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AROMATERAPIA

AULA 2

Profª Juliana Horstmann Amorim


CONVERSA INICIAL

Nesta aula, trataremos sobre os óleos essenciais, cuja sigla é O.E, na


aromaterapia. Iremos compreender como os O.E interagem com o organismo
humano através do olfato e da epiderme, propiciando diferentes efeitos
fisiológicos, mentais e emocionais no corpo.
A partir dessa primeira explanação sobre como os (O.E) agem no
organismo, estudaremos sobre as propriedades específicas dos O.E, tanto as
propriedades sutis, ou seja, aquelas relativas à atuação terapêutica desses óleos
nos corpos emocionais, mentais e sutis, quanto as propriedades físico-químicas
que possuem.
Identificaremos nesses pontos o que propriamente são os O.E, de onde
são extraídos, quais os principais métodos de extração, qual a nomenclatura
utilizada para designá-los e suas composições químicas. A partir disso, será
possível identificar as principais características dos O.E e o porquê são
ferramentas terapêuticas tão valiosas no combate a diferentes mazelas de
saúde.

TEMA 1 – COMO OS O.E INTERAGEM COM O CORPO

Os O.E são formados por moléculas voláteis, que são os elementos


químicos responsáveis por seus aromas. Esses óleos possuem uma estrutura
altamente complexa e atuam no organismo humano de diferentes formas.
Podem entrar no organismo através do olfato e da absorção através da pele,
produzindo diferentes efeitos terapêuticos. Iremos, a seguir, compreender como
isto ocorre fisiologicamente.

1.1 O.E, o sistema límbico e a pele

As moléculas aromáticas voláteis, que se desprendem dos O.E quando


inaladas por nós, rapidamente atingem o sistema límbico, que é a parte cerebral
composta pelas amígdalas, tálamo, hipotálamo, hipocampo, bulbo olfativo e
outros elementos, como é possível observar na imagem a seguir:

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Figura 1 – Imagem do Sistema Límbico

CRÉDITO: Hank Grebe/Shutterstock

O sistema límbico, conforme destacado na imagem, é a região do cérebro


responsável por “arquivar” o arsenal de emoções experimentadas durante a vida.
É um circuito neural que regula o comportamento, os processos de
aprendizagem, as emoções, a memória, as funções endócrinas e as atividades
do sistema vegetativo, como funções digestivas, de circulação, de sede e de
fome, por exemplo.
Quando determinado aroma é inalado, atinge rapidamente esse sistema
que estimula sentimentos, memórias e outras funções. O olfato está, portanto,
conectado diretamente ao cérebro e transmite o aroma através de um sistema
sofisticado que engloba desde a recepção dos cheiros, a decodificação das
moléculas voláteis, até o envio das informações ao bulbo olfativo. Quando o
aroma entra na cavidade nasal, suas moléculas são absorvidas pelo tecido
epitelial, conforme aparece na imagem a seguir e entram na corrente sanguínea,
produzindo efeitos físicos.

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Figura 2 – Imagem do Sistema Olfatório

CRÉDITO: Medicalstocks/Shutterstock

Além disso, o tecido epitelial, através de seus receptores olfativos,


compostos por milhões de terminações nervosas, decodifica as moléculas
químicas presentes nos aromas e transmites tais informações através de
impulsos elétricos, para o bulbo olfatório.
Considerado o principal sentido do “cheiro”, o bulbo olfatório é uma
estrutura chave na forma como percebemos e distinguimos o olfato e é quem
transmite aos outros setores do sistema límbico as informações recebidas. Esse
sistema é responsável pela produção de substâncias neuroquímicas, como a
serotonina, que produz sensação de relaxamento, as endorfinas, que atuam
amenizando dores, e as encefalinas, que promovem sensação de bem-estar.
De acordo com Price (1991, p. 61),

já se chamou o sistema límbico de rinencéfalo e também de “cheiro do


cérebro”; pelo fato de nele serem guardadas as memórias passadas,
os aromas têm sido utilizados com sucesso na estimulação das mentes
que sofrem de amnésia.

Esse sistema é, portanto, considerado, em nível fisiológico, o centro das


emoções e possui funções extremamente importantes. Desse modo, quando os
aromas são inalados provocam efeitos profundos e afetam as emoções, as
memórias e alguns importantes impulsos físicos.
Os O.E podem também interagir com o organismo através da pele. O
tecido epitelial possui a característica de ser permeável, tornando possível a
absorção de substâncias que entram em contato com esta superfície. Quando
os O.E são aplicados na pele, suas moléculas são absorvidas pelos poros e

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folículos capilares, adentrando as camadas mais profundas, chegando ao tecido
muscular para, em seguida, se espalhar por todo o corpo através da corrente
sanguínea, atingindo órgãos e sistemas específicos. Alguns pontos da pele
possuem vasos sanguíneos mais próximos à superfície, e a aplicação de O.E
nesses locais, como têmporas, pulso e nuca, acelera sua absorção e produz
efeitos mais rápidos.
Pelo fato de possuírem uma grande quantidade de elétrons livres, os O.E,
quando entram em nosso organismo, elevam a quantidade de oxigênio dentro
das células, atuando como excelentes antioxidantes naturais, combatendo os
radicais livres presentes nas células, que causam envelhecimento precoce e um
ambiente propício para o desenvolvimento de doenças.

TEMA 2 – QUALIDADES DOS O.E

Os O.E são substâncias com estruturas sofisticadas e que possuem


muitas qualidades terapêuticas. Estas variam de acordo com uma série de
fatores relacionados aos ciclos vitais de cada vegetal. Estamos, portanto, diante
de uma grande ferramenta de cura. O que torna os O.E tão ricos em
propriedades terapêuticas é o fato de serem completamente naturais, sendo
considerados, inclusive, a parte mais importante da planta. Além das
propriedades químicas, os O.E carregam uma energia particular, que alguns
pesquisadores e terapeutas chamam de “inteligência bioquímica”. Segundo o
especialista em O.E, o doutor Daniel Peonel, cada

planta aromática se apresenta à nós como um compositor genial.


Brincando com a riqueza da diversidade e da variedade, ela nos mostra
que é capaz de elaborar, ao final, uma composição aromática com
dezenas ou centenas de componentes diferentes, admiravelmente
reunidos, desafiando totalmente o nosso entendimento racional e a
nossa estimativa razoável! (Peonel; Daniel, p. 3)

Estamos, portanto, diante de formas de vida e de consciência que


possuem muitas informações em seus códigos genéticos e que têm diversos
tipos de bioenergias (Posser, 2016) capazes de sanar diferentes enfermidades
que nos acometem. Dessa maneira, através dos O.E, estamos em contato com
uma ferramenta natural que contém energia vital, com potenciais curativos muito
altos, conforme destaca o estudioso dos O.E, Malte Hozzel:

Desde os poderosos fenóis, presentes no óleo de orégano por


exemplo, às sutis cetonas do óleo de Sálvia, vibram inúmeros mistérios
do plano evolutivo da vida. As plantas medicinais e seus óleos

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essenciais fazem o invisível visível. Exibem padrões de energia,
saberes, formas, cores e fragrâncias que estão ligadas diretamente aos
seus poderes curativos. (Hozzel, 2017, grifos nossos)

As substâncias sintéticas, portanto, não possuem “energia vital”. Assim,


na aromaterapia, utilizamos apenas elementos orgânicos e naturais, não
sintetizados. Este é um dado importante, haja vista que muitas essências
sintéticas são comercializadas, principalmente para uso cosmético. É importante
destacarmos as diferenças entre essências e O.E, uma vez que são substâncias
completamente diferentes.

2.1 Diferenças entre O.E e essências sintéticas

Os aromas presentes nos O.E estão presentes em todo o reino vegetal e


são o resultado de processos bioquímicos complexos que acontecem no interior
das plantas e que estão diretamente relacionados ao meio em que se encontram,
submetidos ao solo, ao clima, e outros fatores (Simões; Spitzer, 2003).
Se cada O.E carrega o princípio ativo da planta, sua “alma”, é importante
frisar que existem diferenças entre os O.E, que são os extratos naturais
produzidos pelas plantas, e as essências aromáticas, que são sintéticas,
produzidas em laboratórios. Por conseguinte, trata-se de duas substâncias
distintas em sua estrutura, pois as essências aromáticas, ao serem produzidas
sinteticamente, levam adição de solventes, enquanto os O.E são puros, são a
parte fundamental das plantas.
No mercado, as essências sintéticas são mais baratas em relação aos
O.E e são largamente usadas na indústria cosmética, no entanto, essas
essências possuem qualidade muito inferior em relação ao O.E, e não possuem
potencial terapêutico para a aromaterapia, podendo inclusive ter
contraindicações para a saúde.
Pesquisas demonstram que os O.E produzem efeitos curativos mais
ativos quando são aplicados em sua totalidade, ou seja, quando seus
componentes não são isolados ou sintetizados quimicamente em laboratórios.
Uma pesquisa ficou muito conhecida, ainda no começo do século XX,
realizada pelo pesquisador Cuthbert Hall em 1904, que comprovou que o O.E
usado de forma integral possui maior eficácia em relação ao uso de seu principal
componente químico isolado, demonstrando, por exemplo, que o O.E de
eucalipto globulus tem poder terapêutico muito superior ao eucaliptol, o

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componente isolado. Isso demonstra que a estrutura orgânica do O.E é
realmente complexa, não somente por sua estrutura química, mas por conter
energia vital, cujo valor terapêutico atua de várias formas, diferentemente dos
compostos sintéticos, que agem de uma única maneira (Corazza, 2002).

TEMA 3 – PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS DOS O.E

Os O.E são substâncias que, além de atuarem no corpo mental,


emocional e energético, possuem também diversas qualidades farmacológicas,
podendo apresentar propriedades anti-inflamatórias, analgésicas, antissépticas,
calmante, cicatrizantes entre outras.
As principais características físicas e químicas dos O.E é o fato de serem
altamente concentrados e muito voláteis (qualidade que confere o aroma),
possuírem aspecto oleoso e espessura líquida em temperatura ambiente
(Simões; Spitzer, 2003).
Os O.E podem ser facilmente diluídos em óleos vegetais e em álcool para
serem usados em massagens, já que são rapidamente absorvidos pela pele.
Alguns apresentam qualidade mais viscosa, podendo ter alguma tonalidade em
sua coloração, como é o caso do O.E de canela e do O.E vetiver, que
apresentam coloração amarelada, ou ainda do O.E de camomila, que apresenta
coloração azulada, porém a maioria dos O.E é incolor. São isentos de gorduras
em sua composição, são diferentes, portanto, de outros óleos, como os óleos
vegetais fixos, que possuem estrutura lipídica.

3.1 Localização do O.E no vegetal

Os O.E são produzidos pelas plantas em seus tecidos vegetais, que se


localizam em suas estruturas internas, como em células, canais e cavidades
secretoras e em suas estruturas externas que ficam na superfície (Apezzato;
Guerreiro, 2006). Nos vegetais, esses óleos possuem diferentes funções: os
protegem contra predadores e variações extremas de temperatura, ativam seu
metabolismo de crescimento, regulam a maturação e envelhecimento de folhas
e frutos e contribuem para sua reprodução, atraindo insetos polinizadores (Siani
et al, 2000).
O O.E pode estar distribuído por diferentes partes do vegetal em
quantidade e composições distintas, em estruturas denominadas tricomas que

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se rompem naturalmente espalhando suas moléculas aromáticas,
caracterizando o aroma particular de cada vegetal.

Figura 3 – Superfície da folha de orégano vista de microscópio

CRÉDITO: STEVE GSCHMEISSNER/SPL/SUPERSTOCK/GLOW IMAGES


São essas estruturas da imagem acima, os tricomas, que são partidas nos
processos para extração do O.E. A seguir, exemplos de O.E e suas respectivas
localizações no vegetal: O.E de vetiver é extraído das raízes do vegetal; O.E de
canela e de sândalo das cascas do tronco; O.E laranja e limão das cascas dos
frutos; O.E de mirra e de olibano das resinas; O.E de eucalipto e de capim-limão
das folhas e O.E de camomila e jasmim das flores. Isso significa que, nesses
vegetais, a maior quantidade de tricomas localizam-se nos respectivos locais de
onde os O.E são extraídos.

3.2 Fatores que influenciam a produção dos O.E

A composição química dos O.E é bastante complexa, pois é influenciada


por diferentes fatores. É possível elencar os seguintes fatores que influenciam a
produção dos óleos:

• Parte do vegetal de onde o O.E é extraído: raiz, rizoma, caule, cascas de


madeira, cascas do fruto, resina, folha, flor ou fruto.
• Método de extração do O.E.;
• Quimiotipo: que são os fatores ambientais nos quais a planta se
desenvolve e é coletada – Temperatura, luminosidade, estação, solo,
água, estágio de desenvolvimento, período da coleta da planta;
• Geotipo: trata-se da localização geográfica do cultivo da planta. Com base
nessa, informação se faz a identificação botânica da planta e seu
respectivo nome científico.

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O O.E pode ser obtido de duas plantas que possuem a mesma classe
botânica e, ainda assim, apresentar estruturas químicas diferentes que irão
produzir efeitos terapêuticos também distintos. Não existem, portanto, duas
plantas com aroma idêntico. Dois O.E extraídos de uma mesma planta
apresentam aspectos semelhantes, mas podem sofrer variações quando são
retirados de partes diferentes, como talo e folha, por exemplo.
Por isso, cada óleo apresentará composições químicas particulares e que
alteram suas qualidades aromáticas. E mais, mesmo os O.E extraídos da mesma
parte de uma mesma espécie de planta podem ter diferenças, pois, de acordo
com o que foi listado acima, fatores como formas de extração, Quimiotipo e
Geotipo produzem variações físico-químicas significativas no produto final, uma
vez que muitos processos bioquímicos, produzidos pelas plantas, são
suscetíveis a essas variações (Simões; Spitzer, 2003).
Nem todas as plantas possuem O.E com o aroma marcante e, nesses
casos, esses óleos não são extraídos para fins de aromaterapia.

3.3 Nomenclatura correta dos O.E

Os fatores relativos à produção do O.E devem constar nas informações


contidas na embalagem do O.E comercializado. Assim, existe uma padronização
na forma de inserir essas informações. Exemplificaremos um modelo padrão de
embalagem de O.E por meio do exemplo do O.E de alecrim, que possui mais de
duas variações de Quimiotipo (de acordo com os fatores ambientais de onde é
produzido) e de Geotipo (local), sendo distintos entre si. Em toda embalagem de
O.E, devem constar as seguintes informações:

• O nome comum da planta: alecrim (usado como exemplo).


• O nome científico da planta: Rosmarinus officinalis.
• A Quimiotipia: identificada pela sigla QT. Exemplo: alecrim. QT Cineol.
• A sigla QT identifica qual substância química é predominante no
composto, que, neste exemplo, é o Cineol. 1 Há também o O.E alecrim.
QT Verbenona 2 e o alecrim QT Canfenona 3.

1
O alecrim QT Cineol é um O.E que contém mais eucaliptol. É parecido com o Canfenona, mas
é menos estimulante.
2
O alecrim QT Verbenona contém mais verbenona. Apresenta as mesmas funções somadas a
propriedades regenerativas para o fígado.
3
O alecrim QT Canfenona contém mais cânfora. É estimulante do SNC, indicado para
congestões nasais e pulmonar
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• A Geotipia: localização identificada pela sigla GT. Exemplo: alecrim QT
Cineol/GT Brasil.
• Informações sobre: origem, extração e composição da planta. Exemplo:
Brasil. Destilação a vapor. Composição: Rosmarinus officinalis leaf oil. A
composição pode ainda ser especificada pela composição química.
Exemplo: terpinen-4-ol 10-52%/ terpineno- 6-20%.
• Informações sobre a marca e registro sanitário, dados sobre lote,
fabricação e validade.

Para realizar a compra de um O.E seguro, é importante verificar se o


recipiente atende a todas especificações: se o produto é puro, isto é, não foi
misturado a algum componente sintético, se o recipiente é de vidro escuro
(maneira correta de conservar o produto) e se está devidamente lacrado.

TEMA 4 –MÉTODOS DE EXTRAÇÃO

Como a localização dos óleos varia em cada planta, em algumas se


encontram distribuídos entre raiz, caule, tronco, folhas, frutos e flores, em outras
em apenas uma dessas partes, o método de extração também obedecerá a
localização do óleo no vegetal. A seguir conheceremos os quatro métodos mais
utilizados.

4.1 Destilação ou arraste por vapor

A destilação é o método mais usado para extração de O.E de madeiras,


ervas e flores e, no Brasil, é o método mais utilizado comercialmente (Simões,
2003). A extração do óleo ocorre pelo contato do vegetal com a pressão do vapor
produzido por água em ebulição. Na medida em que o vapor percorre o
recipiente em que estão dispostas as plantas, o calor produz o rompimento das
paredes celulares do vegetal, liberando o óleo que se mistura ao vapor, que é
em seguida condensado por resfriamento para que o óleo se separe da água e
possa ser recolhido.

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4.2 Maceração ou enfloração

A maceração, também chamada de enfloração (termo oriundo do francês:


enfleurage), é o método escolhido para extração de óleo de flores delicadas,
como as rosas e o jasmim, por exemplo. É uma técnica bastante trabalhosa e
demorada, o que torna o produto final mais caro.
Inicia-se organizando as pétalas das flores em bandejas cheias de
gordura vegetal em temperatura ambiente para que as flores fiquem ali
repousadas, sendo substituídas quando secam, em intervalos de tempo, até a
saturação total, que pode levar dias.
Após esse processo, o óleo das flores estará depositado sobre a gordura
da bandeja e as substâncias aromáticas serão separadas dessa pomada por um
processo de liquefação com o uso de álcool, chamado de défleurage. Essa etapa
é demorada e pode levar até três meses para que ocorra a separação. O aroma
deste produto final fica mais acentuado que o obtido em outros processos, e com
grande qualidade terapêutica.

4.3 Extração com solventes orgânicos

A extração também é um método lento e seus custos também são


elevados e é usado para extração de óleo de plantas delicadas, como flores de
rosa e néroli, que não podem ser obtidos por outros processos. É realizado por
meio de dissolventes, como o álcool, para a obtenção de resinas. Em
temperatura ambiente, as flores são dispostas num recipiente e sobre elas é
colocado o dissolvente, para que o óleo essencial se dissolva nesse líquido, que
irá naturalmente evaporar-se, dando lugar a uma pasta semissólida. Essa pasta
é então liquefeita em álcool para que a solidez da cera seja eliminada e apenas
o óleo se preserve como produto final.

4.4 Prensagem ou expressão

A prensagem, ou expressão, é uma técnica usada para obtenção de O.E


cítricos, obtidos a partir da casca de frutas, como a laranja e o limão. Por meio
da prensagem das cascas, o óleo essencial contido nelas é separado.
Atualmente, são usadas máquinas para realizar essa separação por decantação,
centrifugação ou destilação fracionada (Simões, 2003).

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4.5 Hidrolatos

Após o processo de destilação dos óleos (feita pela vaporização de água,


conforme vimos) resta a água do processo. Essa água é denominada Hidrolato,
Hidrossol ou ainda Água Floral. É uma substância não alcoólica que contém os
resquícios de O.E (contém de 0,05 a 0,20g de O.E por litro), o que lhe confere
fragrância semelhante ao do O.E e grande valor terapêutico.
Por ser mais suave, o hidrolato pode ser usado em bebês, crianças
pequenas, idosos e, também, em animais (Hinde, 2017). São excelentes anti-
inflamatórios e antissépticos, sendo muito recomendados para uso tópico como
tonificantes, pois possuem o ph entre 4 e 6, ideal para a pele. Os hidrolatos mais
conhecidos são a água de lavanda, a água de melaleuca e a água de rosas e
não podem ser produzidos sinteticamente em laboratórios.

TEMA 5 – CLASSIFICAÇÕES QUÍMICAS E PROPRIEDADES DOS O.E

Os O.E podem ser classificados de diferentes maneiras. A seguir,


conheceremos as classificações químicas dos O.E e suas propriedades relativas
às partes da planta de onde são extraídos.

5.1 Classificações químicas dos O.E

A estrutura química do O.E é composta basicamente por oxigênio,


hidrogênio, carbono e outros elementos orgânicos que irão compor o aroma e as
propriedades terapêuticas particulares de cada óleo. Essa composição é um
equilíbrio formado pela concentração e combinação de moléculas químicas
abarcados em grupos conhecidos na química orgânica, como aldeídos,
terpenos, álcoois, ésteres, cetonas e fenóis.

• Aldeídos: possuem ação sedativa, anti-inflamatória, antiviral e


antisséptica. Exemplos de O.E ricos em aldeídos: melissa, citronela,
eucalipto, capim-limão.
• Álcoois terpênicos: possuem ação solvente, antiviral, antisséptica,
bactericida e ação imune estimulante. Por possuírem teor tóxico, devem
ser usados com cautela. Exemplos de O.E ricos em álcoois: gerânio,
melaleuca, néroli.

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• Ésteres: possuem ação antiespasmódica, sedativa e fungicida. São muito
indicados para inflamações na pele. Os ésteres são formados a partir de
uma reação entre um ácido e um álcool e possuem aroma bastante
agradável. Exemplos de O.E ricos em ésteres: lavanda, bergamota,
camomila romana, sálvia eslaréia, gerânio.
• Cetonas: possuem forte ação descongestionante das vias respiratórias,
diminuindo o excesso de muco. Possuem alta ação de regeneração
celular, com alto poder cicatrizante do tecido epitelial, combatem também
vermes e micoses. Em pequenas doses, possui efeito calmante, porém
doses altas e uso prolongado podem causar efeitos tóxicos no organismo.
Exemplos de O.E ricos em cetonas: hortelã, sálvia esclareia, cedro poejo,
verbena, vetiver, orégano, hissopo, cipreste, orégano.
• Fenóis: possuem ação estimulante atuando no sistema imunológico. São
antissépticos e têm alta eficácia contra infecções produzidas por
bactérias, fungos, parasitas e vírus. Possuem substância irritante para a
pele e para mucosas, por isso devem ser usados em baixa concentração
e diluídos em óleo carreador. Exemplos de O.E ricos em fenóis: orégano,
sândalo, cravo, canela, néroli, manjericão, tomilho.
• Terpenos: são os elementos mais encontrados nas estruturas químicas
dos O.E. Possuem excelentes propriedades bactericidas, anti-
inflamatórias, antiespasmódicas, antivirais. São ativadores das funções
das glandulares e elevam o nível de oxigênio no cérebro, ativando as
funções das glândulas pineal e pituitária. Também atuam sobre o fígado,
auxiliando em processos de desintoxicação do organismo. Exemplos de
O.E ricos em terpeneos: os cítricos em geral, limão, pinho, vetiver,
patchouli, camomila matricária, néroli, alfavaca, olíbano, ylang-ylang.

5.2 Propriedades dos O.E

Podemos classificar os O.E em seis grupos: os óleos florais, os cítricos,


os de resinas, os de folhas, os de talos, e os de raiz.
Os O.E florais são extraídos das flores. De forma geral, são óleos que
acalmam o sistema nervoso central, amenizando quadros de ansiedade,
estresse, fadiga emocional e mental. São O.E que atuam na regeneração das
células, auxiliando no equilíbrio de forma geral. São bastante indicados para

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tratamentos de pele, principalmente para cicatrização de feridas e queimaduras.
Exemplos: gerânio, rosa, lavanda e camomila.
Os O.E cítricos são aqueles extraídos da casca de frutas. Possuem aroma
marcante e propriedades que aliviam quadros de depressão e tristeza,
estimulando a leveza e a alegria. São antissépticos naturais e podem ser usados
para tratamento de infecções variadas. São recomendados para desintoxicação
do organismo, limpam e regulam o apetite. São usados em tratamentos estéticos
de redução de inflamações na pele, acnes e celulites. Exemplos: bergamota,
laranja doce, tangerina, limão.
Os O.E de resinas são obtidos a partir de resina produzida por alguns
vegetais. São indicados para acalmar estados mentais agitados. Indicados para
meditação, pois elevam os pensamentos. São muito utilizados para limpezas de
ambientes. Essas essências quando misturadas às essências cítricas são
excelentes para tratamento de infecções de pele. Exemplos: mirra e olíbano.
Os O.E obtidos a partir dos talos das plantas geralmente possuem aroma
mais acentuado. São bons para serem usados como repelentes. Têm
propriedades terapêuticas que produzem relaxamento e clareza mental. Além
disso, possuem substâncias que suavizam e tonificam a pele. Exemplos: canela,
alecrim, lavanda e menta.
Os O.E obtidos a partir das folhas possuem efeitos terapêuticos eficazes
na redução de confusões mentais, desânimo, tristeza e apatia causadas por
experiências traumáticas. São óleos estimulantes que elevam o ânimo,
aumentam a concentração e a disposição física. Exemplos: orégano, funcho,
alfavaca.
Os O.E obtidos das raízes das plantas geralmente possuem aroma
marcante e qualidade mais viscosa. Indicados para tratar cansaço nervoso.
Exemplos: vetiver.

NA PRÁTICA

Desde o momento em que acordamos até o fim do dia, milhares de


aromas interpelam nosso sentido olfativo, produzindo variadas sensações em
nosso organismo, através da ativação do sistema límbico. A auto-observação é
o primeiro passo para aprofundar os estudos sobre as propriedades específicas
dos O.E.

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É possível identificar os aromas presentes num ambiente e qualificá-los
de acordo com o gosto pessoal: se são considerados agradáveis ou não. Com
base nisso, pode-se identificar a quais memórias e sensações tais aromas
remetem, observando, em seguida, se há alterações, mesmo que sejam
mínimas, no corpo fisiológico, como batimentos cardíacos, respiração e
salivação, por exemplo.
Ao passo que esse exercício acontece, torna-se plausível perceber e
classificar o aroma chave predominante no momento da reflexão e como esse
aroma chave age produzindo efeitos no sistema límbico. Assim, ao observar as
sensações provocadas pela inalação de determinado aroma, é possível
identificar quais emoções registradas no organismo são ativadas através do
olfato, e com esse dado, identificar de que maneira a ação terapêutica através
da aromaterapia ocorre.
Essas etapas podem levar minutos, mas são capazes de nos colocar num
estado de atenção mais efetivo ao modo como somos muito estimulados pelos
aromas, que incidem diretamente em nossos estados mentais, emocionais e
físicos. Sentir e pensar os aromas: um exercício de auto-observação e prática
para aromaterapia.

FINALIZANDO

Os aromas presentes nos O.E entram no nosso organismo através do


olfato, que é composto por diferentes estruturas conectadas ao sistema límbico,
região cerebral considerada o centro das emoções, responsável pelas funções
endócrinas, de aprendizagem, comportamento e armazenamento de memórias
registradas ao longo da vida.
Pelo olfato estar diretamente conectado ao sistema límbico, quando as
moléculas voláteis dos O.E são inaladas, entram no organismo rapidamente,
agindo diretamente sobre as emoções, sem antes passar por um crivo
considerado racional, como ocorre através de estímulos de outros sentidos,
como a audição e a visão, por exemplo.
Através da pele, os O.E também são absorvidos, percorrendo todo o corpo
através da corrente sanguínea, produzindo diversos efeitos. É por esse motivo
que os O.E atuam profundamente tanto no corpo físico, quanto no mental e no
emocional conjuntamente, combatendo diversos desequilíbrios. Os O.E
possuem tal eficácia na restituição do equilíbrio do organismo de uma forma

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integral, pois possuem propriedades particulares que são extremamente
benéficas para a saúde.
Um dos principais motivos é que os O.E são óleos naturais que possuem
composições químicas altamente diversificadas e complexas. A grande potência
terapêutica que os O.E, portanto, possuem advém do fato de serem extratos
concentrados presentes nas células vegetais, sujeitos à diferentes variações
químicas que ocorrem no interior desses organismos, sendo considerados a
essência da planta.
Os O.E existem em abundância na natureza e não são passíveis de serem
recriados em laboratórios. De tal modo, a qualidade de um O.E não é comparável
às qualidades de uma essência sintética, pois estas não possuem as
propriedades presentes nos óleos naturais e, na aromaterapia apenas utiliza-se
os óleos naturais.
Os O.E se formam em diferentes partes das plantas e vários fatores
incidem sobre a composição química de cada O.E, desde o Geotipo e o
Quimiotipo, ou seja, as características climáticas e geográficas de onde o vegetal
se desenvolve, ao período em que são colhidos para realização da extração do
óleo.
Os principais métodos de extração de O.E são: destilação, maceração,
extração e expressão. Da técnica de destilação, além do produto final, que é o
O.E, resulta uma substância conhecida como hidrolato, que por conter resquícios
de O.E, possui grande valor terapêutico e pode ser encontrando nos mesmos
locais que comercializam O.E.
Os O.E comercializados seguem padrões de segurança que devem ser
observados na hora da compra, como especificações sobre suas propriedades
na embalagem. Além do nome vulgar e científico, informações a respeito de sua
composição devem estar listadas. Os O.E são classificados de acordo com suas
composições químicas, que conferem distintas características para cada O.E,
divididos entre os que possuem em suas fórmulas maior concentração de
aldeídos, álcoois terpênicos, ésteres, cetonas, fenóis e terpenos.
Pode-se, também, classificar os O.E de acordo com suas propriedades
relativas à forma de extração, sendo agrupados em O.E florais, cítricos, de
resinas, de folhas, de talos e de raízes. Cada aroma, a partir de suas sofisticadas
estruturas vegetais, atua profundamente sobre o nosso sistema fisiológico,
mental e emocional, de modo que somos afetados diretamente pelos estímulos
olfatórios. Observar como o organismo é capaz de reagir frente a essas
sensações é um importante exercício para quem deseja compreender a
aromaterapia.
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REFERÊNCIAS

APEZZATO, B. G.; GUERREIRO, S. M. C. Anatomia vegetal. 2. ed. Viçosa:


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