Verdasca IC, Monteiro MC. Detecção de sífilis por ensaios de Elisa e VDRL em doadores de
sangue do Hemonúcleo de Guarapuava, Estado do Paraná. Rev Int Med Trop. 2007;41(4):428-30.
13. Costa COM, Santos BC, Souza KEP, Cruz NLA, Santana MC, Nascimento OC. HIV/AIDS e sífilis em gestantes
adolescentes e adultos jovens: fatores de exposição e risco dos atendimentos de um programa em dst/hiv/
aids na rede pública de Saúde/SUS, Bahia, Brasil. Rev Baiana de Saude Publica. 2011;35(1):179-85.
14. Ayres JRCM, França Júnior I, Calazans GJ, Saletti Filho HC. O conceito de vulnerabilidade e as práticas de
saúde: novas perspectivas e desafios. In: Czeresnia, Dina; Freitas, Carlos Machado de. Promoção da saúde:
conceitos, reflexões e tendência. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2003. p. 117-39.
15. Collins RL, Elliott MN, Berry SH, Kanouse DE, Kunkel D, Hunter SB, et al. Watching sex on television
predicts adolescent initiation of sexual behavior. Pediatrics. 2004;114(3):280-9.
16. Centro Brasileiro de Informações sobre drogas psicotrópicas - CEBRID. Levantamento sobre o consumo de
substâncias psicoativas entre estudantes de ensino fundamental (8º e 9º ano) e médio (1º a 3º ano) da rede
particular do município de São Paulo. 2010;66.
17. Jinez MLJ, Souza JRM, Pillon SC. Uso de drogas e fatores de risco entre estudantes de ensino médio. Rev
Lat Am Enfermagem [Internet]. 2009 [citado 2014 Jan 12];17(2). Disponível em: http://www.redalyc.org/
articulo.oa?id=281421907017.
18. Sengik AS, Scortegagna SA. Consumo de drogas psicoativas em adolescentes escolares. Psic.
2008;9(1):73-80.
19. Signorini DJH, Monteiro MCM, Sá CAM, Sion FS, Leitão Neto HG, Lima DP, et al. Prevalência da co-infecção
HIV-sífilis em um hospital do Rio de Janeiro no ano de 2005. Rev Int Med Trop. 2007;40(3):282-5.
20. Calazans G, Araujo TW, Venturi G, França IJ. Factors associated with condom use among youth aged 15–24
years in Brazil in 2003. AIDS. 2005;19(4):S42-50.

Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 12, n. 3, p. 21-32, jul/set 2015 Adolescência & Saúde

Você também pode gostar