Você está na página 1de 7

O sistema mente-corpo e as moléculas de emoção

19/01/2016
Pert, Candace. Moleculesof Emotion. New York, Scribner, 1997.
Candace Pert é uma cientista das áreas médica e biológica
conhecida nos EUA pelo seu trabalho com receptores de células e
sua participação na descoberta, nas décadas de 70 e 80, da
substância natural produzida pelo próprio corpo equivalente aos
opiáceos, a endorfina. Ambos, como vemos aqui, causaram uma
revolução no conhecimento sobre o funcionamento fisiológico e
psicológico da vida. Neste livro, a autora estende as consequências
desta revolução em como compreendemos a estreita ligação entre
cérebro, sistema nervoso, sistema endócrino e sistema imunológico,
especialmente a hoje famosa ligação entre emoções e saúde. Por
isso, é considerada uma das pioneiras no campo da
psiconeuroimunologia (PNI).
1. A Revolução dos Receptores
O livro trata daquilo que é comumente chamado medicina mente-corpo. Assim, trata das
informações e implicações práticas desta ciência e das terapias relacionadas.
Naturalmente isto se coloca em choque com a ciência e a medicina cartesiana que, entre
outras ideias, estipulou o isolamento entre mente e corpo, especialmente porque
Descartes desejava ter à disposição corpos humanos para dissecação e precisou fazer um
acordo com o Papa de que não entraria em “assuntos do espírito, da mente ou das
emoções”. Contrariamente, a ciência mente-corpo mostra que:
“as moléculas de emoção rodam em cada sistema em nosso corpo [e este] sistema de
comunicação é efetivamente uma demonstração da inteligência mente-corpo, uma
inteligência suficientemente esperta para buscar o bem-estar e potencialmente nos manter
saudáveis e longe de doenças sem necessitar de intervenções médicas de alta tecnologia
nas quais confiamos” (p. 19).
O primeiro componente das moléculas de emoção que Pert
menciona como importante é o receptor opióide. Trata-se de
uma molécula simples, apesar de ser de um tipo raro, elegante
e complicado. Moléculas receptoras presentes aos milhões nas
membranas celulares respondem a energia e sinais químicos
por meio de vibração. Basicamente os receptores agem como
moléculas sensíveis ou scanners. Metaforicamente são como
buracos de fechadura. Receptores são proteínas (as matérias
primas da vida) aguardando pelas chaves químicas corretas.
As chaves que ali se encaixam são chamadas ligantes. Ao
encaixarem-se, cria-se uma perturbação que faz a molécula se
rearranjar e mudar de forma, o que provoca um sinal e o
resultado disso é informação penetrando na célula.
Os ligantes em geral são menores que os receptores, fluem livres pelos meios corpóreos
e podem ser de três tipos químicos: neurotransmissores, esteroides e peptídeos. Estes
últimos, em especial para os propósitos do livro, são elementos compostos de cadeias de
aminoácidos.
Uma das mudanças primeiras que esta visão traz é a de que o cérebro é muito mais que
um sistema de impulsos elétricos, como historicamente foi dado a pensar. O cérebro e
suas células compostas de receptores e os ligantes que flutuam mostram uma imagem
mais ampla, de um sistema de informações rico que adiciona à velha imagem do cérebro
elétrico a ideia de um cérebro químico. “Menos de dois por cento da comunicação
neuronal realmente ocorre na sinapse” (p. 139). Não só no cérebro, mas por todo o
corpo, “o murmúrio musical dos receptores, à medida que se conectam aos seus muitos
ligantes, frequentemente nas mais vastas e longínquas partes do organismo, criam uma
integração de estrutura e função que permite ao organismo rodar suave e
inteligentemente” (p. 27).
Os estudos pioneiros da psiconeuroimunologia que levaram à descoberta do receptor
opiáceo acabaram se estendendo para todos os campos da medicina, unindo
endocrinologia, neurofisiologia e imunologia e estimulando uma síntese de
comportamento, psicologia e biologia.
2. Peptídeos
O fato mais excitante e chocante revelado pelas descobertas do receptor opiáceo é de
que tanto “ratos de laboratório, a Primeira Dama ou viciado em narcóticos” (p. 63) têm
o mesmo mecanismo no cérebro para gerar felicidade e consciência expandida.
De volta ao básico: aminoácidos são compostos químicos frequentemente de carbono
(C), hidrogênio (H), oxigênio (O) e nitrogênio (N). São classificados de acordo com
estruturas genéricas, alguns chamados primários ou padrão e outros especiais, e de todos
esses, alguns são essenciais. Cadeias de aminoácidos denominam-se de peptídeos,
podendo ter dois aminoácidos (dipeptídeos), três aminoácidos (tripeptídeos), quatro
aminoácidos (tetrapeptídeos), até cem aminoácidos (polipeptídeos). O termo proteína é
quando o polipeptídeo possui cerca de duzentos aminoácidos. Aminoácidos são as letras
de uma linguagem. Peptídeos, polipeptídeos e proteínas são as palavras.
O primeiro peptídeo replicado fora do corpo foi o oxitocina. Liberada pela glândula
pituitária durante o trabalho de parto, liga-se aos receptores no útero causando
contrações. Não só contrai o útero no trabalho de parto, mas também durante o orgasmo
nas fêmeas. No cérebro, produz comportamento maternal, previne infanticídio e ajuda
alguns machos roedores a manter relacionamentos monogâmicos de longa duração.
O trabalho de produzir substâncias análogas que substituam os aminoácidos gera drogas
terapêuticas que podem ser mais potentes, mais duráveis ou mais resistentes que as
naturalmente produzidas pelo corpo para autocura.
Uma das descobertas importantes no estudo dos
peptídeos é que eles não são, na sua maioria, produzidos
exclusivamente por um órgão ou local, mas em muitas
partes do corpo, incluindo o cérebro. Apesar da sua
estrutura simples, suas respostas podem ser complexas,
levando a uma classificação dos mesmos em categorias
como hormônios, neurotransmissores,
neuromoduladores, fatores de crescimento, peptídeos
intestinais, interleucinas, ocitocinas, quimiocinas e
fatores inibidores do crescimento. Pert prefere
genericamente o termo “substâncias informacionais”,
pelo fato de agirem como mensageiros na distribuição
de informação pelo organismo. É preciso notar ainda que alguns desses peptídeos, como
a morfina e a heroína, por ex., ajustam-se ao receptor causando mudanças na célula, ao
passo que outros, com estrutura muito próxima, ajustam-se ao receptor e bloqueiam ou
antagonizam o mesmo tipo de atividade.
As primeiras pistas de que estas substâncias poderiam estar ligadas às emoções surgiram
do estudo e compreensão da distribuição delas pelo sistema nervoso.
3. Cérebro e Bioquímica das Emoções
Por exemplo, os receptores opiáceos mostram-se mais densamente distribuídos no
sistema límbico, a parte do cérebro classicamente conhecida por conter os circuitos
emocionais (lembre a ideia do cérebro humano trino: reptiliano, mais central e antigo,
límbico, herdado dos mamíferos e responsável pelas emoções, e neocórtex, o cérebro
racional). A descoberta do receptor opiáceo foi derivada do interesse por encontrar a
substância interna responsável pela modulação da dor e do prazer. Descobriu-se ser um
peptídeo, a endorfina. A endorfina, então, encaixa-se aos receptores opiáceos pelo
corpo, mas especialmente aqueles contidos no cérebro límbico. Mais que isto, eles são
desenvolvidos no cérebro, naquele mesmo local. Sabe-se também que os níveis de
endorfinas aumentam ao longo do ato sexual, bem como durante exercícios físicos.
Pert, por estes e vários outros conhecimentos, crê numa “teoria de que estes
bioquímicos sejam o substrato fisiológico das emoções” (p. 130). O próprio Darwin já
havia especulado sobre isto, em suas obras menos famosas sobre as emoções e a
sobrevivência e a evolução das espécies. Elmer Green tem uma citação na obra de Pert
que diretamente reporta um mútuo relacionamento entre emoções e a bioquímica
fisiológica: “Toda mudança no estado fisiológico é acompanhada por uma mudança
apropriada no estado emocional mental, consciente ou inconsciente, e reciprocamente,
toda mudança no estado mental emocional, consciente ou inconsciente, é acompanhado
por uma mudança apropriada no estado fisiológico” (p. 137).
Como teoricamente a maior parte da comunicação neuronal ocorre a nível químico, e
não nas sinapses, e muitos peptídeos são desenvolvidos e armazenados no cérebro, ele
pode ser também concebido metaforicamente como uma “bolsa de hormônios”. Ainda
assim, é preciso lembrar que estes bioquímicos não estão exclusivamente presentes no
cérebro, mas no sistema nervoso e nas células de outros sistemas. A bioquímica da
emoção é a bioquímica da mente-corpo:
“Se aceitarmos a ideia de que peptídeos e outras substâncias informacionais são a
bioquímica da emoção, sua distribuição nos nervos do corpo carrega vários significados, o
qual Sigmund Freud, se fosse vivo, apontaria alegremente como a confirmação molecular
de suas teorias. O corpo é a mente inconsciente! Traumas reprimidos causados por
emoções esmagadoras podem ser armazenadas numa parte do corpo, consequentemente
afetando nossa habilidade para sentir ou mesmo mover aquela parte” (p. 141).
Pert chama atenção também para os pontos nodais: lugares no corpo onde grande
quantidade de informação converge, locais de entrada das informações dos cinco
sentidos, e que possuem uma alta concentração de receptores de neuropeptídeos. Locais
como corno dorsal ou a parte posterior da espinha dorsal, por ex. Por isso, as emoções
não se confinam estritamente aos locais clássicos, como amídalas, hipocampo e
hipotálamo. Naqueles locais também podem estar armazenadas e filtradas emoções.
Termos como memórias “aprendidas”, “relembradas” ou “reprimidas” também podem
estar relacionados àqueles pontos. Mudanças bioquímicas escrita no nível dos
receptores são a base da memória e ela ocorre em vários locais e sistemas do corpo.
Memórias são armazenadas não apenas no cérebro, mas ao longo de toda rede
psicossomática, como entre os nervos e feixes de corpos celulares chamados gânglios,
órgãos internos e superfície da pele. Processos de memória então são inerentemente
dirigidos pelas emoções e inconscientes, embora, como muitos outros processos
mediados por receptores, possam algumas vezes tornarem-se conscientes.
Experiências mostraram que drogas administradas em ratos durante momentos de
aprendizado, uma vez administradas posteriormente, facilitam a recordação destas
memórias. Isto também ocorre com os peptídeos relacionados a cada tipo de emoção.
Uma emoção associada a uma determinada experiência pode ser reativada com o reviver
da experiência, e vice-versa. Experiências positivas podem mais facilmente ser
recordadas em estado de bom humor, assim como as negativas são mais facilmente
recordadas em estados de emoções negativas. Há um relacionamento entre memória e
emoções, e isto pode ser observado no estrato fisiológico das moléculas de emoção.
Neuropeptídeos, desta maneira, podem nos colocar em estados de consciência e podem
nos levar a alterações destes estados.
Algumas conclusões e especulações:
 Para que o cérebro não seja esmagado com a torrente de entradas sensoriais,
algum tipo de sistema de filtragem permite-nos prestar atenção ao que nossa
mente-corpo crê ser mais importante, ignorando o resto.
 A maior parte das mudanças em estados de atenção e consciência da mente-
corpo é subconsciente.
 Na medida em que a percepção do mundo externo é filtrada ao longo das
estações sensoriais ricas em receptores de neuropeptídios, cada um com seu tom
emocional, como podemos definir objetivamente o que é real e o que não é real?
 Nem toda memória traumática que leva a desordens psicológicas deveria ser
liberada pela conscientização e verbalização do processo. Há técnicas que
podem fazer isto abaixo do nível de consciência. As memórias reprimidas que
são armazenadas bioquimicamente no corpo – a mente inconsciente – podem ser
liberadas pela liberação dos ligantes de neuropeptídios dos receptores
correspondentes.
4. Mente-corpo
Endorfinas são secretadas apenas no cérebro? Não!
Outra descoberta surpreendente é que as endorfinas,
estas moléculas alteradoras do humor, também são
secretadas nos linfócitos (células do sistema
imunológico), bem como pelos ACTH (hormônios
adrenocorticotróficos) produzidos pela glândula
pituitária. Ou seja, as endorfinas atuam pelos sistemas
imunológico e endócrino. Há um triplo relacionamento
mútuo entre sistemas nervoso, endócrino e
imunológico, e as emoções estão diretamente relacionadas em uma via de mão dupla de
influência. As emoções afetam os sistemas e os sistemas afetam as emoções.
O stablishmentcientífico, por sua fragmentação e conservadorismo, alertou
contrariamente às implicações disso. Num editorial de 1983 da revista Nature há um
alerta “contra estes ‘psicoimunologistas radicais’ que poderiam prematuramente
interpretar este trabalho como significando que ‘não existe um estado de mente que não
esteja refletido por um estado do sistema imunológico’” (p. 162). Atualmente já se sabe
que numerosos, talvez todos, peptídeos descobertos pelos imunologistas podem ser
fabricados pelo cérebro sob certas circunstâncias e podem agir sobre os receptores lá
localizados. O sistema imunológico é potencialmente capaz de tanto enviar informações
ao cérebro via neuropeptídeos como receber informações do cérebro por esta mesma
via. Há um mecanismo químico através do qual o sistema imunológico pode se
comunicar não só com o sistema endócrino, mas também com o sistema nervoso e com
o cérebro. Muitos foram precursores deste tipo de conhecimento, entre eles psicólogos
corporais como Alexander Lowen e Wilhelm Reich. A terapia bioenergética, por
exemplo, faz uso de várias posturas físicas e exercícios para acessar traumas e bloqueios
profundamente armazenados (pelas memórias bioquímicas da mente-corpo). Reich,
além disso, propôs a heresia de que o câncer é o resultado de falha na expressão das
emoções, especialmente emoções sexuais. Atualmente estudos demonstram que o
sistema imunológico torna-se mais forte e os tumores menores para pessoas em contato
com suas emoções:
“Uma vez que a expressão emocional está sempre ligada a m fluxo específico de peptídeos no corpo, a
supressão crônica das emoções resulta em uma perturbação massiva da rede psicossomática. Muitos
psicólogos interpretaram depressão como raiva reprimida; Freud, especialmente, descreveu depressão como
raiva redirecionada contra si próprio” (p. 192).

Isto leva a tratar a mente-corpo como um todo único integrado. Emoções podem ser
acessadas pelo corpo. O estado da mente, os pensamentos e os sentimentos,
completamente ignorados no modelo médico tradicional, atuam de maneira fundamental
na saúde.
Outras descobertas da psiconeuroimunologia chocantes dizem respeito ao câncer. Por
exemplo, descobriram-se que certos tipos de câncer de pulmão em fumantes são o
resultado de células do sistema imunológico, os macrófagos, que são enviados em altas
quantidades para combater as toxinas no pulmão, mas sofrem mutação e viram
pequenas células cancerosas. Aqui a ligação se estabelece entre o câncer, o sistema
imunológico e a toxicidade no corpo. Se fossem descobertos peptídeos que pudessem
acessar os receptores destas células para evitar sua multiplicação, a farmacologia dos
peptídeos poderia ser uma alternativa aos antigos tratamentos tóxicos, a quimioterapia.
Pert mais e mais acredita que “a rede mente-corpo de peptídeos e receptores pode ser a
base molecular das emoções”. Tem a esperança de que seus pares, como estritamente
materialistas, pudessem ficar felizes em descobrir que as emoções podem ser entendidas
como processos biológicos moleculares básicos.
Por tudo o já descrito, Pert crê que a mente consciente entre na rede mente-corpo, ou
psico-endocrino-imunológica, e aja de uma maneira deliberada. E pergunta-se: Como
pode a mente mediar e modular uma experiência de dor? Que papel a consciência tem a
este respeito? Uma das técnicas para isto é a respiração consciente, pois o processo
libera peptídeos a partir da mudança na sua frequência e profundidade, assim como
vice-versa. Outra é o biofeedback. Peptídeos e receptores tornam possível o diálogo
entre processos conscientes e inconscientes. A bioquímica das emoções com seus
neuropeptídios e receptores são os mensageiros que carregam informações que ligam os
principais sistemas do corpo, tornando-o uma unidade chamada mente-corpo. “Emoções
são o nexo entre mente e matéria” (p. 189). Para a autora “a mente está no corpo, assim
como a mente está no cérebro” (p. 188).
“Eu acredito que todas as emoções são saudáveis […] Raiva, medo e tristeza, as assim chamadas emoções
negativas, são tão saudáveis quanto paz, coragem e alegria. Reprimir tais emoções e não deixá-las fluir
livremente é estabelecer uma des-integração no sistema, levando-o a agir contraproducentemente ao invés
de como um todo unificado […] Toda emoção honesta é emoção positiva […] Saúde não é só uma questão
de ter ‘pensamentos positivos’. Às vezes o melhor ímpeto de cura pode vir de um salto de partida do
sistema imunológico através de uma explosão de raiva longamente suprimida. […] A chave é expressá-la e
então deixar ir embora” (p. 192-193).

5. Filhos de um Novo Paradigma


Pert usa a obra para contar seus desafios na proposição
de um novo paradigma em medicina e ciência. Com a
ascensão da AIDS, seus estudos em
psiconeuroimunologia voltam-se para esta área. Uma
das descobertas é de que o vírus da AIDS entra nas
células do sistema imunológico, bloqueando-as, por
meio do receptor T4, encontrado nas células chamadas
linfócitos T4 ou CD4. A depressão destas células torna
ainda mais suscetível a infecção pelo próprio vírus e por outros micróbios benignos que
podem causar infecções oportunistas. A ideia de Pert era encontrar um peptídeo
sintético que imitasse um natural que pudesse bloquear o acesso do vírus aos receptores
T4.
Ele acabou sendo encontrado: VIP, ou peptídeo intestinal vasoativo, o natural, e
Peptídeo T, o sintético. O mais surpreendente é que o VIP está associado à emoção da
autoestima. Especula-se que o VIP seja a manifestação hormonal do amor próprio,
assim como as endorfinas são o mecanismo subjacente da felicidade e do apego
emocional. Infelizmente, descobriu-se que o vírus tem outros comportamentos, como a
entrada coparticipante por meio de outros receptores, além de ter sido rechaçado o
Peptídeo T por uma pretensa “falha para replicá-lo” em laboratório.
Paralelamente, Pert começou a tornar-se curiosa sobre medicina complementar e
alternativa. Quanto à meditação, Pert supõe que:
“À medida que o estresse dificulta as moléculas de emoção mover-se livremente para onde sejam
necessárias, os processos amplamente autônomos que são regulados pelo fluxo de peptídeos, como
respiração, fluxo sanguíneo, imunidade, digestão e eliminação, recolhem-se para uns poucos laços de
realimentação e perturbam a resposta saudável normal. A meditação, na medida em que traz à superfície
pensamentos e sentimentos por muito tempo enterrados, é uma maneira de por a fluir novamente os
peptídeos, retornado as emoções e a mente-corpo ao estado de saúde novamente […] Traumas e bloqueios
de informações físicas e emocionais podem ficar armazenadas indefinidamente no nível celular” (p. 242-
243).

Sobre o novo paradigma, Pert anuncia:


“Eu não sou mais uma máquina feita de um corpo sendo dirigido por um cérebro, à mercê de cargas
elétricas para manter meu coração batendo e minhas sinapses crepitando. Ao invés, eu posso ver a mim
mesma como um sistema inteligente, que envolve trocas rápidas e simultâneas de grande quantidade de
informação entre mente e corpo. Minhas células estão literalmente falando umas com as outras, e o meu
cérebro está presente na comunicação! […] Autocura é mais uma norma que um milagre. […] Eu tenho o
potencial de conscientemente intervir no próprio sistema, de tomar um papel ativo em minha própria cura”
(p. 262).

Sobre uma nova luz sobre a depressão, estudos têm mostrado que crianças abusadas,
negligenciadas e mal nutridas têm maior probabilidade de tornarem-se adultos
depressivos. Tudo isto pode estar relacionado ao chamado eixo hipotálamo-pituitária-
adrenal (HPA). Em pessoas com estresse ou depressão, estudos demonstram, terapias do
abraço e do toque são capazes de operar efeitos benéficos, ativando emoções positivas e
liberando áreas de memória bioquímica. Mas, desde Freud e mesmo antes, os médicos
são proibidos de tocar em seus pacientes!
Saúde e medicina ambiental contribuem também para o novo paradigma. De acordo
com estudos nesta área, poluentes suspensos na membrana das células alteram e
interrompem o fluxo de elétrons causando “fome de energia”, fatiga crônica, alergias e
sensibilidade química. Entre as mudanças químicas, alguns desses poluentes imitam
hormônios sexuais, como a relação entre bisfenol A dos plásticos e estrogênio,
causando, entre outros, câncer de seio. Toxinas ambientais causam a perda da resiliência
do sistema imunológico pelo bloqueio de receptores por substâncias exógenas.
Pert sugere que a ação realmente saudável de nossa parte é manter a informação fluindo,
os sistemas de feedback funcionando e o equilíbrio natural mantido tomando a decisão
consciente de entrar na conversação mente-corpo. Se precisar ajuda, use
aconselhamento psicológico, preferencialmente, com algum tipo de toque, hipnoterapia,
terapias corporais, seminários de crescimento pessoal, meditação e oração, além do
trabalho com sonhos: “Sonhos são mensagens diretas da sua mente-corpo” (p. 290). Isto
sem falar em exercícios: “o valor dos exercícios tem menos a ver com desenvolver
músculos ou queimar calorias e mais com manter seu coração bombeando mais rápida e
eficientemente e por consequência aumentar o fluxo sanguíneo para nutrir e limpar seu
cérebro e órgãos” (p. 296). E acredita que psicoterapia baseada na fala não parece ter o
mesmo impacto sobre a mente-corpo: “Saber algo nem sempre impacta no que sentimos
[…] Seu corpo é sua mente subconsciente e você não tem como curá-lo apenas
conversando” (p. 305-306).
Candace Pert, falecida em 2013, aparece no filme “Quem somos nós?”
http://www.sistemico.com.br/2016/01/19/o-sistema-mente-corpo-e-as-moleculas-de-
emocao/

Você também pode gostar