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Brazilian Journal of Development 79440

ISSN: 2525-8761

Gripe Espanhola, sars-cov-2 e a ocorrência do transtorno do estresse


pós traumático

Spanish flu, sars-cov-2 and the occurrence of post traumatic stress


disorder
DOI:10.34117/bjdv7n8-246

Recebimento dos originais: 07/07/2021


Aceitação para publicação: 11/08/2021

Bruna Mara Cunha dos Santos


Curso de Medicina-Universidade do Contestado-UnC, Mafra-SC
E-mail: raphael_fn@hotmail.com

Maria Ofélia Camorim Fatuch


Curso de Medicina-Universidade do Contestado-UnC, Mafra-SC
E-mail: raphael_fn@hotmail.com

RESUMO
Pandemias de gripe já foram reportadas por muitos autores, desde a antiguidade já se
falava sobre este tema, como exemplo, a gripe espanhola, que nos anos de 1918 e 1919
matou cerca de 20 milhões de pessoas em todo o mundo e cerca cem anos depois
presencia-se a pandemia da Sars-CoV-2. Ainda são muito escassos os relatos
relacionando os efeitos das pandemias na saúde mental e acometimento do transtorno do
estresse pós traumático (TEPT). Este trabalho teve como objetivo verificar evidencias do
TEPT frente a uma pandemia, através de um comparativo entre a gripe espanhola e a
Sars-CoV-2. Para isso foi realizado um trabalho de revisão bibliográfica da literatura,
utilizando bases de dados da Biblioteca Norte Americana em Saúde
MEDLINE/PUBMED, Portal Capes, Scielo e Google Acadêmico, também foram
incluídas dissertações de mestrado, teses de doutorado, sites governamentais do
Ministério da Saúde, Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e Organização
Mundial da Saúde (OMS), além do manual diagnóstico e estatístico de transtornos
mentais. A pandemia da gripe espanhola apresentou alto índice de mortalidade, apesar de
escassos os relatos referentes ao seu impacto na saúde mental e acometimento do TEPT.
Já a pandemia da Sars-CoV-2, despertou o interesse da comunidade científica pelo
conhecimento e entendimento sobre as consequências psicológicas que a mesma pode
ocasionar em diferentes populações.

Palavras-chave: transtorno de estresse pós-traumático, pandemia, COVID-19, Sars-


CoV-2, gripe espanhola.

ABSTRACT
Influenza pandemics have been reported by many authors since ancient times. As an
example, the Spanish flu, which in 1918 and 1919 killed about 20 million people around
the world, and about one hundred years later we have the Sars-CoV-2 pandemic. There
are still very few reports relating the effects of pandemics on mental health and post-
traumatic stress disorder (PTSD). This work aimed to verify evidence of PTSD in a
pandemic, through a comparison between the Spanish flu and Sars-CoV-2. To this end, a
bibliographic literature review was carried out, using databases from the North American

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Health Library MEDLINE/PUBMED, Portal Capes, Scielo, and Google Scholar, as well
as master's dissertations, doctoral theses, governmental websites from the Ministry of
Health, Pan American Health Organization (PAHO), and World Health Organization
(WHO), and the Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders. The Spanish flu
pandemic had a high mortality rate, although there were few reports on its impact on
mental health and PTSD. The Sars-CoV-2 pandemic, on the other hand, raised the interest
of the scientific community for knowledge and understanding about the psychological
consequences that it can cause in different populations.

Key-words: post-traumatic stress disorder, pandemic, COVID-19, Sars-CoV-2, Spanish


flu.

1 INTRODUÇÃO
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define pandemia como uma propagação
a nível mundial de uma nova doença. Uma pandemia viral acontece, quando um
determinado vírus se espalha pelo mundo e a maioria das pessoas não possuem uma
imunidade contra esse vírus, causando uma série de impactos que interferem nas
organizações de saúde, bem como na saúde da população em geral (OMS, 2010).
O termo Pandemia tem sua origem no grego e foi utilizada pela primeira vez por
Platão em seu livro Das Leis. Para ele, pandemia se refere a qualquer acontecimento que
afeta a toda a população. Outros autores como Aristóteles e Galeno também utilizaram
esse termo no passado. Para Galeno, pandemia refere-se a enfermidades de grande
difusão, essa expressão foi incorporada ao dicionário médico a partir do século XVIII
(RESENDE, 1998).
Para Resende (1998), o conceito moderno de pandemia, é uma doença epidêmica
que afeta a vários países. Um dos exemplos mais citados é a chamada “Gripe Espanhola”
que nos anos de 1918 e 1919 matou cerca de 20 milhões de pessoas em todo o mundo. E
quase 100 anos depois o mundo foi afetado novamente por mais uma pandemia, a Sars-
CoV-2/COVID-19.
Na data de 31 de dezembro de 2019 foi descoberto na cidade de Wuhan-China um
novo coronavírus, que faz parte de uma grande família de vírus RNA, seus sintomas são
semelhantes aos causados pelo coronavírus da síndrome respiratória aguda grave (SARS-
CoV), este vírus foi denominado como COVID-19 que tem sua origem no acrônimo
Corona Virus Disease 2019 (YUSHUN, 2020). Em 25 de fevereiro de 2020 constatou-se
o primeiro caso de infecção no Brasil (AQUINO, 2020). O novo coronavírus apresenta
um espectro clínico muito variado desde assintomáticos, quadros respiratórios graves, até
ao óbito (AQUINO, 2020). Os sintomas mais comuns relatados são: febre, tosse, fadiga,

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mialgias, que podem ser acompanhados por secreções respiratórias, dor de cabeça, perda
de paladar, olfato e em muitos casos, existem relatos de diarreia (XAVIER et al., 2020).
As complicações da infecção podem levar a síndrome respiratória aguda grave,
lesão cardíaca ou renal, infecção secundária e em alguns casos, até o choque. Existem
dados que apontam a alta taxa de mortalidade em idosos e pessoas com alguma patologia
de base e outras comorbidades (XAVIER et al., 2020). A OMS em 30 de janeiro de 2020
declarou emergência de saúde pública com relevância internacional, declarando a Sars-
CoV-2 como pandemia no dia 11 de março de 2020 devido à alta prevalência de casos e
mortes no mundo (ORGANIZAÇÃO PAN AMERICANA DE SÁUDE, 2020).
Até o mês de abril de 2021, o número de casos confirmados em todo o mundo
chegou a 135.165.515, com cerca de 2.924.503 mortes. No Brasil, os casos confirmados
chegam a 13.445.006 e 351.334 mortes, colocando o Brasil em segundo lugar no número
de mortes e casos confirmados, ficando atrás somente dos Estados Unidos (JHONS
HOPKINS, 2021).
Muitas medidas foram adotadas na tentativa de diminuir o contágio do
coronavírus, dentre elas o isolamento de casos, quarentena de contatos, distanciamento
social, uso de máscaras, higienização das mãos e sensibilização da população para se
manter em casa com o mínimo de circulação nas ruas (AQUINO, 2020). No entanto, por
mais importantes que sejam essas medidas, suas consequências tem afetado diretamente
a saúde mental da população (BARROS et al., 2020).
Existem estudos realizados recentemente que trazem dados sobre o impacto que a
pandemia da Sars-CoV-2 tem deixado na saúde da população. A pandemia tem sido
denominada como a “pandemia do medo” ou “coronafobia”, aumentando o número de
casos de depressão, ansiedade, angústia e medo (BARROS et al., 2020). Todo este cenário
tem causado impactos na saúde física e mental nas populações, principalmente nas mais
acometidas por este evento, sendo um grande precursor para o acometimento transtorno
de estresse pós-traumático (TEPT).
O TEPT, de acordo com o manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais
(DSM-V) e a 10a classificação internacional da doença (CID-10), está caracterizado por
uma situação ou evento adverso estressante, ameaçador com caráter catastrófico que pode
aparecer instantemente após algum evento estressor ou depois de um período de tempo,
tanto nas vítimas que sobreviveram como em pessoas que estavam próximo a elas ou
prestaram socorro no momento do evento ocorrido (AMERICAN PSYCHIATRIC

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ASSOCIATION, 2014; CAETANO, 1993) . Esse transtorno apresenta-se como maiores


complicações as ideações e tentativas suicidas (LE BOUTHILLIER, 2015).
O manual DSM-V destaca que o diagnóstico do TEPT é exclusivamente clínico
com divisão de alguns critérios como: (Critério A1) caracteriza-se com a presença de
sintomas específicos posterior a vivência de um evento potencialmente traumático.
(Critério A2) medo intenso, horror ou impotência diante da situação. Os sintomas mais
frequentes estão classificados em três grupos: (Critério B) sintoma de revivência do
evento traumático; (Critério C) esquiva de sentimentos associados ao trauma e
entorpecimento da reatividade geral. (Critério D) sintomas de excitabilidade elevada
(AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014; CAETANO, 1993).
Os critérios E e F se apresentam como diagnóstico definitivo quando os sintomas
permanecem pelo menos por um mês ou com intensidade suficiente para interferir na vida
social ou em outros aspectos relevantes da vida da pessoa. O TEPT não pode ser
diagnosticado no mês após o evento traumático, pois estaria sendo avaliado uma atitude
aguda ao estresse, e nem mais que dois anos após o evento, pois se relaciona com
modificações duradouras da personalidade (AMERICAN PSYCHIATRIC
ASSOCIATION, 2014; CAETANO, 1993).
Nesse sentido, pandemias de gripe já foram reportadas por muitos autores, desde
a antiguidade já se falava sobre isso, como exemplo, a gripe espanhola, no entanto, ainda
são muito escassos os relatos relacionando seus efeitos na saúde mental ou acometimento
do TEPT. Após 100 anos da maior epidemia já vista na história, ainda se tem muitos
questionamentos sobre quantas pessoas foram afetadas em sua saúde mental, quantas
foram diagnosticadas, perfil da população afetada, como profissionais de saúde, cidadãos
comuns, crianças e professores. Com isso, o objetivo desse estudo foi verificar evidências
do transtorno do estresse pós traumático frente a uma pandemia, através de um
comparativo entre a gripe espanhola e a Sars-CoV-2.

2 MATERIAL E MÉTODOS
Foi um trabalho de Revisão Bibliográfica. Este método permite a análise de
pesquisas científicas de modo sistemático e amplo, favorecendo a caracterização e a
divulgação do conhecimento produzido.
A busca dos artigos na literatura foi realizada por meio das bases de dados da
Biblioteca Norte Americana em Saúde MEDLINE/PUBMED, Portal Capes, Scielo e
Google Acadêmico, também foram incluídas dissertações de mestrado, teses de

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doutorado, sites governamentais do Ministério da Saúde, Organização Pan-Americana de


Saúde (OPAS) e Organização Mundial da Saúde (OMS), além do manual diagnóstico e
estatístico de transtornos mentais.
O corte temporal aplicado foi de 10 anos, sendo aceitos artigos publicados
integralmente neste período. Foram incluídos artigos nacionais e internacionais nos
idiomas, inglês, espanhol e português que estejam relacionados diretamente a pergunta
do estudo. Foram excluídos, artigos duplicados, relatos de caso, cartas ao editor, resumos
de congresso, comunicações curtas e manuscritos que estiverem fora da proposta deste
estudo.
Os descritores utilizados para as buscas na literatura foram “transtorno de estresse
pós-traumático” “pandemia” “COVID-19” “Sars-CoV-2” “gripe espanhola”. Estes
descritores foram combinados por meio do método Boleano “AND” e “OR” na busca
avançada das bases de dados apresentadas.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 ASPECTOS HISTÓRICOS E CLÍNICOS DO TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS
TRAUMÁTICO (TEPT)
O termo TEPT surgiu a partir da necessidade de elaboração de um diagnóstico que
caracterizasse e tratasse um conjunto de sintomas característicos que começou a
desenvolver em uma categoria bem específica no contexto da segunda guerra mundial,
quando soldados não puderam servir a guerra devido a transtornos psiquiátricos
(YOUNG, 1995).
Foi a partir dos veteranos de Guerra do Vietnã que surgiu o diagnóstico de TEPT.
Esses ex-combatentes, ao retornarem da guerra, começaram a apresentar determinados
comportamentos estranhos e, em sua grande maioria, patológicos (YOUNG, 1995). Os
médicos e psiquiátricas da época acreditavam que os sintomas apresentados por ex-
combatentes tinham sua origem fora do campo de batalha, ou seja, que essa patologia
nada tinha a ver com a presença desses indivíduos na guerra (YOUNG, 1995).
Antigamente chamado de síndrome do coração irritável, neurose de combate ou
fadiga operacional o transtorno de estresse pós traumático está classificado como um
transtorno de ansiedade específico desenvolvido após algum acontecimento e exposição
a uma situação crítica ou traumática (FREITAS, 2017). Tais situações estão ligadas a
ameaça de morte, morte, afetação a integridade física ou mental, estando incluídos

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experiência de combate, catástrofes naturais, agressão física estupros e acidentes graves


(FREITAS, 2017).
O TEPT apresenta uma diversidade de sintomas que incluem: fadiga,
agressividade, raiva, estado de alerta, depressão, ansiedade e dificuldade de concentração
(FREITAS, 2017). O TEPT pode afetar muito as capacidades físicas e mentais de um
indivíduo, pelo fato de que estímulos ligados ao acontecimento inicial podem desencadear
sintomas como temor intenso, desamparo e evitação. Os sintomas físicos associados
manifestam-se como respostas do Sistema Nervoso Autônomo, como hiperatividade das
glândulas sudoríparas e sintomas como depressão (FREITAS, 2017).
O diagnóstico agudo do TEPT se caracteriza quando a duração dos sintomas é
superior a um mês e inferior a três meses, crônico, se durar mais de três meses e tardio se
o início dos sintomas ocorre mais de seis meses após o evento estressor (FREITAS, 2017).
É possível identificar uma tríade clássica e sintomas associados para o diagnóstico
do TEPT, sendo eles: esquiva, embotamento emocional e hiperexcitabilidade. Além
disso, o paciente ainda apresenta sentimento de culpa, rejeição e humilhação, podendo
também apresentar, ataques de pânico e alucinações. A afetação da memória e da atenção
é um comprometimento comum, podendo o paciente apresentar agressão, violência,
deficiência de controle dos impulsos, depressão e uso de drogas ilícitas (APA, 2014).
Alguns fatores agravantes podem ser destacados para o desenvolvimento do
TEPT, sendo eles a incidência prévia de outros transtornos mentais; problemas
emocionais (principalmente em crianças menores de seis anos); histórico psiquiátrico
familiar; exposições anteriores ao trauma e gênero feminino (mulheres são mais
propensas a desenvolver TEPT de duração maior do que os homens), ainda pode-se
incluir aspectos socioeconômicos e baixa escolaridade como fatores de risco para o
acometimento deste transtorno (APA, 2014).
Apesar de o TEPT ter sido criado para diagnosticar um determinado grupo
(veteranos de guerra), atualmente vem ocorrendo uma expansão deste diagnóstico para
diferentes grupos de indivíduos com condições muito diferentes das presenciadas pelo
agente estressor das guerras (BERGER et al., 2004). Hoje, o TEPT passou a contemplar
catástrofes naturais, violências urbanas, empregos perigosos, entre outros (BERGER et
al., 2004). Importante destacar que a TEPT não se limita apenas aos eventos destacados
acima, eles podem variar grandemente; muitos são os eventos que podem provocar TEPT,
destacando para o quadro pandêmico atual da COVID-19 e suas consequências agudas

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na saúde mental da população que futuramente podem assolar o desenvolvimento da


TEPT. Este fenômeno será melhor discutido nos próximos tópicos.

3.1.1 Primeiro relato de Pandemia na História


Em um dos relatos documentados por Hipócrates – considerado o pai da
medicina, ele descreve uma doença respiratória que matou muitas pessoas na região de
Perinthus no norte da Grécia e depois de algum tempo desapareceu. Esse relato foi
considerado o primeiro relato científico de uma provável infecção por Influenza,
porém não está claro sobre os efeitos dessa pandemia na saúde mental da população
tendo em vista que nada sobre esta temática foi destacado nos relatos antigos
(AUERBACH et al., 2013). Em este estudo será dado destaque a pandemia da gripe
espanhola da Sars-CoV-2.

3.1.2 Pandemia da Gripe Espanhola


Em 1889 uma pandemia ficou conhecida como “Gripe Russa”, e rapidamente
se espalhou por toda Europa e em pouco tempo afetou a América Latina, deixando
cerca de 1 milhão de mortos em todo o mundo. A Gripe Espanhola veio décadas mais
tarde. Historiadores dizem que, apesar do nome, a Gripe Espanhola surgiu nos Estados
Unidos e os soldados que atuavam na primeira Guerra Mundial foram os responsáveis
por disseminar o vírus por toda a Espanha (AUERBACH et al., 2013).
Auerbach et al. (2013) afirma ainda que, a Gripe Espanhola foi a mais letal de
toda a história, a quantidade de mortes e de pessoas afetadas continua sendo
controverso. Existem autores que afirmam que cerca de 20 a 30% da população
mundial se infectou com o vírus. Já uma fonte oficial indica que 50% da população foi
infectada o que levou a morte de 40 milhões de pessoas, 1% de toda a população
mundial na época.
Um fato relevante da Gripe Espanhola, foi a quantidade de óbitos em jovens e
crianças, 99% das mortes ocorreu em pessoas menores de 65 anos de idade e quase
metade dos mortos eram jovens entre 20 a 40 anos de idade. Existem relatos de que a
principal causa das mortes se dava pela hemorragia pulmonar causada pelo vírus.
Na época, existiram notícias que pessoas ao embarcarem em um metrô em
Nova York somente com sintomas inespecíficos, foram encontradas mortas em uma
estação 45 minutos após o embarque. Existem relatos de que vilarejos de esquimós
inteiros foram dizimados nas regiões mais distantes no Alasca (MATOS, 2018).

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Quanto suas consequências a longo prazo, um estudo relatou que ocorreu um


desempenho educacional reduzido, aumento dos índices de incapacidade física, com
menor renda e menor nível socioeconômico (ALMOND, 2006; BEACH, 2018). Além
desse desfecho, a pandemia foi associada a um surto de encefalite letárgica na década
de 1920.

3.1.3 Pandemia da Sars-CoV-2


Atualmente está presente uma nova pandemia. Em janeiro de 2020, quando
ainda considerada uma epidemia, o novo coronavírus colocou o mundo em alerta. No
final de 2019, em Wuhan na China, foram reportados os primeiros casos da doença
(INCHAUSTI et al., 2020). Em 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde
(OMS), decretou pandemia pelo novo coronavírus causador da doença denominada
COVID-19 (OMS, 2020).
O vírus se espalhou rapidamente por todo o mundo, causando um misto de
sentimentos em toda a população mundial. A pandemia da Sars-CoV-2 coloca em
evidência um problema que se apresenta em todas as pandemias, a falta de informação
concreta, falta de insumos, incertezas, medo e insegurança. A recomendação inicial foi
a utilização de estratégias já utilizadas na pandemia de H1N1, como forma de
contenção do novo coronavírus (FREITAS et al., 2020).
No Brasil, em fevereiro de 2020, foi declarada emergência de saúde pública de
importância nacional. No dia 26 de fevereiro de 2020, foi confirmado o primeiro caso
de Sars-CoV-2 no Brasil (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020). Atualmente, o Brasil
conta com 13.445.006 e 351.334 mortes, colocando-o em segundo lugar no número de
mortes e casos confirmados, ficando atrás somente dos Estados Unidos (JHONS
HOPKINS, 2020).

3.1.4 Gripe espanhola e Sars-CoV-2: 100 anos depois


Apesar de a gripe espanhola (1918-1920) e a Sars-CoV-2 (2020) acontecerem
após um intervalo de quase 100 anos de diferença, em um período econômico, político
e social distinto, existem similaridades entre a entre elas (KIND; CORDEIRO, 2020).
Ambas mataram milhares de pessoas, principalmente os setores mais pobres da
população, com suspensão de cerimônias fúnebres, adoção de isolamento social e
paralisação de atividades produtivas. Nas duas, se observou um amplo debate público

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sobre a doença, a morte, as formas de contaminação e as medidas governamentais


adotadas (KIND; CORDEIRO, 2020).
Em ambas se encontram a fragilidade da humanidade, as desigualdades na
morte, a irresponsabilidade sanitária dos governantes, as limitações dos serviços de
saúde e a suspensão do ritual fúnebre (KIND; CORDEIRO, 2020).
Muitos estudos históricos relatam as narrativas sobre a morte na gripe
espanhola. Entre as diferenças mais evidentes, a gripe espanhola foi mais letal para a
população jovem. Homens jovens que estavam na linha de frente da primeira guerra
mundial, foram os transmissores dos vírus ao retornar ao seu país (KIND;
CORDEIRO, 2020).
A Sars-CoV-2 apresentou uma transmissibilidade, com uma circulação
internacional, muito maior com o compartilhamento rápido de informações. A internet
com suas particularidades e liberdade de expressão, que nem sempre dependem dos
porta-vozes oficiais de registro da pandemia, muitas vezes são fontes de desinformação
sobre a letalidade do vírus, mas também de um forte relato das vidas perdidas pelos
familiares e amigos presentes nas diversas redes sociais (KIND; CORDEIRO, 2020).
Delumeau em seu estudo, evidencia que de todos os males, as epidemias
certamente sempre são um dos principais fatores que produzem medo e que ameaçam
as comunidades humanas. Há uma prevalência do medo em tempos de epidemias, em
razão das diversas incertezas que provocam na vida cotidiana e nas relações sociais.
Quando se trata de saúde mental o desafio ainda é maior, pois os relatos sobre as
consequências na saúde mental da população no pós pandemia ainda é muito escasso, não
há relatos históricos claros e contundentes na literatura sobre a magnitude do
acometimento psicológico da Gripe espanhola.
De acordo com Vaz; Sanchotene; Santos, 2020 p. 10:

O problema com a certeza de nossa contemporaneidade de que ela foi


traumática é a escassez de relatos públicos após o evento. Uma resposta a essa
escassez é imediata. A pandemia foi esquecida, mas esse esquecimento poderia
ter sido não um efeito previsível de sua relativa irrelevância para os que
sobreviveram, mas de um silenciamento. Pela imposição de silêncio, o
sofrimento não apareceu no espaço público, mas o trauma teria existido e
sobrevivido em relatos privados.

Esta afirmação apresentada pelos autores deixa evidente a hipótese de que o


sofrimento vivenciado na pandemia e suas consequências na saúde mental pode não ter
tido uma devida abertura social para uma ampla discussão no espaço público. “Gripe

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Espanhola teria sido traumática, mas o foi silenciado nas narrativas oficiais pelo interesse
de grupos e instituições poderosas, como os médicos e a medicina” (VAZ;
SANCHOTENE; SANTOS, 2020 p. 10).
Referente as consequências da pandemia atual, ainda torna-se difícil mensurar a
grandeza do impacto na saúde mental da população, tendo em vista que esta pandemia da
Sars-CoV-2 ainda está em curso, no entanto, diferente do que foi apresentado nas
pandemia da Gripe Espanhola, atualmente se tem dado muita importância sobre as
consequências desta pandemia na saúde mental da população, diversos estudos já relatam
que grande parcela da população está afetada psicologicamente e com grande potencial
para o desenvolvimento da TEPT pelas diversas medidas adotadas na tentativa de conter
o avanço da pandemia.
Um estudo realizado na china apresenta um alto número de docentes afetados
mentalmente pela Sars-CoV-2, devido a transtorno depressivo leve, transtorno afetivo
bipolar, ansiedade generalizada, transtorno de adaptação e síndrome de burnout ou
síndrome do esgotamento profissional (WANG; WANG, 2020). Esse cenário confirma
que os professores estão inseridos em um ambiente propício ao adoecimento mental pelos
impactos da Sars-CoV-2, seja pelas notícias jornalísticas de morbimortalidade, seja pelas
pressões oriundas das instituições de ensino relacionadas ao uso das tecnologias digitais,
acrescidas a sua vida conjugal, materna e doméstica e tantas outras atribuições que lhes
são conferidas (SHAW, 2020).
Estudos também tem apresentado que a pandemia da Sars-CoV-2 tem afetado a
saúde mental das crianças. Aydogdu et al. (2020) destaca que devido as mudanças sociais
e comportamentais características desse grupo como: distanciamento da escola, dos
amigos e familiares pelo isolamento social, crise financeira enfrentada pelos pais, o
adoecimento e a perda de familiares, tem gerado alterações de comportamento e humor
como tristeza, medo, ansiedade, insônia, raiva, estresse entre outros.
Os profissionais de saúde também são um grupo extremamente vulneráveis a
afetação da saúde mental. O índice de sintomas psiquiátricos que já era é alarmante
normalmente no profissional da saúde, durante a pandemia tem se agravado. Os estudos
tem apresentado quase que unanimes, altos índices de ansiedade, estresse, depressão,
medo, angústia e sono alterado (PRADO, 2020).

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3.1.5 Impactos da Sars-CoV-2 na ocorrência do TEPT


Para que ocorra um melhor entendimento sobre os impactos da Sars-CoV-2 na
TEPT torna-se importante salientar alguns fatores modificáveis que este transtorno pode
desenvolver. O nível do efeito estresse e seu tempo de exposição é um fator que pode ser
traumático, sendo representando como a principal causa desse transtorno. A neurociência
e neurobiologia podem explicar a relação do estresse com a pandemia da Sars-CoV-2 na
ocorrência da TEPT.
Estudos destacam que pessoas acometidas com o TEPT apresentam como resposta
ao estresse a hiperativação do Sistema Nervoso Central (SNC), com um aumento nos
níveis de adrenalina e noroadrenalina com diminuição dos níveis de cortisol no sangue
pelos terminais simpáticos e medula supra-renal (NAMEROFF, 2004).
Durante a Pandemia da Sars-CoV-2, as pessoas estão sendo impactadas
diariamente com diversas informações, muitas foram infectadas e outras já perderam
algum familiar, isto tem impactado direto no cotidiano da população. A OMS apresenta
que nesse período pandêmico são muitas as incertezas, medo e preocupação, e isso são
ameaças reais que podem aumentar os níveis de estresse (OMS, 2020).
Existe o medo de contrair a doença, limitações no simples ato de ir e vir, nova
realidade na rotina do estudo, trabalho, tarefas domésticas, falta de contato pessoal com
a família e até mesmo o desemprego. Essas informações e situações vivenciadas podem
acarretar no aumento dos níveis de estresse, causando modificações neurobiológicas e
favorecer o desenvolvimento da TEPT.
Apesar da importância das medidas de isolamento para evitar a propagação do
Sars-CoV-2, o efeito dessa vivência, juntamente com a infecção do vírus, pode acarretar
alterações no sistema imunológico e endócrino comprometendo a saúde mental a curto
ou longo prazo (RAONY, 2020; NAMEROFF, 2004). Existe uma interação nos circuitos
imune e neuroendócrino que podem ser modificadas em contextos como estes de
isolamento social e isto pode ocasionar danos à saúde mental (RAONY, 2020;
NAMEROFF, 2004).
Apesar do cenário apresentado, ainda é possível reduzir a ocorrência de TEPT
com medidas que contribuíam para a prevenção deste transtorno.

3.1.6 Medidas de prevenção do TEPT no contexto da Sars-CoV-2


Ao pensar em prevenção para o desenvolvimento do TEPT, é necessário que se
pensem em ações que possam diminuir o nível e o tempo de exposição de agentes

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estressores envolvidos diretamente na rotina das pessoas que estão vivenciando dia a dia
o desfecho dessa pandemia.
Raony et al. (2020), apresenta que priorizar uma atenção psicológica de qualidade
e diminuir os níveis de desigualdade socioeconômicas são estratégias que podem mitigar
os efeitos na saúde mental durante a pandemia da Sars-CoV-2. O autor ainda aponta que
se nada for feito, é possível que haja futuramente um enfretamento de uma nova
pandemia, a “pandemia do medo” e da saúde mental.
A OMS orienta que durante este período seja estimulada conversas com alguém
de confiança, mesmo que via internet, manter um cuidado com alimentação, buscando
manter um estilo de vida saudável com prática de exercícios regulares na própria casa
(OMS, 2020). Evitar o fumo, consumo de álcool ou outras drogas na tentativa de controlar
as emoções. Buscar sempre um profissional quando sentir-se sobrecarregado, evitar ao
máximo acesso constante as notícias e informações que provocam malefícios a saúde
mental. Organização do tempo e redefinições de prioridades são essenciais para a
prevenção do TEPT no contexto da pandemia (OMS, 2020).
Nesse contexto, a resiliência pode ser fundamental no enfrentamento das diversas
situações adversas ocorridas na pandemia. A autocompaixão, criatividade e otimismo,
são fatores que desenvolvem a resiliência. Zanon et al. (2020), destaca que a
autocompaixão é um exercício de bondade consigo mesmo e isto promove o auto cuidado.
A criatividade estimula a busca de soluções nas resoluções dos problemas ocasionados
pela pandemia. Pessoas otimistas e criativas conseguem ver os desafios e problemas como
oportunidades (ZANON et al., 2020).
Diante do exposto, intervenções psicológicas, manutenção do estilo de vida
saudável, evitar notícias que comprometam a auto estima e desenvolver a resiliência, são
estratégias que podem contribuir para a diminuição dos fatores estressantes decorrentes
da pandemia da Sars-CoV-2 que possam desenvolver o TEPT.

3.1.7 Ferramentas positivas para o tratamento do TEPT


Diante desse cenário pandêmico avassalador com consequência que ainda não se
podem mensurar algumas ferramentas podem ajudar no tratamento do TEPT, sendo a
psicoterapia, meditação, convívio familiar.
Meditação: Estudos recentes tem demostrado que o impacto das tensões que o
TEPT provoca, pode ser reduzido significativamente, por meio da prática da Meditação.
Um estudo da University of Colorado Medical Center, EUA, comparou a eficácia da

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Meditação Transcendental com métodos de psicoterapia em veteranos de guerra do


Vietnã que estavam em tratamento para o TEPT Diversas áreas com problemas foram
estudadas, incluindo: TEPT, depressão, insônia, ansiedade, instabilidade emocional,
trauma familiar e abuso de álcool. O grupo praticante da meditação apresentou melhoria
bastante significativa no período de 3 meses em todas as áreas pesquisadas: Depressão,
TEPT, Ansiedade, Instabilidade Emocional, Abuso de Álcool, Insônia e Trauma Familiar.
Piscoterapia: A psicoterapia, em alguns casos, leva à reconstrução dos eventos
traumáticos, podendo ter grande efetividade terapêutica. A Terapia Cognitiva
Comportamental (TCC) tem apresentado resultado comprovados no tratamento do TEPT,
sendo considerada o tratamento de primeira escolha (KNAPP; CAMINHA, 2003). O
tratamento apresenta técnicas como: psicoeducação, reestruturação cognitiva,
relaxamento, exposição invivo e imaginária. A utilização destas técnicas permite
identificar, avaliar e modificar algumas crenças disfuncionais e expor o paciente a
situações e lembranças que ele evita por considerá-las perigosas, mas que em realidade
não são.
Convívio Familar: Quando um indivíduo sofre algum trauma e é acometido pelo
TEPT de maneira geral toda a família também pode ser profundamente afetada. No
entanto neste processo é muito importante que a família seja encorajada a apoiar e
reestabelecer o convívio social do paciente com TEPT. Existem evidências de que uma
rede social familiar com pessoal estável, sensível, ativo e confiável protege a pessoa
contra doenças, atua como agente de ajuda e encaminhamento, afeta a pertinência e a
rapidez da utilização de serviços de saúde e acelera os processos de cura, ou seja, é
geradora de saúde (HALPERN, 2005).

3.1.8 Aspectos gerais da Gripe Espanhola e Sars-CoV-2


Em todo o contexto analisado através dos artigos selecionados para este estudo é
possível destacar que ao longo desses 100 anos a população mundial já passou por outras
pandemias nessas proporções como da Sars-CoV-2, no entanto, é a primeira vez que um
vírus se propaga de forma tão rápida em um mundo amplamente globalizado.
Logo após a Primeira Guerra Mundial, cerca de cem anos atrás, a população
estava passando pela epidemia da Gripe Espanhola e algumas semelhanças foram se
destacando. Costa (2020), destaca em seu estudo que os protocolos para a prevenção eram
bem parecidos com os protocolizados na pandemia da Sars-CoV-2. A negligência das
autoridades, que tratavam as doenças como “gripezinhas”, o grande número de mortes e,

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até mesmo o uso de medicamentos sem comprovação científica, foram algumas


semelhanças apresentadas.
O autor afirma que os discursos dos governos sobre o controle dessas pandemias
tanto do passado como no presente corroboram com o número alto de infectados e mortos
e, consequentemente, com a dificuldade dos profissionais da saúde em atender as pessoas
doentes, sobretudo nas comunidades rurais.
Ainda nesse contexto, quando refere-se as consequências dessas pandemias na
saúde mental, os relatos são escassos, recortes históricos deixam evidente a gravidade e
amplitude da gripe espanhola a cem anos atrás, no entanto, suas consequências na saúde
mental a longo prazo parecem que não foram amplamente discutidos, o que se apresenta
hoje na literatura são apenas descrição de relatos e narrativas da população da época em
forma de cartas ou testemunho, como apresentado no estudo de Kind; Cordeiro (2020),
que destaca narrativas sobre o medo e angustia que a Gripe espanhola proporcionou a
população.
Desta forma, não é possível mensurar se a pandemia da gripe espanhola veio a
causar especificamente o transtorno de estresse pós traumático (TEPT) que é uma
entidade clínica que pode ser desenvolvida após situações de grande estresse emocional
gerando consequências graves a saúde mental do sujeito. No entanto, no transcurso desses
cem anos da Gripe Espanhola, percebe-se um grande interesse da comunidade cientifica
em tentar desvendar as consequências de epidemias e pandemias na saúde mental da
população em diferentes grupos como, profissionais de saúde, trabalhadores, adultos,
jovens, crianças, idosos entre outros (WANG; WANG, 2020; SHAW, 2020).
Em uma metanálise que buscou analisar o desenvolvimento de transtorno de
estresse pós-traumático após casos de epidemias ou pandemias, como síndrome
respiratória aguda grave (SARS), H1N1 (gripe suína) Poliomielite, Ebola, Zika, e também
da Sars-CoV-2, foi encontrado que seis meses após uma pandemia ocorreu uma
prevalência de TEPT em profissionais de saúde de 28,6%, sendo ainda maior nos
trabalhadores da linha de frente, que apresentaram de 30,8% em comparação com 8,2%
dos demais trabalhadores (YUAN et al., 2021).
Para o diagnóstico do TEPT na pandemia atual ainda são poucos os estudos
relatando sua ocorrência. Yuan et al. (2021), sugeriu em seu estudo que o transtorno de
estresse pós-traumático pode ser um grande problema de saúde mental na esteira de
pandemias como da Sars-CoV-2, com a prevalência de 22,6%.

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De acordo com autores, as descobertas indicam que o transtorno pós-traumático


que irá surgir com término da pandemia é uma preocupação significativa de saúde
pública, e para lidar com tudo isso é necessário monitoramento apropriado, apoio social
e acompanhamento de longo prazo.

4 CONCLUSÃO
Com esta revisão de literatura foi possível verificar que a pandemia da gripe
espanhola apresentou alto índice de mortalidade, apesar de escassos os relatos referentes
ao seu impacto na saúde mental e acometimento do TEPT. Observou-se que a pandemia
da Sars-CoV-2, despertou o interesse da comunidade cientifica pelo conhecimento e
entendimento sobre as consequências psicológicas que a mesma pode ocasionar em
diferentes populações. Por estar em curso, ainda não é possível determinar o real impacto
da pandemia atual para o desenvolvimento do TEPT, no entanto, são muitos os indícios
científicos dos graves acometimentos psicológicos que ela pode proporcionar no período
pós pandemia.
Ainda Assim, foi possível constatar que toda a trajetória histórica relatada na gripe
espanhola pela literatura, deveria oferecer lições e experiências que poderiam ser
aproveitadas em nível local e nacional no combate ao Coronavírus. No entanto, apesar
dos cem anos que as separam, novamente presencia-se uma onda de medo e pânico entre
as populações o que tem ocasionado diversas afetações psicológicas além dos antigos
problemas de desigualdades sociais e de saúde pública que se tornaram mais evidentes.

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