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Amanda Gomes Ribeiro, Jaqueline Bragio, Patrícia Marin Callegari, Cristiane

Lovati Dal'Col Azeredo


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QUALIFICAÇÃO DA INFORMAÇÃO SOBRE MORTALIDADE


INFANTIL EM NÍVEL REGIONAL: RELATO DE EXPERIÊNCIA

QUALIFICATION OF INFORMATION ON INFANT MORTALITY AT


THE REGIONAL LEVEL: AN EXPERIENCE REPORT

CALIFICACIÓN DE LA INFORMACIÓN SOBRE MORTALIDAD


INFANTIL A NIVEL REGIONAL: UN INFORME DE EXPERIENCIA

Amanda Gomes Ribeiro1


Jaqueline Bragio2
Patrícia Marin Callegari3
Cristiane Lovati Dal'Col Azeredo4

DOI: 10.54751/revistafoco.v16n6-187
Recebido em: 23 de Maio de 2023
Aceito em: 27 de Junho de 2023

RESUMO
A mortalidade infantil é um indicador de qualidade dos sistemas de saúde, bem como
do desenvolvimento econômico e social de uma população. O Espírito Santo possui
diferenças regionais marcantes em relação ao desenvolvimento socioeconômico e a
distribuição dos recursos assistenciais em saúde. Esse fato aponta para a necessidade
de aprofundar, em cada região de saúde, a análise da distribuição dos óbitos infantis,
bem como seus fatores determinantes e condicionantes. O presente trabalho tem como
objetivo sistematizar a experiência da Vigilância do Óbito em uma regional de saúde,
com foco nas estratégias de produção de informações e análises sobre mortalidade
infantil em nível regional. Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência,
com enfoque no processo de trabalho de vigilância e produção de informações em
saúde enquanto instrumentos de prevenção de óbitos infantis evitáveis. Baseou-se na
vivência de parte da equipe técnica responsável pela Vigilância do Óbito da
Superintendência Regional de Saúde de Cachoeiro de Itapemirim entre os anos de 2020
e 2021. No período de análise, foi delimitado o perfil epidemiológico dos óbitos infantis
da região e implantadas ações sistemáticas de acompanhamento dos eventos e seu
status de investigação, que resultaram em duas investigações em conjunto com
municípios da região e capacitações sobre investigação de óbitos, com levantamento

1
Doutora em Saúde Coletiva. Secretaria Estadual de Saúde do Espírito Santo (SESA-ES). Avenida Engenheiro Fabiano
Vivácqua, 191, Marbrasa, Cachoeiro de Itapemirim – ES, CEP: 29313-656.
E-mail: amandagribeiro@gmail.com
2
Doutora em Educação. Secretaria Estadual de Saúde do Espírito Santo (SESA-ES). Avenida Engenheiro Fabiano
Vivácqua, 191, Marbrasa, Cachoeiro de Itapemirim – ES, CEP: 29313-656. E-mail: bragio.jaqueline@gmail.com
3
Especialista Latu sensu em Gestão em Saúde. Superintendência Regional de Saúde de Cachoeiro de Itapemirim
(SRSCI). Avenida Engenheiro Fabiano Vivácqua, 191, Marbrasa, Cachoeiro de Itapemirim – ES, CEP: 29313-656.
E-mail: patriciacallegari@saude.es.gov.br
4
Especialista Latu sensu em Vigilância em Saúde. Secretaria Estadual de Saúde do Espírito Santo (SESA-ES). Avenida
Engenheiro Fabiano Vivácqua, 191, Marbrasa, Cachoeiro de Itapemirim – ES, CEP: 29313-656.
E-mail cristianelovati@gmail.com

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NÍVEL REGIONAL: RELATO DE EXPERIÊNCIA
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dos principais desafios da prática nos municípios. As ações implementadas apontam


para o avanço no delineamento de um perfil regional, bem como a identificação dos
principais obstáculos a serem vencidos na prevenção dos óbitos infantis localmente.

Palavras-chave: Mortalidade infantil; monitoramento epidemiológico; serviços de


vigilância epidemiológica.

ABSTRACT
Infant mortality is an indicator of the quality of healthcare systems, as well as the
economic and social development of a population. Espírito Santo exhibits significant
regional differences in terms of socioeconomic development and the distribution of
healthcare resources. This fact highlights the need to further analyze the distribution of
infant deaths, as well as their determining and conditioning factors, in each health region.
This study aims to systematize the experience of Death Surveillance in a health region,
focusing on the strategies for producing information and analysis on infant mortality at
the regional level. It is a descriptive study, based on an experience report, with a focus
on the surveillance work process and the production of health information as tools for
preventing avoidable infant deaths. The study draws from the experience of part of the
technical team responsible for Death Surveillance at the Regional Health
Superintendence of Cachoeiro de Itapemirim between 2020 and 2021. During the
analysis period, the epidemiological profile of infant deaths in the region was identified,
and systematic actions were implemented to monitor these events and their investigation
status, resulting in two joint investigations with municipalities in the region and training
sessions on death investigation, which identified the main challenges in the practice at
the municipal level. The implemented actions indicate progress in delineating a regional
profile, as well as identifying the main obstacles to be overcome in preventing infant
deaths locally.

Keywords: Infant mortality; epidemiological monitoring; epidemiological surveillance


services.

RESUMEN
La mortalidad infantil es un indicador de la calidad de los sistemas de salud, así como
del desarrollo económico y social de una población. Espírito Santo presenta marcadas
diferencias regionales en términos de desarrollo socioeconómico y distribución de
recursos de atención médica. Este hecho resalta la necesidad de profundizar en cada
región de salud el análisis de la distribución de las defunciones infantiles, así como sus
factores determinantes y condicionantes. Este estudio tiene como objetivo sistematizar
la experiencia de la Vigilancia de Defunciones en una región de salud, centrándose en
las estrategias de producción de información y análisis sobre la mortalidad infantil a nivel
regional. Se trata de un estudio descriptivo, tipo informe de experiencia, con un enfoque
en el proceso de trabajo de vigilancia y producción de información en salud como
herramientas para prevenir muertes infantiles evitables. El estudio se basa en la
experiencia de parte del equipo técnico responsable de la Vigilancia de Defunciones de
la Superintendencia Regional de Salud de Cachoeiro de Itapemirim entre 2020 y 2021.
Durante el período de análisis, se delimitó el perfil epidemiológico de las defunciones
infantiles en la región y se implementaron acciones sistemáticas para el seguimiento de
estos eventos y su estado de investigación, lo que resultó en dos investigaciones
conjuntas con municipios de la región y capacitaciones sobre investigación de
defunciones, que identificaron los principales desafíos en la práctica a nivel municipal.
Las acciones implementadas indican avances en la delineación de un perfil regional, así
como la identificación de los principales obstáculos a superar en la prevención de
muertes infantiles a nivel local.

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Palabras clave: Mortalidad infantil; monitoreo epidemiológico; servicios de vigilancia


epidemiológica.

1. Introdução
A mortalidade infantil é um indicador de qualidade dos sistemas de saúde,
bem como do desenvolvimento econômico e social, refletindo as condições de
vida de uma população. Por isso mesmo, a redução da taxa de mortalidade
infantil constitui uma das Metas do Desenvolvimento do Milênio, compromisso
assumido pelos países integrantes da Organização das Nações Unidas (ONU),
dentre eles o Brasil (UNITED NATIONS, 2000).
Apesar do declínio observado no país nas últimas décadas, a mortalidade
infantil permanece como um grande desafio ao sistema público de saúde
brasileiro. Os níveis atuais ainda são considerados elevados, sobretudo no
componente neonatal (óbitos de 0 a 27 dias de vida), que guarda estreita relação
com a assistência ao pré-natal, ao parto e ao recém-nascido. Apesar de uma
notável redução da taxa de mortalidade neonatal de 25,33/1.000 nascidos vivos
em 1990 para 8,5 óbitos/1.000 nascidos vivos em 2019, a magnitude dos óbitos
neonatais no Brasil é alta em comparação com países desenvolvidos, e revela
desigualdades regionais na qualidade e no acesso às ações e serviços de
atenção materno-infantil (BERNARDINO, 2021; WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 2020; UNICEF, 2019).
Em sua maioria, os óbitos infantis são considerados evitáveis, desde que
garantido o acesso em tempo oportuno a serviços qualificados de saúde.
Segundo a literatura, as principais causas de óbitos infantis são a prematuridade,
a malformação congênita, a asfixia intraparto, as infecções perinatais e os fatores
maternos (FRANÇA et al., 2017). Tais causas, com exceção da malformação
congênita, destacam-se como claramente preveníveis por ação dos serviços de
saúde (MALTA, 2010). Segundo o Inquérito Nacional sobre Parto e Nascimento
(Pesquisa Nascer no Brasil), a distribuição da mortalidade e das causas de óbito
neonatal varia de acordo com as regiões brasileiras e grupos sociodemográficos,
apontando para a necessidade de diferentes focos na priorização de
investimento local na organização e qualificação da atenção (LANSKY et al.,

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2014).
Em relação à distribuição geográfica da mortalidade infantil, de acordo
com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Espírito
Santo possui uma das menores taxas de mortalidade infantil do Brasil (IBGE,
2019). No período entre 2017 e 2019, as taxas de mortalidade tem mostrado
padrões similares, próximos de 10/1.000 nascidos vivos, com pequenas
variações entre as diferentes regiões de saúde (TABNET, 2021), apesar das
marcadas diferenças regionais em relação ao desenvolvimento socioeconômico
e na distribuição dos recursos assistenciais em saúde. Esse fato aponta para a
necessidade de aprofundar, em cada região de saúde, a análise da distribuição
dos óbitos infantis, bem como seus fatores determinantes e condicionantes, de
forma a compreender as especificidades que perpetuam os valores encontrados
em cada região, e estabelecer, de acordo com o diagnóstico local, ações
específicas de acordo com a realidade regional.
Na Região Sul (ESPÍRITO SANTO, 2020), a necessidade de
reorganização da atenção materno-infantil, evidenciada na elaboração do Plano
de Ação Regional da Rede Cegonha, vem levantado, desde 2013, diversas
discussões em nível regional sobre o problema da mortalidade materno-infantil.
Os planos regional e municipais foram atualizados no ano de 2020, evidenciando
avanços e entraves que persistem na melhoria da atenção prestada às
gestantes, recém-nascidos e puérperas da região.
Nesse contexto, a vigilância regional da mortalidade materna, infantil e
fetal têm buscado nos últimos anos dar maior visibilidade às especificidades
regionais relacionadas ao óbito infantil, por meio da análise e divulgação dos
dados dos óbitos na região. A produção de relatório analítico anual do óbito visa
contribuir para uma interlocução permanente com os gestores de saúde e para
a elaboração dos Planos de Redução da Mortalidade Infantil e Fetal, visando
uma interferência mais efetiva nas políticas públicas dirigidas às necessidades
da população.
Vários desafios têm sido evidenciados a partir dessas análises, seja em
nível regional, com a necessidade de organização do acesso ao parto seguro e
da melhoria da assistência prestada; tanto quanto em nível municipal, com a

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organização de um pré-natal de qualidade e de transporte sanitário seguro. O


presente trabalho tem como objetivo sistematizar a experiência da Vigilância do
Óbito em uma regional de saúde, com foco nas estratégias de produção de
informações e análises sobre mortalidade infantil em nível regional, que sejam
úteis aos profissionais e gestores regionais e municipais.

2. Metodologia
Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência, com
enfoque no processo de trabalho de vigilância e produção de informações em
saúde enquanto instrumentos de prevenção de óbitos infantis evitáveis. Baseou-
se na vivência de parte da equipe técnica responsável pela Vigilância do Óbito
da Superintendência Regional de Saúde de Cachoeiro de Itapemirim, braço
regionalizado de atuação da Secretaria de Estado da Saúde.
Estabeleceu-se o período de análise das estratégias adotadas, os anos
entre 2020 e 2021. Optou-se por esse intervalo levando em consideração a
consolidação dos indicadores de mortalidade infantil utilizados no diagnóstico
situacional do atual Plano de Ação da Rede Materno Infantil na região, realizado
em 2020 e os desdobramentos práticos das análises realizadas, como as
capacitações para as equipes municipais de vigilância do óbito. O conteúdo
apresentado integra as atividades cotidianas da autora, que implementou em sua
rotina de trabalho diferentes instrumentos de monitoramento e análise dos óbitos
infantis com objetivo de qualificar as informações em nível regional, contribuindo
para o planejamento local.

2.1 Caracterização da Região Sul e da Vigilância Regional do Óbito Infantil


A Região Sul é composta por 26 dos 78 municípios do Espírito Santo,
conforme divisão do Plano Diretor de Regionalização (2011; 2020). A região é a
segunda mais populosa, correspondendo a cerca de 20% da população do
estado. Dos municípios da região, Cachoeiro de Itapemirim constitui o polo
econômico, concentrando o maior número de habitantes e os serviços de saúde
de maior complexidade, incluindo a única Maternidade de Alto Risco e os leitos
e cuidado intensivo neonatal da região.

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A Superintendência Regional de Saúde de Cachoeiro de Itapemirim


(SRSCI) é o órgão vinculado à Secretaria Estadual de Saúde (SES-ES)
responsável administrativamente pela organização da regulação assistencial,
monitoramento e apoio institucional aos 26 municípios da região. É organizada
em dois Núcleos: Regulação de Acesso e Vigilância em Saúde. Nesse último,
localizam-se os setores de Vigilância Sanitária, Ambiental e Epidemiológica e
Vigilância em Saúde do Trabalhador.
A vigilância do óbito infantil é área temática de atuação dentro do setor de
Vigilância Epidemiológica, e realiza o acompanhamento sistemático das
notificações dos óbitos infantis no Sistema de Informação de Mortalidade (SIM),
assim como o módulo de investigação dos óbitos, a fim de obter informações
capazes de evidenciar o perfil da saúde materno-infantil na região. A equipe de
vigilância do óbito é constituída por duas técnicas da vigilância epidemiológica,
responsáveis pelo monitoramento dos dados municipais e apoio direto às
equipes municipais de vigilância.

2.2 O Processo de Análise Epidemiológica da Mortalidade Infantil


A produção de relatório analítico anual constitui uma das principais
atividades de qualificação da informação sobre a mortalidade infantil em nível
regional. A configuração atual do relatório, com maior quantitativo de indicadores
acompanhados e maior detalhamento de causas de óbito, foi idealizada no ano
de 2015. A mudança na forma de elaboração do relatório foi resultado da
participação da técnica da vigilância do óbito no processo de construção de um
Plano de Intervenção Regional nesse mesmo ano, que tinha como um dos
problemas prioritários na região a mortalidade infantil. A realização de um
diagnóstico mais profundo da situação do óbito na região no período, despertou
na equipe a necessidade de implantar tal prática de forma sistemática, como
forma de acompanhar a evolução regional e subsidiar as ações de planejamento
de forma contínua.
O último relatório foi produzido pela vigilância regional no ano de 2020 e
compreendeu dados do triênio 2017-2019. Foi utilizado como fonte de dados o
Sistema de Informação de Nascidos Vivos (SINASC) e o Sistema de Informações

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sobre Mortalidade (SIM) da Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo.


As variáveis de interesse na análise foram: município de residência; faixa etária
do óbito (0-6 dias; 7-27 dias, 28 dias-1 ano incompleto); peso ao nascer (normal:
entre 2.500 e 4.000g; Baixo peso: entre 1500 e 2500; Muito baixo peso: menor
que 1500g); idade gestacional (termo: maior ou igual a 37 semanas;
Prematuridade: entre 32 e 37 semanas; Prematuridade extrema: menor ou igual
a 32 semanas); percentual (%) de óbitos infantis investigados, causa básica do
óbito, estabelecimento em que ocorreu o óbito.
As causas básicas de morte foram identificadas segundo a Classificação
Internacional de Doenças, 10ª revisão (CID-10) (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA
SAÚDE, 2000). Para os óbitos neonatais foi utilizada uma lista reduzida de
tabulação das causas, conforme modelo proposto por França e Lansky (2009),
com o objetivo de destacar os grupamentos segundo sua importância na
orientação das ações de saúde dirigidas à prevenção da mortalidade neonatal.
A taxa de mortalidade infantil (TMI) regional foi definida pelo número de
mortes de menores de 01 ano de idade para cada 1000 crianças nascidas vivas
no período analisado. Os municípios da região, com exceção de Cachoeiro de
Itapemirim, possuem baixo contingente populacional (menos de 80.000
habitantes), e por esse motivo, para minimizar as variações aleatórias, a
apresentação dos dados da mortalidade infantil foi dada pelo nº absoluto de
óbitos infantis e também usando correções a partir de dados médios por triênio,
para garantir maior estabilidade aos indicadores de adequação das informações
vitais e, consequentemente, às taxas de natalidade e à taxa de mortalidade
infantil (BITTENCOURT, 2013).
Em relação à classificação de evitabilidade, foi utilizada nesse estudo a
Lista de Causas de Mortes Evitáveis por Intervenções no Âmbito do Sistema
Único de Saúde do Brasil (MALTA, 2010), que organiza os óbitos utilizando como
referência grupamentos de causa básica, segundo a Classificação Internacional
de Doenças, com a seguinte organização para causas de óbitos entre menores
de cinco anos de idade:
1. Causas evitáveis
1.1 Reduzíveis por ações de imunoprevenção;

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1.2 Reduzíveis por adequada atenção à mulher na gestação e parto e ao


recém-nascido: 1.2.1 Reduzíveis por adequada atenção à mulher na
gestação; 1.2.2 Reduzíveis por adequada atenção à mulher no parto;
1.2.3 Reduzíveis por adequada atenção ao recém-nascido; 1.3
Reduzíveis por ações adequadas de diagnóstico e tratamento; 1.4
Reduzíveis por ações adequadas de promoção à saúde, vinculadas a
ações adequadas de atenção à saúde;
2. Causas mal-definidas;
3. Demais causas (não claramente evitáveis).

2.3 O Monitoramento dos Óbitos Infantis Enquanto Rotina


Além da melhoria da análise dos indicadores de mortalidade infantil,
percebeu-se a também necessidade de um processo mais organizado de
acompanhamento dos óbitos. A partir dessa necessidade criou-se um
instrumento de acompanhamento de todos os óbitos infantis constantes no SIM
módulo investigação.
Com periodicidade semanal, os dados das declarações de óbito (DO)
constantes no SIM módulo investigação foram extraídos manualmente e
consolidados em planilha própria, com as variáveis de interesse para
acompanhamento dos óbitos que possivelmente indicavam problemas mais
sérios na assistência à gestante a ao recém-nascido. Na planilha constam
número da DO, município de residência, data de nascimento e de óbito, peso ao
nascer, idade gestacional, idade materna, escolaridade materna, tipo de parto,
tipo de óbito (neonatal precoce, neonatal tardio e pós-neonatal), local de
ocorrência, causa básica de óbito, classificação de evitabilidade e status de
investigação epidemiológica (óbito investigado, investigação no prazo,
investigação atrasada). Por meio da análise dos óbitos constantes na planilha foi
possível identificar de forma rápida o padrão de óbitos que vai se estabelecendo
na região no decorrer do ano e os municípios com situação mais preocupante
em relação à ocorrência e/ou investigação dos óbitos infantis.
Ainda, de forma a auxiliar, com objetivo de melhorar a situação de
investigação dos óbitos pelos municípios da região, foi iniciado no ano de 2020,

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a elaboração de boletim mensal com a situação de investigação de óbitos na


região. O boletim traz a situação de investigação dos óbitos não somente infantis,
mas também dos demais óbitos de investigação obrigatória: mulher em idade
fértil, materno e fetal.

3. Resultados e Discussão
3.1 Perfil de Mortalidade Infantil na Região Sul
A definição e compreensão do perfil de óbitos na região é parte
fundamental da qualificação do processo de vigilância do óbito. A elaboração de
um perfil regional permitiu que fossem identificadas as principais características
de adoecimento e morte nos menores de 1 ano, e consequentemente contribuiu
para reflexão das principais fragilidades existentes na assistência à saúde desse
público.
Entre os anos de 2017 e 2019 ocorreram 282 óbitos em menores de 1
ano. Em relação ao componente da mortalidade infantil, observa-se no período
analisado a maior ocorrência de óbitos neonatais, sobretudo neonatais precoces
(0-6 dias), que no ano de 2019 representaram mais de 50% (n=55) do total de
óbitos infantis na região. Em relação ao componente pós-neonatal, referente aos
óbitos entre o 28º e o 364º dia de vida, observa-se maior taxa de óbito no ano
de 2019 em relação aos anos anteriores. Analisando as causas de óbito pós-
neonatal nesse ano, destaca-se o aumento do número de óbitos por infecções
respiratórias agudas (influenza, pneumonias e bronquite aguda).
Dos 26 municípios da região, 10 tiveram valores de TMI maiores que a
média regional no triênio 2017/2019. Nos anos analisados, percebe-se
estabilidade na TMI na região, que, no entanto, não alcançou a meta de reduzir
os óbitos infantis para < 10/1.000 NV.
Em relação à investigação epidemiológica dos óbitos infantis, em 2019,
dos 26 municípios da região, 18 investigaram 100% dos óbitos de menores de 1
ano de seu território, 4 não registraram óbito infantil e 4 ficaram com
investigações pendentes, dentre eles Ibitirama e Divino de São Lourenço, que
registram problemas na investigação também nos outros anos analisados.
Conforme resultados de estudos realizados no Paraná (SANTOS et al., 2014),

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Rio Grande do Sul (SILVA et al., 2012), São Paulo (VENÂNCIO; PAIVA, 2010),
Minas Gerais (DUTRA et al., 2015), Alagoas (CAETANO; VANDERLEI; FRIAS,
2013) e Bahia (SANTANA; AQUINO; MEDINA, 2012) o número de óbitos infantis
investigados no país era reduzido.
Na região Sul do Espírito Santo ao contrário, o percentual de investigação
dos óbitos infantis é relativamente alto, próximo aos 95%. No entanto, cabe
destacar que apesar da alta porcentagem de óbitos investigados como relatado
em outros estudos (CAETANO; VANDERLEI; FRIAS, 2013; DUTRA et al., 2015)
nem sempre os dados possuem qualidade, e a informação gerada não alcança
os objetivos propostos. Dentre os problemas identificados na região sul,
destacam-se a má qualidade do preenchimento da declaração do óbito (omissão
das informações sobre raça/cor, escolaridade, estado civil, ocupação da mãe,
idade gestacional, peso ao nascer, tempo de ocorrência dos eventos que
levaram a morte) e dos dados da ficha síntese de investigação (não acrescenta
as informações faltantes e nem modifica nenhuma informação da DO; omissão
dos dados sobre a realização do pré-natal, não preenchimento da parte II-
análise do caso).
Em relação aos óbitos neonatais, não foi possível analisar os óbitos por
variáveis importantes como raça/cor e escolaridade materna devido ao grande
percentual de declarações de óbito sem essa informação. Em relação à idade
materna, no ano de 2019, a taxa de mortalidade neonatal entre as faixas etárias
≤19 anos e 20 a 34 anos foram próximas (5,8 e 5,2/1000 NV respectivamente),
mas a taxa de óbito na faixa ≥ 35 anos foi de 31,7/1000 NV, muito superior à
média regional e das outras faixas etárias, apesar de os óbitos nessa categoria
representarem apenas 13,6 % do total. Em relação ao peso ao nascer, como
esperado, a maior ocorrência de óbitos (51%) está na faixa de muito baixo peso
(<1.500g). No entanto, chama atenção que 23,5% dos óbitos na região
ocorreram em crianças com peso considerado normal (entre 2.500 e 4.000g),
percentual maior que o encontrado nas crianças de baixo peso (<2.500 e >
1.500g).
Nos anos de 2017 a 2019, malformação congênita, fatores maternos
relacionados à gravidez e prematuridade constituíram as 3 principais causas de

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morte neonatal. No ano de 2019, a principal causa de mortalidade neonatal foram


fatores maternos relacionados à gravidez (26,5%), seguido por malformação
congênita (17,6%), prematuridade e infecções (ambos com 16,2%). Com
exceção da malformação, as principais causas de mortalidade neonatal no ano
de 2019 eram potencialmente evitáveis. Dentro os fatores maternos e
relacionados à gravidez, encontram-se transtornos hipertensivos, infecções das
vias urinárias, doenças infeciosas e parasitárias da mãe, oligohidrâmnio,
corioamnionite e restrição de crescimento intrauterino. Entre as infecções,
predominam as infecções específicas do recém-nascido, particularmente a
septicemia neonatal (CID 10 – P36.9). Também foram registrados óbitos por
pneumonia, sífilis e toxoplasmose congênitas.
Os resultados da região mostram ao mesmo tempo proximidades e
divergências com outros estudos semelhantes. Em um estudo realizado em Belo
Horizonte (MG), referente às causas de óbitos neonatais, foi observado maior
ocorrência de óbitos neonatais relacionados a malformações e às afecções
perinatais (ALVES et al., 2008). Resultado semelhante foi encontrado em Goiás,
em 2015, em que as principais causas de óbitos neonatais foram as afecções
originadas no período neonatal e malformações congênitas (SILVA; TOBIAS;
TEIXEIRA, 2019). Em inquérito feito em nível nacional, prevaleceu o grupo
prematuridade, respondendo por cerca de 1/3 dos casos, seguidos pela
malformação congênita (22,8%), as infecções (18,5%), os fatores maternos
(10,4%) e asfixia/hipóxia (7%) (LANSKY et al., 2014). No presente diagnóstico,
apesar de as malformações congênitas e afecções perinatais estarem entre as
principais causas de óbito neonatais, destaca-se na região como principal grupo
de causas as relacionadas a fatores maternos relacionados à gravidez,
revelando a importância de ações que priorizem a melhoria da atenção pré-natal
na região.
Em relação aos óbitos infantis de maneira global, pelo critério de
evitabilidade adotado (MALTA, 2010), cerca de 70% dos óbitos registrados em
2019 foram classificados como evitáveis. Dentre os óbitos evitáveis, destaque
para os óbitos evitáveis por adequada atenção à mulher na gestação, que
representaram quase 30% dos óbitos totais, sobretudo em bebês com menos de

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1.500g. Estudo conduzido no Espírito Santo considerando os óbitos infantis entre


os anos de 2006 e 2013, evidenciou um total de 63,1% dos óbitos em menores
de 1 ano classificados como evitáveis pelo menos critério adotado no presente
estudo. Desses, 31,3% foram classificados como “reduzíveis por adequada
atenção ao recém-nascido” e 12,2% seriam “reduzíveis por adequada atenção à
mulher na gestação” (DIAS; SANTOS NETO; ANDRADE, 2017). Esse resultado
aponta mais uma vez para a especificidade da fragilidade concernente ao pré-
natal na região, que tem um número de óbitos evitáveis por adequada atenção
à mulher na gestação bem superior à média estadual.
Além dos dados apresentados para efeito de ilustração no presente relato,
o relatório analítico anual ainda consolidou os indicadores em cada município. O
relatório foi compartilhado com a gestões municipal (referências em vigilância
epidemiológica e rede materno infantil), regional (superintendente regional de
saúde e referência técnica da rede materno infantil) e estadual (Comitê Estadual
de Mortalidade Materna e Infantil) para integração dos planos de enfrentamento
à mortalidade infantil na região.

3.2 O Monitoramento dos Óbitos Infantis como Instrumento de Aproximação com


os Municípios
A definição do perfil dos óbitos é fundamental para o diagnóstico
situacional e planejamento de políticas públicas de enfrentamento, no entanto,
também são necessárias estratégias de ação mais próximas à ocorrência dos
fatos, de forma a permitir utilizar os mesmos como catalizadores de mudanças
nos processos assistenciais e de vigilância de óbito. A partir do monitoramento
semanal dos óbitos, com acompanhamento individual das DOs foi possível
identificar, por exemplo, casos de óbitos que chama atenção pela ocorrência
em idade gestacional e/ou peso ao nascer normais, ou ainda relacionados a
asfixia ao nascer que pudessem indicar asfixia intraparto, que deve ser
considerado evento sentinela por todos os serviços que prestam assistência à
gestante e ao recém-nascido, por apresentarem grande potencial de redução
pelas ações diretas de saúde (INSTITUTE OF MEDICINE, 2003). Nesses casos,
o município foi procurado para maiores esclarecimentos sobre a ocorrência.

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No ano de 2021, a rotina de acompanhamento dos óbitos resultou em


duas ações conjuntas junto aos municípios da região. A primeira se constituiu
de uma ação in loco, com investigação de óbito infantil em conjunto entre
vigilância regional e municipal nos serviços de atenção a gestante, a saber:
ambulatório de pré-natal de alto risco e maternidade. A segunda foi relativa à
discussão de caso de óbito materno e infantil com a equipe municipal, incluindo
assistência, vigilância e gestão. Na análise de ambos os casos se considerou as
orientações contidas em Manuais oficiais do Ministério da Saúde (BRASIL,
2012a, 2012b).
No primeiro caso, a investigação conjunta se mostrou uma estratégia
muito rica de educação permanente para ambas as vigilâncias. A troca de
conhecimentos entre níveis regional e municipal permitiu um processo
investigativo mais aprofundado e qualificado para a equipe municipal, enquanto
oportunizou para a referência técnica regional contato mais próximo com os
desafios da prática investigativa no município.
Foram identificadas falhas no processo assistencial em todos os pontos
de atenção investigados. A ausência de registro ou registro precário nas
condutas e diagnósticos no serviço de pré-natal, pronto socorro e hospital foram
evidentes e dificultaram a análise mais precisa do caso. As principais falhas
identificadas foram relativas à atenção pré-natal, com ausência de registro
adequado dos exames solicitados, resultados e condutas no prontuário da
gestante (incluindo controle glicêmico), gestação com múltiplos fatores de risco
sem investigação (diabetes gestacional, hipertensão arterial, plaquetopenia e
óbito fetal anterior presentes na gestação, sem investigação de possíveis
alterações como trombofilia e pré-eclâmpsia) e intervalo interconsulta
inadequado para acompanhamento e vigilância ativa da vitalidade fetal (após
constatação de alteração na pressão arterial não foi reduzido intervalo entre
consultas de pré-natal). A investigação resultou em relatório destinado ao
município com apontamentos e recomendações da vigilância regional em cada
etapa da atenção, desde o planejamento familiar, até a atenção pós-hospitalar.
No segundo caso, após a constatação dos óbitos materno e infantil, foi
solicitada ao município a investigação previamente realizada. A partir das

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informações da investigação e análise dos prontuários dos diferentes pontos de


atenção, também foi construído relatório com apontamentos e recomendações
da vigilância regional em cada etapa da atenção. Assim como no caso anterior,
percebemos falhas nos processos assistenciais principalmente no pré-natal,
como registro inadequado dos exames solicitados, resultados e condutas no
prontuário eletrônico; ausência de informações dos exames e resultados
referentes ao 2º e 3º trimestre, registro dissonante da altura e pressão arterial da
gestante em algumas consultas, não identificação de edema, não realização de
Teste de Tolerância Oral à Glicose (TTGO) (24-28 semanas) e testagem de
proteinúria (teste rápido); ausência de registro dos resultados da glicemia de
jejum, na 20º semana, e hemograma, urina e glicemia de jejum no 3º trimestre;
não identificação de sinais premonitórios de eclampsia relatados; ausência de
investigação no caso do peso gestacional com aumento súbito, e necessidade
de educação da gestante de risco para reconhecer os sintomas de pré-
eclâmpsia. Nesse caso, além da discussão com os profissionais municipais
também foi elaborado relatório da análise do óbito e enviado para a vigilância e
gestão municipal.

3.3 O Processo de Investigação Enquanto Unidade de Análise e Intervenção


Em relação à investigação dos óbitos pelos municípios, o
acompanhamento rotineiro do status de investigação auxiliou a identificar
aqueles com problemas crônicos na investigação e aqueles que apresentavam
falhas recentes no processo. O contato com os municípios permitiu a
identificação de alguns gargalos, como ausência de profissionais designados
para a atividade, alta rotatividade dos profissionais municipais e falta de
capacitação para as ações de vigilância do óbito. Apesar da realização de
capacitação relativamente recente no ano de 2019, a equipe entendeu a
necessidade de novo processo de capacitação, e elegeu como estratégia
encontros com os municípios prioritários de maneira individualizada, para melhor
compreensão dos entraves municipais e maior interação entre equipe municipal
e a vigilância regional.
Então, em 2021 foram realizados treinamentos individualizados para 6

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municípios prioritários. Como dados prévios do relatório anual apontavam para


alto percentual de investigações na região, porém com baixa qualidade, optou-
se por realizar a capacitação também com os demais municípios da região, que
foram divididos em dois pequenos grupos. A opção pelo trabalho em grupos
pequenos foi bastante produtiva e a participação dos técnicos municipais foi
ativa. Os treinamentos abordaram o processo investigativo desde a coleta das
DOs até a classificação da evitabilidade dos óbitos investigados. Ainda, para
melhor compreensão dos entraves municipais na investigação dos óbitos, foi
realizado um questionário com variáveis selecionadas sobre a situação da
vigilância dos óbitos nos municípios, considerando as principais falhas
observadas nas fichas-síntese registradas no SIM Módulo Investigação.
Dos 26 municípios da região, 24 participaram da capacitação proposta e
18 responderam ao questionário. Foram 49 profissionais treinados por uma
equipe de dois técnicos e quatro residentes do programa de Residência
Multiprofissional em Saúde Coletiva com Ênfase em Vigilância.
Em relação ao resultado do questionário, apenas 2 (11,1%) dos
municípios afirmaram possuir comitê ou grupo para discussão dos casos de óbito
de seu território, 18 (100%) afirmaram que os serviços de atenção primária
disponibilizam os prontuários para investigação, no entanto 4 (22,2%) afirmaram
nunca realizar a investigação em nível hospitalar e apontaram para dificuldade
em conseguir transporte e diária para investigação fora do município como um
dos principais impedimentos. Em relação aos dados referentes a análise do
Serviço de Verificação de Óbito (SVO), 9 (50%) afirmaram não ter acesso ao
laudo dos casos encaminhado ao órgão, o que apontou para a necessidade de
criação de mecanismo de melhora da comunicação com o mesmo.
Chama atenção o fato de que 6 (33,3%) afirmaram não saber que os
campos que ficam em branco na DO podem ser informados após a investigação
no SIM módulo investigação para maior completude das informações, 5
municípios (27,8%) afirmaram nunca preencher a parte II (análise do caso) no
SIM Módulo Investigação e 13 (72,2%) não fazem nenhum tipo de relatório anual
com a consolidação dos casos de óbito infantil em seu território. A parte II da
ficha síntese de investigação é o local onde devem ser informados os problemas

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identificados nos diversos momentos da assistência após a investigação e


realizada a classificação da evitabilidade do óbito. Juntamente com o Relatório
Municipal, cujo modelo está disponível pelo Ministério da Saúde, esta análise
tem como objetivo subsidiar as discussões dos eventos no município com as
equipes Saúde da Família e hospitais. Se for o caso, conforme esclarecimentos
obtidos na investigação, dados devem ser inseridos e/ou corrigidos no SIM
(BRASIL, 2009). Os resultados encontrados na avaliação regional apontam para
o desconhecimento ou desvalorização dos instrumentos disponibilizados para
análise dos óbitos, bem como sua importância na prevenção de novos eventos.
Ainda, 12 (66,6%) afirmaram não conhecer o relatório regional anual, que
vem sendo divulgado aos municípios desde o ano de 2015. Questionados sobre
esse isso, alguns municípios afirmaram já ter recebido o relatório em algum
momento, mas não se dedicaram à sua leitura. Esse fato demonstra a fragilidade
dos mecanismos de comunicação atualmente utilizados entre a vigilância
regional com as vigilâncias municipais e também para baixa consciência dos
profissionais da região sobre a importância da análise de informações em saúde
enquanto instrumento de gestão e de aprimoramento dos processos de trabalho.

4. Considerações Finais
As ações implementadas pela vigilância do óbito regional entre os anos
de 2020 e 2021 para qualificação dos dados da mortalidade infantil na região
apontam para o avanço no delineamento de um perfil regional, bem como a
identificação dos principais obstáculos a serem vencidos na prevenção dos
óbitos infantis localmente, incluindo a necessidade de melhora na assistência
pré-natal na região, e também da qualificação e utilização efetiva dos dados da
investigação do óbito nos municípios. A definição de um processo de trabalho
regional mais organizado permitiu a implementação de novas práticas de
educação permanente junto aos municípios, que devem ser mantidas para
aumentar a capacidade de intervenção sobre a realidade da região, com a junção
de esforços dos diferentes entes do sistema de saúde.
No entanto, apesar da potencialidade dos esforços empreendidos, o
estudo também revela fragilidades estruturais importantes, fora do alcance direto

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da vigilância regional, como suporte limitado da gestão municipal frente às


necessidades de recursos humanos e financeiros para investigação dos óbitos
nos municípios. Também foram identificadas fragilidades na rotina implementada
pela vigilância regional, relacionada principalmente a baixa visibilidade das
análises regionais do óbito infantil, devendo-se buscar alternativas mais
eficientes de divulgação e discussão dos dados de mortalidade em nível regional.

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