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EPIDEMIOLOGIA DESCRITIVA
A epidemiologia descritiva constitui a primeira etapa da aplicação do
método epidemiológico com o objetivo de compreender o comportamento de
um agravo à saúde numa população. Nessa fase é possível responder a ques-
tões como quem? quando? onde?, ou, em outros termos, descrever os caracteres
epidemiológicos das doenças relativos à pessoa, ao tempo e ao lugar.
Os caracteres epidemiológicos relativos às pessoas se referem especialmente
ao gênero, idade, escolaridade, nível sócio-econômico, etnia, ocupação, situa-
ção conjugal. Outros agrupamentos podem ser criados segundo características
como usuário e não-usuário de serviços de saúde, pessoas que vivem em domi-
cílios com ou sem acesso a serviços de abastecimento de água, etc. Qualquer
variável relevante pode ser usada, observados os critérios que delimitam per-
feitamente uma categoria da outra.
Ao descrevermos os caracteres epidemiológicos relativos ao tempo, focaliza-
mos o padrão do comportamento das doenças, em amplos períodos, pelo
levantamento de séries históricas com o objetivo de caracterizar tendências,
variações regulares, como, por exemplo, as variações cíclicas e sazonais e as
variações irregulares, que caracterizam as epidemias.
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VIGILÂNCIA EM SAÚDE PÚBLICA
EPIDEMIOLOGIA ANALÍTICA
Os estudos analíticos constituem alternativas do método epidemiológico
para testar hipóteses elaboradas geralmente durante estudos descritivos. Temos
fundamentalmente dois tipos de estudos analíticos:
• coortes;
• caso-controle.
Em síntese, esses delineamentos têm por objetivo verificar se o risco de
desenvolver um evento adverso à saúde é maior entre os expostos do que entre
os não-expostos ao fator supostamente associado ao desenvolvimento do agravo
em estudo.
Os estudos analíticos visam, na maioria das vezes, estabelecer inferências a
respeito de associações entre duas ou mais variáveis, especialmente associações
de exposição e efeito, portanto associações causais.
Esses estudos são também denominados estudos observacionais, uma vez
que o pesquisador não intervém – apenas analisa com fundamento no método
epidemiológico um experimento natural.
As características básicas dos dois tipos de estudos observacionais são os
seguintes:
• Os estudos de coortes (vide página 184), analisam as associações de
exposição e efeito por meio da comparação da ocorrência de doenças
entre expostos e não- expostos ao fator de risco.
• Nos estudos tipo caso-controle (vide página 191), as exposições passa-
das são comparadas entre pessoas atingidas e não atingidas pela
doença objeto do estudo.
EPIDEMIOLOGIA EXPERIMENTAL
A epidemiologia experimental abrange os chamados estudos de inter-
venção, que apresentam como característica principal o fato de o pesquisador
controlar as condições do experimento.
O estudo de intervenção é um estudo prospectivo que objetiva avaliar a efi-
cácia de um instrumento de intervenção e, para tanto, seleciona dois grupos:
um deles é submetido à intervenção objeto do estudo e o outro, não; em seguida,
compara-se a ocorrência do evento de interesse nos dois grupos.
Nesse delineamento, os grupos devem ser homogêneos sob aspectos como
sexo, idade, nível sócio-econômico. Se a escolha do fator que se supõe protetor
não apresentar vieses e se o grupo de indivíduos estudados for suficientemente
grande para permitir a identificação de diferenças na ocorrência da doença no
grupo exposto e não exposto, teremos uma relação de causa–efeito consistente.
Aceita-se que os estudos de intervenção sejam, geralmente, considerados
como aqueles que permitem evidências mais confiáveis em estudos epidemioló-
gicos. Essa característica deve-se ao fato de os participantes serem selecionados
aleatoriamente para serem expostos a determinado fator considerado protetor.
Essa técnica de seleção controlaria inclusive fatores não conhecidos que podem
afetar o risco de apresentarem a doença, controle que não é possível ser aplica-
do nos estudos observacionais. Essa característica dos estudos de intervenção é
mais importante quando estudamos efeitos de pequena e média intensidade.
Esse delineamento, evidentemente, deve pressupor uma análise prévia dos
aspectos éticos envolvidos no projeto de pesquisa, devendo ser aplicado somen-
te quando exista para o fator em estudo forte evidência de um efeito protetor.
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VIGILÂNCIA EM SAÚDE PÚBLICA
Características • estudo no tempo para trás; • estudo no tempo para a • estuda a situação de
• investiga-se para trás a pre- frente; exposição e efeito de
sença ou ausência do fator • o ponto de partida para o uma população em
suspeito; futuro é a exposição ao um único momento.
• são freqüentemente utilizados. fator em estudo.
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