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Pratinho Feliz 2020

Todos os direitos reservados.

A reprodução não autorizada deste


e-book, no todo ou em parte, cons-
titui violação de
direitos autorais.

Pratinho Feliz é uma iniciativa da tera-


peuta ocupacional Bárbara Moura para
disceminar conhecimento sobre a alimen-
tação infantil e seus dilemas, destruindo
mitos, compreendendo cenários e trans-
formando vidas.

Saiba mais em
pratinhofeliz.com.br
SOBRE A
AUTORA
SOBRE A
AUTORA

Oi, tudo bom? Que legal ter você aqui comigo


nessa jornada que é o desenvolvimento das
nossas crianças.

Eu sou a Bárbara e, primeiramente, gostaria


que você me conhecesse melhor:

Sou a mãe da Cecília, esposa do André e filha


da Neuza e do Ademir.

Sou também terapeuta ocupacional,


graduada pela Universidade Federal de Minas
Gerais e tenho especializações em Saúde da Criança e Inclusão Escolar.

Recentemente concluí a Certificação Internacional de Integração Senso-


rial da Universidade do Sul da Califórnia.

Desde criança já dizia que quando crescesse iria cuidar de crianças, e


quando fui escolher minha profissão descobri a terapia ocupacional.

Desde então meu foco sempre foi o desenvolvimento infantil.

Quando comecei prestar assistência para as crianças percebi o quanto


a família é essencial para o processo de evolução. Cada vez mais fui me
encantando com a inclusão das famílias nos meus atendimentos e nas
orientações.

Meu consultório não tem portas que separam as crianças dos pais deixan-
do-os à vontade para participar ou não da sessão.

A família é o ponto chave para qualquer tratamento.

Em 2017 nasceu minha menina e, junto dela, os desafios da alimenta-


ção. Eles começaram desde a amamentação, passando pela introdução
alimentar e atualmente estamos inserindo, aos poucos, novos alimentos
em sua dieta.

Porém eu só percebi que meus desafios começaram lá atrás, na amamen-


tação, quando eu comecei estudar a fundo o que é o desenvolvimento

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da alimentação e suas implicações.

Com isso juntei à minha experiência maternal, de vida e todo o conhe-


cimento que a terapia ocupacional me proporcionou, além de muito
estudo nessa jornada do desenvolvimento infantil. Resolvi compartilhar
esse conhecimento para auxiliar tantas mães e pais que passam pelas
mesmas dificuldades que eu.

Você vai seguir comigo essa jornada? Aguardo você!

Um beijo!

Bárbara Moura
Terapeuta Ocupacional
CREFITO-4 15062 TO
barbara@pratinhofeliz.com.br

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TERMO DE
RESPONSABILIDADE
TERMO DE
RESPONSABILIDADE

Todas as informações e estratégias contidas neste e-book são baseadas


em aprendizados adquiridos durante uma graduação, duas pós gradua-
ções e outros vários cursos de formação continuada, além de anos de
prática profissional. Todos com embasamento científico e validadas pela
comunidade acadêmica.

Entenda que este material não é um guia de tratamento para a sua


criança e não lhe isenta da responsabilidade de ter sua criança acompa-
nhada por profissionais capacitados. Ele lhe auxilia a ter mais informações
sobre o desenvolvimento da sua criança.

Este e-book é útil para pais, professores, cuidadores e também para


profissionais que desejam se informar mais, porém não pode ser compa-
rado a uma formação que habilita outras pessoas para promover um
tratamento a quem quer que seja.

Neste e-book você terá acesso a modelos de atividades e ideias, porém


estes são apenas exemplos. Sugiro fortemente que você converse com o
profissional que acompanha sua criança para se certificar de que estas
atividades são adequadas às necessidades dela.

Lembre-se de que cada indivíduo é único e possui demandas específicas.

Não existe nenhuma garantia de que sua criança terá resultados positivos
e alcançará os objetivos propostos. Há somente a experiência e o depoi-
mento de dezenas de mamães que observaram grande melhora em suas
crianças, além de familiares, professores e cuidadores mais seguros com
suas crianças, por entender como o organismo delas realmente funciona.

No fim, tudo dependerá do seu empenho para estudar as questões


relativas à sua criança, e também dos profissionais que a acompanham.

Qualquer dúvida, entre em contato comigo:

barbara@pratinhofeliz.com.br

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COMO USAR
ESSE LIVRO?
COMO USAR
ESSE LIVRO?

O seu aprendizado e desenvolvimento são diretamente proporcionais ao


foco e à imersão naquilo que você quer aprender. Essa relação é válida
para qualquer coisa que você queira se dedicar.

Este livro será o seu guia central. Sugiro não fazer a leitura de uma só
vez ou, se fizer, volte depois e releia com calma. Faça anotações, observe
sua criança, realize testes, converse com a terapeuta caso seja possível e
fique a vontade para conversar comigo.

Ninguém conhece tanto a sua criança quanto você! Então confie em


si mesma e, para que essa confiança aumente, se informar é o melhor
caminho.

Por esse motivo eu gostaria de compartilhar com você algumas dicas para
facilitar o seu aprendizado nesse mundo sensorial do universo infantil:

Observe sua criança

Como ela é? Como é o seu comportamento? De que ela gosta? De que


ela não gosta? O que ela acha fácil? O que ela acha difícil? Como é a
relação dela com outras crianças da mesma idade? E com as crianças
mais velhas? Qual é o seu temperamento?

Leia e anote.

Recomendo que você tenha um caderno só para isso. Observe o que pode
ajudar sua criança, quais as reações dela após os estímulos oferecidos, se
ela ficou mais calma, mais agitada, mais concentrada, mais feliz…

Questione.

Faça perguntas. Anote essas perguntas. Converse com pessoas que


estão passando por situações semelhantes. Converse comigo, com os
terapeutas (quando acompanhados), com os professores e profissionais
envolvidos.

Estude.

Compreenda um pouco sobre a integração sensorial, que será abordada

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neste livro, de forma simples, clara e objetiva.

Inscreva-se no meu canal no YouTube

http://www.youtube.com/barbarammoura
Lá, você encontra explicações claras e simples de tudo que tem aqui
neste livro.

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Pílulas diárias de conhecimento e ideias para uma rotina criativa.

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01 Introdução
pág. 18

02 Entendendo um pouco sobre


desenvolvimento infantil
pág. 22

03 Mas o que é isso de


integração sensorial?
pág. 26

04 Brincar. qual a sua


necessidade?
pág. 34

05 Celular não é brincadeira


pág. 38

06 Coordenação Motora
Grossa. O que é e como
desenvolvê-la?
pág. 42

07
CONTEÚDO

Coordenação Motora Fina.


Tem isso também?
pág. 46

08 Brincadeiras para o primeiro


ano de vida
pág. 50

09 Brincadeiras para o segundo


ano de vida
pág. 54

10 Brincadeiras para minha


criança comer melhor
pág. 56
11 Aprendendo a pular
pág. 62

12 Ajudando minha criança a


escrever melhor
pág. 66

13 Minha criança parece ter


medo de brincar no parque
pág. 70

14 Eca, que nojo!


pág. 74

15 Não fica quieto pra nada!


pág. 78

Considerações finais
pág. 82

Referências bibliográficas
pág. 84
01
INTRODUÇÃO
01
INTRODUÇÃO

Por que BRINCAR SEM REGRAS?

As regras existem em tudo. Na hora de comer, de ir para a escola e até


mesmo para brincar.

A questão é como elas são impostas por nós, e como são interpretadas
pelas crianças, na maioria das vezes com muito medo.

“Brincar sem regras” é para que possamos refletir sobre como é a nossa
relação com nossos filhos, e como que a criação das regras pode ser
compartilhada e de mão dupla. Não somente de baixo para cima.

Pensando no ambiente de domínio das crianças - que é o brincar - fica


a sugestão de nos propormos a ouvir as regras delas, compartilhando e
dialogando sobre as decisões e necessidades.

Neste e-book as crianças são as protagonistas!

Eu acredito que este livro será útil para muitas famílias.

Se por um lado ele serve para quem tem crianças que estão em trata-
mento com terapeuta ocupacional, psicopedagogo, fisioterapeuta ou
outro profissional da saúde e educação; por outro ele ajuda àquelas famí-
lias que querem enriquecer a rotina de brincadeiras com suas crianças,
podendo ainda resolver ou minimizar algumas possíveis dificuldades
delas.

Além disso, as estratégias que apresento aqui auxiliam uma infinidade


de crianças. E a partir dessas ideias, outras infinitas podem ser criadas
por você, como família, ou pelas próprias crianças.

Desta forma, por meio de um conteúdo de qualidade, prático, objetivo


e com embasamento científico, apresento neste livro uma variedade de
atividades para serem feitas com sua criança. Sempre em segurança e
com resultados práticos em seu desenvolvimento.

Ficarei muito feliz sabendo que você, ao terminar este livro, estará
entendendo melhor sua criança, oferecendo desafios adequados a ela

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e mantendo uma família unida e alegre. E, principalmente, removendo
os rótulos dessas crianças.

Eu verdadeiramente acredito que o conteúdo deste livro pode trans-


formar a sua família por saber que nós, como pais, desejamos sempre
a felicidade dos nossos filhos; e que crianças que se desenvolvem bem,
são felizes, confiantes e criativas.

Todo esse conhecimento adquiri principalmente com a minha certifica-


ção em integração sensorial, e durante a minha graduação e nos cursos
de formação continuada.

Mas nada substitui a minha experiência em consultório com meus


pacientes e em casa com a minha filha Cecília.

Esse conhecimento que compartilho com você mudou a minha vida, da


minha filha, dos meus pacientes e suas famílias.

Por isso, é muito importante que você consuma o conteúdo deste livro
entendendo do desenvolvimento infantil, da integração sensorial e do
perfil da sua criança.

E lembre-se sempre, caso perceba que as dificuldades da sua criança


causam limitações significativas para que ela participe de forma efetiva
das atividades esperada para ela, converse com seu pediatra, busque
a terapia ocupacional, oriente-se com um profissional e intensifique o
tratamento com as atividades que proponho neste livro.

A solução nestes casos nunca virá de uma ação isolada, mas sim de um
conjunto de esforços de diferentes pessoas e profissionais com o mesmo
objetivo.

Lembre-se que cada criança é única.

Temos que respeitar o limite de cada uma delas e, aos poucos e com a
sua permissão e motivação, vamos oferecendo oportunidades de diversão
e aprendizagem.

Acredite! Eu investi pesado no planejamento da organização perfeita


desse mundo de conhecimentos para que você consiga consumir, apren-
der e aplicar da maneira mais eficiente possível.

E o mais importante: leia, aprenda, aplique e indique para as pessoas ao


seu redor!

E aí? você vem comigo?

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02
ENTENDENDO UM
POUCO SOBRE
DESENVOLVIMENTO
INFANTIL
02
ENTENDENDO UM POUCO SOBRE
DESENVOLVIMENTO INFANTIL

O desenvolvimento infantil é algo complexo, que ocorre de forma dinâ-


mica e depende de diferentes áreas do corpo humano.

Podemos dividir este estudo em cinco grupos:

FATORES ORGÂNICOS
São os relativos a como cada organismo funciona;

FATORES HEREDITÁRIOS
São aqueles pertinentes às heranças genéticas da criança;

FATORES AMBIENTAIS
Têm a ver com o meio em que a criança cresce, e aos estímulos
externos que são oferecidos;

INTERAÇÕES AFETIVAS
Refere-se a como as pessoas próximas à criança lidam com ela;

COMPLEXIDADE DAS TAREFAS


Indica o quão adaptadas são as atividades exigidas à cada criança.

Este capítulo não abordará ações que são esperadas no desenvolvimento


da criança em cada faixa etária, pois temos esse conteúdo livremente
em sites de busca.

O que eu quero aqui é que você entenda como o desenvolvimento


acontece, e quais os pontos chave para que ele tenha maior qualidade.

Quando falamos do desenvolvimento de uma criança, é preciso lembrar


que seu início é ainda no útero materno. São os primeiros nove meses
de vida que oferecem as primeiras experiências sensoriais, motoras e
afetivas.

Nessa fase as crianças sentem o líquido amniótico, têm noções de tempe-


ratura, brincam com o cordão umbilical e escutam os órgãos da mãe,
como as batidas do coração, por exemplo.

Também recebem estímulos de movimento quando a mãe caminha ou


balança, e se posicionam, por conta própria, de cabeça para baixo. Com

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isso o cérebro já inicia as primeiras conexões e aprendizados.

Ao nascer ela percebe um mundo bem diferente daquele que viveu


por nove meses , apesar de reconhecer algumas vozes, como da mãe
(principalmente), do pai ou do irmão.

Lembra do balanço quando alguém pega no colo, se aconchega no


banho de balde ou mesmo de chuveiro.

Só que agora é diferente. Ela tem fome e com isso descobre o choro, sofre
com cólicas e sente a falta da mãe o tempo todo. A cada nova situação
a criança vai se habituando e resolvendo seus pequenos problemas.
Inicialmente recebe muita ajuda dos pais, que com o tempo, vão dimi-
nuindo essa assistência.

Esse desenvolvimento neuropsicomotor, segundo Howle (2003), ocorre


por meio das experiências vivenciadas pela criança. Essas experiências
são sensoriais e motoras, conforme as necessidades, até conseguir um
repertório adequado e que funcione.

Nossas crianças absorvem o que ambiente oferece para


se desenvolverem. Se, por exemplo, eu mantenho um
bebê no berço sem estímulos auditivos e visuais, ele
não terá motivos para mexer os bracinhos ou virar a
cabeça. Ele estará sendo hipoestimulado, o que quer
dizer que ele até irá adquirir as funções e movimentos,
mas isso pode ser de forma mais lenta e com menor
qualidade, quando comparado com uma criança que
tenha um móbile a seu alcance na altura adequada.

E esse raciocínio é válido para todo o desenvolvimento


humano, desde o útero até a velhice. Quanto mais estí-
mulos, com a motivação adequada, mais o cérebro evolui,
e com mais qualidade.

Nosso cérebro é uma rede de comunicação com todo o


nosso corpo, nossos órgãos, a pele, nossas articulações e
os nossos músculos. Essa comunicação acontece nas duas
vias, tanto do cérebro para o corpo quanto do corpo para o
cérebro.

Entretanto, quando nascemos existem poucas redes, poucos


fios que fazem essas ligações. Assim pensamos mais concre-
tamente. Com o passar do tempo, principalmente até os
6 anos de idade, formamos praticamente todas as nossas
principais ligações, quase todos os fios estão funcionando.
Poucos serão formados depois.

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Por isso é tão importante oferecer oportunidades
adequadas, saudáveis e afetivas nos primeiros
anos de vida.

Tudo aquilo que sentimos, vemos, ouvimos, tocamos e fazemos tem o


poder de criar novas ligações. E quanto mais vezes isso acontece, mais
fortes elas ficam, como se os fios ficassem mais grossos.

Por isso a importância de criarmos bons laços afetivos e experiências


sensoriais agradáveis para, como resultado, termos respostas motoras
efetivas - rolar, sentar, engatinhar, andar, pular, andar de bicicleta...

Lembrando que os estímulos são importantes e devem ser ofertados na


medida certa. Nem demais, e nem de menos.

“Mas, meu Deus, como vou saber?”

Conhecendo sua criança! Observando se ela está irritada ou ansiosa; se


tem muita oferta de alguma coisa. Até mesmo de cuidados. Por outro
lado, uma criança mais abatida e desatenta pode estar com alguma
coisa em falta.

O importante é confiar que você, papai ou mamãe, conhece sua criança


e, caso perceba que algo não vai bem, busque ajuda. O terapeuta ocupa-
cional infantil pode ajudar muito, orientando com as medidas certas de
estímulos.

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03
MAS O QUE É ISSO
DE INTEGRAÇÃO
SENSORIAL?
03
MAS O QUE É ISSO DE
INTEGRAÇÃO SENSORIAL?

ATENÇÃO! Este capítulo é uma introdução teórica sobre os assuntos


que serão tratados no decorrer do livro. Ele é importante para que você
compreenda os motivos por trás dos comportamentos da sua criança e
o por quê de cada atividade orientada. Entretanto, se considerar a leitura
deste capítulo densa, leia-o em outro momento. É possível praticar as
orientações sem ele.

Quando falamos de integração sensorial, a primeira pessoa a ser lembrada


é Jean Ayres, terapeuta ocupacional e psicóloga educacional e neuro-
cientista que estudou e descreveu a integração sensorial nos anos 60
do século XX.

Jean, em poucas palavras, explica o que é o processamento sensorial:

“O processo neurológico que organiza as sensa-


ções do próprio corpo e do ambiente fazendo
com que seja possível o uso do corpo efetiva-
mente no ambiente” (Jean Ayres, 1989)

Vou explicar essa definição parte por parte, e tudo ficará muito claro
para você.

Processo neurológico que organiza: São as ligações feitas do corpo


para o cérebro, o qual organiza o que cada uma quer dizer.

Essas ligações chegam em códigos e o cérebro é o responsável por


decifrar e transmitir para nós o que é cada informação.

Algumas dessas informações, porém, o cérebro não nos conta, simples-


mente enviando o comando de forma automática como, por exemplo,
a respiração, a digestão ou a liberação de insulina.

Em outros casos, o cérebro toma a atitude primeiro para depois nos


contar. Quando tocamos em uma superfície quente como uma panela,
por exemplo, antes de entendermos que aquilo é quente e queimar a
pele, nós já retiramos a mão.

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Claro que isso tudo ocorre em milésimos de segundos.

As sensações do corpo e do ambiente: Estamos envoltos por um


mundo sensorial. São informações táteis, visuais, auditivas, olfativas e
gustativas.

Temos também, além dos cinco sentidos básicos, as sensações do nosso


corpo, como a percepção de movimento das nossas articulações e dos
nossos músculos, o que chamamos de propriocepção.

Outra sensação que vem também do nosso corpo é a que permite saber
se estamos em movimento ou parados, a favor ou contra a gravidade,
de cabeça para baixo ou para cima, rodando ou não, em uma superfície
firme ou instável... A estes sentimentos damos o nome de sensação
vestibular.

Cada umas dessas sete sensações - Visão, Audição, Olfato, Paladar,


Tato, Propriocepção e Vestibular - possui uma certa quantidade de
receptores, que informam o cérebro o que está acontecendo com nosso
corpo.

Eles recebem as sensações e informam o cérebro, o qual interpreta os


códigos e nos transmite essa informação.

Fazendo com que seja possível o uso do corpo efeti-


vamente no ambiente: Depois que o nosso cérebro
interpreta as sensações, ele nos conta (ou não) para
que, assim, o nosso corpo possa tomar a melhor atitude
possível para cada situação.

Então, quanto maior nosso repertório de ações


e experiências, melhores e mais efetivas são
nossas ações.

Se a criança, por exemplo, está em um


balanço e começa a escorregar, conse-
quentemente ela segurará com mais força
nas cordas para se manter no balanço.

Para isso tudo acontecer, foi necessário o


seguinte caminho:

O corpo da criança ativou a sensação vestibular -


os receptores ficam dentro do ouvido interno - de
lá saiu uma ligação para o cérebro, e ele entendeu
que ela está balançando e está segura, ficando feliz.
Depois, os receptores vestibulares percebem que a
criança começou a cair e fazem outra ligação para o

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cérebro, juntamente com os receptores da propriocepção.

Isso porque suas articulações e músculos começaram a mudar de posi-


ção, e os receptores táteis também entram em ação, pois sentiram o
bumbum escorregando.

O cérebro pegou as três ligações e entendeu: estamos em risco e pode-


mos cair. Então ele envia um comando para os receptores proprioceptivos
ajeitarem as articulações e ativar os músculos necessários para manter
o corpo no lugar.

O cérebro ainda faz mais uma ligação para o coração acelerar e o corpo
ficar mais acordado (em alerta) e agir o mais rápido possível.

Depois que tudo se ajeita, todos aqueles sentidos que receberam uma
chamada do cérebro, retornam a ligação informando que tudo está
bem, e o cérebro avisa o coração dizendo para se acalmar e aproveitar o
balanço, e a propriocepção para deixar os músculos mais calmos.

E assim acontece o tempo todo, com todas as sensações e respostas do


nosso corpo.

E é pensando assim que nós trabalhamos com a


intervenção de integração sensorial. Nós ajudamos o
cérebro das crianças a fazer essas ligações de forma
mais assertivas para melhor desempenho e efetivi-
dade nas tarefas.

Para completar, irei explicar os três principais siste-


mas sensoriais que a integração sensorial inter-
vém, e lembrar os nossos outros quatro sistemas
sensoriais.

Sistema Sensorial Tátil

Esse sistema está localizado na nossa pele, o maior


órgão que temos. É por meio do tato que percebe-
mos o mundo a nossa volta. Com ele sentimos o
toque leve de carinho, o toque profundo da massa-
gem ou um cobertor pesado sobre nós no inverno.

Sentimos frio e calor e também as sensações de dor


e vibração.

O tato é responsável pelo primeiro vínculo com nossa


mãe. Desde o útero já temos essa sensação. Depois
com o colo, as cosquinhas, o banho... Quando a
criança pega os objetos e leva à boca, ao rosto ou toca
com os pés.

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O sistema tátil é imprescindível para nosso desenvolvimento saudável,
afetivo, para a percepção do nosso corpo, nossa coordenação motora
grossa e coordenação motora fina, além da aprendizagem escolar e
percepção visual.

Sistema Sensorial Proprioceptivo

Esse sistema é o principal responsável por nos informar sobre nossa


consciência corporal, a dimensão dos nossos membros ou se passamos
naquele espaço estreito ou não.

Os receptores desse sistema estão localizados nos nossos músculos,


ligamentos e articulações. Então, quando há movimento desses órgãos,
os receptores são ativados e enviam a informação para nosso cérebro
dizendo como está o nosso corpo, se em movimento ou parado, e em
qual posição.

É com esse sistema que graduamos a força que precisamos para fechar
uma garrafinha, jogar um bola ou segurar um copo plástico. Ele nos ajuda
a não esbarrar nas pessoas e objetos e a nos manter na posição correta
ao sentar, correr ou pular.

O sistema proprioceptivo é muito importante


para a nossa autorregulação, ou seja, para nos
acalmar, nos manter atentos e concentrados
em uma tarefa, além de também nos auxiliar
na nossa consciência corporal, estabilizando a
nossa postura, graduando o nosso movimento,
para o planejamento das nossas ações.

Sistema Sensorial Vestibular

Os receptores responsáveis por esse sentido são ativados quando movi-


mentamos nossa cabeça, olhos, pescoço e o corpo no ambiente. São
localizados no nosso ouvido interno e constantemente enviam mensa-
gens para o cérebro informando como nosso corpo está em relação à
gravidade.

É com o sistema vestibular em bom funcionamento que temos a capa-


cidade de manter nosso corpo em equilíbrio, não cair, dirigir um carro
- olhar para frente, ler a placa, trocar a música - e as crianças conseguem
copiar do quadro, montar um quebra-cabeça olhando um modelo, acer-
tar um alvo, balançar, girar, encontrar algo que caiu no chão e mais um
zilhão de ações.

Quando os receptores vestibulares são ativados - quando estamos

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correndo, pulando, girando, balançando, etc. - eles enviam informações
para várias partes do cérebro.

O Sistema Vestibular está diretamente ligado ao


aprendizado no geral, ao desenvolvimento da
fala e da linguagem, ao movimento, equilíbrio e
coordenação bilateral, à segurança em relação
à gravidade e ao acompanhamento visual.

Sistema Sensorial Visual

Os receptores do sistema visual ficam na retina e entram em ação ao


perceberem a entrada de luz. Assim eles enviam a informação para o
cérebro e este interpreta o que vemos.

Por isso os bebês, durante os primeiros anos de vida, têm a necessidade


de pegar nos objetos e levá-los à boca e jogá-los no chão. Pois é nesse
momento que o cérebro está processando as informações daquele objeto
para, mais tarde, quando a criança olhar para aquele mesmo objeto
novamente, já saber se ele é leve ou pesado, macio ou duro, de comer
ou de brincar.

Essa necessidade de tocar nos objetos que nunca vimos antes, inclusive,
nos acompanha até a velhice.

Entenda que existe uma diferença entre a acuidade visual, que é a

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capacidade de captar a informação visual e enviá-la para o cérebro, a
qual é possível corrigir com óculos e cirurgias; o controle do movimento
dos olhos, que é um trabalho da musculatura dos olhos, e é comandada
pelo cérebro; e a percepção visual, que é a capacidade do cérebro de
interpretar aquilo que enxergamos pela acuidade visual.

Tanto o controle do movimento dos olhos quanto


a percepção visual são funções as quais a inte-
gração sensorial é responsável.

O controle visual é a capacidade que temos de fazer acompanhamento


visual, rastreamento de figuras ou objetos, encontrar algo no chão como
uma figura escondida ou copiar do quadro. Esse controle acontece em
conjunto com as mãos, quando vamos amarrar o cadarço, ou passar uma
linha na agulha, por exemplo.

Este processo é muito importante para a vida escolar da criança, para


as atividades de autocuidado e para sua independência em diversos
contextos.

Outro componente é a percepção visual, que é a capacidade de diferen-


ciar formas, cores, delineamentos, sombras, identificação e reconheci-
mento de letras e números, noção de profundidade, etc.

Está diretamente ligado aos sistemas sensoriais vestibular, tátil e


proprioceptivo.

Sistema Sensorial Auditivo

Esse sistema, assim como o visual, é necessário diferenciar a capacidade


de ouvir da habilidade de compreender e interpretar o que está sendo
ouvido. Esta habilidade vai se aprimorando com o desenvolvimento.

Os receptores do sistema auditivo estão localizados no ouvido interno,


assim como os receptores vestibulares. Por isso estes sistemas são direta-
mente interligados, assim como também se relacionam com os sistemas
visual e proprioceptivo.

Quando a criança recebe estímulos desses sistemas, consequentemente


melhora o desenvolvimento das funções auditivas.

Sistema Sensorial Gustativo

Assim como os demais sistemas, é essencial para vários contextos como


nutrição, socialização e prazer, além de ser relacionado aos sistemas
sensoriais tátil, proprioceptivo, olfativo e visual.

Os receptores ficam localizados na língua e enviam informações sobre os

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sabores - doce, azedo, amargo e salgado - além das texturas que podem
ser molhadas, secas, ásperas, duras, macias, etc.

Há crianças com maiores dificuldades em se alimentar com variedades,


outras não. É um sistema complexo, e para tratá-lo precisamos integrar
com os sistemas os quais ele se relaciona, como descrito anteriormente.

Sistema Sensorial Olfativo

Os receptores do sistema olfativo estão nas narinas e, ao contrário dos


demais que fazem conexões entre si, este tem ligação direta com o cére-
bro, em uma região chamada de sistema límbico, o qual é responsável
pelas emoções e lembranças.

Isso explica quando, por exemplo, salivamos ao sentir o cheiro de um


comida que gostamos, ou quando o bebê sente o cheiro da mãe ou do
leite e procura o seio.

É um sistema fortemente ligado às nossas emoções.

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04
BRINCAR. QUAL A
SUA NECESSIDADE?
04
BRINCAR. QUAL A SUA
NECESSIDADE?

Brincar é natural do ser humano, eu sempre falo isso!

Tudo que aprendemos se inicia com o brincar.


Ele é uma forma interativa e prazerosa com o
próprio corpo, com o do outro, com objetos e com
o meio em que vivemos.

Por ser prazeroso gera memória afetiva no cérebro, e tudo que gera
memória afetiva gera aprendizado.

Você já notou como não se esquece das brincadeiras da infância, dos


amigos, das regras, dos jogos ou daquela aula legal que o professor deu?

Isso acontece por causa do nosso sistema límbico, que armazena nossas
memórias afetivas. Nessa mesma região são guardados nossos apren-
dizados. Tudo aquilo que aprendemos, desta forma, ou é pelo amor ou
pela dor.

Pela dor?

Sim! Assim como o que é prazeroso gera aprendizado, a memória afetiva


também é ativada por traumas, momentos difíceis ou aquele professor
mais rigoroso. Ao acessar essa memória ela remete sensações ruins.

Apesar de não esquecer, isso não é algo gostamos de ficar lembrando,


e provavelmente vamos evitar utilizar os conhecimentos adquiridos por
meio de sofrimento.

Voltando ao brincar, é necessário dizer que, antes de nascer, as crianças


já brincam. Desde o útero elas exploram aquele ambiente, escorregam
e se movimentam (quando ainda tem espaço), brincam com o cordão
umbilical, colocam a mão na boca, dentre outras brincadeiras.

Essa exploração que ocorre de forma prazerosa é denominada brincar.


Inicialmente é feita pela auto exploração, depois com os pais, em seguida
com os objetos e, a cada etapa do desenvolvimento da criança, o brincar
se torna mais complexo.

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A evolução cognitiva da criança, ou seja, sua capacidade de raciocínio,
evolui de acordo com a complexidade do brincar.

Percebemos que nossas crianças brincam com qualidade, quando


conseguimos observar estes três fatores:

1 Repetição - a criança brinca com o mesmo brinquedo da mesma forma


muitas vezes. Ao conseguir encaixar uma peça do Lego, por exemplo, ela
encaixa outra, e mais uma, e mais outra...

2 Tempo de concentração - para repetir, ela precisa brincar com o


mesmo brinquedo por um determinado tempo, o qual vai aumentando
conforme a idade da criança. Quanto mais velha e desenvolvida, maior
o tempo de concentração.

3 Evolução do brincar - é nítida a evolução das brincadeiras. Primeiro


elas são mais exploratórias - o próprio corpo, as pessoas a sua volta e
objetos. Em seguida inicia-se o faz-de-conta, encaixes e por último brin-
cadeiras em grupo.

Não é necessário ensinar as crianças a brincar, salvo quando há algum


atraso significativo do desenvolvimento ou algum diagnóstico que traz
comprometimentos motores e cognitivos.

Mas não ter que ensinar a criança brincar é


diferente de não precisar brincar com ela. No
momento em que brincamos com nossos filhos
ensinamos trocas de turnos (um brinca depois
o outro), estimulamos os neurônios espelhos (eu
imito o que o outro faz), aumentamos a interação
e vínculos afetivos e, por último, a criança aprende
que existem formas diferentes e mais interessantes
de brincar com os brinquedos.

A minha principal dica é: quando estiver com sua criança volte


a ser criança, mas lembrando-se de que você é a responsável.
Dê amor, alegria, sorrisos, role no chão e invente. Vire a palhaça!

Quando nos permitimos a brincadeira flui e todos se divertem!!!

Brinquem muito!!!

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05
CELULAR NÃO É
BRINCADEIRA
05
CELULAR NÃO É
BRINCADEIRA

ALERTA!!!

Sabia que o tempo que as crianças passam no tablet, celular ou televisão


não é considerado brincadeira?

POR QUE?

Porque apesar de ser prazeroso, não gera movimento, troca, exploração


e sensação. É uma via de mão única na qual a criança é passiva, simples-
mente sendo levada pelo que é mostrado na tela.

As telas podem até ser atividades de lazer, atrativas ou de distração, mas


a experiência que elas oferecem não gera aprendizagem funcional. Deste
modo, o que a criança aprende com as telas, fica como uma informação
“solta” na sua cabeça, que não é utilizada para nada em seu dia a dia.

Quando a criança joga no celular ou no tablet, por exemplo, um jogo de


encaixar, ela tem um visão 2D (pareou, achou o igual e acabou). Compa-
rado a um brinquedo de encaixar, se ela não colocar exatamente do lado
certo e na posição correta, a peça simplesmente não encaixa, igual um
quebra cabeça. Não existe respostas sem tentativas, e infinitas tentativas.

Os níveis de frustração entre jogos de telas e jogos “físicos” são exorbi-


tantemente diferentes. Nas telas, a criança tem nível frustração quase
zero pois, se não ganhar o jogo, a criança passa para outro. Já nos jogos
“físicos” a criança tenta conseguir múltiplas vezes. A cada tentativa uma
frustração mas, quando consegue, repete mais múltiplas vezes.

Os jogos físicos conseguem manter o interesse por mais tempo e a


capacidade de concentrar e ter atenção é maior. Oferecem estímulos
visuais, táteis, proprioceptivos e auditivos. No caso das telas, somente
estímulo visual e às vezes tátil, devido alguma vibração.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) reco-


menda o uso de telas SOMENTE a partir de 2
anos, e mesmo assim com limite de até 1 HORA
POR DIA. De preferência menos do que isso.

39
Até 2 anos, portanto, e para deixar bem claro, não é recomendado a
apresentação de nenhum tipo de tela.

Mas sabemos que nos tempos atuais é bem difícil manter as crianças
afastadas das telas.

Caso as utilize, faça-o de forma interativa. Pergunte, cante junto e se


levante para dançar na televisão.

Eu sei que celular e tablet são nossos pedidos de S.O.S., mas utilize
somente se precisar muito, porque pode prejudicar de verdade sua
criança.

O uso irrestrito de telas tem levado a diagnósticos de Transtorno de


Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e/ou Transtorno do Espectro
Autista (TEA).

Portanto fique atenta e brinque muito!

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06
COORDENAÇÃO
MOTORA GROSSA.
O QUE É E COMO
DESENVOLVÊ-LA?
06
COORDENAÇÃO MOTORA GROSSA. O
QUE É E COMO DESENVOLVÊ-LA?

A coordenação motora grossa é composta de atos cognitivos e motores


que envolvem todo o corpo, principalmente os grandes grupos muscu-
lares. Atividades como andar, correr, pular, chutar ou arremessar uma
bola são exemplos práticos.

Esses atos cognitivos e motores são as ligações entre as atividades


cerebrais e os comandos para os músculos. Correspondem tanto às
informações que chegam aos músculos e vão para o cérebro quanto
pelo caminho oposto. Isso ocorre na coordenação motora, no geral, tanto
a grossa, quanto a coordenação motora fina, a qual é assunto do próximo
capítulo.

Sabia que as habilidades em coordenar os movimentos de forma eficiente


e precisas iniciam no útero? Como assim?

Sabe quando o feto se movimenta? Aqueles chutes, cotoveladas e brin-


cadeiras com o cordão umbilical? Pois é! Nesse momento o feto já está
desenvolvendo suas primeiras atividades de coordenação motora.

Após o nascimento, as conexões neurais e os movimentos ocorrem com


mais intensidade. A criança está em um ambiente com mais estímulos
e, com isso, ela movimenta os olhos, percebe o rosto da mãe, do pai, do
irmão e tenta alcançá-los.

Junto com o crescimento do bebê há um aumento do interesse pelo


ambiente e pessoas. Isso inicia os marcos do desenvolvimento motor:
controle de cabeça, rolar, sentar, engatinhar, andar, correr e pular.

Depois que a criança atinge todas essas habilidades primárias ela


apresenta-se apta para aprender pular corda, andar de bicicleta, dar
cambalhotas, subir em árvores, andar de skate e o que mais ela e os
familiares desejarem.

Quanto maior a variedade de habilidades que a criança adquirir, melhor


será sua consciência corporal, dando mais capacidade para criança
desempenhar tarefas que exigem coordenação motora grossa.

O grande marco da coordenação motora grossa é o andar. Espera-se que

43
a criança adquira essa habilidade aos 18 meses, no máximo. Após esse
período já é considerado atraso.

Então fique alerta caso sua criança não tenha engatinhado e apresente
atraso para andar.

Outros pontos de atenção importantes são aquelas crianças que caem


muito, esbarram e tropeçam com facilidade e passam a sensação de que
não conhecem as dimensões do próprio corpo.

Atividades ao ar livre com outras crianças (umas


aprendem com as outras), correr, pular, subir em
árvores ou naqueles brinquedos com barrinhas
em cima e escaladas são atividades que estimu-
lam o aprimoramento da coordenação motora
grossa.

Mas nem sempre é possível fazer atividades ao ar livre, portanto é preciso


usar o que temos em casa. Então, vamos lá!

Brincar com trilhas utilizando vasilhas plásticas ou brinquedos para fazer


obstáculos em zigue-zague, passando por cima e por baixo
de cadeiras, mesinhas de madeira e pulando almofadas.

Outra brincadeira que exige bastante dos grandes


grupos de músculos é brincar de “carrinho de
mão”. Você pega a criança pelas pernas e ela tem
que se movimentar pelos braços até chegar em tal
ponto que você marcou. Procure fazer essa atividade
em um tapete, para evitar acidentes.

Brincar de pegar bolhas de sabão, brincar de que


não pode pisar em tal lugar, andar no meio fio, ou
pisar em apenas alguns pisos demarcados, pular
corda, elástico, macaco disse e piques, também são
brincadeiras que estimulam a coordenação motora
grossa.

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07
COORDENAÇÃO
MOTORA FINA. TEM
ISSO TAMBÉM?
07
COORDENAÇÃO MOTORA FINA. TEM
ISSO TAMBÉM?

A Coordenação motora fina, assim como a grossa, é composta dos atos


cognitivos e motores, porém envolvendo movimentos que necessitam
de mais precisão. Utiliza-se mais os membros superiores, especialmente
a mão e o acompanhamento visual adequado - o olho seguindo o movi-
mento das mãos.

Desenhar, escrever, apontar o lápis, recortar, utilizar a régua, digitar,


alimentar e alinhavar são exemplos de atividades que exigem coorde-
nação motora fina.

A motricidade fina envolve cinco funções funda-


mentais: agarrar; carregar ou transportar; soltar
voluntário; uso bilateral coordenado das mãos e
manipulação. (Serrano e Lutre, 2016)

As funções de agarrar, carregar e transportar são mais óbvias e auto


explicativas. O soltar voluntário é largar ou lançar um objeto de forma
consciente. A pessoa solta o objeto porque quer e não por “acidente”.

O uso bilateral coordenado das mãos é realizar tarefas que precisam das
duas mãos, com funções diferentes. Recortar uma folha de papel, por
exemplo, exige que uma mão segure o papel e a outra a tesoura.

Já a manipulação é a capacidade que temos em movimentar objetos


nas nossas mãos sem o apoio da outra como, por exemplo, segurar um
lápis de forma adequada.

O desenvolvimento da coordenação motora fina acontece como a


coordenação motora grossa. Desde o útero já se tem início as primeiras
conexões neurológicas, experiências sensoriais, motoras e afetivas.

Após o nascimento a criança depara-se com um novo mundo. São outros


sons e cheiros. Ela não enxerga muito bem, mas percebe que as objetos
e pessoas se movimentam, se afastam e se aproximam.

Aos três meses de vida o bebê começa perceber suas mãos, ele mexe
os braços “sem intenção” e esbarra em um objeto por meio de reflexo.

47
Quando vira a cabeça a mão se aproxima da boca.

Essas vivências informam ao bebê sobre o seu corpo e sua extensão, e


cria conexões neurais em um processo cíclico.

Quando o bebê começa a enxergar as próprias mãos, ele parece apaixo-


nado por elas. Isso é lindo! Ele olha, vira as mãos e as aproxima dos olhos.

Quando essa relação com a mão acontece e o bebê compreende que


é possível pegar objetos e em pessoas com essas mãos fantásticas, um
novo mundo nasce para ele.

Aos 6 meses o bebê consegue ficar sentado e vai


conseguir alcançar e levar mais coisas à boca,
pois agora existe para ele boca e mão, sua maior
fonte de aprendizado e prazer.

Com o aprimoramento das habilidades motoras grossas as crianças ficam


mais aptas para o aprimoramento das habilidades motoras finas.

Podemos concluir que, para termos crianças capazes de recortar, dese-


nhar, escrever, precisamos de crianças que tenham engatinhado, andado,
pulado, corrido e escalado, e que tenham conquistado o aprimoramento
necessário nessas atividades.

Caso a escola aponte dificuldades nessas práticas ou a família note que


algo está estranho, é necessário buscar ajuda o quanto antes.

Não espere que as exigências aumentem.

E como posso ajudar minha criança melhorar desempenho nas ativida-


des de coordenação motora fina?

O treino intenso é o que vai fazer sua criança


aprimorar as habilidades, mas deve partir da
criança o desejo da repetição. Então, inicial-
mente, se sua criança resiste a essas tarefas,
dê ela mais tempo e ofereça mais atividades
de coordenação motora grossa. Pode ser que
simplesmente ela ainda não esteja pronta.

De qualquer forma faça com que ela goste das tarefas, usando seus
personagens favoritos e temas legais. Participe das atividades! As crianças
adoram brincar com seus pais.

Façam atividade de desenhar, colorir e copiar desenhos, massinhas de

48
modelar, colocar contas (missangas) no barbante - isso pode ser feito
até com macarrão de sopa. As crianças se divertem muito com colagem,
podem recortar papéis grossos e finos, recortar a massinha (ótima forma
de fazer sua criança aprender recortar).

Escreva em superfícies diferentes, por exemplo


na massinha de modelar. Coloque uma folha
comum por cima de uma lixa de parede e
escreva. Isso vai promover sensação tátil para
sua criança. Outra brincadeira legal é colocar
miniaturas (lego ou animais) dentro da massi-
nha para sua criança encontrá-las.

Coloque “gominhas” de cabelo (daquelas de silicone) nos dedos e peça a


criança para colocar igual você. Ou além de ter que colocar ela também
terá que retirar. Você pode, ainda, colocar tempo para a criança imitar,
tornando a brincadeira ainda mais divertida.

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08
BRINCADEIRAS
PARA O PRIMEIRO
ANO DE VIDA
08
BRINCADEIRAS PARA O PRIMEIRO ANO
DE VIDA

O primeiro ano de vida é essencial para o bom desenvolvimento das


nossas crianças. Mas ao falar desses primeiros 12 meses, não, podemos
esquecer que já se foram 9 meses na barriga da mamãe.

Essa fase “pré-nascimento” é importantíssima, pois é no útero que ocor-


rem as primeiras experiências sensoriais, emocionais e nutricionais do
bebê, como já informado anteriormente.

Para pensarmos em brincadeiras para essa fase é importante conhecer-


mos o processo básico de desenvolvimento dessa faixa etária.

Do nascimento até os 3 meses o bebê busca aconchego, colo, balanço


e tudo aquilo que lhe remete o ambiente uterino. Por isso, é importante
oferecer esse acalento ao seu bebê.

Ele não gosta de atividades bruscas, intensas ou repentinas. A forma ideal


de abordar o bebê nessa fase é com calma, voz baixa, mãos aquecidas
e movimentos lentos. Dessa forma ele fica mais confiante e tranquilo, o
que evita choros desnecessários.

A partir do terceiro mês de vida seu bebê já está mais ativo, mais respon-
sivo e já sorri com maior frequência. O móbile nesse momento é ideal
pois, ao movimentar os bracinhos e perninhas, ele esbarra “sem querer”
e percebe que tem alguma coisa ali que faz barulho e que se mexe. Com
isso desperta o interesse para começar movimentar os membros de
forma intencional.

Nessa idade o bebê ainda não enxerga tão bem, então aconselho que
você posicione o móbile mais próximo do berço. Assim, quando a criança
se movimentar, ela irá esbarrar nele.

Converse com sua criança, faça caretas, abra e


feche a boca e os olhos.

Com 4 meses, posicione seu bebê de barriguinha para baixo. Coloque-o


no chão com tapetes apropriados e, caso ele fique incomodado com
essa postura, vá alternando ou faça um rolinho com uma toalha de

51
rosto e coloque debaixo dos braços, assim ele ficará mais confortável e
provavelmente irá gostar mais dessa postura.

Aos 5 meses é hora de colocá-lo mais sentadinho - até porque, mês que
vem, inicia a transição alimentar.

Então coloque o seu bebê sentadinho no canto do sofá e, como ele tende
a cair para frente, faça um rolinho com lençol ou toalha e coloque na
frente dele, pois isso o ajuda ficar mais firme. Pode ter certeza ele vai
adorar.

Caso perceba que o bebê ainda não está tão


preparado para ficar sentado, aguarde mais um
pouco, posicione-o mais de barriguinha para
baixo e depois volte tentar postura sentado.

Lembrando que nessa idade a criança começa dar alguns sinais de


possíveis atrasos motores. Portanto fique atenta e busque ajuda. Quanto
antes, melhor.

Aos 6 meses muitas crianças já se sentam e outras ainda não. Se a sua


já está sentando, é boa hora de apresentar os alimentos. Existem várias
formas dessa apresentação acontecer, portanto converse com o pediatra
e busque informações. Quanto mais você deixar a criança explorar o
alimento, melhor para o seu aprendizado e para a aceitação de variedades
de alimentos posteriormente.

Atividades que envolvam o uso da mão como pegar


objetos, passá-los de uma mão para outra, jogar no
chão e guardar no copinho são indicadas para idade
dos 7 meses.

Brincar de esconder, de preferência de uma forma


que a criança veja o adulto, por exemplo, pelas
grades do berço.

E chegou o momento de ouro: brincar


no chão!!!

Isso mesmo! Nesse momento é funda-


mental levar sua criança para o chão
e deixá-la descalça. Coloque-a em um
tapete emborrachado ou acolchoado e
posicione alguns objetos mais distantes
para ela tentar alcançá-los. Isso é divino!

52
Seja valente e coloque seu bebê no chão para
brincar!

Dos 7 aos 12 meses, a dica é deixar sua criança no chão. Isso mesmo! Vou
repetir até você se cansar de ouvir, mas é a melhor coisa que você pode
fazer para o desenvolvimento dela.

Sua criança está aprendendo a se locomover e, para isso, ela precisa estar
no local apropriado. Com isso a criança consegue ficar de gatinho para
depois se arriscar para engatinhar. Ao mesmo tempo ela começa se puxar
nos móveis para ficar em pé, andar de lado e, no final, andar sozinha.

Que alegria! Seu bebê fez 1 aninho de pura atividade e, provavelmente,


já anda por todo lado. Mas caso ele ainda não esteja andando, acalme-se
um pouco. Ele tem até 1 ano e 6 meses para isso. Lembre-se porém de
estimulá-lo bastante. Essa é a chave!

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09
BRINCADEIRAS
PARA O SEGUNDO
ANO DE VIDA
09
BRINCADEIRAS PARA O SEGUNDO
ANO DE VIDA

Agora é hora, hein? Muito movimento, parquinhos e pracinhas! Não que


antes não podia levar mas agora sua criança já tem mais habilidades
para isso e é legal começar o quanto antes.

Você vai observar que a partir de 1 ano e meio ela aproveita mais, e cada
vez mais.

Outra brincadeira fundamental que estimulamos nessa faixa etária é o


faz de conta. A grande maioria das crianças já fala algumas palavrinhas
e compreendem alguma coisa que falamos.

Nessa idade já são capazes de colocar a boneca para dormir e brincar


de comidinha. Quanto mais próximo de um ano menos complexo é o
faz-de-conta mas é brincando que se aprende.

Utilize recursos sensoriais táteis como espuma de barbear ou clara em


neve (que pode ser levada à boca), tintas, bolinhas de gel de jardim
(aquelas que crescem imersas na água), massinha de modelar, slimes,
grãos (arroz, feijão, sagu, milho), etc. Esses recursos podem ser utilizados
tanto para atividade de faz-de-conta, quanto apenas para exploração da
criança mesmo.

Crianças de 1 a 2 anos gostam de cócegas, de


pular no sofá ou na cama, de andar descalças, de
serem enrolados no cobertor e depois desenrolar
rapidamente, de serem jogadas para cima, de
esconder, dar e levar sustos e de girar no próprio
eixo.

E vamos deixar com que elas façam isso, tudo bem?

Sabe por que? Porque essas atividades corporais são NECESSÁRIAS para
o desenvolvimento delas! Sempre com supervisão de um adulto, ok?

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10
BRINCADEIRAS
PARA MINHA
CRIANÇA COMER
MELHOR
10
BRINCADEIRAS PARA MINHA
CRIANÇA COMER MELHOR

“Eca! Não gosto disso! Nem disso!”

É isso que você escuta todos os dias no almoço, jantar, ou até mesmo
nos lanches? Sei bem como é…

Mas vamos lá: a alimentação é muito dinâmica e envolve não só a criança


como toda a família. Depende de fatores orgânicos, emocionais e rotinas
familiares.

Para a criança comer bem ela precisa de quatro elementos e estes preci-
sam trabalhar juntos, independentemente se o alimento é saudável ou
não.

Eles são: Fome, habilidade, conforto e motivação.

A fome, sozinha, não é o suficiente para sua criança comer. Por esse
motivo as nutricionistas não indicam abridores de apetite.

A habilidade é necessária para a criança mastigar, lateralizar a língua e


identificar o alimento que está na boca para a tomada de decisão: o que
fazer com ele dentro da boca?

O conforto é primordial. Devemos sentir prazer e sensação de bem


estar com o que comemos. Caso contrário acabamos por cuspir aquele
alimento e, na próxima vez, iremos rejeitá-lo.

Por último a motivação, a qual está diretamente relacionada aos demais,


pois é necessário ter vontade e interesse em comer. Se não tenho fome,
habilidade ou conforto, minha motivação zera, e com isso não quero
comer.

É importante que você também compreenda


que a criança também é responsável pela sua
própria alimentação.

Como assim?

Isso mesmo, nós pais fornecemos os alimentos necessários, organizamos

57
a rotina, o lugar, a qualidade dos alimentos, incentivamos, cantamos
músicas, fazemos promessas e até meditamos, se precisar.

Mas, se quem ingere o alimento é a criança, então cada um faz a sua


parte. Portanto vamos ser felizes, sem desespero e sem forçar a criança a
comer. E principalmente: nada de televisão, tablet, celular e brinquedos
durante as refeições

Então, vamos lá: vou enumerar alguns questionamentos para pensar o


que pode está acontecendo com sua criança para ela não comer.

1- Ela cospe tudo? Só aceita certo tipo de textura (pastoso, líquido


ou crocante)? Alimentos com as mesmas cores? Com sabores
semelhantes (adocicado, salgado, azedo)?

2- Será que a dificuldade dela é em mastigar esse alimento?

3- Já investigou intolerâncias e alergias?

4- Sua criança tem intervalos entre as refeições, ou come o tempo


todo?

5- Ela tem um lugar para se alimentar?

6- Come pelo menos, uma a duas refeições com a família?

7- Como é a relação da criança com a comida? Ela pode brincar com


a comida? Ou ela não quer nem encostar no alimento?

Isso tudo deve ser observado e anotado com sinceridade para que seja
possível uma análise de todos os questionamentos acima.

As questões 1 e 2 estão frequentemente relacionados às disfunções de


processamento sensorial. Estas devem ser melhor avaliadas por um
terapeuta ocupacional habilitado.

Em relação às alergias, você pode consultar um gastroenterologista


pediátrico para realizar os exames necessários.

As questões 4, 5 e 6, dizem respeito à sua família. Crianças com


mais de 1 ano já podem ter intervalos entre as refeições definidos.
A partir dessa idade é esperado que a criança alimente-se com a
comida semelhante ou igual ao da família.

Como podemos fazer esses intervalos?

Podemos começar com intervalo de 1 hora sem oferecer nenhum


alimento. Depois aumentamos para 2 horas o que já é o suficiente para
crianças de até 2 anos e meio aproximadamente. Após essa idade, a
sugestão é que o intervalo seja de 3 horas, assim como nós adultos.

58
Durante os intervalos, é liberada a ingestão água.

Esse intervalo é fundamental para que seu filho tenha fome, um dos
requisitos indispensáveis para alimentar.

Tenha um lugar certo onde a criança crie a referência da alimentação,


com os utensílios (talheres, pratos e copos) adequados para sua idade, a
cadeira e a mesa com altura confortáveis, e de, preferência junto à mesa
da família. Melhor ainda que seja na mesma mesa, caso isso seja possível.

Quando a criança se alimenta junto da família, ela compartilha vivências,


saberes, aprende condutas sociais, participa, conversa, observa o que
os pais comem e como eles comem e cria vínculos. Esse momento é
a oportunidade para a família se fortalecer e se unir, então aproveite a
ocasião e organize-se para que ele sempre aconteça.

Ao oferecer o alimento para sua criança certifique-se de como você


está emocionalmente. Quando temos um filho que não se alimenta
bem, tendemos a ficar apreensivas, tensas, com medo ou ansiosas nos
momentos das refeições.

Aconselho que, antes desse momento, você procure se acalmar, tome


um banho, ouça uma música relaxante, medite ou escolha algo que
vai te deixar o mais tranquila possível.

Tenho certeza que essa conduta acima fará muita diferença na


alimentação da sua criança, pois elas conseguem sentir como
estamos emocionalmente e acabam ficando da mesma
forma como nos apresentamos para ela. Se estamos bem
ela fica bem, se estamos mal ela fica mal.

A pergunta 7, pode soar estranho para algumas pessoas,


que pensam “que coisa feia você brincando com a comida!”.

Pois é. Não é que pode brincar com a comida. E não só pode,


como DEVE BRINCAR!

As crianças aprendem brincando.


Essa é uma máxima da infância.
Tudo é uma brincadeira porque
crianças são seres brincantes por
natureza. E não precisa ter brin-
quedos para que elas brinquem.

Então, quando elas pegarem no alimento, o amassa-


rem e, às vezes, jogá-lo no chão, nós vamos deixar, porque

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ela só está conhecendo aquele alimento. Tudo é novidade para elas.
Então é preciso tocar, colocar na boca e até cuspir. Isso porque o sabor é
estranho para ela. Mas é assim que ela vai conhecer os alimentos, e eles
deixarão de ser novidade.

Lembrando que esse comportamento mais exploratório, de jogar no


chão e amassar, é mais esperado na introdução alimentar até uns dois
anos e 6 meses, aproximadamente.

Apresente os alimentos de forma gradual, poucos por vez. Se essa semana


vamos oferecer os alimentos que a criança já aceita, podemos acrescentar
um novo, ofertando de diferentes formas: cru, cozido, assado, frito, em
forma de bolinha, de árvore, do personagem… INVENTE! Quero que se
lembre sempre: SUA CRIANÇA GOSTA DE BRINCAR COM TUDO.

Escolha momentos diferentes dos horários das refeições para brincar com
os alimentos. Novamente: sei que isso pode soar ruim, porque tem muita
gente passando fome, mas, se sua criança tem dificuldade alimentar, a
melhor via para que ela coma é através do brincar.

Esse momento pode ser um pouco antes das refeições, pois assim o
contato com os alimentos estará agradável.

Brinque da lista de amigos “f ilha a cenoura quer ser


sua amiga, vocês brincaram tanto essa semana, você
topa?”, ou “tudo bem, você ainda não quer ser amiga
da cenoura, mas você pode dar um beijinho nela?”,
ou “um cheirinho, um carinho, uma lambidinha…
INVENTE!

Se você já leu meu livro “11 perguntas e respostas


para sua criança começar a comer”, deve ter
visto que, durante a brincadeira com os alimentos,
temos que ter em mente, o tempo inteiro, quatro
ideias principais:

COMPORTAMENTO RESPEITOSO

MOMENTO DIVERTIDO

PROCESSO LENTO E GRADUAL

RELAÇÃO DE CONFIANÇA

A brincadeira tem que ter o intuito de ser DIVERTIDA o


tempo inteiro e as regras podem ser da criança, com o
adulto sugerindo ideias como: “eu sei morder isso”, “eu
sei lamber”, “é doce”, “é salgado”, “tem gosto de bala”,
“olha o tomate escorrega no meu braço”, ou “sei fazer

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olhinhos com o tomate”.

O adulto DEVE comer, mas deve também evitar


palavras como “experimenta”, “prova” ou “come’.
Lembre-se que é só uma brincadeira e a criança
só vai comer se ela quiser.

Vamos brincar no tempo da criança, de forma RESPEITOSA e vamos


introduzir novos alimentos de forma GRADUAL, devagar. Sempre algum
alimento que ela gosta e um outro alimento novo.

Com a evolução, talvez esse alimento novo pode ir para o prato no mesmo
dia.

Agindo dessa forma, você irá construir com a sua criança uma RELAÇÃO
DE CONFIANÇA. Ela precisa confiar em você para se permitir experimen-
tar novos alimentos.

Comece dessa forma e tenho certeza de que será um sucesso!

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11
APRENDENDO A
PULAR
11
APRENDENDO A PULAR

Para a criança pular são necessários mecanismos motores, os quais


envolvem os músculos das pernas, pés, das costas, do pescoço; e de
mecanismos sensoriais dos sistemas tátil, proprioceptivo e vestibular.
Ambos os mecanismos devem conversar bem entre si para que o ato
de pular ocorra.

Esse movimento só é possível após a criança já


ter adquirido habilidade de andar com quali-
dade, com bom equilíbrio e agilidade. Estas
características são os sinais que ela já pode
pular.

Mas e quando ela já tem mais de 2 anos e ainda não pula, ou quando
pula e cai?

É provável que ela tenha um perfil mais sedentário, pois espera-se que
as crianças nessa idade gostem de pular. Algumas crianças podem ter
medo desse movimento, ou mesmo insegurança para realizá-lo. Mas
tenha claro na sua cabeça que pular é uma tarefa adquirida de forma
espontânea, assim como engatinhar e andar. Então se ela ainda não
adquiriu temos que investigar, e faça o que vou te ensinar.

Mas e aí? Como posso estimular meu filho a pular?

Existem superfícies que convidam a criança ter vontade de pular. Gosto


de comparar com a seguinte situação: você não come determinado
alimento, mas lhe oferecem em um prato extremamente bonito que você
acaba tendo vontade comer. E às vezes até se arrisca em experimentar.

São superfícies como trampolins, camas elásticas, infláveis, sofás, camas,


colchões e almofadões. A sensação que elas oferecem vão fazer com que
seu filho tenha vontade de pular. Os joelhos começam a se dobrar e você
pode ajudar segurando as mãozinhas para iniciar o movimento. Como
fica mais fácil para a criança, ela fica mais animada em fazer novamente.

É importante ter a presença do adulto pulando ou uma criança maior

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junto com a sua criança, pois assim ela aprende por meio do exemplo.
Com outra pessoa pulando, consequentemente obriga sua criança
manter-se de pé, exigindo maior equilíbrio e auxiliando para que ela
também faça o mesmo movimento para se manter na cama elástica,
por exemplo.

Outra forma legal, é segurar a criança por trás e pular com ela. De forma
que o pezinho dela saia e toque ao chão.

ALERTA!

Há crianças que são mais intolerantes a movimentos, irritam-se ou


ficam muito ansiosas. Com elas devemos ser mais CAUTELOSOS, evitar
movimentação excessiva. NÃO FORCE, não vá até o limite. RESPEITE
sua criança para que possamos conseguir com que o cérebro dela
compreenda que pular e se movimentar é DIVERTIDO.

Para essas crianças que não gostam de movi-


mento, evitem a cama elástica, trampolim e
infláveis, principalmente se estiver mais crianças
utilizando.

Caso utilize, vá somente você e a criança, e faça movimentos leves.


O mais indicado para elas são superfícies mais firmes, como a
cama, colchão e de preferência o próprio chão.

Praticando esses simples exercícios, rapidamente seu filho


estará pulando igual um sapinho!

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12
AJUDANDO
MINHA CRIANÇA A
ESCREVER MELHOR
12
AJUDANDO MINHA CRIANÇA A
ESCREVER MELHOR

A escrita é um processo complexo de aprendizado, pois além de envolver


a cognição, também é necessário ter adquirido coordenação motora
grossa e fina.

Também há grande diferença entre a escrita com a letra imprensa


(famosa caixa alta) e a letra cursiva. A primeira é mais fácil, tanto para
escrever quanto para reconhecer.

Mas a exigência escolar vai além e as crianças


precisam escrever com a letra cursiva, a qual
exige habilidade das mãos, destreza, ritmo,
velocidade, postura e controle visual - a criança
precisa acompanhar com os olhos o que as mãos
escrevem, e/ou olhar no quadro e realizar a cópia
do que está escrito para o caderno.

É com essa letra cursiva que mais nos preocupamos, sei disso. Mas vou
falar primeiro da letra imprensa, tudo bem?

Algumas crianças apresentam dificuldade na identificação da letra tanto


durante a leitura, quanto na escrita.

Só para ficar mais claro como ocorre a aprendizagem da escrita vou dizer
de algumas etapas que antecedem. Além do desenvolvimento motor
da coordenação motora grossa - engatinhar, andar e pular - e da coor-
denação motora fina, também temos o desenvolvimento do desenho.

O desenho começa a desenvolver-se, primeiro, quando as crianças


aprendem a segurar o lápis e entender que ele risca. Então, iniciam os
rabiscos e depois a criança começa riscar com intenção de desenhar. É o
que chamamos de garatujas. Em seguida surgem as garatujas nominais
- fazem rabiscos e dizem ser uma minhoca, o papai ou a mamãe.

Após as garatujas começam desenhos da figura humana: a cabeça, olhos,


nariz, boca, braços e pernas. Com o tempo a figura humana vai tomando
mais forma, ganhando corpo, cabelos, pés e mãos. Nessa fase a criança

67
consegue fazer um desenho de uma casa, árvore, nuvens e flores.

Concluído esse processo acima, a criança está pronta para escrever. Antes
disso, é como exigir de alguém dirigir um carro manual sem saber lidar
com as marchas e embreagem. É mais difícil e praticamente impossível.

Não estou dizendo que a criança precisa ser expert no desenho, mas ela
precisa de ter as habilidades básicas de desenho, para então exigirmos
um desenho mais detalhado que é a escrita.

Lembre-se de que a escrita é o desenho das letras.

Para evitar que as crianças se frustrem além do necessário ou se sintam


incapazes, vamos evitar de cobrar além do que elas possam oferecer. O
que podemos fazer é prepará-las.

Então vamos oferecer movimento para as crianças! Pular, balançar,


escorregar, fazer trilhas de passar por baixo, por cima e montar circuitos.

Após movimentar bastante vamos desenhar. Seja o circuito que realizou,


o recreio, a casa ou o desenho que gosta. E depois vamos treinar a escrita.

Tarefas de escrita realizados após atividades que envolvem movimentar


o corpo são melhor desempenhadas. Confiem em mim e faça o teste!

Na escrita imprensa podem ocorrer inversões das letras até aproxima-


damente uns 6 anos. Caso isso se perpetue após os 7 anos, recomendo
que busque auxílio de um profissional.

Nesse casos nós corrigimos a criança sempre com muito amor, calma,
respeito e sabendo que isso é processo natural, que tende a cessar.

A letra cursiva, que também é um desenho só que mais sofisticado, o


qual exige maior habilidade.

A grande questão ultimamente, é que as escolas


têm exigido essa modalidade de escrita cada
dia mais cedo, em crianças cada dia com menos
experiências motoras, as quais são a base
para ter êxito com a letra cursiva.

Dessa forma criamos um ciclo sem fim, de alto nível de exigên-


cia, para crianças pouco preparadas. Isso aumenta o número de
crianças com baixa autoestima por não conseguirem realizar o que
é exigido.

Pais desesperados porque o filho não cumpre as exigências escolares,


os filhos frustrados porque não respondem às demandas da família… e

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por aí vai! Os índices de suicídios infantis sobem, e nada é feito!

Mas o que fazer para meu filho melhorar esse letra horrível? Ninguém
entende nada!!!!

Vamos brincar? Isso mesmo! vamos colocar a meninada para subir em


árvores, parquinhos ou em lugares semelhantes.

Andar de “carrinho de mão” - segurando a criança pela a perna e ela


tem que se movimentar com os braços - para que ela busque objetos
espalhados pela sala ou concorrer com o irmão ou colegas para ver quem
chega primeiro. E, por favor... promova essas brincadeiras em tapetes ou
lugares acolchoados! Vamos evitar acidentes!

Escrever ou desenhar em uma folha de papel comum, mas com uma


lixa grossa de parede por baixo. Dessa forma terá muito estímulo tátil,
“acordando” os músculos das mãos e braços, que ajudam na escrita.

Faça treinos motores, que são aqueles de conti-


nuidade: zigue-zague, sequência pontilhada
das letras minúsculas (encontra facilmente no
google) e realize as tarefas no capítulo de coor-
denação motora fina. Todas elas!

Faça a criança escrever no espelho ou no azulejo do banheiro, pois,


estando em uma postura diferente, irá fortalecer e ativar os músculos
necessários para a escrita.

Delimite espaços para sua criança na folha, pois assim ela começa
ter consciência do tamanho da letra. Faça retângulos bem
delimitados e informe para ela que a palavra deve caber
dentro daquele espaço.

Não exija mais do que seu filho pode oferecer. Respeite seus
limites. Não é porque a escola que ele estuda é a melhor da
cidade ou bairro, que ela é a melhor para sua criança. Observe
e escute! Eles nos contam muito. Basta estarmos abertos para
ouvir!

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MINHA CRIANÇA
PARECE TER MEDO
DE BRINCAR NO
PARQUE
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MINHA CRIANÇA PARECE TER MEDO DE
BRINCAR NO PARQUE

“Não quero ir mamãe”

“Aqui tá bom”

“Não balança forte que eu não gosto”

“Tem muita gente lá, depois eu vou”

Essas são uma das falas da sua criança?

Caso sua resposta seja positiva, é necessário investigar melhor, pois


esperamos que uma criança goste de ambientes desafiadores. Quando
a criança tem medo desse tipo de lugar, precisamos saber o porquê.

Quando olhamos para algum lugar, objeto ou situação, baseado nas


nossas experiências anteriores, temos a capacidade de avaliar se somos
ou não capazes de executar, se será fácil ou difícil, e qual a motivação
que temos para executar tal tarefa.

E quais são os desafios oferecidos nos parquinhos?

Para as nossas crianças, inúmeros:

Estímulos sensoriais

Vestibular - balanços, outras crianças que trobam exigindo se equilibrar


para não cair;

Tátil - as texturas do brinquedos, as outras crianças que encostam e o


calor ou frio;

Proprioceptivo - o próprio movimento do corpo e o planejamento para


executar as ações;

Visual - cores, luzes, formas e os movimentos das outras crianças;

Auditivo - gritos, choros, barulho dos brinquedos e do pipoqueiro;

Olfativo - perfumes, pipoca e doces.

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Estímulos motores

Exigem da criança planejar como subir no escorregador, como manter


seu corpo no balanço, como fazer força para balançar mais forte ou deva-
gar, como variar a posição do corpo para sentir novas sensações, ou como
fazer a força necessária no braço para eu subir naquele brinquedo legal.

Interação social

A criança tem que esperar a vez dela, observar o outro, ter assunto,
compartilhar o brinquedo ou o balanço, observar que o colega consegue
mas ela não, perguntar o nome, falar o nome, etc.

Percebeu quantas informações sua criança tem


que processar? Se para alguns adultos essas
interações já podem ser difíceis, imagine para
uma criança? Se ela não se sentir segura ou
preparada para o parquinho, ela não vai achar
que esse ambiente é um lugar legal.

Mas como tornar esse lugar atrativo?

Primeiramente, você vai observar seu filho.

Responda essas perguntas:

1- O que ele mais gosta no parque? (balanço de qual tipo ou todos,


escorregador, crianças, areia, pula pula, sol, gira gira)

2- O que mais odeia no parque? (balanço de qual tipo ou todos,


escorregador, crianças, areia, pula pula, sol, gira gira)

3- Já tentou com ele sozinho? (pouco movimento de pessoas, ou de


crianças)

Após respondê-las, você vai construir o seguinte raciocínio:

O que ele mais odeia, nós vamos ficar longe, a princípio, e de preferência
levar em parques que não tenham as experiências que ele não gosta.

Agora o que ele mais gosta será o atrativo, para incentivarmos por meio
do brinquedo, ou experiência: “Vamos no escorregador hoje?”, ao invés
de dizer “Vamos no parquinho”.

E por que isso?

Porque quando dizemos “parquinho”, o termo engloba tudo o que a


criança gosta e o que ela não gosta. E aquilo que não gostamos, temos

72
lembranças mais fortes.

Quando dizemos que “vamos ao escorregador”, por exemplo, o foco


muda.

Não importa, se o que ele mais gosta no parque for a pipoca ou mesmo
a pessoa do pipoqueiro. A chave é focar no que ele gosta, dentro do
universo do parquinho.

Depois que você conseguir ressignificar esse


parquinho para seu f ilho, aos poucos, com
calma, você pode oferecer outros brinquedos do
ambiente.

Ao responder as perguntas acima, faça um lista em ordem decrescente,


partindo daquilo que ele mais gosta, para o que menos gosta. Utilize-a
para ir “reapresentando” os brinquedos e as oportunidades que o parqui-
nho dá para seu filho nessa ordem.

Mas e se eu deixar de levar no parquinho?

Bem. Eu acredito que, no fundo, você sabe que o maior prejudicado


será seu filho, ou sua filha. Os ambientes de parquinhos e playgrounds
são projetados para desafiar as crianças, obviamente de uma forma
lúdica, mas que exigem performances corporais, cognitivas e sociais
fundamentais para o desenvolvimento delas.

E se você não fizer esse esforço para que sua criança participe desse
momento, ela estará perdendo uma grande oportunidade de ser
melhor. Além disso você estará contribuindo para que sua criança
desista dos obstáculos da vida.

Portanto faça com que ela participe mesmo que de uma


forma diferente.

O importante é ir e brincar com que for confortável para ela.

Sem pressão.

Sem estresse.

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14
ECA, QUE NOJO!
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ECA, QUE NOJO!

Seu filho tem muita gastura de tudo? E agora?

Não gosta de pisar na grama, na praia é um caos até acostumar. Massinha


de modelar ou slimes, nem pensar. Tinta com os dedos de jeito nenhum,
também não tolera cortar cabelo, andar descalço, brincar com espuma,
buchas de banho, etiquetas, alguns tecidos, é seletivo alimentar e tem
dificuldade com escovação de dentes.

UFA!

Listei acima algumas dificuldades que as crianças com hipersensibilidade


tátil podem apresentar. Seu filho pode ter várias dessas dificuldades,
ou alguma. Mas isso pode ter grandes impactos na funcionalidade da
criança.

Essas dificuldades deixam as crianças irritadas, estressadas e com alto


nível de ansiedade, o que atrapalha o nível de atenção e concentração
da criança.

Exemplificando: Uma criança com uma roupa que a incomoda vai para
a escola. Chegando lá muitas crianças esbarram nela e a primeira brinca-
deira do dia é massinha de modelar - ela até brinca, mas não gosta muito.

“De repente” começa chorar e pede pela mãe. As


pessoas, sem compreender o que está aconte-
cendo, levam essa criança para outro ambiente,
e volta a brincar com a massinha. Pode até ser
que ela aceite, ou não. Isso vai depender da
quantidade de estímulo recebida antes dela
começar chorar.

A criança acima não conseguiu brincar com a massinha, porque o nível


de estresse dela estava alto.

Por que ela se irritou?

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Primeiramente estava com uma roupa que a incomoda. Seu cérebro não
interpreta bem aquele estímulo, então vamos imaginar que o “copo” da
irritabilidade começou a encher. Depois, as outras crianças esbarram
nela, e o “copo” enche mais um pouco. Por último foi oferecido outro
estímulo tátil, a massinha de modelar.

Provavelmente essa criança gosta de brincar com massinha de modelar,


mas como seu “copo” da irritabilidade está quase cheio, a chance dela
conseguir concentrar e brincar será quase zero.

O mesmo se aplica a uma menina que não tolera bem algumas texturas
de roupas, ou uma sandália, e vai fazer prova. Juntamente com a ansie-
dade da prova e com estímulos táteis que não são bem tolerados, o seu
potencial de concentração será praticamente nulo.

Tem muita coisa para ela pensar além do que ela precisa. Os batimentos
cardíacos estarão acelerados, assim como a respiração.

Por que estou exemplificando dessa forma?

Para você compreender a seriedade das “gastu-


ras”. Quando não tratadas e respeitadas a sua
criança pode sofrer muito.

Imagine que você foi fazer uma prova de concurso que você quer muito
passar. Você estudou muito, sabe a matéria, mas está ansiosa, pois você
precisa ser aprovada. Na sala que você vai fazer a prova tem ar condi-
cionado, e o seu lugar é exatamente onde bate aquele ventinho bem
gelado. Está um dia de muito calor e, claro, você não pensou em levar
um agasalho.

No início você até gostou porque estava muito calor, e aquele ar frio
estava bem gostoso. Mas um pouco antes de iniciar a prova você já tinha
se refrescado, e já estava começando a sentir frio.

Mas tudo bem. O fiscal te entrega a prova, e você pede para diminuir a
intensidade do ar condicionado, mas o fiscal diz que não seria possível.
Além da ansiedade aumentar com a entrega da prova, você estava com
frio e não tinha o que fazer. O que aconteceu?

Sua capacidade de atenção e concentração reduz consideravelmente,


pois o seu organismo não está com atenção plena na prova e, sim,
tentando regular suas sensações. O frio chega em determinado nível
que sentimos dor, então o nível de irritação vai aumentando!

É isso que acontece com as nossas crianças quando tem alguma sensa-
ção tátil que as incomoda. É comum achar que é bobagem, “só uma

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calça jeans”, mas o nível de estresse e ansiedade devido a uma calça
jeans é enorme.

Claro que, hora ou outra, nós vamos apresentar as texturas que as inco-
moda. Mas nos momentos propícios.

Que momentos são esses?

Aqueles nos quais não há nível de estresse, realizando atividades que


gostam muito e sentem prazer, por exemplo. Com isso o cérebro passa
a compreender que aquela sensação tátil não é “nociva”.

Os estímulos táteis que as crianças não aceitam devem ser oferecidos


para elas depois de atividades com movimentos vigorosos, como empur-
rar caixas pesadas, pular obstáculos, lançar objetos pesados ou se puxar
em um corda ou lençol.

Após essas tarefas ofereça, de forma lúdica e atraente, as texturas pouco


agradáveis e, antes que a criança se irrite, retire o estímulo, mesmo que
ela encoste minimamente ou nem encoste. Depois ofereça novamente
as atividades vigorosas.

Se a criança fizer vômitos ou apresentar muito estresse com a


textura, deixe para oferecê-la novamente após uma semana.
Depois desse tempo retorne com o estímulo tátil nessa ordem:

Atividade vigorosa -> textura -> atividade vigorosa.

Se insistir em oferecer essas sensações de forma que a criança


vai se irritar, com pensamento “ela tem que acostumar”, o tiro,
certamente, sairá pela culatra.

Está cientificamente comprovado que quando somos


expostos a estímulos entendido pelo cérebro como ruins
ou nocivos, quanto mais expostos a esses estímulos, mais
o cérebro compreende que ele é nocivo. Então, fazendo
um paralelo, só de olhar para aquela textura a qual temos
gastura, já somos capazes de sentir o incômodo.

Quando olhamos para uma injeção, por exemplo, somos


capazes de sentir a dor que ela provoca.

Então não adianta forçar. Este processo precisa ser com


muita calma e paciência.

Não desanime, mas vai com calma, muito amor,


entendimento e compreensão. Tudo dará certo na
medida do possível.

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NÃO FICA QUIETO
PRA NADA!
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NÃO FICA QUIETO PRA NADA!

Na sua casa é assim? A criança parece até que tem formiga no bumbum?

Essa inquietude, até uns 2 anos, é mais aceitável. Depois dessa idade,
porém, se o nível de atividade está muito alto, temos que investigar
melhor o que pode estar acontecendo, pois podemos estar com um caso
de disfunção de processamento sensorial. E essa é uma condição que
necessita de tratamento de integração sensorial. Sendo assim, busque
a ajuda de um terapeuta ocupacional.

Mas antes de buscar ajuda profissional temos


que avaliar se essa agitação atrapalha alguma
ocupação da criança, como alimentação ou
atividades que envolvem atenção e concentra-
ção - brincar de encaixes, carrinhos, bonecas,
sala de aula ou atividades escolares de casa.

Se a sua resposta for SIM, realmente busque ajuda, além de seguir as


recomendações que darei neste capítulo.

Essa criança, muito possivelmente, tem esse alto nível de agitação porque
precisa estimular o corpo e o cérebro, para que eles funcionem. Já deve
ter acontecido de você estar com sono e, para não dormir, se levanta,
pula, toma água, lava o rosto, come uma bala, ou faz algum lanche.

A agitação serve para acordar o cérebro e o corpo para que tenha atenção
e concentração para um tarefa.

Então, o que essa criança precisa???

Simples… de MOVIMENTO!

Isso mesmo! Ela precisa de atividade física. Dar umas voltas na rua, pular,
carregar peso - empurrar cesto de roupa suja, carregar a mochila - entre
outras atividades. Depois disso é bem possível ela conseguir se sentar à
mesa com a família para um momento de refeição mais tranquilo, por
exemplo.

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Mas temos que compreender que sua criança pode ter essa busca por
movimento porque o cérebro dela tem dificuldade de processar as infor-
mações vestibulares, aquelas responsáveis pelos movimentos do corpo.

Nesse caso, além das atividades descritas, também vamos oferecer exercí-
cios de balançar, girar no próprio eixo ou em torno da mesa, e apresentar
brincadeiras nas quais ela fique de cabeça para baixo ou deitada no chão.

Quando oferecer atividades de balançar ou girar, lembre-se de dar pausas


nos movimentos. Em uma brincadeira de girar, por exemplo, a criança
deve girar no máximo 10 vezes para um lado e depois mais 10 para o
outro. Nessa hora você brinca: “Parou! Agora para o outro lado!”

Caso você tenha uma rede em casa, deixe sua criança balançar no ritmo
dela por uns 2 minutos e, depois, você dita o ritmo. Se a sua criança estiver
muito agitada você vai balançar de forma mais linear e rítmica, dando
as pausas. “Parou! Vamos de novo”.

Temos também algumas crianças que são hipovestibulares. Estas são o


oposto das agitadas. Elas não buscam se movimentar, mas você observa
que elas também não ficam muito quietas quando sentadas.

Nestes casos devemos oferecer os balanços e giros, entretanto


de forma mais intensa, com mais vigor e mais pausas repen-
tinas. Os balanços devem ser sem ritmo e não lineares.

Colocar uma almofada em cima da cadeira para a


criança sentar,ou um tapete de textura nos pés
enquanto está sentado também ajuda muito.

Tenha calma e paciência com


a sua criança, pois ela pode
estar precisando somente desse
movimento para conseguir se
acalmar. E é justamente isso que
temos que oferecer, mas de uma
forma mais sociável e benéfica.

E quando mandamos a criança parar, ela não para e,


com isso, a colocamos de castigo, é como se alguém
te pedisse água e você oferecesse sal. A sede só vai
aumentar. Assim como o nível de irritação, frustração
e baixa autoestima.

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CONSIDERAÇÕES
FINAIS
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Agradeço a você por ter chegado até aqui e espero ter ajudado a entender
e auxiliar sua criança nas dificuldades sensoriais.

Conte comigo para o que precisar. Estarei à disposição em minhas redes


sociais e e-mail.

Vamos brincar sem regras, mas sabendo que brincar é coisa séria!

Um beijo!

Bárbara Moura
Terapeuta Ocupacional
CREFITO-4 15062 TO
barbara@pratinhofeliz.com.br

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REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Castro AG, Eickmann SH, Lima MC. Desenvolvimento sensório motor oral
e motor global de lactentes nascidos pré-termo. Temas sobre Desenvol-
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Serrano, Paula e Lutre, Cira de. A Criança e a motricidade fina. 2ª Edição,


São Paulo, Ed: Papa Letras,2016.

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