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ANATOMIA HUMANA-MANUAL PARA ESTUDANTES

Coordenadores
A. Gonçalves Ferreira, I. Álvares Furtado e L. Lucas Neto
Colaboradores
A. Águas, A. Bernardes, AC. Miguéis, I. Ritto,J. Martins dos SantosI, L. Mendes Pedro,
l\1.A. Brito, MA. Ferreira, M. Monteiro, N. Sousa, P. Oliveira
Colaboração em Figuras e/ou Desenho Técnico
Pedro Afonso (Desenhador); António Pedro Ferreira Marques (Professor da FBAUL);
Henrique Prata Dias da Costa (Professor da FBAUL); Nádia Andrade Furtado (Designer)

Design e Paginação
Gonçalo Sousa
Impressão
Cafilesa
1.ª edição
Novembro 2020

ISBN
978-989-655-333-3
Depósito legal
476538/20
Todos os direitos reservados
© 2020 A. Gonçalves Ferreira, I. Álvares Furtado, L. Lucas Neto e Prime Books

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PREFÁCIO
António Gonçalves Ferreira

Um manual de anatomia deve ser um instrumento básico de estudo para alunos de Medicina e Ciências
Médicas. Por isso é preciso que seja um livro sintético, sem detalhes descritivos excessivos, profusamente
ilustrado e com descrição anatómica aplicada à função, à imagiologia e à clínica.
Este Manual de Anatomia apresenta a Anatomia Sistemática do organismo humano agrupada pelos seus
grandes sectores funcionais e estes por capítulos. Os grandes sectores incluem, após a Introdução à Ana-
tomia, os Sistemas de Suporte e Movimento, os Sistemas de Manutenção, de Reprodução, de Contro-
lo e Integração. Completam-nos a Anatomia de Superficie e a Anatomia das Regiões. E inclui uma nota
inicial breve sobre História da Anatomia. Para ser mais didáctico, cada capítulo ou subcapítulo engloba a
descrição ordenada de sistemas, órgãos e estruturas anatómicas, noções de Anatomia de Desenvolvimen-
to e de Anatomia Clínica e, no final, umas perguntas tipo sobre a matéria respectiva e referências biblio-
gráficas para aprofundamento de conhecimentos.
A designação das estruturas anatómicas segue em geral a Nómina Anatómica de Língua Portuguesa;
nalguns casos usa também a terminologia mais usada na clínica, variável consoante a escola de prove-
niência do autor. As ilustrações são originais ou adaptadas de figuras conhecidas, de livre acesso e de uso
universal.
A elaboração deste Manual de Anatomia contou com a participação de anatomistas da maior parte das
faculdades de Medicina e de faculdades de Farmácia, de Belas-Artes e institutos e escolas de ensino su-
perior de Saúde. Ao esforço e à boa vontade de todos se deve este manual, que se pretende ser um con-
tributo fundamental para o estudo da Anatomia.

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AUTORES E AFILIAÇÕES

Alexandra Santos
Médica Neurocirurgiã no Hospital Egas Moniz,Assistente de Neuroanatomia da FMUL
Alexandre Campos
Médico Neurocirurgião no H. Santa Maria e no H. CUF-Descobertas, Assistente de Neuroanatomia e
Neurocirurgia da FMUL
Alice Varanda
Médica Cirurgiã Plástica e Reconstrutiva, Assistente de Anatomia da FMUL
Ana Bastos
Médica Oftalmologista, Professora Assistente de Oftalmologia da Universidade de Kentucky
Ana Gonçalves Ferreira
Médica Endocrinologista no Hospital Garcia de Orta, Assistente de Anatomia da FMUL
Ana Júlia Pedro
Médica Internista no Hospital Santa Maria, Assistente de Anatomia da FMUL
Ana Martins
Médica Neurologista Pediátrica no Hospital da Luz, Assistente de Neuroanatomia da FMUL
António Bernardes
Médico Cirurgião, Prof. Associado Agregado de Anatomia da FMUC
António Gonçalves Ferreira
Médico Neurocirurgião no Hospital Santa Maria, Prof. Cat. da FMUL e Dir. Instituto de Anatomia e
Clínica Universitária Neurocirurgia
António Carlos Miguéis
Médico Otorrinolaringologista, Prof. Cat.e Dir. Instituto de Anatomia e Clínica Universitária Otorri-
nolaringologia da FMUC
Artur Águas
Médico, Prof. Cat. e Dir. Instituto de Anatomia do ICBAS/UP
Carla Nunes
Médica Ortopedista
Carla Reizinho
Médica Neurocirurgiã no Hospital Egas Moniz
Carlos Lucas
Médico Nefrologista
Carolina Santos
Médica Neurorradiologista no Hospital Beatriz Ângelo
Cláudia Pereira
Médica Cirurgiã no Hospital Garcia de Orta
Domingos Coiteiro
Médico Neurocirurgião no Hospital Santa Maria e Hospital da Luz
Edson Oliveira
Médico Neurocirurgião no Hospital Cuf-Descobertas, assistente de Neuroanatomia e Neurocirurgia
daFMUL

7
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Isabel Ritto
Médica, Professora Auxiliar de Anatomia da FBAUL
Ivo Álvares Furtado
Médico Estomatologista, Prof. Cat. e Presidente da FCV/Ul\1a
J oaoa Regala
Médica Interna de Psiquiatria, Assistente de Neuroanatomia da FMUL
Joana Ruivo
Médica Neurorradiologista na Fundação Champalimaud
João José Faria
Médico Ortopedista no Hospital Lusíadas
João Luis Cavaco
Médico Interno de Medicina Interna, Assistente de Anatomia da FMUL
João Nóbrega
Médico Interno de Ortopedia, Assistente de Anatomia da FMUL
João Paulo Andrade
Médico Neurocirurgião no Hospital Egas Moniz,Assistente de Neuroanatomia da FJ\IIUL
Joaquim do Brito
Médico Ortopedista do Hospital Santa Maria
José Martins dos Saotos (falecido)
Médico especialista Medicina Geral Familiar, Prof. Cat. de Anatomia e Dir. IUEM
Jose Pedro Lavrador
Médico Neurocirurgião no Kings CoUege
Leonor Fernandes Pita
Médica Radiologista, Assistente da FMUL
Lia Lucas Neto
Médica Neurorradiologista no Hospital Santa Maria, Prof. Aux. de Neuroanatomia da FMUL
Lucas Batista
Médico Cirurgião do Hospital Santa Maria
Luis Mendes Pedro
Médico Cirurgião Vascular, Professor Associado Agregado e Dir. Clinica Universitária de Cirurgia
Vascular da FMUL
Luis Pinheiro
Médico Internista, Diretor Clínico do Hospital Santa Maria/Centro Hospitalar Lisboa Norte
Margarida J<fancisco
Médica
Maria Alexandra Brito
Farmacêutica, Profª Associada Agregada de Anatomia e Histologia da FFUL
Maria Amélia Ferreira
Médica, Prof. Cat. Anatomia Clínica da FMUP
Mariana Monteiro
Médica Endocrinologista, Prof. Associada de Anatomia do ICBAS/UP
Nuno Gaibino
Médico Intensivista do Hospital Santa Maria, Assistente de Anatomia da FMUL

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AUTORES E AFILIAÇÕES

Nuno Sousa
Médico Neurocientista, Prof Cat e Dir. EJ\1/UTviinho
Paula Fernandes
Médica Anestesiologista do Hospital do Espirita Santo, Évora
Paulo Rego
Médico Ortopedista no Hospital da Luz
Paulo Vera Cruz
Médico Otorrinolaringologista, Prof Aux. Agregado de Fisiopatologia da FCM/UNL
Pedro Azevedo
Médico Internista do Hospital Garcia de Orta
Pedro Moreira
Médico Urologista
Pedro Oliveira
Médico e Médico Dentista, Prof Aux. de Anatomia da FMUL e Prof Associado do IUEM
RitaMarçal
Médica Intensivista
Rodrigo Roquette
Médico Interno Cirurgia Pediátrica do Hospital Santa Maria, Assistente de Anatomia da FMUL
Rui Valério
Médico especialista Medicina Geral Familiar
Sofia Lourenço
Médica Intensivista
Sónia Barata
Médica Ginecologista e Obstetra no Hospital da Luz
Susana Pina
Médica Oftalmologista no Hospital Beatriz Ângelo
Tiago Gaspar
Médico, Assistente de Anatomia da FMUL
Tiago Fonseca
Médico Estomatologista no Hospital S.João

A listagem de acrónimos e abreviaturas de instituições, encontra-se no final do livro.

9
ÍNDICE

I.ANATOMIAEHISTÓRIA ........................................................................................................... 17
António Gonçalves Ferreira

II. INTRODUÇÃO À ANATOMIA .......................................................................................... 21


António Gonçalves Ferreira

A. SUPORTE E MOVIMENTO
1. PELE E ANEXOS ............................................................................................................... 27
Ana Gonçalves Ferreira
2. SISTEMA LOCOMOTOR ............................................................................................... 33
Edson Oliveira, Rodrigo Roquette,joão Cavaco
Introdução......................... .... .......... ........................................................ ............................ 33
Luís Pinheiro

2.1. CABEÇA E PESCOÇO ............................................................................................. 42


Osteologia do crânio ...................................................................................................... 42
Edson Oliveira
Osteologia da face ............................................................... ........................................... 63
Ivo Furtado
Osso hioide..................................................................... ............................................... 78
Edson Oliveira
Artrologia do crânio e da face ......................................................................................... 80
Tiago Fonseca, Edson Oliveira, Tiago Gaspar
Miologia do crânio e da face ........................................................................................... 84
Tiago Fonseca
Miologia do pescoço ...................................................................................................... 89
Margarida Francisco, Rodrigo Roquette

2.2. TRONCO: TÓRAX, ABDÓMEN E PÉLVIS .......................................................... 98


Osteologia da coluna vertebral ....................................................................................... 99
Carla Reizinho, Edson Oliveira
Artrologia da coluna vertebral ........................................................... ...... ..................... 106
Carla Reizinho, Edson Oliveira
Biomecânica da coluna vertebral .................................................... .... .......................... 111
Edson Oliveira
Miologia da coluna vertebral .................................. .. .................. ................................. 114
Margarida Francisco, João Cavaco
Osteologia do tórax ..................................................................................................... 119
Luís Pinheiro
Artrologia do tórax .............................................................................. •....................... 123
Cláudia Pereira,João Cavaco, Rodrigo Roquette

11
Miologia do tórax ............................................................................... ......................... 127
João Cavaco
Diafragma ................................................................................................................... 130
Luís Pinheiro, Rodrigo Roquette
Osteologia do abdómen e pélvis ................................................................................... 133
Luís Pinheiro, Cláudia Pereira, Rodrigo Roquette
Artrologia do abdómen e pélvis ................................................................................... 135
Luís Pinheiro, Cláudia Pereira, Rodrigo Roquette
Miologia do abdómen .................................................................................................. 141
Luís Pinheiro, Cláudia Pereira, Edson Oliveira, Rodrigo Roquette
Perineo ........................................................................................................................ 149
Lucas Batista

2.3. MEMBROS SUPERJOR E INFERJOR


Osteologia, artrologia e miologia do membro superior. ................................................. 154
Paula Fernandes
Osteologia, artrologia e miologia do membro inferior ............ ....................................... 197
Paula Fernandes

B.MANUTENÇÃO
3. SISTEMA CIRCULATÓRJ0 .......................................................................................... 243
Luís Mendes Pedro, Leonor Fernandes
Coração e pericárdio ......................................................................................................... 249
Margarida Francisco, Leonor Fernandes
Artérias e veias ................................................................................................................... 262
Aorta ........................................................................................................................... 262
Luís Mendes Pedro
Artérias e veias da cabeça e do pescoço ......................................................................... 266
Sefia Lourenço
Artérias e veias do tórax................................................................................................ 279
Rui Valério
Artérias e veias do abdómen ......................................................................................... 284
RitaMarçal
Sistema porta-hepático e anastomoses porto-cava ........................................................ 304
Leonor Fernandes
Artérias e veias do membro superior............................................................................. 308
Rui Valério
Artérias e veias do membro inferior .............................................................................. 315
L uís Mendes Pedro

Linfáticos .......................................................................................................................... 327


Luís Mendes Pedro
Anatomia clínica e imagiológica do sistema circulatório ..................................................... 344
Luís Mendes Pedro

12
4. SISTEMA RESPIRATÓRIO ........................................................................................... 347
Nuno Gaibino, Pedro Oliveira
Vias aéreas superiores ........................................................................................................ 347
Paulo Vera Cruz
Vias aéreas inferiores, pulmões, pleuras .............................................................................. 355
Artur Águas

5. SISTEMA DIGESTIVO .................................................................................................. 363


Nuno Gaibino, Pedro Oliveira
Sistema digestivo superior.................................................................................................. 363
José Martim dos Santos, Pedro Oliveira
Sistema digestivo inferior................................................................................................... 377
Ana]úlia Pedro, Lucas Batista
Peritoneu ........................................................................................................................... 403
Lucas Batista

6. SISTEMA URINÁRIO ..................................................................................................... 411


Alexandra Brito, Ana Gonçalves Ferreira
Rins, ureteres, bexiga e uretra ............................................................................................. 411
Alexandra Brito, Ana Gonçalves Ferreira
Desenvolvimento do sistema urinário ................................................................................ 433
Alexandra Brito

C. REPRODUÇÃO
Ana Gonçalves Ferreira

7. SISTEMA GENITAL MASCULINO ............................................................................. 439


Sofia Lourenço, Ana Gonçalves Ferreira

8. SISTEMA GENITAL FEMININO E MAMA .............................................................. 449


Sónia Barata, Ana Gonçalves Ferreira

D. CONTROLO E INTEGRAÇÃO
Lia Neto, António Gonçalves Ferreira
Introdução .............................................................................................................................. 469
António Gonçalves Ferreira

9. SISTEMA ENDÓCRINO ............................................................................................... 471


Mariana Monteiro, Ana Gonçalves Ferreira

10. SISTEMA NERVOSO .................................................................................................... 481


Introdução ......................................................................................................................... 481
António Gonçalves Ferreira

10.1. SISTEMA NERVOSO CENTRAL ..................................................................... .489


Medula espinhal .......................................................................................................... 489
António Gonçalves Ferreira
Tronco cerebral ............................................................................................................ 497
António Gonçalves Ferreira

13
Cerebelo ...................................................................................................................... 511
Carlos Lucas, António Gonçalves Ferreira
Cérebro ...................................................................................................................... 520
Configuração exterior e córtex cerebral ................................................................... 520
Ana Martins
Substância branca do cérebro ................................................................................. 530
Joana Regala
Núcleos cinzentos centrais ..................................................................................... 540
Carla Reizinho
Hipotálamo, epitálamo e órgãos neuroendócrinos .................................................. 549
Lia Neto
Sistema límbico ........................................................................................................... 561
Nuno Sousa, Alexandre Campos
Ventrículos elíquor ..................................................................................................... 568
Lia Neto
Meninges .................................................................................................................... 577
Sónia Barata, Lia Neto
Vias da sensibilidade ................................................................................................... 584
João Paulo Andrade
Vias da motricidade ..................................................................................................... 594
Joana Regala
Vascularização encefálica ............................................................................................. 606
Domingos Coiteiro, Carolina Santos

10.2. SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO ................................................................ 616


Nervos cranianos ......................................................................................................... 616
·Carla Nunes, António Gonçalves Ferreira
Nervos raquidianos e plexos ......................................................................................... 631
José Pedro Lavrador, Alexandra Santos

10.3. SISTEMA NERVOSO AUTÓNOMO ................................................................ 656


Joana Ruivo

10.4. SISTEMAS NEUROSSENSORAIS .................................................................... 671


Sistema visual .............................................................................................................. 671
Susana Pina, Amélia Ferreira
Sistema auditivo e vestibular ........................................................................................ 685
António Miguéis, João Pedro Lavrador
Sistema olfativo e sistema gustativo ............................................................................. 701
Ana Bastos

E.ANATOMIA DAS REGIÕES


Ivo Álvares Furtado

11. CABEÇA ........................................................................................................................ 711


Ivo Álvares Furtado

14
-
12. PESCOÇO .............................. ........................................................................................ 721
Alice Varanda

13. TÓRAX ........................................................................................................................... 729


Nuno Gaibino

14. ABDÓMEN .................................................................................................................... 737


Pedro Moreira, António Bernardes

15. PERÍNEO ....................................................................................................................... 753


Lucas Batista, João Nóbrega

16. MEMBRO SUPERIOR ................................................................................................. 765


Pedro Azevedo

17. MEMBRO INFERIOR ................................................................................................ 775


Joaquim do Brito

F. ANATOMIA DE SUPERFICIE ...................................................................... 791


Ivo Álvares Furtado, Isabel Ritto

15
1. A ANATOMIA E A HISTÓRIA

A Anatomia é uma das disciplinas primordiais da de anatomia levou Frederico II da Alemanha e das
medicina. São conhecidos os vestígios pré-histó- Sicílias a decretar, de forma inédita, que nenhum
ricos e pré- colombianos de trepanações, mas as cirurgião podia exercer a sua profissão sem estudar,
mais antigas descrições anatómicas são sumérias pelo menos, um ano de Anatomia. Outros o segui-
- e muito sumárias - remontam a 4000 a. C.; 600 ram. No Egipto Ibn an-Nafis desenvolveu no sé-
anos depois, Menes, rei do Egipto (e primeiro fa- culo XII os conhecimentos anatómicos dos anti-
raó), escreveu um manual de anatomia humana, gos. Contudo, em 1300 o papa Bonifácio VIII lan-
de grande importância para a arte de embalsamar. çou uma bula que proibia "que os defuntos fossem
Das milenares civilizações orientais pouco conhe- talhados e cozidos", anatemizando assim as práti-
cimento anatómico nos foi legado, já que o cul- cas de dissecção cadavérica. Mas tal não impedi-
to do corpo foi aí sempre mais filosófico que mor- ria Mondino dei Luzzi de inaugurar, poucos anos
fológico e a dissecção proscrita. É com a paterni- depois, as demonstrações públicas anatómicas se-
dade grega de Hipócrates, tal como para a Medi- gundo os textos de Galeno.
cina em geral, e na dependência da tríade clássi- A Renascença, em que medicina, arte e humanis-
ca formada por este com o greco-romano Gale- mo eclodiram a um tempo como manifestações de
no e o árabe Avicena (Ibn-Sina), que assentam as renovação do saber e do sentir, trouxe a primeira
bases do conhecimento anatómico da cultura eu- revolução anatómica, com as intervenções de per-
ropeia da Antiguidade, apesar de ter sido Herófi- sonalidades como Leonardo da Vinci, Miguel Ân-
lo quem mais dissecou entre os clássicos e de ter gelo, Dürer e sobretudo Vesálio. A este flamen-
sido Aristóteles o autor do primeiro livro de ensi- go de patavina formação - a escola de Pádua mar-
no da Anatomia, intitulado Das partes dos animais, cou-o a ele como, de resto, a todo o conhecimen-
aí fundamentando a ideia do coração como sede to moderno digno de registo, segundo a expressão
da vida e da alma. Os maiores livros anatómicos da popular - deve-se a compilação, na sua De huma-
Antiguidade foram o Canon de Medicina de Avi- na corporisfabrica, de 1543, de todo o conhecimen-
cena e o De Re medicina de Celsus, um romano da to antigo da anatomia, sistematizando-o, actuali-
Alexandria do século II. zando-o e dando-lhe vida, como está bem ilustra-
No principio do 2.0 milénio d . C., em plena Idade do no enquadramento das suas "Tabulae", da pena
Média, a necessidade de um maior conhecimento de Estevão Calcar, discípulo de Titiano. Acompa-
nhou-o e seguiu-o um vasto cortejo de renascen-
tistas famosos, cuja participação no progresso da
anatomia ficou ligada à designação de numerosas
formações anatómicas ainda hoje conhecidas pelos
seus epónimos: Willis, Falópio, Eustáquio, Varólio,
Silvius, entre outros. Mas já então, a renovação não
foi pacifica: "Não é Galeno que está errado, o ho-
mem é que mudou", dizia Silvius a Vesálio quando
este insistia nas suas inovações. Em Portugal, por
essa época, Amatus Lusitanus disputava com Fa-
bricius de l'Aquapendente a descoberta das válvu-
las das veias ázigos.
Foi a modernidade que chegou com a Renascen-
ça e com ela o dealbar da verdadeira ciência. Ba-
Fig.1 - Os grandes anatomistas da antiguidade: Galeno, Avicena e con, Galileu e Descartes, com Newton e Pascal,
Hipócrates (da esquerda para a direita)

17
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Fig. 2 • Andreas Vesálio e uma imagem do livro De Humana Corporis Fig. 3 - Leonardo da Vinci: desenhos anatómicos.
Fabrica.

desenvolveram o método experimental e o racio- o seu livro Anatomia em 1780, pela mesma altu-
cínio dedutivo. Nasceu a Fisiologia com William ra em que Genpaku Sugita (1774) publicou o pri-
Harvey, aluno de Fabricius, que descreveu a circu- meiro livro de Anatomia no Japão.
lação na sua ''Anatomia de motu cordis et sangui- Nessa época pontuavam na Europa Kant, Voltai-
nis", em acesa polémica com outro grande anato- re e Bach, surgiu o Habeas corpus e Lavoisier criou
mista, Riolan. Rembrandt pintou a mais célebre a Química Científica. Diderot e d'Alembert di-
lição de Anatomia, a do Dr. T ulp. Maddleburgo e rigiram a primeira Enciclopédia. Monro notabi-
Leeuwenhoek inventaram pouco depois o micros- lizou-se como anatomista em Edimburgo, os ir-
cópio, o que permitiria a Malpighi, fundador da mãos William e John Hunter em Londres; Bichat,
Histologia, descrever os capilares e conferir assim em Paris, escreveu o primeiro Tratado de Anato-
substrato orgânico à teoria de Harvey. mia Descritiva; Morgagni, em Pádua, deu início à
Em Portugal, D. Manuel autorizou em 1503 a pri- Anatomia Patológica.
meira aula diária de Anatomia no Hospital Real, Depois vieram a revolução industrial e o positi-
em Lisboa. Em 1556 foram criadas as primei- vismo, que precederam a explosão da ciência e da
ras Cátedras de Anatomia, entregues ao cirurgião técnica do início do século XIX: Franz Joseph Gall
Duarte Lopes no Hospital Real, em Lisboa e a escreveu, em 1808, as Funções do Cérebro, enquanto
Alfonso Rodriguez de Guevara, na Universidade John e Charles Bell distinguiam os nervos moto-
de Coimbra. Até meio do século XVIII a anatomia res dos nervos sensitivos e participavam assim na
portuguesa dependeu de personalidades estran- criação da Neuroanatomia. Pasteur fundou a Mi-
geiras: Falconet, Morava y Roca, Santucci, Du- crobiologia, Leeuwenhoek e Malpighi a Histolo-
fau. Manuel Constâncio, em 1764, foi o primei- gia, Virchow a Patologia Celular e Darwin o Evo-
ro grande anatomista português, tendo publicado lucionismo.

18
ANATOMIA E A HISTÓRIA

Fig.4 - Aula de Anatomia do Dr. Tulp, pintura de Rembrandt.

Fig. 5 - A. Livro de anatomia de Manuel Constâncio. B. Hospital Real de Todos os Santos, em Lisboa {gravura da época).

19
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Um anatomista português brilhou além-fronteiras TRATADO


no final do século XIX: José António Serrano, pro-
fessor titular da Escola Médica de Lisboa, publi-
cou em 1895 o seu Tratado de Osteologia Humana,
uma referência na matéria.
OSTEOLOGIA HUMANA
Por essa altura, em 1895, em Basileia, foi aprovada
a primeira Nomina Anatómica Internacional, que 1 rrwn
m,? t>%l Ll.iOOII
permitiu uniformizar a Nomenclatura Anatómi-
ca e reduzir de mais de trinta mil para quinhentos
os nomes das estruturas conhecidas, embora fosse
preciso esperar até 1960 para, no VII Congresso
Anatómico Internacional, em Nova Iorque, serem
dispensados os velhos epónimos com que foram
\ i,tVi"tll t\,.i H' "H¾l\' ln lí'.&s\
baptizadas as primeiras formações anatómicas. t· t .. J... /
O século XX trouxe os métodos imagiológicos: a
Anatomia Radiológica, ou Radiologia, e os seus
desenvolvimentos, da Angiografia de Egas Mo- ftH!lJ 1
niz e depois Reinaldo dos Santos, nos anos 30, ·11· ll:11:<ti)' ,{'<!>
até à Tomografia Computorizada de Hounsfield,
nos anos 70; entretanto surgiram a Gamagrafia, a
Tomografia de Emissão de Positrões, a Ecogra-
fia e mais recentemente (anos 80) a lmagiologia
por Ressonância Magnética. Com a lmagiologia Flg. 6 Tratado de Osteo/ogia Humana do Professor J.A Serrano.
a Anatomia tornou-se uma ciência viva, a Anato-
mia do homem vivo.

20
li. INTRODUÇÃO À ANATOMIA

DEFINIÇÕES tuda as projecções superficiais, cutâneas, das es-


truturas anatómicas; a Anatomia Imagiológica,
Anatomia é a ciência que estuda a morfologia, a que envolve o uso de raios X (ou outras radia-
estrutura dos organismos. A palavra "Anatomia" ções ionizantes), ultrassons ou ressonância mag-
tem origem no grego "ana-tomia" e significa cor- nética para mostrar a Anatomia pela imagem,
tar, separar em partes, dissecar. A Anatomia Hu- que constitui a essência do estudo actual da Ana-
mana é assim a ciência que investiga as partes que tomia Humana in vivo, em alternativa à Anato-
constituem o organismo humano, o corpo hu- mia do cadáver, base do conhecimento anatómi-
mano. Estas partes estruturais estão organizadas, co tradicional.
como em qualquer ser vivo, por níveis de comple-
xidade que, do mais elementar para o mais com-
plexo, incluem moléculas, células, tecidos, órgãos e MÉTODO DE DESCRIÇÃO ANATÓMICA
aparelhos, ou sistemas.
Com o desenvolvimento da Anatomia surgiram Para a descrição das estruturas e órgãos do cor-
múltiplas especializações anatómicas que se dedi- po humano há que utilizar um método descriti-
cam a domínios científicos distintos, tais como a vo normalizado. Este deve compreender os pas-
Citologia, que estuda a morfologia das células, ou sos seguintes:
a Histologia, que estuda a anatomia microscópi- 1. Identificação da estrutura ou do órgão, com
ca dos tecidos e dos órgãos. De igual forma surgiu nomeação do mesmo recorrendo à termino-
a Embriologia, que estuda o desenvolvimento do logia da Nomina Anatómica de Língua Por-
corpo humano desde o embrião. tuguesa;
No que respeita à morfologia macroscópica, é a 2. Referência à sua localização no corpo huma-
Anatomia Descritiva que centra a sua atenção na no e menção da sua importância funcional;
descrição das características das estruturas do or- 3. Descrição anatómica; esta, quando feita na
ganismo em detalhe. Muitas vezes esta descrição presença do órgão, deve ser precedida pelo
é feita por capítulos correspondentes aos diferen- seu posicionamento anatómico (orientação
tes sistemas ou aparelhos funcionais do corpo hu- anatómica), e deve iniciar-se por informações
mano, é a Anatomia Sistemática; outras vezes é genéricas sobre o mesmo, tais como a forma,
integrada por regiões, é a Anatomia Regional, ou muitas vezes equiparada a um sólido geomé-
Topográfica. Ambas visam o estudo dos órgãos e trico, o volume e o peso aproximados; depois
sistemas sãos, normais (Anatomia Normal), sejam vem a descrição detalhada, de maneira orde-
no adulto, na criança em crescimento ou no idoso nada do mais geral para o mais particular.
em envelhecimento. Ao invés, a Anatomia Patoló-
gica tem como objeto específico os órgãos e siste- O corpo humano divide-se em grandes partes: ca-
mas doentes, patológicos. beça, pescoço, tronco - toráx e abdómen -, mem-
A Anatomia Funcional é a Anatomia que se de- bros superiores e membros inferiores. Cada uma
dica ao estudo da morfologia de forma aplicada delas compreende diversas regiões.
à função de cada estrutura. A Anatomia Clínica Os grandes sistemas ou aparelhos morfológicos e
versa as relações entre a morfologia e as entida- funcionais que compõem o organismo humano e
des clínico-patológicas, proporcionando o subs- os capítulos da Anatomia que os estudam são os
trato para a compreensão de sintomas e doenças. seguintes:
Dois outros domínios anatómicos merecem es- • Ossos - Osteologia.
pecial menção: a Anatomia de Superficie, que es- • Articulações - Artrologia.

21
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

• Músculos - Miologia.
• Coração e Vasos (artérias, veias, linfáticos) -
Angiologia.
• Sistema Nervoso (central, periférico) - Neu-
rologia, ou Neuroanatomia.
• Sistemas Respiratório, Digestivo, Urinário,
Genitais e Endócrino - Esplancnologia.
• Órgãos dos Sentidos - Estesiologia.

O conjunto dos ossos, articulações e músculos


também se designa, em sentido lato, Sistema ou
Aparelho Locomotor. Esqueleto é o conjunto dos
ossos do corpo humano em posição anatómica.
Os órgãos esplâncnicos são também denominados
genericamente "vísceras".

POSIÇÃO ANATÓMICA

De modo que a descrição de qualquer órgão ou


estrutura seja feita de um modo percetível e re-
produtível, há "coordenadas universais" de posicio-
Fig. 1: Corpo humano em posição anatómica e planos de referência.
namento e localização que são utilizadas de igual 1. Plano sagital 2. Plano coronal 3. Plano umbilical
modo por todos os indivíduos. Assim, todas as
descrições se fazem relativamente a uma posição Plano Frontal, ou Coronal
de referência, denominada "posição anatómica"
(Fig. 1): indivíduo em pé a olhar em frente, com os O plano frontal, ou coronal, é um plano vertical
membros superiores ao longo do corpo e as faces que divide o corpo humano numa parte anterior (à
palmares das mãos viradas para a frente (em supi- frente deste plano) e noutra posterior (atrás deste
nação), com as pontas dos pés um pouco afastadas. plano). Este plano vertical é perpendicular ao solo
Mesmo quando se descreve uma estrutura anató- e rasa o promontório (ângulo entre a S.• vértebra
mica que se encontra em qualquer outra posição, lombar e a 1.• sagrada).
devem referir-se os seus elementos segundo a po-
sição anatómica; por exemplo, em posição sentada, Plano Sagital
a face anterior da coxa não passa a ser superior, é
anterior na mesma. O plano sagital, tal como o coronal, é um plano
vertical e corresponde ao eixo de simetria do corpo
humano, dividindo-o numa metade direita e nou-
PLANOS ANATÓMICOS DE REFERÊNCIA tra esquerda.
De cada lado do plano sagital distingue-se o que
Com base na posição anatómica definem-se três é medial (que está mais próximo do plano sagi-
planos principais de referência que dividem o cor- tal) do que é lateral (que está mais afastado do pla-
po em sectores facilmente identificáveis e referen- no sagital).
ciáveis (Fig. l). Este plano vertical é perpendicular ao plano
frontal, coincidindo com a linha média do orga-
nismo, passa pelo vórtex (ponto mais alto da abó-
bada craniana) e pelo ponto de união dos dois
calcanhares.

22
INTRODUÇÃO A ANATOMIA

Plano Horizontal Mediano, ou Umbilical de posição de orgãos e estruturas. Temos, assim, as


seguintes designações:
O plano horizontal mediano, ou umbilical é um Cranial/caudal - sinónimos de superior/in-
plano horizontal que passa pelo umbigo e divide ferior.
0 corpo numa parte superior (acima deste plano) Proximal/distal - sinónimos de superior/in-
e outra inferior (abaixo deste plano). Este plano é ferior, ou da menor ou maior proximidade da
perpendicular aos outros dois planos de referência raiz, base, ou pedículo de um órgão.
(frontal e sagital). Ventral(rostral)/dorsal - sinónimos de ante-
rior/posterior.
Planos paralelos aos planos de referência: Superficial/profundo - referências relativas à
A partir dos três planos principais define-se um superfície do corpo, de uma cavidade, ou de
número virtualmente infinito de planos parale- um órgão.
los, para facilitar a correta descrição das estrutu- • Interior/exterior - referências relativas a cavi-
ras anatómicas. dades (ou concavidades).
Além das definições de posição relativamente aos
planos anatómicos de referência (e planos parale- As designações "interior/exterior" têm sobretu-
los respectivos), há outras indicações importantes do que ver com a existência de cavidades no cor-

Fig. 2: Cavidades principais do corpo humano.


1. Cavidade craniana 2. Canal raquidiano 3. Tórax: cavidades pleurais 4. Tórax: cavidade pericárdica 5. Abdómen: cavidade peritoneal
6. Abdómen: cavidade pélvica 7. Diafragma

23
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

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Fig. 3A: Quadrantes da parede abdominal anterior. Fig. 38: Grandes sectores da parede abdominal anterior.
1. Hipocôndrio direito 2. Epigastro 3. Hipocôndrio esquerdo 4. Flanco 1. Superior direito 2. Superior esquerdo 3. Inf erior direito 4. Inferior
direito 5. Região umbilical 6. Flanco esquerdo 7. Fossa ilíaca direita esquerdo
8 . Hipogastro 9. Fossa ilíaca esquerda

po humano, algumas delas muito volumosas, que Também o Sistema Nervoso Central está envol-
contêm vários orgãos, como a cavidade craniana, vido por membranas especiais, na caixa craniana e
a cavidade torácica ou a cavidade abdominal (ou no canal raquidiano - as meninges - , com um lí-
abdominopélvica, considerando a bacia à parte do quido no seu interior, o líquor, onde estão mergu-
abdómen) (ver figura). lhados o encéfalo e a medula espinhal.
Relativamente à cavidade abdominal, com a mul-
tiplicidade de orgãos aí contidos, tornou-se útil re-
ferenciar os órgãos abdominais a quadrantes (4)
ou sectores (9) em que se projectam na sua parede
ântero-lateral. Os 4 quadrantes são 2 superiores e
2 inferiores, direitos e esquerdos; os 9 sectores são
os seguintes (ver figura):
• Superiores: epigastro, hipocôndrio direito, hi-
pocôndrio esquerdo;
• Médios: umbilical, flanco direito, flanco es-
querdo;
• Inferiores: hipogastro, fossa ilíaca direita, fos-
sa ilíaca esquerda.

Ainda a propósito das vísceras torácicas e abdo-


minais, importa notar que se encontram envolvi-
das por um saco membranoso duplo, como se es-
tivessem embutidas num balão mal cheio, que lhes
permite uma grande mobilidade; essas duas mem-
branas são de facto os folhetos visceral e parietal
da mesma: o pericárdio à volta do coração, as pleu-
ras nos pulmões, o peritoneu nas vísceras abdomi-
nais e pélvicas.

24
1. PELE E ANEXOS

INTRODUÇÃO • Regulação da temperatura corporal: através


da dilatação ou constrição dos vasos da der-
A pele (ou tecido cutâneo) é o maior órgão do me, a pele contribui para a eliminação ou
corpo humano, revestindo-o quase por comple- conservação de calor, respectivamente. A pro-
to. Nela encontram-se várias estruturas especiali- dução de suor é particularmente importante
zadas - os anexos - sendo eles: pêlos, unhas, glân- na eliminação de calor.
dulas sudoríparas e sebáceas. Este conjunto de- • Excreção: embora não seja uma função mui-
sempenha várias funções importantes, nomeada- to significativa, através do suor são eliminados
mente: alguns produtos de excreção do metabolismo.
• Protecção mecânica e microbiológica: as ca- • Produção de vitamina D: por exposição à ra-
madas da pele, desde que mantenham a sua diação ultravioleta, é produzido na pele um
integridade, formam uma barreira fisica con- precursor da vitamina D activa (o colecalci-
tra agentes estranhos. Por outro lado, o seu ferol), que posteriormente vai ser activado no
baixo pH, baixo conteúdo hídrico e elevado fígado e rim.
conteúdo lipídico criam um ambiente desfa- • Sensibilidade: a pele tem vários tipos de re-
vorável à sobrevivência e proliferação de vá- ceptores sensíveis a diferentes estímulos, no-
rios microrganismos. Existem ainda na pele meadamente, térmicos, álgicos, tácteis, de es-
alguns elementos do sistema imunitário que tiramento e pressão. Na tabela 1.1 são descri-
contribuem, igualmente, para esta função. tas as principais características dos diferentes
• Protecção contra a radiação ultravioleta: a me- tipos de receptores encontrados na pele.
lanina existente na pele absorve a radiação ul-
travioleta, protegendo os tecidos mais profun-
dos da acção deletéria deste tipo de radiação.

Tipo de receptor Localização anatómica Tipos de estímulos detectados

• Dor e temperatura
Terminações nervosas livres Derme e camadas mais profundas da epiderme.
• Tacto grosseiro e pressão

Junto às células de Merkel (na camada mais profunda da • Tacto grosseiro


Discos tácteis (Merkel) epiderme) com as quais comunicam. As terminações nervosas • Pressão superficial
associadas aos discos localizam -se na derme. • Textura e forma dos objectos

Plexos dos folículos pilosos Derme reticular, envolvendo os folículos pilosos. • Movimento dos pêlos

Derme papilar (principalmente nos lábios, palmas e pontas dos


• Tacto discriminativo
Corpúsculos tácteis (Meissner) dedos das mãos, plantas dos pés, pálpebras, mamilos e órgãos
• Textura e forma dos objectos
genitais).

Derme reticular (na região mais profunda desta camada);


• Pressão profunda
Hipoderme (nas palmas das mãos, plantas dos pés, mamas e
Corpúsculos lamelares (Pacini) • Vibração
genitais externos). Também se encontram na membrana sinovial
• Propriocepção
e na parede de algumas vísceras.

• Pressão profunda contínua


Corpúsculos de Ruflini Derme e hipoderme.
• Distorção da pele

• Pressão ligeira
Bulbos de Krause Mucosas (cavidade bucal, nasal, vagina e canal anal)
• Vibração

Tabela 1.1 - Receptores nervosos da pele e mucosas

27
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

lulas especializadas, que contribuem para diferen-


tes funções:
A pele é formada por duas camadas, que são, da Células dendríticas (de Langerhans) - fa-
superfície para a profundidade (Fig.1.1): zem parte do sistema imunitário, contribuin-
• Epiderme do para a função de defesa da pele face a or-
• Derme ganismos estranhos.
Melanocitos - células produtoras de melani-
Profundamente à derme, existe ainda uma cama- na, ou seja, um conjunto de pigmentos maio-
da de tecido subcutâneo (Fig. 1.1) - a hipoderme ritariamente castanhos e pretos, mas alguns
com a sua aponevrose, a fascia superficialis. também avermelhados e amarelados, que
A união das duas camadas não é plana, sendo que contribuem para a cor da pele e dos pêlos e
a derme apresenta projecções - as papilas dérmi- protegem contra as radiações ultravioleta.
cas - que se intercalam com projecções da epider- Células de Merkel - estão associadas aos dis-
me - as cristas epidérmicas - aumentando a área cos de Merkel, sendo células especializadas
de contacto entre ambas, contribuindo assim para para a sensibilidade táctil.
uma ligação mais forte.
Derme

É a camada mais profunda da pele. É constituída


por tecido conjuntivo e divide-se em duas porções:
• Derme papilar: mais superficial e mais fina;
contém na sua espessura vasos sanguíneos,
12 linfáticos, nervos e corpúsculos tácteis.
• Derme reticular: mais profunda, mais espes-
sa e mais resistente; contém na sua espessu-
4
ra vasos sanguíneos, linfáticos, nervos e vários
tipos de receptores nervosos, folículos pilosos,
2
glândulas sudoríparas e sebáceas.

Hipoderme
3
Não faz parte da pele propriamente dita. Locali-
za-se imediatamente abaixo da derme, à qual está
8 14 10 11 ligada por fibras de colagénio. É formada por te-
Fig. 1.1: Estrut ura da pele
cido conjuntivo (a fascia superjicialis, que a limi-
1. Epiderme 2. Derme 3. Hipoderme 4. Derme papilar 5. Derme ta em profundidade) e tecido adiposo, sendo este
reticular 6. Crista epidérmica 7. Papila dérmica 8. Folículo piloso
9. Glândula sebácea 10. Corpusculo lamelar (Paccini) 11. Bulbo de
último predominante nalgumas regiões anató-
Krause 12. Corpúsculo táctil (Meissner) 13. Disco táctil 14. Corpúsculo micas, designando-se por gordura subcutânea.
de Ruffini Habitualmente, esta é mais espessa nas mulhe-
res (embora seja variável não só com o sexo, mas
Epiderme também com a idade e com o tipo de alimenta-
ção), sendo a sua distribuição diferente nos dois
É a camada mais superficial da pele. É constituí- sexos. Nos homens, encontra-se principalmen-
da por tecido epitelial estratificado pavimentoso e te no pescoço, abdómen, porção póstero- inferior
queratinizado. Não contém na sua espessura va- do tronco, porção superior do braço e região glú-
sos sanguíneos, sendo nutrida por difusão a par- tea. Nas mulheres, encontra-se principalmente
tir da derme. Nesta camada, para além das células na mama, região glútea, anca e coxa.
estruturais - os queratinocitos - encontram-se cé- Esta gordura serve como reserva energética, con-

28
PELE E ANEXOS

tribui para a manutenção da temperatura corpo- um espessamento proximal formado por células
ral e pode ajudar a ate1;uar o impacto mecânico vivas, a partir do qual se dá o crescimento da unha
aquando duma queda. E ainda local de adminis- - a matriz ungueal - e uma porção mais distal, lo-
tração (subcutânea) de fármacos, por exemplo da calizada por baixo do bordo livre da placa ungueal
insulina. - o hiponíquio.

Pê/os

Os pêlos são estruturas queratinizadas modifica-


Os anexos da pele compreendem as unhas, os pê- das e especializadas, que se encontram pratica-
los, as glândulas sudoríparas e sebáceas. mente em todo o corpo, excepto na pele das pal-
mas e bordos laterais das mãos e dedos, plantas e
Unhas bordos laterais dos pés e dedos, lábios e algumas
porções dos órgãos genitais externos.
As unhas são estruturas muito queratinizadas, du- Existem três tipos de pêlos:
ras, localizadas na face dorsal das falanges distais • Lanugo: pêlos finos, sem pigmentação; en-
dos dedos das mãos e dos pés (Fig. 1.2). São for- contram-se no feto, no último trimestre da
madas por uma porção mais proximal - a raiz un- gravidez.
gueal - à qual se segue o corpo da unha (tona- • Vêlo: pêlos finos, sem pigmentação ou ligeira-
lidade rosa), que termina num bordo livre (bran- mente pigmentados; na altura do nascimento,
co). Estes três elementos formam a placa ungueal, este tipo de pêlos já substituíram o lanugo e
constituída essencialmente por células mortas. Na recobrem grande parte da superfície corporal
porção mais proximal do corpo, encontra-se uma na criança e na mulher adulta.
zona com configuração em meia-lua, mais clara - • Pêlos terminais ou adultos: são grossos, pig-
a lúnula. A epiderme junto à base da unha pro- mentados e mais compridos do que o vêlo;
longa-se por cima do corpo da unha, formando o encontram-se no couro cabeludo (formam o
eponíquio ou cutícula. cabelo), sobrancelhas e pestanas; na puberda-
de, substituem o vêlo nas axilas e zona púbi-
ca e recobrem grande parte da superfície cor-
poral no homem adulto (existe alguma varia-
blidade individual) - membros superior e in-
ferior, tronco e parte da face (barba).

Os pêlos têm origem em folículos pilosos (Fig.


1.1) cuja porção inferior apresenta uma dilatação
- o bulbo piloso. Este é formado por células vivas
(ao contrário do pêlo em si, que é formado por cé-
lulas mortas) que formam a matriz do pêlo, a par-
tir das quais se dá seu o crescimento. Avançando
para a superfície a partir do bulbo, encontram-se
a raiz e a haste do pêlo. Ao longo do pêlo desde
a derme papilar até ao folículo piloso encontra-
Fig. 1.2: Estrutura da unha -se o músculo erector do pêlo, formado por teci-
1. Matriz ungueal 2. Raiz da unha 3. Leito ungueal 4. Hiponíquio do muscular liso e inervado pelo sistema nervoso
5. Corpo da unha
simpático. A sua contracção faz com que o pêlo fi-
que erecto (por vezes designado "pele de galinha")
A epiderme que se encontra por baixo da placa e contribui para a eliminação do produto de secre-
ungueal designa- se de leito ungueal. Apresenta ção das glândulas sebáceas.

29
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

O s pêlos têm como principais funções a protecção defesa contra bactérias. Tem um odor característi-
(ex: pêlos nas fossas nasais retêm partículas estra- co, variável de indivíduo para indivíduo.
nhas e microrganismos) e a retenção de calor (ape-
nas em zonas em que a densidade pilosa é signifi- NOÇÕES DE ANATOMIA CLÍNICA
cativa, como por exemplo no cabelo).
Alterações da cor ou a presença de manchas (má-
Glândulas Sudoríparas culas), pápulas, vesículas ou outros achados na
pele podem alertar para a presença de patolo-
As glândulas sudoríparas são glândulas exócrinas, gia que pode ser da própria pele ou manifestação
constituídas por duas porções: uma porção secre- cutânea de doença de outros órgãos. Por exemplo,
tora, em forma de novelo, que se encontra na der- uma tonalidade amarela da pele e mucosas devi-
me reticular ou na hipoderme; um canal excretor, da à deposição de bilirrubina - icterícia - pode
que abre à superfície da pele ou nos folículos pilo- sugerir doença hepática; estrias (que correspon-
sos, consoante o tipo de glândula. dem a zonas de atrofia linear da pele) vermelhas
Existem dois tipos de glândulas sudoríparas: podem surgir durante a gravidez, mais frequente-
merócrinas e apócrinas. As principais diferenças mente no abdómen, nas mamas, na região glútea
entre elas são descritas na tabela 1.2. e nas coxas, ou na doença de Cushing (neste caso,
roxos); a meningite meningocócica pode mani-
Glândulas sebáceas festar-se por petéquias (manchas pequenas e ver-
melhas, que não desaparecem quando pressiona~
As glândulas sebáceas são, igualmente, glândulas das e que resultam de extravasamento de sangue
exócrinas, constituídas por uma porção secretora na pele); alterações da coagulação podem mani-
e um canal excretor, ambos localizados na derme. festar-se por hemorragias cutâneas mais ou me-
Habitualmente, · os canais excretores abrem nos nos extensas.
folículos pilosos, excepto nalguns locais em que A observação das unhas pode também fornecer
abrem directamente para a superficie da pele. pistas diagnósticas importantes, quer por altera-
O seu produto de secreção - o sebo - é rico em lí- ções da sua forma quer da sua cor. Por exemplo,
pidos, contribuindo para a lubrificação da pele e a presença de coiloniquia (Fig. 1.3), isto é, unhas

Tipo de glândula Localização anatómica Tipo de secreção e funções Regulação

• Encontram- se por todo o corpo · Produzem uma secreção aquosa, com alguns
excepto nos lábios, mamilos e electrólitos (principalmente NaCl) e produtos
órgãos genitais externos. São de excreção do metabolismo (amónia, ureia) A regulação é feita
abundantes nas palmas das mãos, -o suor. pelo sistema nervoso
Merócrina simpático, que estimula
plantas dos pés e fronte. • São importantes para a regulação da
• O canal excretor atravessa temperatura corporal (eliminação de calor), a produção do suor.
ambas as camadas da pele e abre à protecção contra bactérias e contribuem para
superficie da epiderme. alguma excreção de produtos do metabolismo.

· Encontram-se nas axilas, aréola


Produzem um líquido mais viscoso e turvo, A regulação é
mamária, zona púbica e região
composto por proteínas e lípidos. As bactérias hormonal, tornando-se
Apócrina anal.
metabolizam estes compostos produzindo-se estas glândulas activas a
• O seu canal excretor abre nos
um odor característico. partir da puberdade.
folículos pilosos.

Tabela 1.2 - Glândulas sudoríparas: merócrinas e apócrinas.

30
PELE E ANEXOS

concavas em vez de convexas e frágeis, pode resul-


tar duma carência em ferro; uma tonalidade azu-
lada das unhas pode indicar cianose periférica por
vasoconstrição periférica, que poderá estar presen-
te, por exemplo, em doentes com insuficiência car-
díaca congestiva.

Fig. 1.4: Melanoma maligno

PERG UNTAS TIPO

1. Qyal das seguintes camadas não faz parte da


pele?
a. Derme reticular.
b. Epiderme.
c. Derme papilar.
d. Hipoderme.

2. Relativamente às unhas, é falso que:


a. O corpo ungueal é formado por células
mortas.
b. O eponíquio é a porção do leito ungueal
Fig. 1.3: Coiloniquia
que está por baixo do bordo livre da unha.
c. A unha tem origem na matriz ungueal.
Uma das alterações mais frequentes na pele é a hi- d. São revestidas pelas cutículas.
perqueratose, que consiste num espessamento da
epiderme (nomeadamente da sua camada mais 3. Relativamente aos pêlos, é verdade que:
exterior, a camada córnea). Esta alteração pode a. O lanugo é um tipo de pêlo fino, sem pig-
ocorrer em qualquer área com revestimento epi- mentação, que reveste as palmas das mãos
telial queratinizado, e pode resultar de fricção re- e plantas dos pés.
petida sobre determinada área, de défices nutricio- b. O bulbo piloso localiza-se na epiderme.
nais (ex: défice de Vitamina A), entre outras etio- c. A inervação do músculo erector do pêlo é
logias menos frequentes. feita pelo sistema nervoso simpático.
O cancro da pele tem uma elevada prevalên- d. É nos folículos pilosos que abrem, habi-
cia, existindo vários tipos de neoplasias malignas tualmente, os canais excretores das glân-
da pele, nomeadamente, os carcinomas basocelu- dulas sudoríparas merócrinas.
lar e espinocelular e o melanoma maligno (Fig.
1.4). Este último destaca-se, não por ser o mais i:::J-Eia-z ~a-t
frequente, mas por ser o mais agressivo. Origina- :s~sodsa1:1
-se a partir dos melanocitos, surgindo, habitual-
mente, em zonas onde previamente existiam ne-
vos ou verrugas. São factores de risco importan-
tes a exposição solar excessiva e a tonalidade mais
clara da pele.

31
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

McKinley, M .; O'Loughlin, V.D.; O'Brien, P.


Human Anatomy. 6. ª Edição. McGraw-Hill,
2020.
VanPutte, C.; Regan,J.; Russo,A. Seeley's
Anatomy & Physiology. 9.• edição. McGraw-Hill,
2016.
Guerra Rodrigo, F.; Marques Gomes M. et al.
Dermatologia. Ficheiro Clínico e Terapêutico. 4.•
edição. Fundação Calouste Gulbenkian, 2010.
Goldsmith, L.A.;Katz, S.; Gilchrest, B. et al.
Fitzpatrick's Dermatology in General Medicine. 8.ª
edição. McGraw-Hill, 2008 .

•••

32
2. SISTEMA LOCOMOTOR

com grande potencial mitótico; osteoblastos (cé-


lulas produtoras da matriz fibrosa não mineraliza-
da - osteoide - que após deposição de sais de cál-
O capítulo do sistema de suporte e movimen- cio e fosfato se transforma na matriz óssea defi-
to abranje o conjunto de estruturas responsáveis nitiva, sendo assim responsáveis pelo crescimen-
pela sustentação e mobilização do organismo, dis- to ósseo); osteocitos (células que derivam dos os-
tribuindo- se por três grandes grupos: o esqueleto, teoblastos após estes terem produzido o tecido ós-
as articulações e os músculos. seo que os circunda); osteoclastos (células deriva-
Abordar-se-ão assim estas três vertentes da anato- das dos monócitos responsáveis pela reabsorção da
mia humana numa perspectiva descritiva, funcio- matriz óssea).
nal e clínica, tendo em conta as relações anatómi-
cas e funcionais que se estabelecem entre as diver- OSSIFICAÇÃO
sas estruturas integradas no todo harmonioso que
é o organismo humano. Ossificação é o processo pelo qual se forma o te-
cido ósseo a partir de uma matriz indiferenciada
inicial, individualizando-se em estruturas inde-
OSTEOLOGIA pendentes denominadas "ossos".
A ossificação pode ser de dois tipos: intramembra-
INTRODUÇÃO nosa e endocondral, consoante o tecido ósseo de-
rive respectivamente de tecido fibroso ou de car-
Estruturalmente, o sistema esquelético do organis- tilagem hialina, tendo o produto final característi-
mo é constituído por dois grandes tipos de tecido: o cas semelhantes. A ossificação endocondral é ca-
tecido ósseo e o tecido cartilagíneo, predominando racterística dos ossos dos membros, coluna verte-
o primeiro. Os ossos e as cartilagens vão assim ser bral, temporal e occipital; enquanto o frontal, pa-
a base de sustentação de todas as estruturas do or- rietais e ossos da face se formam através de um
ganismo, estabelecendo relações privilegiadas com processo de ossificação intramembranosa.
os músculos e relacionando-se entre si através de
complexos estruturais denominados "articulações". OSSO COMPACTO E OSSO ESPONJOSO

EMBRIOLOGIA E HISTOLOGIA O tecido ósseo pode ser de dois tipos: compacto


ou esponjoso.
O tecido ósseo é um tipo especializado de teci- O tecido ósseo compacto localiza-se habitual-
do conjuntivo em que as células específicas que o mente nas porções mais exteriores dos ossos, sen-
compõem se encontram incluídas numa matriz do o mais rígido e denso. O tecido ósseo espon-
com características próprias, assumindo uma ri- joso situa-se nas porções mais profundas dos os-
gidez e resistência únicas que lhe são conferidas sos, apresentando uma estrutura mais frágil e tra-
pela sua riqueza em sais inorgânicos como o fos- beculada.
fato de cálcio e o carbonato de cálcio.
MEDULA ÓSSEA
CÉLULAS ÓSSEAS
No interior dos ossos, predominantemente as epí-
As células que constituem o tecido ósseo são de fises dos ossos longos, as vértebras e os ossos acha-
4 tipos distintos: células osteogénicas progenitoras tados de maiores dimensões, dispersa por entre as

33
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

trabéculas do tecido ósseo esponjoso, encontra-se tica e dinâmica, mecânicas do organismo. O osso
a medula óssea, que constitui um tecido/órgão in- é sede de processos metabólicas essenciais, sendo
dependente dos ossos em termos estruturais e fim- um orgão charneira no metabolismo fosfo-cálci-
cionais mas deles dependente como meios de pro- co através da reabsorção (osteoclastos) ou produ-
tecção e contensão e cuja função é a hematopoiese ção (osteoblastos) da matriz óssea, sendo o esque-
(produção das células do sangue). leto o principal armazém daqueles minerais e sen-
Tal como a maioria dos processos fisiológicos, do órgão alvo de hormonas como a calcitonina e
também a hematopoiese diminui com a idade. a paratormona.
Deste modo, na infância e adolescência, dada a Alojando no seu interior a medula óssea, o osso
elevada produção de elementos figurados do san- participa no processo de hematopoiese.
gue, a medula óssea é designada de "medula ver-
melha" (medulla ossium rubra) uma vez que é com-
posta essencialmente por células hematopoiéti- MÉTODO DESCRITIVO
cas progenitoras. Com o envelhecimento o com-
ponente adiposo da medula óssea vai aumentan- Na descrição de qualquer estrutura anatómica,
do, com consequente diminuição das células he- há que seguir um esquema preciso e organizado,
matopoiéticas progenitoras, designando-se "me- adaptando o método descritivo.
dula amarela" (medulla ossium flava). É na descrição dos ossos que o método descriti-
vo encontra o seu expoente de organização e sis-
CRESCIMENTO E REMODELAÇÃO ÓSSEAS tematização, visto ter-se convencionado que, para
a descrição de um osso, há que seguir uma série
Após o processo de ossificação, em que a matriz fi- de passos bem definidos, de modo a permitir que
brosa ou cartilagínea inicial dá origem a tecido ós- o osso seja correctamente percebido e visualizado
seo, os ossos continuam a crescer, quer em compri- pelo ouvinte. Os passos a seguir na descrição de
mento quer em espessura. um osso são: identificação; classificação; paridade;
Nos ossos longos, o crescimento longitudinal é fei- localização; orientação e descrição.
to à custa das chamadas "cartilagens de crescimen-
to ou metáfises", estruturas cartilagíneas onde ao CLASSIFICAÇÃO
longo da infância e adolescência se continua a dar
um processo de multiplicação celular e ossificação. Ossos Longos
Chegada a idade adulta termina este processo e as
cartilagens de crescimento encerram, atingindo o Os ossos longos caracterizam-se por uma dimen-
osso o seu comprimento definitivo. são (comprimento) predominar sobre as outras
O crescimento em espessura/diâmetro faz-se com duas, sendo exemplos o fémur ou o úmero.
base no periósteo, através de um processo de os- Os ossos longos dividem-se em diversas porções:
sificação intramembranosa, que pode persistir ao 2 Epífises ou Extremidades; 1 Diáfise ou Cor-
longo de toda a vida. É também este mecanismo po e 2 Metáfises entre a diáfise e cada uma das
de deposição óssea pelos osteoblastos do periós- epífises.
teo o responsável pela remodelação e renovação do
osso quando sujeito a agressões (p.e. fracturas) ou Ossos Curtos ou Cubóides
durante a renovação fisiológica e lenta a que os os-
sos são sujeitos ao longo da vida. Nos ossos curtos as três dimensões equivalem-
-se, não havendo nenhuma que predomine sobre
FISIOLOGIA E FUNÇÕES DO OSSO as restantes, sendo exemplos os ossos do carpo ou
o etmóide.
Embora sejam as estruturas de base para o siste-
ma de suporte e movimento, os ossos desempe-
nham funções que vão muito além da área da está-

34
SISTEMA LOCOMOTOR I CABEÇA E PESCOÇO

2
••• •
4
5
5
8 6
4

Fig. 2.9: Esquema do etmóide.


1. Crista galli 2. Lâmina perpendicular 3. Lâmina horizontal/crivosa
4. Concha nasal superior 5. Meato superior 6. Concha nasal média
7. Meato médio 8. Célula etmoidal
8

Fig. 2.11: Vista superior e lateral do etmóide.


1. Crista galli 2. Semi~células etmóidais 3. Canal etmoidal anterior
4. Canal etmoidal posterior 5. Lâmina 6. Psoas orbitária 7. Concha
nasal média 8. Semi•célula

móide, que termina inferiormente por duas lâ-


minas: uma inferior que se articula com a apófise
etmoidal do cometo nasal inferior; outra poste-
rior, que termina por uma extremidade livre per-
to do bordo posterior do orifício do seio maxi-
2
lar. Ao nível da extremidade superior da apófi-
se uncinada etmoidal, existe uma saliência, a ag-
ger nasi, considerada a porção mais anterior do
Fig. 2.10: Vista anterior do etmóide. osso etmóide. Posteriormente à apófise uncina-
1. Crista gali 2. Lâmina perpendicular 3. Processo 4. Concha nasal
média 5. Semi célula da etmoidal, existe a bula etmoidal (considera-
da a maior célula etmoidal anterior), próxima do
onde se abrem as células etmoidais anteriores, o bordo superior do cometo nasal médio, do qual
seio frontal e o seio maxilar. O cometo superior se encontra separado pelo sulco retro-bular, onde
delimita o meato superior, onde se abrem as célu- podemos encontrar orifícios de células etmoidais.
las etmoidais posteriores. O seio esfenoidal drena A bula etmoidal encontra-se separada do proces-
geralmente para o recesso esfeno-etmoidal, situa- so uncinado etmoidal pelo hiato semi-lunar; na
do póstero-superiormente ao meato superior. extremidade superior deste hiato, encontramos a
Da extremidade anterior do meato médio desta- trabécula uncibular, que une a bula à apófise un-
ca-se a apófise uncinada (ou unciforme) do et- cinada.

47
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

ESFENÓIDE este canal dá passagem ao nervo óptico (II ner-


vo craniano) e à artéria oftálmica, ramo da artéria
O esfenóide, ímpar e irregular (também pode ser carótida interna. É na sua face superior que a hi-
considerado como um osso cubóide), ocupa a por- pófise (glândula pituitária) assenta, mais concre-
ção anterior e mediana da base do crânio (à fren- tamente numa depressão denominada "fossa hi-
te do occipital e dos temporais, entre o frontal e o pofisária" ou sela turca, que é limitada anterior-
parietal) apresentando um formato complexo, as- mente pelo tubérculo da sela (tubérculo pituitá-
semelhando-se a uma borboleta ou a um morce- rio) e posteriormente pelo dorso da sela (lâmina
go. Une-se a alguns ossos do maciço facial, articu- quadrilátera do esfenóide). Na porção mais ante-
lando-se, contudo, com todos os ossos do crânio. rior da sela turca, posteriormente ao tubérculo da
Qyanto à sua orientação, podemos afirmar que a sela, encontramos o sulco do seio coronário, limi-
linha que une os pontos mais afastados do osso é tado posteriormente pela crista sinustósica (ves-
simultaneamente anterior e superior. tígio da união das duas porções primitivas do es-
Neste osso podemos descrever uma porção media- fenóide). Esta crista sinustósica termina lateral-
na (corpo) e três apófises que surgem de cada lado mente por duas saliências de dimensões variá-
da linha média: duas laterais (asa maior [grande veis, as apófises clinoideias médias. O tubérculo
asa] e asa menor [pequena asa] do esfenóide); uma da sela ladeia posteriormente o sulco pré-quias-
vertical e descendente (apófise ou processo pteri- mático. De cada lado da sela turca, ao nível do
goideu). bordo superior do dorso da sela, surgem proje-
Durante o seu desenvolvimento, até ao 8.0 mês de ções denominadas "apófises clinoideias posterio-
gestação, o esfenóide consiste em duas partes dis- res". O dorso da sela continua-se posteriormen-
tintas: uma posterior ou pós-esfenóide (fossa pi- te com a porção basilar do occipital (formando
tuitária, asas maiores e apófises pterigoideias), e o clívus, também conhecido por ladeira de Blu-
outra anterior ou pré-esfenóide (parte anterior do menbach), sendo os seus bordos laterais escava-
corpo e asas menores). Ao nascimento, o esfenói- dos por duas chanfraduras: uma superior, relacio-
de é constituído por três porções: ao centro temos nada com o nervo óculo-motor (III nervo cra-
o corpo (unido às asas menores) estando as asas niano) e outra inferior, para o seio venoso petro-
maiores e as apófises pterigoideias mais lateral- so inferior.
mente. As asas maiores unem-se ao corpo durante A face posterior corresponde a uma superfície
o primeiro ano, após o nascimento. quadrilátera, pela qual o esfenóide se articula com
o occipital. O limite entre esta face e a porção mais
Corpo Esfenoidal posterior da face superior do esfenóide encontra-
-se mal definido.
O corpo do esfenóide contém os dois seios esfe- A face anterior faz parte do teto das fossas nasais,
noidais e apresenta uma forma cúbica irregular; apresentando na linha média uma crista vertical
apresenta consequentemente seis faces. (crista esfenoidal anterior), que se articula com o
Na sua face superior ou cerebral, podemos en- bordo posterior da lâmina perpendicular do et-
contrar uma superfície quadrilátera e lisa, desig- móide, formando parte do septo nasal. Lateral-
nada por "jugum esfenoidal". Por vezes, apresenta mente à crista existem os orifícios de entrada dos
um prolongamento anterior designado por "apó- seios esfenoidais, e uma superfície com cavidades
fise etrnoidal do esfenóide". "Continua-se" an- irregulares (as serni-células esfenoidais) que com-
teriormente com a lâmina horizontal do etmói- pletam os seios existentes nos labirintos etrnoi-
de. Posteriormente ao jugum esfenoidal, encon- dais, articulando-se igualmente com a superfície
tramos uma crista côncava anteriormente, o lim- esfenoidal do processo orbitário do osso palatino.
bus esfenoidal. Posteriormente a este, encontra- Esta face une-se também à lâmina horizontal do
mos o sulco pré-quiasmático (goteira óptica), que etmóide através da apófise etrnoidal.
se continua de cada lado com o canal óptico cor- Na face inferior existe uma saliência, ao nível da
respondente, escavado na base das asas menores; linha média, designada "crista esfenoidal inferior"

48
SISTEMA LOCOMOTOR I CABEÇA E PESCOÇO

(articula-se com o vómer de uma forma incom- ramos terminais do nervo oftálmico (ramo do tri-
pleta originando o canal vómero-rostral ou esfe- gémio, V nervo craniano), além da veia oftálmica.
no-vomeriano médio, formando uma articulação Dá também passagem à raiz simpática do gânglio
classificada como "esquindílese"), que apresenta autonómico ciliar.
uma saliência na extremidade anterior, chamada
"rostrum esfenoidal (ou bico do esfenóide)", que Asas Maiores
se continua pela crista esfenoidal anterior. Late-
ralmente à crista esfenoidal inferior encontramos As asas maiores do esfenóide surgem da porção
duas superfícies triangulares lisas, designadas por póstero-inferior do corpo, e dirigem-se para cima,
"conchas esfenoidais" (cornetas de Bertin), que são para fora e para trás. Têm uma face medial, ce-
por sua vez limitadas póstero-lateralmente pela rebral ou endocraniana, e outra lateral ou exocra-
apófise vaginal esfenoidal (saliência da raiz medial niana.
do processo pterigoideu). Na face endocraniana salientam-se três orifícios
Das faces laterais do corpo do esfenóide surgem que são (de anterior para posterior): foramen re-
as asas menores ântero-superiormente, e as asas dondo (foramen grande redondo), foramen oval
maiores póstero-inferiormente. Entre estas duas e foramen espinhoso (foramen pequeno redon-
estruturas forma-se a fissura orbitária superior do). O foramen redondo permite a comunica-
(fenda esfenoidal). Na extremidade medial desta ção com a fossa ptérigo-palatina (transfundo da
fissura, encontramos o sulco de inserção do anel fossa ptérigo-maxilar) e é atravessado pelo ner-
tendinoso comum dos músculos oculares (tendão vo maxilar (ramo do V nervo craniano) e por pe-
de Zinn), limitado anteriormente pelo tubérculo quenas veias emissárias. Pelo foramen oval passam
infra-óptico. Junto à raiz da asa maior, encontra- o nervo mandibular (ramo do V nervo craniano),
mos o sulco carotídeo, relacionado com a artéria o ramo meníngeo acessório da artéria meníngea
carótida interna. Esta face do corpo do esfenói- média e, por vezes, veias emissárias, comunican-
de participa na constituição da parede medial da do com a fossa infra-temporal (fossa ptérigo-ma-
órbita. xilar). No foramen espinhoso passam o ramo me-
níngeo do nervo mandibular e a artéria meníngea
Asas Menores média, que têm origem na fossa infra-temporal.
Nesta região podem ainda identificar-se dois ori-
As asas menores do esfenóide, que surgem da zona fícios inconstantes: foramen emissário esfenoidal
ântero-superior do corpo, projetam-se transversal- de Vesálio (situado ântero-medialmente ao fora-
mente para fora e terminam num vértice afilado. men oval), por onde passa uma veia emissária; e o
Nascem a partir de duas raízes (superior e inferior) orifício superior do canalículo inominado de Ar-
que, ao se unirem, circunscrevem o foramen ópti- nold (póstero-medialmente ao foramen oval), que
co. Apresentam dois bordos e duas faces. O bor- pode dar passagem ao nervo petroso menor (ramo
do anterior une-se ao frontal e, ao nível do bordo do plexo timpânico, formado por ramos do glos-
posterior, livre, projeta-se a apófise clinoideia an- sofaríngeo, IX nervo craniano; também conhecido
terior cujo vértice é posterior. Por vezes, as apófises por "pequeno petroso profundo") e ao ramo do fa-
clinoideias anterior e média encontram-se unidas cial comunicante com o plexo timpânico (conhe-
por uma ponte de tecido ósseo, formando o fora- cido como "nervo pequeno petroso superficial",
men carótido-clinoideu. A face superior é plana e ramo do facial, Vll nervo craniano).
lisa, estando assente sobre ela parte do lobo fron- A face exocraniana está dividida numa face orbi-
tal do cérebro. A face inferior faz parte da consti- tária e noutra têmporo-zigomática pela crista ou
tuição da parede superior da órbita, sendo também bordo zigomático, que se articula com o processo
o limite superior da fissura orbitária superior. Esta frontal do osso zigomático. A face orbitária cons-
fissura dá passagem às seguintes estruturas: ner- titui parte da parede lateral da cavidade orbitária,
vos óculo-motor (III nervo craniano), troclear (IV e os seus dois bordos contribuem para delimitar
nervo craniano), abducente (Vl nervo craniano) e ambas as fissuras orbitárias: o seu bordo superior

49
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

forma o lábio inferior da fissura orbitária superior; lo aberto posteriormente, que contribui para a for-
o seu bordo inferior limita superiormente a fissura mação da fossa pterigoideia. Estão separadas infe-
orbitária inferior (fenda esfeno-maxilar). riormente, delimitando assim a incisura ou chan-
A porção têmporo-zigomática da face exocrania- fradura pterigoideia que é preenchida pelo proces-
na está dividida por uma crista transversal, a cris- so piramidal do osso palatino. Abaixo da sua ori-
ta infra-temporal (crista pterigoideia ou crista es- gem, as duas raízes circunscrevem o orificio do ca-
feno-temporal), em duas porções ou facetas: uma nal pterigoideu (canal vidiano), onde passam os
superior (ou temporal), convexa, que faz parte da vasos e nervo do canal pterigoideu (vasos e ner-
fossa temporal e é uma zona de inserção do mús- vo vidianos).
culo temporal; e outra inferior (ou infra-tempo- Cada apófise pterigoideia apresenta quatro faces:
ral, ou zigomática), de menores dimensões, côn- anterior, posterior, medial e lateral. A face anterior
cava, que faz parte da constituição da fossa infra- faz parte da parede posterior da fossa ptérigo-pa-
-temporal e dá inserção ao feixe superior do mús- latina (transfundo da fossa ptérigo-maxilar), apre-
culo pterigoideu lateral. Nesta faceta infra-tempo- sentando o orillcio anterior do canal pterigoideu.
ral, encontramos os foramina oval e espinhoso. Na A face medial une-se ao osso palatino, apresentan-
crista propriamente dita também se inserem fei- do na extremidade superior a apófise vaginal do
xes dos músculos temporal e pterigoideu lateral, esfenóide, que se desloca para dentro, aplicado so-
nomeadamente no tubérculo esfenoidal (presente bre a face inferior do corpo do esfenóide. Termi-
na extremidade anterior da crista infra-temporal). na por um bordo medial livre, que limita um sul-
A asa maior do esfenóide é limitada por dois bor- co profundo com a porção correspondente da face
dos, um medial e outro lateral. O bordo lateral ar- inferior do corpo esfenoidal. O bordo lateral da
ticula-se em toda a sua extensão com a porção es- asa do vómer encerra este sulco, transformando-o
camosa do osso temporal. O bordo medial apre- no canal vómero-vaginal (canal esfeno-vomeria-
senta três segmentos: um anterior, que forma o lá- no lateral). Esta apófise articula-se também com
bio inferior da fissura orbitária superior; um mé- a apófise esfenoidal do osso palatino, formando
dio, unido ao corpo, e que constitui a raiz da asa um outro canal, o canal palato-vaginal (canal pté-
maior; por fim, um segmento posterior, que forma rigo-palatino); este canal dá passagem a ramos fa-
o bordo anterior do foramen lácero. Articula-se, ríngeos da artéria maxilar (nomeadamente o seu
posteriormente a este foramen, com o bordo ante- ramo ptérigo-palatino), do nervo maxilar (nomea-
rior do rochedo do temporal. Apresenta também a damente o nervo ptérigo-palatino, ou faríngeo de
este ruvel o orificio posterior do canal pterigoideu Bock), assim como a alguns ramos eferentes do
(canal vidiano). O segmento posterior do bordo gânglio ptérigo-palatino, geralmente destinados
medial dá origem à língula esfenoidal; esta saliên- ao nervo ptérigo-palatino.
cia divide o foramen lácero em duas porções, uma É na face lateral que se insere o músculo pterigoi-
medial e outra lateral. Ambos os bordos, medial e deu lateral, limitando medialmente a fossa infra-
lateral, unem-se anteriormente por uma superficie -temporal (fossa ptérigo-maxilar).
triangular frontal que se articula com o osso fron- A face posterior constitui parte da fossa pterigoi-
tal e com o ângulo ântero-inferior do osso parie- deia. Na porção súpero-medial desta fossa, exis-
tal. Unem-se também posteriormente,formando a te uma pequena depressão denominada "fosse-
espinha esfenoidal. ta escafoideia", que dá inserção ao músculo tensor
do véu do paladar (músculo periestafilino lateral).
Apófises Pterigoideias A parede medial da fossa relaciona-se com este
músculo; a parede lateral e o seu fundo dão inser-
As apófises pterigoideias, bilaterais, descem per- ção ao músculo pterigoideu medial. Esta fossa é li-
pendicularmente ao ponto onde o corpo e a asa mitada lateralmente pelo bordo posterior de am-
maior se unem. Apresentam duas raízes (medial bas as asas pterigoideias. O bordo posterior da asa
e lateral) que estão unidas na sua metade supe- medial apresenta uma chanfradura que se relacio-
rior pelo seu bordo anterior, formando um ângu- na com a trompa auditiva de Eustáquio; a sua ex-

50
SISTEMA LOCOMOTOR I CABEÇA E PESCOÇO

ção à fáscia faringo-basilar, ao músculo constritor


superior da faringe, e à rafe ptérigo-mandibular.

TEMPORAL

O temporal é um osso par, irregular (há quem o


6 4
considere placoide) situado na parte ínfero-late-
. 2.12: Vista póstero-superior do esfenóide.
Fig~a menor 2. Asa maior 3. Apófise clinóide anterior 4. Apófise
ral da abóbada craniana, apresentando uma por-
1
cmo•
1
•• •·de posterior 5. Superfície articular para o frontal 6. Foramen oval ção que participa na constituição da base do crâ-
?. Foramen espinhoso 8. Foramen redondo 9. Sela turca
nio. Localiza-se posteriormente ao esfenóide, in-
feriormente ao parietal e anteriormente ao occi-
pital. Qyanto à sua orientação, podemos afirmar
que a porção em forma de escama é superior, a sua
face convexa é lateral, e dela destaca-se um proces-
so que se dirige para a frente.
Cada temporal tem uma estrutura complexa e, na
vida fetal, é possível identificar três porções resul-
tantes de um processo de desenvolvimento inde-
pendente: petrosa ou rochedo (localizada na parte
inferior e medial, tendo a forma de uma pirâmide
com base na superficie lateral do crânio e um ápex
Fig. 2.13: Vista anterior do esfenóide.
1. Fissura orbitaria superior 2. Foramen do seio esfenoidal 3. Foramen orientado para a frente e para dentro), escamosa
redondo 4. Canal pterigóide 5. Face orbitária da asa maior (situada na parte ântero-superior, sendo constituí-
6.Apólise pterigóide
da por uma lâmina óssea vertical) e timpânica (in-
ferior em relação à escamosa e lateral em relação
à petrosa, tendo a forma de um anel incompleto,
aberto superiormente).
Durante o desenvolvimento fetal, a porção petro-
sa e escamosa crescem, ocorrendo a sua fusão. Esta
união dá origem a porção mastoideia do tempo-
6 ral, formando-se a cissura petro-escamosa poste-
4 rior (vestigial no adulto). A escama também apre-
7
senta um desenvolvimento interno a partir da sua
Fig. 2.14: Vista inferior do esfenóide. parte inferior, que origina a sua porção horizontal.
1. Crista esfenoidal inferior 2. Rostrum esfenoidal 3. Apófise
pterigóide 4. Foramen oval 5. Asa menor 6. Asa maior 7. Espinha
A porção timpânica cresce medialmente, forman-
esfenoidal do um canal semicircular (goteira timpânica),
cujos bordos estão unidos à face inferior da porção
tremidade inferior prolonga-se póstero-inferior- horizontal da escama, que posteriormente irão dar
mente por um hâmulo (gancho) pterigoideu, so- origem às paredes inferior, anterior e posterior do
bre o qual se reflete o músculo tensor do véu do canal auditivo externo. A parede superior é forma-
paladar. O bordo posterior da asa lateral apresenta da pela porção escamosa compreendida entre os
a apófise ptérigo-espinhosa (de Civinini), que dá dois bordos. Este crescimento não ocorre a veloci-
inserção ao ligamento homónimo. dades iguais, sendo mais rápido o da parede ante-
As asas pterigoideias apresentam funções distintas. rior e posterior. Isto origina na porção mais infe-
A asa lateral relaciona-se sobretudo com a fossa rior uma região não ossificada, criando o foramen
infra-temporal e espaço mastigador, dando inser- de Huschke. A face anterior da goteira une-se em
ção aos dois músculos pterigoideus. A asa medial cima à escama através da fissura tímpano-esca-
relaciona-se sobretudo com a faringe, dando inser- mosa ou cissura de Glaser. A extremidade medial

51
MANUAL DE ANATOMIA H UMANA

une-se à face ântero-inferior do rochedo, exceto tubérculo articular do temporal (côndilo do tem-
numa pequena zona anterior, do qual está separa- poral), articula-se com a mandíbula (osso maxilar
da. Esta zona vai crescer para dentro (apófise tu- inferior). Na junção das duas raizes, encontramos
bária), originando a parede ínfero-lateral da por- o tubérculo zigomático anterior. O segmento an-
ção óssea da trompa auditiva de Eustáquio. terior da apófise zigomática dá inserção, pelo seu
No final o temporal é um osso indivisível, sen- bordo superior, à fáscia temporal, e pelo seu bor-
do necessário o conhecimento do seu desenvol- do inferior, ao músculo masséter. A sua extremi-
vimento embrionário para distinguir as três por- dade anterior articula-se com o osso zigomático,
ções primitivas. formando o arco ou arcada zigomática.
No adulto, o temporal apresenta cinco porções A porção temporal da escama dá inserção ao
distintas: a porção escamosa, a porção petrosa, a músculo temporal, podendo ser percorrida por
porção mastoideia, a porção timpânica, e a por- um sulco vascular decorrente da passagem da ar-
ção estiloideia. Existem autores que consideram téria temporal média.
as porções petrosa e mastoideia como um úni- A porção basilar pertence à base do crânio, iden-
co elemento morfológico, utilizando a designa- tificando-se o tubérculo articular e, atrás deste,
ção coletiva de "porção petro-mastoideia". Esta uma depressão profunda, elíptica, denominada
divisão em cinco porções, decorrente de um me- "fossa mandibular ou cavidade glenoideia", onde
lhor conhecimento da anatomia neurocirúrgica se articula a mandfüula. Visualiza-se também a
do osso, é distinta da clássica divisão francesa em cissura tímpano-escamosa ou de Glaser, que di-
três porções: escama, mastóide e rochedo ("por- vide a cavidade glenoideia em duas porções: an-
ção petrosa" ou "porção petro-timpânica"). terior (pré-glaseriana) que é articular e faz parte
da escama do temporal; posterior (retro-glaseria-
Escama do Temporal na) que não é articular e faz parte do osso timpâ-
nico. A cissura de Glaser é dividida pelo prolon-
A porção escamosa, ou escama do temporal, gamento inferior do tegmen timpani (crista do ro-
é uma lâmina óssea vertical e semicircular, que chedo que se posiciona entre a escama e a apófise
possui duas faces (exocraniana e endocraniana), tubárica, durante o desenvolvimento embrioná-
separadas por um bordo circunferencial. Este está rio) em duas cissuras secundárias: anterior (cis-
unido na parte póstero-superior ao parietal, e na sura petro-escamosa) e posterior (cissura petro-
sua parte ântero-inferior à asa maior do esfenói- - timpânica). A cissura petro-timpânica dá pas-
de. sagem ao ligamento anterior do martelo, e a um
A face exocraniana está dividida pela proeminen- ramo timpânico anterior da artéria maxilar. Po-
te apófise zigomática em duas porções: superior demos também observar, na extremidade medial
ou temporal, e inferior ou basilar. Será primeiro desta fissura, o orifkio anterior do canalículo an-
descrita a apófise zigomática. terior do nervo corda do tímpano (ramo do nervo
A apófise zigomática do temporal apresenta dois facial, VII nervo craniano). Anteriormente ao tu-
segmentos: um transversal, basal ou posterior; bérculo articular, encontramos a superfície plana
outro anterior. Qyanto ao segmento basal, a sua infra- temporal, que forma parte do teto da fos-
face superior relaciona-se com feixes posteriores sa infra-temporal.
do músculo temporal. A sua face inferior apre- A face endocraniana é côncava e apresenta nu-
senta duas saliências, designadas por "raizes ( uma merosas depressões e eminências onde se alojam
longitudinal, outra transversal) da apófise zigo- as circunvoluções cerebrais, além de se visualiza-
mática". A raiz longitudinal dirige-se para trás, rem sulcos vasculares decorrentes da passagem
encurva-se para trás e cima, passa a chamar-se dos ramos da artéria meníngea média. E stes sul-
crista supra-mastoideia, e contribui para a for- cos desenham, na face endocraniana da abóbada
mação da linha temporal inferior. Apresenta, an- craniana, a chamada "folha de figueira".
teriormente ao meato auditivo externo, o tubér-
culo zigomático posterior. A raiz transversa, ou

52
-------------------------- SISTEMA LOCOMOTOR j CABEÇA E PESCOÇO

Mastóide do Temporal

A porção mastoideia (mastóide do temporal)


surge na parte póstero-inferior do osso, e corres-
ponde a uma ~rojeção cónica da ~orç~o. petro-
sa, que se une a escama e ao osso timparuco an-
teriormente. Esta porção do temporal não é só-
lida, pois é preenchida por numerosas cavidades
pneumáticas em continuidade com o ouvido mé-
dio. Na mastóide podem distinguir-se, à seme-
lhança da escama, uma face lateral ou exocrania-
na, uma face medial ou endocraniana, e um bor-
do circunferencial. Este confunde-se com a esca-
ma e com o rochedo anteriormente, articulando-
-se, na porção restante, com o parietal em cima e Fig. 2.15: Vista exocraniana do temporal.
0 occipital atrás. 1. Escama temporal 2. Apófise mastóide 3. Apófise estilóide 4.
Canal auditivo externo 5. Apófise zigomátic:a 6. Tubérculo zigomático
Na face lateral, exocraniana, identificam-se an-
posterior
teriormente vestígios da cissura petro-escamosa
posterior. Pode-se encontrar separada da porção
timpânica da fossa mandibular pela cissura tím- entre este sulco e a chanfradura uma eminência
pano-mastoideia. Apresenta rugosidades póste- justa-mastoideia.
ro-inferiormente, que correspondem a pontos de A face medial, endocraniana, confunde-se ante-
inserção dos músculos (de anterior para poste- riormente com a base do rochedo. Atrás do ro-
rior) occípito-frontal (nomeadamente o seu ven- chedo, forma parte do andar posterior da cavidade
tre posterior ou occipital), esterno-cleido-mas- craniana. Identifica-se junto ao rochedo a goteira
toideu e splenius capitis. Posteriormente, exis- do seio sigmóide onde, na sua porção média, existe
te o orifício exocraniano do foramen mastoideu, o orifício interno do foramen mastoideu.
que dá passagem a uma veia emissária mastoi-
deia, anastomosando assim a circulação venosa Rochedo do Temporal
intra- e extra-craniana; pode por vezes dar pas-
sagem a um ramo meníngeo da artéria occipital. O rochedo é a mais complexa porção do osso tem-
Ântero-superiormente identifica-se uma peque- poral, devido à multiplicidade de estruturas rela-
na saliência, logo atrás do orifício do canal au- cionadas, alojando no seu interior o ouvido in-
ditivo externo, designada "espinha supra-meática terno, órgão fundamental para a audição e para o
(espinha de Henle)". Atrás desta existe uma zona equihôrio corporal.
crivosa (triângulo supra-meático; zona de Chi- Tem a forma de uma pirâmide triangular, cujo
pault; triângulo de MacEwen) relacionada com grande eixo é oblíquo para a frente e dentro.
orifícios vasculares. Mais abaixo existe a apófi- O vértice encontra-se ântero-medialmente, sendo
se mastoideia, que também apresenta rugosida- a base póstero-lateral. Apresenta três faces (ante-
des na sua face lateral, dando inserção aos mús- rior, posterior, inferior), três bordos (superior, pos-
culos esterno-cleido-mastoideu, splenius capitis e terior e anterior), uma base e um vértice. As faces
longuíssimo da cabeça (músculo pequeno com- anterior e posterior são endocranianas; a face infe-
plexo). Na face medial identifica- se um sulco, de- rior é exocraniana. Para os anatomistas franceses, o
nominado "chanfradura ou incisura mastoideia" rochedo apresenta a forma de uma pirâmide qua-
(fossa digástrica; ranhura do digástrico), onde se drangular: a face inferior encontra-se subdividida
insere o ventre posterior do músculo digástrico. em faces ãntero-inferior e póstero-inferior.
A artéria occipital percorre um sulco situado me- A face anterior (ântero-superior) apresenta late-
dialmente à chanfradura mastoideia, existindo ralmente a cissura petro-escamosa superior. Mais

53
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

centralmente surge a eminência arcuata, origina-


da pela projeção do canal semicircular superior
do ouvido interno. Situado à frente e para fora da
eminência arcuata temos o tegmen timpani ("teto
do tímpano", em latim), que forma a parede su-
perior da caixa timpânica. Esta fina lâmina óssea
é um dos principais locais de propagação de in-
feções do ouvido médio para o sistema nervoso
central. Anteriormente à eminência arcuata, em
direção ao ápex, surgem diversos hiatos, nomea-
damente: o hiato do nervo petroso maior (hiato
de Falópio) e lateralmente a este, o hiato acessó-
rio do nervo petroso menor. Pelo primeiro hia-
3
to, passa o nervo petroso maior (ramo do facial,
VII nervo craniano), assim como um nervo gran- Fig. 2.16: Vista póstero-superior do temporal.
1. Meato acústico interno 2. Eminência arcuata 3. Fossa subarcuata
de petroso profundo (ramo do glossofaríngeo, IX 4. Apófise estilóide 5. Escama temporal 6. Orifício superior do canal
nervo craniano); pelo segundo, o nervo pequeno carotídeo 7. Tegmen timpani

menor (ramo do glossofaríngeo, IX nervo crania-


no) e o ramo comunicante com o plexo timpâni- bordo superior do rochedo, temos a fossa subar-
co (do nervo facial, VII nervo craniano).Junto ao cuata, sendo, no feto, um local de passagem dos
vértice existe uma depressão, que corresponde à vasos da cápsula ótica. Situado atrás do canal au-
impressão trigemina! (fosseta do gânglio de Gas- ditivo interno temos o orifício posterior do ca-
ser), onde se aloja o gânglio trigemina! de Gasser, nalículo vestibular (também conhecido por aque-
estrutura pertencente ao nervo trigémio (V ner- duto do vestíbulo, dá passagem a um prolonga-
vo craniano). mento do labirinto membranoso do ouvido in-
Na face posterior (póstero-superior), encontra- terno), que se abre numa depressão óssea deno-
-se, entre a base e o ápex, o meato auditivo inter- minada "fosseta ungueal".
no, que dá passagem a diversas estruturas. Este A face inferior do rochedo, exocraniana, é a mais
orifício pode ser dividido em quatro quadrantes irregular das três faces da pirâmide. É possível vi-
por duas linhas, aproximadamente perpendicula- sualizar uma depressão, a fossa jugular, relaciona-
res entre si (uma vertical, e uma horizontal). No da com o golfo da veia jugular interna. Esta, na sua
quadrante ântero-superior, dá passagem aos ner- parede lateral, apresenta o ostium introitus, orifí-
vos facial e intermédio de Wrisberg (VII nervo cio interno de um canal que dá passagem ao ramo
craniano). No quadrante ântero-inferior, dá pas- auricular (nervo de Arnold) do nervo vago (pneu-
sagem à porção coclear do nervo vestl.Ôulo-co- mogástrico; X nervo craniano). Esta região, ao
clear (VIII nervo craniano). No quadrante pós- unir-se com o occipital, origina o foramen jugu-
tero-superior, dá passagem aos filetes vestibula- lar. Anteriormente à fossa jugular encontra-se o
res utriculares do VIII nervo craniano. Por fim, orifício inferior do canal timpânico (canal de Ja-
no quadrante póstero-inferior, dá passagem aos cobson), que dá passagem ao nervo timpânico de
filetes vestibulares saculares do VIII nervo cra- Jacobson (ramo do glossofaríngeo, IX nervo cra-
niano; existe também um pequeno orifício, o fo- niano). Anteriormente a este orifício, encontra-
ramen singular de Morgagni, que permite a pas- mos o orifício inferior do canal carotídeo, que ser-
sagem de filetes nervosos do canal semicircular ve de porta de entrada da artéria carótida interna
posterior. O meato auditivo interno permite a na cavidade craniana, rodeada pelos plexos veno-
passagem dos vasos labirínticos (auditivos inter- so e nervoso peri-carotídeos. À frente do canal ca-
nos), de posição variável, mas geralmente próxi- rotídeo existe uma superfície rugosa onde se insere
ma ao feixe acústico-facial (conjunto dos VII e o músculo levantador do véu do paladar (músculo
VIII nervos cranianos). Posteriormente,junto ao periestafilino medial).

54
SISTEMA LOCOMOTOR I CABEÇA E PESCOÇO

No que toca aos bordos do rochedo, o superior rochedo e a asa maior do esfenóide encontramos
(separa as faces a~terior e posteri~r) é percorrido o foramen lácero. Perto do vértice, encontramos
ela goteira do se10 petroso superior, sendo a sua também um pequeno entalhe que, ao ser recober-
~ tremidade posterior continuada pela goteira do to por um ligamento de dura-máter (o ligamento
seio sigmóide. de Gruber), forma o canal de Dorello, que dá pas-
O bordo anterior (separa as faces anterior e in- sagem ao nervo abducente (VI nervo craniano).
ferior) apresenta a cissura tímpano-escamosa de
Glaser, com o seu desdobramento devido à inter- Porção Estiloideia do Temporal.
posição do prolongamento inferior do t~gmen tim- Esta é constituída pela apófise estiloideia (classica-
pani. Articula-se com parte da asa maior do es- mente pertencente à "face póstero-inferior do ro-
fenóide, encontrando-se separados por um espa- chedo" dos anatomistas franceses). Apresenta uma
ço designado por "foramen lácero (foramen lácero direção ântero-inferior, e dá inserção aos elemen-
anterior)". Este foramen, obliterado de formava- tos do clássico "Ramalhete de Riolan'', constituí-
riável por cartilagem, é dividido pela língula do es- do por cinco elementos: ligamento estilo-maxilar,
fenóide em duas porções: uma porção medial, co- ligamento estilo-hioideu, músculo estilo-faríngeo,
berta superiormente pela artéria carótida interna, músculo estilo-hioideu e músculo estilo-glosso.
após se tornar intra-craniana; e uma porção lateral, Posteriormente à apófise estiloideia, entre esta e
sendo a sua cartilagem perfurada pelo nervo pe- a apófise mastoideia, encontramos o foramen es-
troso maior (ramo do facial, VII nervo craniano), tilo-mastoideu, que dá passagem aos vasos estilo-
e por um ramo do glossofaríngeo (IX nervo cra- -mastoideus e ao nervo facial (VII nervo crania-
niano), conhecido por alguns autores como "nervo no). Este foramen pode pertencer quer à porção
grande petroso profundo".
O bordo posterior (separa as faces posterior e in-
ferior), ao se articular com o occipital, origina o
foramen jugular (foramen lácero posterior). Este
pode-se dividir em dois segmentos pela apófise
intra-jugular (espinha jugular) do temporal: an-
terior ou nervoso, onde passam, de anterior para
posterior, o seio petroso inferior, o nervo glos-
sofaríngeo (IX nervo craniano), o nervo vago
(X nervo craniano), e o nervo acessório ou espi-
nhal (XI nervo craniano); e um segmento poste-
rior ou venoso, relacionado com o golfo da veia
jugular interna. Este orifício dá também passa-
gem, em posições variáveis, à artéria meníngea
posterior e a ramos meníngeos da artéria occipi-
tal. Neste bordo, entre o canal carotídeo e a fossa
jugular, existe uma depressão para o gânglio pe-
troso do nervo glossofaríngeo, de onde sai o seu
ramo timpânico (nervo de Jacobson).
A base do rochedo é representada na superficie
exocraniana apenas pelo orificio lateral do canal
auditivo externo.
O vértice é irregular, apresentando o orifício supe-
rior do canal carotídeo. Este canal inicia-se na face
póstero-inferior do rochedo, sendo ascendente e
Fig. 2.17: Vista inferior do temporal.
depois descrevendo uma curva e uma contracurva, 1. Fossa jugular 2. Orifício inferior do canal carotídeo 3. Fossa
mandibular 4. Apófise estilóide 5. Porção retro-glasseriana da fossa
terminando ao nível do vértice. Entre o vértice do
mandibular 6. Apófise zigomática

55
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

2 @·'·~::··-------
.. . .-•
,,
,

Figura 2.18: Esquema do temporal.


1. Porção petrosa 2. Porção escamosa 3. Osso timpânico 4. lncisura parietal 5. Fissura petro-escamosa posterior 6 , Fissura tímpano-escamosa
(glaser)

estiloideia, quer à timpânica, quer à petrosa, quer podemos afirmar que das duas faces que apresenta,
à mastoideia; tal dependerá do ponto de vista do a convexa é lateral; dos quatro bordos que apresen-
autor. ta, o talhado em bisel é inferior; por fim, dos dois
ângulos relacionados com este bordo inferior, o de
Porção Tímpânica do Temporal menor amplitude é anterior e situa-se um pouco
mais superiormente que o posterior.
A porção timpânica encontra-se entre a porção es- Cada um dos parietais tem a forma de um quadri-
camosa e a apófise mastoideia. Contribui para a látero irregular podendo distinguir-se duas faces,
formação das paredes anterior, inferior e posterior quatro bordos e quatro ângulos.
do meato auditivo externo; a sua parede superior
é formada pela porção escamosa. Apresenta uma Faces
parte mais anterior, que forma a porção retro-gla- A face exocraniana é convexa, demarcando-se no
seriana da fossa mandibular. Apresenta também centro uma saliência denominada "eminência pa-
um prolongamento inferior que forma a bainha da rietal" que indica o ponto onde, no seu desenvolvi-
apófise estiloideia; esta bainha pode também ser mento, se inicia a ossificação. Inferiormente iden-
designada por "apófise vaginal". tificam-se duas linhas arqueadas chamadas "linhas
Pode também ser descrita a apófise tubária, exis- curvas temporais superior e inferior". A primei-
tente na dita "face ântero-inferior" do rochedo; ra dá inserção à aponevrose do músculo temporal
contudo, pertence embriologicamente ao osso e a segunda ao músculo propriamente dito. Estas
timpânico. Encontra-se ântero-medialmente à linhas atravessam não só os parietais como tam-
fossa mandibular, e contribui para formar parte da bém se continuam ao nível dos temporais. Junto
porção óssea do tubo faringo-timpânico (trompa ao bordo superior e à frente do posterior identifi-
de Eustáquio). ca-se o foramen parietal de Santorini, atravessado
pela veia emissária de Santorini que anastomosa a
PARIETAL circulação venosa extra-craniana com a intra-cra-
niana. Dá por vezes também passagem a um ramo
O parietal é um osso placóide e par. A união dos meníngeo parietal da artéria occipital. D as nume-
dois ossos ao nível da linha média forma uma rosas veias emissárias existentes, a veia de Santori-
grande porção da região lateral e superior do crâ- ni aparenta ser a mais constante.
nio, situando-se à frente do occipital e atrás dos A face endocraniana é côncava, sendo toda per-
temporais e do frontal. Qyanto à sua orientação, corrida por numerosos sulcos vasculares corres-

56
SISTEMA LOCOMOTOR I CABEÇA E PESCOÇO

3 5

4
2
Figura 2.19: Vista exocraniana do parietal. Figura 2.20: Vista endocraniana do parietal.
1. Linha curva temporal superior 2. Linha curva temporal inferior 1. Bordo superior 2. Bordo inferior 3. Folha de figueira
3. Bordo superior 4. Bordo inferior 5. Eminência parietal

pondentes a ramos da artéria meníngea média e Ângulos


suas veias satélites. Esta configuração, juntamente No que toca aos ângulos, considera-se a existên-
com a face endocraniana do osso temporal (seme- cia de um ântero-superior ou frontal, que resulta
lhante), pode-se denominar em "folha de figueira". da união das suturas coronal e sagital, correspon-
Além destes sulcos vasculares, a face endocrania- dendo ao ponto craniométrico Bregma. O ângulo
na possui várias depressões irregulares, denomina- póstero-superior ou occipital resulta da união en-
das "impressões digitais", que alojam as circunvo- tre as suturas sagital e lambdóide, corresponden-
luções cerebrais. Junto ao bordo superior identifi- te ao ponto Lambda. Existe ainda o ângulo ânte-
ca-se a metade da goteira que, ao unir-se à existen- ro-inferior ou esfenoidal, que se une à asa maior
te no parietal oposto, forma a goteira do seio sa- do esfenóide, formando parte do ponto craniomé-
gital superior. Junto a esta é possível visualizar- se trico Ptérion, que resulta da junção destes dois os-
algumas depressões, especialmente em crânios de sos ao frontal e temporal. O ângulo póstero-in-
idosos, denominadas "fossetas de Pacchioni," que ferior ou mastoideu penetra no ângulo formado
alojam os corpúsculos de Pacchioni. pelas porções escamosa e mastoideia do temporal,
fazendo parte do Astérion, que resulta da confluên-
Bordos cia do parietal, occipital e temporal.
O bordo superior é o mais longo e espesso, sen-
do dentado e, ao unir-se ao parietal oposto, forma OCCIPITAL
a sutura sagital. Junto ao foramen parietal, onde o
bordo é quase rectilíneo, dá-se o nome de Obélion, O occipital é um osso ímpar, placóide que se si-
que corresponde a um ponto craniométrico. tua numa posição mediana e póstero-inferior. Faz
O bordo inferior, talhado em bise! a custa da tábua parte da abóbada craniana e da base do crânio.
lateral, pode ser dividido em três porções: uma an- Olianto à sua orientação, podemos afirmar que o
terior, unida à asa maior do esfenóide; uma média, foramen de maiores dimensões é inferior, e que a
arqueada, que se articula com a escama do tempo- face côncava é anterior.
ral; por fim, uma posterior, espessa e denteada, que Na sua porção mais inferior destaca-se um largo
se une à mastóide do temporal. orifício oval designado por "foramen magno (bu-
O bordo anterior articula-se com o frontal, for- raco occipital)", que dá passagem a uma porção do
mando a sutura coronal ou fronto-parietal. tronco cerebral (bulbo raquidiano ), às artérias ver-
O bordo posterior une-se a escama do occipital, tebrais, e às raízes medulares dos nervos acessó-
formando a sutura lambdóide ou parieto-occipital. rios (nervo espinhal; XI nervo craniano), fazen-

57
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

do assim a comunicação entre o canal raquidiano mente. Ântero-lateralmente, é possível observar a


(onde passa a medula espinhal) e a cavidade cra- fosseta condiliana anterior, onde se abre o orifício
niana. Sobre a linha média, no rebordo anterior do exterior do canal hipoglosso (canal condiliano an-
foramen magno encontramos o ponto craniomé- terior), que dá passagem ao nervo hipoglosso (XII
trico Básion; no rebordo posterior, o Opístion. nervo craniano) e à veia condiliana anterior. Pode
Tendo como referência o foramen magno, o osso por vezes dar passagem à artéria meníngea poste-
occipital pode-se subdividir em quatro porções: rior, quando esta não passa pelo foramen jugular.
porção basilar (basioccipital; anterior), porção es- Posteriormente existe a fossa condiliana (fosseta
camosa (posterior) e duas porções laterais (por- condiliana posterior), onde se pode originar oca-
ções condilianas ou exo-occipitais). Estas porções nal condiliano posterior (inconstante) que dá pas-
são distintas no recém-nascido, fundindo-se total- sagem a uma veia emissária condiliana posterior.
mente por volta dos seis anos de idade. O músculo reto lateral insere-se na superfície la-
teral dos côndilos. Na superfície mais medial inse-
Porção Basilar rem-se os ligamentos que unem o occipital à apó-
fise odontoideia do áxis. Este projeta-se inferior-
A porção basilar (apófise basilar) é quadrilátera e mente em direção à porção mais anterior do fora-
faz parte da base do crânio, limitando anterior- men magno.
mente o foramen magno. Na sua porção exocra- Na face endocraniana anteriormente existe o tu-
niana (inferior) apresenta na linha média o tubér- bérculo jugular, onde está escavada uma goteira,
culo faríngeo (ou espinha faríngea) que dá inser- que se continua pelo foramen jugular. Este dá pas-
ção à rafe faríngea mediana, a fibras do múscu- sagem aos nervos glossofaríngeo (IX nervo crania-
lo constritor superior da faringe, e à fáscia farín- no), vago (X nervo craniano) e acessório (XI nervo
gea. Existem duas cristas côncavas anteriormen- craniano). Numa posição póstero-inferior existe o
te, uma anterior ou sinustósica e outra posterior orifício interior do canal hipoglosso. O segmento
ou muscular. Entre as duas cristas, e na crista pos- jugular da goteira do seio lateral está atrás e para
terior, insere-se o músculo reto anterior da cabeça fora em relação ao tubérculo jugular, abrindo-se a
(músculo pequeno reto anterior). Anteriormente este nível (quando existe) o orifício do canal con-
à crista sinustósica, existe uma depressão onde se diliano posterior.
insere o músculo longo da cabeça (músculo gran- O bordo mais lateral das massas laterais une-se
de reto anterior). ao temporal. Este bordo encontra-se dividido em
A porção endocraniana é inclinada e deprimida, duas porções pela apófise jugular do occipital, que
formando o clívus ou goteira basilar, na qual as- se articula com a faceta jugular do osso temporal.
senta o bulbo raquidiano e parte da protuberân- Anteriormente a esta apófise, o bordo forma o li-
cia, ao se articular através do seu bordo anterior mite medial do foramen jugular; posteriormente,
com o corpo do esfenóide; este conjunto também une-se à porção mastoideia do temporal. O fora-
se pode designar por ladeira de Blumenbach. La- men jugular pode ser dividido em dois segmen-
teralmente articula-se com o rochedo do tempo- tos por um septo fibroso, que une as apófises in-
ral formando um sulco que vai alojar o seio veno- tra-jugulares do temporal e do occipital. Conside-
so petroso inferior. ra-se um segmento vascular (posterior) onde pas-
sa a veia jugular interna e um segmento nervoso
Porções Laterais (anterior) que se subdivide por outro septo fibro-
so em 2 segmentos: posterior, onde passam os ner-
Na face exocraniana das massas laterais, destacam- vos acessório (XI nervo craniano) e vago (X ner-
-se os côndilos do occipital. Estes situam-se late- vo craniano) e anterior, para o nervo glossofarín-
ralmente em relação ao foramen magno, articulan- geo (IX nervo craniano), situando-se à sua frente o
do-se com o atlas (primeira vértebra cervical). São seio petroso inferior. Este foramen pode ainda dar
ovais ou reniformes e convexos, tendo uma dire- passagem à artéria meníngea posterior e a ramos
ção para baixo e para fora, e convergindo anterior- meníngeos da artéria occipital.

58
SISTEMA LOCOMOTOR I CABEÇA E PESCOÇO

Figura 2.21: Vista exocraniana do occipital. Figura 2.22: Vista endocraniana do occipital.
1. Foramen magnum 2. Eminência occipital exterior 3. Apófise basilar 1. Apófise crista Galli 2. Asa menor do esfenóide 3. Sela turca
4. Foramen redondo 5. Foramen oval 6. Foramen lácero 7. Clivus
8. Foramen magnum

Porção Escamosa
tam as circunvoluções cerebrais, estando dividida
A face exocraniana da escama do occipital é con- em quatro fossas (duas superiores ou cerebrais e
vexa, articulando-se superiormente com os parie- duas inferiores ou cerebelosas) por três goteiras e
tais e inferiormente com a mastóide do tempo- uma crista, que no seu conjunto formam a emi-
ral. Identifica-se, na linha média, a protuberância nência cruciforme. Na união destas identifica-se
occipital exterior de onde surgem: a crista occipi- a protuberância occipital interior, que está relacio-
tal exterior (vertical), que se prolonga até ao bor- nada com o confluente posterior dos seios venosos
do posterior do foramen magno; linha nucal su- cranianos ou Lagar de Herófilo ou tórcula. Tendo
perior (também conhecida por linha curva occipi- como referência esta protuberância, identificam-se
tal superior, sendo aproximadamente horizontal), duas goteiras horizontais, correspondentes à por-
que se prolonga até a mastóide. A linha nucal in- ção occipital dos seios laterais, e uma vertical, onde
ferior (linha curva occipital inferior) surge ao nível assenta parte do seio sagital superior. Esta protu-
do ponto médio da crista occipital exterior, pro- berância prolonga-se inferiormente pela crista oc-
longando-se até ao processo jugular. Estas linhas cipital interior (vertical), onde se insere a tenda do
curvas servem como pontos de inserção muscu- cerebelo (desdobramento da dura-máter), bifur-
lares e ligamentares, sendo mais pronunciadas no cando-se ao nível do foramen magno delimitan-
sexo masculino, devido à maior massa muscular. do a fosseta vermiana, onde assenta o vérmis do
Ao nível da linha curva occipital inferior inserem- cerebelo.
-se os músculos pequeno reto posterior e grande
reto posterior. Entre as duas linhas curvas inse- CRÂNIO EM GERAL
rem-se os músculos semi-espinhoso da cabeça ou
grande complexo (medialmente), o músculo oblí- O crânio, formado pela união de vários ossos, é
quo superior ou pequeno oblíquo, e o splenius capi- uma caixa ovóide e, quando descrito num todo,
tis (lateralmente). A linha curva occipital superior pode dividir-se em duas porções: a abóbada cra-
dá inserção ao trapézio (medialmente) e ao ester- niana (superior) e a base (inferior). O limite en-
no-cleido- mastoideu e ventre occipital do múscu- tre as duas partes é uma linha imaginária que vai
lo occípito-frontal (lateralmente). desde o sulco naso-frontal, passa pelas arcadas
A face endocraniana da escama do occipital é côn- orbitária e zigomática e termina na protuberân-
cava, apresentando várias depressões onde assen- cia occipital exterior.

59
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

A abóbada, com estrutura óssea mais fina (pla-


cóide), é constituída pela parte vertical do fron-
tal, pelos parietais, pela escama dos temporais e
pelo occipital. Lateralmente, ao nível da linha
média, existem da frente para trás: a glabela, a
sutura metópica e a sutura sagital. Lateralmente
temos: arcadas supraciliares, eminências frontais 4
laterais, sutura coronal, eminências parietais e su- 5 - -
6

tura parieto-occipital. 7

Da união de todas estas peças ósseas surgem


pontos de referência denominados "pontos cra-
niométricos". Ao nível da sutura sagital existe o
Obélion, entre os dois foramina parietais. Na jun-
ção das suturas coronal e sagital, o Bregma, e na
junção das suturas sagital e parieto-occipital, o
Lambda. O Ptérion é um ponto de convergência
de suturas, em forma de "H" ou "K" e resulta da Figura 2.23: Vista endocraniana da base do crânio.
1. Apófise crista Galli 2. Asa menor do esfenóide 3. Sela turca
união do temporal, parietal, asa maior do esfe- 4. Foramen redondo 5. Foramen oval 6. Foramen lácero 7. Clivus
nóide e frontal. Os pontos mais posteriores são o 8. Foramen magnum

Astérion, que surge na junção do parietal, occipi-


tal e temporal e o Ínion ao nível da protuberância média, visualizam-se: apófise basilar do occ1p1-
occipital exterior. tal, foramen magno e a crista occipital exterior.
Numa vista interior, a abóbada craniana, na li- Nas porções laterais distinguem-se: tubérculo ar-
nha média, apresenta da frente para trás a cris- ticular com a fossa mandibular, apófise mastoi-
ta frontal interior e a goteira do seio sagital supe- deia do temporal, massa lateral do occipital (com
rior, com as fossetas de Pacchioni junto aos seus o côndilo e os foramina hipoglosso e condilia-
bordos; e lateralmente as fossas frontais, sutura no posterior) e as linhas nucais superior e infe-
coronal, fossas parietais, sulcos vasculares da ar- rior. Mais medialmente consegue-se distinguir o
téria meníngea média, sutura parieto-occipital e foramen lácero e as faces inferiores do rochedo,
as fossas occipitais. onde se pode visualizar o orificio inferior do fo-
No que diz respeito à base do crânio, com es- ramen carotídeo, a fossa jugular e o processo esti-
trutura óssea mais compacta, a porção exocrania- loideu do temporal.
na pode dividir-se em duas partes: facial (por- A configuração endocraniana da base divide-se
ção articulada com o maciço facial) e têmporo- em três andares: anterior, médio e posterior.
-occipital. O andar anterior é limitado à frente pela porção
A parte facial é constitu.í da pelo etmóide, esfe- vertical do frontal e atrás pelo tubérculo pituitá-
nóide e parte órbito-nasal do frontal. Ao nível da rio e pelo bordo posterior das asas menores do
linha média temos, da frente para trás: chanfra- esfenóide. Ao nível da linha média identificam-
dura e espinha nasal do frontal, face inferior do -se a apófise crista galli e o foramen cego. Late-
etmóide e corpo do esfenóide. Lateralmente te- ralmente apresenta as goteiras olfativas (com os
mos: fossas orbitárias do frontal, face inferior das foramina da lâmina crivosa), as bossas orbitárias
asas menores do esfenóide, asas maiores do esfe- do frontal e a goteira óptica, que termina ao nível
nóide (perfuradas pelos foramina redondo, oval e do foramen óptico.
espinhoso e, quando existem, os foramina de Ve- O andar médio é delimitado anteriormente pelo
sálio e do canalículo inominado de Arnold) sepa- limite posterior do andar anterior e posteriormen-
radas das asas menores pela fissura orbitária su- te pela lâmina quadrilátera do esfenóide e pelo
perior e as apófises pterigoideias bordo superior do rochedo do temporal. Na par-
Na parte têmporo-occipital, ao nível da linha te média existem, a fossa pituitária e as apófises

60
SISTEMA LOCOMOTOR I CABEÇA E PESCOÇO

clinóideias anteriores e posteriores. Mais lateral-


mente identificam-se a fissura orbitária superior,
05
foramina redondo, oval e de Vesálio, o orifício
do canalículo inominado de Arnold, os foramina
espinhoso e lácero, o hiato do nervo petroso maior
(hiato de Falópio) e a eminência arcuata.
O andar posterior é delimitado anteriormente
pelo limite posterior do andar médio e poste-
riormente pelas goteiras dos seios laterais. Sobre
a linha média reconhece-se a goteira basilar, o
foramen magno e a crista e protuberância occi-
pitais interiores. Lateralmente visualizam-se as
massas laterais do occipital (com o foramen hi-
poglosso), o foramen jugular, a face póstero-su-
perior do rochedo (com o canal auditivo inter- Figura 2.24: Radiografia de crânio (ântero-posterior).
no), as fossetas cerebelosas do occipital e a go- 1. Crista etmoidal (crista Galli) 2. Seio frontal 3 . Tecto da órbita 4. Septo
nasal 5. Corpo da mandíbula 6. Ramo da mandíbula 7. Asa menor do
teira do seio lateral. esfenoide 8. Sutura sagital 9. Sutura lambdoide

NOÇÕES DE ANATOMIA CLÍNICA

No que diz respeito a possíveis complicações mé-


dicas relativas ao desenvolvimento do crânio, te-
mos a craniosinostose como problema clínico re-
levante. Esta situação resulta da fusão prema-
tura das fontanelas. A ocorrência desta situação
tem como consequência uma deformação crania-
na evidente, que se vai intensificando ao longo do
tempo se não se proceder a uma correção cirúr-
gica. As deformações decorrentes deste encerra-
mento prematuro, resultantes do crescimento ce-
rebral compensatório para as regiões não oblitera-
das, são variáveis, dependendo das fontanelas en-
volvidas. As consequências desta situação clínica Figura 2.25: Radiografia de crânio (perfil).
raramente vão além de questões estéticas, embo- 1. Sela turca 2. Tecto das órbitas 3. Seio esfenoidal 4. Seios maxilares
5. Mandibula 6. Atlas 7. Áxis 8. Occipital 9. Ramos da artéria
ra possam haver casos de aumento da pressão in- meníngea média
tracraniana ou de compressão nervosa. Existe evi-
dência científica de que uma das causas de cra-
niosinostose é a hereditariedade genética, mas a PERGUNTAS TIPO
maior parte dos casos são esporádicos.
A densidade óssea do crânio, como se vê nas figu- 1. Na face anterior (ântero-superior) do roche-
ras 2.24 e 2.25, é maior na base do que na abóbo- do encontramos os seguintes acidentes anató-
da. Por isso, as fraturas da base do crânio são ha- micos (assinale a afirmação verdadeira):
bitualmente devidas, a traumatismos com maior a. Eminência arcuata, hiato do nervo petroso
energia, e portanto mais graves, do que as da abó- maior, impressão trigeminai.
boda craniana. b. Meato auditivo interno, fossa subarcuata.
c. Apófise estiloideia, foramen estilo-mas-
toideu, fossa jugular.
d. Orifício superior do canal carotídeo.

61
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

2. A fissura orbitária superior (fenda esfenoi-


dal) dá geralmente passagem às seguintes es-
truturas:
a. Nervo óptico e artéria central da retina,
entre outras.
b. Nervo óculo-motor, nervo abducente e ra-
mos terminais do nervo oftálmico, entre
outras.
c. Veia jugular interna e artéria meníngea
média, entre outras.
d. Nervo vago, nervo acessório e artéria oftál-
mica, entre outras.

3. Relativamente às apófises pterigoideias does-


fenóide, assinale a afirmação FALSA:
a. A face lateral da asa lateral dá geralmen-
te inserção ao músculo pterigoideu lateral.
b. A fossa escafoideia dá geralmente inserção
ao músculo tensor do véu do paladar.
c. A parede medial da fossa pterigoideia dá
geralmente inserção ao músculo pterigoi-
deu medial.
d. O hâmulo do bordo posterior da asa me-
dial permite a reflexão do músculo tensor
do véu do paladar.
!:)-í!lr-z v -1
:selsodso~

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Rouviere, H.; Delmas, A .. Anatomie humaine
descriptive, topographique etfonctionnelle. 15.ª
editión. Masson, 2002.
Standring, S. et al. Gray's Anatomy- The
Anatomical Basis ofClinical Practice. 41.• edition.
Elsevier, 2016.
Rhoton, AL Jr. The anterior and middle cranial
base. Neurosurgery, 51(4 Suppl):S273-302, 2002.

* **

62
SISTEMA LOCOMOTOR I CABEÇA E PESCOÇO

osTEOLOGIA DA FACE

A face é a porção anatómica da cabeça que se si-


tua abaixo da metade anterior do crânio e contém
a eict:remidade cefálica dos aparelhos respiratório
e digestivo. Pode também ser designada por "vis- 6

cerocrânio", distinto do "neurocrânio" constituído


pelos ossos da calvária.
O esqueleto da face é composto por duas porções
principais: a superior e a inferior. 8

Constituem a porção superior treze ossos (Fig.


2.27), sendo o vómer um osso mediano ímpar, e
os restantes pares de localização simétrica, a sa- 9
13
ber: maxila (também conhecido por "maxilar su-
perior"), osso lacrimal (únguis), palatino, concha Fig. 2.27: Corte sagital do crânio (incluindo septo nasal).
1. Frontal 2. Parietal 3. Esfenóide 4. Tempo ral 5. Occipital 6. Estmóide
nasal inferior ( também conhecido por "cometo in-
7. Crista gali 8. Lâmina vertical do etmóide 9. Seio esfenoidal 10. Sela
ferior"), ossos nasais e zigomático (também desig- turca 11. Processo clinoide anterior 12. Vómer 13. Lâmina horizontal
do palatino
nado por "osso malar").
A porção inferior da face (Fig. 2.26) é constituída
por um osso único, móvel, designado por mandí-
bula (também conhecido por "osso mandibular").

15 8

13

11

12
10
2
Fig. 2.28: Corte sagital da face.
1. Seio frontal 2. Ossos próprios do nariz 3. Crista gali 4. Concha nasal
média 5. Concha nasal superior 6. Concha nasal inferior 7. Lâmina
4 vertical do palatino 8. Lâmina ho rizontal do palatino 9. Osso maxilar
9 10. Processo palatino do maxilar 11. Seio esfenoidal 12. Lâmina medial
do processo pterigóide 13. Foramen esfeno•palatino

MAXILA

A maxila é um osso de forma irregularmente qua-


7 10
drilátera, com duas faces (medial e lateral) e qua-
Fig. 2.26: Vista anterior da face.
tro bordos (superior, inferior ou alveolar, anterior
1. Frontal 2. Osso zigomático 3. Ossos próprios do nariz 4. Osso e posterior). (Figurass 2.29 e 2.30). Situa-se supe-
maxilar 5. Mandíbula 6. Esfenóide 7. Estmóide. 8. Osso lacrimal
9. foramen infra•orbitário 1O. foramen mentoniano 11. Fissura orbit ária
riormente à cavidade bucal, inferiormente à cavi-
superior 12. Fissura prbitária inferior 13. Canal óptico 14. Fossas nasais dade orbitária, lateralmente às fossas nasais e ân-
15. incisura supra•orbitária
tero-medialmente às fossas infra-temporal (tam-
bém conhecida por fossa ptérigo-maxilar) e pté-

63
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Fig. 2.29: Vista medial da maxila. Fig. 2.30: Vista lateral da maxila.
1. Espinha nasal anterior 2. Crista nasal 3. Aresta incisiva 4. Apófise 1. Apófise frontal 2. Espinha nasal anterior 3. Buraco infra-orbitário
palatina 5. Orifício do seio maxilar 6. Hemi-célula 7. Concha 4. Fosseta mirtiforme 5. Bossa canina 6. Vertice apófise zigomática
lacrymalis 8. Crista etmoidal da maxila 9. Crista conchal da maxila 7. Crista lacrimal anterior 8. Sulco infra-arbitrário

rigo-palatina (também conhecida por transfundo ção superior denominada "crista nasal". Qyando
da fossa ptérigo-maxilar). Assim, este osso contri- as duas cristas nasais se articulam, formam uma
bui para a constituição óssea destas várias cavida- saliência mediana no pavimento das fossas nasais.
des. Contém no seu interior uma cavidade, o seio No terço anterior da apófise palatina, a crista nasal
maxilar ou antro de Highmore que o torna leve. eleva-se e torna-se mais espessa de cada lado da li-
Pode ser classificado como irregular ou cubóide. nha média, por cima dos dentes incisivos, passan-
Qyanto à sua orientação, o seu bordo alveolar é in- do a chamar-se aresta incisiva; a sua extremida-
ferior, sendo côncavo póstero-medialmente, sendo de medial toma o nome de espinha nasal anterior:
os alvéolos mais pequenos anteriores. Na face inferior salienta-se, resultante da articu-
Cada maxila apresenta um corpo e quatro apófi- lação entre as duas apófises palatinas, a sutura in-
ses: zigomática, frontal, alveolar e palatina. Estas termaxilar palatina (sutura palatina média); na sua
várias porções podem ser observadas, de formava- extremidade anterior, encontra-se um orificio de-
riável, pelas faces medial e lateral do osso. nominado "fossa incisiva", a qual contém os orifí-
cios dos canais incisivos (também conhecidos por
Face medial "canais incisivos anteriores" ou "canais incisivos la-
Divide-se em dois segmentos pela apófise palati- terais"), estabelecendo uma comunicação entre as
na: um superior que forma grande parte da parede fossas nasais e a cavidade bucal. Estes canais dão
lateral da fossa nasal, e outro inferior que faz par- passagem à terminação dos vasos grandes palati-
te da cavidade bucal. nos e dos n":rvos nasopalatinos.
A apófise palatina da maxila é uma lâmina óssea Na porção nasal da face medial destaca-se um
triangular e horizontal. Tem uma face superior, grande orifício de acesso ao seio maxilar e tam-
lisa e côncava no sentido transversal, contribuindo bém são visíveis, de anterior para posterior, uma
para a constituição do pavimento da fossa nasal. A crista ântero-posterior, a crista concha! da maxi-
face inferior, rugosa, pertence à abóbada palatina e la (crista turbina! inferior), que se articula com a
apresenta uma goteira oblíqua para diante e para concha nasal inferior; uma goteira vertical, a go-
dentro, percorrida pelos vasos palatinos maiores e teira lacrimal (cujos lábios se articulam com o osso
pelo nervo palatino maior. O bordo lateral une-se lacrimal para formar o canal nasolacrimal; a pare-
à face medial do osso; o posterior articula-se com a de posterior da goteira pode encontrar-se mais de-
lâmina horizontal do palatino; por sua vez, o bor- senvolvida, formando a concha lacrymalis), e a su-
do medial articula-se com a apófise palatina con- perfície articular para o palatino, dividida em duas
tralateral e apresenta uma proeminência de dire- áreas por uma goteira oblíqua para baixo e para

64
SISTEMA LOCOMOTOR I CABEÇA E PESCOÇO

diante (goteira grande palatina ou goteira palati- realidade póstero-lateral, forma a parede anterior
na maior), que contribui para a formação do ca- da fossa infra-temporal e da fossa ptérigo-palatina.
nal homónimo. Podemos também observar uma Tem dois segmentos: um medial, convexo, a tube-
fissura que parte do ângulo inferior do orificio do rosidade maxilar, em que se podem ver dois a três
seio maxilar, sendo esta fissura oblíqua póstero-in- pequenos foramina dos canais alveolares (também
feriormente; trata-se da fissura palatina da maxila. conhecidos por canais dentários posteriores e su-
Superiormente ao orifício do seio maxilar, há pe- periores); outro lateral, côncavo no sentido trans-
quenas depressões que se articulam com depres- versal, próximo do osso zigomático.Junto ao bordo
sões correspondentes da face inferior do labirinto superior da tuberosidade há uma goteira transver-
etmoidal homolateral. sal onde caminha o nervo maxilar, ramo do trigé-
A porção bucal da face medial é uma superfície es- mio (V nervo craniano). O bordo anterior da apó-
treita e rugosa, que se situa inferiormente à apófise fise piramidal separa a face orbitária da geniana (ou
palatina, entre esta e o bordo alveolar. anterior) e forma a maior parte do rebordo infe-
rior da órbita. O bordo posterior define em con-
Face lateral ou externa junto com o bordo inferior da face orbitária do es-
Tem um bordo inferior ou alveolar muito desen- fenóide, o limite ântero-lateral da fissura orbitária
volvido, sendo designado por "apófise alveolar da inferior (fenda esfeno-maxilar). O bordo inferior é
maxila", em que se inserem as raizes dos dentes. arredondado e relaciona-se com os tegumentos da
Ao se articular com a contralateral, forma-se a ar- região geniana e com o sulco vestibular superior da
cada alveolar superior. A inserção das raizes dos cavidade bucal, onde se confunde com a base da pi-
dentes forma saliências verticais, sendo a bossa ca- râmide; pode conter uma crista óssea mais desen-
nina a mais marcada. Imediatamente para dentro volvida, designada por "crista jugal ou crista zigo-
fica uma ligeira depressão chamada "fosseta incisi- mático-alveolar", O vértice é truncado, rugoso e ar-
va (fosseta mirtiforme)", aonde se insere o múscu- ticula-se com o osso zigomático.
lo depressor do septo nasal (músculo mirtiforme).
Da face lateral, acima das saliências determinadas Bordo superior
pelas raizes dentárias mais laterais, sobressai uma Irregular, articula-se, de anterior para posterior
volumosa apófise com forma de pirâmide trian- com o hamulus lacrymalis (gancho lacrimal) do
gular truncada, designada "apófise zigomática da osso lacrimal por meio de uma incisura côncava
maxila" (também conhecida por apófise pirami- para dentro, formando assim o orifício superior do
dal). Esta tem uma face superior que forma o pa- canal nasolacrimal. Da extremidade anterior des-
vimento da órbita e que é percorrida de posterior te bordo destaca-se uma lâmina óssea quadriláte-
para anterior pela goteira infra-orbitária, que ori- ra, ascendente, a apófise frontal da maxila (apófise
gina o canal infra-orbitário pela sutura resultante ascendente). Esta, por sua vez, tem uma face late-
da fusão dos seus lábios. Da parede inferior do ca- ral, com uma crista vertical chamada "crista lacri-
nal infra-orbitário destaca-se o canal dentário an- mal anterior", para trás da qual existe uma gotei-
terior e superior, também conhecido por canal si- ra vertical que forma a metade anterior da goteira
nuoso (cana/is sinuosus), que dá passagem aos vasos do saco lacrimal; tem uma face medial que faz par-
e nervos dentários anteriores e superiores, destina- te da parede lateral das fossas nasais, apresentan-
dos ao canino e incisivos homolaterais. A face an- do em cima uma superficie rugosa que se articula
terior relaciona-se com as partes moles da região com o labirinto etmoidal e, mais abaixo, uma crista
geniana. Apresenta o buraco infra-orbitário, orifí- oblíqua para diante e para baixo, a crista etmoidal
cio situado cerca de 5 milímetros inferiormente ao da maxila (crista turbinal superior) que se articula
rebordo inferior da órbita, na união do seu terço com a concha etrnoidal média; tem quatro bordos
medial com o terço médio. Imediatamente abaixo (anterior, posterior, superior e inferior) que se arti-
há uma depressão, a fosseta canina, onde se inse- culam, respetivamente, com o osso nasal, o bordo
re o músculo elevador do ângulo da boca (múscu- anterior do osso lacrimal, com o frontal e o último
lo canino). A face posterior ou infra-temporal, na continua-se pelo corpo do osso.

65
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Bordo inferior ou alveolar


Côncavo para trás e para dentro, com múltiplas
depressões - os alvéolos dentários superiores - que
se articulam com as raízes dos dentes.

Bordo anterior 1 ----------

Liso, côncavo para dentro, delimita, com a maxi-


la contralateral e os ossos próprios do nariz, o ori-
fício anterior das fossas nasais (orifício piriforme).

Bordo posterior
Espesso, este bordo pertence à tuberosidade maxi-
lar. Tem em cima uma superfície articular rugosa,
o trígono palatino, para a apófise orbitária do pala-
Fig. 2.31: Vista medial do osso lacrimal.
tino. A sua porção inferior, articula-se com a apó-
1. Bordo anterior 2. Bordo posterior 3. Bordo superior 4. Bordo
fise piramidal do mesmo osso. inferior

OSSO LACRIMAL

O osso lacrimal (únguis), placoide, é uma peque-


na lâmina óssea quadrilátera, achatada transver-
salmente, situada por trás da apófise ascenden- 6

te (frontal) da maxila, na parede medial da órbi-


ta. Qyanto à sua orientação, a face que apresen-
ta uma crista é lateral, sendo a crista aproximada- - ,
mente vertical; a apófise que desta se destaca é an-
terior e inferior. O osso tem duas faces e quatro
bordos (Figuras. 2.31 e 2.32).

Face medial
É lisa, exceto junto ao bordo posterior, onde se ar-
ticula com a massa lateral do etmóide (labirintos Fig. 2.32: Vista lateral do osso lacrimal.
etmoidais). Apresenta uma depressão que corres- 1. Bordo anterior 2. Bordo posterior 3. Bordo superior 4. Bordo
inferior 5. Hamulus lacrymalis 6. Sulco do saco lacrimal 7. Crista
ponde à crista lacrimal posterior da face lateral. lacrimal posterior

Face lateral
É dividida em dois segmentos por uma crista ver- Bordos
tical, a crista lacrimal posterior. Na extremidade O bordo anterior articula-se com a apófise frontal
inferior desta crista forma-se uma saliência, dirigi- da maxila; o posterior com o etmóide e com a con-
da para fora e para diante, o hâmulo lacrimal (gan- cha lacrymalis (cometo lacrimal) da maxila; o supe-
cho lacrimal), que se articula com o bordo superior rior com o frontal; o inferior com a apófise lacri-
da maxila e com ele delimita o orifício superior do mal da concha nasal inferior.
canal nasolacrimal. O segmento anterior é depri-
mido, formando uma goteira vertical que comple- PALATINO
ta a correspondente ao nível da apófise frontal da
maxila, para dar origem à goteira do saco lacrimal. O osso palatino, classificado como irregular ou
O segmento posterior, liso, continua-se para trás placoide, é pequeno e complexo, situado posterior-
com a lâmina papirácea (orbitária) do etmóide. mente à maxila (Figuras 2.33 e 2.34).

66
SISTEMA LOCOMOTOR I CABEÇA E PESCOÇO

Fig. 2.33: Vista medial do palatino. Fig. 2.34: Vista lateral do palatino.
1. fncisura esfeno-palatina 2. Apófise orbitária 3. Apófise esfenoidal 1. lncisura esfeno-palatina 2. Apófise orbitária 3. Apófise esfenoidal
4. Lâmina vertical do palatino 5. Bordo posterior 6. Bordo anterior 7. 4. Sulco palatino posteiror 5. Apófise piramidal 6 . Segmento
Crista conchal do palatino 8. Crista etmoidal do palatino 9. Apófise pterigóide 7. Segmento maxilar 8. Segmento sinusal
piramidal

É constituído por duas lâminas (uma horizontal e Lâmina vertical do palatino


outra vertical) que se unem em ângulo recto; a me- A face medial faz parte da parede medial das fos-
nor das lâminas é horizontal e inferior. Nesta lâ- sas nasais e prolonga para trás a face medial da ma-
mina, o bordo articular mais espesso é medial, sen- xila. Na união do seu terço médio com o inferior
do o bordo não articular côncavo e posterior. há uma crista horizontal, a crista concha! do pala-
A união das duas lâminas forma uma aresta no tino, que se articula com o corneto nasal inferior.
sentido ântero-posterior e três apófises: piramidal, Na sua parte superior, imediatamente por baixo da
orbitária e esfenoidal. apófise orbitária ou anterior existe a crista etrnoi-
dal do palatino, pela qual se une ao cometo médio.
Lâmina horizontal do palatino A face lateral apresenta quatro segmentos, que são
É rectangular, de grande eixo transversal. Prolonga de anterior para posterior: segmento sinusal, an-
para trás a apófise palatina da maxila. A face supe- teriormente ao bordo posterior do orificio do seio
rior ou nasal é lisa e côncava no sentido transver- maxilar; segmento maxilar, que se articula com a
sal, fazendo parte do pavimento das fossas nasais. parte posterior da face medial da maxila; segmen-
A face inferior integra a abóbada palatina (palato to inter-ptérigo-maxilar, entre os segmentos ma-
duro); o bordo lateral corresponde à junção das lâ- xilar e pterigoideu e que forma a parede medial ou
minas horizontal e vertical e apresenta uma chan- fundo da fossa infra-temporal; segmento posterior
fradura que limita com a parte correspondente da ou pterigoideu, que se articula com a face medial
maxila, o orifício inferior do canal grande canal da asa medial da apófise pterigoideia do esfenóide.
palatino. O bordo medial, espesso e rugoso, for- O segmento maxilar é subdividido em duas por-
ma no pavimento das fossas nasais, com o do lado ções pela goteira palatina posterior (goteira gran-
oposto, uma crista que dá continuidade à crista na- de palatina), oblíqua para baixo e para diante, for-
sal das apófises palatinas da maxila. A extremidade mando com a goteira correspondente da face me-
posterior forma com a contralateral a espinha na- dial da maxila, o canal grande palatino. Posterior-
sal posterior. O bordo anterior, em forma de bisei mente ao segmento maxilar, na metade inferior da
à custa da face inferior, apoia-se no bordo poste- face lateral, sobressai a apófise piramidal do pala-
rior da apófise palatina da maxila. O bordo poste- tino que preenche o espaço compreendido entre
rior é côncavo para trás. as extremidades inferiores das asas da apófise pte-

67
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

rigoideia do esfenóide. O bordo inferior confi.m- apófise unciforme do etmóide; por fim, observa-
de-se com o bordo lateral da lâmina horizontal. -se uma parte rugosa, que se relaciona com a cris-
O bordo superior é irregular e apresenta duas sa- ta conchal do palatino.
liências: uma anterior, a apófise orbitária do pala-
tino (com a forma de pirâmide triangular) e ou-
tra posterior, a apófise esfenoidal do palatino (de
configuração lamelar), separadas pela incisura es-
fenopalatina. O bordo anterior da lâmina verti-
cal do palatino cruza em cima a parte posterior do
orifício do seio maxilar. Por baixo deste orifício, o
bordo anterior prolonga-se pela chamada "apófi-
se maxilar do palatino", que se introduz na fissura
palatina da maxila e se articula com o bordo pos-
7 4
terior da apófise maxilar da concha nasal inferior.
Fig. 2.35: Vista medial da concha nasal inferior.
O bordo posterior relaciona-se com a face medial
1. Extremidade anterior 2. Extremidade posterior 3. Bordo inferior
da asa da apófise pterigoideia. 4. Apófise lacrimal 5. Apófise etmoidal

CONCHA NASAL INFERIOR

A concha nasal inferior (cometo inferior), clas-


sificada como irregular ou como placoide, é uma
lâmina óssea alongada de anterior para posterior
e encurvada em forma de turbina, fixada por um
dos seus bordos à parede lateral das fossas nasais e
com um bordo livre nesta cavidade. Tem duas fa-
ces (medial e lateral) e dois bordos (superior ou ar-
ticular e inferior ou livre). A sua face convexa é a Fig. 2.36: Vista lateral da concha nasal inferior.
medial, a extremidade mais afilada é posterior e a 1. Extremidade anterior 2. Extremidade posterior 3. Apófise etmoidal
4. Apófise maxilar 5. Apófise lacrimal
saliência que se destaca de um dos bordos é supe-
rior (Figuras 2.35 e 2.36).
A união entre os bordos faz- se por duas extremi- OSSOS NASAIS
dades afiladas (anterior e posterior). A face me-
dial está voltada para o septo nasal. A face late- Os ossos nasais, placoides e pequenos, locali-
ral é côncava e limita por dentro o meato inferior zam-se de ambos os lados da linha média, entre
da fossa nasal. O bordo inferior, livre, é convexo de os ramos ascendentes da maxila e inferiormen-
anterior para posterior. O bordo superior, articu- te à chanfradura nasal do frontal (Figuras 2.37
lar, é também convexo no sentido ântero-poste- e 2.38).
rior. Caminhando neste sentido, podemos encon- O osso nasal, par, apresenta quatro bordos: den-
trar: uma parte anterior, fina e rugosa que se arti- tro dos dois bordos mais curtos, o mais espes-
cula com a crista conchal da maxila; a apófise la- so é superior. Dentro dos dois bordos mais lon-
crimal, que forma a porção inferior do canal naso- gos, o mais curto é medial. A face mais conve-
lacrimal e se articula com o bordo inferior do osso xa do osso é anterior, encontrando-se virada para
lacrimal e com a porção inferior dos lábios da go- fora e para cima.
teira lacrimal da maxila; a apófise maxilar, com a Têm uma forma quadrilátera, mais larga e menos
forma de uma lâmina triangular, articula-se com espessa inferiormente. A face anterior é convexa
o lábio sinusal no contorno inferior do orifício do no sentido transversal; no sentido vertical é cônca-
seio maxilar; a apófise etmoidal, delgada e acha- va em cima e convexa em baixo, apresentando na
tada, articula-se com a extremidade inferior da parte média um orifício que se abre na face pos-

68
SJSTEMA LOCOMOTOR I CABEÇA E PESCOÇO

terior. A face posterior tem irregularidades na sua OSSO ZJGOMÁTICO


porção superior, pelas quais se articula com a espi-
nha nasal do frontal; na parte mais inferior é côn- Também chamado "osso malar", o osso zigomáti-
cava e lisa, sendo percorrida pelo sulco etmoidal, co pode ser classificado como irregular ou placoi-
por onde passa o nervo naso-lobar (ramo nasal la- de. Situa-se na parte superior e lateral da face, late-
teral do nervo etmoidal anterior). O bordo supe- ralmente à maxila. Tem duas faces, quatro bordos e
rior, dentado, articula-se com a chanfradura nasal quatro ângulos (Figuras 2.39 e 2.40).
do frontal. O bordo inferior relaciona-se com as Relativamente à sua orientação, o bordo mais re-
cartilagens laterais do nariz. O bordo lateral arti- gularmente côncavo é superior, do qual se desta-
cula-se com a apófise frontal da maxila e o medial ca uma lâmina horizontal que é medial; dos dois
com o osso nasal contralateral. ângulos relacionados com este bordo, o mais agu-
do é anterior.

/ ,

4
6
Fig. 2.39: Vista medial do osso zigomático.
Fig. 2.37: Vista anterior do osso nasal. 1. Bordo superior 2. Bordo inferior 3. Bordo lateral 4. Bordo medial
1. Bordo superior 2. Bordo inferior 3. Bordo lateral 4. Bordo medial 5. Orifício vascular 6. lncisura naso-lobar
5. Orifício vascular 6. lncisura naso-lobar

6 3
Fig. 2.40: Vista lateral do osso zigomático.
Fig. 2.38: Vista posterior do osso nasal. 1. Ângulo anterior 2. Ângulo superior 3. Ângulo inferior 4. Apófise
1. Bordo superior 2. Bordo inferior 3. Bordo lateral 4. Bordo medial orbitária 5. Bordo temporal 6. Bordo massetérico 7. Orifício
5. Bordo etmoidal zigomático do canal tempero-zigomático 8. Bordo orbitário

69
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Faces
5
A face lateral ou cutânea dá inserção aos músculos
zigomáticos e possui o orifício zigomático do ca-
nal zigomático-temporal. A face medial tem dois
segmentos: um anterior ou articular, que se une à
maxila, e um posterior ou temporal, que se relacio- 2
4
na com a fossa temporal superiormente e com a
Fig. 2.41: Vista esquerda do vómer.
fossa infra-temporal inferiormente.
1. Bordo anterior 2. lncisura para a crista incisiva 3. Bordo posterior
4. Bordo inferior 5. Asas do vómerl

Bordo
Apresenta um bordo ântero-superior ou orbitá-
rio, espesso e côncavo para cima e para dentro, que
forma a parte ínfero-lateral do rebordo orbitário.
Deste bordo emerge a apófise frontal (apófise or-
bitária), que tem duas faces: a medial que faz parte
das paredes lateral e inferior da órbita e apresenta
o orifício de entrada do canal zigomático-tempo-
ral; a face lateral faz parte da fossa temporal e no
seu bordo anterior apresenta o buraco zigomático- Fig. 2.42: Vista direita do vómer.
1. lncisura para a crista incisiva (esfenóide}
-orbitário do canal zigomático-temporal. O bor-
do posterior da apófise frontal articula-se, de su- rior (Figuras 2.41 e 2.42).
perior para inferior, com o frontal, a asa maior do
esfenóide e com a maxila. O bordo póstero-supe- Faces
rior ou temporal do osso zigomático dá.inserção à São geralmente planas, percorridas por sulcos,
fáscia temporal. O bordo ântero-inferior ou maxi- sendo o mais marcado o do nervo naso-palatino.
lar corresponde ao vértice da apófise zigomática da
maxila. O bordo póstero-inferior ou masseteriano, Bordos
dá inserção ao masseter. O superior é dividido por uma goteira mediana e
forma duas cristas laterais, as asas do vómer. Arti-
Ângulos cula- se com a face inferior do corpo do esfenóide,
O superior, articula-se com a apófise orbitária la- formando o canal vómero-rostral (esfeno-vome-
teral (apófise zigomática) do frontal; os ângulos, riano médio) e os canais vómero-vaginais (esfe-
inferior e anterior, correspondem aos ângulos in- no-vomerianos laterais). A articulação esfeno-vo-
ferior e anterior do vértice truncado da apófise zi- meriana média é classificada como uma esquindi-
gomática da maxila. O ângulo posterior, biselado à lese. O bordo inferior articula-se com a crista na-
custa do bordo superior, articula-se com a apófise sal das maxilas e apresenta uma chanfradura ante-
zigomática do osso temporal. riormente, para a crista incisiva. O anterior é acen-
tuadamente oblíquo para diante e para baixo, ar-
VÓMER ticulando-se superiormente com a lâmina perpen-
dicular do etmóide e inferiormente com a carti-
O vómer, placoide, corresponde a uma lâmina ós- lagem do septo nasal. O bordo posterior, oblíquo
sea vertical, delgada, mediana, achatada no sentido para a frente e para baixo, separa os orifícios pos-
transversal, que faz parte do septo ósseo das fossas teriores das fossas nasais, as choanas.
nasais. Tem forma quadrilátera, com duas faces e
quatro bordos. O bordo que apresenta uma goteira MAND(BUI.A
mais acentuada, articular, é superior; o outro bor-
do, mais longo, apresenta uma goteira que é ante- A mandíbula, situada inferiormente à maxila e

70
SISTEMA LOCOMOTOR I CABEÇA E PESCOÇO

restante maciço facial, é um osso ímpar, mediano e nianas (também conhecidas por apófises geni), em
irregular (podendo também ser classificado por al- que nas superiores se inserem os músculos geni-
guns autores como placoide). O seu bordo alveolar -glossos e nas inferiores os geni-hioideus.
é superior, sendo a concavidade do osso posterior. Para trás e para cima destaca-se uma crista oblí-
É O único osso móvel da face e tem a forma de fer- qua, chamada "linha milo-hioideiá', onde se inse-
radura, com uma porção mediana (corpo) e duas re o músculo milo-hioideu. Inferiormente a esta,
existe o sulco milo-hioideu por onde passam os
vasos e nervo milo-hioideus. A linha rnilo-hioi-
deia continua-se pelo lábio medial do bordo ante-
rior do ramo ascendente e divide duas depressões:
uma superior, a fosseta sub-lingual e outra inferior,
a fosseta sub-maxilar, cada uma delas relacionada
com a glândula salivar com o mesmo nome.

6 Ramos ascendentes
Prolongam para cima as extremidades posterio-
res do corpo e são aproximadamente retangulares,
alongados verticalmente e achatados em direção
transversal.
Fig. 2.43: Vist a anterior da mandíbula.
1. Côndilo mandibular 2. Apófise coronóide 3 . Linha oblíqua externa Face lateral (Fig. 2.44)
4. Sínfise mentoniana 5. Eminência mentoniana 6. Buraco mentual
Esta face é lisa, exceto na vizinhança do ângulo
laterais (ramos ascendentes). (Fig. 2.43) póstero-inferior, onde há rugosidades nos locais
de inserção do músculo masséter.
Corpo
Porção mediana, que contém os alvéolos dentários
2
inferiores. É côncavo para trás e continua-se pos-
teriormente com os ramos ascendentes da man- \
chbula. Tem duas faces (anterior e posterior), dois
bordos (superior ou alveolar e inferior) e duas ex-
tremidades.

Face anterior
Tem na linha média uma crista vertical, resultado
da confluência de núcleos de ossificação dos dois
lados, a sínfise mandibular (sínfise mentoniana),
6
que se continua inferiormente com uma saliência
triangular, a eminência mentoniana. A meia altu-
Fig. 2.44: Vista lateral esquerda da mandíbula.
ra do corpo, entre os dois pré-molares localiza-se 1. Côndilo mandibular 2. Apófise coronóide 3. lncisura sigmóide
o foramen mentoniano, onde emerge o feixe vás- 4. Linha oblíqua externa 5. Ângulo da mandíbula 6. Buraco mentual

culo-nervoso mentoniano. Da eminência mento-


niana, obliquamente para trás e para cima, conti- Face medial (Fig. 2.45)
nuando-se pelo lábio lateral do bordo anterior do Apresenta na parte média o orifício do canal man-
ramo ascendente, observamos uma crista óssea, a dibular (canal alveolar inferior), que dá passagem
linha oblíqua. ao feixe vásculo-nervoso alveolar inferior, que ca-
Face posterior minha na espessura do ramo ascendente e do cor-
Apresenta, de cada lado da linha média, duas pe- po da mandíbula. Do lábio anterior do referido
quenas saliências irregulares, as espinhas mento- orincio destaca-se uma apófise triangular desig-

71
MANUAL DE ANATOMIA H UMANA

nada por "espinha de Spix (língula mandibular)", sal, ou chanfradura, na transição para o bordo in-
na qual se insere o ligamento esfeno-maxilar. Na ferior do corpo, percorrido pela artéria facial.
parte inferior do orificio do canal mandibular par-
te o sulco milo-hioideu, oblíquo para baixo e para ARQUITETURA DO ESQUELETO FACIAL
diante, continuando-se pela face medial do cor-
po da mandfbula.Junto ao ângulo póstero-inferior Pilares
observam-se rugosidades de inserção do músculo Na face há alternância de zonas de osso muito del-
pterigoideu medial. gado com outras de grande espessura chamadas
"pilares ou contrafortes", que dão resistência. Os
principais pilares são o mandibular, o maxilar, o zi-
gomático e a arcada zigomática, e ainda o orbitário.

Suturas
O crescimento da face depende em grande parte
da existência de suturas, de cuja alteração funcio-
nal resultam deformidades importantes.

Cavidade bucal
Esta cavidade bucal é limitada superiormente pela
abóbada palatina (formada pelas apófises palatinas
das maxilas e pelas lâminas horizontais dos palati-
nos). (Fig. 2.46). Nela observam-se: a sutura cru-
ciforme (resultante da articulação dos quatro os-
Fig. 2.45: Vista medial esquerda da mandíbula.
1. Buraco alveolar inferior 2. Ungula mandibular 3. Linha milo-hioideia sos referidos), a fossa incisiva, os canais palatinos
4. Fosseta submandibular 5. Linha oblíqua interna 6. Fosseta sublingual maiores (canais grandes palatinos), palatinos me-
nores (canais pequenos palatinos; palatinos aces-
Bordos sórios) e respetivos foramina. Ântero-lateralmen-
São quatro: anterior, posterior, superior e inferior. te, encontramos as arcadas alvéolo-dentárias supe-
O anterior tem duas cristas que prolongam para rior e inferior e a mandfbula. Não existem pare-
cima as linhas oblíqua e milo-hioideia do cor- des ósseas inferior e posterior no esqueleto da ca-
po, entre as quais se situa uma goteira que dá in- vidade bucal.
serção ao músculo bucinador. O bordo posterior,
espesso, forma com o inferior o ângulo da man-
dfüula ou gónion, um importante ponto cranio-
métrico. O bordo superior é formado por duas
apófises separadas pela chanfradura mandibular
(chanfradura sigmoideia): a apófise coronoideia,
anterior, tem forma triangular e dá inserção ao
músculo temporal; a apófise posterior é o apófi-
se condiliana ou côndilo mandibular, saliência de
forma elíptica, de grande eixo oblíquo para den-
tro e ligeiramente para trás e pela qual a mandí-
bula se articula com a base do crânio. O côndi-
lo une-se ao ramo ascendente por um segmen-
to mais estreito chamado "colo". Na face ante-
rior deste último observa-se uma pequena fos-
3
seta onde se insere o músculo pterigoideu lateral.
O bordo inferior apresenta uma goteira transver- Fig. 2.46: Cavidade bucal óssea.
1. Cavidade bucal 2. Arcada alveolar superior 3. Arcada alveolar inferior

72
SISTEMA LOCOMOTOR j CABEÇA E PESCOÇO

Formações comuns à face e ao crânio -se a apófise frontal da maxila, o labirinto etmoi-
dal superiormente (com os cornetos nasais mé-
Fossas nasais dio, superior e acessórios), o unguis (osso lacri-
Ocupam uma pos1çao para-mediana, separa- mal) em posição intermédia e a concha nasal in-
das entre si pelo septo nasal, por baixo do crâ- ferior que se encontra mais inferiormente, a lâ-
nio, por dentro da órbita e acima da cavida- mina vertical do palatino e ainda a face medial da
de bucal. Têm uma forma prismática retangular, asa medial da apófise pterigoideia do esfenóide.
com quatro paredes e duas extremidades aber-
tas. A parede medial ou septo nasal (Fig. 2.47)
é constituída de anterior para posterior pela car-
tilagem septal, lâmina perpendicular do etmói-
de e vómer. A parede superior ou abóbada na-
sal apresenta, de anterior para posterior, de cada
lado, o osso próprio do nariz (osso nasal), a es-
pinha nasal do frontal, a lâmina horizontal do
etmóide, a face anterior do corpo do esfenói-
de (onde se observa o orifício do seio esfenoi-
dal) e a face inferior do corpo da mesmo osso.

Fig. 2.48: Parede late ral das fossas nasais.


1. Esfenóide (laranja) 2. Etmóide (amarelo) 3. Palatino (roxo)
4. Concha nasal inferior (castanho) 5. Maxilar (azul) S. Lacrimal (azul
marinho) 7. Frontal (vermelho) 8. Osso nasal (verde)

O espaço limitado entre a parede lateral e cada


concha nasal chama-se meato. No meato inferior
situa-se o orifício do canal nasolacrimal; no mé-
dio os orifícios dos seios frontal e maxilar e de al-
gumas células etmoidais anteriores. Para o meato
superior drenam as células etmoidais posteriores.
O seio esfenoidal drena geralmente para o reces-
so esfeno-etmoidal ou, caso exista, para um mea-
4
to supremo acessório (Santorini ou Z uckerkan-
Fig. 2.47: Fos~s nasais.
1. Septo nasal 2. Concha nasal média 3. Concha nasal inferior dl) A abertura anterior é circunscrita pelos os-
4. Abertura do seio piriforme sos próprios do nariz (ossos nasais) e pela maxi-
la. Ao conjunto formado pela abertura anterior
A parede inferior ou pavimento é côncava no das duas fossas nasais chama-se orifício pirifor-
sentido transversal e com a forma de gotei- me (Fig. 2.47). A abertura posterior, desig nada
ra ântero-posterior. É constituída anteriormen- por "choana", faz comunicar a fossa nasal com a
te pela face superior da apófise palatina da ma- orofaringe e é delimitada pelo bordo posterior do
xila e posteriormente pela lâmina horizon- vómer (medialmente), bordo posterior da lâmina
tal do palatino. Apresenta anteriormente a fos- horizontal do palatino (inferiormente), asa me-
sa incisiva. A parede lateral (Fig. 2.48), irregu- dial da apófise pterigoideia (lateralmente), cor-
lar, é formada na sua maior extensão pela maxi- po do esfenóide e bordo posterior da asa do vó-
la: na zona central observa-se o orifício do seio mer (em cima).
maxilar; de anterior para posterior observam-

73
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

6 7
Fig. 2.49: Septo das Fossas Nasais. Fig. 2.50: Cavidade orbitária direita.
1. Osso frontal 2. Osso nasal 3. Etmóide {Lâmina vertical} 4. Corpo 1. lncisura supra-orbitária 2. Fossa orbitária (osso frontal) 3. Asa
do Esfenóide 5. Vómer 6. Maxila (apófise palatina) 7. Palatino menor do esfenóide 4. Canal óptico 5. Fissura orbitária superior
{Lâmina horizontal) 6. Asa maior do esfenóide 7. Fissura orbitária inferior

Cavidades Orbitárias Tem a forma de pirâmide triangular, disposta


Têm a forma de pirâmides quadrangulares arre- transversalmente, delimitada anteriormente pela
dondadas de base anterior e localização simétri- tuberosidade da maxila, medialmente pela lâmi-
ca, cujo eixo é divergente para a frente, situadas na lateral da apófise pterigoideia e superiormente
súpero-lateralmente às fossas nasais e inferior- pela parte inferior ou zigomática da porção exo-
mente à cavidade craniana. Apresentam quatro craniana da asa maior do esfenóide e pela porção
paredes, um vértice e uma base (Fig. 2.50). A pa- horizontal da escama do temporal (medialmen-
rede superior ou tecto é constituída na sua maior te) e pelo canal zigomático (lateralmente), com-
extensão, anteriormente pela fossa orbitária do preendido entre a crista infratemporal e a arca-
frontal e mais atrás pela asa menor do esfenóide. da zigomática. O vértice, medial, corresponde ao
A maior parte da parede inferior ou pavimento ponto de união das três paredes. A base da pi-
é formada pela face superior da apófise zigomá- râmide é virtual e está voltada para fora. A fos-
tica da maxila. Fazem ainda parte do pavimen- sa comunica com a cavidade craniana pelos fo-
to, as apófises frontais do zigomático (por fora) ramina oval e espinhoso, e com a órbita pela fis-
e do palatino (atrás). A parede medial é forma- sura orbitária inferior. Lateralmente, esta fossa é
da, no sentido ântero-posterior, pela apófise fron- parcialmente obliterada pela arcada zigomática,
tal da maxila, unguis, lâmina orbitária do etmói- por cima da qual se continua com a fossa tem-
de e face lateral do corpo do esfenóide. Da pare- poral. A cavidade principal emite um divertícu-
de lateral fazem parte: anteriormente o malar e a lo medial a que se dá o nome de fossa ptérigo-
apófise zigomática do frontal e, posteriormente, a - palatina (transfundo da fossa ptérigo-maxilar).
face orbitária da asa maior do esfenóide. A cavi- Esta é limitada anteriormente pela porção mais
dade orbitária comunica com a craniana pela fis- medial da tuberosidade da maxila, posteriormen-
sura orbitária superior, canal óptico e canais et- te pela face anterior da apófise pterigoideia e me-
moidais anterior e posterior, com a fossa infra- dialmente pelo segmento inter-ptérigo-maxilar
-temporal pela fissura orbitária inferior (fenda da lâmina vertical do palatino. A fossa ptérigo-
esfeno-maxilar) e ainda com as fossas nasais pelo -palatina comunica com a fossa nasal pelo fora-
canal nasolacrimal. men esfeno-palatino (na parede medial) e com as
cavidades craniana e orbitária pelo foramen re-
Fossa Infra-temporal (ptérigo-maxilar) dondo e pela fissura orbitária inferior, respetiva-

74
SISTEMA LOCOMOTOR I CABEÇA E PESCOÇO

mente. As fossas infra-temporais têm como prin- nio-faciais).


cipal conteúdo os músculos pterigoideus, os vasos O andar médio, situa-se entre o plano supra-ciliar
maxilares e os nervos maxilar e mandibular, am- e o plano sub-nasal.
bos ramos do nervo trigémio (V nervo craniano). O andar inferior da face, vai da região sub-nasal
A fáscia interpterigoideia divide este espaço em até ao plano mentoniano.
duas locas (medial e lateral).
Harmonia facial e equilíbrio funcional
Fossas Temporais
São espaços estreitos situados por fora das esca- A face à nascença representa um quarto do tama-
mas temporais e acima das arcadas zigomáticas; nho total da cabeça. O crescimento normal da face
são limitadas anteriormente pelo bordo póstero- faz-se para a frente e para baixo em relação à base
-superior do zigomático e pelo bordo lateral da do crânio. Aos quatro anos de idade atinge-se 60%
apófise zigomática do frontal; superiormente, de do crescimento total, que aos nove anos se aproxi-
anterior para posterior, pela crista lateral do fron- ma de 90%. Hoje consegue-se fazer a previsão do
tal (linha temporal do frontal) e pela linha curva crescimento facial e interagir com a função ana-
temporal superior (linha temporal superior); infe- tómica, nomeadamente músculo-esquelética, no
riormente pelo bordo superior da arcada zigomá- sentido de a tornar mais favorável ao crescimento
tica; o limite posterior é mal definido e situa-se na harmonioso (redireccionar o crescimento, tornan-
continuação da linha curva temporal superior (li- do-o promotor de equilibrio estético e funcional).
nha temporal superior). As suas paredes são cons- Assim, consegue- se uma boa relação oclusal entre
tituídas pelos seguintes ossos: zigomático (gotei- as arcadas dentárias que suporta e de todo o siste-
ra da parte posterior da face medial), a faceta la- ma estomatognático, resultando numa boa função
teral do frontal, a porção temporal superior da asa mastigatória, fonética, estética e respiratória. Após
maior do esfenóide, o parietal abaixo da linha cur- a erupção dos dentes decíduos, estes estabelecem
va temporal superior (linha temporal superior) e, o primeiro contacto com os dentes antagonistas,
em maior extensão, a escama do temporal. A face estabelecendo a primeira relação oclusal. Qyando
lateral das fossas temporais contém as suturas cor- irrompem os molares, a oclusão torna-se mais es-
respondentes às articulações dos ossos menciona- tável, pela intercuspidação (ocorrência de relação
dos (entre os quais o pterion e a linha curva tem- íntima entre a cúspide de um molar e a fossa do
poral inferior (linha temporal inferior) do parie- oponente). Numa relação dentária oclusal normal,
tal). Inferiormente, as fossas temporais comuni- dita de Classe I de Angle, a cúspide anterior e la-
cam amplamente com as respetivas fossas infra- teral (mesiovestibular) do primeiro molar perma-
-temporais As fossas temporais são preenchidas nente superior oclui no sulco vestibular do primei-
pelos músculos temporais. ro molar permanente inferior. Caso haja desfasa-
mento igual ou superior a metade da coroa den-
tária, temos para diante a Classe III e para trás a
Classe II. Uma maxila pequena (hipoplásica), para
além da dificuldade mastigatória pela má-oclusão
Andares da face dentária que causa, condiciona o espaço reservado
à articulação e modulação da palavra, de que re-
Descrevem-se-lhe três andares: superior, médio e sultam problemas fonéticos. A posição recuada da
inferior. mandíbula ou a presença de uma mandíbula pe-
O andar superior vai do ponto médio da linha de quena (micrognatia) como acontece na síndrome
projeção frontal do plano horizontal, que inclui o de Pierre Robin, pode condicionar o espaço respi-
ponto mais alto da inserção do cabelo (Tríquion) ratório que fica por trás da base da língua (espa-
e acompanha a linha capilar até ao plano supra- ço de Donders), podendo ser causa de morte sú-
- ciliar (depende da configuração geral e simetria bita por asfixia. A orientação do crescimento fa-
da calvária, sofrendo anomalias nas síndromes crâ- cial pode prevenir algumas desarmonias e evitar

75
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

a ocorrência de más-oclusões dentárias que fre- racional computadorizada (Cone Beam), ou ares-
quentemente se associam a desequihbrios funcio- sonância magnética nuclear.
nais das articulações têmporo-mandibulares que
podem resultar mais tarde em disfunções têmpo-
ro-mandibulares causadoras de estalidos, dor e in-
capacidade funcional da referida articulação.

lmagiologia da face

A imagiologia é um excelente recurso disponível


na avaliação do desenvolvimento e no diagnósti-
co de alterações crânio-faciais. A telerradiografia
é uma técnica utilizada para a realização de medi-
ções lineares e angulares das estruturas do crânio e Fig. 2.52: Ortopantomografia de criança em fase de dentição mista
tardia (com quisto dentígero no quarto quadrante).
da face contempladas nos exames cefalométricos,
especialmente úteis na avaliação do crescimento.
A ortopantomografia permite uma ótima imagem,

Fig. 2.53: TAC da mandíbula com denta scan.


Fig. 2.51: Telerradiografia de perfil direito

não apenas das arcadas dentárias mas também de


toda a face óssea, contribuindo para o despiste fácil
e imediato de alterações que possam evoluir sem
sintomas.
Há outros métodos imagiológicos de uso corren-
te no estudo de alterações da face, desde as sim-
ples radiografias peri-apicais realizadas pelo Esto-
matologista para o diagnóstico de alterações rela-
cionadas com os dentes e as estruturas de supor-
te (periodonto), à tomografia axial computadori-
zada (TAC - Figuras 2.53 e 2.54 ), tomografia ro- Fig. 2.54: TAC da mandibula com denta scan.

76
SISTEMA LOCOMOTOR I CABEÇA E PESCOÇO

PERGUNTAS TIPO e. Apresenta na face medial, uma lâmina ós-


sea quadrangular e horizontal, a apófise
Assinale as alíneas certas: palatina.
!y-E !Q-2: !y-1
1. O osso palatino :smsodso11
a. É constituído por duas lâminas (uma ho-
rizontal e outra vertical), que se unem em
ângulo recto.
b. Situa-se anteriormente à maxila. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
c. Tem três apófises que se formam a partir
da lâmina horizontal: piramidal, orbitária Drake, RL.; Vogl, W; Mitchell, AWM. Grays
e esfenoidal. Anatomyfar Students. 4.ª edição. Elsevier Ed.
d. Apresenta na face medial da lâmina verti- Toronto, 2019.
cal, a crista turbina! inferior (crista do cor- Furtado, IA. Má-oclusão dentária e disfunção
neta) que se articula com o unguis (osso têmporo-mandibular - Estudo anátomo-cl{nico e
lacrimal). epidemiol6gico em crianças de idades escolar epré-
e. Integra a abóbada palatina, pela face supe- escolar. 2007. Dissertação de doutoramento em
rior da lâmina horiwntal. Medicina (Anatomia). Universidade de Lisboa.

2. A manclfbula (Manchbula) Rouviere, H .; Delmas, A. Anatomie humaine.


a. É constituído por duas apófises de for- Tome I.lSe Édition Masson, Paris, 2002.
ma elíptica, situadas nos bordos superiores Sperber, GH. Craniofacial development. BC
dos ramos ascendentes, chamadas "apófi- Decker lnc, London, 2001.
ses coronoideias".
b. Tem a meia altura do corpo, entre o cani-
no e o primeiro pré-molar, o buraco men- •••
toniano.
c. Apresenta na parte média da face lateral
do ramo ascendente, o orifício do canal
dentário inferior (canal mandibular).
d. É o único osso móvel da face.
e. Tem na face anterior do corpo, de cada
lado da linha média, duas saliências irre-
gulares, as apófises geni (espinhas mento-
nianas).

3. A maxila
a. É um osso que faz parte, simultaneamente
das cavidades orbitária e bucal e das fossas
nasais e ptérigo-maxilar (infratemporal).
b. Tem uma forma irregularmente quadrilá-
tera, com duas faces (anterior e posterior) e
quatro bordos (superior, inferior ou alveo-
lar, anterior e posterior).
c. Contém uma cavidade, o seio nasal ou an-
tro de Highmore.
d. Participa na formação da parede lateral da
fossa infra-temporal.

77
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

OSSO HIÓIDE tra horizontal, em quatro depressões. Nesta face


inserem-se os músculos geni-hioideu, geni-glos-
O osso hióide, ímpar e irregular (também pode so, hio-glosso, milo-hioideu, digástrico (ventre an-
ser considerado placoide), situa- se na porção ante- terior) e estilo-hioideu. A face posterior é escava-
rior do pescoço, inferiormente à mandíbula (osso da, sendo a zona de inserção do músculo tiro-hioi-
maxilar inferior) e anteriormente à coluna verte- deu. No bordo superior inserem-se as membranas
bral cervical. Não se encontra articulado com ne- tiro-hioideia e hio-glóssica, assim como algumas
nhum osso, mas apresenta-se como um importan- fibras do músculo geni-glosso. Ao nível do bor-
te ponto de inserção para diversos músculos da re- do inferior, mais espesso, inserem-se os músculos
gião cervical. Qyanto à sua orientação, podemos esterno-hioideu (esterno-cleido-hioideu), omo-
afumar que a convexidade desenhada pelo osso é -hioideu e tiro-hioideu.
anterior, e o bordo do qual se destacam apófises é O corno maior do hióide (grande corno do hióide)
superior. surge, de cada lado, da extremidade lateral do cor-
Situa-se na linha média, ao nível da 4.ª vértebra po, apresentado uma direção para cima, para trás
cervical (C4), e o seu nome deriva da sua seme- e ligeiramente para fora. Achatados de cima para
lhança ao epsilon grego. Encontra-se superiormen- baixo, a sua largura é maior anteriormente, mas
te à laringe, ao nível do ângulo formado entre a terminam posteriormente num tubérculo (tubér-
face anterior do pescoço e o pavimento bucal. Se- culo do corno maior) que dá inserção ao ligamento
parado do restante esqueleto, este osso em forma tiro-hioideu lateral. Podemos reconhecer no corno
de ferradura está suspenso por estruturas muscu- maior, para além da sua extremidade posterior (tu-
lares e ligamentares. bérculo), uma face superior, uma face inferior, um
Este osso apresenta uma porção média - o cor- bordo lateral e um bordo medial. Na sua face su-
po - e de cada extremidade lateral do corpo par- perior, inserem-se os músculos hio-glosso, constri-
tem dois prolongamentos - o corno maior e o cor- tor médio da faringe e algumas fibras do músculo
no menor (Fig. 2.55). estilo-hioideu. Na sua face inferior e no bordo la-
O corpo do hióide consiste numa lâmina óssea teral, insere-se o músculo tiro-hioideu. No bordo
quadrilátera, de concavidade posterior. Apresen- medial, insere-se a membrana tiro-hioideia.
ta duas faces (anterior e posterior), dois bordos O corno menor do hióide (pequeno corno do
(superior e inferior) e duas extremidades. A face hióide) consiste, de cada lado, numa pequena emi-
anterior é dividida por uma crista vertical e ou- nência óssea aproximadamente cónica, articulada
através da sua base à zona de junção entre o cor-
po e o corno maior. A sua extremidade superior ou
vértice, livre, dá inserção ao ligamento estilo-hioi-
deu, e aos músculos linguais longitudinais superior
e inferior, assim como ao músculo constritor mé-
dio da faringe.

NOÇÔES DE ANATOMIA CLÍNICA

Embora pouco frequente, numa situação de trau-


matismo, a porção do osso que apresenta maior ín-
dice de fratura é a zona dos cornos maiores. Nes-
sa situação, devido à especificidade das inser-
ções musculares e ligamentares existentes, surgem
queixas álgicas (dolorosas) durante os movimentos
da língua, como a deglutição ou a fala.
Fig. 2.55: Vista anterior do osso hióide Por vezes, ocorre calcificação do ligamento esti-
1. Corpo do osso hióide 2. Corno maior do osso hióide 3. Tubérculo lo-hioideu (um dos elementos do "Ramalhete de
do corno maior do osso hióide 4. Corno menor do osso hióide

78
SISTEMA LOCOMOTOR I CABEÇA E PESCOÇO

Standring, S. et al. Gray's Anatomy - 'lhe


Riolan"), que em conjunto com o corno menor do
Anatomica! Basis oJClinical Practice (41.ª ed).
hióide e com a apófise estilideia do osso temporal
Elsevier, 2016.
(que pode se encontrar prolongada), forma uma
"barra" óssea que poderá comprimir diversas es- Hooker,JD. et al. Carotid stent fracture from
truturas cervicais que lhe são próximas, como as stylocarotid syndrome. Radiology Case.10(6):1-
artérias carótidas - trata-se do síndrome de Eagle. 8, 2016.

PERGUNTAS TIPO ***

1. Assinale a afirmação verdadeira:


a. O hióide articula-se superiormente com a
mandíbula.
b. O hióide situa-se geralmente ao nível de
C3 (terceira vér tebra cervical).
c. O hióide possui uma concavidade poste-
rior.
d. A fratura do hióide não apresenta geral-
mente relevância clínica.

2. A face anterior do corpo do hióide dá geral-


mente inserção a todos os seguintes múscu-
los, EXCETO ao:
a. Músculo geni-hioideu.
b. Músculo milo-hioideu.
c. Músculo estilo-hioideu.
d. Músculo tiro-hioideu.

3. Assinale a afirmação verdadeira, no que se re-


fere aos cornos maiores do hióide:
a. Terminam posteriormente pelos tubércu-
los dos cornos maiores.
b. Dão inserção, pelo seu bordo medial, ao
músculo tiro-hioideu.
c. Dão inserção, pelo seu bordo lateral, à
membrana tiro-hioideia.
d. O seu tubérculo dá inserção ao ligamento
estilo-hioideu.
V-f 1a-i \)-T
:s.1sodso~

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Rouviere, H.; Delmas, A .. Anatomie humaine


descriptive, topographique etfanctionnelle (15. ª ed.).
Masson, 2002.

79
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

ARTROLOGIA DO CRÂNIO E DA FACE

ARTICULAÇÕES DA CABEÇA

ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR

Introdução

A articulação temporomandibular (ATM), consi-


derada conjuntamente com a sua contralateral, é
7
a única articulação móvel da cabeça. Localiza-se
na porção lateral da cabeça, inferiormente à região Fig. 2.56: Superfícies Articulares ATM:
1. Côndilo mandubilar 2. côndilo temporal 3. Cavidade glenóide
temporal e anteriormente ao pavilhão auricular. 4. Menisco interarticular 5. Cápsula articular 6. Cavidade temporo-
A ATM está implicada directamente na primeira discal 7. Cavidade disco-mandibular

fase da digestão mecânica dos alimentos - a mas-


tigação - e, juntamente com a língua, os dentes, transversal, ligeiramente oblíqua para trás e para
os lábios e o palato mole, desempenha um papel dentro, convexa de trás para a frente e ligeiramen-
fulcral na articulação das palavras. De um modo te côncava de fora para dentro. A sua extremidade
mais amplo, conjuntamente com o sistema ner- lateral corresponde ao tubérculo zigomático ante-
voso (central e periférico), os músculos mastiga- rior e a sua extremidade medial está em continui-
dores, os ossos gnáticos, as arcadas alveolodentá- dade com a escama do temporal. O tubérculo ar-
rias e o periodonto constituem um todo morfo- ticular continua-se anteriormente por uma super-
lógico e funcional, encarado como parte daquilo ficie designada "superficie plana infratemporal";
que é designado "aparelho estomatognático". Des- posteriormente está em continuação com a fossa
ta maneira se compreende que qualquer patolo- mandibular do temporal.
gia que atinja um dos constituintes deste aparelho A fossa mandibular do temporal - ou cavidade
pode ter repercussão em qualquer um dos outros. glenoideia - é uma pequena concavidade de gran-
de eixo paralelo à eminência articular. Localiza-
Classificação -se posteriormente à eminência articular, anterior-
mente ao meato auditivo externo, medialmente ao
A ATM é classificada como uma bicondilome- processo zigomático e lateralmente à espinha do
niscartrose conjugada. A razão desta classifica- esfenóide. A fossa mandibular encontra-se dividi-
ção prende-se com as superficies articulares que da pela fissura petrotimpânica (Glasser) em duas
a constituem: dois côndilos e um menisco. O ter- porções: uma anterior, articular, em continuidade
mo "conjugada" relaciona-se com o facto de o mo- com a vertente posterior do tubérculo temporal;
vimento de uma ATM (direita ou esquerda) im- outra posterior, não articular, que se continua com
plicar necessariamente o movimento da contrala- a parede anterior do canal auditivo externo.
teral. Portanto, as superficies articulares do osso tempo-
ral são constituídas pelo tubérculo articular e pela
Superfícies Articulares porção anterior, pré-glasseriana, da fossa mandi-
bular.
Nas superfícies articulares, há a considerar: a) a O processo condilar da mandíbula (côndilo man-
fossa mandibular e o tubérculo articular do osso dibular) é uma saliência ovóide, alongada para trás
temporal; b) o processo condilar da mandJbula; c) e para dentro. Localiza-se no ângulo entre os bor-
o menisco articular. dos posterior e superior do ramo da mandíbu-
O tubérculo articular - também chamado "emi- la. Apresenta duas vertentes, separadas por uma
nência ou côndilo temporal" - é uma saliência crista romba paralela ao grande eixo do tubérculo

80
SISTEMA LOCOMOTOR I CABEÇA E PESCOÇO

temporal: uma anterior, convexa, que se continua poromeniscal; e um inferior, meniscomandibular.


com a incisura mandibular; outra posterior, plana, São dois os ligamentos principais da ATM: o li-
em continuidade com o bordo posterior do ramo gamento temporomandibular lateral e o ligamen-
da mandíbula. to temporomandibular medial. O primeiro refor-
Assim, a superficie articular da mandíbula com- ça a porção lateral e o último a porção medial da
preende a crista e as vertentes anterior e posterior articulação.
do côndilo mandibular. Tal como as superfícies ar- Os ligamentos acessórios da ATM, localizados
ticulares temporais, também a superfície articular medialmente à articulação, são: o ligamento esfe-
mandibular se encontra revestida por cartilagem nomandibular e o ligamento estilomandibular.
articular. O ligamento lateral dispõe-se obliquamente para
O tubérculo temporal e o processo condilar da baixo e para trás, desde o tubérculo articular do
mandíbula são estruturas convexas, logo, não con- temporal e porção vizinha da fossa articular, até ao
cordantes. Para assegurar uma melhor coaptação colo do côndilo da mandtbula. Ele limita os mo-
entre estas superficies articulares existe uma es- vimentos posteriores da mandíbula, protegendo o
trutura de fibrocartilagem que se interpõe entre meato auditivo externo.
ambas: o menisco articular. O menisco da ATM O ligamento medial segundo insere-se superior-
tem uma forma de um disco bicôncavo, ovalar de mente na porção medial da fissura petrotimpâni-
grande eixo transversal. O bordo periférico adere ca, na fissura petro-escamosa e na espinha do es-
à cápsula articular. fenóide, e inferiormente no colo do côndilo man-
dibular.
M eios de União O ligamento esfenomandibular insere-se supe-
riormente na espinha do esfenoide, na base do
O temporal e a manclfbula encontram-se unidos crânio, e inferiormente na face medial do ramo da
através de: a) uma cápsula articular; b) ligamentos mandíbula, ao nível da língula. Ele representa os
extracapsulares; c) músculos periarticulares. remanescentes embrionários do primeiro arco fa-
A cápsula articular é uma estrutura laxa e insere- ríngeo.
-se no contorno das superficies articulares descri- Finalmente o ligamento estilomandibular, consti-
tas. O interior da cápsula, intra-articular, adere ao tui um espessamento da fáscia cervical profunda
contorno do menisco, dividindo a cavidade arti- que se estende do processo estilóide do temporal
cular em dois compartimentos: um superior, tem- ao ângulo e bordo posterior da mandíbula.

Sinovial

Cada um dos compartimentos articulares (supe-


rior, temporomeniscal, e inferior, meniscomandi-
bular) encontra-se revestido por uma membrana
sinovial. É a membrana sinovial que produz o lí-
quido sinovial, importante para o adequado fun-
cionamento articular.

Músculos e Movimentos

Os músculos responsáveis pelos movimentos da


ATM são: a) os músculos mastigadores; b) os
músculos supra e infrahioideus. Os movimentos
que a ATM permite executar são: a) abaixamen-
Fig . 2.57: Meios União ATM
to e elevação; b) propulsão e retropulsão; c) latera-
1. Cápsula articular 2. Ligamento colateral lateral 3. Ligamento estilo•
mandibular 4. Ligamento esfeno-mandibular lidade ou didução.

81
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Os músculos temporal, masséter e pterigoideu As fraturas do côndilo mandibular são causadas


medial são músculos levantadores, isto é, permi- principalmente por acidentes rodoviários e agres-
tem a aproximação da arcada alveolodentária in- sões; quedas e acidentes desportivos são as restan-
ferior da superior e, consequentemente, o encer- tes causas. Classificam-se como fracturas condilia-
ramento da boca. O músculo pterigoideu lateral é nas (intra-capsulares ou extra-capsulares) ou sub-
responsável pelos movimentos de propulsão e di- condilianas (altas, médias ou baixas) e dividem-se
dução. Os músculos supra e infrahioideus desem- subsequentemente em fraturas coaptadas ou des-
penham um papel activo na abertura da boca: os coaptadas. Devido à tração do músculo pterigoi-
primeiros baixam directamente a mandfüula; os deu lateral, as fraturas encontram-se geralmente
segundos fixam o osso hióide, permitindo-lhe ac- deslocadas medialmente.
tuar como ponto fixo para a ação dos primeiros. Uma vez que a ATM apresenta revestimento si-
novial, esta articulação pode ser atingida igual-
Relações mente por processos inflamatórios sinoviais, no-
meadamente a artrite reumatóide. A ATM pode
A ATM relaciona-se intimamente com estruturas também ser afectada por gota, artrite psoriásica,
importantes, a destacar: os nervos facial, auriculo- espondilite anquilosante, lúpus eritematoso sisté-
temporal e massetérico, as artérias maxilar e tem- mico, artrite crónica juvenil e depósitos de piro-
poral superficial, o plexo venoso pterigoideu e a fosfato de cálcio.
veia temporal superficial, a glândula parótida, oca-
nal auditivo externo e vários gânglios e vasos lin-
fáticos. OUTRAS ARTICULAÇÕES DA CABEÇA

NOÇÕES DE ANATOMIA CLÍNICA Com excepção da articulação temporomandibular,


e daquelas entre os ossículos do ouvido médio, as
A disfunção temporomandibular (DTM) é uma articulações da cabeça não apresentam movimen-
síndrome clínica caracterizada por dor e/ou sons tos: são articulações imóveis ou sinartroses. As ar-
articulares associados ou não a limitação da aber- ticulações da cabeça permitem a união dos vários
tura da boca. A causa mais frequente de DTM é ossos do neurocrânio e do viscerocrânio entre si
o chamado "desarranjo interno", um termo espe- [figs. 3]; são o paradigma de estabilidade articular.
cífico que define uma relação posicional e funcio- As articulações da abóbada craniana e do viscero-
nal anormal entre o menisco e as superfícies ar- crânio são sinfibroses; as sinfibroses também po-
ticulares ósseas. É mais frequente no género fe- dem ser chamadas de "suturas". As articulações da
minino, em idades compreendidas entre os 20 e base do crânio são sincondroses; estas apresentam
os 40 anos. crescimento até cerca dos 2 anos de idade.
A luxação da ATM ocorrem habitualmente com
a manchbula em abaixamento. Neste movimento
o côndilo mandibular e o menisco movem-se an- PERGUNTAS TIPO
teriormente até ao nível do vértice do tubérculo
articular, posição de maior instabilidade articular. 1. Qyal das seguintes estruturas não constitui
Nesta posição, qualquer pequeno movimento do uma superfície articular da ATM?
mento ou contração súbita dos pterigoideus late- a. Processo condilar da mandíbula.
rais pode colocar o menisco numa posição anterior b. Menisco.
ao vértice do tubérculo, mantendo a boca numa c. Processo mastoideu.
posição de abertura fixa. A redução destas luxa- d. Tubérculo articular do temporal.
ções pode ser executada pelo clínico, pressionando e. Fossa mandibular.
para baixo, com os polegares, os molares inferiores
do paciente, e empurrando firmemente a mandí- 2. Identifique o principal músculo responsável
bula para trás. por movimentos de didução da mandíbula:

82
SISTEMA LOCOMOTOR I CABEÇA E PESCOÇO

a. Temporal.
b. M asséter.
c. Pterigoideu medial.
d. Pterigoideu lateral.
e. Milohioideu.

3. Relativamente à classificação das articulações


da cabeça, identifique a afirmação errada:
a. A maioria das articulações da cabeça são
móveis.
b. A articulação esfenoocipital é urna sincon-
drose.
c. A articulação frontoparietal é uma sinfi-
brose.
d. A articulação temporomandibular é uma
bicondilomeniscartrose conjugada.
e. A articulação zigomaticomaxilar é uma
sinfibrose.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Drake, R.; Vogl, AW.; Mitchell, AWM. Gray's


A natomyfor Students. 3rd edition. London,
Churchill Livingstone, 2019.
Rouviere, H.; Delmas,A.Anatomie humaine
descriptive, topographique etfonctionnelle. lSéme
éd.ition. Masson, 2002.
Snell ,RS. Clinical anatomy by regiom. 9th edition.
Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins;
2012.

• ••

83
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

MIOLOGIA DO CRÂNIO E DA FACE res, em número de quatro de cada lado da cabeça.


Partilham a mesma origem embrionária a partir
Os músculos da cabeça podem ser divididos em do primeiro arco faríngeo. Os músculos da mími-
dois grande grupos: os músculos da mastigação e ca facial derivam, por seu lado, do segundo arco
os músculos da face (também denominados "mús- faríngeo.
culos da mímica").
MÚSCULO TEMPORAL

M ÚSCULOS DA MASTIGAÇÃO O músculo temporal localiza-se na porção ínfero-


lateral do crânio. É um músculo achatado e radia-
INTRODUÇÃO do, convergindo da fossa temporal até ao processo
coronóide da mandíbula (Fig. 2.58).
Os músculos da mastigação - também designados O músculo temporal nasce: de toda a extensão da
"músculos mastigadores ou mastigatórios" - são fossa temporal (à excepção da goteira retroma-
um conjunto de músculos implicados na primei- lar); da linha curva temporal inferior e da cris-
ra fase da digestão mecânica dos alimentos. Po- ta infratemporal, que limitam a fossa temporal;
rém, desempenham um papel igualmente impor- da metade superior da face profunda da fáscia
tante na fala e, à semelhança de todos os restan- temporal, que o recobre. Da sua origem, as fibras
tes grupos musculares, na conformação do corpo. musculares convergem até ao processo coronói-
Os músculos da mastigação permitem a mobili- de, tanto mais verticalmente quanto mais ante-
zação da articulação temporomandibular, isto é, riores são.
estão directamente implicados nos movimentos Inferiormente, o músculo temporal insere-se, atra-
efetuados por esta articulação. São músculos pa- vés de um tendão terminal espesso e resistente, no

13

7
9

Fig. 2.58: Músculos mastigadores


1. Músculo temporal 2. Músculo masséter 3. Osso zigomático 4. Arco zigomático 5. Mandíbula 6. Fáscia temporal 7. Canal parotídeo de Stenon
8. Músculo pterigoideu medial 9. Músculo pterigoideu lateral 10. Fáscia interpterigóide 11 . Foramen oval

84
p
SISTEMA LOCOMOTOR j CABEÇA E PESCOÇO

rocesso coronóide da mandíbula. No bordo ante- A nível da mandi'bula, o músculo masséter inse-
P · - do musc
rior deste processo, a mserçao , ulo tempo- re-se em toda a extensão da face lateral do ramo.
ral prolonga-se pelos dois lábios da goteira ante- Aqui, a inserção dos dois feixes é tanto mais supe-
rior do ramo da mandíbula; lateralmente, a inser- rior quanto mais profundo é o feixe. O feixe su-
ão faz-se unicamente na metade superior do pro- perficial insere-se, também, no bordo inferior e no
ç .d ângulo da mandíbula; o feixe profundo tem inser-
cesso corono1 e.
O músculo temporal é levantador da mandi'bula. ção na metade inferior do processo coronóide, in-
A contracção deste músculo, facilmente percep- feriormente ao temporal.
tível pela palpação da fossa temporal, permite a A acção do músculo masséter é idêntica à do mús-
aproximação das arcadas alveolodentárias e, assim, culo temporal: é levantador da mandíbula. A con-
0 encerramento da boca.
tracção deste músculo também é facilmente per-
ceptível através da palpação da região respectiva,
MÚSCULO MASSÉTER sobretudo quando a boca está encerrada.

O músculo masséter localiza-se na porção lateral MÚSCULO PTER/GO/DEU MEDIAL


da face. Curto e rectangular, estende-se da arcada
zigomática até à face lateral do ramo da mandibu- O músculo pterigoideu medial localiza-se na re-
la (Fig. 2.58). gião pterigomaxilar. É um músculo quadrilátero,
O músculo masséter apresenta dois feixes mus- estendendo-se da fossa pterigóide à face medial do
culares: superficial e profundo. O feixe superficial ramo da mandíbula. Apresenta dois feixes: super-
destaca-se dos dois terços anteriores do bordo in- ficial e profundo (Fig. 2.59).
ferior da arcada zigomática e do processo maxilar Superiormente, o feixe superficial, origina-se no
do malar. O feixe profundo origina-se na face me- processo piramidal do palatino e em toda a su-
dial da arcada zigomática e da porção posterior do perfície da fossa pterigóide, excepto na porção
seu bordo inferior. Daqui, os dois feixes muscula- posterior da parede medial desta fossa e na fos-
res dirigem-se para baixo até à mandibula. sa escafóide. O feixe profundo origina-se na tu-

6
6 8

Fig. 2.59: Músculos pterigoideus (medial e lateral)


1. Músculo pterigoideu lateral 2. Feixe esfenoidal 3. Feixe pterigoideu 4. Músculo pterigoideu medial 5. Músculo bucinador 6. Mandíbula
7. Côndilo mandibular 8. Lâmina medial do processo pterigóide

85
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

berosidade da maxila e porção adjacente do pro- MÚSCULOS DA FACE


cesso piramidal do palatino.
As suas fibras musculares dirigem-se para baixo e INTRODUÇÃO
para trás e inserem-se na face medial do ângulo da
mandibula e no ramo da mandibula, na vizinhan- Os músculos da mímica facial - igualmente co-
ça desse ângulo. nhecidos como músculos subcutâneos - com-
O músculo pterigoideu medial é, tal como os mús- preendem um conjunto de músculos responsáveis
culos temporal e masséter, levantador da mandí- pela expressão facial; através dela, são um meio de
bula. expressar emoções. Contribuem para a conforma-
ção da face e permitem a articulação das palavras.
MÚSCULO PTERIGO/DEU LATERAL Os movimentos decorrentes das inúmeras possi-
bilidades de contracção conjugada destes múscu-
O músculo pterigoideu lateral localiza-se na re- los fazem parte da linguagem corporal, sendo uma
gião pterigomaxilar. É um músculo curto, trian- forma de comunicação não verbal.
gular, achatado transversalmente, estendendo- Os músculos da mímica têm três características
-se do processo pterigóide ao colo da mandíbu- comuns entre si: (1) apresentam uma inserção sub-
la (Fig. 2.59). cutânea, móvel; (2) apresentam inervação motora
Anteriormente, este músculo apresenta dois fei- através de ramos do nervo facial; (3) agrupam-se
xes: superior ou esfenoidal e inferior ou pterigoi- em torno de orifícios da face, que constringem ou
deu. O primeiro nasce: da porção horizontal da dilatam. Eles formam um contínuo com a fáscia
face lateral da asa maior do esfenóide; da crista superficial, constituindo o Sistema Músculo Apo-
infratemporal; da porção superior da face lateral nevrótico Superficial (SMAS).
da asa lateral do processo pterigóide. O segun- Repartem-se em quatro grupos (Fig. 2.60):
do destaca-se: da porção inferior da face lateral
da asa lateral do processo pterigóide; do proces- Músculos das Pálpebras e dos Supracílios
so piramidal do palatino; da tuberosidade da ma-
xila. Os dois feixes convergem posteriormente e O músculo orbicular do olho é constituído por fei-
terminam no colo da mandíbula. xes concêntricos, localizados em torno das pálpe-
A contracção de um dos músculos pterigoideus bras.
laterais produz um movimento de lateralida- O músculo corrugador do supracílio localiza-se,
de, ou didução. A contracção simultânea de am- como o próprio nome indica, na arcada supra-
bos os músculos pterigoideus laterais determi- ciliar.
na a propulsão da mandíbula, isto é, o movimen-
to através do qual o mento se desloca anterior- Músculos Epicranianos
mente.
O músculo occipitofrontal é um músculo digástri-
NOÇÕES DE ANATOMIA CLÍNICA co, extendendo-se da região supraciliar à linha nu-
cal superior, cobrindo a superfície exterior da abó-
O trismo designa genericamente uma limitação bada craniana. Apresenta dois ventres, um frontal
na abertura da boca. Ocorre habitualmente por e outro occipital, separados pela aponevrose epi-
contractura dos músculos mastigadores, com re- craniana (gálea).
percussão nos movimentos da ATM. É um me- O s músculos auriculares, são em número de três,
canismo fisiológico defensivo decorrente de si- dispostos em torno do pavilhão auricular: auricu-
tuações geradoras de dor ou inflamação local (ex.: lar anterior; auricular superior; auricular posterior.
abcesso odontogénico, fraturas da mandibula, ex- São músculos rudimentares, delgados, com pou-
tração dentária cirúrgica prolongada, radiotera- ca ou nenhuma função de orientação do pavilhão
pia da face). da orelha.

86
SISTEMA LOCOMOTOR I CABEÇA E PESCOÇO

16 8

Fig. 2.60: Músculos da mímica facial


1. Orbicular do olho 2. Corrugador do supracílio 3. Ocdpito-frontal 4 .. Prócero 5. Depressor do septo nasal 6. Músculo Nasal 7. Orbicular
da boca 8. Bucinador 9. Levantador do lábio superior e asa do nariz 10. Levantador do lábio superior 11. Zigomático maior 12. Zigomático
menor 13 . Risório 14. Levantador do ângulo da boca 15. Músculo mentoniano 16. Depressor do ângulo da boca 17. Depressor do lábio inferior

O músculo temporoparietal corresponde a uma músculos dilatadores, que radiam perifericamente


lâmina muscular que se estende desde o ventre em torno nos lábios.
frontal do occipitofrontal até aos músculos au- Os músculos dos lábios incluem assim o orbicular
riculares. da boca e o bucinador, um grupo de seis pares de
músculos superiores a estes e um grupo de três pa-
Músculos do Nariz res de músculos inferiores a estes.
No grupo superior encontramos, de medial para
São músculos anexos à pirâmide nasal, destina- lateral, o levantador do lábio superior e asa do na-
dos à mobilização da sua porção móvel. São em riz, o levantador do lábio superior, o zigomático
número de três: procero, depressor do septo e na- menor, o zigomático maior e o risório. Profunda-
sal. Este último apresenta uma porção transversa mente aos precedentes encontramos o levantador
(compressora da abertura nasal) e uma porção alar do ângulo da boca.
(dilatadora das narinas). O músculo procero é um No grupo inferior dispõem-se, de medial para la-
pequeno músculo que se localiza na porção supe- teral, os músculos mentoniano, depressor do lábio
rior da pirâmide nasal. inferior e depressor do ângulo da boca.
Podem receber alguns feixes de músculos dos lá- Os músculos da mímica dispõem-se em dois pla-
bios, nomeadamente do levantador do lábio supe- nos, profundo e superficial. Os músculos do pla-
rior e da asa do nariz. no profundo - levantador do ângulo da boca, bu-
cinador e mentoniano - são inervados pelo facial a
Músculos dos Lábios partir da sua face superficial. Os restantes múscu-
los, que constituem o plano superficial, são inerva-
Este grupo inclui um músculo constritor ou es- dos pela sua face profunda.
fíncter - o orbicular da boca-, sendo os restantes

87
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

O músculo platisma, embora seja incluído nos Rouviêre H.; Delmas A. Anatomie humaine, Tome
músculos do pescoço, é inervado igualmente pelo 1 Tête et cou. 15ême édition. Elsevier, Masson,
nervo facial e contribui para a mímica facial. 2002.

Moore, KL.; Dalley, AF.; Agur, AMR. Clinically


NOÇÕES DE ANATOMIA CLÍNIC OrientedAnatomy. 8th edition. Philadelphia:
Lippincott Williams & Wilkins, 2017.
Uma vez que são inervados por ramos do mesmo
nervo, qualquer lesão que afecte o nervo facial tem
repercussões a nível dos movimentos destes mús- ***
culos. A parésia ou paralisia faciais podem ser uni
ou bilaterais, centrais ou periféricas.

PERGUNTAS TIPO

4. O principal movimento executado pelo mas-


seter é:
a. Elevação da manch.bula.
b. Abaixamento da mandíbula.
c. Didução da mandíbula.
d. Lateralização da manch.bula.
e. Constrição dos lábios.

5. Qyal dos seguintes músculos é inervado pelo


nervo facial?
a. Músculo platisma.
b. Músculo temporal.
c. Músculo masséter.
d. Músculo pterigoideu lateral.
e. Músculo pterigoideu medial.

6. Qyal dos seguintes músculos da mímica não


se relaciona com os lábios?
a. Músculo risório.
b. Músculo bucinador.
c. Músculo zigomático menor.
d. Musculo zigomático maior.
e. Músculo procero.

i:;:i-c ~v-z iv-1


:msodso~

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Drake, R.; Vogl, AW.; Mitchell, AWM. Gray's


Anatomyfor Students. 4th edition. London,
Churchill Livingstone, 2019.

88
SISTEMA LOCOMOTOR I CABEÇA E PESCOÇO

MIOLOGIA DO PESCOÇO oblíqua inferior contribui adicionalmente para um


ligeiro movimento de rotação contralateral.
Os músculos do pescoço distribuem-se por dois
rupos de acordo com a sua localização relati- Músculo Recto Anterior da Cabeça
~amente à coluna vertebral: músculos da região
anterior e músculos da região p osterior do pes- É um músculo de pequenas dimensões disposto
coço. anteriormente à articulação atlanto-occipital.
Insere-se inferiormente no bordo anterior da mas-
sa lateral do atlas e raiz do processo transverso. As
MÚSCULOS DA REGIÃO ANTERIOR DO fibras musculares dirigem-se superiormente e me-
PESCOÇO diaimente terminando nas cristas muscular e si-
nostósica da apófise basilar do occipital.
Os músculos da região anterior do pescoço re- Este músculo flecte a cabeça e inclina-a homola-
partem-se em seis grupos que são da profundida- teralmente.
de para a superfície: grupo profundo médio (dos
músculos pré-vertebrais), grupo profundo late- Músculo Longo da Cabeça
ral, grupo dos músculos infra-hioideus, grupo dos
músculos supra-hioideus, grupo ântero-lateral e É o mais lateral, volumoso e superficial dos três
grupo superficial (ou supra-aponevrótico). músculos pré-vertebrais.
Inferiormente os seus feixes musculares inserem-
MÚSCULOS PRÉ-VERTEBRAIS -se no vértice dos tubérculos transversários an-
teriores das terceira, quarta, quinta e sexta vérte-
Apresenta três músculos (Fig. 2.61): músculo lon- bras cervicais, dirigindo-se superiormente e me-
go do pescoço, músculo recto anterior da cabeça e diaimente, terminando na apófise basilar do occi-
músculo longo da cabeça. pital (anteriormente ao músculo recto anterior da
cabeça).
Músculo Longo do Pescoço O músculo é flexor da cabeça, facultando-lhe tam-
bém um movimento de rotação homolateral.
Encontra-se disposto na face anterior da coluna
cervical, desde o atlas à 3.• vértebra torácica. Apre- GRUPO MUSCULAR PROFUNDO LATERAL
senta a forma de um triângulo isósceles de base in-
terna onde distinguimos três porções: longitudi- A este grupo (Fig. 2.61) pertencem os músculos
nal, oblíqua inferior e oblíqua superior. escalenos e o músculo recto lateral da cabeça.
A porção longitudinal apresenta inserção infe-
rior no corpo das três primeiras vértebras toráci- Músculos escalenos
cas e três últimas vértebras cervicais, terminando-
-se superiormente no corpo das segunda, terceira Localizam-se lateralmente à coluna cervical, di-
e quarta vértebras cervicais. rigindo-se dos processos transversos destas vérte-
A porção oblíqua inferior nasce inferiormente no bras às duas primeiras costelas.
corpo das três primeiras vértebras torácicas e in- De cada lado da coluna cervical, encontram-se três
sere-se superiormente nos tubérculos anteriores músculos escalenos.
dos processos transversos das três últimas vérte-
bras cervicais. Músculo escaleno anterior: Nasce nos tubérculos
A porção oblíqua superior insere-se nos tubércu- transversários anteriores de C3, C4, CS e C6. As
los transversários anteriores das terceira, quarta e fibras musculares que constituem o músculo diri-
quinta vértebras cervicais, terminando-se no tu- gem-se inferior, anterior e lateralmente terminan-
bérculo anterior do atlas. do na face superior da primeira costela, no desig-
Este músculo flecte a coluna cervical; a porção nado "tubérculo escaleno".

89
MANUAL DE ANKfOMIA HUMANA

Músculo escaleno médio: Localiza-se lateral- Músculo Reeto Lateral da Cabeça


mente e posteriormente ao músculo escaleno an-
terior. Superiormente tem origem nos tubérculos O músculo recto lateral representa o primeiro
transversários anteriores de C2 a C6 e no pro- músculo intertransversário do pescoço. Encontra-
cesso transverso de C7. Os feixes musculares di- -se disposto entre o processo jugular do occipital
rigem-se inferior, lateral e anteriormente, termi- (superiormente) e o processo transverso do atlas
nando na face superior da primeira costela, pos- (inferiormente).
terior e lateralmente à inserção do músculo es- O músculo é inclinador homolateral da cabeça.
caleno anterior. Determina com este músculo a
formação de um espaço triangular, de base infe- GRUPO DOS MÚSCULOS INFRA-H/O/DEUS
rior, onde se localizam a artéria subclávia e o ple-
xo braquial. Em número de quatro de cada lado (Fig. 2.62), es-
tão dispostos em dois planos: um profundo forma-
Músculo escaleno posterior: Insere-se superior- do pelos músculos esterno-tiroideu e músculo tiro-
mente nos tubérculos transversários posteriores de -hioideu e um superficial compreendendo os mús-
C4, CS e C6. Os feixes musculares localizados la- culos esterno-hioideu e músculo omo-hioideu.
teral e posteriormente ao músculo escaleno mé-
dio, descem até alcançar a face lateral da segun- Músculo esterno-tiroideu
da costela.
Ao tomarem como ponto fixo a coluna cervical, os Estende-se do esterno à cartilagem tiróide da la-
músculos escalenos elevam as duas primeiras cos- ringe, anteriormente à glândula tiróide.
telas (são inspiradores). Se o ponto fixo for o tó- As suas fibras inserem-se inferiormente na face
rax, promovem a inclinação homolateral e a rota- posterior do manúbrio e primeira cartilagem cos-
ção contra-lateral da coluna cervical. tal; dirigem-se superiormente e lateralmente, ter-
minando na crista oblíqua na face lateral das lâmi-
nas da cartilagem tiroideia.

Músculo tiro-hioideu

Este músculo localiza-se superiormente ao mús-


culo esterno-tiroideu entre a cartilagem tiroideia
e o osso hióide. As suas fibras nascem da crista
oblíqua na face lateral das lâminas da cartilagem
tiroideia, terminando no terço lateral do corpo do
osso hióide e no bordo inferior do corno maior.
Este músculo recobre a membrana tiro-hioidea
anteriormente.

Músculo esterno-hioideu

Localiza-se anteriormente aos músculos esterno-


-tiroideu e tiro-hioideu.
As suas fibras musculares inserem-se inferiormen-
te na face posterior da extremidade medial da cla-
vícula, no ligamento esterno-clavicular posterior e
Fig. 2.61: Músculos pré-vertebrais na porção adjacente do manúbrio. Desta inserção as
1. Músculo longo do pescoço 2. Músculo longo da cabeça 3. Músa,lo
recto anterior da cabeça 4. Músculo escaleno anterior 5. Músculo fibras ascendem superiormente e medialmente, fi-
escaleno médio 6. Músculo escaleno post erior 7. Músculo recto xando-se no bordo inferior do corpo do osso hióide.
lat eral da cabeça

90
SISTEMA LOCOMOTOR I CABEÇA E PESCOÇO

Os músculos este~no-~ioideu (supe~io~mente) e GRUPO DOS MÚSCULOS SUPRA-H/0/DEUS


-tiroideu (mfenormente) delimitam com
esterno
s do lado oposto um espaço losângico, mediano, O grupo (Fig. 2.62) compreende de cada lado
~e grande eixo vertical, onde se localizam a larin- quatro músculos dispostos em três planos: o pla-
no profundo constituído pelo músculo geni-hioi-
ge, a glândula tiróide e a traqueia.
deu, o plano médio com o músculo milo-hioideu,
Músculo omo-hioideu e o plano superficial englobando os músculos di-
gástrico e estilo-hioideu.
É um músculo digástrico, formado por dois ven-
tres: inferior e superior. Músculo geni-hioideu
O ventre inferior insere-se no bordo superior da
escápula, entre a incisura escapular e a inserção Estende- se da parte média da mandíbula ao osso
do músculo levantador da escápula. As suas fibras hióide.
dirigem-se superior, medial e anteriormente pas- Insere-se anteriormente na espinha mentoniana
sando por trás da clavícula e anteriormente aos inferior homolateral, terminando posteriormente
músculos escalenos e ao feixe vasculo-nervoso do na face anterior do corpo do osso hióide.
pescoço, onde é possível identificar o tendão inter-
mediário, em relação com a Veia Jugular Interna. Músculo milo-hioideu
A este tendão segue-se o ventre superior, dirigi-
do superior e medialmente, que termina no bor- O músculo milo-hioideu constitui o pavimento da
do inferior do corpo do osso hióide lateralmente cavidade bucal. Insere-se superiormente na linha
ao músculo esterno-hioideu. rnilo-hioideu da mandíbula, de onde as suas fibras
Os músculos infra-hioideus promovem a mobi- musculares se dirigem posterior, medial e inferior-
lização inferior do osso hióide, fixando a inser- mente. As fibras anteriores e médias terminam-se
ção inferior dos músculos supra-hioideus e con- sobre uma rcife tendinosa mediana que se estende
correm para a mobilização inferior da mandíbula. da mandíbula ao osso hióide. As fibras posteriores
inserem-se na face anterior do corpo do osso hiói-
2 de inferiormente ao músculo geni-hioideu.

Músculo digástrico

O músculo digástrico é constituído por dois ven-


tres (anterior e posterior) unidos por um tendão
intermediário. Este músculo estendende-se da
região mastoideia até próximo da sínfise men-
toniana.
As fibras do ventre posterior inserem-se medial-
mente na mastóide, na designada "incisura mas-
toideia"; deste ponto dirigem-se inferior, anterior
e medialmente continuando-se, um pouco aci-
ma do osso hióide, com um tendão intermediá-
rio (que atravessa, com frequência, o músculo es-
tilo-hioideu). O tendão inflecte-se anteriormen-
te e superiormente, dando continuidade ao ven-
tre anterior do músculo, que se dirige anterior,
Fig. 2.62: Músculos supra e infra-hioideus superior e medialmente aplicado sobre o múscu-
1. Músculo milo-hioideu 2. Ventre anterior do músculo digástrico
3. Ventre posterior do músculo digástrico 4. Músculo estilo-hioideu lo rnilo-hioideu, e termina na fossa digástrica da
5 . M úsculo omo-hioideu 6. Músculo esterno-hioideu 7. Músculo tiro- mandtbula.
hioideu 8. Músculo esterno-tiroideu 9. Músculo geni-hioideu

91
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Músculo estilo-hioideu la ao processo mastóide. Insere-se inferiormente


por dois feixes designados de: "feixe esternal e fei-
Este músculo dispõe-se medial e anteriormente xe clavicular".
ao ventre posterior do músculo digástrico. Insere-
-se perto da base do processo estilóide do tempo- Feixe esternal - nasce da face anterior do manúbrio
ral, ponto a partir do qual as suas fibras acompa- por um forte tendão que passa anteriormente à ar-
nham a direcção do ventre posterior do múscu- ticulação esterno-clavicular, dirigindo-se superior,
lo digástrico (dando com frequência passagem ao posterior e lateralmente,
tendão do músculo digástrico). O músculo termi-
na na face anterior do corpo do osso hióide, na sua Feixe clavicular - nasce da face superior do ter-
junção com o corno maior. ço medial da clavícula, sendo que as suas fibras se
Os músculos geni-hioideu, milo-hioideu e o ven- dirigem, quase verticalmente, para cima e ligei-
tre anterior do digástrico são abaixadores da man- ramente para trás, até se fundir com o feixe es-
díbula ou elevadores do osso hióide, segundo to- ternal.
mam como ponto fixo um ou outro destes ossos.
O ventre posterior do digástrico e o estilo-hioideu Estes dois feixes estão separados por um espaço
são apenas elevadores do osso hióide. celular, triangular de base inferior, a fossa supra-
clavicular menor. Mais superiormente o feixe cla-
GRUPO ÂNTERO-LATERAL vicular coloca-se em parte sob a face profunda do
feixe esternal, formando uma massa muscular úni-
Representado apenas pelo músculo esterno-clei- ca na metade inferior do pescoço. O músculo es-
do-mastoideu (Fig. 2.63). terno-cleido-mastoideu dirige-se, então, superior,
posterior e lateramente, para se inserir superior-
Músculo esterno-c/eido-mastoideu mente na apófise mastóide, no bordo anterior e
face lateral da mastóide (anteriormente ao múscu-
O esterno-cleido-mastoideu é um músculo qua- lo esplénio) e nos dois terços laterais da linha nu-
drilátero que se estende do esterno e da clavícu- cal superior.

Fig. 2.63: Músculos ântero-laterais e superficias do pescoço


1. Músculo platisma 2. Músculo esterno-c\eido-mastoideu 3. Músculo trapézio 4. Músculo digástrico 5. Músculo estilo-hioideu 6. Osso hióide
7. Músculo omo-hioideu 8. Músculo esterno-hioideu 9. Músculos escalenos 1O. Músculo levantador da escápula 11. Músculo esplénio da cabeça

92
SISTEMA LOCOMOTOR I CABEÇA E PESCOÇO

O músculo esterno-cleido-mastoideu quando do pulso radial durante a abdução extensão e ro-


contrai unilateralmente é inclinador homolate- tação lateral do braço, com rotação homolateral
ral e rotador contra-lateral da cabeça. Qyando os do pescoço (a diminuição do pulso caracteriza
dois músculos se contraem simultaneamente pro- um teste positivo).
duzem a flexão da cabeça. Se a cabeça·se encontrar
previamente em extensão, a contracção simultânea Cateterização da veia jugular interna
dos dois músculos causa hiperextensão da cabeça.
Tomando como ponto fixo a cabeça, o esteno- Consiste na punção da veia jugular interna atra-
-cleido-mastoideu eleva o esterno e as costelas, vés da qual é introduzido um catéter na veia cava
tornando-se inspirador. superior. Para este procedimento pode utilizar-se
como referência anatómica o bordo anterior do es-
GRUPO SUPERFICIAL terno-cleio-mastoideu, ao nível da cartilagem cri-
cóide da laringe, orientando a agulha na direcção
Apresenta um único músculo o platisma. do mamilo homolateral.

Músculo platisma
MÚSCULOS DA REGIÃO POSTERIOR DO
O músculo platisma (Fig. 2.63) é um músculo PESCOÇO
quadrilátero, que recobre a superfície ântero-late-
ral do pescoço num desdobramento da fáscia cer- Os músculos da região posterior do pescoço (ou da
vical superficial (razão pela qual é considerado um nuca) estão dispostos em quatro planos muscula-
músculo supra-aponevrótico e/ou subcutâneo). res: plano profundo, plano do semiespinhoso e do
As fibras musculares nascem, inferiormente, da longuíssimo da cabeça, plano do esplénio e do le-
fáscia peitoral e da fáscia deltóide, dirigindo-se su- vantador da escápula, plano superficial.
perior e medialmente, revestindo a clavícula, a fos-
sa supra-clavicular e o músculo esterno-cleido- PLANO PROFUNDO
-mastoideu até atingir a mand.fbula.
As fibras mais anteriores de cada platisma encon- Pertencem a este grupo (Fig. 2.64) os: músculo
tram-se separadas entre si na porção inferior do recto posterior menor da cabeça, músculo recto
pescoço, sendo que mais superiormente (inferior- posterior maior da cabeça, músculo oblíquo in-
mente à sínfise mentoniana) cruzam-se na linha ferior da cabeça, músculo oblíquo superior da
média. As fibras posteriores inserem-se superior- cabeça, parte cervical dos músculos transver-
mente na comissura labial, no bordo inferior da soespinhoso, músculos interespinhosos e mús-
mand.fbula e na pele da região geniana, sendo que culos intertransversos.
algumas fibras unem-se aos músculos depressor
do lábio inferior e depressor do ângulo da boca. Músculo reeto posterior menor da cabeça

NOÇÕES DE ANATOMIA CLÍNICA Estende-se do atlas ao occipital. Insere-se no tu-


bérculo posterior do atlas de onde as suas fibras as-
Síndrome do escaleno cendem terminando- se no 1/3 medial da linha nu-
cal inferior. O músculo realiza extensão da cabeça.
Consiste na presença de parestesias do membro
superior determinadas por alteração da disposi- Músculo grande reeto posterior
ção anatómica dos músculos escalenos (por ve-
zes associada à presença de costela cervical), com Está situado entre o áxis e o occipital. As suas fi-
subsequente compressão do plexo braquial e ar- bras musculares inserem-se na apófise espinhosa
téria subclávia. O teste de Adson pode ajudar na do áxis, terminando lateralmente ao músculo recto
realização do diagnóstico, e consiste na palpação posterior menor, na linha nucal inferior.

93
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Este músculo é extensor da cabeça e promove a


rotação homolateral da face.

Músculo oblíquo inferior da cabeça

Localiza-se entre o áxis e o atlas. As suas fibras


musculares inserem-se inferiormente na apófise
espinhosa do áxis, terminando na face inferior e
6
no bordo posterior da apófise transverso do atlas.
Este músculo imprime à cabeça um movimento
de rotação homolateral da face.

Músculo oblíquo superior da cabeça

Localiza-se entre a apófise tranversa do atlas e o


occipital, posteriormente à articulação atlanto-oc-
cipital. As suas fibras inserem-se inferiormente na
face superior da apófise tranverso do atlas, lateral-
Fig. 2.64: Músculos suboccipitais
mente ao buraco trasversário e dirigem-se superior 1. Músculos inter-espinhosos 2. Músculos inter-transversos 3. Músculo
e medialmente, terminando no terço lateral da li- recto posterior menor da cabeça 4. Músculo recto posterior maior da
cabeça 5 . Músculo oblíquo inferior da cabeça 6. Músculo oblíquo
nha nucal inferior. superior da cabeça
Promove a extensão da cabeça, inclina-a homola-
teralmente determinando um movimento de rota-
ção contra-lateral. Músculos inter-espinhosos
Os músculos recto posterior maior da cabeça, oblí-
quo inferior e oblíquo superior formam os três la- São pequenos músculos quadriláteros, localiza-
dos de um espaço triangular atravessado pela arté- dos de cada lado da linha média, entre os tubér-
ria vertebral e o ramo posterior do 1.0 nervo cervi- culos das apófises espinhosas de duas vértebras
cal, o trígono suboccipital. adjacentes.
Os músculos recto posterior menor da cabeça, rec- No pescoço existem seis pares, localizados do áxis
to posterior maior da cabeça, oblíquo inferior da à 1.ª vértebra torácica.
cabeça e oblíquo superior da cabeça, constituem, São extensores da coluna vertebral.
em conjunto com os músculos recto anterior da
cabeça e recto lateral da cabeça, o grupo dos mús- Músculos intertransversos do pescoço
culos suboccipitais.
Existem, para cada espaço inter-transverso do
Parte cervical dos músculos transverso-es- pescoço, dois músculos intertransversos um ante-
pinhais rior e um posterior. Inserem-se superiormente no
bordo inferior da apófise tranversa suprajacente e
Os músculos transverso-espinhais (multifidus e inferiormente nos dois lábios da goteira da apó-
rotadores) ocupam ao longo da coluna vertebral, fise transversa subjacente.
a goteira vertebral. Os feixes que o constituem es- Os dois músculos delimitam entre si um espaço
tendem-se das apófises transversas às apófises es- triangular de base inferior, atravessado pelos ra-
pinhosas ou às lâminas das quatro vértebras supra- mos anteriores dos nervos cervicais, a artéria ver-
jacentes à sua inserção transversária. tebral e o nervo vertebral.
(Este músculo será descrito com maior detalhe no
capítulo dos músculos da coluna).

94
SISTEMA LOCOMOTOR [ CABEÇA E PESCOÇO

pi.ANO DO SEM/ESPINHOSO E DO LONGUÍS- Músculo longuíssimo da cabeça


SIMO DA CABEÇA
Constitui a porção mais cranial do músculo lon-
Este plano compreende quatro músculos (Fig. guíssimo, pertencente ao grupo dos músculos
.65): músculo semiespinhoso da cabeça, mús- erectores da espinha.
2
culo longuíssimo da cabeça, músculo longuíssi- Localizado lateralmente ao músculo semiespi-
mo do pescoço e parte cervical do músculo ilio- nhoso da cabeça, estende-se da coluna cervical à
-costal. apófise mastóide do temporal. As suas fibras mus-
culares inserem-se inferiormente na base das apó-
Músculo espinhal do pescoço (inconstante) fises transversos das quatro últimas vértebras cer-
vicais e da primeira vértebra dorsal. Após um tra-
O músculo espinhal pertence ao grupo dos mús- jecto ascendente terminam-se no vértice e no bor-
culos erectores da espinha, sendo o mais medial do posterior da apófise mastóide do temporal.
dos três (este músculo será descrito com maior de- Este músculo promove a extensão e inclinação ho-
talhe no capítulo dos músculos da coluna). molateral da cabeça.
A porção cervical do músculo espinhal é incons-
tante, mas, quando presente, é constituída por fi- Músculo longuíssimo do pescoço
bras paramedianas que se estendem das apófises
espinhosas de C2 e C3 até à porção mais inferior Localizado lateralmente ao músculo longuíssimo
do ligamento nucal e apófise espinhosa de C7. da cabeça. O músculo insere-se inferiormente no
vértice das apófises transversas das cinco primeiras
Músculo semiespinhoso da cabeça vértebras dorsais e superiormente nos tubérculos
posteriores das apófises tansversas das cinco últi-
Este músculo pertence ao grupo dos músculos mas vértebras cervicais. As suas fibras musculares
transverso-espinhais (em conjunto com os múscu- ascendem entre os músculo longuíssimo da cabeça
los multifidus e rotadores), sendo constituído pe~ e longuíssimo torácico.
los fascículos musculares mais longos. O músculo realiza a extensão e inclinação homla-
É um músculo localizado entre a sexta vérte- teral da coluna cervical.
bra dorsal e o occipital. As suas fibras muscula-
res inserem- se inferiormente no vértice das apó- Parte cervical do músculo ilio-costal
fises transversas das seis primeiras vértebras dor-
sais, na base das apófises transversos das quatro úl- O músculo ílio-costal, pertencendo ao grupo dos
timas vértebras cervicais e nas apófises espinhosas músculos erectores da espinha, é descrito com os
de C7 e Dl. Os feixes musculares ascendem sepa- músculos da coluna. O seu prolongamento cervi-
rados das fibras do músculo contralateral pelo li- cal insere- se inferiormente no bordo superior das
gamento nucal, inserindo-se superiormente entre seis primeiras costelas, medialmente ao ângulo
as duas linhas nucais. posterior, e superiormente nos tubérculos poste-
É frequente distinguir no músculo semiespinho- riores das apófises transversas das quatro últimas
so duas partes distintas, uma medial designada de vértebras cervicais.
"biventer cervicis ou digástrico da nuca", e outra la- Realiza a extensão e inclinação homolateral da co-
teral. luna cervical.
As fibras que apresentam inserção nas apófises es-
pinhosas de C7 e Dl, que representam as fibras PLANO DO ESPLÉN/O E DO LEVANTADOR DA
mais mediais do serniespinhoso da cabeça, consti- ESCÁPULA
tuem o músculo espinhal da cabeça.
E ste músculo promove a extensão e inclinação ho- Constituído pelos músculos esplénio e levantador
molateral da cabeça. da escápula.

95
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

limitam entre si, um espaço triangular de base su-


perior (linha nucal superior), no fundo do qual é
possível identificar o músculo semiespinhoso da
cabeça.

Músculo levantador da escápula

Localizado lateralmente ao músculo esplénio, es-


tende-se entre o ângulo superior da escápula e a
coluna cervical. Insere-se inferiormente no ângulo
superior da escápula e na porção superior do bordo
espinhal deste osso. As suas fibras musculares diri-
gem-se superior, anterior e medialmente, fixando-
-se nos tubérculos posteriores das apófises trans-
versas de Cl a C4.
01iando toma como ponto fixo a coluna cervical,
este músculo eleva a escápula. Se o ponto fixo for
Fig. 2.65: Plano do semi-espinhoso e longuímissimo da cabeça + plano
a omoplata, o músculo inclina homolateralmente
do esplénio e levantado da escápula
1. Músculo semi-espinhoso da cabeça 2. Músculo longuíssimo da a coluna cervical.
cabeça 3. Músculo longuíssimo do pescoço 4. Parte cervical do
músculo ilio-costal 5. Músculo esplénio da cabeça 6. Músculo esplénio
do pescoço 7. Músculo levantador da escápula PLANO SUPERFICIAL

Músculo trapézio
Músculo esplénio
É o mais superficial dos músculos da região poste-
O músculo esplénio (Fig. 2.65) estende-se das rior do pescoço e do tronco (Fig. 2.65), estenden-
primeiras vértebras dorsais ao occipital à mastói- do-se da coluna cervico-dorsal à espádua.
de do temporal. As suas fibras musculares inse- O músculo trapézio nasce do terço medial da li-
rem-se inferiormente no ligamento nucal, apó- nha nucal superior e da protuberância occipital ex-
fises espinhosas de C7 e quatro primeiras vérte- terior, do bordo posterior do ligamento nucal e do
bras dorsais e ligamentos inter-espinhosos cor- vértice das apófises espinhosas de C7 a T12. As
respondentes. O corpo muscular formado dirige- suas fibras musculares constituem uma estrutura
-se superior e lateralmente, sobre a face posterior de forma triangular de base medial (coluna verte-
dos músculos semiespinhoso e longuíssimo, divi- bral) e vértice dirigido sobre a clavícula, acrómio e
dindo-se em duas porções: espinha da escápula.
• Splenius capitis: porção medial de maiores di- As suas fibras mais superiores dirigidas inferior e
mensões, que apresenta inserção superior na lateralmente inserem-se no terço lateral do bordo
metade lateral da linha nucal superior, bordo posterior da clavícula. As fibras médias vão trans-
posterior e face lateral da apófise mastóide do versalmente fixar-se ao acrómio e ao bordo poste-
temporal. rior da espinha da escápula. As fibras mais inferio-
• Splenius colli: porção lateral, de menores di- res, dirigidas superior e lateralmente, terminam na
mensões, que termina na apófise transversa extremidade medial da espinha da escápula.
do atlas e no tubérculo posterior das apófises As fibras musculares do trapézio dirigem a es-
transversas de C2 e C3. pádua medialmente mobilizando de forma variá-
vel o seu bordo espinhal; promovem a inclina-
Este músculo promove a extensão, inclinação e ro- ção homolateral da cabeça, imprimindo-lhe um
tação homolateral da cabeça. movimento de rotação contra-lateral, e elevam o
As fibras mais mediais dos músculos esplénios de- tronco.

96
111111
SISTEMA LOCOMOTOR I CABEÇA E PESCOÇO

NOÇÕES DE ANATOMIA CLÍNICA REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Rouviere, H.; Delmas, A. Anatomie humaine


A localização subcutânea do nervo espinhal (XI
descriptive, topographique etfonctionnelle. lSéme
par craniano) no triângulo cervical posterior, tor-
na-o particularmente susceptível a lesão aquando édition. Masson, 2002.
de traumatismos cervicais e intervenções cirúrgi- Standring, S. et al. Gray's Anatomy -1he
cas locais (ressecção de massas e biópsias). As le- Anatomical Basis efC!inical Practice. 41st edition.
sões iatrogénicas são neste contexto considera- Elsevier, 2016.
das a principal etiologia de patologia deste nervo.
Kamibayashi, L. et al., Morphometry efHuman
Qiando ocorre lesão do nervo na região do triân-
NeckMuscles. Spine, 1998,23: 1314-1323.
gulo posterior, apenas o músculo trapézio é afecta-
do (poupando o músculo esterno-cleido-mastoi-
deu), o que condiciona uma clínica muito suges- ***
tiva.

PERGUNTAS TIPO

4. São acções do músculo esterno-cleido-mas-


toideu todas as seguintes, excepto:
a. Flexão da cabeça.
b. Inclinação homolateral da cabeça.
c. Rotação homolateral da face.
d. Extensão da cabeça.
e. Inspiração forçada.

5. <2!ial dos seguintes músculos se encontra


mais profundamente localizado?
a. Músculo semiespinhoso da cabeça.
b. Músculo longuíssimo da cabeça.
c. Músculo oblíquo inferior.
d. Músculo esplénio.
e. Músculo trapézio.

6. Permitem a inclinação homolateral com rota-


ção contralatral da cabeça todos os seguintes
músculos,excepto:
a. Músculo oblíquo superior.
b. Músculo trapézio.
c. Músculo recto posterior maior da cabeça.
d. Músculos transverso espinhais.
e. Músculo esterno-cleido-mastoideu.
:)-f !::J-Z !;::i- t
:s,,Jsodsoc1

97
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

de-se ainda descrever uma pequena curvatura no


plano frontal (escoliose), de concavidade esquerda,
com fulcro nas terceira, quarta e quinta vértebras
dorsais, em relação com a localização da aorta to-
OSTEOLOGIA E ARTROLOGIA rácica. Estas curvaturas são determinadas por con-
DA COLUNA VERTEBRAL dicionantes biomecânicos inerentes às funções di-
nâmicas e de suporte estático da coluna vertebral
e que são condicionadas por sua vez pela posição
GENERALIDADES bípede do Homem.
De modo geral podemos descrever na configura-
A coluna vertebral é uma estrutura que se locali- ção exterior da coluna 4 faces e um canal raqui-
za no tronco, na sua região mediana e posterior. diano:
Podemos considerá-la o elo de ligação fundamen- • Face anterior: coluna cilíndrica mediana,
tal entre os vários territórios músculo-esqueléticos, formada pela sobreposição dos corpos ver-
uma vez que sustenta o crânio e face, forma par- tebrais;
te integrante do tórax e região pélvica, sendo em • Face posterior: Constituída na linha media-
última análise a estrutura de suporte do esquele- na pela crista espinhal (resultado da sobre-
to apendicular. posição dos apófises espinhosas e ligamen-
A sua constituição anatómica permite que desem- tos supra e interespinhosas). Lateralmen-
penhe simultaneamente funções estruturais e de te, a face posterior é constituída pelas gotei-
sustentação, ao mesmo tempo que constitui uma ras vertebrais, limitadas medialmente pelos
unidade biomecânica fundamental no movimen- apófises espinhosas, ântero-lateralmente pe-
to do corpo humano, bem como uma das unida- los apófises articulares e transversas e no seu
des osteoarticulares de protecção do sistema ner- fundo pelas lâminas vertebrais e respectivas
voso central (medula espinhal). estruturas ligamen tares e articulares;
A coluna vertebral pode ser encarada como unida- • Faces laterais: são em número de duas e são
de biomecânica e funcional, e por outro lado pode limitadas anteriormente pela face posterior
ser abordada como o somatório das suas unidades dos corpos vertebrais e discos intervertebrais
estruturais fundamentais, as vértebras, articulações e posteriormente pelos apófises articulares.
entre as mesmas e articulações com os elementos Nesta face podem ser identificados, de an-
esqueléticos extra-vertebrais. terior para posterior, os pedículos vertebrais
Podem ser individualizadas divisões topográficas e buracos intervertebrais entre os mesmos
da coluna vertebral que apresentam diferentes ca- (que dão passagem aos nervos raquidianos),
racterísticas biomecânicas e diferentes funções: os apófises transversas e os maciços articula-
res, constituídos pelos apófises articulares e
• Coluna cervical; respectivos elementos articulares;
• Coluna dorsal ou torácica; • Canal raquidiano: estende-se em toda a al-
• Coluna lombar; tura da coluna vertebral, sendo limitado an-
• Coluna sacro-coccígea teriormente pelo corpo vertebral e posterior-
mente, pelo arco vertebral, constituído pe-
A coluna apresenta curvaturas no plano sagital los pedículos e pelas lâminas vertebrais, do
e no plano coronal. As curvaturas no plano sa- qual se destacam lateral e posteriormente os
gital são em número de 4, podendo-se descrever apófises transversas, articulares e espinho-
duas curvaturas de concavidade posterior (lordo- sas. Este apresenta diferentes dimensões re-
se) - curvaturas secundárias - localizadas nas re- lativas nas diferentes regiões da coluna, sen-
giões cervical e lombar e duas curvaturas de con- do mais amplo nas regiões cervical e lombar,
cavidade anterior (cifose) - curvaturas primárias - que constituem os segmentos mais móveis
localizadas nas regiões dorsal e sacro- coccígea. Po- da coluna vertebral.

98
SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO:TÓRAXEABDÓMEN

ro da vértebra no sentido súpero-inferior (por


exemplo: C6 corresponderá à sexta vértebra da
região cervical).

Fig. 2.67: Vértebra tipo.


1. Corpo vertebral 2. Apófises transversas 3. Apófises articulares
4. Lâminas vertebrais 5. Apófise espinhosa

As vértebras são ossos curtos e ímpares. Qi,ianto à


sua orientação, apresentam uma porção mais vo-
lumosa que é anterior e um apófise mais saliente
■ • que tem orientação posterior e inferior. Cada vér-
tebra é constituída por: corpo vertebral, arco ver-
Fig. 2.66: Coluna vertebral.
A. Coluna vertebral - vista frontal B. Coluna vertebral - vista lateral tebral (pedículos e lâminas), foramen vertebral,
1. l ordose cervical 2. Cifose torácica 3. Lordose lombar 4. Cifose
apófise espinhosa, apófises transversas e apófises
sacro-coccígea
articulares:

OSTEOLOGIA DA COLUNA VERTEBRAL Corpo vertebral: corresponde à porção mais volu-


mosa e anterior da vértebra. Tem uma forma apro-
A unidade anatómica e estrutural fundamental da ximadamente cilíndrica, com duas faces (superior
coluna vertebral é a vértebra. A coluna vertebral é e inferior) em relação com os discos interverte-
constituída por um número de 33 a 35 vértebras brais e uma face periférica circunferencial (epífi-
distribuídas por andares ou regiões: se anular), com uma superflcie posterior mais côn-
• Região cervical - 7 vértebras; cava, que constitui o limite anterior do canal ver-
• Região dorsal ou torácica- 12 vértebras; tebral.
• Região lombar - 5 vértebras;
• Região sagrada ou sacro - 5 vértebras sol- Arco Vertebral: localiza-se posteriormente ao
dadas corpo vertebral, onde se insere. Tem forma de um
• Região coccígea ou cóccix - 3 a 5 vértebras arco com concavidade anterior encerrando late-
soldadas. ral e posteriormente o foramen vertebral. Entram
na constituição do arco vertebral (de anterior para
Para referenciar a uma vértebra em específico é posterior):
habitualmente utilizada a inicial da região da co- • Pedículos: correspondem a lâminas ósseas
luna correspondente (C, D, L ou S) e o núme- com duas faces - medial e lateral; dois bordos

99
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

- superior e inferior - que constituem os limi- inferior da vértebra suprajacente.


tes dos buracos intervertebrais, que são atra- • Apófise espinhosa: é a apófise mais proemi-
vessados pelos nervos raquidianos; e duas ex- nente. Trata-se de uma estrutura ímpar, me-
tremidades - anterior (com inserção do cor- diana e que apresenta duas faces - direita e
po vertebral) e posterior (aderente aos maci- esquerda; dois bordos - superior e inferior
ços vertebrais) (que dão inserção aos ligamentos interespi-
• Lâminas: são estruturas ósseas que se orien- nhosas) e duas extremidades, uma aderente
tam numa direcção posterior e medial com (que se implanta na região do arco vertebral
duas faces (medial e lateral), dois bordos - su- onde as duas lâminas se unem) e outra li-
perior e inferior - que dão inserção aos liga- vre (que dá inserção aos ligamentos supraes-
mentos amarelos, e duas extremidades - an- pinhosas).
terior (em relação com os maciços articula-
res) e posterior (em relação com a extremida- Classificação das vértebras
de posterior da lâmina contralateral, onde se
implanta o apófise espinhosa). Qyanto à sua classificação, as vértebras podem
ser classificas em vértebras típicas ou verdadei-
Foramen vertebral: encontra-se circunscrito ante- ras quando constituem ossos individuais e que se
riormente pelo corpo vertebral e posteriormente articulam entre si, ou vértebras atípicas ou solda-
pelo arco vertebral. O canal vertebral deriva da so- das que perderam a sua individualidade e se fim-
breposição de todos os foramens vertebrais. Este diram de forma definitiva a vértebras adjacentes,
contém o saco dural e seus conteúdos (medula es- formando estruturas ósseas distintas como o sa-
pinhal e respectivas meninges até ao nível L2, e cro e o cóccix. No grupo das vértebras típicas ou
raízes raquidianas no restante segmento), bem verdadeiras, podemos encontrar vértebras isó-
como os conteúdos do espaço epidural (tecido adi- logas quando estas possuem todos os elementos
poso e plexos venosos raquidianos). que constituem a vértebra tipo ou vértebras he-
terológas quando a sua estrutura sofreu alterações
Apófises: correspondem a prolongamentos ósseos
que de destacam do arco vertebral e que têm fim-
ções articulares, sendo também lugar de inserção a Vértebra
estruturas musculares e ligamentares ou protecção
de elementos vasculares:
• Apófises transversas: são estruturas pares,
Atípicas
horizontais, que se destacam lateralmente dos Típicas ou
ou Soldadas
maciços articulares, apresentando duas faces - Verdadeiras
(ex: Sacro e Cóccix)
anterior e posterior; dois bordos - superior e
inferior e duas extremidades - medial ou ade-
rente (em relação com os maciços articulares) Heterólogas
lsólogas
e lateral ou livre, a qual pode apresentar tu- (ex: Atlas e Áxis)
bérculos e foramens em determinadas regiões
da coluna.
• Apófises articulares: cada vértebra apresen-
ta quatro, um superior e um inferior, em cada Comuns

um dos maciços articulares. Implantam-se


nas extremidades superior e inferior dos ma-
Especiais
ciços articulares, posteriormente aos pedícu- (ex: C7, D1, D10,
los, anteriormente às lâminas e medialmen- D12el5)
te aos apófises transversas. Cada apófise arti-
cular superior articula com o apófise articular
Esquema 1: Classificação das vértebras.

100
SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO:TÓRAXEABDÓMEN

--
-------;;,nstituintes Coluna CERVICAL Coluna DORSAL Coluna LOMBAR
Vertebrais
Grande eixo transversal; Equilibrio de diâmetros;
Corpo Vertebral Reniforme (concavidade posterior)
Apófises unciformes (1) Hemifacetas articulares (2)

Implantam-se na transição faces


Implantam-se nas faces laterais do Espessos, implantam-se na face
Pedículos laterais-posterior, concavidade
corpo, concavidade superior posterior do corpo
inferior

-
~
Lâminas Mais largas que altas Tão altas como largas Mais altas que largas

Longas e com acentuada inclinação Rectangulares e espessas, orientadas


Apófises Espinhosas Vértice bituberculado
para baixo e trás; unituberculadas para trás

Bituberculadas com buracos Faceta articular costal na Ou costal;


Apófises Transversas transversários (3) extremidade livre Tubérculo acessório (4)

Forma de segmento de cilindro;


Planas; Qyase planas; superior: olha para
Superior: côncava, olha para cima e
Apófises Articulares Superior: olha para cima e trás; trás e fora;
trás; inferior: convexa, frente e baixo
inferior: baixo e frente Inferior: frente e dentro
Tubérculo mamilar (5)

Buraco Vertebral Triangular isósceles de base anterior Qyase circular Triângulo equilátero

Tabela 1. Anatomia comparativa das vértebras.

que as afastam da estrutura vertebral típica (atlas uncovertebrais.


e áJás). No grupo das vértebras isólogas, embora 2. Hemifacetas articulares: cada vértebra dorsal
todas obedeçam á estrutura vertebral típica, exis- apresenta quatro hemifacetas articulares, duas em
tem diferenças se considerarmos as diferentes re- cada face lateral do corpo vertebral, uma superior
giões da coluna vertebral, que são motivadas pe- e uma inferior, sendo que a cabeça da costela se ar-
las suas particularidades funcionais. Contudo, al- ticula simultaneamente com a hemifaceta inferior
gumas vértebras em particular apresentam carac- da vértebra suprajacente e com a faceta superior da
terísticas especiais, que diferem das restantes vér- vértebra infrajacente, homolaterais.
tebras da região onde se encontram. Estas são as
chamadas "vértebras especiais" e correspondem 3. Buracos transversários: dão passagem à arté-
na maior parte das vezes a vértebras de transição ria, veia e nervo vertebrais.
entre os diferentes andares e que por este motivo
podem apresentar simultaneamente características 4. Tubérculo acessório: eminência óssea existen-
de duas regiões diferentes (C7, D1, D10, D12 e te na face posterior da extremidade aderente dos
LS). Estas vértebras de transição permitem que a apófises transversas lombares; homologia em-
estrutura da coluna vertebral tenha uma evolução brionária com os apófises transversas das vérte-
harmoniosa e funcionalmente eficiente ao longo bras torácicas.
dos seus diferentes segmentos. As restantes vérte-
bras são chamadas de "vértebras comuns". (5) Tubérculo mamilar: emmencias ósseas que
se destacam da face lateral dos apófises articu-
Características particulares das vértebras lares superiores na coluna lombar, dando inser-
nas diversas regiões da coluna ção a feixes musculares dos músculos erectores
da coluna.
1. Apófises unciformes: acidentes anatómicos,
verticais, piramidais, de base inferior que se in-
serem na porção mais lateral da face superior dos
corpos vertebrais e se articulam com entalhe na
região correspondente da face inferior das vér-
tebras suprajacentes, constituindo as articulações

101
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Fig. 2.68: Vértebra cervical (vista superior e lateral).


1. Corpo vertebral 2. Buraco transversário 3. Tubérculo transversário anterior 4. Tubérculo transversário posterior 5. Apófise articular superior
6. Apófise articular inferior 7. Apófise unciforme 8. Apófise espinhosa 9. Buraco vertebral 1O. Lâmina 11 . Pedículos

10

Fig. 2.69: Vértebra torácica (vista superior e lateral).


1. Corpo vertebral 2. Hemifaceta articular superior 3. Hemifaceta articula inferior 4. Faceta articular costal 5. Apófise articular superior 6. Apófise
articular inferior 7. Apófise espinhosa 8. Buraco vertebral 9. Lâmina 10. Pedículos

10

Fig. 2.70: Vértebra lombar (vista superior e lateral).


1. Corpo vertebral 2. Apófise transversa 3. Apófise articular superior 4. Apófise articular inferior 5. Tubérculo mamilar 6. Tubérculo acessório
7. Apófise espinhosa 8. Buraco vertebral 9. Lâmina 10. Pedículos

102
SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO:TÓRA.XEABDÓMEN

VÉRTEBRAS PARTICULARES Arco posterior do Atlas


Convexo para posterior apresenta na linha media-
Atlas na o tubérculo posterior do atlas, que dá inserção
ao músculo recto posterior menor da cabeça. Late-
É a primeira vértebra cervical. É um osso curto e ralmente apresenta uma goteira transversal que dá
ímpar. Ql!anto à sua orientação dizemos que dos passagem à artéria vertebral (depois de sair do fo-
seus dois arcos o mais curto é anterior e as superfí- ramen transversário, a caminho do foramen mag-
cies articulares côncavas em forma de palmilha são num) e primeiro nervo cervical.
superiores. Apresenta quatro porções: 2 arcos (an-
terior e posterior) e 2 massas laterais. Esta vértebra Apófises transversas do Atlas
tem a particularidade de não possuir corpo ver- São unituberculados e apresentam um foramen
tebral. As massas laterais são achatadas de cima transversário. O tubérculo é proeminente e dá in-
para baixo e apresentam 6 faces: serção a músculos responsáveis pela rotação e fle-
• Superior: possui uma superfície articular em xão da cabeça e pescoço.
forma de palmilha que articula com os côndi-
los do occipital; Foramen vertebral do Atlas
, Inferior: apresenta uma superficie articular Muito amplo e dividido em duas porções pelo li-
oval que articula com a superficie articular gamento transversa do atlas: uma anterior ocu-
ântero-superior do áxis; pada pelo apófise odontoide do áxis, e uma pos-
• Anterior: dá inserção ao arco anterior; terior que constitui o foramen vertebral propria-
Posterior: dá inserção ao arco posterior; mente dito.
• Lateral: dá inserção ao apófise transversa;
• M edial: apresenta um tubérculo que dá inser- Áxis
ção ao ligamento transversa do atlas.
É a segunda vértebra cervical. É um osso curto e
Arco anterior do Atlas ímpar, sendo que o seu apófise mais saliente é an-
Ligeiramente arqueado e convexo para anterior, terior e superior. Apresenta várias porções:
apresenta na linha mediana o tubérculo anterior • O corpo do Áxis apresenta uma forma cuboi-
do atlas (que dá inserção ao músculo longo do de e da sua face superior destaca-se com a
pescoço) e posteriormente, uma superficie arti- forma de dente o apófise odontóide (dente do
cular para o apófise odontóide do áxis (articula- áxis), que apresenta uma extremidade supe-
ção atlanto-axoideia mediana). rior livre e duas superficies articulares: ante-
rior que articula com superficie articular cor-
respondente da face posterior do arco ante-
2
4 rior do atlas (formando a articulação atloido-
-odontoideia propriamente dita); e posterior,
côncava, em relação com o ligamento trans-
versa do atlas (constituindo a articulação sin-
desmo-odontoideia);
• A face inferior do corpo do Áxis articula com
a 3.• vértebra cervical através do disco inter-
vertebral;
• Os apófises articulares do Áxis são em nú-
mero de 4, dois superiores (ovais, ligeiramen-
te convexos e inclinados lateralmente, que ar-
Fig. 2.71: Vista superior do atlas.
ticulam com as superfícies articulares inferio-
1. Arco anterior do atlas 2. Tubérculo anterior do atlas 3. Arco res do atlas) e dois inferiores (com orientação
posterior do atlas 4. Face articular para o dente do áxis 5. Cavidade
glenóide 6 . Buraco transversário
sobreponível aos das restantes vértebras cervi-

103
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

cais e que articulam com os apófises articula- VÉRTEBRAS SAGRADAS E COCC(GEAS


res superiores da 3.ª vértebra cervical);
• O s apófises transversas apresentam duas raí- Encontram-se soldadas e formam duas estruturas,
zes, uma anterior e uma posterior, que delimi- o sacro e o cócci.x.
tam o buraco transversário;
• As lâminas são espessas confluindo poste- Sacro
riormente na linha mediana;
O s pedículos têm a particularidade de não Resulta da fusão de cinco vértebras sagradas. Está
apresentarem incisura superior; situado na parede posterior da bacia, abaixo da co-
• O apófise espinhosa é volumoso, com forma luna lombar (com a qual forma um ângulo obtu-
de prisma triangular e com extremidade bitu- so com vértice anterior - promontório) e entre os
berculada. As suas superfícies súpero-laterais dois ossos ilíacos. A sua concavidade é anterior e
dão inserção aos músculos oblíquos inferiores a sua extremidade mais afilada inferior. Apresenta
da região posterior do pescoço; uma forma de pirâmide quadrangular, com 4 faces,
• O foramen vertebral é triangular de base an- uma base e um vértice:
terior, com diâmetro superior às outras vérte- • Face anterior (Superficie pélvica): concava,
bras cervicais, excepto relativamente ao atlas; longitudinal e transversalmente, na linha me-
diana é constituída pelos corpos vertebrais,
separados entre si por 4 cristas transversais.
Na extremidade destas encontram-se as fora-
mina sagradas anteriores, que se prolongam
lateralmente por goteiras e dão passagem aos
nervos sagrados. Todas as goteiras sagradas
convergem para a incisura ciática maior, onde
4
se forma o nervo ciático maior.
Face posterior: convexa e irregular, apresenta
na sua linha média a crista sagrada mediana
(resultante da fusão dos apófises espinhosas
das primeiras 4 vértebras sagradas), a qual se
6 bifurca em baixo dando origem aos cornos do
sacro, que se articulam com os cornos do cóc-
ci.x. De cada lado da crista é possível encon-
2
trar a goteira sagrada (resultante da fusão das
lâminas), a crista sagrada intermédia (resul-
tante da fusão dos apófises articulares, poden-
do identificar-se os tubérculos articulares), as
forarnina sagradas posteriores (mais pequenas
que as respectivas anteriores, atravessados pe-
los ramos posteriores dos nervos sagrados) e a
crista sagrada lateral (resultantes da fusão dos
apófises transversas, podendo identificar-se
os tubérculos transversas). Entre dois tubér-
culos transversas consecutivos e lateralmente
4
aos mesmos identificam-se depressões rugo-
sas, perfuradas por buracos vasculares - as de-
nominadas "fossas crivadas".
Fig. 2.72: Áxis (vista anterior e póstero-superior).
1. Corpo do áxis 2. Apófise odontoide 3. Faceta articular superior • Faces laterais: triangulares de base superior,
do áxis 4. Apófise transversa 5. Buraco transversário 6. Faceta apresentam um segmento superior que apre-
articular inferior

104
SISTEMA LOCOMOTOR [ TRONCO:TÓRAX E ABDÓMEN

Fig. 2.73: Vista lateral do sacro. Fig. 2.74: Vista posterior do sacro.
1. Face articular 2. Tuberosidade sagrada 3. Asa do sacro 7. Cóccix 1. Crista sagrada mediana 2. Cornos do sacro 3. Goteira sagrada
4. Crista sagrada intermédia 5. Foramen sagrado posterior 6. Crista
sagrada lateral 7. Cóccix 8. Burado sagrado 9. Apófises articulares
superior de 51

senta na sua porção anterior uma superfície ta atrás e limitadas lateralmente pelos cornos
articular, com forma de pavilhão auricular que do sacro.
se articula com o osso ilíaco. O segmento in-
ferior é menos volumoso, estando recober- Cóccix
to de rugosidades que dão inserção aos liga-
mentos sacro-ciáticos, formando a tuberosi- É um elemento ósseo achatado ântero-posterior-
dade sagrada. mente, triangular de vértice inferior e base supe-
• Base: na sua porção média apresenta ante- rior. É constituído pela fusão de 3 a 5 vértebras
riormente uma estrutura de forma renifor- atrofiadas. Apresenta duas faces, dois bordos, uma
me correspondente ao corpo vertebral e pos- base e um vértice:
teriormente a este, um buraco triangular de Face anterior: côncava, apresenta cristas
base anterior - buraco sagrado. As porções transversais.
laterais são ocupadas por uma superfície lisa Face posterior: convexa, apresenta cristas
triangular de base lateral - as asas do sacro. transversais.
É possível identificar ainda nesta face os • Bordos laterais: são irregulares e dão inserção
apófises articulares superiores da primeira aos ligamentos sacro-coccígeos e ao músculo
vértebra sagrada (que se articulam com os isquio-coccígeo.
apófises articulares inferiores da 5. ª vérte- • Base: Articula-se com o vértice sagrado, emi-
bra lombar). tindo de cada lado, dois prolongamentos, um
• Vértice: ocupado por uma superfície conve- vertical (corno do cóccix- que se irão articu-
xa, elíptica, de grande eixo transversal que se lar com os cornos do sacro) e outro transver-
articula com o cóccix. sal (apófise transversa rudimentar).
• Canal sagrado: constitui a porção inferior do • Vértice: Estreito e habitualmente desviado la-
canal raquidiano, tem forma de prisma trian- teralmente.
gular de vértice inferior. A este nível o canal
sagrado é representado por uma goteira aber-

105
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

NOÇÕES DE ANATOMIA CLÍNICA ARTICULAÇÕES INTERVERTEBRAIS

A coluna vertebral apresenta curvaturas fisioló- Classificam-se como sínfises. As superfícies arti-
gicas no plano sagital (duas lordoses - cervical e culares correspondem à face superior e inferior de
lombar e uma cifose - dorsal) e uma curvatura no dois corpos vertebrais adjacentes. Estas superfí-
plano coronal (escoliose discreta em relação com cies encontram-se revestidas por cartilagem hiali-
a crossa da aorta). Contudo, podem surgir curva- na. Os meios de união correspondem aos discos
turas patológicas na coluna vertebral. As mais co- intervertebrais. Estas articulações não apresentam
muns são as deformações escolióticas e as defor- cápsula articular:
mações cifóticas. As deformações escolióticas po- • Discos intervertebrais: são fibrocartilagens
dem ser não estruturais e ter origem numa má com forma de lente biconvexa com as fa-
postura corporal ou podem ser estruturais (sendo ces superior e inferior aderentes aos planal-
que dentro deste grupo as idiopáticas são as mais tos vertebrais e um bordo periférico livre.
frequentes). As deformações cifóticas mais fre- A sua altura diminui de Cl a D6, voltando
quentes devem-se a fracturas vertebrais em cunha, a aumentar até S1. Cada disco intervertebral
mais frequentemente de causa osteoporótica, dan- é constituído por duas porções: uma central
do um aspecto em "ponto de interrogação" aos in- denominada "núcleo pulposo" (gelatinoso e
divíduos atingidos, na maioria das ocasiões ido- constituído por glicosaminoglicanos); e uma
sos. Por vezes estas deformações podem ser de tal periférica denominada "anel fibroso" (consti-
forma acentuadas que provocam síndromes de hi- tuído por lâminas fibrosas concêntricas, sen-
poventilação, afectando fortemente a função res- do que os feixes de lâminas fibrosas consecu-
piratória. tivas apresentam uma direcção perpendicular
entre si).
• Os ligamento longitudinais anterior e poste-
ARTROLOGIA DA COLUNA VERTEBRAL rior podem ser considerados como ligamen-
tos periféricos desta articulação, recobrindo o
Na artrologia da coluna vertebral temos de dis- bordo periférico livre do disco intervertebral.
tinguir as estruturas articulares que relacionam
entre si elementos da coluna vertebral e as estru- ARTICULAÇÕES ZIGOAPOFISÁRIAS
turas ligamentares que relacionam a coluna ver-
tebral com outros elementos ósseos (como é o São articulações sinoviais, de modo que a classi-
caso das costelas na coluna dorsal e especialmen- ficação atribuída a cada uma destas articulações
te a articulação sacro-ilíaca e o complexo articu- varia de acordo com a região da coluna vertebral:
lar das charneira occipito-vertebral, que pela sua na coluna cervical e dorsal são consideradas artro-
complexidade será discutido em pormenor). dias, enquanto na coluna lombar não considera-
Considerando as estruturas articulares próprias das trocartroses. As superfícies articulares são for-
da coluna podemos distinguir as articulações madas pelas apófises articulares de vértebras contí-
propriamente ditas (articulações intersomáti- guas, as quais são planas na região cervical e dor-
cas e entre os apófises articulares) e as sindesmo- sal e em forma de segmento de cilindro na colu-
ses da coluna vertebral, incluindo as uniões que na lombar. No respeita os meios de união, apresen-
ocorrem entre duas vértebras anexas (ligamen- tam uma cápsula articular que é laxa na região cer-
tos amarelos, ligamentos interespinhosas e su- vical e mais espessa e densa nas restantes regiões
praespinhosa, intertransversas e uncovertebrais), da coluna. Esta cápsula é reforçada medialmente
e ainda os ligamentos que percorrem toda a co- pelo ligamento amarelo correspondente e nos seg-
luna vertebral, como os ligamentos vertebral co- mentos dorsais e lombares destaca-se ainda um li-
mum anterior e o ligamento vertebral comum gamento posterior que a reforça posteriormente.
posterior. A membrana sinovial reveste a superfície profunda
da cápsula articular. Mais laxa na coluna cervical.

106
SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO:TÓRAX E ABDÓMEN

to com a dura-máter e a posterior com os múscu-


los espinhais.
Ligamentos interespinhosos: unem os apófises
espinhosas de duas vértebras adjacentes pelos seus
bordos inferior e superior. A extermidade poste-
rior continua-se com o ligamento supraespinho-
so e a sua extermidade anterior com os ligamen-
tos amarelos.
6
Ligamento supraespinhosos: correspondem a um
cordão fibroso que se estende ao longo de toda
7
a coluna vertebral unindo os vértices dos apófi-
ses espinhosas. Insere-se nestas últimas e nos li-
9
gamentos interespinhosos. Na região cervical este
ligamento é mais desenvolvido, tendo uma forma
8
triangular, de base superior (crista occipital exter-
na) e vértice no apófise espinhosa de C7, sendo
denominado "ligamento nucal".
Ligamentos intertransversários: unem de cada
lado os apófises transversas entre si. Na colu-
na cervical são substituídos pelos músculos in-
tertransversários e na coluna lombar são especial-
Fig. 2.75: Articulações da coluna vertebral. mente espessos, unindo as apófises acessórias.
1. Disco intervertebral 2. Núcleo pulposo 3. Anel fibroso 4. Ligamento
longitudinal anterior 5. Ligamento amarelo 6. Articulação zigo- Ligamento Longitudinal Anterior: percorre a
apofi sária 7. ligamento interespinhoso 8. Ligamento supraespinhoso face anterior da coluna vertebral desde a porção
9. Ligament o intertransverso 10. Buracos intervertebrais de
conjugação basilar do occipital até S2, inserindo-se nos discos
intervertebrais e nos corpos vertebrais adjacentes.
Ligamento Longitudinal Posterior: percorre a
ARTICULAÇÕES UNCO-VERTEBRAIS face posterior dos corpos vertebrais desde a go-
teira basilar até à primeira vértebra coccígea. O s
Existem apenas na coluna cervical. São articula- seus bordos laterais formam arcos côncavos late-
ções do tipo artrodia (superfícies planas) e esta- ralmente, separados por projecções laterais que se
belecem-se entre os apófises unciformes e a por- inserem nos discos intervertebrais
ção respectiva do corpo vertebral suprajacen-
te. Os meios de união são uma cápsula articular ARTICULAÇÕES DA CHARNEIRA OCCIPITO-
substituída na sua vertente medial pelo disco in- -VERTEBRAL
tervertebral.
As articulações da charneira occipito-vertebral
SINDESMOSES DA COLUNA VERTEBRAL constituem o pivot biomecânico com maior am-
plitude de movimento da coluna vertebral. Para
Ligamentos amarelos: apresentam uma forma além disso têm uma função de protecção da tran-
triangular, consistência elástica e em número par sição bulbo-medular, onde se sediam os centros
por cada espaço interlaminar. Inserem-se pelo seu vegetativos. A necessidade de conciliação destas
bordo superior na lâmina da vértebra suprajacente duas funções resultou numa grande complexidade
e pelo bordo inferior na lâmina da vértebra infra- osteo-ligamentar. São constituídas pelas articula-
jacente. Apresenta uma extermidade medial que ções entre o occipital e o atlas, entre o atlas e o áJcis
se une ao ligamento do lado oposto e uma lateral e pelas estruturas ligamentares que unem estas di-
que reforça a cápsula articular das articulações zi- ferentes estruturas entre si.
goapofisárias. A sua face anterior está em contac-

107
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

no bordo superior do arco anterior do atlas); liga-


mento antlanto-occipital posterior (com inserção
no bordo posterior do foramen magnum e no bor-
do superior do arco posterior do atlas, limitando
lateralmente com as cápsulas articulares um ori-
9 ficio que dá passagem à artéria vertebral e ao pri-
meiro nervo cervical); e ligamentos antlanto-occi-
pitais laterais, forma o grande ligamento circular
atlanto-occipital.

ARTICULAÇÕES ENTRE O ATLAS E O AxlS


6
Articulação Atlanto-Axial Lateral
12
Classificam-se como articulações discordantes
2 não corrigidas (heteroartroses), de tipo conjugado
(facto que as torna particularmente instáveis). As
superficies articulares são as superficies articulares
inferiores das massas laterais do atlas (convexas de
anterior para posterior, olham para ínfero-medial-
mente) e superficies articulares superiores do áJcis
(convexas de anterior para posterior, olham para
Rg. 2.76: Charneira occipito-vertebral (corte sagital).
1. Porção basilar do osso occipital 2. Dente do áxis 3. Arco anterior do súper-lateralmente). Os meios de união são cons-
atlas 4. Ligamento longitudinal anterior 5. Membrana atlanto-occipital tituídos por uma cápsula articular laxa reforçada
anterior 6. Ligamento atlanto-axial anterior 7. Ligamento occipito-
odontóide mediano (do dente do áxis) 8. Ligamento transverso do mediaimente pelo ligamento lateral inferior.
atlas 9. Ligamento transverso-occipital 10. Ligamento transverso-axial
11. Membrana tectoria 12. Ligamento longitudinal posterior

ARTICULAÇÕES ENTRE O OCCIPITAL E O


ATLAS

Articulação Atlanto-Occipital

São cond.ilartroses conjugadas. As superficies ar-


ticulares correspondem aos côndilos occipitais
(convexos em forma de palmilha) e superficies ar-
ticulares superiores do atlas (côncavas e elípticas).
Apresentam uma cápsula articular laxa que se in-
sere junto do revestimento cartilagíneo dos côn-
d.ilos e a alguma distância das superficies articula-
res superiores do atlas. A cápsula articular é reves-
tida profundamente por uma sinovial e reforçada
posterior e lateralmente pelos ligamentos antlan-
to-occipitais laterais.
Fig. 2.77: Charneira occipito-vertebral (vista posterior).
Ligamentos occipito-atloideus: A união do li- 1. Membrana tectoria (seccionada) 2. Ligamento longitudinal
gamento antlanto-occipital anterior (constituída posterior (seccionado) 3. ligamento cruciforme 4. ligamentos
occipito-odontóides laterais (alares} 5. Articulação atlantCH>Ccipital
por um feixe superficial e outro profundo, com in- ó.Articulação atlanto-axial lateral
serção no bordo anterior do foramen magnum e

108
SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO:TÓRA.X E ABDÓMEN

LIGAMENTOS ATLANTO-AXIAIS Os ligamentos de união da charneira occipito-ver-


tebral organizam-se em 6 planos sobrepostos ân-
São em número de dois. O anterior insere-se su- tero-posteriormente. Estes são constituídos res-
periormente no bordo inferior do arco anterior pectivamente por: 1. Ligamento longitundinal an-
do atlas e inferiormente na face anterior do cor- terior; 2. Ligamentos atlanto-occipitais e atlanto-
po do áxis. O posterior insere-se superiormente -axiais anteriores; 3. Ligamentos occipito-odon-
no bordo inferior do arco posterior do atlas e infe- tóides; 4. Ligamento cruciforme; 5. Membrana
riormente no bordo superior das lâminas e apófi- tectoria; 6. Ligamento longitudinal posterior.
se espinhosa do áxis, sendo perfurado pelo segun-
do nervo cervical. NOÇÕES DE ANATOMIA CLÍNICA

A RTICULAÇÃO ATLANTO-AXIAL MEDIANA O disco intervertebral é uma estrutura com im-


portantes funções biomecânicas, permitindo ao
O apófise odontóide (ou dente) do áxis está conti- mesmo tempo manter a mobilidade da colu-
da num anel osteofibroso, denominado "anel atloi- na vertebral e garantir a sua função de sustenta-
deu", constituído pelo arco anterior do atlas an- ção do restante esqueleto. Qyanto sujeito a stress
teriormente e pelo ligamento transversa do atlas mecânico repetido, o disco intervertebral sofre al-
posteriormente. Formam-se assim duas articula- terações degenerativas, com desidratação do nú-
ções de tipo trocartrose, com duas cavidades ar- cleo pulposo e lacerações no anel fibroso. Estas la-
ticulares distintas: a articulação atlanto-odontói- cerações tendem a ocorrer na região póstero-late-
deia (entre a face posterior do arco anterior do atlas ral do disco, região esta onde o anel fibroso é me-
e a face anterior do dente do áxis) e a articulação nos espesso, possibilitando a herniação do núcleo
sindesmo-odontóideia (entre a face posterior do pulposo através deste, dando origem à denomina-
dente do áxis e o ligamento transversa do atlas). da "hérnia discal". Estas hérnias tendem a ocorrer
O ligamento transversa une os dois tubérculos das nos segmentos mais móveis da coluna (região cer-
massas laterais do atlas e dele partem dois fascícu- vical e lombar) e muitas das vezes migram para o
los longitunais, um superior (ligamento occipito- canal vertebral e/ou buraco intervertebral compri-
-transversa) e outro inferior (ligamento transver- mindo os elementos nervosos. Se a migração for
sa-axoideu). No seu todo este sistema ligamentar é lateral, a compressão será provavelmente radicular.
chamado de "ligamento cruciforme do atlas". Na região lombar baixa poderá originar a chamada
Da articulação atlanto-axial mediana fazem ainda "dor ciática" irradiada pelo território de inervação
parte os meios de união entre o Occipital e o Áxis, da raiz nervosa comprimida, podendo- se associar
que se fazem por intermédio da membrana tecto- a um défice sensitivo e mesmo motor. Na região
ria, dos ligamentos occipito-odontoideus e dos li- cervical, no caso de protusão discal mediana pode
gamentos vertebrais comuns anterior e posterior: advir uma compressão medular. Em casos limites
• Membrana Tectoria: Insere-se na face pos- esta compressão pode traduzir-se numa tetraparé-
terior do corpo do áxis, dirige-se para cima sia ou tetraplegia (diminuição e abolição (respecti-
(posteriormente ao ligamento cruciforme) e vamente) da força muscular dos quatro membros).
insere-se no bordo anterior do foramen mag-
num. Tem 3 feixes, um médio e dois laterais.
• Ligamentos occipito-odontóides: são em PERGUNTAS TIPO
número de três (um mediano - ligamento
apical do dente - e dois laterais - ligamentos 1. Assinale a(s) afirmações verdadeiras:
alares) e unem o occipital ao vértice do apófi- a. O atlas e o áxis são vértebras atípicas.
se odontóide. Localizam-se entre o ligamento b. O sacro é um exemplo de vértebras he-
atlanto-occipital anterior (anteriormente) e o terólogas.
ligamento cruciforme (posteriormente). c. Os pedículos e lâminas constituem o arco
neural, onde se inserem as apófises.

109
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

d. As apófises são todas pares.

2. Assinale a(s) afirmações falsas:


a. O buraco vertebral tem forma de triângu-
lo isósceles na coluna cervical.
b. O corpo vertebral apresenta apófises unci-
formes ou semilunares na coluna cervical.
c. As apófises transversas são biturculadas e
apresentam um buraco na coluna cervical.
d. As apófises articulares têm forma de seg-
mento de cilindro na coluna dorsal.

3. Assinale a(s) respostas certas:


a. Os discos intervertebrais são as principais
estruturas responsáveis pelas articulações
intersomáticas.
b. As articulações entre as apófises articulares
são do tipo artrodia nas diferentes regiões
da coluna vertebral.
c. Os ligamentos amarelos unem as apófises
espinhosas entre si.
d. Os ligamentos intertranversários estão
presentes em todos os níveis da coluna
vertebral.

V-e ia-.: iu-1


:s1:1sods:>'M

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Rouviere H, Delmas A;Anatomie Humaine:


Descriptive, topographique etJonctionnelle; Tome I.
15e Édition Masson, Paris, 2002.
Drake, R.; Vogl, AW.; Mitchell, AWM. Gray's
Anatomyfor Students. Elsevier Health Sciences,
2014.
Netter F; Atlas ofHuman Anatomy; Sixth edition;
Saunders Elsevier; 2014.

***

110
SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO:TÓRAX E ABDÓMEN

BIOMECÂNICA DA COLUNA e são denominadas "cifoses" (convexidade dorsal)


VERTEBRAL possuindo uma angulação de 20-40° ao nível to-
rácico. Na infância, quando se adquire a capacida-
A biomecânica é uma disciplina cientifica que de do tónus cervical, inicia-se a formação da lor-
a lica os princípios das leis da Física para descre- dose cervical (concavidade dorsal) e que apresen-
1r os efeitos da energia e das forças aplicadas em ta uma angulação de 15-20°. Ao adquirir a capa-
sistema biológicos. cidade de marcha, forma- se a lordose lombar com
A coluna vertebral é uma estrutura complexa, uma angulação de 20-60°. Assim as cifoses cervi-
não uniforme, constituída por componentes ós- cais e lombares primárias invertem a sua curva du-
seos, ligamentares, musculares e neurológicos. Ao rante a infância e daí denominarem-se curvaturas
longo da História da Medicina grandes figuras secundárias.
(como Hipócrates, Avicena, Da Vinci e Vesálio) Dos vários componentes que constituem a co-
deram vários contributos para compreender a sua luna, o corpo vertebral é a estrutura que tem
biomecânica. a maior capacidade de suporte de carga axial.
Para a coluna ter uma adequada função é necessá- O seu formato cilíndrico envolvido por osso corti-
rio um equilibrio entre o movimento a executar e cal e pelos planaltos vertebrais confere grande ca-
a sua estabilidade, alem de uma ação concertada de pacidade biomecânica e o aumento da sua altura e
todos os componentes que a constituem. largura ao longo da coluna confere um progressivo
aumento da capacidade de aplicação de força axial.
O disco intervertebral é a estrutura principal res-
PRINCÍPIOS BIOMECÂNICOS ponsável pela estabilidade de cada UFR, funcio-
nando como amortecedor. É constituído por um
Qyando uma força é aplicada na coluna, pode ser núcleo pulposo (hidratado e rico em proteoglica-
decomposta nos seus vetores (orientados numa nos e colagénio) e um anel fibroso disposto con-
direção tridimensional que pode ser expresso centricamente (fibrocartilaginoso que confere su-
num sistema de eixos de coordenadas cartesia - porte estrutural). Os discos têm capacidade de su-
nas). Para estudar as propriedades biomecânicas portar forças compressivas até 2,Sx o peso corpo-
da coluna define-se o conceito de Unidade Fun- ral quando andamos, podendo chegar a lOx na re-
cional Raquidiana (UFR) (Fig. 2.78). gião lombar.
A UFR consiste em duas vértebras adjacentes
juntamente com os seus discos intervertebrais,
facetas articulares, ligamentos e músculos. Os
movimentos da coluna ocorrem em cada UFR e
ao longo de grupos destas unidades.
Qyando uma força atua num determinado pon-
to ósseo, a direção dos seus vetores vai funcionar
como uma alavanca devido às inserções muscula-
res, criando um torque (produto da força aplicada
numa alavanca e a sua distância a um eixo), que na
coluna é responsável pela tendência de realizar um
movimento de rotação em cada UFR. 3---
ANATOMIA DA BIOMECÂNICA

No plano sagital identificam-se várias curvatu-


ras fisiológicas. As curvaturas primárias estão pre-
sentes ao longo do desenvolvimento embrionário Fig. 2.78: Unidade Funcional Raquidiana.

11 1
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Juntamente com os discos intervertebrais, as face-


tas articulares conferem um acréscimo na estabi-
lização e no suporte da carga axial em cada UFR.
Ao longo da coluna elas apresentam um orienta-
ção diferente, tornando-as facilitadoras ou limita-
doras dos graus de movimento, e fundamentais na
sua estabilidade (Figuras 2.79, 2.80 e 2.81).As fa-
cetas cervicais apresentam uma orientação no pla-
no coronal, resistindo a movimentos de translação
e promovendo movimentos de flexão/extensão
e rotação. As facetas lombares apresentam uma
orientação sagital (com exceção de L5Sl), resis-
tindo à rotação mas permitindo a flexão/extensão.
As facetas torácicas apresentam uma orientação Fig. 2.79: Orientação da facetas articulares cervicais.
intermédia relativamente às previamente descritas.
Os ligamentos tem uma função de estabilização
passiva e dado o sua capacidade elástica, conferem
suporte e proteção ao restringirem o movimento e
absorvendo energia da UFR.
Os músculos paravertebrais têm funções de esta-
bilidade dinâmica e movimento (principalmente
o erector spinae). O seu papel na propriocepção é J

essencial para que estas funções sejam eficientes.

ESTABILIDADE BIOMECÂNICA DA

~
COLUNA

A estabilidade da coluna é atingida através de


um esforço concertado de componentes ósseos,
ligamentares e musculares. Cada um destes com- Fig. 2.80: Orientação da facetas articulares torácicas.

ponentes pode compensar os restantes quando


ocorre uma lesão, mas estes mecanismos são li-
mitados.
Há vários modelos que ajudam a descrever es-
tes mecanismos, sendo os mais comuns o mode-
lo de White & Panjabi e o conceito das 3 colu-
nas de Denis.
White & Panjabi definiram em 1992 o concei-
to de estabilidade clínica como a capacidade de,
em condições fisiológicas, se manter um padrão
de mobilidade que evite o estabelecimento ou
agravamento de qualquer defeito neurológico, de
qualquer deformidade significativa ou de dor in-
capacitante.
O seu modelo divide a coluna em 5 segmentos:
charneira occipito-atlanto-axial; coluna cervical Fig. 2.81: Orientação da facetas articulares lombares.
média e baixa; coluna torácica e tóraco-lombar;

112
SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO:TÓRAX E ABDÓMEN

coluna lombar e lombo- sagrada; articulações sa- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


cro-ilíacas e púbis. Cada um destes segmentos
Winn, R.; Youmans and Winn Neurological
a resenta várias checklists, com critérios clínicos e
Surgery. 7.• edição. Elsevier, 2016. ISBN:
j~agiológicos, que tentam inferir a estabilidade /
9780323287821.
instabilidade da coluna vertebral.
O conceito de Denis (Fig. 2.82) divide a colu- Steinmetz , M.; Benzel, E. Benzeis Spine
na em 3 segmentos: anterior, médio e posterior. Surgery: Techniques, Complication Avoidance and
A coluna anterior inclui o ligamento longitudi- Management. 4.• edição. Elsevier, 2017. ISBN:
nal anterior, a porção anterior ao anel fibroso e 9780323400305.
os 2/3 anteriores do corpo vertebral. A coluna
Perez-Cruet, MJ.; Fessler, RG.; Wang, MY.
média é constituída pela ligamento longitudinal
An Anatomic Approach to Minimally Invasive
posterior, a porção posterior do anel fibroso e o
Spine Surgery. 2." edição. Thieme, 2019. ISBN:
1/3 posterior da corpo vertebral. A coluna poste-
rior é constituída pelos pedículos, lâminas,. apó- 978 1626236431.
fises transversas e espinhosas, facetas articulares,
ligamento amarelo, ligamentos supra e interespi- ***
nhosos. Neste modelo é necessário que elemen-
tos de duas colunas estejam afetados para se con-
siderar que haja instabilidade.
Dentro dos vários componentes importantes
para a estabilidade da coluna devemos também
considerar a grelha costal na região torácica. Esta
estrutura confere 75% da estabilidade da coluna
torácica, contribuindo indiretamente para a esta-
bilidade da coluna lombar devido à inserção de
músculos da região abdominal.

Fig. 2.82: Conceito das 3 colunas de Denis.


A Anterior B. Médio C. Posterior

113
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

MIOLOGIA DA COLUNA VERTEBRAL dicular (clavícula, omoplata ou escápula, e úme-


ro) ao esqueleto axial (crânio, costelas, coluna ver-
tebral). Poderá ser designado por alguns autores
INTRODUÇÃO como "plano apendicular".
Ao plano intermédio, pertencem os músculos ser-
Os músculos da coluna, também genericamente rátil póstero-superior e serrátil póstero-inferior.
designados por "músculos do dorso" ou "múscu- Profundamente a estes, temos o grupo "profundo",
los do tronco", apresentam uma disposição com- que corresponde ao grupo muscular intrínseco do
plexa, devido à origem embrionária distinta de di- dorso. Poderá ser designado como "plano respira-
versos grupos musculares. De uma forma simples, tório".
os músculos do dorso poderão, em primeiro lugar,
ser organizados em três grupos: um superficial, um PLANO SUPERFICIAL (FIG. 2.83)
intermédio, e um profundo. O s músculos dos dois
primeiros grupos (superficial e intermédio) consti- O músculo trapézio, de forma triangular, apresen-
tuem os músculos extrínsecos da coluna, pois têm ta a sua base ao longo da coluna vertebral, com o
origem embrionariamente em estruturas que não seu vértice na região do ombro. Tem origem na li-
a coluna; o plano superficial encontra-se relacio- nha nucal superior, na protuberância occipital ex-
nado com movimentos dos membros superiores, terior, e apófises espinhosas de C7-Tl 2. Insere-se
enquanto o plano intermédio se encontra relacio- depois no terço mais distal da clavícula, no acró-
nado com funções respiratórias, ao se inserir pri- rnio, e na espinha da omoplata (escápula). Poderá
mariamente nas costelas. Os músculos ditos "pro- ser funcionalmente dividido em três componentes
fundos" correspondem aos músculos intrínsecos, ou porções: uma porção descendente ou superior
aos "verdadeiros" músculos da coluna, pois é nela (pars descendens), uma porção transversal ou média
que têm a sua origem embrionária. (pars transversa), e uma porção ascendente ou in-
Assim, de um ponto de vista anátomo-funcional, ferior (pars ascendens). Tem como ação a rotação
os músculos da coluna poderão ser divididos em da omoplata durante a abdução do úmero; a por-
dois grupos: um grupo extrínseco (subdividido em ção superior levanta a omoplata, a porção média
dois planos, um superficial e um intermédio) e um realiza adução, e a porção inferior realiza a depres-
grupo intrínseco, mais complexo. são da omoplata.
Os músculos suboccipitais,por vezes agrupados na O músculo Iatíssimo dorsal, achatado e triangular,
literatura ao grupo dos músculos da coluna, serão tem origem nas apófises espinhosas de T7-LS, sa-
descritos com os restantes músculos da região pos- cro, crista ilíaca, assim como nas últimas 4 coste-
terior cervical. las. Insere-se no pavimento do sulco intertubercu-
lar do úmero (goteira bicipital do úmero). Como
ação, este músculo contribui para a extensão, adu-
GRUPO EXTRÍNSECO ção e rotação medial do úmero. Poderá também
contribuir para a depressão do ombro.
Os músculos deste grupo podem ainda ser divi- O músculo levantador da omoplata, com ori-
didos em dois planos: um superficial, e outro in- gem nas apófises transversas de Cl-C4, insere- se
termédio. na porção superior do bordo medial da omopla-
O plano superficial encontra-se imediatamen- ta. Como ação, eleva este osso. Poderá ajudar ou-
te profundo à pele e fáscia superficial, e é consti- tros músculos na rotação inferior da porção late-
tuído pelos músculos trapézio, iatíssimo dorsal, le- ral da omoplata.
vantador da omoplata, rombóide maior e rombói- O músculo romboide maior origina-se nas apófi-
de menor. Os rombóides e levantador da omoplata ses espinhosas de T2-T5, inserindo-se no bordo
encontram-se profundamente ao trapézio, na por- medial da omoplata, no espaço entre o ângulo in-
ção superior do dorso. Este plano superficial inse- ferior e a origem da espinha escapular. Contribui
re-se entre a porção superior do esqueleto apen- para a adução e levantamento da omoplata.

114
SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO:TÓRAXEABDÓMEN

O músculo rombóide menor, superior ao músculo O músculo serrátil póstero-inferior (Fig. 2.83),
rornbóide maior, mas inferior ao músculo levanta- profundo ao músculo latíssimo dorsal, com ori-
dor da escápula, tem origem nas apófises espinho- gem nas apófises espinhosas de Tll -L3 e respe-
sas de C7 e Tl. Insere-se de seguida no bordo me- tivos ligamentos supra-espinhosos, insere-se no
dial da omoplata, ao nível da espinha escapular. Tal bordo inferior das 9.ª-12.ª costelas, imediatamen-
corno o rombóide maior, realiza a adução e levan- te lateralmente aos seus ângulos. Contribui para a
tamento da omoplata. depressão das costelas referidas.

GRUPO INTRÍNSECO

PLANO SUPERFICIAL

Este plano é constituído por um único subgru-


po de músculos (Fig. 2.83): os músculos espinho-
-transversários.
O músculo esplénio capitis tem origem nas apó-
fises espinhosas de C7-T4, e insere-se na apófi-
se mastóide do temporal, e na porção da abóboda
craniana inferior ao terço lateral da linha nucal su-
perior. A sua contração unilateral leva à rotação e
inclinação homolaterais da cabeça, enquanto a sua
contração bilateral simultânea leva à extensão da
2 cabeça e pescoço.
O músculo esplénio cervicis (Fig. 2.65), com ori-
gem nas apófises espinhosas de T3-T6, insere-se
nas apófises transversas de Cl-C3. A sua contra-
ção unilateral leva à rotação e inclinação homola-
terais da cabeça; a sua contração bilateral simultâ-
nea leva à extensão cervical.

Fig. 2.83: MúsculÔs extrínsecos e intrínsecos superficiais.


PLANO INTERMÉDIO
1. Músculo trapézio 2. Músculo Iatíssimo do dorso 3. Músculo
esplénio da cabeça 4. Músculo levantador da escápula 5. Músculo
Este plano é também constituído unicamente por
rombóide maior 6 . Músculo rombóide menor 7. Músculo serrátil
posterior-inferior 8. Massa comum dos erectores da espinha um grupo: os músculos extensores da coluna (Fig.
2.89). Corresponde ao maior conjunto de mús-
culos do grupo intrínseco do dorso. Encontra-
PLANO INTERMÉDIO -se póstero-lateralmente à coluna vertebral, entre
as apófises espinhosas medialmente e os ângulos
O músculo serrátil póstero-superior, já perten- costais lateralmente. Na sua porção mais inferior,
cente ao plano extrínseco intermédio, encontra- o grupo muscular é representado por uma mas-
-se profundamente aos músculos romboides. Tem sa muscular única, algo indistinta, com origem no
origem nas apófises espinhosas de C7-T3, assim sacro, apófises espinhosas das vértebras lombares
como nos ligamentos supra-espinhosos corres- e torácicas inferiores, assim como na crista ilíaca.
pondentes. Insere-se no bordo superior das 2.ª-S.ª A partir da região lombar superior, num sentido
costelas, imediatamente lateralmente aos seus ân- ascendente, os músculos extensores da coluna di-
gulos. Como função, contribui para a elevação das videm-se em três colunas musculares verticais, in-
costelas mencionadas. dividualizadas, cada uma subdividida regional-

115
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

mente (lombar, torácica, cervical, e da cabeça, de traem flexão, e estendem a cabeça posteriormente.
acordo com as suas inserções). De lateral para me- A sua contração unilateral, contudo, inclina a co-
dial, temos os músculos ílio-costais, os longuíssi- luna lateralmente; a contração unilateral dos mús-
mos, e os espinhais. culos com inserções na cabeça permite realizar o
O músculo ílio-costal lombar tem origem no sa- movimento de rotação deste segmento para o lado
cro, apófises espinhosas de Tll-LS, respetivos li- da contração.
gamentos supra-espinhosos, assim como na cris-
ta ilíaca. Insere-se nos ângulos das últimas seis ou
sete costelas.
O músculo ílio-costal torácico tem origem nos ân-
gulos das últimas seis costelas, e insere-se nos ân-
gulos das primeiras seis costelas, assim como na
apófise transversa de C7.
O músculo ílio-costal cervical, com origem nos
ângulos das 3.•-6• costelas, insere-se nas apófises
transversas de C4-C6.
O músculo longuíssimo torácico confunde-se com
o músculo ílio-costal lombar inferiormente, e tem
origem nas apófises transversas das vértebras lom-
bares. Tem inserção nas apófises transversas de to-
das as vértebras torácicas, e imediatamente late-
ralmente aos tubérculos das últimas nove ou dez
costelas.
O músculo longuíssimo cervical tem origem nas
apófises transversas das primeiras quatro ou cinco
vértebras torácicas, e insere-se nas apófises trans-
versas de C2-C6.
O músculo longuíssimo da cabeça, com origem
nas apófises transversas das primeiras quatro ou
cinco vértebras torácicas e nas apófises articulares
das últimas três ou quatro vértebras cervicais, in-
sere-se no bordo posterior da apófise mastoideia.
O músculo espinhal torácico tem origem nas apó-
fises espinhosas de T10-L2, por vezes T11-L2.
Insere-se geralmente nas apófises espinhosas de Fig. 2.84: Músculos intrínsecos intermédios (extensores da coluna).
Tl-T8. 1. Músculo ilio•costal 2. Músculo longuíssimo do tórax 3. Músculo
espinhal torácica 4. Músculo semiespinhal da cabeça 5. Músculo
O músculo espinhal cervical tem origem na apófi- longuíssimo da cabeça (porção cervical complementada na fig. 2.65
se espinhosa de C7; por vezes, pode também pro- dos musculos do pescoço)

vir das apófises espinhosas de Tl e T2. Insere-se


na apófise espinhosa do áxis.
O músculo espinhal da cabeça confunde-se com PI.ANO PROFUNDO
o músculo espinhal cervical, e apresenta as mes-
mas inserções. Este plano apresenta dois subgrupos musculares:
No seu conjunto, os músculos extensores da co- os músculos transverso-espinhais, e os músculos
luna podem ser considerados os principais exten- segmentares da coluna (Fig. 2.85). O subgrupo
sores da coluna vertebral e da cabeça. Ao contraí- transverso-espinhal, que ocupa o espaço entre as
rem bilateralmente, "endireitam" o tronco (isto é, apófises transversas e espinhosas, profundamente
realizam a sua extensão), quando este se encon- aos músculos extensores da coluna, apresenta ou-

116
SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO:TÓRA.XEABDÓMEN

ês subdivisões: os músculos semi-espinho- intervalo" (por exemplo, tem origem em T9, e in-
cras : rnúsculos multifidus, e os músculos rotado- sere-se em T7.
sos, o ºnh - . rfi . .
Os serni-esp1 osos sao os mais supe c1a1s O grupo transverso-espinhal, ao contrair bilateral-
res. fu d mente, estende a coluna vertebral, de forma seme-
deste grupo; pro n amente a estes, encontramos
rnultiiidus. Os rotadores, de menores dimen- lhante aos músculos extensores da coluna. Con-
º:
soes,
são os mais profundos dos três. O subgru- tudo, a sua contração unilateral "puxa'' as apófises
segrnentar é constituído pelos músculos levan- espinhosas em direção às apófises transversas do
0
fadores das costelas, pelos inter-espinhosos e pe- lado da contração, pelo que o tronco terá uma ro-
los inter-transversários. Este grupo apresenta uma tação contralateral.
origem numa porção mais lateral da coluna, di- O músculo levantador da costela, com origem nas
rige-se súpero-medialmente, para se inserir num apófises transversas de C7-Tll, insere-se nacos-
ponto mais superior. tela inferior à vértebra de origem, perto do tubér-
O músculo semi-espinhoso torácico tem origem culo respetivo. Ao contrair, levanta a costela.
nas apófises transversas de T6-T10, e insere-se nas O músculo inter-espinhoso insere-se nas apófises
apófises espinhosas de C6-T4. espinhosas de vértebras contíguas, lateralmente ao
o músculo semi-espinhoso cervical, com origem ligamento inter-espinhoso.
nas apófises transversas das primeiras cinco ou seis
vértebras torácicas, insere-se nas apófises espinho-
sas de C2-C5.
O músculo semi-espinhoso da cabeça apresenta a
sua origem nas apófises transversas de C7-T6 (por
vezes T7), assim como nas apófises articulares de
C4-C6. Insere-se de seguida na porção mais me-
dial do espaço situado entre as duas linhas nucais,
superior e inferior, do osso occipital.
4
O músculo multifidus, de maior complexidade,
tem origem no sacro, na origem dos músculos ex-
tensores da coluna, na espinha ilíaca póstero-su-
perior, nas apófises mamilares das vértebras lom-
bares, nas apófises transversas das vértebras torá-
cicas, assim como nas apófises articulares de C4- 5

C7. Insere-se depois na base das apófises espinho-


sas de C2-L5. Encontra-se mais desenvolvido na
região lombar.
O músculo rotador lombar, com origem nas apó-
fises mamilares das vértebras lombares, insere-se
nas apófises espinhosas das vértebras lombares.
O músculo rotador torácico origina-se nas apófi-
ses transversas das vértebras torácicas, e insere-se
nas apófises espinhosas das vértebras torácicas.
O músculo rotador cervical tem origem nas apó-
fises articulares das vértebras cervicais, inserindo-
-se de seguida nas apófises espinhosas das vérte-
bras cervicais.
Os músculos rotadores podem ainda ser classifica-
dos como rotadores curtos ou rotadores longos. Os
Fig. 2.85: Músculos intrínsecos profundos.
curtos inserem-se entre duas vértebras contíguas, 1. Músculo semiespinhal da cabeça 2. Músculo semiespinhal torácico
enquanto os longos apresentam uma vértebra "de 3. Multifidus 4. Músculos rotadores 5. Músculo levantadores das
costelas

117
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

O músculo inter-transversário encontra-se entre a. Multifidus.


as apófises transversas de vértebras contíguas. b. Latíssimo dorsal.
Os músculos inter-espinhosos e inter-transver- c. Ílio-costal torácico.
sários contribuem para a estabilização dos movi- d. Ílio-costal lombar.
mentos da coluna vertebral. e. Trapézio.

NOÇÕES DE ANATOMIA CLÍNICA 3. Relativamente ao músculo serrátil póstero-


-superior, assinale a afirmação FALSA:
Dor lombar corresponde a uma das queixas mais a. Pertence ao plano extrínseco intermédio.
frequentemente reportadas pelos doentes em con- b. Encontra-se profundamente aos músculos
texto de urgência. De etiologia variável, o espasmo rombóides.
da musculatura dorsal poderá resultar numa dor c. Contribui para a depressão das 2.•-5.• cos-
intensa e incapacidade funcional. O espasmo cor- telas.
responde a uma contração involuntária, súbita, de d. Tem geralmente origem nas apófises espi-
um ou mais grupos musculares; poderá ser inter- nhosas de C7-T3.
pretada por vezes como um "mecanismo de defe- e. Insere-se entre a 2.ª e 5.ª costelas.
sa", posto em ação após determinada lesão oures- ::>-e iv-z 1a-1
posta a inflamação ligamentar. :so1sodsa11
A parésia do músculo trapézio, que pode ter como
etiologia uma lesão do X1 nervo craniano (ner-
vo espinhal ou acessório), que o inerva, pode ser
revelada ao exame objetivo por um "ombro des- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
caído", incapaz de ser levantado contra resistên-
Rouviere, H.; Delmas, A. Anatomie humaine
cia. Ao colocar uma mão em cima do ombro, pe-
descriptive, topographique etfonctionnelle. 15éme
dimos ao doente para levantar o ombro; o doente
terá dificuldade em realizar o movimento. Origina editión. Masson, 2002.
também uma "escápula alada lateral" (lateral scapu- Standring, S.; et al. Grayl Anatomy - The
la winging), em que a porção medial da espinha da Anatomical Basis of Clínica! Practice. 41st edition.
omoplata se desloca para baixo e fora. Elsevier, 2016.
Uma lesão do nervo escapular dorsal, responsá-
vel pela inervação dos músculos romboides, resulta
num desvio lateral da posição normal da omoplata. ***
1

PERGUNTAS TIPO

1. Qyal dos seguintes músculos NÃO perten-


ce ao plano superficial do grupo extrínseco da
musculatura dorsal?
a. Trapézio.
b. Latíssimo dorsal.
c. Levantador da omoplata.
d. Serrátil póstero-superior.
e. Rombóide maior.

2. Qyal aos seguintes músculos, ao ser contraí-


do unilateralmente, pode produzir uma rota-
ção contralateral do tronco?

118
SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO:TÓRAX E ABDÓMEN

o sTEOLOGIA DO TÓRAX terno, estando unidas através das suas cartilagens


costais à cartilagem costal suprajacente; e 3) cos-
telas flutuantes, em que a cartilagem costal se en-
co sTELAS contra livre, não se articulando com nenhuma ou-
tra estrutura. As primeiras sete costelas são classi-
As costelas são os ossos que participam na forma- ficadas como verdadeiras, as 8.ª, 9.ª e 10.ª como
ção do esqueleto das faces anterior, posterior e la- costelas falsas e as últimas duas constituem as cos-
terais do tórax, articulando anteriormente com as telas flutuantes.
cartilagens costais (e por intermédio de algumas
destas com o esterno) e posteriormente com as CARACTER{STICAS GERAIS DAS COSTELAS
vértebras torácicas. São em número de doze con-
tando-se de superior para inferior como l.ª, 2.ª, As costelas descrevem uma grande curva de con-
3.3, e assim sucessivamente. cavidade medial, no entanto, apresentam ao longo
As costelas são ossos longos e pares, em que a do seu trajecto curvaturas mais ténues. Assim, to-
maior curvatura do osso apresenta uma conca- mando como ponto de partida a coluna vertebral,
vidade que é medial, uma extremidade mais vo- as costelas começam por dirigir-se inferiormen-
lumosa posterior e um bordo mais afilado que é te e lateralmente, depois inferior e anteriormen-
inferior. te, e finalmente inferior e medialmente. Nos dois
pontos de inflexão da direcção, estes ossos apre-
9 sentam dois ângulos: o ângulo posterior e o ân-
gulo anterior.
Globalmente as costelas apresentam uma inclina-
ção para inferior e anterior que se acentua à me-
dida que progredimos da l.ª para a 12.ª costela.
Cada costela apresenta um corpo e duas extre-
6 midade (anterior e posterior), com comprimen-
to crescente da l.ª até à 7.ª costela, diminuindo a
partir deste ponto até à 12.ª costela.
No corpo de cada costela distingue-se uma face
lateral convexa, onde são evidentes os ângulos an-
terior e posterior do osso; uma face medial escava-
da em goteira ao longo do seu bordo inferior (for-
mando a esse nível o sulco costal), um bordo su-
perior, rombo, que dá inserção aos músculos inter-
costais e um bordo inferior, afilado, que forma o
10 11 12
lábio ínfero-lateral do sulco costal. Neste sulco in-
Fig. 2.86: Caixa torácica.
serem-se os músculos intercostais.
1. Costela verdadeira 2. Costela falsa 3. Costela flutuante 4. Cartilagem O sulco costal aloja o pedículo intercostal, forma-
costal 5. Articulação costo-condral 6. Articulação condro-esternal
7. Clavícula 8. Omoplata 9. Corpo vertebral de T1 10. Corpo
do pelos vasos e nervo intercostais que se distri-
vertebral de T10 11. Corpo vertebral de T1 12. Corpo vertebral buem de superior para inferior pela seguinte or-
de T12
dem: veia, artéria e nervo. Desta forma as estrutu-
ras mais nobres (artéria e nervo) do pedículo in-
GENERALIDADES tercostal estão menos protegidos pela costela, en-
contrando-se numa posição mais inferior e por-
As costelas dividem-se em três grandes catego- tanto mais próxima do espaço intercostal. (Noções
rias: 1) costelas verdadeiras, que estão unidas ao de Anatomia Clínica: A abordagem invasiva do
esterno através das cartilagens costais respectivas; espaço intercostal, seja para seccionar os múscu-
2) costelas falsas, que não se prolongam até ao es- los intercostais ou para introduzir uma agulha de

119
MANUAL DE ANATOMJA HUMANA

modo a efectuar uma toracocentese, deve ser fei-


ta junto ao bordo superior das costelas de modo a
evitar uma lesão do pedículo intercostal.)
A extremidade posterior da costela é constituída
por três porções: cabeça, tubérculo e colo. A cabe-
ça tem a forma de um ângulo diedro saliente para
dentro, de tal forma que a aresta deste ângulo se
relaciona directamente com o disco intervertebral,
enquanto que as faces superior e inferior do ângu-
lo formam superficies articulares que se articulam
com as hemifacetas articulares existentes nos cor-
pos das vértebras torácicas. Fig. 2.88: Costela verdadeira.
1. Cabeça da costela 2. Colo da costela 3. Tubérculo da costela
O tubérculo é composto por duas eminências se- 4, Superfície articular do tubérculo da costela 5. Superfície não
paradas por uma depressão. A eminência ínfero- articular do tubérculo da costela 6. Sulco infra-costal 7. Extremidade
anterior da costela
-medial articula com a superfície correspondente
do processo transverso da vértebra respectiva, en-
quanto que a eminência súpero-lateral é rugosa e CARACTERfSTICAS PRÓPRIAS DE ALGUMAS
dá inserção a ligamentos. COSTELAS
O colo é a porção da extremidade posterior da
costela compreendida entre a cabeça e o tubérculo, 1.ª Costela
sendo achatada ântero-posteriormente. Apresenta
uma face anterior lisa e uma posterior rugosa para A l.ª costela é a mais larga e curta de todas ascos-
inserções ligamentares. telas sendo, ao contrário das demais, achatada de
A extremidade anterior é escavada e articula com a superior para inferior. O corpo apresenta uma face
extremidade lateral da cartilagem costal. superior, uma face inferior, um bordo lateral (con-
vexo) e um bordo medial (côncavo).
A face superior olha para superior e anterior, apre-
sentando junto ao seu bordo medial e anterior-
mente à sua porção média uma eminência, o tu-
bérculo escaleno (Lisfrank), que dá inserção ao
músculo escaleno anterior. Este tubérculo está li-
mitado anterior e posteriormente por duas gotei-
ras, em relação respectiva com a veia e a artéria
subclávias. Anteriormente à goteira da veia sub-
clávia a costela apresenta-se rugosa e dá inserção
aos ligamentos casto-clavicular e infra-clavicular.
Posteriomente à goteira da artéria subclávia inse-
rem-se os músculos escaleno médio e serrátil an-
terior. A l.ª costela não tem sulco costal e na cabe-
ça observa-se apenas uma faceta articular convexa.
Ao longo do seu bordo lateral inserem-se o mús-
culo serrátil posterior e superior assim como o pri-
meiro músculo supra-costal.

2.ªCoste/a
Fig. 2.87: Costelas.
A. 1.' costela 1.Corpodacostela 2.Coloda costela 3.Cabeçadacostela
4. Ângulo anterior 5. Ângulo posterior 6. Tubérculo da costela As faces da 2.ª costela têm uma orientação oblí-
7. Tubérculo escaleno {Lisfranc) 8. Goteira da artéria subdávia 9. Goteira qua, intermédia entre a orientação da l.ª costela
da veia subdávia

120
SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO:TÓRAXEABDÓMEN

das restantes. Na sua face lateral inserem-se os adulto, este osso, cuja forma se pode comparar à de
e aúsculos esca1eno postenor
. e serra'til antenor.
. Os uma espada, é composto por três peças que são, de
rn , ulos serrátil posterior e superior inserem-se superior para inferior: manúbrio ou punho, corpo
rnusc
osteriormente ao músculo escaleno posterior, e o ou lâmina e ponta ou processo xifóide.
i.• músculo supra-costal insere-se sobre o bordo
DESCRIÇÃO
ior do colo da costela. A 2. ª costela também
super .
não possui goteira costal.
O esterno apresenta duas faces (anterior e poste-
rior), dois bordos laterais e duas extremidades (su-
11.• e 12. • Costelas
perior e inferior).
As duas últimas costelas não possuem tubércu- A face anterior é convexa apresentando cris-
lo e a cabeça apresenta apenas uma faceta articu- tas transversais que correspondem à união das
lar. A 12.ª costela não tem sulco costal nem ân- esternebras. A linha de união entre o corpo e o
gulo posterior. O seu comprimento é muito va- manúbrio forma um ângulo diedro saliente para
riável, podendo ser extremamente curta ou atin- anterior denominado "ângulo esternal (Louis)",
gir até 14 cm. em relação com a 2.ª cartilagem costal. Para cada
lado da linha mediana, na região do manúbrio,
Cartilagens Costais observa-se uma crista para inserção do músculo
esternocleidomastoideu. No corpo estão presen-
As cartilagens costais são estruturas cartilagíneas tes rugosidades para a inserção do músculo pei-
que prolongam anteriormente as costelas. São toral maior.
achatadas no sentido ântero-posterior, apresen-
tando uma face anterior convexa, uma face poste-
rior côncava, um bordo superior e um bordo infe- NOÇÕES DE ANATOMIA CLÍNICA
rior. A extremidade lateral articula-se com a ex-
tremidade anterior das costelas, sendo que a ex- Clínica e semiologicamente, o ângulo esternal,
tremidade medial articula-se com o esterno no pela sua localização sobre o 2.0 arco costal é um
caso das primeiras 7 cartilagens e com a cartila- ponto essencial para a contagem e referenciação
gem suprajacente da 8.• à 10.ª cartilagens. Esta de costelas. Este dado é importante para a realiza7
extremidade é livre no caso da 11.• e 12.ª carti- ção de toracocenteses (punções torácicas para dre-
lagens costais. nagem de liquido ou ar existente no espaço pleu-
ral) e para uma correcta colocação dos eléctrodos
do electrocardiógrafo.
ESTERNO A face posterior do esterno é côncava e apresenta
diversas cristas transversais menos acentuadas que
O esterno é um osso longo e ímpar cuja extremi- as da face anterior, que correspondem aos ponto
dade mais volumosa é superior e a concavidade de fusão das esternebras.
posterior. Cada bordo lateral apresenta sete incisuras cos-
tais para articular com as sete primeiras cartila-
GENERALIDADES gens costais. A 1.ª incisura costal situa-se na por-
ção superior do bordo lateral do manúbrio. A 2.•
O esterno é um osso alongado verticalmente e corresponde à união entre o manúbrio e o corpo
achatado no sentido ântero-posterior, situado na e as restantes localizam-se no corpo. As incisuras
linha mediana da face anterior do tórax. Dirige-se costais estão separadas entre si por seis incisuras
obliquamente para inferior e anterior. intercostais.
O esterno é inicialmente constituído por várias A extremidade superior ou base do esterno apre-
peças ósseas independentes denominadas "ester- senta três incisuras, uma média e duas laterais.
nebras", algumas das quais se fundem. Assim, no A incisura média olha para cima e denomina-se

121
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

incisura jugular, as incisuras laterais articulam com b. De superior para inferior o pedículo in-
a clavícula, pelo que se denominam incisuras cla- tercostal apresenta- se como veia, artéria e
viculares. nervo.
A extremidade inferior ou processo xifóide é a c. A abordagem invasiva do espaço intercos-
porção mais estreita em todo o osso, apresentan- tal deve ser realizada junto ao bordo infe-
do uma forma afilada de vértice inferior (que pode rior da costela.
ser duplo). O processo xifóide por vezes é cartila- d. As estruturas mais nobre o pedículo inter-
ginoso. costal encontra-se localizados numa posi-
ção mais próxima do espaço intercostal.
e. Nenhuma das afirmações anteriores é cor-
recta.

3. Relativamente ao esterno identifique qual a


8 afirmação mais correcta:
a. O esterno apresenta duas faces (anterior e
posterior), dois bordos laterais e duas ex-
tremidades (superior e inferior).
2
b. O esterno apresenta duas faces (lateral e
medial), um bordo anterior, um bordo
posterior e duas extremidades (superior e
inferior).
c. O esterno apresenta duas faces (superior e
inferior), dois bordos laterais e duas extre-
midades (superior e inferior).
d. O esterno é constituído por 5 peças: in-
cisura jugular, manúbrio, colo do esterno,
corpo e processo xifóide.
e. Nenhuma afirmação é correcta.
Fig. 2.89: Esterno.
1. Manúbrio esternal 2. Corpo esternal 3. Apófise xifóide 4. lncisura v-r~:::i-z ~v-,
jugular 5. lncisura clavicular 6. lncisura costal 7. lncisura intercostal :smsods;,~
8. Ângulo esternal (Louis)

PERGUNTAS TIPO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Relativamente às costelas identifique qual a
Rouviere, H.; Delmas, A. Anatomie Humaine:
afirmação correcta:
a. As costelas podem ser divididas em coste- Descriptive, topographique etfonctionnelle. Tome I.
151m• édition. Masson, 2002.
las verdadeiras, falsas e flutuantes.
b. As costelas podem ser divididas em coste- Drake, R.; Vogl, AW.; Mitchell, AWM. Grays
las típicas, atípicas e flutuantes. anatomyfor students. Elsevier Health Sciences,
c. As costelas podem ser divididas em coste- 2014.
las superiores, inferiores e flutuantes.
Netter, F.At!as ofHumanAnatomy.S-rxth edition.
d. A 8.ª, 9.• e 10.• costelas são verdadeiras.
Saunders Elsevier, 2014.
e. Nenhuma das afirmações é correcta.

2. Relativamente à goteira costal é falso que: ***


a. O sulco costal aloja o pedículo intercostal
constituído pelos vasos e nervo intercostais.

122
SISTEMA LOCOMOTOR J TRONCO: TÓRAX E ABDÓMEN

ARTROLOGIA DO TÓRAX as hemifacetas. (Exemplificando, a cabeça da 5.ª I


costela articula-se com a hemifaceta inferior de
ticulações do tórax podem ser divididas em: T4 e com a hemifaceta superior de T5.) De re-
Asar.culações costo-verteb. ºulaçoes
nus, artlc - costo- ferir que as l.ª, 11.ª e 12.ª costelas articulam-se
arn dr•;s articulações intercondrais, articulações com uma única vértebra, pelo que as suas super-
-con = , . . .
-costais e smcondroses esterna1s. A arncu- fícies articulares apresentam apenas uma faceta
estern0
- esterno-condro-clavicular pode ser classifi- articular.
laçao ,
ada quer como pertencente ao torax, quer como Os meios de união da articulação são: cápsula ar-
: membro superior; será descrita no capítulo re- ticular, ligamento radiado, ligamento intra-articu-
0
ferente a este membro. lar da cabeça da costela.
Segundo a sua ~a_ss~ficação, as articulações do tó- A cápsula articular forma uma manga fibrosa em
rax podem ser diVIdidas em: tomo da articulação, inserindo-se nos contornos
• Sindesmoses torácicas: membrana intercostal das superfícies articulares costal e vertebral.
interna e membrana intercostal externa (des-
critas no capítulo "Miologia do Tórax");
• Sincondroses torácicas: sincondroses ester-
nais (articulação xifo-estemal, articulação
manúbrio-esternal);
Sinoviais torácicas: articulações costo-ver-
tebrais, articulações estemo-costais, articu-
lações costo-condrais, articulações intercon-
drais.
7

ARTICULAÇÕES COSTO-VERTEBRAIS
9

As articulações costo-vertebrais correspondem


ao conjunto de articulações que unem as coste-
las aos corpos vertebrais e apófises transversas
das vértebras adjacentes. São divididas em: arti-
culações da cabeça da costela e articulações cos-
6
to-transversas.
Fig. 2.90: Articulação costo-vertebral.
1. Hemifaceta articular vertebral 2. Faceta articular da cabeça da
ARTICULAÇÔES DA CABEÇA DA COSTELA
costela 3. Disco intervertebral 4. Cápsula articular 5. Ligamento
radiado 6. Ligamento intra-articular da cabeça da costela 7. Ligamento
costo-transversário superior 8. Corpo vertebral 9. Cok> da costela
São articulações sinoviais (artrodias), responsáveis
1O. Apófisetransversa 11. Ligamento costo-transversário 12. Ligamento
pela união da cabeça das costelas com os corpos costo-transversário lateral
vertebrais das vértebras torácicas (Fig. 2.90).
A superfície articular costal é formada por duas Esta cápsula encontra-se reforçada anteriormente
facetas articulares da cabeça da costela, uma fa- pelo ligamento radiado, que se insere na face an-
ceta superior e outra inferior, separadas por uma terior da cabeça da costela, a partir de onde as fi-
aresta ântero-posterior. A superfície articular bras divergem para atingir os corpos vertebrais das
vertebral forma uma depressão onde se encaixa duas vértebras que participam em cada articula-
a cabeça da costela, sendo constituída pelo con- ção e o disco intervertebral correspondente. Deste
junto da hemifaceta articular inferior da vérte- modo, as fibras superiores (feixe superior do liga-
bra suprajacente, da hemifaceta articular superior mento radiado) dirigem-se ao corpo vertebral da
homolateral da vértebra infrajacente e a face pe- vértebra suprajacente, as fibras inferiores (feixe in-
riférica do disco intervertebral interposto entre ferior do ligamento radiado) ao corpo vertebral da

123
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

vértebra infrajacente e as fibras transversas (mais sente na l.ª costela. O corpo da 12.• costela en-
curtas; feixe intermédio do ligamento radiado) ao contra-se unido à base da apófise transversa de
disco intervertebral. Ll pelo ligamento lombo-costal, representan-
A união das superfícies articulares é ainda refor- do uma continuação dos ligamentos costo-trans-
çada pelo ligamento intra-articular da cabeça da versários superiores. Pode existir um ligamento
costela, um feixe fibro- cartilagíneo que une a ares- acessório, medial ao costo-transversário superior,
ta da cabeça da costela ao disco intervertebral in- encontrando-se separado dele pelo ramo dorsal
terposto entre as hemifacetas vertebrais. Este liga- do nervo raquidiano torácico, e seus vasos saté-
mento divide a articulação, produzindo dois com- lites.
partimentos sinoviais (um superior e outro infe- Por fim, o ligamento costo-transversário lateral
rior). Pelo disposto anteriormente, explica-se o destaca-se do ápex das apófises transversas, inse-
facto de a articulação das l.a, 11.ª e 12.ª costelas rindo-se na eminência súpero-lateral rugosa do
não possuírem este ligamento. tubérculo costal.
Poderão ser encontrados, por vezes, ligamentos
ARTICULAÇÕES COSTO-TRANSVERSAS costo-transversários posterior ou inferior.
As articulações da cabeça costal e costo-transver-
São articulações sinoviais (trocartroses), respon- sária funcionam sinergicamente, encontrando-
sáveis pela união do tubérculo costal às apófises -se mecanicamente relacionadas, sendo o seu mo-
transversas das vértebras torácicas. Esta articula- vimento comum feito em redor (rotação) de um
ção encontra-se ausente nas 11.• e 12.• costelas. eixo que passa pelo centro de ambas as articula-
A superfície articular costal é composta pela emi- ções. Sendo os ligamentos radiados e intra-articu-
nência ínfero-medial do tubérculo costal, enquan- lares bastante resistentes, os movimentos da cos-
to a superfície articular vertebral é formada pela tela apresentam reduzida amplitude. A elevação
faceta articular da face anterior da extremidade li- das costelas inferiores aumenta sobretudo o diâ-
vre das apófises transversas das vértebras torácicas. metro transverso do tórax, enquanto a elevação das
Os meios de união da articulação são: cápsula ar- costelas superiores aumenta sobretudo o diâmetro
ticular, ligamento costo-transversário, ligamen- ântero-posterior.
to costo-transversário superior e ligamento costo-
-transversário lateral (Fig. 2.91).
A cápsula articular insere-se nos contornos das 6

superfícies articulares costal e vertebral.


O espaço formado entre a face posterior do colo
da costela e a face anterior da apófise transversa da
vértebra torácica correspondente denomina-se fo-
ramen costo-transversário, encontrando-se preen-
chido pelo ligamento costo-transversário (por ve-
zes designado como "ligamento costo-transversá-
rio interósseo"). 7

O ligamento costo-transversário superior inse- 2


re-se, inferiormente, no bordo superior do colo
da costela, dirigindo-se obliquamente para cima
e para fora até atingir o bordo inferior da apó-
fise transversa da vértebra torácica suprajacente.
É possível distinguir duas camadas neste liga-
mento: uma camada anterior, contínua lateral-
mente com a membrana intercostal interna; e
Fig. 2.91: Articulação costo-transversa.
uma camada posterior, contínua com a membra- 1. Cabeça da costela 2. Colo da costela 3. Tubérculo da costela
4. Apófise transversa 5. Ligamento costo-transversário 6. Ligamento
na intercostal externa. Este ligamento está au-
cost o-t ransversário lateral 7. Ligamneto costo-transversário superior

124
SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO:TÓRAX E ABDÓMEN

ARTICULAÇÕES COSTO-CONDRAIS 6

São articulações cartilagíneas (sincondroses), res-


ponsáveis pel~ união das costelas e respectivas car-
tilagens costa1s.
A eictremidade anterior das costelas apresenta
uma cavidade que recebe a extremidade lateral sa-
liente das cartilagens costais. Apesar de não exis-
tirem ligamentos individualizáveis, o periósteo das
costelas é continuo com o pericôndrio das cartila-
gens costais, o que aumenta a estabilidade da ar-
ticulação.
Esta articulação não apresenta, geralmente, qual-
quer movimento.

ARTICULAÇÕES INTERCONDRAIS

São articulações sinoviais (artrodias), responsáveis


pela união dos bordos das 6.ª à 9.ª cartilagens cos-
tais entre si. Fig. 2.92: Cartilagens costais.
1. Articulação costo-condral 2. Articulação intercondral 3. Articulação
Nas zonas de contacto, os bordos das cartilagens esterno-costal 4. Ligamento esterno-costal radiado anterior
costais (suprajacente e infrajacente) apresentam 5. Ligamento esterno-costal intra-articular 6. Articulação manúbrio-
esternal 7. Articulação xifo--esternal
superfícies planas unidas por uma cápsula articu-
lar (constituída por pericôndrio) reforçada por li-
gamentos intercondrais mediais e laterais. A cápsula articular, apenas presente da 2.ª à 7.ª
articulação esterno-costal, une as duas superfícies
ARTICULAÇÕES ESTERNO-COSTAIS articulares, continuando o pericôndrio com o pe-
riósteo do esterno.
São articulações sinoviais (artrodias), responsáveis Os ligamentos esterno-costais radiados anterior e
pela união das 1.ª à 7.ª cartilagens costais ao es- posterior reforçam a cápsula articular, divergindo
terno (Fig. 2.92). A l.ª articulação esterno-costal a partir da extremidade medial da cartilagem cos-
é uma excepção, uma vez que assume característi- tal para as faces, respetivamente, anterior e pos-
cas de articulação fibrosa, não possuindo cavida- terior do esterno. O entrecruzamento das fibras
de sinovial. dos ligamentos esterno-costais anteriores consti-
De referir que a 2.ª articulação esterno-costal se tui uma membrana fibrosa na face anterior do es-
encontra ao nível da sincondrose manúbrio-ester- terno, a membrana esternal.
nal. O ligamento esterno-costal intra-articular desta-
As superfícies articulares esternais correspondem ca-se da aresta da extremidade medial da cartila-
às incisuras costais no bordo lateral do esterno. As gem costal até ao fundo da incisura costal do es-
superfícies articulares costais correspondem à ex- terno, dividindo a cavidade articular em 2 com-
tremidade medial das primeiras 7 cartilagens cos- partimentos sinoviais. Este ligamento é constante
tais, que apresenta uma configuração semelhante à apenas na 2.ª articulação esterno-costal, onde une
da cabeça da costela, com 2 facetas separadas por a cartilagem costal à fibro-cartilagem manúbrio-
uma aresta ântero-posterior. -esternal.
Os meios de união são: cápsula articular, ligamen- Os ligamentos costo-xifoideus unem a extremi-
to esterno-costal radiado anterior, ligamento es- dade medial da 7.ª cartilagem costal às faces an-
terno-costal radiado posterior, ligamento esterno- terior e posterior do processo xifóide do esterno.
-costal intra-articular e ligamentos costo-xifóides. Tratando-se de uma artrodia, esta articulação per-

125
MANUAL DE ANATOMIA H UMANA

mite realizar movimentos de deslizamento, de re- torácica, devendo ser considerada no diagnóstico
duzida amplitude, suficientes para uma boa respi- diferencial com enfarte agudo do miocárdio. Ao
ração. contrário desta última patologia, o síndrome de
Tietze é bem localizado, e a dor agrava ao toque
SINCONDROSES ESTERNAIS na região inflamada.

As peças ósseas que constituem o esterno


(manúbrio, corpo e processo xifóide) encontram- PERGU NTAS TIPO
-se unidas entre si por duas articulações cartilagí-
neas, uma superior (articulação manúbrio-ester- 1. Qyal das seguintes afirmações é FALSA?
nal) e outra inferior (articulação xifo-esternal). a. A 1.ª costela articula apenas com Tl.
b. A 4.• costela articula com T3 e T4.
ARTICULAÇÃO MANÚBRIO-ESTERNAL c. A 9.• costela articula com T9 e Tl0.
d. A 11.ª costela articula apenas com Tl 1.
É uma sínfise, responsável pela união do manúbrio
ao corpo esternal. Localiza-se ao nível da 2.ª arti- 2. Qyal dos seguintes meios de união NÃO
culação esterno-costal. pertence à articulação costo-transversa?
As superfícies ósseas das peças esternais estão re- a. Ligamento intra-articular.
vestidas por cartilagem hialina e conectadas por b. Ligamento costo-transversário.
uma fibrocartilagem. Esta união é reforçada, ante- c. Ligamento costo-transversário superior.
rior e posteriormente, por uma membrana fibrosa d. Ligamento costo-transversárioso lateral.
que envolve todo o esterno.
O centro da fibrocartilagem manúbrio-esternal 3. Qyal das seguintes afirmação é verdadeira
pode ser reabsorvido a dar origem a uma pequena acerca das articulações esterno-costais?
cavidade sinovial. a. Unem todas as cartilagens costais ao es-
terno.
ARTICULAÇÃO XIFO-ESTERNAL b. O ligamento radiado posterior dá origem
à membrana esternal.
É uma sínfise, responsável pela união do processo c. O ligamento intra-articular é constante
xifóide ao corpo esternal. apenas na 2.• articulação.
Com a ossificação progressiva verificada com a d. São todas articulações sinoviais (artrodias).
idade, pode haver conversão desta articulação :)-r V-z 1:)-1
numa sinostose (fusão de duas peças ósseas). :s,1sods, ~

NOÇÕES D E ANATOMIA CLIN/CA

Em casos de trauma torácico, pode ocorrer dis- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


sociação costo-condral (separação da cartilagem
costal da costela respetiva). O doente refere dor Rouviere, H.; Delmas, A.Anatomie Humaine:
local, que agrava com a inspiração. A costela "se- Descriptive, topographique etfanctionnelle. Tome I.
parada'' pode-se encontrar fraturada, podendo os l Séme édition. Masson, 2002.
seus fragmentos lesar a pleura, originando um Drake, R.; Vogl, AW.; Mitchell, AWM. Gray's
pneumotórax (presença de ar na cavidade pleural). anatomyfar students. Elsevier Health Sciences,
Existem casos relatados de dissociação costo-con- 2014.
dral em doentes com tosse crónica.
O síndrome de Tietze corresponde a uma infla- Netter F.Atlas ofHumanAnatomy. Sixth edition.
mação de articulações costo-condrais ou condro- Saunders Elsevier, 2014.
-esternais; representa uma causa benigna de dor
***

126
SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO:TÓRAXEABDÓMEN

MIOLOGIA DO TÓRAX

O músculos do tórax pertencem, em termos ge-


_ss ao grupo dos músculos do tronco e podem di-
rai '
.dir-se ' ulos da regi.ao
em musc ·- postenor
· do torax,
'
:úsculos da região ãnterolateral do tórax e dia-
fragma. Para além dos músculos localizados exclu-
. mente no tórax, existem músculos que têm in-
siva
serções na parede torácica, mas que servem essen-
4
cialmente a região cervical, o abdómen ou o mem-
bro superior (estes últimos são também denomi-
nados de "músculos axioapendiculares").
No presente texto serão apenas abordados os
músculos exclusivamente localizados na pare-
de ânterolateral do tórax e o diafragma, estando
os restantes grupos reservados aos capítulos dos
músculos do tronco e do membro superior.

Fig. 2.93: Músculos intercostais.


MÚSCULOS DA PAREDE 1. Sulco infra-costal 2. Costela 3. Músculo intercostal externo
4. Músculo intercostal interno 5. Músculo intercostal íntimo 6. Veia
ÂNTEROLATERAL DO TÓRAX intercostal 7. Artéria intercostal 8. Nervo intercostal

Os músculos da parede ânterolateral do tórax di-


videm-se em 3 grupos, tendo em conta a sua re- Jntercostais Externos
lação com o esqueleto do tórax: grupo superfi-
cial (que corresponde aos músculos axioapendi- Os músculos intercostais externos são formados
culares peitoral maior, peitoral menor, subclávio por feixes oblíquos para baixo e para a frente. Têm
e serrátil anterior); grupo médio ou intercostal a sua origem, na vertente lateral do sulco costal da
(intercostais externos e elevadores da costela, in- costela suprajacente, inserindo-se no bordo supe-
tercostais internos, intercostais íntimos e subcos- rior da costela subjacente.
tais) e grupo profundo (transverso do tórax). Estes músculos não ocupam a totalidade da ex-
tensão do espaço intercostal, iniciando-se, poste-
GRUPO SUPERFICIAL riormente, junto ao tubérculo costal e terminando,
anteriormente, junto à articulação costocondral.
Os músculos do grupo superficial, embora aces- O restante espaço intercostal é preenchido, neste
sórios na inspiração, são primariamente respon- plano, por uma lâmina fibrosa que o estende até ao
sáveis por movimentar o membro superior, pelo bordo lateral do esterno, a membrana intercostal
que serão abordados no capítulo dos músculos do externa. (Fig. 2.93)
membro superior.
Elevadores da costela
GRUPO MÉDIO OU INTERCOSTAL
Os músculos elevadores da costela localizam-se
No grupo intercostal, os músculos são achata- medial e posteriormente ao músculo intercostal
dos e ocupam os espaços entre costelas adjacen- externo, sendo que os seus feixes curtos recobrem
tes. Dispõem-se em três planos: plano superficial os feixes posterior do intercostal.
(intercostais externos e elevadores da costela); pla- Estes músculos, em número de 24 ( 12 de cada lado
no médio (intercostais internos) e plano profun- da linha média), estão presentes em todos os espa-
do (intercostais íntimos e subcostais). (Fig. 2.93) ços intercostais. Originam-se no ápex dos proces-

127
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

sos transversos de C7 a Tll, a partir de onde se di- tercostais interno e íntimo; e na porção anterior
rigem inferior e lateralmente para se inserir no bor- do espaço intercostal entre os músculos intercostal
do superior da costela infi-ajacente (Tl a T12), en- interno e transverso do tórax.
tre o tubérculo e o ângulo posterior - músculo ele-
vador curto da costela. O s músculos dos 4 últimos 9
espaços intercostais apresentam um feixe acessório,
mais longo, que se insere na segunda costela infra-
jacente - músculo elevador longo da costela.
Os músculos intercostais externos e elevadores das 13
/ 10

costelas, ao horizontalizarem as costelas, são mús-


culos acessórios da inspiração.

lntercostais Internos 2 7

O s intercostais internos situam-se profundamente


aos intercostais externos e ocupam apenas a por-
ção dos espaços intercostais situada entre a linha
axilar média e o bordo lateral do esterno. A por-
ção mais posterior do espaço intercostal, neste pla-
no, é ocupada por uma lâmina fibrosa que conti-
4
nua o músculo intercostal interno até ao ligamen-
to costotransverso superior, a membrana intercos- 5
6
tal interna.
Rg. 2.94: Músculos intercostais (corte axial).
Originam-se no fundo do sulco costal da coste- 1. Esterno 2. Corpo vertebral 3. Omoplata 4. M úsculos erectores da
la suprajacente, dirigindo-se obliquamente para espinha 5. Músculo romboide 6. Músculo trapézio 7. Músculo serrátil
anterior 8. Músculo intercostal externo 9. Membrana intercostal
baixo e para trás, até ao bordo superior da coste-
externa 10. Músculo intercostal interno 11 . Membrana intercostal
la subjacente. interna 12. Músculo intercostal íntimo 13. Músculo transverso do
tórax

lntercostais fntimos
Subcostais
O s intercostais íntimos, por vezes considerados
como um desdobramento dos intercostais inter- D enominam-se músculos subcostais os feixes
nos, situam-se por dentro daqueles, ocupando ape- mais posteriores dos músculos intercostais ínti-
nas a porção dos espaços intercostais compreendi- mos, estendendo- se desde a face medial de uma
da entre o ângulo das costelas e uma linha parale- costela até à face medial da costela subjacente.
la ao bordo do esterno, 5 cm lateralmente a este.
A s fibras destes músculos são oblíquas para bai- GRUPO PROFUNDO
xo e para trás, apresentando assim uma orienta-
ção sobreponível à dos intercostais internos e in- Transverso do tórax
versa à dos intercostais externos. O rigina-se, em
cima, na vertente medial do sulco costal da costela O transverso do tórax é um músculo aplanado que
suprajacente e insere-se, em baixo, no bordo supe- se situa na face posterior do esterno, unindo o es-
rior da costela subjacente, profundamente aos in- terno, medialmente, às 3.• a 6.• cartilagens costais,
tercostais internos. lateralmente (Fig. 2.95). A acção deste múscu-
O feixe vasculo-nervoso intercostal caminha no lo é baixar as cartilagens costais. O s músculos in-
sulco intercostal, inicialmente entre os músculos tercostais internos e íntimos, subcostal e transver-
intercostais externo e íntimo; anteriormente à li- so do tórax, ao baixarem as costelas, são músculos
nha axilar média no plano entre os músculos in- acessórios da expiração.

128
>
SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO:TÓRAXEABDÓMEN

Snell, RS. Clinical anatomy by regiom. 9th edition.


Philadelphia. Lippincott Williams & Wilkins,
2012.

• ••

Fig. 2.95: Músculo transverso torácico.


1. Esterno 2. Músculo transverso do tórax 3. Cartilagens costais
4. Diafragma

PERGUNTAS TIPO

1. Qy.al dos seguintes músculos NÃO pertence


ao grupo médio dos músculos da parede ân-
tero-lateral do tórax?
a. Intercostal Externo.
b. Peitoral Menor.
e. Intercostal Interno.
d. lntercostal lntímo.
'.g-1
:SElSodso~

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Drake R, Vogl AW, Mitchell AWM. Gray's


A natomyfar Students. 4th edition. London.
Churchill Livingstone, 2019.
Moore KL, Dalley AF, Agur AMR. Clinically
OrientedAnatomy. 8th edition. Philadelphia.
Lippincott Williams & Wilkins, 2017.
Rouviere H, Delmas A.Anatomie humaine.
Tome 1 Tête et cou. 15éme édition. Paris: Elsevier
Masson, 2002.

129
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

DIAFRAGMA

O diafragma é um septo muscular que separa o tó-


rax (superiormente) do abdómen (inferiormente), 6
constituindo assim a parede inferior da caixa torá-
cica. Não representa uma fronteira absoluta, vis-
to permitir a passagem de diversas estruturas, no-
meadamente o esófago, a artéria aorta, a veia cava
inferior, o canal torácico, o nervo vago (X par cra-
niano) e outras estruturas vasculares e nervosas.
O diafragma não é plano, apresentando uma for- 4
ma de cúpula para baixo e para a frente que se se-
para em duas hemicúpulas (direita mais elevada e
9 5
esquerda mais deprimida devido à presença do co-
ração).
Fig. 2.96: Diafragma {vista superior).
Pode dividir-se o diafragma em duas porções: pe- 1. Centro frénico 2. Folíolo anterior 3. Folíolo direito 4. Folíolo
esquerdo 5. Fita semi-circular superior 6. Fita semi-circular inferior
riférica, muscular, cujos bordos se inserem nos li-
7. Porção muscular esternal 8. Porção muscular costal 9. Porção
mites do orifício inferior do tórax; central, tendi- muscular vertebral 10. Trigano esterno costal (Foramen de Morgagni)
nosa, denominada "centro frénico" (tendão cen-
tral). (Fig. 2.96)
O diafragma funciona como um grande múscu- PORÇÃO PERIFÉRICA OU CARNUDA
lo digástrico aplanado, resultante do entrecruza-
mento de múltiplos músculos digástricos, cujos As fibras musculares do diafragma nascem do
tendões intermediários formam o tendão central. contorno do orifício inferior do tórax onde se in-
serem. As inserções do diafragma agrupam-se
TENDÃO CENTRAL em três regiões: inserções esternais, costais e ver-
tebrais ou cruzes diafragmáticas (pilares diafrag-
o ·tendão central ou centro frénico é uma porção máticos). (Fig. 2.97)
tendinosa aplanada, localizada na porção central As inserções esternais fazem-se na face posterior
do diafragma e cuja forma se assemelha à de um do apêndice xifóide do esterno, estando separadas
trevo de três folhas, dividindo-se em três porções das inserções costais pelo triângulo esterno-costal
denominadas "folíolos": folíolo anterior (o maior (foramina de Morgagni ou fenda de Larrey). As
de todos, localizado atrás do esterno); folíolo di- inserções costais efectuam-se por seis feixes car-
reito; folíolo esquerdo. nudos sobre os seis últimos arcos costais. Estas in-
Em pleno tendão central localiza-se o orifício, serções complementam-se por três arcadas apone-
inextensível, da veia cava inferior. vróticas entre as extremidades das 10.a, 11.ª e 12.ª
As fibras do tendão central organizam-se de for- costelas e o processo transverso de Ll. As inser-
ma uniforme, com dois agrupamentos mais evi- ções vertebrais ou cruzes diafragmáticas limitam,
dentes denominados "fitas semi-circulares": fita pelos seus bordos mediais, o hiato aórtico, à frente
semi-circular superior (visível na face superior do qual se cruzam (formando o ligamento arquea-
do músculo, dirigindo-se desde o folíolo anterior do mediano) tornando-se musculares e limitando
para o folíolo direito, limitando atrás e à esquer- o hiato esofágico. Considera-se uma crus direita
da o hiato da veia cava inferior); fita semi-circu- que se origina na face anterior dos corpos L2 e L3,
lar inferior (visível também na face superior do e uma crus esquerda que se origina da face ante-
músculo, mas inferiormente à fita superior, diri- rior do corpo de L2.
gindo-se do folíolo esquerdo para o folíolo direi-
to e limitando, à frente e à direita, o orifício da
veia cava inferior).

130
SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO: TÓRAX E ABDÓMEN

Ligamento Arqueado Medial (Arcada do limitado pela porção fibrosa dos pilares do dia-
fragma que formam uma goteira de concavida-
Psoas)
de anterior denominada "ligamento arcuato me-
O ligamento arqueado medial reúne as inserções diano"); hiato esofágico (situado ao nível de Dl0,
costal e vertebral do diafragma, dando passagem muscular, para passagem do esófago e dos ner-
ao corpo do músculo psoas maior. Esta arcada vos vagos, estando o esquerdo à frente e o direito
efectua-se entre a face lateral do corpo de L2 e a mais posterior em relação ao esófago; localizado
face anterior do apêndice transverso de Ll, conti- à frente do orificio aórtico, limitado pela porção
nuando-se, lateralmente, pelo ligamento arquea- carnuda dos pilares do diafragma).
do lateral (arcada do quadrado lombar) que cor- Além dos orificios principais, o diafragma é perfu-
responde à 3.ª arcada aponevrótica das inserções rado por numerosos orificios secundários que dão
costais. passagem a diversas estruturas vasculares e nervo-
sas, nomeadamente: cadeia simpática transversa;
9 nervo esplâncnico maior; nervo esplâncnico me-
nor; nervo esplâncnico minímo; 7.0 a 11. 0 nervos
intercostais; ramos abdominais dos nervos fréni-
cos; raizes da veia ázigos; veia lombar ascendente;
11 artéria epigástrica inferior.
O diafragma é um músculo inspiratório. As fibras
. carnudas ao contraírem efectuam um abaixamen-
to de tendão central e da cúpula diafragmática, fi-
cando esta com uma concavidade menos acentua-
da. Desta forma ocorre um aumento do diâmetro
13
vertical da cavidade torácica. Os diâmetros ântero-
-posterior e transversal também aumentam devi-
do às inserções do diafragma ao nível das costelas,
que provocam uma elevação destas e consequente-
3 10 12
mente uma projecção anterior e lateral.
Fig. 2.97: Diafragma (vista inferior).
1. Centro frénico 2. Porçao muscular vertebral 3. Corpo vertebral L1
4. M úsculo Psoas maior 5. Músculo quadrado lombar 6. Ligamento
arq ueado mediano 7. Ligamento arqueado medial (arcada do psoas)
8. Ligamento arcuato lateral (arcada do quadrado lombar) 9. Hiato PERGUNTAS TIPO
esofágico 10. Hiato aórtico 11. Hiato da Veia Cava Inferior 12. Pilar
diafragmático es~uerdo 13. Pilar diafragmático direrto
i. Em relação ao diafragma (escolha a falsa):
a. É um músculo digástrico.
ORIFÍCIOS DIAFRAGMÁTICOS b. No orificio esofágico passam os nervos va-
gos e o canal torácico.
O diafragma é atravessado por diversas estrutu- e. O orificio da veia cava inferior é inexten-
ras e como tal é perfurado por múltiplos orifi- sível.
cios, destacando-se três: orificio da veia cava in- d. Os pilares do diafragma limitam o orifi-
ferior (situado ao nível de D9, inextensível, dan- cio aórtico.
do passagem à veia cava inferior por vezes acom- !g-i
panhada pelo ramo abdominal do nervo fréni- :s,1sodsa'M
co direito; localizado no tendão central, na união
dos folíolos anterior e direito, limitado à frente
pela fita semi-circular inferior e atrás e por.den-
tro pela fita semi-circular superior); hiato aórtico
(situado ao nível de D11-Dl2, inextensível, dan-
do passagem à artéria aorta e ao dueto torácico,

131
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Rouviere, H.; Delmas A.Anatomie Humaine:


Descriptive, topographique etfonctionnelle. Tome I.
lSéme édition. Masson, Paris, 2002.
Drake R; Vogl AW; Mitchell AWM; Gray's
Anatomyfor Students. 4th edition. Churchill-
Livingstone, Elsevier, 2019.

***

132
SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO: TÓRAX E ABDÓMEN

o sTEOLOGIA DO ABDÓMEN E PÉLVIS


6

BACIA ÓSSEA

A bacia óssea é uma estrutura constituída pelos


ossos ilíacos (ossos coxais), pelo sacro e o cóccix.
Nela pode-se descrever uma superficie exterior e
interior, assim como uma abertura superior e ou-
tra inferior.
A superfície exterior é constituída pela sínfise pú-
bica, ramo horizontal e descendente do púbis (de-
limitando o foramen isquio-púbico). Mais lateral-
mente apresenta a face glútea do osso ilíaco, o ace-
tábulo, o ramo descendente do ísquion e a tubero-
10
sidade isquiática. Na região mais posterior visuali-
zam-se o sacro e o cóccix. 4 ,, 5

A superfície interna delimita a cavidade pélvica


Fig. 2.98: Bacia Óssea.
e divide-se, ao nível do estreito pélvico superior, 1. Asa ilíaca 2. Estreito pélvico superior 3. Sínfise púbica 4. Foramen
na grande bacia (superior), igualmente denomina- ísquio-púbico 5. Tuberosidade isquiática 6. 5.ª vértebra lombar 7. Sacro
8. Cóccix 9. Promontório 10. Espinha isquiática 11. Ângulo infra-
da por "pélvis falsa'' e a pequena bacia (inferior), púbico 12. Ligamento sacrotuberoso
também conhecida por escavação pélvica ou pél-
vis verdadeira. A abertura (ou estreito pélvico) inferior é delimi-
O estreito pélvico superior consiste num relevo cir- tada, de cada um dos lados, numa disposição de
cular constituído pelo promontório (ângulo forma- anterior para posterior, pela extremidade inferior
do entre o corpo da 5.ª vértebra lombar e o sacro), da sínfise púbica, pelos ramos isquio-púbicos e tu-
bordo anterior das asas do sacro, linha arcuata do berosidades isquiáticas, pelo ligamento sacrotube-
osso ilíaco, pécten do púbis ou linha pectínea, lábio roso (que une a tuberosidade isquiática ao sacro e
posterior do bordo superior do ângulo do púbis e ao cóccix) e pelo vértice do cóccix.
sínfise púbica. Este estreito está num plano oblíquo Existem diferenças muito evidentes entre a bacia
com cerca de 60° em relação ao plano horizontal. masculina e a feminina, resultante sobretudo da
A grande bacia é delimitada pelas asas do sacro e adaptação desta última ao trabalho de parto.
pelas faces sacropélvicas do osso ilíaco. Assim, as paredes da bacia feminina são menos
A pequena bacia (ou escavação pélvica) situa- se espessas e consequentemente menos resistentes.
abaixo do estreito pélvico superior, sendo delimi- Apresenta também um estreito pélvico superior
tada anteriormente pela face posterior da sínfise mais aberto e um estreito pélvico inferior e esca-
púbica e pela face medial da porção óssea do fora- vação pélvica mais largos. A sínfise púbica é mais
men obturado. Lateralmente apresenta as superfí- baixa e a concavidade sacro-coccígea mais acen-
cies relacionadas com o acetábulo. O limite pos- tuada. O ângulo infra-púbico e a incisura ciática
terior é constituído pela face anterior do sacro e maior são mais abertos. Os foramens obturados
cóccix. Pode-se identificar a este nível um estrei- são maiores e triangulares no homem, sendo ovais
to pélvico médio representado por uma linha que nas mulheres.
une a articulação entre a 4.ª e S.•s vértebras sagra- Mas as diferenças não ocorrem apenas entre o
das e o 1/3 inferior da sínfise púbica. sexo masculino e feminino. Também existe varia-
A abertura pélvica superior é circunscrita pela ex- ção dentro do mesmo sexo. Embora não haja evi-
tremidade superior da sínfise púbica, bordo ante- dência da existência de uma relação com a altu-
rior dos ilíacos, crista ilíaca e bordo posterior da ra individual, verifica-se que mulheres mais baixas
asa do sacro e promontório. apresentam uma pélvis mais alargada.

133
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

A bacia, sendo um local onde são exercidas diver- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


sas pressões, origina um complexo jogo de for-
ças que convergem, por intermédio da disposição Rouviêre, H.; Delrnas A.Anatomie Humaine:
das trabéculas ósseas, ao nível da cabeça do fémur. Descriptive, topographique etfonctionnelle. Tome I.
Apresenta funções na distribuição do peso do cor- 1Séme ed, Masson, 2002
po e na sua mobilidade, principalmente durante o J.A. Esperança Pina. Anatomia Humana da
trabalho de parto. Locomoção. 4.ª Edição. Lidel, 2010

NOÇÕES DE ANATOMIA CLÍNICA


•••
Em circunstâncias traumáticas podem ocorrer
fracturas da bacia (geralmente associadas e trau-
matismos envolvendo grande energia cinética). Se
a fractura ocorrer ao nível da pequena bacia pode
tornar-se clinicamente mais grave. Esta situação
surge nas áreas mais frágeis, nomeadamente ao ní-
vel dos ramos do púbis. Se a fractura for bilateral,
fragmentos ósseos podem lesar diversas estruturas
limítrofes como a bexiga, a uretra, o útero, o recto
ou os vasos ilíacos.

PERGUNTAS TIPO

1. Qyal das seguintes estruturas NÃO contribui


para limitar o estreito pélvico inferior?
a. Sínfise Púbica
b. Ligamento Sacroespinhoso
c. Ligamento Sacrotuberoso
d. Ramo Isquio-púbico
e. Tuberosidade Isquiática

2. Assinale a afirmação FALSA acerca das di-


ferenças entre a bacia feminina e masculina:
a. As paredes da pélvis feminina são menos
resistentes
b. A pélvis masculina apresenta um estreito
superior mais largo
c. O estreito pélvico inferior é mais largo no
sexo feminino
d. O ângulo infra-púbico é menos aberto na
pélvis masculina
e. O foramen ísquio-púbico é oval na pélvis
feminina
'.g-l '.g-1
:si,1sodsa11

134
SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO:TÓRAX E ABDÓMEN

ARTROLOGIA DO ABDÓMEN E PÉLVIS truturas ligamentares estão mais desenvolvidas na


parte posterior. No sexo feminino, devido a fisiolo-
Os ossos ilíacos (ossos coxais) estão unidos em si gia do parto, estes ligamentos são mais laxos.
or diversas articulações e ligamentos. A articu- São ainda considerados como meios de união o li-
ia ão entre eles é feita através da sínfise púbica, gamento sacro-ilíaco anterior e o ligamento sacro-
se~do a sua ligação ao sacro feita pelas articula- -ilíaco posterior. Pode ainda ser considerado o li-
ões sacro-ilíacas e pelos ligamentos sacro-ciáti- gamento ílio-lombar que se une ao ligamentosa-
~os. Existe ainda uma fina membrana que cobre cro-ilíaco posterior.
0
forarnen obturado (buraco ísquio-pubico) deno-
minada "membrana obturadora''. Ligamento sacro-ilíaco anterior

Este ligamento (Fig. 2.103) confunde-se com a


ARTICULAÇÃO SACRO-ÍLIACA cápsula articular e insere-se ao nível da base e face
anterior do sacro (medialmente) e na fossa ilía-
Esta articulação estabelece a união entre o sacro e ca interna ou superfície sacropélvica (lateralmen-
0osso ilíaco (coxal), contribuindo para a formação te). Podem ser destacados dois feixes ao nível das
da bacia óssea. suas extremidades: feixes ântero-superior e ânte-
ro-inferior.
ClASSIFICAÇÃO
Ligamento sacro-ilíaco posterior
Esta articulação tem características únicas. Sen-
do a maior articulação axial do corpo humano Os feixes deste ligamento inserem-se ao nível
apresenta uma enorme variabilidade interpes- mais posterior da crista ilíaca e lateralmente nos
soal no que diz respeito ao tamanho e forma das tubérculos junto aos buracos sagrados posteriores.
suas superfícies articulares. Inicialmente era clas- Consideram-se três planos ligamentares: superfi-
sificada como uma anfiartrose devido ao revesti- cial, médio e profundo.
mento fibrocartilagíneo das superfícies articula- No plano superficial (Fig. 2.101) os feixes inse-
res mas actualmente é considerada uma diartrose rem-se na região póstero-superior da tuberosidade
cujas superfícies articulares apresentam uma for- ilíaca e na crista sagrada intermédia. Estes podem
ma auricular. ser denominados "ligamentos ílio-articulares". Na
inserção ilíaca estes feixes estão intimamente rela-
SUPERFÍCIES ARTICUlARES cionados com os ligamentos do plano médio.
O plano médio (Fig. 2.100) é composto por feixes
As superfícies articulares são as facetas auriculares denominados por "ligamentos ílio-transversários"
do sacro e do ilíaco (osso coxal). uma vez que se inserem ao nível da crista e tubero-
A faceta auricular do sacro é côncava sendo a su- sidade ilíacas e na crista sagrada lateral (vestígios
perfície correspondente do ilíaco convexa. dos processos transversos das vértebras sagradas).
Estas, são revestidas por uma camada fibrocarti- São considerados quatro ligamentos ilío-trans-
lagínea mais superficialmente e por cartilagem versários. O mais superficial é o ligamento ílio-
hialina mais profundamente. -transverso sagrado que liga a porção mais pos-
terior da crista ilíaca ao primeiro processo trans-
MEIOS DE UNIÃO verso do sacro.
Os restantes feixes ligamentares inserem-se na
Esta articulação apresenta uma cápsula articular, tuberosidade ilíaca e nos tubérculos conjugados
revestida interiormente por uma membrana sino- do sacro. São difíceis de diferenciar devido à sua
vial. Esta é rudimentar ou ausente na porção mais sobreposição parcial. São considerados o primei-
posterior da articulação, sendo apenas evidente a ro, segundo, terceiro e quarto ligamentos ílio-
sua existência no 1/3 anterior. Por este facto as es- -transversos conjugados.

135
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

11 6 8

10
3

9
5

Fig. 2.99: Articulações e ligamentos da bacia (interósseo).


1. Crista sagrada mediana 2. Crista sagrada medial 3. Crista sagrada
lateral 4. Foramen sagrados posteriores 5. Cóccix 6. s.• vértebra
lombar 7. Fossa ilíaca 8. Tuberosidade ilíaca 9. Tuberosidade
isquiática 10. Ligamentos ilio-transversos 11. Ligamento interósseo

Fig. 2.101: Articulações e ligamentos da bacia filio-articulares).


1. Crista sagrada mediana 2. Crista sagrada medial 3. Cócchc;
4. s.• vértebra lombar 5. Fossa ilíaca 6. Crista ilíaca 7. Tuberosidade
isquiática 8. Ligamentos ilio-articulares 9. Ligamento ilio-lombar
1O. Ligamento sacro-tuberoso 11. Ligamento sacrerespinhoso
10 12. Ligamento sacro-coccígeo posterior 13. Ligamento sacro-coccígeo
lateral
4

O plano mais profundo (Fig. 2.102) é apenas


constituído pelo ligamento interósseo que se in-
12
sere lateralmente na tuberosidade ilíaca e medial-
mente nas duas primeiras fossas crivosas do sa-
3
cro.
15
Ligamento ílio-lombar
14

Os ligamentos ilio-transversos sagrados (Fig.


2.100) continuam-se superiormente por um fei-
xe ílio-transverso lombar inferior e outro superior.
O inferior estende-se do processo transverso da
5.• vértebra lombar à porção posterior da crista
ilíaca. O superior, embora menos relevante, inse-
Fig. 2.100: Articulações e ligamentos da bacia (ilio-transversos). re-se ao nível do processo transverso da 4.ª vér-
1. Crista sagrada mediana 2. Crista sagrada medial 3. Crista sagrada
lateral 4. Foramen sagrados posteriores 5. Cóccix 6. s.• vértebra tebra lombar e também na crista ilíaca. Os feixes
lombar 7. Fossa ilíaca 8. Tuberosidade isquiática 9. Ligamentos ilio- mais mediais do ligamento ílio-lombar inserem-
transversos 1O. Ligamento ilio-transverso sagrado 11 . Ligamento ilio-
lombar 12. Ligamento saao-tuberoso 13. Ligamento sacro-espinhoso -se ao nível do sacro e na extremidade posterior
14. Ligamento sacro-coccígeo posterior 15. ligamento sacro-coccígeo da linha arcuata.
lateral

136
>
SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO:TÓRAX E ABDÓMEN

4
LIGAMENTOS SACRO-CIÁTICOS

Os ligamentos sacro-ciáticos situam-se no inter-


valo existente na porção póstero-lateral da peque-
na bacia, entre o sacro e o ilíaco. Estas lâminas fi-
brosas distinguem-se em ligamento sacrotubero-
so e ligamento sacroespinhoso, dispondo-se bila-
teralmente em relação à linha média (Fig. 2.103).

Ligamento Sacrotuberoso (Grande liga-


mento sacro-ciático)

Superiormente este ligamento insere-se ao nível


das espinhas ilíacas póstero-superiores e póstero-
-inferiores, na porção mais posterior da fossa ilía-
6 ca externa ou superficie glútea, ao nível do bor-
Fig. 2.102: Ligamnetos posteriores.
do lateral do sacro e nas duas primeiras vértebras
1. Sacro 2. Osso ilíaco 3. Tuberosidade ilíaca 4. Sínfise púbica 5. Canal coccígeas.
sagrado 6. Ligamentos sacro-ilíacos posteriores
Dirige-se então lateral, anterior e inferiormente,
numa posição quase vertical e insere-se no bordo
SINOVIAL medial da tuberosidade isquiática. Da face poste-
rior deste ligamento destacam-se alguns feixes do
É irregular e reveste interiormente a cápsula ar- músculo glúteo máximo.
ticular.
Ligamento'-Sacroespinhoso (Pequeno liga-
NOÇÕES DE ANATOMIA CLÍNICA mento sacro-ciático)

A função desta articulação consiste na dispersão Este situa-se anteriormente em relação ao liga-
das forças de carga, exercidas ao longo da colu- mento sacrotuberoso. O ligamento tem uma for-
na vertebral, nomeadamente no segmento lombar, ma triangular de base medial e cruza obliquamen-
para os membros inferiores, limitação da rotação te a direcção do ligamento sacrotuberoso.
no eixo horiwntal e facilitação do trabalho de par- Insere-se nos bordos laterais do sacro e cóccix, ao
to. Em relação com a coluna lombar, esta articula- nível das duas últimas vértebras sagradas e duas
ção é mais resistente a forças executadas directa- primeiras coccígeas. Dirige-se então para fora e
mente mas mais sensível a forças de torção. Des- para a frente inserindo-se no vértice da espinha
te modo, o mecanismo para lesar esta articulação ciática.
passa por uma elevada carga axial associada a fe- Na porção mais anterior o ligamento forma-se a
nómenos de rotação, podendo originar queixas ál- partir da transformação fibrosa dos feixes muscu-
gicas a esse nível. As causas dessa dor podem ser lares posteriores do músculo ísquio-coccígeo.
de etiologia articular como também extra-articu- Devido à sua disposição, o intervalo compreendi-
lar. No que diz respeito a situações de origem ar- do entre o ilíaco e o bordo lateral do sacro e do
ticular são exemplos a infecção ou a artrite. Cau- cóccix divide-se em dois orifícios: superior e infe-
sas extra-articulares são mais comuns das quais rior (Fig. 2.106).
são exemplos a entesopatia (inflamação no local
de inserção óssea de um ligamento ou músculo), Orifício superior. Foramen Ciático Maior
as fracturas ou lesões ligamentares.
Este é o orificio de maior dimensão sendo forma-
do pela incisura ciática maior (superior e lateral-

137
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

7 6

Fig. 2.103: Articulações e ligamentos anteriores da bacia + Fig. 2.104: Sínfise púbica.
1. Sacro 2. Foramen sagrados anteriores 3. Cóccix 4. Osso ilíaco 5. Crista ilíaca 6. Espinha isquiática 7. Tuberosidade isquiática 8. s:• vértebra
lombar 9. Apófise transversa das.• vértebra lombar 10. Ligamento sacro-ilíaco anterior 11. Ligamento ilio--lombar 12. ligamento sacrotuberoso
13. Ligamento sacroespinhoso 14. Foramen ciático maior 15. Forarnen ciático menor 16. Ligamento sacro-coccígeo anterior 17. Ligamento
longitudinal anterior

mente), ligamento sacrotuberoso (medialmente) e espaço compreendido entre as duas superficies ar-
ligamento sacroespinhoso (inferiormente). Neste ticulares maior na região anterior.
orificio passa o músculo piriforme e os pedículos
vásculo-nervosos da região glútea. MEIOS DE UNIÃO

Orifício inferior. Foramen Ciático Menor São considerados como meios de união desta ar-
ticulação o ligamento interósseo e à sua volta uma
Os seus limites são a incisura ciática menor (la- manga fibrosa periférica.
teralmente), ligamento sacrotuberoso (inferior e
medialmente) e ligamento sacroespinhoso (supe- Ligamento interósseo
riormente). Este é atravessado pelo músculo obtu-
rador interno, pelos vasos e nervos pudendas in- Constituído por fibrocartilagem, estende-se en-
ternos e nervo obturador interno. tre as duas superfícies articulares, sendo mais es-
pesso à frente que atrás.
A porção central deste ligamento contém no
SÍNFISE PÚBICA adulto uma cavidade assinovial, situada na por-
ção mais posterior. Este ligamento apresenta um
Esta articulação resulta da umao anterior dos elevado conjunto de fibras na região mais perifé-
dois ossos ilíacos (coxais), ao nível do púbis (Fig. rica que se cruzam com os feixes vizinhos.
2.104). É classificada como uma anfiartrose. Este ligamento é mais espesso no sexo femini-
As suas superfícies articulares correspondem às no, tornando-se mais laxo durante a gravidez, da
faces sinfisiais, situadas ao nível do bordo medial mesma forma que aumenta o tamanho da cavi-
das lâminas quadriláteras do púbis, estando cober- dade articular.
tas por cartilagem hialina. Estas superficies apre-
sentam uma forma elíptica talhada obliquamente,
com uma inclinação para baixo e para trás, sendo o

138
SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO: TÓRAX E ABDÓMEN

4
Manga fibrosa periférica

Este conjunto de fibras situa-se em torno do li-


arnento interósseo e podem-se distinguir qua-
g . . . .
tro ligamentos: antenor, postenor, supen or e in-
ferior (Fig. 2.104).
Ligamento anterior - Situa-se anteriormente à
sínfise púbica, é espesso e forma-se a partir de fi-
bras tendinosas dos músculos vizinhos.
Ligamento posterior - Insere-se no púbis na por-
ção posterior da sínfise púbica, sendo contínuo
com o periósteo.
2
Ligamento superior - Situa-se na porção superior
da sínfise púbica, inserindo-se também no púbis
bilateralmente.
Ligamento inferior ou ligamento arqueado - In-
sere-se nos ramos inferiores do púbis, situando-
8 9
-se numa posição mais inferior em relação à sínfi-
se púbica. Está em continuidade com o ligamen- Fig. 2.105: Membrana obturadora (vista medial).
1. Sacro 2. Canal sagrado 3. 5.ª vértebra lombar 4. Disco intervertebral
to interósseo. LS-S1 5. Ligamento sacrotuberoso 6. Ligamento sacroespinhoso
Esta articulação é uma articulação praticamen- 7. Ramo horizontal do púbis 8. Ramo descendente do púbis
9. Tuberosidade isquiática 10. Membrana obturadora 11. Canal infra-
te imóvel, excepto no final da gravidez, quando as
púbico
partes moles da bacia se tornam mais laxas, au-
mentando assim a mobilidade das articulações o
que permite a execução de pequenos movimentos
da bacia no período do parto.

MEMBRANA OBTURADORA

Esta membrana consiste numa lâmina fibrosa que


encerra na sua quase totalidade o buraco ísquio-
-púbico ou obturado (Fig. 2.105). É constituída
por fibras que se entrecruzam em todos os planos
do espaço.
Na região do sulco obturador (goteira infra-púbi-
ca) existe uma abertura que forma o canal obtura- 6
dor ou infra-púbico, onde passam os vasos e ner-
vos obturadores.
A membrana obturadora insere-se em toda a volta
do buraco obturador e ao nível dos tubérculos ob-
turadores anteriores e posteriores. Inferior e pos-
teriormente esta está inserida na face medial do
ramo isquio-púbico afastando-se superiormente
do buraco obturador fixando-se na crista tubercu-
Fig. 2.106: Membrana obturadora (vista lateral).
lar. Apresenta um bordo livre superiormente en- 1. Ligamento sacrotuberoso 2. Ligamento sacroespinhoso 3. Foramen
tre o lábio posterior do sulco obturador e a cris- ciático maior 4. Foramen ciático menor 5. Acetábulo 6. Ligamento
transverso do acetábulo 7. Membrana obturadora 8. Canal infra-
ta tubercular. púbico

139
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

2. No que diz respeito as articulações da bacia


(assinale a falsa):
a. São considerados como meios de união
da sínfise púbica o ligamento interósseo e
uma manga fibrosa periférica.
b. O ligamento sacroespinhoso situa-se mais
posteriormente em relação ao ligamento
sacrotuberoso.
c. Os ligamentos sacro-ciáticos situam-se na
porção póstero-lateral da pequena bacia.
d. A membrana obturadora apresenta uma
abertura que forma o canal obturador.
e. O canal infra-púbico é limitado pela fita
infra-púbica.
!g-z: !:)-!
:smsodso"M

Fig. 2.107: Membrana obturadora (vista anterior).


1. Sínfise púbica 2. Ligamento transverso do acetábulo 3. Membrana
obturadora 4. Fita infra-púbica 5. Canal obturador 6. Ligamento
inguinal
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Apresenta um reforço superficial e lateral, atra- Rouviêre, H.; Delrnas A.Anatomie Humaine:
vés de outra membrana fibrosa denominada "fita Descriptive, topographique etfonctionnelle. Tome I.
infra-púbica'', que se insere no ligamento trans- 15éme édition, Masson, Paris, 2002.
verso do acetábulo e no tubérculo obturador an- Steven P. Cohen. "Sacroiliac]oint Pain:A
terior e face anterior do púbis (Fig. 2.107). Esta comprehensive R eview ofAnatomy, Diagnosis and
fita está unida pelo seu bordo inferior à membra- Treatment~ Anesth Analg 2005, 101:1440-53
na obturadora apresentando um bordo superior
livre que contribui para a formação do pavimen- J.A. Esperança Pina. Anatomia Humana da
to do canal obturador. Locomoção, 5.ª Edição, Lidei, 2015.

• ••
PERGUNTAS TIPO

Sugerem-se duas perguntas com apenas uma res-


posta certa. Assinale-a:

1. No que diz respeito a articulação sacro-ilíaca


(assinale a falsa):
a. As suas superfl:cies articulares apresentam
uma forma auricular.
b. A sua sinovial é irregular e reveste inte-
riormente a cápsula articular.
c. No ligamento sacro ilíaco anterior consi-
deram-se três planos ligamentares.
d. Pode ser considerada uma diartrose.
e. Articula o osso ilíaco ao sacro.

140
SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO:TÓRAXEABDÓMEN

MIOLOGIA DO ABDÓMEN lizam-se mais inferiormente (Fig. 2.108). O corpo


muscular dirige-se para baixo e para a frente, inse-
rindo-se inferiormente no terço anterior da crista
MÚSCULOS DA PA,REDE ÂNTERO- ilíaca e prolongando-se para dentro por uma apo-
LATERAL DO ABDOMEN nevrose de inserção que se continua na linha mé-
dia com a do lado oposto, passando anteriormente
A parede ântero-lateral do abdómen é constituí- ao músculo recto abdominal (contribuindo para a
da por quatro músculos pares: três músculos lar- formação da bainha dos rectos abdominais). (Fig.
gos (oblíquo externo, oblíquo interno e transverso 2.108) Inferiormente, a aponevrose do músculo
abdominal) e o músculo recto abdominal. Por ve- insere-se sobre o púbis (através dos pilares do ori-
zes existe um outro músculo, inconstante, o mús- fício inguinal superficial), cobrindo anteriormente
culo piramidal. a região inguinal.
Consideram-se três pilares: lateral, medial e pos-
terior. O pilar lateral insere-se no tubérculo púbi-
MÚSCULOS LARGOS DO ABDÓMEN co. O pilar medial cruza a linha média e insere-se
na face anterior do púbis e tubérculo púbico con-
Os músculos largos do abdómen dispõem-se em tra-lateral. O pilar posterior (ligamento de Colles
três planos sobrepostos sendo, da superfície para a ou ligamento inguinal reflectido) também cruza a
profundidade: oblíquo externo, oblíquo interno e linha média e insere-se no tubérculo púbico (atrás
transverso abdominal. da lateral medial do lado oposto) e no pécten pú-
bico (crista pectínea), atrás do ligamento lacunar
MÚSCULO OBLÍQUO EXTERNO (Fig. 2.112).
A arcada crural consiste numa lâmina fibrosa que
É o mais superficial dos músculos largos do abdó- se estende da espinha ilíaca ântero-superior ao tu-
men, inserindo-se superiormente nas sete a oito bérculo do púbis, sendo composta por fibras pró-
últimas costelas; nestas, as inserções mais anterio- prias e fibras aponevróticas do músculo oblíquo
res são mais superiores e as mais posteriores loca- externo (Fig. 2.115). As fibras próprias consti-

Fig. 2.108: Músculo obliquo externo.


1. Crista ilíaca 2. Espinha ilíaca ântero-superior 3. lncisura inominada 4. Tubérculo púbico 5. Ligamento inguinal 6. Sínfise Púbica 7. Unha branca
8. Costela 9. Músculo oblíquo externo 10. Aponevrose de inserção do oblíquo externo

141
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

tuem o denominado "ligamento inguinal". As fi-


bras aponevróticas mais inferiores do músculo
oblíquo externo envolvem as fibras próprias da ar-
cada crural, formando assim uma goteira de con-
cavidade superior. O leito desta goteira é consti-
tuída por fibras próprias da arcada, sendo reforça-
da posteriormente por uma lâmina fibrosa deno-
minada "fita ílio-púbica (Thompson)".
As fibras mais inferiores da pilar lateral inserem-
-se ao nível do crista pectínia constituindo o liga-
mento lacunar (Gimbernat). O bordo lateral des-
te ligamento, livre, corresponde ao limite medial
do anel crural e as fibras mais laterais formam, ao
longo do pécten púbico com o periósteo, um es-
pessamento fibroso denominado "ligamento pec-
tíneo (Cooper)".

MÚSCULO OBLÍQUO INTERNO

Fig. 2.109: Músculo obliquo interno.


Constitui o plano médio dos músculos largos do 1. Crista ilíaca 2. Espinha ilíaca ântero-superior 3. lncisura inominada
abdómen. Este músculo insere-se superiormen- 4. Tubérculo púbico 5. Ligamento inguinal 6. Costela 7. Músculo
oblíquo interno 8. Aponevrose de inserção do oblíquo interno 9.
te ao nível da 10.ª, 11.ª, e 12.ª costelas por fibras Tendão conjunto
carnudas, que irradiam da inserção inferior ao ní-
vel dos ¾ anteriores da crista ilíaca (por vezes es- MÚSCULO TRANSVERSO ABDOMINAL
tendendo-se até ao ¼ posterior) e do 1/3 exter-
no da arcada crural (Fig. 2.109). Mediaimente o É o músculo mais profundo da parede ântero-la-
músculo continua-se por uma aponevrose de in- teral do abdómen. Insere-se, atrás, nos seis últi-
serção que contribui para a formação da bainha mos arcos costais, na crista ilíaca e nos processos
dos rectos abdominais (nos ¾ superiores o folhe- transversos das quatro primeiras vértebras lomba-
to aponevrótico divide-se em 2 folhetos passan- res (através da sua aponevrose de origem) e, à fren-
do um anterior e outro posteriormente ao músculo te, termina através de uma aponevrose de inser-
recto abdominal, enquanto que no seu ¼ inferior ção, que participa na formação da bainha dos rec-
ambos os folhetos passam anteriormente a este) tos abdominais (nos ¾ superiores o folheto apo-
(Fig. 2.109). A porção inferior da aponevrose de nevrótico passa posteriormente ao músculo recto
inserção insere-se ao nível do púbis e sobre a arca- abdominal e no ¼ inferior passa à frente do mes-
da crural, passando as fibras inferiores do múscu- mo). Inferiormente, a aponevrose de inserção in-
lo por cima e por trás do cordão espermático/liga- sere-se sobre o púbis,junto à inserção do músculo
mento redondo (conforme o género). Esta inser- oblíquo interno. Estes feixes inferiores nascem da
ção é muito próxima à correspondente do músculo arcada crural, passam por cima e por trás do cor-
transverso abdominal, considerando-se por vezes dão espermático/ligamento redondo, e unem-se às
ser única, atribuindo-se o nome de tendão conjun- fibras do oblíquo interno, que são mais anteriores,
to (foice inguinal) à fusão do oblíquo interno e do formando o tendão conjunto (foice inguinal). Este
transverso abdominal nas suas porções inferiores. une-se, segundo uma linha de inserção contínua,
Qyando atravessa a parede abdominal, o cordão ao púbis e sua sínfise, tubérculo púbico e pécten
espermático arrasta consigo fibras do oblíquo in- púbico (esta última inserção é feita através do liga-
terno e do transverso abdominal, formando assim mento lacunar). Algumas fibras inferiores unem-
o músculo cremáster lateral (Fig. 2.109). -se às análogas do músculo oblíquo interno para
formarem o músculo cremáster externo.

142
SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO: TÓRAX E ABDÓMEN

Embora todos os músculos da parede ântero-late- MÚSCULO RECTO ABDOMINAL


ral do abdómen apresentem um fino revestimen-
to fibroso, deve-se realçar um folheto aponevróti- Estende-se, de cada lado da linha média, da porção
co, que cobre essencialmente a face profunda do ântero-inferior do tórax até ao púbis (Fig. 2.111).
músculo transverso abdominal, denominada "fas- Insere-se superiormente na 5.•, 6.ª e 7.• cartilagens
cia transversalis". Esta é reforçada pela fita ílio-pú- costais e inferiormente no púbis (desde o tubérculo
bica (Thompson), ligamento inguinal de Henlé e até à sínfise púbica). Esta inserção é realizada por
ligamento interfoveolar (Hesselbach). 2 feixes (um medial e outro lateral), sendo o late-
ral o mais largo. As fibras mais superficiais do fei-
xe medial cruzam, na face anterior da sínfise púbi-
ca, com as do lado oposto e as mais profundas per-
dem-se na extremidade inferior da linha branca.
Destaca-se, para fora do feixe lateral, o ligamento
inguinal de Henlé, que possui um bordo lateral li-
vre e um bordo inferior inserido ao nível do tubér-
culo púbico e pécten púbico; este feixe ligamen-
tar dispõe-se anteriormente ao tendão conjunto.
O músculo recto abdominal forma uma coluna
muscular vertical e forte envolvida numa bainha
aponevrótica inextensível constituída pelo prolon-
gamento das aponevroses de inserção dos múscu-
los largos. A bainha aponevrótica que envolve os
rectos abdominais na parede posterior apresenta
uma constituição diferente nas porções mais supe-

Fig. 2.110: Músculo transverso abdominal.


1. Crista ilíaca 2. Espinha ilíaca ântero•superior 3. lncisura inominada
4. Tubérculo púbico 5. Ligamento inguinal 6. Sínfise Púbica 7. Unha
branca 8. Costela 9. Músculo transverso abdominal 10. Aponevrose
de inserção do transverso abdominal 11. Tendão conjunto 12. Linha
arcuata

Acção 10

Os 3 músculos largos constituem uma unidade


funcional que protege e sustenta as vísceras ab-
dominais, sendo também flexores e rotadores do
tronco ou da pélvis, consoante o ponto fixo seja
a pélvis ou a grelha costal, respectivamente. Ten-
do em atenção a pressão que, através das vísceras
abdominais, podem exercer sobre o diafragma, são
também músculos expiratórios acessórios. 2

Fig. 2.111: Músculo recto abdominal.


1. Tubérculo púbico 2. Sínfise Púbica 3. Linha branca 4. Umbigo 5.
Apêndice xifóide 6. Cartilagens costais 7. Músculo recto abdominal
8. Pilar lateral 9. Pilar medial 10. Interseção tendinosa

143
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

riores em relação as inferiores, sendo tendinosa em


cima e fibro-celular em baixo. A zona de transição
entre estas duas regiões é denominada "linha ar-
cuata (arcada de Douglas)" (Fig. 2.110). O corpo
muscular apresenta três a cinco intersecções ten-
dinosas de largura e espessura variáveis, razão pela
qual é considerado um músculo poligástrico. Os
dois grandes rectos estão separados, na linha mé-
dia, pela linha branca.

MÚSCULO PIRAMIDAL

Este pequeno músculo inconstante, triangular de


vértice superior situa-se à frente da porção inferior
do recto abdominal e está contido na sua bainha
fibrosa. Insere-se em cima na linha branca e em
baixo no tubérculo púbico e sínfise púbica (Fig.
2.112). Fig. 2.113: Hérnias da região anterior do abdomen.
1. Hérnia umbilical 2. Hérnia de linha branca suprawumbilical 3. Hérnia
paramediana 4. Hérnia inginal

Os pontos fracos da parede abdominal podem


3 ocorrer devido a um ou mais dos seguintes defei-
tos musculo-aponevróticos:
• Sobreposição imperfeita dos planos musculo-
-aponevróticos;
• Intersecção aponevrótica;
• Parede abdominal atravessada por elementos
viscerais;
• Parede abdominal atravessada por elementos
vasculo-nervosos.

Nessas áreas, se a pressão intra-abdominal ultra-


passar a resistência da parede abdominal, pode
6 surgir uma protusão de conteúdo visceral abdomi-
nal através desse ponto, dando origem a hérnias.
Fig. 2.112: Arcada Crural.
1. Tubérculo púbico 2. Sínfise Púbica 3. Linha branca 4. Umbigo 5. Como exemplo de locais em que a parede ab-
Apêndice xifóide 6. Cartilagens costa is 7. Músculo recto abdominal dominal é atravessada por elementos viscerais
8. Pilar lateral 9. Pilar medial 1O. Interseção tendinosa
enunciamos a região inguino-crural. Nesta região
temos, a nível inguinal, o local de passagem do
PONTOS FRACOS DA PAREDE cordão espermático no homem e do ligamento
ABDOMINAL redondo na mulher. A nível crural temos a pas-
sagem do pedículo vásculo-nervoso do membro
A parede abdominal é essencialmente constituí- inferior.
da por músculos e respectivas aponevroses, à ex- Regiões onde os orificios naturais têm importân-
cepção das regiões superiores e inferiores, que são cia dominante, mas em que a fragilidade estrutural
também parcialmente constituídas pela grelha também contribui de forma significativa são: dia-
costal e bacia, respectivamente. fragma, onde passa a aorta, o esófago e outras es-

144
SISTEMA LOCOMOTOR J TRONCO:TÓRAX E ABDÓMEN

trllruras vásculo-nervosas e o períneo, onde pas- dentro, bordo medial do músculo iliopsoas, por
sam os segmentos perineais dos aparelhos uriná- fora, e ramo horizontal do púbis (ou ílio-púbico)
rio, genital e digestivo (Fig. 2.113). inferiormente, determinando um hiato (bura-
Exemplos de zonas onde a fragilidade depende es- co músculo-pectíneo), considerado a verdadeira
sencialmente da sobreposição imperfeita dos pla- zona de fraqueza do região inguinal (Fig. 2.114).
nos musculo-aponevróticos ou de intersecções O limite posterior deste hiato é apenas encerra-
aponevróticas, enunciamos a linha branca, a linha do pela lâmina de tecido conjuntivo, cuja resis-
semilunar (Spiegel), o triângulo lombar inferior e tência pode ser muito variável de indivíduo para
triângulo lombar superior. indivíduo, denominada "fascia transversalis." Esta
0
Os locais onde se procederam a incisões cirúrgicas região torna-se especial no Homem devido a sua
também são mais susceptíveis à formação de pro- fraqueza relativa resultar do ortostatismo (isto é,
tusões herniárias, neste caso denominadas "hér- com a passagem ao bipedismo, o bordo inferior
nias incisionais". do oblíquo interno migrou para cima, afastan-
Onde existem músculos, podemos aumentar a re- do-se do ramo horizontal do púbis, aumentando
sistência com a hipertrofia dos mesmos ou di- o buraco músculo-pectíneo e, por conseguinte, a
minui-la através da atrofia. Relativamente a zo- área de fraqueza da parede).
nas onde não há músculos, não podemos influen- O buraco músculo-pectíneo é atravessado verti-
ciar a resistência da parede que depende essencial- calmente, na sua parte lateral e inferior, pelo eixo
mente da constituição estrutural de cada indiví- vertical dos vasos ílio-femorais e, obliquamente
duo, podendo apresentar defeitos ou tornarem-se para baixo, para dentro e para diante, pelos ele-
mais flácidas com a idade. mentos do cordão espermático no homem e liga-
O s pontos fracos que têm maior importância são mento redondo na mulher.
os da região inguino-crural, onde se desenvol- O buraco músculo-pectíneo é dividido pela arca-
vem a grande maioria das hérnias (86%) no Ser da crural em canal inguinal e anel crural, respec-
H umano, sendo limitada pelo bordo inferior dos tivamente acima e abaixo da arcada. A fita ílio-
músculos oblíquo interno e transverso abdominal, -púbica de Thompson, que é classicamente descri-
por cima, bordo lateral do recto abdominal, por ta como um reforço do bordo posterior da arca-

Fig. 2.114: Região inguinal. Fig. 2.115: Região inguinal.


1. Tubérculo púbico 2. Espinha ilíaca ântero-superior 3. Ligamento 1. Aponevrose de inserção do músculo oblíquo externo 2. Arcada
ínguinal 4. Músculo llio-psoas 5. Nervo femoral 6. Músculo transverso crural 3. Ligamento inguinal (Poupart) 4. Músculo oblíquo interno
abdominal 7. Buraco musculo-pectíneo 8. Ponto fraco inguinal 9. 5. Músculo transverso abdominal 6. Fáscia transversalis 7. Tracto
Ponto fraco crural 10. Vasos femorais 11. Músculo recto abdominal ilio-púbico (Thompson) 8. Cordão espermático 9. Orifício inguinal
12. Vasos epigástricos inferiores profundo

145
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

da crural, estreita-se na sua porção média à frente 5


4
dos vasos femorais e alarga-se nas duas extremida-
des. A extremidade externa perde-se na fáscia ilía-
ca e a extremidade interna confunde-se com o li- 12
gamento de Henlé e a parte anterior da bainha dos
grandes rectos.

Ponto fraco inguinal 3

O triângulo inguinal é limitado, superiormente,


pelo ligamento interfoveolar, inferiormente pela
arcada crural, a base corresponde ao bordo late-
ral da bainha do recto abdominal e o vértice cor- 2 10
6
responde ao orifício profundo do canal inguinal,
Fig. 2.116: Região inguinal (Triângulo de Hesselbach).
onde emerge o cordão espermático/ligamento re- 1. Músculo recto abdominal 2. Ramo horizontal do púbis 3. Músculo
dondo. Nesta área apenas existe a fascia tramver- llio·psoas 4. Ligamento inguinal 5. Músculo transverso abdominal
salis profundamente ao buraco musculo-pectíneo 6. Ligamento lacunar 7. Ligamento interfoveolar 8. Vasos ilíacos
externos 9. Vasos epigástricos inferiores 10. Artéria obturadora
(Fig. 2.116). 11. Trígono inguinal (Hesselbach) 12. Vasos espermáticos/ovários
O canal inguinal tem uma orientação oblíqua de
fora para dentro, de trás para diante e de cima para Este ponto fraco é responsável por 75% das hér-
baixo e consideramos neste canal quatro paredes nias em geral e 50% destas desenvolvem-se ao lon
e dois orifkios em cada uma das suas extremida- godo canal inguinal, sendo chamadas "hérnias in-
des, respectivamente (Fig. 2.115). O orifício super- directas", e 25% desenvolvem-se pelo triângulo in-
ficial, também denominado "anel inguinal", é limi- guinal (parede posterior do canal inguinal), sendo
tado pelos pilares medial e lateral da aponevrose chamadas "hérnias directas".
de inserção do oblíquo externo. O orifício profun- Foi Henry O. Marcy de Boston o 1.0 cirurgião, a
do situa-se acima da porção média da arcada cru- chamar a atenção da importância da fascia trans-
ral, sendo limitado pela linha de reflexão da f ascia versalis na reparação das hérnias inguinais e tendo
transversalis e mais inferiormente pelo ligamento descrito o encerramento do orifício profundo no
interfoveolar e pela fita ílio-púbica de Thompson. tratamento da hérnia inguinal indirecta.
A parede superior é formada sucessivamente pelo
bordo inferior dos músculos transverso abdominal Ponto fraco crural
e oblíquo interno (lateralmente) e pelo interstício
entre o oblíquo interno e oblíquo externo (rnedial- Corresponde a urna área oval limitada, pelo liga-
mente). A parede inferior é formada pela arcada mento pectíneo (Cooper), atrás, pela arcada crural,
crural. A parede posterior é apenas constituída pela à frente, pelo ligamento lacunar, por dentro, e pela
fascia transversalis entre o ligamento de interfoveo- fita íleo-pectínea, por fora (Fig. 2.117). Esta área
lar, por fora, o tendão conjunto, por dentro, e a fita chama-se anel crural ou femoral. É este canal que
ílio-púbica de Thompson, em baixo (no denomina- liga a cavidade abdominal a região ântero-superior
do "triângulo de Hesselbach") (Fig. 2.116). A pa- da coxa. Esta região é responsável por 6% das hér-
rede anterior é constituída, lateralmente, pelos três nias e em 84% dos casos ocorrem na mulher.
músculos largos da parede ântero-lateral do abdó- O ligamento pectíneo é muito resistente, pelo que
men e, rnedialmente, na região do anel inguinal, é usado pelos cirurgiões para reparação das hér-
apenas pela aponevrose do oblíquo externo. nias desta região.
No canal inguinal passa o cordão espermático, no Por este anel passam a artéria e veia femorais e o
homem, e o ligamento redondo, na mulher. Tam- gânglio linfático de Cloquet (pertencente aos gân-
bém é atravessado por ramos dos nervos ilia-ingui- glios inguinais profundos).
nal e genito-fernoral.

146
SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO:TÓRAX E ABDÓMEN

5 Outros Pontos Fracos

Linha branca
Corresponde a uma rafe tendinosa na linha mé-
dia, entre os músculos rectos abdominais, esten-
dendo-se desde o processo xifóide até à sínfise pú-
bica (Fig. 2.113). É constituída pelo entrecruza-
mento das aponevroses de inserção dos músculos
oblíquo externo, oblíquo interno e transverso ab-
dominal. Tem maior importância acima do umbi-
go (onde, habitualmente, se formam hérnias epi-
gástricas, pelo facto de ser atravessada por elemen-
tos neurovasculares).
Fig. 2.117: Topografia da região crural.
1. Tubérculo púbico 2. Espinha ilíaca ãntero-superior 3. Espinha ilíaca Linha serni-lunar (Spiegel)
ãntero-inferior 4. Ligamento inguinal 5. Músculo mo-psoas 6. NeNo Corresponde a uma zona de sobreposição imper-
femoral 7. Ligamento lacunar 8. Ramo horizontal do púbis 9. Fita
ilio-pectínea 1O. Artéria femoral 11. Veia femoral 12. loca linfática feita das três aponevroses dos músculos oblíquo
externo, oblíquo interno e transverso abdominal,
situada lateralmente à baínha dos músculos rectos
REGIÃO UMBILICAL abdominais. Acresce o facto de ser também uma
zona atravessada por elementos neurovasculares.
É um ponto fraco da linha média, sendo consti- É identificada exteriormente pelo sulco lateral do
tuído por um anel fibroso recoberto adiante por ventre (Gerdy).
tegumentos e atrás pelo peritoneu. Este local cor- Na região lombar temos dois locais onde existem
responde a 3% das hérnias da parede abdominal. falhas nos planos musculares: o triângulo lombar
Até à nascença é a região de passagem ao canal inferior (Fig. 2.118) ou de Jean-Louis-Petit (fa-
vitelino, vesícula alantóide e aos vasos que ligam
o feto à mãe através do cordão umbilical (veia
e artérias umbilicais). Depois do nascimento dá
origem à cicatriz umbilical.
O umbigo apresenta uma depressão, chamada
"depressão umbilical", no fundo da qual se obser-
va uma saliência, chamada "mamilo", no centro
do qual fica a cicatriz, limitado por um sulco cir-
cular (sulco umbilical). O umbigo dá inserção, no
bordo inferior do anel fibroso, ao úraco, artérias
e veia umbilicais obliteradas. Atrás destas estru-
turas encontramos a fascia umbilicalis, que é uma
lâmina fibrosa resultante de um espessamento
da fascia transversalis, que no adulto está presen-
te em 84% dos casos. Esta fáscia pode comple-
tar todo o anel umbilical e nestes casos opõe-se
à formação de hérnias, mas pode não existir atrás
da cicatriz ou só atingir parte da cicatriz, pelo que 3

nestes com facilidade se originam as hérnias um- Fig. 2.118: Pontos fracos lombares.
bilicais. 1.Apófisesespinhosaslombares 2. 12.ªcostela 3. Crista ilíaca 4. Músculo
Iatíssimo do dorso 5. Músculo oblíquo externo 6. Músculo oblíquo
interno 7. Múscuk> serrãtil póstero-inferior 8. Músculos erectores
da espinha 9. Trígono lombar inferior (Triângulo de Jean Louis Petit)
10. Trígono lombar superior (Quadrilátero de Grynfelt)

147
MANUAL D E ANATOMIA HUMANA

Gray's Anatomy: 1heAnatomical Basis efClinical


lha no plano do oblíquo externo) cujos limites
Practice. 41st edition. Churchill-Livingstone,
são o bordo anterior do músculo Iatíssimo dor-
Elsevier, 2015.
sal (medialmente), bordo posterior do oblíquo ex-
terno (lateralmente) e a crista ilíaca (inferiormen- Drake, R.; Vogl,AW; Mitchell,A. Gray's
te), sendo revestida profundamente pelo músculo Anatomyfar Students, 2nd edition, Churchill-
oblíquo interno; quadrilátero ou triângulo lombar Livingstone, Elsevier, 2008.
superior de Grynfelt (falha no plano do oblíquo
Way,L.; Doherty, G. Current Surgical Diagnosis &
interno) (Fig. 2.117) cujos limites são a massa co-
Treatment; 11th edition, McGraw-Hill, 2003.
mum sacro-lombar (medialmente), bordo poste-
rior do oblíquo interno (lateralmente), crista ilía-
ca (inferiormente) e músculo serrátil póstero-infe- ***
rior e 12.ª costela (superiormente), sendo revesti-
da profundamente pela aponevrose de origem do
músculo transverso abdominal.

PERGUNTAS TIPO

1. São limites do ponto fraco inguinal as seguin-


tes estruturas (Assinale a falsa):
a. Bordo inferior do músculo oblíquo interno
b. Ligamento inguinal reflectido (Henle).
c. Ligamento pectíneo (Cooper).
d. Ligamento interfoveolar (Hesselbach).
e. Tendão conjunto (foice enguinal).

2. No que diz respeito aos músculos da parede


ântero-lateral do abdómen (Assinale a falsa):
a. O músculo transverso abdominal é o que
se situa mais profundamente.
b. A inserção superior do músculo oblíquo
interno efectua-se ao nivelo da 10.ª, 11.ª
e 12. ª costelas.
c. A aponevrose de inserção do músculo
oblíquo externo forma a arcada crural.
d. O tendão conjunto resulta da fusão nas
porções inferiores dos músculos oblíquos
externo e interno.
e. O músculo piramidal é constante.
:a-z :::,-i
:SElSOdsa~

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Rouviêre, H.; Delmas A.Anatomie Humaine:


Descriptive, topographique etfanctionnelle. Tome I.
lSéme édition, Masson, Paris, 2002.

148
SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO:TÓRAXEABDÓMEN

ou núcleo fibroso central do períneo, é uma mas-


pERíNEO sa fibro-muscular onde convergem e se entrecru-
, eo ou região perineal, é um plano muscu- zam as fibras tendinosas da maioria dos múscu-
O penn , los do períneo.
evrótico que corresponde ao pavimento
Jo-apon ,
·dade pélvica. E também designado como
da caVl 1 . " E'
"diafragma pé vico . constltm . 'do por um p 1a-
tegumentar, mais superficial, e por três pla-
no , .
usculo-aponevrot1cos sob repostos: super-
nos m ,
fi ia! médio e profundo. E atravessado por ór-
;0/ dos aparelhos digestivo, urinário e genital,
!presentando os oríficios terminais desses mes-
mos órgãos.
A região perineal assume uma extra-ordinária
importância anatomo- clínica, não só por apre-
sentar órgãos de três aparelhos, mas também por
nela se encontrarem os aparelhos esfincterianos
que são responsáveis pelo controlo da continên-
cia fecal e urinária, bem como os músculos res-
ponsáveis pela erecção e ejaculação. É também a
3
região onde localizam os órgãos da copulação. Fig. 2.119: Divisão do Períneo.
1. Tuberosidade isquiátrica 2. Sínfise púbica 3. Cóccix 4. Linha b i•
isquiática 5. Trígono anterior ou urogenital 6. Trígono posterior ou
FORMA, LIMITES E DIVISÃO
anal

O períneo tem a forma de um losango, de grande


eixo ântero-posterior. Apresenta, portanto, qua- PLANO TEGUMENTAR
tro bordos e quatro ângulos ou vértices. Os bor-
dos anteriores e posteriores são limitados, respec- O plano dos tegumentos é constituído pela pele,
tivamente, pelos ramos isquio-púbicos e pelos li- tecido celular sub-cutâneo e fáscia superficial.
gamentos sacrotuberosos. O ângulo anterior cor-
responde ao bordo inferior da sínfise púbica; o ân- PLANO MUSCULAR SUPERFICIAL
gulo posterior localiza-se no vértice do cóccix; os
ângulos laterais correspondem às tuberosidades is- São quatro os músculos do plano superficial do
quiáticas (Fig. 2.105). períneo, dispostos em dois grupos: um grupo pos-
Considerando uma linha imaginária que une as terior, representado pelo músculo esfincter exter-
tuberosidades isquiáticas (linha bi-isquiática), no do ânus; um grupo anterior, constituído pelos
o períneo pode ser divido em dois triângulos: o músculos transverso superficial, isquio- cavernoso
triângulo ou períneo anterior, ou uro-genital, rela- e bulbo-esponjoso (Fig. 2.120). A disposição dos
cionado com órgãos dos aparelhos urinário e ge- três primeiros músculos é idêntica no homem e
nital; o triângulo ou períneo posterior, ou anal, em na mulher.
relação com a porção terminal do tubo digestivo O músculo esfincter externo do ânus, localiza-se
(Fig. 2.119) .O períneo uro-genital apresenta di- em torno do canal anal. As suas fibras inserem-
ferenças no homem e na mulher, pois é atravessa- -se no vértice do cóccix e no corpo perineal, bem
do por estruturas distintas. O períneo anal é idên- como na face profunda da pele da região peri- anal.
tico em ambos os sexos. Lateralmente, este músculo relaciona-se com uma
A linha bi-isquiática, ao cruzar a linha coinciden- zona preenchida essencialmente por tecido adipo-
te com o grande eixo do períneo, forma um pon- so: a fossa isquio-rectal, ou espaço pelvi-rectal pro-
to que corresponde ao chamado "corpo perineal". fundo. É neste local que, geralmente, surgem os
O corpo perineal, ou centro tendinoso do períneo, abcessos perianais.

149
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

10

10

Fig. 2.120: Plano superficial (feminino). P,g. 2.121 : Plano superficial (masculino).
1. Clítoris 2. Meato uretral 3. lntroitus vaginal 4. Músculo ísquio- 1. Bulbo peniano 2. Músculo ísquio-cavemoso 3. Músculo bulbo.
cavernoso 5. Músculo bulbo-esponjoso 6. Músculo transverso esponjoso 4. Rafe mediana 5. Músculo transverso superificia!
superificial 7. Músculo esfíncter externo do ânus 8. Cóccix 9. Músculo 6. Músculo esfíncter externo do ânus 7. Cóccix 8. Músculo glúteo
glúteo máximo 1O. Corpo perineal máximo 9. Co,po perineal

O músculo transverso superficial é inconstante; tholin e a superfície lateral do bulbo. Tal como no
insere-se no corpo perineal. O músculo isquio-ca- homem, apresenta feixes musculares superficiais e
vernoso apresenta a forma de um semi-corneto, profundos
relacionando-se com a superficie não aderente da O músculo constritor da vulva, ou constritor do
raiz do corpo cavernoso. Insere-se superior e infe- vest.fbulo, é um músculo suplementar que apenas
riormente à raiz do corpo cavemos.o, nos dois lá- existe na mulher. Localiza-se no grupo anterior,
bios do ramo isquio-púbico, e na face medial do entre o bulbo e a glândula de Bartholin, lateral-
ísquion, posteriormente aos corpos cavernosos. As mente, e a parede lateral da vagina, mediaimen-
fibras musculares terminam na albugínea do cor- te. Insere-se no corpo perineal, posteriormente, e
po cavernoso. termina anteriormente na parede anterior da vagi-
O músculo bulbo-esponjoso é diferente no ho- na e no septo uretro-vaginal. Segundo alguns au-
mem e na mulher. No homem, este músculo é jus- tores, este músculo é o responsável pelo vaginis-
ta-mediano e, juntamente com o seu contra-late- mo inferior.
ral, forma urna goteira côncava superiormente que
recobre o bulbo peniano e o corpo esponjoso até PLANO MUSCULAR MÉDIO
à junção deste último com os corpos cavernosos
(Fig. 2.121). Insere-se no corpo perineal e no rafe O plano muscular médio forma o chamado "dia-
mediano que une ambos os músculos bulbo-es- fragma pélvico acessório ou diafragma uro-geni-
ponjosos. Os seus feixes musculares dispõem-se tal". É constituído por dois músculos: transverso
em dois planos: um superficial, que apresenta al- profundo e esfíncter externo da uretra (Fig. 2.122).
gumas fibras conhecidas como músculo de Hous- Estes músculos localizam-se somente no triângu-
ton; um profundo, constituído por fibras que rece- lo uro-genital e estão compreendidos entre os dois
bem a designação de músculo compressor do bul- folhetos da fáscia perineal média. Estes dois mús-
bo (Fig. 2.120). Na mulher, o músculo bulbo-es- culos são diferentes no homem e na mulher.
ponjoso recobre a face externa do bulbo. Insere-se O músculo transverso profundo é achatado e
no corpo perineal; daqui dirige-se anteriormen- triangular. Insere-se no ísquion e no ramo isquio-
te recobrindo a face lateral da glândula de Bar- -púbico, terminando no corpo perineal. Na mu-

150
SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO:TÓRAX E ABDÓMEN

10

Fi . 2.122: Plano médio {diafragma urogenital). Fig. 2.123: Plano profundo.


9
_Sínfise púbica 2. Tuberosidade isquiática 3. Cóccix 4. Músculo 1. Sínfise púbica 2. Músculo obturador interno 3. Arco tendinoso do
1
transverso profund o 5. Músculo esfíncter externo da uretra 6. Músculo elevador do ânus 4. Músculo piriforme 5. Músculo elevador do ânus
compressor da uretra 7. Corpo perineal 6. Fenda uro-genital 7. Feixe pubo-rectal 8. Feixe pubo-coccígeo
9. Feixe ilio-coccígeo 10. Músculo coccígeo

Jher, este músculo é mais largo que no homem. A porção ilio-coccígea insere-se na face poste-
O músculo esfíncter externo da uretra envolve a rior do púbis, na fáscia do músculo obturador in-
porção membranosa da uretra. Insere-se na fáscia terno (onde forma o arco tendinoso do levanta-
perineal média. No homem, insere-se igualmente dor do ânus) e na face medial da espinha ciáti-
no corpo perineal; na mulher, perde-se pelo teci- ca. Da sua origem, os feixes musculares dirigem-
do que une a uretra à vagina. Na mulher são des- -se posteriormente e medialmente e inserem-
critos dois feixes musculares associados a este últi- -se nas últimas duas vértebras coccígeas e, prin-
mo músculo: o músculo compressor da uretra, fi- cipalmente, no rafe ano-coccígeo. A porção pu-
bras musculares que dirigem de um ramo ísquio- bo-coccígea, mais estreita que a precedente, inse-
-púbico ao contralateral cruzando a face anterior re-se na face posterior do púbis, medialmente à
da uretra, e o esfincter uretrovaginal, fibras mus- porção ilio-coccígea; daqui, as suas fibras têm um
culares circulares que envolvem a uretra e o introi- trajecto para trás, terminando no rafe ano-coccí-
tus vaginal. geo. A porção puborectal, insere-se na face pos-
terior do púbis, medialmente à porção pubo-coc-
PLANO MUSCULAR PROFUNDO cígea, de onde se dirige posteriormente para cir-
cunscrever a transição ano-rectal, continuando-
É também chamado "diafragma pélvico princi- -se com o músculo contra-lateral na linha mé-
pal, ou períneo comum de Henlé". Forma um sep- dia, posteriormente ao recto; deste modo, apre-
to côncavo superiormente cuja principal função é senta uma forma em U de concavidade anterior.
o suporte dos órgãos pélvicos. É constituído por Os dois músculos levantadores do ânus circuns-
dois músculos: levantador do ânus e isquio-coccí- crevem entre eles, na linha média e anteriormen-
geo. O primeiro ocupa a maior parte da extensão te ao recto, uma abertura larg~ designada "fenda
deste plano, enquanto o segundo se localiza ape- uro-genital" (Fig. 2.123). No homem, esta fenda
nas no triângulo posterior (Fig. 2.123). relaciona-se com a uretra e a próstata; na mulher,
O músculo levantador do ânus é constituído por a relação estabelece-se com a uretra e a vagina.
três porções: ilio-coccígea, lateral, com função es- O músculo isquio-coccígeo corresponde a uma
fincteriana; pubo-coccígea, intermédia, com fun- lâmina triangular que se estende da espinha ciá-
ção levantadora; e puborectal, medial, sendo o tica aos bordos laterais do sacro e do cóccix.
principal músculo do mecanismo esfincteriano. O seu bordo anterior é contíguo ao bordo poste-

151
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

rior do levantador do ânus; o seu bordo posterior interna e posteriormente com o folheto aponevró-
encontra-se separado do bordo inferior do mús- tico que recobre o plexo sagrado.
culo piriforme por um interstício que dá passa-
gem ao pedículo vasculo-nervoso glúteo inferior. NOÇÕES DE ANATOMIA CLÍNICA
A face inferior deste músculo relaciona--se com
o ligamento sacroespinhoso. O controlo da defecação é assegurado pelos mús-
culos esfincter externo do ânus, levantador do ânus
PLANOS APONEVRÓTICOS e transversos superficial e profundo. Os músculos
que interferem no controlo da micção são o es-
Cada um dos planos musculares do períneo apre- fincter externo da uretra e os transversos superfi-
senta um revestimento aponevrótico próprio. As- cial e profundo. Os músculos isquio- e bulbo-es-
sim, consideram-se 3 fáscias: superficial, média e ponjosos determinam a erecção ao comprimirem
profunda, ou pélvica (Fig. 2.124). A fáscia peri- os órgãos erécteis nos quais se inserem. O múscu-
neal superficial (fáscia de Colles), sub-cutânea, en- lo de Houston comprime a veia dorsal profunda
contra-se unicamente no períneo anterior, reco- do pénis, impedindo o retorno do sangue venoso.
brindo os músculos superficiais do triângulo uro- O s músculos que controlam a micção,juntamente
-genital. A sua face inferior, mais superficial, en- com o músculo isquio-cavernoso, actuam no me-
contra-se recoberta por tecido celular sub-cu- canismo da ejaculação.
tâneo. Do mesmo modo, a fáscia perineal mé- As patologias perineais mais comuns são as infec-
dia localiza-se apenas no triângulo anterior do ções e as fistulas, associadas ou não a doenças sis-
períneo. É constituída por dois folhetos, um in- témicas. As fistulas surgem, principalmente, como
ferior e outro superior, envolvendo os músculos sequelas de abcessos.
transverso profundo e esfincter externo da uretra.
A fáscia pélvica recobre o diafragma pélvico prin-
cipal, ou seja, a face superior dos músculos levan- PERGUNTAS TIPO
tador do ânus e isquio-coccígeo. Continua-se late-
ralmente e superiormente com a fáscia obturadora Sugerem-se duas perguntas com apenas uma res-
posta certa. Assinale-a:

1. (&al dos seguintes músculos não pertence ao


períneo uro-genital?
a. Esfincter externo da uretra.
b. Esfincter externo do ânus.
c. Bulbo-esponjoso.
d. Transverso profundo.
9
e. Isquio-cavernoso.

2. No que diz respeito às fáscias de revestimen-


to do períneo (assinale a falsa):
a. A fáscia pélvica continua-se lateralmente
7 com a fáscia obturadora interna.
b. A fáscia perineal média apresenta dois fo-
6 4 lhetos.
c. A fáscia perineal superficial reveste pro-
Fig. 2.124: Fásàas perinais (Cavidade pélvica feminina).
1. Músculo obturador interno 2. Reflexão peritoneal 3. Músculo fundamente os músculos do plano super-
elevador do ânus 4. Plano perineal médio 5. Músculo bulbo-esponjoso ficial.
6. Fáscia perineal superficial 7. Fásáa perinealmédia superficial 8. Fáscia
perinal média profunda 9. Fáscia perineal profunda (Fáscia pélvica) d. A fáscia perineal superficial encontra-se
10. Espaço pelvi-rectal superior 11 . Espaço pelvi-rectal profundo (fossa apenas no períneo anterior.
ísquio-anaQ

152
SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO:TÓRAX E ABDÓMEN

e. A fáscia pélvica é a fáscia perineal profun-


da.
\)-1: '.a-i
:smsods;,11

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Rouviêre, H.; Delmas, A. Anatomie humaine


descriptive, topographique etfanctionnelle. 15émc
édition. Masson, 2002.
Gray's Anatomy: 1he Anatomical Basis ofClinical
Practice. 41st edition. Churchill- Livingstone,
Elsevier, 2015.
J.A. Esperança Pina. Anatomia Humana da
Locomoção. 5.• Edição. Lidel, 2015.
Mahadevan, V. et al. 1he surgical anatomy ofthe
perineum.JR Army Med Corps, 2013, 159 Suppl
l:il0-4.

• ••

153
MANUAL DE ANAT OMIA HUMANA

CLAVÍCULA

É um osso longo, par, que se localiza na porção ân-


tero-superior do tórax. Articula com o esterno e
primeira cartilagem costal (anterior e medialmen-
OSTEOLOGIA DO MEMBRO SUPERIOR te) e a omoplata (lateralmente). Descrevem-se
duas curvaturas, uma medial (côncava posterior-
O esqueleto do membro superior compreende mente) e outra lateral (côncava anteriormente).
quatro regiões: a espádua, o braço, o antebraço e a A extremidade mais achatada é lateral, a face mais
mão (Fig. 2.125). rugosa é inferior e dos dois bordos perto desta ex-
tremidade, o côncavo é anterior. Neste osso po-
demos distinguir um corpo e duas extremidades.
O corpo apresenta duas faces (superior e inferior)
e dois bordos (anterior e posterior). As extremi-
dades são uma medial ou esternal e uma lateral
ou acromial. A face superior (Fig. 2.126) dá in-
2
serção aos músculos esternocleidomastoideu, me-
dialmente, ao deltóide, anterior e, lateralmente,
e trapézio, posterior e lateralmente. A face infe-
rior (Fig. 2.127) apresenta, na sua porção média,
Braço
3 uma goteira que se denomina de sulco do mús-
culo subclávio (goteira do subclávio) e que dá in-
serção ao músculo subclávio. Na porção medial
existe uma superficie que dá inserção ao ligamen-
Cotovelo [
to costoclavicular, a impressão do ligamento cos-
toclavicular (tuberosidade costal). Na porção la-
teral encontra-se a linha trapezoideia (tubero-
Antebraço
sidade trapezoideia) que é anterior e o tubércu-
lo conoideu que é posterior, dando inserção, res-
petivamente, aos ligamentos trapezóide e conói-
de. O bordo anterior dá inserção ao músculo pei-
Punho [
toral maior (grande peitoral) nos seus dois terços
mediais, e ao músculo deltóide no terço lateral.
O bordo posterior dá inserção ao músculo trapé-
Mão
zio. A extremidade lateral (acromial) é talhada em
bisel à custa da face inferior e apresenta uma face-

2
Fig. 2.125.: Esqueleto ósseo do membro superior.
1. Omoplata 2. Clavícula 3. Úmero 4. Rádio 5. Cúbito/ Ulna 6. Carpo
ósseo 7. Metacarpo 8. Dedos

ESQUELETO DA ESPÁDUA

A espádua ou cintura escapular, une o membro su-


perior ao tórax e é constituída por dois ossos: a cla- Fig. 2.. 126: Clavícula (face superior).
vícula, à frente, e a omoplata, atrás. 1. Extremidade lateral (acromial) 2. Extremidade medial (esternal)
3. Bordo anterior 4. Bordo posterior

154
>
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR

6
4

Fi . 2.127: Clavícula (face inferior).


, .1ulcodo músculosubclávio 2. lmpressãodo ligamentocostoclavicular
3. Unha trapezóide 4. Tubérculo conoide

ta articular elíptica que articula com o acrómio da


omoplata constituindo a articulação acromioclavi-
cular. A extremidade medial (esternal) apresenta,
na sua porção ântero-inferior, uma faceta articular
triangular que corresponde às superfícies articula- °'-L--- s
res do manúbrio esternal e da primeira cartilagem
costal e que, no seu conjunto, formam a articula-
Fig. 2.128: Omoplata (face anterior).
ção esternoclavicular. 1. Fossa subescapular 2. Pilar da omoplata 3. Sulco do bordo lateral
4. lncisura da omoplata 5. Tubérculo infraglenoideu 6. Apófise
coracoideia 7. Bordo medial 8. Ângulo inferior da omoplata
OMOPLATA (ESCÁPULA)

É um osso placóide, par, que se localiza na região sa supraespinhosa e abaixo a fossa infraespinhosa.
póstero-lateral da parede to1;:ácica em relação com A espinha da omoplata, de forma triangular, pro-
as primeiras sete costelas. E parte integrante do jeta-se da face posterior da omoplata, na união do
complexo articular da espádua ao nível de duas ar- seu ¾ superior com os ¾ inferiores. Lateralmen-
ticulações: glenoumeral (escápulo-umeral) e es- te, termina numa apófise (processo) achatada ho-
capulotorácica. A face côncava é anterior e a su- rizontalmente, o acrómio. Este apresenta uma fa-
perfície articular de maiores dimensões é superior ceta articular elíptica que se dirige medial e supe-
e lateral. Apresenta duas faces (anterior e poste- riormente e articula com a faceta articular da ex-
rior), três bordos (superior, medial e lateral) e três tremidade lateral da clavícula, através da articula-
ângulos (súpero-lateral, súpero-medial e inferior). ção acromioclavicular. O bordo lateral do acrómio,
Na face anterior (Fig. 2.128) encontra-se uma que se encontra no prolongamento do bordo pos-
concavidade acentuada que se denomina de fos- terior da espinha da omoplata, dá inserção a feixes
sa subescapular (fossa infra-escapular) e dá inser- musculares do deltóide, em toda a sua extensão.
ção ao músculo subescapular (infra-escapular). No A fossa supraespinhosa dá inserção ao músculo
limite lateral desta fossa existe uma saliência para- supraespinhoso. A fossa infraespinhosa apresen-
lela ao bordo lateral da omoplata, o pilar da omo- ta uma crista transversal, paralela ao bordo lateral
plata, que constitui o lábio medial de um sulco que do osso, que a divide em duas porções, uma late-
dá pelo nome de sulco do bordo lateral (goteira do ral e uma medial. A porção medial dá inserção ao
bordo axilar), onde se inserem os feixes inferiores músculo infraespinhoso. A porção lateral, por sua
do músculo subescapular. Ao longo do bordo me- vez, encontra-se dividida por uma crista oblíqua,
dial existem superfícies rugosas, próximas dos ân- que se orienta medial e inferiormente, numa por-
gulos superior e inferior, que dão inserção ao mús- ção superior onde se insere o músculo teres menor
culo serrátil anterior (grande dentado). (pequeno redondo), e numa porção inferior onde
A face posterior (Fig. 2.129) está dividida em dois se insere o músculo teres maior (grande redondo).
segmentos por uma saliência transversal, a espinha O bordo superior (cervical) continua-se lateral-
da omoplata. Acima desta, encontramos a fos- mente pela incisura da omoplata (chanfradura

155
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Fig. 2.129: Omoplata (face posterior). Fig. 2.130: Omoplata (bordo externo ou axilar).
1. Espinha da omoplata 2. Acrómio 3. Fossa supraespinhosa 4. 1. Cavidade glenoideia 2. Apófise coracoideia 3. Espinha da omoplata
Fossa infraespinhosa 5. Tubérculo infraglenoideu 6. Colo da omoplata 4. Aaómio 5. Tubérculo infraglenoideu

coracóide ou coracoideia), que dá passagem ao tubérculo supraglenoideu (tuberosidade supragle-


nervo supraescapular. O bordo medial (espinhal) noideia), que dá inserção ao tendão da porção lon-
dá inserção, acima da espinha da omoplata, ao ga do músculo bíceps braquial (bicípite braquial),
músculo rombóide menor (pequeno rombóide) e, e uma inferior ou tubérculo infraglenoideu (tube-
abaixo desta, ao músculo rombóide maior (gran- rosidade infraglenoideia) que dá inserção ao ten-
de rombóide). dão da porção longa do músculo tríceps braquial.
O bordo lateral (axilar) corresponde a uma crista O colo da omoplata tem uma forma achatada e a
que separa as zonas de inserção dos músculos te- sua face posterior tem a forma de urna goteira que
res maior e menor do sulco do bordo lateral. Esta estabelece a comunicação entre as fossas supraes-
crista termina superiormente no tubérculo infra- pinhosa e infraespinhosa. A apófise coracoideia
glenoideu onde se insere o tendão da porção lon- projeta-se da face superior do colo da omopla-
ga do músculo tríceps braquial (tricípite braquial). ta. Tem a forma de um dedo semi-fletido que se
Na omoplata contam-se três ângulos. O ângulo orienta lateral e anteriormente, apresentando um
superior, na união dos bordos superior e medial, segmento vertical e um horizontal. O segmento
dá inserção ao músculo levantador (elevador ou horizontal dá inserção ao músculo peitoral menor
angular) da omoplata. O ângulo inferior encon- (pequeno peitoral), aos ligamentos conóide, trape-
tra-se na união dos bordos medial e lateral e dá in- zóide, coracoumeral e coracoacromial e aos ten-
serção a feixes do músculo !atíssimo dorsal (gran- dões da porção curta do músculo bíceps braquial e
de dorsal). O ângulo lateral apresenta três estrutu- músculo coracobraquial (Fig. 2.3.3b e 2.130).
ras a descrever: cavidade glenóide ou glenoideia, o
colo da omoplata e a apófise coracóide ou coracoi-
deia (Fig. 2.130). ESQUELETO DO BRAÇO
A cavidade glenoideia é urna superfície articular
côncava., de forma oval, que se orienta lateral, an- ÚMERO
terior e superiormente, articulando com a cabeça
do úmero. No centro desta existe uma saliência ós- É um osso longo, par, que constitui o esqueleto
sea, o tubérculo glenoideu e no seu rebordo encon- do braço. Pela sua extremidade superior articu-
tram-se duas saliências rugosas, uma superior ou la com a omoplata através da articulação glenou-

156
p
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR

meral (escápulo-umeral) e pela sua extremidade porção média da face ântero-medial (Fig. 2.131)
inferior forma, com o rádio e com o cúbito, a arti- insere-se o músculo coracobraquial. Abaixo e à
culação do cotovelo. A extremidade que apresen- frente deste local de inserção encontra-se o bura-
ta urna superfkie articular em forma de segmen- co nutritivo do osso.A face posterior (Fig. 2.131)
to de esfera é superior e medial. Na extremida- está dividida em duas porções por um sulco que
de inferior a face convexa é anterior. Apresenta, a tem um trajeto oblíquo de cima para baixo e de
descrever, um corpo e duas extremidades. medial para lateral, o sulco do nervo radial (go-
teira do nervo radial), que dá passagem ao ner-
Corpo vo radial e aos vasos braquiais (umerais) profun-
dos. Superior e lateralmente a este sulco insere-
Tem uma forma quase retilínea com uma ligeira -se a porção lateral do músculo tríceps braquial
torção sobre o seu próprio eixo, na parte média. (vasto externo) e inferior e medialmente insere-
Apresenta uma forma irregularmente cilíndri- -se a porção medial do músculo tríceps braquial
ca na metade superior e prismática triangular na (vasto interno). O bordo anterior está em conti-
metade inferior. Distinguem-se três faces (ânte- nuidade, em cima, com o bordo anterior do sulco
ro-lateral, ântero-medial e posterior) e três bor- intertubercular (goteira bicipital) e com o ramo
dos (anterior, lateral e medial). A face ântero-la- anterior da tuberosidade deltoideia. Este bordo,
teral (Fig. 2.131) apresenta, acima da sua região na sua metade inferior, dá inserção ao múscu-
média, uma crista em forma de V, a tuberosidade lo braquial e divide-se em dois ramos que deli-
deltoideia que dá inserção ao músculo deltóide. mitam a fossa coronoideia (fosseta coronoideia).
Abaixo desta, existe uma superfície lisa onde se O bordo medial dá inserção ao septo intermus-
insere o músculo braquial (braquial anterior). Na cular medial do braço e o bordo lateral dá inser-

4
2

11
12
12
13

14 17
15 14

Fig. 2.131: Úmero (vista anterior e posterior).


1. Cabeça 2. Colo anatómico 3. Tuberosidade maior 4. Tuberosidade menor 5. Sulco intertubercular 6. Crista da tuberosidade maior 7. Crista da
tuberosidade menor 8. Tuberosidade deltoideia 9. Fossa radial 10. Fossa coronoideia 11. Epicôndilo lateral 12. Epicôndilo medial 13. Capítulo
umeral 14. Tróclea umeral 15. Goteira capitulo-troclear 16. Sulco do nervo radial 17. Sulco do nervo cubital

157
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

ção, em baixo, ao septo intermuscular lateral do Extremidade inferior


braço e aos músculos braquioradial (longo supi-
nador) e extensor radial longo do carpo (1° radial É achatada transversalmente da frente para trás e
ou longo radial). situa-se para a frente do eixo diafisário. Apresenta
uma superficie articular média e duas saliências la-
Extremidade superior terais ou epicôndilos. A superficie articular é cons-
tituída, lateralmente, por uma superficie arredon-
Apresenta três saliências, uma medial, articular, a dada, o capítulo umeral (côndilo umeral), e me-
cabeça do úmero, e duas não articulares, a tubero- dialmente por uma superficie em forma de rolda-
sidade menor (troquino) e a tuberosidade maior na, a tróclea umeral (Fig. 2.131). Entre o capítulo
(troquiter), que se encontram anterior e lateral- e a tróclea umeral encontra-se a goteira capítulo-
mente à cabeça do úmero (Fig. 2.131). A cabe- -troclear (goteira côndilo-troclear).
ça do úmero tem a forma aproximada de 1/3 de O capítulo umeral tem a forma de uma semiesfera
esfera, olha em direção superior, medial e ligei- orientada para a frente em relação ao eixo diafisário
ramente posterior. O seu eixo forma com o eixo e articula-se com a extremidade superior do rádio.
diafisário um ãngulo de aproximadamente 130°. Acima deste existe uma pequena depressão, a fossa
Articula com a cavidade glenoideia da omopla- radial (fosseta supra-condiliana), e'm relação com a
ta formando a articulação glenoumeral. A sepa- fóvea articular da cabeça do rádio (cúpula radial)
rar a cabeça da restante extremidade superior, no- quando o cotovelo está em flexão. Para cima e la-
meadamente, das tuberosidades (maior e menor) teralmente ao capítulo umeral existe uma saliência
existe um sulco circular que se denomina de colo rugosa, o epicôndilo lateral (epicôndilo), que dá in-
anatómico do úmero. A tuberosidade maior si- serção aos músculos epicondilianos laterais (à ex-
tua-se para fora da cabeça do úmero, no prolon- ceção do músculo ancóneo) e ao ligamento colate-
gamento do corpo e apresenta três facetas, supe- ral radial (ligamento lateral externo) da articulação
rior, posterior e média para inserção, respetiva- do cotovelo. A tróclea umeral articula- se com a in-
mente, dos tendões dos músculos supraespinho- cisura troclear do cúbito (grande cavidade sigmoi-
so, teres menor e infraespinhoso. A tuberosida- deia), tem a forma de roldana e apresenta duas ver-
de menor situa-se na face anterior do osso, me- tentes separadas por um sulco que se orienta, me-
dialmente à tuberosidade maior e dá inserção ao dialmente, para baixo. Acima da tróclea existem
músculo subescapular. A separar estas duas tube- duas depressões ou fossas, uma anterior, denomi-
rosidades existe um sulco, o sulco intertubercu- nada de "fossa coronoideia" (fosseta supra-troclear),
lar que dá passagem ao tendão da porção longa em relação com a extremidade anterior da apófi-
do músculo bíceps braquial. Este sulco prolonga- se coronoideia do cúbito quando o cotovelo está
-se para baixo, na face medial do corpo do úmero em flexão, e uma posterior, denominada de "fossa
e é limitado por duas cristas, uma anterior ou la- olecraniana", em relação com o bico do olecrânio
teral, a crista da tuberosidade maior ou lábio la- quando o cotovelo está em extensão (Fig. 2.131).
teral (crista sub-troquiteriana) que dá inserção ao Para cima e medialmente à tróclea, na extremida-
tendão do músculo peitoral maior e uma poste- de inferior do bordo medial do corpo, existe uma
rior ou medial, a crista da tuberosidade menor ou saliência rugosa, o epicôndilo medial (epitróclea),
lábio medial (crista sub- troquiniana) que dá in- que dá inserção aos músculos epicondilianos me-
serção ao músculo teres maior. Na profundidade diais (músculos epitrocleares) e ao ligamento cola-
do sulco intertubercular insere-se o músculo la- teral cubital (ligamento lateral interno) da articu-
tíssimo dorsal. O segmento que une o corpo à ex- lação do cotovelo. Na face posterior do epicôndilo
tremidade superior denomina- se de colo cirúrgi- medial existe uma goteira, o sulco do nervo cubital,
co do úmero dado tratar-se da zona onde, em ter- que dá passagem ao nervo cubital. A goteira capí-
mos clínicos, são descritas a maior parte das fra- tulo-troclear constitui uma 2• roldana na articula-
turas do úmero. ção do cotovelo e relaciona-se com o rebordo inter-
no da fóvea articular da cabeça do rádio.

158
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR

ESQUELETO DO ANTEBRAÇO

O esqueleto do antebraço é constituído por dois


ossos longos, o cúbito, medialmente, e o rádio, la-
teralmente, que articulam entre si nas suas extre-
midades, estando separados pelo espaço interósseo
na sua restante extensão.

R,ÁI)/0

É um osso longo, par, que se estende desde o ca-


pítulo da extremidade inferior do úmero até aos
ossos do carpo. A extremidade mais volumosa é
inferior e a apófise que daí se destaca é lateral.
A face mais lisa desta extremidade é anterior.
Apresenta, a descrever, um corpo e duas extre-
midades.

Corpo

Aumenta progressivamente de volume de cima


para baixo, apresentando uma curvatura cônca-
Fig. 2.132: Rãdio (vista anterior e posterior).
va medial e anteriormente, que permite a execu- 1. Cabeça 2. Colo 3. Fóvea articular 4. Tuberosidade radial 5. Apófise
ção dos movimentos de pronação e supinação do estiloideia 6. lncisura cubital

antebraço. Tem uma forma prismática triangu-


lar e apresenta três faces (anterior, posterior e la- dade do rádio até à extremidade inferior do rádio
teral) e três bordos (anterior, posterior e medial). onde se bifurca e delimita a face medial da extre-
A face anterior (Fig. 2.132) dá inserção, na sua midade inferior.
porção superior, ao músculo flexor longo do 1°
dedo (longo flexor próprio do 1° dedo) e, na sua Extremidade superior
porção inferior, ao músculo quadrado pronador.
Nesta face encontramos o buraco nutritivo do É constituída por três porções: cabeça, colo e tu-
osso. A face posterior (Fig. 2.132) é ligeiramen- berosidade do rádio. A cabeça do rádio tem a for-
te escavada na sua região média onde dá inserção ma de um segmento de cilindro. A sua face supe-
aos músculos abdutor longo (longo abdutor), em rior ou fóvea articular da cabeça do rádio é cônca-
cima, e músculo extensor curto do 1° dedo, em va e tem uma forma oval articulando com o capí-
baixo. A face lateral dá inserção, na sua porção tulo do úmero. A porção medial do rebordo da fó-
média, ao músculo pronador teres (redondo pro- vea articular é talhada em bisel e corresponde à go-
nador) e, na sua porção superior, ao músculo su- teira capítulo-troclear do úmero. Em toda a peri-
pinador (curto supinador). O bordo anteriores- feria da cabeça do rádio existe uma superficie arti-
tende-se desde a extremidade inferior da tube- cular para a incisura radial (pequena cavidade sig-
rosidade do rádio até à base da apófise estilóide moideia) do cúbito. O colo do rádio é a zona mais
ou estiloideia do rádio e dá inserção, em cima, ao estreita que une a cabeça ao corpo do osso. A tu-
feixe radial do músculo flexor superficial dos de- berosidade do rádio tem uma forma oval de maior
dos (flexor comum superficial dos dedos). O bor- eixo vertical, localiza-se na parte ântero-medial do
do posterior é pouco definido. O bordo medial osso e dá inserção ao tendão comum do músculo
ou interósseo dá inserção à membrana interóssea bíceps braquial (Fig. 2.132).
e estende-se da extremidade inferior da tuberosi-

159
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Extremidade inferior periores e cilíndrica no ¼ inferior, descrevendo


uma curvatura de concavidade anterior. Apresen-
Tem a forma aproximada de um prisma quadran- ta três faces (anterior, posterior e medial) e três
gular. A face inferior é articular e apresenta dois bordos (anterior, lateral e posterior). A face an-
segmentos separados por uma crista ântero-pos- terior (Fig. 2.133) dá inserção, nos seus ¾ supe-
terior, um lateral, triangular, para o osso escafói- riores, ao músculo flexor profundo dos dedos (fle-
de, e um medial, quadrangular, para o osso lunato xor comum profundo dos dedos) e, no seu¾ in-
(semilunar). A face anterior dá inserção ao múscu- ferior, ao músculo quadrado pronador. A face pos-
lo quadrado pronador. A face posterior apresen- terior (Fig. 2.133) encontra-se dividida por urna
ta duas goteiras verticais, uma lateral para o ten- crista longitudinal em duas porções: uma medial e
dão do músculo extensor longo do 1° dedo (lon- uma lateral. A porção medial, em cima, dá inser-
go extensor do 1° dedo) e uma medial para os ten- ção ao músculo ancóneo e, em baixo, dá inserção
dões do músculo extensor dos dedos (extensor co- ao músculo extensor cubital do carpo (cubital pos-
mum dos dedos) e músculo extensor do 2° dedo terior). A porção lateral dá inserção aos músculos
(extensor próprio do 2° dedo). A face lateral apre- longo abdutor, extensor curto e extensor longo do
senta também duas goteiras verticais, uma ante- 1° dedo e extensor do 2° dedo. A face medial dá
rior para os tendões do músculo abdutor longo e inserção, nos seus 2/3 superiores, ao músculo fle-
extensor curto do 1° dedo e uma posterior para os xor profundo dos dedos. O bordo anterior dá in-
tendões dos músculos extensores radiais do car- serção aos músculos flexor profundo dos dedos e
po, longo e curto (1° radial ou longo radial e 2° ra- quadrado pronador. O bordo lateral ou interósseo
dial ou curto radial, respetivamente). Na continui- dá inserção à membrana interóssea. Em cima, di-
dade desta face encontramos a apófise estiloideia vide-se em duas cristas que vão até aos limites da
do rádio que, na sua base, dá inserção ao músculo incisura radial do cúbito, delimitando uma zona, a
braquioradial e, no seu vértice, dá inserção ao liga- superficie sigmoideia sub-incisural (superficie in-
mento colateral radial do carpo (ligamento lateral fra-sigmoideia), que dá inserção ao músculo supi-
interno) da articulação do punho. A face medial é nador. O bordo posterior divide-se, em cima, em
limitada pelos dois ramos de bifurcação do bordo duas cristas que se dirigem para os bordos do ole-
interósseo e apresenta na sua porção inferior uma crãnio. Nos 2/3 superiores dá inserção ao músculo
superficie articular, em forma de segmento de ci- flexor profundo dos dedos, ao músculo flexor cubi-
lindro cõncavo, que articula com a cabeça do cú- tal (cubital anterior) e ao músculo extensor cubi-
bito, a incisura cubital do rádio (cavidade sigmoi- tal do carpo.
deia) (Fig. 2.132).
Extremidade superior
CÚBITO (ULNA)
É constituída por duas apófises, uma vertical e
É um osso longo, par, que se estende desde a tró- posterior, o olecrãnio, e uma horizontal e anterior,
clea da extremidade inferior do úmero até aos os- a apófise coronóide ou coronoideia. E stas, no seu
sos do carpo. A extremidade mais volumosa é su- conjunto, delimitam uma cavidade articular para a
perior e a grande faceta articular em forma de in- tróclea umeral, a incisura troclear (grande cavida-
cisura é anterior. A faceta articular de pequenas di- de sigmóide ou sigmoideia) do cúbito (Fig. 2.133).
mensões que se encontra na extremidade superior O olecrânio situa-se no prolongamento do cor-
é lateral. Apresenta, a descrever, um corpo e duas po e apresenta uma face anterior, articular, dividi-
extremidades. da em dois segmentos por uma crista vertical que
contribui para formar a incisura troclear e uma
Corpo face superior ou vértice, que se prolonga para a
frente formando uma saliência, o bico do olecrâ-
É mais volumoso em cima do que em baixo, tem nio, que dá inserção ao tendão comum do mús-
uma forma prismática triangular nos seus ¾ su- culo tríceps braquial. As faces laterais, uma me-

160

SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR

2
4 4

6 6

Fig. 2.133: Cúbito (vista anterior e lateral).


1. lncisura trodear 2. Apófise coronoideia 3. Olecrânio 4. lncisura radial 5. Superfície sigmoideia sub-incisural 6. Cabeça 7. Apófise estiloideia

dial e outra lateral, dão inserção aos ligamentos do rádio. A incisura troclear do cúbito é forma-
colaterais, cubital e radial, respetivamente, da ar- da pela união da face anterior do olecrânio com a
ticulação do cotovelo. Na face medial insere-se face superior da apófise coronoideia. Uma crista
o músculo flexor cubital do carpo e na face late- longitudinal divide esta incisura em duas verten-
ral insere-se o músculo ancóneo. Apresenta ain- tes que correspondem ao sulco da tróclea umeral.
da uma face posterior e uma face inferior, atra-
vés da qual está em continuidade com o corpo Extremidade inferior
do osso. A apófise coronoideia destaca-se da face
anterior do cúbito (Fig. 2.133), tem a forma de Apresenta duas saliências, a cabeça do cúbito e a
uma pirâmide quadrangular com um vértice (ou apófise estiloideia do cúbito (Fig. 2.133). A cabe-
bico) anterior, uma base posterior, em continui- ça do cúbito apresenta uma forma arredondada
dade com o corpo do osso, uma face superior, que com uma superficie articular lateral, em forma de
faz parte da incisura troclear e que está dividida segmento de cilindro, que articula com a incisura
em dois segmentos por uma crista ântero-poste- cubital do rádio e uma superficie articular inferior
rior. Apresenta ainda uma face inferior para in- para o ligamento radiocubital (ligamento triangu-
serção do músculo braquial, uma face medial para lar) da articulação do punho. A apófise estiloideia
inserção do ligamento colateral cubital da articu- do cúbito tem uma forma cónica e localiza-se pos-
lação do cotovelo e uma face lateral com uma su- terior e medialmente à cabeça do cúbito, dando
perficie articular em forma de segmento de ci- inserção ao ligamento colateral cubital (ligamento
lindro, côncavo, a incisura radial do cúbito (Fig. lateral interno) da articulação do punho.
2.133), que articula com a extremidade superior

161
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

ESQUELETO DA MÃO O escafóide é o osso mais lateral da 1ª fileira do


carpo. A face superior e a face inferior são conve-
Os ossos da mão organizam-se em três grupos xas e articulam com o rádio e com o trapézio e tra-
distintos que são: o carpo, o metacarpo e as falan- pezóide, respetivamente. A face medial apresen-
ges (Fig. 2.134). ta duas superficies articulares que articulam com
o lunato, em cima, e com o capitato, em baixo.
CARPO A face lateral é rugosa e apresenta uma incisura
que se relaciona com a artéria radial. A face ante-
O carpo é um maciço ósseo constituído por oito rior ou palmar prolonga-se lateralmente através de
ossos cubóides: escafóide, lunato (semilunar), tri- uma saliência, o tubérculo do escafóide, no qual se
quetro (piramidal), pisiforme, trapézio, trapezói- insere o ligamento colateral radial (ligamento late-
de, capitato (grande osso) e hamato (unciforme). ral externo) da articulação do punho. A face poste-
Estes, dispõem-se em duas fileiras, uma superior, rior ou dorsal é uma goteira estreita e rugosa.
antebraquial ou procarpo e outra inferior, cárpi- O lunato encontra-se entre o escafóide e o trique-
ca ou mesocarpo. A maioria dos ossos do carpo, tro. A face superior articula com o rádio. A face in-
à exceção do triquetro, do pisiforme e do hama- ferior articula, lateralmente, com o capitato e, me-
to apresentam uma forma cúbica, pelo que têm dialmente, com o hamato. A face medial articu-
seis faces (Fig. 2.134). As faces anterior e poste- la com o triquetro e a face lateral com o escafóide.
rior são rugosas e correspondem, respetivamente, A face anterior e a face posterior são rugosas.
às faces palmar e dorsal da mão, enquanto as fa- O triquetro apresenta a forma de pirâmide qua-
ces superior, inferior e laterais são articulares (à drangular. A face superior relaciona-se com o cú-
exceção das dispostas nas extremidades das duas bito, do qual está separada pelo ligamento radio-
fileiras). cubital da articulação do punho. A face inferior ar-
A fileira superior do carpo é formada, de lateral ticula com o hamato. A face lateral articula com
para medial, pelos ossos: escafóide, lunato, trique- o lunato. A face anterior articula com o pisifor-
tro e pisiforme (Fig. 2.134). me. A face posterior apresenta uma saliência ru-

2 2
3

~ .. [ 6
4

8
-[
···-[ ·--·{
Dedos Dedos

Fig. 2.134: Mão óssea (vista anterior ou palmar e vista posterior ou dorsal).
1. Escafóide 2. Lunato 3. Triquetro 4 . Pisiforme 5. Trapézio 6. Trapez.óide 7. Capitato 8. Hamato 9. 1• falange (proximal) 10. 2ª falange
(intermédia) 11. 3" falange (distal)

162
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR

osa transversal, a crista do triquetro, onde se in- com o triquetro. A face lateral articula com o ca-
~ere O ligamento colateral cubital da articulação do pitato. A face inferior articula com o 4° e 5° me-
punho. tacárpicos.
O pisiforme articula pela sua face posterior com o O carpo corresponde assim a um maciço ós-
triquetro. Na face lateral existe uma goteira em re- seo com quatro faces e dois bordos. A face an-
lação com a artéria cubital. A face anterior dá in- terior apresenta uma goteira de concavidade an-
serção aos músculos flexor cubital do carpo e ab- terior, o sulco cárpico (goteira anterior do car-
dutor do 5° dedo. po), sendo limitada, lateralmente, pelos tubér-
A fileira inferior do carpo é formada, de lateral culos do escafóide e do trapézio e, medialmen-
para medial, pelos _ossos: trapézio, trapezóide, ca- te, pelas saliências do pisiforme e do hamato.
pitato e hamato (Fig. 2.134). Entre estas saliências ósseas estende-se uma lâ-
o trapézio é o mais lateral dos ossos desta filei- mina fibrosa que se denomina de retináculo dos
ra. A face superior articula com o escafóide. A face flexores (ligamento anular anterior do carpo) o
inferior é convexa ântero-posteriormente e cônca- qual transforma o sulco cárpico num canal os-
va transversalmente (em forma de sela) e articula teo-fibroso, o canal cárpico. Este canal dá pas-
com o 1° metacárpico. A face medial articula com sagem ao nervo mediano, aos tendões dos mús-
0 trapezóide e com o 2° metacárpico. A face late- culos flexores dos dedos e ao tendão do múscu-
ral é rugosa. A face anterior é não-articular e é cru- lo flexor radial do carpo. A face posterior do car-
zada por uma goteira, limitada, lateralmente pelo po é convexa. A face superior constitui uma su-
tubérculo do trapézio, que dá passagem ao tendão perfície articular convexa, o côndilo cárpico, for-
do músculo flexor radial do carpo (grande palmar). mado pelos ossos escafóide, lunato e triquetro.
A face posterior é rugosa e apresenta, em ambas as A face inferior apresenta as facetas articula-
extremidades, um tubérculo destinado a inserções res para os ossos metacárpicos. Os bordos late-
ligamentares. rais são rugosos e dão inserção a músculos e li-
O trapezóide encontra-se entre o trapézio e o ca- gamentos.
pitato. A face superior articula com o escafóide.
A face inferior articula com o 2° metacárpico. METACARPO
A face medial articula com o capitato. A face late-
ral articula com o trapézio. A face anterior e a face É constituído por cinco ossos longos, os ossos
posterior são rugosas. metacárpicos, interpostos entre a 2ª fileira do
O capitato é o osso mais volumoso do carpo. carpo e as falanges proximais dos dedos (Fig.
A face superior articula com o escafóide e com o 2.134). Limitam, entre eles, os espaços interós-
lunato. A face inferior articula com o 2°, 3° e 4° seos e numeram-se de lateral para medial como
metacárpicos. A face medial articula com o ha- 1°, 2°, 3°, 4° e 5° metacárpicos. Todos os ossos
mato. A face lateral articula com o escafóide, em metacárpicos apresentam um corpo e duas ex-
cima, e com o trapezóide, em baixo. A face an- tremidades. O corpo é prismático triangular e
terior é rugosa. A face posterior prolonga-se por apresenta três faces: uma posterior e duas late-
uma saliência, a apófise do capitato. rais que limitam os espaços interósseos dan-
O hamato tem a forma de um prisma triangular, do inserção aos músculos interósseos. A extre-
com cinco faces, das quais as duas bases, anterior midade superior ou base é cuboide. Apresen-
e posterior, são não-articulares. A face anterior é ta uma face superior, articular, em relação com
achatada, de lateral para medial e apresenta uma a 2ª fileira do carpo, duas faces laterais, também
face lateral que limita, medialmente, a goteira cá- articulares, em contacto com os ossos metacár-
rpica e uma face lateral com um sulco para a ar- picos adjacentes, uma face dorsal e outra pal-
téria cubito-palmar. Nesta face encontramos, ain- mar, que dão inserção a ligamentos e músculos.
da, o hâmulo do hamato (apófise) onde se inserem A extremidade inferior ou cabeça é convexa e ar-
os músculos flexor curto e oponente do 5° dedo. ticula com a extremidade superior da 1ª falange,
A face posterior é rugosa. A face medial articula através da sua face inferior. Apresenta duas faces

163
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

laterais, cada uma com uma depressão e um tu- dois tubérculos que dão inserção aos ligamentos
bérculo supra- adjacente para inserção dos liga- colaterais da articulação interfalângica proximal.
mentos colaterais (ligamentos laterais) das arti- A 2• falange ou falange intermédia não existe no
culações metacarpofalângicas, uma face dorsal e 1° dedo. A sua extremidade superior apresenta
uma face palmar. Alguns metacárpicos têm ca- uma superfície articular com duas vertentes côn-
racterísticas particulares. O 1° metacárpico, mais cavas separadas por uma crista mediana, as cavi-
curto e volumoso, não apresenta superfícies arti- dades glenoideias. A extremidade inferior é se-
culares laterais na sua extremidade superior uma melhante à da 1ª falange e apresenta uma tróclea.
vez que não articula com o 2° metacárpico. A sua A 3ª falange ou falange distal apresenta um corpo
base apresenta uma superfície articular em for- muito curto e uma extremidade inferior distinta,
ma de sela que articula com o trapézio. O 2° me- apresentando-se larga e convexa em baixo. As fa-
tacárpico é o mais longo e, através da sua extre- langes do 1° dedo são apenas duas, a proximal e a
midade superior articula com o trapézio, trape- distal, semelhantes à 1ª e 3• falanges dos restantes
zóide e capitato. Articula medialmente com o 3° dedos, respetivamente.
metacárpico, na face dorsal, junto à extremida- Existem ainda, em número variável, os ossos se-
de superior e medialmente, apresenta uma super- samoides, semelhantes a "grãos de sésamo". Es-
fície triangular, a apófise estiloideia, que dá in- tes encontram-se na face palmar, sendo dois de-
serção ao músculo extensor radial longo do car- les constantes, um medial e um lateral, em relação
po. O 3° e 4° metacárpicos apresentam duas su- com a articulação metacarpofalângica do 1° dedo.
perfícies articulares laterais, nas suas extremida-
des superiores. Na base do 3° metacárpico, late-
ralmente, encontra-se a apófise estiloideia onde ARTROLOGIA DO MEMBRO SUPERIOR
se insere o músculo extensor radial curto do car-
po. O 4° metacárpico não apresenta apófise esti- As articulações do membro superior compreen-
loideia. A extremidade superior do 5° metacárpi- dem as articulações da espádua ou ombro, a arti-
co apresenta apenas uma superfície articular, a la- culação do cotovelo, as articulações radiocubitais,
teral, pois a medial dá inserção ao músculo exten- a articulação do punho e as articulações da mão.
sor cubital do carpo.
ARTICULAÇÕES DA ESPÁDUA
FALANGES
As articulações do ombro formam, no seu conjun-
São em número de três por cada dedo, à exce- to, a chamada "cintura escapular ou complexo ar-
ção do 1° dedo onde são apenas duas. São ossos ticular da espádua", verdadeiro conjunto funcio-
longos, com um corpo e duas extremidades. Nu- nal articular vocacionado para o movimento. Este
meram-se do sentido proximal para o distal (Fig. complexo integra dois tipos de articulações: as ar-
2.134). ticulações verdadeiras, onde participam superfícies
A 1ª falange ou falange proximal articula com o articulares ósseas e as articulações funcionais, entre
osso metacárpico correspondente e com a 2• fa- elementos musculares, tendinosos e bolsas serosas.
lange, à exceção do 1° dedo que articula com a 3• No seu conjunto, estas articulações são em núme-
falange. A extremidade superior ou base é cônca- ro de cinco: três verdadeiras (glenoumeral, acro-
va e elíptica, a cavidade glenoideia, e articula com mioclavicular e esternoclavicular) e duas funcio-
a cabeça do osso metacárpico correspondente. nais (escapulotorácica e subdeltoideia).
Apresenta dois tubérculos laterais que dão inser-
ção aos ligamentos colaterais da articulação me- ARTICULAÇÃO GLENOUMERAL (ESCÁPULO-
tacarpofalângica. A extremidade inferior, ou ca- UMERAL)
beça, apresenta uma superfície articular em forma
de tróclea que articula com a extremidade superior É a articulação que une a omoplata ao úmero e
da 2ª falange. Nas faces laterais existem também classifica-se com uma enartrose.

164
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR

Superfícies articulares fletem-se de baixo para cima, do periósteo ao re-


vestimento cartilagíneo, e formam as chamadas
São a cabeça do úmero e a cavidade glenoideia da "frenula capsulae" que constituem pregas da cápsu-
omoplata (Fig. 2.135). la articular revestidas por membrana sinovial.
Estas duas superfícies articulares, embora apre- Os ligamentos periféricos desta articulação são os
sentem raios de curvatura semelhantes, têm áreas ligamentos glenoumerais (Fig. 2.137), que consti-
de superfície substancialmente diferentes pelo tuem espessamentos da cápsula articular, e os li-
que se torna necessária a existência de uma estru- gamentos coracoumeral e coracoglenoideu que re-
tura que, aumentando a profundidade ou a área forçam a cápsula articular.
de superfície glenoideia, assegure a congruência e Os ligamentos glenoumerais são formados por
estabilidade articulares. Esta estrutura constituí- espessamentos fibrosos da própria cápsula e são
da por fibrocartilagem é o chamado "labrum gle- em número de três: superior, médio e inferior.
noideu" (debrum glenoideu) (Fig. 2.135). Apre- Desenham aproximadamente um "Z" na face an-
senta a forma de um anel e está em relação com a terior da cápsula articular. O ligamento glenou-
periferia da cavidade glenoideia. Em corte apre- meral superior insere-se, medialmente, na por-
senta uma área triangular com três faces. A face ção superior do labrum glenoideu, colo da omo-
periférica está em continuidade com o colo da plata e na base da apófise coracoideia. D escre-
omoplata, dando inserção a fibras capsulares ao ve um trajeto horizontal, para fora, e insere-se na
longo do seu contorno. Em cima, insere-se o ten- tuberosidade menor do úmero. O ligamento gle-
dão da porção longa do músculo bíceps braquial noumeral médio insere-se, medialmente, no la-
e, em baixo, o tendão da porção longa do músculo brum glenoideu e no colo da omoplata, imedia-
tríceps braquial. A face lateral (articular) faz p ar- tamente abaixo do ligamento superior. Tem um
te da superfície articular da cavidade glenoideia. trajeto oblíquo, medial e inferiormente, e inse-
A face medial (aderente) relaciona-se com o re- re-se na porção inferior da tuberosidade menor
bordo da cavidade glenoideia. Não existe uma do úmero próximo das inserções do músculo su-
verdadeira união entre o labrum glenoideu e a bescapular. O ligamento glenoumeral inferior in-
cavidade glenoideia à o contorno da exceção na sere-se, medialmente, na porção média e infe-
porção inferior da cavidade glenoideia. rior do labrum glenoideu e no colo da omopla-
ta, tem um trajeto ligeiramente oblíquo, lateral e
Meios de união inferiormente, inserindo-se na tuberosidade me-
nor do úmero. O s ligamentos gleno-umerais su-
São constituídos pela cápsula articular, por liga- perior/médio e médio/ inferior limitam, respeti-
mentos periféricos que reforçam a cápsula articu- vamente, dois espaços triangulares, um superior
lar e por músculos peri-articulares. e um inferior. O mais superior, cuja base é lateral
A cápsula articular tem a forma de uma manga e corresponde à porção superior do músculo su-
fibrosa laxa, permitindo algum afastamento das bescapular é denominado de "foramen de Weitbre-
duas superfícies articulares (de acordo com a gran- cht" e permite a comunicação da cavidade articu-
de mobilidade desta articulação). A inserção es- lar com a bolsa serosa subescapular. O mais infe-
capular faz-se ao nível da face periférica do labrum rior, cuja base é medial e corresponde ao rebor-
glenoideu e na superfície óssea adjacente do colo do glenoideu permite a comunicação da cavida-
da omoplata, contornando a inserção do tendão de articular com a bolsa serosa supracoracoideia.
da porção longa do músculo bíceps braquial (em É também denominado de "orifício supracora-
cima), e confundindo-se com o tendão da porção coideu". E stes espaços triangulares constituem,
longa do músculo tríceps braquial, em baixo (Fig. na realidade, áreas de solução de continuidade
2.3.8a e 2.136). A inserção umeral faz-se na pro- da cápsula articular. O ligamento coracoumeral
ximidade do limite da cartilagem articular ao nível (Fig. 2.137) insere-se, medialmente, ao longo do
do colo anatómico do osso. Na porção mais infe- bordo lateral da apófise coracoideia, abaixo do li-
rior da inserção da cápsula, os feixes profundos re- gamento acromiocoracoideu (Fig. 2.137), dirige-

165
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

5
8 2

4 12
7
3

11
10
2

Fig. 2.135: Articulação glenoumeral (corte coronal). Fig. 2.137: Articulação glenoumeral (vista anterior).
1.Cabeçaumeral 2.Cavidadeglenoidea 3.Debrumglenoideu 4.Cápsula 1. Acrómio 2. Apófise coracoidela 3. Ligamento coracoacromial
articular 5. Membrana sinovial 6. Tendão do músculo supraespinhoso 4. Extremidade lateral d a clavícula 5. Ligamentos coracodaviculares
7. Músculo Deltóide 8. Bolsa serosa subdeltoideia 6. ligamento umeral transverso 7. Ligamento glenoumeral inferior
8. ligamento glenoumeral médio 9. Ligamento glenoumeral superior
10. Bolsa serosa subdeltoideia 11 . Bolsa serosa subescapular
12. Ligamento coracoumeral 13. Tendão da porção longa do músculo
bíceps braquial
4

-se transversalmente para fora, e termina por dois


feixes que se inserem na tuberosidade menor e na
tuberosidade maior do úmero, de cada lado da ex-
5
tremidade superior do sulco intertubercular. Pelo
orifício delimitado por estes dois feixes passa o
tendão da porção longa do músculo bíceps bra-
quial. Este ligamento resulta da regressão fibro-
sa da porção lateral do músculo peitoral menor.
O ligamento umeral transverso (Fig. 2.137) é
constituído por pequenos feixes tendinosos que,
em cima, se estendem entre os dois feixes do liga-
mento coracoumeral e, em baixo, se inserem em
cada bordo do sulco intertubercular, e que trans-
formam este sulco num canal osteo-fibroso que
dá passagem ao tendão da porção longa do mús-
culo bíceps braquial. O ligamento coracoglenoi-
deu (Fig. 2.137) (por vezes descrito como feixe
profundo do ligamento coracoumeral) insere-se
no bordo lateral da apófise coracoideia, dirige-se
Fig. 2.136: Articulação glenoumeral (vista lateral com exposição da para trás e para fora e termina no labrum glenoi-
articulação).
deu e na porção vizinha da cápsula articular.
1. Cartilagem articular (cavidade glenoideia) 2. Acrómio 3. Apófise
coracoideia 4. Ligamento coracoacromia1 5. Tendão da porção longa O s músculos peri-articulares funcionam como
do músculo bíceps braquial 6. Membrana sinovial 7. Ligamento
verdadeiros ligamentos ativos da articulação,
glenoumeral inferior 8. Ligamento glenoumeral médio 9. Ligamento
glenoumeral superior 1O. Tendão do músculo supraespinhoso contribuindo, simultaneamente, para o movi-
11.Tendãodomúsculoinfraespinhoso 12.Tendãodomúsculoteresmenor mento e para a coaptação das superficies arti-
13. Tendão do músculo subescapular

166
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR

culares (Fig. 2.3.8a e 2.136). São, fundamental- dua. Por exemplo, o movimento de abdução até
mente, os músculos que se estendem da omo- aos 90° ocorre quase exclusivamente na articula-
plata à extremidade superior do úmero, subes- ção glenoumeral, mas a partir daí e até aos 150° o
capular (anteriormente), teres menor, infraespi- movimento passa a depender das articulações es-
nhoso e supraespinhoso (posteriormente) e os capulotorácica e esternoclavicular. Pode dizer-se
músculos que se encontram entre a omoplata e que a existência destas várias articulações permite
0 braço, bíceps e braquial e coracobraquial (an-
aumentar de forma significativa a amplitude dos
teriormente) e tríceps braquial (posteriormente). movimentos do ombro.
O conjunto dos tendões com inserção ume-
ral forma a chamada "coifa dos rotadores" (Fig. ARTICULAÇÃO ESTERNOCLAVICULAR
2.136), que inclui os músculos subescapular, teres
menor, infraespinhoso e supraespinhoso. É a articulação formada pela clavícula, pelo ester-
Esta articulação é constituída por uma membrana no e pela 1ª cartilagem costal. Classifica-se com
sinovial que reveste toda a face profunda da cáp- uma menisco-efipiartrose (Fig. 2.138).
sula articular e envolve o tendão da porção lon-
ga do músculo bíceps braquial. Este tendão é, as- Superfícies articulares
sim, intracapsular, mas extraarticular (extrasino-
vial). As principais bolsas serosas peri-articulares A superfície articular da clavícula situa-se na re-
(Fig. 2.137) são: a bolsa serosa subescapular (entre gião ântero-inferior da sua extremidade medial e
o tendão do músculo subescapular e a cápsula arti- tem a forma de uma "selà' (côncava da frente para
cular), a bolsa serosa subdeltoideia ou subacromio- trás e convexa de cima para baixo), orientada para
clavicular (entre a cápsula e a abóbada acromiocla- baixo, para dentro e ligeiramente para a frente.
vicular) e a bolsa serosa bicipital (envolve o tendão A faceta articular esternal tem igualmente a for-
da porção longa do músculo bíceps braquial no seu ma de uma "sela" com curvaturas e orientação in-
trajeto no sulco intertubercular). Estas bolsas se- versas às da clavicular. Encontra-se em continui-
rosas podem comunicar com a membrana sinovial dade com uma pequena superfície articular na face
da articulação por intermédio de pequenas solu- superior da primeira cartilagem costal. Existe uma
ções de continuidade da cápsula articular. fibrocartilagem interarticular completa, o menis-
co, que contribui para aumentar a congruência das
Movimentos duas articulações e que divide a cavidade articular
em duas porções.
Esta articulação executa movimentos nos três pla-
nos do espaço, de acordo com três eixos que pas-
sam pela cabeça do úmero. Um eixo vertical que 2 4
permite definir movimentos de rotação medial/
rotação lateral, um eixo horizontal ântero-poste-
rior que permite definir movimentos de adução e
abdução e um eixo horizontal transversal que per-
mite definir movimentos de flexão e extensão. Es-
tes movimentos não são independentes uns dos
outros podendo ocorrer em simultâneo. Ao mo-
vimento complexo que resulta da combinação de
todos os outros e que permite ao braço descrever
um cone geométrico no espaço damos o nome de
circundução. Note-se que os movimentos do om-
bro "in vivo" não correspondem só aos movimen-
tos da articulação glenoumeral, sendo também da Fig. 2.138: Articulação esternoclavicular.
responsabilidade das outras articulações da espá- 1. Manúbrio esternal 2. Extremid.ade medial da clavícula 3. , .. cartilagem
costal 4. Menisco intra-articular 5. Ligamento inter-clavicular

167
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Meios de união ficies articulares não são perfeitamente comple-


mentares entre si pelo que existe um menisco inte-
Existe uma cápsula articular que se insere no limi- rarticular de fibrocartilagem quase sempre incom-
te das superfícies articulares e é reforçada por qua- pleto (com um bordo livre no interior da cavidade
tro ligamentos periféricos (anterior, posterior, in- articular). A membrana sinovial reveste a face pro-
ferior e superior). O ligamento superior tem uma funda da cápsula articular e pode ser dupla quan-
porção mais medial que se insere na extremidade do o menisco é completo, existindo então uma ca-
medial da clavícula do lado oposto passando acima vidade articular menisco-clavicular e uma menis-
da fúrcula esternal, que se denomina de ligamen- co-acromial. O ligamento periférico é o ligamen-
to interclavicular. Esta articulação apresenta duas to acrornioclavicular que se encontra na face supe-
membranas sinoviais separadas pelo menisco in- rior da articulação. Este é constituído por dois pla-
terarticular. nos fibrosos, um profundo (espessamento da cáp-
sula articular) e um superficial (independente da
Movimentos cápsula articular). O plano fibroso superficial re-
sulta da transformação fibrosa dos feixes do mús-
Os movimentos desta articulação são movimen- culo trapézio que se inserem no acrómio.
tos concertados com a articulação escapulotorá- A clavícula encontra-se unida à apófise coracoi-
cica e consistem na elevação, abaixamento, proje- deia pelos ligamentos coracoclaviculares, que in-
ção anterior e posterior da clavícula. Estes, contri- cluem os ligamentos trapezóide, conóide e cora-
buem para aumentar a amplitude dos movimen- coclaviculares medial e lateral (Fig. 2.137). O li-
tos da cintura escapular. É possível, também, a esta gamento trapezóide insere-se no bordo medial
articulação executar movimentos de circundução, do segmento horizontal da apófise coracoideia da
embora de pequena amplitude. omoplata até ao segmento anterior da linha trape-
zoideia na extremidade lateral da clavícula seguin-
ARTICULAÇÃO ACROMIOCLAVICULAR do um trajeto oblíquo para cima e para fora. O li-
gamento conóide tem uma inserção inferior ime-
É a articulação que une a clavícula ao acrómio da diatamente atrás do ligamento trapezóide sendo
omoplata e classifica-se com uma artrodia (Fig. constituído por feixes que se vão inserir na face in-
2.137). ferior da clavícula, no segmento posterior da linha
trapezoideia, para trás e para dentro da inserção
Superfícies articulares do ligamento trapezóide. O s ligamentos trapezói-
de e conóide encontram-se dispostos em dois pla-
A superficie articular do acrómio ocupa a par- nos aproximadamente perpendiculares entre si. Os
te anterior do seu bordo medial, é talhada em bi- ligamentos coracoclaviculares medial e lateral es-
sei à custa da face superior e orienta-se superior tendem-se desde o bordo medial da apófise cora-
e medialmente. A superficie articular da clavícula coideia até à face inferior da clavícula. O ligamen-
localiza-se na sua extremidade lateral e tem uma to coracoclavicular medial insere-se no bordo me-
orientação inversa à anterior. dial da apófise coracoideia, à frente do ligamento
trapezóide e atrás da inserção do músculo peito-
Meios de união ral menor e dirige-se para dentro e para cima até
à face inferior da clavícula. O ligamento coraco-
São constituídos por uma cápsula articular e por clavicular lateral insere-se na apófise coracoideia,
ligamentos periféricos. para fora do ligamento coracoclavicular medial e
A cápsula articular insere-se na periferia das su- dirige-se, também, para a face inferior da clavícula.
perfícies articulares e é reforçada na sua face su- Existem alguns ligamentos que se encontram a
perior pelo ligamento acromioclavicular que se es- unir estruturas ósseas constituintes da omopla-
tende da face superior do acrómio à face superior ta que se denominam de ligamentos próprios da
da clavícula. Em cerca de 1/ 3 dos casos as super- omoplata e que incluem o ligamento coracoacro-

168
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR

da articulação glenoumeral de modo a que aquelas


m1•a1, 0 ligamento coracoideu e o ligamento espi-
noglenoideu. O ligamento coracoacromial insere- possam atingir, respetivamente, os 100 a 110° e os
-se no vértice do acrómio e no bordo lateral da 80°. Os movimentos de deslizamento da omopla-
apófise coracoideia. A fa~e superior,~este ligam~n- ta sobre a parede torácica implicam obviamente a
to relaciona-se com o musculo delto1de e a face in- acção de músculos que nela têm inserção (serrátil
ferior relaciona-se com a articulação glenoumeral anterior, trapézio, rombóide, levantador da omo-
e músculos peri-articulares dos quais está sepa- plata, peitoral menor e subclávio) e movimentos
rada pela bolsa serosa subdeltoideia ou subacro- concertados da articulação esternoclavicular.
mial. O ligamento coracoideu estende-se ao longo
das extremidades da incisura da omoplata trans- ARTICULAÇÃO SUBDELTO/DEIA
formando-a num buraco osteo-fibroso onde pas-
sa O nervo supraescapular. O ligamento espinogle- É também uma articulação funcional formada en-
noideu estende-se entre o bordo lateral da espi- tre elementos do plano de deslizamento profundo
nha da omoplata até ao rebordo posterior da ca- (cápsula articular e coifa dos rotadores) e a abóba-
vidade glenoideia, delimitando um orifício que dá da acromioclavicular. A separar estes dois planos
passagem aos vasos e nervo supraescapulares, en- existe a bolsa serosa subdeltoideia que permite a
tre a fossa supraespinhosa e a fossa infraespinhosa. realização dos vários movimentos da coifa dos ro-
tadores com o mínimo de atrito possível.
Movimentos
ARTICULAÇÃO DO COTOVELO
Os movimentos desta articulação são muito re-
duzidos e ocorrem em todas as direções, no pla- É a articulação que une a extremidade inferior do
no formado pelas superfícies articulares, de acor- úmero às extremidades superiores do rádio e cúbi-
do com os movimentos da articulação escapulo- to. Podemos, assim, falar de uma articulação ume-
torácica. rocubital (trocleartrose), de uma articulação ume-
roradial (trocartrose) e de uma articulação radio-
ARTICULAÇÃO ESCAPULOTORÁCICA cubital proximal (trocartrose). No seu conjun-
to estas articulações formam uma única articula-
Não é considerada uma articulação no sentido ção com meios de união e membranas sinoviais
convencional. É uma articulação funcional entre comuns.
a omoplata (fossa subescapular) e a parede toráci-
ca posterior (da 2• à 8• costelas) que ocorre por in- Superfícies articulares
termédio do músculo serrátil anterior que reves-
te a face anterior do músculo subescapular. Esta, A extremidade inferior do úmero apresenta a tró-
está separada da parede torácica por um interstí- clea umeral (medial), com duas vertentes, sepa-
cio preenchido por tecido conjuntivo que desem- radas por uma goteira e o capítulo umeral (la-
penha as funções de uma bolsa serosa facilitando teral) com uma forma aproximadamente esfé-
o deslizamento do músculo sobre a parede. A ar- rica, mas com o eixo vertical maior que o eixo
ticulação escapulotorácica classifica-se como uma transversal. A separar estas duas estruturas exis-
sinsarcose e contribui de modo significativo para te uma goteira, a chamada "goteira capítulo-tro-
os movimentos do ombro. Na abdução do ombro, clear" que alguns autores consideram como se-
a partir dos 90°, o movimento de báscula da omo- gunda tróclea, cujas vertentes lateral e medial
plata em que o ângulo inferior se desloca lateral- são formadas, respetivamente, pela parte medial
mente e o ângulo súpero-lateral se desloca para do capítulo umeral e pelo rebordo lateral da tró-
cima, permite aumentar a amplitude deste movi- clea. A extremidade superior do cúbito apresen-
mento para 150°. ta duas superfícies articulares, uma para a tró-
Na rotação medial e lateral do membro superior os clea umeral, a incisura troclear (formada pela
movimentos desta articulação complementam os face anterior do olecrânio e pela face superior

169
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

da apófise coronoideia, divididas em dois seg- Meios de união


mentos por uma crista que corresponde à gotei-
ra da tróclea umeral e outra para a porção pe- São constituídos pela cápsula articular, por liga-
riférica da cabeça do rádio) e a incisura radial mentos periféricos e por músculos peri-articulares
(situada na face lateral da apófise coronoideia, que mantêm a coaptação articular. A cápsula arti-
com forma elipsóide, côncava no sentido ânte- cular apresenta uma inserção umeral, que contor-
ro-posterior e em continuidade com a anterior). na, à frente, o bordo superior das fossas coronoi-
A extremidade superior do rádio apresenta duas deia e radial, lateralmente, a tróclea e o capítulo
superficies articulares. Uma é a fóvea articular da umeral e, atrás, segue o sulco que separa a tróclea
cabeça do rádio, que está em relação com o capí- do côndilo atravessando em seguida a fossa ole-
tulo umeral e a outra é a porção periférica lateral craniana na sua porção média e finalmente a de-
da cabeça do rádio, em forma de segmento de ci- pressão que separa a tróclea do epicôndilo medial.
lindro, convexo, em relação com a incisura radial A inserção cubital faz-se na periferia das superfí-
do cúbito. A porção medial do rebordo da fóvea cies articulares e a radial ao nível do colo do rádio.
articular é talhada em bisel e relaciona-se com a Os ligamentos periféricos reforçam a cápsula arti-
goteira capítulo-troclear do úmero (Fig. 2.139). cular e são em número de cinco: anterior, colate-
O ligamento anular (Fig. 2.3.lOc e 2.142) é cons- ral cubital, colateral radial e inferior. O ligamento
tituído por fibras que vão desde o rebordo ante- anterior (Fig. 2.140) insere-se, em cima, ao nível
rior ao posterior da incisura radial do cúbito e da cápsula articular e na face anterior do epicôn-
que no seu conjunto formam um feixe que envol- dilo medial e do epicôndilo lateral. As suas fibras
ve a superfície articular periférica da cabeça do convergem e inserem-se no bordo lateral da apó-
rádio. Está em continuidade com a cápsula arti- fise coronoideia, à frente da incisura radial, junto
cular pelos seus bordos superior e inferior e tem ao ligamento anular. O ligamento colateral cubi-
como função a coaptação das superfícies articula- tal (Fig. 2.141) é formado por três feixes (ante-
res contribuindo para a estabilidade da cabeça do rior, médio e posterior) que vão desde o epicôndi-
rádio nos movimentos de pronação e supinação. lo medial até ao bordo medial da incisura troclear

Fig. 2.139: Articulação do cotovelo (vista anterior - superfícies Fig. 2.140: Articulação do cotovelo (vista anterior - ligamentos).
articulares). 1. Ligamento anular 2. Cápsula articular 3. Ligamento colateral cubital
1. Capitulo umeral 2. Tróclea \lmeral 3. Goteira capitulo-troclear 4. Ligamento colateral radial 5. Ligamento anterior 6. Rádio 7. Cúbito
4. Cabeça radial 8. Tendão do músculo biceps braquial (corte)

170
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR

-umerais. Existem ainda os ligamentos úmero-o-


lecranianos verticais desde a fossa olecraniana até
7 ao vértice do olecrânio. O ligamento inferior (qua-
drado de Denucé) é um espessamento da cápsu-
la articular localizado abaixo da articulação radio-
6 cubital proximal e estende-se desde o bordo infe-
rior da incisura radial até à região medial do colo
do rádio. É constituído por fibras que vão direta-
mente do cúbito ao rádio e fibras do ligamento
anular que não t êm inserção no cúbito e que for-
mam os bordos medial, anterior e posterior deste
ligamento. Os músculos peri-articulares são o bí-
ceps e o tríceps braquiais, o braquial, o braquiora-
2
10 dial e os músculos epicondilianos laterais e me-
Fig. 2.141: Articulação do cotovelo (vista medial -ligamentos). diais. A membrana sinovial é comum às três ar-
1. Epicôndilo medial 2. Apófise coronoideia 3. Ligamento colateral ticulações que formam o cotovelo. Reveste a face
cubital 4. Ligamento anular 5. Tendão do músculo bíceps braquial
(corte) 6. Tendão do músculo tríceps braquial {corte) 7. Úmero profunda da cápsula articular, inserindo-se na pe-
8. Rádio 9. Cúbito/Ulna 10. Olecrânio riferia do revestimento cartilagíneo das superfícies
articulares, formando entre estes e a linha de in-
serção capsular, recessos ou fundos de saco. Existe
um recesso anterior que corresponde às fossas co-
6 ronoideia e radial, um recesso posterior em relação
4
com a porção inferior da fossa olecraniana e um
recesso inferior ou anular em relação com o colo
7 do rádio. E stes recessos, tal como acontece noutras
articulações, são elementos importantes na mobi-
lidade articular na medida em que permitem uma
distribuição intra-articular de volume e pressão do
líquido sinovial nos movimentos.

Movimentos

Os movimentos do cotovelo são a flexão/exten-


Fig. 2.142: Articulação do cotovelo (vista lateral - ligamentos). são, que utiliza a articulação umerocubital e ocor-
1. Epicôndilo lateral 2. Ligamento anular 3. Ligamento colateral
radial 4. Tendão do músculo bíceps braquial (corte) 5. Tendão do
re em volta de uma série de eixos transversais pas-
músculo tríceps braquial (corte) 6. Úmero 7. Rádio 8. Cúbito/UIna sando pela tróclea, de acordo com a disposição he-
9. Olecrânio
licoidal da sua goteira. A flexão aproxima o ante-
braço do tronco e a extensão afasta-o. Estes movi-
e à face medial da apófise coronoideia. O ligamen- mentos são limitados pelo embate das superfícies
to colateral radial (Fig. 2.142) é também forma- ósseas, pela tensão da cápsula articular, dos liga-
do por três feixes (anterior, médio e posterior) que mentos anterior e posterior e dos músculos peri-
vão do epicôndilo lateral ao bordo lateral da inci- -articulares. A estabilidade transversal é assegura-
sura troclear. da pelos ligamentos laterais que impedem a reali-
O ligamento posterior é pouco desenvolvido e é zação de lateralidade no plano coronal. A articula-
constituído por fibras que vão dos bordos da fos- ção do cotovelo permite, ainda, orientar com gran-
sa olecraniana ao vértice do olecrânio, os ligamen- de precisão no espaço a preensão da mão (prona-
tos umero-olecranianos oblíquos, e entre os dois ção/supinação), substituindo eficazmente hipoté-
bordos da fossa olecraniana, os ligamentos umero- ticos movimentos de rotação axial do punho. Os

171
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

movimentos de pronação/supinação dependem cubital. A extremidade inferior do rádio apresenta


das articulações radiocubitais, proximal e distal uma superfície articular, a incisura cubital do rádio,
(Fig.2.143). A supinação afasta o 1° dedo da linha com a forma de um segmento de cilindro côncavo.
média e a pronação aproxima-o. Estes movimen- O ligamento radiocubital é uma lâmina de fibro-
tos implicam uma rotação do rádio em volta de cartilagem, de forma triangular, revestida por car-
um eixo que, em cima, passa pelo centro da cabeça tilagem articular nas suas duas faces, que se inter-
do rádio e, em baixo, passa ao nível da cabeça do põe entre a superfície articular do carpo, lunato e
cúbito. Na supinação, o rádio, em cima, roda sobre triquetro, e a cabeça do cúbito. Insere-se, pelo seu
si mesmo, em sentido medial e, em baixo, roda em vértice, na chanfradura que separa a apófise esti-
loideia da cabeça do cúbito e pela sua base no bor-
do inferior da incisura cubital do rádio.

Meios de união

São constituídos pelo ligamento radiocubital, pela


cápsula articular que se insere na periferia das su-
perfícies articulares radial, cubital e nos bordos an-
terior e posterior do ligamento radiocubital e por
ligamentos periféricos, o ligamento radiocubital
anterior e o ligamento radiocubital posterior, que
se estendem entre os dois ossos. A membrana si-
novial reveste a face profunda da cápsula articular
e é independente da membrana sinovial da articu-
lação do punho.

Movimentos

Fig. 2.143: Movimento de pronação e supinação. Esta articulação, juntamente com a articulação
1. Articulação radiocubital proximal 2. Articulação radiocubital distal
3. Membrana interóssea 4. Ligamento oblíquo radiocubital proximal, é responsável pelos movi-
mentos de pronação e supinação do antebraço (ver
movimentos do cotovelo).
volta da cabeça do cúbito descrevendo um cone de
base inferior cujo vértice corresponde ao centro da MEMBRANA INTERÓSSEA ANTEBRAOUIAL
fóvea articular do rádio. (LIGAMENTO INTERÓSSEO)

ARTICULAÇÃO RADIOCUBITAL DISTAL É uma estrutura fibrosa que se estende do bordo


medial do rádio ao bordo lateral do cúbito e que,
É a articulação que une a cabeça do cúbito à in- juntamente com os ossos do antebraço, contribui
cisura cubital do rádio (Fig. 2.143). Classifica-se para o dividir em duas regiões topográficas, uma
como uma trocartrose. anterior e uma posterior. Em cima termina abaixo
da tuberosidade do rádio formando um orifício li-
Superfícies articulares mitado, em cima, pela articulação do cotovelo por
onde passa a artéria interóssea posterior. A mem-
A extremidade inferior do cúbito apresenta uma brana interóssea (Fig. 2.143) é reforçada, em cima,
superfície articular constituída por duas facetas ar- por um feixe fibroso com inserção superior ao ní-
ticulares: uma lateral, com a forma de um segmen- vel da parte ínfero-lateral da apófise coronoideia,
to de cilindro que articula com a incisura cubital com um trajeto oblíquo para baixo e para fora e
do rádio e uma inferior para o ligamento radio- inserção radial inferior abaixo da tuberosidade do

172
SUPORTE E MOV1MENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR

rádio. Este feixe tem o nome de ligamento oblí- Meios de união


uo e tem origem na transformação fibrosa do fei-
;e coronoideu do músculo flexor longo do 1° dedo São constituídos por uma cápsula articular e por
(Fig. 2.143). ligamentos periféricos que reforçam a cápsula.
A cápsula articular insere-se na periferia das su-
ARTICULAÇÃO DO PUNHO OU perfícies articulares e nos bordos anterior e pos-
RADiOCÁRPICA terior do ligamento radiocubital (em continuida-
de com a cápsula articular da articulação radiocu-
Também denominada de "articulação radiocárpi- bital distal). Os ligamentos periféricos podem ser
ca", é a articulação que une a extremidade inferior sistematizados anterior, posterior, colateral cubi-
do rádio aos ossos do carpo, escafóide, lunato e tri- tal e colateral radial. O ligamento anterior é cons-
quetro. Classifica-se como uma condilartrose. tituído por um ligamento anterior propriamente
dito ou ligamento capsular que constitui um es-
Superfícies articulares pessamento da cápsula articular e por um plano
fibroso pré-capsular. O ligamento anterior pro-
São formadas pelas facetas articulares superiores priamente dito é constituido por dois feixes pal-
dos ossos da ia fileira do carpo, escafóide, luna- mares que se estendem entre os ossos do antebra-
to e triquetro, que no seu conjunto, formam um ço e o carpo, os ligamentos radiocárpico e cubi-
côndilo e pela extremidade inferior do rádio que, tocárpico (Fig. 2.144). O ligamento radiocárpico
juntamente com a face inferior do ligamento ra- insere-se, em cima, no rebordo anterior da extre-
diocubital, forma a chamada "cavidade glenoideia" midade inferior do rádio e na superfície anterior
antebraquial. O côndilo cárpico tem uma superfí- da apófise estiloideia do rádio, dirige-se inferior
cie mais extensa atrás do que à frente. O escafóide e medialmente e insere-se no lunato, triquetro
corresponde à faceta articular triangular lateral do e capitato. O ligamento cubitocárpico tem ori-
rádio, o lunato à faceta medial e porção medial do gem no bordo anterior do ligamento radiocubital
ligamento radiocubital e o triquetro à porção late- e face lateral da apófise estiloideia do cúbito, di-
ral do ligamento radiocubital. rige-se inferior e lateralmente e insere-se no lu-

4
2

3 5
4 6

7 10

12 11

13

Fig. 2.144: Ligamentos do punho e mão (vista anterior ou palmar). Fig. 2.145: Ligamentos do punho e mão (vista posterior ou dorsal).
1. Extremidade distal do rádio 2. Cabeça do cúbito 3. Pisiforme 1. Extremidade distal do rádio 2. Cabeça do cúbito 3. Apófise
4. Ligamento colateral cubital 5. Ligamento colateral radial 6. Ligamento estiloideia do cúbito 4. Ligamento radiocubital posterior 5. Ligamento
radiocubital anterior 7. Ligamento cúbitocárpico 8. Ligamento colateral radial 6. Ligamento colateral cubital 7. Ligamentoradiocárpico
radiocárpico 8. Ligamento cubitocárpico 9. Escafóide 1O. Trapézio 11. Trapezóide
12. Capitato 13. Hamato

173
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

nato, triquetro e capitato. O ligamento posterior triquetro e são artrodias (Fig. 2.3.lla e 2.145). As
é constituído por dois feixes com inserção supe- superfl:cies articulares orientam-se no plano sagi-
rior ao nível do rebordo posterior da extremidade tal. Os meios de união são os ligamentos interós-
inferior do rádio e inserção inferior na face pos- seos, palmares e dorsais, que são feixes transversais
terior do lunato e na face posterior do triquetro. que ocupam a parte superior da interlinha articu-
O ligamento colateral cubital é constituído por lar, entre os dois ossos vizinhos. Dentro destes úl-
dois feixes, ambos com inserção superior na apó- timos destaca-se o ligamento escafotriquetral (es-
fise estiloideia do cúbito, um anterior com inser- cafopiramidal) que se estende da face posterior do
ção inferior no pisiforme e um posterior com in- escafóide à face posterior do triquetro, cruzando o
serção inferior no triquetro. O ligamento cola- triquetro e a parte superior do capitato. As mem-
teral radial é constituído por dois feixes com in- branas sinoviais destas articulações são dependên-
serção superior na apófise estiloideia do rádio, cias da sinovial da articulação mediocárpica.
um anterior com inserção inferior no tubérculo A articulação pisotriquetral (pisopirarnidal) une o
do escafóide e outro posterior com inserção in- pisiforme e o triquetro e é uma artrodia. As super-
ferior na face lateral do escafóide. (Fig. 2.145). fl:cies articulares orientam-se no plano frontal. O s
A membrana sinovial reveste a face profunda da meios de união são uma cápsula articular e os li-
cápsula articular e pode estar em comunicação gamentos. Existem ligamentos que reforçam late-
com a sinovial da articulação radiocubital distal. ralmente a cápsula e ligamentos que relacionam o
osso pisiforme com os ossos vizinhos. Estes últi-
Movimentos mos, em número de três, são o ligamento superior,
o ligamento pisohamato ou ínfero-lateral (pisou-
Os movimentos da mão em relação ao antebra- nciforme) (entre a extremidade inferior do pisifor-
ço ocorrem ao nível da articulação radiocárpica e me e o hârnulo do hamato) e o ligamento piso-
mediocárpica. Ao nível da articulação radiocár- metacárpico ou ínfero-medial (entre a extremida-
pica os movimentos fundamentais são de flexão/ de inferior do pisiforme e a extremidade superior
extensão e adução/abdução. A circundução, neste do 5° metacárpico). A membrana sinovial é laxa e
caso, é limitada à combinação de movimentos em pode comunicar com a da articulação radiocárpica.
dois planos do espaço e por esse motivo tem am- As articulações entre os ossos da 2ª fileira cárpica
plitudes muito menores do que aquela que ocor- estabelecem-se entre os ossos trapézio, trapezói-
re numa enartrose como a articulação glenoume- de, capitato e hamato e são artrodias (Fig. 2.3.lla
ral. A flexão/extensão aproxima/afasta, respetiva- e 2.145). Os meios de união são os ligamentos in-
mente, a face palmar da mão da região anterior terósseos, palmares e dorsais. A membrana sino-
do antebraço (relativamente ao plano frontal). vial corresponde a prolongamentos da sinovial da
A adução/abdução aproxima/afasta, respetiva- articulação mediocárpica.
mente, o bordo cubital da mão da linha média (re- A articulação mediocárpica estabelece relação en-
lativamente ao plano sagital). A ausência de movi- tre o côndilo cárpico (escafóide, lunato e trique-
mentos de rotação axial ao nível do punho é com- tro) e a 2• fileira do carpo (trapézio, trapezóide,
pensada pela pronação/supinação do antebraço. capitato e lunato). As superfl:cies articulares estão
separadas em dois compartimentos: um lateral e
um medial. O compartimento medial classifica-se
ARTICULAÇÕES DA MÃO como urna efipiartrose cujas superfl:cies articula-
res são, a face medial do escafóide e faces inferio-
As articulações do carpo compreendem as articu- res do lunato e do triquetro e, em baixo, o capita-
lações entre os ossos da 1ª e da 2• fileira do carpo e to e hamato. O compartimento lateral classifica-se
a articulação mediocárpica, a qual relaciona aque- como urna efipiartrose cujas superfl:cies articulares
las duas fileiras. são, em cima, a face inferior do escafóide e, em bai-
As articulações entre os ossos da 1ª fileira cárpica xo, as facetas articulares superiores do trapézio e
estabelecem-se entre os ossos escafóide, lunato e trapezóide. A interlinh a articular desenha, no seu

174
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR

conjunto, um "S" alongado transversalmente. Os últimos metacárpicos formam uma articulação


meios de união são uma cápsula articular laxa e composta por várias artrodias que, no seu con-
os ligamentos articulares. Estes, estão organizados junto, dão origem a uma articulação complexa
em quatro grupos: palmares, dorsais, lateral e me- que se classifica de efipiartrose. A interlinha arti-
dial. Os ligamentos palmares inserem-se na face cular, de lateral para medial, e segundo uma vis-
anterior do capitato e dirigem-se, para cima, para ta dorsal, compreende: uma 1 ª articulação entre
0 escafóide e triquetro, lateralmente, para o trape-
o 2° metacárpico e os ossos trapézio, trapezói-
zóide e, medialmente, para o hamato. Os ligamen- de e capitato, com a forma de um "M" alongado;
tos palmares das articulações cárpicas e mediocár- uma segunda articulação, entre o 3° e 4° metacá-
picas são recobertos pelo ligamento capsular ante- rpicos e o capitato; e uma última articulação en-
rior da articulação radiocárpica, ao qual estão inti- tre o 4° e 5° metacárpicos e o hamato. Os meios
mamente unidos. O ligamento dorsal ou ligamen- de união são uma cápsula articular fina, reforça-
to trapeziotrapezoidotriquetral (piramido-trape- da por ligamentos interósseos, palmares e dorsais.
zo-trapezoideu) é um feixe fibroso que se esten- A sinovial reveste a face profunda da cápsula arti-
de desde a face dorsal do triquetro à face dorsal do cular e comunica com a da articulação mediocá-
trapézio e do trapezóide. O ligamento escafotri- rpica. Emite prolongamentos inferiores, que for-
guetral (escafo-piramidal) que se estende na extre- mam as sinoviais das articulações entre os últi-
midade superior da face dorsal do capitato, tam- mos quatro metacárpicos.
bém contribui para a estabilidade desta articula- As articulações intermetacárpicas (Fig. 2.146) são
ção. O ligamento medial estende-se desde o tri- em número de três e correspondem às articulações
quetro até ao hâmulo do hamato, enquanto o liga- entre as faces laterais das bases ou extremidades
mento lateral une o tubérculo do escafóide à face superiores dos quatro últimos metacárpicos, clas-
lateral do trapézio. A membrana sinovial reveste a sificando-se como artrodias. Os meios de união
face profunda da cápsula e emite prolongamentos, são a cápsula articular em continuidade, em cima,
superiores e inferiores, para as articulações da 1ª com a cápsula articular da articulação carpometa-
e 2ª fileiras do carpo, pelo que, em última instân- cárpica dos quatro últimos metacárpicos. Cada ar-
cia, todas as articulações cárpicas apresentam uma ticulação é ainda constituída por um ligamento in-
sinovial comum, à exceção da articulação pisotri- terósseo, palmar e dorsal. A membrana sinovial é
quetral. A cavidade articular das articulações cár- um prolongamento da sinovial da articulação car-
picas comunica com a cavidade articular da articu- pometacárpica.
lação carpometacárpica, através das interlinhas ar- As articulações metacarpofalângicas dos últimos
ticulares entre o trapézio, o trapezóide e o capitato. quatro dedos classificam-se de bicondilartroses
As articulações carpometacárpicas (Fig. 2.3.11a e (Fig. 2.146). As superfícies articulares são a cabe-
2.145) articulam os ossos da 2ª fileira cárpica com ça do metacárpíco e a cavidade glenoideia da ex-
os ossos metacárpicos. Existem duas articulações: tremidade superior da 1ªfalange.A cabeça do me-
a 1ª carpometacárpica (trapézio-primo-metacár- tacárpico é mais extensa ântero-posteriormen-
pica), entre o trapézio e o 1° metacárpico e as res- te, particularmente na face palmar, do que a ca-
tantes articulações carpometacárpicas. vidade glenoideia, pelo que existe uma fibrocarti-
A 1ª articulação carpometacárpica ou articula- lagem a corrigir esta discrepância. Esta fibrocarti-
ção trapézio-primo-metacárpica é uma efipiar- lagem prolonga superiormente a face anterior da-
trose uma vez que a superfície articular superior, a quela cavidade e está fixa à face palmar e às faces
face inferior do trapézio, é convexa ântero-postc- laterais da extremidade superior da falange. A sua
riormente e côncava transversalmente e a superfí- face posterior é côncava e articular enquanto a sua
cie articular inferior, a face superior da base do 1° face anterior, não articular, apresenta uma goteira
metacárpico, apresenta curvaturas complementa- vertical, na qual deslizam os tendões dos músculos
res. Os meios de união são a cápsula articular, laxa, flexores. Os meios de uniâo são a cápsula articular
e os ligamentos de reforço da cápsula. e os ligamentos laterais. Os ligamentos laterais são
As articulações carpometacárpicas dos quatro dois feixes espessos e resistentes que se inserem,

175
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

5 6

J
4

Fig. 2.146: Ligamentos metacarpofalângicos e interíalângicos (face anterior ou palmar e medial).


1. Articulações carpometacárpicas 2. Articulações metacarpofalângicas 3. Ligamento transverso intermetacárpico palmar 4. Ligamento lateral da
metacarpofalângica 5. Articulação interfalângica proximal 6. Articulação interfalângica distal

em cima, no tubérculo e na depressão das faces la- ossos sesamoides formando o ligamento metacar-
terais da cabeça metacárpica e, em baixo, divergem posesamoideu.
em leque dividindo-se em fibras posteriores e an- As articulações metacarpofalângicas executam
teriores. As fibras posteriores inserem-se nos tu- movimentos de flexão/extensão, lateralidade, cir-
bérculos laterais da extremidade superior da falan- cundução e movimentos passivos de rotação. Os
ge, formando o feixe metacarpofalângico do liga- movimentos de flexão/extensão fazem-se em tor-
mento lateral e as anteriores unem-se à cartilagem no de um eixo transversal que passa no centro do
glenoideia e formam o feixe metacarpoglenoideu côndilo. A flexão é limitada pela tensão dos ten-
daquele ligamento. O ligamento transverso inter- dões extensores e a extensão pela dos tendões fle-
metacárpico palmar é uma fita fibrosa que se es- xores e ligamentos palmares. Os movimentos de
tende desde o 2° ao 5° metacárpicos atravessando flexão e extensão de um único dedo isolado apre-
a face palmar das articulações metacarpofalângicas sentam menor amplitude que os mesmos movi-
e aderindo intimamente à fibrocartilagem glenoi- mentos envolvendo simultaneamente os outros
deia de cada_uma daquelas. A face anterior deste dedos, o que se deve à tensão do ligamento trans-
ligamento forma uma goteira e relaciona-se com verso intermetacárpico. Os movimentos de latera-
os tendões dos músculos flexores. lidade aproximam ou afastam os dedos entre si e
A articulação metacarpofalângica do 1° dedo executam-se em torno de um eixo ântero-poste-
apresenta três características particulares a salien- rior que passa na cabeça do osso metacárpico. São
tar: a superficie articular do 1° metacárpico é mais limitados pela tensão do ligamento lateral oposto
extensa à frente, apresentando uma porção falân- àquele para o qual se faz a inclinação lateral.
gica em relação com a cavidade glenoideia da fa- As articulações interfalângicas (Fig. 2.146) classi-
lange e uma porção anterior ou sesamoide em re- ficam-se como trocleartroses. São duas por dedo,
lação com a fibrocartilagem glenoideia e com os à exceção do 1° dedo em que existe apenas uma.
ossos sesamoides; a fibrocartilagem glenoideia As superficies articulares são, por um lado, a tró-
tem, na sua espessura, dois ossos sesamoides, um clea da extremidade inferior da falange supra-ad-
lateral e um medial; as fibras anteriores dos liga- jacente, mais extensa à frente e sobre a face pal-
mentos laterais terminam, em grande parte, nos mar e, por outro, a extremidade superior da falange

176
r SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR

·nfia-adjacente. Esta última tem a forma de uma MIOLOGIA DO MEMBRO SUPERIOR


1
ista mediana, em relação com a goteira da tró-
crl e de duas cavidades glenoideias que articulam Os músculos do membro superior organizam-se
c ea
com as vertentes da tróclea, em forma de côndilos. em quatro regiões musculares: músculos da espá-
A superfície articular inferior é menos extensa no dua ou do ombro, braço, antebraço e mão.
sentido ântero-posterior que a superfície articular
superior pelo que existe uma fibrocartilagem, se- MÚSCULOS DA ESPÁDUA
melhante à das articulações metacarpofalângicas.
A cápsula, os ligamentos e a sinovial apresentam Os músculos da espádua estão divididos em qua-
as mesmas características que estes elementos, nas tro grupos: anterior, medial, posterior e lateral.
articulações previamente descritas.
Estas articulações executam apenas movimentos GRUPO ANTERIOR
de flexão e extensão. A flexão é limitada pela ten-
são dos tendões extensores e a extensão pela cáp- Compreende os músculos que formam a parede
sula articular e pela bainha fibrosa dos tendões fle- anterior da axila: peitoral maior (grande peitoral),
xores. peitoral menor (pequeno peitoral) e subclávio. Es-
tes, dispõem- se em dois planos, um profundo e
um superficial (Fig. 2.147).

PLANO PROFUNDO

Músculo subclávio

Encontra-se entre a clavícula (em cima) e a 1' cos-


tela (em baixo). Insere-se na face inferior da claví-
cula, no sulco do músculo subclávio, e na face su-
perior da 1ª costela e 1ª cartilagem costal. Relati-
vamente à sua ação, realiza movimentos de abaixa-
mento da clavícula e, consequentemente, da omo-
plata. Se o ponto fixo se encontrar na clavícula passa
a ser um músculo inspiratório, elevando a 1ª costela.

Músculo peitoral menor

Insere-se, em cima, na extremidade anterior da


apófise coracoideia da omoplata de onde os seus
feixes divergem inserindo-se, em baixo, junto às
cartilagens costais da 3a, 4• e 5• costelas. Situa-
-se abaixo do músculo subclávio do qual está se-
parado, junto ao seu bordo superior, por um espa-
ço triangular de base interna, o espaço clavi-peito-
ral, preenchido pela fáscia (aponevrose) do mes-
mo nome. Relativamente à sua ação, se o ponto
fixo se encontrar nas costelas, baixa o ângulo la-
teral da omoplata. Se o ponto fixo se encontrar na
omoplata passa a ser um músculo inspiratório, ele-
Fig. 2.147: Músculos da espádua (vista anterior).
vando as costelas.
1. Esterno 2. Clavícula 3. Músculo peitoral maior 4. Músculo De1tóide
5. Sulco deito-peitoral

177
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

PLANO SUPERFICIAL res maior (grande redondo) e lacíssimo dorsa}


(grande dorsal), na região posterior. O s tendões
Músculo peitoral maior de inserção do supraespinhoso, infraespinhoso, su-
bescapular e teres menor na extremidade superior
Encontra-se na porção anterior e superior do tó- do úmero formam a chamada "coifa dos rotadores"
rax, reveste os músculos subclávio e peitoral menor (como já referido anteriormente) com importân-
e estende-se até ao úmero. Insere-se, medialmen- cia fundamental nos movimentos da cintura es-
te, nos 2/3 mediais do bordo anterior da clavícu- capular (Fig. 2.148 e Fig. 2.149).
la, face anterior do esterno e seis primeiras carti-
lagens costais. Os seus feixes musculares dirigem-
-se para fora e terminam por dois tendões que se
inserem no lábio anterior do sulco intertubercular,
à frente da inserção do músculo lacíssimo dorsal.
A sua ação é a adução e rotação medial do braço.
Se o ponto fixo se encontrar no úmero promove a
elevação do tórax.
3
GRUPO MEDIAL

Compreende um único músculo, o músculo serrá-


til anterior (grande dentado).

Músculo serrátil anterior 5

Encontra-se na parede lateral do tórax entre as dez


primeiras costelas e o bordo medial da omoplata.
Insere-se através de vários feixes no bordo lateral
da 1ª costela e nas faces laterais da 2ª à 10ª costelas
formando três lâminas musculares (superior, mé-
dia e inferior) que contornam a face ântero-lateral
do tórax e se vão inserir ao longo do bordo medial
da omoplata. Relativamente à sua ação, se consi-
derarmos o ponto fixo ao nível da parede toráci-
ca, faz movimentar a omoplata sobre a parede to-
rácica, lateral e anteriormente e, simultaneamente, Rg. 2.148: Músculos da espádua (vista posterior).
imprime-lhe um movimento de báscula que eleva 1. Espinha da omoplata 2. Músculo supraespinhoso 3. Músculo
infraespinhoso 4. Músculo teres menor 5. Músculo Iatíssimo dorsal
o seu ângulo lateral. Se o ponto fixo se encontrar 6. Tuberosidade maior da cabeça do úmero
na omoplata passa a ser um músculo inspiratório,
elevando as costelas.
Músculo supraespinhoso
GRUPO POSTERIOR
Insere-se na fossa supraespinhosa da omopla-
Compreende os músculos com inserção na omo- ta, nos seus ¾ internos. Os seus feixes dirigem-
plata e com acção na articulação glenoumeral, for- -se para fora, abaixo da articulação acromioclavi-
mando a parede posterior da axila (Fig. 2.148). cular e do ligamento acromiocoracoideu e acima
Estes são o subescapular (infra-escapular), na re- da articulação glenoumeral, indo inserir-se na tu-
gião anterior da omoplata e o supraespinhoso, in- berosidade maior do úmero. A sua ação é a abdu-
fraespinhoso, teres menor (pequeno redondo), te- ção do braço até aos 900, elevação e rotação lateral.

178
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: M EMBROS SUPERJOR E INFERJOR

Desernpenha urn papel ativo importante na bio- Músculo teres menor


·ru·ca da articulação glenoumeral funcionando
rneca ._
rneio de uruao desta. Insere-se na região lateral da fossa infraespinho-
cornO
sa, na metade superior do bordo lateral da omo-
Músculo in fraespinhoso plata. Os seus feixes dirigem-se para cima e para
fora, confundem-se com os feixes mais inferiores
Insere-se na fossa infraespinhosa medialmente às do músculo infraespinhoso, passam atrás da arti-
inserções dos músculos teres maior e menor. Os culação glenoumeral e inserem-se na tuberosidade
seus feixes convergem para a extremidade supe- maior do úmero. A sua ação é a abdução e rotação
rior do úmero passando atrás da articulação gle- lateral do braço e funciona como meio de união
nourneral e inserem- se na tuberosidade maior do ativo da articulação glenoumeral.
úrnero. A sua ação é a abdução e rotação lateral do
braço e funciona como meio de união ativo da ar- Músculo teres maior
ticulação glenoumeral.
Insere-se na região ínfero-lateral da fossa infraes-
Músculo subescapular pinhosa ao longo da metade inferior do bordo la-
teral da omoplata, abaixo das inserções do mús-
Situa-se à frente da omoplata e articulação gle- culo teres menor. Os seus feixes dirigem-se para
noumeral e insere-se em toda a extensão da face cima, para fora e para a frente, e inserem-se no lá-
anterior da omoplata, na fossa infraescapular, ex- bio medial do sulco intertubercular atrás da inser-
ceto ao longo do seu bordo medial e próximo do ção do músculo Iatíssimo dorsal. Existe uma bol-
colo. Os feixes musculares convergem para o ân- sa serosa anterior, constante, a separar o tendão do
gulo lateral da omoplata passando à frente da cáp- teres maior do tendão do Iatíssimo dorsal e uma
sula articular da articulação glenoumeral inserin- bolsa serosa posterior, inconstante, entre o tendão
do-se na tuberosidade menor do úmero. Está se- do músculo teres maior e a porção óssea do úmero.
parado desta articulação pela bolsa serosa subes- A sua ação é a adução e rotação medial do braço.
capular. A sua ação é a rotação medial do braço e Qyando o ponto fixo se encontra no úmero pro-
funciona como meio de união ativo da articulação move o movimento de báscula da omoplata ele-
glenoumeral. vando o seu ângulo inferior.

Fig. 2.149: Músculos da coifa dos rotadores (vista anterior e posterior).


1. Espinha da omoplata 2. Acrómio 3. Cabeça do úmero 4. Músculo supraespinhoso 5. Músculo infraespinhoso 6. Músculo teres menor
7. Músculo subescapular 8. Tendão da porção longa do músculo bíceps braquial

179
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

8 6

Fig. 2.150: Disseção glenoumeral (anterior e posterior).


1. Espinha da omoplata 2. Úmero 3. Porção longa do músculo tríceps braquial 4. Músculo subescapular 5. Músculo teres maior 6. Músculo teres
menor 7. Espaço omo-tricipital 8. Espaço úmero-tricipital

O músculo teres maior relaciona-se com o múscu- 1/3 posterior da crista ilíaca e na face lateral das
lo teres menor ao nível da omoplata, inserindo-se quatro últimas costelas. Os seus feixes revestem a
abaixo deste. Estes dirigem-se para fora afastan- parede póstero-lateral do tórax, dirigem-se para
do-se um do outro e delimitam um espaço trian- cima, contornam o bordo inferior do músculo te-
gular, o espaço omo-umeral cuja base se encontra res maior e inserem-se no fundo do sulco intertu-
no colo cirúrgico do úmero e o vértice no bordo bercular à frente do músculo teres maior e atrás do
lateral da omoplata. Este espaço encontra-se divi- músculo peitoral maior. A sua ação é a adução, ex-
dido, pelo tendão da porção longa do músculo trí- tensão e rotação medial do braço. Qyando o ponto
ceps braquial, em duas regiões secundárias, uma fixo se encontra no úmero, eleva o tronco.
lateral, o espaço umero-tricipital e uma medial, o
espaço omo-tricipital. O espaço umero-tricipital é GRUPO LATERAL
limitado, em cima, pelos músculos subescapular e
teres menor, em baixo, pelos músculos teres maior Compreende um único músculo, o músculo del-
e Iatíssimo dorsal, lateralmente, pelo úmero e, me- tóide.
dialmente, pela porção longa do músculo tríceps
braquial. Dá passagem aos vasos circunflexos pos- Músculo deltóide
teriores e ao nervo circunflexo. O espaço omo-tri-
cipital é limitado, em cima, pelo músculo subes- Apresenta uma inserção superior ao nível do bor-
capular e teres menor, em baixo, pelo músculo te- do anterior da clavícula, no vértice e no bordo la-
res maior e Iatíssimo dorsal e, lateralmente, pela teral do acrómio e no bordo posterior da espinha
longa porção do músculo tríceps braquial. Dá pas- da omoplata. Os seus feixes dirigem-se para bai-
sagem ao ramo escapular da artéria escapular infe- xo, revestem a articulação glenoumeral e as inser-
rior (Fig. 2.150). ções dos vários músculos peri-articulares e reú-
nem-se para formar um tendão espesso que se
Músculo Iatíssimo dorsal insere na tuberosidade deltoideia, na face lateral
do úmero (Fig. 2.145). A sua ação é a abdução do
Insere-se, em baixo, _na região posterior do tron- braço. Qyando os feixes anteriores ou posterio-
co, nas apófises espinhosas e nos ligamentos su- res se contraem isoladamente, promovem o mo-
praespinhosos das últimas cinco vértebras dorsais, vimento de flexão ou extensão do braço, respeti-
nas cinco vértebras lombares, na crista sagrada, no vamente.

180
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERJOR E INFERIOR

O bordo anterior do deltóide relaciona-se na sua


orção inferior com o músculo peitoral maior de-
[rnitando um espaço que se denomina de espa-
0 delto-peitoral. O músculo deltóide encontra-se

~eparado da articulação glenoumeral e dos ten-


dões dos músculos peri-articulares por uma bol-
sa serosa, a bolsa subdeltoideia ou subacromioco-
racoideia.

MÚSCULOS DO BRAÇO

Os músculos do braço estão divididos em dois


grupos: anterior e posterior.

COMPARTIMENTO ANTERIOR OU
FLEXOR I GRUPO ANTERIOR

Compreende os músculos bíceps braquial (bicípi-


te), braquial (braquial anterior) e coracobraquial
(Fig. 2.151 e 2.152).

PLANO PROFUNDO

Músculo coracobraquial
Fig. 2.151: Músculos da região anterior do braço (plano profundo).
Insere-se, em cima, na apófise coracoideia da omo-
1. Úmero 2. Apófise coracoideia 3. Músculo coracobraquial 4.
plata por um tendão comum com a porção curta Músculo braquial 5. Apófise coronoideia do cúbito 6. Tendão da
do bíceps braquial. Apresenta um trajeto oblíquo porção longa do músculo bíceps braquial (corte) 7. Tendão da porção
longa do músculo tríceps braquial (corte)
inferior e lateralmente, atravessa a axila atrás do
peitoral maior e à frente do tendão do músculo
subescapular do qual está separado por uma bolsa PLANO SUPERFICIAL
serosa. Insere-se, em baixo, na face medial do cor-
po do úmero. A sua ação é a flexão do braço. Músculo bíceps braquial

Músculo braquial Situa-se à frente dos músculos coracobraquial e


braquial. Em cima, divide-se numa porção curta
Situa-se abaixo do músculo coracobraquial e à e numa porção longa, cuja inserção se faz por ten-
frente da porção inferior do úmero e da articula- dões distintos. A porção curta do músculo bíceps
ção do cotovelo. Insere-se, em cima, no bordo an- braquial insere-se na apófise coracoideia por um
terior, face medial e lateral do corpo do úmero, tendão comum juntamente com o músculo co-
abaixo das inserções do deltóide e do coracobra- racobraquial. A porção longa do músculo bíceps
quial. Apresenta um trajeto descendente passan- braquial insere-se no tubérculo supraglenoideu, no
do à frente da cápsula da articulação do cotovelo e rebordo da cavidade glenoideia da omoplata, apre-
insere-se, em baixo, na face inferior da apófise co- senta um trajeto descendente e atravessa a articu-
ronoideia do cúbito. A sua ação é a flexão do ante- lação glenoumeral onde se relaciona com a cabe-
braço sobre o braço. ça do úmero. No seu trajeto intracapsular o tendão

181
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Músculo tríceps braquial

Ocupa a região posterior do braço e estende-se


da omoplata e do úmero ao olecrânio. Em cima
divide-se em três porções distintas: longa, later~
e medial. A porção longa do músculo tríceps bra-
quial termina num tendão com um trajeto ascen-
dente que se insere no tubérculo infraglenoideu
e na porção vizinha do labrum glenoideu. A in-
serção superior da porção lateral do músculo trí-
ceps braquial e da porção medial do músculo trí-
ceps braquial faz-se ao nível da face posterior do
corpo do úmero, acima do sulco do nervo radial
para a porção lateral e abaixo deste para a porção
medial. A porção lateral recobre o sulco do ner-
vo radial transformando-o num canal osteomus-
3 cular onde passam o nervo radial e a artéria bra-
quial (umeral) profunda. As três porções muscu-
lares, com um trajeto descendente, formam um

2 3

Fig. 2.152: Músculos da região anterior do braço (plano superficial).


1. Cabeça umeral 2. Músculo bíceps braquial 3. Porção curta
do músculo bíceps braquial 4. Porção longa do músculo bíceps
braquial 5. Músculo coraco-braquial 6. Músculo peitoral maior (corte}
7. Músculo d eltíde (corte) 8. Apófise coracoideia

é todo revestido por membrana sinovial estando,


portanto, totalmente isolado da cavidade articular.
De seguida percorre o sulco intertubercular e, na
região média do braço, as duas porções reúnem-se
na numa massa comum que, passa à frente da ar-
ticulação do cotovelo e insere-se na tuberosidade
do rádio. A sua ação é a flexão do braço e antebra-
ço e é o principal músculo supinador do antebraço.
O tendão da porção longa tem um papel impor-
tante na manutenção da coaptação articular da ar-
ticulação glenoumeral.

COMPARTIMENTO POSTERIOR OU
EXTENSOR / GRUPO POSTERIOR
Fig. 2.153: Músculos da região posterior do braço.
1. Cabeça umeral 2. Espinha da omoplata 3. Acrómio 4. Olecrâilio
Compreende um único músculo, o tríceps braquial 5. Tendão do músculo tríceps braquial 6. Porção longa do músculo
(tricípite). tríceps braquial 7. Porção lateral do músculo tríceps braquial 8. Músculo
teres maior 9. Músculo deltóide (corte)

182
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR

endão comum que se insere na face superior do apresentam um trajeto descendente dividindo-se
:lecrânio (Fig. 2.153). A sua ação é a extensão do em quatro tendões terminais que passam à frente
braço e antebraço. do músculo quadrado pronador, atravessam oca-
nal cárpico e, ao nível da face palmar da mão, se-
param-se dirigindo-se, cada um, para o dedo res-
MÚSCULOS DO ANTEBRAÇO petivo. Ao nível dos dedos, cada um dos tendões
(tendão perfurante) passa num anel formado pelo
Os músculos do antebraço estão divididos em três desdobramento do tendão do flexor superficial dos
grupos: anterior, lateral e posterior. dedos (tendão perfurado) e insere-se na face ante-
rior da base da 3ª falange (Fig.2.154).A sua ação é
a flexão da 3ª falange sobre a 2a, da 2ª sobre a 1a, da
COMPARTIMENTO ANTERIOR OU 1ª sobre o metacarpo e da mão sobre o antebraço.
FLEXOR OU VOLAR I GRUPO ANTERIOR
Músculos lumbricais
Situa-se à frente do esqueleto do antebraço e é
constituído por músculos que se dispõem em qua- São quatro pequenos feixes musculares anexos
tro planos: quadrado pronador, flexor profundo aos tendões do músculo flexor profundo dos de-
dos dedos (flexor comum profundo dos dedos), dos que se encontram na região palmar da mão.
flexor longo (flexor próprio) do 1° dedo, lumbri- Dirigem-se lateralmente, passam no bordo lateral
cais, flexor superficial dos dedos (flexor comum da articulação metacarpofalângica correspondente
superficial dos dedos), pronador teres (redondo e terminam, por um tendão comum ao interósseo
pronador), flexor radial do carpo (grande palmar), respetivo, no bordo lateral do tendão do extensor.
longo palmar (pequeno palmar) e flexor cubital do O 1° e 2° lumbricais inserem-se apenas no bordo
carpo (cubital anterior). lateral do tendão flexor profundo corresponden-
te. O 3° e 4° têm origem nos bordos laterais dos
PIANO PROFUNDO dois tendões flexores correspondentes. A sua ação
é a flexão da 1ª falange sobre o metacarpo e exten-
Músculo quadrado pronador são da 2ª e 3ª.

Situa-se na região anterior, distal e profunda do Músculo flexor longo do 1º dedo


antebraço estendendo-se transversalmente entre o
cúbito e o rádio, à frente da membrana interóssea. Insere-se, em cima, na face anterior do rádio des-
Insere-se, mediaimente, no ¼ inferior do bordo de a tuberosidade do rádio até ao músculo quadra-
medial e face anterior do cúbito. Os seus feixes di- do pronador. Os seus feixes dirigem-se para baixo
rigem-se obliquamente para fora e para baixo in- e terminam num tendão que atravessa o canal cár-
serindo-se no ¼ inferior da face anterior e bordo pico, para fora dos tendões do flexor profundo dos
lateral do rádio (Fig. 2.154). A sua ação é a prona- dedos, entre os feixes do flexor curto do 1° dedo,
ção do antebraço. inserindo-se na base da 3ª falange do 1° dedo (Fig.
2.154). A sua ação é a flexão da 2ª falange sobre a
PLANO DOS FLEXORES PROFUNDOS 1ª e da 1ª sobre o metacarpo.

Músculo flexor profundo dos dedos PIANO SUPERFICIAL

As suas inserções superiores fazem-se ao nível do Músculo flexor superfícia/ dos dedos
cúbito e do rádio. No cúbito, insere-se nos ¾ su-
periores das faces medial e anterior e na apófise Insere-se, em cima, através de dois feixes, no cú-
coronoideia. No rádio, insere-se no bordo medial bito e no rádio. O feixe umerocubital insere-se
abaixo da tuberosidade do rádio. Os seus feixes no epicôndilo medial, por um tendão comum aos

183
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

4
2

Fig. 2.1 54: Músculos da região anterior do antebraço (flexores Fig. 2.155: Músculos da região anterior do antebraço (plano do flexor
profundos). superficial).
1. Apófise coronoideia 2. Músculo pronador quadrado 3. Músculo 1. Apófise coronoideia 2. Músculo flexor superficial dos dedos 3. Feixe
flexor profundo dos dedos 4. Músculo flexor longo do 1º dedo úmerocubital 4. Feixe úmeroradial 5. Arco t endinoso do músculo
flexor superficial dos dedos 6. Músculo flexor longo do 1º dedo
7. Epicôndilo medial 8. Quiasma tendinoso (Camper)

músculos epicondilianos mediais e na apófise co- dinoso (de Camper).A sua ação é a flexão da 2ª fa-
ronoideia do cúbito. O feixe umeroradial insere-se lange sobre a 1a, da ia sobre o metacarpo e da mão
no bordo anterior do rádio. Estes dois feixes reú- sobre o antebraço.
nem-se e formam uma arcada na qual passa o ner-
vo mediano e a artéria cubital. O s feixes muscula- PLANO DOS MÚSCULOS EPICONDILIANOS
res têm um trajeto descendente à frente do flexor MEDIAIS SUPERFICIAIS (EPITROCLEARES
profundo dos dedos e terminam por quatro ten- SUPERFICIAIS)
dões que atravessam o canal cárpico. Estes ten-
dões, na região palmar da mão, separam-se diri- É constituído por quatro músculos com inserção
gindo-se cada um para o dedo respetivo, passando superior no epicôndilo medial dispostos, de late-
à frente do tendão correspondente do flexor pro- ral para medial, pela seguinte ordem: pronador
fundo dos dedos. Ao nível da articulação metacar- teres (redondo pronador), flexor radial do carpo
pofalângica, cada tendão divide-se em duas fitas (grande palmar), longo palmar (pequeno palmar)
que contornam, de cada lado, o tendão do flexor e flexor cubital do carpo (cubital anterior) (Fig.
profundo dos dedos e inserem-se nos bordos late- 2.156).
rais da 2ª falange (Fig. 2.155). Ao entrecruzamen-
to entre os tendões dos músculos flexor profundo e
superficial dos dedos, ao nível da articulação inter-
falângica proximal dá-se o nome de quiasma ten-

184
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR

Músculo pronador teres Músculo flexor cubital do carpo

É O rnais lateral dos músculos deste plano. Insere- Insere-se, em cima, no úmero e no cúbito através
ern cirna, no úmero e no cúbito através de dois de dois feixes. O feixe umeral insere-se no epicôn-
f::es. O feixe epicondiliano medial insere-se no dilo medial e o feixe cubital insere-se no olecrâ-
e icôndilo medial e o feixe coronoideu insere-se nio, na apófise coronoideia e nos 2/3 superiores do
:a apófise coronoideia do cúbito, formando uma bordo posterior do cúbito. Estes feixes reúnem-se
arcada por onde passa o nervo mediano. Estes, têm formando uma arcada que limita, com o sulco do
urn trajeto descendente, para fora, cruzando a par- nervo cubital, um orificio por onde passa o nervo
te superior do músculo flexor superficial dos dedos cubital. Apresentam um trajeto descendente, para
e inserern-se na parte média da face lateral do rá- dentro do músculo longo palmar e flexor superfi-
dio. Este músculo está separado do músculo bíceps cial dos dedos e terminam através de um tendão
braquial, para fora, por um espaço denominado de que se insere no pisiforme. A sua ação é a flexão e
"sulco bicipital medial" (goteira interna da prega adução da mão.
do cotovelo) e cujo fundo é constituído pelo mús-
culo braquial. Esta goteira dá passagem aos vasos
braquiais e ao nervo mediano. A sua ação é a pro-
nação do antebraço.

Músculo flexor radial do carpo

Insere-se, em cima, no epicôndilo medial. Os seus


feixes musculares têm um trajeto descendente,
para fora e à frente do músculo flexor superficial
dos dedos, entre o longo palmar, medialmente, e o
pronador teres, lateralmente. Terminam num ten-
dão que cruza o bordo lateral do músculo flexor
superficial dos dedos e a face anterior do músculo
flexor longo do 1 ° dedo e, passa na porção lateral
do canal cárpico. I nferiormente, insere-se na face
anterior da base do 2° metacárpico. A sua ação é
a flexão da mão sobre o antebraço, pronação e ab-
dução da mão.

Músculo longo palmar

Insere-se, em cima, no epicôndilo medial. Os fei-


xes musculares têm um trajeto descendente à fren-
te do músculo flexor superficial dos dedos, entre o
músculo flexor cubital do carpo, medialmente, e o
músculo flexor radial do carpo, lateralmente. Ter-
mina na região média do antebraço, através de um
tendão que se insere na fáscia palmar superficial.
A sua ação é a flexão da mão.
Fig. 2.156: Músculos da região anterior (flexores superficiais) e lateral
do antebraço.
1. Epicôndilo medial 2. Expansão tendinosa do músculo bíceps
braquial 3. Músculo braquioradial 4. Músculo pronador redondo
5. Músculo flexor radial do carpo 6. Músculo longo palmar 7. Músculo
flexor cubital do carpo 8. Goteira do pulso

185
MANUAL DE ANATOMJA HUMANA

COMPARTIMENTO POSTERIOR OU com um trajeto descendente, revestem o múscu-


EXTENSOR lo extensor radial curto do carpo, medialmente, e
terminam num tendão que, tal como este último
GRUPO LATERAL passa no sulco dos extensores radiais do carpo, a~
nível do punho e vai inserir-se na face dorsal da
Constituído por quatro músculos situados para base do 2° metacárpico. A sua ação é a extensão e
fora do esqueleto do antebraço dispostos, da pro- abdução da mão.
fundidade para a superfície pela ordem seguin-
te: supinador (curto supinador), extensor radial Braquioradial
curto do carpo (curto radial ou 2° radial), exten-
sor radial longo do carpo (longo radial ou 1° ra- Insere-se, em cima, na extremidade inferior do
dial) e braquioradial (longo supinador). Destes, bordo lateral do úmero, acima da inserção do mús-
os dois mais profundos (supinador e extensor ra- culo extensor radial longo do carpo. Tem um tra-
dial curto do carpo) têm uma inserção no epicôn- jeto descendente, revestindo os músculos extenso-
dilo lateral e fazem parte dos músculos epicondi- res radiais do carpo, a extremidade inferior do pro-
lianos laterais. nador teres e a face lateral do rádio. Termina num
tendão que se insere na apófise estiloideia do rádio.
Músculo supinador A sua ação é a flexão do antebraço sobre o braço.
Realiza o movimento de supinação apenas quando
É constituído por dois feixes: um superficial e um o antebraço está em pronação completa.
profundo, ambos com inserção superior no epi- Na porção inferior do braço o braquioradial e 0
côndilo lateral e na superfície abaixo da incisu- extensor radial longo do carpo estão separados dos
ra radial do cúbito. Estes feixes musculares diri- músculos bíceps braquial e braquial (são mais me-
gem-se obliquamente para baixo e para fora e in- diais) por um espaço que se denomina por sulco
serem-se no bordo anterior do rádio (feixes pro- bicipital lateral (goteira externa da prega do coto-
fundos) e no colo e faces anterior e lateral do rádio velo), no fundo do qual passa o nervo radial e ra-
(feixes superficiais). Ambos os feixes estão separa- mos da artéria braquial profunda. Na porção infe-
dos por um interstício onde passa o ramo poste- rior do antebraço, o braquioradial delimita,junta-
rior do nervo radial. A sua ação é a supinação do mente, com o flexor radial do carpo (mais lateral),
antebraço. a goteira do pulso na qual passa a artéria radial aci-
ma do músculo flexor longo do 1 ° dedo e do qua-
Músculo extensor radial curto do carpo drado pronador.

Insere-se, em cima, no epicôndilo lateral por um


tendão comum aos músculos epicondilianos late- GRUPO POSTERIOR
rais. Os feixes musculares têm um trajeto descen-
dente, revestem o músculo supinador e a extremi- Situa-se atrás do esqueleto do antebraço e com-
dade inferior do músculo pronador teres e termi- preende oito músculos dispostos em dois planos,
nam num tendão que passa num canal osteo-fi- um profundo e um superficial (Fig. 2.157 e 2.158).
broso, o sulco dos extensores radiais do carpo (go-
teira dos radiais) e, ao nível do punho insere-se na PLANO PROFUNDO
apófise estiloideia do 3° metacárpico. A sua ação é
a extensão e abdução da mão. É constituído por quatro músculos dispostos, de
cima para baixo e de fora para dentro, pela seguin-
Músculo extensor radial longo do carpo te ordem: abdutor longo do 1° dedo, extensor cur-
to do 1° dedo, extensor longo do 1° dedo, exten-
Insere-se, em cima, na extremidade inferior do sor do 2° dedo.
bordo medial do úmero. Os feixes musculares,

186
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR

Músculo abdutor longo do 1º dedo dorsal da base da 1ª falange do 1° dedo. A sua ação
é a extensão e abdução do 1° dedo.
Insere-se, em cima, na face posterior do cúbito e
na face posterior do rádio, imediatamente abaixo Músculo extensor longo do 1º dedo
do supinador. Apresenta um trajeto descendente,
oblíquo para baixo e para fora, abaixo do múscu- Insere-se, em cima, na face posterior do cúbito,
lo supinador e termina num tendão que, ao nível para dentro e para baixo da inserção do múscu-
do punho, cruza obliquamente a face lateral dos lo extensor curto do 1° dedo. Apresenta um tra-
tendões dos músculos extensores radiais do car- jeto descendente, oblíquo para baixo e para fora,
po estando separado destes por uma bolsa sero- terminando num tendão que, ao nível do punho
sa.Insere-se, inferiormente, na extremidade supe- passa numa bainha osteo-fibrosa na face posterior
rior do 1° metacárpico. A sua ação é a abdução do da extremidade inferior do rádio, para trás e para
1º dedo. dentro da bainha osteo-fibrosa dos músculos ex-
tensores radiais do carpo. Insere-se, em baixo, na
Músculo extensor curto do 1º dedo face dorsal da base da 3ª falange do 1° dedo. A sua
ação é a extensão da 3ª falange sobre a 1a, da 1ª
Insere-se, em cima, no cúbito e no rádio, imediata- sobre o metacarpo e do metacarpo sobre o carpo.
mente abaixo da inserção do músculo abdutor lon-
go do 1° dedo, apresentando um trajeto e relações Músculo extensor do 2º dedo
idênticos a este. Insere-se, inferiormente, na face
Insere-se, em cima, na face posterior do cúbi-
to, para dentro e abaixo da inserção do músculo
extensor longo do 1° dedo. Apresenta um traje-
to descendente, ao longo do bordo ínfero-medial
do músculo extensor longo do 1° dedo, terminan-
2
do num tendão que, no punho, passa na mesma
bainha osteo-fibrosa que o músculo extensor dos
dedos. Ao nível da articulação metacarpofalângi-
ca, une-se ao tendão que o músculo extensor dos
dedos envia para o 2° dedo. A sua ação é a exten-
são do 2° dedo.
6
Os tendões dos músculos longo e curto extensor
4 do 1° dedo delimitam, ao nível da porção póstero-
-lateral do punho, um espaço que se denomina de
"tabaqueira anatómicà' e que é mais visível quan-
do os músculos extensores se contraem. No fundo
deste espaço passam os tendões dos músculos ex-
tensores radiais do carpo e a artéria radial.

PLANO SUPERFICIAL

É constituído por quatro músculos que vão desde


o epicôndilo lateral até ao cúbito e à mão, dispos-
tos, de lateral para medial, pela seguinte ordem:
extensor dos dedos (extensor comum), extensor
Fig. 2.1 57: Músculos da região posterior do antebraço (extensores do 5° dedo (extensor próprio), extensor cubital do
profundos).
1. Olecrânio 2. Epicôndilo lateral 3. Epicôndilo medial 4. Músculo carpo (cubital posterior) e ancóneo (Fig. 2.158).
abdutor longo do 1º dedo 5. Músculo extensor curto do 1º dedo
6. Músculo extensor longo do 1° dedo 7. Músculo extensor do 2º dedo

187
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Músculo extensor dos dedos 2ª falange através de uma fita média resultante da
sua divisão, a este nível, em três fitas (uma média e
Insere-se, em cima, na face posterior do epicôndilo duas laterais). As fitas laterais inserem-se na base
lateral por um tendão comum aos outros músculos da 3• falange. A sua ação é a extensão das duas úl-
epicondilianos laterais. Desce na face posterior do timas falanges sobre a 1ª, da 1' sobre o metacarpo
antebraço, atrás do músculo supinador e dos mús- e do metacarpo sobre o antebraço.
culos do plano profundo e para dentro do mús-
culo extensor radial curto do carpo. Termina por Músculo extensor do 5º dedo
quatro tendões (para cada um dos últimos quatro
dedos) que atravessam o canal osteo-fibroso (co- Insere-se, em cima, no epicôndilo lateral, medial-
mum ao tendão do extensor do 2° dedo) da região mente ao músculo extensor dos dedos. Apresenta
posterior do punho. Estes inserem-se na base da um trajeto descendente na face posterior do ante-
1ª falange por expansões tendinosas e na base da braço originando um tendão que passa, no punho,
numa bainha osteo-fibrosa própria, unindo-se ao
tendão que o músculo extensor dos dedos envia
para o 5° dedo. A sua ação é idêntica à do múscu-
lo extensor dos dedos.

4
Músculo extensor cubital do carpo

Insere-se, em cima, no epicôndilo lateral e no bor-


do posterior do cúbito, para dentro do músculo
extensor dos dedos. Apresenta um trajeto descen-
dente na face posterior do antebraço, para baixo e
para dentro, ao longo do bordo medial do músculo
7
extensor do 5° dedo. T ermina por um tendão que
passa no punho, numa bainha osteo-fibrosa que se
6 encontra entre a cabeça do cúbito e a apófise esti-
loideia deste e insere-se, em baixo, na extremidade
8 - ----H-+
superior do 5° metacárpico. A sua ação é a exten-
são e adução da mão.
12
Músculo ancóneo
13

Encontra-se na face posterior do cotovelo. Insere-


-se, lateralmente, no epicôndilo lateral e, medial-
mente, na face posterior do cúbito. Apresenta um
trajeto descendente para baixo e para fora, reves-
tindo a face posterior da articulação umero-radial.
A sua ação é a extensão do antebraço.

Fig. 2.158: Músculos da região posterior do antebraço (extensores


superficiais). MÚSCULOS DA MÃO
1. Olecrânio 2. Tendão de inserção do músculo tríceps braquial 3.
Músculo ancóneo 4. Músculo braquio•radial 5. Músculo extensor
radial longo do carpo 6. Músculo extensor radial curto do carpo 7. Os músculos da mão estão divididos em três gru-
Músculo extensor dos dedos 8. Músculo extensor do 5° dedo 9. pos: médio, lateral ou da eminência tenar e medial
Músculo extensor cubital do carpo 10. Tendão do músculo abdutor
longo do 1° dedo 11. Tendão do músculo extensor curto do 1º dedo
ou da eminência hipotenar.
12. Tendão do músculo extensor longo do 1º dedo 13. Tabaqueira
anatómica

188
SUPORTE E MOV1MENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR

GRUPO MÉDIO entrecruzam com feixes interósseos contralaterais


e termina no bordo lateral do músculo extensor
Compreende os músculos lumbricais e os interós- correspondente ao longo de todo o comprimento
seos. da 1" e 2• falanges (Fig. 2.159). Os músculos in-
terósseos palmares são também quatro músculos,
Músculos lumbricais mais pequenos que os dorsais. Ocupam a região
palmar dos espaços interósseos e apresentam um
Foram previamente descritos a propósito do mús- trajeto semelhante aos precedentes. O 1° interós-
culo flexor profundo dos dedos, ao qual se encon- seo palmar tem inserções musculares mais com-
tram anexados. plexas, pois insere- se, superiormente, na extremi-
dade superior do 1° e 2° metacárpicos e numa ar-
Músculos interósseos cada fibrosa entre .a base do 1° metacárpico e o
osso trapézio. Os músculos interósseos, em con-
Preenchem os espaços intermetacárpicos e divi- junto, promovem o movimento de flexão da 1" fa-
dem-se em dorsais e palmares. Os músculos in- lange e de extensão das demais. Enquanto os in-
terósseos dorsais são quatro músculos numerados terósseos dorsais afastam do eixo da mão os dedos
de lateral para medial. Inserem-se nas faces late- nos quais se inserem, os palmares aproximam-nos
rais dos dois metacárpicos que limitam o espaço daquele eixo.
interósseo. Continuam-se, acima da interlinha ar-
ticular metacarpofalângica, por um tendão que se GRUPO LATERAL
subdivide em dois feixes: um profundo e um su-
perficial. O feixe profundo insere-se na extremida- Também denominado de "grupo da eminência te-
de superior da 1ª falange. O feixe superficial rece- nar", é constituído por quatro músculos anexos ao
be a fita tendinosa de terminação do músculo lum- 1° dedo, que são, da profundidade para a superfl:-
brical correspondente, origina alguns feixes que se cie, o adutor do 1° dedo, o flexor curto, o oponente
e o abdutor curto do 1° dedo (Fig. 2.160)

Músculo adutor do 1º dedo

Encontra-se à frente dos dois primeiros espaços


interósseos. Insere-se no carpo ao nível do trapé-
zio, trapezóide e capitato. No metacarpo insere-se
ao nível das extremidades superiores do 2° e 3° me-
tacárpicos e no bordo anterior do 3° metacárpico.
Insere-se, ainda, na face anterior da cápsula articu-
lar da 2•, 3• e 4• articulações metacarpofalângicas
e na fáscia palmar profunda, em relação com o 3°
espaço interósseo. Os feixes musculares terminam
num curto tendão, sobre o osso sesamoide medial e
na extremidade superior da 1ª falange do 1° dedo.
A sua ação é a adução do 1° dedo.

Músculo flexor curto do 1º dedo

Estende-se desde a 2• fileira do carpo até à 1ª fa-


lange do 1° dedo. Insere-se, em cima, através de
Fig. 2.159: Músculos da região dorsal palmar da mão. dois feixes, um superficial para o trapézio e bordo
1. Músculos lumbricais 2. Tendões do músculo flexor superficial dos inferior do retináculo dos flexores, e outro profun -
dedos 3. Tendões do músculo flexor profundo dos dedos

189
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

do para o trapezóide e capitato. Em baixo, insere- pansão ao tendão do músculo extensor longo do 1o
-se, no osso sesamoide lateral e na 1ª falange do 1° dedo. A sua ação é a abdução do 1° dedo.
dedo. A sua ação é a projeção do 1° dedo, medial e
anteriormente (abdução e flexão). GRUPO MEDIAL

Músculo oponente do 1º dedo Também denominado de "grupo da eminência hi-


potenar", é constituído por quatro músculos ane-
Insere-se, em cima, no tubérculo do trapézio e xados ao 5° dedo, que são, da profundidade para
na porção lateral da face anterior do retináculo a superfície, o oponente, o flexor curto e o abdu-
dos flexores. Dirige-se, obliquamente, para baixo tor do 5° dedo e o palmar curto (palmar cutâneo)
e para fora até à face anterior do 1° metacárpico. (Fig. 2.160).
A sua ação é a projeção do 1° metacárpico, me-
dial e anteriormente, em oposição aos restantes Músculo oponente do 5º dedo
dedos.
Encontra-se à frente do 5° metacárpico. Insere-
Músculo abdutor curto do 1º dedo -se, em cima, na face medial do hâmulo do ha-
mato, na porção inferior do retináculo dos fle-
É o músculo mais superficial deste grupo. Insere- xores. Insere-se, em baixo, no bordo e face me-
-se, em cima, no tubérculo do escafóide e na por- dial do 5° metacárpico. A sua ação é a projeção
ção súpero-lateral da face anterior do retináculo do 5° dedo, anterior e lateralmente, em oposição
dos flexores. Em baixo, insere-se na extremidade ao 1° dedo.
superior da 1ª falange do 1° dedo e envia uma ex-

Fig. 2.160: Músculos da região palmar da mão (profundos).


1. Músculos interósseos palmares 2. Músculo adutor do 1º dedo 3. Músculo oponente do 1º dedo 4. Tendão do músculo flexor curto do 1º dedo
5. Tendão do músculo abdutor curto do 1º dedo 6. Tendões do músculo flexor superficial dos dedos 7. Tendões do músculo flexor profundo dos
dedos

190
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR

Músculo flexor curto do 5º dedo FÁSC/AS DO OMBRO E AX/l.A

Encontra-se à frente do oponente do 5° dedo. ln- Fáscias musculares


sere-Se, em cima, na face medial do hâmulo do ha-
rnato, acima do músculo oponente, na porção ãn- Cada músculo descrito na região do ombro pos-
tero-medial do retináculo dos flexores e na arcada sui uma fáscia própria que o reveste. A fáscia do
dos músculos da eminência hipotenar. Em baixo, músculo peitoral maior reveste as duas faces des-
insere-se na extremidade superior da 1ª falange do te músculo. Os músculos subclávio e peitoral me-
50 dedo. A sua ação é a flexão do 5° dedo. nor são revestidos por uma fáscia que, em cima, se
insere nos dois bordos do sulco do músculo sub-
Músculo abdutor do 5º dedo clávio, na face inferior da clavícula. Esta, estende-
-se até ao bordo superior do músculo peitoral me-
Encontra-se na porção medial e superficial da nor dividindo-se aí em dois folhetos que revestem
eminência hipotenar. Insere-se, em cima, no pisi- as faces anterior e posterior do músculo. Do bor-
forme e numa expansão tendinosa do músculo fle- do inferior do músculo, a fáscia continua-se para
xor cubital do carpo e, em baixo, na extremidade baixo até à base da axila. O folheto anterior ade-
superior da 1" falange do 5° dedo. A sua ação é a re à fáscia posterior do músculo peitoral maior e
flexão e adução do 5° dedo. Realiza a abdução do o folheto posterior está em continuidade com a
50 dedo se considerarmos o movimento em rela- fáscia profunda da base da axila. A esta fáscia que
ção ao eixo da mão. se estende da clavícula à base da axila envolven-
do os músculos subclávio e peitoral menor, dá-se o
Músculo palmar curto nome de fáscia clavi-axilo-peitoral. A porção que
se estende entre o músculo subclávio e o peito-
Encontra-se no tecido celular subcutâneo, superfi- ral menor toma nome de fáscia clavi-peitoral e é
cialmente à loca hipotenar, e está separado dos res- atravessada pelos vasos e nervos do músculo peito-
tantes músculos do grupo medial pela fáscia pal- ral maior. A porção que se estende desde o peito-
mar. A sua ação é o pregueamento da pele da emi- ral menor até à base da axila denomina-se de liga-
nência hipotenar. mento suspensor da axila. As fáscias dos músculos
supraespinhoso, infraespinhoso e subescapular re-
vestem estes músculos formando uma loca osteo-
FÁSCIAS DO MEMBRO SUPERIOR -fascial, juntamente com a respetiva fossa ao nível
da omoplata, onde se aloja cada um destes mús-
As fáscias do membro superior são constituídas culos.
por uma bainha superficial que reveste os múscu-
los de todo o membro superior e que se continua, FÁSC/A AX/l.AR
na raiz do membro com a fáscia superficial dos
músculos do pescoço e do tórax. Da face profunda Os músculos e as fáscias do ombro e da região axi-
da fáscia superficial destacam-se lâminas fasciais lar delimitam a fossa axilar que é um espaço com
que penetram entre os músculos superficiais e pro- a forma de pirâmide quadrangular truncada que
fundos, envolvendo-os e separando os vários gru- apresenta quatro paredes. A parede anterior é for-
pos musculares entre si. Os vários planos muscu- mada pelos músculos subclávio e peitorais e res-
lares são separados por interstícios existentes entre petivas fáscias. A parede posterior é formada pe-
estas lâminas onde, geralmente, existem pedículos los músculos subescapular, teres maior e !atíssimo
vasculo-nervosos. do dorso. A parede medial pelo músculo serrátil
anterior e a parede lateral pelos músculos coraco-
braquial e bíceps braquial que se encontram re-
vestidos por um prolongamento da fáscia braquial.
A base da fossa axilar é delimitada pelo bordo in-

191
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

ferior destas quatro paredes e é encerrada por duas os músculos da região anterior do antebraço, agru.
lâminas fásciais, uma superficial e uma profunda. pados em dois planos, um superficial e um pro-
A lâmina superficial vai desde o bordo inferior do fundo, separados entre si pela fáscia antebraquial
músculo peitoral maior até ao bordo inferior do profunda e que se encontram à frente dos ossos do
músculo Iatíssimo dorsal e teres maior. Represen- antebraço e da membrana interóssea. A loca pos-
ta, ao nível da axila, a fáscia superficial do mem- terior contém os músculos do grupo posterior do
bro superior que reveste, à frente, o peitoral maior antebraço que se encontram atrás dos ossos do an-
e, atrás, o Iatíssimo dorsal. A lâmina profunda re- tebraço e da membrana interóssea. A loca lateral
veste toda a base da axila e continua o folheto pro- aloja os músculos do grupo lateral do antebraço.
fundo da fáscia clavi-peitoral.
FÁSCIAS DA MÃO
FÁSCIA BRAQUIAL
As fáscias da mão dividem-se em palmares e dor-
Reveste todos os músculos do braço, estando em sais.
continuidade, em cima, com a fáscia axilar e, em A fáscia palmar apresenta dois folhetos, um su-
baixo, com a fáscia antebraquial. Da sua face pro- perficial e um profundo. A fáscia palmar super-
funda destacam-se duas lâminas fibrosas transver- ficial é constituída por três porções: uma média e
sais, o septo intermuscular medial e o septo inter- duas laterais. A fáscia palmar média é uma lâmina
muscular lateral do braço. Estes septos estendem- triangular cuja base corresponde à região proximal
-se da região medial e lateral do braço aos bor- dos quatro últimos dedos e cujo vértice se conti-
dos medial e lateral, respetivamente, do corpo do nua pelo tendão do músculo longo palmar. Reves-
úmero dividindo, topograficamente, o braço em te o retináculo dos fl.exores, os tendões dos múscu-
dois compartimentos ou locas, um anterior e ou- los fl.exores e as estruturas vasculo-nervosas da re-
tro posterior. Os compartimentos anterior e poste- gião palmar da mão. As fáscias laterais, medial e
rior comunicam entre si por intermédio de alguns lateral, revestem, respetivamente, os músculos da
orifícios que dão passagem a vasos e nervos. Des- eminência hipotenar e tenar e continuam-se com
tes, os mais importantes são: um no septo inter- a fáscia média. Nas zonas onde as três fáscias se
muscular medial (ao nível da região média dobra- unem formam-se dois septos, um medial e um la-
ço) que dá passagem ao nervo cubital e à artéria teral que condicionam a existência de três locas.
colateral cubital superior (do compartimento an- A fáscia palmar lateral estende-se desde o bordo
terior em direção ao posterior) e o outro no septo lateral do 1° metacárpico até ao bordo anterior do
intermuscular lateral próximo da extremidade in- 3°. A fáscia palmar medial estende-se desde o bor-
ferior do sulco do nervo radial para passagem do do medial até ao bordo anterior do 5° metacárpico.
nervo radial e artéria braquial profunda (do com- A fáscia palmar profunda reveste os músculos in-
partimento posterior em direção ao anterior). terósseos palmares, na profundidade dos músculos
flexores. E espessa ao nível das cabeças dos ossos
FÁSCIA ANTEBRAOUIAL metacárpicos onde dá origem ao ligamento trans-
verso profundo o qual adere intimamente às fibro-
A fáscia antebraquial superficial é uma bainha ci- cartilagens glenoideias das articulações metacar-
líndrica que está em continuidade com a fáscia pofalângicas do 2° ao 5° dedo.
braquial, em cima, e com os feixes superficiais dos A fáscia dorsal apresenta também dois folhetos,
retináculos dos fl.exores, em baixo. D as partes la- um superficial e um profundo. A fáscia dorsal su-
terais da sua face profunda partem numerosas ex- perficial estende-se entre o bordo lateral do 1° me-
pansões fásciais que envolvem os vários músculos tacárpico até ao bordo medial do 5°. Reveste os
do antebraço. As fáscias do antebraço, superficial e tendões extensores, continua-se, em cima, com 0
profunda, condicionam,juntamente com o esque- retináculo dos extensores e, em baixo, confunde-se
leto ósseo e com a membrana interóssea a existên- com os tendões extensores. A fáscia dorsal profun·
cia de três espaços ou locas. A loca anterior aloja da reveste a face dorsal dos músculos interósseos e

192
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR

delimita corn a fáscia palmar profunda, a loca dos ra cárpica está dividida em dois compartimen-
interósseos. tos por uma lâmina fibrosa transversal. No com-
partimento lateral passa o tendão do músculo fle-
xor radial do carpo e, no medial passam os ten-
BAINHAS FIBROSAS E SEROSAS DOS dões dos flexores, superficial e profundo e o ner-
TENDÕES DA MÃO E DOS DEDOS vo mediano. Este último compartimento consti-
tui o chamado "canal cárpico". À frente da parte
Anexas aos tendões dos músculos flexores e exten- medial do canal cárpico existe outro canal osteo-
sores da mão, existem bainhas osteo-fibrosas e se- -fibroso limitado atrás pelo retináculo dos flexo-
rosas. As primeiras apresentam função de "rolda- res, à frente por expansões tendinosas do múscu-
na" para os tendões e as segundas facilitam o desli- lo flexor cubital do carpo e por dentro pelo pisi-
zamento destes nas bainhas fibrosas. forme, o canal cubital de Guyon que dá passagem
ao pedículo vasculo-nervoso cubital. As bainhas
BAINHAS OSTEO-F/BROSAS DOS FLEXORES digitais dão passagem aos tendões dos músculos
flexores dos dedos, superficiais e profundos. São
Sistematizam-se em bainhas cárpicas e bainhas formadas pela face anterior das falanges, em for-
digitais. ma de goteira, revestidas por lâminas fibrosas se-
As bainhas cárpicas são duas. O canal cárpico é micilíndricas. Os tendões inserem-se na face an-
constituído pelo sulco cárpico encerrado à frente terior das falanges através de pequenas membra-
pelo retináculo dos flexores. Este ligamento in- nas atravessadas por vasos que se destinam aos
sere-se, medialmente, no pisiforme e hamato e, tendões.
lateralmente, no escafóide e trapézio. A gotei-

4
6

10
14

15
4

15
5
14
13

11

Fig. 2.161 : Bainhas serosas e osteo-fibrosas dos músculos flexores (dissecção palmar profunda).
1. Artéria radial 2. Tendão do flexor radial do carpo 3. Bolsa radial (com o tendão do flexor longo do 1º dedo) 4. Nervo mediano 5. Bolsa
cubital (com os tendões dos flexores, superficial e profundo) 6. Artéria cubital 7. Tendão do flexor cubital do carpo 8. Tendão do palmar longo
9. Ligamento cárpico palmar 10. Retináculo flexor 11. Bainhas digitais 12. Aponevrose palmar (rebatida) 13. Bainha sinovial do tendão do flexor
longo do 1° dedo 14. Tendões do flexor superficial dos dedos 15. Tendões do flexor profundo dos dedos

193
MANUAL DE ANATOMlA HUMANA

BAINHAS SEROSAS DOS FLEXORES po (2•), extensor longo do 1° dedo (3ª), extenso-
res dos dedos e extensor do 2° dedo (4ª), extensor
Subdividem-se em digitais, cárpicas e digito-cár- do 5° dedo (5•) e extensor cubital do carpo (6•)
picas (Fig. 2.161). (Fig. 2.162).
As bainhas digitais envolvem os tendões dos
músculos flexores, ao nível dos dedos, e com-
preendem doi s folhetos: o visceral, que envolve o
próprio tendão flexor do 2°, 3° e 4° dedos, desde
a articulação metacarpofalângica até à 3ª falange
e, o parietal, que recobre a face profunda da bai-
nha digital fibrosa. Esta, mantém os tendões dos
músculos flexores aplicados contra a face palmar
dos dedos, formando recessos (fundos de saco).
As bainhas cárpicas envolvem os tendões dos fle-
xores, ao nível do canal cárpico e são três: lateral,
medial e média. A lateral relaciona-se com o ten-
dão do flexor longo do 1° dedo. E stende-se acima
do bordo superior do retináculo dos flexores eco-
munica, em baixo, com a bainha digital do 1° dedo.
A medial envolve os tendões dos flexores, super-
ficial e profundo. Esta serosa estende-se acima
da serosa lateral e, em baixo, termina na porção
mediana da região palmar da mão, comunicando
frequentemente com a serosa digital do 5° dedo.
A bainha serosa média está relacionada com a
face posterior do tendão do flexor profundo, des-
tinado ao 2° dedo. As bainhas digito-cárpicas Fig. 2.162: Bainhas serosas e osteo-fibrosas dos músculos extensores.
1. Retináculo dos extensores 2. Bainhas ósteo-fibrosas dos músculos
estão na região de fronteira entre as anteriores.
extensores 3. Abdutor longo do 1º dedo 4. Extensor curto do 1° dedo
Existe uma lateral e outra medial. A lateral re- 5. Extensor radial curto do carpo 6. Extensor radial longo do carpo
7. Extensor longo do 1º dedo 8. Extensores dos dedos 9. Extensor
laciona a bainha cárpica lateral com a digital do
do 2• dedo 10. Extensor do 5º dedo 11. Extensor cub~al do carpo
1° dedo e envolve o tendão do músculo flexor ra-
dial do carpo, e a medial relaciona a bainha cá-
rpica medial com a digital do 5° dedo e envol- BAINHAS SEROSAS DOS EXTENSORES
ve os tendões dos flexores superficiais e profun-
dos dos dedos. Revestem os tendões que passam no interior das
bainhas osteo-fibrosas anteriormente descritas.
BAINHAS OSTEO-FIBROSAS DOS
EXTENSORES

Correspondem às goteiras ósseas da extremidade


inferior do rádio, transformadas em canais pelo re- Fratura proximal do úmero
tináculo dos extensores. Este ligamento é uma lâ-
mina fibrosa, oblíqua, medial e inferiormente, que A fratura proximal do úmero é muito frequente
se estende desde a extremidade inferior do rádio em indivíduos acima dos 65 anos de idade e au-
(lateral) até aos ossos triquetro e pisiforme (me- menta na presença de osteoporose. A classificação
dial). As bainhas osteo-fibrosas dorsais são seis, de radiológica mais utilizada (de Neer) baseia-se no
lateral para medial: abdutor longo e extensor cur- atingimento das componentes anatómicas da ex-
to do 1° dedo (l3), extensor radial longo do car- tremidade proximal do úmero. As fraturas da ca-

194
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR

be a umeral ao nível do colo anatómico represen- Epicondilite


ç um pengo
ta!Tl · para a sua vasculanzaçao
. - e podem
evoluir para necrose avascular. As fraturas das tu- A epicondilite, também chamada "tennis elbow", é
berosidades levam ao afastamento dos fragmen- um processo inflamatório que envolve a inserção
tos cracionados pelas respetivas inserções de ten- comum dos músculos extensores do punho e mão.
dões da coifa dos rotadores. Nas fraturas ao nível Além de dor local, surge dor ao realizar extensão
do colo cirúrgico a diáfise é tracionada pelo mús- do punho contra resistência. O tendão mais fre-
culo peitoral maior. quentemente afetado é o do músculo extensor ra-
dial longo do carpo.
Rotura da coifa dos rotadores
Fratura distal do rádio
A rotura da coifa ocorre geralmente ao realizar
esforços, como, por exemplo, durante a atividade As fraturas distais do rádio perfazem cerca de 14%
desportiva. A parte envolvida é quase sempre a in- do total das fraturas. Podemos dividi-las em extra-
serção umeral. O doente refere dor ao realizar ati- -articulares (localizadas na transição metáfiso-epi-
vidades com o membro superior acima do nível da fisária do rádio distal) ou intra-articulares (epifisá-
cabeça, dor noturna, perda de força muscular e de rias). Nas extra- articulares temos duas variantes: as
amplitude de movimento do ombro. A ação dos do tipo de Colles, com desvio dorsal do fragmen-
músculos é testada d.e forma individualizada para to distal, ou do tipo de Smith, com desvio ante-
determinar clinicamente quais os tendões envol- rior. Nas intra-articulares temos a considerar adi-
vidos. Os exames complementares caracterizam reção do traço de fratura: marginal dorsal (fratu-
as dimensões da rotura. Estas lesões, quando in- ra de Barton), que determina subluxação dorsal do
dicado, são reparadas cirurgicamente, reinserindo carpo; envolvendo a apófise estiloideia radial (fra-
o tendão afetado. tura de "chauffeur", o traço termina entre a fosse-
ta do escafóide e do lunato; com afundamento da
Fratura diafisária do úmero fosseta do lunato (tipo "die-punch').
Q9alquer destas lesões pode ocorrer com envol-
A fratura diafisária do úmero ocorre geralmente vimento do cúbito distal. Nesse caso pode haver
por traumatismo direto do braço. Nas fraturas aci- fratura da apófise estiloideia cubital envolvendo a
ma da inserção do músculo peitoral maior, a extre- base, o que determina instabilidade do ligamen-
midade proximal do úmero posiciona-se em ab- to radiocubital que se insere a esse nível, ou fratu-
dução e rotação lateral tracionada pela coifa dos ra da extremidade da apófise estiloideia, que isola-
rotadores. Nas fraturas entre as inserções do mús- damente não tem consequências.
culo peitoral maior e do deltóide, a extremidade
proximal do úmero posiciona-se em adução devi- Síndrome do túnel cárpico
do à ação dos músculos peitoral maior, teres major
e Iatíssimo do dorso, enquanto o fragmento distal A compressão do nervo mediano ao nível do túnel
é desviado lateralmente por ação do deltóide. Se cárpico é a neuropatia compressiva mais frequen-
a fratura for distal à inserção do deltóide o frag- te do membro superior. O túnel cárpico é um ca-
mento proximal posiciona-se em abdução e fle- nal ósteo-fibroso, delimitado por uma parede ós-
xão, enquanto o fragmento distal se desloca pro- sea constituída por ossos do carpo e pelo retinácu-
ximalmente. lo dos flexores. Neste canal passam, além do ner-
As fraturas do terço distal, particularmente as vo mediano, os tendões dos flexores superficial e
oblíquas (de Holstein-L ewis), estão frequentemen- profundo dos dedos e o tendão do músculo flexor
te associadas a lesão do nervo radial. Geralmente longo do 1° dedo. Existem quatro tipos de causas:
há contusão do nervo e não secção. Clinicamente idiopática, a mais frequente; anatómica, que de- ·
observa-se mão pendente e perda de sensibilidade corre, por exemplo, da existência de ventres mus-
ao nível do dorso da mão. culares anómalos, de alterações congénitas dos os-

195
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

sos do carpo ou de sequelas de fratura; secundário 3. Relativamente aos músculos do membro su-
a tendinite, geralmente por esforços repetidos, que perior, assinale a afirmação VERDADEIRA:
leva à inflamação e aumento de volume dos ten- a. Os músculos constituintes da coifa dos ro-
dões; secundário a patologia sistémica, como por tadores têm uma inserção comum na tube-
exemplo na artrite reumatóide, também com in- rosidade menor do úmero;
flamação dos tendões, na gravidez, com edema dos b. A porção longa do músculo tríceps bra-
tendões, na arniloidose, com depósitos de amilói- quial insere-se no tubérculo supraglenoi-
de no nervo, na diabetes, com edema dos tendões deu da omoplata;
e alterações do próprio nervo. c. O músculo bíceps braquial insere-se, em
Clinicamente ocorre parestesia que o doente re- baixo, na tuberosidade do cúbito;
fere envolver toda a mão, mas que testada corres- d. Do grupo lateral dos músculos do ante-
ponde ao território sensitivo do nervo mediano. braço fazem parte o supinador e o bra-
A atrofia muscular ao nível da eminência tenar quioradial;
surge só em casos de duração muito arrastada, não e. O músculo flexor cubital do carpo insere-
sendo total porque o nervo cubital enerva também -se no osso triquetro;
esta região. ia-r ig-z ia-1
:s,isodsoa

PERGUNTAS-TIPO

1. Relativamente aos ossos que fazem parte do REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


membro superior assinale a afirmação falsa:
a. O sulco do nervo radial é visível na face Rouviere, H.; Delmas, A.Anatomie Humaine
posterior do osso; Descriptive, Topographique et Fonctionnelle: Tome 3
b. A cabeça do úmero orienta-se para cima, - Membres. 15éme edition. Masson, Paris, 2002.
para dentro e para trás; Standring, S. Grays Anatomy- 7he Anatomical
c. Na extremidade superior do úmero a tube- Basis ofClínica/ Practice. 41st edition. Elsevier,
rosidade menor é anterior em relação à tu- 2015
berosidade maior;
d. A incisura radial do cúbito é medial; Kapandji, I. A. PhysiologieArticu/aire. 5émc
e. A apófise estiloideia do rádio é lateral; edition. Maloine S.A., 1987
Snell, R. S. C/inica!Anatomy by Regions, 10th
2. Relativamente às articulações do membro su- edition. R.S. Snell, Little Brown and Company,
perior, assinale a afirmação falsa: 2018
a. A articulação escapulotorácica é conside-
Netter, F. H.Atlas ofH umanAnatomy. 6th edition.
rada uma articulação funcional;
Ciba-Geigy Ltd, 1991
b. Os ligamentos trapezóide e conóide unem
a clavícula ao acrórnio;
c. Os movimentos de pronação/supinação •••
são realizados por intermédio das articu-
lações umero-radial e radio-cubitais pro-
ximal e distal;
d. O ligamento colateral cubital é o mais de-
senvolvido dos ligamentos da articulação
do cotovelo;
e. O côndilo cárpico é constituído pelo osso
navicular, lunato e triquetro;

196
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR

o sTEOLOGIA DO MEMBRO INFERIOR OSSO COXAL

O esqueleto do membro inferior é formado, à se- O osso coxal é um osso placóide, comparável a
melhança do membro superior, por quatro seg- uma "hélice". A cavidade articular é lateral e a
mentos: anca, coxa, perna e pé (Fig. 2.163). maior incisura (chanfradura) no rebordo destaca-
vidade é inferior. É constituído por três segmen-
tos que correspondem ao desenvolvimento de três
pontos de ossificação distintos: um segmento su-
perior, o ileon ou asa do ílion e um segmento in-
Anca ferior, o púbis e o isquion que formam o rebor-
2
do de um orifício de grandes dimensões, o bura-
co obturado. (Fig. 2.164). Estes segmentos reú-
nem-se na parte média do osso, espessa e escava-
da na sua face lateral por uma superfície articular,
o acetábulo. Descrevem-se habitualmente duas fa-
ces (lateral e medial), quatro bordos (superior, an-
Coxa terior, inferior e posterior) e quatro ângulos (ân-
tero-superior, ântero-inferior, póstero-superior e
póstero-inferior). A face lateral apresenta três seg-
mentos principais que são, de cima para baixo, a
face glútea do ílion, o acetábulo (cavidade cotilói-
Joelho [
4 deia) e o buraco obturado (buraco isquio-púbico).
A face glútea do ileon é uma superfície triangular,
convexa da frente para trás, côncava na sua por-
5 ção média, que se divide em três segmentos (ante-
rior, médio e posterior) por duas linhas curvas ru-
Perna gosas, as linhas glúteas (linhas semicirculares) an-
6 terior e posterior. A linha glútea anterior, cônca-
va para baixo e para a frente, estende-se desde o
ângulo ântero-superior, representado pela espinha
Tornozelo [ ilíaca ântero-superior, até à porção média do bor-
do superior da incisura isquiática maior (grande

{,._. ..
incisura ciática). A linha glútea posterior, cônca-
va para a frente e quase vertical, estende-se desde
o bordo superior do osso, na união do ¼ posterior
com os ¾ anteriores, e termina no bordo superior
da incisura isquiática maior, situando-se posterior-
Fig. 2.163: Esqueleto ósseo do membro inferior. mente à anterior. O segmento posterior apresen-
1. Ilíaco 2. Sacro 3. Fémur 4. Rótula/Patela 5. Tíbia 6. Peróneo/
Fibula 7. Tarso 8. Metatarso 9. Dedos ta duas zonas: uma póstero-superior que dá inser-
ção aos feixes do músculo glúteo máximo (gran-
de glúteo) e uma ântero-inferior onde se inserem
ESQUELETO DA ANCA alguns feixes do ligamento sacro-tuberoso (gran-
de ligamento sacro-ciático). Os segmentos médio
A anca une o membro inferior ao tronco e é cons- e anterior dão inserção, respetivamente, ao múscu-
tituída por um único osso, o osso coxal (ilíaco). Os lo glúteo médio e ao músculo glúteo rrúnimo (pe-
dois ossos coxais circunscrevem, juntamente com queno glúteo). A parte mais inferior da face glú-
o sacro e o cóccix, uma cintura óssea: a pélvis ou tea do ileon apresenta a goteira supra-acetabular
bacia. (supra-cotiloideia), que se relaciona com o ten-

197
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

dão refletido do músculo recto femoral (recto an-


terior) (Fig. 2.164). O acetábulo olha para a fren-
te, para baixo e para fora, sendo limitada por um
bordo saliente, o rebordo acetabular (rebordo coti-
loideu). Este rebordo apresenta três incisuras que
correspondem à união dos segmentos que consti-
tuem o osso coxal. A incisura ilio-púbica e a inci-
sura ilio-isquiática são pequenas depressões pouco
visíveis no osso. A incisura isquio-púbica apresen-
ta maiores dimensões. O acetábulo apresenta duas
porções distintas: uma porção central, quadriláte-
ra e não-articular, que constitui o transfundo do
acetábulo, e uma porção periférica e articular, em
forma de "meia-lua" cujas extremidades limitam, à
frente e atrás, a incisura isquio-púbica (Fig. 2.164).
O buraco obturado é um orifício de grandes di-
mensões, oval no homem e triangular na mulher,
limitado em pelo acetábulo, em cima, pelo púbis
em cima e à frente e pelo isquion atrás. O seu con-
torno corresponde a um bordo afilado em toda a
sua extensão exceto na face inferior do ramo ho- Fig. 2.164: Osso coxal (face lateral).
1. Crista ilíaca 2. Espinha ilíaca ântero·superior 3. Espinha ilíaca
rizontal do púbis onde é escavado em forma de
ântero-inferior 4. lncisura inominada 5. Espinha ilíaca póstero•
goteira, a goteira infra-púbica. Este bordo dá in- superior 6. Espinha ilíaca póstero-inferior 7. Espinha isquiática
serção à membrana obturadora (no tubérculo ob- 8. lncisura isquiática maior 9. Face glútea do ílion 10. Linha
glútea anterior 11. Unha glútea posterior 12. Unha glútea inferior
turador posterior) que encerra o buraco obturado 13. Rebordo acetabular 14. Acetábulo 15. Transfundo do acetábulo
e aos músculos obturadores (no tubérculo obtu- 16. lncisura ísquio-púbica 17. Corpo do púbis 18. Tubérculo púbico
19. Ramo horizontal do púbis 20. Ramo descendente do púbis
rador anterior). O púbis apresenta três porções: o 21 . Tuberosidade isquiática 22. Buraco obturado 23. Ramo ísquio-
ramo superior do púbis (ramo horizontal), o corpo púbico 24. Tubérculo ilíaco

do púbis (lâmina quadrilátera) e o ramo inferior


do púbis (ramo descendente). A face lateral destas
três porções dá inserção aos músculos adutores da da podemos encontrar uma superfície côncava e
coxa, ao músculo grácil (recto interno) e ao mús- lisa, a fossa ilíaca, que dá inserção ao feixe ilía-
culo obturador externo. O isquion é formado por co do músculo ileopsoas (psoas-ilíaco). Atrás da
duas colunas ósseas, o corpo do isquion (ramo des- fossa ilíaca a superfície óssea é irregular apresen-
cendente) e o ramo do isquion (ramo ascendente), tando inferiormente uma superfície articular em
unidas entre si, formando um ângulo aproxima- forma de crescente ou "meia-lua'', a superfície au-
damente recto (Fig. 2.164) O vértice deste ângulo ricular do osso coxal, que articula com uma su-
corresponde à tuberosidade isquiática. A face la- perfície correspondente existente no sacro. Aci-
teral das duas porções do isquion e da tuberosida- ma e atrás desta superfície encontra-se a tubero-
de isquiática dão inserção ao músculo adutor mag- sidade ilíaca onde se inserem ligamentos da arti-
no (grande adutor), ao músculo quadrado femoral culação sacro-ilíaca. (Fig. 2.165). O bordo supe-
(quadrado crural) e ao músculo obturador externo. rior, também ch amado de "crista ilíaca" é espes-
A face medial apresenta dois segmentos separa- so e sinuoso, apresentando uma curvatura ante-
dos entre si por uma crista curva, oblíqua para rior, côncava para dentro, e uma curvatura pos-
baixo e para a frente, a linha arqueada (linha ino- terior, côncava para fora. As suas extremidades
minada ou crista do estreito superior). A sua ex- anterior e posterior são espessas correspondendo
tremidade anterior denomina-se de pécten do à espinha ilíaca ântero-superior e à espinha ilía-
púbis (crista pectínea). Acima da linha arquea- ca póstero-superior, respetivamente. Este bordo

198
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E I NFERIOR

dá inserção, à frente, ao músculo oblíquo exter-


no (grande oblíquo), ao músculo oblíquo inter-
no (pequeno oblíquo) e ao músculo transverso do
abdómen. Atrás dá inserção ao músculo latíssimo
dorsal (grande dorsal), músculo quadrado lom-
bar e músculo sacro-lombar (Fig. 2.165). O bor-
do anterior apresenta, de cima para baixo, a espi-
12
nha ilíaca ântero-superior e espinha ilíaca ânte-
ro-inferior separadas entre si pela incisura ino-
minada. As espinhas ilíacas dão inserção, respeti-
vamente, ao músculo sartório (costureiro) e mús-
culo tensor da fáscia lata e ao tendão direto do
músculo recto femoral. Mais inferiormente en-
contra-se uma incisura relacionada com o mús-
culo ileopsoas, uma tuberosidade corresponden-
te à união do ileon ao púbis, a eminência ileo-pú-
bica (ileo-pectínea), uma superfície lisa localiza-
da à frente da pécten do púbis, a superfície pec-
tínea, a espinha do púbis e uma pequena superfi-
cie rugosa que corresponde às inserções do mús-
culo piramidal e músculo recto abdominal (gran- Fig. 2.165: Osso coxal (face medial).
1. Crista ilíaca 2. Espinha ilíaca ântero-superior 3. Espinha ilíaca
de recto do abdómen) (Fig. 2.165). O bordo infe- ântero-inferior 4. lncisura inominada 5. Eminência ileo-pectínea 6.
rior inicia-se no ângulo do púbis. Apresenta um Pécten do púbis 7. Espinha ilíaca póstero-inferior 8. Espinlla ilíaca
póstero-superior 9. Unha arqueada 10. Fossa ilíaca 11. Superfície
segmento anterior, articular, que articula com a auricular 12. Tuberosidade ilíaca 13. Espinha isquiátlca 14. lncisura
superfície correspondente do osso coxal do lado isquiática maior 15. lncisura isquiática menor 16. Ramo ísqu io-púbico
17. Buraco obturado 18. Goteira infra-púbicoa
oposto formando a sínfise púbica, e um segmen-
to posterior onde se inserem o músculo grácil, o
músculo adutor magno da coxa, o músculo trans- ESQUELETO DA COXA
verso do períneo, o músculo isquio-cavernoso e
ainda os corpos cavernosos. Termina atrás na tu- A coxa é o segmento que une a anca à perna sendo
berosidade isquiática (Fig. 2.165). O bordo pos- constituída por um único osso, o fémur.
terior estende-se entre a espinha ilíaca póstero-
-superior e a tuberosidade isquiática. Apresenta, FÉMUR
de cima para baixo, a espinha ilíaca póstero-supe-
rior e a espinha ilíaca póstero-inferior, a incisu- O fémur é um osso longo que articula, em cima,
ra isquiática maior, a espinha ciática (dá inserção com o osso coxal e, em baixo, com a rótula e a tíbia.
ao ligamento sacro-espinhoso ou pequeno liga- A extremidade com forma de segmento de esfera
mento sacro-ciático), a pequena incisura ciática e é superior e medial e nessa extremidade a tubero-
a tuberosidade isquiática onde se inserem o liga- sidade maior é anterior. Apresenta, a descrever, um
mento sacro-tuberoso e os músculos posteriores corpo e duas extremidades.
da coxa, músculo bíceps femoral (bicípide cru-
ral), músculo semimembranoso e músculo semi- Corpo
tendinoso (Fig. 2.165). O ângulo ântero-superior
é representado pela espinha ilíaca ântero-supe- É prismático triangular apresentando três faces
rior, o ângulo ântero-inferior pelo ângulo do pú- (anterior, póstero-lateral e póstero-medial) e três
bis, o ângulo póstero-superior pela espinha ilíaca bordos (lateral, medial e posterior). A face ante-
póstero-superior e o ângulo póstero-inferior pela rior dá inserção ao músculo vasto intermédio (cru-
tuberosidade isquiática (Fig. 2.165). ral) e ao músculo articular do joelho (subcrural).

199
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

A face póstero-lateral dá inserção, também, ao do corpo (Fig. 2.166). Na sua face lateral encon-
músculo vasto intermédio. A face póstero-medial tra-se uma saliência rugosa denominada de "crista
não apresenta inserções musculares. O bordo late- do músculo glúteo médio", onde se insere o mús-
ral e o bordo medial são pouco marcados e con- culo glúteo médio. A face medial confunde-se em
fundem-se com as faces que separam (Fig. 2.166). quase toda a sua extensão com o colo do fémur ex-
O bordo posterior é saliente e rugoso recebendo ceto na porção superior e posterior onde se locali-
o nome de linha áspera (Fig. 2.166). Os seus lá- za a fosseta trocantérica (fosseta digital), local de
bios, lateral e medial, dão inserção ao músculo vas- inserção do músculo obturador externo. Imediata-
to lateral (vasto externo) e músculo vasto medial mente à frente e acima da fosseta trocantérica en-
(vasto interno), respetivamente, sendo o interstí- contram-se as inserções do músculo obturador in-
cio ocupado pelas inserções dos músculos aduto- terno e músculo gastrocnémio (gémeos). O bordo
res da coxa e pela porção curta do bíceps femoral inferior corresponde à crista do músculo vasto la-
(bicípede crural). Em cima, a linha áspera divide- teral. O bordo superior apresenta a fosseta de in-
-se em três ramos: lateral, medial e médio. O ramo serção do músculo piriforme (piramidal). O bor-
lateral ou tuberosidade glútea (crista do músculo do anterior dá inserção ao músculo glúteo míni-
glúteo máximo), dirige-se para o trocanter maior mo enquanto o bordo posterior se encontra livre
(grande trocanter) e dá inserção ao músculo glú- de inserções musculares continuando-se pela li-
teo máximo (grande glúteo) e ao feixe superior do nha intertrocantérica posterior. O trocanter me-
músculo adutor magno. O ramo médio ou linha nor (Fig. 2.166) localiza-se na transição do colo
pectínea, dirige-se para o trocanter menor (peque- do fémur para a face medial do corpo sendo o lo-
no trocanter) e dá inserção ao músculo pectíneo. cal de inserção do músculo ileopsoas. Os trocan-
O ramo medial ou crista do músculo vasto medial, teres maior e menor encontram-se unidos entre si
contorna a face medial do fémur, passa abaixo do por duas cristas, a linha intertrocantérica anterior
trocanter menor e continua-se na face anterior do e a linha intertrocantérica posterior, sendo a ante-
osso com a crista intertrocantérica anterior dan- rior a continuação do ramo de trifurcação medial
do inserção ao músculo vasto medial (Fig. 2.166). da linha áspera enquanto a posterior está na con-
Em baixo a linha áspera bifurca-se, originando tinuidade do bordo posterior do trocanter maior
um ramo medial e um ramo lateral que se diri- e une-se, em baixo, ao trocanter menor dando in-
gem para os côndilos da extremidade inferior do serção ao músculo quadrado femoral (Fig. 2.166).
fémur, delimitando um espaço triangular de base O colo do fémur une a cabeça do fémur à região
inferior, a superfície popliteia (espaço popliteu). trocantérica (Fig. 2.166). O seu maior eixo, orien-
O buraco nutritivo principal do osso encontra-se tado para dentro, para cima e para a frente, for-
sobre a linha áspera (Fig. 2.166). ma um ângulo no plano frontal de aproximada-
mente 130° com o corpo do fémur (ângulo cervi-
Extremidade superior co-diafisário). No plano horizontal forma um ân-
gulo agudo, aberto para dentro, com o maior eixo,
Descrevem-se nesta extremidade, a cabeça do fé- transversal, na extremidade inferior do fémur, que
mur, o trocanter maior, o trocanter menor e o colo define a amplitude de anteversão do colo do fé-
do fémur. A cabeça do fémur tem a forma de um mur. Descrevem- se habitualmente duas faces (an-
segmento de esfera e está orientada para cima, terior e posterior), dois bordos (superior e inferior)
para dentro e para a frente. Apresenta uma peque- e duas extremidades (medial e lateral).
na escavação um pouco posterior e inferior rela-
tivamente ao seu centro, a fóvea ou fosseta do li- Extremidade inferior
gamento da cabeça do fémur (ligamento redon-
do) (Fig. 2.163). Esta fosseta é rugosa e perfura- A extremidade inferior é volumosa sendo cons-
da por numerosos buracos vasculares, dando inser- tituída por duas eminências laterais, os côndi-
ção ao ligamento da cabeça do fémur. O trocan- los femorais, separados entre si por uma de-
ter maior situa-se lateralmente no prolongamento pressão profunda, a fossa intercondiliana (Fig.

200
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERJOR E INFERIOR

15 14

14

13 12

12~--

9
10
9

11

Fig. 2.166: Fémur (vista anterior e posterior).


1. Cabeça do fémur 2. Fosseta do ligame11to da cabeça do fémur 3. Colo do fémur 4. Trocanter maior 5. Trocanter menor 6. Linha intertrocantérica
anterior 7. Linha intertrocantérica posterior 8. Unha áspera 9. Côndilo lateral 10. Côndilo medial 11. Fossa intercondiHana 12. Epicôndilo lateral
13. Epicôndilo medial 14. Tubérculo supracondiliano lateral 15. Tubérculo supracondiliano medial

2.166). Estes, designam-se por medial e lateral, ântero-posterior (Fig. 2.166). Na fossa intercon-
e apresentam uma face inferior, uma face poste- diliana é possível observar o local de inserção dos
rior e duas faces laterais. As faces inferior e pos- ligamentos cruzados da articulação do joelho. As
terior formam uma superfície articular que arti- faces laterais diferem entre si. O côndilo femo-
cula com a rótula e com a tíbia e que é formada ral medial apresenta a tuberosidade supracondi-
por uma porção anterior, a tróclea femoral, e uma liana medial, atrás da qual se encontra a inserção
porção posterior ou superfície condiliana pro- do ligamento colateral tibial (lateral interno) da
priamente dita. A tróclea femoral ou superfície articulação do joelho e o tubérculo do músculo
rotuliana do fémur é constituída por duas ver- adutor magno onde se insere o músculo do mes-
tentes convexas separadas por um sulco ântero- mo nome. Observa-se ainda uma depressão onde
-posterior, que articulam com a face posterior da se insere o do músculo gastrocnémio medial. Na
rótula (Fig. 2.166). Está separada das superfícies porção média do côndilo femoral medial exis-
condilianas propriamente ditas pelas ranhuras te uma saliência, o epicôndilo medial do fémur.
côndilo-trocleares. A superfície condiliana pro- O côndilo femoral lateral apresenta a tuberosida-
priamente dita (lateral e medial), separadas en- de supracondiliana lateral e as inserções do mús-
tre si pela fossa intercondiliana, estão no prolon- culo popliteu, músculo gastrocnémio lateral e do
gamento posterior das vertentes laterais da tró- ligamento colateral peroneal (lateral externo) da
clea ocupando toda a face posterior dos côndilos articulação do joelho. Na porção média do côndi-
e apresentam uma convexidade no sentido ânte- lo femoral lateral existe uma saliência, o epicôn-
ro-posterior cujo raio vai diminuindo no sentido dilo lateral do fémur que é menos saliente que

201
MANUAL DE ANATOMIA H UMANA

o medial. Ambos os côndilos apresentam inser- sagem dos feixes do tendão do músculo quadrí-
ções da cápsula articular da articulação do joe- ceps femoral (Fig. 2.167). A face posterior é ocu-
lho (Fig. 2.166). pada na quase totalidade da sua extensão (3/4 su-
periores) por uma superficie articular constituída
RÓTULA (PATELA) por duas facetas laterais (uma medial e outra late-
ral), separadas por uma crista vertical que articu-
A rótula é um osso placóide que se localiza na por- la com a tróclea femoral ou superficie rotuliana do
ção mais anterior do joelho desenvolvendo-se na fémur (Fig. 2.167). A base da rótula dá inserção, à
espessura do tendão do músculo quadríceps fe- frente, ao tendão do músculo quadríceps femoral
moral (quadricípede crural) pelo que é conside- e, atrás, à cápsula articular da articulação do joelho.
rada um osso sesamoide. Desempenha uma ftm- O vértice dá inserção ao ligamento rotuliano (ten-
ção muito importante na actividade do aparelho dão rotuliano). Os bordos laterais dão inserção ao
extensor do joelho. Tem uma forma triangular de músculo vasto lateral e retináculo rotuliano lateral
base superior sendo achatada no sentido ântero- (asa lateral da rótula) (Fig. 2.167).
-posterior. A face convexa é anterior, na face pos-
terior, a superfície articular é superior e a faceta
mais larga e mais côncava desta superficie articu- ESQUELETO DA PERNA
lar é lateral. Consideram-se duas faces (anterior e
posterior), uma base superior, um vértice inferior e A perna é o segmento que une a coxa ao pé sendo
dois bordos laterais. A face anterior apresenta nu- constituída por dois ossos: a tíbia, medialmente,
merosos sulcos verticais determinados pela pas- que desempenha as funções de suporte mais im-
portantes, e o peróneo, lateralmente, sede de vá-
rias inserções musculares e importante estabili-
zador da articulação talocrural. A tíbia e o peró-
neo articulam entre si pelas suas extremidades e
estão separados em toda a sua extensão pelo es-
paço interósseo.

TÍBIA

A tíbia é um osso longo situado na porção me-


dial da perna, que articula, em cima, com o fémur
e com o peróneo e, em baixo, com o peróneo e
o talus (astrágalo). A extremidade mais volumo-
sa é superior, a grande tuberosidade que se encon-
tra nessa extremidade é anterior e a apófise que se
destaca da extremidade inferior é medial. Apre-
senta, a descrever, um corpo e duas extremidades.

Corpo

É prismático triangular e apresenta três faces


(medial, lateral e posterior) e três bordos (ante-
rior, lateral e medial). A face medial é subcutâ-
nea excepto na sua porção mais superior onde,
na proximidade do bordo anterior, se inserem, o
Fig. 2.167: Rótula (vista anterior e posterior). ligamento colateral tibial (ligamento lateral in-
1. Base 2 . Vértice 3. Superfície articular medial 4. Superfície articular
lateral terno) da articulação do joelho, o músculo sar-

202
p
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR

10
9
9

2 - - - - -e!

12 - - - - -----J

Fig. 2.168: Tibia {vista anterior e posterior).


1. Face medial 2. Face lateral 3. Crista da tíbia 4. Côndilo medial 5. Côndilo lateral 6. Tuberosidade da tíbia 7. Tubérculo lateral 8. Face
articular do peróneo 9. Cavidade glenoideia 10. Eminência intercondiliana medial 11. Eminência intercondiliana lateral 12. Maléolo medial
13. lncisura peroneal

tório (costureiro), o músculo grácil (recto inter- Extremidade superior


no) e o músculo semitendinoso que constituem a
chamada "pata de ganso". A face lateral apresen- A extremidade superior da tíbia é volumosa e
ta na sua metade superior uma depressão onde alongada transversalmente sendo constituída por
se insere o músculo tibial anterior (Fig. 2.168). dois côndilos, um lateral e um medial, que supor-
A face posterior é dividida em duas porções por tam as cavidades glenoideias da tíbia. As duas tu-
uma crista oblíqua para baixo e para dentro, a li- berosidades estão separadas entre si, atrás, por uma
nha oblíqua da tíbia, onde se insere o músculo depressão e, à frente, por uma superfície triangu-
sóleus (solhar). Esta linha dá inserção, em cima, lar saliente, a tuberosidade da tíbia (tuberosidade
ao músculo popliteu e, em baixo, ao músculo fle- anterior) que dá inserção ao ligamento rotuliano.
xor longo dos dedos (medialmente) e músculo ti- O côndilo medial dá inserção, atrás, ao tendão di-
bial posterior (lateralmente). O buraco nutriti- reto do músculo semimembranoso e, anterior-
vo principal da tíbia encontra-se um pouco abai- mente, existe uma goteira transversal que dá pas-
xo desta linha (Fig. 2.168). O bordo anterior é sagem ao tendão refletido do músculo semimem-
muito marcado e toma o nome de crista da tíbia. branoso. O côndilo lateral apresenta, atrás, uma
O bordo lateral dá inserção à membrana interós- superficie articular plana, a superfície articular
sea, bifurcando-se na proximidade da extremida- peroneal que articula com a cabeça do peróneo.
de inferior do osso. O bordo medial não apresen- A frente, encontra-se uma saliência, o tubérculo
ta particularidades relevantes. intercondiliano lateral (tubérculo de Gerdy) e uma

203
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

crista, que dão inserção ao músculo tibial anterior PERÓNEO (FÍBULA)


e músculo tensor da fáscia lata. A face superior dos
côndilos, medial e lateral, da tfbia é aplanada ho- É um osso longo, fino, localizado na região lateral
rizontalmente pelo que toma o nome de superfi- da perna, que articula, em cima, com a tfbia e, em
cie articular superior da ttbia (planalto tibial). Nes- baixo, com a ttbia e o talus. A extremidade mais
ta podemos distinguir duas superfícies articulares achatada é inferior e a fosseta que se encontra nes-
laterais, as cavidades glenoideias, separadas entre sa extremidade é medial e posterior. Apresenta, a
si pelo espaço interglenoideu. As cavidades gle- descrever, um corpo e duas extremidades.
noideias, medial e lateral, articulam com os côndi-
los femorais. A cavidade glenoideia medial é mais Corpo
côncava do que a lateral. Na sua parte mais me-
dial as cavidades glenoideias apresentam duas sa- É prismático e triangular apresentando três fa-
liências, as eminências intercondilianas (espinhas ces (lateral, medial e posterior) e três bordos (an-
da tfbia, medial e lateral), que ocupam a parte mé- terior, medial e lateral). A face lateral, na sua extre-
dia do espaço interglenoideu. Estas, encontram-se midade inferior, está dividida por uma crista ob1f-
separadas entre si por um sulco ântero-posterior. qua em dois segmentos: um anterior, subcutâneo
À frente e atrás das eminências intercondilianas e um posterior que se relaciona com os tendões
encontram-se, respetivamente, a área intercondi- dos músculos peroneais. Esta face dá inserção ao
liana anterior (superfície pré-espinhal) e a área in- músculo longo peroneal e músculo curto peroneal.
tercondiliana posterior (superfície retro-espinhal), A face medial é constitufda por uma crista, o bor-
as quais dão inserção aos meniscos e ligamentos do interósseo do peróneo (crista interóssea) que dá
cruzados da articulação do joelho (Fig. 2.168). inserção à membrana interóssea (Fig. 2.166). An-
teriormente ao bordo interósseo do peróneo in-
Extremidade inferior serem-se o músculo extensor longo dos dedos e
o músculo terceiro peroneal (peroneal anterior) e
A extremidade inferior tem menores dimensões posteriormente insere-se o músculo tibial poste-
que a superior apresentando uma forma cúbica. rior. A face posterior é mais estreita em cima, onde
A sua face anterior está na continuidade da face dá inserção ao músculo sóleus, sendo a restante su-
lateral do corpo. A face posterior apresenta uma perfície desta face ocupada pela inserção do mús-
goteira que dá passagem ao tendão do múscu- culo flexor longo do 1° dedo. O buraco nutritivo
lo flexor longo do 1° dedo. A face lateral apre- principal deste osso encontra-se na parte média da
senta uma depressão delimitada pelos dois ramos sua face posterior. O bordo anterior continua-se,
de bifurcação do bordo lateral da ttbia, denomi- para baixo, com o bordo anterior do maléolo la-
nada de "incisura peroneal", que articula com a teral. O bordo lateral torna-se posterior na proxi-
extremidade inferior do peróneo. A face medial midade da extremidade inferior do osso. No bordo
prolonga-se por uma apófise volumosa, aplanada medial não existe nenhuma particularidade a des-
transversalmente, o maléolo medial. Este, apre- tacar. (Fig. 2.169).
senta uma face medial, subcutânea; uma face la-
teral, articular, para o talus; um bordo posterior Extremidade superior
relacionado com os tendões do músculo tibial
posterior e músculo flexor longo dos dedos; um Também chamada de "cabeça do peróneo", é uma
bordo anterior e um vértice onde se insere o li- formação cónica de base superior unindo-se ao
gamento medial da articulação talocrural (tfbio- corpo do osso por uma porção estreita, o colo. Na
-társica). A face inferior desta extremidade da tf- porção mais medial da face superior, ou base, exis-
bia apresenta uma superfície articular quadriláte- te uma superfície articular lisa, orientada para den-
ra, dividida em duas porções por uma crista ân- tro, para cima e para a frente, que articula com a
tero-posterior que articula com a tróclea do tálus superfície peroneal da extremidade superior da tf-
(roldana astragalina) (Fig. 2.168). bia. Localizada para fora e para trás encontra-se

204
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR

ligamento tibioperoneal posterior. No vértice inse-


4
re-se o ligamento peroneocalcaneano da articula-
ção talocrural (Fig. 2.169).

ESQUELETO DO PÉ

O esqueleto do pé é constituído por três grupos


ósseos: o tarso, o metatarso e as falanges.

TARSO

É um maciço ósseo localizado na metade poste-


rior do pé e formado por sete ossos cubóides, dis-
postos em duas fileiras. Os ossos da fileira poste-
rior (1ª fileira) são o talus (astrágalo) e o calcâneo
e os da fileira anterior (2ª fileira) são o cubóide, o
navicular (escafóide) e os três cuneiformes. Ape-
sar dos ossos da fileira posterior serem mais volu-
mosos, a metade posterior do tarso é mais estrei-
6
ta, visto que aqueles estão sobrepostos vertical-
mente ao contrário dos ossos da fileira anterior
que estão justapostos. No seu conjunto, o tarso
Fig. 2.169: Peróneo (vista medial e lateral). forma uma abóbada de concavidade inferior (Fig.
1. Cabeça 2. Colo 3. Apófise estiloideia 4. Superfície articular para a
t1bia 5. Bordo interósseo 6. Maléolo lat eral 2.170 e 2.171).

TALUS
o ápex da cabeça do peróneo (apófise estiloideia)
onde se inserem o músculo bíceps femoral e o li- Situa-se no vértice da abóbada do tarso e articu-
gamento colateral peroneal da articulação do joe- la, em cima, com os ossos da perna, em baixo, com
lho (Fig. 2.169). o calcâneo e, à frente, com o navicular. É um osso
achatado verticalmente e alongado no sentido ân-
Extremidade inferior tero-posterior apresentando três segmentos (an-
terior, posterior e intermédio). O segmento ante-
É também chamada de "maléolo lateral". A sua rior é arredondado e constitui a cabeça do talus.
face lateral é subcutânea anteriormente relacio- O segmento posterior é mais volumoso e consti-
nando-se posteriormente com os tendões dos tui o corpo do talus que ocupa os ¾ posteriores do
músculos peroneais. A face medial apresenta uma osso. O segmento intermédio é o colo do talus e
superficie articular triangular de base superior, constitui um estreitamento entre a cabeça e o cor-
convexa de cima para baixo, que se relaciona com po. O talus apresenta seis faces a descrever (Fig.
o talus. Imediatamente acima da superficie articu- 2.170, 2.171, 2.172 e 2.173).
lar insere-se o ligamento tibioperoneal da articu- A face superior é constituída por uma superficie
lação tibioperoneal distal (tibio-peroneal inferior). articular em forma de roldana que ocupa prati-
O bordo anterior dá inserção, em cima, ao liga- camente toda a extensão do corpo do osso, a tró-
mento tibioperoneal e, em baixo, aos feixes do li- clea do talus (tróclea astragalina). Esta é conve-
gamento taloperoneal anterior (peroneo-astragali- xa da frente para trás, côncava transversalmente,
no anterior) e ligamento peroneocalcaneano (cal- mais larga anterior que posteriormente, e limita-
câneo-peroneal). O bordo posterior dá inserção ao da lateralmente por dois bordos semicirculares. À

205
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

frente da tróclea encontra-se o colo do talus, que CALCÂNEO


desenha uma goteira transversal que se relaciona
com o rebordo anterior da tíbia durante o movi- É o osso mais volumoso do tarso e está situa-
mento de flexão da perna sobre o pé. Apresenta do abaixo do talus na porção posterior e infe-
ainda uma crista transversal rugosa que dá inser- rior do pé. Apresenta, a descrever, seis faces (Fig.
ção à cápsula da articulação talocrural ( tíbio-tár- 2.170, 2.171, 2.172 e 2.173). A face superior
sica) e ao ligamento talonavicular (astrágalo-es- tem dois segmentos, um anterior e um posterior.
cafoideu superior). A face inferior articula com O segmento anterior apresenta-se dividido em
o calcâneo através de duas superfícies articulares, duas superfícies articulares complementares às da
uma anterior e uma posterior, separadas entre si face inferior do talus. Estas encontram-se separa-
por uma goteira. Esta goteira, também designa- das pelo sulco calcaneano que articula com o sul-
da por "sulco do talus" (sulco astragalino), dirige- co do talus e dá origem ao seio do tarso. A face in-
-se obliquamente, para a frente e para fora dando ferior é estreita, convexa transversalmente e côn-
inserção ao ligamento talocalcaneano interósseo cava da frente para trás. Apresenta três tuberosi-
(astrágalo-calcaneano interósseo). A face lateral dades, uma anterior e duas posteriores. A tubero-
articula com o maléolo lateral através da superfi- sidade anterior do calcâneo é arredondada e é sede
cie articular peroneal (faceta peroneal) ou maleo- de inserções ligamentares. A tuberosidade poste-
lar lateral, uma superfície triangular, de base su- rior medial do calcâneo dá inserção ao músculo
perior. O vértice desta face é inferior, dirige-se flexor curto dos dedos (curto flexor plantar) e ao
para fora e apoia-se numa saliência da face la- músculo abdutor do 1° dedo enquanto a tubero-
teral, a apófise lateral do talus. À frente da face- sidade posterior lateral do calcâneo dá inserção ao
ta peroneal encontra-se o colo. A base desta fa- músculo abdutor do 5° dedo. A face lateral apre-
ceta confunde-se com o bordo lateral da tróclea senta na sua metade anterior o tubérculo dos mús-
do talus. A face medial apresenta uma superfi- culos peroneais ou tróclea peroneal do calcâneo.
cie articular de base anterior designada por "su- Este, separa a goteira do músculo curto peroneal
perfície articular tibial" (faceta tibial) ou maleo- (em cima) da goteira do músculo longo peroneal
lar medial e cujo bordo convexo se confunde com (em baixo). Atrás e acima deste tubérculo existe
o bordo medial da tróclea do talus. Na porção in- uma saliência que dá inserção ao ligamento calca-
ferior da (ace medial existe uma superfície rugosa neoperoneal da articulação talocrural. A face me-
que dá inserção ao feixe profundo do ligamento dial é ocupada por um sulco que se dirige obliqua-
medial da articulação talocrural. À frente da fa- mente para baixo e para a frente, o sulco calcanea-
ceta tibial encontra-se o colo. A face anterior ou no. Esta, é limitada, atrás e em baixo, pela tubero-
cabeça do talus é uma saliência articular convexa, sidade medial da face inferior e, à frente e em cima,
alongada transversalmente. Encontra-se subdivi- por uma saliência volumosa, o sustentaculum tali.
dida em três segmentos, através de duas cristas Esta saliência serve de suporte à faceta articular
rombas: um segmento ântero-superior que arti- ântero-medial da face superior do calcâneo e apre-
cula com o navicular; um segmento médio em re- senta duas goteiras que se relacionam com os ten-
lação com o ligamento calcaneonavicular plantar dões do músculo flexor do 1° dedo (na face infe-
(ligamento calcâneo-escafoideu inferior); e um rior) e músculo flexor longo dos dedos (no vértice).
segmento póstero-inferior constituído pela face- A face posterior dá inserção ao tendão calcaneano
ta ântero-medial da face inferior do talus, em re- (tendão de Aquiles). A face anterior corresponde à
lação com o calcâneo. A face posterior compara- extremidade da grande apófise do calcâneo. Apre-
-se a um bordo e apresenta uma goteira oblíqua, senta uma superfície articular para o osso cubóide.
para baixo e para dentro, em relação com o ten-
dão do músculo flexor longo do 1° dedo. Esta go- CUBÓIDE
teira é limitada por dois tubérculos, medial e late-
ral, sendo o lateral mais evidente e dando inser- Encontra-se à frente do calcâneo, na região late-
ção ao ligamento taloperoneal posterior. ral do pé (Fig. 2.170, 2.171, 2.172 e 2.173). Tem

206
SUPORTE E MOVIMENT O I SISTEMA LOCOMOTO R: MEMBROS SUPERIOR E I NFERIOR

10

11

12

8
5
e D e
2

F { 14

15

16
F

G [ JG
H e ::J H
e :J 1

Fig. 2.170: Ossos do pé (vista superior ou dorsal). Fig. 2.171: Ossos do pé {vista inferior ou plantar).

G
~ li 5

15 D
14
12 10

Fig. 2.172: Ossos do pé (vista medial).

Fig. 2.173: Ossos do pé (vista lateral).

A. TALUS 1. Cabeça 2. Colo 3. Tróclea 4. Superfície articular peroneal 5. Superfície articular tibial 6. Tubérculo medial 7. Tubérculo lateral
8. Seio do tarso B. CALCÂNEO 9. Tuberosidade posterior 10. Tuberosidade medial 11. Tuberosidade lateral 12. Sustentaculum tali 13. Tróclea
peroneal C. CUBÓIDE D. NAVICULAR E. CUNEIFORMES 14. Medial 15. Intermédio 16. Lateral F. METATARSO G. FALANGES PROXIMAIS
(1j H. FALANGES INTERMÉDIAS (2j 1. FALANGES DISTAIS (3')

207
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

uma forma prismática triangular ou em cunha, A face anterior, em forma de "meia-luà', articula
com quatro faces, uma base e um bordo lateral. com o 1° metatársico. A face medial apresenta, na
A face dorsal é inclinada para baixo e para fora. sua parte anterior e inferior, uma saliência que dá
A face plantar apresenta uma crista, a tuberosida- inserção ao músculo tibial anterior. A face lateral
de do cubóide, à frente da qual se encontra uma articula com o cuneiforme intermédio e com o 2°
goteira que dá passagem ao tendão do músculo metatársico. A face inferior ou base apresenta uma
longo peroneal. Atrás desta crista existe uma de- saliência que dá inserção ao tendão do músculo ti-
pressão que dá inserção ao ligamento calcaneocu- bial posterior. O cuneiforme intermédio situa-se
boideu. A face posterior articula com a face ante- entre o medial e o lateral. A face posterior articu-
rior do calcâneo. A face anterior apresenta duas la com a face anterior do navicular. A face anterior
facetas articulares, separadas entre si por uma articula com o 2° metatársico. A face medial arti-
crista, que articulam com o 4° e 5° metatársicos. cula com o cuneiforme medial. A face lateral arti-
A face medial ou base articula com o cuneiforme cula com o cuneiforme lateral. O cuneiforme la-
lateral (3° cuneiforme). Para trás desta existe ou- teral encontra-se entre o cuneiforme intermédio
tra faceta articular que articula com o osso navicu- (medialmente) e o cubóide (lateralmente). A face
lar. A face lateral assemelha-se a um bordo e cor- posterior articula com a face anterior do navicu-
responde à região de união das faces plantar e dor- lar. A face anterior articula com o 3° metatársi-
sal, ao nível do bordo lateral do pé e da extremida- co. A face medial apresenta duas facetas articula-
de lateral da goteira do longo peroneal. res, uma posterior para o cuneiforme intermédio
e uma anterior para o 2° metatársico. A face late-
NAVICULAR ral articula, atrás, com o cubóide e, à frente, com o
4° metatársico.
Localiza-se na região medial do pé, à frente do ta-
lus, para dentro do cubóide e atrás dos cuneifor- METATARSO
mes. Apresenta, a descrever, duas faces, dois bor-
dos e duas extremidades (Fig. 2.170, 2.171,2.172 e É constituído por cinco ossos longos, os ossos me-
2.173). A face posterior é elíptica e articula com a tatársicos, que articulam, atrás, com a fileira ante-
cabeça do talus. A face anterior encontra-se dividi- rior (2• fileira) do tarso e, à frente, com as falanges
da por duas cristas em três facetas triangulares que proximais dos dedos, sendo numerados de dentro
articulam com os três cuneiformes. A extremidade para fora. Os metatársicos apresentam caracterís-
medial apresenta uma saliência arredondada para ticas gerais comuns a todos eles, nomeadamente,
dentro e para baixo, o tubérculo navicular, onde se um corpo e duas extremidades. O corpo é prismá-
insere o tendão do músculo tibial posterior. A ex- tico triangular, tem uma face dorsal e duas faces la-
tremidade lateral articula com o cubóide. terais. Estas, limitam juntamente com o osso me-
tatársico vizinho o espaço interósseo ou espaço in-
CUNEIFORMES termetatársico. D os três bordos, dois são laterais e
dorsais e um é plantar, apresentando uma concavi-
São em número de três, encontram-se à frente do dade inferior. As faces dão inserção aos músculos
osso navicular, articulam entre si e designam-se, de interósseos. A extremidade posterior ou base apre-
dentro para fora, como medial, intermédio e late- senta uma face posterior que articula com os ossos
ral (1°, 2° e 3°, respetivamente). Têm a forma de do tarso e duas faces laterais com facetas articu-
uma cunha, com base plantar para o cuneiforme lares póstero-superiores para os metatársicos vizi-
medial e dorsal para o intermédio e lateral. Cada nhos. A extremidade anterior ou cabeça apresen-
um apresenta, a descrever, quatro faces, uma base e ta uma superfície articular convexa que é limitada
uma crista (Fig. 2.170, 2.171, 2.172 e 2.173). em cima e lateralmente por um sulco rugoso que
O cuneiforme medial localiza-se no bordo medial apresenta de um e de outro lado um tubérculo para
do pé entre o navicular e o 1° metatársico. A face inserção do ligamento lateral da articulação meta-
posterior articula com a face anterior do navicular. tarsofalângica correspondente.

208
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR

Existem algumas características particulares a ARTROLOGIA DO MEMBRO INFERIOR


cada metatársico. O 1° metatársico é o mais cur-
to- A sua base apresenta uma superfície articu- O s ossos do membro inferior estão unidos entre si
lar côncava, que articula com o cuneiforme me- pelas articulações: coxofemoral, joelho, tibiopero-
dial e duas saliências ósseas, os tubérculos me- neal proximal e distal, talocrural e articulações do
dial e lateral. O tubérculo medial do 1° meta- pé. As partes moles da anca encontram-se em re-
társico dá inserção a um feixe do músculo ti- lação direta com os ligamentos sacrociáticos e com
bial anterior e o tubérculo lateral do 1° metatá- a membrana obturadora (descritos com as articu-
rsico ou tuberosidade do 1° metatársico dá in- lações da bacia).
serção ao tendão do músculo longo peroneal.
A cabeça é volumosa e apresenta na sua face in- ARTICULAÇÃO COXOFEMORAL
ferior duas depressões ântero-posteriores que se
relacionam com os ossos sesamoides do pé (Fig. A articulação coxofemoral ou articulação da anca é
2.170, 2.171 e 2.172). O 2° metatársico é o mais a articulação que une o fémur ao osso coxal. Clas-
longo. A sua base apresenta uma face posterior que sifica-se como uma enartrose.
articula com o cuneiforme intermédio, uma face
medial com duas facetas articulares (uma posterior Superfícies articulares
para o cuneiforme medial e outra anterior para o
1° metatársico), uma face lateral que tem uma fa- São a cabeça do fémur e o acetábulo do osso co-
ceta articular para o cuneiforme lateral e duas fa- xal complementada por uma fibrocartilagem pe-
cetas anteriores para o 3° metatársico. A base do riférica que recebe o nome de labrum acetabular
3° metatársico apresenta uma faceta articular pos- (debrum glenoideu) (Fig. 2.174). A cabeça do fé-
terior que articula com o cuneiforme lateral e duas mur tem a forma de um segmento de esfera e está
facetas laterais que articulam com o 2° e 4° meta- orientada para cima, para dentro e para a fren-
társicos. A base do 4° metatársico apresenta uma te. Apresenta uma pequena escavação um pou-
faceta articular posterior para o cubóide, uma fa- co para trás e para baixo do seu centro, a fosseta
ceta articular lateral para o 5° metatársico e duas do ligamento da cabeça do fémur (fosseta do li-
facetas mediais (uma anterior para o 3° metatá- gamento redondo) onde se insere o ligamento da
rsico e uma posterior para o cuneiforme lateral). cabeça do fémur (ligamento redondo). A cabeça
A extremidade posterior do 5° metatársico apre- do fémur é revestida por uma camada de cartila-
senta uma superfície articular para o cubóide que gem que é mais espessa no centro do que na pe-
se prolonga pelo tubérculo do 5° metatársico. Este riferia e nas porções superior e central da cabe-
tubérculo dá inserção ao tendão do músculo curto ça, e não reveste a fosseta do ligamento da cabeça
peroneal (Fig. 2.170, 2.171 e 2 .172). do fémur (Fig. 2.174). O acetábulo do osso coxal
olha para baixo, para fora e para trás apresentan-
FALANGES do duas porções distintas: uma porção periférica,
lisa, articular, em forma de "meia-lua" cujas ex-
São semelhantes às da mão e diferem apenas nas tremidades limitam, anteriormente e atrás, a in-
suas dimensões, com exceção das falanges do 1° cisura isquio-púbica e uma porção central, rugo-
dedo que são bastante volumosas (Fig. 2.170, sa, não-articular, que constitui o transfundo do
2.171, 2.172 e 2.173). acetábulo e que se continua, em baixo, pela inci-
Existem ainda os ossos sesamoides que se encon- sura isquio-púbica. O revestimento cartilagíneo
tram na face plantar, sendo dois constantes e em reveste apenas a porção articular sendo mais es-
relação com a face inferior da 1ª articulação me- pesso na porção superior e central, à semelhan-
tatarsofalângica. Existem, menos frequentemente, ça do que ocorre na cabeça do fémur, mas menos
ao nível das articulações interfalângica do 1° dedo, espesso no centro que à periferia. O transfundo
metatarsofalângica do 2° dedo e metatarsofalângi- encontra-se preenchido por uma bolsa adiposa e
ca do 5° dedo. pelo ligamento da cabeça do fémur no seu trajeto

209
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

em direção à incisura isquio-púbica (Fig. 2.174). fletem-se sobre o colo dirigindo-se para o rebordo
O labrum acetabular é uma fibrocartilagem de da superfície articular da cabeça onde se inserem
forma prismática triangular, em forma de anel, determinando a existência de pregas da membra~
que se insere em todo o contorno do acetábulo e na sinovial que recebem o nome de frenula capsu-
que aumenta quer a profundidade quer a exten- lae. Uma destas pregas, localizada na porção pós-
são da superfície articular do osso coxal. Apre- tero-inferior do colo é mais saliente que as outras
senta uma face aderente, ou base, através da qual e denomina-se de prega pectino-foveal. A cápsu-
se insere no rebordo do acetábulo, uma face arti- la articular é constituída por fibras longitudinais e
cular, lisa e côncava, em continuidade com a do por fibras circulares. Estas últimas são mais abun-
acetábulo e uma face periférica, convexa, que dá dantes na região média da cápsula onde formam
inserção à cápsula articular. O labrum acetabular um feixe mais espesso em torno do colo do fémur
passa como uma ponte acima da incisura isquio- que recebe o nome de zona orbicular da cápsula
-púbica, transformando-a em orifício e consti- ou ligamento anular. A cápsula articular é reforça-
tuindo nessa zona o ligamento transverso do ace- da por ligamentos capsulares: ileofemoral, pubo-
tábulo (Fig. 2.174). femoral e isquiofemoral. O ligamento ileofemoral
(de Bertin) (Fig. 2.175) reforça a face anterior da
cápsula e é constituído por um feixe superior e por
um feixe inferior. O feixe superior ou ileo-prétro-
canteriano é o ligamento mais resistente da arti-
culação e estende-se desde a espinha ilíaca ântero-
-inferior até à extremidade superior da linha inter-
trocantérica anterior. O feixe inferior ou ileo-pré-
2 trocantiniano insere-se na espinha ilíaca ântero-
-inferior, confundindo-se com a inserção do feixe
ileo-prétrocanteriano, abaixo do tendão direto do
recto femoral, dirige-se quase verticalmente para
4 baixo, inserindo-se na extremidade inferior da li-
nha intertrocantérica anterior. O ligamento pubo-
femoral (Fig. 2.175) reforça a porção ântero-in-

Fig. 2.174: Articulação coxofemoral (acetábulo com a cabeça do úmero


removida).
1. Acetábulo 2. Transfundo do acetábulo 3. labrum acetabular
4. Ligamentotransversodo acetábulo 5. Cabeça do fémur 6. Ligamento
da cabeça do fémur

Meios de união

As superfícies articulares são mantidas em contato


através da cápsula articular, ligamentos capsulares
que reforçam a cápsula e por um ligamento inde-
pendente desta, o ligamento da cabeça do fémur.
A cápsula articular insere-se em todo o contorno
do rebordo acetabular e face periférica do labrum
acetabular. A inserção capsular no fémur ocorre
ao nível do colo de forma que se considera que
a maior parte do colo do fémur é intra-articular. Fig. 2.175: Articulação coxofemoral (ligamentos capsulares anteriores).
1. Trocanter maior 2. Trocanter menor 3. Ligamento iHofemoral 4.
As fibras mais profundas da cápsula articular re-
Ligamento pubofemoral 5. Corpo do púbis 6. Ramo ísquio-púbico

210
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR

ferior da cápsula articular estendendo-se desde a Movimentos


sua inserção na zona mais anterior da eminência
ileo-púbica e lábio anterior da goteira infra-púbi- Esta articulação permite executar movimentos de
ca até à extremidade superior do fémur onde se in- flexão/extensão, abdução/adução, rotação medial/
sere abaixo do feixe ileo-prétrocantiniano do liga- rotação lateral e circundução. Este último movi-
mento ileofemoral. Este ligamento encontra-se no mento resulta da combinação de todos os movi-
mesmo plano que os feixes profundos do múscu- mentos.
lo pectíneo, com os quais se confunde medialmen-
te. O ligamento pubofemoral e os feixes superior e
inferior do ligamento iliofemoral formam os três ARTICULAÇÃO DO JOELHO
ramos de um "N" (de Welcker) na região anterior
da articulação coxofemoral. A articulação do joelho é a articulação que une o
O ligamento isquiofemoral (Fig. 2.176) reforça a fémur à tibia e à rótula. Classifica-se como uma
face posterior da cápsula articular. As suas inser- bicondilo-trocleo-meniscartrose. Esta articulação
ções ilíacas são ao nível do acetábulo e porções vi- apresenta um componente femoro-rotuliano (tro-
zinhas do rebordo acetabular e do labrum aceta- cleartrose) e um componente femoro-tibial (cons-
bular, dirigindo-se para cima e para fora, contor- tituído por duas condilartroses que são corrigidas
nando a face posterior do colo, até à sua inserção por dois meniscos interarticulares).
na face medial do trocanter maior. O ligamento da
cabeça do fémur (Fig. 2.174) tem um trajeto in- Superfícies articulares
tra-articular, insere-se na fosseta do ligamento da
cabeça do fémur, relaciona-se com o transfundo São a extremidade inferior do fémur, a extremida-
do acetábulo e dirige-se para a incisura isquio-pú- de superior da tibia, os meniscos articulares ou fi-
bica em cujo limite inferior se vai inserir através de brocartilagens semilunares e a face posterior da ró-
três feixes (anterior, médio e posterior). Este liga- tula. A superficie articular da extremidade inferior
mento juntamente com a bolsa adiposa da articu- do fémur é constituída, à frente, pela tróclea femo-
lação coxofemoral, está envolvido por uma bainha ral ou superfície rotuliana do fémur e, atrás, pe-
sinovial própria, independente da bainha sinovial los côndilos femorais. Os côndilos são um medial
da articulação propriamente dita. e um lateral, cujas faces inferior e posterior são ar-
ticulares. Estes estão separados entre si, atrás, por
uma incisura de grandes dimensões, a fossa inter-
condiliana. As superficies articulares condilianas,
que se encontram no prolongamento posterior das
vertentes laterais da tróclea, apresentam uma con-
vexidade no sentido ântero-posterior cujo raio vai
diminuindo da frente para trás. O côndilo femoral
medial encontra-se projetado medialmente, sendo
mais longo e estreito que o côndilo femoral lateral.
A tróclea femoral é constituída por duas verten-
tes convexas separadas por um sulco ântero-pos-
terior que articula com a face posterior da rótu-
la. O revestimento cartilagíneo é mais espesso no
sulco da tróclea e na porção média dos côndilos.
A superficie articular da extremidade superior da
tibia é constituída pelas cavidades glenoideias da
t:J.bia, medial e lateral, que articulam com os côndi-
2,176: Articulação coxofemoral (ligamentos capsulares posteriores). los femorais. A cavidade glenoideia medial é mais
1· Trocanter maior 2. Trocanter menor 3. Ligamento iliofemoral
côncava, mais longa e menos larga do que a cavi-
4. Ligamento ísquiofemoral

211
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

dade glenoideia lateral. O revestimento cartilagí- ral corresponde a uma linha que se encontra an-
neo é mais espesso ao centro do que à periferia. teriormente no escavado supratroclear prolongan-
Os meniscos articulares, medial e lateral, são fi- do-se para cada lado e para trás pela face lateral
brocartilagens prismáticas triangulares, de forma dos côndilos femorais até atingir as suas extremi-
semilunar, que se destinam a promover a concor- dades posteriores, infletindo-se depois para a fren-
dância articular no compartimento femoro-tibial. te e para dentro da fossa intercondiliana onde cir-
Apresentam uma face superior relacionada com os cunscreve as inserções dos ligamentos cruzados.
côndilos femorais, uma face inferior relacionada A inserção tibial faz-se ao nível do bordo anterior
com a cavidade glenoideia correspondente, uma da área intercondiliana anterior prolongando-se
face lateral ou periférica, aderente à cápsula arti- para fora, contornando perifericamente as cavida-
cular, um bordo medial côncavo e duas extremida- des glenoideias até atingir, atrás, a área intercon-
des (anterior e posterior) que se inserem nas áreas diliana posterior. Nesta zona inflete para a frente
intercondilianas anterior (superficie pré-espinhal) e circunscreve as inserções tibiais dos ligamentos
e posterior (superfície retro-espinhal) da extremi- cruzados. A cápsula articular não existe na proxi-
dade superior da tíbia. O menisco medial tem a midade do tendão do músculo popliteu pelo que a
forma de um "C" aberto e insere-se anteriormen- sinovial comunica diretamente com uma bolsa se-
te na área intercondiliana anterior, à frente da in- rosa anexa ao tendão deste músculo. A membrana
serção do ligamento cruzado anterior e, posterior- sinovial recobre a face profunda de toda a cápsu-
mente, na área intercondiliana posterior, atrás da la articular formando diversos recessos (fundos de
inserção do menisco lateral e à frente da inserção saco) dos quais se destaca o recesso subquadricipi-
do ligamento cruzado posterior. O menisco late- tal. Os ligamentos que reforçam a cápsula articular
ral tem a forma de um "O" ou "C" quase fecha- agrupam-se em ligamentos anteriores, colateral ti-
do.Insere-se, anteriormente na área intercondilia- bial, colateral peroneal e posteriores. O s ligamen-
na anterior, à frente da eminência intercondiliana tos anteriores dispõem-se em três planos. Um pla-
(espinha) lateral da tíbia e para fora e para trás da no profundo ou capsular, que corresponde a espes-
inserção do ligamento cruzado anterior. Insere-se samentos da cápsula articular, um plano médio ou
posteriormente às eminências intercondilianas da tendinoso, que corresponde aos tendões ou expan-
dbia e anteriormente à inserção do corno poste- sões tendinosas dos músculos vizinhos e um pla-
rior do menisco medial. Da extremidade posterior no superficial ou fascial. O plano capsular é cons-
do menisco lateral destaca-se o ligamento menis- tituído pelos retináculos rotulianos (asas da rótu-
co-femoral que acompanha o ligamento cruza- la) e pelos ligamentos menisco-rotulianos (Fig.
do posterior. Os dois meniscos estão unidos, an- 2.177). Os retináculos rotulianos, medial e lateral,
teriormente, por um feixe transversal, o ligamento têm uma forma triangular inserindo-se pelas suas
transverso. A face posterior da rótula articula com bases nos bordos laterais da rótula e pelos seus vér-
a tróclea femoral através de uma superflcie articu- tices nas faces laterais dos côndilos femorais. Os li-
lar que ocupa os¾ superiores da sua face posterior. gamentos menisco-rotulianos, medial e lateral, es-
Esta, é constituída por duas facetas, medial e late- tendem-se da extremidade inferior dos bordos la-
ral, separadas por uma crista vertical romba, que terais da rótula ao bordo lateral do menisco corres-
articula com o sulco da tróclea femoral. pondente. O plano tendinoso é constituído pelo
ligamento rotuliano (Fig. 2.177), pelas expansões
Meios de união tendinosas do quadríceps femoral, que nascem
dos músculos vastos, lateral e medial, e terminam
São a cápsula articular e os ligamentos. na rótula e nos côndilos da nbia, e pela expansão
A cápsula articular estende-se da extremidade in- pré-rotuliana do tensor da fáscia lata. O ligamen-
ferior do fémur à extremidade superior da tíbia e to rotuliano é uma lâmina tendinosa aplanada no
apresenta uma solução de continuidade anterior sentido ântero-posterior, larga e espessa, que se in-
que corresponde à sua inserção no rebordo da su- sere, em cima, no vértice da rótula e, em baixo, na
perficie articular da rótula. A sua inserção femo- tuberosidade da tíbia. Representa uma porção do

212
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR

tendão de inserção inferior do músculo quadríceps dão refletido do músculo semimembranoso. O li-
femoral de tal modo que as fibras mais anteriores gamento colateral peroneal (Fig. 2.177 e 2.178) es-
do ligamento rotuliano continuam-se, sobre a face tende-se desde côndilo femoral lateral, acima da in-
anterior da rótula, com as fibras mais anteriores do serção do músculo popliteu e abaixo da inserção do
tendão do quadríceps femoral. O plano aponevró- músculo gastrocnémio lateral, até à porção anterior
tico é constituído pela fáscia superficial que reves- do ápex da cabeça do peróneo. Este ligamento é
te toda a face anterior da articulação continuan- completamente independente da cápsula articular
do-se, em cima, com a fáscia femoral e, em baixo, e a sua extremidade inferior está revestida pelo ten-
corn a fáscia da perna. A face profunda adere ao dão do músculo bíceps femoral do qual está separa-
!ano tendinoso subjacente, em particular à fáscia do por uma bolsa serosa. Os ligamentos posterio-
~o músculo tensor da fáscia lata. res (Fig. 2.177 e 2.178) incluem os ligamentos cru-
O ligamento colateral tibial (Fig. 2.177 e 2.178) é zados, situados na fossa intercondiliana e o plano
constituído por uma porção principal, que se esten- fibroso posterior, que se encontra posteriormente
de do fémur à tfüia, e por uma porção acessória, si- a esta, entre os côndilos femorais e o bordo poste-
tuada posteriormente a esta e que se estende desde rior da superficie articular superior da tibia. Os li-
0 fémur e da tfüia até ao menisco medial. A porção gamentos cruzados (anterior e posterior) são cur-
principal deste ligamento é muito resistente, inse- tos e muito espessos, estendendo-se desde o espaço
re-se, em cima, na face medial do côndilo femo- interglenoideu até à fossa intercondiliana do fémur.
ral medial, abaixo do tubérculo do adutor magno O ligamento cruzado anterior insere-se, em bai-
e da inserção do gastrocnémio medial, sendo par- xo, na área intercondiliana anterior, à frente e para
cialmente coberto pelo retináculo rotuliano medial. dentro da inserção do corno anterior do menis-
As suas fibras dirigem-se para baixo e para a frente, co lateral e atrás da inserção do corno anterior do
aderindo ao menisco medial e terminam, em bai- menisco medial. O s seus feixes dirigem-se para
xo, na tibia, na linha de inserção capsular. Algumas cima, para fora e para trás, em direção à fossa in-
fibras inserem-se mais abaixo recobrindo o ten- tercondiliana, inserindo-se na porção mais pos-

3
2
2

4 6
4

7 8
10

6 10
9

Fig. 2.177: Articulação do joelho (vista anterior). 2.178: Articulação do joelho (vista posterior).
1. Tróclea femoral 2. Côndilo medial 3. Côndilo lateral 4. Menisco 1. Côndilo medial 2. Côndilo lateral 3. Fossa intercondiliana
medial 5. Menisco lateral 6. Ligamento transverso 7. Ligamento 4. Ligamento cruzado posterior 5. Ligamento cruzado anterior
cruzado anterior 8. Ligamento cruzado posterior 9. Ligamento 6. Ligamento menisco-femoral 7. Menisco medial 8. Menisco lateral
colateral tibial 10. Ligamento colateral peroneal 11. Ligamento 9. Ligamento colateral tibial 1 O. Ligamento colateral peroneal
rotuliano

213
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

terior da face medial do côndilo femoral lateral. cruzados e dos ligamentos colaterais. Os ligamen-
O ligamento cruzado posterior insere-se, em bai- tos colaterais limitam o movimento de rotação la-
xo, na área intercondiliana posterior, atrás das in- teral enquanto os ligamentos cruzados limitam a
serções dos cornos posteriores dos meniscos medial rotação medial.
e lateral, prolongando as suas inserções tibiais para O peróneo e a tfüia estão unidos entre si pelas arti-
trás e para baixo numa área adjacente à área inter- culações tibioperoneais proximal e distal e pela da
condiliana posterior. Daí, os feixes dirigem-se para membrana interóssea.
cima, para dentro e para a frente, até à sua inserção
na face lateral do côndilo femoral e fundo da fos- ARTICULAÇÃO TIBIOPERONEAL PROXIMAL
sa intercondiliana. A acompanhar o trajeto do liga-
mento cruzado posterior encontra-se o ligamento A articulação tibioperoneal proximal une a extre-
menisco-femoral. Este ligamento relaciona-se com midade superior do peróneo à extremidade su-
a face lateral e com a face posterior do ligamen- perior da nbia (Fig. 2.177 e 2.178). Classifica-se
to cruzado posterior inserindo-se na porção poste- como uma artrodia.
rior da face intercondiliana do côndilo femoral me-
dial. Os ligamentos cruzados entrecruzam-se nos Superfícies articulares
planos transversal e ântero-posterior. O ligamento
anterior é anterior em baixo e lateral em cima, en- A faceta articular da nbia situa-se na parte póste-
quanto o ligamento posterior é posterior em baixo ro-lateral do côndilo lateral da nbia e orienta-se
e medial em cima. O plano fibroso posterior (Fig. para baixo, para trás e para fora. A faceta articu-
2.178) é constituído por inúmeros feixes fibrosos lar do peróneo localiza-se na porção mais medial
que se encontram posteriormente ao espaço inter- da sua extremidade superior, medialmente ao ápex
condiliano e aos ligamentos cruzados, dos quais es- da cabeça do peróneo, e apresenta uma orientação
tão separados por uma bolsa serosa. Insere-se, em complementar da faceta articular da nbia. Ambas
cima, na porção mais inferior da superfície popli- as superfícies são revestidas por uma fina lâmina
teia e, em baixo, no rebordo posterior da superfície de cartilagem.
articular superior da tfüia. Lateralmente, continua-
-se com os tendões dos músculos gastrocnérnios, Meios de união
popliteu e semimembranoso. Destes feixes desta-
cam-se, o ligamento popliteu oblíquo, que tem ori- São a cápsula articular e dois ligamentos. A cápsu-
gem, em baixo, no tendão do músculo semimem- la articular insere-se no rebordo das superfícies ar-
branoso, perdendo-se na face posterior da cápsu- ticulares e a sua face profunda é revestida por uma
la, e o ligamento popliteu arqueado. Este último membrana sinovial. Distinguem-se dois ligamen-
insere-se no ápex da cabeça do peróneo e dirige- tos tibioperoneais proximais: o ligamento tibiope-
-se para cima confundindo-se com a face posterior roneal anterior e o ligamento tibioperoneal poste-
da cápsula articular. Os seus feixes mais inferiores rior, sendo o anterior mais espesso e resistente que
e mediais dirigem-se para baixo e para dentro, in- o posterior.
serem- se na tfüia, e formam uma arcada por baixo
da qual passa o músculo popliteu, a arcada do mús- Movimentos
culo popliteu.
Executa movimentos de deslizamento, de peque-
Movimentos na amplitude.

Esta articulação permite executar movimentos de ARTICULAÇÃO TIBIOPERONEAL DISTAL


flexão/extensão e, passivamente, movimentos de
lateralidade e de rotação, só possíveis de executar A articulação tibioperoneal distal une a extremi-
com o joelho em semiflexão. Os movimentos de dade inferior do peróneo à extremidade inferior da
rotação são limitados pela tensão dos ligamentos nbia. Classifica-se como uma sindesmose.

214
>
SUPORT E E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR

Superfícies articulares neal. A face anterior deste ligamento dá inserção


ao músculo tibial anterior e músculo extensor lon-
.A faceta articular da t:J.bia situa-se na face lateral go dos dedos enquanto o músculo tibial posterior
da eictremidade inferior da t:J.bia e é limitada pe- e músculo flexor longo do 1° dedo se inserem na
los ramos de bifurcação do bordo lateral do osso . face posterior. A extremidade inferior da membra-
.A superfície articular do peróneo localiza-se na na interóssea continua-se com a sindesmose tibio-
face medial do maléolo lateral, imediatamente aci- peroneal da articulação tibioperoneal distal.
ma da faceta articular para o talus. As superfícies
articulares são rugosas e não estão revestidas por ARTICULAÇÃO TALOCRURAL (TÍBIO-TÁRSICA)
cartilagem.
A articulação talocrural une a t:J.bia e o peróneo ao
Meios de união talus. Classifica-se como uma trocleartrose.

Constituídos por três ligamentos: os ligamentos Superfícies articulares


tibioperoneais distais, anterior e posterior, todos
eles espessos e resistentes e a sindesmose tibiope- São a superfície tibioperoneal e a superfície astra-
roneal (ligamento interósseo). Esta última é for- galina. A superfície tibioperoneal é constituída pe-
mada por feixes fibrosos curtos, orientados obli- las superfícies articulares da extremidade inferior
quamente para baixo e para fora, inserindo-se nas da t:J.bia e da extremidade inferior do peróneo. As
superfícies articulares do peróneo e da tíbia. O li- extremidades inferiores dos ossos da perna, uni-
gamento tibioperoneal anterior insere-se no bor- dos através da articulação tibioperoneal distal, for-
do anterior da superfície tibial e dirige-se, obliqua- mam a chamada "pinça" tibioperoneal ou bimaleo-
mente, para baixo e para fora, até ao bordo ante- lar que apresenta três paredes articulares, uma su-
rior do maléolo lateral. O ligamento tibioperoneal perior ou tibial e duas laterais ou maleolares. A su-
posterior insere- se, para dentro, no bordo poste- perfície articular superior é côncava, horizontal, de
rior da superfície tibial e dirige-se, obliquamen- forma quadrilátera, e apresenta na sua parte média
te, para baixo e para fora até á face posterior do uma crista ântero-posterior que se relaciona com
maléolo lateral. o sulco da tróclea do talus. A superfície maleolar
medial faz parte da face lateral do maléolo medial.
Movimentos A superfície maleolar lateral faz parte da face me-
dial do maléolo lateral. A "pinça" tibioperoneal é
Permite movimentos transversais de pequena am- completada, à frente e atrás da articulação tibiope-
plitude pelos quais a t:J.bia e o peróneo se afastam roneal distal pelos ligamentos anterior e posterior
e aproximam. A mobilidade desta articulação está desta. A superfície talar é constituída pelas face-
relacionada com os movimentos executados pela tas articulares existentes nas faces superior, medial
articulação talocrural. e lateral do corpo do talus. A faceta superior é a
tróclea do talus que é mais larga à frente que atrás
MEMBRANA INTERÓSSEA DA PERNA e mais extensa no sentido ântero-posterior que a
(LJGAMENTO INTERÓSSEO) face superior da "pinçà' tibioperoneal. O sulco da
tróclea do talus está orientado de forma oblíqua,
A membrana interóssea é uma membrana fibro- para a frente e para fora, o que explica o desvio ha-
sa cujas fibras se dirigem obliquamente para bai- bitual do pé na mesma direção. A faceta medial ou
xo e para fora, entre o bordo lateral da t:J.bia e a tibial articula com a faceta do maléolo medial e
crista interóssea da face medial do peróneo, preen- tem a forma de uma "vírgulà' de maior extremida-
chendo o espaço interósseo. A membrana interós- de anterior. A faceta lateral ou peroneal, tem uma
sea apresenta, em cima, um orifício que dá passa- forma complementar da faceta do maléolo late-
gem à artéria tibial anterior e, em baixo, apresen- ral. A extremidade inferior da t:J.bia e do peróneo
ta outro orifício que dá passagem à artéria pero- unem-se entre si formando a chamada "pinça" ti-

215
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

9
8
14 10

Fig. 2.179: Articulaçãotalocrural e articulações do pé (vista lateral).


1. Maléolo lateral 2. Ligamento tibio-peroneal anterior 3. Ligamento tibio- peroneal posterior 4. Ligamento taloperoneal anterior 5. Ligamento
peroneocalcaneano 6. Ligamento taloperoneal posterior 7. Ligamento talocalcaneano lateral 8. Ligamento talocakaneano interósseo
9. Ligamento navieulocuboideu dorsal 10. Ligamento cuneocuboideu dorsal 11. Ligamento talonavicular dorsal 12. Ligamento calcaneonavicular
13. Ligamento calcaneocuboideu dorsal medial 14. Ligamento calcaneocuboideu dorsal lateral 15. Articulaçãotarsometatársica {Lisfranc)

11 10
12 2

Fig. 2.180: Articulação talocrural e articulações do pé (vista medial).


1. Maléolo medial 2. Sustentaculum tali 3. ligamento deltoideu 4. Ligamento tibiotalar anterior 5. Ligamento tibionavicular 6. Ligamento
tibiocalcaneano 7. Ligamento tibiotalar posterior 8. Ligamento talonavicular 9. Ligamento talocalcaneano posterior 1O. Ligamento talocakaneano
medial 11 . Ligamentos naviculocuneiformes dorsais 12. Ligamento calcaneonavicular plantar

216
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR

14
13

15

8 16
2
9

3
6 10 11

8 12
7 9
3
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13

fig. 2.181 : Articulação talocrural e articulações do pé (vista posterior). Fig. 2.182: Articulação talocrural e articulações do pé (vista plantar).
1. Maléolo medial 2. Maléolo lateral 3. Talus 4. Calcâneo 5. Ligamento 1. Tuberosidade do calcâneo 2. Sustentaculum tali 3. Tubérculo
tíbioperoneal posterior 6. Ligamento t ibiotalar posterior 7. Ligamento navicular 4. Ligamento plantar longo 5. Ligamento calcaneo-cuboideu
tibiocalcaneano 8. Ligamento taloperoneal posterior 9. Ligamento plantar 6. Ligamento naviculo-cuboideu plantar 7. Ligamento
peroneocalcaneano 1O. Ligamento talocalcaneano posterior cakâneo-navicular plantar 8. Ligamento intermetatársico transverso
plantar 9 . Tendão do músculo peroneal longo 10. Te ndão do músculo
peroneal curto 11. Tendão do músculo tibial anterior 12. Tendão
bioperoneal ou bimaleolar de cuja integridade de- do músculo tibial posterio r 13. Tendão do músculo flexor longo dos
pende a estabilidade da articulação talocrural. dedos 14. Tendão do músculo flexor longo do 1º dedo 15. Tendão do
músculo flexor curto dos dedos 16. Ligamentos t ransversos profundos
do metatarso
Meios de união
ligamento taloperoneal posterior (peróneo-astra-
São a cápsula articular e os ligamentos, lateral e galino posterior) (Fig. 2.181) estende-se horizon-
medial. A cápsula articular insere-se no rebordo talmente desde a face medial do maléolo lateral
das superficies articulares em toda a sua extensão, até à face posterior do talus. O ligamento medial
exceto à frente onde se afasta das superficies arti- (Fig. 2.180) dispõe-se em dois planos, superficial
culares inserindo-se no colo do talus e na face an- e profundo. Constituem o plano superficial ou li-
terior da extremidade inferior da tfbia. A cápsula gamento deltoideu: ligamento tibiotalar anterior e
articular é reforçada pelos ligamentos lateral e me- ligamento tibiotalar posterior (tibio-astragalinos),
dial. O ligamento lateral (Fig. 2.179) é constituí- ligamento talonavicular (astrágalo-escafoideu), li-
do por três feixes distintos (anterior, médio e pos- gamento tibiocalcaneano e ligamento tibionavicu-
terior) que divergem do maléolo lateral em direc- lar (tibio-escafoideu). Estes inserem-se no bordo
ção ao talus e calcâneo. O feixe anterior ou liga- anterior e vértice do maléolo medial dispondo-se
mento taloperoneal anterior (peróneo-astragalino em forma de leque até às suas inserções inferiores
anterior) insere- se, em cima, no bordo anterior do na face superior do osso navicular, no colo do ta-
maléolo lateral e, em baixo, no talus, à frente da fa- lus e no sustentaculum tali. O plano profundo (Fig.
ceta peroneal. O feixe médio ou ligamento pero- 2.181) é constituído por um feixe curto e espesso
neocalcaneano, estende-se desde o bordo anterior que se estende do vértice do maléolo medial até à
do maléolo lateral, dirige-se para trás e para baixo, face medial do corpo do talus, abaixo da faceta ar-
até à face lateral do calcâneo. O feixe posterior ou ticular medial.

217
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Movimentos talocrural e estende-se paralelamente a este últi-


mo, desde a apófise lateral do talus até á face la-
Esta articulação permite a execução de movimen- teral do calcâneo. O ligamento talocalcaneano
tos de flexão/extensão. Qyando executa o movi- posterior estende-se desde o tubérculo lateral da
mento de flexão verifica-se, simultaneamente, o face posterior do talus até à face superior do cal-
afastamento transversal das extremidades inferio- câneo (Fig. 2.179, 2.180 e 2.181). O ligamento
res da tíbia e do peróneo, motivado pela maior lar- talocalcaneano interósseo é comum às duas arti-
gura da porção anterior da tróclea do talus. O mo- culações talocalcaneanas e ocupa o seio do tarso.
vimento de flexão/extensão ocorre em torno de É uma estrutura resistente, organizada em dois pla-
um eixo quase praticamente transversal, ligeira- nos fibrosos entre os quais existe uma bolsa serosa.
mente oblíquo para dentro e para a frente, con- A membrana sinovial reveste a face profunda da
fundindo-se com o eixo da tróclea do talus. O mo- articulação e forma um recesso ou fundo-de-sa-
vimento de flexão, que aproxima a face dorsal do co na região posterior da articulação. A articula-
pé da face anterior da perna, é limitado pela tensão ção talocalcaneana anterior (astrágalo-calcaneana
dos feixes posteriores dos ligamentos lateral e me- anterior) faz parte da articulação talocalcaneona-
dial enquanto os feixes anteriores limitam o movi- vicular e é descrita juntamente com a articulação
mento de extensão, que afasta a face dorsal do pé transversa do tarso.
da face anterior da perna.
ARTICULAÇÕES ENTRE OS OSSOS DA 2ª
FILEIRA DO TARSO
ARTICULAÇÕES DO PÉ
Incluem as articulações naviculocuboideia (escá-
As articulações do pé compreendem as dos ossos fo-cubóideia), cuneonaviculares (escáfo-cuneifor-
da 1ª fileira do tarso ou talocalcaneanas, as articu- mes), intercuneiformes e cuneocubóideia que se
lações dos ossos da 2ª fileira do tarso, a articulação classificam como artrodias. A articulação navicu-
entre as duas fileiras do tarso, a articulação tarso- locuboideia une a faceta articular que se encon-
metatársica, as articulações metatarsofalângicas e tra na extremidade lateral do osso navicular à fa-
as interfalângicas. ceta articular posterior na face medial do cubóide.
Apresenta como meios de união a cápsula articu-
ARTICULAÇÕES ENTRE OS OSSOS DA 1ª lar e três ligamentos de reforço da cápsula, o dor-
FILEIRA DO TARSO OU ARTICULAÇÕES sal, o plantar e o interósseo. A sinovial correspon-
TALO-CALCANEANAS OU ARTICULAÇÃO de a um prolongamento da sinovial das articula-
SUSTAI.AR ções cuneonaviculares (Fig. 2.179 e 2 .180). As ar-
ticulações cuneonaviculares articulam a face ante-
O talus e o calcâneo relacionam-se através de duas rior do osso navicular, que está dividida em três
articulações, uma anterior e uma posterior, sepa- facetas articulares, com as faces posteriores dos
radas entre si pelo seio do tarso. A articulação ta- três cuneiformes. Como meios de união apre-
localcaneana posterior (astrágalo-calcaneana pos- senta a cápsula articular reforçada por ligamen-
terior) classifica-se como uma artrodia. A super- tos dorsais e plantares. O ligamento dorsal es-
fície articular talar é a face póstero-lateral da face tende-se desde a face dorsal do osso navicular até
inferior do talus e a superfície articular do cal- aos três cuneiformes e o ligamento plantar esten-
câneo corresponde ao segmento articular poste- de-se desde o tubérculo do navicular até à face
rior na face superior do osso. Os meios de união plantar dos três cuneiformes. Cada um destes li-
são a cápsula articular e três ligamentos. Os liga- gamentos é constituído por três feixes distintos.
mentos são designados por "ligamento talocalca- A membrana sinovial é comum às três articulações
neano lateral, posterior e interósseo". O ligamen- e envia prolongamentos para as articulações inter-
to talocalcaneano lateral encontra-se para a fren- cuneiformes, cuneocuboideia e naviculocuboideia
te do ligamento peroneocalcaneano da articulação (Fig. 2.179, 2.180 e 2.181). As articulações inter-

218
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR

eiformes relacionam os três cuneiformes entre navicular (Fig. 2.179 e 2.180). O ligamento talo-
cun
. apresentam uma caps ·u1ar e ligamen-
, ula art1c navicular une a face superior do colo do talus ao
si, de reforço. Estes são dois ligamentos dorsais, bordo superior do osso navicular. Este ligamen-
toS
e estendem transversalmente entre os cunei- to, tal como o ligamento calcaneonavicular infe-
que S .
formes vizinhos, um ligamento plantar entre o 1° rior ou plantar são revestidos pelos feixes anterio-
e 2º cuneiformes e dois ligamentos interósseos. res, tibionavicular e tibioglenoideu, da camada su-
A membrana sinovial constitui um prolongamen- perficial do ligamento medial da articulação talo-
to anterior da sinovial das articulações cuneonavi- crural. O ligamento talocalcaneano interósseo en-
culares (Fig. 2.179 e 2.180). A articulação cuneo- contra-se atrás da articulação talocalcaneana ante-
cuboideia une a face lateral do cuneiforme late- rior. O ligamento calcaneonavicular entra na cons-
ral à face medial do cubóide. Apresenta uma cáp- tituição do ligamento em "Y", considerado o ful-
sula articular e três ligamentos de reforço, o dor- cro da articulação transversa do tarso. Estende-se
sal, 0 plantar e o interósseo. A membrana sino- desde a face dorsal da grande apófise do calcâneo,
vial é também um prolongamento da sinovial das à frente do ligamento interósseo, até ao cubóide e
articulações cuneonaviculares (Fig. 2.179). Os os- navicular. A sinovial é distinta daquela da articula-
sos da 2ª fileira funcionam como um todo fun- ção calcaneocuboideia, mas comum às articulações
cional, designado por "tarso anterior", em função talonavicular e talocalcaneana anterior. A articula-
de estarem unidos por ligamentos muito resisten- ção calcaneocuboideia classifica-se como uma efi-
tes. Apenas possibilitam movimentos limitados de piartrose. A superficie articular calcaneana ocupa
deslizamento. a face anterior da grande apófise deste osso, é con-
vexa no sentido transversal, e no sentido vertical é
ARTICULAÇÃO DOS OSSOS DA 1ª COM A côncava, em cima, e convexa, em baixo. A superfi-
za FILEIRA DO TARSO OU ARTICULAÇÃO cie articular do cubóide é complementar à do cal-
TRANSVERSA DO TARSO OU ARTICULAÇÃO câneo e encontra-se na face posterior deste osso.
MÉDIOTÁRSICA (DE CHOPART) Os meios de união são a cápsula articular, reforça-
da por três ligamentos. O ligamento calcaneocu-
É a articulação entre os ossos do tarso posterior boideu superior ou dorsal estende-se desde a face
com os do tarso anterior. É constituída por duas superior da grande apófise do calcâneo à face dor-
articulações, uma medial, ou articulação talocal- sal do cubóide. O ligamento calcaneocuboideu in-
caneonavicular e, uma lateral, ou articulação cal- ferior ou plantar estende-se desde a face inferior
caneocuboideia. A articulação talocalcaneonavi- do calcâneo até ao cubóide e quatro últimos me-
cular (astágalo-calcaneo-escafoideia) classifica- tatársicos. O ligamento calcaneocuboideu medial
-se como uma artrodia. A superficie articular ta- corresponde ao feixe lateral do ligamento em "Y"
lar é formada pela cabeça do talus que está divi- e vai desde a grande apófise do calcâneo até à face
dida em três segmentos: ântero-superior ou navi- dorsal do cubóide. A sinovial está separada daque-
cular (articula com a face posterior daquele osso), la da articulação talonavicular por intermédio do
póstero-inferior ou calcaneano (articula com a fa- ligamento em "Y"(Fig.2.180 e 2.182).
ceta ântero-medial da face superior do calcâneo) As articulações talocalcaneana e transversa do tar-
e médio ou ligamentar (entre os dois segmen- so executam movimentos de torção medial e la-
tos anteriores). Este último é ocupado pelo liga- teral do pé ou inversão e eversão, respetivamen-
mento calcaneonavicular inferior ou plantar (cal- te. O movimento de torção medial é um movi-
câneo-escafoideu) que se estende desde a peque- mento de rotação medial que eleva o bordo medial
na apófise do calcâneo até ao bordo inferior e ex- do pé combinado com um movimento de adução
tremidade medial do osso navicular. Os meios de e extensão. A face plantar olha para dentro, para
união são a cápsula articular e os ligamentos talo- baixo e para trás (inversão). O movimento de tor-
navicular (astrágalo-escafoideu), calcaneonavicu- são lateral resulta da combinação do movimen-
lar plantar ou inferior Qá descrito), talocalcanea- to de rotação lateral do pé que eleva o seu bordo
no interósseo (astrágalo-calcaneano) e calcaneo- lateral com os movimentos de abdução e flexão.

219
MANUAL D E ANATOMIA HUMANA

A face plantar olha para fora, para baixo e para mentos dorsais são em números de sete: um entre
trás (eversão). o cuneiforme medial e o 1° metatársico, três entre
o 2° metatársico e os três cuneiformes e três en-
ARTICULAÇÃO TARSOMETATÁRSICA (DE tre o cuneiforme lateral e o cubóide e os três úl-
LISFRANC) timos metatársicos. Os ligamentos plantares são,
também, em número de sete: um entre o cuneifor-
É a articulação entre os ossos do tarso anterior me medial e o 1° metatársico, um entre o cunei-
(cuneiformes e cubóide) e os metatársicos que se forme medial e o 2° e 3° metatársicos, um entre
classificam como artrodias. Originam uma abóba- o cuneiforme intermédio e o 2° metatársico, dois
da óssea transversal de concavidade inferior, a ar- entre o cuneiforme lateral e o 3° e 4° metatársicos
cada társica. As superfícies articulares são, de me- e dois entre o cubóide e o 4° e 5° metatársicos. Os
dial para lateral, as faces anteriores dos cuneifor- ligamentos interósseos são três: entre o cuneifor-
mes, medial, intermédio e lateral, as facetas late- me medial e o 2° metatársico (ligamento cuneo-
rais dos cuneiformes medial e lateral, a faceta do metatársico interósseo), entre os cuneiformes in-
cuneiforme lateral que se relaciona com o 4° me- termédio e lateral e o 2° e 3° metatársicos e en-
tatársico e a face anterior do cubóide. As extremi- tre o cuneiforme lateral e o 3° metatársico. Cada
dades posteriores dos metatársicos formam uma uma das três articulações que constituem a articu-
abóbada transversal, côncava inferiormente desig- lação tarsometatársica possui uma membrana si-
nada por "arcada metatársica". As superfícies ar- novial. Devido à morfologia da articulação tarso-
ticulares são as facetas articulares posteriores dos metatársica é possível afumar que o 2° metatársico
cinco metatársicos complementares à arcada tá- é praticamente imóvel, dado estar encastrado en-
rsica. O 1° metatársico articula com o cuneifor- tre os três cuneiformes. O 3° metatársico executa
me medial, as superfícies articulares do 2° meta- ligeiros movimentos de deslizamento sobre o tar-
társico articulam com os três cuneiformes, a su- so. O 1°, 4° e 5° metatársicos são os mais móveis,
perfície articular do 3° metatársico articula com o permitindo movimentos pouco amplos, de flexão/
cuneiforme lateral e as superfícies articulares do 4° extensão e lateralidade.
e 5° metatársicos articulam com o cubóide. A in-
terlinha articular estende-se entre as regiões mé- ARTICULAÇÕES INTERMETATÁRSICAS
dias dos bordos medial e lateral do pé, seguin-
do uma direção para fora e para trás, descrevendo Estas articulações classificam-se como artodias e
uma curvatura muito irregular e ligeiramente con- estabelecem-se entre a extremidade posterior ou
vexa para a frente. A extremidade medial desta in- base dos metatársicos. Entre o 1° e o 2° metatá-
terlinha, entre o 1° cuneiforme e o 1° metatársi- rsicos apenas existe uma relação estabelecida por
co, dirige-se para fora e para a frente, em direcção intermédio de alguns feixes fibrosos. As superfí-
à região média do 5° metatársico. A extremidade cies articulares são duas para a articulação entre
lateral, entre o cubóide e o 5° metatársico é forte- o 2° e 3° metatársicos, uma superior e uma infe-
mente oblíqua para dentro e para a frente, em di- rior, uma entre o 3° e o 4° metatársicos e uma en-
reção ao limite posterior da cabeça do 1° metatár- tre o 4° e o 5° metatársicos. Cada uma destas ar-
sico. Existem, na realidade, três articulações distin- ticulações apresenta uma cápsula articular, um li-
tas. Aquelas entre o cuneiforme medial e o 1° me- gamento dorsal, um plantar e um interósseo (Fig.
tatársico, entre os cuneiformes intermédio e late- 2.179 e 2.182).
ral e o 2° e 3° metatársicos e entre o cubóide e os
dois últimos metatársicos. O 2° metatársico fica ARTICULAÇÕES METATARSOFALÂNGICAS E
encastrado entre os três cuneiformes (Fig. 2.179, ARTICULAÇÕES INTERFALÂNGICAS
2.180 e 2.182). Esta articulação apresenta como
meios de união três cápsulas articulares, corres- São análogas às articulações metacarpofalângicas
pondentes aos três componentes articulares e li- e interfalângicas dos dedos descritas a propósito
gamentos dorsais, plantares e interósseos. Os liga- da mão.

220
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR

MIOLOGIA DO MEMBRO INFERIOR recoberto pelo músculo psoas maior na sua porção
medial formando, nesta zona, um sulco por onde
Os músculos do membro inferior organizam-se passa o nervo femoral.
ern quatro grupos: músculos da bacia (região ilía- O músculo ileopsoas é responsável pelo movimen-
ca ou pélvica e região glútea), da coxa, da perna e to de flexão da coxa sobre a bacia e rotação lateral
da coxa. Qiando o ponto fixo é o fémur, este mús-
do pé.
culo executa o movimento de flexão da coluna ver-
tebral e da bacia daí resultando um movimento de
MÚSCULOS DA BACIA rotação do tronco para o lado oposto. A contração
simultânea dos dois músculos ileopsoas, tomando
Estendem-se entre a bacia e o fémur. Incluem os como ponto fixo o fémur, é responsável pelo movi-
músculos da região ilíaca ou pélvica (anteriores) e mento de flexão direta do tronco.
os músculos da região glútea (posteriores).

MÚSCULOS DA REGIÃO IÚACA OU PÉLVICA MÚSCULOS DA REGIÃO GLÚTEA

Inclui apenas um músculo, o músculo ileopsoas Os músculos da região glútea dispõem-se em três
que, por sua vez, é formado por dois músculos: planos: profundo, médio e superficial.
psoas maior e ilíaco. Estes, são por vezes descri-
tos como músculosdo grupo posterior do abdó- PLANO PROFUNDO
men, fazendo parte do plano superificial do abó-
men, sendo incluídos no grupo posterior, junta- Este plano muscular está directamente aplicado
mente com o músculo psoas menor. sobre as faces superior e posterior da articulação
coxofemoral. É formado pelos músculos: glúteo
Músculo psoas maior mínimo (pequeno glúteo), piriforme (piramidal),
gémeo superior, obturador interno, gémeo inferior,
Insere-se ao longo da coluna lombar, na face late- obturador externo e quadrado femoral (quadrado
ral dos corpos vertebrais, nas apófises transversas crural) (Fig. 2.183).
da 12ª vértebra torácica e das cinco vértebras lom-
bares e nos discos intervertebrais. Desde a sua ori- Músculo glúteo mínimo
gem, este músculo dirige-se para baixo e para fora,
atravessa a fossa ilíaca e atinge a região da coxa Insere-se na face glútea do ileon, abaixo e à fren-
passando atrás da arcada femoral numa goteira te da linha glútea anterior, até à goteira supra-ace-
entre a espinha ilíaca ântero-superior e a eminên- tabular (supra-cotiloideia), que se relaciona com o
cia ílio-púbica, passa à frente da articulação coxo- tendão refletido do músculo recto femoral. Os fei-
femoral e termina no trocanter menor do fémur. xes musculares revestem a face superior da cápsu-
la articular da articulação coxofemoral indo inse-
Músculo ilíaco rir-se, através de um tendão no trocanter maior.
A sua ação é a abdução, rotação medial (contração
Insere-se em praticamente toda a extensão da fos- dos feixes anteriores) e rotação lateral (contração
sa ilíaca, à exceção da sua porção ântero-inferior, dos feixes posteriores) da coxa. Qiando o ponto
na crista ilíaca (em cima), na base do sacro (atrás), fixo se encontra no fémur promove a inclinação da
no 1/3 posterior da linha arqueada (em baixo), na bacia para o mesmo lado.
face medial das espinhas ilíacas anteriores e na in-
cisura que as separa, a incisura inominada (à fren- Músculo piriforme
te). O s seus feixes convergem para o tendão do
músculo psoas maior terminando no bordo lateral Os seus feixes inserem-se na face anterior do sa-
deste. O músculo ilíaco encontra-se parcialmente cro, dirigem-se para baixo, para fora e para a fren-

221
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

te, atravessam a incisura isquiática maior e inse-


rem-se no trocanter maior. Este músculo situa- se
quer na bacia quer na região glútea, imediatamen-
te abaixo do músculo glúteo mínimo e no mesmo
plano deste.
A sua ação é a rotação lateral e abdução da coxa.

Músculo obturador interno


4

Insere-se na face medial da membrana obturadora


5
deixando apenas a descoberto a arcada fibrosa in-
fra-púbica que constitui o limite inferior do bura-
co infra-púbico, no ramo isquio-púbico e na linha
arqueada. A partir das suas inserções pélvicas, os
feixes convergem para a pequena incisura ciática e
inserem-se no trocanter maior. A sua ação é a ro-
tação lateral da coxa.

Músculos gémeos

Distinguem-se um gémeo superior e um gémeo Fig. 2.183: Músculos da região glútea (plano profundo).
inferior que se situam ao longo dos bordos supe- 1. Trocanter maior 2. Sacro 3. Músculo glúteo mínimo 4. Músculo
piriforme 5. Músculo gémeo superior 6. Músculo obturador interno
rior e inferior da porção extrapélvica do múscu- 7. Músculo gémeo inferior 8. Músculo quadrado femoral
lo obturador interno. Consideram-se feixes aces-
sórios e extrapélvicos do músculo obturador in- Músculo quadrado femoral
terno. O músculo gémeo superior insere-se na es-
pinha ciática abaixo da inserção do ligamento sa- Situa-se na região glútea imediatamente abaixo
croespinhoso enquanto o músculo gémeo inferior do músculo gémeo inferior e para trás do músculo
se insere na tuberosidade isquiática, acima e para obturador externo. Insere-se, medialmente, na face
fora da inserção do ligamento sacrotuberoso. Estes lateral da tuberosidade isquiática e os seus feixes
dois músculos dirigem-se para fora acompanhan- dirigem-se transversalmente para fora, atrás da ar-
do o músculo obturador interno, que os separa, e ticulação coxofemoral e do músculo obturador ex-
terminam juntamente com o tendão deste último terno, até ao trocanter maior. A _sua ação é a rota-
ao nível do trocanter maior. A sua ação é a rotação ção lateral e adução da coxa.
lateral da coxa.
PLANO MÉDIO
Músculo obturador externo
Este plano muscular é constituído por um único
Estende-se desde a face lateral do contorno do bu- músculo, o glúteo médio (Fig. 2.184).
raco obturado, ao nível do corpo e ramo inferior
do púbis e corpo e ramo do isquion. Os seus fei- Músculo glúteo médio
xes convergem para trás e para fora, passam na go-
teira subacetabular, contornam a face póstero-in- Situa-se atrás do músculo glúteo mínimo que re-
ferior da articulação coxofemoral e inserem-se no veste e insere-se na face glútea do ileon, na porção
trocanter maior. Este músculo é atravessado, em compreendida entre as duas linhas glúteas e nos ¾
cima, pelo ramo profundo do nervo obturador. anteriores do lábio lateral da crista ilíaca. Os seus·
A sua ação é a rotação lateral da coxa. feixes musculares convergem e inserem-se no tro-
canter maior. A sua ação é a abdução da coxa, ro-

222
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E I NFERIOR

- medial (contração dos feixes anteriores), ro-


0
GRUPO ANTERIOR
caça- lateral (contraçao
- dos 1e1Xes
i: . .
postenores ) d
a
caça0 d fix , ,:, ,
n uan o o ponto o e no 1emur, este mus- Constituído por dois músculos, um profundo, o
coxa -~
culo inclina a bacia para o mesmo lado. quadríceps femoral (quadricípide crural) e um su-
perficial, o sartório (costureiro) (Fig. 2.185).
pLANO SUPERFICIAL

Este plano muscular é constituído por dois mús-


culos: o glúteo máximo (grande glúteo) e o tensor
da fáscia lata (Fig. 2.184).

Músculo glúteo máximo

Situa-se atrás dos outros músculos da região glú-


tea, revestindo-os. Os feixes deste músculo inse-
4
rem-se na porção posterior da crista ilíaca, na por-
ção superior da face glútea do ileon, atrás da linha
glútea posterior, na crista sagrada, nos tubérculos
sagrados póstero-laterais e bordos laterais do sa-
cro e cóccix. Os seus feixes musculares dirigem-
-se para fora e para baixo e inserem-se no ramo de
trifurcação lateral da linha áspera do fémur. En-
tre o músculo glúteo máximo e o trocanter maior
existe uma bolsa serosa que facilita o deslizamento
entre estas estruturas. A sua ação é a extensão, ro-
tação lateral, abdução (feixes superiores) e adução
6
(feixes inferiores) da coxa. Qyando o ponto fixo é
o fémur inclina a bacia para o mesmo lado impri-
mindo um movimento de rotação que dirige a face
anterior da bacia para o lado oposto.

Músculo tensor da fáscia lata

Situa-se na parte lateral e superficial da anca e


coxa. Insere-se, em cima, no lábio lateral da crista
ilíaca e espinha ilíaca ântero-superior. Os seus fei- Fig. 2.184: Músculos da região glútea (plano profundo).
1. Crista ilíaca 2. Sacro 3. Músculo glúteo médio 4. Músculo glúteo
xes dirigem-se para baixo e para trás e inserem-se máximo 5. Tracto ilia-tibial 6. Cabeça longa do músculo bíceps
no tubérculo intercondiliano lateral da tíbia. A sua femoral 7. Cabeça curta do músculo bíceps femoral 8. Músculo
semitendinoso 9. Músculo semimembranoso 10. Múculo grácil
ação é a extensão da perna, abdução e rotação me-
dial da coxa.
Músculo quadríceps femoral

MÚSCULOS DA COXA É um músculo muito volumoso que envolve pra-


ticamente todo o corpo do fémur. Em cima, tem
Os músculos da coxa distribuem-se por três com- origem em quatro feixes individuais e distintos,
partimentos ou grupos distintos: anterior (múscu- dispostos em diferentes planos, que são o recto fe-
los extensores), medial (músculos adutores) e pos- moral (recto anterior), vasto medial (vasto inter-
terior (músculos flexores). no), vasto lateral (vasto externo) e vasto intermé-

223
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

dio (crural). Estes músculos terminam, em baixo, atrás do músculo vasto intermédio que constituem
por um tendão comum que se insere ao nível da o músculo articular do joelho (subcrural). Este in-
rótula. sere-se, em cima, na face anterior do fémur, abai-
O músculo vasto intermédio é o mais profundo, xo das inserções do vasto intermédio e, em bai-
situando-se atrás dos vastos lateral e medial. In- xo, termina na bolsa serosa sub-quadricipital. Este
sere-se no lábio lateral de trifurcação da linha ás- músculo contrai simultaneamente ao músculo rec-
pera do fémur e nos ¾ superiores das faces ante- to femoral e eleva a bolsa serosa sub -quadricipi-
rior e lateral do corpo do fémur. O músculo vasto tal durante o movimento de extensão da perna so-
medial situa-se medialmente em relação ao mús- bre a coxa.
culo vasto intermédio. Insere-se no lábio me-
dial da linha áspera e no ramo medial de trifur- Músculo sartório
cação superior desta linha. O músculo vasto late-
ral situa-se lateralmente ao músculo vasto inter- Situa-se à frente do músculo quadríceps femoral.
médio. Insere-se no lábio lateral da linha áspe- Insere-se, em cima, na espinha ilíaca ântero-su-
ra e na face lateral do trocanter maior. O múscu- perior, para dentro da inserção do músculo ten-
lo recto femoral é o mais superficial. Insere-se no sor da fáscia lata. Os seus feixes dirigem-se para
osso coxal através de dois tendões curtos: o ten- baixo, para dentro e para trás, cruzando obliqua-
dão direto do músculo recto femoral, que se inse- mente o músculo ileopsoas e o músculo quadrí-
re na espinha ilíaca ântero-inferior e o tendão re- ceps femoral até à face medial da coxa. Em bai-
fletido do músculo recto femoral que se insere na xo, insere-se no tubérculo intercondiliano lateral
porção superior do rebordo acetabular. Os ten- da tíbia juntamente com os tendões do semiten-
dões de terminação das quatro porções do mús- dinoso e do grácil constituindo a "pata de gan-
culo quadríceps femoral unem-se acima da rótula so". Entre o tendão do sartório e os tendões dos
constituindo o tendão do quadríceps femoral que outros músculos existe uma bolsa serosa. A sua
se insere na base e nos bordos laterais da rótula ação é a flexão da perna sobre a coxa e da coxa
e na tuberosidade da tíbia. O tendão do quadrí- sobre a bacia.
ceps femoral encontra-se dividido em três planos
tendinosos sobrepostos. O plano superficial é re- GRUPO MEDIAL
presentado pelo tendão do músculo recto femo-
ral, que se insere na base e face anterior da rótu- Constituído por cinco músculos: grácil (recto in-
la. Os seus feixes dirigem-se para a tuberosidade terno), pectíneo e os três adutores da coxa (Fig.
da tíbia constituindo os feixes superficiais do li- 2.185). Os músculos adutores da coxa apresen-
gamento rotuliano. O plano médio é representa- tam uma forma triangular e encontram-se entre
do pelos tendões dos vastos que se unem na li- o ramo isquio-púbico (vértice) e a linha áspera do
nha média através de uma lâmina tendinosa que fémur (base). Encontram-se sobrepostos entre si
se insere na base da rótula, atrás do músculo recto designando-se, segundo a ordem de sobreposição,
femoral. Cada um dos vastos emite uma expan- em 1°, 2° e 3° adutores ou segundo o seu volume
são ou prolongamento anterior apresentando fei- em longo (médio), curto (pequeno) e adutor mag-
xes descendentes de cada lado da rótula e do liga- no (grande), respetivamente. O músculo pectí-
mento rotuliano que se entrecruzam entre si in- neo apresenta a mesma disposição e a mesma fi.m-
serindo-se na superfície articular superior da tí- ção que os adutores propriamente ditos, pelo que
bia do lado oposto. O plano profundo é represen- é descrito juntamente com estes. Assim, conside-
tado pelo tendão do músculo vasto intermédio ramos no grupo dos adutores, quatro músculos,
que se insere em toda a extensão da base da rótu- que se dispõem em três planos. Um plano ante-
la, posteriormente à inserção dos vastos lateral e rior ou superficial formado pelo grácil, pectíneo e
medial. A sua ação é a extensão da perna e flexão longo adutor. Um plano médio, formado pelo cur-
da coxa sobre a bacia (por ação do recto femoral). to adutor. Um plano profundo formado pelo adu-
Existem alguns feixes musculares que se situam tor magno.

224
SUPORTE E MOVIMENTO [ SISTEMALOCOMOTOR:MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR

15

Fig. 2.185: Músculos da coxa (grupo anterior e medial).


1. Crista ilíaca 2. Espinha ilíaca ântero-superior 3. Púbis 4. Ligamento inguinal 5. Músculo psoas maior 6. Músculo ilíaco 7. Rótula/ Patela
8. Ligamento rotuliano 9. Ouadríceps femoral 10. Músculo vasto intermédio 11. Músculo vasto medial 12. Músculo vasto lateral 13. Músculo
recto femoral 14. Tendão quadricipital 15. Músculo tensor da fáscia lata 16. Tracto ilia-tibial 17. Músculo sartório 18. Músculo pectíneo
19. Músculo adutor curto 20. Músculo adutor longo 21. Músculo grácil

Plano profundo de um tendão no tubérculo do adutor magno, no


côndilo femoral medial. A porção lateral subdivi-
Este plano é constituído por um único músculo, o de-se em dois feixes, um superior, desde o 1/3 mé-
músculo adutor magno. dio do ramo isquio-púbico até ao ramo lateral de
trifurcação da linha áspera, e um médio que se in-
Músculo adutor magno sere em toda a extensão do interstício desta linha.
Em baixo, as porções medial e lateral encontram-
Insere-se, em cima, na tuberosidade isquiáti- -se separadas entre si formando, juntamente com
ca e nos 2/3 posteriores do ramo isquio-púbico. o fémur, um orificio triangular atravessado pelos
Os seus feixes musculares dirigem-se para baixo vasos femorais, o hiato tendinoso do músculo adu-
e para fora e formam uma massa muscular que se tor (anel do 3° adutor).
divide em duas porções, uma lateral e uma medial.
A porção medial ou feixe inferior, constitui o bor-
do medial do músculo e insere-se, em cima, na tu-
berosidade isquiática, terminando por intermédio

225
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

PLANO MÉDIO por um tendão que contorna atrás o côndilo fe-


moral medial inserindo-se ao nível da extremida-
Este plano é constituído por um único músculo, o de superior da tfbia, no tubérculo intercondilian0
músculo curto adutor. lateral da t1bia, posteriormente ao sartório e supe-
riormente em relação ao semitendinoso (ver "pata
Músculo curto adutor de ganso'').
A ação dos músculos longo adutor e pectíneo é a
Insere-se, em cima, no ramo isquio-púbico e no adução e rotação lateral da coxa. O pectíneo e os
corpo do púbis. Os seus feixes dirigem-se para dois primeiros adutores são, também, flexores da
baixo e para fora, e terminam no fémur através de coxa. O músculo grácil é flexor e adutor da perna.
dois feixes, um superior e um inferior. O feixe su-
perior insere-se no ramo médio de trifurcação su- GRUPO POSTERIOR
perior da linha áspera e esta inserção determina a
existência da chamada "crista do pequeno adutor". Constituído por três músculos: semimembranoso,
O feixe inferior insere-se na parte superior do in- semitendinoso e bíceps femoral (bicípede crural).
terstício da linha áspera juntamente com o múscu- Podemos classificá-los, consoante as suas inser-
lo adutor magno, atrás, e com o músculo pectíneo ções, em músculos ísqueo-femoro-peroneais (bí-
e o músculo médio adutor, à frente. ceps femoral) e músculos isquio-tibiais (semiten-
dinoso e semimembranoso) (Fig. 2.184).
PLANO SUPERFICIAL
Músculo semimembranoso
Este plano é constituído pelos músculos pectíneo,
longo adutor e grácil. É o mais profundo deste grupo e situa-se na por-
ção póstero-medial da coxa. Insere-se, em cima, na
Músculo longo adutor face lateral da tuberosidade isquiática e os seus fei-
xes dirigem-se para baixo e para dentro, passando
Insere-se, em cima, no corpo do púbis. Os seus fei- atrás do côndilo femoral medial, terminando por
xes dirigem-se para baixo, para trás e para fora e três tendões: direto, refletido e recorrente. O ten-
inserem-se na porção média do lábio medial da li- dão direto do músculo semimembranoso continua
nha áspera do fémur. a direção do músculo e insere-se na porção poste-
rior do tubérculo intercondiliano lateral da nbia.
Músculo pectíneo O tendão refletido do músculo semimembranoso,
que está coberto pelo ligamento colateral tibial da
Insere-se, em cima, no pécten do púbis, desde a articulação do joelho, dirige-se para a frente, passa
espinha do púbis até à eminência ileo-púbica e no na goteira horizontal do tubérculo intercondiliano
lábio anterior da goteira infra-púbica. Os seus fei- lateral da tfbia e insere-se na extremidade anterior
xes dirigem-se para baixo, para trás e para fora e desta. O tendão recorrente do músculo semimem-
inserem-se no ramo médio de trifurcação superior branoso, que constitui o ligamento popliteu oblí-
da linha áspera do fémur, também chamado de "li- quo da articulação do joelho, dirige-se para cima
nha pectíneà'. e para fora e insere-se no côndilo femoral lateral.
A sua ação é a flexão e rotação medial da perna e a
Músculo grácil extensão da coxa sobre a bacia.

Situa-se na parte mais medial da coxa, medial- Músculo semitendinoso


mente em relação aos músculos adutores. Insere-
-se, em cima, ao longo da sínfise púbica e no ramo Situa-se atrás do músculo semimembranoso e
inferior do púbis. Os seus feixes dirigem-se ver- para dentro do músculo bíceps femoral, na por-
ticalmente, para baixo e para dentro e terminam ção póstero-medial da coxa. Insere-se, em cima, na

226
SUPORTE E MOV1MENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR

face posterior da tuberosidade isquiática por um GRUPO ANTERIOR


tendão comum com a porção longa do músculo
bíceps femoral. Os seus feixes dirigem-se para bai- Constituído por quatro músculos que se encon-
xo e para dentro e terminam por um tendão co- tram no espaço compreendido entre a face late-
mum ao semimembranoso e ao sartório ao nível ral da tibia, para dentro, o peróneo e o septo inter-
do tubérculo intercondiliano lateral da tibia (ver muscular anterior, para fora, e o espaço interósseo
"pata de ganso''). A sua ação é a mesma que o mús- atrás. Dispõem-se, de dentro para fora, em: mús-
culo semimembranoso. culo tibial anterior, extensor longo do 1° dedo, ex-
tensor longo dos dedos, terceiro peroneal (pero-
Músculo bfceps femoral neal anterior) (Fig. 2.186).

Situa-se na porção póstero-lateral da coxa, lateral- Tibial anterior


mente ao semitendinoso. É constituído por uma
porção longa (isquiática) e por uma porção curta É o mais medial dos músculos do grupo ante-
(femoral). Estas duas porções terminam, em baixo, rior da perna situando-se ao longo da face late-
por um tendão comum. A porção longa do múscu- ral da tibia até ao bordo medial do pé. Insere-se,
lo bíceps femoral insere-se na face posterior da tu- em cima, no tubérculo intercondiliano lateral da
berosidade isquiática por um tendão comum com tibia, nos 2/3 superiores da face lateral da tibia e
0 músculo semitendinoso. Ao longo do seu tra- na porção súpero-medial da membrana interóssea.
jeto a porção longa acompanha o músculo semi- Os seus feixes musculares descem sobre a face la-
tendinoso, até ao 1/3 inferior da coxa, onde se se- teral da tíbia e terminam por um tendão que pas-
param delimitando o triângulo superior da super- sa abaixo do retináculo dos extensores (ligamen-
fície popliteia. A porção curta do músculo bíceps to anular anterior do tarso) e insere-se ao nível do
femoral insere-se, em cima, no interstício da linha osso cuneiforme medial e na base do 1° metatarso.
áspera do fémur, entre o músculo adutor magno A sua ação é a flexão, adução e rotação medial do
(medialmente) e o músculo vasto lateral (lateral- pé.
mente). Em baixo, insere-se no ramo lateral de bi-
furcação da linha áspera. O tendão comum do bí- Extensor longo do 1º dedo
ceps femoral passa atrás do côndilo femoral late-
ral e insere-se no côndilo lateral da tíbia e no ápex Encontra-se lateralmente ao músculo tibial an-
da cabeça do peróneo, para fora da inserção do li- terior. Insere-se, em cima, na parte média da face
gamento colateral peroneal da articulação do joe- medial do peróneo e na parte lateral da membra-
lho, do qual ·está separado por uma bolsa serosa. na interóssea. Os seus feixes dirigem- se para bai-
A sua ação é a flexão da perna e, durante este mo- xo e para a frente e terminam por um tendão que
vimento, promove a extensão da coxa sobre a bacia passa abaixo do retináculo dos extensores, reflec-
e a rotação lateral da perna. tindo-se para a frente e para dentro, na face dor-
sal do pé, até à extremidade posterior da 2• fa-
lange do 1° dedo. Na sua porção terminal emi-
MÚSCULOS DA PERNA te duas expansões tendinosas laterais que se inse-
rem nos bordos laterais da 1ª falange. Ao longo
Os músculos da perna distribuem-se por três com- do seu trajeto na perna, encontra-se entre o mús-
partimentos ou grupos: anterior (músculos exten- culo tibial anterior (medial) e o músculo extensor
sores), lateral (peroneal) e posterior (músculos fl.e- longo dos dedos (lateral). A sua ação é a extensão
xores). E stes grupos estão separados entre si pelo da 2• falange do 1 ° dedo sobre a 1ª e desta sobre
esqueleto da perna, a· membrana interóssea e pelo o 1° metatarso, flexão do pé sobre a perna e rota-
septo intermuscular anterior e septo intermuscu- ção medial do pé.
lar lateral.

227
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Fig. 2.186: Músculos da perna (grupo anterior e lateral).


1. Músculo tibial anterior 2. Músculo extensor longo do 1º dedo 3. Músculo extensor longo dos dedos 4. Músculo terceiro peroneal 5. Retináculo
extensor 6. Músculo gastrocnémios medial 7. Músculo sóleus 8. Músculo peroneal longo 9. Músculo peroneal curto

Extensor longo dos dedos Terceiro peroneal

Encontra-se para fora do músculo extensor lon- Encontra-se para fora da porção inferior do mús-
go do 1° dedo e músculo tibial anterior. Insere-se, culo extensor longo dos dedos. Insere-se no 1/3
em cima, no côndilo lateral da tibia, nos 2/3 supe- inferior da face medial do peróneo e na membra-
riores da face medial do peróneo e na parte lateral na interóssea. Termina por um tendão que se diri-
da membrana interóssea. Os seus feixes dirigem- ge para baixo e para a frente, passa abaixo do reti-
-se para baixo e para a frente e convergem num náculo dos extensores e insere-se na face dorsal da
tendão comum que, ao passar abaixo do retinácu- base do 5° metatarso. A sua ação é a flexão, abdu-
lo dos extensores, origina quatro tendões terminais ção e rotação lateral do pé.
para os quatro últimos dedos do pé. Na face dorsal
da 1ª falange, cada um destes tendões subdivide-se GRUPO LATERAL
em três feixes: o feixe médio insere-se na extremi-
dade posterior da 2ª falange e os dois feixes late- Constituído por dois músculos: o peroneal longo e
rais inserem-se na extremidade posterior da 3• fa- o peroneal curto. Estes músculos situam-se na face
lange. Na perna, este músculo situa-se lateralmen- lateral do peróneo entre os septos intermusculares
te em relação ao músculo tibial anterior, em cima, anterior e lateral e dispõem-se em dois planos: um
e ao extensor longo do 1° dedo, em baixo. Lateral- profundo, constituído pelo músculo peroneal cur-
mente está separado dos peroneais pelo septo in- to e um superficial, constituído pelo músculo pe-
termuscular anterior. A sua ação é a extensão dos roneal longo (Fig. 2.186).
dedos, flexão do pé sobre a perna, abdução e rota-
ção lateral do pé.

228
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR

peroneal curto que reveste. Insere-se, em cima, no côndilo late-


ral da tíbia, na cabeça do peróneo, no 1/3 superior
É O rnais profundo deste plano ocupando os 2/3 da face lateral do corpo do peróneo e nos septos
inferiores da loca lateral da perna. Insere-se, em intermusculares anterior e lateral que o separam
cirna, nos 2/3 inferiores da face lateral do peróneo, do músculo extensor longo dos dedos, à frente,
no septo intermuscular anterior que o separa do e do músculo sóleus e músculo flexor longo do
músculo extensor longo dos dedos e do músculo 1° dedo, atrás. Os seus feixes terminam por um
terceiro peroneal e no septo intermuscular lateral tendão comum que passa atrás do maléolo late-
que o separa do músculo flexor longo do 1° dedo ral, na mesma bainha osteo-fibrosa do tendão do
e do músculo sóleus. Os seus feixes terminam por músculo curto peroneal e passa na face lateral do
um tendão comum que passa atrás do maléolo la- calcâneo, abaixo do tubérculo dos peroneais. Ao
teral, numa bainha osteo-fibrosa comum ao longo atingir o bordo lateral do pé, este tendão apresen-
peroneal, dirige-se para baixo e para a frente, pas- ta uma 2ª curvatura, passa na goteira do cubóide,
sa acima do tubérculo dos peroneais, na face late- cruza obliquamente a região plantar do pé e in-
ral do calcâneo e insere-se na extremidade poste- sere-se na extremidade posterior do 1° metatar-
rior do 5° metatarso. A sua ação é a abdução e ro- so. A sua ação é a extensão do pé sobre a perna,
tação lateral do pé. abdução e rotação lateral do pé. Ao movimentar
para trás e para fora a extremidade posterior do
Peroneal longo 1° metatarso, aumenta a concavidade da abóbada
plantar. Entre as inserções do músculo longo pe-
É o mais superficial deste plano. Situa-se late- roneal na cabeça e no corpo do peróneo existe um
ralmente em relação ao músculo curto peroneal espaço livre que dá passagem aos nervos peroneal

Fig. 2.187: Músculos da perna (grupo posterior, plano profundo).


1. Calcâneo 2. Músculo popliteu 3. Músculo sóleus 4. Músculo flexor longo dos dedos 5. Músculo tibial posterior 6. Músculo flexor longo do
1º dedo 7. Músculo peroneal longo

229
MANUAL DE ANATOMIA H UMANA

comum (ciático popliteu lateral) e tibial (ciático Lumbricais


popliteu medial).
São quatro pequenos feixes musculares análogos
GRUPO POSTERIOR aos das mãos, que se situam na região plantar do
pé, anexos aos tendões do músculo flexor longo
Constituído por oito músculos que se encontram dos dedos. Nascem do ângulo de divisão dos ten-
no espaço compreendido atrás do esqueleto ósseo dões do músculo flexor longo dos dedos e inse-
da perna, a membrana interóssea e o septo inter- rem-se nos dois tendões que delimitam esse ân-
muscular lateral, dispondo-se em dois planos, um gulo, à exceção do 1° lumbrical que se insere ape-
profundo e um superficial (Fig. 2.187 e 2.188). nas no bordo medial do tendão do 2° dedo. D a
sua origem os lumbricais atingem a região medial
PLANO PROFUNDO da articulação metatarsofalângica correspondente
e terminam na base da 1ª falange, por uma expan-
Constituído por cinco músculos: popliteu, flexor são tendinosa, ao nível do tendão extensor corres-
longo dos dedos, lumbricais, tibial posterior e fle- pondente. A sua ação é a flexão da 1ª falange dos
xorlongo do 1° dedo. quatro últimos dedos e extensão das restantes fa-
langes.
Popliteu
Tibial posterior
Situa-se posteriormente à articulação do joelho.
Insere-se, em cima, numa fosseta situada na face Situa-se entre o músculo flexor longo dos dedos
posterior da tuberosidade supracondiliana lateral (medialmente) e o músculo flexor longo do 1°
do côndilo femoral lateral. O s seus feixes dirigem- dedo (lateralmente). Insere-se, em cima, nos 2/3
-se para baixo e para dentro e terminam na face superiores da face posterior da tJ.Ôia, na crista oblí-
posterior da tfüia, acima da linha oblíqua e no lá- qua da tJ.'bia, nos 2/3 superiores da face medial do
bio superior desta. A sua ação é a flexão e rotação peróneo e na membrana interóssea. O s seus feixes
medial da perna. dirigem-se obliquamente, para baixo e para den-
tro, entre o músculo flexor longo dos dedos e flexor
Flexor longo dos dedos longo do 1° dedo. Ao nível da extremidade infe-
rior da perna, o tendão de terminação deste mús-
É o mais medial dos músculos do grupo poste- culo passa atrás e abaixo do maléolo medial infle-
rior. Insere-se, em cima, na parte medial do lábio te-se para baixo e para a frente, cruza o ligamento
inferior da linha oblíqua da n'bia e no 1/3 médio medial da articulação talocrural e insere-se no tu-
da face posterior deste osso. O s seus feixes termi- bérculo navicular. A sua ação é a extensão, adução
nam por um tendão comum que passa atrás do e rotação medial do pé.
maléolo medial e depois dirige-se para a frente
e para baixo, cruza o ligamento medial da articu- Flexor longo do 1º dedo
lação talocrural, passa no sulco calcaneano e di-
rige-se para a região plantar do pé onde cruza o É o mais lateral dos músculos do plano pro-
tendão do músculo flexor longo do 1° dedo. Ter- fundo.Insere-se, em cima, nos 3/4 inferiores da
mina por quatro tendões que se inserem na extre- face posterior do peróneo e na porção inferior
midade posterior da 3• falange dos últimos qua- da membrana interóssea. Os seus feixes termi-
tro dedos, perfurando o tendão correspondente nam por um tendão comum que passa na goteira
do músculo flexor curto dos dedos. A sua ação é da face posterior do talus e no sulco calcaneano
a flexão dos quatro últimos dedos e extensão do onde se encontra recoberto por uma bainha os-
pé sobre a perna. teo-fibrosa. Na região plantar do pé cruza o ten-
dão do flexor longo dos dedos, atinge o 1° dedo
e insere-se na extremidade posterior da 2• falan-

230
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR

A sua ação é a flexão da 2ª falange sobre a 1ª tibia. Entre estas duas inserções existe uma arcada
ge.
e desta sobre o metatarso. fibrosa, a arcada do sóleus, por onde passam os va-
sos popliteus e o nervo tibial. Os tendões de ter-
pLANO SUPERFICIAL minação dos gastrocnémios e do sóleus unem-
-se constituindo o tendão calcaneano que se in-
Tríceps sural (tricípede sural) sere na porção inferior da face posterior do calcâ-
neo. A sua ação é a extensão, adução e rotação me-
É constituído por três músculos, o gastrocné- dial do pé.
mio lateral, o gastrocnémio medial (superficiais)
e O músculo sóleus (solhar). Estes músculos ter- Plantar (estreito plantar)
minam, em baixo, por um tendão comum que se
insere no calcâneo, o tendão calcaneano. O mús- É um músculo muito fino que se insere, em cima,
culo gastrocnémio medial insere-se numa fosse- no côndilo femoral lateral e na cápsula da articula-
ta na porção póstero-superior do côndilo femo- ção do joelho. Dirige-se obliquamente, para baixo
ral medial. O músculo gastrocnémio lateral inse- e para dentro, através de um tendão fino que pas-
re-se numa fosseta que se situa atrás da tuberosi- sa entre os gastrocnémios e o sóleus e, na extremi-
dade supracondiliana lateral do fémur. Estes dois dade inferior da perna dirige- se para a face poste-
músculos delimitam o triângulo inferior da super- rior do calcâneo onde se insere mediaimente em
fície popliteia. O músculo sóleus situa-se profun- relação ao tendão calcaneano. Executa movimen-
damente em relação aos gastrocnémios e insere- tos que auxiliam o tríceps sural.
-se, em cima, por um feixe peroneal, na cabeça do
peróneo e por um feixe tibial, na linha oblíqua da

3
2

6
7

Fig. 2.188: Músculos da perna (grupo posterior, plano superficial).


1. Calcâneo 2. Músculo bíceps femoral 3. Músculo semitendinoso 4. Músculo semimembranoso 5. Músculo gastrocnémio medial 6. Músculo
gastrocnémio lateral 7. Músculo sóleus 8. Músculo plantar 9. Tendão calcaneano (Aquiles)

231
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

MÚSCULOS DO PÉ GRUPO MÉDIO

Os músculos do pé classificam-se como múscu- Compreende 13 músculos. Está individualizado


los intrínsecos e músculos extrínsecos. O s múscu- dos restantes grupos por intermédio de septos fi-
los intrínsecos são músculos cujas inserções ósseas brosos intermusculares, desde a fáscia superficial
se localizam apenas nos ossos do pé enquanto os até ao esqueleto do pé. Estes músculos dispõem-se
músculos extrínsecos são músculos que se encon- em três planos musculares: um profundo ou plano
tram na região da perna, apresentam inserções in- dos músculos interósseos; um médio, constituído
feriores nos ossos do pé e têm ação nos movimen- pelos feixes acessórios do flexor longo dos dedos
tos deste. De seguida serão abordados apenas os e pelos lumbricais; um superficial constituído pelo
músculos intrínsecos do pé dado que os músculos músculo flexor curto dos dedos (curto flexor plan-
extrínsecos foram já descritos com os músculos da tar) (Fig. 2.189 e 2.190).
perna. Assim, os músculos intrínsecos do pé agru-
pam-se em dois compartimentos: dorsal e plantar. PLANO PROFUNDO

Apresenta, à semelhança do que sucedia na mão,


COMPARTIMENTO DORSAL os músculos interósseos que ocupam os espaços
intermetatársicos e se organizam em músculos da
Músculo extensor curto dos dedos (pedioso). região dorsal e da região plantar. Os músculos in-
terósseos dorsais são quatro músculos curtos, pris-
Extensor curto dos dedos máticos triangulares, numerados de dentro para
fora. Inserem-se, atrás, nas faces laterais dos dois
Encontra-se superiormente às estruturas osteoar- metatársicos que limitam um dado espaço interós-
ticulares da face dorsal do pé, na profundidade seo e, à frente, na face lateral da extremidade pos-
dos tendões dos músculos extensores extrínsecos terior da 1ª falange dedo mais próximo do eixo do
e estende-se entre o calcâneo e os quatro primei- pé. O 1° interósseo dorsal apresenta como parti-
ros dedos. Os seus feixes dirigem-se para a fren- cularidades o facto de se inserir apenas na base do
te e para dentro, dividindo-se em quatro feixes 1° metatársico e na face lateral do 2° metatársico,
aos quais se seguem os tendões terminais. Destes, originando uma arcada posterior em relação com a
o que se destina ao 1° dedo passa abaixo do ten- passagem da artéria pediosa. Os músculos interós-
dão do extensor longo daquele dedo e insere-se na seos plantares apresentam uma forma semelhante
base da falange proximal. Os outros três tendões aos precedentes, apesar de mais pequenos, são em
dirigem-se para o 2°, 3° e 4° dedos, acompanham número de três e numeram-se de dentro para fora.
o bordo lateral do tendão correspondente do ex- Inserem-se na face lateral, bordo inferior e base
tensor longo dos dedos, confundindo-se com este dos três últimos metatársicos e, em baixo, por in-
na sua terminação ao nível das articulações meta- termédio de um tendão ao nível da face lateral da
tarsofalângicas. A sua ação é a extensão das pri- extremidade posterior da 1ª falange. O seu traje-
meiras falanges e inclinação destas para fora. to é o mesmo dos interósseos dorsais abaixo dos
quais estes se encontram. A sua ação é a flexão da
1• falange sobre o tarso e afastamento e aproxi-
COMPARTIMENTO PLANTAR mação dos dedos em relação ao eixo do pé, por
ação dos interósseos dorsais e plantares, respeti-
Dividem-se em três grupos: médio, lateral e me- vamente.
dial.
PLANO MÉDIO

Constituído por cinco músculos anexos ao múscu-


lo flexor longo dos dedos. Compreendem os lum-

232
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERJOR E INFERJOR

culares medial e lateral. Divide-se na parte média


do pé em quatro tendões que passam superficial-
mente aos tendões do flexor longo dos dedos. Es-
tes, também designados de "tendões perfurados",
ao atingirem os dedos dividem-se em dois fei-
xes que contornam lateralmente os tendões cor-
2 respondentes do flexor longo dos dedos, também
designados de "tendões perfurantes". Estes feixes
reúnem-se na face dorsal do tendão profundo e in-
serem-se nos bordos laterais da face inferior da 2•
falange dos quatro últimos dedos. A sua ação é a
flexão da 2ª falange sobre a 1ª e desta sobre o me-
tatarso correspondente.

GRUPO MEDIAL

Fig. 2.189: Músculos do pé (interósseos dorsais e plantares). Constituído por três músculos dispostos em dois
1. MúscuJos interósseos plantares 2. Músculo interósseos dorsais
planos, profundo e superficial (Fig. 2.190).

bricais Qá descritos) e o músculo quadrado plantar PLANO PROFUNDO


ou flexor acessório (acessório do longo flexor ou
quadrado de Sylvius). Flexor curto do 1º dedo

Quadrado plantar É um músculo que se encontra abaixo do 1° me-


ta tarso estendendo-se entre a 2• fileira do tarso e
Encontra-se na região posterior da face plantar do o 1° dedo. Insere-se, atrás, nos bordos inferiores
pé e no mesmo plano que o flexor longo dos de- dos cuneiformes intermédio e lateral, cubóide e li-
dos. Insere-se, atrás, por intermédio de dois feixes: gamento calcaneocuboideu bem como nas expan-
um feixe medial, na porção inferior do sulco calca- sões plantares do músculo tibial posterior. Dirige-
neano e da grande apófise do calcâneo e um feixe -se para a frente e, na porção média do 1° metatá-
lateral, na tuberosidade lateral, face inferior do cal- rsico divide-se em dois feixes entre os quais des-
câneo e ligamento calcaneocuboideu. Os seus fei- liza o tendão do flexor longo do 1° dedo. O ten-
xes dirigem-se para a frente e inserem-se no bor- dão medial insere-se, juntamente com o múscu-
do lateral do tendão do músculo flexor longo co- lo adutor do 1° dedo, sobre o sesamóide medial da
mum dos dedos ao nível da sua divisão tendinosa. articulação metatarsofalângica do 1° dedo e sobre
A sua ação é a correção do desvio que o flexor lon- a base da falange proximal daquele dedo. O ten-
go dos dedos imprime aos dedos e ao pé, devido à dão lateral insere-se,juntamente com o tendão do
sua obliquidade e promove uma ligeira flexão dos músculo abdutor do 1° dedo, ao nível do sesamói-
quatro últimos dedos. de lateral e da base da falange proximal do 1° dedo.
A sua ação é a flexão do 1° dedo.
PLANO SUPERFICIAL
Abdutor do 1º dedo
Flexor curto dos dedos
Situa-se lateralmente em relação ao músculo fle-
Insere-se, atrás, na tuberosidade medial e porção xor curto do 1° dedo e é constituído por dois fei-
vizinha da face inferior do calcâneo, no 1/3 poste- xes, o abdutor oblíquo e o abdutor transverso.
rior da fáscia plantar média e nos septos intermus- O feixe oblíquo tem origem na crista do cubói-

233
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

de, no cuneiforme lateral e nas bases do 3° e 4° PI.ANO PROFUNDO


metatársicos. O feixe transverso insere-se ao nível
da 3a, 4• e 4• articulações metatarsofalângicas. Os Flexor curto do 5º dedo
dois feixes musculares convergem e terminam ao
nível da articulação metatarsofalângica do 1° dedo Situa-se ao longo do bordo lateral do 5° metatá-
através de dois tendões distintos. O tendão do fei- rsico, entre a 2• fileira do tarso e o 5° dedo do pé.
xe oblíquo une-se ao feixe lateral do flexor curto Insere-se, atrás, na bainha do longo peroneal e na
do 1° dedo e insere-se sobre o sesamóide lateral e base do 5° metatársico e, à frente, na face inferior
na base da 1ª falange. A sua ação é a flexão e ab- da extremidade posterior da 1ª falange do 5° dedo.
dução do 1° dedo. A sua ação é a flexão da 1• falange do 5° dedo.

PI.ANO SUPERFICIAL Oponente do 5º dedo

Adutor do 1º dedo Situa-se lateralmente em relação ao músculo fle-


xor curto do 5° dedo. Insere-se, atrás, na bainha
Situa-se ao longo do bordo medial do pé, entre o do longo peroneal e, à frente, no bordo lateral do
calcâneo e o 1° dedo. Insere-se, atrás, na tuberosi- 5° metatársico. A sua ação é o desvio medial do
dade medial do calcâneo, na porção inferior do re- 5° dedo.
tináculo dos extensores, na face profunda da fás-
cia plantar e no septo intermuscular medial. Diri- PI.ANO SUPERFICIAL
ge-se para a frente e insere-se ao nível do sesamói-
de medial e na extremidade posterior da falange Abdutor do 5º dedo
proximal do 1° dedo. A sua ação é a flexão e adu-
ção do 1° dedo. Situa-se ao longo do bordo lateral do pé, entre o
calcâneo e o 5° dedo. Insere-se, atrás, nas tuberosi-
dades posteriores (lateral e medial) do calcâneo, na
GRUPO LATERAL face profunda da fáscia plantar, no septo intermus-
cular lateral e no 5° metatársico. Os seus feixes di-
Constituído por três músculos dispostos em dois rigem-se para a frente e inserem-se na extremida-
planos, profundo e superficial (Fig. 2.190). de posterior da 1ª falange do 5° dedo. A sua ação é
a flexão e abdução do 5° dedo.

1111.--rr -- 11
r1t-++-~ 4 8

9 4
3
5
2

11

Fog. 2.190: Músculos do pé (vista plantar).


1. Calcâneo 2.Músculo quadrado plantar 3. Músculo flexor curto dos dedos 4. Músculo flexor curto do 1º dedo 5. Músculo abdutor do 1° dedo
6. Músculos lumbricais 7. Músculo adutor do 1º dedo 8. Músculo flexor curto do 5° dedo 9. Músculo abdutor do 5° dedo 10. Tendão do músculo
flexor longo dos dedos 11. Tendão do músculo flexor longo do 1º dedo

234
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR

FÁSCIAS DO MEMBRO INFERIOR re-se no lábio medial da linha áspera e divide, me-
dialmente, a região anterior da coxa em duas locas:
FÁSCIAS DA REGIÃO GLÚTEA uma ântero-lateral, que contém o quadríceps fe-
moral e uma póstero-medial, que contém os mús-
Os músculos da região glútea encontram-se re- culos adutores, o músculo grácil e os vasos femo-
vestidos pela fáscia glútea. Esta insere-se na crista rais. A fáscia femoral emite expansões que en-
ilíaca, no sacro e no cóccix e continua-se, para bai- volvem cada um dos músculos da coxa. A fáscia
xo e para a frente, com a fáscia femoral. Reveste a do músculo ileopsoas é bastante aderente, à fren-
porção anterior do músculo glúteo médio apresen- te, à arcada femoral onde forma um espessamento
tando a este nível um espessamento. Ao atingir o constituindo uma lâmina fibrosa muito resisten-
bordo anterior do músculo glúteo máximo divide- te, a chamada "fita ílio-pectínea". A fáscia femoral
-se em três folhetos: superficial, médio e profundo. envolve, ao longo de todo o seu trajeto, os vasos fe-
O folheto profundo reveste, de cima para baixo, a morais, formando uma bainha fibrosa, o canal fe-
porção posterior do músculo glúteo médio, o piri- moral. Este canal é constituído pelo revestimento
forme, os gémeos e o quadrado femoral. Este fo- aponevrótico dos músculos que delimitam a go-
lheto é interrompido acima do músculo piriforme, teira femoral na qual caminham os vasos femo-
apresentando uma solução de continuidade, que rais (fáscias dos músculos psoas e vasto medial, la-
dá passagem aos vasos e nervos glúteos superio- teralmente, e pectíneo e adutores, medialmente) e
res. Abaixo do músculo piriforme existe outra so- por uma lâmina aponevrótica que une os dois bor-
lução de continuidade que dá passagem aos vasos dos desta goteira e passa à frente dos vasos femo-
glúteos inferiores e aos nervos ciáticos. O folheto rais. Forma-se assim um canal, com a forma de um
médio reveste a face profunda do músculo glúteo prisma triangular, que sofre uma torção ao longo
máximo até alcançar o seu bordo inferior onde se do trajeto em torno do seu eixo, de tal forma que
une ao folheto superficial que reveste a face super- a face que é anterior, em cima, passa a medial, em
ficial deste músculo. Estes dois folhetos, formam baixo. O orifício superior do canal ou anel femoral
entre si uma bainha que envolve completamente o é limitado, à frente, pela arcada femoral, para fora,
músculo glúteo máximo e que depois se prolonga pela fita ílio-pectínea, medialmente, pela lâmina
pela fáscia femoral. fibrosa que se estende desde a extremidade me-
dial da arcada femoral até ao pécten do púbis (li-
FÁSC/AS DA COXA gamento de Girnbernat) e atrás, por um espessa-
mento da fáscia do músculo pectíneo, ao longo do
A fáscia femoral forma uma bainha que envolve pécten do púbis (ligamento de Cooper). O orifício
totalmente a coxa. Em cima e à frente, insere-se inferior do canal é o hiato tendinoso do músculo
na arcada femoral e continua-se para fora e para adutor, entre os feixes médio e inferior do múscu-
trás com a fáscia glútea. Em baixo, prolonga-se em lo adutor magno. No canal femoral podemos dis-
torno do joelho inserindo-se na rótula, nas tube- tinguir três segmentos: superior ou canal femoral,
rosidades da tíbia e no peróneo, continuando-se médio e inferior ou canal dos adutores. O segmen-
depois com a fáscia tibial. Apresenta um espessa- to superior ou canal femoral estende-se desde o
mento na sua parte lateral, conhecido como fás- anel femoral até ao nível onde a veia grande safena
cia lata. Apresenta dois prolongamentos até ao fé- drena para a veia femoral. Num corte transversal
mur, os septos intermusculares, que dividem a coxa desta região podemos observar que a fáscia femo-
em duas regiões, uma medial e uma lateral. O sep- ral envolve o músculo sartório e divide-se ao ní-
to intermuscular lateral situa-se entre o músculo vel do bordo medial deste músculo em dois folhe-
vasto lateral, à frente, e os músculos posteriores da tos: um superficial (passa à frente dos vasos femo-
coxa, atrás. Insere-se no ramo lateral de trifurca- rais) e um profundo (passa atrás dos vasos femo-
ção superior da linha áspera, no lábio lateral des- rais e reveste os músculos psoas e pectíneo). O fo-
ta linha e no ramo lateral de bifurcação inferior da lheto superficial apresenta na sua porção mais me-
mesma linha. O septo intermuscular medial inse- dial, numerosos orifícios que dão passagem a ra-

235
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

mos vasculares e nervosos, constituindo a este ní- ral. O septo intermuscular lateral estende-se desde
vel a chamada ''fascia cribiformis". O orifício mais a face lateral da fáscia até ao bordo lateral do peró-
importante desta região é aquele que dá passagem neo e separa a região ântero-lateral da região pos-
à veia grande safena. No canal femoral dispõem- terior da perna. Na sua extremidade superior for-
-se, de lateral para medial, a artéria femoral, a veia ma uma arcada que delimita, com o bordo lateral
femoral e os vasos linfáticos. O segmento médio do peróneo, um orifício que dá passagem ao ner-
apresenta uma parede lateral formada pelo múscu- vo peroneal comum. O septo intermuscular ante-
lo vasto medial, uma parede medial formada pelo rior estende-se desde a face profunda da fáscia até
músculo médio adutor e uma parede anterior for- ao bordo anterior do peróneo e divide a região ân-
mada pela fáscia femoral. O segmento inferior ou tero-lateral da perna em duas locas, uma anterior
canal dos adutores apresenta, devido à torsão do (contém os músculos do grupo anterior) e uma la-
canal femoral, uma parede ântero-lateral consti- teral (contém os músculos do grupo lateral ou pe-
tuída pelo septo intermuscular medial e pelo mús- roneais laterais). Em cima, o septo intermuscular
culo vasto medial, uma parede posterior, formada anterior forma duas arcadas que, juntamente com
pela fáscia do músculo adutor magno e uma pare- o peróneo, delimitam dois orifícios. O orifício
de medial constituída por uma lâmina fibrosa den- mais inferior dá passagem ao nervo tibial anterior.
sa denominada de "fáscia do canal dos adutores". A fáscia profunda da perna situa-se abaixo do
músculo tríceps sural, entre o bordo medial da tí-
FÁSCIAS DA PERNA bia e o bordo lateral do peróneo e reveste o pla-
no muscular profundo, assim como os vasos tibiais
A perna é totalmente envolvida por uma bainha posteriores, os vasos peroneais e o nervo tibial.
aponevrótica interrompida, apenas, ao nível da
face medial da tíbia, onde se confunde com o pe- FÁSCIAS DO PÉ
riósteo. A extremidade superior da fáscia superfi-
cial da perna adere, à frente, ao peróneo e às tube- As fáscias do pé são as dorsais e as plantares. As
rosidades da tíbia e recebe expansões tendinosas fáscias dorsais estão divididas em três planos apo-
de alguns músculos da coxa como o bíceps femo- nevróticos: superficial, médio e profundo. O pla-
ral, lateralmente, e o sartório e semitendinoso, me- no superficial recobre os tendões extensores e con-
dialmente. Em cima e atrás, a fáscia da perna con- tinua- se, em cima e atrás com os três ligamentos
tinua-se com a fáscia da coxa. A fáscia da perna anulares do tornozelo e lateralmente com a fás-
forma, em torno da veia safena lateral, na metade cia plantar. O plano médio ou fáscia do múscu-
superior da perna, um canal aponevrótico no qual lo pedioso é uma fina lâmina que se encontra na
a parede posterior é constituída pela fáscia da per- profundidade dos tendões extensores e reveste o
na propriamente dita e a parede anterior por um músculo e os vasos pediosos, bem como o nervo
folheto de desdobramento desta fáscia que reves- peroneal profundo. O plano profundo ou interós-
te os músculos gastrocnémios. Na região da super- seo dorsal reveste a face dorsal dos metatársicos
fície popliteia podemos distinguir duas fáscias: su- e dos músculos interósseos. As fáscias plantares
perficial e profunda. A fáscia profunda encontra- são duas, uma superficial e uma profunda. A fás-
-se, em baixo, entre os dois gastrocnémios e, em cia plantar superficial é subcutânea e divide-se em
cima, entre o semimembranoso e o bíceps femo- três porções (média, medial e lateral) correspon-
ral. Entre estes folhetos passa o ramo cutâneo do dentes aos músculos superficiais de cada um des-
pequeno nervo ciático e a veia safena lateral que tes grupos da região plantar do pé. A fáscia plantar
irá infletir para a frente e drenar para a veia po- média estende-se desde as tuberosidades do calcâ-
pliteia. A extremidade inferior da fáscia da perna neo até às articulações metatarsofalângicas, conti-
continua-se com as fáscias do pé, condicionando a nuando-se para fora com as fáscias plantares me-
formação dos retináculos dos extensores. Da face dial e lateral. É constituída por dois tipos de feixes
profunda da fáscia da perna partem dois septos fi- (longitudinais e transversais). Os feixes longitudi-
brosos intermusculares, um anterior e outro late- nais dividem-se, à frente, em cinco fitas pré-ten-

236
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR

dinosas de forma semelhante ao descrito em rela- e no seio do tarso dividindo-se, na região mediana,
,0 à mão. Os feixes transversais formam dois li- em dois feixes, um inferior e um superior. O fei-
ça entos, o transverso superficial, ao nível das ar- xe inferior insere-se no bordo medial do pé ao ní-
ticulações metatarso-f:º'-
garn . e o d1g1t
a.i.angicas, .. al, seme- vel do osso navicular e do cuneiforme medial. O
lhante ao descrito em relação à mão. Confundem- feixe superior é constituído por dois folhetos, um
teriormente com as bainhas tendinosas do superficial e outro profundo. O folheto superficial
-se an
10 e 50 dedos e com as fitas pré-tendinosas cor- passa à frente dos tendões extensores e envolve o
respondentes. A fáscia plantar profunda reveste os tendão do músculo tibial anterior. O folheto pro-
músculos interósseos e estende-se transversalmen- fundo (retináculo inferior dos músculos extenso-
te entre o bordo inferior do 1° e 5° metatársicos. res) insere-se na grande apófise do calcâneo, pas-
Existem septos sagitais plantares que partem das sa por baixo dos tendões dos extensores e divide-
linhas de junção entre a porção média e as porções -se em dois feixes. O feixe superior do retináculo
medial e lateral da fáscia plantar superficial e que dos músculos extensores apresenta três bainhas fi-
se estendem até às estruturas ósseas, dando origem brosas: uma medial para o músculo tibial anterior,
a três locas plantares (medial, média e lateral). Es- uma média para o tendão do extensor longo do
tas, comunicam entre si e apresentam orillcios vas- 1° dedo e uma lateral para os tendões do extensor
culo-nervosos e zonas de passagem de músculos e longo dos dedos (Fig. 2.191).
de tendões.
LIGAMENTO ANULAR LATERAL E BAINHAS
OSTEO-FIBROSAS DOS MÚSCULOS
BAINHAS FIBROSAS E SEROSAS DA PERONEAIS
PERNA E DO PÉ
O ligamento anular lateral do tarso estende-se
Os tendões dos músculos da perna são envolvi- desde o bordo lateral da goteira maleolar do peró-
dos por bainhas osteo-fibrosas e serosas ao nível neo até à face lateral do calcâneo. Dá origem,jun-
do tornozelo. As bainhas osteo-fibrosas apresen- tamente com uma lâmina fibrosa que se destaca
tam função de "roldana" enquanto as bainhas sero- da sua face profunda, a uma bainha osteo-fibro-
sas facilitam o deslizamento dos tendões nas bai- sa para os tendões dos músculos peroneais, curto e
nhas fibrosas. Na região plantar dos dedos existem longo (Fig. 2.192).
bainhas para os tendões dos músculos flexores.
LIGAMENTO ANULAR MEDIAL E BAINHAS
BAINHAS FIBROSAS E OSTEO-FIBROSAS OSTEO-FIBROSAS DOS MÚSCULOS TIBIAL
POSTERIOR E FLEXOR LONGO DOS DEDOS
As bainhas osteo-fibrosas dos tendões dos múscu-
los da perna e do tornozelo são constituídas pe- O ligamento anular medial do tarso é constituído
los ligamentos anulares do tarso e pelas superfícies por duas lâminas, uma superficial e outra profunda
ósseas em redor da articulação talocrural. Os liga- que correspondem a espessamentos daquelas fás-
mentos anulares do tarso são três: anterior, medial e cias da perna. Estas lâminas inserem-se à frente no
lateral e relacionam-se com os tendões dos múscu- maléolo medial e separam-se atrás. A lâmina su-
los dos grupos musculares com aquela designação. perficial insere-se no tendão calcaneano e a lâmina
profunda na face medial do calcâneo, confundin-
RETINÁCULO DOS EXTENSORES E BAINHAS do- se com a fáscia plantar medial. É da face pro-
FIBROSAS DOS TENDÕES DO TIBIAL funda da lâmina profunda que se destacam septos
ANTERIOR E DOS EXTENSORES DOS DEDOS que dividem o espaço compreendido entre o liga-
mento anular e as estruturas ósseas em três bai-
O retináculo dos extensores estende-se na face an- nhas osteo-fibrosas. Cada uma destas bainhas dá
terior do tornozelo. Insere-se à frente no escava- passagem a um tendão. Da frente para trás en-
do talo-calcaneano, na grande apófise do calcâneo contramos os tendões do tibial posterior, do fie-

237
MANUAL DE ANATOMlA HUMANA

xor longo dos dedos e do flexor longo do 1° dedo. rior da articulação talocrural até ao osso navicular,
Existe ainda uma 4ª bainha destinada aos vasos e à articulação cuneonavicular e à região imediata-
nervos tibiais posteriores (Fig. 2.191). mente anterior a esta articulação, respetivamente
(Fig. 2.191 e 2.192). As bainhas falângicas, osteo-
-fibrosas e serosas, dos tendões flexores são seme-
BAINHAS SEROSAS lhantes às digitais da mão. Existem bolsas serosas
tendinosas interpostas entre os músculos lumbri-
Correspondem às bainhas osteo-fibrosas pelo que cais e as articulações metatarsofalângicas.
existem três anteriores, duas laterais e três mediais.
As bainhas serosas anteriores compreendem a bai-
nha do músculo tibial anterior, a do músculo ex-
tensor longo do 1° dedo e a do extensor longo dos
dedos. Iniciam-se acima do retináculo dos exten- Fraturas proximais do fémur
sores e terminam ao nível da articulação talocal-
caneonavicular, da articulação entre o cuneiforme As fraturas proximais do fémur são muito frequen-
medial e o 1° metatársico e ao nível do navicular, tes na população idosa, são graves e potencialmen-
respetivamente. As bainhas serosas laterais com- te incapacitantes. Podemos considerar dois gran-
preendem as dos músculos peroneais e a bainha des grupos: as fraturas intra-articulares e as fratu-
plantar do músculo longo peroneal. A bainha dos ras extra-articulares. As fraturas intra-articulares,
tendões peroneais bifurca-se, em baixo, e estende- as mais representativas, são as sub-capitais, através
-se desde o maléolo até à vizinhança da articula- do colo do fémur. Existem dois problemas funda-
ção calcaneocuboideia. A bainha plantar do longo mentais nestes casos: (1) são intra-articulares e por
peroneal envolve este tendão ao longo do seu tra- isso banhadas por líquido sinovial, que prejudica a
jeto plantar, desde a goteira cubóideia até à sua in- consolidação; (2) a vascularização da cabeça do fé-
serção metatársica. As bainhas serosas mediais in- mur está frequentemente comprometida, por ve-
cluem a do músculo tibial posterior, a do músculo zes, por rotura dos vasos ao nível do colo femoral.
flexor longo dos dedos e a do músculo flexor lon- Relativamente às fraturas extra-capsulares, o gru-
go do 1° dedo. Estendem-se desde a região supe- po mais relevante é o das fraturas per-trocantéri-

4 6 7

Fig. 2.188: Bainhas serosas e osteofibrosas do pé (vista medial). Fig. 2.189: Bainhas serosas e osteofibrosas do pé (vista lateral).
1. Maléolo medial 2. Calcâneo 3. Tendão calcaneano 4. Bainha 1. Maléolo lateral 2. Calcâneo 3 . Tendão calcaneano 4. Bainha serosa
serosa do tendão do músculo flexor longo do 1° dedo 5. Bainha dos tendões dos músculos peroneais 5. Bainha serosa do tendão do
serosa do tendão do músculo flexor longo dos dedos 6. Bainha músculo extensor longo dos dedos 6. Bainha serosa do tendão do
serosa do tendão do músculo tibial posterior 7. Bainha serosa do músculo extensor longo do 1ª dedo 7. Músculo extensor curto dos
tendão do músculo tibial anterior 8. Pedículo vasculo-nervoso tibial dedos 8. Retináculo extensor 9. Retináculo flexor/ Ligamento anular
posterior 9. Retináculo extensor 10. Retináculo flexor/ Ligamento lateral do tarso
anular medial do tarso

238
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERJOR E INFERIOR

ue ocorrem ao longo de uma linha que reú- fraturas levam a uma lesão de partes moles qua-
cas, q . N se sempre mais grave do que a observação do foco
trocanter ma.ior e o trocanter menor. estas
nebo vascularização permite a consolidação em de fratura faz prever, pelo que pode ocorrer uma
a oa hemorragia extensa e edema considerável. Uma
uco tempo, mas a sua geometria pode determi-
Pº • stabilidade e conduzir à consolidação viciosa preocupação fundamental é o aumento da pres-
nar in
ncurtamento e rotação lateral. são nos compartimentos descritos, que pode con-
com e
duzir à síndrome compartimental. Este compro-
Rotura de menisco mete a circulação e perfusão a nível dos comparti-
mentos. As estruturas musculares e nervosas são as
Os meniscos dos joelhos são discos fibro-cartila- mais sensíveis. É mandatário e urgente proceder
gíneos em forma de "C". A sua função no joelho a uma fasciectomia o mais precocemente possível.
é absorver o choque, aumentar a congruência en-
tre as superficies articulares, aumentar a estabili- Fratura da articulação talocrural
dade da articulação, e contribuir para a circulação
do líquido sinovial. A rotura de menisco é a indi- São das mais frequentemente encontradas na
cação mais frequente para realização de uma ar- prática clínica. Estas fraturas dizem respeito aos
troscopia. O menisco medial rompe mais frequen- maléolos medial e lateral, pelo que são muitas ve-
temente porque a sua inserção ao longo de todo o zes designadas "bimaleolares". Consoante o me-
seu bordo periférico o torna menos móvel e por canismo de fratura, assim o padrão da lesão em
isso mais susceptível de sofrer lacerações quando termos ósseos e ligamentares. Relativamente ao
interposto entre o côndilo femoral e a superficie maléolo lateral existem três possibilidades: o me-
articular superior da tíbia. canismo de supinação-adução levam a fratura do
maléolo lateral abaixo da sindesmose. O mecanis-
Rotura do ligamento cruzado anterior mo de supinação-rotação lateral ou pronação-ab-
dução levam a fratura do maléolo lateral ao nível
O ligamento cruzado anterior impede a translação da sindesmose. O mecanismo de pronação-rota-
anterior e rotação da tibia sobre o fémur. O meca- ção lateral leva a fratura acima do nível da sindes-
nismo mais frequente de rotura é a desaceleração mose.
e movimento rotacional em corrida. Geralmente o
doente sente um "pop" na altura do traumatismo, Hallux valgus
ao que se segue aumento de volume e hemartro-
se (sangue dentro da articulação) nas primeiras 4 a O hallux valgus, vulgamente chamado "joanete", é
12 h subsequentes. Mais tarde surge a sensação de uma deformidade do primeiro raio (hallux) do pé
falta de confiança no joelho em atividades que im- que consiste no desvio lateral da primeira falange
pliquem rotação. Esta é mais frequente que a rotu- e na pressão de direção medial exercida sobre a ca-
ra do ligamento cruzado posterior. beça do primeiro metatársico. A primeira falange
posiciona- se então em valgo. Como consequên-
Fratura diafisária da tíbia/síndrome compar- cia há uma distensão da cápsula articular metatá-
timentai rsico-falângica medial. Os sesamóides, ancorados
no músculo adutor do 1° dedo, desviam-se lateral-
As fraturas diafisárias da tibia estão associadas ge- mente e podem posicionar-se no primeiro espaço
ralmente a fratura diafisária do peróneo, daí que inter-metatársico. O longo extensor do 1° dedo e o
sejam frequentemente chamadas "fraturas dos os- flexor longo do 1° dedo, que se inserem na base da
sos da perna''. A perna em termos cirúrgicos divi- segunda falange, também contribuem para o des-
de-se em quatro compartimentos separados entre vio lateral deste.
si por osso e fáscia que rodeiam conteúdos distin-
tos. O s compartimentos são o anterior, o lateral, o
posterior profundo e o posterior superficial. Estas

239
MANUAL DE ANATOMIA H UMANA

PERGUNTAS TIPO e. O músculo extensor longo dos dedos não


faz parte dos músculos do grupo anterior
1. Relativamente aos ossos que fazem parte do da perna.
membro inferior assinale a afirmação falsa: -O·f !:)- Z !:)- 1
a. A linha áspera do fémur bifurca-se, em :Slllsods,"ll
baixo, delimitando um espaço triangular
de base inferior, a superfície popliteia (es-
paço popliteu).
b. O ramo lateral de trifurcação da linha ás- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
pera do fémur dá inserção ao músculo glú-
teo máximo. Rouviere, H.; D elmas, A.Anatomie H umaine
c. O colo anatómico do fémur separa o cor- D escriptive, Topographique et Fonctionnelle: Tome 3
po da extremidade superior. - Membres. 15tme edition. Masson, Paris, 2002.
d. A tíbia localiza-se medialmente na perna; Standring, S. Gray'sAnatomy-TheAnatomical
e. A apófise estiloideia do peróneo localiza- Basis of Clinical Practice. 4pt edition. Elsevier,
-se na sua extremidade superior. 2015.

2. Relativamente às articulações do membro in- Kapandji, I. A. PhysiologieA rticulaire. 5éme


ferior assinale a afirmação verdadeira: edition. Maloine S.A., 1987.
a. A articulação coxofemoral apresenta um Snell, R. S. Clinica/Anatomy by Regions, 10th
menisco articular cuja função é aumen- edition. R.S. Snell, Little Brown and Company,
tar a profundidade do acetábulo do osso 2018.
coxal.
Netter, F. H.Atlas ofH umanAnatomy. 6th edition.
b. O ligamento isquiofemoral da articulação
coxofemoral faz parte do plano ligamen- Ciba-Geigy Ltd, 1991.
tar anterior.
c. Na articulação do joelho, o ligamento cru- • ••
zado anterior insere-se, em cima, no côn-
dilo femoral lateral.
d. A espessura dos meniscos aumenta da pe-
riferia para o centro.
e. Na articulação talocrural, o plano superfi-
cial do ligamento lateral constitui o liga-
mento deltoideu.

3. Relativamente aos músculos do membro in-


ferior assinale a afirmação verdadeira:
a. Todos os músculos do grupo profundo
da região glútea têm inserção no trocan-
ter maior.
b. O músculo tensor da fáscia lata insere-se,
em baixo, no tubérculo intercondiliano la-
teral da tíbia.
c. O músculo longo adutor faz parte do pla-
no médio dos adutores da coxa.
d. O tendão comum do bíceps femoral inse-
re-se, em baixo, no peróneo.

240
3. SISTEMA CIRCULATÓRIO

lfl)IM•1i•)@IIPtW•1 SISTEMA CARDIOVASCULAR

A anatomia do aparelho circulatório engloba a CORAÇÃO


descrição de dois sistemas interligados: cardio-
vascular e linfático. O primeiro é composto pelo O coração é o orgão central do sistema cardiovas-
coração, pelos vasos sanguíneos e pelo sangue. cular, funcionando como uma "bombá' que aspi-
No sistema linfático incluem-se os órgãos linfáti- ra o sangue a montante, impulsionando-o de se-
cos ou linfóides (medula óssea, timo, baço, amíg- guida para os órgãos que se encontram a jusante.
dalas e gânglios linfáticos), os vasos linfáticos e a Num adulto e em repouso o coração tem a capa-
própria linfa. cidade de bombear cerca de 5 litros de sangue em
O sistema cardiovascular tem como funções cada minuto.
principais o transporte do sangue para todos os É composto por quatro câmaras: atrio direito (au-
tecidos do corpo humano disponibilizando assim rícula direita) (AD) ligado ao ventrículo direito
oxigénio e nutrientes para manutenção da ho- (VD) e atrio esquerdo (aurícula esquerda) (AE)
meostase e funcionamento das células e tecidos, ligado ao ventrículo esquerdo (VE). Todos os va-
e trazendo de volta os produtos do metabolismo sos que chegam ao coração são denominados de
celular com vista à sua excreção. Por outro lado, "veias" e aqueles que saem são chamados de "arté-
transporta substâncias produzidas internamente rias" (independentemente do tipo de sangue que
e que, ao atuarem em órgãos à distância, são es- transportam). (Fig. 3.1).
senciais na regulação neuro-endócrina. O siste-
ma linfático, pelo seu lado, permite a regulação
da quantidade de líquido intersticial ao nível dos
tecidos levando de volta ao espaço intravascular o
excesso que é constantemente produzido. Outra
função do aparelho circulatório é a sua contribui-
ção para a protecção do corpo contra agentes es-
tranhos, tóxicos ou nocivos e que está fundamen-
talmente a cargo do sistema imunológico com-
posto por células sanguíneas e pelo sistema linfá-
tico. Para além disso, o sistema vascular propor-
ciona a manutenção da homeostase da coagula-
ção do sangue, mantendo um equilibrio entre os 2
mecanismos pró e anti-coagulantes. Em caso de
lesão vascular e hemorragia é desencadeada a in-
tervenção dos processos pró- coagulantes do sis-
tema circulatório com vista ao seu controlo. Esta
ação é mantida pelas células que revestem os va-
sos e por células e factores de coagulação existen-
tes no próprio sangue. 8

Fig. 3.1: Corte coronal coração+ pericárdio.


1. Átrio direito 2. Ventrículo esquerdo 3. Aurícula esquerda 4. Aorta
5. Valva Aórtica 6. Valva Mitral 7. Vasos Coronários 8. Miocárdio

243
MANUAL DE ANATOMJA HUMANA

O coração localiza-se no mediastino médio e in- as artérias aorta e pulmonar (abertura das val-
ferior. É composto por um músculo (miocárdio), vas sigmoideias e encerramento das valvas atrio-
responsável pela função contráctil (inotropismo), -ventriculares) e a segunda ao relaxamento e en-
e no interior do qual se situam as cavidades men- chimento ventricular (aspecto ainda auxiliado pela
cionadas que são revestidas interiormente por uma contracção atrial) em que as valvas atrio-ventricu-
camada de tecido endotelial (endocárdio). lares se encontram abertas e as valvas sigmoideias
O coração tem a propriedade fisiológica de auto- encerradas.
matismo (cronotropismo), o que significa a capa-
cidade de gerar e conduzir a todo o miocárdio o
estímulo eléctrico que promove a contracção mus- ORGANIZAÇÃO GERAL DA CIRCULAÇÃO
cular. Estes mecanismos estão a cargo do apare-
lho cardionector constituído pelo nódulo sinoa- Em cada sístole cardíaca é impulsionado sangue
trial (sinusal), onde o estímulo é normalmente ge- do ventrículo esquerdo através da valva aórtica
rado, pelas fitas internodais (anterior, média e pos- em direção à artéria aorta. Esta distribui o san-
terior) que o conduzem através dos atrios e em di- gue por todo o corpo através de múltiplas ramifi-
reção ao nódulo atrio-ventricular, onde é ligeira- cações progressivas em artérias cada vez mais pe-
mente retardado para que a contracção dos atrios quenas até às estruturas arteriais microscópicas
preceda a contracção ventricular. Finalmente, há a denominadas de "arteríolas". As arteríolas permi-
considerar as estruturas de condução através dos tem o acesso do sangue arterial aos capilares, onde
ventrículos (feixe de His e seus ramos). se dão as trocas com os tecidos e onde se originam
O miocárdio é suportado por um citoesqueleto fi- as estruturas iniciais da parte venosa da circula-
broso que tem, para além desta função de supor- ção (vénulas) que trarão de novo o sangue ao co-
te, uma acção essencial de "isolamento" eléctrico
das fibras dos atrios em relação aos ventrículos o
que permite que a condução dos estímulos eléctri-
cos se faça apenas pelas vias preferenciais do apa-
relho cardionector.
Todo o coração é revestido por uma membrana fi-
broserosa denominada de "pericárdio", cuja serosa
apresenta um folheto visceral em contacto com o 10

orgão (epicárdio) e um folheto parietal que reves-


te o saco fibroso. O deslizamento dos dois folhe-
tos durante os movimentos cardíacos é favorecido
por uma fina camada de líquido seroso. Para além
destas estruturas deve ainda considerar- se o apare-
lho valvular, constituído por duas valvas (válvulas)
9 11
atrio-ventriculares (mitral à esquerda e tricúspide
à direita) que ligam os atrios aos ventrículos e duas
valvas (válvulas) sigmoideias na saída dos ventrí-
culos (aórtica à esquerda e pulmonar à direita).
Finalmente, o coração tem a sua própria vascula-
rização arterial, venosa e linfática bem como uma
inervação a partir do sistema nervoso autónomo e
que é responsável pela regulação da frequência e
do inotropismo cardíacos.
Cada ciclo cardíaco é constituído por duas fases: a Fig. 3.2: Circulação sistémica + circulação pulmonar.
1. Átrio direito 2. Ventrículo direito 3. Átrio esquerdo 4. Ventrículo
sístole e a diástole. A primeira corresponde à con- esquerdo 5. Artéria Pulmonar 6. Artéria Aorta 7. Veia Cava Superior
tracção dos ventrículos com fluxo sanguíneo para 8. Veia Cava Inferior 9. Veias Pulmonares 10. Leitos Capilares
11. Pulmões

244
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO

- Com efeito, as vénulas vão convergindo su- A parede arterial é composta por três camadas: ín-
raçao. .
·vamente em vasos cada vez maiores que cul- tima, média e adventícia.
cess1 . ( . ._,: . )
. aro nas duas veias cavas supenor e 1menor as A íntima é formada por uma camada superficial
m~:s terminam no atrio direito. É assim formado de células endoteliais sobre uma área sub-inti-
; circuito da chamada "grande circulação" ou cir- mal constituída por matriz extracelular e na qual
culação sistémica. Este sangue venoso que chega se encontram algumas populações celulares dis-
ao arrio direito é impulsionado pela valva tricús- tintas. As células endoteliais têm várias funções es-
ide para o ventrículo direito e daqui sai do cora- senciais à manutenção da homeostase: consti-
Pão pela artéria pulmonar através da valva pulmo- tuem uma superficie não trombogénica que pro-
~ar- A artéria pulmonar divide-se em dois ramos tege do contacto do sangue os componentes mais
principais que se dirigem respectivamente a cada profundos da parede (que são promotores da coa-
pulmão, dividindo-se em ramos progressivamen- gulação); são reguladoras da permeabilidade vas-
te menores até à microcirculação onde ocorrem as cular permitindo transporte de moléculas através
trocas gasosas que permitem a sua reoxigenação. de junções celulares ("gap" ou "tight") e também
Deste território capilar pulmonar originam-se va- por transporte vesicular ativo; e controlam o tónus
sos cada vez maiores e que convergem nas veias vascular pela produção de factores vasodilatadores,
pulmonares (em número de duas para cada pul- como a prostaciclina e o óxido nítrico, e vasocons-
mão) e as quais retornam ao coração (atrio esquer- tritores, como a endotelina. O endotélio participa
do) completando a "pequena circulação" ou circu- também na preservação da matriz sub-endotelial,
lação pulmonar. Do atrio esquerdo o sangue é im- constituída por colagénio e proteoglicanos. Outra
pulsionado através da valva mitral para o ventrí- função essencial das células endoteliais é a manu-
culo esquerdo e daqui para a aorta, iniciando-se tenção de uma superficie que impeça a adesão de
de novo o circuito da grande circulação. (Fig. 3.2). leucócitos e outros elementos figurados do sangue
circulante bem como a capacidade de oxidação de
lipoproteínas quando transportadas através da pa-
VASOS rede arterial.
O espaço sub-intimai é constituído por uma matriz
ARTÉRIAS extracelular rica em colagénio e proteoglicanos e
na qual se encontram populações de células mus-
Como foi mencionado, as artérias são as estrutu- culares lisas (CML) e macrófagos derivados de
ras que conduzem o sangue a partir do coração monócitos (MDM). As CML da íntima aumen-
e independentemente de este estar ou não oxi- tam com a idade e apresentam, na sua maior par-
genado. As artérias são sujeitas e um regime de te, fenótipo contráctil, rico em rniofibrilhas. Elas
pressões intraluminais elevadas (em média 100 sintetizam proteoglicanos (essencialmente sulfato
mmHg). Consoante o seu calibre e estrutura po- de dermatano) para a matriz. Os MDM apresen-
dem ser divididas em artérias de condução (elás- tam-se em células isoladas produzindo colagena-
ticas ou de grande calibre), de distribuição (mus- se e elastase. Qyando activados elaboram factores
culares ou de médio calibre) e de resistência (de de crescimento para as células endoteliais e para
pequeno calibre). as CML participando nos fenómenos de regula-
A parede das artérias constitui um "orgão" com ção da proliferação destas células e nos processos
funções fisiológicas e bioquímicas complexas e de cicatrização e de angiogénese. Têm ainda papel
que participa em numerosos mecanismos ho- importante no metabolismo das lipoproteínas ex-
meostáticos essenciais à manutenção da vida. pressando receptores que as reconhecem, induzin-
Nas últimas décadas tem sido também acentuado do a sua captura (incluindo lipoproteinas activa-
o seu papel na patogenia da aterosclerose, doença das) para a parede arterial.
arterial comum no mundo ocidental onde cons- A matriz extracelular é, como foi referido, rica em
titui uma das principais causas de morte e inca- colagénio (predomínio de colagénio de tipo I e
pacidade. III) e proteoglicanos (sulfato de dermatano e sul-

245

l
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

fato de heparano). O colagénio é produzido pelas broblastos. O colagénio predominante é dos tipos
células musculares lisas, sendo a proteína extrace- I e III embora exista também evidência de colagé-
lular mais abundante e a regulação do seu meta- nio do tipo IV cuja principal função é constituir
bolismo parece envolvida no desenvolvimento da uma rede fibrilhar que promove a adesão e migra-
placa de ateroma. ção celular e facilita a ancoragem das CML à ma-
A área mais profunda da íntima tem caracterís- triz. Existe ainda nesta camada uma rede de va-
ticas que se assemelham à média adjacente, com sos finos que constituem um "sistema"vascular nu-
CML em fenótipo contráctil, organizadas em ca- tritivo das camadas mais externas da parede arte-
madas. Encontram-se ainda nesta zona da pare- rial (vasa vasorum). É também ao nível da adven-
de alguns proteoglicanos (sulfato de dermatano) tícia que se distribui a rede de fibras nervosas en-
e glicoproteinas, como a fibronectina, com impor- volvida na inervação arterial. Estas fibras, perten-
tantes funções na adesão e mobilidade celular e na centes ao sistema nervoso autónomo, são origina-
manutenção da morfologia celular normal. das predominantemente nas vias simpáticas, ape-
Todas as células da íntima arterial (células endo- sar de terem também sido descritas fibras do sis-
teliais, células muscul_ares lisas e macrófagos) po- tema parasimpático na inervação das artérias peri-
dem produzir factores de crescimento e citoquinas féricas. O predomínio de tecido conjuntivo na ad-
em resposta a estímulos particulares, o que cons- ventícia confere à parede arterial características de
titui aspecto essencial no desenvolvimento das le- resistência mecânica fundamentais na manuten-
sões ateroscleróticas. Possuem ainda a capacidade ção da sua integridade.
de exprimir genes que codificam os componentes Importa ainda realçar que as três camadas da pare-
da matriz. de arterial não são estruturas isoladas, constituín-
A média é constituída por células musculares li- do antes um conjunto interdependente e comple-
sas e encontra-se separada da íntima pela lâmina xo, influenciando-se mutuamente no sentido de
elástica interna e da adventícia pela lâmina elástica proporcionar mecanismos de ação e resposta glo-
externa (LEE). Ela é constituída, nas artérias de bais, e que têm expressão em todos os tecidos que
condução, por múltiplas lamelas elásticas organi- a constituem.
zadas de forma concêntrica e que alternam com
camadas de células musculares lisas. Os tipos I e VEIAS
III de colagénio estão presentes como estruturas
fibrilhares entre as células musculares e as lame- A estrutura global da parede das veias é essenci-
las elásticas. As lamelas elásticas são constituídas lamente semelhante à das artérias. No entanto, as
por elastina e miofibrilhas. A elastina é um po- veias não são elásticas, apresentam menor teor de
plipéptido primário (tropoelastina) com cerca de tecido muscular e geralmente encontram-se co-
700 aminoácidos havendo diferenças espaciais e lapsadas uma vez que a pressão média no seu inte-
temporais no conteúdo de elastina em diferentes rior é baixa (cerca de 2 mmHg). Esta capacidade
segmentos arteriais. Por exemplo, na aorta a for- de dilatação é importante porque podem, em caso
mação de elastina é mais precoce e encontra-se de necessidade, distender e acumular sangue; pelo
em maior quantidade na aorta torácica, em rela- que são chamadas "órgãos" de capacitância.
ção à aorta abdominal, facto que pode ter signifi- Outra particularidade da estrutura da parede ve-
cado na patogénese de aneurismas. A relação en- nosa é a existência de válvulas que permitem a cor-
tre a quantidade de elastina e colagénio é variável rente unidirecional do sangue. As válvulas são es-
consoante se trate das grandes artérias elásticas truturas bicúspides e existem em maior núme-
ou das pequenas artérias musculares e varia entre ro nas veias mais distais dos membros inferiores,
20% de colagénio e 50% de elastina para a aorta sendo mais raras nas veias proximais. Elas pare-
e 40% de colagénio e 20% de elastina para as pe- cem constituir uma aquisição antropológica tardia
quenas artérias. sendo resultantes da aquisição da posição bípede e
A adventícia está por fora da LEE e é constituí- são muito importantes no sentido de evitar a esta-
da por tecido conjuntivo rico em colagénio e fi- se venosa com o ortostatismo.

246
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO

orta conhecer os mecanismos de circulação extremidade arterial do capilar onde a pressão hi-
1mp .. d .
do sangue no mtenor as veias uma vez que, ao drostática resultante da pressão arterial sistémica
ário das artérias, elas não têm a montante é mais elevada e vai diminuindo de intensidade à
contr
"bomba" propulsora. Assim, o sangue circu- medida que se caminha para a extremidade venosa.
llfflª
la no sistema venoso porque: a) a circulação é um A saída progressiva de água para o espaço intersti-
sistema fechado e o coração, quando impulsiona cial e a retenção no capilar de moléculas pesadas faz
sangue a jusante, também o aspira a montante; com a pressão oncótica intravascular vá aumentan-
0
b) em cada inspiração é gerada uma pressão ne- do, sendo mais elevada que a pressão hidrostática
ativa dentro do tórax o que tem efeito aspirati- na porção venosa do capilar. Assim, ocorre uma re-
!0 O
para interior desta cavidade; c) o mecanismo -entrada (absorção) de água, acompanhada por dió-
mais importante, em particular na posição ortos- xido de carbono, pequenas moléculas e produtos do
tática, é determinado pela contração muscular e é metabolismo celular, para o interior do capilar. No
conhecido por bomba músculo-esquelética. Com entanto, a quantidade de líquido absorvida é menor
efeito, as veias profundas dos membros inferiores que aquela que saiu anteriormente pelo que é cons-
localizam-se em relação com as estruturas mus- tantemente originado um excesso de líquido inters-
culares que, durante a contracção, comprimem os ticial e que é conhecido por linfa. Este excesso de lí-
segmentos venosos promovendo a abertura val- quido é drenado através do sistema linfático que se
vular e a passagem de sangue para um nível su- origina no espaço intersticial através de canais que
perior. O retorno ou refluxo do sangue é, no mo- confluem progressivamente e devolvem a linfa ao
mento seguinte, impedido pelo encerramento sistema vascular. Este processo de absorção linfáti-
valvular o que proporciona a manutenção circu- ca corresponde a cerca de 100/4 do líquido intersti-
latória e evita a hipertensão venosa distal. cial produzido.

CAPILARES

Os capilares constituem a unidade funcional bá-


sica da circulação uma vez que é a este nível que
ocorrem as trocas gasosas e de nutrientes entre o
sangue e os tecidos. Organizam-se em redes ali-
mentadas por uma extremidade arterial, que se se-
gue às arteríolas, e uma extremidade venosa a que
se seguem as vénulas. (Fig. 3.3). No entanto, a
quantidade de sangue presente em cada momen-
to nessa rede é controlada por estruturas muscu-
lares reguladas pelo sistema nervoso autónomo e
denominadas "esfíncteres pré- capilares". Estes de-
terminam a resistência periférica, uma vez que in-
fluenciam diretamente a força que o sangue preci-
sa de vencer para atravessar a rede capilar.
Apesar da enorme extensão e superfície da rede
capilar global, estima-se que nela estejam em cada
momento e em média apenas cerca de 250 ml de
sangue; a restante volémia circula nas artérias e
principalmente no sistema venoso. 2

Os capilares classificam-se em contínuos, descon-


Fig. 3.3: Capilares.
tínuos e fenestrados permitindo a saída de oxigé- 1. Arteríola 2. Vénula 3. Leito capilar 4. Endotélio 5. Muscular
6 . Adventícia
nio, água e moléculas para o espaço intersticial. Este
processo, conhecido por ultrqfiltração, inicia-se na

247
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

SISTEMA LINFÁTICO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

O sistema linfático constitui um capítulo da Ana- Rouviere, H.; Delmas A.Anatomía Humana
tomia Humana cujo conhecimento é de grande Descriptiva, topográfica y fancional, .11. ª Edition.
importância para a compreensão de muitos pro- Elsevier, 2005.
cessos fisiopatológicos e de actos clínicos e cirúrgi- Standring, S. Gray's Anatomy - The anatomical
cos. Como já foi mencionado, ele inclui os vasos e basis ofclinicalpractice. 41th Edition. Churchill-
os orgãos linfáticos e a própria linfa. A linfa origi- Livingstone Elsevier, 2016.
nada no espaço intersticial retorna ao sistema san-
Testut, L.; Latarjet, A. Tratado de anatomía
guíneo pela circulação linfática, a qual tem ainda a
humana. 9.• edição Salvat Editores, S.A., 1999.
capacidade de remover proteínas e partículas. Por
outro lado, participa noutras funções do sistema Van De Graaf, KM.; Fox, SI. Concepts ofHuman
imunológico na defesa contra infeções ou células Anatomy & Physiology. 5th edition. WCB/
neoplásicas e pode ser sede de fenómenos nocivos McGraw-Hill, 1999.
para o próprio organismo no caso de alguns tumo-
Wind, G.; Valentine,].Anatomic Exposures
res e de doenças autoimunes.
in Vascular Surgery. 3rd Edition. Lippincott
Williams&Wilkins, 2013.
PERGUNTAS TIPO Acute Cardiac Tamponade. N EnglJ Med
2003;349:684-90.
1. No que diz respeito ao sistema circulatório,
qual das afirmações é FALSA?
a. As veias pulmonares pertencem à circula- ***
ção sistémica.
b. O ventrículo esquerdo bombeia o sangue
para a artéria aorta.
c. O atrio direito recebe o sangue das veias
cavas (superior e inferior).
d. A artéria pulmonar transporta sangue ve-
noso.
e. As veias pulmonares transportam sangue
arterial.

2. Qial das seguintes afirmações acerca das ar-


térias é verdadeira?
a. As artérias de maior calibre são as artérias
musculares.
b. A camada adventícia é constituída por cé-
lulas musculares lisas.
e. A lâmina elástica interna separa a camada
íntima da camada média.
d. Os vasa vasorum dão suporte nutritivo à
camada íntima.
e. As artérias podem trazer sangue de regres-
so ao coração.

~::,-z V-T
:msodso~

248
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: CORAÇÃO E PERICÁRDIO

CORAÇÃO E PERICÁRDIO arteriais com origem no coração (a artéria aorta


atrás e a artéria pulmonar à frente). A porção an-
terior é ligeiramente convexa, subdividida em dois
c oRAÇÃO territórios pelo sulco interventricular anterior: um
esquerdo (correspondendo a 1/3 da área) e outro
O coração tem a função de impulsionar o sangue direito (correspondendo aos restantes 2/3).
de forma a manter a circulação sistémica e a circu-
lação pulmonar.
Pode ser sistematizado considerando duas partes 6
relativamente individualizadas, direita e esquerda,
constituídas por um atrio e um ventrículo que as-
seguram em série os circuitos circulatórios ("gran-
de" circulação ou circulação sistémica e "pequena''
circulação ou circulação pulmonar).
10

4
CO N FIGURAÇÃO EXTERIOR
8
O coração tem morfologia variável consoante a fase
do ciclo cardíaco e a sua complexa organização tri-
dimensional algo espiralada torna di.fiàl a descrição 11 2

segundo os planos convencionais. O coração direi-


to é mais anterior e o esquerdo mais posterior, sen-
do a base maioritariamente constituída pelo átrio
esquerdo. As válvulas direitas encontram-se mais Fig. 3.4: Configuração de superfície: Vista anterior.
afastadas entre si do que as esquerdas. Em diásto- 1. Ventrículo direito 2. Ventrículo esquerdo 3. Sulco interventricular
anterior 4. Aurícula direita 5. Aurícula esquerda 6. Aorta 7. Tronco
le, a fase habitualmente utilizada para a descrição pulmonar 8. Sulco coronário (atrio•ventricular) 9. Ligamento arterial
de superficie do coração, pode ser comparado a uma 10. Veia Cava Superior 11. Veia Cava Inferior 12. Veias Pulmonares

pirãmide triangular onde se incluem três faces (an-


terior ou esterno-costal, inferior ou diafragmática, e O segmento atrial envolve com uma concavidade
lateral ou esquerda), três margens, uma base e um anterior e com contributo das aurículas (apêndices
vértice ou ápex. O seu grande eixo atravessa a base auriculares) a emergência dos grandes vasos arte-
e o vértice, sendo oblíquo para a frente, para baixo e riais, o que é designado por"corona cordis". A aurícu-
para a esquerda. Em sístole, torna-se mais arredon- la direita tem a forma de uma pirâmide triangular e
dado e dá origem apenas a duas faces. Aquelas apre- a contralateral é mais estreita e alongada.
sentam dois segmentos, um anterior ou ventricular A face diafragmática é discretamente convexa, in-
e outro posterior ou atrial. Os septos que separam clinada para baixo e para a frente. O seu segmen-
as cavidades cardíacas traduzem-se à superficie por to ventricular está subdividido em dois territórios
sulcos homónimos, ou seja, coronário (atrio-ventri- pelo sulco inter-ventricular posterior: um esquer-
cular), inter-atrial e inter-ventricular. Estes sulcos do e outro direito. O segmento atrial é estreito.
são percorridos pelos vasos coronários. O primeiro A face lateral orienta-se para a esquerda e para
é perpendicular aos outros dois, podendo-se desig- trás. O seu segmento ventricular é marcadamente
nar por cruz do coração a sua interseção posterior. convexo e o segmento atrial contém parcialmente
A face esterno-costal está orientada para a direi- a aurícula esquerda.
ta e ligeiramente para cima. (Fig. 3.4). O seu seg- As faces do coração estão separadas por três mar-
mento ventricular está subdividido em duas por- gens: uma direita, uma esquerda (margem obtusa)
ções, uma posterior ou arterial e outra anterior. e uma inferior (margem aguda). No entanto, exis-
A primeira contém os orifícios dos dois troncos tem descrições diferentes consoante os autores e

249
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

os bordos esquerdo e inferior são substituídos ape- rio do atrio esquerdo, existem os orificios de entra-
nas por um quando o coração está em sístole com da das veias pulmonares, geralmente duas direitas e
consequente descrição de somente duas faces nes- duas esquerdas. (Fig. 3.Sa e 3.Sb).
ta fase do ciclo cardíaco conforme já mencionado. O vértice pertence classicamente ao VE. De refe-
A base orienta-se para trás e para a direita, sendo rir que, na margem cardíaca direita, na união dos
aplanada verticalmente e convexa transversalmente. sulcos interventriculares, é possível observar-se a
É constituída por ambos os atrios e está dividida em incisura apicis cordis, à esquerda da qual se encon-
duas porções, direita e esquerda, através do sulco in- tra o vértice.
ter-atrial. Este é pouco preciso e algo sinuoso, con-
vexo para a direita superiormente (em relação com
as veias pulmonares) e para a esquerda inferiormen- RELAÇÕES
te (ao longo do bordo interno da veia cava inferior).
No território do atrio direito, existe o sulco terminal As relações do coração fazem-se por intermédio
(de His) em relação com as veias cavas. No territó- do pericárdio e estabelecem-se com os órgãos vi-
zinhos e com as paredes torácicas. (Fig. 3.6 e 3.7).
A face anterior relaciona-se com o timo, com os
pulmões e pleuras, com os vasos torácicos inter-

12

Fig. 3.Sa: Vista posterior.

10

Fig. 3.6: Relações do coração - Vista esquerda do mediastino/tórax.


1. Pericárdio 2. Artéria Pulmonar esquerda 3. Brônquio principal
esquerdo 4. Veia Pulmonar Superior esquerda 5. Veia Pulmonar
Inferior esquerda 6. Nervo Vago 7. Nervo Frénico 8. Esófago
9. Timo 10. Diafragma 11 . Gânglios Linfáticos
12

nos, com o músculo esternal e com a própria gre-


13 11 lha esterno-costal onde a projeção anterior do co-
Fig. 3.Sb: Vista póstero--inferior. ração se designa por área cardíaca. (Fig. 3.8) (onde
1. Átrio direito 2. Átrio esquerdo 3. Sulco inter-at rial 4. Sulco terminal também se pode apreciar a projeção anterior das
5. Veia Cava Superior 6. Veia Cava Inferior 7. Aorta 8. Artérias
Pulmonares 9. Veias Pulmonares 10. Seio Coronário 11. Ventrículo valvas cardíacas, diferente dos focos auscultatórios
direito 12. Ventrículo esquerdo 13. Sulco interventricular posterior como se verá adiante). Esta, é aproximadamente
14. Suko coronário (atrio-ventricular}

250
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: CORAÇÃO E PERICÁRDIO

13

11

Fig. 3.7: Relações do coração - Vista direita do mediastino/tórax. Fig.3.8: Área cardíaca - Projeção das valvas no precórdio.
1. Pericárdio 2. Artéria Pulmonar direita 3. Brônquio principal direito 1. Valva Mitral 2. Valva Tricúspide 3. Valva Aórtica 4. Valva Pulmonar
4. Veia Pulmonar Superior direita 5. Veia Pulmonar Inferior direita 6.
Nervo Vago 7. Nervo Frénico 8. Esógafo 9. Timo 10. Diafragma
11. Gânglios Linfáticos 12. Veia Ázigos 13. Veia Cava Superior

CONFIGURAÇÃO INTERIOR
quadrilátera: os seus ângulos superiores estão ao
nível do 2.0 espaço intercostal, a cerca de 1 cm dos Na configuração interior do coração há a conside-
bordos laterais do externo; o ângulo inferior direi- rar a descrição dos atrios (direito e esquerdo), das
to está no 6.0 espaço intercostal direito, adjacente duas valvas atrio-ventriculares (direita ou tricúspi-
ao bordo esternal; e o ângulo inferior esquerdo lo- de e esquerda ou mitral), dos dois ventrículos (di-
caliza-se no 5.0 espaço intercostal esquerdo, na li- reito e esquerdo) e das duas valvas ventrículo-ar-
nha médio-clavicular (para baixo e para dentro da teriais ou arteriais ou sigmoideias (direita ou pul-
aréola mamária). monar e esquerda ou aórtica). A separar estas cavi-
A face inferior está assente no folíolo anterior do dades encontram-se os septos inter-atrial e inter-
diafragma e tem projeção triangular. -ventricular (Fig. 3.9).
A face lateral relaciona-se com a pleura e a fos-
sa cardíaca do pulmão esquerdo, sendo atravessada ATR/0S
pelo nervo frénico e pelos vasos pericardiofrénicos
homolaterais. O s átrios, separados pelo septo inter-atrial, locali-
A base projeta-se nas vértebras dorsais médias (5.ª zam-se posteriormente aos ventrículos dos quais
à 8.• em decúbito dorsal e 6.• à 9.• em ortostatis- estão separados pelos orificos/válvulas atrio-ven-
mo), designadas por "vértebras cardíacas de Giaco- triculares (direitos/esquerdos).
mini". O seu segmento esquerdo mais representa- Apresentam paredes finas e aproximadamente li-
tivo relaciona-se com o mediastino posterior, no- sas (apenas com colunas carnudas de 2.ª e 3.• or-
meadamente com o esófago, através do pericárdio; dem) e configuração aproximadamente cuboide.
e seu segmento direito relaciona-se com a pleura
e o pulmão direitos, sendo atravessado pelo ner- Atrio direito
vo frénico e pelos vasos pericardiofrénicos homo-
laterais. A parede superior apresenta o orificio avalvular
da veia cava superior. A parede inferior é ocupada

251
MANUAL D E ANATOMIA HUMANA

pelos orifícios da veia cava inferior (onde é possí- Valva tricúspide


vel identificar, na sua vertente ântero-lateral, urna
válvula incompetente, a válvula da veia cava infe- O orifício tricúspide é aproximadamente circular
rior ou de Eustáquio) e do seio coronário (ladea- e localiza-se num plano quase vertical orientado
do inferiormente pela vávula do seio coronário ou posteriormente e para a direita na porção inferior
de Thebesius), que se abre entre o orifício da VCI, da base ventricular direita.
a fossa oval e o orifício tricúspide. A parede an- A tricúspide apresenta três comissuras que sepa-
terior corresponde ao orifício atrio-ventricular. ram três folhetos de forma triangular. Os folhe-
A esta parede está anexado a aurícula direita pró- tos anterior, septal e posterior apresentam dispo-
ximo da junção com as paredes superior e lateral. sição anatómica correspondente às três paredes do
A parede posterior apresenta a crista terminal, uma ventrículo direito. Destas destacam-se os múscu-
saliência alongada e estreita que une o bordo di- los papilares e cordas tendinosas com inserção va-
reito das duas veias cavas (correspondendo ao sulco riável nos folhetos valvulares.
terminal), e o tubérculo intervenoso (inconstante)
que é determinado por linhas de reflexão do peri- Valva mitral
cárdio entre as duas veias cavas. A parede medial é
formada pelo septo inter-atrial (vide descrição do O orifício atrio-ventricular esquerdo ou mitral
septo inter-atrial). A parede lateral apresenta al- encontra-se num plano dirigido superiormente e
gumas colunas carnudas de 2.ª e 3.ª ordem (mús- para a direita na porção inferior da base ventricu-
culos pectíneos). lar esquerda.
Entre a inserção da cúspide septal da valva A mitral é composta por duas cúspides, posterior
tricúspide inferiormente, o limite ântero- medial e anterior (esta de maiores dimensões e em con-
do orifício do seio coronário posteriormente e o tinuidade com a válvula aórtica). Os dois folhe-
tendão da VCI superiormente, é possível dese- tos da válvula mitral recebem cordas tendinosas de
nhar uma região triangular, triângulo do nódu- dois pilares, um anterior e outro posterior. As cor-
lo AV (de Koch), no vértice do qual se encon- das tendinosas do pilar anterior dirigem-se à me-
tra o nó ou nódulo atrio-ventricular (vide siste- tade superior dos dois folhetos da válvula mitral
ma cardionetor). enquanto que as do pilar posterior atingem a me-
tade inferior destes folhetos. A cúspide mitral an-
Atrio esquerdo terior apresenta apenas cordas tendinosas de ter-
ceira ordem diminuindo assim o atrito do sangue
As paredes superior e inferior são estreitas e lisas. ejetado com elevada pressão para a circulação sis-
A parede anterior é ocupada pelos orifícios mitral témica em direção à aorta.
e da aurícula esquerda, este último na junção com Os folhetos valvulares mitrais são mais espessos
a parede lateral. A parede posterior apresenta os e longos que os da tricúspide (apresentando tam-
quatro orificios das veias pulmonares. A parede bém cordas tendinosas mais espessas e em maior
medial é constituída pelo septo interatrial. número).

VALVAS ATR/0-VENTRICULARES VENTRÍCULOS

Cada um dos orifícios atrio-ventriculares apresen- Os ventrículos são cavidades de forma piramidal
ta uma valva (tricúspide à direita e mitral à esquer- ou cónica colocadas anteriormente aos atrios de
da). um e outro lado do septo interventricular.
Cada uma destas valvas apresenta cúspides sepa- O vértice dos ventrículos é dirigido anteriormen-
radas por comissuras. Cada cúspide apresenta uma te na direção do vértice do coração e a sua base
face superior ou axial lisa, uma face inferior ou pa- orienta-se posteriormente sendo ocupada de cada
rietal, um bordo aderente ao orifício atrio-ventri- um dos lados por dois orifícios, respetivamen-
cular e um bordo livre na cavidade ventricular. te arrio-ventricular (que coloca em comunicação

252
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: CORAÇÃO E PERICÁRDIO

trio e ventrículo) e arterial (de menores dimen- e as colunas carnudas de terceira ordem aderem
:ões e que faz comunicar o ventrículo com a arté- à parede ventricular em toda a sua extensão, tra-
. que lhe é correspondente). tando-se de simples relevos da parede ventricular.
na
As paredes ventriculares são bastante mais espes- Em cada cavidade ventricular podemos distinguir
as do que as atriais apresentando saliências mus- uma câmara de entrada ou venosa que correspon-
sculares designa
· d as de "colunas carnud"Eas . stas de posteriormente ao orifício atrio-ventricular e
odem ser de primeira ordem (músculos papilares uma câmara de saída ou arterial que se abre supe-
~u pilares do coração) apresentando forma cóni- riormente no orifício arterial.
ca e encontrando-se unidos pela sua base à parede
ventricular. Do vértice dos músculos papilares des- Ventrículo direito
tacam-se as cordas tendinosas que podem por sua
vez dividir-se em três categorias tendo por base Apresenta a forma aproximada de uma pirâmide
a sua forma de inserção nos folhetos ou cúspides triangular na qual podemos distinguir três pare-
valvulares: des (anterior, inferior/posterior e septal) uma base
• Cordas tendinosas de primeira ordem: com e um vértice.
inserção no bordo aderente da cúspide. De cada uma das paredes destacam-se os múscu-
• Cordas tendinosas de segunda ordem: com los papilares correspondentes a cada um dos fo-
inserção da face parietal da cúspide. lhetos da valva tricúspide.
• Cordas tendinosas de terceira ordem: com in- As colunas carnudas de segunda e terceira ordem
serção no bordo livre da cúspide. são particularmente numerosas junto ao vértice
do ventrículo direito; das colunas carnudas de se-
As colunas carnudas de segunda ordem encon- gunda ordem destaca- se a trabécula septomargi-
tram-se unidas pelas suas duas extremidades à pa- nal que se dirige da parede anterior à parede sep-
rede ventricular e livres ao longo a sua extensão tal do ventrículo.

11
Fig. 3.9: Câmaras cardíacas esquerdas + câmaras cardíacas direitas.
1 · Atrio esquerdo 2. Átrio direito 3. Valva Aórtica 4. Septo interventricular 5. Músculo papilar anterior 6. Músculo papilar posterior 7. Músculo
papilar septal 8. Trabécula septomarginal 9. Válvula Tricúspide 1O. Músculo papilar ântero+superior 11. Músculo papilar póstero-inferior
12. Valva Mitral

253
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

A base do ventrículo direito apresenta o orifício Em cada cúspide valvular observamos uma face
atrio-ventricular direito ocupado pela valva tricús- superior ou parietal côncava (que determina com
pide e orificio da artéria pulmonar onde se locali- a porção da parede arterial que lhe é correspon-
za a valva pulmonar, separados pela crista supra- dente uma configuração que é habitual comparar
ventricular. a um ninho de pomba, mais evidentes na válvula
O ventrículo direito apresenta urna câmara de en- aórtica, determinando os seios aórticos de Valsal-
trada póstero-inferior cujo grande eixo é parale- va), uma face inferior ou axial convexa, um bordo
lo ao grande eixo do coração e uma câmara an- aderente à parede arterial e um bordo livre no lú-
terior arterial ou pulmonar dirigida superiormen- men arterial.
te e para a esquerda, separadas por um orifício li-
mitados pela cúspide anterior da válvula tricúspi- Valva pulmonar
de, pela trabécula septomarginal e pelo septo in-
terventricular. O orificio da valva pulmonar apresenta-se num
plano orientado superiormente, posteriormente
Ventrículo esquerdo e para a esquerda na extremidade superior de um
cone truncado com cerca de 1,5 cm de compri-
Apresenta a forma de um cone ligeiramente acha- mento, na região ântero-superior do ventrículo di-
tado transversalmente o que permite distinguir 2 reito - o infunchbulo. Localiza-se anteriormente,
paredes, um vértice e urna base. superiormente e à esquerda do orifício ateio-ven-
As duas paredes esquerda ou externa e direita ou tricular direito. ·
interna são côncavas e de espessura mais acentua- A valva pulmonar apresenta três cúspides (duas
da que as paredes do ventrículo direito. posteriores e uma anterior) separadas por três co-
A parede esquerda é percorrida por numerosas co- missuras. Na extremidade de cada cúspide obser-
lunas carnudas excepto na região posterior, próxi- va-se um espessamento fibroso, o nódulo de Mor-
mo à cúspide posterior da válvula mitral, onde a gani.
superficie ventricular se torna regular e apresen-
ta apenas algumas colunas carnudas de 3.ª ordem. Valva aórtica
Os pilares da válvula mitral nascem desta parede
bem como das margens (ântero-superior e pós- Localiza-se anteriormente e à direita do orifí-
tero-inferior). A parede direita é constituída pelo cio mitral, posteriormente ao orifício pulmonar.
septo interventricular, apresenta um aspecto hete- O orifício aórtico apresenta-se num plano orien-
rogéneo na sua porção média e anterior, e é lisa tado superiormente, posteriormente e para a di-
posteriormente,junto ao orificio aórtico. O vérti- reita.
ce é arredondado e a sua superficie apresenta um A valva aórtica apresenta três folhetos valvulares
aspeto mais homogéneo que o do ventriculo di- mais espessos e resistentes que os da valva pulmo-
reito. nar (um posterior e dois anteriores, direito e es-
O ventrículo esquerdo apresenta uma câmara de querdo) e em relação com os dois folhetos poste-
entrada ínfero-lateral e uma câmara de saída ar- riores da valva pulmonar. Cada um dos folhetos
terial ou aórtica súpero-medial, separadas por um da valva aórtica apresenta um espessamento fibro-
plano limitado pela cúspide mitral anterior e pelos so na sua extremidade livre designado por "nódu-
pilares da mitral e respectivas cordas tendinosas. lo de Arantius".

SEPTOS E ESQUELETO FIBROSO


VALVAS ARTERIAIS
Septo inter-atrial
Cada um dos orificios arteriais é provido de uma
válvula sigmoideia (pulmonar à direita e aórtica à O septo inter-atrial é uma membrana fina que se-
esquerda) constituída por três cúspides valvulares. para os dois atrios (direito e esquerdo) e se con-

254
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: CORAÇÃO E PERICÁRDIO

tinua anteriormente com o septo interventricular. Septo interventricular


A sua face direita encontra-se orientada superior
e anteriormente e a face esquerda inferior e pos- O septo interventricular separa as duas cavidades
teriormente. ventriculares apresentando uma forma aproxima-
Na parção póstero-inferior da face direita encon- damente triangular. A sua face direita é convexa,
tra-se uma zona mais deprimida- a fossa oval- de- dirigida anterior e superiormente em oposição à
limitada anterior e superiormente pelo limbo da face esquerda, côncava e dirigida posterior e infe-
fossal oval. Na porção ântero-superior da face es- riormente. É constituído por uma porção superior
querda do septo, correspondente ao limbo da fos- membranosa e fina (em continuidade com o septo
sa oval, encontra-se a prega semilunar. Anterior- inter-atrial e apresentando um pequeno segmento
mente à prega semilunar encontram-se vestígios que é de facto inter-atrio-ventricular) e uma por-
da fosseta pré-septal. ção inferior muscular que compreende quase toda
Estas estrururas do septo interatrial representam a extensão do septo interventricular.
vestígios de adaptações morfológicas ocorridas
durante a fase de desenvovimento cardíaco ante- Esqueleto fibroso cardíaco
-natal ao nível do foramen oval (de Botallo ou bu-
raco de Botal). O esqueleto fibroso cardíaco é constituído por
quatro anéis fibrosos, que circundam e dão inser-
NOÇÕES DE ANATOMIA CLÍNICA ção às cúspides valvulares das valvas semilunares e
atrio-ventriculares. Deste modo descrevem-se os
Embriologia da formação do septo anéis aórtico, pulmonar, tricúspide e mitral. O es-
queleto fibroso central é constituído pelos anéis
Por volta das 4 semanas de gestação, o atrio único mitral, tricúspide e aórtico dispostos da seguin-
inicia o seu processo de divisão pelo crescimento te forma: o anel mitral encontra-se à esquerda do
do septum primum - uma membrana com a forma anel tricúspide, sendo que o anel aórtico encontra-
de crescente, que cresce a partir do "tecto" do atrio -se anterior e superiormente à junção dos dois; o
primitivo até aos cochins endocárdicos, estruturas anel aórtico encontra-se ligado ao anel mitral atra-
responsáveis pela divisão atrio-ventricular. Após a vés do trígono fibroso esquerdo e ao anel tricús-
sua formação e divisão do atrio primitivo em es- pide através do trígono fibroso direito (atravessa-
querdo e direio, mantém- me um defeito central do pelo feixe atrio-ventricular ou de His). O anel
no septum primum que permite a comunicação das pulmonar, constituindo a estrutura mais anterior
duas metades. Posteriormente, na face direita do do esqueleto fibroso, dispõe-se anteriormente ao
septum primum, a partir da parede atrial ventro- anel aórtico, encontrando-se ligado a este através
cranial, desenvolve-se outro septo - septum secun- do tendão do infundíbulo.
dum - que cresce até cobrir parcialmente o defei- Este esqueleto fibroso apresenta duas funções
to do septum primum. O orifício restante designa- principais:
-se foramen ovale - orifício que permite a passa- • Isolamento eléctrico entre os atrios e os ven-
gem de sangue do atrio direito para o atrio esquer- trículos;
do na via fetal. Deste modo, e tendo em conta que Estabilização do tecido cardíaco, ao funcio-
o septum secundum é mais denso, o septum primum nar como um ponto de ancoragem para a in-
forma uma válvula - válvula do foramen ovale - serção das fibras miocárdicas.
que permite a passagem de sangue do atrio direi-
to para o esquerdo, mas não permite o contrário.
Após o nascimento, aquando a primeira inspira- SISTEMA CARDIONECTOR
ção, pelo aumento da pressão no atrio esquerdo, O sistema cardionetor é um tecido cardíaco espe-
ocorre o encerramento do foramen oval. cializado, responsável pelo automatismo cardíaco
01iando encerramento descrito não ocorre, deno- (ou seja,geração e condução de impulsos eléctricos
mina-se a condição de Foramen Oval Patente. responsáveis pela contração miocárdica).

255
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Este sistema constitui uma rede subendocárdica, tração desfasada dos atrios e dos ventrículos.
constituída por nós ou nódulos e feixes conduto- Do vértice inferior do nódulo AV destaca-se
res (Fig. 3.10). o feixe AV (de His), com um comprimento de
O nódulo sino-atrial (sinusal), o pacemaker fisio- aproximadamente 2 cm, trajecto efetuado na
lógico do coração, encontra-se localizado na pare- porção muscular do septo interventricular. Após
de superior do atrio direito, na vertente lateral da o curto trajeto o feixe AV divide-se em dois ra-
inserção da VCS nesta, podendo estender-se até à mos - direito e esquerdo - que percorrem, respe-
extremidade superior da crista terminal. tivamente, a face direita e esquerda do septo in-
Apesar de alguns autores descreverem feixes in- terventricular. O ramo direito do feixe AV (res-
ternodais que conduzem o impulso do nódulo si- ponsável pela condução do impulso ao ventrículo
noatrial ao nódulo atrio-ventricular (AV), não pa- direito) continua o trajeto do feixe principal até à
recem existir vias definidas de transmissão ao nó- base do pilar septal do ventrículo direito, após o
dulo AV ou ao atrio esquerdo. O impulso é assim qual penetra na trabécula septomarginal, termi-
transmitido através do músculo atrial (não existin- nando na parede anterior do ventrículo. O ramo
do transmissão direta aos ventrículos dado o iso- esquerdo do feixe AV (responsável pela condução
lamento eléctrico entre os dois fornecido pelo es- do impulso ao ventrículo esquerdo) coloca-se na
queleto fibroso do coração. face esquerda do septo, dividindo-se posterior-
O nódulo atrio-ventricular, localizado no vérti- mente em fascículo anterior e fascículo posterior.
ce do triângulo do nódulo AV (vide descrição da Após as divisões descritas, as fibras do sistema car-
dionetor, através de divisões progressivas consti-
tuem uma rede subendocárdica ventricular, a rede
de Purkinje, responsável pela transmissão do im-
pulso aos miócitos ventriculares.

VASOS DO CORAÇÃO

As artérias do coração designam-se por coronárias


(Fig.3.11), uma esquerda (CE) eoutradireita (CD).
A irrigação coronária é variável de pessoa para
pessoa, e o conceito de dominância relaciona-se
com a artéria dominante no sulco interventricu-
lar posterior e região da cruz do coração. O mais
frequente é existir dominância direita, pela inter-
4 ventricular posterior ou descendente inferior, em
70% dos casos. Caso o sulco interventricular pos-
terior seja irrigado pela coronária esquerda, já fa-
lamos de dominância esquerda, em cerca de 16%
dos casos. As restantes situações, em que ambas as
coronárias atingem a cruz do coração, correspon-
Fig. 3.1 O: Sistema cardioconector. dem a codominância. Existem anastomoses entre
1. Nódulo Sinoatrial 2. Fitas inter-nodais 3. Fita de Bachman 4. Nódulo
Atrio-ventricu1ar 5. Feixe AV (de His) 6. Ramo esquerdo do feixe AV
os territórios destas artérias a nível sub-epicárdico
7. Ramo direito do feixe AV 8. Rede de Purkinje e miocárdico, sendo mais expressivas num círculo
ao nível do sulco coronário, unido pelas marginais
e pelos ramos ventriculares próximos do ápex. Es-
parede medial do atrio direito), recebe o impulso tas anastomoses são abundantes na vida fetal mas
eléctrico originado no nódulo sinoatrial, atrasan- são pouco representativas após o 1.0 ano de vida e
do-o cerca de 40ms de modo a permitir uma con- não compensam uma oclusão aguda.

256
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: CORAÇÃO E PERICÁRDIO

2
3 6

Fig. 3.11: Vasos coronários - Vista anterior. Fig. 3.12: Vasos coronários - Vista póstero-inferior.
1. Artéria coronária esquerda 2. Artéria descendente anterior 3. Artéria 1. Artéria coronária direita 2. Artéria marginal direita 3. Artéria
circunflexa 4. Grande Veia Coronária 5. Artéria Coronária direita interventriaJlar posterior 4. Seio Coronário 5. Grande veia coronária
6. Veia interventricular inferior

A artéria coronária esquerda tem origem imedia- anteriores (sobretudo para o VE) e os septais an-
tamente acima da valva sigmoideia póstero-es- teriores (vascularizando os 2/3 anteriores do sep-
querda da aorta, não sendo assim totalmente co- to). D os ramos ventriculares, destaca-se a artéria
lapsada na sístole. Ela tem maior calibre que a diagonal, que ocasionalmente emerge do tronco
direita e habitualmente vasculariza um território comum dando origem a uma trifurcação.
mais extenso (quase todo o ventrículo e átrio es- Os colaterais da circunflexa são ramos para o
querdos e a maior parte do septo inter-ventricu- ventrículo e atrio esquerdos. Os ramos atriais são
lar). O tronco principal, com uma extensão de 2 a a artéria atrial esquerda anterior (vasculariza o
3 cm, geralmente não tem ramos até ao sulco co- atrio esquerdo e a respetiva aurícula, o septo in-
ronário, embora possa originar um pequeno vaso ter-atrial e a porção súpero-medial do atrio di-
atrial e raramente a artéria do nódulo sinoatrial. reito, podendo também originar a já referida ar-
Após o curto trajeto, divide-se em 2 ramos: a in- téria do nódulo sinoatrial), a atrial do bordo es-
terventricular anterior ou descendente anterior querdo (vasculariza a face esquerda do atrio es-
(que habitualmente é descrita como sua conti- querdo) e a atrial esquerda posterior (vasculari-
nuação, percorrendo o sulco interventricular an- za a face posterior do atrio esquerdo). Dos ramos
terior, contornando o ápex e anastomosando-se ventriculares, o mais importante é a artéria do
com a interventricular posterior); e a circunflexa bordo esquerdo do ventrículo esquerdo ou arté-
(que geralmente termina à esquerda da cruz do ria marginal esquerda, sendo os outros paralelos
coração, anastomosando-se com a coronária di- à artéria diagonal (em topografia anterior e pos-
reita, embora também possa continuar como des- terior). Existe também um ramo constante, a ar-
cendente posterior). Os colaterais da descenden- téria anastomótica magna, que atravessa o septo
te anterior são as artérias vasculares para a pró- inter- atrial para se anastomosar com a coronária
pria aorta e para a artéria pulmonar (nomeada- direita; e por vezes um ramo para o nódulo AV.
mente a artéria do cone arterial ou artéria adipo- A artéria coronária direita tem origem no seio de
sa esquerda de Vieussens), os ramos ventriculares Valsava anterior da aorta. Dirige-se para a fren-

257
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

te entre a artéria pulmonar e o atrio direito, de- to interventricular, das paredes anteriores dos ven-
pois para o sulco coronário até à cruz do coração. trículos, e da parede esquerda do ventrículo e atrio
Geralmente percorre o sulco inter-ventricular in- esquerdos (sendo a mais evidente a veia margi-
ferior até à vizinhança do ápex do coração onde se nal do bordo esquerdo). Existem ainda a veia car-
pode anastomosar com a coronária esquerda. Ori- díaca média, que percorre o sulco inter-ventricu-
gina ramos vasculares para a aorta e pulmonar, as lar posterior desde o ápex até ao seio coronário; a
artérias atriais anteriores (a mais importante pe- veia posterior do ventrículo esquerdo, na face dia-
netra no septo inter-atrial e dá frequentemente fragmática do ventrículo esquerdo, terminando no
a artéria para o nódulo sinoatrial - cerca de 67% seio coronário ou na grande veia cardíaca; e a veia
dos casos), os ramos atriais e ventriculares do sulco oblíqua do atrio esquerdo, na face posterior do
coronário (nomeadamente a artéria atrial; ramos atrio esquerdo até ao seio coronário.
atriais direitos posteriores; e a artéria ventricular A drenagem linfática do coração é feita por três
ou marginal do bordo direito), os ramos da arté- redes linfáticas - endocárdica, miocárdica e sube-
ria inter-ventricular posterior (ramos ventricula- picárdica (as duas primeiras drenando para a últi-
res, nomeadamente para o nódulo AV, e ramos do ma). A rede subepicárdica está organizada em ca-
septo ou perfurantes para o seu 1/3 posterior). nais linfáticos que se anastomosam formando dois
As veias do coração são constituídas pelo seio co- troncos colectores linfáticos - esquerdo e direi-
ronário e seus tributários, pelas pequenas veias to. O tronco colector linfático esquerdo forma-se
cardíacas anteriores ou acessórias e pelas veias de através da união de canais linfáticos que acompa-
Thébesius. nham a artéria circunflexa e que ascendem atra-
As primeiras drenam o sangue de todo o coração vés do sulco interventricular anterior; após a for-
para o atrio direito, com duas exceções: 1) porção mação, este tronco ascende entre a artéria pulmo-
ântero-direita do ventrículo direito que é drenada nar e a aurícula esquerda, terminando nos gânglios
pelas pequenas veias cardíacas anteriores (que ter- intertraqueobronquicos. O tronco coletor linfático
minam no seio coronário ou no atrio direito pelos direito origina-se na cruz do coração, percorren-
faramina, sendo a mais importante a veia margi- do o sulco coronário direito (onde recebe aferen-
nal do bordo direito); 2) porção variável dos atrios tes atriais e ventriculares), até atingir a face ante-
e do ventrículo esquerdo que é da responsabilida- rior da aorta, que ascende até à crossa, terminando
de das veias de Thébesius que drenam diretamen- nos gânglios mediastínicos anteriores.
te para as várias câmaras cardíacas pelos poros de
Vieussens ouforaminula de Lannelongue.
O seio coronário é uma estrutura venosa dilatada PERICÁRDIO
que corresponde ao vestígio da veia cava superior
esquerda, na face inferior do atrio direito e apre- O pericárdio é uma estrutura fibroserosa que en-
senta duas válvulas insuficientes: a válvula do seio volve o coração e os segmentos próximos dos
coronário que o separa do atrio direito, e a válvula grandes vasos arteriais e venosos. É constituído
de Vieussens que o separa da restante grande veia por duas porções distintas, um saco fibroso super-
coronária. O seio coronário recebe quase todo o ficial, o pericárdio fibroso e uma serosa profunda,
sangue venoso do coração, tendo como colaterais a o pericárdio seroso.
grande veia coronária (tributária da artéria coroná- O pericárdio fibroso é uma membrana espessa que
ria esquerda), a veia oblíqua do atrio esquerdo ou se relaciona com as estruturas vizinhas, por pro-
veia de Marschall, a veia do ventrículo esquerdo, ximidade (nomeadamente com a pleura parietal
a veia inter-ventricular inferior e a pequena veia mediastinica) e à distância (através de ligamentos).
coronária (tributária da artéria coronária direita). A serosa, à semelhança das restantes membranas
A grande veia coronária tem início no ápex e per- serosas do organismo, é constituída por dois finos
corre o sulco interventricular anterior (à esquer- folhetos: um visceral ou epicárdio aderente à su-
da da artéria) e depois o sulco coronário (acima perfície do coração, e outro parietal aderente ao
da artéria). O s seus colaterais são as veias do sep- pericárdio fibroso. Aqueles, encontram-se aplica-

258
p
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: CORAÇÃO E PERICÁRDIO

dos um contra o outro, limitando um espaço vir-


tual designado de "cavidade pericárdica", a qual
ern condições fisiológicas tem apenas uma fina
lâmina de líquido que diminui o atrito e permi-
3
te alguma mobilidade e variabilidade morfológi-
ca do coração. Em condições patológicas, poder-
-se-á tornar real e preenchida por líquido (san-
gue ou outro), o que se denomina de derrame pe- 4

ricárdico.

PERICARDIOCENTESE

Em casos de derrame pericárdico ou de tampo-


namento é possível drenar o líquido nesta serosa 10
6
através de uma pericardiocentese, seja ou não em
Fig. 3.13A: Pericárdio - Vista lateral esquerda, coração tracionado e
carácter de emergência e de preferência guiada por pericárdio aberto.
um método de imagem (sendo o mais frequente a
ecografia). Os habituais locais de acesso para a in-
trodução da agulha são a área para-xifoideia es-
querda, a abordagem de eleição nos casos não eco-
guiados, e a região apical. Na primeira situação a
orientação da agulha faz-se em relação ao ombro
esquerdo e na segunda internamente.

O folheto visceral reveste todo o miocárdio, os va-


sos coronários e as suas ramificações superficiais,
enquanto que o folheto parietal recobre a face pro-
4
funda do saco fibroso (Fig. 3.13A e 3.13B).
Os dois folhetos da serosa estão em continui-
dade, através de uma linha de reflexão. Assim, o
folheto visceral, após recobrir o coração, vai en-
2
contrar superior e posteriormente os grandes va-
sos arteriais e venosos; revestindo-os na sua raiz 6
proximal segundo um trajeto sinuoso. Reflecte-
-se então sobre si próprio e continua-se pela por-
ção superior do folheto parietal. Formam-sedes- 10
ta forma as bainhas arterial e venosa. A primeira Fig. 3.13B: Pericárdio - Vista anterior, coração removido e pericárdio
envolve a emergência das artérias aorta e pulmo- aberto.
1. Pericárdio fibroso 2. Folheto parietal do pericárdio seroso 3. Folheto
nar, sendo mais extensa anteriormente. De fac- visceral do pericárdio seroso 4. Veias Pulmonares 5. Veia Cava
to, na sua face anterior atinge a origem do tron- Superior 6. Veia Cava Inferior 7. Aorta 8. Artéria Pulmonar 9. Seio
transverso 1O. Seio Oblíquo
co braquiocefálico arterial enquanto que na face
posterior reflete-se 2 cm acima da origem da aor-
ta, recobrindo a porção inferior da artéria pulmo- res à exceção da veia cava superior. Formam-se as-
nar direita e os atrios. sim prolongamentos ou divertículos, de profundi-
A bainha do pedículo venoso é muito irregular, dade variável. O mais amplo ocupa a face posterior
preenchendo os espaços entre os vasos venosos do atrio esquerdo, e está limitado pelas veias pul-
(veias cavas e pulmonares), embora de curta ex- monares esquerdas de um lado e pelas veias pul-
tensão pois circunda somente os orificios vascula- monares direitas e pela VCS do outro, designan-

259
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

do-se por seio oblíquo (fundo-de-saco de Haller), glios mediastínicos anteriores e posteriores, dia-
relacionado com o esófago. fragmáticos e inter-traqueobrônquicos.
As bainhas vasculares, arterial anteriormente e ve-
nosa posteriormente, estão separadas por um pro-
longamento da cavidade pericárdica em forma de PERGUNTAS TIPO
canal, o seio transverso (de Theile). Os seus limi-
tes são: anteriormente a face posterior do pedículo 1. Olial das seguintes afirmações é FALSA rela-
arterial; posteriormente a face anterior dos atrios e tivamente à configuração exterior do coração?
da VCS; e superiormente o ramo direito da arté- a. O segmento ventricular da face esterno-
ria pulmonar. Existem ainda outras formações pe- -costal é percorrido pelo sulco interventri-
ricárdicas menos relevantes, nomeadamente apre- cular anterior.
ga vestigial de Marshall, o recesso ou fosseta re- b. A base do coração está em relação com 0
tro- cava e o recesso ou divertículo inter-aortocava. esófago.
O folheto parietal da serosa inicia-se, por con- c. A cruz do coração localiza-se na face dia-
tinuidade, ao nível da linha de reflexão e envol- fragmática.
ve todo o coração, recobrindo na profundidade o d. A face pulmonar está separada da face dia-
saco fibroso pericárdico. fragmática pela margem obtusa.
O saco fibroso pericárdico é uma membrana es- e. Os atrios situam-se posteriormente aos
pessa, que reforça o folheto parietal da serosa. Es- ventrículos.
tende-se acima do seu limite superior; tendo a for-
ma de um cone truncado de base inferior e rela- 2. Olial dos seguintes componentes NÃO per-
ções mais extensas que o coração. Está separado tence ao atrio direito?
das pleuras mediastínicas e do diafragma por teci- a. Limbo da fossa oval.
do celular laxo e confunde-se superiormente com b. Crista terminal
a túnica exterior dos grandes vasos justa-cardíacos. c. Crista supraventricular.
O pericárdio tem alguns ligamentos de fixação, d. Músculos pectíneos.
dos quais os mais importantes são os seguintes: e. Orifício da valva triscúpide.
freno-pericárdicos, estemo-pericárdicos e vérte-
bro-pericárdicos. Eles estabelecem respetivamente 3. Olial das seguintes correspondências entre
ligação com o diafragma (ligamentos anterior, di- vaso coronário e território de irrigação é ver-
reito e esquerdo), com o esterno (ligamentos supe- dadeira?
rior e inferior) e com a coluna vertebral (ligamen- a. Artéria circunflexa - Nódulo sinoatrial em
tos direitos e esquerdos). Existem outros menos 67% dos casos.
expressivos, onde se incluem os ligamentos tra- b. Artéria coronária direita - Todo o ventrí-
queo-pericárdico, bronco-pericárdico e esófago- culo direito.
-pericárdico. Em redor do pericárdio fibroso, exis- c. Artéria descendente anterior - 2/3 ante-
tem franjas adiposas designadas de "aparelho sem- riores do septo interventricular.
-adiposo do coração". d. Artéria marginal direita - aurícula direita.
O folheto visceral da serosa do coração é vascu- e. Dominância esquerda - o mais frequente.
larizado e drenado pelos vasos coronários, sendo
enervado pelo plexo cardíaco. !:>-C !:)-l'. !Q- l
O folheto parietal e o saco fibroso são vasculari- :msodso~
zados pelas artérias torácicas internas, pericardio-
frénicas, brônquicas, esofágicas e tímicas. A drena-
gem venosa faz-se pelo sistema ázigos e pelas veias
pericardiofrénicas. A inervação depende dos ner-
vos frénicos, vagos e do sistema simpático. A dre-
nagem linfática do pericárdio segue para os gân-

260
r REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: CORAÇÃO E PERICÁRDIO

Rouviêre, H.; Delmas A. Anatomía Humana


Descriptiva, topogr4fica y fancional,.11. ª Edition.
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Testut, L.; Latarjet, A. Tratado de anatomía
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Van De Graaf, KM.; Fox, SI. Concepts ofHuman
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McGraw-Hill, 1999.
W ind, G.; Valentine,J.Anatomic Exposures
in -vascular Surgery. 3rd Edition. Lippincott
W illiams&Wilkins, 2013.

***

261
MANUAL D E ANATOMIA HUMANA

ARTÉRIAS E VEIAS AORTA TORÁCICA

A aorta torácica corresponde à porção da aorta


AORTA desde o orifício aórtico do ventrículo esquerdo até
ao orifício aórtico do diafragma, incluindo o arco
A artéria aorta é a artéria mais importante do cor- aórtico e a aorta torácica descendente.
po humano, uma vez que é o vaso que transporta o
sangue para os tecidos de todo o corpo, ou seja, é o ARCO AÓRTICO
vaso principal da circulação sistémica.
O arco aórtico pode ser subdividida em dois seg-
mentos: segmento inicial ascendente e um seg-
mento horizontal ou crossa da aorta propriamen-
te dita.
A aorta ascendente, após a sua emergência no ori-
fício aórtico do ventrículo esquerdo, ascende obli-
quamente para cima, para a direita e para trás num
pequeno trajeto, após o qual verticaliza até ao ní-
vel da 1.ª articulação esterno-costal. De seguida, a
aorta inflete-se, dirigindo-se para trás e para a es-
querda até atingir a face esquerda da 4.ª vértebra
dorsal, cruzando as faces anterior e esquerda da
traqueia. Neste último segmento - crossa da aor-
ta - a aorta descreve uma curvatura inferior con-
dicionada pelo pedículo pulmonar esquerdo e uma
curvatura posterior condicionada pelo órgão vizi-
nhos (traqueia e esófago).
No que respeita as relações, a porção ascenden-
te da aorta é intra-pericárdica, estando contida
na bainha serosa arterial com a artéria pulmonar
(que inicialmente lhe é anterior, colocando-se à
sua esquerda). Relaciona-se anterior e inferior-
mente com a artéria pulmonar e aurícula direita
Fig. 3.14: Artéria Aorta.
1. Pericárdio 2. Aorta Torácica Ascendente 3. Crossa da Aorta 4. Aorta (apêndice auricular direito); anterior e superior-
Torácica Descendente 5. Artéria Pulmonar Esquerda 6. Brônquio mente com timo e através deste com a parede es-
principal esquerdo 7. Esófago 8. Traqueia 9, Coluna Vertebral
Torácica 10. Diafragma ternocostal; posteriormente com o átrio esquerdo
em baixo e artéria pulmonar direita em cima; à
O vaso origina-se no orificio aórtico do ventrícu- direita com a veia cava superior e à esquerda com
lo esquerdo e termina na transição da 4.ª para a a artéria pulmonar. A crossa da aorta relaciona-
5.• vértebras lombares, podendo ser distinguidos -se (Fig. 3.15) superiormente com os troncos su-
os seguintes segmentos (Fig. 3.14): pra- aórticos (tronco arterial braquio-cefálico, ar-
• Arco aórtico (crossa da aorta): desde o orifí- téria carótida comum esquerda, artéria subclávia
cio aórtico do ventrículo esquerdo até ao cor- esquerda); inferiormente com o tronco pulmonar
po da 4.ª vértebra dorsal; e sua bifurcação e com o brônquio principal es-
Aorta torácica descendente: de D4 até ao querdo (localizado atrás da bifurcação do tronco
orifício aórtico do diafragma; pulmonar) e ainda com o nervo laríngeo recor-
Aorta abdominal: do orificio aórtico do dia- rente esquerdo, bem como com o plexo cardíaco
fragma até L4-L5 (vide Artérias e Veias do superficial; anteriormente com os nervos frénico
abdómen). e vago esquerdos (sendo o nervo frénico anterior

262
p
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO:ARTÉRIAS E VEIAS

em relação ao nervo vago), com os gânglios me- tebra dorsal até ao orifício aórtico do diafragma.
diastínicos anteriores e com o pulmão e pleuras No seu trajeto inicial, a aorta torácica descen-
esquerdos; posteriormente com a traqueia, com de obliquamente no sentido anterior e medial até
0 esófago, com o dueto torácico e ainda com o ao nível da 7.• vértebra cervical, quando se coloca
plexo cardíaco profundo. De referir que, entre a posteriormente ào esófago e verticaliza até atingir
face inferior da crossa da aorta e o bordo supe- o orifício diafragmático da aorta.
rior da artéria pulmonar esquerda, perto da bi- Deste modo, na sua porção superior a aorta torá-
furcação do tronco pulmonar, encontra-se o liga- cica descendente encontra-se anteriormente à ca-
mento arterial, vestígio do canal arterial da cir- beça das costelas e do tronco simpático esquerdo,
culação fetal. posteriormente ao pedículo pulmonar esquerdo e
Na sua origem, a aorta apresenta três dilatações ao nervo vago esquerdo, à esquerda da coluna torá-
em relação com as cúspides da valva (válvula) aór- cica e do esófago e à direita do pulmão e pleura es-
tica - os seios aórticas (de Valsalva). Ainda na querdos. Na porção inferior do seu trajeto, abaixo
transição entre os segmentos ascendente e hori- de D 7, relaciona-se anteriormente com o esófago
zontal da crossa da aorta existe outra dilatação - e nervo vago direito, posteriormente com a coluna
o bulbo aórtico. vertebral e veia hemiázigos, à esquerda com o pul-
mão e pleura esquerdos e à esquerda com o dueto
torácico e veia ázigos.

Ramos Colaterais

Os primeiros ramos colaterais da aorta torácica


são artérias coronárias (vide Coração). A artéria
coronária esquerda origina-se do seio aórtico ân-
tero-esquerdo, enquanto a artéria coronária direita
se origina do seio aórtico ântero-direito. O restan-
te trajeto da porção ascendente da aorta não pos-
sui ramos colaterais.
Os ramos colaterais da crossa da aorta propria-
mente dita (Fig. 3.15), no seu conjunto, desig-
8
nam-se troncos supra-aórticos, sendo de anterior
para posterior e da direita para a esquerda, por
ordem de emergência: tronco arterial braquio-
cefálico (artéria inominada), artéria carótida co-
mum esquerda e artéria subclávia esquerda (vide
Artérias e Veias da Cabeça e do Pescoço). Um
ramo colateral inconstante pode existir, emergin-
do da crossa da aorta, entre o tronco arterial bra-
Fig. 3.15: Arco aórtico. quiocefálico e a artéria carótida comum esquer-
1. Crossa da Aorta 2. Tronco Pulmonar 3. Artéria Pulmonar esquerda da - a artéria tiroideia ima (de Neubauer). E ste
4. ligamento arterial 5. Traqueia 6. Esófago 7. Tronco arterial
braquio-cefálico esquerdo 8. Artéria Carótida Comum Esquerda ramo ascende anteriormente à traqueia, termi-
9. Artéria Subclávia Esquerda nando no istmo da glândula tiroide.
O s ramos colaterais da aorta torácica descenden-
AORTA TORÁCICA DESCENDENTE te podem ser divididos em: ramos parietais e ra-
mos viscerais (Fig. 3.16). Os ramos parietais cor-
A aorta torácica descendente, localizada no me- respondem às artérias intercostais posteriores. Os
diastino posterior, compreende o trajeto intra-to- ramos viscerais compreendem as artérias brônqui-
rácico da aorta desde a face esquerda da 4.ª vér- cas, esofágicas e mediastínicas.

263
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

18
19

2 14

10

11

Fig. 4: Colaterais da aorta torácica.


A
1. Crossa da aorta 2. Tronco arterial braquio-cefá1ico 3. Artéria Carótida Comum esquerda 4. Artéria Subclávia Esquerda 5. Artérias Brônquicas
6. Artérias Esofágicas 7. Artérias lntercostais Posteriores 8. Esófago 9. Traqueia 10. Brônquio principal ·
B
11. Aorta Torácica Descendente 12. Artéria Torácica Interna 13. Artéria lntercostal Anterior 14. Tronco Simpático Paravertebral 15. Músculo
intercostal externo 16. Músculo intercostal interno 17. Músculo intercostal íntimo 18. Ramo cutâneo lateral 19. Ramo dorso-espinhal

Artérias lntercostais Posteriores nível do buraco intervertebral, em que se di-


As artérias intercostais posteriores, em número de vide num ramo espinhal que penetra no bura-
8 ou 9, destinam-se aos últimos 9 espaços inter- co para irrigar o conteúdo do canal vertebral e
costais (as artérias dos primeiros 3 espaços são ra- um ramo dorsal que se destina aos músculos e
mos da artéria intercostal suprema, ramo colateral tegumentos do dorso;
da artéria subclávia). • Artéria intercostal propriamente dita, que
Estes ramos são pareados e têm origem na face segue o trajeto do espaço intercostal no sul-
posterior da aorta torácica descendente. Após co costal da costela suprajacente, caminhan-
emergirem percorrem as faces laterais dos corpos do entre a veia intercostal (que lhe é supe-
vertebrais correspondentes até atingir a extremi- rior) e o nervo intercostal (que lhe é infe-
dade posterior do espaço intercostal. Consideran- rior). Na metade posterior do espaço inter-
do a posição à esquerda da linha média da aorta, costal a artéria encontra-se entre os mús-
os ramos direitos têm um trajecto mais longo que culos intercostais externo e íntimo; na me-
os esquerdos. Em termos de relações, os ramos di- tade anterior, encontra-se entre os múscu-
reitos cruzam posteriormente o esófago, o dueto los intercostais interno e íntimo. No 1/3 an-
torácico e a veia ázigos; os ramos esquerdos rela- terior do espaço intercostal a artéria inter-
cionam-se anteriormente com o tronco simpáti- costal posterior anastomosa-se com a arté-
co esquerdo e com as veias hemiázigos e hemiá- ria intercostal anterior (ramo da artéria torá-
zigos acessória. cica interna). A artéria intercostal posterior
Uma vez alcançado o espaço intercostal, as arté- apresenta ainda dois ramos colaterais: ramo
rias intercostais posteriores originam dois ramos cutâneo lateral (para os tegumentos da pare-
terminais: de torácica) e um ramo colateral que percor-
• Ramo dorso-espinhal, que se dirige poste- re o bordo superior da costela infrajacente.
riormente entre as apófises transversas até o

264
p
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO:ARTÉRIAS E VEIAS

Artérias Brônquicas REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


As artérias brônquicas originam-se da porção su-
perior da aorta torácica descendente. São, habi- Rouviere, H.; Delmas A.Anatomía Humana
tualmente, em número de 3: uma para o brôn- Descriptiva, topogr4ftca y fancional, .11.ª Edition.
quio principal direito, duas para o brônquio prin- Elsevier, 2005.
cipal esquerdo. A artéria brônquica direita pode Drake, R.; Vogl,AW.; Mitchell,AWM. Gray's
ter origem numa das artérias brônquicas esquer- anatomyfor students. Elsevier Health Sciences,
das. Após a sua origem as artérias alcançam a face 2014.
posterior dos respetivos brônquios, ramificando-se
com estes no parênquima pulmonar.
***
Artérias Esofágicas
As artérias esofágicas destacam-se ao longo de
todo o trajeto da aorta torácica descendente, sen-
do em número variável. Irrigam a porção torácica
do esófago. Anastomosam-se com os ramos eso-
fágicos das artérias tiroideias inferiores e frénicas
inferiores.

Artérias Mediastínicas
As artérias mediastínicas, também variáveis em
número, destinam-se ao pericárdio, pleuras e gru-
pos ganglionares linfáticos.

PERGUNTAS TIPO

1. Qyal das seguintes afirmações acerca do arco


aórtico é FALSA?
a. A porção ascendente é oblíqua para cima e
para a esquerda.
b. O arco aórtico contorna o pedículo pul-
monar esquerdo.
c. O tronco arterial braquio-cefálico é o pri-
meiro tronco supra-aórtico.
d. Na sua origem a aorta apresenta o bulbo
aórtico.

2. Qyal dos seguintes NÃO é ramo colateral da


aorta torácica descendente?
a. Artérias Brônquicas.
b. Artérias lntercostais posteriores.
c. Artéria Subclávia Esquerda.
d. Artérias Mediastínicas.

1::i-z 1v-i
:so1sodso11

265
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

ARTÉRIAS E VEIAS DA CABEÇA querdo do esófago, nervo laríngeo recorrente es-


EDO PESCOÇO querdo e dueto torácico e lateralmente com o pul-
mão e pleura esquerdos.
Podem existir ramos suplementares do arco aór-
ARTÉRIAS tico que são inconstantes. Destes o mais frequen-
te é a artéria tiroideia Ima (tiroidea inferior de
TRONCOS SUPRA-AÔRT/COS Neubauer) que se origina entre a emergência do
tronco braquiocefálico arterial e a carótida comum
A face convexa da porção horizontal do arco ou esquerda. Dirige-se verticalmente para cima, apli-
crossa da aorta dá origem a 3 ramos principais: cada sobre a traqueia, até atingir o istmo da glân-
o tronco braquiocefálico arterial, a artéria caróti- dula tiroide.
da comum esquerda e a artéria subclávia esquerda.
O tronco braquiocefálico arterial tem origem na
união da porção ascendente com a horizontal da VASCULARIZAÇÃO ARTERIAL DA
crossa. Apresenta um trajeto oblíquo para cima, CABEÇA E PESCOÇO
para fora e para trás, terminando na face posterior
da articulação esterno-costo-clavicular, quando se A vascularização da cabeça e pescoço é da respon-
bifurca na artéria subclávia e carótida comum di- sabilidade de dois grandes sistemas, o carotídeo e
reitas. O seu trajeto é inteiramente intra-torácico, o vertebro-basilar.
relacionando-se anteriormente com o tronco bra-
quiocefálico venoso esquerdo, com o timo ou seu ARTÉRIA CARÓTIDA COMUM (PRIM/TIVA)
vestígio adiposo e com o nervo cardíaco superior
(ramo do vago). Posteriormente relaciona-se com As artérias carótidas comuns têm um trajeto se-
a traqueia, o vago direito e o plexo cardíaco poste- melhante ao nível do pescoço mas, na sua origem
rior; medialmente com a artéria carótida comum que é distinta à direita e à esquerda, diferem nas
esquerda e com a traqueia e lateralmente com a suas relações.
pleura e pulmão direitos. A carótida comum direita origina-se da bifurcação
A artéria carótida comum esquerda emerge da do tronco braquiocefálico direito, posteriormente
face convexa da crossa, dirigindo-se para cima e à articulação esterno-costo-clavicular homolateral.
para fora até ao pescoço. Na sua porção inicial re- A carótida comum esquerda é mais longa, dado ter
laciona-se com o tronco braquiocefálico arte- uma origem mais profunda, intratorácica, ao ní-
rial do qual se afasta progressivamente delimitan- vel do arco aórtico. No seu início vai relacionar-se
do com este um espaço triangular de base supe- anteriormente com os músculos esternohioideu e
rior cujo fundo é preenchido pela traqueia. Du- esterno-tiroideu e, por intermédio destes, com o
rante o seu trajeto intra-torácico a artéria carótida esterno. Posteriormente relaciona-se com a tra-
comum esquerda relaciona-se anteriormente com queia, esófago e dueto torácico; medialmente com
o tronco braquiocefálico venoso esquerdo, o nervo o tronco braquicefálico arterial e lateralmente com
cardíaco superior esquerdo e o timo ou seus res- a artéria subclávia e nervo vago esquerdos.
tos adiposas, posteriormente com o esófago, nervo Desde a sua origem ambas as carótidas comuns
laríngeo recorrente esquerdo, artéria subclávia es- vão seguir um percurso oblíquo póstero-superior-
querda, dueto torácico e ramos simpáticos do ple- mente desde a face posterior da articulação ester-
xo cardíaco posterior. Lateralmente encontra-se o nocostoclavicular até cerca de 1 cm acima do bor-
vago esquerdo e o vértice pulmonar. do superior da cartilagem tiroide, à altura da 4.ª
A artéria subclávia esquerda origina-se atrás da vértebra cervical, onde se bifurcam nos seus ramos
carótida comum esquerda, da qual se separa pelo terminais: carótida interna e externa.
nervo vago. Posteriormente relaciona-se com a co- As relações cervicais são semelhantes à direita e à
luna vertebral e músculos pré-vertebrais, medial- esquerda. Na região mais inferior as carótidas co-
mente com a face lateral da traqueia, bordo es- muns estão separadas entre si por um estreito es-

266
MANUTENÇÃO I SISTEMACIRCULATÓRIO:ARTÉRJASEVEIAS

paço que contém a traqueia. À medida que as- por uma bainha comum, expansão da fáscia pré-
cendem no pescoço vão-se afastando progressiva- -traqueal, a bainha carotídea; constituindo o pedí-
mente. Anteriormente relacionam-se com a glân- culo vásculo-nervoso do pescoço.
dula tiroide, com o músculo omo-hioideu, a fás- Posteriormente ao ângulo de bifurcação da caró-
cia pré-traqueal, o músculo esterno-cleido-mas- tida comum encontra-se o corpo ou glomus caro-
toideu. Posteriormente estabelecem relações com tídeo. Este é um órgão neuroendócrino (paragân-
a fáscia pré-vertebral, músculos pré-vertebrais e glio) que funciona como quimioreceptor, detetan-
com a artéria tiroideia inferior. Medialmente as do alterações do equilibrio ácido-base no sangue
relações são com a traqueia, a laringe, o esófago, a e promovendo modificações do ritmo respiratório
faringe e o nervo laríngeo recorrente. Lateralmen- no sentido de as compensar.
te a carótida comum relaciona-se com a veia jugu- Outra importante formação é o seio carotídeo que
lar interna que a acompanha em todo o seu trajeto. constitui uma dilatação fusiforme da região inicial
No interstício posterior formado por estes vasos da carótida interna, cuja parede é rica em termi-
localiza-se o nervo vago (pneumogástrico; X ner- nações nervosas dos nervos glossofaríngeo, vago
vo craniano). Estas três estruturas (eixo carotídeo, e simpático. Funciona como baroreceptor, sendo
veia jugular interna e nervo vago) são envolvidas sensível às alterações da pressão arterial, e geran-
do estímulos que, através da modificação do ritmo
cardíaco e das resistências periféricas, garantem a
estabilidade da mesma.
12 A carótida comum, geralmente, não dá ramos co-
laterais significativos.

ARTÉRIA CARÓTIDA EXTERNA

10 A carótida externa origina-se da carótida comum


cerca de 1 cm acima do bordo superior da carti-
lagem tiroideia da laringe, ascendendo depois até
11
13
ao espaço compreendido entre o colo do côndi-
lo da manchbula e o meato acústico externo, altu-
19 ra em que se divide nos seus ramos terminais, ar-
térias maxilar e temporal superficial (Fig. 3.21).
9
Na sua origem e segmento inicial, a carótida ex-
4 terna é mais superficial e localiza-se medialmen-
te à carótida interna, sendo apenas recoberta pela
17
pele e platisma e músculo esterno-cleido-mastoi-
16 deu. Vai ascender primeiro verticalmente e de-
pois numa direção anterior e lateral, cruzando
a face anterior da carótida interna, para se tor-
nar de novo vertical até ao seu ponto de termi-
nação. A sua face anterior é cruzada pelo ner-
vo hipoglosso e pelo tronco venoso tirolínguo-
2 18 facial e, na região cefálica, cruza os músculos di-
Fig. 3.21: Vascularização arterial da cabeça. gástrico e estilo-hioideu para penetrar na espes-
1. Artéria Carótida Comum Esquerda 2. Artéria Subclávia Esquerda sura da parótida.
3. Artéria Caróida Interna 4. Artéria Carótida Externa 5. Artéria
Tiroideia Superior 6. Artéria Lingual 7. Artéria Facial 8. Artéria Labial Medialmente relaciona-se com o osso hioide, pa-
Inferior 9. Artéria Labial Superior 10. Artéria Angular 11. Artéria rede da faringe e ramo ascendente da mandíbu-
Faríngea Ascendente 12. Artéria Auricular Posterior 13. Artéria
Ocipital 14. Artéria Maxilar 15. Artéria Temporal Superficial 16. Tronco
la, da qual se separa pelas camadas mais profun-
tirocervical 17. Artéria Tiroideia Inferior 18. Artéria Cervical Transversa das da parótida.
19. Artéria Vertebral

267

L
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Posteriormente, junto à origem, é cruzada pelo vel da emergência da lingual, ascendendo vertical-
nervo laríngeo superior e superiormente separa-se mente sobre a parede lateral da faringe, a qual vas-
da artéria carótida interna pelo estiloglosso e esti- culariza. Origina ainda ramos para os músculos
lofaríngeo, pelo nervo glossofaríngeo e por parte pré-vertebrais e a artéria meníngea posterior, que
da glândula parótida. penetra no crânio através do foramen jugular. Po-
derá também originar a artéria timpânica inferior.
Ramos colaterais Contribui para a irrigação das estruturas nervosas
cervicais (últimos nervos cranianos, plexo simpá-
A carótida externa dá em geral 7 ramos colaterais, tico, plexo cervical).
podendo este número variar entre 4 e 12. Os ra-
mos colaterais são os seguintes: tiroideia superior, Facial
lingual, facial, faríngea ascendente, occipital, auri- Origina-se da face anterior da carótida externa
cular posterior e parotideas. e tem um trajeto sinuoso até à loca submaxilar,
descrevendo 3 curvaturas. A primeira, de conca-
Tiroideia superior vidade inferior, abraça a glândula submaxilar, de-
É o primeiro ramo da artéria carótida externa, nominando-se curvatura supra-glandular ou fa-
emergindo da sua face anterior, logo abaixo do ríngea e a segunda tem concavidade superior e
corno maior do osso hioide. Após ascender no contorna o bordo inferior da mandíbula, desig-
sentido súpero-medial descreve uma curva para a nando-se infra-mandibular. A terceira curvatu-
frente e para baixo, atingindo o bordo superior da ra, designada facial, leva a artéria até à comissu-
glândula tiroide, onde dá ramos para a sua face an- ra labial, segue o sulco nasogeniano até ao ângu-
terior, os quais se anastomosam com os da artéria lo medial da órbita, descrevendo uma concavida-
contralateral e com os ramos da tiroideia inferior. de póstero-superior que se localiza sobre os mús-
Como colaterais, origina a artéria esterno-cleido- culos bucinador, levantador da comissura labial e
-mastoideia, a artéria laríngea superior e um ramo levantador do lábio superior, sendo recoberta pe-
infra- hioideu. los músculos platisma, depressor da comissura la-
bial e zigomáticos. Como colaterais, a artéria fa-
Lingual cial apresenta as artérias palatina ascendente (que
Emerge da face medial da carótida externa en- irriga o músculo estiloglosso, a faringe e o palato
tre a tiroideia superior e a facial. Dirige-se obli- mole), ramos amigdalinos, artéria submentonia-
quamente para cima e para dentro até ao como na, pterigoideia, masseterina, labiais inferior e su-
maior do osso hioide, tomando-se depois parale- perior (esta última originando o ramo septal na-
la a este para, em seguida, ascender perpendicular- sal). Termina pela artéria angular, que se anasto-
mente até à face inferior da língua, onde se divide mosa no ângulo medial da órbita com a artéria
nos seus ramos terminais (artéria sublingual; ar- dorsal do nariz ou nasal externa, ramo terminal
téria lingual profunda ou artéria ranina). Durante da artéria oftálmica.
o trajeto dá dois colaterais, a artéria dorsal da lín-
gua que vasculariza o pilar anterior do palato mole Ocipital
ou véu do palato, a epiglote e a base da língua, e Emerge da face posterior da carótida, dirigindo-
o ramo supra-hioideu que percorre o bordo supe- -se obliquamente para cima, para trás e para fora,
rior do hioide para se anastomosar com o contra- cruzando a face anterior da veia jugular interna
lateral. A artéria sublingual vasculariza a glândula e a face posterior do músculo estilohioideu e do
homónima e a lingual profunda prolonga-se até à ventre posterior do digástrico, até ao bordo me-
extremidade anterior da língua, vascularizando os dial do esplénio da cabeça. Aqui, divide-se nos
músculos e mucosa deste órgão. seus ramos terminais os quais se dirigem à região
do couro cabeludo. Como colaterais emite ramos
Faríngea ascendente musculares, a artéria estilomastoideia e um ramo
Nasce da face posterior da carótida externa, ao ní- meníngeo.

268
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: ARTÉRIAS E VEIAS

Auricular posterior Ramos terminais


Desde a sua origem na face posterior da caróti-
da dirige-se obliquamente para cima, para trás e Artéria temporal superficial
para fora, passando anteriormente ao músculo es- Artéria temporal superficial: É o ramo de bifurca-
tilohioideu e ao ventre posterior do digástrico para ção lateral e superficial da carótida externa. Des-
atingir o bordo anterior da apófise mastoideia. de a sua origem, na espessura da parótida, dirige-
A este nível divide-se nos seus dois ramos termi- -se para cima e para fora, emergindo da superfície
nais, um anterior ou auricular e um posterior ou da glândula ao nível do bordo superior do meato
rnastoideu. No seu trajeto dá ramos à parótida e acústico externo, onde se torna superficial. Dirige-
ramos musculares. Poderá também dar origem à -se à região temporal, atravessando a zona entre
artéria estilomastoideia. o tragus e a articulação temporomandibular, onde
se divide nos seus dois ramos terminais, um ante-
Artérias parotídeas rior ou frontal e um posterior ou parietal. Durante
Geralmente são duas, mas o seu número e origem o seu trajeto emite ramos para a parótida, o mas-
são variáveis. séter, a articulação temporomandibular, o pavilhão
auricular, a artéria facial transversa (para a região
10 9
geniana), a zigomático-orbitária (para o orbicular
das pálpebras) e a artéria temporal média (incons-
tante) para o músculo temporal.

Artéria maxilar (maxilar interna)


É o ramo de bifurcação medial e profundo da ca-
rótida externa, assim como o mais volumoso (Fig.
3.22). Vai percorrer a região infratemporal e are-
gião ptérigopalatina até ao foramen esfenopala-
tino. Após a sua emergência, atravessa a botoei-
ra retrocondiliana de Juvara (situada entre o colo
do côndilo mandibular e o ligamento esfenomaxi-
lar) e vai cruzar o bordo inferior ou a face lateral
10
do músculo pterigoideu lateral, para aceder à fossa
ptérigopalatina. Prolonga-se então até ao foramen
esfenopalatino que atravessa, passando a chamar-
-se artéria esfenopalatina. A relação com o mús-
culo pterigoideu lateral é de extrema importância
pois permite sistematizar os seus 14 ramos colate-
rais em quatro grupos, consoante a sua emergência
em relação ao músculo. Assim, na porção inicial
do seu trajeto, por dentro do músculo pterigoideu
lateral, altura em que a artéria se encontra abai-
xo da sua veia satélite e esta abaixo do nervo au-
rículo-temporal, originam-se os colaterais do pri-
meiro grupo em número de três: timpânica ante-
Fig. 3.22: Ramos da artéria carótida externa. rior, meníngea média e pequena meníngea. A ar-
1. Artéria Carótida Externa 2. Artéria Maxilar 3. Artéria Facial téria timpânica anterior vai atravessar a cissura de
4. Artéria Timpânica Anterior 5. Artéria Meníngea Média 6.
Artéria Pequena Meníngea 7 . Arteria Dentária Inferior 8. Artéria Glasser para atingir a caixa do tímpano. A arté-
Masseteriana 9 . Artéria temporal Profunda Posterior 10. Artéria ria meníngea média atravessa o foramen espinho-
temporal Profunda Anterior 11. Artéria Alveolar Póstero-Superior 12.
Artéria lnfraorbitária 13. Artéria Palatina Descendente 14. Músculo
so do esfenoide e, uma vez atingida a face pro-
Estilohioide 15. Músculo Pterigoide Medial 16. Artéria Esfenopalatina funda da calote craniana, divide-se num ramo an-
17• Septo Nasal

269
MANUAL D E ANATOMIA HUMANA

terior e posterior que vão ramificar-se desenhan- ARTÉRIA CARÓTIDA INTERNA


do na face endocraniana da escama do temporal e
no ocipital goteiras em forma de nervuras de fo- É o ramo terminal da carótida comum que tem
lha de figueira. A artéria pequena meníngea, in- como território o conteúdo da cavidade crania-
constante, atravessa o foramen oval e vasculari- na. Após um curto trajeto vertical ascendente na
za a dura-máter da região do gânglio de Gasser. sua origem, vai dirigir- se para cima e para den-
O segundo grupo de colaterais emerge no mo- tro, atingindo o espaço maxilofaríngeo que percor-
mento em que a artéria maxilar cruza o bordo in- re. Ao nível das massas laterais do atlas, inflete-se
ferior do músculo, e compreende 4 artérias: dentá- para cima e para trás até ao canal carotídeo. Atra-
ria inferior, masseteriana, temporal profunda pos- vessa este canal e o seio cavernoso, no qual segue
terior e pterigoideia. A artéria dentária inferior, um trajeto sinuoso com quatro curvaturas. A pri-
depois de originar a artéria do nervo lingual e a meira e terceira lançam a artéria para a frente e a
milohioideia, vai penetrar no canal dentário e dar segunda e quarta para trás, formando assim o cha-
ramos aos dentes da arcada dentária inferior, ter- mado sifão carotídeo de Egas Moniz. Nalguns ca-
minando num ramo incisivo (para o dente corres- sos a artéria desenha uma nova curva para a fren-
pondente) e num ramo mentoniano, que sai pelo te, dando origem a um duplo sifão.
foramen mentoniano para irrigar os tegumentos Na sua origem localiza-se lateral e posteriormente
da zona. As artérias masseteriana, temporal pro- à artéria carótida externa, lateralmente à faringe e
funda posterior e pterigoideia destinam-se aos anteriormente às apófises transversas das vértebras
músculos mastigadores correspondentes. Na face cervicais. Na região cervical e no espaço parafarín-
lateral do músculo origina-se o terceiro grupo de geo (maxilofaríngeo) relaciona-se com a veia ju-
colaterais, que compreende as artérias bucal, tem- gular interna, o simpático e os últimos quatro pa-
poral profunda anterior, alveolar e infraorbitária. res cranianos. No canal carotídeo percorre a zona
A artéria bucal vasculariza as partes moles da re- junto da parede óssea, apresentando a este nível
gião geniana.A artéria temporal profunda anterior uma parede com menor elasticidade. Nesta altu-
irriga a região anterior deste músculo. A artéria al- ra dá origem a um pequeno colateral, a artéria ca-
veolar desce sobre a tuberosidade da maxila, origi- róticotimpânica, que penetra na caixa do tímpa-
nando ramos alveolares que penetram nos canais no. Após emergir do canal carotídeo dirige-se para
dentários posteriores para irrigarem o seio maxilar cima e para a frente, penetrando na parede infe-
e os dentes molares. A artéria infraorbitária per- rior do seio cavernoso, relacionando-se ao longo
corre a goteira e o canal do mesmo nome para se deste com os nervos oculomotores (motores ocu-
dirigir à região palpebral inferior e geniana. Ao lares) e oftálmico, que percorrem a sua parede late-
nível da fossa ptérigopalatina, a artéria maxilar vai ral. Na extremidade anterior do seio cavernoso di-
estar colocada abaixo do nervo maxilar superior e rige-se para cima e para trás, atravessando a dura-
origina o quarto grupo de colaterais, que incluem -mater e aracnoide, por dentro da apófise clinoide
as artérias palatina descendente ou superior, a do anterior, dando então origem ao seu principal co-
canal pterigoideu (vidiana) e a ptérigopalatina. lateral, a artéria oftálmica. Cruza então a face late-
A primeira vai destina-se ao palato mole e abó- ral do nervo ótico e divide-se nos seus 2 ramos ter-
bada palatina e as duas últimas vascularizam a minais: artéria cerebral anterior e artéria cerebral
abóbada faríngea. Após atravessar o foramen es- média. Antes disso, origina outros dois importan-
fenopalatino, no transfundo da fossa ptérigopala- tes colaterais, a artéria comunicante posterior e a
tina, a artéria maxilar toma o nome de artéria es- artéria coroideia anterior. A artéria cerebral ante-
fenopalatina. Esta vai vascularizar a mucosa das rior e a artéria comunicante posterior participam
cavidades nasais, dividindo-se em dois ramos ter- na constituição do círculo arterial cerebral (Polí-
minais, um medial ou nasopalatino (para o sep- gono de Willis).
to) e outro lateral, para a parede externa das ca- A artéria oftálmica origina-se da artéria carótida
vidades nasais. interna no momento em que esta passa por den-
tro da apófise clinoide anterior (Fig. 3.23). Diri-

270
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: ARTÉRIAS E VEIAS

ge-se para a frente, atravessando o canal ótico por ARTÉRIA SUBCLÁVIA


fora do nervo ótico. Uma vez na cavidade orbitária
contorna a face lateral e depois o bordo superior A artéria subclávia tem origem diferente à direita
do nervo ótico, dirigindo-se depois para a frente, e à esquerda, com diferentes comprimentos, tra-
ao longo do bordo inferior do músculo oblíquo su- jetos e relações.
perior. Na extremidade interna do rebordo orbitá- A artéria subclávia direita origina-se da bifurca-
rio origina o seu ramo terminal, a artéria dorsal do ção do tronco braquiocefálico arterial, atrás da
nariz ou nasal externa. A relação com o nervo óti- articulação esternocostoclavicular, sendo com-
co permite distinguir três grupos de colaterais. O pletamente extratorácica. A esquerda, iniciando-
primeiro grupo diz respeito às artérias que se ori- -se do arco aórtico, tem um trajeto intratorácico.
ginam por fora do nervo, nomeadamente a arté- Ao cruzarem a margem lateral da l.ª costela ou
ria central da retina e a lacrimal. O segundo grupo o bordo inferior do músculo subclávio, na região
tem origem na região em que a artéria oftálmica médio-clavicular, passam a designar-se artérias
cruza a face superior do nervo, e inclui as artérias axilares.
supra-orbitária, ciliares curtas posteriores, ciliares Ao longo do seu trajeto atravessam o espaço
longas e as musculares. O terceiro grupo, que se compreendido entre as extremidades inferio-
origina por dentro do nervo, inclui as artérias et- res dos músculos escalenos anterior e médio, o
moidal anterior e posterior, palpebral e frontal in- que condiciona a existência de 3 porções: pré-es-
terna. A artéria dorsal do nariz, ramo terminal da calénica, inter-escalénica e pós-escalénica ou ex-
oftálmica, vai cruzar o rebordo inferior da cavida- tra-escalénica.
de orbitária por cima do tendão directo do múscu- A região pré-escalénica difere à direita e à es-
lo orbicular e anastomosa-se com a artéria angular, querda. À direita a artéria subclávia tem um tra-
ramo terminal da artéria facial, constituindo-se as- jeto para fora e para a frente, abraçando a cúpu-
sim uma anastomose entre os sistemas carotídeos la pleural e a primeira costela. Relaciona-se deste
intracraniano e extracraniano. lado e anteriormente com os nervos vago e larín-
geo recorrente, com a ansa subclávia (de Vieus-
10 9 sens) e com o nervo frénico bem como com a sua
anastomose com o gânglio cérvicotorácico. Ain-
da anteriormente relaciona-se com a veia subclá-
via e com o tronco braquiocefálico venoso, com
os músculos infra-hioideus, com a clavícula e
com a articulação esternocostoclavicular direitos.
Posteriormente relaciona-se com o nervo larín-
geo recorrente, ligamentos vértebro-pleuro-cos-
tais e vértebro-pleurais e com o gânglio cervi-
cal inferior ou cérvicotorácico do sistema nervo-
so autonómico simpático. Inferiormente repou-
sa sobre a face anterior da cúpula pleural, na qual
imprime uma goteira; elevando-se o vértice pul-
monar acima e atrás daquela artéria.
A artéria subclávia esquerda tem um trajeto ver-
tical para cima. Na sua curta porção intratoráci-
ca, localiza-se atrás da carótida comum e do nervo
vago, à frente e para fora das duas primeiras vér-
4 tebras dorsais, para fora da traqueia, esófago, ner-
Fig. 3.23: Artéria oftálmica. vo laríngeo recorrente esquerdo e dueto torácico e
1. Globo ocular 2. Nervo ótico 3. Glândula lacrimal 4. Artéria
oftálmica 5. Artéria central da retina 6. Artéria lacrimal 7. Artérias para dentro da pleura e pulmão esquerdos. Che-
ciliares posteriores 8. Artéria supraorbitária 9. Artéria supratrode~r gando à base do pescoço as relações com as es-
10. Artéria dorsal do nariz

271
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

truturas nervosas são diferentes das da contrala- xo braquial. A região onde a artéria subclávia se
teral. O nervo vago está acolado à artéria caróti- continua pela axilar, localizada entre a clavícula e
da comum esquerda, não contatando diretamente a primeira costela, designa-se por desfiladeiro cos-
com a artéria subclávia; o nervo frénico e a ansa de toclavicular.
Vieussens cruzam-na anteriormente e o dueto to-
rácico cruza a sua face posterior. Ramos colaterais
Ambas as artérias subclávias são envolvidas pelos
ramos do simpático, com origem no gânglio cérvi- São em número de nove principais artérias: verte-
cotorácico e na ansa de Vieussens. Este plexo pe- bral, torácica interna, tiroideia inferior, cervical as-
riarterial assim formado emite alguns ramos para a cendente, supraescapular, cervical transversa, cer-
própria artéria subclávia. No entanto os vasos co- vical profunda, intercostal suprema (ou superior),
laterais da subclávia, nomeadamente a artéria ver- escapular dorsal (ou posterior). A origem destes
tebral, recebem ramos diretamente do gânglio cér- ramos em variados troncos comuns é frequente
vicotorácico. (Fig. 3.24). Destacamos o tronco tirocervical (ti-
robicervicoescapular), que dá geralmente origem
13 à artéria tiroideia inferior, à cervical ascendente, à
supraescapular e à cervical transversa, assim como
o tronco costocervical, que dá geralmente origem
à cervical profunda e à intercostal suprema.
Todos os ramos têm origem na porção intra-es-
calénica, exceto a artéria escapular dorsal que se
origina habitualmente na região inter-escalénica.

Artéria vertebral
Dirige-se verticalmente para cima, ligeiramente
inclinada para trás, à frente do gânglio cérvicoto-
rácico e da apófise transversa da 7.• vértebra cer-
vical e atrás da veia vertebral e da artéria carótida
comum. Ascende ao longo dos foramina transver-
sários da 6.ª vértebra cervical ao áxis juntamen-
te com o nervo vertebral. Ao nível do áxis inflete-
-se para a frente para se dirigir ao foramen magno.
9 Perfura depois o ligamento ocipitoatloideu poste-
rior por cima do primeiro nervo cervical, dirigin-
Fig. 3.24: Artéria subclávia.
1. Artéria subclávia 2. Clavícula 3. Artéria carótida comum 4. Tronco do-se para a frente, para cima e para dentro para
tirocervical 5. Artéria tiroideia inferior 6. Artéria cervical ascendente atravessar a dura-mater por baixo da primeira di-
7. Artéria cervical transversa 8. Artéria supraescapular 9. Artéria
torácica interna 10. Tronco costocervical 11. Artéria intercostal gitação do ligamento dentado. Ascende obliqua-
suprema 12. Artéria cervical profunda 13. Artéria vertebral mente para cima e para dentro entrando no crâ-
nio através do foramen magno, que atravessa por
A porção inter-escalénica encontra-se sobre uma baixo do nervo hipoglosso. Uma vez no interior da
goteira na face superior da primeira costela, por cavidade craniana, a artéria dirige-se para a frente,
trás do tubérculo escaleno (de Lisfranc) e relacio- para cima e para dentro, acabando por se anasto-
na-se, para trás e para cima, com o plexo braquial. mosar na linha média, sob o sulco bulbo-protube-
A porção pós-escalénica relaciona-se com a pri- rancial, com a do lado oposto para formar o tron-
meira digitação do músculo serrátil anterior, sendo co basilar. Este vaso vai ascender entre a protu-
recoberta superiormente pela fáscia pré-traqueal. berância e a goteira basilar do ocipital para se di-
Anteriormente está em contacto com a clavícula e vidir, na zona em que esta termina, nos seus dois
o músculo subclávio e posteriormente com o ple- ramos terminais, as artérias cerebrais posteriores,

272
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULAT ÓRIO: ARTÉRIAS E VEIAS

que entram na constituição do círculo arterial ce- Artéria intercostal suprema


rebral (Polígono de Willis) (Fig. 3.25). A artéria O ramo intercostal superior vai ser responsável
vertebral dá colaterais cervicais (espinhais e mus- pela vascularização dos 2 ou 3 primeiros espaços
culares) e colaterais cranianos, as artérias menín- intercostais.
geas posteriores, espinhal posterior, espinhal ante-
rior e cerebelosas inferior e posterior. O tronco ba- Artéria cervical profunda
silar dá como colaterais as artérias protuberanciais, A artéria cervical profunda dirige-se para trás, ir-
auditivas internas, cerebelosas ântero-inferiores e rigando os músculos pré-vertebrais.
cerebelosas superiores.
Artéria tiroideia inferior
Artéria torácica interna Ascende verticalmente até ao tubérculo anterior
Emerge da face inferior da subclávia, descendo em da apófise transversa da 6. ª vértebra cervical, pas-
direção ao tórax. Origina múltiplos ramos colate- sando por dentro das inserções do escaleno an-
rais, como os mediastínicos, tímicos, brônquicos, terior. Dirige-se depois para baixo e para dentro,
traqueais, pericárdicofrénicos, esternais, mamários descrevendo uma curva de concavidade inferior
mediais, mamários perfurantes e intercostais ante- entre a carótida comum e a artéria vertebral. Ao
riores. Divide-se nos seus dois terminais: muscu- atingir o bordo da traqueia e do esófago ascende
lofrénica e epigástrica superior. ao longo destes até à glândula tiroide, originando
os seus 3 ramos terminais ao nível do istmo: infe-
rior, posterior e profundo ou interno. Esta artéria
dá ainda ramos colaterais para os músculos vizi-
nhos, para a traqueia, esófago e uma artéria larín-
gea posterior.

Artéria cervical ascendente


6 Dirige-se verticalmente para cima à frente do es-
caleno anterior e dos processos transversos até ao
nível da 3.ª vértebra cervical onde termina. Dá ori-
gem a ramos musculares e espinhais.

9 Artéria cervical transversa


4 Dirige-se para fora à frente do escaleno anterior
3
para terminar ao nível do trapézio.

11 Artéria supraescapular
Dirige-se para a frente e para fora até ao bordo su-
perior da escápula (da omoplata), vascularizando o
colo daquele osso e músculos vizinhos.
2

Artéria escapular dorsal


10 Dirige-se para cima e para fora, entre os 6.0 e 7.0
11 nervos cervicais e face anterior dos escalenos, para
depois atravessar o músculo trapézio e a face pro-
Fig. 3.25: Circulo arterial cerebral (Polígono de Willis). funda do angular até ao ângulo superior da es-
1. Artéria Vertebral 2. Artéria Basilar 3. Artéria Cerebral Posterior cápula. Segue o bordo posterior deste osso até ao
4. Artéria Comunicante Posterior 5. Artéria Carótida Interna 6. Artéria
Cerebral Média 7. Artéria Cerebral Anterior 8. Artéria Comunicante seu ângulo inferior, onde se anastomosa com o
Anterior 9. Artéria Coroideia Anterior 1O. Artéria Cerebelosa ramo escapular inferior da axilar.
Anterior e Inferior (AICA) 11. Artéria Cerebelosa Superior 12. Artérias
Protuberandais

273
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

VEIAS: DRENAGEM VENOSA DA Labbé (que o une ao seio lateral), as veias menín-
CABEÇA E PESCOÇO geas médias, as veias do diploe e da dura-mater e
as veias emissárias parietais.
O principal coletor venoso da cabeça e pescoço é
a veia jugular interna, que se origina nos seios ve- Seio sagital (longitudinal) inferior
nosos durais ou seios cranianos, sendo responsá- Está contido na região posterior da margem livre
vel pela drenagem dos conteúdos da cavidade cra- da foice do cérebro. Aumenta de calibre da frente
niana e parte da face. Para além deste grande vaso para trás e termina no seio recto. Recebe veias da
existem ainda outras veias importantes como a ju- foice do cérebro e algumas veias de ambos os he-
gular externa, as jugulares anterior e posterior, a misférios.
veia vertebral e a veia subclávia.
Seiorecto
SEIOS VENOSOS CRANIANOS Localiza-se na região de união da foice do cére-
bro com a tenda do cerebelo. Inicia-se no ponto
São os ramos de origem da veia jugular interna, re- de confluência com o seio sagital inferior e dirige-
cebendo toda a drenagem venosa do conteúdo da -se numa direção posterior e inferior até à tórcu-
cavidade craniana (encéfalo e meninges) e da ca- la. Para além do seio sagital inferior drena as veias
vidade orbitária. São canais venosos formados por cerebrais profundas ou de Galeno e as cerebelosas
desdobramentos da dura-máter, avalvulares, inex- médias superiores.
tensíveis e maioritariamente triangulares ao corte
transversal. Os vários seios cranianos encontram- Seios ocipitais posteriores
-se distribuídos em dois grupos: superior ou pós- Originam-se no foramen jugular, onde se comu-
tero-superior e inferior ou ântero-inferior (Fig. nicam com os seios laterais. Dirigem-se para trás
3.26). e para dentro rodeando o foramen magno, pene-
tram na foice do cerebelo e drenam no confluen-
Grupo superior te posterior. Recebem veias do cerebelo e da du-
ra-máter.
Inclui 7 seios (3 ímpares e 4 pares), que drenam
todos para o confluente posterior, também desig- Seios laterais
nado tórcula ou Lagar de Herófilo ao nível da pro- São dois, localizados a cada lado, no bordo ade-
tuberância ocipital interior, com exceção dos seios rente da tenda do cerebelo e dirigem-se desde a
laterais/transversos que são eferentes terminando tórcula até ao foramen jugular, onde drenam no
na jugular interna. golfo da jugular interna. Têm um trajeto sinuoso,
no qual se distinguem 3 segmentos. No primeiro
Seio sagital (longitudinal) superior segmento, também denominado de seio transver-
Estende-se desde a região anterior do crânio, por so (segmento ocipital ou horizontal), descreve um
cima da crista frontal (interna), até ao confluen- trajeto ao longo da escama do ocipital até ao ro-
te posterior, ocupando a foice do cérebro. Percor- chedo do temporal; altura em que se curva para
re a goteira escavada na face profunda da calote passar a dirigir-se para baixo, para dentro e para
craniana, atravessando o frontal, a sutura biparie- a frente no segundo segmento, designado mastoi-
tal e a escama do occipital e aumentado de cali- deu ou descendente. Na extremidade inferior da
bre no sentido ântero-posterior. Na sua espessu- base do rochedo dirige-se então para cima, para
ra apresenta as granulações aracnoideias (de Pa- dentro e a frente, até ao golfo da jugular inter-
chioni), importantes no metabolismo do liquor na. Estes dois últimos segmentos, em trajeto con-
cefaloraquidiano. Este seio recebe as veias do fo- junto algo sinuoso conforme descrito, formam o
ramen cego, as veias cerebrais superiores, a gran- que conhecemos como seio sigmoide. Os clássicos
de veia anastomótica de Trolard (une o seio sagital seios laterais são assim resultantes do somatório
superior ao seio cavernoso), a veia anastomótica de dos seios transverso e sigmoide, termos atualmen-

274
MANUTENÇÃO I SISTEMACIRCULATÓRIO:ARTÉRIAS E VEIAS

te bem mais divulgados. Para os seios transversos Por seu lado, o sangue contido nos seios caverno-
drenam, os seios sagital superior, rectos e ocipi- sos é drenado para (eferentes):
tais posteriores. Para os seios sigmoides drenam as • Seio petroso superior: nasce da extremidade
veias cerebrais posteriores e inferiores e veias ce- posterior do seio cavernoso, prolonga-se pos-
rebelosas posteriores, o seio petroso superior, as teriormente ao longo do bordo superior do
veias do aqueduto do vesa.bulo e as veias emissá- rochedo até ao seio lateral; recebe veias do cé-
rias mastoideias. rebro e do cerebelo.
• Seio petroso inferior: emerge da região pos-
Grupo ântero-inferior terior do seio cavernoso e sai do crânio pela
zona mais anterior do foramen jugular. Uma
Os coletores deste grupo são os seios cavernosos, vez fora da cavidade craniana transforma-se
que recebem os seios esfenoparietais, coronário e numa veia e drena no golfo da jugular interna.
ocipital transverso, bem como as veias centrais da Recebe veias do cerebelo, protuberância, bul-
retina e oftálmicas. Dos seios cavernosos partem bo e veias auditivas internas.
por sua vez seios eferentes, os seios petrosos supe- • Plexo carotídeo: é um conjunto de vénulas
riores e inferiores e os seios carotídeos, que drenam rudimentares que rodeiam a carótida interna,
o sangue dos seios cavernosos para os seios laterais. comunicando o seio cavernoso com a jugu-
Os seios cavernosos têm uma estrutura reticu- lar interna.
lar, localizando-se a cada lado da sela turca. Pro-
longam-se desde a fissura orbitária superior até 11
10
ao vértice do rochedo e comunicam entre si pelos
seios coronário e ocipital transverso. N o seu inte-
rior encontramos a carótida interna, que se acom-
panha ínfero-lateralmente pelo VI nervo craniano.
A parede lateral contém o III, o IV e o ramo oftál-
12
mico do V nervo.
Nos seios cavernosos drenam (aferentes):
• Veias oftálmicas: são duas por cada cavida-
de orbitária, superior e inferior, originando-se
no ângulo medial da cavidade orbitária. Atra-
vessam separadamente, ou após união, a re-
gião mais medial da fissura orbitária superior 14

para drenar na extremidade anterior do seio


cavernoso.
• Veia central da retina: drena numa das veias
oftálmicas ou diretamente no seio cavernoso.
• Seio esfenoparietal: tem início no seio sagital
superior de onde se dirige para baixo ao lon-
go da face ântero-lateral da calote craniana e
bordo posterior das asas menores do esfenói-
de até ao seio cavernoso.
• Seio coronário: rodeia o corpo pituitário (hi-
pófise), do qual recebe sangue e comunica a
cada lado com os seios cavernosos.
Fig. 3.26: Seios cranianos.
• Seio ocipital transverso: localizado transver- 1. Foice cerebral 2. Tenda do cerebelo 3. Seio long it udinal
salmente na região mais anterior do processo superior 4. Seio longitudinal inferior 5. Seio recto 6. Veia de galeno
7. Confluente posterior dos seios 8. Seio transverso 9. Seio
basilar do occipital, comunica os seios petro- sigmoide 10. Veia oftálmica superiOf' 11 . Seio esfenoparietal 12. Seio
sos inferiores e os seios cavernosos. cavernoso 13. Seios coronários 14. Seio petroso superior 15. Seio
petroso inferior 16. Seio ocipital 17. Plexo basilar

275
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

VEIA JUGUl.AR INTERNA tes do tronco tiro-linguo-facial, na jugular inter-


na. Durante todo o seu trajeto localiza-se late-
Recebe o sangue de todos os conteúdos da cavi- ralmente à artéria homónima, sendo menos tor-
dade craniana, das wnas superficiais da face e do tuosa que esta. Recebe as veias frontal, da asa do
pescoço. Inicia-se no foramen jugular onde conti- nariz, coronárias dos lábios, bucais, submaxilares,
nua os seios sigmoides, e recebe também os seios submentonianas e as palatinas inferiores.
petrosos inferiores que têm localização parcial-
mente exocraniana (e por vezes ainda os seios ou Veia lingual
veias petroocipitais, igualmente exocranianos na
área da sutura homónima e estabelecendo uma A drenagem venosa da língua faz-se através das
comunicação com o plexo venoso pericarotídeo). veias linguais profundas, satélites da artéria lin-
Apresenta uma dilatação inicial denominada gol- gual, das veias dorsais da língua, e das veias rani-
fo da jugular. nas. Estas últimas são duas e percorrem a face
No segmento inicial está localizada atrás da ar- dorsal da língua, recebendo a drenagem das ou-
téria carótida interna mas coloca-se rapidamente tras veias e reunindo-se na base deste órgão num
por fora desta, relação que mantém durante todo tronco único, a veia lingual propriamente dita,
o seu trajeto vertical descendente, até ao ponto de que drena na jugular interna.
emergência da artéria, altura em que se continua
por fora da carótida comum. Na base do pescoço Veia tiroideia superior
une-se à veia subclávia para formar o tronco bra-
quiocefálico venoso, atrás da extremidade interna Drena a região superior do lóbulo lateral da glân-
da clavícula. Na região terminal apresenta outra dula tiroide, sendo satélite da artéria homónima;
dilatação, fusiforme, denominada seio da jugular. cruza a face lateral da artéria carótida comum para
Durante o seu trajeto a veia jugular interna estabe- drenar na veia jugular interna.
lece relações próximas com os últimos quatro pa-
res cranianos (IX, X, XI e XII) e com o plexo sim- Veia faringea
pático. O nervo acessório (XI) cruza a face poste-
rior da veia. O vago (X) tem a relação mais estrei- Começa num plexo das faces posterior e laterais
ta, percorrendo o interstício formado pela veia ju- da faringe e drena na jugular interna ou no tron-
gular interna e carótida interna/comum, estando co tirolinguofacial.
contido na mesma bainha.
Como aferentes a veia jugular interna recebe, ao Veia tiroideia média
longo do seu trajeto as veias facial, lingual, tiroi-
deia superior (que podem drenar por um tronco D rena a região inferior do lobo lateral da tiroide.
comum, o tronco tirolínguofacial), a veia faríngea
e a tiroideia média (Fig. 3.27). VEIA JUGULAR EXTERNA

Veia facial Recebe grande parte do sangue do exterior do crâ-


nio e regiões profundas da face. É classicamente
Inicia-se pela veia angular, ao nível do ângu- descrita como uma continuação das veias maxilar
lo medial da cavidade orbitária. Esta desce por e temporal superficial, que se reúnem na espessu-
fora da artéria angular até ao sulco nasogeniano, ra da parótida, à altura do gónion; contudo, atual-
onde toma o nome de veia facial e cruza a face mente considera-se a veia jugular externa como
obliquamente para trás e para baixo até ao ângu- tendo origem na anastomose entre a veia auricu-
lo ântero-inferior do masséter. D e seguida passa lar posterior e o ramo posterior da veia retroman-
o bordo inferior da mandíbula e prolonga-se até dibular, que continua inferiormente a veia maxilar.
ao corno maior do hioide, drenando individual- Desde esse ponto vai dirigir-se para baixo e para
mente, ou juntamente com os outros constituin- fora cruzando a face anterior do esternocleido-

276
p
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: ARTÉRIAS E VEIAS

rnastoideu e acompanhando depois o bordo pos- VEIA JUGULAR ANTERIOR


terior deste, até à região média da clavícula, altu-
ra em que perfura as fáscias cervicais para drenar Habitualmente são duas, mas pode ser única. Re-
na veia subclávia, por fora do ponto em que esta se cebe o sangue dos tegumentos da região cervical
reúne com a jugular interna. Na região parotídea a anterior, originando-se da união de várias peque-
veia está por fora da carótida externa, sendo cruza- nas veias submentonianas e dirigindo-se vertical-
da pelo nervo facial. mente a meia distância entre o plano sagital e o
Recebe as veias ocipitais, auriculares posteriores, bordo medial do esternocleidomastoideu. Na base
jugular posterior, ramos cervicais superficiais e, do pescoço torna-se posterior àquele músculo para
junto à sua terminação, as veias supra-escapular e drenar na veia subclávia, junto à terminação da ju-
cervical transversa. Anastomosa-se com a jugular gular externa. Recebe ramos laríngeos e a veia ti-
anterior e, ao nível da espessura da própria paróti- roideia inferior e anastomosa-se com a do lado
da, com a jugular interna através de um ramo bem oposto por um ramo transversal ao nível da base
desenvolvido que se designa por veia comunican- do pescoço e também com as veias jugulares ex-
te intra-parotídea. Recebe as veias occipitais, auri- terna e interna.
culares posteriores, jugular posterior, ramos cervi-
cais superficiais e, junto à sua terminação, as veias VEIA JUGULAR POSTERIOR
supra-escapular e cervical transversa. Anastomo-
sa-se com a jugular anterior e, ao nível da espessu- Originam-se a cada lado do confluente occipito-
ra da própria parótida, com a jugular interna atra- vertebral, porção entre o ocipital e o atlas do plexo
vés de um ramo bem desenvolvido que se designa venoso extra-raquidiano posterior, para se reuni-
por veia comunicante intra-parotídea. rem num único tronco atrás da apófise espinhosa
do áxis. Dirigem-se então verticalmente para bai-

9
8

10

11

12

13

Fig. 3.27: Drenagem venosa da cabeça.


A
1. Plexo pterigóide 2. Veia maxilar 3. Veia temporal superficial 4. Veia jugular externa 5. Veia retromandibular 6. Veia auricular posterior 7. Veia
occipital 8. Veia jugular interna 9. Veia facial 1O. Veia lingual 11. Veia tiroideia superior 12. Veia tiroideia média 13. Veias tiroideias inferiores
14. Artéria carótida interna 15. Artéria carótida externa
B
1. Veia jugular externa 2. Veia jugular interna 3. Veia jugular anterior 4. Veias tiroideias inferiores 5. Artéria carótida comum 6. Veia tiroideia
superior 7. Veia comunicante 8. Veias submandibulares 9. Veia facial

277
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

xo até à altura da 7.ª vértebra cervical, onde se in- PERGUNTAS TIPO


clinam para ir drenar na veia jugular externa ou no
tronco braquiocefálico. Drenam os tegumentos da 1. A artéria dorsal do nariz ou nasal externa
região posterior da nuca, na área entre os múscu- anastomosa-se com que ramo?
los esplénio e o trapézio. a. Etmoidal posterior.
b. Ramo colateral da artéria facial.
VEIA VERTEBRAL e. Angular.
d. Ramo terminal da carótida externa.
A veia vertebral, que habitualmente é única, origi- e. Ramo terminal da carótida interna.
na-se do confluente ocipitovertebral. Desce atra-
vessando os forarnina transversários das primei- 2. Qyal dos seguintes NÃO é aferente do con-
ras seis vértebras cervicais, lateralmente à artéria. fluente posterior ou tórcula?
Após passar o foramen transversário da 6.ª vérte- a. Seio sagital superior.
bra cervical a veia passa a dirigir-se numa direção b. Seio recto.
ântero-inferior, passando entre o gânglio cérvico- e. Seio sagital inferior.
torácico do simpático (atrás) e a crossa do dueto d. Seio ocipital posterior.
torácico (anteriormente), para ir drenar no tron- e. Seios transversos.
co venoso braquiocefálico. Recebe a drenagem dos
plexos venosos extra-raquidianos anterior e pos- !3-1: 1:)-t
terior, a veia cervical ascendente e a veia cervical :s.isodsoll
profunda. Anastomosa-se com os seios cranianos,
a veia ocipital e a jugular posterior.

VEIA SUBCLÁVIA REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Continua a veia axilar, que toma a designação de Rouviere, H.; Delmas, A. Anatomía H umana
Descriptiva, topográfica yfoncional,.1P Edition.
subclávia na margem lateral da 1. ª costela ou no
bordo inferior do músculo subclávio, e termina Elsevier, 2005.
ao nível da face posterior da articulação esterno- Standring, S. Gray's Anatomy -1he anatomical
costoclavicular onde se une à veia jugular inter- basis oJclínica/practice. 41th Edition. Churchill-
na homolateral para formar o tronco braquioce- Livingstone Elsevier, 2016.
fálico venoso. Repousa na face superior da pri-
Testut, L.; Latarjet, A. Tratado de anatomía
meira costela, anteriormente ao tubérculo esca-
humana. 9.ª edição. Salvat Editores, S.A., 1999.
leno (de Lisfranc) e relaciona-se anteriormente
com a clavícula e o músculo subclávio e poste- Van De Graaf, KM.; Fox, SI. Concepts ofHuman
riormente com a artéria subclávia, que se locali- Anatomy & Physiology. 5th edition. WCB/
za acima e atrás da veia. Os dois vasos separam-se McGraw-Hill, 1999.
pelo escaleno anterior e pela cúpula pleural. Para
W ind, G.; Valentine,J.;Anatomic Exposures
dentro dos escalenos o espaço entre artéria e veia
in Vascular Surgery. 3rd Edition. Lippincott
é atravessado pelo nervo vago e pela ansa subclá-
Williarns&Wilkins, 2013.
via de Vieussens e, à esquerda, também pelo ner-
vo frénico. A veia subclávia recebe as veias jugu- N etter, F. Atlas de Anatomia humana. 6.ª Edição,
lares externas e anterior. Elsevier, 2015.

• ••

278
p
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: ARTÉRIAS E VEIAS

ARTÉRIAS E VEIAS DO TÓRAX No seu trajeto, encontra-se posteriormente à aorta


ascendente e à veia cava superior, inferiormente à
crossa da aorta e à crossa da veia ázigos, superior-
ARTÉRIAS DO TÓRAX mente ao átrio direito e anteriormente à bifurca-
ção da traqueia e brônquio principal direito.
A vascularização das vísceras e parede torácica é A artéria pulmonar esquerda, dirige-se para trás
da responsabilidade dos grandes troncos arteriais e para a esquerda até ao hilo pulmonar esquer-
que continuam as cãmaras de saída dos ventrículos do, onde se encontra superiormente ao brônquio
_ artéria pulmonar e artéria aorta, que transpor- principal. Apesar de ser inicialmente anterior ao
tam o sangue bombeado, respectivamente, pelos brônquio principal esquerdo, a artéria ascende
ventrículos direito e esquerdo. Enquanto a artéria obliquamente para se colocar sobre a face supe-
pulmonar pertence à "pequena circulação" ou cir- rior do brônquio. Relaciona-se ainda inferiormen-
culação pulmonar, a artéria aorta pertence à "gran- te com o átrio esquerdo e anteriormente com as
de circulação" ou circulação sistémica (Vide Aorta). veias pulmonares esquerdas.

A RTÉRIA PULMONAR

A artéria pulmonar é o tronco arterial de saída do


ventrículo direito, transportando sangue venoso
para ser oxigenado nos pulmões.
É o tronco arterial mais anterior do coração, en-
contrando-se, na sua emergência, anteriormente à
aorta torácica. Após a sua origem dirige-se para
cima, para trás e para a esquerda, inicialmente an-
terior e depois à esquerda da artéria aorta, por cer-
ca de 5 cm, após os quais e bifurca em artéria pul-
monar esquerda e artéria pulmonar direita.
O tronco pulmonar pode ser dividido numa por-
ção intra-pericárdica e extra-pericárdica. Na por-
ção intra-pericárdica, encontra-se envolvido pela
bainha dos vasos arteriais juntamente com a arté-
ria aorta; relaciona-se anteriormente com o timo,
com a pleura do pulmão esquerdo e com a parede Fig. 3.28: Artéria Pulmonar.
1. Tronco Pulmonar 2. Artéria Pulmonar esquerda 3. Artéria Pulmonar
esterno-costal e posteriormente com a artéria aor- direita 4. Veia Pulmonar Superior direita 5. Veia Pulmonar Inferior
ta ascendente. Na porção extra-pericárdica, quan- direita 6. Veia Pulmonar Superior esquerda 7. Traqueia 8 . Brônquio
principal esquerdo 9. Brônquio principal direito
do se coloca à esquerda da aorta ascendente, man-
tém as relações anteriores, relacionando-se pos-
teriormente com a aurícula esquerda (através do NOÇÕES DE ANATOMIA CLÍNICA
seio transverso), à esquerda com a aorta, à dire-
ta do apêndice auricular esquerdo e superiormen- Numa radiografia de tórax, as imagens dos hilos
te relaciona-se com os gânglios intertraqueobrôn- pulmonares são dadas pelas estruturas vasculares
quicos. A bifurcação do tronco pulmonar ocorre que os constituem (artérias e veias pulmonares) e
inferiormente e à esquerda da bifurcação traqueal não pelos brônquios (cujo conteúdo - ar - é hi-
(Fig. 3.28). pertransparente). Neste sentido, numa radiografia
A artéria pulmonar direita, mais volumosa, diri- normal, o hilo pulmonar esquerdo será mais ele-
ge-se para trás e para a direita horizontalmente, vado que o hilo pulmonar direito, uma vez que a
até atingir o hilo pulmonar direito, onde se encon- artéria pulmonar esquerda localiza-se num plano
tra anteriormente ao brônquio principal direito. mais superior (superior ao brônquio principal es-

279
MANUAL D E ANATOMIA HUMANA

querdo) do que a artéria pulmonar direita (ante- eixo central do lóbulo, enquanto as veias pulmona-
rior ao brônquio principal direito). Uma inversão res e os linfáticos correm nos septos interlobulares.
desta relação deve levantar de suspeita de algum Após a saída do pulmão, as veias reúnem-se para
processo patológico. formar as duas veias pulmonares principais, que se
dirigem para dentro, em direção ao átrio esquerdo
A veia pulmonar direita superior resulta da união
VEIAS DO TÓRAX das veias lobares superior e média. A veia pulmo-
nar direita inferior resulta da união da veia apica[
As veias do tórax compreendem dois sistemas ve- e da veia basal comum. A veia pulmonar esquerda
nosos distintos: as veias viscerais e as veias parie- superior resulta da união das veias apico-posterior
tais. As veias viscerais incluem não só os grandes anterior e lingular. A veia pulmonar esquerda in~
eixos venosos axiais do tórax, como a veia cava ferior resulta da união da veia apical e da veia basa[
superior (e os seus ramos de origem) e a veia cava comum. No hilo pulmonar, a posição destas veias é
inferior, mas também as veias das vísceras do tó- a seguinte: a veia pulmonar superior situa-se num
rax, como as veias do coração e as veias pulmona- plano mais anterior que a veia pulmonar inferior;
res. Estas veias serão descritas na drenagem ve- a veia superior é pré-brônquica e a veia inferior é
nosa dos respetivos órgãos, com excepão das veias infra-brônquica; a veia superior direita é inferior e
pulmonares, que aqui serão brevemente aborda- anterior relativamente à artéria pulmonar direita; a
das. As veias parietais constituem as chamadas veia superior esquerda é totalmente infra-arterial.
anastomoses cava-cava e compreendem o siste- As veias pulmonares têm um trajeto extra-pulmo-
ma das veias ázigos, o sistema das veias do rá- nar relativamente curto, sendo que as veias pul-
quis e as veias da parede ântero-lateral do tronco. monares direitas são mais longas que as veias pul-
Outra sistematização possível para as veias do tó- monares esquerdas. Neste trajeto, estas veias rece-
rax consiste na divisão em dois grupos: o grupo bem ainda, como colaterais, algumas veias brôn-
das veias da circulação pulmonar, que apenas in- quicas anteriores. No seu percurso, as veias pul-
clui as veias pulmonares; e o grupo das veias da monares esquerdas passam anteriormente à arté-
circulação sistémica, que compreende as restantes. ria aorta torácica descendente. Ao atingirem a pa-
rede posterior do átrio esquerdo, as veias pulmo-
Veias pulmonares nares relacionam-se com a serosa pericárdica que
as embainha. A projeção dos orifícios atriais das
As veias pulmonares são vasos avalvulares cuja veias pulmonares sobre o ráquis vai da oitava à dé-
parede apresenta características morfológicas de cima vértebras dorsais.
veia, mas que transportam sangue arterial, no tra-
jeto centrípeto que vai dos pulmões para o cora-
ção esquerdo. São em número de quatro, duas por
cada pulmão, das quais uma é superior e outra é
inferior (Fig. 3.29). Nascem dos capilares alveo-
lares e recebem veias provenientes das ramifica-
ções brônquicas de menor calibre e da pleura vis-
ceral. Vão-se depois anastomosando umas com as
outras, em vasos de calibre progressivamente cres-
1
cente, e atingem os hilos pulmonares por um tra-
jeto independente do dos brônquios e das artérias
4
pulmonares, pois as veias da circulação pulmonar
correm à periferia dos segmentos pulmonares, e 2

não no eixo destes. Esta relação observa-se desde


o lóbulo pulmonar, em que os bronquíolos, as ar- Fig. 3.29: Veias Pulmonares.
1. Veia Pulmonar Superior esquerda 2. Veia Pulmonar lnferK>r Esquerda
térias pulmonares e os vasos brônquicos correm no 3. Veia Pulmonar Superior direita 4. Veia Pulmonar Inferior direita

280
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: ARTÉRIAS E VEIAS

Veia cava superior e seus ramos de origem fluentes venosos jugulo-subclávios recebem ainda
os troncos coletores terminais do sistema linfático
A veia cava superior é o tronco coletor das veias (dueto torácico à esquerda e dueto linfático direito
da porção supra-diafragmática do corpo, resultan- ou grande veia linfática à direita).
do da reunião dos dois troncos venosos braquioce- Da anastomose dos dois troncos braquiocefálicos
fálicos (Fig. 3.30). Estes troncos braquiocefálicos, venosos resulta a veia cava superior, que se diri-
também chamados de veias inominadas, nascem, ge obliquamente para trás, descrevendo uma cur-
cada um deles, atrás da extremidade medial da cla- vatura de concavidade esquerda (que corresponde
vícula, da reunião da veia subclávia e da veia jugu- à convexidade da porção ascendente do arco aór-
lar interna, no chamado confluente jugulo-subclá- tico ). Termina-se logo a seguir, na parede supe-
vio ou ângulo de Pirogoff Terminam atrás da pri- rior do átrio direito, num ponto que correspon-
meira cartilagem costal direita, onde se anastomo- de à extremidade medial do segundo espaço in-
sam para dar origem à veia cava superior. tercostal direito.
Como a veia cava superior se situa à direita da li- Das relações da veia cava superior destacam-se: à
nha média, os dois troncos braquiocefálicos dife- frente, o timo, a pleura, o pulmão e a segunda car-
rem no que diz respeito à sua situação, à sua dire- tilagem costal direitos; atrás, os gânglios látero-
ção, ao seu comprimento e às suas relações. As- -traqueais direitos, a terminação da veia ázigos, a
sim, o tronco braquiocefálico direito é quase ver- artéria pulmonar direita e a veia pulmonar supe-
tical e mais curto que o esquerdo, relacionando-se, rior direita; medialmente, a porção ascendente do
à frente e à direita, com o pulmão e pleura direi- arco aórtico; lateralmente, a pleura direita, o ner-
tos; à frente, com a clavícula e a primeira cartila- vo frénico, os vasos pericardiofrénicos direitos e os
gem costal; atrás, com o nervo vago e com o tron- gânglios mediastínicos anteriores direitos. É ainda
co braquiocefálico arterial; à direita, com o nervo de referir que cerca de três quartos da sua super-
frénico; à esquerda, com o timo ou seus resquícios fície ântero-lateral são recobertos pela serosa peri-
adiposos. O tronco braquiocefálico esquerdo atra- cárdica. Como colateral, a veia cava superior ape-
vessa a linha média e apresenta um trajeto oblíquo,
quase horizontal, com o dobro do comprimento
do tronco braquiocefálico direito. Relaciona-se, à
frente, com a articulação esterno-condro-clavicu-
lar esquerda, o timo e o manúbrio esternal; atrás,
com os três ramos colaterais da porção horizon-
tal do arco aórtico, os nervos vago e frénico es-
querdos e ainda os gânglios mediastínicos ante-
riores esquerdos; em baixo, com a crossa da aorta;
em cima, com as veias tiroideias inferiores e com a
fáscia tiro-pericárdica; é ainda acompanhado, em
toda a sua extensão, pela cadeia linfática mediastí-
nica anterior transversa.
Cada tronco braquiocefálico recebe, como colate-
rais, a veia vertebral, a veia jugular posterior, a veia
intercostal suprema (que drena o 1.0 espaço inter-
costal), a veia torácica interna e a veia pericardio-
frénica homolaterais. O tronco braquicefálico ve-
noso esquerdo recebe ainda a veia intercostal su-
perior esquerda (que drena os 2.0 e 3.0 espaços in- Fig. 3.30: Veia Cava Superior.
1. Veia Cava Superior 2. Veia braquio-cefálica esquerda 3. Veia braquio-
tercostais). As veias tiroideias inferiores drenam cefálica direita 4. Veia Subclávia 5. Veia Jugular Interna 6. Confluente
para o tronco braquiocefálico esquerdo ou para jugulo-subclávio (Ângulo de Pirogoff) 7. Veia torácica interna 8. Veia
Ázigos 9. Veia Hemiázigos 10. Veia Hemiázigos acessória 11. Veias
a confluência dos dois troncos venosos. Os con-
intercostais posteriores 12. Veia intercostal superior direita

281
MANUAL D E ANATOMIA HUMANA

nas recebe a veia ázigos, que nela drena na sua face esplâncnico maior, entre os feixes principal e aces-
posterior, acima do pedículo pulmonar direito, a sório do pilar direito do diafragma.
nível de D4. No tórax, a veia ázigos sobe pela face anterior da
coluna vertebral, à direita da linha média, até à al-
Veia cava inferior tura de D4. Aí, inflete-se para a frente, passa sobre
o pedículo pulmonar direito, descrevendo a cros-
A veia cava inferior é o tronco coletor das veias sa da veia ázigos, e lança-se na veia cava superior.
da porção infra-diafragmática do corpo, resultan- A o longo do seu trajeto, a veia ázigos relaciona-se:
do da reunião das duas veias ilíacas comuns ao ní- medialmente, com o canal torácico e a aorta; late-
vel da vertente direita da quinta vértebra lombar. ralmente, com a pleura mediastínica direita; atrás,
É aí que se inicia o trajeto vertical da veia cava in- com a coluna vertebral e as artérias intercostaís di-
ferior, dividido em dois segmentos pelo diafragma reitas; à frente, com o pedículo pulmonar e o esó-
(ao qual a veia adere fortemente): um abdominal fago (por intermédio do recesso vertebromedias-
e outro torácico. Este último, de dimensões par- tínico direito).
ticularmente reduzidas, é totalmente envolto por A veia ázigos apresenta como colaterais: (1) a veia
um prolongamento do pericárdio fibroso, através brônquica direita posterior; (2) as veias esofágicas
do qual a veia se relaciona lateralmente com o li- e pericárdicas; (3) as veias intercostais posteriores;
gamento freno-pericárdico direito, o nervo fréni- (4) a veia intercostal superior direita, que é o tron-
co e, à distância, com a pleura e o pulmão direitos. co coletor das 2.ª e 3.ª veias intercostais direitas; e
O segmento torácico desta veia não recebe quais- (5) as veias herni-ázigos. Estas veias são habitual-
quer ramos colaterais. mente duas, uma superior e outra inferior.
Em todo o seu trajeto, a veia cava inferior não A veia herni-ázigos forma-se, como a veia ázigos,
apresenta válvulas para além da válvula da veia pela coalescência de duas raízes ao nível do 11.0
cava inferior (de Eustáquio), que se situa na de- espaço intercostal esquerdo: uma lateral, estabe-
sembocadura desta veia na parede inferior do átrio lecida de forma equivalente à raiz lateral da veia
direito. ázigos; e uma medial, inconstante, proveniente
de uma anastomose da veia renal esquerda com a
Sistema das veias parietais - veias az,gos, veia lombar i nfrajacente (é o arco reno-ázigo-lom-
veias do ráquis e veias da parede ântero- bar). A partir daí, a veia herni-ázigos perfura o pi-
-lateral lar esquerdo do diafragma, recebe as últimas qua-
tro ou cinco veias intercostais esquerdas à medida
Os dois sistemas cava estão em comunicação atra- que sobe pelo flanco esquerdo da coluna vertebral
vés de várias grandes vias anastomóticas, em que e, ao atingir a 7.ª vértebra dorsal, inflete-se trans-
se incluem o sistema das veias ázigos (Fig. 3.31), o versalmente para a direita, passa à frente da colu-
sistema das veias do ráquis e as veias da parede ân- na e atrás da aorta e do dueto torácico para drenar
tero-lateral do tronco. na veia ázigos.
A veia ázigos é um importante vaso valvulado da A veia herni-ázigos acessória desce ao longo do
parede posterior do tórax, que surge ao nível do flanco esquerdo da coluna vertebral, lateralmen-
11.0 espaço intercostal direito, da anastomose de te à aorta, recebe as 4.a, 5.a, 6.ª e 7.ª veias intercos-
duas raízes: uma lateral, constituída pela anasto- taís esquerdas (os 3 primeiros espaços intercostaís
mose da veia lombar ascendente direita com a veia drenam para o tronco braquio-cefálico venoso es-
subcostal direita (12.ª veia intercostal direita), que querdo) e, ao atingir o nível de D7, dirige-se tam-
se faz junto ao bordo medial do quadrado lom- bém horizontalmente para a direita para terminar
bar, abaixo da extremidade medial da 12.ª costela e na veia ázigos.
acima do ligamento arqueado lateral; e outra me- As veias do ráquis estão organizadas, pela sua ex-
dial, inconstante, que emerge da face posterior da tensa anastomose, em duas categorias de plexos:
veia cava inferior ou da veia renal direita. Da sua os plexos intra-raquidianos e os plexos extra-ra-
origem, a veia ázigos penetra no tórax com o nervo quidianos.

282
p
MANUTENÇÃO I SISTEMACIRCULATÓRIO:ARTÉRIASEVEIAS

nhais das veias intercostais e lombares e, na região


cervical, os principais afluentes das veias vertebrais.
Há ainda dois outros sistemas parietais, situados
2
na parede ântero-lateral do tronco, que anastomo-
sam o sistema da veia cava superior com o siste-
ma da veia cava inferior. Um, superficial, é repre-
sentado pela veia toraco-abdominal, que anasto-
mosa longitudinalmente a veia epigástrica super-
ficial (ou subcutânea abdominal), ramo da veia fe-
moral (via veia safena magna), com a veia torácica
lateral, ramo da veia axilar. O outro, mais profun-
do, é constituído pela anastomose justa-umbilical
da veia epigástrica inferior (colateral da veia ilíaca
externa) com a veia epigástrica superior (que ter-
mina na veia torácica interna, a qual drena para a
veia subclávia).
Fig. 3.31: Sistema Ázigos.
1. Veia Cava Superior 2. Veia Ázigos 3. Veia Hemiázigos 4. Veia
Hemiázigos acessória 5. Veia Cava Inferior 6. Raiz medial da Veia
Hemiázigos 7 . Veia Lombar Ascendente PERGUNTAS TIPO

Os plexos intra-raquidianos compõem-se de qua- 1. Relativamente às anastomoses cava-cava, as-


tro cordões venosos plexiformes longitudinais que sinale a afirmação correta?
se anastomosam entre si por plexos venosos trans- a. Os plexos intra-raquidianos não comuni-
versais. Os plexos longitudinais, em número de cam com os plexos extra-raquidianos.
quatro, dois anteriores e dois posteriores, estão dis- b. A crossa da veia ázigos encontra-se ao ní-
postos na proximidade dos buracos intervertebrais, vel de 04.
à frente ou atrás das raizes dos nervos raquidianos, c. A veia hemi-ázigos drena os 3 primeiros
respectivamente, e comunicam uns com os outros espaços intercostais direitos.
por plexos transversais laterais (que anastomosam d. A formação da veia ázigos é supra- dia-
os plexos longitudinais do mesmo lado entre si), fragmática.
por plexos transversais anteriores (que anastomo-
sam plexos longitudinais anteriores entre si e se si- ~S:-l
tuam na face posterior, escavada, dos corpos ver- :s,1sods~~
tebrais) e por plexos transversais posteriores (que
anastomosam plexos longitudinais posteriores en-
tre si e se situam à frente das lâminas vertebrais e
dos ligamentos amarelos). Os plexos intra-raqui- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
dianos prolongam-se em tomo das raizes raquidia-
Rouviere, H.; Delmas, A.Anatomie Humaine:
nas para os buracos de conjugação, formando-se
Descriptive, topographique etJonctionnelle; Tome I.
assim os plexos dos buracos intervertebrais através
15éme édition Masson, Paris, 2002.
dos quais os plexos intra-raquidianos drenam para
as veias vertebrais, intercostais, lombares e sagradas. Drake, R.; Vogl, AW.; Mitchell, AWM. Gray's
O s plexos extra-raquidianos classificam-se em an- anatomyfor students. Elsevier Health Sciences,
teriores e posteriores conforme a posição que ocu- 2014.
pam relativamente aos processos transversos das
vértebras. Estes plexos anastomosam-se com os
plexos dos buracos intervertebrais para constituir, ***
na região dorsal e lombar, os ramos dorso- espi-

283
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

ARTÉRIAS E VEIA S DO ABDÓMEN rar-se de forma mais rigorosa uma "trifurcação"


visto que, para além das duas artérias ilíacas co:
muns, origina-se frequentemente, do ângulo for-
AORTA ABDOMINAL mado p or estas últimas, a artéria sagrada média.
No entanto, em termos práticos e do ponto de
DESCRIÇÃO GERAL vista anátomo-funcional, a importância daque-
las artérias é muito desigual pelo que é legítima
A porção abdominal da aorta também pode ser a designação de bifurcação aórtica. E sta ocorre,
denominada "aorta abdominal". Ela estende-se geralmente,junto ao disco intervertebral L4-LS,
pela face ântero-esquerda da coluna lombar, do correspondendo ao nível do umbigo.
orifício aórtico do diafragma até à sua bifurcação Ao longo do seu trajecto vai dar origem a artérias
(Fig. 3.32). O orifício aórtico do diafragma locali- colaterais de grande importância fisiológica e com
za-se posteriormente e um pouco à esquerda da li- grande débito circulatório pelo que o seu calibre
nha média sendo delimitado pelos pilares do dia- vai diminuindo de cerca de 1.5-1.8 cm ao nível do
fragma. Tem forma oval e os seus limites são fi- orifício diafragmático até cerca de 1.2-1.3 cm jun-
brosos o que lhe confere carácter inextensível, for- to à bifurcação.
mando à frente um ligamento arqueado - liga-
mento arqueado mediano. RELAÇÕES

As relações da aorta abdominal vão ser sistemati-


zadas em relações posteriores, à esquerda, à direita
e anteriores (estas subdivididas em relações retro-
peritoneais e peritoneais) (Fig. 3.33A a C).
Posteriormente, ao longo de todo o seu trajecto, a
aorta está à frente dos corpos vertebrais D12- L4
os quais se encontram recobertos pelo ligamento
longitudinal anterior e do qual se encontra sepa-
rada por tecido celular laxo. Ao nível do orifício
aórtico do diafragma caminham atrás da aorta os
troncos linfáticos lombares e a junção do tronco
intestinal com o tronco lombar esquerdo, no caso
5 da origem alta do dueto torácico. No caso des-
ta origem ser intra- abdominal atrás da aorta lo-
caliza-se a d sterna chyli (Pecquet). São ainda re-
lações posteriores, a este nível, as raízes m ediais
da veia ázigos ou da veia hemiázigos. Mais abaixo
encontra-se a cadeia linfática retro-aórtica e ele-
mentos con stituintes do plexo celíaco.
6 7 À direita da aorta encontra-se a veia cava inferior
Fig. 3.32: Aorta Abdominal. da qual se encontra separada pela cadeia linfática
1. Aorta Abdominal 2. Artéria ilíaca primitiva 3. Artéria ilíaca externa inter-aórtico-cava (constituinte da cadeia linfática
4. Artéria ilíaca interna S. Nervo femoral 6. Veia ilíaca externa 7. Veia
ilíaca interna 8. Veia ilíaca primitiva 9. Veia Cava Inferior 1O. Músculo látero-aórtica direita).
Psoas Maior À esquerda da aorta encontra-se a cadeia linfática
látero-aórtica esquerda e depois o músculo psoas
A ata abdominal mede em m édia 15 a 18 cm de sobre o qual se localiza a cadeia simpática lombar.
comprimento relacionando- se com a face ânte- Mais afastados encontram-se o rim e a glândula
ro-esquerda da coluna lombar e tornando-se m e- suprarrenal esquerdo, o bacinete e o ureter homo-
diana ao nível da bifurcação. Esta p ode conside- laterais.

284
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: ARTÉRIAS E VEIAS

11 10 9

9
6

3
4

2
lil
Fig. 3.33A: Relações Aorta Abdominal. Fig. 3.33B: Relações Aorta Abdominal.
1. Aorta Abdominal 2. Artéria ilíaca primitiva 3. Veia ilíaca primitWa 1. Aorta Abdominal 2. Tronco celíaco 3. Artéria Mesentérica Superior
4. Veia Cava Inferior 5. Tronco celíaco 6. Artéria Mesentérica 4. Artéria Mesentérica Inferior 5. Veia Renal Esquerda 6. Pânaeas
Superior 7. Artéria Mesentérica Inferior 8. Veia Renal 9. Artéria Renal 7. Veia Porta 8. Estômago 9. Fígado 10. Diafragma
10. Diafragma 11. Ligamento arqueado mediano

5
9
3

Ili
Fig. 3.33C: Relações Aorta Abdominal.
1. Aorta Abdominal 2. Tronco celíaco 3. Artéria Mesentérica Superior 4. Artéria Mesentérica Inferior 5. Veia Renal Esquerda 6. Pâncreas 7. Baço
8. Estômago 9. Cólon 10. Uretero esquerdo

285
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Anteriormente, retroperitoneal, a aorta abdomi-


nal relaciona-se de cima para baixo com a bolsa
omental, corpo do pâncreas, veia renal esquerda e
3.• porção do duodeno. Anteriormente e no peri-
toneu as relações dividem-se em supra-mesocóli-
cas e infra-mesocólicas. No andar supra-mesocó- 3
lico, relaciona-se com o estômago e lobo esquerdo
do figado. No andar infra-mesocólico, relaciona- 4

-se com o cólon transverso e com ansas de intesti- 7

no delgado Qejuno-íleo). 6

RAMOS COLATERAIS DA AORTA ABDOMINAL


9

Podem dividir-se em dois grupos, ramos parietais


8
e ramos viscerais.
O s primeiros são as artérias lombares (com uma
disposição segmentar similar à das artérias inter-
costais) e as artérias frénicas inferiores. O s ramos
viscerais podem ser ímpares e medianos ou pares
e laterais e dividem-se em digestivos e urogenitais.
(Fig. 3.34A) 11

Os ramos viscerais digestivos destacam-se da face


Fig. 3.34A: Ramos colaterais da Aorta Abdominal.
anterior da aorta abdominal, são responsáveis pela 1. Aorta Abdominal 2. Artérias frénicas inferiores 3. Tronco celíaco
vascularização dos órgãos intra-abdominais e cor- 4. Artéria Mesentérica Superior 5. Artérias Supra-renaismédias 6.Artéria
Renal 7. Artéria M esentérica Inferior 8. Artérias Lombares 9. Artérias
respondem ao tronco celíaco (que se destaca ao ní- genitais 10. Artéria ilíaca primitiva 11. Artéria Sagrada Média
vel do bordo inferior de D12), à artéria mesenté-
rica superior (que se origina a nível do disco in-
tervertebral D12-Ll) e à artéria mesentérica in- 6
ferior (cuja origem é ao nível do bordo inferior de
L3) (Fig. 3.34B).
Os ramos viscerais urogenitais destacam-se da
face lateral da aorta, designando-se de artérias su-
prarrenais médias (inconstantes, em número de
2 e com origem ao nível do disco intervertebral 4
D12-Ll), artérias renais (com origem ao nível de
L1) e artérias genitais ( testiculares ou ováricas)
que saem da aorta ao nível de Ll -L3.

Artérias Frénicas Inferiores

São duas artérias (direita e esquerda) que se desta-


cam da face anterior da aorta abdominal, logo após 9
a passagem pelo orificio diafragmático (ao nível de
D12). Dirigem-se para cima e para frente, apostas 2
aos pilares posteriores do diafragma. Originam ra-
mos colaterais - as artérias suprarrenais superio- Fig. 3.34B: Ramos colaterais da Aorta Abdominal.
1. Artéria Mesentérica Superior 2. Artérias Jejuno-ileais 3. Artéria
res - e os seus ramos terminais são: o ramo medial íleo-cólica 4. Artéria cólica direita 5. Artéria cólica média 6. Artéria
que se anastomosa com o ramo medial contralate- Mesentérica Inferior 7. Artéria cólica esquerda 8. Tronco comum das
sigmoideias 9. Artérias Rectais Superiores

286
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: ARTÉRJAS E VEIAS

ra1, em redor do orifício esofágico, fornecendo pe-


quenos ramos ainda para o esófago; o ramo lateral
ue se dirige para a frente e para fora e anastomo-
q d é. . .
sa-se com ramos as art nas mtercostais.

Artérias Lombares

São em número de 5 de cada lado, sendo que as


primeiras 4 se destacam da face posterior da aorta
e O último par é um ramo da artéria sagrada mé- 7
dia. Relacionam-se à frente com a cadeia simpáti-
ca paraverterbral e atrás com os pilares do diafrag-
ma. Percorrem a goteira vertebral lateral até à pro-
ximidade dos buracos intervertebrais onde se di-
videm em 2 ramos terminais: o posterior ou dor-
so-espinhal que vai originar um ramo espinhal
para vascularizar o conteúdo do canal medular e
a vértebra correspondente e um ramo dorsal para Fig. 3.35: Tronco celíaco: gástrica esquerda + hepática.
os músculos da região lombar; o ramo anterior ou 1. Aorta abdominal 2. Tronco celíaco 3. Artéria Esplénica 4. Artéria
gástrica esquerda 5. Artéria Hepática Comum 6. Vasos gástricos
abdominal que atravessa os músculos psoas maior curtos 7. Artéria gastro--omental esquerda 8. Vasos cárdicos 9. Artéria
e quadrado lombar, vascularizando a parede abdo- gástrica direita 1 O. Artéria gastro-duodenal 11. Artéria pancreático-
duodenal póstero-superior 12. Artéria pancreático-duodenal ântero-
minal e anastomosando-se com os ramos das arté- superior 13. Artéria gastro-omental direrta
rias epigástrica inferior, torácica interna, intercos-
tais aórticas, iliolombar, e artéria circunflexa ilía- tes ramos anastomosam-se na sua porção final
ca profunda. com os ramos terminais da artéria gástrica direi-
ta (Fig. 3.35).
Tronco Celíaco A artéria gástrica esquerda relaciona-se com: a
veia gástrica esquerda que acompanha a artéria
É responsável pela vascularização do fígado, inferiormente até à foice, altura em que se torna
omento maior, estômago, baço e pâncreas. Desta- mais anterior até drenar na veia porta,junto ao ân-
ca-se da face anterior da aorta abdominal, abaixo gulo de bifurcação entre a artéria hepática comum
da emergência das artérias frénicas inferiores, ao e a artéria esplénica; com os plexo nervoso gástri-
nível do bordo inferior de D12. Tem um trajec- co esquerdo, cadeia ganglionar gástrica esquerda,
to anterior até atingir o bordo superior do corpo ramos gástricos do nervo pneumogástrico (vago) e
do pâncreas, que percorre até ao colo, onde se divi- gânglio semilunar esquerdo.
de nos seus 3 ramos terminais: artéria gástrica es- A artéria gástrica esquerda fornece os seus ramos
querda, artéria hepática comum e artéria esplénica. ao nível da crossa e em número de 3 a 4: a arté-
ria hepática inconstante que vasculariza o lobo es-
Artéria Gástrica Esquerda querdo do fígado, as artérias cardio-esofágicas an-
terior e posterior que atingem a região do cárdia e
Dirige-se para cima e para a esquerda junto ao pi- extremidade inferior do esófago, e a artéria tube-
lar esquerdo do diafragma, após o qual descreve rositária anterior que se destina ao fundo gástrico.
uma curvatura côncava para baixo (crossa da arté-
ria gástrica esquerda), elevando o peritoneu e for- Artéria Hepática Comum
mando a foice da gástrica esquerda, até atingir a
curvatura menor do estômago, abaixo da transi- É uma curta mas importante artéria, que descreve
ção esófago-gástrica, onde se divide em dois ra- um trajecto horizontal para a direita e para a fren-
mos terminais (um anterior e outro posterior). Es- te, ao longo do bordo superior do corpo do pân-

287

-
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

creas, cruza posteriormente a face anterior da veia te destacam-se a gástrica direita e a cística.
porta, atingindo o omento menor. Neste trajecto A artéria gástrica direita destaca-se da parte as-
eleva uma prega de peritoneu que se denomina de cendente da hepática própria e tem um trajecto
foice da artéria hepática. Depois de originar o seu descendente e para a esquerda, na espessura dos
ramo gastroduodenal dirige-se superiormente em folhetos do omento menor, à frente da veia porta,
direcção ao hilo do fígado, denominando-se hepá- até atingir o bordo superior da 1.ª porção do duo-
tica própria, sempre na espessura do omento me- deno. Daqui prolonga-se para o piloro e curvatura
nor, à frente da veia porta e à esquerda do dueto menor do estômago, onde se vai anastomosar com
colédoco. Junto ao hilo a hepática própria divide- os ramos terminais da artéria gástrica esquerda.
-se nos seus 2 ramos terminais - direito e esquer- A artéria cística destaca-se da artéria hepática pró-
do, relacionando-se ao longo do seu trajecto com pria ou do seu ramo terminal direito. Tem um tra-
o plexo nervoso hepático e com a cadeia ganglio- jecto horizontal em direcção ao colo da vesícula
nar hepática. biliar, onde se ramifica nos seus 2 ramos terminais
Os ramos da artéria h epática comum são assim a direito e esquerdo.
gastroduodenal e a hepática própria (Fig. 3.35). Ao nível do hilo a hepática própria divide-se em 2
A artéria gastroduodenal tem um trajecto descen- ramos terminais - direito e esquerdo - que pene-
dente, na face posterior da 1.a porção do duodeno. tram no parênquima do fígado.
Ao atingir o bordo inferior do duodeno divide-se
nos seus 2 ramos terminais: artéria pancreático- Artéria Esplénica
-duodenal ântero-superior e artéria gastro-omen-
tal (gastroepiploica) direita. É o ramo colateral mais volumoso do tronco celía-
A artéria gastroduodenal possui um único ramo co. Na sua origem está separada da origem da ar-
colateral - artéria pancreático duodenal póstero- téria hepática pela veia gástrica esqu erda. Percor-
-superior - que se destaca a nível do bordo supe- re o bordo superior do corpo do pâncreas da di-
rior do pâncreas, se dirige para a direita, cruzando reita para a esquerda; cruza anteriormente a cauda
anteriormente o dueto colédoco, e descendo jun- do pâncreas, até atingir o omento pancreático-es-
to à face posterior do pâncreas. Termina cruzan- plénico, em cuja espessura origina os seus dois ra-
do novamente a face posterior do dueto colédoco, mos terminais superior e inferior (Fig. 3.36). Es-
anastomosando-se com a artéria pancreático duo- tes ramos originam 2 a 3 ramos secundários que
denal póstero-inferior, ramo da artéria mesentéri- penetram no parênquima do baço. No seu trajec-
ca superior. to relaciona-se ainda com o plexo nervoso espléni-
A artéria pancreático duodenal ântero-superior co, a cadeia ganglionar esplénica e a veia esplénica.
dirige-se para baixo e para a direita,junto ao bor- Apresenta como ramos colaterais os ramos pan-
do interno da 2.ª porção do duodeno, contorna creáticos, os vasos curtos do estômago e a artéria
o bordo direito da cabeça do pâncreas, inferior- gastro-omental esquerda.
mente à porção distal do dueto colédoco até atin- Os ramos pancreáticos são pequenos ramos arte-
gir a face posterior do pâncreas onde se anasto- riais que se destacam ao longo de todo o trajecto
mosa com a artéria pancreático duodenal ânte- da artéria esplénica ao nível do bordo superior do
ro-inferior. corpo e cauda do pâncreas. Pela sua menor varia-
A artéria gastro-omental direita dirige-se para bai- bilidade, é possível distinguir 3 ramos principais:
xo e para a esquerda, entre os folhetos do omento artéria pancreática dorsal, que se destaca ao nível
maior, atingindo a curvatura maior do estômago. do colo do pâncreas, percorrendo a face posterior
Anastomosa-se com a artéria gastro-omental es- do pâncreas até atingir o seu bordo inferior; arté-
querda, ramo da artéria esplénica. ria pancreática magna, que se origina na face pos-
A artéria hepática própria é um ramo da artéria terior do corpo do pâncreas; artéria da cauda do
hepática comum, que toma a designação de hepá- pâncreas, responsável pela irrigação da cauda pan-
tica própria ao iniciar o trajecto ascendente em di- creática.
recção ao hilo hepático. No seu trajecto ascenden- Os vasos curtos do estômago são cerca de 6 a 10

288
p
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: ARTÉRIAS E VEIAS

do mesentério, a artéria descreve uma curvatura


8 orientada para cima e para a direita, terminando
aproximadamente a 5 cm da válvula íleocecal (no
ponto correspondente da ansa umbilical - ansa in-
testinal primitiva através da qual comunicava com
o canal vitelino). Ao longo do seu trajecto é acom-
11 panhada, à direita, pela veia mesentérica superior, e
ainda por elementos nervosos e linfáticos.
Os ramos da artéria mesentérica superior são a ar-
téria pancreático-duodenal inferior, as artérias je-
10 juno-ileais, a artéria ileocólica, a artéria cólica di-
reita, e artéria cólica média (Fig. 3.37A a C).
A artéria pancreático-duodenal inferior é o pri-
meiro ramo colateral da artéria mesentérica supe-
rior, originando-se ao nível do bordo inferior do
pâncreas. Após um pequeno trajecto para a direita,
Rg. 3.36: Tronco celíaco: esplénica.
divide-se em dois ramos: anterior e posterior, que
1. Aorta abdominal 2. Tronco celíaco 3. Artéria Esplénica 4. Artéria se dirigem para as faces anterior e posterior da ca-
Hepática Comum 5. Artéria gastro-omenta1 esquerda 6 . Artéria
pancreática dorsal 7. Artéria pancreática magna 8. Artéria da cauda
beça do pâncreas, anastomosando-se, respectiva-
do pâncreas 9. Artéria gastro-duodenal 10. Artéria pancreático- mente com as artérias pancreático-duodenais ân-
duodenal póstero-superior 11. Artéria pancreático-duodenal ântero-
tero-superior e póstero-superior.
superior 12. Artéria Mesentérica Superior 13. Artéria pancreático-
duodenal inferior 14. Pâncreas As artérias jejuno-ileais destacam-se da verten-
te esquerda da artéria mesentérica superior, sen-
vasos, que atingem a curvatura maior do estômago do entre 10 e 15 ramos. Percorrem entre os folhe-
através dos folhetos do omento gastro-esplénico. tos do mesentério até uma distância variável do je-
Um destes ramos, denominada artéria tuberositá- juno-íleo, quando se dividem em dois ramos: as-
ria posterior, ramifica-se na face posterior do fim- cendente e descendente, que se anastomosam com
do gástrico atingindo o cárdia. os correspondentes dos ramos vizinhos, para for-
A artéria gastro-omental esquerda atravessa os fo- mar arcadas de 1.• ordem. Destas arcadas desta-
lhetos do omento gastro-esplénico até atingir a cam-se ramos que sofrem o mesmo tipo de divisão
curvatura maior do estômago, onde se anastomosa formando arcadas de 2.ª ordem, que dão origem a
com a artéria gastro-omental direita (ramo colate- numerosos ramos que foram arcadas de 3.ª ordem.
ral da artéria gastroduodenal). Tipicamente, nas extremidades jejunal e ileal, ape-
nas existem arcadas de 1.ª ordem. A primeira ar-
Artéria Mesentérica Superior téria jejunal divide-se, ao nível do ângulo duode-
no-jejunal, num ramo esquerdo (que se anastomo-
Tem origem da face anterior da aorta abdominal, sa com a segunda jejunal) e um ramo direito que
abaixo do tronco celíaco, ao nível de Ll (ou tran- se anastomosa com a artéria pancreática inferior.
sição T12-L1). Na sua origem, que ocorre na face A última artéria ileal anastomosa-se com o ramo
posterior do pâncreas, é ladeada por um quadrilá- terminal da artéria mesentérica superior. Das últi-
tero venoso, limitado superiormente pela veia es- mas arcadas partem os vasos rectos, que penetram
plénica, inferiormente pela veia renal esquerda, à no bordo mesentérico do jejuno-íleo para o irrigar.
esquerda pela veia mesentérica inferior e à direi- A artéria ileocólica tem origem e trajecto ao nível
ta pela veia mesentérica superior. No seu trajec- da raiz do mesentério (segmento oblíquo inferior),
to, após atingir o bordo inferior do corpo do pân- apresentando relações idênticas. Dirige-se para o
creas, cruza anteriormente o processo uncinado do ângulo íleocólico, a uma distância variável do qual
pâncreas e a 3.• porção do duodeno, momento em se divide em 2 ramos: ileal e cólico - o ramo ileal,
que se torna intra-mesentérica. Entre os folhetos com trajecto recorrente ao longo do bordo mesen-

289
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

térico do íleo terminal, anastomosa-se com ramo cal anterior e cecal posterior, que passam respecti-
ileal terminal da artéria mesentérica superior, de- vamente anterior e posteriormente ao íleo para ir-
limitando a área avascular; o ramo cólico ascende rigar o cego. A artéria cecal posterior dá ainda ori-
ao longo do cólon ascendente para se anastomo- gem à artéria apendicular, para o apêndice íleoce-
sar com o ramo descendente da artéria cólica di- cal, o qual atinge através do mesoapêndice. A ar-
reita. Da arcada cólica destacam-se as artérias ce- téria cecal anterior determina a prega peritoneal

5 4
B
Fig. 3.37A: Artéria Mesentérica Superior. Fog. 3.37B: Artéria Mesentérica Superior.
1. Artéria Mesentérica Superior 2. Artérias jejunais 3. Artérias ileais 4. 1. Artéria Mesentérica Superior 2. Artérias jejunais 3. Artérias ileais 4.
Vasos rectos S. Artéria íleo-cólica 6. Artéria cólica direita 7. Duodeno Vasos rectos 5. Veia Mesentérica Superior 6. Jejuno-íleon
8. Jejuno-íleon 9. Cólon direito

Fig. 3.37C: Artéria Mesentérica Superior.


1. Artéria Mesentérica Superior 2. Artéria pancreático-duodenal inferior 3. Artérias jejuno-ileais 4. Artéria íleCK:ólica 5. Artéria cólica direita
6. Artéria cótica média 7. Arcada Marginal (Drummond) 8. Artéria apendicular

290
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: ARTÉRIAS E VEIAS

íleocecal superior, e o ramo íleo-apendicular re-


corrente da artéria apendicular, determina a pre-
ga íleocecal inferior.
A artéria cólica direita nasce da vertente direita da
artéria mesentérica superior, dirigindo-se trans-
versalmente para o cólon ascendente onde se divi-
de em dois ramos: ascendente - que se anastomo-
sa com o ramo descendente da artéria cólica mé-
dia; descendente - que se anastomosa com o ramo
cólico da artéria ileocólica.
A artéria cólica média nasce da vertente anterior
da artéria mesentérica superior, ao nível do bordo
inferior do pâncreas, dirigindo-se entre os folhetos
do mesocólon transverso para o cólon transverso,
a uma distância variável do qual se divide em dois
ramos: esquerdo - que se anastomosa com o ramo
ascendente da artéria cólica esquerda, formando a
arcada de Riolan; direito - que se anastomosa com
0 ramo ascendente da artéria cólica direita, irri-
gando ângulo hepático do cólon. 6
A artéria mesentérica superior termina com uma
bifurcação ao nível do bordo mesentérico do íleo
terminal, sendo que o seu ramo terminal esquerdo Fig. 3.38: Artéria Mesentérka Inferior.
se anastomosa com a última artéria ileal, e o ramo 1. Duondeno 2. Artéria Mesentérica Inferior 3. Artéria cólica esquerda
4. Tronco comum das sigmoideias 5. Arcada Marginal (Drummond)
terminal direito se anastomosa com o ramo ileal 6. Artérias rectais superiores
recorrente da artéria ileocólica.
do inferior da porção horizontal do duodeno, e
Artéria Mesentérica Inferior toma uma direcção horizontal, cruzando os va-
sos genitais, até alcançar a veia mesentérica infe-
É o ramo arterial responsável pela irrigação do rior; neste ponto, medialmente ao ureter esquer-
cólon esquerdo e do recto. Tem origem da face do, divide-se num ramo ascendente (que acom-
anterior da aorta abdominal, ao nível de L3, pos- panha a veia mesentérica inferior, no arco vas-
teriormente à porção horizontal do duodeno. cular de Treitz, até perto do ângulo esplénico do
Após a sua origem dirige-se obliquamente para cólon, anastomosando-se com o ramo esquerdo
baixo e para a esquerda até alcançar a artéria ilía- da artéria cólica média para formar a arcada de
ca comum esquerda, sendo coberta por peritoneu Riolan) e num ramo descendente (que se anas-
parietal posterior neste trajecto. Qiando alcan- tomosa com o ramo ascendente da primeira sig-
ça os vasos ilíacos comuns inflecte-se para bai- móidea).
xo e para dentro, cruzando este eixo vascular e A anastomose de todas as arcadas cólicas entre si,
atingindo o recto, onde se divide nos seus ramos forma uma arcada contínua em toda a extensão do
terminais a nível de S3. Ao longo do seu trajec- cólon, para-cólica, paralela ao bordo mesentérico
to é acompanhada por elementos nervosos e lin- deste órgão, denominada arcada marginal (Drum-
fáticos e, parcialmente, pela veia mesentérica in- mond).
ferior. O tronco das artérias sigmóideas tem origem aci-
Os ramos da artéria mesentérica inferior são a ar- ma dos vasos ilíacos comuns, e após cruzar ante-
téria cólica esquerda, as artérias sigmóideas e as riormente a veia mesentérica inferior divide-se nas
rectais (Fig. 3.38). 3 artérias sigmóideas: superior, média e inferior.
A artéria cólica esquerda tem origem no bor- A artéria sigmóidea superior dirige-se para o cólo

291
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

n descendente dividindo-se num ramo ascenden- ramos para a cápsula adiposa do rim, para o ba-
te (que se anastomosa com a artéria cólica esquer- cinete e para o ureter proximal; destaca-se como
da descendente) e num ramo ascendente (que se principal, a artéria suprarrenal inferior, que alcan-
anastomosa com o ramo ascendente da 2.ª sigmói- ça a glândula suprarrenal pelo seu bordo inferior
dea). As artérias sigmóideas média e inferior, diri- (Fig. 3.39).
gem-se entre os folhetos do mesocólon sigmoide A artéria renal termina dividindo-se em dois ra-
para irrigar o cólon sigmoide, formando arcadas
de primeira ordem. O ramo descendente da arté-
ria sigmóidea inferior anastomosa-se com a arté- 2
ria rectal superior esquerda.
Como ramos terminais, a artéria mesentérica infe-
rior, ao alcançar o recto, a nível de S2-S3, divide-se 4
em dois ramos rectais superiores: esquerdo e direi-
to, responsáveis pela irrigação do recto pélvico, e
que se anastomosam com as artérias rectais mé-
dias (ramos da artéria ilíaca interna) e rectais infe-
rior (ramos da artéria pudenda interna).

Artérias Supra-renais Médias

Em número de 2 (uma direita e outra esquerda),


8 9 6
destacam-se das vertentes laterais da aorta abdo-
minal ao nível da transição T12-Ll. Cruzam an- Fig. 3.39: Artérias Renais.
1. Aorta Abdominal 2. Veia Cava Inferior 3. Artérias frénicas inferiores
teriormente os pilares do diafragma de cada lado 4. Artéria supra-renais superiores 5. Artérias supra-renais médias 6.
para alcançar o bordo medial de cada glândula su- Artérias renais 7. Artéria supra-renal inferior 8. Artéria Mesentérica
Superior 9. Veia Renal esquerda
prarrenal. A artéria suprarrenal direita tem um
trajecto mais longo que a contralateral, cruzando
a face posterior da veia cava inferior. mos, o ramo anterior ou pré-piélico, que se man-
tém posteriormente à veia renal no seu trajecto
Artéria Renal e que fornece, habitualmente, os ramos para os
segmentos polar superior, polar inferior, ântero-
Também em número de 2, originam-se da face la- -superior e ântero-inferior, e o ramo posterior ou
teral da aorta abdominal, a nível de Ll, inferior- retro-piélico, que contorna o bordo súpero-me-
mente à emergência da artéria mesentérica supe- dial da pélvis renal para alcançar a sua face pos-
rior. Apresentam um trajecto discretamente oblí- terior, fornecendo o ramo para o segmento re-
quo para fora e para baixo, em direcção ao hilo re- nal posterior.
nal. A artéria renal direita apresenta um trajecto
mais longo que a contralateral, uma vez que a aor- Artérias Genitais
ta abdominal se encontra lateralizada para a es-
querda da coluna lombar. Neste trajecto, relacio- Em número de 2, denominam-se artérias testi-
na-se anteriormente com a veia cava inferior e de- culares no homem e artérias ováricas na mulher.
pois com a veia renal direita. A artéria renal es- Têm origem da face anterior da aorta, entre 11
querda relaciona-se anteriormente com a veia re- e 13. Desde a sua origem, as artérias dirigem-se
nal esquerda. Relacionam-se ainda com o plexo obliquamente para fora e para baixo, passando
nervoso renal, gânglios linfáticos do plexo renal e atrás dos vasos eólicos e anteriormente ao múscu-
posteriormente com os pilares do diafragma e com lo psoas maior, veia cava inferior à direita e ureter,
a cadeia simpática paravertebral. mantendo-se lateralmente em relação aos vasos
Como ramos colaterais, as artérias renais emitem ilíacos comuns, até atingir a sua bifurcação (Fig.

292
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: ARTÉRIAS E VEIAS

3.40). A partir deste ponto o trajecto varia con- RAMOS TERMINAIS DA AORTA ABDOMINAL
soante o sexo.
As artérias testiculares mantêm o seu trajecto late- Ao nível da 4.ª vértebra lombar, a aorta abdomi-
ralmente aos vasos ilíacos externos, até penetrarem nal divide-se em 3 ramos terminais: artéria sagra-
no canal inguinal, pelo orifício profundo, que per- da média (mediano) e artérias ilíacas comuns (la-
corre em conjunto com os restantes elementos do terais) (Fig. 3.41).
cordão espermático. Qyando atinge o pólo supe-
rior do testículo, divide-se num ramo epididimá- 2

rio e num ramo testicular, que segue o bordo pos-


terior do testículo e quando alcança o seu pólo in-
ferior se divide num ramo medial e lateral que vas-
cularizam o parênquima testicular.
As artérias ováricas cruzam, de lateral para medial,
anteriormente aos vasos ilíacos externos, percor-
rendo o ligamento suspensor do ovário até atingir
0 pólo superior deste órgão, altura em que se di-
vide num ramo tubário lateral (que se anastomo-
sa com o ramo tubário medial da artéria uterina,
na mesosalpinge, para vascularizar a trompa uteri-
na) e num ramo ovárico lateral (que se anastomo-
sa com o ramo ovárico medial da artéria uterina,
ao longo do bordo anterior do ovário). 7

Fig. 3.41 : Ramos terminais da aorta.


1. Aorta abdominal 2. Diafragma 3. Artéria ilíaca primitiva 4. Artéria
ilíaca externa 5 - Artéria ilíaca interna 6. Artérias lombares 7. Artéria
sagrada média 8. Músculo Psoas maior 9. Músculo Quadrado Lombar

Artéria Sagrada Média


4
Tem origem na face posterior da bifurcação aórti-
ca, podendo originar-se das ilíacas comuns, e des-
ce na linha média, anteriormente a LS, sacro e
cóccix, para terminar ao nível do glomus coccígeo
(ou glândula coccígea), que é uma estrutura vesti-
gial situada adiante ou imediatamente após a pon-
ta do cócci:x. A artéria, na sua origem, é recoberta
pela veia ilíaca comum esquerda, percorrendo in-
feriormente o espaço pré-sagrado.
Como ramos colaterais destacam-se as 5.•s arté-
6
rias lombares e ramos laterais (que se anastomo-
Fig. 3.40: Artérias Urogenitais. sam com ramos das artérias sagradas laterais o ní-
1. Aorta Abdominal 2. Veia Cava Inferior 3. Rim 4. Uretero 5. Vasos vel dos buracos sagrados anteriores).
testiculares 6. Músculo Psoas Maior

293
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Artéria Ilíaca Comum ligamento inguinal ao umbigo) até alcançar o bor-


do lateral do músculo recto abdominal homolate-
Após a sua origem na bifurcação aórtica, a artéria ral, habitualmente ao rúvel da linha arcuata. Após
ilíaca comum toma um trajecto oblíquo para bai- alcançar este ponto penetra na bainha dos rectos
xo e para fora até atingir a articulação sacroilíaca abdominais e dá os seus ramos terminais, que se
homolateral, onde se divide nos seus ramos termi- anastomosam com os ramos terminais da artéria
nais: artéria ilíaca interna e artéria ilíaca externa. epigástrica superior. No início do seu trajecto ori-
Anteriormente é revestida por peritoneu parietal, gina 3 ramos colaterais: artéria cremastérica ou do
através do qual se relaciona com órgãos intra-ab- ligamento redondo do útero - penetra no canal in-
dominais. A esquerda, relaciona-se com o ureter guinal com os elementos do cordão espermático
(que a cruza perto da sua bifurcação) e encontra-se ou com o ligamento redondo; ramo obturador -
no fundo do recesso intersigmóide. Posteriormen- anastomosa-se com a artéria obturadora ao nível
te relaciona-se com a veia ilíaca comum, com dis- do canal infra-púbico, formando a corona mortis;
posição diferente consoante a lateralidade: à direi- ramo púbico - dirige-se para a sínfise púbica, onde
ta, a veia ilíaca comum encontra-se posteriormen- se anastomosa com o ramo contralateral.
te à artéria, podendo colocar-se lateralmente a esta A artéria circunflexa ilíaca profunda: origina-se
no final do seu trajecto; à esquerda, a veia encon- ao mesmo rúvel do ramo anterior, tomando um
tra-se póstero-medialmente à artéria. trajecto oblíquo para cima e para fora, posterior-
A artéria ilíaca comum fornece ramos colaterais mente ao ligamento inguinal, até alcançar a espi-
para a porção ilíaca dos ureteres. nha ilíaca ântero-superior, onde dá dois ramos ter-
minais: ramo abdominal - penetra na parede ab-
Artéria Ilíaca Externa dominal, irrigando-a; ramo ilíaco - segue a crista
ilíaca entre o músculo transverso e oblíquo inter-
Corresponde ao ramo lateral de bifurcação da ar- no, anastomosando-se com ramos da artéria ilio-
téria ilíaca comum, continuando a sua direcção, lombar.
desde a articulação sacroilíaca até ao ligamento in-
guinal, quando se torna artéria femoral. Ao lon- Artéria Ilíaca Interna (Artéria Hipogástrica)
go do seu trajecto encontra-se adjacente ao bordo
medial do músculo psoas maior, que acompanha, e Corresponde ao ramo medial de bifurcação da ar-
relaciona-se anteriormente com os vasos testicula- téria ilíaca comum, destinando-se a irrigar as pa-
res/ováricos e com o ureter à direita (perto da sua redes da bacia e os órgãos pélvicos. Apresenta um
origem). Relaciona-se ainda à direita com cego e curto trajecto inicialmente vertical, anterior à asa
apêndice ileocecal. No segmento final do seu tra- do sacro e depois oblíquo para ínfero-medialmen-
jecto é cruzada pelo canal deferente no homem e te (após penetrar o estreito pélvico superior), an-
ligamento redondo na mulher. Posteriormente re- teriormente à articulação sacroilíaca, até alcançar
laciona-se com a veia ilíaca externa, que à esquer- a incisura ciática maior. É acompanhada pela veia
da toma uma posição póstero-medial em relação ilíaca interna (vide descrição para relações) e pelo
à artéria. Apresenta como ramos colaterais a arté- ureter.
ria epigástrica inferior e a artéria circunflexa ilía- Antes de atingir o bordo superior da incisura ciáti-
ca profunda. ca maior, a artéria ilíaca interna divide-se em dois
A artéria epigástrica inferior: origina-se da arté- troncos principais de onde emergem os seus ra-
ria ilíaca externa posteriormente ao ligamento in- mos colaterais: tronco anterior e tronco posterior
guinal. Após a sua origem dirige-se para dentro e (Fig. 3.42A e B). Do tronco anterior originam-se:
inflecte-se para cima e para dentro, descrevendo artéria obturadora, artéria umbilical, artéria glú-
uma crossa, sobre a qual passam o canal deferen- tea inferior, artéria pudenda interna, artéria vesi-
te (no homem) ou o ligamento redondo do úte- cal inferior, artéria rectal média, artéria uterina e
ro (na mulher). De seguida, mantém o seu trajec- artéria vaginal (estes últimos dois ramos apenas na
to oblíquo (numa linha que une o ponto médio o mulher). Do tronco posterior originam-se: artéria

294
MANUTENÇÃO I SISTEMACIRCULATÓRJO:ARTÉRJASEVEIAS

4 4

10

9
a
Fig. 3.42A: Artéria ilíaca interna (+troncos). Fig. 3.42B: Artéria ilíaca interna (+troncos).
1. Artéria ilíaca primitiva 2. Artéria ilíaca interna 3. Artéria ilíaca 1. Artéria ilíaca primitiva 2. Artéria ilíaca interna 3. Artéria ilíaca externa
externa 4. Artéria ilio-lombar 5. Artéria sagrada lateral superior 6. 4. Artéria sagrada média 5. Artéria obturadora 6. Artéria pudenda
Artéria sagrada lateral inferior 7. Plexo sagrado 8. Músculo piriforme interna 7. Artéria Vesical Superior 8. Artéria Umbilical (obliterada) 9.
9. Nervo obturador Artéria Vesical Inferior 10. Artéria Rectal Média

iliolombar, artéria sagrada lateral superior, artéria saída, contorna a espinha ciática e entra na fossa
sagrada lateral inferior, artéria glútea superior. ísquio-anal através do foramen ciático menor. Na
De um ponto de vista funcional, podem-se dividir fossa ísquio- anal, a artéria pudenda interna, acom-
os ramos colaterais da artéria ilíaca interna em três panhada pela veia e nervo pudendos internos, per-
grupos, parietais extra-pélvicos (irrigam as partes corre a parede lateral da mesma, num desdobra-
moles da bacia que se localizam exteriormente à mento da fáscia do obturador interno, no denomi-
bacia óssea): artéria obturadora, artéria glútea su- nado canal pudendo de Alcock (dispondo-se, de
perior, artéria glútea inferior, artéria pudenda in- superior para inferior, a veia, a artéria e o nervo).
terna, parietais intra-pélvicos (irrigam as paredes Penetrando no prolongamento anterior da fos-
da bacia): artéria iliolombar, artérias sagradas late- sa ísquio-anal, a artéria pudenda interna, acompa-
rais, e viscerais (irrigam as vísceras pélvicas): arté- nhada pela veia pudenda interna e pelo nervo dor-
ria umbilical, artéria vesical inferior, artéria uteri- sal do pénis/do clítoris, segue a vertente medial do
na (na mulher), artéria vaginal (na mulher), arté- ramo isquiopúbico, até atingir o bordo inferior da
ria rectal média. sínfise púbica, onde origina o seu ramo terminal -
Dos ramos parietais extra-pélvicos, para a artéria artéria dorsal do pénis ou do clítoris.
obturadora, artéria glútea superior e artéria glútea No que concerne os seus ramos colaterais, es-
inferior, vide vascularização do membro inferior. tes originam-se no espaço extra-pélvico. As arté-
A artéria pudenda interna, após a sua origem no rias rectais inferiores originam-se ao nível da fos-
tronco anterior da artéria hipogástrica, caminha sa ísquio-anal, dirigindo-se ínfero-medialmente
anteriormente ao plexo sagrado e lateralmente à para irrigar as paredes do canal anal e os tegumen-
artéria glútea inferior, saindo da cavidade pélvica tos perianais. A artéria perineal origina-se ao ní-
pelo foramen ciático maior, inferiormente ao mús- vel da linha bi-isquiática, onde se torna superficial
culo piriforme (piramidal) (Fig. 3.43). Após esta em relação ao plano médio do períneo para irrigar

295
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

do anterior, comportando-se como um vaso dor-


so-espinhal: dá um ramo espinhal para o canal sa-
grado; e um ramo dorsal que atravessa o buraco sa-
grado dorsal irrigando as partes moles.
O último dos ramos intra-pélvicos é a artéria sa-
grada lateral inferior que desce anteriormente aos
buracos sagrados anteriores (e respectivos nervos),
até se anastomosar com ramos terminais da arté-
ria sagrada média. Ao longo do seu trajecto, forne-
5
ce ramos laterais, musculares, que irrigam o mús-
culo piriforme e isquiococcígeo, e ramos mediais,
que se anastomosam com ramos da artéria sagrada
média; ramos dorso-espinhais que penetram pelos
restantes buracos sagrados anteriores.
6
Os ramos viscerais iniciam-se com a artéria umbi-
lical, que no feto se encontram patentes em toda a
9
sua extensão, transportando o sangue do feto para
a placenta, sendo acompanhadas pela veia umbili-
cal. No adulto, como fruto do encerramento da ci-
catriz umbilical, a artéria termina ao nível do um-
Fig. 3.43: Artéria pudenda interna.
bigo, podendo ser dividida em duas porções, a por-
1. Artéria ilíaca interna 2. Artéria pudenda interna 3. Espinha ciática ção patente: desde a sua origem na artéria ilíaca
4. Foramen infra-piriforme 5. Músculo piriforme 6. Músculo levantador
interna até à parede lateral da bexiga, num trajecto
do ânus 7. Artérias rectais inferiores 8. Artéria perineal superficial
9. Artéria dorsal do pénis 10. Diafragma urogenital oblíquo ântero-inferiormente. Nesta porção origi-
na, como ramos colaterais: as artérias vesicais su-
os músculos do trígono ísquio-bulbar, continuan- periores, ramos uretéricos, e, no sexo masculino, a
do-se anteriormente para originar as artérias es- artéria do canal deferente, a porção ocluída: des-
crotais posteriores ou labiais posteriores. A artéria
ureteral destaca-se da artéria pudenda interna per-
to da sínfise púbica, irrigando a porção perineal da 6
uretra em ambos os sexos. A artéria do bulbo pe-
niano/artéria do bulbo do vesti.bulo pode ter ori-
gem da artéria perineal ou próxima desta, percor-
rendo o plano médio do períneo para irrigar o bul-
bo peniano ou o vesti.bulo. A artéria profunda do
pénis/profunda do clítoris, alcança os corpos ca-
9
vernosos, irrigando-os.
Artéria iliolombar,já parte dos ramos parietais in-
10
tra-pélvicos, ascende posteriormente ao tronco da
artéria ilíaca interna, caminhando entre o múscu-
lo psoas maior e a 5.ª vértebra lombar (fossa lom-
bo-sagrada). Neste local divide-se em dois ramos
terminais: um ramo ascendente, que irriga o mús-
culo psoas maior; um ramo transverso que se diri-
11 12
ge lateralmente, sobre a crista ilíaca para se anas-
tomosar com a artéria circunflexa ilíaca profunda. Fig. 3.44: Ramos viscerais.
1. Artéria ilíaca interna 2. Uretero 3. Recto 4. útero 5. Be,c:iga
A artéria sagrada lateral superior, também ramo 6. Arterias rectais superiores 7. Artérias rectais médias 8. Artéria
intra-pélvico, entra pelo primeiro buraco sagra- uterina 9. Artéria vesico-deferencial 10. Artéria Vesical Inferior
11. Artéria Vesical Superior 12. Artéria Umbilical (obl~erada)

296
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: ARTÉRIAS E VEIAS

de a parede lateral da bexiga até ao umbigo, num rior até atingir a parede lateral da ampola rectal,
trajecto oblíquo súpero-medialmente, na parede onde se divide para a irrigar, em conjunto com as
abdominal anterior (onde eleva a prega umbilical artérias rectais superiores (ramos terminais da ar-
mediana) (Fig. 3 .44). téria mesentérica inferior) e com as artérias rec-
A artéria vesical inferior, após a sua origem na tais inferiores (ramos colaterais da artéria puden-
artéria ilíaca interna, dirige-se para baixo, para a da interna), com as quais se anastomosa. Perto da
frente e para dentro até atingir a parede póstero- sua ramificação, fornece ramos prostáticos e ramos
-inferior da bexiga, onde ramifica. Fornece ramos vaginais.
prostáticos e seminais no homem, e para o útero e
vagina na mulher.
N a mulher, a artéria uterina inicialmente descen- VEIA CAVA INFERIOR
de na parede da cavidade pélvica, até ao nível da
espinha ciática, após a qual se dirige medialmente, A Veia Cava Inferior é o tronco colector principal
na base dos ligamentos largos do útero, até atingir do sangue venoso da porção infradiafragmática do
0 cérvix uterino acima do fórnix lateral da vagi-
corpo humano. Resulta da união das veias ilíacas
na, onde descreve a crossa da artéria uterina. Nes- comuns, à direita da linha média (Fig. 3.45).
te trajecto inicial, a artéria cruza o ureter no seu
trajecto horizontal, passando acima e à frente do VEIA ILÍACA COMUM
mesmo. Após atingir o útero e formar a crossa, a
artéria uterina ascende ao longo do bordo lateral Em número de duas, originam-se a partir da união
do corpo uterino, apresentando um conformação da veia ilíaca externa com a veia ilíaca interna, e
espiralada, até ligeiramente abaixo do ângulo la- terminam unindo-se à direita de L5 para formar
teral do útero, onde se dirige para fora, ao longo a veia cava inferior. Deste modo, a veia ilíaca co-
do ligamento útero-ovárico, até à extremidade in-
ferior do ovário, onde fornece ramos ováricos que
se anastomosam com os ramos da artéria ovári-
ca. Como ramos colaterais a artéria uterina for-
nece ainda ramos uretéricos, ramos cervico-vagi-
nais (responsáveis pela irrigação do cérvix uterino
e contribuem para a irrigação da vagina), ramo tu-
bário medial (que segue a trompa uterina, anasto-
mosando-se com o ramo tubário lateral, da artéria
ovárica, na mesosalpinge) e ramos uterinos ( que se
destacam da artéria uterina ao longo do bordo la-
teral do corpo uterino, percorrendo o miométrio,
no seio do qual se dividem em artérias arqueadas
anteriores e posteriores, irrigando-o de forma cir-
cunferencial).
A artéria vaginal pode substituir a artéria vesical
inferior no sexo feminino. É responsável pela ir-
rigação da vagina, abordando-a pelos seus bordos
laterais, onde se ramifica. Em conjunto com os ra-
mos vaginais da artéria uterina, formam na face
anterior e posterior da vagina dois vasos principais
- as artérias ázigos da vagina.
A artéria rectal média origina-se no tronco termi-
Fig. 3.45: Formação Veia Cava Inferior.
nal anterior da artéria ilíaca interna, dirigindo-se 1. Veia Cava Inferior 2. Veia ilíaca primitiva 3. Veia ilíaca externa 4. Veia
ínfero-medialmente no espaço pelvi-rectal supe- Ilíaca interna 5. Plexos venosos pélvicos 6. Veias Supra-hepáticas
7. Veia Renal 8. Veias genitais 9. Veias frénicas inferiores

297
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

mum esquerda apresenta um trajecto mais com- (o maior tributário da veia ilíaca interna), as veias
prido que a direita. glúteas inferiores, as veias obturadoras, as veias sa-
Em termos de relações, ambas as veias se locali- gradas laterais (que se anastomosam com o ple-
zam inicialmente posteriormente às artérias ho- xo intrarraquidiano) e as veias pudendas internas
mólogas; contudo, a veia ilíaca comum direita co- (que tem origem no plexo prostático, sendo saté-
loca-se depois lateralmente em relação à artéria, lite da artéria, e recebendo a veia rectal inferior).
enquanto a veia esquerda se coloca medialmente Os ramos viscerais, em menor número que os ra-
à artéria. Ao cruzar a linha média anteriormen- mos arteriais, estes ramos têm origem a partir dos
te à transição LS-Sl, a veia ilíaca comum esquer- plexos venosos pélvicos que se formam em torno
da cruza anteriormente a artéria sagrada média e das vísceras pélvicas. Existem diferenças no ho-
posteriormente a extremidade superior da artéria mem e na mulher (Fig. 3.46A a C).
ilíaca comum direita, recebendo como colateral a No homem existem 4 plexos venosos. O plexo
veia sagrada média. prostático (de Santorini), disposto em torno das
paredes anterior e laterais da próstata, tem como
VEIA ILÍACA EXTERNA aferente a veia dorsal profunda do pénis e como
eferente a veia pudenda interna. O plexo vesical,
Origina-se ao nível do ligamento inguinal, dan- encontra-se nas faces laterais da bexiga e dá ori-
do continuidade à veia femoral. Após a sua origem gem às veias vesicais. O plexo seminal, forma-se
ascende obliquamente para dentro e para trás, me- em torno das vesículas seminais, na espessura da
dialmente ao músculo psoas, até se unir com a veia fáscia prostato-perineal, drenando depois nas veias
ilíaca interna. Neste trajecto ambas as veias se en- vesicais. O plexo rectal, existente ao nível da sub-
contram inicialmente medialmente à artéria ilíaca mucosa do recto e canal anal, sendo drenado por 3
externa, sendo que a veia ilíaca externa esquerda veias: veias rectais superiores (drenam para a veia
mantém esta relação, ao contrário da veia direita mesentérica inferior), veias rectais médias (dre-
que se coloca posteriormente em relação à artéria. nam para a veia ilíaca interna) e veias rectais in-
Na sua origem a veia ilíaca externa recebe dois va- feriores (drenam para as veias pudendas internas),
sos colaterais: veia circunflexa ilíaca profunda e a formando uma anastomose porto-cava. Ao nível
veia epigástrica inferior (que recebe o plexo venoso do canal anal, a rede venosa submucosa organiza-
testicular posterior e as veias cremastéricas). -se em 3 pedículos hemorroidários: esquerdo, pos-
terior direito, anterior direito.
VEIA ILÍACA INTERNA Na mulher existem 5 plexos venosos. O plexo pe-
ri-ureteral (de Santorini), disposto em torno da
As veias ilíacas internas acompanham as artérias uretra, tem como aferente a veia dorsal profunda
do mesmo nome, estando a direita disposta póste- do clítoris e como eferente a veia pudenda interna.
ro-lateralmente à artéria e a esquerda póstero-me- O plexo vesical. O plexo vaginal, constitui com o
dialmente a esta. Ao longo do seu trajecto apresen- plexo uterino o plexo uterovaginal. O plexo uteri-
tam uma relação com ureter, sobretudo à esquerda, no (uterovaginal), desenvolvido em torno das arté-
onde este é posterior à artéria ilíaca interna. rias uterina e vaginal ao longo dos bordos laterais
Em termos de vasos tributários, estes correspon- da vagina e do útero, apresentando como eferentes
dem sensivelmente aos ramos da artéria ilíaca in- a veia uterina (que se destaca do plexo ao nível do
terna, com algumas excepções (por exemplo, a ar- istmo uterino) e a veia vaginal, que segue a artéria
téria umbilical não é acompanhada por nenhuma homónima, recebendo as veias vesicais. A termi-
veia). Contudo, o território de drenagem corres- nar descrevemos ainda o plexo rectal.
ponde ao território de irrigação arterial. Assim,
podemos dividir os tributários em ramos parietais VEIA CAVA INFERIOR
e ramos viscerais.
Os ramos parietais drenam as paredes da cavidade É formada pela junção das veias ilíacas comuns,
pélvica, distinguindo-se as veias glúteas superiores que ocorre no flanco direito de LS, ligeiramen-

298
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: ARTÉRIAS E VEIAS

9
5

2 4

a 6 B
Fig. 3.46A: Plexos venosos pélvicos. Fig. 3.46B: Plexos venosos pélvicos.
1. Pénis 2. Próstata 3. Recto 4. Difragma uro-genital 5. Veia dorsal 1. Recto 2. Músculo levantador do ânus 3. Esfincter externo do ânus
do pénis 6. Plexo peri-prostático 7. Veia pudenda interna 8. Veias 4. Plexo hemorroidário 5. Veias rectais superiores 6. Veia rectal média
vesicais 9. Veia rectal média 10. Veia ilíaca interna 7. Veia rectal inferior

13

a
Fig. 3.46C: Plexos venosos pélvicos.
1. Pénis 2. Bexiga 3. Recto 4. Veia dorsal do pénis 5. Plexo peri-prostático 6. Veia pudenda interna 7. Veias vesicais 8. Veia obturadora 9. Veia
ilíaca interna 10. Veia ilíaca externa 11 . Veia epigástrica inferior 12. Veia circunflexa profunda 13. Veia ilíaca primitiva

299
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

te abaixo da bifurcação aórtica (Fig. 3.47). Após ováricos, com a l.ª e 2.ª porções do duodeno (esta
a sua origem a veia cava inferior ascende vertical- última atravessada pela raiz do mesocólon trans-
mente até ao nível de L3, após o qual se dirige li- verso), com o pedículo hepático (constituído pela
geiramente para a frente e para a direita para per- veia porta, artéria hepática própria e dueto colédo-
correr a goteira na face posterior do fígado. De se- co; e do qual está separado pelo formamen omen-
guida atravessa o diafragma pelo orifício da veia tal), com a goteira da face posterior do fígado (en-
cava inferior, no corpo tendinoso do mesmo. Por tre o lobo direito e o lobo caudado). À esquerda
fim termina, após um curto trajecto intratorácico com a aorta abdominal e gânglios inter-aorto-ca-
na parede inferior da aurícula direita, onde apre- va. À direita com o cólon ascendente, rim direi-
senta uma válvula insuficiente - a válvula da veia to, bacinete e ureter direitos, e glândula suprarre-
cava inferior (de Eustáquio). nal direita.
Em todo o seu trajecto relaciona-se com os gân-
11
glios látero-aórtico direitos. A nível torácico, a
2
veia cava inferior percorre um curto trajecto des-
de o orifício diafragmático até à aurícula direi-
ta. Neste trajecto encontra-se envolvida por pe-
ricárdio fibroso, através do qual se relaciona com
o pulmão e pleural direitos e com o nervo fréni-
co direito. No fim do seu trajecto é ainda envol-
vida por pericárdio seroso, integrando a bainha
venosa.

RAMOS TRIBUTÁRIOS

Os ramos tributários da veia cava inferior, à se-


melhança dos ramos colaterais da aorta abdomi-
nal, podem ser divididos em ramos parietais e ra-
mos viscerais. Os primeiros incluem as veias fréni-
cas inferiores e as lombares, os segundos incluem
as veias hepáticas, a veia suprarrenal média direi-
9
ta, as veias renais, e a veia testicular/ovárica direi-
Fig. 3.47: VCI.
1. Veia Cava Inferior 2. Veias Supra-hepáticas 3. Veia Porta 4. Veia ta (Fig. 3.48).
Mesentérica Superior 5. Pâncreas 6. Duodeno 7. Rim 8. Glândula As veias frénicas inferiores acompanham as arté-
supra-renal 9. Uretero 10. Vasos genitais 11. Artérias frénicas
inferiores rias do mesmo nome, sendo duas por artéria. Ter-
minam depois na face anterior da veia cava infe-
RELAÇÕES rior, perto do orifício diafragmático. Recebem as
veias suprarrenais superiores.
A nível abdominal, a veia cava inferior relaciona- As veias lombares acompanham as artérias ho-
-se posteriormente: com o flanco direito da colu- mónimas, sendo habitualmente uma por artéria,
na lombar e com o pilar direito do diafragma até e seguindo superiormente a estas. Terminam dre-
L3, com o bordo medial do músculo psoas, com nando na face posterior da veia cava inferior. Per-
as artérias lombares e cadeia simpática paraverte- to da sua terminação as veias lombares estão uni-
bral, com a artéria renal direita a nível de Ll e com das por anastomoses longitudinais verticais, que
a glândula suprarrenal direita a nível de T12-Ll formam a veia lombar ascendente. Esta veia per-
(onde esta glândula se interpõe entre a VCI e o pi- corre o interstício formado pelos feixes de inser-
lar direito do diafragma). Anteriormente, de infe- ção do músculo psoas maior nas vértebras lom-
rior para superior, com as ansas de jejuno-íleo (no bares, encontrando-se anteriormente às apófises
andar infra-mesocólico), com os vasos testiculares/ transversas lombares e aos feixes de origem do

300
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: ARTÉRIAS E VEIAS

Existe habitualmente uma veia suprarrenal média


por glândula suprarrenal. A veia suprarrenal mé-
dia direita termina directamente na VCI, ao pas-
so que a veia suprarrenal esquerda termina na veia
renal esquerda.
As veias renais são em número de duas, uma di-
reita e uma esquerda, formam-se a partir da reu-
6
nião das veias intra-renais a rúvel do hilo hepáti-
co. Após a sua origem, dirigem-se obliquamente
para cima e para dentro, anteriormente à artéria
renal, para drenar na veia cava inferior. Uma vez
que a veia cava inferior se encontra à direita da li-
nha média, a veia renal esquerda apresenta um tra-
jecto maior que a direita. Neste trajecto, a veia re-
nal esquerda atravessa a pinça aorto-mesentérica
(compreendida entre a aorta abdominal e a arté-
ria mesentérica superior), superiormente à porção
horizontal do duodeno. Como ramos tributários
as veias renais recebem as veias suprarrenais infe-
riores e as veias uretéricas. À esquerda a veia re-
nal recebe ainda a veia testicular/ovárica e a veia
supra-renal média (que drena habitualmente num
tronco comum com a veia suprarrenal inferior - a
veia suprarrenal esquerda).
As veias testiculares (no homem) ou ováricas (na
mulher), terminam através de um único tronco de
cada lado, à direita na veia cava inferior e à esquer-
Fig. 3.48: Ramos tributários da VCI. da na veia renal. No género masculino, a veia tes-
1. Veia Cava Superior 2. Veia Cava Inferior 3 - Veia Renal 4. Veia
Lombar ascendente 5. Veias Lombares 6. Diafragma
ticular tem origem no plexo venoso testicular an-
terior (plexo pampiniforme), que drena o testícu-
plexo lombar. Esta veia contribui para a formação lo, a cabeça e o corpo do epidídimo. A cauda do
da raiz lateral da veia ázigos e hemiázigos. epidídimo é drenada pelo plexo venoso testicular
Dos ramos viscerais, as veias hepáticas são res- posterior, que drena para a veia epigástrica inferior.
ponsáveis pela drenagem do sangue do fígado No género feminino, as veias ováricas têm tam-
(proveniente da artéria hepática e da veia porta). bém origem num plexo pampiniforme ao nível do
Formam-se inicialmente a partir das veias cen- hilo ovárico.
tro-lobulares dos lóbulos hepáticos, reunindo-
- se em troncos venosos progressivamente maio- NOÇÕES DE ANATOMIA CLÍNICA
res até formarem as 3 veias hepáticas: veia hepá-
tica direita, veia hepática intermédia, veia hepáti- lsquémia Mesentérica
ca esquerda. Estas veias drenam na Veia Cava In-
ferior na extremidade superior da goteira da face A isquemia mesentérica corresponde a uma dimi-
posterior do fígado. A veia hepática direita drena nuição do suprimento sanguíneo arterial aos ór-
os segmentos VI, VII e parte dos segmentos V e gãos do tracto intestinal intra-abdominais. Pode-
VIII. A veia hepática intermédia drena o restan- -se instalar de forma aguda ou crónica. A maio-
te dos segmentos V e VIII e parte do segmento ria dos casos corresponde a isquemia mesentérica
I V. A veia hepática esquerda drena o restante do crónica por doença aterosclerótica dos vasos me-
segmento IV e os segmentos II e III. sentéricos.

301
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Nos casos de isquemia crónica é possível que o Varicocele


território arterial afectado se mantenha viável pelo
estabelecimento de anastomoses, que permitem A varicocele corresponde a uma dilatação do ple-
manter o aporte de oxigénio a todo o território xo venoso do cordão espermático, causando des-
mesentérico. conforto local e eventualmente assimetria testicu-
No que respeita a circucalção mesentérica, existem lar e infertilidade.
3 níveis de anastomoses entre a artéria mesenté- É uma patologia que atinge mais frequentemente
rica superior e a artéria mesentérica inferior, que o lado esquerdo. Tal pode ser explicado pelo facto
podem ser recrutados nos casos de isquemia. A de os vasos testiculares, que drenam o plexo testi-
arcada marginal (Drummond) que corresponde à cular anterior, drenarem para a veia renal esquer-
anastomose mais distal, que resulta da anastomo- da, união esta que é feita em ângulo sensivelmen-
se das arcadas vasculares distais do cólon, criando te recto. Ao contrário, os vasos testiculares direi-
uma arcada única que percorre todo o território tos drenam directamente para a Veia Cava Infe-
cólico. A arcada de Riolan que se encontra num rior, em ângulo agudo. Deste modo, a resistência
nível intermédio, corresponde a uma anastomo- à drenagem é maior à esquerda, pela turbulência
se entre o ramo esquerdo da artéria cólica média de fluxo gerado.
e o ramo ascendente da artéria cólica esquerda.
A anastomose intermesentérica central que cor-
responde à anastomose mais proximal, estabe- PERGUNTAS TIPO
lecida directamente entre os troncos vasculares
das artérias mesentéricas superior e inferior (Fig. 1. Q}ial dos seguintes não se relaciona anterior-
3.49). mente com a aorta abdominal?
a. Veia renal esquerda.
b. Cauda do pâncreas.
c. Estômago.
2
d. 3.ª porção do duodeno.
e. Lobo esquerdo do figado.

2. Q}ial das seguintes não é um ramo extra-pél-


vico da artéria ilíaca interna?
a. Artéria Obturadora.
b. Artéria Pudenda Interna.
c. Artéria Iliolombar.
d. Artéria Glútea Superior.
e. Artéria Glútea Inferior/Isquiática.

3. Tendo em conta os vasos renais escolha a op-


ção certa:
a. A artéria ovárica esquerda origina-se da
renal esquerda.
b. A veia suprarrenal direita drena para a veia
renal direi ta.
c. A veia testicular esquerda drena para a re-
Fig. 3.49: Anastomoses Mesentéricas. nal esquerda pela face superior desta.
1. Aorta abdominal 2. Artéria Mesentérica Superior 3. Artéria
Mesentérica Inferior 4. Arcada de Rioland 5. Arcada marginal
d. A veia renal esquerda recebe a veia suprar-
(Drummond) renal esquerda.
e. O ureter como estrutura independente
não é vascularizado pelos vasos renais.

302
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: ARTÉRIAS E VEIAS

4. No que diz respeito à vascularização do reto


qual a afirmação incorrecta:
a. A artéria retal superior é o terminal da ar-
téria mesentérica inferior.
b. A artéria retal média é um colateral da ar-
téria Ilíaca interna.
c. A artéria retal média é um colateral da ar-
téria pudenda interna.
d. A artéria retal inferior é um colateral da
artéria pudenda interna.
e. A vascularização do reto é feita pela artéria
rectal superior, média e inferior.

;)-j, !Q- f; !:)- Z: !g-1


:s1':lsodsa~

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Rouviêre, H.; Delmas A.Anatomie Humaine:


Descriptive, topographique etfanctionnelle. Tome I.
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D rake, R.; Vogl, AW.; Mitchell, AWM. Gray's
anatomyfar students. Elsevier Health Sciences,
2014.
W ing, G.;James Valentine,J.Anatomic Exposures
in Váscular Surgery. 3rd Edition. Lippincott
Williams&Wilkins, 2013.

***

303
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

SISTEMA PORTA-HEPÁTICO gado (Fig. 3.50). Ai, percorre o sistema capilar he-
E ANASTOMOSES PORTO-CAVA pático, para ser depois drenado pelas veias hepáti-
cas ou supra-hepáticas e para a veia cava inferior
(VCI) em direção ao átrio direito do coração. Esta
SISTEMA PORTA-HEPÁTICO particularidade anatómica explica a frequência de
alterações hepáticas (por exemplo metástases e ab-
Um sistema vascular de tipo porta resulta da união cessos) na sequência de patologia do tubo diges-
de duas redes de capilares, arteriais ou venosas, tivo. Em caso de obstrução do sistema porta-he-
através de um tronco vascular. No caso concreto pático, hipertrofiam-se vasos anastomóticos com
do sistema porta-hepático, a veia porta interpõe- o sistema cava, que normalmente não se encon-
-se entre os territórios capilares da área esplâncni- tram desenvolvidos, e que constituem vias de dre-
ca e dos sinusoides hepáticos. nagem alternativa. E stas são chamadas anastomo-
ses porto-cava e apresentam grande relevância clí-
7 8 nica, sendo discriminadas adiante.
A veia esplénica provém do hilo do baço, percorre
14
a face anterior da cauda do pâncreas e depois a sua
face posterior junto do bordo superior do corpo,
terminando no tronco porta. Recebe as seguintes
4
veias: gastro-omental (gastro-epiplóica) esquerda,
gástricas curtas, alguns ramos pancreáticos e por
vezes a gástrica esquerda e a mesentérica inferior.
A veia mesentérica inferior drena o cólon esquerdo,
resulta da confluência das rectais superiores e sig-
moideias e tem como colaterais os troncos cólico
inferior esquerdo e cólico superior esquerdo.
A veia mesentérica superior tem alguma variabili-
dade, drenando sobretudo o intestino delgado e o
cólon direito. Recebe os troncos jejunal, intermé-
dio, íleal, cólico inferior direito , gastro-cólico (re-
sultante da anastomose da gastro-omental direita
com a cólica média), e ainda as veias pancreático-
-duodenais anterior e inferior e posterior e infe-
rior. Passa adiante da 3.ª porção do duodeno.
Fig. 3.50: Sistema porta-hepático. A origem da veia porta-hepática dá-se na face pos-
1. Veia Porta 2. Veia Mesentérica Superior 3. Veia Mesentérica terior do colo do pâncreas, adiante da VCI, e ape-
Inferior 4. Veia Esplénica 5. Veia gastro-omental direita 6. Veia
gastro•omental esquerda 7. Veia gástrica esquerda 8. Veia gástrica sar de ter alguma variabilidade, geralmente resul-
direita 9. Veias rectais superiores 1O. Veias cárdicas 11. Confluente ta da união da veia esplénica após ter recebido a
espleno-meseraico
veia mesentérica inferior (confluente espleno-mê-
seraico) e da veia mesentérica superior (Fig. 3.51).
A veia porta-hepática resulta da confluência das A veia porta-hepática entra na constituição do pe-
principais veias digestivas abdominais, habitual- dículo hepático, ao longo do bordo livre do omen-
mente da veia esplénica após ter recebido a veia to menor formando o limite anterior do hiato de
mêsentérica inferior (confluente espleno-meserai- Winslow, tendo a artéria hepática no seu flanco ân-
co) com a veia mesentérica superior, os seus ramos tero-lateral esquerdo e a via biliar principal no seu
de origem. Drena o sangue do tubo digestivo ab- flanco ântero-lateral direito (e estando ainda rela-
dominal (incluindo a porção abdominal do esófa- cionada com elementos linfáticos na sua face ante-
go, mas excluindo a porção inferior do canal anal), rior e com os plexos nervosos anterior e posterior).
do baço, do pâncreas e da vesícula biliar para o fí- A veia porta recebe como colaterais as veias gástri-

304
MANUT ENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: SISTEMA PORTA-HEPÁTICO

ca esquerda, a pilórica ou gástrica direita, e a pan- crição de um deles leva ao conhecimento dos res-
creático-duodenal posterior e superior. Dirige-se tantes. As várias sistematizações vasculares do pa-
para cima e para a direita em direção ao fígado. No rênquima hepático serão explicitadas noutra sec-
Júlo hepático divide-se geralmente em dois ramos: ção deste livro.
um direito e outro esquerdo.
As veias porta acessórias são pequenas veias que
chegam ao fígado, independentemente da veia ANASTOMOSES PORTO-CAVA
porta e são as seguintes: veias do ligamento falci-
forme, do ligamento triangular esquerdo, do liga- Como já foi dito, as anastomoses porto-cava
mento redondo ou para-umbilicais (por persistên- (APC) estabelecem uma comunicação entre o sis-
cia do lúmen da veia umbilical), císticas, para-bi- tema porta-hepático e o sistema cava, possibilitan-
liares e raizes intra-hepáticas da porta. A arcada do assim um "bypass" natural ao fígado (Fig. 3.50).
venosa para-biliar tem origem nas arcadas duode- Embora habitualmente representem apenas pe-
no-pancreáticas e nas císticas, terminando nos ra- quenas vénulas, podem tornar-se muito signifi-
mos da porta ou nas veias de alguns segmentos he- cativas em situações de obstrução do fluxo nor-
páticos (I, IV e V) ou mesmo diretamente no pa- mal pelo sistema porta (que determinam hiper-
rênquima deste órgão. As raizes intra-hepáticas da tensão portal), sendo então de grande importân-
veia porta-hepática são várias vénulas com origem cia clínica.
nas paredes da artéria hepática e das vias biliares e
que terminam na veia porta. A HIPERTENSÃO PORTAL
Enquanto que a artéria hepática fornece sangue
arterial ao fígado, o sistema porta-hepático drena Resulta geralmente do aumento da resistência ao
para este órgão o sangue proveniente do tubo di- fluxo sanguíneo no sistema porta-hepático, que
gestivo abdominal que contém diversos nutrien- pode ter origem desde os vasos esplâncnicos até ao
tes numa percentagem bem maior do volume to- átrio direito dada a ausência de válvulas. Pode ser
tal de sangue que chega aquele órgão (cerca de 75 pré-sinusoidal (como por exemplo na trombose da
a 80%). Os três elementos do pedículo porta-he- veia porta-hepática), sinusoidal (com o paradigma
pático ramificam-se em conjunto (na dependên- da cirrose hepática) ou pós-sinusoidal (como seja
cia da artéria hepática, da veia porta e das vias bi- na oclusão das veias supra-hepáticas: síndrome de
liares; a chamada Tríade portal) , pelo que a des- Budd-Chiari). As manifestações clínicas resultam
na sua maioria do aparecimento de anastomoses
porto-cava, sendo as mais frequentes: a hemorra-
gia de varizes esofágicas, a esplenomegália, a asci-
te, e a encefalopatia.
Existem quatro grandes grupos de APC: digesti-
vas (do cárdia e hemorroidárias), peri-umbilicais
ou parietais, parieto-peritoneais e porto-suprahe-
páticas.

1. DIGESTIVAS

Região do cárdia

As veias da região do cárdia e fundo gástri-


co, que drenam para a veia gástrica esquerda e
para as gástricas curtas da esplénica (todas tri-
Figura 3.51 : Sistema porta-hepático. butárias do sistema porta-hepático), anastomo-
!·Tronco espleno-meseraico 2. Veia esplénica 3. Veia mesentérica sam-se com as esofágicas e com a diafragmáti-
inferior 4. Veia mesentérica superior 5. Veia porta

305
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

ca inferior esquerda (que são tributárias do sis- o umbigo até ao fígado (terminando na extrenu,
tema cava), estabelecendo assim uma anastomo- dade anterior do recesso umbilical, na veia para-
se porto-cava. O plexo venoso parietal submuco- mediana esquerda). Na região umbilical, comunica
so do esófago drena para o sistema ázigos, e con- com diversas veias parietais pelo que nos casos de
sequentemente para a veia cava superior (VCS). hipertensão portal podem, por repermeabilização,
A veia diafragmática inferior esquerda, que par- estabelecer uma anastomose porto-cava. Esta en-
ticipa na drenagem do cárdia, termina no siste- volve as veias parietais epigástricas superiores e to-
ma da veia cava inferior (VCI), quer diretamen- rácicas internas (que terminam na subclávia e as-
te quer através da veia renal homolateral (geral- sim no sistema da VCS) bem como as epigástricas
mente por um tronco comum com a veia supra- inferiores (terminando nas ilíacas externas, e por
-renal deste lado). isso no sistema da VCI).

Região rectal 3. PARIETO-PERITONEAIS

O recto estabelece na sua parede uma importan- São numerosas, e tornam-se expressivas nos ca-
te anastomose porto-cava, visto que o seu 1/3 su- sos de hipertensão portal. São de destacar as veias
perior drena para o sistema porta através da rectal de Retzius que unem as veias provenientes do in-
superior (tributária da mesentérica inferior), en- testino delgado e grosso aos vasos justa-parietais
quanto que os seus 2/3 inferiores drenam para o (nomeadamente veias genitais e para-ureterais), ao
sistema da VCI através das rectais média e inferior longo do quadro cólico e junto aos mesos.
(respectivamente tributárias da ilíaca interna e da
pudenda interna) (Fig. 3.52). Porto-renal

Tratam-se de anastomoses diretas entre a veia es-


plénica e as veias renais esquerdas.

Veias dos ligamentos do fígado

Estas veias localizam-se junto das áreas não peri-


tonealizadas deste órgão e são representadas prin-
cipalmente pelas veias porta-hepáticas acessórias
dos ligamentos falciforme e coronário, que estabe-
lecem a ligação com o sistema cava superior e in-
ferior através dos vasos diafragmáticos.
2

Vasos neoformativos

Em todos os locais em que o sistema digestivo


adere aos planos parietais podem originar-se anas-
tomoses porto-cava por desenvolvimento de cir-
4
culação viscero-parietal.
Fig. 3.52: Anastomoses porto-cava recto.
1. Recto 2. Músculo levantador do ânus 3. Esfincter externo do ânus
4. Plexo hemorroidário 5. Veias rectais superiores 6. Veia rectal média 4. ANASTOMOSES PORTO-SUPRAHEPATICA
7. Veia rectal inferior

2. PERI-UMBIUCA/S Nas circulação fetal a veia porta-hepática comu-


nica com a VCI através do canal venoso de Aran-
O ligamento redondo representa a oclusão da veia tius, o qual trombosa após o nascimento. Em ca-
umbilical após o nascimento, estendendo-se desde sos de hipertensão portal pode ser repermeabiliza-

306
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: SISTEMA PORTA-HEPÁTICO

Wind, G.; Valentine,J.;Anatomic Exposures


do, estabelecendo assim uma anastomose porto-
in Vascuar Surgery. 3rd Edition. Lippincott
-cava.Também existem anastomoses diretas intra-
Williams&Wilkins, 2013.
-parenquimatosas no fígado, entre o sistema por-
ta e o supra-hepático, sem envolvimento dos sinu- Netter, F.Atlas de Anatomia humana. 6.ª Edição,
sóides hepáticos. Elsevier, 2015.

PERGUNTAS TIPO •••

1. Q1ial dos seguintes é um ramo de origem da


veia porta?
a. Veia gástrica esquerda.
b. Veia gástrica direita.
c. Veia esplénica.
d. Veia pancreatico-duodenal posterior su-
perior.
e. Veia gastro-omental esquerda.

2. Q1ial das seguintes correspondências entre o


tributário do sistema porta e do sistema cava
está conecta?
a. Veias rectais superiores - Veia mesentéri-
ca superior.
b. Veia gástrica esquerda - Veia diafragmá-
tica inferior.
c. Veias rectais inferiores - Veia mesentéri-
ca inferior.
d. Veias cólicas - Veias lombares.
e. Veia umbilical - Veia toraco-epigástrica.
!g-z: !:)-1
:sinsods,~

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Descriptiva, topogr4fica y.fancional,.ll.ª Edition.
Elsevier, 2005.
Standring, S. Gray's Anatomy - The anatomical
basis oJclinicalpractice. 41 th Edition. Churchill-
Livingstone Elsevier, 2016.
Testut, L.; Latarjet, A. Tratado de anatomía
humana. 9.ª edição. Salvat Editores, S.A., 1999.

Van De Graaf, KM.; Fox, SI. Concepts ofHuman


Anatomy & Physiology. 5th edition. WCB/
McGraw-Hill, 1999.

307
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

ARTÉRIAS E VEIAS DO MEMBRO com as duas digitações mais superiores do mús-


SUPERIOR culo serrátil anterior (grande dentado). Esta arté-
ria é ainda acompanhada, ao longo do seu traje-
to, pela veia axilar (medialmente) e por vários ra-
IRRIGAÇÃO ARTERIAL DO MEMBRO mos terminais do plexo braquial, estando o ner-
SUPERIOR vo mediano anteriormente à artéria e os nervos
cubital e cutâneo antebraquial medial entre a ar-
A vascularização arterial do membro superior tem téria e a veia.
origem nas artérias subclávias quando estas ul- Dos ramos desta artéria destacam-se seis que po-
trapassam o bordo lateral da primeira costela e se demos distribuir em três segmentos, antes, por
continuam pela artéria axilar respectiva. baixo, e após cruzar o músculo pequeno peitoral.
No primeiro, a artéria torácica superior, no segun-
ARTÉRIA AXILAR do a artéria tóraco-acromial e a torácica lateral e
no terceiro segmento a escapular inferior a as arté-
A artéria subclávia passa a denominar-se axilar rias circunflexas umerais anterior e posterior (Fig.
quando passa sob o bordo inferior do músculo 3.53A e 3.53B).
subclávio, na proximidade do bordo lateral da pri- A artéria torácica superior ou suprema nasce logo
meira costela e da primeira digitação do músculo inferiormente ao músculo subclávio e destina-se à
serrátil anterior (grande dentado). Percorre o eixo região mamária e à porção superior dos músculos
do escavado axilar desde o vértice até à base, onde peitorais. A artéria tóraco-acromial: emerge jun-
atinge o bordo inferior do músculo peitoral maior to ao bordo superior do peitoral menor e dá ra-
(grande peitoral). mos para a região torácica superior, para o deltoi-
Neste trajeto, relaciona-se: anteriormente, com de e para as articulações do complexo articular do
os músculos subclávio e peitoral menor (peque- ombro. Aa artéria torácica lateral ou mamária ex-
no peitoral); posteriormente, com o subescapu- terna surge posteriormente ao peitoral menor e ir-
lar, o teres maior (grande redondo ou redondo riga os músculos peitorais, o serrátil anterior e os
maior) e o !atíssimo dorsal (grande dorsal); la- intercostais. A artéria escapular inferior origina-se
teralmente, com o coracobraquial; medialmente, junto ao bordo inferior do músculo subescapular

9 2 8
9

10

6
IEI Ili
Fig. 3.53A: Artéria axilar e ramos colaterais. Fig. 3.538: Artéria axilar e ramos colaterais.
1. Artéria axilar 2. 1.• costela 3. Escaleno anterior 4. Artéria torácica 1. Espinha da escápula 2. Fossa supra-espinhosa 3. Fossa infra-
anterior 5. Artéria toraco-acromial 6. Artéria torácica lateral 7. espinhosa 4. Longa porção tríceps braquial 5. Vasto lateral 6.
Artéria escapular inferior 8. Artéria circunflexa umeral anterior 9. Redondo maior 7. Redondo menor 8. Artéria supra-escapular 9.
Artéria circunflexa umeral posterior Artéria dorsal da escápula 10. Artéria escapular inferior

308
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO:ARTÉRIAS E VEIAS

e dá ramos para a região mamária e para a região O ramo deltoideu, tem origem na porção supe-
escapular, participando assim, pela anastomose rior da braquial; a artéria nutritiva do úmero, nasce
com as artérias escapular posterior e supraescapu- no terço superior do braço; a artéria braquial pro-
lar, na formação do círculo anastomótico peri-es- funda, nasce na porção superior da braquial, mer-
capular. A artéria circunflexa umeral posterior sur- gulha na profundidade, percorre a goteira radial
ge ao mesmo nível do ramo circunflexo anterior e do úmero, situada entre o vasto medial e o vas-
atravessa o espaço axilar quadrilátero úmero-tri- to lateral (onde é acompanhada pelo nervo radial)
cipital para terminar na face profunda do deltoi- e termina no epicôndilo lateral em dois ramos,
de. A artéria circunflexa umeral anterior contorna um anterior (artéria colateral radial) e outro pos-
0
colo cirúrgico do úmero, cruza a porção inferior terior (artéria colateral média) que se anastomo-
do sulco intertubercular (goteira bicipital) e dá ra- sam com as artérias recorrentes radiais. A artéria
mos para a articulação escapulo-braquial, estabe- colateral cubital superior (colateral medial supe-
lecendo ainda anastomose com a artéria circunfle-
xa umeral posterior.

ARTÉRIA BRAQUIAL

A artéria axilar passa a denominar-se braquial (ou


umeral) quando atinge o bordo inferior do mús-
culo teres maior (grande redondo ou redondo
maior), existindo autores que consideram o bor-
5
do inferior do músculo peitoral maior. Percorre a
região anterior e medial do braço, atravessando o
canal braquial de Cruveilhier até à região anterior
do cotovelo, na prega do cotovelo, onde se termina,
bifurcando-se na artéria radial e na artéria cubi-
tal (Fig. 3.54).
Ao longo deste trajeto braquial, a artéria relacio-
na-se à frente e por fora, no seu trajecto proximal,
com o músculo coracobraquial, e mais distalmen-
te com o bíceps; atrás, na porção proximal, com
o músculo vasto medial e depois com o braquial
anterior; mediaimente, relaciona-se com a fáscia
superficial do braço. No canal braquial é acompa-
nhada pelas duas veias satélites homónimas, pelo
nervo mediano e ainda, em parte do seu percurso, 10

pelo nervo cubital e pelo nervo cutâneo antebra-


quial medial.
Na região do cotovelo, a artéria braquial ocupa a
goteira bicipital profunda medial da prega do co-
tovelo, limitada pelo tendão bicipital lateralmen-
te e pelo pronador teres (pronador redondo) me-
diaimente, tendo o músculo braquial como limi-
te posterior.
Fig. 3.54: Artéria braquial.
Tem como principais ramos colaterais o ramo del- 1. Úmero 2. Artéria braquial 3. Artéria radial 4. Artéria cubital
toideu, a artéria nutritiva do úmero, a artéria bra- 5. Artéria circunflexa umeral anterior 6. Artéria braquial profunda
7. Artéria colateral radial 8. Artéria colateral cubital superior
quial profunda, e as artérias colaterais cubitais su- 9. Artéria colateral cubital inferior 10. Artéria recorrente radial anterior
perior, média e inferior. 11. Artéria recorrente cubital anterior 12. Artéria recorrente cubital
posterior

309
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

rior), que surge logo abaixo da braquial profunda e


se dirige para baixo e para trás, terminando-se no
epicôndilo medial onde se anastomosa com a re-
corrente cubital posterior; a artéria colateral cubi-
tal média, inconstante, nasce da braquial entre as
colaterais cubitais superior e inferior e geralmente
anastomosa-se com a recorrente cubital anterior.
A artéria colateral cubital inferior, nasce logo aci-
ma da prega do cotovelo e dirige-se para o epicôn-
dilo medial para aí se anastomosar com as artérias
recorrentes cubitais. As artérias colaterais cubitais
irrigam o braquial anterior e a porção medial da
articulação do cotovelo. Estas extensas anastomo-
ses na região do cotovelo constituem, no seu todo,
o plexo peri-articular do cotovelo.

ARTÉRIA RADIAL
Fig. 3.55: Artéria radial na tabaqueia anatómica.
A artéria radial é o ramo lateral de bifurcação da 1. Tendão do extensor longo do 1.0 dedo 2. Tendão do extensor curto
do 1.0 dedo 3. Tendão do abdutor longo do 1.º dedo 4. Artéria radial
artéria braquial. Estende-se da face anterior do
antebraço, da prega do cotovelo, ao punho forne-
cendo ramos à mão. ramo arterial palmar superficial, artéria principal
Ao longo do seu trajeto, a artéria radial situa-se do polegar, a artéria dorsal do carpo e a primeira
no antebraço e, de superior para inferior, encon- artéria metacárpica dorsal.
tra-se anteriormente aos músculos braquial, ten- A artéria recorrente radial, também conheci-
dão do bíceps, supinador, pronador redondo, fle- da por artéria dos músculos epicondilianos la-
xor comum superficial dos dedos, longo flexor do terais, destaca-se da porção superior da radial
polegar e pronador quadrado. Situa-se posterior- e dirige-se para a goteira bicipital profunda la-
mente ao braquiorradial (longo supinador) na teral da prega do cotovelo, onde se anastomosa
porção superior do antebraço, mas à medida que com o ramo anterior da braquial profunda e dá
este músculo se vai adelgaçando, a artéria vai fi- ramos para os músculos vizinhos. O ramo cár-
cando mais exposta e acaba por ocupar a gotei- pico palmar (artéria transversa anterior do car-
ra radial do punho, que se situa entre os tendões po), surge junto ao bordo inferior do quadrado
do flexor radial do carpo (medialmente) e dobra- pronador e anastomosa-se com um ramo análo-
quiorradial (lateralmente). Na região do punho, go da cubital. O ramo arterial palmar superficial
a artéria contorna lateralmente esta articulação e (artéria radiopalmar), surge quando a artéria ra-
passa sob os tendões dos músculos longo abdu- dial se dirige para a tabaqueira anatómica e atra-
tor e curto extensor do polegar, atingindo assim a vessa a extremidade superior da eminência te-
tabaqueira anatómica (Fig. 3.55), onde se aplica nar para atingir a palma da mão, aí anastomo-
sobre o osso trapézio; depois passa sob o tendão sando-se com a cubital. A artéria principal do 1.0
do longo extensor do polegar e atravessa a ex- dedo, destaca-se da radial na tabaqueira anató-
tremidade superior do primeiro espaço interós- mica. A artéria dorsal do carpo, nasce também
seo para assim atingir a palma da mão, onde se nessa região e vai anastomosar-se com um ramo
anastomosa com o ramo palmar profundo da ar- análogo da cubital na face posterior do carpo.
téria cubital, constituindo assim a arcada arterial A primeira artéria metacárpica dorsal, emerge da
palmar profunda. radial quando esta entra na região palmar e de-
Dos ramos colaterais que fornece, há a destacar a pois origina a colateral dorsal medial do polegar e
artéria recorrente radial, o ramo cárpico palmar, o a colateral dorsal lateral do segundo dedo.

310
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: ARTÉRIAS E VEIAS

ce vai-se aproximando do bordo medial do ante-


braço, onde é coberta pelo músculo flexor cubital
do carpo (cubital anterior); à medida que a artéria
se vai aproximando do punho, o músculo torna-se
tendinoso e deixa a descoberto a artéria, na pro-
ximidade do osso pisiforme, onde aquela se posi-
ciona lateralmente ao músculo. No punho, a arté-
ria passa lateralmente ao pisiforme, aplicada sobre
a face anterior do retináculo flexor do carpo (li-
gamento anular anterior do carpo) e coberta por
expansões do flexor cubital do carpo (cubital an-
terior) e do retináculo extensor (ligamento anu-
lar posterior do carpo), que assim formam o ca-
nal cubital de Guyon. Ao atingir o bordo inferior
do retináculo flexor, a artéria anastomosa-se com
o ramo arterial palmar superficial da artéria radial,
constituindo a arcada palmar superficial.
Ao longo de todo o seu trajeto, a artéria cubital
é acompanhada mediaimente pelo nervo cubital.
Dos ramos colaterais que esta artéria dá, desta-
cam-se a artéria recorrente cubital, a artéria in-
teróssea comum, o ramo cárpico dorsal, o ramo
cárpico palmar e o ramo palmar profundo.
Fig. 3.56: Artérias no antebraço.
1. Úmero 2. Rádio 3. Cúbito 4. Artéria braquial 5. Artéria colateral
A artéria recorrente cubital (tronco das recor-
radial 6. Artéria colateral média 7. Artéria colateral cubital superior rentes cubitais ou artéria dos epicondilianos me-
8. Artéria colateral cubital inferior 9. Artéria radial 10. Artéria cubital
11. Artéria recorrente radial anterior 12. Artéria recorrente cubital
diais), destaca-se da cubital próximo da origem
anterior 13. Artéria recorrente cubital posterior 14. Artéria interóssea desta e divide-se em dois ramos (artéria recorren-
comum 15. Artéria interóssea anterior 16. Artéria interóssea posterior
17. Artéria recorrente radial posterior
te cubital anterior e artéria recorrente cubital pos-
terior) que se vão dirigir para a região epicondilia-
na medial para aí se anastomosarem com as co-
ARTÉRIA CUBITAL OU ULNAR laterais cubitais, ramos da braquial. A artéria in-
teróssea comum (tronco comum das interósseas),
A artéria cubital é o ramo medial de bifurcação da que surge logo inferiormente ao ramo prévio e que
artéria braquial (Fig. 3.56). Ocupa a face anterior dá origem às interósseas anterior e posterior, que
e medial do antebraço e do punho, desde a prega vão descer na profundidade, ao longo do antebra-
do cotovelo até à palma da mão. ço, junto à membrana interóssea. deste tronco ou
As relações que a artéria cubital estabelece ao lon- de um ramo dele (geralmente a interóssea poste-
go do seu trajeto podem ser divididas em três por- rior) nasce ainda a recorrente interóssea (recorren-
ções. No terço superior do antebraço, passa sob o te interóssea posterior ou recorrente radial poste-
pronador redondo e a arcada do flexor comum su- rior), que se dirige para cima para se anastomosar
perficial dos dedos, situando-se entre o flexor co- com a colateral média da braquial profunda na re-
mum profundo dos dedos e os músculos epicon- gião epicondiliana lateral. O ramo cárpico dorsal,
dilianos mediais superficiais; é aí que o nervo me- nasce um pouco acima da cabeça do cúbito e vai
diano a cruza anteriormente. Nos dois terços infe- anastomosar-se com um ramo análogo da radial
riores do antebraço, a artéria cubital situa-se ante- na face posterior do carpo, formando a arcada cár-
riormente ao flexor comum profundo dos dedos e pica dorsal. O ramo cárpico palmar, surge junto ao
ao pronador quadrado e posteriormente ao flexor bordo inferior do pronador quadrado e anastomo-
comum superficial dos dedos; à medida que des- sa-se com um ramo análogo da radial, formando

311
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

a arcada cárpica palmar. O ramo palmar profundo quarto espaços e a artéria colateral dorsal medial
(artéria cubitopalmar), surge junto à extremidade do 5.0 dedo. Cada interóssea dorsal percorre o es-
inferior do pisiforme e penetra na eminência hi- paço interósseo correspondente e termina na ex-
potenar, passando entre o abdutor e o flexor do 5.0 tremidade superior do espaço interdigital respe-
dedo, anastomosando-se com a radial para com- tivo em duas colaterais dorsais, uma lateral e ou-
pletar a arcada palmar profunda. tra medial, dirigindo-se cada uma para o dedo
imediatamente contíguo. Esta arcada é também
ARCADAS ARTERIAIS DA MÃO alimentada por ramos das artérias interósseas an-
terior e posterior.
A mão é irrigada geralmente por quatro arcadas A arcada cárpica palmar é formada pela anasto-
arteriais, sendo uma dorsal e três palmares, que mose entre os ramos cárpicos palmares das arté-
se anastomosam entre si de forma variável. Cada rias radial e cubital. Esta arcada recebe também
uma delas resulta da anastomose transversal de ramos da interóssea anterior e ramos recorrentes
um ramo da artéria radial com um ramo da artéria da arcada palmar profunda, formando uma arca-
cubital (Fig. 3.57). da cruciforme que irriga as estruturas osteoarti-
culares da região.
A arcada palmar superficial forma-se pela anas-
tomose da artéria cubital com o ramo palmar su-
perficial da artéria radial. Esta arcada situa-se sob
a aponevrose palmar e anteriormente aos tendões
flexores dos dedos. Dá origem, na sua convexi-
8
dade, às artérias digitais palmares comuns. Cada
uma destas recebe a artéria metacárpica palmar
10 correspondente da arcada arterial palmar profun-
da; divide-se depois em duas artérias digitais pal-
mares próprias, uma medial e outra lateral, para o
9 espaço interósseo e bordos dos dedos contíguos.
Assim, por exemplo, a artéria digital palmar co-
mum do 3.0 espaço interósseo origina a artéria
7
digital palmar própria medial do 3. 0 dedo e a ar-
6
téria digital palmar própria lateral do 4.0 dedo.
A artéria digital palmar medial do 5.0 dedo tem
geralmente origem na arcada palmar superficial,
profundamente ao músculo curto palmar. As ori-
4 gens das artérias digitais palmares do 1. 0 dedo
são bastante variáveis: ambas podem ter origem
2 numa artéria única principal do 1.0 dedo, ou po-
dem nascer separadamente da arcada palmar su-
Fig. 3.57: Arcadas palmares profunda e superficial da mão. perficial; mais ainda, a artéria digital medial do
1. Rádio 2. Cúbito 3. Artéria radial 4. Artéria ulnar 5. Arcada palmar
0
1.0 dedo pode provir da primeira artéria meta-
profunda 6. Arcada palmar superficial 7. Artéria principal do 1. dedo
8. Artéria radial do 2.0 dedo 9. Artérias digitais palmares comuns cárpica dorsal.
10. Artérias digitais palmares próprias A arcada palmar profunda forma-se pela anasto-
mose da artéria radial com o ramo palmar pro-
A arcada cárpica dorsal forma-se pela anastomo- fundo da artéria cubital. Esta arcada situa-se an-
se das duas artérias dorsais do carpo. Dela resul- teriormente às diáfises dos metacárpicos e pos-
tam ramos ascendentes para as articulações e os- teriormente aos tendões dos flexores dos de-
sos da mão; e ramos descendentes, que são as ar- dos e da aponevrose palmar. Dela resultam ra-
térias interósseas dorsais do segundo, terceiro e mos recorrentes (ascendentes ou articulares); ra-

312
MANUT ENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: ARTÉRIAS E VEIAS

rnos perfurantes (posteriores) para a arcada dor- SISTEMA VENOSO PROFUNDO


sal e ramos metacárpicos palmares (descenden-
ces). As três artérias metacárpicas palmares des- As veias profundas acompanham as artérias sa-
locam-se inferiormente, desde a convexidade da télites já descritas, tendo geralmente os mesmos
arcada palmar profunda, pelos músculos interós- nomes, origens, trajetos, relações e ramos colate-
seos dos 2. 0 -4.0 espaços interósseos, e anastomo- rais que estas, com a ressalva de serem na maior
sam-se com os ramos digitais comuns da arcada parte dos casos duas veias por cada artéria. Isto
arterial palmar superficial. só não se verifica no segmento axilar, onde exis-
te apenas uma única veia axilar, que se situa me-
dialmente à artéria, como já foi referido. Esta veia
DRENAGEM VENOSA DO MEMBRO tem ainda como particularidades resultar da anas-
SU PERIOR tomose das duas veias braquiais (ou umerais), exis-
tem, contudo, autores que consideram a veia basí-
As veias do membro superior dividem-se em veias lica como o ramo de origem da veia axilar. Vai ocu-
profundas e veias superficiais (Fig. 3.58), con- par uma posição ântero-medial em relação à arté-
soante a posição que ocupam relativamente à fás- ria na respectiva porção superior, receber a veia ce-
cia profunda do membro superior. São munidas fálica (que geralmente recebe as veias tóraco-acro-
de válvulas parietais que facilitam a circulação do miais) e relacionar-se póstero-medialmente com o
sangue e apresentam habitualmente válvulas os- nervo cutâneo braquial medial.
tiais junto ao respetivo ponto de drenagem no
principal tronco coletor. As veias destes dois sis- SISTEMA VENOSO SUPERFICIAL
temas comunicam amplamente entre si através de
anastomoses perfurantes. O sistema superficial tem importante papel na
termorregulação corporal. Inicia- se ao nível da
mão, por veias palmares (pouco desenvolvidas)

10

Fig. 3.58: Drenagem venosa do membro superior.


1. Veia cefálica do antebraço 2. Veia basílica do antebraço 3. Veia cubital mediana 4. Veia cefá lica do braço 5. Veia basílica do braço 6 . Veia
cefálica acessória 7. Vela mediana do antebraço 8. M venoso 9. Veia mediana cefálica 10. Veia mediana basílica

313
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

e veias dorsais (bem mais evidentes). Estas têm mediana do antebraço geralmente divide-se, per-
origem em plexos venosos subungueais que ter- to da fossa cubital, numa veia mediana basílica e
minam numa veia periungueal concêntrica à raiz noutra veia mediana cefálica, que se anastomo-
da unha. Daí parte um plexo dorsal que termi- sam com as veias basílica e cefálica, respectiva-
na numa arcada digital situada sobre a primei- mente. Assim, este "M" é constituído, de medial
ra falange de cada dedo. As várias arcadas digitais para lateral, pela veia basílica, mediana basílica,
anastomosam-se umas com as outras nos espa- mediana cefálica e cefálica.
ços compreendidos entre as cabeças metacárpi- A veia basílica do braço sobe junto ao bordo me-
cas, de forma que da reunião de cada par resulte dial do bíceps, atravessa a fáscia a meio do braço
uma veia metacárpica. Estas veias metacárpicas pelo hiato basílico e lança-se depois na veia bra-
sobem pela face dorsal da mão e anastomosam- quial medial ou na veia axilar. A veia cefálica do
-se transversalmente, formando uma arcada ve- braço acompanha o bordo lateral do bíceps, pe-
nosa dorsal. Nas extremidades desta arcada lan- netra na fossa infraclavicular, perfura a fáscia cla-
çam-se ainda duas outras veias: a cefálica do 1. 0 vipeitoral, localizando-se consistentemente no
dedo (veia digital dorsal do bordo lateral do 1.0 sulco deltopeitoral, o que torna esta localização
dedo) e a salvatela do 5. 0 dedo (veia digital dorsal adequada para punção venosa. Após, cruza a ar-
do bordo medial do 5. 0 dedo). téria axilar e drena para a veia axilar, terminando
É ainda das extremidades desta arcada que par- em forma de crossa.
tem as principais veias superficiais do antebra-
ço: a veia cefálica do antebraço e a veia basílica
do antebraço. A veia cefálica do antebraço ascen-
de a partir da extremidade radial da arcada veno-
sa dorsal pelo bordo radial do antebraço e origina
geralmente, um pouco inferiormente ao cotove-
lo, a veia cubital mediana, que se anastomosa ge-
ralmente com a veia basílica. Esta veia cefálica do
antebraço continua-se superiormente como veia
cefálica do braço.
A veia basílica do antebraço ascende a partir da
extremidade cubital da arcada dorsal pelo bor-
do cubital do antebraço, recebendo a veia cubital
mediana na fossa cubital. Continua-se superior-
mente como veia basílica do braço.
Poderá existir uma veia cefálica acessória, de ori-
gem bastante variável, que drena geralmente para
a veia cefálica do antebraço, distalmente ao co-
tovelo.
A veia mediana do antebraço tem geralmente
origem num plexo venoso palmar superficial, as-
cende pela face anterior do antebraço e termina
na fossa cubital de forma variável.
Na fossa cubital, um dos locais mais frequente-
mente utilizados para venopunção, a anatomia
venosa é bastante variável. Poderá ser classica-
mente descrito um "H venoso" ou um "M veno-
so" .Mais frequentemente, a veia cefálica do ante-
braço origina a veia cubital mediana que se anas-
tomosa com a veia basílica. No "M venoso", a veia

314
MANUTENÇÃO J SISTEMA CIRCULATÓRIO: ARTÉRIAS E VEIAS

ARTÉRIAS E VEIAS DO MEMBRO artéria que saem da cavidade pélvica e contribuem


1NFERIOR para a vascularização do membro inferior. Por ou-
tro lado, o seu desenvolvimento constitui impor-
tante fonte de colateralidade nos casos de obstru-
VASCULARIZAÇÃO ARTERIAL DO ção do eixo arterial principal. Eles são a artéria ob-
MEMBRO INFERIOR turadora, a artéria glútea superior, a artéria glútea
inferior e a artéria pudenda interna.
o membro inferior é irrigado pela continuação da
artéria ilíaca externa que, na passagem por baixo Artéria Obturadora
do ligamento inguinal (arcada crural), passa acha-
mar-se artéria femoral (Fig. 3.59), e pelos ramos Após a sua origem, a artéria obturadora dirige-se
parietais extra-pélvicos da artéria ilíaca interna. para a frente junto à parede lateral da pequena ba-
cia e passa no canal infra-púbico até à coxa. No in-
terior deste canal divide-se em dois ramos termi-
nais, um anterior e outro posterior. O ramo ante-
rior ou medial contorna o bordo anterior do fora-
men obturador fornecendo ramos para o obtura-
dor externo, adutores, grácil e bolsas escrotais ou
grandes lábios. O ramo posterior ou lateral con-
torna o bordo posterior do foramen obturador for-
necendo: um ramo intra-pélvico para a membrana
obturadora, um ramo acetabular para a cabeça do
fémur e ramos musculares para o obturador exter-
no e adutores. Este ramo posterior anastomosa-se
com o ramo anterior, a artéria glútea inferior, a cir-
cunflexa femoral medial e a primeira perfurante.
Artéria Glútea Superior
A artéria glútea superior atravessa o plexo sagrado
entre o tronco lombo-sagrado e o primeiro ner-
vo sagrado, saindo da pequena bacia pela parte su-
perior da incisura isquiática maior (grande chan-
fradura ciática), imediatamente por cima do mús-
culo piriforme (piramidal da bacia). Pouco depois
da sua origem divide-se em dois ramos, um super-
ficial e outro profundo. O ramo superficial passa
por baixo do bordo superior da incisura isquiática
maior e caminha entre os glúteos médio e máximo
Fig. 3.59: Ramos extra-pélvicos da artéria ilíaca externa. (grande glúteo), no qual se ramifica. O ramo pro-
1. Musculo piriforme 2. Artéria femoral superificial 3. Artéria femoral fundo passa entre os glúteos médio e menor (pe-
profunda 4. Artéria glútea superior 5. Artéria isquiática 6. Artéria
pudenda interna 7. Artéria circunflexa medial 8. Artéria circunflexa queno glúteo) originando ramos para estes mús-
lateral 9. Primeira artéria perfurante 10. Ligamento sacro-tuberoso culos, o tensor da fáscia lata, o osso ilíaco e a arti-
11. Ligamento sacro-espinhoso
culação coxo-femoral.

RAMOS EXTRA-PÉLVICOS DA ARTÉRIA ILfACA Artéria Glútea Superior


INTERNA
A artéria glútea superior atravessa o plexo sagrado
Os ramos parietais extra-pélvicos da artéria ilía- entre o tronco lombo-sagrado e o primeiro ner-
ca interna correspondem aos ramos parietais desta vo sagrado, saindo da pequena bacia pela parte su-

315
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

perior da incisura isquiática maior (grande chan- ral, a artéria femoral profunda, cerca de 4 cm abai-
fradura ciática), imediatamente por cima do mús- xo da sua origem. Há quem designe a continuação
culo piriforme (piramidal da bacia). Pouco depois da artéria femoral, após originar a femoral profun-
da sua origem divide-se em dois ramos, um super- da, como "artéria femoral superficial".
ficial e outro profundo. O ramo superficial passa Inicialmente, localiza-se no triângulo femoral de
por baixo do bordo superior da incisura isquiática Scarpa (Fig. 3.60) que apresenta base superior e
maior e caminha entre os glúteos médio e máximo tem como limites o ligamento inguinal em cima,
(grande glúteo), no qual se ramifica. O ramo pro- o sartório lateralmente e o adutor longo (médio
fundo passa entre os glúteos médio e menor (pe- adutor) medialmente. Na profundidade do triân-
queno glúteo) originando ramos para estes mús- gulo de Scarpa localiza-se o psoas-ilíaco (por fora)
culos, o tensor da fáscia lata, o osso ilíaco e a arti- e o pectíneo (por dentro), formando uma goteira
culação coxofemoral. côncava à frente na qual se localizam os vasos fe-
morais. Nesta goteira, a artéria femoral desce la-
Artéria Glútea Inferior teralmente à veia femoral e medialmente ao ner-
vo femoral.
A artéria glútea inferior, também conhecida por
artéria isquiática, sai da pequena bacia pela par-
te inferior da incisura isquiática maior, por baixo
do piriforme e por dentro da artéria pudenda in-
terna. Dirige-se para baixo e para fora, cruza a face
posterior da pudenda interna e origina ramos para
o nervo isquiático, glúteo máximo, gastrocnémios,
obturador interno e quadrado crural. Através dos
seus ramos, anastomosa-se com ramos da obtura-
dora, da circunflexa femoral medial e da perfuran-
te superior (ramo da femoral profunda). 9
6
Artéria Pudenda Interna
4
14
A artéria pudenda interna chega à região glútea
passando pela parte inferior da incisura isquiática
maior, por baixo do piriforme e por fora da artéria
glútea inferior. Contorna o vértice da espinha ciá- 13

tica, cruza a artéria isquiática, passando à sua fren-


te e penetra na fossa ísquio-rectal pela incisura is-
quiática menor. Na região glútea, dá ramos para o
glúteo máximo, gastrocnémios, piriforme e obtu- Fig. 3.60: Triângulo femoral.
rador interno. Na fossa ísquio-rectal encontra-se 1. Musculo ilio-psoas 2. Nervo femoral 3. Tendão do músculo
psoas menor 4. Ligamento inguinal 5. Ligamento lacunar 6. Fita
no canal de Alcock (canal pudendo), dirigindo-se ilio-pectinea 7. Trígono femoral ($carpa} 8. Anel femoral 9. Canal
depois para diante e para dentro para fornecer os femoral 10. Artéria femorala 11. Veia femoral 12. Veia safena interna
13. Gânglios inguinais profundos 14. Fáscia lata
ramos genitais e os ramos terminais, a artéria dor-
sal do pénis ou clítoris.
Na coxa, a artéria femoral percorre a bainha fe-
ARTÉRIA FEMORAL moral até ao hiato adutor (anel do terceiro adu-
tor), depois do qual se denomina artéria poplítea.
A artéria femoral é a continuação da artéria ilíaca A bainha femoral corresponde a uma bainha fi-
externa, depois desta passar por baixo do ligamen- brosa, limitada por músculos e respectivas fáscias,
to inguinal, e origina o seu principal ramo colate- que se estende do espaço retro-inguinal (situado

316
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: ARTÉRIAS E VEIAS

osteriormente ao ligamento inguinal) ao hiato


;dutor e no qual se localizam os vasos femorais.
6
Tem a forma de um prisma triangular, torcido so-
bre O seu eixo de tal forma que a face anterior em
cirnª se torna medial em baixo.
Nesta bainha femoral distinguem-se três seg-
mentos que diferem na sua configuração e rela- 11 8
ções. O segmento superior ou bainha femoral pro-
priamente dita, que tem irúcio no espaço retro-
9
-inguinal e termina ao nível do ponto de drena-
gem da veia grande safena na veia femoral. À fren-
te, a goteira vascular é encerrada pelo folheto su- 3
perficial da fáscia femoral, que se estende do sar-
tório ao adutor longo, passando à frente dos va-
sos. Nesta região, a fáscia apresenta vários ori.fi-
cios por onde passam diversos ramos vasculares e
nervosos, pelo que se designa fáscia cribriformis.
O segmento médio tem uma parede lateral forma-
da pelo vasto medial, uma parede medial forma- 10
da pelo adutor longo e uma parede anterior for-
mada pela fáscia femoral contendo, num desdo-
bramento, o músculo sartório. O segmento infe-
rior ou canal adutor de Hunter (canal subsartorial)
apresenta, devido à torção do canal femoral: uma
parede ântero-lateral constituída pelo septo inter-
muscular medial da coxa e vasto medial, uma pa- Fig. 3.61: Artéria femoral e ramos colaterais.
1. Ligamento inguinal 2. Artéria femoral 3 . Artéria femoral superficial
rede posterior formada pela fáscia do adutor mag- 4. Artéria femoral profunda 5. Artéria ilíaca externa 6. Artéria
no e uma parede medial formada por uma lâmina epigástrica superficial 7. Artéria circunflexa superficial 8. Artéria
pudenda externa superficial 9. Artéria pudenda externa profunda
fibrosa, densa que se estende do tendão do adutor 10. Artéria genicular descendente 11 . Artéria circunflexa medial
magno à fáscia do vasto medial, a fáscia subsarto- 12. Artéria circunflexa lateral 13. Ramos perfurantes

rial ou vasto-adutora (de Hunter).


No seu trajeto, a artéria femoral origina como ra- face medial da femoral, atravessa a f áscia cribi-
mos colaterais, a epigástrica superficial, a circun- formis, passa por cima da crossa da veia safena
flexa ilíaca superficial, a pudenda externa superfi- interna e dirige-se para dentro, distribuindo-se
cial, a pudenda externa profunda, a genicular des- nos tegumentos da região púbica, escroto, no ho-
cendente e a femoral profunda (Fig. 3.61). mem, e grandes lábios, na mulher. A pudenda ex-
A epigástrica superficial ou subcutânea abdomi- terna profunda ou inferior: tem origem um pou-
nal: tem origem da face anterior da femoral um co abaixo do ramo precedente, cruza a face ante-
pouco abaixo do ligamento inguinal, atravessa a rior da veia femoral, passando por baixo da crossa
fáscia cribriformis tornando-se superficial e diri- da veia safena interna, e ramifica-se no escroto ou
gindo-se para cima e para dentro e ramificando- grandes lábios. A genicular descendente (gran-
-se no tecido celular subcutâneo até à região da de anastomótica), um ramo que nasce acima do
cicatriz umbilical. A circunflexa ilíaca superficial: anel do grande adutor, dividindo-se em três ra-
tem origem ao nível do ramo precedente, atra- mos: um superficial que acompanha o nervo sa-
vessa a fáscia cribriformis, e distribui-se nos te- feno interno até à perna; um profundo e articu-
gumentos da parede abdominal, lateralmente ao lar que se distribui na face medial da articulação
território da epigástrica superficial. A pudenda do joelho; e um profundo e muscular que se per-
externa superficial ou superior: tem origem na de no quadríceps.

317
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

A femoral profunda: o ramo de divisão poste- meira perfurante atravessa o adutor magno per-
rior da chamada "femoral comum". Da sua ori- to da linha áspera do fémur. A segunda perfuran-
gem, desce atrás da "femoral superficial", à fren- te atravessa as inserções do adutor curto e adutor
te do psoas e do interstício que separa o pectí- magno. A terceira perfurante perfura a inserção
neo do psoas-iliaco, em cima, e do vasto medial, do adutor magno. Qyando atingem a face pos-
em baixo, até ao bordo superior do adutor lon- terior do adutor magno, as perfurantes anasto-
go. Depois, desce verticalmente atrás deste mús- mosam-se entre elas através de dois ramos, um
culo e à frente do adutor curto e adutor magno, ascendente e outro descendente, e dão numero-
que se encontram sucessivamente atrás da arté- sos ramos para os músculos vizinhos. A primei-
ria. Um pouco por cima do hiato adutor, atraves- ra perfurante anastomosa-se através do seu ramo
sa este músculo e constitui a terceira perfurante. ascendente com a circunflexa interna, a glútea in-
Tem como ramos colaterais a artéria do quadrí- ferior e o ramo posterior da obturadora.
ceps femoral, a circunflexa femoral lateral, a cir-
cunflexa femoral medial e as perfurantes. ARTÉRIA POPLITEIA
A artéria do quadríceps femoral nasce da femo-
ral profunda junto à sua origem ou, por vezes, A artéria femoral passa a denominar-se artéria po-
da femoral superficial, e divide-se pouco depois plítea depois de passar o hiato adutor (Fig. 3.62).
em ramos para as quatro porções do quadríceps Atravessa de cima para baixo o escavado popliteu
e sartório. Para alguns autores, esta artéria cor- e termina na arcada tendinosa do solhar onde se
responde a um ramo descendente da circunfle- divide em artéria tib1al anterior e tronco tíbio-pe-
xa lateral. A circunflexa femoral lateral ou ante- roneal.
rior dirige-se para fora, passa por baixo do recto
anterior; dá ramos ao recto anterior, à cápsula da
3 4
articulação coxofemoral, ao ligamento de Bertin,
ao tensor da fáscia lata e ao vasto lateral, contor-
na na espessura deste músculo a extremidade su-
perior do fémur e anastomosa-se atrás deste osso
com a circunflexa femoral medial. A circunflexa
femoral medial ou posterior dirige-se para trás e
para dentro, passa entre o colo do fémur e o bor- 6
do superior do pectíneo, ao longo do bordo in-
ferior do obturador externo, até à face profun-
da do quadrado crural onde se divide em dois ra-
mos terminais, um ascendente e um descenden-
te. Neste trajeto dá ramos ao fémur, aos múscu-
los vizinhos e um ramo acetabular, inconstante. 9
O ramo terminal ascendente sobe sobre a face
posterior da articulação e distribui-se à cápsula
articular e músculos que a revestem. O ramo ter-
minal descendente passa sob o quadrado crural e
perde-se nos músculos posteriores da coxa. Este
ramo anastomosa-se com a obturadora, a circun-
flexa externa, a isquiática e a primeira perfurante.
A perfurantes são geralmente três artérias que
atravessam os músculos que se localizam atrás da
femoral profunda, atingindo a região posterior da Fig. 3.62: Artéria popliteia.
1. Musculo gastrocnemius 2. Músculo biceps crural 3. Músculo semi-
coxa. A porção terminal da artéria femoral pro- membranoso 4. Músculo semi-tendinoso 5. Artéria popliteia 6. Veia
funda é considerada a quarta perfurante. A pri- popliteia 7. Nervo tibial 8. Nervo peroneal comum 9. Veia safem,
externa

318
MANUTENÇÃO I SISTEMACIRCULATÓRIO:ARTÉRIASEVEIAS

A artéria poplítea localiza-se atrás do fémur, do rige para a frente, distribuindo-se nos elementos
!ano fibroso posterior da articulação do joelho ligamentares e adiposos do espaço inter-condi-
~ do músculo popliteu. Atrás, encontra-se cober- liano. As artérias geniculares inferiores, uma me-
ra, de cima para baixo, pelo semimembranoso, fás- dial e uma lateral, com origem a nível da inter-
eia profunda do escavado popliteu e músculos gas- linha articular, que se distribuem respectivamen-
trocnémios. Ao longo do seu trajeto, é acompa- te na face ântero-medial e ântero-lateral da arti-
nhada pela veia poplítea e porção inicial do nervo culação do joelho. As artérias surais, uma medial
tibial (ciático popliteu interno) que se situam su- e uma lateral que se dirigem para o gastrocné-
cessivamente por fora e atrás da artéria. mio correspondente, originando numerosos ra-
Tem como principais ramos colaterais as artérias mos terminais.
geniculares superiores, a artéria genicular média,
a artéria genicular inferior e as artérias surais (Fig. Rede anastomótica peri-rotuliana ou peri-
3.63). genicular

Corresponde a uma rede arterial, localizada na


face anterior do joelho, que resulta de anastomo-
ses entre as artérias geniculares, os ramos da des-
2
cendente do joelho e os ramos recorrentes das
principais artérias da perna. É muito importan-
te nos quadros de obstrução crónica dos tron-
cos principais uma vez que o seu desenvolvimen-
to proporciona uma rede de circulação colateral
que permite muitas vezes manter a viabilidade do
5
membro.

Artéria tibial anterior


6
A artéria tibial anterior é o ramo de bifurcação an-
11 terior da artéria poplítea (Fig. 3.64). Da sua ori-
gem dirige-se para a frente, atravessa o orifício
7
compreendido entre a ti.bia, o peróneo (fibula) e
o bordo superior do ligamento interósseo descen-
do até ao bordo inferior do ligamento frondiforme
(porção do retináculo extensor do tarso). Na per-
na, localiza-se no interstício formado, atrás pelo
Fig. 3.63: Rede anastomótica peri--genicular. ligamento interósseo nos ¾ superiores e face late-
1. Artéria femoral 2. Artéria genicular descendente 3. Ramo
descedente da circunflexa lateral 4. Artéria popliteia 5. Artéria ral da ubia no¼ inferior, por dentro pelo múscu-
genicular superior 6. Artéria geniOJlar inferior 7. Artéria tibial lo tibial anterior e por fora pelos músculos exten-
posterior 8. Artéria tibial anterior 9. Artéria peroneal 10. Artéria
recorrente tibial posterior11 . Artéria recorrente tibial anterior sores. Na região maleolar, passa atrás do ligamen-
to frondiforme e tendão do extensor próprio do
As artérias geniculares superiores uma lateral e 1.0 dedo. No seu trajeto, a artéria tibial anterior é
outra medial, que contornam o fémur por cima acompanhada pelo nervo peroneal profundo que
do respetivo côndilo. A lateral origina um ramo cruza a sua face anterior obliquamente para bai-
superior para o quadríceps e um ramo inferior xo e para dentro.
para a rede peri-rotuliana. A medial divide-se Tem como principais ramos os musculares, o re-
num ramo profundo para o vasto medial e um corrente tibial anterior, o recorrente tibial poste-
ramo superficial para as faces anterior e lateral rior, o maleolar ântero-medial e o maleolar ân-
do joelho. A artéria genicular média, que se di- tero-lateral

319
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

<lindo-se em ramos cutâneos e articulares. A ma-


leolar ântero-lateral tem origem ao nível do ramo
anterior e dá ramos cutâneos e ramos para a face
lateral do calcâneo.

Artéria dorsal do pé

A artéria tibial anterior denomina-se artéria dor-


sal do pé ou artéria pediosa depois de passar o bor-
do inferior do ligamento frondiforme. Dirige-se
4 sobre a face dorsal do pé até à extremidade pos-
terior do primeiro espaço interósseo que atraves-
sa para se anastomosar com a artéria plantar late-
ral. Neste trajeto, localiza-se junto ao bordo late-
ral do longo extensor do 1.0 dedo, repousa sobre os
14 ossos e articulações do tarso e é coberta pelo mús-
culo pedioso e respectiva fáscia.
Tem como principais ramos colaterais a társica la-
16
teral, as társicas mediais, a artéria do seio do tarso, a
artéria arcuata e a metatarsica dorsal do 1.0 espaço.
A társica lateral dirige-se para a frente e para fora,
passa sob o extensor curto dos dedos (pedioso) e
termina sobre o bordo lateral do pé onde se anas-
tomosa com a peroneal anterior e a maleolar ânte-
ro-lateral, em cima, com a arcuata, à frente, e com
a plantar lateral, por fora. As társicas mediais exis-
tem geralmente duas mediais, uma proximal e ou-
8
tra distal, que se ramificam pelo bordo medial do
pé e contribuem para a formação de uma rede ar-
11
terial maleolar medial. A artéria do seio do tarso
dirige-se para fora até à entrada no seio do tarso,
13
situado entre o tálus (astrágalo) e o calcâneo, per-
corre o canal e anastomosa-se com um ramo da
Fig. 3.64: Artéria tibial anterior. plantar medial.
1. Tíbia 2. Maléolo medial 3. Maléolo lateral 4. Artéria tibial anterior
5. Nervo peroneal profundo 6. Nervo peroneal superficial 7. Artéria A artéria arcuata nasce da pediosa atrás do primei-
recorrente tibial anterior 8. Artéria dorsal do pé 9. Ramos maleolares ro espaço interósseo, dirige-se para fora descre-
10. Artéria társica lateral 11 . Artéria társica medial 12. Artéria arcuata
13. Artéria metatársica dorsal do 1.º espaço 14. Músculo tibial anterior vendo uma curva de concavidade posterior sobre
15. Músculo extensor longo dos dedos 16. Músculo peroneal longo a base dos metatársicos e termina sobre o bordo
lateral do pé, anastomosando-se com a dorsal do
A recorrente tibial anterior, ascende pelo múscu- tarso e plantar lateral. Da sua convexidade nascem
lo tibial anterior e ramifica-se pela rede peri-ro- três ramos, os metatársicos dorsais dos três últimos
tuliana, anastomosando- se sobretudo com ramos espaços. Cada um dos metatársicos dorsais divide-
da popliteia e peroneal circunflexa. A recorrente -se atrás do espaço interdigital em dois ramos, os
tibial posterior, ascende anteriormente ao mús- colaterais dorsais dos dedos vizinhos. Cada meta-
culo popliteu, e anastomosa-se predominante- társico dorsal anastomosa-se, por um ramo per-
mente com as geniculares inferiores. A maleolar furante posterior, com a arcada plantar e, por urn
ântero-medial tem origem acima do ligamento ramo perfurante anterior, com o metatársico plan-
anular e termina sobre o respetivo maléolo divi- tar correspondente.

320
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: ARTÉRIAS E VEIAS

A metatársica dorsal do primeiro espaço divide- um trajeto de 3 ou 4 cm, bifurcando-se nas arté-
-se na extremidade anterior do primeiro espaço rias tibial posterior e peroneal (Fig. 3.65). Relacio-
interdigital, num ramo medial, que dá os colate- na-se, à frente, com o tibial posterior e, atrás, com
rais dorsais medial e lateral do 1.0 dedo, e num o solhar, do qual se encontra separado pelo tronco
ramo lateral que dá o colateral dorsal medial do venoso tfuio-peroneal e nervo tibial.
2.º dedo. Origina também uma perfurante ante- Importa assinalar dois ramos colaterais a arté-
rior que se anastomosa com a interóssea plantar ria recorrente tibial medial, que se ramifica so-
do 1.º espaço. bre o côndilo medial (tuberosidade interna) da
tfuia, anastomosando-se com a genicular fnfero-
Tronco tibio-peroneal -medial da poplftea, a artéria nutritiva da tfuia,
que irriga a tfuia e músculos vizinhos.
O tronco tfbio-peroneal é o ramo de bifurcação
posterior da artéria politeia. Tem origem no anel Artéria peroneal
do solhar, desce verticalmente, e termina depois de
A artéria peroneal é o ramo de bifurcação lateral
do tronco tfuio-peroneal. Da sua origem, atrás do
tibial posterior, insinua-se entre este músculo e o
flexor próprio do 1.0 dedo, e atinge a face posterior
do ligamento interósseo, seguindo-o até à sua ex-
tremidade inferior. Encontra-se coberta por fibras
do flexor próprio do 1.0 dedo em grande parte do
seu trajeto. Atrás da artéria e destas fibras, encon-
tra-se a fáscia profunda da perna e o solhar.
9
6 Tem como ramos colaterais numerosos ramos
musculares, a artéria nutritiva do peróneo e um
ramo anastomótico transversal (ramo comunican-
8
te peroneal) que se anastomosa, acima dos maléo-
los, com um ramo análogo proveniente da artéria
tibial posterior.
Junto à extremidade inferior do ligamento in-
terósseo, divide-se em dois ramos terminais: arté-
10
ria peroneal anterior, que atravessa a extremidade
inferior do ligamento interósseo, anastomosando-
-se sobre a face anterior da articulação tibiotársi-
ca com a maleolar lateral, e a artéria peroneal pos-
terior, de maior calibre, que desce atrás do maléolo
lateral até à face lateral do calcâneo onde se anas-
tomosa com a peroneal anterior, maleolar lateral,
társica lateral e a plantar lateral.

Artéria tibial posterior

A artéria tibial posterior é o ramo de bifurcação


medial do tronco tfuio-peroneal (Fig. 3.66). Desce
Fig. 3.65: Tronco tibio•peroneal. à frente do solhar e fáscia profunda da perna, atrás
1. Artéria popliteia 2. Nervo tibial 3. Tronco tibio•peronal 4. Arteria dos músculos tibial posterior, em cima, e flexor co-
tibial posterior 5. Artéria peroneal 6. Artéria tibial anterior 7 . Músculo
popliteu 8. Músculo solhar 9. Arco tendinoso do músculo solhar mum dos dedos, em baixo, até à goteira calcanea-
10. Músculo flexor longo dos dedos 11 . Músculo tibial posterior na (canal társico de Richet), onde se divide nas ar-
12. Músculo longo flexor do 1.º dedo 13. Retináculo flexor

321
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

7 8

10

Fig. 3.66: Artéria tibial posterior (tarso).


1. Maléolo medial 2. Calcâneo 3. Retináculo flexor 4. Tendão de Aquiles 5. Artéria tibial posterior 6. Nervo tibial 7. Tendão do músculo tibial
posterior 8. Tendão do músculo flexor longo dos dedos 9. Tendão do músculo longo flexor do 1.0 dedo 10. Artéria e nervo plantares mediais
11. Músculo flexor curto dos dedos 12. Músculo abdutor do 1.0 dedo

térias plantar medial e plantar lateral (Fig.3.67). cada sobre o quadrado plantar (acessório do lon-
O nervo tibial encontra-se geralmente póstero- go flexor) e recoberta sucessivamente pelos mús-
-lateralmente à artéria. Na região maleolar, locali- culos abdutor do 1.0 dedo e curto flexor dos de-
za-se atrás da bainha tendinosa do flexor comum dos. Qyando chega ao nível da extremidade pos-
dos dedos e à frente da bainha do flexor próprio do terior do 5.0 metatársico, penetra sob os tendões
1.0 dedo, que contém também o nervo tibial. do flexor comum e dirige-se para dentro e para a
Tem como principais ramos colaterais ramos frente. Neste segundo segmento, chamado "porção
musculares, a artéria peroneal circunflexa, que se transversal ou arcada plantar", a artéria passa sob a
anastomosa com um ramo análogo peroneal, o base dos metatársicos e sobre a extremidade poste-
ramo comunicante tibial, que se anastomosa com rior dos músculos interósseos, encontrando-se co-
um ramo comunicante da artéria peroneal, ramos berta pelo flexor comum e pelo adutor oblíquo do
maleolares mediais, que se distribuem pela região 1.0 dedo. A artéria plantar lateral termina na ex-
maleolar medial; pode por vezes existir uma ar- tremidade posterior do primeiro espaço interósseo
téria maleolar póstero-medial de maior calibre, a anastomosando-se com a pediosa.
artéria do canal társico, que se anastomosa com a A porção oblíqua da artéria plantar lateral dá ra-
artéria do seio társico e contribui para a irrigação mos aos músculos que lhe são contíguos, ossos e
do tálus, e ramos calcaneanos para o calcâneo e articulações.
partes moles da respectiva região póstero-medial. Os principais ramos colaterais nascem da arcada
plantar, as perfurantes posteriores, a colateral dor-
Artéria plantar lateral sal lateral do 5. 0 dedo, as metatársicas plantares do
2.0 , 3.0 e 4.0 espaços e a metatársica do 1.0 espaço.
A artéria plantar lateral é mais volumosa que a As artérias perfurantes posteriores, atravessam de
medial e parece ser o prolongamento da tibial pos- baixo para cima a extremidade posterior dos espa-
terior. ços interósseos e anastomosam-se com as interós-
Da sua origem, a artéria plantar lateral dirige-se seas dorsais. As metatársicas plantares dos 2.0 , 3.0
para a frente e para fora até à parte média do bor- e 4.0 espaços anastomosam-se na extremidade an-
do lateral do pé. Nesta primeira parte do seu traje- terior do espaço interósseo com a metatársica dor-
to, denominada "porção oblíqua", encontra-se apli- sal correspondente, pelos ramos perfurantes an-

322
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: ARTÉRIAS E VEIAS

- .,.-,~,y~ - - - 11
10

Fig, 3.67: Arcadas arteriais plantares.


1. Artéria tibial posterior 2. Artéria plantar medial 3. Artéria plantar lateral 4. Artérias metatársicas plantares 5. Artéria plantares profundas
6. Músculo abdutor do 1.0 dedo 7. Músculo abdutor do 5.0 dedo 8. Músculo quadrado plantar 9. Músculo flexor curto do 1 .º dedo 10. Músculo
flexor do 5.º dedo 11. Músculo adutor do 1.º dedo

teriores, dividindo-se -depois em dois . ramos que VEIAS TRIBUTÁRIAS DA ILÍACA INTERNA
se tornam na ~olateral plantar lateral do dedo que
está por dentro e artéria plantar medial do dedo A veia glútea superior forma-se junto ao bordo su-
que está por fora. A metatársica do 1.0 espaço dá perior da incisura isquiática maior, resultando da
um ramo medial, a colateral plantar medial do 1.0 anastomose das veias satélites dos ramos da artéria
dedo, e um ramo lateral, que se divide em colateral glútea superior. Forma um plexo que envolve a ar-
plantar lateral do 1.0 dedo e colateral plantar me- téria e o nervo glúteo superior.
dial do 2.0 dedo. A veia glútea inferior é um volumoso tronco ve-
noso que acompanha a artéria. A veia pudenda in-
Artéria plantar medial terna surge na região glútea quando contorna a es-
pinha ciática, no trajeto da pequena para a incisu-
A artéria plantar medial dirige-se para o primeiro ra isquiática maior. Encontra-se, tal como a arté-
dedo. Encontra-se recoberta pelo abdutor do pri- ria, por fora do nervo. A veia obturadora resulta
meiro dedo, cruza a face inferior do tendão do lon- da anastomose das veias satélites dos ramos da ar-
go flexor comum, alonga-se junto ao bordo medial téria, localizando-se no canal infra-púbico junta-
do tendão do longo flexor próprio e termina for- mente com a artéria por dentro do nervo.
mando a colateral medial do 1.0 dedo. Por vezes,
dá um ramo lateral que passa sobre os tendões fle- VEIAS TRIBUTÁRIAS DA ILÍACA EXTERNA
xores e se anastomosa com as metatársicas do 1.0
e 2.0 espaço. As veias tributárias da ilíaca externa distinguem-
-se em veias profundas e veias superficiais, confor-
me a sua posição relativamente à fáscia superficial.
DRENAGEM VENOSA DO MEMBRO As veias do sistema superficial comunicam com as
INFERIOR do sistema profundo através de ramos que atraves-
sam a fáscia denominando-se, por isso, veias per-
As veias do membro inferior podem ser divididas furantes. As veias comunicantes são aquelas que
em dois grupos: as veias tributárias da ilíaca inter- anastomosam veias pertencentes ao mesmo com-
na e as veias do membro inferior propriamente di- partimento (superficial ou profundo).
tas, tributárias da ilíaca externa.

323
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Veias profundas A veia femoral segue-se à veia poplítea e estende-


-se até um pouco abaixo da origem da artéria fe-
As veias profundas, à exceção do tronco venoso moral profunda, onde se anastomosa com a veia
tibio-peroneal, a veia poplítea e veia femoral, são femoral profunda. No seu trajeto, enrola-se em es-
duas por artéria e têm o mesmo nome da artéria piral à volta da artéria e, é desta forma que a veia,
que acompanham. As duas veias satélites de uma situada por fora da artéria no hiato adutor, se en-
artéria comunicam entre elas por numerosas anas- contra diretamente atrás dela na parte média da
tomoses transversais (Fig. 3.68). Todas estas veias coxa e por dentro ao nível da sua terminação. Re-
apresentam válvulas, tal como os seus colaterais cebe, como colaterais, as veias satélites dos ramos
que têm sempre uma válvula ostial. da artéria femoral superficial. Após receber a fe-
moral profunda, continua-se até ao espaço retro-
2
-inguinal, localizando-se medialmente à artéria
femoral. Recebe depois como principal ramo cola-
teral a veia safena interna.
A veia femoral profunda localiza-se na vertente
ântero-medial da respectiva artéria, juntando-se
com a veia femoral um pouco abaixo da origem
da artéria femoral profunda. Junto à sua termina-
ção, recebe numerosos ramos colaterais, satélites
5
dos ramos da artéria femoral profunda. As veias
do quadríceps e circunflexa femoral lateral cruzam
a face anterior da artéria femoral profunda, ocu-
4
pando o ângulo de bifurcação entre esta artéria e a
femoral superficial.

Veias superficiais

As veias superficiais formam, no tecido celular


subcutâneo, uma rede venosa dependente de dois
Fig. 3.68: Sistema de drenagem venosa do membro inferior. principais troncos coletores, as veias safenas, inter-
1. Fáscia 2. Veia profunda 3. Veia superficial 4. Válvulas venosas
5. Veia comunicante 6. Veia perfurante
na (grande veia safena ou magn.a) e externa (pe-
quena veia safena ou parva) (Fig.3.69).
O tronco venoso tibio-peroneal sobe atrás e um
pouco por dentro da artéria, à frente e por den- Rede venosa do pé
tro do nervo tibial. Por vezes, existem dois troncos
venosos tíbio-peroneais que acompanham lateral- Existe na face dorsal do pé uma rede venosa super-
mente o tronco arterial. ficial, na qual se distingue uma arcada venosa dorsal
A veia poplítea resulta da união do tronco ve- superficial, convexa para a frente, que cruza a região
noso tibio-peroneal com as veias tibiais anterio- metatársica e continua nas suas extremidades pelas
res. As suas relações com a artéria variam de bai- veias marginais medial e lateral. Esta arcada recebe
xo para cima: na sua extremidade inferior, a veia o sangue da rede superficial dorsal, as veias dorsais
localiza-se atrás e um pouco por dentro da arté- dos dedos e as veias interdigitais que anastomo-
ria; no seu trajeto ascendente contorna em espiral sam a arcada venosa plantar com a arcada dorsal.
o tronco arterial de tal forma que, na porção mé- Na face plantar do pé, existe a arcada venosa plan-
dia está atrás da artéria e, na extremidade superior tar que se localiza ao longo da raiz dos dedos e co-
está por fora. A veia poplítea recebe as veias saté- munica com a arcada dorsal através das suas ex-
lites dos colaterais da artéria poplítea e a veia sa- tremidades e das veias interdigitais. De cada lado
fena externa. da rede plantar, originam-se troncos coletores que

324
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: ARTÉRIAS E VEIAS

rnam o bordo do pé drenando para a veia Grande veia safena


conto
arginal dorsal correspondente.
;s duas veias marginais dorsais do pé estendem- Segue-se à veia superficial dorsal medial, passa à
-se da frente para trás até à extremidade inferior frente do maléolo medial, sobe verticalmente na
da perna onde originam as veias safenas. face medial da perna,junto ao bordo medial da tí-
bia e contorna atrás a face lateral do côndilo me-
dial do fémur. Na coxa, segue um trajeto oblíquo
para cima, para a frente e para fora, paralelo ao do
sartório, atravessa afáscia cribrifôrmis e lança-se na
veia femoral, descrevendo uma curva de concavi-
dade inferior designada "crossa da grande safena".
A grande veia safena é acompanhada, na coxa,
pelo ramo cutâneo do nervo musculo-cutâneo in-
terno e pelo ramo safeno do acessório do safeno
interno e, na perna, pelo nervo safeno.
A grande veia safena recebe veias posteriores da
4 rede dorsal do pé, veias superficiais da parte ânte-
ro-medial da perna, a totalidade das veias subcu-
tâneas da coxa e ainda as veias epigástricas super-
ficiais, circunflexa ilíaca superficial e pudendas ex-
ternas superior e inferior que drenam para a sua
crossa.
No seu trajeto, o sistema da veia safena interna
tem várias anastomoses com as veias do sistema
profundo, das quais se destacam as perfurantes in-
framaleolares, entre as veias marginais e as veias
plantares; as perfurantes de Cockett, entre um
ramo posterior da veia safena interna e as veias ti-
'11 biais posteriores, ao nível da metade distal da per-
1 na, as perfurantes de Boyd, entre a veia safena in-
1
1 terna e o tronco tfüio-peroneal ou veia poplítea, ao
1
1 nível do terço superior da perna, as perfurantes de
1
1
1
Dodd, entre a veia safena interna e a veia femoral
1 superficial, no terço distal da coxa, e as perfurantes
''
1
1
de Hunter entre a veia safena interna e a veia fe-
moral superficial no terço médio da coxa.

Pequena veia safena

Segue-se à marginal dorsal lateral, passa atrás do


maléolo lateral, percorre um trajeto oblíquo para
cima e para dentro até à parte média da perna,
2
onde atravessa a fáscia superficial, tornando-se
sub-fáscial, e sobe verticalmente entre os dois gas-
trocnémios, atrás do nervo safeno lateral. No es-
Fig. 3.69: Drenagem venosa do membro inferior. cavado popliteu, encontra-se entre as fáscias su-
1. Veia femoral 2. Arcada venosa dorsal do pé 3. Grande veia safena
4. Veia femoral cutânea anterior 5. Veia safena acessória 6. Veia perficial e profunda até ao nível da interlinha ar-
circunflexa superficial 7. Veia epigástrica superficial 8. Veia pudenda ticular, onde se lança na face posterior da veia po-
externa

325
MANUAL D E ANATOMIA HUMANA

plítea, descrevendo uma curva de concavidade in- 4. Relativamente à flebologia (veias) indique a
ferior designada "crossa da pequena veia safena". frase certa:
A pequena veia safena recebe ramos da região a. A veia basílica origina-se na umeral.
plantar lateral e faces posterior e lateral da per- b. O "M" venoso do sangradouro localiza-se
na e tem anastomoses com as veias plantares late- no punho juntamente com as veias cefáli-
rais e peroneais. ca e basílica.
O sistema da pequena veia safena encontra-se fre- c. A veia subclávia localiza-se atrás da arté-
quentemente em comunicação com o sistema da ria subclávia.
safena interna através da veia de Giacomini. Esta d. A veia safena interna após passar na face
veia tem origem na pequena veia safena ao nível posterior da perna termina na região po-
do escavado popliteu, e termina na grande safe- plítea.
na, na face medial da coxa, a uma altura variável. e. Existem inúmeras anastomoses perfuran-
tes entre os sistemas superficial e profundo
do membro inferior.
PERGUNTAS TIPO
i,r-1> ig-c 1:J-r '.Q-1
1. Não é ramo da artéria cubital: :s,nsods;,~
a. O ramo carpiano dorsal.
b. O ramo carpiano palmar.
c. A artéria interóssea comum.
d. O ramo palmar superficial. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
e. O ramo palmar profundo.
Rouviere, H.; Delmas A.Anatomía H umana
2. Sobre as artérias dos membros, qual das se- Descriptiva, topogrrifica y foncional,.11." Edition.
guintes afirmações é falsa? Elsevier, 2005.
a. A artéria poplítea origina-se na femoral. Standring, S. Gray's Anatomy-1he anatomical
b. A artéria radial origina-se na umeral. basis ofclinicalpractice. 41th Edition. Churchill-
c. A artéria plantar lateral origina-se da ti- Livingstone Elsevier, 2016.
bial anterior.
d. A artéria dorsal do pé situa-se no 1.0 espa- Testut, L.; Latarjet, A. Tratado de anatomía
ço interósseo. humana. 9.• edição Salvat Editores, S.A., 1999.
e. A artéria umeral (braquial) fornece um Van D e Graaf, KM.; Fox, SI. Concepts ofHuman
importante colateral nutritivo para o ho- Anatomy & Physiology. 5th edition. WCB/
mónimo. McGraw-Hill, 1999.

3. Considerando as veias superficiais do mem- Wind, G.; Valentine,].Anatomic Exposures


bro inferior, assinale a correta: in Vascular Surgery. 3rd Edition. Lippincott
a. A veia Safena interna ou grande safena ou Williams&Wilkins, 2013.
safena magna origina-se no bordo lateral Netter, F. Atlas de Anatomia humana. 6.• Edição.
do pé. Elsevier, 2015.
b. A veia Safena interna passa adiante do
maléolo tibial.
c. A veia Safena externa ou pequena Safena
termina na face medial da perna.
d. A veia Safena interna termina a nível da
região poplítea.
e. A veia Safena interna passa na face late-
ral da coxa.

326
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: LINFÁTICOS

LINFÁTICOS mados "pré-linfáticos". A sua terminação ocorre


no sistema venoso central ao nível dos confluen-
O sistema linfático constitui um capítulo da Ana- tes jugulosubclávios (ângulos de Pirogoff): dueto
tomia Humana cujo conhecimento é de grande torácico à esquerda e dueto linfático direito (gran-
importância para a compreensão de muitos pro- de veia linfática) à direita. A inversão do sentido
cessos fisiopatológicos e de atos clínicos e cirúr- da drenagem linfática originando correntes retró-
gicos, send~ essencial para a defesa ~.unológi- gradas pode ocorrer por fenómenos obstrutivos,
ca do orgarusmo contra agentes patogerucos com por exemplo no contexto da metastização tumo-
antigénios invasores (bactérias, vírus, parasitas) e ral. Estas, podem assumir grande importância por
também em contexto oncológico ou auto-imune, serem suscetíveis de transportar linfa (e dissemi-
podendo nestas situações ser igualmente alvo de nar metástases) para zonas não habituais.
doença. Intercalados nestes vasos, localizam-se os gânglios
Como já foi mencionado, ele inclui os órgãos/teci- linfáticos que são pequenos órgãos, arredondados
dos linfáticos ou linfoides, os vasos e a própria lin- ou em forma de feijão, agrupados em grupos (ca-
fa (Fig. 3.70). deias ganglionares). Os gânglios linfáticos são sede
Os órgãos linfoides são constituídos por um tipo de processos fisiológicos de fundamental impor-
especial de tecido conjuntivo com grande núme- tância participando na clearance de bactérias e par-
ro de linfócitos (T e/ou B) e tendo células aces- tículas estranhas, no armazenamento de linfócitos
sórias. Podem ser designados de "primários ou se- B e T, na produção de anticorpos, na proliferação
cundários", consoante produzam esses componen- de linfócitos Te na apresentação de anticorpos aos
tes celulares do Sistema Imunológico ou corres- linfócitos pela intervenção de macrófagos e células
pondam aos locais onde ocorrem a sua prolifera- reticulares. Podem também participar em proces-
ção e diferenciação bem como as respostas imu- sos fisiopatológicos importantes, onde é de realçar
nológicas (celular ou humoral). Todos os linfóci- a disseminação de células tumorais pelo sistema
tos originam-se na medula óssea vermelha, os B linfático (metastização linfática). O s gânglios lin-
saindo como células maduras e os T completando fáticos apresentam vasos aferentes por onde che-
a sua maturação no timo; pelo que a medula ós- ga a linfa e vasos eferentes pelos quais ela se diri-
sea e o timo são ambos órgãos linfoides primários. ge desse gânglio a outros vasos ou cadeias ganglio-
Os órgãos linfoides secundários incluem por sua nares. Considerada em conjunto, cada cadeia gan-
vez o baço; os gânglios linfáticos; o tecido linfoide glionar tem também os seus vasos aferentes e efe-
tonsilar do anel de Waldeyer cervico-cefálico; e os rentes que devem ser conhecidos. De facto, utili-
agregados de linfócitos e células apresentadoras de zando um exemplo prático, se for identificada uma
antigénios da mucosa do tubo digestivo (MALT), adenopatia tumoral num determinado gânglio ou
como as placas de Peyer, e dos brônquios do Siste- grupo ganglionar, o conhecimento das respectivas
ma Respiratório (BALT). aferências deve orientar a busca do órgão sede do
A linfa originada no espaço intersticial retorna ao processo tumoral primitivo. Igualmente, o conhe-
sistema sanguíneo pela circulação linfática, a qual cimento das eferências dessa cadeia ganglionar ou
tem ainda a capacidade de remover proteínas e mesmo do próprio tumor primitivo e sua repeti-
partículas. O s vasos linfáticos são canais que con- va drenagem linfática pode orientar a pesquisa de
duzem a linfa para o sistema venoso central atra- metástases linfáticas à distância.
vés de confluências múltiplas formando vasos de
maior calibre. São valvulados, ou seja, no seu inte- NOTA DE ANATOMIA CLÍNICA
rior localizam-se válvulas unidirecionais, bicúspi-
des, que impedem o refluxo. Qiase todos os teci- Gânglio Sentinela
dos do corpo possuem canais linfáticos e aqueles O chamado "gânglio sentinela" é o 1.0 gânglio
em que estes não são evidentes (como o cristalino, de uma determinada área ganglionar ou territó-
o corpo vítreo, a cartilagem, a placenta ou o siste- rio de drenagem linfática a ser metastizado por
ma nervoso central) parecem apresentar os cha- um tumor, conceito muito importante na práti-

327
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

ca clínica. Pode ser identificado, como por exem-


plo em neoplasias da mama, através da injeção
no tumor de um fármaco marcado com material
radioativo identificável em estudos de Medici-
na Nuclear ou então de um corante, com poste-
rior biopsia do gânglio marcado, na sequência da
drenagem linfática daquela área em estudo; neste
caso no escavado axilar. Caso a biopsia ganglio-
nar referida seja negativa, presume-se que os res-
tantes gânglios axilares estão também poupados,
evitando-se assim um esvaziamento axilar adi-
cional à cirurgia mamária (bem como a sua mor-
bilidade associada). É possível, desta forma, me-
lhorar o estadiamento e a qualidade de vida dos 4
nossos doentes. Infelizmente, não se consegue
aplicar este raciocínio a todos os tumores e re- 9
6
giões do nosso organismo, existindo áreas de dre-
nagem linfática mais complexa e multidirecional
bem como lesões com capacidade de originarem
"skiping" metastases saltando gânglios até terri-
tórios um pouco mais longínquos (como aconte-
ce, por exemplo, em tumores da cabeça e do pes-
coço). A investigação nesta área é um dos desa-
fios da Oncologia.
A sistematização da anatomia da circulação linfá-
Fig. 3.70: Órgãos Linfóides.
tica reveste-se de alguma complexidade pela mul- 1. Tonsila laríngea (adenóides) 2. Tonsila (amígala) lingual 3. Timo 4.
tiplicidade de vias e correntes em cada região e Baço 5. Placas de Peyer 6. Apêndice íleo-cecal 7. Medula óssea
8. Dueto torácico 9. Cisterna chili (Pecquet) 10. Confluente jugulo-
também pela variedade de áreas de drenagem que subdávio esquerdo 11 . Confluente jugulo-subdávio direito e dueto
muitos órgãos apresentam. Assim, é importante linfático direito (grande veia linfática)

sistematizar a organização geral do sistema linfá-


tico normal, descrevendo as principais correntes e CABEÇA E PESCOÇO
agrupamentos ganglionares de forma a que a sua
descrição ao nível de cada órgão ou sistema seja Na cabeça e pescoço podem considerar-se clas-
mais facilmente compreensível. sicamente quatro grupos ganglionares principais:
círculo ou colar pericervical, gânglios sublinguais,
gânglios retrofaríngeos e gânglios cervicais ante-
ORGANIZAÇÃO GERAL DO SISTEMA riores e laterais (Fig. 3.71).
LINFÁTICO NORMAL O círculo pericervical é constituído por seis gru-
pos de gânglios (occipital, mastoideu, parotídeo,
As estruturas do sistema linfático apresentam, ao submandibular, geniano ou facial e submentonia-
nível da cabeça, do pescoço e dos membros, uma no ou supra- hioideu) de cada lado e que, no seu
localização superficial (supra-fascial) ou profunda conjunto, se dispõem em círculo ou colar na zona
(sub-fascial); em relação às cavidades distinguem- da união da cabeça com o pescoço:
-se em parietais e viscerais consoante se relacio- • Grupo occipital: é constituído por 1 a 3 gân-
nam com as paredes ou os órgãos respetivos. glios localizados na região occipital, abaixo da
protuberância occipital exterior, e que rece-
bem a linfa da porção occipital do couro ca-
beludo e da parte superior e posterior do pes-

328
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: LINFÁTICOS

coço. Drenam para os gânglios laterais pro- nha média entre os ventres anteriores dos dois
fundos do pescoço, em particular para a ca- músculos digástricos. Recebe linfáticos do
deia do nervo espinhal. menta, do lábio inferior, da gengiva inferior,
Grupo mastoideu: é formado por 1 a 4 gân- do pavimento bucal e da língua. Drena para a
glios relacionados com o processo mastoi- cadeia jugular interna e para os gânglios sub-
de do temporal. Coleta linfáticos do pavi- mandibulares de ambos os lados.
lhão auricular, do meato acústico externo e
da porção temporal do couro cabeludo. Dre- Os gânglios sublinguais são inconstantes e relacio-
na para os gânglios posteriores da cadeia ju- nam-se com a base da língua.
gular interna. Os retrofaríngeos podem ser medianos (localiza-
Grupo parotídeo: é formado por 2 princi- dos na parte superior do espaço retrofaríngeo) e
pais subgrupos, nomeadamente os superfi- laterais (situados por fora das asas da faringe e à
ciais e os profundos; dentro dos profundos, frente das massas laterais do atlas). Somente exis-
temos os pré-auriculares, os infra-auriculares tem nos níveis axiais supra-hioideus. Recebem
e os intraglandulares. A parótida tem encap- linfa das fossas nasais, do ouvido médio e da mu-
sulamento tardio no desenvolvimento em- cosa da nasofaringe e da orofaringe e drenam para
brionário e como tal engloba aquelas estru- a cadeia jugular interna.
turas linfáticas, sendo uma "estação" ganglio- O grupo ganglionar cervical anterior compreen-
nar de drenagem de várias estruturas da ca- de gânglios localizados em volta da veia jugular
beça e pescoço, muito importante de consi- anterior (grupo cervical anterior superficial; gân-
derar na prática clínica, como por exemplo glios jugulares anteriores) e gânglios mais profun-
em situações tu.morais malignas. Recebe ca- dos ou justa-viscerais (grupo cervical anterior pro-
nais linfáticos das regiões temporal e frontal fundo). Estes são constituídos pelos grupos pré-ti-
do couro cabeludo, das pálpebras, da raiz da roideu (à frente da glândula tiroide), pré-traqueal
pirâmide nasal, dos ouvidos externo e médio, (à frente da traqueia), infra-hioideus (que incluem
da própria parótida e ainda da mucosa das os pré-laríngeos), pré-faríngeo (anterior à faringe)
fossas nasais. Drena maioritariamente para e paratraqueal (relacionado com os nervos larín-
os gânglios da cadeia jugular interna. geos recorrentes). Estes grupos de gânglios linfá-
Grupo submandibular: é constituído por 3 ticos recebem a linfa das regiões adjacentes, sobre-
a 6 gânglios profundos localizados junto ao tudo de territórios viscerais do pescoço, nomeada-
bordo inferior e face medial da mandíbula e mente da glândula tiroide, da laringe, da traqueia,
relacionados com a glândula submandibular. da faringe e do esófago; e drenam para a cadeia ju-
Divide-se nos subgrupos pré-glandular, pré- gular interna.
-vascular (à frente da veia facial) e retroglan- Os gânglios cervicais laterais dividem-se em su-
dular. Coleta linfáticos da pirâmide nasal, da perficiais e profundos. Os primeiros sào em nú-
região geniana, dos gânglios genianos, do lá- mero de 2 a 4 e estão agrupados na cadeia jugular
bio superior, das gengivas, do pavimento bu- externa, em volta da veia homónima. Os gânglios
cal e da parte medial das pálpebras. Drena cervicais laterais profundos podem ser agrupados
também para a cadeia jugular interna. em três cadeias clássicas importantes: a cadeia ju-
Grupo geniano ou facial: é composto por gular interna, a cadeia do nervo acessório ou espi-
gânglios localizados no sulco nasogeniano em nhal e a cadeia cervical transversa (formando, no
relação com os vasos faciais. Podem por ve- seu conjunto, o clássico "triângulo de Rouviere").
zes ser individualizados gânglios bucinadores, A cadeia jugular interna é formada por um con-
nasolabiais, malares e mandibulares. Recebe junto numeroso de gânglios satélites desta veia e
linfáticos da pirâmide nasal e região geniana e localizados principalmente junto às suas faces an-
drena para os gânglios submandibulares. terior e lateral. Esta cadeia drena a linfa dos gân-
Grupo submentoniano: é constituído geral- glios do colar peri-cervical, das cadeias sublingual
mente por 2 ou 3 gânglios que se situam nali- e retrofaríngea, dos gânglios cervicais anteriores e

329
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

também das cadeias cervical transversa e espinhal. gânglio de Virchow (que, caso aumentado na pal-
É, assim, o grande confluente linfático da cabe- pação, constitui o chamado "sinal de Troisier").
ça e do pescoço. Na sua parte inferior origina-se Esta via recebe linfa da cadeia do nervo espinhal,
o tronco jugular que vai terminar à esquerda na de linfáticos da região ântero-lateral do pescoço e
crossa do dueto torácico e à direita vai unir-se aos de alguns vasos do membro superior e da região
troncos subclávio e broncomediastínico direitos, mamária. Termina na cadeia jugular interna.
formando o dueto linfático direito ou então ter-
minar diretamente no confluente venoso jugulo- NOTA DE ANATOMIA CLÍNICA
-subclávio direito.
Esta sistematização dos linfáticos da cabeça e do
pescoço, na prática clínica e sobretudo se atender-
mos a referências de interesse cirúrgico, pode ser
um pouco diferente; em níveis ganglionares (con-
cretamente sete, em numeração romana: I a VII;
por vezes subsistematizados), também a saber:
6
• Nível IA: submentonianos (supra-hioideus
mediais ao ventre anterior do digástrico);
• Nível IB: submaxilares (supra-hioideus la-
terais ao ventre anterior do digástrico e an-
teriormente ao limite posterior da glândula
submaxilar, adiante do eixo carotídeo);
5
• Nível IIA: jugulares internos superiores (su-
pra-hioideus recobertos pelo músculo ester-
nocleidomastoideu e mais anteriores, inclui
o jugulodigástrico, habitualmente o domi-
nante);
• Nível IIB: jugulares internos superiores (re-
cobertos pelo músculo esternocleidomastoi-
11 8
deu mas mais posteriores, em relação com a
Fig. 3.71: Drenagem linfática da cabeça e pescoço.
veia jugular interna):
1. Gânglios occipitais 2. Gânglios mastoideus 3. Gânglios parotideos • Nível III: jugulares internos médios (infra-
superficiais 4. Gânglios submandibulares 5. Gânglios submentonianos
6. Gânglios faciais 7. Cadeia jugular anterior 8. Cadeia cervical
-hioideus acima dos de nível IV);
transversa 9. Cadeia do nervo acessório 1O. Cadeia jugular interna • Nível IV: jugulares internos inferiores (abai-
(gânglios cervicais laterais profundos superiores) 11. Gânglios supra-
xo do bordo inferior da cartilagem cricoide da
claviculares 12. Gânglio jugulo-digástrico
laringe ou do tendão intermédio do músculo
A cadeia espinhal é constituída por cerca de 10 omohioideu, inclui o gânglio de Virchow que
gânglios satélites do ramo lateral do nervo aces- também pode ser descrito com a cadeia cer-
sório (XI par craniano), penetrando com ele sob o vical transversa e o escavado supraclavicular);
musculo trapézio. Recolhe linfáticos provenientes • Nível VA: espinhais superiores (atrás do mús-
de alguns gânglios occipitais e mastoideus, bem culo trapézio no triângulo cervical posterior,
como da porção póstero-lateral do couro cabelu- e acima do bordo inferior da cartilagem cri-
do. Os linfáticos eferentes desta cadeia terminam coide da laringe ou do tendão intermédio do
na cadeia cervical transversa. músculo omohioideu);
A cadeia cervical transversa é formada por gân- • Nível VB: espinhais inferiores (atrás do mús-
glios dispostos transversalmente seguindo os vasos culo trapézio no triângulo cervical posterior,
cervicais transversos. O seu gânglio mais interno, mas abaixo do bordo inferior da cartilagem
já quase na fossa supraclavicular e na porção mais cricoide da laringe ou do tendão intermédio
inferior da cadeia jugular interna, é conhecido por do músculo omohioideu);

330
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: LINFÁTICOS

Círculo peri-cervical superficial


Retrofaríngeos


••• e
EI
IV Cervicais transversos
IV
·----VI Ili
Fig. 3.72A: Gânglios da cabeça e pescoço. Fig. 3.72B: Gânglios da cabeça e pescoço.
1. Nível IA (subment onianos) 2. Nível 18 (submaxilares) 3. Níveis IIA, 1. Nível 1(submentonianos e submaxilares) 3. Níveis li, Ili e IV ijugulares
11B, Ili e IV ijugulares internos) 4. Níveis VA e VB (espinhais) 5. Nível V1 internos) 4. N íveis VA e VB (espinhais) 5. Nível V1 (viscerais) 6. Nível
(viscerais) 6. Nível VII (mediastínicos ântero-superiores) VII (mediastínicos ãntero-superiores) 7. cadeias jugular interna +
espinhal + cervical transversa • triângulo de Rouviàre

Nível VI: pré-viscerais (nível infra-hioideu MEMBRO SUPERIOR


medial ao eixo carotídeo, inclui os cervicais
anteriores e os da cadeia recorrencial nas go- A drenagem linfática do membro superior com-
teiras traqueoesofágicas); põe-se de estruturas superficiais e profundas (Fig.
• Nível VII: mediastínicos ântero-superiores 373Ae B).
(podem ser considerados uma "estação" gan- A rede linfática superficial divide-se em 3 vias
glionar ainda loco-regional em alguns tumo- principais: medial do antebraço, que atinge o gân-
res da cabeça e do pescoço e não ainda uma glio supratroclear; medial do braço que chega aos
metastização linfática à "distância" no tórax). gânglios axilares; lateral, que drena para os gân-
glios do sulco deltopeitoral.
Acrescem os gânglios do território facial, acima do O s gânglios linfáticos superficiais do membro su-
bordo inferior da mandíbula e incluindo os paro- perior englobam as seguintes estruturas:
tídeos já salientados, e os mais posteriores do cír- • Gânglios supratrocleares: situam-se sobre o
culo ganglionar peri-cervical; os gânglios sublin- epicôndilo medial e recebem a linfa dos dois
guais; e os retrofaríngeos. ou três dedos mediais e da parte medial da
O conceito de gânglios supraclaviculares em Ra- mão. O s seus vasos eferentes acompanham a
diologia considera os níveis IV e VB, sendo tam- veia basílica em direção ao sistema profundo.
bém parcialmente coincidentes com a cadeia cer- • Gânglios deltopeitorais ou infraclaviculares:
vical transversa do "triângulo de Rouviêre" na des- encontram-se em relação com a crossa da veia
crição linfática clássica. cefálica, recebem a linfa da parte lateral da
mão e últimos dedos e os seus vasos eferen-
tes atingem os gânglios axilares.
• Gânglios posteriores da espádua: localizam-
-se no tecido subcutâneo da região escapu-

331
M ANUAL DE ANATOMIA HUMANA

D lil
Fig. 3.73: Drenagem linfática do membro superior.
A: Vista anterior B: Vista posterior
1. Gânglios axilares 2. Gânglios supratrocleares 3. Região medial do antebraço 4. Região medial do braço 5. Região lateral

lar, coletam a linfa dos segmentos regionais e • Grupo posterior ou subescapular: localiza-se
drenam para o grupo posterior da axila. contra a omoplata, junto aos vasos escapula-
res posteriores e recebe a linfa da parte infe-
As vias linfáticas profundas do membro supe- rior da nuca, da parede posterior do dorso e
rior acompanham os vasos profundos, atingindo da região escapular.
predominantemente o grupo lateral ou braquial • Grupo anterior ou peitoral: situa-se perto do
dos gânglios axilares. Contudo, no seu trajeto, in- bordo inferior do peitoral menor, em redor
tercalam-se alguns gânglios linfáticos profundos dos vasos torácicos laterais. Drenam a por-
do antebraço e braço. ção peitoral e ântero-lateral supra-umbilical
Os gânglios axilares assumem grande importân- do tronco, assim como a mama. Os seus efe-
cia clínica pela frequência da metastização linfá- rentes drenam para o grupo central e parcial-
tica do cancro da mama. Localizam-se no tecido mente para o grupo apical.
adiposo da axila, são em número de 15 a 30 e é • Grupo central: encontra-se disperso pela
neles que se concentra a linfa do membro supe- gordura da fossa axilar, recebe aferentes de to-
rior, da região escapular e de parte da parede to- dos os grupos anteriores e drena para os gân-
rácica. Dividem-se em 5 grupos consoante a sua glios apicais.
localização: • Grupo apical: é posterior à porção superior
• Grupo lateral, umeral ou braquial: situa-se do peitoral menor e estende-se até ao ápex
junto da face medial da veia axilar e ao nível da fossa axilar, medialmente à veia axilar. Os
da emergência da veia escapular inferior e re- seus únicos aferentes diretos são aqueles que
cebe a maioria da linfa do membro superior. acompanham a veia cefálica, assim como al-

332
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRJO: LINFÁTICOS

guns que drenam a porção periférica supe- Scarpa), sobre aJascia cribiformis, e sistematizados
rior da mama. Recebe aferentes dos restan- classicamente por uma linha vertical e outra hori-
tes grupos ganglionares axilares. O s seus efe- zontal que se cruzam ao nível da crossa da gran-
rentes unem-se num tronco linfático subclá- de veia safena e os dividem em quatro quadrantes.
vio (tronco braquial), que drena de formava- Os quadrantes inferiores recebem a linfa superfi-
riável para o sistema venoso: à direita pode cial do membro inferior; o quadrante súpero-me-
contribuir para a formação do dueto linfá- dial recebe os linfáticos superficiais dos órgãos ge-
tico direito; à esquerda termina geralmente nitais externos, períneo, ânus, parte medial da re-
na crossa do dueto torácico. Alguns eferentes gião glútea e da porção medial da parede abdomi-
dos gânglios apicais podem drenar para os nal inferior. Para o quadrante súpero-lateral drena
gânglios cervicais profundos inferiores (su- a linfa da parte lateral da região glútea e parede ab-
pra-claviculares). dominal inferior.
Os vasos eferentes dos gânglios inguinais superfi-
Alguns gânglios deltopeitorais (também conheci- ciais dirigem-se, atravessando a fascia cribifarmis,
dos por gânglios infi-a-claviculares) surgem poste- para os gânglios inguinais profundos e ilíacos ex-
riormente à veia cefálica, no sulco entre o peitoral ternos.
maior e o deltoide, inferiormente à clavícula. Os O sistema linfático profundo do membro in-
seus eferentes atravessam a fáscia clavipeitoral até ferior é constituído por coletores que são satéli-
aos gânglios axilares apicais. Alguns podem passar tes dos vasos sanguíneos, tomando o seu nome.
anteriormente à clavícula até aos gânglios cervi- A via principal é constituída por vasos pediosos,
cais profundos inferiores (supra-claviculares). Po- tibiais anteriores, tibiais posteriores e fibulares
dem também existir gânglios interpeitorais (Rot- (peroneais), os quais terminam nos gânglios tibial
ter; Grossmann), situados entre os músculos pei- anterior e popliteus. D aqui seguem, acompanhan-
torais maior e menor. do os vasos femorais superficiais, para os gânglios
inguinais profundos, e daí para a cavidade pélvica.
H á ainda a considerar a via que acompanha a ar-
MEMBRO INFERIOR téria obturadora, e que termina no grupo ilíaco ex-
terno, e as vias que seguem as artérias glútea e is-
A drenagem linfática do membro inferior é cons- quiática e que drenam para os gânglios hipogástri-
tituída por uma rede superficial e outra profun- cos (ou ilíacos internos).
da, conforme a sua situação supra ou infi-afascial O s gânglios profundos dividem-se em três grupos:
(Fig. 3.74). • Grupo tibial anterior: constituído em geral
No que diz respeito ao sistema superficial, os va- apenas por um gânglio que se localiza à frente
sos reúnem-se em troncos coletores que resultam da porção superior do ligamento interósseo,
da confluência dos capilares linfáticos. Os tron- junto à passagem da artéria tibial anterior, e
cos coletores mediais seguem o trajeto da grande recebe os linfáticos profundos tibiais anterio-
veia safena e os troncos coletores laterais dirigem- res drenando para os gânglios popliteus.
-se para cima e para dentro, cruzando a face ante- • Grupo popliteu: formado por 3 a 6 gânglios
rior da perna e da coxa e terminando nos troncos que se agregam em 3 subgrupos (anterior,
coletores mediais. Os troncos coletores posteriores médio e posterior). Os gânglios popliteus re-
da perna seguem o trajeto da pequena veia safena, cebem os eferentes do gânglio tibial anterior,
atingindo o gânglio justasafeno (safeno externo), e os linfáticos tibiais posteriores e fibulares (pe-
os da face posterior da coxa e da região glútea dre- roneais) bem como os troncos coletores su-
nam para os gânglios inguinais superficiais. perficiais posteriores que seguem a pequena
Os gânglios linfáticos superficiais do membro in- veia safena. Têm como eferentes os gânglios
ferior localizam-se na região inguinal constituin- popliteus e as vias que acompanham os vasos
do o grupo ganglionar inguinal superficial. São 8 femorais superficiais, terminando nos gân-
a 12 gânglios situados no triângulo femoral (de glios inguinais profundos.

333
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Grupo inguinal profundo: constituído por 2 A localização dos grupos ganglionares na cavi-
ou 3 gânglios situados por dentro da veia fe- dade pélvica acompanha os principais pedículos
moral e dos quais o mais superior é denomi- vasculares. Há a considerar quatro cadeias gan-
nado "gânglio de Cloquet". Encontra-se no glionares:
compartimento linfático do espaço retro-in- • Cadeia ilíaca externa: é composta por cer-
guinal, designado por "canal femoral (canal ca de 10 gânglios que rodeiam os vasos ilía-
crural; infunclfbulo crural de Richet)"; con- cos externos recebendo os vasos provenien-
cretamente no anel femoral, que correspon- tes dos gânglios inguinais profundos e assim
de ao orillcio superior do canal femoral. Este do membro inferior, do qual recebem ainda a
grupo linfático recebe, para além da drena- cadeia que acompanha os vasos obturadores.
gem dos linfáticos profundos do membro in- A esta cadeia chegam também vasos linfáti-
ferior, a linfa da glande ou do clítoris e a pro- cos provenientes da bexiga, da uretra, do úte-
veniente do grupo inguinal superficial. Os ro e da próstata, bem como da parte inferior
seus vasos eferentes dirigem-se para os gân- da vertente medial da parede abdominal atra-
glios ilíacos externos. vés das vias linfáticas que acompanham os va-

D lil
Fig. 3.74: Drenagem linfática do membro inferior.
A: Vista anterior B: Vista posterior
1. Troncos colectores mediais 2. Troncos colectores laterais 3. Gânglios inguinais superficiais 4. Grupo justa safeno 5. Veia safena interna 6. Veia
safena externa 7. Troncos posteriores da perna

334
p
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: LINFÁTICOS

sos epigástricos inferiores. Os eferentes da ca- feriores e circunflexos ilíacos profundos, respec-
deia ilíaca externa drenam para os gânglios da tivamente. Os gânglios da cadeia umbilical têm
cadeia ilíaca primitiva. uma localização adjacente à vertente medial do
• Cadeia hipogástrica ou ilíaca interna: é for- umbigo. Todas estas cadeias drenam linfa da ver-
mada por 4 a 8 gânglios que se situam em tente medial da parede abdominal ântero-late-
volta da ramificação dos vasos ilíacos inter- ral e os seus vasos eferentes dirigem-se às cadeias
nos. Recebem vasos linfáticos provenientes ilíacas externa e comum bem como às cadeias
das vísceras da cavidade pélvica e também da justafrénicas torácicas.
região glútea através das cadeias que acompa- Os gânglios do grupo lombar (lombo-aórtico)
nham os vasos glúteos e isquiáticos. Os seus são em número de 40 a 50 e encontram-se dis-
vasos eferentes dirigem-se para a cadeia ilía- postos em volta da aorta abdominal e da veia cava
ca primitiva. inferior. São agrupados em gânglios lombares es-
• Cadeia ilíaca comum: localizada em redor querdos (que incluem os aórticos laterais, pré-
dos vasos com o mesmo nome, desde a bifur- -aórticos e retro-aórticos), os lombares intermé-
cação da aorta até ao início das artérias ilíacas dios e os lombares direitos (que incluem os cávi-
externa e interna. Coleta a linfa provenien- cos laterais, pré-cávicos e retro-cávicos). Assim,
te da cadeia ilíaca externa (e assim dos mem- podemos afirmar que os lombares esquerdos são
bros inferiores), da cadeia ilíaca interna (e as- aqueles que se encontram em redor da aorta; os
sim da cavidade pélvica), e ainda alguns va- lombares direitos são aqueles que se encontram
sos linfáticos que vêm diretamente da prósta- em redor da veia cava inferior; os lombares in-
ta, do útero, da vagina e da uretra. A sua dre- termédios são aqueles que se encontram entre os
nagem faz-se na direção dos vasos lombares dois grandes vasos, também podendo ser desig-
(lombo-aórticos). nados por "inter- aorto-cávicos".
• Cadeia pré-sagrada: os gânglios que for- Aos gânglios lombares (lombo-aórticos) chega a
mam esta cadeia situam-se sobre a face an- linfa vinda das cadeias ilíacas primitivas e pré-sa-
terior do sacro, lateralmente em relação ao grada, a linfa parietal do abdómen, parte da dre-
recto. Recebem vasos linfáticos da parede nagem linfática do testículo, ovário, útero, rim,
posterior da cavidade pélvica e do recto e glândula supra-renal, bem como parte da linfa
drenam para os gânglios ilíacos primitivos e visceral do andar supra-mesocólico do abdómen.
lombo-aórticos. Este conjunto ganglionar constitui um impor-
tante núcleo linfático que concentra a linfa da
metade inferior do corpo. Destes gânglios resul-
ABDÓMEN tam os troncos eferentes lombares direito e es-
querdo que, unindo-se ao tronco intestinal que
Na sistematização do sistema linfático do abdó- concentra a linfa visceral do abdómen, formam o
men consideram-se vias e grupos ganglionares dueto torácico, o qual constitui uma via rápida de
parietais (localizados junto às paredes da cavida- transporte da linfa para o sistema venoso no con-
de), e viscerais (em relação com as vísceras nela fluente jugulo-subclávio esquerdo.
contidas) (Fig. 3.75). A drenagem linfática visceral do abdómen inclui
O sistema ganglionar parietal do abdómen com- vias e grupos ganglionares em relação com os res-
porta as estruturas relacionadas com a parede petivos vasos sanguíneos pelo que a nomenclatu-
ântero-lateral, nomeadamente as cadeias epigás- ra segue, de um modo geral, a dos principais va-
trica inferior, umbilical e circunflexa ilíaca, e as sos.
relacionadas com a parede posterior que consti- Consideram-se neste sistema seis cadeias princi-
tuem o grande confluente linfático formado pe- pais: cadeia do tronco celíaco, da artéria gástrica
los gânglios lombares (lombo-aórticos). As ca- esquerda, da artéria esplénica, da artéria hepática,
deias epigástrica inferior e circunflexa ilíaca si- da artéria mesentérica superior e da artéria me-
tuam-se em relação com os vasos epigástricos in- sentérica inferior. Claro está que existirão outras

335
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

cadeias, de menores dimensões, satélites da res-


tante vasculatura abdominal visceral.
• Cadeia do tronco celíaco: é composta por al-
guns gânglios localizados junto à origem da-
3
quele tronco.
3
• Cadeia da artéria gástrica esquerda (coroná-
6
ria estomáquica): dispõe-se em volta da foice
daquela artéria, bem como no seu trajeto ao 4

longo da curvatura menor do estômago. Sub-


divide-se em gânglios da foice da coronária 14
no seu segmento inicial, gânglios da curvatu-
ra menor e gânglios justa-cárdicos (localiza-
dos junto do esófago abdominal e da transi-
ção esófago-gástrica).
• Cadeia esplénica: é constituída por gânglios
que acompanham todo o trajeto desta arté-
ria ao longo do bordo superior do pâncreas
(gânglios supra-pancreáticos), gânglios situa- Fig. 3.75: Drenagem linfática abdominal.
dos no hilo do baço (esplénicos) e ainda gân- 1. Gânglios frénicos inferiores 2. Gânglios celíacos 3. Gânglios
mesentéricos superiores 4. Gânglios mesentéricos inferiores 5. Tronco
glios dispostos à volta da artéria gastro-epi- intestinal 6. Tronco lombar esquerdo 7. Tronco lombardireito 8. Cisterna
plóica esquerda (da qual são homónimos). chili (Pecquet) 9. Gânglios lombares 10. Gânglios ilíacos primitivos
11. Gânglios ilíacos externos 12. Gânglios ilíacos internos 13. Gânglios
• Cadeia da artéria hepática: é formada por sagrados laterais 14. Gânglios sagrados medianos
gânglios que se dispõem à sua volta (gânglios
da artéria hepática), gânglios anexos ao pilo-
ro (gânglio pilórico e gânglios relacionados
com a artéria gastro-epiplóica direita), gân- TÓRAX
glios das arcadas pancreáticas (gânglios pan-
creático-duodenais) e por um gânglio óstico A sistematização dos grupos ganglionares linfáti-
(relacionado com o canal do mesmo nome e cos do tórax considera gânglios parietais, que re-
que participa na drenagem linfática da vesí- cebem principalmente a linfa das paredes da cavi-
cula biliar). dade, e gânglios viscerais que drenam os órgãos aí
• Cadeias mesentérica superior e mesentéri- existentes (Fig. 3. 76).
ca inferior: compostas por gânglios situados Nos linfáticos parietais do tórax distinguem-se
ao longo dos eixos principais destas artérias três grupos: parietal posterior, cadeia torácica (ma-
(centrais), por gânglios localizados no mesen- mária) interna e grupo diafragmático.
tério e no mesocólon (periférico) e ainda um • Grupo parietal posterior: inclui alguns gân-
grupo intermediário, situado entre os dois. glios pré-vertebrais e os gânglios intercos-
tais localizados entre a cabeça de cada cos-
O sentido da corrente linfática visceral é nor- tela e a pleura parietal respectiva. Estes gân-
malmente centrípeto, ou seja, em direçâo às ca- glios drenam a parede póstero-lateral do tó-
deias do tronco celíaco e das artérias mesentéri- rax, a pleura parietal costal e anastomosam-
cas. Daqui, partem alguns linfáticos eferentes di- -se com a rede linfática raquidiana. A termi-
retamente para os gânglios lombares, o que acon- nação dos vasos eferentes varia com os espa-
tece principalmente no andar supra-mesocólico, ços intercostais: os dos 1.0 e 2. 0 espaços diri-
mas a maior parte da linfa mesentérica é concen- gem-se à base do pescoço, até ao confluente
trada num tronco intestinal que vai contribuir para venoso jugulo-subclávio; os dos restantes es-
a formação do dueto torácico na parte superior do paços intercostais terminam direta ou indire-
retroperitoneu, ou mesmo já na cavidade torácica. tamente no dueto torácico.

336

MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: LINFÁTICOS

Cadeia torácica interna: é constituída por Gânglios mediastínicos anteriores ou pré-


6 a 10 gânglios situados ao longo daque- -vasculares: localizam-se no mediastino ân-
les vasos. Recebe a linfa da porção supra- tero-superior à frente dos grandes vasos. Di-
-umbilical da parede abdominal ante- videm-se em três cadeias: mediastínica ante-
rior, da parte anterior dos espaços inter- rior direita (ou pré-venosa), que acompanha
costais e dos quadrantes internos da mama. a veia cava superior, vasos frénicos superio-
A drenagem eferente faz-se para o tronco res e veia braquiocefálica direita; mediastínica
bronco-mediastínico. anterior esquerda (ou pré-arterial ou pré-aór-
• Grupo diafragmático: pequenos conjuntos tico-carotídea), situada anteriormente à cros-
de gânglios em volta da base do pericárdio so- sa da aorta e à artéria carótida comum esquer-
bre a convexidade do diafragma. Dividem-se da; e mediastínica anterior transversal, a qual
em gânglios anteriores (ou pré-pericárdicos) anastomosa entre si as duas cadeias preceden-
e laterais (ou látero-pericárdicos). Este gru- tes, situada anteriormente à veia braquiocefá-
po recebe linfa do diafragma, da pleura dia- lica esquerda. Os gânglios mediastínicos an-
fragmática, do pericárdio, do peritoneu dia- teriores recebem linfa do timo e do coração e
fragmático e do figado pela via transdiafrag- os vasos eferentes terminam nos gânglios pe-
mática de Kuttner. Os linfáticos eferentes di- ri-traqueo-brônquicos e no canal torácico.
rigem-se à cadeia torácica interna e aos gân- • Gânglios mediastínicos posteriores ou justa-
glios mediastínicos anteriores e posteriores. -esofágicos: dividem-se em peri- ou retro-e-
sofágicos consoante a sua localização em re-
Os grupos ganglionares viscerais do tórax siste- lação àquele órgão. Contribuem para a drena-
matizam-se em gânglios mediastínicos anteriores, gem linfática do mediastino posterior e, so-
mediastínicos posteriores, peri-traqueobrônquicos bretudo, do esófago. Os vasos eferentes diri-
e intrapulmonares. gem-se em cima para as cadeias cervicais pro-
fundas e em baixo para o canal torácico.
• Gânglios peri-traqueobrônquicos: locali-
6 zam-se entre os dois grupos anteriores, na
parte média do tórax. Rodeiam a traqueia e
os brônquios e dividem-se em vários subgru-
8 pos. Em redor dos brônquios lobares, temos
2
os gânglios pulmonares (intrapulmonares),
cujos eferentes terminam nos gânglios linfá-
ticos broncopulmonares (hilares). Estes ori-
ginam eferentes que terminam, de formava-
riável, nos gânglios traqueobrônquicos supe-
riores e inferiores, que se situam, respectiva-
mente, superiormente e inferiormente à bi-
furcação da traqueia.

Além dos órgãos mediastínicos adjacentes, este


grupo recebe ainda linfa abdominal proveniente
da via periesofágica a qual atinge principalmente
os gânglios brônquicos esquerdos, participando
na via de Santos Ferreira (ver adiante). Os vasos
Fig. 3.76: Drenagem linfática da cavidade torácica . eferentes contribuem para a formação do tronco
1. Gânglios intra-pulmonares 2. Gânglios bronco-pulmonares (hilares) broncomediastínico homolateral e atingem tam-
3. Gânglios intertraqueobrônquicos 4. Gânglios subcarinais 5. Cadeia
latero-traqueal 6. Gânglios pré-traqueais 7. Tronco bronco- bém diretamente os gânglios supraclaviculares,
mediastínico direito 8. Tronco bronco-mediastínico esquerdo 9. Dueto mais frequentemente à esquerda.
linfático direito 1 O. Dueto torácico

337
MANUAL DE ANATOMIA H UMANA

VIAS ABDÓMINO-TORÁCICAS torácico atravessa o trígono da artéria ver-


tebral de Waldeyer, limitado mediaimente
Finalmente, pela sua importância fisiopatológica, pelo músculo longo do pescoço e esófago, la-
importa sistematizar as vias linfáticas abdómino- teralmente pelo escaleno anterior e inferior-
torácicas as quais são suscetíveis de transportar mente pela primeira costela).
rapidamente para locais distantes a linfa origina- • Via para-esofágica de Santos Ferreira: via
da na parte inferior do corpo ou cavidade abdo- com ponto de partida nos gânglios da região
minal. Esta característica, consequência da res- cárdica e que através dos plexos linfáticos eso-
pectiva pobreza em gânglios intercalados (o que fágicos atinge diretamente os gânglios brôn-
constitui a principal diferença em relação às vias quicos esquerdos. Daí segue para a cadeia lá-
linfáticas mais comuns), assume grande relevân- tero-traqueal esquerda e para os gânglios su-
cia na disseminação tumoral. Descrevem-se as praclaviculares esquerdos. É neste contexto
seguintes vias: que se pode encontrar, na fossa supraclavicu-
• Dueto torácico (Fig. 3.77): grande via de lar esquerda, adenopatias por metastização de
drenagem linfática das regiões abaixo do tumores infra-diafragmáticos, nomeadamen-
diafragma. A sua origem resulta da união, te gástricos, esofágicos ou ováricos.
variável, de três troncos: tronco intesti- • Via para-cávica: via linfática que acompa-
nal, que drena predominantemente a lin- nha o trajeto diafragmático da veia cava infe-
fa do território mesentérico superior (linfa rior e faz a comunicação entre as cadeias gan-
da maior parte do tubo digestivo); e os tron- glionares para-aórticas com os gânglios jus-
cos lombares esquerdo e direito, que se ori- ta-frénicos direitos. D estes, a corrente linfá-
ginam no grande centro de confluência lin-
fática que são os gânglios lombares ou lom-
bo- aórticos. Qyando a união destes troncos 10 8

se faz simultaneamente abaixo do diafragma


(o que ocorre em cerca de 35% dos casos), a 9

origem do dueto torácico apresenta uma di-


latação conhecida por cisterna do quilo ou
cisterna de Pecquet, situada geralmente ao
6
nível de L2. Qyando a origem do dueto to-
rácico é alta, acima do diafragma, verifica-se
a união do tronco intestinal ao tronco lom-
bar esquerdo dentro do abdómen e a jun-
ção deste tronco comum com o tronco lom-
bar direito já na cavidade torácica, forman-
do aqui o dueto torácico. Este vai percorrer a
face látero-direita da aorta, à frente dos cor-
pos vertebrais, para terminar no confluen-
te venoso jugulo-subclávio esquerdo (ângu-
lo de Pirogoff esquerdo), fazendo um traje-
to final em forma de crossa. É nesta que vão
terminar os troncos jugular, braquial e bron-
co-mediastínico esquerdos. Dadas as dife-
rentes relações supra- diafragmáticas, pode-
mos-lhe distinguir os seguintes segmentos,
de inferior para superior: segmento inter-á- Fig. 3.77: Canal torácico.
1. Veia Cava Superior 2. Veia Cava Inferior 3. Veia ázigos 4. Esófago
zigo-aórtico; segmento supra-aórtico; seg- 5. Aorta torácica 6. Dueto torácico 7. Dueto linfático direito 8. Tronco
mento cervical (em que a crossa do dueto linfático jugular 9. Tronco linfático subclávio 10. Tronco bronco-
mediastínico direito 11. Gânglio mediastínico posterior

338
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: LINFÁTICOS

tica pode atingir os gânglios supra-clavicula- Ambos os lobos possuem uma cápsula fibrosa, a
res através das cadeias torácica interna e me- partir da qual se destacam septos que penetram
diastínica anterior. até à junção cortico-medular e separam parcial-
, Via trans-diafragmática de Kuttner: segue mente os lóbulos, que são irregulares.
os numerosos vasos linfáticos perfurantes do O timo é irrigado por ramos das artérias torácica
diafragma e que fazem comunicar vias abdo- interna e tiroideia inferior.
minais com vias torácicas, constituindo um As veias do timo drenam para a veia braquioce-
mecanismo de importante difusão linfática. fálica esquerda, veia torácica interna e veias tiroi-
• Via para-umbilical: formada por coletores deias inferiores.
que seguem o ligamento redondo ou a apo- O timo não possui vasos linfáticos aferentes, os
nevrose umbilico- prévesical, atingindo gân- linfáticos eferentes têm origem na medula do
glios justa-frénicos torácicos. timo e na junção corrico-medular, através de es-
paços perivasculares, junto às artérias e veias do
órgão.
TIMO O timo é inervado pela cadeia simpática late-
m -vertebral, através do gânglio cervico-toráci-
O timo é um dos dois órgãos linfoides primários, co (gânglio estrelado) e através da ansa subclá-
sendo o outro a medula óssea. via do vago.
É responsável pela formação dos linfocitos T e faz O timo deriva embriologicamente de várias es-
ainda parte do eixo neuroendócrino. truturas, sobretudo da 3.• bolsa faríngea bilate-
O aspeto macroscópico do timo varia muito com ralmente, de células mesenquimatosas, de célu-
a idade. É o órgão linfático mais desenvolvido no las linfoides e de tecido vascular.
período pré-natal, involui desde o nascimento até Ao corte apresenta um córtex exterior, denso e
a puberdade. É maior no recém-nascido e diminui celular, contendo essencialmente linfocitos T
gradualmente até aos quinze anos de idade, no en- ou timocitos, e uma medula interior, com menos
tanto mantém atividade até à velhice. O timo de células linfoides.
uma criança é um órgão proeminente na porção
anterior do mediastino superior, enquanto o timo
de um adulto de idade avançada mal pode ser re-
conhecido, devidas às alterações atróficas.
É um órgão lobulado e consistência mole, que
apresenta uma coloração cinzenta-rosada, medin-
do aproximadamente 5 cm de comprimento (altu-
ra), 4 cm de largura e 6 mm de espessura.
É composto por dois lobos alongados, direito e
esquerdo, unidos na linha média por um istmo
de tecido conjuntivo que se destaca da cápsula
de cada um dos lobos (Fig. 3.78). A maior par-
te do volume do timo localiza-se no mediastino
superior e anterior. A extremidade inferior pode
alcançar a quarta cartilagem costal. Em cima al-
cança com frequência o pescoço, chegando mes-
mo a alcançar o polo inferior dos lobos da glân-
dula tiroideia. Esta extensão cervical é explicada
pela origem embrionária do timo. A sua forma é
condicionada pelos órgãos adjacentes. No tórax
localiza-se atrás do manúbrio esternal. Existe por Fig. 3.78: Timo.
vezes tecido tímico ectópico ao nível do pescoço. 1. Troncos venosos braquiocefálicos 2. Timo 3. Pulmões 4. Coração

339
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

BAÇO Consideramos assim quatro faces, três margens


ou bordos, três ângulos e um vértice (Fig. 3.79 e
INTRODUÇÃO Fig. 3.80). A face póstero-lateral (ou diafragmá-
tica) é a mais extensa das quatro, sendo convexa,
O baço é um órgão linfoide secundário, onde os lisa e moldada pela cúpula diafragmática, estan-
linfócitos participam na resposta imune aos an- do totalmente revista por peritoneu. A face ânte-
tigénios. O baço também produz glóbulos ver- ro-medial (ou gástrica), está aplicada sobre a face
melhos e ajuda a remover os que estão envelhe- posterior do estômago, contendo o hilo espléni-
cidos da circulação. Possui uma cor avermelhada, co. Este encontra-se cerca de 1 cm anterior em
tem uma forma oval que se assemelha a um grão relação do bordo medial.
de café. Pesa cerca de 200 gramas e mede aproxi- A face ínfero-medial (ou renal) é moldada pelo
madamente 12 cm de comprimento, 7 cm de lar- polo superior do rim esquerdo, apresentando
gura e 3 a 4 cm de espessura; o tamanho e o peso uma concavidade menos pronunciada que a an-
do baço tendem a diminuir com a idade. Situa- terior. Por fim, a base (ou face cólica) continua
-se na região do hipocôndrio esquerdo, à esquer- inferiormente a face gástrica, aplicando-se sobre
da e atrás do estômago, por cima do pólo supe- o cólon.
rior do rim esquerdo e do ângulo esplénico do có- Dos três bordos, o anterior é o mais extenso (e ti-
lon. A sua superficie convexa olha para fora e a picamente o que é palpável em casos de espleno-
sua superficie plana olha para diante e para dentro. megália), separando a face diafragmática da face
O seu grande eixo é dirigido obliquamente para gástrica e apresenta na sua metade inferior in-
baixo, para diante e para fora, seguindo a orienta- cisuras características, adquirindo uma convexi-
ção da 10.ª costela. dade orientada para medial. O bordo posterior,
mais rombo, separa a face diafragmática da face
renal; e o bordo medial, separa a face gástrica da
face renal.

Fig. 3.79: Baço (vista anterior).


1. Face gástrica 2. Face diafragmática 3. Bordo anterior 4. Artéria
esplénica 5. Veia esplénica 6. Extremidade Inferior 7. Vértice

Fig. 3.80: Baço (vista medial).


CONFIGURAÇÃO EXTERIOR 1. Face gástrica 2. Face renal 3. Face cólica 4. Bordo anterior
5. Bordo posterior 6. Bordo medial 7. Vértice 8. Extremidade Inferior
9. Hilo esplénico
O baço é tipicamente considerado um tetraedro,
estando moldado pelos órgãos vizinhos e encon-
trando-se, no vivo, numa posição quase horizontal.

340
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: LINFÁTICOS

CONFIGURAÇÃO INTERIOR estômago, ao nível da curvatura maior. A face re-


nal relaciona-se com a porção ântero-lateral do
O baço encontra-se envolvido por duas túnicas. pólo superior do rim esquerdo, através do peri-
A túnica serosa ou externa é o peritoneu, que re- toneu parietal posterior. A face cólica, suportada
veste todo o órgão com excepção do seu hilo e pelo ligamento freno-cólico esquerdo, relaciona-
ao longo da linha de reflexão do ligamento es- -se com o ângulo esplénico do cólon.
pleno-renal. A túnica interna é a própria cápsu-
la esplénica, que é fibrosa e mantém a integrida-
de do parênquima esplénico, ao enviar trabécu-
las para o interior da substância do baço, rami-
ficando-se dentro dele para formar uma estrutu-
ra de suporte. O baço caracteriza-se, macrosco-
picamente, pela alternância entre estruturas lin-
fóides e vasculares, que formam respectivamente
a polpa branca e a polpa vermelha. A artéria es-
plénica vai dividir-se em ramos que entram no
baço e penetram na polpa branca como artérias
centrais. Estas saem da polpa branca e dividem-
-se na polpa vermelha. A polpa branca é forma- 4
da por agregados linfocitários formando corpús-
culos, os quais são atravessados por uma artéria.
A polpa vermelha é formada por seios e cordões
estruturados por células endoteliais e reticulares,
formando um sistema filtrante e capaz de seques-
trar os corpos estranhos com formas irregulares e Fig. 3.81: Relações do baço (corte axial).
de certa dimensão (glóbulos envelhecidos). 1. Baço 2. Estômago 3. Rim esquerdo 4. Glândula supra•renal esquerda
5. Aorta 6. Omento gastro-esplénico 7. Omento pancreato-esplénico
8. Bolsa omental
RELAÇÕES DO BAÇO

O baço é um órgão toraco-abdominal, sito na MEIOS DE FIXAÇÃO


loca esplénica (encerrada inferiormente pelo
polo superior do rim esquerdo e sustentaculum O baço, apesar de ser um órgão relativamente
lienis, medialmente pelo estômago e pelo pro- móvel, mantém a sua posição na loca esplénica,
longamento esquerdo da bolsa omental e late- por dois meios, as conexões peritoneais e as li-
ralmente pela cúpula diafragmática, sendo aber- gações vasculares, e a pressão contígua das vísce-
ta anteriormente). ras em redor do órgão, bem como a pressão in-
A face diafragmática relaciona-se com a face ab- tra-abdominal.
dominal do diafragma, que a separa da parte mais O peritoneu vai formar três pregas peritoneais
inferior do pulmão esquerdo, da pleura (seio cos- que o ligam a órgãos vizinhos (Fig. 3.81). O
to-frénico esquerdo) e das costelas. Esta face en- omento gastro-esplénico, que une a curvatura
contra-se projectada entre a 9.ª e 11.ª costelas, maior do estômago ao hilo do baço, e que trans-
num espaço compreendido entre uma linha ver- porta os vasos gástricos curtos e a artéria gas-
tical que dista 4-5 cm da linha espinhal e a linha tro-omental esquerda; o ligamento posterior do
axilar média, sendo assim um órgão profundo. baço, que une o retroperitoneu à face visceral do
A face gástrica, recebendo o hilo esplénico, re- baço, compreendendo uma porção vertical (no
laciona-se, através da bolsa omental, com a face seio da qual se encontra o omento pancreato-es-
posterior do estômago. O bordo anterior do baço plénico - contendo a cauda do pâncreas e os va-
é a porção que se relaciona directamente com o sos esplénicos superiormente) e uma porção ho-

341
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

rizontal (ligamento gastro-frénico); o ligamento veia esplénica que atinge a face posterior do Pân-
espleno-cólico, que é inconstante e liga a mar- creas, trajecto no qual recebe a veia mesentérica
gem inferior do baço ao ângulo esquerdo do có- inferior, para ao nível da face posterior do colo do
lon (Fig. 3.82). A contribuir também para o nor- pâncreas se anastomosar com a veia mesentérica
mal posicionamento do baço, existe o ligamento superior e formar o tronco da veia porta. Esta veia
freno-cólico esquerdo (sustentaculum lienis), que recebe como colaterais os vasos gástricos curtos e a
suporte a extremidade inferior do baço. veia gastro-omental esquerda.
A drenagem linfática é feita através dos gânglios
do bilo esplénico, cujos troncos seguem a cadeia
5 esplénica para drenar nos gânglios celíacos.
Os nervos do baço provêm do plexo solar, nomea-
damente dos gânglios semi-lunares, seguindo 0
trajecto das artérias para atingir o baço.

4 NOÇÕES DE ANATOMIA CLÍNICA

No casos em que se verifica uma laxidão (que pode


ser congénita ou adquirida - trauma ou gravidez)
ou uma modificação da normal anatomia dos
meios de fixação do baço, este órgão ganha mo-
bilidade podendo, não só tomar outras localiza-
ções na cavidade peritoneal (tipicamente pélvica)
fora da loca esplénica, como sofrer fenómenos de
torção esplénica, necrose da cauda do pâncreas ou
2 3
formação de quistos esplénicos.
O baço é o órgão mais frequente lesado por trau-
Fig. 3.82: Meios de fixação do baço.
1. Ligamento posterior do baço 2. Pâncreas 3. Cólon 4. Glândula
ma contuso fechado envolvendo o abdómen.
supra-renal esquerda 5. Diafragma A ruptura esplénica ocorre por lesão da cápsu-
la fibrosa que envolve o órgão, podendo condu-
VASCULARIZAÇÃO zir a hemorragia interna massiva. Entre as cau-
sas estão acidentes de viação, lesão resultante do
O baço é vascularizado pela artéria esplénica impacto em desportos de contacto ou agressão,
(ramo do tronco celíaco) e pela artéria polar supe- quedas, etc. A ruptura da cápsula também pode
rior do baço (ramo colateral da artéria esplénica). ocorrer na sequência da esplenomegalia associa-
A artéria esplénica, proveniente do tronco celía- da a doenças como a Mononucleose infecciosa
co, caminha sobre o bordo posterior do pâncreas, ou a Malária.
sendo espiralada neste trajecto e fornecendo múl-
tiplos ramos pancreáticos - nomeadamente, pan-
creática dorsal, pancreática magna e da cauda do PERGUNTAS TIPO
pâncreas). Penetra com a cauda deste órgão no
omento pancreato-esplénico para atingir ao bilo 1. 01ial dos seguintes órgãos é considerado lin-
do baço, previamente ao qual se ramifica (de for- foide primário?
ma variável). É neste trajecto final que a artéria a. Baço.
esplénica fornece os seus ramos colaterais - vasos b. Gânglios linfáticos.
curtos e gastro-omental esquerda para o estômago. c. Timo.
A drenagem venosa do baço é feita pela união de d. Adenoides.
cinco a sete veias que saem do bilo esplénico, reú- e. Placas de Peyer.
nem-se em dois troncos principais, formando a

342
f MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: LINFÁTICOS

Rouviere, H.; Delmas, A.Anatomie Humaine:


2. Qyal dos seguintes níveis ganglionares cervi-
Descriptive, topographique etfonctionnelle; Tome I.
cais é supra-hioideu?
15' Édition Masson, Paris, 2002.
a. IIA.
b. Ili. Drake, R.; Vogl, AW; Mitchell, AWM. Grays
c. IV. anatomyfor students. Elsevier Health Sciences,
d. VB. 2014.
e. VI.

3. Qyal dos seguintes NÃO constitui um meca- •••


nismo de fixação do baço?
a. Ligamento espleno-cólico.
b. Omento pancreato-esplénico.
c. Omento gastro-esplénico.
d. Ligamento freno-cólico direito.
e. Pressão intra-abdominal.
ia-i iv- i 1:)-i
:s.isodso,1

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Rouviere, H.; Delmas, A. Anatomía Humana


Descriptiva, topográfica y funcional. 11.ª Edition.
Elsevier, 2005.
Standring, S. Grays Anatomy - 7he anatomical
basis ofclinicalpractice. 41th Edition. Churchill-
Livingstone Elsevier, 2016.
Testut, L.; Latarjet, A. Tratado de anatomía
humana. 9.• edição. Salvat Editores, S.A., 1999.
Van De Graaf, KM.; Fox ,SI. Concepts ofHuman
Anatomy & Physiology. 5th edition. WCB/
McGraw-Hill, 1999.
W ind, G.; Valentine, J.Anatomic Exposures
in Vascular Surgery. 3rd Edition. Lippincott
W illiams&Wilkins, 2013.
Netter, F. Atlas de Anatomia humana. 6.• Edição.
Elsevier, 2015.
H amsberger; et al. Head and Neck Diagnostic
Imaging. Amirsys, 3rd edition, 2017.
Allen, KB.; Gay, BB Jr.; Skandalakis,JE.
Wandering spleen: anatomic and radiologic
considerations. Southern MedicalJoumal.1992
Oct;85(10):976-984. DOI: 10.1097/00007611-
199210000-00011.

343
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

o estudo do coração e dos vasos da circulação, com


um detalhe anatómico crescente, algo semelhante
ao das figuras dos livros de anatomia a que os alu-
nos estão tão habituados.
O Sistema Circulatório, constituído pelo coração No que respeita à radiologia convencional, é im-
e pelos vasos, pode representar um desafio à práti- portante saber conceitos base de uma telerradio-
ca clínica diária de um m édico, nomeadamente no grafia do tórax em incidência p óstero-anterior
seu estudo imagiológico. (PA), particularizados noutro capítulo (Fig. 3.83).
Atualmente, são vários os métodos de imagem A coronariografia é um método angiográfico
que dispomos, que representam o nosso corpo que permite o estudo das artérias coronárias bem
humano tridimensional em duas dimensões e em como da sua patologia (com avaliação de extensão
reformatações de pós-processamento mais com- e gravidade) e, caso necessário, a realização de téc-
plexo que se aproximam cada vez mais da reali- nicas interventivas de revascularização como seja a
dade. vão desde a radiologia convencional, os vul- angioplastia (Fig. 3.84).
gares raio X; à angiografia, incluindo atos de in-
tervenção vascular realizados por radiologistas,
cirurgiões vasculares e cardiologistas (que por ve-
zes obviam a necessidade de uma cirurgia); à eco-
grafia; à tomografia computorizada; e à ressonân-
cia magnética. uns baseiam-se em radiação ioni-
zante; a radiologia convencional, a angiografia e a
tomografia computorizada; e outros não a usam,
como sejam a ecografia e a ressonância magné-
tica.

Fig. 3.84: Coronariografia (coronária direita).


1. Artéria coronária direita proximal 2. Interventricular posterior
(dominante) 3. Ramos marginais 4. Hemicúpula diafragmática direita
5. Hemicúpula diafragmática esquerda

A angiografia permite também estudar muitos


outros territórios vasculares, como seja por exem-
plo a aorta e seus ramos bem como as artérias para
os membros inferiores, estudos frequentes e que
possibilitam adicionalmente intervenção endovas-
cular caso necessária.
A ecografia é um método operador dependente,
que se baseia na propagação dos ultrassons em te-
Fig. 3.83: RX do t órax PA.
1. Área cardíaca 2. Arco aórtico 3. Hilos pulmonares
cidos com diferentes impedâncias acústicas, muito
útil em m ãos experientes e com dados funcionais
D estaco o enorme avan ço da tomografia compu- que podem ser também de capital importância na
torizada e da ressonância magnética nos últimos esfera da avaliação cardiovascular.
anos, que levaram ao uso dos novos conceitos de Pode auxiliar também algumas atitudes interven-
angio-TC e angio-RM; técnicas muito úteis para tivas, como por exemplo facilitando uma pericar-

344
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO:ANATOMIA CLÍNICA E IMAGIOLÓGICA

Fig. 3.86: Pericardiocentese.


1. Abordagem paraxifoideia 2. Abordagem apical

Fig. 3.85: Aortografia.


1. Artéria aorta abdominal 2. Artérias lombares 3. Artéria ilíaca comum
direita 4. Artéria ilíaca externa esquerda 5. Artéria hipogástrica (Ilíaca
interna} direita

diocentese (v ide Artérias e Veias do Tórax), em-


bora aquela técnica também possa ser feita "às ce-
gas" de emergência em situações de tamponamen-
to cardíaco. As abordagens mais comuns são a pa-
raxifoideia com a agulha orientada para a região
escapular esquerda e a apical com orientação me-
dial da agulha (Fig. 3.86).
A angio-TC veio substituir a angiografia diagnós-
tica em diversas situações, embora a angiografia de
Intervenção tenha o seu papel crescente nos dias Fig. 3.87: Angio-TC cardíaca.
de hoje em várias patologias tal como já salientado. 1. Ventrkulo esquerdo 2. Ventrículo direito 3. Átrio esquerdo 4. Átrio
direito 5. Artéria Aorta 6. Veia pulmonar 7. Eixo cardíaco
Em situações pré-cirúrgicas vasculares, a angio-TC
fornece geralmente dados fundamentais e/ou in-
dispensáveis à adequada programação do protoco- -esofágico em direção contralateral até atingir o
lo operatório (Fig. 3.87). membro superior direito (Fig. 3.88).
Por vezes, diagnostica variantes anatómicas, como A ressonância magnética baseia-se no movimen-
é o caso que se ilustra seguidamente de uma arté- to dos protões dos átomos de hidrogénio da água
ria lusória. Trata-se de uma origem aberrante da que entra na constituição dos diversos tecidos do
artéria subclávia direita como último tronco su- nosso organismo, em quantidade variável, para ob-
pra-aórtico na vertente esquerda do arco aórtico, ter diferentes intensidades de sinal que resultem
estando assim separada da artéria carótida comum na composição de uma imagem; com recurso a um
direita (e não existindo o habitual tronco arterial campo de elevada potência magnética e a pulsos
braquiocefálico), tendo trajeto parcialmente retro- de radiofrequência que orientam o referido movi-

345
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Fig. 3.88: Angio-TC: A (imagem axial) e B (reformat ação sagital).


1. Arco aórtico 2. Artéria carótida comum direita 3. Artéria carótida comum esquerda 4. Artéria subdávia esquerda 5. Artéria subclávia direita
- lusória 6. Artéria vertebral esquerda

mento protónico. As imagens fornecem boa reso-


lução espacial anatómica (Fig. 3.89) e também da-
dos de natureza funcional através de estudos dinâ-
micos e de perfusão.

Fig. 3.89: Ressonância magnética.


1. Ventrículo esquerdo 2. Aorta 3. Tronco pulmonar

346
p

4. SISTEMA RESPIRATÓRIO

O sistema respiratório é constituído pelas vias res- tém 95% de água. A filtração do ar resulta da pre-
piratórias e pelos pulmões. sença do muco, com as suas propriedades adesivas
As vias respiratórias compreendem o nariz, as fos- e da mudança do fluxo aéreo de laminar a turbi-
sas nasais, a faringe, a laringe, a traqueia e os brôn- lhonar, devido às características anatómicas da pa-
quios. O nariz, as fossas nasais, a faringe e a la- rede externa das fossas nasais, aumentando desta
ringe constituem as vias respiratórias superiores, a forma a superficie de contacto. A regulação do dé-
traqueia e os brônquios as vias respiratórias infe- bito aéreo nasal depende do sistema nervoso au-
riores. tónomo, segundo uma alternância de congestão
dos plexos cavernosos, que são plexos venosos si-
tuados na lâmina própria que originam a turges-
VIAS AÉREAS SUPERIORES cência da mucosa, em oposição de fase em cada
fossa nasal, mantendo a resistência total próxima
de um valor constante. Este ciclo nasal, definido
NARIZ E FOSSAS NASAIS desde 1895 por Kayser, identifica-se em 80% dos
adultos saudáveis e tem uma duração de 3 a 4 ho-
O nariz é um órgão ímpar que forma a primeira ras, pensando-se ter beneficias para a respiração e
porção do sistema respiratório. Está localizado em para o olfacto.
posição mediana no terço médio da face. É cons- Embriologicamente, o nariz forma-se a partir de
tituído pela pirâmide nasal, que se continua atrás diversos processos mesenquimatosos à volta da
com as fossas nasais. Comunica anteriormente boca primitiva ou stomodeum. Entre esses proces-
com o exterior através das narinas. As fossas na- sos insinua-se um espessamento ectodérmico - o
sais comunicam posteriormente com a nasofarin- placódio olfactivo - que formará o epitélio olfac-
ge através das choanas; estão rodeadas por expan- tivo.
sões arejadas, na espessura dos ossos adjacentes ao A pirâmide nasal (Fig. 4.1) é uma estrutura fibro-
nariz, os seios perinasais. -óssea-cartilagínea com um revestimento exte-
Entre as funções desempenhadas pelas fossas na- rior, com músculos e pele, e um revestimento inte-
sais incluem-se a olfactiva e a respiratória. A fun-
ção olfactiva, enquanto sensorial, promove o reco-
nhecimento de partículas pelo epitélio e a activa-
ção de um estímulo eléctrico correspondente para
o sistema nervoso central. Na função respiratória
as fossas nasais conseguem aquecer, filtrar, humi-
dificar e regular o débito do ar inspirado. A respi-
ração nasal prepara, desta forma, o ar para que a
via aérea inferior cumpra eficazmente a sua fun-
ção. O ar ambiente deve ser, em geral, filtrado, hu-
midificado e aquecido para chegar aos pulmões.
O aquecimento do ar resulta de uma transferên-
cia de calor das anastomoses directas presentes
no córion profundo que estão permanentemente
a 37.°C. A humidificação do ar faz-se por con-
vecção e difusão molecular, uma vez que o ar en- Figura 4.1: Cartilagens nasais.
1. Ossos próprios do nariz 2. Cartilagem alar maior 3. Cartilagem alar
tra em contacto directo com o muco, o qual con- menor 4. Cartilagem nasal lateral

347
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

rior de mucosa e pele circunscrita à região do nariz dois últimos inconstantes, e os respectivos mea-
onde se encontram pelos volumosos, as vibrissas. tos (Fig. 4.3).
O esqueleto cartilagíneo inclui a porção anterior
do septo na linha média, as cartilagens triangula-
4
res (nasais laterais) dispostas lateralmente e abaixo
destas, as cartilagens alares.

Figura 4.3: Configuração interior do nariz, vista inferior.


1. Narina 2. Concha nasal média 3. Concha nasal inferior 4. Septo
nasal

Estas conchas são saliências, em sentido ântero-


-posterior, decrescentes em tamanho de baixo para
cima, que têm uma cabeça anterior, um corpo in-
Figura 4.2: Narinas. termédio e uma cauda posterior (Fig.4.4).
1. Cartilagem do septo nasal 2. Pilar medial da cartilagem alar maior
3. Pilar lateral da cartilagem alar maior 4. Osso maxilar

As fossas nasais são duas fendas paralelas ao gran-


de eixo sagital, separadas pelo septo nasal (Fig.
4.2), identificado exteriormente pela columela,
que se estendem desde as narinas até às choanas 6

(ver capítulo Ossos da Cabeça).


O septo nasal, ou parede septal, que é a parede me-
dial de cada fossa nasal, tem três porções, de fren- 9
te para trás: a membranosa, a cartilagínea e a ós-
sea; esta inclui a lâmina perpendicular do etrnói-
de, o vómer e duas cristas ósseas das maxilas e dos
ossos palatinos. A parede inferior é composta nos 11
seus três quartos anteriores pelas apófises palatinas 3 10

da maxila, e pela lâmina horizontal dos ossos pala- Figura 4.4: Parede lateral das fossas nasais.
1. Seio frontal 2. Seio esfenoidal 3. Palato duro 4. Lâmina horizontal do
tinos no quarto posterior. A parede superior é for- etmóide 5. Concha nasal superior 6. Concha nasal média 7. Concha
mada de frente para trás pelos ossos nasais, espi- nasalinferior 8. Vestíbulo nasal 9. Choana 10. Bula etmoidal 11. Goteira
uncibular
nha nasal do osso frontal, lâmina horizontal do et-
móide e corpo do esfenóide.
A parede lateral de cada fossa nasal integra seis No meato inferior abre-se o orifício (ou ostium)
ossos: maxila, esfenóide, palatino, unguis ou la- do canal lacrimonasal. No meato médio encon-
crimal, concha (ou cometo) nasal inferior e et- tram-se os orifícios de drenagem do seio maxilar,
móide. Topograficamente identificam-se três a seio frontal, e das células etmoidais anteriores e no
cinco conchas ou cornetos nasais (inferior, mé- meato superior drenam as células etmoidais poste-
dio, superior, de Santorini e de Zuckerkandl), os riores. No meato médio descrevemos ainda o hia-

348
MANUTENÇÃO I SISTEMA RESPIRATÓRIO

to sernilunar, limitado adiante pela apófise unci- tam 300 a 400 destas evaginações que aum en-
forrne, e atrás pela saliência da bula etmoidal e go- tam significativamente a superficie de trocas.
teira uncibular. O orifício do seio esfenoidal situa- As células caliciformes são cilíndricas, produto-
-se no recesso etmoide-esfenoidal, medial ao cor- ras de glicoproteínas, que acumulam em grânulos
neto nasal superior. de secreção. As células basais, de forma prismá-
A vascularização arterial das fossas nasais pro- tica triangular, são uma população de reserva ca-
vém do sistema da carótida externa, através de ra- paz de originar todas as categorias celulares, atrás
mos da artéria maxilar, como a artéria a esfenopa- nomeadas. É possível ainda identificar o epité-
latina ou a palatina maior (descendente) que irri- lio do canal excretor das glândulas serosas, muco-
gam a maior parte das conchas e meatos e do sis- sas ou seromucosas. O epitélio está separado do
tema da carótida interna através de ramos da arté- córion por uma fina membrana basal. No tecido
ria oftálmica, como são as artérias etrnoidais, que por baixo da mucosa, o córion, encontram célu-
irrigam a porção superior das fossas nasais. Estes las residentes (macrófagos, fibroblastos, mastóci-
dois sistemas arteriais apresentam múltiplas áreas tos) e células móveis capazes de o infiltrar de for-
de anastomose em cada fossa nasal e entre estas. ma transitória, como os linfócitos e os leucócitos
Na porção cartilagínea do septo nasal (área de Li- polimorfonucleares, e ainda focos de linfócitos e
ttle), formam o plexo de Kisselbach, para o qual de plasmócitos correspondentes ao RALT (R es-
também contribuem ramos da artéria labial supe- piratory Associated Lymphoid Tissue). A este nível
rior que irrigam o vestfbulo das fossas nasais, que identificam-se três sistemas vasculares com dife-
é a principal sede de hemorragias nasais (epista- rentes funções. Um circuito de troca representa-
xes) anteriores. do pela microcirculação subepitelial e periglan-
A drenagem venosa é assegurada pela veia es- dular constituído por capilares fenestrados com
fenopalatina e pelas veias etmoidais e a drena- esfincter pré-capilar, que permitem rápidas e vo-
gem linfática faz-se anteriormente para os gân- lumosas transudações de líquido, um circuito de
glios submandibulares e posteriormente para os capacitância representado pelos plexos caverno-
gânglios laterofaríngeos, retrofaríngeos e cervi- sos, que desempenham um papel no ciclo na-
cais profundos. sal, e um circuito de resistência representado pe-
A inervação sensitiva das fossas nasais é feita pelo las anastomoses arteriovenosas directas do córion
nervo trigémeo; a inervação sensorial é feita pelo profundo.
nervo olfactivo; a inervação vegetativa é prove-
niente da cadeia simpática cervical e de fibras pa-
rassimpáticas dos nervos facial e glossofaríngeo. FARINGE
Classicamente, identificam-se dois tipos de epi-
télio nas fossas nasais: o olfactivo e o respirató- A faringe é um órgão comum aos Sistemas Respi-
rio. A mucosa olfactiva ocupa 2 a 3 cm2 na pare- ratório e Digestivo, pelo que a sua descrição ana-
de superior das fossas nasais insinuando-se para tómica é feita com o primeiro (ver descrição da
o septo e para o cometo superior e é constituída Faringe no Sistema Digestivo).
por um epitélio prismático pseudostratificado ci-
liado, com três tipos de células (receptoras neu-
rossensoriais, de sustentação e basais). A muco- LARINGE
sa respiratória tem um epitélio com células cilia-
das, células com microvilosidades, células calici- A laringe é um órgão ímpar que estabelece a con-
formes e células basais. Cada célula ciliada con- tinuidade da via aérea entre a faringe e a traqueia.
tém 150 a 200 cílios com cerca de 6 a 8 micra Tem também uma função esfincteriana e de fona-
de comprimento e 0,3 de diâmetro. Cada cílio ção. A sua origem embriológica está no III, IV, V
apresenta os característicos nove pares de micro- e VI arcos branquiais. É maior e mais baixa no ho-
túbulos periféricos e um par central, unidos en- mem do que na mulher.
tre si. As células com microvilosidades, apresen- A laringe é um órgão móvel, que se eleva durante a

349
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

deglutição, o que é facilmente visível porque é um é irregular e tem uma saliência junto ao tubércu-
órgão muito superficial no pescoço. Relaciona-se lo inferior da crista oblíqua. A este nível insere-se
posteriormente e póstero-lateralmente com a fa- a membrana ou ligamento cricotiroideu, tambérn
ringe (hipofaringe). À frente relaciona-se na parte denominado "ligamento conóide". O bordo poste-
inferior com o pólo superior dos lobos da glându- rior é vertical e rectilíneo.
la tiroideia. Mais lateralmente, ao longo da sua al- Cartilagem cricóide: Forma um anel completo,
tura, encontra-se o feixe vasculo-nervoso do pes- que se une inferiormente com a traqueia e que se
coço de cada lado. articula com a cartilagem tiróide e com as duas
Divide-se em três andares sobrepostos, o que faci- cartilagens aritnóides. Identificam-se duas por-
lita a sistematização da patologia e das abordagens ções: Uma anterior estreita denominada "arco cri-
cirúrgicas da laringe: coideu" e outra posterior, de maiores dimensões,
• Andar supraglótico ou vesttbulo da laringe: denominada "placa cricoideia". O arco cricoideu
Estende-se desde o bordo livre da epiglote aumenta de espessura de frente para trás, apresen-
até ao plano horizontal sobre o bordo supe- tando na linha média o tubérculo cricoideu e late-
rior das cordas vocais. ralmente as facetas articulares tiroideias. No bor-
• Andar glótico: Compreende o espaço entre o do superior insere-se a membrana cricotiroideia e
bordo superior e o bordo inferior das cordas no bordo inferior surgem três tubérculos que de
vocais (cerca de 10 a 12 mm). Neste andar unem ao primeiro anel traqueal. Na placa cricoi-
descrevem-se as cordas vocais e as comissuras deia identificam-se duas facetas articulares para
anterior e posterior entre elas. as cartilagens aritnóides, situadas no bordo supe-
• Andar subglótico: Está limitado superior- rior, próximo da união com o arco cricoideu e que
mente pelo bordo inferior das cordas vocais olham para a fora, para cima e um pouco para a
e inferiormente pelo bordo inferior da carti- frente.
lagem cricóide. Cartilagem epiglote: Localiza-se na porção ânte-
ro-superior da laringe, atrás da base da língua, do
A laringe tem um esqueleto cartilagíneo com as osso hióide e da cartilagem tiróide, à qual se une
respectivas articulações (Fig. 4.5A a E), ligamen- inferiormente pelo ligamento tiro-epiglótico. É
tos, membranas e músculos. muitas vezes comparada a uma raquete, tem uma
Cartilagem tiróide: É formada por duas lâminas forma ovalada que se estreita inferiormente, com
quadriláteras que se fundem incompletamente na concavidade posterior. Durante a deglutição, bas-
linha média, formando uma proeminência vulgar- cula sobre o vestJ.bulo laríngeo. A sua superfície é
mente denominada como a "Maçã de Adão" e de- perfurada por diversos orifícios cribiformes para a
senham um ângulo diedro aberto para trás. Este passagem de vasos sanguíneos e linfáticos. A face
é de 80-90° no homem e de 110-120° na mu- anterior é extra-laríngea na metade superior, e for-
lher. No terço superior, porque a fusão é incom- ma a parede posterior da loca hio-tiro-epiglótica,
pleta, forma-se a incisura tiroideia em forma de na metade inferior. A face posterior é lisa e está re-
"V". Posteriormente estas lâminas quadriláteras vestida por mucosa.
projectam-se superior e inferiormente, forman- Cartilagens aritnóides: Em número de duas, têm
do os cornos superiores e inferiores. A face ante- uma forma de pirâmide triangular de base infe-
rior desta cartilagem é lisa, com excepção de uma rior e estão dispostas sobre a cartilagem cricói-
proeminência romba, próxima do bordo posterior, de. A face medial é plana e lisa, a face posterior
que se orienta para baixo e para a frente, limitada é côncava e dá inserção ao músculo interaritnoi-
por dois tubérculos (superior e inferior), denomi- deu e a face ântero-lateral, que se relaciona com a
nada "crista oblíqua". Nesta, inserem-se os múscu- corda vocal, dá inserção ao músculo tiroaritnoideu.
los tirohioideu, esternotiroideu e o constritor infe- A base articula-se com a cartilagem cricóide e
rior da faringe. A face posterior é lisa e plana. No apresenta a apófise vocal no ângulo anterior, onde
bordo superior insere-se a membrana tirohioideia se insere a corda vocal e a apófise muscular no ân-
que liga a laringe ao osso hióide. O bordo inferior gulo póstero-externo.

350
MANUTENÇAO I SISTEMA RESPIRATÓRIO

Figura 4.5A: Esqueleto da laringe, vista anterior. Figura 4.5B: Esqueleto da laringe, vista posterior.
1. Osso híóide 2. Membrana tiro-hióideia 3. Cartilagem tiróide 1. Epiglote 2. Processos maiores do hióide 3. Placa cricoide
4. Cartilagem cricoide 5. Membrana crico-tiróide 6. Anéis traqueais 4. Cartilagem aritnóide 5. Cartilagem comiculada
7. Epiglote 8. incisura tiroideia

Figura 4.SC: Esqueleto da laringe, cartilagens inferiores.


1. Placa cricóide 2. Anel cricóide 3. Cartilagem aritnoide
(face ântero-lateral) 4. Cartilagem corniculada

2
4

6 9

Figura 4.50: Esqueleto da laringe, vista lateral. Fig. 4.SE: Esqueleto da laringe, vista interior.
1. Lâmina quadrilátera da cartilagem tiróide 2. Como superior da 1. Epiglote 2. Ligament o hio-epiglótko 3. Membrana tiro-hioideia
cartilagem tiroide 3. Como inferior da cartilagem tiróide 4. Membrana 4. Cartilagem tiróide 5. Ligamento tiro-epiglótico 6. Cartilagem
tiro-hióideia 5. ligamento tiro-hioideu lateral 6. Cartilagem cricoide aritonóide 7. Ligamento tiro-aritoideu inferior (ligamento vocal)
7. Membrana crico-tiroideia 8. Membrana crico-tiróide 9. Cartilagem cricoide

351
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Outras cartilagens: Os músculos da laringe podem ser divididos em


Cartilagens corniculadas ou de Santorini: Dois extrínsecos e intrínsecos (Fig. 4.6).
pequenos cones cartilagíneos que se prolongam Os músculos extrínsecos movem a laringe em
para cima e para dentro do vértice das aritnoi- bloco para cima, para baixo ou para a frente, du-
deias. rante a fonação ou deglutição: infrahioideus; es-
Cartilagens de Morgagni ou de Wrisberg, carti- tilo-hioideu, digástrico e milo-hioideu; estilofa-
lagens pequenas situadas à frente e lateralmente ríngeo e palatofaríngeo; constritores médio e in-
às corniculadas. ferior da laringe.
Cartilagens sesamoideias anteriores: Nódulos in-
constantes localizados na extremidade anterior
dos ligamentos tiroaritnoideus superiores.
Cartilagens sesamoideias posteriores: Igualmen-
te inconstantes, dispõem-se por fora da extremi-
dade superior das cartilagens aritnoideias.
Cartilagem interaritnoideia: Encontra-se na jun-
ção das fáscias do ligamento cricocorniculado.
Cartilagem tritícea: Inconstante, situa-se na es-
pessura do ligamento tirohioideu lateral.
As principais articulações da laringe são as crico-
-tiroideias e as crico- aritnoideias. As articulações
crico- tiroideias, entre os cornos inferiores da ti-
roide e a cricoide, permitem pequenos movimen-
tos de deslizamento, correspondendo a uma po-
lia com cápsula articular. As articulações crico-
-aritnoideias, entre o bordo superior da cricóide
e a base das aritnóides, permitem a rotação e o
deslizamento destas para encerramento da glote,
possuindo uma cápsula com reforço posterior. As
restantes correspondem a sincondroses ou sin- Figura 4.6: Músculos da intrínsecos da laringe.
desmoses, sem ligação directa entre si. 1. Epiglote 2. Cartilagem tiróide 3. Cartilagem cricoide 4. Músculo
ariepiglótico 5. Músculo crico-aritnoideu lateral 6. Músculo tiro-
Os ligamentos intrínsecos, que unem as cartila- aritnoideu 7. Músculo crico-aritnoideu posterior 8. Músculo crico-
gens da laringe entre si; os principais são: liga- tiroideu
mento tiro-epiglótico; ligamento crico-tiroideu;
membrana quadrangular, que une a face externa Os músculos intrínsecos são:
da epiglote à aritnóide de cada lado; cone elástico • Crico-tiroideu (tensor mais potente das cor-
que se insere na superfície interna da cartilagem das vocais): Formado por duas porções, a sua
tiróide, nas cartilagens aritnóides e na sua apófi- contracção, estimulada pelo nervo laríngeo
se vocal e inferiormente na cartilagem cricóide. superior, provoca uma báscula para a frente
Os ligamentos vocais são espessamentos do cone da cartilagem tiróide e para trás da cricóide.
elástico localizados na linha média, entre a tirói- Este movimento alonga as cordas vocais e au-
de e as aritnóides. menta a sua tensão;
Os ligamentos extrínsecos, unem as cartilagens • Crico-aritnoideu lateral: Ao contrair, este
que os denominam a órgãos vizinhos: membra- músculo induz a rotação da cartilagem arit-
na tirohioideia e ligamentos tirohioideus (espes- nóide, com adução da corda vocal e constri-
samento mediano e lateral da membrana); mem- ção da glote;
brana hio-epiglótica; ligamentos glosso-epigló- • Crico-aritnoideu posterior: Ao contrário do
ticos; ligamentos faringo-epiglóticos; membra- precedente, este músculo provoca a abdução
na crico-traqueal. da corda vocal e a dilatação da glote;

352
MANUTENÇÃO I SISTEMA RESPIRATÓRIO

• Inter-aritnoideu: Provocam a adução das cor- 4


das vocais (único músculo ímpar da laringe);
• Aritnoideus oblíquos: Provocam a adução da
corda vocal;
• T iro-aritnoideu externo (lateral), adutor da
corda vocal e constritor da glote;
• Tiro-aritnoideu interno (medial) ou múscu-
lo vocal, adutor da corda vocal e constritor da
glote, intimamente associado ao ligamento
vocal. É inervado como quase todos os mús-
culos intrínsecos da laringe, salvo o crico-ti-
roideu, pelo nervo laríngeo inferior.

No que diz respeito à configuração interior da la-


ringe (Fig. 4.7A a C), o andar superior (supra-gló- 7

tico) da laringe têm aspeto interior liso, limitado


lateralmente pelo relevo dos ligamentos aritno- 2
-epiglóticos. Na porção inferior mediana descre- Figura 4.78: Configuração Interior da laringe, corte horizontal.
vemos uma saliência o tubérculo laríngeo. O an- 1. Cartilagem tiróide 2. Cartilagem cricoide 3. Cartilagem aritnóide
dar médio, glótico, apresenta, de cima para bai- 4. Ligamento vocal 5. Músculo vocal 6. Músculo tiro-aritnoideu
7. Músculo constritor inferior da faringe 8. Recesso piriforme,
xo duas faixas laterais divergentes para trás, as fi- hipofaringe

9
4

6
3

Figura 4. 7A: Configuração Interior da laringe, corte frontal. Figura 4.7C: Configuração Interior da laringe, corte sagital.
1. Cartilagem tiróide 2. Cartilagem aicoide 3. Membrana tiro- hioideia 1. Corpo do hi6ide 2. Membrana tiro-hióide 3. Cartilagem t ir6ide
4. Epiglote 5. Músculo vocal 6. Músculo tiro•aritnoideu lateral 4. Cartilagem cricoide 5. Epiglote 6. Ligame nto vocal 7. Entrada do
7. Ventrículo laríngeo 8. Vestíbulo laríngeo 9. Tubérculo da laringe ventrículo laríngeo 8. Vestíbulo laríngeo 9. Andar infra--glotico

353
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

tas ou bandas ventriculares, provocadas pelas sa-


liências dos ligamentos e músculos tiro-aritnoi-
deus, duas reentrâncias laterais, uma de cada lado,
os ventrículos laríngeos (de Morgagni), com um
pequeno prolongamento, o apêndice (sáculo) rico
em glândulas mucosas, e duas faixas mais salien- 2
tes também divergentes para trás, as cordas vo-
cais, determinadas pelos múltiplos músculos que
se encontram na sua espessura. As cordas vocais
encontram-se recobertas por uma mucosa de te-
cido conjuntivo laxo e elástico de forma a originar
um espaço potencial (espaço de Reinke) ao longo
da margem livre do ligamento vocal. O andar infe-
rior (infraglótico), liso, alarga-se progressivamente
para baixo até à traqueia. 3 4

Também identificamos na laringe os espaços la- Fig. 48A: Vista de laringoscopia.


1. Respiração normal 2. Inspiração forçada 3. Fala 4. Glote encerrada
ríngeos: o espaço pré-epiglótico, que corresponde
ao espaço limitado pela face anterior da epiglote,
cartilagem tiroide e ligamento tiro-epiglótico me-
diano; o espaço para-glótico, limitado lateralmen-
te pela face posterior da cartilagem tiróide, o cone
elástico e a membrana quadrangular, medialmen-
te pelo ventrículo laríngeo e posteriormente por
uma reflexão da mucosa do seio piriforme (gotei-
ra farigo-laríngea), e o espaço de Reinke, situado
entre a mucosa e o músculo vocal, como descrito
anteriormente.
A vascularização arterial da laringe está a cargo
das artérias laríngeas, que se anastomosam na es-
pessura do órgão: a superior, ramo da tiroideia su- Figura 4.8B: Anatomia funcional da glote.
Azul, acção dos constritores da glote; Vermelho, acção dos dilatadores
perior, entra na laringe através da membrana ti-
da glote; Preto, posição neutra
ro-hioideia; a inferior, também ramo da tiroideia
superior penetra na membrana crico-tiroideia; a
posterior é ramo da tiroideia inferior e irriga es-
sencialmente a parte posterior da laringe. As veias nervo tem, portanto, uma importância crucial na
da laringe drenam à frente para as veias tiroideias função vocal.
superiores, atrás para a veia tiroideia inferior. Sob ponto de vista funcional, a laringe desempe-
Os linfáticos da laringe drenam para os gânglios nha várias funções na respiração e na fonação.
da cadeia jugular interna, os mais anteriores atra- O controlo do fluxo aéreo da faringe para a laringe
vés de gânglios pré-laríngeos em cima, ou pré-tra- é controlado pela epiglote, que assegura também
queais em baixo. que os alimentos descem da orofaringe para a hi-
Os nervos laríngeos superiores dividem-se em pofaringe e não entram, em condições normais, na
ramo superior e ramo inferior e destinam-se às laringe, traqueia e brônquios. A fonação, que ocor-
z onas laríngeas respectivas; o ramo inferior iner- re pela passagem do ar entre as cordas vocais, com-
va o músculo crico-tiroideu. O nervo laríngeo re- preende duas partes: a tensão e a contração das
corrente inerva todos os outros músculos da la- cordas vocais (Fig. 4.8A e B). A tensão das cor-
ringe e tem frequentemente uma anastomose das vocais é efetuada pelo músculo crico-tiroideu
com o laríngeo superior (ansa de Galeno); este e, secundariamente, pelo músculo tiro-aritnoideu.

354
MANUTENÇÃO I SISTEMA RESPIRATÓRIO

Este último, pelas suas fibras inferiores aritnóides


(músculo vocal) aproxima as cordas vocais através
da parte anterior das cartilagens aritnóides (apó-
fise muscular) por rotação interna das mesmas e
aumenta o volume das cordas vocais. A contração TRAQUEIA E BRÔNQUIOS
das cordas vocais está também a cargo dos múscu-
los crico-aritnoideus laterais, que são antagoniza- A traqueia começa a desenvolver-se cerca do 26.0
dos pelos músculos crico-aritnoideus posteriores. dia de vida embrionária, como uma formação ven-
Os ari-aritnoideus e os aritnoideus oblíquos apro- tral da endoderme para o mesênquima. Apresen-
ximam as cordas vocais constringindo tanto a par- ta-se no adulto como um tubo com cerca de 12
te vocal como a respiratória da glote. centímetros no homem e 11 na mulher, constituí-
da por anéis cartilaginosos incompletos posterior-
mente e por uma membrana fibromuscular, que
forma a parede posterior. Estende-se desde o nível
da 6.ª vértebra cervical, em que se relaciona com
a cartilagem cricóide, até ao nível da 5.• vértebra
torácica, dividindo-se então nos brônquios prin-
cipais direito e esquerdo separados por uma cris-
ta mediana, a carina. Lateralmente relaciona-se, na
sua porção cervical, com os lobos da glândula ti-
roideia e com a carótida comum e as artérias tiroi-
deias inferiores. Na porção torácica relaciona-se à
direita com o pulmão e a pleura, veia braquicefá-
lica, veia cava superior, veia ázigos e nervo vago.
A esquerda encontra-se a crossa da aorta, a caróti-
da comum e as artérias subclávias. Posteriormen-
te a relação é constante com o esófago. Anterior-
mente a traqueia relaciona-se na sua porção cervi-
cal, com as fáscias cervicais superficial e profunda
e com o istmo da glândula tiroideia, na porção to-
rácica relaciona-se com o manúbrio do esterno, re-
manescentes tímicos, veia tiroideia inferior, tron-
co braquicefálico, artéria carótida esquerda, arté-
rias carótidas comuns, crossa da aorta, plexo car-
díaco profundo e alguns gânglios linfáticos.
Os brônquios principais fazem um ângulo de cer-
ca de 70° com a traqueia, estando este ângulo ocu-
pado por um ligamento interbrônquico (Fig. 4.9).
O brônquio principal direito é mais largo, mais
curto e mais vertical do que o esquerdo. Origina
três ramos: O brônquio lobar superior, o médio e o
inferior. O brônquio lobar superior dá origem, por
sua vez, ao brônquio segmentar apical para o vér-
tice do pulmão, ao brônquio segmentar posterior
que serve a porção póstero-inferior do lobo supe-
rior e ao brônquio segmentar anterior que serve
o restante lobo superior. O brônquio lobar médio
tem origem cerca de 2 cm abaixo do superior e

355
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

gina dois brônquios segmentares, superior e infe-


rior. O brônquio lobar inferior tem uma orienta-
ção póstero-lateral, originando o brônquio seg-
mentar apical e terminando com uma divisão em
ântero-medial e póstero-lateral.
A vascularização arterial da traqueia é assegura-
da por ramos das artérias tiroideias inferiores e
das artérias brônquicas. A drenagem venosa é feita
para os plexos venosos tiroideus inferiores e a dre-
nagem linfática passa para os gânglios linfáticos
pré e paratraqueais. As artérias brônquicas, que as-
seguram a vascularização dos brônquios, derivam
da aorta torácica descendente. A drenagem venosa
é assegurada por dois sistemas distintos: A s veias
brônquicas profundas que se reúnem para termi-
6 nar num tronco único directamente numa veia
pulmonar principal ou na aurícula esquerda e as
veias brônquicas superficiais que terminam na veia
ázigos à direita e na veia intercostal superior ou na
8 hemiázigos acessória à esquerda.

10
PULMÕES
Fig. 4.9: Anatomia da Árvore Traqueobrônquica.
1. Cartilagem cricoide 2. Traqueia 3. Brônquio principal direito
4. Brônquio principal esquerdo 5. Bifurcação traqueal 6. Brônquio A origem embrionária dos pulmões inicia-se com
lobar superior direito 7. Brônquio lobar médio direito 8. Brônquio
lobar inferior direito 9. Brônquio lobar superior esquerdo 10. Brônquio
o crescimento dorsal de um divertículo respirató-
lobar inferk>r esquerdo 11. Brônquio culminai 12. Brônquio lingular rio, de cada lado do esófago até emergir nas pare-
des mediais dos canais pericárdio-peritoneais. Do
ponto de vista histológico podem-se considerar ·
divide-se num brônquio segmentar lateral e ou- quatro estadios:
tro medial que servem as respectivas áreas do lobo E stadio pseudoglandular: Decorre entre as 7 e as
pulmonar médio. O brônquio lobar inferior cor- 17 semanas de gestação e inclui o desenvolvimen-
responde à continuação do brônquio principal di- to das vias aéreas inferiores e o aparecimento das
reito, após a origem do lobar médio. Origina, por estruturas acinares. A nível próximal encontra-se
sua vez, um brônquio segmentar apical (de Nel- um epitélio colunar e distalmente por um epité-
son) que se dirige para trás, um segmentar medial lio cubóide.
que serve uma região abaixo do hilo pulmonar e Estadio canalicular: Entre as 17 e as 26 semanas
termina dividindo-se no brônquio segmentar an- verificam-se ramificações, em cujas pontas dimi-
terior basal, no lateral basal e no posterior basal. nui o mesênquima e alargam-se os espaços aéreos.
O brônquio principal esquerdo cruza anterior- Este fenómeno é acompanhado pelo crescimento
mente o esófago, o canal torácico e a aorta descen- da rede capilar ao nível dos espaços aéreos distais.
dente e entra no hilo, ao nível da 6.ª vértebra to- As células colunares começam a diferenciar-se em
rácica. Divide-se no brônquio lobar superior e in- pneumocitos tipo I e as cubóides em pneumoci-
ferior. O brônquio lobar superior origina uma di- tos tipo II, que formarão mais tarde o revestimen-
visão superior ou culminal, na qual se distinguem to pavimentoso simples que corresponde a mais de
um brônquio segmentar apical e um apico-poste- 90% da área alveolar.
rior, este último que se divide num ramo apical e E stadio sacular: Desde a 24.ª semana até ao nas-
noutro posterior. A divisão inferior ou lingular ori- cimento surgem sáculos finos terminais que se

356
MANUTENÇÃO I SISTEMA RESPIRATÓRIO

transformarão nos duetos alveolares. Sobre estes, a ferior) separados por duas cisuras. A maior é oblí-
rede capilar ficará intimamente acoplada. Duran- qua para baixo e para a frente (cisura oblíqua) e
te esta fase verifica-se a deposição de elastina sob a pequena ou horiwntal estende-se obliquamente
0 epitélio, o que é determinante para a futura for-
para baixo, desde a porção média da grande cisura
mação dos alvéolos e há uma maturação da produ- até ao bordo anterior do pulmão.
ção de surfactante. O pulmão esquerdo apresenta dois lobos (supe-
Estadio alveolar: Durante este período que se es- rior e inferior), separados por uma cisura que cru-
tende entre as 28 semanas de vida intrauterina e za a face costal de cima para baixo e de trás para
os 8 anos de idade, há uma fusão de redes capila- a frente.
res adjacentes e uma expansão dos espaços aéreos, Cada um dos lobos pode ser dividido em segmen-
até à completa formação dos alvéolos pulmonares. tos, segundo a ramificação dos brônquios, forman-
Os dois pulmões (esquerdo e direito) têm uma do-se assim unidades, estrutural e funcionalmen-
forma sernicónica (Fig 4.10A e B), estão localiza- te independentes que se denominam segmentos
dos na caixa torácica, livremente em cada cavida- broncopulmonares:
de pleural, separados pelo mediastino. O direito é • Pulmão direito: lobo superior: apical (1), pos-
maior e pesa mais do que o esquerdo. No homem terior (2), anterior (3); lobo médio: lateral (4),
o direito pesa cerca de 700g e o esquerdo 600g. Na medial (5); lobo inferior: superior ou apical
mulher o peso do direito é de cerca de 550g e o es- (6), medial basal (7), anterior basal (8), lateral
querdo é de 450g. A capacidade dos pulmões após basal (9), posterior basal (10).
uma inspiração forçada é de 5000 cm3 e após uma • Pulmão esquerdo: lobo superior: ápico-pos-
inspiração normal é de 3500 cm3. O volume resi- terior (1-2), anterior (3), lingular superior (4),
dual que permanece nos pulmões após uma expi- lingular inferior (5) (os dois segmentos lin-
ração forçada é de cerca de 500 cm3. gulares têm muitas vezes origem num tron-
M acroscopicamente, podemos identificar no pul- co sectorial comum, a língula); lobo inferior:
mão o vértice, uma base, três bordos e duas faces. superior ou apical (6), ântero-medial basal ou
O vértice é arredondado e projecta-se cerca de 2,5 paracardíaco (7-8), lateral basal (9), posterior
cm acima do bordo superior da clavícula. A base é basal (10).
semilunar e côncava e está em contacto com a su-
perficie superior do diafragma. A concavidade da Nos hilos pulmonares (Fig. 4.llA e B), identifi-
base é mais marcada à direita do que à esquerda. O cam-se diversas estruturas que entram ou saem
bordo inferior é fino e circunscreve a base do pul- do pulmão e que constituem o pedículo pulmo-
mão. Apresenta um segmento medial que separa nar. Estas incluem o brônquio principal, a artéria
a base da superficie medial e um segmento lateral pulmonar, duas veias pulmonares, vasos brônqui-
que separa a base da superficie costal e que se in- cos, o plexo autonómico pulmonar, vasos linfáti-
troduz no seio costodiafragmático. O bordo ante- cos, gânglios linfáticos broncopulmonares e teci-
rior separa, à frente, a face costal da mediastínica, do conjuntivo, envolvido pela pleura. As estrutu-
sendo marcada à esquerda por uma incisura car- ras principais do pedículo pulmonar têm posição
díaca em relação com o vértice do coração. O bor- relativa diferente à esquerda e à direita: à direita o
do posterior separa as duas faces posteriormente. A brônquio principal está atrás da artéria pulmonar e
face costal é convexa e adquire a forma da parede as veias pulmonares estão em posição ântero-infe-
torácica. A face medial apresenta uma porção ver- rior; à esquerda, a artéria pulmonar está acima do
tebral, que é posterior e que está em contacto com brônquio principal e as veias estão por baixo.
as vértebras dorsais e com os discos intervertebrais A vascularização pulmonar inclui duas vias fun-
e uma porção mediastínica que é anterior e profun- cionalmente distintas: Os vasos pulmonares, en-
damente côncava devido à relação com o coração, volvidos no transporte de sangue, que será oxi-
sendo mais pronunciada à esquerda. Os pulmões genado nos pulmões e os vasos brônquicos, pro-
dividem-se em lobos que estão separados por cisu- venientes da circulação sistémica e que propor-
ras. O direito tem três lobos (superior, médio e in- cionam o fornecimento de sangue oxigenado

357
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Figura 4.10A: Face costal dos pulmões.


1. Fissura oblíqua 2. Fissura horizontal 3. Lobo superior direito 4. Lobo médio direito 5. Lobo inferior direito 6. Segmento apical 7. Segmento
anterior 8. Segmento posterior 9. Segmento medial 10. Segmento lateral 11. Segmento basal superior (de Nelson) direito 12. Segmento
basal anterior 13. Segmento basal lateral direito 14. Lobo superior esquerdo 15. Lobo inferior esquerdo 16. Segmento anterior esquerdo
17. Segmento apico-posterior 18. Segmento lingular superior 19. Segmento lingular inferior 20. Segmento basal superior {de Nelson) esquerdo
21. Segmento basal ântero-interno 22. Segmento basal lateral esquerdo

Figura 4.108: Face mediastínica dos pulmões.


1. Fissura oblíqua 2. Lobo superior direito 3. Lobo médio direito 4. lobo inferior direito 5. Segmento apical 6. Segmento anterior 7. Segmento
posterior 8. Segmento medial 9. Segmento basal superior (de Nelson) direito 10. Segmento basal anterior 11. Segmento basal lateral direito
12. Segmento basal posterior direito 13. Segmento basal medial 14. Lobo superior esquerdo 15. Lobo inferior esquerdo 16. Segmento anterior
esquerdo 17. Segmento apico-posterior 18. Segmento lingular superior 19. Segmento lingular inferior 20. Segmento basal superior (de Nelson)
esquerdo 21. Segmento basal ãntero-interno 22. Segmento basal lateral esquerdo

358
MANUTENÇÃO J SISTEMA RESPIRATÓRIO

4
4
2
2
5

Figura 4.11A: Hilo Pulmonar Direito. Figura 4.11 B: Hilo Pulmonar Esquerdo.
1. Fissura oblíqua 2. Fissura horizontal 3. Brônquio principal direito 1. Fissura oblíqua 2. Brônquio principal esquerdo 3. Artéria pulmonar
4. Artéria pulmonar direita 5. Veia pulmonar direita superior 6. Veia esquerda 4. Veia pulmonar esquerda superior 5. Veia pulmonar
pulmonar direita inferior 7. Ligamento pulmonar 8. Impressão cardíaca esquerda inferior 6. Ligamento pulmonar 7. Impressão cardíaca
9. Sulco da veia cava superior 10. Sulco da veia braquiocefálica direita 8. lmpressãotímica 9. Sulco da veia braquiocefálica esquerda 10. Sulco
11. lmpressão tímica 12. Sulco traqueal 13. Sulco esofágico 14. Sulco traqueal 11. Sulco aórtico 12. Sulco esofágico
da veia ázigos

aos tecidos pulmonares. A artéria pulmonar di- PLEURAS


vide-se em esquerda e direita e entra no respec-
tivo hilo pulmonar. Uma vez no tecido pulmo- A pleura é, tal como o peritoneu e o pericárdio,
nar, cada artéria divide-se para acompanhar os uma membrana serosa que envolve cada pulmão
segmentos e subsegmentos brônquicos até à for- no interior do toráx, permitindo a sua mobilidade
mação de plexos capilares que envolvem os al- na inspiração e na expiração. Descrevem-se assim
véolos. As veias pulmonares (duas de cada lado) em cada pleura dois folhetos: o folheto parietal,
drenam os capilares pulmonares e vão forman- que reveste por dentro cada metade da caixa torá-
do vasos de calibre crescente. Estas veias termi- cica e se reflete à volta do pedículo pulmonar e se
nam na aurícula esquerda transportando sangue continua com o folheto visceral, que reveste intei-
oxigenado para a circulação sistémica. A drena- ramente o pulmão incluindo as cisuras respectivas.
gem linfática compreende uma rede superficial e Considera-se, por isso, uma pleura costal, uma
uma profunda. Superficialmente existe uma rede diafragmática, uma mediastínica e uma cúpula
subpleural que envolve os pulmões e profunda- pleural. Na cúpula pleural a pleura passa um pou-
mente os vasos linfáticos acompanham os vasos co acima da primeira costela e o folheto parie-
sanguíneos e os brônquios. A inervação é assegu- tal está preso por vários ligamentos, que a segu-
rada por fibras vagais com efeito broncoconstri- ram em posição normal: vertebro-pleural, trans-
tor e secretório e por fibras simpáticas que pro- verso-pleural e costo-pleural, respectivamente in-
duzem o efeito oposto; ambas contribuem para a seridos, nos corpos e apófises transversas das úl-
constituição do plexo pulmonar. timas vértebras cervicais, e primeiras costelas. Na
pleura mediastínica, a linha de reflexão parietal-
-visceral prolonga-se abaixo do pedículo pulmo-

359
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

nar, constituindo o ligamento triangular do pul- RADIOGRAFIA DE TÓRAX


mão. A pleura costal forma dois fundos de saco
longitudinais atrás do esófago e entre a aorta e o A radiografia de tórax é um exame com impor-
esófago, chamados respectivamente "seios retro-e- tância anátomo-clínica, e um dos exames comple-
sofágicos" e "aorto-esofágicos". Junto ao diafragma mentares mais frequentemente usados para avalia-
a pleura forma, de cada lado, o fundo de saco ou ção das vias aéreas inferiores e pulmões, mas que
seio costo-difragmático que se estende do esterno também permite avaliar outras estruturas torácicas.
á coluna vertebral. Na base da pleura mediastínica A radiografia de tórax usa radiação ionizante e a
formam-se, à frente e atrás do ligamento triangu- incidência clássica é a póstero-anterior em inspira-
lar, os fundos de saco ou seios costo-mediastínicos ção, em que os raios-X incidem no dorso do doente
anterior e posterior. e vão impressionar uma película, um ecrã de fósfo-
A irrigação das pleuras faz-se a partir das arté- ro ou uma placa de detetores (era digital) que está
rias da vizinhança: Intercostais, mamária interna, situada à frente deste, permitindo maior detalhe na
diafragmáticas, mediastínicas. As veias são satéli- análise das estruturas que estão mais próximas da
tes das artérias. Os linfáticos da pleuro visceral se- parede torácica anterior. D everia ser formalmente
guem os dos pulmões; os da pleura parietal dre- designada de "telerradiografia'', dada a distância de
nam essencialmente para as cadeias axilar, cervical pelo menos 180 cm da ampola de RX em relação
transversa e gânglios mediastínicos ao doente. Com frequência são realizadas duas in-
Os nervos da pleura visceral provêm do plexo cidências perpendiculares que ajudam a interpreta-
pulmonar, os da pleura parietal dependem dos ção, juntando um perfil esquerdo.
nervos intercostais, frénicos e do sistema simpá- Num exame bem centrado as clavículas estão si-
tico torácico. métricas com a coluna vertebral e com os proces-
sos espinhosos, e identificamos na linha média,
ANATOMIA FUNCIONAL DOS PULMÕES E de cima para baixo, a traqueia, a divisão desta nos
PLEURAS brônquios primários, os grandes vasos e a sombra
cardíaca.
O s pulmões movimentam-se regularmente no
interior das pleuras para assegurar os movimen-
tos respiratórios, inspiração e expiração. Para isso
acompanham os movimentos da caixa torácica
sob o efeito dos músculos respiratórios (diafrag-
ma, intercostais, escalenos, etc), mais ativos na
inspiração que na expiração. Em média respira-
mos 16 vezes por minuto durante o dia em ritmo
basal; à noite respiramos menos vezes (bradip-
neia) e com os esforços ou a tensão nervosa res-
piramos mais frequentemente (taquipneia). Em
inspiração os pulmões enchem completamente as
cavidades pleurais, em expiração reduzem o seu
volume.
Pela sua constituição anatómica, uma desconti-
nuidade nas pleuras, por exemplo por trauma, pode
conduzir à acumulação de ar na cavidade pleural
(pneumotórax), fluidos (hidrotórax), sangue (he-
motórax), e mais raramente linfa (quilotórax). Figura 4.12: Radiografia do tóra,.
A primeira destas lesões manifesta-se por dimi- 1. Vértice do pulmão 2. Omoplata 3. Úmero 4. Carina 5. Ramos
da artéria pulmonar direita 6. Átrio direito 7. Contorno mamário 8.
nuição do murmúrio vesicular e hiperressonân- Seio costo-frénico 9. Diafragma 1O. Bolha gástrica 11. Seio cardio-
cia à percussão. frénico 12. Silhueta cardíaca 13. Átrio esquerdo 14. Ramos da artéria
pulmonar esquerda 15. Aorta 16. Pulmão 17. Traqueia 18. Clavícula

360
MANUTENÇÃO I SISTEMA RESPIRATÓRIO

Grande parte do exame será ocupado pelos campos 3. A propósito da árvore traqueo-brônquica,
uJrnonares que têm uma transparência característica, qual das frases seguintes é verdadeira:
~o-avessados por estruturas lineares ramificadas cor- a. A bifurcação da traqueia dá-se ao nível da
respandentes aos brônquios e respectivos vasos, mais 8. ª vértebra torácica.
densos nas zonas dos hilos pulmonares. Inferiormente b. O brônquio principal direito é mais estrei-
encontramos as cúpulas diafragmáticas limitadas, la- to e horizontal que o direito.
rerahnente, pelos seios costo-frénicos e, mediaimente, c. O lobo superior do pulmão direito tem 4
pelos seios cardiofrénicos. A ausência de seios costo- sementos.
frénicos livres e a perda de definição do contorno dos d. O lobo médio do pulmão direito tem um
mesmos pode ocorrer por exemplo em derrames pleu- segmento superior e um inferior.
rais. Por regra, a cúpula diafragmática direita é mais e. No hilo pulmonar esquerdo a artéria pul-
alta e mais nítida, pela relação com o figado, e por bai- monar está acima do brônquio principal.
xo da cúpula diafragmática esquerda encontramos a
câmara de ar do estômago, uma hipertransparência re- !3:-f !:)-C:: !Q-1
sultante da acumulação de ar no fundo gástrico, pela :s•1sodso~
realização do exame em ortostatismo.
A silhueta cardíaca e grandes vasos distinguem-se me-
lhor nas margens pelo contraste de densidade com o
parênquima pulmonar. Na margem direita, de cima REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
para baixo, identificamos a veia cava superior, o átrio
direito e a veia cava inferior. Na margem esquerda, Guerrier, B.; Barazer, M.Anatomie descriptive,
também de cima para baixo, identificamos o arco aór- endoscopique et radiologique du larynx. Editions
tico, a janela aorto-pulmonar, a artéria pulmonar, a au- Techniques, Encycl. Méd. Chir. (Paris - France),
rícula esquerda (apêndice auricular na nómina antiga) Oto- Rhino-Laryngologie, 20-630-Al0, 1992.
e o ventrículo esquerdo. Lund, VJ.Anatomy ofthe nose andparanasal
É importante lembrar que as partes moles se proje- sinuses, ln Rerr AJ (Ed) Scott-Brown's
tam na imagem, como por exemplo os contornos ma- Otolaryngology, 6 th edition, Butterworth-
mários. Heinemann, UK, 1997.

Proctor, DF.; Andersen, IB. The nose. Elsevier


PERGUNTAS TIPO Biomedical, ed, Amsterdam, 1982, 501.

Rouviére, H.; Delmas, A.Anatomie humaine


1. 01ial dos seguintes ossos não faz parte das descriptive, topographique et fanctionnelle. Masson,
paredes das fossas nasais: 15éme édition, Paris, 2002.
a. Etmóide.
b. Esfenóide. Ruah, S.; Ruah, C. (Ed), Manual de
c. Nasal. otorrinolaringologi., Volume IV, Roche
d. Malar. Farmacêutica Química, Lda, 1998.
e. Vómer. Standring, S. Grays Anatomy - The anatomical
basis ofclínica/practice. Churchill- Livingstone
2. 01ial dos seguintes músculos é fundamental Elsevier, 40th ed., 2008.
para a fonação:
Wayoff, M.;Jankowski, R.; Haas, F. Physiologie
a. Milo-hioideu.
de la muqueuse respiratoire nasale et troub/es
b. Tiro-hioideu.
fanctionenels - Editions techniques - Encyc Méd
c. Tiro-aritnoideus.
Chir (Paris, France), Oto-Rhino-La-ryngologie,
d. Crico-aritnoideu posterior.
20290 AlO, 1991, 14.
e. Esterno-tiroideu.

361
5. SISTEMA DIGESTIVO

SISTEMA DIGESTIVO SUPERIOR do próprio tubo. Finalmente, são absorvidos atra-


vés das paredes do intestino, e passam à circulação
O sistema digestivo é constituído pelo tubo diges- sanguínea e/ou linfática, que os transporta aos di-
tivo e seus anexos. versos tecidos e órgãos, permanecendo no tubo di-
gestivo as substâncias não digeridas ou a excretar.
O tubo digestivo é então constituído pela boca, fa-
ringe, esófago, estômago, intestino delgado, cólon
e ânus. Como glândulas anexas podemos distin-
guir as glândulas salivares, figado e pâncreas. Adi-
gestão consiste na transformação das substâncias
10
complexas que constituem os alimentos em subs-
tâncias simples, capazes de serem absorvidas.

11

BOCA

Sendo a primeira porção do tubo, a boca é a cavi-


dade onde ocorre a mastigação, salivação e trans-
formação dos alimentos em bolo alimentar, assim
como a primeira fase da digestão química, pela ac-
ção da arnilase salivar. Na boca estão presentes os
receptores do sentido do gosto, e nela se produz
10 grande parte da modificação do som provenien-
te das cordas vocais, da qual resulta a voz articu-
lada e o canto.
A boca, ou cavidade bucal, situa-se na porção in-
ferior da face, entre as fossas nasais e a região su-
10
pra-hioideia. A cavidade bucal tem uma forma
oval, de grande eixo ântero-posterior com a pe-
quena extremidade dirigida para trás. No huma-
no, o plano em que se encontra esta cavidade é
horizontal. A cavidade bucal é constituída por
partes moles e por um esqueleto ósseo incomple-
Fig. 5.1: Tubo digestivo.
1. Língua 2. Esófago 3. Estômago 4. Intestino Delgado S. Cólon to. O seu limite anterior e lateral é a mandíbu-
6. Ânus 7. Fígado 8. Pâncreas 9. Glândulas salivares la e as arcadas alvéolo-dentárias. Superiormente
é delimitada pela abóboda palatina (Fig. 5.2), por
O tubo digestivo começa no orificio bucal e esten- sua vez formada pelas lâminas palatinas dos ma-
de-se até ao ânus (Fig. 5.1). O seu comprimento xilares, e atrás pela lâmina horizontal do palatino.
é de cerca de 9 metros. Trata-se de um tubo que é Inferiormente, descrevemos um limite muscular,
percorrido pelos alimentos ingeridos. No seu tra- o pavimento bucal. A boca não apresenta assim
jecto, os alimentos são sucessivamente transfor- limite posterior.
mados, fisica e quimicamente, pelos sucos diges- É dividida em duas porções pelas arcadas alvéolo-
tivos, bem como pelas propriedades mecânicas -dentárias, formando para fora das mesmas o ves-

363
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

tfbulo da boca, e para dentro das mesmas a cavida- rior ou mucosa, um bordo livre e duas extremi-
de bucal propriamente dita. dades.
Estas duas porções comunicam entres si através A face anterior olha para diante no lábio superior,
dos intersticios existentes entre os dentes, e através e para baixo e para a frente no lábio inferior. No lá-
do espaço retro-dentário ou retromolar. Na boca bio superior encontra-se o sulco mediano, o phil-
descrevem-se seis paredes: anterior - compreende trum, que desce desde o septo ao bordo livre do lá-
os lábios e a fenda bucal, que permite a comuni- bio, terminando pelo tubérculo do lábio superior.
cação com o exterior; laterais - formadas pela re- No lábio inferior encontramos na região mediana
gião geniana; inferior - formada pelo pavimento a fosseta mediana. Este, encontra- se ainda separa-
da boca onde se situa a língua; superior - cons- do do mento pelo sulco mentolabial. A face pos-
tituída pela abóbada palatina; póstero-superior - terior está relacionada com a face anterior das ar-
compreende o véu do palatino e um orificio irre- cadas dentárias e respectiva gengiva. O bordo ade-
gular que faz comunicar com a orofaringe - ist- rente marca o limite periférico dos lábios, e é mar-
mo das fauces. cado posteriormente pelas asas do nariz e sulco
geniolabial. Pelo lado da cavidade bucal apresen-
ta o sulco gengivolabial, que se interrompe pela in-
serção dos freios labiais mediano e laterais.
O bordo livre marca o limite entre a pele e a mu-
cosa. Esta zona de transição denomina-se de "ver-
melhão", sendo característico da espécie humana.
Os dois lábios unem-se lateralmente para formar
as comissuras labiais.

Vascularização e Inervação

A vascularização arterial é da responsabilidade das


artérias labiais, ramos das artérias faciais. Estas ar-
térias têm origem na artéria facial ao nível das co-
6 missuras labiais. A labial inferior dirige-se hori-
zontalmente para dentro ao longo do lábio infe-
rior e anastomosa-se com a contralateral, na li-
nha média. A labial superior anastomosa- se tam-
Fig. 5.2: Cavidade Bucal. bém na região mediana do lábio superior com a
1. Arcada dentária superior 2. Arcada dentária inferior 3. Língua artéria homónima contralateral. E stas anastomo-
4. Véu do palato 5. Úvula 6. Amígdala palatina 7. Glândulas palatinas
ses formam o círculo arterial peri-bucal. A restan-
te vascularização arterial é feita ainda por ramos
PAREDE ANTERIOR - LÁBIOS infraorbitários, artéria transversa da face, bucal,
mentoniana e sub-mentoniana.
Os lábios, em número de dois - superior e inferior A drenagem venosa é feita por uma rede venosa
- são pregas musculomembranosas situadas adian- pouco desenvolvida, que drena para as veias facial
te das arcadas dentárias e que circunscrevem o ofi- e sub-mentoniana, bilateralmente. A drenagem
cio bucal. Qyando aproximados encerram a cavi- linfática é feita no lábio superior para os gânglios
dade bucal. Separados, delimitam o orificio bucal, submandibulares. No lábio inferior a drenagem é
por onde o tubo digestivo comunica com o exte- para os gânglios sub-mentonianos.
rior. Possuem na sua espessura o músculo orbicu- A inervação motora é feita por ramos do nervo fa-
lar dos lábios. cial, enquanto que a sensibilidade é da responsabi-
Considera-se em cada um dos lábios a existência lidade do nervo trigémeo.
de uma face anterior ou cutânea, uma face poste-

364
MANUTENÇÃO I SISTEMA DIGESTIVO

PAREDE LATERAIS - REGIÃO GENIANA pelas pregas glosso-epiglóticas que limitam duas
depressões as valéculas, com o véu do palatino, e
aredes laterais estendem-se desde o rebordo com a faringe através dos músculos constritores
::ior da órbita até ao bordo inferior da man- superiores da faringe.
dJbula, ern ~tura, ~ em largu~a _desde o músculo O ápex relaciona-se com as superflcies dentárias
'ter até a corrussura dos lab1os. dos incisivos inferiores directamente.
rnasse
Estão separadas do nariz e dos lábios por um sulco
obliquo, que se denomina sulco nasogeniano em
cirna e sulco labiogeniano e nasolabial em baixo. 5
6
Excedem assim a maioria da cavidade bucal, ocu-
ando a maior parte da face, correspondendo su-
~essivamente à região malar, massetérica e geniana
2
propriamente dita.

4
Vascularização e Inervação

As artérias responsáveis pela vascularização são a


bucal, ramo da artéria maxilar, alveolares, submen-
tonianas, ramo da artéria facial, e artéria transver- 9

sa da face, ramo da artéria temporal superficial.


A drenagem venosa é feita pelas veias faciais, veias
temporais superficiais e plexo pterigóideu. A dre-
nagem linfática é feita para os gânglios parotídeos
e submandibulares. A inervação motora é da res-
ponsabilidade do nervo facial, e a sensitiva do ner-
vo trigémeo.

PAREDE INFERIOR Fig. 5.3: Face superior da língua.


1. Corpo 2. Base 3. Amígdalas linguais 4. Amígdalas palatinas
5. Epiglote 6. Valécula 7. Apéx 8. Sulco mediano 9. Bordo lateral
Nesta parede encontra-se o pavimento da boca, do
qual emerge a língua.
A face inferior une-se à mandibula pelo músculo
UNGUA genioglosso. A membrana mucosa reflecte-se até
à face lingual da gengiva, formando na linha mé-
Trata-se de um órgão muscular e mucoso. Nes- dia o freio lingual. A face superior é convexa, e está
te encontra-se sediado o sentido do gosto ou pa- dividida em 2 porções por um sulco em forma de
ladar. Tem ainda um papel fundamental no que "V", aberto para a frente - V lingual. No vértice
concerne à fala, mastigação salivação e degluti- formado pelo sulco terminal encontramos o bu-
ção. Ocupando a porção mediana do pavimen- raco cego da língua, resquício do canal tiroglos-
to da boca, é irregularmente oval, achatada de so, que nos estádios embrionários faz comunicar o
cima para baixo e mais a.filada na porção anterior. esboço da tiróide com o epitélio da cavidade bu-
A sua face dorsal, bordos, vértice e porção ante- cal, e constitui a sua origem epitelial. A superflcie
rior da face inferior estão revestidos por muco- da face superior da língua é espessa e densa, sendo
sa e estão livres na cavidade bucal (Fig. 5.3). Na a mucosa percorrida por um sulco mediano. Apre-
língua consideramos uma grande porção - corpo, senta saliências denominadas "papilas linguais ou
ápex ou ponta, raiz ou base da língua, através da gustativas" - órgão periférico do paladar.
qual se encontra fixa à mandJbula, e ao osso hiói- As papilas podem ser divididas em 3 tipos: filifor-
de. Esta porção relaciona-se ainda com a epiglote mes - dispostas em fileira, divergem lateralmente a

365
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

partir do sulco mediano, estando dispostas difusa-


6
mente pelo dorso da língua; fungiformes - disper-
sas e separadas entre fileiras, sendo mais comum
na ponta da língua; valadas - são entre 10 a 12, vo-
lumosas e dispostas ao longo de 2 linhas da região
gustativa da língua em V.
A porção faríngea da língua é quase vertical, e
olha para a faringe. A mucosa é menos aderen-
te do que a da porção bucal. A sua superfície é ir-
regular, apresentando na face superior um conjun-
to de estruturas ganglionares que formam a amíg-
dala lingual. 4

Fig. 5.4: Músculos da língua.


Músculos da Língua 1. Palatino 2. Maxilar inferior 3. Ungua 4. Hioide 5. Apófise
estiloideia 6. Mastóide 7. Músculo estilo-hioideu 8. Músculo
hioglosso 9. Músculo genioglosso 10. Músculo digástrico
Os músculos da língua são dezassete no total, (Fig.
5.4), dos quais 8 são pares, sendo o longitudinal
superior o único ímpar. Podemos dividir em três inervada sensitivamente pelo nervo lingual, ramo
grupos: músculos com origem nos ossos vizinhos, do trigémeo. As fibras gustativas dos 2/3 anterio-
genioglosso, hioglosso, estiloglosso; músculos com res da língua, seguem a corda do tímpano, ramo
origem nos órgãos próximos, palatoglosso, amig- do nervo facial. O nervo glossofaríngeo é respon-
daloglosso, longitudinal superior, longitudinal in- sável pela sensibilidade geral e gustativa do 1/3
ferior, porção glossofaríngea do músculo constri- posterior da língua, incluindo papilas caliciformes.
tor superior da faringe; músculos com origem na A inervação motora é da responsabilidade do ner-
própria língua, músculo transverso. vo hipoglosso.
Dos movimentos permitidos pelos músculos da
língua podemos distinguir: PAREDE SUPERIOR - ABÓBADA PALATINA
• Protusão - avanço da língua, da responsabili-
dade dos genioglossos em conjunto; Apresenta a forma de uma ferradura, circunscri-
• Retrusão - efectuado pelos músculos estilo- ta por diante e de ambos os lados pelo rebordo al-
glosso e hioglosso em conjunto; veolar do maxilar superior (Fig.5.2). Na linha mé-
• Depressão - da responsabilidade dos múscu- dia observa-se uma rafe mediana que termina an-
los hioglossos e genioglosso em conjunto; teriormente no canal palatino anterior. Apresen-
• Retrusão e elevação do 1/3 posterior da lín- ta ainda no seu 1/3 anterior as rugas palatinas dis-
gua - produzido pelos estiloglossos e palato- postas bilateralmente.
glossos em conjunto
Vascularização e inervação
Vascularização e Inervação
As artérias da abóbada palatina provêm da ar-
A língua é sobretudo irrigada pela artéria lingual, téria esfenopalatina, e também da artéria palati-
mas também pelo ramo amigdalina da artéria fa- na superior ou descendente, ramo da artéria ma-
cial e pela artéria faríngea ascendente. A sua dre- xilar. As veias apresentam idêntico trajecto, re-
nagem venosa é feita pela veia lingual, para a veia cebendo a mesma denominação das artérias.
jugular interna. Por sua vez, a drenagem linfáti- A drenagem linfática é feita num trajecto poste-
ca é efectuada nos 2/3 anteriores para os gânglios rior, terminando nos gânglios cervicais profun-
submandibulares. No 1/3 posterior é efectuada dos, situados abaixo do ventre posterior do di-
para gãnglios cervicais profundos bilateralmente. gástrico. A inervação é exclusivamente sensitiva,
A mucosa da língua cobre os 2/3 anteriores e é da responsabilidade do nervo palatino maior e do

366
MANUTENÇÃO I SISTEMA DIGESTIVO

nervo nasopalatino ramo do gânglio pterigopala- 2


tino (esfenopalatino). O primeiro penetra a abó-
bada palatina através do canal palatino posterior
enquanto o segundo fá-lo através do canal pala-
tino anterior.

PAREDE POSTERIOR - PALATO MOLE OU VÉU


DO PALATO 8

O palato mole é um septo musculomembranoso 5


que prolonga para trás a abóbada palatina. Apre-
senta urna mobilidade importante permitindo os
movimentos de abaixamento, com contacto com
a língua e encerramento do orifício orofaríngeo,
bem como elevação, permitindo assim a degluti-
ção. O palato mole é anteriormente horizontal, di- Fig. 5.5: Músculo do véu do palato.
rigindo-se posteriormente para baixo e para trás. 1. Choanas 2. Base do crânio 3. Úvula 4. Músculo palatofaríngeo
5. Apófise pterigoideia do esfenóide 6. Músculo pterigoideu interno
Desta porção podemos descrever uma forma qua- 7. Músculo elevador véu do palato 8. Músculo tensor do véu do palato
drilátera com um bordo inferior ou livre, destacan-
do-se do mesmo na região mediana a úvula pala-
tina. Destaca-se ainda o arco palatoglosso (ante- MÚSCULOS DO PALATO MOLE
rior), palatofaríngeo (posterior), e a fossa amigda-
lina. A úvula, por vezes pode apresentar uma con- Este são dez no total - 5 músculos de cada lado,
figuração bífida. sendo todos pares: músculo tensor do véu do pa-
lato (peristafilino externo ou esfeno-salpingo-es-
PILARES DO VÉU PALATINO tafilino), músculo elevador do véu do palato (pe-
ristafilino interno ou petro-salpingo-estafilino),
De cada lado da úvula destacam-se os pilares ou músculo da úvula, músculo palatoglosso, múscu-
arcos palatinos: lo palatofaríngeo (faringo-estafilino).
• Arco anterior ou palatoglosso, inicia-se na
base da úvula, encontrando-se no seu interior Vascularização e Inervação
o músculo palatoglosso. Este arco forma uma
arcada de concavidade inferior constituindo o A vascularização arterial é da responsabilidade da
istmo das fauces - local de comunicação da artéria palatina superior, inferior e faríngea ascen-
cavidade bucal com orofaringe. dente. As veias são colectoras do tronco venoso da
• Arco posterior ou palatofaríngeo, inicia-se na língua, drenando para a cadeia jugular.
base da úvula, dirigindo-se para fora e termi- A drenagem linfática divide-se em 3 porções: an-
nando nas paredes laterais da faringe. Este terior que drena para região submandibular; me-
arco apresenta no seu interior o musculo pa- diana que drena para gânglios cervicais laterais
latofaríngeo e circunscreve o orifício que faz profundos do pescoço; posteriores que drenam
comunicar a faringe com as fossas nasais. para gânglios retrofaríngeos. A inervação é mo-
tora e sensitiva, sendo a motora da responsabili-
Os arcos partem do palato mole e separam-se dade dos nervos trigémeo e facial. Os ramos sen-
um do outro, reencontrando-se na base da lín- sitivos terminam no gânglio pterigopalatino (tri-
gua, onde formam a fossa amigdalina. A base des- gémeo).
ta corresponde ao bordo da base da língua e ao
bordo da cartilagem epiglote, alojando a amígda-
la palatina.

367
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

ANEXOS DA BOCA eia (7 ou 8 anos) os dentes são em número de 20


denominando-se como dentição temporária 0 ~
São considerados anexos da boca as gengivas, den- decídua. No adulto são 32, com 16 em cada arca-
tes e glândulas salivares. da, constituindo a segunda dentição ou definitiva.
Estes dividem-se em incisivos, em forma de bi-
GENGIVAS se!, com a função de cortar os alimentos; caninos
em forma de coroa, participam no processo d;
As gengivas são compostas por tecido fibroso den- rasgar os alimentos; e pré-molares e molares, que
so, ligado ao periósteo das apófises alveolares, en- tem como principal função triturar os alimentos.
volvendo o colo dos dentes. Consideram-se 2 gen- Anatomicamente os dentes apresentam uma
givas, uma superior e uma inferior. porção central, mole e vásculo-nervosa - a polpa,
A superior separa a abóbada palatina da região ge- e uma porção periférica, pétrea - dentina. E sta
niana e do lábio superior. A inferior separa a pare- porção está coberta ao nível da coroa pelo esmal-
de inferior da boca, região geniana e lábio inferior. te; a substância mais mineralizada do nosso cor-
po, e ao nível da raiz pelo cemento.
Vascularização e Inervação
Meios de fixação
A gengiva superior é vascularizada por ramos al-
veolares da artéria maxilar, infra-orbitária, esfeno- Os dentes estão implantados nos alvéolos por uma
palatina e palatina ascendente. A inferior é vascu- articulação tipo gonfartrose. O ligamento alvéo-
larizada pela artéria sub-lingual (ramo da lingual), lo-dentário também chamado "periodontal", re-
sub-mentoniana (ramo facial) e dentária inferior sultante dos prolongamentos fibrosos da muco-
(ramo da artéria maxilar). No conjunto anasto- sa gengival, é o meio de fixação por excelência do
mosam-se e formam um círculo arterial gengival. dente ao alvéolo.
A drenagem venosa é feita pelas veias gengivais,
que drenam para as veias lingual e facial. Vascularização e Inervação
A drenagem linfática é efectuada anteriormen-
te para os gânglios sub-mentonianos e posterior- Os dentes da arcada superior são vascularizados
mente para gânglios cervicais profundos. A iner- pela artéria maxilar, sendo os anteriores vasculari-
vação sensitiva está a cargo dos ramos infraorbitá- zados através das artérias alveolares superiores e an-
rios deste nervo na porção anterior e superior, dos teriores, e o mais posterior pelas artérias alveolares
nervos alveolares póstero superiores e nervo pala- posteriores e superiores. Na arcada inferior a vascu-
tino maior nos restantes sectores superiores. In- larização é da responsabilidade da artéria alveolar
feriormente é inervada pelo nervo lingual, nervo inferior. A drenagem venosa é feita pelos vasos ho-
mentoniano e pelo nervo bucal. mólogos ao sistema arterial. A drenagem linfática é
feita para os gânglios sub-mentonianos, submandi-
DENTES bulares e cervicais profundos. A inervação da arcada
superior é feita pelos nervos alveolares superiores,
Os dentes são órgãos de consistência dura, im- ramo do nervo trigémeo. Os dentes da arcada infe-
plantados nos bordos livres dos maxilares supe- rior são inervados pelos nervos alveolares inferiores,
riores e mandíbula. São peças fundamentais no ramo do nervo mandibular do trigémeo.
processo de mastigação, apresentando um papel
acessório na fonação e um papel estético na ana- GLANDULAS SALJVARES
tomia da cavidade bucal e na face. Do ponto de
vista descritivo podemos individualizar uma por- As glândulas salivares são glândulas exócrinas, que
ção superior acima da gengiva - coroa, uma por- produzem saliva e a libertam para a cavidade bu-
ção inferior implantada no alvéolo - raiz - e uma cal. Estas podem ser divididas consoante a sua di-
porção intermédia ou colo. Até à primeira infân- mensão em glândulas menores ou maiores.

368
MANUTENÇÃO I SISTEMA DIGESTIVO

Glândulas menores, são as palatinas, labiais, ju- 15-30 canais excretores, sendo o canal sublingual
ais e linguais. São centenas difusamente disper- o mais volumoso. A vascularização arterial é feita
g ela mucosa destas regiões. pela artéria sublingual. A drenagem venosa é fei-
sas P
Glândulas ·
maiores, - g1'andulas pares, di spostas
sao ta pelas veias profunda da língua. A drenagem lin-
à volta da cavidade bucal, comunicando para o seu fática é feita para os gânglios submandibulares e
interior através de canais excretores. São a paróti- cadeia jugular interna. A inervação é provenien-
da, submaxilar ou submandibular e sublingual. te do gânglio submandibular e da corda do tímpa-
A glândula parótida é a mais volumosa (Fig. 5.6). no, por intermédio do nervo sub-lingual, ramo do
Sirua-se atrás do ramo ascendente da mandíbu- nervo lingual.
la, por baixo do canal auditivo externo, adiante
das apófises mastoideia e estiloideia. Podemos
4
dividi-la em dois lobos, um superficial e um pro-
fundo, pelo atravessamento do nervo facial, que
não a inerva. O seu canal excretor é o canal pa-
rotídeo ou de Sténon. Tem o seu trajecto na re-
gião geniana, situando-se o seu orifício de aber-
tura na região dos molares superiores. A paróti-
da é vascularizada pelos ramos parotídeos da ar-
téria carótida externa e artéria auricular posterior.
A drenagem venosa é feita para a cadeia jugu-
lar externa. A glândula parótida recebe inerva-
ção sensitiva pelo nervo aurícula-temporal ramo
do trigémeo, a inervação parassimpática estimu-
la a produção de saliva e provém do glossofarín-
geo que faz chegar as suas fibras ao gânglio ótico
pelo nervo petroso menor e à parótida pelo ner- 3
vo aurículo-temporal. Recebe ainda inervação do
plexo carotídeo externo. Fig. 5.6: Glândulas Salivares.
1. Glândulas Sublinguais 2. Glândulas Parotídeas 3. G lândulas
A glândula submandibular situa-se na posição la- Submandibulares 4. Canal de Stenon 5. üngua
teral da região supra- hioideia e ocupa a depres-
são entre a face interna da mandíbula e os mús-
culos supra-hioideus, por um lado, e a base da lín- FARINGE
gua e faringe por outro (Fig. 5.6). No interior des-
te espaço, a glândula relaciona-se com a veia facial, A faringe é um canal musculomembranoso, locali-
com gânglios linfáticos submandibulares e com a zada atrás da cavidade nasal, da boca e da laringe.
artéria facial. Estende-se desde a base do crânio até à cartilagem
O canal excretor desta glândula é o canal de cricoideia da laringe, adiante, e ao nível da sexta
W harton, que se abre no pavimento da boca, de vertebra cervical, atrás. A faringe tem como estru-
cada lado do freio da língua. A vascularização ar- turas adjacentes, em cima, o corpo do esfenóide e
terial é feita pela artéria facial bem como a drena- a apófise basilar do occipital, continuando-se infe-
gem venosa é feita pela veia facial. A drenagem riormente com o esófago (Fig.5.7).
linfática é feita para os gânglios submandibulares. Posteriormente relaciona-se com a fáscia pré-ver-
A inervação é proveniente do gânglio sublingual e tebral e, lateralmente, relaciona-se com a apófise
da corda do tímpano, por intermédio do nervo su- estiloide e com as estruturas do ramalhete de Rio-
blingual, ramo do nervo lingual. land. Existem 7 aberturas faríngeas que permitem
As glândulas sublinguais situam-se no pavimen- a comunicação com outras estruturas: duas fossas
to da boca, sendo, de entre as major, as glându- nasais, duas caixas timpânicas, boca, laringe e esó-
las de menor dimensão. Estas apresentam cerca de fago.

369
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Fig. 5.7: Faringe. Fig. 5.8: Configuração Interior da Faringe.


1. Septo nasal 2. Ungua 3. Véu do palato 4. Epiglote 5. Cordas 1. Nasofaringe 2. Orofaringe 3. Laringofaringe 4. Esófago 5. Traqueia
Vocais 6. Esófago 7. Nasofaringe 8. Orofaringe 9. Laringofaringe 6. Choanas 7. ÚVUla 8. Base da língua 9. Epiglote 1O. Base do Cranio
10. Tiroide 11. Traqueia 12. Coluna cervical

Podemos destacar da sua constituição: mucosa, NASOFARINGE


parede aponevrótica e muscular.
A mucosa faríngea divide-se em duas porções: na A nasofaringe é limitada à frente pelas fossas na-
nasofaringe encontramos epitélio ciliado, seme- sais, comunicando com estas através das choanas,
lhante ao epitélio das fossas nasais, enquanto na em baixo pelo palato mole e superiormente pela
restante faringe encontramos epitélio escamoso base do crânio.
estratificado, semelhante à cavidade oral. O istmo faríngeo é o estreitamento ao nível do pa-
A aponevrose faríngea espessa-se ao nível das amíg- lato mole que separa a naso da orofaringe. Este é
dalas palatinas, tornando-se menos espessa na por- limitado pelo palato mole, lateralmente pelo ar-
ção inferior. Insere-se superiormente no tubérculo cos palato-faríngeos e, posteriormente, pela farin-
faríngeo do occipital, dirigindo-se ântero-interna- ge. Do palato mole vai depender o processo de de-
mente até à porção cartilagínea da trompa auditiva. glutição, impedindo o refluxo oronasal. O reces-
Em baixo insere-se ao nível da rafe pterigomandi- so faríngeo localiza-se acima do istmo. Adiante e
bular, hióide e cartilagem tiroideia da laringe. abaixo deste, acima do pavimento das fossas na-
A parede muscular é coberta por uma fáscia. En- sais, está localizado o orificio interno da trompa
contra-se separada da fáscia pré-vertebral por te- auditiva ou de Eustáquio. O seu contorno poste-
cido laxo, formando o espaço retrofaríngeo. Este rior contém uma estrutura cartilagínea, formando
espaço estende-se lateralmente de cada lado, for- o toros tubário.
mando os espaços látero-faríngeos. Por vezes nas crianças o recesso faríngeo contém
A faringe divide-se em três porções, de cima para uma grande quantidade de tecido linfóide for-
baixo, nasofaringe, orofaringe e laringofaringe mando as amígdalas faríngeas (também conheci-
(Fig. 5.8). das como adenóides). Lateralmente aos orificios
da trompa de Eustáquio encontramos as amígda-
las tubáricas.

370
MANUTENÇÃO J SISTEMA DIGESTIVO

oROFARINGE Músculos Constritores

A orofaringe continua-se posteriormente?- cavi- São músculos planos e finos, encurvados de tal
dade bucal, através do istmo das fauces. E limi- maneira que unidos com os do lado oposto, for-
tada superiormente pelo palato mole, lateralmen- mam um canal muscular côncavo para a frente, se-
te pelos arcos palatinos e, inferiormente, pela por- parado da mucosa pela submucosa ou aponevro-
ção superior da língua. Posteriormente ao bordo se intrafaríngea.
posterior da língua, podemos encontrar três pregas Os músculos constritores são três: superior, mé-
glosso-epiglóticas, duas laterais e uma mediana. dio e inferior.
Entre as mesmas encontramos as valéculas glos- • O músculo constritor superior tem origem na
so-epiglóticas. Na base da língua podemos encon- parte inferior do bordo posterior e asa inter-
trar ainda um conjunto de tecido linfóide ao ní- na da apófise pterigóide (feixe pterigoideu),
vel da sua submucosa, que corresponde à amígda- do ligamento pterigomaxilar que o separa do
la lingual. Nas paredes laterais da orofaringe, en- bucinador (feixe pterigomaxilar) e da extre-
tre os arcos palatinos, podemos encontrar as amíg- midade posterior da linha milohioideia (feixe
dalas palatinas. Estas são a maior estrutura linfói- milohioideu). As fibras inferiores do múscu-
de da orofaringe, constituídas por tecido linfóide lo unem-se num feixe denominado "múscu-
envolto numa cápsula fibrosa. Apresentam na sua lo faringoglosso", que se prolonga para a fren-
superfície um conjunto de depressões, as criptas te sobre o bordo lateral da língua. As fibras
amigdalinas. A sua vascularização é feita pela arté- do constritor superior dirigem-se num trajec-
ria amigdalina, ramo da artéria facial e a sua dre- to curvilíneo para trás e para dentro; as supe-
nagem venosa efectuada para a veia facial.Já a sua riores adoptam uma direcção um pouco mais
drenagem linfática é efectuada para os gânglios transversal; as inferiores são um pouco obli-
cervicais superficiais e gânglios submandibulares. quas para baixo. Todas as fibras terminam en-
As amígdalas palatinas, juntamente com as lin- trecruzando-se na linha média. Com efeito, a
guais, faríngeas (adenóides) e tubáricas constituem maioria das vezes, as fibras mais elevadas in-
o anel de Waldeyer. clinam-se para cima perto da linha média e
unem-se com as do lado oposto, formando
LARINGO-FAR/NGE uma lingueta ascendente que se fixa ao tubér-
culo faríngeo.
A laringo-faringe é a porção mais inferior da fa- • O músculo constritor médio insere-se à fren-
ringe, terminando inferiormente ao nível da tran- te por meio de duas cabeças diferentes. Uma
sição com o esófago. Esta é delimitada anterior- com origem no bordo posterior do pequeno
mente pelo osso hióide e porção superior da car- corno do osso hióide; a outra na face supe-
tilagem tiroideia da laringe. Lateralmente é limi- rior do grande corno do hióide, por dentro do
tada pelo prolongamento lateral da cartilagem ti- hioglosso. O constritor médio recobre par-
roideia da laringe, superiormente pela cartilagem cialmente o constritor superior.
epiglótica e, inferiormente e posteriormente, pe- • O músculo constritor inferior - insere-se por
las cartilagens aritenóides e pela porção posterior um feixe tiroideu, na face externa da cartila-
da cartilagem cricóide. Na sua globalidade esta en- gem tiróide, por trás da linha obliqua da car-
contra-se recoberta pela mucosa faríngea em toda tilagem e sobre esta linha, por um feixe cri-
a sua extensão. cotiroideu, num arco fibroso côncavo para a
frente que une o bordo inferior da cartilagem
MÚSCULOS DA LARINGE tiróide com o bordo inferior da cartilagem
cricóide e por um feixe cricoideu, no bordo
O s músculos da faringe dividem-se em dois gru- inferior da cartilagem cricóide, na união do
pos: músculos constritores e músculos elevadores. arco e da placa cricoideia.

371
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

O amigdaloglosso é adicionado ao grupo dos cervicais profundos. Os linfáticos da parede supe-


constritores. As suas fibras estendem-se por den- rior da nasofaringe e parede posterior da faringe
tro do constritor superior desde a face externa da drenam para os gânglios látero-faríngeos. O ple-
cápsula amigdalina até ao bordo lateral da língua. xo linfático da parede posterior pode ainda rece-
Os músculos constritores estreitam os diâmetros ber os linfáticos das fossas nasais. Os linfáticos da
ântero-posterior e transversal da faringe. faringe drenam, por sua vez, para os gânglios re-
tro-faríngeos.
Músculos Elevadores

São três de cada lado: palatofaríngeo (faringoesta- ESÓFAGO


filino ), estilofaríngeo e salpingofaríngeo.
O palatofaríngeo foi descrito com os músculos do O esófago é um tubo muscular com cerca de 25
véu do paladar. centímetros de comprimento, que une a faringe ao
O estilofaríngeo é músculo de forma triangu- estômago. Inicia-se no pescoço, ao nível do bor-
lar com base inferior, insere-se em cima no lado do inferior da cartilagem cricoideia da laringe e da
interno da base da apófise estilóide. Projecta al- 6.ª vértebra cervical. Tem, a partir daí, um trajecto
gumas fibras que terminam na cápsula amigdali- descendente, adiante da coluna vertebral, no me-
na (feixes amigdalinos); passa de seguida por den- diastino posterior. Atravessa o diafragma, ao nível
tro do constritor médio e divide-se em vários fei- da 10.•vértebra torácica,e termina ao nível da 11.•
xes. O feixe faríngeo, que se perde sob a aponevro- vértebra torácica, no cárdia do estômago, com o
se intrafaríngea da parte bucal da faringe, os feixes qual faz um ângulo agudo. O esófago acompanha,
amigdalinos são dependências deste feixe; o feixe no seu trajecto, as curvaturas ântero-posteriores da
epiglótico, que se dirige ao bordo lateral e à face coluna vertebral. No plano frontal (coronal), ini-
anterior da cartilagem epiglote, elevando uma pre- cia-se na linha média, inclina-se ligeiramente para
ga chamada "prega faringoepiglotica". O feixe ti- a esquerda e regressa à linha média.
roideu, que termina no como superior da cartila- É a parte mais estreita do tubo digestivo, excep-
gem tiróide e na parte vizinha do bordo superior tuando o apêndice vermiforme. Superiormente
desta cartilagem, e o feixe cricoideu que se esten- apresenta o esfíncter esofágico superior e daí para
de até ao bordo superior da cartilagem cricoide. É baixo é sucessivamente cruzado pelo arco aórti-
um elevador da faringe e da laringe co, pelo brônquio principal esquerdo e atravessa
O salpingofaríngeo tem a sua origem na parte in- o diafragma. Podemos dividir o esófago em esó-
ferior da cartilagem da trompa auditiva, e dirige- fago cervical, esófago torácico e esófago abdomi-
-se para baixo para se fundir com o músculo pa- nal (Fig. 5.9)
latofaríngeo. Também funciona como elevador da O esófago cervical localiza-se posteriormente à
faringe. traqueia e está unido a esta por tecido conjunti-
vo laxo. No sulco entre a traqueia e o esófago cor-
Vascularização re o nervo laríngeo recorrente (laríngeo inferior).
Atrás do esófago encontra-se a coluna vertebral,
A faringe é vascularizada arterialmente pela arté- o músculo longo do pescoço e a porção pré-verte-
ria faríngea ascendente, ramo da carótida exter- bral da fáscia profunda. De cada um dos lados en-
na. Recebe ainda ramos da artéria tiroideia supe- contra-se o feixe vasculo-nervoso do pescoço e a
rior, inferior, artéria vidiana, ramo da artéria ma- extremidade posterior dos lobos laterais da glân-
xilar interna. dula tiroideia.
A drenagem venosa é feita para o plexo faríngeo, O esófago torácico localiza-se discretamente à es-
comunicando com o plexo pterigoideu, com veias querda da linha média, ao nível do mediastino su-
tiroideias superior e lingual, bem como veia facial perior, entre a traqueia e a coluna vertebral. Passa
e jugular interna. atrás do arco aórtico e desce no mediastino pos-
A drenagem linfática é efectuada para os gânglios terior, junto à vertente direita da aorta torácica.

372
MANUTENÇÃO I SISTEMA DIGESTIVO

esquerdo do fígado, onde produz um sulco. Tem,


a nível abdominal, a forma de um cone truncado
com cerca de 1 a 2 centímetros de comprimento,
curvando-se para a esquerda e ligeiramente para
trás e continuando- se com o cárdia do estômago.
A sua vertente direita continua-se com a pequena
curvatura do estômago, ao passo que a sua vertente
esquerda está separada do fundo do estômago pela
pequena incisura do cárdia. A este nível, o esófa-
go encontra-se revestido por peritoneu, que con-
tém os vagos anterior e posterior, relacionando-se
com as artérias frénicas inferiores. O esófago ab-
dominal encontra- se unido ao diafragma por teci-
do conjuntivo que forma o ligamento freno-esofá-
gico. Inferiormente este é uma extensão da fáscia
transversalis. Superiormente ao diafragma é uma
extensão subpleural da fáscia endotorácica.

ARTÉRIAS DO ESÓFAGO

Fig. 5.9: Esófago.


1. Esófago 2. Artéria aorta•torácica 3. Traqueia 4. Nervos vagos 5.
O esófago cervical é irrigado pela artéria tiroideia
Diafragma 6. Estômago 7. Veia cava inferior 8. Veia braquiocefálica inferior. O esófago torácico é irrigado pelas arté-
esquerda 9. Artéria aorta•abdominal 1O. Canal torácico 11. Brônquio
principal direito 12. Brônquio principal esquerdo
rias brônquicas e pelas artérias esofágicas, que são
três ou quatro artérias com origem na face anterior
da aorta torácica. A porção inferior do esófago to-
Atravessa o diafragma, entrando na cavidade ab- rácico e o esófago abdominal são irrigados porra-
dominal ao nível da décima vértebra torácica. Re- mos das artérias frénicas e ramos da artéria gás-
laciona-se, de cima para baixo, com as seguintes trica esquerda. Existe uma grande quantidade de
estruturas à frente: traqueia, artéria pulmonar di- anastomoses entre estes vasos, formando-se uma
reita, brônquio principal esquerdo, átrio esquerdo rede vascular esofágica.
(aurícula esquerda); atrás: coluna vertebral, mús-
culo longo do pescoço, artérias intercostais, ca- VEIAS DO ESÓFAGO
nal torácico e veia ázigos. Próximo do diafragma
a aorta ocupa uma posição posterior. No medias- A drenagem venosa do esófago é feita para um
tino superior relaciona-se, à esquerda, com a por- plexo venoso submucoso, e depois para um ple-
ção terminal do arco aórtico, com a pleura esquer- xo venoso peri-esofágico, no qual têm origem as
da e com o nervo laríngeo inferior (nervo recor- veias esofágicas. As veias do esófago torácico dre-
rente laríngeo). À direita, relaciona-se com a pleu- nam essencialmente para as veias ázigos. Existe
ra direita e com a veia ázigos. O nervo vago direito também alguma drenagem para as veias brônqui-
localiza-se, a este nível, na face posterior do esófa- cas. O esófago cervical drena para a veia tiroideia
go, e o esquerdo na face anterior. Os nervos vagos inferior. A porção abdominal do esófago drena
formam um plexo em redor do esófago. O canal para a veia gástrica esquerda, e daí para a veia
torácico localiza-se atrás e à esquerda do esófago. porta. As anastomoses existentes entre as veias
O esófago abdominal inicia-se ao nível do orifício esofágicas e a veia gástrica esquerda põe em co-
esofágico do diafragma, formado pelas cruras dia- municação a circulação da veia cava e a circula-
fragmáticas, ligeiramente à esquerda da linha mé- ção da veia porta, constituindo uma anastomose
dia, ao nível da 10.ª vértebra torácica. Relaciona- porto-cava. Em caso de hipertensão na veia por-
-se, a este nível, com a superfície posterior do lobo ta, estas anastomoses vão permeabilizar e dilatar-

373
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

-se, levando à formação de varizes esofágicas. A s Na sua projecção na parede abdominal ante .
rior
varizes esofágicas podem ser observadas em exa- ocupa uma grande parte do epigastro e quase tod
me endoscópico, visto localizarem-se superficial- o hipocôndrio esquerdo. A sua posição encontr ~
mente a nível da lâmina própria. -se mantida pela continuidade com o esófago e. a
in-
testino delgado, bem como pelas formações peri-
LINFATICOS DO ESÓFAGO toneais que o ligam aos outros órgãos da caVida-
de abdominal.
O esófago possui uma rica rede linfática submuco- Tem a forma de um ''J", mais verticalizado quan-
sa cuja circulação é bidireccional, o que pode jus- do vazio, e uma capacidade média de 1300cc. O
tificar o aparecimento de metástases paradoxais. segmento terminal do esófago faz uma angulação
O s linfáticos extramurais são unidireccionais. No marcada com o fundo gástrico - incisura cardíac
L
esófago drenam para os gânglios cervicais profun- A transição gastroesofágica dá-se o nome de cár-
dos, quer directamente, quer através dos gânglios dia. No estômago, podemos considerar uma por-
para-traqueais. Os linfáticos do esófago torácico ção vertical e uma porção horizontal, separadas
drenam para os gânglios mediastínicos posterio- pela incisura angular. Na porção vertical descre-
res. Os da porção abdominal do esófago drenam vemos duas porções - o fundo e o corpo do estô-
para os gânglios linfáticos gástricos esquerdos. Al- mago (Fig. 5.10)
guns vasos linfáticos esofágicos podem drenar di- Na porção horizontal encontramos a porção pi-
rectamente para o canal torácico. lórica, que é composta pelo antro, na transição da
porção vertical para a horizontal, e pelo canal pi-
INERVAÇÃO lórico ou piloro.
Os dois bordos do estômago designam-se por cur-
A porção superior do esófago é inervada por ra- vaturas - grande e pequena. A grande curvatura,
mos do nervo laríngeo recorrente, e por fibras sim - ou esquerda, relaciona-se com o cólon transver-
páticas pós-ganglionares que alcançam o esófago, so, e tem cerca de cinco vezes o tamanho da pe-
percorrendo as artérias tiroideias inferiores. A por- quena. Inicia-se na incisura cardíaca, dirigindo-se
ção inferior do esófago é inervada pelo plexo eso- inicialmente para cima, para formar a convexida-
fágico, uma rede de fibras do sistema nervoso au- de do fundo, e para depois descer até à junção com
tónomo constituída por fibras simpáticas e paras- o duodeno. A pequena curvatura, ou direita, que
simpáticas. As fibras motoras são fornecidas pelo se estende desde o cárdia ao piloro, ocupa pratica-
nervo vago, que fornece ainda fibras secreto-mo- mente toda a extensão do plano sagital e relacio-
toras para as glândulas da mucosa esofágica. A na-se com o tronco celíaco e o lobo caudado do li-
inervação do esófago é feita ainda por fibras vis- gado, encontrando-se adiante do pilar direito do
cerais aferentes, responsáveis pela transmissão da diafragma. A pequena curvatura termina em bai-
dor, que caminham pelas fibras simpáticas dos pri- xo na incisura angular. O estômago apresenta duas
meiros quatro segmentos da medula espinhal. Es- faces - anterior e posterior. A face anterior, pode
tes segmentos recebem também fibras aferentes ser dividida em porção subtorácica, que se relacio-
do coração, explicando o porquê de ser por vezes na com o diafragma, e corresponde às 5.•-8.ª cos-
dificil a distinção entre as dores de causa esofági- telas esquerdas, sendo identificado pelo timpanis-
ca e cardíaca. mo à percussão (espaço de Traube) e porção abdo-
minal que se relaciona com o figado acima e à di-
reita e abaixo e à esquerda com a parede abdominal
ESTÔMAGO anterior (triângulo de Labbé). Por seu lado, a face
posterior relaciona-se com cavidade posterior dos
O estômago é uma porção dilatada do tubo diges- epíploones, e através desta, em cima, com o dia-
tivo que tem, entre outras, a função de armazenar fragma. Nesta zona o estômago está unido por te-
e digerir os alimentos, resultando na transforma- cido fibroso a este músculo, formando o ligamen-
ção do bolo alimentar em quimo. to suspensor. Para baixo, ainda através da cavidade

374
MANUTENÇÃO \ SISTEMA DIGESTIVO

osterior dos epíploones, o estômago relaciona-se gamento gastrocólico. Os últimos três formam o
~orn O pilar esquerdo do diafragma, com a cápsula grande epíploon.
suprarrenal esquerda e rim esquerdo e com o corpo
e cauda do pâncreas. Mais inferiormente esta face CONSTITUIÇÃO ANATÓMICA
relaciona-se com o mesocólon transverso e cólon
transverso, e através do ligamento gastrospléni- O estômago é constituído por quatro túnicas so-
co com o baço. A face posterior do estômago en- brepostas, de fora para dentro a túnica serosa,
contra-se quase toda recoberta por peritoneu, com constituída pelo peritoneu, a túnica muscular que
excepção de uma pequena parte, perto do cárdia. compreende três tipos de fibras musculares, longi-
O orifício superior do estômago corresponde ao tudinais, circulares e oblíquas, a túnica submuco-
cárdia, situando-se a nível da 11.ª vértebra toráci- sa constituída por tecido conjuntivo rico em vasos,
ca, 10 cm posterior à parede abdominal anterior e glândulas e nervos e a túnica mucosa que apresen-
a 40 cm dos dentes incisivos. Interiormente a tran- ta inúmeras pregas e glândulas gástricas, que pro-
sição corresponde à mudança de um epitélio estra- duzem o suco gástrico. As pregas gástricas são ftm-
tificado pavimentoso para um epitélio simples ci- cionalmente importantes a nível da junção esofá-
líndrico, marcada por uma linha em ziguezague, a gico-gástrica onde conjuntamente com a incisura
linha "Z". O orifício inferior ou duodenal corres- cardíaca e a contração tónica das fibras musculares
ponde ao piloro, e é atravessado pelo plano trans- lisas, formam um aparelho funcional que evita o
pilórico ao nível de 1:1, por regra 1 cm para adi- refluxo gastroesofágico, que poderá, em caso de re-
reita da linha média. E um anel muscular, formado corrência induzir uma substituição do epitélio pa-
pelas fibras circulares da camada muscular. vimentoso do esófago por um epitélio colunar, que
O estômago une-se ao fígado ao nível da pequena toma o nome de esófago de Barret.
curvatura pelo epíploon gastro- hepático, que for-
ma conjuntamente com o ligamento hépato-duo- ARTÉRIAS DO ESTÔMAGO
denal, o pequeno epíploon, e ao nível da gran-
de curvatura, o diafragma pelo ligamento gastro- O estômago é irrigado através de um circuito arte-
-frénico, ao hilo esplénico pelo ligamento gastro- rial resultante da união de vários ramos provenien-
-esplénico e abaixo ao cólon transverso pelo li- tes directamente do tronco celíaco e/ou ramos das

6
6
9

10
11

Figura 5.10a: Estômago, configuração e vascularização arterial. Figura 5.10b: Estômago, drenagem venosa.
1. Estômago 2. Fundo gástrico 3. Curvatura maior 4. Curvatura 1. Estômago 2. Fundo gástrico 3. Curvatura maior 4. Curvatura menor
menor 5. lncisura angular 6. Cardia 7. Piloro 8. Baço 9. Fígado 5. lncisura angular 6. Cardia 7. Plloro 8. Baço 9. Fígado 10. Veia
10. Veia Cava Inferior 11. Pâncreas Cava Inferior 11. Pâncreas

375
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

suas artérias. Assim, o círculo arterial da pequena tra à direita dos dois primeiros territórios, dividin-
curvatura resulta da união da artéria gástrica es- do-se em duas zonas secundárias: uma superior e
querda (ramo do tronco celíaco) com a artéria gás- uma inferior. A zona superior, ou pilórica, encon-
trica direita (ramo da hepática comum). Por sua tra-se à direita do território da cadeia gástrica es-
vez, o círculo arterial da grande curvatura é cons- querda e estende-se da pequena curvatura ao pi-
tituído pela anastomose da artéria gastroepiploica loro. A zona inferior ou gastroepiploica é tributá-
esquerda (ramo da artéria esplénica) com a artéria ria da cadeia ganglionar gastroepiploica e do gru-
gastroepiploica direita (ramo da artéria duodenal). po infra-pilórico.
Para além destes arcos ou círculos arteriais, desti-
nados às paredes do estômago, o fundo gástrico re- INERVAÇÃO DO ESTÔMAGO
cebe ramos independentes - artérias gástricas cur-
tas. E stas, existentes em número variável, são ra- A inervação do estômago é feita a partir do ner-
mos de divisão da artéria esplénica junto ao hilo vo vago e do plexo celíaco. O tronco vaga! ante-
do baço, caminhando depois junto ao ligamento rior é derivado principalmente do nervo vago es-
gastroesplénico até alcançarem o fundo gástrico. querdo, entra no abdómen como um único ramo
localizando-se à frente do esófago. Dirige-se par;
VEIAS DO ESTÔMAGO a pequena curvatura do estômago, onde emite ra-
mos hepáticos e duodenais, continuando depois ao
A drenagem venosa é feita maioritariamente para longo da pequena curvatura, onde dá origem aos
a veia porta através de veias satélites das artérias ramos gástricos anteriores.
previamente descritas. O tronco vagal posterior é o maior, derivando
principalmente do nervo vago direito. Entra no
LINFÁTICOS DO ESTÔMAGO abdómen atrás do esófago e fornece ramos para a
face posterior do estômago. Emite um ramo para
Os linfáticos do estômago convergem para as duas o plexo celíaco e para o plexo mesentérico supe-
curvaturas e para o fundo, encontrando-se dividi- rior, com distribuição ao intestino e ao pâncreas.
dos em três territórios linfáticos: 1 - território da A inervação simpática do estômago comporta um
cadeira ganglionar da artéria gástrica esquerda; 2 - número significativo de fibras transmissoras da
território da cadeia ganglionar da artéria esplénica; dor, enquanto as fibras vagais são secreto-motoras
3 - território da cadeia ganglionar da artéria hepá- para as glândulas gástricas e motoras para a parede
tica. D este modo, podemos afirmar que os linfá- muscular do estômago. O esfíncter pilórico recebe
ticos do estômago seguem o trajecto das artérias. fibras motoras do simpático e inibitórias do vago.

Território da cadeira ganglionar da artéria gástri-


ca esquerda: compreende aproximadamente os 2/3
mediais de toda a porção vertical do estômago. É
limitada, à direita, pela pequena curvatura do estô-
mago e, à esquerda, o seu limite tem início no fun-
do e vai descendo paralelamente às curvaturas do
estômago, estando mais próximo da grande cur-
vatura.
Território da cadeia ganglionar da artéria espléni-
ca: ocupam toda a parte do estômago que se en-
contra ao redor do território da artéria gástrica es-
querda, desde o fundo até à porção média da gran-
de curvatura.
Território da cadeia ganglionar da artéria hepáti-
ca: ocupa tooa a parte do estômago que se encon-

376
MANUTENÇÃO I SISTEMA DIGESTIVO

SISTEMA DIGESTIVO INFERIOR à quarta lombar. A terceira porção (D3) dirige-se


para a esquerda à frente da quarta lombar e for-
ma com D2 um ângulo de 90º (o joelho inferior).
DUODENO E PÂNCREAS A quarta porção (D4) é ascendente junto ao flanco
esquerdo da coluna até L2, onde forma um ângu-
O bloco duodeno-panc!eático constitui uma uni- lo agudo com o jejuno, o ângulo duodeno-jejunal,
dade morfofuncional. E constituído por dois ór- fixo aos planos posteriores pelo músculo de Treitz.
gãos - duodeno (órgão tubular do tubo digesti- O duodeno está contido numa loca com o pân-
vo) e o pâncreas (glândula anexa ao tubo digesti- creas: a loca duodeno-pancreática.
vo) (Fig. 5.11).
Relações
11 3
As relações entre os dois órgãos são muito pró-
ximas, sendo dillcil separá-los anatomicamente: a
12
metade direita de D1 repousa numa goteira da ca-
beça do pâncreas limitado anteriormente pelo tu-
bérculo pré-duodenal e posteriormente pelo tu-
bérculo retro- duodenal. As conexões entre os ór-
gãos são mais próximas em D2 ao nível da termi-
nação do colédoco e do Wirsung, envolvidas por
um aparelho muscular (esfíncter de Oddi) que se
encastoa na face anterior do duodeno através de
um hiato, a janela duodenal (Fig.5.12A e B). D3
é mais independente do pâncreas, estando ligados
por vasos e nervos. D4 é também mais indepen-
4 dente do pâncreas formando com D3 um ângulo
agudo para a frente. D1 ou duodeno sub-hepático
Fig. 5.11: Bloco duodeno-pancreático.
1. Duodeno - 01 2. Duodeno - 02 3. Pâncreas 4. Duodeno - 03 relaciona-se anteriormente com a cavidade perito-
5. Vasos mesentéricos superiores 6. Estômago 7. Cólon 8. Pedículo
neal e está recoberta e está recoberta pela face in-
hepático 9. Rim direito 10. Supra-renal direita 11. Veia cava inferior
12. Baço ferior do fígado próximo da vesícula biliar. A face
posterior de D1 está dividida pela artéria gastro-
-duodenal e gânglios retro-pilóricos em duas por-
DUODENO ções: interna e externa. Superiormente D1 rela-
ciona-se com o pedículo hepático. Posteriormen-
O duodeno é o órgão que se segue ao estômago, te D1 está fixo aos planos posteriores pela faixa de
correspondendo à porção fixa do intestino delga- Treitz, relacionando-se com a veia cava inferior e a
do, por oposição à porção móvel, o jejuno-íleo. lni- suprarrenal direita. A fixação de Treitz forma atrás
cia-se após o piloro e termina no ângulo duode- de D1 o limite inferior do hiato de Winslow ou
no-jejunal. Situa-se na região posterior da cavi- Joramen bursae omentalis. O pequeno epíploon fi-
dade abdominal, sendo um órgão retroperitoneal. xa-se na face posterior de D1. A face interna re-
As quatro porções que o constituem formam um laciona-se com o rim direito e cápsula suprarre-
anel incompleto denominado "quadrado duode- nal direita.
nal", rodeando a cabeça do pâncreas. A primeira A segunda porção do duodeno ou pré-renal di-
porção (D1) é transversal da esquerda para a direi- reita é cruzada anteriormente pela raiz do meso-
ta desde o piloro até ao nível da primeira vértebra cólon transverso. Relaciona-se com a vesícula bi-
lombar. A segunda porção (D2) forma um ângu- liar e face inferior do lobo direito do fígado, onde
lo recto com a antecedente Qoelho superior) e des- marca uma impressão anteriormente à impressão
ce verticalmente à direita da coluna da primeira renal da face inferior do figado. Abaixo da raiz do

377
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Figura 5.12A: Configuração interior do duodeno. Figura 5.12B: Esfíncter de Oddi.


1. Pequena carúncula duodenal 2. Grande carúncula duodenal 1. Via biliar comum - canal colédoco 2. Canal pancreático principal
3. Esfíncter de Oddi 4 . Ampola de Vater

mesocólon relaciona-se com as ansas do jejuno-í- a esquerda da quarta à segunda lombar. A face
leo. Por vezes, os vasos eólicos superiores direitos anterior de D4 é infra-mesocólica e correspon-
podem cruzar a face anterior do duodeno infra- de à primeira ansa jejunal, face posterior do estô-
mesocólico. A face posterior de D2 está fixada aos mago e cavidade posterior dos epíploones. A face
planos posteriores pela faixa de Treitz da primei- posterior de D4 relaciona-se com a aorta, vasos
ra à quarta lombar. Relaciona-se com a veia cava renais, espermáticos ou útero-ováricos esquer-
inferior, com o pedículo renal direito, porção in- dos que o separam do diafragma e do músculo
terna da face anterior do rim direito, o bacinete e psoas. O bordo interno corresponde à parte su-
ureter direito, a artéria testicular ou útero-ovári- perior da raiz do mesentério, o bordo externo ao
ca direita que cruzam a face anterior da veia cava arco vascular de Treitz formado pelo cruzamen-
inferior ao nível da terceira lombar. to da veia mesentérica inferior e da artéria cóli-
D3 ou segmento pré-cava-aórtico é cruzado na ca superior esquerda. O ângulo duodeno-jejunal
face anterior pelos vasos mesentéricos superiores situa-se no flanco esquerdo ao nível da segunda
e gânglios linfáticos e nervos contidos na raiz do lombar, abaixo da raiz do mesocólon transverso.
mesentério e mesocólon ascendente. Contacta com o bordo inferior do pâncreas, cor-
A face posterior de D3 está fixada aos planos pos- respondendo posteriormente à porção lombares-
teriores, cobrindo da direita para a esquerda aveia querda do diafragma constituindo um dos pon-
cava inferior, a aorta e a origem da artéria mesen- tos mais fixos do intestino delgado suspenso pelo
térica superior, o plexo inter-mesentérico, a parte músculo de Treitz (o qual se insere no pilar es-
inferior da raiz dos nervos esplâncnicos pélvicos querdo do diafragma e no vértice do ângulo duo-
e elementos superiores da cadeia mesentérica in- deno-jejunal e metade superior da face posterior
ferior. A face superior de D3 relaciona-se com o de D4. O peritoneu que reveste a região terminal
gancho do pâncreas e é cruzada pela veia mesen- do órgão forma fossetas que constituem divertí-
térica superior. A face inferior de D3 correspon- culos da grande cavidade peritoneal, das quais a
de às ansas do intestino delgado. D4 ou duode- mais constante é a fosseta duodenal inferior si-
no para-aórtico esquerdo, segue o flanco esquer- tuada à esquerda da porção inicial de D4.
do da coluna lombar e aorta e sobe da direita para

378
MANUTENÇÃO I SISTEMA DIGESTIVO

Figura 5.13: Vascularização arterial do bloco duodeno pancreático. Figura 5.14: Drenagem Venosa do bloco duodeno-pancreático.
1. Vesícula biliar 2. Tronco celíaco 3. Artéria hepática comum 4. Artéria 1. Tronco esplenomesaraico 2. Veia esplénica 3. Veia mesentérica
esplénica 5. Bloco duodeno-pancreático 6. Canal colédoco inferior 4. Veia mesentérica superior 5. Veia porta

ARTÉRIAS glios infra-pilóricos e um gânglio retro- duodeno-


-pancreático superior e gânglios infra-pilóricos.
O duodeno é irrigado por duas arcadas anastomó-
ticas que se formam entre as artérias gastro-duo- NERVOS
denal (ramo da artéria hepática comum) e mesen-
térica superior. Uma arcada é anterior e inferior e Provêm do plexo celíaco e do pneumogástrico,
a outra é posterior e superior em relação à cabeça chegando ao duodeno por plexos peri-arteriais.
do pâncreas (Fig. 5.13).

VEIAS PÂNCREAS

São satélites das artérias. Os ramos vindos das fa- O pâncreas é uma glândula de secreção mista (in-
ces anterior e posterior do órgão lançam o sangue terna e externa). É um órgão alongado transver-
em duas arcadas duodeno-pancreáticas: a anterior salmente, aplanado da frente para trás. A porção
e a posterior que drenam o sangue na veia mesen- direita, mais volumosa e intimamente relaciona-
térica superior separadamente ou por intermédio da com o duodeno é a cabeça. Apresenta uma go-
de um tronco comum (Fig. 5.14). teira no bordo superior onde repousa o duodeno.
O bordo inferior apresenta uma lingueta livre: o
LINFÁTICOS gancho do pâncreas anteriormente ao qual passam
os vasos (artéria e veia) mesentéricos superiores.
Nascem de redes intraparietais e lançam a linfa O colo é uma região mais estreita entre a cabeça
nos gânglios duodeno-pancreáticos anteriores, ca- e o corpo do pâncreas. O corpo é mais alongado
deias sub-pilóricas, gastroduodenal e da mesenté- da direita para a esquerda. A meio do bordo supe-
rica superior. Os posteriores (atrás da cabeça do rior do corpo localiza-se o tubérculo pancreático
pâncreas) drenam para gânglios à direita da me- esquerdo. A cauda é afilada e recurva para a fren-
sentérica superior. Os linfáticos de D4 e ângulo te relacionando-se intimamente com o epíploon
duodeno-jejunal drenam para um gânglio inferior pancreático- esplénico, pelo que se considera uma
ao corpo do pâncreas. Os de D1 drenam para gân- estrutura livre na cavidade peritoneal.

379
MANUAL DE ANATOMIA H UMANA

O pâncreas mede cerca de 12 a 22 cm e pesa cerca formam o tronco da veia porta a uma altura variá-
de 80 gramas no adulto. A cabeça e o corpo estão vel (Fig. 5.14).
fixos aos planos posteriores da cavidade abdomi-
nal. A cabeça está intimamente unida ao duode- Outras relações
no pela proximidade e vasos do tronco celíaco e da
artéria mesentérica superior. Só a cauda está mó- As relações do pâncreas com estruturas que não
vel no epíploon pancreático-esplénico. O pâncreas pertencem à loca duodeno-pancreática são ante-
situa-se ao nível das primeiras vértebras lombares. riores, posteriores, superiores, inferiores, laterais
A secreção externa do pâncreas (enzimas que par- direitas e esquerdas (Fig. 5.11). As relações an-
ticipam do processo digestivo) é lançada no duo- teriores são supra ou infra-mesocólicas separadas
deno pelos canais pancreáticos: o canal de Wir- pela inserção do mesocólon transverso que cruza
sung ou principal e o acessório ou de Santori- a parte inferior da cabeça e colo e segue o bor-
ni. O canal de Wirsung segue o eixo do órgão da do inferior do pâncreas. A região infra-mesocóli-
cauda até à cabeça terminando em D2 na grande ca é recoberta anteriormente pelo mesocólon as-
carúncula recoberto por uma prega mucosa com cendente com o pedículo cólico superior direito.
um freio na parte inferior. A terminação é conjun- A região supra-mesocólica relaciona-se com o es-
ta com o colédoco formando uma pequena dilata- tômago e Dl. Posteriormente o pâncreas relacio-
ção - a ampola de Vater, a qual se abre na grande na-se na linha média com a aorta. Superiormen-
carúncula. O canal de Santorini drena a face an- te ao pâncreas está a origem do tronco celíaco e
terior da cabeça e é mais pequeno; abre-se em D2 gânglios semi- lunares e a origem da mesentéri-
numa pequena carúncula entre a grande carúncu- ca superior ao nível da primeira lombar. Abaixo
la e o joelho superior do duodeno (Fig. 5.12A). da origem da artéria mesentérica superior, a aorta
é cruzada pela veia renal esquerda. À direita da li-
Relações do pâncreas na loca duodeno- nha média o pâncreas relaciona-se com a fáscia de
-pancreatica Treitz correspondendo através dela à veia cava in-
ferior e terminação das veias renais, artérias tes-
A cabeça do pâncreas relaciona-se intimamente ticulares ou útero-ováricas e veias homónimas.
com as três primeiras porções do duodeno, (Fig. À esquerda da linha média o pâncreas está fixo aos
5.11).Junto ao pedículo hepático, a via biliar prin- planos posteriores pela fáscia de Toldt, através da
cipal torna-se posterior ao pâncreas descendo até qual se relaciona com o pilar esquerdo do diafrag-
à papila principal em D2. O tronco celíaco e a ar- ma, com o pedículo renal esquerdo, rim esquerdo
téria mesentérica superior são posteriores à cabe- e suprarrenal esquerda. A cauda do pâncreas é li-
ça do pâncreas. A artéria esplénica, ramo do tron- vre e está contida entre dois folhetos do perito-
co celíaco segue o bordo superior do órgão com neu, que seguem até ao hilo do baço constituindo
um trajecto sinuoso até à cauda, onde penetra no o epíploon pancreático-esplénico.
epíploon pancreático-esplénico até ao baço. Ao
longo do trajecto dá ramos que irrigam o pân- ARTÉRIAS
creas. A artéria hepática direita, inconstante, nas-
ce da mesentérica superior e cruza a face poste- O pâncreas é ricamente vascularizado, sendo ir-
rior da cabeça do pâncreas entrando no pedícu- rigado pelos ramos nascidos do tronco celíaco e
lo hepático externamente ao tronco da veia porta. artéria mesentérica superior (Fig. 5.13). Destes
Posteriormente ao pâncreas estão as raízes de ori- troncos nascem 2 arcadas: uma anterior e inferior
gem do tronco porta: a veia esplénica que vem do e outra posterior e inferior. A anterior e inferior é
pólo do baço, cruza o bordo superior da cauda do formada pela anastomose da artéria pancreático-
pâncreas e caminha inferiormente à artéria. A veia -duodenal anterior e superior, ramo da gastroduo-
mesentérica inferior, que é posterior ao pâncreas e denal e uma pancreático-duodenal anterior e in-
se anastomosa com a esplénica formando o tron- ferior que vem dum tronco comum com a pan-
co esplenomesaraico e a veia mesentérica superior, creático-duodenal posterior e inferior e da primei-

380
MANUTENÇÃO J SISTEMA DIGESTIVO

ra jejunal. A arcada posterior e inferior é consti- FÍGADO


cuída pela artéria pancreático-duodenal superior
e posterior (ramo da gastroduodenal) e da pan- O fígado é a mais volumosa das vísceras, é um ór-
creática posterior e inferior nascida da mesentéri- gão glandular responsável pela produção da bílis e
ca superior por um tronco comum com a pancreá- desempenha um grande número de funções bio-
tico- duodenal anterior e inferior e a primeira je- químicas, p.e. as relacionadas com o metabolismo
junal. A artéria hepática pode fornecer pequenos da glicose, síntese de proteínas e de fatores de coa-
ramos, bem como a gastroduodenal e a gastroepi- gulação, entre outras, que lança depois no sangue,
ploica direita. Pode existir uma artéria pancreática consoante as necessidades.
dorsal, que é inconstante. A artéria esplénica for- Encontra-se situado na porção superior do abdó-
nece ramos superiores. A cauda do pâncreas rece- men, imediatamente por baixo do diafragma e por
be ramos da artéria esplénica ou da gastroepiploi- cima do estômago e do intestino, ocupando as-
ca esquerda. sim a maior parte do hipocôndrio direito, epigas-
tro e parte do hipocôndrio esquerdo, relacionan-
VEIAS do-se atrás com as três últimas vértebras torácicas,
adiante com as sete ou oito últimas costelas direi-
As arcadas cefálicas drenam a cabeça do pâncreas tas e em cima com o diafragma.
e o duodeno (ver duodeno) (fig4). As tributárias Possui uma cor vermelho-acastanhada, tem uma
da veia esplénica constituem duas arcadas, inferior consistência firme, formado por parênquima ro-
e superior que drenam o corpo. A veia pancreática deado de uma cápsula de tecido conjuntivo.
inferior segue o bordo inferior do órgão e lança-se O seu peso post- mortem é de, aproximadamente,
numa das raizes do tronco porta. As veias do colo 1500 gramas. No vivo o fígado tem aproximada-
são as ístrnicas superiores e inferiores com termi- mente 900 gramas de sangue. Tem uma cor ver-
nação variável. melha acastanhada, consistência elástica e friável.
A sua dimensão transversal é de, aproximadamen-
UNFATICOS te, 28 cm, a vertical de 8 cm e a ântero-posterior,
15 cm. Proporcionalmente ao fígado adulto, o fí-
Os linfáticos têm origem em capilares perilobula- gado da criança é bastante maior, sendo a relação
res e saem do pâncreas drenando a linfa para co- com peso corporal maior ainda nos primeiros es-
lectores esquerdos, para o hilo do baço, superior- tadios de desenvolvimento.
mente para os gânglios pancreáticos superiores, O figado é um órgão tóraco-abdominal, oculto pela
inferiormente para os inferiores, da mesentéri- grelha torácica, o que dificulta a sua abordagem ci-
ca superior e látero-aórticos esquerdos. Os direi- rúrgica. No adulto, é um órgão maleável, adaptado às
tos são anteriores e posteriores: os anteriores dre- paredes do abdómen e vísceras vizinhas, cuja forma .
nam para os gânglios infra-pilóricos e os poste- pode apresentar variações, e que tem sido compara-
riores para os gânglios duodeno- pancreáticos an- do ao segmento superior de um ovóide, como se ti-
teriores, mesentéricos superiores e látero-aórticos vesse sido seccionada a porção inferior esquerda se-
direitos. gundo um plano oblíquo para cima, para a esquerda
e para trás,. O grande eixo é transversal, com a gran-
NERVOS de extremidade, arredondada, para a direita, e a mais
afilada, achatada de cima para baixo, para a esquerda.
Os nervos do pâncreas são responsáveis pela secre- O fígado é mantido em posição por prolongamen-
ção do pâncreas. Recebem inervação simpática e tos e reflexões do peritoneu e também pela pres-
parassimpática que vem respectivamente dos gân- são dos restantes órgãos abdominais e íntima rela-
glios sernilunares e gânglios da mesentérica supe- ção com a veia cava inferior. As reflexões de peri-
rior e do vago abdominal (que é o nervo secretório toneu constituem os ligamentos hepáticos e deli-
directo do pâncreas). mitam com o peritoneu parietal as locas no espa-
ço peri-hepático.

381
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

12

13

19

20

17
14

Figura 5 .15: Fígado, vista anterior e inferior.


1. Veia cava inferior 2. Lobo caudado 3. Veia porta 4. Ramo esquerdo da artéria hepática própria 5. Lobo esquerdo 6. Dueto hepático comum
7. Ligamento redondo 8. Lobo quadrado 9. Ligamento da veia cava inferior 10. Área nua do fígado 11 . Ligamento falciforme 12. Ligamento
coronário 13. Lobo direito 14. Vesícula biliar 15. Dueto cístico 16. Impressão gástrica 17. Impressão esofágica 18. Impressão cólica 19. Impressão
renal 20. Impressão duodenal

Encontramos o ligamento falciforme, que o une demo fígado ao diafragma.O ligamento triangu-
à parede abdominal anterior. É formado por dois lar direito é largo e espesso, e a sua base relacio-
folhetos, entre os quais estão as veias frénicas, va- na-se com a veia cava inferior. A sua extremidade
sos linfáticos, feixes nervosos do plexo diafragmá- afila-se e une o fígado na parede posterior do ab-
tico, e ao nível do seu bordo inferior o ligamento dómen. Inferiormente este ligamento estende-se
redondo do fígado. Estas veias constituem anas- ao rim formando o ligamento hepato-renal. Para
tomoses porto-cava. A inserção parieto-diafrag- dentro, o folheto inferior do ligamento triangular
mática começa na face profunda do umbigo, se- recobre o processo caudado e, adiante da veia cava
gue mediana e verticalmente para a cúpula dia- inferior, forma a extremidade superior do foramen
fragmática, para se juntar à extremidade posterior epiplóico (hiato de Winslow). O ligamento trian-
do bordo hepático. Em cima, os dois folhetos re- gular esquerdo liga o bordo posterior do lobo es-
flectem-se para a direita e para a esquerda com o querdo e o segmento horizontal do sulco do canal
peritoneu que reveste a face inferior do diafragma. de Arantius à parede posterior. É menos espesso e
O bordo inferior,já referido, apresenta o ligamen- mais afilado do que o ligamento triangular direito.
to redondo do fígado, resultante da atrofia da veia Por baixo, o fígado encontra-se unido ao esófago
umbilical, que vai do umbigo ao sulco umbilical, abdominal estômago e porção superior do duode-
na face inferior do fígado. É arqueado e a sua con- no pelo pequeno epíploon. Na sua inserção hepá-
cavidade olha para baixo, para trás e para a direita. tica, os dois folhetos estão inseridos nos dois lá-
O ligamento falciforme separa a grande cavidade bios do hilo hepático e continuam-se com o peri-
diafragmática em duas locas, as locas hepato-dia- toneu que envolve o próprio fígado e ainda nos lá-
fragmáticas direita e esquerda. bios da goteira do canal qe Arantius. O pequeno
O ligamento coronário, que resulta das reflexões epíploon estende-se da pequena curvatura gástrica
póstero superiores, direita e esquerda, do ligamen- e do duodeno ao fígado, e forma a parede anterior
to falciforme estende-se desde a face posterior do do vesubulo da cavidade posterior dos epíploones.
fígado até ao diafragma, sendo relativamente cur- No bordo livre, sobe o pedículo hepático inferior.
to. Apresenta dois prolongamentos, os ligamentos Prolonga-se, por vezes, para fora por uma fina lâ-
triangulares direito e esquerdo, que também pren- mina estendida do colo da vesícula ao duodeno e

382
MANUTENÇÃO j SISTEMA DIGESTIVO

ólon transverso, o ligamento infundíbulo-duo- A face visceral ou inferior é irregularmente plana,


ao C olha para baixo, para trás e para a esquerda, apre-
deno-cólico.
Da anatomia destes ligamentos resulta que pra- senta as impressões das vísceras adjacentes, o hilo
ticamente todo o órgão se encontra revestido por hepático e um conjunto de sulcos que dividem esta
eritoneu. Encontramos apenas uma pequena face em diferentes regiões; é revestida pelo perito-
~ona retroperitoneal, na sua face diafragmática e neu visceral, excepto no hilo hepático, na fissura
bordo posterior, a área nua, que não se encontra do ligamento redondo e na fossa da vesícula biliar.
coberta por aquela serosa e onde se localiza a veia Descrevem- se dois sulcos ântero-posteriores ou
cava inferior. longitudinais (um esquerdo e um direito e um sul-
para efeitos de descrição, podemos considerar no co transverso, que corresponde ao hilo, dispostos
fígado: três faces, três bordos e duas extremidades em forma de H.
(Fig. 5.15). O sulco ântero-posterior direito estende-se desde
A face diafragmática ou ântero-superior é lisa o bordo anterior do fígado onde forma uma inci-
e convexa, mais ântero-posteriormente e menos sura, dirige-se para trás e termina na extremidade
transversalmente, e apresenta-se dividida em dois direita do sulco transverso, portanto é pré-hilar. É
lobos pela linha de inserção do ligamento falci- um sulco de profundidade variável, por regra pou-
forme, que se se inicia na goteira da veia cava in- co profundo, mas forma uma fosseta onde se aloja
ferior, atrás, dirigindo-se obliquamente para a a vesícula biliar, a fossa da vesícula biliar.
frente e para a esquerda para terminar no bor- O sulco ântero-posterior esquerdo é um sulco es-
do anterior, ao nível do sulco umbilical. Os dois treito e profundo, o seu limite anterior correspon-
lobos, um direito e um esquerdo, são desiguais; de ao bordo anterior do fígado, mais precisamen-
o lobo direito é maior e mais convexo, apresenta te na incisura de terminação da extremidade an-
sulcos e impressões costais dirigidas transversal- terior do ligamento falciforme. A extremidade es-
mente e sulcos ântero-posteriores, denominados querda do sulco transverso divide este sulco em
"sulcos diafragmáticos". O lobo esquerdo, apla- duas porções: uma anterior, o sulco da veia um-
nado, apresenta a impressão cardíaca, que por in- bilical, uma vez que aloja esta veia no feto; após o
termédio do diafragma se relaciona com o cora- nascimento, a veia umbilical atrofia-se e forma um
ção. Por intermédio do diafragma, a face conve- cordão fibroso, o cordão da veia umbilical ou liga-
xa do fígado relaciona-se com as pleuras e com mento redondo. A porção posterior da fissura de-
a base dos pulmões, adaptando-se à cúpula dia- signa-se fossa do canal venoso prolonga o sulco da
fragmática direita, ao centro frénico e a parte da veia umbilical e aloja o canal venoso de Arantius,
cúpula diafragmática esquerda. Assim, esta face vestígio vascular que se transforma depois em cor-
ultrapassa ligeiramente o rebordo costal direito e dão fibroso.
atravessando a região epigástrica alta para termi- O sulco transverso, o hilo do fígado, estende-se
nar no hipocôndrio esquerdo. do sulco ântero-posterior direito ao sulco ântero-
Por intermédio do diafragma, o fígado correspon- -posterior esquerdo, medindo aproximadamente
de ao tórax e, em particular à direita, à pleura direi- 6 cm de comprimento por 2 cm de largura. Na
ta. A sua projecção torácica é identificada por uma sua extremidade esquerda é interrompido pelo
linha que cruza a 10.ª costela, a extremidade inter- sulco da veia umbilical; à direita alcança a extre-
na da 6. ª cartilagem costal, e a junção condroester- midade posterior da fossa da vesícula biliar. Pelo
nal do 4.0 arco costal. A intimidade dessas relações hilo hepático saem e entram as estruturas vascu-
explica as complicações pleuro-pulmonares das le- lares, linfáticas, nervosas e biliares do fígado, que
sões hepáticas e a necessidade de uma via de abor- correspondem ao pedículo inferior, com excep-
dagem tóraco-abdominal na cirurgia hepática. ção das veias hepáticas, que compõem o pedícu-
À esquerda do ligamento falciforme, o lobo es- lo vasculo-nervoso superior. Assim, de trás para
querdo corresponde, por intermédio do diafrag- diante observamos: a veia porta e os seus dois ra-
ma, ao pericárdio e ao coração e, mais para fora, à mos de divisão, a artéria hepática e os seus ramos
cavidade pleural esquerda. e mais adiante e à direita, o canal hepático com

383
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

os plexos nervosos que acompanham a artéria e O fígado e a vesícula biliar, alojada na fossa d
as vias biliares. Esta morfologia não correspon- vesícula biliar repousam sobre as vísceras supra~
de à distribuição destes elementos vásculo-bilia- -mesocólicas, na cavidade peritoneal. O lobo di-
res no interior do fígado. Nos dois lábios do hilo reito está assim em relação com o ângulo hepá-
inserem-se as lâminas ou folheto anterior e pos- tico do cólon, com o segmento supra-mesocó-
terior do pequeno epíploon. lico do duodeno e, mais atrás, com a parte su-
A existência destes sulcos, determina nesta face do perior do rim direito, recoberta pelo peritoneu.
fígado, quatro lobos: O lobo quadrado repousa sobre o pequeno
• Lobo direito - corresponde a toda a região epíploon e o antro do estômago. O lobo esquer-
da face visceral do fígado que está à direita do molda-se sobre a face anterior do estômago.
da fossa da vesícula biliar. Apresenta impres- O espaço entre o fígado e estas vísceras designa-
sões devidas às relações dos órgãos com que -se loca infra-hepática.
este lobo se relaciona, encontrando-se sepa- A face posterior está aplicada contra a parede ab-
radas por duas cristas. São a impressão cólica, dominal posterior, e apresenta dois sulcos verti-
adiante, a impressão renal, atrás e para dentro, cais, o direito e o esquerdo. O direito é largo e
e a impressão suprarrenal, entre as duas. corresponde à face anterior da veia cava inferior
• Lobo esquerdo - corresponde a toda a região correspondendo, em baixo, ao processo caudado'.
da face inferior que está à esquerda do sulco Da parte superior deste sulco, emergem do fíga-
da veia umbilical. Devido à sua relação com do as veias hepáticas, em número de duas ou três,
o estômago, encontramos a impressão gás- que terminam na veia cava inferior. Em toda a
trica; à direita desta impressão, i.e., por fora extensão do sulco, existem ramos hepáticos mais
da extremidade esquerda do sulco transverso pequenos que terminam igualmente na veia cava
e adiante da inserção do pequeno epíploon inferior. O sulco esquerdo é mais estreito e con-
descrevemos o tubérculo epiploico do fígado. tém o resquício fibroso do canal de Arantius. Ao
• Lobo quadrado ou eminência porta anterior nível do bordo póstero-superior, dirige-se para a
- corresponde à porção da região média do direita e junta-se ao sulco da veia cava inferior
fígado situada adiante do sulco transverso e constituindo no feto uma anastomose porto-ca-
limitada lateralmente pelos sulcos ântero- va. A face posterior é, na sua maioria, retrope-
-posteriores direito e esquerdo. Relaciona-se ritoneal. À direita recobre a glândula suprarre-
com a porção direita, pré-pancreática, do có- nal direita e o pólo superior do rim. Relaciona-
lon transverso e, mais atrás com o bulbo duo- -se com a extremidade posterior do fundo-de-sa-
denal e primeira porção do duodeno, e com a co costo- diafragmático, que tem início à altura
região pilórica. do disco intervertebral entre D12 e Ll e cruza a
• Lobo caudado (de Spiegel ou eminência por- 12.ª costela a 6 cm da linha média e a ll_a cos-
ta posterior - corresponde à porção retro- tela a 11 cm da linha média. Também à direita o
-hilar da região média do fígado, relaciona- fígado corresponde directamente à parede pos-
-se com a entrada e com o vestfüulo da cavi- terior, sem interposição do peritoneu, através da
dade posterior dos epiplons e, por intermédio área nua. A face posterior do lobo caudado cor-
desta, com o plexo celíaco. Na porção ante- responde ao divertículo superior do vestíbulo da
rior deste lobo, descrevemos um tubérculo ar- cavidade posterior dos epíploones; e a sua extre-
redondado, o tubérculo papilar, que constitui midade inferior situa-se atrás do hilo hepático e
o lábio posterior do sulco transverso, relacio- está, portanto, oculta pelo pequeno epíploon. Ao
nando-se com o ramo esquerdo da veia por- contrário do que ocorre à direita a face posterior
ta. À direita deste tubérculo, a separar a fos- do lobo esquerdo está unida à parede posterior
sa da vesícula biliar da goteira da veia cava, te- pelo ligamento triangular esquerdo. Este crµza a
mos o prolongamento caudado ou tubércu- face anterior do esófago, sendo por isso neces-
lo caudado. sário seccionar o ligamento triangular esquerdo
para expor a região cárdioesofágica.

384
MANUTENÇÃO I SISTEMA DIGESTIVO

Entre os dois sulcos encontra-:_se o lobo caudado, noso, limita em cima a goteira esofágica e confun-
Jiso, recoberto por peritoneu. A esquerda do sul- de-se com o bordo póstero-inferior na face poste-
co do canal de Arantius, encontra-se a face poste- rior do lobo esquerdo.
rior do lobo esquerdo, que se estreita, apresentan- A extremidade direita é volumosa, ocupa o hipo-
do a inserção do ligamento triangular esquerdo, e côndrio direito e continua-se sem linha de separa-
uma goteira vertical qu~ corresponde ao esófago, ção com a face convexa. Dá inserção ao ligamento
a impressão esofágica. A direita do sulco da veia triangular direito.
cava inferior, encontramos a inserção do ligamen- A extremidade esquerda é delgada e aplanada, es-
to triangular direito e a parte superior das impres- tende-se sobre o fundo do estômago, está fixa ao
sões renal e suprarrenal. diafragma pelo ligamento triangular esquerdo.
O bordo anterior é delgado e cortante, com forma O fígado possui cápsula fibrosa (de Glisson) for-
de bisei, classicamente identificado por uma linha mada por duas partes, uma que recobre a superfí-
recta que se estende da extremidade da 10.ª costela cie exterior do órgão e outra que ocupa o hilo he-
direita à 8.ª cartilagem costal esquerda. Apresen- pático e se prolonga para o interior acompanhan-
ta duas incisuras que correspondem à extremida- do as ramificações do pedículo hepático. Esta cáp-
de anterior dos dois sulcos longitudinais descritos sula possui um conjunto de espessamentos, a pla-
na face inferior, visceral, do fígado. Uma das inci- ca hilar que pode ser separada do parênquima sem
suras, próxima da linha média, a incisura do liga- hemorragia, a placa vesicular, que deve ser conser-
mento redondo, dá passagem à veia umbilical e à vada pela hemorragia importante que a sua lesão
porção correspondente do ligamento redondo do provoca, a placa umbilical que forma o fundo da
fígado. A outra incisura, situada à direita, é ocu- goteira umbilical, e a placa arantiana forma o fun-
pada pelo fundo, arredondado, da vesícula biliar. do do sulco de Arantius.
À direita apresenta o ângulo anterior direito cuja
continuidade se dirige para cima e para trás, para Vascularização e Inervação do Fígado
se juntar ao bordo póstero-inferior, formando o
ângulo posterior e direito. O fígado é um órgão ricamente vascularizado. Po-
O bordo posterior é espesso à direita da veia cava demos distinguir duas classes de vasos sanguíneos:
inferior e é marcado pela impressão da glândula os vasos aferentes (artéria hepática, veia porta e
suprarrenal direita. À esquerda da veia cava e da veia umbilical), que formam o pedículo inferior e
coluna vertebral, está representado pelo tubércu- os vasos eferentes, as veias hepáticas, que formam
lo papilar do lobo caudado e pelo prolongamen- o pedículo superior.
to caudado. No interior do fígado estes elementos ramificam-
O bordo póstero-inferior é arredondado e relacio- -se de forma idêntica o que permite distinguir
na-se com o corpo da 11.ªvértebra torácica,obser- segmentos, os lóbulos hepáticos, bem determina-
vando-se uma concavidade moldada a esta porção dos e irrigados por pedículos perfeitamente iden-
da coluna vertebral. Corresponde à parte inferior tificáveis. Estes estão separados pelas cisuras he-
do sulco da veia cava inferior e ao processo cauda- páticas.
do, sendo formado atrás do hilo hepático pela ex- A artéria hepática própria, que se continua da he-
tremidade inferior do lobo caudado que apresen- pática comum, ramo do tronco celíaco, depois de
ta duas pequenas saliências uma direita, o tubér- caminhar no pequeno epíploon, adiante da veia
culo caudado, e outra esquerda, o tubérculo papi- porta e à esquerda do canal hépato-colédoco, al-
lar. Para a direita encontramos o sulco do canal de cança o hilo hepático. O fígado pode ainda rece-
Arantius, a extremidade inferior da goteira esofá- ber à direita irrigação de um ramo da mesentérica
gica e, finalmente, o bordo posterior do lobo es- superior e à esquerda da gástrica esquerda.
querdo. O bordo póstero-superior da direita para A veia porta, que recebe o sangue venoso do tubo
a esquerda corresponde ao lobo direito forma o li- digestivo abdominal, resulta da união da veia es-
mite superior do sulco da veia cava inferior, corres- plénica com a veia mesentérica superior e ao nível
ponde ao segmento horiwntal do ligamento ve- do hilo do fígado divide-se em dois ramos, um di-

385
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

reito e um esquerdo, que se distribuem numa rede O pedículo eferente, que conduz o sangue veno-
vascular até aos sinusoides hepáticos. As veias he- so com origem no figado à veia cava inferior com-
páticas, que recebem o sangue venoso de um sis- preende quatro grupos de veias hepáticas. As veias
tema de capilares venosos com origem nas sinu- dorsais, vêm do lobo caudado e drenam directa-
soides, conduzem o sangue do figado para a veia mente para a veia cava inferior; isolam um sector
cava inferior. A isto se chama um sistema porta. supra-hepático dorsal sobreposto ao sector dorsal
O ramo esquerdo da veia porta irriga o figado es- portal. O restante figado é drenado por três veias
querdo, nomeadamente os lobos esquerdo e qua- hepáticas, esquerda, média e direita, a partir de três
drado, a metade esquerda do leito da vesícula bi- sectores supra-hepáticos, esquerdo, médio e direi-
liar e o parênquima suprahilar esquerdo O figado to, separados pelas cisuras supra-hepáticas. O sec-
direito, é irrigado pelo ramo direito da veia porta. tor supra-hepático esquerdo corresponde ao lobo
A separação entre o figado direito e o fígado es- esquerdo e a cisura supra-hepática esquerda segue
querdo é identificada pelo fundo do leito vesicular, o sulco umbilical e o sulco do canal de Arantius.
na cisura principal, que atravessa o hilo hepático à O sector supra-hepático médio forma a parte mé-
altura da bifurcação portal e termina na porção es- dia do fígado e inclui a vesícula biliar. A veia su-
querda da veia cava inferior. pra-hepática média desenvolve-se na cisura portal
O lobo caudado situado atrás do tronco da veia principal. O sector supra-hepático direito corres-
porta forma o sector dorsal, que corresponde ao ponde ao território dividido pela veia supra-hepá-
segmento I, sendo independente dos restantes. tica direita e separado do restante por uma cisura
O ramo esquerdo da veia porta dirige-se trans- supra-hepática direita.
versalmente para a esquerda e divide-se na extre- Estes segmentos e respectivas cisuras tem impor-
midade esquerda do hilo hepático. Um pequeno tância clínico-cirúrgica e é importante recordar
ramo esquerdo irriga a parte posterior do lobo es- que são independentes da morfologia exterior do
querdo, que se denomina sector lateral esquerdo, fígado.
correspondendo ao segmento II. Um outro ramo Os linfáticos do figado dividem-se em superficiais
dirige-se para diante na goteira umbilical até ao e profundos. Os linfáticos superficiais da porção
recesso umbilical e distribui-se pelo sector para- anterior da face superior destinam-se aos gânglios
mediano esquerdo, que corresponde ao resto do do pedículo hepático, e gânglios justa-pericárdi-
figado esquerdo. Esse sector é formado por dois cos através de colectores transdiafragmáticos e da
segmentos: um esquerdo, o segmento III, corres- via para-cávica. À esquerda, nesta face, dirigem-se
pondendo à parte anterior do lobo esquerdo, e um para os gânglios látero-aórticos, e cadeia gástrica
direito, correspondendo ao lobo quadrado, à me- esquerda. Os linfáticos superficiais da face inferior
tade esquerda da fosseta da vesícula biliar e ao pa- dirigem-se aos gânglios do pedículo hepático. Os
rênquima situado acima da parte esquerda do hilo linfáticos profundos acompanham a veia porta até
hepático, que constitui o segmento IV. O ramo di- ao pedículo hepático. Na face posterior, os colecto-
reito da veia porta divide-se num pedículo direito, res superficiais drenam pelos ligamentos triangu-
que se continua para trás para irrigar a face pos- lar direito e falciforme atingindo os gânglios jus-
terior do órgão. Assim, no sector lateral direito os ta-esofágicos e justa-frénicos direitos. Os colecto-
ramos anteriores correspondem ao segmento VI, res profundos podem acompanhar as veias supra-
ao qual pertencem em regra o ângulo anterior e -hepáticas, os gânglios justa-frénicos torácicos di-
direito do fígado, e os elementos posteriores dis- reitos, ou descer na direcção do pedículo hepático
tribuem-se pelo segmento VII, que ocupa a face e terminando em gânglios das artérias hepática e
posterior do lobo direito. O pedículo paramedia- gástrica esquerda.
no direito dirige-se para cima e para trás, para o A inervação é realizada pelo plexo hepático que
bordo póstero-superior e distribui-se pelo sector contém fibras simpáticas e parassimpáticas. Pode-
paramediano direito e compreende, um segmen- mos distinguir uma parte anterior que rodeia a ar-
to anterior, o V, e um segmento posterior e supe- téria hepática. Os seus feixes provêm dos gânglios
rior, o VIII. semilunares direito e esquerdo e dos ramos hepá-

386
MANUTENÇÃO I SISTEMA DIGESTIVO

. os do nervo gastro-hepático anterior. A parte


º:sterior provém da parte interna do gânglio se-
~unar direito, essencialmente do nervo vago.
J,$ fibras eferentes dolorosas, dirigem-se ao ple-
xo celíaco, para deposi percorrerem os nervos es-
lâncnicos e, passarem pelas raizes posteriores do
~-º ao 10.º nervo raquidiano torácico. O ramo ab-
dominal do nervo frénico direito anastomosa-se
com feixes do plexo celíaco, formando um plexo
diafragmático direito, o que poderá justificar dor
referida ao 3.0 , 4. 0 e 5. 0 dermátomos cervicais na
doença hépato-vesicular.

Constituição anatómica

o fígado é constituído por uma rede de tecido


conjuntivo de grande complexidade, em cujas ma-
lhas se situa a maioria das suas células. Estas célu-
9
las são de origem epitelial e realizam as principais 10

actividades metabólicas deste órgão. Permeando


toda a estrutura, estão grandes quantidades de va- Figura 5.16: Vias biliares extra.hepáticas.
1. Dueto hepático direito 2. Dueto hepático esquerdo 3. Dueto
sos sanguíneos de diferentes tipos, perfundindo e hepático comum 4. Dueto cistico 5. Vesicula biliar 6. Dueto colédoco
drenando o fígado com um rico fluxo de sangue 7. Pâncreas 8. Dueto pancreático 9. Dueto acessório 10. Porção
descendente do duodeno 11. Fígado (lobo dire~o)
venoso portal hepático e sangue arterial prove-
niente das artérias hepáticas.
colédoco, que termina na face interna da 2.ª por-
VIAS BILIARES ção do duodeno. Assim, a via biliar acessória in-
clui a vesícula biliar e o canal cístico, que se juntam
As vias biliares podem dividir-se em: vias biliares ao canal hepático para formar o colédoco, funcio-
intra-hepáticas, representadas por pequenos cana- nando como um divertículo da via biliar princi-
lículos que recolhem a bílis junto dos hepatócitos e pal (Fig. 5.16).
vias biliares extra-hepáticas (fora do fígado). A via biliar extra-hepática principal é constituí-
As vias biliares intra-hepáticas têm origem em ca- da pelos canais hepáticos, esquerdo e direito, que
nalículos intralobulares entre as células dos lóbu- se unem no hilo, à frente do ramo direito da veia
los hepáticos. Estes canalículos drenam em canais porta direita, atrás, à direita e acima da divisão da
perilobulares que se anastomosam entre si, reunin- artéria hepática, originando o canal hepático co-
do-se nos espaços perisinusoidais. A partir destes, mum. O modo de formação da via biliar principal
os canais biliares são acompanhados um ramo da é muito variável. Independentemente dos troncos
artéria hepática e da veia porta. À medida que os principais de origem, não importa qual das dispo-
canais biliares se aproximam do hilo, reúnem-se sições apresente, pode ser complicada pela existên-
entre si, formando dois canais, um direito e um es- cia de um canal segmentar, drenando a totalidade
querdo. Estes canais são os ramos de origem do ou uma fracção somente do seu segmento de ori-
canal hepático. gem e que termina quer no confluente superior,
As vias biliares extra-hepáticas distinguem-se quer na parte inicial do canal hepático comum.
em via biliar principal e via biliar acessória. Na Após o seu início, ao nível do hilo hepático, o canal
via principal os canais juntam-se no hilo do fíga- hepático comum dirige-se para baixo e para a es-
do para formar o canal hepático comum, que, de- querda e recebe o canal cístico proveniente da ve-
pois de receber a via biliar acessória, forma o canal sícula biliar. A partir desse momento passa a cha-

387
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

mar-se canal colédoco. Este desce no bordo livre Assim, a vesícula biliar é um reservatório membra-
do pequeno epíploon à frente da parte direita do noso anexo à via biliar principal. Situa-se na face
tronco porta; afastando-se no pé do pedículo, daí visceral do fígado, na fossa da vesícula biliar (cís-
a existência de um triângulo porta-colédoco. A ar- tica). Tem a forma de uma pêra, de grande extre-
téria hepática sobe sobre o flanco esquerdo da veia midade anterior, com o maior eixo dirigido obli-
porta e divide-se num ramo direito e num ramo quamente para cima e para trás, com aproximada-
esquerdo, ao nível da parte inicial da via biliar mente 10 cm de comprimento. Podemos distin-
principal. O pedículo hepático assim constituído guir na vesícula, um fundo, um colo e um corpo.
relaciona-se atrás com o foramen epiploico (hiato O fundo corresponde à incisura cística. Relacio-
de Winslow), do qual forma o limite anterior, se- na-se com a parede abdominal anterior imedia-
parado por ele da veia cava inferior, atrás. Na por- tamente por baixo do rebordo costal, ao nível da
ção inferior do pedículo hepático, a via biliar prin- extremidade anterior da 10.ª cartilagem costal.
cipal relaciona-se com a 1.ª porção do duodeno, O corpo apresenta uma face superior e uma face
o que explica a possibilidade de fístulas colédoco- inferior. O colo ocupa a parte superior do bordo
-duodenais por úlceras duodenais. livre do pequeno epíploon. Corresponde, em cima,
Depois, situa-se atrás da cabeça do pâncreas até à ao vértice da fossa da vesícula biliar e, em baixo, à
face interna da 2.ª porção do duodeno, descreven- porção superior do duodeno. Na sua constituição
do, por regra, uma curvatura côncava para a fren- anatómica descrevemos 4 camadas, a mais exte-
te e para a direita. Na parte inferior, se torna mui- rior, de peritoneu, somente na face inferior.
tas vezes num canal, encontrando-se muitas ve- O canal cístico mede, em média, 4 cm e forma
zes totalmente recoberta de tecido pancreático, por com o colo um ângulo agudo aberto atrás. Diri-
esta razão a patologia pancreática comprimem- na ge-se obliquamente para baixo, para a esquerda e
com grande frequência, determinando icterícia por para trás, abordando a via biliar principal pela di-
obstrução. A via biliar principal mede entre 8 a 10 reita até à sua terminação, geralmente um pou-
cm, e o seu diâmetro é de aproximadamente 5 mm, co acima do duodeno. O canal cístico pode apre-
apresentando um estreitamento ao nível da im- sentar no seu início uma válvula mucosa espiral,
plantação duodenal, cujo calibre é de 2 a 3 mm. O de Heister; e é liso na sua porção distal. O canal
canal colédoco, normalmente termina, juntamente cístico relaciona-se, por dentro, com o canal he-
com o canal pancreático principal, numa dilatação, pático comum, podendo ser separados por dis-
denominada "ampola hepatopancreática de Vater," secção, que afasta estes órgãos, pondo em evi-
na união das faces posterior e interna, a 3 ou 4 cm dência o triângulo da "colecistectomia" de Calot,
do piloro, na porção descendente do duodeno. Esta cujo bordo esquerdo oblíquo para baixo é forma-
implantação apresenta uma anatomia variável, p.e., do pelo canal cístico, o bordo direito pelo canal
o colédoco e o canal pancreático podem terminar hepático comum, e o bordo superior pelo fígado.
separadamente no duodeno. Na área deste triângulo, encontram-se normal-
Na ampola hepatopancreática encontra-se um es- mente os vasos císticos.
fíncter, que regula a saída de bílis, o esfíncter da
ampola de Oddi. Tem 5 a 6 mm de altura e o seu
bordo inferior está em contacto com a muscular JEJUNO-ÍLEON
da mucosa duodenal. O seu bordo superior conti-
nuasse com os esfíncteres próprios do colédoco e O jejuno e o íleo formam a parte móvel do intes-
do canal de Wirsung. tino delgado que se estende do ângulo duodeno-
É importante referir na constituição anatómica a -jejunal à junção ileocólica, do flanco esquerdo à
ausência de uma submucosa. fossa ilíaca direita, sendo muito difícil precisar os
Se a pressão não for suficiente, a bílis, produzida limites destas duas porções (Fig. 5.17). O calibre
no fígado, reflui e aloja-se na vesícula biliar, per- destas regiões do intestino delgado vai diminuin-
correndo retrogradamente a via biliar extra-hepá- do progressivamente após o duodeno até à jun-
tica acessória. ção ileocólica (2 a 3 cm no ângulo duodeno-jeju-

388
MANUTENÇÃO I SISTEMA DIGESTIVO

CONSTITUIÇÃO DA PAREDE

O jejuno-íleo tem as mesmas camadas dos outros


órgãos tubulares do tubo digestivo: a serosa mais
superficial, a muscular com duas subcamadas lon-
gitudinal superficial e circular profunda, depois a
submucosa e a mucosa- entre ambas existe a mus-
cularis mucosae, característica do tubo digestivo
(Fig.5.18). Sendo o jejuno-íleo um órgão onde se
dá preferencialmente a absorção dos nutrientes, a
mucosa tem diferenciações que permitem aumen-
tar a superficie de absorção. São elas: as válvulas
coniventes que são pregas transversais de mucosa
e de submucosa, as vilosidades intestinais, que são
expansões da mucosa e as microvilosidades que
são expansões da membrana das células da muco-
sa. Na espessura da mucosa existem agregados lin-
foides denominados "folículos." Junto à termina-
6
ção do jejuno-íleo formam agregados de maiores
dimensões denominados "placas de Peyer". E stas
Figura 5.17 - Jejuno-íleo (e vascularização arterial). são ovais, com cerca de 10 a 20 mm de diâmetro,
1. Artéria mesentérica superior 2. Artérias rectas 3. Artéria íleo-cólica localizadas habitualmente no bordo antimesenté-
4. Artéria cólica direita
rico (o bordo contrário ao mesentério) e nas faces
do intestino, nunca no bordo mesentérico.
nal e 1 cm na terminação). Mede cerca de 5 a 6 m
de comprimento.

DISPOSIÇÃO DAS ANSAS INTESTINAIS

O intestino é móvel na cavidade abdominal, em-


bora ligado à parede posterior pelo mesentério.
Nas extremidades as ansas estão junto à parede
porque o mesentério é praticamente inexisten-
te, mas na região média o mesentério mede cer-
ca de 15 cm.

Localização

O jejuno-íleo localiza-se no local deixado vago 6


pelas outras vísceras abdominais inferiormente ao Fig. 6 - Constituição do jejuno-i1eon.
mesocólon transverso, à direita do cólon descen- 1. Mesentério 2. Serosa 3. Camada Muscular- longitudinal 4. Camada
Muscular - circular 5 . Sub-mucosa 6. Mucosa
dente e do cólon sigmóide, à esquerda do cólon
ascendente e do cego, superiormente aos órgãos
da escavação pélvica, posteriormente ao grande MESENTÉRIO
epíploon e à parede abdominal anterior. Inferior-
mente e à direita relaciona-se com a face profunda O mesentério é uma prega peritoneal lisa que liga
da região pectíneo-púbica, podendo originar hér- o jejuno-íleo à parede abdominal posterior. A raiz
nias inguinais ou crurais. ou bordo parietal origina-se ao nível do flanco es-

389
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

querdo da L2 no ângulo duodeno-jejunal e vai até


à fossa ilíaca direita próximo da articulação sacro-
ilíaca, A inserção parietal mede cerca de 15 cm.
O bordo intestinal mede, pelo contrário, cerca de
4 a 6 m, pelo que o mesentério é pregueado. A raiz
tem um segmento oblíquo para baixo e para a di-
reita, um segundo segmento vertical que cruza a
face anterior de D3 anteriormente à aorta e um
terceiro segmento oblíquo que vai da linha media-
na à fossa ilíaca direita que cruza a face anterior da
veia cava inferior, ureter direito, e vasos testicula-
res ou útero-ováricos. O folheto peritoneal direito
continua-se com o folheto anterior do mesocólon
ascendente e o esquerdo com o mesocólon des-
cendente. O mesentério e o mesocólon ascendente
contêm os ramos de divisão dos vasos mesentéri-
cos superiores. A raiz do mesentério, por ser oblí-
qua, delimita duas regiões no andar infra-mesocó-
4
lico do abdómen: superior e direito, inferior e es-
querdo. No interior do mesentério existem vasos e
nervos destinados à irrigação e inervação do jeju-
Figura 5.19: Drenagem venosa jejuno-íleo.
no-íleo e tecido adiposo. 1. Veia porta 2. Veia mesentérica superior 3. Tronco esplenomeseráico
4. Veia ileocólica 5. Veia cólica direita
DIVERTÍCULO DE MECKEL
tui uma arcada denominada "bordante ou margi-
Habitualmente o canal vitelino fetal desaparece nal" que se assemelha a um único vaso que bordeja
totalmente podendo persistir em cerca de 2% dos a superficie do intestino sendo paralela a ele. Des-
casos um divertículo no bordo livre do intestino a sa arcada bordante nascem vasos perpendiculares à
uma distância variável do ângulo íleo- cólico com superficie do intestino - vasos rectos. A maior par-
um diâmetro igual ao jejuno-íleo e comprimento te dos vasos rectos anastomosa-se entre si a pou-
de cerca de 3 a 9 cm. ca distância do bordo livre do intestino lançando-
-se numa arcada intra parietal. Cada vaso recto dá
ARTÉRIAS 4 ou 5 colaterais que constituem uma rede submu-
cosa - plexo de Haller.
As artérias provêm da mesentérica superior O ângulo dudodeno-jejunal recebe uma artéria es-
(Fig.5.17). Esta é posterior ao pâncreas, passa an- pecial variável que nasce habitualmente da pan-
teriormente ao gancho do pâncreas e D3 e entra creático-duodenal posterior e inferior ou de um
na raiz do mesentério. Abandona a raiz do me- dos seus ramos, mais raramente de um tronco co-
sentério a cerca de 50 cm do ângulo íleo-cólico no mum entre esta e a primeira artéria jejunal ou da
bordo direito do mesentério continuando o trajec- primeira jejunal. Ao atingir o ângulo duodeno- je-
to no próprio mesentério. Ao aproximar-se do in- junal dá dois ramos: anterior e posterior. A últi-
testino delgado lança vários ramos que formam ma artéria ileal anastomosa-se com a recorrente
arcadas arteriais- dá habitualmente 8 a 17 artérias da ileo-ceco-colo-apendicular ou cólica inferior
que nascem do seu flanco esquerdo e se anastomo- direita, não sendo reforçada por nenhuma arcada
sam umas com as outras dando um ramo ascen- secundária, pelo que a porção final do mesentério
dente e um descendente formando assim inúme- tem uma área avascular denominada de "Tréves",
ras arcadas denominadas sucessivamente de "1.ª, sendo a última ansa ileal mal vascularizada.
2.', 3.3 ordem" até ao bordo intestinal. Ai consti-

390
MANUTENÇÃO I SISTEMA DIGESTIVO

VEIAS

As veias têm a mesma distribuição das artérias,


eXistindo uma veia por artéria e por arcada (Fig.
5. 19). Os troncos principais são mais numerosos
que as artérias. Os grandes troncos são indepen-
dentes das artérias. O plano venoso localiza-se an-
teriormente e à direita do arterial. As ansas dis-
tais são drenadas por um tronco ileal (ou mais), há
ainda um tronco intermediário, um grande tron-
co jejunal que drena as ansas proximais, sendo de
notar a grande variabilidade da convergência des-
tes troncos. 4

LINFÁTICOS 2

Os linfáticos têm grande importância na absor-


ção dos nutrientes. Os vasos quilíferos existentes
nas vilosidades intestinais lançam a linfa num ple-
xo mucoso que comunica com outro plexo sub- Figura 5.20: Drenagem Linfática do jejuno-íleo.
1. Canal torácico 2. Nódulos linfático mesentéricos superiores
mucoso através da muscularis mucosae, daí a linfa 3. Nódulo peri.celíacos 4. Cisterna de Pequet
é drenada para um plexo interlaminar denomina-
do de "Auerbach" entre as duas camadas muscula-
res e daí é drenada para um plexo subseroso. Des- NERVOS
tes colectores nascem vasos mais numerosos que
os vasos sanguíneos, denominadas "veias lácteas", Existem gânglios nervosos mesentéricos superio-
que lançam a linfa nos gânglios justa- intestinais res junto à artéria mesentérica superior que re-
situados no bordo intestinal ao longo da arcada cebem filetes dos gânglios semilunares, aórtico-
bordante. Daqui a linfa é drenada nos gânglios do -renais, do nervo pequeno esplâncnico e do ner-
grupo médio situados a meia altura do mesenté- vo vago (Fig.5.21). Deles destacam- se filetes que
rio na terminação dos ramos intestinais da artéria formam o plexo mesentérico superior que assegu-
mesentérica superior e ao longo da primeira série ram a inervação simpática e parassimpática do je-
de arcadas. Daí a linfa é drenada para os gânglios juno-íleo. A sensibilidade visceral das ansas do je-
do grupo central localizados na raiz do mesenté- juno- íleo vem para as raízes posteriores de DlO
rio em torno dos troncos da artéria e veia mesen- aD12 e Ll.
téricas superiores e depois para o tronco intesti-
nal (que drena a linfa do território da mesentéri-
ca superior). Deste, a linfa é drenada para o tron- CÓLON
co lombar esquerdo ou para gânglios para-aórti-
cas sobretudo esquerdos, daqui para o canal torá- O cólon inicia-se na válvula ileocecal e termina
cico e depois veia subclávia esquerda (Fig. 5.20). no recto ao nível da terceira vértebra sagrada. É
Ao nível da última ansa do jejuno-íleo, os linfáti- constituído por várias porções que sob o ponto
cos drenam a linfa nos gânglios satélites da artéria de vista anatómico se designam sucessivamente
íleo-ceco-colo-apendicular e daí segue os colecto- por cego, cólon ascendente, ângulo hepático, có-
res em torno da artéria (que têm o mesmo trajec- lon transverso, ângulo esplénico, cólon descen-
to da artéria). dente ou lomboilíaco, cólon sigmóide (Fig. 5 .22).
Do ponto de vista funcional divide-se o cólon
em duas porções: cólon direito e cólon esquerdo

391
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

a uni-lo ao cego, ao íleo ou até à parede posterior.


A aparência exterior também é diferente da do
jejuno-íleo, tendo um aspecto pregueado à cus-
ta da existência de três fitas cólicas longitudinais
que pregueiam o cólon formando bosseladuras
que correspondem a haustras ou ampolas no in-
terior da parede separadas por pregas semilunares
ou esporões. Junto às fitas cólicas existem apêndi-
ces epiploicos constituídos por agregados de teci-
do adiposo. Sob o ponto de vista microscópico, 0
cólon é constituído pelas mesmas camadas que os
2 outros órgãos tubulares do tubo digestivo: serosa
exterior, muscular com a camada exterior longitu-
dinal e a interior de fibras circulares, submucosa,
muscularis mucosae e mucosa.

CÓLON ASCENDENTE

O cólon ascendente segue-se ao cego (Fig.5.23).


Como o nome indica, ascende na região lombar
até ao ângulo hepático, estando habitualmente
fixo à parede posterior, pelo que é recoberto por
Figura 5.21: Inervação do jejuno-íleo. peritoneu apenas na face anterior e laterais. Ao seu
1. Plexo celíaco 2. Plexo mesentérico superior 3. Plexo hepático
4. Gânglio mesentérico superior trajecto ascendente corresponde uma goteira esca-
vada lateralmente, a goteira parieto-cólica.
de acordo com a irrigação que recebem. O cólon
tem um comprimento bastante inferior ao do je-
juno-íleo, medindo cerca de 1,5 m. As dimensões
do cólon direito são muito variáveis, bem como
as do apêndice, cujo comprimento varia entre 1
e 5 cm. O cólon transverso mede cerca de 50 cm,
o cólon ascendente, o descendente e o sigmóide
cerca de 30 cm.
O cego, a primeira porção do cólon, está separado
do íleo, como referimos pela válvula ileocecal. Lo- 4
caliza-se habitualmente na fossa ilíaca direita ha-
bitualmente, podendo ter outras localizações. Do
seu lado medial está a saliência do músculo psoas,
anteriormente está a parede abdominal anterior e
inferiormente o ângulo formado por esta parede e
o músculo ilíaco. Está habitualmente fixo à parede
abdominal posterior, sendo anteriormente reves-
tido por peritoneu. Em volta do cego o peritoneu
pode formar fossetas. O apêndice ileocecal nasce
habitualmente da parede póstero-interna do cego,
2 a 3 cm acima do orifício ileocecal; mede cerca de Fig. 5.22: Configuração do cólon.
7 a 8 cm de comprimento e está totalmente reves- 1. Cólon ascendente 2. Válvula ileocólica 3. Cólon transverso 4. Cólon
descendente 5. Colón sigmóide 6. Recto 7. Ânus 8. Cego
tido por peritoneu, tendo muitas vezes um meso 9. Apêndice ileocecal

392
MANUTENÇÃO I SISTEMA DIGESTIVO

cavidade superior, habitualmente à altura do um-


bigo, sendo a metade esquerda ascendente até ao
ângulo esplénico. As fitas cólicas nesta região têm
uma distribuição anterior e posteriores, uma supe-
rior e a outra inferior, sendo que a última corres-
ponde à inserção do mesocólon transverso, o qual
liga esta região do cólon aos planos posteriores se-
gundo uma inserção denominada "raiz" (ver des-
crição da raiz do mesocólon direito que se inicia
anteriormente à segunda vértebra lombar e segue
o bordo inferior do pâncreas) que é oblíqua para
cima e para a esquerda, seguindo o bordo inferior
do pâncreas, passa acima do ângulo duodeno-jeju-
6 nal, cruza a face anterior do rim esquerdo a meio
do órgão e que permite dividir o abdómen em dois
andares: o supra e o infra- mesocólon. Em geral a
Figura 5.23: Cego.
cauda do pâncreas torna-se intraperitoneal sepa-
1. Cego 2. Apêndice ileocecal 3. Mesoapêndice 4. Artéria apendicular
5. Prega avascular 6. Prega ceco-parietais 7. Íleo terminal rando-se da raiz do mesocólon, que, externamen-
te ao rim esquerdo se insere na parede abdominal
posterior que nesse local corresponde ao diafrag-
ÂNGULO HEPATICO ma. A face superior do mesocólon forma o pavi-
mento da cavidade posterior dos epíploones e a
O ângulo hepático do cólon relaciona-se com a face inferior repousa sobre as ansas ileais. A face
face inferior do fígado e com a face anterior do inferior do mesocólon repousa sobre as primeiras
rim direito ao nível da apófise transversa da pri- ansas jejunais. O grande epíploon parece inserir-
meira vértebra lombar. -se no bordo anterior do cólon transverso, cons-
É uma zona onde o cólon sofre, mais do que uma tituindo esta a sua inserção inferior. As suas di-
angulação, uma torção em que a face póstero-ex- mensões são variáveis: pode constituir uma sim-
terna do cólon ascendente se torna anterior e o có- ples franja ao longo do cólon transverso ou pode
lon toma a partir dessa zona um trajecto relativa- constituir uma formação quadrilátera de grandes
mente transversal atravessando a cavidade abdo- dimensões anterior às ansas do delgado descen-
minal da direita para a esquerda. O ângulo hepáti- do até ao púbis, sendo possíveis todas as dimen-
co está fixo aos planos adjacentes e é recoberto an- sões intermédias.
teriormente por peritoneu que se continua atrás O cólon transverso descreve uma curvatura de
pela face anterior do rim direito formando o li- concavidade superior que desce habitualmente
gamento reno-cólico. Existe ainda um ligamen- até à altura do umbigo. A metade direita do cólon
to duodeno-cólico que une o duodeno, o pedículo transverso é irrigada pela artéria mesentérica su-
hepático e a vesícula biliar, muitas vezes prolonga- perior à semelhança do cego, apêndice, cólon as-
do por um ligamento cístico-cólico e um ligamen- cendente e ângulo hepático- estas porções do có-
to freno ou parieto-cólico ou suspensor do ângu- lon constituem assim uma unidade funcional de-
lo direito, que une este ângulo à parede abdomi- nominado "cólon direito" por oposição às restan-
nal posterior. tes porções do cólon, que em conjunto se denomi-
nam cólon esquerdo, sendo irrigados pela artéria
CÓLON TRANSVERSO mesentérica inferior. É no meio do meso do cólon
transverso que se faz a anastomose entre a artéria
O cólon transverso constitui a região do cólon cólica superior direita (ramo de mesentérica supe-
onde o cólon direito se continua com o esquerdo. rior) e a artéria cólica superior esquerda (ramo da
O cólon transverso descreve uma curva de con- artéria mesentérica inferior). Em grande parte da

393
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

sua extensão, a metade direita do cólon transver- rigindo-se o descendente verticalmente para baixo
so é móvel na cavidade abdominal, sendo a parte nesta zona, num exame radiológico visto de face
fixa a que é aderente atrás e recobre o como direi- uma imagem opaca pode corresponder ao trans-
to da cavidade posterior dos epíploones. A porção verso, ao ângulo esplénico ou ao descendente.
móvel está ligada ao estômago pelo ligamento gas- O ângulo esquerdo é mais externo que o direito- 0
trocólico. A metade esquerda do cólon transverso direito é anterior ao rim direito e o esquerdo é ex-
também é móvel em grande parte da sua extensão terno ao rim esquerdo e mais superior.
e é ascendente para cima e para a esquerda até ao
ângulo esplénico. Tem três fitas cólicas- uma an- CÓLON ESQUERDO
terior e duas posteriores, uma inferior e outra su-
perior, correspondendo a última à inserção do me- O cólon esquerdo tem 3 características que o di-
socólon transverso. Este insere-se nos planos pos- ferenciam do cólon direito: o diâmetro, que é mais
teriores e recai sobre as primeiras ansas do delga- estreito, é constituído por duas ansas móveis- a
do- a sua raiz é obliqua para cima e para a esquer- metade esquerda do cólon transverso e o cólon
da dividindo o abdómen em dois andares: um su- sigmóide separados por um segmento fixo à pare-
pra e outro infra- mesocólico. O mesocólon tem de posterior- o cólon descendente.
um bordo anterior que se insere no cólon e um Este estende-se do ângulo esplénico à crista ilía-
bordo posterior ou raiz que começa no bordo in- ca esquerda correspondendo atrás à região lombar
terno de D2, cruza a cabeça do pâncreas, segue o (o cólon descendente propriamente dito) e o có-
bordo inferior do corpo do pâncreas, passa acima lon ilíaco, que corresponde à porção anterior sobre
do ângulo duodeno-jejunal, cruza a face anterior a fossa ilíaca esquerda (da crista ilíaca ao estreito
do rim esquerdo a meio da altura do rim e inse- superior). O cólon lombar é posterior, descenden-
re-se no plano parietal posterior constituído nessa te, externo, desce quase verticalmente entre o rim
região pelo diafragma. A cauda do pâncreas toma- e a parede abdominal lateral, descrevendo uma li-
-se intraperitoneal, unida pelo epíploon pancreáti- geira curva de concavidade interna. O cólon ilía-
co-esplénico ao baço, separando-se da raiz do me- co atravessa a fossa ilíaca esquerda descendo obli-
socólon. A face superior do mesocólon forma o quamente para baixo, para dentro e para a frente,
pavimento da cavidade posterior dos epíploones e existindo cólones curtos, quase rectilíneos que se-
a face inferior contacta com as primeiras ansas je- guem na região súpero-interna da fossa ilíaca pró-
junais. O ligamento gastro- cólico destaca-se da ximo da articulação sacroilíaca, os cólones de com-
grande curvatura gástrica e do bordo inferior de primento médio passa a região média da fossa 4 ou
D1. Fixa-se inferiormente no bordo anterior do 5 cm acima da arcada crural, os cólones mais com-
cólon transverso contribuindo para formar a pa- pridos relacionam-se com o ângulo formado pela
rede anterior da cavidade posterior dos epíploo- parede da fossa ilíaca e a parede abdominal ante-
nes. O grande epíploon insere-se no bordo ante- rior. O segmento lomboilíaco do cólon está fixo ao
rior do transverso. plano posterior pela face posterior.

ÂNGULO ESPLÉNICO Constituição anatómica

O ângulo esplénico situa-se profundamente na re- Na parede do cólon entre a mucosa e a submuco-
gião tóraco-abdorninal, externamente e posterior- sa existe a muscularis mucosae. A mucosa e a sub-
mente ao corpo gástrico e inferiormente ao baço. mucosa do apêndice têm numerosos folículos lin-
Corresponde à face interna da nona costela e à li- foides cuja inflamação está na origem da apendici-
nha média axilar. Este é um ângulo muito agudo, te aguda. Exteriormente à submucosa estão as ca-
orienta-se num plano ântero-posterior e está fixo madas musculares, a interior de fibras circulares e
pelo ligamento freno- cólico esquerdo. Por ser um a exterior de fibras longitudinais, seguindo-se a se-
ângulo muito fechado pode constituir um obstá- rosa. A configuração exterior é semelhante às res-
culo relativo à passagem das fezes e dos gases. Di- tantes porções do cólon, com 3 fitas longitudinais

394
MANUTENÇÃO I SISTEMA DIGESTIVO

ue pregueiam o cólon formando bosseladuras se- tando colado aos planos posteriores pela fáscia de
qaradas por sulcos transversais. Adjacente às bos- Toldt. Mais internamente relaciona-se com o ure-
; e1aduras existem apêndices epiploicos constituí- ter direito e, externamente a ele com os vasos tes-
dos por tecido adiposo. Interiormente as bossela- ticulares e útero- ováricos. O ângulo hepático re-
duras correspondem a ampolas separadas por cris- laciona-se posteriormente com a metade inferior
tas ou pregas semilunares, correspondendo as cris- do rim direito. A parte direita do transverso rela-
tas aos sulcos da face exterior. Na região de tran- ciona-se com o rim, com o bloco duodeno-pan-
sição entre o íleo e o cólon existe uma válvula - a creático, cruzando a segunda porção do duodeno.
válvula ileocólica, ileocecal ou de Bauhin forma- O mesocólon transverso começa no bordo esquer-
da pela invaginação parcial do íleo no cólon, sen- do do duodeno, sendo que a sua raiz cruza a ca-
do que cada uma das suas valvas é constituída pelo beça do pâncreas, e segue depois o bordo inferior
colarnento das camadas parietais do íleo e do có- do corpo do pâncreas. Externamente, o cólon re-
lon. É uma válvula bastante potente. Na região de laciona-se com as partes moles do flanco e gotei-
implantação do apêndice existe uma válvula, a vál- ra parieto-cólica direita. Internamente relaciona-
vula de Gerlach. -se com os órgãos da grande cavidade peritoneal
mais próximos, como as ansas do delgado. Entre o
Relações anatómicas cólon e o mesentério está a loca mesentérico-có-
lica direita. O cólon transverso relaciona-se supe-
O cego e o cólon ascendente estão em relação di- riormente com o ligamento gastro- cólico e, atra-
recta com a parede abdominal anterior, não haven- vés dele, com a grande curvatura gástrica. Neste
do geralmente interposição das ansas do intestino ligamento caminham os vasos gastro- epiploicos
delgado, ao contrário do cólon ascendente. A pro- esquerdos e direitos e continua-se anteriormente
jecção do apêndice na parede abdominal anterior ao cólon com o grande epíploon. Superiormente o
habitualmente localiza-se no limite entre o terço cólon e o mesocólon formam o pavimento da ca-
externo e os dois terços internos de uma linha que vidade posterior dos epíploones. Inferiormente, no
une a espinha ilíaca ântero-superior direita ao um- andar inframesocólico, o cólon transverso relacio-
bigo- o ponto de Mac Burney. O ângulo hepá- na.se com as ansas do jejuno-íleo.
tico é mais profundo, tornando-se o cólon trans-
verso progressivamente mais superficial. A grelha ARTÉRIAS
costal recobre o ângulo hepático, que se relacio-
na com a décima primeira costela indirectamen- As artérias provêm da mesentérica superior
te e mais directamente com a apófise transversa (Fig.5 .24): a artéria cólica superior direita que se
de Ll, com a face inferior do figado, na qual mar- dirige para a parte fixa do cólon transverso direito,
ca uma impressão anterior à do rim e lateral exter- a artéria do cólon transverso, localizada à esquerda
na e anterior à do duodeno. Relaciona-se directa- da anterior destinando-se à metade direita do có-
mente com a vesícula biliar e com a porção direita lon transverso, a do cólon ascendente, para o cólon
do grande epíploon. O cego e o cólon ascenden- homónimo e a íleo-ceco-colo-apendicular ou cóli-
te relacionam-se com a parede posterior: na região ca inferior direita para o íleo, cego e apêndice. To-
superior ou torácica corresponde à décima primei- dos estes ramos se anastomosam junto à superfi-
ra e décima segunda costelas das quais está sepa- cie do cólon formando a chamada "arcada bordan-
rado pelo diafragma e pelo rim, na região média te", da qual podem secundariamente partir outras
ou lombar relaciona-se com o músculo quadrado arcadas. Junto à superficie do cólon nascem des-
lombar e na região inferior relaciona-se com as es- ta arcada ou das secundárias, quando existem, va-
truturas da fossa ilíaca interna, formada pela es- sos rectos longos ou curtos perpendiculares à pa-
cavação da asa do ilíaco atapetada pelo músculo rede do intestino. A arcada de Riolan corresponde
ilíaco recoberto pela fáscia ilíaca. O cólon ascen- à anastomose entre o ramo esquerdo da artéria có-
dente ocupa a parte superior da fossa ilíaca, a fos- lica superior direita e o ramo homólogo da artéria
sa lombar e corresponde à face anterior do rim, es- cólica superior esquerda.

395
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Figura 5.24: Vascularização arterial do cólon. Rgura 5.25: Drenagem venosa do cólon.
1. Arcada marginal 2. Artéria mesentérica inferior 3. Artéria cólica 1. Veia mesentérica superior 2. Mesentério 3. Mesocólon transverso
média 4. Artéria cólica esquerda 5. Artérias sigmóideias

cólon esquerdo, ou os do hilo do recto para a lin-


VEIAS fa vinda do recto). Dos gânglios da cadeia mesen-
térica superior, a linfa é drenada para os gânglios
Existe geralmente uma veia por artéria (a artéria para-aórticos, enquanto que a linfa vinda dos ou-
cólica ascendente é a que menos frequentemen- tros grupos ganglionares referidos é drenada para
te tem veia homónima). A veia cólica superior ao os gânglios retro-pancreáticos e daqui para os gân-
passar anteriormente à cabeça do pâncreas anasto- glios do pedículo gastro- epiploico direito e do
mosa-se com a gastroepiploica direita formando o hilo do baço.
tronco gastrocólico de H enle (Fig. 5.25).
NERVOS
LINFÁTICOS
A inervação simpática e parassimpática segue as
A linfa do cólon é drenada por vasos linfáticos de artérias que irrigam as diferentes porções do có-
muito pequeno calibre que constituem uma rede lon constituindo plexos nervosos em torno dessas
parietal. Desta partem colectores subserosos que artérias, seguindo a mesentérica superior e sub-
drenam a linfa para gânglios epicólicos (situados sequentemente os seus ramos. A inervação pa-
junto à parede do cólon), daqui a linfa é drenada rassirnpática depende exclusivamente do vago.
para gânglios paracólicos (situados no bordo me- A inervação simpática depende exclusivamente
socólico ao longo da arcada marginal), daqui a lin- do plexo celíaco, logo, dos esplâncnicos abdomi-
fa é drenada para gânglios intermediários (situa- nais de origem torácica. As fibras da sensibilidade
dos a meio do mesocólon) e depois para gânglios visceral provêm das raízes de TlO a L l.
principais (situados na origem das artérias cólicas).
Daqui a linfa é drenada ou para os gânglios ileais
ou cecais ou, por outro lado, para os gânglios cen- RECTO
trais (da mesentérica superior no caso da linfa vin-
da do cólon direito, da cólica superior esquerda, O recto constitui a porção terminal do intestino
da mesentérica inferior no caso da linfa vinda do grosso. O recto segue-se ao cólon pélvico e ter-

396
MANUTENÇÃO I SISTEMA DIGESTIVO

rnina na pele da região perineal por um orifício: o próstata no homem e com o útero e vagina na mu-
ânus. As suas dimensões são variáveis uma vez que lher. E stas relações são feitas por meio de uma bai-
constitui um órgão reservatório de fezes de pare- nha fibrosserosa que envolve o recto.
des muito extensíveis. O recto está anteriormente à concavidade sacro-
Superiormente o recto começa no local onde o coccígea S4, S5 e face anterior do cóccix). Esse
cubo digestivo cruza o corpo de S3. Interiormente plano ósseo é prolongado lateralmente e superior-
esse limite corresponde à zona em que o calibre do mente pelos músculos piramidais e inferiormen-
recto sofre um estreitamento e corresponde à zona te pelos ligamentos sacros-ciáticos cobertos pelo
da primeira válvula de Houston. O limite inferior músculo ísquio- coccígeo. Entre o plano do recto e
corresponde à zona de união da pele perineal com o cóccix interpõem-se vários órgãos: na linha mé-
a mucosa rectal denominada "linha circular ano- dia a artéria sagrada média, a glândula de Luschka
rectal" (Fig. 5.26). na extremidade inferior da artéria sagrada média,
O recto atravessa duas regiões: a pequena bacia e o último gânglio simpático sagrado, de cada lado
0 períneo. Na pequena bacia ocupa a parte mais da terminação da artéria sagrada média. Lateral-
posterior posteriormente ao aparelho genito-uri- mente as artérias sagradas médias, o 4° e 5° nervos
nário anteriormente à coluna sacrococcígea. No sagra dos, a cadeia simpática sagrada. A face pos-
períneo, sai da cavidade pélvica limitada inferior- terior do recto não tem relações com o peritoneu.
mente pelo diafragma dos levantadores do ânus O peritoneu cobre as faces lateral, anterior e um
e franqueia o hiato entre estes dois músculos pouco da posterior do recto formando um meso
abrindo-se na pele perineal. As relações são dife- que une o recto à parede posterior- o mesorecto.
rentes nas duas porções: pélvica e perineal. O peritoneu só cobre cerca do terço superior das
faces laterais do recto, após o que se reflecte sobre
a parede lateral pélvica formando o fundo de saco
latero rectal ou recesso pararectal de Waldeyer. N a
face anterior do recto o peritoneu só cobre a me-
tade superior da ampola, após o que se reflecte so-
bre as vísceras pré- rectais constituindo o fundo
de saco recto- uterino ou de Douglas na mulher e
recto- vesical no homem.
Com a porção peritoneal, a ampola rectal está se-
parada da parede da escavação pélvica pelo reces-
so pararectal de Waldeyer, o qual aloja à esquer-
da uma porção do cólon pélvico e por vezes na
mulher, também o ovário e o pavilhão da trompa.
Qyando a ampola está distendida contacta com a
parede pélvica no local da fosseta ovárica de W al-
deyer (no vértice entre os vasos ilíacos internos
e externos). D ebaixo do peritoneu pélvico cami-
Figura 5.26: Configuração do recto. nham verticalmente o ureter e os vasos hipogástri-
1. Colunas de Morgani 2, 3 e 4. Válvulas Houston superior, média e
inferior 5. C~on sigmóide 6 . Músculo elevador do ânus 7. Esfíncter
cos e horizontalmente os vasos e nervo obturado-
externo do ânus 8. Esfíncter interno do ânus res, os vasos uterinos e umbilicais.
Com a porção extra-peritoneal, a ampola rectal
relaciona-se com o tecido celular pélvico relacio-
RECTO PÉLVICO - AMPOLA RECTAL nando-se posteriormente com a loca nervosa hi-
pogástrica. Qyando distendida, a ampola aproxi-
Situa-se na região posterior da escavação pélvi- ma-se da parede pélvica aproximando-se da gran-
ca, relaciona-se atrás e lateralmente com as pare- de chanfradura ciática, por onde saem da cavidade
des desta escavação, anteriormente com a bexiga e pélvica o músculo piramidal, os vasos e nervos glú-

397
MANUAL D E ANATOMIA HUMANA

teos superiormente ao músculo, os vasos puden- O recto está rodeado por uma bainha fibrosa na
dos internos, isquiáticos e o grande ciático infe- região subperitoneal denominada "bainha rectal"
riormente ao músculo. comum ao homem e à mulher, na qual se des:
A semelhança da face lateral, a face anterior tem crevem algumas diferenciações. Posteriormente:
uma porção peritoneal e outra extra- peritoneal, constitui a aponevrose pré-sagrada, que corres-
sendo a maioria das relações diferentes nos dois ponde à aponevrose posterior da aponevrose pél-
sexos. vica, cobre o sacro, o cóccix, os músculos pirami-
No homem, a porção peritoneal relaciona-se com dais e os isquiococcígeos e está fortemente ade-
a face posterior da bexiga (Fig. 5.27A). O perito- rente aos buracos sagrados anteriores, mas pou-
neu que recobre os dois órgãos forma o fundo-de- co aderente ao recto. Anteriormente: constitui a
-saco vesicorrectal. A porção subperitoneal, na li- aponevrose de Denonvilliers, que desce do recto
nha média a ampola corresponde ao fundo-de-sa- para a região posterior da próstata, abaixo das ve-
co vesicorrectal e à próstata. O recto forma uma sículas seminais, formando um septo bem defini-
espécie de promontório abaixo da próstata que é do. Lateralmente: constitui-se a loca látero-rec-
facilmente acessível ao toque rectal. Lateralmente tal, limitada pela aponevrose sacro-recto-genito-
localizam-se as vesículas seminais, os canais defe- -púbica, que se implanta nos órgãos respectivos
rentes e os ureteres. e na face posterior da sínfise púbica. Forma uma
Na mulher, a porção peritoneal corresponde à loca que a aponevrose de Denonvilliers divide em
face posterior do útero e ao fundo-de-saco de duas partes: o compartimento vesical anterior e o
Douglas (Fig. 5.27B). As túnicas rectal e vagi- rectal posterior.
nal estão unidas formando o septo recto-vaginal.
Os ureteres, os vasos uterinos e seus ramos vagi- RECTO PERINEAL - CANAL ANAL
nais situam-se lateralmente. Na porção subperi-
toneal, na linha média a ampola corresponde ao É a porção terminal do recto. Constitui uma por-
fundo de saco de Douglas, que está acessível ao ção muito curta, com 2 a 3 cm, que serve como
toque rectal. canal evacuador da ampola rectal. Situa-se por

Figura 5.27a: Relações do Recto (Homem). Figura 5.27b: Relações do Recto (Mulher).
1. Recto Pélvico 2. Coluna sagrada 3. Bexiga 4. Canais deferentes 1. Recto Pélvico 2. Coluna sagrada 3. Bexiga 4. Útero 5. Vagina
5. Próstata 6. Vesícula seminal 7. Fundo-de-saco vesicorrectal 6. Fundo-de-saco vesico-uterino 7. Fundo-de-saco recto-uterino

398
MANUTENÇÃO I SISTEMA DIGESTIVO

baiXº da cavidade pélvica, na espessura do pavi- do-valvulares que não cumprem a função das vál-
rnento pélvico perineal. Está unida à ponta do vulas de regular o transito intestinal, tem dimen-
cóccix pela rafe ano-coccígea. Atravessa o perí- sões e número variável (habitualmente há uma su-
neo, primeiro o diafragma dos levantadores do perior, uma média e uma inferior)- são as válvulas
ânus que estão separados por um orifício médio, rectais de Houston. São constituídas por mucosa e
ocupando o recto, a região posterior deste orifí- submucosa. Descrevem- se ainda válvulas semilu-
cio, constituindo o órgão central do períneo pos- nares (pequenas pregas na porção mais inferior do
terior. Relaciona-se com os feixes externos dos recto de concavidade superior em forma de ninho
levantadores do ânus, que cruzam a face late- de pomba em número de cinco a treze formando
ral do recto fixando-se no bordo ântero-lateral uma linha denominada de "ano-rectal" onde ter-
do cóccix, cruzando-se algumas fibras com as do mina o recto e começa o ânus. As colunas de Mor-
lado oposto. A contracção destes feixes muscula- gagni são pregas longitudinais de mucosa e entre
res encerra o orifício onde está o recto asseguran- as extremidades laterais de duas válvulas semilu-
do a sua oclusão voluntária. Esta mesma contrac- nares contíguas. Entre elas existem sulcos. A rec-
ção, quan do executada no final da defecação, aju- toscopia é um exame que permite a observação in
da a completar a expulsão do bolo fecal. vivo do interior do recto.
O recto relaciona-se com fibras dos feixes inte-
riores dos levantadores do ânus. São fibras mus- Constituição anatómica
culares que têm um trajecto de fora para dentro
e que se misturam nas camadas musculares do O recto é composto por quatro túnicas sobrepos-
recto e terminam na pele. Algumas fibras unem- tas que são de fora para dentro: a serosa, a muscu-
-se com as do lado oposto anteriormente ao rec- lar a qual se subdivide numa cama superficial de fi-
to constituindo o levantador próprio do ânus que bras longitudinais e numa cama profunda de fibras
retrai e abre o ânus. Lateral e posteriormente re- circulares. As fibras circulares têm a particularida-
laciona-se com as fossas ísquio-rectais direita e de de constituir, por baixo da ampola rectal, um
esquerda, as quais formam como que uma fer- anel muscular denominado de "esfíncter interno
radura em torno do recto perineal. O esfíncter do ânus" que termina nas margens do ânus pou-
estriado do ânus localiza-se na parte inferior da co abaixo da zona de transição ano-rectal. Abaixo
parede interna. No homem, a parede anterior do da camada muscular existe uma submucosa e in-
canal anal relaciona-se com a uretra membrano- teriormente a mucosa. A mucosa diferencia- se da
sa, o bulbo uretral, as glândulas de Cooper e ar- restante mucosa do intestino por ter válvulas se-
teríolas. Na mulher, a parede anterior do canal milunares, colunas de Morgagni, maior desenvol-
anal relaciona-se com a parede vaginal posterior, vimento das glândulas tubulosas, por aderir menos
à qual está fortemente fixo constituindo o septo a camada muscular, e pelo grande desenvolvimen-
recto-vaginal. Superiormente separa-se dela di- to do sistema venoso.
rigindo-se para trás formando-se entre os dois
órgãos um espaço triangular: o espaço recto-va- ARTÉRIAS
ginal homólogo do espaço recto-uretral do ho-
mem. Este espaço está ocupado por formações A vascularização arterial e assegurada por três pa -
fibrosas perineais, pelo esfíncter externo do ânus, res de artérias: as rectais (hemorroidárias) superio-
pelo músculo transverso e constritos da vagina e res, as médias e as inferiores (Fig. 5.28).
tecido célulo-adiposo. As artérias rectais superiores são as artérias res-
ponsáveis pela maior parte da irrigação arterial do
Configuração interior do reeto recto. São ramos das artérias mesentéricas inferio-
res que penetram na raiz lombo-sagrada do meso-
O recto tem pregas longitudinais formadas por cólon pélvico logo na sua origem. Cruza os vasos
mucosa as quais desaparecem com a sua disten- ilíacos esquerdos e terminam ao nível de S3. Habi-
são. Descrevem-se ainda pregas transversais pseu- tualmente bifurcam-se na face posterior da ampo-

399
MANUAL DE ANATOMIA H UMANA

A artéria sagrada media fornece ramos para a f:a


Ce
posterior da ampola que se anastomosam co""
rectais. " ' as

VEIAS

A drenagem venosa do recto é feita por um ple-


xo, o plexo rectal (hemorroidário), que ocupa toda
a altura do recto estando particularmente desen-
volvido na porção inferior (Fig. 5.29).Ao nível das
válvulas semilunares existem cavidades em forma
de ampolas muito irrigadas que ao aumentarem de
volume constituem as hemorróidas.

Figura 5.28: Vascularização arterial do recto {vista posterior).


1. Recto Pélvico 2. Canal Anal 3. Artérias hemorroidárias superiores
4. Artérias hemorroidárias medias 5. Artérias hemorroidárias inferiores
6. Artéria ilíaca interna 7. Artéria sagrada média

la rectal constituindo as rectais superiores. A rectal


superior direita tem habitualmente maior calibre
que a esquerda, é quase vertical, descendo direc-
tamente contra a face posterior da ampola rectal.
A rectal superior esquerda é quase transversal,
mais delgada que a direita, destinando-se a face
lateral esquerda, as duas rectais superiores forne-
cem vários colaterais com uma terminação dife-
rente das artérias cólicas. São rectilíneas ou flexuo-
sas, atrave$5am a camada muscular e vão constituir 6

uma rede submucosa.


As artérias hemorroidárias medias são ramos da
hipogástrica ou da pudenda interna sendo o seu 2
território mais genital que reera!. Dirigem-se para
baixo, para dentro e para a frente e vão para a prós- Figura 5.29: Drenagem venosa do recto.
1. Recto Pélvico 2. Canal Anal 3. Veias rectais superiores 4. Veias
tata, vesículas seminais e face posterior da vagina. rectais medias 5. Veias rectais inferiores 6. Plexo hemorroidário
Fornecem arteríolas para a ampola reera! que se submucoso 7. Veia mesentérica inferior 8. Veia ilíaca interna

anastomosam na camada muscular com as rectais


superiores na camada muscular e na submucosa
com as rectais superiores e inferiores. As veias rectais superiores são ramos ascenden-
As artérias hemorroidárias inferiores são ramos tes que nascem das ampolas venosas que se tor-
de pequeno calibre vindos da pudenda interna nam cada vez mais volumosos e que, cerca de 8-10
que é ramo da hipogástrica. Dirige-se para bai- cm acima do ânus, perfuram a túnica muscular di-
xo e para dentro, atravessam a camada adiposa rigindo-se para a extremidade superior do órgão.
da fossa ísquio-rectal e perde-se na pele do ânus. Aí são engrossadas por afluentes e vão formar a
Fornece ramos ao esfíncter externo e ao levanta- veia mesentérica inferior. São estas as veias do rec-
dor do ânus. to propriamente ditas.

400
MANUTENÇÃO I SISTEMA DIGESTIVO

As veias rectais inferiores são um sistema peri-es-


fincteriano menos importante que rodeia comple-
tamente o musculo esfíncter externo. Recebe san-
gue da porção anal, da mucosa, do esfíncter inter-
no e externo e das fibras entre os dois esfíncteres.
Os ramos eferentes dirigem-se para as fossas ís-
quio-rectais e constituem as veias rectais inferio-
res que recebem alguns ramos cutâneos do ânus e
vão drenar o sangue para as veias ilíacas primitivas. 2

As veias hemorroidárias médias localizam-se en-


tre as duas anteriores, originam-se no recto acima
do levantador do ânus e nos órgãos vizinhos e vão 3
ter à ilíaca interna. As anastomoses entre o siste-
ma superior e o transverso são através das rectais
superiores e inferiores. Partem da rede submucosa
e alcançam a peri-esfincteriana.

UNFATICOS

Existem redes linfáticas localizadas na mucosa e


submucosa e pele do ânus de onde partem três pe- Figura 5.30 - Drenagem linfática do recto.
1. Recto Pélvico 2. Gânglios ilíacos 3. G ânglios inguinais superficiais
dículos eferentes para os gânglios hemorroidários 4. Gânglios lombo. aórticas
superiores, médios e inferiores. Os gânglios he-
morroidários inferiores dividem-se em grupos ex-
trapélvicos, os quais drenam a linfa para os gân-
glios do triangulo de Scarpa e gânglios intrapélvi-
cos que drenam a linfa para os gânglios sagrados
laterais e gânglios do promontório. Os gânglios
do pedículo médio terminam nos gânglios hipo-
gástricos. Os troncos do pedículo hemorroidário
superior são satélites da hemorroidária superior e
mesentérica inferior (Fig. 5 .30).

NERVOS

Os nervos do recto (Fig. 5.31) provêm dos ple-


xos mesentéricos superior e inferior e pelo ner-
vo hemorroidário ou anal, ramo do plexo sagrado
2
que enerva o esfíncter externo do ânus e a pele da
margem do ânus. A inervação intrínseca do tubo
digestivo é assegurada pelos plexos de Auerbach
(que assegura a motricidade das fibras musculares)
e de Meissner (que assegura a inervação da sub-
mucosa), ambos na dependência do sistema ner-
voso vegetativo.

Fig. 5.31: Inervação do recto.


1. Recto Pélvico 2. Plexo hipogástrico inferior 3. Nervo pudenda
interno

401
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Figura 5.32: Ânus (a: Homem, b: Mulher).


1. Ânus 2. Corpo perineal 3. Esfíncter externo do ânus

ÂNUS

O ânus é o orifício que termina a porção inferior


do tubo digestivo abrindo-se no triângulo poste-
rior do períneo posterior anteriormente ao cóc-
cix e no fundo do sulco longitudinal que separa as
duas nádegas. É mais anterior na mulher do que
no homem (Fig.5.32).
Superiormente está limitado pelo bordo livre das
válvulas semilunares que constituem a linha ano-
-rectal. Inferiormente está limitado pela linha
ano-perineal que corresponde à zona que o reves-
timento cutâneo do ânus se continua com a pele
da região perineal.
Interiormente o ânus é revestido por uma pele
fina e rica em papilas. Exteriormente é constituído
por uma parede muscular com três ordens de fi-
bras: fibras lisas que constituem o esfíncter interno
do ânus (ver recto), fibras estriadas circulares que
constituem o esfíncter externo do ânus (que per-
tence aos músculos do períneo), e fibras lisas lon-
gitudinais entre as duas anteriores. Estes dois es-
fíncteres cerram o orifício anal opondo resistên-
cia à saída continua de fezes acumuladas no rec-
to pela sua tonicidade e, quando necessário, pela
sua contracção.
A irrigação arterial, a drenagem venosa e linfáti-
ca e a inervação são sobreponíveis à da região ter-
minal do recto.

402
MANUTENÇÃO I SISTEMA DIGESTIVO

pERITONEU ritoneu parietal por duas pregas peritoneais, cha-


madas "mesa-anterior e mesa-posterior", que di-
É uma membrana serosa constituída por duas ca- videm a cavidade peritoneal em duas: direita e es-
rnadas, uma mesotelial e outra de tecido conjun- querda, com o crescimento do embrião, a porção
tivo laxo. O mesotélio pode originar a formação inferior do mesa-anterior desaparece e passa a ha-
de fibroblastos, que desempenham um importante ver apenas uma cavidade e a porção superior afas-
apel na formação de aderências. ta-se para a direita , na espessura da qual se desen-
p é . .
O peritoneu um saco que reveste mtenormente volve o fígado e origina o ligamento suspensor ou
a cavidade peritoneal e os órgãos abdómino-pél- falciforme do fígado, a cápsula do fígado e o pe-
vicos à excepção dos ovários na mulher. No ho- queno epíploon. O mesa-posterior primitivo ori-
mem forma um saco fechado. O peritoneu é for- gina o grande epíploon ou gastrocólico, o epíploon
mado por dois folhetos: parietal e visceral, mas gastro-esplénico, o epíploon espleno-pancreático,
verdadeiramente é uma única membrana, que re- o mesentério ou meso do jejuno-íleo, o mesocólon
veste a parede abdominal e que se afasta da mes- transverso e o mesossigmóide. Os mesos do duo-
ma para envolver os órgãos, passando então a deno, cólon direito e cólon esquerdo vão-se colar
chamar-se visceral e originando as pregas peri- ao peritoneu parietal e originam as fáscias de cala-
toneais. O folheto parietal envolve a cavidade em mento (de Treitz e de Toldt).
toda a sua extensão (Fig. 5.33). O folheto visce- Com o desenvolvimento, o tubo digestivo sofre
ral é a porção que envolve os órgãos, incluído as rotações e arrasta consigo os mesos; origina-se
pregas peritoneais, que ligam os órgãos entre si e assim a cavidade abdómino-pélvica ou principal
à parede (Fig. 5.34). e a cavidade acessória ou cavidade posterior dos
Na fase inicial do desenvolvimento embrionário o epíploones também chamada "cavidade omental".
intestino primitivo fica na linha média fixo ao pe- Existem pregas peritoneais: principais e secundá-

13 2
10

6 7

8 6

10
11

9
11

2
4

12

Figura 5.33: Peritoneu posterior. Figura 5.34: Corte de perfil (epíploones, mesos e retroperitoneu).
1. Veia Cava Inferior 2. Aorta abdominal 3. Vasos ilíacos comuns 4. 1. Vértebra lombar 2. Sínfise púbica 3. Aorta abdominal 4. Pâncreas
Vasos ilíacos externos 5. Rim direito 6. Rim esquerdo 7. Duodeno 8. 5. Porção horizontal do duodeno 6. Artéria mesentéric.a superior
Pâncreas 9. Vasos mesentéricos superiores 10. Área de acolamento 7. Fígado 8. Estômago 9. Jejuno-,1eo 10. Omento gastr~epático
do cólon ascendente 11. Área de acolamento do cólon descendente 11 . Mesentério
12. Raiz do mesocólon sigmóide 13. Ligamento coronário do fígado

403
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

rias. Consideram-se três tipos de pregas perito- manho do bordo parietal para o bordo intesti-
neais principais: mesos, ligamentos e epíploones. nal, e que, a uma saliência duma face corresponde
O meso é uma prega peritoneal, que vai do peri- uma depressão na face oposta. Forma-se a par-
toneu parietal a um órgão e que entre os folhetos tir do peritoneu parietal, que se afasta da pare-
contém o pedículo vásculo-nervoso desse órgão. de posterior, para envolver o jejuno-íleo e os seus
O epíploon ou omento é uma prega peritoneal que pedículos como se fosse uma manga e regressa
fica em ponte entre órgãos e também pode con- novamente, e origina os dois folhetos que consti-
ter pedículos. tuem o mesentério. Contém na sua espessura os
O ligamento é uma prega peritoneal que fica entre vasos mesentéricos superiores (Fig.5. 35).
o peritoneu parietal e um órgão ou entre dois ór- Mesocólon transverso tem forma de meia lua
gãos, mas não contém pedículos vásculo-nervosos (Fig.5.36), tem um bordo anterior ou cólico e
na sua espessura. um bordo posterior ou parietal ou raiz e duas fa-
ces: superior e inferior e duas extremidades: di-
PREGAS PERITONEAi$ PRINCIPAIS reita e esquerda. O mesocólon transverso resul-
ta do peritoneu parietal posterior que se afasta
Mesentério ou meso do jejuno-íleo, tem uma da parede posterior para revestir o colón trans-
configuração em leque, podendo-se considerar verso e seus pedículos, e volta novamente à pare-
um bordo parietal ou raiz em forma de S itáli- de posterior, continuando a revesti-la formando
co, relativamente curto, com cerca de 15 cm de o meso com seus dois folhetos, neste caso supe-
extensão, que vai do ângulo de Treitz ao cego e rior e inferior. O mesocólon transverso contém os
como o bordo intestinal tem cerca 4 a 6 metros e pedículos para o cólon transverso, sendo os mais
acompanha as curvaturas do intestino delgado, o importantes os vasos eólicos médios e a arcada
mesentério apresenta-se como que um leque ou de Rioland. Separa o andar supra-mesocólico do
harmónio. O mesentério tem duas faces: a supe- andar infra- mesocólico.
rior e direita e a inferior e esquerda, que apresen- Mesossigmoide ou pélvico, tem um bordo pos-
tam saliências e depressões, que aumentam de ta- terior ou parietal em forma de V invertido, com

9
2

Figura 5.35: Mesentério. Figura 5.36: Mesocólon e raiz do mesentério.


1. Duodeno 2. Pâncreas 3. Jejuno-íleo 4. Cego 5. Cólon ascendente 1. Cólon ascendente 2. Cólon transverso 3. Cólon descendente
6. Vasos mesentéricos superiores 7. Mesentério 8. Artéria esplénica 4. Cólon sigmóide 5. Recto 6. Jejuno proximal 7. fleo terminal
9. Tronco celíaco 10. Estômago 8. Mesocólon transverso 9. Raiz do mesentério

404
MANUTENÇÃO I SISTEMA DIGESTIVO

a porção vertical mediana e outra oblíqua es-


u111 . •
uerdo, entre as quais se encontra o recesso s1g-
q óide; um bordo anterior ou intestinal e duas fa-
m . a superior e a inferior. Forma-se a partir do 4
ces.
eritoneu parietal, quando se afasta para envolver
~ colón sigmóide e os seus pedículos e volta nova- 16
mente a parede posterior formando o meso com
os seus dois pedículos. Separa, incompletamente, 11
a cavidade abdominal propriamente dita da cavi-
dade pélvica.
6
Mesométrios ou ligamentos largos direito e es-
querdo, têm um bordo parietal ou pélvico e um
bordo visceral ou uterino e um terceiro bordo su-
9
perior. Têm a forma triangular com vértice infe-
17
rior. São formados pelo peritoneu parietal que ao
Figura 5.37: Pequeno epíploon.
revestir a cavidade pélvica, vai envolver os órgãos 1. Fígado 2. Vesícula biliar 3. Esófago abdominal 4. Fundo gástrico
genitais internos e os seus pedículos e regressa no- 5. Curvatura menor do estômago 6. Curvatura maior do estômago
7. Duodeno 8. Ângulo hepático do cólon 9. Ângulo esplénico do cólon
vamente à parede; origina os mesos, com os dois 10. Rim direito 11 . Baço 12. Omento gastro-esplénico 13. Omento
folhetos respectivos, do útero, trompas e ovários, menor (gastro-hepático) 14. Pars condensa 15. Pars flácida 16. Pars
vascu1aris 17. Omento maior (gastrocólico)
que unidos formam os ligamentos largos .
O mesoapêndice liga o apêndice ao cego e ao íleo
terminal. Tal como os restantes é formado por dois
folhetos entre os quais caminham os vasos: a arté-
ria e veia apendiculares.
O mesocístico liga o infundibulo da vesícula e o
canal cístico ao fígado. É formado por dois folhe-
tos entre os quais se encontra o pedículo vascular
da vesícula.

EPÍPLOONES OU OMENTOS

O epíploon gastro-hepático ou pequeno epíploon


liga a pequena curvatura do estômago e primeira
6
porção do duodeno à face inferior ao fígado, e con-
tém o pedículo hepático (Fig 5.37).
Forma-se do seguinte modo: o peritoneu parietal
ao chegar ao fígado reflete-se por cima e por baixo
e envolve-o até chegar ao hilo; o folheto anterior
origina o folheto anterior do pequeno epíploon e
o folheto posterior origina o folheto posterior do Figura 5.38: Grande epíploon.
1. Fígado 2. Fundo da vesícula biliar 3. Ligamento falciforme
pequeno epíploon, estes folhetos envolvem depois 4. Estômago 5. Rebordo costal 6. Jejuno-íleo 7. Omento maior
o estômago e na grande curvatura, continuam-
-se pelo grande epíploon ou epíploon gastrocóli-
co que liga a grande curvatura do estômago ao có- Neste caminham os pedículos que se dirigem para
lon transverso, mas desce e forma um avental an- a grande curvatura do estômago, nomeadamente
terior ao jejuno-íleo (Fig. 5.38). A este nível existe os vasos gastroepiploicos.
uma sobreposição da porção que desce com a por- Epíploon gastro-esplénico corresponde ao perito-
ção que sobe e deste modo tem quatro folhetos. neu que liga a grande curvatura do estômago ao

405
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

hilo do baço, e nele encontram-se os vasos curtos As fossetas cecais: fosseta ileocecal superior, foss
do estômago. ta ileocecal inferior, fosseta retroceca. são recesse-
Epíploon espleno-pancreático - prega peritoneal limitados pelas pregas peritoneais do cego comºs
que liga o baço à cauda do pâncreas e contém o prega cecal vascular que limita a fosseta cecal 8 ~~
pedículo do baço (vasos e nervos esplénicos). perior, prega ileocecal, limita a fosseta cecal inc
•1J.e-
rior e pregas cecais parietocólicas que dilimitam a
LIGAMENTOS fosseta retrocecal.
A fosseta intersigmoideia ou recesso sigmóide
Ligamento falciforme ou suspensor do fígado tem fica no ápex do "V" do bordo parietal do mesos-
uma forma triangular com duas faces: direita e es- sigmoide.
querda e três bordos: anterior, póstero-inferior
corresponde ao ligamento redondo e o hepático, Vascularização do peritoneu e inervação
que vai da chanfradura do ligamento redondo ao
ligamento coronário. O ligamento coronário cor- O folheto parietal recebe a sua irrigação dos va-
responde a reflexão peritoneal a nível da periferia sos da parede e drena o sangue venoso e linfa
da face posterior do fígado. Os ligamentos trian- para as veias e linfáticos da parede; a inervação,
gulares: direito e esquerdo; são os prolongamentos é também fornecida pelos nervos da parede, que
laterais do ligamento coronário. é assim, uma inervação somática. A irrigação do
O ligamento freno-espleno-cólico, liga o diafrag- folheto visceral, provém das artérias dos órgãos
ma ao baço e ao ângulo esplénico do colon e a drenagem venosa e linfática dirige-se para as
O ligamento hépato-vesico-duodeno- cólico, liga a veias e linfáticos dos órgãos. A inervação provém
vesícula e fígado ao duodeno e ao ângulo hepáti- do sistema nervoso autónomo, tal como a dos ór-
co do colon. gãos: a inervação simpática vem das cadeias pa-
Os ligamentos útero-sagrados ligam o colo do ra-vertebrais, através dos nervos esplâncnicos e a
útero ao sacro. Os ligamentos cardinais do útero, parassimpática vem dos vagos e do plexo pélvico,
ligam o colo do útero às paredes pélvicas laterais. directamente ou por intermédio dos plexos res-
pectivos. Qyando um processo inflamatório atin-
PREGAS PERITONEAi$ SECUNDÁRIAS ge o peritoneu visceral, origina uma dor visce-
ral, que tem uma localização pouco precisa; essa
As pregas secundárias, surgem quando o perito- dor torna-se de tipo somática, mais localizada e
neu passa por estruturas salientes na cavidade ab- abrupta, quando atinge o folheto parietal, porque
dominal e originam as chamadas "foices perito- neste caso são estimulados os nervos da parede
neais." Temos como exemplo: a foice da artéria abdominal.
gástrica esquerda, foice da artéria hepática, foice
do úraco, foice da artéria epigástrica, foice da veia COMPARTIMENTAÇÃO DA CAVIDADE ABDO-
umbilical e outras, como as duodenais e cecais, que MINAL
limitam regiões, como as fossetas ou recessos da
cavidade peritoneal. As pregas podem criar fosse- A cavidade abdominal divide-se em cavidade pe-
tas, que podem ser locais de herniação interior. ritoneal e espaços extra-peritoneais. Destes o mais
importante é o espaço retroperitoneal onde se en-
FOSSETAS OU RECESSO$ contram órgãos muito importantes, os chamados
"órgãos retroperitoneais".
As fossetas duodenais: fosseta duodenal superior, O espaço retroperitoneal, corresponde à região
fosseta inferior, paraduodenal, fosseta retroduode- mais posterior da cavidade abdominal, limitado
nal, fosseta duodenojejunal e fosseta mesenterico- adiante pelo peritoneu parietal posterior e atrás
parietal são limitadas por várias pregas peritoneais, pela fáscia parietal da parede posterior do abdó-
que se encontram a nível da quarta porção do duo- men, cujos limites laterais são os bordos laterais
deno e junção duodenojejunal. dos músculos quadrados lombares. O espaço re-

406
MANUTENÇÃO I SISTEMA DIGESTIVO

eritoneal divide-se em espaço peritoneu-vis- No andar supramesocólico encontramos as locas


troP , _
onde encontramos os orgaos, que se torna- hepática, gástrica e esplénica.
cerai,
retroperitoneais com o desenvolvimento em- E entre as locas e a parede temos os espaços, as-
rarn _ .al b . sim temos a cavidade posterior dos epíploones, o
brionário, mas sao parei mente co ertos por pen-
coneu como: o pâncreas (excepto a cauda), o duo- espaço subfrénico direito ou hepato-diafragmáti-
deno, o cólon ascendente e o cólon descendente, co direito, o espaço subfrénico esquerdo ou hepa-
espaço visceral, neste ~emos: os ~ins, ureteres e su- to-espleno-diafragmático, o espaço infra-hepático
rarrenais, e espaço viscero-panetal, onde encon- ou hepato-gastro-duodeno-cólico e o espaço he-
~amos: aorta abdominal, veia cava inferior, plexos pato-reno-cólico ou de Morrison.
nervosos, cadeias linfáticas lombo-aórticas e ca- No andar infrarnesocólico temos a loca cólica as-
deias simpáticas para-vertebrais. cendente, a loca do jejuno-íleo e a loca cólica des-
A cavidade peritoneal é limitada pelo peritoneu cendente. E espaços ou goteiras infracólicas, no-
parietal e divide-se em cavidade peritoneal prin- meadamente a goteira ou espaço parieto-cólica di-
cipal abdómino-pélvica e cavidade posterior dos reita entre parede e o cólon ascendente, a goteira
epíploones ou omental, que comunica com a ca- cólico-mesentérica direita ou espaço inframesoco-
vidade abdominal principal através do hiato de lon transverso direito, a goteira mesentérica-cóli-
Winslow (foramen bursae omentalis), que é deter- ca esquerda ou espaço infrarnesocolico esquerdo e
minado pelo bordo direito do pequeno epíploon , a goteira parieto-cólica esquerda.
à frente e pela veia cava inferior atrás. A cavida- Na cavidade pélvica o peritoneu parietal separa
de posterior divide-se em vestfüulo e na cavidade a cavidade peritoneal dos espaços extraperitonais
posterior propriamente dita pela foice da artéria pélvicos. Os órgãos pélvicos são diferentes no ho-
hepática por baixo e a da artéria gástrica esquer- mem e na mulher. No homem temos os seguin-
da por cima (Fig. 5.39). Podemos também consi- tes espaços, o pré-vesical, os para-vesicais, o vesi-
derar a cavidade peritoneal divida pela mesocólon correctal, os para-rectais e o retro-rectal, e as locas:
transverso em andar supramesocólico e andar in- vesical, prostática, seminais e rectal (Fig. 5.40). Na
framesocólico. O andar inframesocólico está sepa- mulher temos espaços anteriores, o pré-vesical, os
rado da cavidade pélvica pelo mesossigmoide. para-vesicais, o vesico-vagino-uterino e os espa-

15

11

5
12

14

Figura 5.39: Cavidade posterior dos epíploones.


1. Fígado 2. Estômago 3. Baço 4. Veia Cava Inferior 5. Aorta abdominal 6. Veia Porta 7. Rim direito 8. Rim esquerdo 9. Vértebra lombar
10. Pâncreas 11. Omento menor 12. Omento gastroesplénico 13. Omento pancreático-esp1énico 14. Cavidade peritoneal 15. Bolsa ementai
(cavidade posterior dos epíp!oones) 16. Foramen ementai M'inslow)

407
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

ços posteriores atrás dos ligamentos largos, o rec,


to-vagino-uterino, os pararectais e o retro-rectaJ. e
as locas vesical, uterina, rectal, ováricas e tubãrias
(Figs. 5.41A e B).
5
A separar estes espaços existem estruturas liga-
mentares, que originam as pregas peritoneais que
3 limitam os espaços.
Os órgãos da cavidade pélvica podem ser perito-
neais, parcialmente peritoneais e extra-peritoneais.
Na mulher os órgãos peritoneais são os ovários, as
trompas uterinas e as ansas do delgado, e os órgãos
2 parcialmente peritoneais são a bexiga, o útero e 0
recto. Como extra peritoneais temos os ureteres, a
uretra pélvica e a vagina pélvica.
No homem os órgãos unicamente peritoneais são
as ansas do delgado, e parcialmente extra-perito-
neais temos a bexiga e o recto e os restantes são ex-
Figura 5.40: Cavidade pélvica - fundos de sacos no homem. tra-peritoneas como os ureteres, próstata, vesículas
1. Corpo do púbis 2. Ramo horizontal do púbis 3. Ramo descendente
do púbis 4. Sacro 5. Bexiga 6. Próstata 7. Vesícula seminal 8. Recto
seminais e canal deferente.
pélvico 9. Fundo-de-saco vesicorretal 10. Músculo levantador do ânus As pregas secundárias também limitam as fossetas
11. Fáscia próstato-peritoneal (Denonvillier) 12. Esfíncter externo do
ânus
inguinais, nomeadamente a fosseta supravesical ou

13

11
4

Figura 5.41a: Cavidade pélvicas -fundos de sacos na mulher. Figura 5.41b: Cavidade pélvicas - fundos de sacos na mulher {vista
1. Sínfise púbica 2. Sacro 3. Diafragma urogenital 4 . Bexiga 5. Uretra posterior).
6. Útero 7. Vagina 8. Recto pélvico 9. Esfíncter externo do ânus 10. 1. Útero 2. Trompa uterina 3. Ovário 4. Ligamento próprio do ovário
Septo recto-vaginal 11. Espaço pré--vesical (Retzius) 12. Fundo de 5. Ligamento suspensor do ovário 6. Ligamento redondo do útero
saco vesico-uterino 13. Fundo-de-saco recteruterino (Douglas) 7. Recto pélvico 8. Ureter pélvico 9. Promontório 1O. Ligament os
útero-sagrados 11. Fundo-de-saco recto-uterino (Douglas) 12. Fosseta
pré-ovárica 13. Fosseta paravesicais 14. Cólon sigmoide

408
MANUT ENÇÃO I SISTEMA DIGESTIVO

edial, fosseta média e fosseta lateral (Fig. 5.42). PERGUNTAS TIPO


~ medial fica entre a foice do úraco e a foice da
téria umbilical, a média é limitada internamente 1. Assinale a alínea correcta:
~la foice da artéria umbilical e externamente pela a. O mesosigmóide é uma prega peritoneal
~oice da artéria epigástrica e a fosseta lateral fica secundária.
or fora da foice da artéria epigástrica inferior. Es- b. A foice do úraco é uma prega peritoneal
P e - . .
tas pregas e as 10ssetas sao mwto importantes na principal.
clínica pois servem de referência para classificar as c. O epíploon gastro-hepático é uma prega
hérnias inguinais. Assim, as que se desenvolvem peritoneal secundária.
na fosseta lateral são designadas por ''inguinais in- d. O grande epíploon é uma prega peritoneal
directas" ou "oblíquas externas", as que ocorrem na principal.
fosseta média são as directas e as que ocorrem na e. A cavidade posterior dos epíploones con-
fosseta medial, muito raras, são as oblíquas inter- tém os rins.
nas. As pregas também são pontos de referência
na sua reparação, principalmente por via laparos- 2. Assinale a afirmação errada:
cópica. Existem ainda outras fossetas peritoneais, a. A cavidade peritoneal divide-se em andar
como as duodenais e cecais, que podem ser sede supramesocólico, inframesocólico e cavi-
de hérnias internas, como exemplo as deslocações dade pélvica.
do intestino para essas fossetas deixando a sua lo- b. O fígado fica no andar supramesocólico.
calização habitual. c. O mesocólon transverso separa o andar in-
framesocólico da cavidade pélvica.
d. No andar supramesocólico encontramos a
locas: gástrica, esplénica e hepática.
e. A cavidade pélvica é inframesocólica.

3. Na cavidade pélvica encontramos as seguintes


estruturas,excepto:
a. Os ligamentos cardinais do útero.
b. A fáscia retro-rectal.
11
c. A fáscia útero-vagina-rectal.
d. A fáscia de Treitz.
e. Os ligamentos úterosagrados.

6 4. Assinale a alínea correcta:


a. A goteira parieto-cólica direita fica no an-
dar suprarnesocólico
b. O espaço infra-hépatico comunica com a
goteira parieto-cólica direita através do es-
paço Morrison.
Figura 5.42: Peritoneu anterior - fossetas inguinais.
c. A loca duodenopancreática encontra-se na
1. Umbigo 2. Ligamento falciforme 3. Ligamento redondo 4. Bexiga
5. Ligamento umbilical mediano (úraco) 6. Ligamento umbilical medial cavidade peritoneal.
(artéria umbilical obliterada) 7. Ligamento umbilical lateral (pedículo d. A prega peritoneal secundária - foice da
epigástrko inferior) 8. Fosseta inguinal supra-vesical 9. Fosseta
inguinal medial 10. Fosseta inguinal lateral 11. Orifício inguinal artéria hepática fica no andar inframeso-
profundo cólico.
e. A loca renal é inframesocólica.

!g-i,!a-,!::n!a-i
:sm odso~

409
MANUAL DE ANAT OMIA HUMANA

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Rouviere, H.; Delmas, A. Anatomía Humana


Descriptiva, topográfica y fancional. 11.' ed.
Elsevier, 2005.
Van De Graaf, KM.; Fox, SI. Concepts ofHuman
Anatomy & Physiology. 5th ed. WCB/McGraw-
Hill, 1999.
Testut, L.; Latarjet, A. Tratado de anatomía
humana. 9.ª ed Salvat Editores, S.A., 1999.

Couinaud, C. SurgicalAnatomy ofthe Liver


Revisited. C. Couinaud, 1989.

***

410
6. SISTEMA URINÁRIO

RINS, URETERES, BEXIGA E URETRA e devolvendo à circulação sanguínea as substâncias


úteis ao organismo.
Apesar da acção excretora do sistema urinário ser
INTRODUÇÃO a mais reconhecida, os rins desempenham várias
outras funções, tais como a regulação da concen-
O sistema urinário é constituído por dois rins, ór- tração sanguínea de vários iões, da glucose e da
ãos complexos onde é produzida e regulada a quantidade de água eliminada, tendo assim um
g
concentraçao- da urma,
· pe1as vias
· excretoras, cons- papel fundamental na regulação do pH sanguí-
tituídas pelos cálices e bacinete, e pelas vias uriná- neo e da osmolaridade, bem como da volémia e da
rias, formadas por dois ureteres, pela bexiga e pela pressão arterial. Por outro lado, sintetizam a renina
uretra (Fig. 6.1), responsáveis pela condução, ar- que é importante no controlo da pressão arterial e
mazenamento e excreção da urina. Os ureteres são do equilibrio electrolítico, bem como a eritropoie-
tubos longos que conduzem a urina até à bexiga, tina que regula a produção dos glóbulos verme-
um reservatório onde é armazenada temporaria- lhos, e participam ainda na síntese de vitamina D
mente até ser eliminada para o exterior através da que intervém na homeostase do cálcio.
uretra, aquando da micção.
A principal função do sistema urinário consiste na
purificação do sangue pela excreção de substâncias RIM
do organismo através da produção e eliminação da
urina. Para o efeito, os rins filtram o plasma san- Os rins são órgãos pares, de coloração vermelho-
guíneo, depurando- o dos produtos de desperdício -acastanhada e de consistência dura. Têm forma

Fig. 6.1: Constituição do sistema urinário.


1. Rins 2. Ureteres 3. Bexiga 4. Uretra

411
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

1 2 -- - -
14

13 15

------------== 10
11

Fig. 6.2A/B: Forma e Localização dos rins.


1. Diafragma 2. 11 .ª Costela 3. 12.ª Costela 4. Artéria renal 5. Veia renal 6. Rim 7. Ureteres 8. Artéria aorta 9. Veia cava inferior 10. Bexiga
11. Uretra 12. Glândula suprarrenal 13. Músculo psoas-ilíaco 14. Vértebra L1 15. Crista ilíaca

Têm o tamanho aproximado de um punho fecha-


do, medindo no adulto 10-12 cm de comprimen-
to, 5-7 cm de largura e cerca de 3 cm de espessu-
ra, sendo o rim esquerdo habitualmente mais vo-
lumoso. O seu peso é de cerca de 140 g no homem
e 125 g na mulher.
Os rins localizam-se abaixo do diafragma, lateral-
mente à coluna vertebral, bem como à artéria aor-
ta e à veia cava inferior (Fig. 6.2).
Encontram-se parcialmente protegidos pela gre-
lha costal, encontrando-se o rim direito cerca de
2 meia vértebra mais abaixo do que o esquerdo devi-
do ao espaço ocupado pelo lobo direito do fígado.
Assim, a extremidade superior do rim direito está
ao nível da 12.3 vértebra torácica, enquanto que o
esquerdo está entre a 11.ª e a 12.a; a extremidade
4 3 inferior do rim direito situa-se ao nível de L3, en-
Fig. 6.2C: Forma e Localização dos rins. quanto que a do esquerdo fica entre L2 e L3. Re-
1. Gânglios celíacos 2. Gânglios aórtico-renais 3. Plexo renal 4. Cadeia pousam sobre a parede posterior do abdómen, por
paravertebral do simpático
trás do peritoneu parietal, dizendo-se por isso que
de feijão, com uma extremidade superior e uma são órgãos retroperitoneais.
inferior, um bordo lateral e um medial. São alon- O rim encontra-se relacionado com os órgãos e
gados em direcção vertical e achatados em direc- músculos vizinhos, por intermédio da cápsula adi-
ção ântero-posterior. As suas extremidades, ou po- posa que o reveste e da fáscia renal que o delimita.
los, superior e inferior não são paralelas ao plano As relações dos rins com os órgãos adjacentes di-
sagital, de tal forma que a distância que separa as ferem à direita e à esquerda (Fig. 6.3).
extremidades superiores é menor do que a que se- De facto, a artéria aorta e a veia cava inferior cor-
para os polos inferiores (Fig. 6.2). rem longitudinalmente entre os dois rins, estando

412
MANUTENÇÃO I SIST EMA URINÁRIO

4 D
11

16 17
'--- - - - 1 5 - - -~
'--- - - -- 14 _ _ __ __J

'--- - - -- - - 13 - - - - -- --'
9

Fig. 6.3A/B: Relações dos rins.


_Rim 2. Glândula suprarrenal 3. Veia cava inferior 4. Artéria aorta 5. Pâncreas 6. Bacinete 7. Ureter 8. Artéria mesentérica superior 9. Veia
1
mesentérica superior 10. Duodeno (3.• porção) 11. Projecção da 11.• costela esquerda 12. Projecção da 12.ª costela esquerda 13. Área de relação
com a aponevrose do músculo transverso do abdómen 14. Área de relação com o músculo quadrado lombar 15. Área de relação com o músculo
psoas 16. Artéria aorta 17. Veia cava inferior 18. Projecção da 12.ª costela direita

a artéria aorta mais próxima do rim esquerdo e a Relativamente às relações do segmento superior,
veia cava inferior mais próxima do direito. Por ou- uma parte da sua extremidade superior encon-
tro lado, a face anterior dos rins relaciona-se com tra-se coberta pela glândula supra-renal esquer-
numerosas estruturas contidas na cavidade abdo- da, por intermédio da lâmina inter-suprarreno-re-
minal, algumas por intermédio do peritoneu, ou- nal; a restante porção superior relaciona-se com a
tras directamente. face posterior do estômago, do qual está separa-
No que diz respeito ao rim direito, uma parte do do pela bolsa omental, e, mais lateralmente, com o
polo superior relaciona-se com a glândula supra- baço; a zona abaixo contacta directamente com a
-renal direita por intermédio da lâmina inter-su- extremidade esquerda do corpo e com a cauda do
prarreno-renal; uma parte da porção alta da face pâncreas, adiante do hilo, também retroperitoneal.
anterior está virada para o figado, do qual está se- O segmento médio relaciona-se com a porção es-
parada pelo peritoneu; medialmente está em con- querda do cólon transverso, com o ângulo cólico
tacto com a segunda porção do duodeno, que é re- esquerdo e início do cólon descendente, ao nível
troperitoneal, e com a cabeça do pâncreas na pe- do bordo lateral do rim. O segmento inferior do
quena zona situada entre a glândula supra-renal e rim, abaixo do cólon transverso e do ângulo cóli-
a segunda porção do duodeno; a extremidade in- co esquerdo encontra-se relacionado com o intes-
ferior, está em contacto com o ângulo cólico direi- tino delgado.
to, sem interposição do peritoneu; o espaço com- Cada um dos rins relaciona-se ainda com a pel-
preendido entre a face inferior do fígado, lateral- ve renal (bacinete) e ureter correspondentes, ao ní-
mente, a segunda porção do duodeno, medialmen- vel da porção inferior do bordo medial e da extre-
te, a glândula supra-renal direita, superiormente, e midade inferior do rim, estabelecendo-se a ligação
o ângulo cólico direito, inferiormente, adere inti- através do ligamento uretero-renal de Navarro.
mamente ao folheto parietal do peritoneu. Posteriormente, o rim direito relaciona-se com a
A face anterior do rim esquerdo pode ser subdivi- 12.ª costela, enquanto que o rim esquerdo se re-
dida, sob o ponto de vista das suas relações, em três laciona com as 11.ª e 12.a costelas. A face poste-
segmentos: um superior ou supra-cólico, um médio rior, quer do rim direito quer do esquerdo, está em
ou cólico, e um inferior ou infra-cólico (Fig. 6.3b). contacto com o diafragma e repousa sobre a pare-

413
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

11

11

Fig. 6.4: Revestimento do rim e meios de fixação.


1. Fascia transversalis 2. Músculos da parede abdominal lateral 3. Fáscia renal 4. Rim 5. Pernoneu 6. Veia cava inferior 7. Artéria aorta
8. Músculo psoas 9. Músculo quadrado lombar 10. Cápsula adiposa para-renal (Gerota) 11. Cápsula adiposa peri-renal

de abdominal posterior, relacionando-se, de den- guns casos atravessar a linha média para se fim-
tro para fora, com o músculo psoas maior, o mús- dir com o do lado oposto; posteriormente, o folhe-
culo quadrado lombar e o transverso do abdómen to retro-renal atapeta o músculo quadrado lombar
(Fig. 6.3b). e o músculo psoas maior, inserindo-se depois na
O rim é revestido por uma cápsula fibrosa, de te- porção ântero-lateral dos corpos vertebrais; supe-
cido conjuntivo denso, que adere fortemente à su- riormente, os folhetos anterior e posterior da fás-
perficie renal (Fig. 6.5), ajudando a manter o for- cia envolvem as glândulas supra-renais, acima das
mato do órgão servindo de barreira de protecção quais se fundem e se ligam ao diafragma e abai-
contra traumatismos e infecções. Esta cápsula é xo das quais formam a lâmina inter-suprarreno-
contínua com a túnica externa do ureter e inva- -renal que separa os rins das glândulas supra-re-
gina para o interior do rim, ao nível do hilo, onde nais (Fig. 6.4); inferiormente, os dois folhetos da
se continua com a túnica conjuntiva dos cálices e fáscia englobam os ureteres, terminando a loca re-
da pelve renal. nal na fossa hipogástrica. Exteriormente à fáscia
Exteriormente à cápsula fibrosa encontra-se uma renal ainda há uma camada de gordura, designada
camada de gordura, que constitui a cápsula adipo- de "tecido adiposo para-renal de Gerota", ou cáp-
sa (Fig. 6.4). Esta cápsula adiposa peri-renal pro- sula de Gerota (Fig. 6.4).
tege o rim, ajuda a mantê-lo no seu lugar dentro O rim é mantido na sua posição por diversos
da cavidade abdominal e serve como depósito de meios de fixação (Fig. 6.4). A extremidade supe-
energia, desempenhando um papel muito impor- rior da loca renal adere solidamente à face inferior
tante na manutenção da temperatura corporal no do diafragma, através dos seus folhetos anterior
recém-nascido. pré-renal e posterior retro-renal que se unem aci-
Mais exteriormente, encontra-se a fáscia renal, ma da glândula supra-renal. Na extremidade infe-
uma lâmina fina de tecido conjuntivo denso e ir- rior, os dois folhetos da loca renal aproximam-se e
regular, dependente do folheto parietal do perito- mantêm-se unidos por pequenas aderências sobre
neu, que forma a loca renal. Ao nível do bordo ex- as quais repousa o rim. O tecido adiposo da cáp-
terno do rim, esta fáscia desdobra-se em dois fo- sula adiposa peri-renal é especialmente desenvol-
lhetos, um anterior pré-renal e outro posterior re- vido na porção inferior do rim, formando uma es-
tro-renal, ou fáscia de Zuckerkandl (Fig. 6.4); me- pécie de almofada que mantém o rim na sua po-
dialmente, o folheto anterior passa adiante do sição. Outros meios de fixação advêm do perito-
hilo e continua-se pelo tecido conjuntivo associa- neu parietal, sobre o qual as vísceras abdominais
do aos elementos do pedículo renal, podendo nal- exercem pressão, e do pedículo vascular, formado

414
MANUTENÇÃO I SISTEMA URINÁRIO

la artéria e veia renais, apesar de se crer que te- nal". O hilo corresponde ao local de entrada e/ou
~arn urn papel p~u_co importante na manutenção saída de vasos sanguíneos, linfáticos, nervos e do
d riJ11 na sua pos1çao. bacinete. No conjunto, estas estruturas formam o
; esar deste conjunto de estruturas responsáveis pedículo renal, encontrando-se a veia renal numa
~a sua fixação, o rim pode descair da sua posição, posição anterior à artéria renal que, por sua vez, é
pe <lição designada de "ptose renal ou nefropto- anterior à pelve renal.
con
" por exemplo em situações de perda extrema de
se ,
eso como acontece na anorexia nervosa. Como
~esultado desta situação, o ureter pode dobrar ou
torcer, obstruindo o fluxo da urina e causando dor,
odendo também ser afectados os vasos renais.
ielativamente à sua configuração exterior, o rim
ap-resenta uma face anterior convexa, que se en-
contra recoberta pelo peritoneu, e uma face pos- 12
4

terior, mais plana. Os polos superior e inferior são


ambos arredondados (Fig. 6.5).

8 6

Fig. 6.6: Configuração interior do rim.


4 1. Cortex renal 2. Medula renal 3. Pirâmide renal (Malpighi) 4. Grande
10 cálice 5. Pequeno cálice 6. Coluna renal (Bertin) 7. Lobo renal
8. Cápsula renal 9. Papila renal 10. Ureter 11. Bacinete 12. Tecido
adiposo (contido no seio renal) 13. Seio renal
5

O corte frontal do rim revela duas regiões distin-


tas: o parênquima renal e o seio renal. O parênqui-
ma renal é uma zona em forma de C onde se en-
contram os nefrónios, responsáveis pela produção
8
de urina. O parênquima renal circunda um espaço
Fig. 6.5: Configuração exterior do rim. medial, designado "seio renal", ocupado pelos va-
1. Cápsula fibrosa 2. Polo superior 3. Bordo medial 4. Artéria renal
5. Veia renal 6. Bacinete 7. Ureter 8. Polo inferior 9. Face anterior sos sanguíneos e linfáticos, nervos e estruturas co-
10. Bordo lateral lectoras de urina (Fig. 6.1).
Estas estruturas são envolvidas e suportadas por
O bordo lateral é convexo, longo, e apresenta sa- tecido adiposo, contínuo com o da cápsula adipo-
liências que resultam do aspecto lobulado que o sa peri-renal. No parênquima renal distinguem-
rim tem durante o período fetal (Fig. 6.1) e que -se duas zonas: uma área superficial, com cerca de
determinam a sua divisão em lobos. O bordo me- 1 cm de espessura e aspecto granuloso, chamada
dial é côncavo, mais curto que o lateral, e está vira- "cortex renal", e uma área profunda, mais escura e
do para a coluna vertebral. de aspecto estriado, denominada "medula renal".
No centro do bordo côncavo encontra-se uma fis- A medula renal consiste em 8 a 12 estruturas de
sura vertical profunda, com 3-4 cm de compri- forma cónica, designadas de "pirâmides renais" (ou
mento e 1-1,5 cm de largura, chamada de "hilo re- de Malpighi). As pirâmides renais encontram-se

415
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

separadas por extensões de tecido cortical que for- bos (Fig. 6.6), formados por uma pirâmide renal
mam as chamadas "colunas renais (ou de Bertin)". medular, com a zona cortical adjacente. Esta con~
A base de cada pirâmide está virada para o cor- figuração em lobos é muito bem visível no feto
tex renal e o seu vértice, chamado de "papila re- (Fig. 6.1) mas vai desaparecendo com a idade.
nal", aponta para o hilo do rim. Cada uma des- O seio renal é uma cavidade com uma profundi-
sas papilas apresenta 20 a 40 orifícios com 1 a 2 dade média de cerca de 3 cm, cuja abertura corres-
mm de diâmetro, os orifícios papilares (poros uri- ponde ao hilo e as paredes são constituídas pelo
nários), que no seu conjunto formam a área cri- parênquima renal. No seio renal encontram-se
biforme. Nesta zona abrem-se grandes canais ex- umas estruturas em forma de cálice que envolvem
cretores, chamados de "tubos de Bellini ou papi- a papila renal, designadas de "cálices menores", em
lares", que transportam a urina formada. Os ca- número idêntico ao número de pirâmides. Estes
nais excretores contribuem para o aparecimen- por sua vez convergem para os cálices maiores, que
to de bandas claras, observadas no corpo da pi- existem em número de dois a quatro por rim. Dos
râmide, que alternam com bandas escuras ou vas- cálices maiores, a urina drena para a pelve renal,
culares, correspondentes à vasa recta, que no con- que deixa o rim ao nível do hilo.
junto originam o aspecto estriado da zona medu- Os rins têm que ser muito vascularizados para 0
lar do rim. A substância cortical é composta por desempenho da sua função de remoção de impu-
duas partes: o labirinto, formado pelos nefrónios, rezas do sangue e de regulação do seu volume e
e os raios medulares (ou pirâmides de Ferrein). Os composição iónica. De facto, os rins recebem 21%
raios medulares estendem-se da porção periférica do débito cardíaco apesar de só pesarem 0,4% do
do cortex até às pirâmides renais, com um trajec- peso corporal, sendo o fluxo sanguíneo renal de
to rectilineo perpendicular à cápsula, em número aproximadamente 1200 ml por minuto, passando
de cerca de 500 por cada pirâmide. Cada raio me- a totalidade do sangue de um indivíduo pelos rins
dular é formado por um tubo colector, que reco- cerca de 15 vezes por hora.
lhe o líquido produzido pelos nefrónios adjacen- O sangue provém de ramos viscerais da artéria
tes e o conduz para a pirâmide renal. O conjun- aorta abdominal, as artérias renais, direita e es-
to de um raio medular e do cortex renal adjacen- querda (Fig. 6.7), que desempenham um papel
te, labiríntico, delimitado por artérias interlobula- nutritivo e funcional.
res, forma o lóbulo renal, que constitui uma en- Estas artérias originam-se imediatamente abaixo
tidade cortical. Os lóbulos fazem parte de estru- da mesentérica superior, ao nível de Ll -L2. A ar-
turas maiores, cortico-medulares, que são os lo- téria renal esquerda tem a sua origem ligeiramen-

......... , ....

Fig. 6.7: Vascularização do rim.


1. Artéria renal 2. Veia renal 3. Artéria e veia interlobar 4. Artéria e veia arcuata 5. Artéria e veia interlobular 6. Pirâmide renal

416
MANUTENÇÃO I SISTEMA URINÁRIO

te acima da origem da artéria renal direita e um As arteríolas eferentes dividem-se para formar
crajecto horizontal, perpendicular à aorta. A arté- uma rede de capilares, chamados "capilares peri-
ria renal direita é mais longa do que a esquerda e tubulares", que circundam as porções tubulares do
passa posteriormente à veia cava inferior seguindo nefrónio, no cortex. De algumas arteríolas eferen-
urn crajecto oblíquo. tes partem longos capilares, em forma de alça, cha-
o sangue deixa o rim por meio das veias renais, es- mados "vasa recta", que suprem as partes tubulares
querda e direita, que saem pelo hilo renal em di- do nefrónio, na medula renal, que recebe apenas
recção à veia cava inferior, em posição anterior às 1-2% do fluxo sanguíneo renal.
artérias renais. A veia renal esquerda é mais longa Os capilares peritubulares reúnem-se para formar
e horizontal do que a direita e passa anteriormente as vénulas estelares que se unem às veias interlo-
à aorta abdominal e posteriormente à mesentérica bulares, que também recebem sangue proveniente
superior, podendo sofrer compressão em casos de da vasa recta. A s veias interlobulares drenam para
aneurisma de alguma destas artérias. A veia renal as veias arqueadas, que por sua vez drenam para as
direita é curta e dirige-se medialmente para cima veias interlobares e, finalmente, para as veias seg-
em direcção à veia cava inferior, à qual se junta, ra- mentares hilares, num trajecto satélite do das arté-
ramente ao mesmo nível que a homóloga direita. rias homónimas. Ao nível do seio do rim, o plano
Ao chegar ao rim, a artéria renal ramifica-se for- venoso anterior ou pré-piélico e o posterior ou re-
mando duas arborizações, uma anterior ou pré- tro-piélico confluem para a veia renal.
-piélica e uma posterior ou retro-piélica, situadas A forma como as artérias renais se dividem de-
adiante e posteriormente ao sistema pelvi-caliceal, termina diferentes segmentos renais, correspon-
respectivamente, sendo os ramos da arborização dentes a territórios vasculares independentes, sem
anterior os mais numerosos. Estes ramos dividem- anastomoses, de tal forma que a oclusão ou lesão
-se em artérias segmentares, que se ramificam nas num deles leva à isquémia e necrose do tecido cor-
artérias interlobares. As artérias interlobares en- respondente. Embora exista variabilidade no nú-
tram no parênquima, passando ao longo das colu- mero de segmentos, é comum considerar-se a
nas renais, entre as pirâmides, em direcção à jun- existência de cinco: superior, ântero-superior, ân-
ção cortico-medular. Na base das pirâmides renais, tero-inferior, inferior e posterior (Fig. 6.8).
as artérias interlobares fazem um ângulo de 90º Os segmentos encontram-se separados por planos
seguindo um trajecto entre a medula e o cortex, avasculares, as cissuras intersegmentares. Ao con-
paralelo à cápsula, constituindo as artérias arquea- trário das artérias, as veias intra-renais não apre-
das. Estas dão origem a uma série de ramos que
entram no córtex renal, com um trajecto perpen-
dicular à cápsula, que são as artérias interlobulares,
situadas entre os raios medulares (Fig. 6.7). Estas,
por sua vez, vão emitir uma série de ramos em ân-
gulo recto que constituem as arteríolas aferentes.
Cada arteríola aferente divide-se numa rede capi- , ,,"", '
2
lar enovelada chamada de "glomérulo", contido no I '
corpúsculo renal que constitui a primeira porção I
do nefrónio. Os capilares glomerulares reúnem-se ..,I
para formar a arteríola eferente, que drena o san- 3 1 5
\
gue dos glomérulos. Assim, os capilares glomeru- \ ,.
lares são únicos porque ficam entre duas arteríolas, J.,,,'
constituindo um sistema porta arterial. A vasodi-
latação e vasoconstrição coordenadas das arterío-
las aferentes e eferentes regulam o fluxo sanguíneo
renal, desempenhando um papel fundamental na Fig. 6.8: Segmentos renais.
filtração do sangue. A Vista anterior B. Vista posterior 1. Superior 2. Ântero-superior
3. Ântero--inferior 4. Inferior 5. Posterior

417
M ANUAL DE ANATOMIA HUMANA

sentam um modelo segmentar, existindo anasto- O plexo nervoso renal tem origem nos gânglio
moses livres entre os seus ramos. aórtico-renais, constituintes do plexo celíaco, i·un-s
O sistema de drenagem linfática renal é abundan- tamente com os gânglios celíacos e os glânglios
te e permite retornar ao sangue as proteínas reab- mesentéricos superiores, que recebem os nervos
sorvidas no rim. Estima-se que o volume de linfa esplâncnicos (Fig. 6.2). Os gânglios aórtico-renais
drenada a partir do rim seja de aproximadamen- em número de dois, situam-se anteriormente à co~
te 0,5 ml/minuto, valor próximo do volume uri- luna vertebral, interpostos entre o tronco simpá-
nário. A drenagem linfática faz-se, quer a partir da tico e o rim, ao nível da origem das artérias re-
cápsula renal e dos tecidos peri-renais, por linfáti- nais. O plexo nervoso renal consiste numa rede de
cos superficiais, quer a partir do parênquima renal, nervos dispostos em torno das artérias renais, que
por linfáticos profundos. Os vasos linfáticos su- entram no rim pelo hilo e que seguem os ramos
perficiais terminam nos gânglios linfáticos abdo- das artérias renais. Consistem sobretudo em fibras
mino-aórticos localizados entre a origem das arté- pós-ganglionares simpáticas que inervam os vários
rias renais e da artéria mesentérica inferior. Os va- componentes do nefrónio, para além das arterío-
sos linfáticos profundos originam-se no parênqui- las aferentes e eferentes, controlando o fluxo san-
ma e dirigem-se para o seio renal, acompanhan- guíneo no glomérulo, regulando a taxa de filtra-
do os vasos sanguíneos ao longo do seu percur- ção e de formação da urina, bem como a pressão
so, confluindo para troncos linfáticos que saem do sanguínea. A sensibilidade dolorosa é transmitida
rim pelo hilo. Estes, organizam-se em três grupos: por fibras aferentes, através dos nervos esplâncni-
os vasos linfáticos anteriores, médios e posteriores, cos. A inervação parassimpática resulta do nervo
consoante se localizam anteriormente, entre, ou vago, através de um dos ramos do plexo celíaco,
posteriormente aos vasos renais, respectivamente. cuja função no rim não é conhecida.
Os vasos linfáticos profundos terminam nos gân- As unidades morfo-funcionais do rim são os ne-
glios linfáticos abdomino-aórticos situados ao ní- frónios. Estes são estruturas microscópicas em nú-
vel do pedículo renal (Fig. 6.9). mero de 1 a 2 milhões por rim. Nos nefrónios dá-
O rim é inervado pelo plexo nervoso renal, que -se a filtração do sangue, bem como a reabsorção
inclui tanto inervação simpática como parassim- de substâncias úteis ao organismo e a excreção de
pática. substâncias desnecessárias, de que resulta a forma-
ção de 1 a 2 L de urina por dia.
2
Cada nefrónio (Fig. 6.10) é constituído por duas
partes com origens embriológicas distintas: o cor-
púsculo renal, onde ocorre a filtração do sangue, e
o túbulo renal, ao longo do qual ocorrem os pro-
cessos de reabsorção e de secreção.
O corpúsculo renal (ou de Malpighi) apresenta
uma forma esférica, com 0,2 a 0,3 mm de diâ-
metro, e é formado pelo glomérulo de Malpighi
e pela cápsula de Bowman que o reveste. A par-
te tubular do nefrónio é longa, com cerca de 3 cm
de comprimento, e nela distinguem-se três por-
ções: o túbulo contornado proximal, a ansa de
H enle e o túbulo contornado distal, que apresen-
tam características particulares, de acordo com o
seu papel.
O corpúsculo renal e ambos os túbulos contorna-
dos situam-se no cortex, enquanto que a ansa de
Fig. 6.9: Linfáticos do rim.
Henle se estende até à medula, faz uma volta em
1. Veia cava inferior 2. Artéria aorta 3. Glândula suprarrenal 4. Rim U, e retorna à região cortical do rim. Os túbulos
5. Veia renal 6. Gânglios linfáticos abdomino•aórticos

418
MANUTENÇÃO I SISTEMA URJNÁRIO

As arteríolas eferentes dos nefrónios corticais ori-


ginam a rede capilar peritubular, que se encontra
na zona cortical do rim, desempenhando um pa-
pel importante no retorno à circulação da água e
dos solutos reabsorvidos pelos túbulos contorna-
dos proximais e distais. As arteríolas eferentes dos
nefrónios justamedulares dão origem à vasa recta,
vasos capilares para os quais é recuperada a água
12
e os solutos reabsorvidos pelas porções medulares
do nefrónio, entre as quais se dispõem.
Os tubos colectores recebem o fluido provenien-
te dos túbulos contornados distais de vários ne-
frónios e conduzem-no para a papila renal (Fig.
6.10). Ao longo do seu trajecto rectilíneo vão pro-
gressivamente aumentando de tamanho e, próxi-
mo da papila, convergem para os canais curtos e
de maior calibre, os tubos papilares ou de Bellini.
Os tubos colectores de menor calibre têm um diâ-
8
metro de aproximadamente 40 µm, enquanto que
Fig. 6.1 O: Nefrónio: unidade funciona) do rim. os canais de Bellini apresentam um diâmetro de
1. Tubo contornado proximal 2. Corpúsculo renal (Malpighij 3. Artéria
cerca de 200 µm e uma parede mais espessa. Ao
interlobular 4. Glomérulo de Malpighi 5. Cápsula de Bowman
6. Cortex renal 7. Medula renal 8. Poros urinários 9. Tubo colector longo desta porção tubular dá-se o ajuste final da
10. Ramo descendente fino da ansa de Henle 11. Ramo ascendente
composição e concentração da urina, que deter-
fino da ansa de Henle 12. Ramo ascendente grosso da ansa de H enle
13. Tubo contornado distal minam o seu pH e osmolaridade. Estes tubos são
influenciados por péptidos natriuréticos, que pro-
contornados distais de diversos nefrónios desem- movem a excreção de sódio, e pela hormona anti-
bocam num mesmo tubo colector, última porção diurética, que promove a retenção de água.
do túbulo renal que já não faz parte do nefrónio.
Os tubos colectores unem-se e convergem para os
grandes tubos de Bellini ou papilares que drenam VIAS EXCRETORAS DO RIM
para os cálices menores. Assim, dos 4000 a 6000
tubos colectores abrem-se na área cribiforme da As vias excretoras do rim são responsáveis pela
papila renal 20 a 40 canais de Bellini. O trajecto condução da urina formada pelos rins até ao ure-
rectilíneo e radial dos tubos colectores dá origem ter. Têm início ao nível do seio renal com os cáli-
aos raios medulares visíveis no cortex e às estrias ces menores, que recebem a urina dos tubos papi-
claras das pirâmides renais, para as quais também lares. Estes unem-se para formar os cálices maio-
contribuem os canais de Bellini. res que convergem para formar a pelve renal (Fig.
Cerca de 80-85% dos nefrónios são chamados 6.6).
"nefrónios corticais" pelo facto de os seus corpús-
culos se situarem na parte superficial do cortex
e as suas ansas de H enle, curtas, se encontrarem CÁLICES
principalmente no cortex, penetrando apenas na
região mais superficial da medula. O s outros 15- Os cálices menores são formações membranosas
20% dos nefrónios são chamados "nefrónios jus- com cerca de 1 cm de comprimento e 5 mm de
tarnedulares", pois os seus corpúsculos situam-se diâmetro que se inserem no colo das pirâmides re-
profundamente no cortex, próximo da medula, e nais, retraindo-se depois, em forma de funil. São
as suas ansas são longas e estendem-se até à região em número igual ao das pirâmides e reunem-se
mais profunda da medula. em grupos de dois a quatro para formar os cálices

419
MANUAL DE ANAT OMIA HUMANA

maiores. Distinguem-se com frequência três cáli- vendo alterações da composição da urina ao lo
ces maiores, um superior, um médio e um inferior. n-
go destas vias.

PELVE RENAL OU BACINETE URETER

A pelve renal tem a forma de um funil membra- O ureter é um longo canal par e simétrico que se
noso com uma base supero-lateral, formado pela estende da pelve renal até à bexiga, posteriormente
união dos grandes cálices, e um vértice infero-me- ao peritoneu parietal posterior, sendo por isso urn
dial, que se vai continuar com a porção inicial do órgão retroperitoneal, tal como o rim.
ureter (Fig. 6.6). É achatado no sentido ãntero- O ureter apresenta uma coloração branco-rosada e
-posterior e tem, em média, 2 a 3 cm de altura e 2 uma consistência semelhante à de uma veia exan-
cm de largura. gue, mas de parede mais espessa, o que permite a
Cerca de metade da pelve renal encontra-se no in- sua identificação por palpação.
terior do seio do rim, envolvido pelo tecido adipo- O ureter mede cerca de 30 cm de comprimento,
so, enquanto que a outra metade é extra-renal e si- sendo maior no homem do que na mulher e o di-
tua-se na parte posterior do pedículo renal. A pri- reito um pouco mais curto que o esquerdo como
meira corresponde à parte intra-sinusal da pelve resultado do abaixamento do rim corresponden-
renal e a segunda à parte extra-sinusal. te (Fig. 6.11).
Relaciona-se, anteriormente, com a artéria e veia É um tubo estreito, de parede espessa, achatado da
pré-piélicas; através do folheto anterior da fás- frente para trás quando vazio. O diâmetro do ure-
cia renal, relaciona-se com a segunda porção do ter é bastante homogéneo ao longo do seu com-
duodeno, à direita, e com a face posterior da cau- primento, ainda que existam zonas onde se encon-
da do pâncreas, com o ângulo duodeno-jejunal, o
músculo de Treitz e o segmento inicial do jejuno,
à esquerda (Fig. 6.3). Posteriormente, relaciona-
-se com a artéria e veia retro-piélicas e, por inter-
médio da fáscia retro-renal, com o músculo psoas
maior.
As vias excretoras do rim apresentam essencial-
mente a mesma estrutura básica, caracterizada
por um revestimento epitelial assente numa lâ-
mina própria de tecido conjuntivo e uma parede
muscular responsável pelos movimentos peristálti-
cos que promovem a condução da urina. Externa-
mente encontra-se um revestimento com uma ca-
mada de tecido conjuntivo, contínua com a cápsu-
la fibrosa do rim e com os órgãos adjacentes, que
constitui a túnica adventícia.

3
VIAS URINÁRIAS 6

As vias urinárias são constituídas pelos ureteres,


que recebem a urina da parte extra-sinusal da pel- 7
ve renal, pela bexiga, responsável pelo seu arma-
Fig. 6.11: Trajecto, segmentos e apertos do ureter.
zenamento temporário, e pela uretra que a con- 1. Aperto do colo do uréter 2. Aperto ilíaco 3. Aperto vesical
duz para o exterior aquando da micção, não ha- 4. Segmento lombar 5. Segmento ilíaco 6. Segmento pélvico
7. Segmento intravesical

420
MANUTENÇÃO I SISTEMA URINÁRIO

tre diminuido, variando entre os 3 e os 5 mm. Tem trajecto oblíquo, para baixo e para dentro. Ao lon-
sido descrito um primeiro estreitamento próximo go deste percurso, os ureteres aproximam-se um
da sua origem - o aperto do colo do ureter. Qyan- do outro, de tal forma que a distância que os sepa-
do este cruza os vasos ilíacos, à entrada da cavida- ra diminui de 7-8 cm na sua origem para cerca de
de pélvica, encontra-se uma segunda constrição - 5 cm na sua união com a bexiga.
0 aperto ilíaco - e ao atravessar a parede da bexiga Ao longo do seu trajecto entre a pelve renal e a be-
encontra-se a terceira constrição, correspondendo xiga, os ureteres percorrem a cavidade abdominal
ao aperto vesical (Fig. 6.11). E stas constrições re- e entram na pélvica, considerando-se a existência
vestem-se de importância clínica, dada a dificul- de 4 segmentos: lombar, ilíaco, pélvico e intramu-
dade na passagem de cálculos renais através dos ral, de acordo com as regiões que atravessa suces-
pontos de menor calibre das vias urinárias. sivamente. O ureter apresenta relações diferentes
O ureter está situado numa espécie de bainha, que à esquerda e à direita, tal como os rins (Fig. 6.3),
delimita a loca ureteral, mais larga na extremida- e entre os sexos masculino e feminino (Fig. 6.12).
de superior do que na inferior. A loca ureteral é O segmento lombar tem início na junção da pel-
formada por uma bainha fibrosa, periférica, e mais ve renal com o ureter, ao nível de L2 e localiza-
medialmente por uma bainha de tecido conjunti- -se posteriormente ao peritoneu parietal. Relacio-
vo vascularizado e contendo tecido adiposo, con- na-se, atrás, com a fáscia ilíaca, com os músculos
tínuo com o da cápsula adiposa peri-renal. A bai- psoas maior e psoas menor, e com o vértice das
nha fibrosa resulta do prolongamento para bai- apófises transversas das últimas três ou quatro vér-
xo do folheto anterior pré-renal e do folheto pos- tebras lombares. Relaciona-se também, posterior-
terior retro-renal da fáscia renal, havendo conti- mente, com o nervo genito-crural, que o cruza de
nuidade entre a loca renal e a loca ureteral ao ní- cima para baixo e de dentro para fora, o que deter-
vel do hilo do rim. Ao nível do pólo inferior do mina as dores que irradiam aos testículos ou gran-
rim os dois folhetos da fáscia renal encontram- se des lábios nas cólicas renais. Relaciona-se, adian-
unidos ao ureter por intermédio de feixes fibrosos, te, com a artéria e veias renais e, mediaimente, com
que constituem o ligamento uretero- renal de Na- os grandes vasos, encontrando-se o ureter direito
varro; em baixo, a loca ureteral abre-se no tecido mais próximo da veia cava inferior e o esquerdo
célulo-adiposo perivesical. Em toda a extensão, a da aorta. Lateralmente, o ureter relaciona-se com
loca ureteral está unida, adiante, ao peritoneu pa- parte sub-bilar do bordo medial do rim corres-
rietal posterior. O ureter encontra-se também fixo, pondente, ao qual está ligado pelo ligamento ure-
superiormente, pela sua continuidade com a pel- tero-renal de Navarro. O ureter direito relaciona-
ve renal e pelos pediculos vasculo-nervosos ure- -se, adiante, com a parte descendente do duode-
téricos superiores. Inferiormente, encontra-se fixo no, com a fáscia de Treitz e com o mesocólon as-
pela sua continuidade com a bexiga e pelos pedi- cendente, e, lateralmente, com o cólon ascenden-
culos vasculo-nervosos uretéricos inferiores. Ape- te. Já o ureter esquerdo relaciona-se, medialmen-
sar destes meios de fixação, o ureter apresenta al- te, com a 4.• porção do duodeno, adiante, com o
guma mobilidade, podendo ser facilmente deslo- mesocólon descendente e lateralmente com o có-
cado em manobras cirúrgicas. lon descendente.
Em virtude do seu trajecto, o ureter descreve várias O segmento ilíaco é a w na de passagem em direc-
curvaturas, tanto no plano frontal como no sagital. ção à escavação pélvica, em que o ureter cruza os
Na sua porção inicial, os ureteres apresentam um vasos ilíacos. O cruzamento dos vasos ilíacos cor-
trajecto aproximadamente vertical, apoiados sobre responde ao ponto em que o ureter mais se apro-
a parede abdominal posterior. Ao nível do estrei- xima da parede abdominal anterior, designado de
to superior da bacia cruzam os vasos ilíacos e pe- "ponto ureteral", situado na união do terço exter-
netram na bacia, aplicados sobre a parede pélvica. no com o terço médio da linha que passa entre as
Um pouco acima da espinha isquiática, inflectem espinhas ilíacas ântero-superiores. Geralmente, e
para a frente e para baixo aproximando-se da be- devido à posição mais baixa do rim direito, o ure-
xiga. Na sua união com a bexiga, apresentam um ter direito passa adiante da artéria ilíaca externa

421
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

11
6
9

Fig. 6.12A: Localização e relações do ureter, bexiga e uretra: Corte Fig. 6.1 2B: Localização e relações do ureter, bexiga e uretra: Corte
sagital no sexo masculino. sagital no sexo feminino.
1. Peritoneu 2. Fundo de saco vesico-rectal (Douglas) 3. Recto 1. Ovário 2. Trompa de Falópio 3. Recto 4. Vagina 5. Orifício
4. Vesícula seminal 5. Orifício interno da uretra 6. Uretra prostática externo da uretra 6. Uretra perineal 7. Esfíncter externo da uretra
7. Uretra membranosa 8. Glândula bulbo-uretral (Cowper) 9. Orif ício 8. Uretra pélvica 9. Púbis 10. O rifício interno da uretra 11. Bexiga
externo da uretra 10. Uretra esponjosa (peniana) 11 . Próstata 12. Peritoneu 13. Útero ·
12. Esfíncterexterno da uretra 13. Púbis 14. Bexiga

direita, cerca de 1,5 cm abaixo da sua origem, en- dirige-se para diante e para dentro, em direcção à
quanto o ureter esquerdo passa à frente da artéria bexiga, caminhando na maior parte do trajecto no
ilíaca comum esquerda, cerca de 1,5 cm acima da tecido célulo-adiposo perivesical. Esta porção está
sua bifurcação. No entanto, podem ocorrer varia- compreendida entre o peritoneu, superiormente, e
ções em função da altura a que ocorre a bifurca- o pavimento pélvico, inferiormente. No homem,
ção na artéria ilíaca comum. Adiante, o ureter di- situa-se entre a face posterior da bexiga e a face
reito é cruzado pelo mesentério e o ureter esquer- ântero-lateral do recto, cruza o canal deferente e
do está coberto pelo peritoneu parietal posterior penetra na bexiga próximo do fundo da vesícula
e pelo mesocólon sigmóide. Lateralmente, o ure- seminal. Na mulher, atravessa a base do ligamento
ter direito relaciona-se com o cego e com o apên- largo do útero, passa lateralmente ao colo uterino,
dice cecal, e respectivos mesos, e o ureter esquerdo em íntima relação com a artéria uterina, alcança a
com a porção ilíaca do cólon descendente e com o face anterior da vagina e, após um trajecto de cerca
cólon sigmóide e respectivo meso. Posteriormente, de 1 cm, penetra na parede da bexiga.
os ureteres relacionam- se com as articulações sa- O segmento intravesical corresponde à parte do
cro-ilíacas e com as asas do sacro. ureter que penetra na bexiga, pela sua porção pos-
O segmento pélvico encontra-se na escavação pél- terior e inferior, distando cerca de 5 cm um do
vica, no interior do tecido célulo-adiposo subperi- outro. Este segmento apresenta um curto trajec-
toneal. Dirige-se para baixo e depois para diante to através da parede da bexiga, com 1-1,5 cm de
e para baixo, correspondendo, respectivamente, à comprimento. Neste trajecto, o ureter dirige-se
porção descendente e à porção transversal. A por- para a frente, para baixo e para dentro e termina
ção descendente estende-se até à altura da espinha abrindo-se nos ângulos laterais do trígono vesical
isquiática, ao longo da parede lateral da escavação (de Lieutaud), por meio dos orifícios ou meatos
pélvica, aderente ao peritoneu parietal e com uma uretéricos, elípticos, que se encontram separados
íntima relação com os vasos hipogástricos. Apre- um do outro cerca de 2-3 cm. Embora não exista
senta relações diferentes no homem e na mulher. uma válvula anatómica na abertura de cada ureter
Na mulher, relaciona-se à frente com o ovário e na bexiga, há uma prega na camada mucosa que se
com o pavilhão da trompa. A porção transversal comprime pelo conteúdo da bexiga, funcionando

422
MANUTENÇÃO I SISTEMA URINÁRIO

c~: 0
urna válvula fisiológica, a válvula do ureter,
impede o fluxo retrógrado da urina. As rela-
q_ s do segmento intramural do ureter são seme-
çoe
músculo-membranoso, ímpar e mediano, caracte-
rizado por uma grande capacidade de distensão.
A bexiga apresenta variações na forma e dimen-
]hantes nos dois sexos. sões que dependem da quantidade de urina que
O ureter apresenta a mesma estrutura básica das contém, do sexo e da idade.
vias excretoras do rim, com uma túnica mucosa, Vazia, tem a forma de um prisma triangular, acha-
rofundamente, seguida duma túnica muscular e, tado de cima para baixo. Na bexiga vazia a super-
mais superfio·a1mente, uma turuca
p , . advent1c1a.
,· fície interior encontra-se disposta em pregas irre-
A nínica mucosa é constituída por epitélio de gulares, enquanto que quando distendida a parede
transição, resistente ao contacto com a urina, as- torna-se mais delgada e lisa e assume uma forma
sente numa lâmina própria de tecido conjuntivo. ovóide, globosa (Fig. 6.13).
É uma camada fina que se continua pela mucosa As dimensões da bexiga são de cerca de 5 a 8 cm
vesical, dando lugar à formação da válvula do ure- no sentido ântero-posterior e de 7 a 9 cm trans-
ter. A túnica muscular é formada por tecido mus- versalmente, consoante se encontra vazia ou dis-
cular liso, responsável pela condução da urina até tendida, respectivamente. Na mulher a bexiga é
à bexiga. A túnica adventícia é formada por tecido sensivelmente mais larga do que no homem e no
conjuntivo contínuo com o da cápsula fibrosa do recém-nascido é alongada de cima para baixo.
rim, superiormente, e com o tecido conjuntivo que A capacidade anatómica da bexiga é variável, po-
envolve a bexiga, inferiormente. dendo ir até 2-3 litros no adulto vivo, se a reple-
O ureter é irrigado por ramos ureterais com dife- ção se produzir lentamente. No entanto, a capaci-
rentes origens: a parte alta recebe ramos da artéria dade fisiológica, que corresponde à quantidade de
renal; a parte média, das artérias testicular ou ová- urina na bexiga que torna consciente a necessida-
rica, da artéria ilíaca comum e mesmo da aorta ab- de de urinar, é inferior, variando entre os 150 e os
dominal; a parte inferior recebe ramos da artéria 500 mi, com o valor médio de 300 mi.
vesical, e do canal deferente no homem e da arté- No adulto, a bexiga encontra-se completamen-
ria uterina na mulher. te situada na cavidade pélvica quando vazia, pro-
A drenagem venosa é feita por tributários das jectando- se para o abdomen quando distendi-
veias ilíacas internas, das veias ováricas ou testicu- da, podendo mesmo chegar a atingir o umbigo
lares, e das veias renais. (Fig. 6.13). No recém-nascido a bexiga encontra-
A linfa do ureter é recolhida pelos gânglios linfá- -se na cavidade abdominal, sobrepondo-se sem-
ticos abdomino-aórticos, ilíacos comuns, hipogás- pre à sínfise púbica, devido à estreiteza da pél-
tricos e ilíacos externos. vis. À medida que avança a idade, a bexiga afi.m-
A inervação acompanha as artérias e provém dos da-se na cavidade pélvica ao mesmo tempo que
plexos renal, aórtico-abdominal e hipogástrico su- se alonga o úraco, um cordão fibro-muscular re-
perior e inferior. As fibras eferentes viscerais in- sultante da contracção e obliteração do alantóide
cluem inervação simpática e parassimpática. As fi- durante o desenvolvimento embrionário que liga
bras aferentes viscerais dirigem-se para a região a bexiga ao umbigo.
Tll a L2 da medula espinhal, pelo que a dor do A bexiga localiza-se posteriormente ao púbis e à
ureter, em geral relacionada com a sua distensão, é sínfise púbica, inferiormente ao peritoneu e aci-
referida para áreas cutâneas supridas pelos nervos ma do pavimento pélvico. Situa-se anteriormen-
espinhais de Tl 1 a L2. te às vesículas seminais e ao recto e superiormente
à próstata, no homem, e à frente da vagina e abai-
xo do útero, na mulher. A localização da bexiga na
BEXIGA mulher é mais baixa e anterior do que no homem,
estando mais próxima do pavimento pélvico, de-
A bexiga é uma víscera oca onde se acumula a uri- vido à inexistência da próstata, à pressão exercida
na produzida pelos rins e transportada pelos ure- pelo útero e à configuração da grande bacia femi-
teres, nos intervalos entre as micções. É um órgão nina (Fig. 6.12).

423
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

separa a bexiga da vagina na mulher, e pela a


. . po-
nevrose prostato-pentoneal de Denonvilliers q
' Ue
se estende entre o fundo de saco vesico-recta} e
aponevrose pélvica ou perineal profunda no h ª
3 o-
rnem. Estes contribuem para a formação do es-
paço retrovesical, que é menos extenso do que
0
espaço pré-vesical. Inferiormente, encontram-se
os ligamentos pubo-vesicais, dois cordões fibro-
sos e musculares lisos que se estendem anterior-
mente, desde o colo da bexiga à parte póstero-in-
4
ferior de cada osso púbico e da sínfise púbica, num
plano sagital. Posteriormente a estes encontram-
-se, no homem, a lâmina inter-vesico-prostática e
a aponevrose prostato-peritoneal de Denonvilliers
e, na mulher, o septo vesico-vaginal. Lateralmen-
te, a loca vesical é delimitada pelas lâminas sacro-
-recto-génito-púbicas, que se estendem do sacro
ao púbis. A loca vesical encontra-se separada das
paredes da bacia pelo espaço perivesical constituí-
do por tecido conjuntivo laxo e adiposo.
6
As características e relações da bexiga variam em
função do seu estado de distensão e com o sexo.
Na bexiga vazia distingue-se uma face superior,
uma face ântero-inferior e uma face póstero-in-
Fig. 6.13: Forma, capacidade e localização da bexiga vazia e cheia. ferior ou base, dois bordos laterais que separam a
1. Fundo de saco anterior (pré-vesical) 2. Peritoneu 3. Bexiga vazia face superior da ântero-lateral, um bordo poste-
4. Púbis 5. Bexiga cheia 6. Úraco
rior que separa a face superior da face póstero-in-
ferior, e um vértice.
A bexiga situa-se num compartimento de natu- A face superior é triangular, sendo o vértice ante-
reza fibro-serosa, a loca vesical, onde se encontra rior e os lados constituídos pelos bordos laterais e
também o úraco, a porção terminal dos ureteres e, posterior. Esta face é atapetada em toda a sua ex-
na mulher, a porção inicial da uretra. A loca vesi- tensão pelo peritoneu (Fig. 6.13). Por intermédio
cal encontra-se separada do púbis e da sínfise pú- do peritoneu, a face superior da bexiga relaciona-
bica pelo espaço pré-vesical anterior ou cavidade -se com as ansas intestinais e o cólon íleo-pélvi-
de Retzius, formado por tecido conjuntivo laxo e co, e na mulher com o útero e os ligamentos lar-
gordura, e delimitado pela fáscia umbílico-préve- gos (Fig. 6.12).
sical que se estende até ao umbigo. Superiormente A face ântero-inferior é triangular, convexa, e está
é revestida pelo peritoneu, que se estende da pare- orientada para diante, para fora e para baixo. Esta
de anterior do abdomen e reflecte sobre a face su- face relaciona-se com o corpo do púbis e a sínfise
perior da bexiga formando, em ambos os sexos, o púbica e com os músculos obturador interno e le-
fundo de saco anterior pré-vesical. Posteriormen- vantador do ânus.
te, o peritoneu reflecte-se sobre o recto formando A face póstero-inferior ou base da bexiga está
o fundo de saco vesico-rectal de Douglas que se- orientada para trás e para baixo. É também trian-
para a bexiga do recto no homem, e sobre o útero gular, correspondendo o seu vértice ao orifício ve-
formando o fundo de saco vesico-uterino que se- sical da uretra, no ângulo ântero-inferior, e cor-
para a bexiga do útero na mulher. A parede pos- respondendo a base ao bordo posterior da bexi-
terior da loca vesical é formada pelo septo vesi- ga, contendo os orifícios uretéricos nos dois ângu-
co-vaginal, uma lâmina de tecido conjuntivo que los póstero-laterais. As relações desta face diferem

424
MANUTENÇÃO I SISTEMA URINÁRIO

00
homem e na mulher. No homem, relaciona-se, A face póstero-inferior está unida ao pavimento
à frente e em baixo, com a próstata e, atrás, com as pélvico pela próstata e pela uretra membranosa,
"esículas serninais, as ampolas dos canais deferen- no homem, e pela uretra pélvica, na mulher. Este
tes e com os ureteres que se insinuam entre a pare- meio de fixação assume grande importância, pois
de da bexiga e as vesículas serninais. Na mulher, o uma insuficiência no pavimento pélvico, nas mul-
terço superior encontra-se relacionado com o colo típaras, pode originar hérnias da bexiga.
do útero e a restante extensão com a vagina. A bexiga, examinada pela sua face interior, apre-
Os bordos laterais da bexiga são ladeados pelas ar- senta uma mucosa lisa e rosada no jovem e um as-
térias umbilicais. O peritoneu, que reveste a face pecto alveolar ou com saliências entrecruzadas no
superior, reflecte-se ao longo destes bordos sobre adulto, devido a hipertrofia das fibras musculares.
a parede lateral da pélvis, continuando-se na mu- Com a idade os fascículos musculares desenvol-
lher, mais atrás, com o folheto anterior dos liga- vem-se cada vez mais, originando a bexiga em co-
mentos largos. O bordo posterior faz uma pre- lunas no idoso.
ga transversal que constitui o rebordo anterior do A superfície interior da bexiga apresenta várias
fundo de saco vesico-rectal, no homem, e vesico- wnas: o trígono, o colo, o corpo e o fundo (Fig.
-uterino, na mulher. Esta prega transversal prolon- 6.14).
ga-se pelas pregas uretero-vesicais, que contêm a Na face póstero-inferior ou base da bexiga en-
porção vesical dos ureteres, bem demarcadas no contra-se uma pequena área triangular, de apa-
homem. O vértice, anterior, situa-se acima da sín- rência lisa, que funciona como um funil que con-
fise púbica e continua-se pelo úraco. duz a urina para a uretra quando a bexiga se con-
Qyando a bexiga enche, toda a sua parede se dis- trai. Esta zona é chamada de "trígono vesical (de
tende, modificando-se as respectivas relações. Lieutaud)", correspondendo os seus vértices aos
Contudo, a parede superior distende-se mais ra- dois orifícios uretéricos, póstero-laterais, e ao orí-
pidamente do que a parede ântero-inferior e a be- ficio uretra!, ântero-inferior. A base deste trígo-
xiga dilata-se sobretudo para cima e para trás, de- no apresenta uma prega que se estende dum ori-
saparecendo os bordos laterais. O fundo de saco fício uretérico ao outro, a prega interuretérica, que
anterior pré-vesical torna-se tanto mais profundo mede 2 a 3 cm de comprimento. Os orifícios ure-
quanto maior for a dilatação da bexiga e o ponto téricos têm forma elíptica, com cerca de 4 mm no
de implantação do úraco torna-se superior à sín-
fise púbica.
9
A bexiga é mantida na sua posição graças à sua
continuidade com os ureteres e com a uretra, ao
pavimento pélvico e a pregas do peritoneu que a
ligam aos ossos púbicos e aos órgãos vizinhos.
A face superior e os bordos laterais são revestidos
pelo peritoneu que liga a bexiga, adiante, à parede
abdominal anterior e, lateralmente, às paredes la-
terais da bacia, e fixa a bexiga ao recto, no homem,
e ao útero, na mulher. O vértice encontra-se ligado
ao umbigo, na linha mediana, pelo úraco ou cor-
dão umbilical mediano. Lateralmente encontram-
-se dois cordões fibrosos, que representam as por-
ções atrofiadas das artérias umbilicais do feto que
se fundem com o úraco próximo do umbigo.
A face ântero-inferior encontra-se ligada, ao ní-
Fig. 6.14: Configuração interior e constituição da bexiga: Bexiga
vel do colo da bexiga, à parte póstero-inferior dos
feminina em corte frontal.
ossos púbicos e da sínfise púbica pelos ligamentos 1. Peritoneu (serosa) 2. Camada adventícia 3. Camada muscular 4.
pubo-vesicais. Camada mucosa 5. Colo 6. Trígono vesical (Lieutauc:f) 7. Orifícios de
abertura dos uréteres 8. Prega interuretérica 9. Fundo

425
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

seu maior eixo, que se encontra dirigido obliqua- gião do trígono, as fibras musculares que se esten-
mente para baixo e para dentro. dem entre os orificios uretéricos originam a prega
O colo vesical é a porção mais inferior da bexiga e a interuretérica. Em torno da abertura da uretra, no
porção mais fixa. O colo vesical corresponde ao ori- colo da bexiga, a camada muscular apresenta carac-
ficio uretral, que se encontra a uma distância de 2-3 terísticas distintas das do músculo detrusor: as fi-
cm dos orificios uretéricos, para baixo e para dian- bras circulares apresentam um espessamento, con-
te. O orificio uretral tem uma forma circular nojo- tribuindo para a formação do esfincter liso da ure-
vem e apresenta-se como uma fenda transversal no tra, também referido como esfincter liso do colo da
adulto. Pode apresentar uma elevação arredondada bexiga, esfincter interno da uretra ou músculo es-
na parte posterior, designada de "úvula vesical". fincter vesical. Este esfincter, de controlo involun-
O corpo é a porção da face póstero-inferior da tário, assegura a oclusão do orificio uretral da bexi-
bexiga situada para trás da prega interuretérica. ga, permitindo que a urina se acumule na bexiga e
O fundo vesical representa a restante porção (su- impedindo que haja passagem do líquido espermá-
perior) da superficie interior da bexiga. tico para a bexiga aquando da ejaculação.
A bexiga é caracterizada pela variabilidade na es- Mais lateralmente, as paredes da bexiga estão re-
pessura da sua parede, da ordem dos 8 a 15 mm vestidas, na face superior, por uma túnica serosa
quando vazia e dos 3 a 4 mm quando cheia. Es- de origem peritoneal e, nas restantes porções, por
truturalmente, é formada por três túnicas que, de uma adventícia de tecido conjuntivo que estabele-
dentro para fora, são: a túnica mucosa, a túni- ce a ligação aos órgãos vizinhos.
ca muscular e a túnica serosa ou adventícia (Fig. A vascularização da bexiga é feita por artérias vesi-
6.14). cais com origem na artéria hipogástrica e por veias
A túnica mucosa apresenta uma coloração rosada que terminam na veia hipogástrica, directa ou in-
no vivo e branco-amarelada no cadáver. É formada directamente.
por um epitélio de transição apoiado numa lâmina As artérias vesicais superiores, ramos da parte per-
própria de tecido coajuntivo, podendo ser consi- meável da artéria umbilical, em número de duas
derada a existência de uma submucosa. A mucosa ou três, irrigam a face superior da bexiga. As arté-
forma pregas ou rugas que desaparecem à medida rias vesicais inferiores, ramos da artéria hipogás-
que a bexiga enche, com excepção da zona do trí- trica, irrigam a face póstero-inferior da bexiga. As
gono em que se mantém sempre lisa. Na zona de artérias vesicais anteriores, com origem na artéria
abertura dos ureteres as pregas da mucosa actuam bulbar, ramo da pudenda interna, irrigam a face
como válvulas que impedem o refluxo da urina em ântero-inferior da bexiga. Contribuem ainda para
direcção aos rins à medida que a bexiga se enche a vascularização da bexiga ramos vesicais das arté-
de urina. rias rectal média, prostática e vesículo-deferencial
A túnica muscular, formada por uma espessa ca- no homem, e das artérias uterina e vaginal na mu-
mada de fibras musculares lisas, forma o múscu- lher. As diferentes artérias anastomosam-se entre
lo detrusor que tem como função expulsar a urina si constituindo a rede anastomótica perivesical que
acumulada na bexiga aquando da micção. As fibras origina vasos que atravessam a túnica muscular e
musculares estão organizadas em três camadas: vão formar a rede submucosa.
mais profundamente, as fibras encontram-se dis- As veias da bexiga encontram-se dispostas em três
postas longitudinalmente, ao longo do eixo vertical redes, de acordo com as camadas da parede vesical:
da bexiga; segue-se uma camada intermédia, em a rede venosa mucosa, que conflui para a rede ve-
que as fibras se encontram dispostas circularmen- nosa muscular e desta para a rede venosa superfi-
te; mais superficialmente, encontra-se uma nova cial perivesical. Esta rede venosa é constituída por
camada de fibras dispostas longitudinalmente. Da veias anastomosadas, que originam o plexo veno-
camada longitudinal superficial, acima e adiante so vesical e as veias vesicais anteriores. O plexo ve-
do orificio uretral, destacam-se dois fascículos que noso vesical drena as faces laterais da bexiga e ori-
constituem os ligamentos pubo-vesicais que esta- gina veias vesicais, que drenam para a veia hipo-
belecem a ligação ao púbis e à sínfise púbica. Na re- gástrica. As veias vesicais anteriores drenam a par-

426
MANUTENÇÃO I SISTEMA URINÁRIO

anterior da bexiga e confluem para o plexo ve- nervosos involuntários e voluntários para determi-
teoso prostánco
. (Santonru. ·) no h ornem ou pen-u-
. nadas estruturas musculares da bexiga e da uretra.
;etral (Santorini) na mulher, que termina na veia A urina que chega à bexiga continuamente pelos
udenda interna. A drenagem da parte posterior é ureteres é aí mantida devido à existência do esfínc-
~arnbém feita para os plexos venosos seminais no ter interno (músculo liso) e do esfínceter externo
homem e está relacionada com o plexo venoso va- (músculo estriado), que se encontram contraí-
ginal na mulher. dos, assegurando a continência urinária. Qyando
Os vasos linfáticos na parede da bexiga formam a bexiga se começa a encher de urina, os recepto-
redes: a rede mucosa, mais profunda, a rede mus- res nervosos de estiramento que se encontram na
cular ao nível da camada muscular, e a rede peri- sua parede enviam estímulos pelas vias aferentes
visceral, na camada mais superficial. A linfa da face sensitivas, através dos nervos esplâncnicos pélvi-
ântero-inferior da bexiga é conduzida pelos vasos cos, para o centro de micção na região sagrada da
linfáticos anteriores em direcção aos gânglios lin- medula (Fig. 6.15).
fáticos pré-vesicais, que a enviam para os gânglios Do centro de micção medular partem impulsos
linfáticos ilíacos externos. A linfa das porções su- nervosos até aos centros da micção encefálicos,
perior e laterais da bexiga é conduzida pelos va- subcorticais e corticais, que tornam consciente a
sos linfáticos superiores e laterais em direcção aos necessidade de eliminar a urina. À medida que a
gânglios linfáticos látero-vesicais, que a enviam bexiga enche mais e o volume de urina atinge cerca
para os gânglios linfáticos ilíacos externos e hipo- de 400 ml, a pressão intravesical aumenta e os re-
gástricos. A linfa da face póstero-inferior da bexi- flexos de micção tornam-se cada vez mais poten-
ga é conduzida pelos vasos linfáticos posteriores e tes, o que torna a necessidade de urinar mais ur-
inferiores, que a enviam para os gânglios linfáticos gente. Para resistir à micção, a inervação simpáti-
do promontório. ca estimula a contracção do músculo liso do esfínc-
A bexiga é inervada por um conjunto de nervos
que constituem o plexo vesical, que contém fibras
vegetativas simpáticas e parassimpáticas, tanto
motoras (eferentes), como sensitivas (aferentes). A
inervação simpática tem origem no plexo hipogás-
trico superior, ramo eferente do plexo aórtico-ab-
dominal, e promove a retenção da urina na bexiga.
As fibras simpáticas estimulam a contracção das
fibras musculares do esfíncter liso da uretra, asse-
gurando a retenção da urina na bexiga e impedin-
do a entrada de sémen na bexiga durante a ejacu-
lação, e inibem a contracção do músculo detrusor
da bexiga, causando o relaxamento da parede mus-
cular da bexiga e a retenção de urina no órgão. A
inervação parassimpática tem origem no 2.0 , 3.0 e
4.0 nervos sagrados que chegam à parede vesical e
é determinante da miccção. As fibras parassimpá- 4

ticas estimulam o músculo detrusor, levando à sua


contracção, e inibem o esfíncter liso da uretra, pro- 10
vocando o seu relaxamento, o que leva à micção.
A micção é o complexo processo através do qual Fig. 6.15: Micção.
1. Receptores de estiramento 2. Gânglio parassimpático da parede
a urina é eliminada da bexiga. E ste processo en- da bexiga 3. Fibras parassimpáticas dos nervos pélvicos (em cima,
volve um mecanismo reflexo, o reflexo da micção, sensitiva; em baixo, motora) 4. Medula espinhal 5. Fibras ascendentes
(sensitivas) 6. Fibras descendentes (motoras) 7. Fibras motoras para o
e a acção voluntária determinada por centros ner- detrusor e e sfíncter interno da uretra 8. Fibras motoras somáticas para
vosos encefálicos, numa combinação de impulsos o esfíncter externo da uretra (através do nervo pudenda) 9. Esfíncter
interno da uretra 10. Esfíncter externo da uretra

427
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

ter interno da uretra e promove o relaxamento do


músculo detrusor da bexiga de forma a diminuir a
pressão. O início da micção ocorre quando, por ac-
ção dos centros nervosos encefálicos, relaxa volun-
tariamente o esfincter externo da uretra, músculo
estriado do períneo inervado pelo nervo pudenda.
Em paralelo, fibras parassimpáticas conduzidas pe-
los nervos esplâncnicos pélvicos promovem a con-
tracção do músculo detrusor e o relaxamento do
esfíncter interno da uretra, viabilizando a saída da
urina da bexiga. A continuação da micção é invo-
luntária, mantendo-se relaxado o esfíncter interno, 3

do colo vesical, durante a passagem da urina.


Nas crianças pequenas, a micção é um arco reflexo
simples que ocorre quando a bexiga se torna sufi- 10

cientemente distendida. O controlo voluntário da


micção surge normalmente por volta dos 2-3 anos -1----1-- - 11

de idade com o desenvolvimento e maturação dos -.._,o-- --12

circuitos neuronais. Nos adultos, pode ocorrer in-


Fig. 6.16: Uretra masculina: Visão da uretra em corte frontal.
continência urinária em situações de lesões ner- 1. Uretra prostática 2. Uretra membranosa 3. Uretra bulbar/peniana
vosas, perda de consciência ou stresse emocional. 4. Colículo seminal (veru montanum) 5. Abertura do canal ejaculador
6. Glândula bulbo-uretra! (Cowper) 7. Bulbo esponjoso 8. Abertura da
glândula bulbo-uretra] 9. Corpo cavernoso 10. Glande 11. Fosseta
navicular 12. Meato uretral externo

URETRA
até ao seu termo.
A uretra é a parte terminal do sistema urinário O percurso da uretra não é rectilíneo, apresen-
através da qual a urina armazenada na bexiga é eli- tando duas curvaturas relacionadas com o púbis,
minada para o exterior. É um tubo que vai do ós- uma posterior e outra anterior, que lhe conferem
tio interno da uretra até ao orifício uretral externo, a forma de S itálico. Inicialmente, tem um trajec-
abrindo-se para o exterior do corpo na região do to aproximadamente vertical, ao longo da espessu-
períneo. Na mulher, é um canal curto que faz parte ra da próstata. Abaixo da sínfise púbica, curva para
unicamente do sistema urinário. No homem, é um diante e para cima até entrar no corpo esponjo-
canal longo que, para além da função urinária, faz so do pénis; à frente da sínfise púbica, curva para
também parte do sistema reprodutor, dando pas- baixo e para trás e desce verticalmente. A curvatu-
sagem ao sémen durante a ejaculação. A morfolo- ra proximal, ou posterior, é constante e fixa, e o seu
gia, trajecto e funções são tão diferentes em am- ângulo designa-se de ângulo infrapúbico. A cur-
bos os sexos, que se estuda separadamente a uretra vatura distal, ou anterior, desaparece no pénis em
masculina e a feminina. erecção. O seu ângulo, que corresponde à inserção
inferior do ligamento suspensor do pénis, é desig-
URETRA MASCULINA nado de "ângulo pré-púbico".
Em função das estruturas que atravessa, distin-
No homem, a uretra estende-se do colo da bexiga guem-se três porções na uretra masculina: a uretra
até ao meato urinário, situado na extremidade dis- prostática, a uretra membranosa e a uretra espon-
tal do pénis (Fig. 6.16). josa ou peninana.
No seu trajecto, a uretra percorre a próstata, da Em Urologia, é frequente dividir a uretra em duas
base ao vértice. D e seguida, atravessa o diafragma partes: a uretra posterior, que compreende as por-
urogenital, abandonando a cavidade pélvica, e fi- ções prostática e membranosa, e a uretra anterior,
nalmente o corpo esponjoso do pénis, que a rodeia que corresponde à uretra esponjosa.

428
MANUTENÇÃO I SIST EMA URINÁRIO

Em função da relação com a aponevrose perineal tre o bulbo e a fossa navicular, ou aperto da ure-
édia, a uretra pode também ser dividida em duas tra esponjosa ou peniana, com cerca de 8 mm; e o
i:rções: uretra. intr~pél~ca ou su_perior e ~retra orifício externo da uretra, ou meato urinário, que
~apélvica ou mfenor, situadas acuna e abaixo da é a parte mais estreita e menos extensível da ure-
onevrose perineal média, respectivamente. tra, com cerca de 7 mm.
Á uretra pode também ser dividida em uretra fixa As relações da uretra variam ao longo das suas di-
e uretra móvel, tendo em consideração a sua mo- versas porções.
bilidade. A uretra fixa encontra-se no interior da Na sua origem, a uretra relaciona-se com a prós-
róstata e na espessura da aponevrose perineal tata, que atravessa. A uretra encontra-se mais pró-
pmédia, correspondendo a' uretra prostatlca
, . e a' ure- ximo da face anterior da glândula, superiormente,
tra membranosa. A uretra móvel encontra-se no e aproxima-se da face posterior da glândula, infe-
corpo esponjoso do pénis, correspondendo à ure- riormente. A uretra prostática relaciona-se com o
tra peniana. utrículo prostático, um canal vestigial que se abre
Qyando o pénis está flácido, a uretra prostática na sua porção mediana e posterior, e com os canais
mede 2 a 3 cm, a uretra membranosa 1 a 2 = e ejaculadores, pares, que se abrem na uretra pros-
a uretra esponjosa 12 a 13 cm, num comprimen- tática lateralmente ao utrículo prostático. Por in-
to total de 15 a 18 cm. Este comprimento aumen- termédio da loca prostática, a uretra relaciona-se,
ta 2-3 cm no idoso, devido à estase do sangue ve- adiante, com a sínfise púbica e com o plexo venoso
noso resultante da menor contractilidade do teci- de Santorini; atrás, com a aponevrose prostato-pe-
do muscular. ritoneal (de Denonvilliers), que a separa do recto;
No intervalo entre as micções, a parede da uretra lateralmente, com os ligamentos pubo-vesicais e o
encontra-se contraída e o seu interior fica reduzi- músculo levantador do ânus.
do a uma fenda. Ao nível do colo vesical a fenda A parte membranosa da uretra tem início um pou-
é circular, na uretra prostática é horizontal acima co acima do folheto superior da aponevrose peri-
do veru montanum, tornando-se curva e côncava neal média e termina ao nível do folheto inferior
para trás ao longo do veru montanum, que projec- da aponevrose perineal média, relacionando-se
ta para a frente a parede posterior do canal; na par- com esta aponevrose ao longo de todo o seu tra-
te anterior do corpo esponjoso tem a forma de um jecto. A uretra membranosa relaciona-se, adiante e
T invertido e ao nível do meato urinário tem uma em cima, com a sínfise púbica e com o plexo veno-
disposição vertical. so de Santorini; adiante e em baixo, com as arté-
O calibre da uretra distendida no decurso de uma rias pudendas internas; atrás, com o recto, e, late-
micção não é homogéneo ao longo de todo o seu ralmente, com as glândulas bulbo-uretrais (ou de
comprimento, apresentando umas zonas mais di- Cowper), que se encontram embebidas na espes-
latadas e outras mais estreitas. As zonas mais di- sura do músculo estriado. Fibras musculares es-
latadas, em número de três, correspondem: à por- queléticas do diafragma pélvico dispõem-se circu-
ção prostática ou dilatação da uretra prostática, larmente em torno da uretra, formando o esfínc-
com cerca de 1,5 cm, que constitui a porção mais ter estriado da uretra ou esfíncter externo da ure-
larga da uretra; ao segmento bulbar da porção es- tra, de controlo voluntário.
ponjosa, ou dilatação do fundo de saco bulbar, A uretra esponjosa situa-se na porção anterior do
com cerca de 1,2 cm; e à fossa navicular, ou dila- períneo, no interior do corpo esponjoso do pénis.
tação da fossa navicular, com cerca de 1,2 cm, si- Encontra-se completamente envolvida pelo teci-
tuada na glande do pénis, próximo do orifkio ex- do eréctil do corpo esponjoso do pénis e relacio-
terno da uretra. As zonas mais estreitas, em nú- na-se, em cima, com os dois corpos cavernosos, e,
mero de quatro, são: o orifício uretra! interno ou em baixo, com os invólucros do pénis. Na sua parte
aperto do colo vesical, situado ao nível do colo da proximal abrem-se os canais excretores das glân-
bexiga, com cerca de 1 cm; a porção membrano- dulas bulbo-uretrais.
sa da uretra (istmo da uretra), ou aperto da ure- A configuração interior da uretra apresenta carac-
tra membranosa, com cerca de 1 cm; a porção en- terísticas comuns às diferentes porções e caracte-

429
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

rísticas que são específicas de cada porção. distalmente, com a mucosa da glande. Apresen-
A uretra prostática apresenta alguns detalhes sig- ta as glândulas mucosas de Littré ao nível da ure-
nificativos. A mucosa da parede posterior apresen- tra membranosa e peniana. A mucosa é ricamen-
ta uma saliência mediana, alongada verticalmen- te vascularizada, particularmente ao nível do cor-
te, com 10 a 15 mm de comprimento e cerca de 3 po esponjoso do pénis, onde por vezes se conside-
mm de altura, denominada de "veru montanum" ou ra a existência duma túnica vascular. A este nível,
"colículo seminal" (Fig. 6.16). O colículo seminal o tecido conjuntivo é muito rico em fibras elás-
prolonga-se para cima, originando pregas desig- ticas, circunscrevendo numerosas cavidades veno-
nadas de "freios do colículo seminal", e para bai- sas, anastomosadas, que constituem o tecido eréc-
xo, pela crista uretral, em direcção à porção mem- til do pénis.
branosa da uretra. Na parte mais saliente do colí- A túnica muscular é formada por fibras muscula-
culo seminal abrem-se três orifícios: o utrículo res lisas dispostas em dois planos, um mais pro-
prostático, mediano, e os canais ejaculadores, late- fundo e um mais superficial. No plano mais pro-
rais. O utrículo prostático é uma pequena cavida- fundo, as fibras estão dispostas longitudinalmen-
de em fundo de saco, alongada, com cerca de 1 cm te, na continuação das fibras musculares lisas lon-
de comprimento, situada na espessura da prósta- gitudinais da bexiga. Esta camada é mais desen-
ta. De cada lado desembocam os canais ejaculado- volvida na uretra prostática, sendo mais reduzi-
res, pertencentes ao sistema reprodutor masculi- da na uretra membranosa e indistinta na uretra
no que converge com o urinário ao nível da uretra peniana, em que a mucosa está rodeada directa-
prostática. Lateralmente ao colículo seminal, exis- mente pelo tecido eréctil. O plano mais super-
tem umas depressões verticais, as goteiras laterais ficial é constituído por fibras dispostas circular-
do veru montanum, onde se abrem numerosos ori- mente, contínuas com as fibras circulares da be-
fícios dos canais prostáticos. xiga. Esta camada apresenta um espessamento na
A uretra membranosa apresenta pregas longi- porção inicial da uretra, que dá origem ao esfínc-
tudinais, que desaparecem com a sua distensão, ter liso da uretra ou do colo da bexiga. As fibras
e possui glândulas produtoras de muco que lu- musculares lisas estão envolvidas por fibras mus-
brifica a uretra, as glândulas uretrais ou de Lit- culares estriadas que formam o esfíncter estriado
tré, que se abrem por orifícios localizados nas la- da uretra. Estas fibras estendem-se desde o colo
cunas uretrais. da bexiga até à aponevrose perineal média, distri-
A parte esponjosa da uretra apresenta igualmen- buindo-se ao longo da uretra prostática e da ure-
te pregas longitudinais e numerosas glândulas de tra membranosa. As fibras esqueléticas revestem
Littré. Estas glândulas lançam as suas secreções a uretra prostática anterior e ântero-lateralmen-
em depressões tubulares da mucosa, designadas de te, formando um hemi-anel de concavidade pos-
"lacunas de Morgagni". Na parte inferior da ure- terior, distribuídas num plano perpendicular ao
tra esponjosa, de cada lado da linha mediana, na da aponevrose perineal média. Apenas ao nível
porção anterior do fundo de saco do bulbo, en- da uretra membranosa, as fibras esqueléticas for-
contram-se as aberturas dos canais excretores das mam um anel completo.
glândulas bulbo-uretrais (de Cowper). A cerca de A vascularização da uretra prostática é semelhan-
1-2 cm do meato urinário, a mucosa da parede te à da próstata. A uretra prostática é irrigada por
dorsal da uretra apresenta uma prega que constitui ramos da artéria prostática, provenientes da arté-
a válvula da fossa navicular ou válvula de Guérin. ria hipogástrica. A uretra membranosa recebera-
A parede da uretra é formada por uma túnica mu- mos da artéria do bulbo do pénis e da vesical ante-
cosa, mais profunda, e uma túnica muscular, mais rior, ramos da pudenda interna. A uretra esponjo-
superficial. sa é irrigada pelas artérias do bulbo do pénis, bul-
A túnica mucosa reveste a uretra em toda a sua ex- bo-uretra! e dorsal do pénis, ramos da artéria pu-
tensão. Existe continuidade da mucosa da uretra denda interna.
com a da bexiga, com a do utrículo prostático e dos Em função da porção da uretra, o retorno venoso
canais ejaculadores ao nível do veru montanum, e, é efectuado por veias que terminam na veia dor-

430
MANUTEN ÇÃO I SIST EMA URINÁRIO

sal profunda do pénis ou no plexo venoso prostá- do-se separada desta na sua porção superior e uni-
tico (Santorini), tributários da veia pudenda in- da na porção inferior por uma fina camada de te-
cido conjuntivo contendo fibras musculares lisas
terna.
A linfa proveniente da uretra prostática e da ure- que constitui o septo uretra-vaginal. Lateralmen-
tra rnernbranosa é recolhida, maioritariamente, te, relaciona-se com o plexo venoso de Santorini,
elos gânglios linfáticos hipogástricos e externos. com o músculo levantador do ânus, com a apone-
~ procedente da porção esponjosa drena para os vrose perineal média e com a raíz dos corpos ca-
gânglios linfáticos inguinais e ilíacos externos. vemosas do clítoris.
A uretra masculina é inervada por ramos do plexo A uretra perineal atravessa o diafragma urogeni-
hipogástrico, por intermédio do plexo prostático, tal, adiante da vagina, com a qual se continua are-
por nervos provenientes do nervo pudendo inter- lacionar por intermédio do septo uretra-vaginal.
no, designadamente o ramo bulbo-uretral do ner- Abaixo da aponevrose perineal média, a uretra pe-
vo perineal, e pelo nervo dorsal do pénis. rineal relaciona-se, de cada lado, com os corpos ca-
vernosos do clítoris e com a parte anterior do bul-
bo. Desemboca na vulva pelo orifício inferior da
URETRA FEMININA uretra, cerca de 2 cm atrás do clítoris, e adiante do
orifício vaginal.
A uretra feminina é mais curta do que a masculina, A uretra feminina encontra-se fixa por meio de li-
estendendo-se do colo da bexiga à vulva. O orifi- gações à vagina e ao períneo, que constitui o prin-
cio uretral exterior situa-se entre os pequenos lá- cipal meio de fixação.
bios, posteriormente ao clítoris e anteriormente ao Tal como a uretra masculina, a superficie interior
orificio vaginal. da uretra feminina apresenta também pregas lon-
Na mulher, a uretra encontra- se direccionada obli- gitudinais que desaparecem com a distensão do
quamente para baixo e para a frente, quase verti- canal. Apresenta uma prega mais evidente, de lo-
calmente, posteriormente à sínfise púbica, adiante calização mediana e posterior, designada de "cris-
da vagina e paralelamente a ela (Fig. 6.12). ta uretral". A superfície interior da uretra apresen-
A uretra feminina tem o aspecto dum canal, com ta numerosas depressões em fundo de saco, análo-
3-4 cm de comprimento e 7-8 mm de diâmetro. gas às lacunas de Morgagni da uretra masculina.
Distinguem-se um corpo e duas extremidades, re- A parede da uretra feminina é constituída, tal
presentadas por um orificio superior e um orifi- como no homem, por uma túnica mucosa e uma
cio inferior que correspondem ao colo vesical e túnica muscular. A túnica muscular é igualmen-
ao meato urinário, respectivamente. Sendo a ure- te constituída por tecido muscular liso disposto
tra irregularmente cilíndrica, apresenta duas zonas em dois planos, um mais profundo de fibras lon-
mais estreitas: o aperto superior, situado ao nível gitudinais contínuas com as da bexiga, e um mais
do colo da bexiga, e o aperto inferior, ao nível do superficial, de fibras circulares, também contínuo
meato urinário. com as fibras circulares da bexiga. Este último
Tal como no homem, a uretra feminina atraves- apresenta um espessamento em torno da porção
sa a aponevrose perineal média, que a divide em inicial da uretra, que forma o esfíncter liso da ure-
duas porções: uma superior, a uretra pélvica, e uma tra. Lateralmente às fibras musculares lisas circula-
inferior, a uretra perineal, correspondentes à ure- res, encontram-se fibras de tecido muscular estria-
tra prostática e membranosa do homem. A porção do. Tal como no homem, estas fibras estendem-se
pélvica, situada na escavação pélvica, é a mais ex- desde o colo da bexiga, orientadas perpendicular-
tensa; a porção perineal, situada fora da cavidade mente ao períneo, e formam o esfíncter estriado da
pélvica, é a mais curta. uretra ou esfíncter externo da uretra.
A uretra pélvica relaciona-se, adiante, com a sín- A parede da uretra contém na sua espessura as
fise púbica, com o plexo venoso peri-uretral (San- glândulas para-uretrais, ou glândulas de Skene,
torini) e com os ligamentos pubo-vesicais. Poste- produtoras de muco. Estas glândulas situam-se de
riormente, relaciona-se com a vagina, encontran- cada lado da uretra, na sua porção distal, e os seus

431
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

canais excretores abrem-se para o exterior de cada ção do rim na síntese da vitamina D sofre também
lado do orificio uretral externo. uma redução, o que contribui para a deficiência em
A porção pélvica é irrigada por ramos das artérias Ca2• , osteoporose e fracturas ósseas.
vesical inferior e vaginal, ramos da artéria hipo- Com o envelhecimento, podem ocorrer problemas
gástrica, e da artéria vesical anterior, ramo da ar- relacionados com a micção, tanto no sexo mascu-
téria pudenda interna; a porção perineal é irriga- lino como no feminino. Efectivamente, cerca de
da pelas artérias uretral e bulbar, ramos da artéria 80% dos homens com mais de 80 anos sofre de
pudenda interna. hiperplasia benigna da próstata, um crescimento
As veias uretrais drenam para o plexo venoso peri- da próstata que comprime a uretra, o que dificul-
-uretral (Santorini), para as veias do bulbo do ves- ta o esvaziamento da bexiga. Por outro lado, a re-
tfbulo, que originam a veia pudenda interna, e para tenção da urina na bexiga pode causar um aumen-
o plexo vaginal, que termina directamente na veia to da pressão nos rins, comprometendo o funcio-
hipogástrica. namento dos nefrónios, e levar ao aparecimento de
Os vasos linfáticos dirigem-se para os gânglios infecções urinárias. Nas mulheres idosas, sobretu-
linfáticos hipogástricos e externos. A porção dis- do nas multíparas, é frequente a incontinência uri-
tal drena também para os gânglios linfáticos in- nária, resultante do enfraquecimento da muscula-
guinais superficiais. tura pélvica e dos esfl:ncteres uretrais. Com o enve-
A uretra feminina é inervada por ramos do plexo lhecimento, o controlo do sistema nervoso central
hipogástrico e do nervo pudendo. sobre a bexiga pode também deteriorar-se causan-
do a síndrome da bexiga hiperactiva. Esta situa-

■t1+ii•WWWM•1H ção é caracterizada por contracções involuntárias


da bexiga e/ou de alterações da sua sensibilidade e
contractilidade, levando a urgência miccional (de-
O envelhecimento é normalmente acompanhado sejo incontrolável de urinar), que pode causar per-
duma diminução progressiva da função renal, re- da urinária involuntária, e aumento da frequência
sultante da atrofia dos rins, da redução do débito das micções.
sanguíneo renal e da menor taxa de filtração glo- As doenças renais são uma das causas mais im-
merular. Para tal contribui a diminuição do núme- portantes de morte ou de doença crónica grave.
ro de nefrónios e da capacidade funcional dos glo- A perturbação do funcionamento do rim manis-
mérulos remanescentes, bem como as alterações festa-se por insuficiência renal, aguda ou crónica,
nos vasos sanguíneos renais. De facto, aos 90 anos que resulta na incapacidade de eliminar os produ-
os rins são cerca de 20 a 40% mais pequenos do tos tóxicos derivados do metabolismo e de manter
que aos 30 anos e recebem apenas cerca de meta- o equilibrio dos fluídos do organismo. Análises de
de do fluxo sanguíneo. Como consequência, dimi- sangue e de urina de rotina permitem detectar al-
nui a capacidade de eliminação de compostos nor- terações nas concentrações habituais destes pro-
malmente eliminados por via renal, como sejam os dutos nos fluídos corporais dando assim indica-
compostos azotados não proteicos, certos medica- ções importantes para o diagnóstico. A insuficiên-
mentos e toxinas. Assim, no idoso deve ser ponde- cia renal pode tornar necessário o recurso a proce-
rada a prescrição de medicamentos de metabolis- dimentos de diálise, que permitem manter a vida
mo e excreção renal, particularmente em casos que do doente durante muitos anos, eventualmente até
requeiram o seu uso prolongado. Por outro lado, que seja realizado um transplante.
algumas das patologias frequentes nos idosos po- Pode ocorrer a precipitação de sais presentes na
dem contribuir para a diminuição da função re- urina, originando cálculos de composição diversa.
nal, tais como a hipertensão e a diabetes mellitus. A passagem destes cálculos pelo ureter pode ser
Com o avanço da idade há também uma dimi- problemática uma vez que pelo seu tamanho po-
nuição da resposta à hormona antidiurética e da dem não conseguir passar através das zonas mais
sensação de sede, o que compromete o equilibrio estreitas do canal. A obstrução do ureter origina
hídrico e pode levar à desidratação. A participa- a cólica renal, uma dor violenta que irradia des-

432
MANUTENÇÃO I SISTEMA URINÁRIO

gião lombar até à inguinal, podendo esten-


de ª reaté à pele do escroto ou dos grandes lábios,
der-se
a vez que as fibras sensitivas do ureter alcan-
uJll medula espinhal pelos mesmos segmentos O sistema urinário, tal como o reprodutor, tem
ÇaJll a rrespondem a esta zona da pele. As dores origem no tecido mesodérmico especializado que
que cO
vísceras ocas desencadeiam-se por um refie- constitui a crista urogenital (Fig. 6.17).
dascuja origem e' a d.1stensao
- da paredd '
e a viscera No embrião humano formam-se sucessivamente
"ºe cuJ
•a consequência imediata é a contracção, mais três pares de rins: o pronefro, o mesonefro e o me-
u menos violenta, da musculatura lisa do ureter tanefro. O pronefro aparece no início da 4. ª sema-
~a tentativa de fazer passar o cálculo através doca- na de gestação, na região superior da crista uroge-
nal- A firn de eliminar os cálculos que não são ex- nital. Trata-se de um rim vestigial e não funcio-
elidos naturalmente, para além da cirurgia con- nal que rapidamente degenera, mas o seu canal ex-
~encional, pode recorrer-se à litotrícia por ondas cretor é usado pelo rim mesonéfrico e desempe-
de choque. Este método consiste na emissão de nha um papel importante na formação do meta-
ondas de choque que incidem sobre o cálculo, pul- nefro. Com o desaparecimento do pronefro, apa-
verizando-o em pequenos fragmentos que são eli- rece no fim da 4.ª semana na região intermédia da
minados pelas vias urinárias. crista urogenital o mesonefro, que funciona como
A bexiga está sujeita a infecções, particularmente órgão excretor temporário, até que os rins perma-
na mulher devido ao curto comprimento da ure- nentes se desenvolvam. O metanefro aparece na
tra e à sua proximidade do ânus. Uma infecção da 5.• semana, mas apenas se torna funcional no fi-
bexiga, denominada de "cistite", pode facilmente nal da 8.• semana, tornando-se o rim definitivo.
ascender da bexiga pelos ureteres, dada a conti- O rim metanéfrico desenvolve-se a partir de duas
nuidade das suas mucosas. Se atingir a pelve renal fontes mesodérmicas: a parte glomerular forma-
toma a designação de pielite e se progredir para os -se a partir duma porção caudal especializada da
nefrónios origina uma pielonefrite. Para reduzir o crista urogenital, chamada "massa metanefrogéni-
risco destas infecções, as jovens devem ser ensina- ca"; a porção tubular forma-se como um divertí-
das a limpar a sua região anal no sentido ântero- culo que emerge do canal mesonéfrico, próximo
-posterior, oposto ao orfício uretra!. Nas crianças da cloaca. Este divertículo, chamado "broto ureté-
com menos de um ano as infecções da bexiga po- rico", expande-se para o interior da massa metane-
dem-se disseminar pelos ureteres e atingir os rins, frogénica para formar o sistema colector de urina:
podendo causar lesões renais graves ou mesmo in- a sua haste diferencia-se no ureter, enquanto a sua
suficiência renal, pelo que o diagnóstico precoce e extremidade cranial, distendida, origina a pelve re-
o tratamento são essenciais. nal, os cálices e os canais papilares. A combinação
A uretra pode sofrer traumatismos que levam à sua do broto uretérico e da massa metanefrogénica dá
ruptura e ao extravasamento da urina. Se a ruptura origem às restantes porções do rim: o broto ure-
ocorrer ao nível do bulbo do pénis, situação mais térico origina os túbulos colectores e a massa me-
frequente, a urina estende-se pelo espaço perineal tanefrogénica origina os nefrónios. Uma vez for-
superficial até ao escroto, por baixo da fáscia su- mados os rins metanéfricos, eles começam a mi-
perficial; se a ruptura se der na porção membra- grar da pélvis em direcção ao abdómen, ao mesmo
nosa, a urina dispersa-se pelo espaço perineal pro- tempo que os ramos pélvicos da artéria aorta que
fundo, podendo alcançar a próstata. Para a análise supriam os rins são substituídos por novos ramos.
da mucosa, bem como para intervenções cirúrgicas O s rins fetais são subdivididos em lobos. A lobu-
sensíveis, pode recorrer-se à cistoscopia da uretra. lação diminui ao longo do desenvolvimento fetal e
Para a introdução do cistoscópio na uretra mascu- desaparece durante a infância.
lina é necessário ter em conta os estreitamentos e A bexiga desenvolve-se a partir do seio urogenital,
as curvaturas da mesma, bem como a existência da que se encontra ligado ao cordão umbilical pelo
válvula da fossa navicular. alantóide. A uretra feminina e quase toda a uretra
masculina têm origem semelhante à da bexiga. Na

433
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Fig. 6.17: Desenvolvimento embrionário do sistema urinário.


1. Cristas urogenitais 2. Botão uretérico 3. Massa metanefrogénica 4. Dueto mesonéfrico 5. Seio urogenital 6. Grande cálice 7. Bacinete/pelve
renal 8. Ureter 9. Pequeno cálice 10. Lobo renal 11. Úraco

12.ª semana de gestação os dois ureteres abrem-se plos destas anomalias são a divisão do broto ure-
na bexiga, a uretra drena a urina produzida para térico, que causa a duplicação do ureter, completa
o líquido amniótico e o alantóide fica reduzido a ou incompleta, e a não ascenção do rim da sua po-
uma estrutura de suporte, o úraco. sição na pélvis embrionária para a cavidade abdo-
Podem surgir anomalias no desenvolvimento do minal, que leva a ectopia renal.
sistema urinário, levando a alterações que podem
ser insignificantes, não originando sintomatolo-
gia, ou severas, incompatíveis com a vida. Exem-

434
MANUTENÇÃO I SISTEMA URJNÃRIO

Rouviere, H.; Delmas, A. Anatomie humaine,


pERGUNTAS TIPO descriptive, topographique etfanctionelle. Tome 2.
Masson, 2002.
A loca renal é formada:
1.
a. Pelo folheto anterior pré-renal e pelo fo-
lheto posterior retro-renal. ***
b. Pelo conjunto da cápsula fibrosa com a
cápsula adiposa.
c. Pelo ligamento de Navarro.
d. Unicamente pela fáscia de Zuckerkandl.
e. Pelo peritoneu.

2. Relativamente ao ureter assinale a afirmação


incorrecta:
a. É um canal par e simétrico.
b. Tem um trajecto retroperitoneal.
c. Possui 25-30 cm de comprimento.
d. É formado pelas porções lombar, ilíaca,
pélvica e vesical.
e. Penetra na bexiga, pela sua porção ânte-
ro-superior.

3. O trígono de Lieutaud é uma região anató-


mica:
a. Da bexiga.
b. Do rim.
c. Do nefrónio.
d. Do ureter.
e. Da próstata.
iy-c!:;r-ziv-i
:s~1sodsoc1

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Silva, WA.; Karram, MM.; Anatomy and


physiology ofthe pelvicjloor. Minerva Ginecol.
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Editora, 2010.
Drake, RL.; Vogl, W.; Mitchell, AWM. Gray's
Anatomyfar students. 4.ª Edição. Elsevier,
Philadelphia, 2019.

435
7. SISTEMA GENITAL MASCULINO

INTRODUÇÃO A sua forma é ovóide e ligeiramente aplanada no


sentido transversal, com um grande eixo que se
O sistema genital masculino é constituído por um orienta no sentido póstero-inferior e, ligeiramen-
conjunto de órgãos cujas funções incluem a acti- te, interno. Desta forma, apresentam duas faces
vidade endócrina, sexual e reprodutora. Esta últi- (medial e lateral), dois bordos (anterior e poste-
ma inicia-se nos órgãos produtores de espermato- rior) e dois polos ou extremidades (superior e in-
zóides, os testículos, e finaliza no órgão de cópula, ferior).
0 pénis. Desde a sua formação ao nível do testícu- A face medial, o bordo anterior e grande parte da
lo até à uretra, os espermatozóides atravessam uma face lateral são lisos e estão recobertos por uma se-
série de estruturas que no seu conjunto se desig- rosa denominada "vaginal", que constitui a cama-
nam por vias espermáticas. Por último, e para que da mais profunda das bolsas escrotais (Fig. 7.2).
as células reprodutoras masculinas cheguem ao ex-
terior nas melhores condições, existem no seu tra-
jecto várias glândulas anexas, das quais a mais im-
portante é a próstata (Fig. 7.1).

7
10 9

Fig. 7.2: Corte transversal das bolsas escrotais.


1. Escroto 2. Dartos 3. Tecido celular subcutâneo 4. Fáscia espermática
externa 5. Cremáster 6. Fáscia espermático interna 7. Túnica
vaginal (folheto visceral e parietal) 8. Túnica albugínea 9. Epidídimo
10. Rede testicular

4 O bordo posterior e o polo superior relacionam-


Fig. 7.1: Cavidade pélvica e genitais masculinos externos. -se directamente com o epidídimo que se encontra
1. Pénis 2. Ligamento suspensor do pénis 3. Púbis 4. Testículo aplicado sobre eles (Fig. 7.1). Desde a sua extremi-
5. Epídidimo 6. Canal deferente 7. Vesícula seminal 8. Ureter
9. Bexiga 10. Próstata 11. Recto 12. Canal anal 13. Períneo 14. Fundo- dade anterior o epidídimo prolong~-se ao longo
de-saco vesico-rectal 15. Septo recto-vesical (Denonvillier) 16. Escroto do bordo superior tornando-se progressivamente
mais lateral de modo que se projecta sobre a re-
TESTÍCULOS gião mais posterior e superior da face lateral. No
polo superior distingue-se uma pequena formação
Os testículos são dois pequenos órgãos glandula- pediculada designada "hidátide sessil (de Morgag-
res que se encontram suspensos pelo cordão esper- ni)", que é um vestígio embrionário da extremida-
mático dentro das bolsas escrotais, abaixo do pénis de superior do canal de Muller (dueto parameso-
e a cada lado da linha mediana. néfrico). O polo inferior dá inserção ao ligamen-

439
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

to escrotal, que une o testículo à face profunda das destes que se dá a espermatogénese. Na extre .
bolsas. dade dos lóbulos os canais seminíferos conto _rni.
fC1d
O testículo é envolvido por 3 túnicas: a vaginal, se- convergem de modo a formar entre 20 a 30 tubOs
rosa que forma a face profunda das bolsas escrotais designados "canais seminíferos rectos", que co os
(descrita abaixo), a albugínea e a vascular. A "albu- tituem as primeiras estruturas das vias esperrn ~'.-
gínea", assim designada pelo seu tom branco azu- cas (Fig. 7.3). ati-
lado, é uma camada fibrosa e espessa, formada por
fibras entrelaçadas em todas as direcções. Na re-
gião média do bordo posterior a albugínea emite VIAS ESPERMÁTICAS
um septo incompleto que penetra na espessura do
testículo e que se designa por mediastino testicu- Designa-se por vias espermáticas o conjunto d
lar (Corpo de Highmore) (Fig. 7.3). estruturas que o espermatozóide formado nos e e
a-
Dos bordos laterais deste septo partem cordões fi- nais seminíferos atravessa no seu trajecto até à Ure-
brosos que, juntamente com cordões semelhantes tra. Estas estruturas incluem: canais seminíferos
que provêm da face profunda da albugínea, man- rectos, rede testicular, canais eferentes, epidídirno
têm a estrutura do testículo ao mesmo tempo que canal deferente, vesículas (ou glândulas) seminaj;
delimitam espaços designados "lóbulos" (Fig. 7.3). e canais ejaculadores.
A túnica vascular é formada por plexos vasculares Os canais seminíferos rectos são, como o nome in-
rodeados por um tecido areolar que reveste a face dica, pequenos tubos rectilíneos, cada um drenan-
profunda da albugínea. do vários canais seminíferos contorcidos (Fig. 7.3).
Cada testículo pode conter entre 250 e 400 lóbu- Partem dos lóbulos e dirigem-se à região do me-
los. Estes têm uma forma cónica, com base na pe- diastino testicular, onde se vão anastomosar entre
riferia do órgão e o vértice dirigido para o medias- si para formar a rede testicular, também designa-
tino testicular (Fig. 7.3). Cada um contém 1 a 3 da "rete testis" ou "rede de Haller" (Fig. 7.3). Jun-
túbulos seminíferos contorcidos, sendo ao nível to ao bordo posterior do testículo a rede testicular
organiza-se em 15 a 20 pequenos canais eferentes
que atravessam a albugínea e se dirigem à cabeça
7 do epidídimo (Fig. 7.3).
6
O epidídimo é constituído por um longo canal
com cerca de 5 a 7 metros, que se inicia anterior-
mente como colector dos canais eferentes e se vai
prolongar posteriormente pelo canal deferente
(Fig. 7.3). Para ocupar a sua posição sobre o bordo
posterior do testículo encontra-se enrolado sobre
si mesmo de forma a constituir um órgão de for-
10
ma alongada com um comprimento de cerca de 5
cm. Nele se distinguem 3 porções: cabeça, corpo e
cauda (Fig. 7.3).
A cabeça é a região mais volumosa, localizada an-
terior e superiormente, e relaciona-se directamen-
te com o polo superior do testículo, sendo na face
inferior da mesma que penetram os canais eferen-
tes (Fig. 7.3). Na sua extermidade anterior apre-
9
4 senta um vestígio embrionário do canal de W ol-
Fig. 7.3: Configuração interior do testículo e vias espermáticas. ff (dueto mesonéfrico), designado "hidátide pedi-
1. Túnica albuginea 2. Tubos seminíferos contorcidos 3. Mediastino
culada (de Morgagni)". Posteriormente prolonga-
testicular (Corpo de Highmore) 4. Canais seminíferos rectos
5. Rede testicular 6. Canais eferentes 7. Cabeça do epidídimo -se pelo corpo, porção que se estende ao longo do
8. Corpo do epidídimo 9. Cauda do epidídimo 1O. Canal deferente bordo posterior do testículo, e que se separa des-
11. Lóbulo

440
REPRODUÇÃO I SISTEMA GENITAL MASCULINO

r urna invaginação da vaginal que se inter- a face anterior do cordão e com o ramo genital
ce_P~ntre os dois órgãos, constituindo o seio do do genito-femoral, que tem um trajecto posterior.
Pº.edídirno (Fig. 7.2). O corpo do epidídimo vai- Aquando da emergência através do anel inguinal
epi treitando para se prolongar pela cauda, uma profundo atinge a 4.ª porção, designada "pélvica".
-se es . Nesta altura os vários constituintes do cordão es-
-- afunilada que se contmua pelo canal defe-
regiao permático separam-se e o canal deferente vai se-
te (Fig. 7.3).
ren
Ocasionalmente d.1stmgue-se
. um canalículo es- guir o seu trajecto aplicado sobre a fossa ilíaca até
·t que parte da região da cauda do epidídimo à escavação pélvica. Neste percurso vai cruzar os
trel O
u da transição entre epidídimo e canal deferen- vasos epigástricos descrevendo uma curva de con-
0 que se prolonga superiormente na direcção do cavidade inferior e passa anteriormente aos vasos
te,e
cordão espermático terminando num fundo cego, ilíacos externos para depois descer até à cavida-
e que se designa canal aberrante ou de Haller. de pélvica.
O canal deferente é um longo canal que vai atra-
vessar várias regiões anatómicas até ao seu término
9
na vesícula seminal junto à face posterior da bexi-
ga. De acordo co~ ~s relações que est~belece nes-
te trajecto, nele distinguem-se 4 porçoes: escrotal, 8

funicular, inguinal e pélvica.


A partir da sua origem na cauda do epidídimo
0
canal deferente vai dirigir-se obliquamente no
sentido anterior e superior junto à face medial do
epidídirno e região contígua do testículo, desig-
nando-se esta porção escrotal (Fig. 7 .1). Ao atingir 6

a região anterior do epidídimo o canal deferente


descreve uma curva de concavidade posterior, pas-
sando a uma orientação vertical, segundo a qual
5 4
ascende até ao anel inguinal superficial (Fig. 7.1).
Fig. 7 .4: Corte transversal do cordão espermático.
Nesta porção, designada "funicular", está contido 1. Artéria testicular 2. Plexo venoso testicular anterior 3. Canal
na espessura do cordão espermático. Este é cons- deferente 4. Artéria deferencial 5. Plexo venoso testicular posterior
6. Ligamento de Cloquet 7. Músculo cremáster 8. Dartos 9. Escroto
tituído por vários elementos (Fig. 7.4): na sua re-
gião central, a artéria testicular, envolvida pelo ple-
xo venoso espermático anterior e, posteriormente, Qµando a bexiga está vazia o canal deferente
o canal deferente, acompanhado pela artéria cor- tem um trajecto oblíquo posterior e inferiormen-
respondente; na região mais posterior uma série te, colado à parede lateral da escavação pélvica
de estruturas venosas constituem o plexo venoso até ao bordo posterior da bexiga. Qµando a be-
posterior, que é menos volumoso que o anterior; xiga está cheia o canal é levantado, descrevendo
outros constituintes do cordão espermático são o um trajecto posterior colado à parede lateral des-
vestígio do processo vaginal (ligamento de Clo- ta (Fig. 7.1).
quet), vestígio fibroso do canal peritoneo-vaginal Ao atingir o bordo lateral da bexiga o canal defe-
que encerra após a migração do testículo; vasos rente cruza a face superior do ureter no momen-
linfáticos e nervos. to em que este penetra na parede vesical, situando-
Qyando o canal deferente,juntamente com os res- -se por dentro do ureter e por fora da bexiga (Fig.
tantes constituintes do cordão espermático, pene- 7.1). Uma vez na face posterior da bexiga os ca-
tra no anel inguinal superficial vai percorrer o ca- nais deferentes vão convergir numa direcção ínfe-
nal inguinal, constituindo a porção homónima do ro-medial até à base da próstata, delimitando en-
mesmo. Para além dos restantes elementos do cor- tre si um espaço triangular de base superior e vér-
dão, nesta região relaciona-se ainda com o ramo tice inferior que se designa por triângulo interde-
escrotal anterior do nervo ilioinguinal que cruza ferencial (Fig. 7.5 - a tracejado).

441
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Nesta altura o seu calibre aumenta significativa- posteriormente com a face anterior do recto, ante-
mente, formando a ampola do canal deferente riormente com a bexiga e medialmente com a arn,
(Fig. 7.5). Na sua porção mais superior estão apli- pola do canal deferente (Fig. 7.5). O seu bordo la-
cados contra a parede vesical pelo peritoneu mas teral relaciona-se com as veias dos plexos semina]
na região inferior estão encerrados na espessu- vesical e prostático. '
ra de uma lâmina célulo-fibrosa designada "septo Da união entre o canal deferente e a vesícula se-
recto-vesical (de Denonvilliers)" (Fig. 7.1). Pos- minal parte, de cada lado, um pequeno canal de-
teriormente relacionam-se com o recto, anterior- nominado "ejaculador" que atravessa a estrutura da
mente com a bexiga, lateralmente com as vesícu- próstata até à face posterior da uretra, onde se abre
las seminais e medialmente com o canal do lado ao nível do colículo seminal (veru montanum), de
oposto (Fig. 7.1 e Fig. 7.5). cada lado do utrículo prostático - Fig. 7.6 e Fig.
6.16 do sistema urinário.

VESÍCULAS SEMINAIS

As vesículas seminais são duas e têm forma de um


fundo de saco irregular, aproximadamente pirami-
dal com base póstero-superior e vértice ântero-in-
ferior (Fig. 7.5). Localizam-se na face posterior da
bexiga, lateralmente à ampola do canal deferen- 2
te. O seu calibre aumenta à medida que se afastam
da linha mediana, pelo que nelas se distinguem 3
porções: colo (ântero-medial), corpo e fundo (pós-
tero-lateral). Para além de servirem como reserva-
tório do esperma no intervalo das ejaculações, as 15
suas células secretam nutrientes para os próprios Fig. 7.6: Corte Sagital da cavidade pélvica.
espermatozóides (daí que possam ser, igualmente, 1. Sínfise púbica 2. Ligamento suspensor do pénis 3. Corpo cavernoso
4. Corpo esponjoso 5. Músculo bulbo-esponjoso 6. Glândula de
designadas "glândulas seminais"). Situadas na es-
Cowper 7. Próstata 8. Vesícula seminal 9. Canal ejaculador 10. Uretra
pessura da aponevrose recto-vesical, relacionam-se prostática 11. Uretra membranosa 12. Uretra peniana 13. Esfincter
externo da uretra 14. Recto 15. Canal anal

2 BOLSAS ESCROTAIS OU ESCROTO

Durante a embriogénese os testículos são forma-


dos em plena cavidade abdominal numa posi-
ção ântero-inferior aos rins, de cada lado da colu-
3 na vertebral e dos grandes vasos. No entanto, esta
não é a sua posição habitual após o nascimento.
Isto deve-se ao facto da espermatogénese ser um
processo sensível à temperatura, só sendo possível
4
quando os testículos estão cerca de 4.°C abaixo da
temperatura corporal normal (37.°C). Por esta ra-
zão, no homem, como em praticamente todos os
6 mamíferos, os testículos vão migrar durante o de-
senvolvimento embrionário desde o seu local de
formação até às bolsas escrotais, fora do abdómen.
Fig. 7 .5: Vista posterior da bexiga, próstata e vesículos seminais. As bolsas escrotais não são mais do que a porção
1. Bexiga 2. Uretero 3. Canal deferente 4. Ampola do canal deferente de parede abdominal inferior que é empurrada à
5. Vesícula seminal 6. Próstata 7. Glândula bulbo•uretral (de Cowper)

442
REPRODUÇÃO I SISTEMA GENITAL MASCULINO

dos testículos quando se dá a sua migração, A túnica ou membrana vaginal é a camada mais
[rente
_ pela qual vão ter vanas, . camadas, t al como a profunda e constitui uma serosa derivada do peri-
razao .
de da qual denvam toneu. Qiando o testículo empurra a parede abdo-
pa_re. guem-se assim, nas bolsas escrotais, da su- minal obrigando-a a evaginar para formar as bol-
p1s(1!1 . . )
cie para a profundidade (Fig. 7.2 : sas, o peritoneu parietal vai descer na forma de um
perfí.
• Pele escrotal; duplo folheto à frente do testículo, acabando por
Fáscia superficial (dartos); rodear também o seu bordo anterior e a sua parte
• Fáscia espermática externa; posterior. Entre a parede abdominal e as bolsas es-
Túnica muscular ou cremaster; crotais o peritoneu alonga-se através do canal in-
• Fáscia espermática interna; guinal, constituindo a este nível o canal peritoneo-
• Túnica vaginal (folhetos parietal e visceral). -vaginal que, com o crescimento vai encerrar e fi-
brosar, dando origem no adulto ao vestígio do pro-
A pele, que ao nível das bolsas escrotais toma cesso vaginal (ligamento de Cloquet) - Fig. 7.4.
0
nome de escroto, é a única camada comum a A vaginal, como serosa que é, vai apresentar dois
ambas as bolsas, send? pigmentada e preguea- folhetos. O parietal encontra-se em relação com
da rransversalmente. E revestida na profundi- a face profunda das bolsas e o visceral vai reves-
dade pelo dartos, uma camada formada por fi- tir de forma íntima o testículo, o epidídimo e a
bras elásticas e musculares, que se dispõem trans- emergência do cordão. A linha de reflexão entre os
versalmente, de modo que a sua contracção con- dois folhetos vai cruzar anteriormente a face ante-
fere urn aspecto pregueado ao escroto. Ao chegar rior do cordão um pouco acima da cabeça do epi-
à linha média o dartos divide-se em duas lâmi- dídimo. Desde esse ponto vai prolongar-se lateral
nas, urna superficial, que se continua pela bolsa do e inferiormente para atingir a face medial do tes-
lado oposto e uma profunda que vai ascender ver- tículo a qual percorre até ao bordo posterior, altura
ticalmente entre os dois testículos até à face infe- em que vai descer para contornar inferiormente o
rior do pénis, formando um septo mediano a sepa- ligamento escrotal. A partir do polo posterior vai
rar as duas bolsas. A partir do dartos existem ca- tomar uma direcção anterior e superior atraves-
madas individualizadas para cada uma das bolsas. sando a face lateral do testículo até ao epidídimo,
A fáscia espermática externa continua ao nível das onde se prolonga ao longo do flanco súpero-lateral
bolsas o revestimento superficial do músculo oblí- deste órgão, até à face anterior da emergência do
quo externo. A túnica muscular é constituída por cordão. Na cabeça e cauda do epidídimo, a vagi-
um músculo, o cremáster, cuja função é a elevação nal passa directamente da face lateral do testículo
do testículo. Este deriva de fibras do músculo oblí- ao epidídimo. No entanto, na região do corpo des-
quo interno que são arrastadas pelo testículo à sua te órgão, a vaginal forma um fundo de saco - seio
passagem e é formado por dois feixes, um lateral do epidídimo - que se interpõe entre os dois ór-
e um medial. O feixe lateral vai prolongar o bor- gãos até ao bordo medial do epidídimo (Fig. 7.2).
do inferior do músculo oblíquo interno, dirigindo- O testículo é irrigado pela artéria testicular. Esta
-se ao longo do bordo lateral do canal inguinal até artéria é ramo da aorta abdominal, tendo a sua
à face lateral do testículo onde as suas fibras vão origem logo abaixo das artérias renais. Após o seu
divergir para se inserirem na face anterior da fás- trajecto abdominal e pélvico vai percorrer o cordão
cia espermática externa. O feixe medial, menos de- espermático. Ao chegar ao epidídimo divide-se
senvolvido, termina na mesma camada, ao nível da num ramo epididimário que se prolonga ao longo
face medial do cordão espermático, antes de atin- do corpo e da cauda deste órgão, acabando por se
gir o testículo. A fáscia espermática interna deri- anastomosar com a artéria deferencial, ramo da ar-
va de fibras da fáscia transversalis. Tem origem no téria vesico-deferencial, e num ramo testicular que
anel inguinal profundo e desde aí vai percorrer o cruza a face medial do epidídimo até atingir o bor-
canal inguinal contendo a esse nível o cordão es- do posterior do testículo onde penetra a albugínea
permático, prolongando-se em direcção às bolsas para o irrigar. O epidídimo é irrigado pela artéria
onde contém o testículo e o epidídimo. testicular e pela deferencial, que também irriga o

443
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

canal deferente, ao qual acompanha no seu trajec- A sua forma varia consoante esteja em estado d
to. As ampolas dos canais deferentes, vesículas se- flacidez ou de erecção. Qyando flácido tem for e
minais e canais ejaculadores são irrigados por ra- de um cilin. dro que pende anteriormente
. às b111a
0-1
mos das artérias vesico-deferencial, prostática, ve- sas escrotais ( Fig. 7.1). Qyando em erecção O •
sical inferior e rectal média. A artéria funicular é . d 1 1 - fi
rus aumenta e vo ume e e eva-se a rente do ab- Pe-
um ramo da epigástrica que desce ao longo do cor- dómen.
dão espermático e se anastomosa com as artérias Tem duas extremidades, uma posterior ou raj
testicular e deferencial. É responsável pela irriga- pela qual se insere no púbis, e uma anterior z,
, Vo-
ção arterial das camadas mais profundas das bolsas lumosa, a glande. Esta tem uma forma Cónica
escrotais; as camadas superficiais recebem ramos cuja base, denominada "coroa'', é talhada em bi~
das pudendas externas, da femoral e da pudenda sel à custa da face inferior, separando-se do cor-
interna (ramos escrotais posteriores). po do pénis pelo sulco balano-prepucial (Fig. 7.7).
A drenagem venosa do testículo e da região ante- Na extremidade da glande observa-se o meato Uri-
rior do epidídimo faz-se para o plexo venoso es- nário (Fig. 7.7).
permático anterior (Fig. 7.4); a da região poste- Na sua extremidade posterior ou raiz, os consti-
rior do epidídimo faz-se para o plexo venoso pos- tuintes do pénis vão prolongar-se para lá da sín-
terior (Fig. 7.4). O sangue venoso do canal defe- fise púbica, em direcção ao períneo. O pénis vaj
rente é drenado em parte para os plexos venosos inserir-se na sínfise púbica através do ligamento
do cordão espermático e para o vesical, prostáti- suspensor do pénis e lateralmente nos ramos ís-
co e seminal, que também drenam as vesículas se- quio-púbicos através dos corpos cavernosos (Fig.
minais e os canais ejaculadores. O sangue venoso 7.1 e 7.7).
das camadas superficiais das bolsas escrotais é dre- O pénis é formado por dois corpos erécteis, late-
nado pela veia pudenda externa para a veia safena rais, os corpos cavernosos e um mediano, o cor-
magna e pela veia pudenda interna para a veia hi- po esponjoso, que termina por uma dilatação ante-
pogástrica; as camadas profundas drenam para os rior, a glande (Fig. 7.7). Estas estruturas mantêm-
plexos do cordão. -se unidas por membranas organizadas em quatro
A drenagem linfática do testículo faz-se directa- camadas (Fig. 7.7).
mente para os gânglios lombares e aórticos, en- Os órgãos erécteis são formados por capilares mo-
quanto que a do canal deferente e das vesículas se- dificados que constituem uma rede de espaços
minais se dirige aos gânglios ilíacos externos e ilía- areolares que comunicam entre si e que estão con-
cos internos. As bolsas drenam para os gânglios tidos por um invólucro fibroso e elástico, a albugí-
ilíacos internos. nea. Qyando o sangue preenche estas estruturas
O testículo e o epidídimo são inervados por ra- cria uma pressão que se traduz pela erecção.
mos do plexo celíaco por via do plexo testicular e Os corpos cavernosos são dois cilindros, ligeira-
do plexo hipogástrico. O s plexos vesical e deferen- mente aplanados transversalmente, que se inserem
cial são responsáveis pela inervação de canais de- posteriormente nos 2/3 anteriores da face inferior
ferentes, vesículas serninais e canais ejaculadores. dos ramos ísquio-púbicos (Fig. 7.7). Esta inserção
As bolsas são inervadas pelos ramos do nervo pe- faz-se através da sua face lateral, estando a infe-
rineal superficial, ramo do nervo pudendo inter- rior e a medial recobertas pelo músculo ísquio-ca-
no. O cremaster é inervado pelo ramo perineal do vernoso. Desde esta inserção prolongam-se ante-
nervo pequeno ciático e pelos ramos genitais dos riormente e ao passar inferiormente à sínfise púbi-
nervos íleo-inguinal e genito-femoral. ca, vão manter-se unidos ao longo da linha média,
de forma que determinam duas goteiras, uma su-
perior que se relaciona com a veia dorsal profun-
PÉNIS da do pénis e uma goteira inferior, mais ampla, em
relação com o corpo esponjoso e uretra (Fig. 7.8).
É o órgão de cópula e órgão terminal do sistema Anteriormente os corpos cavernosos estreitam e
urinário masculino. inserem-se na base da glande (Fig. 7.7).

444
REPRODUÇÃO I SISTEMA GENITAL MASCULINO

11

Fig. 7.7: Estrutura do pénis.


1_Freio da glande 2. Prepúcio 3. Meato uretral 4. Glande 5. Bulbo 6. Pele 7. Dartos 8. Fáscia do pénis (profunda de Buck) 9. Músculo ísquio-
cavernoso 10. Corpos cavernosos 11 Coroa da glande 12. Corpo esponjoso

6 5
separa-se da face posterior da uretra membranosa
pelos músculos esfíncter estriado da uretra e trans-
verso profundo. Na espessura destes músculos, a
9 cada lado da face superior do bulbo, distinguem-
-se duas pequenas estruturas glandulares arredon-
dadas denominadas "glândulas bulbo-uretrais (de
Cowper)" - Fig. 7.5 e 7.6. De cada uma destas
glândulas parte um canal excretor que vai penetrar
no bulbo num trajecto oblíquo para a frente e para
dentro para ir drenar ao nível da uretra (Fig. 7.6).
O pénis é revestido por 4 camadas: pele, fáscia su-
10 perficial (dartos), camada celular e fáscia profunda.
A pele ao nível do pénis é muito móvel e na sua
face inferior apresenta um septo mediano que pro-
2
longa o das bolsas. O dartos reveste a face profun-
Fig. 7.8: Corte transversal do pénis.
1. Corpo esponjoso 2. Uretra peniana 3. Corpo cavernoso 4. Artéria da da pele e é uma continuação da camada ho-
dorsal do pénis 5. Veia dorsal profunda do pénis 6. Veia dorsal mónima das bolsas. A semelhança desta possui fi-
superficial do pénis 7. Artéria cavernosa 8. Fáscia peniana profunda
(Buck) 9. Fáscia peniana superficial (Dartos) 10. Pele bras musculares que, na sua maioria, se dispõem
circularmente. Para além de conter vasos e nervos
O corpo esponjoso é mais curto e mais volumoso a camada celular tem por função conferir mobili-
que os corpos cavernosos. Envolve a uretra ante- dade à pele. A fáscia profunda denomina-se fáscia
rior e localiza-se na goteira inferior formada pelos do pénis e recobre directamente os corpos erécteis
corpos cavernosos. A sua extremidade posterior é bem como os vasos e nervos profundos do pénis;
volumosa e designa-se bulbo (Fig. 7.7). Este está posteriormente prolonga-se pela fáscia superficial
recoberto pelo músculo bulbo-esponjoso e pela do períneo e pelo ligamento suspensor do pénis,
fáscia superficial do períneo. A sua face superior inferiormente pela fáscia espermática externa das

445
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

bolsas e anteriormente confunde-se com a albugí- A inervação sensitiva provém do ramo genital d
0
nea dos corpos erécteis. nervo genito-femoral e do nervo dorsal do Péni
A pele do pénis, acompanhada pelo dartos e pela A inervação vegetativa provém do plexo hipog· s.
as-
camada celular vai emitir um prolongamento à trico, por via dos nervos cavernosos.
volta da glande, que se denomina prepúcio (Fig.
7.7). A fáscia do pénis, que termina na base da
coroa, não participa na formação desta estrutura. PRÓSTATA
O prepúcio pode ter dimensões muito variáveis,
podendo cobrir ou não a glande. A abertura do É a mais importante glândula anexa ao sistema
prepúcio deve ser tal que permita o deslizar sobre genital masculino, não só pelo seu papel na secre-
a glande, mas por vezes é mais estreita, alteração a ção do fluido prostático, mas pela extraordinária
que se chama fimose e que pode necessitar de cor- relevância que assumem as suas patologias na ac-
recção cirúrgica através de um procedimento sim- tividade clínica.
ples - a circuncisão. O prepúcio está unido à face Em termos anatómicos a próstata tem uma forma
inferior da glande por uma prega cutânea que é de pirâmide quadrangular, pelo que nela se distin-
designada "freio" (Fig. 7. 7). A cada lado desta pre- guem 4 faces, uma base, superior, e um ápice, in-
ga observam-se na face inferior da glande dois sul- ferior. Está localizada inferiormente à bexiga, su-
cos que têm origem no sulco balano-prepucial e se periormente ao períneo, anteriormente ao recto e
prolongam até ao meato urinário. posteriormente à sínfise púbica (Fig. 7.1). Contém
O pénis é irrigado por artérias superficiais, que de- na sua espessura várias estruturas, nomeadamente
rivam da pudenda externa e perineal superficial e a porção prostática da uretra, o esfincter liso e por-
por artérias profundas, ramos da pudenda interna. ção superior do esfincter estriado da uretra (mús-
Neste último grupo incluem-se as artérias caver- culo esfíncter externo), o utrículo prostático e os
nosas (Fig. 7.8), que se prolongam ao longo destes canais ejaculadores (Fig. 7.6). É rodeada por uma
órgãos dando origem a numerosas "artérias helici- série de estruturas que no seu conjunto formam
nas", assim designadas devido ao seu trajecto em uma cápsula que encerra a loca prostática.
espiral, as artérias bulbo-uretrais, que irrigam o A face anterior, ligeiramente convexa, está reco-
bulbo e restante corpo esponjoso, e as artérias dor- berta na sua região inferior pela porção mais supe-
sais do pénis (Fig. 7.8), que irrigam os corpos ca- rior do esfincter estriado da uretra, que ao nível do
vernosos e terminam formando um círculo arterial ápice da próstata, a envolve em toda a sua circun-
na base da glande. ferência. Anteriormente a este músculo, a próstata
A drenagem venosa do pénis faz-se por duas veias: relaciona-se com a expansão pré-prostática do li-
a veia dorsal superficial e a veia dorsal profunda do gamento transverso do períneo, com a região an-
pénis (Fig. 7.8). O sangue das camadas superficiais terior do plexo venoso prostático (de Santorini),
é drenado para a veia dorsal superficial que é tribu- com os ligamentos pubo-vesicais e, finalmente,
tária da veia safena magna. A veia dorsal profunda com a sínfise púbica.
resulta da união de dois plexos localizados no sul- A face posterior é convexa e apresenta um sulco
co balano-prepucial e prolonga-se pela goteira da vertical na sua zona média que a divide em dois
face dorsal do pénis entre as artérias homónimas, lobos laterais. Relaciona-se com a face anterior
indo terminar no plexo prostático (Santorini). Este do recto, da qual se separa pelo septo recto-vesical
localiza-se ao longo das faces laterais e anterior da (Fig. 7.1). Esta relação posterior é extremamen-
próstata e é da sua região anterior que se originam, te importante pois permite a palpação da prósta-
de cada lado, as veias pudendas internas. ta através do recto com o toque rectal. Este ges-
A drenagem linfática superficial faz-se para o gru- to simples pode ser por isso de grande importân-
po súpero-medial dos gânglios inguinais superfi- cia.diagnóstica.
ciais. A linfa das regiões profundas segue colec- As faces (ínfero) laterais estão inclinad~s ântero-
tores satélites da veia dorsal profunda e é drenada -inferiormente e estão recobertas por uma lâmi-
para os gânglios inguinais profundos e superficiais. na de tecido celulo-fibroso designada "fáscia late-

446
REPRODUÇÃO ! SISTEMA GENITAL MASCULINO

al da próstata". Esta contêm a porção lateral do


r )eJCO venoso prostático e prolonga-se até à apo-
Pevrose média do períneo - fáscia superior do dia-
~ agrna urogenital, separando a próstata do mús-
~o levantador do ânus e da aponevrose pélvica
e rofunda - fáscia inferior do diafragma urogeni-
fa1. Superiormente a aponevrose prolonga-se pelos
flancos da base da bexiga, anteriormente insere-se
no púbis e posteriormente dirige-se até ao sacro, a
cada lado do recto, formando os septos para-sagi-
tais pubo-sagrados.
A face superior ou base está dividida numa verten-
te anterior, vesical, que se relaciona com a face in-
ferior da bexiga e que contém na sua região mais
Fig. 7.9: Divisão da próstata.
anterior o orincio da uretra prostática, e numa ver- 1. Uretra prostática 2. Bexiga 3. Canal ejaculador 4. Cápsula
tente posterior que se dirige posterior e superior- prostática 5. Zona central 6. Zona de transição 7. Zona periférica
8. Lobo anterior
mente. Esta vertente posterior, designada "semi-
nal", apresenta uma depressão em relação com a
terminação do canal deferente e das vesículas se- A zona de transição é a mais profunda, rodeando
rninais. Anteriormente a esta depressão existe uma a uretra, sendo a mais afectada nas situações de hi-
saliência transversal que separa as vertentes ante- perplasia benigna da próstata, pelo que nesta pa-
rior e posterior da próstata e que constitui o lobo tologia, as queixas urinárias surgem mais preco-
médio da próstata ou cornissura pré-espermática cemente.
ou pré-seminal. Posteriormente à depressão existe A zona central encontra-se compreendida entre
uma outra saliência transversal designada "comis- as anteriores, sendo atravessada pelos canais eja-
sura retro-espermática ou retro-seminal". culadores.
O vértice da próstata localiza-se sobre o plano mé- A cápsula prostática é formada anteriormen-
dio do períneo, anteriormente ao septo recto-vesi- te pela lâmina pré-prostática que se destaca do
cal e ao recto. folheto superior da aponevrose perineal média,
A próstata é formada por múltiplas glândulas en- posteriormente pelo septo recto-vesical, lateral-
volvidas por fibras de músculo liso e tecido con- mente pelas fáscias laterais da próstata, inferior-
juntivo. As secreções prostáticas são drenadas para mente pelo plano médio do períneo (nomeada-
a uretra através do utrículo prostático, que se loca- mente pela lâmina superior da aponevrose mé-
liza no colículo seminal (Fig. 7.6 e Fig. 6.16). dia) e superiormente pelo tecido conjuntivo que
A próstata divide-se anatornicamente em lobos: a separa da face inferior da bexiga. Lateralmente
anterior (ou istmo), laterais, médio e posterior, as paredes da loca contêm os plexos peri-prostá-
sendo que apenas o lobo anterior não contém te- ticos e anteriormente as veias pré-vesicais.
cido glandular, sendo formado exclusivamente por A próstata é irrigada por artérias que provêm das
tecido fibro-muscular. artérias prostática, vesical e rectal média. O seu san-
Existe uma outra divisão possível da próstata, com gue é drenado anterior e lateralmente para o plexo
mais relevância do ponto de vista clínico. Esta prostático ântero-lateral e posteriormente para o
pode dividir-se em zona periférica, de transição e plexo seminal. Estes plexos por sua vez são drena-
central (Fig. 7.9). dos pelas veias vesicais para as veias ilíacas internas.
A zona periférica é a mais extensa, sendo nela que A drenagem linfática organiza-se numa rede su-
se desenvolvem, na maior parte dos casos, as neo- perficial periprostática. Esta rede é drenada por 4
plasias malignas da próstata, motivo pelo qual a colectores principais que se originam na sua face
sintomatologia urinária é habitualmente mais tar- posterior: um pedículo ilíaco externo que drena
dia nestas situações. para os gânglios ilíacos externos; um pedículo ilia-

447
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

co interno; um pedículo posterior que drena para Ao nível testicular, vai ocorrer uma infiltração ad·
os gânglios sagrados laterais e do promontório e posa, com atrofia e hipoplasia dos túbulos sem· '.'
um pedículo inferior que segue o trajecto da arté- feros, que_ adquir~m um tom amarelado. Estas~:
ria pudenda interna para drenar num gânglio ilía- terações mfluenc1am algumas características d
0
co interno. esperma, como o volume, o número, a mobilidad
Os nervos derivam do plexo hipogástrico. a morfologia e a fecundidade dos espermatoz -~•
Ot-
des, embora haja variações inter-individuais s·
tg-
DESENVOLVIMENTO E EVOLUÇÃO COM nificativas.
O ENVELHECIMENTO No pénis, a percentagem de células musculares li-
sas e fibras elásticas nos corpos cavernosos diminUj
O desenvolvimento dos órgãos reprodutores ini- causando alteração do tamanho e funcionarnent~
cia-se num estadio inicial do embrião, em estrei- do órgão, com redução da sua extensibilidade e da
ta ligação com o desenvolvimento do sistema uri- elasticidade da túnica albugínea. Por outro lado, a
nário. Inicialmente é impossível distinguir entre as aterosclerose das artérias peruanas (associada mui-
gónadas masculinas e as femininas. No embrião tas vezes a factores de risco comuns no idoso como
masculino, o cromossoma Y estimula o desenvol- a hipertensão arterial e a diabetes mellitus) pode
vimento dos cordões sexuais primitivos para for- acabar por resultar em disfunção eréctil.
mar os cordões testiculares, que darão origem às
estruturas dos testículos. Entre os cordões testicu-
lares estão as células de Leydig, que na 8ª semana
iniciam a produção de testosterona que impulsio- a
na a diferenciação dos genitais internos e externos.
Com o desenvolvimento fetal, os testículos, ini- 2

cialmente abdominais tornam-se mais caudais.


Passam pelo canal inguinal por volta da 28ª sema-
na e atingem o escroto na 33• semana. Durante a
descida, os testículos mantêm a sua irrigação san-
guínea original, com as artérias testiculares ramifi-
cando-se da aorta lombar. Esta é a razão pela qual
estas artérias não respeitam o princípio de "pou-
D
pança dos espaços e dos materiais" que é generi-
camente presente no corpo humano. O ligamento
escrotal é o remanescente adulto do gubernáculo
(cordão fibroso que liga os testículos fetais ao es-
croto guiando a descida dos testículos) (Fig. 7.10). 4

Na mulher, os ovários inicialmente migram cau-


dalmente de maneira semelhante aos testículos, da
sua origem na parede abdominal posterior. No en-
Ili
tanto, eles alcançam a sua posição final intrapélvica.
O gubernáculo torna-se o ligamento do ovário e o
ligamento redondo do útero. 6
O envelhecimento do sistema genital masculino é
um processo multifactorial. As alterações endocri-
nológicas que comporta vão-se reflectir, não só na
função sexual e reprodutora, mas também na alte-
Fig. 7.1O: Desenvolvimento do testículo (descida).
ração da composição corporal, incluindo um au-
A. 7 semanas B. 24 semanas C. Recém-nascido
mento da adiposidade abdominal e diminuição do 1. Testículo 2. Púbis 3. Gubernáculo 4. Testículo iniciando o seu
tecido muscular e da massa óssea. trajeto no canal inguinal 5. Processo vaginal 6. Túnica vaginal
7. Proeminência escrotal

448
8. SISTEMA GENITAL FEMININO E MAMA

INTRODUÇÃO cie mamilonada, de cor branca e consistência fu-


me. M ede em média 4 cm de comprimento, 2 cm
O sistema reprodutor feminino compreende os de largura e 1 cm de espessura. Os ovários locali-
órgãos genitais, internos e externos, e a mama. zam-se junto à parede látero-posterior da cavida-
Os órgãos genitais internos incluem os ovários, de pélvica, repousando numa p equena depressão,
as trompas (ou tubas) uterinas, o útero e a vagi- chamada "fosseta ovárica".
na. Os ovários e as trompas são também designa- O ovário é um órgão intra-peritoneal parcialmen-
dos "anexos uterinos". O s órgãos genitais externos te coberto pela trompa e mesossalpinge. As suas
são constituídos pela vulva. relações são (Fig. 8.1):
Este sistema tem diversas funções, sexuais e repro- • Face latera!:
dutoras, sendo a principal delas a geração de um • Na nulípara corresponde à fosseta ovári-
novo ser humano, através da produção dos óvulos, ca, a qual é definida pelos vasos hipogás-
recepção dos espermatozóides, fecundação, im- tricos e ureter atrás, pelo ligamento largo
plantação, crescimento e desenvolvimento do em- à frente, pelos vasos ilíacos externos su-
brião e do feto até ao seu nascimento. Tem tam- periormente e pelo ureter e pelas artérias
bém uma função hormonal, essencial para produ- umbilical e uterina inferiormente;
ção dos gâmetas, gravidez, desenvolvimento dos • Na multípara o ovário repousa na fosseta
caracteres sexuais secundários femininos e aleita- infra- ovárica, que corresponde anterior-
mento. mente ao ureter e à artéria uterina, pos-
teriormente ao bordo do sacro e inferior-
mente ao bordo superior do músculo pi-
O VÁRIO riforme.
• Face medial (ou infundfüulo-tubária): rela-
O ovário é o órgão produtor de ovócitos e secre- ciona-se com ansas intestinais à direita e à es-
tor de hormonas sexuais. É ovóide, com superfl:- querda com o cólon sigmoide;

12
11
Fig. 8.1: Sistema genital feminino in situ.
1. Ligamento próprio do ovário (útero-ovárico) 2. Ligamento largo do útero 3. Ligamento redondo 4. Bexiga 5. Útero (fundo) 6. Trompa uterina
7. Vasos ilíacos externos 8. Ovário 9. Ligamento suspensor do ovário (contendo os vasos ováricos) 10. Ligamentos útero-sagrados 11. Recto
12. Cólon sigmóide

449
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

• Bordo póstero-ínfero-medial ou livre: • Mesovário - é um pequeno meso que une


0
relaciona-se com as ansas intestinais à ovário ao folheto posterior do ligamento lar-
direita e cólon sigmoide à esquerda; go. Os dois folhetos deste mesa fixam-se à
• Bordo ântero-súpero-lateral ou mesová- volta do hilo ovárico.
rico (hilo ovárico): dá inserção ao meso-
vário; O ovário é recoberto pela túnica albugínea, que é
• Extremidade póstero-superior ou tubá- revestida por um epitélio superficial, sendo cons-
ria: relaciona-se com os vasos ilíacos ex- tituída por uma fina lâmina de tecido conjunti-
ternos e dá inserção ao ligamento sus- vo laxo. Abaixo da túnica albugínea existe o estro-
pensor do ovário. ma ovárico que é constituído por tecido conjunti-
• Extremidade ântero-inferior ou uteri- vo celular denso, disposto em turbilhão no córtex
na: próxima do útero, dá inserção ao li- e um pouco mais laxo na medula. O córtex ová-
gamento próprio do ovário. rico contém de forma dispersa, folículos ováricos
folículos atrésicos, corpo amarelo (cíclico, gravídi:
O ovário é suspenso por 3 ligamentos e pelo me- co) e corpos albicans (Fig. 8.3). A medula ovári-
sovário (Fig. 8.2): ca contém vasos.
Ligamento suspensor do ovário (lombo-ová-
rico) - é constituído por fibras conjuntivas e
de músculos liso que envolvem os vasos ová- TROMPA (TUBA) UTERINA (DE FALÓPIO)
ricos. Ao nível do estreito superior, este liga-
mento cruza os vasos ilíacos externos, 2 cm à A trompa uterina (Fig. 8.1) é um canal múscu-
frente do ureter, e termina na extremidade tu- lo-membranoso que dá passagem aos gâmetas,
bária do ovário; constituindo o local de fecundação. O canal tu-
Ligamento infundíbulo-ovárico - estende-se bário faz comunicar as cavidades uterina e peri-
do infund.tbulo (ou pavilhão) tubário à extre- toneal. As pregas das suas paredes dão-lhe um as-
midade tubária do ovário, ajudando ao con- pecto labiríntico. Mede cerca de 11 cm de com-
tacto entre as duas estruturas; primento. São duas trompas, uma de cada lado do
Ligamento próprio do ovário ou ligamento útero.
útero-ovárico - cordão longo (3 cm), nasce A trompa uterina encontra-se dividida em várias
do como uterino, atrás e abaixo da trompa porções (Fig. 8.2):
e fixa-se na extremidade uterina do ovário;

9
Fig. 8.2: Útero, trompas e ovário (configuração exterior e interior).
1. Trompa (infundíbulo) 2. Ligamento suspensor do ovário 3. Trompa (ampola) 4. Trompa (istmo) 5. Útero (corpo) 6. Mesossalpinge
7. Ligamento largo do útero 8. Ligamento útero-sagrado 9. Ureter 10. Ligamento útero-ovárico 11. Ovário 12. Útero (istmo) 13. Interior
da cavidade uterina 14. Miométrlo 15. Trompa (porção intra-uterina/intersticial) 16. Trompa (istmo) 17. Fímbrias do infundíbulo 18. Folículo
de Graaf 19. Corpo albicans 20. Corpo amarelo (lúteo) 21. Vasos uterinos 22. Endométrio 23. Vagina 24. Orifício externo do colo uterino
25. Canal cervical

450
REPRODUÇÃO I SISTEMA GENITAL FEMININO

2 • Túnica muscular: é constituida por uma ca-


mada mais superficial, formada essencial-
mente por feixes longitudinais, e uma camada
profunda, formada por feixes circulares. No
entanto, esta divisão não é absoluta porque
muitos feixes musculares dispõem-se de for-
ma aleatória. A túnica muscular é responsável
pela motilidade tubária, importante no trans-
4
porte dos gâmetas.
• Túnica mucosa.: compreende o epitélio que
reveste a superficie interior da trompa.
fig. 8.3: Configuração interior do ovário.
1_ Vasos ováricos 2. Folículos em maturação 3. Folículo de Graaf
4. Folículo após ruptura (corpo hemorrágico) 5. Corpo amarelo (lúteo} Os anexos uterinos, ovários e trompa, constituem
6. Corpõ albicans
uma unidade vascular devido à riqueza das anas-
tomoses dos vasos que os irrigam. O s vasos de um
• Porção intersticial {uterina): localizada na es- ovário constituem uma via suplementar da trompa
pessura do miométrio, ao nível do seu ângu- e vice-versa. A vascularização anexial anastomosa-
lo lateral. Tem um trajecto oblíquo superior e -se com os vasos uterinos e com os vasos epigás-
lateralmente; tricos inferiores.
• Istmo: continua a porção uterina da trompa A artéria ovárica nasce na face anterior da aorta
e situa-se entre o ligamento redondo do úte- ao nível de L2, dirige-se obliquamente para bai-
ro e o ligamento próprio do ovário. D ispõe-se xo e lateralmente e cruza à frente o ureter ao nível
transversalmente; de L3. Esta artéria desce no ligamento suspensor
• Ampola: prolonga o istmo. É flexível e apre- do ovário, acompanhada pelas veias satélites, va-
senta parede fina e consistência mole, com sos linfáticos e plexos nervosos do ovário. Ao nível
grande elasticidade. É a porção mais longa; do estreito superior da bacia, a artéria ovárica cru-
• lnfundfüulo (ou pavilhão) tubário: é a extre- za os vasos ilíacos, à frente do ureter e penetra no
midade distal, muito móvel, que faz comuni- ligamento largo.
car a cavidade tubária com a cavidade peri- A artéria ovárica termina no polo tubário do ová-
toneal. A base do infundfüulo é fenestrada, rio em dois ramos que se anastomosam com os
constituida por diversas franjas {10 a 15) ou
fimbrias.

Relativamente às relações da trompa uterina:


• Bordo mesossalpíngeo ou inferior: continua-
-se com o mesossalpinge e relaciona-se com
as arcadas vasculares e nervos infra-tubários;
• Ampola e infundfüulo: estão em contacto
com o ovário {Fig. 8.1). A trompa esquerda
relaciona-se com o cólon sigmóide e respec-
tivo meso, a trompa direita com o cego e o
apêndice vermiforme.

A parede da trompa uterina tem 4 camadas:


• Túnica serosa (peritoneu): constitui a sua ca-
mada mais superficial;
• Túnica sub-serosa: conjuntiva, contém os va- Fig. 8.4: Vascularização do sistema genital feminino.
1. Vasos ováricos 2. Ramos tubários dos vasos ováricos 3. Vasos
sos e nervos;
uterinas 4. Artéria vaginal 5. Artéria pudenda inte rna

451
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

ramos homólogos da artéria uterina, para formar As veias ováricas aferentes contornam as arteríolas
as arcadas arteriais infra-ováricas e infra-tubárias, ováricas (Fig. 8.4).
das quais nascem as arteríolas ováricas e tubári- Os plexos infra-tubário e infra-ovárico drenam
cas (Fig. 8.4). essencialmente, para as veias ováricas e acessoria:
A artéria uterina dá, sob o istmo tubário, a artéria mente para os plexos uterinas. As veias ováricas
do fundo uterino e os ramos tubários médios. Ela unem-se para formar a veia ovárica direita que se
termina nas artérias ovárica média e tubária mé- abre na veia cava inferior, e a veia ovárica esquerda
dia, que se anastomosam com as suas homólogas que drena para a veia renal esquerda.
laterais para formar as arcadas infra-ovárica e in- Tanto o ovário como a trompa drenam para plexos
fra-tubária (Fig. 8.4). linfáticos localizados no respectivo meso. Estes es-
Da arcada infra-ovárica nascem 10 a 12 arterío- tão anastomosados aos plexos linfáticos para-ute-
las de 1.• ordem. Cada arteríola de l_a ordem dá rinas. Na mulher em idade reprodutiva a drena-
2 a 3 arteríolas de 2. ª ordem, que por sua vez dão gem linfática é feita, essencialmente, para os gân-
origem a arteríolas de 3.ª ordem, que formam a glios pélvicos e lombares. Após a menopausa, a
rede perifolicular. Os ramos tubários médios, em drenagem é feita principalmente para os gânglios
número de 3 ou 4, vascularizam essencialmente lombares.
a porção uterina. Da arcada infra-tubária nascem Os nervos provêm, essencialmente, do plexo ová-
as arteríolas ístmicas, as arteríolas ampulares e as rico que deriva do gânglio aorto-renal e do plexo
arteríolas infundibulares. Da rede arteriolar sub- intermesentérico. Acessoriamente a inervação dos
-serosa, rica e sinuosa, derivam as redes serosa e anexos provém dos nervos laterais do útero, ramos
muscular. A riqueza vascular da trompa permite do plexo hipogástrico inferior.
a maioria das intervenções sem risco de isquemia
(perfusão sanguínea insuficiente).
A trompa uterina drena o seu sangue venoso para ÚTERO
o plexo venoso infra-tubário, localizado no me-
sossalpinge. O ovário drena o seu sangue venoso O útero é um órgão muscular oco, destinado a
para o plexo infra-ovárico, situado no mesovário. conter o embrião em desenvolvimento e no parto

rc::vfi)
~~-º ---, [I]
-,

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1

o
2

6
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f)
Fig. 8.5: Estrutura das camadas e posições do útero.
1. Ligamento próprio do ovário 2. Ligamento redondo 3. Ligamento útero-sagrado 4. Ligamento cardinal do útero 5. Graus de retroV"ersão
6. Posição normal (anteversão e anteflexão) A. Retroflexão (normal a tracejado) B. Anteflexão (normal a tracejado)

452
REPRODUÇÃO I SISTEMA GENITAL FEMININO

tern urn papel crucial na expulsão do feto. É firme A camada mucosa ou endométrio sofre variações
e elástico à palpação. Localiza-se na parte média e óclicas na sua espessura ao longo do ciclo mens-
central da cavidade pélvica (Fig. 8.1). trual (ver adiante; Fig. 8.12).
O útero é piriforme com forma de pêra inverti- Esta apresenta-se estratificada em:
da. A zona central ou istmo, mais estreita, sepa- • Epitélio de superfície simples e cúbico na fase
ra O corpo uterino (superior) do colo (inferior) - folicular do ciclo menstrual, transformando-
Fig. 8.2. O ângulo formado anteriormente entre o -se em epitélio cilíndrico na fase lútea;
corpo uterino e a vagina é de 90.0 , sendo esta po- • Glândulas uterinas, tubulares, rectas na fase
sição designada de "ânteroversão". O corpo e colo folicular, e espiraladas na fase lútea;
forrnam anteriormente um ângulo de 100-120. 0 , • Uma lâmina própria, que inclui uma cama-
sendo esta posição designada de "anteflexão" (Fig. da funcional compacta, uma camada funcio-
s.5). M ais raramente, o útero apresenta uma incli- nal esponjosa e uma camada basal. Apenas a
nação posterior (retroversão e/ou retroflexão). última persiste inalterada ao longo de todo o
O corpo uterino é cónico, achatado da frente para ciclo menstrual, enquanto as outras duas so-
trás. Apresenta duas faces, uma anterior e uma frem transformações ao longo do ciclo sob in-
posterior, três bordos (superior e laterais - direi- fluência hormonal;
to e esquerdo), uma base convexa ou fundo ute- • Artérias basais, que dão à camada funcional as
rino, e três ângulos (dois laterais ou cornos ute- arteríolas espiraladas.
rinos, que se continuam com as trompas uteri-
nas e que anteriormente dão inserção aos liga- A camada exterior é formada por uma camada
mentos redondos e posteriormente aos ligamen- serosa ou perimétrio e por uma camada adventí-
tos próprios do ovário, e um inferior, que corres- cia ou fáscia uterina. O perimétrio é constituído
ponde ao istmo). por peritoneu seroso que recobre o fundo uteri-
O colo do útero é cilíndrico e dá inserção, à sua no e as faces anterior e posterior do corpo. A fás-
volta, à vagina, que o divide em supra-vaginal e cia uterina é constituída por tecido conjuntivo e
intra-vaginal. A porção supra-vaginal continua-se recobre as zonas uterinas que não são revestidas
com o istmo e o corpo uterino. A porção intra- por peritoneu.
-vaginal é visível à observação com espéculo va- O peritoneu uterino é muito aderente ao corpo
ginal e acessível ao toque com o dedo do observa- uterino à medida que se aproxima do fundo. So-
dor. Apresenta na parte central o orifkio externo bre a face anterior, a linha de aderência do peri-
do colo. Este dá acesso ao canal cervical. O orifício toneu, marcada por um ligeiro sulco, está loca-
externo do colo é punctiforme na mulher nulípara lizada ao nível do istmo uterino. Na face poste-
e largo e irregular na multípara. rior esta linha vai mais inferiormente, abaixo do
Relativamente à configuração interior, a cavidade istmo uterino. Anteriormente, o peritoneu ute-
uterina compreende a cavidade corporal e o ca- rino continua-se com peritoneu vesical ao nível
nal cervical. do fundo de saco vesico-uterino (Fig. 8.6). Poste-
A cavidade corporal é triangular e virtual, os seus riormente, o peritoneu desce sobre a face poste-
ângulos súpero-laterais continuam-se com os ós- rior do fornix vaginal, para formar o fundo saco
tios uterinos das trompas. Constitui a câmara para recto-vaginal (Fig. 8.6).
o desenvolvimento do feto. A camada muscular ou miométrio é constituída
O canal cervical é uma cavidade real, fusiforme, por fibras do músculo liso, que se agrupam em
repleta de muco cervical e constituído por múlti- feixes, separados por tecido conjuntivo. O fundo
plas pregas. A extremidade superior confunde-se uterino é predominantemente muscular e o colo
com istmo uterino e abre-se na cavidade uterina é, sobretudo, constituído por tecido conjuntivo.
pelo orifício interno do colo. Relativamente às relações do útero, estas podem
A parede uterina é composta por uma camada ex- ser divididas de acordo com as suas porções.
terior (serosa e adventícia), uma camada muscular O corpo uterino relaciona-se anteriormente com
e uma camada mucosa (Fig. 8.2). a face superior da bexiga e posteriormente com

453
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

2 14

13

12

11 10 9 19 18 17

Fig. 8.6: Relações do útero.


1. Útero (corpo) 2. Ovário 3. Trompa 4. Útero (fundo) 5. Peritoneu (a revestir a face superior da bexiga) 6. Bexiga 7. Fundo-de-saco vesico-
uterino 8. Pequeno lábio 9. Grande lábio 10. Ureter 11. Diafragma urogenital 12. Fundo-de-saco recto-vaginal (Douglas) 13. Recto 14. Cólon
sigmoide 15. Sínfise púbica 16. Uretra 17. Diafragma urogenital 18.Vagina 19. Ânus 20. Músculo esfíncter externo do ânus 21. Colo do útero

ansas intestinais e o cólon sigmoide (Fig. 8.1 e origem no corno uterino, à frente da trompa
Fig. 8.6). de Falópio e dirige-se para baixo e para fora,
O fundo uterino relaciona-se com ansas intesti- atravessando o canal inguinal para terminal
nais. no grande lábio (vulva);
Dos bordos laterais partem os ligamentos largos • Ligamento largo: é formado pelo prolonga-
(Fig. 8.2) e junto a eles caminham os vasos ute- mento do peritoneu que recobre as faces ute-
rinos (Fig. 8.4). rinas e estende-se desde o bordo lateral do
A face anterior da porção supra-vaginal do colo útero até à parede lateral da cavidade pélvica.
está localizada sob o fundo de saco vesico-uterino • Ligamento vesico-uterino: estende-se do colo
(Fig. 8.6). A face posterior é recoberta por perito- do útero à base da bexiga, acima do ureter re-
neu e dá inserção aos ligamentos útero-sagrados. trovesical;
Os bordos laterais localizam-se acima do ureter. • Ligamento utero-sagrado: insere-se sobre o
Contêm as artérias, veias e vasos linfáticos uterinos. colo e o fornix vaginal posterior e termina
A artéria uterina ao cruzar o ureter forma uma próximo das vértebras sagradas S2 a S4;
ansa. • Ligamentos paracervicais: estendem-se da
O fornix vaginal isola a parte vaginal do colo do parte lateral do colo uterino, abaixo do para-
espaço sub-peritoneal pélvico. A porção poste- métrio, à parede lateral da cavidade pélvica.
rior do fornix vaginal, recoberta pelo peritoneu
nos 20 mm superiores, relaciona-se com o fundo A vascularização arterial do útero é feita pelas ar-
de saco posterior ou recto-vaginal (de Douglas). térias uterinas e artérias vaginais (Fig. 8.4).
Dá inserção aos ligamentos útero-sagrados. Os A artéria uterina nasce da artéria hipogástrica.
bordos laterais do fornix vaginal correspondem Esta atinge o útero junto ao colo após cruzar o
ao paracervix e onde caminham os vasos cervi- ureter, tendo um trajecto ascendente sinuoso jun-
co-vaginais. to ao bordo lateral do útero.
O útero é mantido in situ por vários ligamentos, Ao rúvel do corno uterino a artéria uterina incli-
pares e simétricos (Figs. 8.1, 8.2 e 8.5) - meios de na-se lateralmente e passa sob o ligamento redon-
fixação. De cada lado existem: do e a trompa para se dividir em 2 ramos, tubário
• Ligamento redondo: pode ser posto em evi- e ovárico médios, que se anastomosam com os ho-
dência pela tracção do fundo uterino. Tem mólogos laterais.

454
REPRODUÇÃO I SISTEMA GENITAL FEMININO

Ao longo do seu trajecto vai emitindo vários ra- • Plexo vaginal, muito desenvolvido, recebe as
rnos colaterais: veias do colo uterino, da vagina e da base da
• Ramos vesico-vaginais (5 a 6) nascem antes bexiga. Drena para as veias vaginais, localiza-
do cruzamento com o ureter. Acompanham o das no paracervix.
ureter terminal em direção à base da bexiga e
do fornix vaginal; A drenagem linfática do útero pode ser dividida
Ramo uretérico ou ureterino, inconstante, entre o corpo e o colo. O corpo drena para os gân-
nasce no ponto de cruzamento; glios lombo-aórticas (látero e pré-aórticas) próxi-
Artéria cervico-vaginal, volumosa, nasce após mos da raiz da artéria mesentérica inferior, para os
o cruzamento do ureter e divide-se em 2 ra- gânglios ilíacos externos e para os gânglios ingui-
mos, anterior e posterior, que vascularizam o nais superficiais (através de colectores que acom-
colo, o fornix vaginal anterior, a base e o colo panham o ligamento redondo). O colo drena para
da bexiga. O ramo anterior dá um ramo para os gânglios ilíacos externos e por vezes também
o ligamento vesico-uterino; para os hipogástricos.
, Ramos cervicais (5 a 6), cada ramo bifurca- O útero é inervado pelo plexo uterino, que tem
-se para se dirigir para as faces anterior e pos- origem no plexo hipogástrico.
terior do colo. O primeiro ramo cervical é o
mais volumoso, vasculariza também a vagina
através da artéria ázigos posterior da vagina; VAGINA
• Ramos somáticos (8 a 10) nascem aos pares, a
partir de um tronco comum que se bifurcara- A vagina é um canal que se estende do colo ute-
pidamente nesses dois ramos, cada um se di- rino à vulva (F ig. 8.7). Tem uma direção oblíqua
rige para cada face do corpo do útero; para baixo e para a frente. Localiza-se na parte in-
• Artéria do ligamento redondo nasce perto da ferior da cavidade pélvica, abaixo do útero, atrás
saída do ligamento redondo do útero e, como da bexiga e à frente do recto. Em repouso, as pare-
o próprio nome indica, vasculariza-o; des anterior e posterior da vagina estão justapos-
• Artéria de fundo uterino, volumosa, vascu- tas, afastando-se durante o acto sexual. Mede 7 a 9
lariza o fundo uterino e a parte uterina da cm de comprimento.
trompa. É uma artéria importante porque o
fundo uterino é a zona preferencial de inser- 2

ção da placenta.

As artérias vaginais são em número de 2 a 3, que


nascem da artéria hipogástrica e caminham no pa-
racervix, atrás da ansa uterina. Elas dão origem a
ramos destinados às faces anterior e posterior da
vagina. Estes ramos anastomosam-se entre eles e
com os ramos cervicais. Formam 2 anastomoses
longitudinais medianas, as artérias ázigos anterior
e posterior da vagina.
Relativamente à vascularização venosa, próximo
das vísceras, as veias formam 2 plexos venosos for-
temente anastomosados:
11 10 9 8
• Plexo venoso uterino, que colecta essencial-
mente as veias do corpo uterino e drena para Fig. 8.7: Configuração interior da vagina.
1. Trompa 2. útero 3. Ovário 4. Ligamento redondo 5. Colo
as veias uterinas localizadas no paramétrio. uterino 6. Vagina (parede posterior) 7. Diafragma urogenital 8. Bulbo
Acessoriamente este plexo é drenado para as vestibular 9. Pequeno lábio 10. Vestibulo 11. Músculo bulbo-esponjoso
12. Músculo ísqui<Kavemoso 13. Pilar do clítoris 14-. Músculo tevantador
veias ováricas; do ânus

455
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

A vagina relaciona-se anteriormente com a bexi- • Artéria rectal média que dá alguns ramos Para
ga e com a porção terminal dos ureteres, em cima, a parede vaginal posterior.
e com a uretra, em baixo (Fig. 8.6).
A face posterior da vagina é recoberta em cima Todos estes ramos anastomosam-se com ramos
pelo peritoneu do fundo de saco de Douglas. contralaterais. Atrás, estas anastomoses formam
Abaixo do peritoneu, a vagina relaciona-se com o muitas vezes uma artéria única mediana, a artéri;
recto, estando separada deste por uma camada de ázigos da vagina, que se estende de cima para bai-
tecido conjuntivo - septo recto-vaginal. xo na parede posterior da vagina.
Nos bordos laterais distinguem-se 2 partes, uma As veias formam de cada lado da vagina o plexo
superior ou intra-pélvica, outra inferior ou perineal. venoso vaginal, que se anastomosa em cima com
A parte intra-pélvica constitui os dois terços supe- o plexo uterino, à frente com o plexo vesical, atrás
riores da vagina e contém múltiplas ramificações com o plexo rectal e em baixo com a veia pudenda
arteriais e venosas vaginais. A parte superior do interna, através das veias vulvares. A drenagem ve-
bordo lateral da vagina relaciona-se, igualmente, nosa vaginal é feita para a veia hipogástrica.
com o ureter. Os linfáticos vaginais acompanham a artéria ute-
A parte perineal relaciona-se (de cima para baixo) rina e a artéria vaginal.
com: as fáscias internas do músculo levantador do Os nervos provêm do plexo hipogástrico, como os
ânus; a aponevrose média e o músculo transverso uterinos.
profundo do períneo; o músculo constritor da vul-
va; o bulbo da vagina e a glândula vulvar (de Bar-
tholin). VULVA
A extremidade superior da vagina insere-se à volta
do colo, formando uma cúpula e um fundo de saco A vulva, órgão genital externo feminino, está lo-
circular (Fig. 8.7). calizada na parte anterior do períneo, entre a face
A vagina abre-se no fundo do vesti.bulo (Fig. 8.7). medial da extremidade superior das coxas (Fig.
Este orificio é diminuído, na mulher virgem, por 8.8). Compreende o monte púbico, os grandes e
uma prega mucosa, o hímen (Fig. 8.8). Com o pri- pequenos lábios, o vesti.bulo, os corpos erécteis e as
meiro coito, o hímen rompe e forma pregas cica- glândulas vulvares.
triciais - as carúnculas hirnenais. O monte do púbis (de vénus) é uma saliência ar-
A vagina apresenta na sua superficie interior múl- redondada, triangular, localizada anteriormente à
tiplas pregas transversais, que são espessamentos sínfise púbica e limitado lateralmente pelas pregas
da mucosa (Fig. 8.7). Longitudinalmente distin- inguinais (Fig. 8.8). É recoberto por pêlos e com-
guem-se nas paredes anterior e posterior, sulcos posto, essencialmente, por uma camada adiposa
medianos na parte inferior, que se designam co- que se continua com tecido celular subcutâneo ab-
lunas da vagina. dominal e dos grandes lábios. As fibras terminais
A parede vaginal é constituída por 3 camadas: dos ligamentos redondos do útero "perdem-se" no
• Camada superficial, conjuntiva; monte do púbis em direcção aos grandes lábios.
• Camada média, muscular, formada por fibras Os grandes lábios limitam a fenda vulvar. São duas
longitudinais lateralmente e circulares mais grandes pregas cutâneas, alongadas de frente para
medialmente; trás (Fig. 8.8).
• Camada profunda, mucosa. A face lateral, de coloração mais escura e pilosa,
está limitada lateralmente pelo sulco genito-fe-
Relativamente à vascularização arterial, encon- moral. A face medial é rosada, lisa e húmida. As
tram-se de cada lado da vagina: extremidades reúnem-se para formar à frente a co-
• Ramos vaginais da artéria uterina e da artéria missura anterior, e atrás a comissura posterior.
cervico-vaginal; Os grandes lábios são formados por um revesti-
• Artéria vaginal propriamente dita, na parte mento cutâneo preenchido por fibras musculares
média da vagina; lisas e por tecido adiposo. É um órgão semi-eréc-

456
REPRODUÇÃO I SISTEMA GENITAL FEMININO

2 12
3

11 ------------ 14

15
6
10

Fi . S.8: Constituição da vulva.


9
. Prepúcio do dítoris 2. Monte púbico (Vénus) 3. Comissura labial anterior 4. Glande (dítoris) 5. Grande lábio 6. Pequeno lábio 7. Abertura
1
da glândula de Bartholin 8. Comissura labial posterior 9. Carúnculas himenais 10. Abertura das glândulas de Skene 11. Orifício da uretra
12_Ligamento suspensor do dítoris 13. Músculo isquio-cavemoso (a revestir os pilares do clítoris) 14. Bulbo vestibular 15. Glândula de Bartholin

til, reforçado por fibras elásticas que o ligam à fás- ra o hímen dos pequenos lábios. O hímen é uma
cia crivada, ao prepúcio do clítoris e ao centro ten- prega mucosa transversal e incompleta cuja face
dinoso do períneo. vulvar é lisa e a face vaginal irregular. A sua resis-
Os pequenos lábios são duas pregas que limitam o tência e a sua forma são muito variáveis.
vestiôulo, localizadas mediaimente em relação aos O clítoris (Fig. 8.8) é um órgão eréctil, formado
grandes lábios (Fig. 8.8). Estas pregas são de apa- por 2 corpos erécteis pares - os corpos cavernosos
rência mucosas e tendem a atrofiar após a meno- - e pelos bulbos vestibulares. Compreende 3 par-
pausa. As extremidades anteriores dividem-se em tes: os pilares, o corpo e a glande. O corpo do clí-
2 pregas secundárias: uma prega anterior que passa toris dirige-se para cima, à frente da sínfise púbica,
acima do corpo do clítoris para formar o prepúcio; depois inflecte (cotovelo do clítoris) para se diri-
e uma prega posterior que se fixa na face inferior gir para baixo. Mantém-se solidamente na sua po-
do clítoris para formar o freio. As extremidades sição, ao nível do seu cotovelo, pelo ligamento sus-
posteriores reúnem-se para formar o freio vulvar. pensor do clítoris. Este provém da linha branca e
Os pequenos lábios são formados por um revesti- da sínfise púbica, dividindo-se para contornar la-
mento cutâneo, sem gordura subcutânea, com uma teralmente e em baixo o corpo do clítoris. O liga-
lâmina fibro-elástica rica em vasos. mento suspensor do clítoris dá extensões laterais
O sulco interlabial localiza-se entre o grande lábio ao nível do óstio uretra! - ligamento pubo-uretral.
e o pequeno lábio do mesmo lado e corresponde à O corpo é recoberto pelo prepúcio do clítoris.
anteriormente ao pilar do clítoris. A glande do clítoris é livre. Constitui a _porção ter-
O vestfüulo vulvar surge como prolongamento da minal, cónica, arredondada do corpo. E constituí-
fenda vulvar, constituindo um espaço virtual pro- da por tecido eréctil esponjoso que provém dos
fundo. Apresenta o orifício uretra! externo locali- bulbos vestibulares.
zado acima da carina uretra! da vagina que termi- Os pilares do clítoris formam a parte posterior
na a coluna vaginal anterior. É rodeado de cada dos corpos cavernosos e inserem-se sobre a par-
lado pelos orifícios das glândulas para-uretrais (de te média da face medial dos ramos isquio-púbicos.
Skene). Unem-se sob a sínfise púbica para formar o corpo
O vesti.bulo vaginal está separado da vagina pelo do clítoris. Um septo incompleto mediano marca
orifício vaginal, ou intróito. Este é fechado pelo esta união. Os pilares do clítoris são recobertos pe-
hímen na mulher virgem. O sulco vestibular sepa- los músculos isquio-cavernosos (Fig. 8.7).

457
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

A fáscia clitoriana é uma camada fibro-elástica, lo- por ramos da artéria femoral e, acessoriamen-
calizada sob a pele que recobre o clítoris. te, por um ramo terminal da artéria obturado-
Os bulbos vestibulares são dois órgãos erécteis ra e pela artéria funicular;
ovóides, anexos à vulva, localizados de cada lado • Território posterior, que está sob a dependên-
dos orifícios uretra! e vaginal. Estes órgãos estão cia da artéria pudenda interna da qual provêm
fixos à fáscia inferior do diafragma urogenital. As as artérias dorsal e profunda do clítoris, ure-
suas extremidades posteriores estão em contacto tra!, bulbar e ramos para as glândulas vestibu-
com as glândulas vestibulares maiores. As extre- lares maiores.
midades anteriores unem-se para formar a comis-
sura bulbar e apresentam uma expansão de teci- A drenagem venosa do monte do púbis, do prepú-
do eréctil para a glândula do clítoris. A comissu- cio e da parte anterior dos lábios é feita pelas veias
ra bulbar está ligada ao corpo do clítoris por ple- pudendas para a grande veia safena.
xos venosos intermediários que unem a circulação A drenagem do clítoris, dos bulbos vestibulares e
venosa dos corpos erécteis. As faces inferiores dos da parte posterior dos lábios é feita pelas veias pu-
bulbos vestibulares estão cobertas pelos músculos dendas internas.
bulbo-esponjosos (Fig. 8.7). As anastomoses entre as veias vulvares e os plexos
As glândulas vulvares são numerosas e atrofiam pélvicos são numerosas.
rapidamente após a menopausa: A vulva é recoberta por uma rica rede de linfáticos
• Glândulas vestibulares menores: são glândulas cujos gânglios linfáticos principais são os inguinais
sebáceas e sudoríparas espalhadas pela super- superficiais súpero-medianos e inferiores. Os últi-
fície dos grandes lábios e ocasionalmente so- mos estão anastomosados com os gânglios ingui-
bre a superfície externa dos pequenos lábios; nais superficiais súpero-laterais. Drenam para os
• Glândulas para-uretrais: correspondem às gânglios inguinais profundos localizados sob a fás-
duas glândulas uretrais mais volumosas. Os cia crivada e no canal femoral, e para os gânglios
seus canais excretores abrem-se de cada lado ilíacos externos.
do orifício externo da uretra; A drenagem hipogástrica é acessória, excepto para
• G lândulas vestibulares maiores ou glându- o clítoris, que raramente é afetado nas invasões
las de Bartholin (Fig. 8.8): projetam-se na neoplásicas.
metade posterior dos lábios. A sua face me- O nervo somático principal da vulva é o nervo pu-
dial corresponde à parede vulvar. A face late- dendo que inerva os 2 terços posteriores dos gran-
ral está adjacente ao bulbo vestibular e ao te- des lábios, os pequenos lábios, o bulbo e o clítoris.
cido bulbo-esponjoso. O seu bordo superior Os ramos genitais dos nervos ílio-hipogástrico,
está em relação com a fáscia inferior do dia- ílio-inguinal e genito-femoral inervam o monte
fragma urogenital. O canal excretor dirige-se do púbis e o terço anterior dos grandes lábios.
para a frente e para a zona média, e abre-se no O nervo cutâneo posterior da coxa participa na
sulco vestibular. Qyando estão dilatadas são inervação da parte média dos grandes lábios.
facilmente palpáveis. Por vezes ocorrem pro- Os nervos vegetativos provêm dos plexos hipogás-
cessos infecciosos nestas glândulas - bartoli- tricos inferiores.
nites - que originam uma turnefacção visível,
habitualmente com sinais inflamatórios asso-
ciados (aumento da temperatura local, rubor
e dor à palpação).

Relativamente à vascularização arterial, um pla-


no que passa no clítoris divide a vulva em 2 ter-
ritórios:
• Território anterior, que é vascularizado pelas
artérias pudendas externas superior e inferior,

458
REPRODUÇÃO I SISTEMA GENITAL FEMININO

mado por fibras verticais e circulares. A sua con-


tração reduz o lúm en dos canais lactíferos e en-
A- mama é uma glândula láctea. É um órgão par, durece o mamilo.
localizado na parede torácica anterior, de cada lado A aréola tem uma coloração rosada nas loiras e
do esterno. Tem forma cónica. A mama da mulher ruivas, acastanhada nas morenas. A sua tonalidade
adulta é constituída por tecido glandular e ductal, é mais escura durante a gravidez.
estroma fibroso que reúne os lobos individuais e Na aréola observam-se pequenos orifkios que cor-
tecido adiposo envolvente (corresponde a cerca de respondem às glândulas areolares. A pele da aréo-
80-85% da mama). Cada mama é constituída por la é aderente e imóvel. É rica em células pigmen-
12-20 lobos cónicos (Fig. 8.9). tadas e possui uma derme exclusivamente fibro-
Na mulher não grávida e sem amamentar, os alvéo- -elástica que contêm os folículos pilosos, as glân-
los são pequenos e compactados; na gravidez os al- dulas sudoríparas e as glândulas areolares. O mús-
véolos aumentam de tamanho e as células envol- culo da aréola é constituído de fibras musculares
ventes aumentam em número; na lactação as célu- lisas circulares e radiais.
las alveolares secretam leite com proteínas e lípidos. A pele peri-areolar é fina, suave e muito flexível.
A- mama é para-esternal, no espaço compreendido Na gravidez e lactação são visíveis as veias subcu-
entre a 3.• e a 7.• costelas. Ela é limitada pelos sul- tâneas. É constituída por todos os elementos que
cos inframamário e supramamário (Fig. 8.9). constituem a pele corporal típica.
Três zonas concêntricas caracterizam a mama: o A glândula mamária desenvolve-se dentro do te-
mamilo, a aréola e a pele peri-areolar (Fig. 8.9). cido adiposo e é encapsulada pelas fáscias pré e re-
O mamilo é a saliência no centro da aréola. É ci- tro-mamária. Apresenta um prolongamento láte-
líndrico ou cónico. No seu topo ou área crivada ro-superior- o processo lateral ou axilar da mama.
abrem-se os óstios dos duetos lactíferos, sendo o Dois terços da glândula mamária repousam sobre
mamilo atravessado por 15 a 25 duetos lactífe- o músculo grande peitoral, um terço sobre os mús-
ros. Tem pigmentação semelhante à aréola, sobre culos oblíquo externo e recto do abdómen, e o seu
a sua área crivada é ligeiramente mais claro. Não recesso lateral sobre a 5.• e 6.• digitações do mús-
tem pêlos nem glândulas. É constituído por um culo dentado anterior (Fig. 8.9).
tecido fibro-elástico dérmico que contém fibras As fáscias destes músculos e as fáscias da glându-
musculares lisas - o músculo mamilar. Este é for- la mamária estão separadas uma camada de tecido

Fig. 8.9: Localização, estrutura e relações da mama.


1. Músculo grande peitoral 2. Ligamento suspensor da mama 3. Mamilo 4. Aréola mamária 5. Duetos lactíferos (seios) 6. Sulco inframamário
7. Músculo oblíquo externo do abdómen 8. Lobos da glândula mamária 9. Músculo d entado ante rior 10. Gordura

459
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

adiposo - espaço retro-mamário, o qual assegura a fero, o qual apresenta perto do seu ostium papilar
mobilidade da mama. uma dilatação - o seio lactífero (Fig. 8.9). '
Os meios de fixação da mama são constituídos A vascularização da mama é particularmente rica
pela pele mamária e pelos ligamentos suspenso- A aréola é o centro vascular, ponto para onde con~
res da mama. vergem os ramos arteriais e de onde partem os efe-
Os ligamentos suspensores são constituídos por rentes venosos e linfáticos (Fig. 8.10).
numerosos septos que se unem para formar as As artérias provêm de múltiplas origens e estão li-
fáscias pré-mamária e retro-mamária. Estes sep- gadas entre elas por numerosas anastomoses:
tos fibrosos, mais densos nas partes superior e • Artérias mamárias laterais: derivam da ar-
posterior da glândula, dividindo-a em lobos (Fig. téria axilar e são destinados à metade lateral
8.9). A fáscia pré-mamária está unida à epiderme da mama. Os ramos torácicos da artéria to-
por tractos fibrosos. A relação da pele com os li- raco-acromial participam na vascularização
gamentos suspensores explica a retracção cutânea do quadrante súpero-lateral da mama. A ar-
nas neoplasias da mama. téria torácica lateral, volumosa, nasce atrás do
Na mulher mais velha, os ligamentos suspenso- músculo pequeno peitoral e desce no proces-
res também involuem e são invadidos por tecido so axilar da mama.
adiposo que os dissociam, perdendo a sua funcio- • Artérias mamárias mediais: nascem da arté-
nalidade. Este facto, associado à perda de elas- ria torácica interna. Atravessam os 2.0 , 3.0 e
ticidade da pele levam à ptose da mama (mama 4.0 espaços intercostais para se dirigirem para
descaída). a face medial da glândula. O ramo mais volu-
A glândula mamária é uma glândula tubulo-al- moso atravessa o 2.0 espaço intercostal e vas-
veolar rodeada por tecido conjuntivo adiposo. culariza um pouco mais da metade superior
Está dividida em lobos por septos conjuntivos - da mama.
os ligamentos suspensores da mama. Cada lobo • Artérias mamárias posteriores: provêm das
subdivide-se em lóbulos e drena para dueto lactí- artérias intercostais anteriores (da 2.ª à 6.ª).
Eles estão na origem do plexo retromamário.
• Artérias mamárias inferiores: estes ramos
provêm dos ramos perfurantes laterais das 2.a,
3
3.ª e 4.a intercostais posteriores e são desti-
nados ao quadrante ínfero-lateral da mama.

A drenagem venosa da mama é feita por veias sub-


cutâneas e profundas.
As veias subcutâneas formam um círculo peri-ma-
2
rnilar muito constante. D renam para as veias ju-
gular externa, cefálica e subcutânea do abdómen.
A rede venosa profunda está anastomosada às
veias subcutâneas e localiza-se nos septos interlo-
bulares e interlobares.
Apresentam 3 vias de drenagem:
• A drenagem lateral que se efectua pelas veias
4 torácicas laterais para a veia axilar;
• A drenagem média que drena para as veias
torácicas internas; estas últimas drenam tam-
bém a pleura parietal, constituindo assim uma
via de metastização pulmonar;
Fig. 8.1 O: Vascularização e drenagem linfática da mama. • A drenagem posterior efectua-se pelas veias
1. Artéria torácica lateral 2. Artéria torácica interna 3. Gânglios intercostais em direção à veia ázigos à direita
axilares 4. Gânglios parasternais (torácicos internos)

460
REPRODUÇÃO I SISTEMA GENITAL FEMlNINO

e veia ázigos acessória à esquerda. (Esta é uma A porção mais inferior da vagina irá formar-se a
via de metastização pulmonar, óssea e prova- partir do seio urogenital.
velmente ovárica). As gónadas originam-se a partir das cristas geni-
tais, que, por sua vez, se originam a partir do me-
O conhecimento do trajeto das veias é muito im- sênquima. As células gerrninativas primordiais
portante pois representa a via rápida das metásta- aparecem entre as células da endoderme da pare-
ses por via hematogénea. de do saco vitelino e migram até às cristas geni-
A drenagem linfática da mama é centrífuga para os tais. Antes e durante a chegada das células germi-
gânglios axilares e para-esternais. Dos gânglios axi- nativas às cristas genitais, o epitélio da crista geni-
lares partem colectores que terminam nos gânglios tal prolifera, acabando por formar cordões sexuais
supraclaviculares. Assim se compreende a impor- primitivos, constituindo-se assim as gónadas in-
tância de incluir na palpação mamária o escavado diferenciadas. Se as células somáticas dos cordões
axilar e os espaços infra e supraclaviculares (possí- sexuais têm cromossomas XX as gónadas vão de-
veis focos de metastização de neoplasias da mama). senvolver-se em ovários.
A invervação somática da mama provém essen- A vulva tem origem em várias formações que se
cialmente do 3.0 , 4.0 , 5.0 e 6.0 nervos intercostais. desenvolvem em torno da cloaca, nomeadamen-
Os seus ramos cutâneos laterais inervam a parte te, o tubérculo genital, as pregas uretrais e as eleva-
lateral da mama. Emergem de entre as digitações ções genitais (Fig. 8.11). O tubérculo genital alon-
do músculo dentado anterior, sobre a linha axilar ga-se ligeiramente o forma o clítoris, as pregas
anterior. Os seus ramos cutâneos anteriores atra- uretrais formam os pequenos lábios e as elevações
vessam o músculo grande peitoral e são destinados genitais vão formar os grandes lábios.
à parte mediana da mama.
Os nervos vegetativos provêm dos plexos das arté- MAMA
rias torácicas interna e lateral.
A mama tem origem na ectoderme, excepto o es-
troma e os vasos, que derivam do mesênquima. No
DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA decurso da 4. ª semana aparece um espessamento
GENITAL FEMININO E MAMA epidérmico - a crista mamária. Na 5.• semana dá-
-se o desaparecimento da porção caudal da crista e
SISTEMA GENITAL FEMININO a porção cefálica reduz-se a uma prega epitelial -
tubérculo mamário primário.
Os sistemas genital e urinário estão intimamente Na 10.• semana cada tubérculo mamário primá-
ligados, quer anatomicamente quer embriologica- rio apresenta à superfície, uma pequena depres-
mente. Ambos derivam da endoderme e mesoder- são correspondente à fosseta mamária esboçando
me primitivas e desenvolvem-se a partir da crista a futura aréola mamária. Em profundidade, a pla-
mesodérmica (mesoderme intermediária), ao lon- ca germinativa prolifera no tecido conjuntivo sub-
go da parede posterior/ dorsal do embrião. jacente, sob a forma de cordões epiteliais, que se
Inicialmente existem 2 pares de duetos genitais - ramificam, alongam e entrecruzam para constituir
mesonéfricos (ou de Wolff) e paramesonéfricos os canais galactóforos.
(ou de Muller) - Fig. 8.11. Ao 8.0 mês os canais galactóforos continuam o seu
Grande parte do sistema genital feminino vai ter crescimento, alcançando o tecido subcutâneo que
origem nos duetos paramesonéfricos, que inicial- é dissociado em dois planos, um superficial ou pré-
mente estão separados por um septo, mas que, -mamário, e um profundo ou retro-mamário.
posteriormente, se fundem na sua extremidade in-
ferior (caudal) para formar o útero e a porção su-
perior da vagina e que se mantêm separados na sua
extremidade superior (cefálica) para dar origem às
trompas uterinas (Fig. 8.11).

461
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

11

10

Fig. 8.11: Desenvolvimento do sistema genital feminino.


1. Gónada primitiva 2. Canal paramesonéfrico (mulleriano) 3. Canal mesonéfrico (Wolff} 4. Crista genital 5. Útero 6. Trompa 7. Ovário
8. 4/5 superiores da vagina 9. 1/5 inferior da vagina 10. Tubérculo genital 11 . Prepúcio do clítoris 12. Glande do clítoris 13. Grande lábio
14. Pequeno lábio

462
REPRODUÇÃO I SISTEMA GENITAL FEMIN INO

6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18

1
O RICO
1

!ESTROGÉ
1

CICLO OVÁRICO FASE FOLICULAR FASE LÜTEA DEGENERAÇÃOLÜTEA

...•
.....
••
.....
2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28

MENSTRUAÇÃO FASE PROLIFERATIVA FASE SECRETORA

Fig. 8.12: Cido menstrual de 28 dias.

463
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

CICLO MENSTRUAL, FECUNDAÇÃO E O primeiro divide-se em fase folicular, na qual sã


GRAVIDEZ recrutados folículos ováricos para selecção de u;
para a ovulação (libertação do gâmeta feminino)
O sistema gerútal feminino tem, como já foi refe- e fase lútea, para formação do corpo amarelo, ele-
rido, como principal função a formação e desen- mento essencial para a manutenção da gravidez
volvimento de um novo ser. Para atingir esse ob- nas primeiras semanas de gestação. O ciclo endo-
jectivo, para além das características anatórrúcas metrial, diz respeito a alterações do endométrio, as
descritas neste capítulo, é essencial um ciclo hor- quais sofrem influência das variações hormonais
monal, que prepara as condições óptimas para a produzidas ao longo do ciclo ovárico. Subdivide-
recepção dos gâmetas, para a fecundação e para a -se em fase proliferativa, fase secretora e mens-
nidação. Este ciclo hormonal, denominado de "ci- truação. A menstruação caracteriza-se pela desca-
clo menstrual", tem uma periodicidade mensal (28 mação da camada funcional do endométrio. Após
dias o ciclo ideal) e inicia-se na altura da menar- a menstruação, o endométrio começa a crescer e
ca (primeira menstruação) até à menopausa (últi- a aumentar de espessura até à ovulação. A ovula-
ma menstruação). Esta fase da mulher designa-se ção marca a passagem para a segunda fase do ci-
de idade reprodutiva e que tem uma duração mé- clo, que se caracteriza essencialmente pela trans-
dia de 40 anos (dos 12 aos 50 anos). formação secretora da camada funcional do endo-
No ciclo menstrual distingue-se um ciclo ovárico métrio, mantendo a sua espessura relativamente
e um ciclo endometrial (Fig. 8.12). estável. Na mulher pós-menopausa, o endométrio

Fig. 8.13: Evolução da gravidez.


1. Útero 2. Embrião 3. Ossos da bacia (ilíacos) 4. Feto

464
REPRODUÇÃO ! SISTEMA GENITAL FEMININO

atrofia, assim como as restantes camadas da pa- 3. Assinale a resposta correcta:


rede uterina e torna-se caracteristicamente numa a. A face posterior da próstata relaciona-se
carnada fina e regular. com o recto.
Qyalquer alteração do normal ciclo menstrual b. O cremaster envolve o bulbo cavernoso e é
pode levar a dificuldade da concepção, ou seja, in- o músculo responsável pela ejaculação.
fertilidade. e. O prepúcio é formado apenas por uma
A libertação do ovócito (gâmeta feminino) ocorre prega de pele.
ao 14.0 dia do ciclo (num ciclo ideal de 28 dias) - d. A veia dorsal profunda do pénis dren a na
ovulação. O ovócito é capturado pela trompa ute- veia porta.
rina onde ocorre a fecundação, ou seja, união do e. A zona de transição da próstata é a mais
gâmeta feminino com o gâmeta masculino. Este volumosa.
percorre o sistema genital feminino (é depositado
na vagina, entra no canal cervical e depois na cavi- 4. Qyal a porção mais longa da trompa de Fa-
dade uterina) até atingir a trompa uterina. Ocor- lópio?
rida a fecundação forma-se o zigoto (futuro em- a. Porção uterina.
brião e feto) que começa imediatamente a sofrer b. I stmo.
sucessivas divisões celulares. Ao 5. 0 -7.0 dia o em- e. Ampola.
brião dirige-se para a cavidade uterina onde ocor- d. Infundibulo.
re a sua implantação e, ao longo de 40 semanas, o e. Todas as porções têm as mesmas dimensões.
desenvolvimento e crescimento do novo ser, até ao
parto (Fig. 8.13). 5. Qyal dos seguintes ligamentos não é um
meio suspensor do útero?
a. Ligamento útero-sagrado.
PERGUNTAS TIPO b. Ligamento útero-ovárico.
1. Em relação ao testículo é verdade que: e. L igamento largo.
a. O ligamento escrotal se insere no seu polo d. Ligamento útero-vesical.
superior. e. Ligamento redondo.
b. O mediastino testicular se encontra na re-
gião média do bordo anterior. 6. Em relação à anatomia da mama qual a afir-
e. A albugínea é uma camada fibro-elástica mação correcta?
que envolve o testículo. a. Cada mama é constituída por 40-50 lobos
d. O epidídimo está em relação directa com o cónicos.
testículo em toda a sua extensão. b. A mama é para-esternal, no espaço com-
e. O s túbulos seminíferos contorcidos ter- preendido entre a 3.ª e a 7.ª costelas.
minam diretamente na cabeça do epidí- e. Dois terços da glândula mamária repou-
dimo. sam sobre o músculo pequeno peitoral.
d. A vascularização linfática da mama é pou-
2. Relativamente ao canal deferente é verdade co importante.
que: e. A pele mamária não intervém como meio
a. A 1. ª porção é a inguinal. de suspensão da mama.
b. É o local onde se dá a espermatogénese.
e. Cruza a face inferior do ureter no momen- !g-9 !a-s !::)-v !y-c !a-z !;::,-1
to em que este penetra na bexiga. :s1'lsods~11
d. Entra na constituição do cordão espermá-
tico.
e. Forma juntamente com canais prove-
nientes das vesículas seminais os duetos
eferentes.

465
MANUAL DE ANATOMIA HUM ANA

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Kamina, P.Anatomie opératoire - Gynécologie
obstétrique. Maloine, 2000.
Drake RL.; Vogl W.; Mitchell AWM. Gray's
Anatomyfor students. 4.ª Edição. Elsevier,
Philadelphia, 2019.
Partin A.; Petters C.; Kavoussi, W; et al.
Campbell-Walsh-T¼in Urology. 12.• edição.
E lsevier, 2020.
Rouviêre, H.; Delmas, A. Anatomie humaine,
descriptive, topographique etfonctionelle. Tome 2.
lSéme édition. Masson, 2002.

***

466
INTRODUÇÃO

O corpo humano mantém a homeostase - o equilí- os nervos, em cujas terminações se libertam outras
brio jnteractivo com o meio ambiente - através da substâncias químicas, de actuação rápida, os neuro-
sua adaptação permanente. Isto é conseguido por- transmissores. O sistema endócrino tem, por isso, a
ue dispõe de informações que provêm continua- seu cargo a regulação de processos que se repercu-
!ente do exterior e do interior - estímulos sensi- tem essencialmente a longo prazo tais como o cres-
tivos - que são percebidas, interpretadas, coorde- cimento e a reprodução, enquanto o sistema nervo-
nadas e integradas, e às quais é dada resposta atra- so dirige sobretudo procedimentos de curto prazo,
vés da actuação de músculos e de glândulas. Estes por vezes simples e imediatos como os actos refle-
constituem os órgãos efectores; aqueles, os que re- xos à temperatura e à dor, outras vezes mais com-
cebem os estímulos, são os orgãos receptores. En- plexos como as sensações e os movimentos, os pen-
tre uns e outros o comando da resposta cabe ao sis- samentos e as emoções. Além disso, o sistema en-
tema nervoso e ao sistema endócrino. Ambos com dócrino é constituído por orgãos afastados uns dos
um funcionamento integrado sob o controlo do outros que interagem por via hormonal; ao invés, o
sistema nervoso central (Fig. Dl). O sistema en- sistema nervoso consiste numa complexa rede de
dócrino actua pela libertação de substâncias quími- circuitos neuronais contiguos que se estende por
cas nos líquidos orgânicos, as hormonas, que têm todo o organismo,já que as fibras nervosas se con-
um modo de acção lento. O sistema nervoso fun- tinuam entre os diferentes orgãos do mesmo. São,
ciona pela transmissão rápida de impulsos através como se vê, entidades distintas e díspares, embora
das células nervosas - os neurónios - e dos seus interrelacionadas e complementares. São por isso
prolongamentos - as fibras nervosas - que formam objecto de estudo separado em capítulos seguidos.

10

Fig. D1: Sistema Neivoso (A) e Sistema Endócrino (B).


1. Encéfalo 2. Medula espinhal 3. Nervos 4. Hipotálamo 5. Epffise 6. Hipófise 7. Tiróide 8. Timo 9. Fígado 10. Suprarrenais 11. Pâncreas
12. Ovários 13. Testículos

469
9. SISTEMA ENDÓCRINO

INTRODUÇÃO te está bem diferenciado e conhecido, mas que no


entanto se veio a descobrir mais tarde que tam-
Os seres vivos pluricelulares que possuem vários bém têm a capacidade de produzir hormonas com
tecidos especializados organizados em órgãos e um papel fundamental na regulação de mecanis-
sistemas, para poderem funcionar de forma inte- mos fisiológicos vitais e que no seu conjunto cons-
grada tiveram que desenvolver sistemas que per- tituem o denominado "sistema endócrino difuso",
mitissem a comunicação entre os diferentes com- do qual o adipócito e a célula endotelial, são bons
ponentes que os constituem. exemplos.
Estes sistemas são: o sistema nervoso - em que a O sistema endócrino é constituído pelas glândulas
comunicação se processa através de sinais electro- endócrinas - hipófise (ou pituitária), tiróide, pa-
químicos, e o sistema endócrino - que através de ratiróides e supra-renais - e ainda por células ou
sinais e mediadores químicos (denominados "hor- agregados celulares com diferenciação endócrina
monas"), exercem a sua acção após terem sido li- presentes em órgãos de outros sistemas, nomea-
bertados para o líquido intersticial e/ou para a cir- damente: ilhéus de Langerhans no pâncreas (onde
culação sanguínea sistémica. Os conceitos de hor- se localizam as células produtoras de insulina, hor-
mona e sistema endócrino são uma descoberta re- mona fundamental na regulação do metabolis-
lativamente recente, uma vez que apenas foram mo glucídico e cujo défice e/ou resistência à ac-
definidos em 1905 por Ernest Starling. ção periférica se associa ao aparecimento da Dia-
No entanto, é de salientar que não existe um limi- betes Mellitus), células de Leydig no testículo, cé-
te nítido e estanque entre estes dois sistemas de lulas foliculares e tecais no ovário, aparelho justa-
comunicação intercelular, quer do ponto de vista -glomerular no rim e células entero-endócrinas no
anatómico quer funcional. tubo digestivo.
Em termos anatómicos estes sistemas estão estrei-
tamente relacionados quer a nível do sistema ner-
voso central pela relação anatómica do hipotálamo HIPÓFISE
com a hipófise, quer a nível do sistema nervoso pe-
riférico, nomeadamente do sistema nervoso autó- A hipófise é uma glândula ovóide com cerca de
nomo, como é exemplo a terminação de fibras pré- 12mm de diâmetro transversal por 8mm de diâ-
-ganglionares do simpático na medula na glândula metro ântero-posterior. Localiza-se no prolonga-
supra-renal, que pode ser considerada um gânglio mento do infundíbulo do tuber cinéreo na base do
do sistema nervoso simpático modificado e conti- hipotálamo, cuja porção central da eminência me-
do no interior de um órgão endócrino. diana, que contém o fundo de saco da cavidade do
O sistema endócrino por definição é constituído terceiro ventrículo, dá origem à haste hipofisária.
por estruturas anatómicas com a capacidade de A glândula está alojada na sela turca, na face su-
segregar hormonas. Este sistema é composto não perior do corpo do esfenoide, da qual está separa-
somente por glândulas endócrinas ou "sem due- da por um seio venoso circular que comunica com
tos", uma vez que os seus produtos de secreção são o seio cavernoso (seios intercavernosos anterior e
libertados directamente para a corrente sanguínea posterior), estando recoberta por uma extensão da
e não carecem de canais excretores, mas também dura-máter que se insere nos processos clinóides
por células ou agregados celulares diferenciados anteriores e posteriores e no dorso da sela - deno-
para produzir hormonas presentes em órgãos de minada por "diafragma da sela (tenda hipofisária)"
outros sistemas ou ainda células integrantes de te- - que é perfurado na parte média para dar passa-
cidos cujo papel nos tecidos dos quais fazem par- gem ao infundíbulo e à haste hipofisária (Fig. 9.1).

471
MANUAL D E ANATOMIA HUMANA

2 Tendo em consideração as principais relações a


tómicas da hipófise compreende- se que, qua:-
0
surgem tumores hipofisários com dimensões
. 1 d dº A al
penores a cm e 1ametro, ger mente macr su,
denomas, estes possam interferir com as estrutu ºa-
, .
anatormcas _ anexas. s-ao alterações firas
que 1he sao
re-
quentes a erosão dos processos clinóides e do p
a-
vimento da sela turca, alterando a anatomia nor-
mal da base do crânio visualizável na radiografia
simples, e a compressão do quiasma óptico ou in-
vasão do seio cavernoso, alterações que se podem
documentar imagiologicamente na ressonância
9 4 6
magnética selar (Fig. 9.3) e pelos sinais clínicos
nomeadamente por alterações dos campos visuai:
Fig. 9.1: Corte sagital do diencéfalo.
1. Seio intercavernoso anterior 2. Quiasma óptico 3. lnfundíbulo (tipicamente hemianopsia bitemporal) ou parali-
4. Eminência mediana 5. Haste hipofisária 6. Seio intercavernoso sias dos pares cranianos próximos, sendo a do ner-
posterior 7. Lobo posterior da hipófise 8. Lobo anterior da hipófise
9. Seio esfenoidal
vo oculomotor a mais frequente por ser também 0
nervo com maior proximidade anatómica com a
A hipófise relaciona-se superiormente com a emi- hipófise normal (Fig. 9.2).
nência mediana do hipotálamo e com o quiasma Alguns destes tumores são activos do ponto de
óptico, dos quais está separada pelo diafragma da vista endócrino, ou seja, são formados por célu-
sela (Fig. 9.1); lateralmente com o seio cavernoso las que produzem e secretam hormonas hipofi-
e as estruturas que este contém, nomeadamente a sárias. Uma das doenças associadas a este tipo de
artéria carótida interna e os nervos cranianos ocu- tumores é a doença de Cushing, em que há pro-
lomotor (III nervo crâniano), troclear (IV nervo dução excessiva de ACTH que vai estimular a
crâniano) e abducente (VI nervo crâniano) (Fig. glândula supra-renal a produzir glucocorticóides,
9.2); inferiormente com o seio esfenoidal do qual sendo algumas das manifestações mais evidentes
está separada pelas veias do sistema porta hipofi- ao exame objectivo a presença de obesidade cen-
sário, meninges e soalho da sela; e posteriormente tral, acumulação excessiva de gordura nas fossas
com o dorso da sela turca. supra-claviculares, bossa de búfalo, estrias pur-
púreas, equimoses dispersas, facies em lua cheia
2 10 e pletora facial. Outra doença que pode resultar
da secreção hormonal por tumores da hipófise é
a acromegalia, que ocorre quando há uma produ-
ção de hormona do crescimento pelo tumor. Os
principais sinais visíveis ao exame objectivo são
o aumento das dimensões das extremidades, no-
meadamente as mãos e os pés (é frequente haver
referência a aumento do n. 0 do calçado) e na face,
objectivando-se uma pirâmide nasal de base alar-
gada, prognatismo e macroglossia.
A relação anatómica da hipófise com a porção su-
perior das fossas nasais, através da face inferior do
6 9
corpo do esfenóide, do seio esfenoidal e do pavi-
mento da sela turca, torna possível que o acesso ci-
Fig. 9.2: Relações anatómicas da hipófise. rúrgico para a remoção destes tumores seja efec-
1. Hipófise 2. Haste hipofisária 3. Nervo oculomotor (Ili par craneano)
4. Nervo troclear (IV par craneano) 5. Nervo oftálmico 01 par craneano) tuado por via nasal, nomeadamente, trans-esfe-
6. Nervo maxilar 01 par craneano) 7. Nervo abducente (IV par cranea- noidal.
no) 8. Artéria carótida interna 9. Seio cavernoso 10. Quiasma ópt ico

472
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA END ÓCRIN O

Fig. 9.3: Ressonância magnética nuclear (cortes coronais e sagitais) de uma hipófise normal (a esquerda) e macroadenoma da hipófise (a direita) (seta)
que invade o seio esfenoidal e os seios cavernosos bilateralmente, mantendo a permeabilidade das carótidas internas.

A hipófise pode ser dividida em duas porções com ro-hipófise forma-se por evaginação desdendente
origem embriológica distinta - a adeno-hipófise, do diencéfalo correspondendo assim a uma exten-
que tem origem na bolsa de Rathke (uma evagi- são do hipotálamo (Fig. 9.4).
nação ectodérmica) e a neuro-hipófise, que se ori- Em termos funcionais o lobo posterior da hipófi-
gina a partir duma extensão do diencéfalo. A pri- se não produz qualquer hormona, limitando-se a
meira corresponde à porção mais anterior (Fig. ser o local anatómico no qual as hormonas produ-
9.4), podendo ser subdividida em: parte distal, zidas no hipotálamo (nos núcleos supra mencio-
mais anterior; parte intermédia, na interface en- nados) são libertadas para a circulação sistémica,
tre a adeno-hipófise e a neuro-hipófise, correspon- nomeadamente a hormona anti-diurética (ADH ),
dendo a um vestígio da bolsa Rathke; e parte tu- também designada de "vasopressina" (produzida
beral, que corresponde a uma expansão superior da maioritariamente pelo núcleo supra-óptico), e a
adeno-hipófise para a porção anterior da haste hi- oxitocina (produzida maioritariamente pelo nú-
pofisária (Fig. 9.4). cleo para-ventricular). Traumatismos crãnio-en-
A neuro-hipófise é constituída pelo lobo poste- cefálicos, nomeadamente os que cursam com mo-
rior da glândula (ou parte nervosa), pela eminên- vimentos de aceleração/desaceleração, podem cau-
cia mediana e pela haste infundibular (que contém sar uma secção ou lesão da haste hipofisária e con-
os prolongamentos axonais dos neurónios cujos sequentemente impedirem a libertação de ADH
corpos celulares formam os núcleos supra-ópti- para a circulação sanguínea causando uma patolo-
co e para-ventricular do hipotálamo). Esta última gia conhecida por diabetes insípida central, carac-
é envolvida pela parte tuberal da adeno-hipófise, terizada por aumento da sede (polidipsia) e do dé-
formando o conjunto a haste hipofisária. A neu- bito urinário (poliúria).

473
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

to) e ainda neurotransmissores como a dopatni-


na, responsáveis pela regulação da função hipofi_
sária (Esquema 9.1).

HIPOTÁLAMO HIPÓFISE]

i
GnRH

GHRH
2

CRH
Fig. 9.4: Divisão da hipófise.
1. lnfundibulo 2. Lobo posterior 3. Lobo anterior 3.1. Parte tuberal TRH
3.2. Parte intermédia 3.3. Parte distal

PRF
A adeno-hipófise é um verdadeiro órgão endó-
crino uma vez que a sua função primordial é de
Esquema 9.1: Regulação da função hipofisária pelas hormonas hipo•
produção e secreção de hormonas sob influên- talâmicas.
cia dos factores hipotalâmicos. A adeno-hipófi- Salienta-se que secreção da prolactina é maioritariamente regulada por
inibição dopaminérgica.
se produz:
• Hormona adrenocorticotrófica (ACTH) que
estimula sobretudo a secreção de corticos- A hipófise é irrigada pelas artérias hipofisárias su-
teróides e androgénios pela supra-renal; perior e inferior, ambas ramos colaterais da arté-
• Hormona tiro-estimulante (TSH), responsá- ria carótida interna. As artérias hipofisárias supe-
vel pelo estímulo da secreção de hormonas ti- riores, direita e esquerda, anastomosam-se entre si
roideias; formando um arco arterial em torno da haste hi-
• Hormonas gonadotróficas (LH - hormona pofisária que irriga o hipotálamo basal e o infun-
luteínizante - e FSH - hormona folículo-es- dfüulo. A artéria hipofisária inferior, por sua vez,
timulante), responsáveis pela regulação da se- divide-se em ramos medial e lateral que se anas-
creção de esteróides sexuais pelas gónadas; tomosam com ramos homónimos do lado oposto
• Prolactina (PRL), hormona responsável pela formando um circuito arterial que contorna a por-
iniciação do processo de lactação; ção posterior da hipófise, irrigando-a (Fig. 9.5).
• Hormona do crescimento (GH). As arcadas arteriais formadas pelas artérias hipofi-
sárias, superior e inferior, anastomosam-se entre si
A adeno-hipófise é estimulada por factores hipo- através da artéria da trabécula (Fig. 9.5) que cru-
talâmicos libertados no sistema porta-hipofisário za a porção superior da adeno-hipófise, no entan-
(ver adiante) por neurónios tubero-hipofisários to, nenhuma destas artérias dá origem directa a ra-
que segregam nesse plexo venoso junto da emi- mos arteriais para a adeno-hipófise. Em vez dera-
nência mediana vários factores, nomeadamente mos directos, estas artérias dão origem a uma rede
CRH (que estimula a secreção de ACTH), TRH de capilares fenestrados e deficitários em barrei-
(que estimula a secreção de TSH e, de forma me- ra hemato-encefálica, que terminam em sinusói-
nos significativa, de prolactina), GnRH (que es- des e que se agrupam em veias portais hipofisárias
timula a secreção de gonadotrofinas), PRF (fac- (Fig. 9.5). Existem dois grupos de veias portais:
tores de libertação da prolactina), GHRH (que as veias portais hipofisárias longas, que drenam a
estimula a secreção de hormona do crescimen- eminência mediana e o infundfüulo superior, e as

474
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA ENDÓCRINO

fáscia pré- traqueal. Posteriormente, relaciona-se


com a traqueia (2.0 , 3.0 e 4.0 anéis).
O bordo inferior relaciona-se com as veias tiroi-
deias inferiores.
O bordo superior pode apresentar na proximida-
de do lobo esquerdo um prolongamento de pa-
rênquima denominado "lobo piramidal (de Lalou-
ette)" (Fig. 9.6). Este lobo pode prolongar-se até
6 à face anterior do corpo do osso hióide ou mes-
mo até ao buraco cego do vértice do V do dorso
da língua, pois corresponde a um vestígio embrio-
nário do canal tiroglosso, uma vez que a glându-
la tiróide tem origem no epitélio faríngeo ao nível
da raiz da língua, a partir do qual migra caudal-
mente pelo canal tiroglosso até à sua localização
definitiva. Na maioria dos indivíduos na vida pós-
Fig, 9.5: Irrigação da hipófise e sistema porta-hipofisário. -natal este canal transforma-se num feixe fibroso
1. Artéria hipofisária superior 2. Artéria da trabécula 3. Veias portais
hipofisárias 4. Plexo venoso do sistema porta-hipofisário 5. Artéria
designado por "ligamento levantador da glându-
hipofisária inferior 6. Veias hipofisárias tributárias do seio cavernoso la tiróide", dado ser responsável pelo movimento
no sentido vertical que esta efectua durante a de-
veias portais hipofisárias curtas, que drenam o in- glutição e que é habitualm~nte utilizado na clíni-
fundibulo inferior. Os vasos porta hipofisários di- ca para facilitar a localização e palpação da glân-
rigem-se para a adeno-hipófise, sendo os respon- dula. Em casos excepcionais, a migração da tiróide
sáveis por transportar os factores de libertação hi- pode não ocorrer convenientemente e esta perma-
potalâmicos para a regulação da função endócrina necer no local da sua origem embriológica ao ní-
da glândula. As veias hipofisárias drenam para os vel da base da língua, sendo denominada "tiróide
seios venosos adjacentes, nomeadamente para os lingual", ou em alternativa em qualquer ponto ao
seios cavernosos e destes para os seios petrosos in- longo do seu trajecto descendente ou ainda migrar
feriores (Fig. 9 .5). excessivamente até à cavidade torácica passando
a localizar-se no mediastino superior, dita tiróide
mergulhante. Por vezes podem ainda ficar restos
TIRÓIDE glandulares ao longo do trajecto do canal tiroglos-
so que mais tarde originam os chamados "quistos
A glândula tiróide tem a forma de uma borboleta, do canal tiroglosso".
sendo constituída por dois lobos laterais que tem Os lobos laterais relacionam-se lateralmente com
aproximadamente 5cm de diâmetro vertical e 3cm os músculos infra-hioideus da mesma forma que
de diâmetro transversal, unidos por uma região o istmo. Mediaimente, relacionam-se com a tra-
mais estreita designada por "istmo", que tem em queia e com a laringe, nomeadamente com as car-
média 1cm de largura e 1,5cm de altura. A glân- tilagens cricóide e tiróide. Posteriormente rela-
dula localiza-se na porção ântero-inferior do pes- cionam-se com a faringe (nomeadamente com o
coço ao mesmo nível das vértebras cervicais C5, músculo constritor inferior), esófago, feixe vascu-
C6, C7 e da primeira vértebra torácica Tl. Está lo-nervoso do pescoço (constituído pela veia jugu-
revestida por uma cápsula própria de tecido con- lar interna, artéria carótida comum e nervo vago),
juntivo e contida num desdobramento da lâmina nervo laríngeo recorrente, artérias tiroideias su-
pré-traqueal. periores e inferiores e glândulas paratiróides (Fig.
O istmo da tiróide relaciona-se anteriormen- 9.6).
te com os músculos infra- hioideus e com as veias A porção inferior do lobo esquerdo relaciona-se
jugulares anteriores, dos quais está separado pela ainda com o canal torácico.

475
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

6
13

12

10

Fig. 9.6: Tiróide e suas relações anatómicas: A. Vista anterior B. Vista posterior.
1. Lobo lateral 2. Istmo 3. Lobo piramidal 4. Cartilagem tiróide da laringe 5. Cartilagem cricóide da laringe 6. Artéria tiroideia superior 7. Veia
tiroideia superior 8. Veia tiroideia média 9. Veia tiroideia inferior 1O. Veia jugular interna 11. Tronco braquio-cefálico venoso esquerdo 12. Artéria
tiroideia inferior 13. Pedículo vasculo-nervoso do pescoço 14. Paratiróide 15. Esófago 16. Nervos laríngeos recorrentes (esquerdo e direito)

As relações anatómicas da glândula com o nervo deia superior, ramo colateral descendente da ar-
laríngeo recorrente e com as glândulas paratiróides téria carótida externa, e pela artéria tiroideia infe-
são as que apresentam maior relevância na clínica rior, ramo do tronco tiro-cervical da artéria sub-
cirúrgica da tiróide, uma vez que, dada a sua proxi- clávia. Ocasionalmente, a tiróide recebe um ramo
midade anatómica, são particularmente propensas suplementar, inconstante, a artéria tiroideia média
a lesões acidentais durante a remoção total ou par- com origem na crossa da aorta ou no tronco bra-
cial da glândula (tiroidectomia). quiocefálico. A drenagem venosa da tiróide é rea-
O termo médico "bócio", refere-se a qualquer au- lizada através das veias tiroideia superior e média,
mento das dimensões da glândula tiróide, sendo que terminam na veia jugular interna e ainda pela
uma das causas mais frequentes de tumefacção veia tiroideia inferior, que termina no tronco veno-
cervical anterior. Do conhecimento das relações so braquiocefálico (Fig. 9.6).
anatómicas da glândula facilmente se depreen- A drenagem linfática da tiróide termina em pri-
de que as consequências mecânicas da existência meiro lugar nos gânglios linfáticos do comparti-
de um bócio de grandes dimensões possam ser a mento central do pescoço, gânglios do mediastino
compressão das vias aérea e digestiva ou das es- superior e gânglios látero-cervicais. Os gânglios
truturas vasculares na sua proximidade (Fig. 9.7). linfáticos do compartimento central do pescoço
O parênquima da tiróide é formado por folículos localizam-se entre os planos delimitados pelo osso
tiroideus e células parafoliculares, sendo as célu- hioide superiormente, chanfradura supra-ester-
las foliculares responsáveis pela secreção de tiroxi- nal inferiormente e artérias carótidas lateralmen-
na (T4) e triiodotironina (T3) e as células parafo- te, estando subdivididos em 3 subgrupos: pré-la-
liculares responsáveis pela secreção de calcitonina. ringeos, para-laríngeos e para-traqueais. Os gân-
A glândula tiróide é irrigada pela artéria tiroi- glios mediastínicos superiores localizam-se entre

476
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA ENDÓCRINO

o bordo superior do esterno e os troncos venosos


braquiocefálicos, e os gânglios látero-cervicais lo-
calizam-se entre o feixe vasculo-nervoso do pes-
coço e a face e bordo lateral do músculo esterno-
cleidomastoideu.
A inervação simpática da glândula tiróide tem
origem nos gânglios cervicais superior, médio e IEI
inferior do simpático, e a parassimpática no ner-
vo vago, chegando à glândula através de nervos
que envolvem as artérias tiroideias superiores e
inferiores.

PARATIRÓIDES

As glândulas paratiróides têm uma forma ovói-


de com aproximadamente 6mm de maior diâme-
tro e localizam-se geralmente entre a face poste- lil
rior próximo do bordo lateral da tiróide e da sua
cápsula (Fig. 9.6).
São geralmente em número de quatro, sendo duas
superiores e duas inferiores. A arcada tiroideia for-
mada pela união anastomótica das artérias tiroi-
deia superior e a inferior, que percorre a face pos-
terior próxima do bordo lateral da tiróide pode ser
utilizada como ponto de referência para localizar
as glândulas paratiróides. No entanto, a sua locali- Ili
zação é muito variável, em particular a localização
Fig. 9.7: Tomografia computorizada do pescoço com tiroideia normal.
das glândulas inferiores, uma vez que embriologi- (A), tumor volumoso (B e C) com compressão de estruturas adjacentes

camente derivam do epitélio das bolsas faríngeas, (setas)

nomeadamente da 3.ª bolsa faríngea juntamen-


te com o timo (as inferiores) e da 4.ª bolsa farín- A drenagem linfática acompanha a da glândula
gea (as superiores), migrando posteriormente para tiróide.
a sua localização definitiva mais habitual. Assim Tal como sucede com a inervação da tiróide, os
sendo, está descrita a presença de glândulas para- nervos que chegam às glândulas paratiróides têm
tiróides intra-tiroideias, intra-tímicas ou no me- origem nos gânglios cervicais do simpático, embo-
diastino superior anteriormente à traqueia (as in- ra estes tenham um papel pouco relevante no fun-
feriores) e no mediastino posterior, posteriormen- cionamento de ambas as glândulas uma vez que
te ao esófago (as superiores). Podem ainda existir as suas funções são fundamentalmente controla-
glândulas supra-numerárias. das por factores humorais.
As glândulas paratiróides são constituídas maio-
ritariamente por células principais produtoras de
paratormona (PTH) e por escassas células oxifíli- SUPRA-RENAIS
cas cuja função é desconhecida.
As paratiróides são irrigadas por ramos das arté- As supra-renais têm uma forma grosseiramente
rias tiroideias inferiores ou por ramos da arcada triangular e achatada no sentido ântero-posterior,
tiroideia anastomótica, sendo a drenagem venosa diferindo ligeiramente quanto à forma dado que a
efectuada para as veias homónimas. glândula supra-renal direita tem uma forma pira-

477
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

ao ligamento coronário do fígado e no bord


dial por ocupar uma posição retro-cava. A. ~ me,
la supra-renal esquerda relaciona-se pela r:c: u.
1 nd
terior com o pilar esquerdo do diafragma . P0 s-
celíaco esquerd o, artena , . 1ºnfierior es
, . firenica 'gangJio
f: . . querda
e ace anterior do nm homolateral; pela face
tenor· relaciona-se
. com a bolsa omental e atr an. .
• aves
desta com o estomago, com os vasos espléru•
cose
com a cauda do pâncreas. A face anterior da •
g1an-
dula supra-renal esquerda encontra-se iguaJmen
revesti"da pelo pentoneu
· · al posterior nom te
panet , ea-
damente a porção que recobre a face posterior da
bolsa omental, com excepção da sua porção infe-
rior na qual a artéria esplénica e a cauda do pân-
9 10 6 5
creas se interpõem entre as duas estruturas.
Fig. 9.8: Glândulas supra-renais e suas relações anatómicas. As glândulas supra-renais apresentam na sua mor-
1. Glândula supra-renal 2. Artéria supra-renal média 3. Veia supra-renal fologia interior duas porções distintas designadas
4. Artéria supra-renal interior 5 - Aorta abdominal 6. Veia cava inferior
7. Veia renal 8. Artéria renal 9. Rim 10. Ureter por "córtex" e "medula supra-renal" (Fig. 9.9), estas
estruturas têm para além da morfologia, uma ori-
midal enquanto a esquerda tem uma forma semi- gem embriológica e funcionalidades distintas.
-lunar e é ligeiramente maior do que a contralate- A medula supra-renal corresponde à porção cen-
ral. Têm em média 4 a 5cm de comprimento e 2 tral da glândula e encontra-se revestida por cór-
a 4cm de largura. Ambas apresentam na face an- tex em toda a extensão com excepção do hilo.
terior próximo do bordo medial um sulco vertical Apresenta uma coloração acastanhada e tem uma
do qual emerge a veia supra-renal e corresponde origem neuroectodérmica, tratando-se de um
ao hilo da glândula (Fig. 9.8). Estas glândulas lo- gânglio do sistema nervoso autónomo modifica-
calizam-se no espaço retro-peritoneal em posição do, que recebe como aferentes fibras pré-ganglio-
ântero-súpero-medial em relação ao pólo superior nares do sistema nervoso simpático e segrega ca-
de cada rim, estando separada deste pela cápsu- tecolaminas, nomeadamente epinefrina (adrena-
la renal e contidas na gordura peri-renal (Fig. 9.8 lina), norepinefrina (noradrenalina) e dopamina.
e Fig. 6.4). O córtex supra-renal corresponde à porção exte-
As relações anatómicas das glândulas supra-re- rior da glândula, apresenta uma coloração amare-
nais, direita e esquerda, são naturalmente diferen- lada devido ao seu elevado conteúdo em lípidos e
tes tendo em consideração a ausência de simetria tem origem em células mesenquimatosas da cris-
das vísceras intra-abdominais. A glândula supra- ta urogenital,juntamente com o rim e com as gó-
-renal direita relaciona-se pela base com a face an- nadas, motivo pelo qual não é raro encontrar vestí-
terior e medial do pólo superior do rim direito; re- gios de glândula supra-renal na bolsa escrotal jun-
laciona-se pela sua face posterior com a face in- tamente com o epididímo ou no ligamento largo
ferior da cúpula diafragmática e o pólo superior do útero, por sofrerem migração ectópica durante
do rim homolateral, gânglio celíaco direito, arté- o desenvolvimento embrionário. O córtex supra-
ria frénica inferior direita e pilar direito do dia- -renal pode ser dividido em três camadas histolo-
fragma; e relaciona-se pela face anterior com a face gicamente distintas e cuja produção hormonal va-
inferior do lobo direito do fígado, veia cava infe- ria. Da região mais superficial para a mais profun-
rior e 2.ª porção do duodeno (Fig. 6.4, Fig. 6.3 e da podemos encontrar: a zona glomerular, respon-
6.4 do sistema urinário). A face anterior da glân- sável por produzir mineralocorticóides; a zona fas-
dula supra-renal direita encontra-se revestida pelo ciculada, que produz fundamentalmente corticos-
peritoneu parietal posterior com excepção da por- teróides; a zona reticulada, responsável pela pro-
ção superior onde este se reflecte para dar origem dução de androgénios (Fig. 9.9).

478
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA ENDÓCRINO

PERGUNTAS TIPO

1. Relativamente à glândula tiróide, assinale a


afirmação falsa:
a. Não é estimulada pela hipófise.
- -4
b. Apresenta frequentemente um prolonga-
mento superior ao nível do istmo (lobo pi-
ramidal).
c. Os lobos laterais relacionam-se posterior-
5
mente com as glândulas paratiróides.
d. A artéria tiroideia superior é ramo da arté-
ria carótida externa.
2
e. As hormonas produzidas são a tirox.ina,
tri-iodotironina e calcitonina.
Fig. 9. 9: Estrutura interior da glândula supra-renal.
1. Córtex 2. Medula 3. Zona glomerulosa 4. Zona fasciculada 5. Zona
reticular 2. Relativamente à hipófise, é falso que:
a. Localiza-se na sela turca, no esfenóide.
O excesso ou défice de produção hormonal em b. As hormonas hipofisárias são produzidas
cada urna destas zonas associa-se a doença. Al- no lobo anterior (adeno-hipófise).
guns exemplos são o síndrome de Cushing, em c. A ligação com o hipotálamo é exclusiva-
que há um excesso de produção de corticosterói- mente neuronal, através dos axónios dos
des pela existência de tumores da glândula ou hi- núcleos supra-óptico e para-ventricular.
perplasia, sendo as manifestações as já acima des- d. Regula a secreção hormonal das gónadas.
critas, e a doença de Addison (insuficiência supra- e. Relaciona- se com o quiasma óptico supe-
-renal primária), que pode afectar as 3 zonas, com riormente.
défices hormonais variáveis de mineralocorticói-
des, corticosteróides e androgénios, manifestando- 3. Das questões seguintes referentes à glându-
-se por sintomatologia muito diversa, da qual se la supra-renal, apenas uma é falsa. Assinale-a.
destaca neste contexto por ser um sinal visível na a. As glândulas supra-renais são envolvidas
anatomia de superficie a hiperpigmentação cutâ- por uma cápsula fibrosa e por tecido adi-
nea e das mucosas. poso.
A irrigação das glândulas supra-renais é efectuada b. O córtex divide-se em 3 zonas distintas do
por três pares de artérias supra-renais, sendo que ponto de vista funcional, sendo a mais pro-
as superiores são ramos das artérias frénicas infe- funda a zona fasciculada.
riores, as médias são ramos da aorta abdominal e c. A medula é a responsável pela produção de
as inferiores são ramos das artérias renais. A dre- catecolaminas.
nagem venosa é feita através de uma só veia supra- d. A medula funciona como neurónio pós-
-renal que termina directamente na veia cava infe- -ganglionar do sistema nervoso simpático.
rior do lado direito e na veia renal do lado esquer- e. A artéria capsular média é ramo directo da
do (Fig. 9.8). A drenagem linfática realiza-se para artéria aorta.
os gânglios aórticos laterais.
A inervação da glândula provém de fibras pré- !g-c !::J-i !v-1
-ganglionares do simpático que terminam essen- :srusod~ ~
cialmente na medula da supra-renal, uma vez que
a secreção cortical está fundamentalmente na de-
pendência de factores hormonais.

479
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Melmed, S.; Auchus, RJ.; Goldfine, AB.; et al.


Williams Textbook ofEndocrinology. 14th edition.
Elsevier, 2020.
De Groot, L.; Jameson,JL.; et al. Endocrinology
Adult and Pediatric. 7th edition. Elsevier, 2015.
Rouviére, H.; Delmas, A. Anatomie humaine
descriptive, topographique etJonctionnelle. Masson.
15eme édition, 2002.

***

480
10. SISTEMA NERVOSO

INTRODUÇÃO O sistema nervoso central é composto por cérebro,


cerebelo e tronco cerebral, que constituem o encé-
O sistema nervoso é uma rede unificada de células falo ("brain" em inglês) situado quase todo na cai-
especializadas espalhadas por todo o corpo que as- xa craniana, e ainda pela medula espinhal que se
a a recolha de informações e o seu transpor- estende ao longo do canal vertebral. Está inteira-
segur
te até aos órgãos centrais do mesmo onde elas são mente envolvido por membranas que o protegem,
analisadas e integradas, e em função disso, dadas as meninges, e encontra-se mergulhado num lí-
respostas adequa~as que são transmitidas aos ór- quido especial, o líquido cefalorraquidiano ou lí-
ãos periféricos. E assim constituído por duas par- quor, que é produzido nos plexos coroideus, for-
;es fundamentais: a parte central responsável pela mações especiais existentes nas cavidades interio-
integração e o controlo, representada pelo encéfa- res do encéfalo, os ventrículos encefálicos.
lo e pela medula espinhal, o sistema nervoso cen- O sistema nervoso periférico compreende, por sua
tral; a outra, constituída pelas formações nervosas vez, dois grandes sectores funcionais: o dos nervos
responsáveis pelas comunicações entre os centros dos orgãos internos ou vísceras e dos vasos, por
nervosos e a periferia do corpo humano, represen- isso designado "sistema nervoso visceral", e do res-
tada pelos nervos e suas ligações, o sistema nervo- to do corpo respeitante às relações com o meio
so periférico (Fig. 10.1). ambiente, o sistema nervoso somático ou de rela-

Sistema Sistema
Nerv050 Nervoso
Centrai Periférico

1 1 1

Medula Divisão Divisão


Encefalo
Espinhal Sensitiva Motora

1 1

1 l 1 1

Divisão Divisão Divisão Divisão


Sensorial Sensorial Motora Motora
Visceral Somática Visceral Somática

Simpática Parassimpática

Fig. 10.1: Sistema Nervoso Central e Sistema Nervoso Periférico.


1. Encéfalo 2. Medula espinhal 3. Nervos 4. Gânglios

481
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Fig. 10.2: Células do Sistema Nervoso.


1. Neurónio 2. Astrocito 3. Oligodendrocito 4. Microcito 5. Ependimocitos 6. Capilar 7. Pés perivasculares 8. Líquor 9. Axónios mielinizados
10. Mielina

ção. Este último engloba os nervos cranianos, liga- ção e à conservação dos recursos do organismo e
dos ao encéfalo através de orifícios na base do crâ- tem uma influência oposta no coração e na pres-
nio e os nervos raquidianos, ligados à medula es- são arterial, relaxa os esfincteres e estimula a peris-
pinhal através dos buracos intervertebrais. O siste- tálise. Independentemente da divisão a que per-
ma nervoso visceral, que tem ligações quer ao en- tençam, os nervos que-transportam as informações
céfalo, quer à medula espinhal, é também chama- da periferia para o sistema nervoso central, isto é,
do "sistema nervoso vegetativo" por manter o ftm- no sentido centrípeto, são aferentes e têm o nome
cionamento interno do corpo "como o de um ve- de nervos sensitivos. Os nervos que veiculam as
getal" sem necessidade de vida de relação ou de informações no sentido contrário, centrífugo, são
consciência; designa-se sistema nervoso autóno- eferentes e chamam-se nervos motores, embora de
mo o sector eferente do sistema nervoso vegeta- facto possam ser motores ou secretórios. Os ner-
tivo, por poder assegurar muitas das funções dos vos que transmitem informações nos dois senti-
vasos e órgãos sem a actuação do sistema nervo- dos, sensitivo e motor, são nervos mistos.
so central. No entanto, o sistema nervoso vegeta- O sistema nervoso é constituído por células nervo-
tivo é responsável pela transmissão de algumas in- sas, ou neurónios, que são as unidades funcionais
formações sensitivas conscientes importantes, tais do sistema nervoso, e por células de suporte de-
como a dor visceral, a vontade de urinar ou defecar. signadas genericamente "neuróglia", "nevróglia" ou
Inerva os sistemas cardiovascular, respiratório, di- simplesmente "glia" (que significa cola) (Fig.10.2).
gestivo, urinário e genital, bem como as glândulas A quantidade destas depende do local, mas são 10
e os músculos lisos cutâneos. Dentro do sistema a 50 vezes mais numerosas que os neurónios. Há
nervoso vegetativo importa distinguir ainda duas mais de 100 mil milhões de neurónios no sistema
subdivisões principais, que são em parte antagó- nervoso humano. Os neurónios são células mui-
nicas, em parte complementares, e de cujo equi- to especializadas, morfológica e fisiologicamente:
hbrio resulta o normal funcionamento visceral: o do ponto de vista funcional têm duas propriedades
simpático, responsável, entre outras coisas, pelas muito importantes, a excitabilidade a estímulos e a
reacções típicas de situações de tensão, tais como condutibilidade de impulsos; do ponto de vista es-
a aceleração do coração, a elevação de pressão ar- trutural têm como característica principal possuí-
terial e a contracção dos esfincteres; e o parassim- rem, além do corpo celular propriamente dito, ou
pático, cujos efeitos estão associados à recupera- soma, um número variável de prolongamentos, ou

482
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO

euritoS - uns aferentes, os dendritos, até 200 por las satélites que a envolvem. Na espessura do sis-
né}ula, e um único eferente, o axónio. Os prolonga- tema nervoso central, as fibras nervosas juntam-
e entos celulares muito longos dos neurónios, axó- -se em formações compactas, os feixes nervosos e
:os ou dendritos, constituem as fibras nervosas. os fascículos nervosos. É a grande quantidade de
As fibras nervosas formadas por axónios são mui- mielina que confere ao conjunto destes no encéfa-
tas vezes envolvidas por uma bainha de lipopro- lo o aspecto de substância branca. Em contrapar-
teína, a mielina, de espessura variável que as iso- tida, as zonas de substância cinzenta encefálica -
la e protege, facilitando a condução dos impulsos cortex cerebral e córtex cerebeloso, núcleos ner-
nervosos; são as fibras mielínicas, que têm uma ve- vosos - correspondem a uma maior densidade de
locidade de condução de 3 a 120 m/seg., enquan- corpos celulares de neurónios. No sistema nervoso
to que as desprovidas de bainha mielínica, as fi- periférico os agrupamentos de neurónios dão ori-
bras arnielínicas, o fazem mais lentamente, entre gem aos gânglios nervosos; as fibras, por seu lado,
0,6 a 2,3m/seg. A bainha de mielina é produzi- agregam-se em conjuntos envolvidos por mem-
da por células gliais satélites da fibra nervosa e en- branas de tecido conjuntivo, e constituem os ner-
rola-se em espiral à volta dela, formando cama- vos (Fig. 10.3). A membrana conjuntiva que re-
das concêntricas ao longo de sucessivos segmen- veste cada fibra chama-se endoneuro ou endoner-
tos longitudinais da fibra (Fig. 10.2); geralmente vo, a que reveste feixes de fibras perineuro ou pe-
cada célula satélite forma a bainha de rnielina de rinervo e a que envolve o nervo chama-se epineu-
uma única fibra nervosa no sistema nervoso cen- ro ou epinervo. Os nervos estão por vezes interli-
tral, enquanto nos nervos fornece bainhas de rnie- gados em redes complexas onde fazem intercâm-
lina a várias fibras nervosas. Aqueles segmentos da
fibra nervosa estão separados uns dos outros por
entalhes transversais da bainha de mielina , os nós
ou estrangulamentos anulares (também conheci-
dos como nódulos de Ranvier) que, ao longo do
comprimento da fibra, separam as múltiplas célu-

2\
~
2
3 ----

4
s -- -

10

11

12
Fig. 10.3: Nervo raquidiano.
2 Is]
1. Raiz dorsal 2. Gânglio da raiz dorsal 3. Raiz ventral 4. Radicelos
5.Nervo 6.Vasosdonervo 7.FasácuJonervoso 8.Epinervo 9.Perinervo
10. Endonervo 11. Mielina 12. Fibra nervosamielínica 13. Fibra nervosa Fig. 10.4: Neurónios
amielínica. A. Multipolar B. Bipolar C. Unipolar 1. Dendrites 2. Axónio

483
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

bio de fibras, os plexos nervosos. As fibras dos ner- Os neurónios comunicam entre si por zonas de
vos periféricos classificam-se, conforme o seu ca- contacto denominadas "sinapses", onde o impulso
libre e a velocidade de condução nervosa, em 3 ti- nervoso é transmitido através de mediadores qUí-
pos: A (5 a 120m/seg.) subdivididas em a, ~' y, 8; micos, os neurotransmissores, ou mais raramente
B (3-15m/seg.) e C (0,6-2,3m/seg.). por simples transmissão eléctrica. Consoante a sua
Os neurónios classificam-se, do ponto de vis- topografia, existem sinapses axono-dendríticas
ta morfológico conforme o número de prolon- as mais frequentes, axono-somáticas e axono-a~
gamentos que exibem em unipolares, bipolares e xonais (Fig. 10.5). O número de sinapses de cada
multipolares (Fig. 10.4). Do ponto de vista fim- neurónio é variável: entre muito poucas a mais de
cional, os neurónios e as fibras nervosas classifi- 200000. Por sua vez, o número de neurotransmis-
cam-se, tal como os nervos que integram, em afe- sores diferentes já identificados ultrapassa 50, in-
rentes ou sensitivos e eferentes ou motores. Mas cluindo monoaminas (acetilcolina, norepinefrina
existe ainda um outro tipo de fibras e de neuró- dopamina, serotonina), aminoácidos (ácido gama~
nios, os de associação (ou interneurónios, no caso -aminobutírico, glicina, ácido glutâmico) e nume-
dos últimos), próprios do sistema nervoso central, rosos neuropéptidos.
nomeadamente no que respeita a funções nervo- A nevróglia, responsável pelo suporte, nutrição e
sas complexas tais como a linguagem, a memória protecção do tecido nervoso, inclui diferentes ti-
ou o comportamento. As fibras nervosas aferentes pos de células. No sistema nervoso central, as mais
e eferentes dividem-se ainda em somáticas e vis- numerosas e maiores (macróglia) são os astrocitos,
cerais, em função dos sectores a que pertencem; células estreladas que estão interpostas entre os ca-
umas e outras subdivididas num contingente ge- pilares e os neurónios e que são fundamentais para
ral e em fibras especiais. Estas fibras nervosas es- o metabolismo destes; os oligodendrocitos são cé-
peciais são as responsáveis por funções muito par- lulas alongadas e menos ramificadas, que produ-
ticulares, como é o caso das fibras sensitivas que zem a bainha de mielina das fibras nervosas; as cé-
enervam os orgãos sensoriais (olfacto, visão, audi- lulas da microglia - microgliocitos -, mais peque-
ção, equilibrio, paladar) e das motoras que ener- nas, participam nos mecanismos de defesa do sis-
vam os músculos da fala. tema nervoso; as células ependimárias - ependi-
mocitos - revestem as cavidades interiores do sis-
tema nervoso central e segregam o líquido cefalor-

/- 5◄
raquidiano ou líquor nos plexos coroideus. Os as-
trocitos e as células ependimárias constituem, no
2 - - 4 ~ -.......
• ~ -
seu conjunto, a barreira hematoencefálica através
da qual se dão as trocas bioquímicas entre o san-
gue, por um lado, e o tecido nervoso e o líquor por
4 outro (neste último caso também se designa bar-
reira hemato-liquórica). No sistema nervoso pe-
riférico a nevróglia é representada essenciamen-
te pelos neurolemocitos ou células de Schwann
(a baínha de meilina das fibras nervosas periféri-
cas também se designa neurolema), células achata-
das, análogas aos oligodendrocitos que, como eles,
produzem a bainha de mielina das fibras nervosas,

/ neste caso dos nervos periféricos.


O sistema nervoso, com todos os seus compo-
nentes, origina-se numa pequena região do dor-
Fig. 10.5: Sinapses.
so do embrião, chamada "placa neural", por vol-
1. Soma neuronal 2. Axónio 3. Sinapse 4. Neurónio pre-sináptico ta do 17.0 dia de gestação (Fig. 10.6). Esta come-
5. Neurónio pos-sináptico 6. Sinapse axono-dendrítica 7. Sinapse
ça por invaginar-se ao longo do seu comprimen-
axono-somática 8. Sinapse axono-axónica

484
CONTROLO E lNTEGRAÇÃO [ SISTEMA NERVOSO

m 6

Fig. 10.6A: Embriologia do Sistema Nervoso - Desenvolvimento aos 20 Fig. 10.6B - Vesículas cerebrais primitivas.
(A), 21 (B) e 24 (C) dias de gestação. 1. Prosencéfalo 2. telencéfalo 3. Diencéfalo 4. Vesículas ópticas
1. Placa neural 2. Goteira neural 3. Pregas neurais 4. Pregas neurais 5. Mesencéfalo 6. Rombencéfalo.
fundidas 5. Ectoderme 6. Crista neural 7. Tubo neural

to, formando inicialmente a goteira neural e de- quadrigémia atrás, constituindo o andar superior
pois o tubo neural, cujas extremidades encerram do tronco cerebral; o rombencéfalo (ou encéfalo
durante a 4.ª semana. Do tubo neural deriva todo posterior) dá origem à protuberância (metencé-
o sistema nervoso central. A partir da 4.ª semana, falo) e ao bulbo (mielencéfalo) à frente (respec-
a extremidade cefálica do tubo neural dilata-se, tivamente os andares médio e inferior do tronco
dando lugar ao aparecimento da vesícula ence- cerebral) e ao cerebelo atrás. No interior de cada
fálica primitiva. Esta vesícula subdivide-se em uma destas formações desenvolvem-se as corres-
seguida, originando três outras que se desig- pondentes cavidades encefálicas: os ventrículos
nam de frente para trás prosencéfalo, mesencé- laterais (hemisféricos) no telencéfalo, o 3.0 ven-
falo e rombencéfalo. Mais tarde, estas desenvol- trículo no diencéfalo e o 4.0 ventrículo no rom-
vem-se de tal forma que o prosencéfalo (ou en- bencéfalo (o termo rombencéfalo tem origem na
céfalo anterior) dá origem bilateralmente ao te- forma romboide do 4.0 ventrículo). O 3.0 e 4. 0
lencéfalo, de onde deriva a maior parte dos he- ventrículos são unidos por um canal, o aquedu-
misférios cerebrais e, na zona central, ao dien- to do cérebro ou de Sylvius, situado na espessura
céfalo de onde deriva o tálamo e outras forma- do mesencéfalo. Por outro lado, entre o tubo neu-
ções cerebrais profundas; o mesencéfalo (ou en- ral e a parede dorsal do embrião surge uma outra
céfalo intermédio) permanece uno e transforma- formação derivada da placa neural, a crista neu-
-se nos pedúnculos cerebrais à frente e na lâmina ral, de onde vai desenvolver-se o sistema nervo-

485
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

paço com líquor chama-se espaço subaracnoideu

cQ
e em certas zonas do encéfalo dilata-se, forman-
do cisternas (o espaço subdural é o espaço virtual
de aderência da aracnoide à duramater, que só se
torna real em condições patológicas). A menin-
ge mais interior é a piamater, ou apenas pia, urna
membrana fina que envolve toda a superfície do
2
sistema nervoso central e os vasos respectivos.
O conjunto da aracnoide e da piamater também
se designa leptomeninge e a duramater, paqui-
meninge (Fig. 10.8A e B).
O crescimento do sistema nervoso é exponencial
durante a vida fetal, mas não está ainda completo
3

Fig. 10.7: Evolução filogenética do cérebro dos mamíferos.


1. Rato 2. Gato 3. Macaco 4. Homem

Fig. 10.SA: Invólucros do Sistema Nervoso Central (encéfalo).


1. Pele (couro cabeludo} 2. Periósteo 3. Osso (crânio) 4. Duramater
so periférico. Esta origem embriológica do siste- 5. Aracnoide 6. Piamater.

ma nervoso é, na generalidade, comum aos verte-


brados. Nos mamíferos mais evoluídos, sobretu-
do nos primatas, há um desenvolvimento maior
do encéfalo, essencialmente à custa do telencé-
falo, que atinge o seu expoente máximo no ho-
mem (Fig.10.7).
O sistema nervoso central é integralmente re-
vestido por invólucros especiais, as meninges,
que compreendem três membranas distintas:
A mais exterior, espessa e fibrosa chama-se du-
ramater, ou apenas dura, forma um saco fechado
que contém o encéfalo e a medula espinhal en-
volvidos em líquor e é atravessada pelos nervos
cranianos e raquidianos aos quais forma curtas
bainhas. A intermédia, a aracnoide, é constituída
por uma camada contínua que reveste interior-
mente a dura, de onde se destacam para a profun-
didade trabéculas através das quais passam vasos Fig. 10.8B: Invólucros do Sistema Nervoso Central (encéfalo}.
e nervos e entre as quais circula o líquor; este es- 1. Duramater com as suas artérias 2. Veias cerebrais superficiais
3. Seio venoso longitudinal superior

486
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO

ando do nascimento. O encéfalo, por exem- dundância e plasticidade dos circuitos nervosos.
a~:, pesa cerca de 0,2 g de peso no início, 350 g O envelhecimento do sistema nervoso é também
P uando do nascimento e 1500 g no adulto, va- assintomático durante um longo e variável pe-
::r que já tem habitualmente desde a puberda- ríodo de tempo: além da perda celular difícil de
de. E esse desenvolvimento não atinge todas as quantificar com exactidão, o peso global do encé-
estruturas nervosas com igual ritmo. A mielini- falo, por exemplo, baixa de cerca de 1500 g aos 30
zação, que começa entre as 16.ª e a 20.ª semanas anos para 1400 g aos 50 e 1300 g após os 60 anos;
de gestação, só termina no sistema nervoso peri- isto ocorre por um processo lento de diminuição
férico ao fim do 1.0 ano de vida e no cortex cere- de espessura do parenquima encefálico e um au-
bral e no corpo caloso (principal meio de união mento do volume dos ventrículos e dos sulcos do
entre os hemisférios cerebrais) pelos 10 anos de cérebro, que se designa atrofia cerebral. Mas o
idade. Os sulcos cerebrais começam a notar-se no envelhecimento do encéfalo não é sinónimo de
4.º mês de gestação, mas não estão ainda intei- disfunção do sistema nervoso, como acontece na
ramente formados no nascimento, apesar de as demência, pois tais disfunções são consequência
assimetrias entre os hemisférios cerebrais come- de mecanismos patológicos e não da senescência
çarem a evidenciar-se pelas 28-29 semanas. No normal. Há pessoas muito idosas sem qualquer
conjunto, a velocidade de crescimento e amadu- sinal de demência. A senilidade do sistema ner-
recimento do sistema nervoso é continuamente voso tem mais que ver com alterações microscó-
decrescente. Por outro lado, o sistema nervoso é picas e fisiológicas do que com deformações ana-
praticamente desprovido de capacidade de rege- tómicas macroscópicas (Fig. 10.9).
neração, pelo que as perdas celulares do mesmo,
constantes e inaparentes, são geralmente irre-
versíveis; são muitas vezes compensadas pela re-

Fig. 10.9: Imagens de Ressonância Magnética cranioencefálica (ponderação T1, cortes axiais).
1. Cérebro adulto normal 2. Cérebro com atrofia.

487
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Splittgerber, R. Snell's Clínica/ Neuroanatomy. 8.ª


edição. Wolters Kluwer, 2019.
Kandel, ER.; Jessel, TM.; et al. Principies of
Neural Science. 5.ª edição. McGraw-Hill Medicat,
2013.
Beatty,J. Principies oJBehavioral Neuroscience.
Brown and Benchrnark, 1995 .

•••

488
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: MEDULA ESPINHAL

o.1 . SISTEMA NERVOSO CENTRAL ções correspondem às zonas de emergência de um


1
maior número de feixes nervosos dos nervos que
formam o plexo braquial e o plexos lombar e sa-
MEDULA ESPINHAL grado, respectivamente.
Termina inferiormente no cone terminal, a par-
A medula espinhal é a parte do sistema nervoso tir do qual se destacam as raizes_dos últimos ner-
central contida no canal vertebral, cujas curvatu- vos raquidianos, que no seu conjunto, devido à
ras acompanha. Continua-se superiormente com sua forma, constituem a designada "cauda de ca-
encéfalo. Ao longo de toda a sua extensão nas- valo ou cauda equina". O cone terminal prolon-
0
cem os nervos raquidianos que entram e saem pe- ga-se pelo fio terminal, um remanescente de dura
los buracos intervertebrais. mater, que se insere inferiormente no coccix.
O seu limite superior define-se como o plano
horizontal que passa pela extremidade caudal
de decussação das pirâmides, do bulbo, que cor-
responde normalmente ao arco anterior do atlas
e ao bordo superior do seu arco posterior. O li-
mite inferior situa-se, no adulto, ao nível da l.ª
ou 2.ª vértebras lombares. Até ao quarto mês de
vida intra-uterina as extremidades distais da me-
dula e da coluna vertebral coincidem, porém, a
partir daí o crescimento osteo-articular é mui-
to superior ao do sistema nervoso, além disso a
medula está ancorada superiormente ao encéfa-

2 --
Fig. 10.1.1: Medula espinhal no canal vertebral, vista posterior e Nervos
raquidianos:
1. Medula espinhal 2. Cauda equina 3. Plexo cervical 4. Plexo braquial
5. Ne rvos intercostais 6. Plexo lombar 7. Plexo sagrado
4

CONFIGURAÇÃO EXTERIOR

A medula espinhal tem a forma de um cilindro


alongado, ligeiramente achatado na direcção ân-
6
tero-posterior que, mede cerca de 1 centímetro de
diâmetro e 40 a 45 de comprimento (Fig. 10.1.1).
Apresenta duas dilatações, uma cervical entre a 4.ª
vértebra cervical e a 1.ª dorsal, e uma dorso-lom- Rg. 10.1.2: Medula espinhal de perfil.
1. Medula cervical 2. Medula dorsal 3. Medula lombar 4. Cone medular
bal entre a 10.• dorsal e a l.• lombar. Estas dilata- 5. Cauda equina 6. Ro terminal.

489
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

lo. Assim, o seu limite inferior vai "subindo" no


canal vertebral e na altura do nascimento já se
encontra ao nível da 3.ª ou 4.ª vértebra lombar.
A este desfasamento progressivo chama-se a "as-
censão aparente" ou "falsa ascenção" da medu-
la. Por esse motivo, as punções lombares (Fig.
10.1.2) para colheita de líquido céfalo-raquidia-
no ou para raquianestesia, devem ser efectuadas,
no adulto, abaixo do nível do espaço interverte-
bral L2/L3, por aí haver menor perigo de pun-
cionar a medula.
Da medula emergem os nervos raquidianos
em pares, formados de cada lado pela junção
de duas raízes, uma anterior ou ventral, moto- 9
ra com outra posterior ou dorsal, sensitiva (Fig.
Fig. 10.1.3: Sector da Medula espinhal.
10.1.3). Na configuração exterior da medula des- 1. Substância branca 2. Substância cinzenta 3. Cornos posteriores
crevem-se quatro faces - uma anterior ou ven- da medula 4. Cornos anteriores da medula 5. Nervo raquidiano
6. Raiz anterior 7. Raiz posterior 8. Gânglio da raiz posterior 9. Radicelos
tral, duas laterais e uma posterior ou dorsal - si-
tuadas entre as linhas de emergência das raí-
zes dos nervos raquidianos. A face ventral si- chegam as fibras das raízes dorsais dos mesmos
tua-se entre os sulcos marcados pela emergên- nervos. Em geral, as extremidades dos cornos de
cia das raízes ventrais, os sulcos venterolaterais. substância cinzenta medular, tanto dos ventrais
A face dorsal fica entre os sulcos dorsolaterais, como dos dorsais, correspondem à inervação so-
onde as raízes dorsais entram na medula. Por fim, mática, enquanto que as bases dos mesmos corres-
as faces laterais situam-se de cada lado entre as pondem à inervação visceral. A zona intermédia
raízes ventrais e as dorsais. Na face ventral obser- do "H", substância gelatinosa central ou comissu-
va-se um sulco longitudinal mediano profundo, a ra cinzenta é_percorrida longitudinalmente por um
fissura mediana ventral e, na dorsal, um sulco me- canal que normalmente é virtual, o canal central
diano dorsal menos acentuado. Na face dorsal da ou canal ependimário. E ste é revestido por epité-
medula cervical existe ainda um outro sulco longi- lio ependimário, formado a partir da camada mais
tudinal de cada lado da linha média, pouco marca- superficial da ectoderme do tubo neural e está em
do, o sulco intermédio dorsal, que se prolonga su- continuidade com o quarto ventrículo e todo o sis-
periomente para o bulbo raquidiano. tema ventricular. Ao longo dos segmentos dorsais
da medula, encontramos ainda uma pequena sa-
liência lateral na substância cinzenta ou corno la-
CONFIGURAÇÃO INTERIOR teral, relacionada com o sistema nervoso visceral.
A substância cinzenta é formada por vários tipos
A medula é composta por substância cinzenta e de células e fibras nervosas. No corno ventral, os
substância branca (Fig. 10.1.3). Estas ocupam neurónios organizam-se em três grupos (ou colu-
aqui uma posição inversa à do encéfalo, sendo a nas) principais:
cinzenta central e a branca periférica. • Coluna medial, abrange quase toda a medu-
Em secção horizontal, a substância cinzenta tem la e inerva a musculatura cervical e do tronco;
a forma de um H central, rodeado de substân- • Coluna central, presente apenas em alguns
cia branca. Esse "H " é composto por duas hastes segmentos cervicais e lombo-sagrados, cons-
ou cornos anteriores ou ventrais, com neurónios titui pequenos núcleos; os cervicais formam
motores, dos quais saem as fibras das raízes ven- o núcleo frénico, responsável pelos movimen-
trais dos nervos raquidianos, e dois cornos poste- tos do diafragma e ainda, nos primeiros cinco
riores ou dorsais, com neurónios sensitivos onde a seis segmentos cervicais, o núcleo espinhal

490
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: MEDULA ESPINHAL

do nervo acessório (XI nervo craniano), que O como lateral é responsável por funções vegetati-
controla os músculos estemo-cleido-mastoi- vas, é constituído pela coluna intermediolateral de
deu e trapézio; neurónios, que dá origem a fibras simpáticas (D1
• O grupo lateral, localizado nos segmentos a L2/ L3) e parassimpáticas (S2 a S4).
cervicais e lombo-sagrados, controla os mús- A substância branca da medula espinhal, compos-
culos dos membros. ta por feixes de fibras nervosas, distribui-se por
cordões: os cordões anteriores ou ventrais, situados
As células do como dorsal organizam-se a toda a entre a fissura mediana ventral e os sulcos vente-
altura da medula nos seguintes grupos, que se dis- rolaterais, os cordões laterais, situados entre os sul-
põem sucessivamente em direcção dorso-ventral: cos ventrolaterais e dorsolaterais de cada lado, e os
, O marginal ou dorsomarginal; cordões posteriores ou dorsais, entre o sulco me-
, O apical, de aspecto translúcido, a substância diano dorsal e os sulcos dorsolaterais. Nos cordões
gelatinosa; esta, tal como o núcleo marginal, da substância branca da medula encontramos fei-
recebe das fibras periféricas os estímulos ter- xes longos ascendentes, descendentes e feixes cur-
mo- álgicos; recebe também de níveis superio- tos intersegmentares (Fig.10.1.4).
res do sistema nervoso central, os respectivos Os feixes ascendentes transportam informação re-
feixes moduladores; colhida à periferia que se dirige a níveis superio-
• O núcleo próprio, mais profundo e de maio- res; trata-se, portanto, de feixes de fibras sensiti-
res dimensões, diz respeito à sensibilidade vas. Os mais importantes são o feixe grácil e o fei-
táctil, protopática e discriminativa, e à vibra- xe cuneiforme, da sensibilidade postural e vibrató-
tória; ria, proprioceptiva e táctil discriminativa, que ocu-
• Na base encontra-se, por dentro o núcleo pam, respectivamente, a parte medial e lateral do
dorsal ou coluna de Clarke, de C8 a L2/L3, cordão dorsal da medula, separados pelo sulco in-
associado à propriocepção; por fora, junto ao termediodorsal. O s feixes espinocerebelosos dor-
como lateral, o núcleo aferente visceral (D1 a sal e ventral localizam-se superficialmente no cor-
L3) relacionado com a sensibilidade visceral. dão lateral e, por baixo destes encontra-se o fei-
xe espinotalâmico lateral da sensibilidade termo-
-álgica. O feixe espinotalâmico. ventral da sensi-
bilidade táctil superficial, situa-se na zona profun-
da do cordão ventral junto ao como ventral. Ou-
tros feixes ascendentes, como o feixe espinorreti-
cular, o feixe espinolivar e o feixe espinotectal si-
tuam-se na zona de transição dos cordões laterais
para os cordões ventrais.
Os feixes longos descendentes conduzem impul-
9
sos dos centros nervosos superiores para a perife-
ria e são motores. Fazem parte das vias da motrici-
dade e classificam-se em piramidais ou da motri-
cidade voluntária e extra-piramidais. O s primei-
ros são os feixes corticospinhais ventral e lateral
também designados respectivamente, "feixes pira-
6 midais directo" e "feixe piramidal cruzado". Este é
Fig. 10.1.4: Constituição da substância bra nca da Medula espinhal (a mais volumoso e resulta do cruzamento da maio-
azul feixes sensitivos, a vermelho feixes motores, a verde feixes de ria das fibras piramidais ao nível da parte caudal
associação).
1. Fasciculo grácil 2. Fascículo cuneiforme 3. Feixe espinocerebeloso das pirâmides bulbares. O feixe cruzado ocupa a
dorsal 4 . Feixe espinocerebeloso ventral 5. Feixe espinotalâmico zona mais profunda do cordão lateral, enquanto
lateral 6 . Feixe espinotalâmico ventral 7. Feixe corticospinal ventral
(direto) 8. Feixes tectospinal, vestibulospinal e reticulospinal ventral o feixe directo segue na porção medial do cordão
9. Feixes reticulospinal lateral e rubrospinal 10. Feixe corticospinal ventral da medula e cruza para o outro lado a cada
lateral (cruzado).

491
MANUAL DE ANAT OMIA HUMANA

nível em que terminam as suas fibras. Os restan- A nível cervical superior, os nervos tomam urna
tes feixes descendentes fazem parte das vias ex- direcção praticamente horizontal no trajecto en-
tra-piramidais, da motricidade involuntária. In- tre a medul:J. e os buracos intervertebrais corres-
cluem, entre outros, o feixe rubro-espinhal, o fei- pondentes. A medida que o desfasamento entre 08
xe vestíbulo-espinhal e o feixe tecto-espinhal, que segmentos medulares e os seus equivalentes verte-
se distribuem pelos cordões ventral (estes) e lateral brais se acentua, adquirem cada vez maior inclina-
(aquele) da medula. ção, terminando na dispersão observada ao nível
Os feixes intersegmentares localizam-se nas por- da cauda equina.
ções mais profundas de todos os cordões medula- Cada nervo raquidiano é formado pela reunião
res e estabelecem ligações entre vários níveis ana- de duas raizes com origem nos cornos de subs-
tómicos. Permitem uma maior integração funcio- tância cinzenta da medula do mesmo lado. As
nal e a harmonização da actividade dos diferentes raizes anteriores ou ventrais, motoras, têm maio-
níveis da medula, de que são exemplo os reflexos res dimensões e determinam ao longo da sua li-
inter-segmentares. nha de emergência um sulco pronunciado, o sul-
co ventrolateral. As raízes posteriores ou dorsais,
NERVOS RAOUIDIANOS sensitivas, são menores e dividem-se em grupos
de feixes - radículas - individualizadas em cada
segmento e determinam um sulco discreto na
medula, o sulco dorsolateral. As raízes sensitivas
têm, no seu trajecto, um gânglio que contém os
corpos dos neurónios respectivos, o gânglio ra-
quidiano ou espinhal. Na porção superior da me-
dula cervical, a emergência das raizes dos primei-
ros nervos raquidianos sobrepõe-se à do XI ner-
vo craniano; o nervo acessório.
As raízes sensitivas e motoras dos nervos raqui-
dianos juntam-se, ainda dentro do canal vertebral,
formando o nervo raquidiano propriamente dito.
Este dirige-se para o buraco intervertebral envol-
vido por uma bainha meníngea. É neste ponto que
os nervos, por se encontrarem fixamente ancora-
dos, estão mais sujeitos a compressão de diversas
etiologias.
Fig. 10.1.5: Secção da Medula espinhal no canal raquidiano. À saída do buraco intervertebral o nervo raqui-
1. Duramater raquidiana 2. Medula espinhal 3. Nervo raquidiano 4. Raiz
anterior 5. Raiz posterior 6. Gânglioda raiz posterior 7. Ramo posterior diano emite um pequeno ramo meníngeo, recor-
do nervo raquidiano 8. Ramos comunicantes 9. Gânglio simpático. rente, também chamado "nervo sinuvertebral".
Em seguida, tem ramos anastomóticos para o sis-
Os nervos raquidianos ou espinhais têm origem tema nervoso simpático, os ramos comunicantes.
ao longo de toda a medula espinhal e fazem parte Divide-se finalmente num ramo dorsal destinado
do sistema nervoso periférico (Fig. 10.1.5). Exis- aos músculos e tegumentos paravertebrais, e num
tem no total 31 pares distribuídos pelos vários ramo ventral. Este último é o mais importante na
sectores: 8 cervicais, 12 dorsais, 5 lombares, 5 sa- inervação dos membros e das vísceras e forma, por
grados e um coccígeo. Os primeiros sete tomam anastomoses em ansa com ramos próximos, plexos
o nome da vértebra subjacente. Segue-se o oita- nervosos - cervical, braquial, lombar, sagrado, sa-
vo nervo cervical ou C8, abaixo do qual todos são crococcígeo.
designados segundo a vértebra suprajacente (por
exemplo D3 é o nervo que emerge imediatamente
abaixo da 3.ª vértebra dorsal).

492
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: MEDULA ESPINHAL

MENINGES RAQUIDIANAS VASCULARIZAÇÃO

A rnedula espinhal encontra-se envolvida pe- A irrigação arterial da medula faz-se pelas arté-
las meninges raquidianas (Fig. 10.1.6), tal como rias espinhais anterior e posteriores (Fig.10.1.7A
rodo o sistema nervoso central. A mais interna, e B). A artéria espinhal anterior, a mais importan-
a piarnater, rodeia directamente a superfície me- te, resulta da junção de ramos descendentes an-
dular, contornando todo o seu relevo. Contém na teriores das artérias vertebrais ao nível bulbo-me-
sua espessura os ramos resultantes da divisão dos dular. No seu trajecto, percorre a fissura media-
vasos sanguíneos medulares. Por fora está a arac- na ventral em toda a sua extensão. As artérias es-
noide, encontrando-se entre elas líquido céfalo- pinhais posteriores, uma de cada lado da medula,
-raquidiano. acompanham os sulcos dorsolaterais de ambos os
lados. No conjunto, os ramos da artéria espinhal
anterior irrigam os dois terços ântero-laterais da
medula espinhal, e as artérias espinhais posterio-
res, o terço posterior de cada lado.
Outro aporte arterial da medula são as artérias ra-
diculares, ramos de artérias extra-raquidianas, as
artérias vertebrais no pescoço e a aorta no tórax e
no abdómen. Acedem ao canal medular pelos bu-
racos intervertebrais, acompanhando os nervos ra-
quidianos, e dividem-se num ramo anterior e num
posterior, acompanhando as respectivas raizes. As
artérias radiculares são geralmente pequenas, mas,
3 podem adquirir grande importância e serem res-
4 ponsáveis por até dois terços da irrigação da me-
dula. É o que se passa com a artéria radicular mag-
na de Adamkievicz, de origem torácica inferior ou
Fig. 10.1.6: Sector da Medula espinhal envolvido pelas meninges.
1. Duramater 2. Aracnoide 3. Piamater a revestir a medula 4. Ligamento
lombar superior, inconstante, unilateral e mais fre-
dentado quente à esquerda. Na região cervical as artérias
radiculares são ramos das artérias vertebrais.
Neste espaço subaracnoideu espinhal encontra- A vascularização arterial da medula tem assim, em
-se o ligamento dentado, uma membrana arac- quase toda a sua extensão, contribuições múltiplas
noideia vertical alongada, em posição vertico- e complementares, de que resulta uma boa vica-
-transversal de cada lado, cujo bordo medial, rec- riação recíproca quando necessária. A zona me-
tilíneo, se insere na piamater numa linha contí- so-dorsal é a de maior pobreza arterial e, por isso,
nua ao longo dos cordões laterais da medula, en- com irrigação mais susceptível.
tre as raizes ventral e dorsal de cada nervo, e o Qi,ianto à drenagem venosa, esta é efectuada por
bordo lateral, denteado, insere-se na aracnoi- veias espinhais (Fig. 10.1.7C) que constituem
de que está colada à duramater nos espaços que uma rede na piamater, onde se podem distinguir
intercalam a emergência de cada nervo, acima e uma veia espinhal anterior e uma veia espinhal
abaixo. A duramater, reveste a medula e os nervos posterior, ambas medianas, e ainda duas menores
raquidianos envolvendo sempre as duas raizes em laterais de cada lado, ao longo dos sulcos colate-
conjunto e inserindo-se no periósteo da porção rais respectivos. As veias deste conjunto drenam
lateral do buraco intervertebral. O seu ponto de para um plexo venoso epidural, que é desprovido
inserção cranial é o buraco occipital e o caudal de válvulas situado no tecido adiposo epidural ra-
corresponde ao fio terminal. quidiano. Este, por sua vez, drena superiormente
para os seios venosos intracranianos e, por outro
lado, continua-se através das veias intervertebrais

493
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

de vários segmentos da coluna com os plexos ve-


nosos extra-vertebrais.

Fig. 10.1.7C: Drenagem venosa da Medula Espinhal.


1. Veias medulares 2. Veias radiculares 3. Plexos venosos epidurais

3 NOÇÕES DE ANATOMIA CLÍNICA

Em termos funcionais a medula espinhal compor-


ta sobretudo a passagem de feixes de informação
neuronal, quer no sentido ascendente, quer des-
cendente. Porém, a medula tem também funcio-
namento próprio, sediado na substância cinzen-
ta e organizado por níveis metaméricos medulares
segmentares, os neurótomos. É o que se passa com
os actos reflexos espinhais. Os estímulos sensiti-
vos (pressão, calor, dor) transportados pelos ner-
vos raquidianos e raizes dorsais chegam aos cen-
tros medulares e desencadeiam uma resposta mo-
Fig. 10.1.7A: Vascularização arterial da Medula espinhal, artérlas princi-
pais (vistas anterior e posterior).
tora imediata, reflexa(Fig. 10.1.8). Através de fei-
1. Artéria vertebral (ramo da subclávia) 2. Artéria espinhal anterior xes inter-segmentares, esta resposta pode incluir a
3. Artérias radiculares (ramos das intercostais e lombares) 4. Artéria
radicular magna (Adamkiewicz) 5. Artérias Espinhais Posteriores
activação de neurónios motores de segmentos me-
dulares adjacentes, que seguem pelas correspon-
dentes raizes ventrais dos nervos raquidianos; são
os reflexos espinhais intersegmentares. Simulta-
neamente, estas aferências e eferências produzem
impulsos dirigidos aos centros nervosos superio-
res, aos quais dão conta das acções entretanto de-
sencadeadas.
Uma das causas mais frequentes de alteração fun-
2
cional da medula espinhal são os traumatismos
vértebro-medulares que podem provocar, geral-
mente por compressão, lesões parciais ou comple-
tas. A seccção completa da medula é rara, ao con-
trário da incompleta. Um exemplo de lesão irn-
completa é o que se passa com a chamada "he-
mi-secção da medula", ou síndrome de Brown-
Fig. 10.1.7B: Vascularização arterial da Medula espinhal, artérias princi-
pais (detalhe da figura 10.1.7A). -Séquard. Pode ser devida a traumatismos, como
1. Artéria espinhal anterior 2. Artérias radiculares (ramos das intercos- fracturas vertebrais com deslocação de fragmen-
tais e lombares)

494
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: MEDULA ESPINHAL

Fig. 10.1.8: Arco reflexo medular monossináptico (ver texto).

tos, ferimentos por balas ou por arma branca, ou serva-se perda segmentar (nalguns neurótomos
um tumor em expansão. Sucintamente, caracteri- contíguos) da sensibilidade termo-álgica, a cha-
za-se por: mada hipostesia "suspensa", muitas vezes bilate-
• Paralisia motora do lado da lesão (homolate- ral. Em consequência, os indivíduos afectados so-
ral) no segmento atingido, geralmente espás- frem frequentemente queimaduras de que não se
tica quando crónica, por lesão dos neurónios apercebem inicialmente, dada a ausência das sen-
contidos nos cornos ventrais da medula e res- sações de calor e dor.À medida que as lesões se ex-
pectivos feixes; pandem, outros feixes e neurónios são afectados e
• Perda de sensibilidade (hipostesia) táctil dis- o quadro altera-se, passando a incluir também sin-
criminativa, vibratória e proprioceptiva, ho- tomas motores, sobretudo segmentares, por lesão
molateral abaixo do nível da lesão, por des- dos cornos ventrais da medula.
truição dos feixes ascendentes no cordão dor- Uma vez que existem várias vias de irrigação ar-
sal da medula do lado afectado; terial medular, podemos encontrar quadros clíni-
• Perda contralateral de sensibilidade termo- cos medulares distintos consoante os vários tipos
-álgica abaixo do nível da lesão, por destrui- de lesão vascular da medula espinhal. Por exemplo,
ção do feixe espino-talâmico cruzado do lado um aneurisma dissecante (dilatação anormal por
da lesão. dissecção da parede) da aorta, ou uma cirurgia da
aorta, podem lesar as artérias intercostais e lomba-
A lesão completa da medula provoca a paralisia res e, entre elas, a origem da artéria radicular mag-
total - plegia - abaixo da lesão: paraplegia se atin- na de Adamkievicz, provocando um acidente vas-
gir os membros inferiores; tetraplegia se atingir os cular medular e, assim, uma paraplegia ou parapa-
membros superiores e inferiores; a paralisia parcial résia, com hipostesia variável.
denomina-se parésia. Os territórios de drenagem dos vários grupos ve-
Outro exemplo de lesão medular é a siringomie- nosos em redor da medula tornam, por outro lado,
lia, uma entidade patológica que cursa muita vezes fácil o acesso de células patológicas que se encon-
com malformação congénita do canal ependimá- tram livres na grande circulação, nomeadamente
rio e formação de cavitações intramedulares, so- tumorais e o estabelecimento de metástases tumo-
bretudo a nível cervical. Provoca a lesão dos feixes rais (lesões tumorais secundárias) vertebrais, me-
espino-talãmicos ventrais, no ponto em que cru- níngeas ou mesmo medulares; estas lesões podem
zam de uma metade para a outra da medula, ao originar afecções da medula espinhal.
passar na comissura cinzenta. Clinicamente ob-

495
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

PERGUNTAS TIPO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Na sua configuração exterior a medula apre- Splittgerber, R. Snell's Clinical Neuroanatomy.


senta (assinale a hipótese correcta): 8.ª edição. Wolters K.luwer, 2019.
a. Dois cordões brancos, um ventral e um Bourret, P.; Louis, R. Anatomie du Systeme
dorsal. Nerveux Central,.3.ª edição. I.JE.xpansion
b. O limite superior ao nível do buraco oc- Scientifique Française. Paris, 1986.
cipital.
c. O limite inferior a nível sagrado. Rouviere, H.; Delmas, A. Anatomie Humaine.
d. Dilatações correspondendo à zona de Tome 3. 15.ª edição. Masson et Cie. Paris, 2002.
emergência dos nervos dos membros. Netter, FH. Atlas ofHuman Anatomy. Elsevier ~-
e. Substância branca no centro e cinzenta à Health Sciences Division. Philadelphia, United
periferia. Sates, 1989.

2. Todas as afirmações seguintes acerca da subs-


tância cinzenta da medula são verdadeiras ex-
cepto uma. Indique qual:
a. A substância cinzenta medular tem a for-
ma de um H e é central.
b. O corno lateral está presente ao longo de
toda a extensão da medula.
c. As células do corno dorsal recebem fibras
relativas aos vários tipos de sensibilidade,
incluindo a visceral.
d. A comissura cinzenta, percorrida pelo ca-
nal ependimário, liga os cornos ventrais e
dorsais de cada lado.
e. A substância gelatinosa localiza-se no
apex do corno posterior.

3. Assinale a alínea incorrecta entre as seguintes


acerca dos nervos raquidianos:
a. Apresentam ramos anteriores, que se reu-
nem formando plexos.
b. Resultam da reunião de duas raízes e são
sensitivo-motores.
c. Deixam a coluna vertebral ao nível dos bu-
racos intervertebrais.
d. Existem 7 nervos raquidianos cervicais.
e. Os gânglios sensitivos situam-se nas raí-
zes posteriores.

~a-1:~a-2:~a-1
:se~sodso11

496
í RONCO CEREBRAL do, sendo o diâmetro transversal um pouco maior
que o ântero-posterior (Fig.10.1.9 e 10.1.10).
O tronco cerebral ou tronco do encéfalo é a par- O tronco cerebral é constituído por feixes e fascí-
te
do encéfalo situada, entre o cérebro, o cerebelo culos nervosos - substância branca - que ocupam
e a medula espinhal. E formado pelo mesencéfa- a maior parte do seu volume e se dispõem sobretu-
Jo ou istmo do encéfalo em cima, que compreen- do à superfl:cie, e por núcleos nervosos - substân-
de os pedúnculos cerebrais e a lâmina quadrigémia, cia cinzenta - situados no seu interior. Uma par-
pela protuberância ou ponte (de Varólio) a meio te dos núcleos do tronco cerebral, os que respeitam
e pelo bulbo raquidiano em baixo. O tronco cere- aos nervos cranianos, são responsáveis pela iner-
bral encontra-se, com o cerebelo, na fossa craniana vação segmentar da cabeça e do pescoço e corres-
posterior, espaço intracraniano limitado em baixo pondem a núcleos congéneres existentes na me-
pelo andar posterior da base do crânio e em cima dula espinhal. Outras formações, núcleos e feixes,
pela tenda do cerebelo, a membrana meníngea que têm carácter suprassegmentar porque asseguram
0 separa dos lobos occipitais do cérebro. Em rigor,
funções de integração de múltiplos segmentos so-
as extremidades cranial e caudal do tronco cerebral máticos; são os núcleos e feixes próprios do tron-
ultrapassam os limites da fossa craniana posterior, co cerebral.
pois o mesencéfalo chega um pouco acima do bu- No tronco cerebral encontram-se também algu-
raco formado pelo bordo livre da tenda do cerebelo mas cavidades encefálicas: o 4.0 ventrículo, entre
com a base do crânio - incisura da tenda (ou bu- a protuberância, o bulbo e o cerebelo; o aquedu-
raco oval de Paccioni) - e a parte inferior do bulbo to cerebral ou aqueduto de Silvius na espessura do
desce abaixo do buraco occipital, continuando-se mesencéfalo, que põe em comunicação os ventrí-
com a medula espinhal ao nível do arco anterior do culos cerebrais com o 4.0 ventrículo.
atlas. Globalmente, o tronco cerebral tem a forma Do pon to de vista topográfico descrevem-se, na
de um tronco alongado de cone, com a base menor protuberância e no mesencéfalo, dois sectores di-
inferior e o eixo em direcção cranio-caudal, incli- ferentes: o mais anterior, ou ventral, é o pé; o que
nado para trás e para baixo; é ligeiramente achata- está situado por detrás deste, junto do 4.0 ventrí-

a
Rg. 10.1.9: Tronco cerebral e cerebelo.
A: imagem sagita! de ressonância magnética em ponderação t1
8: desenho anatómico correspondente
1. Pedúnculo cerebral 2. Aqueduto cerebral (sylvius) 3. Coliculo superior 4. Lâmina quadrigémia 5. Coliculo inferior 6. Protuberância 7. 4.0
ventrículo 8. Plexo coroideu 9. Bulbo 1O. Buraco mediano (magendie) 11 . Decussação das pirâmides 12. Vérmis superior (A. üngula B. Lóbulo
central C. Culmen O. Declive E. Folium) 13. Véu medular superior 14. Véu medular inferior 15. Vérmis inferior (A. Tuber B. Pirâmide C. Úvula
D. Nódulo)

497
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

11

2 12

13
3

14
4
15

20 21

Fig. 10.1.10A: Tronco cerebral (vista anterior).


1. Fita óptica 2. Pedúnculo cerebral 3. Espaço perfurado posterior 4. Prot uberância 5. Pedúnculo cerebeloso médio 6. Oliva bulbar 7. Pirâmide
bulbar 8. Raizes nervo C1 9. Decussação das pirâmides 10. Nervo oculomotor 11 . Nervo troclear 12. Nervolrigémio 13. Nervo abducente
14. Nervos facial e intermédio 15. Nervo vestibulocodear 16. Flóculo 17. Plexo coroideu 18. Nervo glossofaríngeo 19. Nervo Vago 20. Nervo
hipoglosso 21. Nervo acessório

15

14

17

18

19

13 26 25 24

Fig. 10.1.10B: Tronco cerebral (vista posterior• cerebelo cortado).


1. 3.º ventrículo 2. Pulvinar 3. Epífise 4. Calículo superior 5. Calículo inferior 6. Nervo troclear 7. Véu medular superior 8. Pedúnculos
cerebelosos: a)superior, b) médio, e) inferior) 9. Triângulo superior (pôntico) da fossa rombóide 10. Triângulo inferior (bulbar) 11. Trígono d o
hipoglosso 12. Trígono do vago 13. Obex 14. Corpo geniculado Medial 15. Corpo geniculado lateral 16. Sulco Mediano 17. Locus Ceruleus
18. Eminência medial 19. Colículo Facial 20. Área Vestibular 21. Estrias Medulares ou Acústicas 22. Ténia do quarto ventrículo 23. Tubérculo
Cuneiforme 24. Tubérculo Grácil 25. Feixe Cunerforme 26. FeiXe Grácil

498
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL:TRONCO CEREBRAL

ulo ou do aqueduto cerebral é o tegmento ou ca- oposto. Estes são os feixes da motricidade volun-
c . no mesencéfalo, a parte que está situada para tária do pescoço, do tronco e dos membros que
Jote, vêm do cortex cerebral para a medula espinhal,
detrás do aqueduto cerebral, constituído pela lâ-
.na quadrigémia, é o tecto. por esta razão também chamados feixes corticos-
: descrição do tronco cerebral veremos primeiro pinhais, através dos quais cada hemisfério cerebral
configuração exterior das suas diferentes porções comanda os movimentos do hemicorpo contrala-
a . . teral. Por fora das pirâmides encontram-se os sul-
e depois a intenor, no conJunto.
cos ventrolaterais do bulbo onde nascem as raizes
do nervo hipoglosso, XII nervo craniano, respon-
CONFIGURAÇÃO EXTERIOR sável pela motricidade da língua; mais abaixo, na
(F/G.10.1.9, 10.1.10) mesma direcção mas já na medula, nascem as raí-
zes motoras dos nervos raquidianos cervicais.
BULBO RAOUIDIANO As faces laterais do bulbo são na sua maior par-
te lisas e estão entre os sulcos ventrolaterais e os
o bulbo raquidiano, ou simplesmente bulbo, tam- dorsolaterais. Nestes últimos nascem, de cima
bém chamado "medula ablongata" pelos autores de para baixo, as raizes dos IX, X e XI nervos crania-
língua inglesa porque se encontra na continuida- nos, respectivamente nervo glossofaríngeo, ner-
de da medula espinhal prolongando e alargando vo pneumogástrico ou vago e nervo acessório de
os seus contornos no sentido cranial, tem a forma Willis (este tem, além disso, uma raiz inferior, es-
de tronco de pirâmide de eixo quase vertical, cuja pinhal). Na parte ântero-superior das faces laterais
base maior, superior, o liga à protuberância. Esta do bulbo, à frente destes três nervos, existe de cada
ligação, menos nítida atrás, é bem marcada à fren- lado uma saliência ovoide com cerca de 1,5 cm de
te e dos lados onde existe um sulco transversal que altura e 0,5 cm de largura, com forma de azeito-
os distingue, o sulco bulboprotuberancial. As di- na, por isso chamada oliva bulhar; é um dos nú-
mensões aproximadas do bulbo são 3 cm de com- cleos próprios do bulbo. Por cima da oliva, no sul-
primento (cranio-caudal) e, ao longo deste, 2 a 1 co bulbo-protuberancial, nasce o nervo facial (VII
cm de largura e 1,5 a 1 cm de espessura (ventro- nervo craniano) numa pequena depressão, a fosse-
-dorsal) consoante o local considerado. ta supraolivar. No mesmo sulco, em posição me-
O bulbo está na sua maior parte coberto atrás pelo dial relativamente àquele nervo nasce o VI - ner-
cerebelo. A frente assenta na parte inferior da go- vo abdutor ou oculomotor externo - e em posição
teira basilar do occipital, onde habitualmente con- lateral nasce o VIII - nervo auditivo, estatoacústi-
vergem as artérias vertebrais na artéria basilar e daí co ou vestibulococlear.
estende-se para baixo e atravessa o buraco occipi- A face dorsal do bulbo na sua metade inferior é se-
tal. Na sua descrição exterior consideram-se qua- melhante à da medula cervical, embora seja mais
tro faces - ventral, dorsal e laterais - além das duas larga; apresenta os cordões dorsais subdivididos
bases. A face ventral, limitada pelos sulcos ventro- pelo sulco intermédiodorsal num fascículo medial,
laterais que continuam os sulcos homónimos fascículo grácil ou de Goll, e num lateral, fascí-
da medula cervical, é ocupada por dois cor- culo cuneiforme ou de Burdach. Na metade su-
dões de substância branca salientes de um e ou- perior, os cordões dorsais separam-se progressiva-
tro lado do sulco mediano anterior que se desig- mente um do outro, constituindo os pedúnculos
na fissura mediana ventral, as pirâmides bulhares. cerebelosos inferiores ou caudais que ligam o bul-
Na parte inferior destas, definindo o limite caudal bo ao cerebelo, também designados, nas suas por-
do bulbo, vários pequenos feixes entrecruzam-se ções inferiores "corpos restiformes". Entre aqueles
obliquamente na linha média; é o aspecto, à super- pedúnculos aparece uma área membranosa triân-
fície, da entrecruzamento ou decussação das pirâ- gular de base superior que cobre a parte inferior
mides, onde a parte principal (cerca de dois ter- , bulhar, do 4.0 ventrículo. Esta área é constituí-
ços) dos feixes que as constituem - por isso desig- da apenas por uma camada superficial de epité-
nados "feixes piramidais" - se cruzam para o lado lio ependimário - a membrana tectória - revestida

499
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

por uma dupla camada de piamater - a tela coroi- los do cerebelo. A protuberância tem, corno d·
deia do 4.0 ventrículo - e apresenta habitualmen- mensões, 2 a 2,2 cm de comprimento (cranio-ca~:
te três orifícios que dão saída à cavidade do ven- dal) 2 a 3 cm de espessura ventro-dorsal e cerca de
trículo: um orifício principal mediano na sua por- 4 cm de largura.
ção inferior - o buraco de Magendie - e dois orifí- A protuberância tem os seus limites superior e in-
cios nos seus ângulos laterais- os buracos de Lus- ferior bem marcados por sulcos que a separam res-
chka. Entre as duas camadas de tela coroideia ca- pectivamente dos pedúnculos cerebrais - o sulco
minham vasos sanguíneos que irrigam os plexos pontopeduncular - e do bulbo raquidiano - o su],
coroideus do 4.0 ventrículo aí situados. Ao longo co bulboprotuberancial.
dos bordos laterais da membrana tectória, junto D escrevem-se habitualmente na protuberân-
aos pedúnculos cerebelosos inferiores, entre a pia cia uma face ventral, convexa, sem clara demar-
mater e o epitêlio ependirnário existe de cada lado cação com as faces laterais, que se prolongam pe-
uma franja de substância branca, a lígula ou ténia los pedúnculos cerebelosos médios; a emergência
do 4.°ventrículo. A membrana que constitui o tec- do nervo trigémio (V nervo craniano) marca de
to da porção bulhar do 4.0 ventrículo, contém no cada lado a transição entre aquelas faces. A face
seu limite superior uma fina lâmina de tecido ner- anterior relaciona-se com a parte superior da go-
voso junto à inserção no vermis cerebeloso, o véu teira basilar; entre as duas encontra-se a artéria
medular inferior ou válvula de Tarin. O pavimen- basilar habitualmente numa goteira mediana pou-
to da porção bulhar do 4.°ventrículo é constituído co marcada nesta face. Cada face lateral relacio-
pelas formações resultantes do alargamento da pa- na-se com a face posterior do rochedo do mes-
rede anterior do canal ependimário, que da medu- mo lado. A face dorsal da protuberância é cons-
la se continua para o bulbo: de um e de outro lado tituída por uma superfície quase plana, triangular
do sulco longitudinal mediano distinguem-se três de base inferior, situada entre os pedúnculos ce-
pequenas áreas triângulares que convergem na sua rebelosos: é o triângulo superior (maior) ou pro-
extermidade inferior, chamadas respectivamente tuberancial do pavimento do 4.0 ventrículo. Nes-
trígono do nervo hipoglosso ou asa branca interna ta zona, entre os pedúnculos cerebelosos médios,
ou medial, fosseta inferior (por ser um pouco de- mais laterais, interpõem-se em posição medial e
primida) ou asa cinzenta, e trígono do nervo vago convergindo obliquamente para cima até à lâmi-
ou asa branca externa ou lateral. Lateralmente ao na quadrigémia, os pedúnculos cerebelosos supe-
trígono do nervo vago há uma área estreita até riores ou "brachium conjuntivum", que constituem
ao limite inferior do ventrículo, a área postrema. de cada lado os limites do triângulo protuberancial
Dada a semelhança desta configuração com a de do 4.0 ventrículo. O tecto desta parte do 4.0 ven-
uma pena de escrever, é também conhecido como trículo é completado na linha média, entre aque-
calamus scriptorius. O bico inferior do ventrícu- les pedúnculos, por uma lâmina de tecido nervo-
lo chama-se obex ou obice (Fig.10.1.9 e 10.1.10). so que se estende dos tubérculos quadrigémios ao
cerebelo, chamada véu medular superior ou válvu-
PROTUBERÂNCIA la de Vieussens. No pavimento protuberancial do
4.0 ventrículo observa-se, além do sulco mediano,
A protuberância anular ou ponte tem forma gros- que continua para cima o correspondente do bul-
seiramente cilíndrica disposta quase verticalmen- bo, de um lado e de outro deste uma zona salien-
te, mais espessa a meio do que nas bases, e é acha- te, a eminência medial do 4.0 ventrículo, delimita-
tada atrás onde forma a parte superior do pavi- da lateralmente por um sulco pouco nítido, o sul-
mento do 4.0 ventrículo. O seu nome vem do as- co limitante; a eminência medial alarga-se na par-
pecto estriado transversal que lhe é dado pelas fi- te inferior, de forma arredondada, o colículo fa-
bras que se dirigem para o cerebelo atravessando cial ou eminência teres. Lateralmente ao sulco li-
a linha média; essas fibras constituem, de cada mitante encontra-se a área vestibular e, um pou-
lado, o pedúnculo cerebeloso médio (ou "bra- co mais superior e lateral, uma pequena depres-
chium pontis"), o mais volumoso dos pedúncu- são, a fosseta superior do 4.0 ventrículo sob a qual

500
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL:TRONCO CEREBRAL

encontra um núcleo hiperpigmentado reticular liculares ou conjuntivais, a núcleos situados por


' leo vegetativo
selocus ceruleus e o nuc ·1 ·
acnmomu- detrás do tálamo (metatálamol, os corpos geni-
o nasal. Na transição com o bulbo, existem uma culados medial e lateral: o tubérculo quadrigémio
co
estrias transversais que convergem para os ângu- anterior está ligado pelo braço colicular superior
los ou recessos laterais deste ventrículo, as estrias ao corpo geniculado lateral e tem que ver com
rnedulares do 4.0 ventrículo ou estrias acústicas as vias ópticas; o tubérculo quadrigémio poste-
(Fig.10.1.9 e 10.1.10). rior está ligado pelo braço colicular inferior ao
corpo geniculado medial e tem que ver com as
MESENCÉFALO vias acústicas. Abaixo da lâmina quadrigémia es-
tão os pedúnculos cerebelosos superiores que, na
o mesencéfalo é a parte superior do tronco ce- linha média, formam um pequeno rafe acima da
rebral. Encontra-se entre a protuberância, da qual válvula de Vieussens, por isso também chamado
está bem demarcada exteriormente pelo sulco freio de válvula de Vieussens; dum lado e de ou-
pontopeduncular, e a base do cérebro, com a qual tro deste nasce o nervo troclear ou patético, o IV
se continua sem limite claramente definido As nervo craniano, oculomotor tal como o III e o
suas largura e espessura são maiores que a sua al- VI; este é o único nervo craniano que tem ori-
tura, que habitualmente não chega aos 2 cm. gem aparente na face posterior do tronco cere-
É composto à frente pelos pedúnculos cerebrais, bral e que se cruza com o do lado oposto antes da
duas saliências cilíndricas estriadas longitudinal- sua origem aparente, na espessura do véu medu-
mente constituídas em grande parte pelos fei- lar superior. Na zona dorsolateral do mesencéfa-
xes nervosos da motricidade voluntária, que con- lo, a linha de demarcação entre o pedúnculo
vergem para baixo em "V", forma que tem assim cerebeloso superior por dentro, e o pedúnculo ce-
também o espaço situado no meio deles - a cha- rebral por fora, é feita por um sulco longitudinal,
mada substância perfurada posterior ou fossa in- o sulco lateral do mesencéfalo, que prolonga para
terpeduncular - onde nasce de cada lado da linha cima o sulco que separa o pedúnculo cerebelo-
média o nervo oculomotor ou oculomotor comum so superior do pedúnculo cerebeloso médio, mais
(III par de nervos cranianos); dos lados, as faces abaixo; acima do pedúnculo cerebeloso superior,
ventral e lateral de cada um dos pedúnculos ce- aquele sulco alarga- se e, entre a lâmina quadri-
rebrais, regularmente convexas, continuam-se sem gémia e o pedúnculo cerebral, surge uma peque-
distinção (Fig.10.1.9 e 10.1.10). Atrás, os pedún- na área triângular onde se encontram à superficie
culos cerebrais estão cobertos pelo tecto do me- feixes da sensibilidade (lemnisco lateral), chama-
sencéfalo, formado pela lâmina quadrigémia. do trígono do lemnisco (Fig.10.1.10).
Os pedúnculos cerebrais relacionam-se à frente Na linha média, logo por cima da lâmina quadri-
com a bifurcação da artéria basilar, que dá origem gémia mas já pertencente ao cérebro, encontra-se
às duas artérias cerebrais posteriores logo acima da a glândula pineal ou epífise e, junto a esta, a veia
emergência das artérias cerebelosas superiores (o de Galeno que drena o sangue da profundidade e
III nervo craniano de cada lado, passa entre esta e da base do cérebro. Por detrás, está a parte media-
aquela artérias) e encontram-se acima do dorso da na da incisura da tenda do cerebelo.
sela turca. Os contornos laterais do mesencéfalo
relacionam-se com a incisura da tenda do cerebelo.
A parte dorsal, tectal, do mesencéfalo é consti- CONFIGURAÇÃO INTERIOR
tuída por uma lâmina espessa de tecido nervo- (FIG. 10. 1. 11, 10. 1. 12, 10. 1. 13)
so com quatro saliências arredondadas dispostas
simetricamente - os tubérculos quadrigémios ou A estrutura do tronco cerebral compreende fei-
colículos, superiores ou craniais, e inferiores ou xes e núcleos, distinguindo-se entre este últimos
caudais - por isso designada "lâmina quadrigé- os núcleos dos nervos cranianos (segmentares), os
mia". Os colículos estão ligados de cada lado por núcleos próprios do tronco cerebral (suprasseg-
feixes nervosos transversais, chamados braços co- mentares) e a substância reticular.

501
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

19
20

4 21
22

23

10

28

Ili 32 27 29

Fig. 10.1.11: Configuração interior do Tronco Cerebral: Núcleos dos Nervos Cranianos (a azul núcleos sensitivos, a vermelho núcleos motores).
A. Vista de perfil
B. Vist a posterior:
1. Nervo Oculomotor 2. Núcleo mesencefálico do trigémio 3. Nervo trigémio 4. Núcleo sensitivo do trigémio 5. Núcleo motor do trigémio
6. Nervo facial 7. Nervo vestibulococlear 8. Nervo abdutor 9. Nervo glossofaríngeo 10. Nervo Hipoglosso 11. Nervo vago 12. Nervo
acessório 13. Oliva bulbar 14. Núcleo espinhal do Trigémio 15. Núcleo oculomotor acessório (Edinger•Westphal) 16. Núcleo oculomotor principal
17. Núcleo troclear 18. Nervo troclear 19. Núcleo abdutor 20. Joelho do nervo facial 21. Núcleo facial 22. Núcleos vestibulares 23. Núcleos
cocleares 24. Núcleos salivatórios superior e inferior 25. Núcleo do feixe solitário 26. Núcleo dorsal do vago 27. Núcleo do hipoglosso
28. Núcleo ambíguo 29. Núcleo espinal do nervo acessório 30. Colículo superior 31. Corpo geniculado lateral 32. Núcleo grácil

502
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL:TRONCO CEREBRAL

Os núcleos dos nervos cranianos distribuem- de Edinger-Westphal que pertence ao nervo


no conjunto pela zona dorsal do bulbo e pelo oculomotor comum;
-sementa da protuberância e dos pedúnculos ce- 3. A coluna viscerossensitiva: é representada
ebrais. E sses nuc
ceg , 1eos, sensltlvos
.. e motores, d.1s- apenas pelo núcleo dorsal do vago, que ocupa
r _ --se em colunas longitudinais, somáticas e a parte medial do trígono do vago, no bulbo;
Pºe"• . 4. Das colunas somatossensitivas:
viscerais (F1g.l0.l.ll) tal como acontece com
ubstância cinzenta da medula, mas no tron- a. Coluna somatossensitiva dorsal, que é
aS .
co cerebral as colunas postenores da medula tor- composta pelo núcleo do feixe solitário, si-
nam-se laterais e as anteriores tornam-se me- tuado na parte lateral do trígono do vago,
diais, e estas colunas são descontínuas ao longo no bulbo, que recebe fibras sensitivas dos
do rronco cerebral; da linha média para os lados X, IX e VII (nervo intermediário de Wris-
temos: berg) e contém o núcleo gustativo de Na-
1. Colunas de núcleos somamotores dos nervos geotte, mais acima pelos núcleos vestibula-
cranianos: res (medial de Schwalbe, lateral de Deiters
a. Coluna somatomotora dorsal, que se loca- e superior de Betcherew) e por fora destes
liza superficialmente junto à linha média e pelos núcleos cocleares (dorsal e ventral),
compreende, de baixo para cima, o núcleo que se encontram junto ao ângulo lateral
de porção medular do XI nervo, o núcleo do pavimento do IV ventrículo;
do XII, localizado no trígono do hipoglos- b. Coluna somatossensitiva ventral, mais
so do pavimento bulhar do 4.0 ventrículo, profunda, consiste no longo núcleo sen-
o núcleo do VI no calículo facial da protu- sitivo do trigérnio e estende-se sem in-
berância e os núcleos dos IV e Ili, situados terrupção desde a medula cervical até aos
de cada lado à frente do aqueduto cerebral, pedúnculos cerebrais, tendo a sua porção
no mesencéfalo; principal ao nível da parte lateral do pa-
b. Coluna somatomotora ventral, mais pro- vimento protuberancial do IV ventrículo.
funda e lateral que a dorsal, compreende, H á uma somatotopia neste núcleo, de tal
de baixo para cima, no bulbo o núcleo am- forma que a sua porção mais inferior iner-
bíguo - núcleo motor dos XI, X e IX ner- va a comissura labial e daí para cima iner-
vos cranianos - e na protuberância o nú- va zonas concêntricas da face e fronte su-
cleo motor do facial, o VII e o núcleo mas- cessivamente mais afastadas.
tigador do trigérnio, o V. (as fibras moto-
ras do VII nervo descrevem uma curva por Os núcleos suprassegmentares do tronco ce-
dentro e por detrás do núcleo do VI no rebral compreendem as seguintes formações
calículo facial - o joelho do nervo facial - (Fig.10.1.12):
antes de se dirigirem para fora, para a ori- • Na porção dorsal inferior do bulbo: os núcleo
gem aparente do nervo). grácil (ou de Goll) e o núcleo cuneiforme
(ou de Burdach), da sensibilidade tactil epi-
2. A coluna visceromotora, parassimpática si- crítica e propriceptiva consciente e o núcleo
tuada por fora da coluna somatomotora dor- cuneiforme acessório ou lateral, (ou núcleo de
sal incluí: a nível bulhar, o núcleo cardiop- Von M onakov) da sensibilidade propricepti-
neumoentérico do pneumogástrico (ou nú- va inconsciente;
cleo dorsal do vago) que se encontra na fosse- • Na zona ânterolateral superior do bulbo: a
ta inferior e o núcleo salivar inferior do glos- oliva bulhar e os núcleos olivares acessórios
sofaríngeo, logo acima; na protuberância, os (ou paraolivares) medial e dorsal que têm li-
núcleo salivar superior e, na fosseta superior, gações com a medula e o cerebelo, e interfe-
o núcleo lacrimomuconasal do facial; a algu- rem com a coordenação motora e a fonação;
ma distância destes, no mesencéfalo, o núcleo • Na protuberância: os núcleos arciformes e os
da motricidade intrínseca do olho, o núcleo núcleos pônticos, estes dispersos entre as fi-

503
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

bras descendentes dos feixes de motricidade cionada com o fascículo longitudinal dors
voluntária, que fazem parte dos circuitos cor- o núcleo interpeduncular (relacionado co ai),
111
ticopontocerebelosos da coordenação motora; ·
sistema ' 08 0
lím bº1co) e os ch amados nucle
0
• Nos pedúnculos cerebrais: os núcleos rubros, lomotores acessórios (núcleo interesticial~-
0
núcleos globosos situados na profundidade fascículo longitudinal medial, núcleo de C
do tegmento do mesencéfalo acima do cruza- jal, núcleo de Darkschewitsch, e o núcleo ~-
mento dos pedúnculos cerebelosos superiores, comissura posterior} implicados sobretudª
0
que estão integrados nas vias motoras extra- nos movimentos oculares verticais;
piramidais de controlo do tonus muscular, a • O locus ceruleus ou zona cerulea, núcleo do
substância negra ("locus niger" de Soemme- tegmento pontomesencefálico ligado à subs,
ring), de origem diencefálica, outro elemento tância reticular, constituído em grande par,
fundamental das vias extrapiramidais, núcleo te por células hiperpimentadas, é um impor-
laminar hiperpirnentado em posição ventral tante centro noradrenágico do tronco cerebra]
relativamente ao núcleo rubro, entre este e os que intervem, entre outras funções, na regu,
feixes motores situados à frente (a substância lação do sono e de respiração, e tal como a
negra separa aqui o pé, ou "cruz cerebri", do substância negra, está envolvida na doença de
tegmento dos pedúnculos cerebrais); a área Parkinson.
tegmental ventral, junto ao limite medial da
substância negra, origem de projecções dopa- A substância reticular, ou formação reticular do
minérgicas para o prosencéfalo basal; tronco cerebral é constituída por áreas celulares
• No tecto do mesencéfalo: os núcleos tectais, e feixes de fibras dispostas difusamente entre os
i.e., dos colículos inferiores (vias acústicas) e núcleos descritos acima, com ligações aos núcleos
superiores (vias ópticas); próprios e aos dos nervos cranianos, bem como a
• No restante mesencéfalo: os chamados pe- outros pontos do neuroeixo, com significado fiin-
quenos núcleos mesencefálicos: os núcleos cional complexo: controlo motor, sensitivo e vis-
pretectais (reflexos pupilares e da acomoda- ceral, regulação da consciência. Compreende vá-
ção), a substância cinzenta periaquedutal (en- rias zonas dispostas longitudinalmente ao longo
volvida no controlo analgésico central e rela- do tronco:

Fig. 10.1.12: Núcleos próprios do Tronco Cerebral (vistas posterior e lateral).


1. Núcleo rubro (A. Neorrubro 8. Paleorrubro) 2 . Substância negra 3. Núcleos protuberanciais 4. Núcleos paraolivares 5. Oliva bulbar 6. Núcleo
de Von Monakow 7. Núcleo cuneiforme {Burdach) 8. Núcleo grácil (Goll) 9. Calículo superior 10. Calículo inferior

504
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL:TRONCO CEREBRAL

Substância reticular mediana que inclui os orbicular das pálpebras, frontal, supraci-
núcleos da rafe nos pedúnculos cerebrais jun- liar) têm inervação bilateral, enquanto daí
to à linha média e, mais dorsalmente, a subs- para baixo as fibras (para o restante terri-
tância cinzenta periaquedutal que tem afe- tório do nervo facial e os nervos cranianos
rências sensitivas e projecções ascendentes mais distais) são sobretudo cruzadas.
para o hipotálamo e o cortex cerebral, funda- b. Feixes extrapiramidais (Fig.10.l.13B) do
mentais para a regulação da dor, do sono e da tronco cerebral: feixes corticopontoce-
vigilia; rebelosos, que descem de múltiplas áreas
• Substância reticular central, de cada lado do do cortex cerebral para os núcleos pônti-
tronco, particularmente evidente nos níveis cos, feixe tectospinhal, feixe rubrospinhal,
bulhar superior (núcleo reticular gigantocelu- feixe vestibulospinhal, e feixe reticulospi-
lar), importante no controlo do tono muscu- nhal.
lar através de feixes descendentes tais como os
reticulospinhais, e pontomesencefálico); 2. Feixes ascendentes (Fig.10.l.13C):
• Substância reticular lateral_do bulbo, com li- a. Feixe bulbotalâmico da sensibilidade cons-
gações ao cerebelo e aos núcleos vegetativos ciente (táctil epicrítica e proprioceptiva),
do tronco cerebral. que se cruza na parte inferior do bulbo na
chamada decussação sensitiva ou pirifor-
Os feixes que constituem a substância branca do me, imediatamente acima da decussação
tronco cerebral (Fig.10.1.13) dividem-se em des- das pirâmides, depois forma de cada lado o
cendentes ou motores, ascendentes ou sensitivos lemnisco mediano, a que se juntam os fei-
(e sensoriais) e feixes de associação próprios do xes cruzados da sensibilidade somática dos
tronco cerebral. nervos cranianos e sobe ao longo do tronco
1. Feixes decendentes: cerebral até ao tálamo;
a. Feixes da motricidade voluntária também b. Feixe espinotalâmico lateral (da sensibi-
conhecidos genericamente como via pira- lidade termoálgica) e feixe espinotalâmi-
midal, (Fig.10.l.13A): Os feixes de mo- co ventral (da sensibilidade tactil protopá-
tricidade voluntária incluem o feixe corti- tica) ou extralemniscais, que se dirigem se-
cospinhal, ou piramidal propriamente dito, paradamente para o tálamo;
que ocupa a parte central do pé do pedún- c. Lemnisco lateral, for mado pelas fi-
culo cerebral, depois dispersa-se em toda a bras sensitivas que, dos núcleos coclea-
extenção do pé da protuberância, para vol- res homo e contralaterais, ascendem até
tar a agrupar-se na pirâmide bulbar, que ao colículo inferior e ao corpo genicula-
lhe dá o nome e que cruza a linha média do medial;
no limite inferior do bulbo constituindo d. Feixes espinocerebelosos: feixe espinoce-
a entrecruzamento ou decussação das pi- rebeloso dorsal ou directo (de Flechsig),
râmides; inclui também o feixe genicula- que vai para o cerebelo através do pedún-
do (assim chamado por passar no joelho culo cerebeloso inferior acompanhado do
da cápsula interna do cérebro) ou cortico- feixe cuneocerebeloso que vai do núcleo
nuclear, que se origina no cortex cerebral, cuneiforme acessório ao cerebelo e do fei-
passa pela parte medial do pé do pedún- xe trigeminocerebeloso, e feixe espinoce-
culo cerebral e, a partir daí, distribui-se rebeloso ventral ou cruzado (de Gowers)
aos núcleos dos nervos cranianos, cruzan- que sobe até ao mesencéfalo e volta a cru-
do sucessivamente a linha média à medida zar-se no entrecruzamento dos pedúncu-
que desce no tronco cerebral. Note-se que los cerebelosos superiores (W emeK.ing),
as fibras motoras que inervam os nervos por onde entra no cerebelo (nota: os fei-
cranianos mais proximais até à parte su- xes espinocerebelosos transportam infor-
perior do núcleo do nervo facial (músculos mações para o cerebelo provenientes so-

505
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Fig. 10.1.13A: Feixes principais do Tronco Cerebral (vias descendentes Fig. 10.1.138: Feixes principais do Tronco Cerebral (vias descendentes
da motricidade voluntária). da motricidade involuntária (extrapiramidais).
1. Feixe corticospinal (piramidal) 2. Feixe cortico-nuclear (geniculado) 1. Via cortico-ponto-cerebelosa 2. Feixes tectospinal 3. Feixe rubros-
3. Feixe piramidal direto 4. Feixe piramidal cruzado 5. Via Aberrante pina1 4. Feixe reticulospinal 5. Feixe vestibulospinal.
de Déjérine

Fig. 10.1.13C: Feixes principais do Tronco Cerebral (vias ascendentes Fig. 10.1.130: Feixes principais do Tronco Cerebral (vias de associação}.
da sensibilidade). 1. Fascículo longitudinal posterior ou dorsal 2. Feixe central da calote
1. Lemnisco mediano 2. Feixe espinotalâmico lateral 3. Lemnisco 3. Fascículo longitudinal de associação internuclear.
lateral 4. Feixes espinocerebelosos direto e cruzado 5. Feixe reticulo-
•cerebeloso 6. Feixe dentato-rubro-talâmico.

506
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL:TRONCO CEREBRAL

bretudo do tronco e do membro inferior, espinorreticular e feixe espinotectal, todos


enquanto o feixe cuneocerebeloso diz res- cruzados (os três primeiros integram os
peito ao pescoço e ao membro superior, e o pedúnculos cerebelosos inferiores);
trigeminocerebeloso à cabeça); f Feixe prosencefálico medial, que liga a área
e. Feixe vestibulocerebeloso, directo, feixe re- tegmental ventral a vários núcleos da base
ticulocerebeloso, maioritariamente cruza- do cérebro.
do, feixe olivocerebeloso, feixe espinolivar,

10 11 12 10

15

5
a 2 19

Fig. 10.1 .1 4: Configuração interior do Tronco Cerebral em cortes axiais (esquemático): Bulbo de baixo para cima.
A. Nível bulbar inferior B. Nível abaixo das olivas
1. Suko mediano posterior 2. Sulco mediano anterior 3. Canal ependimário 4. Feixe corticospinal cruzado 5. Feixe corticospinal direto 6.
Entrecruzamento (decussação) das pirâmides 7. Feixe espinocerebeloso dorsal 8. Feixe espinocerebeloso ventral 9. Feixe espinotalâmico
lateral 10. Feixe gracil 11. Núcleo gracil 12- Feixe cuneiforme 13. Núdeo cuneiforme 14. Núcleo espinhal do trigémio 15. Nervo acessório
16. Oliva e Núdeo olivar (inferior) 17. Nervo hipoglosso 18. Núdeo hipoglosso 19. Decussação do lemnisco mediano

13 16 8 7 16
7
19

21
9
12
4 21
12

20
11
22 11
4

a 24
EI 24

Fig. 10. 1.14: Configuração interior do Tronco Cerebral em cortes axiais (esquemático): Bulbo de baixo para cima.
C. Nível olivar inferior O. Nível olivar superior
1. Feixe corticospinal direto 2. Feixe espinocerebeloso ventral 3. Feixe espinotalâmico lateral 4. Núdeo espinhal do trigémio 5. Oliva e Núdeo
olivar (inferior) 6. Nervo hipoglosso 7. Núcleo hipoglosso 8. 4.º ventrículo 9. Núcleo dorsal do vago 10. N úcleo do feixe solitário 11. Núcleo
ambíguo 12. Formação reticular 13. Fasóculo longitudinal medial 14. Feixe tectospinal 15. Lemnisco mediano 16. Véu medular inferior 17.
Núcleo vestibular medial 18. Núcleo vestibular inferior 19. Núcleo coclear posterior 20. Núcleo codear anterior 21. Pedúnculo cerebeloso inferior
22. Nervo vago 23. Núcleo vestibular lateral 24. Núcleos Arqueados

507
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

3. Feixes de associação (Fig. 10.1.13D): substância cinzenta periaquedutal e q


a. Fascículo longitudinal medial que assegu- ch ega ate' ao
h ipot
á lamo; 1le
ra, entre outras funções, as interligações c. Feixe central do tegmento, que se estend
dos nucleos oculomotores; do núcleo rubro (e do tálamo) até à olivae
b. Fascículo longitudinal dorsal de Schutz da ao longo da substância reticular central. '

D 12

Fig. 10.1.14: Configuração interior do Tronco Cerebral em cortes axiais (esquemático): E. Prot uberância.
1. 4. º ventrículo 2. Formação reticular 3. Fascículo longitudinal medial 4. Lemnisco mediano 5. Véu medular superior 6. Corpo trapezóide 7.
Pedúnculo cerebeloso superior 8. Núcleo motor do trigémio 9. Núcleo sensitivo principal do trigémio 10. Núcleos pônticos 11. Pedúnculo
cerebeloso médio 12. Feixes corticospinais e corticonudeares 13. Nervo trigémio 14. Fibras transversas pônticas

12
4
18

[
[ 8

9
3
13

21
14
18

Ili 19

22 3

10 2

11 20
16 17
D m
Fig. 10.1.14: Configuração interior do Tronco Cerebral em cortes axiais (esquemático):
F. Mesencéfalo no nível colicular inferior G. Mesencéfalo no nível colicular superior
1. Formação reticular 2. Fascículo longrtudinal medial 3. Lemnisco mediano 4. Nervo troclear 5. Colículo inferior 6. Aqueduto do cérebro (Sylvius)
7. Núcleo mesencefálico do trigémio 8. Lemnisco lateral 9. Núcleo troclear 10. Substância negra 11. Fossa interpeduncular 12. Coliculo superior
13. Substância cinzenta periaqueductal 14. Núcleo oculomotor 15. Nucleo rubro 16. Decussação dos feixes rubrospinais 17. Nervo oculomotor
18. Lemnisco Trigeminai 19. lemnisco Espinhal 20. Decussação dos pedúnculos cerebelosos superiores 21 . Fibras Temporo-pô nticas 22. Fibras
Cortico-espinhais e cortico-nucleares 23. Fibras Fronto-pônticas
1- Tecto, li - Tegmento, Ili -Crus Cerebri

508
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: TRONCO CEREBRAL

dos estes feixes da substância branca do tron- pando espaço, por exemplo tumores da fossa cra-
A co bral há ainda a acrescentar os que consti- niana posterior, que podem fazer pressão sobre o
cere
Co os pedúnculos cerebelosos superiores que se tronco cerebral. E sta pressão, quando exercida no
ruefTlcruzam na linha média ocupando a zona cen- sentido descendente pode levar, em casos graves, à
cral do ceg~ento mesencef:~•=
encre auco ao ruve , 1 dos colí- compressão do bulbo e da parte inferior do cere-
cul0 5 infenores. belo (amigdalas cerebelosas) contra o buraco oc-
nfiguração interior do tronco cerebral, após a cipital - encravamento das amigdalas - e provo-
j\ C0 , . "-' . 'f:cilrn
ição sistematica 1e1ta acuna, e, mais a en- car cefaleias, rigidez cervical, paralisia dos últimos
d~cr . -
ercebida da forma integrada pela observaçao nervos cranianos e mesmo paragem cardiorrespi-
reP " d . ,
de cortes axiais o mesmo, isto e, perpen c ares diul ratória. Esta condição pode ser agravada por uma
eu eixo, em níveis seleccionados que apresen- punção lombar que baixe subitamente a pressão
ao S ,
ta!Tl aspectos característicos. E o que pode ver-se no canal raquidiano. Pode, por outro lado, sur-
na (Fig. 10.1.14), em que se mostram cortes em gir sem qualquer tumor na doença de Arnold-
uatro diferentes níveis do bulbo, um nível da pro- -Chiari, uma anomalia congénita em que o bulbo
!berância, e em dois níveis do mesencéfalo (coli- e o cerebelo estão "descaídos" (herniados) para bai-
cular inferior e superior). xo do buraco occipital.
Algumas das doenças que mais frequentemente
provocam lesões do tronco cerebral são lesões vas-
culares - acidentes vasculares do tronco cerebral.
Destas, as que apresentam manifestações clínicas
O Feixe espinotalâmico é uma das principais for- mais típicas são as que correspondem à destruição
mações do tronco cerebral envolvidas na transmis- (necrose) de um território arterial preciso, por obs-
são dos estímulos dolorosos ao cérebro. Pode ser, trução de uma das artérias cerebelosas ou do tron-
por isso, alvo de intervenção cirúrgica electiva nal- co cerebral (ver vascularização do encéfalo), dando
gumas situações clínicas da dor crónica resisten- origem a um conjunto de sintomas característico
te aos fármacos analgésicos. Tendo em conta a to- ou síndrome. Entre tais síndromes do tronco cere-
pografia deste feixe, dois diferentes locais têm sido bral, vale a pena destacar as seguintes:
eleitos para a sua interrupção (tractotomia espino- • Síndrome bulhar paramediana, por lesão par-
talârnica): a nível bulbar, onde segue junto com o cial da artéria vertebral: há lesão da pirâmide,
feixe espinorreticular (aí a tractotomia atinge ha- do lemnisco mediano e do nervo hipoglos-
bitualmente ambos os feixes); ou a nível mesen- so, com as resultantes paralisia da língua do
cefálico onde se encontra mais isolado e superfi- mesmo lado e paralisia e hipostesia da meta-
cial, embora aí a sua interrupção origine frequen- de oposta do corpo (paralisia e hipostesia al-
temente perturbações de sensibilidade, designadas ternas);
"disestesias". • Síndrome bulhar lateral ou de Wallemberg,
Outro aspecto da regulação da dor com implica- por lesão de artéria cerebelosa pósteroinfe-
ções clínicas no tronco cerebral: a neuroestimula- rior: há lesão do pedúnculo cerebeloso infe-
ção da substância cinzenta periaquedutal mesen- rior, do feixe espinotalârnico lateral, do núcleo
cefálica desencadeia a libertação de mediadores sensitivo do trigémio (parcial) e do núcleo
químicos endógenos com efeito analgésico simi- ambíguo; daí resulta descoordenação motora
lar à morfina, as endorfinas, o que permite tratar (ataxia) do hemicorpo homolateral, hiposte-
certos tipos de dor através da estimulação daquela sia do hemicorpo contralateral (alterna) e da
formação nervosa. hemiface homolateral, alterações da degluti-
A doença de Parkinson, caracterizada por tremor, ção e da fonação;
rigidez e bradicinésia, está relacionada com a de- • Síndrome caudal da protuberância ou de
pleção das células pigmentadas da substância ne- Foville, por lesão de ramos paramedianos da
gra e do locus ceruleus. artéria basilar: há lesão do feixe piramidal e
H á lesões intracranianas que se desenvolvem ocu- dos nervos abdutor e facial, com as conse-

509
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

quentes paralisia alterna dos membros, es- PERGUNTAS TIPO


trabismo convergente e paralisia facial do
mesmo lado; 1. A transição bulbomedular situa-se geralrn
• Síndrome lateral da protuberancia ao nível te ao nível do: en.
do trigémio, por lesão de ramos paramedia- a. Arco anterior do atlas.
nos da artéria basilar ou da artéria cerebelo- b. Buraco occipital.
sa ânteroinferior: há lesão do feixe piramidal c. Corpo do axis.
e do nervo trigémio, com paralisia alterna dos d. Dente ou apófise odontoide.
membros, hipostesia da face e paralisia de de- e. Decussação dos lemniscos.
glutição do mesmo lado;
• Síndrome do pé do pedúnculo cerebral ou de 2. De entre as seguintes hipóteses escolha a lllais
Weber, por oclusão de um ramo mesencefá- correcta, relativamente aos nervos cranianos:
lico da artéria cerebral posterior: há lesão do a. Os nervos mesencefálicos são o I, II e IV
feixe corticospinhal e do nervo oculomotor b. Os nervos protuberanciais são o III vi
comum, com paralisia alterna, estrabismo di- VII e VIII. , '
vergente, ptose (queda) palpebral e midríase c. Os nervos protuberanciais são o V, VI, VII
(dilatação pupilar) homolaterais; VIII. '
• Síndrome do tegmento mesencefálico ou de d. Os nervos oculomotores são o II, III e VI.
Benedikt, por lesão de um ramo distal da ar- e. O núcleo do XII localiza-se na medula es-
téria cerebral posterior: há lesão do lemnisco pinhal.
mediano, do núcleo ~bro e do nervo oculo-
motor comum, com o aparecimento do mo- 3. A interrupção do fascículo longitudinal me-
vimentos involuntários dos membros contra- dial provoca:
laterais e hemianestesia contralateral, além de a. Paralisia dos membros superiores.
estrabismo divergente, ptose palpebral e mi- b. Descoordenação dos membros inferiores.
dríase homolaterais; e. Alterações de acuidade visual e auditiva.
• Síndrome tectal/pretectal do mesencéfalo ou d. Desconjugação dos movimentos oculares.
de Parinaud, por compressão dorsal da lâmina e. Alteração do paladar.
quadrigémia: há sobretudo lesão dos núcleos
pretectais e oculomotores acessórios bilate-
ia-s i:H:\r-,
rais, com paralisia do olhar para cima (supra- :se:,sodsa11
dução ocular), alterações dos reflexos pupila-
res, retracção palpebral e nistagmo de conver-
gência (movimentos oculares bruscos repeti- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
dos na tentativa de fixação visual de um ob-
jecto próximo); Bossy J: Neuro-Anatomie, Anatomie Clinique (4.0
• Síndrome "locked-in'', mutismo acinético, ou vol.) ed.ChevrelJP, Springer Verlag, Paris, 1990.
síndrome de deseferentação, por lesão bilate- Bourret, P.; Louis R. Anatomie du Systeme
ral ventral extensa do tronco cerebral: há atin- N erveux Central. 3.• edição. I:Expansion
gimento dos feixes piramidais dos dois lados, Scientifique Française. Paris, 1986.
com tetraparésia e mutismo, mas preservação
da consciência, dos movimentos oculares e Gonçalves Ferreira, AJ. Stereotactic Anatomy ofthe
das pálpebras; importa distinguir esta síndro- Posterior Cranial Fossa, Acta Neurochir., 113:149-
me do coma, em que há tetraparésia e mutis- 165, 1991.
mo mas não há movimentos oculares por au- Machado, ABM. Neuroanatomia Funcional. 3.ª
sência de consciência. edição. Atheneu, Rio de Janeiro, 2013.
Splittgerber, R. Snell's C!inical Neuroanatomy. 8.'
edição. Wolters Kluwer, 2019

510
CEREBELO ordens motoras voluntárias, usa a informação sen-
sitiva e a das ordens motoras para regular o equi-
Cerebelo significa literalmente "pequeno cére- 1.tbrio, o tónus muscular e o controlo postural, e
bro", e de facto este órgão apresenta várias analo- ainda a coordenar automaticamente o movimento
gias quer morfológicas quer funcionais com o cé- voluntário. Na verdade, no seu domínio automáti-
rebro. O cerebelo é a parte do encéfalo responsá- co não consciente, o cerebelo representa um "pe-
vel pelo controlo automático (não consciente) do queno telencéfalo".
equilJbrio e do movimento.
O cerebelo ocupa a maior parte da fossa crania-
na posterior, por baixo dos hemisférios cerebrais, CONFIGURAÇÃO EXTERIOR
dos quais está separado pela tenda do cerebelo. (FIGS. 10.1.15 E 10.1.9)
Cobre a maior parte da face dosal do tronco ce-
rebral, onde está ancorado por três pares de fei- O cerebelo tem uma forma globosa e achatada bi-
xes chamados pedúnculos cerebelosos. No adulto, lateralmente de cima para baixo em cunha, onde
pesa cerca de 10% do cérebro, ou seja, aproxima- se descrevem três faces: uma superior, aplanada e
damente 150 g. coberta pela tenda do cerebelo; outra inferior, con-
Do ponto de vista morfológico é constituído por vexa, que se relaciona com as fossas cerebelosas do
dois hemisférios cerebelosos separados por uma osso occipital; e uma face anterior que constitui a
porção mediana o vérmis ou verme cerebeloso. porção média do tecto do 4.0 ventrículo.
Como o cérebro, apresenta também um manto A face superior do cerebelo tem a forma de uma
exterior de substância cinzenta denominado "cór- borboleta de asas abertas; na região mediana en-
tex cerebeloso" e núcleos cinzentos centrais incluí- contra-se o "vérmis ou verme superior", assim de-
dos na substância branca que forma, por sua vez, signado por ter forma oblonga e superficie fina-
uma massa contínua de hemisfério para hemisfé- mente estriada transversalmente. A face supe-
rio através do vermis. rior do vermis continua-se de um lado e de ou-
Funcionalmente, o cerebelo é também um órgão tro com a face superior dos hemisférios cerebelo-
de controlo que atua a título supra-segmentar. Re- sos, não sendo nesta face muito nítida a distinção
cebe aferências sensitivas de quase todos os tipos entre ambos. No conjunto a face superior do ce-
de receptores e, apesar de não estar envolvido na rebelo torna-se progressivamente mais horizontal
percepção sensitiva consciente nem na emissão de para cada lado da linha média até ao bordo circun-

B A

B
c
c
4 G
6
3 H
D 6
D c
5
E E F
c 1A B c D1
F 2
Ili
Fig. 10.1.15: Cerebelo, lobos e lóbulos cerebelosos: a verde o lobo anterior, a lilás o lobo posterior, a vermelho o lobo flóculo-nodular.
A vista superior B. vista inferior
1. Vermis superior ( A. Língula B. Lóbulo central C. Culmen D. Dedive E. Folium) 2. Vermis inferior (A. Nódulo B. Úvula C. Pirâmide
D. Tuber) 3. FlóaJlo 4. Véu medular superior 5. Véu medular inferior 6. Hemisférios cerebelosos {A. Lóbulo quadrangular B. Fissura primária
C. Fissura horizo,..ntal D. Lóbulo simplex E. Lóbulo semilunar superior F. Lóbulo semilunar inferior G. Amígdala H. Lóbulo digástrico) 7. Pedúnculos
cerebelosos (A Superiores B. Médios C. Inferiores)

511
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

ferencial do cerebelo, como o telhado de um pago- bordos laterais, ao longo de cada pedúnculo cere-
de. Este bordo delimita a face superior do cerebe- beloso inferior forma a lígula e no vértice inferior
lo e apresenta duas incisuras medianas: uma ante- forma a parede posterior do obex. A membrana
rior, larga e pouco profunda e outra posterior, mais tetória é envolvido por pia-mater, que se invagina
profunda e estreita que se relaciona com a foice do para o 4.0 ventrículo num orifício mediano, o bu-
cerebelo, uma formação meníngea. raco de Magendie. O véu medular inferior conti-
Na face inferior, encontra-se uma depressão me- nua-se de cada lado até um pequeno setor do he-
diana, profunda e ântero-posterior em continui- misfério cerebeloso, situado por baixo do pedún-
dade com a incisura posterior, denominada "va- culo cerebeloso médio, que se denomina flócu-
lécula do cerebelo (Reil)", cujo fundo é formado lo ou lóbulo pneumogástrico; esse prolongamen-
pelo vérmis ou verme inferior. Ao contrário do que to designa-se pedúnculo do flóculo. Ainda na face
acontece na face superior, o vérmis encontra-se inferior do cerebelo, de cada lado da porção ante-
aqui bem demarcado dos hemisférios cerebelosos, rior do vérmis, encontra-se uma zona individuli-
que têm aspecto mais globoso; o vermis inferior zada (lóbulo) do hemisfério cerebeloso chamada
tem aspeto fusiforme, apresentado uma zona di- amígdala ou tonsila cerebelosa.
latada a meio, a pirâmide do vermis (Malacarne). Tomando como pontos de referência a divisão en-
A face anterior ou ventral olha para baixo e para tre o vérmis e os hemisférios e a existência de sul-
a frente. Escavado nesta face encontra-se o diver- cos orientados transversalmente no vérmis e cur-
tículo cerebeloso do 4.0 ventrículo ou fastígio, pe- vos para a frente nos hemisférios, é possível siste-
quena fenda transversal situada entre o vermis su- matizar a superfície so cerebelo em lobos e lóbulos.
perior e inferior. De cada lado da linha média, for- Assim, na superfície do cerebelo identificam-se
mando os limites laterais do fastígio, observa-se três sulcos principais: o sulco ou fissura primária
uma massa de substância branca que representa o visível sobretudo na face superior, o sulco ou fis-
ponto de convergência dos pedúnculos cerebelo- sura dorsolateral mais nítido na porção lateral da
sos: os superiores que se dirigem para os pedúncu- face inferior e junto ao bordo circunferencial o sul-
los cerebrais, os inferiores, ascendentes, provenien- co ou fissura horizontal ou circunferencial de Vicq
tes do bulbo e os médios, transversais, com origem d' Azyr, disposta de tal forma que um plano trans-
na protuberância. versal que a contenha separa de forma grosseira
O espaço triangular de vértice superior que é de- o cerebelo em duas metades, uma superior e ou-
limitado pelos pedúnculos cerebelosos superiores, tra inferior.
está preenchido pelo véu medular superior, uma Estes acidentes anatómicos permitem isolar três
lâmina de substância branca triangular de vérti- grandes lobos cerebelosos: o lobo anterior, que
ce superior, a Válvula de Vieussens, que se esten- constitui a maior parte da porção anterior do cere-
de da extremidade anterior do vermis superior até belo, localizado adiante da fissura primária; o lobo
à lâmina quadrigémia, acima, O véu medular su- posterior, localizado entre a fissura primária e a fis-
perior forma a parte mediana da vertente superior sura dorsolateral, correspondente à maior área do
do teto do 4.0 ventrículo encefálico. A vertente in- córtex cerebeloso e o lobo floculonodular em posi-
ferior do teto do 4.0 ventrículo é constituída por ção ventral inferior situado adiante da fissura dor-
uma outra lâmina triangular, de vértice inferior, solateral. A fissura horizontal não separa lobos do
que se estende entre os pedúnculos cerebelosos in- cerebelo.
feriores, a membrana tectória. Essa lâmina, de ori- Considerando a divisão de cada um dos lobos
gem ependimária, tem uma constituição heterogé- por sulcos de menor importância em lóbulos, o
nea, apresentando substância branca atrófica nal- lobo anterior compreende no vérmis (da frente
gumas áreas: na parte superior constitui o véu me- para trás) a língula, o lóbulo central e o cúlrnen;
dular inferior ou válvula de Tarin, pequena prega nos hemisférios a língula não tem parte corres-
transversal de tecido nervoso que limita na zona pondente mas o lóbulo central apresenta de cada
mediana o fastígio e, lateralmente, os orificios la- lado uma asa e o cúlmen continua-se pelo lóbu-
terais do 4.°Ventrículo, os buracos de Luschka; nos lo quadrangular anterior. Por sua vez, o lobo pos-

512
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: C EREBELO

rerior compreende no vérmis superior o declive e


atrás o folium ou folha e no vérmis inferior (de
rrás para a frente) o tuber, a pirâmide e a úvula; o
declive continua-se nos hemisférios pelo lóbulo
quadrangular posterior ou lóbulo simplex; o fo-
liU!fl e o tuber correspondem nos hemisférios ao
lóbulo arciforme que é dividido pela fissura ho-
rizontal numa porção superior o lóbulo semi-lu-
nar superior e noutra inferior o lóbulo semi-lu-
nar inferior. À frente do lóbulo semi-lunar infe-
rior e ainda correspondente ao tuber no vérmis, 3

encontra-se o pequeno lóbulo grácil. Mais à fren-


te encontram-se os setores hemisféricos corres-
Fig. 10.1 .16: Cerebelo em corte axial.
pondentes à pirâmide e à úvula, respectivamen- 1. Cortex do hemisfério cerebeloso 2. Vermis 3. Núcleo dentado
te o lóbulo digástrico e a amígdala cerebelosa. Fi- 4. Núcleo emboliforme 5. Núdeo globoso 6. Núcleo lastigial
0
7. 4. ventrículo.
nalmente, o lobo floculonodular é constituído no
vérmis pelo nódulo, procidente na parte inferior
do fastígio e lateralmente pelo flóculo ou lóbu- Nos mamíferos inferiores, os núcleos emboliforme
lo pneumogástrico unido àquele pelo pedúncu- e globoso são contínuos e denominados "núcleos
lo respectivo. interpositus". Por vezes, estes núcleos são também
Os lobos e lóbulos do cerebelo são ainda consti- chamados núcleos dentados acessórios.
tuídos por múltiplas subdivisões determinadas por O núcleo dentado é o maior dos núcleos cerebe-
numerosos sulcos mais pequenos, de tal forma que losos. Em cortes transversais tem a forma de uma
a superfície cerebelosa apresenta-se lamelada em bolsa pregueada com a abertura, ou hilo, olhan-
múltiplas folhas cerebelosas. do para dentro e para a frente. A semelhança des-
te núcleo com a oliva bulhar é evidente, apesar do
núcleo dentado ser mais volumoso.
CONFIGURAÇÃO INTERIOR A substância branca envolve os núcleos centrais e
(FIG.10.1.16) forma uma massa contínua entre os dois hemis-
férios. Emite prolongamentos na espessura dos
O cerebelo é constituído por substância branca e lóbulos que se subdividem até aos eixos medula-
substância cinzenta. Distinguem-se duas porções res das folhas cerebelosas. Em corte sagital, espe-
na substância cinzenta: um manto exterior deno- cialmente no vérmis, esse conjunto tem uma dis-
minado "córtex cerebeloso" e quatro pares de nú- posição arborescente e é por isso chamada árvo-
cleos cinzentos centrais, embebidos na substância re da vida.
branca.
O córtex cerebeloso apresenta em toda a sua su- PEDÚNCULOS CEREBELOSOS
perfície um aspeto pregueado devido às inúmeras
folhas cerebelosas, lembrando um acordeão. Esta O cerebelo encontra-se ancorado à face posterior
disposição aumenta de forma considerável a área do tronco cerebral por três grossos pares de feixes
cerebelosa, de modo que se o córtex fosse retirado de forma aproximadamente cilíndrica, os pedún-
da superfície cerebelosa e estendido numa super- culos cerebelosos: os inferiores, os médios e os su-
fície plana mediria mais de um metro. Encontra- periores. Exteriormente, os pedúnculos inferiores
mos, no interior da substância branca, quatro pa- ligam o cerebelo ao bulbo raquidiano, os médios
res de núcleos que são, de dentro para fora e de à protuberância e os superiores ao mesencéfalo.
cada lado: o núcleo fastigial, o núcleo globoso, o Contudo, no seu interior são constituídos por nu-
núcleo emboliforme e o núcleo dentado ou oli- merosas fibras aferentes e eferentes que transpor-
va cerebelosa. tam vários tipos de informações de diferentes es-

513
MANUAL DE ANATOMIA H UMANA

truturas do sistema nervoso central para o cerebe- SISTEMATIZAÇÃO ANATOMO-FUNCIO.


lo e do cerebelo para essas estruturas. NAL DO CEREBELO
Os pedúnculos cerebelosos inferiores têm a sua
origem anatómica na metade superior do bul- A superfície do cerebelo pode ser sistematiza-
bo, continuando para cima os corpos restiformes. da em lobos e lóbulos usando critérios puramen-
À medida que ascendem para o hemisfério cere- te morfológicos. Contudo, certas áreas do córtex
beloso homolateral os dois pedúnculos cerebelosos cerebeloso apresentam conexões preferenciais com
inferiores divergem delimitando, dessa forma, um determinados núcleos cerebelosos e com outros
triângulo de vértice inferior. A maior parte das fi- elementos do neuroeixo, nomeadamente, a medula
bras que constituem cada um dos pedúnculos ce- espinhal, o sistema vestibular e o córtex cerebral, 0
rebelosos inferiores são aferentes e compreendem que permite efectuar outro tipo de sistematização,
os seguintes feixes: feixe espinocerebeloso dorsal, de cariz morfofuncional que corresponde aproxi-
feixe cuneocerebeloso, feixe olivocerebeloso, feixe madamente à divisão filogenética do cerebelo.
reticulocerebeloso e feixe vestfüulocerebeloso; as Outros dados importantes sobre a organização
fibras eferentes que viajam nos pedúnculos cere- funcional do cerebelo em geral: cada hemisfério
belosos inferiores são cerebelovestibulares e cere- cerebeloso exerce a sua ação no hemicorpo homo-
belorreticulares; ambos os tipos de fibras não são lateral em resultado das vias cerebelosas serem di-
cruzadas, são diretas. retas ou duplamente cruzadas (ver abaixo). Nes-
Os pedúnculos cerebelosos médios têm a sua ori- te âmbito, o lobo flóculo-nodular regula essencial-
gem anatómica na porção dorso-lateral da protu- mente o equihbrio, o lobo anterior a coordenação
berância e cruzam a linha média, dirigindo-se em do eixo do corpo e o lobo posterior a coordenação
seguida para trás e terminam no córtex cerebeloso. apendicular (membros). No córtex dos lobos ante-
As fibras que os constituem são aferentes do cere- rior e posterior as projecções das vias somato-sen-
belo, com origem nos núcleos pônticos contrala- sitivas têm uma distribuição selectiva, somatotópi-
terais, formando os feixes pontocerebelosos. Dos ca (Fig.10.1.17)
três pares de pedúnculos cerebelosos os médios
são os de maiores dimensões.
Os pedúnculos cerebelosos superiores, após ori-
gem no cerebelo, dirigem-se para cima e para a
frente terminando no segmento dos pedúnculos
cerebrais, formando um feixe compacto que cami-
nha na parede dorsolateral do 4.ª ventrículo. São
constituídos sobretudo por fibras eferentes, com
origem nos núcleos cerebelosos centrais (excep-
tuando os núcleos fastigiais) e que compreendem
o feixe dentato-rubro-talâmico e feixes que ligam
2
os núcleos dentado, globoso e emboliforme ao nú-
cleo rubro. As fibras eferentes do pedúnculo ce-
rebeloso superior cruzam a linha média no inte-
rior de mesencéfalo, a nível dos tubérculos qua- Fig. 10.1.17: Somatotopia do córtex cerebeloso.
1. Fissura Primária 2. Hemisfério cerebeloso 3. Vérmis
drigémios inferiores. Além das fibras eferentes, os
pedúnculos cerebelosos superiores também con-
têm fibras aferentes que incluem: o feixe espino- SISTEMATIZAÇÃO DE ACORDO COM AS
cerebeloso ventral, cruzado, fibras rubrocerebelo- CONEXÕES INTRACEREBELOSAS
sas e fibras tectocerebelosas, que terminam no cór-
tex cerebeloso. Tendo como base as projecções entre o córtez ce-
rebeloso e os núcleos cerebelosos, o cerebelo pode
ser sistematizado em três zonas distintas, dispostas

514
CONTROLO E INTEGRAÇÃO J SISTEMA NERVOSO CENTRAL: CEREBELO

sagitalmente: uma zona mediana, correspondente corresponde ao lobo floculonodular e ao vestibulo-


ao vérmis e por isso denominada "zona vermiana'', cerebelo; o paleocerebelo, representado essencial-
iflterrelacionada com os núcleos fastigiais; a zona mente pelo lobo anterior e pelos núcleos emboli-
do hemisfério cerebeloso imediatamente adjacen- forme e globoso, e a parte medial do núcleo den-
te ao vérmis, denominada "zona paravermiana ou tado corresponde ao espinocerebelo; finalmente, a
ifltermédia", que compreende também os núcleos porção filogeneticamente mais recente e de maio-
ernboliforme e globoso e a parte medial do núcleo res dimensões, o neocerebelo, representado pelo
dentado do mesmo lado; finalmente, descreve-se lobo posterior e grande parte do núcleo denta-
urna zona lateral, correspondente à maior parte de do, apresenta conexões extensas com o córtex ce-
cada hemisfério cerebeloso e à maior parte do nú- rebral, correspondendo por isso ao cérebrocerebe-
cleo dentado homolateral. lo da sistematização anterior.

SISTEMATIZAÇÃO DE ACORDO COM AS VIAS CEREBELOSAS


CONEXÕES EXTRACEREBELOSAS (FIG. 10. 1. 18)

O cerebelo tem como principais funções a manu- Para que o cerebelo exerça as suas funções de for-
tenção do equihbrio, a regulação do tonus muscu- ma adequada necessita receber informações sen-
lar e controlo postural, e a coordenação do movi- sitivas de todo o corpo, através da medula espinal
·mento voluntário, Para-isso, recebe aferências res- e do aparelho vestibular e informação respeitan-
pectivamente, vestibulares, espinhais e do córtex te aos movimentos voluntários projetados, prove-
cerebral. Por outro lado, diferentes áreas do córtex nientes do córtex cerebral. Existem múltiplas vias
cerebeloso estão relacionadas, não só com os nú- aferentes provenientes dessas três estruturas, cuja
cleos cinzentos centrais do cerebelo, mas também maioria é encaminhada para o cerebelo através dos
com as aferências acima referidas; há assim um se- pedúnculos cerebelosos médio e inferior e vão di-
tor distinto para cada um desses tipos de aferên- retamente ao córtex cerebeloso.
cias, o que permite outra sistematização funcio- As informações respeitantes à posição e desloca-
nal: o lobo floculonodular e parte da úvula rece- ção da cabeça no espaço, com um papel crucial na
bem aferências vestibulares, sendo esta área cere- manutenção do equilibrio, têm orgem no aparelho
belosa denominada "vestibulocerebelo"; o lobo an- vestibular e terminam no vestibulocerebelo. As in-
terior, sobretudo a zona vermiana e paravermiana, formações somatosensitivas originárias dos meca-
excluindo o nódulo e a úvula, recebem aferências noreceptores da pele, músculos e articulações via-
espinhais, sendo essa zona chamada espinoéerebe- jam até ao cerebelo através de feixes existentes na
lo; a maior parte do lobo posterior, corresponden- medula, terminando nas zonas vermiana e para-
te à zona lateral dos hemisférios cerebelosos rece- vermiana, ou seja no espinocerebeloso. O cérebro-
be aferências do córtex cerebral (com sinapses pré- cerebelo, com um papel fundamental na coorde-
vias nos núcleos pônticos) e é por isso denomina- nação do movimento voluntário, recebe do córtex
da "cérebrocerebelo". cerebral informações respeitantes aos movimentos
projetados ou em execução.
Por outro lado, de modo a poder exercer a sua in-
SISTEMATIZAÇÃO DE ACORDO COM A fluência, o cerebelo apresenta eferências para es-
FILOGENIA sas estruturas. Com algumas excepções, o primei-
ro neurónio das vias eferentes faz sinapse nos nú-
Filogeneticamente o cerebelo pode ser dividido cleos cinzentos centrais do cerebelo de acordo
em três setores que correspondem, de forma gros- com a sistematização acima referida. O segundo
seira, às três áreas individualizadas na secção an- neurónio dessas vias parte dos núcleos cinzentos
terior. Assim, o arqueocerebelo que como o nome centrais para fora do cerebelo. O terceiro neuró-
indica é a porção filogeneticamente mais antiga, nio eferente, exceptuando no caso das vias que se

515
MANUAL DE ANATOMIA H UMANA

Fig. 10.1.1SA: Vias cerebelosas (vestibulocerebelo) Fig. 10.1.18B: Vias cerebelosas (espinocerebelo).
1. Núcleo fastigial 2. Núcleos vestibulares 3. Nervo vestibular 4. Feixes 1. Núcleo rubro 2. Núcleos globoso e emboliforme (e 1/3 medial
vestibulospinal e reticulospinal núcleo dentado) 3. Feixe espinocerebeloso dorsal 4. Feixe espinoce-
rebeloso ventral 5. Feixe rubrospinal

Fig. 10.1.18C: Vias cerebelosas (cerebrocerebelo).


1. Tálamo 2. Córtex cerebral 3. Fibras pontocerebelosas 4. Núcleo dent ado 5. Núcleos pônticos.

dirigem para o córtex cerebral, tem origem em es- Vest1bu/ocerebe/o (Arqueocerebe/o)


truturas do tronco cerebral como o núcleo rubro, e Fig. 10. 1.1BA
exerce uma acção inibidora ou facilitadora sobre os
neurónios motores da medula ou sobre os núcleos Via aferente
motores dos nervos cranianos. Esta porção do cerebelo recebe sobretudo aferên-
Tendo como base as sistematizações morfofun- cias provenientes do aparelho vestibular, através
cionais descrevem-se, em seguida, as vias aferen- da porção vestibular do nervo auditivo. A maio-
tes e eferentes para cada uma das divisões do ce- ria das fibras vestibulares faz primeiro sinapse
rebelo. nos núcleos vestibulares bulbo-protuberanciais e
só depois atinge o córtex cerebeloso homolate-

516
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: CEREBELO

ral através do pedúnculo cerebeloso inferior, for- ro neurónio (efector) origina-se no núcleo rubro,
rnando o feixe vestfbulocerebeloso. Contudo, al- cruza novamente a linha média formando o feixe
gumas fibras vestibulares atingem diretamente o rubroespinal que termina fazendo sinapse com os
córtex cerebeloso. neurónios motores do corno anterior da medula e
dos núcleos dos nervos oculomotores.
Via eferente O s axónios provenientes da zona vermiana (ex-
Algumas fibras provenientes do lobo floculonodu- ceptuando o nódulo e a úvula) articulam-se pri-
lar deixam o cerebelo terminando diretamente nos meiro com parte do núcleo fastigial; desse nú-
núcleos vestibulares. Contudo, a maioria das fibras cleo emerge um segundo neurónio que viaja pelos
originárias no vestJ.bulocerebelo apresenta um pri- pedúnculos cerebelosos inferiores acabando por
meiro neurónio que termina no núcleo fastigial e fazer sinapse com a formação reticular. Desta es-
um segundo neurónio fastigiovestibular que via- trutura emerge um terceiro neurónio que influen-
ja pelo pedúnculo cerebeloso inferior. Dos núcleos cia a atividade motora da medula através do feixe
vestibulares parte um terceiro neurónio efector que reticuloespinal.
faz sinapse nos neurónios do corno anterior da me-
dula através dos feixes vestibuloespinhal direto e Cerebrocerebelo (Neocerebelo)
feixe vestibuloespinhal cruzado. Esta via exerce um Fig. 10.1.1BC
efeito facilitador do tonus muscular homolateral.
Via aferente
Espinocerebelo (Paleocerebelo) O córtex cerebral possui múltiplas áreas que for-
Fig. 10.1.18B necem aferências ao cerebelo. Contudo, predomi-
nam as contribuições da área situadas na vizinhan-
Via aferente ça do sulco central, nomeadamente do córtex mo-
A informação somatosensitiva proveniente de re- tor primário, pré-motor e do córtex somatosensiti-
ceptores da pele, músculos e articulações termina vo e áreas adjacentes do lobo parietal. Dessas áreas
no córtex cerebeloso nas wnas vermiana e paraver- emerge um primeiro neurónio que termina fa-
miana, ou seja, essencialmente no espinocerebelo. zendo sinapse nos núcleos pônticos homolaterais.
A maior parte das fibras atinge o córtex cerebelo- O segundo neurónio origina-se nesses núcleos
so diretamente através dos feixes espinocerebeloso protuberanciais e, após cruzar a linha média, via-
direto ou dorsal (Flechsig), espinocerebeloso cru- ja pelos pedúnculos cerebelosos médios terminan-
zado ou ventral (Gowers) e cuneocerebeloso que do no córtex cerebeloso. Esses dois neurónios for-
transmitem informação referente ao tronco e aos mam a via corticopontocerebelosa. Tendo em con-
membros. O feixe trigéminocerebeloso transmite ta que a nível de cada um dos pedúnculos cere-
o mesmo tipo de informação referente à cabeça. brais existem aproximadamente 21 milhões de fi-
Algumas fibras transportadoras deste tipo de in- bras e que dessas um milhão continua para cada
formação atingem o cerebelo indiretamente, por pirâmide bulhar, algumas dirigem- se para a for-
via da formação reticular, através do feixe reticu- mação reticular e núcleos motores dos nervos cra-
locerebeloso que viaja pelo pedúnculo cerebeloso nianos mas a esmagadora maioria termina nos nú-
inferior. cleos pônticos, podemos facilmente compreender
a grande importância desta via quando compara-
Via eferente da, por exemplo, com a via piramidal.
Os axónios provenientes do córtex cerebeloso da
zona paravermiana fazem sinapse nos núcleos Via eferente
emboliforme, globoso e parte medial do denta- E sta via tem origem no córtex cerebeloso da zona
do, desses núcleos parte um segundo neurónio que lateral dos hemisférios. Um primeiro neurónio,
emerge do cerebelo pelo pedúnculo cerebeloso su- com origem no córtex, termina no núcleo den-
perior, cruza a linha média e atinge o núcleo ru- tado. A partir desse núcleo neocerebeloso ori-
bro contralateral (feixe dentato-rúbrico). O tercei- gina-se um segundo que toma a via do pedún-

517
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

culo cerebeloso superior, cruza a linha média e, nhais). Dessa forma é capaz de corrigir os movi-
com interrupção parcial no núcleo rubro (feixe mentos que se desviem do curso pretendido. Esta
dentato-rúbrico), termina no tálamo, mais espe- hipótese postula também que o cerebelo é capaz
cificamente no núcleo ventro-lateral contralate- de modificar programas motores centrais de for-
ral formando o feixe dentato-rubro-talâmico. Fi- ma que movimentos subsequentes atinjam o seu
nalmente, um terceiro neurónio com origem no objetivo com menos erros. Então, o cerebelo pos-
tálamo termina no córtex cerebral motor e pré- sui também um papel crucial na aprendizagem
-motor. de tarefas motoras, o que já foi demonstrado ex-
perimentalmente.
O utras Vias Cerebelosas Dado o papel coordenador do movimento, lesões
do cerebelo não causam paralisia mas sim des-
Existem algumas conexões cerebelosas que não coordenação do movimento voluntário, pertur-
se enquadram na sistematização usada possuin- bação do equilfbrio e diminuição do tonus mus-
do, contudo, valor funcional. Uma das mais im- cular.
portantes corresponde às aferências provenientes Como já foi referido, o arqueocerebelo ou vestí-
do complexo dos núcleos olivares do bulbo. As- bulocerebelo é fundamental para a manutenção
sim, fibras originárias nesses núcleos formam os do equiHbrio axial do corpo. Logo, lesões sele-
feixes olivocerebelosos que cruzam a linha média, tivas dessa região produzem perturbações na lo-
tomam a via dos pedúnculos cerebelosos inferiores comoção e equilfbrio, tornando a marcha instá-
e distribuem-se de forma difusa por todo o córtex vel com quedas frequentes. Nestes casos, o tonus
cerebeloso. A informação transmitida por essas fi- muscular não está alterado de forma significativa
bras é muito variada e reflete as conexões dos nú- e não existem alterações assinérgicas dos mem-
cleos olivares com várias estruturas do neuroeixo bros. Este síndrome arqueocerebeloso ocorre so-
como a medula espinhal, o núcleo rubro, o córtex bretudo em crianças com tumores do vérmis.
cerebral e mesmo o córtex cerebeloso. Este exten- O espinocerebelo ou paleocerebelo tem um pa-
so padrão de conexões explica a observação expe- pel fundamental no controlo do tonus muscular
rimental de que a destruição seletiva dos núcleos e da postura. Lesões desta área são caracteriza-
olivares provoca efeitos similares à destruição da das por hipotonia, ou seja, diminuição do tonus
metade contralateral do cerebelo. muscular, homolateral. Contudo, não existe nos
Estudos de natureza variada mostraram também humanos um síndrome paleocerebeloso isolado
que o cerebelo recebe aferências do aparelho vi- surgindo a hipotonia associada a outras pertur-
sual e auditivo, embora não estejam ainda total- bações cerebelosas.
mente esclarecidas as vias anatómicas através das Finalmente, o cérebrocerebelo ou neocerebelo é
quais isso ocorre. fundamental na coordenação do movimento vo-
luntário e lesões a esse nível dão orgiem a vários
tipos de descoordenação motora, nomeadamen-
te: tremor de intenção, isto é, tremor que surge
aquando da realização de movimentos voluntá-
O cerebelo coordena o movimento voluntário rios, dismetria, ou seja, incapacidade de colocar
ajustando o débito dos sistemas motores descen- um membro num ponto preciso do espaço e dis-
dentes provenientes do córtex cerebral. O mode- diadococinésia caracterizada pela incapacidade
lo funcional mais evocado é o que propõe o ce- de efetuar movimentos rápidos e alternados.
rebelo como um comparador. Segundo esta hi- Como, cada metade do cerebelo comanda a me-
pótese, o cerebelo compara o movimento preten- tade do mesmo lado do corpo, lesões unilaterais
dido, ordenado pelos centros corticais cerebrais provocam perturbações homolaterais.
(aos quais tem acesso pela via corticopontocere-
belosa), com o movimento realmente efetuado
(do qual recebe informação pelas aferências espi-

518
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: CEREBELO

Nieuvenhuis, R.; Voogd,J.; Van Huijzen, C.


pERGUNTAS TIPO
The Human Central Nervous System. 4th edition.
Springer, 2009.
1. O cerebelo pode ser sistematizado, do pon-
to de vista funcional em três setores: vesti.bu- Splittgerber, R. Snell's Clinical Neuroanatomy. 8.•
locerebelo, espinocerebelo e cérebrocerebelo. edição. Wolters Kluwer, 2019.
Relativamente a esta sistematização funcio-
nal é falso que:
a. O vesti.bulocerebelo tem um papel funda- •••
mental na manutenção do equilibrio.
b. Os núcleos cinzentos centrais espinocere-
belosos são o núcleo globoso e o emboli-
forme.
c. O lobo flóculonodular faz parte do vestí-
bulocerebelo.
d. A maior parte do lobo posterior do cere-
belo faz parte do espinocerebelo.
e. O cérebrocerebelo apresenta conexões im-
portantes com os núcleos ventrolaterais do
tálamo.

2. Relativamente aos pedúnculos cerebelosos, é


verdade que:
a. A maior parte das fibras dos pedúnculos
cerebelosos inferiores são fibras eferentes
que se originam no cerebelo.
b. Os pedúnculos cerebelosos médios são
constituídos por fibras com origem nos
núcleos pônticos homolaterais.
c. Dos três pares de pedúnculos cerebelosos
os médios são os de menores dimensões.
d. As fibras eferentes dos pedúnculos cere-
belosos inferiores cruzam a linha média
a nível dos tubérculos quadrigémios su-
periores.
e. Os pedúnculos médios possuem fibras
essenciais para a coordenação automáti-
ca do movimento voluntário.

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:,msods.11

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Brodal, P. The Central Nervous System, structure


andfanction. 5th edition. Oxford University Press,
2016.

519
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

CÉREBRO Este capítulo abordará a configuração exterior dos


hemisférios cerebrais e as suas principais áreas de
localização funcional.
CONFIGURAÇÃO EXTERIOR E CÓRTEX
CEREBRAL
1. TELENCÉFALO
O cérebro constitui a porção mais superior e vo- (FIG. 1O. 1.20)
lumosa do encéfalo e ocupa a maior parte da ca-
vidade craniana, mais precisamente a fossa crania- O telencéfalo é formado por dois hemisférios ce-
na anterior e média, localizando-se sobre a tenda rebrais, esquerdo e direito, que embora separados
do cerebelo que o separa da fossa posterior. As di- pela fenda interhemisférica, se unem medialmen-
mensões cerebrais variam individualmente e a sua te por um conjunto de feixes de substância branca,
forma obedece à da cavidade craniana. as formações interhemisféricas.
Relativamente à estrutura cerebral podem indivi- Nos hemisférios descrevem-se uma face externa,
dualizar-se duas porções: uma porção sólida ex- uma face interna e uma face inferior. A face exter-
terior, constituída por substância cinzenta (repre- na é convexa, sendo limitada superiormente pelo
sentada pelo córtex cerebral) e substância branca bordo superior do hemisfério e inferiormente por
(representada por fibras de projecção, fibras de as- um bordo chanfrado na união do quarto anterior
sociação e fibras comissurais); e uma porção cavi- com os três quartos posteriores. A face interna é
tada, interior, os ventrículos cerebrais. plana, podendo descrever-se uma porção livre e
Filogeneticamente o cérebro, ou prosencéfalo, re- uma porção aderente; a face interna livre apresen-
sulta do desenvolvimento da vesícula cerebral pri- ta como limite superior o bordo superior do he-
mitiva anterior; esta divide-se sequencialmente misfério e como limite inferior o corpo caloso; a
em duas porções, uma anterior, que originará o te- face aderente corresponde às formações interhe-
lencéfalo (a partir do qual se desenvolverão os he- misfericas. A face inferior tem por limite externo o
misférios cerebrais), e uma posterior, que originará bordo inferior da face externa e por limite interno
o diencéfalo (a partir do qual se desenvolverão os as extremidades anterior e posterior da fenda in-
núcleos centrais) (Fig.10.1.19). terhemisférica, e no intervalo entre estas, o dien-
céfalo e pedunculos cerebrais.
A superfície dos hemisférios cerebrais é irregular,
identificando-se múltiplos sulcos e saliências; os
sulcos mais profundas designam-se por fendas e
separam os hemisférios; seguem-se sulcos menos
profundas, os regos, que permitem individualizar
em cada hemisfério vários lobos; finalmente, em
cada lobo observam-se vários sulcos, ainda menos
profundos, que permitem individualizar as diver-
sas circunvoluções.
No que diz respeito às fendas descrevem-se a fen-
da inter-hemisférica ou fissura cerebral longitudi-
nal, e a fenda cerebral de Bichat ou fissura cerebral
transversa. A fissura cerebral longitudinal separa o
hemisfério cerebral direito do esquerdo e localiza-
-se na linha media, dispondo-se de forma sagital;
é uma fenda profunda e no seu interior encontra-
-se um prolongamento da duramáter, a foice do
Fig. 10.1.19: Filogenia e Vesículas Cerebrais Primitivas - Prosencéfalo cérebro ou falx cerebri. A fissura cerebral transver-
(lilás), Mesencéfalo (azul) e Rombencéfalo (amarelo). sa, cuja forma é a de uma ferradura côncava para
1. Telencéfalo 2. Diencéfalo

520
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: CÉREBRO

3
D
6

m
Fig. 10.1 .20: Hemisférios Cerebrais - faces e lobos.
A. Face Lateral B. Face Medial C. Face Inferior D. Face Lateral na profundidade do Rego de Sylvius
1. Lobo Frontal 2. Lobo Parietal 3. Lobo Temporal 4. Lobo Occipital 5. Lobo do Corpo Caloso 6. Lobo da Ínsula

diante, separa os hemisferios cerebrais e a fissura e 4,5 mm, sendo a espessura média de 2,5 mm.
cerebral longitudinal, que se situam externamen- Para além da divisão morfológica, o córtex cere-
te, do mesencéfalo e diencéfalo, que se situam in- bral pode ser dividido de forma funcional, indivi-
ternamente. No que respeita aos regos e sulcos se- dualizando-se as varias áreas de acordo com a sua
rão descritos posteriormente quando da aborda- especificidade. Em 1909 Korbinian Brodmann di-
gem dos vários lobos e circunvoluções. vidiu o córtex em 52 áreas, tendo como critério a
Os lobos de cada hemisfério cerebral denominam- sua citoarquitectura, ou seja, as suas caracteristicas
-se de acordo com o osso craniano adjacente, po- histológicas. Presentemente, embora a classifica-
dendo assim descrever-se o lobo frontal, o lobo ção funcional seja mais importante, a terminologia
parietal, o lobo parietal e o lobo occipital. Descre- de Brodmann continua a ser utilizada.
vem-se ainda o lobo da ínsula e o lobo do corpo
caloso cuja denominação escapa à regra anterior 1. 1. 1 LOBO FRONTAL
(Fig.10.1.20).
Configuração exterior

1. 1. CÓRTEX CEREBRAL: CONFIGURA- No que concerne à configuração exterior do lobo


ÇÃO EXTERIOR E ÁREAS FUNCIONAIS frontal, devem considerar-se os seus limites e cir-
(FIG.10. 1.21, 10. 1.22) cunvoluções. Relativamente aos limites descre-
vem-se três sulcos: o sulco lateral (ou rego de Syl-
O córtex funcional é a camada de substância cin- vius), o sulco central (ou rego de Rolando) e o sul-
zenta que reveste a substancia branca dos hemis- co caloso-marginal.
férios cerebrais e a sua espessura varia entre 1,5 O sulco lateral inicia-se na face inferior dos he-

521
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

misférios, a nível do ângulo externo do espaço per- do terço médio com o terço posterior do hemisfé-
furado anterior, dirigindo-se depois para a face ex- rio. No seu trajecto ao longo da face externa este
terna, contornando o seu bordo inferior; na face sulco apresenta dois prolongamentos, um ante-
externa dirige-se para cima e para trás, até à união rior, horizontal, e outro posterior, vertical. Trata-

B
10

14 25 24

38

lil 30

34 33 32

Fig. 10.1.21: Face Lateral (A) e Medial (B) dos Hemisférios Cerebrais - Principais Sulcos e Circunvoluções.
1. Sulco Central (Rolando) 2. Sulco Lateral (Sylvius), 3. Suco Parieto-Occipital 4. Sulco Calcarino S. Sulco Caloso-Marginal 6. Circunvolução
pré<entral ou frontal ascendente 7. Sulco Pré-central 8. Circunvolução Frontal Superior ou 1.• cicunvolução frontal 9. Sulco Frontal Superior
10. Circunvolução Frontal M édia ou 2.• Circunvolução Frontal 11 . Circunvolução Frontal Inferior 12. Pars Orbitalis 13. Pars triangularis 14. Pars
Opercularis 15. Circunvolução Pós Centra ou Parietal Ascendente 16. Sulco Pós-Central 17. Lóbulo Parietal Superior 18. Sulco lntraparietal
19. Lóbulo Parietal Inferior 20. Circunvolução Supra.marginal 21. Circuncolução Angular 22. Circunvolução Temporal Superior 23. Sulco
Temporal Superior 24. Circunvolução Temporal Média 25. Suko Temporal Inferior 26. Circunvolução Temporal Inferior 27. Lóbulo Paracentral
28. PréCuneus 29. Cuneus 30. Area Subcalosa 31. Uncus 32. Sulco Rinal 33. Circunvolução Parahipocâmpica 34. Sulco Colateral 35. Lóbulo
Lingual 36. L6bulo Fusiforme 37. Corpo Caloso 38. Circunvolução do Cíngulo ou Cingular

522
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: CÉREBRO

-se de um sulco profundo; se afastarmos cada uma circunvolução, situada junto ao sulco lateral, de-
das suas vertentes encontramos, na profundidade, signa-se por pars opercularis.
o lobo da ínsula. A primeira circunvolução frontal compreende um
O sulco central inicia-se um pouco para trás do segmento superior, localizado na porção superior
meio da fenda interhemisferica, dirige-se para do lobo frontal, e um segmento inferior ou orbi-
baixo e para diante, na face externa dos hemis- tário, locaizado na porção orbitária da face infe-
férios, terminando-se um pouco acima do sulco rior. O segmento superior é limitado internamen-
lateral. te pelo sulco caloso-marginal e externamente pelo
O sulco caloso-marginal situa-se na face inter- sulco frontal superior.
na dos hemisférios tendo inicio adiante, abaixo A segunda circunvolução frontal compreende tam-
do joelho do corpo caloso, e continuando-se até bém dois segmentos, um localizado na face externa
perto da sua extremidade posterior, altura em que e outro localizado na porção orbitária da face infe-
se inflecte para cima e termina no bordo superior rior. O segmento externo é limitado superiormen-
do hemisfério. te pelo sulco frontal superior e inferiormente pelo
Relativamente à forma, o lobo frontal compreen- sulco frontal inferior. O segmento inferior ou orbi-
de toda a porção do hemisfério situada para dian- tário é limitado internamente pelo sulco orbitário
te destes três sulcos, tendo portanto a forma de interno e externamente pelo sulco orbitário exter-
uma pirâmide triangular, de vértice arrendondado, no; estes dois sulcos formam conjuntamente uma
também designado de "polo frontal". estrutura designada por "sulco em H".
As circunvoluções que constituem o lobo frontal A terceira circunvolução frontal é, tal como as an-
são em número de quatro: circunvolução frontal teriores, também constituída por dois segmentos.
ascendente ou gyrus pré-central, primeira circun- O segmento lateral é limitado superiormente pelo
volução frontal ou gyrus frontal superior, segun- sulco frontal inferior, e inferiormente pelo sulco
da circunvolução frontal ou gyrus frontal médio e lateral; a este nível, a circunvolução é dividida pe-
terceira circunvolução frontal ou gyrus frontal in- los dois prolongamentos para cima do sulco late-
ferior. ral em pars orbitalis (à frente), pars triangularis e
A circunvolução frontal ascendente situa-se pars opercularis (atrás). O segmento inferor, orbi-
adiante do sulco central, sendo limitada anterior- tário, é limitado internamente pelo sulco orbitá-
mente pelo sulco pré-central e posteriormente rio externo e externamente pelo bordo inferior dos
pelo sulco central. A porção mais inferior desta hemisférios.

2 2

10

17 15
13 14 16 17
B Ili
Fig. 10.1.22: Córtex Cerebral -Áreas Funcionais: Face Lateral (A) e Medial (B).
1. Área Motora Primária 2. Área Motora Secundária 3. Área Motora Suplementar 4. Campo Ocular Frontal 5. Área de Broca 6 . Córtex Pré-Frontal
7. Área Somatoestésica Primária 8. Área Somatoestésica Secundária 9. Área Somatoestésica de Associação 1O. Córtex Major de Associação 11.
Área Gustativa 12. Área Auditiva Primária 13. Área Auditiva Secundária 14. Área de Wernicke 15. Área Olfactiva Primária e Secundária 16. Area
Visual Primária 17. Área Visual Secundária

523
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Áreas funcionais

No lobo frontal podem descrever-se cinco áreas


funcionais:
• Área pré-central, que inclui as áreas motora
primaria e secundária;
• Área motora suplementar;
• Área ocular frontal;
1
• Área de Broca;
• Área pré-frontal.

A área pré-central compreende a circunvolução


frontal ascendente, os segmentos posteriores da
primeira, segunda e terceira circunvoluções fron- ~
,u
tais e ainda o segmento anterior do lóbulo para-
-central; designa-se desta forma a união na face I
interna dos hemisférios da circunvolução frontal
ascendente com a circunvolução parietal ascen- F,g. 10.1.23A: Homúnculo Motor.

dente.
Esta área subdivide-se numa região anterior, a área A área motora secundária (área 6 de Brodmann)
motora primária e numa região posterior, a área ocupa os segmentos posteriores da primeira, se-
motora secundária. gunda e terceira circunvoluções frontais; é respon-
A área motora primária (ou área 4 de Brodmann) sável pelo armazenamento de programas de ac-
ocupa a totalidade da circunvolução frontal ascen- tividade motora, reunidos em resultado de expe-
dente e o segmento anterior do lóbulo para-cen- riencias anteriores, e como tal, programa a activi-
tral; é responsável pela origem dos movimentos dade da área motora primária. As lesões isoladas
voluntários do lado contralateral, pelo que a sua desta área conduzem a uma maior dificuldade na
lesão condiciona uma perda da capacidade de exe- realização de movimentos precisos e determinam
cutar estes movimentos - hemiparésia contrala- maior espasticidade, afectando rninoritariamente
teral - os movimentos iniciados pela área moto- a força muscular; este facto decorre das suas cone-
ra esquerda são executados pelo hernicorpo direi- xões com o sistema extra-piramidal.
to. Nesta área as várias zonas musculares responsá- A área motora suplementar (área 24 de Brod-
veis pelos movimentos estão representadas de for- mann) situa-se na face interna da circunvolução
ma invertida; assim temos, de baixo para cima, a frontal superior, tendo uma função semelhante à
face, seguida do membro superior, do tronco e, já da área motora secundária.
a nível da face interna dos hemisférios, o membro A área ou campo ocular frontal (área 8 de Brod-
inferior. Esta representação é caricatural, i.e., evi- mann), estende-se desde a porção corresponden-
dencia uma caricatura da figura humana na medi- te à face na circunvolução frontal ascendente até
da em que a extensão das áreas corticais responsá- à circunvolução frontal média; tem por função o
veis p9r determinado movimento é proporcional controlo voluntário do movimento conjugado dos
à especificidade desse movimento e não à massa olhos para o lado oposto, pelo que uma lesão des-
muscular a movimentar; para além de contralate- trutiva desta área condiciona uma impossibilida-
ral e caricatural, esta representação é ainda inver- de de mover conjugadamente os olhos na direcção
tida - as zonas mais superiores do corpo estão re- oposta e, como tal, um desvio conjugado dos olhos
presentadas na porção mais inferior da circunvolu- para o lado lesado.
ção, decorrendo que à representação motora desta A área de Broca (correspondente às áreas de Brod-
área se atribua a designação de homúnculo motor, mann 44 e 45) localiza-se na circunvolução fron-
contralateral e invertido (Fig.10.1.23A). tal inferior, entre os dois prolongamentos do sul-

524
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: CÉREBRO

colateral, ocupando a pars triangularis e opercula- tal ascendente, primeira circunvolução parietal ou
ris; é responsável pela programação da actividade circunvolução parietal superior, e segunda circun-
motora relacionada com a expressão da linguagem, volução parietal ou circunvolução parietal inferior.
pelo que a sua lesão no hemisfério dominante re- A circunvolução parietal ascendente situa-se atrás
sulta numa afasia de expressão, afasia não fluen- do sulco central, sendo limitada anteriormen-
te ou de Broca, i.e., os doentes conseguem com- te pelo sulco central e posteriormente pelo sulco
preender a linguagem falada ou escrita, mas têm pós-rolandico.
dificuldade na expressão adequada falada ou escri- A primeira circunvolução parietal compreende um
ta (nos casos mais comuns produzem apenas pou- segmento na face externa e um segmento na face
cas palavras com dificuldade ou escrevem de modo interna; na face externa é posterior à circunvolução
telegráfico). parietal ascendente e superior ao segmento hori-
o córtex pré-frontal é extenso, ocupando quase zontal do sulco interparietal; na face interna cor-
¼ da superficie do córtex cerebral e situando-se responde ao lobulo quadrilátero.
adiante da área pré- motora (áreas 9-12, 46 e 47 de A segunda circunvolução parietal situa-se abaixo
Brodmann). As suas conexões são particularmen- do segmento horizontal do sulco interparietal; é
te complexas, recebendo fibras de todas as áreas de formada por dois segmentos contíguos: a circun-
associação cortical, do sistema límbico e do tála- volução supra-marginal e a circunvolução angular.
mo. Esta área está envolvida na escolha das estra-
tégias comportamentais mais adequadas à situa- Áreas funcionais
ção fisca e social do individuo, na manutenção da
atenção e no controlo do comportamento emocio- No lobo parietal podem descrever-se cinco áreas
nal. Da sua lesão resultam despreocupação relati- funcionais:
vamente à dor/situação fisica, alterações do com- • Área somatoestésica primária;
portamento social, desatenção, perda da iniciativa • Área somatoestésica secundária;
e sentido crítico, entre outras. • Área somatoestésica de associação;
• Córtex de associação major;
1.1.2 LOBO PARIETAL • Área gustativa primária.

Configuração exterior A área somatoestésica primária (áreas 1, 2 e 3 de


Brodmann) compreende a circunvolução parietal
O lobo parietal apresenta como limite anterior o ascendente e o segmento posterior do lóbulo pa-
sulco central, como limite inferior o sulco lateral e ra-central. Tem como função a percepção das sen-
como limites posteriores, o sulco parieto-occipital sações térmicas, álgicas, tácteis, proprioceptivas e
e o sulco sub-parietal. discriminativas do lado contralateral, recebendo
O sulco parieto-occipital inicia-se no bordo supe- fibras de projecção provenientes dos núcleos ven-
rior dos hemisférios, estendendo-se ao longo da tral póstero-medial e ventral póstero-lateral do
face externa (onde constitui o sulco perpendicular tálamo. A sua lesão acarreta perda ou redução des-
externo, que é pouco evidente uma vez que é apa- tas várias formas de sensibilidade (hemihipostesia
gado por pregas anastomóticas que unem as cir- contralateral). Tal como na área motora a corres-
cunvoluções parietais às circunvoluções occipitais) pondência da metade contralateral do corpo faz-se
e da face interna (onde constitui o sulco perpendi- de forma invertida e também aqui a extensão das
cular interno, este bem evidente). áreas corticais responsáveis por determinada fim-
O sulco sub-parietal tem inicio na inflexão ascen- ção depende da sua especificidade - homúnculo
dente do sulco sub-frontal, dirigindo-se para trás sensitivo contralateral e invertido (Fig.10.l.23B).
e para baixo em direcção ao sulco perpendicular A área somatostésica secundária ocupa uma pe-
interno. quena zona na vertente superior do segmento pos-
As circunvoluções que constituem o lobo parie- terior do sulco lateral. O significado funcional des-
tal são em número de três: circunvolução parie- ta área não está completamente estabelecido; estu-

525
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

heminegligência ou hemi-inatenção (que se defi-


ne como a incapacidade de atender, orientar-se ou
reagir a estímulos apresentados num hemi-espaço,
e que é mais intenso nas lesões do hemisfério direi-
to, o mais relacionado com os processos visuo-es-
paciais); da lesão desta área no hemisfério esquer-

l do, podem resultar digito-agnosia (dificuldade ern


identificar correctamente os dedos da mão), con-
fusão direito-esquerdo, discalculia e disgrafia (difi-
culdade na escrita de palavras ditadas, sem dificul-
dade na leitura), situação designada no seu conjun-
to por "síndrome de Gerstmann''.

N
A área gustativa (área 43 de Brodmann) localiza-
-se na porção mais inferior da circunvolução pa-
rietal ascendente, adjacente à porção da área so-
matoestésica correspondente à lingua e também
próxima da insula; recebe a sensação do gosto do
Fig. 10.1.23B: Homúnculo Sensitivo. lado contralateral, pelo que a lesão desta área con-
diciona uma diminuição do gosto (hipogeusia) do
dos experimentais demonstram que alguns neuró- lado contralateral da lingua.
nios respondem particularmente a estímulos tac-
teis transitórios, não parecendo existir resposta 1. 1.3 LOBO TEMPORAL
para estímulos mantidos.
A área somatoestésica de associação (áreas 5 e 7 Configuração exterior
de Brodmann) situa-se na face externa e interna
da circunvolução parietal superior. Conecta-se ex- O lobo temporal apresenta como limite superior
tensamente com outras áreas sensoriais do córtex, o sulco lateral, como limite posterior o sulco per-
sendo responsável pela interpretação ou reconhe- pendicular externo e como limite interno a fissura
cimento (estereognosia) das características tacteis cerebral transversa.
de um determinado objecto, comparando-as com As circunvoluções que constituem o lobo temporal
o conceito do objecto existente, o que permite a são em número de cinco: a primeira, segunda e ter-
sua identificação; assim, possibilita o reconheci- ceira localizam-se na face externa dos hemisférios;
mento de um objecto colocado na palma da mão a quarta e a quinta circunvoluções localizam-se na
apenas pela analise das suas caracteristicas tácteis, face inferior - dá-se o nome de lóbulo fusiforme
sem o auxilio da visão - à perda desta capacidade à junção da quarta circunvolução temporal com a
designamos por aestereognosia. quarta circunvolução occipital e de lóbulo lingual à
O córtex de associação major, também designado junção da quinta temporal com a quinta occipital.
de "área de associação terciária (áreas 39 e 40 de
Brodmann)" ocupa os gyrus angular e supra-mar- Areas funcionais
ginal, na segunda circunvolução parietal. Situa- se
pois entre as áreas secundárias auditiva, visual e so- No lobo temporal podem descrever-se cinco áreas
matoestésica, funcionando como centro que inte- funcionais:
gra as informações recebidas destas várias áreas. • Área auditiva primária;
Esta área é importante para a percepção espacial, • Área auditiva secundária;
permitindo determinar as relações entre os objec- • Área de Wernicke;
tos no espaço extrapessoal e para a , da imagem das • Área olfactiva primária;
partes constituintes do proprio corpo; da sua lesão • Área olfactiva secundária.
pode resultar desorientação espacial generalizada e

526
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: CÉREBRO

A área auditiva primária (áreas 41 e 42 de Brod- capacidade olfactiva (hipósmia); a lesão irritativa,
rnann) corresponde às circunvoluções temporais relacionada com a presença de uma lesão epilep-
transversas de Heschl, uma pequena zona loca- tica focal, determina alucinações olfactivas (cri-
lizada no lábio inferior do sulco lateral, na parte ses uncinadas) nas quais os doentes subitamente
média-posterior da circunvolução temporal su- se queixam de cheiros, habitualmente desagradá-
perior. Recebe fibras de projecção provenientes veis, que na realidade não existem.
do corpo geniculado interno, o qual por sua vez A área olfactiva secundária (área 28 de Brod-
recebe fibras provenientes de ambos os orgãos de mann) encontra-se adjacente à área olfactiva pri-
Corri, embora predominantemente do lado con- mária e à semelhança das outras áreas de associa-
tralateral; deste facto decorre que uma lesão uni- ção, tem por função o reconhecimento/interpre-
lateral desta área resulte numa perda de audição tação dos odores, com base em esperiências an-
(hipoacúsia) bilateral, embora mais marcada no teriores; a sua lesão destrutiva condiona uma ag-
lado contralateral, e que uma lesão bilateral re- nosia olfactiva.
sulte numa surdez completa.
A área auditiva secundária ou de associação (área 1. 1.4 LOBO OCCIPITAL
22 de Brodrnann) localiza-se em torno da an-
terior, e tem por função a interpretação (gno- Configuração exterior
sia) dos sons recebidos na área primária, compa-
rando-os com experiencias anteriores. Uma lesão O lobo occipital apresenta corno limites anteriores
desta área conduz a uma agnosia acústica, isto é, o sulco perpendicular externo (na face externa) e o
o doente consegue ouvir, apercebendo-se das ca- sulco perpendicular interno (na face interna). Tem
racterísticas do som, mas não consegue reconhe- a forma de uma pirâmide triangular com vértice
ce-lo. posterior, o polo occipital.
A área de Wernicke (áreas 22 e 39 de Brodmann) No lobo occipital podem descrever-se seis circun-
localiza-se no hemisfério dominante e com- voluções: a primeira, segunda e terceira localizam-
preende uma região extensa que inclui a parte -se na face lateral dos hemisférios; a quarta e a
posterior (plano temporal) da primeira circunvo- quinta localizam-se na face inferior, unindo-se às
lução temporal (área 22) e a junção temporo-pa- homóninas circunvoluções temporais; a sexta lo-
rieto-occipital, incluindo a circunvolução angular caliza-se na face medial e denomina-se cuneos.
(área 39). Esta área associa-se à área de Broca por
meio de um feixe de fibras designado por "feixe Áreas funcionais
arqueado"; recebe fibras provenientes do cortex
visual e do córtex auditivo, estando implicada na No lobo occipital podem descrever-se três áreas
compreensão da linguagem falada e escrita e na funcionais:
capacidade de ler uma frase, percebe-la e repeti- • Área visual primária;
-la; a sua lesão condiciona uma afasia de recepção • Área visual secundária;
ou afasia fluente, i.e., os doentes conseguem fa- • Campo ocular occipital.
lar fluentemente, embora o seu discurso seja des-
provido de senso/conteúdo, mas não conseguem A área visual primária (áreas 17 de Brodmann) lo-
compreender a linguagem falada ou escrita. caliza-se nas paredes do sulco calcarino (situado na
A área olfactiva primária localiza-se no polo face interna dos hemisférios, e que separa de for-
temporal, ocupando a porção anterior do un- ma particularmente marcada a quinta da sexta cir-
cus e da circunvolução para-hipocampica (áreas cunvolução occipital); estende-se também em tor-
pré-piriforme e peri-amigdalina); apresenta co- no do polo occipital, na face externa dos hemisfé-
nexões importantes com áreas corticais adjacen- rios. Recebe, através de fibras provenientes do cor-
tes que fazem parte do sistema límbico. Tem por po geniculado externo informação proveniente da
função a recepção das sensações olfactivas. A le- metade homolateral da retina, a qual fornece in-
são destrutiva desta área determina uma perda da formação sobre a metade contralateral do campo

527
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

de visão; por outro lado, o campo visual inferior vés das vias do tacto discriminativo) e com fun-
projecta-se na parede superior do sulco calcari- ções linguísticas.
no e o campo visual superior na sua parede infe-
rior. A área central da retina, ou mácula lútea, que 1.1.6. LOBO DO CORPO CALOSO OU
corresponde à área de maior acuidade visual, tem C/NGULAR
uma representação cortical desproporcionalmen-
te grande face às suas dimesões na retina; esta O lobo do corpo caloso é constituído por uma
área projecta-se na porção posterior da área vi- única circunvolução, a circunvolução do corpo ca-
sual primária, ao passo que as regiões mais peri- loso ou cingular. Este lobo é limitado superior-
féricas da retina, se projectam na porção anterior mente pelo sulco caloso-marginal e inferiormente
desta mesma área. pelo sulco peri-caloso, continua-se posteriormente
Uma lesão destrutiva da área visual primária con- com a circunvolução hipocâmpica, constituindo a
diona uma perda de visão no campo visual con- circunvolução límbica. Esta estrutura faz parte in-
tralateral, i.e., uma hemianópsia homónima con- tegrante do sistema límbico e será abordada deta-
tralateral. lhamente num capítulo específico.
A área visual secundária ou de associação (áreas
18 e 19 de Brodmann) localiza-se na periferia da
área visual primária; é responsável pela interpre- PERGUNTAS TIPO
tação (gnosia) das imagens recebidos na área pri-
mária, comparando-os com experiencias anterio- 1. Relativamente à dominância cerebral, assina-
res. Uma lesão desta área conduz a uma agnosia le a alínea correcta:
visual, isto é, o doente consegue ver, aperceben- a. Na maioria dos adultos a linguagem e a
do-se das características da imagem, mas não re- preferência manual são controladas pelo
conhece o que vê. hemisfério direito.
A área ou campo ocular occipital situa-se na área b. Na maioria dos adultos a linguagem e a
visual secundária, sendo responsável pelo movi- preferência manual são controladas pelo
mento conjugado dos olhos para o lado contra- hemisfério esquerdo.
lateral, tal como sucedia relativamente ao cam- c. A idade a partir da qual se estabelece a do-
po ocular frontal, mas ao contrário desta, a de- minância cerebral não tem qualquer im-
terminação do movimento ocular é reflexa, invo- portância clínica.
luntária, estando dependente de um estimulo vi- d. Se uma lesão cerebral ocorrer na infância,
sual contínuo. antes de que uma criança tenha aprendi-
do a falar, é possível o desenvolvimento da
1.1.5. LOBO DA INSULA linguagem no hemisfério contralateral, in-
tacto.
O lobo da insula situa-se na profundidade do sul- e. B e D estão correctas.
co lateral, tornando-se evidente se afastarmos os
seus lábios superior e inferior; tem uma forma 2. Relativamente ao córtex pré-frontal, assinale
triangular de base superior e vértice anterior e in- a alínea correcta:
ferior, separando-se dos lobos contíguos pelo sul- a. Localiza-se anteriormente em relação à
co circunferencial de Reil. Apresenta cinco circun- área pré-motora, ocupando as áreas 44 e
voluções, individualizadas por quatro sulcos: 3 an- 45 de Brodmann.
teriores, menores; 2 posteriores, mais volumosas. b. Localiza-se posteriormente em relação à
Os aspectos funcionais da insula são ainda pouco área pré-motora, ocupando as áreas 9-12,
conhecidos,julgando que o cortex insular anterior 46 e 47 de Brodmann.
esteja relacionado com o olfacto e o gosto, e que c. A sua lesão unilateral, direita ou esquerda,
o córtex insular posterior esteja relacionado com a nível da convexidade, condiciona altera-
funções somato-sensoriais (nomeadamente atra- ção da capacidade de julgamento, distrac-

528
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: CÉREBRO

tibilidade, preserveração e presença de re- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


flexos primitivosa.
d. Está maioritariamente relacionado com a Mancall, EL.; Brock, DG. Grafs Clinical
produção de movimento voluntários do Neuroanatomy. 1st edition. Saunders. Elsevier,
lado contralateral. 2011.
e. Deriva da vesícula cerebral posterior. Netter, FH.Atlas ofHumanAnatomy. Ciba-
Geigy. Basileia, 1989.
3. Considere o campo ocular frontal e assinale a
alínea correcta: Splittgerber, R. Snell's Clinical Neuroanatomy. 8.ª
a. Estende-se desde a área correspondente à edição. Wolters Kluwer, 2019.
face, na circunvolução frontal ascendente,
até à circunvolução frontal média (ou 2.ª •••
circunvolução frontal).
b. A estimulação eléctrica desta região pro-
duz movimentos conjugados dos olhos
para o lado ipsi-lateral, i.e., para o mes-
mo lado.
c. Controla os movimentos de scanning vi-
sual de carácter voluntário.
d. Controla os movimentos de scanning vi-
sual de carácter involuntário.
e. A e C estão correctas.

4. Considere o lobo parietal e assinale a alínea


incorrecta:
a. O córtex parietal posterior integra a infor-
mação visual proveniente do córtex occi-
pital com a informação sensitiva (táctil e
proprioceptiva) proveniente do córtex pa-
rietal anterior, por forma a possibilitar a
percepção das dimensões, forma e textu-
ra dos objectos, um processo conhecido
como estereognosia.
b. A área somatoestésica primária ocupa a
circunvolução parietal ascendente.
c. A dimensão da área cortical que represen-
ta cada segmento do corpo é directamen-
te proporcional ao n. 0 de receptores sensi-
tivos presentes nesse segmento.
d. A área somatoestésica de associação ocu-
pa a face externa e interna da circunvolu-
ção parietal superior.
e. A área gustativa primaria corresponde às
áreas 44 e 45 da classificação de Brod-
mann.

!:;J- v !:;r- C !:)-l !,1- 1


:S1'!S00S01!

529
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

SUBSTÂNCIA BRANCA DO CÉREBRO As fibras nervosas do cérebro agrupam-se em três


tipos de acordo com as conexões que estabelecem:
INTRODUÇÃO 1. Fibras de projecção, que ligam córtex cerebral
e núcleos subcorticais encefálicos ou medula
Na configuração interna do cérebro distinguem- formando as principais vias nervosas; '
-se a substância branca e a substância cinzenta. 2. Fibras de associação intra-hemisféricas, que
A substância branca consiste em feixes de fibras ligam diferentes áreas corticais dentro do
nervosas mielinizadas, suportadas por células da mesmo hemisfério;
glia, predominantemente oligodendrocitos, que 3. Fibras de associação inter-hemisféricas, que
unem zonas de substância cinzenta, onde estão lo- ligam regiões corticais e estruturas homólo-
calizados os corpos celulares dos neurónios. A sua gas dos hemisférios cerebrais, constituindo as
coloração branca deve-se à bainha de mielina que comissuras inter-hemisféricas.
envolve as fibras nervosas. O córtex cerebral e os
diversos núcleos subcorticais são constituídos por
substância cinzenta, enquanto a substância branca FIBRAS DE PROJEÇÂO
se estende abaixo do córtex cerebral envolvendo os
núcleos cinzentos e o sistema ventricular. A subs- As fibras de projecção são constituídas por fibras
tância branca forma então, as vias nervosas, res- aferentes, que levam impulsos nervosos ao córtex
ponsáveis pela transmissão dos impulsos nervosos cerebral, e fibras eferentes que emitem impulsos
entre áreas do córtex cerebral, núcleos subcorticais, nervosos provenientes do córtex cerebral.
medula espinhal e órgãos dos sentidos. Ao nível da base do cérebro os feixes nervosos
Segundo um corte horizontal acima do corpo ca- tornam-se compactos ao passarem entre os nú-
loso, as fibras nervosas têm a aparência de uma cleos cinzentos e formam as chamadas cápsulas de
formação semi-elíptica branca em cada hemisfé- substância branca {Fig. 10.1.25). De dentro para
rio, constituindo o Centro Semi-Oval. O Centro fora encontram-se a cápsula interna, a cápsula ex-
Oval (de Vieussens) (Fig. 10.1.24) é constituído terna e a cápsula extrema {Fig. 10.1.26).
pelos dois Centros Semi-Ovais unidos pela massa A cápsula externa localiza-se entre o núcleo lenti-
branca do corpo caloso. cular e o claustro e a cápsula extrema entre o claus-
tro e o córtex da ínsula. As funções e as vias que as
atravessam não são bem conhecidas.

Fig. 10.1.24: Secção do cérebro a nível do corpo caloso: Centro Oval. Fig. 10.1.25: Núcleos opto..estriados e cápsula interna.
1. Córtex Cerebral 2. Centro Semi-Oval 3. Corpo Caloso 1. Núcleo caudado 2. Tálamo 3. Fibras verticais da cápsula interna
4. Núdeo lenticular

530
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: SUBSTÂNCIA BRANCA DO CÉREBRO

2
3
~ .;:;;l~7'-- - - - - 4

11

Fig. 10.1.26: Corte transversal do cérebro, ampliado aos núcleos da base.


1. Corpo Caloso ijoelho) 2. Septo Pelúcido 3. Cápsula Externa 4. Braço anterior da Cápsula Interna S. Joelho da Cápsula Interna 6. Braço
p<>sterior da Cápsula Interna 7. Segmento Retrolenticular da Cápsula Interna 8. Corpo Caloso (esplénio ou debrum) 9 . Cauda do Núcleo Caudado
1O. Tálamo 11. Claustrum ou Antemuro 12. Núcleo Lenticular 13. Cabeça do núcleo caudado.

A cápsula interna situa-se entre o núcleo lenticu- -corticais e córtico-talârnicos, que conectam o nú-
lar por fora e o núcleo caudado e tálamo por den- cleo dorso-mediano do tálamo ao córtex pré-fron-
tro. É constituída pelos seguintes segmentos: an- tal e o núcleo anterior do tálamo ao córtex do cín-
terior, joelho, posterior, retrolenticular e sublenti- gulo e feixes caudado-lenticulares.
cular. Em corte axial, tem a forma de um V aber- O joelho da cápsula interna contém o "feixe geni-
to para fora em que o vértice corresponde ao joe- culado", assim designado por atravessar a cápsula
lho. O joelho marca a transição entre o braço an- ao nível do joelho, é também denominado de "fei-
terior e o braço posterior da cápsula interna. xe córtico-nuclear" e destina-se aos núcleos moto-
O braço anterior mede aproximadamente 2 cm em res dos nervos cranianos.
comprimento e situa-se entre a face ântero-inter- No braço posterior da cápsula interna passam as
na do núcleo lenticular e a cabeça do núcleo cau- principais vias da motricidade e da sensibilidade.
dado. O braço posterior mede aproximadamen- Assim enumeram-se: o feixe piramidal, ou feixe
te 3-4 cm de comprimento e situa-se entre a face córtico-espinhal, que se destina aos cornos an-
póstero-interna do núcleo lenticular e a face exter-
na do tálamo. O segmento retro-lenticular situa-se 2
posteriormente ao núcleo lenticular, dispondo-se
externamente ao como occipital dos ventrículos 4

laterais. O segmento sublenticular (Fig. 10.1.27)


situa-se inferiormente ao núcleo lenticular e supe-
riormente à cauda do núcleo caudado e ao corno
temporal dos ventrículos laterais, relacionando-se
com a substância inominada. A substância inomi-
nada trata-se de uma zona de substância cinzen-
ta do prosencéfalo basal, localizada inferiormen-
te à porção anterior do tálamo e núcleo lenticular,
contendo vários núcleos tais como o núcleo basal
11 6
de Meynert, porção ventral do corpo estriado ou
Núcleo Accumbers e o núcleo da estria terminal. 9 7
Cada um destes segmentos é atravessado por uma
Fig. 10.1.27: Corte coronal do cérebro, ao nível da comissura branca
série de feixes nervosos (Fig.10.1.28). anterior.
O braço anterior da cápsula interna é atravessado 1. Corpo caloso 2. Septo Lúcido 3. Corno frontal ventrículos laterais
4. Núcleo caudado 5. Núcleo lenticular 6. Braço anterior cápsula
pelos feixes fronto-pônticos da via córtico-ponto- interna 7. Segmento suh,enticular da cápsula interna 8. Comissura
-cerebelosa, ou via do neocerebelo; feixes tálamo- branca anterior 9. Substância inominada 10. N úcleo amigdalino ou
amígdala 11. Corno temporal dos ventrículos laterais.

531
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

teriores da substância cinzenta da medula espi- O segmento retrolenticular da cápsula interna


nhal; vias da sensibilidade provenientes dos lem- contém as radiações ópticas (de Gratiolet), os fei-
niscos medial, espinhal, trigemina! e vias da sen- xes occipito-pônticos da via córtico-ponto-cere-
sibilidade gustativa; feixes parieto-pônticos da belosa, feixes córtico-nigricos, feixes córtico-tec-
via córtico-ponto-cerebelosa; feixes córtico-ru- tais, feixes córtico-tegmentares e feixes pulvino-
bricos; feixes córtico-reticulares; feixes tálamo- -corticais.
-corticais, que unem os núcleos ventral anterior e O segmento sublenticular da cápsula interna con-
ventral lateral do tálamo às áreas motoras secun- tém as radiações acústicas, feixes temporo-pônti-
dárias e feixes tálamo-estriados. Tanto o feixe pi- cos (de Arnold) da via córtico-ponto-cerebelosa
ramidal como os feixes das vias da sensibilida- o feixe temporo-talâmico que une o córtex tem:
de têm uma disposição somatotópica, de tal for- poral ao pulvinar e a ansa lenticular que conecta
ma que as fibras correspondentes às extremida- o núcleo lenticular à região infundibular, núcleo
des superiores do corpo (cabeça, mãos, antebra- subtalâmico, núcleo rubro, locus níger e substância
ços, braços) estão localizadas mais anteriormente, cinzenta do mesencéfalo.
seguidas pelas correspondentes ao tronco e às ex- A cápsula interna prolonga-se para baixo com a
tremidades inferiores (coxas, pés, pernas). O feixe substância branca dos pedúnculos cerebrais e para
piramidal ocupa a vertente externa do braço pos- cima com o centro oval, onde as fibras irradiam em
terior e as vias da sensibilidade ocupam a sua ver- todas as direcções do córtex formando um cen-
tente interna. tro de dispersão, a coroa radiária ou radiada (Fig.
10.1.29).
Na cápsula interna, ao contrário do que aconte-
3 ce ao nível da coroa radiária, as fibras das grandes
vias da motricidade e da sensibilidade encontram-
-se mais condensadas. Por isso pequenas lesões a
este nível causam hemiplegia e perda da sensibili-
dade da metade oposta do corpo, atingindo todo
o hemicorpo.

12

Fig. 10.1.29: Coroa Radiada.

9
8 L___j FIBRAS DE ASSOCIAÇÃO INTRA-HEMIS-
14 FÉRICAS
Fig. 10.1.28: Cápsula interna.
1. Feixe córtico-nudear 2. Feixe córtico-espinhal 3. Fibras córtico-talâ-
micas 4. Fibras tálamo-corticais 5. Radiações auditivas 6. Radiações As fibras de associação intra-hemisféricas trans-
ópticas de Gratiolet 7. Fibras córtico-rubricas 8. Corpo geniculado mitem impulsos entre diferentes áreas corticais
externo do tálamo 9. Corpo geniculado interno do tálamo 10. Braço
Anterior da Cápsula Interna 11. Joelho da Cápsula Interna 12. Braço de um mesmo hemisfério cerebral, coordenando
Posterior da Cápsula Interna 13. Segmento Sublenticular da Cápsula a sua actividade.
Interna 14. Segmento Retrolenticular da Cápsula Interna

532
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: SUBSTÂNCIA BRANCA DO CÉREBRO

Existem fibras de associação curtas, também de- por vezes na cápsula extrema. Relaciona-se com a
signadas "fibras em U (de Meynert)" ou "fibras parede externa dos cornos temporal e occipital dos
arqueadas", que unem circunvoluções adjacentes, ventrículos laterais. No lobo occipital está separa-
e fibras de associação longas que unem áreas cor- do do corno occipital pelas radiações ópticas e pelo
ticais de lobos diferentes. tapete (ver adiante). A lesão do feixe longitudinal
Podem-se descrever cinco feixes bem individuali- inferior pode causar agnosia, prosopagnosia e pre-
zados de fibras de associação longas (Fig.10.1.30). judicar a memória visual de curto prazo.
O feixe fronto-occipital une o lobo frontal aos lo-
bos temporal e occipital. Localiza-se na profundi-
dade do cérebro em relação com o bordo externo
do núcleo caudado, descrevendo uma curva aber-
ta para baixo e para diante. Passa por fora da cáp-
sula interna e relaciona-se também com as paredes
súpero-externas dos cornos temporais e occipitais
dos ventrículos laterais. O sector inferior deste fei-
xe também se designa feixe fronto-occipital infe-
rior e liga áreas da linguagem frontais e temporais.
O feixe unciforme ou uncinado une o pólo fron-
tal ao pólo temporal, atravessando o fundo do rego
de Sylvius.
4 O feixe do cíngulo ou cingular (cingulum) é um
Fig. 10.1.30: Fibras de associação longas intra-hemisféricas. feixe que une várias regiões corticais do lobo lím-
1. Feixe do Cíngulo 2. Feixe Longitudinal Superior 3. Feixe Longitudi- bico, dispondo-se desde a circunvolução do cín-
nal Inferior 4. Feixe Unciforme
gulo (supra-calosa) até à circunvolução para-hipo-
câmpica (5.ª circunvolução temporal).
O feixe longitudinal superior é constituído por fei- No encéfalo, para além destes feixes de associa-
xes bi-direccionais que se dispõem externamente ção que ligam áreas corticais, existem feixes de as-
ao Cento Oval e unem os lobos frontal ao occipi- sociação telencéfalo-diencefálicos ou telencéfalo-
tal, emitindo também fibras para os lobos parietal -mesencefálicos. A seguir serão enumerados al-
e temporal. Algumas fibras partem do lobo fron- guns destes feixes, que serão descritos novamen-
tal até regiões corticais adjacentes à porção poste- te noutros capítulos.
rior do rego de Sylvius e daí irradiam para o lobo
occipital. Outras fibras do lobo frontal passam ao
3
lado e inferiormente ao putámen e irradiam para
as porções anteriores do lobo temporal.
O feixe arqueado (Fig. 10.1.31) pode considerar-
-se integrado no feixe longitudinal superior. As fi-
bras partem da circunvolução temporal superior e
circunvolução supramarginal contornam a extre-
midade posterior do rego de Sylvius e terminam
no córtex pré- motor ventral e córtex pré-frontal.
Este feixe liga a área de Wernicke à área de Broca.
Uma lesão nesta via causa uma afasia de condução,
em que a compreensão e a articulação do discurso
estão preservadas, mas os pacientes têm dificulda-
de em repetir um discurso.
O feixe longitudinal inferior une o pólo temporal
ao lobo occipital, situando-se na cápsula externa e Fig.10.1.31: Feixe arqueado.
1. Feixe Arqueado 2. Área de Wernicke 3. Área de Broca

533
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

O feixe prosencefálico medial estende-se desde a


área septal e hipotálamo até à formação reticular
do mesencéfalo, estabelecendo conexões nos dois
sentidos.
A estria terminal constitui uma das vias eferen-
tes da amígdala terminando na área septal (ver hi-
potálamo).
A estria medular do tálamo origina-se nos nú-
cleos septais e termina nos núcleos habenulares,
que pela via retroreflexa se ligam ao núcleo inter-
peduncular do mesencéfalo, que se projecta para a
formação reticular (ver epitálamo).
O feixe mamilo-tegmentar que dos núcleos ma-
milares se projecta para a formação reticular do
mesencéfalo (ver hipotálamo). 8

Fig. 10.1.32: Comissuras inter-hemisféricas: Corpo caloso, trÍgono


cerebral e comissura branca anterior.
FIBRAS DE ASSOCIAÇÃO INTER-HEMIS- 1. Corpo do corpo caloso 2. Joelho do corpo caloso 3. Bico do cor
caloso 4. Pilares anteriores do trígono ou fórnix 5. Comissura Bra=
FÉRICAS Anterior 6. Núdeos ou corpos Mamilares 7. Núcleos Amtgdafinos
8. Pilares posteriores do t rígono ou f6rnix 9. Corpo do Trigano Ce-
rebral 10. Debrum ou esplénio do corpo caloso 11. Septo Pelúcido.
As fibras de associação inter-hemisféricas orga-
nizam-se em estruturas denominadas "comissu-
ras". As comissuras inter-hemisféricas ligam re- brum (esplénio). O bico do corpo caloso corres-
giões corticais e estruturas telencefálicas. As co- ponde à extremidade anterior afilada que se conti-
missuras diencefálicas ligam estruturas bilaterais nua inferiormente com a lâmina terminal. Segue-
do diencéfalo. -se o joelho, que tem uma forma curva, formando
As comissuras inter-hemisféricas ou telencefálicas parte do pavimento e do tecto dos cornos frontais
são: o corpo caloso, o trígono cerebral e a comissu- dos ventrículos laterais continuando-se atrás com
ra branca anterior. Note-se que a classificação fi- o corpo. O debrurn, na extremidade posterior, cor-
logenética das áreas do córtex que cada uma des- responde à sua porção mais espessa.
tas comissuras liga é diferente. O corpo caloso une A face superior do corpo caloso, no fundo da fen-
áreas neocorticais, a comissura branca une estrutu- da inter-hemisférica., é convexa no sentido longi-
ras do paleocórtex e o trígono cerebral une estru- tudinal e côncava no sentido transversal. Esta face
turas do arqueocórtex. está coberta por estruturas límbicas vestígiais: o
O Corpo Caloso (Fig. 10.1.32, 10.1.33, 10.1.34, induzio cinzento, que forma duas lâminas de subs-
10.1.35) é a maior comissura inter-hemisférica. tância cinzenta lateralizadas por cordões finos de
Conecta reciprocamente áreas corticais simétri- substância branca, as estrias longitudinais media-
cas dos dois hemisférios, permitindo a transferên- nas (nervos de Lancisi) e as estrias longitudinais
cia de informação de um hemisfério para o outro. laterais (Fig. 10.1.33). A face inferior dá inserção
Apenas as áreas corticais de associação estão uni- ao septo lúcido na linha média, forma o tecto dos
das pelas fibras do corpo caloso. As áreas corti- cornos frontais dos ventrículos laterais e ao nível
cais primárias apesar de simétricas não estão uni- do debrum relaciona-se com o corpo do trígono
das funcionalmente pelas fibras do corpo caloso. cerebral.
O corpo caloso é urna estrutura em forma de pla- As radiações do corpo caloso (Fig. 10.1.33,
ca espessada curva de concavidade inferior, forma- 10.1.34) dispõem-se transversalmente em leque
da pela condensação das fibras inter-hemisféricas ao nível do corpo, irradiando para amplas áreas
ao nível da linha média. É constituído por quatro neocorticais. Já ao nível do joelho e do debrum
porções: o bico (rostro), o joelho, o corpo e o de- descrevem um trajecto curvo, distribuindo-se

534
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: SUBSTÂNCIA BRANCA DO CÉREBRO

A Comissura branca anterior (Fig. 10.1.32,


10.1.34, 10.1.35) é um pequeno feixe compac-
to com uma forma semelhante a um volante de
bicicleta. A sua porção mediana atravessa a linha
média ao rúvel da lâmina terminal, anteriormente
aos pilares anteriores do trígono cerebral. As suas
porções laterais dirigem-se para trás, atravessam
o segmento sublenticular da cápsula interna, en-
tre o núcleo lenticular e a substância inominata, e
terminam nos núcleos arnigdalinos. Assim, esta-
belece conexão entre os lobos temporais, sobretu-
do as circunvoluções para-hipocâmpicas e os nú-
cleos amigdalinos. Algumas fibras destinam-se ao
núcleo accumbens, estria terminal e hipotálamo.
Um pequeno contingente de fibras une os bulbos
olfactivos.
Fig. 10.1.33: lnduzio cinzento e estrias longitudinais na face superior do
O Trígono cerebral ou Fórnix (Fig. 10.1.35,
corpo caloso e radiações do corpo caloso. 10.1.36, 10.1.37, 10.1.38) é simultaneamente uma
1. lnduzio cinzento 2. Estria Longitudinal Lateral 3. Estria Longitudinal
Medial 4. Radiações do Corpo Caloso
comissura inter-hemisférica e um par de feixes de
associação intra-hemisféricos. Trata-se de uma es-
para áreas corticais frontais e occipitais respec- trutura ímpar, mediana e simétrica, na qual se dis-
tivamente. O conjunto das fibras do joelho de- tinguem duas componentes: o corpo e os pilares
signa-se de fórceps minor; as fibras do debrum anteriores e posteriores.
são mais longas, designam-se de fórceps major. O corpo do trígono cerebral tem uma forma trian-
As radiações do corpo caloso que se relacionam gular alongada de base posterior e contem uma
com as paredes laterais dos cornos temporais e comissura que conecta os dois hipocampos, deno-
occipitais dos ventrículos laterais são denomina- minada "Saltério" ou "lira de David" (Fig. 10.1.36,
das de "tapete". 10.1.37). Estas fibras comissurais que partem de

Fig. 10.1.34: Fibras do corpo caloso e da comissura branca anterior.


1. Corpo caloso 2. Comissura branca anterior 3. Fórceps minor 4. Fórceps major

535
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

4
Fig. 10.1.37: Trígono Cerebral.
10 1.Corposmamilares 2. FibrasdeAssociaçãolntra-hemisféricas 3. Corpos
Amigdalinos 4. Saltério

Fig. 10.1.35: Corte sagital do cérebro.


1. Comissura branca anterior 2. Septo Pelúcido 3. Corpo Caloso circuito neuronal importante em processos mné-
4. Trígonocerebral 5. Tálamo 6. Habénula ou estria medular 7. Comissura
habenular 8. Glândula pineal ou Epífise 9. Comissura branca posterior sicos e emocionais, o circuito de Papez. As fibras
10. Hipotálamo. que partem do hipocampo formam uma fina ca-
mada de substância branca na face superior do hi-
cada hipocampo, dirigindo-se ao hipocampo con- pocampo, o alveo, e agrupam-se no bordo inter-
tralateral atravessando pilares posteriores e Salté- no do hipocampo, formando a fimbria. A fimbria
rio. A face superior do corpo do trígono faz parte continua-se com os pilares posteriores do trígono
do pavimento do corno frontal dos ventrículos la- cerebral que se dirigem para cima e para a frente,
terais, dando inserção ao septo lúcido e a sua face convergindo até encontrarem o corpo do trígono
inferior relaciona-se com a tela coróideia do III cerebral. Do ângulo anterior do corpo do trígono
ventrículo. cerebral partem os pilares anteriores, que se dis-
Os pilares do trígono cerebral contêm fibras de as- põem na parede anterior do III ventrículo, delimi-
sociação que ligam cada hipocampo ao corpo ma- tando anteriormente o buraco interventricular (de
milar do hipotálamo ipsilateral, integrando um Monro) e terminam nos corpos mamilares do hi-
potálamo, passando atrás da comissura branca an-
terior. Um pequeno contingente de fibras dos pi-
lares anteriores passa à frente da comissura bran-
ca anterior destinando- se à região pré- septal, pré-
-óptica e espaço perfurado anterior.
O Septo Lúcido (Fig. 10.1.32, 10.1.35, 10.1.38)
trata-se de uma membrana transparente, ímpar e
mediana disposta na linha média, entre o corpo
caloso e o trígono cerebral, separando os dois cor-
nos frontais dos ventrículos laterais, constituindo
a sua parede interna. O seu bordo ântero-superior
adere à face inferior do joelho e corpo do corpo ca-
loso e o seu bordo interno adere ao trígono cere-
bral. O septo lúcido consiste em duas lâminas se-
paradas por uma cavidade, designada de "cavida-
4
de do septo lúcido" ou "V ventrículo''. Esta cavi-
dade não tem continuidade com o sistema ventri-
Fig. 10.1.36: Trigano Cerebral ou Fórnix.
1. Corpo do Trigano 2. Comissura ou saltério 3. Pilares posteriores cular, nem é preenchida por líquor. Cada lâmina é
4. Hipocampo e Fímbria 5. Núcleos amigdalinos 6. Corpos mamilares constituída por uma camada de substância cinzen-
7. Pilares anteriores

536
coNTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: SUBSTÂNClA BRANCA DO CÉREBRO

3
12

11 5
4

10
6 6

8 9 7

Rg. 10.1.38: Corte transversal do cérebro, observando-se o trígono Fig. 10.1 .39: Comissuras diencefálicas.
cerebral. 1. Comissura inter-retiniana 2. Comissura de Gudden 3. Comissura
1. Joelho do corpo caloso 2. Cabeça do núdeo caudado 3. Septo Lú- intertuberiana 4. Comissura interestriada 5. Comissura subtalâmica
cido 4. Corpo do trigono 5. Saltério 6. Pilares posteriores do trígono 6. Comissura Branca Posterior 7. Comissura interhabenular
7. Espfénio do corpo caloso 8. Como occipital dos ventrículos laterais
9. Encruzilhdada dos ventrículos laterais 10. Fímbria 11 . Hipocampo
12. Corno temporal dos ventrículos laterais.

ta e uma camada de substância branca, mais exter- contribuindo para o reflexo fotomotor consensual.
na, revestida pelo epêndima dos ventrículos late- A Comissura habenular (Fig. 10.1.39) está situa-
rais. O septo lúcido recebe fibras do feixe prosen- da no bordo posterior da membrana tectória do
cefálico medial participando em circuitos de re- III ventrículo. Interpõe-se entre duas eminências
compensa e na modulação do humor. E m mode- triangulares, os trígonos da habénula, onde se si-
los animais, lesões do septo lúcido estão associadas tuam os núcleos habenulares, estabelecendo liga-
a estados de raiva. ção entre os mesmos.
As comissuras diencefálicas unem estruturas com A Comissura interestriada (de Meynert) contem
origem embrionária proveniente da vesícula dien- fibras que atravessam o subtálamo e ligam os dois
cefálica (Fig.10.1.39). globos pálidos, emitindo também fibras para a
A Comissura branca posterior (Fig. 10.1.35) mar- substância inominada.
ca a transição entre o mesencéfalo e o diencéfalo, A Comissura subtalâmica (de Farei) liga núcleos
situando-se abaixo da epífise e acima do orifício da região subtalâmica, em especial o núcleo sub-
superior do aqueduto cerebral (de Sylvius). É atra- talâmico (ou núcleo de Luys).
vessada por fibras que unem os pulvinares, os cor- A Comissura intertuberiana localiza-se na porção
pos geniculados externos, os tubérculos quadrigé- inferior do infundíbulo do hipotálamo, atravessa o
meos superiores, os núcleos motores dos III e IV pavimento do III ventrículo, ligando núcleos hi-
nervos cranianos e também os locus niger e os nú- potalâmicos.
cleos rubros. Contem também fibras que conec- A Comissura inter-retiniana atravessa a porção
tam o núcleo pré-tectal com o núcleo de Wedin- anterior do quiasma óptico e liga as duas retinas,
ger-Westphall contralateral do III nervo craniano, estabelecendo conexões vegetativas.

537
MANUAL DE ANATOM1A HUMANA

A Comissura de Gudden atravessa a porção pos- a. As fibras de associação intra-hemisféri


terior do quiasma óptico, as suas fibras destacam- são também denominadas "comissurais~as
-se das fitas ópticas e ligam os dois corpos genicu- b. Das fibras de projecção faz parte O f, .·
lados internos. unciforme. ell(e
c. O corpo caloso relaciona-se superior"'
.. ,en-
NOÇÕES DE ANATOMIA CLÍNICA te com o septo lúcido.
d. O centro oval corresponde ao conjunto d
A lesão dos feixes de substância branca cerebral fibras de projecção e de associação obse:
determina diferentes manifestações clínicas con- vadas segundo um corte transversal do cé-
soante a desconexão provocada. Estas descone- rebro a nível do corpo caloso.
xões são mais aparentes em lesões que interrom- e. A comissura branca posterior permite a
pem anatómica ou funcionalmente o corpo calo- comunicação entre as duas amígdalas.
so porque este é a maior comissura interhemisfé-
rica, que permite utilizar em pleno a especialização 2. No que diz respeito à cápsula interna assina-
funcional entre os dois hemisférios cerebrais, ca- le a incorrecta:
racterística muito importante do cérebro humano. a. Relaciona-se lateralmente com o núcleo
É nas funções que exigem a colaboração entre os lenticular.
dois hemisférios cerebrais que tal deficiência pode b. No joelho passam as fibras córtico-nuclea-
ser detetada; as funções mais elementares, como as res.
ordens motoras ou as percepções sensitivas bási- c. As fibras temporo-pônticas passam no
cas não o exigem. segmento retrolenticular.
Assim, a desconexão posterior do corpo caloso d. As radiações auditivas passam no segmen-
interrompe a comunicação entre o córtex cere- to sublenticular.
bral sensorial dos dois hemisférios, impedindo por e. As fibras corticoespinhais e tálamocorti-
exemplo que informações do hemisfério direito cais passam no braço posterior.
sejam transmitidas ao hemisfério esquerdo onde
se situam as áreas corticais da linguagem; esta in- 3. Relativamente às fibras comissurais do cére-
terrupção pode assim dificultar ou impedir fun- bro, assinale a afirmação incorrecta:
ções como a nomeação de objectos manipulados a. Os globos pálidos estão unidos pela co-
pela mão ou o pé esquerdos ou observados no he- missura inter-estriada de Meynert.
micampo visual esquerdo. Por outro lado a desco- b. A comissura branca anterior é uma comis-
nexão anterior do corpo caloso impede que a pro- sura diencefálica.
gramação motora seja transmitida das áreas da lin- c. O Saltério localiza-se no corpo do trígono
guagem do hemisfério esquerdo para a área moto- e permite a ligação dos dois hipocampos.
ra do córtex do hemisfério direito; isto leva ao de- d. A comissura branca posterior contribui
sencadeamento de movimentos comandados pelo para o reflexo fotomotor consensual.
hemisfério direito de forma desconexa com o he- e. O debrum do corpo caloso localiza-se
misfério esquerdo (síndrome da "mão estrangei- posteriormente.
rà'). A separação completa d corpo caloso origi-
na um quadro clínico mais complexo ("brain split 4. Relativamente ao corpo caloso, assinale a afir-
syndrome"). mação correcta:
a. O bico do corpo caloso prolonga-se infe-
riormente até à lâmina terminal.
PERGUNTAS TIPO b. As fibras do forceps minor ligam entre si
áreas homólogas dos lobos occipitais.
1. Relativamente à substância branca dos he- c. O corpo caloso transmite informação en-
misférios cerebrais assinale a afirmação cor- tre os dois hipocampos.
recta: d. Faz parte da parede do IV ventrículo.

538
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: SUBSTÃNCIA BRANCA DO CÉREBRO

e. Tem origem diencefálica.

!y-i, !g-f !;)-2'. !Q- I


:smsodsoll

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Splittgerber, R. Snell's Clinical Neuroanatomy.


8.ª edição. Wolters Kluwer, 2019.
Bourret, P.; Louis, R.Anatomie du Systeme
Nerveux Central,.3.• edição. UExpansion
Scientifique Française. Paris, 1986.
Rouviêre, H .; Delmas, A. Anatomie Humaine.
Tome 3. lSémc édition. Masson et Cie. Paris, 2002.

Netter, FH. Atlas ofHuman Anatomy. Ciba-


Geigy. Basileia, 1989.

***

539
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

NÚCLEOS CINZENTOS CENTRAIS núcleo lenticular e pelo núcleo caudado. O <:o


estriado é assim chamado pelo seu aspecto estrj::
Os núcleos cinzentos centrais constituem um quando visto em corte.
conjunto de formações nucleares profundamente
situados nos hemisférios cerebrais, para os quais
converge informação de todo o encéfalo. Podem- NÚCLEOS O/ENCEFÁLICOS
-se distinguir os núcleos diencefálicos ( tálamo,
subtálamo, epitálamo, hipotálamo (abordado em TÁLAMO
capítulo próprio) e porção medial do núcleo len-
ticular - Pálido) e os núcleos telencefálicos (por- É o maior constituinte do diencéfalo, a par do epi-
ção lateral do núcleo lenticular ou putámen, nú- tálamo (constituído pelos núcleos habenulares
cleo caudado, claustro e núcleo amigdalino) (Fig. glândula pineal : suas conexões), do subtálam0 :
10.1.40, 10.1.41). Estes têm importantes conexões do hipotálamo. E uma estrutura par e é formado
quer com as estruturas corticais, quer com os nú- por um complexo nuclear, de forma ovóide, si-
cleos cinzentos mesencefálicos, apresentando ain- tuado profundamente, constituindo a parede late-
da uma complexa rede de conexões entre si. Esta ral do III ventrículo pela sua face medial e a por-
variedade de conexões sinápticas determina o seu ção medial do pavimento dos ventrículos laterais
papel de grandes agentes moduladores das funções pela sua face superior. A sua extremidade anterio:
corticais, através da inibição e/ou estimulação de define em conjunto com o pilar anterior do trígo-
conexões entre o córtex e centros nervosos inferio- no, o buraco de Monro. A sua extremidade poste-
res. Estas estruturas são, portando, locais de con- rior, mais volumosa relaciona-se com a glândula
vergência de grande parte da informação transmi- pineal e com a lâmina quadrigémia. Nesta salien-
tida na substância branca cerebral. tam-se duas estruturas, os corpos geniculados me-
Neste capítulo abordaremos de forma mais exaus- dial e lateral, que se apresentam conectados res-
tiva o tálamo e o corpo estriado, constituído pelo pectivamente aos tubérculos quadrigémios infe-

Fig. 10.1 .40: Face Medial do Hemisfério Cerebral (Tálamo e Hipotálamo).


1. Tálamo (aderência intertalâmica) 2. Sulco Hipotalâmico ou de Monro 3. Plexo Coróideu 4. Tela Coróideía 5. Corpo Caloso (Debrum ou
esplénio} 6. Comissura Habenular 7. Glândula Pineal ou Epífise 8. Comissura Branca Posterior 9. Co!ículos Superiores 10. Colículos Inferiores
11. Aqueduto Cerebral ou de Sylvius 12. Cerebelo 13. Quarto Ventrículo 14. Protuberância 15. Hipófise ou Glândula Pituitária 16. Corpos
Mamilares 17. Quiasma Óptico 18. Mesencéfalo 19. Hipotálamo 20. Lâmina Terminal 21. Comissura Branca Anterior 22. Corpo Caloso (Bico
ou Rostro) 23. Septo Pelúcido 24. Corpo Caloso (Joelho) 25. Corpo Caloso (corpo ou tronco).

540
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: NÚCLEOS CINZENTOS CENTIWS

16 15 4 1
3
17 2

3 18

14

13 4

11 5
5

10
6

7
14
8

Fig. 10.1.41: Corte Axial do Cérebro ao nível dos Núcleos Cinzentos 9


Centrais.
1. Corpo Caloso (Joelho) 2. Cabeça do Núcleo Caudado 3. Cápsula Ftg. 10.1.42: Núcleos Cinzentos Centrais • Corte Coronal.
Extrema 4. Cótex da Ínsula 5. Trigono ou Fórnix 6. Tálamo 7. Plexo Linha Vermelha: Epêndima Linha Verde: Piamater 1. Corpo Caloso
Coróideu no Corno Occipital do Ventrículo Lateral 8. Cauda do Núcleo 2. Corpo do Núcleo Caudado 3. Plexo Coróideu do Ventrículo Lateral
Caudado 9. Cápsula Interna (Braço Posterior) 10. Globo Pálido 4. Trígono Cerebral ou Fórnix 5. Tálamo 6. Putamen 7. Globo
11. Putamen 12. Buraco Interventricular ou de Monro 13. Cápsula Pálido Lateral 8. Globo Pálido Medial 9. Plexo Coróideu do Corno
Externa 14. Claustrum ou Antemuro 15. Septo Pelúcido. Temporal do Ventrículo Lateral 10. Hipocampo 11. Tracto Óptico
12. Hipotálamo 13. Terceiro Ventrículo 14. Aderência tntertalâmka
15. ptexo Coróideu do Terceiro Ventrículo 16. Buraco Interventricular
rior e superior pelos respectivos braços conjunti- ou de Monro 17. Veia Cerebral Interna 18. Veia Tálamo-Estriada.

vais de substância branca. Entre a epífise e a lâ-


mina quadrigérnia, ao longo do comprimento do As lâminas de substância branca são em número
tálamo, encontra-se a ténia do núcleo habenular de duas. A lâmina medular lateral envolve late-
que vai desde a epífise atrás, onde se insere a tela ralmente o tálamo, é atravessada pelas aferências
coróideia do III ventrículo e por cima justapõe- e eferências talârnicas, sendo contígua interna-
-se o bordo lateral do trígono de cada lado. Infe- mente à cápsula branca interna. A lâmina medu-
riormente o tálamo relaciona-se com o hipotála- lar medial tem uma forma de duplo Y em orien-
mo (à frente), do qual está delimitado pelo sulco tação sagital, aberto à frente e atrás, delimitan-
de Monroe com o subtálamo (atrás). Lateralmen- do 4 sectores de núcleos cinzentos: anterior, pos-
te encontra-se relacionado com o núcleo cauda- terior, medial e lateral. Nos dois últimos é ain-
do, cujo corpo abraça a região lateral do tálamo, e da possível verificar uma divisão horizontal por
com a cápsula branca interna, que o separa do nú- finos septos de substância branca num segmen-
cleo lenticular. Os tálamos estão conectados entre to dorsal e num ventral. Pode ainda ser descrito
si na linha média através da cornissura intertalâ- um quinto sector de núcleos cinzentos, que es-
mica (Fig.10.1.42 a 10.1.45). tão localizados na espessura das lâminas medu-
Qyanto à sua configuração interior, o tálamo está lares. No total podem ser descritos um total de
envolvido completamente por uma camada de 13 núcleos em cada tálamo. Na tabela 10.1.1 es-
substância branca - estrato zonal e o seu interior tão representados os sectores, seus diferentes nú-
é formado por um aglomerado de núcleos cinzen- cleos, sintetizando as diferentes conexões dos di-
tos, separados entre si por lâminas de substância ferentes núcleos talâmicos e as suas respectivas
branca (Fig. 10.l.46A e B) funções.

541
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Fig. 10.1.43: Tronco cerebral e cerebelo.


1. Buraco de Monro 2. Tálamo 3. Aderência intertalâmica 4..Corpo
caloso 5. Fórnix 6. Tela Coroidea Ili ventrículo 7. Ampola de galeno Fig. 10.1.45: Tálamo e Tronco Cerebral, vista póstero-fateral.·
8. Glândula Pireal 9. Lâmina Quadrigémea 10. Cerebelo 11. Sulco de 1. Pulvinar do Tálamo 2. Corpo Geniculado·Lateral 3. Corpo Geriicu-
Monro 12. Hipotálamo lado Medial 4. Braços Conjuntivaís Superior e Inferior 5. Pedúnculo
Cerebral 6. Nervo Trigémio 7. Protuberância 8. Pedúnculo Cerebe-
19 20 loso Médio 9. Nervo Vestíbulo-Codear 1O. Nervo Facial 11. Bulbo
12. Quarto Ventrículo 13. Pedúnculo Cerebeloso Superior 14. Nel"\l'o
Trodear 15. Colículos Inferiores 16. Coliculos Superiores 17. Glân-
3 dula Pineal ou Epífise

16 4 Duma forma geral, o tálamo tem conexões com


todas as regiões do encéfalo, constituindo um lo-
14
cal central de regulação das diferentes funções
5
encefálicas. O tálamo recebe aferências espinhais
e do tronco cerebral de todas as vias sensitivas
6
e sensoriais à excepção da via olfactiva, e envia
7
eferências para as áreas sensitiva primária, audi-
8 tiva e visual primárias. Assim, os sectores poste-
rior, lateral dorsal e lateral ventral são importan-
9 tes locais de recepção de estímulos extero e in-
troceptivos. O tálamo tem ainda aferências e efe-
rências cerebelosas, do corpo estriado, do tronco
cerebral, do subtálamo e do córtex cerebral sen-
do um elemento fundamental da modulação da
11
função motora, através do seu sector lateral ven-
Fog. 10.1.44: Tálamo, Corpo e Como inferior do ventrículo lateral, vista tral (Fig. 10.1.47).
superior.
1. Corpo Caloso 2. Septo Pelúcido 3. Cabeça do Núdeo Caudado Podemos ainda distinguir um grupo de aferên-
4. Colunas do Trígono Cerebral ou Fórnix 5. Estria Terminal 6. Estria cias e eferências hipotalâmicas, límbicas e do cór-
Medular 7. Tálamo (Pulvinar) 8. Colículo ou Tubérculo Ouadrigémeo
Superior 9. Colículo ou Tubérculo Ouadrigémeo Inferior 10. Cerebelo tex cerebral fundamentais na formação e activa-
11. Sulco ou Rego Calcarino 12. Corno Posterior ou Occipital do ção da memória e na modulação dos estados emo-
Ventrículo Lateral 13. Calcar Avis 14. Eminência Colateral 15. Veia
Cerebral Interna 16. Hipocampo (Cabeça ou Pé) 17. Como Inferior ou cionais, funções estas centradas no sector anterior
Temporal do Ventrículo Lateral 18. Plexo Cor6ideu 19. Veia Tálamo e medial.
Estriada Superior 20. Buraco Interventricular (de Monro)

542
CONTROLO E INTEGRAÇÃO j SISTEMA NERVOSO CENTRAL: NÚCLEOS CINZENTOS CENTRAIS

Conexões
Núcleos Funções
Sectores
Aferentes Eferentes

:..-- Núcleos reticulares Formação reticular; córtex Regulação talâmica


Outros núcleos talâmicos
(LML) cerebral pelo córtex ?

Formação reticular, feixes Córtex cerebral, via outros Influência os níveis


Núcleo intralaminar
Inrralarnina.r (LMM) espino-talâmicos e vias núcleos do tálamo, corpo de vigília e estado de
trigeminais estriado alerta

Núcleo mediano
Formação reticular D esconhecido D esconhecido
(CIT)

- Feixe mamilotalâmico,
Tónus emocional,
Giro do cingulo, mecanismos da
Anterior Núcleo anterior giro do cingulo,
hipotálamo memória recente (pelo
hipotálamo
circuito de Papez)

Córtex pré-frontal, Córtex pré-frontal, Integração das


Dorso-medial hipotálamo, outros hipotálamo, outros informações somáticas,
Medial núcleos núcleos viscerais e olfactivas e
relação com estados
Ventro-medial Subtálamo e hipotálamo Subtálamo e hipotálamo emocionais

Formação reticular, Formação reticular,


substância negra, corpo substância negra, corpo Influencia a actividade
Ventral anterior
estriado, córtex pré-motor, estriado, córtex pré-motor, do córtex motor
Lateral tálamo tálamo
(ventral)
Tal como VA mas com
Influencia a actividade do
Ventral lateral maior input do cerebelo e
córtex motor
menor dos núcleos rubros

Ventral póstero- Vias trigeminais, via Área somatoestésica Constituinte das vias
medial gustativa primária sensitivas
Lateral
(ventral)
Ventral póstero- L emnisco espinhal e Área somatoestésica Constituinte das vias
lateral interno primária sensitivas

Dorsal lateral
Lateral Função de integração.
(dorsal) Dorsal lateral Modulam funções de
Córtex cerebral, outros núcleos talârnicos
Posterior linguagem ou visuo-
espaciais corticais
Pulvinar

Tubérculo quadrigémeo
inferior, lemnisco Radiações auditivas para
Gânglio geniculado
lateral (de ambos os giro transverso de H eshl Integra a via auditiva
Posterior medial
ouvidos, principalmente no lobo temporal
contralateral

Gânglio geniculado Radiações ópticas para o


Via óptica Integra a via óptica
lateral córtex visual ocipital
LML - lâmma medular lateral LMM - lâmina medular medial CIT - com1ssura mtertalâm,ca VA • ventral anterior

Tabela 10.1.1: Sectores, núcleos, cone)(ões aferentes, conexões eferentes e funções do tálamo.

543
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

13
3

12

10

11 2

10
9

Fig. 10.1.46A: Núcleos do Tálamo, vista superior. Fig. 10.1.46B: Núcleos do Tálamo, corte coronal.
Vermelho: Núcleos Laterais Amarelo: Núcleos Anteriores Azul: Núcleos Vermelho: Núcleos Laterais Amarelo: Núcleos Anteriores Azul:Nú~
Mediais cleos Mediais
1. Núcleo Anterior 2. Lâmina Medular Interna 3. Núcleo Ventral 1. Lâmina Medular Interna 2. Núcleos lntralaminares 3. Núcleo Dorsal
Anterior 4. Núcleo Ventral Lateral 5. Núcleo Dorsal Lateral 6. Núcleo Lateral Posterior 4. Lâmina Medular Ex.terna 5. Núcleo Reticular
Ventral Póstero Medial 7. Núcleo Ventral Póstero Lateral 8. Corpo 6. Núcleo Vent ral Póstero Lateral 7. Núcleo Ventral Póstero Medial
Geniculado Lateral 9. Corpo Geniculado Medial 10. Pulvinar 11. Nú- 8. Núcleo Centromediano 9. Grupo Medial 10. Núcleos Medianos
cleo Dorsal Lateral Posterior 12. Núcleo Dorso-Medial 13. Aderência 11. Núcleo Dorso Medial
lntertalâmica com Núcleos Medianos

Por fim, consideramos ainda um grupo de aferên- EPITÁLAMO


cias e eferências do tronco cerebral, formação reti-
cular e subtálamo que influenciam o estado de vi- Constituído pelo núcleo habenular e suas cone-
gília, função esta desempenhada pelos núcleos do xões e pela glândula pineal, que será abordada
sector intralaminar. noutro capítulo. O primeiro localiza-se medial-
mente à porção posterior do tálamo e através das
SUBTÁLAMO suas conexões com a amígdala (estria medularis),
com o hipotálamo (fórnix), com o tronco cere-
Situado abaixo do tálamo, acima do mesencéfa- bral, tálamo e formação reticular parece ser res-
lo e atrás do hipotálamo, mediaimente ao pálido ponsável por integração de informação olfactiva,
(do qual se separa pela cápsula branca interna) visceral e somática. A glândula pineal tem uma
apresenta uma estrutura complexa, da qual des- grande importância na modulação do ciclo so-
tacamos o facto de incluir as porções terminais no-vigília.
dos núcleos rubros e da substância negra. Distin-
gue-se ainda o núcleo subtalârnico (ou corpo de HIPOTÁLAMO
Luys), com forma de lente biconvexa, que esta-
belece conexões aferentes e eferentes com o cor- Abordado noutro capítulo.
po estriado (especificamente com o pálido), par-
ticipando na regulação extrapiramidal da função PÁLJDO
motora. A sua lesão pode conduzir a movimentos
anómalos, nomeadamente hemibalismo (projec- Será descrito no núcleo lenticular, no grupo de nú-
ção rápida, involuntária e inadvertida das exter- cleos telencefálicos, apesar de constituir um nú-
midades) e é um dos alvos de possível estimula- cleo diencefálico.
ção profunda para tratamento cirúrgico da doen-
ça de Parkinson.

544
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: NÚCLEOS CINZENTOS CENTRAIS

16

14

13

10 9

Fig. 10.1.47: Conexões do Tálamo com o Córtex Cerebral.


1. Núcleo Dorso-Medial 2. Aderência lntertalâmica com Núcleos Medianos 3. Núcleo Lateral Posterior 4. Núcleos Mediais 5. Pulvinar 6. Núcleo
Centro Mediano 7. Corpo Geniculado Medial (aferências da Via Auditiva) 8. Corpo Geniculado Lateral (aferências da Via Visual) 9. Núcleo Ventral
Póstero-Medial (aferências do Lemnisco Trigeminai e Via Gustativa) 10. Núcleo Ventral Póstero-Lateral (aferências do Lemnisco Medial e Espinhal);
11. Núcleo Reticular 12. Núcleo Ventral Lateral (aferências do Cerebelo) 13. Núcleo Ventral Anterior (aferências do Corpo Estriado e Substância
Negra) 14. Núcleo Lateral Dorsal 15. Núcleo Anterior 16. Lâmina Medular Interna com Núcleos lntralminares.

NÚCLEOS TELENCEFÁLICOS ça é volumosa e de forma arredondada, localiza-se


profundamente no lobo frontal, constituindo a pa-
NÚCLEO CAUDADO rede lateral do corno frontal do ventrículo lateral.
(FIG.10.1.48, 10.1.49) Apresenta-se unida por uma banda de substância
cinzenta interrompida por fibras da cápsula bran-
O núcleo caudado juntamente com o núcleo len- ca interna ao núcleo lenticular. O corpo é longo e
ticular constitui o corpo estriado. É um núcleo em diminui a sua espessura da frente para trás. Forma
forma de C, com chanfradura anterior, que abraça o pavimento do corpo do ventrículo lateral. A cau-
as faces látero-superior e inferior do tálamo, com o da é longa, inicia-se próxima da região posterior
qual se relaciona internamente e participa na for- do tálamo e inflecte-se para a frente, percorren-
mação das paredes dos ventrículos laterais. Lateral- do a profundidade do lobo temporal e terminando
mente relaciona-se com a cápsula branca interna, anteriormente na amígdala ou núcleo amigdalina.
que o separa do núcleo lenticular. Tem morfologia A cauda segue o contorno do ventrículo e vai
semelhante à de um cometa, podendo-se distin- constituir o tecto do corno temporal do ventrícu-
guir uma cabeça, um corpo e uma cauda. A cabe- lo lateral.

545
MANUAL DE ANATOMIA H UMANA

14
2

13

12

11

9 8

Fig. 10.1.48: Núcleo Caudado, esquema tridimensional. Fig. 10.1.49: Núcleo Caudado, esquema em plano axial.
1. Cabeça do Núcleo Caudado 2. Corpo do Núcleo Caudado 1. Corpo Caloso ijoelho} 2. Corno Frontal do Ventrículo Lateral
3. Ventrículo Lateral 4. Cauda do Núcleo Caudado 5. Quarto Ventrí- 3. Cabeça do Núcleo Caudado 4. Núcleo Lenticular 5. Claustrum
culo 6. Cerebelo. ou Antemuro 6. Tálamo 7. Cauda do Núcleo Caudado 8. Corno
Posterior ou Occipital do Ventrículo Lateral 9. Corpo Caloso (Debrum
ou Esplénio) 10. Terceiro Ventrículo 11. Braço Posterior da Cápsula
Interna 12. Joelho da Cápsula Interna 13. Buraco Interventricular ou
de Monro 14. Septo Pelúcido.

NÚCLEO LENTICULAR na. O!tanto à sua configuração interior é possível


(FIG. 10. 1.49, 10. 1.50) distinguir dois sectores distintos, um lateral ou
putámen e um outro medial ou pálido. O putá-
É um núcleo par, em forma de castanha ou de men tem um aspecto estriado e apresenta-se co-
lente biconvexa, menos espesso na região medial, nectado à cabeça do núcleo caudado, formando
localizado na profundidade dos hemisférios cere- o corpo estriado, de origem telencefálica. O pá-
brais, mais propriamente na profundidade da ín- lido tem uma coloração mais clara e está separa-
sula. Em corte axial apresenta uma forma aproxi- do do putámen por uma lâmina fina de substân-
madamente triangular, com uma base lateral, em cia branca (estria medular lateral) e tem origem
relação com a cápsula branca externa, um vértice diencefélica. Este é atravessado por uma outra lâ-
medial separado do tálamo pelo joelho da cápsu- mina de subtãncia branca, a estria medular me-
la branca interna e duas faces mediais, uma ante- dial, que o divide num segmento medial e outro
rior e outra posterior relacionada respectivamen- lateral (Fig. 10.1.50, 10.1.41).
te com o segmento anterior e com o segmento A região mais anterior onde o caudado se une
posterior da cápsula branca interna. Num corte ao putamen denomina-se de estriado ventral.
coronal continua a apresentar uma forma trian- O núcleo accumbens é a principal estrutura do
gular, mantendo uma base externa e um vértice estriado ventral e constitui uma importante in-
interno e duas faces mediais (uma superior e ou- terface entre o sistema límbico e motor, ten-
tra inferior). A face superior relaciona-se com a do também um papel central nos circuitos cere-
cápsula branca interna e com a cabeça do núcleo brais de recompensa. Cumpre funções emocio-
caudado e a face inferior relaciona-se anterior- nais, motivacionais e psicomotoras, estando en-
mente com a amígdala e posteriormente com o volvido em diversas patologias neuropsiquiátri-
segmento sublenticular da cápsula branca inter- cas (ver adiante Sistema Límbico).

546
CONTROLO E INT EGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: NÚCLEOS CINZENTOS CENTRAIS

6 CONEXÕES E FUNÇÕES DO CORPO


ESTRIADO

O corpo estriado é um dos elementos de modula-


ção do sistema motor. Apresenta conexões aferen-
tes e eferentes com os restantes elementos do sis-
tema motor, permitindo a sua modulação.
De uma forma geral, as aferências com origem no
córtex motor e pré-motor e sensitivo dirigem-se
para o núcleo caudado e putámen (fibras corti-
coestriadas), bem como dos núcleos intralamina-
res e ventral anterior e lateral (fibras tálamo-es-
triadas), da substância negra (fibras negro-estria-
das -dopaminérgicas) e de núcleos do tronco-ce-
rebral (fibras mesencéfalo-estriadas), onde a in-
Fig. 10.1.S0: Corpo Estriado. formação é integrada. Destes, é conduzida uma
1. Globo Pálido Medial 2. Lâmina Medular Interna 3. Globo Pálido
Lateral 4. Lâmina Medular Externa 5. Putamen 6. Núcleo Caudado
transmissão sináptica para o pálido (fibras estria-
Azul: Neoestriado Verde: Paleoestriado do-palidais), que por seu lado tem fibras eferentes
ou pálido-fugais que são conexões com o tálamo
CLAUSTRO OU ANTEMURO (ansa lenticularis), o núcleo subtalârnico (fibras
(F/G.1 0.1.41) pálido-subtalâmicas), outras estruturas do subtála-
mo (fascículo lenticularis) e o tronco cerebral (fi-
É um núcleo estreito e arciforme localizado late- bras palidotegmentais). Este circuito permite aos
ralmente ao putàmen e medialmente ao lobo da núcleos cinzentos da base influenciar a actividade
ínsula, dos quais está separado, respectivamente, das áreas motoras do córtex cerebral e de núcleos
pela cápsula branca externa e pela cápsula bran- motores do tronco cerebral, e através destes últi-
ca extrema. Apresenta conexões com as estrutu- mos, modular a própria via piramidal, por inter-
ras corticais e com os restantes núcleos da base e médio das vias extrapiramidais. O corpo estriado é
embora a sua função exacta seja ainda misteriosa, assim, a par com o cerebelo, um importante agen-
estudos indicam que é um centro de sincroniza- te modulador da função motora.
ção de diferentes modalidades cognitivas, percep-
tivas e motoras. APLICAÇÃO CLÍNICA

AMÍGDALA Sendo os núcleos cinzentos centrais agentes mo-


duladores por excelência, a sua lesão advém em
A amígdala é um conjunto nuclear, localizado na síndromes com sintomatogia complexa. Assim,
espessura do úncus do hipocampo e tem forma de uma lesão do tálamo, consoante os núcleos afec-
amêndoa. Encontra-se na terminação da cauda do tados pode ter consequências diversas, como por
núcleo caudado. Trata-se de um núcleo consti- exemplo a síndrome talâmica, que se traduz por
tuinte do sistema límbico e será descrita em maior dor espontânea no hernicorpo colateral, que acon-
pormenor aquando da descrição do sistema lím- tece em casos de recuperação de enfartes talâmi-
bico. Qyanto à sua função, parece estar relaciona- cos (relacionada com a importante função sensi-
da com impulsos primários, nomeadamente com tiva). Uma lesão talâmica pode ainda traduzir-se
o impulso sexual, o controlo da agressividade e da por movimentos involuntários do tipo coreoateté-
saciedade. A lesão bilateral da amígdala conduz a sicos (movimentos amplos e serpenteantes,irregu-
uma estado de hipersexualidade, hiperfagia e di- lares e não repetitivos) ou alterações posturais pa-
minuição da agressividade (síndrome de Klüver- tológicas (mão talâmica). A doença de Parkinson
-Bucy). é um exemplo típico de patologia que advém da

547
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

degeneração da substância negra, e em menor es- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


cala, do corpo estriado e do pálido. A degeneração
destes neurónios conduz a uma deficiente liber- Splittgerber, R. Snell's Clínica! Neuroanatomy. 8.•
tação de dopamina, que se traduz por um quadro edição. Wolters Kluwer, 2019.
clínico característico de tremor de repouso, rigi- Machado, ABM. Neuroanatomia Funcional. 3.•
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tos e atraso no início da execução dos mesmos) e Afifi, A.; Bergman, A. Functional neuroanatomy:
alterações posturais que conduzem a alterações do text and atlas. 2nd Edition. Me Graw-Hill
equihbrio. O tratamento da doença de Parkinson, Professional, 2005.
em certos casos selecionados, pode utilizar os co- Rouviere, H.; Delmas,A.Anatomie Humaine.
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trodos no globo pálido medial ou núcleo subtalâ-
Kahle, W.; Leonhardt, H.Anatomie: Systeme
mico, sendo que a sua estimulação eléctrica con-
Nerveux et organes dessens.Tome 3. Flammarion,
duz a uma melhoria da sintomatogia.
2002.

PERGUNTAS TIPO ***

1. Assinale a afirmação correcta relativamente


ao tálamo:
a. É um núcleo telencefálico.
b. Possui funções relacionas com o controlo
da vigília.
e. Recebe aferências de todas as vias sensó-
rio-sensitivas, sem excepção.
d. Os núcleos anteriores estão relacionados
com a sensibilidade térmica.
e. Os corpos geniculados fazem parte do sec-
tor medial.

2. Assinale a afirmação falsa:


a. O núcleo caudado tem uma função ain-
da misteriosa.
b. O principal núcleo receptor de aferências
no núcleo lenticular é o pálido.
e. O núcleo caudado apresenta importantes
relações com o sistema ventricular nas suas
diferentes porções.
d. Do pálido parte grande parte das conexões
eferentes que modulam o sistema motor.
e. O núcleo accumbens faz parte do estría-
do ventral.

:a-z :a-i
:S<lsodso11

548
HIPOTÁLAMO, EPITÁLAMO E ÓRGÃOS cidência - o tuber cinéreo- A parte mais ventral do
NEUROENDÓCRINOS tuber cinéreo é a eminência mediana. Esta conti-
nua-se com a haste infundibular que por sua vez
é contínua com o lobo posterior da hipófise. Em
INTRODUÇÃO secções coronais o hipotálamo é limitado lateral-
mente atrás pelo subtálamo, à frente e medialmen-
O J-Iipotálamo constitui a parte inferior do dien- te pelo III ventrículo (Fig.10.1.52).
céfalo. É formado de cada lado por um conjun-
to de núcleos com grande importância na regula-
ão de múltiplos aparelhos e sistemas. Apesar de DIVISÕES E NÚCLEOS DO HIPOTÁLAMO
~er apenas cerca de 4g e constituir cerca de 0,3- (FIG.10. 1.52, 10. 1.53)
0 5% do volume total do cérebro, é uma das zonas
~ais importantes do sistema nervoso pois consti- O Hipotálamo é atravessado de cada lado pelo
tui a sede de controlo central das funções vegetati- pilar anterior do trígono que se dirige de cima
vas, do sistema endócrino, através das suas relações para baixo e da frente para trás terminando no
com a hipófise, dos ritmos circundiários e perten- respectivo corpo mamilar. Relativamente ao pi-
ce ao sistema límbico. lar anterior do trígono é possível dividir o Hi-
Dispõe-se ao longo das paredes laterais do III potálamo numa área medial pobre em fibras de
ventrículo, abaixo do sulco hipotalâmico (Monro), mielinicas, onde predominam núcleos de subs-
que o sep~a do tálamo, situado acima e atrás (Fig. tância cinzenta, e numa área lateral onde predo-
10.1.51). E limitado à frente pela comissura ante- minam as fibras mielinizadas de direcção longi-
rior, lâmina terminal e quiasma óptico; posterior- tudinal do feixe prosencefálico medial que liga a
mente pela fossa interpeduncular. Na sua superfl:- área septal, o hipotálamo e o tegmento do me-
cie ventral, caudalmente ao quiasma óptico, o hi- sencéfalo. O Hipotálamo medial pode ainda ser
potálamo estreita-se formando uma pequena pro- dividido em Hipotálamo supraóptico ou supra-

Fig. l0.1 .40: Face Medial do Hemisfério Cerebral (Tálamo e Hipotálamo).


1
· Tálamo (aderência intertalâmica) 2. Sulco Hipotalâmico ou de Monro 3. Plexo Coróideu 4. Tela Coróideia 5. Corpo Caloso (Oebrum ou
~splénio) 6. Comissura Habenular 7. Glândula Pineal ou Epffise 8. Comissura Branca Posterior 9. Colículos Superiores 10. Colículos Inferiores
~- ~queduto Cerebral ou de Sylvius 12. Cerebelo 13. Quarto Ventrículo 14. Protuberância 15. Hipófise ou Glândula Pituitária 16. Corpos
amilares 17. Quiasma Óptico 18. Mesencéfalo 19. Hipotálamo 20. Lâmina Terminal 21. Comissura Branca Anterior 22. Corpo Caloso {Bico
ou Rostro) 23. Septo Pelúcido 24. Corpo Caloso (Joelho) 25. Corpo Caloso (corpo ou tronco).

549
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

15
12

16

17
11
3
2
26
25
20
4 24

23 22 21 19 18
6 9

B
27
28 29

30

34 31

36
32

3 5 -- - --

37
38
H
Fig. 10.1.52: Hipotálamo: cortes coronais de anterior (A) para posterior (C).
A: 1. Buraco de Monro 2. Colunas ou Pilares do Trígono/Fórnix 3. Ansa Lenticular 4. Núcleo Paraventricular 5. Área Hipotalâmica Lateral
6. Área Hipotalâmica anterior 7. Núcleos Periventriculares 8. Quiasma Óptico 9. Núcleo Supra-Óptico 10. Terceiro Ventrículo
B: 11. Feixe Mamilo-Talâmico 12. Terceiro Ventrículo 13. NúcleoCaudado 14. Tálamo 15. Braço Posterior da Cápsula Interna 16. Putamen 17. Globo
Pálido 18. Via Óptica 19. Núcleo Supra-Óptico 20. Área Hipotalâmica Lateral 21. Núcleos Tuberais 22. Núcleos Arqueados 23. Núcleos
Periventriculares 24. Núcleo Ventre-Medial 25. Núcleo Dorso-Medial 26. Área Hipotalâmica Dorsal
C: 27. Tálamo 28. Terceiro Ventrículo 29. Campos de Forel 30. Putamen 31. Globo Pálido 32. Hipocampo 33. Feixe Mamilo-Talâmico 34. Área
Hipotalâmica Posterior 35. Núcleos Mamilares 36. Decussação Supra-Mamilar 37. Área Hipotalâmica Lateral 38. Núcleo Subtalâmico

quiasmático (anterior), tuberal (médio) e mami- telencéfalo) que se estendem da comissura anterior
lar (posterior). até ao quiasma, imediatamente atrás da lâmina ter-
minal. A zona pré-óptica recebe muitas fibras que
HIPOTÁLAMO MEDIAL transportam neuromediadores como a angiotensi-
na II, péptidos indutores do sono e encefalinas/en-
O Hipotálamo supraóptico compreende a parte si- dorfinas. Contém os núcleos pré-óptico medial e
tuada acima do quiasma óptico até ao sulco hipo- lateral e atrás os núcleos pré-ópticos periventricu-
talâmico. Inclui a zona pré-óptica com os núcleos lares. No núcleo pré-óptico medial produz-se hor-
pré-ópticos (que derivam embriologicamente do mona libertadora de gonadotrofinas (GRH) que

550
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: HIPOTÁLAMO

23 sina actua nos tubos contornados distais do rim


e promove a reabsorção de água; a sua produção
é controlada pela osmolaridade sanguínea. Exis-
tem ainda outros núcleos mais pequenos como
o núcleo supra-quiasmático e núcleos periven-
triculares. O núcleo supraquiasmático, pouco de-
senvolvido no homem, está por cima do quiasma
óptico e está envolvido na regulação dos ritmos
circadianos. Recebe aferências das células gan-
glionares da retina e envia eferências para o hi-
potálamo tuberal. Atrás temos as áreas hipotalâ-
rnicas anterior e lateral que continuam as áreas
pré-ópticas.
O Hipotálamo tuberal compreende o tuber ciné-
reo, ao qual se liga o infundíbulo, e toda a área si-
tuada acima dele até ao sulco hipotalâmico. É a
zona maior do hipotálamo e onde a divisão entre
hipotálamo medial e lateral, pela interposição do
pilar do fórnix, é mais evidente. Algumas células
14
do núcleo supraóptico continuam a ser visíveis.
Fig. 10.1.53: Disposição geral, núcleos e fibras.
1.CorpoCaloso 2.Fórnix 3. Tálamo 4.Aderência lntertalâmica 5. Feixe
A área ou núcleo anterior dá origem aos dois
Mamilotalâmico 6. Núcleo Dorsomedial 7. Área Posterior 8. Aqueduto núcleos principais desta região que são o nú-
deSyfvius 9. Núcleo Rubro 1O. Feixe Longitudinal Mediano 11. Fibras
cleo ventromedial, maior, e o núcleo dorsome-
Descendentes Hipotalâmicas 12. Corpos Mamilares 13. Núcleo Ven-
tromedial 14. Haste da Hipófise 15. Quiasma Óptico 16. Via Olfactiva dial, menos desenvolvido. O núcleo ventrome-
17. Núcleo Supraoptico 18. Área Hipotalâmica Anterior 19. Núcleo
dial está relacionado com a saciedade (o centro
Pré-Óptico medial e lateral 20. Feixe Prosencefálic Medial 21. Área
Hipotalâmica Lateral 22. Comisura Anterior 23. Núcleo Paraventri- da fome está localizado no hipotálamo lateral).
cular 24. Ventrículo Lateral Na base do infunclfbulo situam-se os núcleos in-
fundibulares ou arqueados cujas células contor-
chega à hipófise anterior pela via tuberoinfundibu- nam o recesso infundibular. Estes núcleos con-
lar estando relacionado com funções como a repro- têm dopamina e controlam a secreção de Prolac-
dução, a locomoção e o estímulo sexual; é um nú- tina e Hormona de Crescimento. Desempenham
cleo dismórfico sexual porque é cerca de duas vezes também um papel importante no controlo emo-
mais desenvolvido no homem do que na mulher. cional e hormonal. São o alvo principal para a ac-
Na porção mais caudal desta zona localizam-se ção da leptina, que suprime a ingestão de comi-
dois núcleos - o núcleo supra-óptico e o núcleo da. Na área lateral distinguem-se ainda os nú-
paraventricular. O núcleo supra-óptico subdivi- cleos tuberais.
de-se em duas partes, uma anterior e lateral e ou- O Hipotálamo mamilar compreende os corpos
tra posterior e medial em relação ao nervo ópti- mamilares e a parte da parede do III ventrícu-
co. O núcleo paraventricular está localizado jun- lo acima deles até ao sulco hipotalâmico. Os cor-
to do III ventrículo, ventralmente ao pilar do fór- pos ou tubérculos mamilares constituem a par-
nix. Ambos os núcleos contém neurónios secre- te mais caudal do hipotálamo e são duas mas-
tores magnocelulares que atravessam a haste pi- sas esféricas que fazem procidência na face ven-
tuitária para atingir o lobo posterior da hipófise; tral do cérebro, posteriormente ao tuber cinereum
estas secreções consistem nas hormonas oxitoci- e anteriormente à fossa interpeduncular. Os cor-
na e vasopressina (ver hipófise). A oxitocina cau- pos mamilares são compostos por um núcleo me-
sa contracção do músculo liso do útero e promo- dial, maior, e por um lateral, em posição dorsola-
ve a ejecção do leite pela contracção das células teral. Estão envolvidos por uma cápsula de mie-
mioepiteliais da glândula mamária. A vasopres- lina formada por fibras aferentes e eferentes.

551
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

A cápsula medial é constituida pelo feixe mami- sidade ao núcleo supraquiasmático, que desempe-
lotalâmico (Vicq d'Azyr) e pelo feixe mamiloteg- nha um papel importante na regulação dos ritmos
mental (Gudden), fibras eferentes do hipotálamo circundiários.
para o núcleo anterior do tálamo e tegmento do
mesencéfalo, respectivamente. A cápsula lateral é 4. Hipocampohipotalâmica
constituída pelo pilar anterior do fórnix, aferente Têm origem nas células piramidais do hipo-
proveniente do hipocampo. No seu contorno exis- campo e subículo e chegam aos corpos mamila-
tem núcleos satélites como o núcleo pré-mami- res através do trígono ou fórnix. Ao nível da co-
lar, núcleo intercalado e os núcleos supramamila- missura anterior algumas fibras destacam-se e li-
res. Nesta zona a área hipotalâmica lateral encon- gam-se à zona préoptica e tuberal.
tra-se reduzida e surge uma nova massa de células,
o núcleo posterior. Esta é a principal fonte de fi- 5. Amigdalohipotalâmicas
bras descendentes para o tronco cerebral. Com origem no complexo amigdalino, estas fi-
bras seguem um trajecto arciforme ao longo do
núcleo caudado formando a Estria terminal. Es-
CONEXÕES DO HIPOTÁLAMO tas fibras terminam na região préoptica e ventro-
medial do hipotálamo. Existe outra via, amigda-
O Hipotálamo, apesar de anatomicamente peque- lofugal, cujas fibras passam inferiormente ao nú-
no, tem muitas conexões com outras áreas do Sis- cleo lenticular e terminam no hipotálamo lateral.
tema Nervoso, reflectindo o seu papel na integra-
ção endócrina, autonómica e somática. A maior 6. Corticohipotalâmicas
parte dessas vias funciona nos dois sentidos; umas Qie têm origem no lobo frontal e passam di-
formam feixes bem definidos, outras são de difí- rectamente ou através do tálamo, via fibras tála-
cil individualização. As conexões aferentes e efe- mohipotalâmicas (com origem no núcleo dorso-
rentes são numerosas e complexas, as mais impor- medial do tálamo) ao hipotálamo. As que têm
tantes são: origem no córtex orbitofrontal terminam no hi-
potálamo posterior e as que têm origem no cór-
CONEXÕES AFERENTES DO HIPOTÁLAMO tex préfrontal medial terminam no hipotálamo
(FIG.10. 1.54) anterior e tuberal.

1. Viscerais e Somáticas 7. Tálamohipotalâmicas


Chegam ao hipotálamo através de colaterais dos Fibras com origem no núcleo dorsomedial e nú-
lemniscus (feixes de fibras sensitivas) e da For- cleos da linha média do tálamo e que chegam ao
mação Reticular. hipotálamo lateral e posterior. Chegam também
algumas fibras dos núcleos anteriores do tálamo
2.Olfactivas via feixe mamilotalâmico.
Através do feixe prosencefálico medial. Este tem
origem na região olfactiva periamigdalina e sep- 8. Feixe Prosencefálico Medial
tal, e chega à região préoptica e lateral do hipo- Ocupa o hipotálamo lateral e transporta infor-
tálamo. Fazendo ponte sobre o hipotálamo, es- mações para o hipotálamo provenientes de várias
tas fibras também chegam às habénulas via estria outras zonas do SNC: córtex olfactivo, área sep-
medular do tálamo. tal, núcleo Accumbens, amígdala, córtex préfron-
tal, tronco cerebral (núcleos da rafe, locus ceru-
3. Retinohipotalâmicas leus, núcleo do tracto solitário) e medula espi-
Fibras provenientes das células ganglionares da re- nhal.
tina projectam-se para os núcleos supraquiasmá-
ticos seguindo fibras do nervo e quiasma óptico. 9. Fibras que ascendem do tronco cerebral atra-
Esta via transmite informação quanto à lumino- vés do feixe longitudinal dorsal (Schütz) e unem

552
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: HIPOTÁLAMO

arte superior do mesencéfalo (substância cin- mina nos núcleos da calote mesencefálica e nas cé-
3 Pta periaqueductal) ao hipotálamo medial. lulas da formação reticular.
zen
_pedúnculo Mamilar Inferior 3. Fibras descendentes
10
feixe de fibras que une os núcleos dorsais e ven- Para o tronco cerebral e medula espinhal, com ori-
·s do tegmento do mesencéfalo aos corpos
tf31
gem no hipotálamo (núcleo paraventricular, zo-
rnamilares. nas hipotalâmica lateral e posterior); estas fibras
chegam directamente ou via formação reticular à
11- fibras Pálidohipotalâmicas e Cerebelohipo- porção craniosagrada e toracolombar do Sistema
calãmicas que têm origem no núcleo lenticular Nervoso Parassimpático e Simpático respectiva-
e núcleos cerebelosos e terminam no hipo tála- mente.
rno ventromedial e lateral/posterior respectiva-
rnente. 4. O Fórnix, Feixe Prosencefálico Medial, Feixe
Longitudinal Dorsal, Estria Terminal e feixes que
14 unem o hipotálamo ao tálamo, cerebelo e córtex
pré-frontal são vias que funcionam nos dois senti-
3 dos (aferentes e eferentes).

5. Fibras hipotálamohipofisárias (ver adiante).

Para além das fibras aferentes e eferentes do hipo-


tálamo com outras zonas do SNC existem fibras
4
comissurais que permitem a comunicação na li-
nha média dos vários núcleos hipotalâmicos como
5 a comissura supraóptica dorsal (Ganser) e ventral
(Gudden) e a cornissura supra mamilar.

6 CONEXÕES DO HIPOTÁLAMO COM A


HIPÓFISE (EIXO NEUROENDÓCRINO)

O Hipotálamo tem conexões apenas eferentes


Fig. 10.1.54: Conexões do Hipotálamo.
com a hipófise. Esta estrutura é composta por duas
1. NúcleoTalãmicoAnterior 2. Núcleo Dorso-Medial do Tálamo 3. Corpo porções, um lobo anterior ou adenohipófise, que é
Caloso 4. Feixe Longitudinal Dorsal 5. N úcleos Mamilares 6. Feixe
Longitudinal Mediano 7 . Hipocampo 8. Amígdala 9 . Via Amigda-
uma glândula endócrina, e por um lobo posterior
lo•Fugal Ventral 10. Bulbo O lfactivo 11 . Comissura Branca Anterior ou neurohipófise, que constitui um prolongamen-
12. Feixe Mamílotalâmico 13. Fórnix 14. Estria Terminal; 15. Cíngulo
to do pavimento do diencéfalo. A particular vas-
cularização da hipófise permite o estreito contac-
CONEXÕES EFERENTE$ DO HIPOTÁLAMO to entre a componente nervosa e endócrina vascu-
lar. Este sistema vascular que é um sistema porta é
1. Feixe mamilotalâmico (Vicq d'Azyr) formado pela artéria hipofisária superior e inferior,
Qye tem origem nos núcleos mamilares e termina ramos da carótida interna, que formam redes ca-
nos núcleos anteriores do tálamo. Destes núcleos a pilares interpostas por veias.
via segue a circunvolução do cíngulo fazendo a co- As conexões entre o hipotálamo e a hipófise fa-
municação entre o hipotálamo e o córtex límbico, zem-se essencialmente por duas vias: a via hipo-
integrando o circuito de Papez. tálamohipofisária e a via tuberohipofisária ou tu-
beroinfundibular:
2. Feixe mamilotegmental (Gudden)
Também com origem nos núcleos mamilares, ter-

553
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

VIA HIPOTÁlAMOHIPOFISÁRIA 11
(FIG.10.1.55)

Esta via é formada por fibras com origem nos neu-


rónios magnocelulares dos núcleos supraóptico e
paraventricular do hipotálamo e termina na neu-
rohipófise. As células nervosas do hipotálamo pro-
duzem as hormonas oxitocina e vasopressina (hor-
mona antidiurética) que vão juntamente com pro-
teínas transportadoras (neurofisinas) através dos
neurónios e são libertadas no terminal aJCónico
destas células para a corrente sanguínea autónoma
no lobo posterior da hipófise. A esta processo cha-
ma-se neurosecreção.
A vasopressina é produzida principalmente pela
células do núcleo supraóptico. A sua função con-
6
siste em causar vasoconstrição e antidiurese, au-
mentando a reabsorção de água no Tubo Contor- 9

nado Distal e tubos colectores do rim funcionan-


do como um osmorreceptor. A oxitocina é produ- Fig. 10.1.55: Conexões com a Neurohipófise.
1. Células Neurosecretoras 2 . Núcleo Paraventricular 3. Hipotálamo
zida maioritariamente pelo núcleo paraventricu- 4. Artéria 5. Terminais Axónicos que libertam hormonas nos capilares
lar e a sua principal função consiste na estimula- 6. Leito Capilar 7. Neurohipófise ou Hipófise Posterior 8. Veia
9. Adenohipófise ou Hipófise Anterior 10. lnfundibulo 11. Núcleo
ção da contracção uterina e das células mioepite- Supra-Óptico.
liais das glândulas mamárias tendo um papel im-
portante peri-parto. 2

VIA TUBEROINFUNDIBUlAR
(FIG. 1O. 1.56)

É constituída por fibras neurosecretoras que se


originam em neurónios parvocelulares do núcleo
arqueado e do hipotálamo tuberal (núcleo ventro-
medial e dorsomedial) e terminam nas haste in-
fundibular em pequenas veias especiais, veno por-
ta hipofisárias. Este sistema porta conduz substân-
cias estimuladoras e/ou frenadoras da secreção, do
hipotálamo para as células secretoras da adenohi-
pófise. Todas as hormonas adenohipofisárias têm
1t l.l
factor de libertação e algumas têm também de ini-
bição da libertação (Tabela 10.1.2). V
l! a/ ~! 00\ a\\ 6
11 10 9
FUNÇÕES DO HIPOTÁLAMO Fig. 10.1.56: Conexões com a Adenohipófise.
1. Hipotálamo 2. Células Neurosecretoras produzem ADH e Oxitocina
3. Células Neurosecretoras produzem factores de libertação e inibição
O Hipotálamo influencia todos os fenómenos que da libertação de hormonas 4. Neurohipófise 5. ADH para os túbulos re-
permitem manter a homeostase, ou seja, a manun- nais 6. Oxitocina para músculo liso do útero 7. Oxitocina para a glândula
mamária 8. TSH para estimular hormonas tiroideias 9. ACTH para
tenção do meio interno de forma a permitir o fun- córtex supra-renal 1 O. PRL para glândula mamária 11. GH para teci-
cionamento dos órgãos e a assegurar as necessi- dos e ossos 12. FSH e LH para ovários e testículos 13. Adenohipófise
14. Sistema Porta Hipofisário
4

554
CONTRO LO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: HIPOTÁLAMO

a Reguladora Hipotalâmica Hormona da Pituitária Anterior Função


f-1ort11ºn
i.----na Libertadora da H ormona de Estimula crescimento linear nas
f-lorrno Hormona de Crescimento (GH )

---
crc:scirnento (GHRH) cartilagens epi.fisárias

J-lorrnona Inibidora da Libertação da


Reduz o crescimento linear nas
J-lorrnona de C rescimento (GH IH) ou Hormona de Crescimento (redução da produção)
cartilagens epifisárias

-Somatostat:1na

f-lormona Libertadora de Prolactina


(PRHl
Prolactina (Hormona Luteotrófica, LT H ) Estimula a lactogénese

-}-lormona Inibidora da Produção de


Pro!actina (PIH), Dopamina
Prolactina (Hormona Luteotrófica, LT H) (redução da
produção)
Reduz a lactogéncsc

Estimula a glândula supra-renal


Hormona Libertadora de Corticotrofina
H ormona Adrenocorticotrófica (ACTH) a produzir corticocsteróides e
(CRH) hormonas sexuais

Horrnona Libertadora de Tirotrofina Estimula a glândula tiroideia a


H ormona Estimuladora da Tiroideia (T SH)
(TRH) produzir tiroxina

Hormona Libertadora de Hormona Estimula os foliculos do ovário


H ormona Luteinizante (LH) e hormona Folículo-
Lureinizantc (LH) e Foliculo- e a produção de estrogénios e
Estimulante (FRH)
Estimulante (FRH) progesterona

Tabela 10.1.2: As hormonas hipotalâmicas estimuladoras e inibidoras da libertação hormonal no lobo anterior da hipófise

dades corporais. Para exercer essas funções o hi- Neurosecreção (Neurohipófise)


potálamo regula o Sistema Nervoso Autónomo,
o Sistema Endócrino, controla processos como a Como já foi referido anteriormente, através da se-
temperatura corporal, equihôrio hidroelécrolítico, creção de oxitocina e vasopressina pelos núcleos
fome, sede, sexo, emoções,etc. As suas principais supraóptico e paraventricular nos capilares fenes-
funções são: trados da nerohipófise o hipotálamo permite a
contracção uterina e das células mioepiteliais da
Controlo do Sistema Nervoso Autónomo glândula mamária e a regulação da diurese e os-
molaridade respectivamente.
O Hipotálamo controla os centros autonómi-
cos do tronco cerebral e medula espinhal pre- Controlo do Sistema Endócrino (Adenohi-
servando assim a homeostasia corporal. A esti- pófise)
mulação eléctrica em áreas específicas do hipo-
tálamo demonstrou que a área hipotalâmica an- O hipotálamo controla a produção de hormonas
terior e medial (préoptica e supraóptica) deter- por parte da adenohipófise ao produzir factores li-
minam respostas parassimpáticas com diminui- bertadores ou inibidores da libertação dessas hor-
ção da pressão arterial, aumento do peristaltis- monas. O s factores tróficos são libertados nos ca-
mo, diminuição da frequência cardíaca, salivação, pilares da eminência mediana onde chegam à ade-
constrição pupilar, etc. Qyando se estimula o hi- nohipófise via sistema porta- hipofisário. As prin-
potálamo posterior e lateral predominam as res- cipais hormonas hipotalâmicas reguladoras são:
postas simpáticas como aumento da pressão ar- a hormona libertadora da Hormona de Cresci-
terial, aumento da frequência cardíaca, dilatação mento (GHRH), a hormona inibidora da liber-
pupilar, etc. tação da Hormona de Crescimento ou Somatos-
tatina (GHIH), a hormona libertadora e inibido-
ra da libertação da Prolactina (PRH e PIH ou do-

555
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

pamina) a hormona libertadora de Corticotropi- límbico e córtex préfrontal. O hipotálamo re-


na (CRH), a hormona libertadora de Tirotropi- cebe e integra aferências provenientes de outras
na (TRH) e a hormona libertadora de Cortico- áreas do SNC e permite a expressão das emo-
tropinas (GnRH), entre outros. As principais hor- ções como o medo, a raiva, através de modifica-
monas adenohipofisárias são a hormona de cres- ções do SNA.
cimento (GH), prolactina (LTH), hormona adre-
nocorticotrópica (ACTH), hormona estimulado- Controlo do Ritmo Circadiário
ra da tiroide (TSH), hormona luteinizante (LH),
hormona estimuladora folicular (FSH). Todas es- Também da responsabilidade do hipotálamo é a
tas hormonas influenciam os tecidos e as activida- regulação da maioria dos ritmos circadiários tais
des corporais. como a temperatura corporal, níveis circulantes de
leucócitos eosinófilos, da glicémia, da actividade
Regulação da Temperatura Corporal do córtex suprarenal, do sono e da vigília, funcio-
nando como um relógio interno do organismo.
É no hipotálamo que é regulada a temperatura cor- O principal centro regulador é o núcleo supra-
poral. Através de termorreceptores periféricos e de quiasmático cuja destruição abole alguns des-
neurónios do próprio hipotálamo este é informa- te ritmos. Este núcleo recebe informações da re-
do da temperatura corporal e é activado no senti- tina sendo informado acerca da luminosidade ex-
do da perda ou conservação de calor. A parte ante- terior. Gera impulsos que transmite a outros nú-
rior do hipotálamo é o centro da perda de calor ac- cleos hipotalâmicos controlando e sincronizan-
tuando através da vasodilatação periférica e sudo- do os ritmos com as variações claro/escuro. Re-
rese. A parte posterior é o centro da conservação de gula também a secreção de melatonina pela glân-
calor. Estirnulções desta área levam ao aumento da dula pineal.
temperatura corporal através da vasoconstrição pe-
riférica, tremor muscular e diminuição da sudorese. Ciclo SonoMgília

Regulação da Fome e da Sede Existe um centro do sono no hipotálamo anterior


e um centro da vigília no hipotálamo posterior.
Pode distinguir-se no hipotálamo um centro da O sistema orexina/hipocretina que está localizado
fome, situado no hipotálamo lateral e um centro no hipotálamo lateral é o principal sistema neu-
da saciedade no núcleo ventromedial. Estimulação romodulador excitatório que controla os sistema
na primeira área origina um aumento do aporte de monoaminérgicos e colinérgicos responsáveis pe-
comida, na segunda origina uma recusa alimentar los estados de vigília.
persistente. Lesões destrutivas destas áreas causam
efeitos opostos aos da estimulação. Recentemente Memória
descobriu-se no hipotálamo lateral neurónios con-
tendo orexina/hipocretina, péptidos conhecidos O hipotálamo (corpos mamilares) também de-
por estimular a ingestão de comida. Distingue-se sempenha um papel na memória através das suas
também na região lateral do hipotálamo um cen- ligações ao hipocampo e núcleos anteriores do
tro da sede cuja estimulação origina um aumento tálamo.
imediato do aporte hídrico. Juntamente com a ac-
ção da vasopressina é assim mantida a osmolari- Estímulo Sexual
dade sanguínea.
Muitas das áreas cerebrais conhecidas por ter um
Regulação do Comportamento Emocional papel importante na estímulação sexual têm co-
nexões recíprocas com o hipotálamo tais como o
Os comportamentos emocionais são mediados cíngulo anterior, córtex préfrontal e orbitofrontal,
pelas interrelações entre o hipotálamo, sistema amígdala, estriado ventral e tálamo.

556
CONTROLO E INTEGRAÇÃO [ SISTEMA NERVOSO CENTRAL: HIPOTÁLAMO

2
CONSIDERAÇÕES ANATOMO-CLÍNICAS

Dadas as inúmeras conexões e funções do hipo-


tálamo é de prever que qualquer tipo de patologia
que o afecte, como neoplasias, lesões vasculares,
compressões extrínsecas por tumores ou hidroce-
falia, originem alterações homeostáticas ou com-
portamentais que se vão traduzir em diversos sín-
dromes consoante o sector funcional do hipotála-
mo afectado:
• Obesidade/Caquexia - como resultado de le-
sões hipotalâmicas; a obesidade constitucio-
nal está muitas vezes associado a hipoplasia
10
ou atrofia genital;
• Distúrbios sexuais - com retardamento ou
Fig. 10.1.57A: Epitálamo e Epifise: Vista Lateral.
precocidade sexual, impotência ou amenor- 1. Comissura branca anterior 2. Septo Pelúcido 3. Corpo Caloso
4. Trígonocerebral 5. Tálamo 6. Habénu1aouestria medular 7.Comissura
reia; habenular 8. Glândula pineal ou Epífise 9. Comissura branca posterior
• Hipertermia ou hipotermia - que podem se- 10. Hipotálamo.
guir-se a lesões hipotalâmicas provocadas por
exemplo por traumatismos cranianos graves;
19 20
• Diabetes Insipidus - como resultado de le-
são no núcleo supraóptico ou interrupção do
trajecto da vasopressina para a neurohipófise.
O doente tem muita sede, bebe grandes
quantidades de água e excreta grande quan- 16 4

tidade de urina;
• Alterações do sono como insónias ou perío- 14
dos de sono diurnos;
• Alterações emocionais como ataques de rai- 6
va, episódios maníacos ou depressivos, riso in-
controlável e inexplicável, etc.
8

EPITALAMO (EPITALAMO E EPfFISE) 9

(FIG.10. 1.57A, 1O. 1.578 )

O Epitálamo é uma estrutura diencefálica que se


encontra por cima e por detrás do tálamo, que con- 12
11
15

tém formações neurais e endócrinas. Compreen-


Fig. 10.1.578: Epitálamo e Epífise: Vista Superior.
de a Epífise ou glândula pineal, a habénula com 1. Corpo Caloso 2. Septo Pelúcido 3. Cabeça do Núcleo Caudado
os núcleos habenulares, a comissura habenular, a 4. Colunas do Trígono Cerebral ou Fórnix 5. Estria Terminal 6. Estria
Medular 7. Tálamo (Pulvinar) 8. Colículo ou Tubérculo Ouadrigémeo
estria habenular do tálamo e a comissura branca Superior 9. Colículo ou Tubérculo Ouadrigémeo Inferior 10. Cerebre-
posterior ou epitalârnica. Entre a habénula e a co- lo 11. Sulco ou Rego Calcarino 12. Corno Posterior ou Occipital do
Ventrículo Lateral 13. Calcar Avis 14. Eminência Colateral 15. Veia
rnissura posterior, à frente da glândula pineal, en-
Cerebral Int erna 16. H ipocampo (Cabeça ou Pé} 17. Corno Inferior ou
contra-se o recesso pineal. Temporal do Ventrículo Lateral 18. Plexo Coróideu 19. Veia Tálamo
Estriada Superior 20. Buraco Interventricular (de Monro)
A Epífise é um pequeno órgão neuroendócrino
em forma de pinhão (daí o nome pineal) localiza-
da acima da lâmina quadrigémea, na parede poste-

557
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

MELATONINA

4 2
3

Fig. 10.1.58: Epitálamo • A glândula pineal e a secreção de melatonina.


1. Glândula Pineal 2. Estimulação durante a noite 3. Secreção de Melatonina 4. Inibição durante o dia 5. Núcleo Supraquiasmático 6. Via
Retino-Hipotalâmica 7. Retina 8. Luz

rior do III ventrículo. Na transição da lâmina qua- produzida pela pineal, denominada "me!atonina".
drigémea para a epífise encontra-se a comissura Durante o dia as fibras simpáticas têm pouca ac-
posterior, uma das principais comissuras dience- tividade e a quantidade de melatonina na pineal e
fálicas, que constitui o pedúnculo inferior da epí- circulação são muitos baixos. À noite a inervação
fise e marca o limite entre o diencéfalo e o me- simpática é activada e os níveis de melatonina cir-
sencéfalo. Nos vertebrados inferiores, por exemplo culante aumentam cerca de dez vezes. A síntese de
nos peixes, anfibios e alguns répteis, a epífise é um melatonina obedece assim a um ritmo circadiário
órgão fotosensível que recebe os estímulos lumi- com pico durante a noite e que depende da activi-
nosos através da pele ou crânio, regista as altera- dade rítmica do núcleo supra-quiasmático do hi-
ções de luminosidade e influencia deste modo va- potálamo. Admite-se também que no homem a
riações de pigmentação cutânea ou mudanças no epífise e a melatonina tenham uma acção inibitó-
comportamento do animal. Nos vertebrados su- ria na maturação dos órgãos sexuais até à puber-
periores e no homem as células diferenciam-se em dade exercendo uma actividade antigonadotrófica.
pinealocitos agrupados em lóbulos separados por A Habénula (Fig. 10.1.59), formação nervosa si-
septos de tecido conjuntivo, passando assim a ser tuada entre a glândula pineal e a parte posterior
um órgão parenquimatoso e secretor. A Epífise do da face medial do tálamo, constitui o pedúnculo
adulto pode conter calcificações que aparecem nos superior da epífise. C om a forma de um peque-
exames de imagem. É uma glândula muito vas- no triângulo prolonga-se para a frente ao longo do
cularizada e os capilares possuem fenestrações ao tálamo até ao hipotálamo anterior formando uma
contrário dos demais capilares do cérebro - ausên- estria, a estria habenular, estria medular ou ténia
cia de barreira hemato-encefálica. do tálamo, sobre a qual se insere a tela coroideia
A inervação da pineal (Fig. 10.1.58) faz-se por fi- do III ventrículo. Constitui um sistema de rela-
bras simpáticas pós-ganglionares provenientes do ção que transmite informação proveniente do ol-
gânglio cervical superior que entram no crânio facto aos núcleos eferentes (motores e salivares) do
pelo plexo carotídeo e terminam em relação com tronco cerebral explicando em parte a influência
os pinealócitos e os vasos, depois de sinapsarem no do olfacto na alimentação; Vias aferentes chegam
núcleo supraquiasmático do hipotálamo anterior. à habénula por intermédio da estria habenular ou
Embora alguns aspectos da fisiologia da glându- medular do tálamo que contém fibras que provêm
la permaneçam desconhecidos a descoberta mais da área septal, paraolfactiva, tubérculo olfactivo e
importante nesta área foi feita em 1958 por Ler- área pré-óptica; recebe também fibras do núcleo
ner e colaboradores quando isolaram a hormona amigdalino através da estria terminal que se jun-

558
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: HIPOTÁLAMO

de pode observar-se um hipergenitalismo; certos


tumores da pineal são associados a um quadro de
puberdade precoce. Por outro lado com a desco-
berta de que a melatonina circulante sofre uma va-
riação circadiária, verificou-se que esta também
está envolvida na regulação de outros ritmos cir-
cadiários do organismo, sincronizando-os com o
4
ciclo externo dia/noite como por exemplo o ciclo
5 sono/vigília.
6

PERGUNTAS TIPO
10 9 8 7
1. Relativamente ao Hipotálamo assinale a afir-
Fig. 10.1.59: Epitálamo: Conexões da Habénula.
Estria Terminal 2. Estria Habenular ou Medular 3. Habénula mação correcta:
!· Glândula Pineal ou Epífise 5. Feixe Habénulo-Tectal 6. Feixe a. A área pré óptica está localizada entre a
H.abénulo-Tegmental 7. Núcleo Dorsal da Calo~e 8. Feixe Habélu-
o-Peduncular ou Retroreflexo de Meynert 9. Nucleo lnterpeduncular comissura branca anterior e o quiasma
~O. Corpo Amigdalina ou Amígdala 11. Hipófise 12. Quiasma Óptico óptico.
3. Região do Tubérculo Olfactivo e Paraolfactiva 14. Região Pré--Óp-
1
tica 15. Região Septal
b. Dispõe-se nas paredes laterais do III ven-
trículo, abaixo e à frente do tálamo.
ta à estria medular. As vias eferentes dirigem-se c. O seu limite lateral é constituído pela
ao mesencéfalo pelos feixes habénulo-tectal, ha- cápsula branca interna.
bénulo-tegmental e habénulo-peduncular ou feixe d. Todas estão correctas.
retroreflexo (Meynert) que ligam a habénula aos e. A e B estão correctas.
tubérculos quadrigémeos anteriores, núcleo dor-
sal da calote e ao núcleo interpeduncular respecti- 2. No que diz respeito às conexões mais impor-
vamente. Ao nível da calote mesencefálica verifi- tantes do hipotálamo assinale a afirmação
ca-se uma conexão com o feixe longitudinal dor- correcta:
sal (Schütz) que transporta informação olfactiva a. O feixe mamilo-tegmental tem origem
aos núcleos motores dos músculos da mastigação nos corpos mamilares e termina no bulbo.
e deglutição e aos núcleos salivares. b. As hormonas ocitocina e vasopressina
A Comissura Branca Posterior é constituída por chegam à adenohipófise via sistema por-
fibras de origem muito variada e parcialmente ta hipofisário.
desconhecidas. Entre elas destacam-se as fibras c. O feixe de Vicq d'Azyr une os corpos ma-
que, da área pré-tectal de um lado, cruzam para o milares aos núcleos anteriores do tálamo.
núcleo de Edinger-Westphal, do lado oposto, in- d. As fibras amigdalohipotalâmicas consti-
tervindo no reflexo consensual da visão. Nela cru- tuem o principal output do Sistema Lím-
zam também para o lado fibras habénulo-tectais e bico.
fibras vestibulares. Dos diversos núcleos pré-tec- e. As fibras hipocampohipotalâmicas che-
tais que emitem fibras para a comissura posterior gam aos corpos mamilares via estria ter-
destacam-se os núcleos intersticial de Cajal e o minal.
núcleo de D arkschewitsch.
3. Relativamente ao Sistema Neuroendócrino
CONSIDERAÇÕES ANÁTOMO-CLÍNICAS assinale a afirmação falsa:
a. A Hipófise funciona sob controlo dos
Tal como nos animais atribui-se à Epífise, no ho- centros hipotalárnicos.
mem, uma função antigonadotrófica pois em caso b. A Neurohipófise constitui um prolonga-
de destruição da Epífise na criança pré-puberda- mento do pavimento do Diencéfalo.

559
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

c. As principais funções da Vasopressina são


a vasoconstrição e antidiurese.
d. Todas as hormonas adenohipofisárias
têm factor de libertação hipotalâmico.
e. A ocitocina provoca o relaxamento uteri-
no tendo um papel importante periparto.

4. Relativamente ao Epitálamo assinale a afir-


mação verdadeira:
a. Faz parte da parede inferior do III ven-
trículo.
b. A epífise pode também denominar-se
glândula pituitária.
c. A Comissura Branca Posterior constitui
o Pedúnculo Superior da Epífise.
d. A síntese de melatonina tem um pico du-
rante a noite.
e. A inervação da pineal é maioritariamen-
te parassimpática.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Splittgerber, R. Snell's Clinical Neuroanatomy. 8.ª


edição. Wolters Kluwer, 2019.
Machado, ABM. Neuroanatomia Funcional. 3. ª
edição. Atheneu, Rio de Janeiro, 2013.
Afifi, A.; Bergman, A. Functional neuroanatomy:
text and atlas. 2nd Edition. Me Graw- Hill
Professional, 2005.
Rouviêre, H.; Delmas, A. Anatomie Humaine.
Tome 3. 15'"" édition. Masson et Cie. Paris, 2002.
Kahle, W.; Leonhardt, H .Anatomie: Systeme
Nerveux et organes dessens.Tome 3. Flammarion,
2002.

• ••

560
SISTEMA LÍMBICO do processadas neste complexo sistema uma sé-
rie de funções vitais do sistema nervoso central.
O sistema límbico localiza-se bilateralmente ao Com efeito, uma das principais funções do "siste-
tálamo e apresenta contribuições complexas de di- ma límbico" parece ser o processamento das emo-
versas estruturas do encéfalo, nomeadamente, te- ções (e do comportamento emocional) e a inte-
lencéfalo, diencéfalo e mesencéfalo. O termo "lím- gração de todas as informações sensitivas no que
bico" deriva do latim "limbus", que significa lim- se designa genericamente como "sentimentos"2 •
bo, borda ou margem. Esta designação foi origi- Esta função parece estar intimamente relaciona-
nalmente utilizada por Thomas Willis no século da com a formação de memórias, outra função crí-
XVII para identificar uma área cortical de fron- tica do sistema límbico. Comprovando a mencio-
teira que se localiza em torno do tronco cerebral. nada heterogeneidade fi.mcional do sistema límbi-
Paul Broca, no século XIX, considerou que "o co, localizam-se nesta região importantes funções
grande lobo límbico"1 era uma estrutura presente relacionadas com o olfacto, a orientação no espaço,
nos cérebros de vários mamíferos essencialmente a organização temporal do comportamento, várias
envolvida no processamento de informações olfa- modalidades de aprendizagem e a motivação; to-
tivas, apesar de poder estar associado a outras fim- das estas atividades estão dependentes, em maior
ções. Efetivamente, ao contrário da face lateral do ou menor grau, de estruturas neuronais consti-
córtex cerebral, cujo desenvolvimento é muito re- tuintes do sistema límbico. Este sistema é ainda
cente em termos evolutivos, as estruturas límbicas capaz de influenciar a atividade do sistema endó-
localizadas na face medial de ambos os hemisfé- crino e do sistema nervoso autónomo.
rios surgem com espantosa similitude em cérebros
de muitos mamíferos.
Foi durante a primeira metade do século XX que,
graças ao trabalho de ChristifieldJakob,James Pa-
pez, Paul Yakovlev e Paul Maclean, o conceito de
sistema límbico, também considerado como "cére-
bro visceral", foi sendo sucessivamente estruturado
e ampliado com base em critérios morfofuncio-
nais. Os primeiros modelos relativos ao seu fun-
cionamento foram também propostos nessa épo- 2

ca, tendo sido demonstrado que estruturas corti-


cais se interconectam de forma integrada e funcio-
nal com estruturas sub-corticais através de trac-
4 5
tos curtos e longos de fibras nervosas. Assim, para
além do córtex, o agrupamento de estruturas ao Fig. 10.1.60: Sistema Umbico.
1. Fórnix 2. Hipocampo 3. Núcleos Septais 4. Corpos Mamilares
qual se dá o nome de sistema límbico inclui, en- 5.Amígdala
tre outros, a amígdala, os núcleos septais, o fór-
nix e as suas colunas, os corpos mamilares, o sep- A formação do hipocampo, a amígdala, o núcleo
to pelúcido e o núcleo accumbens, (Fig. 10.1.60). accumbens, áreas septais e a circunvolução do cí-
O sistema límbico é então caracterizado por um ngulo serão estruturas límbicas descritas em de-
padrão de intensas conexões recíprocas que são es- talhe neste capítulo. As vias olfactivas e as res-
senciais ao seu fi.mcionamento de forma optirniza- tantes áreas corticais, apesar de serem parte inte-
da. Para além de não se constituir como uma uni- grantes ou com conectividade importante ao sis-
dade anatómica individualizada, o sistema límbico tema límbico, serão abordadas em detalhe nou-
apresenta uma grande diversidade funcional, sen- tros capítulos.

1 Na versão original, em francês, o autor referiu-se a "!e grande iobe 2 "Sentimentos" designa, neste contexto, o conjunto de emoções,
/imbique". afetos e humor.

561
MANUAL D E ANATOMIA HUMANA

1. HIPOCAMPO de fibras, o alveus, converge na fímbria do fio' .


. . rnllc
O h1pocampo parece estar envolvido na capacid ~
A formação do hipocampo, cujo nome deriva do de de orientação espacial, bem como nos pro a
ces-
facto de a sua morfologia ser semelhante a um ca- sos de armazenamento de informação na mern ,
o-
valo marinho, ocupa bilateralmente a face medial ria (discriminativa) de longo prazo (Fig.10.l.6l).
do lobo temporal. A sua área mais inferior, medial-
mente ao sulco colateral, é a circunvolução parahi- 1. 1. CIRCUNVOLUÇÃO DENTEADA
pocampal (córtex entorrinal) que se continua com
o subículo na margem do sulco hipocampal. Na A área estruturalmente mais simples da formação
profundidade deste sulco, o arquicórtex (filogene- do hipocampo é a circunvolução denteada. A sua
ticamente mais antigo que o neocórtex) do cor- organização tri-laminar é marcada pela densa ca-
no de Amon é continuação do subículo, curvan- mada central de células granulares. O s axónios das
do inferomedialmente até ao hilo da circunvolu- células granulares que se dirigem às células pira-
ção denteada. Esta é uma pequena faixa enrugada midais de CA3 designam-se por fibras musgosas.
de arquicórtex situada superiormente ao subículo
e medialmente ao corno de Amon. A face lateral 1.2. CORNO DE AMON
da formação do hipocampo faz saliência na parte
lateral do pavimento do corno inferior do ventrí- O hipocampo propriamente dito (corno de Amon;
culo lateral do encéfalo e está revestida por epên- CA) pode ser dividido em quatro áreas distintas,
dima, profundamente ao qual uma fina camada desde CAl, junto do subículo, até CA4, que se

12

11

3 4

12

11

9 10
10

9
Fig. 10.1.61: Hipocampo e suas relações com as estruturas vizinhas.
1. Corpo do Núcleo Caudado 2. Corpo do Ventrículo Lateral 3. Estria Terminal 4. Fórnix 5. Corno Frontal do Ventrículo Lateral 6. Cabeça
do Núcleo Caudado 7. Circunvolução Denteada 8. Amígdala 9. Hipocampo 10. Corno Temporal do Ventrículo Lateral 11 . Cauda do Núcleo
Caudado 12. Átrio do Ventrículo Lateral

562
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: SISTEMA LÍMBICO

)onga pelo interior da circunvolução denteada. 1.6. F(MBRIAIFÔRNIX


ero
p. se,....,eJhança
.. desta circunvolução, também o cor-
de Amon possui uma única camada celular in- A maioria das eferências do hipocampo (os axó-
~;média, constituída por células piramidais. nios das células piramidais) formam o alveus e
convergem na fímbria, uma estrutura afilada que
1.3. sua(CULO se coloca ao longo de toda a face ventricular do
corno de Amon. O fórnix é um volumoso fei-
O subículo possui uma estrutura tri-laminar, com xe de fibras que continua posteriormente à fím-
a camada central piramidal. As células do subí- bria e descreve uma curvatura súperoânterome-
:;;0 são um importante destino das eferências da dial, entre o tálamo e o corpo caloso (separa-
região do hipocampo. do deste último pelo septo pelúcido), ocupando
a parte medial do pavimento do corpo do ven-
trículo lateral. Algumas fibras da fímbria conti-
1.4, CÓRTEX ENTORRINAL
nuam medialmente, cruzam a linha média, e pro-
O córtex entorrinal é uma área cerebral localiza- jetam para o hipocampo contralateral (comissu-
da 11a face medial do lobo temporal e apresen- ra hipocampal). O fórnix forma o limite anterior
ta uma organização estrutural com 6 camadas. do buraco interventricular (de Monro). A por-
Asua porção mais caudal, entre o subículo e o sul- ção do fórnix que se dirige inferiormente, ante-
co colateral, lateralmente, recebe informação de riormente a este buraco, designa-se por coluna.
múltiplos córtices sensitivos e de associação, pro- À medida que cada coluna se aproxima da comis-
jectando para a circunvolução denteada e corno de sura anterior divide-se em dois componentes, um
Amon (fibras perfurantes). Deste modo, represen- posterior (porção pós-comissural), que termina
ta a principal via de interface entre o neocórtex nos corpos mamilares e áreas adjacentes do hipo-
e O hipocampo, constituindo uma estrutura cere- tálamo e núcleos talâmicos anteriores; e um an-
bral central numa rede alargada de memória e na- terior (pré-comissural), que projeta para regiões
vegação. anteriores do hipotálamo, áreas septais (anterior-
mente ao terceiro ventrículo) e núcleo accumbens
1.5. CIRCUITO INTR(NSECO DO HIPOCAMPO (Fig.10.1.62).

Uma característica importante da formação do


hipocampo é a existência de um circuito inter-
no, aparentemente unidireccional, cujo mediador
principal parece ser o glutamato. Este circuito in-
trínseco tem origem nas células da circunvolução
denteada, que recebem essencialmente informa-
ção através das fibras perfurantes com origem no
córtex entorrinal. Os axónios das células granula-
res da circunvolução denteada (fibras musgosas)
fazem sinapse com as células piramidais de CA3,
onde têm origem os colaterais de Schaffer que ter- 3
minam em CAl. As células desta região, por sua
9
vez, projetam para o subículo de onde saem fibras
4
para o córtex entorrinal, completando desta forma
0 circuito. Uma vez que todas as sinapses do cir-

euito são glutamatérgicas, e portanto excitatórias, 6


0 fluxo de informação no circuito traduz um me- Fig. 10.1.62: Relações entre o fórnix e o hipocampo.
1. Corpo Caloso (esplénio) 2. Circunvolução Denteada 3. Hipocampo
canismo de retroação positiva e resulta em ativida- 4. Subículo 5. Lobo Temporal 6. Sulco Colateral 7. Circunvolução
de reverberante. Parahipocâmpica 8. Corpos Mamilares 9. Fibras Pré-Comissurais
10. Fórnix

563
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

13
2. AM(GDALA

A amígdala é constituída por um conjunto de nú-


cleos distintos situados profundamente na parte
medial do lobo temporal, anteriormente ao hipo-
campo e à terminação da cauda do núcleo cau-
dado. Superiormente é contínua com o claustro
e está separada do núcleo lentiforme pela cápsu-
la externa. A amígdala é considerada a estrutu-
ra chave para as atividades relacionadas com as
emoções, sejam elas os comportamentos ou rea-
ções emocionais, a memória emocional, a for-
mação do gosto e de juíws de valor ou mesmo
os "sentimentos". No entanto, ainda existe uma 6

enorme heterogeneidade relativamente ao con- Fig. 10.1.63: Amígdala.


A. Amígdala B. Bulbo M. Mesencéfalo TA. Tálamo
ceito de amígdala e à organização e nomenclatu- 1. Fibras Hipotálamo-mesencefálicas 2. Substância cinzenta periaque-
ra dos seus núcleos. De uma forma sucinta, pode- ductal 3. Mesencéfalo Límbico 4. Fibras Descendentes Autonómicas
5. Núcleos Parassimpáticos 6. Circuito Amigdalofugal ventral para 0
mos agrupar os mesmos num conjunto basolate- tálamo 7. CircuitoAmigdalogugal ventral para ohipocampo 8. Núcleos
ral e num conjunto central, que juntamente com Hipotalãmicos 9. Fita 6ptica 10. Uncus 11. Comissura Branca Anterior
12. Nucleos Septais 13. Estria Terminal 14. Corpo do Núcleo Caudado
o núcleo do leito da estria terminal, com quem é
contíguo, forma a amígdala extendida. O primei-
ro grupo possui muitas semelhanças com o cór- 3. NÚCLEO ACCUMBENS
tex cerebral, com quem troca quantidades massi-
vas de informação, e é considerado a porção "re- O núcleo accumbens (NAc) situa-se na parte me-
ceptora" da amígdala. Por outro lado, a amígda- dial do pavimento do corno anterior do ventrícu-
la extendida é o principal "efetor", pois as suas fi- lo lateral, entre a base do septo pelúcido e a comis-
bras estão envolvidas na modulação das respos- sura anterior. Em termos estruturais, podemos di-
tas autonómicas e cardiorrespiratórias de acordo vidir este agregado de neurónios numa porção core
com os estados emocionais. (interna) e numa porção shell (externa). Esta re-
Os núcleos da amígdala estão numa posição pri- gião cerebral parece estar envolvida na afectivida-
vilegiada pois têm acesso direto a grandes quan- de e no processamento de emoções e pensa-se que
tidades de informação sensitiva proveniente dos funciona como um "centro de reforço positivo" ou
córtices primários e de múltiplas áreas de asso- "centro de motivação", estando envolvido na géne-
ciação, para além de receberem informação visce- se de comportamentos de dependência em relação
ral, olfactiva e do paladar de centros nervosos que a drogas ou sexo, por exemplo. Este núcleo encon-
se encontram mais caudalmente. Em função dis- tra-se ainda envolvido no processamento de ou-
to, podem modular com grande facilidade, quer tras emoções, como por exemplo a irnpulsividade.
as respostas viscerais do organismo, através das
eferências para os centros de controlo do tronco e
do hipotálamo, quer as respostas cognitivas cons- 4. AREAS SEPTAIS
cientes, utilizando as suas projeções para todo o
córtex. De modo importante, as regiões efetoras O s núcleos ou áreas septais constituem urna área
(amígdala extendida) parecem ter uma especia- subcortical do telencéfalo numa região correspon-
lização funcional: enquanto os núcleos centrais dente, de modo grosseiro, à parte inferior ao rostro
parecem regular a resposta do medo, o núcleo do do corpo caloso junto à parede anterior do terceiro
leito da estria terminal parece regular as respos- ventrículo, anterior e superiormente à lâmina ter-
tas de ansiedade (Fig. 10.1.63). minal e comissura anterior (Fig.10.1.60). Consti-
tui uma parte do sistema límbico bem conserva-

564
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: SISTEMA LÍMBICO

da em termos evolutivos, estando presente em to- co. Apesar de parecer uma generalização exage-
dos os vertebrados. Estruturalmente, é composta rada, esta inclusão é plenamente justificada pelo
por neurónios de tamanho médio, principalmen- facto de os corpos mamilares se situarem na parte
te GABAérgicos, e agrupados em grupos medial, mais posterior do hipotálamo. Estes núcleos rece-
lateral e posterior. A principal aferência das áreas bem uma projeção importante do hipocampo, via
septais são fibras glutamatérgicas, com origem fímbria/fórnix, e projetam para o núcleo anterior
no hipocampo, via fímbria/fórnix. O septo pos- do tálamo, desempenhando um papel essencial em
terior tem poucas interconexões com as restantes circuitos de memória.
áreas, projetando quase em exclusivo para habénu-
la, uma estrutura, tal como o accumbens, envolvi-
da na motivação. Pelo contrário, o septo lateral e o 6. CIRCUNVOLUÇÃO DO CÍNGULO
septo medial (que inclui o núcleo septal medial e
o núcleo da banda diagonal) estão profundamen- A circunvolução do cíngulo, córtex do cíngulo ou
te relacionados. Além das aferências hipocampais, cíngulo é urna região cerebral localizada medial-
o septo lateral recebe aferências vasopressinérgicas mente ao córtex cerebral e superiomente ao cor-
da amígdala ex.tendida (incluindo do núcleo basal po caloso. É parte integrante do sistema límbi-
da estria terminal), sujeitas a importante dimorfis- co e pode ser dividido em duas regiões principais:
mo sexual, e terminais peptidérgicos e monoami- uma porção anterior-dorsal (áreas 24, 32 e 33 de
nérgicos do hipotálamo, para onde também envia Brodmann), que constitui a maioria da substân-
projeções. A principal eferência do septo lateral é cia branca desta circunvolução, sendo que estas fi-
o septo medial, sendo aquele a principal aferência bras adoptam a forma do aspecto superior do cor-
deste. O septo medial contém, além de neurónios po caloso; e uma porção posterior-ventral (áreas
GABAérgicos, células colinérgicas, que projetam, 23, 31 e 29 de Brodmann), que corre na circun-
tal como as primeiras, para o hipocampo, desem- volução parahipocampal, circunvolução do cíngu-
penhando um papel crucial no funcionamento da- lo retroesplenial e pré-cunha posterior. Ao nível
quela estrutura. Estas projeções fecham um cir- do cíngulo temos aferências talâmicas e neocor-
cuito cortico-subcortical, determinante nos pro- ticais, havendo posterior projecção de fibras para
cessos de memorização, que podemos esquemati- o córtex entorrinal, entre outras áreas cerebrais.
zar como: hipocampo > projeções glutamatérgicas Sendo parte integrante do sistema límbico, a cir-
> septo lateral > projeções GABAérgicas > sep- cunvolução do cíngulo contribui para o processa-
to medial > projeções colinérgicas/GABAérgicas mento das emoções e na formação das memórias
> hipocampo. e aprendizagem. A porção anterior parece desem-
penhar também um papel crítico na sinalização de
erros comportamentais e monitorização de confli-
5. HIPOTÁLAMO tos, enquanto a porção posterior integra a rede de
modo repouso ("default mode network'').
O hipotálamo é uma região muito complexa, si-
tuada na linha média inferior e anteriormente ao
tálamo, no pavimento do terceiro ventrículo. Os 7. CIRCUITO DE PAPEZ
seus inúmeros núcleos desempenham um pa-
pel crucial na regulação do metabolismo, da fun- A primeira descrição de um circuito integran-
ção cardiovascular e do ciclo-sono vigília, regulan- do as estruturas do complexo sistema límbico foi
do os principais eixos endócrinos e o sistema ner- feita por James Papez em 1937, a partir do es-
voso autónomo, entre muitas outras funções. Ten- tudo de doentes com lesões do hipocampo e do
do em conta as suas inúmeras conexões com áreas córtex do cíngulo que apresentavam perturbações
chave do sistema límbico, como o septo e a amíg- emocionais (Fig. 10.1.60). A partir de CAl, a in-
dala, alguns autores também incluem o hipotála- formação atinge o subículo, passando depois, via
mo como um dos constituintes do sistema límbi- fímbria e fórnix, para os corpos mamilares. Aqui

565
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

tem origem o feixe mamilotalâmico, que termina punha Papez, o hipocampo é o local de
nos núcleos anteriores do tálamo. Uma das prin- , . d a 1"nfiormaçao
sarnento cnt1co - espacial eProces
d ·
cipais eferências destes núcleos é a circunvolução ganização da memória declarativa de longoe ºr-
do cíngulo, a partir da qual a informação chega à zo (Fig. 10.1.64). Pra.
área parahipocampal e desta ao córtex entorrinal,
de onde atinge o corno de Amon, fechando o cir-
cuito. De uma forma simplista, este circuito se- 8, ASPECTOS ÇLÍNICOS DA ANATOMIA.
ria o seguinte: DO SISTEMA LIMBICO
1. Córtex entorrinal;
2. Circunvolução denteada; As alterações nos circuitos cerebrais que envol-
3. CA3; vem o sistema límbico parecem contribuir de fi
Or-
4. CAl; ma decisiva para o surgimento de uma série de
5. Subículo; patologias do neurodesenvolvimento, psiquiátri-
6. Corpos mamilares; cas e neurodegenerativas. Por exemplo, alterações
7. Núcleos anteriores do tálamo; de circuitos límbicos que envolvem o hipocarnpo/
8. Córtex do cíngulo; córtex entorinal parecem explicar parte dos défices
9. Circunvolução parahipocampal; de memória existentes em doentes diagnosticados
10. Córtex entorrinal. com a Doença de Alzheimer. Por outro lado, da-
nos em neurónios e tratos nervosos de componen-
De acordo com o postulado inicial de Papez, este tes deste sistema ajudam a explicar alguns casos de
circuito seria essencialmente responsável pelo epilepsia do lobo temporal medial ou dos síndro-
processamento dos comportamentos emocionais. mes de Wernicke- Korsakoff ou Kluver-Bucy.
No entanto, hoje sabemos que a rede de intera- O contínuo desenvolvimento de técnicas labo-
ções dentro do sistema límbico é muito mais vas- ratoriais que permitem o estudo de circuitos ce-
ta e complexa, desempenhando o sistema límbico rebrais em contexto fisiológico e doença; bem
no seu todo funções muito mais variadas e com- como, o desenvolvimento de técnicas mais avan-
plexas do que foi inicialmente postulado. A títu- çadas de imagem cerebral ajudarão no futuro a
lo de exemplo, a amígdala, que não está incluída elucidar com maior detalhe a organização estru-
na descrição original do circuito de Papez, pare- tural e funcional extremamente complexa do sis-
ce ser o principal centro coordenador da respos- tema límbico.
ta emocional e, inclusivamente, da memória das
emoções; por outro lado, ao contrário do que su-

Fig. 10.1.64: Circuito de Papez.


1. Cíngulo 2. Núcleo Anterior do Tálamo 3. Fórnix 4. Feixe Mamilo-Talâmico 5. Hipocampo 6. Amígdala 7. Corpo Mamilar 8. Comissura Branca
Anterior 9. Radiações Tálamo-Corticais

566
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: SISTEMA LÍMBICO

GUNTAS TIPO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


pER
Qyais são os núcleos do tálamo que fazem Standring, S. Gray's Anatomy. 41. ª Edição.
1· parte do Sistema Límbico? Elsevier, Londres, Reino Unido, 2015.

a. Ventral lateral. Snell, RS. Clinical Neuroanatomyfar Medical


b. Ventral pósterlo-lateral e Ventral póstero- Students. 5.ª edição, Lippincott Williams &
-medial. Wilkins, Nova Iorque, 2009.
c. Anteriores.
Haines, DH. Neuroanatomy in Clinical Context:
d. Pulvinar.
e. Corpos geniculados. AnAtlas of Structures, Sectiom, Systems, and
Syndromes. 9.ª Edição. Lippincott Williams &
Qyal das seguintes funções não está associada Wilkins, Nova Iorque, 2014.
2
· ao Sistema Límbico? Catani, M.; Dell'Acqua, F.; Schotten, MTA
a. M emória. revised limbic system modelfar memory, emotion and
b. Circuitos de recompensa. behaviour, Neuroscience and Biobehavioral Reviews.
e. Resposta ao medo. 37: 1724-1737,2013.
d. Reflexo foto motor.
e. Resposta emocional à dor. Sousa, N.; Lukoyanov, NV.; Madeira, MD.;
Almeida, OFX.; Paula-Barbosa, MM.
3. Sobre o hipocampo assinale a opção errada: Reorganization ofthe morphology ofhippocampal
a. A circunvolução denteada tem 6 camadas. neurites and synapses after stress-induced
b. O córtex entorrinal é a sua principal via de damage correlates with behavioral improvement.
interface com o neocórtex. Neuroscience, 97 (2): 253-266,2000.
e. O principal mediador do seu circuito in- Pêgo,JM.; Morgado, P.; Cerqueira,]}.; Almeida,
terno é o Glutamato. OFX.; Sousa, N. Mismatch between anxiety status
d. A maioria das suas eferências convergem and morphometric parameters in the amygdala and
para o alveus formando a fimbria que se bed nucleus ofthe stria termina/is. Behavioural
continua pelo fórnix. brain research, 173 (2): 320-325, 2006.
e. Forma parte do pavimento do corno tem-
poral do ventrículo lateral. Pinto, V.; Costa,JC.; Morgado, P.; Mota,
C.;Miranda,A.; Bravo, FV.; Oliveira,TG.;
Sobre o Cingulum assinale a opção errada; Cerqueira,]].; Sousa, N. Dijjerential impact oJ
a. É vascularizado pelo artéria cerebral ante- chronic stress along the hippocampal dorsal--'Uentral
rior e posterior. axis. Brain Structure and Function, 220 (2):
b. É vascularizado pela artéria coroideia an- 1205-1212, 2015.
terior.
e. Encontra-se inferiormente ao sulco calo- ***
so-marginal.
d. Tem fibras longitudinais de associação que
são cruzadas pelas fibras do corpo caloso.
e. Recebe conexões do grupo anterior de nú-
cleos do tálamo.

!g-t, !y- f !G-l !:)-!


:msodsa~

567
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

VENTRÍCULOS E LÍOUOR

VENTRÍCULOS ENCEFÁLICOS

Durante o desenvolvimento embrionário for-


mam-se na extremidade cefálica do tubo neural
dilatações do canal ependimário e que vão origi-
nar os ventrículos encefálicos. A cavidade cefálica
primitiva divide-se da frente para trás em Prosen-
céfalo, Mesencéfalo e Rombencéfalo. Por subdivi-
são do Prosencéfalo derivam as cavidades do Te-
lencéfalo por cima e a do Diencéfalo abaixo. Os
ventrículos laterais, um em cada hemisfério cere-
bral, derivam das cavidades Telencefálicas e comu-
nicam com o III ventrículo, a cavidade do Diencé- 10
11
falo, pelos dois buracos interventriculares (Mon-
Fig. 10.1.66: Ventrículos Encefálicos (vista lateral esquerda).
ro ). A cavidade do Rombencéfalo forma o IV
1. Corno anterior ou front al do ventrículo lateral 2. Corpo do ventrículo
ventrículo. O canal ependimário do Mesencéfa- lateral 3. Átrio ou Carrefour do vent rículo lateral 4. Corno inferior ou
lo permanece estreito e origina o Aqueduto Ce- temporal do ventrículo lateral 5. Corno posterior ou occipital do ven-
trículo lateral 6. Aqueduto Cerebral (de Sylvius) 7. Quarto Ventrículo
rebral (Sylvius) que une o III ao IV ventrículo. 8. Buraco de Luschkaesquerdo 9. Recesso Lateral esquerdo 10. Buraco
A nível da medula espinhal o canal ependimário de Magendie 11 . Canal Ependimário Central da Medula Espinhal
12. Recesso Suprapineal 13. Recesso lnfundibular 14. Recesso Supra-
e a sua pequena dilatação terminal - o ventrícu- -Óptico 15. Aderência lntertalâmica 16. Terceiro Ventrículo 17. Buraco
lo terminal- tornam-se virtuais. As cavidades ven- Interventricular ou de Monro Esquerdo

triculares e o canal ependimário são revestidas por


um epitélio cubóide especial - o epitélio ependi- VENTRÍCULOS LATERAIS
mário ou epêndima, e encontram-se preenchidas
por líquido céfalo-raquidiano ou líquor que é pro- Os ventrículos laterais, um em cada hemisfério ce-
duzido nos plexos coroideus dos ventrículos ence- rebral, têm a forma de um C de concavidade ante-
fálicos (Fig. 10.1.65 e 10.1.66). rior e inferior em resultado do encurvamento he-
misférico em volta do sulco lateral (Sylvius). Neles
2
pode individualizar-se um corpo ou porção cen-
tral, localizado na profundidade lobo parietal, de
onde partem três prolongamentos ou cornos, para
os lobos respectivos - frontal, temporal e occipi-
tal. A porção posterior do corpo do ventrículo la-
teral onde este se continua com os cornos occipital
e temporal, situada por detrás da cauda do núcleo
caudado e do tálamo em torno dos quais se dispõe,
denomina- se encruzilhada ou átrio ventricular.
Os ventrículos laterais, revestidos por epêndima
e preenchidos por líquor, comunicam com o III
ventrículo pelos buracos interventriculares (Mon-
ro ). Cada um destes orifícios é limitado à frente
pelo pilar anterior do trígono e atrás pela extremi-
dade anterior do tálamo.
Fig. 10.1.65: Vesículas cerebrais primitivas. O corpo do ventrículo lateral (Fig. 10.1.67) inicia-
1. Prosencéfalo 2. Telencéfalo 3. Diencéfalo 4. Vesículas ópticas -se ao nível do buraco interventricular e prolonga-
5. Mesencéfalo 6. Rombencéfalo

568
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: VENTRíCULOS E LÍQUOR

19 20 trás, designa-se fissura coroideia. Os plexos co-


roideus dos ventrículos laterais continuam os do
3 III ventrículo ao nível dos buracos interventricu-
lares e chegam ao corno ventricular inferior, tem-
4 poral, acompanhando o trajecto curvo do ventrí-
16
culo atrás; o corno posterior não possui plexo co-
roideu (Fig. 10.1.67).
5
14 O corno ventricular anterior ou frontal projecta-se
para o lobo frontal, adiante do buraco interventri-
6
cular. O tecto é formado pelas fibras do corpo ca-
7
loso que constituem com as contralaterais o for-
8 ceps minor e forma o seu limite anterior ao nível
do joelho. O pavimento é formado pela cabeça do
9 núcleo caudado e o bico do corpo caloso. A parede
medial é constituída pelo septo lúcido e pelo pilar
anterior do trígono (Fig. 10.1.68)

12 15 9
11

Rg. 10.1.67: Corpo e corno inferior do ventrículo lateral (vista superior).


1. Corpo Caloso 2. Septo Pelúcido. 3. Cabeça _do Núcleo Caudado 3
4. Colunas do Trígono Cerebral ou Forn,x 5. Estria Termmal 6. Estria
e,edular 7. Tálamo (Pulvinar) 8. Colículo ou Tubérculo Ouadrigémeo 4
Superior 9. Colículo ou Tubérculo Ouadrigémeo Inferior 10. Cerebre-
lD 11. Sulco ou Rego Calcarino 12. Corno Posterior ou Occipital do
\41ntrículo Lateral 13. Calcar Avis 14. Eminência Colateral 15. Veia
Cerebral Interna 16. Hipocampo (Cabeça ou Pé) 17. Corno Inferior ou
11,nporal do Ventrículo Lateral 18. Plexo Coróideu 19. Veia Tálamo
&triada Superior 20. Buraco Interventricular (de Monro)

-se para trás sobre a face superior do tálamo, acha-


do-se gradualmente até à encruzilhada ventri-
. O tecto é formado pelo corpo caloso. O pa- 8

ento é formado, de dentro para fora, pelas se- 6

. tes estruturas: trígono (face superior), porção


Fig. 10.1.68: Corno anterior do ventrículo lateral, corte coronal.
ral da face superior ou dorsal do tálamo, a fina 1. Corpo Caloso (Joelho) 2. Corno anterior ou frontal do Ventrículo
·a terminal (ou ténia semicircular ou fita coroi- Lateral 3. Cabeça do Núcleo Caudado 4. Braço Anterior da Cápsula

. ) e corpo do núcleo caudado (face superior). Interna 5. Núcleo Lenticular 6. Nervo Óptico 7. Lobo Temporal
8. Sulco Lateral ou de Sylvius 9. Lobo Frontal.
teralmente o tecto une-se directamente ao pa-
ento. A parede medial só existe na parte ante-
r do ventrículo pois é formada pelo septo lúcido O corno posterior ou occipital, que se desenvolve
se estreita progressivamente para trás. A pia- no lobo occipital, tem as suas paredes formadas,
ter reveste a parede superior do III ventrículo em quase toda a sua extensão, por fibras do cor-
de trás, entre o trígono e o corpo caloso por po caloso. A parede súpero-lateral é constituída
e o epitálamo por baixo, e forma com os seus pelo tapete do corpo caloso em cima e pelas ra-
o plexo coroideu do III ventrículo; de cada diações ópticas em baixo. A parede ínferomedial
penetra entre o trígono e o tálamo, evaginan- apresenta duas saliências arredondadas: a supe-
o epêndima, e formando os plexos coroideus rior, designada por "bulbo", determinada por fei-
Ventrículos laterais. xes do corpo caloso que constituem com as cor-
aço virtual, em fenda, situado entre o trí- respondentes do lado oposto o forceps major (em
e O tálamo, do buraco interventricular para direcção ao lobo occipital); a inferior, determina-

569
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

da pelo rego calcarino, denomina-se calcar avis te do sistema límbico desempenhando fun _
ou esporão (Morand) (Fig. 10.1.69). !acionadas com a emoção e memória. É e Çoes ~
do por substância cinzenta sendo a sua f:ºnsti~
. ular revesti.da por substanaa
t.tc . . branca _ ace v....
.,,.
0
resultante dos axónios das células do hipoalveo,
3
Estes axónios reunem-se na face medial fo/3.ll}Po.
uma fita saliente, a fimbria, que se continu:ando
teriormente com os pilares posteriores do ~Os-
no. No interior da hélice do hipocampo etrigo-
.
tra-se a circunvo 1uçao
- dentead( a ou tufada)ncon.
(Fig.
10.1.67 e 10.1.70).

5
4
6

Fig. 10.1.69: Corno posterior do ventrículo lateral, corte coronal.


1. Corpo Caloso (Esplénio ou Debrum) 2. Corpo Caloso (Tapete)
3. Radiações Ópticas 4. Calcar Avis 5. Sulco ou Rego Calcarino
6. Sulco Colateral 7. Corno Posterior ou Occipital do Ventrículo Lateral

O corno inferior, esfenoidal ou temporal estende-


-se na profundidade do lobo homónimo. Nas suas
paredes pode distinguir-se um tecto e um pavi-
mento. O tecto é constituído pelo tapete do corpo
caloso e pela cauda do núcleo caudado que, acom-
panhada pela estria terminal, se dirige para o nú-
cleo arnigdalino na extremidade anterior deste
6
corno ventricular. Estas estruturas separam o ven-
trículo da face inferior do núcleo lenticular. O pa- Fig. 10.1.70: Pavimento do corno inferior do ventrículo lateral: Eminên-
cia colateral e Hipocampo.
vimento é formado por duas eminências alongadas 1. Cabeça ou Pé do Hipocampo 2. Corpo do Hipocampo 3. Eminência
em direcção ântero-posterior: uma lateral- a emi- Colateral 4. Cauda do Hipocampo 5. Calcar Avis 6. Esplénio ou
Debrum do Corpo Caloso 7. Trígono ou F6rnix 8. Fímbria
nência colateral determinada pelo sulco colate-
ral ou 4.0 sulco temporal; outra medial, mais mar-
cada, com curvatura longa para cima, para trás e Ili VENTRÍCULO
para dentro - o hipocampo localizado por cima da
circunvolução parahipocâmpica ou S.ª temporal. O III ventrículo é a cavidade do Diencéfalo e con-
O "hipocampo", assim designado por ter forma siste numa estreita fenda mediana localizada na
parecida com um cavalo marinho, é uma elevação sua maior parte entre os tálamos. Comunica com
muito pronunciada na cavidade ventricular deter- o IV ventrículo pelo Aqueduto Cerebral (Sylvius)
minada pelo sulco do hipocampo, entre as circun- e com os ventrículos laterais pelos buracos inter·
voluções parahipocâmpica e denteada,e nele des- ventriculares. Distinguem-se duas paredes laterais
taca-se, de frente para trás, uma cabeça, ou pé extensas e quatro paredes estreitas, uma anterior,
(zona mais larga com identações anteriores), um uma posterior, um tecto e um pavimento.
corpo quase cilíndrico e uma cauda que afila a par- Cada parede lateral, unida à contralateral pela
tir do corpo sem limite bem marcado. O hipocam- pseudocomissura intertalâmica, é constituída pela
po, também designado "Corno de A.mon'' faz par- superficie medial do tálamo em cima e atrás e pelo

570
CONTROLO E INTEGRAÇÃO \ SISTEMA NERVOSO CENTRAL: VENTRÍCULOS E LÍQUOR

. otálamo à frente e em baixo. Estas duas últimas ra superior ou ânus do Aqueduto Cerebral (Fig.
hlP ruras estão separadas pelo sulco hipotalâmico 10.1.71).
':nro) que se estende desde o Aqueduto Cere- Na parede superior ou tecto temos a membrana
( ai até ao buraco interventricular. O limite mais tectória, uma fina lâmina epitelial ependimária
br rior desta parede é a fita ou ténia do tálamo que se fixa lateralmente às habénulas e que é co-
supe berta pelo folheto inferior de uma invaginação de
(habénula) •
A arede anterior corresponde, de cima para bai- pia-máter, situada sob o trígono, a tela coroideia
Paos pilares anteriores do trígono, à comissu- superior. A tela coroideia superior, projecta-se para
JCO,branca anterior (no ângulo de afastamento dos cada lado da linha média invaginando o epêndima
railares) e à lâmina supra-óptica ou terminal que, do ventrículo e formando os plexos coroideus do
~nindo-se ao quiasma óptico, forma o recesso su- III ventrículo. Na tela coroideia superior,junto aos
plexos coroideus estão as veias cerebrais internas
rraóptico.
A parede posterior é formada pelo epitálamo, aci- e as artéias coroideias póstero-mediais. Os plexos
rna do sulco hipotalâmico. O elemento principal coroideus continuam-se através dos buracos inter-
desta parede é a glândula pineal ou epífise que ventriculares, com os plexos dos ventrículos late-
se prende anteriormente a dois feixes transversos rais. Superiormente o tecto relaciona-se com o trí-
de fibras que cruzam a linha média- a comissu- gono e corpo caloso.
ra habenular em cima e a comissura branca pos- Na parede inferior ou pavimento pode descrever-
terior em baixo. Entre estas encontra-se o recesso -se, de trás para diante, entre os pedúnculos cere-
pineal. De cada lado do epitálamo sai a fita ou té- brais o espaço ou substância perfurada posterior,
nia do tálamo, ou habénula ou estria medular em os corpos ou mamilares, o tuber cinéreo (que in-
direcção à parte mais alta da parede lateral, con- clui o infundfbulo ou haste pituitária) e o quias-
tinuando-se até ao buraco interventricular. Nes- ma óptico.
ta fita insere-se a tela coroideia do III ventrículo.
Logo abaixo da comissura posterior está a abertu-

24
2
23
6

22

. . ._ .~- u~~~~r-------
+-_.,__,,,,..-\---- - - -- - -9
ª
Tr+-+4---- -- - -- -- 10

11

17

16

15

13

F",g. 10,1.71: Ili ventrículo.


1. Tálamo (aderência intertalâmica) 2. Sulco Hipotalâmico ou de Monro 3. Plexo Coróideu 4. Tela Coróideia 5. Corpo Caloso (Debrum ou
•splénio) 6 . Comissura Habenular 7 . Glândula Pineal ou Epífise 8. Comissura Branca Posterior 9. Colículos Superiores 10. Colículos Inferiores
~· A.queduto Cerebral ou de Sylvius 12. Cerebelo 13. Quarto Ventrículo 14. Protuberância 15. Hipófise ou Glândula Pituitária 16. Corpos
amilares 17, Quiasma óptico 18. Mesencéfalo 19. Hipotálamo 20. Lâmina Terminal 21. Comissura Branca Anterior 22. Corpo Caloso (Bico
cu Ro stro) 23. Septo Pelúcido 24. Corpo Caloso (Joelho) 25. Corpo Caloso (corpo ou tronco).

571
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

IV VENTRÍCULO niculo separans (Retzius), o qual constitui O U .


(FIG. 10. 1.72, 10. 1.73) te superior da área póstrema de Retzius (rei %-
1
nada com a extremidade superior do núcleo ~ ~-
O IV ventrículo situa-se entre a face anterior do cil). Por fim, na porção mais lateral do triã ra,
cerebelo e a face posterior do bulbo e protuberân- lo bulhar encontra-se a asa branca externa ngu_
cia. A sua forma assemelha-se a uma tenda poden- saliência que corresponde à porção inferi~~rna
do descrever-se um pavimento ou parede anterior, área vestibular, que está relacionada com 05 ~a
bulbo-protuberancial, um tecto ou parede poste- cleos vestibulares do VIII nervo. De cada ladont
0
rior, que se projecta para o interior do cerebelo, e sulco mediano distinguem-se as estrias meduj
quatro bordos laterais (pedúnculos cerebelosos). res ou acústicas ou barbas do callamus peq a-
' Ue-
A parede anterior ou pavimento (de forma lo- nas estriações que se dispõem horizontalment
sângica, também denominada "fossa rombóide", em direcção aos ângulos laterais do ventrículo e
pode dividir-se em duas porções- uma inferior que de certa forma permitem a separção entre 0:
ou triângulo bulhar e uma superior ou triângulo dois triângulos. No triângulo protuberancia[ po-
protuberancial, pelas estrias acústicas (ver abai- dem descrever-se, de cada lado do sulco media-
xo). No triângulo bulhar encontra-se, na linha no, uma saliência longitudinal, a eminência me-
média, a porção inferior de um sulco longitudinal dial que termina em baixo numa formação arre-
que percorre todo o pavimento ventricular, de- dondada, o calículo facial ou eminência teres (sa-
signado "sulco mediano" ou "haste do callarnus" liência que corresponde ao núcleo do VI nervo
scriptorius. Por fora deste sulco encontra-se uma envolvido pelas fibras do núcleo motor do VII
saliência triangular de base superior, a asa branca nervo). O limite lateral da eminência medial é
interna ou trígono do XII nervo, corresponden- por vezes bem marcado, o sulco limitante , para
te ao núcleo do nervo hipoglosso. Lateralmen- fora do qual se encontra: em cima a fóvea supe-
te à asa branca interna encontra- se uma peque- rior onde se situa um núcleo hiperpigmentado, 0
na depressão tringular de base inferior, designada locus ceruleus ou substãncia ferrugínea, depois 0
"asa cinzenta", "fóvea inferior" ou "trígono do X núcleo motor do V nervo e mais abaixo a porção
nervo", correspondente ao núcleo dorsal do vago. superior da área vestibular.
A asa cinzenta é limitada inferiormente pelo fu- Na parede posterior ou tecto (Fig. 10.1.73) con-
sideram-se três porções: uma superior, uma por-
ção média ou cerebelosa e uma porção inferior.
A porção superior corresponde ao véu medular su-
perior (Válvula de Vieussens), espessada na linha
média, o freio do véu medular superior, que se es-
tende de um pedúnculo cerebeloso superior ao ou-
tro. A sua extremidade caudal ou base continua-
-se com a língula do cerebelo e o seu vértice ter-
mina ao nível dos tubérculos quadrigémeos pos-
teriores. De cada lado do freio emergem as raízes
do IV nervo craniano. A porção média desta face
corresponde à face anterior do cerebelo, situando-
-se entre a língula, superiormente, e o nódulo in-
feriomente. Lateralmente a porção média é lirrúta-
Fig. 10.1.72: Pavimento do IV ventrículo. da pelos pedúnculos cerebelosos médios. É o fastí-
1. Véu medular superior 2. Pedúnculos cerebelosos (A Superior B. gio ou prolongamento cerebeloso do IV ventrícu-
Médio C. Inferior) 3. Triângulo superior (pôntico) da fossa rombóide
4. Triângulo inferior (bulbar) 5. Trígono do hipoglosso ou asa branca lo Por fim, a porção inferior do tecto corresponde
interna 6. Obex 7. Haste do Callamus Scriptorius 8. Locus Cerule us ao véu medular inferior com as respectivas tela co-
9. Eminência medial 10. Colículo Facial 11. Área Vestibular 12. Estrias
Medulares ou Acústicas 13. Ténia do quarto ventrículo 14. Tubérculo roideia pela frente e membrana tectória por detrás.
Cuneiforme 15. Tubérculo Grácil 16. Trfgono do vago O s bordos laterais espessam-se a nível dos pedún-

572
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: VENTRÍCULOS E LÍQUOR

culos cerebelosos inferiores constituindo as lígu- ,que envolve, e o transporte de diversas substâncias
las. O vértice continua-se com o canal ependimá- metabólicas. O volume total de líquor é usualmen-
rio, sendo perfurado por um orifício (Magendie) te de cerca de 130 mi. A composição do LCR in-
que comunica com o espaço sub-aracnoideu si- clui àgua, sais inorgânicos em quantidades seme-
tuado entre o bulbo e o cerebelo, a cisterna mag- lhantes às do plasma sanguíneo, glicose (glicorrá-
na. Na tela coroideia inferior (formada por invagi- quia) de cerca de metade da do sangue e proteí-
nação de pia-máter) encontram-se os plexos co- nas em quantidade muito menor, apresenta O a
roideus do IV ventrículo que apresentam a forma 4 leucócitos por mm3 e uma pressão de 60 a 150
de um T, ocupando a zona central e estendendo- mmH20, (obtida na região lombar, em decúbito
-se depois lateralmente para os recessos laterais da lateral). A mudança das suas características citoló-
cavidade ventricular. Estes comunicam com o es- gicas, físicas e químicas permite identificar muitas
paço sub-aracnoideu do ângulo ponto-cerebeloso patologias de SNC, tais como infecções e hemor-
através dos orifícios laterais (Luschka). ragias, o que é possível através de punção lombar,
sub-occipital ou ventricular.

FORMAÇÃO, ABSORÇÃO E CIRCULAÇÃO


(FIG. 10.1.74)

O LCR é formado principalmente nos plexos co-


roideus dos ventrículos laterais, III e IV ventrícu-

14

Fig. 10.1 .73: Tronco cerebral, cerebelo e IV ventrículo.


1. Pedúnculo cerebral 2. Aqueduto cerebral (sylvius) 3. Colículo
superior 4. Lâmina quadrigémia 5. Colículo inferior 6. Protuberância
7. 4.0 ventrículo 8. Plexo coroideu 9. Bulbo 10. Buraco mediano
(magendie) 11. Decussação das pirâmides 12. Vérmis superior (A.
Língula B. Lóbulo central C. Culmen D. Declive E. Folium) 13. Véu
medular superior 14. Véu medular inferior 15. Vermis inferior (A. Tuber
B. Pirâmide C. úvula D. Nódulo)

LÍQUIDO CÉFALO-RAOUIDIANO
OULÍOUOR

Localização, funções e características


Fig. 10.1.74: Formação, circulação e absorção do Líquido Cefaloraqui-
diano ou Líquor.
O Líquido céfalo-raquidiano (LCR) ou líquor é 1. Granulação Aracnóideia 2. Seio Longitudinal Superior 3. Ouramater
um fluido aquoso, límpido e incolor que circula no 4. Aracnóide 5. Buraco Lateral ou de Luschka 6. Cisterna Cerebelome-
dular ou Magna 7. Buraco Mediano ou de Magendie 8. Espaço suba-
espaço sub-aracnoideu e nas cavidades ventricu-
racnoideu 9. Canal Ependímário Central da Medula Espinhal 10. Plexo
lares encefálicas. Este fluido tem como funções a Coróideu do Quarto Ventrículo 11 . Aqueduto Cerebral ou de Sylvius
12. Plexo Coroideu do Terceiro Ventrículo 13. Buraco Interventricular
protecção mecânica do Sistema Nervoso Central
ou de Monro 14. Espaço subaracnoideu.

573
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

los. Uma pequena parte forma-se a partir do epên- Os principais locais de absorção de líquor _
dima das paredes ventriculares e dos vasos das lep- 1os1"dades aracno1"de1as
. que "rormam as granuJ.
sao Vi
_•
tomeninges. Em todas essas zonas ocorre um pro- aracnoideias. E stas projectam-se nos seios açacs
, .al Veno.
cesso de secreção activa do LCR por parte do sos d a dura-mater, especi mente no seio lon .
epêndima, envolvendo o transporte activo de Na+ dinal superior, determinando assim um fluxgitu.
e Cl-, acompanhado de água para manter o equi- líquor predominantemente de baixo para ~ de
cnna
hbrio osmótico. Nestas zonas o LCR está separado do sangue ·
ape-
A principal produção de líquor ocorre nos ven- nas pela aracnóide com uma camada celular rn .
trículos laterais. Daqui o fluido passa para o III to fina, e pelo endotélio do seio venoso, ocorren~-
0
ventrículo, pelos buracos interventriculares , des- a reabsorção do líquor quando a pressão deste C)(-
te ao IV ventrículo pelo Aqueduto cerebral e des- cede a do sangue no seio. Como a produção de lí-
te ventrículo, através dos orifícios mediano e late- quor nos plexos coroideus é constante, a velocida-
rais, para o espaço sub-aracnoideu e cisternas en- de da sua reabsorção é determinante na sua pres-
cefálicas. O LCR desloca-se depois desde a face são de circulação.
inferior do encéfalo para faces laterais dos hemis-
férios, até à proximidade do seio longitudinal su-
perior onde vai ser maioritariamente reabsorvido
. . .,M&ii•MdMit•riil
para a circulação sanguínea ao nível de granula-
ções aracnoideias (Paccioni) (Fig. 10.1.75). Uma A análise da compos1çao do LCR em doen-
parte dirige-se também caudalmente, envolven- tes com patologia neurológica pode fornecer in-
do a medula; desta parte, algum LCR não volta a formações muito importantes quanto à natureza
subir, uma vez que existem pequenas granulações e diagnóstico da doença, sobretudo em casos de
aracnoideias ao nível da dura máter que acompnha doença infecciosa (meningite, encefalite), doenças
a emergência dos nervos espinhais. No conjunto a auto-imunes (Esclerose Múltipla, Guillan- Barré),
circulação do LCR é facilitada pelas pulsações ar- patologia tumoral ou hemorrágica.
teriais transmitidas ao sistema venoso, pelos cílios A ventriculomegália consiste no aumento di-
das células ependimárias e pelos movimentos da mensional dos ventrículos cerebrais e está ge-
coluna vertebral. ralmente associada a uma das seguintes condi-
ções: excesso de produção de LCR, como ocor-
2 re por exemplo em tumores dos plexos coroideus;
14 3 atrofia do encéfalo com alargamento compensa-
dor dos ventrículos - hidrocefalia ex-vácuo, como
acontece na Doença de Alzheimer; obstrução na
13 circulação ou absorção do líquor, nas denomina-
4
das "hidrocefalias obstrutivas"; e noutras situa-
ções onde ocorre alterações do desenvolvimen-
to do manto cerebral.
6
A hidrocefalia (Fig. 10.1.76B) consiste num au-
mento da quantidade de líquor nos ventrículos en-
cefálicos, com ou sem aumento na pressão do lí-
quor. Consoante exista ou não obstrução à cir-
12
8 culação de LCR designam-se, respectivamente, as

11
/
10 9
hidrocefalias como obstrutivas não comunicantes
e obstrutivas comunicantes. (&ando se instala hi-
Fig. 10.1.75: Meninges e reabsorção do líquor para o sistema venoso drocefalia antes do encerramento das suturas do
nas granulações aracnoideias (vista frontal). crânio, pode originar-se uma dilatação encefáli-
1. Veia Emissária 2. Pele 3. Calote Craniana 4. Duramater 5. Espaço
subdural 6. Aracnóide 7. Espaço Subaracnoideu 8. Artéria 9. Piamater ca global, que se designa megaencefalia. (&ando
10. Parênquima Cerebral 11. Foice do Cérebro 12. Seio Longitudinal a hidrocefalia ocorre no adulto, com as suturas en-
Superior 13. Veia 14. Granulação ou Vilosidade Aracnóideia

574
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: VENTRÍCULOS E LÍQUOR

0.1.76: Imagens de tomografia computorizada em plano axial:


1
A. Ventrículos de dimensões normais B. Hidrocefalia
. Calote Craniana 2. Córtex Cerebral Lobo Frontal 3. Substância Branca do Lobo Frontal 4. Cabeça do Núcleo Caudado 5. Núcleo Lenticular
1
_Tálamo 7 . Plexo Coróideu Calcificado no Interior do Ventrículo Lateral Esquerdo 8. Dilatação do Corno Frontal do Ventrículo Lateral Esquerdo
6
9. Dilatação do Terceiro Ventrículo 10. Dilat ação do Átrio Ventricular Esquerdo.

cerradas, pode acompanhar-se de um marcado au- 2. Assinale a afirmação correcta:


mento na pressão intra-craniana. Por vezes, sobre- a. A encruzilhada ventricular corresponde à
tudo no idoso, pode existir hidrocefalia de pres- zona do ventrículo lateral onde o corpo se
são normal, que consiste num alargamento unifor- continua com o corno anterior.
me do sistema ventricular sem aumento da pres- b. Os plexos coroideus do III Ventrículo sur-
são intra-craniana. gem no pavimento entre o Trígono e o
Tálamo (Fissura Coroideia).
c. A estria Terminal passa, no seu trajecto,
PERGUNTAS TIPO pelo pavimento dos ventrículos laterais.
d. O limite posterior do Buraco Interventri-
1. Relativamente ao IV ventrículo assinale a cular (Monro) é a coluna anterior do Trí-_
afirmação incorrecta: gono.
a. O seu pavimento é atravessado transver- e. O III Ventrículo é uma cavidade Telence-
salmente pelas estrias medulares ou acús- fálica.
ticas.
b. A asa cinzenta corresponde ao núcleo dor- 3. Assinale a afirmação incorrecta no que diz
sal do Vago. respeito ao líquor:
c. O tecto é formado parcialmente pela tela a. Passa para a circulação sanguínea por dife-
coroideia superior. rença de pressões.
d. O IV nervo craniano surge no tronco ce- b. É apenas produzido pelos plexos coroideus.
rebral de cada lado do freio da válvula de c. O corno posterior dos ventrículos laterais
Vieussens. não possui plexos coroideus.
e. É uma cavidade Rombencefálica. d. As características citológicas e físico.quí-
micas têm importante valor diagnóstico.

575
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

e. Em condições normais é límpido e incolor.

4. Assinale a afirmação correcta no que respei-


ta ao líquor:
a. É muito rico em lípidos e glicose.
b. As pulsações arteriais ajudam na sua cir-
culação.
e. O epêndima é um tipo especial de epitélio
cubóide ciliado.
d. Estão todas correctas.
e. B e C estão correctas.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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edição. Wolters Kluwer, 2019.
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edição. Atheneu, Rio de Janeiro, 2013.

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Rouviere, H.; Delmas, A. Anatomie Humaine.


Tome 3. lSéme édition. Masson et Cie. Paris, 2002.
Kahle, W.; Leonhardt, H.Anatomie: Systeme
Nerveux et organes dessem.Tome 3. Flammarion,
2002.

• ••

576
MENINGES geo, os quais estão justapostos, excepto em algu-
mas zonas, onde formam os seios venosos intra-
O Sistema Nervoso Central (SNC) está envol- cranianos.
·do por três membranas de origem mesodérmi- O folheto externo da Duramater craniana (ou en-
~ _ as M eninges. Estas têm como principal fun- dosteal) cobre a face interna dos ossos crânio e
c, 0 ern conjunto com o crânio e o líquor, a protec- comporta-se como o seu periósteo. Adere intima-
ça '
- dos centros nervosos. Estas membranas são, de mente a estes em toda a sua extensão, sobretudo ao
çao
fora (mais superficial) para dentro: a Duramater, a nível das suturas, e sendo mais aderente aos ossos
Afacnoideia e a Piamater (Fig. 10.1.77). Em ter- da base que aos da abóbada; desta forma, não exis-
rnos embrionários, a Aracnoideia e a Piamater de- te espaço epidural no crânio. No entanto, a Dura-
rivam de um mesmo folheto, tendo uma designa- mater é facilmente descolável na zona fronto-pa-
ão comum - a Leptomeninge ou meninge fina; rieto-temporal da abóbada craniana, o chamado
çor sua vez, a Duramater deriva de outro folheto espaço descolável de Gerard-Marchant. Ao nível
~rnbrionário, e recebe a designação de Paquime- do buraco occipital este folheto contorna a mar-
ninge ou meninge espessa. gem do foramen, continuando-se com o periósteo
externo, logo não existe folheto externo na Dura-
mater raquidiana.
O folheto interno ou meníngeo constitui a Du-
ramater propriamente dita (Fig. 10.1.78). É uma
membrana densa e fibrosa que se continua com
a Duramater raquidiana ao nível do buraco occi-
pital. Em algumas áreas deste folheto, destacam-
-se septos para o interior da cavidade craniana que
a dividem em compartimentos comunicantes, os
quais alojam as sub-divisões do encéfalo e limitam
os seus movimentos aquando da aceleração ou de-
saceleração da cabeça. Entre os dois hemisférios
cerebrais existe a foice do cérebro que é um septo
vertical mediano, que ocupa a fenda inter-hemis-
férica. Anteriormente, este septo fixa-se à apófise
crista galli e à crista frontal interna; atrás, bifurca-
10 9
- se continuando-se de cada lado pela tenda do ce-
Fig. 10.1.77: Meninges: Organização Geral.
1. Escalpe 2 . Periósteo 3. Calote Craniana 4. Duramater (folheto
rebelo, onde se encontra o seio recto; o bordo su-
períostal e folheto meníngeo) 5. Aracnóide 6. Espaço Subaracnoideu perior é convexo e insere-se ao longo da linha mé-
7. Piamater 8. Substância Branca 9. Córtex Cerebral 10. Foice do
Cérebro 11. Seio Longitudinal Superior 12. Vilosidades ou Granula-
dia da abóbada craniana, desde a apófise crista gal-
ções Aracnóideias. li até à protuberância occipital interna, sendo per-
corrido pelo seio longitudinal superior. A foice do
cérebro tem, ainda, um bordo Ântero-inferior li-
DURAMATER vre, que é percorrido pelo seio longitudinal infe-
rior. A tenda do cerebelo é outra prega de Dura-
A Duramater é a meninge mais superficial. É uma mater e consiste num septo horizontal que reco-
membrana espessa e resistente, constituída por te- bre a face superior do cerebelo, sob a face inferior
cido conjuntivo, rico em fibras de colagénio. Con- dos lobos occipitais do cérebro. A tenda do cere-
tém no seu interior o SNC (encéfalo e medu- belo forma a cobertura da fossa craniana poste-
la espinhal), sendo apenas perfurada nos locais de rior, dividindo a cavidade craniana em dois com-
emergência dos nervos cranianos e raquidianos. A partimentos: um superior, supra- tentorial ou ce-
Duramater craniana é formada por dois folhetos: rebral, outro inferior, infra-tentorial ou cerebelo-
um externo ou endosteal, outro interno ou menín- so, que contém também o tronco cerebral. O bor-

577
MANUAL DE ANATOMlA HUMANA

16

11 10
Fig. 10.1.78A: Seios Venosos e Duramater da Abóbada Craniana. Fig. 10.1.78B: Seios Venosos e Duramater da Base do Crânio.
1. Seio Longitudinal Superior 2. Foice do Cérebro 3. Seio Longitudinal 1. Foice do Cérebro (seccionada) 2. Seio Esfenoparietal 3, Veia C
Inferior 4. Veia Cerebral Interna 5. Veia Cerebral Magna ou de Galeno rebral Média _Superficial 4. S~io lnter~ve~noso_ 5. Artéria Men ~
6. Veia Basal (RosenthaO 7. Seio Recto 8. Seio Sigmóide 9. Tenda Média 6. Seio Petroso Supenor 7. Se10 S,gmó1de 8. Seio Lateral
do Cerebelo 10. Seio Lateral ou Transverso 11. Foice do Cerebelo Transverso 9. Seio Recto 10. Seio Longitudinal Superior 11, Foice:
12. Seio Occipital 13. Confluente dos Seios, Tórcula ou Lagar de Cérebro (seccionada) 12. Tenda do Cerebelo 13. Seio Petroso Inferior
Herófilo 14. Granulações Aranóideias. 14. Plexo Venoso Basilar 15. Seio Cavernoso 16. Veia Oftálmica Superior

do posterior é fixo e estende-se desde uma apófise uma prega de Duramater que forma uma cavida-
clinoideia posterior à apófise clinoideia posterior de - o cavum de Meckel.
contralateral, horinzontalmente, ao longo da pa- A Duramater raquidiana encontra-se separada do
rede craniana posterior, inserindo-se no bordo su- contorno interior do canal raquidiano por um es-
perior dos rochedos e nas goteiras do seio lateral e paç.o - Espaço Epidural - que está preenchido por
protuberância occipital interna. Este bordo poste- tecido adiposo e plexos venosos epidurais. Termi-
rior é percorrido pela parte posterior dos seios la- na em fundo de saco ao nível de S2. A Durama-
terais e, à frente, pelos seios petrosos superiores. ter espinhal embainha as raízes dorsais e ventrais e
A foice do cerebelo é um pequeno septo vertical também o gânglio posterior e porção proximal dos
mediano, fixo à protuberância occipital interna e nervos raquidianos, onde se continua com o epi-
à face inferior da tenda do cerebelo, na sua porção vervo, ao nível do buraco de conjugação.
posterior. E stende-se para baixo entre os dois he- A Duramater é muito vascularizada, particular-
misférios cerebelosos até perto do buraco occipi- mente o folheto externo. A principal artéria que
tal. Na sua margem fixa é percorrido pelo seio oc- irriga a Duramater craniana é a artéria meníngea
cipital posterior. média, ramo da artéria maxilar interna. Ao contrá-
Existem ainda formações de Duramater que iso- rio das outras meninges, a Duramater é ricamen-
lam certas estruturas do resto da cavidade crania: te inervada, recebendo ramos sensitivos do trigé-
a tenda ou diafragma da sela turca que é uma pe- mio, do vago, dos três primeiros nervos cervicais e
quena lâmina horinzontal que forma o tecto da ramos do tronco simpático. Desta forma, a sensi-
sela turca. Tem um orillcio central para dar pas- bilidade intra-craniana está, sobretudo, localizada
sagem à haste hipofisária; a tenda do bulbo olfac- na duramater, sendo esta a responsável pela maio-
tivo é uma pequena prega localizada de cada lado ria das cefaleias.
da linha média, por cima do bulbo olfactivo, en-
tre a apófise crista galli e o bordo lateral das gotei- SEIOS VENOSOS
ras etmoidais; ao nível da face anterior do rochedo
está localizado o gânglio semilunar ou gânglio de Os seios venosos são canais venosos situados entre
Gasser do V nervo craniano. Este está coberto por os dois folhetos da Duramater, dispondo-se prin-

578
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: MENINGES

cipalmente ao longo das inserções das pregas da c. Cisterna superior ou da veia de Gale-
purarnater. Os seios venosos têm paredes finas, no localizada atrás do mesencéfalo, en-
mas rígidas, revestidas de endotélio e desprovidas tre o cerebelo e o debrum do corpo calo-
de camada muscular. São canais venosos avalvula- so. O conjunto desta cisterna, da cisterna
res. Para além da drenagem do sangue venoso do do corpo caloso e das restantes flumina,
encéfalo, os seios venosos recebem também o li- que para ele drenam, denomina-se cister-
quido cefalo-raquidiano absorvido a partir do es- na ambiens.
paço sub-aracnoideu (ver vascularização venosa do
encéfalo). No compartimento cerebeloso:
a. Cisterna cerebelosa superior situada entre
a tenda do cerebelo e o vermix superior;
ARACNÔIDE b. Cisterna cerebelo-medular ou magna ocu-
pa o espaço entre a face inferior do cere-
Por dentro da Duramater está a Aracnóide ou belo e a face dorsal do bulbo. Esta cister-
Aracnoideia, que a reveste e que lhe está justapos- na continua-se caudalmente com o espaço
ta, sem lhe aderir. Entre elas existe um espaço, nor- sub-aracnoideu medular e comunica com
malmente virtual, o espaço subdural, que pode ser o IV ventrículo, através do buraco de Ma-
preenchido em situações patológicas, por exemplo gendie. É a cisterna maior e mais impor-
hemorragias ou infecções. A Aracnoideia é tam- tante, podendo ser utilizada para obten-
bém constituída por dois folhetos: sob o folheto _ ção de liquor através de punções sub-oc-
externo, continuo, encostado à Duramater, existe cipitais;
um outro descontinuo, cujas células se inserem na c. Cisterna ponto-cerebelosa localizada no
Piamater que reveste a superficie do parênquima ângulo ponto-cerebeloso;
nervoso. Entre estes dois folhetos existe um espa- d. Cisterna pôntica ou basilar localizada à
ço aracnoideu, onde circula o liquor, chamado Es- frente da protuberância.
paço Subaracnoideu.
O espaço subaracnoideu apresenta numerosas di-
10
latações, zonas em que o parênquima cerebral se
afasta mais da dura-aracnoide, nomeadamente
junto dos sulcos ou fendas da superficie encefálica.
As dilatações mais amplas denominam-se de cis-
ternas. Fora das dilatações, os dois folhetos arac-
noideus encontram-se unidos em pontes, que lhes
confere uma textura trabecular, por onde passam
os vasos sanguíneos.

4
CISTERNAS ARACNOIDE/AS
(FIG. 10. 1.79)
5
As mais importantes cisternas aracnoideias são:
a. Cisterna quiasmática ou opto-quiasmática
situada à frente do quiasma óptico, entre o
quiasma e o bico do corpo caioso, comuni- Fig. 10.1.79: Cisternas Aracnóideias. Líquor representado a azul.
ca com a Cisterna da fossa lateral do cére- 1. Aqueducto Cerebral ou de Sylvius 2. Cisterna Superior ou da Veia
de Galeno 3. Cisterna Cerebelosa Superior 4. Quarto Ventrículo
bro, a qual corresponde à depressão forma- 5. Cisterna Cerebelo-medular ou Magna 6. Espaço Aubaracnoideu
da pelo sulco lateral do cérebro (Sylvius); perimedular 7. Cisterna Pôntica 8. Cisterna lnterpeduncular ou Basal
9. Cisterna Quiasmática 10. Terceiro Ventrículo
b. Cisterna interpeduncular situada entre os
pedúnculos cerebrais;

579
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

GRANULAÇÕES ARACNOIDE/AS contram-se na parede superior do III ventríc


(FIG. 10. 1.80) na porção inferior do tecto do IV ventrículo Ulo e
tinuamente às membranas tectórias, a partirc~n-
Em algumas áreas a Aracnoideia projecta peque- quais se desenvolvem os plexos coroideus dos as
nos tufos para os seios venosos, formando as gra- 'ulos respect1vos.
tr1c . ~~

nulações aracnoideias, especialmente abundantes


ao longo do seio longitudinal superior. Estas gra-
nulações são constituídas por pequenos prolonga-
mentos do espaço sub-aracnoideu, nos quais o li-
quor está separado do sangue apenas por endotélio
do seio e por uma fina camada de aracnóide. Des-
ta forma, as granulações aracnoideias são estrutu-
ras especializadas na absorção do LCR para a cor-
rente sanguínea.
No adulto algumas granulações são relativamente
volumosas, denominando-se corpos de Pacchioni,
que podem calcificar e determinar impressões na
abóbada craniana.

Fig. 10.1.81: Piamater e plexos coroideus.


14 3 1. Plexo Coroideu Ili Ventrículo 2. Plexo Coroideu IV Ventrículo 3. Veia
cerebral magna/ampola galeno 4. Cerebelo 5. Corpo caloso

13
A Piamater acompanha os vasos que penetram no
4
tecido nervoso, formando a parede externa dos es-
paços peri-vasculares. Estes acompanham os vasos
mais calibrosos numa pequena distancia, ao lon-
6

12

11
/
10 9

Fig. 10.1.80: Meninges e reabsorção do líquor para o sistema venoso


nas granulações aracnoideias (vista frontal).
1. Veia Emissária 2. Pele 3. Calote Craniana 4 . Duramater 5. Espaço
subdural 6. Aracnóide 7. Espaço Subaracnoideu 8. Artéria 9. Piamater
10. Parênquima Cerebral 11. Foice do Cérebro 12. Seio Longitudinal
Superior 13. Veia 14. Granulação ou Vilosidade Aracnóideia

PIAMATER
(FIG. 10.1.81, 10.1.82)

A Piamater é a membrana meníngea mais interna, 4

mais fina, que cobre toda a superfície do SNC e


penetra em todos os acidentes do seu relevo, à ex-
cepção dos sulcos do cerebelo e dos ventrículos ce- Fig. 10.1.82: Setor da Medula espinhal envolvido pelas meninges.
rebrais. No entanto, invaginações da Piamater en- 1. Duramater 2. Aracnoide 3. Piamater a revestir a medula 4. Ligamento
dentado

580
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: MENINGES

go do seu percurso dentro do tecido cerebral, ter- ral, resultando num hematoma extradural ou epi-
JTlinando por fusão da Piamater com a adventí- dural. À medida que o hematoma expande, o en-
cia do vaso. A Piamater estende- se também so- céfalo vai sendo comprimido e o doente, que pode
bre os nervos cranianos e funde-se com os respec- ter um intervalo livre consciente e sem sintomas,
tivos epinervos. tem uma deterioração do estado de consciência e
A Piamater raquidiana forma, de cada lado e a pode entrar em coma. Esta situação é uma emer-
toda a altura da medula espinhal, uma prega lon- gência e requer drenagem neurocirúrgica imedia-
gitudinal, revestida por Aracnoideia, cujo bordo ta. Em Tomografia Computorizada (TC) o hema-
lateral se estende até à face interna da Duramater, toma epidural tem a morfologia de uma lente bi-
tendo indentações arciformes por onde passam as convexa e é limitado pelas suturas cranianas, dada
raízes de cada nervo raquidiano, que convergem a forte inserção da duramater nestas suturas (Fig.
para o respectivo buraco intervertebral. Estas pre- 10.1.83 e 10.1.84).
gas, que dividem incompletamente os espaços lá- Pode também ocorrer laceração das veias que pas-
tero-medulares numa parte anterior e outra poste- sam em ponte no espaço subdural, resultando num
rior, denominam-se ligamentos dentados da me- hematoma subdural agudo ou sub-agudo/crónico.
dula espinhal. Esta situação é mais frequente nos idosos, que ge-
ralmente estão medicados com antiagregantes pla-
ANATOMIA FUNCIONAL E CLÍNICA quetários ou anticoagulantes e pode ter uma insta-
lação insidiosa, com sintomas neurológicos que se
Meningite desenvolvem em semanas ou meses após o trauma,
que pode ser minor. Mais uma vez a cirurgia pode
A meninigite consiste numa inflamação das me- ser necessária. Em TC esta colecção tem a morfo-
ninges que envolvem o encéfalo ou a medula espi- logia de uma meia-lua, ou em crescente, pode ul-
nhal. Pode resultar de uma infecção por vírus, bac- trapassar as suturas cranianas mas geralmente não
térias ou fungos. Pode também ocorrer no contex- cruza a linha média (Fig. 10.1.85).
to de algumas neoplasias (meningite carcinomato- A hemorragia pós-traumática pode também ocor-
sa) ou de uma reacção química a produtos de con- rer no espaço sub- aracnoideu, com distribuição
traste injectados durante procedimentos neurorra- nos sulcos corticais e/ou cisternas da base, sen-
diológicos. Manifesta-se por cefaleias, febre, foto- do por vezes difícil de distinguir das hemorra-
fob ia, vómitos, rigidez do pescoço. As meningites gias sub-aracnoideias espontâneas, por ruptura de
virais ou químicas são habitualmente auto-limita- aneurisma cerebral.
das e não exigem tratamento. As de origem bac-
teriana ou füngicas são mais graves e se não trata-
das podem resultar em lesões de nervos cranianos,
aumento da pressão inracraniana, lesões encefáli-
cas e morte.

Traumatismo Crânioencefálico

O trauma crânioencefálico (TCE), sobretudo


aquele que resulta de acidentes de viação, é a cau-
sa mais frequente de morbi-mortalidade na idade
jovem. Pode ocorrer fractura do crânio, laceração
das meninges e/ou lesão do parênquima encefáli-
co (focos de contusão cerebral, lesões axonais difu-
sas, por exemplo). Qyando existe laceração da ar-
téria meníngea média ou outra artéria meníngea,
pode ocorrer hemorragia para o espaço extradu- Fig.10.1.83: Hematoma Epidural (esquema).
1. Sangue no espaço Epidural 2. Duramater 3. Calote Craniana

581
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Fig. 10.1.84: Hematoma Epidural Parietal à esquerda: Tomografia Computorizada em Janela de Parênquima Cerebral e em Janela Óssea
1. Sutura Coronal 2. Fractura Parietal 3. Sutura lambdóide 4. Hematoma Epicraniano 5. Sangue no Espaço Epidural (Hematoma) em forma de
lente biconvexa 6. Ventrículo Lateral direito parcialmente colapsado 7. Desvio da linha média para a direita por efeito de massa

.PERGUNTAS TIPO

1. No que respeita às meninges e líquor, qual a


resposta VERDADEIRA?
a. A aracnóide e a pia-mater são designadas
de "paquimeninges".
b. A aracnóide entra na constituição das te-
las coroideias.
c. O líquor é produzido nos plexos coroideus
por um processo de transporte activo.
d. A foice cerebral e a tenda do cerebelo são
prolongamentos do folheto externo da du-
ra-mater craniana.
e. A dura-mater raquidiana forma os liga-
mentos dentados de cada lado da medula
e termina-se pelo filum terminal.

2. A foice cerebral forma-se a partir de:


a. Espessamento da membrana aracnoideia.
b. Folheto interno da dura-mater.
e. Membrana com inserção no folheto inter-
no da dura-mater.
d. Espessamento da pia-mater.
Fig. 10.1.85: Hematoma Subdural Agudo à esquerda: Tomografia
Computorizada em Janela de Parênquima Cerebral. e. Nenhuma das anteriores.
1. Sangue agudo no espaço subdural à esquerda (hematoma), em
forma de meia.lua 2. Fina lâmina hemática subdural junto à foice
do cérebro 3. Átrio ventricular direito d ilatado por encarcerament o 3. No que diz respeito às meninges assinale a
4. Ventrículo lateral esquerdo desviado 5. Joelho do corpo caloso - afirmação correcta:
herniação subfalcial e desvio da linha média por efeito de massa.

582
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: MENINGES

a. As granulações aracnoideias são mais nu-


merosas no seio lateral.
b. A aracnóide e a pia-mater são também de-
nominadas "paquimeninges".
e. O plexo coroideu do IV ventrículo é irri-
gado pela AICA.
d. A veia oftálmica superior drena para o seio
cavernoso.
e. Os ligamentos dentados são constituídos
por duramater.

!a- e !a-z: !::)-1


:SClJa:, SElSOdSa(I

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Splittgerber, R. Snell's Clinical Neuroanatomy. 8.ª


edição. Wolters Kluwer, 2019.
Machado, ABM. Neuroanatomia Funcional. 3.•
edição. Atheneu, Rio de Janeiro, 2013.
Afüi, A .; Bergman, A. Functional neuroanatomy:
text and atlas. 2nd Edition. Me Graw-Hill
Professional, 2005.

** *

583
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

VIAS DA SENSIBILIDADE

As vias ascendentes ou aferentes do sistema ner-


voso central são as vias relacionadas com a sen-
sibilidade e estímulos sensoriais. Estas dividem-
-se em três grandes grupos: vias da sensibilida-
de exteroceptiva (relacionada com estímulos ex-
ternos que são recebidos pelo corpo e transpor-
tados ao sistema nervoso central), propriocepti-
va (que transporta informação sobre a posição do
corpo no espaço e o estado de contracção muscu-
lar) e interoceptiva (relacionada com a sensibili-
dade visceral).
Existem ainda vias aferentes diferenciadas que
6
transportam informação sensorial (via olfactiva,
via óptica, via auditiva e vestibular e via gusta-
tiva).
Na sua maioria as vias ascendentes são constituí-
das por 3 neurónios. O primeiro neurónio tem
o corpo celular localizado nos gânglios das rai-
zes posteriores dos nervos espinhais ou nos gân-
glio sensitivos dos nervos cranianos com essa fim-
ção. Este neurónio tem prolongamentos periféri-
cos que recebem informações sob a forma de re-
ceptores especializados e prolongamentos centrais
que sinapsam com o segundo neurónio. O segun-
do neurónio por sua vez tem o seu corpo celular Fig. 10.1.86: Esquema dos três neurónios da maioria das vias aferentes
do Sistema Nervoso Central.
no corno posterior da medula espinhal ou no caso 1. Terceiro Neurónio 2. Segundo Neurónio 3. Comissura Anterior
dos nervos cranianos no núcleo sensitivo principal 4. Primeiro Neurónio 5 . Receptor Periférico 6. Via Sensitiva (Espino•
talâmica Anterior) 7 . Tálamo 8. Córtex Sensitivo
ou no núcleo do tracto espinhal do V par crania-
no. Daí parte o axónio que leva a informação até sas livres e são posteriormente transmitidos pelos
ao tálamo onde sinapsa com o terceiro neurónio. axónios periféricos do primeiro neurónio em dois
O terceiro neurónio tem o seu corpo celular no tipos de fibras. As fibras tipo Aõ (delta) mielini-
tálamo e os seus axónios projectam-se no córtex zadas são responsáveis pela transmissão rápida da
cerebral (Fig. 10.1.86). dor originada em estímulos químicos e mecânicos.
Todos os estímulos (à excepção dos sensoriais) que Por outro lado as fibras tipo C são responsáveis
são transportados por estas vias são recebidos por pela transmissão da dor lenta e originada maio-
receptores periféricos cutâneos e musculares (Fig. ritariamente em estímulos químicos mas também
10.1.87). em menor proporção mecânicos.
Os estímulos são transmitidos ao segundo neuró-
nio cujo corpo se encontra nos cornos posterio-
VIAS DA SENSIBILIDADE EXTEROCEPTIVA res da medula espinhal, mais precisamente nas lâ-
minas de Rexed I (zona marginal) e II (substân-
VIA DA SENS/8/UDADE TERMOÁLG/CA cia gelatinosa de Rolando). Aí esta via divide-se
em via neoespinhotalâmica (onde predominam as
Esta via transporta informações relativas à sensa- fibras Aõ), paleoespinhotalâmica (onde predomi-
ção de temperatura e dor. Os estímulos são re- nam as fibras C) e arqueoespinhotalâmica (Fig.
cebidos maioritariamente em terminações nervo- 10.1.88).

584
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: VIAS DA SENSIBILIDADE

4 5

~ 11

10

J
J
~
9

8 7 6

. . _87: Diferentes tipos de recetores periféricos que originam as vias aferentes exteroceptivas.
10 1
FigR:ecetor no Folículo Piloso 2. Recetor Nocicetivo ao calor 3 . Recetor Nocicetivo ao frio 4. Complexo de Axon-Merkel 5. Corpúsculo
:~ Meissner 6. Corpúsculo de Ruffini 7. Corpúsculo de Vater Pacini 8. Terminação nervosa livre 9. Tecido Subcutâneo 10. Derme 11. Epiderme

As fibras da via neoespinhotalâmica sinapsam pre- das regiões do córtex cerebral nomeadamente a
dominantemente na lâmina I e os axónios cruzam área somatoestésica, o cíngulo, o sistema límbico
a linha média e seguem pelo feixe espinhotalâmico e a ínsula.
lateral nos cordões laterais da medula. Inicialmen- Esta via é responsável pela transmissão da dor
te chegam à medula as fibras sagradas que se loca- pouco localizada e lenta e, pelas suas conexões
lizam numa região mais externa do feixe em com- com os feixes espinhoreticulares, com a sensação
paração com as fibras cervicais que se encontram de dor crónica.
numa região mais interna (Fig. 10.1.89). Associada a esta via encontram-se ainda as fibras
As fibras seguem pelo feixe espinhotalâmico la- que constituem a via espinhotectal cujo segundo
teral até ao bulbo raquidiano onde se juntam ao neurónio ascende na porção mais anterior do feixe
feixe espinhotalâmico anterior e ao feixe espinho- espinhotalâmico lateral e sinapsa nos colículos su-
tectal para formarem o lemnisco espinhal. Conti- periores. Apesar de apresentar projecção bilateral
nuam-se pelo tegmento da protuberância e me- a maioria dos segundos neurónios desta via cruza
sencéfalo até sinapsarem com o terceiro neuró- a linha média ao entrar na medula. É responsável
nio no núcleo ventral pósterolateral do tálamo. pelo transporte das informações aferentes para os
Os axónios do terceiro neurónio formam as radia- reflexos espinhovisuais.
ções talâmicas que acendem pelo braço posterior A via espinhoreticular cursa juntamente com as
da cápsula interna, internamente à via piramidal duas previamente descritas mas o seu segundo
e projectam-se na área somatoestésica primária. neurónio (maioritariamente homolateral as com
A via neoespinhotalâmica é responsável pela con- algumas projecções bilaterais) sinapsa na forma-
dução da dor bem localizada, rápida e aguda. ção reticular do bulbo raquidiano, protuberância
As fibras da via paleoespinhotalâmica sinapsam e mesencéfalo e na substância cinzenta periaque-
predominantemente na lâmina II (mas também ductal. Esta via está associada com a regulação do
IV e V ). Daí dirigem-se aos cordões laterais da nível de consciência e de dor crónica.
medula homo e contralaterais e ascendem no fei- A via arqueoespinhotalâmica é uma via multissi-
xe espinhotalâmico lateral juntamente com a via náptica cujos primeiros neurónios sinapsam na lâ-
neoespinhotalâmica. Durante o seu trajecto está mina II de Rexed e posteriormente nas lâminas
em relação com os feixes espinhoreticulares esta- IV a VII e que ascende nos fascículos próprios da
belecendo também conexções com a formação re- medula, junto à substância cinzenta central. No
ticular. Finalmente sinapsam com núcleos intra- mesencéfalo as fibras desta via sinapsam com os
laminares do tálamo onde está o corpo do tercei- neurónios da substância cinzenta periaqueductal e
ro neurónio. Daí as fibras projectam-se em varia- da formação reticular mesencefálica e daí emitem

585
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

11
10

12

Fig. 10.1.89: Organização das fibras no feixe espinhotalâmico lateral


3 nos segmentos cervicais da medula espinhal.
1. Corpo Celular do 2.º neurónio 2. Fibras Sagradas 3. Fibras Lombares
4. Fibras Torácicas 5. Fibras Cervicais 6. 1.0 Neurónio 7. Corpo
Celular do 1.º neurónio 8. Corpo Celular do 2.0 neurónio 9. Feixe
Espinotalâmico Antedor 1O. Feixe Espinotalâmico lateral 11. Co-
missura Anterior

são maioritariamente mecânicos. As informações


são transportadas dos receptores até aos cornos
posteriores da medula pelos prolongamentos pe-
riféricos e centrais do primeiro neurónio.
Ao penetrar no corno posterior da medula as fi-
bras nervosas dividem-se em ascendentes e des-
cendentes que cursam em média dois níveis me-
Fig. 10.1.88: Vias relacionadas com a nocicepção (neoespinhotalâmica,
paleoespinhotalâmica e arqueoespinhotalâmica). dulares no feixe pósterolateral de Lissauer e pos-
1. Circunvolução Pós-Central 2. Via Reticulotalâmica 3. Via Espinome-
teriormente sinapsam com o segundo neurónio na
sencefálica 4. Via Espinoreticular 5. Medula Espinhal 6. Via Neoespino-.
talâmica 7. Via Paleoespinotalâmica 8. Bulbo 9. Mesencéfalo 1O. Núcleo substância gelatinosa de Rolando (lâmina II de
Prétectal 11. Núcleo Ventral Póstero-Lateral do Tálamo 12. Cápsula Rexed). O segundo neurónio cruza a linha mé-
Interna.
dia de forma oblíqua e superior subindo no cor-
projecções para os núcleos intralaminares do tála- dão anterior contralateral e formando o feixe espi-
mo. Posteriormente as fibras que saem do tálamo nhotalâmico anterior. Aqui existe novamente uma
conectam-se com estruturas do sistema límbico e organização somatotrópica sendo as fibras sagra-
do hipotálamo. Esta via é responsável principal- das as mais anteriores e as cervicais mais posterio-
mente pelas reacções viscerais, emocionais e auto- res (mais próximas da substância cinzenta central).
nómicas à dor. Ao chegar ao bulbo raquidiano junta-se às fibras
que constituem o feixe espinhotalâmico lateral e
VIA DA SENSIBILIDADE TÁCTIL PROTOPÁTICA formam o lemnisco espinhal. Daí as fibras diri-
gem-se através da protuberância e mesencéfa-
Esta via transporta informações relativas à sensa- lo para o núcleo ventral pósterolateral do tálamo
ção de pressão e do tacto grosseiro não discrimina- para sinapsarem com o terceiro neurónio. Daí as
tivo. Os estímulos são recebidos através de recep- fibras do terceiro neurónio dirigem-se pelo bra-
tores relacionados com a base dos folículos pilosos, ço posterior da cápsula interna para a área soma-
complexos celulares de Axon-Merkel e corpúscu- toestésica primária na circunvolução parietal as-
los de Ruffini e Meissner. Os estímulos recebidos cendente.

586
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: VIAS DA SENSIBILIDADE

VIA DA SENSIBILIDADE TÁCTIL EPICRÍTICA

Esta via é responsável pela capacidade de discri-


minação de dois pontos (tacto fino) e pela iden-
tificação de objectos através do tacto (estereog-
nosia). Os estímulos para activação desta via são
recebidos através dos corpúsculos de Meissner e 6
Ruffini. Além disso as fibras desta via são tam-
bém responsáveis pela informação músculo-arti-
cular para a movimentação corporal e pelas sen-
sações vibratórias. 4

Dos receptores periféricos as informações rece-


bidas seguem pelos prolongamentos periféri-
cos e centrais do primeiro neurónio até ao cor-
no posterior da medula espinhal. Aí e sem sinap-
sarem as fibras penetram nos cordões posteriores
da medula espinhal e sobem até ao bulbo onde
fazem sinapse com o segundo neurónio da via.
Nos cordões posteriores da medula as fibras têm
Fig. 10.1.90: Localização e organização das fibras dos feixes gracilis e
uma organização somatotrópica em dois cordões cuneatus nos cordões posteriores da medula.

bem definidos que são o feixe de Goll ou gracil- 1. Corpo Celular do 1.º neurónio 2. Axónios Colaterais Descendentes
3. Fibras Sagradas 4. Fibras Lombares 5. Fibras Torácicas 6. Fibras
lis mais interno e posterior e o feixe de Burdach Cervicais (C8) 7. Fibras Cervicais (C1) 8. Feixe Cuneiforme ou de
ou cuneatus mais externo e anterior. O primei- Burdach 9. Feixe Grácil ou de Goll

ro contém as fibras sagradas (mais internamen-


te) e as fibras lombares e dorsais baixas (mais ex-
ternamente) e o segundo as fibras corresponden-
tes às regiões dorsais altas (mais internamente) e
cervicais (mais externamente e mais junto ao ca-
nal central da medula) (Fig.10.1.90).
Estes feixes terminam respectivamente nos nú-
cleos de Goll ou gracillis e de Burdach ou cunea- 2
tus no bulbo raquidiano onde o primeiro neu-
rónio sinapsa com o segundo neurónio (Fig.
10.1.91).
Os axónios dos segundos neurónios juntam-se
para formar as fibras arqueadas (ou arciformes)
internas e dirigem-se anteriormente e interna-
mente para formar a decussação sensitiva (Fig. 3
10.1.92).
Após cruzarem a linha média anteriormente ao
canal ependimárío as fibras ascendem no deno- 6
4
minado "lemnisco interno" até ao núcleo ventral
pósterolateral do tálamo. Aí o segundo neuró-
nio sinapsa com o terceiro cujo axónio passa pelo
braço posterior da cápsula interna e pela corona
Fig. 10.1.91: Localização da decussação sensitiva no tronco cerebral e
radiata para terminarem no córtex somatoestési- relação do lemnisco medial com os lemniscos espinhal e lateral.
co primário na circunvolução parietal ascendente 1. Lemnisco Lateral 2. Feixe Espinotalâmico Lateral 3. Lemnisco Me-
dial 4. Núcleo Grácil 5. Feixe Grácil 6. Feixe Cuneiforme 7. Núcleo
onde o estímulo se torna consciente.
Cuneiforme

587
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

pelos axónios periféricos e centrais dos primeiros


neurónios da via até ao corno posterior da medu-
la. Ao entrarem na medula estes axónios emitem
alguns prolongamentos descendentes mais cur-
tos que participam nos arcos reflexos. Os prolon-
gamentos ascendentes mais longos juntam-se aos
feixes de Goll e Burdach já descritos previamente
e seguem o mesmo trajecto da via da sensibilida-
de epicrítica até ao córtex cerebral para tornares-
tas sensações proprioceptivas conscientes.

Via da propriocepção inconsciente


7
Esta via recebe e transporta informação múscu-
Fig. 10.1.92: Corte horizontal do bulbo raquidiano ao nível das pirâmi- lo-articular para o cerebelo para contribuir para o
des mostrando a decussação sensitiva e a formação do lemnisco medial
1. Núcleo gracil (Goll) 2. Núcleo Cuneiforme (Burdach) 3. Feixe Gracil controlo dos movimentos e do tónus muscular.
(Goll) 4. Feixe Cuneiforme (Burdach) 5. Fibras arqueadas internas As informações para as vias espinhocerebelosas
6. Decussação do lemnisco medial 7. Pirâmide Bulbar
são também recebidas em receptores musculares
nomeadamente os fusos neuromusculares e órgãos
VIAS DA SENSIBILIDADE tendinosos de Golgi. Adicionalmente recebem
PROPRIOCEPTIVA também informação de mecanoreceptores da pele.
Esta via é constituída maioritariamente por cinco
VIA DA PROPRIOCEPÇÃO CONSCIENTE E feixes: o feixe espinhocerebeloso directo (ou dor-
SENSIBILIDADE VIBRATÓRIA sal, ou posterior, ou de Fleschig), o feixe espinho-
cerebeloso cruzado (ou ventral, ou anterior, ou de
Esta via transporta informação músculo-articular Gowers), o feixe cuneocerebeloso, o feixe espinho-
para a movimentação corporal e pelas sensações cerebeloso rostral e o feixe espinho-olivar.
vibratórias. O feixe espinhocerebeloso directo é o mais vo-
As informações são recebidas em receptores mus- lumoso. As fibras nervosas do primeiro neurónio
culares nomeadamente os fusos neuromusculares e originam-se nos receptores periféricos (órgão ten-
órgãos tendinosos de Golgi (Fig. 10.1.93). dinoso de Golgi e fuso neuromuscular) e enviam
Daí as informações recebidas são transmitidas as informações através dos prolongamentos peri-

Fig. 10.1.93: Diferentes tipos de receptores periféricos que originam as vias aferentes proprioceptivas.
1. Neurónio Motor Gama 2. Neurónio Motor Alfa 3. Aferente la 4. Fuso Neuromuscular 5. Fibras Musculares lntrafusais 6. Órgão tendinoso
de Golgi

588
CONTROLO E INTEGRAÇÃO J SISTEMA NERVOSO CENTRAL: VIAS DA SENSIBILIDADE

féricos e centrais dos neurónios pseudounipolares tram no cerebelo dirigindo-se para o córtex do pa-
dos gânglios das raízes posteriores dos nervos es- leocerebelo, mais precisamente para as células gra-
jr!hais. Ao entrarem no corno posterior da medu- nulares.
ia as fibras fazem sinapse com o segundo neuró- O feixe cuneocerebeloso, de forma semelhante
nio na coluna de Clarke ( nucelus dorsalis) localiza- ao descrito acima tem origem nos receptores pe-
da na lâmina VII de Rexed. Uma vez que este nú- riféricos nos fusos neuromusculares e órgão ten-
cleo de neurónios só existe no corno posterior da dinoso de Golgi. As informações são transporta-
medula entre os níveis medulares de C8 e L3 as fi- das pelo primeiro neurónio sensitivo e ao entrar na
bras lombares baixas e sagradas ascendem na me- medula espinhal o prolongamento central do pri-
dula pelo cordão posterior juntamente com o fei- meiro neurónio junta-se ao feixe de Burdach (ou
xe de Goll (ou gracillis) até ao nível medular de L3 cuneatus) e ascende no cordão posterior ipsilateral.
para depois fazerem sinapse com o segundo neu- No bulbo raquidiano este sinapsa com o segundo
rónio na coluna de Clarke. neurónio no núcleo cuneatus acessório ou núcleo
Daí os ax:ónios do segundo neurónio dirigem-se de Von Monakow. Daí o ax:ónio do segundo neu-
para os cordões laterais da medula ipsilaterais para rónio penetra no pedúnculo cerebeloso inferior e
formar os feixes espinhocerebelosos posteriores. termina no córtex cerebeloso (Fig. 10.1.95).
Aqui as fibras estão dispostas mediante uma orga-
nização somatotrópica sendo que as fibras sagra-
das são mais posteriores e as torácicas mais ante-
riores. Uma vez que a coluna de Clarke só se ini-
cia em C8 este feixe não transporta fibras prove-
nientes dos segmentos cervicais superiores (Fig.
10.1.94).
Ao chegar ao bulbo raquidiano as fibras dirigem- 14
-se para o pedúnculo cerebeloso inferior e pene-

8 9

10 9

Fig. 10.1.95: Disposição e trajecto das vias espinhocerebelosas e


cuneocerebelosa.
4
1. Via Cuneocerebelosa 2. Pedúnculo Cerebeloso Inferior 3. Núcleo
Fig.10.1.94: Localização do feixe espinhocerebeloso direto e cruzado Cuneiforme Acessório 4. Via Espinocerebelosa Rostral 5. Fibras la para
e organização das fibras torácicas, sagradas e lombares nesses feixes. Via Cuneocerebelosa 6. Fibras lb para Via Espinocerebelosa Rostral
l. Feixe Espinocerebeloso Posterior 2. Feixe Espinocerebeloso Ante• 7. Via Espinocerebelosa Posterior 8. Fibras la para Via Espinocerebe-
rior 3. Corpo Celular do 1.º neurónio no gânglio espinhal 4. Corpo Ce- losa Posterior 9. Fibras lb para Via Espinocerebelosa Anterior 10. Co-
lular do 2.º neurónio 5. Fibras Torácicas 6. Fibras Lombares 7. Fibras missura Branca Ant erior 11. Via Espinocerebelosa Anterior 12. Bulbo
Sagradas 8. Fibras Torácicas 9. Fibras Lombares 10. Fibras Sagradas 13. Protuberância 14. Pedúnculo Cerebeloso Superior 15. Cerebelo

589
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Os feixes espinhocerebeloso posterior e cuneoce- VIA DA SENSIBILIDADE VISCERAL


rebeloso recebem informações ipsilaterais que são
utilizadas na coordenação e manutenção da postu- Esta via é responsável pela transmissão dos im-
ra e tónus muscular. pulsos, na sua maioria relativos a sensibilidade in-
O feixe espinhocerebeloso cruzado tem também consciente que participam na regulação reflexa
início nos receptores previamente descritos bem (autonómica) da actividade visceral. Contudo al-
como em terminações nervosas das articulações guns estímulos nociceptivos originam-se nas VÍs-
dos membros, da pele e da fáscia superjicialis. A in- ceras e são interpretados em centros superiores e
formação é levada então até à medula onde o pro- são esses o objecto de estudo deste texto.
longamento central do primeiro neurónio sinapsa Os estímulos são recebidos através de receptores
com o segundo neurónio no núcleo de Betcherew livres ou de corpúsculos de Vater-Paccini nas cáp-
que se encontra também entre os segmentos me- sulas das vísceras. Estes receptores são predomi-
dulares C8 e L3. Este núcleo é discretamente me- nantemente estimulados por estímulos químicos
nos desenvolvido do que a coluna de Clarke. (incluindo os produtos de degradação celular pro-
Do núcleo de Betcherew a maioria das fibras do duzidos pela isquemia) e por estímulos mecânicos
segundo neurónio cruza a linha média para ascen- relacionados com a distensão visceral.
der no feixe espinhocerebeloso anterior. Aqui exis- As fibras originadas nos órgãos internos seguem
te novamente uma organização somatotrópica das maioritariamente pelos nervos esplâncnicos (por
fibras sendo as fibras sagradas mais posteriores e as fibras simpáticas) até à cadeia simpática látero-
fibras dorsais mais anteriores (Fig.10.1.94). As fi- -vertebral. A excepção são as fibras que transpor-
bras ascendem até à protuberância e aí entram no tam informação referente aos órgãos pélvicos que
pedúnculo cerebeloso superior. No interior do ce- segue para os segmentos medulares sagrados atra-
rebelo, posteriormente aos núcleos cinzentos cen- vés de nervos parassimpáticos.
trais as fibras voltam a cruzar a linha média para Após chegarem à cadeia simpática látero-verte-
ser tornarem novamente ipsilaterais e terminarem bral os estímulos seguem pelos ramos comunican-
no córtex cerebeloso (Fig. 10.1.95). tes brancos até aos gânglios das raizes posterio-
O feixe espinhocerebeloso rostral tem uma origem res onde sinapsam com os primeiros neurónios das
semelhante ao feixe espinhocerebeloso cruzado. vias sensitivas e penetram na medula pelo prolon-
Ao entrar na medula os axónios do primeiro neu- gamento central desses mesmos neurónios.
rónio fazem sinapse na lâmina VII de Rexed com No corno posterior da medula as fibras sinapsam
o segundo neurónio. Daí e ao contrário do feixe es- com o segundo neurónio e os estímulos nocicep-
pinhocerebeloso cruzado (ou anterior) os axónios tivos viscerais ascendem por ambos os feixes es-
caminham no cordão lateral ipsilateral da medula e pinhotalâmicos laterais. Através desses feixes as
entram no cerebelo tanto pelo pedúnculo cerebelo- informações são transmitidas ao núcleo ventral
so inferior como superior (Fig.10.1.95). pósterolateral do tálamo e tornam-se conscientes
Os feixes espinhocerebeloso cruzado e espinhoce- quando são projectadas daí para a área somatoes-
rebeloso rostral recebem informações das articula- tésica primária.
ções e junções músculo-tendinosas bem como da
pele e fáscias sendo responsável pela manutenção
do tónus dos membros e pelos reflexos posturais. VIAS DA SENSIBILIDADE DA REGIÃO
O feixe espinho-olivar tem origem sobretudo em CRANIANA (VIAS TRIGEMINAIS)
receptores cutâneos. Ao entrar no corno posterior
as fibras sinapsam na substância cinzenta e na sua VIA DA SENSIBILIDADE EXTEROCEPTIVA
maioria cruzam a linha média para ascender en-
tre os feixes espinhocerebelosos directo e cruzado Esta via tem início nos receptores periféricos pre-
até alcançar o núcleo olivar inferior no bulbo ra- viamente referidos, nomeadamente terminações
quidiano. Aí inicia-se o terceiro neurónio que leva nervosas livres, corpúsculos de Ruffini e de Meis-
a informação até ao córtex cerebeloso. sner. Daí os impulsos seguem pelos prolongamen-

590
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: VIAS DA SENSIBILIDADE

ros periféricos dos neuromos pseudounipolares O feixe trigeminotalârnico dorsal ongma-se do


ue se encontram no gânglio de Gasser do V par núcleo principal do trigémeo, cruza a linha mé-
!aniano (a maior parte da sensibilidade da cabe- dia ao nível da protuberância e junta-se ao lem-
a) mas também em menor proporção nos gân- nisco trigerninal ascendendo pelo mesencéfalo até
:uos geniculado (VII par), superior do glossofa- sinapsar com o terceiro neurónio no núcleo ven-
ríngeo (IX par) e superior do vago (X par). tral pósteromedial do tálamo. Este feixe transporta
Os prolongamentos centrais de todos esses neuró- predominantemente informações relativas ao tac-
nio sinapsam com os segundos neurónios no nú- to discriminativo.
cleo principal do trigémeo (fibras provenientes do O feixe trigeminotalâmico ventral tem origem
V par) e no núcleo do tracto espinhal do trigémeo tanto no núcleo principal como no núcleo do trac-
(rodas as restantes fibras). to espinhal. As fibras dos segundos neurónios cru-
No tronco cerebral as fibras dividem-se em dois zam a linha média formando parte das fibras ar-
feixes: o feixes trigeminotalâmico dorsal e o fei- cuadas internas no bulbo raquidiano e formando
xe trigeminotalâmico ventral (este último também o lemnisco trigeminal. Daí ascendem passando
denominado "lemnisco trigeminal"). pela protuberância e pelo mesencéfalo até sinap-
sarem com o terceiro neurónio no núcleo ventral
pósteromedial do tálamo. Este feixe transporta in-
12
13 formações relativas a temperatura, dor e tacto não
discriminativo (Fig. 10.1.96).
Do núcleo ventral pósteromedial do tálamo os
axónios dos terceiros neurónios ascendem passan-
do pela cápsula interna para se dirigirem para a
área somatoestésica primária na circunvolução pa-
rietal ascendente.

VIA DA SENSIBILIDADE PROPRIOCEPTIVA

Ao contrário das restantes modalidades sensiti-


vas, os primeiros neurónios da via da sensibili-
dade proprioceptiva da face e cabeça têm os seus
corpos celulares no núcleo mesencefálico do tri-
gémeo. Aí os primeiros neurónios sinapsam com
os segundos podendo seguir uma de três vias. Al-
guns neurónios dirigem-se ao núcleo motor do
trigémeo contribuindo para a formação de arcos
reflexos. Os restantes neurónios são responsá-
veis pela verdadeira sensibilidade proprioceptiva.
Algumas fibras descem até ao núcleo principal
do trigémeo, cruzando a linha média e forman-
do Guntamente com os feixes previamente des-
critos) o lemnisco trigeminal que se dirige para
o tálamo e daí para o córtex cerebral tornando
esta propriocepção consciente. As restantes fibras
Fig.10.1.96: Localização no tronco cerebral dos núcleos principal e do dirigem-se do núcleo mesencefálico do trigémeo
tracto espinhal do trigémio e trajecto das vias trigeminota1âmicas.
l. Tálamo 2. Gânglio Trigeminai 3. Raiz sensitiva do trigémio 4. Núcleo para o cerebelo através do pedúnculo cerebeloso
Principal do Trigémio (2.º neurónio via táctil) 5. Via Espinhal do superior para formar a via da sensibilidade pro-
Trigémio 6. Núcleo Espinhal do Nervo Trigémio (2. 0 neurónio dor e
t.ºC) 7. Fibras arqueadas internas 8. Bulbo 9. Protuberância 10. Via prioceptiva inconsciente.
Trigeminotalâmica 11. Mesencéfalo 12. Núcleo Ventral Pósteromedial
(3.º neurónios) 13. Núcleo Ventral Pósterolateral

591
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

PERGUNTAS TIPO 4. Em relação às vias da sensibilidade pro .


. . . lh fi Prio-
ceptiva mconsc1ente esco a a a rmação in-
1. Em relação à via neoespinhotalâmica assinale correcta:
a afirmação correcta: a. O primeiro neuromo do feixe espinho-
a. Transporta informações relativas ao tacto cerebeloso directo sinapsa com o segu
epicrítico. n-
do neurónio no núcleus dorsa/is (coluna de
b. O primeiro neurónio sinapsa com o se- Clarke).
gundo neurónio no núcleo ventral póste- b. A coluna de Clarke só existe entre os ní-
ro-lateral do tálamo. veis medulares de C8 e L3.
c. As fibras desta via passam pelo braço pos- c. O feixe cuneocerebeloso leva as informa-
terior da cápsula interna. ções ao cerebelo através do pedúnculo ce-
d. Não tem relação com a percepção da dor. rebeloso médio.
e. A via tem origem no Órgão tendinoso de d. O Feixe espinhocerebeloso cruzado é nor-
Golgi. malmente menos desenvolvido que o di-
recto.
2. Escolha a afirmação incorrecta: e. Tanto o feixe espinhocerebeloso directo
a. A via paleoespinhotalâmica está relacio- como o cruzado transportam informações
nada com a condução da dor lenta e mal proprioceptivas, maioritariamente para 0
localizada. hemisfério cerebeloso homolateral ao lado
b. A via paleoespinhotalâmica sinapsa no do corpo onde se originaram.
núcleo ventral anterior do tálamo.
c. No feixe espinhotalâmico lateral nos cor-
!:)-j, !Q-[ !g-z: 1:)-1
dões laterais da medula as fibras cervicais
==•o s,1sodsa~
são mais internas e as fibras sagradas mais
externas.
d. O feixe póstero-lateral de Lissauer é REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
constituído por fibras que são respon-
sáveis pela transmissão das sensações de Snell, Richard S.; C/inica/ Neuroanatomy.
tacto protopático. Lippincott Williams & Wilkins. 7.ª edição.
e. No feixe espinhotalâmico anterior as fi- Bourret, P. Anatomie du Systeme Nerveux Central.
bras sagradas são mais anteriores e as cer- L'expansion scientifique française. 3 éme édition.
vicais mais posteriores. 1986.

3. Em relação às vias da sensibilidade proprio- Rubin, M.; Safdieh,JE.; Netter's Concise


ceptiva consciente (escolha a correcta): Neuroanatomy. Philadelphia. Elsevier, 2007.
a. Cursam nos cordões posteriores junta- Schuenke, M .; et al. 7hieme Atlas ofAnatom. New
mente com as vias do tacto protopático York. Thieme, 2010.
grosseiro.
b. O corpo do segundo neurónio encontra-se Young, PA.; et al; Basic Clinical Neuroscience.
nos cornos posteriores da medula. 2nd edition. Maryland. Lippincott Williams &
c. As fibras cruzam a linha média logo após a Wilkins; 2008.
entrada na medula. Nógrádi, A.; Vrbová, G.;Anatomy and Physiology
d. As informações são recebidas através dos ofthe Spina/ Cord. ln: Madame Curie Bioscience
fusos neuromusculares e órgãos tendino- D atabase [Internet]. Austin (TX): Landes
sos de Golgi. Bioscience; 2000-2013.
e. Cursam nos cordões anteriores da medu-
la. Purves, D.; Augustine, GJ.; Fitzpatrick, D.; et
al. Neuroscience. 2nd edition. Sunderland (MA):

592
CONTROLO E INTEGRAÇÃO J SISTEMA NERVOSO CENTRAL: VIAS DA SENSIBILIDADE

Sinauer Associat~s; 2001. Central Pain Pathways:


'Jhe Spinothalam1c Tract.
fento!l, BW.; Shih, E.; Zolton,J. The neurobiology
ojpain perception in normal and persistentpain.
paio M anag. 2015;5(4):297-317.
Ross, ED.; Kirkpatrick,JB.; Lastimosa, ACB.
position and vibration sensatiom: Functions ofthe
dorsal spinocerebellar tracts?; Ann Neurol., 5: 171-
176.
Oscarsson, O.; Uddenberg, N. Properties of
aJJerent connections to the rostral spinocerebellar
tract in the ca.; Acta Physiol Scand. 1965 May-
Jun;64:143-53.

***

593
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

VIAS DA MOTRICIDADE tal ascendente (ou circunvolução pré-central)


neurónios responsáveis pelos movimentos da 0 s f:
membros superiores e tronco dispõem-se de b ace,
1. INTRODUÇÃO para cima respectivamente, ao longo da face <lJJco
. _ exter-
na da circunvoluçao, enquanto os neurónios
A motricidade é controlada por dois grantles gru- , . 1 . d
ponsave1s pe os moVImentos os membros int; _
res-
pos de vias neuronais: o sistema piramidal res- riores estão localizados na face interna da cir e
CUn-
ponsável pela motricidade voluntária cuja unida- volução. Existe portanto, uma representação co .
de anatómica é bineura!; e o sistema extrapirami- cal invertida do hemicorpo contralateral, deno ~-
dal responsável pela motricidade involuntária cuja nada de "homúnculo motor" (Fig. 10.1.98) Erru-
. Sta
unidade anatómica é multineural. representação é contralateral porque as vias pira-
A motricidade voluntária é consequência de uma midais cruzam ao longo do seu trajecto. Assim a
decisão consciente a nível cortical, que determi- área motora primária de cada hemisfério controla
na a contracção de músculos isolados ou de gru- os movimentos do hemicorpo contralateral. A ex-
pos musculares. tensão da representação cortical de cada segmen-
A motricidade involuntária inclui todos os impul- to corporal é proporcional à destreza dos movi-
sos efectores que não sendo dependentes da von- mentos que esse mesmo segmen to executa, daí a
tade, determinam respostas semelhantes utilizan- maior representação cortical da mão e face. Da sua
do para o efeito o mesmo neurónio terminal.

2. VIAS PIRAMIDAIS

As vias piramidais são essencialmente constituídas


por um neurónio superior ou central e um neuró-
nio inferior ou periférico.
O neurónio superior tem o seu corpo celular no
córtex cerebral, formam as células piramidais da
V camada do córtex cerebral. Os axónios das célu-
las piramidais organizam-se em dois feixes nervo-
13
sos: o feixe córtico-espinhal, que termina nos cor-
nos anteriores da medula espinhal e o feixe córti-
co-nuclear, que termina nos núcleos motores dos
pares cranianos (Fig.10.1.97). Cerca de 2/3 das fi-
bras têm origem no córtex motor, principalmen-
te na área motora primária (área 4 de Brodmann)
e também na área pré-motora (área 6 de Brod-
mann). O restante terço das fibras tem origem
na área somatoestésica primária (áreas 1, 2 e 3 de
Brodmann), na vertente adjacente ao rego de ro-
lando (ou sulco central). Áreas de associação dos
lobos frontal e parietal também contribuem com
algumas fibras. No córtex motor primário, existem
células piramidais gigantes, as células de Betz. As
fibras das células de Betz possuem uma bainha de
mielina mais espessa e apresentam maior veloci- Fig. 10.1.97: Vias piramidais.
dade de condução de impulsos nervosos do cór- 1. Córtex Motor Direito 2. Tálamo 3. Feixe Córtice-Nuclear 4. Me-
sencéfalo 5. Protuberância 6. Bulbo 7. Feixe Córtico-Espinhal Lateral
tex cerebral para a medula espinhal. Na área mo- 8. Medula Espinhal 9. Feixe Córtice-Espinhal Anterior 10. Decussação
tora primária, localizada na circunvolução fron- das Pirâmides 11. Pirâmide Bulbar 12. Feixe Córtice-Espinhal 13. Braço
Posterior da Cápsula Interna

594
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: VJAS DA MOTRICIDADE

origem cortical, as fibras atravessam o centro oval posteriormente as destinadas aos membros infe-
convergindo para o joelho e braço posterior da riores. Após atravessar o diencéfalo, o feixe atra-
cápsula interna, segundo uma disposição rotacio- vessa os 3/5 médios dos pés dos pedúnculos cere-
nal de 90.0 , de tal forma que as fibras oriundas da brais, segundo a mesma disposição rotacional. Nos
orção inferior da circunvolução se tornam ante- pés dos pedúnculos cerebrais as fibras com desti-
p
riores º dasda porçao
e as onun - supenor· da ·crrcun- no aos membros superiores estão situadas inter-
volução se tornam posteriores. O trajecto específi- namente e as que se destinam aos membros in-
co de cada feixe será descrito em seguida. feriores localizam-se externamente. Ao atraves-
O neurónio inferior ou periférico é comum às vias sar a protuberância as fibras do feixe córtice-es-
motoras piramidais e extra-piramidais, designan- pinhal são dispersas pelas fibras ponto-cerebelo-
do-se via final comum de Sherrington. sas. No bulbo as fibras voltam a reunir-se de for-
ma compacta atravessando as pirâmides do bul-
bo, daí a designação de feixe piramidal. No limi-
te inferior do bulbo cerca de 80% das fibras cru-
zam para o lado oposto, formando a chamada de-
cussação das pirâmides. As fibras que cruzam dis-
põem-se ao longo dos cordões laterais da medu-
la espinhal, formando o feixe córtice-espinhal la-

'
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1

-------------------------
Fig. 10.1.98: Homúnculo motor e origem das vias piramidais.
1

1. Feixe Córtico-Espinhal para os Cornos Anteriores da Medula Espinhal


2. Feixe Córtice-Nuclear para os Núcleos Motores de Nervos Cranianos

2. 1 Feixe córtico-espinhal (feixe piramidal)


(Fig. 10. 1. 99)

O feixe córtice-espinhal ou feixe piramidal é res-


ponsável pelo movimento voluntário, sobretudo o
movimento fino, especializado, levado a cabo pela
musculatura distal dos membros.
As fibras têm origem nos 4/5 superiores da circun-
volução frontal ascendente, correspondendo aos
2
membros superiores, tronco e membros inferiores
do homúnculo motor (Fig. 10.1.98 e 10.1.99). As
fibras sofrem uma rotação de 90.0 ao atravessarem
o centro oval e convergem para o braço posterior
da cápsula interna. As fibras destinadas aos mem-
Fig. 10.1.99: Feixe córtice-espinhal.
bros superiores situam-se mais anteriormente, se- 1. Decussação das Pirâmides 2. Feixe Córtice-Espinhal Lateral 3. Feixe
guindo-se as fibras destinadas ao tronco e mais Córtice-Espinhal Anterior 4. Medula Espinhal 5. Bulbo 6. Protuberlanda
7. Mesencéfalo 8. Cápsula Interna 9. Córtex Motor Primário (Área 4).

595
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

teral (ou feixe piramidal cruzado). As restantes fi-


bras descem ao longo dos cordões anteriores da
medula,junto ao sulco mediano anterior, forman-
do o feixe córtico-espinhal anterior (ou feixe pira-
midal anterior).
As fibras do feixe córtico-espinhal lateral dis-
põem-se ao longo de toda a extensão dos cordões
laterais, sinapsando em todos os seus segmentos
ao nível dos cornos anteriores da medula espinhal,
enquanto as fibras do feixe córtico-espinhal ante-
rior antes de sinapsarem cruzam linha média nos
segmentos cervicais e torácicos superiores e termi-
nam nos cornos anteriores do lado contralateral.
A maior parte das fibras do neurónio superior si-
napsa com neurónios intermédios, que por seu
turno sinapsam com o neurónio inferior. Apenas
as fibras originárias das células de Betz sinapsam
directamente com os neurónios inferiores.
O neurónio inferior (neurónio motor alfa) tem o
seu corpo celular nos cornos anteriores da medula
espinhal, de onde partem fibras que seguem pela
raiz anterior dos nervos raquidianos, até aos mús-
culos esqueléticos, terminado na placa motora.

2.2 Feixe córtico-nuclear (feixe geniculado)


(Fig. 10. 1. 100) 11 10

O feixe córtico-nuclear ou feixe geniculado é res- Fig. 10.1.100: Feixe córtico-nuclear.


1. Pescoço 2. Face 3. Língua 4 . Mesencéfalo 5. Ponte 6. Prot uberân-
ponsável pelo movimento voluntário dos múscu- cia Inferior 7. V II nervo 8. Bulbo Superior 9. Bulbo Inferior 10. Medula
los inervados pelos nervos cranianos. Cervical 11. XI nervo 12. XII nervo 13. VII nervo 14. V nervo

As suas fibras têm origem do quinto inferior da


circunvolução frontal ascendente, correspondendo mica dos quadrantes superiores da face e múscu-
à face do homúnculo motor (Fig. 10.1.98) e atra- los da faringe e laringe. Assim sendo, o feixe cór-
vessam o centro oval e a cápsula interna em direc- tico-nuclear emite fibras bilaterais para os núcleos
ção ao tronco cerebral. Ao nível da cápsula inter- motores do nervo trigémio, que inerva os múscu-
na, o feixe córtico-nuclear ocupa o seu joelho, daí los mastigadores, porção inferior do núcleo mo-
a designação de feixe geniculado. No mesencéfalo tor do nervo facial responsável pela inervação do
dispõem-se no 1/5 interno do pé dos pedúnculos andar superior da face e para o núcleo ambíguo,
cerebrais. A este nível destaca-se um contingente que inerva os músculos da faringe e laringe. Assim
do feixe córtico-nuclear, o feixe aberrante de Dé- estes músculos não ficam comprometidos quando
jerrine (Fig. 10.1.101), que se situa anteriormen- ocorre lesão da via córtico-nuclear de um lado. A
te ao lemnisco mediano (ou fita de Reil medial). porção do núcleo motor do nervo facial responsá-
Note-se que a maioria dos músculos da cabeça vel pela inervação dos andares inferiores da face,
está representada no córtex motor dos dois he- o núcleo bulbar do nervo espinhal e o núcleo do
misférios, sendo essa representação bilateral mais nervo hipoglosso recebem apenas fibras contrala-
acentuada nos grupos musculares que não podem terais. O feixe aberrante de Déjerine é responsável
ser contraídos voluntariamente de um só lado pelos movimentos óculo-cefalógiros, isto é, o mo-
como os músculos mastigadores, músculos da mí- vimento conjugado dos globos oculares (oculogi-

596
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: VIAS DAMOTRJCIDADE

ovirnentos de rotação da cabeça (cefalo- secundários que se estabelecem após um período


·. ! ; ;s fibras originam-se nas áreas óculo-mo- de aprendizagem, como a dança, a marcha e a na-
;r1ªfrontal (área 8 de Brodmann) e óculo-moto- tação. A fase de aprendizagem depende do siste-
toíll •pital (área 19 de Brodmann) e destinam-se ma piramidal, passando ao domínio do extrapira-
cc1
11 0 •deos motores dos nervos motor ocular co- midal quando se tornam automáticos.
,os nu
atético, motor ocular externo e núcleo me- O s movimentos associados acompanham os mo-
mulll, P
c!ular do espinhal. vimentos voluntários, ocorrendo em simultâneo,
visando assegurar o equili'brio, por exemplo o mo-
vimento coordenado de pernas e braços durante a
_v,AS EXTRA PIRAMIDAIS marcha (dissociação de cinturas). Os doentes com
3 doença de Parkinson têm este movimento abolido.
As vias extrapirarnidais são responsáveis pelo con- O s reflexos osteotendinonos e cutâneos são deter-
crolo e programação da motricidade voluntária, minados a nível medular, no entanto são modula-
exercendo efeitos excitatórios ou inibitórios, pela dos pelas vias piramidais e extrapirarnidais.
regulação do tônus muscular, postura e movimen- O sistema extra-piramidal funciona como um sis-
tos automáticos, associados e reflexos. tema motor acessório que está associado ao cór-
Os movimentos automáticos compreendem: au- tex cerebral e ao sistema córtico-espinhal determi-
comatismos primários, que são movimentos inatos nando padrões complexos de movimento. É for-
que não dependem da aprendizagem, tais como o mado por circuitos entre o córtex cerebral e nú-
choro, a sucção e a deglutição; e os automatismos cleos cinzentos subcorticais e entre o córtex ce-
rebral e cerebelo, bem como por vias descenden-
tes que partem de núcleos próprios do tronco ce-
rebral e terminam na medula espinhal. Os circui-
tos que envolvem cerebelo e núcleos da base par-
tem do córtex cerebral e terminam no córtex ce-
rebral exercendo influencia sobre o neurónio su-
perior das vias piramidais e indirectamente sobre
as vias descendentes extrapirarnidais. A s áreas cor-
ticais envolvidas são sobretudo áreas motoras se-
cundárias; área pré-motora e área motora suple-
mentar.

3. 1 Vias descendentes extrapiramidais

As vias descendentes extrapirarnidais partem de


núcleos do tronco cerebral que estão sobre a in-
fluência directa do córtex ou de circuitos extrapi-
ramidais. Os núcleos do tronco cerebral envolvi-
dos são: os núcleos rubros, os núcleos vestibula-
res, a formação reticular e os tubérculos quadrigé-
mios superiores do mesencéfalo. Estas vias termi-
nam nos cornos anteriores da medula espinhal, si-
napsando no neurónio inferior, comum às vias pi-
ramidais e extrapiramidais.
O Feixe Rubro-espinhal (Fig. 10.1.102) origina-
Fig. 10.1.101: Feixes cortico-nuclear e aberrante. -se nos núcleos rubros, situados no mesencéfalo
1. Neurónio Central 2. Feixe aberrante (de Oéjérine) 3. Neurónio
Periférico 4.111 nervo 5. N nervo 6. V nervo 7. VII nervo 8. VI nervo ao mesmo nível que os tubérculos quadrigémios
9. XII nervo 10. IX nervo 11. X nervo 12. XI nervo bulbar 13. XI nervo superiores. As fibras que deles emergem cruzam
medular 14. Feixe Córtico•Nuclear

597
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

a linha média, descem ao longo da protuberân- e lombares inferiores da medula espinhal. 1'e
cia, bulbo alcançando os cordões laterais da me- como função facilitar a acção dos músculos ext lll
dula espinhal e sinapsam com neurónios intermé- sores e inibir os músculos flexores, contribuj:;-
0
dios no grupo ântero-externo dos cornos anterio- para a manutenção do equili'brio a partir das .
res da medula espinhal. Assim exercem influência formações que provém do ouvido interno e do li).
a.r-
sobre a motricidade voluntária dos músculos dis- queocerebelo. A sua função é fazer ajustes no gr
tais dos membros, produzindo potenciais excita- de contração dos músculos, permitindo que s ~u
tórias nos neurónios motores alfa que inervam os mantl·do o equilííbno
· mesmo apos' alterações súbi-
eia
musculos flexores e potenciais inibitórias nos neu- tas do corpo no espaço.
rónios motores alfa que inervam musculos exten- O Feixe Retículo-espinhal (Fig. 10.1.104) telll
sores antigravidicos. As suas principais aferências origem na formação reticular e subdivide-se elll
são do córtex frontal e do cerebelo. A sua principal dois feixes: o medial (pôntico) e o lateral (bulbar).
função é o controlo do tónus dos grupos de mús- A formação reticular dispõe-se ao longo de toda
culos flexores. a extensão cranio-caudal do tronco cerebral. Da
O Feixe VestJbulo-espinhal (Fig. 10.1.103) origi- sua porção protuberância! partem fibras que cru-
na-se essencialmente no núcleo vestibular externo. zam a linha média e descem ao longo do cordão
Dele partem fibras que descem ao longo do cor- anterior. Da porção bulhar partem fibras direc-
dão anterior ipsilateral e sinapsam no grupo ânte- tas e fibras cruzadas que descem ao longo do cor-
ro-interno dos cornos anteriores da medula. Tem dão lateral. As fibras sinapsam ao nível do gru-
uma influência maior sobre os segmentos cervicais po ântero-interno dos cornos anteriores da me-

Fig. 10.1.102: Feixe Rubro-espinhal. Fig. 10.1.103: Feixe Vestíbulo-espinhal.


1. Córtex Cerebral 2. Núdeo Rubro 3. Mesencélalo 4. Via Glo- 1. Núdeo Cerebeloso Profundo 2. Nervo Vestibular 3. Via Vestíbulo-
boso-Emboliforme-Rubral 5. Núcleo Cerebeloso Profundo 6. Feixe -Espinhal 4. Neurónio Motor Inferior 5. Núcleos Vestibulares
Rubro-Espinhal 7. Neurónio Motor Inferior

598
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: VIAS DA MOTRICIDADE

dula espinhal. Recebe aferências do cerebelo e do O Feixe Tecto-espinhal (Fig.10.1.105) origina-se


córtex motor, em particular da área pré-motora nos tubérculos quadrigémios superiores do mesen-
e a sua função prende-se com adaptações postu- céfalo, que recebe aferências da retina e do córtex
rais, determinando o grau adequado de contração visual. Após a sua origem cruza a linha média, des-
dos músculos a.xiais e o controlo dos movimentos ce ao longo do tronco cerebral junto ao feixe lon-
voluntários e automáticos da musculatura proxi- gitudinal posterior e termina nos segmentos mais
mal dos membros, como o movimento alternado altos da medula cervical, sinapasando com o gru-
de braços e pernas durante a marcha. O feixe re- po ântero-interno dos cornos anteriores da medu-
tículo-espinhal medial aumenta os reflexos anti- la. Está envolvido em reflexos nos quais a movi-
gravitacionais, facilitando os músculos extensores mentação da cabeça decorre de estímulos visuais.
dos membros inferiores, permitindo a manuten- Em suma, o feixe córtico-espinhal e rubro-espi-
ção da posição ortostática. O feixe retículo-espi- nhal cooperam no controlo dos movimentos da
nhal lateral tem uma acção antagónica, inibin - musculatura distal enquanto os feixes reticulo-es-
do o reflexo antigravitacional dos músculos ex- pinhal, vestibulo-espinhal e tecto-espinhal exer-
tensores. cem a sua maior influência sobre a musculatura
Para além das funções motoras as vias descenden- axial e proximal dos membros. As vias rubro-es-
tes da formação reticular também têm funções au- pinhal e reticulo-espinhal medial exercem efeito
tonómicas, devido às aferências provinientes do predominantemente flexor e as vias vestibulo-es-
hipotálamo, influenciando os neurónios pré-gan- pinhal e reticulo- espinhal medial exercem efeito
glionares. predominantemente extensor.

2
1

1
1
1

3
2
4

5
3
9

6 5

Fig.10.1.104: Feixe Retículo-espinhal. Fig.10.1.105: Feixe Tecto-espinhal.


1. Córtex Cerebral 2. Tálamo 3. Núcleo Rubro 4. Núcleo Cerebeloso 1. Calículo Superior 2. Mesencéfalo 3. Feixe Tecto-Espinhal 4. Neurónio
Profundo 5. Cerebelo; 6. Feixe Retículo-Espinhal Pôntico 7. Neurónio Motor Inferior 5. O lho
Motor Inferior 8. Feixe Retículo-Espinhal Bulbar 9. Formação Reticular

599
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

CONSIDERAÇÕES FUNCIONAIS E CLÍNICAS musculares, contraindo as suas extremidades. ls


provoca a distensão da região central do fuso to
Tónus museu/ar e reflexos tendinosos timulando o reflexo monossináptico e assin/ es,
au-
mentando a tensão muscular.
Entre as fibras musculares dos músculos esquelé- A interrupção da via aferente (neurónio sensiti-
ticos, existem miócitos especializados envolvidos vo) ou da via eferente (neurónio motor) do refl
e-
por fibras sensitivas anulo-espiraladas, denomina- xo monossináptico causa hiporreflexia e hipotonia
dos "fusos neuromusculares" (Fig. 1O.1.106). A actividade dos neurónios motores alfa é re~
Qyando ocorre distensão das fibras musculares, gulada por neurónios intermédios, as células de
as fibras anulo-espiraladas dos fusos enviam im- Renshaw, que enviam colaterais ao neurónio mo-
pulsos que seguem pela raiz posterior dos nervos tor alfa e sinapsam com o mesmo inibindo-o.
raquidianos até à medula espinhal onde sinapsa A actividade dos neurónios motores da via afe-
com o neurónio motor alfa, responsável pela iner- rente (alfa e gama) é modulada pelas vias descen-
vação das fibras extrafusais do músculo, levando à dentes. O neurónio gama recebe directamente in-
sua contracção. Com a contracção muscular a fre- fluências do sistema extrapirarnidal e o neurónio
quência dos impulsos diminui (Fig. 10.1.107). alfa do sistema piramidal.
Este reflexo monossináptico ajuda a manter o tó-
nus muscular adequado e é responsável pelos refle- Lesão do neurónio motor superior
xos tendinosos (Fig.10.1.108).
O tónus muscular é também influenciado pelos Nas lesões agudas do neurónio central, isto é das
neurónios motores gama, cujo axónio acompanha vias descendentes, numa fase aguda, ocorre per-
o trajecto do neurónio alfa e chega ao músculo es- da de todas as funções neurológicas abaixo do ní-
quelético onde faz sinapse com os fusos neuro- vel da lesão. Assim verifica-se perda sensitiva glo-

9 6

Fig. 10.1.106: Fusos neuromusculares.


1. Fibras Extrafusais 2. Baínha de Tecido Conjuntivo 3. Fibras motoras alfa 4. Fibras motoras Gama 5. Terminações sensitivas anulo-espirais
6 . Músculo esquelético 7. Fuso neuromuscular 8. Tendão 9. Nervo periférico com fibras motoras e sensitivas

600
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: VIAS DA MOTRICIDADE

i l
-+
3

l \\\\\\11111 5
\ 1 \
4

Fig. 10.1.107: Fusos neuromusculares na regulação da contração muscular.


1_Fuso Neuromuscular 2. Fibras aferentes 3. Fibras extrafusais 4. Contração 5. Estiramento

Fig. 10.1.108: Reflexo osteotendinoso. A percussão do tendão estira os fusos neuromusculares, levando a um reflexo monossinático que culmina
na contração muscular.
1. Medula Espinhal 2. Fibras sensitivas 3. Percussão do tendão 4. Músculo 5. Fibras Motoras

bal e paralisia flácida. A paralisia flácida caracte- nios gama. Assim manifesta-se uma paralisia es-
riza-se por diminuição/perda da força muscular pástica, que se caracteriza por diminuição/perda
acompanhada de diminuição/abolição do tónus da força muscular acompanhada de aumento do
muscular e de todos os reflexos, devido à ausência tónus muscular e dos reflexos.
da influência das vias descendentes sobre os refle- Raramente as vias descendentes do sistema pira-
xos medulares. Com a resolução da fase aguda, se- midal ou extrapiramidal são lesadas isoladamen-
manas depois, os reflexos medulares recuperam e te. Logo, quando ocorre lesão do neurónio cen-
ocorre um aumento acentuado do tónus muscular tral, surgem sinais resultantes da lesão de ambas as
e dos reflexos, devido à hiperactividade dos neuró- vias, simultâneamente. De seguida serão descritos

601
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

os sinais resultantes da lesão da via piramidal e das re contracção do cremaster em respost ,


vias descendentes extrapiramidais. timulação da face interna da coxa. a ª es,
O s sinais resultantes da lesão das vias piramidais
são: O neurónio piramidal é responsável pelo .
• Paralisia, com perda de movimentos finos es- mento voluntário e pela força muscular tºVi-
pecializados; sua lesão determina parésia (diminuição' d:g; a
• Sinal de Babinski (Fig. 10.1.109), que consite ça muscular) ou plegia (ausência de força m ºr-
uscu
numa resposta anómala do reflexo cutâneo- lar). Consoante os segmentos do corpo afectad -
-plantar. Pesquisa-se estimulando o bordo ex- . podem-se c1assificar em:
as paralisias ~'
terno da planta do pé em direcção ao 3.0 dedo, • Hemiplegia/hemiparésia - ausência/défice de
com um objecto rombo. No caso de o sinal de força muscular de todo o hemicorpo;
Babinski ser positivo, em vez de se obter a fle- • Monoplegia - ausência/défice de força mus-
xão dos dedos, ocorre extensão do halux (1.0 cular de um membro;
dedo) e os restantes dedos abrem em leque. • Diplegia - ausência/défice de força muscular
Este sinal não é patológico nos lactentes com de dois membros;
idade inferior aos 12 meses, tendo em conta • Paraplegia - ausência/défice de força muscu-
que a via corrico-espinhal não está completa- lar dos membros inferiores;
mente mielinizada; • O!!adriplegia - ausência/défice de força mus-
• Sinal de H offman que correspondente ao si- cular dos quatro membros.
nal de Babinski no membro superior. Consis-
te na adução do polegar em resposta a flexão A lesão das vias descendentes podem localizar a
da falange distal do terceiro dedo. Pode ocor- nível cortical, coroa radiada, cápsula interna, tron-
rer em pacientes com lesão da medula cervi- co cerebral ou medula espinhal. As lesões acima
cal; da decussação das pirâmides as lesões traduzem-
• Ausência de reflexos cutâneos como o refle- -se por parésia/plegia no hemicorpo contralateral.
xo abdominal superficial e o reflexo cremas- Lesões focais a nível da área motora podem-se tra-
teriano. O reflexo abdominal superficial (Fig. duzir por monoparésia, dependendo da região do
10.1.110) consiste na contracção dos mús- homúnculo atingida ou, no caso de acidentes vas-
culos abdominais após estimulação cutânea culares traduz-se como hemiparésia, que pode ser
da parede abdominal com um objecto rom- de predomínio céfalo-braquial no caso de oclusão
bo; enquanto no reflexo cremasteriano ocor- da artéria cerebral média, ou de predomínio crural

Fig. 10.1.109: Sinal de Babinski.


1. Estímulo 2. Sinal de Babinski positivo

602
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: VIAS DA MOTRICIDADE

síndrome do canal central determinam em pri-


meiro lugar atingimento dos segmentos cervicais,
com compromisso progressivo das fibras toráci-
cas, lombares e sagradas.
O s sinais resultantes da lesão das vias descenden-
tes extrapiramidais são:
• Paralisia, num grau menos acentuado;
• Espasticidade, caracterizada por um au-
mento do tónus muscular com caracterís-
ticas particulares. Este aumento do tónus é
eletivo, predominando sobre os fl.exores dos

/
,og. 10.1.110: Reflexo cutâneo abdominal.
membros superiores e os extensores e adu-
tores dos membros inferiores. À mobiliza-
ção passiva ocorre uma resistência crescen-
te, sendo esta caracteristica mais eviden-
te quando o movimento é rápido e o mem-
bro tem tedência a voltar à sua posição ini-
no caso de oclusão da artéria cerebral anterior. Ao cial. Por vezes esta resistência crescente cede
nível da coroa radiada, as fibras têm uma disposi- repentinamente (sinal da navalha de mola).
ção dispersa, pelo que os défices motores resultan- Este reflexo é mediado pelos orgãos neuro-
tes de lesão a este nível são pouco significativos. tendinosos presentes nos tendões, cujas cáp-
A partir da cápsula interna, em virtude das fibras sulas possuem inervação sensitiva, e que ao
se encontrarem mais compactas, as lesões tradu- detectarem aumento da tensão muscular en-
zem-se como uma hemiparésia de todo o hemi- viam impulsos que inibem o neurónio alfa,
corpo contralateral. Estas lesões habitualmente com subsequente diminuição súbita do tó-
acompanham-se de perda sensitiva com um terri- nus;
tório topográfico sobreponível. • Hiperrefl.exia, caracterizada pela resposta au-
Ao nível do tronco cerebral as lesões da via pi- mentada dos reflexos oateotendinosos.
ramidal podem-se acompanhar do compromisso
dos núcleos motores dos pares cranianos, consti- Os feixes piramidais e extrapirarnidais são afec-
tuindo os chamados síndromes alternos. Um sín- tados numa extensão variável. As vias piramidais
drome alterno manifestam-se pela combinação de tendem a aumentar o tónus muscular enquanto as
hemiparésia contalateral e paralisia ipsilateral dos extrapiramidais tendem a diminui-lo. O balanço
nervos cranianos, fazendo-se também acompa- de ambos os efeitos provoca graus variáveis de tó-
nhar por perda sensitiva contalateral por atingi- nus muscular.
mento dos lemniscos medial e espinhal.
Nas lesões medulares, há que ter em conta a dis- Lesão do neurónio motor inferior
posição laminada das fibras do feixe córtico-espi-
nhal, em que as fibras destinadas aos segmentos A lesão do neurónio inferior determina uma para-
cervicais estão dispostas mais internamente se- lisia flácida, pois acompanha-se de hipotonia e hi-
guindo-se as fibras torácicas, lombares e sagradas. porreflexia, por interrupção da via eferente do refle-
Logo,lesões que determinem compressão extrín- xo monossináptico medular. O corre também atro-
seca da medula espinhal, como hérnias ou me- fia muscular, por perda do efeito trófico do neuró-
ningiomas da duramáter espinhal, atingem pri- nio sobre o músculo e nos casos em que há um pro-
meiro as fibras sagradas, com compromisso pro- cesso de destruição lento, fasciculações musculares.
gressivo das fibras lombares, torácicas e cervicais. O s sinais extrapiramidais decorrem da lesão dos
Por seu turno, lesões da porção peri-ependimá- neurónios envolvidos nos circuitos extrapirarni-
ria como os ependimomas, a siringomielia ou a dais. H abitualmente a força muscular está manti-

603
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

da. Podem-se manifestar por alterações do tónus, Tiques


descoordenação motora ou movimentos involun- Acções individualizadas estereotipadas en
tários ( tremores, discinesias). VoJv
do face, cordas vocais, pescoço e menos fre en.
. . quent
mente extremidades. Ex: Piscar excessivo li e.
Distonia repetida da garganta, vocalizações. Pode~ ll1peia
Posição anómala persistente devido à contracção . 'd , . d ,.. ser su.
pnm1 os temporariamente e 1orma volunt ' .
simultânea de musculos agonistas e antagonistas, ar1a
podem ser agravados por stress emocional. e
sobretudo a nível dos musculos axiais e da cintu-
ra dos membros. Resulta de lesões do nucleo len- Tremores
ticular. Existem essencialmente dois tipos: o tremo .
r tn-
tencional, que se objectiva durante o movirne
Ataxia · · das 1esões cerebe1osas, e o tremornto
caractenstlco e~
Descoordenação do movimento. Pode ser motora, repouso que ocorre na doença de Parkinson e
. , no
ocorrendo sobretudo por lesão do circuito do neo- tremor senilo. utras etlo1ogias: tremor essencial
cerebelo, ou sensorial por lesão dos cordões poste- ou familiar (mais nítido em repouso), doença de
riores da medula. Wilson (mais nítido em movimento).

Atetose Síndrome parkinsónica


Discinésia caracterizada por movimentos flutuan- Caracteriza-se essencialmente por bradicinésia
tes, sinusoidais, lentos, que atinge sobretudo as ex- tremor em repouso, rigidez e instabilidade postu~
tremidades (mãos, pés, dedos) e a língua. Não es- ral, A rigidez consiste num aumento de tónus com
tão presentes durante o sono. Resultam de lesões características diferentes da espaticidade. Atinge
do corpo estriado. a generalidade dos músculos esqueléticos e tem
um carácter plástico, isto é, o membro mantem-
Coreia -se na posição deixada pelo examinador. À mobi-
Discinésia caracterizada por movimentos convul- lização passiva a resistência é uniforme e torna-se
sivos, rápidos, irregulares sobretudo a nível da face, mais nítida à mobilização passiva das articulações,
língua, pescoço, membros superiores e pés. A hi- surgindo uma resitência intermitente e regular (si-
potonia é característica das coreias agudas (coreia nal da roda dentada). A bradicinésia caracteriza-se
de Syndenham), ocorrendo em menor grau nas pela lentidão de movimentos e nas fases avançadas
formas crónicas (coreia de Huntington). Persis- dificuldade em iniciar a marcha (freezing), segui-
tem durante o sono. Resultam de lesões do cor- da por vezes de passos pequenos e rápidos (cinésia
po estriado. paradoxal). Outros sinais incluem: fácies amímica,
tendência para flectir o tronco e perda dos movi-
Hernibalismo mentos de dissociação de cinturas durante a mar-
Movimentos involuntários, bruscos, oscilantes da cha. Resulta de lesões do sistema nigro-palidal.
porção proximal dos membros, que persistem du-
rante o sono. Resultam da lesão do núcleo sutala-
mico, ocorrendo os movimentos no lado contrala- PERGUNTAS TIPO
teral do corpo.
L Relativamente às vias piramidais, assinale a
Mioclonia afirmação incorrecta:
Contracção brusca e breve de fibras musculares ou a. O feixe córtico-espinhal anterior sinapsa
um músculo. Resulta de lesões a nível da formação com o neurónio inferior nos cornos ante-
reticular ou do cerebelo. Podem ocorrer de forma riores da medula ipsilaterais.
fisiológica no início do sono, por um mecanismo b, O feixe córtico-espinhal lateral ocupa o
de reactivação breve da formação reticular. cordão lateral da medula, ao longo de toda
a sua extensão.

604
CONTROLO E lNTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: VIAS DAMOTRJCIDADE

Carpenter. Fundamentos de Neuroanatomia. 4.ª


c. Cerca de 80% das fibras do feixe piramidal
edição. Editoral médica panamericana.
cruza no limite inferior do bulbo.
d. O 1.0 neurónio do feixe geniculado tem Machado, ABM. Neuroanatomia Funcional. 3.ª
origem no 1/5 inferior da circunvolução edição. Atheneu, Rio de Janeiro, 2013.
frontal ascendente.
Rouviere, H.; Delmas, A.Anatomie Humaine.
e. O feixe córtico-nuclear atravessa a cápsula
Tome 3. lSéme édition. Masson et Cie. Paris, 2002.
interna ao nível do joelho.
Splittgerber, R. Snell's Clinical Neuroanatomy. 8.ª
No que diz respeito às vias da motricidade, edição. Wolters Kluwer, 2019.
2.
assinale a afirmação incorrecta:
Waxman, SG. Corre/ative Neuroanatomy. 24th
a. A maioria das fibras das vias piramidais
edition. Me Graw Hill.
parte da área motora primária.
b. As vias extrapiramidais são responsáveis
pelos movimentos automáticos. •••
c. O feixe córtico-espinhal atravessa a cápsu-
la interna ao nível do braço anterior.
d. O feixe reticulo-espinhal contem fibras
motoras e autonómicas.
e. O feixe aberrante de Déjerine destina-se
aos núcleos motores dos nervos cranianos
III, IV, VI e porção medular do XI.

3. Relativamente às vias extrapiramidais, assina-


le a afirmação incorrecta:
a. São responsáveis pela motricidade volun-
tária.
b. A sua unidade anatómica é multineural.
e. O feixe rubro-espinhal é responsável pelo
controlo da motricidade da musculatura
distal dos membros.
d. O feixe tecto-espinhal está envolvido nos
movimentos reflexos da cabeça em respos-
ta a estímulos visuais.
e. O feixe vestfbulo-espinhal adequa o grau
de contracção dos músculos, permitindo a
manutenção do equilibrio.

!v-r !::n: v-1


:StllSOdSOl[

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

Bourret, P.; Louis, R.Anatomie du Systeme


Nerveux Central. 3tm• édition. L'Expansion
Scientifique Française. Paris, 1986.

605
MANUAL DE ANATOMIA H UMANA

VASCULARIZAÇÃO ENCEFÁLICA ço subaracnoideu dirige-se para trás e para c:i


. do 1unto
termman . • . perfurada anter·llla'
a, substanoa
ARTÉRIAS ' b
d a base do cere ro, no limiº te ·rnterno do rego ior
d
Sylvius (segmento suprac:linoideu), onde se bifi.t e
A vascularização arterial do encéfalo está depen- ca em artéria cerebral média e artéria cerebral r-
dente de 4 artérias - as artérias carótidas internas terior, os seus ramos terminais (Fig. 10.1.111).ªn-
e as artérias vertebrais. As artérias vertebrais originam-se nas arte'r·ias
A artérias carótidas internas (ACI) originam-se subclávias. A artéria vertebral de cada lado per-
na bifurcação das artérias carótidas primitivas a corre os buracos transversários da 6.ª à 1. a Vérte-
nível da 4. ª vértebra cervical. Após atravessar o es- bras cervicais, de baixo para cima, e dirige-se de-
paço maxilo-faríngeo (segmento cervical da ACI), pois para trás e para dentro, passando sobre o arco
a carótida interna de cada lado percorre o canal posterior do atlas, para entrar no canal raquidia-
carotídeo do rochedo (segmento intrapetroso), de no. Já no seu interior, na sua extremidade supe-
onde surge, dentro do crânio, junto ao buraco la- rior, cada artéria vertebral sobe e converge para a
cero anterior, para logo entrar dentro do seio ca- linha média com a do lado oposto em direcção ao
vernoso. Atravessa então o seio cavernoso de trás burco occipital (Fig. 10.1.112). Ao nível do bu-
para a frente, saindo na sua porção ântero-supe- raco occipital as vertebrais localizam-se anterior-
rior, junto ao bordo interno da apófise clinoideia mente, de um e do outro lado do bulbo raquidiano.
anterior do esfenóide (segmento intracavernoso). Aqui, perfuram a duramater e a aracnóide e pene-
Aqui, vai perfurar a duramater e a aracnóide, e en- tram no espaço subaracnoideu. Dirigem-se então
trar no espaço subaracnoideu. No seu trajecto in- para cima e para dentro, anastomosando-se para
trapetroso e intracavernoso descreve duas curvas formar a artéria basilar à frente do tronco cerebral,
formando o sifão cartídeo. Ao penetrar no espa- na transição bulbo-protuberancial. A artéria basi-

V1

Fig. 10.1.111: Artéria carótida interna. Fig. 10.1.112: Artéria vertebral (segmentos).
1. Artéria carótida comum 2. Bifurcação carotídea cervical 3. Artéria Vl. Segmento extraósseo V2. Segmento transversário V 3. Segmento
carótida interna extraespinhal V4. Segmento intradural

606
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: VASCULARIZAÇÃO ENCEFÁLICA

tem um trajecto ascendente na goteira basilar terior da carótida interna, que se dirige para
Jar_cliVUS occ1p1to-es1eno1
do - . r · a' firente d o
"dal e termma trás entrando na extremidade anterior da par-
esencéfalo e atrás da lâmina quadrilátera do es- te lateral da fissura coroideia (fenda cerebral
renóide, bifur~ando-se nas duas artérias cerebrais de Bichat), que dá ramos ascendentes para a
posteriores (F1g.10.1.113). fita óptica e para a capsular branca interna, e
que termina no plexo coroideu lateral do cor-
3
6 no esfenoidal do ventrículo lateral.

Fig. 10.1 .113: Sistema vertebro-basilar.


1_Artérias vertebrais 2. Artéria basilar 3. Artérias cerebrais posterio-
res 4. Artérias cerebelosas póstero-inferiores 5. Artérias cerebelosas
ãntero-inferiores 6. Artérias cerebelosas superiores 4

No seu trajecto intracraniano, a artéria carótida in-


terna, dá os seguintes ramos colaterais:
Ramo carótido-timpânico, que do canal caro-
tídeo se dirige para a caixa do tímpano; Fig. 10.1.114: Artéria oftálmica.
1. Artéria carótida interna 2. Artéria oftálmica 3. Quiasma óptico
Ramos meníngeos .e hipofisários, logo após a
4. Nervo óptico
sua entrada na caixa craniana:
A artéria oftálrnica, que nasce da face anterior
da carótida interna logo após a sua emergên- Cada artéria vertebral, no seu trajecto intracrania-
cia do seio cavernoso, atravessa o canal óptico no, dá os seguintes ramos colaterais (Fig.10.1.113
em direcção à órbita por baixo e por fora do e 10.1.115):
nervo óptico, contornando-o depois por fora, • Ramos meníngeos;
de forma que ao entrar na cavidade orbitária • A artéria espinhal anterior, que se dirige para
se encontra superiormente ao nervo. Esta ar- baixo e para dentro, e se anastomosa com
téria irriga o nervo óptico, o globo ocular e to- a homónima contralateral na linha média
das as estruturas da órbita, bem como a par- numa única artéria espinhal anterior que irá
te superior do etmóide e os seios frontais (Fig. percorrer o sulco mediano anterior da medu-
10.1.114); la espinhal;
• A artéria comunicante posterior, que nasce da • Artérias para o bulbo raquidiano;
face posterior da carótida interna e se dirige • A artéria cerebelosa póstero-inferior ("PICA''
para trás sobre o nervo motor ocular comum na literatura anglo-saxónica), que contorna o
(III par craniano) em direcção ao mesencéfa- bulbo até à porção lateral do plexo coroideu
lo, à frente do qual se anastomosa com a arté- que emerge do IV ventrículo (corno da abun-
ria cerebral posterior; dância) sendo responsável pela sua irrigação.
• A artéria coroideia anterior, que nasce logo Corre depois sob o vérrnis cerebeloso inferior
acima da comunicante posterior na face pos- dando múltiplos ramos para esta estrutura e

607
MANUAL DE ANATOMIA H UMANA

para a face inferior do hemisfério cerebelo- auditivo interno e irriga os VII e VIII nerv
so correspondente. No seu trajecto dá a ar- .
craruanos, b em como o ouvi"do mterno·
. os
téria espinhal posterior que desce pelo sulco • A artéria cerebelosa superior, que se' or" .
1g1-
colateral posterior homolateral da medula es- na logo abaixo da bifurcação da artéria b
a-
pinhal, dá artérias posteriores para o bulbo e silar e que contorna o mesencéfalo e se d·l S,
artérias perfurantes para os núcleos centrais tribui sobre a face superior do cerebelo. Irfi-
.
do cerebelo. É assim responsável pela irriga- ga o mesencéfalo (pedúnculos cerebrais e lâ-
ção do bulbo, do plexo coroideu do IV ven- mina quadrigémea), a parte superior do he-
trículo, dos núcleos centrais do cerebelo, do misfério cerebeloso respectivo e o vérmis su-
vérmis inferior, da face inferior dos hemisfé- perior. As artérias cerebelosa superior e ce-
rios cerebelosos e da parte posterior da me- rebral posterior, ao nascerem da basilar, for-
dula cervical. mam de cada lado uma "pinça" por onde pas-
sa o III nervo craniano logo após a sua emer-
gência do mesencéfalo.

O tronco cerebral é assim vascularizado por ra-


mos das artérias vertebrais, artéria basilar e arté-
rias cerebelosas (e ainda por alguns ramos perfu-
rantes das artérias cerebrais posteriores para o me-
sencéfalo).
A irrigação do cerebelo é suprida pelas 3 artérias
cerebelosas - póstero-inferior, ântero-inferior e
5
superior- já descritas (Fig. 10.1.116).

4
4

Fig. 10.1.115: Sistema vertebro-basilar.


1. Artérias vertebrais 2. Artéria basilar 3. Artérias cerebrais posterio-
res 4. Artérias cerebelosas póstero-inferiores 5. Artérias cerebelosas
ântero-inferiores 6. Artérias cerebelosas superiores 7. Artéria espinhal
anterior 8. Ramos perfurantes da artéria basilar

A artéria basilar dá os seguintes ramos colaterais Fig. 10.1.1 16: Artérias cerebelosas.
1. Artérias vertebrais 2. Artéria basilar 3. Artérias cerebelosas pós-
(Fig.10.1.113 e 10.1.115): tero-inferiores 4. Artérias cerebelosas ântero-inferiores 5. Artérias
• Ramos perfurantes para a protuberância e cerebelosas superiores

pedúnculos cerebrais;
• A artéria cerebelosa ântero-inferior ("AICA" Na base do cérebro, à volta da haste hipofisária e
na literatura anglo-saxónica), que contorna a à frente do mesencéfalo, os ramos das artérias ca-
protuberância em direcção ao ângulo ponto- rótidas internas e basilar vão-se anastomosar num
-cerebeloso e irriga a protuberância e a por- poügono arterial, o poügono arterial de Willis.
ção lateral do cerebelo. Dá ainda origem à ar- Este conjunto de anastomoses permite igualar a
téria auditiva interna que entra pelo conducto pressão arterial nas artérias distais que irrigam o

608
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: VASCULARIZAÇÃO ENCEFÁLICA

encéfalo, e tentar compensar a falta de fluxo san- uma comunicante anterior bem desenvolvida.
guíneo na eventualidade da oclusão de alguma ar- Há também grande variabilidade na importância
téria proximal ao referido polígono arterial (vica- da artéria comunicante posterior, que pode ser a
riação arterial). principal responsável pela irrigação do território
j\ssim, o polígono arterial de Willis é constituído da artéria cerebral posterior quando o seu seg-
da seguinte forma (Fig.10.1.117): mento inicial (da bifurcação da artéria basilar à
• As duas artérias cerebrais anteriores anasto- anastomose com a artéria comunicante posterior)
mosam-se junto à linha média, sobre o quias- é hipoplásico.
ma óptico e à frente da lâmina supraótica, O cérebro é irrigado pelas 3 artérias cerebrais -
pela artéria comunicante anterior; anterior, média (ou sílvica) e posterior - e ain-
• As duas artérias carótidas internas anasto- da pela artéria coroideia anterior já descrita (Fig.
mosam-se com as artérias cerebrais posterio- 10.1.118).
res através das artérias comunicantes poste- As artérias cerebrais incluem ramos corticais que
riores, uma de cada lado, conforme descrito irrigam o córtex cerebral e a substância branca
anteriormente, encerrando assim o polígono- subjacente, e ramos centrais que nascem exclusi-
de W illis. vamente dos seus segmentos proximais e irrigam
os núcleos centrais do cérebro (optostriados), os
núcleos da base do cérebro (hipotalâmicos e sub-
talâmicos) e as regiões de substância branca adja-
centes (incluindo a cápsula branca interna).
A artéria cerebral anterior nasce da bifurcação da
carótida interna,junto à substância perfurada an-
terior. Daqui dirige-se para dentro e para a fren-
te sobre o nervo óptico, até se anastomosar sobre
o quiasma óptico com a artéria contralateral pela
artéria comunicante anterior; é o segmento proxi-
mal também conhecido como Al. Dirige-se de-
4
pois para a frente e para cima, entrando na fissura
inter-hemisférica e contornando o joelho do cor-
po caloso (segmento A2), após o que se bifurca em
artéria caloso-marginal que corre na fissura com
o mesmo nome, e artéria pericalosa que segue no
fundo da fissura inter-hemisférica sobre o corpo
caloso até à região parietal interna. Origina os se-
guintes ramos colaterais:
• Artérias centrais que perfuram a parte an-
Fig.10.1.117: Polígono arterial de Willis. terior da substância perfurada anterior e ir-
1. Artéria carótida interna 2. Artéria cerebral anterior 3. Artéria
comunicante anterior 4. Artéria comunicante posterior 5. Artéria rigam a porção anterior dos núcleos lenti-
cerebral posterior cular e caudado e da cápsula branca interna,
bem como a região hipotalârnica, supra-ópti-
A anatomia do polígono arterial de Willis é mui- ca e pilares anteriores do trígono; há uma ar-
to variável, principalmente no que respeita ao téria especialmente importante, a artéria re-
segmento inicial da artéria cerebral anterior (da corrente de Heubner, que nasce da artéria ce-
bifurcação da carótida interna à comunicante an- rebral anterior junto à comunicante anterior,
terior). E m alguns casos este segmento é hipo- tem um trajecto recorrente para fora e se jun-
plásico (pouco desenvolvido) de um dos lados, ta aos ramos perfurantes da artéria cerebral
sendo ambas as cerebrais anteriores distais nu- média, irrigando parte do braço anterior da
tridas só pela artéria do lado oposto através de cápsula interna;

609
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Fig. 10. 1.118: Territórios de irrigação das artérias cerebrais (A. Corticais B. Tronco Cerebral e Cerebelo C. Região Profund a Núcleo-Capsular).
(A} Verde - Artéria Cerebral Anterior Rosa - Artéria Cerebral Média Roxo - Artéria Cerebral Posterior

o
Ili
(B) Roxo - Artérias Pônticas Perfurantes Verde - Artéria Cerebelosa (C) Rosa - Artérias Lentícula-estriadas Mediais Laranja - Artérias
Superior Amarelo - Artéria Cerebelosa Antero-Inferior Rosa - Artéria Lentículo-estriadas laterais Roxo - Artéria Coroideia Anterior Verde
Cerebelosa Póstero-lnferior Azul - Artérias Pefurantes Bulbares - Artérias Perfurantes da Artéria Cerebral Posterior (Segmento P1)

610
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: VASCULARIZAÇÃO ENCEFÁLICA

• _Artéria fronto-orbitária interna, para a parte A artéria cerebral posterior nasce da bifurcação
interna da face orbitária do lobo frontal; da artéria basilar à frente dos pedúnculos cere-
• j\rtéria fronto-polar, para a região ântero-in- brais. Tem inicialmente um trajecto para fora até à
terna do lobo frontal; emergência da artéria comunicante posterior (seg-
• j\rtérias frontais e parietais, que irrigam a mento inicial ou Pl), depois segue para trás, con-
parte superior da face interna do hemisfério tornando os pedúnculos cerebrais (segmento P2),
cerebral até ao lóbulo quadrilátero, e a porção sendo paralela à artéria cerebelosa superior que
superior da face externa do hemisfério cere- lhe é inferior. Continua depois pela face inter-
bral (1.ª circunvolução frontal, parte superior na do lobo temporal e, mais atrás, no lobo occipi-
das circunvoluções frontal e parietal ascen- tal, bifurca-se num ramo superior - artéria parie-
dentes e 1.ª circunvolução parietal); este ter- to-occipital - e num ramo inferior - artéria cal-
ritório inclui assim as áreas corticais motora e carina, que termina na fissura calcarina. Irriga as-
somatoestésica primárias relativas ao membro sim as áreas corticais visuais. Tem os seguintes ra-
inferior contralateral. mos colaterais:
• Artérias perfurantes centrais - tálamo-per-
A artéria cerebral média, ou artéria sílvica, é o furantes - para o tálamo, que nascem do seu
rarno externo da bifurcação da carótida interna. segmento inicial antes da anastomose com a
Dirige-se para fora, entrando no rego de Sylvius, artéria comunicante posterior;
que vai percorrer de dentro para fora até que se bi- • Artéria comunicante posterior;
furca (ou menos frequentemente se trifurca). Nes- • Artérias temporais internas;
te segmento inicial, horizontal (segmento esfenoi- • Artéria coroideia póstero-lateral para o plexo
dal ou Ml), dá várias artérias perfurantes centrais coroideu do corno temporal e glomus do ven-
(externas e internas) que perfuram a substância trículo lateral;
perfurada anterior e irrigam os núcleos centrais do • Artéria coroideia póstero-medial para o ple-
cérebro e a cápsula branca interna. Dá ainda ori- xo coroideu lateral do corno frontal do ven-
gem a uma artéria temporal anterior. Os ramos da trículo lateral e para o plexo coroideu media-
bifurcação mudam então de direcção dirigindo-se no do III ventrículo (entra pela extremidade
para cima sobre o lobo da ínsula (segmento insu- posterior da fissura cerebral transversa - por-
lar ou M2). Aqui mudam novamente de direcção, ção mediana da fenda de Bichat), correndo
desta vez dirigindo-se para fora até à superfície do depois de trás para a frente sobre o III ventrí-
misfério cerebral (segmento opercular), para se culo e sob o corpo do trígono;
· carem e distribuírem na face externa do he- • Artéria pericalosa posterior que contorna
"sfério. Assim, as áreas corticais motora e soma- · posteriormente o debrum do corpo caloso;
estésica primárias (com excepção das regiões re- • Ramos corticais para a face interna da porção
tivas ao membro inferior), bem como as áreas posterior do lobo parietal e para o lobo occi-
rticais da linguagem (Broca e Wernicke) no he- pital, que nascem das artérias parieto-occipi-
. fério esquerdo, são irrigadas por esta artéria. tal e calcarina, já descritas.
, s a bifurcação, a artéria cerebral média dá os
tes ramos:
Artéria fronto-orbitária externa, para a parte VEIAS
externa da face orbitária do lobo frontal;
Ramos frontais; As veias do encéfalo não têm camada muscu-
Artérias pré-central, central (rolândica) e lar e são avalvulares. Emergem do tecido nervo-
pós-central· so e caminham no espaço subaracnoideu drenan-
Ramos par{etais, dos quais a artéria angular é do para os seios venosos intracranianos mais pró-
considerada ramo terminal· ximos. Contrariamente às artérias, que habitual-
Ramos temporais externos'. mente seguem o fundo das fissuras e sulcos cere-
brais, as veias corticais situam-se superficialmen-

611
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

te na face profunda da aracnóide que cobre cada • A veia anastomótica inferior de Labbé é
sulco. . cort1c
veia . ai temporai posterior,
. que se d·urna
.
A drenagem venosa do cérebro organiza-se num ge de cima para baixo e da frente para tr· ltl-
sistema superficial e num sistema profundo. . . as até
termmar no se10 lateral, anastomosando
O sistema venoso superficial pode sistematizar-se . .d d , este
se10 e a extrem1 a e postero-superior da v .
da seguinte forma (Fig.10.1.119): 'di fi ·at E'
cerebrai me a super a . particular"' e1a
..,en-
• Veias cerebrais superiores, que drenam a te importante à esquerda drenando O Córt
parte superior das faces externa e interna de temporal posterior (incluindo a área cortic~
cada hemisfério para os seios sagital supe- da linguagem de Wernicke);
rior e inferior; • A veia anastomótica superior de Trolard é
• Veia cerebral média superficial, que corre ao uma veia cortical que anastomosa a extremi-
longo da superfície da fissura de Sylvius ter- dade póstero-superior da veia cerebral média
minando no seio cavernoso e drenando o cór- superficial e o seio transverso superior, cor-
tex adjacente; rendo assim verticalmente na região frontal
• Veia cerebral média profunda,...que corre so- posterior da face externa do hemisfério ce-
bre o lobo da ínsula (no fundo da fissura de rebral.
Sylvius) terminando ao anastomosar-se com
a veia cerebral anterior junto à substância 3 8
perfurada anterior para formar a veia basal de
Rosenthal;
• Veias cerebrais inferiores, que drenam as faces
inferior e interna dos lobos temporal e occi-
~ital para os seios lateral e recto;
• A frente, a face inferior dos lobos frontais
drena para a veia cerebral anterior, satélite da
artéria com o mesmo nome, que contorna de
trás para a frente e de cima para baixo o joe-
lho do corpo caloso e termina junto à subs-
tância perfurada anterior ao anastomosar-se
com a veia cerebral média profunda, forman-
do a veia basal de Rosenthal;
• A veia basal de Rosenthal_forma-se assim
junto à substância perfurada anterior pela
11 10
anastomose das veias cerebral anterior, cere-
bral média profunda e de veias estriadas que Fig. 10.1.119: Drenagem venosa encefálica.
1. Veia basal de Rosenthal 2. Veia de Labbé 3. Veia de Trolard 4. Veia
emergem da substância perfurada anterior. tálamo•estriada 5. Veia cerebral interna 6. Veia cerebral magna
Esta veia contorna o pedúnculo cerebral ho- de Galeno 7. Seio longitudinal superior 8. Seio longitudinal inferior
9. Seio recto 10. Seio transverso 11. Seiosigmóide 12. Seio cavernoso
molateral da frente para trás ao longo da fis-
sura coroideia (porção lateral da fenda cere-
bral de Bichat), por baixo da fita óptica e da O sistema venoso profundo é constituído pelas
artéria coroideia anterior, juntamente com a (Fig.10.1.119):
artéria cerebral posterior e o IV nervo crania- • As veias cerebrais internas (pequenas veias de
no; recebe no seu trajecto veias da substância Galeno) formam-se junto ao buraco de Mon-
perfurada posterior que drenam a porção pós- ro pela anastomose das seguintes 3 veias:
tero-inferior do tálamo; e termina por debai- Veia tálamo-estriada, que corre de trás
xo do debrum do corpo caloso, lateralmente à para a frente no sulco tálamo-estriado
glândula pineal, ao anastomosar-se com a veia até ao buraco de Monro e drena ambos
cerebral magna de Galeno; os tálamos e a cápsula branca interna;

612
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: VASCULARIZAÇÃO ENCEFÁLICA

• Veia do septo lúcido, que drena o septo veias jugulares internas, que também recebem
lúcido, a porção anterior do corpo caloso sangue venoso dos seios petrosos inferiores e
e a cabeça do núcleo caudado; do plexo venoso do clivus;
• Veia coroideia, que drena o plexo coroi- • Seios cavernosos, são compartimentos veno-
deu do ventrículo lateral. sos complexos, multisseptados, de ambos os
lados da sela turca. Recebem as veias oftálmi-
As veias cerebrais internas correm da frente para cas superior e inferior e comunicam entre si
trás de cada lado da linha média na tela coroideia pelos seios intercavernosos.
sobre o tecto do III ventrículo (fissura cerebral
transversa ou porção mediana da fenda cerebral de
Bichat), anastomosando-se com a do lado oposto
sob o debrurn do corpo caloso para formar a veia
cerebral magna de Galeno: O encéfalo está dependente de um fluxo perma-
• A veia cerebral magna de Galeno (ou ampola nente de sangue para manter a oxigenação ade-
de G aleno) recebe as duas veias cerebrais in- quada ao seu normal funcionamento. Esse fluxo
ternas e as duas veias basais de Rosenthal, e constante (cerca de 50 a 60ml/100g/min) é man-
termina na extremidade anterior do seio rec- tido, independentemente das variações da pres-
to, sobre a glândula pineal, conjuntamente são arterial, por um mecanismo de autorregu-
com o seio transverso inferior. lação em que as artérias de pequeno calibre va-
riam o seu diâmetro (resistência vascular cere-
bral) de forma inversa à variação da pressão arte-
SEIOS VENOSOS DURAIS rial média, dentro de valores tensionais fisiológi-
cos (pressão arterial média de 50 a 150 mmHg).
As veias acima descritas drenam o sangue venoso Assim, apesar da pressão arterial média variar,
intracraniano para um conjunto de seios venosos a variação concomitante da resistência vascu-
durais, que passamos a descrever (Fig.10.1.119): lar cerebral permite manter o fluxo constante.
Seio longitudinal superior, na linha média, Se a tensão arterial ultrapassa os valores máxi-
que se origina perto da apófise crista galli e mos, as artérias aumentam de diâmetro pelo efei-
que se estende posteriormente até à confluên- to mecânico da hipertensão, aumentando anor-
cia venosa posterior com os seios recto e late- malmente o fluxo e podendo levar a uma situa-
rais, entre a tábua interna da calote craniana e ção clínica grave denominada "encefalopatia hi-
os folhetos da dura-máter; pertensiva". Se a tensão arterial cai abaixo do li-
Seio longitudinal inferior, inconstante, percorre mi te mínimo, a dilatação compensatória das ar-
a margem livre da foice cerebral, juntando-se à térias já não é suficiente, pelo que o fluxo san-
grande veia de Galeno para formar o seio recto. guíneo cerebral diminui. Qyando este fluxo cai
Seio recto, percorre a confluência da dura- abaixo de 25ml/100g/min, a actividade cortical
-máter da foice cerebral com a dura- máter da diminui causando perda de consciência. Abai-
tenda do cerebelo. Dirige-se posteriormente xo de 15ml/100g/min desaparece qualquer ac-
para se unir ao seio longitudinal superior, for- tividade eléctrica cortical. Com valores inferio-
mando a tórcula ( = confluente venoso poste- res a 10ml/100g/min iniciam-se alterações celu-
rior= Lagar de Herófilo); lares graves que levarão à morte celular irreversí-
Seios laterais, originam-se na tórcula e diri- vel se o fluxo não for restabelecido rapidamente.
gem-se lateralmente ao longo do bordo ade- É o que se passa quando, por exemplo, há para-
rente da tenda do cerebelo; gem cardíaca. Qyando há oclusão de uma artéria
Seios sigmóides, constituem a continuação cerebral o fenómeno é semelhante só que a nível
dos seios laterais, quando estes se inflectem regional, com necrose celular por isquémia (falta
para baixo, posteriormente aos rochedos. Na de irrigação) da região encefálica que essa artéria
base do crânio continuam-se com o golfo das nutria - é o acidente vascular cerebral (AVC) is-

613
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

quémico. As artérias encefálicas são artérias ter- quentemente no núcleo lenticular, na cápsu-
minais, isto é, não têm mais anastomoses entre si la branca interna, no tálamo óptico, na protube-
a jusante do polígono de Willis. Esta particula- rância anular e no cerebelo. As hemorragias su-
ridade anatómica é importante na compreensão baracnoideias são causadas, mais frequentemen-
deste fenómeno da isquémia cerebral. As prin- te, pela rotura de aneurismas das artérias cere-
cipais causas de AVC's isquémicos são: a oclu- brais; isto é, dilatações, geralmente em forma de
são de artérias (carótida interna, vertebral ou ar- saco, que nascem das bifurcações arteriais (p.ex.,
térias intracranianas) por placas de aterosclero- bifurcação da artéria basilar ou da artéria cere-
se que se formam na sua parede; e as embolias à bral média), onde o fluxo sanguíneo incide di-
distância por trombos que se originam no cora- rectamente na parede arterial, principalmente
ção ou na carótida interna junto a uma placa ate- nos segmentos arteriais que constituem o polí-
rosclerótica. Ao libertarem-se, esses trombos na- gono de Willis. A parede dos aneurismas é mais
vegam pela circulação cerebral até ocluirem uma frágil que a de uma artéria normal, pelo que têm
artéria e causarem um AVC. tendência a romper para o espaço subaracnoideu.
Conhecendo os territórios de irrigação das prin- A terapêutica destas lesões é muitas vezes cirúr-
cipais artérias cerebrais e as funções das várias
áreas do cérebro, podemos reconhecer síndromes
que resultam da oclusão de cada uma dessas ar-
térias:
Artéria cerebral anterior: hemiparésia e he-
mihipostesia contralaterais de predomínio no
membro inferior;
Artéria cerebral média: herniparésia e he-
mihipostesia contralaterais de predomínio na
face e membro superior e afasia (defeito na
linguagem) se no hemisfério esquerdo;
Artéria cerebral posterior: hernianópsia ho-
mónima contralateral (por lesão das radia-
ções ópticas e da área visual cortical primá-
ria) e por vezes hemihipostesia contralateral
por lesão do tálamo;
Artéria coroideia anterior: herniplegia e he-
mihipostesia contralateral (por lesão da cáp-
sula branca interna) e hemianópsia homóni-
ma contralateral (por lesão da fita óptica).

Para além das lesões isquémicas, um outro gru-


po de lesões cérebro-vasculares muito importan-
te é constituído pelas hemorragias. Há dois gran-
des grupos de hemorragias intracranianas es-
pontâneas: as intraparenquimatosas (a hemorra-
gia dá-se dentro do tecido nervoso) e as suba-
racnoideias (para o espaço subaracnoideu). As
hemorragias intraparenquimatosas são, na sua
grande maioria, causadas pela hipertensão arte-
Fig. 10.1.120: Angiografia convencional (incidências AP).
rial que provoca alterações na parede das arté-
A. lnjecção do sistema carotídeo
rias de pequeno calibre, podendo causar a sua ro- 1. ACI 2. ACA 3. ACM
tura. Estas hemorragias localizam-se mais fre- B. lnjecção do sistema vertebro-basilar
1. Artéria vertebral 2. Artéria basilar 3. ACP

614
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: VASCULARIZAÇÃO ENCEFÁLICA

gica, com "clipagem"; ou seja, oclusão do colo REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


aneurismático por um "clip" metálico que exclui
aneurisma da circulação, prevenindo futuras ro- Splittgerber, R. Snell's Clinical Neuroanatomy. 8.a
0
ruras. Outra alternativa terapêutica é a oclusão edição. Wolters Kluwer, 2019.
do lúmen aneurismático com espiras de platina Machado, ABM. Neuroanatomia Funcional. 3.ª
introduzidas por via endovascular intra-arterial. edição. Atheneu, Rio de Janeiro, 2013.
para o diagnóstico de muitas lesões cérebro-vas-
culares, para além de se utilizarem técnicas ima- Afifi, A.; Bergman, A. Functional neuroanatomy:
text and atlas. 2nd Edition. Me Graw-Hill
giológicas como a tomografia computorizada ou a
ressonância magnética, por vezes necessitamos de Professional, 2005.
vizualizar directamente os vasos encefálicos atra- Rouviere, H.; Delmas, A .Anatomie Humaine.
vés da angiografia cerebral. Esta técnica envolve a Tome 3. 15émc édition. Masson et Cie. Paris, 2002.
injecção de um produto opaco aos raios X nas ar-
Kahle, W.; Leonhardt, H.Anatomie: Systeme
térias carótidas internas e/ou vertebrais, ao mesmo
Nerveux et organes dessens.Tome 3. Flammarion,
tempo que se fazem radiografias seriadas da cabe-
ça do doente (técnica pela primeira vez descrita e 2002.
usada por Egas Moniz). O diagnóstico de algumas
lesões cérebro-vasculares, como oclusões ou este- ***
noses arteriais e aneurismas, é habitualmente feito
com recurso à angiografia. A Fig.10.1.120 mostra
uma injecção angiográfica carotídea e outra verte-
bral de frente.

PERGUNTAS TIPO

1. Qyal das seguintes artérias não é ramo da ar-


téria basilar?
a. Artéria cerebelosa superior.
b. Artéria cerebelosa ântero-inferior.
e. Artéria cerebelosa póstero-inferior.
d. Artérias pônticas.
e. Artéria labiríntica.

2. Qyal dos seguintes seios venosos durais não


conflui, directamente, para o confluente ve-
noso posterior (ou Lagar de Herófilo)?
a. Seio longitudinal superior.
b. Seio lateral.
e. Seio occipital.
d. Seio longitudinal inferior.
e. Seio recto.

ia-z i'.)- i
:s,isodso<l

615
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

I Nervo Nervo olfativo


II Nervo Nervo óptico
III Nervo - Nervo oculomotor /

(ou motor ocular comum)


NERVOS CRANIANOS IV Nervo Nervo troclear (ou patético)
V Nervo Nervo trigémio
Os nervos cranianos são constituídos por 12 pa- VI Nervo Nervo abducente/abdutor
res, e denominam-se assim por terem a sua ori- (ou motor ocular externo)
gem no encéfalo e passarem pelos buracos da base VII Nervo - Nervo facial
do crânio, enquanto os nervos raquidianos nascem VIII Nervo - Nervo vestibulococlear
da medula espinhal e passam pelos buracos inter- (estato-acústico ou auditivo)
vertebrais. Os nervos cranianos inervam sobretu- IX Nervo Nervo glossofaríngeo
do a cabeça e pescoço, mas um, o nervo vago dis- X Nervo Nervo vago (ou pneumogástrico)
tribui-se também ao tórax e abdómen. A sua nu- XI Nervo Nervo acessório (ou espinhal)
meração faz-se consoante a emergência do encéfa- XII Nervo - Nervo hipoglosso
lo, de proximal para distal, usando números roma-
nos. A sua nomenclatura é a seguinte (Fig.10.2.1):

VI

VIII

IX

XII XI X
Fig. 10.2.1: Nervos cranianos (esquema geral).
1. Olfativo li. Optico 111. Oculomotor IV. Troclear V. Trigémio VI. Abdutor VII. Facial VIII. Vestibulococlear IX. Glossofaríngeo X. Vago
XI. Acessório X II. Hipoglosso.

616
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO: NERVOS CRANIANOS

Em termos funcionais estes nervos dividem-se em NERVO OLFATIVO - / NERVO


rrês grupos: os nervos sensitivos - nervos olfati-
"º' óptico e vestibulococlear - também designados O nervo olfactivo (Fig. 10.2.2) é um nervo senso-
"nervos sensoriais" porque dizem respeito aos or- rial, que tem origem nas células receptoras olfati-
gãos dos sentidos; os nervos ~otores -. nervo ocu- vas, dispersas na parte superior da mucosa da fossa
Jomotor, troclear, abdutor, espinhal e hipoglosso; e nasal (mucosa olfactiva). Estes neurónios bipolares
os nervos mistos - nervo trigémio, facial, glossofa- emitem um prolongamento que faz sinapse com
ríngeo e vago - com uma combinação de funções as células mitrais no bulbo olfactivo que se encon-
sensitivas e motoras. Além dos componentes aci- tra na goteira olfactiva do etmoide. D estas segue a
ma enumerados, alguns destes nervos têm ainda via olfactiva até ao córtex cerebral olfativo primá-
fibras do Sistema N ervoso Vegetativo Parassim- rio (área periamigdalina e área peripiriforme) e se-
pático (III, VII, IX e X nervos). cundário (área entorrinal). As fibras mais mediais
Os nervos cranianos têm a sua origem real em nú- da via cruzam para o lado oposto. É responsável
cleos motores ou sensitivos localizados a nível en- pelo sentido do olfacto (ver Sistema Olfativo).
cefálico, sobretudo no tronco cerebral. D aí partem
ou aí terminam fibras que emergem à superficie NERVO ÓPTICO - li NERVO
do encéfalo na chamada "origem aparente". E stas
fibras dirigem-se para buracos da base do crânio, O nervo óptico (Fig. 10.2.3) é o nervo sensorial
por onde deixam a caixa craniana para se distribuí- da visão. Tem origem nas células da camada gan-
rem aos territórios respectivos (Fig.10.2.1). glionar da retina, que convergem na papila óptica
Neste capítulo são descritos apenas em detalhe e saem do olho formando o nervo óptico. Os dois
os nervos cranianos não relacionados com os ór- nervos ópticos reúnem-se no quiasma óptico, es-
gãos dos sentidos, ou seja, os nervos trigémio, fa- trutura em que a metade medial das fibras de cada
cial, glossofaríngeo, vago, acessório e hipoglosso; nervo cruzam para o lado oposto. Os feixes que
os restantes serão estudados em detalhe no capí- partem do quiasma chamam-se fitas ópticas e di-
tulo de Estesiologia, pelo que serão aqui apenas rigem-se para o corpo geniculado lateral de cada
mencionados resumidamente. lado, atrás e abaixo do pulvinar do tálamo. Daí for-

14

15

11

/ 3 4 6 8 9 10

Fig. 10.2.2: Nervo Olfativo (1).


1
· Mucosa olfactiva 2. Lâmina crivada 3. Células olfativas 4. N ervos otfactivos 5. Bulbo olfactivo 6. Núcleo olfativo anterior 7. Frta otfactiva
8
· Trígono e t ubérculo olfactivos 9. Estria olfactiva lat eral 10. Núcleo olfactivo lateral 11. Substância perfurada ant erior 12. Corpo amigdalino
ll.L6bulo piriforme 14. Comissura anterior 15. Estria olfactiva medial

617
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

mam as radiações ópticas e dirigem-se para o cór- elevação da pálpebra superior, os movimentos do
tex visual primário, situado de cada lado do sul- globo ocular para cima ou para baixo e para den-
co calcarino na face medial do lobo occipital. É o tro, a constrição pupilar (miose) e a acomodação
nervo responsável pela visão (ver Sistema Visual). do cristalino (ver Sistema Visual).

8 7 6
4

9 10 11 12 13 4

Fig. 10.2.4: Nervos motores do globo ocular (Ili, IV, VI).


1. Nervo óptico 2. N ervo oculomotor (Ili) 3. Nervotroclear(IV) 4. N ervo
abdutor (VI) 5. Músculo reto superior 6. Músculo oblíquo superior
10 7. Tr6dea 8. Músculo levantador da pálpebra superior 9. Músculo oblí•
Fig. 10.2.3: Nervo Optico (li). quo inferior 10. Músculo reto inferior 11 . Gânglio ciliar 12. M úsculo
1. Globo ocular 2. Bulbo olfactivo 3. F~a o~activa 4. Nervo óptico reto medial 13. Músculo recto lateral (seccionado)
5. Quiasma óptico 6. ma óptica 7. Hipófise 8. Corpo geniculado lateral
9. Radiações ópticas 10. Cortex visual.

NERVO TROCLEAR - IV NERVO


NERVO OCULOMOTOR - Ili NERVO
O nervo troclear (Fig.10.2.4) é também um ner-
O nervo oculomotor (Fig. 10.2.4) é um nervo ex- vo exclusivamente motor. Tem origem real no
clusivamente motor. Tem a sua origem real no núcleo troclear (ou patético), situado anterior-
núcleo motor principal e no núcleo motor aces- mente à substância cinzenta periaquedutal do
sório (núcleo parassimpático de Edinger-Wes- mesencéfalo, mais abaixo que os núcleos do ocu-
tphal), situados anteriormente à substância cin- lomotor. As suas fibras contornam lateralmente
zenta periaquedutal do mesencéfalo. As fibras a substância cinzenta central e emergem na face
eferentes destes núcleos dirigem-se para a frente posterior do mesencéfalo abaixo da lâmina qua-
e atravessam o mesencéfalo emergindo na fossa drigémia imediatamente após decussar para o
interpeduncular. O nervo continua a sua direcção lado oposto. Contorna então a face lateral do me-
anterior na espessura da parede lateral do seio ca- sencéfalo e dirige-se para a frente atravessando
vernoso, onde se divide em ramos superior e infe- o seio cavernoso ao longo da parede lateral. Na
rior, passando em seguida através da fissura orbi- parte anterior do seio cavernoso passa por cima
tária superior. Na órbita distribui-se aos múscu- do nervo oculomotor e entra na órbita pela fis-
los elevador da pálpebra superior, rectos superior, sura orbitária superior. Inerva o músculo oblíquo
medial e inferior e oblíquo inferior. Através de fi- superior e promove o desvio do globo ocular para
bras parassimpáticas para o gânglio ciliar e para baixo e para fora e a sua rotação para dentro (ver
os nervos ciliares curtos, inerva os músculos cilia- Sistema Visual).
res e o esfincter da pupila. A sua acção promove a

618
CONTROLO E I NTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO: NERVOS CRANIANOS

NERVO TRIGÉM/0 - V NERVO rância, adjacente e lateral ao núcleo motor; abai-


xo continua-se com o núcleo espinhal ao longo do
O nervo trigémio é o nervo craniano de maior ca- bulbo até ao nível C2 da medula. O núcleo me-
Jibre e tem funções sensitivas (face, órbita, fossas sencefálico, acima do principal, prolonga o núcleo
nasais e cavidade bucal) e motoras (sobretudo os principal no mesencéfalo, lateralmente à substân-
rnúsculos da mastigação). Divide-se em três ramos cia cinzenta periaqueductal (ver capítulo Tronco
principais: oftálmico, maxilar e mandibular; daí o Cerebral).
seu nome (Fig. 10.2.SA e B). No gânglio trigeminal de Gasser (ver abaixo) es-
tão os corpos celulares dos neurónios sensitivos.
Origem real, núcleos e vias Estes recolhem informação termo-álgica, do tacto
e da pressão ao nível da pele e mucosas. O s axónios
A origem real do trigémio são os seus núcleos sen- destes neurónios terminam nos núcleos sensitivos.
sitivo e motor. Ao núcleo principal chegam as fibras responsáveis
O núcleo motor do trigémio, situado na parte dor- pelo tacto e pressão. As fibras da dor e temperatu-
solateral da calote da protuberância, recebe fibras ra descem para o núcleo espinhal, ordenando-se
corticais de ambos hemisférios cerebrais (base da de cima para baixo conforme provêm dos nervos
circunvolução pré-central, frontal ascendente) e de oftálmico, maxilar e mandibular.
formações extra-piramidais. As fibras motoras do Um pequeno conjunto de fibras sensitivas tem
trigémio inervam os músculos da mastigação, ten- origem em células do núcleo mesencefálico e os
sor do tímpano (músculo do martelo), milo-hioi- seus dendritos passam pelo gânglio de Gasser sem
deu e ventre anterior do digástrico. fazer sinapse. Recolhem informação propriocepti-
O núcleo sensitivo do trigémio estende-se ao lon- va dos músculos da mastigação, dos músculos fa-
go de vários andares do tronco cerebral, embora ciais e motores oculares.
com continuidade anatómica, considera-se conti- As fibras eferentes dos três núcleos sensitivos atra-
tuído por três porções distintas: o núcleo sensiti- vessam a linha média e ascendem, do lado opos-
vo principal localiza-se a toda a altura da protube- to, formando o lemnisco trigeminal. Este dirige-se

13 14

11
Fig. 10.2.SA: Nervo Trigémio (V).
~: ~~rvo trigémtO 2. Nervo oftálmico 3. Nervo maxilar 4 . Nervo mandibular 5. Nervo supraorbitário 6. Gânglio ciliar 7. Nervo lnfraor-
rtano 8. Gânglio esfenopalatino 9. Gânglio ótico 10. Gânglio submandibular 11. Nervo lingual 12. Nervo dentário inferior 13. Nervo
mentoniano 14. Nervo auriculotemporal.

619
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Fig. 10.2.58: Nervo Trigémio M- Territórios de Inervação Sensitiva e Motora.


1. Nervo oftálmico 2. Nervo maxilar 3. Nervo mandibular 4. Músculo Temporal 5. Músculo Pterigoideu Medial 6. Nervo Mandibular
7. Músculo Pterigoideu Lateral 8. Músculo Masseter 9. Ventre Anterior do Músculo Digástrico.

ao núcleo ventral póstero-medial do tálamo, onde deo, ao troclear e ao oculomotor, ramos colaterais
termina. Daqui, as fibras dos neurónios seguintes meníngeas, entre os quais o nervo meníngeo re-
atravessam a cápsula interna e dirigem-se ao cór- corrente (de Arnold) e ramos para o gânglio ciliar,
tex cerebral da circunvolução pós-central (parie- gânglio vegetativo que lhe está adjacente por de-
tal ascendente). trás de globo ocular.
O nervo nasal, mais medial, entra na órbita atra-
Origem aparente, trajeto e ramos vés da parte medial da fissura orbitária superior e
passa dentro do anel tendinoso comum dos mús-
O trigémio emerge do tronco cerebral ao nível da culos oculomotores (anel de Zinn). Acompanha,
face ântero-lateral da protuberância na transição então, o trajecto da artéria oftálmica ao longo do
para os pedunculos cerebelosos médios. Há uma bordo inferior do músculo oblíquo superior. Ao
raiz sensitiva do trigémio, maior e uma raiz moto- longo deste trajecto, emite um ramo para o gân-
ra do trigémio, menor e medial. glio oftálmico, os nervos ciliares longos para o glo-
No seu trajecto, na fossa craniana posterior o ner- bo ocular e o ramo esfeno-etmoidal (para as célu-
vo orienta-se para a frente e para fora, dirigindo-se las etrnoidais superiores e seio esfenoidal). Os ra-
para a face ântero-superior do rochedo. Aí locali- mos terminais são, o nasal medial e o nasal lateral.
za-se o gânglio trigemina! de Gasser, que se en- O primeiro acompanha a artéria etmoidal ante-
contra no cavum de Meckel, estrutura resultante rior até às fossas nasais e o septo nasal. O ner-
de um desdobramento da duramáter. O s três ra- vo nasal lateral inerva a pele da base e do lóbu-
mos do trigémio originam-se no bordo ântero-la- lo do nariz.
teral deste gânglio e são, de cima para baixo e de O nervo frontal atravessa a parte larga da fenda
dentro para fora, o oftálmico, o maxilar e o man- esfenoidal, embora lateralmente ao anel de Zinn.
dibular. Dirige-se anteriormente entre o elevador da pál-
O nervo oftálmico (Vl), exclusivamente sensitivo, pebra superior e o tecto da órbita, dividindo-se em
tem origem na parte ântero-medial do gânglio de ramos frontal medial e lateral (nervo supra-orbi-
Gasser. Dirige-se para a frente e para cima, na es- tário). Ambos se distribuem aos tegumentos da
pessura do seio cavernoso, inferiormente aos ner- fronte, pálpebra superior e base do nariz.
vos troclear e oculomotor. Ainda no seio caverno- O nervo lacrimal atravessa a parte lateral da fissu-
so, divide-se nos seus ramos terminais, os nervos ra orbitária superior. Dirige-se para a frente e para
nasal, frontal e lacrimal. O oftálmico fornece no fora e vai inervar a glândula lacrimal e a parte late-
seu trajecto feixes anastomóticos ao plexo carotí- ral da pálpebra superior.

620
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO: NERVOS CRANIANOS

ervo maxilar (V2) é também exclusivamente língua à frente do V lingual; adjacente a este ner-
O :jtivo. Parte do gânglio de Gasser, lateralmen- vo encontra-se os gânglios nervosos submandibu-
sen oftálrn1co, . d'mge-se
. para a firente, atravessa lar e sublingual (ver Sistema Nervoso Vegetativo).
re ao
buraco grande redondo e o transfundo da fossa
0
, •go-rnaxilar onde está ligado ao gânglio pteri- NERVO ABDUCENTE - VI NERVO
prefl
-palatino (Meckel). Chega assim ao canal infra-
!;rbitário, passando a chamar-se nervo infra-orbi- O nervo abducente (Fig.10.2.4) é um nervo mo-
, • e percorre-o até sair no buraco com o mes- tor que tem por origem real o núcleo abdutor si-
rarJ0 ' ,,... , . 1 . d .
0
norne. ~em var1os ramos co aterais, os quais tuado no pavimento protuberancial do quarto
rn rirneiro é o ramo meníngeo médio; o ramo or- ventrículo, sob o colículo facial. As suas fibras di-
op
bitário destina-se aos tegumentos malares e da re- rigem-se para a frente e emergem no sulco bul-
gião tempor~; o ramo esfeno-~alatino vai inervar boprotuberancial. Atravessa o seio cavernoso, la-
a parte inferior das fossas nasais; os ramos alveo- teral e inferior à artéria carótida interna, abaixo
lares posteriores, médios e anteriores destinam-se e medial relativamente aos nervos oculomotor
aos dentes e gengivas do maxilar superior. Os ra- e troclear, e entra na órbita pela fissura orbitá-
rnos terminais do nervo infra-orbitário conferem ria superior indo enervar o músculo recto lateral.
sensibilidade à pálpebra inferior, lábio superior e É responsável pelo desvio lateral do globo ocular
asa do nariz. (ver Sistema Visual).
o nervo mandibular (V3), sensitivo-motor, é o
mais lateral ao deixar o gânglio de Gasser. As fi- NERVO FACIAL - VII NERVO
bras sensitivas juntam-se ao ramo motor logo que
emergem do gânglio de Gasser. O nervo passa no O nervo facial(Fig.10.2.6) é motoresensitivo,con-
buraco oval, abaixo do qual se encontra ligado a tendo também um componente parassimpático.
um outro gânglio vegetativo, o gânglio ótico (Ar- É responsável pela inerveção motora dos mús-
nold) e divide-se em dois troncos terminais. O seu culos da mímica e, através da corda do tímpa-
único colateral é um ramo meníngeo recorrente. no, transporta informação sensorial do paladar.
O tronco anterior dá origem a três ramos: o ner- Por fim, tem também um componente vegetati-
vo temporo-bucal destinado ao músculo pteri- vo parassimpático, responsável pela secrecção la-
goideu lateral, à parte anterior do músculo tem- crimal, nasal e salivar das glândulas submaxilar e
poral, à mucosa jugal (face medial da bochecha) sublingual.
e pele correspondente; o nervo temporal profun-
do médio inerva a parte média do músculo tem- Origem real, núcleos e vias
poral; por fim, o nervo temporo-masseterino que
termina no masséter e na parte posterior do mús- O nervo facial tem origem em três núcleos: motor
culo temporal. principal, sensitivo e parassimpático.
O tronco posterior tem quatro ramos: o primeiro O núcleo motor principal do facial situa-se na
é o tronco comum dos nervos do pterigoideu me- parte inferior da protuberância, no seio da subs-
dial, do peristafilino lateral (tensor do véu palati- tância reticular. A porção superior do núcleo, que
no) e do músculo tensor do tímpano, que são ra- inerva os músculos da parte superior da face, re-
mos motores para os músculos do mesmo nome; o cebe aferências de ambos os hemisférios cerebrais
nervo aurículo-temporal confere sensibilidade aos (circunvolução frontal ascendente). A porção infe-
tegumentos da parte lateral da cabeça, articulação rior do núcleo, que inerva os músculos da parte in-
têmporo-mandibular, conduto auditivo externo, ferior da face, é comandada apenas pelo hemisfé-
membrana do tímpano e parte do pavilhão da ore- rio contra-lateral.
lha; o nervo dentário inferior enerva os dentes do O núcleo sensitivo do facial é a parte superior do
maxilar inferior. O último ramo, o nervo lingual, núcleo do feixe solitário e localiza-se lateralmente
recebe como anastomose o nervo corda do tím- ao núcleo motor. No gânglio geniculado, situado
pano, ramo do facial, e distribui-se à mucosa da no rochedo entre a primeira e a segunda porções

621
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

12

Fig. 10.2.6: Nervo facial (Vll).


1. Nervo fadai 2. Gânglio genirulado 3. Nervo grande petroso 4. Gânglio esfenopalatino 5. Ramos temporais 6. Ramos zigomáticos 7. Ramo
bucal 8. Ramo mandibular 9. Gânglio submandibular 10. Ramo lingual 11. Nervo corda do tímpano 12. Ramo auricular posterior.

do seu trajecto no aqueduto de Falópio, estão as dutor. Ao rodeá-lo determinam a eminência teres
células que recolhem as sensações relativas ao pa- ou colículo facial no pavimento do IV ventrículo.
ladar e ao componente sensitivo do facial. Os seus A raiz sensitiva do facial é formada pelo chamado
axónios fazem sinapse no núcleo sensitivo, cujas "nervo intermédio de Wrisberg". As fibras deste
fibras eferentes se dirigem para o cortex gustativo nervo são os axónios das células do gânglio geni-
do hemisfério oposto. Para tal, cruzam a linha mé- culado, que terminam no núcleo do feixe solitário
dia, fazem sinapse no núcleo ventral póstero-me- na protuberância, e fibras parassimpáticas.
dial do tálamo e seguem pela coroa radiária até à Ambas as raízes emergem, anteriormente, a nível
porção inferior da circunvolução pós-central (pa- do sulco bulbo-protuberancial, situando-se o ner-
rietal ascendente). vo intermédio de Wrisberg entre a raiz motora e
Os núcleos parassimpáticos do facial localizam- o oitavo nervo. Atravessam o ângulo ponto-cere-
-se posteriormente ao núcleo motor principal. Do beloso à frente do nervo vesnbulo-coclear e en-
conjunto fazem parte o núcleo salivar superior e tram em conjunto no canal auditivo interno. O fa-
o núcleo lacrimal. O núcleo salivar superior rece- cial percorre as três porções do aqueduto do facial
be aferências do hipotálamo e das vias do pala- ou de Falópio, que contornam o ouvido interno
dar (através no núcleo do feixe solitário). O nú- e médio, para terminar no buraco estilo-mastoi-
cleo lacrimal recebe feixes do hipotálamo, relativos deu. Em seguida dirige-se anteriormente, passan-
às respostas emocionais, e do núcleo sensitivo do do por fora da apófise estiloideia, e atravessa a pa-
trigémio, responsáveis pela resposta à irritação da rótida - relação muito importante em termos pa-
córnea com lacrimejo reflexo. tológicos e cirúrgicos.
O nervo facial emite ramos colaterais intra-petro-
O rigem aparente, trajeto e ramos sos, extra-petrosos (abaixo do buraco estilo-mas-
toideu) e ramos terminais. Os ramos colaterais
O componente motor e o sensitivo do facial têm intra-petrosos são seis e emergem no trajecto do
raízes distintas. As fibras motoras do facial dei- nervo dentro do aqueduto de Falópio: o nervo pe-
xam o respectivo núcleo e dirigem-se para den- troso maior superficial, que recebe o nervo petro-
tro e para trás, contornando o núcleo do nervo ah- so maior profundo (ramo do Glossofaríngeo) for-

622
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO: NERVOS CRANIANOS

Jllando o nervo petroso maior e ainda um ramo sando pelo pedúnculo cerebeloso inferior, e des-
anastomótico do plexo simpático peri-carotídeo cendentes, que formam o feixe vestíbulo-espinhal.
tornando-se no nervo vidiano, aferente do gân- Outras fibras dirigem-se a outros núcleos de ner-
glio esfeno-palatino no transfundo da fossa pté- vos cranianos situados no tronco cerebral. Outras
rigo-maxilar; o petroso menor superficial anasto- ainda ascendem para o córtex telencefálico, através
1110sa-se com petroso menor profundo ( também de sinapses no tálamo. Desta forma a informação
ramo do glossofaríngeo) formando o nervo pe- do ouvido interno é integrada e processada com o
troso menor e dirige-se ao gânglio ótico; o nervo tónus muscular, a visão e movimentos oculares e a
do músculo do estribo ou estapédico enerva o res- orientação no espaço.
pectivo músculo; o nervo corda do tímpano atra-
vessa a caixa do tímpano, adjacente à face medial 10 9 13
da membrana do tímpano e anastomosa-se com o
14
nervo lingual; e um ramo sensitivo do canal audi-
tivo interno e um ramo anastomótico da fossa ju-
gular com o nervo vago.
Os ramos colaterais extra-petrosos são: o ramo
anastomótico do glossofaríngeo, o auricular pos-
terior (destinado aos músculos auriculares e occi-
pital), os ramos dos músculos estilo-hioideu e do 15
ventre posterior do diagástrico e o ramo língua!
(que se anastomosa com o glossofaríngeo na base
da língua).
Os ramos terminais do facial surgem na proximi- 7 8
dade da veia jugular externa: o ramo temporo-fa- Fig. 10.2.7: Nervo vestibulococlear (VIII).
cial destina-se aos músculos da mímica do crânio e 1. Nervo vestibulococlear 2. Nervo vestibular 3. Nervo codear 4. Raiz
dos nervos facial e intermediário (Wrisberg) 5. Gânglio espiral {Corti}
da face, acima do orifício bucal; o ramo cervico-fa- 6. Gânglio vestibular 7. Núcleos vestibulares 8. Núcleos cocleares
cial anastomosa- se com o ramo auricular do ple- 9. Gânglio geniculado 1O. Nervo grande petroso 11. Sáculo 12. Ca-
nal semicircular posterior 13. Utrículo 14. Canal semicircular superior
xo cervical e enerva os músculos da mímica abaixo 15. Canal semicircular lateral.
do orifício bucal, bem como o músculo cutâneo do
pescoço ou platisma.
A parte coclear recebe impulsos do orgão de
NERVO VESTIBULOCOCLEAR - VIII NERVO Corti, na cóclea, sensível a estímulos sonoros. As
células receptoras constituem o gânglio espiral
O nervo vestibulococlear é um nervo sensorial, do caracol (Corti) e dirigem-se para o conduto
constituído por duas partes distintas, uma vesti- auditivo interno. A partir daí acompanham as fi-
bular e uma coclear, que recebem informação do bras da parte vestibular em todo o seu trajecto e
ouvido interno (Fig. 10.2.7). constituem a raiz coclear. Na protuberância diri-
A parte vestibular recebe impulsos do utrículo e gem-se aos núcleos cocleares, situados na super-
do sáculo do ouvido interno, relativos ao posicio- fície do pedúnculo cerebeloso inferior. As fibras
namento da cabeça, e dos canais serni-circulares eferentes destes núcleos constituem o lemnisco
do ouvido interno, relativos ao movimento da ca- espinhal de um lado e outro, que se dirigem ao
beça. As células receptoras situam-se no gânglio corpo geniculado medial e daí partem fibras para
vestibular (Scarpa) situado no fundo do conduto o córtex auditivo, formando as radiações acústi-
auditivo interno e as suas fibras eferentes consti- cas. O córtex auditivo localiza-se na circunvolu-
tuem a raiz vestibular do nervo, que entra no tron- ção temporal superior. Nesta estão representadas
co cerebral no sulco bulbo-protuberancial. Diri- as fibras e a organização do orgão de Corti (ver
gem-se aos núcleos vestibulares onde fazem si- Sistema Auditivo).
napse. Deles partem fibras para o cerebelo, pas-

623
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

NERVO GLOSSOFARÍNGEO - IX NERVO mação relativa ao paladar; esta parte do núcl



1eixe solitano
' º em conJunto
. com a d o nervo eodo
fa .
O nervo glossofaríngeo (Fig. 10.2.8) desempenha . , b ' d . d
acuna e tam em es1gna a nuc " , 1eo gustativo (Nc,a1
funções motoras (relacionadas com a deglutição), geotte)". As fibras eferentes dirigem-se ao núct a-
sensitivas (paladar do terço posterior da língua e ventral póstero-lateral do tálamo contra-lateratº
faringe) e parassimpáticas (controlo da secreção algumas aos núcleos hipotalârnicos. O 3.0 neUr~~
parotídea). Recebe ainda as aferências do seio e do nio, proveniente do tálamo, passa pelo braço pOs-
corpo carotídeos. terior da cápsula medial, percorre a coroa radiári
e termina na porção inferior da circunvolução pa~
11 rietal ascendente. As fibras da sensibilidade pro-
10 9 4
venientes da caixa do tímpano, trompa de Eustá-
quio, naso e oro-faringe, terminam, porém, no nú-
cleo espinhal do trigérnio
Há ainda um tipo de específico de sensibilidade
que é a referente ao corpo carotídeo (quirniorre~
ceptor) e ao seio carotídeo (barorreceptor). As fi-
bras deste último, curiosamente, depois da sinap-
se ao nível do núcleo de feixe solitário, dirigem-
-se ao núcleo dorsal do vago. Esta ligação permi-
te o reflexo do seio carotídeo, que, relacionando 0
6 IX e o X nervos, participa na regulação da pres-
são arterial.
O parassirnpático é representado pelo núcleo sa-
livar inferior, controlado pelo hipotálamo (recebe
também informação do sistema olfativo, e do nú-
cleo do feixe solitário relativa ao paladar). As fi-
bras eferentes, pré-ganglionares, atingem o gân-
glio ótico através do ramo timpânico (de Jacob-
son) do glossofaríngeo, do plexo timpânico e do
Fig. 10.2.8: Neivo glossofaringeo (IX.)
1. Nervo glossofaríngeo 2. Gânglios superior e inferior do nervo nervo pequeno petroso profundo. As fibras pós-
glossofaringeo 3. Nervo vago 4. Nervo facial 5. Nervo interme-
-ganglionares dirigem-se à glândula parótida.
diário 6. Gânglio simpático cervical 7. Tronco simpático 8. Ramo
do seio carotídeo 9. Nervo timpânico (Jacobson) 10. Nervo grande
petroso 11. Nervo petroso profundo 12. Nervo vidiano 13. Nervo Origem aparente, trajeto e ramos
pequeno petroso 14. Gânglio pterigopalatino 15. Gânglio ótico 16.
Nervo auriculotemporal 17. Parótida 18. Plexo faríngeo 19. Ramos
faríngeos e linguais. O nervo glossofaríngeo emerge do sulco colateral
posterior do bulbo abaixo do nervo vestibuloco-
Origem real, núcleos e vias clear e acima do vago. Os seus vários filetes reú-
nem-se, atravessam o ângulo ponto-cerebeloso, e
O IX nervo tem três núcleos: motor, sensitivo e saem pelo buraco jugular (lácero posterior), diri-
parassimpático. gindo-se à base da língua. É no próprio buraco
O núcleo motor do nervo glossofaríngeo, situado jugular que o nervo apresenta o gânglio superior
na substância reticular bulbar, corresponde à por- (Ehrenritter) e o gânglio inferior (Andersch).
ção superior do núcleo ambíguo. Recebe aferên- O nono nervo craniano tem um ramo anastomó-
cis corticais bilaterais e inerva o músculo estilo- tico para o facial e vários ramos colaterais. Des-
-faríngeo. tes, o nervo timpânico (Jacobson), fornece ra-
Por sua vez, o núcleo sensitivo do glossofaringeo mos para a caixa do tímpano e trompa de Eustá-
faz parte do núcleo do feixe solitário, que recebe quio, um ramo anastomótico para o plexo simpá-
fibras dos gânglios do glossofaringeo, com infor- ti,co peri-carotídeo e os nervos petrosos profundos

624
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO PERJFÉRICO: NERVOS CRANIANOS

aior e menor. Outros ramos colaterais são os ca- volução parietal ascendente. A informação relati-
rTl
rotídeos (para o • e corpo carot1'deos,Juntamen-
se10 . va à sensibilidade somática (faringe, laringe, pavi-
te com o vago), os ramos faríngeos (enervando o lhão auricular e canal auditivo externo) é conduzi-
território homónimo, com o décimo nervo crania- da por neurónios do gânglio superior do vago que
no), os nervos dos músculos estilo-faríngeo e esti- terminam no núcleo espinhal do nervo trigémio.
[o-glosso, e, por fim, os ramos tonsilares (da mu-
cosa amigdalina).
Os ramos terminais na base da língua, sensiti-
vos, destinam-se à mucosa lingual posterior ao
V lingual.

NERVO VAGO OU PNEUMOGÁSTRICO - X


NERVO CRANIANO

O vago é um nervo misto (Fig. 10.2.9), pois re-


gula a motricidade faríngea (conjuntamente com
0 glossofaríngeo) e laríngea, e é responsável pela 7
Í!lervação parassimpática dos sistemas cárdio-vas-
cular, respiratório, gastro-intestinal (tubo digesti-
vo até ao ângulo esplénico do cólon) e urinário.
É o mais longo e mais importante nervo paras-
simpático.

Origem real, núcleos e vias


8
O vago tem três núcleos: motor, parassimpático e
sensitivo.
O núcleo motor do vago, localizado na formação
reticular bulbar, é parte (inferior) do núcleo ambí-
guo. Recebe aferências corticais bilaterais e iner-
va os músculos constritores da faringe e intrínse-
cos da laringe.
O núcleo parassimpático é o núcleo dorsal do
vago, sob o pavimento bulbar do IV ventrículo (asa Fig. 10.2.9: Nervo vago (X).
cinzenta ou fóvea inferior), lateralmente ao núcleo 1. Nervo vago 2. Gânglio jugular 3. Gânglio nodoso 4. Nervo
laríngeo superior 5. Nervo laríngeo recorrente 6. Ramos cardíacos
do nervo hipoglosso. As suas aferências originam- 7. Plexo cardíaco 8. Tronco vagai anterior 9. Tronco vagai posterior.
-se no hipotálamo, mas vêm também do nervo
glossofaríngeo (ver reflexo do seio carotídeo).
O núcleo sensitivo do vago corresponde à por- Origem aparente, trajeto e ramos
ção inferior do núcleo do feixe solitário, abaixo do
glossofaríngeo. As fibras dos gânglios superior e As raízes do nervo vago emergem do sulco colate-
inferior Qugular e plexiforme) do décimo nervo ral posterior do bulbo, abaixo da origem do glos-
craniano recebem sensações gustativas, que trans- sofaríngeo. O nervo atravessa o ângulo ponto-ce-
portam para o núcleo do feixe solitário. Daí, a in- rebeloso, para fora e para cima, sai da cavidade
formação parte para o núcleo ventral póstero-late- craniana pelo buraco jugular entre o nervo glos-
ral do tálamo contra-lateral e para núcleos hipo- sofaríngeo à frente e a veia jugular atrás, e assume
talâmicos. As fibras provenientes do tálamo pas- uma trajectória descendente, atravessando o espa-
sam pela cápsula interna e terminam na circun- ço maxilo-faríngeo e situando-se, no pescoço, no

625
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

ângulo posterior formado pela carótida e pela ju- sentérico superior e inferior. O vago esquerdo di
gular interna, no feixe vásculo-nervoso do pescoço. tribui-se à face anterior do estômago e ao fí s-
,. gad0
No tórax o vago assume relações diferentes con- por var10s ramos.
soante o lado. À direita cruza a face lateral da caró-
tida primitiva e passa entre a artéria subclávia atrás NERVO ACESSÓRIO OU ESPINHAL - XI
e o confluente venoso jugulo-subclávio à frente. NERVO CRANIANO
Aproxima-se, em seguida, do bordo direito da tra-
queia e desce medialmente à crossa da veia ázigos, O XI nervo craniano (Fig. 10.2.10) é exclusiva-
por trás do brônquio direito, acompanhando de- mente um nervo motor, sendo responsável pela
pois o esófago, primeiro lateral, mais abaixo poste- inervação do esterno-cleido-mastoideu e do tra-
riormente. Do lado esquerdo, desce directamente pézio. Pela sua anastomose com o vago, é tarnbérn
ao longo da carótida primitiva e cruza a face ânte- responsável pela enervação motora da faringe e la-
ro-lateral da porção horizontal da crossa da aorta. ringe e palato mole.
Passa então posteriormente ao pedículo pulmonar
esquerdo e anteriormente à aorta torácica. Inicial- Origem real, núcleos e vias
mente lateral ao esófago, torna-se anterior distal-
mente. Ambos os vagos entram na cavidade ab- O nervo espinhal ou acessório é formado pela reu-
dominal pelo orifício esofágico do diafragma. Por nião de duas raízes, a craniana e a espinhal.
fim, no abdómen, o seu trajecto será também dife- A raiz craniana do espinhal parte do núcleo ambí-
rente à direita e à esquerda, condicionando a res- guo, responde a aferências do córtex motor de am-
pectiva distribuição. bos os hemisférios. Anastomosa-se com o vago e
O vago fornece três tipos de ramos: cervicais, torá- enerva a musculatura do palato mole, laringe e fa-
cicos e abdominais. Os ramos cervicais são o ramo ringe.
merúngeo, o anastomótico da fossa jugular (para A raiz espinhal do nervo acessório parte do nú-
o facial), ramos faríngeos (aferentes do plexo fa- cleo espinhal, localizado nos primeiros cinco seg-
ríngeo), cardíacos cervicais ou superiores (para o mentos da coluna cinzenta anterior da medula es-
plexo cardíaco anterior), o nervo laríngeo superior pinhal. Também esta porção recebe fibras corticais
(para a mucosa laríngea e músculo crico-tiroideu), bilaterais. Controla o esterno-cleido-mastoideu e
e, por último, ramos carotídeos (aferentes do ple- o trapézio.
xo carotídeo).
Os ramos torácicos incluem o nervo laríngeo re- 8 2
corrente (responsável pela inervação de todos os
músculos laríngeos à excepção do crico-tiroideu),
ramos cardíacos inferiores (para o plexo cardía-
co posterior), pulmonares (plexos anterior e pos-
terior) e esofágicos (que formam os plexos res-
pectivos). O nervo recorrente direito, inicialmen-
te anterior à artéria subclávia, contorna-a por bai-
xo e ascende no ângulo diedro entre a traqueia e o
esófago até atingir a laringe. O recorrente esquer-
do contorna, de fora para dentro e da frente para
trás, a porção horizontal da crossa da aorta, depois
ascende até à laringe de forma análoga ao nervo
contra-lateral.
Por fim, os ramos abdominais são, à direita, ramos
gástricos posteriores e um ramo para o gânglio se- Fig. 10.2.10: Nervos acessório (XI) e hipoglosso (XII).
1. Nervo acessório 2. Raiz craniana do XI 3. Raiz espinal do XI 4. Ramo
mi-lunar direito, formando a ansa memorável de espinhal do XI S. Músculo trapézio 6. Músculo esternodeidomastoideu
Wrisberg, e ramos terminais aos plexos solar, me- 7. Ansa cervical 8. Nervo hipoglosso 9. Osso hióide 10. Músculos
suprahioideus e da língua 11. Músculos infrahioideuis.

626
CONTROLO E INTEGRAÇÃO [ SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO: NERVOS CRANIANOS

Origem aparente, trajeto e ramos se anastomosa com o ramo descendente do ple-


xo cervical e forma a ansa do hipoglosso, da qual
Na origem aparente distinguem-se, mais uma partem feixes para o omo-hioideu, esterno-cleido-
vez, raízes craniana e espinhal. As raízes crania- -hioideu e esterno-tiroideu. Por fim, os nervos do
nas emergem do sulco colateral posterior do bul- tiro-hioideu, do hio-glosso, do estilo-glosso e do
bo, abaixo do nervo vago. As raízes raquidianas ou génio-hioideu.
espinhais originam-se no cordão branco lateral da Qyanto aos ramos terminais, são numerosos e dis-
medula espinhal, ou seja, entre as raízes anteriores tribuem-se aos músculos da língua.
e posteriores dos primeiros nervos raquidianos.
O seu trajecto é recorrente, atravessam o buraco NOÇÕES DE ANATOMIA FUNCIONAL
occipital, aproximando-se das raízes cranianas já E CLÍNICA DOS NERVOS CRANIANOS
na fossa posterior do crânio. Juntas, dirigem-se
então para o buraco jugular, que atravessam, para Neste texto serão dadas noções da importância
se voltarem a dividir. A partir daqui, os feixes de funcional dos nervos cranianos exceto os abrangi-
origem craniana formam o ramo interno e anas- dos no âmbito da Estesiologia.
tomosam-se com o vago. Vão inervar os múscu-
los do palato mole, faringe e laringe. Os feixes es- Território funcional do nervo trigémio
pinhais constituem o ramo externo. Este dirige- (Fig. 10.2.5)
-se para baixo, para fora e para trás, atingindo a
face profunda do esterno-cleido-mastoideu e o Os territórios das três divisões do nervo trigémio
trapézio. definem-se paralelamente entre si à semelhança
de dermátomos.
NERVO HIPOGLOSSO - XII NERVO O nervo oftálmico é responsável pela sensibilidade
CRANIANO da fronte, da pálpebra superior, da mucosa da par-
te superior das fossas nasais, do globo ocular e du-
O nervo hipoglosso, exclusivamente motor, inerva ra-máter frontal e occipital. O nervo maxilar ener-
todos os músculos da língua (Fig. 10.2.10). va a pele da região malar, da pálpebra inferior, da
asa do nariz e lábio superior, bem como a mucosa
Origem real, núcleos e vias da parte inferior das fossas nasais, dentes e gengi-
vas do maxilar superior e ainda as meninges parie-
O núcleo do hipoglosso, motor, localiza-se no tais e artéria meníngea média.
bulbo, sob o pavimento do quarto ventrículo (asa O nervo mandibular tem funções sensitivas para
branca medial ou trígono do hipoglosso), próximo as meninges da fossa cerebral média, pele da re-
da linha média. Recebe feixes do córtex de ambos gião temporal, parte do ouvido externo, face e
os hemisférios, excepto para o génio-glosso, que mento (excluindo o ângulo da mand.tbula) e mu-
recebe somente feixes contra-laterais. cosas jugal e labial inferior, dentes da mand.tbula e
parte anterior da língua. Tem fibras sensoriais re-
Origem aparente, trajeetos e ramos ferentes ao paladar nos dois terços anteriores da
língua, devido à anastomose com o facial (corda
O nervo emerge do sulco pré-olivar do bulbo. Di- do tímpano). É responsável pela motricidade dos
rige-se para a frente, atravessa o canal condiliano músculos mastigadores, músculo tensor do tím-
anterior e surge no espaço maxilo-faríngeo. Con- pano, rnilo-hioideu e ventre anterior do digástri-
torna a carótida medial por fora e de trás para a co. Por fim, compreende fibras vegetativas para as
frente, chegando ao espaço supra-hioideu e divi- glândulas parótida (anastomose do glossofaríngeo
dindo-se em vários ramos. com o auriculo-temporal), sub-mandibular e sub-
Entre os seus colaterais há um ramo meníngeo -lingual (anastomose do facial com o lingual).
ou recorrente e ramos vasculares (para a carótida Clinicamente a sua função testa-se pesquisando a
e a jugular). Também um ramo descendente, que sensibilidade nos três territórios da face, estimu-

627
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

lando o reflexo córneo (adiante) e avaliando a for- de Falópio, o que provoca disfunção tempo ..
rana
ça e simetria dos músculos mastigadores. Uma si- da função do nervo. A causa é desconhecida
tuação clínica típica deste nervo é a nevralgia do 'em-
bora, por vezes, o quadro possa ser desencadead
0
trigémio: dor paroxística que dura segundos, repe- pela exposição ao frio.
titiva a estímulos sensitivos do nervo (estimulação
superficial da pele, mastigação), por vezes muito Reflexo córneo
intensa (choque eléctrico) frequentemente devida
à compressão vascular da raiz sensitiva do nervo na O reflexo córneo consiste em estimular a sensibili-
fossa craniana posterior. dade córnea e desencadear o pestanejo. Testa a in-
tegridade dos nervos trigérnio e facial.
Território funcional do ne,vo facial A estimulação sensitiva da córnea (por sopro ou
contacto com algodão) gera impulsos aferentes ao
O nervo facial é responsável pelo controlo mo- núcleo sensitivo do trigémio, através do seu ramo
tor dos músculos da mímica facial, músculo do es- oftlálrnico. Novo impulso segue, então, pelo fei-
tribo, ventre posterior do digástrico e estilo-hioi- xe longitudinal mediano de cada lado, ligando os
deu. O seu componente vegetativo parassimpáti- núcleos de ambos os nervos. O facial desencadeia
co regula as glândulas salivares sub-linguais e sub- então, a acção motora de pestanejar, estimuland;
-mandibulares através do núcleo salivar superior, e os músculos orbiculares das pálpebras.
as glândulas lacrimais, as glândulas mucosas nasais
e palatinas pelo núcleo lacrimal. O núcleo sensi- Território funcional do ne,vo glossofarín-
tivo recebe a sensação do paladar nos dois terços geo
anteriores da língua e a sensibilidade do canal au-
ditivo externo. O nono nervo craniano é um nervo sensitivo ao
Clinicamente o facial é testado pela observação nível da mucosa da caixa do tímpano, da trompa
das comissuras palpebrais e labiais e das chama- de Eustáquio, da naso e oro-faringe. É sensorial no
das "rugas de expressão", tanto nos movimentos que respeita ao paladar atrás do V lingual.
espontâneos (mímica facial), como ao pedir ao Partilha com o facial, o vago, o acessório e o hipo-
doente que encerre as pálpebras, enrugue a fronte, glosso a motricidade buco-faríngea.
assobie e abra a boca. O reflexo córneo (pestanejo As suas componentes vegetativa e homeostática
na sequência da estimulação táctil da córnea) tes- incluem a secreção parotídea e as funções baro e
ta o funcionamento dos nervos facial e trigémio e quimio-receptoras, relacionadas, respectivamente,
da ligação entre eles. com o seio e o corpo carotídeos.
A função motora do nervo facial pode ser lesa- Clinicamente as lesões isoladas do glossofaríngeo
da a nível cortical, nos núcleos motores do facial são raras. Uma delas é a nevralgia do glossofarín-
no tronco cerebral e no trajecto do nervo intra e/ geo, dor paroxística análoga à do trigémio mas no
ou extra-craniano. Semiologicamente, há a dis- territóio do glossofaríngeo, por exemplo na porção
tinguir dois tipos de paralisia. Por um lado, a cen- lateral da faringe.
tral, em que a lesão unilateral do córtex ou da via
respectiva desencadeia défice motor limitado ao Território funcional do ne,vo vago
andar inferior da herniface oposta. Ocorre desvio
cornissural labial contra-lateral à lesão, mas o in- O décimo nervo craniano tem um território sen-
divíduo ergue as sobrancelhas de forma simétri- sitivo que se estende à pele retro-auricular, do pa-
ca e faz o encerramento palpebral. As lesões no vilhão e de parte do canal auditivo externo, bem
núcleo e trajecto do nervo determinam uma pa- como à mucosa laríngea e faríngea. Em termos
ralisia dita periférica, que abrange todos os anda- sensoriais é responsável pelo gosto da base da lín-
res da hemiface do lado da lesão. A paralisia de gua e epiglote.
Bell é um exemplo deste último tipo, consistin- Em termos motores, é o nervo da fala, já que
do em lesão inflamatória do nervo no aqueduto inerva os músculos da laringe. Partilha com o IX

628
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO: NERVOS CRANIANOS

)(1 nervos o controlo da musculatura da fase do um papel essencial na mastigação, deglutição


e .cial (cefálica) da deglutição. e forração.
ifll
O .
vago é um nervo VIscer al por excel'enc1a.
· ,,,
.1 em Clinicamente a ponta da língua vai apresentar um
fiinções autonómicas (parassimpático) sensitivas desvio para o lado paralisado, que virá a atrofiar.
rnotoras ao nível do coração e grandes vasos,
euirnões, aparelho digestivo (tubo digestivo até
~o ângulo esplénico do cólon, fígado, vias bilia- PERGUNTAS TIPO
res, pâncreas) e aparelho urinário. Enerva ainda
0
seio carotídeo. 1. São nervos cranianos mistos (sensitivo- moto-
Clinicamente, é testado conjuntamente com o res) todos os seguintes excepto um:
lossofaringeo, através do reflexo faríngeo. Este a. Nervo glossofaríngeo.
âesencadeia-se tocando a porção lateral da farin- b. Nervo troclear.
ge com uma espátula. Feixes aferentes do glosso- c. Nervo facial.
faringeo recebem o estímulo e eferentes do mes- d. Nervo trigémio.
rno nervo e do vago determinam a contracção da e. Nervo vago.
faringe. As lesões unilaterais levam a abolição do
reflexo do mesmo lado. 2. Acerca do nervo oftálmico diga qual a afir-
O vago é ainda avaliado pela simetria da úvula mação verdadeira:
(paralisia resulta em desvio da úvula para o lado a. O nervo oftálmico é um nervo misto.
são) e cordas vocais, durante a produção de sons. b. Os seus ramos cutâneos enervam os dois
A lesão do vago (frequentemente associada a lesão terços anteriores do couro cabeludo, a pele
do glossofaringeo) manifesta-se por dificuldade da região frontal e da pálpebra superior e a
na deglutição - disfagia - e na forração - disartria. pele do dorso e asa do nariz.
e. O nervo oftálmico tem três ramos termi-
Território funcional do nervo acessório nais que atravessam a fenda esfenoidal e
penetram na cavidade orbitária por fora do
O espinhal enerva, conjuntamente com o vago, o anel de Zinn.
palato mole, laringe e faringe. Controla ainda os d. O nervo oftálmico é responsável pela
músculos esterno-cleido-mastoideu e trapézio e, enervação da tenda do cerebelo através do
consequentemente, parte da mobilidade da cabe- nervo recorrente meníngeo.
ça e pescoço. e. Tem uma componente motora.
Clinicamente tem dois aspectos distintos. Por
um lado, a porção craniana, referente à faringe, 3. Em relação ao VII nervo craniano (facial),
que é testada com os IX e X nervos. Por outro, qual é a afirmação falsa:
a porção espinhal, relativamente à qual se pede a. A função motora compreende principal-
ao doente que rode a cabeça contra resistência mente a inervação dos músculos da mímica.
(músculo esterno-cleido-mastoideu) e eleve os b. É responsável pelas secreções lacrimal, na-
ombros (trapézio). sal e salivar.
As lesões manifestam-se por fraqueza e atrofia c. Os seus núcleos vegetativos são do sistema
de ambos os músculos, ombro descaído homo- nervoso parassimpático.
lateral e dificuldade em fazer rotação heterolate- d. É o único nervo responsável pelo sentido
ral da cabeça. do gosto.
e. Tem o seu núcleo motor na protuberância.
Território funcional do nervo hipoglosso
4. Em relação ao X nervo craniano (vago), qual
O décimo segundo nervo craniano é o nervo mo- a alínea falsa:
tor da língua (excepto do palato-glosso). Contro- a. É um nervo misto.
la a forma e movimento da língua, desenrolan- b. É responsável pela motricidade da farin-

629
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

ge e da laringe, e, como tal, pela degluti-


ção e pela fala.
c. Tem uma componente vegetativa simpáti-
ca responsável pela enervação das vísceras
cérvico-tóraco-abdominais.
d. O nervo recorrente, responsável pela mo-
tricidade da laringe, tem um trajecto dife-
rente à esquerda e à direita.
e. O seu núcleo motor integra o núcleo am-
bíguo.

i::i-v ia-r ig-z ig-1


:msodso~

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Bourret, P.; Louis, R.Anatomie du Systeme


Nerveux Central. 3eme editión. I.:Expansion
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Refarão. 4.ª edição. Lidel, 2009.

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Geigy. Basileia, 1989.
Splittgerber, R. Snell's Clinical Neuroanatomy. 8.ª
edição. Wolters Kluwer, 2019 .

•••

630
tJERVOS RAOUIDIANOS E PLEXOS ciclo músculo- esquelético) e posterior (sensiti-
va/aferente, constituída por fibras nervosas cen-
capítulo procura fornecer um guia seguro de trípetas condutoras de impulsos nervoso das di-
f:~tenração na abordagem dos nervos raquidia- ferentes modalidades sensitivas para a medula es-
orie A.o invés de uma posição anatómica descriti- pinhal, com uma dilatação posterior onde se lo-
pos- austiva, proporciona
. uma abordagem estrutu- caliza o corpo neuronal - o gânglio da raiz poste-

r:ida
do seu esquema d . . -
e s1stemat1zaçao. rior). No seu conjunto, encontram-se estrutura-
dos em 31 pares de raízes classificados de acordo
com a sua exterioração da coluna vertebral em:
1NTRODUÇÃO 8 nervos cervicais, 12 nervos torácicos, 5 nervos
lombares, 5 nervos sagrados e 1 nervo coccígeo
Os nervos raquidianos ou espinhais são estru- (Fig. 10.2.11).
as mistas constituídas por axónios, células de As raízes anterior e posterior unem-se no interior
~hwann e tecido conjuntivo que se originam na do canal vertebral e saem do canal vertebral atra-
edula espinhal por duas raízes: anterior (moto- vés do buraco de conjugação respectivo sob a for-
~eferente, constituída por fibras nervosas cen- ma de um nervo misto (informação motora e sen-
trífugas condutoras de impulsos nervosos ao te- sitiva). Tendo em conta o crescimento vertebro-

--
□--

8=
- ---

1
0,2.11: Estruturação global dos nervos raquidianos.
os Cervicais 2. Nervos Torácicos 3. Nervos Lombares 4. Nervos Sagrados 5. Ramos Ventrais do Plexo Cervical (C1-CS) 6 . Ramos Ventrais
Xo Braquial (CS-T1) 7. Neivos lntercostais (T1-T12) 8. Ramos Ventrais do Plexo Lombar (L1-L4) 9. Ramos Ventrais do Plexo Sagrado (L4-S4)
os Ventrais do Plexo Coccígeo (S5-Co1).

631
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

-medular desproporcional (vertebral > medular - • Ansa do Áxis - segundo e terceiro nervos
. . Cer,
cone medular normalmente situado entre Ll-L3) vmus;
as raízes são progressivamente mais longas e oblí- • Terceira Ansa Cervical - terceiro e q
quas no sentido crânio-caudal, constituindo dis- nervos cervicais. Uarto
talmente a cauda equina em associação com o
filum terminal. Do conjunto destas estruturas emergem três ti
.. Pos
Os nervos raquidianos dividem-se num grande de ramos nervosos: superfic1ais ou sensitivos, pro,
ramo anterior e num ramo posterior após a sua fundos ou motores e anastomóticos (Fig. l 0.2_ 13)_
exteriorização do canal vertebral. Os ramos pos-
teriores contornam as estruturas articulares late-
rais da coluna vertebral e dirige-se posteriormen-
te para inervar os músculos e tegumentos poste-
riores. Os ramos anteriores unem-se em estruturas
funcionais - os plexos cervical, braquial, lombar,
sagrado e coccígeo - através de múltiplas anasto-
moses, para inervar os músculos e os tegumentos
da parede ântero-lateral do corpo, os músculos e
tegumentos dos membros (Fig. 10.2.12).

9 3 2

10 8 4 9

Fig. 10.2.12: Representação estrutural monosegmentar da origem do


nervo raquldiano. Fig. 10.2.13: Representação esquemática do Plexo Cervical.
1. Substância Branca 2. Substância Cinzenta 3. Raiz Dorsal 4. Raiz 1. Nervo Hipoglosso 2. Nervo Acessório 3. Nervo Grande Auricular
Ventral 5. Gânglio da Raíz Posterior 6. Nervo Espinhal 7. Ramo 4 . Nervo Pequeno Auricular 5. Para os músculos reto lateral da cabe-
Cinzento 8. Ramo Branco 9. Ramo Dorsal 10. Ramo Ventral. ça, longo da cabeça e reto anterior da cabeça 6. Para os músculos
longo da cabeça e longo do pescoço 7. Para os músculos escalenos
e elevador da escápula 8. Nervo frénico 9. Nervos Supraclaviculares
1O. Para os músculos omo-hióideo (ventre inferior), esterno-hióideo e
PLEXO CERVICAL esterno--tiroideo 11. Raiz inferior da ansa cervical 12. Raíz Superior
da ansa cervical 13. Para o músculo Omo--hióideo (ventre superior)
14. Nervos Transversos do pescoço 15. Para os músculos tiro-hióideo
Definição e Constituição e géni-hióideo

O Plexo Cervical é constituído pelos ramos ante-


riores dos 4 primeiros nervos cervicais. Estes anas- Ramos Cutâneos ou Superficiais:
tomosam-se entre si (ramo descendente do nervo • Nervo cervical transverso [Ansa do Áxis];
suprajacente com o ramo ascendente do nervo in- • Nervo auricular [Ansa do Áxis];
frajacente, com excepção do primeiro e do quarto • Nervo mastóideu [Ansa do Áxis];
nervos cervicais), formando ansas nervosas: • Nervo supraclavicular [4.0 Nervo Cervical];
• Ansa do Atlas - primeiro e segundo nervos • Nervo supra-esternal [4.0 Nervo Cervical];
cervicais; Nervo supra-acromial [4.0 Nervo Cervical].

632
CONTROLO E INTEGRAÇÃO J SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO: NERVOS RAQUIDIANOS E PLEXOS

05
Profundos ou Motores: 2

JlaJllRamos ascendentes [1. Nervo Cervical]:


0

• Nervo do recto lateral da cabeça;


• Nervo do recto anterior da cabeça.

Ramos descententes:
Nervo descendente interno (C2, C3)
[Ansa do hipogloso];
• Nervo frénico (C2, C3, C4).

• Ramos internos:
, Nervo do longo da cabeça [Ansa do
Atlas];
, Nervo do longo do pescoço [Ansa do
Áxis].

• Ramos externos [3.ª Ansa Cervical]:


• Nervo do esternocleidomastoideu;
• Nervo do trapézio;
Fig. 10.2.14: Relações do Plexo Cervical.
• Nervo do elevador da escápula; 1. Glândula submandibular 2. Músculo Digástrico 3. Nervo Hipoglosso
4. Artéria tiroideia superior 5. Ansa cervical 6. Músculo Esternotiroideo
• Nervo do rombóide.
7. Músculo Esternohioideo 8. Nervo Vago 9. Músculo Omohioideo
10. Nervo Frénico 11. Plexo Cervical 12. Nervo Acessório

Ramos Anastomóticos:
Tronco Simpático: tebral (músculo longo do pescoço), e à farínge e
• 1.0 - 4. 0 Nervo Cervicais para o Gânglio porção mais superior da laringe, e póstero-inter-
Simpático Superior; namente à baínha visceral cervical que contém a
• 4.0 Nervo Cervical para o Gânglio Sim- artéria carótida interna, a veia jugular interna e o
pático Médio. nervo pneumogástrico.

• Nervo Espinhal [3.0 Nervo cervical ou Ansa Ramos


do Áxis];
• Nervo Grande Hipoglosso [Ansa do Atlas e Ramos Colaterais
Ansa Cervical - raiz superior origina-se no Os ramos motores destinam-se à inervação da
Nervo Grande Hipoglosso e dirige-se infe- musculatura anterior da coluna vertebral respon-
riormente anastomosando-se com a raiz infe- sáveis pela flexão da cabeça sobre o pescoço e do
rior proveniente do 2.0 e 3.0 nervos cervicais pescoço sobre o tronco (músculos retos, escaleno
externamente à veia jugular interna, ao nível anterior e médio, primeiro três intertransversários,
do tendão intermediário do Músculo Omo- elevador da escápula e longo do pescoço).
-Hioideu]. Os ramos sensitivos são responsáveis pela inerva-
ção sensitiva da porção anterior do pescoço supra-
Relações -clavicular, ângulo da mandíbula, pavilhão auricu-
(Fig. 10.2. 14) lar e porção inferior dos tegumentos occipitais jus-
ta-auriculares.
O plexo cervical localiza-se no terço superior do
pescoço, anteriormente às apófises transversas Nervo Frénico (Fig. 10.2.15A, B e C)
das primeiras três vértebras cervicais e respecti- Este nervo origina-se a partir das anastomoses do
vos músculos inter-transversários, externamen- 3.0 , 4.0 e 5.0 nervos cervicais ou da 3.ª ansa cervi-
te ao complexo muscular anterior da coluna ver- cal (contribuição principal do 4.0 nervo cervical) e

633
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

11

10
18
D

20
Ili

Fig. 10.2.15: Relações do Nervo Frénico.


A: Vista anterior no pescoço B: Vista anterior no tórax C: Vista Lateral
no Tórax
1. Tronco simpático cervical 2. Artéria Tiroideia Inferior 3. Nervo Fréni-
co 4. Artéria Cervical Transversa 5. Artéria Supraescapular 6. Artéria
subdávia 7. Nervo Vago 8. Veia Subclávia 9. Artéria Torácica Interna
1O. Nervo recorrente laríngeo direito 11. Músculo longo do pescoço
12. Músculo Escaleno Médio 13. Músculo Escaleno Anterior 14.
Artéria Verte bral 15. Plexo Braquial 16. Canal Torácico 17. Feixe
Vásculo-Nervoso do Pescoço 18. Nervo recorrente laríngeo esquerdo
19. Pericárdio 20. Diafragma 21. Vasos pericárdio-frénicos 22. Artéria
Aorta 23. Artéria Pulmonar 24. Veia Ázigos 25. Vasos Frénicos
Superiores

dirige-se inferiormente através do pescoço para o e clavicular do músculo esterno-cleido-mastoideu,


tórax e abdómen, sendo responsável pela inerva- vai entrar no tórax após passar entre os vasos sub-
ção sensitiva da pleura e do pericárdio e pela iner- clávios (artéria em posição anterior e veia em posi-
vação motora das faces superior e inferior do dia- ção posterior): à direita localiza-se externamente à
fragma. O seu trajeto é diferente de acordo com a artéria mamária (torácica interna) e dirige-se ver-
lateralidade. Após um trajeto semelhante no pes- ticalmente para baixo, atravessando anteriormen-
coço - externamente ao nervo recorrente laríngeo te o pedículo pulmonar direito; à esquerda locali-
ipsilateral e anteriormente ao músculo escaleno za-se externamente à crossa da aorta e artéria ma-
anterior no seu desdobramento aponevrótico, pro- mária interna (torácica interna), dirigindo-se obli-
jectando-se no interstício entre os feixes esternal quamente para baixo e para fora, atingindo o dia-

634
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO: NERVOS RAQUIDIANOS E PLEXOS

a posteriormente ao vértice do coração. Para (anastomose das divisões anteriores dos troncos
~ da inervação sensitiva e motora já mencio- primários superior e médio), ântero-interno ou
d s O nervo fireruco
,JeJ11 , · emite
· am· da ramos abd0- medial (divisão anterior do tronco primário infe-
11ª :~ para o plexo celíaco e glândula supra-re- rior) e posterior (anastomose das divisões poste-
riu;(apenas o nervo frénico direito). Por vezes é riores dos três troncos primários).
~ dividualizável o nervo frénico acessório, eu após Os ramos do Plexo Braquial dividem-se em ra-
ill ua origem no nervo subclávio (plexo braquial) mos colaterais, ramos terminais e ramos anasto-
~e-se ao nervo frénic~ prin~pal na base do pes- móticos (Fig.10.2.16).
ou à entrada do torax (Fig. 10.2.15).
coço
Ramos Colaterais:
• Anteriores:
• Nervo do Grande peitoral;
PLEXO BRAQUIAL Nervo do Pequeno peitoral;
• Nervo do Subclávio.
oEFINIÇÃO E CONSTITUIÇÃO
• Posteriores:
O Plexo Braquial apresenta três níveis organiza- • Nervo supra-escapular;
cionais: ramos anteriores dos nervos raquidianos • Nervo superior do infra-escapular;
_ramos anteriores dos últimos 4 nervos cervicais • Nervo inferior do infra-escapular;
(C5-C8) e primeiro nervo torácico e suas anas- • Nervo do grande dorsal ou tóraco-dor-
romoses, troncos primários - superior (C5 e C6), sal;
médio (C7) e inferior (C8 e Tl) - e troncos se- • Nervo do grande dentado ou serrado an-
cundários ou cordões - ântero-externo ou lateral terior;

21

1 9 -- -- -
18 16 15 14

Fig.10.2.16: Representação Esquemática dos 3 níveis organizacionais do Plexo Braquial.


1- Contribuição de C4 2. Ramo dorsal 3. Ramos Ventrais CS, C6, C7, CB e 01 4. Contribuição de T2 5. 1.º nervo intercostal 6 . Nervo Longo
Torácico (CS,6,7) 7. Tronco Superior 8. Tronco Médio 9. Tronco Inferior 10. 1.• costela 11. Divisões Anteriores 12. Divisões Posteriores
l3. Nervo Peitoral Medial (C8,T1) 14. Nervo Cutâneo Medial do Braço (T1) 15. Nervo Cutâneo Medial do Anteraço (C8,T1) 16. Tronco Secundário
Antero-Medial ou cordão medial 17. Tronco Secundário Ântero·lateral ou cordão lateral 18. Nervos Subescapulares (CS,6,7,8) 19. Nervo Cubital
ou Ulnar (C7,8,T1) 20. Nervo Mediano (C5,6,7,8,T1) 21. Nervo Músculo-Cutâneo ou cutâneo lateral do antebraço (C5,6,7) 22. Nervo Axilar ou
circunflexo (C5,6) 23. Nervo Radial (C5,6,7,8,T1) 24. Tronco Secundário Posterior 25. Nervo Peitoral Lateral (C5,6,7) 26. Nervo Supraescapular
(CS,6) 27. Nervo Músculo Subclávio (C5,6); 28. Contribuição nervo frénico · 29. Nervo dorsal da escápula (C5) 30. Músculos longo do pescoço e
escaleno (C5,6,7,8).

635
.....
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

• Nervo do grande redondo ou redondo


maior;
• Nervo do elevador da escápula e do rom-
bóide.

Ramos Terminais:
• Anteriores:
• Nervo músculo-cutâneo ou cutâneo late-
ral do antebraço (Tronco secundário ân-
tero-externo I cordão lateral);
• Nervo mediano (Tronco secundário ân-
tero-externo I cordão lateral);
• Nervo cubital ou ulnar (Tronco secundá-
rio ântero-interno I cordão medial);
• Nervo braquial cutâneo interno ou cutâ-
neo medial do braço (Tronco secundário
ântero-interno);
• Nervo acessório do braquial cutâneo in-
terno ou cutâneo medial do antebraço
(Tronco secundário ântero-interno).

• Posteriores:
• Nervo axilar ou circunflexo (Tronco se-
cundário posterior);
• Nervo radial (Tronco secundário poste-
rior).

Ramos Anastomóticos:
• Plexo Cervical (através do ramo anterior do
4. 0 Nervo Cervical);
• Gânglio Cervical Inferior ou Gânglio Estre-
lado (através do Nervo Vertebral e de ramos
anastomóticos provenientes dos 6.0 , 7. 0 e 8. 0
Nervos Cervicais e do 1.0 Nervo Torácico);
• 2. 0 Nervo Cervical (Ramo anastomótico de
Hyrtl).

RElAÇÔES
(FIG. 10.2.17)

O plexo braquial apresenta uma configuração


triangular e encontra-se disposto na região supra-
clavicular, posteriormente à artéria subclávia, mús-
culo escaleno e veia subclávia anteriores, anterior-
mente ao músculo escaleno médio e posterior, su-
periormente à primeira costela, internamente às
Fig.10.2.17: Relações do Plexo Braquial.
apófises transversas das últimas 4 vértebras cervi- 1. Músculo Pequeno Peitoral 2. Veia Axilar 3. Artéria Axilar 4. Músculo
cais e primeira vértebra torácica, inferiormente ao Escaleno Antertor 5. Músculo Escaleno Médio 6. Primeira Costela
7. Plexo Braquial

636
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO: NERVOS RAQUIDIANOS E PLEXOS

plexo cervical e cruzado externamente pelo mús- quial - nervo perfurante de Casserius - colocan-
culo-omo-hioideu, pela artéria cervical transversa do-se entre este e o músculo bicípite braquial, di-
superficial e pela artéria escapular superior ou su- rigindo-se para a goteira bicipital externa (tendão
pra-escapular. do bicípite braquial internamente e do longo supi-
nador ou braquiorradial externamente), perfuran-
RAMOS do o plano aponevrótico e originando os seus ra-
mos terminais sensitivos cutâneos: anterior - por-
Ramos Colaterais ção ântero-externa do antebraço e eminência te-
nar - e posterior - porção póstero-extema do an-
Os ramos colaterais destinam-se à inervação mo- tebraço. No que respeita os seus ramos colaterais
tora da musculatura da espádua e da axila, dividin- estes são de três categorias distintas: sensitivos -
do-se nos grupos anterior e posterior (Fig.10.2.16 nervo diafisário umeral, vasomotores - múltiplos
e 10.2.17). nervos vasculares - e motores - grupo anterior do
O grupo anterior é constituído por três ramos: braço (músculos córneo-braquial, braquial anterior
nervos dos músculos grande peitoral (tronco ân- e bicípite braquial (Fig.10.2.18A e B).
tero-externo), pequeno peitoral (tronco ântero-
-interno) e subclávio (tronco ântero-externo). Nervo Mediano
É assim responsável pela rotação interna domem- O nervo mediano é formado por duas raízes: la-
bro superior e contribui para o momento da ins- teral, proveniente do tronco secundário ântero-
piração. -extemo (fibras provenientes de C6 e C7), e me-
O grupo posterior é constituído pelos nervos res- dial, proveniente do tronco secundário ântero-
ponsáveis pela inervação dos grupos posterior e -intemo (fibras provenientes de C8 e Dl). Ori-
interno da espádua (nervos supra-escapular, supe- gina-se na axila, onde se localiza externamente
rior do infra-escapular, inferior do infra-escapular, à artéria axilar (anteriormente ao rnusculo sub-
do grande dorsal (tóraco-dorsal), do grande den- -escapular), dirigindo-se verticalmente para bai-
tado (serreado anterior), do grande redondo (re- xo na face interna do braço onde se localiza no
dondo maior), do angular (elevador da escápula) feixe vásculo-nervoso - canal braquial (onde cru-
e do rombóide. É responsável pela rotação exter- za de fora para dentro a artéria umeral), defini-
na, adução e contribui para o momento da inspi- do pelo revestimento aponevrótico do múscu-
ração igualmente. lo córaco-braquial e do músculo bicípete bra-
Todos estes ramos têm uma relação íntima com a quial, anteriormente, pelo revestimento do mús-
artéria subclávia, que se encontra entre os troncos culo braquial, posteriormente, e pela aponevro-
secundários anteriores e anteriormente ao tronco se braquial, internamente. Atravessa depois a go-
secundário posterior e a veia subclávia que se en- teira bicipital interna, colocando-se entre os dois
contra anteriormente aos ramos colaterais na sua feixes do músculo pronador redondo e cruza an-
origem. terior a artéria cubital profundamente à arcada
formada pela junção do feixe úmero-cubital e do
feixe radial do músculo flexor comum superficial
Ramos Terminais dos dedos. No antebraço, caminha na profundi-
dade do músculo flexor comum profundo dos de-
Nervo Músculo-Cutâneo/Cutâneo lateral do dos, acompanhado pela artéria satélite do nervo
Antebraço mediano, afastando-se do referido músculo no
Este nervo origina- se no tronco secundário ânte- seu terço inferior. Penetra no canal cárpico an-
ro-externo (fibras provenientes do 5.0 e 6.0 nervos teriormente ao tendão do 2.0 dedo do músculo
cervicais), alcançando a porção interna do múscu- flexor comum superficial dos dedos, ao longo do
lo córneo-braquial depois de cruzar externamente bordo externo do tendão do 3.0 dedo do múscu-
a artéria axilar e internamente o bordo interno do lo referido, e entre as duas bainhas serosas digito-
músculo subclávio. Perfura o músculo córaco-bra- -cárpicas, originado o seus ramos terminais.

637
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Ili
Fig. 10.2.18: Nervo Músculo-Cutâneo ou cutâneo lateral do antebraço.
Territórios de Inervação Motora {A) e Sensitiva (8)
1. Nervo Músculo Cutâneo 2. Músculo Córacobraquial 3. Músculo Bicípite Braquial 4. Músculo Braquial Anterior 5. Ramos terminais motores
6. Ramo terminal sensitivo 7. Plexo Braquial

Com excepção do ramo articular para o cotovelo Nervo Cubital ou Ulnar


e o ramo vascular para a artéria umeral, todos os Este nervo origina-se no tronco secundário ânte-
restantes ramos colaterais originam-se na prega do ro-interno ou cordão medial (fibras provenientes
cotovelo e antebraço: nervo superior do músculo de C8 e Tl) dirigindo-se para a porção interna do
pronador redondo, nervo dos músculos epicondi- braço após atravessar o interstício entre a artéria
lares mediais, nervo dos músculos flexores profun- e a veia axilares, obliquamente para baixo e para
dos e do pronador quadrado e nervo do músculo trás cruzando a face posterior do epicôndilo me-
palmar curto. Estes são responsáveis pela inerva- dial (após perfurar o septo intermuscular interno,
ção motora da loca anterior do antebraço com ex- passando para a loca posterior do braço e fazendo-
cepção do músculo cubital anterior ou flexor cubi- -se acompanhar pela artéria colateral interna su-
tal do carpo e dos feixes internos do flexor comum perior), posteriormente ao ligamento de Struthers.
profundo dos dedos. Ele percorre a goteira olecrânio-epicondilar me-
Após atravessar o ligamento anular do carpo, o dial e anterioriza-se após atravessar o canal ósteo-
nervo divide-se nos seus 5 ramos terminais (deno- -muscular definido pelos dois feixes do músculo
minados numericamente de fora para dentro) po- cubital anterior ou flexor cubital do carpo, entran-
dendo igualmente nascer de dois troncos distin- do no antebraço onde, após se constituir um feixe
tos (interno e externo - este último com três ra- vásculo-nervoso com a artéria cubital (artéria ex-
mos). Estes são responsáveis pela inervação sen~ ternamente ao nervo), se coloca em relação com a
sitiva (três primeiros dedos e metade externa do face posterior do músculo flexor comum profundo
4.0 dedo) e motora (1.0 e 2.0 lumbricais, oponente, dos dedos e externamente ao músculo cubital an-
curto abdutor e curto fl.exo do polegar). terior após a sua constituição se tornar tendinosa
O nervo mediano anastomosa-se com os nervos e se inserir no osso pisiforme. Este nervo penetra
músculo-cutâneo, cubital (Anatomose de Martin- na mão, fora do canal cárpico, atravessando o ca-
-Gruber e Richie-Cannieu) e radial (Fig. 10.2.19). nal de Guyon e originando os seus ramos terrni-

638
CONTROLO E INTEGRAÇÃO J SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO: NERVOS RAQUIDIANOS E PLEXOS

Ili

e-
cs
lo
ia
II
e-
10,
)"

~- 15 16 17 19

10.2.19: Nervo mediano.


utura, trajeto e relações (a, e) e território sensitivo (b}.
Plexo braquial 2. Nervo mediano 3. Músculo pronador redondo 4. Músculo flexor comum profundo dos dedos 5. Músculo pronador quadrado
ligamento anular anterior do carpo 7. Eminênda tenar 8. Apófise coracoideia 9. Músculo bicípite braquial 10. Nervo músculocutâneo ou cutâneo
ai do antebraço 11. Músculocóracobraquial 12. Artéria braquial 13. Músculo braquial anterior 14. Colaterais da artéria ulnar/cubital 15. Apone-
bicipital 16. Músculotricípite braquial 17. Septo intermuscular medial 18. Nervo cubital 19. Músculo redondo maior 20. Músculo grande dorsal
• Músculo subescapular

· • Este canal é formado pelo ligamento anular Origina os seguintes ramos na região do coto-
terior do carpo, posteriormente, pelo osso pisi- velo e antebraço: ramos articulares (normalmen-
e, internamente, e por expansões do múscu- te em número de dois, para a face posterior da
cubital anterior e do ligamento anular dorsal do articulação do cotovelo), ramos musculares (mu-
0 , anteriormente.
culo cubital anterior e dois feixes mais internos
que respeita os seus ramos colaterais, o ner- do músculo flexor comum profundo dos dedos),
cubital não origina ramos colaterais no braço. ramo vascular (artéria cubital, porção média do

639
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

antebraço) e ramo sensitivo cutâneo dorsal da Nervo Braquial Cutâneo Interno ou N erv C
O Ut'
mão (inervação sensitiva da metade interna dor- neo Medial do Braço a-
sal da mão. Este nervo, constituído por fibras prove .
Após atravessar o Canal de Guyon, divide-se nos d os 8.º nervo cerv1c. al e 1.o nervo torácico nientes
• .
O
seus dois ramos terminais: ramo superficial (pre- -se acima o nervo cub'ital e i'nfienormente
· d · ' ao
ngina-
dominantemente sensitivo, responsável pela iner- vo acessono, . d o braqw.al.mterno ou nervo cut·ner-
vação dos tegumentos cutâneos da região hipote- dial d . d aneo
me o antebraço a parar o tronco ântero-·
nar e dos 5.0 dedo e metade interna do 4.0 dedo) terno do plexo braquial. Dirige-se anterior tn-
e ramo profundo (predominantemente motor res- , . d . mente
apos a sua ongem, esce mternamente ao ne
ponsável pela inervação de todos os músculos in- cub it e antenormente a veia · ar até se torrvo
. al . , . axil
trínsecos da mão com excepção dos 1.0 e 2.0 lum- superficial no terço médio do braço, onde per~:
bricais, oponente, curto abdutor e curto flexor do a aponevrose pelo mesmo orifício que a veia b ,
as1-
polegar, inervados pelo nervo mediano. lica ou umeral interna.
Este nervo anastomosa-se com o nervo braquial Origina ramos colaterais na região da axila e •
m-
cutâneo interno ou nervo cutâneo medial do bra- terna do braço com função sensitiva para os te-
ço, mediano (anastomoses supra-descritas) e radial gumentos dessa região, e dois ramos terminais de
(Fig. 10.2.20). origem superior ao epicôndilo medial: ramo an-
terior (externamente à veia basílica, originando

Fig. 10.2.20: Nervo Cubital.


Estrutura, trajeto e relações (A, C) e Território sensitivo (B)
1. Músculo Cubital 2. Nervo Cubital 3. Canal de Guyon 4. Apófise Estiloideia do Cúbito 5. Eminência Hipotenar 6. Músculos lumb ·
7. Ligamento Anular Anterior do Carpo 8. O lecrânio 9. Nervo e artéria cubitais.

640

CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO: NERVOS RAQIDDIANOS E PLEXOS

15
dois ou três ramos terminais que cruzam ante-
rior e posteriormente a veia basílica mediana iner-
vando os tegumentos do antebraço até ao carpo) e 13
um ramo posterior (posteriormente ao epicôndi-
lo medial, inervando sensitivamente os tegumen-
tos da região póstero-interna do antebraço). (Fig.
10.2.16)

Nervo A cessório do Braquial Cutâneo Interno ou


Nervo Cutâneo Medial do Antebraço
Este nervo origina-se do tronco ântero-interno
12
superiormente à origem do nervo braquial cutâ-
neo interno contendo fibras do 1.0 nervo toráci-
co. Origina-se posteriormente à artéria axilar e
atravessa (anteriormente ou posteriormente) à 10
Fig. 10.2.21: Estrutura e relações do nervo axilar ou circunflexo.
veia axilar para descer internamente a ela no te- 1. Acrómio da escápula 2. Tendão do infra-espinhoso 3. Cápsula articu-
cido subcutâneo do braço até ao epicôndilo me- lar do ombro 4. Músculo redondo menor 5. Músculo Deltóide 6. Ner-
vo Axilar e artéria umeral circunflexa posterior no espaço quadrangular
dial. Anastomosa-se com o ramo perfurante late-
7. Nervo Cutâneo Braquial lateral superior 8. Artéria braquial profunda
ral do 2.0 nervo intercostal -Anastomose de Hir- 9. Nervo Radial 10. Músculo trícipete 11 . Músculo redondo maior
tyl. (Fig. 10.2.16) 12. Músculo lnfra-espinhoso 13. Espinha da escápula 14. Músculo
Supra•espinhoso 15. A rtéria e Nervo Supra-escapulares

Nervo Axilar ou Circunflexo


Este nervo (fibras dos 5.0 e 6.0 nervos cervicais), oblíquo para baixo e para fora passando; na axi-
considerado por alguns autores como ramo colate- la, posteriormente à artéria axilar e anteriormen-
ral face ao seu curto trajecto e designado por "ner- te aos músculos subescapular, grande dorsal e re-
vo axilar" na nomenclatura anglo-saxónica, é ramo dondo maior; no braço, introduz-se pela fenda
terminal externo do tronco secundário posterior. úmero-tricipital na goteira umeral (limitada an-
Após a sua origem posteriormente à artéria axilar e teriormente pela face posterior do úmero, poste-
externamente ao nervo radial dirige-se para baixo riormente pela longa porção do músculo tricípite
e para fora anteriormente ao músculo subescapu- e pelo a cabeça lateral do tricípete, superiormen-
lar, caminhando com a artéria circunflexa posterior, te pela inserção da cabeça lateral do tricípete e in-
contornando o colo cirúrgico umeral após atraves- feriormente pela inserção da cabeça medial do tri-
sar o espaço quadrangular úmero-tricipital. Emite cípete) onde é acompanhado pela artéria umeral
três ramos colaterais ao longo do seu trajeto: ramos profunda que se localiza súpero-externamente ao
articulares para a articulação do ombro, o nervo do nervo; no cotovelo, após atravessar a goteira ra-
músculo subescapular, o nervo do músculo redon- dial, atravessa o fundo da goteira bicipital exter-
do menor e o nervo cutâneo do ombro. Termina na (com a artéria recorrente radial anterior, limita-
segundo dois ramos terminais para o músculo del- da pelos músculos bicípete braquial e braquial an-
tóide que posteriormente se ramificam no interior terior (internamente), e pelos músculos longo su-
deste. Estabelece anastomoses com o nervo cutâ- pinador e longo extensor radial do carpo (externa-
neo braquial interno e com o ramo cutâneo externo mente), originando os seus ramos terminais ao ní-
inferior do nervo radial (Fig. 10.2.21 e 10.2.22B). vel do colo do rádio.
Ao longo do seu trajeto, o nervo radial emite nove
Nervo Radial ramos colaterais, que são assim ordenados por or-
Este nervo (fibras provenientes dos 6.0 , 7.0 e 8.0 dem de origem a partir do nervo radial: ramo cutâ-
nervos cervicais e 1.0 torácico) é a continuação neo interno (ou nervo cutâneo posterior do braço
do tronco secundário posterior após a origem do - axila), nervo da longa porção do músculo tricípe-
nervo circunflexo. Assume um trajeto posterior e te braquial (axila), nervo superior da cabeça me-

641
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

dial do tricípete ou colateral cubital (axila), nervo sor radial do carpo (considerado por alguns u
do músculo vasto interno e do músculo ancóneo ramo colateral do nervo radial) antes de se col:
(goteira radial), nervo da cabeça lateral do tricípe- car entre os dois planos musculares da loca pos-
te (goteira radial), ramo cutâneo externo (ou ner- terior do antebraço. Aqui origina ramos posterio-
vo cutâneo posterior do antebraço, nervo do mús- res para os músculos do plano superficial (múscu-
culo braquial anterior (inconstante - goteira bici- lo extensor comum dos dedos, músculo extensor
pital externa), nervo do músculo longo supinador próprio do 5. 0 dedo (ou mínimo) e músculo ex-
(goteira bicipital externa) e nervo do músculo lon- tensor cubital do carpo) e ramos anteriores para
go extensor radial do carpo (antebraço). Estes são os quatro músculos do plano profundo (múscu-
responsáveis pela inervação sensitiva e motora da lo longo abdutor do 1.0 dedo, músculo curto ex-
área ou músculo homólogo. tensor do 1. 0 dedo, músculo longo extensor do
Termina segundo dois ramos terminais: um ramo 1. 0 dedo e músculo extensor próprio do 2. 0 dedo
anterior de função sensitiva e um ramo posterior (indicador)). Após originar estes ramos colate-
de função motora. O ramo anterior desce na pro- rais, termina sobre a forma de um nervo termi-
fundidade do músculo longo supinador, atraves- nal sensitivo - nervo interósseo posterior (ori-
sando-o no terço posterior do antebraço distri- gem posterior ao ligamento interósseo do braço)
buindo-se sobre a forma de três ramos terminais - para a face posterior das articulações do punho
(externo, médio e interno) sobre a face posterior e do carpo.
da mão. O ramo posterior (ou profundo) origina O nervo radial anastomosa-se com o nervo bra-
um ramo colateral para o músculo curto exten- quial cutâneo interno (através dos seus ramos

Fig . 10.2.22: Nervo Radial.


Estrutura, trajeto e relações (A, C) e Território sensitivo (8)
1. Músculo Deltóide 2. Músculo Redondo maior 3. Músculo Redondo menor 4. Nervo Radial 5. Músculo Tricípite 6. Músculos Longo e Curto
Supinador 7. Musculo Extensor comum dos dedos 8. Músculo Longo Abdutor e Longo Extensor do primeiro dedo 9. Território sensitivo do nervo
axilar/circunflexo 10. Território sensitivo do nervo radial

642
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO: NERVOS RAQUIDIANOS E PLEXOS

cutâneos interno e externo), com o nervo múscu- ramo perfurante cutâneo anterior reponsável pela
lo-cutâneo (através do ramo cutâneo externo e do inervação cutânea dessa região (Fig.10.2.23).
ramo superficial); com o nervo do músculo palmar Ao longo do seu trajeto emite dois tipos de ramos
cutâneo do nervo mediano (através do filete te- colaterais: ramos musculares (inervam os múscu-
nar), e com o nervo cubital na face dorsal da mão los infra-costal, o músculo supra-costal e os mús-
(Fig. 10.2.22). culos intercostais correspondentes) e ramos sensi-
tivos (ramo perfurante lateral, origina-se no ângu-
lo posterior da costela, inervando os tegumentos
NERVOS INTERCOSTA/5 da região suprajacente).
Após consideradas estas características gerais, al-
Após a sua origem nos buracos de conjugação guns destes nervos apresentam características pró-
(invertebrais), os nervos torácicos dividem-se em prias que vale a pena individualizar:
dois ramos: o ramo anterior - nervo intercostal • 1.0 nervo intercostal - praticamente todo
- e o nervo posterior (discutido inferiormente). ele faz parte do plexo braquial e não emite o
O nervo intercostal vai dirigir-se para o espaço ramo colateral sensitivo;
intercostal ( triangular de base superior) em ín- • 2. 0 nervo intercostal - volumosa anastomose
tima relação com a fáscia endotorácica, no ter- com o nervo cutâneo medial do antebraço -
ço médio deste espaço, aproximando-se progres- anastomose de Hirtyl;
sivamente da goteira infra-costal da costela su- • Os 4 primeiros nervos intercostais dão ra-
prajacente, entre os músculos intercostais externo mos colaterais motores para o músculo gran-
e interno e depois entre este último e o múscu- de dentado;
lo intercostal médio (íntimo). Na goteira, o nervo • Do 3.0 ao 6.0 nervos intercostais, todos origi-
é o elemento mais inferior (de baixo para cima, nam dois ramos terminais: sensitivo Gá des-
as estruturas do feixe vásculo-nervoso são nervo, crito) e motor para o músculo transverso do
artéria e veia). Este nervo termina segundo um tórax;
• Os últimos 5 nervos intercostais originam fi-
letes nervosos para o diafragma e músculos
2
largos do abdómen assim como são parcial-
3 mente responsáveis pela inervação sensitiva
da região central do abdómen;
• Estes nervos são divididos por alguns auto-
res em nervos intercostais típicos (T2 a T6),
tóraco-abdominais (T7-T12) e nervo subcos-
tal (T12).

PLEXO LOMBAR

DEFINIÇÃO E CONSTITUIÇÃO

O plexo lombar é responsável pela enervação


da parede abdominal e pela porção proximal do
membro inferior. É constituído pelos ramos an-
teriores dos 4 primeiros nervos lombares e anas-
6 tomosa-se com o nervo subcostal ou 12.0 nervo
intercostal e com o plexo sagrado (Fig.10.2.24).
Fig. 10.2.23: Relações genéricas de um nervo intercostal.
1. Corpo vertebral 2. Goteira do feixe vásculo-nervoso intercostal
3. Costela 4. Cadeia simpática látero-vertebral 5. Artéria Aorta
6. Músculos intercostais

643
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

• Nervo obturador acessório - 10% dos caso


ramos anteriores de L3 e L4. s,

Ramos Anastomóticos
2

• Ramo anastomótico para o nervo subcostal _


ramo anterior de Ll;
• Ramo anastomótico para o plexo sagrado _
Ramo anterior de L4 para a raiz anterior de
L5;
4
• Ramos anastomóticos com os gânglios do
plexo de simpático.

RELAÇÕES

O Plexo Lombar tem uma conformação triangu-


lar alongada em ambos os sentidos crânio-cau-
dal (base inferior) e horizontal (base medial) en-
5 contra-se ântero-lateralmente à coluna vertebral
Fig. 10.2.24: Representação estrutural do plexo lombar. (apófises costiformes), na espessura do múscu-
1. Nervo iliohipogástrico (grande abdomino genital) 2. Nervo llioin- lo psoas (localização progressivamente mais ante-
guinal (pequeno abdómino-genital) 3. Nervo genrtofemoral 4. Nervo
cutâneo lateral da coxa (femurocutâneo) 5. Nervo femoral (crural) rior no sentido crânio-caudal). Relaciona-se ain-
6. Nervo obturador 7. D12, L1 , L2, L3, L4 e L5 da com a veia lombar ascendente (anteriormen-
te aos 4. 0 e 5.0 ramos lombares anteriores, poste-
Ramos Colaterais rior aos 1.0 e 2. 0 ramos lombares anteriores e com
posição variável face ao 3.0 ramo anterior lombar).
Nervo do músculo psoas (ramos anteriores Localiza-se posteriormente aos órgãos do apare-
dos dois primeiros nervos lombares); lho urinário, particularmente e rim e ureter ipsila-
• Nervo do músculo quadrado lombar (ramos terais (Fig. 10.2.25).
anteriores dos dois primeiros nervos lomba-
res); Ramos Colaterais
• Nervo do músculo pequeno psoas (ramo an-
terior da 4.ª raiz lombar). Os ramos colaterais do plexo lombar dirigem-se
horizontalmente de dentro para fora para o gru-
Ramos Terminais po muscular posterior da parede abdominal, sen-
do responsáveis pela inervação dos músculos ho-
• Nervo íliohipogástrico (grande abdomino- mólogos (músculo psoas ilíaco e músculo quadra-
-genital) - ramo anterior de Ll; do lombar).
• Nervo ílioinguinal (pequeno abdomino-geni-
tal) - ramo anterior Ll; Ramos Terminais
• Nervo génito-femoral - ramos anteriores de (Fig. 10.2.24 e 10.2.25)
Ll e L2;
• Nervo cutâneo lateral da coxa - ramos ante- Nervos Íliohipogástrico e Ílioinguinal
riores de L2 e L3; Estes nervos têm uma direcção oblíqua de cima
• Nervo obturador - ramos anteriores de L2, para baixo e de dentro para fora na espessura dos
L3 eL4; músculos da parede abdominal, paralelos entre
• Nervo crural ou femoral - ramos anteriores si (nervo íliohipogástrico superiormente ao ner-
de L2, L3 e L4; vo ílioinguinal). Sob o ponto de vista morfoló-

644
í CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO: NERVOS RAQ.UIDIANOS E PLEXOS

gico, caracterizam-se por ter dois ramos termi- zes este nervo está ausente, sendo substituído na
nais: um ramo cutâneo e um ramo genital. No maior parte dos casos pelo nervo musculo-cutâ-
que respeita a sua função, estes nervos são res- neo externo, que é um ramo proveniente do ner-
ponsáveis pela motricidade da parede abdominal vo crural.
e pela inervação sensitiva da parede abdominal,
bolsas ou grandes lábios, região glútea e porção Nervo Génito-Femoral (Génito-Crural)
súpero-interna da coxa. Este nervo tem uma direcção oblíqua de cima para
baixo, na profundidade do músculo psoas, cruzan-
Nervo Cutâneo lateral da coxa do posteriormente o ureter e os vasos testicula-
Este nervo tem uma direcção oblíqua de cima para res, num desdobramento da fáscia ilíaca, e exter-
baixo, na profundidade da musculatura abdomi- namente às artérias ilíaca comum e externa. Tem
nal, saindo da cavidade abdominal na incisura ino- dois ramos sensitivos terminais: femoral (triângu-
minada ou homóloga do bordo anterior do osso lo de Scarpa) e genital.
ilíaco, inferiormente ao Ligamento Inguinal ou de
Poupart e internamente ao músculo sartório, num Nervo Obturador
desdobramento da aponevrose do músculo psoas Após uma origem posterior e interna ao músculo
ilíaco. Ele tem dois ramos terminais: ramo glúteo psoas, dirige-se para diante e para baixo posterior-
(inervação sensitiva dos tegumentos da região glú- mente aos vasos ilíacos comuns e externamente ao
tea e face posterior da coxa) e ramo femoral (tegu- tronco lombo-sagrado cruzando a articulação sa-
mentos da região ântero-externa da coxa). Por ve- cro-ilíaca ipsilateral; coloca-se externamente ao
ureter e aos órgãos do aparelho reprodutor, apli-
cado ao estreito superior da bacia superiormente
à artéria e á veia obturadoras. Este feixe vásculo-
-nervoso sofre uma rotação de cima para baixo e
para fora para se sair da cavidade pévica pelo canal
infrapúbico. Aqui origina os seus ramos colaterais
13
- nervo do músculo obturador externo e ramos ar-
ticulares para a articulação da coxa e sínfise púbica
12 - e os seus ramos terminais: ramo anterior (divi-
de-se posteriormente nos nervos do médio adutor,
pequeno adutor e grácil (recto medial)) e ramos
4
posterior (divide-se posteriormente em ramos ar-
ticulares, ramos para o músculo obturador exter-
5
no e ramos para o músculo grande adutor). Sob
o ponto de vista funcional é responsável pela mo-
6
tricidade dos músculos internos da coxa (médio
adutor, pequeno adutor, porção externa do gran-
de adutor, grácil, obturador externo, parte do pec-
tíneo) e da sensibilidade das articulações do joe-
lho e coxo femoral e pele da face medial do joelho
9
(Fig.10.2.26 A e B).

Nervo Obturador Acessório


11 10
Este nervo tem um trajeto paralelo ao nervo obtu-
Fig. 10.2.25: Relações do plexo lombar. rador com excepção à sua exteriorização da cavi-
1. Nervo subcostal 2. Tronco simpático 3. Nervo iliohipogástrico
dade pélvica (eminência pectínea). Os seus ramos
4. Nervo ilioinguinal 5. Nervo genitofemoral 6. Nervo fémoro-cu-
tâneo lateral 7. Nervo femoral 8. Tronco lombossagrado 9. Mús- terminais anastomosam-se com os ramos articular
culo psoas 10. Nervo obturador 11. Ligamento inguinal de poupart e cutâneos dos nervos femoral e obturador, susten-
12. Músculo quadrado lombar 13. Músculo transverso 14. Diafragma

645
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Ili
Fig. 10.2.26: Nervo obturador-trajeto (A) e território sensitivo (8).
1. L1, 12, 13, 14 2. Tronco lombo•sagrado 3. Sacro 4. Ramo anterior do nervo obturador 5. Músculo grande adutor 6. Músculo g rácil 7. Ramo
cutâneo do nervo femoral 8. Canal adutor 9. Ramo para a articulação do joelho 10. Músculo longo adutor 11. Músculo curto adutor 12. Músculo
obturador externo 13. Femur 14. Nervo obturador (L2,3,4) 15. Nervo femoral 16. Nervo cutâneo lateral da coxa 17. Nervo genitofemoral 18.
Nervo ilioinguinal 19. Nervo iliohipogástrico.

tando a sua origem como individualização de um sensitiva das faces anterior e interna da coxa) e o
ramo colateral de um destes nervos. nervo musculo-cutâneo interno (inervação moto-
ra dos músculos pectíneo e médio-adutor e sensi-
Nervo Femoral ou Crural tiva da face interna da coxa) - e plano profundo -
Após a sua origem, este nervo coloca-se na gotei- nervo do quadricípite (divisão em ramos motores
ra compreendida entre os músculos psoas e ilía- responsáveis pela inervação motora das 4 porções
co numa direcção para diante e para baixo. Na ar- constantes e do inconstante músculo subquadric-
cada femoral, localiza-se inferiormente à fita ílio- cipital) e nervo safeno interno (inervação sensiti-
-púbica de Thompson e externamente à artéria e va das faces anterior e interna do joelho e da perna
veia femorais, das quais está separado pela fita ílio- (Fig. 10.2.27A e B).
-pectínea. No seu trajeto na bacia emite os seguin-
tes ramos colaterais: ramos para o músculo ilíaco,
para o músculo psoas, para a artéria femoral (ner- PLEXO SAGRADO
vo de Schwalbe) e o nervo fémoro-cutâneo ân-
tero-externo (inconstante, anastomosa-se com o DEFINIÇÃO E CONSTITUIÇÃO
nervo fémoro-cutâneo). Após passar a arcada fe-
moral, emite os seus ramos terminais segundo dois O plexo sagrado é formado pela união do tronco
planos: plano superficial - nervo musculo-cutâneo lombo-sagrado (ramo anastomótico proveniente
externo (inervação motora do músculo sartorio e do plexo lombar - ramo anterior da 4.ª raiz lom-

646
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO: NERVOS RAQUIDIANOS E PLEXOS

--il
16

14

13

12
I· :
2

15
11

4 3

IEI Ili
Fig. 10.2.27: Nervo femoral - trajeto (A) e território sensitivo (8).
1. D12, L1, L2, L3, L4 2. Tronco lombo~sagrado 3. Músculo pectíneo 4. Ramos cutâneos anteriores do nervo femoral 5. Articulação joelho
6. Nervo safeno 7. Ramos cutâneos crurais mediais do nervo safeno 8. Nervo infrapatelar do nervo safeno 9. Músculo articular do joelho
10. Músculo quadricípede 11. Músculo sartório 12. Ramo articular do nervo femoral 13. Músculo psoas maior 14. Músculo ilíaco 15. Nervo
obturador 16. Nervo femoral (L2,3,4) 17. Nervo cutâneo lateral da coxa (L2,3).

bar - com a 5.ª raiz lombar) com os ramos an- (face anterior do plexo, tronco lombo-sagra-
teriores dos três primeiros nervos sagrados (Fig. do);
10.2.28A). • Nervo do músculo gémeo pélvico inferior e
do músculo quadrado femoral (face anterior
Ramos Colaterais do plexo, tronco lombo-sagrado);
• Nervo pequeno ciático ou nervo cutâneo
• Nervo do músculo obturador interno (face posterior da coxa ou cutâneo femoral (face
posterior do plexo, tronco lombo-sagrado e posterior do plexo, tronco lombo-sagrado e
ramo anterior do 1.0 nervo sagrado); ramos anteriores dos 2 primeiros nervos sa-
• Nervo do músculo piramidal ou piriforme grados);
(face posterior do plexo, ramo anterior do 2.0 Nervo glúteo inferior (face posterior do ple-
nervo sagrado); xo), por vezes ramo do nervo pequeno ciático.
• Nervo do glúteo superior (face posterior do
plexo, tronco lombo-sagrado e ramo anterior Ramo Terminal
do 2.0 nervo sagrado);
• Nervo do músculo gémeo pélvico superior • Nervo Grande Ciático (ou isquiático);

647
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Ramos Anastomóticos dos nervos que entram na constituição deste plex


Sai da cavidade pélvica através da grande incisUrº·
• Plexo Lombar; ciática inferiormente ao músculo piramidal ou
·r d b . . ,

p1-
• Plexo Pudendo; n10rme a acia, externamente a arteria isquiáti-
• Tronco Simpático; ca ou glútea inferior, aos vasos e nervo pudendo
• Plexo Hipogástrico Superior. internos e ao nervo do músculo obturador inter~
no. Dirige-se para a face posterior da coxa, percor-
RELAÇÕES rendo-a entre os músculos bicípite crural, externa-
mente, e semitendinoso e semimembranoso inter-
O plexo sagrado encontra-se aposto à face anterior namente, até alcançar o escavado popliteu, onde
do músculo piramidal ou piriforme, envolto num origina os seus dois ramos terminais: nervo pero-
desdobramento da aponevrose pélvica com inser- neal (ou fibular) comum ou ciático popliteu exter-
ção no rebordo interno dos buracos sagrados an- no e nervo tibial ou ciático popliteu interno.
terior e grande incisura ciática, que o separa dos O nervo grande ciático dá sete ramos colaterais
vasos ilíacas e os órgãos intra-pélvicos. É atraves- destinados aos músculos da região posterior da
sado de cima para baixo pela artéria glútea (entre coxa e à articulação do joelho. Estes ramos são 0
tronco lombo-sagrado e ramo anterior do 1.0 ner- nervo superior do músculo semi-tendinoso, o ner-
vo sagrado), artéria isquiática (entre os ramos an- vo da longa porção do músculo bicípite crural, 0
teriores do 2.0 e 3.0 nervos sagrados) e artéria pu- nervo inferior do músculo semi-tendinoso, o ner-
denda interna (entre os limites do plexo sagrado e vo do músculo semi-membranoso, o nervo do
plexo pudendo), acompanhado o nervo pudendo músculo grande adutor, o nervo da curta porção
no canal de Alcock (Fig. 10.2.28B). do músculo bicípite crural e o nervo articular do
joelho (ou nervo articular da rótula). Com exceção
RAMOS dos últimos dois, estes ramos originam-se maiori-
tariamente na porção superior da coxa, individual-
Ramos Colaterais mente ou através de troncos comuns.
No que respeita os seus ramos terminais, o ner-
Os ramos colaterais são subdivididos em dois gru- vo peroneal ou fibular comum (Fig. 10.2.30) di-
pos de acordo com a face do plexo a partir da qual rige-se para a loca anterior da perna atravessan-
se individualiza: face posterior (nervo do múscu- do um canal ósteo-muscular (músculo longo pe-
lo Obturador Interno, Nervo do Músculo Pirami- roneal) dividindo-se posteriormente nos seus ra-
dal, Nervo G lúteo Superior (para o tensor da fás- mos terminais: Nervo Tibial Anterior ou pero-
cia lata, médio e pequeno glúteo), Nervo Glúteo neal profundo (inervação motora da loca ante-
Inferior (para o Glúteo Máximo) e Nervo Peque- rior da perna e da face dorsal do pé e inervação
no Ciático) e face anterior (Músculo Gémeo Pél- sensitiva do 1.0 espaço interósseo dorsal) e Nervo
vico Superior e Nervo do Músculo Gémeo Pélvico Músculo-Cutâneo ou peroneal superficial (iner-
Inferior e do Músculo Qyadrado Femoral). Eles vação motora da loca externa da perna e sensibi-
contribuem com a inervação motora da cintura e lidade da face externa da perna e da face dorsal
musculatura pélvica, músculos da região glútea e do pé). O Nervo Tibial (Fig. 10.2.31) origina o
com inervação sensitiva acessória da região glútea Nervo Tibial Posterior ao entrar na loca posterior
ipsilateral e face posterior da coxa. da perna entre os dois planos musculares (profun-
damente ao músculo tricípite solhar e superficial-
Ramo Terminal mente ao tibial posterior), originando como ramos
terminais os ramos plantares interno e externo.
Nervo Grande Ciático (Fig. 10.2.28A, 10.2.28B É responsável pela inervação motora da loca pos-
e 10.2.29) terior da perna e face plantar do pé e inervação
O Nervo Grande Ciático, mais volumoso do orga- sensitiva plantar do pé.
nismo, é constituído por todos os ramos anteriores

648
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO: NERVOS RAQUIDIANOS E PLEXOS

15

13 4

li 14 12 11 10 9 8 7

18

38

21

37

36 22

35
23

24
34

27

25

33

Ili 31 30
Fig. 10.2.28: Plexo sagrado.
A Constituição: Amarelo - divisão anterior Lilás - divisão posterior
1•Troncos lombosagrados 2. Ramos cinzentos comunicantes 3. Nervos esplâna,icos pélvicos 4. Nervo coccigeo 5. Nervo anococdgeo 6. Ramo
perineal do 4.º nervo sagrado 7. Nervo para os músculos levantador do ânus e coccígeo 8. Nervo pudendo 9. Nervo cutâneo perfurante 10.
Nervo cutâneo posterior da coxa ou pequeno ciático 11. Nervo para os músculos obturador interno e gémeo superior 12. Ne rvo para os músculos
quadricipede e gémeo superior 13. Nervo peroneal comum {parte do ciático) 14. Nervo tibial (parte do ciático) 15. Nervo para o músculo plriforme
16. Nervo glúteo inferior 17. Neva glúteo superior.

8. Relações
1~- Crista ilíaca 19. Músculo médio glúteo 20. Músculo pequeno glúteo 21. Músculo tensor da fásda lata 22. Músculo piriforme 23. Músculo
~emeo superior 24. Músculo obturador interno 25. Músculo gémeo inferior 26. Músculo quadrado femoral 27. Nervo para os múscuk>s gémeo
inferior e quadrado femoral 28. Nervo ciático 29. Nervo cutâneo posterior da coxa 30. Músculo Bicípite 31. Músculo semitendinoso 32. Ramos
~erineais 33. Nervos glúteos inferiores 34. Nervos dorsal do pénis (ou do clitóris), nervo perineal e nervos escrotais (labiais) 35. Nervo rectal infe~
nor 36. Nervo pudendo 37. Nervos para os músculos gémeo superior e obterador interno 38. Nervo glúteo inferior 39. Músculo grande glúteo

649
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Fig. 10.2.30: Nervo ciático popliteu externo ou peroneal comum.


1. Nervo peroneal comum 2. Músa.1lo-cutâneo ou peroneal superficial
3. Nervo tibial anterior ou peroneal profundo 4. Músculo tibial anterior
5. Músculo extensor dos dedos 6. Músculo longo peroneal

nam-se aos órgãos pélvicos, órgãos genitais e perí-

u neo (funções sensitivas e motoras). (Fig. 10.2.32)

Ramos Colaterais
Fig. 10.2.29: Trajecto do nervo grande ciático.
1. Grande incisura ciática 2. Nervo grande ciático 3. Músrulos Semiten• • Nervos Viscerais (dirigem-se direta ou indi-
dinoso e semimembranoso 4. Bicípite crural ou femoral 5. Escavado
poplit eu 6. Nervo fibular comum (ciático popliteu externo} 7. Nervo rectamente via plexo hipogástrico para reto,
tibial (ciático popl~eu interno) bexiga, vagina e pénis);
• Nervo do Músculo elevador do ânus (ramos
PLEXO PUDENDO anteriores do 3.0 e 4.0 nervos sagrados);
• Nervo do Músculo ísquio-coccígeo (ramo
DEFINIÇÃO E CONSTITUIÇÃO anterior do 4.0 nervo sagrado);
• Nervo H emorroidal ou anal (ou nervo rectal
O Plexo Pudendo é formado pela anastomose es- inferior ou anal inferior) - (ramo anterior do
tabelecida entre o ramo anterior do 4.0 nervosa- 4.0 nervo sagrado);
grado com os ramos anastomóticos provenientes • Nervo perfurante cutâneo - (ramos anteriores
do plexo sagrado (2.0 e 3.0 ramos sagrados ante- do 3.0 e 4.0 nervos sagrados).
riores). Todos os ramos do plexo pudendo, desti-

650
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO: NERVOS RAQU1DIANOS E PLEXOS

do ramo anterior do 4.0 nervo sagrado, in-


ternamente);
• Plexo H ipogástrico (número variável de ra-
mos comunicantes provenientes do ramo an-
terior do 4.0 nervo sagrado, superiormente).

RELAÇÕES

O plexo pudendo encontra-se inferiormente ao


plexo sagrado, anteriormente ao músculo ísqui-
-coccígeo e posteriormente à lâmina aponevró-
tica pélvica que recobre o plexo sagrado relacio-
nando-se, através dela, com os órgãos intra-pél-
vicos.

RAMOS

Nervo Pudendo
Este nervo é constituído por fibras provenien-
tes dos ramos anteriores dos segundo, terceiro e
quarto nervos sagrados. Após a sua origem, diri-
gíe-se ínfero-externarnente para a grande chan-
fradura ciática, aplicando-se sobre a espinha ciá-
tico e o ligamento ciático, dirigindo-se para a
fossa ísquio-retal, onde caminha num desdobra-
mento da bainha obturadora aplicado à face in-
terna do ramo isquiático do osso ilíaco - Canal
de Alcock. Aqui origina dois ramos terminais:
nervo perineal - inervação musculo-cutânea do
Ftg. 10.2.31: Nervo ciático popliteu interno ou tibial. períneo - e o nervo dorsal do pénis ou clitóris -
1. Nervo tibial 2. Nervo peroneal comum 3. Músculo gastrocnémio inervação sensitiva. Este é o principal nervo sen-
4. Músculo poplineu 5. Músculo solhar ou solear 6. Músculo flexor
comum dos dedos 7. Músculo tibial posterior 8. Músculo flexor sitivo dos orgãos genitais externos.
próprio do 1.0 dedo 9. Ramos terminais do plantar externo e interno

Ramos Terminais PLEXO COCC{GEO

• Nervo Pudendo. DEFINIÇÃO E CONSTITUIÇÃO

Ramos Anastomóticos O P lexo Coccígeo é o formado pelos ramos ante-


rior do 5.0 Nervo Sagrado e pelo Nervo Coccígeo
Plexo Sagrado (ramos anastomóticos pro- (Fig. 10.2.33A e B).
venientes dos ramos anteriores dos 2. 0 e 3.0
nervos sagrados); Ramos Colaterais
• Plexo Coccígeo (ramo anastomótico prove-
niente do ramo anterior do 4.0 nervo sagra- • Ramos Viscerais (órgãos pélvicos);
do); • Ramos Cutâneos (tegumentos da região coc-
4.0 Gânglio Simpático Pélvico (número va- cígea).
riável de ramos comunicantes provenientes

651
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

3 2 4

Fig. 10.2.32: Plexo Pudendo - Divisão estrutural.


1 . Nervo Pudendo 2. Nervo dorsal do clítoris ou Nervo dorsal do pénis 3. Nervo Perineal 4. Nervo Ciático

O s ramos posteriores dos nervos raquidianos são


responsáveis pela inervação motora e sensitiva do
complexo muscular de suporte crânio-vértebro-
Ramos Terminais -sagrado e tegumentos adjacentes. Existem algu-
mas particularidades no que respeita a sua locali-
• Nervo Ano-coccígeo (tegumentos da região zação (Fig. 10.2.12).
coccígea).
Ramos Cervicais
Ramos Anastomóticos
O N ervo Infra-occipital (ramificação do primeiro
• Plexo Hipogástrico; nervo cervical, exclusivamente motor) e o Gran-
• Plexo Sagrado (ramo anterior do 4.0 nervo de Nervo Occipital de Arnold (ramificação do se-
sagrado). gundo nervo cervical) são responsáveis pela iner-
vação motora dos músculos da loca posterior do
Relações pescoço responsáveis pela rotação do e látero-fle-
xão (da cabeça sobre o pescoço músculos grande
Este nervo dispõe-se anteriormente ao múscu- obliquo, pequeno oblíquo, pequeno reto, esplénios,
lo ísquio-coccígeo, relacionando-se, através dele, pequeno complexo e grande complexo).
com os órgãos intra-pélvicos. Todos os restantes ramos posteriores cervicais são
responsáveis pela inervação motora dos músculos
Ramos inter-transversário, inter-espinhoso, supra-espi-
nhoso e grande complexo), diminuindo o seu diâ-
Nervo Ano-Coccígeo metro do 4.0 até ao 8.0 • O terceiro ramos poste-
Este nervo atravessa o músculo ísquio-coccígeo rior é volumoso e envia um ramo anastomótico ao
para fornecer inervação sensitiva aos tegumentos grande nervo occipital de Arnold.
entre o ânus e o cóccix.
Ramos Tóraco-Lombares
RAMOS POSTERIORES DOS NERVOS
RAOU/DIANOS E stes ramos dividem-se em dois ramos: um late-

652
r CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO PER1FÉRICO: NERVOS RAQ_UIDIANOS E PLEXOS

10

/ 4
6

Fig. 10.2.33: Plexo coccígeo.


A Constituição b. Referências anatómicas
1. Artéria pudenda interna 2. Espinha ciática 3. Nervo ciático 4. Arco tendinoso 5. Ligamento sacroespinhoso 6. Nervo pudenda 7. Nervo
glúteo superior 8. Nervo glúteo inferior 9. Nervo do músculo piriforme 10. L4, LS, S1-55, CO 11. Nervo do músculo quadrado femoral 12.
Nervo do músculo obturador interno 13. Nervo do músculo cutâneo femoral posterior 14. Nervo cutâneo perforante 15. Nervos dos músculos
levantador do ânus e esfíncter externo do ânus 16. Nervo ano-coccígeo

ral, motor, para os músculos sacro-lombar e lon- tre dermátomos estão muito bem definidas mas,
go dorsal, e outro medial, misto, para os múscu- na verdade, existe uma sobreposição na inerva-
los próprios da coluna vertebral e tegumentos ad- ção entre dermátomos adjacentes. A Fig. 10.2.34
jacentes. mostra à direita a distribuição/território cutâneo
dos nervos espinhais (dermátomos), que é dife-
Ramos Sacro-Coccígeos rente do território sensitivo dos nervos periféricos,
Estes proporcionam um número de filetes nervo- descritos anteriormente nos plexos (Fig. 10.2.34).
sos em número variável, originando-se nos bura- O mapa dos dermátomos pode ser utilizado para
cos sagrados posteriores, que proporcionam iner- identificar a presença de alterações ou compres-
vação motora e sensitiva para os músculos e tegu- sões na medula espinhal.
mentos adjacentes. O músculo esquelético também recebe uma iner-
vação segmentar. O grupo de músculos esquelé-
DERMÁTOMOS E MIÓTOMOS ticos inervados por um nervo espinhal em parti-
cular é denominado "miótomo". A maioria dos
A união das raízes dorsal e ventral formam o ner- músculos é inervada por mais que um nervo es-
vo espinhal e posteriormente as suas fibras nervo- pinhal. Os músculos pertencentes a um miótomo
sas são distribuídas aos respetivos territórios (Fig. estão geralmente relacionados funcionalmente e
10.2.12). A área de pele que é inervada por fibras são responsáveis por um deter minado padrão de
de uma única raíz dorsal, e portanto por um seg- movimento. Assim uma lesão num segmento da
mento medular, é denominada de "dermátomo". medula ou raíz ventral motora poderá determi-
Se houver uma lesão/compressão de uma raíz dor- nar perda de força em determinados grupos mus-
sal (ex: hérnia discal) pode ocorrer alteração da culares, mas para existir paralisia completa, vários
sensibilidade na área correspondente. Cada der- segmentos adjacentes da medula têm que estar
mátomo é nomeado de acordo com o nervo espi- lesados. O contributo de nervos espinhais para
nhal que o inerva. Nos esquemas, as fronteiras en- alguns movimentos importantes, que podem ser

653
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

b
d
e

p
Fig. 10.2.34: Distribuição cutânea dos nervos espinhais.
Dermátomos, na metade direita do modelo, e território sensitivo dos nervos periféricos, na metade esquerda
A Nervo axilar ou circunflexo b. Nervo cutâneo medial do braço ou braquial cutâneo interno e. Nervo radial (ramo inferior lateral) d. Nervo
musculo-cutâneo ou cutâneo lateral do antebraço e. nervo cutâneo lateral do antebraço ou acessório do braquial cutâneo interno f. nervo radial
g. nervo mediano h. nervo cubital ou ulnar i. nervo cutâneo lateral da coxa ou femurocutãneo j. nervo ilioinguinal ou pequeno abdomino-genital
k. nervo crural ou femoral 1. nervo obturador m. nervo cutâneo peroneal ou sural lateral n. nervo safeno (ramo do nervo femoral) o. nervo
musculo•cutâneo ou peroneal superficial p. nervo peroneal profundo ou tibial anterior q. nervo cutâneo posterior da coxa ou pequeno ciático
r. nervo cutâneo medial da coxa s. nervo safeno lateral ou sural (ramo do nervo tibial)

testados no exame neurológico, está representado


na Fig.10.2.35.

PERGUNTAS TIPO

1. Qyal das seguintes afirmações a propósito do


Plexo Cervical é falsa?
a. O Plexo Cervical é constituído pelos ra-
mos anteriores dos 4 primeiros ramos cer-
vicais.
b. O plexo Cervical contém 3 ansas fruto
das suas anastomoses dos ramos cervicais:
Ansa do Atlas - primeiro e segundo nervos
cervicais, Ansa do Áxis - segundo e tercei-
ro nervos cervicais e Terceira Ansa Cervi-
cal - terceiro e quarto nervos cervicais.
c. O Nervo Mastoideu é um ramo profun-
do ou motor.
d. O Nervo Frénico origina-se a partir das
anastomoses do 3. 0 , 4. 0 e 5. 0 nervos cer-
Fig 10.2.35: Inervação segmentar de movimentos específicos.

654
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO: NERVOS RAQ_UIDIANOS E PLEXOS

vicais ou da 3.ª ansa cervical (contribuição riormente ao músculo piramidal da bacia,


principal do 4.0 nervo cervical). internamente à artéria isquiática, aos vasos
e. O Nervo frénico direito passa externa- e nervo pudendos internos e ao nervo do
mente à artéria mamária interna e o es- músculo obturador interno.
querdo localiza-se externamente à artéria d. O Nervo Ciático Popliteu Externo origina
mamária interna e à crossa da aorta. 2 ramos terminais: Nervo Tibial Anterior
e Nervo Músculo-Cutâneo.
2. Qyal das seguintes afirmações é correta a pro- e. O Nervo Tibial Posterior entra na loca
pósito do Plexo Braquial? posterior da perna entre os dois planos
a. São 3 os troncos secundários: ântero-me- musculares (profundamente ao músculo
diano, póstero- externo e póstero-interno. triápite solhar e superficialmente ao tibial
b. O Plexo Braquial localiza-se posterior- posterior).
mente à artéria subclávia, músculo esca-
leno e veia subclávia anteriores, anterior- !:::,-r !g-z: !:::,-i
mente ao músculo escaleno médio e pos- :s-.:isodso~
terior.
c. O Nervo Braquial Cutâneo Interno, igual-
mente designado de "Nervo perfurante de
Casserius", origina-se a partir do tronco REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
secundário ântero-interno.
d. O Nervo Mediano anastomose com os Mian, A.; Chaudhry, I.; Huang, R.; Rizk, E.;
Nervos Músculo- Cutâneo, Radial (Ana- Tubbs, RS.; Loukas, M. Brachialplexus anesthesia:
tomose de Martin- Gruber e Richie- A review ofthe relevant anatomy, complications,
-Cannieu) e Cubital. and anatomical variations. Clin Anat. 2014
e. O Canal de Guyon é formado pelo liga- Mar;27(2):210-21.
mento anular anterior do carpo, poste- D e Maeseneer, M.; Madani, H.; Lenchik,
riormente, pelo osso pisiforme, interna- L.; Kalume Erigido, M.; Shahabpour, M.;
mente, e por expansões do músculo cubi- Marcelis, S.; D e Mey,J.; Scafoglieri,A. Normal
tal anterior e do ligamento anular dorsal Anatomy and CompressionAreas ofNerves of
do carpo - Ligamento de Struthers, an- the Foot andAnkle: US and MR Imaging with
teriormente. Anatomic Correlation. Radiographics. 2015 Sep-
Oct;35(5): 1469-82.
A propósito do Plexo Sagrado, qual das se-
guintes afirmações é falsa? Ramakrishnan, PK.; Henry, BM.; Vikse, J.; Roy,
a. O plexo sagrado é formado pela união do J.; Saganiak, K.; Mizia, E.; Tomaszewski, KA.
tronco lombo-sagrado (ramo anastomó- A natomical variations oJtheJormation and course
tico proveniente do plexo lombar - ramo ofthe sural nerve: A systematic review and meta-
anterior da 4.ª raiz lombar - com a 5.• raiz analysis. Ann Anat. 2015 Nov;202:36-44.
lombar) com os ramos anteriores dos três Hwang, K.; Song,JS.; Yang, SC. Communications
primeiros nervos sagrados. Between the Facial Nerve and the Vestibulocochlear
b. O plexo sagrado encontra-se anterior- Nerve, the Glossopharyngeal Nerve, and the
mente ao músculo piramidal, envolto num Cervical Plexus. J Craniofac Surg. 2015
desdobramento da aponevrose pélvica, e O ct;26(7):2190-2.
posteriormente aos vasos ilíacos e os ór-
gãos intra-pélvicos.
c. O Nervo Ciático sai da cavidade pélvica •••
através da grande chanfradura ciática infe-

655
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

O sistema nervoso vegetativo, sistema nervoso au-


tónomo ou sistema nervoso visceral é a parte do
sistema nervoso que controla os órgãos internos
do corpo humano (Fig. 10.3.1). Este controlo é
efetuado de forma autónoma e automática, em-
bora em interdependência com o restante sistema
nervoso.
O sistema nervoso vegetativo é constituído por
um componente central situado no encéfalo e na
medula espinhal e por um componente periférico
onde se distinguem duas divisões principais: sis-
tema nervoso simpático e sistema nervoso paras-
simpático. Ambas inervam os órgãos terminais do
sistema nervoso vegetativo que são o músculo liso
dos vasos sanguíneos e das vísceras, o miocárdio e
as glândulas de secreção endócrina e exócrina.
Tal como o sistema nervoso somático, do ponto de
vista anatómico, o sistema nervoso vegetativo peri-
férico é composto por um setor aferente e por um
setor eferente. O setor aferente conduz os impulsos
nervosos originados em recetores dos órgãos inter-
nos até centros específicos no sistema nervoso cen-
tral. O setor eferente conduz os impulsos dos cen-
tros nervosos até aos órgãos alvo do sistema nervo-
so vegetativo; este setor eferente também é designa-
do "sistema nervoso autónomo".
A inervação sensitiva dos órgãos internos, apesar de
ter características funcionais especiais, é mediada
por nervos que se unem aos nervos somáticos para
se dirigirem, em conjunto, ao sistema nervoso cen-
tral. A especificidade do sistema nervoso vegetativo Fig. 10.3.1: Sistema nervoso vegetativo (distribuição anatómica).
1. Plexo cardíaco 2. Plexo pulmonar 3. Plexo celíaco, 4. Nervos
periférico respeita assim, essencialmente, o contro- esplâncnicos pélvicos.
lo motor e secretor das vísceras e, por isso, há quem
prefira designá-lo sistema nervoso visceral eferente. As grandes divisões do sistema nervoso autó-
A sua organização neuronal é diferente do siste- nomo, simpático e parassimpático, têm por base
ma nervoso somático: neste, a inervação motora composições anatómicas diferentes e neurotrans-
(do aparelho músculo-esquelético) é feita através missores próprios, resultando um papel fisiológi-
de neurónios que, do sistema nervoso central se co distinto, em parte complementar, em parte an-
dirigem diretamente aos órgãos alvo; no sistema tagónico.
nervoso visceral existem gânglios nervosos onde Os centros nervosos do sistema nervoso autóno-
se estabelecem sinapses entre dois neurónios pe- mo encontram-se dispersos na medula espinhal,
riféricos - neurónios preganglionares e neurónios no tronco cerebral e no cérebro.
posganglionares. Os primeiros têm axónios com O hipotálamo é o centro coordenador da ati-
fibras mielinizadas, os segundos com fibras maio- vidade do sistema nervoso vegetativo. Contro-
ritariamente não mielinizadas. la a temperatura corporal, as frequências cardía-

656
CONTROLO E I NTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO AUTÓNOMO

ca e respiratória, a pressão arterial, a saciedade, tir de uma víscera lesada, estes podem ser erro-
a fome e a sede em núcleos próprios. Para além neamente interpretados como tendo origem no
da manutenção da homeostase, por estar intima- dermátomo a partir do qual esse segmento rece-
mente conectado ao sistema límbico está envol- be também a informação. Por exemplo, a dor do
vido na génese das manifestações viscerais da via enfarte agudo do miocárdio é muitas vezes per-
psíquica. cebida como uma dor referida ao membro supe-
rior esquerdo.

SECTOR AFERENTE DO SISTEMA


NERVOSO VEGETATIVO SECTOR EFERENTE DO SISTEMA NERVOSO
VEGETATIVO
As vias neuronais aferentes do sistema nervoso
vegetativo são similares às vias aferentes somáti- Distinguem-se habitualmente duas grandes divi-
cas. Os neurónios são pseudounipolares. Os seus sões do sector eferente do sistema nervoso vege-
corpos celulares localizam-se nos gânglios da raiz tativo: sistema nervoso simpático, principalmen-
dorsal dos nervos raquidianos ou nos gânglios te responsável pela resposta do organismo em si-
sensitivos dos nervos cranianos e os seus axónios tuações de stress e sistema nervoso parassimpá-
percorrem os nervos periféricos e entram no sis- tico, que tem como maior papel a conservação e
tema nervoso central pelas raizes dorsais dos ner- reposição das reservas energéticas do organismo.
vos raquidianos ou pelas raízes sensitivas dos ner- Com âmbito mais restrito, pelas suas especificida-
vos cranianos. des pode ainda distinguir-se o sistema nervoso en-
O sistema nervoso vegetativo tem a particulari- térico, que regula a atividade do aparelho diges-
dade de transportar informação que, maiorita-
riamente, não se torna consciente: continuamen-
te chegam aos centros nervosos centrais impulsos
nervosos referentes à função dos órgãos internos J
como a secreção glandular, a frequência cardíaca e
respiratória ou a pressão arterial, sem que esta in-
formação se torne consciente.
No entanto, a dor visceral é uma manifestação
consciente da sensibilidade visceral. Em geral, a
dor visceral é mais difusa que a dor somática e
' 1
tem características e localização mais inespecí-
ficas. Por vezes, a dor visceral pode ser percebida
num território de inervação somático, por vezes
distante do órgão interno que lhe deu origem
\
(Fig. 10.3.2). Este fenómeno, denominado "dor 7

referida", decorre de uma interpretação errada


2
que o sistema nervoso central faz da origem da 8

dor que é entendida como sendo originada num 3


(
território cutâneo (de enervação somática). Este 9
fenómeno resulta do facto de que a informação
visceral é transportada para a medula espinhal
ou para o tronco cerebral pelos nervos crania-
4 f
nos ou raquidianos que transportam igualmente
fibras somáticas, mas em número muito maior.
Fig. 10.3.2: Dor referida (territórios cutâneos de dor com origem
Assim, quando um segmento do sistema ner- visceral).
voso central recebe impulsos dolorosos a par- 1. Fígado e vesícula biliar 2. Intestino delgado 3. Cólon 4 . Bexiga
5. Esófago 6. Coração 7. Estômago 8. Rim 9. Uretero

657
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

tivo. O sistema nervoso entérico contem fibras e Devido a esta localização central dos seus cor
. . , . Pos
gânglios que lhe são próprios na parede das vísce- celulares, o sistema nervoso s1mpat1co é també
ras ocas do tubo digestivo, intimamente conecta- · d 1
denorruna o sistema nervoso toraco ombar" ni
«·

das às fibras do sistema nervoso simpático e paras- "porçao


- toracol ombardo .sistema nervoso vegeta-ou
simpático. Estes sistemas distinguem-se pelas suas tivo" (Fig. 10.3.4).
características anatómicas, fisiológicas e farmaco- Os axónios dos neurónios preganglionares saeni
lógicas (Fig. 10.3.3). da medula espinhal através da raiz ventral (mo-
tora) dos nervos raquidianos. Após um curto tra-
jecto no nervo raquidiano, os axónios abandonani
SISTEMA NERVOSO SIMPÁTICO o nervo raquidiano e, através de "ramos comuni-
cantes brancos" (assim denominados porque são
Como já foi referido, o sistema nervoso simpá- mielinizados), dirigem-se para o gânglio simpá-
tico é constituído por dois grupos de neurónios: tico paravertebral do mesmo nível raquidiano. Os
neurónios preganglionares com origem na me- gânglios simpáticos paravertebrais dispõem-se
dula espinhal, cujos axónios terminam em gân- bilateralmente de cada lado da coluna vertebral
glios periféricos justavertebrais (gânglios para- e constituem as cadeias ganglionares simpáticas
vertebrais e prevertebrais) onde estabelecem si- paravertebrais ou láterovertebrais (fig. 10.3.5).
napses com os neurónios posganglionares que Cada cadeia ganglionar simpática paravertebral é
inervam os órgãos efetores. composta por múltiplos gânglios que se dispõem
ao lado dos corpos vertebrais e que comunicam
NEURÓNIOS PREGANGLIONARES - ORIGEM, entre si por ramos comunicantes interga_ngliona-
TRAJECTO E DESTINOS res longitudinais. Para além dos ramos comuni-
cantes brancos existem ramos comunicantes cin-
Os corpos celulares dos neurónios preganglionares zentos (a maioria das suas fibras não mieliniza-
do sistema nervoso simpático localizam-se nas co- das), que estabelecem a comunicação entre os
lunas intermédiolaterais da substância cinzenta da gânglios da cadeia simpática láterovertebral e os
medula espinhal, desde o primeiro segmento torá- feixes motores dos respectivos nervos raquidia-
cico (Dl) até ao segundo segmento lombar (L2), nos. Estas cadeias ganglionares simpáticas para-
raramente até ao terceiro segmento lombar (L3). vertebrais estendem-se para além dos níveis ver-

Sistema Nervoso Central Sistema Nervoso Periférico

Encefalo Medula Espinhal

Vegetativo Somático Autónomo Somático

Sistema Nervoso Simpático Sistema Nervoso Entérico Sistema Nervoso Parassimpático

Fig. 10.3.3: Esquema da estrutura funcional do Sistema Nervoso Vegetativo.

658
CONTROLO E INTEGRAÇÃO J SISTEMA NERVOSO AUTÓNOMO

46 8 6 4

43

'
..
... ' .... ~. .- ~ - - - - 10

' ' ' ' ... J - 1 1,12,13


'
' ' ... ......
' .
... .' .'
. ............ 14

- . .....-----
...-- --- .-
----·
~

16

- - -- - -- 1s

,'l~ ~- -
r~
- -- - 2 3
21

- -- - -- - 2 4

22

26

28

29

30

31

32
33 25 34 36 35
Fig. 10.3.4: Sistema nervoso vegetativo (esquema).
1. Vasos intracranianos 2. Gânglio Ciliar 3. Globo Ocular 4. Gânglio Pterigopalatino 5. Glândulas Lacrimais 6. Gânglio óptico 7. Glândulas Pa-
r6tidas 8. Gânglio submandibular 9. Glândulas Submandibular e sublingual 1O. Vasos sanguíneos faciais 11 . Laringe 12. Traqueia 13. Brônquios
14. Plexo Pulmonar 15. Plexo cardíaco 16. Coração 17. Gânglio Celíaco 18. Estômago 19. Gânglio aorticorrenal 20. Fígado e Vias biliares
21. Pâncreas 22. Gânglio mesentérico superior 23. Glândulas supra-renais 24. Rins 25. Gânglio Mesentérico Inferior 26. Intestino Delgado, colon
ascendente e transverso 27. Plexo hipogástrico superior 28. Cólon descendente, sigmóide e recto 29. Plexo hipogástrico inferior 30. Bexiga
31. Próstata 32. Genitais externos 33. Nervos esplâncnicos sagrados 34. Nervos esplâncnicos pélvicos 35. Nervos hipogástricos 36. Plexo
intermesentérico 37. Nervos esplâncnicos lombares 38. Grande nervo esplâncnico, pequeno nervo esplâncnico e nervo esplâncnico inferior
39. Músculo erector liso do pêlo 40. Vasos sanguíneos periféricos 41. Glândula sudorípara 42. Nervo pneumogástrico 43. Bulbo raquidiano 44-.
Nervo Glossofaríngeo 45. Nervo facial 46. Nervo oculomotor
Vermelho contínuo: Fibras simpáticas pré-ganglionares Vermelho tracejado: Fibras simpáticas pós-ganglionares Cinzento contínuo: Fibras paras-
simpáticas pré-ganglionares Cinzento tracejado: Fibras parassimpáticas pós-ganglionares

659
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

tebrais Dl a L2 através dos ramos comu .


. d'mais
tes 1ong1tu . re fien'dos. C ad a um dos cord-
nican-
ganglionares láterovertebrais estende-se desdoes
primeira vértebra cervical até a face anter" e ª
1or do
coccix e é composto por:
• Três gânglios simpáticos cervicais: gân li
cervtc' asuperior
l . que se lali oc za atrás d go
8
téria carótida interna, anteriormente a a a~-
apo-
fise transversa da segunda vértebra cervical
O gânglio cervical médio, inconstante, situa~
4
do à frente da apófise transversa da sexta vér-
tebra cervical,junto à artéria tiroideia inferior.
5 O gânglio cervical inferior, localizado entre a
apófise transversa da sétima vértebra cervi-
cal e o colo da primeira costela. 01iando fun-
9 dido com o gânglio da cadeia láterovertebral
""
do nível D l forma o gânglio cervicotorácio
ou gânglio estrelado. Os nervos raquidianos
cervicais são desprovidos de ramos comuni-
Fig. 10.3.5: Arco reflexo no sistema nervoso autónomo.
1. Cadeia Simpática látero-cervical 2. Gânglio Simpático 3. Nervo cantes brancos pelo que a informação nervo-
raquidiano periférico 4. Ramo Comunicante Branco 5. Ramo Comu-
sa destes gânglios cervicais provém de níveis
nicante Cinzento 6. Gânglio da Raiz Dorsal 7. Nervo Esplâncnico
8. Nervo pneumogástrico 9. Intestino Delgado 1O. Gânglio Celíaco medulares inferiores principalmente de Dl
(Fig. 10.3.6).

Fig. 10.3.6: Sistema Nervoso Autónomo Cervical.


1. Nervo pneumogástrico 2. Gânglio Cervical Superior 3. C2, C3,C4 4. C5,C6 5. Gânglio Cervical Médio 6. C7, C8, D1 7. Gânglio Estrelado
8. Nervo glossofaríngeo (IX) 9. Artéria Carótida Externa 10. Artéria Carótida Interna e Plexo Carotídeo 11. Artéria Carótida Primitiva

660
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO AUTÓNOMO

Dez a onze gânglios simpáticos torácicos. • Qyatro a cinco gânglios simpáticos lomba-
O segmento torácico das cadeias gangliona- res e sagrados: O segmento lombar dá segui-
res simpáticas láterovertebrais está em con- mento ao torácico, bilateralmente. Situa-se
tinuação com os gânglios cervicais e esten- profundamente no abdómen no espaço retro-
de-se desde o primeiro ao décimo segundo peritoneal de cada lado dos corpos vertebrais
nível intercostal, na goteira costovertebral. lombares, à frente das inserções dos múscu-
A informação pressinática destes gânglios los Psoas. O segmento sagrado representa a
provém dos ramos comunicantes brancos do porção terminal das cadeias simpáticas láte-
nível medular correspondente. Contudo, por rovertebrais. Os seus gânglios localizam-se
existir fusão de alguns gânglios, o número de sobre a face anterior do sacro, um pouco me-
gânglios simpáticos na região torácica é geral- diais aos buracos sagrados anteriores. Esten-
mente inferior ao número de nervos raquidia- dem-se desde o bordo anterior da asa do sa-
nos torácicos (Fig.10.3.7). cro até as primeiras vértebras coccígeas, onde
terminam. Tal como acontece na região cer-
vical também os níveis medulares inferiores a
L2 não possuem ramos comunicantes bran-
cos. Deste modo todas as fibras pressináti-
cas para os gânglios lombares corresponden-
tes aos níveis medulares de L3 até LS e de Sl
2 até S4 entram na cadeia ganglionar simpática
através dos ramos comunicantes brancos pro-
venientes dos dois nervos raquidianos lomba-
res superiores (Ll e L2). Daqui percorrem a
cadeia láterovertebral, inferiormente, até aos
respectivos gânglios lombares e sagrados (Fig.
4
10.3.8 e 10.3.9).
• Um gânglio simpático coccígeo: o segmento
coccígeo têm apenas um gânglio ímpar, deno-
minado "gânglio coccígeo" que se localiza na
face anterior do cóccis, sobre a linha média e
no qual terminam e se unem as cadeias gan-
6
glionares simpáticas dos dois lados.

As fibras preganglionares quando atingem os gân-


glios da cadeia simpática láterovertebral podem
seguir uma das seguintes alternativas (Fig.10.3.5):

1. Estabelecer sinapse com os neurónios pos-


ganglionares cujos corpos celulares se loca-
lizam no gânglio simpático situado ao mes-
mo nível do ramo comunicante branco cor-
respondente.
2. Estabelecer sinapse com os neurónios pos-
ganglionares de níveis superiores ou inferio-
res caminhando ao longo da cadeia simpáti-
Fig. 10.3.7: Sistema Nervoso Autónomo Torácico. ca láterovertebral através dos ramos intergan-
1. Gânglio estrelado 2. Plexo cardíaco {nervos cervicais) 3. Cadeia
simpática látero-vertebral 4. Plexo cardíaco (nervos torácicos) 5. Plexo glionares para diferentes níveis da cadeia gan-
pulmonar 6. Plexo esofágico 7. Grande nervo esplâncnico 8. Pequeno glionar. É o que acontece com as fibras nervo-
nervo esplâncnico 9. Nervo esplâncnico inferior

661
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

19

18

17

2 9
16

15

14

13

12
4
11

9
10
Fig. 10.3.8: Sistema Nervoso Autónomo Abdominal Fig. 10.3.9: Sistema Nervoso Aut6nomo Pélvico (feminino)
1. Cadeia simpática látero-vertebral 2. Plexo sup<a-renal 3. Gânglio 1. Cadeia simpática látero-vertebral 2. Nervo hipogástrico direito
aorto-renal 4. Plexo Renal 5. Gânglio mesentérico inferior 6. Nervos 3. Cadeia simpática sagrada 4. Nervos esplâncnicos pélvicos 5. Plexo
esplâncnicos lombares 7. Plexo uretérico 8. Plexo testicular 9. Plexo rectal 6. Plexo útero-vaginal 7 . Plexo vesical 8. Plexo hípogástrico in.
sagrado 1O. Porção sagrada da cadeia simpática 11. Nervos hipogástri- ferior 9. Nervo hipogástrico esquerdo 10. Plexo hipogástrico superior
cos para o Plexo hipogástrico inferior 12. ptexo hipogástrico 13. Plexo 11. Nervos esplânaiicos lombares
Rectal 14. Plexo ilíaco 15. Plexo mesentérico inferior 16. Plexo
intermesentérico 17. Gânglio mesentérico superior 18. Gânglio e
plexo celíaco 19. Ramos anterior e posterior do pneumogástrico.

sas posganglionares que terminam nos gân- dos seus ramos principais. Existem múltiplos
glios cervicais, lombares inferiores, sagrados e gânglios prevertebrais sendo os de maior di-
coccígeos. mensão dois gânglios celíacos ou semilunares
3. Estabelecer sinapse apenas nos gânglios pre- (direito e esquerdo), situados na origem do
vertebrais; estes neurónios preganglionares tronco celíaco, imediatamente abaixo do dia-
atravessam o gânglio sem estabelecer sinapse. fragma. Têm a forma de crescente com con-
É o que ocorre com a maioria das fibras cuja cavidade superior; dois gânglios aorto-renais
origem se situa entre D5 e L2. Estas fibras que se localizam na origem das artérias renais;
simpáticas preganglionares saem do gânglio um ou dois gânglios mesentéricos superiores
da cadeia simpática láterovertebral por ner- e um ou dois gânglios mesentéricos inferio-
vos viscerais denominados "nervos esplâc- res próximos da origem das artérias do mes-
nicos" que viajam independentemente para mo nome. Todos estes gânglios estão interli-
gânglios simpáticos periféricos que se locali- gados, formando plexos nervosos que se dis-
zam nas cavidades abdominal e pélvica (gân- põem no trajecto das principais artérias e que
glios prevertebrais). Estes gânglios periféri- têm o nome das artérias que acompanham.
cos dispõem-se anteriormente à coluna ver- No seu conjunto formam um plexo de maio-
tebral, ao longo da artéria aorta abdominal e res dimensões denominado "plexo solhar".

662
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO AUTÓNOMO

É nestes gânglios que se estabelecem sinap- cos que existem apenas nos segmentos dorsal
se com as fibras posganglionares. Os axónios e lombar superior. Desta forma a nível cervi-
posganglionares acompanham aquelas arté- cal, o gânglio cervical superior comunica com
rias e distribuem-se no seu território de vas- os nervos raquidianos dos segmentos de Cl
cularização. É desta forma que são enervados a C4, o gânglio cervical médio, inconstante,
vísceras abdominais e pélvicas. esta ligado aos nervos raquidianos dos seg-
4. Entrar no gânglio da cadeia simpática láte- mentos CS e C6 e o gânglio cervical inferior
rovertebral sem estabelecer sinapse, dirigin- geralmente estabelece ligação com os nervos
do-se pelos nervos viscerais até gânglios pre- raquidianos C7 e C8.
vertebrais onde, mais uma vez, não estabele- 2. Deixar o gânglio paravertebral de forma in-
cem sinapse e terminar na medula da glân- dependente para o respectivo órgão alvo. Este
dula supra-renal, verdadeiro órgão simpático, é o caso da enervação simpática das vísceras
onde estabelecem sinapse com células nervo- torácicas. Para isso, dirigem-se ao seu órgão
sas especializadas que têm a função de neu- alvo acompanhando o trajecto de uma artéria.
rónio posganglionares simpáticos. Estes ner- É o que acontece com os neurónios posgan-
vos partem dos segmentos DlO a Ll da me- glionares cujo corpo celular se situa nos gân-
dula espinhal. glios prevertebrais e que enervam as vísceras
abdominais e pélvicas.
NEURÓNIOS POSGANGLIONARES - ORIGEM
TRAJECTO E DESTINO DISTRIBUIÇÃO DO SISTEMA NERVOSO
SIMPÁTICO CERVICAL
Os corpos celulares dos neurónios posgangliona- (FIG. 10.3.6)
res situam-se nos gânglios paravertebrais e prever-
tebrais. O sistema nervoso simpático cervical é responsá-
Os neurónios posganglionares simpáticos são vel pela enervação dos vasos sanguíneos periféri-
multipolares permitindo uma grande dispersão de cos e das glândulas sudoríparas dos músculos pi-
impulsos a partir de uma mesma fibra. Tal expli- loerectores da cabeça e do pescoço.
ca a razão do sistema nervoso simpático ser activa- Do gânglio cervical superior destaca-se o nervo
do como uma unidade e dos seus órgãos alvos se- carotídeo interno e ramos carotídeos externos para
rem activados simultaneamente dado uma respos- a constituição dos plexos carotídeos ou pericarotí-
ta multiorgânica. deos; o nervo jugular (Arnold) que se divide junto
Para atingirem os órgãos alvo os axónios posgan- ao buraco jugular num ramo destinado ao gânglio
glionares podem percorrer um dos seguintes tra- jugular do pneumogástrico e outro ao gânglio su-
jectos: perior (Andersch) do nervo glossofaríngeo: ramos
1. Sair dos gânglios da cadeia simpática láte- faríngeos, laríngeos, esofágicos e tiroideus; e o ner-
rovertebral através de ramos comunican- vo cardíaco cervical inferior.
tes cinzentos e juntar-se ao nervo raquidiano Do gânglio cervical médio partem o nervo car-
do mesmo nível. Estas fibras posgangliona- díaco cervical médio, nervos tiroideus, ramos vas-
res distribuem-se no território de enervação culares para as artérias carótidas primitiva e tiroi-
do nervo raquidiano respectivo no dermáto- deia inferior, um ramo interganglionar que o une
mo correspondente cefálico, cervical, do tron- ao gânglio cervical inferior e que constitui a ansa
co ou dos membros. Nestes territórios os ór- subclávia.
gãos alvo são as glândulas sudoriparas, o mús- O gânglio cervical inferior fornece ramos vascu-
culo liso da parede dos vasos sanguíneos ou lares destinados à artéria subclávia e seus ramos
os músculos erectores dos pelos. Cada nervo e às artérias tiroideia inferior e mamária interna;
raquidiano recebe pelo menos um ramo co- o nervo cardíaco cervical inferior e o nervo verte-
municante cinzento ao contrário do que se bral (que acompanha a artéria do mesmo nome) e
verifica com os ramos comunicantes bran- se continua pelo tronco basilar e seus ramos. O sis-

663
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

tema nervoso simpático cervical enerva assim não


só o pescoço mas também parte do tórax, nomea-
damente o coração.
co abaixo da bifurcação da artéria aorta). O
xo hipogástrico superior termina bifurcand;_e-
t
gástrico superior (extensão directa do plexo aór .

nos nervos hipogástrico direito e esquerdo. ~e


DISTRIBUIÇÃO DO SISTEMA NERVOSO dois nervos hipogástricos terminam no plexo hi~
SIMPÁTICO TORÁCICO E ABDOMINAL pogástrico que é constituído também pelos nervo
(FIG. 10.3.7, 10.3.8) viscerais que se destacam dos gânglios simpático:
lombares inferiores e sagrados e ainda pelos ner-
Os ramos da cadeia simpática torácica dividem-se vos parassimpáticos sagrados. O plexo hipogástri-
num grupo superior com destino torácico e num co sirua-se junto a parede pélvica póstero-lateral
grupo inferior com destino essencialmente abdo- lateralmente ao recto, a vagina e a base da bexiga'.
minal, representado pelos nervos esplâncnicos ab- Os seus nervos e os plexos subsidiários dirigem-se
dominais. para as vísceras pélvicas e são nomeados de acordo
Dos quatro ou cinco primeiros gânglios torácicos com o órgão que enervam.
partem ramos vasculares e viscerais que entram na
constituição do plexo aórtico-torácico, do plexo MEDULA DA GLÂNDULA SUPRA-RENAL
cardíaco e do plexo pulmonar. Destacam-se ain-
da os nervos cardíacos torácicos para o coração. Os As glândulas supra-renais são compostas por uma
nervos esplâncnicos abdominais, com origem de porção exterior, denominada "córtex" e uma por-
DS a D12 formam três nervos que se denominam: ção interior, denominada "medula". Estas duas
Nervo grande esplâncnico (DS-D9); nervo pe- partes das glândulas supra-renais são funcional e
queno esplâncnico (DlO-Dll); nervo esplânc- embriologicamente distintas:
nico ínfimo ou inferior (D12). Têm um trajecto O córtex tem origem na endoderme e segre-
descendente em direcção à cavidade abdominal. ga hormonas esteróides; a medula tem origem
Os dois primeiros, por terem origem torácica atra- na crista neural e é constituída por células ner-
vessam o diafragma e penetram na cavidade abdo- vosas modificadas denominadas "células cro-
minal entre os pilares do diafragma. O nervo gran- mafins". Estas células são funcionalmente equi-
de esplâncnico termina na extremidade lateral do valentes aos neurónios posganglionares simpá-
gânglio semilunar, na cápsula da glândula supra- ticos porque sintetizam e segregam a epinefrina
-renal e no plexo renal. O nervo pequeno esplânc- (75%) e a norepinefrina (25%). Qyando são esti-
nico acompanha o trajecto abdominal do nervo muladas por neurónios preganglionares estas cé-
grande esplâncnico colocando-se lateralmente em lulas libertam as hormonas para a corrente san-
relação a este e termina na face lateral do gânglio guínea, produzindo respostas idênticas a desen-
semilunar, no gânglio mesentérico superior e nos cadeada pela estimulação dos neurónios posgan-
gânglios aorta-renais. O nervo esplâncnico ínfimo glionares simpáticos ampliando a acção do siste-
ou inferior termina no plexo renal. ma nervoso simpático.

DISTRIBUIÇÃO DO SISTEMA NERVOSO


SIMPÁTICO LOMBAR E SAGRADO SISTEMA NERVOSO PARASSIMPÁTICO
(FIG. 10.3.8, 10.3. 9)
O sistema nervoso parassirnpático é também de-
O s gânglios lombares fornecem ramos que consti- nominado "sistema nervoso autónomo crânio-
tuem os nervos esplâncnicos lombares. Estes ner- -sagrado" ou "porção crânio-sagrada do sistema
vos contêm fibras eferentes preganglionares que nervoso autónomo" porque os neurónios pregan-
estabelecem sinapse nos gânglios aorto-renais e glionares originam-se no tronco cerebral e nos
mesentéricos superior e inferior de onde partem segmentos sagrados da medula espinhal. As suas
neurónios posganglionares que constituem os ple- fibras são transportadas em nervos cranianos ou
xos intermesentérico, mesentérico inferior e hipo- nervos raquidianos sagrados. A porção craniana

664
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO AUTÓNOMO

fornece enervação parassimpática para a cabeça, PARTE CRANIANA DO SISTEMA NERVOSO


0 pescoço, o tórax e para a maioria das vísceras PARASSIMPÁTICO
abdominais. A porção sagrada enerva a vísceras (FIG. 10.3. 10)
da porção inferior do abdómen (aparelho diges-
tivo distal ao ângulo esplénico do cólon e vísce- No tronco cerebral, os neuromos pregangliona-
ras pélvicas). Ao contrário do que acontece com res parassimpáticos iniciam-se nos corpos celula-
0 sistema nervoso simpático, o sistema nervoso res dos núcleos motores de quatro nervos crania-
parassimpático não dispõem de ramos comuni- nos, óculo-motor (III), facial (VII), glossofaríngeo
cantes cinzentos e, consequentemente, as glân- (IX) e vago (X). As fibras preganglionares acom-
dulas sudoriparas, os músculos piloeretores e os panham estes nervos até aos respectivos territórios
vasos sanguíneos periféricos não recebem ener- de distribuição, no seguinte trajecto:
vação parassimpática.
Ao contrário do sistema nervoso simpático as fi- Nervo óculo-motor
bras preganglionares do sistema nervoso paras-
simpático abandonam o sistema nervoso central D o núcleo acessório do nervo óculo-motor (Edin-
e estendem-se ininterruptamente até aos gânglios ger-Westphal) partem fibras para o gânglio ciliar
parassimpáticos que se localizam junto ou den- (localizado na cavidade orbitaria) onde estabele-
tro dos órgãos efetores (gânglios viscerais ou gân- cem sinapse com fibras posganglionares que per-
glios terminais). É neles que as fibras parassimpá- correm os nervos ciliares curtos para enervarem o
ticas preganglionares e posganglionares estabele- corpo ciliar e a íris. A enervação permite o refle-
cem sinapse. xo da acomodação. O gânglio ciliar recebe tam-

24 25

~I
"~ 5

18-- -- - - -
6

20

17

12
9

14 10

Fig. 10.3.10: Sistema Nervoso Autónomo na Cabeça.


1. Nervo Maxilar Superior 2. Gânglio Ciliar 3. Nervo Pterigo-Palatino 4. Gânglio ótico 5. Gânglio Pterigo-Palatino 6. Nervos grande
e pequeno palatino 7. Artéria e plexo maxilar 8. Plexo faríngeo 9. Nervo Lingual 10. Gânglio submandibular 11 . Artéria e plexo
facial 12. Nervo laríngeo superior 13. Cadeia Simpática látero-vertebral 14. Nervo cardíaco cervical superior (ramo do pneumogástrico)
15. Pneumogástrico 16. Gânglio simpatico cervical 17. Corda do tímpano 18. Pneumogástrico intracraniano 19. Nervo petroso profundo 20. Grande
nervo petroso 21. Glossofaríngeo 22. Facial 23. Trigémio 24. Plexo carotídeo e artéria carótida interna 25. Nervo Motor Ocular Comum 26.
Nervo do canal pterigoideu/vidiano

665
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

bém fibras simpáticas posganglionares a partir do Nervo vago


gânglio cervical superior da cadeia simpática láte-
rovertebral, através do plexo carotídeo interno. Es- O nervo vago ou pneumogástrico é essencialrn
tas fibras simpáticas enervam os músculos intrín- . .. . en-
te um nervo parass1mpat1co e e o nervo era .
secos do olho em antagonismo a enervação paras- no que tem a distribuição mais extensa do Ilia-
Orga-
simpática. A estimulação parassimpática provoca nismo. A s suas fibras preganglionares têm ori
a contracção do músculo ciliar, reduzindo a ten- no núcleo motor dorsal do vago e distribue!~rn
são no cristalino, possibilitando a visão ao perto e, aos gânglios terminais onde estabelecem sina se
por constrição da íris, provoca miose que reduz a . . posganglionares. Na reo-ião epse
com os neuromos
o• er-
luminosidade. A enervação simpática tem o efei- vical constituem,juntamente com a artéria caróti-
to oposto, provocando midríase, isto é, dilatação da e com a veia jugular interna, o feixe vasculoner-
da pupila. voso do pescoço. Descem depois até ao mediasti-
no onde fornecem fbras para os plexos cardíaco
Nervo facial pulmonar e esofágico. Os nervos pneumogástri~
cos esquerdo e direito, ao nível do diafragma pas-
As fibras preganglionares do nervo facial têm ori- sam a ter uma topografia respectivamente anterior
gem na protuberância, no núcleo lacrimal, viajam e posterior relativamente ao estômago, fornecem
através do nervo corda do tímpano até ao gânglio fibras que terminam nos gânglios prevertebrais
pterigopalatino que envia fibras posganglionares do plexo solhar e constituem as raízes mediais do
para a mucosa nasal, palatina, faríngea e para as gânglio semilunar de cada lado; as suas fibras dis-
glândulas lacrimais. Outro grupo de fibras do ner- tribuem-se depois, juntamente com os neurónios
vo facial, com origem no núcleo salivar superior, posganglionares simpáticos, às vísceras abdomi-
seguem o nervo grande petroso superficial e ter- nais: plexos gástricos, celíaco, hepático, renal, su-
minam no gânglio submandibular, situado junto pra-renal e mesentérico superior no abdómen.
ao nervo lingual (ramo do trigémeo) do qual par-
tem fibras posganglionares para as glândulas sub- PARASSIMPÁTICO SAGRADO
maxilares e sublinguais.
O sistema nervoso parassimpático sagrado tem
Nervo glossofaríngeo uma organização mais simples que o simpático.
Os neurónios preganglionares da medula sagra-
A enervação preganglionar do nervo glossofa- da localizam-se nas colunas cinzentas laterais dos
ríngeo tem origem no núcleo salivar inferior, lo- segmentos sagrados S2 a S4. Os axónios respec-
calizado no bulbo raquidiano. Através do nervo tivos saem através das raizes motoras dos nervos
pequeno petroso profundo atinge o gânglio óti- raquidianos correspondentes e formam os nervos
co (Arnold), a partir do qual partem fibras pos- esplâncnicos pélvicos que se dirigem ao plexo hi-
ganglionares, que se seguem o nervo aurículo- pogástrico. Fornecem enervação parassimpática à
-temporal, ramos do nervo trigémeo e enervam porção do tubo digestivo distal ao ângulo espléni-
a glândula parótida. Tal como no caso das fibras co do cólon (a porção proximal é enervada pelo
parassimpáticas do nervo facial, existe uma ener- nervo vago) e aos aparelhos urinário e genital. Es-
vação antagonista simpática a partir do gânglio tas fibras estabelecem sinapse com gânglios termi-
cervical superior. nais localizados nos órgãos efetores.
É importante ter atenção que estes gânglios (pete-
rigopalatino, submandibular e ótico) estão relacio-
nados anatomicamente com ramos do nervo tri- SISTEMA NERVOSO ENTÉRICO
gémeo que, não sendo constituído na sua origem
por fibras parassimpáticas, serve-as ao longo do Alguns autores consideram que a parte gastroin-
seu trajecto através de anastomoses com os nervos testinal do sistema nervoso autónomo deve ser
facial e glossofaríngeo. considerada uma entidade própria, distinta anató-

666
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO AUTÓNOMO

mica e funcionalmente dos sistemas simpático e voso vegetativo - simpático e parassimpático. Nal-
parassimpático, denominada "sistema nervoso en- guns casos os sistemas nervosos simpático e pa-
rérico". Esta parte do sistema nervoso autónomo rassimpático antagonizam-se, nomeadamente nas
localiza-se nas diferentes camadas da parede das glândulas salivares, no coração, nos brônquios e
vísceras ocas do sistema digestivo e é formada por nas vísceras abdominais e pélvicas (ver abaixo).
uma rede intercomunicante de mais de cem mi- Noutros casos a dupla enervação é complementar.
lhões de neurónios sensitivos, motores e de inter- É o que se verifica durante a actividade sexual em
neurónios. que ambos os sistemas estão ativos: a ereção deve-
Estes neurónios estão organizados em redes cons- -se a vasodilatação induzida por fibras parassim-
tiruídas por fibras nervosas e gânglios terminais, páticas, enquanto a ejaculação se deve a estimula-
formando plexos nervosos (Fig. 10.3.5): ção pelo sistema nervoso simpático; a micção, em
1. Plexo mientérico (Auerbach) - é o de maior que o parassimpático é responsável pela contrac-
dimensão e situa-se entre as camadas muscu- ção do esfíncter vesical e o relaxamento da mus-
lares, ciliar e longitudinal da parede do apare- culatura parietal da bexiga e o simpático provoca
lho gastrointestinal, controlando a sua moti- o oposto; o tubo digestivo, em que o parassimpá-
lidade e a libertação de secreções digestivas. tico é responsável pela contração de músculos es-
2. Plexo submucoso (Meissner) - de menor di- fincterianos, a relaxação da musculatura longitudi-
mensão localiza-se na submucosa regulando nal e a produção de secreções, ao passo que o sim-
o fluxo sanguíneo gastrointestinal e contro- pático tem acção contrária.
lando a função das células epiteliais e a moti- Como referido anteriormente o sistema nervo-
lidade da camada muscular da mucosa. so parassimpático não dispõe de ramos comuni-
3. Diversos plexos de menores dimensões dis- cantes cinzentos que interligam os gânglios visce-
persos nas diferentes camadas das paredes dos rais com os nervos raquidianos e assim, as glându-
órgãos que enervam e que se denominam de las sudoriparas, os músculos piloeretores e os vasos
acordo com a sua localização (exemplo: ple- sanguíneos mais periféricos não têm dupla ener-
xo subseroso). vação. Também a medula da glândula supra-renal
não recebe enervação dupla porque apenas é ener-
Para além da sua individualidade anatómica o vada pelo sistema nervoso simpático.
sistema nervoso entérico é caracterizado por um Por outro lado tal como existem estruturas uni-
grande número de neurotransmissores: ciclina, camente enervadas por fibras simpáticas, existem
norepinefrina, epinefrina, serotonina e doparnina outras que recebem exclusivamente enervação pa-
e outros neuropeptidos cotransmissores tais como rassimpática, como as glândulas parótidas, glându-
o péptido intestinal vasoactivo e o oxido nítrico. las lacrimais e glândulas nasofaríngeas.
O sistema nervoso entérico têm ainda a particu-
laridade de conter glia que suporta os neurónios DIFERENÇAS FISIOLÓGICAS ENTRE O
e não células de Schwann como as restantes fibras SISTEMA NERVOSO SIMPÁTICO E O
do sistema nervoso vegetativo. O sistema nervo- PARASS/MPÁT/CO
so entérico, tal como o cérebro, pode estar espe-
cialmente envolvido na doença de Parkinson e na O sistema nervoso simpático provoca nos órgãos
doença de Alzheimer, contribuindo estas carac- que enerva um efeito adaptativo a situações de
terísticas para a sua denominação como "segun- stress, induzindo uma resposta de fight or filght:
do cérebro". aumento do estado de alerta e da capacidade de
reação, aumento da disponibilidade energética, di-
INTERRELAÇÕES ENTRE OS SISTEMAS latação da pupila, aumento da frequência cardíaca
NERVOSO SIMPÁTICO E PARASSIMPÁTICO e respiratória, dilatação das vias aéreas, interrup-
ção da função intestinal, constrição das arteríolas
A maior parte dos órgãos internos recebe uma du- da pele, dilatação dos vasos do músculo esqueléti-
pla enervação pelas duas divisões do sistema ner- co. Por seu lado o sistema nervoso parassimpático

667
MANUAL DE ANATOMIA H UMANA

está relacionado com a conservação e reposição DIFERENÇAS ANATÓMICAS ENTRE O


das reservas energéticas e tende a produzir uma SISTEMA NERVOSO SIMPÁTICO E O
resposta oposta à do sistema nervoso simpático PARASSIMPÁTICO
com aumento da motilidade intestinal, diminui-
ção da frequência cardíaca, diminuição do calibre As diferenças fisiológicas entre os sistemas nervo-
das vias aéreas, etc ... Geralmente a sua respos- sos simpático e parassimpático advêm das diferen-
ta é denominada de "Rest and Relaxation" por- ças anatómicas e químicas entre eles. As diferen-
que está predominantemente activa em situações ças anatómicas estão resumidas na tabela 10.3.1.
de descanso e relaxamento ou "Rest and Digest"
uma vez que promove a digestão, a absorção e o DIFERENÇAS QUÍMICAS ENTRE O SISTEMA
armazenamento de nutrientes estimulando assim NERVOSO SIMPÁTICO E O PARASSIMPÁTICO
os processos anabólicos do organismo.
É importante perceber que o sistema nervoso au- O s principais neurotransmissores utilizados nas
tónomo está em constante actividade e interac- sinapses ganglionares (entre os neurónios pregan-
ção entre os seus componentes e o sistema ner- glionares e posganglionares) tanto no sistema ner-
voso central e não apenas durante as situações de voso simpático como no parassimpático é a ace-
"Fight or Flight" ou de "Rest and Digest". Os ní- tilcolina. É ao nível da sinapse entre o neurónio
veis basais de actividade são definidos respecti- posganglionar e a célula efetora que se distinguem
vamente como tónus simpático ou tónus paras- farmacologicamente os dois sistemas: enquanto
simpático. Assim, o sistema nervoso autónomo que o parassimpático liberta igualmente acetilco-
actua de forma a manter a homeostase. Salien- lina, o sistema nervoso simpático liberta norepine-
tamos ainda que a activação do sistema nervoso frina (ou noradrenalina) e epinefrina (ou adrena-
simpático é global, mais intensa e de maior du- lina). No entanto, as sinapses entre os neurónios
ração que a do sistema nervoso parassimpático, posganglionares e as vísceras da cabeça, do tronco
devido ao fenómeno de activação em massa an- e dos membros enervados pelos nervos raquidia-
teriormente descrito. Pelo contrário, a actividade nos como as glândulas sudoriparas, os músculos
do sistema nervoso parassimpático é localizada e piloeretores e os vasos sanguíneos mais periféri-
tem uma duração mais curta, advindo tal carac- cos, utilizam acetilcolina como neurotransmissor.
terística do facto de os gânglios terminais terem Os receptores adrenérgicos existem sobre a for-
uma localização proximal relativamente as vísce- ma de diferentes variantes: receptores alfa-adre-
ras e ainda do pequeno número de fibras posgan- nérgicos e beta-adrenérgicos. O s recetores alfa-a-
glionares com as quais cada fibra preganglionar drenérgicos respondem mais intensamente a no-
estabelece sinapse. repinefrina e em menor grau a epinefrina e exis-
tem maioritariamente no músculo liso dos vasos
sanguíneos e nos sistemas digestivo, genital e uri-

Sistema nervoso autónomo

Simpático Parassimpático

Nervos cranianos m, VII, IX, X e


Origem dos nervos Segmentos Dl-L 2 da medula espinhal
níveis S2, S3 e S4 da medula espinhal

Fibras preganglionares Curtas Longas

Cadeias paravertebrais e gânglios


Gânglios À periferia ou no interior dos orgãos
prevertebrais

Fibras posganglionares Longas Curtas

Tabela 10.3.1: Diferenças anatómicas entre os sistemas nervosos simpático e parassimpático.

668
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO AUTÓNOMO

nário. Os recetores beta são particularmente sen- parassimpática e a região hipotalâmica poste-
síveis a epinefrina. Encontram-se no coração, nos rior controla a função simpática.
brônquios, nos vasos sanguíneos, no músculo liso • Formação reticular - localizada no tronco ce-
gastroinstestinal, do útero, da bexiga e nos hepato- lular cerebral controla a actividade cardíaca
citos. Existem ainda variantes moleculares dos re- vasomotora e respiratória, ajustando os refle-
cetores alfa e beta, que foram denominadas "rece- xos viscerais sob o controlo do hipotálamo.
tores alfa-1, alfa-2, alfa-3, beta-1, beta-2 e beta-3".
Os recetores colinérgicos existem sobre duas for- Estes centros estão, por sua vez, submetidos ao
mas: os "recetores colinérgicos muscarinicos" (as- controlo superior exercido pelo córtex cerebral.
siro denominados porque também são estimula- Não existem áreas definidas de representação de
dos pela muscarina) e que se encontram na super- funções vegetativas no córtex cerebral, como acon-
fície dos órgãos efetores, e os recetores colinérgi- tece com as funções somáticas.
cos nicotínicos (que também são estimulados pela • Sistema límbico - controla as respostas visce-
nicotina) e que existem nas sinapses entre os neu- rais das emoções.
rónios preganglionares e posganglionares do siste-
ma nervoso autónomo (Fig. 10.3.11).

CONTROLO DO SISTEMA NERVOSO


AUTÓNOMO POR CENTROS SUPERIORES O conhecimento do subtipo de recetor neuro-
transmissor que existe em cada tecido dos diver-
O sistema nervoso autónomo é controlado por sos órgãos é muito útil do ponto de vista farma-
centros nervosos localizados no sistema nervo- cológico, na medida em que foram descritos fár-
so central. As principais estruturas envolvidas são: macos cada um em recetores específicos de for-
• H ipotálamo - é o principal centro subcorti- ma a minimizar os efeitos laterais indesejáveis que
cal de manutenção do equilibrio do meio in- poderiam causar actuando simultaneamente nou-
terno ao regular e integrar os sistemas endó- tros órgãos. É o que se verifica no tratamento das
crino e vegetativo. A região hipotalâmica an- crises de asma em que são utilizados medicamen-
terior está envolvida na modulação da função tos agonistas adrenérgicos beta, com o intuito de

5 3

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Fig, 10.3.1 1: Neurotransmissores do Sistema Nervoso Autónomo.
2

A.: Simpático B: Parassimpático;


1
· Neurónio pré•ganglionar 2. ACh 3. Receptores 4. Neurónio pós•ganglionar 5. NE

669
MANUAL D E ANATOMIA HUMANA

provocar broncodilatação. No entanto, a estimula- 3. São acções do SN Simpático todas as se<>i,


ção dos recetores adrenérgicos beta do coração in- o~lil-
tes, excepto:
duz taquicardia simultânea pelo que se desenvol- a. Taquicardia.
veram fármacos agonistas beta-2 seletivos que ini- b. Midríase.
bem a constrição do músculo liso brônquico sem c. Aumento da motilidade intestinal.
provocar taquicardia. d. Dilatação das vias aéreas.
O tratamento cirúrgico da doença da úlcera pép- e. Vasoconstrição cutânea.
tica é baseado no controlo neurológico e hormo-
nal da secreção de ácido clorídrico (HCl). Ava-
!;)-C!g-;: ia-1
gotomia interrompe os impulsos vagais para as
:s.1sod,,~
células parietais secretoras de HCl e para o an-
tro gástrico. Devido aos efeitos laterais indesejá-
veis que lhe estão associados, como a estase gás-
trica por dismotilidade do antro e do piloro, a va- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
gotomia seletiva e, mais tarde, vagotomia supers-
seletiva, permitiram desenervar selectivamente as Netter, FH.Atlas ofHumanAnatomy. Ciba-
células parietais e preservar a função motora do Geigy. Basileia, 1989.
antro e do piloro. Machado, A.; Haertel, LM. Neuroanatomia
A doença de Raynaud é uma forma primária de Funcional. 3.ª edição. Editora Atheneu. Belo
cianose digital paroxística em que as artérias dos Horizonte, 2014.
dedos respondem excessivamente ao estímulo
adrenérgico vasoespástico. A doença pode evoluir Esperança Pina, ]A.Anatomia humana da relação.
para atrofia e úlceras das extremidades digitais. Se 4.ª edição. Lidel. Lisboa, 2009.
os episódios forem resistentes a terapêutica vaso-
dilatadora e se se tornarem frequentes e graves, ***
pode estar indicada a simpatectomia (secção dos
nervos simpáticos envolvidos).

PERGUNTAS TIPO

1. O sistema nervoso parassimpático atua sobre


todos estes órgãos, exceto:
a. Coração.
b. Músculos lisos pupilares.
c. Glândulas salivares.
d. Glândula supra-renal.
e. Glândula lacrimal.

2. Os efeitos produzidos pelas fibras parassimpá-


ticas do sistema nervoso autónomo incluem:
a. Dilatação da pupila.
b. Aumento da secreção das glândulas diges-
tivas.
c. Dilatação das vias aéreas.
d. Aumento da frequência cardíaca.
e. Piloerecção.

670
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMAS NEUROSSENSORIAIS

10.4. SISTEMAS NEUROSENSORIAIS perfície interna em ambos os lados do diencéfa-


lo - as fossetas ópticas. Estas, aproximadamente
ao 25.0 dia dão origem a 2 evaginações laterais -
SISTEMA VISUAL as vesículas ópticas (Fig. 10.4.lA e B), cuja cavi-
dade interna é contínua com o tubo neural. Estas
INTRODUÇÃO vesículas expandem lateralmente até sofrer apo-
sição com a ectoderme superficial (Fig. 10.4.lB)
O sistema visual capta informação do meio envol- e, posteriormente sofrem invaginação levando à
vente sob a forma de luz levando à sua análise e formação de uma taça de parede dupla - a taça
processamento. Este processo de visão e percep- óptica (Fig. 10.4.lC e D). A parede externa dará
ção visual envolve um sistema complexo de estru- origem ao epitélio pigmentado da retina e a pa-
ruras cada uma das quais designadas para um ob- rede interna à retina neurossensorial.
jectivo específico. Simultaneamente neste processo, após o contac-
to da vesícula óptica com a ectoderme superfi-
DESENVOLVIMENTO EMBRIONARIO DO cial, ocorre um espessamento local das células ec-
OLHO todérmicas levando à formação das placas lenti-
culares (Fig. 10.4.lC), cuja invaginação conduz
Na fase inicial do desenvolvimento embrionário à formação das vesículas lenticulares que esta-
ocular, ainda antes do encerramento completo do rão na origem da formação dos cristalinos (Fig.
tubo neural, surgem duas indentações na sua su- 10.4.lD e E).

7
------ 1

2
6

Ili

10

11

13

12

m
Fig. 10.4.1: Desenvolvimento embrionário do globo ocular.
A. Dia 24 B. Dia 28 C. Dia 32 D. Dia 33 E. 5 meses
1. Vesículas ópticas 2. Ectoderme superficial 3. Telencéfalo 4. Diencéfalo 5. Medula espinhal 6. Taça óptica 7. Placa lenticular 8. P&diculo óptico
9, Vesícula lenticular 10. Retina pigmentar (epitélio pigmentado da retina) 11. Retina neurossensorial 12. Vítreo 13. Mesenquima 14. Esclera
15. Coróide 16. Cristalino 17. Retina 18. Córnea 19. Palpebra

671
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

O vítreo desenvolve-se a partir de uma secreção de mática ou infecciosa (por exemplo: sinusite co
consistência gelatinosa que se acumula no espaço ponto de partida para uma celulite orbitária). lllo
entre a vesícula lenticular e a taça óptica e tem ori- O volume da órbita no adulto é de aproximad
a-
gem na mesoderme. mente 30 rnl e o globo ocular ocupa cerca de 1/S
É também o tecido mesênquimatoso, com origem do espaço orbitário. O restante espaço é preen-
na mesoderme, que acaba por envolver, completar chido por gordura, músculos extraoculares, tecido
e encerrar a taça óptica e se diferencia na corói- conjuntivo, vasos, nervos e glândula lacrimal.
de e na esclera, nos músculos extra-oculares, bem O vértice orbitário é o ponto de entrada dos va-
como noutras estruturas anexas da órbita. A cór- sos e nervos da órbita e o local de origem de todos
nea tem uma origem embrionária mista - desen- os músculos extraoculares com excepção do mús-
volve-se a partir do mesênquima lateral e da ecto- culo pequeno oblíquo. Na fenda orbitária superior
derme superficial. (entre a pequena e a grande asa do esfenóide) pas-
sa a maioria das estruturas neuro-vasculares: veia
ÓRBITA E ESTRUTURAS ANEXAS oftálmica superior, ramos da divisão oftálmica do
trigémio (Vl) - lacrimal, frontal e nasociliar, e os
A órbita apresenta a forma de uma pirâmide qua- pares cranianos motor ocular comurn(III), troclear
drangular, de base anterior e vértice posterior, sen- (IV) e motor ocular externo (VI). Na fenda orbi-
do constituída por quatro paredes - superior (ou tária inferior passam a veia oftálmica inferior e ra-
tecto), inferior (ou pavimento), interna (ou me-
dial) e externa (ou lateral). Sete ossos fazem par-
7 6 15
te da sua constituição anatómica: frontal, esfenói-
de, zigomático, maxilar superior, lacrimal, etmóide
e palatino (Fig. 10.4.2).

8 11

7 6 10 5 4

Fig. 10.4.2: Cavidade orbitária.


1. Face orbitária do osso frontal 2. Lã mina orbitária do etmóide 3. Osso
lacrimal 4 . Face o rbitária do osso maxilar superior 5. Processo orbitá-
rio do osso palatino 6. Osso zigomático 7. G rande asa do esfenóide
8. Pequena asa do esfenóide 9. Fenda orbitária superior 10. Fenda
orbitária inferior 11. Buraco óptico Fig. 10.4.3: Ápex órbitário (vista frontal).
1. Fenda orbrtária superior 2. Fenda orbitária inferior 3. Buraco optico
4. Veia ohálmica superior 5. Nervo troclear (IV par) 6. Nervo frontal
Apresenta uma estreita relação com os seios per- (V1} 7. N ervo lacrimal (V1) 8. Ramo superior do motor ocular comum
(Ili par) 9. Ramo inferior do motor ocular comum (Ili par) 10. Motor
nasais: frontal, etmoidal, esfenoidal e maxilar. Esta ocular externo M par) 11 . Nervo nasociliar (V1) 12-. Veia ohalmica
relação de proximidade assume importância clí- inferior 13. Nervo óptico 14. Arteria oftalmica 15. Músculo recto
supertOr 16. Músculo recto externo 17. Músculo recto inferior
nica, nomeadamente em casos de patologia trau- 18. Músrulo recto interno

672
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMAS NEUROSSENSORIAIS

5 externo. Como sugerido pela nomenclatura e lo-


calização, a sua principal acção é mover o globo
ocular nos sentidos para cima (elevação), para bai-
xo (depressão), para dentro (adução) e para fora
(abdução), respectivamente. A distância entre a
inserção escleral de cada músculo e o limbo escle-
ro-corneano (zona de união entre a córnea e a es-
clera) é diferente, sendo crescente no sentido dos
4 ponteiros do relógio desde o músculo recto inter-
no até ao músculo recto superior. Esta relação é fi-
gurativamente representada por uma espiral - Es-
piral de Tillaux (Fig.10.4.4 e 10.4.5).
O músculo oblíquo superior (ou grande oblíquo),
também com origem no vértice orbitário,viaja pela
parede súpero-interna da órbita e passa através de
6 uma ansa fibrocartilagínea - a tróclea - onde in-
Fig. 10.4.4: Inserção escleral dos músculos extra-oculares (espiral de
verte o seu sentido para se inserir na vertente sú-
Tillaux). pero-externa do globo ocular. O músculo oblíquo
A. 5,5 mm B. 6,5 mm C. 6,9 mm D. 7,7 mm
1. Músculo recto superior 2. Músculo recto externo 3. Músculo
inferior (ou pequeno oblíquo) estende-se desde a
recto inferior 4. Músculo recto interno 5. Músculo oblíquo superior porção ântero-inferior da parede interna da órbi-
6. Músculo oblíquo inferior 7. Espiral de Tillaux
ta e insere-se na vertente ínfero-externa do globo
ocular. Os músculos oblíquos, condicionados pela
mos da divisão maxilar do trigémio (V2). O bu- sua origem e inserção oblíqua como o nome suge-
raco óptico dá passagem a duas estruturas nobres: re, são responsáveis pelos movimentos torsionais
nervo óptico e artéria oftálmica (Fig. 10.4.3). do globo ocular (Fig. 10.4.5). Um sétimo múscu-
São seis os músculos extra-oculares que controlam lo extra-ocular participa, não na motilidade ocu-
o movimento de cada olho - 4 músculos rectos e lar, mas na elevação da pálpebra superior - mús-
dois músculos oblíquos. culo elevador da pálpebra superior (Fig.10.4.10).
Os quatro músculos rectos têm origem comum no A inervação motora dos músculos orbitários é da
vértice orbitário num anel fibroso - anel de Zinn responsabilidade dos nervos cranianos IIl,IV e VI.
(Fig. 10.4.3). São designados de acordo com a sua O nervo motor ocular comum ou oculomotor, III
inserção escleral em superior, inferior, interno ou par craniano, tem origem no núcleo com a mes-

5 6

Fig. 10.4.5: Músculos extra-oculares: vista lateral e vista anterior (olho direito).
1. Músculo recto superior 2. Músculo recto externo 3. Músculo recto inferior 4. Músculo oblíquo inferior 5. Músculo oblíquo superior 6. Tróclea
7. Músculo recto interno

673
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Fig. 10.4.6: Inervação da órbita (vista lateral).


1. Núcleo motor ocular comum (grupo de subnúcleos) 2. Nervo motor ocular comum (Ili par} 3. Divisão superior do nervo motor ocular comum
4. Divisão inferior do nervo motor ocular comum 5. Núcleo Edinger-Westphal 6. Núcleo troclear 7. Nervo troclear (IV par} 8. Núcleo abducente
9. Nervo motor ocular externo ou abducente (núcleo do VI par) 10. Gânglio ciliar 11 . Nervos curtos ciliares

ma designação localizado no mesencéfalo ao ní- O nervo motor ocular externo, abducente ou VI


vel do colículo superior. É constituído por um gru- par craniano, tem origem no núcleo do VI par
po de subnúcleos cada um dos quais responsável na protuberância, saída na face ventral do tronco,
pelo controlo do respectivo músculo extra-ocu- atravessa também a fenda orbitária superior e vai
lar. As suas fibras convergem para emergir como inervar o músculo recto externo, condicionando o
nervo motor ocular comum no sulco medial dos movimento lateral (abdução) do globo ocular.
pedúnculos cerebrais. Este nervo divide-se distal- O tecido conjuntivo (ou conectivo) da órbita for-
mente em 2 ramos (superior e inferior), atravessa ma uma rede complexa que tem como função or-
a fenda orbitária superior e vai inervar a maioria ganizar, cobrir e delimitar os constituíntes orbitá-
dos músculos extra-oculares: recto superior, rec- rios, ancorar os tecidos moles ao osso e compar-
to interno, recto inferior, pequeno oblíquo e ele- timentalizar áreas. A periórbita, membrana densa
vador da pálpebra superior. Este par craniano é de tecido conjuntivo que recobre a cavidade orbi-
também constituído, para além das fibras moto- tária, corresponde a uma continuidade do periós-
ras, por fibras parassimpáticas emergentes do nú-
cleo de Edinger-Westphal, que passam pelo gân-
glio ciliar e daqui seguem através dos nervos cur-
tos ciliares para terminar no músculo ciliar (res-
ponsável pela acomodação) e no esfíncter da pupi-
la (responsável pela miose, Fig. 10.4.6).
O nervo troclear, IV par craniano, tem origem no
núcleo do mesmo nome no mesencéfalo, ao nível
do colículo inferior. As suas fibras decussam para o
lado contralateral e o nervo tem saída na face dor-
sal do tronco, contorna os pedúnculos cerebrais,
atravessa a fenda orbitária superior e tem termina-
ção no músculo grande oblíquo, sendo responsável
pela sua inervação motora. Assim o IV par é o úni-
co par craniano que cruza, pelo que cada núcleo
troclear inerva o músculo grande oblíquo contra- Fig. 10.4.7: Tecido conjuntivo orbitário (corte sagital).
lateral (Fig. 10.4.6). 1. Periósteo 2. Periórbita 3. Septo orbitário 4. Recto Superior
5. Recto inferior 6. Gordura

674
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMAS NEUROSSENSORIAIS

Fig. 10.4.8: Celulite orbitária direita (pós-septal) em tomografia compu- Fig. 10.4.9: Anatomia do aparelho lacrimal.
torizada: Corte axial. 1. Glândula lacrimal principal: porção orbitária 2. G lândula lacrimal
principal: porção palpebral 3. Ponto e canalículo lacrimal superior
4. Ponto e canalículo lacrimal inferior 5. Carúncula 6. Canal lacrimal
teo. Adere de forma laxa ao osso subjacente, ex- comum 7. Saco lacrimal 8. Canal lacrimo-nasal 9. Meato inferior da
cavidade nasal
cepto no rebordo orbitário, nas suturas e nas mar~
gens dos buracos e fendas onde adere firmemente
(Fig.10.4.7). O septo orbitário é um folheto de te- bita, divide-se em duas porções - porção orbitá-
cido conjuntivo denso circular que se estende des- ria e porção palpebral. Cerca de 12 duetos drenam
de a periórbita do rebordo orbitário até aos tarsos a secreção glandular (componente aquoso da lá-
superior e inferior das respectivas pálpebras. Apre- grima) para a superfície conjuntival. A lágrima é
senta uma importante função de barreira permi- posteriormente colectada na carúncula conjunti-
tindo a retenção da gordura orbitária e prevenin- val (prega conjuntival rosada localizada ao nível
do a extensão de infecções superficiais à cavidade da comissura interna) e drenada através dos pon-
orbitária (ex: conversão de celulite pré em pós sep- tos lacrimais superior e inferior para os respectivos
tal) (Fig.10.4.7 e 10.4.8). canalículos lacrimais (superior e inferior). Daqui
A gordura orbitária confere uma superfície para o continua pelo canal lacrimal comum até ao saco
livre_movimento do globo ocular, amortecimento lacrimal. Este localiza-se na parede interna da ór-
das estruturas intraorbitárias e protecção aos va- bita entre as cristas lacrimal anterior e posterior.
sos e nervos que atravessam a órbita (Fig.10.4.7). O circuito lacrimal continua pelo canal lacrimo-
Outras estruturas acessórias com localização in- -nasal para terminar no meato inferior da cavida-
tra- ou peri-orbitária participam na protecção do de nasal (Fig. 10.4.9). A função da lágrima é de
globo ocular ou auxiliam na função do olho. limpeza, lubrificação, nutrição e oxigenação da su-
O aparelho lacrimal é constituído pela glându- perfície ocular, apresentando também uma acção
la lacrimal principal e por um conjunto de canais bactericida.
responsáveis pela drenagem da lágrima desde a su- A conjuntiva é uma membrana mucosa transpa-
perfície ocular até à cavidade nasal (Fig. 10.4.9). rente, ricamente inervada e vascularizada, que re-
Glândulas lacrimais acessórias (glândulas de Wol- cobre a superfície interna das pálpebras (conjun-
fring e Krause), glândulas sebáceas da pálpebra e tiva tarsal) e a superfície anterior do globo ocu-
células caliciformes da conjuntiva participam tam- lar com excepção da córnea (conjuntiva bulhar).
bém na produção da lágrima e componentes do Uma das suas principais funções é a produção do
filme lacrimal (Fig.10.4.10). componente mucoso da lágrima, a cargo das célu-
A glândula lacrimal, localizada na fossa lacrimal las caliciformes que fazem parte da sua constitui-
do osso frontal, no canto súpero-externo da ór- ção (Fig. 10.4.10).

675
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

protecção ocular através da distribuição do fihn


lacrimal e lubrificação da superficie ocular, eli..../
4!11 ...

nação de detritos, bloqueio à entrada de corpos es-


tranhos e prevenção de estímulos visuais durante
0
sono. A perda do pestanejo provoca uma degrada-
ção imediata da saúde da córnea com consequen-
te alteração da visão.
As pálpebras superior e inferior são separadas Pela
fenda palpebral e os ângulos onde estas se encon-
tram designam-se por comissura interna e cornis-
sura externa (Fig. 10.4.11).
Os cílios, ajudam também na prevenção da entra-
da de detritos ou corpos estranhos na fenda palpe-
bral (Fig. 10.4.10 e 10.4.11).
Os supracílios, para além da sua importância na
expressão facial, contribuem para a diminuição
do brilho/luminosidade e para o desvio da pers-
piração prevenindo o seu contacto com a super-
Fig. 10.4.10: Representação esquemática da anatomia geral da pálpe- ficie ocular.
bra e sistema glandular envolvido na produção do filme lacrimal (corte
sagital da pálpebra).
1. Glândula lacrimal principal 2. Glândulas de Krause (glândulas aces-
sórias) 3. Glândulas de Wolfring (glândulas acessórias) 4. Glândulas
de Meibomius 5. Glândulas de Zeiss 6. Glândulas de Moll - glândulas
sebáceas 7. Células caliciformes 8. Pele 9. Músculo orbicular da
pálpebras 10. Tarso 11 . Conjuntiva palpebral 12. Conjuntiva bulbar
13. Músculo levantador da pálpebra superior 14. Cílos

4
As pálpebras são membranas musculo-cutâneas
constituídas por pele, tecido celular subcutâneo,
músculo orbicular das pálpebras, tarso (ou prato
tarsal) e conjuntiva tarsal. O tarso corresponde a
uma densa placa de tecido conjuntivo que contri-
bui para a função de estrutura e suporte das pál-
pebras. No seu interior contém 20 a 25 glândulas Fig. 10.4.11 : Anatomia de superfície e anexos periorbitários.
1. Fenda palpebral 2. Comissura interna 3. Comissura externa 4. Cílios
sebáceas - glândulas de meibomius - que abrem 5. Supracílios
através de poros na margem palpebral e são res-
ponsáveis pela produção do componente lipídico
do filme lacrimal, importante para garantir a qua- ANATOMIA DO GLOBO OCULAR
lidade visual e para prevenir a evaporação da lágri-
ma (Fig.10.4.10). O olho apresenta uma forma esférica com aproxi-
O músculo orbicular das pálpebras apresenta três madamente 23-24 mm de diâmetro ântero-poste-
porções: pré-tarsal, pré-septal e orbitária, as duas rior e é constituído por 3 túnicas ou camadas, que
primeiras envolvidas no pestanejo involuntário e formam a parede do globo ocular, e por um con-
a última no encerramento palpebral voluntário. junto de meios ópticos, transparentes, que permi-
A inervação do músculo orbicular das pálpebras tem a entrada de luz e respectiva focagem na reti-
é assegurada pelo nervo facial - VII par craniano. na (Fig. 10.4.12).
As principais funções das pálpebras são assim o
suporte e a protecção do globo ocular. O encer-
ramento periódico das pálpebras contribui para a

676
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMAS NEUROSSENSORIAIS

3
rúN/CAS

A rúnica externa - túnica fibrosa - é dividida em


duas regiões: a esclera e a córnea.
A esclera corresponde à porção branca do globo
ocular e consiste numa camada densa de tecido
conjuntivo constituída por uma rede de feixes de
colagénio que se dispõem de forma irregular, sen-
do perfurada por vasos e nervos. Tem como prin-
cipais funções a manutenção da forma do globo
ocular bem como a protecção dos conteúdos intra-
-oculares. Continua-se posteriormente com a bai-
nha de dura máter do nervo óptico (Fig. 10.4.12).
A córnea corresponde à porção mais anterior desta
túnica externa, apresentando uma estrutura trans-
11
parente para permitir a entrada de luz no globo
Fig. 10.4.12: Anatomia do globo oa,lar.
ocular. Faz também parte dos meios ópticos pelo 1. Esclera 2. Córnea 3 . Coróide 4. Retina S. Mácula e fóvea 6. Nervo
que a sua descrição é feita posteriormente (Fig. 6ptico 7. Ora serrata 8. Corpo ciliar 9. lris 10. Cristalino 11. Vítreo
12. Canal de doquet ou canal hialoideu
10.4.12 e 10.4.13).
O limbo corresponde à zona de transição entre a
esclera e a córnea. É uma área ricamente vasculari-
zada e de grande importância para a saúde da cór- 3
nea por ser uma fonte de stem-ce/1s essenciais para
4
regeneração do epitélio da córnea pelo seu poten-
cial de diferenciação. 6

A túnica média - túnica vasculosa, musculo-vas-


cular ou úvea - apresenta três estruturas na sua
constituição: a íris, o corpo ciliar e a coróide (Fig.
10.4.12 e 10.4.13).
A íris é a porção mais anterior da úvea. Corres- Fig. 10.4.13: Segmento anterior e circulação do humor aquoso.
ponde a um diafragma que controla a entrada de 1. Córnea 2. Camara anterior (preenchida por humor aquoso) 3. lris
4. Câmara posterior 5. Cristalino 6. Ligamentos supensores do cris-
luz no globo ocular através da alteração do diâme- talino ou zónula de Zinn 7. Músculo ciliar do corpo ciliar 8. Processos
tro da pupila - a sua abertura central. A iris é uma ciliares do corpo ciliar 9. Malha trabecular (no ângulo iridocorneano)

estrutura pigmentada e é o grau de melanina pre-


sente na sua constituição que lhe confere uma di- através dos nervos curtos ciliares inervam o mús-
ferente coloração entre os indivíduos. culo esfincter da pupila, que pela sua configuração
O diâmetro pupilar é controlado por dois elemen- circular condiciona a contracção pupilar - miose
tos contrácteis - o dilatador da pupila e o esfincter (Fig. 10.4.14).
da pupila - ambos constituídos por fibras muscu- A íris faz a divisão do segmento anterior do olho
lares lisas e controlados pelo sistema nervoso au- (porção entre a córnea e o cristalino) em dois espa-
tónomo. Fibras simpáticas com origem no gânglio ços: câmara anterior e câmara posterior - estes co-
cervical superior, transportadas pelo nervo naso- municam entre si através do orificio pupilar.
ciliar e distalmente pelos nervos longos cili;ues, O corpo ciliar, posicionado entre a íris e a coróide,
inervam o músculo dilatador da pupila que pela é constituído por duas porções: o músculo ciliar e
sua configuração radiária proporciona a dilatação os processos ciliares (Fig. 10.4.13). Apresenta três
pupilar - midríase. Com o efeito inverso, fibras pa- funções: suporte da íris e do cristalino, acomoda-
rassimpáticas transportadas no nervo motor ocu- ção do cristalino (focagem), e secreção do humor
lar comum (III par) sinapsam no gânglio ciliar e aquoso.

677
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

3
gem a diferentes distâncias. Através da estimuJ.
ção pela via parassimpática o músculo ciliar e a-
on-
trai e devido à disposição circular das suas fibras
zónula relaxa permitindo o aumento do diâme; a
ântero-posterior do cristalino, aumentando O se:
poder refractivo e permitindo a focagem ao per-
to. O inverso ocorre quando o músculo ciliar rela-
xa (Fig.10.4.15).
O músculo ciliar e os músculos dilatador e esfínc-
ter da pupila constituem os músculos intra-ocula-
res, em contraste com os músculos extra-oculares
que se encontram fora do globo ocular.
A coróide ou coroideia corresponde ao segmen-
to posterior da úvea, posicionando-se entre a es-
clera e a retina. É uma estrutura ricamente vascu-
larizada, cuja rede vascular tem origem nas artérias
4 ciliares curtas posteriores (ramos da artéria oftál-
Fig. 10.4.14: Regulação do diâmetro pupilar.
mica), e densamente pigmentada devido à presen-
1. Músculo dilatador da pupila (fibras radiárias) 2. Esfincter da pupila (fi- ça de melanócitos. A principal função é a nutrição
bras circulares) 3. Contração doesfincter da pupila- miose 4. Contração
do dilatador da pupila - midríase 5. Pupila
vascular da metade externa da retina, bem como
absorção de luz que entra no globo ocular e ter-
O humor aquoso é produzido pelo epitélio secre- morregulação (Fig.10.4.12).
tor dos processos ciliares que se dispõem de for- A túnica interna - retina - tapetiza internamente
ma radiária em 360 graus. Estes têm também uma o segmento posterior do globo ocular, localizan-
função estrutural conferindo suporte ao cristalino do-se entre a coróide e o vítreo e estendendo-se
através dos ligamentos suspensores do cristalino, desde o rebordo da cabeça do nervo óptico (local
ou zónula de Zinn (Fig. 10.4.13 e 10.4.15). de reunião e saída das fibras nervosas que o conti-
O músculo ciliar é responsável pelo fenómeno de tuem) até à ora serrata. A vascularização da meta-
acomodação do cristalino - capacidade de foca- de interna da retina é da responsabilidade dos va-

6
4

i
3

Fig. 10.4.15: Acomodação do cristalino.


1. Músculo ciliar 2. Cristalino 3. Ligamento suspensor do cristalino (ou zónula) 4- Músculo ciliar- estado contraído 5. Zónula relaxada 6. Músculo
ciliar - estado relaxado 7. Zónula tensa

678
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMAS NEUROSSENSORJAIS

Fig. 10.4.17: Fotorreceptores: bastonete (roxo) e cone (vermelho).


1. Segmento externo 2. Segmento interno 3. Corpo celular 4. Núcleo
celular 5. Mitocôndrias e outros organelos

rente em cada região da retina. Os bastonetes, lo-


8
calizados sobretudo na periferia da retina, são res-
ponsáveis pela visão em condições escotópicas (de
obscuridade) proporcionando uma visão na escala
de cinzentos e de baixa resolução. O fotopigmento
Fig. 10.4.16: Camadas celulares da retina. constituinte é a rodopsina. Os cones localizam-se
1. Epitélio pigmentado da retina 2. Camada de fotorreceptores - cones
3. Camada de fotorreceptores- bastonetes 4. Células horizontais 5. Cé-
sobretudo na mácula, sendo exclusivos na fóvea, e
lulas bipolares 6. Células amácrinas 7. Células ganglionares 8. Camada são responsáveis pela visão em condições fotópi-
de fibras nervosas das células ganglionares
cas (de luminosidade), proporcionando a visão de
sos retinianos, artéria e veia central da retina, e res- detalhe e de cor. Como fotopigmento apresentam
petivos ramos, que percorrem internamente a su- as fotopsinas que absorvem em diferentes compri-
perfície retiniana. É na retina que a energia lumi- mentos de onda - existem assim 3 tipos de cones:
nosa se converte num sinal eléctrico. É uma estru- azuis, verdes e vermelhos. Da estimulação dos di-
tura complexa formada por 10 camadas, que apre- ferentes tipos de cones resulta um input cerebral
senta na sua constituição três tipos principais de que permite a percepção de todas as cores. Os fo-
células: fotorreceptores, células bipolares e células torreceptores sinapsam com as células bipolares, os
ganglionares. (Fig. 10.4.16) neurónios de primeira ordem da via visual. Estes
Os fotorreceptores consistem nas células respon- por sua vez sinapsam com as células ganglionares,
sáveis pela absorção de luz e respectiva conversão neurónios de segunda ordem, cujos axónios se dis-
num sinal químico e eléctrico. Existem dois tipos põem numa única camada superficial para conver-
de fotorreceptores: os cones e os bastonetes, ambos gir no nervo óptico (Fig. 10.4.16).
constituídos por um segmento externo (porção que Existem ainda outras células retinianas - as células
contém o fotopigmento) e um segmento inter- horizontais e as células amácrinas - que são células
no (porção que contém o núcleo celular, mitocôn- de conexão lateral entre os fotorreceptores, as cé-
drias e outros organelos) (Fig. 10.4.16 e 10.4.17). lulas bipolares e as células ganglionares e que per-
A função e densidade dos fotorreceptores é dife- m item melhorar a percepção de contraste, de con-

679
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

torno e de intensidade luminosa. Na retina é bem ções patológicas (por ex: trauma cirúrgico fí .
evidente o fenómeno de convergência neuronal - ' s1co
ou químico) em que ocorre perda endoteliaI d .
vários fotorreceptores convergem numa célula bi- do à ausência de capacidade replicativa desr'a ev'.-
polar, e por sua vez, várias células bipolares con- s Ce-
lulas, ocorre descompensação da córnea por d
vergem numa única célula ganglionar, de tal for- es-
regulação do seu grau de hidratação condicion
an-
ma que temos cerca de 130 milhões de bastonetes do edema com consequente perda da transpar·
en-
e 6,5 milhões de cones, e "apenas" 1,2 milhões de cia da córnea.
fibras nervosas constituem o nervo óptico. A córnea é uma estrutura ricamente inervada _re-
cebe inervação sensitiva a partir da divisão oftál-
MEIOS ÔPTICOS - SISTEMA DIÓPTRICO mica do trigémio (V par) através dos nervos lon-
gos ciliares. Em caso de trauma, com perda da su-
Os meios ópticos do globo ocular consistem no perficie epitelial, a exposição das terminações ner-
conjunto de meios transparentes que permitem a vosas resulta em dor intensa (ex: úlcera córnea).
entrada dos estímulos luminosos bem como ares- O humor aquoso, produzido pelos processos ci-
pectiva refracção e focagem na retina. Incluem a liares, circula no segmento anterior do globo ocu-
córnea, o humor aquoso, o cristalino e o corpo ví- lar e é importante para a nutrição das estruturas
treo e no conjunto formam o sistema dióptrico. avasculares (córnea e cristalino), remoção de me-
A córnea é o principal componente refractivo do tabolitos e regulação da pressão intraocular. A sua
olho, apresentando aproximadamente 42 diop- drenagem ocorre ao nível do ângulo irido-cor-
trias. A disposição organizada dos feixes de fi- neano através da malha trabecular para o canal
bras de colagénio que a constituem, a avasculari- de Schlemm e a partir daí para as veias vorticosas
zação e a ausência de bainha de mielina nas ter- (veias colectoras da circulação coroideia). Uma al-
minações nervosas são fundamentais para garan- teração ao nível da produção ou da drenagem do
tir a sua transparência. É constituída por cinco ca- humor aquoso conduz a alterações da tonicida-
madas principais - no sentido ântero-posterior: de ocular com potenciais consequências nefastas
epitélio pavimentoso estratificado, membrana de para o globo ocular (Fig.10.4.19 e 10.4.20). (Ex: o
Bowman, estroma, membrana de Descemet e en- glaucoma, principal causa de cegueira irreversível
dotélio (Fig. 10.4.18). no mundo, tem como principal etiologia o aumen-
O estroma constitui mais de 90% da espessura da to da pressão intraocular. A compressão da cama-
córnea e é formado por feixes de fibras de colagé- da de fibras nervosas das células ganglionares ao
nio, fibras elásticas e queratócitos. nível da cabeça do nervo óptico condiciona per-
O endotélio participa no metabolismo da cór- da destas fibras com consequente aumento da es-
nea, sendo responsável pela manutenção do grau cavação do disco óptico, o que clinicamente se re-
de hidratação adequado do estroma. Em condi- percute como perda progressiva de campo visual).

5
Fig. 10.4.18: Camadas da córnea.
1. Epiélio pavimentoso estratificado 2. Membrana de Bowman 3. Estroma 4 .Membrana de Descemet 5. Endotélio

680
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMAS NEUROSSENSORIAIS

4 artéria hialoideia responsável pela nutrição vascu-


lar do vítreo e do cristalino durante a vida embrio-
nária (Fig.10.4.12).

Fig. 10.4.19: Produção e drenagem do humor aquoso.


1. Corpo ciliar - processos ciliares 2. Circuito do humor aquoso
3. Cristalino 4. Íris 5. Malha trabecular 6. Canal de Schlemm's
7. Veias episderais colectoras

Fig. 10.4.21: Divisão anatómica do globo ocular.


A. Segmento anterior B. Segmento posterior

VIA ÔPTICA

D li Os nervos ópticos, II par craniano, são os nervos


Fig. 10.4.20: Imagem de fundoscopia.
sensoriais responsáveis pelo sentido da visão. Re-
1. Cabeça do nervo óptico com escavação fisiológica 2. Cabeça do
nervo 6ptico com escavação glaucomatosa sultam da convergência dos axónios das células
ganglionares da retina, saem da cavidade orbitá-
O cristalino é uma lente biconvexa, constituí- ria através do buraco óptico e convergem poste-
do por células transparentes, firmemente com- riormente levando à formação do quiasma óptico
primidas, com acúmulo progressivo ao longo da onde a metade nasal (interna) das suas fibras cru-
vida, designadas por "fibras lenticulares". Apresen- za para o lado contralateral. Como resultado des-
ta uma cápsula, um córtex e um núcleo e o seu ta decussação quiasmática, os objectos do campo
poder dióptrico é cerca de metade do da córnea visual esquerdo, que atingem a metade direita de
(aproximadamente 21D). Como já referido ante- ambas as retinas, são recebidas no hemisfério cere-
riormente, a sua principal função é a de acomoda- bral direito, e vice-versa. Após o quiasma óptico, as
ção, permitindo a focagem a diferentes distâncias. fibras continuam o seu trajecto como tractos óp-
É o cristalino que faz a divisão anatómica do glo- ticos para terminar no corpo geniculado externo
bo ocular em segmento anterior e segmento pos- (CGE) do tálamo onde sinapsam com o terceiro
terior (Fig. 10.4.21). (Ex: a catarata corresponde neurónio da via visual (Fig. 10.4.22). As células do
a uma opacificação do cristalino e pode ter diver- CGE distribuem-se em seis camadas. Os axónios
sas causas. A mais frequente relaciona-se com o das células ganglionares do olho ipsilateral (retina
processo de envelhecimento normal do cristalino). temporal) sinapsam nas camadas 2, 3 e 5, enquan-
O vítreo consiste numa substância gelatinosa que to que os axónios do olho contralateral (retina na-
preenche o segmento posterior do olho. É percor- sal) sinapsam nas camadas 1, 4 e 6. No CGE iden-
rido por um canal - canal de Cloquet ou hialoideu tificam-se dois tipos principais de células: os gran-
- que corresponde a um vestígio do percurso da des neurónios, localizados nas camadas 1 e 2 (ca-

681
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

madas magnocelulares), e os pequenos neurónios, dor da localização da lesão (Fig. 10.4.22B)-


distribuídos nas camadas 3, 4, 5 e 6 (camadas par- logia do globo ocular (ex: catarata, hemorraJaªto-
vocelulares). O CGE apresenta uma organização traocular, descolamento de retina) e patologia~-
retinotópica, em que a porção central - hilum - nervo óptico (ex: nevrite óptica, esclerose múlti
1
°
recebe as fibras maculares, enquanto os cornos la- tumores) podem manifestar-se como perda dep .ª'
Vi-
teral e medial recebem as fibras correspondentes são monocular no olho afetado. Uma compress-
à retina inferior e superior respectivamente (Fig. do quiasma óptico (ex: tumor da hipófise) po~º
10.4.23). As fibras destes neurónios irradiam em manifestar-se como hemianopsia bitemporal. Le~
direcção posterior formando as radiações ópticas sões vasculares ou neoplásicas da fita óptica, radia-
para se projectar no córtex visual primário do lobo ções ópticas ou córtex occipital manifestam-se por
occipital (Vl), ou área 17 de Brodmann, onde vai hemianopsias homónimas contralaterais ou qua-
ocorrer a perceção visual (Fig. 10.4.22). A maior drantanópsias.
parte da irrigação sanguínea do córtex visual tem
origem em ramos das artérias cerebrais posterio-
res. Contudo, a área correspondente à visão cen-
o o
-
tral, localizada no pólo occipital, apresenta um su-
primento sanguíneo duplo com anastomoses entre
ramos das artérias cerebrais posteriores e da arté-
ria cerebral média.
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Fig 10.4.228: Defeitos de campo visual associados a lesões da via
óptica.
A. Defeitos de campo visual no O lho Esquerdo B. Defeitos de campo
visual no Olho Direito
1. Nevrrte retrobulbar direita com cegueira circunferencial 2. Lesão
no nervo óptico direito com cegueira no olho direito 3. Hemianópsia
6 nasal direita por lesão das fibras laterais direitas do quiasma óptico
4. Hemianópsia bitemporal por lesão completa do quiasma óptico
5, 6 e 7. Hemianópsia homónima esquerda (hemianópsia temporal no
Fig. 10.4.22A: Representação da via visual.
OE e hemianópsia nasal no 0D - campo visual esquerdo) por lesão
1. Campo visual do olho esquerdo 2. Campo visual do olho direito
da fita óptica direita (5), das radiações ópticas (6) ou do córtex visual
3. Nervo óptico 4. Quiasma óptico 5. Corpo geniculado externo do
direito (7).
tálamo 6. Radiações ópticas 7. Córtex visual primário

Vias de associação conectam o córtex visual pri-


mário com áreas visuais secundárias, extra-estria-
das, onde o input sensorial recebido é sujeito à in-
terpretação final. Estas áreas de associação proces-
sam a informação visual para extrair informação
de detalhe da imagem recebida como localização,
movimento, cor, forma e contorno.
As lesões da via óptica podem ter múltiplas cau-
sas e o padrão de alteração visual pode ser indica-

682
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMAS NEUROSSENSORIAIS

B
E 3. Relativamente à constituição anatómica do
globo ocular é falso que:
a. A esclera corresponde à camada mais ex-
terna e tem como principal função a ma-
nutenção da forma e a protecção do glo-
bo ocular.
b. A úvea, camada intermédia do globo ocu-
lar, é constituída por três porções: íris, cor-
po ciliar e coroideia.
c. Os músculos intra-oculares: músculo ci-
liar, dilatador da íris e esfincter da íris,
são constituídos por fibras musculares li-
sas e são controlados pelo sistema nervo-
so autónomo, sendo que o músculo ciliar
Fig. 10.4.23: Camadas celulares do corpo geniculado externo do tálamo e o dilatador da pupila têm uma inerva-
A. Camadas magnocelulares B. Camadas parvocelulares C. Hilum
D. Corno lateral E. Corno medial
ção simpática e o músculo esfincter da pu-
1-6. Camada de células pila apresenta um controlo parassimpático.
d. A coroideia é uma estrutura ricamente
PERGUNTAS TIPO vascularizada e densamente pigmentada.
Uma das principais funções é a nutrição
1. A fenda orbitária superior dá passagem a to- vascular da metade externa da retina.
dos, excepto: e. A retina corresponde à túnica mais inter-
a. Nervo motor ocular comum (III par). na do globo ocular. É constituída por 10
b. Nervo troclear (IV par). camadas sendo que os três principais tipos
c. Ramos da divisão oftálmica do trigémio. de células são: os fotorreceptores - cones
d. Veia oftálmica superior. e bastonetes (responsáveis pelo fenómeno
e. Veia oftálmica inferior. de fototransdução), as células bipolares e
as células ganglionares.
2. Relativamente à órbita é falso que:
a. Sete ossos participam na sua constituição 4. Relativamente aos meios ópticos que parti-
anatómica. cipam na constituição do globo ocular, é fal-
b. Todos os músculos extraoculares têm ori- so que:
gem comum no vértice orbitário num anel a. Permitem a passagem da luz e respectiva
fibroso designado por "anel de Zinn". refracção e focagem dos estímulos lumi-
c. A periórbita é uma membrana densa de nosos na retina.
tecido conectivo que recobre a cavidade b. A córnea apresenta 5 camadas principais
orbitária correspondendo a uma continui- na sua constituição: epitélio, membrana de
dade do periósteo. Bowman, estroma, membrana de Desce-
d. O septo orbitário é um folheto de teci- met e endotélio.
do conjuntivo denso circular que se esten- c. O humor aquoso, produzido pelo múscu-
de desde o rebordo orbitário até aos tar- lo ciliar, preenche o segmento anterior do
sos superior e inferior das pálpebras e tem globo ocular e apresenta como principais
uma importante função na delimitação de funções a nutrição e remoção dos meta-
espaços anatómicos. bolitos das estruturas avasculares (córnea
e. A gordura orbitária tem uma função de e cristalino) e a regulação da pressão in-
preenchimento bem como de amorteci- traocular.
mento e protecção das estruturas intraor- d. O cristalino tem uma forma biconvexa e
bitárias. através da sua função de acomodação per-

683
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

mite a focagem dos objectos a diferentes


distâncias.
e. O canal de Cloquet atravessa a cavidade
vítrea e corresponde a um remanescente
da artéria hialoideia responsável pela vas-
cularização do vítreo e do cristalino duran-
te a fase embrionária.

5. Relativamente às seguintes afirmações sele-


cione a falsa:
a. O nervo óptico resulta da convergência dos
axónios das células ganglionares da retina.
b. O nervo óptico sai da cavidade orbitária
através do buraco óptico.
c. Ao nível do quiasma há uma decussação
do ¼ nasal das fibras nervosas de ambos os
nervos ópticos.
d. As radiações ópticas correspondem ao 3.0
neurónio da via visual e têm origem no
núcleo geniculado externo do tálamo.
e. É no córtex visual, na área 17 de Brodman
do lobo occipital, que ocorre o fenómeno
de percepção visual.

!;:J-5 !:)-j, !:)- ( !9:-2: !3:- i


:SE:u;i:, St:lSOd~'}l

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ofthe visual System. Third Edition. Elsevier.

Saladin. HumanAnatomy. Second Edition,


McGrawHill.

Gustavo de Morae, C.Anatomy ofthe visual


Pathways. J Glaucoma, vol 22, N 5,Juw'.Jul 2013.

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Kanski, JJ. Oftalmologia Clínica, Uma abordagem
Sistemática. 7• Ediçao. Elsevier.

Riordan-Eva, P.; Whitcher,JP. Vaughan &


Asbury's General Ophthalmology. 17th Edition.
Lange medical books.

•••

684
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMAS NEUROSSENSORIAJS

4
SISTEMA AUDITIVO E VESTIBULAR 6

INTRODUÇÃO

O sistema vestfüulo-coclear encontra-se no inte-


rior do rochedo (porção petrosa do osso tempo-
ral) e é constituído por dois órgãos com funções
diferentes, mas com semelhanças quer em termos
de estruturas, quer em termos de funcionamen-
to (Fig. 10.4.24):
• Órgão da audição constituído pelo ouvido:
ouvido externo, ouvido médio e porção ante- 7
rior do ouvido interno (labirinto coclear);
Fig. 10.4.25: Constrtuintes do Nervo Vestibulo-Coclear ou VIII nervo
• Órgão do equihbrio representado pela porção aaniano.
posterior do ouvido interno (labirinto poste- 1. Nervos dos canais semicirculares 2. Nervo utricular 3. Nervo sacular
4. Gânglio vestibular (Scarpa) 5. Nervo vestibular 6. Nervo coclear
rior). 7. Gânglios espirais (Corti)

Anatomicamente ouvido é constituído por três


segmentos:
• Ouvido externo;
• Ouvido médio;
• Ouvido interno.

EMBRIOLOGIA

O conhecimento da embriologia do aparelho ves-


tfüulo-coclear permitirá compreender melhor as
suas variações anatómicas, bem como as respecti-
vas malformações congénitas.
O seu desenvolvimento inicia-se na 4.• semana de
Fig. 10.4.24: Visão geral do Aparelho Vestibulo-Codear. gestação, com a formação do ouvido interno. Este
1. Canal auditivo externo 2. Membrana do tímpano 3. Cadeia ossi-
cular 4. Canais semicirculares S. Nervo vestíbulo-coclear 6. Cóclea deriva de um espessamento ectoblástico (camada
germinativa externa formada após a gastrulação e
Assim sendo, o sistema vestfüulo-coclear assume que origina posteriormente a pele e o tecido ner-
uma função dual: audição e equihbrio. Contém re- voso), denominado "placa ótica", que se invagina
ceptores que transformam a onda sonora em im- no mesênquirna ótico e dá origem à vesícula óti-
pulso nervoso e receptores que respondem a movi- ca. Esta alonga-se e estreita-se na sua porção mé-
mentos da cabeça. O impulso nervoso provenien- dia, dando origem:
te das ondas sonoras - labirinto anterior - é trans- 1. Porção ventral - origina o sáculo e o canal co-
mitido ao sistema nervoso central através do ner- clear;
vo auditivo, sendo o impulso proveniente dos mo- 2. Porção dorsal - origina o utrículo e os canais
vimentos cefálicos - labirinto posterior - transmi- semicirculares.
tido ao sistema nervoso central através dos ner-
vos vestibulares superior e inferior, no seu conjun- A cápsula ótica, formada a partir do mesênquirna
to formando o VIII par craniano - nervo vesnbu- ótico, vai originar o labirinto membranoso que os-
lo-coclear (Fig. 10.4.25). sificado se transforma em labirinto ósseo.

685
MANUAL DE ANATOMIA H UMANA

~ a
Ili
6 11 6

13

7
8
9

14
16

Fig. 10.4.26: Desenvolvimento embrionário do aparelho vestíbulo-codear (ordem cronológica de A a D}.


1. Vesícula ótica 2. Primeiro arco faríngeo 3. Recesso tubotimpânico 4. Desenvolvimento dos ossículos martelo e bigorna a partir do primeiro arco
cartilaginoso 5. Desenvolvimento do ossículo estribo a partir do segundo arco cartilaginoso 6. Bigorna 7. Martelo 8. Estribo 9. Janela Redonda
10. Meato acústico externo 11. Porção escamosa do osso temporal 12. Porção petrosa do osso temporal 13. Labirinto membranoso 14. Trompa
de Eustáquio 15. Cavidade timpânica 16. Membrana timpânica.

O desenvolvimento do ouvido médio deriva do re- blasto (camada germinativa derivado do blastocis-
cesso tubo-timpânico e do mesênquima do 1.0 e 2º to). A aurícula provém de seis tubérculos, os colí-
arcos branquiais. culos auriculares, que se dispõem em volta da pri-
Do 1.0 saco faríngeo desenvolve-se um divertículo meira fenda ectobranquial (futuro MAE). (Fig.
cuja parte distal se dilata e entra em contacto 10.4.26 e 10.4.27)
com o 1º sulco branquial, envolvendo o esboço da
cadeia ossicular. O recesso forma a cavidade tim-
pânica, o antro mastoideu e a trompa auditiva. OUVIDO EXTERNO
A sua junção com o 1º sulco branquial consti-
tui a primeira membrana branquial. Do primeiro O ouvido externo é constituído pela aurícula e
arco branquial têm origem a bigorna, o martelo, pelo meato acústico externo (MAE). A aurícula
e o músculo tensor do tímpano, derivando do se- tem um papel importante na captação da onda so-
gundo arco branquial o estribo e o músculo esta- nora e na sua orientação para o MAE. Por sua vez
pédio (do martelo). o MAE forma uma mini-câmara de ressonância
A partir da primeira fenda branquial ectoblástica que vai aumentar a pressão daquela onda sonora.
desenvolve-se no meato acústico externo (MAE) A aurícula é uma lâmina cartilagínea, com nume-
ou canal auditivo externo por invaginação do epi- rosas pregas, recoberta por pele. Tem uma confi-

686
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMAS NEUROSSENSORIAIS

1--. 1
~
Labirinto Vestibular
------.
[ Ectoderme Otocisto
1-----.. ______. Ouvido Interno

Labirinto Coclear

Endoderme
(primeiro recesso braquial)
--. Trompa de Eustáquio ---. 1Ouvido Médio 1
Sistema
dos arcos
branquiais
Ectoderme
1 Ouvido Externo 1
(primeira goteira braquial)

Fig. 10.4.27: Resumo do desenvolvimento embrionário do aparelho vestíbulo-coclear.

guração oval e a sua extremidade inferior é cons- senta neste revestimento pêlos na porção exter-
tituída, unicamente, por tecido adiposo (lóbulo). na, glândulas sebáceas e ceruminosas, responsá-
A aurícula situa- se atrás da articulação têmporo- veis pela secreção de cerúmen, transportado atra-
-mandibular e à frente da mastóide e está inserida, vés de movimentos dos tegumentos cutâneos
pela parte média do seu terço anterior, na parede e respectivos apêndices na direcção do MAE.
lateral da cabeça e forma com ela um ângulo aber- O MAE não é rectilíneo, descrevendo uma curva
to para trás de cerca de 30º. de concavidade anterior e inferior. Por esta razão
Na face lateral a aurícula apresenta, na sua por- para se visualizar a membrana timpânica é neces-
ção central, uma escavação, a concha, onde de- sário exercer uma tracção na aurícula, para trás e
semboca o MAE. Por trás da concha encontra- para cima, por forma a desaparecerem as curva-
-se uma saliência, a ante-hélice, que se bifurca, em turas. No decurso desta observação (otoscopia) é
cima, delimitando em cima a fosseta triangular e desencadeado, por vezes, o reflexo da tosse devi-
póstero-superiormente a fossa escafóide. À frente do à inervação da parede posterior do MAE pelo
da concha aparece o tragus e em baixo o anti-tra- ramo auricular do vago (Fig. 10.4.24).
gus, separados pelo nó inter-trágico. No contor-
no póstero-superior da aurícula encontra-se a hé-
lice cuja extremidade anterior ou raiz está locali-
zada por cima da concha, estando a extremidade
posterior ou cauda em continuidade com o lóbu-
lo (Fig. 10.4.28). 3

O meato acústico externo é um canal ósteo-


-cartilagíneo que vai da concha até à membra-
na do tímpano. Sendo cartilagíneo no 1/3 lateral
e ósseo nos 2/3 mediais, tem cerca de 25 mm de 4

comprimento (de referir que a parede inferior é 9

mais longa do que a superior) e 8 mm de diâme-


tro. Dirige-se obliquamente para a frente, den-
tro e em arco para baixo, apresentando um es-
treitamento ao nível do 1/4 medial. O MAE está
revestido por pele que se vai adelgaçando, pro- Fig. 10.4.28: Anatomia do pavilhão auricular ou aurícula.
1. Hé!ix ou hélice 2. Fossa triangular 3. Fossa escafoide 4. Raiz do
gressivamente, até à membrana timpânica. Apre-
hélix 5. Tragus 6. Antitragus 7. Concha 8. Antihélix 9. Lóbulo

687
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

OUVIDO MÉDIO

É uma cavidade aérea composta que está dividida


em três partes: cavidade timpânica (caixa do tím-
pano), ao centro; células mastóideias, atrás; trompa
auditiva, à frente. (Fig. 10.4.24) A cavidade tim-
pânica contém a cadeia ossicular que é constituída
por três ossículos: martelo, bigorna e estribo.
Os sons recolhidos pela aurícula e orientados para
o meato acústico externo vão provocar a vibração
da membrana do tímpano. Esta vibração vai ser
transmitida ao líquido perilinfático do ouvido in-
terno pela cadeia ossicular. Graças à diferença de
superficie entre o tímpano e a platina do estribo
(20/1), a cadeia ossicular amplifica as vibrações so-
noras o que vai permitir passar de um meio aéreo
para um meio liquido sem haver perda da intensi- Fig. 10.4.29: Conformação geral da cavidade timpânica.
dade do som o que aconteceria se não existe aque- 1. Membrana do tímpano 2. Músculo tensor do tímpano 3. Corda do
tímpano 4. Cadeia ossicular do ouvido médio 5. Recesso epitimpânico
la amplificação. 6. Nervo pequeno petroso 7. Proeminência do canal semicircular
lateral 8. Nervo facial 9. Aditus ad antrum 10. Proeminência do aque.
duto do nervo facial (Falópio) 11. Plexo timpânico sob o promont ório
CAVIDADE TIMPÂNICA
12 . Pirâmide e o músculo do estribo 13. Nervo timpânico (Jacobson),

É uma cavidade óssea com a forma de um para- sa por dois ligamentos timpano-maleolares (ante-
lelipípedo e que compreende três andares (Fig. rior e posterior) que unem as extremidades do sul-
10.4.29 e 10.4.31): co timpânico ao processo lateral do martelo. Nes-
• Superior, epitímpano ou ático, que contém a ta saliência tem origem o cabo do martelo (incrus-
cabeça do martelo e o corpo da bigorna. tado no tímpano), oblíquo para baixo e para trás,
Médio, mesotímpano ou atrium, que corres- que termina no centro da membrana timpânica
ponde laeralmente ao tímpano. que é uma zona deprimida (umbigo). A pars tensa
• Inferior, hipotímpano, em relação com o gol- que corresponde a 9/10 da membrana timpãnica é
fo da veia jugular interna. oblíqua para baixo, para fora e para a frente sen-
do constituída por três camadas: externa (cutânea),
Na cavidade timpânica descrevem-se 6 paredes: intermédia (fibrosa) e interna (mucosa). A camada
fibrosa que dá a rigidez à membrana do tímpano
1. Parede lateral ou timpânica possui fibras radiais externas e circulares internas
e na periferia torna-se mais espessa, inserindo-se
A membrana do tímpano separa o MAE da cavi- no sulco timpânico, como já foi descrito anterior-
dade timpânica. A sua inclinação em relação à pa- mente. Por sua vez a parsjlaccida é formada apenas
rede inferior do MAE varia com a idade, sendo por duas camadas, não apresentando a camada fi-
de 30º no recém-nascido e de 50º no adulto. Tem brosa. A sua textura laxa explica, nos disfunciona-
uma forma circular, com 1 cm de diâmetro, e inse- mentos tubares, a sua tendência para se invaginar
re-se, em quase toda a sua extensão, no sulco tim- para dentro da cavidade timpânica o que está na
pânico (ranhura do MAE). Apenas na sua porção origem de algumas otites colesteatomatosas.
superior a sua inserção é feita, directamente, na es- À otoscopia, o tímpano apresenta, em baixo e à
cama do temporal. Neste local a inserção é mais frente, um reflexo luminoso, triangular, cujo vérti-
laxa, sendo o tímpano menos tenso e mais frágil: ce se encontra no umbigo e se denomina cone lu-
é a parsjlaccida que corresponde a 1/10 da super- minoso que desaparece na fase inicial de uma oti-
ficie do tímpano e que está separada da pars ten- te. (Fig. 10.4.30)

688
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMAS NEUROSSENSORIAIS

13

10

6 7

Fig. 10.4.30: Conformação geral da membrana do tímpano e posição


relativa das estruturas do ouvido médio em relação a esta membrana.
1. Prega maleolar posterior 2. Bigorna 3. Estribo 4. Promontório
s. Umbo ou umbigo 6. Anel timpânico 7. Debrum fibrocartilagíneo
(Gerlach) 8. Cone de luz 9. Pars tensa 10. Cabo do martelo
11. Proeminência maleolar 12. Prega maleolar anterior 13. Pars flácida
2 14 12 13

2. Parede medial ou labiríntica Fig. 10.4.31: Visão esquemática da Caixa do Tímpano (vista da parede
medial a partir da parede externa).
1. Nervo Facial 2. Corda do tímpano 3. Pirâmide 4. Janela oval 5.
Esta parede é constituída por dois andares, cuja se- Adítus ad antrum 6 . Proeminência do canal semicircular lateral 7
. Proeminência do aqueduto do facial 8. Promontório 9. Tegmen
paração é feita à frente pelo canal do músculo ten- timpani 10. Músculo tensor do tímpano 11 . Trompa de Eustáquio 12.
sor do tímpano e atrás pelo canal do nervo facial Nervo pequeno petroso 13. Plexo simpático pericarotídeo 14. Nervo
timpânico (Jacobson).
(Fig. 10.4.29 e 10.4.31).
No andar superior {recessus epitimpânico) observa-
-se a saliência do canal semicircular lateral. O an- 4. Parede posterior ou mastóideia
dar inferior ou atrium é dominado pelo promon-
tório que corresponde à base da cóclea e é percor- Apresenta, de cima para baixo, as seguintes estru-
rido por sulcos do plexo timpânico (inervação sen- turas :
sitiva da cavidade timpânica). Por trás do promon- Aditus ad antrum que faz a comunicação da
tório observam-se duas janelas: em cima, a jane- cavidade timpânica com o antro mastóideu.
la vestibular ou oval e, em baixo, a janela coclear Fossa incudis onde se aloja o ramo horizon-
ou redonda que está encerrada por um membrana tal (curto) da bigorna.
elástica (tímpano secundário). Entre as duas jane- Eminência piramidal que é uma saliência
las encontra-se o seio timpânico. onde se insere o tendão do músculo estapé-
dico e é o local da abertura do canalículo pos-
3. Parede anterior ou carotídea terior da corda do tímpano.

Está relacionada com artéria carótida interna e 5. Parede superior ou tegmento


observamos, nesta parede, as seguintes estruturas
de cima para baixo: canal do músculo tensor do Parede delgada (tegmen tympani) que está em
tímpano, ostium timpânico da trompa auditiva, ca- contacto com a fossa cerebral média. Esta por-
nalículo anterior da corda do tímpano e o nervo ção apresenta uma descontinuidade óssea em 10-
carótico-timpânico. 15% dos casos, relacionando-se então directa-
mente com a face inferior do lobo temporal is-
pilateral.

689
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

6. Parede inferior ou jugular

Representa o pavimento da cavidade timpânica e


corresponde à fossa jugular e ao bulbo da veia ju-
gular interna. Apresenta um degrau com a pare-
de inferior do MAE (recessus hipotimpânico) e en-
contra-se, nesta face, o canalículo do nervo timpâ-
nico de Jacobson, ramo do nervo glosso-faríngeo
ou IX par craniano.

CADEIA OSSICULAR

A cavidade timpânica contém três ossículos (mar-


Fig. 10.4.33: Visão esquemática da cadeia ossicular do ouvido médio.
telo, bigorna e estribo) que têm por objectivo am-
1. Martelo 2. Bigorna 3. Estribo
plificar a transmissão da energia da vibração tim-
pânica aos líquidos do ouvido interno via janela na do tímpano e dá inserção aos ligamentos tím-
vestibular. Estes ossículos estão suspensos por li- pano-maleolares e o anterior onde se insere o liga-
gamentos e são mobilizados graças a músculos. mento anterior do martelo (Fig. 10.4.34).
(Fig. 10.4.32 e 10.4.33) O aparelho ligamentar do martelo é constituído
por três ligamentos (Fig. 10.4.35):
2 1. Ligamento suspensor: une a cabeça do mar-
telo ao tecto da cavidade timpânica.
2. Ligamento lateral: entre a face externa do
colo e o bordo inferior do antemuro.
3. Ligamento anterior: vai da fissura petro-tim-
pânica ao processus anterior.

4 6

Fig. 10.4.32: Visão geral da cadeia ossicular do ouvido médio.


1. Estribo 2. Bigorna 3. Martelo 4. Membrana do tímpano 5. Trompa
de Eustáquio.

O martelo é o mais comprido dos três ossículos e


é constituído por uma cabeça, um colo e um cabo.
A cabeça, situada no ático, apresenta uma super-
ficie articular posterior com o corpo da bigorna.
10
O colo é cruzado pela corda do tímpano, sendo o
cabo oblíquo para baixo, para trás e para dentro, Fig. 10.4.34: Anatomia dos ossículos martelo, bigorna e estribo.
incluído na espessura da membrana timpânica. Na 1. Apófise lateral 2. Articulação com a bigorna 3. Colo do martelo
4. Apófise anterior 5. Cabo do Martelo 6. Cabeça do martelo 7. Base
união do colo com o cabo existem dois processus: o do estribo 8. Braço posterior do estribo 9. Braço anterior do estribo
lateral que faz saliência na face lateral da membra- 10. Cabeça do estribo 11. Articulação com o martelo 12. Braço curto
da bigorna 13. Corpo da bigorna 14. Braço longo da bigorna

690
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMAS NEUROSSENSORIAIS

O músculo tensor do tímpano insere-se no pro- da cartilaginosa e uma camada externa óssea reco-
cesso cocleariforme e, em seguida, o tendão forma berta pelo periósteo. A base está encastrada na ja-
ângulo recto até à face interna do cabo do martelo nela vestibular e o ligamento anular une os bordos
(Fig. 10.4.36). Este músculo tem como função fa- da base do estribo ao contorno da janela vestibular
cilitar a penetração da platina do estribo na jane- (Fig. 10.4.32, 10.4.33 e 10.4.34).
la vestibular,levando a um aumento da pressão in- O músculo do estribo insere-se na eminência pi-
tralabiríntica (função limitada no tempo). É iner- ramidal e na face posterior da cabeça do estribo.
vado por um ramo do nervo mandibular, ramo ter- Tem urna acção antagonista em relação ao múscu-
minal do nervo trigémio (V par craniano). lo tensor do tímpano. A tracção posterior do estri-
A bigorna ou incus apresenta um corpo e dois ra- bo provoca diminuição da pressão intralabiríntica,
mos (horizontal e vertical). O corpo articula-se à uma vez que impede a penetração da platina do
frente com a cabeça do martelo e o ramo hori- estribo na janela vestibular. Há, pois, um aumento
zontal é curto e espesso e assenta na fossa incudis. da rigidez da cadeia ossicular e resistência («impe-
O ramo vertical é mais delgado e longo e termina dância») à transmissão do som (Fig.10.4.36). Este
pelo processus lenticular a qual se articula com o es- músculo protege, assim, o ouvido interno dos sons
tribo (Fig. 10.4.32, 10.4.33 e 10.4.34). intensos e é inervado por um ramo do nervo facial.
O aparelho ligamentar da bigorna é compos- O músculo estapédico é posto em contracção por
to pelo ligameto superior que vai do corpo da bi- um reflexo acústico-facial (estapédico). Um som
gorna à parede tegmental e o ligamento poste- intenso, transmitido pelo ouvido médio ao ouvi-
rior entre o ramo horizontal e a fossa incudis (Fig. do interno, dá origem a um influxo nervoso que
10.4.35). ao nível do tronco cerebral vai, por um mecanismo
O estribo é constituído por uma cabeça articular, reflexo, levar a uma estimulação do nervo facial e
dois ramos e uma base. A cabeça apresenta uma assim à contracção do músculo do estribo e, isto,
superfície que se articula com a bigorna e dá inser- nos dois ouvidos. Assim, o nervos trigémio e facial
ção ao tendão do músculo do estribo no seu bor- tem acções antagónicas na transmissão do estímu-
do posterior. O ramo posterior é mais longo que o lo auditivo ao ouvido interno: o primeiro tem uma
anterior e a base (platina do_estribo) tem uma for- acção facilitadora enquanto o segundo tem uma
ma oval e é constituída por urna camada profun- acção opositora.

Fig. 10.4.35: Complexo ligamentar do ouvido médio. Fig. 10.4.36: Complexo muscular do ouvido médio.
1. Ligamento anterior do martelo 2. Ligamento lateral do martelo 1. Músculo tensor do tímpano 2. Músculo do estribo
3. Ligamento superior do martelo 4. Ligamento posterior da bigorna
5. Músculo do estribo 6. Ligamento anular do estribo

691
MANUAL DE ANATOMIA H UMANA

TROMPA AUDITIVA OU TROMPA DE branosa e provoca a abertura do ostium faringe


O
EUSTAOU/O o músculo tensor do véu do palato que leva e
baixo e para fora a parede lateral e dilata a tu:ara
a.
A trompa auditiva (Fig.10.4.37) é um canal ósteo- O ostium timpânico, de forma elíptica, está si-
-cartilaginoso, com cerca de 4 cm de comprimento, tuado na parede anterior da cavidade timpânic
que faz comunicar a cavidade timpânica com a ri- O ostium faringeo está localizado na parede later~
nofaringe e tem uma direcção obliqua para a frente, da nasofaringe, por trás do cometo inferior.
para dentro e para baixo. A sua obliquidade inferior Tem uma forma triangular e está rodeado: à fren-
é mais pronunciada na idade adulta quando com- te, pela prega salpingo-palatina; atrás, pela prega
parada com as crianças (alguns autores mencionam salpingo-faríngea; em baixo, pelo toros do múscu-
como cut- off os 7 anos) (Fig. 10.4.37). Está dota- lo elevador do véu do palato; em cima, pelo to-
da de um aparelho muscular que vai permitir que rus tubar.
esteja permeável no decurso da deglutição consti-
tuindo, deste modo, a via para o arejamento do ou- CAVIDADES MASTOIDEIAS
vido médio, permitindo equilibrara as pressões en-
tre ambos os lados da membrana do tímpano, tím- São cavidades que estão situadas na espessura
pano o que possibilita a transmissão da vibração da porção mastoideia do osso temporal. Desen-
sonora nas condições ideais. volvem-se a partir da cavidade timpânica graças
Compreende urna porção óssea (fixa) e uma por- à pneumatização, no decurso dos primeiros cin-
ção cartilagínea (móvel) unidas por um istmo e co anos de vida, do processus mastóideu. Comuni-
apresenta dois ostia: timpânico (lateral) e faríngeo cam todas com o antro mastoideu que é a primei-
(medial). A parte óssea representa o 1/3 posterior ra a ser formada e que é a maior destas células.
da trompa auditiva e a porção cartilagínea é cons- Podem-se destacar três tipos de antro mastoideu
tituída por uma cartilagem em goteira, com uma de acordo com o seu grau de pneumatização, que
lâmina lateral estreita e uma lâmina medial larga e no sentido crescimente são: esclerótico, diplóico e
espessa. Uma lâmina membranosa e fibrosa faz a pneumatizado. O aditus ad antrum éum canal que
união dos bordos da goteira. A porção cartilagínea, faz a ligação entre o antro mastóideu e a cavida-
que é móvel, está submetida à acção de dois mús- de timpânica.
culos: o músculo elevador ou levantador do véu do As células mastóideias estão em relação: à frente
palato que tracciona, para baixo, a lâmina mem- e por dentro, com o canal semicircular posterior;

2
B Ili
Fig. 10.4.37: Anatomia e relações da trompa de eustáquio.
1. Nasofaringe/rinofaringe 2. Trompa de Eustáquio 3 . Caixa do tímpano 4. Músculo levantador do véu do palato 5. Músculo tensor do véu do
palato 6. Ostio timpánico 7. Ostio faringeo

692
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMAS NEUROSSENSORIAIS

à frente e por baixo, com o nervo facial; em cima, 1. Vestfüulo - no centro;


corn dura-máter da fossa craniana média; atrás e 2. Canais semicirculares (anterior, posterior e la-
por dentro, com o seio sigmóide (Fig. 10.4.38). teral) - localização póstero-superior;
3. cóclea - localização anterior.
1
1
4 6
O vestíbulo e canais semicirculares compõem o la-
birinto posterior que está relacionado com o equi-
hbrio, estando cóclea ou labirinto anterior reser-
vado à audição.

6 9 8

2 7

Fig. 10.4.38: Relações anatómicas do antro mastoideu.


1. Janela redonda 2. Eminência piramidal 3. Janela Oval 4. Células
mastoideias 5. Antrum mastoideu 6. Proeminência do aqueduto do
facial 7. Promontório

OUVIDO INTERNO 4 15 12 10 13 14 11

Fig. 10.4.39: Visão geral do ouvido interno.


1. Sáculo 2. Utrículo 3. Extremidades ampulares dos canais semicircu-
Situado no interior do rochedo é constituído por lares 4. Canal semicircular lateral 5. Canal semicircular posterior 6. Ca-
uma cavidade óssea (labirinto ósseo) no interior nal semicircular anterior 7. Nervo facial 8. Nervo vestibular 9 . Gânglio
vestibular superior 10. Gânglio vestibular inferior 11. Nervo coclear
da qual se encontra um saco membranoso (labi-
12. Mácula 13. Órgão espiral de Corti 14. Rampa coclear 15. Janela
rinto membranoso) que tem, grosseiramente, a redonda.
mesma forma do ósseo. O labirinto membrano-
so está repleto de um líquido (endolinfa) e en- O vestibulo apresenta seis paredes (Fig. 10.4.40 e
volvido por outro líquido (perilinfa) que o sepa- 10.4.41):
ra do labirinto ósseo. Existe ainda uma expansão 1. A parede lateral corresponde à parede interna
do espaço endolinfático para o espaço extra-du- da cavidade timpânica e nela estão situadas a
ral: é o canal endolinfático que termina num saco janela vestibular e a extremidade ampular do
que está em contacto com a dura máter da face canal semicircular lateral;
póstero-superio~ do rochedo (saco endolinfático) 2. A parede medial está em contacto com a
(Fig. 10.4.39). metade posterior do fundo do meato acús-
tico interno. Apresenta três fossetas: fosse-
LABIRINTO ÓSSEO ta ovóide ou utricular, fosseta esférica ou sa-
cular e a fosseta coclear. Estas fossetas estão
De origem mesodérmica e de desenvolvimento crivadas de orifícios por onde passam os fi-
mais tardio em relação ao labirinto membranoso letes do nervo vestibular e do nervo coclear.
é constituído pelas seguintes cavidades no interior Por cima da fosseta coclear e por trás da fos-
do rochedo: seta ovóide localiza-se o orifício do aquedu-
to do vestíbulo;

693
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

4 5
3. A parede superior apresenta à frente a extre-
midade ampular do canal anterior e atrás o
canal comum aos dois canais verticais (ante-
rior e posterior);
4. A parede posterior apresenta a extremida-
de não ampular do canal lateral, em cima e
o orificio da extremidade do canal posterior,
em baixo;
5. A parede inferior prolonga-se pela lâmina es-
piral da cóclea;
6. A parede anterior está relacionada com o ca-
nal do nervo facial em cima, e a rampa vesti-
bular da cóclea, em baixo.

Os canais semicirculares ósseos abrem-se no vestí-


bulo pelas suas duas extremidades. São três os ca- Fig. 10.4.41: Visão superior do vestíbulo e da cóclea.
nais: anterior, posterior e lateral e estão situados 1. Rampa timpânica 2. Rampa vestibular 3. Cóclea 4. Helicotrema
5. Lâmina óssea em espiral
nos três planos do espaço (Fig. 10.4.40).
O canal semicircular anterior é vertical e perpen-
dicular ao eixo do rochedo. A extremidade ampu- com o plano horizontal. A extremidade ampular
lar está situada na parede superior do vestíbulo e a está localizada por cima e por trás da janela vesti-
extremidade não ampular funde-se com a do ca- bular. Por sua vez a extremidade não ampular está
nal semicircular posterior para formar o ramo ós- localizada ao nível da parede posterior do vestí-
seo comum. bulo.
O canal semicircular posterior é vertical e tem A cóclea (Fig.10.4.41) é constituída por canal ós-
uma orientação seguindo o eixo do rochedo. A sua seo com 32 mm de comprimento e 2 mm de diâ-
extremidade ampular abre-se no ângulo póstero- metro que faz duas voltas e meia de espira à volta
-inferior do vestíbulo. de um cone ósseo (modíolo), no sentido horário à
O canal semicircular lateral faz um ângulo de 30º direita e anti-horário à esquerda. O seu eixo é per-
pendicular ao rochedo.
No interior da cóclea existe uma lâmina óssea
(espiral) que se enrola à volta do modíolo e cujo
bordo livre é prolongado pela membrana basilar.
A largura desta lâmina espiral vai diminuindo da
base em direcção ao apex, sucedendo o inverso à
membrana basilar. A lâmina espiral divide a có-
clea em duas rampas, vestibular e timpânica, que
comunicam no apex (helicotrema). A rampa ves-
tibular prolonga o vestíbulo e a rampa timpâni-
ca termina na janela coclear. À frente desta janela
tem inicio o aqueduto coclear que faz comunicar o
espaço perilinfático com o espaço subaracnóideu.

6 4 3 8 7 LABIRINTO MEMBRANOSO
Fig. 10.4.40: Anatomia do interior do ouvido ósseo.
1. Fosseta oval ou ovóide 2. Fosseta redonda ou hemisfé- Tem origem ectodérmica e começa a desenvol-
rica 3. Orifício de abertura do aqueduto coclear 4. Janela
redonda 5. Fossa coclear 6. Orifício do aqueduto do vestíbulo ver-se pelo 21 º dia, estando concluído o seu de-
7. Rampa vestibular 8. Rampa timpânica 9. Abertura comum dos senvolvimento ao fim de 70 dias. As cavidades de
orifícios não-ampulares dos canais semicirculares anterior e posterior

694
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMAS NEUROSSENSORIAIS

paredes membranosos estão situadas no interior


do labirinto ósseo:
1. Vestíbulo membranoso - centro;
z. C anais semicirculares membranosos - locali-
zação póstero-superior;
3. Canal coclear - localização anterior.

O labirinto membranoso é composto de uma ca-


mada externa (conjuntiva) e de uma camada in-
terna (epitelial). Esta última diferencia-se, nalgu-
mas zonas, nas células sensoriais onde têm origem
as fibras nervosas que irão constituir o VIII par
craniano.
O vestfbulo membranoso (Fig. 10.4.42) compõe-
-se de duas vesículas ou órgãos otolíticos: utrícu-
Fig. 10.4.42: Visão esquemátíca do labirinto membranoso.
lo e sáculo. O utrículo é a maior, tendo uma loca- 1. Abertura intracraniana do aqueduto do vestibulo 2. Abertura
lização póstero-superior no compartimento cen- intracraniana do aqueduto do caracol 3. Saco endolinfático 4. Canal
endolinfático 5. Utrículo 6. Sáculo 7. Canal coclear 8. Canais
tral. O sáculo tem uma dimensão inferior e com semicirculares membranosas
forma arredondada, tendo uma localização ânte-
ro-inferior face ao utrículo. Os elementos senso- ro) e no seu pólo basal por urna ou várias sinap-
riais (células ciliadas) estão localizados nas mácu- ses com as fibras nervosas aferentes e eferentes.
las que detectam as acelerações lineares, no pla- A célula sensorial é excitada cada vez que a cor-
no horizontal (utrículo) e no plano vertical (sácu- rente endolinfática faz balançar os esterocílios do
lo), produzidas pelos movimentos de translacção lado do k.inocílio e levam, deste modo, a um au-
do corpo e, especialmente, da cabeça nos 3 pla- mento da frequência da descarga nas fibras afe-
nos do espaço: rentes. As acelerações lineares responsáveis pela
• M ácula utricular, para os movimentos verti- estimulação das células são produzidas pelos mo-
cais e ântero-posteriores; vimentos de rotação do corpo e da cabeça em to-
• M ácula sacular, perpendicular à anterior, para das as direcções. O seu funcionamento resulta da
os movimentos de translacção lateral. acção do movimento dos líquidos labirínticos so-
bre estruturas móveis (cúpulas gelatinosas) pro-
O princípio do seu funcionamento é a acção (pres- vocando pressão ou tracção sobre os cílios das cé-
são ou tracção) das estatocónias (cristais de carbo- lulas.
nato de cálcio), na extremidade dos cílios das cé- Nas cinco zonas sensoriais (duas máculas e três cris-
lulas. tas ampulares) têm origem as fibras nervosas que
De referir que no sáculo e no utrículo têm origem constituem, no seu conjunto, o nervo vestibular.
dois canaliculos que vão confluir, constituindo o
canal endolinfático que termina no saco endolin- CANAL COCLEAR
fático situado na dura-máter.
Os três canais semicirculares membranosos es- Situado dentro do labirinto ósseo é um canal es-
tão no mesmo plano dos canais ósseos, sendo o piral com origem no vestfbulo e termina no heli-
seu diâmetro cerca de 1/ 4 do calibre do respec- cotrema. O canal coclear apresenta quarto pare-
tivo canal ósseo. Abrem-se no utrículo e a extre- des (Fig. 10.4.43):
midade ampular de cada canal contém uma cris- 1. Parede timpânica, inferior, é constituída pela
ta ampular onde estão localizadas as células sen- membrana basilar que suporta o órgão espi-
soriais, sensíveis às acelerações angulares. Cada ral. Esta membrana estende-se da lâmina es-
célula é constituída, no seu pólo apical, por 40 piral óssea ao ligamento espiral, extensão da
ª 70 estereocílios e um k.inocílio (cílio verdadei- crista espiral. Contém os vasos espirais;

695
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

2. Parede vestibular, superior, é formada pela


membrana vestibular que separa o canal co-
clear da rampa vestibular;
3. Parede externa é constituída pelo ligamento
espiral ou crista espiral (espessamento do en-
dósteo);
4. Parede interna apresenta o limbo da lâmina
espiral, (endósteo espessado da lâmina espi-
ral). O lábio vestibular do limbo continua-se
pela membrana tectória. O lábio timpânico
repousa sobre a membrana basilar. Os dois lá- 13 12 11 10 8
bios delimitam o sulco espiral interno.
Fig. 10.4.44: Visão esquemática do órgão de Corti.
1. Células de Claudius 2. Células de Hensen 3. Células ciliadas exter.
nas 4. Membrana Tectória 5. Prolongamento ciliar 6. Lâmina reticular
2
7. Célula ciliada interna 8. Fibras nervosas 9. Túnel de Corti 10, Células
em pilar do órgão de Corti 11. Células de Deiters 12. Células de
Boettcher 13. Membrana basilar.

A membrana tectória é uma lâmina de substância


gelatinosa que recobre o órgão espiral. É segrega-
da pelos dentes acústicos que são células que re-
vestem o lábio vestibular do limbo da lâmina es-
piral. Está em contacto com os cílios das célu-
las sensoriais.
9
LÍQUIDOS LABIR[NTICOS

O espaço que separa as paredes do labirinto ósseo


14 13 12 11
do labirinto membranoso está preenchido com
Fig. 10.4.43: Diagrama em corte transversal do canal coclear.
1. Gânglio espiral 2. Artéria espiral 3. Limbo espiral 4. Membrana
perilinfa. Por sua vez, a endolinfa está contida no
vestibular (Reissner} 5. Rampa vestibular 6. Epitélio secretor 7. Zona interior do labirinto membranoso.
vascular 8. Sulco espiral externo 9. Ligamento espiral 1O. Crista
basilar 11. Órgão espiral (Corti) 12. Rampa timpânica 13. Membrana
A perilinfa tem urna composição similar ao líquor.
basilar 14. Sulco espiral interno 15. Membrana tectória 16. Rampa Trata-se de um ultrafütrado dos capilares perilin-
coclear ou canal coclear
fáticos, possuindo um teor iónico rico em sódio e
pobre em potássio. Por outro lado, a endolinfa, que
O órgão espiral é constituído por estruturas epite- é produzida na estria vascular, apresenta um alto
liais que estão sobre a membrana basilar. Da pare- teor em potássio e em mucopolissacarídeos (alta
de externa até ao limbo espiral observam-se suces- viscosidade), sendo pobre em proteínas.
sivamente (Fig. 10.4.44):
• Células de sustentação externas e células limi- VASCULARIZAÇÃO DO LABIRINTO
tantes externas;
• Células sensoriais ciliadas externas, em 3 fi- A artéria auditiva interna ou artéria labiríntica
las, que reposam sobre as células falângicas (Fig. 10.4.45) é a única responsável pela irrigação
externas; do labirinto membranoso. Tem origem, geralmen-
• Duas rampas de células (pilares externo e in- te, na artéria cerebelosa ântero-inferior, pelo que
terno); depende do sistema vértebro-basilar.
• Uma fila células sensoriais internas sustenta- A artéria auditiva interna divide-se, no canal au-
das pelas falângicas internas; ditivo interno, em três ramos: artéria coclear, arté-
• Células limitantes internas. ria cócleo-vestibular e artéria vestibular anterior.

696
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMAS NEUROSSENSORIAIS

Sendo a microcirculação do labirinto do tipo ter- nores), o máximo da amplitude vibratória situa-
rninal (ausência de anastomose ou de circulação -se no apex da cóclea e no caso dos sons agudos
colateral), compreende-se que uma lesão obstruti- (comprimentos de onda menores e frequências
va se traduzirá por uma isquémia parcial ou total maiores) a vibração interessa a base. A vibração da
no território a jusante. membrana basilar induz um movimento das cé-
lulas sensoriais que interagem por meio de con-
tacto com a membrana tectória ocorrendo assim
FISIOLOGIA DA AUDIÇÃO uma estimulação dos cílios que transformam uma
energia mecânica em energia nervosa (transduc-
Os sons recolhidos pela aurícula e orientados para ção) (Fig.10.4.46).
meato acústico externo vão provocar a vibração As células do órgão espiral1 (não são neurónios
0
da membrana do tímpano. Esta vibração vai ser mas fazem sinapse, na sua base, com fibras nervo-
transmitida ao líquido perilinfático do ouvido in- sas), são excitadas pela onda sonora são as células
terno pela cadeia ossicular. Graças à diferença de ciliadas internas - CCI - (3.500 células, cada célula
superficie entre o tímpano e a platina do estribo tem 50 a 60 estereocilios) cuja selectividade senso-
(20/1), a cadeia ossicular amplifica as vibrações so- rial é devida à acção das células ciliadas externas -
noras o que vai permitir passar de um meio aéreo CCE - (20.000 células e cada célula tem cerca de
para um meio liquido sem haver perda da intensi- 100 estereocilios). As CCI transformam a men-
dade do som o que aconteceria se não existe aque- sagem mecânica em mensagem electro-química
la amplificação. (nervosa): são células transductoras (Fig. 10.4.44).
Ao nível do ouvido interno as vibrações provocam As CCE têm como função ajustar a resposta da
0 movimento do líquido perilinfático e isto só é
cóclea às diferentes frequências e permitir ás CCI
possível devido a dois factos: a comunicação entre funcionar com mais precisão.
a rampa vestibular e a rampa timpânica e a exis-
tência da janela coclear cuja membrana sofre as REGULAÇÃO DA TRANSMISSÃO DO SOM
mesmas oscilações da platina do estribo, mas em
sentido inverso. O movimento do líquido perilin- Como evitar um traumatismo sonoro no ouvi-
fático produz a vibração da membrana basilar cuja do interno? Qyando o som é muito forte há uma
propagação se faz de maneira diferente consoan- contracção síncrona dos dois músculos do ouvido
te a frequência dos sons: nos sons graves (compri- médio. Isto provoca uma rigidez da cadeia ossicu-
mentos de onda mais elevados e frequências me- lar que não transmite mais as vibrações, seguindo
estas a via aérea directa que tem rendimento tanto
mais fraco quanto mais bloqueada estiver a janela
vestibular o que vai prejudicar por em movimento
o líquido perilinfático.
Uma lesão parcial ou completa do nervo facial leva
a uma paralisia do músculo do estribo. Esta lesão
desorganiza o sistema regulador e traduz-se por
urna hiperacúsia.
A trompa auditiva permite a drenagem das secre-
ções da mucosa da cavidade timpânica e assegura a
igualdade de pressão de um lado e doutro do tím-
pano, evitando deste modo tudo o que possa pre-
judicar a sua vibração.

Fig. 10.4.45: Vascularização do Ouvido Interno.


1 Células aliadas (são estereocilios que não devem ser confundi-
1. Artéria cerebelosa ântero-lnferior 2. Artéria basilar 3. Artéria dos com cilios. Os estereocilios não têm o axonema dos microtúbu-
Vestibular anterior 4. Artéria codear comum 5. Artéria vestibular los que se encontram nos cilios, pelo que não são dotados de movi-
porter1or 6, Artéria coclear mentos próprios).

697
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

4 Os centros do equilibrio recebem informações


provenientes de três fontes :
• Receptores vestibulares (permitem a percep-
ção dos movimentos da cabeça);
í • Receptores visuais (permitem a percepção

tr
dos objectos que nos rodeiam);
• Receptores propriocetivos (permitem a per-
cepção da mudança de posição relativa dos
diferentes segmentos do corpo).
6 5 8

Fig. 10.4.46: Diagrama representativa da fisiologia da cóclea. Os centros do equilfürio recebem informações
1. Janela oval 2. Janela redonda 3. Membrana tectória 4. Apex
5. Membrana basal 6. Alta frequência 7. Média frequência 8. Baixa provenientes de três tipos de aferências periféricas:
frequência vestibulares, visuais e cinestésicas. Baseados nes-
tas informações os centros enviam influxos ner-
FISIOLOGIA DO EQUILÍBRIO vosos eferentes (envia aos músculos as ordens de
contracção e relaxamento) necessários à manuten-
Toda a função vestibular é baseada em dois factos ção do equilibrio.
que se associam: A função do labirinto posterior é o de informar
1. Movimento dos líquidos labirínticos; o sistema nervoso central (SNC) sobre as acele-
2. Igualdade desses movimentos nos dois vestí- rações, lineares e angulares, às quais os receptores
bulos (direito e esquerdo). vestibulares são sensíveis. Algumas fibras vestibu-
lares projectam-se directamente no cerebelo sem
Assim, a excitação do vestíbulo provoca o movi- fazerem sinapse no tronco cerebral, mas a maioria
mento dos líquidos labirínticos que banham as cé- terminam nos núcleos vestibulares que estão no
lulas sensoriais. Estas são células ciliadas (tácteis) pavimento do I V ventrículo. Daqui projectam-se
transformam a energia mecânica numa diferença para (Fig. 10.4.47):
de potencial (influxo nervoso) a qual é conduzi- Núcleos dos nervos óculo-motores pelo fei-
da pelo nervo vestibular e suas ramificações (cone- xe longitudinal posterior cujas fibras assegu-
xões). Esta realidade explica igualmente, o princí- ram a estabilização do olhar. Permite fixar o
pio que rege a exploração vestibular. Os dois vestí- olhar num ponto do espaço enquanto a ca-
bulos devem ser igualmente excitados (ao mesmo beça se vai movendo. É a via responsável pelo
tempo ou em provas sucessivas) para depois se po- nistagmo.
der verificar uma eventual desigualdade. • Células radiculares dos cornos anteriores da
No recém-nascido, o órgão vestibular apresenta já espinhal medula pelo feixe vestíbulo-espi-
a configuração que terá no adulto. Este facto assu- nhal. Adaptam a postura das extremidades às
me uma importância fulcral uma vez que atenden- alterações do equilibrio sendo as fibras res-
do à forma como são estimuladas as células senso- ponsáveis pelos desvios segmentares.
riais, a manter-se o crescimento do órgão com a • Núcleo do vago para o controlo das funções
idade, a deslocação permanente dos líquidos labi- neurovegetativas.
rínticos provocaria um estado de vertigem que só • Cerebelo pelas fibras vest.ibulo-cerebelosas
seria suprimido quando o crescimento terminasse. que asseguram a coordenação motora.
A vertigem é uma sensação que surge sempre que • Tálamo e córtex cerebral pelas fibras vestí-
estão perturbados os mecanismos responsáveis bulo-talârnicas e vestíbulo-corticais respon-
pela manutenção do equilibrio e orientação es- sáveis pela percepção consciente dos movi-
pacial. D efine-se equilibrio como o estado de um mentos. De alguns núcleos do tálamo par-
corpo em que as forças sobre ele aplicadas se con- tem fibras que se projectam em duas áreas
trabalançam e anulam, resultado da contracção corticais - uma, no tecto do sulco late-
controlada de numerosos grupos musculares. ral e a outra na parte inferior do sulco cen-

698
CONTROLO E INT EGRAÇÃO I SISTEMAS NEUROSSENSORIAJS

tral. Estas áreas do córtex permitem-nos to- O ouvido é um dos elementos responsáveis pelo
mar consciência dos movimentos do corpo e estabelecimento e pela manutenção do equihbrio
orientação no espaço. do corpo, juntamente com a visão, a sensibilida-
de proprioceptiva (que nos permite dizer, com os
Os núcleos vestibulares recebem, igualmente, as olhos fechados, se um braço está levantado ou flec-
fibras originárias nos receptores visuais e cines- tido) e o cerebelo. Este último em função dos da-
tésicos, em particular dos receptores dos múscu- dos fornecidos pelos três outros sistemas vai agir,
los da nuca. Estas informações são integradas nos de modo inconsciente, sobre o tónus muscular que
núcleos vestibulares, partindo daí um sinal ner- assegura a manutenção da postura, permitindo o
voso dirigido aos músculos oculares, ou à espi- equihbrio do corpo e coordena os movimentos
nhal medula onde se produz uma contracção re- das diferentes partes do corpo em função da sua
flexa, dos músculos do pescoço, do tronco e dos posição. Qyando se caminha age-se de uma for-
membros. ma consciente e voluntária, mas a realização des-
Na vertigem há um conflito entre as informações te acto põe em jogo um grande número de múscu-
sensoriais transmitidas ao SNC pelos diferentes los cuja coordenação (inconsciente) é responsável
receptores implicados no equilíbrio. Trata-se so- pelo equihbrio durante a deslocação.
bretudo de conflitos entre o aparelho vestibular di-
reito e esquerdo. CORRELAÇÕES CLÍNICAS
A vertigem é um sintoma específico de lesão do
aparelho vestibular (labirinto posterior, nervo ves- • A maioria dos neurinomas do VIII par cra-
tibular, núcleos vestibulares e conexões eferentes), niano originam -se no nervo vestibular supe-
sendo o papel deste aparelho, no equilíbrio, aces- rior.
sório uma vez que a sua destruição pode ser com- • O tegmen da caixa do tímpano tem soluções
pensada pela visão e a pela sensibilidade profunda de continuidade em 10-15% dos casos, sen-
em poucas semanas (compensação central). do origem de fístulas de líquor espontâneas
manifestadas por rinorráquia, através da co-
municação da caixa do tímpano com as fos-
sas nasais através da trompa de Eustáquio.
• A maior horizontalização da Trompa de
Eustáquio na idade pediátrica é parcialmen-
te responsável pela maior frequência de dis-
função desta porção do ouvido, associada à
hipertrofia das tonsilas.
• A Malformação de Mondini é uma alteração
da formação da cóclea caracterizada por uma
volta e meia em vez das duas voltas e meia,
sendo mantida a volta basal associando-se a
dilatação quística distal. Clinicamente, ca-
racteriza-se por um deficit auditivo neuro-
sensorial.
• As malformações da aurícula encontram-
-se frequentemente associadas a malforma-
ções renais por fazerem parte do comple-
2
xo semiológico de síndromes malformativos
3 4
complexos.
Fig, 10.4.47: Vias aferentes do equilíbrio.
1. Nervo vestibular 2. Núcleos vestibulares 3. Feixe Espinovestibular,
4. Feixe vestíbuloespinhal 5. Núcleo do VI nervo craniano 6. Núcleo
do IV nervo craniano 7. Núcleo do Ili nervo craniano 8. Núcleos
póstero.ventrais do tálamo 9. Área vestibular cortical 1O. Cerebelo

699
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

PERGUNTAS TIPO c. A parede timpânica é inferior e constituí-


da pela membrana basilar que suporta
1. No que respeita a embriologia do sistema .
orgão . al.
espir o
vestfüulo-coclear, qual das seguintes afirma- d. A largura da lâmina óssea ou espiral da Cô-
ções é verdadeira: dea vai aumentando da base em direção
a. A sua diferenciação inicia-se na 12.ª se- ao apex, sucedendo o inverso à membra-
mana. na basilar.
b. A porção ventral origina o sáculo e o ca- e. A vascularização do labirinto é realizado
nal coclear. pela artéria labiríntica que se origina na
c. O desenvolvimento do ouvido médio de- maioria dos casos da artéria cerebelosa ân-
riva do recesso tubo-timpânico e do me- tero-inferior.
sênquima dos 2º e 3.0 arcos branquiais.
d. A partir da segunda fenda branquial ec-
ia-e:a-e: :11-1
toblástica desenvolve-se no meato acús-
:S"lSods,~
tico externo por invaginação do epiblasto
(camada germinativa derivado do blasto-
cisto).
e. A cadeia ossicular deriva do 2.0 arco bran- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
quial.
Alper, CM.; Luntz, M.; Takahashi, H.; Ghadiali,
2. No que concerne a caixa do tímpano, qual das SN.; Swarts,JD.; Teixeira, MS.; Csákányi,
seguintes afirmações é verdadeira: Z.; Yehudai, N.; Kania, R.; Poe, DS. Panei 2:
a. O canal semicircular superior faz proci- Anatomy (Eustachian Tube, Middle Ear, and
dência na parede medial ou labiríntica. Mastoid-Anatomy, Physiology, Pathophysiology, and
b. Na parede anterior encontram-se as se- Pathogenesis). Otolaryngol Head Neck Surg. 2017
guintes estruturas de cima para baixo: ca- Apr; 156(4_suppl):S22-S40.
nal do músculo tensor do tímpano, ostium Gray, H.; Howden, R.; Pick, TP. eds. Grays
timpânico da trompa auditiva, canalículo Anatomy: Anatomy Descriptive and Surgical. 15th
anterior da corda do tímpano e nervo ca- ed. London, UK: Longmans Green &Co; 1995.
rótico-timpânico.
c. A pars tensa que corresponde a 9/10 da Hansen,JT.; Lambert, DR; eds. Netter's Clinical
membrana timpãnica é oblíqua para baixo, Anatomy (Netter Basic Science). Philadelphia, Pa:
para fora e para a frente sendo constituída Saunders; 2005.
por duas camadas: externa (cutânea) e in- Khan, S.; Chang, R.Anatomyofthe vestibular
terna (mucosa). system: A review. NeuroRehabilitation. 2013 Jan
d. Na parede posterior, a inserção do tendão 1. 32(3):437-43.
do músculo estapédico é superior ao adi-
tus ad antrum. Salah, M.;Jacques, M.; Hassan, H.; Karen, N.;
e. O aparelho ligamentar do martelo é cons- Stéphane, L. Comprehensive and Clinica!Anatomy
tituído por dois ligamentos: lateral e an- ofthe Middle Ear. Springer-Verlag Berlin
terior. Heidelberg, 2013.

3. No que respeita o ouvido interno, indique a


falsa: •••
a. O utrículo tem uma localização póstero-
-superior face ao sáculo.
b. A mácula sacular é responsável pela perce-
ção dos movimentos laterais.

700
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMAS NEUROSSENSORIAlS

SISTEMA OLFACTIVO E SISTEMA e externa da fossa nasal. As glândulas de Bowrnan


GUSTATIVO encontram-se entre os diferentes tipos celulares
que constituem o epitélio olfactivo, tendo como
O 0 Jfacto e o gosto constituem os dois senti- função a produção de muco. Este é fundamental
dos químicos, e permitem estabelecer uma liga- na difusão das moléculas odorantes pelos recep-
ção com o meio ambiente através da percepção de tores olfactivos, e também na protecção imune do
odores e sabores. Embora estejam menos desen- sistema nervoso central (que está directamente li-
volvidos nos humanos do que em outros mamí- gado à mucosa nasal pelo neuroepitélio olfactivo),
feros, estes dois sentidos desempenham um papel uma vez que contém anticorpos.
fundamental no reconhecimento de alimentos e O epitélio olfactivo pseudoestratificado é consti-
odores potencialmente perigosos, assim como nas tuído por três tipos celulares:
suas associações com emoções e memórias. Células receptoras olfactivas: correspondem
ao primeiro neurónio da via olfactiva. Estes
neurónios sensoriais bipolares têm, cada um,
OLFACTO urna dcndrite na superfície do epitélio, que se
(FIG. 10.4.48) expande formando a vesícula olfactiva. Esta
vesícula é recoberta por cílios (não móveis)
A via olfactiva tem início na mucosa olfactiva da que contêm receptores olfactivos, onde se li-
cavidade nasal, onde as moléculas odoríferas en- gam as moléculas olfactivas. Esta ligação ac-
tram em contacto com os neurónios receptores. tiva a síntese de AMP cíclico, levando à aber-
O estímulo químico, agora transformado em im- tura de canais iónicos e originando despola-
pulso eléctrico, vai percorrer estes neurónios e si- rização dos neurónios e um potencial de ac-
napsar, ao nível do bulbo olfactivo, com os neu- ção. Os axónios destas células transportam
rónios mitrais e tufados. Os axónios destas célu- este potencial de acção até ao bulbo olfactivo,
las agrupam-se para formar a fita olfactiva que, na atravessando a lâmina crivosa do osso etmói-
sua extremidade posterior, se divide em três estrias de (Fig. 10.2.2);
olfactivas: a lateral, a mediana/intermédia e a me- • Células basais: estas células localizam-se na
dial. Cada uma destas estrias sinapsa em áreas cor- porção basal do epitélio e têm actividade rni-
ticais e subcorticais, entre as quais se destaca a área tótica, dando origem a novos neurónios re-
olfactiva lateral (córtex piriformc e entorrinal, e ceptores, que substituem os que se perdem
área amigdalina). continuamente devido ao desgaste e lesões;
Esta via difere em vários aspectos das restantes vias • Células de suporte: têm corno função o su-
sensoriais, rcflcctindo a sua origem filogenética pri- porte mecânico das células receptoras e a for-
mitiva. É constituída apenas por neurónios de pri- mação de muco, juntamente com as glându-
meira e segunda ordem, e estes não sinapsam em las de Bowman.
quaisquer núcleos do tálamo. Outra particularidade
advém da localização do primeiro neurónio, que se NERVO OLFACTIVO
encontra na mucosa e não em um gânglio.
Os axónios não rnielinizados das células recep-
NEUROEPITÉL/O OLFACTIVO toras agrupam-se cm feixes atravessando os ori-
fícios da lâmina crivosa do osso etrnóide. O con-
O ar que penetra nas fossas nasais divide-se em junto destes feixes constitui o nervo olfactivo, ou I
duas correntes: a inferior (ou respiratória) dirige- nervo craniano.
-se para as choanas, enquanto a superior (ou olfac-
tiva) ascende, entrando em contacto com o epité- BULBO OLFACTIVO
lio olfactivo. Este epitélio sensorial, denominado
"mancha arnarelá', recobre a face inferior da lâmi- Esta estrutura pertencente ao sistema nervoso
na crivosa e a porção superior das paredes interna central encontra-se na face superior da lâmina cri-

701
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

18 2 3 4
contralateral, da área olfactiva lateral e da fita dia-
gonal de Broca.
Vias eferentes do bulbo olfactivo: a via eferente
consiste na fita olfactiva. Esta projecta-se no bul-
bo olfactivo contralateral, e, pelas suas estrias ol-
factivas, nos três cortices olfactivos: lateral (córtex
piriforme e entorrinal, e área amigdalina), media-
no/intermédio (substância perfurada anterior) e
5 medial (área septal).

FITA OLFACTIVA
12 11 10 9 8

Fig. 10.4.48: Rinencéfalo.


Os axónios das células mitrais e tufadas, ou neu-
1. lndusio Cinzento 2. Corpo Caloso 3. Fórnix ou Trígono Cerebral rónios principais do bulbo olfactivo, constituem
4. Fascíola Cinérea 5. Fímbria 6. Circunvolução Denteada 7. Hi•
pocampo 8. Rta de Giacomini 9. Uncus 10. Substância Perfurada
a fita olfactiva, que tem origem na extremidade .
Anterior 11. Estria lateral 12. Bulbo O~activo 13. Trígono Olfactivo caudal do bulbo e se dirige posteriormente. Na
14. Estria Medial 15. Fita Diagonal de Broca 16. Área paraolfactiva fita olfactiva encontra-se também o núcleo olfac-
17. Giro Paraterminal 18. Septo Pelúcido
tivo anterior, cujos neurónios enviam impulsos
vosa do osso etmóide. Superiormente, o bulbo ol- para o bulbo olfactivo ipsilateral, e para o contra-
factivo relaciona-se com o sulco olfactivo, que se lateral através da estria olfactiva medial e da co-
localiza na face inferior do lobo frontal entre o giro . missura anterior. A. fita olfactiva termina-se ao
recto e os giros orbitofrontais. alcançar a porção anterior da substância perfu-
O bulbo olfactivo é maioritariamente constituído rada anterior, onde se divide nas três estrias ol-
por três tipos de neurónios (células mitrais, tufa- factivas.
das e granulares) e pode ser dividido em cinco ca-
madas constituídas por diferentes tipos celulares. ESTRIAS OLFACTIVAS
A primeira camada é constituída pelos feixes do
nervo olfactivo que imergem no bulbo. A segun- A fita olfactiva dá origem às três estrias olfacti-
da camada, ou camada glomerular, é formada pe- vas: lateral, mediana/intermédia e medial. As es-
las sinapses entre as células receptoras e as dendri- trias mediana/intermédia e medial estão pouco
tes dos neurónios tufados e mitrais (também cha- desenvolvidas nos humanos, e pensa-se que não
mados "neurónios principais do bulbo"). Estas si- tomam parte no processo de percepção dos estí-
napses formam estruturas em novelo, que tomam mulos olfactivos, mas são importantes nos meca-
o nome de glomérulos olfactivos, onde múltiplos nismos de resposta inibitória, transmissão de estí-
neurónios receptores sinapsam com apenas algu- mulos ao bulbo olfactivo contralateral e respostas
mas centenas de células mitrais. olfactivas emocionais.
Na camada plexiforme, a terceira camada, po- Estria olfactiva lateral: é responsável pela trans-
dem encontrar-se os três tipos de neurónios que missão dos estímulos olfactivos à área olfactiva la-
constituem o bulbo olfactivo. Segue-se a camada teral.
de células mitrais e, por último, a camada granu- Estria olfactiva mediana/intermédia: projecta-se
lar, composta por neurónios granulares. Estes neu- na substância perfurada anterior, onde se localiza
rónios são intrínsecos ao bulbo olfactivo (têm to- o tubérculo olfactivo.
das as suas sinapses dentro desta estrutura) e a sua Estria olfactiva medial: projecta-se na área olfac-
função é a inibição lateral, impedindo a difusão tiva medial ou área septal (relacionada com o sis-
dos impulsos das células mitrais. tema límbico).
Vias aferentes do bulbo olfactivo: o bulbo rece-
be fibras dos neurónios receptores da mucosa na-
sal, do núcleo olfactivo anterior, do bulbo olfactivo

702
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMAS NEUROSSENSORIAIS

côRTEX OLFACT/VO -se com respostas emocionais a estímulos olfac-


tivos.
O cortéx olfactivo divide-se em três áreas, cada um
das quais estando associada a uma das três respec- FITA DIAGONAL DE BROCA
úvas estrias olfactivas: área lateral, área mediana/
intermédia e área medial. A fita diagonal de Broca é constituída por fibras
que se originam na área septal (área medial) e na
Área lateral substância perfurada anterior (área mediana/in-
termédia), e une a circunvolução subcalosa ao cór-
Esta área recebe as projecções da estria olfactiva tex piriforme (área lateral) e ao hipocampo. Assim,
lateral e é subdividida em áreas piriforme, peria- esta fita une as três áreas olfactivas corticais.
rnigdalina e entorrinal. Da área lateral partem efe-
rências para o córtex orbitofrontal, onde as infor- PATOLOGIA DA VIA OLFACTIVA
mações relacionadas com o olfacto são integra-
das com informações provenientes de outras áreas Os termos anosmia e hiposmia utilizam-se em
corticais, relativas às demais vias sensoriais e a doenças do olfacto e referem-se, respectivamen-
emoções e memórias. te, à incapacidade total ou parcial de sentir odores.
O córtex olfactivo piriforme encontra-se no uncus No entanto, a anosmia ou hiposmia unilateral po-
do lobo temporal e está relacionado com a percep- dem ser de difícil percepção pelo doente, devido à
ção consciente dos odores. As suas fibras aferen- manutenção da via olfactiva contralateral. Assim,
tes têm origem maioritariamente na estria olfacti- a anosmia unilateral pode ser de difícil diagnósti-
va lateral, enquanto as fibras eferentes estabelecem co, enquanto a anosmia bilateral é facilmente no-
conexões com o córtex entorrinal, núcleo amigda- tada pelos doentes, sobretudo devido à diminuição
Jino e com o núcleo dorsomedial do tálamo. do paladar, que tem estreita ligação com o olfacto.
A área amigdalina corresponde ao núcleo corti- Anatomicamente, as lesões da via olfactiva podem
comedial da amígdala, cujas eferências se dirigem afectar o primeiro ou segundo neurónios desta via.
para o hipotálamo e para a área anterior da ínsu- São exemplos de patologia que afecta o primeiro
la. Pensa-se que este núcleo está relacionado com neurónio as infecções virais que podem provocar
as respostas viscerais e emocionais a estímulos ol- lesão do neuroepitélio olfactivo, ou os traumatis-
factivos, assim como com a geração de comporta- mos cranianos, que podem lesar os axónios das cé-
mentos motores associados à alimentação (masti- lulas receptoras na sua passagem pela lâmina cri-
gação, deglutição, entre outros). vosa do osso etmóide.
A área entorrinal (área 28 de Brodmann) localiza- Os tumores da face inferior do lobo frontal, como
-se no giro parahipocâmpico. Esta área recebe afe- os meningiomas, podem provocar anosmia por le-
rências das áreas piriforme e amigdalina. são do segundo neurónio. A síndrome de Foster-
-Kennedy caracteriza-se pela presença de anosmia
Área olfaetiva mediana /intermédia e atrofia do nervo óptico homolateral (por com-
pressão tumoral), e edema da papila óptica con-
Localiza-se ao nível da substância perfurada an- tralateral (por hipertensão intracraniana) e está as-
terior, recebendo aferências da estria olfactiva me- sociada a grandes tumores intracranianos.
diana/intermédia.

Área olfaetiva medial ou área septal GOSTO/PALADAR


(FIG. 10.4.49, 10.4.50)
Consiste nas circunvoluções subcalosa e paraolfac-
tiva, que se localizam inferiormente ao joelho do A sensação do gosto é transmitida maioritaria-
corpo caloso e anteriormente à lâmina terminalis. mente pela língua, mas também pelo véu do pa-
Esta área pertence ao lobo límbico, relacionando- ladar, epiglote e faringe. As partículas gustativas

703
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

estimulam as células receptoras presentes nas pa- pos: filiformes, ftmgiformes e circunvaladas ou ca-
pilas gustativas. Este estímulo é transmitido aos liciformes. Os botões/corpúsculos gustativos qUe
prolongamentos periféricos dos neurónios senso- recobrem as papilas são constituídos por três ti-
riais de primeira ordem da via gustativa (que per- pos celulares:
tencem aos nervos cranianos facial, glossofaríngeo Células receptoras gustativas: são células
e pneumogástrico). Estes sinapsam com os neuró- neuroepiteliais, cuja superfície apical apre-
nios de segunda ordem ao nível do núcleo do feixe senta microvilosidades, que se abrem nos
solitário. Os neurónios de segunda ordem cruzam poros gustativos das papilas. Estes poros têm
a linha média e ascendem até ao núcleo ventral contacto directo com a saliva, onde se en-
póstero-medial do tálamo, onde sinapsam com os contram as moléculas gustativas. A porção
neurónios de terceira ordem que vão, finalmente, basal destas células contacta com os prolon-
dirigir-se à área cortical gustativa primária. gamentos periféricos das fibras nervosas da
Um conceito fundamental é o de que as sensações via gustativa. A ssim, a estimulação de urna
gustativas não são exclusivamente formadas pelos célula do neuroepitélio provoca um poten-
estímulos ao nível dos corpúsculos gustativos, mas cial receptor, que é transmitido pela sua por-
são um conjunto complexo de estímulos gustati- ção basal, às fibras nervosas, desencadeando
vos, olfactivos, térmicos e de textura do alimento. nestas um potencial de acção, que propaga 0
estímulo gustativo.
Células basais: encontram-se na porção basal
4 2
das papilas e diferenciam-se em células recep-
toras, substituindo estas últimas, cuja serni-vi-
da é curta (cerca de 10 dias).
Células de suporte: têm como função o su-
porte das células receptoras, assim como a se-
creção de substâncias que recobrem as micro-
vilosidades das células receptoras.

As papilas gustativas permitem a distinção de cin-


co sabores básicos: doce, salgado, amargo, azedo
(ácido) e umami. Este último foi descoberto mais
recentemente e corresponde ao sabor de certos
aminoácidos livres, como o glutamato (existente
na carne ou no molho de soja, por exemplo). Em-
bora classicamente se divida a língua em territó-
rios gustativos, estudos mais recentes sugerem que
esta divisão é apenas teórica, e que os cinco gostos
podem ser sentidos em qualquer área da língua,
Fig. 10.4.49: Botão/Corpúsculo Gustativo.
existindo apenas discretas diferenças no limiar de
1. Poro Gustativo 2. Célula Sensorial 3. Célula de Suporte 4. Células detecção de cada sabor.
Epiteliais 5. Fibra Nervosa Sensitiva

VIAS DE TRANSMISSÃO DOS IMPULSOS


PAPILAS GUSTATIVAS E BOTÔES GUSTATIVOS GUSTATIVOS

As papilas gustativas são protusões da mucosa lin- Os neurónios que comunicam com a extremidade
gual recobertas por botões/corpúsculos gustati- basal das células receptoras gustativas podem ter
vos. Estas estruturas encontram-se também ao ní- origem em três diferentes nervos cranianos: facial,
vel do véu do paladar, epiglote e faringe. Anato- glossofaríngeo e pneumogástrico.
micamente as papilas podem dividir-se em três ti-

704
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMAS NEUROSSENSORIAIS

24 23 22 21 20

Fig. 10.4.50: Via do Paladar.


1- Córtex Sensorial 2 . Núcleo Ventral Póstero•Media1do Tálamo 3. Área hipotalâmica Lateral 4 . Corpo Amigdalino 5. Área Pôntica do Paladar
6- Nervo Trigémio (V) 7. Gânglio Trigeminai (Gasser) 8. Nervo Oftálmico (V1) 9. Nervo Maxilar (V2) 10. Nervo Mandibular (V3) 11. Gânglio
Pterigopalatin 12. Nervo Vidiano 13. Nervo Lingual 14. Gânglio ótico 15. Nervo Corda do Tímpano 16. Papilas Fungiformes 17. Papilas
Foleadas 18. Papilas Circunvaladas 19. Epiglote 20. Laringe 21. Nervo Laríngeo Superior 22. Nervo Vago (X} 23. Gânglio Inferior (X)
24. Gânglio Petroso Inferior (IX) 25. Bulbo 26. Nervo Glossofaríngeo (IX) 27. Núcleo do Trato Solitário 28. Nervo Intermediário de Wrisberg (VII)
29. Nervo Facial (VII) 30. Gânglio Geniculado 31. Nervo Grande Petroso 32. Protuberância 33. Núcleo Mesencefálico e Motor do Nervo Trigémio

705
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Nervo facial ao tálamo, levando o estímulo gustativo ao c.Or-


tex cerebral.
É responsável pela transmissão do gosto dos dois
terços anteriores da língua. Os prolongamen- TÁLAMO
tos periféricos destes neurónios chegam à língua
não através do facial, mas através do nervo lin- No núcleo ventral póstero-medial do tálamo en-
gual, um ramo do trigémio que anastomosa o V contram- se os corpos dos neurónios de terceira
e o VII nervos cranianos. O nervo lingual anasto- ordem da via gustativa, com os quais fazem sinap-
mosa-se com o nervo corda do tímpano, um cola- se os neurónios de segunda ordem que aí chegam.
teral do nervo facial que transporta as fibras gus- Daqui, os axónios dos neurónios talâmicos diri-
tativas, permitindo que estas se juntem ao seu ner- gem-se para a cápsula interna, atravessando o seu
vo de origem. Os corpos destes neurónios encon- braço posterior e depois a corona radiata, para ter-
tram-se no gânglio geniculado. minarem nas áreas corticais gustativas.

Nervo glossofaríngeo ÁREAS CORTICAIS GUSTATIVAS

Transmite a informação sensorial do terço poste- O córtex gustativo primário, ou área 43 de Brod-
rior da língua, através dos seus ramos terminais. mann, localiza-se no opérculo parietal, na por-
Os corpos destes neurónios encontram-se ao ní- ção inferior da circunvolução parietal ascenden-
vel do gânglio de Ehrenritter ou gânglio petroso. te, junto à área do córtex somatostésico primário
da língua e faringe.
Nervo pneumogástrico A porção anterior da ínsula recebe também im-
pulsos da via gustativa, integrando-os com os es-
É responsável pelo sentido do gosto ao nível da tímulos olfactivos. No córtex orbitofrontal ocor-
orofaringe e epiglote. Os corpos destes neurónios re também integração dos estímulos gustativos
sensitivos encontram-se no gânglio plexiforme ou com os olfactivos, e ainda com informações pro-
gânglio inferior do vago. venientes de outras áreas corticais, relativas às de-
mais vias sensoriais e a emoções, memórias e mo-
NÚCLEO DO FEIXE SOLITÁRIO tivação.

Os corpos dos neurónios de primeira ordem da INERVAÇÃO SENSORIAL, SENSITIVA E MO-


via do gosto localizam-se nos gânglios sensiti- TORA DA LÍNGUA
vos dos três nervos cranianos: facial, glossofarín-
geo e pneumogástrico. Os seus prolongamentos Em resumo, a inervação da língua é feita por qua-
centrais, após entrarem no tronco cerebral pe- tro nervos cranianos:
las emergências dos respectivos nervos cranianos, • Nervo Trigémio: é responsável pela inerva-
formam o feixe solitário, que termina na porção ção sensitiva dos dois terços anteriores da
superior do núcleo do feixe solitário. Neste nú- língua;
cleo, estes neurónios fazem sinapse com os neu- • Facial: é responsável pela inervação senso-
rónios de segunda ordem da via do gosto, que se rial dos dois terços anteriores da língua, as-
dirigem para múltiplas áreas do tronco cerebral e sim como do véu do paladar;
diencéfalo, como a substância reticular, o núcleo • Glossofaríngeo: é responsável pela inerva-
motor do pneumogástrico, os núcleos salivares e ção sensorial e sensitiva do terço posterior
o hipotálamo. Estas conexões permitem a media- da língua, e confere ainda inervação motora
ção entre o gosto, os reflexos secretores e os cen- ao músculo estilo-glosso;
tros de regulação autonómica hipotalâmicos. • Hipoglosso: Fornece a inervação motora a
Uma parte das fibras que se originam no nú- todos os outros músculos da língua.
cleo solitário cruza a linha média e ascende até

706
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMAS NEUROSSENSORIAIS

Finalmente, se considerarmos para além da lín- b. A área cortical da via do gosto localiza-se
gua, as restantes estruturas responsáveis pelo sen- na vertente superior da circunvolução pós-
tido do gosto, nomeadamente a epiglote e a oro- -central.
faringe, a inervação sensorial destas é feita pelo c. A via gustativa denomina-se também de
pneumogástrico. lemniscus lateral.
d. As fibras da via do gosto são transportadas
Patologia da via gustativa por 3 nervos cranianos: facial, glossofarín-
geo e grande hipoglosso.
A ageusia (ausência de paladar), a hipogeusia (di- e. Na via gustativa o primeiro neurónio faz
minuição do paladar) e a disgeusia (distorção do sinapse com o segundo no núcleo do trac-
paladar) são sintomas frequentes e podem ter to solitário.
múltiplas causas. São causas fisiológicas de hipo-
geusia, por exemplo, o envelhecimento e a gra- 3. A anósmia é o defeito neurológico que con-
videz. siste na perda completa de olfato. Conside-
A patologia do sistema nervoso, como as lesões re as seguintes afirmações e escolha a afirma-
dos nervos cranianos facial, glossofaríngeo ou ção errada:
pneumogástrico, ou ainda a esclerose em placas, a. A anósmia pode ser provocada por tumo-
podem levar a diminuição unilateral do gosto. res da base anterior do crânio.
As alterações da mucosa bucal e lingual, como b. Qµando existe anósmia, a pessoa consegue
· aquelas provocadas.por xerostomia, radioterapia, detetar se os alimentos são doces ou sal-
ou tabagismo, também levam a alterações do pa- gados.
ladar. c. Os tumores da região entorrinal esquerda
Fármacos como os antihipertensores, certos anti- podem provocar anósmia.
bióticos, o lítio e o metotrexato também estão as- d. Uma lesão de ambos os tratos olfativos
sociados a hipogeusia, assim como vários distúr- pode provocar anósmia.
bios sistémicos, como a deficiência de zinco, a in- e. A anósmia é um sinal presente em algu-
suficiência renal grave e a diabetes. mas formas de demência de Alzheimer.

!:)-~ !:;[-('. !:::,-1


PERGUNTAS TIPO :s.lsodsoc1

1. Assinale a alínea FALSA:


a. A área olfactiva primária encontra-se· na
área periamigdalina e córtex pré-pirifor- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
me.
b. O córtex olfactivo secundário localiza-se Netter, FH.Atlas ofHumanAnatomy. Ciba-
na área entorrinal. Geigy. Basileia, 1989.
c. A área olfactiva primária é irrigada pela Splittgerber, R. Snell's Clinical Neuroanatomy. 8.ª
artéria cerebral posterior. edição. Wolters Kluwer, 2019.
d. O primeiro neurónio da via olfactiva está
Machado, A.; Haertel, LM. Neuroanatomia
localizado na mucosa das fossas nasais.
Funcional. 3.ª edição. Editora Atheneu. Belo
e. Os filetes do nervo olfactivo atravessam o
Horizonte, 2014.
osso etmoide.

2. Assinale a alínea VERDADEIRA: ***


a. Apenas os neurónios do gânglio genicu-
lado e do gânglio petroso transportam in-
formação gustativa.

707
11. CABEÇA

Terminado o período embrionário, no final da 8.ª praorbitárias; lateralmente as linhas temporais su-
semana de fertilização, o ser em formação apre- periores; posteriormente as linhas nucais superio-
senta já a forma humana, em que a cabeça assu- res e a protuberância occipital externa (exterior).
me uma dimensão relativa preponderante (cerca A configuração exterior apresenta como princi-
de metade da dimensão total) e em que a face re- pais acidentes anatómicos: a glabela, situada na re-
presenta aproximadamente ¼ da dimensão da ca- gião mediana anterior, logo acima da depressão do
beça, relação essa que se altera até à vida adulta em nasion; ânterolateralmente as arcadas supracilia-
que a relação craniofacial é de 1/1. res recobertas pelas sobrancelhas; as bossas fron-
A Anatomia Topográfica da Cabeça integra o an- tais, bilateralmente situadas na escama do frontal;
dar superior, o crânio (neurocrânio) e o andar in- a que se seguem de ambos os lados as bossas pa-
ferior ou face (viscerocrânio). rietais e posteriormente a protuberância occipital
O Crânio abrange as seguintes regiões topográ- externa (exterior).
ficas: D a superfície para o interior, esta região é consti-
• Região occipitofrontal; tuída por pele, tecido subcutâneo, plano musculo-
• Região temporal; -fascial, camada de tecido celular laxo, periósteo,
• Região auricular; esqueleto ósseo, meninges e hemisférios cerebrais
• Região mastoideia. (Fig. 11.1).

A face tem por sua vez dois segmentos, sendo um


superior e outro inferior, que compreendem as se-
guintes regiões topográficas:
• No segmento superior da face:
• Região nasal (narinas e cavidade nasal);
• Região orbitária.

• No segmento inferior da face:


• Região oral;
• Região mentoniana (mentual);
• Região geniana; Fig. 11.1: Diferentes planos da região occípito-frontal.
• Região massetérica; 1. Pele 2. Tecido cellular subcutâneo 3. Aponevrose epicraniana
4. Periósteo 5. Abóbada craniana
• Região infra-temporal;
• Região palatina;
• Região tonsilar (amigdalina); A pele é espessa e lisa e macia na região frontal
• Região retro-faríngea; sendo mais consistente e recoberta de cabelos a
• Região maxilo-faríngea; partir daí e posteriormente. Por debaixo da pele
• Região do Pavimento bucal. existe uma camada de tecido celuloadiposo, entre-
cruzada por tecido fibroso, em cuja camada pro-
Passamos a descrever de modo sumário e objecti- funda existem ramificações vasculares e nervosas,
vo cada uma das regiões consideradas. convergentes da periferia para o centro e dispostos
em três grupos: anterior (contendo o pedículo su-
A região occipitofrontal localiza-se na parte supe- praorbitário formado pelos ramos superficiais da
rior da calvária e tem como limites, anteriormen- artéria e veias supraorbitárias e medialmente o pe-
te a raiz nasal (nasion) e as margens (bordos) su- dículo supratroclear constituído pelo nervo supra-

71 1
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

troclear e pelos ramos superficiais da artéria e veia A região temporal localiza-se na face lateral do
supratrocleares internas), lateral (contendo o pe- crânio, atrás da região orbitária e superiormente às
dículo temporal composto pelos ramos terminais regiões masseterina e parotidea. O seu limite ante-
da artéria temporal superficial, ramos da veia tem- rior é o processo zigomático e o bordo póstero-su-
poral e do nervo aurículo-temporal; e o pedículo perior do osso zigomático. Inferiormente é limita-
mastoideu, constituído pelo ramo posterior da ar- do pela arcada zigomática (Fig. 11.2).
téria auricular posterior e ramificações terminais
do ramo mastoideu do plexo cervical superficial) e
posterior (composto dos ramos terminais lateral e
medial da artéria occipital e veias correspondentes,
nervo grande occipital e ramo cutâneo da ramifi-
cação posterior do terceiro nervo cervical.
Os vasos linfáticos distribuem-se também na ca-
mada subcutânea profunda, nas regiões frontal,
parietal e occipital; drenam para os gânglios pa-
rotideos (região frontal), gânglios mastoideus (re-
gião parietal) e laterais profundos do pescoço (re-
gião parietal e região occipital).
O músculo occipitofrontal, localiza-se subjacente
à camada subcutânea e possui uma membrana fi-
brosa intermédia denominada "gálea". A este ní- Fig. 11 .2: Vista da região temporal.
vel verifica-se uma íntima relação entre a pele, o 1. Artéria temporal superficial 2. Fáscia temporal superficial 3. Fáscia
temporal profunda {Lâmina superficial) 4. Fáscia temporal profunda
panículo adiposo e o músculo occipitofrontal, for- (Lâmina profunda) 5. Músculo temporal
mando-se como que uma camada única que cons-
titui o couro cabeludo. A camada de tecido adipo- Do exterior para o interior, encontramos pele e te-
so situada interiormente ao couro cabeludo, per- cido subcutâneo, vasos e nervos superficiais; gálea
mite o seu deslizamento sobre o periósteo da cal- e músculos auriculares, fáscia temporal, músculo
vária e é atravessada por vasos que ao mesmo se temporal, esqueleto ósseo da fossa temporal; me-
destinam. O periósteo é a camada que se segue in- ninges e hemisférios cerebrais. A pele tem as ca-
teriormente, sendo delgada e pouco aderente ex- racterísticas do couro cabeludo, na porção superior,
cepto nas suturas e no foramen parietal. Imedia- recoberta por cabelo, sendo lisa e macia inferior-
tamente para dentro podemos encontrar o esque- mente e anteriormente, onde deslisa sobre a gálea
leto ósseo, constituído pelo frontal, porção supe- subjacente. Nesta camada de tecido subcutâneo,
rior dos parietais e a escama do occipital. Podemos profunda encontram-se os vasos temporais super-
identificar as suturas coronal, sagital e lambdoide, ficiais (artéria e veia temporal superficial). A veia
as arcadas supraciliares, as bossas frontais, as bos- temporal superficial desce atrás da artéria e ante-
sas parietais e os foramens parietais (atravessados riormente ao nervo aurículo temporal. Os linfáti-
por veias emissárias). Anteriormente, na espessu- cos são tributários dos gânglios parotideos. Ain-
ra do osso frontal existem cavidades pneumatiza- da nesta região podemos encontrar os ramos tem-
das, denominadas "seios frontais". Interiormen- porais e palpebrais do nervo facial que inervam os
te seguem-se as meninges e nomeadamente a du- músculos auriculares, ventre anterior (frontal) do
ra-máter, que contém o seio sagital superior, que músculo occipitofrontal, corrugador da sobrance-
recebe veias meníngeas e lagos sanguíneos e se- lha, o procerus e o orbicular da pálpebra. Poste-
guidamente a aracnoide (no espaço subaracnoideu riormente, destacam-se da gálea os músculos auri-
correm as veias cerebrais) e a pia-máter. A par- culares, anterior e superior e separado por uma ca-
te mais interior do segmento occipito-frontal re- mada de tecido conjuntivo laxo existe subjacente a
laciona-se com a fissura inter-hemisférica e o seg- fáscia temporal. Esta divide-se em baixo em duas
mento lateral superior1dos hemisférios cerebrais. expansões laminares que se inserem nas duas mar-

712
ANATOMIA DAS REGIÕES I CABEÇA

gens do bordo superior da arcada zigomática, sen- emissária mastoideia; linfáticos que drenam para
do o espaço que as separa preenchido por gordura os gânglios mastoideus e sub-esterno-mastoideus
e por vezes atravessada pela artéria temporal pro- e ainda nervos sensitivos (oriundos dos ramos au-
funda média. O espaço que separa a fáscia tempo- ricular e mastoideu do plexo cervical superficial) e
ral do esqueleto ósseo denomina-se loca tempo- motores (do ramo auricular posterior do nervo fa-
ral, preenchida parcialmente pelo músculo tempo- cial que integra os nervos auricular posterior e oc-
ral e que inferiormente comunica com as regiões cipital). Interiormente ficam os planos músculo-
masseterina, geniana e fossa infra-temporal. Jun- -facial (de que fazem parte os tendões de inserção
to ao periósteo e na espessura do músculo tempo- dos músculos esterno-cleido. -mastoideu, esplénio
ral passam as artérias e veias temporais profundas do pescoço e o longo da cabeça, recobertos pela
anteriores e posteriores e os nervos temporais pro- fáscia do esterno-cleido.-mastoideu) e um periós-
fundos, anterior, médio e posterior. Segue-se inte- teo muito aderente.
riormente o esqueleto ósseo delgado, denominado O segmento superior da face e nomeadamente as
"fossa temporal", que contém as fissuras de união regiões nasal e orbitária são descritas com os ór-
da face lateral do frontal, parte inferior do parie- gãos dos sentidos adstritos às mesmas (Olfacto e
tal, porção escamosa do temporal e a parte tempo- Visão).
ral da grande asa do esfenoide, unidos num ponto A região oral, contém a cavidade oral a que se tem
denominado "ptérion''. As meninges são as estru- acesso através de um orificio denominado "orifi-
turas imediatamente subjacentes e em que a du- cio oral" ou "stomium" (delimitado pelos lábios su-
ra-máter é pouco aderente à parede óssea e con- perior e inferior), é dividida pela arcada dentária
tém na sua espessura os ramos terminais da artéria num segmento que se situa na periferia, o vestí-
meníngea média e veias satélites, dando o típico bulo oral e uma cavidade situada interiormente, a
aspecto de "folha de figueira". A região temporal cavidade bucal propriamente dita. Nesta sobres-
relaciona-se interiormente com a face lateral dos sai uma volumosa massa muscular, a língua. Tem
hemisférios cerebrais, onde se encontram grande como limites superior o palato (duro anteriormen-
parte dos centros motores e sensoriais (cissura de te e mole posteriormente), a base do nariz; lateral-
Rolando e a porção lateral da cissura de Sylvius). mente o sulco mentolabial e naso-labio-geniano,
A região auricular é apresentada na abordagem do e inferiormente o pavimento bucal. O lábio supe-
órgão vesnbulo-coclear. rior apresenta uma depressão mediana denomina-
A região mastoideia, que como o próprio nome da "filtro" e que termina inferiormente num tubér-
indica se situa na parte lateral do crânio na por- culo labial. Ambos os lábios apresentam uma face
ção mastoideia do osso temporal, que inclui, bem anterior de revestimento cutâneo e uma posterior
como as partes moles suprajacentes. Tem como li- de revestimento mucoso separados por um bordo
mite superior a linha temporal inferior, anterior- livre, que delimita anteriormente o vermelhão dos
mente uma linha vertical que passa pelo limite lábios. A face mucosa dos lábios continua-se com
posterior do meato acústico externo e posterior- a gengiva aderente e na região mediana anterior de
mente o bordo posterior do processo mastoideu. É ambos os lábios continua-se por uma prega, o freio
uma região recoberta por pele espessa, lisa e, com labial, que se insere na região interincisiva.
excepção da porção posterior em que é recober- O revestimento cutâneo é espesso e aderente aos
ta por cabelos. Por debaixo da pele existe tecido músculos subjacentes, sendo dotado de uma rede
celular subcutâneo com características idênticas à linfática abundante, que drena predominante-
da região occipitofrontal, a que se se segue uma mente para os gânglios linfáticos submandibula-
gálea que se dispersa na crista supra-mastoideia e res e também para os submentonianos (parte me-
na fáscia dos músculos que se inserem na face pos- diana do lábio inferior) e parotídeos (lábio supe-
terior da mastóide. Nesta camada de tecido celular rior). Os músculos desta região, inervados porra-
subcutâneo podemos encontrar a artéria auricular mos do nervo facial, podem ser dilatadores (eleva-
posterior, que se bifurca num ramo anterior e ou- dor do ângulo bucal, abaixador do lábio inferior, os
tro posterior; veias auriculares posteriores e a veia elevadores superficial e profundo da asa do nariz e

713
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

do lábio superior, o pequeno zigomático, o grande (cutânea) e uma face interior (mucosa). A face ex-
zigomático, o risorius, o abaixador do ângulo bucal terior tem uma depressão central, mais evidente
e o platisma).e constritores (orbicular dos lábios e nos indivíduos magros, apresentando imediata-
compressor dos lábios). Subjacente à camada mus- mente por cima uma saliência vulgarmente deno-
cular, existem pequenas glândulas salivares labiais minada "maçã do rosto". A pele regional é espes-
e as artérias coronárias (ramos da artéria facial). sa e móvel, tendo subjacente tecido celuloadiposo
O revestimento interior mucoso, de coloração ró- cuja espessura diminui de trás para diante e os lin-
sea deixa transparecer um aspecto mamilona- fáticos são tributários dos gânglios linfáticos sub-
do causado pelas glândulas salivares subjacentes e mandibulares, submentonianos e parotídeos infe-
possui uma rede linfática distinta da rede cutânea, riores. Existem dois planos musculares nesta re-
que drena para os gânglios linfáticos submandi- gião: o plano superficial, descontínuo, de múscu-
bulares, sub-mentonianos parotídeos e infra-auri- los achatados e convergentes para a comissura la-
culares. bial (de cima para baixo, o elevador superficial da
A região mentoniana (mentual) situa-se como o asa do nariz e do lábio, o pequeno zigomático, o
próprio nome indica, na saliência do mento, ten- grande zigomático, o risórius, os feixes posteriores
do como limites laterais uma linha perpendicu- do platisma, e o músculo occipitofrontal), de vasos
lar que passa nas comissuras labiais, superiormen- (ramificações da artéria transversa da face, facial,
te a base do lábio inferior e inferiormente o bordo mentoniana) e de ramos do nervo facial; o plano
cutâneo inferior do contorno do mento (gnation). profundo que é composto, de cima para baixo, pelo
O contorno geral da região faz procidência (con- músculo elevador do lábio superior e da asa do na-
vexo), apresentando em alguns casos uma depres- riz, elevador do ângulo da boca, o bucinador e os
são mediana denominada "fosseta mentoniana". feixes laterais do abaixador do lábio inferior. La-
A pele nesta região é espessa e aderente e a rede teralmente à fáscia que recobre o bucinador existe
linfática regional drena para os gânglios submen- o corpo adiposo geniano, o qual é contornado an-
tonianos e submandibulares. A camada subcutâ- teriormente pelo canal parotídeo, o qual atravessa
nea de tecido celluloadiposo é muito reduzida e é o músculo bucinador, 1 cm adiante do bordo an-
atravessada por fibras musculares aderentes à pele, terior do masséter, acedendo ao orifício emergen-
constituída pelos músculos mentonianos (men- te na mucosa ao nível da face oclusal, entre o 1.0 e
tual) situado medialmente, abaixador do lábio in- o 2.0 molares permanentes. Os vasos regionais são
ferior e do ângulo da boca (situado ínfero-lateral- a artéria facial (sinuosa e com um trajecto oblíquo
mente). Segue-se interiormente o periósteo, sobre para cima e para diante, desde a sua entrada ao ní-
o qual se movem os tecidos moles que o recobrem, vel do ângulo ântero-inferior do músculo massé-
que tem subjacente a porção óssea mediana ante- ter e até ao sulco naso-geniano (de onde atinge o
rior e procidente do corpo mandibular, denomina- ângulo medial da órbita), a veia facial (que cami-
da "protuberância mentoniana" tendo nos limites nha por fora da artéria facial), os linfáticos (que
laterais os orifício mentonianos direito e esquer- seguem o trajecto dos outros vasos regionais, po-
do, que dão passagem aos vasos e nervos mento- dendo encontrar ocasionalmente gânglios bucais e
nianos. É inconstante a existência de uma bolsa si- submentonianos) e nervos (ramos do facial, o ner-
novial nesta região, entre as partes moles e o pe- vo infra-orbitário, o ramo bucal do nervo tempo-
riósteo. robucal e o nervo mentoniano). Do plano profun-
A região geniana_integra lateralmente a face, sen- do fazem parte: superiormente a face lateral do
do limitada superiormente pela margem (bordo) osso zigomático e o processo piramidal do osso
orbitária inferior, inferiormente pelo bordo infe- malar, numa porção intermédia a mucosa oral e
rior da mandibula, anteriormente pelo sulco naso- inferiormente a face lateral do corpo mandibular.
geniano, medialmente pela comissura labial ipsila- Também nesta região a mucosa inflete e continua-
teral e segundo uma linha vertical passando pela -se pela gengiva aderente. A drenagem linfática da
mesma e ainda lateralmente pelo bordo anterior mucosa regional é tributária dos gânglios linfáti-
do masséter. Esta região possui uma face exterior cos submandibulares.

714
ANATOMIA DAS REGIÕES I CABEÇA

2 cendente da mandíbula, denominada "loca mas-


setérica", integralmente preenchido pelo múscu-
lo masséter, que se estende da arcada zigomática
ao ângulo da mandíbula, passando pela face la-
teral do ramo mandibular ascendente ipsilateral.
O músculo masséter é atravessado pela arté-
ria massetérica (ramo da artéria maxilar) e ner-
vo massetérico (ramo do nervo mandibular).
O esqueleto ósseo da região é composto pelo
ramo mandibular ascendente, e osso temporal
que integra a articulação temporomandibular.
A região infra-temporal_é uma região cavitária em
forma de pirâmide triangular (fossa infra-tempo-
ral - Fig. 11.4) situada medialmente em relação ao
6 ramo ascendente da manch'bula e do músculo mas-
Fig. 11.3: Região Massetérica. séter, lateralmente ao processo pterigoide e parede
1. Glândula parótida 2. Canal parotídeo (Stenon) 3. Bolsa adiposa pro- lateral da faringe, inferiormente à porção horizon-
funda da face (Bichat) 4. Fáscia massetérica 5. Veia facial 6. Artéria
facial tal da grande asa do esfenoide e da região tempo-
ral, superiormente ao bordo inferior do ramo ho-
A região massetérica (Fig. 11.3), situa-se lateral- rizontal da manchbula e de uma linha construída
mente na face e posteriormente à região geniana, pelo seu prolongamento posterior, posteriormente
da qual se separa pelo bordo anterior do masséter. à tuberosidade maxilar e à região geniana, e ante-
Superiormente é limitada pela arcada zigomá- riormente à região parotídea.
tica, inferiormente pelo bordo inferior da man- No segmento lateral da face superior existe uma
cHbula, sendo posteriormente limitada pelo bor- abertura de comunicação com a região temporal,
do posterior do ramo mandibular ascendente. denominada "Joramen" ou "canal zigomático" de-
Faz parte desta região o côndilo mandibular, sa- limitado medialmente pela crista infra-temporal,
liente e móvel à palpação digital. Por baixo de lateralmente pela arcada zigomática, posterior-
uma pele fina e móvel encontra-se um panículo mente pela raiz transversa do processo zigomáti-
adiposo, limitado profundamente pela fascia su-
perficialis, que superiormente se confunde com
a gálea e inferiormente se desdobra para envol-
ver os músculos platisma e o risorius. A cama-
da de tecido celular subcutâneo, imediatamen-
te subjacente é atravessada, de trás para dian-
te pela artéria transversa da face, pelas ramifica-
3
ções terminais do ramo temporofacial do ner-
vo facial, ramos bucais inferiores e mentonia-
nos do ramo cervico-facial e pelo ramo masse-
térico da artéria facial. Os vasos faciais, em espe-
4
cial a veia facial relaciona-se intimamente com
o ângulo ântero-inferior do músculo masséter.
A drenagem linfática é tributária dos gânglios 6
parotídeos inferiores e submandibulares e oca-
sionalmente para os gânglios submentonianos.
A face lateral do masséter é recoberta pela fáscia
Fig. 11.4: Vista da fossa lnfra-temporal.
massetérica. Posteriormente existe um espaço en- 1. Fissura orbitária inferior 2. Crista infra-temporal 3. Buraco esf&
tre a fáscia massetérica e a face lateral do ramo as- no-palatino 4. Tuberosidade maxilar S. Apófise pterig6ide (lâmina
lat eral) 6. Fossa pterigo-palatina

715
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

co e anteriormente pelo osso zigomático. A fos- palatina) e para o palato mole pelas artérias, pala-
sa infra-temporal prolonga-se posteriormente até tina ascendente (ramo da artéria facial) e palati-
ao processo pterigoide, pela fossa ptérigo-palatina, na descendente (ramo da artéria maxilar). Os lin-
que lateralmente se abre na fissura ptérigo-maxi- fáticos drenam para os gânglios jugulares internos
lar, que superiormente e posteriormente se rela- e ocasionalmente para os gânglios submandibula-
ciona com a saliência da extremidade inferior da res e retrofaríngeos laterais. A inervação sensitiva é
crista infra-temporal, denominada "tubérculo es- feita pelos nervos palatinos (anterior, médio e pos-
fenoidal". A fossa infra-temporal é preenchida pe- terior) e a motora depende do vago, com excep-
los músculos pterigoideus, vasos maxilares (artéria ção do nervo do músculo tensor do véu do pala-
e veia maxilar) e nervos (maxilar e mandibular), dar (ramo do nervo mandibular). O revestimento
repartidos nas duas locas de separação determina- mucoso da face superior é feito anteriormente por
das pela fáscia pterigoideia. mucosa nasal que posteriormente dá lugar à mu-
A região palatina, é a separação ósseo-membra- cosa faríngea (a nível do palato mole).
nosa entre as cavidades, oral e nasal. Tem um limi- A região tonsilar (amigdalina), está situada na
te periférico anterior e lateral do palato duro, de- orofaringe, posteriormente à cavidade oral, rela-
terminado pela arcada dentária superior, a que se ciona-se mediaimente com a região infra-tempo-
segue em toda a extensão posterior o palato mole, ral e espaço infra-temporal látero-faríngeo, e dela
que termina num bordo livre posterior que tem na faz parte a loca tonsilar (amigdalina), cavida-
região mediana uma saliência cónica de base ante- de localizada ínfero-lateralmente relativamente
rior e vértice póstero-inferior, a úvula e expansões ao palato mole e que contém a tonsila (amígda-
laterais que constituem os pilares do palato mole. la) palatina, disposta verticalmente, entre os pi-
A região palatina é dotada de uma rafe mediana lares anterior e posterior. Tem uma forma trian-
delimitada anteriormente por uma saliência, o tu- gular de base inferior. Anteriormente é limitada
bérculo palatino, situada no limite anterior, próxi- pelo arco palato-glosso (formado pelos múscu-
mo do orifkio do canal incisivo; ao longo da rafe los glosso-estafilino e palato-glosso) que limita
saem de ambos os lados, as pregas palatinas trans- o istmo das fauces; posteriormente tem como li-
versas e no limite posterior fica a úvula. O reves- mite o arco palato-faríngeo (formado pelo mús-
timento da face inferior da região palatina é fei- culo faringo-estafilino e palato-faríngeo), que li-
to pela mucosa oral, tem subjacente uma camada mita o istmo naso-faríngeo; lateralmente é limi-
submucosa e glandular (glândulas salivares palati- tada pelo músculo amígdalo-glosso, aponevrose
nas) que é percorrida por ramos principais da ar- faríngea (fáscia faringo-basilar) e constritor su-
téria palatina descendente e do nervo palatino an- perior da faringe. A base é constituída pelo ca-
terior. Segue-se interiormente a camada ósteo- fi- nal naso-faríngeo e pela parede lateral da orofa-
brosa do palato duro (onde se encontram, na linha ringe, sendo o vértice o ponto de união dos arcos
média anterior o faramen incisivo, lateralmente o do véu. O s principais vasos que irrigam a tonsi-
orifício do canal grande palatino principal e pós- la são as artérias tonsilares, faríngea ascendente,
tero-lateralmente o orificio do canal grande pala- faríngea descendente, dorsal da língua e peque-
tino e os canais palatinos acessórios) e a fáscia pa- nos ramos de artérias meníngeas. Os vasos lin-
latina (lâmina fibrosa) que tem subjacente a ca- fáticos drenam para os nódulos linfáticos das re-
mada muscular do palato mole, constituída por giões, occipital, parotídea, submandibular, sub-
três planos musculares sobrepostos: 1.0 plano (fei- mental e jugulo-carotídea.
xes principais do músculo palato-faríngeo, directa- A região retro-faríngea_é o espaço celular que
mente inseridos na fáscia palatina), 2.0 plano (dos existe entre a faringe (anteriormente) e a coluna
músculos elevadores do véu do paladar) e um 3.0 vertebral (posteriormente). Tem como limite su-
plano (de músculos da úvula). A vascularização da perior a porção basilar do osso occipital, inferior-
região palatina faz-se para o palato duro por ramos mente em continuidade com o espaço retrovisce-
da artéria maxilar (artéria alveolar superior, ante- ral (atrás da porção cervical da faringe e do esófa-
rior, média e posterior, grande palatina e pequena go) de comunicação com o mediastino posterior.

716
ANATOMIA DAS REGIÕES I CABEÇA

Neste espaço passam ramificações da artéria farín- anterior fica contido entre uma parede anterior e
gea ascendente e veias tributárias do plexo venoso outra posterior de relação parotídea, lateralmente
perifaríngeo. Existem nesta região os gânglios lin- pelo músculo pterigoideu medial e sua fáscia, su-
fáticos retro-faríngeos laterais (dois) e retro-farín- periormente pela fáscia interpterigoideia, medial-
geos medianos (inconstantes). mente pela parede lateral da faringe, sendo o limi-
A região maxilo-faríngea, ocupa o espaço látero- te inferior o do espaço maxilo-faríngeo. Tem como
-faríngeo cefálico, tendo medialmente a parede la- conteúdo tecido célulo-adiposo, o músculo estilo-
teral da faringe e a separação sagital do seu pro- -glosso, vasos (artéria palatina ascendente e arté-
longamento; lateralmente limitado pelo ramo as- ria faríngea ascendente, ladeada por veias satélites)
cendente da mancl.fbula, pelo músculo masséter, e nervos (nervo glossofaríngeo, nervo do músculo
lâmina superficial da fáscia cervical, e pelo mús- tensor do véu do paladar e nervo do músculo pte-
culo esterno-cleido-mastoideu; medialmente pe- rigoideu medial e em alguns casos o ramo lingual
los pterigoideus e fáscia interpterigoideia; poste- do nervo facial). O espaço retroestiloideu é limita-
riormente pela lâmina pré-vertebral; a extremida- do anteriormente pelo diafragma estiloideu, pos-
de superior relaciona-se com a porção petro-tim- teriormente pela fáscia pré-vertebral pelos múscu-
pânica do osso temporal; a extremidade inferior é los pré-vertebrais e pelos músculos escalenos, late-
referenciada no plano horizontal tangente ao bor- ralmente pelo músculo esterno-cleido-mastoideu
do mandibular inferior. O espaço maxilo-faríngeo e o folheto profundo da sua baínha, superiormente
é subdividido (num espaço anterior pré-estiloideu base do crânio, continuando-se inferiormente com
e um espaço posterior retro-estiloideu), por um a região esterno-cleido-mastoideia, abaixo do bor-
diafragma osteo-musculo-facial, que vai da porção do inferior da mandíbula. É atravessado pelas ar-
anterior da apófise mastóide ao forâmen magno, térias, carótida interna e externa, pela artéria occi-
passando pela parte petrosa do temporal, processo pital, artéria faríngea ascendente (que se termina
estiloide, integrando os músculos estiloideus (esti- em cima na artéria meníngea posterior) pela veia
lo-hioideu, estilo-glosso,e estilo-faríngeo), o ven- jugular interna, pelos nervos glossofaríngeo, linfá-
tre posterior do digástrico, a fáscia muscular, os li- ticos tributários dos gânglios linfáticos sub-digás-
gamentos estiloideus (estilo-hioideu e estilo-man- tricos, vago, acessório, nervo hipoglosso e gânglio
dibular) e feixes fibrosos de reforço. A emergên- cervical superior do simpático. (de que se destaca
cia dos músculos e ligamentos estiloideus a partir o nervo cardíaco cervical cranial)._
do processo estiloide, forma o bouquet de Riolan. A região do pavimento bucal (Fig. 11.5), é a área
O espaço pré-estiloideu é composto pelo espa- que encerra inferiormente a cavidade oral, sen-
ço parotídeo (situado na loca parotídea, que con-
tém a glândula parótida) e pelo espaço subparo-
tídeo anterior. A loca parotídea abraça anterior-
mente o bordo posterior do masséter, lateralmen-
te relaciona-se com a fáscia cervical superficial e os
tegumentos, posteriormente fica o diafragma esti-
loideu, superiormente relaciona-se com a articula-
ção temporomandibular e o meato acústico exter-
no e inferiormente fica a separação inter-maxilo-
-parotídea. A glândula parótida é atravessada pela
artéria carótida externa e pela parte inicial dos seus
ramos terminais, pela veia jugular externa e seus
ramos de origem, pela veia retromandibular, pe-
4 2 8
las vias linfáticas tributárias dos gânglios parotí-
deos, pelo nervo facial e nervo aurículo-temporal e Fig. 11.5: Corte esquemático frontal do pavimento oral.
1. Massa muscular linguar 2. Músculo geni-hioideu 3. Músculo
pelas ramificações terminais do ramo auricular do milo-hioideu 4. Músculo digástrico (ventre anterior) 5. Corpo da
plexo cervical superficial. O espaço sub-parotídeo mandíbula 6. Glândula sublingual 7. Dueto submandibular (Wharton)
8. Artéria sublingual 9. Nervo hipoglosso (XII par)

717
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

do composta por partes moles, delimitadas peri- e delimitado medialmente pela raiz lingual, late-
fericamente pelo corpo mandibular e posterior- ralmente pela mand.tbula, superiormente pela mu-
mente pelo osso lúóide. É dividida pelo múscu- cosa do sulco alvéolo-lingual e inferiormente pelo
lo milolúoideu, num andar superior que se subdi- músculo milo-lúoideu.
vide numa área mediana saliente (região lingual) Contém a glândula sublingual, o prolongamento
e lateralmente em duas áreas deprimidas (regiões anterior da glândula submandibular, o canal sub-
sub-linguais), e num andar inferior (região supra- mandibular, os nervos lingual e lúpoglosso e os va-
- lúoideia). sos sublinguais (artéria lingual acompanhada de
A região lingual tem como limite posterior a raiz veias satélites, artéria sublingual, a veia acompa-
da língua limitada inferiormente pela fixação à nhante (comitans) do nervo lúpoglosso, troncos
mandíbula através do músculo geni-glosso, ao linfáticos marginais da língua e colectores linfáti-
osso lúóide pelo músculo lúo-glosso, longitudinal cos da glândula sublingual). A região supra-hioi-
inferior e feixes laterais do músculo longitudinal deia situa-se inferiormente às regiões lingual e su-
superior; ao processo estilóide e ao ângulo man- blingual, de que é separada pelos músculos mi-
dibular pelo músculo estiloglosso e ao palato mole lolúoideus e ocupa todo o espaço circunscrito pela
pelo músculo palato-glosso. É atravessada verti- manchbula e situado entre esta e o osso lúóide.
calmente pelo septo lingual, ladeada de duas mas- É constituído do exterior para o interior pela pele,
sas musculares constituídas pelos músculos geni- panículo adiposo e tecido celular lameloso conten-
-glosso, longitudinal inferior, lúo-glosso, estilo- do pequenas artérias, veias tributárias da veia ju-
glosso, palato-glosso, amígdalo-glosso e faringo- gular anterior e ramificações do ramo transverso
-glosso. A irrigação faz-se p ela artéria lingual, re- do plexo cervical superficial e uma ramificação do
coberta pelo músculo lúo-glosso, dando próximo nervo facial destinada ao músculo platisma. Rara-
do ventre posterior do digástrico a artéria dorsal mente podem encontrar-se um ou dois gânglios
da língua. Existem linfáticos marginais e gânglios linfáticos.A região supra-lúoideia (Fig.11.7), sub-
linfáticos intercalares. A região sublingual (Fig. divide-se nos trígonos, submental e dois subman-
11.6), é o espaço configurado pela loca sublingual dibulares.

Fig. 11.6: Vista da região sublingual. Fig. 11.7: Vista da região supra-hioideia.
1. Músculo milo-hioideu 2. Músculo geni-hioideu 3. Glândula sub+ 1. Músculo platisma 2. Músculo digástrico (ventre anterior) 3. Glându-
mandibular 4. Artéria facial 5. Veia facial 6. Nervo lingual 7. Nervo la submandibular 4. Vasos faciais 5. Lâmina superficial (revestimento)
hipoglosso (XII par) 8. Glângula sublingual 9. Artéria sublingual da fáscia cervical profunda

718
ANATOMIA DAS REGIÕES I CABEÇA

O rrígono submental, medianamente situado e


tendo abaixo da camada de tecido celular sub-
cojl
cutâneo, uma lâmina superficial da fáscia cervical,
urn primeiro plano muscular integrando os ventres
anteriores do músculo digástrico (entre os quais há
ramificações da artéria e veias submentais e gân-
glios linfáticos infra-fasciais submentais) e um se-
gundo p~ano muscul~r formado pel~s múscul?s
rnilo-hio1deus. O tr1gono submandibular (Fig.
11.8) configura a loca submandibular (de forma
triangular) e inclui o seu conteúdo (glândula sub-
rnandibular de que se destaca na face medial oca-
nal submandibular, vasos faciais, o nervo lingual,
vasos e nervo milo-hioideus, e gânglios linfáticos
submandibulares).
Tem como limites, súpero-lateral a fosseta sub-
rnandibular da mandfbula e a inserção inferior do Fig. 11.8: Vista da região submandibular.
rnúsculo pterigoideu medial, ínfero-lateralmente 1. Músculo platisma 2. Músculo milo-hioideu 3. Músculo digástri-
co 4. Lâmina superiicial (revestimento) da fáscia cervical profunda
pela lâmina superficial da fáscia cervical, medial- 5. Glândula submandibular 6. Nervo e artéria milohioideia 7. Veia
mente abaixo do osso hióide continua com uma facial
reflexão da lâmina da fáscia cervical superficial e
acima do osso hióide, pelos músculos digástrico, tegra o feixe mandibular do músculo estilo-glosso,
milo-hioideu, hio-glosso, e parede faríngea con- pelo ligamento estilo-mandibular e pela fáscia pa-
tígua à base da língua. Há comunicação entre as rotídea; abaixo do ângulo mandibular é compos-
locas sublingual e submandibular para dentro do to por uma banda formada pelo músculo esterno-
bordo posterior do rnilo-hioideu. Na parede me- -cleido-mastoideu e por uma expansão da fáscia
dial correm a artéria e veia linguais (para dentro do diafragma estiloideu.
do músculo hioglosso), e o nervo hipoglosso (para
fora do músculo hioglosso), no triângulo de Bé-
clard (formado pelo bordo posterior do músculo PERGUNTAS TIPO
hioglosso, o ventre posterior do músculo digástri-
co e o grande corno do osso hióide); a artéria lin- As questões colocadas têm apenas uma resposta
gual (que corre na mesma parede e dá origem à certa, verdadeira ou falsa. Assinale-a.
artéria dorsal da língua, é referenciada num outro
triângulo, delimitado inferiormente pelo tendão l. A abordagem cirúrgica da parótida exige o
intermédio do músculo digástrico, superiormente conhecimento da sua relação com todas as es-
pelo nervo hipoglosso e anteriormente pelo ven- truturas anatómicas que a seguir se apresen-
tre posterior do músculo digástrico, denominado tam, excepto:
"triângulo de Pirogoff") e a artéria facial que par- a. Carótida externa.
tindo da localização sobre a parede faríngea, ca- b. Veia jugular externa.
minha para dentro dos músculos digástrico e es- c. Veia retromandibular.
tilo-hioideu. A extremidade anterior situa-se atrás d. Nervo facial.
do ventre anterior do músculo digástrico. A extre- e. Nervo vago.
midade posterior situa-se no espaço para-tonsilar
(para-amigdalino) inferior, onde existe uma sepa- 2. Assinale a alínea contendo a afirmação falsa.
ração (septo, tabique) mandibulo-parotídea, cons- As afecções infeciosas ou neoplásicas da re-
tituída de modo distinto acima e abaixo do ângu- gião tonsila (amigdalina) drenam para os nó-
lo mandibular. Acima do ângulo da mandibula, in- · dulos linfáticos:

719
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

a. Da região occipital.
b. Da região supra-clavicular.
c. Da região jugulo-carotídea.
d. Da região parotídea.
e. Da região submandibular.

3. A drenagem para a face, das colecções su-


puradas de causa odontogénica do 1.0 molar
permanente inferior, é condicionada pelo es-
paço entre todas as estruturas que a seguir se
referem,excepto:
a. Músculo milohioideu.
b. Músculo masséter.
c. Músculo bucinador.
d. Ramo horizontal da mand.fbula.
e. Mucosa oral.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Velayos,JL.; Santana, BD.Anatomia da Cabeça e


Pescoço. 3.ª Ed. ARTMED, 2004.
Rouviere, H. ; Delmas, A. Anatomie Humaine.
Descriptive, topographique etJonctionelle. Tome 1.
Tête et Cou. 15éme édition, 2002.

•••

720
12. PESCOÇO

tNTRODUÇÃO E GENERALIDADES Com o objetivo de tornar mais clara a comunica-


ção relativa à localização de estruturas ou patolo-
O pescoço constitui uma zona de transição entre a gias, convencionou-se a existência de quatro gran-
cabeça, o tronco e membros superiores, albergan- des regiões cervicais - cervical anterior, esterno-
do importantes estruturas que ligam estas regiões. cleidomastoidea, cervical lateral e cervical poste-
A região cervical é dotada de grande agilidade de rior. Esta divisão do pescoço é baseada nos bordos
movimentos, permitindo o rápido e adequado po- visíveis dos grandes músculos superficiais, esterno-
sicionamento da cabeça de forma a maximizar a -cleido-mastoideu e trapézio, envolvidos pelo fo-
eficiência dos órgãos dos sentidos como os olhos, lheto mais superficial da fáscia cervical profunda.
ouvido, boca e nariz.
Esta agilidade deixa vulneráveis, contudo, estrutu-
ras vitais como os canais laringotraqueal e farin- ANATOMIA DE SUPERFÍCIE
goesofágico, as artérias, veias e linfáticos que vas-
cularizam a cabeça ou a coluna cervical. A pele do pescoço é fina e elástica e apresen-
O pescoço é limitado superiormente pela linha ta múltiplas linhas de tensão natural horizontais,
pericraniocervical - que une o bordo inferior da perpendiculares ao vetor de contração muscular
mandíbula, linha curva occipital superior e protu- dominante, de orientação vertical. As incisões ci-
berância occipital exterior - e inferiormente pela rúrgicas devem ser planeadas sobre uma dessas li-
fürcula esternal, pelas clavículas e por uma linha nhas de tensão ou paralelamente a estas, resultan-
que o une o acrómio à apófise espinhosa de C7. do em cicatrizes mais finas e imperceptíveis.
O pescoço e partes da face resultam do desenvol- Anteriormente e sobre a linha média distinguem-
vimento embrionário de cinco arcos faríngeos (1.0 -se, por observação ou palpação, uma sucessão de
ou mandibular, 2.0 ou hioideu, 3.0 , 4.0 e 6.0 arcos). saliências e depressões transversais.
A semelhança de muitas outras estruturas anató- Superiormente, é possível palpar o osso hioide,
micas, os arcos faríngeos formam-se numa suces- profundamente à mandíbula, ao nível de C3.
são crânio-caudal que tem início ao 22.0 segundo Inferiormente a este, uma depressão transversal
dia. Na transição entre dois arcos faríngeos adja- correspondente à membrana tirohioideia, separa-
centes identificam-se internamente as bolsas fa- -o da cartilagem tiroidea, sob a forma de proemi-
ríngeas, de revestimento endodérmico, e externa- nência laríngea ou maçã de Adão, mais proemi-
mente as fendas faríngeas, de revestimento ecto- nente no sexo masculino.
dérmico. Cada arco faríngeo dá origem a estru- Mais abaixo, encontra-se a d epressão cricotiroi-
turas esqueléticas, viscerais, arteriais, musculares e deia e a cartilagem cricoideia, ao nível de C6.
nervosas bem definidas. A identificação da membrana cricotiroideia é faci-
No recém nascido o pescoço é curto e a face entra litada pela extensão do pescoço e pode ser necessá-
em contacto direto com o tórax e ombros. Desta ria em manobras de abordagem emergente da via
forma as vísceras cervicais localizam-se a um nível aérea por cricotomia.
superior na criança, por comparação com o adul- Finalmente, o limite inferior é ocupado pelo esca-
to. Com o desenvolvimento, a região cervical alon- vado supraesternal.
ga-se progressivamente, o que permite aumentar O músculo esterno-cleido-mastoideu determina
significativamente o grau de mobilidade da cabe- uma saliência oblíqua alongada na superfície cer-
ça. Embora a forma do pescoço possa variar com a vical. Dispõe-se desde a mastoide, obliquamente
idade, peso e sexo, o seu comprimento é muito se- para baixo, para a frente e para o meio, até ao ester-
melhante na maioria dos indivíduos. no e porção medial da clavícula. O intervalo com-

721
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

preendido entre as suas inserções esternal e clavi- zonas de passagem para os elementos neuro-vas-
cular toma o nome de fossa supraclavicular menor, culares, habitualmente em pregas e desdobramen-
constituindo uma importante referencia anatómi- tos fásciais.
ca para a punção da veia jugular interna. Os planos de clivagem formados pelos vários fo-
Percorrendo quase verticalmente a superfície do lhetos constituem ainda importantes vias de con-
esterno-cleido-mastoideu, podemos identificar a tenção e de disseminação de fluidos, gases, tumo-
veia jugular externa, particularmente visível no in- res e infeções cervico-faciais.
divíduo em decúbito ou durante a membrana de
Valsalva (expiração contra resistência).
Posteriormente ao esterno-cleido-mastoideu
identificamos uma área regularmente côncava, de
forma triangular, cuja base é inferior e corresponde
à clavícula. O vértice, superior, corresponde ao ân-
gulo de união dos músculos esterno-cleido-mas-
toideu e trapézio. Pode ainda identificar-se a sa-
liência provocada pelo músculo omohioideu, no
seu trajeto entre a escápula e o hioide, que divi-
de o escavado em duas pequenas áreas triângula-
res, uma superior e uma inferior. E sta última toma
o nome de fossa supraclavicular menor e consti-
tui o local ideal para palpação da artéria subclávia.
Para finalizar, observam-se na região posterior do
pescoço, sobre a linha media, uma depressão ver- 8 11
10
tical determinada pela saliência, de cada lado, dos
Fig. 12.1 . Fáscias cervicais: corte axial.
músculos trapézio e semiespinhoso da cabeça. 1. Fáscia cervical superficial 2. Fáscia cervical profunda (lâmina de
Identifica-se ainda, inferiormente, a saliência pro- revestimento) 3. Fáscia cervical profunda Oãmina pré-traqueal -folheto
muscular) 4. Fáscia cervical profunda (lâmina pré-traqueal - folheto
vocada pela apófise espinhosa de C7 e ocasional- visceral) 5. Fáscia cervical profunda (lâmina pré-vertebral) 6. Bainha
mente de C6. carotídea 7. Traqueia 8- Esófago 9. Fáscia buco-faríngea 10. Fáscia
alar 11. Espaço retro-faríngeo

FÁSCIAS CERVICAIS E ESPAÇOS O folheto superficial ou de revestimento da fáscia


FÁSCIAIS cervical profunda, desdobra-se para envolver o es-
terno-cleido-mastoideu e o trapézio. E ste folhe-
Sob a pele, as estruturas cervica.J.s encontram-se to forma uma manga que envolve toda a extensão
envolvidas pela fáscia cervical superficial e com- do pescoço, inserindo-se superiormente na pro-
partimentadas pela fáscia cervical profunda. tuberância occipital exterior, linha curva occipi-
A fáscia superficial é muito fina e confunde-se tal superior, arcada zigomática e bordo inferior da
com o tecido celular subcutâneo, envolvendo o mand.ibula. Inferiormente insere-se na espinha da
músculo platisma e contendo ainda uma quanti- omoplata, acrómio, clavícula e manúbrio esternal.
dade variável de pequenos vasos e nervos. Alguns centímetros acima do esterno o folheto de
Profundamente à fáscia superficial encontramos a revestimento desdobra-se para se inserir nos bor-
fáscia profunda, nos seus três folhetos: folheto su- dos anterior e posterior do manúbrio, delimitando
perficial ou de revestimento, folheto pré-traqueal e entre si um espaço triangular denominado de "es-
folheto pré-vertebral. paço supra-esternal", que contém a porção infe-
À semelhança de outras localizações, a fáscia cer- rior das veias jugulares anteriores, a sua anastomo-
vical profunda tem como funções compartimen- se transversa e alguns gânglios linfáticos.
tar e fixar os vários músculos e vísceras, criar pla- O folheto pré-traqueal é identificado apenas na
nos de deslizamento entre estruturas e constituir região anterior do pescoço, desde o hioide até ao

722
ANATOMIA DAS REGIÕES I PESCOÇO

tórax, onde envia uma expansão aponevrótica que conteúdo deste revestimento fáscial, isto é, o pe-
0
une ao pericárdio fibroso. dículo vásculo-nervoso do pescoço.
Este folheto apresenta um componente muscu- De entre os planos de clivagem criados pelos fo-
lar, que envolve os músculos infra-hioideus, e um lhetos da fáscia profunda, existem três particular-
componente visceral, que envolve a faringe e larin- mente envolvidos na disseminação de infeções da
ge, superiormente, o esófago e traqueia, inferior- face e pescoço ao mediastino.
mente, a tiroide e paratiroides anteriormente. O maior e mais importante destes é o espaço re-
O folheto pré-vertebral forma uma manga tubu- tro-faríngeo. Constituí um espaço virtual limi-
lar que envolve a coluna cervical e músculos pe- tado, posteriormente, pelo folheto pré-vertebral
rivertebrais. Superiormente insere-se na base do e, anteriormente, pelo folheto pré-traqueal e fás-
crânio. Inferiormente continua-se pela fáscia en- cia bucofaríngea que reveste a face posterior da
dotorácica e possuí uma importante expansão axi- faringe e do esófago. É encerrado superiormen-
lar, que envolve a artéria axilar e plexo braquial, te pela base do crânio, lateralmente pela bainha
constituindo a bainha axilar. carotídea e inferiormente comunica diretamente
com o mediastino posterior.
A fáscia alar é uma membrana fina que subdivi-
de o espaço retro-faríngeo numa porção anterior
correspondente ao espaço retro-faríngeo propria-
mente dito, e numa porção posterior denominada
de "danger space", que se estende pelo mediasti-
no posterior até ao nível do diafragma.
O terceiro espaço fáscial é o espaço pré-tra-
queal, localizado entre o folheto de revestimen-
to e a porção visceral do folheto pré-traqueal, an-
teriormente à traqueia e glândula tiroideia, co-
municando com a porção anterior do mediasti-
no superior.

11 10 9 6

Fig. 12.2. Fáscias cervicais: corte sagital.


1. Fáscia cervical superficial 2. Fáscia cervical profunda (lâmina de reves-
timento) 3. Fáscia cervical profunda (lâmina pré-traqueal - folheto mus-
cular) 4. Fáscia cervical profunda (lâmina pré-traqueal-folheto visceral)
5. Fáscia tiro-pericáridica 6. Aorta 7. Glândula tiróide 8. Fáscia cervi-
cal profunda (lâmina pré-vertebral) 9. Traqueia 10. Esófago 11 . Fáscia
buco-faríngea 12. Fáscia alar 13. Espaço retro-faríngeo 14. Danger
space

A bainha carotídea recebe contribuições de cada


um dos três folhetos da fáscia cervical profunda.
Ela envolve as artérias carótida comum e caró-
tida interna, a veia jugular interna, o vago, gân-
glios linfáticos cervicais profundos, o seio carotí- 6

deo e fibras nervosas do simpático. Destacamos,


Fig. 12.3. Compartimentos cervicais.
todavia, que o termo "bainha carotídea" é utili- 1. Espaço superficial 2. Compartimento central (espaço pré-traqueal)
zado por alguns autores para designar também o 3. Bainha carotídea 4. Espaço retro-faríngeo 5. Compartimento pos-
terior do espaço retro-faríngeo (Danger space) 6. Espaço pré-vertebral

723
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

REGIÕES CERVICAIS deu e omo-hioideu) e são envolvidos pela p _


orçao
muscular do folheto pré-traqueal da fáscia c .
erv1-
O pescoço apresenta duas grandes regiões topo- cal profunda.
gráficas - ântero-lateral e posterior - sendo o seu Esta região encontra-se subdividida pelos ventr
limite o bordo anterior do músculo trapézio. do digástrico e do orno-hioideu em quatro pe ue~
Por sua vez a região ântero-lateral encontra-se °'gulos, um rmpar
nos tnan . e mediano - triângulqe
• A o
subdividida em três espaços musculares. Dois es- submentoruano - e tres pares - triângulos mus-
paços de forma triangular - o triângulo anterior cular, carotídeo e submandibular. Os nomes de
(região cervical anterior) e o triângulo posterior do cada um dos triângulos aludem diretamente ao
pescoço (região cervical posterior) -, e um espa- seu conteúdo.
ço quadrangular entre estes dois - região esterno- O triângulo submentoniano encontra-se entre 0
-cleido-mastoideia. osso hióide, posteriormente, o ventre anterior do
digástrico direito e esquerdo, lateralmente. Nele
REGIÃO CERVICAL ANTERIOR (TRIÂNGULO estão contidos os gânglios linfáticos submentonia-
ANTERIOR) nos e os ramos de origem da veia jugular anterior.
O triângulo submandibular é limitado pelo bordo
A região cervical anterior ocupa a parte anterior inferior da mandtbula, ântero-lateralmente, e pe-
e mediana do pescoço. É limitado superiormen- los ventres anterior e posterior do digástrico. Nele
te pelo bordo inferior da mandíbula e por uma li- estão contidos a glândula submandibular e gân-
nha reta que une o gónion à mastoide, lateralmen- glios linfáticos submadibulares e passam o nervo
te pelo bordo anterior do esterno-cleido-mastoi- hipoglosso, os vasos faciais e os seus ramos sub-
deu, inferiormente pela fürcula esternal e anterior- mentonianos.
mente pela linha média anterior do pescoço. O triângulo muscular localiza-se entre o hióide,
Os músculos da região cervical anterior pertencem superiormente, o ventre superior do omohioideu e
ao grupo dos supra-hioideus (geni-hioideu, milo- bordo anterior do esterno-cleido-mastoideu, late-
-hioideu, estilo-hioideu e digástrico) e infra-hioi- ralmente, e a linha média cervical.
deus (esterno-tiroideu, tiro-hioideu, esterno-hioi- Este triângulo contém os músculos infra-hioideus

13 6 11

Fig. 12.4A: Regiões cervicais. Fig. 12.48: Triângulos cervicais


1. Músculo esterno-cleido-mastoideu 2. Músculo trapézio 3. Triângulo 1. Mandíbula 2. Músculo digástrico 3. Músculo estilo-hioideu 4. Hióide
anterior do pescoço (muscular) 4, Triângulo posterior do pescoço 5. Músculo omo-hioideu 6. Músculo esterno-cleido-mastoideu 7. Mús·
(occipital) culo trapézio 8. Nervo acessório (XI par) 9. Triângulo submandibular
1O. Triângulo carotídeo 11. Triângulo muscular 12. Triângulo occipital
13. Triângulo orno-clavicular (subclávio)

724
ANATOMIA DAS REGIÕES I PESCOÇO

rofundamente a estes, as vísceras do pescoço. REGIÃO ESTERNO-CLE/D0-MASTOIDEIA


e, P . . d ,
.As vísceras cervicais po e~ agrupar-se em n:es ca-
adas, que são da superfície para a profundidade: A região esterno-cleido-mastoideia é quadrilátera,
rn dócrina (glândula tiroideia e paratiroideias), res- situa-se na parte ântero-lateral do pescoço, entre
e~ tória (canal laringo-traqueal) e digestiva (canal os triângulos cervicais anterior e posterior.
piíª Os seus limites são representados pelos bordos e
faringo-esofágico).
Nos planos superficiais encontramos as veias jugu- pelas extremidades do músculo esterno-cleido-
lares anteriores, a sua anastomose transversal (in- -mastoideu, desde a mastóide e linha curva occi-
feriormente) e gânglios jugulares anteriores. pital superior até ao manúbrio e clavícula.
Finalmente, o triângulo carotídeo é limitado in- Superficialmente a este músculo e ao folheto de
feriormente pelo ventre superior do omo-hioideu, revestimento que o envolve, encontramos algumas
superiormente pelo ventre posteri~r do digástrico estruturas de destaque, como a veia jugular exter-
e posteriormente pelo bordo antenor do esterno- na, gânglios linfáticos da cadeia jugular externa e
-cleido-mastoideu. ramos terminais cutâneos do plexo cervical - au-
O triângulo toma o nome do principal vaso que ricular magno, occipital menor e cervical transver-
nele ascende, a artéria carótida comum, sendo um so - que emergem do ponto médio do bordo pos-
importante ponto de referência para auscultação terior do esterno-cleido-mastoideu.
e palpação do pulso carotídeo. A artéria carótida Profundamente encontramos uma estrutura mus-
primitiva bifurca-se na sua passagem pelo triân- cular - o músculo omo-hioideu - e imediatamen-
gulo carotídeo, ao nível do bordo superior da car- te atrás do seu tendão intermédio o feixe vásculo-
tilagem tiroideia, nos seus dois ramos terminais, as -nervoso do pescoço.
artérias carótidas interna e externa. O músculo esterno-cleido-mastoideu recobre
O seio carotídeo é uma pequena dilatação da bi- todo o feixe vásculo-nervoso do pescoço, antes de
furcação carotídea primitiva e porção proximal da penetrar no triângulo carotídeo, protegendo-o de
carótida interna que funciona como baroreceptor, traumatismos.
contribuindo para a regulação da pressão arterial. A primeira porção (intra-escalénica) da artéria e
Profundamente à bifurcação da carótida, encon- veia subclávias atravessa também a região esterno-
tra-se o corpo carotídeo, uma pequena massa -cleido-mastoideia. A veia subclávia encontra-se
ovoide responsável pela monitorização do conteú- anterior e inferiormente à artéria e une-se à veia
do de oxigénio no sangue, sendo um importan- jugular interna para formar o tronco venoso bra-
te quimioreceptor. Ambos, o seio e o corpo caro- quicefálico. A confluência destes dois vasos, deno-
tídeo, possuem uma dupla inervação autonómica minada "confluente jugulo-subclávio" ou "ângulo
pelo glossofaríngeo e pelo vago. venoso de Pirogoff", localiza-se posteriormente à
Contidos na mesma bainha carotídea encontra- articulação esterno-costo-clavicular e extremidade
mos ainda a veia jugular interna (lateralmente à medial da clavícula.
carótida comum) e o nervo vago (posteriormente, Identificam-se nesta região múltiplos gânglios lin-
no ângulo diedro entre a carótida comum e a veia fáticos cervicais profundos, particularmente os re-
jugular interna). lacionados com a veia jugular irlterna, nervo espi-
Em íntima relação com o pedículo vásculo-ner- nhal e artéria cervical transversa.
voso do pescoço encontram-se múltiplos gânglios Os linfáticos eferentes dos gânglios cervicais pro-
linfáticos cervicais profundos. fundos formam o tronco jugular. À esquerda o
No triângulo carotídeo passam ainda numerosas tronco jugular une-se habitualmente ao dueto to-
outras estruturas nervosas, incluindo o acessório, rácico, para drenar no ângulo venoso jugulo-sub-
0 hipoglosso, ramos dos nervos facial, glossofarín- clávio esquerdo. O tronco jugular direito une-se
geo e vago, o tronco simpático cervical e ramos do aos troncos subclávio e bronco-mediastínico para
plexo cervical como o nervo cervical transverso e a formar o dueto linfático direito que drena no ân-
raiz superior da ansa cervical. gulo jugulo-subclávio direito.
Esta região é atravessada por várias estruturas ner-

725
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

vosas profundas como o nervo acessono, ramos bordo posterior do trapézio constitui o limite pos-
terminais do plexo cervical, ramos do pneumogás- terior e o terço médio da clavícula o limite inferior
trico, o frénico, recorrente·laríngeo, a ansa cervical deste triângulo.
(formada pela anastomose do ramo descendente Nos planos superficiais desta região destacam-se
do nervo hipoglosso com o ramo descendente do a porção inferior da veia jugular externa, que se
plexo cervical, anteriormente à veia jugular inter- torna profunda ao perfurar o folheto de revesti-
na), tronco simpático cervical e seu ramo cardía- mento, originando com frequência um pequeno
co superior. espessamento aponevrótico que toma o nome de
prega falciforme de Dittel. Distinguem-se ainda
os nervos supra-claviculares, ramos cutâneos ter-
minais no plexo cervical.
O sistema muscular desta região inclui os múscu-
los omo-hioideu, esplénio da cabeça, levantador
da escápula e os escalenos.
Encontra-se subdividido em dois espaços pelo
ventre inferior do músculo omo-hioideu: um
triângulo superior, occipital e um triângulo infe-
rior, supra-clavicular.•
O triângulo occipital deve o seu nome ao facto de
a artéria occipital surgir no seu ângulo superior.
O nervo acessório (XI nervo craniano) constituí o
mais importante elemento nervoso que atravessa
o triângulo. Identificam-se ainda alguns elemen-
tos do plexo cervical, nomeadamente as raizes do
6 9 nervo frénico e ansa cervical, e gânglios linfáticos.
Fig. 12.5: Região esterno-cleido•mastoideia
1. Músculo milo-hioideu 2. Músculo digástrico 3. Músculo estilo-hioideu
4. Músculo omo-hioideu 5. Músculo esterno-hioideu 6. Músculo ester-
no-t iroideu 7. Músculo tiro-hioideu 8. Laringe 9 . Traqueia 10. Istmo
glângula tiróide 11. Músculos escalenos 12. Músculo esterno-cleio-
-mastoideu 13. Músculo trapézio 14. Veia jugular interna 15. Artéria
carótida primitiva 16. Vasos tiroideus superiores 17. Veia jugular
externa

O gânglio estrelado (ou gânglio cervico-torácico) 4

é um gânglio simpático resultante, na maioria das


vezes, da fusão do entre o último gânglio cervical
e o primeiro torácico, localizando-se anteriormen-
te à apófise transversa de C7, atrás do colo da pri-
meira costela e abaixo da artéria subclávia.

REGIÃO CERVICAL LATERAL (TRIÂNGULO


14
POSTERIOR)
17
10
A região cervical lateral situa-se na porção ânte-
Fig. 12.6: Região cervical lateral
ro-lateral do pescoço, posteriormente à região es- 1. Músculo masséter 2. Nervo hipoglosso 3. Artéria carótida exter-
terno-cleido-mastoideia e anteriormente à região na 4. Artéria facial 5. Artéria lingual 6. Artéria tiroideia superior
7. Músculoconstritorinferiordafaringe 8. Músculoomo-hioideu 9. Veia
cervical posterior. O bordo posterior do esterno- jugular interna 10. Veia subclávia 11 . Artéria carótida primitiva
-cleido-mastoideu constituí o limite anterior, o 12. Atlas 13. Apófise espinhosa C7 14. Clavícula 15. Ansa do nervo
hipoglosso 16. Nervo raquidiano C2 17. Nervo frénico

726
ANATOMIA DAS REGIÕES I PESCOÇO

O triângulo supra-clavicular é atravessado pro- 2 4

fundarnente pela veia su~clávia, ~éria subclávia


(3.• porção) e seu tron~~ tlro-cerv.ic1. .
A terceira parte da artena subclávia e a mais longa
ais superficial. Repousa sobre a primeira cos-
ea m
tela, sua passagem entre os escalenos anterior e
na
médio, sendo que a compressão da artéria contra
a primeira costela pode controlar uma hemorragia
._;/icativa do membro superior. 6
s11,•=·
As cinco raizes do plexo braquial emergem entre
10
os músculos escalenos anterior e médio formando
os seus três troncos. A este nível dá os seus ramos
escapular dorsal, longo torácico e supraescapular.
12
O plexo atravessa a região cervical lateral no ca-
nal cérvico-axilar (entre a l.ª costela, a clavícula e
0
bordo superior da escápula), penetrando de se-
13
11
guida na região axilar.
F,g. 12.7: Região cervical posterior
finalmente os gânglios linfáticos supra-clavicula- 1. Músculo recto menor posterior da cabeça 2. Músculo recto maior
res localizam-se nesta região. posterior da cabeça 3. Músculo oblíquo inferior da cabeça 4. Músculo
oblíquo superior da cabeça 5. Artéria vertebral 6. Ramo posterior do
nervo C1 7. Ramo posterior do nervo C2 8. Apófise espinhosa do ãxis
REGIÃO CERVICAL POSTERIOR 9. Músculo levantador da escápula 10. Músculo longuíssimo da cabeça
11. Músculo esplénio da cabeça 12. Músculo semi-<>spinhal da cabeça
13. Músculo trapézio
A região cervical posterior ou região da nuca ocu-
pa a porção posterior do pescoço e compreen- A artéria occipital, acompanhada de gânglios occi-
de todas as partes moles situadas posteriormen- pitais profundos, caminha entre o segundo e o ter-
te à coluna cervical. Os seus limites laterais são, ceiro plano musculares, abaixo da inserção crania-
de cada lado, o bordo anterior do músculo trapé- na do músculo longuíssimo da cabeça e do mús-
zio, que separa a região cervical posterior da re- culo esplénio.
gião cervical lateral. A região suboccipital localiza- Os músculo recto maior, oblíquo superior e oblí-
-se profundamente à porção superior desta região. quo inferior delimitam um triângulo profunda-
Os elementos musculares desta região são mais mente percorrido pela artéria vertebral, pelo ramo
desenvolvidos do que os da região ântero-lateral e posterior do primeiro nervo cervical e por elemen-
distribuem-se por quatro planos. tos do confluente venoso occipitovertebral, a par-
O plano mais superficial é constituído pelo mús- tir do qual se originam as veias vertebral e jugular
culo trapézio, envolvido pelo folheto de revesti- posterior ou cervical profunda.
mento da fáscia profunda. O nervo occipital maior de Arnold reflete-se sob o
O segundo plano é formado pelo músculo esplé- bordo inferior do músculo oblíquo inferior e atra-
nio, mediaimente, e pelo músculo levantador da vessa os músculos semi-espinhoso e trapézio, para
escápula, lateralmente. atingir os planos superficiais.
O terceiro plano compreende, de medial para la- Pelos planos superficiais distribuem-se filetes ner-
teral, os músculo semi-espinhoso, o longuíssimo vosos terminais dos ramos posteriores dos nervos
da cabeça, longuíssimo do pescoço e transverso do cervicais, destacando-se nervo occipital maior de
pescoço. Arnold e do nervo occipital menor.
O plano mais profundo é constituído pelo mús-
culo transverso espinhoso, inferiormente, e pelos RAIZ DO PESCOÇO
músculos rectos posteriores (recto maior e recto
menor) e oblíquos do pescoço (oblíquo superior e A raiz do pescoço representa a área de transição
oblíquo inferior). entre o pescoço e o tórax, dando passagem a todas

727
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

as estruturas neuro-vasculares e viscerais que pas- b. Localiza-se anteriormente à apófise trans-


sam entre a cabeça e o tórax e membros superiores. versa de C?.
O limite inferior da raiz do pescoço corresponde c. Localiza-se atrás do colo da primeira c08 _
ao opérculo torácico, constituído pelas primeiras tela.
costelas e cartilagens costais, manúbrio e corpo da d. Relaciona-se superiormente com a artéria
primeira vértebra torácica. subclávia.
Identificam-se como elementos viscerais a tra- e. Relaciona-se posteriormente com a veia
queia anteriormente e o esófago posteriormente. jugular anterior.
De entre os elementos arteriais, destacam-se o
tronco braquio-cefálico, artéria carótida primiti-
!3:- c !N-i !a-1
va esquerda, as artérias subclávias e respetivos ra-
:solsods,~
mos vertebral, torácica interna, tronco tiro-cervi-
cal, tronco costo-cervical e dorsal escapular.
Olianto as veias destacam-se os troncos jugulares
- veias jugulares anteriores, internas e externas e a REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
veias subclávia.
Existem três pares de nervos principais ao nível da Drake, R.; Vogl, AW.; Mitchell, AWM. Grays
raiz do pescoço: os nervos vagos, frénicos e tron- Anatomyfor Students. 3rd ed. London. Churchill
cos simpáticos. Livingstone.

Moore, KL.; Dalley,AF.; Agur,AMR. Clinically


OrientedAnatomy. 9th ed. Philadelphia.
PERGUNTAS TIPO Lippincott Williams & Wilkins, 2017.

1. Olial dos seguintes elementos fásciais envolve Rouviere, H.; Delmas, A.Anatomie Humaine.
os músculos esterno-cleido-mastoideu e tra- Descriptive, topographique etfanctionelle. Tome 1.
pézio? Téte et Cou. lSéme édition. 2002.
a. Fáscia cervical superficial. Snell, RS. Clinical anatomy by regions. 9th ed.
b. Folheto de revestimento da fáscia cervical Philadelphia. Lippincott Williams & Wilkins,
profunda. 2012.
c. Folheto pré- traqueal da fáscia cervical
profunda.
d. Folheto prevertebral da fáscia cervical pro- ***
funda.
e. Bainha carotídea.

2. Em que região do pescoço se realiza a abordá-


gem emergente da via aérea por cricotornia?
a. Triângulo submandibular.
b. Triângulo submentoniano.
c. Triângulo muscular.
d. Triângulo carotídeo.
e. Triângulo posterior.

3. Olial das seguintes afirmações é FALSA rela-


tivamente ao gânglio estrelado?
a. É formado pela fusão entre o gânglio cer-
vical inferior e o 1.0 gânglio torácico.

728
13. TÓRAX

A anatomia topográfica do toráx compreende as mente ao esterno, a gordura tende a desapare-


aredes torácicas, as mamas, os compartimentos cer e a camada subcutânea compõe-se essen-
PJeuro-pulmonares e o mediastino. As mamas e os cialmente de tecido célula-fibroso que une a
~ornpartimentos pleura-pulmonares encontram- pele à aponevrose e ao periósteo;
-se descritos nos capítulos respectivos. No final 3. Aponevrose superficial e lâmina celular sub-
deste capítulo é descrito a projecção parietal das cutânea bem diferenciados;
vísceras torácicas. 4. Tecido conjuntivo muito laxo que proporcio-
na mobilidade à pele;
5. Aponevrose profunda - fina; insere-se supe-
PAREDES TORÁCICAS riormente na clavícula. Internamente, une-se
ao tecido denso formado pelos feixes tendi-
Parede inferior ou diafragmática - constituída nosos do m. peitoral maior e ao periósteo do
pelo diafragma. esterno. Inferior e posteriormente, a apone-
Parede superior ou opérculo torácico - permitin- vrose profunda continua-se com a aponevro-
do a comunicação do pescoço com o toráx. se das regiões vizinhas;
Parede posterior ou vertebral - formada pelo seg- 6. Camada muscular: músculos peitoral maior e
mento torácico da coluna vertebral. menor, feixes de inserção do m. recto abdomi-
Parede ântero-lateral ou esternocostal - onde se nal, digitações do m. oblíquo externo, m. ser-
distinguem três planos principais de superficial rátil anterior, m. latíssimo dorsal.
para profundo: plano supra-esquelético ou supra-
-esternocostal; plano intercostal; e plano infra-es- PLANO INTERCOSTAL
quelético ou infra-esternocostal. (FIG. 13.1)

PLANO SUPRA-ESQUELÉTICO OU SUPRA-ES- Este plano compreende os espaços intercostais e


TERNOCOSTAL as estruturas esqueléticas e cartilaginosas do tórax.
Os espaços intercostais são constituídos pelas se-
Este plano é constituído de superficial para pro- guintes camadas:
fundo pelas seguintes camadas 1: 1. Camada Muscular Externa: Constituída pelo
1. Pele - espessa e muito móvel, excepto ante- m. intercostal externo que se insere anterior-
riormente ao esterno; mente no esterno por intermédio da mem-
2. Camada subcutânea - constituída por teci- brana intercostal externa;
do célulo-adiposo - é neste plano que se de- 2. Camada Fibra-celular Intermuscular Exter-
senvolve a mama e que se encontram os ra- na: Posteriormente, esta camada é fibrosa3•
mos anteriores da artéria torácica interna, ra- Estende-se desde a extremidade posterior
mos torácicos da artéria axilar2, os ramos to- do espaço intercostal até ao bordo posterior
rácicos das artérias intercostais posteriores, os do músculo intercostal interno (na linha axi-
ramos da divisão dos ramos cutâneos externos lar média), e constitui a membrana intercos-
e anteriores dos nervos intercostais. Anterior- tal interna ou membrana intercostal externa
posterior. Anteriormente, é celular e ocupa
1
Importa referir que todos os planos que se encontram neste capí-
tulo se encontram enumerados segwndo a ordem de superficial para 3 Este segmento posterior fibroso desdobra-se ao longo do seu bor-
profundo. do superior e limita com a goteira costal da costela suprajacente, pos-
2
Torácica superior, torácica externa, ramo peitoral da acrómio- to- teriormente ao m.intercostal interno, uma bainha osteo-fibrosa que
rácica e escapular inferior contém o pedículo vásculo- nervoso intercostal.

729
MANUAL DE ANAT OMIA HUMANA

o interstício que separa o músculo intercos- a pleura parietal por intermédio da fáscia
tal externo do músculo intercostal interno;
, . N 1 .
torac1ca. este p ano, antenormente ao m t
endo.
, , . , .. -rans.
3. Camada Muscular Média: constituída pelo verso d o torax, a artena torac1ca interna d
m. intercostal interno; posteriormente às cartilagens costais e aos eeScc
4. Camada Celular Intermuscular Média: ca- ços intercostais e externamente ao bordo I spa.
aterai
mada celular que contém o pedículo vasculo- do esterno.
-nervoso intercostal;
5. Camada Muscular Interna: constituída pelos FEIXE VÁSCULO-NERVOSO OU PEDÍCULO
m. intercostal íntimo e subcostal; INTERCOSTAL
6. Aponevrose torácica: estreitamente unida à (FIG. 13.2)
fáscia (aponevrose) endotorácica, que é uma
dependência do tecido subpleural. Este pedículo é formado pelos vasos e nervos in-
tercostais, que percorrem os intersticios que sepa-
ram os músculos entre si.
Segundo Carriére, o espaço intercostal pode-se di-
vidir em 4 segmentos:
• Segmento látero-vertebral - entre a coluna
vertebral e o ângulo das costelas;
• Segmento póstero-lateral - desde o prece-
dente até à linha axilar média;
• Segmento médio - entre o bordo posterior do
músculo intercostal interno e o bordo ante-
rior do músculo intercostal íntimo;
• Segmento anterior - desde o precedente até
ao esterno.

No segmento látero-vertebral o feixe vásculo-ner-


voso intercostal é anterior ao músculo intercostal
externo e ao seu revestimento fibrocelular, e poste-
rior à fáscia endotorácica.
No segmento póstero-lateral, os 3 elementos do
feixe vásculo- nervoso caminham primeiramente
inferior e depois ao nivel da goteira costal, à qual
Fig. 13.1: Corte horizontal de um espaço intercostal.
1. Aorta 2. Artéria intercostal posterior 3. Artéria torácica interna se aproximam gradualmente. Neste seu trajecto, os
4. Nervo intercostal 5. Ramos cutâneos laterais 6. Músculo intercostal vasos e nervos situam-se entre os m. intercostais
externo 7. Músculo intercostal interno 8. Músculo intercostal íntimo
externo e interno, no já referido desdobramento
da membrana intercostal interna.
PLANO INFRA-ESOUELÉT/CO No segmento médio, o feixe vásculo-nervoso in-
OU INFRA-ESTERNOCOSTAL tercostal está localizado na goteira costal, entre os
músculos intercostais médio e interno.
Neste plano encontra-se uma fina lâmina fibro- No segmento anterior, o músculo intercostal ínti-
sa denominada "fáscia4 (ou aponevrose)" endoto- mo não existe; os vasos e nervos caminham entre o
rácica. Anteriormente encontra-se o m. transver- músculo intercostal interno anteriomente e a fás-
so do tórax cuja face profunda se relaciona com cia endotorácica e o músculo triângular do ester-
no posteriormente. É neste segmento que a arté-
4 Mais frequentemente é denominada por fáscia, devido às suas ca- ria intercostal posterior, com calibre diminuído, se
racterísticas particulares. Esta fáscia é consequência da diferenciação anastomosa e é substituída pelos ramos intercos-
de tecido celular subpleural e reveste a pleura parietal em toda a sua
tais anteriores da artéria torácica interna.
extensão.

730
ANATOMIA DAS REGIÕES I TÓRAX

2
7
3
6

Fig. 13.2: Corte vertical de um espaço intercostal. Fig. 13.3: Divisão do mediastino (vista lateral).
1. Goteira infra-costal 2. Pedículo intercostal 3. Músculo intercostal 1. Ângulo esternal 2. Vértebra D4 3. Vértebra D5 4. Mediastino
externo 4. Músculo intercostal interno 5. Músculo intercostal íntimo superior 5. Mediastino anterior 6. Mediastino médio 7. Mediastino
posterior

CO NTEÚDO DA CAVIDADE TORÁCICA: -se a face anterior do mediastino em forma de am-


O M EDIASTINO pulheta ladeada pelos seios pleurais costo-medias-
tínicos anteriores (Fig. 13.4).
O mediastino é a região média do tórax, que se- O timo7 e o pericárdio estão recobertos anterior-
para as regiões pleuro-pulmonares5 uma da outra. mente por uma camada celular que contém: a) su-
Limitado anteriormente pela grelha esternocostal, periormente, superficialmente ao m. transverso do
posteriormente pela coluna vertebral, lateralmen- tórax e ao nível da extremidade interna dos três
te pelas pleuras e os pulmões, inferiormente pelo primeiros EIC8, os vasos e gânglios linfáticos to-
diafragma e superiormente pela base do pescoço. rácicos internos, e b) inferiormente, os gânglios
Encontra-se dividido numa porção superior e ou- linfáticos pré-pericárdicos. Esta camada celular é
tra inferior determinadas por um plano transver- ainda atravessada pelos ligamentos esterno-peri-
sal que passa inferiormente ao corpo da vértebra cárdicos superior e inferior.
T46 (Fig.13.3). A região na qual o pericárdio corresponde directa-
A porção inferior por sua vez subdivide-se em an- mente à parede torácica é linear, desde as segundas
terior, médio e posterior. A divisão entre mediasti- até às quartas cartilagens costais. Inferiormente a
no anterior e médio ocorre na face anterior do pe- estas últimas, alarga-se progressivamente de supe-
ricárdio e a divisão entre mediastino médio e pos- rior para inferior e adquire a forma de um triân-
terior ocorre num plano vertical que atravessa a gulo cuja base se estende desde a extremidade in-
face anterior da bifurcação da traqueia.
Topograficamente, de anterior para posterior,
7 Situado na loca tímica que se encontra limitada anteriormente
quando se retira a grelha esternocostal, encontra-
pelo folheto profundo da aponevrose cervical média superiormente
e pelo ligamento esterno-pericãrdico inferiormente. Posteriormente
5 Regiões laterais da cavidade torácica, ocupadas pelos pulmões e pela aponevrose tiro-pericárdica e pelo pericárdio subjacente a esta;
pelas pleuras. Lateralmente, é limitada pelas baínhas carotídeas e pelas membra-
6 A divisão do mediastino varia de autor para autor. Neste manual nas fibrosas que unem os troncos venosos braquiocefálicos aos vasos
considerou-se a divisão mais utilizada na prática-clínica e imagioló- torácicos internos, à clavicula e à l.ª cartilagem costal.
gica. 8 EIC - espaço intercostal

731
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Fig. 13.4. Cavidade torácica: vista anterior. Fig. 13.5. Cavidade torácica: corte sagital ao nivel da crossa da veia ázigos
1. Recesso costo•mediastínico anterior 2. Pulmão 3. Pleura 4. Pedículo 1. Pericárdio 2. Nervo frénico 3. Veia Cava Superior 4. Veia ázigos
torácico interno 5. Manúbrio esternal 6. Timo 7. Pericárdio 5. Traqueia 6. Esófago 7 . Brônquio principal direito 8. Veias pulmo.
nares direitas 9. Artéria pulmonar direita

terna da 6.ª cartilagem costal direita até ao ponto Posteriormente ao timo e superiormente ao cora-
donde o seio costo-mediastinico anterior esquer- ção, encontram-se os grandes troncos vasculares
do cruza o limite inferior da área cardiaca9. arteriais e venosos: um primeiro plano venoso é
Dado que os vasos torácicos internos estão a me- constituído pelos troncos venosos braquicefálicos
nos de 1 cm externamente ao bordo lateral do es- e pela veia cava superior (Fig. 13.6). O tronco ve-
terno, o lugar de eleição para a pericardiocente- noso braquiocefálico esquerdo e as veias tiroideias
se por via intercostal encontra-se na extremidade inferiores, estão situados no plano da aponevrose
interna do 5. 0 EIC esquerdo, em contacto com o tiro-pericárdica que as envolve.
esterno. Um segundo plano arterial está localizado pos-
O nervo frénico direito desce verticalmente, pas- teriormente ao plano venoso, constituído pelos
sa imediatamente em sentido anterior ao pedícu- troncos do pedículo arterial do coração, a aorta
lo pulmonar direito e depois sobre a face externa e o tronco pulmonar, e pelo tronco arterial bra-
da veia cava inferior, da qual está sempre separada quio-cefálico e a artéria carótida comum esquerda.
pela bainha pericárdica da veia (Fig. 13.5) e pelo A artéria subclávia esquerda e o canal torácico, que
ligamento frenopericárdico direito. O nervo fréni- ascende lateralmente à traqueia e esófago, são pos-
co esquerdo passa aproximadamente 2 cm ante- teriores, assim como a porção terminal da crossa
riormente ao pedículo pulmonar esquerdo e alcan- da aorta.
ça o diafragma uns 2 cm posteriormente ao apex Importa não esquecer a relação que o nervo larín-
do coração; na proximidade imediata dos nervos geo recorrente direito estabelece com a face infe-
frénicos localizam- se os gânglios linfáticos dia- rior da artéria subclávia, descendo externamen-
fragmáticos superiores. te e depois posteriormente ao tronco arterial bra-
quiocefálico até alcançar a face lateral direita da
9 Este ponto localiza-se, geralmente, na sexta cartilagem costaJ, a traqueia. O nervo laríngeo recorrente esquerdo
1,5 cm mais ou menos externamente a uma linha vertical tangente
contorna a crossa da aorta e passa pelo ângulo de
ao bordo lateral esquerdo do esterno.

732
ANATOMIA DAS REGIÕES I TÓRAX

aorta torácica desce, aproxima-se da linha media-


na, situando-se primeiro posteriormente ao esófa-
go e depois posteriormente e à direita do mesmo.
A artéria subclávia esquerda ascende quase verti-
calmente, superior à crossa da aorta, posterior à ar-
téria carótida comum esquerda e ao nervo vago es-
querdo, anterior à coluna vertebral, externamen-
13 te ao esófago e ao canal torácico e internamente à
pleura e ao pulmão esquerdo.
O canal torácico dirige-se, desde a sua origem, ao
longo do flanco direito da aorta. Dirige-se obli-
quamente em sentido superior e para a esquerda,
cruza a face interna da crossa da aorta e desce in-
ternamente à artéria subclávia esquerda até à base
do pescoço.
O sistema das veias ázigos está situado nas partes
laterais da face anterior da coluna vertebral.
12 10 9 8
Os nervos vagos descem ao longo da porção pos-
Fig. 13.6. Mediastino posterior
1. Pulmão 2. Veia Cava Superior 3. Crossa da aorta 4. Tronco arterial bra-
terior do mediastino posteriormente ao pedículo
queocefálico 5. Traqueia 6. Nervo vago esquerdo 7. Ligamento arterial pulmonar.
s. Artéria aorta torácica
descendente 9. Esófago 10. Veia ázigos
O tronco simpático torácico não está situado no
11. Artéria pulmonar 12 . Veias pulmonares 13. Brônquio principal
mediastino propriamente dito, uma vez que se en-
união do ligamento arterial e da crossa da aorta. contra de cada lado, posteriormente aos pulmões e
O nervo frénico direito desce posterior e externa- às pleuras, nas regiões pleura-pulmonares.
mente ao tronco venoso braquio-cefálico direito
e depois pela face externa da veia cava superior. ESPAÇO INFRA-MEDIASTÍNICO POSTERIOR
O nervo frénico esquerdo passa anterior e externa- (FIG. 13.7)
mente a pouca distância da crossa da aorta.
Posteriormente a este plano encontramos a tra- É a porção com maior declive do mediastino pos-
queia e os brônquios, o esófago torácico, a porção terior, prolongando o mediastino inferiormente ao
terminal da crossa da aorta e a porção descenden- plano transversal que passa pelos fundos-de-saco
te da aorta torácica, a porção intratorácica da arté- inferiores da pleura, aproximadamente no terço
ria subclávia esquerda, os ramos colaterais da aorta superior da 12.ª vértebra torácica.
torácica descendente, o canal torácico, as veias do
sistema ázigos, os nervos vagos, os gânglios linfáti- 2 3
cos traqueobrônquicos e os gânglios linfáticos me-
diastínicos posteriores.
A bifurcação da traqueia está relacionada anterior-
mente com a artéria pulmonar direita, que a cobre.
Em redor dos brônquios principais estão agrupa-
dos os elementos que constituem os pedículos pul-
monares e que penetram no hilo pulmonar.
O esófago é posterior à traqueia e mais inferior-
mente está em relação com o pericárdio, o fundo
de saco de Haller e o atrio esquerdo. 7 6 4 8

A aorta torácica descendente localiza-se em cima,


Fig. 13.7. Espaço infra-mediastínico posterior
posteriormente ao pedículo pulmonar esquerdo; 1. Diafragma 2. Aorta 3. Dueto torácico 4. Corpo vertebral D12
posterior e à esquerda do esófago. À medida que a 5. Nervo esplâncnico maior 6. Tronco simpático 7. Nervo esplâncnico
menor 8. Raiz medial do sistema ázigos

733
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Trata-se de um ângulo diedro agudo, subjacente Designa-se por topografia tóraco-pleural a rei _
ao fundo- de-saco pleural vertebro-diafragmático, ção que a parede torácica apresenta com 0 5 li ~
lll1-
aberto superiormente entre o diafragma anterior- tes da pleura:
mente e a coluna vertebral posteriormente.
Num corte transversal, apresenta o aspecto de uma Cúpula pleural
meia-lua cuja concavidade se molda à proeminên-
cia do corpo da 12.ª vértebra torácica. É limita- A cúpula pleural apresenta as mesmas relações que
do anteriormente pela face posterior dos pilares o vértice do pulmão.
do diafragma. Posteriormente pela face anterior
dos corpos vertebrais de T12 e Ll. Lateralmente, Seio costo-mediastínico anterior
este espaço termina numa linha curva convencio-
nal, oblíqua de superior para inferior e de poste- À direita, o seio apresenta relações semelhantes às
rior para a anterior, que se estende desde a face la- do bordo anterior do pulmão direito; à esquerda,
teral do corpo da 12.ª vértebra torácica até à inser- projecta-se quase sobre a mesma linha que o bor-
ção dos pilares do diafragma. Inferiormente, o es- do anterior do pulmão, desde o vértice até à 4.•
paço inframediastínico está fechado pela inserção cartilagem costal. Inferiormente a esta cartilagem,
vertebral dos pilares do diafragma sobre os corpos o pulmão esquerdo distancia-se do seio costome-
vertebrais de Ll e L2. diastínico. Cruza o 5.0 EIC 1 ou 2 cm externa-
No espaço inframediastínico encontram-se a aor- mente ao esterno, e deixa a descoberto o pericár-
ta, o tronco simpático e os nervos esplâncnicos. dio ao nível da extremidadé interna deste espaço;
O canal torácico é geralmente posterior ao bordo alcança a cartilagem costal a aproximadamente 2
direito da aorta. cm do bordo lateral do esterno (Fig.13.4).
As duas raizes de origem das veias ázigos e he-
miázigos fundem-se no espaço inframediastínico Seio costo-diafragmático ou costo-frénico
posterior.
Tem início na extremidade inferior do seio costo-
PROJECÇÃO PARIETAL DAS VÍSCERAS TORA- -mediastínico anterior, ou seja, ao nível da extre-
CICAS midade interna da 6.ª cartilagem costal direita e,
sobre esta cartilagem, a 2 cm do bordo lateral do
O coração, por intermédio do pericárdio, e as esterno, à esquerda. Desde este ponto, o seio cos-
pleuras apresentam projecções sobre as paredes to-diafragmático dirige-se ínfero-posteriormente
torácicas. e cruza a 10.ª costela ao nível da linha médio- axi-
A região da parede torácica anterior que está re- lar e a 11.ª costela a aproximadamente 10 cm da li-
lacionada com o coração - área cardíaca10 - apre- nha mediana. De seguida, o seio costo-diafragmá-
senta uma forma quadrilátera cujos quatro ângu- tico dirige-se primeiramente em sentido interno e
los ocupam os seguintes pontos: só depois súpero-internamente, terminando ao ní-
1. Os dois ângulos superiores estão situados la- vel de um ponto da coluna vertebral compreendi-
teralmente ao esterno, na porção média do do entre o bordo inferior da 12.ª costela superior-
segundo EIC e a 1 cm do bordo lateral do mente e do bordo superior ou a porção média da
esterno; primeira vértebra lombar inferiormente. Na maior
2. O ângulo inferior direito corresponde à ex- parte da região pleural subpulmonar, a pleura cos-
tremidade esternal do sexto EIC direito; tal une-se estreitamente à pleura diafragmática no
3. Finalmente, o ângulo inferior esquerdo loca- decurso da respiração, constituindo a wna muda
liza-se no 5.0 EIC esquerdo, a 8 cm da linha da pleura11•
mediana.

11 Esta zona é assim denominada porque, em toda a extensão des-


10 Esta área varia com a forma do tórax e com a direcção mais ou ta zona, a aberrura simples da cavidade pleural normal não produz
menos vertical ou horizontal do maior eixo do coração. um pneumotórax.

734
ANATOMIA DAS REGIÕES I TÓRAX

Seio costo-mediastínico posterior b. Aumento dos linfonodos (gânglios linfáti-


cos) mediastínicos.
Segue de cada lado a linha de união da face lateral c. Aumento do volume do coração.
com a face anterior dos corpos vertebrais. d. Aumento de volume do timo.
e. Aumento de volume da tonsila (amígda-
la palatina).
PERGUNTAS TIPO
4. O envolvimento do denominado "espaço
1. As lesões da cúpula da pleura e do ápice do pleural" é importante no diagnóstico de mui-
pulmão, ocorrem devido a razões anatómicas tas patologias (infeciosas, auto-imunes, onco-
que permitem que isso aconteça. Assinale a lógicas, entre outras), valorizando o seu co-
alínea que contém a afirmação verdadeira: nhecimento anatómico regional. Sobre as
a. A cúpula da pleura situa-se abaixo da pleuras, assinale a afirmação verdadeira:
abertura superior do tórax. a. A cúpula da pleura cobre a base pulmonar.
b. O ápice do pulmão projecta-se através da b. A cúpula pleural estende-se superiormen-
abertura superior do tórax. te através da abertura superior do tórax até
c. Os pulmões e os sacos pleurais não podem à raiz do pescoço.
ser lesados nas feridas da base do pescoço. c. A cavidade pleural é um espaço real preen-
d. A existência de ar na cavidade pleural chido por líquido pleural.
(pneumotórax) é uma evidência da anato- d. A pleura parietal está aposta aos pulmões,
mia normal. aderindo a todas as suas superficies.
e. A projecção da cúpula e ápice pulmonares e. A pleura visceral não tem continuidade
através da abertura superior, para o pescoço, com a pleura parietal, no hilo pulmonar.
faz-se anteriormente às inserções inferiores
do músculo esterno-cleido-mastoideu. 5. A radiografia simples do tórax em incidência
póstero-anterior é ainda muito utilizada para
2. A auscultação pulmonar é um importante examinar as estruturas respiratórias, vascula-
método usado no exame fisico do doente, de res , bem como a parede torácica. Assinale a
relevante base anatómica. Assinale a afirma- afirmação verdadeira:
ção falsa. a. A cúpula diafragmática direita é mais bai-
a. A auscultação avalia o fluxo de ar através xa que a esquerda.
da árvore traqueobrônquica para os lobos b. Os pulmões são relativamente radiotrans-
pulmonares. parentes em relação às estruturas adjacen-
b. Os ápices dos pulmões localizam-se na tes.
raiz do pescoço. c. As costelas inferiores não podem ficar en-
c. A auscultação da base do pulmão faz-se na cobertas pelo diafragma;
sua face diafragmática ou base anatómica. d. À direita, as costelas inferiores, não podem
d. A auscultação da parte póstero-inferior do ficar encobertas pelo figado.
lobo inferior faz-se na parede posterior do e. As vértebras torácicas inferiores não po-
tórax a nível da vértebra T X. dem ficar encobertas pelo esterno e me-
e. É anatomicamente sinal de normalidade diastino.
a ausência de permeabilidade aérea de um
segmento pulmonar. !g-s !g-i, !:;r- c !:;r-z !g-r
:srosodso11
3. Todas as estruturas a seguir referidas podem
contribuir para o alargamento do mediastino,
excepto.
a. Hemorragia no mediastino.

735
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Moore, KL.; Dalley, AF.; Agur, AMR.Anatomia


Orientada para a Clínica. 8.ª Ed. Guanabara
Koogan, 2019.
Spratt,JD.; Salkovsky, LR.; Loukas, M.;
Turmezei, T; Weir,J.; Abrahams, PH.Imaging
Atlas oJHuman Anatomy. 5th Ed. Elsevier, 2017.

•••

736
14. ABDÓMEN

D o ponto de vista topográfico o abdómen pode PAREDE ÂNTERO-LATERAL


ser dividido em paredes e em compartimentos.
D escreveremos em primeiro lugar as paredes ab- Esta parede é constituída pelos músculos largos do
dominais e em seguida os compartimentos abdo- abdómen, recobertos pelos tegumentos por fora e
minais com o seu conteúdo. Por uma questão de pelo peritoneu por dentro. Para além da constitui-
sistematização os planos e as estruturas serão des- ção da parede ântero-lateral em geral, descrevere-
critas da superfície para a profundidade. mos em separado a região umbilical e a região in-
guinal, pela sua importância clínica.
A divisão da parede anterior do abdómen em 9 re-
PAREDES ABDOMINAIS giões é utilizada com frequência na clínica e corre-
laciona-se com o conteúdo abdominal pelo que se
Vamos considerar no abdómen duas paredes: uma descreverá sucintamente. As regiões delimitam-se
anterior e outra posterior. A parede superior do da seguinte forma (Fig. 14.1):
abdómen corresponde ao diafragma e a inferior ao • Uma linha horizontal superior que passa pela
pavimento pélvico, que separa a escavação pélvica parte inferior do rebordo costal;
do períneo. Pela sua importância topográfica des- • Uma linha horizontal inferior que passa por
creveremos as paredes ântero-lateral e posterior. ambas as cristas ilíacas;
• Duas linhas verticais que passam pelo ponto
médio da arcada femoral (que é praticamen-
te coincidente com o bordo lateral dos rec-
tos abdominais; por sua vez também coincide
com o ponto médio da clavícula).

A região superior média é o epigastro, a central é


a região umbilical; a inferior média é o hipogastro.
As laterais superiores são os hipocôndrios, as late-
rais médias os flancos (ou regiões lombares) e as
laterais inferiores são as regiões inguinais.
Como veremos adiante, esta divisão tem mais uti-
lidade quando descrevemos o conteúdo abdominal.
Descreveremos um plano superficial, um plano
músculo-aponevrótico e um plano peritoneal.

Plano superficial

A pele desta região está atapetada por um paní-


cula adiposo e por uma fáscia superficial. Por bai-
xo desta encontra-se uma camada de tecido celu-

Fig. 14.1. Regiões do abdómen.


lW lar subcutâneo onde os vasos e nervos superficiais
se ramificam.
As artérias da porção superior provêm das inter-
1. Hipocôndrio direito 2. Epigastro 3 . Hipocôndrio esquerdo 4. Flanco
costais e da subcostal, bem como do ramo muscu-
direito 5. Região umbilical 6. Flanco esquerdo 7. Fossa ilíaca direita lofrénico da torácica interna. As da porção inferior
8. Hipogastro 9. Fossa ilíaca esquerda

737
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

provêm de dois ramos da artéria femoral: da epi- dómen se encontram à frente dos rectos abdollli-
gástrica superficial e da circunflexa ilíaca superfi- nais. Atrás vamos apenas encontrar a foscia trans-
cial. As artérias da porção posterior vêm das arté- versalis. Esta, na sua porção inferior, separa-se dos
rias lombares, ramos da aorta abdominal. rectos abdominais e forma juntamente com estes
As veias têm um trajecto análogo ao das artérias e com a sínfise púbica um espaço virtual - espa-
e desembocam: inferiormente, na veia grande sa- ço suprapúbico.
fena (tributária da veia femoral que por sua vez se Dentro da bainha dos rectos, na sua porção infe-
continua com a ilíaca externa); superiormente na rior, e anteriormente a estes, encontramos os mús-
torácica interna (que drena para a veia subclávia) e culos piramidais do abdómen.
na torácica lateral pela veia toracoepigástrica (veia Os três músculos largos estão separados uns dos
axilar); posteriormente nas veias lombares, subcos- outros por finas lâminas de tecido celuloadiposo.
tais e intercostais (veia cava inferior e sistema ázi- A porção mais lateral da bainha dos rectos cha-
gos); e em torno do umbigo nas veias paraumbili- ma-se linha semilunar (de Spiegel). Trata-se de
cais que acompanham o ligamento teres do figa- uma linha curva tendinosa, lateral aos rectos ab-
do (sistema porta). dominais, que se insere acima na cartilagem
Os linfáticos desta camada constituem dois gru- da 9.ª costela, e em baixo no tubérculo púbico.
pos: supraumbilicais e infraumbilicais. Os su- É formada pelas aponevroses dos três músculos
praumbilicais drenam nos gânglios axilares. Os in- largos do abdómen, e pode ser sede de hérnias por
fraumbilicais nos inguinais superficiais. ser uma região de relativa debilidade, não tendo
Neste plano encontramos também os ramos per- tecido muscular na sua composição.
furantes laterais e anteriores dos 8. 0 , 9.0 , 10.0 e 11.0 Também a linha branca não possui tecido muscu-
últimos nervos intercostais. Encontra-se igual- lar; hérnias da linha branca são relativamente fre-
mente o ramo anterior do nervo subcostal, já que quentes, essencialmente na região epigástrica.
o seu ramo perfurante lateral desce até à região Neste plano, encontramos três artérias principais:
glútea. a epigástrica superior, a epigástrica inferior e a cir-
cunflexa ilíaca profunda.
Plano profundo ou músculo-aponevrótico A epigástrica superior, ramo terminal da torácica
interna, está inicialmente por detrás dos músculos;
Os três músculos largos do abdómen são, da su- penetra superiormente na bainha dos rectos e logo
perfície para a profundidade, o oblíquo externo, o se introduz na espessura do músculo, a meia dis-
oblíquo interno e o transverso. Terminam ante- tância entre o umbigo e o apêndice xifóide. Anas-
riormente por bainhas aponevróticas que vão for- tomosa-se com a epigástrica inferior.
mar a bainha dos rectos abdominais e constituem A epigástrica inferior, ramo da ilíaca externa, si-
a linha branca quando se cruzam na linha média. tua-se inicialmente por detrás da fascia transver-
A camada muscular ântero-lateral está recoberta salis e do ligamento interfoveolar (ligamento de
por uma fina fáscia de revestimento transparen- Hesselbach, ver abaixo), e, a 5 cm acima do pú-
te que adere ao oblíquo externo. Em profundida- bis chega ao bordo externo do recto abdominal,
de, também encontramos uma fina fáscia de reves- mais ou menos ao mesmo nível do ramo anterior
timento, a atapetar o músculo transverso - a fas- do nervo subcostal. Penetra na bainha dos rectos
cia transversalis. abaixo da linha arqueada e introduz-se no mús-
A bainha dos rectos nos seus dois terços superiores culo a nível do umbigo. Na espessura do músculo
é constituída: à frente pela aponevrose do oblíquo anastomosa-se com a epigástrica superior e com
externo e pelo folheto superficial da aponevrose ramos das artérias lombares e intercostais.
do oblíquo interno; posteriormente, pelo folheto A circunflexa ilíaca profunda, ramo da ilíaca ex-
profundo da aponevrose do oblíquo interno, pela terna, tem origem junto à epigástrica inferior, mas
aponevrose do transverso e pela f ascia transversa- caminha em direcção à espinha ilíaca ântero-su-
lis. No seu terço inferior, abaixo da linha arqueada, perior, posteriormente à fascia transversalis e an-
todas as aponevroses dos músculos largos do ab- teriormente à fita iliopúbica. Ao chegar à espi-

738
ANATOMIA DAS REGIÕES J ABDÓMEN

subcostais caminham no interstício que separa o


oblíquo interno do transverso, e penetram depois
na bainha dos rectos. Os ramos abdominais dos
nervos ilioinguinal e ílio-hipogástrico emergem
entre os dois oblíquos um pouco acima do orifi-
cio profundo do canal inguinal. Os ramos inferio-
res (ou genitais) destes dois nervos atingem o in-
terstício dos dois oblíquos a nível da espinha ilía-
ca ântero-superior.
6

PERITONEU

4 Por trás dos músculos e da fascia transversalis en-


contram-se a fáscia extraperitoneal (ou subperito-
neal) e o peritoneu. A fáscia extraperitoneal é fa-
cilmente destacável do peritoneu na sua porção
inferior, ao passo que acima parece confundir-se
com ele, sendo muito aderente.
Abaixo do umbigo o peritoneu forma cinco pregas
umbilicais: uma mediana, correspondendo ao úra-
co, vestígio do canal embrionário que liga a alan-
tóide à bexiga fetal; duas mediais, representadas
3
pelas porções obliteradas das artérias umbilicais;
Fig. 14.2. Plano músculo-aponevrótico ântero-lateral do abdómen.
1. Linha semi-lunar 2. Linha branca 3. Orifício inguinal superficial
e mais lateralmente, as pregas peritoneais laterais,
4. Músculo oblíquo externo 5. Crista ilíaca 6. Músculo Iatíssimo do condicionadas pela passagem da artéria epigástri-
dorso 7. Ligamento inguinal
ca inferior.
Estas cinco pregas delimitam seis fossas, três de
nha ilíaca ântero-superior ramifica-se em dois ra- cada lado: a fossa supravesical, a fossa inguinal
mos terminais: um ramo ascendente, que perfura o
transverso, caminha entre este e o oblíquo interno,
e se anastomosa com as subcostais e as lombares;
e um ramo circunflexo, que caminha ao longo da
crista ilíaca, entre o oblíquo interno e o transverso.
As veias são satélites das artérias e também se 4
anastomosam entre si. Superiormente, drenam
na torácica interna e intercostais (cava superior);
posteriormente, nas veias lombares (cava inferior 6

e ázigos); inferiormente nas veias ilíacas externas.


A nível do umbigo, drenam nas veias paraumbili-
cais que são tributárias do sistema porta. Esta rede
5
anastomótica constitui uma anastomose porto-ca-
va de importância clínica em situações de hiper-
tensão portal.
Os linfáticos deste plano drenam a linfa para os 2 3
gânglios ilíacos externos (inferiormente), para os
Fig. 14.3. Região inguinal: vista posterior.
gânglios torácicos internos (superiormente) e para 1. Vasos epigástricos inferiores 2. Orifício inguinal profundo 3. Canal
os gânglios justa-aórticos (posteriormente). deferente 4. Artéria e veia espermáticas 5. Vasos ilíacos externos
6. Músculo llío-psoas 7. Artéria e nervo obturadores 8. Ligamento
Os ramos dos últimos nervos intercostais e dos
lacunar 9. Ligamento inguinal

739
MANUAL DE ANATOMIA H UMANA

média e a fossa inguinal lateral. A fossa suprave- das; a fáscia extraperitoneal e o peritoneu. E ntre
sical encontra-se entre o úraco e a artéria umbili- anel umbilical e a fáscia extraperitoneal encontra~
cal; a fossa inguinal média encontra-se entre a ar- -se muitas vezes um reforço da bainha dos rectos
téria umbilical e a epigástrica inferior; a fossa in- que constitui um mecanismo importante contra a
guinal lateral encontra-se lateralmente à epigás- formação de hérnias: a fáscia umbilical (Richet).
trica inferior, correspondendo ao orifício profun-
do do canal inguinal. REGIÃO INGUINAL
Entre as duas pregas umbilicais, inferiormente, OU INGU/NO-ABDOMINAL
entre a foscia transversalis e a fáscia extraperito-
neal, existe uma fáscia umbilicoprevesical, consti- Os limites da região inguinal são: superiormente
tuída por tecido fibroadiposo. O espaço prevesical uma linha imaginária que passa pela espinha ilíac;
(espaço de Retzius) encontra-se entre esta fáscia e ântero-superior; por dentro, por uma linha vertical
afascia transversalis. que coincide com o bordo lateral do recto abdomi-
nal; inferiormente, por uma linha imaginária que
UMBIGO une a espinha ilíaca ântero-superior ao tubérculo
púbico. Em superfície, esta região está separada da
O umbigo encontra-se um pouco por baixo do região femoral pela prega inguinal e pelo ligamen-
meio da cavidade abdominal, a nível da 4.• vér- to inguinal. Em profundidade há apenas um úni-
tebra lombar, na linha média. É formado, na sua co espaço frágil que se estende desde o bordo infe-
porção central, por uma saliência mamilar, rodea- rior do músculo transverso até ao ramo horizontal
da por um sulco umbilical, que por sua vez está ro- do púbis e crista pectínea.
deado por um bordo cutâneo. A cicatriz umbilical Aqui observamos que, se traçarmos uma linha rec-
encontra-se no centro da saliência mamilar. ta entre a espinha ilíaca ântero-superior e o umbi-
Do plano superficial para o profundo encontra-se: go, observamos que, para dentro e para baixo des-
a pele, fortemente aderente; um anel umbilical, fi- ta linha, entre esta, a prega inguinal e o bordo la-
broso, que não corresponde senão ao úraco, às ar- teral dos rectos, se encontra uma área adelgaçada,
térias umbilicais e às veias paraumbilicais oblitera- correspondendo a uma depressão ampla e pouco
profunda, que corresponde à porção tendinosa do
músculo oblíquo externo.

Plano superficial

A pele desta região também contém panículo adi-


poso e uma fáscia superficial (de Scarpa). Esta fás-
cia superficial adere ao ligamento inguinal, na sua
9
porção mais superficial, separando neste plano as
regiões inguinal e femoral.
Abaixo da fáscia superficial encontramos um pla-
no de tecido celuloadiposo onde se podem identi-
ficar as artérias epigástrica superficial e circunfle-
xa ilíaca superficial, ramos da femoral; ramos per-
8 forantes laterais dos nervos subcostais ( em cima) e
dos nervos ilioiguinal e ílio-hipogástrico.

Plano músculo-aponevrótico
Fig. 14.4. Fossa supra-vesical.
1. Úraco 2. Vasos epigástricos inferiores 3. Fossa inguinal lateral
4. Fossa inguinal medial 5. Fossa inguinal supra-vesical 6. Artéria Em seguida, encontramos a aponevrose de reves-
umbilical 7. Artéria ilíaca externa 8. Veia ilíaca externa 9. Nervo
timento do músculo oblíquo externo (ver acima),
femoral 1O. Músculo ilíaco

740
ANATOMIA DAS REGIÕES I ABDÓMEN

e mais profundamente a aponevrose propriamen-


te dita deste músculo.
Esta aponevrose termina da seguinte forma:
• As suas fibras superiores passam à frente do
recto abdominal e terminam na linha branca;
• As suas fibras inferiores contribuem para for-
8
mar o ligamento inguinal (de Poupart) e o li-
gamento lacunar (de Gimbernat). Este termi-
na na crista pectínea em forma de leque de-
pois de atravessar da superfície para a profun-
didade o ligamento inguinal, na sua porção
inferior (ver Fig. 14.4);
4
• As suas fibras médias terminam em três fei- 6
xes que são: o pilar externo, que termina no
tubérculo púbico; o pilar interno que termi-
na a nível da sínfise púbica e tubérculo púbico
do lado oposto; e o ligamento inguinal reflec-
tido (pilar posterior ou ligamento de Colles),
que se insere no lado oposto, desde o tubércu-
lo púbico até à crista pectínea.
Fig. 14.5. Canal inguinal.
As fibras desta aponevrose prolongam-se para a 1. Músculo oblíquo externo 2. Músculo oblíquo interno 3. Músculo
transverso abdominal 4. Tendão conjunto 5. Ligamento inguinal
porção medial desta região, na direcção das bolsas, 6. Orifício inguinal profundo 7. O rifício inguinal superficial 8. Fáscia
onde vão recobrir o cremáster e constituir a fás- transversafis 9. Cordão espermático
cia espermática externa. Por cima do cordão esper-
mático encontramos umas fibras oblíquas de cima Parede posterior
para baixo e de dentro para fora: as fibras inter-
crurais (fibras arciformes de Nicaise), que recebem A este nível, o oblíquo interno e o transverso inse-
este nome por se disporem entre os dois pilares do rem-se na bainha dos rectos, no tubérculo púbico e
anel inguinal superficial. na crista pectínea, a maior parte das vezes sem que
Por trás desta aponevrose encontramos um inters- se individualize um tendão fibroso. A esta estrutu-
tício por onde passa o cordão espermático no ho- ra chama-se classicamente tendão conjunto, em-
mem e o ligamento redondo na mulher. Este in- bora só em 3-5% dos indivíduos se encontre efec-
terstício é o canal inguinal. Acima do cordão es- tivamente um tendão.
permático estão os ramos abdominais dos nervos A estrutura a que chamamos foice inguinal (li-
ilioinguinal e ílio-hipogástrico, que atingem este gamento de Henle) é uma extensão fibrosa des-
plano um pouco acima da espinha ilíaca ântero- ta inserção que fixa o transverso à crista pectínea, e
- superior. Os seus ramos genitais dirigem-se para continua-se com o ligamento pectíneo (ligamento
o cordão espermático e juntam-se aos outros ele- de Cooper) e com o ligamento lacunar (de Gim-
mentos do cordão. O ramo genital do nervo ge- bernat); é muitas vezes descrita como uma exten-
nitofemoral também vai integrar estes elementos. são aponevrótica do recto abdominal, ou como um
O canal inguinal tem 2 paredes, 2 bordos e 2 ori- reforço da Jascia transversalis; é inconstante: está
fícios (Fig.14.5): presente em 15% dos indivíduos.
Outra estrutura que aparece nesta região é o liga-
Parede anterior mento interfoveolar (ou ligamento de Hesselbach,
Fig. 14.6). Este ligamento parte da linha arquea-
Constituída pela aponevrose do oblíquo externo e da para fora e para baixo, atravessa as duas fossas
por algumas fibras intercrurais (de Nicaise). inguinais medial e lateral, torna-se vertical, e che-

741
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

ga ao ligamento inguinal entre os vasos epigástri- Hesselbach) e pelos vasos epigástricos inferiore
S.
cos e o bordo medial do orifício profundo doca- Este orifício profundo corresponde à fossa ingui-
nal inguinal. nal lateral. O orifício profundo, bem como a pare-
Assim, a parede posterior é constituída, de dentro de posterior, estão atapetados pela fáscia extrape-
para fora: pelo ligamento inguinal reflectido (pilar ritoneal e pelo peritoneu.
posterior); pelo "tendão conjunto" e/ou foice in-
guinal; pelaJascia transversalis; pelo ligamento in- CONTEÚDO DO CANAL INGUINAL
terfoveolar. Aqui, profundamente àfascia transver-
salis podemos encontrar os vasos epigástricos infe- Na mulher, este é ocupado pelo ligamento redon-
riores, que são um marcador anatómico importan- do, homólogo do gubernáculo testicular do ho-
te, uma vez que as hérnias inguinais directas apa- mem. Para além disso, contém os ramos genitais
recem mediais a estes, ao passo que as indirectas do ilio-hipogástrico, ilioinguinal e genitofemoral.
lhes são laterais. No homem está ocupado pelo cordão espermático
que está recoberto por um prolongamento daJas~
Bordo superior eia transversalis, que se toma na fáscia espermática
interna. Dentro desta encontramos: o canal defe-
O bordo superior é constituído pelos músculos rente; a artéria testicular (ramo da aorta abdomi-
oblíquo interno e transverso, e na sua porção mais nal) e a artéria deferencial (ramo da ilíaca interna);
medial, também pelo oblíquo externo. dois plexos venosos pampiniformes, anterior (tri-
butário das veias testiculares) e posterior {tributá-
Bordo inferior rio das veias epigástricas inferiores), nervos e lin-
fáticos. A artéria cremastérica {ramo da epigástrica
Neste local vamos encontrar um reforço da fascia inferior) encontra-se por trás desta fáscia. Os ra-
transversalis chamado "fita iliopúbica" (cinta ilio- mos genitais dos nervos ilio-hipogástrico e ilioin-
púbica de Thompson). Esta estende-se desde a es- guinal descem à frente do cordão e o ramo genital
pinha ilíaca ântero-superior até ao tubérculo púbi- do genitofemoral por detrás.
co e é paralela ao ligamento inguinal, encontran- O músculo cremáster envolve a fáscia espermá-
do-se num plano mais profundo que este. tica interna. Tem origem no oblíquo interno, e a
Sendo assim, o bordo inferior é constituído, da su- sua porção lateral parte do bordo inferior deste
perfície para a profundidade pelas fibras de inser- músculo, enquanto que a sua porção medial tem
ção do oblíquo externo; pelo ligamento inguinal; e
pela fita iliopúbica.

Orifício superficial

Este é constituído: por dentro, pelo pilar interno;


por fora pelo pilar externo; por cima, pelas fibras
intercrurais, que ligam um pilar ao outro; por bai-
xo pelo ligamento inguinal reflectido (pilar pos-
terior) proveniente do oblíquo externo do lado
oposto.

Orifício profundo

Este orifício, mais débil, é delimitado: por cima e 4 6


lateralmente pelas inserções dos músculos oblíquo
Fig. 14.6. Canal inguinal: parede posterior.
interno e transverso; por baixo pela fita iliopúbi- 1. Músculo oblíquo interno 2. Fáscia do músculo transverso abdominal
ca; por dentro pelo ligamento interfoveolar (de 3. Músculo recto abdominal 4. Vasos epigástricos inferiores 5. Tendão
conjunto 6. Ligamento interfoveolar 7. Orifício inguinal profundo

742
ANATOMIA DAS REGIÕES I ABDÓMEN

origem no "tendão conjunto" e no tubérculo pú-


bico.

PAREDE POSTERIOR

A parede posterior do abdómen é constituída es-


sencialmente por: cinco vértebras lombares e res-
pectivos discos; músculos da parede abdominal 8
posterior; fáscia tóraco-lombar; plexo lombar;
Fig. 14.7. Região vertebral.
gordura, nervos, vasos e linfáticos. 1. Músculo oblíquo interno 2. Músculo transverso abdominal
3. Músculo Psoas maior 4. Músculo Quadrado Lombar 5. Massa dos
Podemos dividir esta parede em três regiões: uma
músculos erectores da espinha 6. Fáscia toraco-fombar (folheto ante-
região vertebral (mediana) e duas regiões lom- rior) 7. Fáscia toraco-lombar (folheto médio) 8. Fáscia toraco-lombar
(folheto posterior}
boilíacas (laterais).

REGIÃO VERTEBRAL Plano esquelético


(FIG. 14.7)
Aqui encontramos a coluna vertebral na sua por-
Esta região continua a sua correspondente no tórax. ção lombar, contendo no seu interior (canal medu-
Os seus limites laterais correspondem aos bordos lar): a medula espinhal, as meninges (dura-máter,
laterais dos corpos vertebrais. O seu limite superior aracnóide, pia-máter), os plexos venosos intrarra-
é a l.ª vértebra lombar e o seu limite inferior é a 5.•. quídeos e as raízes espinhais até à sua saída pelos
Da superfície para a profundidade vamos encon- buracos intervertebrais. A medula espinhal termi-
trar: na a nível da 2.ª vértebra lombar.

Plano superficial REGIÃO LOMBO-ILÍACA

É constituído por pele, panículo adiposo, fáscia su- Os limites desta região são: em cima, o bordo in-
perficial e tecido celular subcutâneo. ferior da 12.• costela: em baixo, a crista ilíaca; por
dentro, os corpos vertebrais; por fora, o bordo late-
Plano músculo-aponevrótico ral do quadrado lombar.

Abaixo das camadas anteriores encontra-se um Plano superficial


plano músculo-aponevrótico constituído pela por-
ção lombar da fáscia tóraco-lombar e pelo erector À semelhança do anterior, também é constituído
da espinha. Esta fáscia está inserida na sua porção por pele, panículo adiposo, fáscia superficial e teci-
medial na coluna vertebral; à medida que cami- do celular subcutâneo.
nhamos para um plano mais lateral, ela divide-se
em 3 camadas: anterior, média e posterior. Plano músculo-aponevrótico
A camada posterior dá inserção ao músculo latíssi-
mo dorsal e mais profundamente os tendões de in- Neste plano podemos considerar três grupos mus-
serção inferior do músculo serratus póstero-inferior culares em três planos distintos: um grupo ante-
Entre as camadas média e posterior encontra-se o rior, um grupo médio e um grupo posterior.
músculo erector da espinha.
A camada anterior é a aponevrose de inserção do Grupo posterior
quadrado lombar.
É na porção mais lateral desta fáscia que estão in- Aqui, da superfície para a profundidade, encon-
seridos os músculos oblíquo interno e transverso. tramos:

743

...
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

• O músculo latíssimus dorsal e o folheto pos-


terior da fáscia tóraco-lombar, que lhe dá in-
serção; em ¾ dos indivíduos, o bordo late-
ral do latíssimus dorsal, o bordo posterior do
oblíquo externo e a crista ilíaca determinam o
triângulo lombar inferior (de J.L. Petit), um
ponto débil que pode ser sede de hérnias lom-
bares; este triângulo está apenas ocupado pelo
transverso e pelo oblíquo interno (Fig. 14.9);
• O músculo serratus póstero-inferior em cima
e o oblíquo interno em baixo;
• O músculo erector da espinha, na espessura
do qual se encontram as ramificações princi-
pais das artérias e nervos lombares posterio-
res. 2

O bordo externo do serratus póstero-inferior, o


bordo posterior do oblíquo interno, o músculo
erector da espinha e a 12.ª costela determinam um
espaço chamado "triângulo lombar superior (qua-
drilátero de Grynfelt)", ocupado apenas pelo latís-
simus dorsal e pela aponevrose do transverso, ou-
tro ponto débil desta parede.
Fig. 14.9. Músculos da região posterior do tronco.
Grupo médio 1. Músculo oblíquo externo 2. Músculo Iatíssimo do dorso 3. Triân-
gulo lombar inferior 4. Músculo oblíquo interno 5. Músculo trapézio
6. Massa comum dos erectores da espinha 7. Músculo serrátil póstero-
Este grupo está constituído pelo folheto médio da -inferior 8. 12.' costela 9. Triângulo lombar superior 10. Crista ilíaca
aponevrose tóraco-lombar que vai dar inserção ao
transverso abdominal e pelos músculos intertrans- Grupo anterior
versários.
O quadrado lombar insere-se, como já vimos, no
folheto anterior da fáscia tóraco-lombar. Posterior
a este músculo encontra-se as artérias e as veias
lombares, em número de quatro de cada lado.
Anteriormente ao quadrado lombar e à sua fás-
2
cia encontram-se os nervos ilioinguinal e ílio-hi-
pogástrico, bem como o nervo subcostal.
Anterior e medial ao quadrado lombar está o mús-
culo psoasilíaco, envolvido pela sua fáscia. Na es-
pessura do psoas, mais propriamente no espaço
compreendido entre as suas inserções nas apófi-
ses transversas e as inserções nos corpos vertebrais
e discos intervertebrais, está o plexo lombar, a veia
lombar ascendente, os vasos lombares e os nervos
6
esplâncnicos lombares.
Fig. 14.8. Aspeto músculo-aponevrótico do abdómen: corte axial E stes músculos são revestidos anteriormente por
1. Músculo oblíquo externo 2. Músculo oblíquo interno 3. Músculo
transverso abdominal 4. Músculo Psoas maior 5. Músculo Quadrado
uma lâmina muito delgada de tecido conjuntivo, a
Lombar 6. Massa dos músculos erectores da espinha 7. Músculo fascia transversalis.
Iatíssimo do dorso 8. Fáscia toraco-lombar 9. Espaço retro-peritoneal

744
ANATOMIA DAS REGIÕES I ABDÓMEN

CONTEÚDO DA CAVIDADE ABDOMINAL ANDAR SUPRA-MESOCÓLICO


0/. TAMBÉM: PERITONEU)
O andar supra-mesocólico corresponde ao hipo-
E m geral distingue-se a grande cavidade abdo- côndrio direito, ao epigastro e ao hipocôndrio es-
minal da escavação pélvica, que é a continuação querdo. Não existe, em profundidade, um limite
da primeira na pequena bacia ou pelve, para bai- anatómico para cada um dos espaços; os órgãos
xo do estreito superior da bacia. Numa como nou- de cada região podem projectar-se na região con-
tra existe a cavidade peritoneal com as suas dife- tígua.
rentes partes e, para fora da fáscia parietal, os es-
paços extraperitoneais, tal como o espaço retrope-
ritoneal. Podemos considerar dois grandes anda- HIPOCÔNDR/O DIREITO
res no abdómen divididos pela raiz do mesocólon
transverso: um andar supramesocólico e um infra- Os limites do hipocôndrio direito são: acima, a
mesocólico. hemicúpula diafragmática; abaixo, o mesocólon
A raiz do mesocólon transverso parte do ângulo transverso; lateralmente, as inserções costais do
hepático do cólon, insere-se na face anterior do diafragma que o separam do seio costofrénico cor-
rim direito e cruza a 2.ª porção do duodeno, a ca- respondente. Não existe, em profundidade, um li-
beça do pâncreas e o corpo, ficando a este nível mite medial para este espaço.
um pouco inferior. Atinge então o ângulo espléni- Aqui vamos encontrar o lobo direito do figado,
co do cólon. que atapeta estas paredes; abaixo, o figado aparen-
ta moldar-se de acordo com os órgãos acima dos
quais se situa.
Superiormente, o figado projecta-se até ao 5.0
espaço intercostal, que corresponde em profun-
didade à 9.ª vértebra torácica. Relaciona-se, em
cima e através do diafragma, com a pleura e o
pulmão direitos, enquanto que lateralmente vai
relacionar-se com os seios costofrénicos e com a
parede torácica.
Inferiormente, o fígado relaciona-se com a vesí-
cula biliar, com o ângulo hepático do cólon, com o
duodeno e com o rim direito. A vesícula ocupa a
fossa cística da face inferior do fígado e dos órgãos
supracitados é o que se encontra na posição mais
4 medial. Estende-se desde o bordo anterior do fí-
5 gado, num ponto que se projecta sensivelmente na
intersecção do rebordo costal com o bordo lateral
do recto abdominal, para trás, até ao sulco trans-
verso. O cólon transverso projecta-se numa porção
6 da face inferior que se situa entre a fossa cística e o
ligamento redondo (segmento IV). Lateralmente
à vesícula, encontramos o ângulo hepático do có-
lon, anteriormente; a 2.ª porção do duodeno, que
se projecta junto ao colo da vesícula biliar e um
pouco lateralmente a esta; e a face anterior do rim
8 direito, que se projecta, na face inferior do fígado.
Fig. 14.10. Conteúdo da cavidade abdominal.
As faces superior e inferior do fígado estão cober-
1. Coração 2. Diafragma 3. Fígado 4. Vesícula biliar 5. Estômago 6. tas por peritoneu visceral, e.xcepto na fossa cística.
Jejuno-íleon 7. Cego 8. Cólon sigmóide

745
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Existe um espaço inter-hepatofrénico na região do o lobo caudado. À direita deste está o sulco da veia
hipocôndrio direito, que é delimitado: cava inferior e à esquerda observamos a fissura do
• Em cima pelo diafragma; ligamento venoso, que é contínua com a inserção
• À frente pela parede abdominal anterior; do pequeno omento (epíploon). Este sulco encon-
• Por dentro pelo ligamento falciforme; tra-se sensivelmente à frente do pilar direito do
diafragma. À sua esquerda encontra-se o esófago,
Por trás pela face superior do fígado, bordo hepáti- que deixa uma impressão esofágica à esquerda do
co, face inferior, face superior do mesocólon trans- ligamento venoso (v. Espaço Retroperitoneal).
verso e face anterior do rim direito. O hilo hepático está entre a extremidade poste-
Este espaço é contínuo com a goteira láterocólica rior da fossa cística e a extremidade posterior da
direita (delimita os abcessos subfrénicos direitos). fissura do ligamento redondo (teres). Tem urna
Na face posterior também não há peritoneu, pelo orientação transversal, e delimita com a fossa cís-
que o fígado adere à parede posterior e aos pilares tica e a fissura do ligamento redondo o lobo qua-
do diafragma por intermédio do ligamento coro- drado, que corresponde ao segmento IV. E ste re-
nário, que se continua lateral e mediaimente pe- cobre o antro, o piloro e a 1.ª porção do duodeno.
los ligamentos triangulares; no limite medial desta Do hilo hepático (porta hepatis) parte o pequeno
região encontra-se a veia cava inferior, englobada omento (epíploon), que podemos dividir em liga-
pelo ligamento coronário e imprimindo um sulco mento hepatoduodenal e ligamento hepatogástri-
correspondente na face posterior do órgão (v. Es- co. Atinge a pequena curvatura gástrica, o piloro e
paço Retroperitoneal). a 1.ª porção do duodeno.

CAVIDADE POSTERIOR DO EPÍPLOONS OU


EPIGASTRO OU REGIÃO CELÍACA BURSA OMENTALIS

Esta região é delimitada acima pelo diafragma e Posteriormente ao pequeno omento (epíploon),
abaixo pelo mesocólon transverso. Não possui li- encontramos a bursa omentalis ou cavidade poste-
mites laterais e à frente não se encontra protegi- rior dos epíploons (Fig.14.11). Os seus limites são
da por tecido ósseo, correspondendo à porção su- definidos pelas seguintes estruturas:
perior do músculo recto abdominal. Atrás relacio- Por cima, a reflexão do peritoneu sobre o pe-
na-se com a coluna vertebral e com os pilares do ritoneu visceral do estômago e ainda o lobo
diafragma. caudado do fígado;
Superiormente, encontramos o fígado, cujo limi- • Por baixo, pela união dos dois folhetos do
te inferior da projecção neste espaço correspon- grande omento (epíploon);
de a urna linha que une a extremidade anterior da • Anteriormente, o pequeno omento (epíploon),
10.• costela direita à extremidade anterior do 7.0 a face posterior do estômago e ainda o folheto
espaço intercostal esquerdo. Além disso, podere- anterior do grande omento (epíploon);
mos observar que tanto a porção mais medial do • Posteriormente, o corpo e a cauda do pân-
lobo direito como a maior parte do lobo esquerdo creas, o rim e a suprarrenal esquerdos, e o dia-
se vão encontrar aqui, estando separadas, em cima, fragma; acima do colo do pâncreas encontra-
pelo ligamento falciforme e em baixo pelo liga- mos a emergência do tronco celíaco; retoma-
mento teres. O fígado atravessa assim o epigastro remos esta parede adiante;
colocando-se acima da pequena curvatura gástrica • À esquerda com o baço e o seu hilo;
e do pequeno omento (epíploon). Por cima, o lobo • À direita, comunica livremente com a gran-
esquerdo é um pouco côncavo para baixo devido à de cavidade peritoneal por intermédio de um
impressão cardíaca que o coloca em relação com o vesnbulo cuja entrada se designa por hiato de
coração por intermédio do diafragma. Winslow (foramen bursa omentalis) .
Pela sua face posterior, o fígado relaciona-se com a • O hiato de Winslow ou foramen bursa omen-
artéria aorta abdominal que está em contacto com talis é delimitado:

746
ANATOMIA DAS REGIÕ ES I ABDÓMEN

6 4
• Atrás pela veia cava inferior. Aqui podemos
encontrar a artéria hepática logo após a sua
10
emergência do tronco celíaco descrevendo
uma curvatura de concavidade superior, tor-
nando-se inferior ao orifício. Mais acima e à
esquerda encontramos a emergência da arté-
ria gástrica esquerda.
• Acima pelo processo caudado; este limite
prolonga-se até ao ligamento coronário do fi-
gado;
• Abaixo pela l.ª porção do duodeno, ou mais 2
concretamente, pela reflexão do peritoneu nas
suas paredes superior e posterior, e pelo arco, 11 12

acima descrito, da artéria hepática; Fig. 14.11. Cavidade peritoneal e cavidade posterior dos epíploons.
1. Aorta abdominal 2. Veia Cava Inferior 3. Rim direito 4. Foramen
• À frente pelo hilo hepático, contido no liga- bursae omentalis 5. Pedículo hepático 6. Ligamento falciforme
mento hepatogástrico do pequeno omento 7. Omento menor 8. Bolsa ementai 9. Estômago 1O. Omento
gastro-esplénico 11. Ligamento lieno-renal 12. Baço
(epíploon).

Esta porção do hilo hepático, intraomental, está creas; atrás da aorta, encontramos a cisterna chyli
aqui constituída pela porção inferior do canal he- onde drenam os linfáticos desta região (para-aór-
pático e pela porção superior do canal colédoco, ticos, paracavos e intercavoaóorticos). A cisterna
pelo que se entende que é aqui que desemboca o quilífera (de Pequet) é inconstante (30% dos indi-
canal cístico. Posteriormente e à esquerda deste víduos) e representa a porção inicial do canal to-
encontramos a artéria hepática e os seus ramos rácico.
gastroduodenal, cística e hepática própria. Final-
mente, a porção mais posterior é ocupada pela
veia porta. HIPOCÔNDR/0 ESQUERDO

PAREDE POSTERIOR DA BURSA OMENT,4L/S Esta região é limitada: por cima, pelo diafragma,
OU CAVIDADE POSTERIOR DOS EPÍPLOONS por fora e pela frente, pela parede torácica; por
dentro continua-se com o epigastro; por baixo
O fundo da região epigástrica é constituído pela pelo cólon transverso e pelo seu meso. Projecta-se
porção superior mediana do espaço retroperito- um pouco mais abaixo do que o hipocôndrio direi-
neal; este está formado pela metade inferior da to. Os órgãos abdominais que encontramos no hi-
11.ª vértebra torácica, pela 12.a vértebra torácica e pocôndrio esquerdo são o estômago, o baço, a cau-
pela 1.•lombar.Lateralmente a estas encontramos da do pâncreas e parte do lobo esquerdo do fígado.
os pilares do diafragma e mais lateralmente ambos As porções do estômago que se encontram neste
os músculos psoas. Entre os pilares do diafragma local são o fundo e a porção vertical do corpo. Es-
está a artéria aorta que imediatamente origina as tas porções projectam-se na face anterior da pare-
artérias frénicas inferiores, o tronco celíaco e as ar- de torácica, entre os 5.0 e 9.0 espaços intercostais
térias suprarrenais médias, quando presentes. - o espaço de Traube, identificável com facilida-
Lateralmente ao tronco celíaco está o plexo ce- de em radiografias do tórax - "bolha de ar gástri-
líaco. Os gânglios celíacos recebem inervação do ca" (Fig. 14.12).
vago posterior, dos esplâncnicos torácicos e vão Entre o fundo gástrico e o diafragma insinua-se
continuar-se abaixo com os gânglios mesentéricos parte do lobo esquerdo do fígado. Para baixo, a
superiores e com os aórtico-renais. porção horizontal do estômago continua-se pela
À frente da 1.0 vértebra lombar nasce a mesenté- porção horizontal que já entra no epigastro.
rica superior, que passa por trás do colo do pân- O fundo gástrico adere ao centro frénico e ao pilar

747
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

esquerdo do diafragma por intermédio da mem- ANDAR INFRA-MESOCÓLICO


brana gastrofrénica. Esta porção do estômago não
está coberta por peritoneu. Este _ai:1dar é <:111zado _pela raiz do mes~ntério que
A face posterior do estômago relaciona-se com se ongma a mvel do angulo duodeno-Jejunal e se
a suprarrenal esquerda, com o rim, com o baço e continua até ao ângulo iliocecal.
com a cauda do pâncreas, por intermédio da bur- Também está cruzado pela raiz do mesocólon si _
sa omentalis. mo1' 'de, que se encontra acima. da escavação pélvi-
g
O baço ocupa as partes lateral e superior des- ca, entre a porção inferior do cólon descendente
ta região. Projecta-se lateralmente este o 8.0 e o até à origem do recto. Este mesocólon sigmóide
10.0 espaços intercostais. A sua face látero-supe- quando é suficientemente grande, encerra por bai~
rior está em relação com a parede torácica por in- xo a cavidade abdominal formando uma separação
termédio do diafragma e dos seios costrofrénicos. entre o abdómen e a bacia. Se for pequeno, as an-
A sua face inferior e medial relaciona-se: atrás, sas do delgado poderão descer até à escavação pél-
com a supra-renal e rim direitos; à frente com o vica. Vamos ver: região umbilical, hipogastro, flan-
ângulo esplénico do cólon e respectivo ligamento cos e fossas ilíacas.
esplenocólico; superiormente, com o estômago e
com a bursa omentalis. O hilo está em relação com
o estômago, pelo ligamento gastroesplénico, que REGIÃO UMBILICAL E HIPOGASTRO
contém na sua espessura os vasos curtos; com a
cauda do pâncreas. Estas regiôes estão ocupadas por ansas do intesti-
A cauda do pâncreas está mais posterior e infe- no delgado. E stas projectam-se preferencialmen-
rior neste espaço. É retroperitoneal excepto na sua te à esquerda, à frente do cólon descendente, que é
porção mais distal, no fim da qual se encontra o menos volumoso que o cólon ascendente e o cego.
ligamento lienorrenal ou esplenorrenal (antiga- Estas ansas estão suspensas pelo mesentério, que
mente epíplon pancreático-esplénico) que contém se origina abaixo do mesocólon transverso, a ní-
na sua espessura a cauda do pâncreas e os vasos es- vel de L2, em posição medial em relação ao ângu-
plénicos, que se dirigem para o hilo do baço. lo duodenojejunal. A raiz do mesentério recebe os
vasos mesentéricos superiores e desce até à união
do íleo com o cego, não sem antes cruzar a artéria
ilíaca primitiva, os vasos genitais e o ureter direito.
Atrás do peritoneu, encontram-se os grandes va-
sos - aorta (à esquerda) e veia cava inferior (à di-
reita). A bifurcação aórtica situa-se a nível de IA,
enquanto que a confluência das veias ilíacas primi-
tivas situa-se ao nível da porção superior do corpo
de LS. A artéria ilíaca comum esquerda passa por
diante desta confluência.
A origem da artéria mesentérica superior dá-se a
nível de Ll, um pouco acima do nível da raiz do
mesocólon transverso e logo acima da origem das
artérias renais. A direita da artéria encontramos a
veia correspondente, que no mesentério mais dis-
tal logo se situa à sua frente. A mesentérica infe-
rior nasce da face ântero-lateral esquerda da aor-
Fig. 14.12. Radiografia do tórax em PA. ta, a nível de L3-L4 (logo abaixo das genitais), por
1. Espaço de Traube trás da 3.ª porção do duodeno. Tem um trajecto
para baixo e para a esquerda e penetra no meso-
cólon sigmóide.

748
ANATOMIA DAS REGIÕES I ABDÓMEN

Abaixo do mesocólon sigmóide, ou das ansas do plénico, está na sua porção inicial recoberto pelo
delgado caso este seja pouco volumoso, encontra- cólon transverso, e assenta sobre o psoas e o qua-
-se a escavação pélvica. No hipogastro pode pro- drado lombar, por intermédio de uma fáscia seme-
jectar-se a bexiga caso tenha replecção suficien- lhante à do lado oposto (fáscia de Toldt). Atrás do
te (200-300 ml); no recém nascido a bexiga tem cólon transverso encontram-se, de cima para bai-
urna projecção abdominal mais importante que no xo: a face anterior da extremidade inferior do rim
adulto, sendo quase totalmente intra-abdominal. esquerdo, os nervos ílio-hipogástrico e ilioingui-
Esta projecção vai diminuindo com a idade, acom- nal, o nervo cutâneo femoral lateral, os vasos lom-
panhando a obliteração da porção superior deste bares, e o nervo femoral.
órgão. Mais abaixo, o cólon descendente continua-se
com o cólon sigmóide, que está suspenso pelo seu
FIANCO E FOSSA ILÍACA DIREITOS meso. A raiz do mesocólon sigmóide tem origem
um pouco por fora dos vasos ilíacos comuns es-
Os órgãos que ocupam esta região são o cego, o querdos, cruza-os da esquerda para a direita, pas-
cólon ascendente e o rim direito. O cego e o cólon sa à frente dos vasos genitais e do ureter esquerdos,
ascendente são mais volumosos que o cólon es- e atinge o promontório. Contém na sua espessura
querdo e consequentemente têm uma grande pro- as artérias sigmoideias, ramos da mesentérica in-
jecção na parede abdominal. ferior, e as veias correspondentes. O mesossigmói-
As suas faces posteriores estão aderentes à pare- de separa a grande cavidade abdominal da escava-
de abdominal posterior por intermédio do seu pe- ção pélvica (v. Peritoneu)
ritoneu visceral posterior que se liga ao peritoneu
parietal desta região (fáscia de Toldt). O cego re-
pousa sobre a fáscia ilíaca (no ângulo formado en- ESPAÇO RETROPERITONEAL
tre o psoas e o ilíaco) e nesta região encontramos
os nervos cutâneo femoral lateral (por fora) e o gé- O espaço retroperitoneal é o espaço anatómico lo-
nito-femoral (por dentro) em cima, e o nervo fe- calizado na cavidade abdominal, atrás do perito-
moral em baixo. O apêndice também se vai encon- neu. Os órgãos aí contidos estão recobertos por
trar aqui, em posição retrocecal, em cerca de 60% peritoneu na sua face anterior. Como órgãos pri-
dos indivíduos. mariamente retroperitoneais destacamos:
O cólon ascendente projecta-se na parede abdo- • Glândulas suprarrenais ou adrenais;
minal posterior entre o psoas e o quadrado lom- • Rins;
bar. Por trás deste estão os vasos lombares, os ner- • Ureteres;
vos ilioinguinal e ílio-hipogástrico, e acima pro- • Bexiga;
jecta-se sobre a face anterior da extremidade infe- • Aorta;
rior do rim direito. • Veia cava inferior;
Por dentro do cólon ascendente vamos encontrar • Porção terminal do esófago;
os vasos genitais e o ureter esquerdos que estão re- • Recto extraperitoneal;
cobertos pelo peritoneu parietal desta região.
Como órgãos secundariamente retroperitoneais,
FLANCO E FOSSA ILÍACA ESQUERDOS isto é, inicialmente intraperitoneais mas que du-
rante o desenvolvimento embriológico perderam
Aqui encontra-se o cólon descendente e o sig- progressivamente o seu meso, destacamos:
móide. Já referimos que devido ao menor volu- • Pâncreas (excepto pela sua cauda que está si-
me ocupado pelo cólon descendente em relação tuada no ligamento lienorrenal, como vimos
ao ascendente, as ansas do jejunoíleo vão tender acima);
para este lado e projectar-se na parede abdomi- Duodeno, porções DII a DIV;
nal anterior. • Cólon ascendente e cólon descendente.
O cólon descendente, que continua o ângulo es-

749
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

10

Fig. 14.13A. Orgãos retroperitoneais. Fig. 14.138. Zonas de t rauma abdominal.


1. Aorta abdominal 2. Veia Cava Inferior 3. Duodeno 4. Pâncreas 1. Zona de trauma 1 2. Zona de trauma li 3. Zona de Trauma 111
5. Rim 6. Cólon ascendente 7. Cólon descendente 8. Cólon sigmóide
9. Vasos ilíacos 10. Recto

A bexiga e o recto serão considerados quando nos revele como um hematoma retroperitoneal com
referirmos à escavação pélvica. extensão essencialmente caudal.
O espaço retroperitoneal não tem fronteiras bem
definidas. Contudo, vamos dividi-lo em 3 porções,
consoante a sua relação com a fáscia renal (de Ge- ESPAÇO PARARRENAL ANTERIOR
rota): espaço perirrenal, espaço pararrenal anterior
e espaço pararrenal posterior. Este espaço está delimitado anteriormente pelo
peritoneu parietal posterior e posteriormente pelo
folheto anterior da fáscia renal. As estruturas si-
ESPAÇO PERIRRENAL tuadas neste espaço são:
• Cabeça e corpo do pâncreas;
Este espaço contém as estruturas localizadas entre • Aorta;
o folheto anterior da fáscia renal (fáscia de Toldt) e • Veia cava inferior
o folheto posterior (fáscia de Zuckerkandl); é deli- • DII aDIV;
mitado por cima, por fora e por dentro pela união • Cólon ascendente e descendente.
destas fáscias. Para baixo as duas fáscias não estão
unidas. Os órgãos contidos neste espaço são as su- Na realidade, este é um espaço potencial; a inclu-
prarrenais, os rins e os ureteres, bem como os seus são neste espaço do duodeno, do pâncreas e do có-
vasos, envolvidos na gordura perirrenal. O folheto lon ascendente e descendente deriva de estudos
posterior continua-se para baixo e funde-se com radiológicos sobre a difusão do líquido ascítico na
a fascia transversalis. O folheto anterior envolve o cavidade abdominal.
ureter numa bainha até à sua entrada na bexiga. As fáscias de fusão destas vísceras com a fáscia re-
Esta configuração em forma de "saco invertido" da nal são na realidade o verdadeiro espaço parrarre-
fáscia renal permite que uma hemorragia renal se nal anterior, uma vez que em termos embriológi-

750
ANATOMIA DAS REGIÕES I ABDÓMEN

coso duodeno, o pâncreas e o cólon são órgãos in- lombar. A face anterior do rim direito relaciona-se,
traperitoneais. por intermédio do folheto anterior da fáscia renal,
com as seguintes estruturas: na sua porção supe-
rior com o fígado; abaixo com a raiz do mesocó-
ESPAÇO PARARRENAL POSTERIOR lon transverso e cólon transverso; ainda mais abai-
xo com o ângulo hepático do cólon; por dentro
Está delimitado anteriormente pelo folheto pos- com a 2. ª porção do duodeno. A sua face poste-
terior da fáscia renal e posteriormente pela fas- rior está em relação com as seguintes estruturas, de
cia transversalis. No seu interior contém apenas a cima para baixo: diafragma e 12.• costela; músculo
gordura pararrenal. Como já referimos acima, es- psoas, quadrado lombar e aponevrose do transver-
tas fáscias fundem-se num local extremamente in- so do abdómen, de dentro para fora. Por dentro, o
constante, ao nível do psoas e do quadrado lombar, rim direito relaciona-se com a suprarrenal corres-
acima da escavação pélvica. pondente e com a veia cava inferior.
O rim esquerdo projecta-se desde a união da 12.ª
vértebra torácica com a l.• lombar até à união en-
TOPOGRAFIA DOS ÓRGÃOS tre a 2.ª e 3.ª lombares. A sua face anterior entra
RETROPER/TONEAIS em contacto com 5 órgãos, de cima para baixo: o
baço, em cima e por fora; o estômago, na sua por-
Consideraremos as suprarrenais, os rins e os urete- ção superior; o pâncreas, na sua porção média; o
res; o duodeno, o pâncreas, o cólon, a aorta e a veia jejuno, junto ao pólo inferior; e o ângulo esplénico
cava inferior já foram considerados acima; a bexi- do cólon e cólon descendente, na sua porção mais
ga e o recto serão considerados na pélvis. inferior e lateral. As relações posteriores do rim es-
querdo incluem, de cima para baixo e de dentro
SUPRARRENAIS para fora: diafragma e 11.ª e 12.ª costelas; músculo
psoas, quadrado lombar e aponevrose do transver-
As suprarrenais recobrem a porção ântero-supe- so do abdómen. Por dentro, o rim esquerdo rela-
rior de ambos os rins. Encontram- se envolvidas ciona-se com a suprarrenal correspondente e com
pela fáscia renal e separadas do rim por uma del- a artéria aorta.
gada fáscia suprarrenorenal. A suprarrenal direi-
ta tem uma forma triangular; a sua face anterior URETERES
está encostada ao fígado; medialmente, encontra-
-se ligada à veia cava inferior por intermédio da Os ureteres têm entre 28 a 34 cm de comprimen-
veia suprarrenal; posteriormente, está em contacto to. Estão situados entre os dois folhetos da fás-
com o diafragma e inferiormente com o rim cor- cia renal; o folheto anterior está intimamente liga-
respondente, muitas vezes por cima da artéria e do ao peritoneu. Cada um dos ureteres atravessa a
veia renais. A porção medial da suprarrenal direita porção medial do músculo psoas, em linha com os
é muitas vezes retrocava. processos transversos das vértebras lombares. Pas-
A suprarrenal esquerda é mais arredondada. Está sa à frente do nervo genitofemoral. Na porção mé-
em contacto com o estômago pela sua face ante- dia do ureter atravessam-se os vasos genitais, de
rior; com o diafragma e o pólo superior do rim dentro para fora, por diante.
posteriormente; com o baço lateralmente; e com o O ureter direito, antes de entrar na pélvis, passa
pâncreas e os vasos esplénicos inferiormente. por trás da raiz do mesentério; o ureter esquer-
do passa por trás da raiz do mesocólon sigmói-
RINS de. Ambos os ureteres chegam à escavação pélvi-
ca a nível da bifurcação dos vasos ilíacos comuns.
O rim direito tem uma localização mais inferior
em relação ao contralateral, projectando-se entre
o corpo da 12.ª vértebra torácica e a 3.ª vértebra

751
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Testut, L.;Jacob, O.Anatomía Topográfica. 8.•


PERGUNTAS TIPO
ed. Vol. 2. 1982, Barcelona: Salvar editores, s.a.
3-328.
1. O jejunoíleo tem tendência a projectar-se no
abdómen um pouco mais para a esquerda. Por- Moore, KL.; Dalley, AF. Clinically Oriented
quê? Anatomy. 9th ed. 2017, Philadelphia: Lippincott
a. O cólon direito é mais volumoso que o es- Williams & Wilkins. 194-354.
querdo.
Netter, FH.Atlas oJHumanAnatomy. 2nd ed.
b. Por causa da projecção pélvica do sigmóide,
1997, East Hanover, NJ: Novartis.
c. Por causa da presença do apêndice à direita,
cuja inflamação frequente leva a um desvio
das ansas intestinais.
d. Por causa da orientação geral do mesenté-
rio.
e. Devido ao volume do figado.

2. Um cirurgião ao iniciar uma cirurgia a uma


hérnia inguinal realiza uma incisão para-in-
guinal. No tecido celular subcutâneo vai en-
contrar dois pequenos vasos, uma veia e uma
artéria. Como se chamam?
a. Epigástricos inferiores.
b. Circunflexos ilíacos superficiais.
c. Pudendos externos superficiais.
d. Epigástricos superficiais.
e. Suprarrenais.

3. Uma incisão de lombotomia dorsal é utiliza-


da para uma abordagem da face posterior do
rim ou do bacinete. Nesta técnica, as fibras
do quadrado lombar são afastadas, sem serem
cortadas. Qye nervos se encontram nesta re-
gião que importa poupar?
a. Cutâneo femoral lateral e subcostal.
b. Nervos do plexo renal.
c. Ílio-hipogástrico e genitofemoral.
d. Ílio-hipogástrico e ilioinguinal.
e. Nervos do plexo testicular.

ia-e ia-z iv-r


:sl?lJ;)J s-e1sods~-a

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS

Rouviêre, H.; Delmas, A. Anatomie H umaine


D escriptive, Topographique et Fonctionelle. lSéme
édition. Masson, 2002.

752
15. PERÍNEO

A bacia, em anatomia topográfica, compreende REGIÃO PÚBICA


apenas o conteúdo da escavação pélvica (ou pélvis
rnenor, ou pequena bacia), uma vez que os órgãos Esta região está delimitada: acima, pelo bordo su-
que ocupam as fossas ilíacas são descritos com o perior do púbis; abaixo, pelo bordo inferior do pú-
abdómen. Por esse motivo, consideramos que o bis e pela raiz do pénis no homem e raiz do clíto-
seu limite ósseo superior é o estreito superior da ris na mulher; lateralmente por uma linha vertical
bacia. Este é delimitado pelas seguintes estruturas, que passa pela espinha do púbis; em profundida-
de trás para diante: de, estende-se até ao espaço prevesical.
• Promontório sagrado;
• Bordo anterior das asas do sacro; Plano superficial
• Linha arqueada do osso coxal;
• Crista pectínea; A pele é espessa e móvel; apresenta uma eminên-
• Bordo superior do púbis e sínfise púbica. cia central, o monte púbico. O tecido celular subcu-
tâneo é muito abundante e rico em gordura. Apre-
O estreito médio é delimitado pela articulação senta três estruturas fibrosas: os dois ligamentos
entre a 4.ª e 5.• vértebras sagradas, a espinha is- fundiformes, que se originam da bainha dos rectos
quiática e o terço inferior do púbis. O estreito in- e se inserem nos corpos cavernosos homolaterais; o
ferior, pela ponta do cóccix, pelas tuberosidades ligamento suspensor, que se origina da sínfise púbi-
isquiáticas e pela extremidade inferior da sínfi- ca e se insere na fáscia profunda do pénis. As arté-
se púbica. rias desta região são ramos das pudendas externas
As paredes ósseas da grande bacia estão formadas superficiais e das epigástricas superficiais (ramos
pelas asas dos ilíacos e pelas asas do sacro. As da das ilíacas externas); as veias são tributárias das pu-
pequena bacia pelas seguintes estruturas, de trás dendas externas superficiais; recebem a veia dorsal
para diante: superficial do pénis ou clítoris, e drenam nas gran-
• Sacro e cóccix; des safenas. Os linfáticos são tributários dos gân-
• Face interna do osso coxal, porção relaciona- glios inguinais superficiais e os nervos são ramos
da com o acetábulo; terminais dos ilioinguinais e dos ílio-hipogástricos.
• Tuberosidade isquiática;
• Ramos iliopúbico e isquiopúbico, delimitan- Plano museu/ar
do o buraco obturado;
• A face posterior da sínfise púbica. Este é constituído por tendões de inserção púbica
de músculos abdominais e da coxa. De cima para
O limite inferior é o períneo. baixo, encontramos:
• Fibras de inserção dos rectos abdominais e
dos piramidais;
PAREDES PÉLVICAS • Fibras de inserção do oblíquo externo;
• Fibras de inserção do gracilis, do longo e cur-
Descreveremos quatro regiões nesta secção: a re- to adutores e do adutor magno.
gião púbica, a região obturadora, a região sagra-
da e o períneo. Plano ósseo

Está constituído pelos ossos púbicos e pela articu-


lação que os une, a sínfise púbica. Abaixo da sín-

753
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

fise púbica identifica-se a veia dorsal profunda do • No plano superficial vamos encontrar, de
pénis ou do clítoris. cima para baixo:
• Gracilis;
Plano pré-vesical • Adutor magno.

Por detrás da sínfise púbica encontramos um pla- • No plano médio:


no constituído por tecido celuloadiposo contendo • Longo adutor;
vasos e nervos. As artérias são o ramo suprapúbi- • Curto adutor;
co da epigástrica inferior por cima e os ramos re- • Obturador externo;
tropúbicos da artéria obturadora, lateralmente. As
veias acompanham as artérias. Os linfáticos dre- • No plano profundo:
nam nos inguinais superficiais e os nervos são ra- • Membrana obturadora;
mos do dorsal do pénis (ou clítoris) e dos ilioin- • Obturador interno;
guinais e ílio-hipogástricos. • Aponevrose do obturador interno.

Na região látero-superior do buraco obturado, en-


REG IÃO OBTURADORA contra-se o canal infrapúbico, que dá passagem à
artéria, veia e nervo obturadores.
Esta região está delimitada pelas seguintes estru- A artéria obturadora é medial ao nervo neste ca-
turas: nal. Divide-se em dois ramos que percorrem de
• Por cima, a prega inguinal; uma forma circunferencial o rebordo do buraco
• Por baixo, por uma linha que representa o li- obturado. Os dois ramos terminais do nervo ob-
mite inferior da anca; turador encontram-se à frente e atrás do múscu-
• Por dentro, a região púbica; lo curto adutor.
• À frente, pelo bordo anterior do músculo gra- Os linfáticos deste plano drenam através do ca-
cilis; nal infrapúbico nos gânglios pélvicos da fossa ob-
• Atrás pelo bordo interno do adutor magno. turadora.

Plano superficial
REGIÃO SACRO-COCCÍGEA
Aqui encontramos, da superfície para a profundi-
dade: pele, panículo adiposo, fáscia superficial e te- O limite superior desta região corresponde a uma
cido celular subcutâneo. linha horizontal que passa pela união entre a 5.•
Este plano é vascularizado por ramos da artéria vértebra lumbar e o sacro. O inferior é a ponta do
pudenda externa superficial (ramo da artéria fe- cóccix. Lateralmente, pelos limites laterais do sa-
moral); a drenagem venosa faz-se pela veia do cro e do cóccix. Em profundidade estende-se até
mesmo nome que drena na grande safena. É iner- ao espaço retrorrectal. Esta região é formada, na
vada por filetes do ramo femoral do genitofemoral sua metade inferior, pela porção superior da pre-
e pelo ilioinguinal. ga inter-nadegueira.

Plano músculo-aponevrótico Plano superficial

Abaixo do plano anterior encontramos uma apo- É constituído por pele e tecido celular subcutâneo.
nevrose muito resistente, que se insere acima no A pele está unida ao plano músculo-aponevróti-
ramo isquiopúbico. co por uma série de trabéculas fibrosas que cons-
Os músculos que se encontram na região podem tituem o aparelho suspensor da prega inter-nade-
dividir-se em 3 planos: gueira de Morestin. Apresenta também pequenos
vasos e nervos superficiais.

754
ANATOMIA DAS REGIÕES I PERÍNEO

plano músculo-aponevrótico

Neste plano encontramos as inserções mediais dos


músculos grandes glúteos. No meio destes encon-
tramos a fáscia lombodorsal. Por diante desta en-
contramos o músculo erector da espinha e o multi-
fidus. Este plano é vascularizado por ramos poste-
riores da sagrada média e sagradas laterais e iner-
vado por ramos posteriores dos nervos sacococcí-
geos. Os linfáticos superficiais drenam nos gân-
glios inguinais e os profundos nos gânglios pél-
vicos.

Plano ósseo

É constituído pelas paredes posteriores do sacro


e do cócci.x.

PERÍNEO Fig. 15.1 . Períneo (homem).


1. Músculo ísquio-cavernoso 2. Músculo bulbo-esponjoso 3. Músculo
transverso superfical do períneo 4. Músculo esfíncter externo do ânus
O períneo é o conjunto de partes moles que en- 5 . Músculo levantador do ânus 6. Músculo glúteo máximo
cerra por baixo a escavação pélvica. É delimitado:
• À frente pelo bordo inferior da sínfise púbica; e uma lâmina de tecido celular subcutâneo. Nes-
• Atrás pela ponta do cócci.x; te plano encontra-se, de dentro para fora, as arté-
• Lateralmente por ambas as tuberosidades is- rias perineais superficiais (ramos das pudendas in-
quiáticas. ternas), os ramos perineais superficiais e perineais
laterais dos nervos pudendos e o ramos perineais
Uma linha horiwntal que passe por ambas as tu- do nervos cutâneos femorais posteriores. As veias
berosidades isquiáticas divide o períneo em ante- acompanham as artérias e o linfáticos são tributá-
rior (ou urogenital) e posterior (ou anal). rios dos gânglios inguinais superficiais.

PERÍNEO ANTERIOR MASCULINO Plano músculo-aponevrótico superficial

O pénis e o escroto com o seu conteúdo encon- Este plano é revestido pela fáscia de investida ou
tram- se na extremidade anterior desta região. de Gallaudet. Por cima desta fáscia e abaixo da
D escreveremos 4 planos: um superficial e três membrana perineal estão as raízes dos corpos ca-
músculo-aponevróticos: um superficial, um médio vernosos, a porção perineal do corpo esponjoso e
e um profundo. os músculos bulboesponjoso e isquiocavernosos.
O corpo perineal é uma estrutura localizada no Neste plano encontra-se o ramo bulbar do ner-
centro do períneo, atravessando todos os planos, vo pudendo, que inerva os músculos mencionados.
e servindo de inserção para todos os músculos do Também podemos encontrar neste plano o mús-
períneo, à excepção dos isquiocavernosos. culo transverso superficial do períneo, inconstante.

Plano superficial Plano músculo-aponevrótico médio

Por baixo da pele encontra-se um tecido celuloa- Este plano corresponde ao chamado "diafrag-
diposo, a fáscia superficial do períneo (de Colles) ma urogenital". É constituído pela membrana

755
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

perineal e, por cima desta, pelo esfíncter externo


da uretra. Outrora descrito, o músculo transver-
so profundo do períneo não existe; as fibras que
eram identificadas com este músculo pertencem
em parte ao complexo esfincteriano da uretra, e
em parte à membrana perineal.
Neste plano situa- se um canal que prolonga em
extensão o canal pudenda (de Alcock, ver períneo
posterior). É um canal situado por dentro do ramo
isquiopúbico, rodeado por uma extensão da apo-
nevrose do obturador interno, e que contém no
seu interior: o nervo dorsal do pénis, a artéria pu-
denda interna e as veias pudendas internas.
Neste plano também vamos encontrar as artérias
e as veias bulhares, a artéria uretral e as glându-
las bulbouretrais (ou de Cowper), estas últimas si-
tuadas na espessura do esfíncter externo da uretra.
Fig. 15.2. Períneo (mulher).
1. Clítoris 2. Uretra 3. Vagina 4. Músculo ísquio•cavernoso 5. M Usculo
Plano músculo-aponevrótico profundo bulbo-esponjoso 6. Músculotransversosuperfical do períneo 7. M úsculo
esfíncter externo do ânus 8. Músculo levantador do ânus 9. M úsculo
glúteo máximo
Este plano é constituído pela fáscia profunda do
diafragma urogenital; esta situa-se por cima do lo constritor da vulva); é na espessura desta túni-
esfincter externo da uretra e insere-se à frente na ca que se encontram as glândulas bulbovestibula-
porção inferior da sínfise púbica e posteriormente res (de Bartholin). Também se encontra neste pla-
na membrana perineal; é contínua com a fáscia do no o músculo transverso do períneo.
elevador do ânus, com a fáscia do obturador inter-
no e com a fáscia endopélvica. O músculo elevador Planos músculo-aponevróticos médio e su-
do ânus encontra-se neste plano. perior

PER(NEO ANTERIOR FEMININO Estes planos são semelhantes aos do homem, ex-
cepto pela divisão em duas metades condicionada
Consideramos os mesmos planos que considerá- pelo vesu.bulo vulvar.
mos para o masculino.
PER(NEO POSTERIOR
Plano superficial
O períneo posterior é semelhante nos dois sexos.
Este plano está ocupado pelas diversas porções da Podemos descrever um plano superficial e dois
vulva. Está constituída da mesma forma que o do planos musculares, um superficial e um profundo.
homem, excepto por esta particularidade.
Plano superficial
Plano músculo-aponevrótico superficial
A pele, que é fina e móvel na região glútea, torna-
Este plano é igualmente revestido pela fáscia de -se mais delgada à medida que nos aproximamos
investida ou de Gallaudet. Por cima desta fáscia e do ânus; a 1 cm da margem anal torna-se mais fina
abaixo da membrana perineal estão as raízes dos e pigmentada. O orifício anal encontra-se imedia-
corpos cavernosos do clítoris, os dois bulbos ves- tamente atrás da linha bi-isquiática.
tibulares, os músculos bulboesponjosos e isquio- O tecido celular subcutâneo praticamente desa-
cavernosos e a túnica muscular da vagina (múscu- parece quando nos aproximamos da margem anal

756
ANATOMIA DAS REGIÕES I PERÍNEO

para se aderir à mucosa. As artérias são ramos da


perineal (pudenda interna)e as veias acompanham
as artérias. Os linfáticos são tributários dos ingui-
nais superficiais e os nervos são ramos do perineal
superficial (nervo pudendo).

Plano muscular superficial

Neste plano encontramos o músculo esfíncter ex-


terno do ânus, que se une adiante ao corpo pe-
rineal e atrás ao rafe anococcígeo (também cha-
mado "placa do elevador do ânus" - levator plate). 2 11
A ambos os lados do canal anal existem duas ca-
Fig. 15.3. Escavação pélvica: corte frontal.
vidades preenchidas por gordura chamadas "fos- 1
1. Músculo obturador interno 2. Músculo levantador do ânus 3. Arco

sas isquiorrectais". tendinoso do levantador do ânus 4. Bexiga 5. Canal anal 6. Vesícula


seminal 7. Canal deferent e 8. Canal pudenda 9. Fáscia endo-pélvica
As fossas isquiorrectais comunicam entre si à fren- 10. Arco tendinoso da fáscia pélvica 11. Fáscia peritoneo-perineal
te e atrás do canal anal, e prolonga-se adiante en- (Denonvillier)

tre os planos superficial e médio do períneo ante-


rior; podemos descrever três paredes nesta fossa. CONTEÚDO DA ESCAVAÇÃO PÉLVICA
• Parede interna ou medial: constituída pelo
elevador do ânus, pelo coccígeo e mais abaixo Dividimos a escavação pélvica em três comparti-
pelo esfíncter externo do ânus; mentos no homem: vesicoprostático, vesiculose-
• Parede lateral: constituída pelo obturador in- rninal e rectal; e em três na mulher: vesicouretral,
terno e sua aponevrose; na porção inferior uterovaginal e rectal.
desta parede encontra-se o canal pudendo (de
Alcock), envolvido pela aponevrose o obtura-
dor interno e contendo, de cima para baixo: CONTEÚDO PÉLVICO NO HOMEM
veia pudenda interna, artéria pudenda inter-
na e nervo pudendo; O peritoneu parietal que recobre as vísceras ab-
• Parede inferior: constituída pelos tegumen- dominais recobre também os órgãos pélvicos sem
tos. atingir o pavimento pélvico . Está separado deste
pelas vísceras pélvicas e pela fáscia pélvica, que as
É na fossa isquiorrectal que se encontram a arté- envolve. À frente, o peritoneu reflecte-se à frente
ria e a veia rectais inferiores e o nervo rectal infe- da bexiga forma a fossa supravesical. Recobre a be-
rior; a artéria é ramo da pudenda interna; a veia é xiga; lateralmente a esta apresenta as fossas para-
tributária da pudenda interna e o nervo é ramo do vesicais; recobre os vasos pélvicos, os ureteres (pre-
pudendo: atravessam a fossa isquiorrectal de fora gas uretéricas) e os canais deferentes até se reflec-
para dentro. tir, entre a bexiga e o recto, formando o fundo-de-
-saco rectovesical (de Douglas) e, lateralmente, as
Plano profundo fossas pararrectais.

No plano profundo encontra-se os músculos ele- FÁSC/A PÉLVICA


vadores do ânus e coccígeos. Constituem o dia-
fragma ou pavimento pélvico e não ocupam ex- Abaixo do peritoneu encontra-se a fáscia pélvi-
clusivamente o períneo posterior, como vimos ca. E sta fáscia pode ser descrita como tendo dois
acima. componentes, um parietal e outro visceral.
A fáscia pélvica parietal é aquela porção da fás-
cia pélvica que recobre as superfícies pélvicas dos

757
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

músculos das paredes e do pavimento pélvico: o Denonvilliers); esta fáscia define o comparti-
obturador interno, o coccígeo, o elevador do ânus, mento médio da escavação pélvica;
o piriforme e porções do esfíncter externo da ure- • Um posterior, o ligamento lateral do recto
tra; quando falamos, por exemplo, em aponevrose que contém na sua espessura a artéria rect~
do obturador interno estamos a referirmos à fás- média e os plexos nervosos desta região.
cia pélvica parietal; é contínua com a fáscia trans-
versalis; ESPAÇOS PÉLVICOS NO HOMEM
No local em que a aponevrose do obturador in-
terno contacta com a ap onevrose do elevador do São espaços potenciais que se encontram entre as
ânus, encontramos um espessamento fibroso cha- paredes pélvicas e as vísceras (Fig. 15.4):
mado "arco tendíneo do elevador do ânus"; Entre o púbis e a bexiga encontra-se o espa-
A fáscia pélvica visceral recobre as vísceras pélvi- ço prevesical (de Retzius). Este é constituí-
cas e forma uma camada adventícia. Nos pontos do essencialmente por tecido adiposo, e está
de contacto com a fáscia pélvica parietal, onde os em continuidade com os espaços paravesicais,
órgãos pélvicos se "afundam", esta torna- se mais que se estendem a partir deste lateralmente
consistente, formando urna reflexão das duas fás- à bexiga.
cias a que damos o nome de arco tendíneo da fás- O espaço pelvirrectal (superior) está delimi-
cia pélvica; tado: acima pelo peritoneu; por baixo pelo
O arco tendíneo da fáscia pélvica, no homem, for- elevador do ânus; por dentro o recto; e por
ma à frente os ligamentos puboprostáticos ante- fora a parede pélvica. Este é dividido em
riores, que ligam o púbis ao ápex prostático; e os dois pela passagem do ligamento lateral do
ligamentos puboprostáticos laterais, que ligam a recto;
próstata ao elevador do ânus; termina ao nível da • O espaço retrorrectal ou pressagrado, entre o
espinha isquiática. recto (à frente) e o sacro (atrás).
Atrás, a reflexão da fáscia pélvica parietal com a
fáscia pélvica visceral, forma os ligamentos sacro-
genitais (uterossagrados na mulher), que partem
do sacro, contornam o recto e inserem-se lateral-
mente na próstata.

Ligamentos pélvicos no homem

Estes ligamentos não são mais do que condensa-


ções da fáscia pélvica que acompanham os vasos e
nervos pélvicos que vascularizam e inervam as vís-
ceras. O ligamento principal chama-se bainha da
hipogástrica. Dá passagem a essencialmente todos
os vasos e nervos desde a parede lateral até às vís-
ceras. No homem, inclui os ureteres e os canais de-
ferentes.
A bainha da hipogástrica divide-se em 3 ligamen-
tos:
• Um anterior, o ligamento lateral da bexiga;
contém na sua espessura as artérias vesicais
superiores (ramos das umbilicais) e as veias
correspondentes;
Fig. 15.4. Espaços pélvicos: corte saginal (homem).
• Um médio, que corresponde à fáscia peri- 1. Pénis 2. Uretra 3 . Escroto 4. Sínfise púbica 5. Bexiga 6 . Próstata
tóneo-perineal (septo rectovesical; fáscia de 7 . Recto 8. Canal deferente 9. Uretero 10. Sacro 11. Canal ejacula-
dor 12. Fundo-de-saco retro-vesical 13. Ânus

758
ANATOMIA DAS REGIÕES I PERÍNEO

COMPARTIMENTOS PÉLVICOS NO HOMEM • Acima, com o colo vesical à frente; e atrás


com as ampolas dos deferentes e com o orifl-
Como referimos acima, dividimos a escavação pél- cio excretor das vesículas seminais (que origi-
vica em 3 compartimentos: um anterior ou vesico- nam os canais ejaculadores, que a atravessam);
prostático; um médio, vesiculosseminal, na espes- • Posteriormente com o recto através do sep-
sura do septo rectovesical; e um posterior ou rectal. to rectovesical; na porção pósterolateral va-
mos encontrar o rolo vasculonervoso da prós-
Compartimento anterior tata constituído pelas artérias capsulares (ra-
mos da prostática), pelas veias corresponden-
Este compartimento é formado pela bexiga (supe- tes e pelos nervos cavernosos (ramos do plexo
riormente) e pela próstata (abaixo da bexiga). hipogástrico inferior);
Anteriormente à bexiga está o espaço prevesi- • Inferiormente, através do ápex prostático, esta
cal, que é delimitado à frente pelo púbis e pela assenta por cima do diafragma urogenital, em
porção parietal da fáscia pélvica; em cima pela contacto estreito com o músculo esfíncter ex-
fáscia transversal e porção posterior dos rec- terno da uretra.
tos abdominais, terminando acima no umbi-
go; atrás está em relação com a bexiga, por in- Compartimento médio
termédio da fáscia umbilicoprevesical, que já
referimos acima. Este contém as vesículas seminais e as ampolas
A face superior da bexiga está coberta pelo dos deferentes. Relações:
peritoneu e entra em contacto com o jejunoí- • À frente: face posterior da bexiga;
leo e com o sigmóide. • Lateralmente: elevador do ânus;
As faces laterais estão em relação com o espa- • Superiormente: fundo-de-saco rectovesical;
ço prevesical; com o elevador do ânus; com o • Posteriormente: recto;
obturador interno. Em contacto com estas fa- • Inferiormente: diafragma urogenital à frente
ces podemos encontrar as artérias umbilicais, e corpo perineal atrás.
as obturadoras, a porção pélvica do canal de-
ferente e ainda o nervo obturador. Compartimento posterior
• A face posterior da bexiga entra também em
contacto com o peritoneu, por intermédio do Contém o recto. Relações:
fundo-de-saco rectovesical. Mais abaixo en- • À frente: na sua porção superior está em con-
contra-se as porções retrovesicais dos canais tacto com o peritoneu (fundo-de-saco recto-
deferentes, que se alargam e continuam nas vesical) e por intermédio deste com as ansas
suas ampolas. Lateralmente a estas encon- do delgado e a sigmóide; na sua porção infe-
tram-se as vesículas seminais. rior com as vesículas seminais e com a prósta-
• O colo vesical está em relação com a glându- ta através da fáscia peritóneo-perineal;
la prostática. • Lateralmente: na sua porção superior, com as
estensões laterais do fundo-de-saco rectove-
A próstata encontra-se dentro da sua loca e está sical; abaixo, com a porção da fáscia pélvica
envolvida pela fáscia pélvica visceral. É a esta por- visceral que contém no seu interior o plexo
ção da fáscia pélvica visceral que chamamos cáp- hipogástrico inferior; esta porção infraperito-
sula prostática. Externamente a esta encontra-se o neal corresponde às extensões laterais do me-
plexo venoso periprostático. Relaciona-se: sorrecto;
• À frente com o púbis por intermédio dos li- • Atrás: sacro, cóccix e músculo piramidal, por
gamentos puboprostáticos anteriores; intermédio do mesorrecto; também: plexo
• Lateralmente, com a fáscia pélvica parietal sagrado, plexo coccígeo, plexo pudendo, va-
por intermédio dos ligamentos puboprostá- sos glúteos superiores e inferiores, vasos sa-
ticos laterais; grados médios e laterais, nervos esplâncni-

759
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

cos pélvicos (erigentes) e nervos do plexo hi-


pogástrico.
• Inferiormente relaciona-se com o períneo
posterior.

O mesorrecto é o tecido conjuntivo, que envolve


o recto subperitoneal. A fáscia pélvica, posterior- 12

mente ao recto, pode dividir-se em 3 camadas, da


frente para trás:
• A fáscia própria, que não é mais do que a fás-
cia pélvica visceral que envolve o recto;
• A fáscia rectossagrada (de Waldeyer);
• A fáscia pré-sagrada.

CONTEÚDO PÉLVICO NA MULHER

À semelhança do que acontece no homem, tam- Fig. 15.5. Espaços pélvicos: corte sagital (mulher).
bém na mulher o peritoneu se reflecte à frente da 1. Sacro 2. Mesosigmóide 3. Cólon sigmóide 4. Canal anal 5. Recto
bexiga e forma a fossa supravesical (Fig. 15.5). Re- 6. Vagina 7. Colo uterino 8. Corpo do útero 9. Bexiga 10, Sínfise
púbica 11. Fundo-de-saco vesico-uterino 12. Fundo-de-saco recto-
cobre a bexiga, a face anterior do útero, o fundo e -vaginal
a face posterior; entre a bexiga e o útero vai for-
mar o fundo-de-saco vesicouterino. Atrás recobre PARAMÉTR/0S
a face anterior do recto; forma entre este e o úte-
ro o fundo-de-saco rectovaginal (de Douglas). Re- No interior dos ligamentos largos estão situadas as
cobre também os vasos pélvicos, os ureteres (pre- seguintes estruturas:
gas uretéricas) e os ligamentos uterossagrados, for- Tubas uterinas, na porção mais superior do li-
mando as pregas rectouterinas. gamento largo, que a reveste;
Lateralmente ao útero encontra-se o ligamento Ligamentos redondos, que se dirigem para a
largo, que não é mais do que duas pregas de pe- frente na direcção do canal inguinal, termi-
ritoneu "levantadas" pelas tubas uterinas; unem os nando a nível do monte púbico e dos gran-
bordos laterais do útero à parede lateral da esca- des lábios;
vação pélvica. Os dois folhetos do ligamento lar- Ligamentos uteroováricos ou ligamentos
go, o anterior e o posterior, contêm na sua espes- próprios do ovário;
sura os paramétrios. O ligamento largo divide-se Artérias uterinas, tubáricas e ováricas, assim
em três porções: o mesométrio, o mesossalpinge e como as veias correspondentes;
o mesoovário. Nervos;
O mesométrio é a porção mais larga, lateral ao Resquícios embrionários do canal mesoné-
útero, o mesossalpinge é o meso da tuba uterina frico: epoóforo (órgão de Rosenmüller) e pa-
no cimo do qual esta se encontra, e contém no seu raoóforo (de Johnson); estes situam-se no
interior os ramos tubáricos das artérias ovárica e mesossalpinge.
uterina; o mesoovário une o ovário ao folheto pos-
terior do ligamento largo. FASCIA PÉLVICA
Os ligamentos largos dividem a escavação pélvica
em cavum preuterino e cavum retrouterino. As considerações que dispusemos acima referen-
tes ao comportamento da fáscia pélvica no ho-
mem também se aplicam à mulher; contudo, apre-
sentam algumas diferenças.

760
ANATOMIA DAS REGIÕES I PERÍNEO

O arco tendíneo da fáscia pélvica, na mulher, par- • O espaço pelvirrectal (superior) está delimita-
te desde o arco púbico e termina atrás na espinha do: acima pelo peritoneu; por baixo pelo ele-
isquiática. Os seguintes ligamentos são reforços vador do ânus; por dentro o recto; e por fora a
deste: parede pélvica; continua-se à frente pelo pa-
• Os ligamentos pubovesicais anteriores, que li- ramétrio e é dividido em dois pela passagem
gam o púbis à bexiga e à uretra; do ligamento lateral do recto;
• Os ligamentos pubovesicais laterais, que li- • O espaço retrorrectal ou pressagrado, entre o
gam a bexiga e a uretra ao elevador do ânus; recto (à frente) e o sacro (atrás).
• Os ligamentos laterais da vagina (lateral atta-
chments); que partem das faces anterior, pos- COMPARTIMENTOS PÉLVICOS NA MULHER
terior e laterais desta até se inserirem no ele-
vador do ânus; Como referimos acima, há três compartimentos
• Os ligamentos cardinais (ligamentos transver- pélvicos na mulher: vesicouretral, uterovaginal e
sos de Mackenrodt), que contêm na sua espes- rectal.
sura os vasos uterinas e que se estendem des-
de a parede pélvica (elevador do ânus) até ao Compartimento anterior
colo uterino; estes ligamentos estão em con-
tinuidade com o mesométrio, superiormente. Este compartimento é semelhante ao do homem,
com as seguintes diferenças:
Atrás, a reflexão da fáscia pélvica parietal com a • A face superior da bexiga relaciona-se não só
fáscia pélvica visceral forma os ligamentos uteros- com as ansas intestinais, como também com
sagrados, que partem do sacro, contornam o recto a face anterior do útero, do qual está separado
e inserem-se lateralmente no útero, em continui- pelo fundo-de-saco vesicouterino;
dade com o tecido parametrial. • A face posterior da bexiga está em relação
A bainha da hipogástrica na mulher também se com a vagina, contacta com o peritoneu por
divide em 3 ligamentos: intermédio do fundo-de-saco vesicouterino;
• Um anterior, o ligamento lateral da bexiga; • As faces laterais da bexiga entram em rela-
contém na sua espessura as artérias vesicais ção com o ligamento redondo, aquando da re-
superiores (ramos das umbilicais) e as veias plecção vesical;
correspondentes; • O colo vesical relaciona-se directamente com
• Um médio, que corresponde aos ligamentos a uretra feminina;
cardinais, contendo na sua espessura os vasos
uterinos (v. acima); A uretra feminina apresenta 2 porções, consoante
• Um posterior, o ligamento lateral do recto, a sua localização relativa ao diafragma urogenital:
que contém na sua espessura a artéria rectal uma porção pélvica (acima do diafragma urogeni-
média e os plexos nervosos desta região. tal) e uretra perineal (porção que atravessa o dia-
fragma urogenital). A uretra pélvica está relacio-
ESPAÇOS PÉLVICOS nada em toda a sua extensão com o músculo es-
fl:ncter externo da uretra, que a envolve. Relacio-
Os espaços potenciais na mulher apresentam as na-se:
seguintes características. • À frente com a sínfise púbica e com os liga-
• Entre o púbis e a bexiga encontra-se o espa- mentos pubovesicais anteriores;
ço prevesical (de Retzius), à semelhança do • Atrás com a vagina, da qual está separada por
que acontece com o homem; este é constituí- um septo uretrovaginal;
do essencialmente por tecido adiposo, e está • Lateralmente e na sua porção pélvica: com
em continuidade com os espaços paravesicais, o plexo venoso perivesical e com as fibras do
que se estendem a partir deste lateralmente elevador do ânus, ao qual está unida através
à bexiga. dos ligamentos pubovesicais laterais; na sua

761
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

porção perineal: com os corpos cavernosos do PERGUNTAS TIPO


clítoris e com os bulbos vestibulares.
1. A fáscia peritóneo-perineal liga duas es-
Compartimento médio truturas importantes na escavação pélvica.
Qiais?
Contém o útero e a vagina. O útero relaciona-se: a. Placa do elevador do ânus e fundo-de-sa-
Por sua face anterior com a bexiga, com o co rectovaginal (de Douglas).
fundo-de-saco vesicouterino e, abaixo, com a b. Fáscia rectossagrada e placa do elevador
face posterior da bexiga. do ânus.
Posteriormente com as ansas do jejunoíleo e c. Fundo-de-saco rectovaginal e corpo pe-
com o cólon sigmóide em cima e com o recto rineal.
e fundo-de-saco rectovaginal em baixo; d. Esfíncter externo do ânus e bulbo vesti-
Lateralmente com os paramétrios (na espes- bular.
sura do ligamento largo) onde estão incluí- e. A bexiga e o púbis.
dos os vasos uterinos; em continuidade com
o ligamento largo, para baixo, está o ligamen- 2. Qial destes músculos do períneo não se in-
to cardinal; o ureter pélvico, nesta porção, de- sere no corpo perineal?
pois do cruzamento dos vasos ilíacos, vai estar a. Bulbosponjoso.
situado abaixo e atrás da artéria uterina (wa- b. Isquiocavernoso.
ter under the bridge), quando esta penetra na c. Esfíncter externo do ânus.
espessura do ligamento cardinal para atingir d. Transverso superficial.
o colo do útero; e. Bulboesponjoso, esfíncter externo do
Abaixo, com a vagina. ânus e transverso superficial.

A vagina tem duas porções, consoante a sua loca- 3. Qial dos seguintes ligamentos não é reforço
lização em relação ao diafragma urogenital. Uma da fáscia pélvica?
porção pélvica (acima) e uma porção perineal. Re- a. Ligamento cardinal.
laciona-se: b. Ligamentos pubovesicais laterais.
• A frente com a base da bexiga e com a uretra, c. Arco tendíneo do elevador do ânus.
da qual está separada pelo septo uretrovaginal; d. Ligamentos uterossagrados.
• Atrás com o recto, por intermédio da fáscia e. Ligamentos, cardinal, pubovesicais late-
peritóneo-perineal; rais e uterossagrados.
• Lateralmente com a artéria vaginal, com o
plexo hipogástrico inferior, com o plexo ve- 1:)- S lg-z 1:)-{
noso perivesical, com o elevador do ânus e :S'BlJ;;)J S'&l SOÓS:>'M

com o prolongamento anterior da fossa is-


quiorrectal.

Compartimento posterior REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Contém o recto. As relações do recto na mulher Rouviere, H.; Delmas, A.Anatomie Humaine
são semelhantes às do homem com a excepção de Descriptive, Topographique et Fonctionnelle.
que à frente e na sua porção superior o recto está lSéme édition. Masson, 2002.
em contacto com o peritoneu (fundo-de-saco rec- Testut, L.;Jacob, O.Anatomía Topográfica. 8.3
tovaginal) e por intermédio deste com o útero, as ed. Vol. 2. 1982, Barcelona: Salvat editores, s.a.
ansas do delgado e a sigmóide; na sua porção infe- 3-328.
rior com o colo do útero e a vagina, por intermé-
dio da fáscia peritóneo-perineal.

762
ANATOMIA DAS REGIÕES I PERÍNEO

l\foore, KL.; Dalley, AF. Clinically Oriented


Anatomy. 9th edition. 2017. Philadelphia:
Lippincott Williams & Wilkins. 194-354.
Netter, FH.Atlas oJHumanAnatomy . 2nd ed.
E ast Hanover, NJ: Novartis, 1997.

***

763
16. MEMBRO SUPERIOR

INTRODUÇÃO ANATOMIA TOPOGRÁFICA DO


MEMBRO SUPERIOR
O s membros superiores são caracterizados pela
sua capacidade de manipulação, ao contrário dos REGIÃO DO OMBRO
membros inferiores cujas principais funções são a
capacidade de sustentação e a locomoção. No dia a Esta área é limitada superiormente pela clavícu-
dia, se cumprida a premissa da anatomia normal, os la e bordo superior da escápula (omoplata), infe-
membros superiores são dos segmentos do corpo riormente pelo bordo inferior do músculo peito-
mais utilizados pelo ser humano, sobretudo a sua ral maior, posteriormente pelo bordo espinhal da
extremidade distal - as mãos. Estão unidos ao es- omoplata e anteriormente pela região mamária.
queleto axial por via da cintura escapular formadas
pelas omoplatas e clavículas unidas ao manúbrio REGIÃO AXILAR
esternal. As clavículas, por via das articulações es-
terno-condro-claviculares, permitem uma conti- Através desta região passam estruturas neuro-vas-
nuidade anterior entre as duas cinturas escapula- culares que servem o membro superior. Esta re-
res; posteriormente não existe continuidade nesta gião adota a forma de uma pirâmide quadrangular
cintura - esta característica permite o uso autóno- que se localiza entre a parede costal, o úmero, a ar-
mo de um membro superior em relação ao outro. ticulação escapulo-braquial e a omoplata. Tem as-
Visando uma descrição mais coerente da anatomia sim quatro paredes, um vértice e uma base:
por regiões, para lá da anatomia descritiva, pode- • Parede anterior - formada pelos músculos
mos considerar: peitorais maior e menor, e Jascias adjacentes.
• A região do ombro - segmento mais proxi- A prega axilar anterior corresponde ao bordo
mal do membro superior que faz a conexão lateral do peitoral maior.
com o tronco e pescoço subdividindo-se nas Parede posterior - formada superiormente
regiões axilar, escapular e deltoideia. pela omoplata, músculo subescapular, e infe-
• A região do braço - segmento entre o om- riormente pelos músculos teres maior e !atís-
bro e o cotovelo que se subdivide nas regiões simo dorsal. A prega axilar posterior corres-
braquiais anterior e posterior ponde ao bordo lateral do músculo !atíssimo
• A região do cotovelo - segmento entre o dorsal e teres maior.
braço e o antebraço que se subdivide numa • Parede medial - corresponde à face lateral das
região anterior (sangradouro) e numa região primeira, segunda, terceira e quarta costelas,
posterior. músculos intercostais adjacentes e músculo
• A região do antebraço - segmento entre o serrátil anterior a elas sobreposto.
cotovelo e o punho que se subdivide nas re- • Parede lateral- corresponde ao sulco intertu-
giões antebraquiais anterior e posterior. bercular do úmero.
• A região da mão - segmento mais distal do • Vértice - corresponde ao canal cérvico-axilar,
membro superior e inclui o punho e as re- que fica entre a primeira costela, a clavícula e
giões palmar e dorsal da mão. o bordo superior da omoplata.
• Base - confunde-se com a fossa axilar limita-
A descrição pormenorizada dos ossos, articula- da anteriormente e posteriormente pelas pre-
ções, inserções musculares e trajetos vasculares e gas axilares. Aqui reconhecem-se quatro pla-
venosos encontram-se nos capítulos de anatomia nos: pele, tecido celular subcutâneo,fascia su-
descritiva respetivos. perficial e foscia profunda.

765
MANUAL DE ANATOMIA H UMANA

Sob o ponto de vista do conteúdo, nesta região lo- pra-espinhoso (envoltos nas respecivasfias, · . )
1a1s e
calizam-se a artéria axilar, a veia axilar, vasos linfá- os vasos e nervos supraclaviculares. Na fossa ·nfr
i a-
ticos, nódulos linfáticos axilares e o plexo braquial. -espinhosa, da superncie para a profundidade
,en-
Estas estruturas estão envoltas nafascia axilar, con- contram-se umafascia muscular, o músculo delt,.
01-
tinuação da fascia cervical. de e um plano muscular profundo (músculos in-
fra-espinhoso, teres menor, teres maior e Iatíssimo
REGIÃO ESCAPULAR dorsal). A s estruturas vasculares aqui patentes têm
localização profunda, sendo as artérias ramos das
Os tecidos localizados posteriormente à omoplata artérias axilar e subclávia; o nervo supra-escapu-
correspondem à região escapular, sendo os limites lar acompanha a artéria espinhal dorsal e inver-
desta região os três bordos da omoplata. va os músculos supra-espinhoso e infra-espinhoso.

REGIÃO DELTOIDEIA

A região deltoideia tem uma forma exterior con-


vexa e apresenta como limites a espinha da omo-
plata e o acrómio (superiormente), a inserção bra-
19
quial do músculo deltóide (inferiormente), o sulco
deito-peitoral (anteriormente) e a interlinha gle-
3
no-braquial (posteriormente). Tem como conteú-
2 do (da superfície para a profundidade):
4 • Pele, panículo adiposo,fascia superficialis e te-
cido celular subcutâneo que contem vasos e
nervos supra-acromiais
• Músculo deltóide, envolvido pela sua fascia
• Tecido celular sub-deltoideu, que se continua
6 superiormente com o ligamento coraco-acro-
mial. É neste plano que se localiza superior-
mente a bolsa serosa subdeltoideia (articula-
ção funcional do complexo articular da espá-
dua) e as artérias circunflexas anterior e pos-
14 terior do úmero.
Fig. 16.1. Região axilar: corte sagital. • Músculos e tendões periarticulares
1. Músculo trapézio 2. Escápula 3. Músculo supra-espinhoso 4. Músculo
sube.scapular 5. Músculo infra-espinhoso 6. MúSOJlo redondo menor
7. Músculo redondo maior 8. Músculo Iatíssimo d o dorso 9. Músculo REGIÃO DO BRAÇO
peitoral maior 10. Músculo peitoral menor 11. Músculo subclávio
12. Músculo omo-hioideu 13. Fáscia clavi-peitoral 14. Fáscia axilar
15. Ligamento suspensor da axilar 16. Artéria axilar 17. Veia axilar Localizado entre o ombro e o cotovelo, o braço é
18. Gânglios linfáticos axilares 19. Fascículos secundários do plexo
braquial 20. Artéria t oraco-acromial 21. Veia cefálica a maior região do membro superior. E stá limita-
do superiormente por uma linha que passa abaixo
Na anatomia de superncie destaca-se a fossa su- dos tendões dos músculos peitoral maior e Iatíssi-
pra-espinhosa e a fossa infra-espinhosa separadas mo dorsal e inferiormente por uma linha que pas-
pela espinha da omoplata (na união do terço supe- sa dois dedos acima da prega do cotovelo. Lateral-
rior com os dois terços inferiores desse osso). mente os limites são uma linha que passa nos epi-
Nesta região existem três planos superficiais: pele, côndilos lateral e medial.
panículo adiposo (limitada profundamente pela E stá dividida numa região anterior e numa região
fascia superjicialis) e tecido celular subcutâneo. Na posterior pelo úmero e por dois septos intermus-
fossa supra-espinhosa, da superncie para a profun- culares lateral e medial.
didade, encontram-se os músculos trapézio e su-

766
ANATOMIA DAS REGIÕES I MEMBRO SUPERIOR

Região braquial anterior

Da superfície para a profundidade:


Planos superficiais - pele, panículo adiposo,
fascia superjicia!is, tecido celular subcutâneo.
É no tecido celular subcutâneo que se encon-
tram as veias cefálica e basílica (acompanha-
da pelo nervo cutâneo antebraquial medial) e
linfáticos.
Fascia braquial.
Planos profundos - dois planos musculares
(um mais superficial composto pelo músculo
bíceps braquial e outro mais profundo com-
posto pelos músculos coraco-braquial - na
metade superior - e braquial - na metade in-
ferior). Os dois planos musculares estão divi-
didos pelo pedículo vásculo-nervoso do bra-
ço constituído pela artéria braquial, veias sa-
télites e o nervo mediano. Na região mais su-
perior do braço, a artéria braquial está envol-
vida pelos nervos terminais do plexo braquial
(nervos mediano, cubital, cutâneo antebra- Fig. 16.2. Região braquial (cortes axiais}.
quial medial, radial e muculo-cutâneo). 1. Úmero 2. Veia cefálica 3. Músculo peitoral maior 4. Músculo
bíceps braquial 5. Músculo coraco-braquial 6. Nervo musculo-cutâneo
7. Tendão do músculo Iatíssimo do dorso 8. Artéria braquial 9. Nervo
Região braquial posterior mediano 10. Veia basílica 11. Nervo cubital 12. Nervo radial
13. Músculo redondo maior 14. Músculo deltóide 15. Músculo tríceps
braquial (longa porção) 16. Músculo t riceps braquial (vasto medial)
Da superfície para a profundidade 17. Músculo tríceps braquial (vasto lateral) 18. Músculo braquial
19. Artéria braquail profunda 20. Septo intermuscular lateral 21. Septo
Planos superficiais - pele, panículo adiposo, intermuscular medial 22. Músculo braquiorradial 23. Músculo exten-
fascia superjicia!is, tecido celular subcutâneo. sor longo radial do carpo

Fascia braquial.
Planos profundos - constituído pelo múscu- Região anterior do cotovelo (sangradouro)
lo tríceps braquial e dois pedículos vásculo-
-nervosos. O pedículo vásculo-nervoso su- Podemos dividir esta região em três projecções
perior é constituído pela artéria profunda do triangulares, sendo uma central de vértice infe-
braço e pelo nervo radial, e o inferior é cons- rior que corresponde ao músculo bíceps braquial,
tituído pela artéria colateral cubital superior e uma medial de vértice superior que correpsonde
pelo nervo cubital. aos músculos epicondilianos mediais, e outra la-
teral que corresponde aos músculos supinadores e
REGIÃO DO COTOVELO extensores radiais do carpo.
Da superfície para a profundidade:
Esta região corresponde à articulação do cotove- • Planos superficiais - pele, panículo adiposo,
lo e está limitada por duas linhas circulares dois fascia superjicialis, tecido celular sub-cutâneo.
dedos acima e dois dedos abaixo da linha de fle- É nesta região que encontramos as anasto-
xão anterior do cotovelo. Lateralmente encontra- moses venosas que formam classicamente o
-se limitada pelas linhas que passam nos epicôndi- "M"venoso: a veia mediana divide-se em dois
los lateral e medial. Compreende duas regiões: an- ramos (veia mediana cefálica e veia mediana
terior e posterior. basílica) que se anastomosam com a veia cefá-
lica (lateralmente) e com a veia basílica (me-

767
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

dialmente). A ramificação da veia mediana • Plano médio - músculo flexor su-


tem estreita relação com a divisão do nervo perficial dos dedos;
músculo-cutâneo nos seus ramos terminais; • Plano profundo - músculo flexor
• Fascia braquial; profundo dos dedos.
• Planos profundos - compreendem três gru- • Grupo epicondiliano lateral - músculos
pos musculares divididos pelos vasos e ner- braquio-radial, longo extensor radial do
vos que se encontram nas goteiras bicipitais carpo, curto extensor radial do carpo e
profundas medial (artéria braquial, ramo an- supinador.
terior da artéria recorrente cubital, veias sa-
télites e nervo medial) e lateral (artérias bra- Região posterior do cotovelo (o/ecraniana)
quial profunda e recorrente radial, veias saté-
lites e nervos músculo-cutâneo e radial). Am- Esta região é dominada pela saliência olecraniana
bas as goteiras se unem na zona inferior e me- que se encontra ao centro e está ladeada de duas
dial desta região; depressões preenchidas com parte de músculos do
• Grupo mediano - músculos bíceps bra- antebraço.
quial e braquial; Da superfície para a profundidade:
• Grupo epicondiliano medial • Planos superficiais - pele, tecido celular sub-
• Plano superficial - músculos prona- cutâneo. Entre o tecido celular subcutâneo e
dor teres, flexor radial do carpo, lon- o olecrânio pode formar-se a bolsa subcutâ-
go palmar e flexor cubital do carpo; nea do olecrânio;
• Fascia;
• Planos profundos - compreendem três gru-
pos musculares. O nervo cubital passa pro-
fundamente medialmente ao olecrânio; late-
ralmente passa o nervo do músculo ancóneo;
• Grupo mediano - tríceps braquial;
• Grupo lateral;
• Plano superficial - músculos ancó-
neo, extensor cubital do carpo, ex-
tensor próprio do primeiro dedo e
extensor comum dos dedos;
• Plano profundo - músculo supina-
dor.
• Grupo medial - músculos flexor cubital
do carpo e flexor profundo comum dos
dedos.

REGIÃO DO ANTEBRAÇO

Dando continuidade à região do cotovelo, o ante-


braço está limitado por duas linhas circulares: uma
que passa dois dedos abaixo da prega do cotovelo
e outra que passa na cabeça do cúbito. A separar as
regiões antebraquiais anterior e posterior existe o
Fig. 16.3. Região anterior do cotovelo. esqueleto (rádio e cúbito) e a membrana interóssea
1. Veia mediana do antebraço 2. Veia cefálica do antebraço 3. Veia antebraquial com as suas expansões.
basílica do antebraço 4. Veia mediana cefálica 5. Veia mediana basílica
6. Veia cefálica 7. Veia basílica 8. Veia cefálica acessória 9. Nervo
cutâneo antebraquial posterior 1 O. Nervo cutâneo antebraquial lateral
11 . Nervo cutâneo antebraquial medial

768
ANATOMIA DAS REGIÕES I MEMBRO SUPERIOR

Região antebraquial anterior • Fascia;


• Planos profundos - dois planos separados
Corresponde à região anterior e lateral ao esque- por estruturas vásculo-nervosas (artéria in-
leto do antebraço. teróssea posterior e ramo profundo do ner-
Da superfície para a profundidade: vo radial);
Planos superficiais - pele, panículo adipo- • Plano muscular superficial - múscu-
so, fascia superjicialis, tecido celular subcutâ- los extensor comum dos dedos, exten-
neo que contém as veias basílica e cefálica e o sor próprio do primeiro dedo e extensor
ramo terminais dos nervos cutâneo antebra- cubital do carpo;
quial medial e músculo-cutâneo; • Plano muscular profundo - músculos
Fascia - que se continua com as bainhas mus- supinador, longo abdutor do primeiro
culares individuais; dedo, curto extensor do primeiro dedo,
Planos profundos - os músculos que os com- longo extensor do primeiro dedo e ex-
põem têm íntima relação com os feixes váscu- tensor próprio do quinto dedo.
lo-nervosos radial (anterior, de cima para bai-
xo, aos músculos supinador, redondo prona- REGIÃO DA MÃO
dor, flexor superficial dos dedos, longo flexor
próprio do primeiro dedo e quadrado pro- Na região da mão podemos individualizar a zona
nador) e cubital (anterior ao músculo flexor do punho e a zona da mão propriamente dita.
profundo dos dedos), com o nervo mediano A zona da mão propriamente dita divide-se numa
(posterior ao músculo longo flexor superficial região palmar e numa região dorsal.
dos dedos) e com o feixe vásculo-nervoso in-
terósseo (entre os músculos longo flexor do Punho
primeiro dedo e o flexor profundo dos dedos);
• Primeiro plano - músculos braquio-ra- O punho continua o antebraço tendo como limi-
dial, redondo pronador, flexor radial do te superior uma linha circular que passa na cabe-
carpo e flexor cubital do carpo; ça do cúbito e como limite inferior uma linha cir-
• Segundo plano - músculos longo ex- cular que passa abaixo do tubérculo do osso es-
tensor radial do carpo e flexor superfi- cafóide e da extremidade inferior do osso pisifor-
cial dos dedos. Nos dois terços inferio- me. Lateralmente está limitado pelo bordo late-
res desta região existem dois espaços: en- ral do rádio e pela saliência dos tendões dos mús-
tre os músculos braquio-radial e o flexor culos longo abdutor e curto extensor do primei-
radial do carpo está a artéria radial, entre ro dedo. Medialmente está limitado pelo múscu-
os músculos longo palmar e flexor cubital lo flexor cubital do carpo.
do carpo estão os vasos cubitais; • Região anterior
• Terceiro plano - músculos curto extensor • Planos superficiais - pele, tecido celular
radial do carpo, longo flexor do primeiro subcutâneo;
dedo e flexor profundo dos dedos; • Fascia - confunde-se com o retináculo
• O!,iarto plano - músculos supinador (em dos flexores que transforma a goteira an-
cima), quadrado pronador (em baixo). terior do carpo em canal braquial. Adere
aos tubérculos dos ossos escafóide e tra-
Região antebraquial posterior pézio lateralmente e ao osso pisiforme
medialmente;
Corresponde à região posterior ao esqueleto do • Planos profundos - os três primeiros pla-
antebraço. nos são tendinosos e o quarto é muscular.
Da superfície para a profundidade: Relacionam-se lateralmente com a arté-
• Planos superificiais - pele, panículo adiposo, ria radial e medialmente com o feixe vás-
fasia superjicialis, tecido celular subcutâneo; culo-nervosos cubital;

769
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

• Primeiro plano - tendões dos mús-


culos braquio-radial, flexor radial do
carpo, longo palmar e flexor cubital
do carpo;
• Segundo plano - tendões do mús-
culo flexor superficial;
• Terceiro plano - tendões dos mús-
culos longo flexo comum profundo
e do longo flexor próprio do primei-
ro dedo;
• Qyarto plano - músculo quadrado
pronador;
• O s músculos flexor profundo super-
ficial dos dedos e o flexor longo do
primeiro dedo, em conjunto com o
nervo mediano passam profunda-
mente ao retináculo dos flexores no
canal cárpico.
• Região posterior - é nesta região que se loca-
liza a tabaqueira anatómica, abaixo da cabe-
ça do rádio, limitada lateralmente pelos ten-
dões do longo abdutor e do curto extensor e
medialmente pelo longo extensor do primei-
ro dedo;
• Planos superficiais - pele, tecido celular
subcutâneo com numerosas ramificações
vásculo-nervosas;
• Fascia - confunde-se com o retináculo
Fig. 16.4. Região do antebraço (cortes axiais).
dos extensores que se fixa lateralmente 1. Veia cefálica do antebraço 2. Veia mediana do antebraço 3. Veia ba-
no bordo anterior da goteira do múscu- sílica do antebraço 4. Artéria radial 5. Artéria cubital 6. Nervo media-
no 7. Nervo cubital 8. Ramo superficial do nervo radial 9. Membrana
lo longo abdutor e medialmente no osso interóssea 10. MúsOJlo supinador 11. Músculo braquiorradial
pisiforme; 12. Músculo extensor longo radial do carpo 13. Músculo extensor curto
radial do carpo 14. Músculo extensor dos dedos 15. Músculo exter>-
• Planos profundos - os tendões dos
sor do 5.0 dedo 16. Músculo extensor cubital do carpo 17. Músculo
músculos da região antebraquial pos- ancóneo 18. Músculo pronador redondo 19. Músculo flexor radial do
carpo 20. Músculo palmar longo 21. Cabeça radial do músculo flexor
terior passam na goteira formada entre
superficial dos dedos 22. Cabeça umeral do músculo flexor superficial
os ossos do antebraço e o retináculo dos dos dedos 23. Músculo flexor cubital do carpo 24. Músculo flexor
extensores envolvidos em bainhas pró- profundo dos dedos 25. Rádio 26. Cúb~o 27. Músculo flexor super·
ficial dos dedos 28. Músculo flexor longo do 1.º dedo 29. Músculo
prias. A artéria radial contorna a face la- longo abdutor do 1.0 dedo 30. Músa,lo extensor longo do 1.º dedo
teral da articulação radio-carpal, atra- 31. Pedículo interósseo anterior 32. Pedículo interósseo posterior
33. Músculo pronador quadrado 34. Músculo extensor próprio do 2.º
vessa o fundo da tabaqueira anatómica, dedo
cruza a face profunda do longo extensor
do prieiro dedo e chega ao primeiro es- Região palmar da mão
paço interósseo.
Diz respeito à região localizada à frente das ar-
ticulações da mão e dos espaços intermetacárpi-
cos, tendo como limites laterais os bordos laterais
da mão. Na palma da mão, distinguem-se de la-
teral para medial: a eminência tenar, uma depres-

770
ANATOMIA DAS REGIÕES I MEMBRO SUPERIOR

21 3 20 19 18

Fig. 16.5. Punho: corte axial.


1. Osso trapézio 2. Osso trapezoide 3. Osso capitato 4. Osso hamato 5. Ligamento transverso do carpo 6. Tendão do flexor cubital do carpo
7. Pedículo cubital 8. Tendão do palmar longo 9. Nervo mediano 10. Tendão do flexor radial do carpo 11. Tendão do longo flexor do 1.º dedo
12. Tendões do flexor superficial dos dedos 13. Tendões do flexor profundo dos dedos 14. Artéria radial 15. Tendão do abdutor longo do 1.º
dedo 16. Tendão do extensor curto do 1.0 dedo 17. Tendão do extensor longo do 1.0 dedo 18. Tendão do extensor radial longo do carpo
19. Tendão do extensor radial curto do carpo 20. Tendões do extensor comum dos dedos 21. Tendão do extensor do 5.º dedo 22. Tendão do
extensor cubital do carpo

são central e a eminência hipotenar. A anatomia dedos e pelos músculos lumbricais; fas-
de superfície da face palmar dos dedos é determi- cia profunda;
nada pela flexão dos dedos e das falanges. • Loca palmar tenar - músculo curto ab-
Da superfície para a profundidade: dutor do primeiro dedo; músculo opo-
Planos superficiais - pele e tecido celular sub- nente do primeiro dedo e os feixes su-
cutâneo onde se encontram o ramo palmar do perficiais do músculo curto flexor do pri-
nervo mediano, o ramo tenar do nervo radial meiro dedo; feixes profundos do múscu-
e os filetes terminais do nervo musculo-cutâ- lo curto flexor do primeiro dedo; múscu-
no, alguns filetes do nervo cubital (ulnar) e os lo adutor do primeiro dedo;
nervos colaterais para os dedos que são acom- • Loca palmar hipotenar - músculos ab-
panhados por artérias colaterais; dutor do quinto dedo e curto flexor do
Fascia supercifical palmar - lâmina fibrosa quinto dedo; músculo oponente do quin-
que se divide numa região central e duas la- to dedo; artéria cubital (ulnar) transver-
terais. A região central une-se à fascia pro- sa e o ramo profundo do nervo cubital;
funda por quatro expansões para os tendões • Loca interóssea - plano fáscial constituí-
flexores e três expansões para os músculos do pela fascia profunda; plano vásculo-
lumbricais os vasos e os nervos digitais. As -nervoso constituído pela arcada palmar
regiões laterais cobrem as eminências tenar profunda e pelas ramificações do ramo
e hipotenar. Abaixo da fáscia profunda es- profundo do nervo cubital (ulnar); pla-
tão os músculos interósseos. Assim, determi- no muscular constituído pelos músculos
nam-se 4 locas: interósseos.
• Loca palmar média - plano vásculo-ner-
voso superifical com a arcada plamar su- Região dorsal da mão
perficil e os ramos digitais dos nervos
mediano e cubital (ulnar); plano muscu- Diz respeito à região localizada atrás das articula-
lo-tendinoso com os tendões dos mús- ções da mão e dos espaços intermetacárpicos, ten-
culos flexores superficial e profundo dos do como limites laterais os bordos laterais da mão.

771
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

-
-
Fig. 16.6A. Região palmar: plano superficial Fig. 16.6B. Região palmar: detalhe da fãscia superficial palmar,
1. Tendão do palmar longo 2. Ligamento palmar do carpo 3. Prolon- 1. Eminência hipotenar 2. Fasciculos transversos 3. Ligamentos me-
gamento do retináculo extensor 4. Ramo palmar do nervo mediano 5. tacárpicos transversos superficiais 4. Aponevrose palmar 5. Pedículo
Ramo palmar do nervo cubital 6. Artéria cubital 7. Ramo superficial digital palmar
do nervo cubital 8. Músculo palmar curto 9. Aponevrose palmar 10.
Eminência tenar

Da superficie para a profundidade: PERGUNTAS TIPO


• Planos superficiais - pele e tecido celular sub-
cutâneo que contém a veia cefálica do pri- 1. Qµal a afirmação correcta?
meiro dedo, que dá origem à veia cefálica, e à a. A ramificação da veia mediana basílica
veia salvatela do quinto dedo, que dá origem tem estreita relação com a divisão do ner-
à veia basílica; contém ainda os ramos dorsal vo músculo-cutâneo no seus terminais.
do nervo cubital e anterior do nervo radial; b. A artéria braquial ocupa a goteira bicipi-
• Fascia - que continua o retináculo dos exten- tal medial.
sores da região do punho; c. O músculo bíceps braquial é mais pro-
• Planos profundos - tendões dos músculos fundo face ao músculo coraco-braquial.
longo abdutor do primeiro dedo, curto ex- d. O músculo longo palmar é o músculo
tensor do primeiro dedo, longo extensor do mais profundo da região anterior do co-
primeiro dedo, extensor próprio do segun- tovelo.
do dedo, extensor comum dos dedos, exten- e. Na face anterior do punho a veia cefálica
sor próprio do quinto dedo e extensor cubi- localiza-se medialmente.
tal do carpo;
• Fascia profunda - cobre a face dorsal dos 2. Acerca da tabaqueira anatómica assinale a
músculos interósseos dorsais. afirmação verdadeira.
a. Encontra-se abaixo da cabeça do cúbito.
b. A artéria cubital atravessa o fundo da taba-
queira anatómica.

772
ANATOMIA DAS REGIÕES I MEMBRO SUPERIOR

c. Está limitada inferiormente pelo tendão


do longo extensor do primeiro dedo.
d. Está limitada lateralmente pelos tendão
do longo abdutor e do curto extensor.
e. É uma saliência quadrangular de referên-
cia à palpação.

3. Acerca dos músculos da eminência tenar, as-


sinale a afirmação errada.
a. A eminência tenar é a região mais lateral
da palma da mão.
b. O músculo oponente do primeiro dedo faz
parte da loca tenar.
c. A artéria cubital transversa atravessa a
eminência tenar.
d. A eminência tenar está coberta profunda-
mente pelaJascia profunda.
e. O músculo curto abdutor dol. 0 dedo in-
tegra o l.0 plano muscular da loca palmar
tenariana.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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D escriptive, Topographique et Fonctionnelle.
15éme édition. Masson. Paris, 2002.
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Testut, L.; Jacob, O. Traité d'Anatomie
Topographique - Tome Second. Qyatrieme edition.
Gaston Doin Editeur. Paris, 1922 .

•••

773
17. MEMBRO INFERIOR

INTRODUÇÃO REGIÃO ÍNGU/NO-CRURAL

Os membros inferiores, em número de dois, des- Esta região é limitada superiormente pela liga-
tacam-se de cada lado da bacia dirigindo-se verti- mento inguinal; lateralmente por uma linha ver-
calmente para baixo, seguindo um trajeto parale- tical que se estende desde a espinha ilíaca ânte-
lo entre si, entrando finalmente em contacto com ro-superior; mediaimente por uma linha que se
o solo através de um segmento anatómico de base estende do púbis até ao limite inferior da região;
alargada, denominado "região plantar". As suas e inferiormente pelo limite superior da coxa. De
dimensões são variáveis, dependendo da altura do modo a sistematizar a descrição anatómica divi-
indivíduo, no entanto, são classicamente descritos dimos esta região em dois triângulos: um lateral
como apresentando uma média de 86 cm no gé- e um medial.
nero masculino e 80 no género feminino. O diâ-
metro transversal dos membros inferiores atinge o Triângulo Lateral - no qual encontramos des-
seu maior valor ao nível do grande trocânter ( tro- de a superfície para profundidade cinco planos
cânter maior), diminuindo progressivamente até à anatómicos: 1) pele; 2) fascia superjicialis; 3) te-
região do joelho, voltando a aumentar ligeiramen- cido celular subcutâneo; 4) aponevrose propria-
te no segmento da perna, voltando a diminuir até mente dita; 5) plano muscular (inclui os múscu-
um mínimo na região do colo do membro inferior los tensor daJascia lata lateralmente, sartório me-
(transição entre perna e pé). diaimente, recto anterior recoberto superiormen-
Do ponto de vista prático os membros inferiores te pelo tensor em conjunto com o sartório, vas-
constituem os principais agentes da sustentação, to lateral e vasto intermédio recobertos pelo rec-
estabilidade e locomoção do corpo humano. Para to anterior (Fig. 17.1).
fins descritivos consideramos em cada membro
inferior seis segmentos: 1) anca; 2) coxa; 3) joe- Triângulo Medial ou Femoral de Scarpa - no
lho; 4) perna; 5) tornozelo; e 6) pé. qual identificamos seis planos anatómicos desde
a superflcie para a profundidade: 1) pele; 2) paní-
culo adiposo; 3) fascia superjicialis-, 4) tecido celu-
ANATOMIA TOPOGRÁFICA DA ANCA lar subcutâneo; 5) fascia lata (faz parte da bainha
aponevrótica que cobre toda a região, apresen-
A anca, segmento homólogo da espádua no mem- tando um folheto profundo e um folheto super-
bro superior, encontra-se localizada na raiz do ficial); 6) plano subaponevrótico (que compreen-
membro inferior, ou seja, no ponto de união do de os músculos, vasos e nervos profundos da re-
membro inferior à região do tronco. Encontra-se gião (Fig.17.2).
limitada superiormente pela crista ilíaca (poste-
riormente) e ligamento inguinal (anteriormente); O folheto superficial da f ascia lata é perfurado por
póstero-inferiormente pelo sulco glúteo; e ântero- numerosos oriflcios através dos quais passam ar-
-inferiormente por uma linha que se estende des- térias e nervos que vão da profundidade para a
de a extremidade lateral do sulco glúteo e o pon- superfície, os vasos linfáticos eferentes dos gân-
to de cruzamento entre o músculo sartório e lon- glios linfáticos superficiais e a veia safena medial.
go adutor. No segmento da anca serão conside- A maior parte destes oriflcios ocupa uma zona
radas três regiões: 1) região ínguino-crural; 2) re- particular, de textura reticulada denominada "Jas-
gião glútea; 3) região obturadora ou ísquio-púbica. cia cribiformis".

775
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Fig. 17.1: Plano muscular do triângulo lateral região ínguino-aural. Fig. 17.2: Plano muscular, vasos e nervos constituintes do triângulo
1. Ligamento inguinal 2. Músculo grácil 3. Músculo pectíneo medial região ínguino-crural.
4. Músculo ilio-psoas 5. Músculo adutor longo 6. Músculo sartorius 1. Ligamento inguinal 2. Músculo grácil 3. Músculo pectíneo 4. Músculo
7. Músculo tensor da fáscia lata 8. Músculo recto femoral (quadríceps adutor longo 5. Músculo sartorius 6. Músculo recto femoral
femoral) 9. Músculo vasto medial (quadríceps femoral) 10. Músculo (quadríceps femoral) 7. Músculo vasto medial (quadríceps femo-
lateral (quadríceps femoral) 11. Rótula (patela) ral) 8. Músculo lateral (quadrkeps femoral) 9. Músculo adutor
magno 10. Nervo femoral 11. Artéria femoral 12. Veia femoral
13. Nervo safeno 14. Ramo safeno da artéria genicular descendente
15. Artéria circunflexa ilíaca superficial 16. Artéria epigástrica superfi-
cial 17. Artéria pudenda externa superior 18. Artéria pudenda externa
inferior

REGIÃO OBTURADORA OU /SQU/O-PÚBICA 1. Plano superficial - no qual é possível, por seu


turno, identificar quatro planos sobrepostos
Esta região é constituída pelos tecidos moles lo- da superficie para a profundidade: 1) pele; 2)
calizados medialmente à articulação coxo-femo- panículo adiposo subcutâneo; 3) fascia super-
ral e que se encontram sobre o contorno exterior Jicialis; 4) tecido celular subcutâneo;
do buraco obturado ou isquiopúbico (Fig. 17.3). 2. Fáscia profunda;
É limitada superiormente pela prega genito-cru- 3. Plano subaponevrótico - no qual é possível
ral; inferiormente pela linha que representa o limi- distinguir três planos musculares da profun-
te inferior da anca; anteriormente pelo bordo an- didade para a superficie: 1) plano do grácil e
terior do músculo grácil e posteriormente por uma adutor magno; 2) plano do curto adutor, pec-
linha vertical que segue o bordo medial do mús- tíneo e longo adutor; 3) plano do obturador
culo adutor magno. Continua-se com a região ín- externo.
guino-crural, anteriormente, e com a região glútea
posteriormente. Na sua constituição iremos consi-
derar três planos distintos:

776
ANATOMIA DAS REGIÕES I MEMBRO INFERIOR

13 2. Fáscia profunda - A fáscia profunda ou glú-


12 tea é densa e espessa e sobre o segmento do
músculo médio glúteo que sobressai superior-
11 mente ao músculo grande glúteo.
3. Planos subaponevróticos (Fig. 17.4) - são
10
constituídos por 3 planos musculares: 1) pla-
no superficial constituído pelo grande glú-
9 teo; 2) plano médio constituído pelo mé-
dio glúteo; 3) plano profundo constituí-
8
do d e superior para inferior pelos músculos
glúteo mínimo, piriforme (piramidal da ba-
7 cia), gémeo pélvico superior, obturador in-
terno, gémeo pélvico inferior, obturador ex-
terno, quadrado crural e a longa porção do
14
músculo bíceps crural, semitendinoso e se-
3 mirnembranoso.
5

2
Os vasos e nervos profundos abordam a região
4
glútea formando 2 pediculos vasculo-nervosos:
15 um superior (constituído pela artéria glútea supe-
rior, veias colaterais e nervo glúteo superior); e ou-
tro inferior (constituído pela artéria glútea infe-
6
rior, artéria pudenda interna, veias satélites, ner-

_Fig. 17.3: Representação geral do plano muscular e esquelético da


região ísquio•púbica.
1. Músculo obturador externo 2. Músculo adutor magno 3. Músculo
adutor curto 4. Músculo adutor longo 5. MúsOJlo grácil 6. Hiato
adutor 7. Nervo obturador 8. Nervo femoral 9. Nervo cutâneo
femoral lateral 10. N ervo genito-femoral 11 . Nervo ilio-inguinal 12. 15
Nervo ilio-hipogástrico 13. Plexo lombar 14. Ramo anterior do nervo
obturador 15. Ramo posterior do nervo obturador
16

REGIÃO GLÚTEA
17

Esta região ocupa o segmento posterior da anca, 2

sendo constituída pelos tecidos moles localizados


posteriormente à face glútea do osso ilíaco, à arti-
3
culação da anca e à extremidade superior do fémur.
A região glútea encontra-se delimitada superior-
mente pela crista ilíaca; inferiormente pelo sulco
glúteo e lateralmente por uma linha que se esten-
de desde a espinha ilíaca ântero-superior e o bor-
do anterior do grande trocânter. Nesta região ana- Fig. 17.4: Planos subaponevróticos da região glútea.
1. Ligamento sacrotuberoso 2. Tuberosidade isquiática 3. Esfíncter
tómica distinguem-se os seguintes planos: externo do ânus 4. Músculo glúteo máximo 5. Músculo glúteo médio
1. Plano superficial - neste plano é possível dis- 6. Músculo glúteo mínimo 7. Músculo piriforme 8. Músculo gémeo
superior 9. Músculo obturador interno 10. Músculo gémeo inferior
tinguir desde a superfície para a profundida- 11. Músculo quadrado femoral 12. Nervo ciático maior 13. Nervo
de: 1) pele; e 2) tecido adiposo subcutâneo. cutâneo femoral posterior 14. Nervo glúteo superior 15. Nervo
glúteo inferior 16. Nervo pudendo interno 17. Nervo rectal inferior

777
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

vo isquiático, nervo glúteo inferior, nervo cutâneo ANATOMIA TOPOGRÁFICA DA COXA


femoral posterior, nervo pudendo, rectal inferior,
obturador interno, gémeo pélvico superior, gémeo A coxa corresponde a um segmento anatómi-
pélvico inferior e quadrado crural). O s vasos linfá- co compreendido entre a anca e o joelho, estan-
ticos profundos da região glútea são satélites dos do limitada superiormente ~elo ligamento ingui-
vasos sanguíneos e dirigem-se aos nódulos linfáti- nal; lateralmente, por uma linha que une a es i-
cos ilíacos mediais. nha ilíaca ântero-superior ao trocânter maior, d~s-
cendo de seguida até ao côndilo lateral do fémur
mediaimente, por uma linha que une a sínfise pú~
bica ao côndilo medial do fémur; posteriormen-
te pelo sulco glúteo superiormente e por uma li-
nha circular que passa acima da rótula, inferior-
mente. É possível distinguir uma região anterior
e outra posterior.

REGIÃO ANTERIOR DA COXA

Compreende os tecidos moles localizados anterior


e lateralmente ao fémur (Fig. 17.7). O limite la-
teral corresponde a um sulco situado entre o mús-
culo vasto lateral e curta porção do músculo bíceps
crural. O limite medial segue o bordo medial do
Fig. 17.5: RMN (corte coronal) demonstrando lesão neoformativa sobre músculo adutor magno. Da superficie para a pro-
a região glútea direita.
fundidade é possível distinguir vários planos:
A. Plano superficial - neste plano é possível dis-
tinguir da superfície para a profundidade: 1) pele;
2) panículo adiposo; 3) fascia superficialis; e 4) te-
cido celular laxo subcutâneo (que contém a veia
safena medial, vasos linfáticos e múltiplos ramos
nervosos). (Fig. 17.7)
B. Fáscia Lata - espessa e resistente; lateralmente
está em íntima relação com o músculo tensor da
fascia lata. Da sua face profunda destacam-se os
septos intermusculares lateral e medial da coxa.
Fig. 17.6: RMN (corte axiaO demonstrando lesão neoformativa sobre a C. Planos subaponevróticos - neste plano pode-
região glútea direita.
mos encontrar grandes massas musculares, vasos
e os ramos terminais do nervo femoral. As mas-
NOÇÕES DE ANATOMIA CLÍNICA sas musculares da região podem ser divididas em
dois grupos: anterior e medial.
Na região da anca, as patologias mais frequente- Cl. Grupo Muscular Anterior (Fig. 17.1) - dis-
mente diagnosticadas relacionam-se com altera- posto em 2 planos: 1) plano superficial (forma-
ções degenerativas ao nível da articulação coxo-fe- do pelo tensor da fascia lata e sartório); e 2) pla-
moral e musculatura peri-articular desta articula- no profundo (constituído pelas quatro porções do
ção, no entanto, menos frequentemente, podemos quadríceps crural: recto anterior, vasto lateral, vas-
encontrar lesões neoplásicas como a identificada to medial e crural).
nas figuras 17.5 e 17.6. C2. Grupo Muscular Medial (Fig. 17.3) - com-
preende os músculos adutores (pequeno, médio e
grande), pectíneo e grácil.

778
ANATOMIA DAS REGIÕES I MEMBRO INFERIOR

A artéria e a veia femoral passam no canal crural, REGIÃO POSTERIOR DA COXA


que se encontra compreendido entre o músculo
quadríceps crural e os músculos do grupo me- A região posterior da coxa localiza-se posterior-
dial (Fig. 17.2). Os nervos originam-se a partir mente ao fémur e à região femoral anterior. En-
dos nervos femoral e obturador. contra-se delimitada pelos limites da região ante-
rior da coxa. Da superfície para a profundidade, é
possível distinguir:
3 2
A. Plano superficial: onde se dispõem da superfí-
cie para a profundidade: 1) pele; 2) panículo adi-
poso; e 3) tecido celular subcutâneo;
B. Fáscia Lata;
C. Planos subaponevróticos - abaixo dafascia lata
encontra-se o ramo cutâneo do pequeno nervo
9

11

13
18

11
3

4
11

12

25 26 9

10

Fig. 17.7: Anatomia topográfica da Coxa com cortes por secções.


1. Fémur 2. Vasos femorais 3. Vasos femorais profundos 4. Veia
safena interna 5. Nervo ciático maior 6. Músculo sartório
7. Músculo tensor da fáscia lata 8. Músculo recto femoral (quadríceps
femoral) 9. Músculo vasto intermédio (quadríceps femoral) 10. Músculo
vasto medial (quadríceps femoral) 11. Músculo vasto lateral
(quadríceps femoral) 12. Músculo ilio-psoas 13. Músculo pectíneo
14. Músculo adutor longo 15. Músculo adutor curto 16. Músculo
adutor magno 17. Músculo grácil 18. Músculo glúteo máxi- Fig. 17.8: Planos musculares da região posterior da coxa.
mo 19. Músculo bíceps femoral (longa porção) 20. Músculo 1. Músculo glúteo máximo 2. Músculo semitendinoso 3. Músculo
semitendinoso 21. Músculo semimembranoso 22. Músculo bíceps bíceps femoral 4. Músculo semimembranoso 5. Músculo adutor
femoral (curta porção) 23. Tendão quadricipital 24. Nervo tibial magno 6. Músculo grácil 7. Músculo sartório 8. Gastrocnemius
25. Nervo peroneal comum 26. Vasos popliteus 27. Tendão do adutor 9. Artéria popliteia 10. Veia popliteia 11. Nervo tibial 12. Nervo
magno peroneal comum

779
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

ciático (nervo cutâneo femoral posterior) e o pri- magno por uma camada de tecido celulo-adiposo
meiro plano muscular (Fig. 17.8). onde caminham os vasos profundos da região e 0
Cl. Primeiro plano muscular - constituído pelos grande nervo ciático.
músculos semitendinoso mediaimente e pela lon-
ga porção do bíceps crural lateralmente. NOÇÕES DE ANATOMIA CLÍNICA
C2. Segundo plano muscular - constituído pelos
músculos semimembranoso e a curta porção do Na região da coxa, as patologias mais frequente-
bíceps crural. mente diagnosticadas relacionam-se com lesões
O semimembranoso, o bíceps crural e a lâmina desportivas como as roturas e distensões muscu-
aponevrótica intermuscular (que une as bainhas lares. No entanto, e em situações mais raras é pos-
destes dois músculos) estão separados do adutor sível encontrar lesões neoformativas como as de-
monstradas nas figuras 17.10 e 17.11.

12

11

Fig. 17.10: RMN (corte coronal) demonstrando lesão neoformativa na


região anterior da coxa esquerda.

Fig. 17.9: Anatomia topográfica da coxa com cortes por secções. ANATOMIA TOPOGRÁFICA DA REGIÃO
1. Músculo glúteo máximo 2. Músculo semitendinoso 3. Músculo
bíceps femoral 4. Músculo semimembranoso 5. Músculo adutor ANTERIOR DO JOELHO
magno 6. Músculo grácil 7. Músculo sartório 8. Gastrocnemius
9. Artéria popliteia 10. Veia popliteia 11. Nervo tibial 12. Músculo
glúteo mínimo 13. Músculo piriforme 14. Músculo gémeo superior
O joelho é limitado superiormente por uma li-
15. Músculo obturador interno 16. Músculo quadrado femoral nha circular desenhada acima do nível da rótula;
17. Músculo popliteu

780
ANATOMIA DAS REGIÕES I MEMBRO INFERIOR

los medial e lateral do fémur. Nesta região é pos-


sível distinguir da superfície para a profundidade:
A. Planos Superficiais - onde é possível distinguir
desde a superfície para a profundidade: 1) pele; 2)
panículo adiposo; e 3) tecido celular subcutâneo -
é frequente encontrar nesta camada, anteriormen-
te à rótula, uma bolsa sinovial denominada "bolsa
sinovial pré- rotulianà';
B. Fáscia Profunda;
C. Plano Musculo-Tendinoso (Fig. 17.13) - pro-
fundamente à fáscia profunda distinguem-se:
Cl. Primeiro plano músculo-tendinoso - consti-
tuído pelos músculos tensor da fáscia lata, quadrí-
ceps crural, e tendões dos músculos sartório, grácil
e semitendinoso;
Fig. 17.11 : RMN (corte coronal) demonstrando lesão neoformativa na
região anterior da coxa esquerda. C2. Segundo plano músculo-tendinoso - consti-
tuído pelo tendão do músculo recto anterior e pela
e inferiormente por outra linha circular que pas- expansão anterior do músculo vasto lateral e vas-
sa pela extremidade inferior da tuberosidade an- to medial;
terior da tfüia (Fig. 17.12). Para descrição ana- C3. Terceiro plano músculo-tendinoso - formado
tómica consideramos uma região anterior e uma por uma lâmina tendinosa dos músculos vasto la-
região posterior. teral e vasto medial;
C4. Qyarto plano músculo-tendinoso - corres-
ponde ao tendão do músculo crural;
C5. Qyinto plano músculo-tendinoso - é incons-
tante e constituído pelos feixes do músculo sub-
crural.

REGIÃO POSTERIOR DO JOELHO


(REGIÃO POPL/TEIA)

A região posterior do joelho (popliteia) está situa-


da posteriormente à articulação do joelho. O s seus
limites são os mesmo que os da região anterior. Da
superfície para a profundidade é possível distin-
guir nesta região:
Fig. 17.12: Anat omia de superfície da região anterior e posterior do A. Planos Superficiais - onde é possível distin-
joelho. guir desde a superfície para a profundidade os se-
1. Rótula (patola) 2. Tendão quad ricipital 3. Ligamento rotuliano
4. Tuberosidade tibial 5. Fossa popliteia 6. Massas gemelares guintes planos: 1) pele; 2) panículo adiposo sub-
dérmico; 3) fascia superficialis; 4) tecido celular
subcutâneo
REGIÃO ANTERIOR DO JOELHO B. Fáscia Profunda - apresenta continuidade com
a fáscia lata superiormente, aponevrose tibial su-
A região anterior do joelho, também denominada perficial inferiormente e com a fáscia da região an-
"região rotulianà', é constituída pelos tecidos mo- terior lateralmente.
les localizados anteriormente à articulação do joe- C. Planos Subaponevróticos - profundamente à
lho. É limitada lateralmente por duas linhas ver- fáscia profunda, os músculos e as expansões apo-
ticais que passam pelo bordo posterior dos côndi- nevróticas profundas limitam a fossa popliteia.

781
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Esta fossa divide-se em dois triângulos, um supe-


rior e outro inferior, por meio de uma linha hori-
zontal que corresponde aproximadamente à face
superior dos côndilos femorais.
Cl. Conteúdo da Fossa Popliteia (Fig. 17.14) -
a fossa popliteia está dividida em duas locas pela
fáscia profunda da fossa popliteia: uma posterior
ou superficial e outra anterior ou profunda.
A loca posterior ou superficial contém uma cama-
da de tecido célulo-adiposo percorrida pelo ner-
11
vo pequeno ciático (glúteo inferior) e a veia safe-
na lateral. A loca profunda contém vasos, nervos e
gânglios linfáticos popliteus, todos eles envolvidos
numa massa de tecido adiposo.

Fig. 17.14: Anatomia de superfície da região posterior do joelho.


1. Músculo biceps femoral (cabeça longa) 2. Músculo bíceps femoral
(cabeça curta) 3. Músculo semitendinoso 4. Músculo semimembrano-
so 5. Músculo gastrocnemius 6. Músculo plantar 7. Músculo solhar
8. Artéria popliteia 9. Veia popliteia 1O. Nervo tibial 11. Nervo
peroneal comum 12. Artérias geniculares superiores 13. Artérias
geniculares inferiores
13

NOÇÕES DE ANATOMIA CLÍNICA

Na região do joelho é muito frequente podermos


15
palpar no escavado popliteu uma massa de con-
sistência elástica que corresponde a uma forma-
18
ção quística denominada "quisto de Baker". Oca-
sionalmente estes quistos podem romper gerando
dor e sinais inflamatório locais com importante li-
mitação funcional do membro.

Fig. 17.13: Anatomia de superfície da região anterior do joelho. ANATOMIA TOPOGRÁFICA DA PERNA
1. Fémur 2. Músculo articular 3. Músculo vasto medial 4. Músculo
vasto lateral 5. Músculo vasto intermédio 6. Tendão quadricipital
7. Tracto ilio-tibial 8. Epicôndilo femoral medial 9 - Epicôndllo fe- A perna está compreendida entre o joelho, supe-
moral lateral 10. Tuberosidade tibial anterior 11. Cabeça peroneal riormente, e o colo do pé, inferiormente. Ela é li-
12. Ligamento rotuliano 13. Ligamento colateral tibial 14. Ligamento
colateral peroneal 15. Retináculo rotuliano medial 16. Retináculo
mitada por duas linhas circulares: uma, superior,
rotuliano lateral 17. Tendão do bíceps femoral 18. Pata anserina descrita abaixo da tuberosidade anterior da tibia; a
(tendão do sartóirio, grácil, semitendinoso)

782
ANATOMIA DAS REGIÕES J MEMBRO INFERIOR

outra, inferior, passa imediatamente por cima dos


maléolos. A perna compreende duas regiões, uma,
ântero-lateral, outra, posterior. Estas duas regiões
são separadas uma da outra por um plano osteo- 19
-fibroso constituído pelos dois ossos da perna, a
membrana interóssea e por uma membrana fibro- 21
sa intermuscular lateral que vai desde da apone-
10
vrose da perna ao bordo lateral do peróneo (fiôu-
la). (Fig.17.15)

Região ântero-lateral da Perna

22
É constituída pelos tecidos moles localizados an-
teriormente ao esqueleto da perna, do ligamento
interósseo e da membrana intermuscular lateral.
Da superfície para a profundidade é possível dis- 23
tinguir nesta região: Fig. 17.15: Corte axial da perna revelando a anatomia topográfica da
A. Planos Superficiais (Fig. 17.15) - onde é possí- região.
1. Tíbia 2. Peróneo (fíbula) 3. Membrana interóssea 4. Veia safena
vel distinguir desde a superfície para a profundida- interna 5. Artéria tibial anterior 6. Nervo peroneal profundo 7. Veia
de os seguintes planos: 1) pele; 2) paniculo adipo- safena externa 8. Pedículo peroneal 9. Nervo tibial 10. Artéria tibial
posterior 11. Septo intermuscular anterior 12. Septo intermuscular
so subdérmico; 3) fascia superftcialis; 4) tecido ce-
posterior 13. Septo intermuscular transverso 14. Músculo tibial anterior
lular subcutâneo - contém pequenos vasos e ner- 15. Músculo extensor longo do 1 .º dedo 16. Músculo extensor longo
comum dos dedos 17. Músculo peroneal longo 18. Músculo peroneal
vos da região.
curto 19 - Músculo tibial posterior 20. Músculo flexor longo do 1.º
B. Aponevrose propriamente dita - Na sua face dedo 21. Músculo flexor longo comum dos dedos 22. Músculo solha,
profunda inserem-se os músculos subjacentes: ti- 23. Músculo gastrocnemius medial 24. Músculo gastrocnemius lateral

bial anterior, extensor comum dos dedos e longo


peroneal lateral. Emite para a profundidade duas intermuscular lateral. Os seus limites são os mes-
membranas intermusculares, uma lateral, outra mos que os da região anterior da perna. Relativa-
anterior. mente à constituição desta região é possível iden-
C. Planos subaponevróticos (Fig. 17.15) - nesta tificar da superfície para a profundidade:
região podem distinguir-se duas locas: anterior e A. Planos Superficiais - onde é possível distinguir
lateral: desde a superfície para a profundidade os seguin-
Cl) Loca anterior - contém quatro músculos (ti- tes planos: 1) pele; 2) panículo adiposo; 3) fascia
bial anterior, extensor próprio do 1.0 dedo, exten- supeiftcialis; 4) tecido celular subcutâneo - onde se
sor comum dos dedos, peroneal anterior) e o feixe encontra a veia safena lateral acompanhada pelo
vásculo-nervoso tibial anterior (constituído pela nervo safeno lateral.
artéria tibial anterior, veias satélites desta artéria B. Aponevrose superficial.
e pelo nervo tibial anterior). O s vasos linfáticos C. Primeiro plano muscular (Fig. 17.16) - cons-
acompanham o feixe vásculo-nervoso. tituído pelo tríceps sural (músculos gastrocnémios
C2) Loca lateral - compreende o longo e curto pe- e músculo solhar). Entre as duas camadas muscu-
roneais laterais, a terminação do nervo ciático po- lares passa o tendão do músculo plantar delgado.
pliteu lateral e o nervo musculo-cutâneo. D . Aponevrose profunda - profundamente ao
músculo solhar; esta aponevrose é separada do
Região posterior da Perna (Fig. 17. 15) 2.0 plano muscular por uma camada de tecido
celulo-adiposo contendo os vasos tibiais poste-
A região posterior da perna compreende os teci- riores, os vasos peroneais (fibulares) e o nervo ti-
dos moles localizados posteriormente ao esqueleto bial posterior.
da perna, do ligamento interósseo e da membrana E. Segundo plano muscular - compreende três

783
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

periormente por um plano horizontal tangente à


base dos maléolos; inferiormente por um plano
transversal oblíquo passando 2 cm abaixo da in-
terlinha tibiotársica; lateralmente 1cm abaixo dos
maléolos e posteriormente pelo contorno superior
do calcâneo. Distinguem-se 2 regiões: uma ante-
rior e uma posterior.

4 REGIÃO ANTERIOR DO TORNOZELO

Compreende os tecidos moles localizados ante-


riormente às articulações tibiotársica e tibio pero-
neal (fibular) anterior. Da superfície para a profun-
didade é possível distinguir:
2 A. Planos Superficiais - onde a pele é recoberta na
região dos maléolos por um tecido lamelar; nesta

Fig. 17.16: Planos musculares da região posterior da perna.


1. Veia safena externa 2. Músculo gastrocnémios 3. Músculo solhar
4. Tendão do músculo plantar 5. Tendão do tríceps sural (Aquiles)

músculos (longo flexor comum dos dedos, longo


flexor do 1.0 dedo e tibial posterior).

NOÇÕES DE ANATOMIA CLÍNICA

Na região da perna, tal como na coxa, as pato-


logias do foro muscular são as mais frequentes.
A perna é igualmente fonte de importante pato-
logia traumática, sendo um dos segmentos ana-
tómicos onde mais frequentemente encontramos
fraturas.

11
10
ANATOMIA TOPOGRÁFICA DO
Fig. 17.17: Plano subaponevrótico da região anterior do tornozelo.
TORNOZELO 0
1. Retinácu1o extensor 2. Músculo extensor curto do 1. dedo 3. Mús~
culo 1.0 interósseo dorsal do pé 4. Tendão do tibial anterior 5. Tendão
do extensor longo do 1.0 dedo 6. Tendões do extensor longo comum
Dá-se o nome de tornozelo ao segmento domem-
dos dedos 7. Músculo extensor curto comum dos dedos 8. Bainha
bro inferior que corresponde aos maléolos e à ar- sinovial dos tendões do extensor longo comum dos dedos 9. Bainha
sinovial do t endão do tibial anterior 10. Bainha sinovial do tendão do
ticulação tibiotársica. Encontra-se limitado su-
peroneal curto 11. Bainha sinovial do tendão do peroneal longo

784
ANATOMIA DAS REGIÕES I MEMBRO INFERIOR

região não se distingue panículo adiposo, fáscia ou leto do tornozelo. Os seus limites correspondem
tecido celular subcutâneos distintos. aos descritos para a região anterior. Neste região
B. Aponevrose propriamente dita - continua-se distinguem-se da superfície para a profundidade:
com a das regiões vizinhas. A. Planos superficiais - onde a pele apresenta as
C. Plano subaponevrótico (Fig. 17.17) - contém mesmas características que a da região anterior
os tendões dos músculos da região ( tibial anterior, B. Aponevrose superficial - continua-se com a
extensor próprio do primeiro dedo, extensor co- aponevrose da perna superiormente e, inferior-
mum dos dedos, peroneal anterior) circundados mente, com a aponevrose plantar.
por bainhas fibrosas e serosas, vasos e nervos. C. Primeiro plano músculo-tendinoso (Fig.
17.18) - compreende o tendão de Aquiles e ten-
REGIÃO POSTERIOR DO TORNOZELO dão do plantar delgado medianamente, e tendões
dos peroneais laterais lateralmente.
Esta região é constituída pelos tecidos moles lo- D. Panículo celulo-adiposo
calizados posteriormente às articulações e esque- E. Aponevrose profunda - dá continuidade à apo-
nevrose profunda da perna.

2 Segundo plano músculo-tendinoso (Fig. 17.18)


- na região retro-maleolar medial encontramos o
tendão do tibial posterior, o do longo flexor co-
mum dos dedos, os vasos e nervos tibiais poste-
11 riores e o tendão do longo flexor próprio do pri-
9 meiro dedo.

NOÇÕES DE ANATOMIA CLÍNICA


4
10
As lesões ligarnentares são extremamente frequen-
tes ao nível da região do tornozelo (Fig. 17.19).
Entre elas, as entorses com estiramento, roturas
6 parciais ou totais do complexo ligamentar lateral
destacam-se pela sua frequência em qualquer ser-
viço de urgência.
8

Fig. 17.18: Plano musculo-tendinoso posterior do tornozelo.


1. Músculo biceps femoral 2. Músculo semimembronoso 3. Músculo
semitendinoso 4. Músculo gastrocnemius lateral 5. Músculo gastroc-
nemius medial 6. Músculo solhar 7. Tendão aquiliano 8. Músculo Fig. 17.19: Rotura do complexo ligamentar lateral do tornozelo.
peroneal longo 9. Pedículo popliteu 10. Nervo tibial 11. Nervo
peroneal comum

785
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

ANATOMIA TOPOGRÁFICA DO PÉ ticulação tibio-társica. Lateralmente confunde-se


com a fáscia plantar.
O pé inicia-se na linha correspondente ao limi- C. Plano músculo-tendinoso - encontram-se nes-
te inferior da articulação tibio- társica e prolonga- te plano os tendões dos músculos tibial anterior,
-se até à extremidade mais anterior dos dedos. No extensor próprio do l.0 dedo, extensor comum dos
pé distinguem-se 2 regiões: região dorsal e a re- dedos e peroneal anterior.
gião plantar do pé, separadas pelo esqueleto e ar- D. Fáscia dos músculos curtos extensores - cobre
ticulações. os músculos curto extensor dos dedos e curto ex-
tensor do 1.0 dedo; artéria dorsal do pé e nervo pe-
REGIÃO DORSAL DO PÉ roneal (fibular) profundo.
(FIG. 17. 17, 17.20) E. Plano muscular profundo - constituído por
dois músculos: curto extensor dos dedos ou pedio-
Constituída pelos tecidos moles localizados dor- so e o curto extensor do 1.0 dedo.
salmente ao esqueleto do pé. Esta região encon- F. Fáscia interóssea dorsal - corresponde a uma
tra-se limitada e separada da região plantar pelos fina lâmina fibrosa, profundamente aos dois mús-
bordos medial e lateral do pé. Da superfície para culos curtos extensores e superficialmente aos
a profundidade é possível identificar nesta região: músculos interósseos dorsais.
A. Planos superficiais - onde é possível distinguir
desde a superfície para a profundidade: 1) pele; 2) REGIÃO PLANTAR DO PÉ
tecido celular subcutâneo - laminar e laxo, com (FIG. 17.20, 17.21)
pouca gordura, sendo percorrido por densas redes
venosas, linfáticas e ramos nervosos. Esta região é constituída pelos tecidos moles loca-
B. Fáscia dorsal do pé - continua-se posterior- lizados inferiormente ao esqueleto e articulações
mente com os retináculos situados em redor da ar- do pé. São seus limites o contorno da face infe-
rior do pé. É possível distinguir da superfície para
a profundidade:
2
A. Pele
B. Tecido celular subcutâneo - tecido fino ao ní-
vel da abóbada plantar, mas mais espesso nas su-
17 perfícies que suportam pressões.
C. Fáscia Plantar (Fig. 17.21) - Na fáscia plantar
distinguem-se 3 segmentos,: a aponevrose plantar
(medianamente) e as fáscias plantares lateral e me-
dial (lateralmente).
16
4
Da face profunda da fascia plantar partem dois
15 septos fibrosos intermusculares, um lateral e outro
medial, que se estendem-se até ao esqueleto. Estes
septos e as fascias plantar!!s, limitam com a fascia
interóssea plantar (que cobre os músculos interós-
seos plantares), 3 locas plantares (figura 21): uma
11 média, uma medial e outra lateral. De modo aná-
9 10
logo à região palmar, existe na região plantar, su-
Fig. 17.20: Anatomia do pé em corte transversal. periormente às locas plantares, uma loca interós-
1. Cuneiforme medial 2. 2.0 metatarso 3. 3. 0 metatarso 4. 4.0 meta• sea, que contém os músculos interósseos, vasos e
tarso 5. 5.º metatarso 6. Músculo extensor curto comum dos dedos
7. Músculo abdutor do 5.0 dedo 8. Músculo flexor curto do 5.0 dedo nervos.
9. Músculo interósseo plantar 10. Músculo adutor do 1.0 dedo (cabeça Cl. Loca Plantar Medial - contém o múscu-
oblíqua) 11. Músculo quadrado plantar 12. Tendões doflexor longo co-
mum dos dedos 13. Músa,lo flexor curto comum dos dedos 14. Tendão lo curto flexor do 1.0 dedo, a porção final do ten-
do peroneal longo 15. Tendão do flexor longo do 1.' dedo 16. dão do músculo longo flexor do 1.0 dedo, o múscu-
Músculo flexor curto do 1.0 dedo 17. Músculo abdutor do 1.º dedo

786
ANATOMIA DAS REGIÕES I MEMBRO INFERIOR

PERGUNTAS TIPO

1. Relativamente ao triângulo de Scarpa escolha


8 a afirmação correcta:
a. A ligamento inguinal e o sartório (sarto-
rius) fazem parte dos seus limites.
b. É possível encontrar no seu espaço o vasos
4 6 ilíacos laterals.
c. O ligamento ilio-pubico de Thompson e
o sartório (sartorius) fazem parte dos seus
2 limites.
d. A ligamento inguinal não faz parte dos li-
3 mites do triângulo de Scarpa.
7 e. Não é possível encontrar no seu espaço os
vasos femorais.

2. Relativamente ao joelho escolha a afirmação


Fig. 17.21: Vista inferior da fáscia plantar do pé.
1. Tuberosidade calcaneana 2. Fáscia plantar 3. Ligamento calcaneo-
mais correcta:
-metatársico 4. Fasciculos transversos 5. Ligamentos metatársicos a. O plano ligamentar anterior é constituí-
6. Ramos superficiais da artéria e nervo plan-
transversos superficiais
do pelas expansões do tensor da fáscia lata,
tares mediais 7. Ramos calcaneanos mediais do nervo tibial e artéria
tibial posterior 8. Nervo e artéria digital plantar próprios vasto medial, vasto lateral e ligamento ro-
tuliano.
lo abdutor do l.0 dedo e os vasos e nervos planta- b. Os ligamentos cruzados fazem parte do
res mediais. plano ligamentar anterior.
C2. Loca Plantar Média - apresenta 4 planos: c. O plano ligamentar anterior é constituí-
1. 0 plano - constituído pelo músculo curto fle- do pelas expansões dos músculos tensor da
xor dos dedos; 2. 0 Plano - contém os vasos e fáscia lata, vasto medial, vasto lateral; pla-
nervos plantares laterais; 3.0 plano - constituí- no tendinoso e plano capsular.
do pelos músculos longo flexor dos dedos, aces- d. As asas da rótula e os ligamentos menisco-
sório do longo flexor, lumbricais e pelo tendão -femorais não fazem parte do plano liga-
do músculo longo flexor do 1. 0 dedo; 4.0 plano mentar anterior do joelho.
- tarso e ligamento calcâneo-cuboideu inferior. e. Nenhuma das afirmações anteriores é cor-
Na porção anterior encontra-se o músculo adu- recta.
tor do 1.0 dedo.
C3. Loca Plantar Lateral - contém os múscu- 3. Relativamente à anatomia da fossa popliteia
los adutor do 5.0 dedo, curto flexor do 5.0 dedo e escolha a afirmação correcta:
o oponente do 5.0 dedo, assim como alguns ramos a. Está dividida em duas locas pela fáscia
dos vasos e nervos plantares laterais. profunda da fossa popliteia: uma poste-
C4. Loca interóssea - compreende os ossos meta- rior ou superficial e outra anterior ou pro-
társicos, os músculos interósseos e a arcada plantar funda.
profunda da artéria plantar lateral. b. Está dividida em duas locas pela fáscia
profunda da fossa popliteia: uma medial e
NOÇÕES DE ANATOMIA CLÍNICA outra lateral.
c. Está dividida em duas locas pela fáscia
As inflamações da fascia plantar (fasceites plan- profunda da fossa popliteia: uma superior
tares) são extremamente frequentes e importan- ou superficial e outra inferior ou profunda.
te motivo de consulta em qualquer consultório d. Está dividida em quatro locas pela fáscia
médico. profunda da fossa popliteia: uma posterior,

787
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

outra superficial, outra anterior e uma loca REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


profunda.
e. Nenhuma afirmação é correcta. Rouviere, H.; Delmas,A.Anatomie Humaine
Descriptive, Topographique et Fonctionnelle.
4. Relativamente aos compartimentos da perna, lSéme édition. Masson. Paris, 2002.
escolha a afirmação correcta: Moore, KL; Dalley, AF. Clinically Oriented
a. Existem 2 compartimentos: ântero-lateral Anatomy. 9th Edition. Lippincott Williams &
e posterior; cada compartimento está divi- Wilkins. Philadelphia, 2017.
dido em 2 locas.
b. Existem 2 compartimentos: lateral e me- Netter, FH.Atlas efHumanAnatomy; Sixth
dial; cada compartimento está dividido em edition. Saunders Elsevier. New Jersey, 2014.
2 locas. Testut, L.;Jacob, O. Traité d'Anatomie
c. Existem 2 compartimentos: ântero-lateral Topographique - Tome Second. Qyatrieme edition.
e posterior; cada compartimento está divi- Gaston Doin Editeur. Paris, 1922.
dido em 4 locas.
d. Existem 2 compartimentos: ântero-lateral
e posterior; cada compartimento está divi- ***
dido em 3 locas.
e. Existem 2 compartimentos: lateral e me-
dial; cada compartimento está dividido em
4 locas.

5. Relativamente à constituição anatómica da


face plantar do pé assinale a falsa:
a. As fáscias plantares limitam com a fáscia
interóssea plantar 3 locas plantares: uma
média, uma medial e outra lateral.
b. A loca plantar medial contém o múscu-
lo curto flexor do 1. 0 dedo, porção final do
tendão do músculo longo flexor do l.0 de-
do, músculo abdutor do 1. 0 dedo e vasos e
nervos plantares mediais.
c. A loca plantar lateral contém o músculo
adutor do 5.0 dedo, músculo curto flexor
do 5.0 dedo, músculo oponente do 5.0 de-
do e alguns ramos dos vasos e nervos plan-
tares laterais.
d. As fáscias plantares limitam com a fáscia
interóssea plantar 2 locas plantares: uma
uma medial e outra lateral.
e. A loca interóssea compreende os ossos
metatársicos, os músculos interósseos e a
arcada plantar profunda da artéria plan-
tar lateral.

!y-s !y-i, !y-s !:J-r !y-1


:SS"Blsodso11

788
F. ANATOMIA DE SUPERFÍCIE

CABEÇA rion e a interna, que é firmemente aderente ao pe-


rióstio, integra o pericrânio. Entre ambas há um te-
A anatomia de superficie é um ramo da anatomia cido laxo, não gorduroso, denominado "tecido apo-
que trata da descrição visual das estruturas anató- nevrótico". A distribuição pilosa do couro cabelu-
micas (1). Estuda a projecção dos órgãos e das es- do designa-se por cabelo. Este é constituído por fi-
truturas profundas na superficie do corpo, sendo lamentos de células queratinizadas que estão im-
de relevante importância para a compreensão da plantados na derme e contêm uma porção externa
semiologia clínica (2). denominada "haste" e uma raiz contida no folículo
A cabeça é revestida pelo tegumento comum, que piloso. Como anexos têm ainda glândulas sebáceas
envolve toda a superficie do corpo humano e tam- e músculos erectores capilares. O couro cabeludo
bém o crânio, protegendo-o e adaptando-o ao deixa transparecer a forma da estrutura óssea da
meio ambiente (Fig.18.lA e 18.lB). abóbada craniana e das zonas de união, permitin-
O tegumento comum é interrompido ao nível dos do localizar e palpar as suturas coronal ou bregmá-
orificios naturais, designadamente nos olhos, nari- tica, sagital, lambdóide e escamosa e os principais
nas e boca, onde se continua pela respectiva mu- pontos antropométricos delas resultantes: bregma,
cosa. Tem superficialmente um invólucro cutâneo, lambda, vertex e pterion. Finalmente na face identi-
a cútis, que tem subjacente uma camada denomi- fica-se e palpa-se o gonion, no ângulo mandibular.
nada "tela subcutânea''. A cútis localizada sobre a A ausência de união das suturas no bregma e lam-
calote craniana é denominada "couro cabeludo" e bda, considerada fisiológica até aproximadamente
é caracterizada pela densidade das duas lâminas nos primeiros dezoito meses de vida, permite pal-
que a compõem. A lâmina externa chama-se có- par zonas depressíveis na calote craniana, as fon-

Fig. 18.1 A: Cabeça vista de frente, com delimitação do contorno ósseo Fig. 18.1 B: Perfil direito da cabeça, com delimitação do esqueleto
e das arcadas dentárias. ósseo e das arcadas dentárias.

791
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Fig. 18.2A e B: Regiões topográficas da superfície da face, vistas respectivamente de frente e de perfil.
1. Frontal 2. Supra-ciliar 3. Orbitária 4. lnfra.-orbitária 5. Nasal 6. Zigomática 7. Facial propriamente dita 8. Temporal 9. Bucal 10. Mentoniana

tanelas, sendo uma de localização anterior e outra ocular, vêem-se duas outras pregas cutâneo-muco-
posterior. Existem outras fontanelas de menores sas móveis, as pálpebras.
dimensões, referidas no capítulo de ossos do crânio. A porção superficialmente visível do segmento an-
A face pode ser dividida, de modo didático, em terior do globo ocular abrange uma área periféri-
dez regiões topográficas (3), apresentadas nas Fi- ca de coloração esbranquiçada, a esclerótica e uma
guras 18.2A e 18.2B. zona central transparente, denominada "córnea".
A Figura 18.3 ilustra os principais acidentes ana- E sta permite ver por trás uma estrutura contráctil,
tómicos da face. a íris, que adquire colorações diferentes consoan-
A fronte é a zona lisa e procidente, que tem subja- te a pigmentação tegumentar de cada indivíduo.
cente o osso frontal. N esta região observa-se uma As pálpebras unem-se, formando os ângulos pal-
depressão mediana, denominada "sulco da glabe- pebrais, lateral e medial. No ângulo medial exis-
la", que separa duas pregas músculo-cutâneas de te uma zona de confluência lacunar da fina pelícu-
abundante distribuição pilosa, de disposição trans- la de secreção lacrimal, o filme lacrimal. Neste lo-
versal e arciforme, com concavidade inferior, as so- cal observa-se uma saliência (a carúncula lacrimal)
brancelhas. onde se localiza de cada lado o orifício de emer-
Inferiormente, o sulco da glabela termina na raiz gência exterior do canal lácrimo-nasal.
nasal (radix nasi). Trata-se da projecção à superfí- Ambas as pálpebras têm um bordo aderente e um
cie, da zona de união entre as suturas fronto-na- bordo livre em que se inserem os cílios.
sal e inter-nasal, também designada por "nasion''. Em cada pálpebra, imediatamente a seguir ao bor-
Na união do terço medial com o terço médio do do livre e seguindo a mesma orientação deste,
rebordo da arcada orbitária superior, palpa-se a pode ver-se respectivamente os sulcos palpebrais
depressão correspondente à chanfradura supra- superior e inferior.
-orbitária, onde passam os vasos e nervos com o N a pálpebra inferior, para baixo do sulco palpe-
mesmo nome. bral inferior e com disposição concêntrica obser-
Por cima e paralelamente às sobrancelhas, obser- va-se uma área deprimida, que corresponde ao sul-
va-se a projecção cutânea da arcada supra-ciliar. co pálpebro-malar.
Por baixo e envolvendo a porção anterior do globo O foramen infra-orbitário, por onde passa o ner-

792
ANATOMIA DE SUPERFÍCIE

30

Fig. 18.3: Desenho de face caracterizada, com os aspectos anatómicos relevantes observados à superfície.
1. Sulco da glabela 2. Sobrancelhas 3. Raiz nasal 4. Pálpebras, superior e inferior 5. Esderótica 6. Íris 7. Carúncula lacrimal 8. Cílios 9. Sulco
palpebral superior 10. Sulco palpebral inferior 11. Sulco pálpebra-malar 12. Nariz 13. Dorso nasal 14. Ápex nasal 15. Narinas 16. Asas
do nariz 17. Filtro 18. Sulco naso-labial 19. Pavilhão auricular 20. Concha 21. Tragus 22. Anti-tragus 23. Hélix 24. Antihélix 25. Fosseta
navicular 26. Lóbulo da orelha 27. Limbo cutâneo oral 28. Vermelhão dos lábios 29. Tubérculo labial 30. Comissura 31. Sulco menta-labial
32. Mento

vo com o mesmo nome, palpa-se geralmente a 1 doloroso à palpação, quando haja desequilfürio na
centímetro abaixo do bordo inferior da órbita, na função mastigatória ou ranger de dentes (bruxis-
mesma direção que a chanfradura supra-orbitária. mo), entre outras razões.
Na linha média, inferiormente à raiz nasal, sobres- Caminhando no sentido descendente, na linha
sai uma proeminência de forma triangular, de base média, existe urna goteira que corresponde ao fil-
posterior e vértice ântero-inferior, corresponden- tro ou sulco médio sub-nasal (4), que se dirige para
te ao nariz. O bordo ântero-superior é designado baixo e para diante, terminando em forma de V na
por "dorso nasal". O vértice do nariz, como é ob- porção mediana do lábio superior.
jecto de designação comum, corresponde ao ápex A partir da asa do nariz, de cada lado forma-se
nasal. De cada lado do bordo inferior, ligeiramen- um sulco de bordos estreitos e por vezes vincados,
te côncavo no sentido ântero-posterior, correspon- o sulco naso-labial, que se orienta no seu trajecto,
dente ao bordo inferior do septo nasal, podem ver- para baixo, para diante e para fora, terminando de
-se os dois orifícios anteriores das narinas, limita- cada lado para fora e ao mesmo nível da comissu-
dos lateralmente por duas paredes cutâneo-muco- ra labial homolateral.
sas dispostas de forma alar, as asas do nariz. A região temporal inclui áreas comuns ao crânio e
Os músculos responsáveis pela expressão facial, à face e neste caso são mais valorizadas na descri-
dilatadores e constritores, palpam-se em volta das ção superficial do perfil. Assim, abrange urna por-
órbitas, narinas e boca. O músculo frontal confim- ção localizada superiormente ao pavilhão auricular
de-se, à superfície com a aponevrose occipital, e e correspondendo à projecção na superficie, com
o platisma com o tecido sub-cutâneo do pesco- uma disposição arciforme de bordo convexo supe-
ço. O masséter é um músculo condicionante da fi- rior, dos tegumentos inseridos não apenas na es-
sionomia da face palpando-se, do bordo inferior cama do temporal, mas em toda a fossa temporal,
da arcada zigomática, para baixo e para trás, até sendo em grande parte recoberta por tecido pilo-
à face lateral do ângulo mandibular. Apresenta-se so. É limitada em cima pela linha curva temporal
aumentado de volume (hipertrofiado) e por vezes superior, adiante pela apófise orbitária lateral e o

793
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

bordo posterior do osso zigomático e abaixo pela ver aberta, um ori.ficio de acesso à cavidade oral
arcada zigomática. Na linha temporal palpa-se a chamado "stomium". O!iando coaptados, formam a
fáscia do músculo temporal, que se localiza infe- chamada "rima bucal".
riormente. Por baixo existe uma formação laminar Os lábios são duas pregas músculo-membranosas
pregueada em diferentes sentidos, de forma ovalar móveis e possuem duas faces, uma anterior cutâ-
e grossa extremidade superior, que é denominado nea e uma posterior mucosa. Tem dois bordos,
"pavilhão auricular". Esta formação tem duas faces sendo um aderente e outro livre e revestido para
e um bordo circunferencial. Na face lateral situa-se trás do limite cutâneo (o limbo cutâneo oral), por
uma escavação profunda, a concha, que se localiza uma mucosa que deixa transparecer uma colo-
atrás do ori.ficio do canal auditivo externo. A con- ração avermelhada na raça caucasiana e por este
cha tem na sua porção ãntero-inferior uma zona facto se designa por "vermelhão dos lábios". Em
retraída, a chanfradura. Em volta destas estruturas populações de outras raças, esta mucosa é reves-
há quatro saliências: uma situada imediatamente à tida por maior ou menor intensidade de pigmen-
frente do ori.ficio do canal auditivo externo, o tra- tação melânica. Na linha média do lábio superior,
gus; uma outra que se localiza em posição oposta e observa-se uma procidência mamilonar designa-
situa-se no limite posterior da concha, o anti-tra- da por "tubérculo labial", delimitado lateralmen-
gus; uma terceira mais periférica e que se consti- te por duas depressões. No lábio inferior há uma
tui em forma de crista circundante e limítrofe do depressão mediana e duas saliências que se ajus-
pavilhão, o hélix; por último uma quarta saliên- tam às estruturas do contorno superficial, de for-
cia semi-circular de concavidade anterior, situada ma inversa, situadas no lábio superior. Lateral-
à frente e concêntrica ao hélix, denominada "an- mente os lábios unem-se nos ângulos, cujos con-
tihélix". Em cima da concha e à frente da porção tornos se designam por comissuras. O lábio su-
superior do antihélix situa-se uma fosseta chama- perior é, em regra, menor e menos móvel que o
da "fosseta navicular". A parte do pavilhão auricu- inferior.
lar situada inferiormente ao tragus e à chanfradu- Na linha média, por baixo do lábio inferior, for-
ra da concha, é constituída por uma prega cutânea ma-se um sulco transversal, o sulco mento-labial
com um bordo periférico livre e semi-circular, que que como o nome indica o separa de uma proemi-
é chamado "lóbulo da orelha". A face medial re- nência mediana designada por "mento". Este sulco
produz no sentido inverso as formas das estruturas acentua-se gradualmente com a idade (5).
anatómicas observadas na face lateral e tem uma O acesso à cavidade oral faz-se, como já anterior-
porção anterior aderente, e outra posterior livre. mente foi dito, pelo stomium. Esta cavidade di-
O bordo circunferencial integra em cima e atrás o vide-se em duas porções pelas arcadas dentárias,
hélix, em baixo o bordo livre do lóbulo e anterior- sendo a porção externa designada por "vestíbulo
mente o tragus. A articulação têmporo-mandibu- bucal" e a interna por cavidade oral ou bucal pro-
lar (ATM) situa-se no segmento póstero-inferior priamente dita. O vesttbulo é um espaço virtual
da arcada zigomática. Na região do pré-tragus pal- que só se consegue ver se os lábios forem traciona-
pa-se, especialmente quando a boca esteja aberta, dos. Comunica-se com a cavidade bucal propria-
o côndilo mandibular. mente dita, pelos espaços interdentários e através
A projecção cutânea da região parotídea localiza- de uma abertura que em regra se localiza entre o
-se atrás do ramo ascendente da mandíbula, an- molar situado mais distalmente e o ramo ascen-
teriormente à apófise mastoideia, e inferiormen- dente da manchbula (espaço retro-dentário). Ain-
te à arcada zigomática e ao canal auditivo externo. da no vesttbulo bucal, pode visualizar-se na pare-
Pode palpar-se entre o bordo posterior do múscu- de interna da região geniana (vulgo "bochecha"),
lo masséter e o bordo anterior do esterno-cleido- ao nível do segundo molar superior, o orifício de
-mastoideu. emergência do canal parotídeo (de Sténon).
Por baixo do filtro localiza-se uma fenda trans- A cavidade bucal propriamente dita, de forma
versal, cujos lábios, superior e inferior quando se- aproximadamente cúbica, é delimitada por seis pa-
parados, delimitam especialmente se a boca esti- redes, sendo a anterior formada pelos lábios, duas

794
ANATOMIA DE SUPERFÍCIE

laterais constituídas pelas regiões genianas, a pa- a um centímetro, respectivamente acima e abai-
rede superior formada pelo palato duro, a inferior xo das correspondentes papilas inter-incisivas. Na
pelo pavimento oral e a parede posterior constituí- área que circunscreve os dentes existe a porção de
da pelo palato mole (Fig.18.4). mucosa livre da gengiva. Há uma outra parte de
As faces internas das paredes circundantes da ca- coloração mais clara, designada por "gengiva ade-
rente". A junção muco-gengival é a linha de sepa-
ração entre a mucosa alveolar e a gengiva aderente.
As paredes laterais, genianas, têm uma porção
central livre, sendo limitadas em cima e em bai-
xo pelos sulcos gengivo-genianos, posteriormente
pela rafe ptérigo-mandibular e anteriormente ten-
do continuidade com a face posterior dos lábios.
São revestidas por mucosa na porção endobucal,
que pode apresentar uma linha de espessamento
irregular com perda de brilho, adquirindo uma to-
nalidade esbranquiçada e baça coincidente com a
linha de oclusão dentária, denominada "linha de
leucoedema". A sua tonicidade é determinada pelo
principal músculo subjacente, o bucinador. No li-
mite posterior forma-se uma dobra na união das
extremidades distais dos processos alveolares su-
periores e inferiores, bilateralmente, onde se loca-
lizam duas áreas triangulares situadas posterior-
mente aos últimos molares, os trígonos retro-mo-
lares. Estes por sua vez têm por cima uma eleva-
ção, a rafe ptérigo-mandibular. É importante a re-
ferência em anatomia clínica da presença entre os
Fig. 18.4: Vista de superfície da cavidade bucal. músculos masséter e o bucinador, do corpo adipo-
so ou bolsa adiposa de Bichat (5).
vidade oral são revestidas por mucosa, que tem ca- A parede superior, consistente à palpação, revesti-
racterísticas distintas nas diversas áreas considera- da por uma mucosa de cor rosa-pálido, rica na par-
das. te posterior em glândulas salivares minor (glân-
Na parede anterior, constituída pelos lábios, a mu- dulas palatinas), firmemente aderente ao periósteo
cosa que reveste a porção endobucal, é habitual- da apófise palatina da maxila, designada por "pala-
mente lisa e avermelhada, podendo em alguns ca- to durd'. Tem a forma de ferradura, delimitada ân-
sos apresentar granulações esbranquiçadas (de tero-lateralmente pela apófise alveolar da maxila.
Fordyce). O bordo aderente dos lábios, na sua por- Na linha média, atrás dos incisivos centrais supe-
ção intra-oral, relaciona-se com a gengiva for- riores, há uma saliência mucosa fusiforme, a papila
mando o sulco gengivo-labial. A mucosa que re- incisiva, que recobre o faramen incisivo. A partir da
veste a face interna dos lábios forma pregas, de- papila incisiva forma-se uma zona procidente, de
vido à presença de feixes de tecido fibroso de lo- bordos estreitos, em forma de crista de orientação
calização subjacente, que se dirigem para as arca- no sentido ântero-posterior, denominada "rafe pa-
das dentárias, formando estruturas denominadas latinà', que se estende em toda a extensão do pa-
"freios", que podem ter importância na concepção lato duro. Do terço anterior da rafe, partem cristas
e funcionalidade das. próteses totais (5). De entre irregulares, que cruzam o palato duro e se dirigem
os freios labiais, destacam-se pela presença cons- lateralmente, formando as rugas ou pregas palati-
tante, os denominados "freios labiais superior e in- nas transversas.
ferior" que se inserem na linha média vestibular, A parede posterior é formada pelo véu palatino

795
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

também chamado "palato mole", de natureza mús- saliências chamadas "papilas linguais", que podem
culo-membranosa, móvel e contráctil, de localiza- ser filiformes, fungiformes, circunvaladas e foliá-
ção mediana. Eleva-se durante a deglutição, sepa- ceas. As papilas filiformes são cónicas, muito nu-
rando a cavidade oral da naso-faringe; em estado merosas e esbranquiçadas, localizadas nos dois ter-
de repouso desce e entra em contacto com o dorso ços anteriores até à ponta da língua, dando o as-
da língua. Tem uma forma quadrilátera, com duas pecto piloso e sendo as únicas papilas que por não
faces e quatro margens. A superfície é constituí- possuírem receptores gustativos, não têm papel na
da pela face bucal, côncava e lisa, mostrando na li- gustação (4). As papilas fungiformes são puncti-
nha média, a rafe fibrosa de continuidade do pala- formes e avermelhadas, sendo em número menor
to duro. Também com este se confunde a margem que as anteriores e ficando mais distanciadas entre
anterior. As margens laterais unem-se à parte in- si. As papilas circunvaladas, delimitam anterior-
ferior das apófises pterigoideias e às paredes late- mente o sulco terminal e apresentam uma papila
rais da faringe. Finalmente a margem inferior tem central que contém o botão gustativo, circundado
na porção mediana, um prolongamento cilíndri- por uma margem saliente ou vai/um; entre ambos
co-cónico, de dimensões variáveis, importante na situa-se um sulco onde abrem os canais de dre-
fonação e deglutição, chamado "úvula''. Da base da nagem de glândulas serosas. As papilas foliáceas,
úvula, constituindo o limite posterior, saem quatro são pequenas, formando pregas e sulcos, dispõem-
pregas mucosas, arciformes, sendo duas anteriores -se paralelamente à porção posterior da margem
e outras duas posteriores, denominados "pilares do da língua. A raiz da língua faz com o dorso um
véu palatino" (palato-glosso e palato-faríngeo, res- ângulo recto e nessa localização a mucosa forma
pectivamente). O arco anterior perde-se na mar- um aspecto marnilonado, formando folículos que
gem lateral da base da língua e o posterior termi- no seu conjunto formam a denominada "amígda-
na na parede lateral da faringe e entre ambos existe la lingual". A união da raiz da língua com o pala-
de cada lado uma depressão pronunciada, de for- to faz-se pelo arco palato-glosso e com a epiglo-
ma triangular, chamada "fossa amigdalina'' em que te pela prega glosso-epiglótica, de localização me-
se aloja um órgão linfóide, a amígdala palatina. diana. De cada lado desta prega existem depres-
A úvula, os pilares e a base da língua circunscre- sões de profundidade variável, que são as valécu-
vem uma abertura denominada "istmo das fauces". las epiglóticas, limitadas lateralmente pelas pre-
Na parede inferior, destaca-se um órgão de for- gas glosso-epiglóticas laterais. Na região sublin-
ma cónica, localizado na linha média, de vértice gual o revestimento é feito por uma mucosa fina,
anterior, grande eixo orientado no sentido ânte- que permite visualizar a estrutura venosa subja-
ro-posterior, muscular e móvel, de coloração ro- cente (veia lingual profunda). Observa-se um sul-
sada, a língua. A restante porção constitui a região co mediano mais profundo e largo que o encon-
sublingual, por se localizar abaixo da face ventral trado no dorso lingual. Do vértice da língua, parte
do referido órgão. A língua tem uma zona de in- em direcção posterior, inserindo-se na linha mé-
serção, de base alargada, denominada "raiz", e uma dia da face ventral do órgão e fixando-se no pa-
outra porção que se projecta na cavidade oral, com vimento, uma prega da mucosa, que condiciona a
revestimento mucoso, o corpo. Dele fazem par- amplitude dos movimentos da língua, denomina-
te o dorso da língua, localizado superiormente e a da "freio lingual". Qyando curto, determina uma
face ventral, inferiormente situada. No dorso ob- anquiloglossia, causadora de dificuldades fonéti-
servam-se dois segmentos, sendo um anterior, oral cas e até de deglutição, obrigando a uma frenec-
e outro de localização posterior ou faríngea, sepa- tomia (secção com alongamento terapêutico). La-
rados por uma zona deprimida, em forma de V teralmente ao sulco mediano podem ver-se zonas
aberto anteriormente, denominada "sulco termi- que fazem procidência, determinada pelos múscu-
nal". No segmento anterior, há também um sulco los geni-glossos. Entre as saliências musculares e
mediano da língua, que vai do ápice do órgão, até as margens laterais da língua, existem depressões
ao foramen cego. A mucosa que recobre esta face designadas por "canais laterais da língua". Ainda
é espessa e rugosa, devido à presença de pequenas de cada lado no pavimento oral, há a emergência

796
r ANATOMIA DE SUPERFÍCIE

directa de vários duetos da glândula sublingual. Os cundantes (mesial, distal, vestibular e palatina ou
bordos da língua são livres e arredondados, rela- lingual) e constituem particularidades, a existên-
cionando-se com as arcadas dentárias. O vértice, cia de uma face oclusal com quatro cúspides nos
ápice ou ponta da língua, é dividido pelo sulco me- molares e apenas uma cúspide nos caninos, obser-
diano, na zona de confluência dos sulcos que per- vando-se um bordo próprio dos incisivos denomi-
correm o dorso e a face inferior da língua. De cada nado "bordo incisal". O arco dentário nesta den-
lado, a mucosa do pavimento, a meia distância en- tição tem um comprimento menor que na den-
tre a língua e face interna do corpo da mandibula, tição permanente e é descontínuo, apresentando
faz procidência tubular, de trajecto irregular, rela- normalmente espaços. São característicos os que
cionado com a porção horizontal do canal da glân- se observam entre os incisivos laterais superiores
dula submandibular (de Wharton), cuja emergên- e os caninos decíduos e também entre os caninos
cia se verifica de cada lado da extremidade ante- decíduos e os primeiros molares decíduos mandi-
rior da inserção do freio no pavimento, em saliên- bulares. São designados "espaços primata" e cons-
cias chamadas "carúnculas sublinguais", local que tituem elementos de avaliação prognóstica favo-
também dá saída ao dueto maior da glândula su- rável a uma disposição harmónica dos dentes em
blingual. Na extremidade anterior do freio pode ambas as arcadas, por se prever a existência futu-
observar-se de cada lado uma prega recortada ir- ra de espaço suficiente para a adequada colocação
regularmente, denominadas "pregas fimbriadas ou dos dentes permanentes. A implantação dos den-
franjeadas". tes decíduos é perpendicular ao rebordo dos ma-
A região gengivo-dentária é composta pelas estru- xilares, tanto na arcada superior como na inferior,
turas homónimas e participa na separação do ves- determinando, quando em oclusão, um plano ho-
nbulo bucal, da cavidade oral propriamente dita. rizontal. Os dentes permanentes são em número
A gengiva resulta da transformação sofrida pela de trinta e dois, distribuindo-se em quatro grupos
mucosa gengival que circunda os dentes, forman- (8 incisivos; 4 caninos; 8 pré-molares e 12 mola-
do a gengiva aderente. Em continuidade, chega li- res). Constituem um arco contínuo, tendo os mo-
vre ao colo dos dentes e chama-se gengiva margi- lares posteriores, uma ligeira inclinação axial para
nal, que aí inflecte procurando a sua inserção. For- distal e vestibular na maxila e para mesial e lin-
ma as papilas interdentárias, de forma triangular, gual na mandíbula. O plano de relação entre as fa-
localizadas entre os dentes. A separar a gengiva ces oclusais, cúspides e bordos incisais dos den-
marginal do colo dentário existe um espaço ane- tes de ambas as arcadas quando em contacto, de-
lar, que em condição saudável é virtual, entre 0,1 nomina-se plano oclusal, que na dentição perma-
mm a 1 mm, o sulco gengival, que contém o líqui- nente forma uma curva de concavidade ântero-su-
do sulcular ou crevicular. perior denominada "curva de Spee", resultante das
Os dentes dispõem-se em forma de arcos, maxi- inclinações axiais dos dentes de ambas as arcadas.
lar e mandibular, formando as arcadas dentárias. A coroa dos dentes incisivos tem quatro faces (ves-
A sua superficie exterior é dura, podendo identifi- tibular, palatina ou lingual, mesial ou distal) e um
car-se uma porção emergente de cor branca, cor- bordo incisal, translúcido. A forma da coroa dos
respondendo à coroa clínica, recoberta de esmalte. dentes incisivos é semelhante em ambas as den-
Esta porção une-se a uma outra contida no alvéolo tições, variando apenas nas proporções e na maior
dentário, revestida de material amorfo e de textura translucidez aparente nos incisivos permanentes. A
irregular, o cimento, através de uma área mais es- configuração coronária dos caninos decíduos dife-
treita denominada "colo''. Os dentes têm tamanhos re da dos permanentes, não só nas dimensões que
variáveis de acordo com características individuais são inferiores, mas também pela maior inclinação
e também o sexo, sendo em regra menores no gé- das vertentes, que determinam uma cúspide mais
nero feminino. A dentição decídua é composta aguda. Os molares decíduos têm uma forma cubói-
por três grupos de dentes (8 incisivos; 4 caninos; de característica que associada a uma coloração
8 molares), prefazendo um total de vinte dentes. mais clara, permite uma identificação fácil na ge-
A coroa de qualquer dente possui quatro faces cir- neralidade das situações. Os pré-molares são den-

797
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

tes permanentes bicúspides que se localizam atrás em regra palpáveis, apesar da localização profunda
dos caninos. Para além das cúspides, alguns dentes da coluna vertebral (6).
possuem pequenas proeminências designadas "tu- A superfície do pescoço é recoberta pela fáscia
bérculos supranumerários", que complementam as cervical superficial, localizada imediatamente sob
estruturas anatómicas normais. Na superficie co- a derme, constituída por tecido conjuntivo. Esta
ronária notam-se interrupções, denominadas por fáscia desdobra-se para envolver o músculo pla-
"sulcos", que podem separar cúspides, tendo ori- tisma. A superficie cervical é caracteristicamen-
gem em depressões oclusais chamadas "fossas" e te dividida pelo músculo esterno-cleido-mastoi-
continuando-se muitas vezes pelas faces livres. deu e pelo feixe vásculo-nervoso do pescoço em
A relação oclusal entre os dentes molares de am- dois espaços, que embora de forma piramidal, se
bas as arcadas, faz-se entre uma cúspide e uma fos- denominam trígonos, sendo um anterior e ou-
sa, sendo que com maior frequência a cúspide me- tro posterior. Cada um deles subdivide-se: o an-
sio-vestibular do primeiro molar permanente su- terior pelo ventre posterior do músculo digástri-
perior relaciona-se com a fossa do correspondente co e pelo ventre superior do músculo omo-hioi-
inferior e com o sulco vestibular marginal, desig- deu, nos trígonos submentoniano, submandibu-
nando-se por oclusão dentária de Classe I de An- lar, carotideo e muscular; o posterior tem como
gle. Qyando se possa verificar uma discrepância de limites, o bordo posterior do músculo esterno-
pelo menos meio dente na relação inter-dentária, -cleido-mastoideu, o bordo superior da clavícu-
caso seja posterior existe uma Classe II e quando la, e o bordo anterior do músculo trapézio, divi-
for no sentido anterior observa-se a presença de dindo-se em dois trígonos menores, pelo ventre
uma Classe III. Na relação molar de dentes de- inferior do músculo omo-hioideu, denominados,
cíduos utiliza-se a classificação de Baume e exis- "trígono occipital" em cima e "trígono orno-cla-
te uma Classe I se o plano das faces distais dos se- vicular" em baixo.
gundos molares permanentes estiver em continui- Entre o bordo inferior da mand.tbula e os ventres
dade. Caso o plano distal do segundo molar de- anterior e posterior do músculo digástrico, situa-
cídua inferior faça um degrau mesial, verifica-se -se de cada lado a glândula submaxilar e imediata-
uma Classe III; se fizer um degrau distal observa- mente por cima, a artéria facial.
-se uma Classe II de Baume. Na linha média da face anterior do pescoço, ob-
serva-se uma reentrância que forma um ângu-
lo com o mento, onde se palpa uma estrutura ós-
PESCOÇO sea arciforme e corniculada, o osso hióide. Infe-
riormente ao osso hióide, pode ver-se a 1 a 2 cen-
O pescoço é uma região situada inferiormente à tímetros, uma zona que faz procidência, denomi-
face. (Fig. 18.SA e 18.SB). As suas estruturas são nada "proeminência laríngea da cartilagem tiroi-

Fig. 1O.SA e B: Regiões topográficas da superfície do pescoço, vistas respectivamente de frente e de perfil.
Trígono anterior: 1. Submentoniano 2. Submandibular 3. Carotídeo 4. Muscular
Trígono posterior. 5. Occipital 6. Omo-davicular

798
ANATOMIA DE SUPERFÍCIE

Fig. 18.6A: Pescoço visto de frente, com órgãos, músculos e estruturas vasculares.
1. Feixe esternal do músculo esterno-cleido-mastoideu 2. Feixe clavicular do músculo esterno-cleido-mastoideu 3. Ventre inferior do músculo
omo-hioideu 4. Bordo anterior do músculo trapézio 5. Osso hióide 6. Cartilagem tiroideia 7. Lobo esquerdo da tiróide 8. Anel da traqueia
9. Artéria carótida comum 10. Veia jugular interna

Fig. 18.68: Vista ântero-lateral direita do pescoço, com órgãos vasos e nervos.
1. Osso hióide 2. Cartilagem tiroideia 3 . Lobo direito da t iróide 4. Bordo anterior do músculo trapézio 5. Crossa da aorta 6. Artéria carótida
primitiva direita 7 . Artéria subclávia direita 8. Veia jugular interna 9. Veia subclávia d ireita 1O. Veia jugular externa 11 . Nervo pneumogástrico
12. Ansa do recorrente laríngeo 13. N ervo acessório (11.º par craniano) 14. Plexo braquial

deia'', mais saliente nos indivíduos do sexo mas- trás destes vasos, o vago. Este feixe vásculo-ner-
culino. Os lobos da tiróide projectam-se na face voso é coberto pelo esterno-cleido-mastoideu du-
anterior do pescoço de cada lado da laringe, con- rante grande parte do seu percurso. A carótida co-
fluindo no istmo inferiormente ao primeiro anel mum pode palpar-se junto ao bordo interno do
da traqueia. Seguem-se os aneis da traqueia, que esterno-cleido-mastoideu, pressionando-a de en-
constituem elementos de referência fundamentais contro às apófises transversas das vértebras cervi-
da base do pescoço. Mais para baixo vê-se uma de- cais. Divide-se ao nível do osso hióide nos seus ra-
pressão supra-esternal (Fig. 18.6A). mos, a carótida interna e a carótida externa.
Externamente à traqueia e à laringe passam a ar- No trígono cervical posterior são referências im -
téria carótida comum, a veia jugular interna e por portantes a veia jugular externa, a artéria subclá-

799
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

via e a artéria occipital, o nervo acessório e o plexo res e consequentemente da distância inter-pupilar,
cervical e também a porção supra-clavicular dos de que resulta um hipertelorismo. Este fenómeno
troncos do plexo braquial (Fig. 18.6B). é muitas vezes acompanhado da projecção ante-
A face posterior do pescoço (Fig. 18.7), estende- rior ou proptose dos globos oculares, que pode le-
-se desde a linha curva occipital superior à base var a que as pálpebras não recubram totalmente os
do pescoço, sendo o trapézio o músculo mais su- olhos, e por tal não confiram a protecção desejá-
perficial desta região. É também designada por vel, podendo ocorrer ulcerações da córnea, deno-
"nuca" e apresenta estruturas profundas que se minadas "úlceras por lagoftalrnia". O despiste pre-
projectam e são palpadas à superfície, de que é coce do abaulamento craniano em lactentes, com
exemplo o vértice da apófise transversa do atlas, dilatação das fontanelas, pode prevenir complica-
situado 1 centímetro inferiormente e à frente da ções resultantes de bloqueio na drenagem do lí-
apófise mastoideia. A apófise espinhosa da 7.ª quor encefálico e atrofia do parênquima cerebral,
vértebra cervical, é proeminente e também facil- que ocorre em casos de hidrocefalia. A fontane-
mente identificável. la anterior é um local de eleição para cateterização
venosa em casos de dificuldade de canalização ve-
nosa periférica em lactentes. A observação da su-
perfície da cavidade oral logo à nascença, permi-
te a detecção de malformações como as fendas la-
biais e ou palatinas, que podem colocar problemas,
desde os de sobrevida (respiratórios e alimentares),
e também mais tarde fonéticos, estéticos e de inte-
gração social, cuja intervenção faseada multidisci-
plinar importa equacionar (Fig. 18.8).

Fig. 18.7: Face posterior do pescoço.


1. Nuca

NOÇÕES DE ANATOMIA CLÍNICA

A superficie do crânio e da face, nomeadamente Fig. 18.8: Fenda labial, não corrigida.
o seu contorno, reflectem o padrão de desenvol-
vimento, podendo ter uma forma alongada (doli- Os traumatismos faciais são hoje cada vez mais
cocéfala), arredondada (braquicéfala), ou uma for- frequentes, devido ao aumento da mobilidade das
ma intermédia (mesocéfala). Há influência de fac- populações e resultam em grande número de si-
tores genéticos e do meio, determinantes ou con- tuações, em deformidades do contorno superficial,
dicionantes do desenvolvimento. Nas craniosinos- seja pelo afundamento determinado por uma frac-
toses, a fusão precoce das suturas pode determinar tura da calote craniana ou pelas assimetrias obser-
deformidade da calote craniana com procidência vadas nas fracturas dos ossos da face (Fig. 18.9).
das zonas de união. Em alguns casos pode haver Nas fracturas do terço inferior da face e no caso
afastamento das cavidades orbitárias, determinan- particular das fracturas da mandtbula, são fre-
do o aumento da distância entre os globos ocula- quentes os desvios resultantes da acção dos mús-

800
ANATOMIA DE SUPERFÍCIE

ângulo mandibular. Esta palpação é muitas vezes


dolorosa e existe frequentemente um trismo as-
sociado, em casos de disfunção têmporo-mandi-
bular ou de parafunções como o bruxismo (de-
signação comum de ranger de dentes). Nos ca-
sos de bruxismo, uma observação atenta das pe-
ças dentárias evidenciam um desgaste patológico
Fig. 18.9: Traumatismo buco-dentário com fractura alveolar e vestibu- das suas superfícies oclusais e dos bordos incisais.
larização de incisivo central permanente do segundo quadrante (2.1). No pescoço, o músculo esterno- cleido- mastoi-
deu sofre frequentes vezes espasmos dolorosos e
culos inseridos nos topos ósseos envolvidos, se não incapacitantes, vulgarmente designados por "tor-
estiverem encravados. cicolos". Podem palpar-se também no pescoço, os
As infecções e os tumores dos tegumentos ou das pulsos carotídeos, colocando os dedos na laringe
zonas profundas subjacentes, ósseas ou não, levam e deslizando posteriormente até se sentir a pulsa-
ao aumento de volume da zona atingida. Os teci- ção da artéria carótida, pressionando-a contra os
dos moles da face são frequentemente território de músculos pré-vertebrais, havendo que ter precau-
difusão de infecções de origem odontogénica, cau- ção com os doentes idosos e com doença ateros-
sadoras de infiltrações difusas dos tecidos moles clerótica, pelo risco de isquérnia cerebral.
designadas por "celulites", ou por colecções supu- Em casos em que possa haver necessidade de ali-
radas chamadas "abcessos" (Fig. 18.10). mentação parentérica, reveste-se por vezes de
grande importância a necessidade de cateteri-
zar a veia jugular interna. Para o efeito palpa-se o
pulso carotídeo, três dedos superiormente à cla-
vícula, sabendo-se que a veia referida se situa ân-
tero-lateralmente, unindo-se à subclávia atrás da
clavícula. Deve dar-se preferência à punção da
jugular direita, por não haver o risco de lesar o
canal torácico e também existir um risco menor
de atingir a cúpula pleural.
A região supra-clavicular é muito importante
como local de acesso para a realização de blo-
queios anestésicos do plexo braquial, em que há
Fig. 18.1 O: Celulite da face de causa odontogénica, com assimetria
que prevenir a punção acidental da artéria sub-
facial. clávia.
A detecção de falência no retorno venoso pode
A cavidade oral tem à superfície, pontos impor- ser feita através da visualização da veia jugular
tantes que servem de referência para a realiza- externa, no trígono cervical posterior, constituin-
ção de anestesia terminal e troncular, de que são do um dado serniológico relevante, a ser valoriza-
exemplos o bloqueio do nervo alveolar inferior do no contexto clínico.
ao nível da espinha de Spi.x, do mentoniano, en- A concluir fica expressa a ideia da existência de
tre os ápices do primeiro e segundo pré-mola- relação íntima entre o conhecimento da anato-
res inferiores, ou do naso-palatino, no foramen mia de superfície da face e do pescoço e a detec-
incisivo. ção precoce quer de patologia local, quer sistémi-
O volume e a tonicidade do feixe superficial do ca, e bem assim na intervenção terapêutica, no-
masséter são elementos semiológicos importan- meadamente cirúrgica.
tes a avaliar através da palpação, feita da margem
inferior da arcada zigomática obliquamente para
baixo e para trás, até à parte lateral próximo do

801
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

PERGUNTAS TIPO e. Inferiormente ao osso hióide, evidencia a


1 a 2 centímetros, uma zona que faz proci-
Assinale as alíneas certas: dência, denominada "proeminência larín-
1. A cabeça: gea da cartilagem tiroideia", mais saliente
a. Tem superficialmente um invólucro cutâ- nos indivíduos do sexo masculino.
neo denominado "córion".
b. Apresenta uma distribuição pilosa no cou- !3 '::, ·a-r 13 'a ·v-'l 13 '::, 'a-1
ro cabeludo, designada por "cabelo". :SS"1S00~ ~

c. Tem uma cutis que é interrompida ao ní-


vel dos ori.ficios naturais.
d. Sobre a calote, integra um couro cabelu-
do caracterizado pela pouca densidade das REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
duas lâminas que a compõem.
e. É revestida pelo tegumento comum, com Wikipédia.Definição de anatomia humana
funções protectora e de adaptação ao meio de superfície.Whttp://wikipedia.org/wik.i/
ambiente. Anatomia_ de_superf% C3 % AD cie. Acesso
em 2008/12/28.
2. Aface: Costa, VCI. Anatomia Geral Humana. Apostila
a. Apresenta uma região topográfica deno- para fins didácticos. Ribeirão Preto.Brasil.2008: 2.
minada "bucal".
b. Tem uma porção geniana, em cuja parede Soares,JC. Anatomia de Superfície da Cabeça.
interna se obseva o orifício de emergência UNESP. Botucatu. Brasil. 2006: 2 - 4.
do canal de Wharton, Figún ME.Garino RR. Anatomia Odontológica
c. Integra na linha média sub-nasal uma Funcional e Aplicada. Ed. Médica.
proeminência triangular, chamada "filtro". Panamericana.2003:162-180.
d. Compreende duas pregas músculo-mem-
branosas móveis, os lábios, que delimitam UFPR. Anatomia da Cavidade Bucal e Língua.
um orillcio de acesso à cavidade oral. Odonto UFPR. Site dos académicos de
e. Para baixo do sulco palpebral inferior Odontologia.www.geocities.com/odontoufpr/
mostra uma área deprimida que corres- bucal.htrnl? 200831. Acesso em 08-12 - 31.
ponde ao sulco pálpebro-malar. Universidade Federal do Pará.Pescoço. www.
br.com Acesso em 2009/01/19.
3. O pescoço:
a. É uma região em que a superfície é divi-
dida pelo músculo esterno-cleido-mastoi-
deu e pelo feixe vásculo-nervoso em dois
trígonos, um lateral e outro medial.
b. É recoberto pela aponevrose cervical su-
perficial.
c. Tem uma face posterior que se esten-
de desde a linha curva occipital superior
à base do pescoço, sendo o trapézio o mús-
culo mais superficial desta região.
d. Apresenta em localização medial à tra-
queia e à laringe, o trajecto da artéria ca-
rótida interna, da veia jugular interna e
por trás destes vasos, do pneumogástrico
ou vago.

802
ANATOMIA DE SUPERFÍCIE

TÓRAX mesmo plano, formando a interseção entre os


dois planos um ângulo diedro aberto para trás:
o ângulo esternal ou ângulo de Louis. Este cons-
PAREDES ANTERIOR E LATERAL DO titui um ponto de referência muito importante,
TÓRAX quer para a referenciação das estruturas anató-
micas situadas em planos mais superficiais, quer
O esqueleto do tórax é formado pelas doze vérte- para a dos órgãos mais profundos. Ao seu nível, a
bras torácicas, os doze pares de costelas e cartila- 2.ª cartilagem costal, também facilmente palpá-
gens costais e pelo esterno. vel, articula-se com o esterno e a contagem das
A parede ântero-lateral do tórax é limitada supe- costelas e dos espaços intercostais faz-se a par-
riormente pela incisura jugular do esterno e pe- tir deste ponto de referência. O ângulo de Louis
las clavículas. O processo xifóide e o rebordo cos- está ao nível da quarta vértebra torácica. O pro-
tal inferior constituem o seu limite inferior. O re- cesso xifóide está ao nível do corpo da nona vér-
bordo inferior da parede ântero-lateral do tórax é tebra torácica.
formado pelas costelas e cartilagens costais da 7.ª O bordo anterior da clavícula1 , subcutâneo em
à 10.ª. A linha axilar média e a linha vertical que toda a sua extensão, tem a forma de um S, indo
passa pelo ápice da axila definem o seu limite pós- de medial para lateral é primeiro convexo e depois
tero-lateral (Fig. 18.11). côncavo para a frente. Nos 2/3 mediais do seu bor-
do inferior insere-se o músculo peitoral maior e no
1/3 externo o músculo deltóide. Os dois músculos
estão separados pelo sulco delto-peitoral.
O músculo peitoral maior forma o bordo ante-
rior da axila. O seu relevo é limitado inferiormen-
te pelo sulco infra-mamário.
Sob as fibras anteriores e mediais do músculo del-
tóide, cerca de 1 cm abaixo da clavícula, é possível
palpar o processo coracóide da escápula.
Os músculos, serrátil anterior, Iatíssimo do dorso,
reto do abdómen e oblíquo externo do abdómen
são os outros músculos superficiais desta região.
A mama feminina, na mulher adulta e jovem, pro-
jeta-se em altura entre a 2.ª e a 7.ª costelas; em
largura situa-se entre o bordo lateral do esterno e
a parede axilar anterior, sendo a projeção do ma-
milo bastante variável devido às grandes diferen-
ças de volume e forma. No homem o mamilo está
aproximadamente ao nível do 4.0 espaço intercos-
Fig. 18.1 1: Parede anterior do tórax: ossos e músculos. tal, perto da linha médio-clavicular.
1. Clavícula 2. lncisura jugular 3. Manúbrio 4. Corpo do esterno
5. Processo xifóide 6. Cartilagem costal 7. Espinha ilíaca ântero-supe- Cada cavidade pleural ultrapassa em cerca de 3 cm
rior 8. Peitoral maior 9. Deltóide 10. Reto abdominal o nível do 1/3 medial da clavícula. O bordo ante-

O esterno é composto pelo manúbrio, o corpo ou


1 A clavícula existe apenas nos primatas. Os outros mamíferos não-
lâmina e a ponta ou processo xifóide. O bordo su-
-primatas possuem apenas a omoplata, localizada na 7.0na lateral do
perior do manúbrio, a incisura jugular, e as extre- tórax. A àntura escapular dos primatas, constituída pela cscápula
midades mediais das clavículas, que com ele se ar- {com a qual se articula o úmero) articulada com a clavícula e esta
ticulam, desenham um arco virado para cima. com o esterno permite uma amplitude de movimentos do membro
O manúbrio e o corpo do esterno, palpáveis em superior muito maior que a dos membros anteriores dos não-prima-
tas. A arnplirude da abdução é talvez o melhor exemplo. Esta ampli-
toda a sua extensão, não estão compreendidos no
rude de movimentos favorece a locomoção suspensa.

803
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

rior de ambas aproxima-se da linha média ao nível NOÇÕES DE ANATOMIA CLÍNICA


do ângulo esternal, descendo em seguida vertical-
mente. A pleura esquerda afasta-se da linha média O choque de ponta é facilmente palpável colocan-
ao nível da 4.ª cartilagem costal; a direita afasta-se do a palma da mão sobre o 5.0 espaço intercostal,
da linha média ao nível da 6. ª cartilagem costal e na linha médio-clavicular.
ambas cruzam a linha médio-clavicular ao nível da Na auscultação cardíaca ouvem-se dois tons,
8. ª cartilagem costal, a linha médio-axilar ao nível "tum-tac". O primeiro é produzido pelo encerra-
da 10.ª cartilagem e correm ao longo da 12.ª cos- mento da tricúspide e da mitral e o segundo pelo
tela posteriormente. A projeção dos pulmões sobre fecho da aórtica e da pulmonar.
a grelha costal acompanha a da pleura, exceto na A mitral ausculta-se melhor junto ao ápice cardía-
parte inferior, em que o nível da pleura fica cerca co; a aórtica,junto ao bordo direito do esterno, 1.0
de 2 costelas mais abruxo que o do pulmão. Devi- ou 2.0 espaços intercostais; a pulmonar, junto ao
do à diferença de altura das hemi-cúpulas diafrag- bordo esquerdo do esterno, no 1.0 ou 2.0 espaços
máticas, a direita sobe até ao nível do 4.0 espaço intercostais; a tricúspide,junto ao bordo direito do
intercostal e a esquerda até ao nível do 5.0 espaço. esterno, ao nível da 4.ª cartilagem costal.
A divisão da traqueia fica ao nível do ângulo de Uma injeção intra-cardíaca pode ser dada usan-
Louis. do como referência o bordo interno do 5.0 espa-
A Fig. 18.12 mostra a projeção da área cardíaca ço intercostal [1].
e das válvulas cardíacas. A ponta do coração en-
contra-se no 5.0 espaço intercostal, na linha mé- PAREDE LATERAL DO TÓRAX
dia clavicular.
Limitada superiormente pela axila, em cujo vér-
tice superior está a diáfise do úmero; inferior-
mente pelo rebordo costal inferior, continuando-
-se com as paredes anterior e posterior do tórax.
A parede lateral do tórax continua-se superior-
mente com o escavado axilar, cujo bordo ante-
rior é definido pelo músculo peitoral maior2; os
músculos redondo maior e Iatíssimo do dorso
formam o bordo posterior. O seu ápice comuni-
ca com o pescoço através do canal cérvico-axilar,
atravessado pelos vasos axilares e ramos do ple-
xo braquial.
Na parede lateral do tórax as inserções nas costelas
do músculo serrátil anterior alternam com as do
músculo oblíquo externo do abdómen.
A axila contém muitos gânglios linfáticos. Podem
palpar-se alguns nódulos, cujo diâmetro é normal-
mente inferior a 4-8mm.

PAREDE POSTERIOR DO TÓRAX

Fig. 18.12: Projeções das válvulas cardíacas e locais onde melhor se


Consideraremos na região posterior do tórax as
auscultam. Região inguinal: vasos e nervo femorais. regiões torácica e lombar (Fig. 18.13).
P. Pulmonar A. Aórtica M. Mitral T. Tricúspide AA. Auscultação de
A (Aórtica) AP. Auscultação de P (Pulmonar) AT. Auscultação de T
(Tricúspide) AM. Auscultação de M (Mitral) 1. Artéria femoral 2. Veia 2 Num indivíduo que faça a elevação do braço em abdução, o esca-
femoral 3. Nervo femoral vado axilar muda de forma; na região deprimida da axila nota-se o
relevo do músculo córaco-braquial, que se desenha como uma mas-
sa fusiforme atrás do bordo lateral do músculo peitoral maior.

804
ANATOMIA D E SUPERFÍCIE

ABDÓMEN

A parede abdominal anterior tem como limite su-


perior o processo xifóide na linha média e o bor-
do inferior da grelha costal; como limite inferior a
margem superior do púbis, a prega da virilha sob
a qual se encontra o ligamento inguinal, a espinha
ilíaca ântero-superior e a crista ilíaca (Fig.18.12).
A parede ântero-lateral do abdómen inclui, de
cada lado, 3 músculos largos, sendo o mais super-
ficial o oblíquo externo do abdómen, seguindo-se
o oblíquo interno e o transverso. As aponevroses
destes músculos formam a baínha do músculo rec-
to anterior do abdómen e, fundindo-se na linha
média, formam uma rafe fibrosa, a linha branca
ou linea alba, que se estende verticalmente entre
o processo xifóide e o púbis. Estando, por vezes,
o processo xifóide desviado lateralmente, alguns
autores preferem descrever uma vertical unindo o
ponto médio da incisura jugular e a sínfise púbica.
Fig. 18.13: Parede posterior do tronco: ossos e músculos. O reto anterior do abdómen tem a inserção supe-
1. Escápula 2. Trapézio 3. Deltóide 4. lnfraespinhoso 5. Redondo
maior 6. Dorsal maior 7. Oblíquo externo
rior na 5.•,6.• e 7.• cartilagens costais e a inserção
inferior no púbis. Apresenta 2,3 ou 4 intersecções
A região torácica corresponde à parede posterior
do tórax. O seu limite superior é uma linha qua-
se horizontal que passa ao nível do processo espi-
nhoso da sétima vértebra cervical. O seu limite in-
ferior corresponde às décimas segundas costelas.
A região lombar tem como limite superior esta li-
nha e como limite inferior as linhas que partem da
base do sacro e se dirigem às cristas ilíacas.
Observam-se os processos espinhosos das vérte-
bras torácicas e lombares, a crista sagrada mediana,
que vemos no fundo de um sulco que se prolon-
ga pela prega interglútea e a crista ilíaca. As saliên-
cias das espinhas ilíacas póstero-superiores encon-
tram-se sob as fossetas lombares inferiores. [2,3]
Na posição anatómica a escápula projeta-se entre
a segunda e a sétima costelas. O acrómio, a espi-
nha, o bordo vertebral e os ângulos superior e in-
ferior são sub-cutâneos e facilmente identificáveis.
É preciso não esquecer que o bordo interno da es-
cápula é paralelo à coluna na posição anatómica,
mas a escápula move-se livremente sobre o tórax
acompanhando os movimentos do braço e a sua
posição varia de acordo com eles. Fig. 18.14: Regiões do abdómen.
1. Linha infracostal 2. Linha supra•ilíaca 3. Plano transpilórico
Os músculos superficiais são o trapézio, o rombói- 4. Hipocôndrio direito 5. Flanco direito 6. Região inguinal direita
de maior, o redondo maior e o !atíssimo do dorso. 7. Epigastro 8. Região umbilical 9. Hipogastro 10. Hipocôndrio
esquerdo 11. Flanco esquerdo 12. Região inguinal esquerda

805
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

aponevróticas, visíveis em indivíduos dotados de O fígado projeta-se no hipocôndrio direito, aci-


um bom desenvolvimento muscular e que, simul- ma da grelha costal e está protegido por ela. O seu
taneamente, tenham um panículo adiposo escasso. bordo superior, infra-diafragmático, fica ao nível
Uma destas intersecções encontra-se aproximada- do 4.0 espaço intercostal. O lobo esquerdo atra-
mente ao nível do umbigo. Situado anteriormen- vessa o epigastro, passando sob o processo xifóide.
te à parte inferior do reto, contido na baínha deste A vesícula biliar projeta-se no ponto em que a
músculo, o músculo piramidal desenha um triân- linha médio-clavicular cruza a grelha costal, ou
gulo com a base no púbis, o lado medial na linha seja, ao nível da 9.ª cartilagem costal. O pâncreas
branca e o lado lateral converge para o ângulo su- é ligeiramente oblíquo em relação à linha média
perior, que se encontre a meia altura entre o púbis e a sua cauda fica situada junto ao hilo do baço.
e o umbigo. Este músculo, de dimensões variáveis, O baço situa-se posteriormente, entre a 9.ª e a 11.ª
é por vezes assimétrico ou inconstante. costelas.
Para uma melhor descrição e localização, é habi- A aort a abdominal, que corre ao longo da parede
tual dividir a parede abdominal anterior em 9 re- abdominal posterior, divide-se ao nível do cor-
giões, usando duas linhas horizontais e duas verti- po da L3, aproximadamente ao nível do umbigo.
cais; estas últimas passam pela linha médio-clavi-
cular e pelo meio da prega da virilha (Fig. 18.14). REGIÃO INGUINAL
A horizontal superior passa ao nível do bordo in-
ferior das costelas esternais (linha infra-costal) se- O bordo inferior da aponevrose do músculo oblí-
gundo alguns autores;[4] outros preferem usar o quo externo, entre a espinha ilíaca ântero-superior
plano transpilórico que passa pela primeira vérte- e o púbis, forma o ligamento inguinal (Fig. 18.12).
bra lombar e interseta a parte anterior do tórax ao Mesmo por cima do púbis encontra-se o anel in-
nível da extremidade da nona cartilagem costal. guinal superficial, através do qual se dá a passagem
[5]. A linha horizontal inferior passa pelo bordo dos testículos para o escroto.
superior das cristas ilíacas (linha supra-ilíaca)[4]. A artéria femoral passa sob o ligamento inguinal
Outros autores consideram o plano transtubercu- no seu ponto médio, ou seja, entre a espinha ilía-
lar, unindo as espinhas ilíaca ântero-superiores.[5] ca ântero-inferior e o púbis. A veia femoral passa
As regiões abdominais são, da direita para a es- mediaimente em relação à artéria. O nervo femo-
querda e de cima para baixo: hipocôndrio direito ral passa por fora da artéria femoral.
(HD), lateral direita (flanco direito), inguinal di-
reita (ID - fossa ilíaca direita), epigastro (E), um-
bilical (U), púbica (P - hipogastro), hipocôndrio PERGUNTAS TIPO
esquerdo (HE), lateral esquerda (LE - flanco es-
querdo), inguinal esquerda (IE - fossa ilíaca es- 1. Escolha a resposta correta: Ao nível do ângulo
querda). Pode também dividir-se em 4 quadran- esternal ou de Louis articula-se com o esterno:
tes: superior direito (Q;,D), superior esquerdo a. 1.ª cartilagem costal.
(Q;,E), inferior direito (Q!D) e inferior esquer- b. 2.ª cartilagem costal.
do (Q!E).[6] c. 3.ª cartilagem costal.
O estômago projeta-se quase todo no epigastro. d. A extremidade medial da clavícula.
O piloro encontra-se no plano referido acima, e. O processo coracóide da escápula.
um pouco para a esquerda da linha média. O có-
lon transverso projeta-se essencialmente na região 2. Escolha a resposta correta: Na posição anató-
umbilical. A base do apêndice ou ponto de Mac mica a escápula projeta-se:
Burney encontra-se em regra na união do terço la- a. Entre a 3.ª e a 7.ª costelas.
teral com o terço médio de uma linha traçada en- b. Entre a 2.ª e a 7.ª costelas.
tre a espinha ilíaca ântero-superior e o umbigo; a c. Entre a 2.ª e a 6.• costelas.
posição ocupada pelo apêndice tem uma grande d. Entre a 3.ª e a 6.ª costelas.
variabilidade. e. Entre a 3.ª e a 8.ª costelas.

806
r=
ANATOMIA DE SUPERFÍCIE

3. Escolha a resposta correta: O choque de pon-


ta do coração é normalmente palpável na li-
nha médio-clavicular, ao nível do espaço in-
tercostal esquerdo:
a. 2.0 •
b. 3.º.
e. 4.º.
d. 5.º.
e. 6.º.

ia-e ig-c: g -1
:sinsodso~

***

807
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

MEMBRO SUPERIOR e o latíssimo do dorso (ambos já descritos com


o tórax).
Estes músculos escondem parcialmente os mús-
CÍNGULO DO MEMBRO SUPERIOR culos, supra-espinhal, infra-espinhal, redondo
menor, redondo maior e as origens do tricípe-
O cíngulo do membro superior, através do qual o te braquial: porção longa, porção lateral e por-
úmero se prende ao esqueleto axial, é constituí- ção medial.
do pela clavícula, cujo bordo anterior e extremi-
dades são subcutâneas, e pela escápula, sendo o REGIÃO BRAQUIAL ANTERIOR
acrómio, espinha, bordo medial, ângulos superior
e inferior igualmente subcutâneos. Na região anterior do braço encontramos os re-
Na região anterior do cíngulo do membro supe- levos dos músculos deltóide, do músculo bicípete
rior e do tórax notamos os relevos dos múscu- braquial, mais superficial e responsável pela proe-
los, peitoral maior e deltóide, separados pelo sul- minência da região anterior do braço e do braquial
co delto-peitoral. anterior, mais profundo (Fig. 18.15).
A veia cefálica encontra-se neste sulco, medial- No sulco bicipital medial, formado pelo relevo do
mente às fibras anteriores do deltóide, antes de se bordo medial do bicípete braquial, passam a arté-
lançar na veia axilar. ria braquial e o nervo mediano. O nervo media-
A artéria e a veia subclávias (sendo a veia me- no é anterior à artéria na metade superior dobra-
dial em relação à artéria) tornam-se axilares en- ço, passando a ser medial no seu trajeto inferior.
tre o bordo lateral da 1.ª costela e a parte média O sulco bicipital lateral é formado pelo relevo la-
da clavícula. teral do músculo bicípete braquial.[4)
Na região posterior do cíngulo do membro su-
perior encontramos, além do deltóide, o trapézio

Fig. 18.15: Cíngulo do membro superior, região braquial anterior e região cubrtal anterior.
1. Clavícula 2. Processo coracóide da escápula 3. Úmero 4. Epicôndilo medial 5. Epicôndilo lateral 6. Rádio 7. Ulna 8. Bicípete braquial
9. Braquial 10. Aponevrose bicipital

808
---
ANATOMIA DE SUPERFÍCIE

REGIÕES CUBITAL ANTERIOR Notam-se as veias superficiais. A veia mediana


E ANTEBRAQUIAL ANTERIOR antebraquial divide-se nas veias intermédia cefá-
lica, (que ao unir-se à veia cefálica acessória cons-
O epicôndilo medial e o epicôndilo lateral do titui a veia cefálica) e intermédia basílica, que se
úmero não têm tradução idêntica em Anatomia de une à veia intermédia antebraquial, formando a
Superfície. Enquanto o epicôndilo medial é sub- veia basílica.
-cutâneo, sendo facilmente visível, o epicôndilo la-
teral fica oculto pelo músculo braquio-radial, sen- NOÇÕES DE ANATOMIA CLÍNICA
do apenas palpável (Fig. 18.15 e 18.16).
A região cubital anterior apresenta três saliências A aponevrose bicipital torna difícil a palpação da
musculares: medial, média e lateral. artéria braquial, possível no entanto com o co-
A saliência muscular média, fusiforme, é consti- tovelo em extensão. Esta artéria é útil para a co-
tuída pelas porções inferiores dos músculos bicí- lheita de sangue arterial e para a inserção de ca-
pete braquial e braquial; mergulha entre as massas teteres. [1]
musculares medial e lateral. [4] O volumoso ten- As veias, cefálica, basílica e cubital são habitual-
dão do bícipete braquial insere-se na tuberosida- mente usadas para colher amostras de sangue ve-
de bicipital do rádio. A aponevrose bicipital vai do noso.
tendão até à ulna. Sob ela passam o nervo media-
no e por fora dele a artéria braquial. CUBITAL ANTERIOR E ANTEBRAOUIAL AN-
A saliência cubital medial é constituída pelos TERIOR
músculos do plano superficial do grupo anterior
dos músculos do antebraço, que se inserem no epi- O epicôndilo medial e o epicôndilo lateral do
côndilo medial e se distribuem em leque na face úmero não têm tradução idêntica em Anatomia de
antebraquial anterior. Indo de lateral para medial Superfície. Enquanto o epicôndilo medial é sub-
encontram-se os músculos, pronador redondo, fle- -cutâneo, sendo facilmente visível, o epicôndilo la-
xor radial do carpo, palmar longo e flexor ulnar teral fica oculto pelo músculo braquio-radial, sen-
do carpo. do apenas palpável.
A saliência cubital lateral é constituída pelos mús- A região cubital anterior apresenta três saliências
culos bráquio-radial e extensor radial longo do musculares: medial, média e lateral.
carpo. A saliência muscular média, fusiforme, é consti-
tuída pelas porções inferiores dos músculos bicí-
pete braquial e braquial; mergulha entre as massas
musculares medial e lateral. O volumoso tendão
do bícipete braquial insere-se na tuberosidade bi-
cipital do rádio. A aponevrose bicipital vai do ten-
dão até à ulna. Sob ela passam o nervo mediano e
por fora dele a artéria braquial.
A saliência cubital medial é constituída pelos
músculos do plano superficial do grupo anterior
dos músculos do antebraço, que se inserem no epi-
côndilo medial e se distribuem em leque na face
antebraquial anterior. Indo de lateral para medial
encontram-se os músculos, pronador redondo, fle-
xor radial do carpo, palmar longo e flexor ulnar
do carpo.
A saliência cubital lateral é constituída pelos mús-
Fig. 18.16: Região anterior do antebraço: ossos.
culos bráquio-radial e extensor radial longo do
1. Úmero 2. Ulna 3. Rádio 4. Processo estilóide da ulna 5. Processo carpo.
estilóide do rádio 6. Escafóide 7. Semilunar 8. Piramidal 9. Pisiforme

809
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

Fig. 18.17: Região posterior do tronco e braço: ossos e músculos.


1. Escápula 2. Espinha da esclpula 3. Acrómio 4. lnfraespinhoso 5. Deltóide ó. Redondo maior 7. Redondo menor 8. Triópete braquial

Notam-se as veias superficiais. A veia mediana an- REGIÕES POSTERIORES DO BRAÇO E CUBI-
tebraquial divide- se nas veias intermédia cefálica, TAL POSTERIOR
(que ao unir-se à veia cefálica acessória constitui
a veia cefálica) e intermédia basílica, que se une à O músculo tricípete braquial forma o relevo da re-
veia intermédia antebraquial, formando a veia ba- gião posterior do braço (Fig. 18.17). Nota-se ain-
sílica. da o pequeno relevo do músculo ancóneo.
Na região posterior do cotovelo são visíveis o ole-
crânio da ulna e o epicôndilo medial, sendo o epi-
côndilo lateral apenas palpável.
Qyando a articulação do cotovelo está em exten-
são as 3 saliências ósseas estão na mesma linha reta.
Qyando em flexão, formam um triângulo no qual
o olecrânio é o vértice inferior. O bordo posterior
da ulna é sub-cutâneo em toda a sua extensão.

NOÇÔES DE ANATOMIA CLÍNICA

O nervo cubital passa atrás do epicôndilo medial.


Se for comprimido contra ele provoca uma sensa-
ção de formigueiro no antebraço.[1)

FACES ANTERIORES DO PUNHO E MÃO


Fig. 18.18: Região posterior do antebraço (músculos).
1. Bráquio-radial 2. Extensor radial longo do carpo 3. Extensor dos
dedos 4. Extensor do 5.º dedo 5. Extensor ulnar do carpo 6. Longo Na região carpa! anterior notam-se os processos
abdutor do 1.0 dedo (polegar) 7. Curto extensor do 1.0 dedo (polegar) estilóides da ulna e do rádio (Fig. 18.16).
8 . Longo extensor do 1.0 dedo (polegar)

810
ANATOMIA DE SUPERFÍCIE

Destacam-se os tendões dos músculos bráquio-ra- Na base do quinto dedo situa-se a eminência hi-
dial, flexor radial do carpo, palmar longo e flexor potenar, formada pelos músculos do 5.0 dedo: ab-
ulnar do carpo. dutor, flexor curto e oponente.
A artéria radial é facilmente palpável sobre a ex- Entre ambas situa-se a fossa da palma da mão.
tremidade inferior do rádio, por fora do flexor ra- A pele desta região não tem pelos. Na palma,
dial do carpo. apresenta pregas de flexão, as "linhas da mão",
que têm grandes variações individuais e no mes-
NOÇÕES DE ANATOMIA CLÍNICA mo indivíduo podem apresentar assimetrias en-
tre a mão direita e a esquerda. A pele dos dedos
Este é o local que habitualmente se escolhe para, apresenta o sulco digito-palmar na base dos de-
durante o exame físico do doente, avaliar o pulso: dos e sulcos ao nível das articulações interfalân-
frequência, caraterísticas. gicas.
O nervo mediano passa sob o músculo palmar A disposição das papilas da derme tem na pele
longo, estando, assim, protegido pelo músculo na que reveste a polpa dos dedos uma distribuição
eventualidade de feridas incisas na região anterior particular, formando padrões caraterísticos e in-
do punho. [1] dividualizados, os quais permitem identificar o
A artéria e o nervo ulnares passam lateralmente indivíduo: as impressões digitais.
em relação ao tendão do músculo flexor ulnar do
carpo, mas, como são parcialmente cobertas pelos FACES POSTERIORES DO PUNHO E DA MÃO
músculos da eminência hipotenar, não são facil-
mente palpáveis. Além dos processos estilóides da ulna e do rádio,
O retináculo dos flexores é uma banda fibrosa re- notam-se os processos estilóides dos 2.0 e 5.0 me-
tangular situada entre o pisiforme e o hâmulo (pro- tacarpais.
cesso em forma de gancho) do osso hamato, me- Os tendões do extensor comum dos dedos são
dialmente, e o escafóide e o trapézio, lateralmente. mantidos junto à face posterior do rádio por uma
Os tendões dos flexores comuns profundo e su- bainha fibrosa, o retináculo dos extensores, que se
perficial dos dedos, o tendão do longo flexor do estende desde a face lateral da extremidade distal
polegar e o nervo mediano passam no túnel cárpi- do rádio até ao bordo medial do carpo.
co formado entre o retináculo e o carpo. O tendão do extensor próprio do 5.0 dedo passa
por fora do tendão do extensor comum para aque-
NOÇÕES DE ANATOMIA CLÍNICA le dedo.
O tendão do extensor próprio do indicador pas-
Um aumento de pressão no canal cárpico pode sa internamente em relação ao tendão do extensor
causar compressão do nervo mediano, produzindo comum para o 1.0 dedo.
dor e parestesias na parte lateral da mão, consti- A tabaqueira anatómica é uma depressão situada
tuindo o síndrome do túnel cárpico. Uma das cau- na região lateral do punho, que se acentua ao fazer
sas é o uso do teclado com os punhos em exten- a extensão do polegar. Situa-se entre os tendões
são; o punho deve estar numa posição intermédia abdutor longo e extensor curto do polegar e o ten-
ou em ligeira flexão, numa postura descrita como dão do extensor longo do polegar.
"mão de pianista". No fundo da tabaqueira anatómica passam os ten-
Na região palmar da mão notamos os relevos ós- dões dos músculos extensor radial curto do carpo
seos do tubérculo do escafóide, pisiforme, tubér- e extensor radial longo do carpo, a artéria radial, o
culo do trapézio, hâmulo do hamato e cabeças dos nervo radial e a veia basílica.
metacarpais. As veias superficiais são muito aparentes.
A massa muscular situada na base do polegar é a A pele que reveste a face dorsal da mão tem pe-
eminência tenar. É constituída pelas massas mus- los e é móvel em relação aos planos mais profun-
culares dos músculos do polegar: abdutor curto, dos. As unhas estão ligadas à pele circundante pela
flexor curto, oponente e adutor. cutícula (eponíquio).

811
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

NOÇÕES DE ANATOMIA CLÍNICA

As veias do dorso da mão são muito aparentes e


fáceis de puncionar.

PERGUNTAS TIPO

1. Escolha a resposta correta. No braço, o nervo


mediano passa:
a. No sulco bicipital lateral.
b. No sulco bicipital medial.
c. Entre as porções longa e lateral do múscu-
lo trícipete braquial.
d. Entre as porções longa e medial do mús-
culo trícipete braquial.
e. Entre as porções medial e lateral do mús-
culo trícipete braquial.

2. Escolha a resposta correta. O nervo cubital


passa:
a. Atrás do epicôndilo medial.
b. Atrás do epicôndilo lateral.
c. Atrás do olecrânio.
d. Ao longo do bordo lateral do rádio.
e. Lateralmente ao processo estilóide do rá-
dio.

3. Escolha a resposta correta. Na região carpal


anterior, não encontramos o tendão do mús-
culo:
a. Bráquio-radial.
b. Flexor radial do carpo.
c. Palmar longo.
d. Extensor do 2.0 dedo.
e. Flexor ulnar do carpo.

ia-r iv-z: ig-1


:so1sodso~

***

812
ANATOMIA DE SUPERFÍCIE

MEMBRO INFERIOR

ANCA
Consideramos na anca três regiões: região anterior
ou inguino-femural, que será descrita em conjun-
to com a região anterior da coxa e à qual já foi fei-
ta referência na região abdominal; região posterior,
ou glútea; região medial, ou obturadora, que não é
superficial. [4]

REGIÃO GLÚTEA 5

O limite inferior da região lombar constitui o li-


mite superior da região glútea. Inferiormente, é
limitada pelo sulco infra-glúteo; medialmente,
pela fenda interglútea; lateralmente, por uma li-
nha vertical que une a espinha ilíaca ântero-su-
perior e a margem lateral do trocânter maior
(Fig. 18.20).
Medialmente ao músculo tensor da fáscia lata Fig. 18.1 9: Regiões anteriores da anca, coxa e joelho: ossos e músculos.
1. Fémur 2. Trocânter maior 3. Trocânter menor 4. Côndilo medial
e ao trato ilio-tibial, encontramos os músculos, S. Côndilo lateral 6. Patela 7. Tuberosidade da tíbia 8. Pectíneo 9 .
glúteo máximo e glúteo médio. Sobre o quadran- Adutor longo 1O. Sartório 11. Tensor da fáscia lat a 12. Reto femoral
13. Vasto lateral 14. Vasto medial
te ínfero-interno do glúteo máximo situa-se uma
importante zona adiposa sub-cutânea, propor-
cionalmente mais volumosa no sexo feminino. NOÇÕES DE ANATOMIA CLÍNICA
Numa linha traçada entre o trocânter maior e o
ísquio passa o nervo isquiático. No triângulo femoral, encontramos a artéria, veia
e nervo femorais na prega da virilha. O pulso da
REGIÕES ANTERIORES DA ANCA, COXA artéria femoral é palpável cerca de 4 cm por fora
E JOELHO do tubérculo púbico.
A artéria femoral é um ponto importante de aces-
Triângulo femoral ou de Scarpa so vascular, bem como a veia femoral.
Nesta região são facilmente palpáveis os gânglios
O ligamento inguinal (unindo a espinha ilía- linfáticos inguinais.
ca ântero-superior e o tubérculo púbico) e o cor-
po do púbis formam o lado superior do triângu- REGIÕES ANTERIOR DA COXA E GENICULAR
lo femoral. O músculo sartório forma o lado la- ANTERIOR
teral. O bordo medial é formado pelo bordo me-
dial do músculo adutor longo e pelo músculo grá- A diagonal traçada pelo músculo sartório separa
cil (Fig.18.19). o grupo medial dos músculos da coxa (músculos
Os músculos ilio-psoas e pectíneo encontram- se pectíneo, adutor longo, adutor curto, adutor mag-
mais profundamente no e grácil) do grupo anterior no qual o sartório
Sob a pele encontra-se a fáscia lata, que reveste se inclui e do qual fazem parte também os mús-
toda a coxa. culos quadricípete femoral e tensor da fáscia lata.
A grande massa muscular do músculo quadricí-
pete femoral ocupa quase toda a coxa. Podemos

813
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

identificar o reto femoral, o vasto lateral, o vasto dos superiores do losango poplíteo. Os dois lados
medial, o tendão do músculo quadricípete e o li- inferiores do losango são constituídos pelas por-
gamento da patela (Fig. 18.19). ções lateral e medial do músculo gastrocnémio
A patela, os côndilos do fémur e a extremidade su- que se inserem nos côndilos do fémur e conver-
perior da tíbia - destacando-se a tuberosidade da gem para o tendão de Aquiles (Fig. 18.20).
tíbia3, o tendão do quadricípete e o tendão pate-
lar - são responsáveis pela morfologia da região
genicular anterior. O trato ilio-tibial ou de Mais-
siat, que resulta da fusão na face lateral da coxa das 3
fáscias lata e glútea e se insere na cabeça da fibu-
la, tem um prolongamento anterior. Este, oblíquo
para baixo e para dentro, envia algumas fibras para 2
a parte lateral da patela e outras para a aponevro-
se femoral da zona justa-patelar medial. O múscu-
lo tensor da fáscia lata e o ligamento ilio-tibial tra-
çam na face lateral da coxa uma linha vertical, en-
tre a espinha ilíaca ântero-superior e a cabeça da
fibula, que separa a massa do quadrícipete do mús-
culo bicípete femoral.
Os vasos femorais passam num hiato do múscu-
lo adutor magno situado junto ao fémur e cerca de
10cm acima do joelho, passando a denominar-se
vasos poplíteos.

REGIÕES POSTERIOR DA COXA E GENICU-


LAR POSTERIOR

Na região posterior da coxa vemos, na zona me- Fig. 18.20: Região posterior de coxa: ossos e músculos.
1. Ísquio 2. Fémur 3. Trocânter maior 4. Côndilo medial 5. Côn-
dial, o relevo da veia safena magna.
dilo lateral 6. Glúteo médio 7. Glúteo máximo 8. Bicípete femoral
A massa muscular de região posterior da coxa é 9. Semitendinoso 10. Semimembranoso 11. Grácil

formada pelos músculos semimembranoso e semi-


tendinoso, na parte medial, e pelo músculo bicípe- NOÇÕES DE ANATOMIA CLÍNICA
te femoral, na parte lateral. Os dois primeiros in-
serem-se no isquion e dirigem-se para baixo e para No losango poplíteo passam os vasos poplíteos e
dentro. O semitendinoso insere-se na extremidade os nervos, tibial e fibular, ramos da divisão do ner-
superior da tíbia, anteriormente ao côndilo medial, vo isquiático. O pulso da artéria poplítea palpa-se
por um tendão comum com os músculos sartório na região média da fossa poplítea, escavação em
e grácil, disposição essa chamada pata de ganso.[4] forma de losango criada na região genicular poste-
A longa porção do bicípete femoral insere-se, rior pela flexão do joelho.
também, no ísquion; o músculo dirige-se para bai-
xo e para fora e, após a união do tendão da porção FACE ANTERIOR DA PERNA E FACE DORSAL
curta com origem no fémur, insere-se na cabeça DOPÉ
da fibula e no côndilo lateral da t:J.bia por um forte
tendão, bem visível. A face ântero-interna da tíbia é sub-cutânea em
A divergência destes músculos desenha os dois la- toda a sua extensão, desde a tuberosidade medial
ao maléolo medial. Notemos que o maléolo lateral
se encontra a um nível inferior (mais próximo do
3 Já assinalada pelos escultores gregos do Período Arcaico (séc. VII- chão) do que o maléolo medial.
-V a. C .)

814
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ANATOMIA DE SUPERFÍCIE

Lateralmente à nbia situam-se os músculos do sal. Na parte lateral, vemos os relevos da cabeça
grupo anterior da perna (Fig. 18.21). A partir do do tálus, do processo maior do calcâneo e da tu-
maléolo medial e de dentro para fora, o tendão do berosidade do quinto metatarsal.
tibial anterior é o primeiro que encontramos no Os tendões dos músculos, tibial anterior, extensor
tornozelo; é também o mais volumoso. Seguem-se longo do hálux e extensor longo dos dedos esten-
os tendões dos músculos extensor do hálux, exten- dem-se pela face dorsal do pé e são bem visíveis
sor comum dos dedos e fibular terceiro. na dorsifl.exão do pé.

FACE LATERAL DA PERNA

Na cabeça da fibula insere-se o forte tendão do bi-


cípete femoral. Os dois músculos, fibulares, longo
e curto, inserem-se na cabeça da fi'bula e, estabele-
cendo como que uma linha de continuidade com
o tendão do bicípete femoral, desenham uma linha
vertical na face externa da perna até ao maléolo la-
teral, atrás do qual os respectivos tendões vão pas-
sar. O músculo fibular curto insere-se na tuberosi-
dade do 5. 0 metatarsal; o tendão do fibular longo
passa para a planta do pé, que cruza obliquamen-
te, para se inserir na base do 1.0 metatarsal e no
cuneiforme medial.

FACE POSTERIOR DA PERNA

A massa muscular da região posterior da perna é


formada fundamentalmente pelo tricípete sural,
formado pelo músculo gastrocnémio constituído
pelas porções lateral e medial, mais superficiais, in-
serindo-se nos côndilos lateral e medial do fémur
Fig. 18.21: Face anterior da perna e face dorsal do pé: ossos e músculos.
e pelo solhar, mais profundo, que se insere na tíbia
1. Tíbia 2. Fíbula 3. Maléolo medial 4. Maléolo lateral 5. Tálus e na fibula. O solhar nota-se lateralmente, de cada
6. Ossos Metatarsais 7. Tibial anterior 8. Extensor longo do hálux
9. Extensor longo dos dedos 10. Gastrocnémio: porção medial
lado do gastrocnémio (Fig. 18.22).
A porção muscular dos gémeos termina a meia
altura da perna e é a esse nível que podemos
NOÇÕES DE ANATOMIA CLÍNICA aperceber-nos dos seus relevos, antes do estabe-
lecimento da continuidade com o tendão do cal-
A artéria tibial anterior passa entre os tendões câneo ou de Aquiles, o qual se insere no calcâneo.
dos músculos extensor do hálux e extensor lon- Notemos que a porção medial do gastrocnémio
go dos dedos; após passar sob o retináculo pas- fica a um nível inferior (mais próximo do chão)
sa a denominar-se artéria dorsal do pé, corren- que a porção lateral4 • Este músculo é um podero-
do no 1.0 espaço interdigital, onde podemos pal- so extensor do pé.
par o seu pulso.
Na zona medial da face anterior da perna a veia
safena magna é visualizável.
Na parte medial da face dorsal do pé, poderemos
notar os relevos do sustentáculo do tálus e as tu-
4 Este pormenor era já do conhecimento dos escultores gregos que,
berosidades do navicular e do primeiro metatar-
a partir do séc. VI a.C., marcavam esta diferença nas suas obras.

815
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA

1.0 ,2.0 e 3.0 metatarsais. A arcada lateral é formada


pelos ossos calcâneo, cubóide, 4.0 e 5.0 metatarsais.
Existe também uma "arcada" transversal, que se lo-
caliza ao longo dos ossos do mesotarso das articu-
lações tarso-metatársicas e das bases dos metatar-
sais. Tecnicamente não é uma arcada, pois só uma
das extremidades, a lateral, toca no solo.
O tálus é a "pedra de fecho". O calcâneo e as cabe-
ças dos metatarsais assentam no solo.
Além das arcadas evitarem o esmagamento dos
vasos e nervos plantares, funcionam como uma
mola elástica que absorve as forças de impacto
durante a marcha e sobretudo durante a corrida.
Qyando o pé assenta no solo, durante a corrida,
pode aplanar as arcadas cerca de 1cm. Qyando se
levanta do solo e a pressão é aliviada, as arcadas re-
tomam a forma inicial.[7,8]

PERGUNTAS TIPO
Fig. 18.22: Face posterior da perna: ossos e músculos.
1. Tíbia 2. Fíbula 3. Tálus 4. Calcâneo 5. Gastrocnémio: porção
medial 6. Gastrocnémio: porção lateral 7. Solhar 8. Tendão do
1. Escolha a resposta correta. Consideremos a
calcâneo ou de Aquiles região glútea dividida em 4 quadrantes. Uma
injeção intramuscular deve ser aplicada:
NOÇÕES DE ANATOMIA CLÍNICA a. No quadrante súpero-externo.
b. No quadrante súpero-interno.
O nervo tibial posterior e a artéria tibial poste- c. No quadrante ínfero-externo.
rior, que é lateral em relação ao nervo, passam por d. No quadrante ínfero-interno.
trás do maléolo medial, onde o pulso da artéria é e. Em qualquer um dos quadrantes.
palpável.
2. Escolha a resposta correta. Sob o ligamento
REGIÃO PLANTAR DO PÉ inguinal passa o nervo femoral e os vasos ilía-
cos que passam a denominar-se femorais. De
Na região plantar do pé notamos as saliências ós- lateral para medial a ordem é:
seas do maléolo medial da tfbia, da tuberosidade a. Nervo, artéria, veia.
do calcâneo, do sustentáculo do tálus, da tubero- b. Artéria, veia, nervo.
sidade do navicular e das tuberosidades dos 1.0 e c. Veia, nervo, artéria.
5.0 metatarsais. d. Nervo, veia, artéria.
O plano muscular mais superficial é formado pe- e. Veia, artéria, nervo.
los músculos abdutor do hálux, flexor curto dos
dedos, flexor curto do 5. 0 dedo e abdutor do 5.0 3. Escolha a resposta correta. Na face anterior
dedo. da perna a artéria tibial anterior passa entre
A planta do pé não é plana, podendo ser compa- os tendões dos músculos:
rada a uma abóbada formada, no sentido longitu- a. Tibial anterior e extensor longo dos dedos.
dinal ou ântero-posterior, por uma sucessão de ar- b. Extensor longo dos dedos e fibular terceiro.
cadas em que a medial tem um raio de curvatura c. Fibular terceiro e extensor do hálux.
menor que a lateral. A arcada medial é composta d. Extensor do hálux e extensor longo dos
pelos ossos, calcâneo, tálus, navicular, cuneiformes, dedos.

816
ANATOMIA DE SUPERFÍCIE

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817
LISTA DE ACRÓNIMOS E ABREVIATURAS DE INSTITUIÇÕES

EM/UMinho
Escola de Medicina - Universidade do Minho

FBAUL
Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa
FCM/UNL
Faculdade Ciências Médicas - Universidade Nova de Lisboa
FFUL
Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa
FMUC
Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra

FMUL
Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa
FMUP
Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
FCV/UMa
Faculdade de Ciências da Vida - Universidade da Madeira

ICBAS/UP
Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar - Universidade do Porto

IUEM
Instituto Universitário Egaz Moniz

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