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ISSN: 2525-8761
RESUMO
Pandemias de gripe já foram reportadas por muitos autores, desde a antiguidade já se
falava sobre este tema, como exemplo, a gripe espanhola, que nos anos de 1918 e 1919
matou cerca de 20 milhões de pessoas em todo o mundo e cerca cem anos depois
presencia-se a pandemia da Sars-CoV-2. Ainda são muito escassos os relatos
relacionando os efeitos das pandemias na saúde mental e acometimento do transtorno do
estresse pós traumático (TEPT). Este trabalho teve como objetivo verificar evidencias do
TEPT frente a uma pandemia, através de um comparativo entre a gripe espanhola e a
Sars-CoV-2. Para isso foi realizado um trabalho de revisão bibliográfica da literatura,
utilizando bases de dados da Biblioteca Norte Americana em Saúde
MEDLINE/PUBMED, Portal Capes, Scielo e Google Acadêmico, também foram
incluídas dissertações de mestrado, teses de doutorado, sites governamentais do
Ministério da Saúde, Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e Organização
Mundial da Saúde (OMS), além do manual diagnóstico e estatístico de transtornos
mentais. A pandemia da gripe espanhola apresentou alto índice de mortalidade, apesar de
escassos os relatos referentes ao seu impacto na saúde mental e acometimento do TEPT.
Já a pandemia da Sars-CoV-2, despertou o interesse da comunidade científica pelo
conhecimento e entendimento sobre as consequências psicológicas que a mesma pode
ocasionar em diferentes populações.
ABSTRACT
Influenza pandemics have been reported by many authors since ancient times. As an
example, the Spanish flu, which in 1918 and 1919 killed about 20 million people around
the world, and about one hundred years later we have the Sars-CoV-2 pandemic. There
are still very few reports relating the effects of pandemics on mental health and post-
traumatic stress disorder (PTSD). This work aimed to verify evidence of PTSD in a
pandemic, through a comparison between the Spanish flu and Sars-CoV-2. To this end, a
bibliographic literature review was carried out, using databases from the North American
Health Library MEDLINE/PUBMED, Portal Capes, Scielo, and Google Scholar, as well
as master's dissertations, doctoral theses, governmental websites from the Ministry of
Health, Pan American Health Organization (PAHO), and World Health Organization
(WHO), and the Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders. The Spanish flu
pandemic had a high mortality rate, although there were few reports on its impact on
mental health and PTSD. The Sars-CoV-2 pandemic, on the other hand, raised the interest
of the scientific community for knowledge and understanding about the psychological
consequences that it can cause in different populations.
1 INTRODUÇÃO
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define pandemia como uma propagação
a nível mundial de uma nova doença. Uma pandemia viral acontece, quando um
determinado vírus se espalha pelo mundo e a maioria das pessoas não possuem uma
imunidade contra esse vírus, causando uma série de impactos que interferem nas
organizações de saúde, bem como na saúde da população em geral (OMS, 2010).
O termo Pandemia tem sua origem no grego e foi utilizada pela primeira vez por
Platão em seu livro Das Leis. Para ele, pandemia se refere a qualquer acontecimento que
afeta a toda a população. Outros autores como Aristóteles e Galeno também utilizaram
esse termo no passado. Para Galeno, pandemia refere-se a enfermidades de grande
difusão, essa expressão foi incorporada ao dicionário médico a partir do século XVIII
(RESENDE, 1998).
Para Resende (1998), o conceito moderno de pandemia, é uma doença epidêmica
que afeta a vários países. Um dos exemplos mais citados é a chamada “Gripe Espanhola”
que nos anos de 1918 e 1919 matou cerca de 20 milhões de pessoas em todo o mundo. E
quase 100 anos depois o mundo foi afetado novamente por mais uma pandemia, a Sars-
CoV-2/COVID-19.
Na data de 31 de dezembro de 2019 foi descoberto na cidade de Wuhan-China um
novo coronavírus, que faz parte de uma grande família de vírus RNA, seus sintomas são
semelhantes aos causados pelo coronavírus da síndrome respiratória aguda grave (SARS-
CoV), este vírus foi denominado como COVID-19 que tem sua origem no acrônimo
Corona Virus Disease 2019 (YUSHUN, 2020). Em 25 de fevereiro de 2020 constatou-se
o primeiro caso de infecção no Brasil (AQUINO, 2020). O novo coronavírus apresenta
um espectro clínico muito variado desde assintomáticos, quadros respiratórios graves, até
ao óbito (AQUINO, 2020). Os sintomas mais comuns relatados são: febre, tosse, fadiga,
mialgias, que podem ser acompanhados por secreções respiratórias, dor de cabeça, perda
de paladar, olfato e em muitos casos, existem relatos de diarreia (XAVIER et al., 2020).
As complicações da infecção podem levar a síndrome respiratória aguda grave,
lesão cardíaca ou renal, infecção secundária e em alguns casos, até o choque. Existem
dados que apontam a alta taxa de mortalidade em idosos e pessoas com alguma patologia
de base e outras comorbidades (XAVIER et al., 2020). A OMS em 30 de janeiro de 2020
declarou emergência de saúde pública com relevância internacional, declarando a Sars-
CoV-2 como pandemia no dia 11 de março de 2020 devido à alta prevalência de casos e
mortes no mundo (ORGANIZAÇÃO PAN AMERICANA DE SÁUDE, 2020).
Até o mês de abril de 2021, o número de casos confirmados em todo o mundo
chegou a 135.165.515, com cerca de 2.924.503 mortes. No Brasil, os casos confirmados
chegam a 13.445.006 e 351.334 mortes, colocando o Brasil em segundo lugar no número
de mortes e casos confirmados, ficando atrás somente dos Estados Unidos (JHONS
HOPKINS, 2021).
Muitas medidas foram adotadas na tentativa de diminuir o contágio do
coronavírus, dentre elas o isolamento de casos, quarentena de contatos, distanciamento
social, uso de máscaras, higienização das mãos e sensibilização da população para se
manter em casa com o mínimo de circulação nas ruas (AQUINO, 2020). No entanto, por
mais importantes que sejam essas medidas, suas consequências tem afetado diretamente
a saúde mental da população (BARROS et al., 2020).
Existem estudos realizados recentemente que trazem dados sobre o impacto que a
pandemia da Sars-CoV-2 tem deixado na saúde da população. A pandemia tem sido
denominada como a “pandemia do medo” ou “coronafobia”, aumentando o número de
casos de depressão, ansiedade, angústia e medo (BARROS et al., 2020). Todo este cenário
tem causado impactos na saúde física e mental nas populações, principalmente nas mais
acometidas por este evento, sendo um grande precursor para o acometimento transtorno
de estresse pós-traumático (TEPT).
O TEPT, de acordo com o manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais
(DSM-V) e a 10a classificação internacional da doença (CID-10), está caracterizado por
uma situação ou evento adverso estressante, ameaçador com caráter catastrófico que pode
aparecer instantemente após algum evento estressor ou depois de um período de tempo,
tanto nas vítimas que sobreviveram como em pessoas que estavam próximo a elas ou
prestaram socorro no momento do evento ocorrido (AMERICAN PSYCHIATRIC
2 MATERIAL E MÉTODOS
Foi um trabalho de Revisão Bibliográfica. Este método permite a análise de
pesquisas científicas de modo sistemático e amplo, favorecendo a caracterização e a
divulgação do conhecimento produzido.
A busca dos artigos na literatura foi realizada por meio das bases de dados da
Biblioteca Norte Americana em Saúde MEDLINE/PUBMED, Portal Capes, Scielo e
Google Acadêmico, também foram incluídas dissertações de mestrado, teses de
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 ASPECTOS HISTÓRICOS E CLÍNICOS DO TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS
TRAUMÁTICO (TEPT)
O termo TEPT surgiu a partir da necessidade de elaboração de um diagnóstico que
caracterizasse e tratasse um conjunto de sintomas característicos que começou a
desenvolver em uma categoria bem específica no contexto da segunda guerra mundial,
quando soldados não puderam servir a guerra devido a transtornos psiquiátricos
(YOUNG, 1995).
Foi a partir dos veteranos de Guerra do Vietnã que surgiu o diagnóstico de TEPT.
Esses ex-combatentes, ao retornarem da guerra, começaram a apresentar determinados
comportamentos estranhos e, em sua grande maioria, patológicos (YOUNG, 1995). Os
médicos e psiquiátricas da época acreditavam que os sintomas apresentados por ex-
combatentes tinham sua origem fora do campo de batalha, ou seja, que essa patologia
nada tinha a ver com a presença desses indivíduos na guerra (YOUNG, 1995).
Antigamente chamado de síndrome do coração irritável, neurose de combate ou
fadiga operacional o transtorno de estresse pós traumático está classificado como um
transtorno de ansiedade específico desenvolvido após algum acontecimento e exposição
a uma situação crítica ou traumática (FREITAS, 2017). Tais situações estão ligadas a
ameaça de morte, morte, afetação a integridade física ou mental, estando incluídos
Espanhola teria sido traumática, mas o foi silenciado nas narrativas oficiais pelo interesse
de grupos e instituições poderosas, como os médicos e a medicina” (VAZ;
SANCHOTENE; SANTOS, 2020 p. 10).
Referente as consequências da pandemia atual, ainda torna-se difícil mensurar a
grandeza do impacto na saúde mental da população, tendo em vista que esta pandemia da
Sars-CoV-2 ainda está em curso, no entanto, diferente do que foi apresentado nas
pandemia da Gripe Espanhola, atualmente se tem dado muita importância sobre as
consequências desta pandemia na saúde mental da população, diversos estudos já relatam
que grande parcela da população está afetada psicologicamente e com grande potencial
para o desenvolvimento da TEPT pelas diversas medidas adotadas na tentativa de conter
o avanço da pandemia.
Um estudo realizado na china apresenta um alto número de docentes afetados
mentalmente pela Sars-CoV-2, devido a transtorno depressivo leve, transtorno afetivo
bipolar, ansiedade generalizada, transtorno de adaptação e síndrome de burnout ou
síndrome do esgotamento profissional (WANG; WANG, 2020). Esse cenário confirma
que os professores estão inseridos em um ambiente propício ao adoecimento mental pelos
impactos da Sars-CoV-2, seja pelas notícias jornalísticas de morbimortalidade, seja pelas
pressões oriundas das instituições de ensino relacionadas ao uso das tecnologias digitais,
acrescidas a sua vida conjugal, materna e doméstica e tantas outras atribuições que lhes
são conferidas (SHAW, 2020).
Estudos também tem apresentado que a pandemia da Sars-CoV-2 tem afetado a
saúde mental das crianças. Aydogdu et al. (2020) destaca que devido as mudanças sociais
e comportamentais características desse grupo como: distanciamento da escola, dos
amigos e familiares pelo isolamento social, crise financeira enfrentada pelos pais, o
adoecimento e a perda de familiares, tem gerado alterações de comportamento e humor
como tristeza, medo, ansiedade, insônia, raiva, estresse entre outros.
Os profissionais de saúde também são um grupo extremamente vulneráveis a
afetação da saúde mental. O índice de sintomas psiquiátricos que já era é alarmante
normalmente no profissional da saúde, durante a pandemia tem se agravado. Os estudos
tem apresentado quase que unanimes, altos índices de ansiedade, estresse, depressão,
medo, angústia e sono alterado (PRADO, 2020).
estressores envolvidos diretamente na rotina das pessoas que estão vivenciando dia a dia
o desfecho dessa pandemia.
Raony et al. (2020), apresenta que priorizar uma atenção psicológica de qualidade
e diminuir os níveis de desigualdade socioeconômicas são estratégias que podem mitigar
os efeitos na saúde mental durante a pandemia da Sars-CoV-2. O autor ainda aponta que
se nada for feito, é possível que haja futuramente um enfretamento de uma nova
pandemia, a “pandemia do medo” e da saúde mental.
A OMS orienta que durante este período seja estimulada conversas com alguém
de confiança, mesmo que via internet, manter um cuidado com alimentação, buscando
manter um estilo de vida saudável com prática de exercícios regulares na própria casa
(OMS, 2020). Evitar o fumo, consumo de álcool ou outras drogas na tentativa de controlar
as emoções. Buscar sempre um profissional quando sentir-se sobrecarregado, evitar ao
máximo acesso constante as notícias e informações que provocam malefícios a saúde
mental. Organização do tempo e redefinições de prioridades são essenciais para a
prevenção do TEPT no contexto da pandemia (OMS, 2020).
Nesse contexto, a resiliência pode ser fundamental no enfrentamento das diversas
situações adversas ocorridas na pandemia. A autocompaixão, criatividade e otimismo,
são fatores que desenvolvem a resiliência. Zanon et al. (2020), destaca que a
autocompaixão é um exercício de bondade consigo mesmo e isto promove o auto cuidado.
A criatividade estimula a busca de soluções nas resoluções dos problemas ocasionados
pela pandemia. Pessoas otimistas e criativas conseguem ver os desafios e problemas como
oportunidades (ZANON et al., 2020).
Diante do exposto, intervenções psicológicas, manutenção do estilo de vida
saudável, evitar notícias que comprometam a auto estima e desenvolver a resiliência, são
estratégias que podem contribuir para a diminuição dos fatores estressantes decorrentes
da pandemia da Sars-CoV-2 que possam desenvolver o TEPT.
4 CONCLUSÃO
Com esta revisão de literatura foi possível verificar que a pandemia da gripe
espanhola apresentou alto índice de mortalidade, apesar de escassos os relatos referentes
ao seu impacto na saúde mental e acometimento do TEPT. Observou-se que a pandemia
da Sars-CoV-2, despertou o interesse da comunidade cientifica pelo conhecimento e
entendimento sobre as consequências psicológicas que a mesma pode ocasionar em
diferentes populações. Por estar em curso, ainda não é possível determinar o real impacto
da pandemia atual para o desenvolvimento do TEPT, no entanto, são muitos os indícios
científicos dos graves acometimentos psicológicos que ela pode proporcionar no período
pós pandemia.
Ainda Assim, foi possível constatar que toda a trajetória histórica relatada na gripe
espanhola pela literatura, deveria oferecer lições e experiências que poderiam ser
aproveitadas em nível local e nacional no combate ao Coronavírus. No entanto, apesar
dos cem anos que as separam, novamente presencia-se uma onda de medo e pânico entre
as populações o que tem ocasionado diversas afetações psicológicas além dos antigos
problemas de desigualdades sociais e de saúde pública que se tornaram mais evidentes.
REFERÊNCIAS
AYDOGDU, A.L.F. Saúde mental das crianças durante a pandemia causada pelo novo
coronavírus: revisão integrativa. Journal Health Npeps, v. 5, n. 2, 2020.
PRADO, A.D et al. A saúde mental dos profissionais de saúde frente à pandemia do
COVID-19: uma revisão integrativa. Revista Eletrônica Acervo Saúde, n. 46, p. e4128-
e4128, 2020.
VAZ, P., SANCHOTENE, N., SANTOS, A. Quanto dura uma catástrofe? Nação,
indivíduo e trauma na Gripe Espanhola. Revista Brasileira de História da Mídia, v. 9, n.
2, p. 8-26, 2020.
YUAN, Kai et al. Prevalence of posttraumatic stress disorder after infectious disease
pandemics in the twenty-first century, including COVID-19: a meta-analysis and
systematic review. Molecular psychiatry, p. 1-17, 2021.