Em um de seus poucos momentos de lucidez, após sair de seu habitual estado
catatônico, aquela que me gerou invadiu minha mente com histórias perturbadoras sobre o dia em que a vida dela mudara para sempre. A pequena vila onde morava estava prestes a ser varrida por um terrível flagelo que assola esse mundo. Ela me disse que à medida que a destruição iminente se aproximava sentia calafrios percorrerem todo seu corpo até que seu coração fosse totalmente tomado pelo medo. Estranhas e carregadas nuvens se aproximavam e sem piedade elas desabaram em cima da pequena vila como uma terrível chuva de sangue e as horrendas cenas que se seguiram despedaçaram seu espírito. Por sorte ou azar ela sobreviveu, no entanto, nunca mais foi a mesma. A partir dali uma força selvagem crescia dentro dela. Após vagar algum tempo perdida ela foi achada por um solitário homem praticante das artes arcanas e algum tempo depois ela deu a luz a mim. Logo depois ela pronunciou as palavras KAN (sangue em um idioma desconhecido) e o homem que a acolhera decidiu que aquele seria meu nome.
Eu me sentia diferente, minha pele era diferente daqueles que eu convivi e
minha mente era povoada por sensações conflitantes, por isso fazia perguntas que o homem foi me respondendo com o tempo e que a mulher falava quando lúcida. Com isso fui entendendo um pouco de minha origem, mas isso não aplacava minhas inquietudes. As noites nunca eram tranquilas, a mulher gritava e se debatia enquanto dormia até um dia em que uma estranha sensação tomou minha mente e corpo e eu simplesmente decidi por fim ao meu e a seu sofrimento. O homem não me recriminou por isso e continuou cuidando de mim, domando minha natureza arredia, ensinando-me suas artes arcanas e me fazendo buscar entender minha relação com o mundo que me cercava. Algumas de suas palavras ficaram profundamente gravadas na minha mente e apenas confirmaram um sentimento que já havia dentro de mim. Ele me dizia: sobreviva e faça o que for preciso para tal. Com o tempo ele percebeu a ameaça que eu poderia me tornar, mas antes que ele fizesse algo pus em pratica o que me ensinou e, então, sobrevivi. Já ele...
Agora sigo tentando ficar mais forte, tentando compreender minha natureza e poder que cresce a cada dia, tentando domar meus instintos estranhos, tentando sobreviver.