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PANORAMA

DA ONCOLOGIA
PEDIÁTRICA
BRASIL, VOLUME 1, Nº1, AGO. 2021
EDITORIAL

Neste ano, o Instituto Desiderata lança o primeiro Panorama de Na classificação por tipo de câncer, o diagnóstico preciso dos casos Outro aspecto importante no cuidado do câncer infantojuvenil é
Oncologia Pediátrica no Brasil, trazendo informações regionais e ainda é um desafio no país, onde 8,1% dos diagnósticos foram clas- o acesso ao tratamento oncológico. Nas regiões Norte e Centro-
estaduais sobre o perfil do câncer infantojuvenil, o acesso ao tra- sificados como neoplasias não especificadas no RCBP. Nos Estados Oeste, observamos o maior deslocamento de usuários em busca de
tamento e o monitoramento da informação no país. Ao reunir, em Unidos, esse valor é inferior a 1%. assistência em estados fora da região de residência. São essas regi-
um mesmo documento, as informações de um país com dimensões ões que também possuem o menor número de serviços habilitados
Em relação ao diagnóstico histopatológico, um importante indica-
continentais como o nosso, temos a oportunidade de refletir sobre o e médicos com habilitação em oncologia pediátrica. São Paulo é o
dor positivo do grau de certeza de um tumor, o cenário nacional é
estágio em que estamos e iluminar onde é preciso atuar para dimi- estado que mais recebe crianças e adolescentes vindas de outros
melhor: 88,9% dos casos do Registro Hospitalar de Câncer tiveram
nuirmos as disparidades regionais a fim de alcançarmos mais chan- estados para o tratamento de câncer: 70,4%.
a confirmação microscópica – sendo o maior percentual na região
ces de cura.
Norte (91,4%) e o menor no Centro-Oeste, (81,5%). Entre os estados, No âmbito nacional, a maioria (75%) das variáveis obrigatórias para
Este Panorama foi construído com o apoio técnico de profissionais o percentual mais baixo foi observado em Goiás (36,7%) e os maiores preenchimento no Registro Hospitalar de Câncer apresentaram com-
da Fundação do Câncer, do Instituto Nacional de Câncer e da Inicia- (100%), em Amapá e Roraima. pletude considerada excelente. Para a variável sobre o estadiamento
tiva Global da Organização Mundial da Saúde para o Câncer Infantil (variável 28b)1, não conseguimos acessar os dados para análise.
na América Latina e Caribe. Também contamos com a colaboração Outro ponto em destaque é o alto índice de tratamento de adolescen-
O Instituto Desiderata acredita que o acesso à informação de quali-
de especialistas da área, que trazem reflexões sobre o cenário atual tes em hospitais não habilitados: 43% dos pacientes entre 15 e 19 anos
dade é fundamental para guiar estratégias em prol do aumento das
e perspectivas futuras sobre o câncer infantojuvenil no Brasil. foram tratados em hospitais sem habilitação em oncologia pediátrica,
chances de cura para crianças e adolescentes brasileiros. Neste sen-
em desalinho com as orientações nacionais e internacionais, que indi-
As análises foram realizadas com os dados mais atuais disponibili- tido, temos o compromisso de elaborar e publicar bienalmente da-
cam o tratamento em centros especializados para esse público.
zados nos sistemas de informação sobre mortalidade, os dados po- dos relativos ao câncer infantojuvenil neste Panorama da Oncologia
pulacionais, dados de estabelecimento de saúde, registros de câncer A mortalidade por câncer segue o mesmo padrão: a maior taxa espe- Pediátrica, com a expectativa de que este seja um instrumento que
de base hospitalar e populacional. As informações analisadas são até cífica é entre os adolescentes (51,1/milhão), seguida de crianças de 0 oriente a formulação de políticas públicas equânimes, visando a me-
o ano de 2019, não refletem o impacto da pandemia de Covid-19, que a 4 anos (46,9/ milhão). Nas faixas etárias de 5 a 9 e 10 a 14, os valores lhores resultados e maiores chances de cura para todas as crianças
só poderá ser mensurado nas próximas edições. são próximos: 37,9 e 37,1 por milhão, respectivamente. e adolescentes brasileiros.

No território brasileiro, existem trinta Registros de Câncer de Base Outro dado que merece destaque é a mortalidade por raça/cor. No Boa leitura!
Populacional (RCBP) ativos e três em fase de implantação. Os dados Brasil, as taxas mais altas são de crianças e adolescentes indígenas:
sistematizados nesses centros subsidiam o planejamento e a avalia- 67,7 por milhão. Na região Norte, a taxa chega a 86,8 óbitos por mi-
ção de programas de prevenção e controle do câncer, e a qualidade lhão. Cabe destacar que a mortalidade geral de câncer infantojuvenil 1
A classificação 28b é usada para sistemas de estadiamento diferentes do TNM e para os casos com
das informações coletadas é fundamental nesse processo. do país no período analisado é de 43,4 por milhão. idade menor ou igual a 18 anos

Equipe editorial: Anna Carolina Cardoso, Carolina Motta, Claudia Bezerra, Michele G. da Costa e Roberta Costa Marques
Colaboradores: Alfredo Scaff, Karina de Cássia Braga Ribeiro e Rejane de Souza Reis.
Projeto gráfico e infografia: Refinaria Design

Instituto Desiderata
http://desiderata.org.br | desiderata@desiderata.org.br
O CÂNCER INFANTOJUVENIL NO BRASIL
POPULAÇÃO INFANTOJUVENIL (0 - 19 ANOS) E ESTIMATIVA ATENDIMENTO INFANTOJUVENIL dez. 2020.
DE INCIDÊNCIA ANUAL DE CÂNCER NAS REGIÕES.
Brasil, 2020
NÚMERO DE SERVIÇOS RAZÃO DE MÉDICOS COBERTURA
Fontes: IBGE, 2021; INCA, 2019.
HABILITADOS EM ONCOLOGISTAS PEDIÁTRICOS DE ATENÇÃO
Estimativa de novos casos ONCOLOGIA PEDIÁTRICA POR 1 MILHÃO DE CRIANÇAS BÁSICA
BRASIL: 8.460 Norte
6.739.990
E ADOLESCENTES
Taxa bruta: 138,44/milhão
630
População Nordeste
infantojuvenil 18.556.439 BRASIL: 75 BRASIL: 5,2/milhão BRASIL: 76,08%
Novos casos 2.190
Nota: não incluso os serviços de hematologia. 89,9% do total de médicos
Centro-Oeste oncologistas pediátricos atendem no SUS.
4.797.707

640 Sudeste
23.195.158

3.690 3
3/milhão
Sul 73,62%
7.867.041 14
SÉRIE TEMPORAL DE MORTALIDADE POR CÂNCER
3,3/milhão
INFANTOJUVENIL, SEGUNDO REGIÕES, BRASIL E 1.310
ESTADOS UNIDOS 87,1%
por 1 milhão de crianças e adolescentes 2000-2019
5
Fontes: IBGE, 2021; Sistema de Informações sobre Mortalidade, 2021;
SEER, National Cancer Institute, 2021.
2,3/milhão
60
72,96% 37
55
7,3/milhão
50
68,9%
45

40
16
35
7,1/milhão
30

25
79,53%
20
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019

Fonte: Portaria nº 1399 de 17/12/2019; IBGE, 2021; Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde; Secretaria de Atenção
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-oeste Brasil EUA Primária à Saúde/MS. jun-2021.
TRÊS PRINCIPAIS CAUSAS DE MORTALIDADE INFANTOJUVENIL NO BRASIL MORTALIDADE POR CÂNCER INFANTOJUVENIL ENTRE MENINOS E MENINAS,
(1-19 anos), 2015-2019 por 1 milhão de crianças e adolescentes, 2015-2019.
Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade, 2021. Fontes: IBGE, 2021; Sistema de Informações sobre Mortalidade, 2021.

Neoplasias: principal causa de morte por doença.


47,4

39,2
Causas externas de Neoplasias Doenças do
morbidade e mortalidade (tumores) sistema nervoso Meninos

56% 7,7% 6,4 %


Meninas
Total de óbitos de 1 a 19 anos no período: 168.897

MORTALIDADE POR CÂNCER INFANTOJUVENIL NO BRASIL


por 1 milhão de crianças e adolescentes, 2015-2019.

SEGUNDO FAIXA ETÁRIA


Nota: Todas as taxas de mortalidade foram padronizadas por idade, adotando a população Padrão Mundial, modificada por Doll et al. (1966)
Fontes: IBGE, 2021; Sistema de Informações sobre Mortalidade, 2021.

51,1
46,9
PRINCIPAIS TIPOS DE CÂNCER INFANTOJUVENIL REGISTRADOS
37,9 37,1 no Registro de Câncer de Base Populacional 2008-2016 (%)
Fonte: Registro de Câncer de Base Populacional, MS/INCA/Divisão de Vigilância e Análise de Situação, 2021.

46,2
44,2

34,8 35,3
0a4 5a9 10 a 14 15 a 19

SEGUNDO RAÇA/COR
Fontes: CENSO IBGE, 2010; Sistema de Informações sobre Mortalidade, 2021.
Nota: a categoria “Negro” corresponde a somatória de pretos e pardos.
67,6

12,1
45,4 11,3
39,2 43,4 8,3 7,7
Taxa geral de
mortalidade
por câncer
10,5 infantojuvenil
para todos Leucemias e Tumores do Sistema Tumores sólidos Não especificada
os grupos linfomas Nervoso Central
Branca Negra Amarela Indígena Masculino Feminino
ACESSO AO TRATAMENTO
CASOS ATENDIDOS EM HOSPITAIS NÃO HABILITADOS EM ONCOLOGIA DESLOCAMENTO DOS USUÁRIOS DE 0-19 ANOS SEGUNDO REGIÃO
PEDIÁTRICA, SEGUNDO FAIXA ETÁRIA, DE RESIDÊNCIA PARA LOCAL DE TRATAMENTO ONCOLOGICO,
Brasil, 2010 a 2017 (n 41.017) Brasil, 2010 a 2017 (41.017).
Fonte: Integrador RHC, 2021, casos analíticos.
Fonte: Integrador RHC, 2021, casos analíticos.

% Ficam na região

29% 24,2% 43% Se deslocam


menores de 1 ano de 1 a 14 anos de 15 a 19 anos
% 79,6%
(n=755) (n=6.483) (n=4.979)

16,3%
PRINCIPAIS RAZÕES PARA NÃO INICIAR O TRATAMENTO 95,8%
no Brasil, 2010-2017.
2,9%
Fonte: Integrador RHC, 2021, casos analíticos sem tratamento anterior.
2,9%
(n=2.818)

83,2% 15%

Nota:
39,5% Sem Informação Existe deslocamento 1,1%
em todas as regiões,
mas na apresentação 99,3%
gráfica optamos
em colocar valores
maiores de 1% para 1,4%
facilitar a visualização.
23,5% Óbito
98,5%
(n= 41.017) 16,6% Outras razões ESTADOS QUE MAIS RECEBEM USUÁRIOS DE
0-19 DE OUTROS ESTADOS PARA TRATAMENTO
Brasil, 2010 a 2017
11,1% Tratamento realizado fora
7% UF n %
SÃO PAULO 1236 70,4
4,8% Doença avançada, falta de
condições clínicas ou DISTRITO FEDERAL 211 12,0
outras doenças associadas
93%
PARANÁ 67 3,8
Não se aplica, pois 2,6% Abandono
iniciaram o tratamento ESPÍRITO SANTO 55 3,1
1,6% Recusa
0,3% Complicações
MONITORAMENTO DA INFORMAÇÃO
DISTRIBUIÇÃO DE REGISTRO DE CÂNCER DE BASE CASOS DE CÂNCER INCOMPLETUDE DE VARIÁVEIS OBRIGATÓRIAS
POPULACIONAL NO BRASIL INFANTOJUVENIL Brasil, 2010 a 2017 (41.017).
Fonte: Integrador RHC, 2021, casos analíticos
Fonte: Registro de Câncer de Base Populacional, MS/INCA/Divisão de Vigilância e Análise de Situação, 2021. REGISTRADOS NOS HOSPITAIS
RCBP ativos: 30 Brasil, 2010-2018.
RCBP em fase se implantação: 3 Fonte: Integrador RHC, 2021, casos analíticos. INFORMAÇÃO CLASSIFICADA COMO EXCELENTE¹
RORAIMA
Em fase de
<5% sem informação em todas as variáveis
implantação 2010
RR
AP Em fase de 5.071
implantação • Sexo
TERESINA • Localização do tumor primário
FORTALEZA 2011 • Tipo histológico
PA BELÉM
AM MANAUS 5.227 • Primeiro tratamento recebido no hospital
MA
CE
Em fase de RN NATAL • Base mais importante do diagnóstico
implantação PI PB JOÃO PESSOA
PALMAS • Data do início do tratamento
PE RECIFE 2012
AC
TO AL ALAGOAS 5.133 • Data do diagnóstico
RONDÔNIA RO SE ARACAJU • Diagnóstico e tratamento anteriores
BA SALVADOR
MATO GROSSO (INTERIOR) • Principal razão para não iniciar o tratamento
MT
CUIABÁ 2013
Associação de Combate DF DISTRITO FEDERAL
ao Câncer de Goiás
GO
5.375
POÇOS DE CALDAS Nota: Não conseguimos os dados sobre o Estadiamento (variável 28b) para análise da incompletude.
MG
BELO HORIZONTE
CAMPO GRANDE MS ES ESPÍRITO SANTO

SP
2014 INFORMAÇÃO CLASSIFICADA COMO RUIM (20 A 50%)
RJ ANGRA DOS REIS 5.340 % “sem informação”
CURITIBA PR SANTOS
DRS BARRETOS
SÃO PAULO
FLORIANÓPOLIS SC CAMPINAS-SMS
2015
JAHU Estado da doença
PORTO ALEGRE RS 5.176 ao final do primeiro 44,9%
tratamento

2016 Raça/cor 38,1%


5.288
PERCENTUAL DE DIAGNÓSTICO HISTOPATOLÓGICO,
Brasil, 2010 a 2017 (41.017). 1 - Romero e Cunha et al, 2006.
Fonte: IntegradorRHC, 2021, casos analíticos.
2017
O Percentual de Diagnóstico Histopatológico é a verificação microscópica 4.407
dos exames histológicos, citológicos e hematológicos. É um indicador Casos analíticos:
positivo da validade e da informação do registro. aqueles em que o
plano terapêutico, 2018 Envie elogios, críticas e sugestões para desiderata@desiderata.org.br
o tratamento e o 3.560
Centro-oeste Nordeste Norte seguimento são
81,5 89,5 91,4 realizados pela A diminuição dos casos registrados
Regiões unidade responsável nos anos de 2017 e 2018 não signifi-
83,9 91,2 pelo atendimento aos ca a redução do câncer infantojuvenil.
Sul Recomendável Sudeste
85% 88,9 pacientes. (INCA, 2016). A informação reflete o processo de con-
Brasil solidação dos dados no IntegradorRHC.
PAINEL DE OPINIÕES
IMPORTÂNCIA DA REDE NO ACESSO AO CUIDADO infanto-juvenil (0 a 19 anos), 12.960 casos novos no sexo masculino (137,87 A incidência é obtida através dos Registros de Câncer de Base Populacional
Sima Ferman- Chefe do Serviço de Oncologia Pediátrica Instituto casos novos por milhão) e 12.450, no sexo feminino (139,04 por milhão). (RCBP), que representam o “padrão ouro” para o conhecimento do perfil
Nacional de Câncer- INCA O câncer é a principal causa de morte em menores de 19 anos no Brasil populacional do câncer infantojuvenil, se tornando estratégico para
desde 2005, quando excluídas as mortes por causas externas. Portanto, subsidiar a tomada de decisões e o estabelecimento de diretrizes (REIS,
Atualmente, um grande número de crianças e adolescentes com câncer DE CAMARGO, SANTOS, 2018). Um RCBP capta as suas informações, dentre
podem ser curadas com o diagnóstico precoce e tratamento em centros é um problema de saúde pública que precisa ser foco de atenção das
outras fontes, diretamente dos Registros Hospitalares de Câncer (RHC).
especializados. O progresso no tratamento do câncer foi mais evidente autoridades, dos profissionais médicos, das equipes multiprofissionais,
das instituições não governamentais e da sociedade civil. No que se refere aos RHC, eles são os responsáveis pela disponibilização das
nos países de alta renda, onde as taxas de sobrevida em 5 anos estão em
informações sobre a morbidade hospitalar (INCA, 2010). Além de atender às
80%, enquanto em países de baixa e média renda estas taxas ainda podem A importância do diagnóstico precoce e acesso a centros de tratamentos
necessidades administrativas de um hospital, um RHC possui como objetivo
ser melhoradas. Muitos fatores são responsáveis por estas diferenças e especializados são fatores fundamentais para que crianças e adolescentes
contribuir para um melhor entendimento da doença (OMS, 1995; SILVA, 1999).
constituem desafios a serem vencidos: dificuldade de acesso a diagnóstico possam ter as melhores chances de cura.
e tratamento, doença avançada ao adquirir o diagnóstico, dificuldades Sabe-se que existe uma melhora na qualidade assistencial dos pacientes
As ferramentas de diagnóstico evoluíram consideravelmente ao longo das
financeiras e abandono de tratamento. com câncer em hospitais que possuem RHC implantado e ativo
últimas décadas, possibilitando precisão e refinamento da classificação
(MOHAMMADZADEH ET AL., 2017). Isso, para o câncer infantojuvenil, traz
O câncer infantojuvenil é a primeira causa de morte por doença em crianças biológica de virtualmente todos os tipos de tumores, levando a novas
enormes benefícios, pois permite identificar, corrigir e melhorar todo o
de 1-19 anos no Brasil e é um problema de saúde pública no nosso país. categorias de estratificação de risco, fundamentais para o ajustamento
processo, desde o diagnóstico até o desfecho da doença, passando pelo
Considerada doença crônica, sua linha do cuidado engloba várias etapas: da terapia.
período completo do tratamento. Com a dinâmica do RHC, é permitido
prevenção, diagnóstico precoce, encaminhamento para tratamento, cuidado
Do ponto de vista de tratamento, o avanço do conhecimento molecular conhecer gargalos de tempos de espera entre atendimento X diagnóstico
paliativo e seguimento dos pacientes em controle a longo prazo. A cura não
dos tumores descortina um novo cenário. Desenvolvem-se terapias alvos X tratamento, o que propicia uma ação efetiva dos gestores em todos
é o único objetivo do tratamento e devemos ter atenção também à qualidade
e avança a importância crescente da imunoterapia para vencer o câncer. os níveis.
de vida dos pacientes com câncer. Entretanto, os sistemas de atenção à saúde
Por outro lado, enfrentamos o desabastecimento recorrente ou definitivo Outro fato que indica a importância das informações dos RHC é
em várias partes do mundo ainda são voltados mais a condições de saúde
de quimioterápicos fundamentais para combater tumores pediátricos, a identificação dos hospitais que estão tratando essas crianças e
agudas, não sendo eficientes no caso de condições crônicas, como o câncer.
impactando diretamente nas estratégias de tratamento. adolescentes, se são hospitais habilitados em oncologia pediátrica ou não.
A abordagem do câncer infanto-juvenil deve ser desenvolvida de acordo
A evolução das melhorias técnicas de diagnóstico e do tratamento estão É fato que, devido à sua baixa magnitude, o câncer infantojuvenil precisa
com o modelo de atenção crônica, através de sistemas de rede de atenção à
longe de estarem disponíveis para acesso universal em muitos países, ser abordado em centros especializados, e não de forma pulverizada.
saúde. Para isto, é necessário que as redes de atenção primária, secundária
incluindo o Brasil. Infelizmente, hoje no Brasil, só conseguimos fazer esse tipo de análise em
e terciária atuem de forma proativa, integrada, coordenada e com ampla
Iniciativas para discussão da questão e elaboração de soluções dos hospitais públicos e em alguns privados, que se voluntariaram para criar
intercomunicação, com o objetivo de prestar continuidade no cuidado a esses
problemas enfrentados no combate ao câncer infanto-juvenil são um RHC. O ideal seria conhecer, de forma mais fidedigna e abrangente,
pacientes. O planejamento conjunto do cuidado possibilitará a otimização
a morbidade hospitalar nos dois seguimentos. Para isso, é necessário
dos recursos da rede e contemplará o ciclo completo da atenção ao câncer atualmente desenvolvidas por vários setores da sociedade, juntamente
que os gestores de instituições de saúde se esforcem e deem a devida
infantojuvenil. Desta forma, será possível oferecer atenção multidisciplinar com entidades médicas e gestores de saúde, com o objetivo de
importância para a implantação, manutenção e atualização dos RHC.
integral aos pacientes através da promoção de saúde, prevenção, tratamento implementar políticas públicas para melhorar a realidade de acesso
curativo, reabilitação e cuidado paliativo. amplo e equitativo ao diagnóstico e tratamento. Toda informação é fundamental para a tomada de decisões, planejamento
e implementação, em diferentes níveis, de ações para monitorar e
Os estudos mostram que a rede de atenção à saúde pode melhorar a
A IMPORTÂNCIA DO USO DO REGISTRO HOSPITALAR DE avaliar o controle do câncer infantojuvenil. As respostas relacionas à sua
qualidade de vida, os resultados do tratamento, a satisfação dos usuários
CÂNCER NA GESTÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE CÂNCER morbidade só serão compreendidas quando o processo estiver organizado
e reduzir os custos. A melhora da estruturação da rede no nosso país é
INFANTOJUVENIL. e padronizado.
importante para a garantia do acesso ao diagnóstico, tratamento amplo e
Rejane de Souza Reis – Associação Brasileira de Registros de Câncer
consequente melhora nos resultados. Referências:
O conhecimento das informações acerca de uma doença é primordial INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER (Brasil). Registros hospitalares de câncer: planejamento e
A SITUAÇÃO DO CÂNCER INFANTOJUVENIL NO BRASIL, A gestão. 2a. ed. Rio de Janeiro: INCA, 2010.
para gestão de saúde pública e tomada de decisões, vide o que estamos
QUALIFICAÇÃO DO DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO MOHAMMADZADEH, Z. et al. Systematic review of Hospital Based Cancer Registries (HBCRs): Nec-
vivenciando com a pandemia da COVID-19. No câncer, a necessidade desse essary Tool to Improve Quality of Care in Cancer Patients. Asian Pacific Journal of Cancer Preven-
Neviçolino Pereira de Carvalho Filho - Presidente da Sociedade conhecimento das informações não é diferente. Para suprir a demanda e tion, v.18, n.8, p. 2027-2033. 2017.
Brasileira de Oncologia Pediátrica ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Agência Internacional para Pesquisa sobre o Câncer-IARC.
alocar esforços e recursos, o gestor de saúde precisa contar com o apoio
Associação Internacional de Registros de Câncer-IACR. Registro de Câncer: Princípios e Métodos.
No Brasil, conforme dados do Instituto Nacional do Câncer José Alencar dos pilares da vigilância do câncer: incidência, morbidade hospitalar Publicação Científica Nº 95. Ministério da Saúde/Instituto Nacional de Câncer, 1995. 304p.
Gomes da Silva (INCA) para o triênio 2020-2022, espera-se, para câncer e mortalidade.
Continua
Continuação METODOLOGIA
REIS, R.S., De Camargo, B., Santos, MO. Population-based Cancer Registries are the Gold Stand- Na seção O CÂNCER INFANTOJUVENIL NO BRASIL, os dados da estimativa Na seção sobre ACESSO AO TRATAMENTO e os dados de ATENDIMENTO
ard to Cancer Incidence. Journal of Pediatric Hematology/Oncology: October 2018 – v. 40, n.
7 – p. 567. doi: 10.1097/MPH.0000000000001285. anual de incidência de câncer por Unidade de Federação foram retirados INFANTOJUVENIL foram utilizadas: a Portaria nº 1399 e 17/12/2019; o
SILVA, I.S. Cancer epidemiology: principles and methods. Lyon, France: International Agency for da publicação “Incidência de Câncer no Brasil” (INCA, 2019), partindo da Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (DATASUS, 2021), a
Research on Cancer. 1999. estimativa populacional de 2020 das projeções do IBGE (2021). base de dados do IntegradorRHC (2021) e informações da Secretaria de
A proporção de tipos de câncer infantojuvenil registrados nos Atenção Primária à Saúde (BRASIL, 2021). Os dados do IntegradorRHC
O CÂNCER INFANTOJUVENIL NO BRASIL
Registros de Câncer de Base Populacional brasileiros foi organizada (2021) foram extraídos em junho de 2021, considerando somente os
Alfredo Scaff - Consultor Médico- Fundação do Câncer casos analíticos na faixa etária de interesse.
segundo a Classificação Internacional de Câncer na Infância -
O câncer é uma doença complexa que quando diagnosticada CICI-3 (STELIAROVA- FOUCHER et al, 2005), a partir das informações As informações da seção MONITORAMENTO DA INFORMAÇÃO foram
oportunamente tem enormes chances de sucesso no tratamento. Na extraídas em julho de 2021, disponíveis nos 28 registros de câncer obtidas no IntegradorRHC3 (2021) e Registros de Câncer de Base
oncologia pediátrica (consideramos a faixa etária de 0 a 19 anos), a cura participantes (RCBPop, 2021), descritos a seguir, com o respectivo Populacional (2021). Na avaliação da completude dos dados, foram
pode ser de até 80% dos casos. período de informações consolidadas. considerados os seguintes graus: excelente (menor do que 5%), bom (5
No Brasil, anualmente, cerca de 8.500 novos casos de câncer são a 10%), regular (10 a 20%), ruim (20 a 50%) e muito ruim (50% ou mais),
RCBP participantes e período consolidado
diagnosticados em crianças e adolescentes. Isso corresponde a cerca de de acordo com critério proposto por Romero e Cunha (2006).
ALAGOAS 2010 e 2011 GOIÂNIA de 2008 a 2013
2-3% do total dos casos de câncer diagnosticados e é a principal causa Referências:
ANGRA DOS REIS de 2008 a 2016 JAHU de 2008 a 2016
de morte por doenças nessa idade (importante observar que no país o BRASIL. Instituto Brasileiro De Geografia e Estatística (IBGE). Projeção da População das Unidades
ARACAJU de 2008 a 2014 JOAO PESSOA de 2008 a 2016 da Federação por sexo e grupos de idade: 2000-2030, 2021. Disponível em: <http://tabnet.data-
que mais mata crianças são as chamadas causas externas, as violências, sus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?ibge/cnv/projpopuf.def>
BELÉM de 2008 a 2016 MANAUS de 2008 a 2013
depois vem o câncer). BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico,2021. Disponível em: <
BELO HORIZONTE de 2008 a 2016 MATO GROSSO (INTERIOR) de 2008 a 2016 https://sidra.ibge.gov.br/tabela/3175>
É interessante observar que em vinte anos de estudo (de 2000 a 2019), BRASIL. Ministério da Saúde - Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde do Brasil
CAMPINAS-SMS2 de 2010 a 2016 NATAL 2008
a taxa de mortalidade padronizada para o país praticamente não se (CNES). Tabnet - Estabelecimentos e Recursos humanos, 2021. Disponível em: <http://www2.
CAMPO GRANDE de 2008 a 2012 PALMAS de 2008 a 2013 datasus.gov.br/DATASUS/index.php?area=0204>
alterou, em 2000 era de 43 óbitos por milhão de jovens e em 2019 foi
CUIABA de 2008 a 2016 POÇOS DE CALDAS de 2008 a 2014 BRASIL. Ministério da Saúde - E-Gestor Atenção Básica. Painéis de Indicadores da Atenção
de 42 óbitos por milhão de jovens. Nesse mesmo período nos Estados Primária, 2021. Disponível em: < https://sisaps.saude.gov.br/painelsaps/>
CURITIBA de 2008 a 2016 PORTO ALEGRE de 2008 a 2012
Unidos, essas taxas diminuíram de 28 para 22 óbitos por milhão de BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 1399, de 17 de dezembro de 2019: Redefine os critéri-
DISTRITO FEDERAL de 2008 a 2014 RECIFE de 2008 a 2016 os e parâmetros referenciais para a habilitação de estabelecimentos de saúde na alta com-
jovens. Isso mostra que é possível melhorar a performance do sistema plexidade em oncologia no âmbito do SUS. Disponível em: < https://www.in.gov.br/web/dou/-/
para diagnosticar e tratar o câncer pediátrico. DRS BARRETOS de 2008 a 2016 RONDONIA de 2015 e 2016 portaria-n-1.399-de-17-de-dezembro-de-2019-234338206>
ESPÍRITO SANTO de 2008 a 2012 RORAIMA de 2008 a 2010 BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Sistema de Informações sobre Mortali-
Em 2021, o Panorama da Oncologia Pediátrica passa a analisar e publicar dade (SIM). 2021. Disponível em: http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?area=0205&id=6937
FLORIANOPOLIS de 2008 a 2016 SANTOS 2008 e 2009 NATIONAL CANCER INSTITUTE (NIH). Surveillance, Epidemiology, and End Results Program-SE-
dados nacionais. É fundamental buscar ampliar a capacidade de cura das
FORTALEZA de 2008 a 2013 SÃO PAULO de 2008 a 2015 ER Explorer: An interactive website for SEER cancer statistics (Internet). Surveillance Research
crianças com câncer e a primeira coisa que precisamos fazer é conhecer Program, National Cancer Institute. Disponível em: <https://seer.cancer.gov/explorer/>
em detalhes como isso se dá. O Panorama é um dos instrumentos para Fonte: Registro de Câncer de Base Populacional, MS/INCA/Divisão de Vigilância e Análise de INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR (INCA). Registros hospitalares de câncer:
Situação. Acesso em 13/07/2021. planejamento e gestão. 2 ed. – Rio de Janeiro: 2010. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/
esse monitoramento. bvs/publicacoes/inca/registros_hospitalares_cancer.pdf>
Não poderíamos deixar de falar da pandemia de COVID-19. Esta análise As taxas de mortalidade foram calculadas a partir das informações dos INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR (INCA). Incidência, mortalidade e morbidade
hospitalar por câncer em crianças, adolescentes e adultos jovens no Brasil: informações dos reg-
utiliza dados até 2019, portanto anteriores à pandemia. Sabemos que óbitos por câncer infantojuvenil extraídas do Sistema de Informação istros de câncer e do sistema de mortalidade. Rio de Janeiro: 2016. Disponível em: http://www1.
inca.gov.br/wcm/incidencia/2017/pdf/versao-completa.pdf
os serviços de saúde foram fortemente impactados pela sobrecarga sobre Mortalidade (DATASUS, 2021) e de projeções populacionais
INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR (INCA). Estimativa 2020: incidência de câncer
causada pela COVID, e também sabemos que ocorreu grande redução (IBGE, 2021). Para as taxas segundo raça/cor, em razão de não no Brasil. Rio de Janeiro: 2019. Disponível em: <https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files//
nos exames e diagnósticos de câncer. Mas, quais os efeitos desta existirem projeções populacionais estratificadas para essa variável media/document//estimativa-2020-incidencia-de-cancer-no-brasil.pdf>
INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR (INCA). Registro de Câncer de Base Populacional
pandemia sobre o câncer pediátrico? com a faixa etária adotada, consideramos os dados populacionais do (RCBPop). INCA/Divisão de Vigilância e Análise de Situação, 2021. Disponível em: <https://www.inca.
Censo Demográfico 2010 (IBGE, 2021), multiplicando-o para os anos gov.br/BasePopIncidencias/PrepararConsultarRelatorioValorAbsoluto.action?tipoFaixaEtaria=2>
O Fórum de Oncologia Pediátrica (FOP 2021), a ser realizado de 04 a 14
INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR (INCA). Registro De Câncer de Base Hospitalar
de agosto deste ano, terá um grande desafio ao abordar estas questões analisados. Com exceção da análise das Três principais causas de (IntegradorRHC). INCA/Divisão de Vigilância e Análise de Situação. 2021. Disponível em: <https://
e propor ações para o fortalecimento de iniciativas inovadoras, como mortalidade infantojuvenil, todas os dados são referentes a população irhc.inca.gov.br/RHCNet/visualizaTabNetExterno.action>
de 0 a 19 anos. As informações dos Estados Unidos foram coletadas do ROMERO DE, Cunha Cb. Quality of socioeconomic and demographic data in relation to infant mor-
o Unidos pela Cura, objetivando a redução da mortalidade do câncer tality in the Brazilian Mortality Information System (1996/2001). Caderno Saúde Pública. 22(3):673-
infantojuvenil no Brasil. National Center for Health Statistics (NHI, 2021). As taxas de mortalidade 84, 2006 Disponível em: <https://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2006000300022>
foram ajustadas por idade, pelo método direto, usando como referência a STELIAROVA-FOUCHER, E. , STILLER, C. , LACOUR, B., KAATSCH, P. International Classification
of Childhood Cancer, thirdedition. Cancer, v. 103 p. 1457-1467, 2005. Disponível em: https://doi.
população padrão mundial, modificada por Doll et al. (1966) (INCA, 2016). org/10.1002/cncr.20910
2
Secretaria Municipal de Saúde 3
IntegradorRHC é um sistema web desenvolvido pelo INCA para a consolidação de dados
hospitalares dos Registros Hospitalares de Câncer (RHC) em todo o Brasil.

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