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ÁREA DIDÁTICA II – ESTUDO E ANÁLISE SITUACIONAL DO TERRITÓRIO:

SAÚDE – DOENÇA (2021.2 - T8B)

Aluno: Jonas Brandão Pereira

Atividade 09

Na cidade em que trabalho, Cocal – PI, está se iniciando o processo de informatização


dos dados coletados nas Unidades de Saúde tanto da Zona Urbana quanto da Zona Rural.
Atualmente os dados epidemiológicos são coletados a partir das fichas de atendimento
individual com a identificação do CID e, posteriormente, o banco de dados é alimentado com
o repasse dessas fichas diariamente.

A identificação dos indivíduos e suas comorbidades é realizada, também em campo,


pelos Agentes de Saúde que, posteriormente, repassam esses dados para a coordenação e
demais integrantes da equipe na UBS. A partir daí é feita a organização e distribuição desses
indivíduos por grupos. Após essa distribuição são planejadas as ações de intervenção e
monitoramento desses grupos e indivíduos nas reuniões semanais, dentro de cada uma das
UBS de acordo com as suas próprias demandas. Posteriormente, os resultados e dados
resultantes dessas discussões são repassados durante as reuniões com os representantes de
cada uma das unidades juntamente com a gestão em saúde do município.

Todo esse processo gera resultados e permite o planejamento das ações a serem
tomadas a nível de município e localmente em cada uma das comunidades atendidas pelas
Unidades de Saúde que as abrangem.

Apesar das ações imediatas e constantes em relação a pandemia da Covid-19, as ações


voltadas para um tema específico, a exemplo do Setembro Amarelo, continuam sendo
realizadas. De fato, esse processo somente se torna viável graças a obtenção e análise desses
dados epidemiológicos.

Devido à recente informatização de toda a rede de saúde do município, a gestão


juntamente com os profissionais de saúde tem realizado reuniões para reforçar a importância
dos indicadores de saúde. Segundo a própria gestão, logo serão realizados treinamentos para
utilização do sistema informatizado e esclarecimento sobre os indicadores.
A Epidemiologia, a partir da coleta e discussão dos indicadores de saúde do município
que trabalho, tem sido aplicada e tem passado por constante atualização. De forma mais
localizada esse processo tem permitido uma atenção mais eficaz a grupos específicos
relacionados a comorbidades mais prevalentes na comunidade atendida.

É indiscutível que os indicadores de saúde são de extrema importância para o


diagnóstico da situação atual de saúde de um indivíduo, de grupos e de uma população. A
partir deles é possível avaliar as condições de saúde e proporcionar um melhor planejamento
das ações em saúde. Através dos números, índices e taxas é possível conhecer as principais
doenças e agravos que atingem uma população, acompanhando a história de uma determinada
doença naquela localidade, identificando os grupos mais suscetíveis e as faixas etárias mais
atingidas, assim como revelar os fatores de risco e criar medidas de controle.

Em Cocal, após o levantamento dos dados epidemiológicos, a gestão local repassa esses
dados e identifica as questões mais prioritárias, em seguida propõe ações como a realização de
abordagens em escolas, mutirões de saúde em praças públicas e conscientização através de
palestras e atividades nas próprias UBS, priorizando também as demandas particulares de
cada população atendida localmente. Todo esse processo também gera a discussão sobre a
necessidade da aquisição de equipamentos para a realização de exames de forma mais
frequente, a contratação de profissionais especialistas para atender a demanda de toda a
população do munícipio, não sobrecarregando os outros munícipios, além da compra de
insumos e medicamentos para os grupos prioritários e com comorbidades de maior
prevalência.

Afim de exemplificar e entender um pouco a realidade local em relação ao cenário de


saúde do município em que trabalho, logo abaixo serão apresentados alguns indicadores do
município de Cocal comparando os anos de 2010 e 2020.

1. Taxa Bruta de Mortalidade = (Número total de óbitos de residentes/População total


residente) x 1.000

2010 → (132/26.036) x 1.000 = 5,07

2020 → (171/27.845) x 1.000 = 6,14

2. Taxa Bruta de Natalidade = (Número total de nascidos vivos residentes/População


total residente) x 1.000
2010 → (439/26.036) x 1.000 = 16,86

2020 → (446/27.845) x 1.000 = 16,02

3. Taxa de Mortalidade Infantil = (Número de óbitos de residentes com menos de um


ano de idade/Número de nascidos vivos de mães residentes) x 1.000

2010 → (17/439) x 1.000 = 38,72

2020 → (5/446) x 1.000 = 11,21

4. Taxa de Mortalidade Neonatal = (Número de óbitos neonatais/Número de nascidos


vivos de mães residentes) x 1.000

2010 → (14/439) x 1.000 = 31,9

2020 → (8/446) x 1.000 = 17,9

5. Taxa de Mortalidade na Infância = (Número de óbitos na infância/Número de


nascidos vivos de mães residentes) x 1.000

2010 → (2/439) x 1.000 = 4,55

2020 → (3/446) x 1.000 = 6,73

6. Proporção de Óbitos Neonatais = (Número de óbitos neonatais/Número de óbitos na


infância) x 100

2010 → (13/20) x 100 = 65

2020 → (4/11) x 100 = 36,4

7. Razão de Morte Materna = (Número de óbitos maternos/Número de nascidos vivos) x


100.000

2010 → (0/439) x 100.000 = x


2020 → (0/446) x 100.000 = x

Comparando os dados entre os anos de 2010 e 2020 houve queda de 4 dos 7 indicadores
de saúde no município de Cocal-PI. Esses números apontam para uma melhora no cenário da
Saúde como um todo nesse município. Houve decréscimo em quase todas as taxas de
mortalidade com relativa estabilidade na taxa de natalidade. Isso reflete um avanço e
eficiência nas ações de prevenção e cuidado voltadas para a população neonatal e da
população como um todo. O aumento na taxa de mortalidade na infância sinaliza não
necessariamente para uma piora na atenção a saúde dessa população, mas em outros aspectos
como o socioeconômico também pode haver um comprometimento. Não há notificações
nesses dois anos em relação ao número de óbitos maternos. Isso pode nos levar a inferir uma
provável atenção maior a assistência pré-natal, ao parto e ao puerpério.

Ainda exemplificando a questão dos indicadores de saúde, logo abaixo serão


apresentadas e discutidas algumas tabelas que ajudam a compor o perfil de mortalidade do
município de Cocal e do Piauí, estado em que está localizado.

Tabela 1

Segundo os dados da Tabela 1 as Doenças do Aparelho Circulatório e as Neoplasias


estavam entre as três maiores causas de óbitos nos anos de 2016 a 2020. Esses números
refletem o envelhecimento da população, estando essas doenças diretamente associadas tanto
a vida adulta (envolvendo questões socioeconômicas como estilo de vida e violência urbana)
quanto ao processo de envelhecimento com o aumento da expectativa de vida. Entretanto, a
população infantil também é afetada com o processo de urbanização, principalmente
relacionados ao saneamento inadequado. É interessante notar que a taxa de mortalidade por
doenças infeciosas e parasitárias saltou de uma média de 3,6% até 2019 para 15,1% em 2020,
coincidindo com o período da pandemia de Covid-19, acarretando a diminuição das outras
taxas nesse mesmo ano.

Tabela 2

Na tabela 2 em relação ao número de óbitos por outras afecções, que não as do item I,
os homens ainda são os mais expostos as causas externas como acidentes e violência urbana,
enquanto as mulheres estão mais suscetíveis a Doenças do Aparelho Circulatório, Metabólicas
e Neoplasias. Em relação as doenças infecciosas e parasitárias a população masculina no
período da pandemia apresentou um maior número de óbitos também devido ao fato de a
população economicamente ativa ser composta ainda pela maioria de homes adultos.

Em ambas as tabelas outro dado que nos chama atenção é a diminuição do número de
óbitos relacionados a Doenças do Aparelho Respiratório em todas as faixas etárias e sexo
comparando os anos até 2019 aos anos de 2020 e 2021. Provavelmente esse decréscimo tenha
ocorrido também no contexto da pandemia, devido as medidas de prevenção como o uso de
máscaras, distanciamento social e outras medidas voltadas para diminuição e detecção
principalmente de sintomas respiratórios.

Sem dúvida a pandemia trouxe consequências e afetou direta e indiretamente todos


esses dados epidemiológicos. A atenção, os esforços e recursos nas redes de saúde pública e
privada foram quase que inteiramente direcionados ao enfrentamento da pandemia
modificando significativamente a dinâmica social do país e do mundo.

Dando continuidade ao entendimento da importância dos indicadores de saúde para uma


eficaz aplicação desses dados, segue abaixo alguns indicadores em relação a situação
epidemiológica de algumas doenças e agravos de notificação compulsória, contribuindo para
um melhor entendimento do cenário geral e local.

Segundo dados do Ministério da Saúde, Secretária de Vigilância em Saúde e


Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis, a
Região Nordeste possui 13,4% dos casos de sífilis adquirida, 21% dos casos de sífilis em
gestantes e 30% dos casos de sífilis congênita do total de casos por 100 mil habitantes
diagnosticados em todo o país.

A partir da análise desses dados e de outros indicadores como faixa etária, sexo,
trimestre gestacional, etc. Atualmente, observa-se um progressivo aumento dos casos de sífilis
congênita nos últimos 10 anos, assim como a taxa de mortalidade infantil pela doença. É
importante ressaltar a presença de taxas elevadas na região Nordeste.

Na cidade de Cocal, segundo a mesma fonte citada anteriormente, foram registrados 6


casos de sífilis adquirida entre os anos de 2010 e 2020 com 75% desses casos nos anos de
2019 e 2020. Desses 6 casos, 83,3% eram homens. No caso da sífilis em gestantes foram
registrados 9 casos de 2005 até 2020, com um aumento em 2020 de 50% em relação a 2019.
A maior parte dos diagnósticos (42,9%) de sífilis em gestantes foi realizada ainda no primeiro
trimestre de gestação. Já em relação a sífilis congênita foram registrados 13 casos entre os
anos de 1998 e 2021 com 46,2% desses casos só no ano de 2019. Em todos os casos
registrados foi realizado pré-natal, mas em relação ao tratamento da mãe ele foi em sua
maioria inadequado, não realizado ou ignorado. Entretanto, não foi notificado nenhum óbito
durante todo o período anteriormente citado.
Esses números tem aumentado em todo o país devido à diminuição das práticas seguras
de sexo. A sífilis em gestantes associa-se a baixo nível de escolaridade, piores condições
socioeconômicas, antecedentes de risco obstétrico, início tardio do acompanhamento pré-natal
e número insuficiente de consultas, assim como ao manejo inadequado dos casos com perda
de oportunidade tanto para o diagnóstico quanto para o tratamento, à ausência de
aconselhamento, à falta tratamento do parceiro e ao tratamento inadequado dos casos
diagnosticados. Embora o número de consultas do pré-natal tenha aumentado, a qualidade
dessa assistência continua sendo precária, o que pode ser atestado pela alta incidência de
sífilis congênita. O acompanhamento pré-natal tem efeito protetor sobre a saúde da gestante e
da criança. Entretanto, a utilização dos serviços de cuidado é influenciada por fatores
individuais e sócio demográficos. O número de consultas por si só, não é garantia de
qualidade. Atualmente, a oferta de teste rápido de sífilis é crescente, mas sua utilização e
cobertura na Atenção Básica ainda não são satisfatórias.

A baixa escolaridade é considerada um marcador risco para exposição às doenças


sexualmente transmissíveis, uma vez que a compreensão adequada sobre a patologia,
tratamento e prevenção é importante para acompanhamento adequado das gestantes
diagnosticadas com sífilis. No que corresponde a faixa etária das gestantes a maioria são
adolescentes e adultas jovens. A prática da atividade sexual precoce mostra que ainda é
necessário melhorias nas estratégias de educação em saúde visando conscientizar a prática
sexual segura. Sabe-se que a assistência pré-natal de qualidade é uma medida efetiva para a
redução e o controle do número de casos de sífilis gestacional. Porém, pouca escolaridade e
baixa renda podem ser marcadores importantes de insuficiente acesso aos serviços de saúde.
Consequentemente, a assistência pré-natal inadequada contribui para a persistência da
transmissão vertical da sífilis nessa população. Em relação ao tratamento os maiores
percentuais foram considerados: inadequado, não realizado ou ignorado. Considera-se
tratamento inadequado aquele realizado com qualquer medicamento que não a penicilina,
inadequado para a fase clínica da doença ou parceiro sexual com sífilis não tratado ou tratado
inadequadamente. A ausência de tratamento dos parceiros traduz-se como uma condição
desencadeadora de reinfecções e perpetuação da incidência de sífilis. A inclusão do parceiro
no pré-natal tem sido uma importante estratégia para a abordagem do problema, visto que
para o sucesso do tratamento da sífilis durante a gestação, a terapia do parceiro é de extrema
importância, e é decisivo para a cura eficaz da mãe e, consequentemente, para o fim do
agravo.
Em relação aos sistemas de informação em saúde, que são ferramentas para coletar,
processar, transmitir e monitorar dados, eles são de fundamental importância, pois permitem
que a partir desses dados seja realizada uma análise para compreender melhor a situação da
saúde de uma população e, posteriormente, subsidiar ações concretas para a melhoria da saúde
como um todo.

O Sistema de Informação em Saúde para Atenção Básica – SISAB é uma dessas


ferramentas, possuindo acesso público aos indicadores operacionais e de desempenho da
Atenção Básica.

Segundo dados do relatório de Pré-natal da Atenção Básica extraídos da ferramenta


SISAB, o município de Cocal – PI nos anos de 2019 e 2020 possui, em relação ao número de
gestantes em atendimento e de consultas realizadas, os seguintes valores: 317 gestantes com o
primeiro atendimento de pré-natal em 2019 e 355 gestantes em 2020; 124 gestantes com o
primeiro atendimento até a 12ª semana de gestação em 2019 e 144 gestantes em 2020; 16
gestantes com exames avaliados até a 20ª semana em 2019 e 17 gestantes em 2020; quanto ao
número de consultas de pré-natal em 2019 foram 212 gestantes com 1 a 3 atendimentos, 88
gestantes com 4 a 5 atendimentos e 47 gestantes com 6 ou mais atendimentos; já em 2020
foram 223 gestantes com 1 a 3 atendimentos, 72 gestantes com 4 a 5 atendimentos e 60
gestantes com 6 ou mais atendimentos.

A partir desses dados é possível inferir que houve uma provável melhora nos serviços
de saúde relacionados ao atendimento de pré-natal, devido ao aumento na quase totalidade
dos indicadores. Esses números refletem uma melhoria no adequado acolhimento e detecção
precoce da gravidez, na correta solicitação e eficaz análise de exames da rotina pré-natal,
assim como o acompanhamento adequado. Vale ressaltar a diminuição do número de
gestantes com 4 a 5 atendimentos. Esse dado nos revela uma provável descontinuidade das
consultas de pré-natal devido à resistência ou desinteresse de algumas gestantes em realizar o
número de consultas considerado adequado, por não apresentarem nenhuma complicação,
principalmente em multíparas.

É fato que esses indicadores são muito importantes para avaliar a qualidade do
atendimento pré-natal como um todo, acompanhamento necessário para garantir uma gestação
e um parto com menos riscos de complicações.
O Sistema de Informação de Agravos de Notificação - SINAN é mais uma das
ferramentas que compõem o sistema de informação em saúde. Sua função é fornecer
informações sobre as doenças de notificação compulsória.

Segundo dados do SINAN no município de Cocal-PI entre os anos de 2014 a 2017


foram notificados 246 casos de Dengue. Não há nenhum caso notificado ou óbito por Dengue
desde o ano de 2018 até o momento. Já em relação a Chikungunya também não houve casos
notificados ou óbitos no período pesquisado de 2018 a 2021.

Quanto a violência doméstica os dados fornecidos mostram que no período de 2012 a


2021 foram notificados 13 casos de violência doméstica no município. Há dados de 2012 com
1 caso notificado e do período de 2014 a 2016 com 1 caso notificado em cada ano. Em 2019
foram notificados 3 casos e em 2021 foram 6 casos até o momento.

Ainda de acordo com o SINAN os dados referentes a violência sexual mostram que
houve 3 notificações no ano de 2015, 1 notificação em 2016, 3 notificações em 2019 e 6
notificações em 2021.

Já as informações sobre as tentativas de suicídio no ano de 2019 foram registradas 3


notificações e em 2021 foram 6 notificações. Não há dados em relação ao ano de 2020. Em
relação ao número de óbitos por suicídio, de acordo com os dados disponibilizados pela
Secretária de Saúde do Piauí – SESAPI, houve 1 óbito em 2018, 3 óbitos em 2019 e 4 óbitos
em 2020. Dos 8 óbitos por suicídio nesse período, 7 foram cometidos por homens e 1 por
mulheres.

Com exceção dos números referentes a Dengue e Chikungunya, os outros dados


mostram um aumento gradual dos números, provavelmente, reflexo das questões
socioeconômicas derivadas do processo de urbanização. Além disso, esses números também
sofreram influências do período conturbado da pandemia, onde aumentou a permanência das
pessoas em casa, tanto pelo isolamento social, quanto pelo desemprego, gerando conflitos e
adoecimento mental.

O Programa Nacional de Imunizações (PNI) é uma importante ferramenta para a


eliminação e controle de doenças a exemplo de algumas relacionadas a lista nacional de
notificação compulsória de doenças e agravos. De acordo com dados obtidos no DATASUS,
no período de 2017 a 2021, o município de Cocal-PI apresentou taxas de cobertura vacinal
respectivamente aos anos citados de 68,68; 67,17; 62,68; 57,14; e 44,83. A partir desses dados
é perceptível a queda dessa cobertura, não sendo possível atingir as metas propostas.

Com o advento da pandemia agravou-se ainda mais essa queda, tanto inicialmente pela
interrupção dos serviços de vacinação (com o adiamento de doses programadas) quanto ao
movimento contra a vacinação, além do direcionamento dos esforços para o enfrentamento da
pandemia.

No momento atual, o calendário vacinal segue em conjunto com a campanha de


vacinação para a Covid-19. A gestão e os profissionais da saúde têm tentado retomar as
atividades de conscientização para a importância da vacinação, afim de evitar ou reverter o
ressurgimento de algumas doenças devido a essa baixa cobertura vacinal.

Ainda em relação aos sistemas de informação em saúde, os mesmos estão sob a gestão
da Secretaria de Vigilância em Saúde e das Secretárias de Saúde. Outras duas importantes
ferramentas são o Sistema de Informação sobre Mortalidade – SIM e o Sistema de Informação
sobre Nascidos Vivos – SINASC.

Segundo o Artigo 5º da Portaria Nº. 116, de 11 de Fevereiro de 2009 as Secretarias


Municipais de Saúde têm como atribuições: coletar, processar, consolidar e avaliar os dados
provenientes das unidades notificantes; transferir os dados em conformidade com os fluxos e
prazos estabelecidos pelos níveis nacional e estadual; desenvolver ações para o
aprimoramento da qualidade da informação; retroalimentar os dados para as unidades
notificadoras; divulgar informações e análises epidemiológicas; estabelecer e divulgar
diretrizes, normas técnicas, rotinas e procedimentos de gerenciamento dos sistemas, no
âmbito do Munícipio, em caráter complementar à atuação das esferas Federal e Estadual.

O município de Cocal-PI realiza a coleta de dados a partir das informações coletadas


nas fichas de atendimento individual realizadas tanto pelos médicos quanto pelas enfermeiras
de cada UBS. Esses dados são repassados ao setor responsável na Secretária diariamente,
sendo entregues pessoalmente por esses profissionais ao fim do dia de trabalho. Após o
recebimento, processamento e transferência dessas informações pelo setor responsável, a
gestão analisa esses dados e repassa as primeiras impressões, inicialmente aos profissionais
através de reuniões semanais, afim de entender problemas específicos de cada UBS e discutir
alternativas e soluções imediatas.
Ao longo do ano, a partir dos dados gerados e da análise e discussão dos mesmos, a
gestão juntamente com os coordenadores elaboram e divulgam boletins e números dos
indicadores, apresentando também metas e medidas para a aplicação de soluções através de
campanhas (como Outubro Rosa e Novembro Azul) e ações (como mutirões em praças e
escolas) com alcance para toda a população do município.

É válido ressaltar que a gestão em saúde do munícipio que trabalho atualmente nos
incentiva e nos dá liberdade para propor e elaborar ações locais a partir das dificuldades
específicas de cada UBS. Além das campanhas e ações coletivas em datas específicas a
unidade que trabalho, assim como outras, realizam intervenções em datas que melhor se
adequam a sua realidade, no entanto, o resultado dessas ações são repassados através de
relatórios para a Secretária de Saúde.

Com intuito de aprimorar a qualidade do SUS em relação a esse processo


epidemiológico subsidiado pelos sistemas de informações em saúde, o Ministério da Saúde
em parceria com Universidade Federal de Goiás elaborou um material institucional em
Análise de Situação de Saúde – ASIS que objetiva aprimorar profissionais e gestores de saúde
quanto ao uso de informações e conhecimentos epidemiológicos.

Em resumo, a ASIS é um importante instrumento de coleta, análise e aplicação de dados


para uma mais eficiente gestão em saúde. Sendo assim, a produção desse conhecimento
resultante torna-se fundamental para a análise situacional da relação saúde-doença de uma
comunidade, fornecendo melhor direcionamento dos recursos a serem aplicados para a
resolução dos problemas, além de permitir o acesso a novas informações tanto pelos
profissionais de saúde quanto a população assistida, mantendo a coleta de informações do
processo que segue em constante mudança, a realidade social.

Para que não se limite a coleta e produção de informações à semelhança de alguns


processos de produção acadêmica, a ASIS deve ser tomada de certos atributos desejáveis:
processos contínuos; estratégicos; oportunos; análise e síntese; analisa a situação de saúde;
metodologicamente adequadas; valorização da validade externa; preferencialmente
multidisciplinar; preferencialmente participativo; preferencialmente institucionalizados;
favorável razão de custo-efetividade para a produção do conhecimento. Sendo assim, deve ser
um processo contínuo, como também é dinâmico o processo de saúde-doença, devendo ser
organizado e sistemático para uma eficiente alocação dos recursos em saúde em acordo com a
realidade única situacional-temporal de uma comunidade. E devido à enorme abrangência de
informações absorvidas, elas devem ser sintetizadas para que se possa promover ações mais
concretas, além de ser coletadas por instrumentos precisos. Essas ações não devem ser
restritas, afim de que possam ser utilizadas em outras comunidades, contando com a
participação de todos os atores sociais, utilizando-se das várias áreas do conhecimento,
organizadas por uma gestão específica e competente para que os recursos destinados a todo
esse processo sejam utilizados de forma economicamente inteligente.

Seguindo uma tendência de se afastar um pouco da teorização acadêmica e se


aproximar mais dos dados concretos de uma realidade social “viva”, a exemplo da Medicina
baseada em evidências, a ASIS serve a SCBE (saúde coletiva baseada em evidências) como
instrumento para a coleta, análise e intervenção de dados de maneira mais inteligente e
reflexiva para uma melhor aplicação das políticas públicas em saúde. Contudo, isso não
significa que as tradicionais fontes acadêmicas devam ser desconsideradas ou abandonadas,
mas que outras fontes também façam parte desse processo de produção e de aplicação desse
conhecimento.

Para que se possa produzir, disseminar e aplicar o conhecimento adquirido a luz da


SCBE é necessário que essas evidências possuam qualidades essenciais: a produção os dados
coletados devem ser analisados criticamente utilizando-se de ferramentas e métodos
comprovadamente eficazes para que se possa reduzir ao máximo de dados falsos ou vieses,
afim de gerar dados confiáveis e ser possível sintetiza-los sem perda da qualidade; a
distribuição dos dados deve-se dar de forma clara, adaptando-se a linguagem e realidades
distintas; sua aplicabilidade deve ser eficaz e gerar nos gestores e outros personagens dessa
dinâmica em saúde motivação através de uma propaganda clara, inspiradora e efetiva para a
aplicação das políticas públicas em saúde, gerando em contrapartida resultados positivos, que
consequentemente permite e estimula reiniciar todo o processo.

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