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O múltiplo surgimento

da Psicologia
Prof. Me. Vinícius de Aquino Braga
Discussão histórica
 Objeto: Evolução gradual de uma experiência
original X Combinações causais e
inesperadas;

 Surgimento da Psicologia a partir da irrupção


de condições peculiares:

 Internalista: transformações intelectuais;


 Externalista: transformações culturais, sociais
etc.
 Experiências constitutivas fundamentais:

 Domínio de interioridade reflexiva – a subjetividade;


 Campo de singularização valorativa num espaço coletivo
– o indivíduo;

 Práticas que produzem identificação da loucura à


doença mental;

 Distinção mente x corpo;

 Distinção entre infância e idade adulta.


Constituição da subjetividade
 “Plano de interioridade reflexiva” – o “eu”;

 Antiguidade pagã: “Conhece-te a ti mesmo”


≠ subjetivação moderna;

 “Há, enfim, entre os gregos uma


interioridade, mas esta não é individualizada,
reflexiva, ancorada em um eu.”
 Idade Média: invenção da interioridade
individualizada e da hermenêutica como
instrumento de verdade - Cristianismo (Séc.
II);

 Homem santo -> meditações -> busca de


Deus em seu interior, em sua alma;
 Modernidade -> busca de uma afirmação de si;

 Novos métodos: aparatos científicos modernos


(a anamnese, a entrevista clínica, os testes
mentais);

 Formas diferentes de relação consigo além da


religiosa: interesse pela sexualidade e
separação dos planos público e privado ->
sociedades de corte;
 Poder central x liberdades individuais ->
função primordial do Estado: preservação das
leis e dos direitos naturais;

 Constituição de um plano interno de


subjetividade;

 Busca da verdade e fuga das ilusões:


Racionalismo e Empirismo;
 Cenário moderno -> incertezas séc. XVI:

 declínio do modo de vida feudal;


 retomada da vida urbana;
 incremento do comércio;
 constituição dos Estados modernos;
 grandes navegações;
 descoberta de novos povos;
 a invenção da imprensa;
 Reforma (e a Contra-reforma) religiosa;
 surgimento da física matemática.
 René Descartes (1596-1650) - Racionalismo:

 Recurso à subjetividade -> certezas;


 Dúvida metódica (cética);
 Cogito ergo sum;
 Sujeito x Objeto;
 Razão x Paixões;
 Alma (inextensa) x Corpo (extenso).
 Jonh Locke (1624-1704), George Berkeley (1685-
1753) e David Hume (1711-1776) – Empirismo:

 Nada haveria no espírito que não fosse


proveniente das impressões sensoriais, sendo as
nossas funções superiores meras complicações e
conjunções destas;

 Em comum: a transparência no conhecimento do


espírito, em oposição à opacidade do corpo;
 Immanuel Kant (1781) – conciliação entre
racionalismo e empirismo (criticismo):

 Síntese entre as categorias a priori do sujeito


e o diverso sensível;
 Sujeito transcendental x sujeito empírico;
 Critérios para uma psicologia empírica:
conjunto das experiências do sujeito empírico
a partir de um elemento discreto,
matematização e objetividade.
 Wilhelm Wundt (1889) – Surgimento da Psicologia
científica:

 Laboratório de Psicologia;
 Fisiologia;
 Sensação: objetiva e matematizável;

 Tentativas de conciliação entre sujeito transcendental e


empírico:

 Metapsicologia;
 Parapsicologia.
 Esta é a desgraça do psicólogo com relação
ao seu método: “nunca está seguro de fazer
ciência. E quando a faz, nunca está seguro de
que faça psicologia”. (Pierre Gréco, 1972).
Cisão entre corpo e mente e
identidade
 Surge como a concebemos atualmente no
séc. XVII;

 Antes: concepções hilemórficas e cristã;

 Separação: Descartes;

 Identidade vinculada à alma: Locke (memória)


-> mente e cérebro posteriormente;
 Posições na psicologia:

 Dualistas: comunicação entre realidades


distintas -> paralelismo.
 Monistas: uma realidade apenas -> matéria
(materialismo), o espírito (idealismo), ou a
experiência (monismo neutro);
Constituição do indivíduo
 Unidades políticas a serem destacadas e
diferenciadas no conjunto da sociedade;

 Singularidade e igualdade;

 Antiguidade: autonomia da pólis através do


indivíduo;

 Idade Média: iguais perante Deus e livre-arbítrio


na busca de salvação -> lugar estabelecido pela
linhagem;
 Modernidade I: surgimento do indivíduo
enquanto entidade universal (Hobbes e
Rousseau) – indivíduo soberano;

 Criação dos Estados Modernos -> matriz


cristã -> laicização dos costumes -> todos
são iguais perante a lei (não mais Deus);

 Sujeito autônomo, igual aos demais e dotado


de uma interioridade (foro íntimo);
 Modernidade II: condições sociais e evolução
dos saberes médicos -> indivíduo disciplinado;

 Sujeito tomado em sua singularidade ->


preocupação de gestão por parte do Estado ->
“norma”;

 “um objeto determinado, singular, diferenciado


e dotado de uma interioridade (identificada
agora a uma natureza biológica)”
Constituição da infância
 Final da Idade Média: quase ausência da ideia de
infância -> vida sexual, ausência de espaço na
casa, sem diferença na literatura, na pedagogia,
no trabalho, nas guerras etc.;

 Séc. XVII: I – diminuição da mortalidade infantil/


II – preservação da inocência e racionalidade
(padres reformadores)

 Invenção da escola -> experiência evolutiva do


desenvolvimento;
 Séc. XVIII: Estado preocupado com gestão das
pessoas -> vida privada;

 Séc. XIX: Rev. Industrial -> ajustamento do ensino


(+técnico, - moral);

 Nova infância: Rousseau -> primitivismo e


evolução a se concluir na vida adulta;

 Séc. XX: Primeira escala de inteligência -> entrada


da Psicologia.
Loucura como doença mental
 Séc. XV e XVI: loucura como saber esotérico
sobre o destino, forma particular de razão;

 Séc. XVII: Excluída da ordem da razão ->


Descartes;

 Séc. XVIII: Enclausuramento (desrazão moral) e


dissociação entre a percepção social e o
conhecimento médico da loucura (doença
degenerativa dos nervos, ausência de
especificidade).
 Séc. XIX: Especificação da loucura como
doença mental (Pinel e Tuke) -> libertação
relativa dos loucos;

 Loucura passa a ser vista como alienação e os


asilos lugares para tratamento;

 Psicologia do normal e do patológico.


Ciências humanas x naturais
 Distinção entre domínio humano e natural
(Séc. XVII) e entre domínios científico e
filosófico (Séc. XVIII);

 Séc. XVII: natureza governada por leis


universais e diversidade das culturas
humanas (política);

 Psicologia como um saber híbrido;


Filosofia x ciência
 Homem sempre sujeito (Séc. XVII e XVIII) x
Homem como ser empírico - objeto (Séc.
XIX);

 Homem duplicado: sujeito transcendental x


empírico -> nascimento das ciências
humanas;

 Psicologia segue o modelo natural para se


firmar enquanto ciência;
 Duplica conceitos empíricos (extraídos das
ciências naturais) em uma função
transcendental;

 Curto-circuito entre saberes e práticas


sociais: cruzar as mais distintas experiências
históricas com conceitos, modelos e métodos
das ciências naturais, tornados agora entes
transcendentais que explicam todos os
aspectos da natureza humana;

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