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artigo article
das anomalias congênitas no Brasil, de 2001 a 2018
Abstract Congenital anomalies (CA) are a rel- Resumo As anomalias congênitas (AC) configu-
evant problem for global public health, affect- ram um relevante problema para a saúde pública
ing about 3% to 6% of newborns worldwide. In global, afetando em média de 3% a 6% dos re-
Brazil, these are the second main cause of infant cém-nascidos em todo o mundo. No Brasil, ocu-
mortality. Thus, extensive studies are needed to pam a segunda posição entre os principais grupos
demonstrate the impact of these anomalies on de causas de óbito infantil. Assim, estudos amplos
births and deaths. The present study describes são necessários para mostrar o impacto das AC
the temporal trends of prevalence and infant na saúde infantil. O presente estudo descreve a
mortality due to CA among live births in Brazil tendência temporal da prevalência e da morta-
and regions, from 2001 to 2018, using the relat- lidade infantil por AC entre nascidos vivos (NV)
1
Programa de Pós- ed data between the Live Birth Information Sys- no Brasil e em suas cinco regiões de 2001 a 2018,
Graduação em tem (SINASC, acronym in Portuguese) and the utilizando dados vinculados entre as bases de da-
Biotecnologia em Saúde
e Medicina Investigativa, Mortality Information System (SIM, acronym in dos do Sistema de Informações sobre Nascidos Vi-
Centro de Integração de Portuguese). The prevalence and infant mortality vos (SINASC) e do Sistema de Informações sobre
Dados e Conhecimentos due to CA has increased in Brazil and in most re- Mortalidade (SIM). A prevalência e mortalidade
para Saúde, Instituto
Gonçalo Moniz – Fiocruz- gions, especially in the Northeast and North. CAs infantil por AC mostrou-se crescente no Brasil
BA. R. Waldemar Falcão in the musculoskeletal system were the most fre- na maioria das regiões, principalmente no Nor-
121, Candeal. 40.296- quent at birth (29.8/10,000 live births), followed te e no Nordeste. Aquelas do aparelho osteomus-
710 Salvador BA Brasil.
qerenferreira@gmail.com by those in the circulatory system (12.7/10,000 cular foram as mais prevalentes ao nascimento
2
London School of Hygiene live births), which represented the primary cause (29,8/10.000 NV); as do aparelho circulatório
and Tropical Medicine. of death in this group. The applied linkage tech- passaram para a segunda posição (12,7/10.000
London UK.
3
Centro de Integração de nique made it possible to correct the national NV) após a vinculação das bases e representam a
Dados e Conhecimentos prevalence of CA by 17.9% during the analyzed primeira causa de morte desse grupo. A técnica de
para Saúde, Centro period, after retrieving the anomalies reported in vinculação de dados aplicada corrigiu a prevalên-
de Pesquisas Gonçalo
Muniz, Instituto Gonçalo SIM, thereby proving to be a good tool to improve cia nacional das AC em 17,9% no período anali-
Moniz – Fiocruz-BA. the quality of information on anomalies in Brazil. sado, após serem recuperadas as AC notificadas
Instituto de Saúde Coletiva, Key words Congenital anomalies, Record linka- no SIM, mostrando ser uma boa ferramenta para
Universidade Federal da
Bahia. Salvador BA Brasil. ge, Children’s health melhorar a qualidade das informações das AC.
4
Faculdade de Medicina Palavras-chave Anomalias congênitas, Vincula-
da Bahia, Universidade ção de bases de dados, Saúde infantil
Federal da Bahia. Salvador
BA Brasil.
970
Fernandes QHRF et al.
nificante entre seu valor e zero. A taxa de varia- um aumento na taxa de variação anual, passando
ção anual mostra a porcentagem de crescimento para um acréscimo de 5,44% (p < 0,001) na pre-
ou redução por ano na prevalência e na taxa de valência das AC por ano, bem como a região Su-
mortalidade infantil por AC. Para os testes apli- deste, que passou a apresentar um aumento anual
cados, foi considerado um nível de significância de 5,68% (p < 0,001) na prevalência das AC. Por
de 0,05. fim, a região Sul apresentou tendência estacio-
Além disso, foi avaliada a tendência da pre- nária, com taxa de variação anual de 0,09% (p =
valência das AC nos NV de 2001 a 2015, período 0,931), conforme observado na Tabela 1.
anterior à epidemia de zika no Brasil, visando Foram mais prevalentes ao nascimento no
observar se houve mudanças na tendência da Brasil as AC dos sistemas osteomuscular, com
prevalência nos anos posteriores, com o aumento 29,8/10.000 NV; circulatório, com 12,7/10.000
de casos da Síndrome Congênita da Zika (SCZ). NV; e do sistema nervoso, com 11,1/10.000 NV
Utilizou-se o programa Stata 14.026 para as análi- (Figura 2). As relacionadas ao sistema osteomus-
ses estatísticas. cular foram as mais frequentes em todas as regi-
Este artigo integra um projeto maior, o qual ões. Essas, juntamente com as do sistema circu-
obteve a aprovação do Comitê de Ética em Pes- latório e as fendas labial e palatina, apresentaram
quisa da Universidade Federal da Bahia, Salva- maiores prevalências nas regiões Sudeste e Sul. Já
dor, Brasil (CAAE: 70745617.2.0000.5030). as AC do sistema nervoso e as outras malforma-
ções congênitas foram mais prevalentes na região
Nordeste (Tabela Suplementar 2, disponível em:
Resultados https://doi.org/10.48331/scielodata.2VEG1Z).
As anomalias do tipo fendas labial e palatina
De 2001 a 2018, foram registrados no Brasil e as do sistema osteomuscular tiveram suas no-
377.475 NV com diagnóstico de AC no SINASC. tificações registradas principalmente no SINASC
Após vinculação desse sistema com o SIM, ob- (94%). Em contrapartida, as notificações das AC
servou-se que 81.982 NV tiveram AC como cau- do sistema circulatório foram observadas sobre-
sa básica do óbito, mas não estavam registrados tudo no SIM; na região Norte, 84% das notifica-
no SINASC, totalizando 459.457 NV com AC, o ções desse grupo foram recuperadas nesse siste-
que representou um aumento de 17,9% no perío- ma. Assim, com a vinculação, as AC do sistema
do. Desse modo, a prevalência de NV de crianças circulatório passaram a ocupar a segunda posi-
com AC no país passou de 70,8/10.000 NV para ção entre as mais frequentes no Brasil. Entre as
86,2/10.000 NV. 59.042 AC do sistema nervoso, mais de 17% es-
Nesse período analisado, as maiores preva- tavam registradas apenas entre as causas de óbito
lências de AC foram observadas nas regiões Su- (Tabela Suplementar 2, disponível em: https://
deste e Sul, 96,6/10.000 NV e 94,1/10.000 NV, doi.org/10.48331/scielodata.2VEG1Z).
respectivamente, seguidas de 78,7/10.000 NV na No período 2001 a 2017, a mortalidade pro-
região Centro-Oeste, 78,6/10.000 NV na região porcional de menores de um ano por AC no país
Nordeste e 66,1/10.000 NV na Norte (Figura 1). foi de 21,7% (140.930/ 650.681), e a taxa de mor-
A tendência da prevalência anual das AC no talidade infantil específica por esse grupo de cau-
Brasil nos anos de 2001 a 2015 (período anterior sas foi de 24,4/10.000 NV. Verifica-se, na Figura 3,
ao surto de zika) apresentou-se estacionária nas que as regiões Sul (26,6/10.000 NV) e Centro-O-
regiões Centro-Oeste e Sul, com taxas de varia- este (26,6/10.000 NV) apresentaram as maiores
ção média anual de 2,28% (p = 0,195) e 1,20% (p taxas de mortalidade infantil por AC, seguidas
= 0,285), respectivamente, enquanto nas demais pelas regiões Sudeste (25,5/10.000 NV), Nordeste
regiões as tendências se apresentaram crescentes (22,4/10.000 NV) e Norte (21,8/10.000 NV).
(Tabela Suplementar 1, disponível em: https:// Conforme pode ser observado na Tabela 2,
doi.org/10.48331/scielodata.2VEG1Z). a taxa anual da mortalidade infantil por AC no
Quando analisada a tendência da prevalência Brasil apresentou tendência de crescimento (taxa
no período de 2001 a 2018, ou seja, incluindo na de variação anual = 4,23%, p <0,001). A respei-
análise os anos durante e posteriores à epidemia to da distribuição das taxas nas regiões, nota-se
de zika, a tendência mostrou-se crescente no que o aumento ocorreu em quatro das cinco re-
Brasil e em quatro das regiões (Sudeste, Norte, giões, cujos maiores índices são verificados nas
Nordeste e Centro-Oeste). A região Centro-Oes- regiões Norte (taxa de variação anual = 10,15%,
te mostrou crescimento na prevalência das AC de p < 0,001) e Nordeste (taxa de variação anual =
2,80% (p = 0,018) ao ano. Já na região Norte, teve 9,90%, p < 0,001). A região Sudeste apresentou
973
120,0
120,0
NV
AC/ 10.000NV
100,0
100,0
AC/10.000
80,0
80,0
dasdas
Prevalência
Prevalência
60,0
60,0
40,0
40,0
20,0
20,0
0,0
0,0
2001
2001 2002
2002 2003
2003 2004
2004 2005
2005 2006
2006 2007
2007 2008
2008 2009
2009 2010
2010 2011
2011 2012
2012 2013
2013 2014
2014 2015
2015 2016
2016 2017
2017 2018
2018
Brasil
Brasi l 62,5
62,5 68,7
68,7 72,1
72,1 78,2
78,2 77,5
77,5 78,2
78,2 80,1
80,1 83,3
83,3 88,4
88,4 90,8 94,0
90,8 94,0 89,7
89,7 84,0
94,0 89,9
89,9 97,9
97,9 108,9
108,9 102,7
102,7 98,3
98,3
Sudeste
Sudest e 66,5
66,5 77,9
77,9 82,7
82,7 88,7
88,7 87,6
87,6 84,3
84,3 87,6
87,6 90,8
90,8 97,9
97,9 100,0
100,0 104,9
104,9 104,1
104,1 107,3
107,3 102,3
102,3 105,5
105,5 123,7
123,7 119,2
119,2 111,4
111,4
Norte
Norte 53,6
53,6 51,5
51,5 52,5
52,5 60,5
60,5 63,1
63,1 61,4
61,4 62,9
62,9 64,3
64,3 66,6
66,6 69,9 71,9
69,9 71,9 67,9
67,9 64,2
64,2 65,7
65,7 72,9
72,9 79,9
79,9 79,2
79,2 80,3
80,3
Nordeste
Nordest e 50,8
50,8 54,4
54,4 59,5
59,5 64,4
64,4 66,7
66,7 71,6
71,6 76,1
76,1 75,1
75,1 80,6
80,6 83,3 87,1
83,3 87,1 83,9
83,9 84,6
84,6 82,5
82,5 103,3
103,3 112,1
112,1 97,9
97,9 93,5
93,5
SulSul 86,6
86,6 88,5
88,5 88,3
88,3 93,4
93,4 87,9
87,9 93,4
93,4 90,5
90,5 98,0
98,0 98,9
98,9 99,6 100,2
99,6 100,2 102,1
102,1 98,4
98,4 94,9
94,9 93,4
93,4 93,9
93,9 95,2
95,2 92,9
92,9
Centro-Oeste
Centro-Oeste 63,1
63,1 65,9
65,9 67,4
67,4 76,9
76,9 71,4
71,4 72,4
72,4 79,2
79,2 81,1
81,1 82,9
82,9 86,8 84,9
86,8 84,9 82,2
82,2 81,4
81,4 79,1
79,1 82,0
82,0 90,1
90,1 82,7
82,7 85,7
85,7
Figura 1. Prevalências (por 10 mil nascidos vivos) da ocorrência das anomalias congênitas no Brasil e regiões, 2001
a 2018.
Figura 1. Prevalências (por 10 mil nascidos vivos) da ocorrência das anomalias congênitas no Brasil e regiões,
2001
Fonte: a 2018.
Dados obtidos no SINASC – Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos, acrescidos daqueles não
registrados ao nascer, mas registrados na Declaração de Óbitos/SIM – Sistema de Informações sobre M ortalidade.
Fonte: Dados obtidos no SINASC – Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos, acrescidos daqueles não registrados ao nascer,
mas registrados na Declaração de Óbitos/SIM – Sistema de Informações sobre Mortalidade.
Tabela 1. Parâmetros obtidos mediante regressão linear generalizada de Prais-Winsten para a série temporal
da prevalência (por 10 mil nascidos vivos) das anomalias congênitas segundo região geográfica de residência.
Brasil, 2001 a 2018.
Local de residência Taxa de variação anual (%) IC (95%) p* R2 Tendência
Brasil 5,20 3,75-6,66 < 0,001 0,81 Crescente
Sudeste 5,68 4,24-6,91 < 0,001 0,85 Crescente
Norte 5,44 3,04-8,04 < 0,001 0,59 Crescente
Nordeste 7,40 4,47-10,41 < 0,001 0,65 Crescente
Sul 0,09 -2,16-2,33 0,931 0,01 Estacionária
Centro-oeste 2,80 0,53-4,95 0,018 0,32 Crescente
Modelo de regressão linear generalizada de Prais-Winsten.
*
Fonte: Autores.
tendência estacionária, com taxa de variação formações congênitas (4,8/10.000 NV), sistema
anual de 1,16% (p = 0,227). nervoso (4,4/10.000 NV) e sistema osteomuscu-
No que se refere às causas mais frequentes lar (2,8/10.000 NV). As anomalias cromossômi-
de óbito por AC no Brasil de 2001 a 2017, as do cas não classificadas em outra parte (ACrNCOP)
sistema circulatório foram as predominantes, representaram 2,1/10.000 NV (Figura Suplemen-
apresentando taxa de mortalidade infantil de tar, disponível em: https://doi.org/10.48331/scie-
10/10.000 NV, seguido pelo grupo de outras mal- lodata.2VEG1Z).
974
Fernandes QHRF et al.
40,0
40,0
35,0
35,0
20,0
20,0
15,0
15,0
10,0
10,0
5,0
5,0
2001 2002
0,0
0,0
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
Sistema osteomuscular 21,7 23,5 25,4 26,5 28,2 28,8 28,5 29,0 31,6 33,3 33,8 31,8 33,1 31,6 30,8 33,9 33,3 33,6
Sistema osteomuscular 21,7 23,5 25,4 26,5 28,2 28,8 28,5 29,0 31,6 33,3 33,8 31,8 33,1 31,6 30,8 33,9 33,3 33,6
Sistema circulatorio 7,6 9,6 10,0 10,8 10,2 10,7 11,7 12,2 13,0 13,0 13,9 14,4 16,7 15,9 16,1 18,5 18,9 16,0
Sistema circulatório 7,6 9,6 10,0 10,8 10,2 10,7 11,7 12,2 13,0 13,0 13,9 14,4 16,7 15,9 16,1 18,5 18,9 16,0
Sistema nervoso 9,6 10,2 10,7 11,1 10,0 9,4 9,9 10,0 10,4 10,3 10,9 10,0 10,0 10,1 15,7 18,8 11,9 10,9
Sistema nervoso 9,6 10,2 10,7 11,1 10,0 9,4 9,9 10,0 10,4 10,3 10,9 10,0 10,0 10,1 15,7 18,8 11,9 10,9
Outras MC 6,2 6,6 6,7 6,6 7,0 6,9 6,2 6,2 6,5 6,1 6,2 5,6 5,3 5,4 5,6 5,7 5,5 5,1
Outras MC
Fenda labial e palatina
6,2 4,8
6,6 6,7 6,6 7,0 4,7
6,9 4,7
6,2 4,6
6,2 5,0
6,5 6,1 6,2 5,6 5,3 5,4 5,6 5,7 5,5 5,1
4,4 4,9 4,8 5,3 5,3 5,5 5,1 5,5 5,0 5,1 5,7 5,5 5,3
Fenda labial e palatina 4,4 4,8 4,9 4,8 5,3 4,7 4,7 4,6 5,0 5,3 5,5 5,1 5,5 5,0 5,1 5,7 5,5 5,3
Figura 2. Prevalências (por 10 mil nascidos vivos) da ocorrência das anomalias congênitas por grupo de causa no Brasil,
de 2001 a 2018.
Fonte: Dados obtidos no SINASC – Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos, acrescidos daqueles não registrados ao nascer, mas
registrados na Declaração de Óbitos/SIM – Sistema de Informações sobre Mortalidade.
35,0
35,0
NV
30,0
30,0
infantil/10.000 NV
mortalidadeinfantil/10.000
25,0
25,0
20,0
20,0
mortalidade
15,0
15,0
10,0
dede
10,0
Taxa
Taxa
5,0
5,0
0,0
0,0
2001 2002
2001 2002 2003
2003 2004
2004 2005
2005 2006
2006 2007
2007 2008
2008 2009
2009 2010
2010 2011
2011 2012
2012 2013
2013 2014
2014 2015
2015 2016
2016 2017
2017
Brasil
Brasil 15,8 21,0
15,8 21,0 22,5
22,5 24,2
24,2 22,5
22,5 23,4
23,4 23,7
23,7 24,0
24,0 24,6
24,6 24,6
24,6 25,6
25,6 24,8
24,8 25,1
25,1 26,2
26,2 26,6
26,6 30,8
30,8 30,2
30,2
Sudeste
Sudest e 11,2 24,5
11,2 24,5 28,1
28,1 28,1
28,1 26,3
26,3 24,6
24,6 24,3
24,3 26,1
25,2 26,1
26,1 25,2
25,2 26,5
26,5 25,4
25,4 25,5
25,5 26,5
26,5 27,0
27,0 30,6
30,6 29,5
29,5
Norte
Norte 16,3 15,9
16,3 15,9 14,2
14,2 19,1
14,2 17,9
17,9 19,2
20,4
19,2
20,4 20,6
20,4 20,6
20,6 22,6
22,6 22,7
22,7 24,6
24,6 23,7
23,7 25,0
25 25,7
25,7 31,0
31,0 30,6
30,6
Nordeste
Nordest e 14,7 14,9
14,7 14,9 16,4
16,4 18,1
16,4 18,0
18 21,7 22,7
21,7 22,7 23,2
22,3 23,2
23,2 23,7
23,7 25,0
25 24,8
24,8 24,2
24,2 25,3
25,3 26,2
26,2 32,2
32,2 31,9
31,9
Sul Sul 27,1 26,8
27,1 26,8 25,8
25,8 27,1
25,8 23,8
23,8 26,1
26,1 26,0
26 26,1
27,1 26,1
26,1 26,8
26,8 26,5
26,5 28,0
28 26,0
26 26,8
26,8 26,9
26,9 27,5
27,5 28,2
28,2
Centro-Oeste
Centro-Oeste 25,7 23,4
25,7 23,4 24,7
24,7 30,1
24,7 24,8
24,8 25,4
25,4 25,3
25,3 25,8
24 25,8
25,8 24,8
24,8 26,1
26,1 27,3
27,3 26,8
26,8 27,8
27,8 27,2
27,2 32,2
32,2 30,8
30,8
Figura 3. Taxas de mortalidade infantil (por 10 mil nascidos vivos) das anomalias congênitas no Brasil por região, de
Figura
2001 3. Taxas de mortalidade infantil (por 10 mil nascidos vivos) das anomalias congênitas no Brasil por região,
a 2017.
de 2001 a 2017.
Fonte: Dados obtidos no SIM – Sistema de Informações sobre M ortalidade.
Fonte: Dados obtidos no SIM – Sistema de Informações sobre Mortalidade.
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Fonte: Autores.
Assim, as AC mais visíveis acabam sendo as As menores taxas de mortalidade infantil por
mais prevalentes, pois são facilmente identificadas AC para o período estudado foram encontradas
logo após o nascimento e notificadas na DNV9-11. nas regiões Norte e Nordeste. Entretanto, o cres-
A expressiva proporção de AC não diagnostica- cimento anual da taxa de mortalidade infantil por
da no momento do nascimento pode ser devi- AC foi maior nessas regiões. Essas localidades são
do à dificuldade na identificação da anomalia, à áreas de menor desenvolvimento socioeconômi-
não disponibilidade de recursos diagnósticos ou co e apresentam maiores riscos de morte infantil.
mesmo, como já mencionado, à baixa capacidade Contudo, quando comparadas com as outras re-
técnica dos profissionais responsáveis por esse giões, a Norte e a Nordeste apresentaram as maio-
processo6,33. Tais fatores podem explicar a expres- res quedas na mortalidade infantil entre 1990 e
siva subnotificação das AC do sistema circulató- 2015, passando de 45,9/1.000 NV () e 75,8/1.000
rio no SINASC, no qual constam apenas 38,5% NV para 16,6/1.000 NV e 15,2/1.000 NV36, res-
do total de registros da presente investigação. Si- pectivamente. Isso se deve, muito provavelmente,
tuação pior foi verificada por Pinto Junior et al. ao fato de que causas evitáveis de óbito, como in-
(2015)11, que encontraram uma proporção menor fecção e prematuridade, têm sido cada vez mais
(5,3%) de cardiopatias congênitas registradas nes- controladas no Brasil37. Dessa forma, as AC foram
se sistema em todo o país. ganhando maior impacto na mortalidade infantil
Nesse sentido, tais problemas reforçam a ne- ao longo dos anos15, influenciando no maior cres-
cessidade de utilização das técnicas de vinculação cimento anual observado das taxas de mortalida-
de dados por possibilitar identificar os indivídu- de infantil por AC nessas regiões. Além disso, os
os com AC graves que tiveram esses diagnósticos óbitos infantis por AC causados pelo aumento de
registrados em outros bancos de dados e assim casos de SCZ contribuíram para esse incremento,
obter informações mais próximas da realidade. sobretudo nos anos de 2016 e 201736.
Entretanto, estudos sobre as AC no Brasil usando O Brasil tem implantado, nos últimos anos,
dados vinculados ainda são escassos, principal- diversas políticas públicas de saúde materno-in-
mente os que particularizam as regiões do país. fantil com foco na detecção e tratamento de AC
O presente artigo é o primeiro a analisar a cardíacas38,39, políticas essas que provavelmente
tendência temporal da prevalência desse grupo influenciaram na melhoria do diagnóstico, le-
de causas no Brasil e nas cinco regiões a partir vando, portanto, a um aumento na notificação
de dados nacionais resultantes da vinculação de desse grupo. Em estudo realizado no estado do
duas grandes e importantes bases de dados (nas- Rio Grande do Sul, Luz et al. (2019)40 observaram
cimentos vivos e óbitos), o que tornou possível a que, no período estudado, as anomalias do siste-
correção de 17,9% na prevalência das AC no ter- ma circulatório apresentaram tendência crescen-
ritório nacional. Em estudo similar apenas para te, com a maior taxa de crescimento anual entre
o município de São Paulo, feito por Geremias et os grupos de AC analisados. Embora a melhor de-
al. (2009)34, a correção foi de 14,3%, enquanto tecção dessas anomalias seja observada no SIM, já
Guimarães et al. (2019)35 registraram correção de que na maioria dos casos o diagnóstico não é feito
20% na cidade de Recife. a tempo de ser notificado no SINASC11.
Nas regiões Sudeste e Sul há uma maior con- Entre as limitações do presente estudo, encon-
centração de médicos geneticistas e centros de tra-se a possibilidade de erros na vinculação das
referência em genética médica14,33, o que pode bases, como vinculação errônea entre os registros
contribuir significativamente para o diagnóstico ou a não vinculação, que pode levar à perda de
das AC, e posteriormente para uma melhora no dados e impacta na estimativa da prevalência e na
registro dessas na DO. Por conseguinte, isso pode taxa de mortalidade infantil. Uma segunda possi-
influenciar nas taxas de mortalidade por AC nes- bilidade de sub-registro diz respeito às AC que não
sas regiões, pois as maiores taxas de mortalidade foram diagnosticadas ao nascimento (SINASC) e
infantil por AC no período estudado foi obser- também não foram registradas no SIM, ou por
vado nessas regiões, juntamente com o Centro não terem sido diagnosticadas durante a vida da
-Oeste. Vale destacar que a melhora na detecção criança ou, apesar de diagnosticadas tardiamen-
das AC também se reflete no tipo de anomalia te, não foram graves a ponto de levar a criança a
registrada no momento do óbito, visto que as óbito. Desse modo, essas AC não puderam ser re-
ACrNCOP, que necessitam de um diagnóstico cuperadas neste trabalho, o que evidencia a neces-
mais específico, tiveram as maiores taxas de mor- sidade de se incluir registros sobre as morbidades
talidade infantil por AC também encontradas no da população, a fim de melhorar a subnotificação
Sul e Sudeste. das AC nos bancos de dados públicos do país.
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Colaboradores
Financiamento
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