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PALMAS - TO
2019
MARCO AURÉLIO GONDIM CORDEIRO
PALMAS - TO
2019
AGRADECIMENTOS
A anemia é uma patologia muito frequente em todo o mundo e que apresenta importantes
repercussões clínicas, especialmente, associada a outros agravantes clínicos, como por exemplo
procedimentos cirúrgicos. É especialmente diagnosticada a partir da análise da hemoglobina
verificados no hemograma, podendo influenciar negativamente no paciente cirúrgico, assim
como representar risco a integridade do mesmo no transcorrer do período perioperatório.
Objetivou-se verificar a prevalência de anemia no período pré-operatório e estabelecer uma
relação entre a anemia e o tipo de procedimento cirúrgico. Após aprovado no Comitê de Ética
em Pesquisa de Seres Humanos foram analisados 253 prontuários de pacientes atendidos em
Hospital Público da Região Norte do Brasil. Aplicou-se análise estatística descritiva nas
variáveis tais como hemoglobina pré-operatória, sexo, idade, procedência, risco anestésico, tipo
de cirurgia e entre outras. Dos 253 prontuários analisados, 132 (52,17%) apresentaram critérios
de anemia, sendo a frequência maior nas mulheres. Dos 132 (100%) prontuários com anemia,
75 (29,64%) classificaram como anemia leve, 51 (20,15%) com anemia moderada e 6 (2,37%)
anemia grave ainda no pré-operatório. O sistema de notificação e registro dos dados pré, trans
e pós-operatórios são preenchidos de forma incompleta. Em relação aos procedimentos
cirúrgicos, as cirurgias de urgência, cirurgia geral, ortopédicas e obstétricas foram as mais
comuns. A técnica anestésica mais utilizada foi a raquianestesia, onde a variação do risco
anestésico não apresentou nenhuma influência.
Anemia is a very common condition worldwide and has important clinical repercussions,
especially associated with other clinical aggravating factors such as surgical procedures. It is
especially diagnosed based on the hemoglobin analysis verified in the blood count, which may
negatively influence the surgical patient, as well as represent a risk to its integrity during the
perioperative period. The objective was to verify the prevalence of anemia in the preoperative
period and to establish a relationship between anemia and the type of surgical procedure. After
being approved by the Human Research Ethics Committee, 253 medical records of patients
treated at a public hospital in the Northern Region of Brazil were analyzed. Descriptive
statistical analysis was applied to variables such as preoperative hemoglobin, gender, age,
origin, anesthetic risk, type of surgery and others. Of the 253 medical records analyzed, 132
(52.17%) reported anemia, with a higher frequency in women. Of the 132 (100%) medical
records with anemia, 75 (29.64%) classified it as mild anemia, 51 (20.15%) with moderate
anemia and 6 (2.37%) with severe anemia not yet preoperative. The pre, trans and post-
operative data registration and notification system are incomplete. Regarding surgical
procedures, such as emergency surgery, general surgery, orthopedic and obstetric, were the
most common. The most used anesthetic technique was spinal anesthesia, where the variation
in anesthetic risk had no influence.
LISTA DE QUADROS
LISTA DE SIGLAS
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 9
2 OBJETIVOS ........................................................................................................................ 20
2.1 Geral ................................................................................................................................... 20
2.2 Específicos .......................................................................................................................... 20
3 METODOLOGIA................................................................................................................ 21
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................ 23
5 CONCLUSÃO...................................................................................................................... 29
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 30
9
1 INTRODUÇÃO
Anemia é definida, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como o indivíduo que
apresenta níveis de hemoglobina (Hb) abaixo de 13g/dl em homens, menor que 12g/dl em
crianças acima de 12 anos e mulheres não gestantes, menor que 11g/dl para crianças de 6 meses
a 5 anos e mulheres gestantes, e por fim, crianças com idade entre 5 e 11 anos com Hb menor
que 11,5g/dl. Em associação à dosagem de hemoglobina, a baixa quantidade de ferritina sérica
ajuda a confirmar a anemia tendo origem na reduzida quantidade de ferro disponível (WHO,
2011; BRASIL, 2014; MANDAL, 2019).
Segundo dados da OMS, a anemia afeta cerca de 1,62 bilhão de pessoas, ou seja, 24,8%
da população mundial. Em crianças em idade pré-escolar encontramos a maior prevalência com
47,4% das crianças, sendo que os homens apresentam a menor prevalência com 12,7%. Porém,
as mulheres não grávidas são o grupo com maior número de indivíduos afetados (468,4
milhões) (DE BENOIST, 2008).
Dados da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS) de 2006 mostram que o
Brasil tem uma prevalência estimada de 20,9% de anemia em menores de 5 anos e de 29,4%
em mulheres não grávidas de 15 a 49 anos (BRASIL, 2009). Até o ano de 2008 não existiam
diferenças marcantes nas prevalências de anemia em menores de cinco anos entre as
macrorregiões, e os estudos populacionais loco-regionais nesta faixa etária indicavam valores
de 40% a 50% de indivíduos acometidos (OLIVEIRA et al., 2011).
No Brasil, a prevalência de anemia em crianças, é de cerca de 20,9%, e em mulheres em
idade fértil de 29,4%. Tendo a região nordeste a maior prevalência entre as regiões brasileiras
(BRASIL, 2009). Corrêa et al. (2004) afirma que o sexo feminino apresenta maior prevalência
de anemia, visto que sua causa mais frequente é por deficiência de ferro. Nas mulheres esta é
mais prevalente devido a fatores peculiares comuns ao sexo feminino, como menstruação,
gravidez e lactação.
Segundo a WHO (2011) a anemia ferropriva é o tipo mais comum de anemia encontrada
na população em geral, principalmente em países em desenvolvimento. Entre as causas de
anemia encontradas, a deficiência de ferro é a mais comum globalmente, porém outros fatores
de deficiência nutricionais (incluindo folato, vitamina B12 e vitamina A), inflamações agudas
e crônicas, infecções parasitárias e distúrbios hereditários ou adquiridos que afetam.
Aproximadamente 20% da população em geral sofre de anemia de diferentes etiologias
sendo a anemia ferropriva o déficit mais comum no ambiente perioperatório, juntamente com
10
a anemia inflamatória crônica. Esta prevalência em média, acomete um terço dos candidatos à
cirurgia e aumentam em 2,29 vezes o risco de complicações pós-operatórias graves, tanto a
curto (14 dias pós-operatórios) quanto a longo prazo (90 dias pós-operatórios) (BEATIIE et al.,
2009; CLEVENGER, 2015).
As causas de anemia são bastante variadas e vão desde à carência nutricional de ferro
na dieta, doenças autoimunes até neoplasias mieloproliferativas, passando pelas alterações
congênitas na estrutura da hemoglobina. Detecta-se algum grau de anemia em 20 a 40% dos
pacientes hospitalizados (GOMES, 2006). Os riscos da anemia são considerados
principalmente no contexto de seu impacto negativo na capacidade de transporte de oxigênio
do sangue trazendo riscos para o paciente mesmo no pré-operatório (SHANDER, LOBEL e
JAVIDROOZI, 2016).
Após o diagnóstico de uma patologia ou alteração no organismo, cujo tratamento
dependa de procedimento cirúrgico para resolução do problema, todo paciente deve ser
encaminhado para avaliação pré-anestésica e submetido a avaliação laboratorial básica. Muitas
vezes é encontrado, além da patologia cirúrgica, um quadro de anemia, que geralmente era
desconhecido por grande parte dos pacientes (GOMES, 2006).
Antes da realização de qualquer cirurgia, os procedimentos médicos pré-cirúrgicos são
definidos na avaliação pré-operatória, onde o paciente será examinado por um anestesiologista,
que irá buscar a realização de um procedimento cirúrgico seguro, incluindo desde o
conhecimento anatomofisiológico do paciente, bem como a decisão sobre a técnica anestésica
mais adequada para cada um (CAMPOS, SOLEY e CAMPOS, 2018). Após essa avaliação
anestésica inicial, o paciente é estratificado em relação ao risco anestésico para o procedimento
cirúrgico podendo ser classificado segundo a American Society of Anesthesiology (ASA) em
riscos, conforme descrito no Quadro 1.
CLASSIFICAÇÃO DEFINIÇÃO
ASA I Paciente normal
ASA II Paciente com doença sistêmica leve
ASA III Paciente com doença sistêmica grave
Paciente com doença sistêmica grave que se constitui em ameaça constante à
ASA IV vida
ASA V Paciente moribundo sem expectativa de sobrevida sem a cirurgia
Paciente com morte cerebral declarada, cujos órgãos estão sendo removidos
ASA VI para fins de doação
Nota: A adição da letra “E” significa cirurgia de emergência.
Fonte: ASA, 2019; BRANDÃO, 2019.
11
Diversos são os tipos de anemia, dentre eles destaca-se: aplásica, falciforme, ferropriva,
perniciosa, megaloblástica, hemolítica e anemia de Fanconi. A anemia, assim que descoberta,
pode e deve ser tratada visando evitar ocorrências indesejáveis no pré e pós-operatório.
Anemia aplásica é uma doença autoimune onde a medula óssea diminui a produção de
células sanguíneas. Seu tratamento é feito com transplante de medula óssea e transfusão de
sangue, quando não é devidamente tratada, pode levar à morte em menos de 1 ano (LIMA,
2017). Cansaço, dispneia ao esforço, fraqueza, taquicardia, palidez, infecções frequentes,
epistaxe e sangramento das gengivas, aumento do tempo de sangramento, erupção cutânea e
febre são sintomas da anemia aplásica, e costumam se desenvolver lentamente ao longo de
semanas a meses (BEARDEN, 2018). Na grande maioria dos casos de anemia aplásica, o
sangue periférico nos revela eritrócitos normocrômicos e moderadamente macrocíticos,
presença de policromatófilos, pontilhados e eritroblastos além de contagem de reticulócitos
normal ou baixa (VARGAS, 2013). O tratamento inclui também transfusões de glóbulos
vermelhos e plaquetas, entretanto, os hemoderivados são usados somente quando forem
essenciais (BRAUNSTEIN, 2018).
Já a anemia falciforme é uma patologia genética caracterizada por glóbulos vermelhos
em forma de foice (meia-lua) e causa a destruição das células vermelhas do sangue gerando
sintomas como icterícia e edema generalizado. Deve ser tratada com uma boa alimentação,
transfusão de sangue em casos extremos de anemia (BRASIL, 2016; LIMA, 2017). Pode se
manifestar de forma diferente em cada indivíduo, desde um quadro assintomático a crises muito
graves da doença, com sintomas de dores ósseas, abdominais, infecções de repetição às vezes
muito graves, podendo levar à morte (BRASIL, 2007; BRASIL, 2018). Estas crises falciformes
podem exigir hospitalização, onde os pacientes devem receber hidratação intravenosa,
analgesia e transfusões de sangue e aporte de oxigênio caso a anemia seja grave o bastante para
representar um risco de acidente vascular cerebral, infarto do miocárdio ou danos pulmonares
(BRAUNSTEIN, 2018; BRASIL, 2013).
Em relação ao período perioperatório, uma atenção especial deve ser dada sobre
transfusões pré-operatórias em pacientes com doença falciforme, porque a taxa de complicação
perioperatória nessa população pode chegar a 67%. O estresse cirúrgico e o trauma podem
aumentar a taxa de anemia, a formação de células falciformes e transfusões de células
vermelhas que são frequentemente usadas para preservar a capacidade de transporte de oxigênio
e diluir as células falciformes (PATEL e CARSON, 2017).
13
A anemia deve ser vista como condição clínica significativa, em vez de simplesmente
um valor laboratorial anormal. Em pacientes cirúrgicos, a anemia tem sido associada ao
aumento da morbidade e mortalidade no pós-operatório. Todo paciente anêmico tem menor
qualidade e expectativa de vida; considerando-se um paciente cardiopata em recuperação, a
anemia se torna um agravante na recuperação do paciente (RIVA et al., 2013)
A anemia pode piorar como consequência de uma cirurgia planejada, como, também
por causa da perda de hemoglobina devido a resposta inflamatória à cirurgia, onde existe
remodelação óssea. É provável que o tratamento da anemia seja necessário previamente por um
período maior do que na prática geral de hematologia (KOTZÉ, 2016).
A anemia identificada no pré-operatório é independentemente associada ao aumento do
risco após o ato cirúrgico, como por exemplo, maior necessidade de cuidados intensivos e
estadia hospitalar, complicações pós-operatórias como isquemia miocárdica, maior ocorrência
de infecções e pior resultado geral, incluindo o óbito, mesmo naqueles com anemia leve
(Hb>10dg/l) (KOTZÈ, 2015; CLEVENGER, 2015).
Anemia na cirurgia tem sido associada a maior risco de infecção, maior necessidade de
ventilação mecânica e maiores taxas de mortalidade do que o observado em indivíduos que não
têm anemia no pré-operatório (RIVA et al., 2013).
Os pacientes idosos e que possuem outras comorbidades, como doença renal, câncer,
insuficiência cardíaca e diabetes mellitus, têm um risco aumentado de serem anêmicos em
função da própria comorbidade, além disso, pacientes de biótipo que têm menor volume
sanguíneo circulante, pode resultar em maior probabilidade de anemia pós-operatória
(KANSAGRA e STEFAN, 2016).
O correto diagnóstico da anemia e o encaminhamento para tratamento adequado até que
se melhore o quadro, mesmo que acarrete adiamento da cirurgia quando eletiva, leva a menor
risco cirúrgico de complicações pós-operatórias. O tratamento pré-operatório é utilizado para
aumentar a massa de células vermelhas. A probabilidade de transfusão varia em função do nível
de hemoglobina inicial e da perda de massa eritrocitária no perioperatório (KOTZÉ, 2016).
Em pacientes hospitalizados, a anemia é uma condição de ocorrência comum em
pacientes graves e, geralmente, ocorre em consequência de uma associação de fatores, como a
diluição secundária à reposição volêmica, a hemólise, as anormalidades no metabolismo do
ferro, as perdas sanguíneas pelo trato gastrintestinal e, ainda, com a diminuição da produção de
eritropoetina com consequente diminuição de eritropoese em resposta a presença de citocinas
inflamatórias (LOBO et al., 2006).
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A anemia traz riscos para o paciente mesmo no pré-operatório, uma vez que ela precisa
ser minimizada e por isso, pode adiar o procedimento cirúrgico, sendo que o anêmico tem a
capacidade sanguínea de transporte de oxigênio reduzida. Para minimizar riscos no período
perioperatório, ocorre a consulta pré-operatória, que representa uma oportunidade para a
detecção e tratamento oportunos da anemia perioperatória antes da cirurgia eletiva. A decisão
de concluir um estudo para avaliação diagnóstica da anemia depende da gravidade da anemia e
da urgência da cirurgia, e cada caso deve ser avaliado separadamente, o que sugere ao médico
que prescreva medicações para minimizar a anemia e assegurar que o procedimento cirúrgico
seja melhor sucedido, uma vez que o organismo do paciente estará mais saudável no pré-
cirúrgico e reagirá bem ao procedimento a ser realizado (KANSAGRA e STEFAN, 2016).
O paciente com quadro anêmico pode apresentar sintomas como tontura, dispneia,
taquicardia, hipotensão ortostática, entretanto, podendo ou não precisar de receber transfusão
sanguínea (CAMPOS; SOLEY e CAMPOS, 2018).
A anemia está associada aos principais fatores de risco para alterações orgânicas no
período pós-operatório de cirurgias, sendo que estes associam-se a: idade, sexo, história médica,
tipo de medicação utilizada no pré-operatório e fatores de risco intraoperatório (tipo de cirurgia,
tempo de permanência em circulação extracorpórea, tempo de permanência em internação e
uso de medicação específica) (RIVA et al., 2013). Durante a avaliação do paciente no pré-
operatório, a anemia pode ser detectada e é um preditor independente de piores resultados em
populações de pacientes. O papel da anemia no agravamento dos resultados talvez seja melhor
exemplificado na síndrome de anemia cardiorrenal onde pacientes com condições crônicas
como insuficiência cardíaca e doença renal têm um risco aumentado de desenvolvimento de
anemia, ocasionando exacerbações das condições crônicas subjacentes, levando a piores
desfechos dos pacientes, incluindo aumento da mortalidade (SHANDER, LOBEL e
JAVISROOZI, 2016).
Devemos levar em conta que, além da perda sanguínea pela própria cirurgia, a anemia
pós-operatória pode ser agravada pela hemodiluição após infusão de líquidos, pela liberação de
citocinas inflamatórias após a cirurgia, pela diminuição da captação gastrointestinal de ferro e
pela diminuição da produção de eritropoietina (KANSAGRA e STEFAN, 2016).
Valores críticos de hemoglobina abaixo do qual a oferta de oxigênio tecidual seja
comprometida é encontrada apenas na anemia extremamente severa, porém os efeitos
prejudiciais da anemia ainda podem ocorrer em níveis mais elevados de hemoglobina e até
mesmo em anemia leve (SHANDER, LOBEL e JAVIDROOZI, 2016).
17
composta com OR = 1,23, a pneumonia com OR = 1,24 e sepse ou choque com OR = 1,29 e
transfusão de 2 unidades acrescentou a estes riscos, a infecção do local cirúrgico (OR = 1,25).
Ainda no pré-operatório a decisão de uma transfusão sanguínea deve considerar a
duração da anemia, a volemia, a extensão da cirurgia, a probabilidade de hemorragia maciça e
a presença de comorbidades associadas, como doenças pulmonares, insuficiência cardíaca,
isquemia miocárdica e insuficiência vascular periférica ou cerebral (FEITOSA et al., 2007).
Ao se transfundir um paciente com 4 mL/kg de concentrado de hemácias por peso
corporal geralmente consegue-se obter a elevação do hematócrito do paciente em 3% e da
hemoglobina em 1g/dl (BRUNETTA, 2015). Sendo que a instituição de diretrizes intra-
hospitalares para transfusão de células vermelhas devem basear-se na indicação de isquemia
orgânica, risco ou sangramento contínuo, status do volume intravascular e suscetibilidade à
complicações de oxigenação inadequada (PATEL e CARSON, 2017).
Os mecanismos fisiológicos de compensação da anemia (alterações no débito cardíaco,
viscosidade sanguínea, resistência vascular periférica e na curva de dissociação da
hemoglobina) são eficazes em manter adequado o aporte de oxigênio aos tecidos quando o nível
de hemoglobina diminui (BRUNETTA, 2015).
A hemotransfusão disseminada aumenta de forma significativa o risco de transmissão
de agentes infecciosos e afeta o perfil imunológico, aumentando o risco de infecção nosocomial
e de recorrência de câncer (LOBO et al., 2006).
Para verificar a ocorrência de variação de hemoglobina imediatamente antes e após a
realização de procedimentos cirúrgicos são realizados exames para favorecer maior segurança
nos procedimentos médicos, que devem constar nos prontuários dos pacientes.
Durante o período perioperatório, nos pacientes anêmicos, independente da causa de
anemia, estratégias para minimizar a anemia e o sangramento devem ser consideradas para
todos os pacientes, e estratégias restritivas de transfusão podem ser aconselháveis
(SMILOWITZ et al., 2016).
O Conselho Federal de Medicina, na resolução CFM nº 1.638/2002, considera que o
prontuário é documento valioso para o paciente, para o médico que o assiste e para as
instituições de saúde, bem como para o ensino, a pesquisa e os serviços públicos de saúde, além
de instrumento de defesa legal (BRASIL, 2014).
A fim de manter-se o registro, permitir continuidade e eficácia no atendimento contínuo
ao paciente, o prontuário se torna peça fundamental para o médico assistente (MACEDO,
2017). Os registros feitos pela equipe multiprofissional assistencial têm papel preponderante na
segurança e no controle do tratamento médico (CARVALHO, 2017), sendo que um ponto
19
2 OBJETIVOS
2.1 GERAL
2.2 ESPECÍFICOS
3 METODOLOGIA
versão 1910 para as análises estatísticas; e as informações coletadas analisadas de acordo com
frequência e tópico.
A análise da relação entre presença de anemia perioperatória com as demais variáveis,
como sexo, idade, tipo de cirurgia (eletiva ou de urgência) e complicações pós-operatórias foi
realizada com o teste t, com valor de p adotado de 5%.
23
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após a coleta dos prontuários e seleção dos pacientes operados no período de janeiro a
março de 2018, foram analisados 514 prontuários. Sendo excluídos 261 prontuários que não
cumpriram os requisitos para participarem da análise estatística do estudo, ou seja 49,2% do
total de pacientes operados neste período não tiveram seu registro adequado no prontuário
médico, impossibilitando sua inclusão no estudo.
Foram excluídos em sua maioria por falhas no preenchimento de dados imprescindíveis
a análise, como dados pessoais incompletos, dados laboratoriais inexistentes ou incompletos,
letra ilegível e ausência de ficha de registro da anestesia, o que demonstra uma grande falha no
preenchimento correto do prontuário médico, visto ser um documento extremamente útil ao
registro de dados do paciente e inclusive, servir de substrato para análises científicas.
Ainda há de se considerar que a falta de registro adequado ao prontuário pode acarretar
prejuízo não apenas ao pesquisador, mas primeiramente ao próprio paciente, uma vez que se
necessário for, ao médico assistente, rever estes prontuários para tomada de alguma conduta ou
verificar dúvida em relação a resultados de exames, não havendo registro destes dados.
Neste caso o paciente poderia ser submetido a novos exames, gerando um risco e um
desconforto desnecessário, além do aumento do custo no tratamento devido novas solicitações
de exames, enfim, prejudicando o paciente, o médico assistente, o pesquisador e o próprio
sistema público de saúde. Seria interessante que as equipes dos centros cirúrgicos tivessem a
consciência da importância dos dados anotados para posterior pesquisa e estudo, ou ainda em
certos casos, para oferecer respaldo sobre o processo cirúrgico em atendimento futuro do
paciente.
O correto preenchimento do prontuário deve ser incentivado a todo o profissional da
saúde que atua na assistência ao paciente. Sendo, inclusive, uma determinação dos conselhos
profissionais de cada profissão. Uma alternativa que poderia mitigar a falta deste preenchimento
adequado seria a instituição do modelo de prontuário eletrônico, já utilizado por vários
hospitais, inclusive da rede pública de saúde.
Ao se retirar os prontuários invalidados pelos critérios de exclusão, restaram 253
prontuários de pacientes para análise. Desses, 132 pacientes apresentavam anemia, ou seja,
52,1% dos pacientes atendidos neste período apresentaram algum grau de anemia previamente
à cirurgia. A distribuição em relação ao sexo encontra-se na Figura 1.
24
140
132
120 121
100
80 71
61
60
40
20
0
TOTAL DE PACIENTES PACIENTES COM ANEMIA
Mulheres Homens
Hb entre 8 e 10,9 g/dl e anemia grave definida como concentração de Hb <8,0 g/dl (WHO,
2008).
PACIENTES OPERADOS
75 (29,64%)
121 (47,82%)
51 (20,15%)
6 (2,37%)
Anemia Leve Anemia Moderada Anemia Grave Normais
ESPECIALIDADE
vascular 1
urologia 1
pediátrica 6
ortopedia 53
oftalmologia 2
obstetrícia 29
neurocirurgia 3
ginecologia 1
cirurgia geral 35
bucomaxilofacial 1
0 10 20 30 40 50 60
TÉCNICAS ANESTÉSICAS
raquianestesia 75
146
geral venosa 22
35
geral inalatória 3
3
geral balanceada 24
49
bloqueio de plexo braquial 4
12
anestesia local + sedação 4
8
0 20 40 60 80 100 120 140 160
anemia total
5 CONCLUSÃO
Conclui-se, portanto, que houve falha no registro de pacientes, com dados incompletos
em cerca de metade dos prontuários analisados. Nos prontuários restantes encontrou-se uma
incidência de anemia perioperatória elevada. Houve maior incidência de anemia no sexo
feminino. As cirurgias de urgência e ortopédicas foram os procedimentos cirúrgicos mais
comuns. A variação do risco anestésico não apresentou nenhuma influência estatística
significativa.
Com os resultados obtidos pelo trabalho, iniciou-se, entre os médicos anestesiologistas,
ainda no ambulatório de avaliação pré-anestésica, a prescrição de suplementação de ferro
através de sulfato ferroso, para aqueles pacientes em avaliação para cirurgia eletiva, que
apresentem anemia, a fim de se reduzir os riscos da anemia perioperatória nesta população,
levando a um melhor desfecho no tratamento cirúrgico.
É importante que pesquisas futuras mais abrangentes sejam realizadas, a fim realizar um
diagnóstico mais preciso na anemia perioperatória para que a população, que no caso de um
infortúnio necessite de tratamento cirúrgico, esteja em melhores condições e consequentemente
com menor risco associado à cirurgia. Seria interessante também, uma vez que neste estudo não
foi possível observar, fazer o diagnóstico dos diferentes tipos de anemia que acometem os
pacientes em período perioperatório, possibilitando um tratamento mais adequado ou referência
para centros de hematologia fazerem o acompanhamento destes pacientes.
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REFERÊNCIAS
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família. 2013.
______. Anemia aplásica (Anemia hipoplásica). Manual MDS - versão saúde para a família.
2018 -1.
______. Anemia falciforme (Doença da hemoglobina S). Manual MDS - versão saúde para a
família. 2018 - 2.
______. Anemias macrocíticas megaloblásticas. Manual MDS - versão saúde para a família.
2018 - 3.
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33
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