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Coordenadores
A. Gonçalves Ferreira, I. Álvares Furtado e L. Lucas Neto
Colaboradores
A. Águas, A. Bernardes, AC. Miguéis, I. Ritto,J. Martins dos SantosI, L. Mendes Pedro,
l\1.A. Brito, MA. Ferreira, M. Monteiro, N. Sousa, P. Oliveira
Colaboração em Figuras e/ou Desenho Técnico
Pedro Afonso (Desenhador); António Pedro Ferreira Marques (Professor da FBAUL);
Henrique Prata Dias da Costa (Professor da FBAUL); Nádia Andrade Furtado (Designer)
Design e Paginação
Gonçalo Sousa
Impressão
Cafilesa
1.ª edição
Novembro 2020
ISBN
978-989-655-333-3
Depósito legal
476538/20
Todos os direitos reservados
© 2020 A. Gonçalves Ferreira, I. Álvares Furtado, L. Lucas Neto e Prime Books
PRIME BOOl(S
Prime Books - Sociedade Editorial, Lda.
Contacto
clientes.primebooks@gmail.com
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www.primebooks.pt
Um manual de anatomia deve ser um instrumento básico de estudo para alunos de Medicina e Ciências
Médicas. Por isso é preciso que seja um livro sintético, sem detalhes descritivos excessivos, profusamente
ilustrado e com descrição anatómica aplicada à função, à imagiologia e à clínica.
Este Manual de Anatomia apresenta a Anatomia Sistemática do organismo humano agrupada pelos seus
grandes sectores funcionais e estes por capítulos. Os grandes sectores incluem, após a Introdução à Ana-
tomia, os Sistemas de Suporte e Movimento, os Sistemas de Manutenção, de Reprodução, de Contro-
lo e Integração. Completam-nos a Anatomia de Superficie e a Anatomia das Regiões. E inclui uma nota
inicial breve sobre História da Anatomia. Para ser mais didáctico, cada capítulo ou subcapítulo engloba a
descrição ordenada de sistemas, órgãos e estruturas anatómicas, noções de Anatomia de Desenvolvimen-
to e de Anatomia Clínica e, no final, umas perguntas tipo sobre a matéria respectiva e referências biblio-
gráficas para aprofundamento de conhecimentos.
A designação das estruturas anatómicas segue em geral a Nómina Anatómica de Língua Portuguesa;
nalguns casos usa também a terminologia mais usada na clínica, variável consoante a escola de prove-
niência do autor. As ilustrações são originais ou adaptadas de figuras conhecidas, de livre acesso e de uso
universal.
A elaboração deste Manual de Anatomia contou com a participação de anatomistas da maior parte das
faculdades de Medicina e de faculdades de Farmácia, de Belas-Artes e institutos e escolas de ensino su-
perior de Saúde. Ao esforço e à boa vontade de todos se deve este manual, que se pretende ser um con-
tributo fundamental para o estudo da Anatomia.
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AUTORES E AFILIAÇÕES
Alexandra Santos
Médica Neurocirurgiã no Hospital Egas Moniz,Assistente de Neuroanatomia da FMUL
Alexandre Campos
Médico Neurocirurgião no H. Santa Maria e no H. CUF-Descobertas, Assistente de Neuroanatomia e
Neurocirurgia da FMUL
Alice Varanda
Médica Cirurgiã Plástica e Reconstrutiva, Assistente de Anatomia da FMUL
Ana Bastos
Médica Oftalmologista, Professora Assistente de Oftalmologia da Universidade de Kentucky
Ana Gonçalves Ferreira
Médica Endocrinologista no Hospital Garcia de Orta, Assistente de Anatomia da FMUL
Ana Júlia Pedro
Médica Internista no Hospital Santa Maria, Assistente de Anatomia da FMUL
Ana Martins
Médica Neurologista Pediátrica no Hospital da Luz, Assistente de Neuroanatomia da FMUL
António Bernardes
Médico Cirurgião, Prof. Associado Agregado de Anatomia da FMUC
António Gonçalves Ferreira
Médico Neurocirurgião no Hospital Santa Maria, Prof. Cat. da FMUL e Dir. Instituto de Anatomia e
Clínica Universitária Neurocirurgia
António Carlos Miguéis
Médico Otorrinolaringologista, Prof. Cat.e Dir. Instituto de Anatomia e Clínica Universitária Otorri-
nolaringologia da FMUC
Artur Águas
Médico, Prof. Cat. e Dir. Instituto de Anatomia do ICBAS/UP
Carla Nunes
Médica Ortopedista
Carla Reizinho
Médica Neurocirurgiã no Hospital Egas Moniz
Carlos Lucas
Médico Nefrologista
Carolina Santos
Médica Neurorradiologista no Hospital Beatriz Ângelo
Cláudia Pereira
Médica Cirurgiã no Hospital Garcia de Orta
Domingos Coiteiro
Médico Neurocirurgião no Hospital Santa Maria e Hospital da Luz
Edson Oliveira
Médico Neurocirurgião no Hospital Cuf-Descobertas, assistente de Neuroanatomia e Neurocirurgia
daFMUL
7
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
Isabel Ritto
Médica, Professora Auxiliar de Anatomia da FBAUL
Ivo Álvares Furtado
Médico Estomatologista, Prof. Cat. e Presidente da FCV/Ul\1a
J oaoa Regala
Médica Interna de Psiquiatria, Assistente de Neuroanatomia da FMUL
Joana Ruivo
Médica Neurorradiologista na Fundação Champalimaud
João José Faria
Médico Ortopedista no Hospital Lusíadas
João Luis Cavaco
Médico Interno de Medicina Interna, Assistente de Anatomia da FMUL
João Nóbrega
Médico Interno de Ortopedia, Assistente de Anatomia da FMUL
João Paulo Andrade
Médico Neurocirurgião no Hospital Egas Moniz,Assistente de Neuroanatomia da FJ\IIUL
Joaquim do Brito
Médico Ortopedista do Hospital Santa Maria
José Martins dos Saotos (falecido)
Médico especialista Medicina Geral Familiar, Prof. Cat. de Anatomia e Dir. IUEM
Jose Pedro Lavrador
Médico Neurocirurgião no Kings CoUege
Leonor Fernandes Pita
Médica Radiologista, Assistente da FMUL
Lia Lucas Neto
Médica Neurorradiologista no Hospital Santa Maria, Prof. Aux. de Neuroanatomia da FMUL
Lucas Batista
Médico Cirurgião do Hospital Santa Maria
Luis Mendes Pedro
Médico Cirurgião Vascular, Professor Associado Agregado e Dir. Clinica Universitária de Cirurgia
Vascular da FMUL
Luis Pinheiro
Médico Internista, Diretor Clínico do Hospital Santa Maria/Centro Hospitalar Lisboa Norte
Margarida J<fancisco
Médica
Maria Alexandra Brito
Farmacêutica, Profª Associada Agregada de Anatomia e Histologia da FFUL
Maria Amélia Ferreira
Médica, Prof. Cat. Anatomia Clínica da FMUP
Mariana Monteiro
Médica Endocrinologista, Prof. Associada de Anatomia do ICBAS/UP
Nuno Gaibino
Médico Intensivista do Hospital Santa Maria, Assistente de Anatomia da FMUL
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AUTORES E AFILIAÇÕES
Nuno Sousa
Médico Neurocientista, Prof Cat e Dir. EJ\1/UTviinho
Paula Fernandes
Médica Anestesiologista do Hospital do Espirita Santo, Évora
Paulo Rego
Médico Ortopedista no Hospital da Luz
Paulo Vera Cruz
Médico Otorrinolaringologista, Prof Aux. Agregado de Fisiopatologia da FCM/UNL
Pedro Azevedo
Médico Internista do Hospital Garcia de Orta
Pedro Moreira
Médico Urologista
Pedro Oliveira
Médico e Médico Dentista, Prof Aux. de Anatomia da FMUL e Prof Associado do IUEM
RitaMarçal
Médica Intensivista
Rodrigo Roquette
Médico Interno Cirurgia Pediátrica do Hospital Santa Maria, Assistente de Anatomia da FMUL
Rui Valério
Médico especialista Medicina Geral Familiar
Sofia Lourenço
Médica Intensivista
Sónia Barata
Médica Ginecologista e Obstetra no Hospital da Luz
Susana Pina
Médica Oftalmologista no Hospital Beatriz Ângelo
Tiago Gaspar
Médico, Assistente de Anatomia da FMUL
Tiago Fonseca
Médico Estomatologista no Hospital S.João
9
ÍNDICE
I.ANATOMIAEHISTÓRIA ........................................................................................................... 17
António Gonçalves Ferreira
A. SUPORTE E MOVIMENTO
1. PELE E ANEXOS ............................................................................................................... 27
Ana Gonçalves Ferreira
2. SISTEMA LOCOMOTOR ............................................................................................... 33
Edson Oliveira, Rodrigo Roquette,joão Cavaco
Introdução......................... .... .......... ........................................................ ............................ 33
Luís Pinheiro
11
Miologia do tórax ............................................................................... ......................... 127
João Cavaco
Diafragma ................................................................................................................... 130
Luís Pinheiro, Rodrigo Roquette
Osteologia do abdómen e pélvis ................................................................................... 133
Luís Pinheiro, Cláudia Pereira, Rodrigo Roquette
Artrologia do abdómen e pélvis ................................................................................... 135
Luís Pinheiro, Cláudia Pereira, Rodrigo Roquette
Miologia do abdómen .................................................................................................. 141
Luís Pinheiro, Cláudia Pereira, Edson Oliveira, Rodrigo Roquette
Perineo ........................................................................................................................ 149
Lucas Batista
B.MANUTENÇÃO
3. SISTEMA CIRCULATÓRJ0 .......................................................................................... 243
Luís Mendes Pedro, Leonor Fernandes
Coração e pericárdio ......................................................................................................... 249
Margarida Francisco, Leonor Fernandes
Artérias e veias ................................................................................................................... 262
Aorta ........................................................................................................................... 262
Luís Mendes Pedro
Artérias e veias da cabeça e do pescoço ......................................................................... 266
Sefia Lourenço
Artérias e veias do tórax................................................................................................ 279
Rui Valério
Artérias e veias do abdómen ......................................................................................... 284
RitaMarçal
Sistema porta-hepático e anastomoses porto-cava ........................................................ 304
Leonor Fernandes
Artérias e veias do membro superior............................................................................. 308
Rui Valério
Artérias e veias do membro inferior .............................................................................. 315
L uís Mendes Pedro
12
4. SISTEMA RESPIRATÓRIO ........................................................................................... 347
Nuno Gaibino, Pedro Oliveira
Vias aéreas superiores ........................................................................................................ 347
Paulo Vera Cruz
Vias aéreas inferiores, pulmões, pleuras .............................................................................. 355
Artur Águas
C. REPRODUÇÃO
Ana Gonçalves Ferreira
D. CONTROLO E INTEGRAÇÃO
Lia Neto, António Gonçalves Ferreira
Introdução .............................................................................................................................. 469
António Gonçalves Ferreira
13
Cerebelo ...................................................................................................................... 511
Carlos Lucas, António Gonçalves Ferreira
Cérebro ...................................................................................................................... 520
Configuração exterior e córtex cerebral ................................................................... 520
Ana Martins
Substância branca do cérebro ................................................................................. 530
Joana Regala
Núcleos cinzentos centrais ..................................................................................... 540
Carla Reizinho
Hipotálamo, epitálamo e órgãos neuroendócrinos .................................................. 549
Lia Neto
Sistema límbico ........................................................................................................... 561
Nuno Sousa, Alexandre Campos
Ventrículos elíquor ..................................................................................................... 568
Lia Neto
Meninges .................................................................................................................... 577
Sónia Barata, Lia Neto
Vias da sensibilidade ................................................................................................... 584
João Paulo Andrade
Vias da motricidade ..................................................................................................... 594
Joana Regala
Vascularização encefálica ............................................................................................. 606
Domingos Coiteiro, Carolina Santos
14
-
12. PESCOÇO .............................. ........................................................................................ 721
Alice Varanda
15
1. A ANATOMIA E A HISTÓRIA
A Anatomia é uma das disciplinas primordiais da de anatomia levou Frederico II da Alemanha e das
medicina. São conhecidos os vestígios pré-histó- Sicílias a decretar, de forma inédita, que nenhum
ricos e pré- colombianos de trepanações, mas as cirurgião podia exercer a sua profissão sem estudar,
mais antigas descrições anatómicas são sumérias pelo menos, um ano de Anatomia. Outros o segui-
- e muito sumárias - remontam a 4000 a. C.; 600 ram. No Egipto Ibn an-Nafis desenvolveu no sé-
anos depois, Menes, rei do Egipto (e primeiro fa- culo XII os conhecimentos anatómicos dos anti-
raó), escreveu um manual de anatomia humana, gos. Contudo, em 1300 o papa Bonifácio VIII lan-
de grande importância para a arte de embalsamar. çou uma bula que proibia "que os defuntos fossem
Das milenares civilizações orientais pouco conhe- talhados e cozidos", anatemizando assim as práti-
cimento anatómico nos foi legado, já que o cul- cas de dissecção cadavérica. Mas tal não impedi-
to do corpo foi aí sempre mais filosófico que mor- ria Mondino dei Luzzi de inaugurar, poucos anos
fológico e a dissecção proscrita. É com a paterni- depois, as demonstrações públicas anatómicas se-
dade grega de Hipócrates, tal como para a Medi- gundo os textos de Galeno.
cina em geral, e na dependência da tríade clássi- A Renascença, em que medicina, arte e humanis-
ca formada por este com o greco-romano Gale- mo eclodiram a um tempo como manifestações de
no e o árabe Avicena (Ibn-Sina), que assentam as renovação do saber e do sentir, trouxe a primeira
bases do conhecimento anatómico da cultura eu- revolução anatómica, com as intervenções de per-
ropeia da Antiguidade, apesar de ter sido Herófi- sonalidades como Leonardo da Vinci, Miguel Ân-
lo quem mais dissecou entre os clássicos e de ter gelo, Dürer e sobretudo Vesálio. A este flamen-
sido Aristóteles o autor do primeiro livro de ensi- go de patavina formação - a escola de Pádua mar-
no da Anatomia, intitulado Das partes dos animais, cou-o a ele como, de resto, a todo o conhecimen-
aí fundamentando a ideia do coração como sede to moderno digno de registo, segundo a expressão
da vida e da alma. Os maiores livros anatómicos da popular - deve-se a compilação, na sua De huma-
Antiguidade foram o Canon de Medicina de Avi- na corporisfabrica, de 1543, de todo o conhecimen-
cena e o De Re medicina de Celsus, um romano da to antigo da anatomia, sistematizando-o, actuali-
Alexandria do século II. zando-o e dando-lhe vida, como está bem ilustra-
No principio do 2.0 milénio d . C., em plena Idade do no enquadramento das suas "Tabulae", da pena
Média, a necessidade de um maior conhecimento de Estevão Calcar, discípulo de Titiano. Acompa-
nhou-o e seguiu-o um vasto cortejo de renascen-
tistas famosos, cuja participação no progresso da
anatomia ficou ligada à designação de numerosas
formações anatómicas ainda hoje conhecidas pelos
seus epónimos: Willis, Falópio, Eustáquio, Varólio,
Silvius, entre outros. Mas já então, a renovação não
foi pacifica: "Não é Galeno que está errado, o ho-
mem é que mudou", dizia Silvius a Vesálio quando
este insistia nas suas inovações. Em Portugal, por
essa época, Amatus Lusitanus disputava com Fa-
bricius de l'Aquapendente a descoberta das válvu-
las das veias ázigos.
Foi a modernidade que chegou com a Renascen-
ça e com ela o dealbar da verdadeira ciência. Ba-
Fig.1 - Os grandes anatomistas da antiguidade: Galeno, Avicena e con, Galileu e Descartes, com Newton e Pascal,
Hipócrates (da esquerda para a direita)
17
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
Fig. 2 • Andreas Vesálio e uma imagem do livro De Humana Corporis Fig. 3 - Leonardo da Vinci: desenhos anatómicos.
Fabrica.
desenvolveram o método experimental e o racio- o seu livro Anatomia em 1780, pela mesma altu-
cínio dedutivo. Nasceu a Fisiologia com William ra em que Genpaku Sugita (1774) publicou o pri-
Harvey, aluno de Fabricius, que descreveu a circu- meiro livro de Anatomia no Japão.
lação na sua ''Anatomia de motu cordis et sangui- Nessa época pontuavam na Europa Kant, Voltai-
nis", em acesa polémica com outro grande anato- re e Bach, surgiu o Habeas corpus e Lavoisier criou
mista, Riolan. Rembrandt pintou a mais célebre a Química Científica. Diderot e d'Alembert di-
lição de Anatomia, a do Dr. T ulp. Maddleburgo e rigiram a primeira Enciclopédia. Monro notabi-
Leeuwenhoek inventaram pouco depois o micros- lizou-se como anatomista em Edimburgo, os ir-
cópio, o que permitiria a Malpighi, fundador da mãos William e John Hunter em Londres; Bichat,
Histologia, descrever os capilares e conferir assim em Paris, escreveu o primeiro Tratado de Anato-
substrato orgânico à teoria de Harvey. mia Descritiva; Morgagni, em Pádua, deu início à
Em Portugal, D. Manuel autorizou em 1503 a pri- Anatomia Patológica.
meira aula diária de Anatomia no Hospital Real, Depois vieram a revolução industrial e o positi-
em Lisboa. Em 1556 foram criadas as primei- vismo, que precederam a explosão da ciência e da
ras Cátedras de Anatomia, entregues ao cirurgião técnica do início do século XIX: Franz Joseph Gall
Duarte Lopes no Hospital Real, em Lisboa e a escreveu, em 1808, as Funções do Cérebro, enquanto
Alfonso Rodriguez de Guevara, na Universidade John e Charles Bell distinguiam os nervos moto-
de Coimbra. Até meio do século XVIII a anatomia res dos nervos sensitivos e participavam assim na
portuguesa dependeu de personalidades estran- criação da Neuroanatomia. Pasteur fundou a Mi-
geiras: Falconet, Morava y Roca, Santucci, Du- crobiologia, Leeuwenhoek e Malpighi a Histolo-
fau. Manuel Constâncio, em 1764, foi o primei- gia, Virchow a Patologia Celular e Darwin o Evo-
ro grande anatomista português, tendo publicado lucionismo.
18
ANATOMIA E A HISTÓRIA
Fig. 5 - A. Livro de anatomia de Manuel Constâncio. B. Hospital Real de Todos os Santos, em Lisboa {gravura da época).
19
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
20
li. INTRODUÇÃO À ANATOMIA
21
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
• Músculos - Miologia.
• Coração e Vasos (artérias, veias, linfáticos) -
Angiologia.
• Sistema Nervoso (central, periférico) - Neu-
rologia, ou Neuroanatomia.
• Sistemas Respiratório, Digestivo, Urinário,
Genitais e Endócrino - Esplancnologia.
• Órgãos dos Sentidos - Estesiologia.
POSIÇÃO ANATÓMICA
22
INTRODUÇÃO A ANATOMIA
23
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
.
~ 2
.
:
:
'
Fig. 3A: Quadrantes da parede abdominal anterior. Fig. 38: Grandes sectores da parede abdominal anterior.
1. Hipocôndrio direito 2. Epigastro 3. Hipocôndrio esquerdo 4. Flanco 1. Superior direito 2. Superior esquerdo 3. Inf erior direito 4. Inferior
direito 5. Região umbilical 6. Flanco esquerdo 7. Fossa ilíaca direita esquerdo
8 . Hipogastro 9. Fossa ilíaca esquerda
po humano, algumas delas muito volumosas, que Também o Sistema Nervoso Central está envol-
contêm vários orgãos, como a cavidade craniana, vido por membranas especiais, na caixa craniana e
a cavidade torácica ou a cavidade abdominal (ou no canal raquidiano - as meninges - , com um lí-
abdominopélvica, considerando a bacia à parte do quido no seu interior, o líquor, onde estão mergu-
abdómen) (ver figura). lhados o encéfalo e a medula espinhal.
Relativamente à cavidade abdominal, com a mul-
tiplicidade de orgãos aí contidos, tornou-se útil re-
ferenciar os órgãos abdominais a quadrantes (4)
ou sectores (9) em que se projectam na sua parede
ântero-lateral. Os 4 quadrantes são 2 superiores e
2 inferiores, direitos e esquerdos; os 9 sectores são
os seguintes (ver figura):
• Superiores: epigastro, hipocôndrio direito, hi-
pocôndrio esquerdo;
• Médios: umbilical, flanco direito, flanco es-
querdo;
• Inferiores: hipogastro, fossa ilíaca direita, fos-
sa ilíaca esquerda.
24
1. PELE E ANEXOS
• Dor e temperatura
Terminações nervosas livres Derme e camadas mais profundas da epiderme.
• Tacto grosseiro e pressão
Plexos dos folículos pilosos Derme reticular, envolvendo os folículos pilosos. • Movimento dos pêlos
• Pressão ligeira
Bulbos de Krause Mucosas (cavidade bucal, nasal, vagina e canal anal)
• Vibração
27
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
Hipoderme
3
Não faz parte da pele propriamente dita. Locali-
za-se imediatamente abaixo da derme, à qual está
8 14 10 11 ligada por fibras de colagénio. É formada por te-
Fig. 1.1: Estrut ura da pele
cido conjuntivo (a fascia superjicialis, que a limi-
1. Epiderme 2. Derme 3. Hipoderme 4. Derme papilar 5. Derme ta em profundidade) e tecido adiposo, sendo este
reticular 6. Crista epidérmica 7. Papila dérmica 8. Folículo piloso
9. Glândula sebácea 10. Corpusculo lamelar (Paccini) 11. Bulbo de
último predominante nalgumas regiões anató-
Krause 12. Corpúsculo táctil (Meissner) 13. Disco táctil 14. Corpúsculo micas, designando-se por gordura subcutânea.
de Ruffini Habitualmente, esta é mais espessa nas mulhe-
res (embora seja variável não só com o sexo, mas
Epiderme também com a idade e com o tipo de alimenta-
ção), sendo a sua distribuição diferente nos dois
É a camada mais superficial da pele. É constituí- sexos. Nos homens, encontra-se principalmen-
da por tecido epitelial estratificado pavimentoso e te no pescoço, abdómen, porção póstero- inferior
queratinizado. Não contém na sua espessura va- do tronco, porção superior do braço e região glú-
sos sanguíneos, sendo nutrida por difusão a par- tea. Nas mulheres, encontra-se principalmente
tir da derme. Nesta camada, para além das células na mama, região glútea, anca e coxa.
estruturais - os queratinocitos - encontram-se cé- Esta gordura serve como reserva energética, con-
28
PELE E ANEXOS
tribui para a manutenção da temperatura corpo- um espessamento proximal formado por células
ral e pode ajudar a ate1;uar o impacto mecânico vivas, a partir do qual se dá o crescimento da unha
aquando duma queda. E ainda local de adminis- - a matriz ungueal - e uma porção mais distal, lo-
tração (subcutânea) de fármacos, por exemplo da calizada por baixo do bordo livre da placa ungueal
insulina. - o hiponíquio.
Pê/os
29
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
O s pêlos têm como principais funções a protecção defesa contra bactérias. Tem um odor característi-
(ex: pêlos nas fossas nasais retêm partículas estra- co, variável de indivíduo para indivíduo.
nhas e microrganismos) e a retenção de calor (ape-
nas em zonas em que a densidade pilosa é signifi- NOÇÕES DE ANATOMIA CLÍNICA
cativa, como por exemplo no cabelo).
Alterações da cor ou a presença de manchas (má-
Glândulas Sudoríparas culas), pápulas, vesículas ou outros achados na
pele podem alertar para a presença de patolo-
As glândulas sudoríparas são glândulas exócrinas, gia que pode ser da própria pele ou manifestação
constituídas por duas porções: uma porção secre- cutânea de doença de outros órgãos. Por exemplo,
tora, em forma de novelo, que se encontra na der- uma tonalidade amarela da pele e mucosas devi-
me reticular ou na hipoderme; um canal excretor, da à deposição de bilirrubina - icterícia - pode
que abre à superfície da pele ou nos folículos pilo- sugerir doença hepática; estrias (que correspon-
sos, consoante o tipo de glândula. dem a zonas de atrofia linear da pele) vermelhas
Existem dois tipos de glândulas sudoríparas: podem surgir durante a gravidez, mais frequente-
merócrinas e apócrinas. As principais diferenças mente no abdómen, nas mamas, na região glútea
entre elas são descritas na tabela 1.2. e nas coxas, ou na doença de Cushing (neste caso,
roxos); a meningite meningocócica pode mani-
Glândulas sebáceas festar-se por petéquias (manchas pequenas e ver-
melhas, que não desaparecem quando pressiona~
As glândulas sebáceas são, igualmente, glândulas das e que resultam de extravasamento de sangue
exócrinas, constituídas por uma porção secretora na pele); alterações da coagulação podem mani-
e um canal excretor, ambos localizados na derme. festar-se por hemorragias cutâneas mais ou me-
Habitualmente, · os canais excretores abrem nos nos extensas.
folículos pilosos, excepto nalguns locais em que A observação das unhas pode também fornecer
abrem directamente para a superficie da pele. pistas diagnósticas importantes, quer por altera-
O seu produto de secreção - o sebo - é rico em lí- ções da sua forma quer da sua cor. Por exemplo,
pidos, contribuindo para a lubrificação da pele e a presença de coiloniquia (Fig. 1.3), isto é, unhas
• Encontram- se por todo o corpo · Produzem uma secreção aquosa, com alguns
excepto nos lábios, mamilos e electrólitos (principalmente NaCl) e produtos
órgãos genitais externos. São de excreção do metabolismo (amónia, ureia) A regulação é feita
abundantes nas palmas das mãos, -o suor. pelo sistema nervoso
Merócrina simpático, que estimula
plantas dos pés e fronte. • São importantes para a regulação da
• O canal excretor atravessa temperatura corporal (eliminação de calor), a produção do suor.
ambas as camadas da pele e abre à protecção contra bactérias e contribuem para
superficie da epiderme. alguma excreção de produtos do metabolismo.
30
PELE E ANEXOS
31
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
•••
32
2. SISTEMA LOCOMOTOR
33
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
trabéculas do tecido ósseo esponjoso, encontra-se tica e dinâmica, mecânicas do organismo. O osso
a medula óssea, que constitui um tecido/órgão in- é sede de processos metabólicas essenciais, sendo
dependente dos ossos em termos estruturais e fim- um orgão charneira no metabolismo fosfo-cálci-
cionais mas deles dependente como meios de pro- co através da reabsorção (osteoclastos) ou produ-
tecção e contensão e cuja função é a hematopoiese ção (osteoblastos) da matriz óssea, sendo o esque-
(produção das células do sangue). leto o principal armazém daqueles minerais e sen-
Tal como a maioria dos processos fisiológicos, do órgão alvo de hormonas como a calcitonina e
também a hematopoiese diminui com a idade. a paratormona.
Deste modo, na infância e adolescência, dada a Alojando no seu interior a medula óssea, o osso
elevada produção de elementos figurados do san- participa no processo de hematopoiese.
gue, a medula óssea é designada de "medula ver-
melha" (medulla ossium rubra) uma vez que é com-
posta essencialmente por células hematopoiéti- MÉTODO DESCRITIVO
cas progenitoras. Com o envelhecimento o com-
ponente adiposo da medula óssea vai aumentan- Na descrição de qualquer estrutura anatómica,
do, com consequente diminuição das células he- há que seguir um esquema preciso e organizado,
matopoiéticas progenitoras, designando-se "me- adaptando o método descritivo.
dula amarela" (medulla ossium flava). É na descrição dos ossos que o método descriti-
vo encontra o seu expoente de organização e sis-
CRESCIMENTO E REMODELAÇÃO ÓSSEAS tematização, visto ter-se convencionado que, para
a descrição de um osso, há que seguir uma série
Após o processo de ossificação, em que a matriz fi- de passos bem definidos, de modo a permitir que
brosa ou cartilagínea inicial dá origem a tecido ós- o osso seja correctamente percebido e visualizado
seo, os ossos continuam a crescer, quer em compri- pelo ouvinte. Os passos a seguir na descrição de
mento quer em espessura. um osso são: identificação; classificação; paridade;
Nos ossos longos, o crescimento longitudinal é fei- localização; orientação e descrição.
to à custa das chamadas "cartilagens de crescimen-
to ou metáfises", estruturas cartilagíneas onde ao CLASSIFICAÇÃO
longo da infância e adolescência se continua a dar
um processo de multiplicação celular e ossificação. Ossos Longos
Chegada a idade adulta termina este processo e as
cartilagens de crescimento encerram, atingindo o Os ossos longos caracterizam-se por uma dimen-
osso o seu comprimento definitivo. são (comprimento) predominar sobre as outras
O crescimento em espessura/diâmetro faz-se com duas, sendo exemplos o fémur ou o úmero.
base no periósteo, através de um processo de os- Os ossos longos dividem-se em diversas porções:
sificação intramembranosa, que pode persistir ao 2 Epífises ou Extremidades; 1 Diáfise ou Cor-
longo de toda a vida. É também este mecanismo po e 2 Metáfises entre a diáfise e cada uma das
de deposição óssea pelos osteoblastos do periós- epífises.
teo o responsável pela remodelação e renovação do
osso quando sujeito a agressões (p.e. fracturas) ou Ossos Curtos ou Cubóides
durante a renovação fisiológica e lenta a que os os-
sos são sujeitos ao longo da vida. Nos ossos curtos as três dimensões equivalem-
-se, não havendo nenhuma que predomine sobre
FISIOLOGIA E FUNÇÕES DO OSSO as restantes, sendo exemplos os ossos do carpo ou
o etmóide.
Embora sejam as estruturas de base para o siste-
ma de suporte e movimento, os ossos desempe-
nham funções que vão muito além da área da está-
34
SISTEMA LOCOMOTOR I CABEÇA E PESCOÇO
2
••• •
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SISTEMA LOCOMOTOR I CABEÇA E PESCOÇO
(articula-se com o vómer de uma forma incom- ramos terminais do nervo oftálmico (ramo do tri-
pleta originando o canal vómero-rostral ou esfe- gémio, V nervo craniano), além da veia oftálmica.
no-vomeriano médio, formando uma articulação Dá também passagem à raiz simpática do gânglio
classificada como "esquindílese"), que apresenta autonómico ciliar.
uma saliência na extremidade anterior, chamada
"rostrum esfenoidal (ou bico do esfenóide)", que Asas Maiores
se continua pela crista esfenoidal anterior. Late-
ralmente à crista esfenoidal inferior encontramos As asas maiores do esfenóide surgem da porção
duas superfícies triangulares lisas, designadas por póstero-inferior do corpo, e dirigem-se para cima,
"conchas esfenoidais" (cornetas de Bertin), que são para fora e para trás. Têm uma face medial, ce-
por sua vez limitadas póstero-lateralmente pela rebral ou endocraniana, e outra lateral ou exocra-
apófise vaginal esfenoidal (saliência da raiz medial niana.
do processo pterigoideu). Na face endocraniana salientam-se três orifícios
Das faces laterais do corpo do esfenóide surgem que são (de anterior para posterior): foramen re-
as asas menores ântero-superiormente, e as asas dondo (foramen grande redondo), foramen oval
maiores póstero-inferiormente. Entre estas duas e foramen espinhoso (foramen pequeno redon-
estruturas forma-se a fissura orbitária superior do). O foramen redondo permite a comunica-
(fenda esfenoidal). Na extremidade medial desta ção com a fossa ptérigo-palatina (transfundo da
fissura, encontramos o sulco de inserção do anel fossa ptérigo-maxilar) e é atravessado pelo ner-
tendinoso comum dos músculos oculares (tendão vo maxilar (ramo do V nervo craniano) e por pe-
de Zinn), limitado anteriormente pelo tubérculo quenas veias emissárias. Pelo foramen oval passam
infra-óptico. Junto à raiz da asa maior, encontra- o nervo mandibular (ramo do V nervo craniano),
mos o sulco carotídeo, relacionado com a artéria o ramo meníngeo acessório da artéria meníngea
carótida interna. Esta face do corpo do esfenói- média e, por vezes, veias emissárias, comunican-
de participa na constituição da parede medial da do com a fossa infra-temporal (fossa ptérigo-ma-
órbita. xilar). No foramen espinhoso passam o ramo me-
níngeo do nervo mandibular e a artéria meníngea
Asas Menores média, que têm origem na fossa infra-temporal.
Nesta região podem ainda identificar-se dois ori-
As asas menores do esfenóide, que surgem da zona fícios inconstantes: foramen emissário esfenoidal
ântero-superior do corpo, projetam-se transversal- de Vesálio (situado ântero-medialmente ao fora-
mente para fora e terminam num vértice afilado. men oval), por onde passa uma veia emissária; e o
Nascem a partir de duas raízes (superior e inferior) orifício superior do canalículo inominado de Ar-
que, ao se unirem, circunscrevem o foramen ópti- nold (póstero-medialmente ao foramen oval), que
co. Apresentam dois bordos e duas faces. O bor- pode dar passagem ao nervo petroso menor (ramo
do anterior une-se ao frontal e, ao nível do bordo do plexo timpânico, formado por ramos do glos-
posterior, livre, projeta-se a apófise clinoideia an- sofaríngeo, IX nervo craniano; também conhecido
terior cujo vértice é posterior. Por vezes, as apófises por "pequeno petroso profundo") e ao ramo do fa-
clinoideias anterior e média encontram-se unidas cial comunicante com o plexo timpânico (conhe-
por uma ponte de tecido ósseo, formando o fora- cido como "nervo pequeno petroso superficial",
men carótido-clinoideu. A face superior é plana e ramo do facial, Vll nervo craniano).
lisa, estando assente sobre ela parte do lobo fron- A face exocraniana está dividida numa face orbi-
tal do cérebro. A face inferior faz parte da consti- tária e noutra têmporo-zigomática pela crista ou
tuição da parede superior da órbita, sendo também bordo zigomático, que se articula com o processo
o limite superior da fissura orbitária superior. Esta frontal do osso zigomático. A face orbitária cons-
fissura dá passagem às seguintes estruturas: ner- titui parte da parede lateral da cavidade orbitária,
vos óculo-motor (III nervo craniano), troclear (IV e os seus dois bordos contribuem para delimitar
nervo craniano), abducente (Vl nervo craniano) e ambas as fissuras orbitárias: o seu bordo superior
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
forma o lábio inferior da fissura orbitária superior; lo aberto posteriormente, que contribui para a for-
o seu bordo inferior limita superiormente a fissura mação da fossa pterigoideia. Estão separadas infe-
orbitária inferior (fenda esfeno-maxilar). riormente, delimitando assim a incisura ou chan-
A porção têmporo-zigomática da face exocrania- fradura pterigoideia que é preenchida pelo proces-
na está dividida por uma crista transversal, a cris- so piramidal do osso palatino. Abaixo da sua ori-
ta infra-temporal (crista pterigoideia ou crista es- gem, as duas raízes circunscrevem o orificio do ca-
feno-temporal), em duas porções ou facetas: uma nal pterigoideu (canal vidiano), onde passam os
superior (ou temporal), convexa, que faz parte da vasos e nervo do canal pterigoideu (vasos e ner-
fossa temporal e é uma zona de inserção do mús- vo vidianos).
culo temporal; e outra inferior (ou infra-tempo- Cada apófise pterigoideia apresenta quatro faces:
ral, ou zigomática), de menores dimensões, côn- anterior, posterior, medial e lateral. A face anterior
cava, que faz parte da constituição da fossa infra- faz parte da parede posterior da fossa ptérigo-pa-
-temporal e dá inserção ao feixe superior do mús- latina (transfundo da fossa ptérigo-maxilar), apre-
culo pterigoideu lateral. Nesta faceta infra-tempo- sentando o orillcio anterior do canal pterigoideu.
ral, encontramos os foramina oval e espinhoso. Na A face medial une-se ao osso palatino, apresentan-
crista propriamente dita também se inserem fei- do na extremidade superior a apófise vaginal do
xes dos músculos temporal e pterigoideu lateral, esfenóide, que se desloca para dentro, aplicado so-
nomeadamente no tubérculo esfenoidal (presente bre a face inferior do corpo do esfenóide. Termi-
na extremidade anterior da crista infra-temporal). na por um bordo medial livre, que limita um sul-
A asa maior do esfenóide é limitada por dois bor- co profundo com a porção correspondente da face
dos, um medial e outro lateral. O bordo lateral ar- inferior do corpo esfenoidal. O bordo lateral da
ticula-se em toda a sua extensão com a porção es- asa do vómer encerra este sulco, transformando-o
camosa do osso temporal. O bordo medial apre- no canal vómero-vaginal (canal esfeno-vomeria-
senta três segmentos: um anterior, que forma o lá- no lateral). Esta apófise articula-se também com
bio inferior da fissura orbitária superior; um mé- a apófise esfenoidal do osso palatino, formando
dio, unido ao corpo, e que constitui a raiz da asa um outro canal, o canal palato-vaginal (canal pté-
maior; por fim, um segmento posterior, que forma rigo-palatino); este canal dá passagem a ramos fa-
o bordo anterior do foramen lácero. Articula-se, ríngeos da artéria maxilar (nomeadamente o seu
posteriormente a este foramen, com o bordo ante- ramo ptérigo-palatino), do nervo maxilar (nomea-
rior do rochedo do temporal. Apresenta também a damente o nervo ptérigo-palatino, ou faríngeo de
este ruvel o orificio posterior do canal pterigoideu Bock), assim como a alguns ramos eferentes do
(canal vidiano). O segmento posterior do bordo gânglio ptérigo-palatino, geralmente destinados
medial dá origem à língula esfenoidal; esta saliên- ao nervo ptérigo-palatino.
cia divide o foramen lácero em duas porções, uma É na face lateral que se insere o músculo pterigoi-
medial e outra lateral. Ambos os bordos, medial e deu lateral, limitando medialmente a fossa infra-
lateral, unem-se anteriormente por uma superficie -temporal (fossa ptérigo-maxilar).
triangular frontal que se articula com o osso fron- A face posterior constitui parte da fossa pterigoi-
tal e com o ângulo ântero-inferior do osso parie- deia. Na porção súpero-medial desta fossa, exis-
tal. Unem-se também posteriormente,formando a te uma pequena depressão denominada "fosse-
espinha esfenoidal. ta escafoideia", que dá inserção ao músculo tensor
do véu do paladar (músculo periestafilino lateral).
Apófises Pterigoideias A parede medial da fossa relaciona-se com este
músculo; a parede lateral e o seu fundo dão inser-
As apófises pterigoideias, bilaterais, descem per- ção ao músculo pterigoideu medial. Esta fossa é li-
pendicularmente ao ponto onde o corpo e a asa mitada lateralmente pelo bordo posterior de am-
maior se unem. Apresentam duas raízes (medial bas as asas pterigoideias. O bordo posterior da asa
e lateral) que estão unidas na sua metade supe- medial apresenta uma chanfradura que se relacio-
rior pelo seu bordo anterior, formando um ângu- na com a trompa auditiva de Eustáquio; a sua ex-
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SISTEMA LOCOMOTOR I CABEÇA E PESCOÇO
TEMPORAL
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MANUAL DE ANATOMIA H UMANA
une-se à face ântero-inferior do rochedo, exceto tubérculo articular do temporal (côndilo do tem-
numa pequena zona anterior, do qual está separa- poral), articula-se com a mandíbula (osso maxilar
da. Esta zona vai crescer para dentro (apófise tu- inferior). Na junção das duas raizes, encontramos
bária), originando a parede ínfero-lateral da por- o tubérculo zigomático anterior. O segmento an-
ção óssea da trompa auditiva de Eustáquio. terior da apófise zigomática dá inserção, pelo seu
No final o temporal é um osso indivisível, sen- bordo superior, à fáscia temporal, e pelo seu bor-
do necessário o conhecimento do seu desenvol- do inferior, ao músculo masséter. A sua extremi-
vimento embrionário para distinguir as três por- dade anterior articula-se com o osso zigomático,
ções primitivas. formando o arco ou arcada zigomática.
No adulto, o temporal apresenta cinco porções A porção temporal da escama dá inserção ao
distintas: a porção escamosa, a porção petrosa, a músculo temporal, podendo ser percorrida por
porção mastoideia, a porção timpânica, e a por- um sulco vascular decorrente da passagem da ar-
ção estiloideia. Existem autores que consideram téria temporal média.
as porções petrosa e mastoideia como um úni- A porção basilar pertence à base do crânio, iden-
co elemento morfológico, utilizando a designa- tificando-se o tubérculo articular e, atrás deste,
ção coletiva de "porção petro-mastoideia". Esta uma depressão profunda, elíptica, denominada
divisão em cinco porções, decorrente de um me- "fossa mandibular ou cavidade glenoideia", onde
lhor conhecimento da anatomia neurocirúrgica se articula a mandfüula. Visualiza-se também a
do osso, é distinta da clássica divisão francesa em cissura tímpano-escamosa ou de Glaser, que di-
três porções: escama, mastóide e rochedo ("por- vide a cavidade glenoideia em duas porções: an-
ção petrosa" ou "porção petro-timpânica"). terior (pré-glaseriana) que é articular e faz parte
da escama do temporal; posterior (retro-glaseria-
Escama do Temporal na) que não é articular e faz parte do osso timpâ-
nico. A cissura de Glaser é dividida pelo prolon-
A porção escamosa, ou escama do temporal, gamento inferior do tegmen timpani (crista do ro-
é uma lâmina óssea vertical e semicircular, que chedo que se posiciona entre a escama e a apófise
possui duas faces (exocraniana e endocraniana), tubárica, durante o desenvolvimento embrioná-
separadas por um bordo circunferencial. Este está rio) em duas cissuras secundárias: anterior (cis-
unido na parte póstero-superior ao parietal, e na sura petro-escamosa) e posterior (cissura petro-
sua parte ântero-inferior à asa maior do esfenói- - timpânica). A cissura petro-timpânica dá pas-
de. sagem ao ligamento anterior do martelo, e a um
A face exocraniana está dividida pela proeminen- ramo timpânico anterior da artéria maxilar. Po-
te apófise zigomática em duas porções: superior demos também observar, na extremidade medial
ou temporal, e inferior ou basilar. Será primeiro desta fissura, o orifkio anterior do canalículo an-
descrita a apófise zigomática. terior do nervo corda do tímpano (ramo do nervo
A apófise zigomática do temporal apresenta dois facial, VII nervo craniano). Anteriormente ao tu-
segmentos: um transversal, basal ou posterior; bérculo articular, encontramos a superfície plana
outro anterior. Qyanto ao segmento basal, a sua infra- temporal, que forma parte do teto da fos-
face superior relaciona-se com feixes posteriores sa infra-temporal.
do músculo temporal. A sua face inferior apre- A face endocraniana é côncava e apresenta nu-
senta duas saliências, designadas por "raizes ( uma merosas depressões e eminências onde se alojam
longitudinal, outra transversal) da apófise zigo- as circunvoluções cerebrais, além de se visualiza-
mática". A raiz longitudinal dirige-se para trás, rem sulcos vasculares decorrentes da passagem
encurva-se para trás e cima, passa a chamar-se dos ramos da artéria meníngea média. E stes sul-
crista supra-mastoideia, e contribui para a for- cos desenham, na face endocraniana da abóbada
mação da linha temporal inferior. Apresenta, an- craniana, a chamada "folha de figueira".
teriormente ao meato auditivo externo, o tubér-
culo zigomático posterior. A raiz transversa, ou
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Mastóide do Temporal
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
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SISTEMA LOCOMOTOR I CABEÇA E PESCOÇO
No que toca aos bordos do rochedo, o superior rochedo e a asa maior do esfenóide encontramos
(separa as faces a~terior e posteri~r) é percorrido o foramen lácero. Perto do vértice, encontramos
ela goteira do se10 petroso superior, sendo a sua também um pequeno entalhe que, ao ser recober-
~ tremidade posterior continuada pela goteira do to por um ligamento de dura-máter (o ligamento
seio sigmóide. de Gruber), forma o canal de Dorello, que dá pas-
O bordo anterior (separa as faces anterior e in- sagem ao nervo abducente (VI nervo craniano).
ferior) apresenta a cissura tímpano-escamosa de
Glaser, com o seu desdobramento devido à inter- Porção Estiloideia do Temporal.
posição do prolongamento inferior do t~gmen tim- Esta é constituída pela apófise estiloideia (classica-
pani. Articula-se com parte da asa maior do es- mente pertencente à "face póstero-inferior do ro-
fenóide, encontrando-se separados por um espa- chedo" dos anatomistas franceses). Apresenta uma
ço designado por "foramen lácero (foramen lácero direção ântero-inferior, e dá inserção aos elemen-
anterior)". Este foramen, obliterado de formava- tos do clássico "Ramalhete de Riolan'', constituí-
riável por cartilagem, é dividido pela língula do es- do por cinco elementos: ligamento estilo-maxilar,
fenóide em duas porções: uma porção medial, co- ligamento estilo-hioideu, músculo estilo-faríngeo,
berta superiormente pela artéria carótida interna, músculo estilo-hioideu e músculo estilo-glosso.
após se tornar intra-craniana; e uma porção lateral, Posteriormente à apófise estiloideia, entre esta e
sendo a sua cartilagem perfurada pelo nervo pe- a apófise mastoideia, encontramos o foramen es-
troso maior (ramo do facial, VII nervo craniano), tilo-mastoideu, que dá passagem aos vasos estilo-
e por um ramo do glossofaríngeo (IX nervo cra- -mastoideus e ao nervo facial (VII nervo crania-
niano), conhecido por alguns autores como "nervo no). Este foramen pode pertencer quer à porção
grande petroso profundo".
O bordo posterior (separa as faces posterior e in-
ferior), ao se articular com o occipital, origina o
foramen jugular (foramen lácero posterior). Este
pode-se dividir em dois segmentos pela apófise
intra-jugular (espinha jugular) do temporal: an-
terior ou nervoso, onde passam, de anterior para
posterior, o seio petroso inferior, o nervo glos-
sofaríngeo (IX nervo craniano), o nervo vago
(X nervo craniano), e o nervo acessório ou espi-
nhal (XI nervo craniano); e um segmento poste-
rior ou venoso, relacionado com o golfo da veia
jugular interna. Este orifício dá também passa-
gem, em posições variáveis, à artéria meníngea
posterior e a ramos meníngeos da artéria occipi-
tal. Neste bordo, entre o canal carotídeo e a fossa
jugular, existe uma depressão para o gânglio pe-
troso do nervo glossofaríngeo, de onde sai o seu
ramo timpânico (nervo de Jacobson).
A base do rochedo é representada na superficie
exocraniana apenas pelo orificio lateral do canal
auditivo externo.
O vértice é irregular, apresentando o orifício supe-
rior do canal carotídeo. Este canal inicia-se na face
póstero-inferior do rochedo, sendo ascendente e
Fig. 2.17: Vista inferior do temporal.
depois descrevendo uma curva e uma contracurva, 1. Fossa jugular 2. Orifício inferior do canal carotídeo 3. Fossa
mandibular 4. Apófise estilóide 5. Porção retro-glasseriana da fossa
terminando ao nível do vértice. Entre o vértice do
mandibular 6. Apófise zigomática
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2 @·'·~::··-------
.. . .-•
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,
estiloideia, quer à timpânica, quer à petrosa, quer podemos afirmar que das duas faces que apresenta,
à mastoideia; tal dependerá do ponto de vista do a convexa é lateral; dos quatro bordos que apresen-
autor. ta, o talhado em bisel é inferior; por fim, dos dois
ângulos relacionados com este bordo inferior, o de
Porção Tímpânica do Temporal menor amplitude é anterior e situa-se um pouco
mais superiormente que o posterior.
A porção timpânica encontra-se entre a porção es- Cada um dos parietais tem a forma de um quadri-
camosa e a apófise mastoideia. Contribui para a látero irregular podendo distinguir-se duas faces,
formação das paredes anterior, inferior e posterior quatro bordos e quatro ângulos.
do meato auditivo externo; a sua parede superior
é formada pela porção escamosa. Apresenta uma Faces
parte mais anterior, que forma a porção retro-gla- A face exocraniana é convexa, demarcando-se no
seriana da fossa mandibular. Apresenta também centro uma saliência denominada "eminência pa-
um prolongamento inferior que forma a bainha da rietal" que indica o ponto onde, no seu desenvolvi-
apófise estiloideia; esta bainha pode também ser mento, se inicia a ossificação. Inferiormente iden-
designada por "apófise vaginal". tificam-se duas linhas arqueadas chamadas "linhas
Pode também ser descrita a apófise tubária, exis- curvas temporais superior e inferior". A primei-
tente na dita "face ântero-inferior" do rochedo; ra dá inserção à aponevrose do músculo temporal
contudo, pertence embriologicamente ao osso e a segunda ao músculo propriamente dito. Estas
timpânico. Encontra-se ântero-medialmente à linhas atravessam não só os parietais como tam-
fossa mandibular, e contribui para formar parte da bém se continuam ao nível dos temporais. Junto
porção óssea do tubo faringo-timpânico (trompa ao bordo superior e à frente do posterior identifi-
de Eustáquio). ca-se o foramen parietal de Santorini, atravessado
pela veia emissária de Santorini que anastomosa a
PARIETAL circulação venosa extra-craniana com a intra-cra-
niana. Dá por vezes também passagem a um ramo
O parietal é um osso placóide e par. A união dos meníngeo parietal da artéria occipital. D as nume-
dois ossos ao nível da linha média forma uma rosas veias emissárias existentes, a veia de Santori-
grande porção da região lateral e superior do crâ- ni aparenta ser a mais constante.
nio, situando-se à frente do occipital e atrás dos A face endocraniana é côncava, sendo toda per-
temporais e do frontal. Qyanto à sua orientação, corrida por numerosos sulcos vasculares corres-
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Figura 2.19: Vista exocraniana do parietal. Figura 2.20: Vista endocraniana do parietal.
1. Linha curva temporal superior 2. Linha curva temporal inferior 1. Bordo superior 2. Bordo inferior 3. Folha de figueira
3. Bordo superior 4. Bordo inferior 5. Eminência parietal
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Figura 2.21: Vista exocraniana do occipital. Figura 2.22: Vista endocraniana do occipital.
1. Foramen magnum 2. Eminência occipital exterior 3. Apófise basilar 1. Apófise crista Galli 2. Asa menor do esfenóide 3. Sela turca
4. Foramen redondo 5. Foramen oval 6. Foramen lácero 7. Clivus
8. Foramen magnum
Porção Escamosa
tam as circunvoluções cerebrais, estando dividida
A face exocraniana da escama do occipital é con- em quatro fossas (duas superiores ou cerebrais e
vexa, articulando-se superiormente com os parie- duas inferiores ou cerebelosas) por três goteiras e
tais e inferiormente com a mastóide do tempo- uma crista, que no seu conjunto formam a emi-
ral. Identifica-se, na linha média, a protuberância nência cruciforme. Na união destas identifica-se
occipital exterior de onde surgem: a crista occipi- a protuberância occipital interior, que está relacio-
tal exterior (vertical), que se prolonga até ao bor- nada com o confluente posterior dos seios venosos
do posterior do foramen magno; linha nucal su- cranianos ou Lagar de Herófilo ou tórcula. Tendo
perior (também conhecida por linha curva occipi- como referência esta protuberância, identificam-se
tal superior, sendo aproximadamente horizontal), duas goteiras horizontais, correspondentes à por-
que se prolonga até a mastóide. A linha nucal in- ção occipital dos seios laterais, e uma vertical, onde
ferior (linha curva occipital inferior) surge ao nível assenta parte do seio sagital superior. Esta protu-
do ponto médio da crista occipital exterior, pro- berância prolonga-se inferiormente pela crista oc-
longando-se até ao processo jugular. Estas linhas cipital interior (vertical), onde se insere a tenda do
curvas servem como pontos de inserção muscu- cerebelo (desdobramento da dura-máter), bifur-
lares e ligamentares, sendo mais pronunciadas no cando-se ao nível do foramen magno delimitan-
sexo masculino, devido à maior massa muscular. do a fosseta vermiana, onde assenta o vérmis do
Ao nível da linha curva occipital inferior inserem- cerebelo.
-se os músculos pequeno reto posterior e grande
reto posterior. Entre as duas linhas curvas inse- CRÂNIO EM GERAL
rem-se os músculos semi-espinhoso da cabeça ou
grande complexo (medialmente), o músculo oblí- O crânio, formado pela união de vários ossos, é
quo superior ou pequeno oblíquo, e o splenius capi- uma caixa ovóide e, quando descrito num todo,
tis (lateralmente). A linha curva occipital superior pode dividir-se em duas porções: a abóbada cra-
dá inserção ao trapézio (medialmente) e ao ester- niana (superior) e a base (inferior). O limite en-
no-cleido- mastoideu e ventre occipital do múscu- tre as duas partes é uma linha imaginária que vai
lo occípito-frontal (lateralmente). desde o sulco naso-frontal, passa pelas arcadas
A face endocraniana da escama do occipital é côn- orbitária e zigomática e termina na protuberân-
cava, apresentando várias depressões onde assen- cia occipital exterior.
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tura parieto-occipital. 7
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Rouviere, H.; Delmas, A .. Anatomie humaine
descriptive, topographique etfonctionnelle. 15.ª
editión. Masson, 2002.
Standring, S. et al. Gray's Anatomy- The
Anatomical Basis ofClinical Practice. 41.• edition.
Elsevier, 2016.
Rhoton, AL Jr. The anterior and middle cranial
base. Neurosurgery, 51(4 Suppl):S273-302, 2002.
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osTEOLOGIA DA FACE
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Fig. 2.28: Corte sagital da face.
1. Seio frontal 2. Ossos próprios do nariz 3. Crista gali 4. Concha nasal
média 5. Concha nasal superior 6. Concha nasal inferior 7. Lâmina
4 vertical do palatino 8. Lâmina ho rizontal do palatino 9. Osso maxilar
9 10. Processo palatino do maxilar 11. Seio esfenoidal 12. Lâmina medial
do processo pterigóide 13. Foramen esfeno•palatino
MAXILA
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Fig. 2.29: Vista medial da maxila. Fig. 2.30: Vista lateral da maxila.
1. Espinha nasal anterior 2. Crista nasal 3. Aresta incisiva 4. Apófise 1. Apófise frontal 2. Espinha nasal anterior 3. Buraco infra-orbitário
palatina 5. Orifício do seio maxilar 6. Hemi-célula 7. Concha 4. Fosseta mirtiforme 5. Bossa canina 6. Vertice apófise zigomática
lacrymalis 8. Crista etmoidal da maxila 9. Crista conchal da maxila 7. Crista lacrimal anterior 8. Sulco infra-arbitrário
rigo-palatina (também conhecida por transfundo ção superior denominada "crista nasal". Qyando
da fossa ptérigo-maxilar). Assim, este osso contri- as duas cristas nasais se articulam, formam uma
bui para a constituição óssea destas várias cavida- saliência mediana no pavimento das fossas nasais.
des. Contém no seu interior uma cavidade, o seio No terço anterior da apófise palatina, a crista nasal
maxilar ou antro de Highmore que o torna leve. eleva-se e torna-se mais espessa de cada lado da li-
Pode ser classificado como irregular ou cubóide. nha média, por cima dos dentes incisivos, passan-
Qyanto à sua orientação, o seu bordo alveolar é in- do a chamar-se aresta incisiva; a sua extremida-
ferior, sendo côncavo póstero-medialmente, sendo de medial toma o nome de espinha nasal anterior:
os alvéolos mais pequenos anteriores. Na face inferior salienta-se, resultante da articu-
Cada maxila apresenta um corpo e quatro apófi- lação entre as duas apófises palatinas, a sutura in-
ses: zigomática, frontal, alveolar e palatina. Estas termaxilar palatina (sutura palatina média); na sua
várias porções podem ser observadas, de formava- extremidade anterior, encontra-se um orificio de-
riável, pelas faces medial e lateral do osso. nominado "fossa incisiva", a qual contém os orifí-
cios dos canais incisivos (também conhecidos por
Face medial "canais incisivos anteriores" ou "canais incisivos la-
Divide-se em dois segmentos pela apófise palati- terais"), estabelecendo uma comunicação entre as
na: um superior que forma grande parte da parede fossas nasais e a cavidade bucal. Estes canais dão
lateral da fossa nasal, e outro inferior que faz par- passagem à terminação dos vasos grandes palati-
te da cavidade bucal. nos e dos n":rvos nasopalatinos.
A apófise palatina da maxila é uma lâmina óssea Na porção nasal da face medial destaca-se um
triangular e horizontal. Tem uma face superior, grande orifício de acesso ao seio maxilar e tam-
lisa e côncava no sentido transversal, contribuindo bém são visíveis, de anterior para posterior, uma
para a constituição do pavimento da fossa nasal. A crista ântero-posterior, a crista concha! da maxi-
face inferior, rugosa, pertence à abóbada palatina e la (crista turbina! inferior), que se articula com a
apresenta uma goteira oblíqua para diante e para concha nasal inferior; uma goteira vertical, a go-
dentro, percorrida pelos vasos palatinos maiores e teira lacrimal (cujos lábios se articulam com o osso
pelo nervo palatino maior. O bordo lateral une-se lacrimal para formar o canal nasolacrimal; a pare-
à face medial do osso; o posterior articula-se com a de posterior da goteira pode encontrar-se mais de-
lâmina horizontal do palatino; por sua vez, o bor- senvolvida, formando a concha lacrymalis), e a su-
do medial articula-se com a apófise palatina con- perfície articular para o palatino, dividida em duas
tralateral e apresenta uma proeminência de dire- áreas por uma goteira oblíqua para baixo e para
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SISTEMA LOCOMOTOR I CABEÇA E PESCOÇO
diante (goteira grande palatina ou goteira palati- realidade póstero-lateral, forma a parede anterior
na maior), que contribui para a formação do ca- da fossa infra-temporal e da fossa ptérigo-palatina.
nal homónimo. Podemos também observar uma Tem dois segmentos: um medial, convexo, a tube-
fissura que parte do ângulo inferior do orificio do rosidade maxilar, em que se podem ver dois a três
seio maxilar, sendo esta fissura oblíqua póstero-in- pequenos foramina dos canais alveolares (também
feriormente; trata-se da fissura palatina da maxila. conhecidos por canais dentários posteriores e su-
Superiormente ao orifício do seio maxilar, há pe- periores); outro lateral, côncavo no sentido trans-
quenas depressões que se articulam com depres- versal, próximo do osso zigomático.Junto ao bordo
sões correspondentes da face inferior do labirinto superior da tuberosidade há uma goteira transver-
etmoidal homolateral. sal onde caminha o nervo maxilar, ramo do trigé-
A porção bucal da face medial é uma superfície es- mio (V nervo craniano). O bordo anterior da apó-
treita e rugosa, que se situa inferiormente à apófise fise piramidal separa a face orbitária da geniana (ou
palatina, entre esta e o bordo alveolar. anterior) e forma a maior parte do rebordo infe-
rior da órbita. O bordo posterior define em con-
Face lateral ou externa junto com o bordo inferior da face orbitária do es-
Tem um bordo inferior ou alveolar muito desen- fenóide, o limite ântero-lateral da fissura orbitária
volvido, sendo designado por "apófise alveolar da inferior (fenda esfeno-maxilar). O bordo inferior é
maxila", em que se inserem as raizes dos dentes. arredondado e relaciona-se com os tegumentos da
Ao se articular com a contralateral, forma-se a ar- região geniana e com o sulco vestibular superior da
cada alveolar superior. A inserção das raizes dos cavidade bucal, onde se confunde com a base da pi-
dentes forma saliências verticais, sendo a bossa ca- râmide; pode conter uma crista óssea mais desen-
nina a mais marcada. Imediatamente para dentro volvida, designada por "crista jugal ou crista zigo-
fica uma ligeira depressão chamada "fosseta incisi- mático-alveolar", O vértice é truncado, rugoso e ar-
va (fosseta mirtiforme)", aonde se insere o múscu- ticula-se com o osso zigomático.
lo depressor do septo nasal (músculo mirtiforme).
Da face lateral, acima das saliências determinadas Bordo superior
pelas raizes dentárias mais laterais, sobressai uma Irregular, articula-se, de anterior para posterior
volumosa apófise com forma de pirâmide trian- com o hamulus lacrymalis (gancho lacrimal) do
gular truncada, designada "apófise zigomática da osso lacrimal por meio de uma incisura côncava
maxila" (também conhecida por apófise pirami- para dentro, formando assim o orifício superior do
dal). Esta tem uma face superior que forma o pa- canal nasolacrimal. Da extremidade anterior des-
vimento da órbita e que é percorrida de posterior te bordo destaca-se uma lâmina óssea quadriláte-
para anterior pela goteira infra-orbitária, que ori- ra, ascendente, a apófise frontal da maxila (apófise
gina o canal infra-orbitário pela sutura resultante ascendente). Esta, por sua vez, tem uma face late-
da fusão dos seus lábios. Da parede inferior do ca- ral, com uma crista vertical chamada "crista lacri-
nal infra-orbitário destaca-se o canal dentário an- mal anterior", para trás da qual existe uma gotei-
terior e superior, também conhecido por canal si- ra vertical que forma a metade anterior da goteira
nuoso (cana/is sinuosus), que dá passagem aos vasos do saco lacrimal; tem uma face medial que faz par-
e nervos dentários anteriores e superiores, destina- te da parede lateral das fossas nasais, apresentan-
dos ao canino e incisivos homolaterais. A face an- do em cima uma superficie rugosa que se articula
terior relaciona-se com as partes moles da região com o labirinto etmoidal e, mais abaixo, uma crista
geniana. Apresenta o buraco infra-orbitário, orifí- oblíqua para diante e para baixo, a crista etmoidal
cio situado cerca de 5 milímetros inferiormente ao da maxila (crista turbinal superior) que se articula
rebordo inferior da órbita, na união do seu terço com a concha etrnoidal média; tem quatro bordos
medial com o terço médio. Imediatamente abaixo (anterior, posterior, superior e inferior) que se arti-
há uma depressão, a fosseta canina, onde se inse- culam, respetivamente, com o osso nasal, o bordo
re o músculo elevador do ângulo da boca (múscu- anterior do osso lacrimal, com o frontal e o último
lo canino). A face posterior ou infra-temporal, na continua-se pelo corpo do osso.
65
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
Bordo posterior
Espesso, este bordo pertence à tuberosidade maxi-
lar. Tem em cima uma superfície articular rugosa,
o trígono palatino, para a apófise orbitária do pala-
Fig. 2.31: Vista medial do osso lacrimal.
tino. A sua porção inferior, articula-se com a apó-
1. Bordo anterior 2. Bordo posterior 3. Bordo superior 4. Bordo
fise piramidal do mesmo osso. inferior
OSSO LACRIMAL
Face medial
É lisa, exceto junto ao bordo posterior, onde se ar-
ticula com a massa lateral do etmóide (labirintos Fig. 2.32: Vista lateral do osso lacrimal.
etmoidais). Apresenta uma depressão que corres- 1. Bordo anterior 2. Bordo posterior 3. Bordo superior 4. Bordo
inferior 5. Hamulus lacrymalis 6. Sulco do saco lacrimal 7. Crista
ponde à crista lacrimal posterior da face lateral. lacrimal posterior
Face lateral
É dividida em dois segmentos por uma crista ver- Bordos
tical, a crista lacrimal posterior. Na extremidade O bordo anterior articula-se com a apófise frontal
inferior desta crista forma-se uma saliência, dirigi- da maxila; o posterior com o etmóide e com a con-
da para fora e para diante, o hâmulo lacrimal (gan- cha lacrymalis (cometo lacrimal) da maxila; o supe-
cho lacrimal), que se articula com o bordo superior rior com o frontal; o inferior com a apófise lacri-
da maxila e com ele delimita o orifício superior do mal da concha nasal inferior.
canal nasolacrimal. O segmento anterior é depri-
mido, formando uma goteira vertical que comple- PALATINO
ta a correspondente ao nível da apófise frontal da
maxila, para dar origem à goteira do saco lacrimal. O osso palatino, classificado como irregular ou
O segmento posterior, liso, continua-se para trás placoide, é pequeno e complexo, situado posterior-
com a lâmina papirácea (orbitária) do etmóide. mente à maxila (Figuras 2.33 e 2.34).
66
SISTEMA LOCOMOTOR I CABEÇA E PESCOÇO
Fig. 2.33: Vista medial do palatino. Fig. 2.34: Vista lateral do palatino.
1. fncisura esfeno-palatina 2. Apófise orbitária 3. Apófise esfenoidal 1. lncisura esfeno-palatina 2. Apófise orbitária 3. Apófise esfenoidal
4. Lâmina vertical do palatino 5. Bordo posterior 6. Bordo anterior 7. 4. Sulco palatino posteiror 5. Apófise piramidal 6 . Segmento
Crista conchal do palatino 8. Crista etmoidal do palatino 9. Apófise pterigóide 7. Segmento maxilar 8. Segmento sinusal
piramidal
67
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
rigoideia do esfenóide. O bordo inferior confi.m- apófise unciforme do etmóide; por fim, observa-
de-se com o bordo lateral da lâmina horizontal. -se uma parte rugosa, que se relaciona com a cris-
O bordo superior é irregular e apresenta duas sa- ta conchal do palatino.
liências: uma anterior, a apófise orbitária do pala-
tino (com a forma de pirâmide triangular) e ou-
tra posterior, a apófise esfenoidal do palatino (de
configuração lamelar), separadas pela incisura es-
fenopalatina. O bordo anterior da lâmina verti-
cal do palatino cruza em cima a parte posterior do
orifício do seio maxilar. Por baixo deste orifício, o
bordo anterior prolonga-se pela chamada "apófi-
se maxilar do palatino", que se introduz na fissura
palatina da maxila e se articula com o bordo pos-
7 4
terior da apófise maxilar da concha nasal inferior.
Fig. 2.35: Vista medial da concha nasal inferior.
O bordo posterior relaciona-se com a face medial
1. Extremidade anterior 2. Extremidade posterior 3. Bordo inferior
da asa da apófise pterigoideia. 4. Apófise lacrimal 5. Apófise etmoidal
68
SJSTEMA LOCOMOTOR I CABEÇA E PESCOÇO
/ ,
4
6
Fig. 2.39: Vista medial do osso zigomático.
Fig. 2.37: Vista anterior do osso nasal. 1. Bordo superior 2. Bordo inferior 3. Bordo lateral 4. Bordo medial
1. Bordo superior 2. Bordo inferior 3. Bordo lateral 4. Bordo medial 5. Orifício vascular 6. lncisura naso-lobar
5. Orifício vascular 6. lncisura naso-lobar
6 3
Fig. 2.40: Vista lateral do osso zigomático.
Fig. 2.38: Vista posterior do osso nasal. 1. Ângulo anterior 2. Ângulo superior 3. Ângulo inferior 4. Apófise
1. Bordo superior 2. Bordo inferior 3. Bordo lateral 4. Bordo medial orbitária 5. Bordo temporal 6. Bordo massetérico 7. Orifício
5. Bordo etmoidal zigomático do canal tempero-zigomático 8. Bordo orbitário
69
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
Faces
5
A face lateral ou cutânea dá inserção aos músculos
zigomáticos e possui o orifício zigomático do ca-
nal zigomático-temporal. A face medial tem dois
segmentos: um anterior ou articular, que se une à
maxila, e um posterior ou temporal, que se relacio- 2
4
na com a fossa temporal superiormente e com a
Fig. 2.41: Vista esquerda do vómer.
fossa infra-temporal inferiormente.
1. Bordo anterior 2. lncisura para a crista incisiva 3. Bordo posterior
4. Bordo inferior 5. Asas do vómerl
Bordo
Apresenta um bordo ântero-superior ou orbitá-
rio, espesso e côncavo para cima e para dentro, que
forma a parte ínfero-lateral do rebordo orbitário.
Deste bordo emerge a apófise frontal (apófise or-
bitária), que tem duas faces: a medial que faz parte
das paredes lateral e inferior da órbita e apresenta
o orifício de entrada do canal zigomático-tempo-
ral; a face lateral faz parte da fossa temporal e no
seu bordo anterior apresenta o buraco zigomático- Fig. 2.42: Vista direita do vómer.
1. lncisura para a crista incisiva (esfenóide}
-orbitário do canal zigomático-temporal. O bor-
do posterior da apófise frontal articula-se, de su- rior (Figuras 2.41 e 2.42).
perior para inferior, com o frontal, a asa maior do
esfenóide e com a maxila. O bordo póstero-supe- Faces
rior ou temporal do osso zigomático dá.inserção à São geralmente planas, percorridas por sulcos,
fáscia temporal. O bordo ântero-inferior ou maxi- sendo o mais marcado o do nervo naso-palatino.
lar corresponde ao vértice da apófise zigomática da
maxila. O bordo póstero-inferior ou masseteriano, Bordos
dá inserção ao masseter. O superior é dividido por uma goteira mediana e
forma duas cristas laterais, as asas do vómer. Arti-
Ângulos cula- se com a face inferior do corpo do esfenóide,
O superior, articula-se com a apófise orbitária la- formando o canal vómero-rostral (esfeno-vome-
teral (apófise zigomática) do frontal; os ângulos, riano médio) e os canais vómero-vaginais (esfe-
inferior e anterior, correspondem aos ângulos in- no-vomerianos laterais). A articulação esfeno-vo-
ferior e anterior do vértice truncado da apófise zi- meriana média é classificada como uma esquindi-
gomática da maxila. O ângulo posterior, biselado à lese. O bordo inferior articula-se com a crista na-
custa do bordo superior, articula-se com a apófise sal das maxilas e apresenta uma chanfradura ante-
zigomática do osso temporal. riormente, para a crista incisiva. O anterior é acen-
tuadamente oblíquo para diante e para baixo, ar-
VÓMER ticulando-se superiormente com a lâmina perpen-
dicular do etmóide e inferiormente com a carti-
O vómer, placoide, corresponde a uma lâmina ós- lagem do septo nasal. O bordo posterior, oblíquo
sea vertical, delgada, mediana, achatada no sentido para a frente e para baixo, separa os orifícios pos-
transversal, que faz parte do septo ósseo das fossas teriores das fossas nasais, as choanas.
nasais. Tem forma quadrilátera, com duas faces e
quatro bordos. O bordo que apresenta uma goteira MAND(BUI.A
mais acentuada, articular, é superior; o outro bor-
do, mais longo, apresenta uma goteira que é ante- A mandíbula, situada inferiormente à maxila e
70
SISTEMA LOCOMOTOR I CABEÇA E PESCOÇO
restante maciço facial, é um osso ímpar, mediano e nianas (também conhecidas por apófises geni), em
irregular (podendo também ser classificado por al- que nas superiores se inserem os músculos geni-
guns autores como placoide). O seu bordo alveolar -glossos e nas inferiores os geni-hioideus.
é superior, sendo a concavidade do osso posterior. Para trás e para cima destaca-se uma crista oblí-
É O único osso móvel da face e tem a forma de fer- qua, chamada "linha milo-hioideiá', onde se inse-
radura, com uma porção mediana (corpo) e duas re o músculo milo-hioideu. Inferiormente a esta,
existe o sulco milo-hioideu por onde passam os
vasos e nervo milo-hioideus. A linha rnilo-hioi-
deia continua-se pelo lábio medial do bordo ante-
rior do ramo ascendente e divide duas depressões:
uma superior, a fosseta sub-lingual e outra inferior,
a fosseta sub-maxilar, cada uma delas relacionada
com a glândula salivar com o mesmo nome.
6 Ramos ascendentes
Prolongam para cima as extremidades posterio-
res do corpo e são aproximadamente retangulares,
alongados verticalmente e achatados em direção
transversal.
Fig. 2.43: Vist a anterior da mandíbula.
1. Côndilo mandibular 2. Apófise coronóide 3 . Linha oblíqua externa Face lateral (Fig. 2.44)
4. Sínfise mentoniana 5. Eminência mentoniana 6. Buraco mentual
Esta face é lisa, exceto na vizinhança do ângulo
laterais (ramos ascendentes). (Fig. 2.43) póstero-inferior, onde há rugosidades nos locais
de inserção do músculo masséter.
Corpo
Porção mediana, que contém os alvéolos dentários
2
inferiores. É côncavo para trás e continua-se pos-
teriormente com os ramos ascendentes da man- \
chbula. Tem duas faces (anterior e posterior), dois
bordos (superior ou alveolar e inferior) e duas ex-
tremidades.
Face anterior
Tem na linha média uma crista vertical, resultado
da confluência de núcleos de ossificação dos dois
lados, a sínfise mandibular (sínfise mentoniana),
6
que se continua inferiormente com uma saliência
triangular, a eminência mentoniana. A meia altu-
Fig. 2.44: Vista lateral esquerda da mandíbula.
ra do corpo, entre os dois pré-molares localiza-se 1. Côndilo mandibular 2. Apófise coronóide 3. lncisura sigmóide
o foramen mentoniano, onde emerge o feixe vás- 4. Linha oblíqua externa 5. Ângulo da mandíbula 6. Buraco mentual
71
MANUAL DE ANATOMIA H UMANA
nada por "espinha de Spix (língula mandibular)", sal, ou chanfradura, na transição para o bordo in-
na qual se insere o ligamento esfeno-maxilar. Na ferior do corpo, percorrido pela artéria facial.
parte inferior do orificio do canal mandibular par-
te o sulco milo-hioideu, oblíquo para baixo e para ARQUITETURA DO ESQUELETO FACIAL
diante, continuando-se pela face medial do cor-
po da mandfbula.Junto ao ângulo póstero-inferior Pilares
observam-se rugosidades de inserção do músculo Na face há alternância de zonas de osso muito del-
pterigoideu medial. gado com outras de grande espessura chamadas
"pilares ou contrafortes", que dão resistência. Os
principais pilares são o mandibular, o maxilar, o zi-
gomático e a arcada zigomática, e ainda o orbitário.
Suturas
O crescimento da face depende em grande parte
da existência de suturas, de cuja alteração funcio-
nal resultam deformidades importantes.
Cavidade bucal
Esta cavidade bucal é limitada superiormente pela
abóbada palatina (formada pelas apófises palatinas
das maxilas e pelas lâminas horizontais dos palati-
nos). (Fig. 2.46). Nela observam-se: a sutura cru-
ciforme (resultante da articulação dos quatro os-
Fig. 2.45: Vista medial esquerda da mandíbula.
1. Buraco alveolar inferior 2. Ungula mandibular 3. Linha milo-hioideia sos referidos), a fossa incisiva, os canais palatinos
4. Fosseta submandibular 5. Linha oblíqua interna 6. Fosseta sublingual maiores (canais grandes palatinos), palatinos me-
nores (canais pequenos palatinos; palatinos aces-
Bordos sórios) e respetivos foramina. Ântero-lateralmen-
São quatro: anterior, posterior, superior e inferior. te, encontramos as arcadas alvéolo-dentárias supe-
O anterior tem duas cristas que prolongam para rior e inferior e a mandfbula. Não existem pare-
cima as linhas oblíqua e milo-hioideia do cor- des ósseas inferior e posterior no esqueleto da ca-
po, entre as quais se situa uma goteira que dá in- vidade bucal.
serção ao músculo bucinador. O bordo posterior,
espesso, forma com o inferior o ângulo da man-
dfüula ou gónion, um importante ponto cranio-
métrico. O bordo superior é formado por duas
apófises separadas pela chanfradura mandibular
(chanfradura sigmoideia): a apófise coronoideia,
anterior, tem forma triangular e dá inserção ao
músculo temporal; a apófise posterior é o apófi-
se condiliana ou côndilo mandibular, saliência de
forma elíptica, de grande eixo oblíquo para den-
tro e ligeiramente para trás e pela qual a mandí-
bula se articula com a base do crânio. O côndi-
lo une-se ao ramo ascendente por um segmen-
to mais estreito chamado "colo". Na face ante-
rior deste último observa-se uma pequena fos-
3
seta onde se insere o músculo pterigoideu lateral.
O bordo inferior apresenta uma goteira transver- Fig. 2.46: Cavidade bucal óssea.
1. Cavidade bucal 2. Arcada alveolar superior 3. Arcada alveolar inferior
72
SISTEMA LOCOMOTOR j CABEÇA E PESCOÇO
Formações comuns à face e ao crânio -se a apófise frontal da maxila, o labirinto etmoi-
dal superiormente (com os cornetos nasais mé-
Fossas nasais dio, superior e acessórios), o unguis (osso lacri-
Ocupam uma pos1çao para-mediana, separa- mal) em posição intermédia e a concha nasal in-
das entre si pelo septo nasal, por baixo do crâ- ferior que se encontra mais inferiormente, a lâ-
nio, por dentro da órbita e acima da cavida- mina vertical do palatino e ainda a face medial da
de bucal. Têm uma forma prismática retangular, asa medial da apófise pterigoideia do esfenóide.
com quatro paredes e duas extremidades aber-
tas. A parede medial ou septo nasal (Fig. 2.47)
é constituída de anterior para posterior pela car-
tilagem septal, lâmina perpendicular do etmói-
de e vómer. A parede superior ou abóbada na-
sal apresenta, de anterior para posterior, de cada
lado, o osso próprio do nariz (osso nasal), a es-
pinha nasal do frontal, a lâmina horizontal do
etmóide, a face anterior do corpo do esfenói-
de (onde se observa o orifício do seio esfenoi-
dal) e a face inferior do corpo da mesmo osso.
73
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
6 7
Fig. 2.49: Septo das Fossas Nasais. Fig. 2.50: Cavidade orbitária direita.
1. Osso frontal 2. Osso nasal 3. Etmóide {Lâmina vertical} 4. Corpo 1. lncisura supra-orbitária 2. Fossa orbitária (osso frontal) 3. Asa
do Esfenóide 5. Vómer 6. Maxila (apófise palatina) 7. Palatino menor do esfenóide 4. Canal óptico 5. Fissura orbitária superior
{Lâmina horizontal) 6. Asa maior do esfenóide 7. Fissura orbitária inferior
74
SISTEMA LOCOMOTOR I CABEÇA E PESCOÇO
75
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
a ocorrência de más-oclusões dentárias que fre- racional computadorizada (Cone Beam), ou ares-
quentemente se associam a desequihbrios funcio- sonância magnética nuclear.
nais das articulações têmporo-mandibulares que
podem resultar mais tarde em disfunções têmpo-
ro-mandibulares causadoras de estalidos, dor e in-
capacidade funcional da referida articulação.
lmagiologia da face
76
SISTEMA LOCOMOTOR I CABEÇA E PESCOÇO
3. A maxila
a. É um osso que faz parte, simultaneamente
das cavidades orbitária e bucal e das fossas
nasais e ptérigo-maxilar (infratemporal).
b. Tem uma forma irregularmente quadrilá-
tera, com duas faces (anterior e posterior) e
quatro bordos (superior, inferior ou alveo-
lar, anterior e posterior).
c. Contém uma cavidade, o seio nasal ou an-
tro de Highmore.
d. Participa na formação da parede lateral da
fossa infra-temporal.
77
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
78
SISTEMA LOCOMOTOR I CABEÇA E PESCOÇO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
ARTICULAÇÕES DA CABEÇA
ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR
Introdução
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SISTEMA LOCOMOTOR I CABEÇA E PESCOÇO
Sinovial
Músculos e Movimentos
81
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
82
SISTEMA LOCOMOTOR I CABEÇA E PESCOÇO
a. Temporal.
b. M asséter.
c. Pterigoideu medial.
d. Pterigoideu lateral.
e. Milohioideu.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
• ••
83
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
13
7
9
84
p
SISTEMA LOCOMOTOR j CABEÇA E PESCOÇO
rocesso coronóide da mandíbula. No bordo ante- A nível da mandi'bula, o músculo masséter inse-
P · - do musc
rior deste processo, a mserçao , ulo tempo- re-se em toda a extensão da face lateral do ramo.
ral prolonga-se pelos dois lábios da goteira ante- Aqui, a inserção dos dois feixes é tanto mais supe-
rior do ramo da mandíbula; lateralmente, a inser- rior quanto mais profundo é o feixe. O feixe su-
ão faz-se unicamente na metade superior do pro- perficial insere-se, também, no bordo inferior e no
ç .d ângulo da mandíbula; o feixe profundo tem inser-
cesso corono1 e.
O músculo temporal é levantador da mandi'bula. ção na metade inferior do processo coronóide, in-
A contracção deste músculo, facilmente percep- feriormente ao temporal.
tível pela palpação da fossa temporal, permite a A acção do músculo masséter é idêntica à do mús-
aproximação das arcadas alveolodentárias e, assim, culo temporal: é levantador da mandíbula. A con-
0 encerramento da boca.
tracção deste músculo também é facilmente per-
ceptível através da palpação da região respectiva,
MÚSCULO MASSÉTER sobretudo quando a boca está encerrada.
6
6 8
85
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
86
SISTEMA LOCOMOTOR I CABEÇA E PESCOÇO
16 8
87
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
O músculo platisma, embora seja incluído nos Rouviêre H.; Delmas A. Anatomie humaine, Tome
músculos do pescoço, é inervado igualmente pelo 1 Tête et cou. 15ême édition. Elsevier, Masson,
nervo facial e contribui para a mímica facial. 2002.
PERGUNTAS TIPO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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SISTEMA LOCOMOTOR I CABEÇA E PESCOÇO
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MANUAL DE ANKfOMIA HUMANA
Músculo tiro-hioideu
Músculo esterno-hioideu
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SISTEMA LOCOMOTOR I CABEÇA E PESCOÇO
Músculo digástrico
91
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
92
SISTEMA LOCOMOTOR I CABEÇA E PESCOÇO
Músculo platisma
MÚSCULOS DA REGIÃO POSTERIOR DO
O músculo platisma (Fig. 2.63) é um músculo PESCOÇO
quadrilátero, que recobre a superfície ântero-late-
ral do pescoço num desdobramento da fáscia cer- Os músculos da região posterior do pescoço (ou da
vical superficial (razão pela qual é considerado um nuca) estão dispostos em quatro planos muscula-
músculo supra-aponevrótico e/ou subcutâneo). res: plano profundo, plano do semiespinhoso e do
As fibras musculares nascem, inferiormente, da longuíssimo da cabeça, plano do esplénio e do le-
fáscia peitoral e da fáscia deltóide, dirigindo-se su- vantador da escápula, plano superficial.
perior e medialmente, revestindo a clavícula, a fos-
sa supra-clavicular e o músculo esterno-cleido- PLANO PROFUNDO
-mastoideu até atingir a mand.fbula.
As fibras mais anteriores de cada platisma encon- Pertencem a este grupo (Fig. 2.64) os: músculo
tram-se separadas entre si na porção inferior do recto posterior menor da cabeça, músculo recto
pescoço, sendo que mais superiormente (inferior- posterior maior da cabeça, músculo oblíquo in-
mente à sínfise mentoniana) cruzam-se na linha ferior da cabeça, músculo oblíquo superior da
média. As fibras posteriores inserem-se superior- cabeça, parte cervical dos músculos transver-
mente na comissura labial, no bordo inferior da soespinhoso, músculos interespinhosos e mús-
mand.fbula e na pele da região geniana, sendo que culos intertransversos.
algumas fibras unem-se aos músculos depressor
do lábio inferior e depressor do ângulo da boca. Músculo reeto posterior menor da cabeça
93
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
94
SISTEMA LOCOMOTOR [ CABEÇA E PESCOÇO
95
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
Músculo trapézio
Músculo esplénio
É o mais superficial dos músculos da região poste-
O músculo esplénio (Fig. 2.65) estende-se das rior do pescoço e do tronco (Fig. 2.65), estenden-
primeiras vértebras dorsais ao occipital à mastói- do-se da coluna cervico-dorsal à espádua.
de do temporal. As suas fibras musculares inse- O músculo trapézio nasce do terço medial da li-
rem-se inferiormente no ligamento nucal, apó- nha nucal superior e da protuberância occipital ex-
fises espinhosas de C7 e quatro primeiras vérte- terior, do bordo posterior do ligamento nucal e do
bras dorsais e ligamentos inter-espinhosos cor- vértice das apófises espinhosas de C7 a T12. As
respondentes. O corpo muscular formado dirige- suas fibras musculares constituem uma estrutura
-se superior e lateralmente, sobre a face posterior de forma triangular de base medial (coluna verte-
dos músculos semiespinhoso e longuíssimo, divi- bral) e vértice dirigido sobre a clavícula, acrómio e
dindo-se em duas porções: espinha da escápula.
• Splenius capitis: porção medial de maiores di- As suas fibras mais superiores dirigidas inferior e
mensões, que apresenta inserção superior na lateralmente inserem-se no terço lateral do bordo
metade lateral da linha nucal superior, bordo posterior da clavícula. As fibras médias vão trans-
posterior e face lateral da apófise mastóide do versalmente fixar-se ao acrómio e ao bordo poste-
temporal. rior da espinha da escápula. As fibras mais inferio-
• Splenius colli: porção lateral, de menores di- res, dirigidas superior e lateralmente, terminam na
mensões, que termina na apófise transversa extremidade medial da espinha da escápula.
do atlas e no tubérculo posterior das apófises As fibras musculares do trapézio dirigem a es-
transversas de C2 e C3. pádua medialmente mobilizando de forma variá-
vel o seu bordo espinhal; promovem a inclina-
Este músculo promove a extensão, inclinação e ro- ção homolateral da cabeça, imprimindo-lhe um
tação homolateral da cabeça. movimento de rotação contra-lateral, e elevam o
As fibras mais mediais dos músculos esplénios de- tronco.
96
111111
SISTEMA LOCOMOTOR I CABEÇA E PESCOÇO
PERGUNTAS TIPO
97
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
98
SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO:TÓRAXEABDÓMEN
99
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
100
SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO:TÓRAXEABDÓMEN
--
-------;;,nstituintes Coluna CERVICAL Coluna DORSAL Coluna LOMBAR
Vertebrais
Grande eixo transversal; Equilibrio de diâmetros;
Corpo Vertebral Reniforme (concavidade posterior)
Apófises unciformes (1) Hemifacetas articulares (2)
-
~
Lâminas Mais largas que altas Tão altas como largas Mais altas que largas
Buraco Vertebral Triangular isósceles de base anterior Qyase circular Triângulo equilátero
101
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
10
10
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SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO:TÓRA.XEABDÓMEN
103
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
104
SISTEMA LOCOMOTOR [ TRONCO:TÓRAX E ABDÓMEN
Fig. 2.73: Vista lateral do sacro. Fig. 2.74: Vista posterior do sacro.
1. Face articular 2. Tuberosidade sagrada 3. Asa do sacro 7. Cóccix 1. Crista sagrada mediana 2. Cornos do sacro 3. Goteira sagrada
4. Crista sagrada intermédia 5. Foramen sagrado posterior 6. Crista
sagrada lateral 7. Cóccix 8. Burado sagrado 9. Apófises articulares
superior de 51
senta na sua porção anterior uma superfície ta atrás e limitadas lateralmente pelos cornos
articular, com forma de pavilhão auricular que do sacro.
se articula com o osso ilíaco. O segmento in-
ferior é menos volumoso, estando recober- Cóccix
to de rugosidades que dão inserção aos liga-
mentos sacro-ciáticos, formando a tuberosi- É um elemento ósseo achatado ântero-posterior-
dade sagrada. mente, triangular de vértice inferior e base supe-
• Base: na sua porção média apresenta ante- rior. É constituído pela fusão de 3 a 5 vértebras
riormente uma estrutura de forma renifor- atrofiadas. Apresenta duas faces, dois bordos, uma
me correspondente ao corpo vertebral e pos- base e um vértice:
teriormente a este, um buraco triangular de Face anterior: côncava, apresenta cristas
base anterior - buraco sagrado. As porções transversais.
laterais são ocupadas por uma superfície lisa Face posterior: convexa, apresenta cristas
triangular de base lateral - as asas do sacro. transversais.
É possível identificar ainda nesta face os • Bordos laterais: são irregulares e dão inserção
apófises articulares superiores da primeira aos ligamentos sacro-coccígeos e ao músculo
vértebra sagrada (que se articulam com os isquio-coccígeo.
apófises articulares inferiores da 5. ª vérte- • Base: Articula-se com o vértice sagrado, emi-
bra lombar). tindo de cada lado, dois prolongamentos, um
• Vértice: ocupado por uma superfície conve- vertical (corno do cóccix- que se irão articu-
xa, elíptica, de grande eixo transversal que se lar com os cornos do sacro) e outro transver-
articula com o cóccix. sal (apófise transversa rudimentar).
• Canal sagrado: constitui a porção inferior do • Vértice: Estreito e habitualmente desviado la-
canal raquidiano, tem forma de prisma trian- teralmente.
gular de vértice inferior. A este nível o canal
sagrado é representado por uma goteira aber-
105
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
A coluna vertebral apresenta curvaturas fisioló- Classificam-se como sínfises. As superfícies arti-
gicas no plano sagital (duas lordoses - cervical e culares correspondem à face superior e inferior de
lombar e uma cifose - dorsal) e uma curvatura no dois corpos vertebrais adjacentes. Estas superfí-
plano coronal (escoliose discreta em relação com cies encontram-se revestidas por cartilagem hiali-
a crossa da aorta). Contudo, podem surgir curva- na. Os meios de união correspondem aos discos
turas patológicas na coluna vertebral. As mais co- intervertebrais. Estas articulações não apresentam
muns são as deformações escolióticas e as defor- cápsula articular:
mações cifóticas. As deformações escolióticas po- • Discos intervertebrais: são fibrocartilagens
dem ser não estruturais e ter origem numa má com forma de lente biconvexa com as fa-
postura corporal ou podem ser estruturais (sendo ces superior e inferior aderentes aos planal-
que dentro deste grupo as idiopáticas são as mais tos vertebrais e um bordo periférico livre.
frequentes). As deformações cifóticas mais fre- A sua altura diminui de Cl a D6, voltando
quentes devem-se a fracturas vertebrais em cunha, a aumentar até S1. Cada disco intervertebral
mais frequentemente de causa osteoporótica, dan- é constituído por duas porções: uma central
do um aspecto em "ponto de interrogação" aos in- denominada "núcleo pulposo" (gelatinoso e
divíduos atingidos, na maioria das ocasiões ido- constituído por glicosaminoglicanos); e uma
sos. Por vezes estas deformações podem ser de tal periférica denominada "anel fibroso" (consti-
forma acentuadas que provocam síndromes de hi- tuído por lâminas fibrosas concêntricas, sen-
poventilação, afectando fortemente a função res- do que os feixes de lâminas fibrosas consecu-
piratória. tivas apresentam uma direcção perpendicular
entre si).
• Os ligamento longitudinais anterior e poste-
ARTROLOGIA DA COLUNA VERTEBRAL rior podem ser considerados como ligamen-
tos periféricos desta articulação, recobrindo o
Na artrologia da coluna vertebral temos de dis- bordo periférico livre do disco intervertebral.
tinguir as estruturas articulares que relacionam
entre si elementos da coluna vertebral e as estru- ARTICULAÇÕES ZIGOAPOFISÁRIAS
turas ligamentares que relacionam a coluna ver-
tebral com outros elementos ósseos (como é o São articulações sinoviais, de modo que a classi-
caso das costelas na coluna dorsal e especialmen- ficação atribuída a cada uma destas articulações
te a articulação sacro-ilíaca e o complexo articu- varia de acordo com a região da coluna vertebral:
lar das charneira occipito-vertebral, que pela sua na coluna cervical e dorsal são consideradas artro-
complexidade será discutido em pormenor). dias, enquanto na coluna lombar não considera-
Considerando as estruturas articulares próprias das trocartroses. As superfícies articulares são for-
da coluna podemos distinguir as articulações madas pelas apófises articulares de vértebras contí-
propriamente ditas (articulações intersomáti- guas, as quais são planas na região cervical e dor-
cas e entre os apófises articulares) e as sindesmo- sal e em forma de segmento de cilindro na colu-
ses da coluna vertebral, incluindo as uniões que na lombar. No respeita os meios de união, apresen-
ocorrem entre duas vértebras anexas (ligamen- tam uma cápsula articular que é laxa na região cer-
tos amarelos, ligamentos interespinhosas e su- vical e mais espessa e densa nas restantes regiões
praespinhosa, intertransversas e uncovertebrais), da coluna. Esta cápsula é reforçada medialmente
e ainda os ligamentos que percorrem toda a co- pelo ligamento amarelo correspondente e nos seg-
luna vertebral, como os ligamentos vertebral co- mentos dorsais e lombares destaca-se ainda um li-
mum anterior e o ligamento vertebral comum gamento posterior que a reforça posteriormente.
posterior. A membrana sinovial reveste a superfície profunda
da cápsula articular. Mais laxa na coluna cervical.
106
SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO:TÓRAX E ABDÓMEN
107
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
Articulação Atlanto-Occipital
108
SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO:TÓRA.X E ABDÓMEN
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
***
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SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO:TÓRAX E ABDÓMEN
11 1
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
ESTABILIDADE BIOMECÂNICA DA
~
COLUNA
112
SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO:TÓRAX E ABDÓMEN
113
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
114
SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO:TÓRAXEABDÓMEN
O músculo rombóide menor, superior ao músculo O músculo serrátil póstero-inferior (Fig. 2.83),
rornbóide maior, mas inferior ao músculo levanta- profundo ao músculo latíssimo dorsal, com ori-
dor da escápula, tem origem nas apófises espinho- gem nas apófises espinhosas de Tll -L3 e respe-
sas de C7 e Tl. Insere-se de seguida no bordo me- tivos ligamentos supra-espinhosos, insere-se no
dial da omoplata, ao nível da espinha escapular. Tal bordo inferior das 9.ª-12.ª costelas, imediatamen-
corno o rombóide maior, realiza a adução e levan- te lateralmente aos seus ângulos. Contribui para a
tamento da omoplata. depressão das costelas referidas.
GRUPO INTRÍNSECO
PLANO SUPERFICIAL
115
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
mente (lombar, torácica, cervical, e da cabeça, de traem flexão, e estendem a cabeça posteriormente.
acordo com as suas inserções). De lateral para me- A sua contração unilateral, contudo, inclina a co-
dial, temos os músculos ílio-costais, os longuíssi- luna lateralmente; a contração unilateral dos mús-
mos, e os espinhais. culos com inserções na cabeça permite realizar o
O músculo ílio-costal lombar tem origem no sa- movimento de rotação deste segmento para o lado
cro, apófises espinhosas de Tll-LS, respetivos li- da contração.
gamentos supra-espinhosos, assim como na cris-
ta ilíaca. Insere-se nos ângulos das últimas seis ou
sete costelas.
O músculo ílio-costal torácico tem origem nos ân-
gulos das últimas seis costelas, e insere-se nos ân-
gulos das primeiras seis costelas, assim como na
apófise transversa de C7.
O músculo ílio-costal cervical, com origem nos
ângulos das 3.•-6• costelas, insere-se nas apófises
transversas de C4-C6.
O músculo longuíssimo torácico confunde-se com
o músculo ílio-costal lombar inferiormente, e tem
origem nas apófises transversas das vértebras lom-
bares. Tem inserção nas apófises transversas de to-
das as vértebras torácicas, e imediatamente late-
ralmente aos tubérculos das últimas nove ou dez
costelas.
O músculo longuíssimo cervical tem origem nas
apófises transversas das primeiras quatro ou cinco
vértebras torácicas, e insere-se nas apófises trans-
versas de C2-C6.
O músculo longuíssimo da cabeça, com origem
nas apófises transversas das primeiras quatro ou
cinco vértebras torácicas e nas apófises articulares
das últimas três ou quatro vértebras cervicais, in-
sere-se no bordo posterior da apófise mastoideia.
O músculo espinhal torácico tem origem nas apó-
fises espinhosas de T10-L2, por vezes T11-L2.
Insere-se geralmente nas apófises espinhosas de Fig. 2.84: Músculos intrínsecos intermédios (extensores da coluna).
Tl-T8. 1. Músculo ilio•costal 2. Músculo longuíssimo do tórax 3. Músculo
espinhal torácica 4. Músculo semiespinhal da cabeça 5. Músculo
O músculo espinhal cervical tem origem na apófi- longuíssimo da cabeça (porção cervical complementada na fig. 2.65
se espinhosa de C7; por vezes, pode também pro- dos musculos do pescoço)
116
SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO:TÓRA.XEABDÓMEN
ês subdivisões: os músculos semi-espinho- intervalo" (por exemplo, tem origem em T9, e in-
cras : rnúsculos multifidus, e os músculos rotado- sere-se em T7.
sos, o ºnh - . rfi . .
Os serni-esp1 osos sao os mais supe c1a1s O grupo transverso-espinhal, ao contrair bilateral-
res. fu d mente, estende a coluna vertebral, de forma seme-
deste grupo; pro n amente a estes, encontramos
rnultiiidus. Os rotadores, de menores dimen- lhante aos músculos extensores da coluna. Con-
º:
soes,
são os mais profundos dos três. O subgru- tudo, a sua contração unilateral "puxa'' as apófises
segrnentar é constituído pelos músculos levan- espinhosas em direção às apófises transversas do
0
fadores das costelas, pelos inter-espinhosos e pe- lado da contração, pelo que o tronco terá uma ro-
los inter-transversários. Este grupo apresenta uma tação contralateral.
origem numa porção mais lateral da coluna, di- O músculo levantador da costela, com origem nas
rige-se súpero-medialmente, para se inserir num apófises transversas de C7-Tll, insere-se nacos-
ponto mais superior. tela inferior à vértebra de origem, perto do tubér-
O músculo semi-espinhoso torácico tem origem culo respetivo. Ao contrair, levanta a costela.
nas apófises transversas de T6-T10, e insere-se nas O músculo inter-espinhoso insere-se nas apófises
apófises espinhosas de C6-T4. espinhosas de vértebras contíguas, lateralmente ao
o músculo semi-espinhoso cervical, com origem ligamento inter-espinhoso.
nas apófises transversas das primeiras cinco ou seis
vértebras torácicas, insere-se nas apófises espinho-
sas de C2-C5.
O músculo semi-espinhoso da cabeça apresenta a
sua origem nas apófises transversas de C7-T6 (por
vezes T7), assim como nas apófises articulares de
C4-C6. Insere-se de seguida na porção mais me-
dial do espaço situado entre as duas linhas nucais,
superior e inferior, do osso occipital.
4
O músculo multifidus, de maior complexidade,
tem origem no sacro, na origem dos músculos ex-
tensores da coluna, na espinha ilíaca póstero-su-
perior, nas apófises mamilares das vértebras lom-
bares, nas apófises transversas das vértebras torá-
cicas, assim como nas apófises articulares de C4- 5
117
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
PERGUNTAS TIPO
118
SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO:TÓRAX E ABDÓMEN
119
MANUAL DE ANATOMJA HUMANA
2.ªCoste/a
Fig. 2.87: Costelas.
A. 1.' costela 1.Corpodacostela 2.Coloda costela 3.Cabeçadacostela
4. Ângulo anterior 5. Ângulo posterior 6. Tubérculo da costela As faces da 2.ª costela têm uma orientação oblí-
7. Tubérculo escaleno {Lisfranc) 8. Goteira da artéria subdávia 9. Goteira qua, intermédia entre a orientação da l.ª costela
da veia subdávia
120
SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO:TÓRAXEABDÓMEN
das restantes. Na sua face lateral inserem-se os adulto, este osso, cuja forma se pode comparar à de
e aúsculos esca1eno postenor
. e serra'til antenor.
. Os uma espada, é composto por três peças que são, de
rn , ulos serrátil posterior e superior inserem-se superior para inferior: manúbrio ou punho, corpo
rnusc
osteriormente ao músculo escaleno posterior, e o ou lâmina e ponta ou processo xifóide.
i.• músculo supra-costal insere-se sobre o bordo
DESCRIÇÃO
ior do colo da costela. A 2. ª costela também
super .
não possui goteira costal.
O esterno apresenta duas faces (anterior e poste-
rior), dois bordos laterais e duas extremidades (su-
11.• e 12. • Costelas
perior e inferior).
As duas últimas costelas não possuem tubércu- A face anterior é convexa apresentando cris-
lo e a cabeça apresenta apenas uma faceta articu- tas transversais que correspondem à união das
lar. A 12.ª costela não tem sulco costal nem ân- esternebras. A linha de união entre o corpo e o
gulo posterior. O seu comprimento é muito va- manúbrio forma um ângulo diedro saliente para
riável, podendo ser extremamente curta ou atin- anterior denominado "ângulo esternal (Louis)",
gir até 14 cm. em relação com a 2.ª cartilagem costal. Para cada
lado da linha mediana, na região do manúbrio,
Cartilagens Costais observa-se uma crista para inserção do músculo
esternocleidomastoideu. No corpo estão presen-
As cartilagens costais são estruturas cartilagíneas tes rugosidades para a inserção do músculo pei-
que prolongam anteriormente as costelas. São toral maior.
achatadas no sentido ântero-posterior, apresen-
tando uma face anterior convexa, uma face poste-
rior côncava, um bordo superior e um bordo infe- NOÇÕES DE ANATOMIA CLÍNICA
rior. A extremidade lateral articula-se com a ex-
tremidade anterior das costelas, sendo que a ex- Clínica e semiologicamente, o ângulo esternal,
tremidade medial articula-se com o esterno no pela sua localização sobre o 2.0 arco costal é um
caso das primeiras 7 cartilagens e com a cartila- ponto essencial para a contagem e referenciação
gem suprajacente da 8.• à 10.ª cartilagens. Esta de costelas. Este dado é importante para a realiza7
extremidade é livre no caso da 11.• e 12.ª carti- ção de toracocenteses (punções torácicas para dre-
lagens costais. nagem de liquido ou ar existente no espaço pleu-
ral) e para uma correcta colocação dos eléctrodos
do electrocardiógrafo.
ESTERNO A face posterior do esterno é côncava e apresenta
diversas cristas transversais menos acentuadas que
O esterno é um osso longo e ímpar cuja extremi- as da face anterior, que correspondem aos ponto
dade mais volumosa é superior e a concavidade de fusão das esternebras.
posterior. Cada bordo lateral apresenta sete incisuras cos-
tais para articular com as sete primeiras cartila-
GENERALIDADES gens costais. A 1.ª incisura costal situa-se na por-
ção superior do bordo lateral do manúbrio. A 2.•
O esterno é um osso alongado verticalmente e corresponde à união entre o manúbrio e o corpo
achatado no sentido ântero-posterior, situado na e as restantes localizam-se no corpo. As incisuras
linha mediana da face anterior do tórax. Dirige-se costais estão separadas entre si por seis incisuras
obliquamente para inferior e anterior. intercostais.
O esterno é inicialmente constituído por várias A extremidade superior ou base do esterno apre-
peças ósseas independentes denominadas "ester- senta três incisuras, uma média e duas laterais.
nebras", algumas das quais se fundem. Assim, no A incisura média olha para cima e denomina-se
121
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
incisura jugular, as incisuras laterais articulam com b. De superior para inferior o pedículo in-
a clavícula, pelo que se denominam incisuras cla- tercostal apresenta- se como veia, artéria e
viculares. nervo.
A extremidade inferior ou processo xifóide é a c. A abordagem invasiva do espaço intercos-
porção mais estreita em todo o osso, apresentan- tal deve ser realizada junto ao bordo infe-
do uma forma afilada de vértice inferior (que pode rior da costela.
ser duplo). O processo xifóide por vezes é cartila- d. As estruturas mais nobre o pedículo inter-
ginoso. costal encontra-se localizados numa posi-
ção mais próxima do espaço intercostal.
e. Nenhuma das afirmações anteriores é cor-
recta.
PERGUNTAS TIPO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Relativamente às costelas identifique qual a
Rouviere, H.; Delmas, A. Anatomie Humaine:
afirmação correcta:
a. As costelas podem ser divididas em coste- Descriptive, topographique etfonctionnelle. Tome I.
151m• édition. Masson, 2002.
las verdadeiras, falsas e flutuantes.
b. As costelas podem ser divididas em coste- Drake, R.; Vogl, AW.; Mitchell, AWM. Grays
las típicas, atípicas e flutuantes. anatomyfor students. Elsevier Health Sciences,
c. As costelas podem ser divididas em coste- 2014.
las superiores, inferiores e flutuantes.
Netter, F.At!as ofHumanAnatomy.S-rxth edition.
d. A 8.ª, 9.• e 10.• costelas são verdadeiras.
Saunders Elsevier, 2014.
e. Nenhuma das afirmações é correcta.
122
SISTEMA LOCOMOTOR J TRONCO: TÓRAX E ABDÓMEN
ARTICULAÇÕES COSTO-VERTEBRAIS
9
123
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
vértebra infrajacente e as fibras transversas (mais sente na l.ª costela. O corpo da 12.• costela en-
curtas; feixe intermédio do ligamento radiado) ao contra-se unido à base da apófise transversa de
disco intervertebral. Ll pelo ligamento lombo-costal, representan-
A união das superfícies articulares é ainda refor- do uma continuação dos ligamentos costo-trans-
çada pelo ligamento intra-articular da cabeça da versários superiores. Pode existir um ligamento
costela, um feixe fibro- cartilagíneo que une a ares- acessório, medial ao costo-transversário superior,
ta da cabeça da costela ao disco intervertebral in- encontrando-se separado dele pelo ramo dorsal
terposto entre as hemifacetas vertebrais. Este liga- do nervo raquidiano torácico, e seus vasos saté-
mento divide a articulação, produzindo dois com- lites.
partimentos sinoviais (um superior e outro infe- Por fim, o ligamento costo-transversário lateral
rior). Pelo disposto anteriormente, explica-se o destaca-se do ápex das apófises transversas, inse-
facto de a articulação das l.a, 11.ª e 12.ª costelas rindo-se na eminência súpero-lateral rugosa do
não possuírem este ligamento. tubérculo costal.
Poderão ser encontrados, por vezes, ligamentos
ARTICULAÇÕES COSTO-TRANSVERSAS costo-transversários posterior ou inferior.
As articulações da cabeça costal e costo-transver-
São articulações sinoviais (trocartroses), respon- sária funcionam sinergicamente, encontrando-
sáveis pela união do tubérculo costal às apófises -se mecanicamente relacionadas, sendo o seu mo-
transversas das vértebras torácicas. Esta articula- vimento comum feito em redor (rotação) de um
ção encontra-se ausente nas 11.• e 12.• costelas. eixo que passa pelo centro de ambas as articula-
A superfície articular costal é composta pela emi- ções. Sendo os ligamentos radiados e intra-articu-
nência ínfero-medial do tubérculo costal, enquan- lares bastante resistentes, os movimentos da cos-
to a superfície articular vertebral é formada pela tela apresentam reduzida amplitude. A elevação
faceta articular da face anterior da extremidade li- das costelas inferiores aumenta sobretudo o diâ-
vre das apófises transversas das vértebras torácicas. metro transverso do tórax, enquanto a elevação das
Os meios de união da articulação são: cápsula ar- costelas superiores aumenta sobretudo o diâmetro
ticular, ligamento costo-transversário, ligamen- ântero-posterior.
to costo-transversário superior e ligamento costo-
-transversário lateral (Fig. 2.91).
A cápsula articular insere-se nos contornos das 6
124
SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO:TÓRAX E ABDÓMEN
ARTICULAÇÕES COSTO-CONDRAIS 6
ARTICULAÇÕES INTERCONDRAIS
125
MANUAL DE ANATOMIA H UMANA
mite realizar movimentos de deslizamento, de re- torácica, devendo ser considerada no diagnóstico
duzida amplitude, suficientes para uma boa respi- diferencial com enfarte agudo do miocárdio. Ao
ração. contrário desta última patologia, o síndrome de
Tietze é bem localizado, e a dor agrava ao toque
SINCONDROSES ESTERNAIS na região inflamada.
126
SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO:TÓRAXEABDÓMEN
MIOLOGIA DO TÓRAX
127
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
sos transversos de C7 a Tll, a partir de onde se di- tercostais interno e íntimo; e na porção anterior
rigem inferior e lateralmente para se inserir no bor- do espaço intercostal entre os músculos intercostal
do superior da costela infi-ajacente (Tl a T12), en- interno e transverso do tórax.
tre o tubérculo e o ângulo posterior - músculo ele-
vador curto da costela. O s músculos dos 4 últimos 9
espaços intercostais apresentam um feixe acessório,
mais longo, que se insere na segunda costela infra-
jacente - músculo elevador longo da costela.
Os músculos intercostais externos e elevadores das 13
/ 10
lntercostais Internos 2 7
lntercostais fntimos
Subcostais
O s intercostais íntimos, por vezes considerados
como um desdobramento dos intercostais inter- D enominam-se músculos subcostais os feixes
nos, situam-se por dentro daqueles, ocupando ape- mais posteriores dos músculos intercostais ínti-
nas a porção dos espaços intercostais compreendi- mos, estendendo- se desde a face medial de uma
da entre o ângulo das costelas e uma linha parale- costela até à face medial da costela subjacente.
la ao bordo do esterno, 5 cm lateralmente a este.
A s fibras destes músculos são oblíquas para bai- GRUPO PROFUNDO
xo e para trás, apresentando assim uma orienta-
ção sobreponível à dos intercostais internos e in- Transverso do tórax
versa à dos intercostais externos. O rigina-se, em
cima, na vertente medial do sulco costal da costela O transverso do tórax é um músculo aplanado que
suprajacente e insere-se, em baixo, no bordo supe- se situa na face posterior do esterno, unindo o es-
rior da costela subjacente, profundamente aos in- terno, medialmente, às 3.• a 6.• cartilagens costais,
tercostais internos. lateralmente (Fig. 2.95). A acção deste múscu-
O feixe vasculo-nervoso intercostal caminha no lo é baixar as cartilagens costais. O s músculos in-
sulco intercostal, inicialmente entre os músculos tercostais internos e íntimos, subcostal e transver-
intercostais externo e íntimo; anteriormente à li- so do tórax, ao baixarem as costelas, são músculos
nha axilar média no plano entre os músculos in- acessórios da expiração.
128
>
SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO:TÓRAXEABDÓMEN
• ••
PERGUNTAS TIPO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
129
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
DIAFRAGMA
130
SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO: TÓRAX E ABDÓMEN
Ligamento Arqueado Medial (Arcada do limitado pela porção fibrosa dos pilares do dia-
fragma que formam uma goteira de concavida-
Psoas)
de anterior denominada "ligamento arcuato me-
O ligamento arqueado medial reúne as inserções diano"); hiato esofágico (situado ao nível de Dl0,
costal e vertebral do diafragma, dando passagem muscular, para passagem do esófago e dos ner-
ao corpo do músculo psoas maior. Esta arcada vos vagos, estando o esquerdo à frente e o direito
efectua-se entre a face lateral do corpo de L2 e a mais posterior em relação ao esófago; localizado
face anterior do apêndice transverso de Ll, conti- à frente do orificio aórtico, limitado pela porção
nuando-se, lateralmente, pelo ligamento arquea- carnuda dos pilares do diafragma).
do lateral (arcada do quadrado lombar) que cor- Além dos orificios principais, o diafragma é perfu-
responde à 3.ª arcada aponevrótica das inserções rado por numerosos orificios secundários que dão
costais. passagem a diversas estruturas vasculares e nervo-
sas, nomeadamente: cadeia simpática transversa;
9 nervo esplâncnico maior; nervo esplâncnico me-
nor; nervo esplâncnico minímo; 7.0 a 11. 0 nervos
intercostais; ramos abdominais dos nervos fréni-
cos; raizes da veia ázigos; veia lombar ascendente;
11 artéria epigástrica inferior.
O diafragma é um músculo inspiratório. As fibras
. carnudas ao contraírem efectuam um abaixamen-
to de tendão central e da cúpula diafragmática, fi-
cando esta com uma concavidade menos acentua-
da. Desta forma ocorre um aumento do diâmetro
13
vertical da cavidade torácica. Os diâmetros ântero-
-posterior e transversal também aumentam devi-
do às inserções do diafragma ao nível das costelas,
que provocam uma elevação destas e consequente-
3 10 12
mente uma projecção anterior e lateral.
Fig. 2.97: Diafragma (vista inferior).
1. Centro frénico 2. Porçao muscular vertebral 3. Corpo vertebral L1
4. M úsculo Psoas maior 5. Músculo quadrado lombar 6. Ligamento
arq ueado mediano 7. Ligamento arqueado medial (arcada do psoas)
8. Ligamento arcuato lateral (arcada do quadrado lombar) 9. Hiato PERGUNTAS TIPO
esofágico 10. Hiato aórtico 11. Hiato da Veia Cava Inferior 12. Pilar
diafragmático es~uerdo 13. Pilar diafragmático direrto
i. Em relação ao diafragma (escolha a falsa):
a. É um músculo digástrico.
ORIFÍCIOS DIAFRAGMÁTICOS b. No orificio esofágico passam os nervos va-
gos e o canal torácico.
O diafragma é atravessado por diversas estrutu- e. O orificio da veia cava inferior é inexten-
ras e como tal é perfurado por múltiplos orifi- sível.
cios, destacando-se três: orificio da veia cava in- d. Os pilares do diafragma limitam o orifi-
ferior (situado ao nível de D9, inextensível, dan- cio aórtico.
do passagem à veia cava inferior por vezes acom- !g-i
panhada pelo ramo abdominal do nervo fréni- :s,1sodsa'M
co direito; localizado no tendão central, na união
dos folíolos anterior e direito, limitado à frente
pela fita semi-circular inferior e atrás e por.den-
tro pela fita semi-circular superior); hiato aórtico
(situado ao nível de D11-Dl2, inextensível, dan-
do passagem à artéria aorta e ao dueto torácico,
131
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
***
132
SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO: TÓRAX E ABDÓMEN
BACIA ÓSSEA
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
PERGUNTAS TIPO
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SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO:TÓRAX E ABDÓMEN
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
11 6 8
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3
9
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SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO:TÓRAX E ABDÓMEN
4
LIGAMENTOS SACRO-CIÁTICOS
A função desta articulação consiste na dispersão Este situa-se anteriormente em relação ao liga-
das forças de carga, exercidas ao longo da colu- mento sacrotuberoso. O ligamento tem uma for-
na vertebral, nomeadamente no segmento lombar, ma triangular de base medial e cruza obliquamen-
para os membros inferiores, limitação da rotação te a direcção do ligamento sacrotuberoso.
no eixo horiwntal e facilitação do trabalho de par- Insere-se nos bordos laterais do sacro e cóccix, ao
to. Em relação com a coluna lombar, esta articula- nível das duas últimas vértebras sagradas e duas
ção é mais resistente a forças executadas directa- primeiras coccígeas. Dirige-se então para fora e
mente mas mais sensível a forças de torção. Des- para a frente inserindo-se no vértice da espinha
te modo, o mecanismo para lesar esta articulação ciática.
passa por uma elevada carga axial associada a fe- Na porção mais anterior o ligamento forma-se a
nómenos de rotação, podendo originar queixas ál- partir da transformação fibrosa dos feixes muscu-
gicas a esse nível. As causas dessa dor podem ser lares posteriores do músculo ísquio-coccígeo.
de etiologia articular como também extra-articu- Devido à sua disposição, o intervalo compreendi-
lar. No que diz respeito a situações de origem ar- do entre o ilíaco e o bordo lateral do sacro e do
ticular são exemplos a infecção ou a artrite. Cau- cóccix divide-se em dois orifícios: superior e infe-
sas extra-articulares são mais comuns das quais rior (Fig. 2.106).
são exemplos a entesopatia (inflamação no local
de inserção óssea de um ligamento ou músculo), Orifício superior. Foramen Ciático Maior
as fracturas ou lesões ligamentares.
Este é o orificio de maior dimensão sendo forma-
do pela incisura ciática maior (superior e lateral-
137
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
7 6
Fig. 2.103: Articulações e ligamentos anteriores da bacia + Fig. 2.104: Sínfise púbica.
1. Sacro 2. Foramen sagrados anteriores 3. Cóccix 4. Osso ilíaco 5. Crista ilíaca 6. Espinha isquiática 7. Tuberosidade isquiática 8. s:• vértebra
lombar 9. Apófise transversa das.• vértebra lombar 10. Ligamento sacro-ilíaco anterior 11. Ligamento ilio--lombar 12. ligamento sacrotuberoso
13. Ligamento sacroespinhoso 14. Foramen ciático maior 15. Forarnen ciático menor 16. Ligamento sacro-coccígeo anterior 17. Ligamento
longitudinal anterior
mente), ligamento sacrotuberoso (medialmente) e espaço compreendido entre as duas superficies ar-
ligamento sacroespinhoso (inferiormente). Neste ticulares maior na região anterior.
orificio passa o músculo piriforme e os pedículos
vásculo-nervosos da região glútea. MEIOS DE UNIÃO
Orifício inferior. Foramen Ciático Menor São considerados como meios de união desta ar-
ticulação o ligamento interósseo e à sua volta uma
Os seus limites são a incisura ciática menor (la- manga fibrosa periférica.
teralmente), ligamento sacrotuberoso (inferior e
medialmente) e ligamento sacroespinhoso (supe- Ligamento interósseo
riormente). Este é atravessado pelo músculo obtu-
rador interno, pelos vasos e nervos pudendas in- Constituído por fibrocartilagem, estende-se en-
ternos e nervo obturador interno. tre as duas superfícies articulares, sendo mais es-
pesso à frente que atrás.
A porção central deste ligamento contém no
SÍNFISE PÚBICA adulto uma cavidade assinovial, situada na por-
ção mais posterior. Este ligamento apresenta um
Esta articulação resulta da umao anterior dos elevado conjunto de fibras na região mais perifé-
dois ossos ilíacos (coxais), ao nível do púbis (Fig. rica que se cruzam com os feixes vizinhos.
2.104). É classificada como uma anfiartrose. Este ligamento é mais espesso no sexo femini-
As suas superfícies articulares correspondem às no, tornando-se mais laxo durante a gravidez, da
faces sinfisiais, situadas ao nível do bordo medial mesma forma que aumenta o tamanho da cavi-
das lâminas quadriláteras do púbis, estando cober- dade articular.
tas por cartilagem hialina. Estas superficies apre-
sentam uma forma elíptica talhada obliquamente,
com uma inclinação para baixo e para trás, sendo o
138
SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO: TÓRAX E ABDÓMEN
4
Manga fibrosa periférica
MEMBRANA OBTURADORA
139
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
Apresenta um reforço superficial e lateral, atra- Rouviêre, H.; Delrnas A.Anatomie Humaine:
vés de outra membrana fibrosa denominada "fita Descriptive, topographique etfonctionnelle. Tome I.
infra-púbica'', que se insere no ligamento trans- 15éme édition, Masson, Paris, 2002.
verso do acetábulo e no tubérculo obturador an- Steven P. Cohen. "Sacroiliac]oint Pain:A
terior e face anterior do púbis (Fig. 2.107). Esta comprehensive R eview ofAnatomy, Diagnosis and
fita está unida pelo seu bordo inferior à membra- Treatment~ Anesth Analg 2005, 101:1440-53
na obturadora apresentando um bordo superior
livre que contribui para a formação do pavimen- J.A. Esperança Pina. Anatomia Humana da
to do canal obturador. Locomoção, 5.ª Edição, Lidei, 2015.
• ••
PERGUNTAS TIPO
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SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO:TÓRAXEABDÓMEN
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
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SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO: TÓRAX E ABDÓMEN
Acção 10
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
MÚSCULO PIRAMIDAL
144
SISTEMA LOCOMOTOR J TRONCO:TÓRAX E ABDÓMEN
trllruras vásculo-nervosas e o períneo, onde pas- dentro, bordo medial do músculo iliopsoas, por
sam os segmentos perineais dos aparelhos uriná- fora, e ramo horizontal do púbis (ou ílio-púbico)
rio, genital e digestivo (Fig. 2.113). inferiormente, determinando um hiato (bura-
Exemplos de zonas onde a fragilidade depende es- co músculo-pectíneo), considerado a verdadeira
sencialmente da sobreposição imperfeita dos pla- zona de fraqueza do região inguinal (Fig. 2.114).
nos musculo-aponevróticos ou de intersecções O limite posterior deste hiato é apenas encerra-
aponevróticas, enunciamos a linha branca, a linha do pela lâmina de tecido conjuntivo, cuja resis-
semilunar (Spiegel), o triângulo lombar inferior e tência pode ser muito variável de indivíduo para
triângulo lombar superior. indivíduo, denominada "fascia transversalis." Esta
0
Os locais onde se procederam a incisões cirúrgicas região torna-se especial no Homem devido a sua
também são mais susceptíveis à formação de pro- fraqueza relativa resultar do ortostatismo (isto é,
tusões herniárias, neste caso denominadas "hér- com a passagem ao bipedismo, o bordo inferior
nias incisionais". do oblíquo interno migrou para cima, afastan-
Onde existem músculos, podemos aumentar a re- do-se do ramo horizontal do púbis, aumentando
sistência com a hipertrofia dos mesmos ou di- o buraco músculo-pectíneo e, por conseguinte, a
minui-la através da atrofia. Relativamente a zo- área de fraqueza da parede).
nas onde não há músculos, não podemos influen- O buraco músculo-pectíneo é atravessado verti-
ciar a resistência da parede que depende essencial- calmente, na sua parte lateral e inferior, pelo eixo
mente da constituição estrutural de cada indiví- vertical dos vasos ílio-femorais e, obliquamente
duo, podendo apresentar defeitos ou tornarem-se para baixo, para dentro e para diante, pelos ele-
mais flácidas com a idade. mentos do cordão espermático no homem e liga-
O s pontos fracos que têm maior importância são mento redondo na mulher.
os da região inguino-crural, onde se desenvol- O buraco músculo-pectíneo é dividido pela arca-
vem a grande maioria das hérnias (86%) no Ser da crural em canal inguinal e anel crural, respec-
H umano, sendo limitada pelo bordo inferior dos tivamente acima e abaixo da arcada. A fita ílio-
músculos oblíquo interno e transverso abdominal, -púbica de Thompson, que é classicamente descri-
por cima, bordo lateral do recto abdominal, por ta como um reforço do bordo posterior da arca-
145
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
146
SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO:TÓRAX E ABDÓMEN
Linha branca
Corresponde a uma rafe tendinosa na linha mé-
dia, entre os músculos rectos abdominais, esten-
dendo-se desde o processo xifóide até à sínfise pú-
bica (Fig. 2.113). É constituída pelo entrecruza-
mento das aponevroses de inserção dos músculos
oblíquo externo, oblíquo interno e transverso ab-
dominal. Tem maior importância acima do umbi-
go (onde, habitualmente, se formam hérnias epi-
gástricas, pelo facto de ser atravessada por elemen-
tos neurovasculares).
Fig. 2.117: Topografia da região crural.
1. Tubérculo púbico 2. Espinha ilíaca ãntero-superior 3. Espinha ilíaca Linha serni-lunar (Spiegel)
ãntero-inferior 4. Ligamento inguinal 5. Músculo mo-psoas 6. NeNo Corresponde a uma zona de sobreposição imper-
femoral 7. Ligamento lacunar 8. Ramo horizontal do púbis 9. Fita
ilio-pectínea 1O. Artéria femoral 11. Veia femoral 12. loca linfática feita das três aponevroses dos músculos oblíquo
externo, oblíquo interno e transverso abdominal,
situada lateralmente à baínha dos músculos rectos
REGIÃO UMBILICAL abdominais. Acresce o facto de ser também uma
zona atravessada por elementos neurovasculares.
É um ponto fraco da linha média, sendo consti- É identificada exteriormente pelo sulco lateral do
tuído por um anel fibroso recoberto adiante por ventre (Gerdy).
tegumentos e atrás pelo peritoneu. Este local cor- Na região lombar temos dois locais onde existem
responde a 3% das hérnias da parede abdominal. falhas nos planos musculares: o triângulo lombar
Até à nascença é a região de passagem ao canal inferior (Fig. 2.118) ou de Jean-Louis-Petit (fa-
vitelino, vesícula alantóide e aos vasos que ligam
o feto à mãe através do cordão umbilical (veia
e artérias umbilicais). Depois do nascimento dá
origem à cicatriz umbilical.
O umbigo apresenta uma depressão, chamada
"depressão umbilical", no fundo da qual se obser-
va uma saliência, chamada "mamilo", no centro
do qual fica a cicatriz, limitado por um sulco cir-
cular (sulco umbilical). O umbigo dá inserção, no
bordo inferior do anel fibroso, ao úraco, artérias
e veia umbilicais obliteradas. Atrás destas estru-
turas encontramos a fascia umbilicalis, que é uma
lâmina fibrosa resultante de um espessamento
da fascia transversalis, que no adulto está presen-
te em 84% dos casos. Esta fáscia pode comple-
tar todo o anel umbilical e nestes casos opõe-se
à formação de hérnias, mas pode não existir atrás
da cicatriz ou só atingir parte da cicatriz, pelo que 3
nestes com facilidade se originam as hérnias um- Fig. 2.118: Pontos fracos lombares.
bilicais. 1.Apófisesespinhosaslombares 2. 12.ªcostela 3. Crista ilíaca 4. Músculo
Iatíssimo do dorso 5. Músculo oblíquo externo 6. Músculo oblíquo
interno 7. Múscuk> serrãtil póstero-inferior 8. Músculos erectores
da espinha 9. Trígono lombar inferior (Triângulo de Jean Louis Petit)
10. Trígono lombar superior (Quadrilátero de Grynfelt)
147
MANUAL D E ANATOMIA HUMANA
PERGUNTAS TIPO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
148
SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO:TÓRAXEABDÓMEN
149
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
10
10
Fig. 2.120: Plano superficial (feminino). P,g. 2.121 : Plano superficial (masculino).
1. Clítoris 2. Meato uretral 3. lntroitus vaginal 4. Músculo ísquio- 1. Bulbo peniano 2. Músculo ísquio-cavemoso 3. Músculo bulbo.
cavernoso 5. Músculo bulbo-esponjoso 6. Músculo transverso esponjoso 4. Rafe mediana 5. Músculo transverso superificia!
superificial 7. Músculo esfíncter externo do ânus 8. Cóccix 9. Músculo 6. Músculo esfíncter externo do ânus 7. Cóccix 8. Músculo glúteo
glúteo máximo 1O. Corpo perineal máximo 9. Co,po perineal
O músculo transverso superficial é inconstante; tholin e a superfície lateral do bulbo. Tal como no
insere-se no corpo perineal. O músculo isquio-ca- homem, apresenta feixes musculares superficiais e
vernoso apresenta a forma de um semi-corneto, profundos
relacionando-se com a superficie não aderente da O músculo constritor da vulva, ou constritor do
raiz do corpo cavernoso. Insere-se superior e infe- vest.fbulo, é um músculo suplementar que apenas
riormente à raiz do corpo cavemos.o, nos dois lá- existe na mulher. Localiza-se no grupo anterior,
bios do ramo isquio-púbico, e na face medial do entre o bulbo e a glândula de Bartholin, lateral-
ísquion, posteriormente aos corpos cavernosos. As mente, e a parede lateral da vagina, mediaimen-
fibras musculares terminam na albugínea do cor- te. Insere-se no corpo perineal, posteriormente, e
po cavernoso. termina anteriormente na parede anterior da vagi-
O músculo bulbo-esponjoso é diferente no ho- na e no septo uretro-vaginal. Segundo alguns au-
mem e na mulher. No homem, este músculo é jus- tores, este músculo é o responsável pelo vaginis-
ta-mediano e, juntamente com o seu contra-late- mo inferior.
ral, forma urna goteira côncava superiormente que
recobre o bulbo peniano e o corpo esponjoso até PLANO MUSCULAR MÉDIO
à junção deste último com os corpos cavernosos
(Fig. 2.121). Insere-se no corpo perineal e no rafe O plano muscular médio forma o chamado "dia-
mediano que une ambos os músculos bulbo-es- fragma pélvico acessório ou diafragma uro-geni-
ponjosos. Os seus feixes musculares dispõem-se tal". É constituído por dois músculos: transverso
em dois planos: um superficial, que apresenta al- profundo e esfíncter externo da uretra (Fig. 2.122).
gumas fibras conhecidas como músculo de Hous- Estes músculos localizam-se somente no triângu-
ton; um profundo, constituído por fibras que rece- lo uro-genital e estão compreendidos entre os dois
bem a designação de músculo compressor do bul- folhetos da fáscia perineal média. Estes dois mús-
bo (Fig. 2.120). Na mulher, o músculo bulbo-es- culos são diferentes no homem e na mulher.
ponjoso recobre a face externa do bulbo. Insere-se O músculo transverso profundo é achatado e
no corpo perineal; daqui dirige-se anteriormen- triangular. Insere-se no ísquion e no ramo isquio-
te recobrindo a face lateral da glândula de Bar- -púbico, terminando no corpo perineal. Na mu-
150
SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO:TÓRAX E ABDÓMEN
10
Jher, este músculo é mais largo que no homem. A porção ilio-coccígea insere-se na face poste-
O músculo esfíncter externo da uretra envolve a rior do púbis, na fáscia do músculo obturador in-
porção membranosa da uretra. Insere-se na fáscia terno (onde forma o arco tendinoso do levanta-
perineal média. No homem, insere-se igualmente dor do ânus) e na face medial da espinha ciáti-
no corpo perineal; na mulher, perde-se pelo teci- ca. Da sua origem, os feixes musculares dirigem-
do que une a uretra à vagina. Na mulher são des- -se posteriormente e medialmente e inserem-
critos dois feixes musculares associados a este últi- -se nas últimas duas vértebras coccígeas e, prin-
mo músculo: o músculo compressor da uretra, fi- cipalmente, no rafe ano-coccígeo. A porção pu-
bras musculares que dirigem de um ramo ísquio- bo-coccígea, mais estreita que a precedente, inse-
-púbico ao contralateral cruzando a face anterior re-se na face posterior do púbis, medialmente à
da uretra, e o esfincter uretrovaginal, fibras mus- porção ilio-coccígea; daqui, as suas fibras têm um
culares circulares que envolvem a uretra e o introi- trajecto para trás, terminando no rafe ano-coccí-
tus vaginal. geo. A porção puborectal, insere-se na face pos-
terior do púbis, medialmente à porção pubo-coc-
PLANO MUSCULAR PROFUNDO cígea, de onde se dirige posteriormente para cir-
cunscrever a transição ano-rectal, continuando-
É também chamado "diafragma pélvico princi- -se com o músculo contra-lateral na linha mé-
pal, ou períneo comum de Henlé". Forma um sep- dia, posteriormente ao recto; deste modo, apre-
to côncavo superiormente cuja principal função é senta uma forma em U de concavidade anterior.
o suporte dos órgãos pélvicos. É constituído por Os dois músculos levantadores do ânus circuns-
dois músculos: levantador do ânus e isquio-coccí- crevem entre eles, na linha média e anteriormen-
geo. O primeiro ocupa a maior parte da extensão te ao recto, uma abertura larg~ designada "fenda
deste plano, enquanto o segundo se localiza ape- uro-genital" (Fig. 2.123). No homem, esta fenda
nas no triângulo posterior (Fig. 2.123). relaciona-se com a uretra e a próstata; na mulher,
O músculo levantador do ânus é constituído por a relação estabelece-se com a uretra e a vagina.
três porções: ilio-coccígea, lateral, com função es- O músculo isquio-coccígeo corresponde a uma
fincteriana; pubo-coccígea, intermédia, com fun- lâmina triangular que se estende da espinha ciá-
ção levantadora; e puborectal, medial, sendo o tica aos bordos laterais do sacro e do cóccix.
principal músculo do mecanismo esfincteriano. O seu bordo anterior é contíguo ao bordo poste-
151
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
rior do levantador do ânus; o seu bordo posterior interna e posteriormente com o folheto aponevró-
encontra-se separado do bordo inferior do mús- tico que recobre o plexo sagrado.
culo piriforme por um interstício que dá passa-
gem ao pedículo vasculo-nervoso glúteo inferior. NOÇÕES DE ANATOMIA CLÍNICA
A face inferior deste músculo relaciona--se com
o ligamento sacroespinhoso. O controlo da defecação é assegurado pelos mús-
culos esfincter externo do ânus, levantador do ânus
PLANOS APONEVRÓTICOS e transversos superficial e profundo. Os músculos
que interferem no controlo da micção são o es-
Cada um dos planos musculares do períneo apre- fincter externo da uretra e os transversos superfi-
senta um revestimento aponevrótico próprio. As- cial e profundo. Os músculos isquio- e bulbo-es-
sim, consideram-se 3 fáscias: superficial, média e ponjosos determinam a erecção ao comprimirem
profunda, ou pélvica (Fig. 2.124). A fáscia peri- os órgãos erécteis nos quais se inserem. O múscu-
neal superficial (fáscia de Colles), sub-cutânea, en- lo de Houston comprime a veia dorsal profunda
contra-se unicamente no períneo anterior, reco- do pénis, impedindo o retorno do sangue venoso.
brindo os músculos superficiais do triângulo uro- O s músculos que controlam a micção,juntamente
-genital. A sua face inferior, mais superficial, en- com o músculo isquio-cavernoso, actuam no me-
contra-se recoberta por tecido celular sub-cu- canismo da ejaculação.
tâneo. Do mesmo modo, a fáscia perineal mé- As patologias perineais mais comuns são as infec-
dia localiza-se apenas no triângulo anterior do ções e as fistulas, associadas ou não a doenças sis-
períneo. É constituída por dois folhetos, um in- témicas. As fistulas surgem, principalmente, como
ferior e outro superior, envolvendo os músculos sequelas de abcessos.
transverso profundo e esfincter externo da uretra.
A fáscia pélvica recobre o diafragma pélvico prin-
cipal, ou seja, a face superior dos músculos levan- PERGUNTAS TIPO
tador do ânus e isquio-coccígeo. Continua-se late-
ralmente e superiormente com a fáscia obturadora Sugerem-se duas perguntas com apenas uma res-
posta certa. Assinale-a:
152
SISTEMA LOCOMOTOR I TRONCO:TÓRAX E ABDÓMEN
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
• ••
153
MANUAL DE ANAT OMIA HUMANA
CLAVÍCULA
2
Fig. 2.125.: Esqueleto ósseo do membro superior.
1. Omoplata 2. Clavícula 3. Úmero 4. Rádio 5. Cúbito/ Ulna 6. Carpo
ósseo 7. Metacarpo 8. Dedos
ESQUELETO DA ESPÁDUA
154
>
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR
6
4
É um osso placóide, par, que se localiza na região sa supraespinhosa e abaixo a fossa infraespinhosa.
póstero-lateral da parede to1;:ácica em relação com A espinha da omoplata, de forma triangular, pro-
as primeiras sete costelas. E parte integrante do jeta-se da face posterior da omoplata, na união do
complexo articular da espádua ao nível de duas ar- seu ¾ superior com os ¾ inferiores. Lateralmen-
ticulações: glenoumeral (escápulo-umeral) e es- te, termina numa apófise (processo) achatada ho-
capulotorácica. A face côncava é anterior e a su- rizontalmente, o acrómio. Este apresenta uma fa-
perfície articular de maiores dimensões é superior ceta articular elíptica que se dirige medial e supe-
e lateral. Apresenta duas faces (anterior e poste- riormente e articula com a faceta articular da ex-
rior), três bordos (superior, medial e lateral) e três tremidade lateral da clavícula, através da articula-
ângulos (súpero-lateral, súpero-medial e inferior). ção acromioclavicular. O bordo lateral do acrómio,
Na face anterior (Fig. 2.128) encontra-se uma que se encontra no prolongamento do bordo pos-
concavidade acentuada que se denomina de fos- terior da espinha da omoplata, dá inserção a feixes
sa subescapular (fossa infra-escapular) e dá inser- musculares do deltóide, em toda a sua extensão.
ção ao músculo subescapular (infra-escapular). No A fossa supraespinhosa dá inserção ao músculo
limite lateral desta fossa existe uma saliência para- supraespinhoso. A fossa infraespinhosa apresen-
lela ao bordo lateral da omoplata, o pilar da omo- ta uma crista transversal, paralela ao bordo lateral
plata, que constitui o lábio medial de um sulco que do osso, que a divide em duas porções, uma late-
dá pelo nome de sulco do bordo lateral (goteira do ral e uma medial. A porção medial dá inserção ao
bordo axilar), onde se inserem os feixes inferiores músculo infraespinhoso. A porção lateral, por sua
do músculo subescapular. Ao longo do bordo me- vez, encontra-se dividida por uma crista oblíqua,
dial existem superfícies rugosas, próximas dos ân- que se orienta medial e inferiormente, numa por-
gulos superior e inferior, que dão inserção ao mús- ção superior onde se insere o músculo teres menor
culo serrátil anterior (grande dentado). (pequeno redondo), e numa porção inferior onde
A face posterior (Fig. 2.129) está dividida em dois se insere o músculo teres maior (grande redondo).
segmentos por uma saliência transversal, a espinha O bordo superior (cervical) continua-se lateral-
da omoplata. Acima desta, encontramos a fos- mente pela incisura da omoplata (chanfradura
155
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
Fig. 2.129: Omoplata (face posterior). Fig. 2.130: Omoplata (bordo externo ou axilar).
1. Espinha da omoplata 2. Acrómio 3. Fossa supraespinhosa 4. 1. Cavidade glenoideia 2. Apófise coracoideia 3. Espinha da omoplata
Fossa infraespinhosa 5. Tubérculo infraglenoideu 6. Colo da omoplata 4. Aaómio 5. Tubérculo infraglenoideu
156
p
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR
meral (escápulo-umeral) e pela sua extremidade porção média da face ântero-medial (Fig. 2.131)
inferior forma, com o rádio e com o cúbito, a arti- insere-se o músculo coracobraquial. Abaixo e à
culação do cotovelo. A extremidade que apresen- frente deste local de inserção encontra-se o bura-
ta urna superfkie articular em forma de segmen- co nutritivo do osso.A face posterior (Fig. 2.131)
to de esfera é superior e medial. Na extremida- está dividida em duas porções por um sulco que
de inferior a face convexa é anterior. Apresenta, a tem um trajeto oblíquo de cima para baixo e de
descrever, um corpo e duas extremidades. medial para lateral, o sulco do nervo radial (go-
teira do nervo radial), que dá passagem ao ner-
Corpo vo radial e aos vasos braquiais (umerais) profun-
dos. Superior e lateralmente a este sulco insere-
Tem uma forma quase retilínea com uma ligeira -se a porção lateral do músculo tríceps braquial
torção sobre o seu próprio eixo, na parte média. (vasto externo) e inferior e medialmente insere-
Apresenta uma forma irregularmente cilíndri- -se a porção medial do músculo tríceps braquial
ca na metade superior e prismática triangular na (vasto interno). O bordo anterior está em conti-
metade inferior. Distinguem-se três faces (ânte- nuidade, em cima, com o bordo anterior do sulco
ro-lateral, ântero-medial e posterior) e três bor- intertubercular (goteira bicipital) e com o ramo
dos (anterior, lateral e medial). A face ântero-la- anterior da tuberosidade deltoideia. Este bordo,
teral (Fig. 2.131) apresenta, acima da sua região na sua metade inferior, dá inserção ao múscu-
média, uma crista em forma de V, a tuberosidade lo braquial e divide-se em dois ramos que deli-
deltoideia que dá inserção ao músculo deltóide. mitam a fossa coronoideia (fosseta coronoideia).
Abaixo desta, existe uma superfície lisa onde se O bordo medial dá inserção ao septo intermus-
insere o músculo braquial (braquial anterior). Na cular medial do braço e o bordo lateral dá inser-
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
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ESQUELETO DO ANTEBRAÇO
R,ÁI)/0
Corpo
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SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR
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dial e outra lateral, dão inserção aos ligamentos do rádio. A incisura troclear do cúbito é forma-
colaterais, cubital e radial, respetivamente, da ar- da pela união da face anterior do olecrânio com a
ticulação do cotovelo. Na face medial insere-se face superior da apófise coronoideia. Uma crista
o músculo flexor cubital do carpo e na face late- longitudinal divide esta incisura em duas verten-
ral insere-se o músculo ancóneo. Apresenta ain- tes que correspondem ao sulco da tróclea umeral.
da uma face posterior e uma face inferior, atra-
vés da qual está em continuidade com o corpo Extremidade inferior
do osso. A apófise coronoideia destaca-se da face
anterior do cúbito (Fig. 2.133), tem a forma de Apresenta duas saliências, a cabeça do cúbito e a
uma pirâmide quadrangular com um vértice (ou apófise estiloideia do cúbito (Fig. 2.133). A cabe-
bico) anterior, uma base posterior, em continui- ça do cúbito apresenta uma forma arredondada
dade com o corpo do osso, uma face superior, que com uma superficie articular lateral, em forma de
faz parte da incisura troclear e que está dividida segmento de cilindro, que articula com a incisura
em dois segmentos por uma crista ântero-poste- cubital do rádio e uma superficie articular inferior
rior. Apresenta ainda uma face inferior para in- para o ligamento radiocubital (ligamento triangu-
serção do músculo braquial, uma face medial para lar) da articulação do punho. A apófise estiloideia
inserção do ligamento colateral cubital da articu- do cúbito tem uma forma cónica e localiza-se pos-
lação do cotovelo e uma face lateral com uma su- terior e medialmente à cabeça do cúbito, dando
perficie articular em forma de segmento de ci- inserção ao ligamento colateral cubital (ligamento
lindro, côncavo, a incisura radial do cúbito (Fig. lateral interno) da articulação do punho.
2.133), que articula com a extremidade superior
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
2 2
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Dedos Dedos
Fig. 2.134: Mão óssea (vista anterior ou palmar e vista posterior ou dorsal).
1. Escafóide 2. Lunato 3. Triquetro 4 . Pisiforme 5. Trapézio 6. Trapez.óide 7. Capitato 8. Hamato 9. 1• falange (proximal) 10. 2ª falange
(intermédia) 11. 3" falange (distal)
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SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR
osa transversal, a crista do triquetro, onde se in- com o triquetro. A face lateral articula com o ca-
~ere O ligamento colateral cubital da articulação do pitato. A face inferior articula com o 4° e 5° me-
punho. tacárpicos.
O pisiforme articula pela sua face posterior com o O carpo corresponde assim a um maciço ós-
triquetro. Na face lateral existe uma goteira em re- seo com quatro faces e dois bordos. A face an-
lação com a artéria cubital. A face anterior dá in- terior apresenta uma goteira de concavidade an-
serção aos músculos flexor cubital do carpo e ab- terior, o sulco cárpico (goteira anterior do car-
dutor do 5° dedo. po), sendo limitada, lateralmente, pelos tubér-
A fileira inferior do carpo é formada, de lateral culos do escafóide e do trapézio e, medialmen-
para medial, pelos _ossos: trapézio, trapezóide, ca- te, pelas saliências do pisiforme e do hamato.
pitato e hamato (Fig. 2.134). Entre estas saliências ósseas estende-se uma lâ-
o trapézio é o mais lateral dos ossos desta filei- mina fibrosa que se denomina de retináculo dos
ra. A face superior articula com o escafóide. A face flexores (ligamento anular anterior do carpo) o
inferior é convexa ântero-posteriormente e cônca- qual transforma o sulco cárpico num canal os-
va transversalmente (em forma de sela) e articula teo-fibroso, o canal cárpico. Este canal dá pas-
com o 1° metacárpico. A face medial articula com sagem ao nervo mediano, aos tendões dos mús-
0 trapezóide e com o 2° metacárpico. A face late- culos flexores dos dedos e ao tendão do múscu-
ral é rugosa. A face anterior é não-articular e é cru- lo flexor radial do carpo. A face posterior do car-
zada por uma goteira, limitada, lateralmente pelo po é convexa. A face superior constitui uma su-
tubérculo do trapézio, que dá passagem ao tendão perfície articular convexa, o côndilo cárpico, for-
do músculo flexor radial do carpo (grande palmar). mado pelos ossos escafóide, lunato e triquetro.
A face posterior é rugosa e apresenta, em ambas as A face inferior apresenta as facetas articula-
extremidades, um tubérculo destinado a inserções res para os ossos metacárpicos. Os bordos late-
ligamentares. rais são rugosos e dão inserção a músculos e li-
O trapezóide encontra-se entre o trapézio e o ca- gamentos.
pitato. A face superior articula com o escafóide.
A face inferior articula com o 2° metacárpico. METACARPO
A face medial articula com o capitato. A face late-
ral articula com o trapézio. A face anterior e a face É constituído por cinco ossos longos, os ossos
posterior são rugosas. metacárpicos, interpostos entre a 2ª fileira do
O capitato é o osso mais volumoso do carpo. carpo e as falanges proximais dos dedos (Fig.
A face superior articula com o escafóide e com o 2.134). Limitam, entre eles, os espaços interós-
lunato. A face inferior articula com o 2°, 3° e 4° seos e numeram-se de lateral para medial como
metacárpicos. A face medial articula com o ha- 1°, 2°, 3°, 4° e 5° metacárpicos. Todos os ossos
mato. A face lateral articula com o escafóide, em metacárpicos apresentam um corpo e duas ex-
cima, e com o trapezóide, em baixo. A face an- tremidades. O corpo é prismático triangular e
terior é rugosa. A face posterior prolonga-se por apresenta três faces: uma posterior e duas late-
uma saliência, a apófise do capitato. rais que limitam os espaços interósseos dan-
O hamato tem a forma de um prisma triangular, do inserção aos músculos interósseos. A extre-
com cinco faces, das quais as duas bases, anterior midade superior ou base é cuboide. Apresen-
e posterior, são não-articulares. A face anterior é ta uma face superior, articular, em relação com
achatada, de lateral para medial e apresenta uma a 2ª fileira do carpo, duas faces laterais, também
face lateral que limita, medialmente, a goteira cá- articulares, em contacto com os ossos metacár-
rpica e uma face lateral com um sulco para a ar- picos adjacentes, uma face dorsal e outra pal-
téria cubito-palmar. Nesta face encontramos, ain- mar, que dão inserção a ligamentos e músculos.
da, o hâmulo do hamato (apófise) onde se inserem A extremidade inferior ou cabeça é convexa e ar-
os músculos flexor curto e oponente do 5° dedo. ticula com a extremidade superior da 1ª falange,
A face posterior é rugosa. A face medial articula através da sua face inferior. Apresenta duas faces
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
laterais, cada uma com uma depressão e um tu- dois tubérculos que dão inserção aos ligamentos
bérculo supra- adjacente para inserção dos liga- colaterais da articulação interfalângica proximal.
mentos colaterais (ligamentos laterais) das arti- A 2• falange ou falange intermédia não existe no
culações metacarpofalângicas, uma face dorsal e 1° dedo. A sua extremidade superior apresenta
uma face palmar. Alguns metacárpicos têm ca- uma superfície articular com duas vertentes côn-
racterísticas particulares. O 1° metacárpico, mais cavas separadas por uma crista mediana, as cavi-
curto e volumoso, não apresenta superfícies arti- dades glenoideias. A extremidade inferior é se-
culares laterais na sua extremidade superior uma melhante à da 1ª falange e apresenta uma tróclea.
vez que não articula com o 2° metacárpico. A sua A 3ª falange ou falange distal apresenta um corpo
base apresenta uma superfície articular em for- muito curto e uma extremidade inferior distinta,
ma de sela que articula com o trapézio. O 2° me- apresentando-se larga e convexa em baixo. As fa-
tacárpico é o mais longo e, através da sua extre- langes do 1° dedo são apenas duas, a proximal e a
midade superior articula com o trapézio, trape- distal, semelhantes à 1ª e 3• falanges dos restantes
zóide e capitato. Articula medialmente com o 3° dedos, respetivamente.
metacárpico, na face dorsal, junto à extremida- Existem ainda, em número variável, os ossos se-
de superior e medialmente, apresenta uma super- samoides, semelhantes a "grãos de sésamo". Es-
fície triangular, a apófise estiloideia, que dá in- tes encontram-se na face palmar, sendo dois de-
serção ao músculo extensor radial longo do car- les constantes, um medial e um lateral, em relação
po. O 3° e 4° metacárpicos apresentam duas su- com a articulação metacarpofalângica do 1° dedo.
perfícies articulares laterais, nas suas extremida-
des superiores. Na base do 3° metacárpico, late-
ralmente, encontra-se a apófise estiloideia onde ARTROLOGIA DO MEMBRO SUPERIOR
se insere o músculo extensor radial curto do car-
po. O 4° metacárpico não apresenta apófise esti- As articulações do membro superior compreen-
loideia. A extremidade superior do 5° metacárpi- dem as articulações da espádua ou ombro, a arti-
co apresenta apenas uma superfície articular, a la- culação do cotovelo, as articulações radiocubitais,
teral, pois a medial dá inserção ao músculo exten- a articulação do punho e as articulações da mão.
sor cubital do carpo.
ARTICULAÇÕES DA ESPÁDUA
FALANGES
As articulações do ombro formam, no seu conjun-
São em número de três por cada dedo, à exce- to, a chamada "cintura escapular ou complexo ar-
ção do 1° dedo onde são apenas duas. São ossos ticular da espádua", verdadeiro conjunto funcio-
longos, com um corpo e duas extremidades. Nu- nal articular vocacionado para o movimento. Este
meram-se do sentido proximal para o distal (Fig. complexo integra dois tipos de articulações: as ar-
2.134). ticulações verdadeiras, onde participam superfícies
A 1ª falange ou falange proximal articula com o articulares ósseas e as articulações funcionais, entre
osso metacárpico correspondente e com a 2• fa- elementos musculares, tendinosos e bolsas serosas.
lange, à exceção do 1° dedo que articula com a 3• No seu conjunto, estas articulações são em núme-
falange. A extremidade superior ou base é cônca- ro de cinco: três verdadeiras (glenoumeral, acro-
va e elíptica, a cavidade glenoideia, e articula com mioclavicular e esternoclavicular) e duas funcio-
a cabeça do osso metacárpico correspondente. nais (escapulotorácica e subdeltoideia).
Apresenta dois tubérculos laterais que dão inser-
ção aos ligamentos colaterais da articulação me- ARTICULAÇÃO GLENOUMERAL (ESCÁPULO-
tacarpofalângica. A extremidade inferior, ou ca- UMERAL)
beça, apresenta uma superfície articular em forma
de tróclea que articula com a extremidade superior É a articulação que une a omoplata ao úmero e
da 2ª falange. Nas faces laterais existem também classifica-se com uma enartrose.
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Fig. 2.135: Articulação glenoumeral (corte coronal). Fig. 2.137: Articulação glenoumeral (vista anterior).
1.Cabeçaumeral 2.Cavidadeglenoidea 3.Debrumglenoideu 4.Cápsula 1. Acrómio 2. Apófise coracoidela 3. Ligamento coracoacromial
articular 5. Membrana sinovial 6. Tendão do músculo supraespinhoso 4. Extremidade lateral d a clavícula 5. Ligamentos coracodaviculares
7. Músculo Deltóide 8. Bolsa serosa subdeltoideia 6. ligamento umeral transverso 7. Ligamento glenoumeral inferior
8. ligamento glenoumeral médio 9. Ligamento glenoumeral superior
10. Bolsa serosa subdeltoideia 11 . Bolsa serosa subescapular
12. Ligamento coracoumeral 13. Tendão da porção longa do músculo
bíceps braquial
4
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SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR
culares (Fig. 2.3.8a e 2.136). São, fundamental- dua. Por exemplo, o movimento de abdução até
mente, os músculos que se estendem da omo- aos 90° ocorre quase exclusivamente na articula-
plata à extremidade superior do úmero, subes- ção glenoumeral, mas a partir daí e até aos 150° o
capular (anteriormente), teres menor, infraespi- movimento passa a depender das articulações es-
nhoso e supraespinhoso (posteriormente) e os capulotorácica e esternoclavicular. Pode dizer-se
músculos que se encontram entre a omoplata e que a existência destas várias articulações permite
0 braço, bíceps e braquial e coracobraquial (an-
aumentar de forma significativa a amplitude dos
teriormente) e tríceps braquial (posteriormente). movimentos do ombro.
O conjunto dos tendões com inserção ume-
ral forma a chamada "coifa dos rotadores" (Fig. ARTICULAÇÃO ESTERNOCLAVICULAR
2.136), que inclui os músculos subescapular, teres
menor, infraespinhoso e supraespinhoso. É a articulação formada pela clavícula, pelo ester-
Esta articulação é constituída por uma membrana no e pela 1ª cartilagem costal. Classifica-se com
sinovial que reveste toda a face profunda da cáp- uma menisco-efipiartrose (Fig. 2.138).
sula articular e envolve o tendão da porção lon-
ga do músculo bíceps braquial. Este tendão é, as- Superfícies articulares
sim, intracapsular, mas extraarticular (extrasino-
vial). As principais bolsas serosas peri-articulares A superfície articular da clavícula situa-se na re-
(Fig. 2.137) são: a bolsa serosa subescapular (entre gião ântero-inferior da sua extremidade medial e
o tendão do músculo subescapular e a cápsula arti- tem a forma de uma "selà' (côncava da frente para
cular), a bolsa serosa subdeltoideia ou subacromio- trás e convexa de cima para baixo), orientada para
clavicular (entre a cápsula e a abóbada acromiocla- baixo, para dentro e ligeiramente para a frente.
vicular) e a bolsa serosa bicipital (envolve o tendão A faceta articular esternal tem igualmente a for-
da porção longa do músculo bíceps braquial no seu ma de uma "sela" com curvaturas e orientação in-
trajeto no sulco intertubercular). Estas bolsas se- versas às da clavicular. Encontra-se em continui-
rosas podem comunicar com a membrana sinovial dade com uma pequena superfície articular na face
da articulação por intermédio de pequenas solu- superior da primeira cartilagem costal. Existe uma
ções de continuidade da cápsula articular. fibrocartilagem interarticular completa, o menis-
co, que contribui para aumentar a congruência das
Movimentos duas articulações e que divide a cavidade articular
em duas porções.
Esta articulação executa movimentos nos três pla-
nos do espaço, de acordo com três eixos que pas-
sam pela cabeça do úmero. Um eixo vertical que 2 4
permite definir movimentos de rotação medial/
rotação lateral, um eixo horizontal ântero-poste-
rior que permite definir movimentos de adução e
abdução e um eixo horizontal transversal que per-
mite definir movimentos de flexão e extensão. Es-
tes movimentos não são independentes uns dos
outros podendo ocorrer em simultâneo. Ao mo-
vimento complexo que resulta da combinação de
todos os outros e que permite ao braço descrever
um cone geométrico no espaço damos o nome de
circundução. Note-se que os movimentos do om-
bro "in vivo" não correspondem só aos movimen-
tos da articulação glenoumeral, sendo também da Fig. 2.138: Articulação esternoclavicular.
responsabilidade das outras articulações da espá- 1. Manúbrio esternal 2. Extremid.ade medial da clavícula 3. , .. cartilagem
costal 4. Menisco intra-articular 5. Ligamento inter-clavicular
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
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SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
Fig. 2.139: Articulação do cotovelo (vista anterior - superfícies Fig. 2.140: Articulação do cotovelo (vista anterior - ligamentos).
articulares). 1. Ligamento anular 2. Cápsula articular 3. Ligamento colateral cubital
1. Capitulo umeral 2. Tróclea \lmeral 3. Goteira capitulo-troclear 4. Ligamento colateral radial 5. Ligamento anterior 6. Rádio 7. Cúbito
4. Cabeça radial 8. Tendão do músculo biceps braquial (corte)
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SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR
Movimentos
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
Meios de união
Movimentos
Fig. 2.143: Movimento de pronação e supinação. Esta articulação, juntamente com a articulação
1. Articulação radiocubital proximal 2. Articulação radiocubital distal
3. Membrana interóssea 4. Ligamento oblíquo radiocubital proximal, é responsável pelos movi-
mentos de pronação e supinação do antebraço (ver
movimentos do cotovelo).
volta da cabeça do cúbito descrevendo um cone de
base inferior cujo vértice corresponde ao centro da MEMBRANA INTERÓSSEA ANTEBRAOUIAL
fóvea articular do rádio. (LIGAMENTO INTERÓSSEO)
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Fig. 2.144: Ligamentos do punho e mão (vista anterior ou palmar). Fig. 2.145: Ligamentos do punho e mão (vista posterior ou dorsal).
1. Extremidade distal do rádio 2. Cabeça do cúbito 3. Pisiforme 1. Extremidade distal do rádio 2. Cabeça do cúbito 3. Apófise
4. Ligamento colateral cubital 5. Ligamento colateral radial 6. Ligamento estiloideia do cúbito 4. Ligamento radiocubital posterior 5. Ligamento
radiocubital anterior 7. Ligamento cúbitocárpico 8. Ligamento colateral radial 6. Ligamento colateral cubital 7. Ligamentoradiocárpico
radiocárpico 8. Ligamento cubitocárpico 9. Escafóide 1O. Trapézio 11. Trapezóide
12. Capitato 13. Hamato
173
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
nato, triquetro e capitato. O ligamento posterior triquetro e são artrodias (Fig. 2.3.lla e 2.145). As
é constituído por dois feixes com inserção supe- superfl:cies articulares orientam-se no plano sagi-
rior ao nível do rebordo posterior da extremidade tal. Os meios de união são os ligamentos interós-
inferior do rádio e inserção inferior na face pos- seos, palmares e dorsais, que são feixes transversais
terior do lunato e na face posterior do triquetro. que ocupam a parte superior da interlinha articu-
O ligamento colateral cubital é constituído por lar, entre os dois ossos vizinhos. Dentro destes úl-
dois feixes, ambos com inserção superior na apó- timos destaca-se o ligamento escafotriquetral (es-
fise estiloideia do cúbito, um anterior com inser- cafopiramidal) que se estende da face posterior do
ção inferior no pisiforme e um posterior com in- escafóide à face posterior do triquetro, cruzando o
serção inferior no triquetro. O ligamento cola- triquetro e a parte superior do capitato. As mem-
teral radial é constituído por dois feixes com in- branas sinoviais destas articulações são dependên-
serção superior na apófise estiloideia do rádio, cias da sinovial da articulação mediocárpica.
um anterior com inserção inferior no tubérculo A articulação pisotriquetral (pisopirarnidal) une o
do escafóide e outro posterior com inserção in- pisiforme e o triquetro e é uma artrodia. As super-
ferior na face lateral do escafóide. (Fig. 2.145). fl:cies articulares orientam-se no plano frontal. O s
A membrana sinovial reveste a face profunda da meios de união são uma cápsula articular e os li-
cápsula articular e pode estar em comunicação gamentos. Existem ligamentos que reforçam late-
com a sinovial da articulação radiocubital distal. ralmente a cápsula e ligamentos que relacionam o
osso pisiforme com os ossos vizinhos. Estes últi-
Movimentos mos, em número de três, são o ligamento superior,
o ligamento pisohamato ou ínfero-lateral (pisou-
Os movimentos da mão em relação ao antebra- nciforme) (entre a extremidade inferior do pisifor-
ço ocorrem ao nível da articulação radiocárpica e me e o hârnulo do hamato) e o ligamento piso-
mediocárpica. Ao nível da articulação radiocár- metacárpico ou ínfero-medial (entre a extremida-
pica os movimentos fundamentais são de flexão/ de inferior do pisiforme e a extremidade superior
extensão e adução/abdução. A circundução, neste do 5° metacárpico). A membrana sinovial é laxa e
caso, é limitada à combinação de movimentos em pode comunicar com a da articulação radiocárpica.
dois planos do espaço e por esse motivo tem am- As articulações entre os ossos da 2ª fileira cárpica
plitudes muito menores do que aquela que ocor- estabelecem-se entre os ossos trapézio, trapezói-
re numa enartrose como a articulação glenoume- de, capitato e hamato e são artrodias (Fig. 2.3.lla
ral. A flexão/extensão aproxima/afasta, respetiva- e 2.145). Os meios de união são os ligamentos in-
mente, a face palmar da mão da região anterior terósseos, palmares e dorsais. A membrana sino-
do antebraço (relativamente ao plano frontal). vial corresponde a prolongamentos da sinovial da
A adução/abdução aproxima/afasta, respetiva- articulação mediocárpica.
mente, o bordo cubital da mão da linha média (re- A articulação mediocárpica estabelece relação en-
lativamente ao plano sagital). A ausência de movi- tre o côndilo cárpico (escafóide, lunato e trique-
mentos de rotação axial ao nível do punho é com- tro) e a 2• fileira do carpo (trapézio, trapezóide,
pensada pela pronação/supinação do antebraço. capitato e lunato). As superfl:cies articulares estão
separadas em dois compartimentos: um lateral e
um medial. O compartimento medial classifica-se
ARTICULAÇÕES DA MÃO como urna efipiartrose cujas superfl:cies articula-
res são, a face medial do escafóide e faces inferio-
As articulações do carpo compreendem as articu- res do lunato e do triquetro e, em baixo, o capita-
lações entre os ossos da 1ª e da 2• fileira do carpo e to e hamato. O compartimento lateral classifica-se
a articulação mediocárpica, a qual relaciona aque- como urna efipiartrose cujas superfl:cies articulares
las duas fileiras. são, em cima, a face inferior do escafóide e, em bai-
As articulações entre os ossos da 1ª fileira cárpica xo, as facetas articulares superiores do trapézio e
estabelecem-se entre os ossos escafóide, lunato e trapezóide. A interlinh a articular desenha, no seu
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SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR
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em cima, no tubérculo e na depressão das faces la- ossos sesamoides formando o ligamento metacar-
terais da cabeça metacárpica e, em baixo, divergem posesamoideu.
em leque dividindo-se em fibras posteriores e an- As articulações metacarpofalângicas executam
teriores. As fibras posteriores inserem-se nos tu- movimentos de flexão/extensão, lateralidade, cir-
bérculos laterais da extremidade superior da falan- cundução e movimentos passivos de rotação. Os
ge, formando o feixe metacarpofalângico do liga- movimentos de flexão/extensão fazem-se em tor-
mento lateral e as anteriores unem-se à cartilagem no de um eixo transversal que passa no centro do
glenoideia e formam o feixe metacarpoglenoideu côndilo. A flexão é limitada pela tensão dos ten-
daquele ligamento. O ligamento transverso inter- dões extensores e a extensão pela dos tendões fle-
metacárpico palmar é uma fita fibrosa que se es- xores e ligamentos palmares. Os movimentos de
tende desde o 2° ao 5° metacárpicos atravessando flexão e extensão de um único dedo isolado apre-
a face palmar das articulações metacarpofalângicas sentam menor amplitude que os mesmos movi-
e aderindo intimamente à fibrocartilagem glenoi- mentos envolvendo simultaneamente os outros
deia de cada_uma daquelas. A face anterior deste dedos, o que se deve à tensão do ligamento trans-
ligamento forma uma goteira e relaciona-se com verso intermetacárpico. Os movimentos de latera-
os tendões dos músculos flexores. lidade aproximam ou afastam os dedos entre si e
A articulação metacarpofalângica do 1° dedo executam-se em torno de um eixo ântero-poste-
apresenta três características particulares a salien- rior que passa na cabeça do osso metacárpico. São
tar: a superficie articular do 1° metacárpico é mais limitados pela tensão do ligamento lateral oposto
extensa à frente, apresentando uma porção falân- àquele para o qual se faz a inclinação lateral.
gica em relação com a cavidade glenoideia da fa- As articulações interfalângicas (Fig. 2.146) classi-
lange e uma porção anterior ou sesamoide em re- ficam-se como trocleartroses. São duas por dedo,
lação com a fibrocartilagem glenoideia e com os à exceção do 1° dedo em que existe apenas uma.
ossos sesamoides; a fibrocartilagem glenoideia As superficies articulares são, por um lado, a tró-
tem, na sua espessura, dois ossos sesamoides, um clea da extremidade inferior da falange supra-ad-
lateral e um medial; as fibras anteriores dos liga- jacente, mais extensa à frente e sobre a face pal-
mentos laterais terminam, em grande parte, nos mar e, por outro, a extremidade superior da falange
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r SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR
PLANO PROFUNDO
Músculo subclávio
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
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SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: M EMBROS SUPERJOR E INFERJOR
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
8 6
O músculo teres maior relaciona-se com o múscu- 1/3 posterior da crista ilíaca e na face lateral das
lo teres menor ao nível da omoplata, inserindo-se quatro últimas costelas. Os seus feixes revestem a
abaixo deste. Estes dirigem-se para fora afastan- parede póstero-lateral do tórax, dirigem-se para
do-se um do outro e delimitam um espaço trian- cima, contornam o bordo inferior do músculo te-
gular, o espaço omo-umeral cuja base se encontra res maior e inserem-se no fundo do sulco intertu-
no colo cirúrgico do úmero e o vértice no bordo bercular à frente do músculo teres maior e atrás do
lateral da omoplata. Este espaço encontra-se divi- músculo peitoral maior. A sua ação é a adução, ex-
dido, pelo tendão da porção longa do músculo trí- tensão e rotação medial do braço. Qyando o ponto
ceps braquial, em duas regiões secundárias, uma fixo se encontra no úmero, eleva o tronco.
lateral, o espaço umero-tricipital e uma medial, o
espaço omo-tricipital. O espaço umero-tricipital é GRUPO LATERAL
limitado, em cima, pelos músculos subescapular e
teres menor, em baixo, pelos músculos teres maior Compreende um único músculo, o músculo del-
e Iatíssimo dorsal, lateralmente, pelo úmero e, me- tóide.
dialmente, pela porção longa do músculo tríceps
braquial. Dá passagem aos vasos circunflexos pos- Músculo deltóide
teriores e ao nervo circunflexo. O espaço omo-tri-
cipital é limitado, em cima, pelo músculo subes- Apresenta uma inserção superior ao nível do bor-
capular e teres menor, em baixo, pelo músculo te- do anterior da clavícula, no vértice e no bordo la-
res maior e Iatíssimo dorsal e, lateralmente, pela teral do acrómio e no bordo posterior da espinha
longa porção do músculo tríceps braquial. Dá pas- da omoplata. Os seus feixes dirigem-se para bai-
sagem ao ramo escapular da artéria escapular infe- xo, revestem a articulação glenoumeral e as inser-
rior (Fig. 2.150). ções dos vários músculos peri-articulares e reú-
nem-se para formar um tendão espesso que se
Músculo Iatíssimo dorsal insere na tuberosidade deltoideia, na face lateral
do úmero (Fig. 2.145). A sua ação é a abdução do
Insere-se, em baixo, _na região posterior do tron- braço. Qyando os feixes anteriores ou posterio-
co, nas apófises espinhosas e nos ligamentos su- res se contraem isoladamente, promovem o mo-
praespinhosos das últimas cinco vértebras dorsais, vimento de flexão ou extensão do braço, respeti-
nas cinco vértebras lombares, na crista sagrada, no vamente.
180
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERJOR E INFERIOR
MÚSCULOS DO BRAÇO
COMPARTIMENTO ANTERIOR OU
FLEXOR I GRUPO ANTERIOR
PLANO PROFUNDO
Músculo coracobraquial
Fig. 2.151: Músculos da região anterior do braço (plano profundo).
Insere-se, em cima, na apófise coracoideia da omo-
1. Úmero 2. Apófise coracoideia 3. Músculo coracobraquial 4.
plata por um tendão comum com a porção curta Músculo braquial 5. Apófise coronoideia do cúbito 6. Tendão da
do bíceps braquial. Apresenta um trajeto oblíquo porção longa do músculo bíceps braquial (corte) 7. Tendão da porção
longa do músculo tríceps braquial (corte)
inferior e lateralmente, atravessa a axila atrás do
peitoral maior e à frente do tendão do músculo
subescapular do qual está separado por uma bolsa PLANO SUPERFICIAL
serosa. Insere-se, em baixo, na face medial do cor-
po do úmero. A sua ação é a flexão do braço. Músculo bíceps braquial
181
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
2 3
COMPARTIMENTO POSTERIOR OU
EXTENSOR / GRUPO POSTERIOR
Fig. 2.153: Músculos da região posterior do braço.
1. Cabeça umeral 2. Espinha da omoplata 3. Acrómio 4. Olecrâilio
Compreende um único músculo, o tríceps braquial 5. Tendão do músculo tríceps braquial 6. Porção longa do músculo
(tricípite). tríceps braquial 7. Porção lateral do músculo tríceps braquial 8. Músculo
teres maior 9. Músculo deltóide (corte)
182
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR
endão comum que se insere na face superior do apresentam um trajeto descendente dividindo-se
:lecrânio (Fig. 2.153). A sua ação é a extensão do em quatro tendões terminais que passam à frente
braço e antebraço. do músculo quadrado pronador, atravessam oca-
nal cárpico e, ao nível da face palmar da mão, se-
param-se dirigindo-se, cada um, para o dedo res-
MÚSCULOS DO ANTEBRAÇO petivo. Ao nível dos dedos, cada um dos tendões
(tendão perfurante) passa num anel formado pelo
Os músculos do antebraço estão divididos em três desdobramento do tendão do flexor superficial dos
grupos: anterior, lateral e posterior. dedos (tendão perfurado) e insere-se na face ante-
rior da base da 3ª falange (Fig.2.154).A sua ação é
a flexão da 3ª falange sobre a 2a, da 2ª sobre a 1a, da
COMPARTIMENTO ANTERIOR OU 1ª sobre o metacarpo e da mão sobre o antebraço.
FLEXOR OU VOLAR I GRUPO ANTERIOR
Músculos lumbricais
Situa-se à frente do esqueleto do antebraço e é
constituído por músculos que se dispõem em qua- São quatro pequenos feixes musculares anexos
tro planos: quadrado pronador, flexor profundo aos tendões do músculo flexor profundo dos de-
dos dedos (flexor comum profundo dos dedos), dos que se encontram na região palmar da mão.
flexor longo (flexor próprio) do 1° dedo, lumbri- Dirigem-se lateralmente, passam no bordo lateral
cais, flexor superficial dos dedos (flexor comum da articulação metacarpofalângica correspondente
superficial dos dedos), pronador teres (redondo e terminam, por um tendão comum ao interósseo
pronador), flexor radial do carpo (grande palmar), respetivo, no bordo lateral do tendão do extensor.
longo palmar (pequeno palmar) e flexor cubital do O 1° e 2° lumbricais inserem-se apenas no bordo
carpo (cubital anterior). lateral do tendão flexor profundo corresponden-
te. O 3° e 4° têm origem nos bordos laterais dos
PIANO PROFUNDO dois tendões flexores correspondentes. A sua ação
é a flexão da 1ª falange sobre o metacarpo e exten-
Músculo quadrado pronador são da 2ª e 3ª.
As suas inserções superiores fazem-se ao nível do Músculo flexor superfícia/ dos dedos
cúbito e do rádio. No cúbito, insere-se nos ¾ su-
periores das faces medial e anterior e na apófise Insere-se, em cima, através de dois feixes, no cú-
coronoideia. No rádio, insere-se no bordo medial bito e no rádio. O feixe umerocubital insere-se
abaixo da tuberosidade do rádio. Os seus feixes no epicôndilo medial, por um tendão comum aos
183
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
4
2
Fig. 2.1 54: Músculos da região anterior do antebraço (flexores Fig. 2.155: Músculos da região anterior do antebraço (plano do flexor
profundos). superficial).
1. Apófise coronoideia 2. Músculo pronador quadrado 3. Músculo 1. Apófise coronoideia 2. Músculo flexor superficial dos dedos 3. Feixe
flexor profundo dos dedos 4. Músculo flexor longo do 1º dedo úmerocubital 4. Feixe úmeroradial 5. Arco t endinoso do músculo
flexor superficial dos dedos 6. Músculo flexor longo do 1º dedo
7. Epicôndilo medial 8. Quiasma tendinoso (Camper)
músculos epicondilianos mediais e na apófise co- dinoso (de Camper).A sua ação é a flexão da 2ª fa-
ronoideia do cúbito. O feixe umeroradial insere-se lange sobre a 1a, da ia sobre o metacarpo e da mão
no bordo anterior do rádio. Estes dois feixes reú- sobre o antebraço.
nem-se e formam uma arcada na qual passa o ner-
vo mediano e a artéria cubital. O s feixes muscula- PLANO DOS MÚSCULOS EPICONDILIANOS
res têm um trajeto descendente à frente do flexor MEDIAIS SUPERFICIAIS (EPITROCLEARES
profundo dos dedos e terminam por quatro ten- SUPERFICIAIS)
dões que atravessam o canal cárpico. Estes ten-
dões, na região palmar da mão, separam-se diri- É constituído por quatro músculos com inserção
gindo-se cada um para o dedo respetivo, passando superior no epicôndilo medial dispostos, de late-
à frente do tendão correspondente do flexor pro- ral para medial, pela seguinte ordem: pronador
fundo dos dedos. Ao nível da articulação metacar- teres (redondo pronador), flexor radial do carpo
pofalângica, cada tendão divide-se em duas fitas (grande palmar), longo palmar (pequeno palmar)
que contornam, de cada lado, o tendão do flexor e flexor cubital do carpo (cubital anterior) (Fig.
profundo dos dedos e inserem-se nos bordos late- 2.156).
rais da 2ª falange (Fig. 2.155). Ao entrecruzamen-
to entre os tendões dos músculos flexor profundo e
superficial dos dedos, ao nível da articulação inter-
falângica proximal dá-se o nome de quiasma ten-
184
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR
É O rnais lateral dos músculos deste plano. Insere- Insere-se, em cima, no úmero e no cúbito através
ern cirna, no úmero e no cúbito através de dois de dois feixes. O feixe umeral insere-se no epicôn-
f::es. O feixe epicondiliano medial insere-se no dilo medial e o feixe cubital insere-se no olecrâ-
e icôndilo medial e o feixe coronoideu insere-se nio, na apófise coronoideia e nos 2/3 superiores do
:a apófise coronoideia do cúbito, formando uma bordo posterior do cúbito. Estes feixes reúnem-se
arcada por onde passa o nervo mediano. Estes, têm formando uma arcada que limita, com o sulco do
urn trajeto descendente, para fora, cruzando a par- nervo cubital, um orificio por onde passa o nervo
te superior do músculo flexor superficial dos dedos cubital. Apresentam um trajeto descendente, para
e inserern-se na parte média da face lateral do rá- dentro do músculo longo palmar e flexor superfi-
dio. Este músculo está separado do músculo bíceps cial dos dedos e terminam através de um tendão
braquial, para fora, por um espaço denominado de que se insere no pisiforme. A sua ação é a flexão e
"sulco bicipital medial" (goteira interna da prega adução da mão.
do cotovelo) e cujo fundo é constituído pelo mús-
culo braquial. Esta goteira dá passagem aos vasos
braquiais e ao nervo mediano. A sua ação é a pro-
nação do antebraço.
185
MANUAL DE ANATOMJA HUMANA
186
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR
Músculo abdutor longo do 1º dedo dorsal da base da 1ª falange do 1° dedo. A sua ação
é a extensão e abdução do 1° dedo.
Insere-se, em cima, na face posterior do cúbito e
na face posterior do rádio, imediatamente abaixo Músculo extensor longo do 1º dedo
do supinador. Apresenta um trajeto descendente,
oblíquo para baixo e para fora, abaixo do múscu- Insere-se, em cima, na face posterior do cúbito,
lo supinador e termina num tendão que, ao nível para dentro e para baixo da inserção do múscu-
do punho, cruza obliquamente a face lateral dos lo extensor curto do 1° dedo. Apresenta um tra-
tendões dos músculos extensores radiais do car- jeto descendente, oblíquo para baixo e para fora,
po estando separado destes por uma bolsa sero- terminando num tendão que, ao nível do punho
sa.Insere-se, inferiormente, na extremidade supe- passa numa bainha osteo-fibrosa na face posterior
rior do 1° metacárpico. A sua ação é a abdução do da extremidade inferior do rádio, para trás e para
1º dedo. dentro da bainha osteo-fibrosa dos músculos ex-
tensores radiais do carpo. Insere-se, em baixo, na
Músculo extensor curto do 1º dedo face dorsal da base da 3ª falange do 1° dedo. A sua
ação é a extensão da 3ª falange sobre a 1a, da 1ª
Insere-se, em cima, no cúbito e no rádio, imediata- sobre o metacarpo e do metacarpo sobre o carpo.
mente abaixo da inserção do músculo abdutor lon-
go do 1° dedo, apresentando um trajeto e relações Músculo extensor do 2º dedo
idênticos a este. Insere-se, inferiormente, na face
Insere-se, em cima, na face posterior do cúbi-
to, para dentro e abaixo da inserção do músculo
extensor longo do 1° dedo. Apresenta um traje-
to descendente, ao longo do bordo ínfero-medial
do músculo extensor longo do 1° dedo, terminan-
2
do num tendão que, no punho, passa na mesma
bainha osteo-fibrosa que o músculo extensor dos
dedos. Ao nível da articulação metacarpofalângi-
ca, une-se ao tendão que o músculo extensor dos
dedos envia para o 2° dedo. A sua ação é a exten-
são do 2° dedo.
6
Os tendões dos músculos longo e curto extensor
4 do 1° dedo delimitam, ao nível da porção póstero-
-lateral do punho, um espaço que se denomina de
"tabaqueira anatómicà' e que é mais visível quan-
do os músculos extensores se contraem. No fundo
deste espaço passam os tendões dos músculos ex-
tensores radiais do carpo e a artéria radial.
PLANO SUPERFICIAL
187
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
Músculo extensor dos dedos 2ª falange através de uma fita média resultante da
sua divisão, a este nível, em três fitas (uma média e
Insere-se, em cima, na face posterior do epicôndilo duas laterais). As fitas laterais inserem-se na base
lateral por um tendão comum aos outros músculos da 3• falange. A sua ação é a extensão das duas úl-
epicondilianos laterais. Desce na face posterior do timas falanges sobre a 1ª, da 1' sobre o metacarpo
antebraço, atrás do músculo supinador e dos mús- e do metacarpo sobre o antebraço.
culos do plano profundo e para dentro do mús-
culo extensor radial curto do carpo. Termina por Músculo extensor do 5º dedo
quatro tendões (para cada um dos últimos quatro
dedos) que atravessam o canal osteo-fibroso (co- Insere-se, em cima, no epicôndilo lateral, medial-
mum ao tendão do extensor do 2° dedo) da região mente ao músculo extensor dos dedos. Apresenta
posterior do punho. Estes inserem-se na base da um trajeto descendente na face posterior do ante-
1ª falange por expansões tendinosas e na base da braço originando um tendão que passa, no punho,
numa bainha osteo-fibrosa própria, unindo-se ao
tendão que o músculo extensor dos dedos envia
para o 5° dedo. A sua ação é idêntica à do múscu-
lo extensor dos dedos.
4
Músculo extensor cubital do carpo
188
SUPORTE E MOV1MENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR
189
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
do para o trapezóide e capitato. Em baixo, insere- pansão ao tendão do músculo extensor longo do 1o
-se, no osso sesamoide lateral e na 1ª falange do 1° dedo. A sua ação é a abdução do 1° dedo.
dedo. A sua ação é a projeção do 1° dedo, medial e
anteriormente (abdução e flexão). GRUPO MEDIAL
190
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR
191
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
ferior destas quatro paredes e é encerrada por duas os músculos da região anterior do antebraço, agru.
lâminas fásciais, uma superficial e uma profunda. pados em dois planos, um superficial e um pro-
A lâmina superficial vai desde o bordo inferior do fundo, separados entre si pela fáscia antebraquial
músculo peitoral maior até ao bordo inferior do profunda e que se encontram à frente dos ossos do
músculo Iatíssimo dorsal e teres maior. Represen- antebraço e da membrana interóssea. A loca pos-
ta, ao nível da axila, a fáscia superficial do mem- terior contém os músculos do grupo posterior do
bro superior que reveste, à frente, o peitoral maior antebraço que se encontram atrás dos ossos do an-
e, atrás, o Iatíssimo dorsal. A lâmina profunda re- tebraço e da membrana interóssea. A loca lateral
veste toda a base da axila e continua o folheto pro- aloja os músculos do grupo lateral do antebraço.
fundo da fáscia clavi-peitoral.
FÁSCIAS DA MÃO
FÁSCIA BRAQUIAL
As fáscias da mão dividem-se em palmares e dor-
Reveste todos os músculos do braço, estando em sais.
continuidade, em cima, com a fáscia axilar e, em A fáscia palmar apresenta dois folhetos, um su-
baixo, com a fáscia antebraquial. Da sua face pro- perficial e um profundo. A fáscia palmar super-
funda destacam-se duas lâminas fibrosas transver- ficial é constituída por três porções: uma média e
sais, o septo intermuscular medial e o septo inter- duas laterais. A fáscia palmar média é uma lâmina
muscular lateral do braço. Estes septos estendem- triangular cuja base corresponde à região proximal
-se da região medial e lateral do braço aos bor- dos quatro últimos dedos e cujo vértice se conti-
dos medial e lateral, respetivamente, do corpo do nua pelo tendão do músculo longo palmar. Reves-
úmero dividindo, topograficamente, o braço em te o retináculo dos fl.exores, os tendões dos múscu-
dois compartimentos ou locas, um anterior e ou- los fl.exores e as estruturas vasculo-nervosas da re-
tro posterior. Os compartimentos anterior e poste- gião palmar da mão. As fáscias laterais, medial e
rior comunicam entre si por intermédio de alguns lateral, revestem, respetivamente, os músculos da
orifícios que dão passagem a vasos e nervos. Des- eminência hipotenar e tenar e continuam-se com
tes, os mais importantes são: um no septo inter- a fáscia média. Nas zonas onde as três fáscias se
muscular medial (ao nível da região média dobra- unem formam-se dois septos, um medial e um la-
ço) que dá passagem ao nervo cubital e à artéria teral que condicionam a existência de três locas.
colateral cubital superior (do compartimento an- A fáscia palmar lateral estende-se desde o bordo
terior em direção ao posterior) e o outro no septo lateral do 1° metacárpico até ao bordo anterior do
intermuscular lateral próximo da extremidade in- 3°. A fáscia palmar medial estende-se desde o bor-
ferior do sulco do nervo radial para passagem do do medial até ao bordo anterior do 5° metacárpico.
nervo radial e artéria braquial profunda (do com- A fáscia palmar profunda reveste os músculos in-
partimento posterior em direção ao anterior). terósseos palmares, na profundidade dos músculos
flexores. E espessa ao nível das cabeças dos ossos
FÁSCIA ANTEBRAOUIAL metacárpicos onde dá origem ao ligamento trans-
verso profundo o qual adere intimamente às fibro-
A fáscia antebraquial superficial é uma bainha ci- cartilagens glenoideias das articulações metacar-
líndrica que está em continuidade com a fáscia pofalângicas do 2° ao 5° dedo.
braquial, em cima, e com os feixes superficiais dos A fáscia dorsal apresenta também dois folhetos,
retináculos dos fl.exores, em baixo. D as partes la- um superficial e um profundo. A fáscia dorsal su-
terais da sua face profunda partem numerosas ex- perficial estende-se entre o bordo lateral do 1° me-
pansões fásciais que envolvem os vários músculos tacárpico até ao bordo medial do 5°. Reveste os
do antebraço. As fáscias do antebraço, superficial e tendões extensores, continua-se, em cima, com 0
profunda, condicionam,juntamente com o esque- retináculo dos extensores e, em baixo, confunde-se
leto ósseo e com a membrana interóssea a existên- com os tendões extensores. A fáscia dorsal profun·
cia de três espaços ou locas. A loca anterior aloja da reveste a face dorsal dos músculos interósseos e
192
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR
delimita corn a fáscia palmar profunda, a loca dos ra cárpica está dividida em dois compartimen-
interósseos. tos por uma lâmina fibrosa transversal. No com-
partimento lateral passa o tendão do músculo fle-
xor radial do carpo e, no medial passam os ten-
BAINHAS FIBROSAS E SEROSAS DOS dões dos flexores, superficial e profundo e o ner-
TENDÕES DA MÃO E DOS DEDOS vo mediano. Este último compartimento consti-
tui o chamado "canal cárpico". À frente da parte
Anexas aos tendões dos músculos flexores e exten- medial do canal cárpico existe outro canal osteo-
sores da mão, existem bainhas osteo-fibrosas e se- -fibroso limitado atrás pelo retináculo dos flexo-
rosas. As primeiras apresentam função de "rolda- res, à frente por expansões tendinosas do múscu-
na" para os tendões e as segundas facilitam o desli- lo flexor cubital do carpo e por dentro pelo pisi-
zamento destes nas bainhas fibrosas. forme, o canal cubital de Guyon que dá passagem
ao pedículo vasculo-nervoso cubital. As bainhas
BAINHAS OSTEO-F/BROSAS DOS FLEXORES digitais dão passagem aos tendões dos músculos
flexores dos dedos, superficiais e profundos. São
Sistematizam-se em bainhas cárpicas e bainhas formadas pela face anterior das falanges, em for-
digitais. ma de goteira, revestidas por lâminas fibrosas se-
As bainhas cárpicas são duas. O canal cárpico é micilíndricas. Os tendões inserem-se na face an-
constituído pelo sulco cárpico encerrado à frente terior das falanges através de pequenas membra-
pelo retináculo dos flexores. Este ligamento in- nas atravessadas por vasos que se destinam aos
sere-se, medialmente, no pisiforme e hamato e, tendões.
lateralmente, no escafóide e trapézio. A gotei-
4
6
10
14
15
4
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5
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11
Fig. 2.161 : Bainhas serosas e osteo-fibrosas dos músculos flexores (dissecção palmar profunda).
1. Artéria radial 2. Tendão do flexor radial do carpo 3. Bolsa radial (com o tendão do flexor longo do 1º dedo) 4. Nervo mediano 5. Bolsa
cubital (com os tendões dos flexores, superficial e profundo) 6. Artéria cubital 7. Tendão do flexor cubital do carpo 8. Tendão do palmar longo
9. Ligamento cárpico palmar 10. Retináculo flexor 11. Bainhas digitais 12. Aponevrose palmar (rebatida) 13. Bainha sinovial do tendão do flexor
longo do 1° dedo 14. Tendões do flexor superficial dos dedos 15. Tendões do flexor profundo dos dedos
193
MANUAL DE ANATOMlA HUMANA
BAINHAS SEROSAS DOS FLEXORES po (2•), extensor longo do 1° dedo (3ª), extenso-
res dos dedos e extensor do 2° dedo (4ª), extensor
Subdividem-se em digitais, cárpicas e digito-cár- do 5° dedo (5•) e extensor cubital do carpo (6•)
picas (Fig. 2.161). (Fig. 2.162).
As bainhas digitais envolvem os tendões dos
músculos flexores, ao nível dos dedos, e com-
preendem doi s folhetos: o visceral, que envolve o
próprio tendão flexor do 2°, 3° e 4° dedos, desde
a articulação metacarpofalângica até à 3ª falange
e, o parietal, que recobre a face profunda da bai-
nha digital fibrosa. Esta, mantém os tendões dos
músculos flexores aplicados contra a face palmar
dos dedos, formando recessos (fundos de saco).
As bainhas cárpicas envolvem os tendões dos fle-
xores, ao nível do canal cárpico e são três: lateral,
medial e média. A lateral relaciona-se com o ten-
dão do flexor longo do 1° dedo. E stende-se acima
do bordo superior do retináculo dos flexores eco-
munica, em baixo, com a bainha digital do 1° dedo.
A medial envolve os tendões dos flexores, super-
ficial e profundo. Esta serosa estende-se acima
da serosa lateral e, em baixo, termina na porção
mediana da região palmar da mão, comunicando
frequentemente com a serosa digital do 5° dedo.
A bainha serosa média está relacionada com a
face posterior do tendão do flexor profundo, des-
tinado ao 2° dedo. As bainhas digito-cárpicas Fig. 2.162: Bainhas serosas e osteo-fibrosas dos músculos extensores.
1. Retináculo dos extensores 2. Bainhas ósteo-fibrosas dos músculos
estão na região de fronteira entre as anteriores.
extensores 3. Abdutor longo do 1º dedo 4. Extensor curto do 1° dedo
Existe uma lateral e outra medial. A lateral re- 5. Extensor radial curto do carpo 6. Extensor radial longo do carpo
7. Extensor longo do 1º dedo 8. Extensores dos dedos 9. Extensor
laciona a bainha cárpica lateral com a digital do
do 2• dedo 10. Extensor do 5º dedo 11. Extensor cub~al do carpo
1° dedo e envolve o tendão do músculo flexor ra-
dial do carpo, e a medial relaciona a bainha cá-
rpica medial com a digital do 5° dedo e envol- BAINHAS SEROSAS DOS EXTENSORES
ve os tendões dos flexores superficiais e profun-
dos dos dedos. Revestem os tendões que passam no interior das
bainhas osteo-fibrosas anteriormente descritas.
BAINHAS OSTEO-FIBROSAS DOS
EXTENSORES
194
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR
195
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
sos do carpo ou de sequelas de fratura; secundário 3. Relativamente aos músculos do membro su-
a tendinite, geralmente por esforços repetidos, que perior, assinale a afirmação VERDADEIRA:
leva à inflamação e aumento de volume dos ten- a. Os músculos constituintes da coifa dos ro-
dões; secundário a patologia sistémica, como por tadores têm uma inserção comum na tube-
exemplo na artrite reumatóide, também com in- rosidade menor do úmero;
flamação dos tendões, na gravidez, com edema dos b. A porção longa do músculo tríceps bra-
tendões, na arniloidose, com depósitos de amilói- quial insere-se no tubérculo supraglenoi-
de no nervo, na diabetes, com edema dos tendões deu da omoplata;
e alterações do próprio nervo. c. O músculo bíceps braquial insere-se, em
Clinicamente ocorre parestesia que o doente re- baixo, na tuberosidade do cúbito;
fere envolver toda a mão, mas que testada corres- d. Do grupo lateral dos músculos do ante-
ponde ao território sensitivo do nervo mediano. braço fazem parte o supinador e o bra-
A atrofia muscular ao nível da eminência tenar quioradial;
surge só em casos de duração muito arrastada, não e. O músculo flexor cubital do carpo insere-
sendo total porque o nervo cubital enerva também -se no osso triquetro;
esta região. ia-r ig-z ia-1
:s,isodsoa
PERGUNTAS-TIPO
196
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR
O esqueleto do membro inferior é formado, à se- O osso coxal é um osso placóide, comparável a
melhança do membro superior, por quatro seg- uma "hélice". A cavidade articular é lateral e a
mentos: anca, coxa, perna e pé (Fig. 2.163). maior incisura (chanfradura) no rebordo destaca-
vidade é inferior. É constituído por três segmen-
tos que correspondem ao desenvolvimento de três
pontos de ossificação distintos: um segmento su-
perior, o ileon ou asa do ílion e um segmento in-
Anca ferior, o púbis e o isquion que formam o rebor-
2
do de um orifício de grandes dimensões, o bura-
co obturado. (Fig. 2.164). Estes segmentos reú-
nem-se na parte média do osso, espessa e escava-
da na sua face lateral por uma superfície articular,
o acetábulo. Descrevem-se habitualmente duas fa-
ces (lateral e medial), quatro bordos (superior, an-
Coxa terior, inferior e posterior) e quatro ângulos (ân-
tero-superior, ântero-inferior, póstero-superior e
póstero-inferior). A face lateral apresenta três seg-
mentos principais que são, de cima para baixo, a
face glútea do ílion, o acetábulo (cavidade cotilói-
Joelho [
4 deia) e o buraco obturado (buraco isquio-púbico).
A face glútea do ileon é uma superfície triangular,
convexa da frente para trás, côncava na sua por-
5 ção média, que se divide em três segmentos (ante-
rior, médio e posterior) por duas linhas curvas ru-
Perna gosas, as linhas glúteas (linhas semicirculares) an-
6 terior e posterior. A linha glútea anterior, cônca-
va para baixo e para a frente, estende-se desde o
ângulo ântero-superior, representado pela espinha
Tornozelo [ ilíaca ântero-superior, até à porção média do bor-
do superior da incisura isquiática maior (grande
{,._. ..
incisura ciática). A linha glútea posterior, cônca-
va para a frente e quase vertical, estende-se desde
o bordo superior do osso, na união do ¼ posterior
com os ¾ anteriores, e termina no bordo superior
da incisura isquiática maior, situando-se posterior-
Fig. 2.163: Esqueleto ósseo do membro inferior. mente à anterior. O segmento posterior apresen-
1. Ilíaco 2. Sacro 3. Fémur 4. Rótula/Patela 5. Tíbia 6. Peróneo/
Fibula 7. Tarso 8. Metatarso 9. Dedos ta duas zonas: uma póstero-superior que dá inser-
ção aos feixes do músculo glúteo máximo (gran-
de glúteo) e uma ântero-inferior onde se inserem
ESQUELETO DA ANCA alguns feixes do ligamento sacro-tuberoso (gran-
de ligamento sacro-ciático). Os segmentos médio
A anca une o membro inferior ao tronco e é cons- e anterior dão inserção, respetivamente, ao múscu-
tituída por um único osso, o osso coxal (ilíaco). Os lo glúteo médio e ao músculo glúteo rrúnimo (pe-
dois ossos coxais circunscrevem, juntamente com queno glúteo). A parte mais inferior da face glú-
o sacro e o cóccix, uma cintura óssea: a pélvis ou tea do ileon apresenta a goteira supra-acetabular
bacia. (supra-cotiloideia), que se relaciona com o ten-
197
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
198
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E I NFERIOR
199
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
A face póstero-lateral dá inserção, também, ao do corpo (Fig. 2.166). Na sua face lateral encon-
músculo vasto intermédio. A face póstero-medial tra-se uma saliência rugosa denominada de "crista
não apresenta inserções musculares. O bordo late- do músculo glúteo médio", onde se insere o mús-
ral e o bordo medial são pouco marcados e con- culo glúteo médio. A face medial confunde-se em
fundem-se com as faces que separam (Fig. 2.166). quase toda a sua extensão com o colo do fémur ex-
O bordo posterior é saliente e rugoso recebendo ceto na porção superior e posterior onde se locali-
o nome de linha áspera (Fig. 2.166). Os seus lá- za a fosseta trocantérica (fosseta digital), local de
bios, lateral e medial, dão inserção ao músculo vas- inserção do músculo obturador externo. Imediata-
to lateral (vasto externo) e músculo vasto medial mente à frente e acima da fosseta trocantérica en-
(vasto interno), respetivamente, sendo o interstí- contram-se as inserções do músculo obturador in-
cio ocupado pelas inserções dos músculos aduto- terno e músculo gastrocnémio (gémeos). O bordo
res da coxa e pela porção curta do bíceps femoral inferior corresponde à crista do músculo vasto la-
(bicípede crural). Em cima, a linha áspera divide- teral. O bordo superior apresenta a fosseta de in-
-se em três ramos: lateral, medial e médio. O ramo serção do músculo piriforme (piramidal). O bor-
lateral ou tuberosidade glútea (crista do músculo do anterior dá inserção ao músculo glúteo míni-
glúteo máximo), dirige-se para o trocanter maior mo enquanto o bordo posterior se encontra livre
(grande trocanter) e dá inserção ao músculo glú- de inserções musculares continuando-se pela li-
teo máximo (grande glúteo) e ao feixe superior do nha intertrocantérica posterior. O trocanter me-
músculo adutor magno. O ramo médio ou linha nor (Fig. 2.166) localiza-se na transição do colo
pectínea, dirige-se para o trocanter menor (peque- do fémur para a face medial do corpo sendo o lo-
no trocanter) e dá inserção ao músculo pectíneo. cal de inserção do músculo ileopsoas. Os trocan-
O ramo medial ou crista do músculo vasto medial, teres maior e menor encontram-se unidos entre si
contorna a face medial do fémur, passa abaixo do por duas cristas, a linha intertrocantérica anterior
trocanter menor e continua-se na face anterior do e a linha intertrocantérica posterior, sendo a ante-
osso com a crista intertrocantérica anterior dan- rior a continuação do ramo de trifurcação medial
do inserção ao músculo vasto medial (Fig. 2.166). da linha áspera enquanto a posterior está na con-
Em baixo a linha áspera bifurca-se, originando tinuidade do bordo posterior do trocanter maior
um ramo medial e um ramo lateral que se diri- e une-se, em baixo, ao trocanter menor dando in-
gem para os côndilos da extremidade inferior do serção ao músculo quadrado femoral (Fig. 2.166).
fémur, delimitando um espaço triangular de base O colo do fémur une a cabeça do fémur à região
inferior, a superfície popliteia (espaço popliteu). trocantérica (Fig. 2.166). O seu maior eixo, orien-
O buraco nutritivo principal do osso encontra-se tado para dentro, para cima e para a frente, for-
sobre a linha áspera (Fig. 2.166). ma um ângulo no plano frontal de aproximada-
mente 130° com o corpo do fémur (ângulo cervi-
Extremidade superior co-diafisário). No plano horizontal forma um ân-
gulo agudo, aberto para dentro, com o maior eixo,
Descrevem-se nesta extremidade, a cabeça do fé- transversal, na extremidade inferior do fémur, que
mur, o trocanter maior, o trocanter menor e o colo define a amplitude de anteversão do colo do fé-
do fémur. A cabeça do fémur tem a forma de um mur. Descrevem- se habitualmente duas faces (an-
segmento de esfera e está orientada para cima, terior e posterior), dois bordos (superior e inferior)
para dentro e para a frente. Apresenta uma peque- e duas extremidades (medial e lateral).
na escavação um pouco posterior e inferior rela-
tivamente ao seu centro, a fóvea ou fosseta do li- Extremidade inferior
gamento da cabeça do fémur (ligamento redon-
do) (Fig. 2.163). Esta fosseta é rugosa e perfura- A extremidade inferior é volumosa sendo cons-
da por numerosos buracos vasculares, dando inser- tituída por duas eminências laterais, os côndi-
ção ao ligamento da cabeça do fémur. O trocan- los femorais, separados entre si por uma de-
ter maior situa-se lateralmente no prolongamento pressão profunda, a fossa intercondiliana (Fig.
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2.166). Estes, designam-se por medial e lateral, ântero-posterior (Fig. 2.166). Na fossa intercon-
e apresentam uma face inferior, uma face poste- diliana é possível observar o local de inserção dos
rior e duas faces laterais. As faces inferior e pos- ligamentos cruzados da articulação do joelho. As
terior formam uma superfície articular que arti- faces laterais diferem entre si. O côndilo femo-
cula com a rótula e com a tíbia e que é formada ral medial apresenta a tuberosidade supracondi-
por uma porção anterior, a tróclea femoral, e uma liana medial, atrás da qual se encontra a inserção
porção posterior ou superfície condiliana pro- do ligamento colateral tibial (lateral interno) da
priamente dita. A tróclea femoral ou superfície articulação do joelho e o tubérculo do músculo
rotuliana do fémur é constituída por duas ver- adutor magno onde se insere o músculo do mes-
tentes convexas separadas por um sulco ântero- mo nome. Observa-se ainda uma depressão onde
-posterior, que articulam com a face posterior da se insere o do músculo gastrocnémio medial. Na
rótula (Fig. 2.166). Está separada das superfícies porção média do côndilo femoral medial exis-
condilianas propriamente ditas pelas ranhuras te uma saliência, o epicôndilo medial do fémur.
côndilo-trocleares. A superfície condiliana pro- O côndilo femoral lateral apresenta a tuberosida-
priamente dita (lateral e medial), separadas en- de supracondiliana lateral e as inserções do mús-
tre si pela fossa intercondiliana, estão no prolon- culo popliteu, músculo gastrocnémio lateral e do
gamento posterior das vertentes laterais da tró- ligamento colateral peroneal (lateral externo) da
clea ocupando toda a face posterior dos côndilos articulação do joelho. Na porção média do côndi-
e apresentam uma convexidade no sentido ânte- lo femoral lateral existe uma saliência, o epicôn-
ro-posterior cujo raio vai diminuindo no sentido dilo lateral do fémur que é menos saliente que
201
MANUAL DE ANATOMIA H UMANA
o medial. Ambos os côndilos apresentam inser- sagem dos feixes do tendão do músculo quadrí-
ções da cápsula articular da articulação do joe- ceps femoral (Fig. 2.167). A face posterior é ocu-
lho (Fig. 2.166). pada na quase totalidade da sua extensão (3/4 su-
periores) por uma superficie articular constituída
RÓTULA (PATELA) por duas facetas laterais (uma medial e outra late-
ral), separadas por uma crista vertical que articu-
A rótula é um osso placóide que se localiza na por- la com a tróclea femoral ou superficie rotuliana do
ção mais anterior do joelho desenvolvendo-se na fémur (Fig. 2.167). A base da rótula dá inserção, à
espessura do tendão do músculo quadríceps fe- frente, ao tendão do músculo quadríceps femoral
moral (quadricípede crural) pelo que é conside- e, atrás, à cápsula articular da articulação do joelho.
rada um osso sesamoide. Desempenha uma ftm- O vértice dá inserção ao ligamento rotuliano (ten-
ção muito importante na actividade do aparelho dão rotuliano). Os bordos laterais dão inserção ao
extensor do joelho. Tem uma forma triangular de músculo vasto lateral e retináculo rotuliano lateral
base superior sendo achatada no sentido ântero- (asa lateral da rótula) (Fig. 2.167).
-posterior. A face convexa é anterior, na face pos-
terior, a superfície articular é superior e a faceta
mais larga e mais côncava desta superficie articu- ESQUELETO DA PERNA
lar é lateral. Consideram-se duas faces (anterior e
posterior), uma base superior, um vértice inferior e A perna é o segmento que une a coxa ao pé sendo
dois bordos laterais. A face anterior apresenta nu- constituída por dois ossos: a tíbia, medialmente,
merosos sulcos verticais determinados pela pas- que desempenha as funções de suporte mais im-
portantes, e o peróneo, lateralmente, sede de vá-
rias inserções musculares e importante estabili-
zador da articulação talocrural. A tíbia e o peró-
neo articulam entre si pelas suas extremidades e
estão separados em toda a sua extensão pelo es-
paço interósseo.
TÍBIA
Corpo
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p
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
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SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR
ESQUELETO DO PÉ
TARSO
TALUS
o ápex da cabeça do peróneo (apófise estiloideia)
onde se inserem o músculo bíceps femoral e o li- Situa-se no vértice da abóbada do tarso e articu-
gamento colateral peroneal da articulação do joe- la, em cima, com os ossos da perna, em baixo, com
lho (Fig. 2.169). o calcâneo e, à frente, com o navicular. É um osso
achatado verticalmente e alongado no sentido ân-
Extremidade inferior tero-posterior apresentando três segmentos (an-
terior, posterior e intermédio). O segmento ante-
É também chamada de "maléolo lateral". A sua rior é arredondado e constitui a cabeça do talus.
face lateral é subcutânea anteriormente relacio- O segmento posterior é mais volumoso e consti-
nando-se posteriormente com os tendões dos tui o corpo do talus que ocupa os ¾ posteriores do
músculos peroneais. A face medial apresenta uma osso. O segmento intermédio é o colo do talus e
superficie articular triangular de base superior, constitui um estreitamento entre a cabeça e o cor-
convexa de cima para baixo, que se relaciona com po. O talus apresenta seis faces a descrever (Fig.
o talus. Imediatamente acima da superficie articu- 2.170, 2.171, 2.172 e 2.173).
lar insere-se o ligamento tibioperoneal da articu- A face superior é constituída por uma superficie
lação tibioperoneal distal (tibio-peroneal inferior). articular em forma de roldana que ocupa prati-
O bordo anterior dá inserção, em cima, ao liga- camente toda a extensão do corpo do osso, a tró-
mento tibioperoneal e, em baixo, aos feixes do li- clea do talus (tróclea astragalina). Esta é conve-
gamento taloperoneal anterior (peroneo-astragali- xa da frente para trás, côncava transversalmente,
no anterior) e ligamento peroneocalcaneano (cal- mais larga anterior que posteriormente, e limita-
câneo-peroneal). O bordo posterior dá inserção ao da lateralmente por dois bordos semicirculares. À
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
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e D e
2
F { 14
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F
G [ JG
H e ::J H
e :J 1
Fig. 2.170: Ossos do pé (vista superior ou dorsal). Fig. 2.171: Ossos do pé {vista inferior ou plantar).
G
~ li 5
15 D
14
12 10
A. TALUS 1. Cabeça 2. Colo 3. Tróclea 4. Superfície articular peroneal 5. Superfície articular tibial 6. Tubérculo medial 7. Tubérculo lateral
8. Seio do tarso B. CALCÂNEO 9. Tuberosidade posterior 10. Tuberosidade medial 11. Tuberosidade lateral 12. Sustentaculum tali 13. Tróclea
peroneal C. CUBÓIDE D. NAVICULAR E. CUNEIFORMES 14. Medial 15. Intermédio 16. Lateral F. METATARSO G. FALANGES PROXIMAIS
(1j H. FALANGES INTERMÉDIAS (2j 1. FALANGES DISTAIS (3')
207
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
uma forma prismática triangular ou em cunha, A face anterior, em forma de "meia-luà', articula
com quatro faces, uma base e um bordo lateral. com o 1° metatársico. A face medial apresenta, na
A face dorsal é inclinada para baixo e para fora. sua parte anterior e inferior, uma saliência que dá
A face plantar apresenta uma crista, a tuberosida- inserção ao músculo tibial anterior. A face lateral
de do cubóide, à frente da qual se encontra uma articula com o cuneiforme intermédio e com o 2°
goteira que dá passagem ao tendão do músculo metatársico. A face inferior ou base apresenta uma
longo peroneal. Atrás desta crista existe uma de- saliência que dá inserção ao tendão do músculo ti-
pressão que dá inserção ao ligamento calcaneocu- bial posterior. O cuneiforme intermédio situa-se
boideu. A face posterior articula com a face ante- entre o medial e o lateral. A face posterior articu-
rior do calcâneo. A face anterior apresenta duas la com a face anterior do navicular. A face anterior
facetas articulares, separadas entre si por uma articula com o 2° metatársico. A face medial arti-
crista, que articulam com o 4° e 5° metatársicos. cula com o cuneiforme medial. A face lateral arti-
A face medial ou base articula com o cuneiforme cula com o cuneiforme lateral. O cuneiforme la-
lateral (3° cuneiforme). Para trás desta existe ou- teral encontra-se entre o cuneiforme intermédio
tra faceta articular que articula com o osso navicu- (medialmente) e o cubóide (lateralmente). A face
lar. A face lateral assemelha-se a um bordo e cor- posterior articula com a face anterior do navicu-
responde à região de união das faces plantar e dor- lar. A face anterior articula com o 3° metatársi-
sal, ao nível do bordo lateral do pé e da extremida- co. A face medial apresenta duas facetas articula-
de lateral da goteira do longo peroneal. res, uma posterior para o cuneiforme intermédio
e uma anterior para o 2° metatársico. A face late-
NAVICULAR ral articula, atrás, com o cubóide e, à frente, com o
4° metatársico.
Localiza-se na região medial do pé, à frente do ta-
lus, para dentro do cubóide e atrás dos cuneifor- METATARSO
mes. Apresenta, a descrever, duas faces, dois bor-
dos e duas extremidades (Fig. 2.170, 2.171,2.172 e É constituído por cinco ossos longos, os ossos me-
2.173). A face posterior é elíptica e articula com a tatársicos, que articulam, atrás, com a fileira ante-
cabeça do talus. A face anterior encontra-se dividi- rior (2• fileira) do tarso e, à frente, com as falanges
da por duas cristas em três facetas triangulares que proximais dos dedos, sendo numerados de dentro
articulam com os três cuneiformes. A extremidade para fora. Os metatársicos apresentam caracterís-
medial apresenta uma saliência arredondada para ticas gerais comuns a todos eles, nomeadamente,
dentro e para baixo, o tubérculo navicular, onde se um corpo e duas extremidades. O corpo é prismá-
insere o tendão do músculo tibial posterior. A ex- tico triangular, tem uma face dorsal e duas faces la-
tremidade lateral articula com o cubóide. terais. Estas, limitam juntamente com o osso me-
tatársico vizinho o espaço interósseo ou espaço in-
CUNEIFORMES termetatársico. D os três bordos, dois são laterais e
dorsais e um é plantar, apresentando uma concavi-
São em número de três, encontram-se à frente do dade inferior. As faces dão inserção aos músculos
osso navicular, articulam entre si e designam-se, de interósseos. A extremidade posterior ou base apre-
dentro para fora, como medial, intermédio e late- senta uma face posterior que articula com os ossos
ral (1°, 2° e 3°, respetivamente). Têm a forma de do tarso e duas faces laterais com facetas articu-
uma cunha, com base plantar para o cuneiforme lares póstero-superiores para os metatársicos vizi-
medial e dorsal para o intermédio e lateral. Cada nhos. A extremidade anterior ou cabeça apresen-
um apresenta, a descrever, quatro faces, uma base e ta uma superfície articular convexa que é limitada
uma crista (Fig. 2.170, 2.171, 2.172 e 2.173). em cima e lateralmente por um sulco rugoso que
O cuneiforme medial localiza-se no bordo medial apresenta de um e de outro lado um tubérculo para
do pé entre o navicular e o 1° metatársico. A face inserção do ligamento lateral da articulação meta-
posterior articula com a face anterior do navicular. tarsofalângica correspondente.
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SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
em direção à incisura isquio-púbica (Fig. 2.174). fletem-se sobre o colo dirigindo-se para o rebordo
O labrum acetabular é uma fibrocartilagem de da superfície articular da cabeça onde se inserem
forma prismática triangular, em forma de anel, determinando a existência de pregas da membra~
que se insere em todo o contorno do acetábulo e na sinovial que recebem o nome de frenula capsu-
que aumenta quer a profundidade quer a exten- lae. Uma destas pregas, localizada na porção pós-
são da superfície articular do osso coxal. Apre- tero-inferior do colo é mais saliente que as outras
senta uma face aderente, ou base, através da qual e denomina-se de prega pectino-foveal. A cápsu-
se insere no rebordo do acetábulo, uma face arti- la articular é constituída por fibras longitudinais e
cular, lisa e côncava, em continuidade com a do por fibras circulares. Estas últimas são mais abun-
acetábulo e uma face periférica, convexa, que dá dantes na região média da cápsula onde formam
inserção à cápsula articular. O labrum acetabular um feixe mais espesso em torno do colo do fémur
passa como uma ponte acima da incisura isquio- que recebe o nome de zona orbicular da cápsula
-púbica, transformando-a em orifício e consti- ou ligamento anular. A cápsula articular é reforça-
tuindo nessa zona o ligamento transverso do ace- da por ligamentos capsulares: ileofemoral, pubo-
tábulo (Fig. 2.174). femoral e isquiofemoral. O ligamento ileofemoral
(de Bertin) (Fig. 2.175) reforça a face anterior da
cápsula e é constituído por um feixe superior e por
um feixe inferior. O feixe superior ou ileo-prétro-
canteriano é o ligamento mais resistente da arti-
culação e estende-se desde a espinha ilíaca ântero-
-inferior até à extremidade superior da linha inter-
trocantérica anterior. O feixe inferior ou ileo-pré-
2 trocantiniano insere-se na espinha ilíaca ântero-
-inferior, confundindo-se com a inserção do feixe
ileo-prétrocanteriano, abaixo do tendão direto do
recto femoral, dirige-se quase verticalmente para
4 baixo, inserindo-se na extremidade inferior da li-
nha intertrocantérica anterior. O ligamento pubo-
femoral (Fig. 2.175) reforça a porção ântero-in-
Meios de união
210
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR
211
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
dade glenoideia lateral. O revestimento cartilagí- ral corresponde a uma linha que se encontra an-
neo é mais espesso ao centro do que à periferia. teriormente no escavado supratroclear prolongan-
Os meniscos articulares, medial e lateral, são fi- do-se para cada lado e para trás pela face lateral
brocartilagens prismáticas triangulares, de forma dos côndilos femorais até atingir as suas extremi-
semilunar, que se destinam a promover a concor- dades posteriores, infletindo-se depois para a fren-
dância articular no compartimento femoro-tibial. te e para dentro da fossa intercondiliana onde cir-
Apresentam uma face superior relacionada com os cunscreve as inserções dos ligamentos cruzados.
côndilos femorais, uma face inferior relacionada A inserção tibial faz-se ao nível do bordo anterior
com a cavidade glenoideia correspondente, uma da área intercondiliana anterior prolongando-se
face lateral ou periférica, aderente à cápsula arti- para fora, contornando perifericamente as cavida-
cular, um bordo medial côncavo e duas extremida- des glenoideias até atingir, atrás, a área intercon-
des (anterior e posterior) que se inserem nas áreas diliana posterior. Nesta zona inflete para a frente
intercondilianas anterior (superficie pré-espinhal) e circunscreve as inserções tibiais dos ligamentos
e posterior (superfície retro-espinhal) da extremi- cruzados. A cápsula articular não existe na proxi-
dade superior da tíbia. O menisco medial tem a midade do tendão do músculo popliteu pelo que a
forma de um "C" aberto e insere-se anteriormen- sinovial comunica diretamente com uma bolsa se-
te na área intercondiliana anterior, à frente da in- rosa anexa ao tendão deste músculo. A membrana
serção do ligamento cruzado anterior e, posterior- sinovial recobre a face profunda de toda a cápsu-
mente, na área intercondiliana posterior, atrás da la articular formando diversos recessos (fundos de
inserção do menisco lateral e à frente da inserção saco) dos quais se destaca o recesso subquadricipi-
do ligamento cruzado posterior. O menisco late- tal. Os ligamentos que reforçam a cápsula articular
ral tem a forma de um "O" ou "C" quase fecha- agrupam-se em ligamentos anteriores, colateral ti-
do.Insere-se, anteriormente na área intercondilia- bial, colateral peroneal e posteriores. O s ligamen-
na anterior, à frente da eminência intercondiliana tos anteriores dispõem-se em três planos. Um pla-
(espinha) lateral da tíbia e para fora e para trás da no profundo ou capsular, que corresponde a espes-
inserção do ligamento cruzado anterior. Insere-se samentos da cápsula articular, um plano médio ou
posteriormente às eminências intercondilianas da tendinoso, que corresponde aos tendões ou expan-
dbia e anteriormente à inserção do corno poste- sões tendinosas dos músculos vizinhos e um pla-
rior do menisco medial. Da extremidade posterior no superficial ou fascial. O plano capsular é cons-
do menisco lateral destaca-se o ligamento menis- tituído pelos retináculos rotulianos (asas da rótu-
co-femoral que acompanha o ligamento cruza- la) e pelos ligamentos menisco-rotulianos (Fig.
do posterior. Os dois meniscos estão unidos, an- 2.177). Os retináculos rotulianos, medial e lateral,
teriormente, por um feixe transversal, o ligamento têm uma forma triangular inserindo-se pelas suas
transverso. A face posterior da rótula articula com bases nos bordos laterais da rótula e pelos seus vér-
a tróclea femoral através de uma superflcie articu- tices nas faces laterais dos côndilos femorais. Os li-
lar que ocupa os¾ superiores da sua face posterior. gamentos menisco-rotulianos, medial e lateral, es-
Esta, é constituída por duas facetas, medial e late- tendem-se da extremidade inferior dos bordos la-
ral, separadas por uma crista vertical romba, que terais da rótula ao bordo lateral do menisco corres-
articula com o sulco da tróclea femoral. pondente. O plano tendinoso é constituído pelo
ligamento rotuliano (Fig. 2.177), pelas expansões
Meios de união tendinosas do quadríceps femoral, que nascem
dos músculos vastos, lateral e medial, e terminam
São a cápsula articular e os ligamentos. na rótula e nos côndilos da nbia, e pela expansão
A cápsula articular estende-se da extremidade in- pré-rotuliana do tensor da fáscia lata. O ligamen-
ferior do fémur à extremidade superior da tíbia e to rotuliano é uma lâmina tendinosa aplanada no
apresenta uma solução de continuidade anterior sentido ântero-posterior, larga e espessa, que se in-
que corresponde à sua inserção no rebordo da su- sere, em cima, no vértice da rótula e, em baixo, na
perficie articular da rótula. A sua inserção femo- tuberosidade da tíbia. Representa uma porção do
212
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR
tendão de inserção inferior do músculo quadríceps dão refletido do músculo semimembranoso. O li-
femoral de tal modo que as fibras mais anteriores gamento colateral peroneal (Fig. 2.177 e 2.178) es-
do ligamento rotuliano continuam-se, sobre a face tende-se desde côndilo femoral lateral, acima da in-
anterior da rótula, com as fibras mais anteriores do serção do músculo popliteu e abaixo da inserção do
tendão do quadríceps femoral. O plano aponevró- músculo gastrocnémio lateral, até à porção anterior
tico é constituído pela fáscia superficial que reves- do ápex da cabeça do peróneo. Este ligamento é
te toda a face anterior da articulação continuan- completamente independente da cápsula articular
do-se, em cima, com a fáscia femoral e, em baixo, e a sua extremidade inferior está revestida pelo ten-
corn a fáscia da perna. A face profunda adere ao dão do músculo bíceps femoral do qual está separa-
!ano tendinoso subjacente, em particular à fáscia do por uma bolsa serosa. Os ligamentos posterio-
~o músculo tensor da fáscia lata. res (Fig. 2.177 e 2.178) incluem os ligamentos cru-
O ligamento colateral tibial (Fig. 2.177 e 2.178) é zados, situados na fossa intercondiliana e o plano
constituído por uma porção principal, que se esten- fibroso posterior, que se encontra posteriormente
de do fémur à tfüia, e por uma porção acessória, si- a esta, entre os côndilos femorais e o bordo poste-
tuada posteriormente a esta e que se estende desde rior da superficie articular superior da tibia. Os li-
0 fémur e da tfüia até ao menisco medial. A porção gamentos cruzados (anterior e posterior) são cur-
principal deste ligamento é muito resistente, inse- tos e muito espessos, estendendo-se desde o espaço
re-se, em cima, na face medial do côndilo femo- interglenoideu até à fossa intercondiliana do fémur.
ral medial, abaixo do tubérculo do adutor magno O ligamento cruzado anterior insere-se, em bai-
e da inserção do gastrocnémio medial, sendo par- xo, na área intercondiliana anterior, à frente e para
cialmente coberto pelo retináculo rotuliano medial. dentro da inserção do corno anterior do menis-
As suas fibras dirigem-se para baixo e para a frente, co lateral e atrás da inserção do corno anterior do
aderindo ao menisco medial e terminam, em bai- menisco medial. O s seus feixes dirigem-se para
xo, na tibia, na linha de inserção capsular. Algumas cima, para fora e para trás, em direção à fossa in-
fibras inserem-se mais abaixo recobrindo o ten- tercondiliana, inserindo-se na porção mais pos-
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Fig. 2.177: Articulação do joelho (vista anterior). 2.178: Articulação do joelho (vista posterior).
1. Tróclea femoral 2. Côndilo medial 3. Côndilo lateral 4. Menisco 1. Côndilo medial 2. Côndilo lateral 3. Fossa intercondiliana
medial 5. Menisco lateral 6. Ligamento transverso 7. Ligamento 4. Ligamento cruzado posterior 5. Ligamento cruzado anterior
cruzado anterior 8. Ligamento cruzado posterior 9. Ligamento 6. Ligamento menisco-femoral 7. Menisco medial 8. Menisco lateral
colateral tibial 10. Ligamento colateral peroneal 11. Ligamento 9. Ligamento colateral tibial 1 O. Ligamento colateral peroneal
rotuliano
213
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
terior da face medial do côndilo femoral lateral. cruzados e dos ligamentos colaterais. Os ligamen-
O ligamento cruzado posterior insere-se, em bai- tos colaterais limitam o movimento de rotação la-
xo, na área intercondiliana posterior, atrás das in- teral enquanto os ligamentos cruzados limitam a
serções dos cornos posteriores dos meniscos medial rotação medial.
e lateral, prolongando as suas inserções tibiais para O peróneo e a tfüia estão unidos entre si pelas arti-
trás e para baixo numa área adjacente à área inter- culações tibioperoneais proximal e distal e pela da
condiliana posterior. Daí, os feixes dirigem-se para membrana interóssea.
cima, para dentro e para a frente, até à sua inserção
na face lateral do côndilo femoral e fundo da fos- ARTICULAÇÃO TIBIOPERONEAL PROXIMAL
sa intercondiliana. A acompanhar o trajeto do liga-
mento cruzado posterior encontra-se o ligamento A articulação tibioperoneal proximal une a extre-
menisco-femoral. Este ligamento relaciona-se com midade superior do peróneo à extremidade su-
a face lateral e com a face posterior do ligamen- perior da nbia (Fig. 2.177 e 2.178). Classifica-se
to cruzado posterior inserindo-se na porção poste- como uma artrodia.
rior da face intercondiliana do côndilo femoral me-
dial. Os ligamentos cruzados entrecruzam-se nos Superfícies articulares
planos transversal e ântero-posterior. O ligamento
anterior é anterior em baixo e lateral em cima, en- A faceta articular da nbia situa-se na parte póste-
quanto o ligamento posterior é posterior em baixo ro-lateral do côndilo lateral da nbia e orienta-se
e medial em cima. O plano fibroso posterior (Fig. para baixo, para trás e para fora. A faceta articu-
2.178) é constituído por inúmeros feixes fibrosos lar do peróneo localiza-se na porção mais medial
que se encontram posteriormente ao espaço inter- da sua extremidade superior, medialmente ao ápex
condiliano e aos ligamentos cruzados, dos quais es- da cabeça do peróneo, e apresenta uma orientação
tão separados por uma bolsa serosa. Insere-se, em complementar da faceta articular da nbia. Ambas
cima, na porção mais inferior da superfície popli- as superfícies são revestidas por uma fina lâmina
teia e, em baixo, no rebordo posterior da superfície de cartilagem.
articular superior da tfüia. Lateralmente, continua-
-se com os tendões dos músculos gastrocnérnios, Meios de união
popliteu e semimembranoso. Destes feixes desta-
cam-se, o ligamento popliteu oblíquo, que tem ori- São a cápsula articular e dois ligamentos. A cápsu-
gem, em baixo, no tendão do músculo semimem- la articular insere-se no rebordo das superfícies ar-
branoso, perdendo-se na face posterior da cápsu- ticulares e a sua face profunda é revestida por uma
la, e o ligamento popliteu arqueado. Este último membrana sinovial. Distinguem-se dois ligamen-
insere-se no ápex da cabeça do peróneo e dirige- tos tibioperoneais proximais: o ligamento tibiope-
-se para cima confundindo-se com a face posterior roneal anterior e o ligamento tibioperoneal poste-
da cápsula articular. Os seus feixes mais inferiores rior, sendo o anterior mais espesso e resistente que
e mediais dirigem-se para baixo e para dentro, in- o posterior.
serem- se na tfüia, e formam uma arcada por baixo
da qual passa o músculo popliteu, a arcada do mús- Movimentos
culo popliteu.
Executa movimentos de deslizamento, de peque-
Movimentos na amplitude.
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SUPORT E E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR
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fig. 2.181 : Articulação talocrural e articulações do pé (vista posterior). Fig. 2.182: Articulação talocrural e articulações do pé (vista plantar).
1. Maléolo medial 2. Maléolo lateral 3. Talus 4. Calcâneo 5. Ligamento 1. Tuberosidade do calcâneo 2. Sustentaculum tali 3. Tubérculo
tíbioperoneal posterior 6. Ligamento t ibiotalar posterior 7. Ligamento navicular 4. Ligamento plantar longo 5. Ligamento calcaneo-cuboideu
tibiocalcaneano 8. Ligamento taloperoneal posterior 9. Ligamento plantar 6. Ligamento naviculo-cuboideu plantar 7. Ligamento
peroneocalcaneano 1O. Ligamento talocalcaneano posterior cakâneo-navicular plantar 8. Ligamento intermetatársico transverso
plantar 9 . Tendão do músculo peroneal longo 10. Te ndão do músculo
peroneal curto 11. Tendão do músculo tibial anterior 12. Tendão
bioperoneal ou bimaleolar de cuja integridade de- do músculo tibial posterio r 13. Tendão do músculo flexor longo dos
pende a estabilidade da articulação talocrural. dedos 14. Tendão do músculo flexor longo do 1º dedo 15. Tendão do
músculo flexor curto dos dedos 16. Ligamentos t ransversos profundos
do metatarso
Meios de união
ligamento taloperoneal posterior (peróneo-astra-
São a cápsula articular e os ligamentos, lateral e galino posterior) (Fig. 2.181) estende-se horizon-
medial. A cápsula articular insere-se no rebordo talmente desde a face medial do maléolo lateral
das superficies articulares em toda a sua extensão, até à face posterior do talus. O ligamento medial
exceto à frente onde se afasta das superficies arti- (Fig. 2.180) dispõe-se em dois planos, superficial
culares inserindo-se no colo do talus e na face an- e profundo. Constituem o plano superficial ou li-
terior da extremidade inferior da tfbia. A cápsula gamento deltoideu: ligamento tibiotalar anterior e
articular é reforçada pelos ligamentos lateral e me- ligamento tibiotalar posterior (tibio-astragalinos),
dial. O ligamento lateral (Fig. 2.179) é constituí- ligamento talonavicular (astrágalo-escafoideu), li-
do por três feixes distintos (anterior, médio e pos- gamento tibiocalcaneano e ligamento tibionavicu-
terior) que divergem do maléolo lateral em direc- lar (tibio-escafoideu). Estes inserem-se no bordo
ção ao talus e calcâneo. O feixe anterior ou liga- anterior e vértice do maléolo medial dispondo-se
mento taloperoneal anterior (peróneo-astragalino em forma de leque até às suas inserções inferiores
anterior) insere- se, em cima, no bordo anterior do na face superior do osso navicular, no colo do ta-
maléolo lateral e, em baixo, no talus, à frente da fa- lus e no sustentaculum tali. O plano profundo (Fig.
ceta peroneal. O feixe médio ou ligamento pero- 2.181) é constituído por um feixe curto e espesso
neocalcaneano, estende-se desde o bordo anterior que se estende do vértice do maléolo medial até à
do maléolo lateral, dirige-se para trás e para baixo, face medial do corpo do talus, abaixo da faceta ar-
até à face lateral do calcâneo. O feixe posterior ou ticular medial.
217
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
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SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR
eiformes relacionam os três cuneiformes entre navicular (Fig. 2.179 e 2.180). O ligamento talo-
cun
. apresentam uma caps ·u1ar e ligamen-
, ula art1c navicular une a face superior do colo do talus ao
si, de reforço. Estes são dois ligamentos dorsais, bordo superior do osso navicular. Este ligamen-
toS
e estendem transversalmente entre os cunei- to, tal como o ligamento calcaneonavicular infe-
que S .
formes vizinhos, um ligamento plantar entre o 1° rior ou plantar são revestidos pelos feixes anterio-
e 2º cuneiformes e dois ligamentos interósseos. res, tibionavicular e tibioglenoideu, da camada su-
A membrana sinovial constitui um prolongamen- perficial do ligamento medial da articulação talo-
to anterior da sinovial das articulações cuneonavi- crural. O ligamento talocalcaneano interósseo en-
culares (Fig. 2.179 e 2.180). A articulação cuneo- contra-se atrás da articulação talocalcaneana ante-
cuboideia une a face lateral do cuneiforme late- rior. O ligamento calcaneonavicular entra na cons-
ral à face medial do cubóide. Apresenta uma cáp- tituição do ligamento em "Y", considerado o ful-
sula articular e três ligamentos de reforço, o dor- cro da articulação transversa do tarso. Estende-se
sal, 0 plantar e o interósseo. A membrana sino- desde a face dorsal da grande apófise do calcâneo,
vial é também um prolongamento da sinovial das à frente do ligamento interósseo, até ao cubóide e
articulações cuneonaviculares (Fig. 2.179). Os os- navicular. A sinovial é distinta daquela da articula-
sos da 2ª fileira funcionam como um todo fun- ção calcaneocuboideia, mas comum às articulações
cional, designado por "tarso anterior", em função talonavicular e talocalcaneana anterior. A articula-
de estarem unidos por ligamentos muito resisten- ção calcaneocuboideia classifica-se como uma efi-
tes. Apenas possibilitam movimentos limitados de piartrose. A superficie articular calcaneana ocupa
deslizamento. a face anterior da grande apófise deste osso, é con-
vexa no sentido transversal, e no sentido vertical é
ARTICULAÇÃO DOS OSSOS DA 1ª COM A côncava, em cima, e convexa, em baixo. A superfi-
za FILEIRA DO TARSO OU ARTICULAÇÃO cie articular do cubóide é complementar à do cal-
TRANSVERSA DO TARSO OU ARTICULAÇÃO câneo e encontra-se na face posterior deste osso.
MÉDIOTÁRSICA (DE CHOPART) Os meios de união são a cápsula articular, reforça-
da por três ligamentos. O ligamento calcaneocu-
É a articulação entre os ossos do tarso posterior boideu superior ou dorsal estende-se desde a face
com os do tarso anterior. É constituída por duas superior da grande apófise do calcâneo à face dor-
articulações, uma medial, ou articulação talocal- sal do cubóide. O ligamento calcaneocuboideu in-
caneonavicular e, uma lateral, ou articulação cal- ferior ou plantar estende-se desde a face inferior
caneocuboideia. A articulação talocalcaneonavi- do calcâneo até ao cubóide e quatro últimos me-
cular (astágalo-calcaneo-escafoideia) classifica- tatársicos. O ligamento calcaneocuboideu medial
-se como uma artrodia. A superficie articular ta- corresponde ao feixe lateral do ligamento em "Y"
lar é formada pela cabeça do talus que está divi- e vai desde a grande apófise do calcâneo até à face
dida em três segmentos: ântero-superior ou navi- dorsal do cubóide. A sinovial está separada daque-
cular (articula com a face posterior daquele osso), la da articulação talonavicular por intermédio do
póstero-inferior ou calcaneano (articula com a fa- ligamento em "Y"(Fig.2.180 e 2.182).
ceta ântero-medial da face superior do calcâneo) As articulações talocalcaneana e transversa do tar-
e médio ou ligamentar (entre os dois segmen- so executam movimentos de torção medial e la-
tos anteriores). Este último é ocupado pelo liga- teral do pé ou inversão e eversão, respetivamen-
mento calcaneonavicular inferior ou plantar (cal- te. O movimento de torção medial é um movi-
câneo-escafoideu) que se estende desde a peque- mento de rotação medial que eleva o bordo medial
na apófise do calcâneo até ao bordo inferior e ex- do pé combinado com um movimento de adução
tremidade medial do osso navicular. Os meios de e extensão. A face plantar olha para dentro, para
união são a cápsula articular e os ligamentos talo- baixo e para trás (inversão). O movimento de tor-
navicular (astrágalo-escafoideu), calcaneonavicu- são lateral resulta da combinação do movimen-
lar plantar ou inferior Qá descrito), talocalcanea- to de rotação lateral do pé que eleva o seu bordo
no interósseo (astrágalo-calcaneano) e calcaneo- lateral com os movimentos de abdução e flexão.
219
MANUAL D E ANATOMIA HUMANA
A face plantar olha para fora, para baixo e para mentos dorsais são em números de sete: um entre
trás (eversão). o cuneiforme medial e o 1° metatársico, três entre
o 2° metatársico e os três cuneiformes e três en-
ARTICULAÇÃO TARSOMETATÁRSICA (DE tre o cuneiforme lateral e o cubóide e os três úl-
LISFRANC) timos metatársicos. Os ligamentos plantares são,
também, em número de sete: um entre o cuneifor-
É a articulação entre os ossos do tarso anterior me medial e o 1° metatársico, um entre o cunei-
(cuneiformes e cubóide) e os metatársicos que se forme medial e o 2° e 3° metatársicos, um entre
classificam como artrodias. Originam uma abóba- o cuneiforme intermédio e o 2° metatársico, dois
da óssea transversal de concavidade inferior, a ar- entre o cuneiforme lateral e o 3° e 4° metatársicos
cada társica. As superfícies articulares são, de me- e dois entre o cubóide e o 4° e 5° metatársicos. Os
dial para lateral, as faces anteriores dos cuneifor- ligamentos interósseos são três: entre o cuneifor-
mes, medial, intermédio e lateral, as facetas late- me medial e o 2° metatársico (ligamento cuneo-
rais dos cuneiformes medial e lateral, a faceta do metatársico interósseo), entre os cuneiformes in-
cuneiforme lateral que se relaciona com o 4° me- termédio e lateral e o 2° e 3° metatársicos e en-
tatársico e a face anterior do cubóide. As extremi- tre o cuneiforme lateral e o 3° metatársico. Cada
dades posteriores dos metatársicos formam uma uma das três articulações que constituem a articu-
abóbada transversal, côncava inferiormente desig- lação tarsometatársica possui uma membrana si-
nada por "arcada metatársica". As superfícies ar- novial. Devido à morfologia da articulação tarso-
ticulares são as facetas articulares posteriores dos metatársica é possível afumar que o 2° metatársico
cinco metatársicos complementares à arcada tá- é praticamente imóvel, dado estar encastrado en-
rsica. O 1° metatársico articula com o cuneifor- tre os três cuneiformes. O 3° metatársico executa
me medial, as superfícies articulares do 2° meta- ligeiros movimentos de deslizamento sobre o tar-
társico articulam com os três cuneiformes, a su- so. O 1°, 4° e 5° metatársicos são os mais móveis,
perfície articular do 3° metatársico articula com o permitindo movimentos pouco amplos, de flexão/
cuneiforme lateral e as superfícies articulares do 4° extensão e lateralidade.
e 5° metatársicos articulam com o cubóide. A in-
terlinha articular estende-se entre as regiões mé- ARTICULAÇÕES INTERMETATÁRSICAS
dias dos bordos medial e lateral do pé, seguin-
do uma direção para fora e para trás, descrevendo Estas articulações classificam-se como artodias e
uma curvatura muito irregular e ligeiramente con- estabelecem-se entre a extremidade posterior ou
vexa para a frente. A extremidade medial desta in- base dos metatársicos. Entre o 1° e o 2° metatá-
terlinha, entre o 1° cuneiforme e o 1° metatársi- rsicos apenas existe uma relação estabelecida por
co, dirige-se para fora e para a frente, em direcção intermédio de alguns feixes fibrosos. As superfí-
à região média do 5° metatársico. A extremidade cies articulares são duas para a articulação entre
lateral, entre o cubóide e o 5° metatársico é forte- o 2° e 3° metatársicos, uma superior e uma infe-
mente oblíqua para dentro e para a frente, em di- rior, uma entre o 3° e o 4° metatársicos e uma en-
reção ao limite posterior da cabeça do 1° metatár- tre o 4° e o 5° metatársicos. Cada uma destas ar-
sico. Existem, na realidade, três articulações distin- ticulações apresenta uma cápsula articular, um li-
tas. Aquelas entre o cuneiforme medial e o 1° me- gamento dorsal, um plantar e um interósseo (Fig.
tatársico, entre os cuneiformes intermédio e late- 2.179 e 2.182).
ral e o 2° e 3° metatársicos e entre o cubóide e os
dois últimos metatársicos. O 2° metatársico fica ARTICULAÇÕES METATARSOFALÂNGICAS E
encastrado entre os três cuneiformes (Fig. 2.179, ARTICULAÇÕES INTERFALÂNGICAS
2.180 e 2.182). Esta articulação apresenta como
meios de união três cápsulas articulares, corres- São análogas às articulações metacarpofalângicas
pondentes aos três componentes articulares e li- e interfalângicas dos dedos descritas a propósito
gamentos dorsais, plantares e interósseos. Os liga- da mão.
220
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR
MIOLOGIA DO MEMBRO INFERIOR recoberto pelo músculo psoas maior na sua porção
medial formando, nesta zona, um sulco por onde
Os músculos do membro inferior organizam-se passa o nervo femoral.
ern quatro grupos: músculos da bacia (região ilía- O músculo ileopsoas é responsável pelo movimen-
ca ou pélvica e região glútea), da coxa, da perna e to de flexão da coxa sobre a bacia e rotação lateral
da coxa. Qiando o ponto fixo é o fémur, este mús-
do pé.
culo executa o movimento de flexão da coluna ver-
tebral e da bacia daí resultando um movimento de
MÚSCULOS DA BACIA rotação do tronco para o lado oposto. A contração
simultânea dos dois músculos ileopsoas, tomando
Estendem-se entre a bacia e o fémur. Incluem os como ponto fixo o fémur, é responsável pelo movi-
músculos da região ilíaca ou pélvica (anteriores) e mento de flexão direta do tronco.
os músculos da região glútea (posteriores).
Inclui apenas um músculo, o músculo ileopsoas Os músculos da região glútea dispõem-se em três
que, por sua vez, é formado por dois músculos: planos: profundo, médio e superficial.
psoas maior e ilíaco. Estes, são por vezes descri-
tos como músculosdo grupo posterior do abdó- PLANO PROFUNDO
men, fazendo parte do plano superificial do abó-
men, sendo incluídos no grupo posterior, junta- Este plano muscular está directamente aplicado
mente com o músculo psoas menor. sobre as faces superior e posterior da articulação
coxofemoral. É formado pelos músculos: glúteo
Músculo psoas maior mínimo (pequeno glúteo), piriforme (piramidal),
gémeo superior, obturador interno, gémeo inferior,
Insere-se ao longo da coluna lombar, na face late- obturador externo e quadrado femoral (quadrado
ral dos corpos vertebrais, nas apófises transversas crural) (Fig. 2.183).
da 12ª vértebra torácica e das cinco vértebras lom-
bares e nos discos intervertebrais. Desde a sua ori- Músculo glúteo mínimo
gem, este músculo dirige-se para baixo e para fora,
atravessa a fossa ilíaca e atinge a região da coxa Insere-se na face glútea do ileon, abaixo e à fren-
passando atrás da arcada femoral numa goteira te da linha glútea anterior, até à goteira supra-ace-
entre a espinha ilíaca ântero-superior e a eminên- tabular (supra-cotiloideia), que se relaciona com o
cia ílio-púbica, passa à frente da articulação coxo- tendão refletido do músculo recto femoral. Os fei-
femoral e termina no trocanter menor do fémur. xes musculares revestem a face superior da cápsu-
la articular da articulação coxofemoral indo inse-
Músculo ilíaco rir-se, através de um tendão no trocanter maior.
A sua ação é a abdução, rotação medial (contração
Insere-se em praticamente toda a extensão da fos- dos feixes anteriores) e rotação lateral (contração
sa ilíaca, à exceção da sua porção ântero-inferior, dos feixes posteriores) da coxa. Qiando o ponto
na crista ilíaca (em cima), na base do sacro (atrás), fixo se encontra no fémur promove a inclinação da
no 1/3 posterior da linha arqueada (em baixo), na bacia para o mesmo lado.
face medial das espinhas ilíacas anteriores e na in-
cisura que as separa, a incisura inominada (à fren- Músculo piriforme
te). O s seus feixes convergem para o tendão do
músculo psoas maior terminando no bordo lateral Os seus feixes inserem-se na face anterior do sa-
deste. O músculo ilíaco encontra-se parcialmente cro, dirigem-se para baixo, para fora e para a fren-
221
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
Músculos gémeos
Distinguem-se um gémeo superior e um gémeo Fig. 2.183: Músculos da região glútea (plano profundo).
inferior que se situam ao longo dos bordos supe- 1. Trocanter maior 2. Sacro 3. Músculo glúteo mínimo 4. Músculo
piriforme 5. Músculo gémeo superior 6. Músculo obturador interno
rior e inferior da porção extrapélvica do múscu- 7. Músculo gémeo inferior 8. Músculo quadrado femoral
lo obturador interno. Consideram-se feixes aces-
sórios e extrapélvicos do músculo obturador in- Músculo quadrado femoral
terno. O músculo gémeo superior insere-se na es-
pinha ciática abaixo da inserção do ligamento sa- Situa-se na região glútea imediatamente abaixo
croespinhoso enquanto o músculo gémeo inferior do músculo gémeo inferior e para trás do músculo
se insere na tuberosidade isquiática, acima e para obturador externo. Insere-se, medialmente, na face
fora da inserção do ligamento sacrotuberoso. Estes lateral da tuberosidade isquiática e os seus feixes
dois músculos dirigem-se para fora acompanhan- dirigem-se transversalmente para fora, atrás da ar-
do o músculo obturador interno, que os separa, e ticulação coxofemoral e do músculo obturador ex-
terminam juntamente com o tendão deste último terno, até ao trocanter maior. A _sua ação é a rota-
ao nível do trocanter maior. A sua ação é a rotação ção lateral e adução da coxa.
lateral da coxa.
PLANO MÉDIO
Músculo obturador externo
Este plano muscular é constituído por um único
Estende-se desde a face lateral do contorno do bu- músculo, o glúteo médio (Fig. 2.184).
raco obturado, ao nível do corpo e ramo inferior
do púbis e corpo e ramo do isquion. Os seus fei- Músculo glúteo médio
xes convergem para trás e para fora, passam na go-
teira subacetabular, contornam a face póstero-in- Situa-se atrás do músculo glúteo mínimo que re-
ferior da articulação coxofemoral e inserem-se no veste e insere-se na face glútea do ileon, na porção
trocanter maior. Este músculo é atravessado, em compreendida entre as duas linhas glúteas e nos ¾
cima, pelo ramo profundo do nervo obturador. anteriores do lábio lateral da crista ilíaca. Os seus·
A sua ação é a rotação lateral da coxa. feixes musculares convergem e inserem-se no tro-
canter maior. A sua ação é a abdução da coxa, ro-
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SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E I NFERIOR
223
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
dio (crural). Estes músculos terminam, em baixo, atrás do músculo vasto intermédio que constituem
por um tendão comum que se insere ao nível da o músculo articular do joelho (subcrural). Este in-
rótula. sere-se, em cima, na face anterior do fémur, abai-
O músculo vasto intermédio é o mais profundo, xo das inserções do vasto intermédio e, em bai-
situando-se atrás dos vastos lateral e medial. In- xo, termina na bolsa serosa sub-quadricipital. Este
sere-se no lábio lateral de trifurcação da linha ás- músculo contrai simultaneamente ao músculo rec-
pera do fémur e nos ¾ superiores das faces ante- to femoral e eleva a bolsa serosa sub -quadricipi-
rior e lateral do corpo do fémur. O músculo vasto tal durante o movimento de extensão da perna so-
medial situa-se medialmente em relação ao mús- bre a coxa.
culo vasto intermédio. Insere-se no lábio me-
dial da linha áspera e no ramo medial de trifur- Músculo sartório
cação superior desta linha. O músculo vasto late-
ral situa-se lateralmente ao músculo vasto inter- Situa-se à frente do músculo quadríceps femoral.
médio. Insere-se no lábio lateral da linha áspe- Insere-se, em cima, na espinha ilíaca ântero-su-
ra e na face lateral do trocanter maior. O múscu- perior, para dentro da inserção do músculo ten-
lo recto femoral é o mais superficial. Insere-se no sor da fáscia lata. Os seus feixes dirigem-se para
osso coxal através de dois tendões curtos: o ten- baixo, para dentro e para trás, cruzando obliqua-
dão direto do músculo recto femoral, que se inse- mente o músculo ileopsoas e o músculo quadrí-
re na espinha ilíaca ântero-inferior e o tendão re- ceps femoral até à face medial da coxa. Em bai-
fletido do músculo recto femoral que se insere na xo, insere-se no tubérculo intercondiliano lateral
porção superior do rebordo acetabular. Os ten- da tíbia juntamente com os tendões do semiten-
dões de terminação das quatro porções do mús- dinoso e do grácil constituindo a "pata de gan-
culo quadríceps femoral unem-se acima da rótula so". Entre o tendão do sartório e os tendões dos
constituindo o tendão do quadríceps femoral que outros músculos existe uma bolsa serosa. A sua
se insere na base e nos bordos laterais da rótula ação é a flexão da perna sobre a coxa e da coxa
e na tuberosidade da tíbia. O tendão do quadrí- sobre a bacia.
ceps femoral encontra-se dividido em três planos
tendinosos sobrepostos. O plano superficial é re- GRUPO MEDIAL
presentado pelo tendão do músculo recto femo-
ral, que se insere na base e face anterior da rótu- Constituído por cinco músculos: grácil (recto in-
la. Os seus feixes dirigem-se para a tuberosidade terno), pectíneo e os três adutores da coxa (Fig.
da tíbia constituindo os feixes superficiais do li- 2.185). Os músculos adutores da coxa apresen-
gamento rotuliano. O plano médio é representa- tam uma forma triangular e encontram-se entre
do pelos tendões dos vastos que se unem na li- o ramo isquio-púbico (vértice) e a linha áspera do
nha média através de uma lâmina tendinosa que fémur (base). Encontram-se sobrepostos entre si
se insere na base da rótula, atrás do músculo recto designando-se, segundo a ordem de sobreposição,
femoral. Cada um dos vastos emite uma expan- em 1°, 2° e 3° adutores ou segundo o seu volume
são ou prolongamento anterior apresentando fei- em longo (médio), curto (pequeno) e adutor mag-
xes descendentes de cada lado da rótula e do liga- no (grande), respetivamente. O músculo pectí-
mento rotuliano que se entrecruzam entre si in- neo apresenta a mesma disposição e a mesma fi.m-
serindo-se na superfície articular superior da tí- ção que os adutores propriamente ditos, pelo que
bia do lado oposto. O plano profundo é represen- é descrito juntamente com estes. Assim, conside-
tado pelo tendão do músculo vasto intermédio ramos no grupo dos adutores, quatro músculos,
que se insere em toda a extensão da base da rótu- que se dispõem em três planos. Um plano ante-
la, posteriormente à inserção dos vastos lateral e rior ou superficial formado pelo grácil, pectíneo e
medial. A sua ação é a extensão da perna e flexão longo adutor. Um plano médio, formado pelo cur-
da coxa sobre a bacia (por ação do recto femoral). to adutor. Um plano profundo formado pelo adu-
Existem alguns feixes musculares que se situam tor magno.
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SUPORTE E MOVIMENTO [ SISTEMALOCOMOTOR:MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
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SUPORTE E MOV1MENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
Encontra-se para fora do músculo extensor lon- Encontra-se para fora da porção inferior do mús-
go do 1° dedo e músculo tibial anterior. Insere-se, culo extensor longo dos dedos. Insere-se no 1/3
em cima, no côndilo lateral da tibia, nos 2/3 supe- inferior da face medial do peróneo e na membra-
riores da face medial do peróneo e na parte lateral na interóssea. Termina por um tendão que se diri-
da membrana interóssea. Os seus feixes dirigem- ge para baixo e para a frente, passa abaixo do reti-
-se para baixo e para a frente e convergem num náculo dos extensores e insere-se na face dorsal da
tendão comum que, ao passar abaixo do retinácu- base do 5° metatarso. A sua ação é a flexão, abdu-
lo dos extensores, origina quatro tendões terminais ção e rotação lateral do pé.
para os quatro últimos dedos do pé. Na face dorsal
da 1ª falange, cada um destes tendões subdivide-se GRUPO LATERAL
em três feixes: o feixe médio insere-se na extremi-
dade posterior da 2ª falange e os dois feixes late- Constituído por dois músculos: o peroneal longo e
rais inserem-se na extremidade posterior da 3• fa- o peroneal curto. Estes músculos situam-se na face
lange. Na perna, este músculo situa-se lateralmen- lateral do peróneo entre os septos intermusculares
te em relação ao músculo tibial anterior, em cima, anterior e lateral e dispõem-se em dois planos: um
e ao extensor longo do 1° dedo, em baixo. Lateral- profundo, constituído pelo músculo peroneal cur-
mente está separado dos peroneais pelo septo in- to e um superficial, constituído pelo músculo pe-
termuscular anterior. A sua ação é a extensão dos roneal longo (Fig. 2.186).
dedos, flexão do pé sobre a perna, abdução e rota-
ção lateral do pé.
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SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR
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MANUAL DE ANATOMIA H UMANA
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SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR
A sua ação é a flexão da 2ª falange sobre a 1ª tibia. Entre estas duas inserções existe uma arcada
ge.
e desta sobre o metatarso. fibrosa, a arcada do sóleus, por onde passam os va-
sos popliteus e o nervo tibial. Os tendões de ter-
pLANO SUPERFICIAL minação dos gastrocnémios e do sóleus unem-
-se constituindo o tendão calcaneano que se in-
Tríceps sural (tricípede sural) sere na porção inferior da face posterior do calcâ-
neo. A sua ação é a extensão, adução e rotação me-
É constituído por três músculos, o gastrocné- dial do pé.
mio lateral, o gastrocnémio medial (superficiais)
e O músculo sóleus (solhar). Estes músculos ter- Plantar (estreito plantar)
minam, em baixo, por um tendão comum que se
insere no calcâneo, o tendão calcaneano. O mús- É um músculo muito fino que se insere, em cima,
culo gastrocnémio medial insere-se numa fosse- no côndilo femoral lateral e na cápsula da articula-
ta na porção póstero-superior do côndilo femo- ção do joelho. Dirige-se obliquamente, para baixo
ral medial. O músculo gastrocnémio lateral inse- e para dentro, através de um tendão fino que pas-
re-se numa fosseta que se situa atrás da tuberosi- sa entre os gastrocnémios e o sóleus e, na extremi-
dade supracondiliana lateral do fémur. Estes dois dade inferior da perna dirige- se para a face poste-
músculos delimitam o triângulo inferior da super- rior do calcâneo onde se insere mediaimente em
fície popliteia. O músculo sóleus situa-se profun- relação ao tendão calcaneano. Executa movimen-
damente em relação aos gastrocnémios e insere- tos que auxiliam o tríceps sural.
-se, em cima, por um feixe peroneal, na cabeça do
peróneo e por um feixe tibial, na linha oblíqua da
3
2
6
7
231
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
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SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERJOR E INFERJOR
GRUPO MEDIAL
Fig. 2.189: Músculos do pé (interósseos dorsais e plantares). Constituído por três músculos dispostos em dois
1. MúscuJos interósseos plantares 2. Músculo interósseos dorsais
planos, profundo e superficial (Fig. 2.190).
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
1111.--rr -- 11
r1t-++-~ 4 8
9 4
3
5
2
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SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR
FÁSCIAS DO MEMBRO INFERIOR re-se no lábio medial da linha áspera e divide, me-
dialmente, a região anterior da coxa em duas locas:
FÁSCIAS DA REGIÃO GLÚTEA uma ântero-lateral, que contém o quadríceps fe-
moral e uma póstero-medial, que contém os mús-
Os músculos da região glútea encontram-se re- culos adutores, o músculo grácil e os vasos femo-
vestidos pela fáscia glútea. Esta insere-se na crista rais. A fáscia femoral emite expansões que en-
ilíaca, no sacro e no cóccix e continua-se, para bai- volvem cada um dos músculos da coxa. A fáscia
xo e para a frente, com a fáscia femoral. Reveste a do músculo ileopsoas é bastante aderente, à fren-
porção anterior do músculo glúteo médio apresen- te, à arcada femoral onde forma um espessamento
tando a este nível um espessamento. Ao atingir o constituindo uma lâmina fibrosa muito resisten-
bordo anterior do músculo glúteo máximo divide- te, a chamada "fita ílio-pectínea". A fáscia femoral
-se em três folhetos: superficial, médio e profundo. envolve, ao longo de todo o seu trajeto, os vasos fe-
O folheto profundo reveste, de cima para baixo, a morais, formando uma bainha fibrosa, o canal fe-
porção posterior do músculo glúteo médio, o piri- moral. Este canal é constituído pelo revestimento
forme, os gémeos e o quadrado femoral. Este fo- aponevrótico dos músculos que delimitam a go-
lheto é interrompido acima do músculo piriforme, teira femoral na qual caminham os vasos femo-
apresentando uma solução de continuidade, que rais (fáscias dos músculos psoas e vasto medial, la-
dá passagem aos vasos e nervos glúteos superio- teralmente, e pectíneo e adutores, medialmente) e
res. Abaixo do músculo piriforme existe outra so- por uma lâmina aponevrótica que une os dois bor-
lução de continuidade que dá passagem aos vasos dos desta goteira e passa à frente dos vasos femo-
glúteos inferiores e aos nervos ciáticos. O folheto rais. Forma-se assim um canal, com a forma de um
médio reveste a face profunda do músculo glúteo prisma triangular, que sofre uma torção ao longo
máximo até alcançar o seu bordo inferior onde se do trajeto em torno do seu eixo, de tal forma que
une ao folheto superficial que reveste a face super- a face que é anterior, em cima, passa a medial, em
ficial deste músculo. Estes dois folhetos, formam baixo. O orifício superior do canal ou anel femoral
entre si uma bainha que envolve completamente o é limitado, à frente, pela arcada femoral, para fora,
músculo glúteo máximo e que depois se prolonga pela fita ílio-pectínea, medialmente, pela lâmina
pela fáscia femoral. fibrosa que se estende desde a extremidade me-
dial da arcada femoral até ao pécten do púbis (li-
FÁSC/AS DA COXA gamento de Girnbernat) e atrás, por um espessa-
mento da fáscia do músculo pectíneo, ao longo do
A fáscia femoral forma uma bainha que envolve pécten do púbis (ligamento de Cooper). O orifício
totalmente a coxa. Em cima e à frente, insere-se inferior do canal é o hiato tendinoso do músculo
na arcada femoral e continua-se para fora e para adutor, entre os feixes médio e inferior do múscu-
trás com a fáscia glútea. Em baixo, prolonga-se em lo adutor magno. No canal femoral podemos dis-
torno do joelho inserindo-se na rótula, nas tube- tinguir três segmentos: superior ou canal femoral,
rosidades da tíbia e no peróneo, continuando-se médio e inferior ou canal dos adutores. O segmen-
depois com a fáscia tibial. Apresenta um espessa- to superior ou canal femoral estende-se desde o
mento na sua parte lateral, conhecido como fás- anel femoral até ao nível onde a veia grande safena
cia lata. Apresenta dois prolongamentos até ao fé- drena para a veia femoral. Num corte transversal
mur, os septos intermusculares, que dividem a coxa desta região podemos observar que a fáscia femo-
em duas regiões, uma medial e uma lateral. O sep- ral envolve o músculo sartório e divide-se ao ní-
to intermuscular lateral situa-se entre o músculo vel do bordo medial deste músculo em dois folhe-
vasto lateral, à frente, e os músculos posteriores da tos: um superficial (passa à frente dos vasos femo-
coxa, atrás. Insere-se no ramo lateral de trifurca- rais) e um profundo (passa atrás dos vasos femo-
ção superior da linha áspera, no lábio lateral des- rais e reveste os músculos psoas e pectíneo). O fo-
ta linha e no ramo lateral de bifurcação inferior da lheto superficial apresenta na sua porção mais me-
mesma linha. O septo intermuscular medial inse- dial, numerosos orifícios que dão passagem a ra-
235
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
mos vasculares e nervosos, constituindo a este ní- ral. O septo intermuscular lateral estende-se desde
vel a chamada ''fascia cribiformis". O orifício mais a face lateral da fáscia até ao bordo lateral do peró-
importante desta região é aquele que dá passagem neo e separa a região ântero-lateral da região pos-
à veia grande safena. No canal femoral dispõem- terior da perna. Na sua extremidade superior for-
-se, de lateral para medial, a artéria femoral, a veia ma uma arcada que delimita, com o bordo lateral
femoral e os vasos linfáticos. O segmento médio do peróneo, um orifício que dá passagem ao ner-
apresenta uma parede lateral formada pelo múscu- vo peroneal comum. O septo intermuscular ante-
lo vasto medial, uma parede medial formada pelo rior estende-se desde a face profunda da fáscia até
músculo médio adutor e uma parede anterior for- ao bordo anterior do peróneo e divide a região ân-
mada pela fáscia femoral. O segmento inferior ou tero-lateral da perna em duas locas, uma anterior
canal dos adutores apresenta, devido à torsão do (contém os músculos do grupo anterior) e uma la-
canal femoral, uma parede ântero-lateral consti- teral (contém os músculos do grupo lateral ou pe-
tuída pelo septo intermuscular medial e pelo mús- roneais laterais). Em cima, o septo intermuscular
culo vasto medial, uma parede posterior, formada anterior forma duas arcadas que, juntamente com
pela fáscia do músculo adutor magno e uma pare- o peróneo, delimitam dois orifícios. O orifício
de medial constituída por uma lâmina fibrosa den- mais inferior dá passagem ao nervo tibial anterior.
sa denominada de "fáscia do canal dos adutores". A fáscia profunda da perna situa-se abaixo do
músculo tríceps sural, entre o bordo medial da tí-
FÁSCIAS DA PERNA bia e o bordo lateral do peróneo e reveste o pla-
no muscular profundo, assim como os vasos tibiais
A perna é totalmente envolvida por uma bainha posteriores, os vasos peroneais e o nervo tibial.
aponevrótica interrompida, apenas, ao nível da
face medial da tíbia, onde se confunde com o pe- FÁSCIAS DO PÉ
riósteo. A extremidade superior da fáscia superfi-
cial da perna adere, à frente, ao peróneo e às tube- As fáscias do pé são as dorsais e as plantares. As
rosidades da tíbia e recebe expansões tendinosas fáscias dorsais estão divididas em três planos apo-
de alguns músculos da coxa como o bíceps femo- nevróticos: superficial, médio e profundo. O pla-
ral, lateralmente, e o sartório e semitendinoso, me- no superficial recobre os tendões extensores e con-
dialmente. Em cima e atrás, a fáscia da perna con- tinua- se, em cima e atrás com os três ligamentos
tinua-se com a fáscia da coxa. A fáscia da perna anulares do tornozelo e lateralmente com a fás-
forma, em torno da veia safena lateral, na metade cia plantar. O plano médio ou fáscia do múscu-
superior da perna, um canal aponevrótico no qual lo pedioso é uma fina lâmina que se encontra na
a parede posterior é constituída pela fáscia da per- profundidade dos tendões extensores e reveste o
na propriamente dita e a parede anterior por um músculo e os vasos pediosos, bem como o nervo
folheto de desdobramento desta fáscia que reves- peroneal profundo. O plano profundo ou interós-
te os músculos gastrocnémios. Na região da super- seo dorsal reveste a face dorsal dos metatársicos
fície popliteia podemos distinguir duas fáscias: su- e dos músculos interósseos. As fáscias plantares
perficial e profunda. A fáscia profunda encontra- são duas, uma superficial e uma profunda. A fás-
-se, em baixo, entre os dois gastrocnémios e, em cia plantar superficial é subcutânea e divide-se em
cima, entre o semimembranoso e o bíceps femo- três porções (média, medial e lateral) correspon-
ral. Entre estes folhetos passa o ramo cutâneo do dentes aos músculos superficiais de cada um des-
pequeno nervo ciático e a veia safena lateral que tes grupos da região plantar do pé. A fáscia plantar
irá infletir para a frente e drenar para a veia po- média estende-se desde as tuberosidades do calcâ-
pliteia. A extremidade inferior da fáscia da perna neo até às articulações metatarsofalângicas, conti-
continua-se com as fáscias do pé, condicionando a nuando-se para fora com as fáscias plantares me-
formação dos retináculos dos extensores. Da face dial e lateral. É constituída por dois tipos de feixes
profunda da fáscia da perna partem dois septos fi- (longitudinais e transversais). Os feixes longitudi-
brosos intermusculares, um anterior e outro late- nais dividem-se, à frente, em cinco fitas pré-ten-
236
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERIOR E INFERIOR
dinosas de forma semelhante ao descrito em rela- e no seio do tarso dividindo-se, na região mediana,
,0 à mão. Os feixes transversais formam dois li- em dois feixes, um inferior e um superior. O fei-
ça entos, o transverso superficial, ao nível das ar- xe inferior insere-se no bordo medial do pé ao ní-
ticulações metatarso-f:º'-
garn . e o d1g1t
a.i.angicas, .. al, seme- vel do osso navicular e do cuneiforme medial. O
lhante ao descrito em relação à mão. Confundem- feixe superior é constituído por dois folhetos, um
teriormente com as bainhas tendinosas do superficial e outro profundo. O folheto superficial
-se an
10 e 50 dedos e com as fitas pré-tendinosas cor- passa à frente dos tendões extensores e envolve o
respondentes. A fáscia plantar profunda reveste os tendão do músculo tibial anterior. O folheto pro-
músculos interósseos e estende-se transversalmen- fundo (retináculo inferior dos músculos extenso-
te entre o bordo inferior do 1° e 5° metatársicos. res) insere-se na grande apófise do calcâneo, pas-
Existem septos sagitais plantares que partem das sa por baixo dos tendões dos extensores e divide-
linhas de junção entre a porção média e as porções -se em dois feixes. O feixe superior do retináculo
medial e lateral da fáscia plantar superficial e que dos músculos extensores apresenta três bainhas fi-
se estendem até às estruturas ósseas, dando origem brosas: uma medial para o músculo tibial anterior,
a três locas plantares (medial, média e lateral). Es- uma média para o tendão do extensor longo do
tas, comunicam entre si e apresentam orillcios vas- 1° dedo e uma lateral para os tendões do extensor
culo-nervosos e zonas de passagem de músculos e longo dos dedos (Fig. 2.191).
de tendões.
LIGAMENTO ANULAR LATERAL E BAINHAS
OSTEO-FIBROSAS DOS MÚSCULOS
BAINHAS FIBROSAS E SEROSAS DA PERONEAIS
PERNA E DO PÉ
O ligamento anular lateral do tarso estende-se
Os tendões dos músculos da perna são envolvi- desde o bordo lateral da goteira maleolar do peró-
dos por bainhas osteo-fibrosas e serosas ao nível neo até à face lateral do calcâneo. Dá origem,jun-
do tornozelo. As bainhas osteo-fibrosas apresen- tamente com uma lâmina fibrosa que se destaca
tam função de "roldana" enquanto as bainhas sero- da sua face profunda, a uma bainha osteo-fibro-
sas facilitam o deslizamento dos tendões nas bai- sa para os tendões dos músculos peroneais, curto e
nhas fibrosas. Na região plantar dos dedos existem longo (Fig. 2.192).
bainhas para os tendões dos músculos flexores.
LIGAMENTO ANULAR MEDIAL E BAINHAS
BAINHAS FIBROSAS E OSTEO-FIBROSAS OSTEO-FIBROSAS DOS MÚSCULOS TIBIAL
POSTERIOR E FLEXOR LONGO DOS DEDOS
As bainhas osteo-fibrosas dos tendões dos múscu-
los da perna e do tornozelo são constituídas pe- O ligamento anular medial do tarso é constituído
los ligamentos anulares do tarso e pelas superfícies por duas lâminas, uma superficial e outra profunda
ósseas em redor da articulação talocrural. Os liga- que correspondem a espessamentos daquelas fás-
mentos anulares do tarso são três: anterior, medial e cias da perna. Estas lâminas inserem-se à frente no
lateral e relacionam-se com os tendões dos múscu- maléolo medial e separam-se atrás. A lâmina su-
los dos grupos musculares com aquela designação. perficial insere-se no tendão calcaneano e a lâmina
profunda na face medial do calcâneo, confundin-
RETINÁCULO DOS EXTENSORES E BAINHAS do- se com a fáscia plantar medial. É da face pro-
FIBROSAS DOS TENDÕES DO TIBIAL funda da lâmina profunda que se destacam septos
ANTERIOR E DOS EXTENSORES DOS DEDOS que dividem o espaço compreendido entre o liga-
mento anular e as estruturas ósseas em três bai-
O retináculo dos extensores estende-se na face an- nhas osteo-fibrosas. Cada uma destas bainhas dá
terior do tornozelo. Insere-se à frente no escava- passagem a um tendão. Da frente para trás en-
do talo-calcaneano, na grande apófise do calcâneo contramos os tendões do tibial posterior, do fie-
237
MANUAL DE ANATOMlA HUMANA
xor longo dos dedos e do flexor longo do 1° dedo. rior da articulação talocrural até ao osso navicular,
Existe ainda uma 4ª bainha destinada aos vasos e à articulação cuneonavicular e à região imediata-
nervos tibiais posteriores (Fig. 2.191). mente anterior a esta articulação, respetivamente
(Fig. 2.191 e 2.192). As bainhas falângicas, osteo-
-fibrosas e serosas, dos tendões flexores são seme-
BAINHAS SEROSAS lhantes às digitais da mão. Existem bolsas serosas
tendinosas interpostas entre os músculos lumbri-
Correspondem às bainhas osteo-fibrosas pelo que cais e as articulações metatarsofalângicas.
existem três anteriores, duas laterais e três mediais.
As bainhas serosas anteriores compreendem a bai-
nha do músculo tibial anterior, a do músculo ex-
tensor longo do 1° dedo e a do extensor longo dos
dedos. Iniciam-se acima do retináculo dos exten- Fraturas proximais do fémur
sores e terminam ao nível da articulação talocal-
caneonavicular, da articulação entre o cuneiforme As fraturas proximais do fémur são muito frequen-
medial e o 1° metatársico e ao nível do navicular, tes na população idosa, são graves e potencialmen-
respetivamente. As bainhas serosas laterais com- te incapacitantes. Podemos considerar dois gran-
preendem as dos músculos peroneais e a bainha des grupos: as fraturas intra-articulares e as fratu-
plantar do músculo longo peroneal. A bainha dos ras extra-articulares. As fraturas intra-articulares,
tendões peroneais bifurca-se, em baixo, e estende- as mais representativas, são as sub-capitais, através
-se desde o maléolo até à vizinhança da articula- do colo do fémur. Existem dois problemas funda-
ção calcaneocuboideia. A bainha plantar do longo mentais nestes casos: (1) são intra-articulares e por
peroneal envolve este tendão ao longo do seu tra- isso banhadas por líquido sinovial, que prejudica a
jeto plantar, desde a goteira cubóideia até à sua in- consolidação; (2) a vascularização da cabeça do fé-
serção metatársica. As bainhas serosas mediais in- mur está frequentemente comprometida, por ve-
cluem a do músculo tibial posterior, a do músculo zes, por rotura dos vasos ao nível do colo femoral.
flexor longo dos dedos e a do músculo flexor lon- Relativamente às fraturas extra-capsulares, o gru-
go do 1° dedo. Estendem-se desde a região supe- po mais relevante é o das fraturas per-trocantéri-
4 6 7
Fig. 2.188: Bainhas serosas e osteofibrosas do pé (vista medial). Fig. 2.189: Bainhas serosas e osteofibrosas do pé (vista lateral).
1. Maléolo medial 2. Calcâneo 3. Tendão calcaneano 4. Bainha 1. Maléolo lateral 2. Calcâneo 3 . Tendão calcaneano 4. Bainha serosa
serosa do tendão do músculo flexor longo do 1° dedo 5. Bainha dos tendões dos músculos peroneais 5. Bainha serosa do tendão do
serosa do tendão do músculo flexor longo dos dedos 6. Bainha músculo extensor longo dos dedos 6. Bainha serosa do tendão do
serosa do tendão do músculo tibial posterior 7. Bainha serosa do músculo extensor longo do 1ª dedo 7. Músculo extensor curto dos
tendão do músculo tibial anterior 8. Pedículo vasculo-nervoso tibial dedos 8. Retináculo extensor 9. Retináculo flexor/ Ligamento anular
posterior 9. Retináculo extensor 10. Retináculo flexor/ Ligamento lateral do tarso
anular medial do tarso
238
SUPORTE E MOVIMENTO I SISTEMA LOCOMOTOR: MEMBROS SUPERJOR E INFERIOR
ue ocorrem ao longo de uma linha que reú- fraturas levam a uma lesão de partes moles qua-
cas, q . N se sempre mais grave do que a observação do foco
trocanter ma.ior e o trocanter menor. estas
nebo vascularização permite a consolidação em de fratura faz prever, pelo que pode ocorrer uma
a oa hemorragia extensa e edema considerável. Uma
uco tempo, mas a sua geometria pode determi-
Pº • stabilidade e conduzir à consolidação viciosa preocupação fundamental é o aumento da pres-
nar in
ncurtamento e rotação lateral. são nos compartimentos descritos, que pode con-
com e
duzir à síndrome compartimental. Este compro-
Rotura de menisco mete a circulação e perfusão a nível dos comparti-
mentos. As estruturas musculares e nervosas são as
Os meniscos dos joelhos são discos fibro-cartila- mais sensíveis. É mandatário e urgente proceder
gíneos em forma de "C". A sua função no joelho a uma fasciectomia o mais precocemente possível.
é absorver o choque, aumentar a congruência en-
tre as superficies articulares, aumentar a estabili- Fratura da articulação talocrural
dade da articulação, e contribuir para a circulação
do líquido sinovial. A rotura de menisco é a indi- São das mais frequentemente encontradas na
cação mais frequente para realização de uma ar- prática clínica. Estas fraturas dizem respeito aos
troscopia. O menisco medial rompe mais frequen- maléolos medial e lateral, pelo que são muitas ve-
temente porque a sua inserção ao longo de todo o zes designadas "bimaleolares". Consoante o me-
seu bordo periférico o torna menos móvel e por canismo de fratura, assim o padrão da lesão em
isso mais susceptível de sofrer lacerações quando termos ósseos e ligamentares. Relativamente ao
interposto entre o côndilo femoral e a superficie maléolo lateral existem três possibilidades: o me-
articular superior da tíbia. canismo de supinação-adução levam a fratura do
maléolo lateral abaixo da sindesmose. O mecanis-
Rotura do ligamento cruzado anterior mo de supinação-rotação lateral ou pronação-ab-
dução levam a fratura do maléolo lateral ao nível
O ligamento cruzado anterior impede a translação da sindesmose. O mecanismo de pronação-rota-
anterior e rotação da tibia sobre o fémur. O meca- ção lateral leva a fratura acima do nível da sindes-
nismo mais frequente de rotura é a desaceleração mose.
e movimento rotacional em corrida. Geralmente o
doente sente um "pop" na altura do traumatismo, Hallux valgus
ao que se segue aumento de volume e hemartro-
se (sangue dentro da articulação) nas primeiras 4 a O hallux valgus, vulgamente chamado "joanete", é
12 h subsequentes. Mais tarde surge a sensação de uma deformidade do primeiro raio (hallux) do pé
falta de confiança no joelho em atividades que im- que consiste no desvio lateral da primeira falange
pliquem rotação. Esta é mais frequente que a rotu- e na pressão de direção medial exercida sobre a ca-
ra do ligamento cruzado posterior. beça do primeiro metatársico. A primeira falange
posiciona- se então em valgo. Como consequên-
Fratura diafisária da tíbia/síndrome compar- cia há uma distensão da cápsula articular metatá-
timentai rsico-falângica medial. Os sesamóides, ancorados
no músculo adutor do 1° dedo, desviam-se lateral-
As fraturas diafisárias da tibia estão associadas ge- mente e podem posicionar-se no primeiro espaço
ralmente a fratura diafisária do peróneo, daí que inter-metatársico. O longo extensor do 1° dedo e o
sejam frequentemente chamadas "fraturas dos os- flexor longo do 1° dedo, que se inserem na base da
sos da perna''. A perna em termos cirúrgicos divi- segunda falange, também contribuem para o des-
de-se em quatro compartimentos separados entre vio lateral deste.
si por osso e fáscia que rodeiam conteúdos distin-
tos. O s compartimentos são o anterior, o lateral, o
posterior profundo e o posterior superficial. Estas
239
MANUAL DE ANATOMIA H UMANA
240
3. SISTEMA CIRCULATÓRIO
243
MANUAL DE ANATOMJA HUMANA
O coração localiza-se no mediastino médio e in- as artérias aorta e pulmonar (abertura das val-
ferior. É composto por um músculo (miocárdio), vas sigmoideias e encerramento das valvas atrio-
responsável pela função contráctil (inotropismo), -ventriculares) e a segunda ao relaxamento e en-
e no interior do qual se situam as cavidades men- chimento ventricular (aspecto ainda auxiliado pela
cionadas que são revestidas interiormente por uma contracção atrial) em que as valvas atrio-ventricu-
camada de tecido endotelial (endocárdio). lares se encontram abertas e as valvas sigmoideias
O coração tem a propriedade fisiológica de auto- encerradas.
matismo (cronotropismo), o que significa a capa-
cidade de gerar e conduzir a todo o miocárdio o
estímulo eléctrico que promove a contracção mus- ORGANIZAÇÃO GERAL DA CIRCULAÇÃO
cular. Estes mecanismos estão a cargo do apare-
lho cardionector constituído pelo nódulo sinoa- Em cada sístole cardíaca é impulsionado sangue
trial (sinusal), onde o estímulo é normalmente ge- do ventrículo esquerdo através da valva aórtica
rado, pelas fitas internodais (anterior, média e pos- em direção à artéria aorta. Esta distribui o san-
terior) que o conduzem através dos atrios e em di- gue por todo o corpo através de múltiplas ramifi-
reção ao nódulo atrio-ventricular, onde é ligeira- cações progressivas em artérias cada vez mais pe-
mente retardado para que a contracção dos atrios quenas até às estruturas arteriais microscópicas
preceda a contracção ventricular. Finalmente, há a denominadas de "arteríolas". As arteríolas permi-
considerar as estruturas de condução através dos tem o acesso do sangue arterial aos capilares, onde
ventrículos (feixe de His e seus ramos). se dão as trocas com os tecidos e onde se originam
O miocárdio é suportado por um citoesqueleto fi- as estruturas iniciais da parte venosa da circula-
broso que tem, para além desta função de supor- ção (vénulas) que trarão de novo o sangue ao co-
te, uma acção essencial de "isolamento" eléctrico
das fibras dos atrios em relação aos ventrículos o
que permite que a condução dos estímulos eléctri-
cos se faça apenas pelas vias preferenciais do apa-
relho cardionector.
Todo o coração é revestido por uma membrana fi-
broserosa denominada de "pericárdio", cuja serosa
apresenta um folheto visceral em contacto com o 10
244
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO
- Com efeito, as vénulas vão convergindo su- A parede arterial é composta por três camadas: ín-
raçao. .
·vamente em vasos cada vez maiores que cul- tima, média e adventícia.
cess1 . ( . ._,: . )
. aro nas duas veias cavas supenor e 1menor as A íntima é formada por uma camada superficial
m~:s terminam no atrio direito. É assim formado de células endoteliais sobre uma área sub-inti-
; circuito da chamada "grande circulação" ou cir- mal constituída por matriz extracelular e na qual
culação sistémica. Este sangue venoso que chega se encontram algumas populações celulares dis-
ao arrio direito é impulsionado pela valva tricús- tintas. As células endoteliais têm várias funções es-
ide para o ventrículo direito e daqui sai do cora- senciais à manutenção da homeostase: consti-
Pão pela artéria pulmonar através da valva pulmo- tuem uma superficie não trombogénica que pro-
~ar- A artéria pulmonar divide-se em dois ramos tege do contacto do sangue os componentes mais
principais que se dirigem respectivamente a cada profundos da parede (que são promotores da coa-
pulmão, dividindo-se em ramos progressivamen- gulação); são reguladoras da permeabilidade vas-
te menores até à microcirculação onde ocorrem as cular permitindo transporte de moléculas através
trocas gasosas que permitem a sua reoxigenação. de junções celulares ("gap" ou "tight") e também
Deste território capilar pulmonar originam-se va- por transporte vesicular ativo; e controlam o tónus
sos cada vez maiores e que convergem nas veias vascular pela produção de factores vasodilatadores,
pulmonares (em número de duas para cada pul- como a prostaciclina e o óxido nítrico, e vasocons-
mão) e as quais retornam ao coração (atrio esquer- tritores, como a endotelina. O endotélio participa
do) completando a "pequena circulação" ou circu- também na preservação da matriz sub-endotelial,
lação pulmonar. Do atrio esquerdo o sangue é im- constituída por colagénio e proteoglicanos. Outra
pulsionado através da valva mitral para o ventrí- função essencial das células endoteliais é a manu-
culo esquerdo e daqui para a aorta, iniciando-se tenção de uma superficie que impeça a adesão de
de novo o circuito da grande circulação. (Fig. 3.2). leucócitos e outros elementos figurados do sangue
circulante bem como a capacidade de oxidação de
lipoproteínas quando transportadas através da pa-
VASOS rede arterial.
O espaço sub-intimai é constituído por uma matriz
ARTÉRIAS extracelular rica em colagénio e proteoglicanos e
na qual se encontram populações de células mus-
Como foi mencionado, as artérias são as estrutu- culares lisas (CML) e macrófagos derivados de
ras que conduzem o sangue a partir do coração monócitos (MDM). As CML da íntima aumen-
e independentemente de este estar ou não oxi- tam com a idade e apresentam, na sua maior par-
genado. As artérias são sujeitas e um regime de te, fenótipo contráctil, rico em rniofibrilhas. Elas
pressões intraluminais elevadas (em média 100 sintetizam proteoglicanos (essencialmente sulfato
mmHg). Consoante o seu calibre e estrutura po- de dermatano) para a matriz. Os MDM apresen-
dem ser divididas em artérias de condução (elás- tam-se em células isoladas produzindo colagena-
ticas ou de grande calibre), de distribuição (mus- se e elastase. Qyando activados elaboram factores
culares ou de médio calibre) e de resistência (de de crescimento para as células endoteliais e para
pequeno calibre). as CML participando nos fenómenos de regula-
A parede das artérias constitui um "orgão" com ção da proliferação destas células e nos processos
funções fisiológicas e bioquímicas complexas e de cicatrização e de angiogénese. Têm ainda papel
que participa em numerosos mecanismos ho- importante no metabolismo das lipoproteínas ex-
meostáticos essenciais à manutenção da vida. pressando receptores que as reconhecem, induzin-
Nas últimas décadas tem sido também acentuado do a sua captura (incluindo lipoproteinas activa-
o seu papel na patogenia da aterosclerose, doença das) para a parede arterial.
arterial comum no mundo ocidental onde cons- A matriz extracelular é, como foi referido, rica em
titui uma das principais causas de morte e inca- colagénio (predomínio de colagénio de tipo I e
pacidade. III) e proteoglicanos (sulfato de dermatano e sul-
245
l
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
fato de heparano). O colagénio é produzido pelas broblastos. O colagénio predominante é dos tipos
células musculares lisas, sendo a proteína extrace- I e III embora exista também evidência de colagé-
lular mais abundante e a regulação do seu meta- nio do tipo IV cuja principal função é constituir
bolismo parece envolvida no desenvolvimento da uma rede fibrilhar que promove a adesão e migra-
placa de ateroma. ção celular e facilita a ancoragem das CML à ma-
A área mais profunda da íntima tem caracterís- triz. Existe ainda nesta camada uma rede de va-
ticas que se assemelham à média adjacente, com sos finos que constituem um "sistema"vascular nu-
CML em fenótipo contráctil, organizadas em ca- tritivo das camadas mais externas da parede arte-
madas. Encontram-se ainda nesta zona da pare- rial (vasa vasorum). É também ao nível da adven-
de alguns proteoglicanos (sulfato de dermatano) tícia que se distribui a rede de fibras nervosas en-
e glicoproteinas, como a fibronectina, com impor- volvida na inervação arterial. Estas fibras, perten-
tantes funções na adesão e mobilidade celular e na centes ao sistema nervoso autónomo, são origina-
manutenção da morfologia celular normal. das predominantemente nas vias simpáticas, ape-
Todas as células da íntima arterial (células endo- sar de terem também sido descritas fibras do sis-
teliais, células muscul_ares lisas e macrófagos) po- tema parasimpático na inervação das artérias peri-
dem produzir factores de crescimento e citoquinas féricas. O predomínio de tecido conjuntivo na ad-
em resposta a estímulos particulares, o que cons- ventícia confere à parede arterial características de
titui aspecto essencial no desenvolvimento das le- resistência mecânica fundamentais na manuten-
sões ateroscleróticas. Possuem ainda a capacidade ção da sua integridade.
de exprimir genes que codificam os componentes Importa ainda realçar que as três camadas da pare-
da matriz. de arterial não são estruturas isoladas, constituín-
A média é constituída por células musculares li- do antes um conjunto interdependente e comple-
sas e encontra-se separada da íntima pela lâmina xo, influenciando-se mutuamente no sentido de
elástica interna e da adventícia pela lâmina elástica proporcionar mecanismos de ação e resposta glo-
externa (LEE). Ela é constituída, nas artérias de bais, e que têm expressão em todos os tecidos que
condução, por múltiplas lamelas elásticas organi- a constituem.
zadas de forma concêntrica e que alternam com
camadas de células musculares lisas. Os tipos I e VEIAS
III de colagénio estão presentes como estruturas
fibrilhares entre as células musculares e as lame- A estrutura global da parede das veias é essenci-
las elásticas. As lamelas elásticas são constituídas lamente semelhante à das artérias. No entanto, as
por elastina e miofibrilhas. A elastina é um po- veias não são elásticas, apresentam menor teor de
plipéptido primário (tropoelastina) com cerca de tecido muscular e geralmente encontram-se co-
700 aminoácidos havendo diferenças espaciais e lapsadas uma vez que a pressão média no seu inte-
temporais no conteúdo de elastina em diferentes rior é baixa (cerca de 2 mmHg). Esta capacidade
segmentos arteriais. Por exemplo, na aorta a for- de dilatação é importante porque podem, em caso
mação de elastina é mais precoce e encontra-se de necessidade, distender e acumular sangue; pelo
em maior quantidade na aorta torácica, em rela- que são chamadas "órgãos" de capacitância.
ção à aorta abdominal, facto que pode ter signifi- Outra particularidade da estrutura da parede ve-
cado na patogénese de aneurismas. A relação en- nosa é a existência de válvulas que permitem a cor-
tre a quantidade de elastina e colagénio é variável rente unidirecional do sangue. As válvulas são es-
consoante se trate das grandes artérias elásticas truturas bicúspides e existem em maior núme-
ou das pequenas artérias musculares e varia entre ro nas veias mais distais dos membros inferiores,
20% de colagénio e 50% de elastina para a aorta sendo mais raras nas veias proximais. Elas pare-
e 40% de colagénio e 20% de elastina para as pe- cem constituir uma aquisição antropológica tardia
quenas artérias. sendo resultantes da aquisição da posição bípede e
A adventícia está por fora da LEE e é constituí- são muito importantes no sentido de evitar a esta-
da por tecido conjuntivo rico em colagénio e fi- se venosa com o ortostatismo.
246
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO
orta conhecer os mecanismos de circulação extremidade arterial do capilar onde a pressão hi-
1mp .. d .
do sangue no mtenor as veias uma vez que, ao drostática resultante da pressão arterial sistémica
ário das artérias, elas não têm a montante é mais elevada e vai diminuindo de intensidade à
contr
"bomba" propulsora. Assim, o sangue circu- medida que se caminha para a extremidade venosa.
llfflª
la no sistema venoso porque: a) a circulação é um A saída progressiva de água para o espaço intersti-
sistema fechado e o coração, quando impulsiona cial e a retenção no capilar de moléculas pesadas faz
sangue a jusante, também o aspira a montante; com a pressão oncótica intravascular vá aumentan-
0
b) em cada inspiração é gerada uma pressão ne- do, sendo mais elevada que a pressão hidrostática
ativa dentro do tórax o que tem efeito aspirati- na porção venosa do capilar. Assim, ocorre uma re-
!0 O
para interior desta cavidade; c) o mecanismo -entrada (absorção) de água, acompanhada por dió-
mais importante, em particular na posição ortos- xido de carbono, pequenas moléculas e produtos do
tática, é determinado pela contração muscular e é metabolismo celular, para o interior do capilar. No
conhecido por bomba músculo-esquelética. Com entanto, a quantidade de líquido absorvida é menor
efeito, as veias profundas dos membros inferiores que aquela que saiu anteriormente pelo que é cons-
localizam-se em relação com as estruturas mus- tantemente originado um excesso de líquido inters-
culares que, durante a contracção, comprimem os ticial e que é conhecido por linfa. Este excesso de lí-
segmentos venosos promovendo a abertura val- quido é drenado através do sistema linfático que se
vular e a passagem de sangue para um nível su- origina no espaço intersticial através de canais que
perior. O retorno ou refluxo do sangue é, no mo- confluem progressivamente e devolvem a linfa ao
mento seguinte, impedido pelo encerramento sistema vascular. Este processo de absorção linfáti-
valvular o que proporciona a manutenção circu- ca corresponde a cerca de 100/4 do líquido intersti-
latória e evita a hipertensão venosa distal. cial produzido.
CAPILARES
247
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
O sistema linfático constitui um capítulo da Ana- Rouviere, H.; Delmas A.Anatomía Humana
tomia Humana cujo conhecimento é de grande Descriptiva, topográfica y fancional, .11. ª Edition.
importância para a compreensão de muitos pro- Elsevier, 2005.
cessos fisiopatológicos e de actos clínicos e cirúrgi- Standring, S. Gray's Anatomy - The anatomical
cos. Como já foi mencionado, ele inclui os vasos e basis ofclinicalpractice. 41th Edition. Churchill-
os orgãos linfáticos e a própria linfa. A linfa origi- Livingstone Elsevier, 2016.
nada no espaço intersticial retorna ao sistema san-
Testut, L.; Latarjet, A. Tratado de anatomía
guíneo pela circulação linfática, a qual tem ainda a
humana. 9.• edição Salvat Editores, S.A., 1999.
capacidade de remover proteínas e partículas. Por
outro lado, participa noutras funções do sistema Van De Graaf, KM.; Fox, SI. Concepts ofHuman
imunológico na defesa contra infeções ou células Anatomy & Physiology. 5th edition. WCB/
neoplásicas e pode ser sede de fenómenos nocivos McGraw-Hill, 1999.
para o próprio organismo no caso de alguns tumo-
Wind, G.; Valentine,].Anatomic Exposures
res e de doenças autoimunes.
in Vascular Surgery. 3rd Edition. Lippincott
Williams&Wilkins, 2013.
PERGUNTAS TIPO Acute Cardiac Tamponade. N EnglJ Med
2003;349:684-90.
1. No que diz respeito ao sistema circulatório,
qual das afirmações é FALSA?
a. As veias pulmonares pertencem à circula- ***
ção sistémica.
b. O ventrículo esquerdo bombeia o sangue
para a artéria aorta.
c. O atrio direito recebe o sangue das veias
cavas (superior e inferior).
d. A artéria pulmonar transporta sangue ve-
noso.
e. As veias pulmonares transportam sangue
arterial.
~::,-z V-T
:msodso~
248
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: CORAÇÃO E PERICÁRDIO
4
CO N FIGURAÇÃO EXTERIOR
8
O coração tem morfologia variável consoante a fase
do ciclo cardíaco e a sua complexa organização tri-
dimensional algo espiralada torna di.fiàl a descrição 11 2
249
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
os bordos esquerdo e inferior são substituídos ape- rio do atrio esquerdo, existem os orificios de entra-
nas por um quando o coração está em sístole com da das veias pulmonares, geralmente duas direitas e
consequente descrição de somente duas faces nes- duas esquerdas. (Fig. 3.Sa e 3.Sb).
ta fase do ciclo cardíaco conforme já mencionado. O vértice pertence classicamente ao VE. De refe-
A base orienta-se para trás e para a direita, sendo rir que, na margem cardíaca direita, na união dos
aplanada verticalmente e convexa transversalmente. sulcos interventriculares, é possível observar-se a
É constituída por ambos os atrios e está dividida em incisura apicis cordis, à esquerda da qual se encon-
duas porções, direita e esquerda, através do sulco in- tra o vértice.
ter-atrial. Este é pouco preciso e algo sinuoso, con-
vexo para a direita superiormente (em relação com
as veias pulmonares) e para a esquerda inferiormen- RELAÇÕES
te (ao longo do bordo interno da veia cava inferior).
No território do atrio direito, existe o sulco terminal As relações do coração fazem-se por intermédio
(de His) em relação com as veias cavas. No territó- do pericárdio e estabelecem-se com os órgãos vi-
zinhos e com as paredes torácicas. (Fig. 3.6 e 3.7).
A face anterior relaciona-se com o timo, com os
pulmões e pleuras, com os vasos torácicos inter-
12
10
250
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: CORAÇÃO E PERICÁRDIO
13
11
Fig. 3.7: Relações do coração - Vista direita do mediastino/tórax. Fig.3.8: Área cardíaca - Projeção das valvas no precórdio.
1. Pericárdio 2. Artéria Pulmonar direita 3. Brônquio principal direito 1. Valva Mitral 2. Valva Tricúspide 3. Valva Aórtica 4. Valva Pulmonar
4. Veia Pulmonar Superior direita 5. Veia Pulmonar Inferior direita 6.
Nervo Vago 7. Nervo Frénico 8. Esógafo 9. Timo 10. Diafragma
11. Gânglios Linfáticos 12. Veia Ázigos 13. Veia Cava Superior
CONFIGURAÇÃO INTERIOR
quadrilátera: os seus ângulos superiores estão ao
nível do 2.0 espaço intercostal, a cerca de 1 cm dos Na configuração interior do coração há a conside-
bordos laterais do externo; o ângulo inferior direi- rar a descrição dos atrios (direito e esquerdo), das
to está no 6.0 espaço intercostal direito, adjacente duas valvas atrio-ventriculares (direita ou tricúspi-
ao bordo esternal; e o ângulo inferior esquerdo lo- de e esquerda ou mitral), dos dois ventrículos (di-
caliza-se no 5.0 espaço intercostal esquerdo, na li- reito e esquerdo) e das duas valvas ventrículo-ar-
nha médio-clavicular (para baixo e para dentro da teriais ou arteriais ou sigmoideias (direita ou pul-
aréola mamária). monar e esquerda ou aórtica). A separar estas cavi-
A face inferior está assente no folíolo anterior do dades encontram-se os septos inter-atrial e inter-
diafragma e tem projeção triangular. -ventricular (Fig. 3.9).
A face lateral relaciona-se com a pleura e a fos-
sa cardíaca do pulmão esquerdo, sendo atravessada ATR/0S
pelo nervo frénico e pelos vasos pericardiofrénicos
homolaterais. O s átrios, separados pelo septo inter-atrial, locali-
A base projeta-se nas vértebras dorsais médias (5.ª zam-se posteriormente aos ventrículos dos quais
à 8.• em decúbito dorsal e 6.• à 9.• em ortostatis- estão separados pelos orificos/válvulas atrio-ven-
mo), designadas por "vértebras cardíacas de Giaco- triculares (direitos/esquerdos).
mini". O seu segmento esquerdo mais representa- Apresentam paredes finas e aproximadamente li-
tivo relaciona-se com o mediastino posterior, no- sas (apenas com colunas carnudas de 2.ª e 3.• or-
meadamente com o esófago, através do pericárdio; dem) e configuração aproximadamente cuboide.
e seu segmento direito relaciona-se com a pleura
e o pulmão direitos, sendo atravessado pelo ner- Atrio direito
vo frénico e pelos vasos pericardiofrénicos homo-
laterais. A parede superior apresenta o orificio avalvular
da veia cava superior. A parede inferior é ocupada
251
MANUAL D E ANATOMIA HUMANA
Cada um dos orifícios atrio-ventriculares apresen- Os ventrículos são cavidades de forma piramidal
ta uma valva (tricúspide à direita e mitral à esquer- ou cónica colocadas anteriormente aos atrios de
da). um e outro lado do septo interventricular.
Cada uma destas valvas apresenta cúspides sepa- O vértice dos ventrículos é dirigido anteriormen-
radas por comissuras. Cada cúspide apresenta uma te na direção do vértice do coração e a sua base
face superior ou axial lisa, uma face inferior ou pa- orienta-se posteriormente sendo ocupada de cada
rietal, um bordo aderente ao orifício atrio-ventri- um dos lados por dois orifícios, respetivamen-
cular e um bordo livre na cavidade ventricular. te arrio-ventricular (que coloca em comunicação
252
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: CORAÇÃO E PERICÁRDIO
trio e ventrículo) e arterial (de menores dimen- e as colunas carnudas de terceira ordem aderem
:ões e que faz comunicar o ventrículo com a arté- à parede ventricular em toda a sua extensão, tra-
. que lhe é correspondente). tando-se de simples relevos da parede ventricular.
na
As paredes ventriculares são bastante mais espes- Em cada cavidade ventricular podemos distinguir
as do que as atriais apresentando saliências mus- uma câmara de entrada ou venosa que correspon-
sculares designa
· d as de "colunas carnud"Eas . stas de posteriormente ao orifício atrio-ventricular e
odem ser de primeira ordem (músculos papilares uma câmara de saída ou arterial que se abre supe-
~u pilares do coração) apresentando forma cóni- riormente no orifício arterial.
ca e encontrando-se unidos pela sua base à parede
ventricular. Do vértice dos músculos papilares des- Ventrículo direito
tacam-se as cordas tendinosas que podem por sua
vez dividir-se em três categorias tendo por base Apresenta a forma aproximada de uma pirâmide
a sua forma de inserção nos folhetos ou cúspides triangular na qual podemos distinguir três pare-
valvulares: des (anterior, inferior/posterior e septal) uma base
• Cordas tendinosas de primeira ordem: com e um vértice.
inserção no bordo aderente da cúspide. De cada uma das paredes destacam-se os múscu-
• Cordas tendinosas de segunda ordem: com los papilares correspondentes a cada um dos fo-
inserção da face parietal da cúspide. lhetos da valva tricúspide.
• Cordas tendinosas de terceira ordem: com in- As colunas carnudas de segunda e terceira ordem
serção no bordo livre da cúspide. são particularmente numerosas junto ao vértice
do ventrículo direito; das colunas carnudas de se-
As colunas carnudas de segunda ordem encon- gunda ordem destaca- se a trabécula septomargi-
tram-se unidas pelas suas duas extremidades à pa- nal que se dirige da parede anterior à parede sep-
rede ventricular e livres ao longo a sua extensão tal do ventrículo.
11
Fig. 3.9: Câmaras cardíacas esquerdas + câmaras cardíacas direitas.
1 · Atrio esquerdo 2. Átrio direito 3. Valva Aórtica 4. Septo interventricular 5. Músculo papilar anterior 6. Músculo papilar posterior 7. Músculo
papilar septal 8. Trabécula septomarginal 9. Válvula Tricúspide 1O. Músculo papilar ântero+superior 11. Músculo papilar póstero-inferior
12. Valva Mitral
253
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
A base do ventrículo direito apresenta o orifício Em cada cúspide valvular observamos uma face
atrio-ventricular direito ocupado pela valva tricús- superior ou parietal côncava (que determina com
pide e orificio da artéria pulmonar onde se locali- a porção da parede arterial que lhe é correspon-
za a valva pulmonar, separados pela crista supra- dente uma configuração que é habitual comparar
ventricular. a um ninho de pomba, mais evidentes na válvula
O ventrículo direito apresenta urna câmara de en- aórtica, determinando os seios aórticos de Valsal-
trada póstero-inferior cujo grande eixo é parale- va), uma face inferior ou axial convexa, um bordo
lo ao grande eixo do coração e uma câmara an- aderente à parede arterial e um bordo livre no lú-
terior arterial ou pulmonar dirigida superiormen- men arterial.
te e para a esquerda, separadas por um orifício li-
mitados pela cúspide anterior da válvula tricúspi- Valva pulmonar
de, pela trabécula septomarginal e pelo septo in-
terventricular. O orificio da valva pulmonar apresenta-se num
plano orientado superiormente, posteriormente
Ventrículo esquerdo e para a esquerda na extremidade superior de um
cone truncado com cerca de 1,5 cm de compri-
Apresenta a forma de um cone ligeiramente acha- mento, na região ântero-superior do ventrículo di-
tado transversalmente o que permite distinguir 2 reito - o infunchbulo. Localiza-se anteriormente,
paredes, um vértice e urna base. superiormente e à esquerda do orifício ateio-ven-
As duas paredes esquerda ou externa e direita ou tricular direito. ·
interna são côncavas e de espessura mais acentua- A valva pulmonar apresenta três cúspides (duas
da que as paredes do ventrículo direito. posteriores e uma anterior) separadas por três co-
A parede esquerda é percorrida por numerosas co- missuras. Na extremidade de cada cúspide obser-
lunas carnudas excepto na região posterior, próxi- va-se um espessamento fibroso, o nódulo de Mor-
mo à cúspide posterior da válvula mitral, onde a gani.
superficie ventricular se torna regular e apresen-
ta apenas algumas colunas carnudas de 3.ª ordem. Valva aórtica
Os pilares da válvula mitral nascem desta parede
bem como das margens (ântero-superior e pós- Localiza-se anteriormente e à direita do orifí-
tero-inferior). A parede direita é constituída pelo cio mitral, posteriormente ao orifício pulmonar.
septo interventricular, apresenta um aspecto hete- O orifício aórtico apresenta-se num plano orien-
rogéneo na sua porção média e anterior, e é lisa tado superiormente, posteriormente e para a di-
posteriormente,junto ao orificio aórtico. O vérti- reita.
ce é arredondado e a sua superficie apresenta um A valva aórtica apresenta três folhetos valvulares
aspeto mais homogéneo que o do ventriculo di- mais espessos e resistentes que os da valva pulmo-
reito. nar (um posterior e dois anteriores, direito e es-
O ventrículo esquerdo apresenta uma câmara de querdo) e em relação com os dois folhetos poste-
entrada ínfero-lateral e uma câmara de saída ar- riores da valva pulmonar. Cada um dos folhetos
terial ou aórtica súpero-medial, separadas por um da valva aórtica apresenta um espessamento fibro-
plano limitado pela cúspide mitral anterior e pelos so na sua extremidade livre designado por "nódu-
pilares da mitral e respectivas cordas tendinosas. lo de Arantius".
254
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: CORAÇÃO E PERICÁRDIO
255
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
Este sistema constitui uma rede subendocárdica, tração desfasada dos atrios e dos ventrículos.
constituída por nós ou nódulos e feixes conduto- Do vértice inferior do nódulo AV destaca-se
res (Fig. 3.10). o feixe AV (de His), com um comprimento de
O nódulo sino-atrial (sinusal), o pacemaker fisio- aproximadamente 2 cm, trajecto efetuado na
lógico do coração, encontra-se localizado na pare- porção muscular do septo interventricular. Após
de superior do atrio direito, na vertente lateral da o curto trajeto o feixe AV divide-se em dois ra-
inserção da VCS nesta, podendo estender-se até à mos - direito e esquerdo - que percorrem, respe-
extremidade superior da crista terminal. tivamente, a face direita e esquerda do septo in-
Apesar de alguns autores descreverem feixes in- terventricular. O ramo direito do feixe AV (res-
ternodais que conduzem o impulso do nódulo si- ponsável pela condução do impulso ao ventrículo
noatrial ao nódulo atrio-ventricular (AV), não pa- direito) continua o trajeto do feixe principal até à
recem existir vias definidas de transmissão ao nó- base do pilar septal do ventrículo direito, após o
dulo AV ou ao atrio esquerdo. O impulso é assim qual penetra na trabécula septomarginal, termi-
transmitido através do músculo atrial (não existin- nando na parede anterior do ventrículo. O ramo
do transmissão direta aos ventrículos dado o iso- esquerdo do feixe AV (responsável pela condução
lamento eléctrico entre os dois fornecido pelo es- do impulso ao ventrículo esquerdo) coloca-se na
queleto fibroso do coração. face esquerda do septo, dividindo-se posterior-
O nódulo atrio-ventricular, localizado no vérti- mente em fascículo anterior e fascículo posterior.
ce do triângulo do nódulo AV (vide descrição da Após as divisões descritas, as fibras do sistema car-
dionetor, através de divisões progressivas consti-
tuem uma rede subendocárdica ventricular, a rede
de Purkinje, responsável pela transmissão do im-
pulso aos miócitos ventriculares.
VASOS DO CORAÇÃO
256
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: CORAÇÃO E PERICÁRDIO
2
3 6
Fig. 3.11: Vasos coronários - Vista anterior. Fig. 3.12: Vasos coronários - Vista póstero-inferior.
1. Artéria coronária esquerda 2. Artéria descendente anterior 3. Artéria 1. Artéria coronária direita 2. Artéria marginal direita 3. Artéria
circunflexa 4. Grande Veia Coronária 5. Artéria Coronária direita interventriaJlar posterior 4. Seio Coronário 5. Grande veia coronária
6. Veia interventricular inferior
A artéria coronária esquerda tem origem imedia- anteriores (sobretudo para o VE) e os septais an-
tamente acima da valva sigmoideia póstero-es- teriores (vascularizando os 2/3 anteriores do sep-
querda da aorta, não sendo assim totalmente co- to). D os ramos ventriculares, destaca-se a artéria
lapsada na sístole. Ela tem maior calibre que a diagonal, que ocasionalmente emerge do tronco
direita e habitualmente vasculariza um território comum dando origem a uma trifurcação.
mais extenso (quase todo o ventrículo e átrio es- Os colaterais da circunflexa são ramos para o
querdos e a maior parte do septo inter-ventricu- ventrículo e atrio esquerdos. Os ramos atriais são
lar). O tronco principal, com uma extensão de 2 a a artéria atrial esquerda anterior (vasculariza o
3 cm, geralmente não tem ramos até ao sulco co- atrio esquerdo e a respetiva aurícula, o septo in-
ronário, embora possa originar um pequeno vaso ter-atrial e a porção súpero-medial do atrio di-
atrial e raramente a artéria do nódulo sinoatrial. reito, podendo também originar a já referida ar-
Após o curto trajeto, divide-se em 2 ramos: a in- téria do nódulo sinoatrial), a atrial do bordo es-
terventricular anterior ou descendente anterior querdo (vasculariza a face esquerda do atrio es-
(que habitualmente é descrita como sua conti- querdo) e a atrial esquerda posterior (vasculari-
nuação, percorrendo o sulco interventricular an- za a face posterior do atrio esquerdo). Dos ramos
terior, contornando o ápex e anastomosando-se ventriculares, o mais importante é a artéria do
com a interventricular posterior); e a circunflexa bordo esquerdo do ventrículo esquerdo ou arté-
(que geralmente termina à esquerda da cruz do ria marginal esquerda, sendo os outros paralelos
coração, anastomosando-se com a coronária di- à artéria diagonal (em topografia anterior e pos-
reita, embora também possa continuar como des- terior). Existe também um ramo constante, a ar-
cendente posterior). Os colaterais da descenden- téria anastomótica magna, que atravessa o septo
te anterior são as artérias vasculares para a pró- inter- atrial para se anastomosar com a coronária
pria aorta e para a artéria pulmonar (nomeada- direita; e por vezes um ramo para o nódulo AV.
mente a artéria do cone arterial ou artéria adipo- A artéria coronária direita tem origem no seio de
sa esquerda de Vieussens), os ramos ventriculares Valsava anterior da aorta. Dirige-se para a fren-
257
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
te entre a artéria pulmonar e o atrio direito, de- to interventricular, das paredes anteriores dos ven-
pois para o sulco coronário até à cruz do coração. trículos, e da parede esquerda do ventrículo e atrio
Geralmente percorre o sulco inter-ventricular in- esquerdos (sendo a mais evidente a veia margi-
ferior até à vizinhança do ápex do coração onde se nal do bordo esquerdo). Existem ainda a veia car-
pode anastomosar com a coronária esquerda. Ori- díaca média, que percorre o sulco inter-ventricu-
gina ramos vasculares para a aorta e pulmonar, as lar posterior desde o ápex até ao seio coronário; a
artérias atriais anteriores (a mais importante pe- veia posterior do ventrículo esquerdo, na face dia-
netra no septo inter-atrial e dá frequentemente fragmática do ventrículo esquerdo, terminando no
a artéria para o nódulo sinoatrial - cerca de 67% seio coronário ou na grande veia cardíaca; e a veia
dos casos), os ramos atriais e ventriculares do sulco oblíqua do atrio esquerdo, na face posterior do
coronário (nomeadamente a artéria atrial; ramos atrio esquerdo até ao seio coronário.
atriais direitos posteriores; e a artéria ventricular A drenagem linfática do coração é feita por três
ou marginal do bordo direito), os ramos da arté- redes linfáticas - endocárdica, miocárdica e sube-
ria inter-ventricular posterior (ramos ventricula- picárdica (as duas primeiras drenando para a últi-
res, nomeadamente para o nódulo AV, e ramos do ma). A rede subepicárdica está organizada em ca-
septo ou perfurantes para o seu 1/3 posterior). nais linfáticos que se anastomosam formando dois
As veias do coração são constituídas pelo seio co- troncos colectores linfáticos - esquerdo e direi-
ronário e seus tributários, pelas pequenas veias to. O tronco colector linfático esquerdo forma-se
cardíacas anteriores ou acessórias e pelas veias de através da união de canais linfáticos que acompa-
Thébesius. nham a artéria circunflexa e que ascendem atra-
As primeiras drenam o sangue de todo o coração vés do sulco interventricular anterior; após a for-
para o atrio direito, com duas exceções: 1) porção mação, este tronco ascende entre a artéria pulmo-
ântero-direita do ventrículo direito que é drenada nar e a aurícula esquerda, terminando nos gânglios
pelas pequenas veias cardíacas anteriores (que ter- intertraqueobronquicos. O tronco coletor linfático
minam no seio coronário ou no atrio direito pelos direito origina-se na cruz do coração, percorren-
faramina, sendo a mais importante a veia margi- do o sulco coronário direito (onde recebe aferen-
nal do bordo direito); 2) porção variável dos atrios tes atriais e ventriculares), até atingir a face ante-
e do ventrículo esquerdo que é da responsabilida- rior da aorta, que ascende até à crossa, terminando
de das veias de Thébesius que drenam diretamen- nos gânglios mediastínicos anteriores.
te para as várias câmaras cardíacas pelos poros de
Vieussens ouforaminula de Lannelongue.
O seio coronário é uma estrutura venosa dilatada PERICÁRDIO
que corresponde ao vestígio da veia cava superior
esquerda, na face inferior do atrio direito e apre- O pericárdio é uma estrutura fibroserosa que en-
senta duas válvulas insuficientes: a válvula do seio volve o coração e os segmentos próximos dos
coronário que o separa do atrio direito, e a válvula grandes vasos arteriais e venosos. É constituído
de Vieussens que o separa da restante grande veia por duas porções distintas, um saco fibroso super-
coronária. O seio coronário recebe quase todo o ficial, o pericárdio fibroso e uma serosa profunda,
sangue venoso do coração, tendo como colaterais a o pericárdio seroso.
grande veia coronária (tributária da artéria coroná- O pericárdio fibroso é uma membrana espessa que
ria esquerda), a veia oblíqua do atrio esquerdo ou se relaciona com as estruturas vizinhas, por pro-
veia de Marschall, a veia do ventrículo esquerdo, ximidade (nomeadamente com a pleura parietal
a veia inter-ventricular inferior e a pequena veia mediastinica) e à distância (através de ligamentos).
coronária (tributária da artéria coronária direita). A serosa, à semelhança das restantes membranas
A grande veia coronária tem início no ápex e per- serosas do organismo, é constituída por dois finos
corre o sulco interventricular anterior (à esquer- folhetos: um visceral ou epicárdio aderente à su-
da da artéria) e depois o sulco coronário (acima perfície do coração, e outro parietal aderente ao
da artéria). O s seus colaterais são as veias do sep- pericárdio fibroso. Aqueles, encontram-se aplica-
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MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: CORAÇÃO E PERICÁRDIO
ricárdico.
PERICARDIOCENTESE
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
do-se por seio oblíquo (fundo-de-saco de Haller), glios mediastínicos anteriores e posteriores, dia-
relacionado com o esófago. fragmáticos e inter-traqueobrônquicos.
As bainhas vasculares, arterial anteriormente e ve-
nosa posteriormente, estão separadas por um pro-
longamento da cavidade pericárdica em forma de PERGUNTAS TIPO
canal, o seio transverso (de Theile). Os seus limi-
tes são: anteriormente a face posterior do pedículo 1. Olial das seguintes afirmações é FALSA rela-
arterial; posteriormente a face anterior dos atrios e tivamente à configuração exterior do coração?
da VCS; e superiormente o ramo direito da arté- a. O segmento ventricular da face esterno-
ria pulmonar. Existem ainda outras formações pe- -costal é percorrido pelo sulco interventri-
ricárdicas menos relevantes, nomeadamente apre- cular anterior.
ga vestigial de Marshall, o recesso ou fosseta re- b. A base do coração está em relação com 0
tro- cava e o recesso ou divertículo inter-aortocava. esófago.
O folheto parietal da serosa inicia-se, por con- c. A cruz do coração localiza-se na face dia-
tinuidade, ao nível da linha de reflexão e envol- fragmática.
ve todo o coração, recobrindo na profundidade o d. A face pulmonar está separada da face dia-
saco fibroso pericárdico. fragmática pela margem obtusa.
O saco fibroso pericárdico é uma membrana es- e. Os atrios situam-se posteriormente aos
pessa, que reforça o folheto parietal da serosa. Es- ventrículos.
tende-se acima do seu limite superior; tendo a for-
ma de um cone truncado de base inferior e rela- 2. Olial dos seguintes componentes NÃO per-
ções mais extensas que o coração. Está separado tence ao atrio direito?
das pleuras mediastínicas e do diafragma por teci- a. Limbo da fossa oval.
do celular laxo e confunde-se superiormente com b. Crista terminal
a túnica exterior dos grandes vasos justa-cardíacos. c. Crista supraventricular.
O pericárdio tem alguns ligamentos de fixação, d. Músculos pectíneos.
dos quais os mais importantes são os seguintes: e. Orifício da valva triscúpide.
freno-pericárdicos, estemo-pericárdicos e vérte-
bro-pericárdicos. Eles estabelecem respetivamente 3. Olial das seguintes correspondências entre
ligação com o diafragma (ligamentos anterior, di- vaso coronário e território de irrigação é ver-
reito e esquerdo), com o esterno (ligamentos supe- dadeira?
rior e inferior) e com a coluna vertebral (ligamen- a. Artéria circunflexa - Nódulo sinoatrial em
tos direitos e esquerdos). Existem outros menos 67% dos casos.
expressivos, onde se incluem os ligamentos tra- b. Artéria coronária direita - Todo o ventrí-
queo-pericárdico, bronco-pericárdico e esófago- culo direito.
-pericárdico. Em redor do pericárdio fibroso, exis- c. Artéria descendente anterior - 2/3 ante-
tem franjas adiposas designadas de "aparelho sem- riores do septo interventricular.
-adiposo do coração". d. Artéria marginal direita - aurícula direita.
O folheto visceral da serosa do coração é vascu- e. Dominância esquerda - o mais frequente.
larizado e drenado pelos vasos coronários, sendo
enervado pelo plexo cardíaco. !:>-C !:)-l'. !Q- l
O folheto parietal e o saco fibroso são vasculari- :msodso~
zados pelas artérias torácicas internas, pericardio-
frénicas, brônquicas, esofágicas e tímicas. A drena-
gem venosa faz-se pelo sistema ázigos e pelas veias
pericardiofrénicas. A inervação depende dos ner-
vos frénicos, vagos e do sistema simpático. A dre-
nagem linfática do pericárdio segue para os gân-
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r REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: CORAÇÃO E PERICÁRDIO
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MANUAL D E ANATOMIA HUMANA
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MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO:ARTÉRIAS E VEIAS
em relação ao nervo vago), com os gânglios me- tebra dorsal até ao orifício aórtico do diafragma.
diastínicos anteriores e com o pulmão e pleuras No seu trajeto inicial, a aorta torácica descen-
esquerdos; posteriormente com a traqueia, com de obliquamente no sentido anterior e medial até
0 esófago, com o dueto torácico e ainda com o ao nível da 7.• vértebra cervical, quando se coloca
plexo cardíaco profundo. De referir que, entre a posteriormente ào esófago e verticaliza até atingir
face inferior da crossa da aorta e o bordo supe- o orifício diafragmático da aorta.
rior da artéria pulmonar esquerda, perto da bi- Deste modo, na sua porção superior a aorta torá-
furcação do tronco pulmonar, encontra-se o liga- cica descendente encontra-se anteriormente à ca-
mento arterial, vestígio do canal arterial da cir- beça das costelas e do tronco simpático esquerdo,
culação fetal. posteriormente ao pedículo pulmonar esquerdo e
Na sua origem, a aorta apresenta três dilatações ao nervo vago esquerdo, à esquerda da coluna torá-
em relação com as cúspides da valva (válvula) aór- cica e do esófago e à direita do pulmão e pleura es-
tica - os seios aórticas (de Valsalva). Ainda na querdos. Na porção inferior do seu trajeto, abaixo
transição entre os segmentos ascendente e hori- de D 7, relaciona-se anteriormente com o esófago
zontal da crossa da aorta existe outra dilatação - e nervo vago direito, posteriormente com a coluna
o bulbo aórtico. vertebral e veia hemiázigos, à esquerda com o pul-
mão e pleura esquerdos e à esquerda com o dueto
torácico e veia ázigos.
Ramos Colaterais
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
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MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO:ARTÉRIAS E VEIAS
Artérias Mediastínicas
As artérias mediastínicas, também variáveis em
número, destinam-se ao pericárdio, pleuras e gru-
pos ganglionares linfáticos.
PERGUNTAS TIPO
1::i-z 1v-i
:so1sodso11
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
266
MANUTENÇÃO I SISTEMACIRCULATÓRIO:ARTÉRJASEVEIAS
paço que contém a traqueia. À medida que as- por uma bainha comum, expansão da fáscia pré-
cendem no pescoço vão-se afastando progressiva- -traqueal, a bainha carotídea; constituindo o pedí-
mente. Anteriormente relacionam-se com a glân- culo vásculo-nervoso do pescoço.
dula tiroide, com o músculo omo-hioideu, a fás- Posteriormente ao ângulo de bifurcação da caró-
cia pré-traqueal, o músculo esterno-cleido-mas- tida comum encontra-se o corpo ou glomus caro-
toideu. Posteriormente estabelecem relações com tídeo. Este é um órgão neuroendócrino (paragân-
a fáscia pré-vertebral, músculos pré-vertebrais e glio) que funciona como quimioreceptor, detetan-
com a artéria tiroideia inferior. Medialmente as do alterações do equilibrio ácido-base no sangue
relações são com a traqueia, a laringe, o esófago, a e promovendo modificações do ritmo respiratório
faringe e o nervo laríngeo recorrente. Lateralmen- no sentido de as compensar.
te a carótida comum relaciona-se com a veia jugu- Outra importante formação é o seio carotídeo que
lar interna que a acompanha em todo o seu trajeto. constitui uma dilatação fusiforme da região inicial
No interstício posterior formado por estes vasos da carótida interna, cuja parede é rica em termi-
localiza-se o nervo vago (pneumogástrico; X ner- nações nervosas dos nervos glossofaríngeo, vago
vo craniano). Estas três estruturas (eixo carotídeo, e simpático. Funciona como baroreceptor, sendo
veia jugular interna e nervo vago) são envolvidas sensível às alterações da pressão arterial, e geran-
do estímulos que, através da modificação do ritmo
cardíaco e das resistências periféricas, garantem a
estabilidade da mesma.
12 A carótida comum, geralmente, não dá ramos co-
laterais significativos.
267
L
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
Posteriormente, junto à origem, é cruzada pelo vel da emergência da lingual, ascendendo vertical-
nervo laríngeo superior e superiormente separa-se mente sobre a parede lateral da faringe, a qual vas-
da artéria carótida interna pelo estiloglosso e esti- culariza. Origina ainda ramos para os músculos
lofaríngeo, pelo nervo glossofaríngeo e por parte pré-vertebrais e a artéria meníngea posterior, que
da glândula parótida. penetra no crânio através do foramen jugular. Po-
derá também originar a artéria timpânica inferior.
Ramos colaterais Contribui para a irrigação das estruturas nervosas
cervicais (últimos nervos cranianos, plexo simpá-
A carótida externa dá em geral 7 ramos colaterais, tico, plexo cervical).
podendo este número variar entre 4 e 12. Os ra-
mos colaterais são os seguintes: tiroideia superior, Facial
lingual, facial, faríngea ascendente, occipital, auri- Origina-se da face anterior da carótida externa
cular posterior e parotideas. e tem um trajeto sinuoso até à loca submaxilar,
descrevendo 3 curvaturas. A primeira, de conca-
Tiroideia superior vidade inferior, abraça a glândula submaxilar, de-
É o primeiro ramo da artéria carótida externa, nominando-se curvatura supra-glandular ou fa-
emergindo da sua face anterior, logo abaixo do ríngea e a segunda tem concavidade superior e
corno maior do osso hioide. Após ascender no contorna o bordo inferior da mandíbula, desig-
sentido súpero-medial descreve uma curva para a nando-se infra-mandibular. A terceira curvatu-
frente e para baixo, atingindo o bordo superior da ra, designada facial, leva a artéria até à comissu-
glândula tiroide, onde dá ramos para a sua face an- ra labial, segue o sulco nasogeniano até ao ângu-
terior, os quais se anastomosam com os da artéria lo medial da órbita, descrevendo uma concavida-
contralateral e com os ramos da tiroideia inferior. de póstero-superior que se localiza sobre os mús-
Como colaterais, origina a artéria esterno-cleido- culos bucinador, levantador da comissura labial e
-mastoideia, a artéria laríngea superior e um ramo levantador do lábio superior, sendo recoberta pe-
infra- hioideu. los músculos platisma, depressor da comissura la-
bial e zigomáticos. Como colaterais, a artéria fa-
Lingual cial apresenta as artérias palatina ascendente (que
Emerge da face medial da carótida externa en- irriga o músculo estiloglosso, a faringe e o palato
tre a tiroideia superior e a facial. Dirige-se obli- mole), ramos amigdalinos, artéria submentonia-
quamente para cima e para dentro até ao como na, pterigoideia, masseterina, labiais inferior e su-
maior do osso hioide, tomando-se depois parale- perior (esta última originando o ramo septal na-
la a este para, em seguida, ascender perpendicular- sal). Termina pela artéria angular, que se anasto-
mente até à face inferior da língua, onde se divide mosa no ângulo medial da órbita com a artéria
nos seus ramos terminais (artéria sublingual; ar- dorsal do nariz ou nasal externa, ramo terminal
téria lingual profunda ou artéria ranina). Durante da artéria oftálmica.
o trajeto dá dois colaterais, a artéria dorsal da lín-
gua que vasculariza o pilar anterior do palato mole Ocipital
ou véu do palato, a epiglote e a base da língua, e Emerge da face posterior da carótida, dirigindo-
o ramo supra-hioideu que percorre o bordo supe- -se obliquamente para cima, para trás e para fora,
rior do hioide para se anastomosar com o contra- cruzando a face anterior da veia jugular interna
lateral. A artéria sublingual vasculariza a glândula e a face posterior do músculo estilohioideu e do
homónima e a lingual profunda prolonga-se até à ventre posterior do digástrico, até ao bordo me-
extremidade anterior da língua, vascularizando os dial do esplénio da cabeça. Aqui, divide-se nos
músculos e mucosa deste órgão. seus ramos terminais os quais se dirigem à região
do couro cabeludo. Como colaterais emite ramos
Faríngea ascendente musculares, a artéria estilomastoideia e um ramo
Nasce da face posterior da carótida externa, ao ní- meníngeo.
268
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: ARTÉRIAS E VEIAS
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MANUAL D E ANATOMIA HUMANA
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MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: ARTÉRIAS E VEIAS
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
truturas nervosas são diferentes das da contrala- xo braquial. A região onde a artéria subclávia se
teral. O nervo vago está acolado à artéria caróti- continua pela axilar, localizada entre a clavícula e
da comum esquerda, não contatando diretamente a primeira costela, designa-se por desfiladeiro cos-
com a artéria subclávia; o nervo frénico e a ansa de toclavicular.
Vieussens cruzam-na anteriormente e o dueto to-
rácico cruza a sua face posterior. Ramos colaterais
Ambas as artérias subclávias são envolvidas pelos
ramos do simpático, com origem no gânglio cérvi- São em número de nove principais artérias: verte-
cotorácico e na ansa de Vieussens. Este plexo pe- bral, torácica interna, tiroideia inferior, cervical as-
riarterial assim formado emite alguns ramos para a cendente, supraescapular, cervical transversa, cer-
própria artéria subclávia. No entanto os vasos co- vical profunda, intercostal suprema (ou superior),
laterais da subclávia, nomeadamente a artéria ver- escapular dorsal (ou posterior). A origem destes
tebral, recebem ramos diretamente do gânglio cér- ramos em variados troncos comuns é frequente
vicotorácico. (Fig. 3.24). Destacamos o tronco tirocervical (ti-
robicervicoescapular), que dá geralmente origem
13 à artéria tiroideia inferior, à cervical ascendente, à
supraescapular e à cervical transversa, assim como
o tronco costocervical, que dá geralmente origem
à cervical profunda e à intercostal suprema.
Todos os ramos têm origem na porção intra-es-
calénica, exceto a artéria escapular dorsal que se
origina habitualmente na região inter-escalénica.
Artéria vertebral
Dirige-se verticalmente para cima, ligeiramente
inclinada para trás, à frente do gânglio cérvicoto-
rácico e da apófise transversa da 7.• vértebra cer-
vical e atrás da veia vertebral e da artéria carótida
comum. Ascende ao longo dos foramina transver-
sários da 6.ª vértebra cervical ao áxis juntamen-
te com o nervo vertebral. Ao nível do áxis inflete-
-se para a frente para se dirigir ao foramen magno.
9 Perfura depois o ligamento ocipitoatloideu poste-
rior por cima do primeiro nervo cervical, dirigin-
Fig. 3.24: Artéria subclávia.
1. Artéria subclávia 2. Clavícula 3. Artéria carótida comum 4. Tronco do-se para a frente, para cima e para dentro para
tirocervical 5. Artéria tiroideia inferior 6. Artéria cervical ascendente atravessar a dura-mater por baixo da primeira di-
7. Artéria cervical transversa 8. Artéria supraescapular 9. Artéria
torácica interna 10. Tronco costocervical 11. Artéria intercostal gitação do ligamento dentado. Ascende obliqua-
suprema 12. Artéria cervical profunda 13. Artéria vertebral mente para cima e para dentro entrando no crâ-
nio através do foramen magno, que atravessa por
A porção inter-escalénica encontra-se sobre uma baixo do nervo hipoglosso. Uma vez no interior da
goteira na face superior da primeira costela, por cavidade craniana, a artéria dirige-se para a frente,
trás do tubérculo escaleno (de Lisfranc) e relacio- para cima e para dentro, acabando por se anasto-
na-se, para trás e para cima, com o plexo braquial. mosar na linha média, sob o sulco bulbo-protube-
A porção pós-escalénica relaciona-se com a pri- rancial, com a do lado oposto para formar o tron-
meira digitação do músculo serrátil anterior, sendo co basilar. Este vaso vai ascender entre a protu-
recoberta superiormente pela fáscia pré-traqueal. berância e a goteira basilar do ocipital para se di-
Anteriormente está em contacto com a clavícula e vidir, na zona em que esta termina, nos seus dois
o músculo subclávio e posteriormente com o ple- ramos terminais, as artérias cerebrais posteriores,
272
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULAT ÓRIO: ARTÉRIAS E VEIAS
11 Artéria supraescapular
Dirige-se para a frente e para fora até ao bordo su-
perior da escápula (da omoplata), vascularizando o
colo daquele osso e músculos vizinhos.
2
273
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
VEIAS: DRENAGEM VENOSA DA Labbé (que o une ao seio lateral), as veias menín-
CABEÇA E PESCOÇO geas médias, as veias do diploe e da dura-mater e
as veias emissárias parietais.
O principal coletor venoso da cabeça e pescoço é
a veia jugular interna, que se origina nos seios ve- Seio sagital (longitudinal) inferior
nosos durais ou seios cranianos, sendo responsá- Está contido na região posterior da margem livre
vel pela drenagem dos conteúdos da cavidade cra- da foice do cérebro. Aumenta de calibre da frente
niana e parte da face. Para além deste grande vaso para trás e termina no seio recto. Recebe veias da
existem ainda outras veias importantes como a ju- foice do cérebro e algumas veias de ambos os he-
gular externa, as jugulares anterior e posterior, a misférios.
veia vertebral e a veia subclávia.
Seiorecto
SEIOS VENOSOS CRANIANOS Localiza-se na região de união da foice do cére-
bro com a tenda do cerebelo. Inicia-se no ponto
São os ramos de origem da veia jugular interna, re- de confluência com o seio sagital inferior e dirige-
cebendo toda a drenagem venosa do conteúdo da -se numa direção posterior e inferior até à tórcu-
cavidade craniana (encéfalo e meninges) e da ca- la. Para além do seio sagital inferior drena as veias
vidade orbitária. São canais venosos formados por cerebrais profundas ou de Galeno e as cerebelosas
desdobramentos da dura-máter, avalvulares, inex- médias superiores.
tensíveis e maioritariamente triangulares ao corte
transversal. Os vários seios cranianos encontram- Seios ocipitais posteriores
-se distribuídos em dois grupos: superior ou pós- Originam-se no foramen jugular, onde se comu-
tero-superior e inferior ou ântero-inferior (Fig. nicam com os seios laterais. Dirigem-se para trás
3.26). e para dentro rodeando o foramen magno, pene-
tram na foice do cerebelo e drenam no confluen-
Grupo superior te posterior. Recebem veias do cerebelo e da du-
ra-máter.
Inclui 7 seios (3 ímpares e 4 pares), que drenam
todos para o confluente posterior, também desig- Seios laterais
nado tórcula ou Lagar de Herófilo ao nível da pro- São dois, localizados a cada lado, no bordo ade-
tuberância ocipital interior, com exceção dos seios rente da tenda do cerebelo e dirigem-se desde a
laterais/transversos que são eferentes terminando tórcula até ao foramen jugular, onde drenam no
na jugular interna. golfo da jugular interna. Têm um trajeto sinuoso,
no qual se distinguem 3 segmentos. No primeiro
Seio sagital (longitudinal) superior segmento, também denominado de seio transver-
Estende-se desde a região anterior do crânio, por so (segmento ocipital ou horizontal), descreve um
cima da crista frontal (interna), até ao confluen- trajeto ao longo da escama do ocipital até ao ro-
te posterior, ocupando a foice do cérebro. Percor- chedo do temporal; altura em que se curva para
re a goteira escavada na face profunda da calote passar a dirigir-se para baixo, para dentro e para
craniana, atravessando o frontal, a sutura biparie- a frente no segundo segmento, designado mastoi-
tal e a escama do occipital e aumentado de cali- deu ou descendente. Na extremidade inferior da
bre no sentido ântero-posterior. Na sua espessu- base do rochedo dirige-se então para cima, para
ra apresenta as granulações aracnoideias (de Pa- dentro e a frente, até ao golfo da jugular inter-
chioni), importantes no metabolismo do liquor na. Estes dois últimos segmentos, em trajeto con-
cefaloraquidiano. Este seio recebe as veias do fo- junto algo sinuoso conforme descrito, formam o
ramen cego, as veias cerebrais superiores, a gran- que conhecemos como seio sigmoide. Os clássicos
de veia anastomótica de Trolard (une o seio sagital seios laterais são assim resultantes do somatório
superior ao seio cavernoso), a veia anastomótica de dos seios transverso e sigmoide, termos atualmen-
274
MANUTENÇÃO I SISTEMACIRCULATÓRIO:ARTÉRIAS E VEIAS
te bem mais divulgados. Para os seios transversos Por seu lado, o sangue contido nos seios caverno-
drenam, os seios sagital superior, rectos e ocipi- sos é drenado para (eferentes):
tais posteriores. Para os seios sigmoides drenam as • Seio petroso superior: nasce da extremidade
veias cerebrais posteriores e inferiores e veias ce- posterior do seio cavernoso, prolonga-se pos-
rebelosas posteriores, o seio petroso superior, as teriormente ao longo do bordo superior do
veias do aqueduto do vesa.bulo e as veias emissá- rochedo até ao seio lateral; recebe veias do cé-
rias mastoideias. rebro e do cerebelo.
• Seio petroso inferior: emerge da região pos-
Grupo ântero-inferior terior do seio cavernoso e sai do crânio pela
zona mais anterior do foramen jugular. Uma
Os coletores deste grupo são os seios cavernosos, vez fora da cavidade craniana transforma-se
que recebem os seios esfenoparietais, coronário e numa veia e drena no golfo da jugular interna.
ocipital transverso, bem como as veias centrais da Recebe veias do cerebelo, protuberância, bul-
retina e oftálmicas. Dos seios cavernosos partem bo e veias auditivas internas.
por sua vez seios eferentes, os seios petrosos supe- • Plexo carotídeo: é um conjunto de vénulas
riores e inferiores e os seios carotídeos, que drenam rudimentares que rodeiam a carótida interna,
o sangue dos seios cavernosos para os seios laterais. comunicando o seio cavernoso com a jugu-
Os seios cavernosos têm uma estrutura reticu- lar interna.
lar, localizando-se a cada lado da sela turca. Pro-
longam-se desde a fissura orbitária superior até 11
10
ao vértice do rochedo e comunicam entre si pelos
seios coronário e ocipital transverso. N o seu inte-
rior encontramos a carótida interna, que se acom-
panha ínfero-lateralmente pelo VI nervo craniano.
A parede lateral contém o III, o IV e o ramo oftál-
12
mico do V nervo.
Nos seios cavernosos drenam (aferentes):
• Veias oftálmicas: são duas por cada cavida-
de orbitária, superior e inferior, originando-se
no ângulo medial da cavidade orbitária. Atra-
vessam separadamente, ou após união, a re-
gião mais medial da fissura orbitária superior 14
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MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: ARTÉRIAS E VEIAS
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
Continua a veia axilar, que toma a designação de Rouviere, H.; Delmas, A. Anatomía H umana
Descriptiva, topográfica yfoncional,.1P Edition.
subclávia na margem lateral da 1. ª costela ou no
bordo inferior do músculo subclávio, e termina Elsevier, 2005.
ao nível da face posterior da articulação esterno- Standring, S. Gray's Anatomy -1he anatomical
costoclavicular onde se une à veia jugular inter- basis oJclínica/practice. 41th Edition. Churchill-
na homolateral para formar o tronco braquioce- Livingstone Elsevier, 2016.
fálico venoso. Repousa na face superior da pri-
Testut, L.; Latarjet, A. Tratado de anatomía
meira costela, anteriormente ao tubérculo esca-
humana. 9.ª edição. Salvat Editores, S.A., 1999.
leno (de Lisfranc) e relaciona-se anteriormente
com a clavícula e o músculo subclávio e poste- Van De Graaf, KM.; Fox, SI. Concepts ofHuman
riormente com a artéria subclávia, que se locali- Anatomy & Physiology. 5th edition. WCB/
za acima e atrás da veia. Os dois vasos separam-se McGraw-Hill, 1999.
pelo escaleno anterior e pela cúpula pleural. Para
W ind, G.; Valentine,J.;Anatomic Exposures
dentro dos escalenos o espaço entre artéria e veia
in Vascular Surgery. 3rd Edition. Lippincott
é atravessado pelo nervo vago e pela ansa subclá-
Williarns&Wilkins, 2013.
via de Vieussens e, à esquerda, também pelo ner-
vo frénico. A veia subclávia recebe as veias jugu- N etter, F. Atlas de Anatomia humana. 6.ª Edição,
lares externas e anterior. Elsevier, 2015.
• ••
278
p
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: ARTÉRIAS E VEIAS
A RTÉRIA PULMONAR
279
MANUAL D E ANATOMIA HUMANA
querdo) do que a artéria pulmonar direita (ante- eixo central do lóbulo, enquanto as veias pulmona-
rior ao brônquio principal direito). Uma inversão res e os linfáticos correm nos septos interlobulares.
desta relação deve levantar de suspeita de algum Após a saída do pulmão, as veias reúnem-se para
processo patológico. formar as duas veias pulmonares principais, que se
dirigem para dentro, em direção ao átrio esquerdo
A veia pulmonar direita superior resulta da união
VEIAS DO TÓRAX das veias lobares superior e média. A veia pulmo-
nar direita inferior resulta da união da veia apica[
As veias do tórax compreendem dois sistemas ve- e da veia basal comum. A veia pulmonar esquerda
nosos distintos: as veias viscerais e as veias parie- superior resulta da união das veias apico-posterior
tais. As veias viscerais incluem não só os grandes anterior e lingular. A veia pulmonar esquerda in~
eixos venosos axiais do tórax, como a veia cava ferior resulta da união da veia apical e da veia basa[
superior (e os seus ramos de origem) e a veia cava comum. No hilo pulmonar, a posição destas veias é
inferior, mas também as veias das vísceras do tó- a seguinte: a veia pulmonar superior situa-se num
rax, como as veias do coração e as veias pulmona- plano mais anterior que a veia pulmonar inferior;
res. Estas veias serão descritas na drenagem ve- a veia superior é pré-brônquica e a veia inferior é
nosa dos respetivos órgãos, com excepão das veias infra-brônquica; a veia superior direita é inferior e
pulmonares, que aqui serão brevemente aborda- anterior relativamente à artéria pulmonar direita; a
das. As veias parietais constituem as chamadas veia superior esquerda é totalmente infra-arterial.
anastomoses cava-cava e compreendem o siste- As veias pulmonares têm um trajeto extra-pulmo-
ma das veias ázigos, o sistema das veias do rá- nar relativamente curto, sendo que as veias pul-
quis e as veias da parede ântero-lateral do tronco. monares direitas são mais longas que as veias pul-
Outra sistematização possível para as veias do tó- monares esquerdas. Neste trajeto, estas veias rece-
rax consiste na divisão em dois grupos: o grupo bem ainda, como colaterais, algumas veias brôn-
das veias da circulação pulmonar, que apenas in- quicas anteriores. No seu percurso, as veias pul-
clui as veias pulmonares; e o grupo das veias da monares esquerdas passam anteriormente à arté-
circulação sistémica, que compreende as restantes. ria aorta torácica descendente. Ao atingirem a pa-
rede posterior do átrio esquerdo, as veias pulmo-
Veias pulmonares nares relacionam-se com a serosa pericárdica que
as embainha. A projeção dos orifícios atriais das
As veias pulmonares são vasos avalvulares cuja veias pulmonares sobre o ráquis vai da oitava à dé-
parede apresenta características morfológicas de cima vértebras dorsais.
veia, mas que transportam sangue arterial, no tra-
jeto centrípeto que vai dos pulmões para o cora-
ção esquerdo. São em número de quatro, duas por
cada pulmão, das quais uma é superior e outra é
inferior (Fig. 3.29). Nascem dos capilares alveo-
lares e recebem veias provenientes das ramifica-
ções brônquicas de menor calibre e da pleura vis-
ceral. Vão-se depois anastomosando umas com as
outras, em vasos de calibre progressivamente cres-
1
cente, e atingem os hilos pulmonares por um tra-
jeto independente do dos brônquios e das artérias
4
pulmonares, pois as veias da circulação pulmonar
correm à periferia dos segmentos pulmonares, e 2
280
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: ARTÉRIAS E VEIAS
Veia cava superior e seus ramos de origem fluentes venosos jugulo-subclávios recebem ainda
os troncos coletores terminais do sistema linfático
A veia cava superior é o tronco coletor das veias (dueto torácico à esquerda e dueto linfático direito
da porção supra-diafragmática do corpo, resultan- ou grande veia linfática à direita).
do da reunião dos dois troncos venosos braquioce- Da anastomose dos dois troncos braquiocefálicos
fálicos (Fig. 3.30). Estes troncos braquiocefálicos, venosos resulta a veia cava superior, que se diri-
também chamados de veias inominadas, nascem, ge obliquamente para trás, descrevendo uma cur-
cada um deles, atrás da extremidade medial da cla- vatura de concavidade esquerda (que corresponde
vícula, da reunião da veia subclávia e da veia jugu- à convexidade da porção ascendente do arco aór-
lar interna, no chamado confluente jugulo-subclá- tico ). Termina-se logo a seguir, na parede supe-
vio ou ângulo de Pirogoff Terminam atrás da pri- rior do átrio direito, num ponto que correspon-
meira cartilagem costal direita, onde se anastomo- de à extremidade medial do segundo espaço in-
sam para dar origem à veia cava superior. tercostal direito.
Como a veia cava superior se situa à direita da li- Das relações da veia cava superior destacam-se: à
nha média, os dois troncos braquiocefálicos dife- frente, o timo, a pleura, o pulmão e a segunda car-
rem no que diz respeito à sua situação, à sua dire- tilagem costal direitos; atrás, os gânglios látero-
ção, ao seu comprimento e às suas relações. As- -traqueais direitos, a terminação da veia ázigos, a
sim, o tronco braquiocefálico direito é quase ver- artéria pulmonar direita e a veia pulmonar supe-
tical e mais curto que o esquerdo, relacionando-se, rior direita; medialmente, a porção ascendente do
à frente e à direita, com o pulmão e pleura direi- arco aórtico; lateralmente, a pleura direita, o ner-
tos; à frente, com a clavícula e a primeira cartila- vo frénico, os vasos pericardiofrénicos direitos e os
gem costal; atrás, com o nervo vago e com o tron- gânglios mediastínicos anteriores direitos. É ainda
co braquiocefálico arterial; à direita, com o nervo de referir que cerca de três quartos da sua super-
frénico; à esquerda, com o timo ou seus resquícios fície ântero-lateral são recobertos pela serosa peri-
adiposos. O tronco braquiocefálico esquerdo atra- cárdica. Como colateral, a veia cava superior ape-
vessa a linha média e apresenta um trajeto oblíquo,
quase horizontal, com o dobro do comprimento
do tronco braquiocefálico direito. Relaciona-se, à
frente, com a articulação esterno-condro-clavicu-
lar esquerda, o timo e o manúbrio esternal; atrás,
com os três ramos colaterais da porção horizon-
tal do arco aórtico, os nervos vago e frénico es-
querdos e ainda os gânglios mediastínicos ante-
riores esquerdos; em baixo, com a crossa da aorta;
em cima, com as veias tiroideias inferiores e com a
fáscia tiro-pericárdica; é ainda acompanhado, em
toda a sua extensão, pela cadeia linfática mediastí-
nica anterior transversa.
Cada tronco braquiocefálico recebe, como colate-
rais, a veia vertebral, a veia jugular posterior, a veia
intercostal suprema (que drena o 1.0 espaço inter-
costal), a veia torácica interna e a veia pericardio-
frénica homolaterais. O tronco braquicefálico ve-
noso esquerdo recebe ainda a veia intercostal su-
perior esquerda (que drena os 2.0 e 3.0 espaços in- Fig. 3.30: Veia Cava Superior.
1. Veia Cava Superior 2. Veia braquio-cefálica esquerda 3. Veia braquio-
tercostais). As veias tiroideias inferiores drenam cefálica direita 4. Veia Subclávia 5. Veia Jugular Interna 6. Confluente
para o tronco braquiocefálico esquerdo ou para jugulo-subclávio (Ângulo de Pirogoff) 7. Veia torácica interna 8. Veia
Ázigos 9. Veia Hemiázigos 10. Veia Hemiázigos acessória 11. Veias
a confluência dos dois troncos venosos. Os con-
intercostais posteriores 12. Veia intercostal superior direita
281
MANUAL D E ANATOMIA HUMANA
nas recebe a veia ázigos, que nela drena na sua face esplâncnico maior, entre os feixes principal e aces-
posterior, acima do pedículo pulmonar direito, a sório do pilar direito do diafragma.
nível de D4. No tórax, a veia ázigos sobe pela face anterior da
coluna vertebral, à direita da linha média, até à al-
Veia cava inferior tura de D4. Aí, inflete-se para a frente, passa sobre
o pedículo pulmonar direito, descrevendo a cros-
A veia cava inferior é o tronco coletor das veias sa da veia ázigos, e lança-se na veia cava superior.
da porção infra-diafragmática do corpo, resultan- A o longo do seu trajeto, a veia ázigos relaciona-se:
do da reunião das duas veias ilíacas comuns ao ní- medialmente, com o canal torácico e a aorta; late-
vel da vertente direita da quinta vértebra lombar. ralmente, com a pleura mediastínica direita; atrás,
É aí que se inicia o trajeto vertical da veia cava in- com a coluna vertebral e as artérias intercostaís di-
ferior, dividido em dois segmentos pelo diafragma reitas; à frente, com o pedículo pulmonar e o esó-
(ao qual a veia adere fortemente): um abdominal fago (por intermédio do recesso vertebromedias-
e outro torácico. Este último, de dimensões par- tínico direito).
ticularmente reduzidas, é totalmente envolto por A veia ázigos apresenta como colaterais: (1) a veia
um prolongamento do pericárdio fibroso, através brônquica direita posterior; (2) as veias esofágicas
do qual a veia se relaciona lateralmente com o li- e pericárdicas; (3) as veias intercostais posteriores;
gamento freno-pericárdico direito, o nervo fréni- (4) a veia intercostal superior direita, que é o tron-
co e, à distância, com a pleura e o pulmão direitos. co coletor das 2.ª e 3.ª veias intercostais direitas; e
O segmento torácico desta veia não recebe quais- (5) as veias herni-ázigos. Estas veias são habitual-
quer ramos colaterais. mente duas, uma superior e outra inferior.
Em todo o seu trajeto, a veia cava inferior não A veia herni-ázigos forma-se, como a veia ázigos,
apresenta válvulas para além da válvula da veia pela coalescência de duas raízes ao nível do 11.0
cava inferior (de Eustáquio), que se situa na de- espaço intercostal esquerdo: uma lateral, estabe-
sembocadura desta veia na parede inferior do átrio lecida de forma equivalente à raiz lateral da veia
direito. ázigos; e uma medial, inconstante, proveniente
de uma anastomose da veia renal esquerda com a
Sistema das veias parietais - veias az,gos, veia lombar i nfrajacente (é o arco reno-ázigo-lom-
veias do ráquis e veias da parede ântero- bar). A partir daí, a veia herni-ázigos perfura o pi-
-lateral lar esquerdo do diafragma, recebe as últimas qua-
tro ou cinco veias intercostais esquerdas à medida
Os dois sistemas cava estão em comunicação atra- que sobe pelo flanco esquerdo da coluna vertebral
vés de várias grandes vias anastomóticas, em que e, ao atingir a 7.ª vértebra dorsal, inflete-se trans-
se incluem o sistema das veias ázigos (Fig. 3.31), o versalmente para a direita, passa à frente da colu-
sistema das veias do ráquis e as veias da parede ân- na e atrás da aorta e do dueto torácico para drenar
tero-lateral do tronco. na veia ázigos.
A veia ázigos é um importante vaso valvulado da A veia herni-ázigos acessória desce ao longo do
parede posterior do tórax, que surge ao nível do flanco esquerdo da coluna vertebral, lateralmen-
11.0 espaço intercostal direito, da anastomose de te à aorta, recebe as 4.a, 5.a, 6.ª e 7.ª veias intercos-
duas raízes: uma lateral, constituída pela anasto- taís esquerdas (os 3 primeiros espaços intercostaís
mose da veia lombar ascendente direita com a veia drenam para o tronco braquio-cefálico venoso es-
subcostal direita (12.ª veia intercostal direita), que querdo) e, ao atingir o nível de D7, dirige-se tam-
se faz junto ao bordo medial do quadrado lom- bém horizontalmente para a direita para terminar
bar, abaixo da extremidade medial da 12.ª costela e na veia ázigos.
acima do ligamento arqueado lateral; e outra me- As veias do ráquis estão organizadas, pela sua ex-
dial, inconstante, que emerge da face posterior da tensa anastomose, em duas categorias de plexos:
veia cava inferior ou da veia renal direita. Da sua os plexos intra-raquidianos e os plexos extra-ra-
origem, a veia ázigos penetra no tórax com o nervo quidianos.
282
p
MANUTENÇÃO I SISTEMACIRCULATÓRIO:ARTÉRIASEVEIAS
283
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
284
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: ARTÉRIAS E VEIAS
11 10 9
9
6
3
4
2
lil
Fig. 3.33A: Relações Aorta Abdominal. Fig. 3.33B: Relações Aorta Abdominal.
1. Aorta Abdominal 2. Artéria ilíaca primitiva 3. Veia ilíaca primitWa 1. Aorta Abdominal 2. Tronco celíaco 3. Artéria Mesentérica Superior
4. Veia Cava Inferior 5. Tronco celíaco 6. Artéria Mesentérica 4. Artéria Mesentérica Inferior 5. Veia Renal Esquerda 6. Pânaeas
Superior 7. Artéria Mesentérica Inferior 8. Veia Renal 9. Artéria Renal 7. Veia Porta 8. Estômago 9. Fígado 10. Diafragma
10. Diafragma 11. Ligamento arqueado mediano
5
9
3
Ili
Fig. 3.33C: Relações Aorta Abdominal.
1. Aorta Abdominal 2. Tronco celíaco 3. Artéria Mesentérica Superior 4. Artéria Mesentérica Inferior 5. Veia Renal Esquerda 6. Pâncreas 7. Baço
8. Estômago 9. Cólon 10. Uretero esquerdo
285
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
no delgado Qejuno-íleo). 6
286
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: ARTÉRJAS E VEIAS
Artérias Lombares
287
-
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
creas, cruza posteriormente a face anterior da veia te destacam-se a gástrica direita e a cística.
porta, atingindo o omento menor. Neste trajecto A artéria gástrica direita destaca-se da parte as-
eleva uma prega de peritoneu que se denomina de cendente da hepática própria e tem um trajecto
foice da artéria hepática. Depois de originar o seu descendente e para a esquerda, na espessura dos
ramo gastroduodenal dirige-se superiormente em folhetos do omento menor, à frente da veia porta,
direcção ao hilo do fígado, denominando-se hepá- até atingir o bordo superior da 1.ª porção do duo-
tica própria, sempre na espessura do omento me- deno. Daqui prolonga-se para o piloro e curvatura
nor, à frente da veia porta e à esquerda do dueto menor do estômago, onde se vai anastomosar com
colédoco. Junto ao hilo a hepática própria divide- os ramos terminais da artéria gástrica esquerda.
-se nos seus 2 ramos terminais - direito e esquer- A artéria cística destaca-se da artéria hepática pró-
do, relacionando-se ao longo do seu trajecto com pria ou do seu ramo terminal direito. Tem um tra-
o plexo nervoso hepático e com a cadeia ganglio- jecto horizontal em direcção ao colo da vesícula
nar hepática. biliar, onde se ramifica nos seus 2 ramos terminais
Os ramos da artéria h epática comum são assim a direito e esquerdo.
gastroduodenal e a hepática própria (Fig. 3.35). Ao nível do hilo a hepática própria divide-se em 2
A artéria gastroduodenal tem um trajecto descen- ramos terminais - direito e esquerdo - que pene-
dente, na face posterior da 1.a porção do duodeno. tram no parênquima do fígado.
Ao atingir o bordo inferior do duodeno divide-se
nos seus 2 ramos terminais: artéria pancreático- Artéria Esplénica
-duodenal ântero-superior e artéria gastro-omen-
tal (gastroepiploica) direita. É o ramo colateral mais volumoso do tronco celía-
A artéria gastroduodenal possui um único ramo co. Na sua origem está separada da origem da ar-
colateral - artéria pancreático duodenal póstero- téria hepática pela veia gástrica esqu erda. Percor-
-superior - que se destaca a nível do bordo supe- re o bordo superior do corpo do pâncreas da di-
rior do pâncreas, se dirige para a direita, cruzando reita para a esquerda; cruza anteriormente a cauda
anteriormente o dueto colédoco, e descendo jun- do pâncreas, até atingir o omento pancreático-es-
to à face posterior do pâncreas. Termina cruzan- plénico, em cuja espessura origina os seus dois ra-
do novamente a face posterior do dueto colédoco, mos terminais superior e inferior (Fig. 3.36). Es-
anastomosando-se com a artéria pancreático duo- tes ramos originam 2 a 3 ramos secundários que
denal póstero-inferior, ramo da artéria mesentéri- penetram no parênquima do baço. No seu trajec-
ca superior. to relaciona-se ainda com o plexo nervoso espléni-
A artéria pancreático duodenal ântero-superior co, a cadeia ganglionar esplénica e a veia esplénica.
dirige-se para baixo e para a direita,junto ao bor- Apresenta como ramos colaterais os ramos pan-
do interno da 2.ª porção do duodeno, contorna creáticos, os vasos curtos do estômago e a artéria
o bordo direito da cabeça do pâncreas, inferior- gastro-omental esquerda.
mente à porção distal do dueto colédoco até atin- Os ramos pancreáticos são pequenos ramos arte-
gir a face posterior do pâncreas onde se anasto- riais que se destacam ao longo de todo o trajecto
mosa com a artéria pancreático duodenal ânte- da artéria esplénica ao nível do bordo superior do
ro-inferior. corpo e cauda do pâncreas. Pela sua menor varia-
A artéria gastro-omental direita dirige-se para bai- bilidade, é possível distinguir 3 ramos principais:
xo e para a esquerda, entre os folhetos do omento artéria pancreática dorsal, que se destaca ao nível
maior, atingindo a curvatura maior do estômago. do colo do pâncreas, percorrendo a face posterior
Anastomosa-se com a artéria gastro-omental es- do pâncreas até atingir o seu bordo inferior; arté-
querda, ramo da artéria esplénica. ria pancreática magna, que se origina na face pos-
A artéria hepática própria é um ramo da artéria terior do corpo do pâncreas; artéria da cauda do
hepática comum, que toma a designação de hepá- pâncreas, responsável pela irrigação da cauda pan-
tica própria ao iniciar o trajecto ascendente em di- creática.
recção ao hilo hepático. No seu trajecto ascenden- Os vasos curtos do estômago são cerca de 6 a 10
288
p
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: ARTÉRIAS E VEIAS
289
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
térico do íleo terminal, anastomosa-se com ramo cal anterior e cecal posterior, que passam respecti-
ileal terminal da artéria mesentérica superior, de- vamente anterior e posteriormente ao íleo para ir-
limitando a área avascular; o ramo cólico ascende rigar o cego. A artéria cecal posterior dá ainda ori-
ao longo do cólon ascendente para se anastomo- gem à artéria apendicular, para o apêndice íleoce-
sar com o ramo descendente da artéria cólica di- cal, o qual atinge através do mesoapêndice. A ar-
reita. Da arcada cólica destacam-se as artérias ce- téria cecal anterior determina a prega peritoneal
5 4
B
Fig. 3.37A: Artéria Mesentérica Superior. Fog. 3.37B: Artéria Mesentérica Superior.
1. Artéria Mesentérica Superior 2. Artérias jejunais 3. Artérias ileais 4. 1. Artéria Mesentérica Superior 2. Artérias jejunais 3. Artérias ileais 4.
Vasos rectos S. Artéria íleo-cólica 6. Artéria cólica direita 7. Duodeno Vasos rectos 5. Veia Mesentérica Superior 6. Jejuno-íleon
8. Jejuno-íleon 9. Cólon direito
290
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: ARTÉRIAS E VEIAS
291
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
n descendente dividindo-se num ramo ascenden- ramos para a cápsula adiposa do rim, para o ba-
te (que se anastomosa com a artéria cólica esquer- cinete e para o ureter proximal; destaca-se como
da descendente) e num ramo ascendente (que se principal, a artéria suprarrenal inferior, que alcan-
anastomosa com o ramo ascendente da 2.ª sigmói- ça a glândula suprarrenal pelo seu bordo inferior
dea). As artérias sigmóideas média e inferior, diri- (Fig. 3.39).
gem-se entre os folhetos do mesocólon sigmoide A artéria renal termina dividindo-se em dois ra-
para irrigar o cólon sigmoide, formando arcadas
de primeira ordem. O ramo descendente da arté-
ria sigmóidea inferior anastomosa-se com a arté- 2
ria rectal superior esquerda.
Como ramos terminais, a artéria mesentérica infe-
rior, ao alcançar o recto, a nível de S2-S3, divide-se 4
em dois ramos rectais superiores: esquerdo e direi-
to, responsáveis pela irrigação do recto pélvico, e
que se anastomosam com as artérias rectais mé-
dias (ramos da artéria ilíaca interna) e rectais infe-
rior (ramos da artéria pudenda interna).
292
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: ARTÉRIAS E VEIAS
3.40). A partir deste ponto o trajecto varia con- RAMOS TERMINAIS DA AORTA ABDOMINAL
soante o sexo.
As artérias testiculares mantêm o seu trajecto late- Ao nível da 4.ª vértebra lombar, a aorta abdomi-
ralmente aos vasos ilíacos externos, até penetrarem nal divide-se em 3 ramos terminais: artéria sagra-
no canal inguinal, pelo orifício profundo, que per- da média (mediano) e artérias ilíacas comuns (la-
corre em conjunto com os restantes elementos do terais) (Fig. 3.41).
cordão espermático. Qyando atinge o pólo supe-
rior do testículo, divide-se num ramo epididimá- 2
293
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
294
MANUTENÇÃO I SISTEMACIRCULATÓRJO:ARTÉRJASEVEIAS
4 4
10
9
a
Fig. 3.42A: Artéria ilíaca interna (+troncos). Fig. 3.42B: Artéria ilíaca interna (+troncos).
1. Artéria ilíaca primitiva 2. Artéria ilíaca interna 3. Artéria ilíaca 1. Artéria ilíaca primitiva 2. Artéria ilíaca interna 3. Artéria ilíaca externa
externa 4. Artéria ilio-lombar 5. Artéria sagrada lateral superior 6. 4. Artéria sagrada média 5. Artéria obturadora 6. Artéria pudenda
Artéria sagrada lateral inferior 7. Plexo sagrado 8. Músculo piriforme interna 7. Artéria Vesical Superior 8. Artéria Umbilical (obliterada) 9.
9. Nervo obturador Artéria Vesical Inferior 10. Artéria Rectal Média
iliolombar, artéria sagrada lateral superior, artéria saída, contorna a espinha ciática e entra na fossa
sagrada lateral inferior, artéria glútea superior. ísquio-anal através do foramen ciático menor. Na
De um ponto de vista funcional, podem-se dividir fossa ísquio- anal, a artéria pudenda interna, acom-
os ramos colaterais da artéria ilíaca interna em três panhada pela veia e nervo pudendos internos, per-
grupos, parietais extra-pélvicos (irrigam as partes corre a parede lateral da mesma, num desdobra-
moles da bacia que se localizam exteriormente à mento da fáscia do obturador interno, no denomi-
bacia óssea): artéria obturadora, artéria glútea su- nado canal pudendo de Alcock (dispondo-se, de
perior, artéria glútea inferior, artéria pudenda in- superior para inferior, a veia, a artéria e o nervo).
terna, parietais intra-pélvicos (irrigam as paredes Penetrando no prolongamento anterior da fos-
da bacia): artéria iliolombar, artérias sagradas late- sa ísquio-anal, a artéria pudenda interna, acompa-
rais, e viscerais (irrigam as vísceras pélvicas): arté- nhada pela veia pudenda interna e pelo nervo dor-
ria umbilical, artéria vesical inferior, artéria uteri- sal do pénis/do clítoris, segue a vertente medial do
na (na mulher), artéria vaginal (na mulher), arté- ramo isquiopúbico, até atingir o bordo inferior da
ria rectal média. sínfise púbica, onde origina o seu ramo terminal -
Dos ramos parietais extra-pélvicos, para a artéria artéria dorsal do pénis ou do clítoris.
obturadora, artéria glútea superior e artéria glútea No que concerne os seus ramos colaterais, es-
inferior, vide vascularização do membro inferior. tes originam-se no espaço extra-pélvico. As arté-
A artéria pudenda interna, após a sua origem no rias rectais inferiores originam-se ao nível da fos-
tronco anterior da artéria hipogástrica, caminha sa ísquio-anal, dirigindo-se ínfero-medialmente
anteriormente ao plexo sagrado e lateralmente à para irrigar as paredes do canal anal e os tegumen-
artéria glútea inferior, saindo da cavidade pélvica tos perianais. A artéria perineal origina-se ao ní-
pelo foramen ciático maior, inferiormente ao mús- vel da linha bi-isquiática, onde se torna superficial
culo piriforme (piramidal) (Fig. 3.43). Após esta em relação ao plano médio do períneo para irrigar
295
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
296
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: ARTÉRIAS E VEIAS
de a parede lateral da bexiga até ao umbigo, num rior até atingir a parede lateral da ampola rectal,
trajecto oblíquo súpero-medialmente, na parede onde se divide para a irrigar, em conjunto com as
abdominal anterior (onde eleva a prega umbilical artérias rectais superiores (ramos terminais da ar-
mediana) (Fig. 3 .44). téria mesentérica inferior) e com as artérias rec-
A artéria vesical inferior, após a sua origem na tais inferiores (ramos colaterais da artéria puden-
artéria ilíaca interna, dirige-se para baixo, para a da interna), com as quais se anastomosa. Perto da
frente e para dentro até atingir a parede póstero- sua ramificação, fornece ramos prostáticos e ramos
-inferior da bexiga, onde ramifica. Fornece ramos vaginais.
prostáticos e seminais no homem, e para o útero e
vagina na mulher.
N a mulher, a artéria uterina inicialmente descen- VEIA CAVA INFERIOR
de na parede da cavidade pélvica, até ao nível da
espinha ciática, após a qual se dirige medialmente, A Veia Cava Inferior é o tronco colector principal
na base dos ligamentos largos do útero, até atingir do sangue venoso da porção infradiafragmática do
0 cérvix uterino acima do fórnix lateral da vagi-
corpo humano. Resulta da união das veias ilíacas
na, onde descreve a crossa da artéria uterina. Nes- comuns, à direita da linha média (Fig. 3.45).
te trajecto inicial, a artéria cruza o ureter no seu
trajecto horizontal, passando acima e à frente do VEIA ILÍACA COMUM
mesmo. Após atingir o útero e formar a crossa, a
artéria uterina ascende ao longo do bordo lateral Em número de duas, originam-se a partir da união
do corpo uterino, apresentando um conformação da veia ilíaca externa com a veia ilíaca interna, e
espiralada, até ligeiramente abaixo do ângulo la- terminam unindo-se à direita de L5 para formar
teral do útero, onde se dirige para fora, ao longo a veia cava inferior. Deste modo, a veia ilíaca co-
do ligamento útero-ovárico, até à extremidade in-
ferior do ovário, onde fornece ramos ováricos que
se anastomosam com os ramos da artéria ovári-
ca. Como ramos colaterais a artéria uterina for-
nece ainda ramos uretéricos, ramos cervico-vagi-
nais (responsáveis pela irrigação do cérvix uterino
e contribuem para a irrigação da vagina), ramo tu-
bário medial (que segue a trompa uterina, anasto-
mosando-se com o ramo tubário lateral, da artéria
ovárica, na mesosalpinge) e ramos uterinos ( que se
destacam da artéria uterina ao longo do bordo la-
teral do corpo uterino, percorrendo o miométrio,
no seio do qual se dividem em artérias arqueadas
anteriores e posteriores, irrigando-o de forma cir-
cunferencial).
A artéria vaginal pode substituir a artéria vesical
inferior no sexo feminino. É responsável pela ir-
rigação da vagina, abordando-a pelos seus bordos
laterais, onde se ramifica. Em conjunto com os ra-
mos vaginais da artéria uterina, formam na face
anterior e posterior da vagina dois vasos principais
- as artérias ázigos da vagina.
A artéria rectal média origina-se no tronco termi-
Fig. 3.45: Formação Veia Cava Inferior.
nal anterior da artéria ilíaca interna, dirigindo-se 1. Veia Cava Inferior 2. Veia ilíaca primitiva 3. Veia ilíaca externa 4. Veia
ínfero-medialmente no espaço pelvi-rectal supe- Ilíaca interna 5. Plexos venosos pélvicos 6. Veias Supra-hepáticas
7. Veia Renal 8. Veias genitais 9. Veias frénicas inferiores
297
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
mum esquerda apresenta um trajecto mais com- (o maior tributário da veia ilíaca interna), as veias
prido que a direita. glúteas inferiores, as veias obturadoras, as veias sa-
Em termos de relações, ambas as veias se locali- gradas laterais (que se anastomosam com o ple-
zam inicialmente posteriormente às artérias ho- xo intrarraquidiano) e as veias pudendas internas
mólogas; contudo, a veia ilíaca comum direita co- (que tem origem no plexo prostático, sendo saté-
loca-se depois lateralmente em relação à artéria, lite da artéria, e recebendo a veia rectal inferior).
enquanto a veia esquerda se coloca medialmente Os ramos viscerais, em menor número que os ra-
à artéria. Ao cruzar a linha média anteriormen- mos arteriais, estes ramos têm origem a partir dos
te à transição LS-Sl, a veia ilíaca comum esquer- plexos venosos pélvicos que se formam em torno
da cruza anteriormente a artéria sagrada média e das vísceras pélvicas. Existem diferenças no ho-
posteriormente a extremidade superior da artéria mem e na mulher (Fig. 3.46A a C).
ilíaca comum direita, recebendo como colateral a No homem existem 4 plexos venosos. O plexo
veia sagrada média. prostático (de Santorini), disposto em torno das
paredes anterior e laterais da próstata, tem como
VEIA ILÍACA EXTERNA aferente a veia dorsal profunda do pénis e como
eferente a veia pudenda interna. O plexo vesical,
Origina-se ao nível do ligamento inguinal, dan- encontra-se nas faces laterais da bexiga e dá ori-
do continuidade à veia femoral. Após a sua origem gem às veias vesicais. O plexo seminal, forma-se
ascende obliquamente para dentro e para trás, me- em torno das vesículas seminais, na espessura da
dialmente ao músculo psoas, até se unir com a veia fáscia prostato-perineal, drenando depois nas veias
ilíaca interna. Neste trajecto ambas as veias se en- vesicais. O plexo rectal, existente ao nível da sub-
contram inicialmente medialmente à artéria ilíaca mucosa do recto e canal anal, sendo drenado por 3
externa, sendo que a veia ilíaca externa esquerda veias: veias rectais superiores (drenam para a veia
mantém esta relação, ao contrário da veia direita mesentérica inferior), veias rectais médias (dre-
que se coloca posteriormente em relação à artéria. nam para a veia ilíaca interna) e veias rectais in-
Na sua origem a veia ilíaca externa recebe dois va- feriores (drenam para as veias pudendas internas),
sos colaterais: veia circunflexa ilíaca profunda e a formando uma anastomose porto-cava. Ao nível
veia epigástrica inferior (que recebe o plexo venoso do canal anal, a rede venosa submucosa organiza-
testicular posterior e as veias cremastéricas). -se em 3 pedículos hemorroidários: esquerdo, pos-
terior direito, anterior direito.
VEIA ILÍACA INTERNA Na mulher existem 5 plexos venosos. O plexo pe-
ri-ureteral (de Santorini), disposto em torno da
As veias ilíacas internas acompanham as artérias uretra, tem como aferente a veia dorsal profunda
do mesmo nome, estando a direita disposta póste- do clítoris e como eferente a veia pudenda interna.
ro-lateralmente à artéria e a esquerda póstero-me- O plexo vesical. O plexo vaginal, constitui com o
dialmente a esta. Ao longo do seu trajecto apresen- plexo uterino o plexo uterovaginal. O plexo uteri-
tam uma relação com ureter, sobretudo à esquerda, no (uterovaginal), desenvolvido em torno das arté-
onde este é posterior à artéria ilíaca interna. rias uterina e vaginal ao longo dos bordos laterais
Em termos de vasos tributários, estes correspon- da vagina e do útero, apresentando como eferentes
dem sensivelmente aos ramos da artéria ilíaca in- a veia uterina (que se destaca do plexo ao nível do
terna, com algumas excepções (por exemplo, a ar- istmo uterino) e a veia vaginal, que segue a artéria
téria umbilical não é acompanhada por nenhuma homónima, recebendo as veias vesicais. A termi-
veia). Contudo, o território de drenagem corres- nar descrevemos ainda o plexo rectal.
ponde ao território de irrigação arterial. Assim,
podemos dividir os tributários em ramos parietais VEIA CAVA INFERIOR
e ramos viscerais.
Os ramos parietais drenam as paredes da cavidade É formada pela junção das veias ilíacas comuns,
pélvica, distinguindo-se as veias glúteas superiores que ocorre no flanco direito de LS, ligeiramen-
298
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: ARTÉRIAS E VEIAS
9
5
2 4
a 6 B
Fig. 3.46A: Plexos venosos pélvicos. Fig. 3.46B: Plexos venosos pélvicos.
1. Pénis 2. Próstata 3. Recto 4. Difragma uro-genital 5. Veia dorsal 1. Recto 2. Músculo levantador do ânus 3. Esfincter externo do ânus
do pénis 6. Plexo peri-prostático 7. Veia pudenda interna 8. Veias 4. Plexo hemorroidário 5. Veias rectais superiores 6. Veia rectal média
vesicais 9. Veia rectal média 10. Veia ilíaca interna 7. Veia rectal inferior
13
a
Fig. 3.46C: Plexos venosos pélvicos.
1. Pénis 2. Bexiga 3. Recto 4. Veia dorsal do pénis 5. Plexo peri-prostático 6. Veia pudenda interna 7. Veias vesicais 8. Veia obturadora 9. Veia
ilíaca interna 10. Veia ilíaca externa 11 . Veia epigástrica inferior 12. Veia circunflexa profunda 13. Veia ilíaca primitiva
299
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
te abaixo da bifurcação aórtica (Fig. 3.47). Após ováricos, com a l.ª e 2.ª porções do duodeno (esta
a sua origem a veia cava inferior ascende vertical- última atravessada pela raiz do mesocólon trans-
mente até ao nível de L3, após o qual se dirige li- verso), com o pedículo hepático (constituído pela
geiramente para a frente e para a direita para per- veia porta, artéria hepática própria e dueto colédo-
correr a goteira na face posterior do fígado. De se- co; e do qual está separado pelo formamen omen-
guida atravessa o diafragma pelo orifício da veia tal), com a goteira da face posterior do fígado (en-
cava inferior, no corpo tendinoso do mesmo. Por tre o lobo direito e o lobo caudado). À esquerda
fim termina, após um curto trajecto intratorácico com a aorta abdominal e gânglios inter-aorto-ca-
na parede inferior da aurícula direita, onde apre- va. À direita com o cólon ascendente, rim direi-
senta uma válvula insuficiente - a válvula da veia to, bacinete e ureter direitos, e glândula suprarre-
cava inferior (de Eustáquio). nal direita.
Em todo o seu trajecto relaciona-se com os gân-
11
glios látero-aórtico direitos. A nível torácico, a
2
veia cava inferior percorre um curto trajecto des-
de o orifício diafragmático até à aurícula direi-
ta. Neste trajecto encontra-se envolvida por pe-
ricárdio fibroso, através do qual se relaciona com
o pulmão e pleural direitos e com o nervo fréni-
co direito. No fim do seu trajecto é ainda envol-
vida por pericárdio seroso, integrando a bainha
venosa.
RAMOS TRIBUTÁRIOS
300
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: ARTÉRIAS E VEIAS
301
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
302
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: ARTÉRIAS E VEIAS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
***
303
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
SISTEMA PORTA-HEPÁTICO gado (Fig. 3.50). Ai, percorre o sistema capilar he-
E ANASTOMOSES PORTO-CAVA pático, para ser depois drenado pelas veias hepáti-
cas ou supra-hepáticas e para a veia cava inferior
(VCI) em direção ao átrio direito do coração. Esta
SISTEMA PORTA-HEPÁTICO particularidade anatómica explica a frequência de
alterações hepáticas (por exemplo metástases e ab-
Um sistema vascular de tipo porta resulta da união cessos) na sequência de patologia do tubo diges-
de duas redes de capilares, arteriais ou venosas, tivo. Em caso de obstrução do sistema porta-he-
através de um tronco vascular. No caso concreto pático, hipertrofiam-se vasos anastomóticos com
do sistema porta-hepático, a veia porta interpõe- o sistema cava, que normalmente não se encon-
-se entre os territórios capilares da área esplâncni- tram desenvolvidos, e que constituem vias de dre-
ca e dos sinusoides hepáticos. nagem alternativa. E stas são chamadas anastomo-
ses porto-cava e apresentam grande relevância clí-
7 8 nica, sendo discriminadas adiante.
A veia esplénica provém do hilo do baço, percorre
14
a face anterior da cauda do pâncreas e depois a sua
face posterior junto do bordo superior do corpo,
terminando no tronco porta. Recebe as seguintes
4
veias: gastro-omental (gastro-epiplóica) esquerda,
gástricas curtas, alguns ramos pancreáticos e por
vezes a gástrica esquerda e a mesentérica inferior.
A veia mesentérica inferior drena o cólon esquerdo,
resulta da confluência das rectais superiores e sig-
moideias e tem como colaterais os troncos cólico
inferior esquerdo e cólico superior esquerdo.
A veia mesentérica superior tem alguma variabili-
dade, drenando sobretudo o intestino delgado e o
cólon direito. Recebe os troncos jejunal, intermé-
dio, íleal, cólico inferior direito , gastro-cólico (re-
sultante da anastomose da gastro-omental direita
com a cólica média), e ainda as veias pancreático-
-duodenais anterior e inferior e posterior e infe-
rior. Passa adiante da 3.ª porção do duodeno.
Fig. 3.50: Sistema porta-hepático. A origem da veia porta-hepática dá-se na face pos-
1. Veia Porta 2. Veia Mesentérica Superior 3. Veia Mesentérica terior do colo do pâncreas, adiante da VCI, e ape-
Inferior 4. Veia Esplénica 5. Veia gastro-omental direita 6. Veia
gastro•omental esquerda 7. Veia gástrica esquerda 8. Veia gástrica sar de ter alguma variabilidade, geralmente resul-
direita 9. Veias rectais superiores 1O. Veias cárdicas 11. Confluente ta da união da veia esplénica após ter recebido a
espleno-meseraico
veia mesentérica inferior (confluente espleno-mê-
seraico) e da veia mesentérica superior (Fig. 3.51).
A veia porta-hepática resulta da confluência das A veia porta-hepática entra na constituição do pe-
principais veias digestivas abdominais, habitual- dículo hepático, ao longo do bordo livre do omen-
mente da veia esplénica após ter recebido a veia to menor formando o limite anterior do hiato de
mêsentérica inferior (confluente espleno-meserai- Winslow, tendo a artéria hepática no seu flanco ân-
co) com a veia mesentérica superior, os seus ramos tero-lateral esquerdo e a via biliar principal no seu
de origem. Drena o sangue do tubo digestivo ab- flanco ântero-lateral direito (e estando ainda rela-
dominal (incluindo a porção abdominal do esófa- cionada com elementos linfáticos na sua face ante-
go, mas excluindo a porção inferior do canal anal), rior e com os plexos nervosos anterior e posterior).
do baço, do pâncreas e da vesícula biliar para o fí- A veia porta recebe como colaterais as veias gástri-
304
MANUT ENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: SISTEMA PORTA-HEPÁTICO
ca esquerda, a pilórica ou gástrica direita, e a pan- crição de um deles leva ao conhecimento dos res-
creático-duodenal posterior e superior. Dirige-se tantes. As várias sistematizações vasculares do pa-
para cima e para a direita em direção ao fígado. No rênquima hepático serão explicitadas noutra sec-
Júlo hepático divide-se geralmente em dois ramos: ção deste livro.
um direito e outro esquerdo.
As veias porta acessórias são pequenas veias que
chegam ao fígado, independentemente da veia ANASTOMOSES PORTO-CAVA
porta e são as seguintes: veias do ligamento falci-
forme, do ligamento triangular esquerdo, do liga- Como já foi dito, as anastomoses porto-cava
mento redondo ou para-umbilicais (por persistên- (APC) estabelecem uma comunicação entre o sis-
cia do lúmen da veia umbilical), císticas, para-bi- tema porta-hepático e o sistema cava, possibilitan-
liares e raizes intra-hepáticas da porta. A arcada do assim um "bypass" natural ao fígado (Fig. 3.50).
venosa para-biliar tem origem nas arcadas duode- Embora habitualmente representem apenas pe-
no-pancreáticas e nas císticas, terminando nos ra- quenas vénulas, podem tornar-se muito signifi-
mos da porta ou nas veias de alguns segmentos he- cativas em situações de obstrução do fluxo nor-
páticos (I, IV e V) ou mesmo diretamente no pa- mal pelo sistema porta (que determinam hiper-
rênquima deste órgão. As raizes intra-hepáticas da tensão portal), sendo então de grande importân-
veia porta-hepática são várias vénulas com origem cia clínica.
nas paredes da artéria hepática e das vias biliares e
que terminam na veia porta. A HIPERTENSÃO PORTAL
Enquanto que a artéria hepática fornece sangue
arterial ao fígado, o sistema porta-hepático drena Resulta geralmente do aumento da resistência ao
para este órgão o sangue proveniente do tubo di- fluxo sanguíneo no sistema porta-hepático, que
gestivo abdominal que contém diversos nutrien- pode ter origem desde os vasos esplâncnicos até ao
tes numa percentagem bem maior do volume to- átrio direito dada a ausência de válvulas. Pode ser
tal de sangue que chega aquele órgão (cerca de 75 pré-sinusoidal (como por exemplo na trombose da
a 80%). Os três elementos do pedículo porta-he- veia porta-hepática), sinusoidal (com o paradigma
pático ramificam-se em conjunto (na dependên- da cirrose hepática) ou pós-sinusoidal (como seja
cia da artéria hepática, da veia porta e das vias bi- na oclusão das veias supra-hepáticas: síndrome de
liares; a chamada Tríade portal) , pelo que a des- Budd-Chiari). As manifestações clínicas resultam
na sua maioria do aparecimento de anastomoses
porto-cava, sendo as mais frequentes: a hemorra-
gia de varizes esofágicas, a esplenomegália, a asci-
te, e a encefalopatia.
Existem quatro grandes grupos de APC: digesti-
vas (do cárdia e hemorroidárias), peri-umbilicais
ou parietais, parieto-peritoneais e porto-suprahe-
páticas.
1. DIGESTIVAS
Região do cárdia
305
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
ca inferior esquerda (que são tributárias do sis- o umbigo até ao fígado (terminando na extrenu,
tema cava), estabelecendo assim uma anastomo- dade anterior do recesso umbilical, na veia para-
se porto-cava. O plexo venoso parietal submuco- mediana esquerda). Na região umbilical, comunica
so do esófago drena para o sistema ázigos, e con- com diversas veias parietais pelo que nos casos de
sequentemente para a veia cava superior (VCS). hipertensão portal podem, por repermeabilização,
A veia diafragmática inferior esquerda, que par- estabelecer uma anastomose porto-cava. Esta en-
ticipa na drenagem do cárdia, termina no siste- volve as veias parietais epigástricas superiores e to-
ma da veia cava inferior (VCI), quer diretamen- rácicas internas (que terminam na subclávia e as-
te quer através da veia renal homolateral (geral- sim no sistema da VCS) bem como as epigástricas
mente por um tronco comum com a veia supra- inferiores (terminando nas ilíacas externas, e por
-renal deste lado). isso no sistema da VCI).
O recto estabelece na sua parede uma importan- São numerosas, e tornam-se expressivas nos ca-
te anastomose porto-cava, visto que o seu 1/3 su- sos de hipertensão portal. São de destacar as veias
perior drena para o sistema porta através da rectal de Retzius que unem as veias provenientes do in-
superior (tributária da mesentérica inferior), en- testino delgado e grosso aos vasos justa-parietais
quanto que os seus 2/3 inferiores drenam para o (nomeadamente veias genitais e para-ureterais), ao
sistema da VCI através das rectais média e inferior longo do quadro cólico e junto aos mesos.
(respectivamente tributárias da ilíaca interna e da
pudenda interna) (Fig. 3.52). Porto-renal
Vasos neoformativos
306
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: SISTEMA PORTA-HEPÁTICO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
307
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
9 2 8
9
10
6
IEI Ili
Fig. 3.53A: Artéria axilar e ramos colaterais. Fig. 3.538: Artéria axilar e ramos colaterais.
1. Artéria axilar 2. 1.• costela 3. Escaleno anterior 4. Artéria torácica 1. Espinha da escápula 2. Fossa supra-espinhosa 3. Fossa infra-
anterior 5. Artéria toraco-acromial 6. Artéria torácica lateral 7. espinhosa 4. Longa porção tríceps braquial 5. Vasto lateral 6.
Artéria escapular inferior 8. Artéria circunflexa umeral anterior 9. Redondo maior 7. Redondo menor 8. Artéria supra-escapular 9.
Artéria circunflexa umeral posterior Artéria dorsal da escápula 10. Artéria escapular inferior
308
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO:ARTÉRIAS E VEIAS
e dá ramos para a região mamária e para a região O ramo deltoideu, tem origem na porção supe-
escapular, participando assim, pela anastomose rior da braquial; a artéria nutritiva do úmero, nasce
com as artérias escapular posterior e supraescapu- no terço superior do braço; a artéria braquial pro-
lar, na formação do círculo anastomótico peri-es- funda, nasce na porção superior da braquial, mer-
capular. A artéria circunflexa umeral posterior sur- gulha na profundidade, percorre a goteira radial
ge ao mesmo nível do ramo circunflexo anterior e do úmero, situada entre o vasto medial e o vas-
atravessa o espaço axilar quadrilátero úmero-tri- to lateral (onde é acompanhada pelo nervo radial)
cipital para terminar na face profunda do deltoi- e termina no epicôndilo lateral em dois ramos,
de. A artéria circunflexa umeral anterior contorna um anterior (artéria colateral radial) e outro pos-
0
colo cirúrgico do úmero, cruza a porção inferior terior (artéria colateral média) que se anastomo-
do sulco intertubercular (goteira bicipital) e dá ra- sam com as artérias recorrentes radiais. A artéria
mos para a articulação escapulo-braquial, estabe- colateral cubital superior (colateral medial supe-
lecendo ainda anastomose com a artéria circunfle-
xa umeral posterior.
ARTÉRIA BRAQUIAL
309
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
ARTÉRIA RADIAL
Fig. 3.55: Artéria radial na tabaqueia anatómica.
A artéria radial é o ramo lateral de bifurcação da 1. Tendão do extensor longo do 1.0 dedo 2. Tendão do extensor curto
do 1.0 dedo 3. Tendão do abdutor longo do 1.º dedo 4. Artéria radial
artéria braquial. Estende-se da face anterior do
antebraço, da prega do cotovelo, ao punho forne-
cendo ramos à mão. ramo arterial palmar superficial, artéria principal
Ao longo do seu trajeto, a artéria radial situa-se do polegar, a artéria dorsal do carpo e a primeira
no antebraço e, de superior para inferior, encon- artéria metacárpica dorsal.
tra-se anteriormente aos músculos braquial, ten- A artéria recorrente radial, também conheci-
dão do bíceps, supinador, pronador redondo, fle- da por artéria dos músculos epicondilianos la-
xor comum superficial dos dedos, longo flexor do terais, destaca-se da porção superior da radial
polegar e pronador quadrado. Situa-se posterior- e dirige-se para a goteira bicipital profunda la-
mente ao braquiorradial (longo supinador) na teral da prega do cotovelo, onde se anastomosa
porção superior do antebraço, mas à medida que com o ramo anterior da braquial profunda e dá
este músculo se vai adelgaçando, a artéria vai fi- ramos para os músculos vizinhos. O ramo cár-
cando mais exposta e acaba por ocupar a gotei- pico palmar (artéria transversa anterior do car-
ra radial do punho, que se situa entre os tendões po), surge junto ao bordo inferior do quadrado
do flexor radial do carpo (medialmente) e dobra- pronador e anastomosa-se com um ramo análo-
quiorradial (lateralmente). Na região do punho, go da cubital. O ramo arterial palmar superficial
a artéria contorna lateralmente esta articulação e (artéria radiopalmar), surge quando a artéria ra-
passa sob os tendões dos músculos longo abdu- dial se dirige para a tabaqueira anatómica e atra-
tor e curto extensor do polegar, atingindo assim a vessa a extremidade superior da eminência te-
tabaqueira anatómica (Fig. 3.55), onde se aplica nar para atingir a palma da mão, aí anastomo-
sobre o osso trapézio; depois passa sob o tendão sando-se com a cubital. A artéria principal do 1.0
do longo extensor do polegar e atravessa a ex- dedo, destaca-se da radial na tabaqueira anató-
tremidade superior do primeiro espaço interós- mica. A artéria dorsal do carpo, nasce também
seo para assim atingir a palma da mão, onde se nessa região e vai anastomosar-se com um ramo
anastomosa com o ramo palmar profundo da ar- análogo da cubital na face posterior do carpo.
téria cubital, constituindo assim a arcada arterial A primeira artéria metacárpica dorsal, emerge da
palmar profunda. radial quando esta entra na região palmar e de-
Dos ramos colaterais que fornece, há a destacar a pois origina a colateral dorsal medial do polegar e
artéria recorrente radial, o ramo cárpico palmar, o a colateral dorsal lateral do segundo dedo.
310
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: ARTÉRIAS E VEIAS
311
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
a arcada cárpica palmar. O ramo palmar profundo quarto espaços e a artéria colateral dorsal medial
(artéria cubitopalmar), surge junto à extremidade do 5.0 dedo. Cada interóssea dorsal percorre o es-
inferior do pisiforme e penetra na eminência hi- paço interósseo correspondente e termina na ex-
potenar, passando entre o abdutor e o flexor do 5.0 tremidade superior do espaço interdigital respe-
dedo, anastomosando-se com a radial para com- tivo em duas colaterais dorsais, uma lateral e ou-
pletar a arcada palmar profunda. tra medial, dirigindo-se cada uma para o dedo
imediatamente contíguo. Esta arcada é também
ARCADAS ARTERIAIS DA MÃO alimentada por ramos das artérias interósseas an-
terior e posterior.
A mão é irrigada geralmente por quatro arcadas A arcada cárpica palmar é formada pela anasto-
arteriais, sendo uma dorsal e três palmares, que mose entre os ramos cárpicos palmares das arté-
se anastomosam entre si de forma variável. Cada rias radial e cubital. Esta arcada recebe também
uma delas resulta da anastomose transversal de ramos da interóssea anterior e ramos recorrentes
um ramo da artéria radial com um ramo da artéria da arcada palmar profunda, formando uma arca-
cubital (Fig. 3.57). da cruciforme que irriga as estruturas osteoarti-
culares da região.
A arcada palmar superficial forma-se pela anas-
tomose da artéria cubital com o ramo palmar su-
perficial da artéria radial. Esta arcada situa-se sob
a aponevrose palmar e anteriormente aos tendões
flexores dos dedos. Dá origem, na sua convexi-
8
dade, às artérias digitais palmares comuns. Cada
uma destas recebe a artéria metacárpica palmar
10 correspondente da arcada arterial palmar profun-
da; divide-se depois em duas artérias digitais pal-
mares próprias, uma medial e outra lateral, para o
9 espaço interósseo e bordos dos dedos contíguos.
Assim, por exemplo, a artéria digital palmar co-
mum do 3.0 espaço interósseo origina a artéria
7
digital palmar própria medial do 3. 0 dedo e a ar-
6
téria digital palmar própria lateral do 4.0 dedo.
A artéria digital palmar medial do 5.0 dedo tem
geralmente origem na arcada palmar superficial,
profundamente ao músculo curto palmar. As ori-
4 gens das artérias digitais palmares do 1. 0 dedo
são bastante variáveis: ambas podem ter origem
2 numa artéria única principal do 1.0 dedo, ou po-
dem nascer separadamente da arcada palmar su-
Fig. 3.57: Arcadas palmares profunda e superficial da mão. perficial; mais ainda, a artéria digital medial do
1. Rádio 2. Cúbito 3. Artéria radial 4. Artéria ulnar 5. Arcada palmar
0
1.0 dedo pode provir da primeira artéria meta-
profunda 6. Arcada palmar superficial 7. Artéria principal do 1. dedo
8. Artéria radial do 2.0 dedo 9. Artérias digitais palmares comuns cárpica dorsal.
10. Artérias digitais palmares próprias A arcada palmar profunda forma-se pela anasto-
mose da artéria radial com o ramo palmar pro-
A arcada cárpica dorsal forma-se pela anastomo- fundo da artéria cubital. Esta arcada situa-se an-
se das duas artérias dorsais do carpo. Dela resul- teriormente às diáfises dos metacárpicos e pos-
tam ramos ascendentes para as articulações e os- teriormente aos tendões dos flexores dos de-
sos da mão; e ramos descendentes, que são as ar- dos e da aponevrose palmar. Dela resultam ra-
térias interósseas dorsais do segundo, terceiro e mos recorrentes (ascendentes ou articulares); ra-
312
MANUT ENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: ARTÉRIAS E VEIAS
10
313
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
e veias dorsais (bem mais evidentes). Estas têm mediana do antebraço geralmente divide-se, per-
origem em plexos venosos subungueais que ter- to da fossa cubital, numa veia mediana basílica e
minam numa veia periungueal concêntrica à raiz noutra veia mediana cefálica, que se anastomo-
da unha. Daí parte um plexo dorsal que termi- sam com as veias basílica e cefálica, respectiva-
na numa arcada digital situada sobre a primei- mente. Assim, este "M" é constituído, de medial
ra falange de cada dedo. As várias arcadas digitais para lateral, pela veia basílica, mediana basílica,
anastomosam-se umas com as outras nos espa- mediana cefálica e cefálica.
ços compreendidos entre as cabeças metacárpi- A veia basílica do braço sobe junto ao bordo me-
cas, de forma que da reunião de cada par resulte dial do bíceps, atravessa a fáscia a meio do braço
uma veia metacárpica. Estas veias metacárpicas pelo hiato basílico e lança-se depois na veia bra-
sobem pela face dorsal da mão e anastomosam- quial medial ou na veia axilar. A veia cefálica do
-se transversalmente, formando uma arcada ve- braço acompanha o bordo lateral do bíceps, pe-
nosa dorsal. Nas extremidades desta arcada lan- netra na fossa infraclavicular, perfura a fáscia cla-
çam-se ainda duas outras veias: a cefálica do 1. 0 vipeitoral, localizando-se consistentemente no
dedo (veia digital dorsal do bordo lateral do 1.0 sulco deltopeitoral, o que torna esta localização
dedo) e a salvatela do 5. 0 dedo (veia digital dorsal adequada para punção venosa. Após, cruza a ar-
do bordo medial do 5. 0 dedo). téria axilar e drena para a veia axilar, terminando
É ainda das extremidades desta arcada que par- em forma de crossa.
tem as principais veias superficiais do antebra-
ço: a veia cefálica do antebraço e a veia basílica
do antebraço. A veia cefálica do antebraço ascen-
de a partir da extremidade radial da arcada veno-
sa dorsal pelo bordo radial do antebraço e origina
geralmente, um pouco inferiormente ao cotove-
lo, a veia cubital mediana, que se anastomosa ge-
ralmente com a veia basílica. Esta veia cefálica do
antebraço continua-se superiormente como veia
cefálica do braço.
A veia basílica do antebraço ascende a partir da
extremidade cubital da arcada dorsal pelo bor-
do cubital do antebraço, recebendo a veia cubital
mediana na fossa cubital. Continua-se superior-
mente como veia basílica do braço.
Poderá existir uma veia cefálica acessória, de ori-
gem bastante variável, que drena geralmente para
a veia cefálica do antebraço, distalmente ao co-
tovelo.
A veia mediana do antebraço tem geralmente
origem num plexo venoso palmar superficial, as-
cende pela face anterior do antebraço e termina
na fossa cubital de forma variável.
Na fossa cubital, um dos locais mais frequente-
mente utilizados para venopunção, a anatomia
venosa é bastante variável. Poderá ser classica-
mente descrito um "H venoso" ou um "M veno-
so" .Mais frequentemente, a veia cefálica do ante-
braço origina a veia cubital mediana que se anas-
tomosa com a veia basílica. No "M venoso", a veia
314
MANUTENÇÃO J SISTEMA CIRCULATÓRIO: ARTÉRIAS E VEIAS
315
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
perior da incisura isquiática maior (grande chan- ral, a artéria femoral profunda, cerca de 4 cm abai-
fradura ciática), imediatamente por cima do mús- xo da sua origem. Há quem designe a continuação
culo piriforme (piramidal da bacia). Pouco depois da artéria femoral, após originar a femoral profun-
da sua origem divide-se em dois ramos, um super- da, como "artéria femoral superficial".
ficial e outro profundo. O ramo superficial passa Inicialmente, localiza-se no triângulo femoral de
por baixo do bordo superior da incisura isquiática Scarpa (Fig. 3.60) que apresenta base superior e
maior e caminha entre os glúteos médio e máximo tem como limites o ligamento inguinal em cima,
(grande glúteo), no qual se ramifica. O ramo pro- o sartório lateralmente e o adutor longo (médio
fundo passa entre os glúteos médio e menor (pe- adutor) medialmente. Na profundidade do triân-
queno glúteo) originando ramos para estes mús- gulo de Scarpa localiza-se o psoas-ilíaco (por fora)
culos, o tensor da fáscia lata, o osso ilíaco e a arti- e o pectíneo (por dentro), formando uma goteira
culação coxofemoral. côncava à frente na qual se localizam os vasos fe-
morais. Nesta goteira, a artéria femoral desce la-
Artéria Glútea Inferior teralmente à veia femoral e medialmente ao ner-
vo femoral.
A artéria glútea inferior, também conhecida por
artéria isquiática, sai da pequena bacia pela par-
te inferior da incisura isquiática maior, por baixo
do piriforme e por dentro da artéria pudenda in-
terna. Dirige-se para baixo e para fora, cruza a face
posterior da pudenda interna e origina ramos para
o nervo isquiático, glúteo máximo, gastrocnémios,
obturador interno e quadrado crural. Através dos
seus ramos, anastomosa-se com ramos da obtura-
dora, da circunflexa femoral medial e da perfuran-
te superior (ramo da femoral profunda). 9
6
Artéria Pudenda Interna
4
14
A artéria pudenda interna chega à região glútea
passando pela parte inferior da incisura isquiática
maior, por baixo do piriforme e por fora da artéria
glútea inferior. Contorna o vértice da espinha ciá- 13
316
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: ARTÉRIAS E VEIAS
317
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
A femoral profunda: o ramo de divisão poste- meira perfurante atravessa o adutor magno per-
rior da chamada "femoral comum". Da sua ori- to da linha áspera do fémur. A segunda perfuran-
gem, desce atrás da "femoral superficial", à fren- te atravessa as inserções do adutor curto e adutor
te do psoas e do interstício que separa o pectí- magno. A terceira perfurante perfura a inserção
neo do psoas-iliaco, em cima, e do vasto medial, do adutor magno. Qyando atingem a face pos-
em baixo, até ao bordo superior do adutor lon- terior do adutor magno, as perfurantes anasto-
go. Depois, desce verticalmente atrás deste mús- mosam-se entre elas através de dois ramos, um
culo e à frente do adutor curto e adutor magno, ascendente e outro descendente, e dão numero-
que se encontram sucessivamente atrás da arté- sos ramos para os músculos vizinhos. A primei-
ria. Um pouco por cima do hiato adutor, atraves- ra perfurante anastomosa-se através do seu ramo
sa este músculo e constitui a terceira perfurante. ascendente com a circunflexa interna, a glútea in-
Tem como ramos colaterais a artéria do quadrí- ferior e o ramo posterior da obturadora.
ceps femoral, a circunflexa femoral lateral, a cir-
cunflexa femoral medial e as perfurantes. ARTÉRIA POPLITEIA
A artéria do quadríceps femoral nasce da femo-
ral profunda junto à sua origem ou, por vezes, A artéria femoral passa a denominar-se artéria po-
da femoral superficial, e divide-se pouco depois plítea depois de passar o hiato adutor (Fig. 3.62).
em ramos para as quatro porções do quadríceps Atravessa de cima para baixo o escavado popliteu
e sartório. Para alguns autores, esta artéria cor- e termina na arcada tendinosa do solhar onde se
responde a um ramo descendente da circunfle- divide em artéria tib1al anterior e tronco tíbio-pe-
xa lateral. A circunflexa femoral lateral ou ante- roneal.
rior dirige-se para fora, passa por baixo do recto
anterior; dá ramos ao recto anterior, à cápsula da
3 4
articulação coxofemoral, ao ligamento de Bertin,
ao tensor da fáscia lata e ao vasto lateral, contor-
na na espessura deste músculo a extremidade su-
perior do fémur e anastomosa-se atrás deste osso
com a circunflexa femoral medial. A circunflexa
femoral medial ou posterior dirige-se para trás e
para dentro, passa entre o colo do fémur e o bor- 6
do superior do pectíneo, ao longo do bordo in-
ferior do obturador externo, até à face profun-
da do quadrado crural onde se divide em dois ra-
mos terminais, um ascendente e um descenden-
te. Neste trajeto dá ramos ao fémur, aos múscu-
los vizinhos e um ramo acetabular, inconstante. 9
O ramo terminal ascendente sobe sobre a face
posterior da articulação e distribui-se à cápsula
articular e músculos que a revestem. O ramo ter-
minal descendente passa sob o quadrado crural e
perde-se nos músculos posteriores da coxa. Este
ramo anastomosa-se com a obturadora, a circun-
flexa externa, a isquiática e a primeira perfurante.
A perfurantes são geralmente três artérias que
atravessam os músculos que se localizam atrás da
femoral profunda, atingindo a região posterior da Fig. 3.62: Artéria popliteia.
1. Musculo gastrocnemius 2. Músculo biceps crural 3. Músculo semi-
coxa. A porção terminal da artéria femoral pro- membranoso 4. Músculo semi-tendinoso 5. Artéria popliteia 6. Veia
funda é considerada a quarta perfurante. A pri- popliteia 7. Nervo tibial 8. Nervo peroneal comum 9. Veia safem,
externa
318
MANUTENÇÃO I SISTEMACIRCULATÓRIO:ARTÉRIASEVEIAS
A artéria poplítea localiza-se atrás do fémur, do rige para a frente, distribuindo-se nos elementos
!ano fibroso posterior da articulação do joelho ligamentares e adiposos do espaço inter-condi-
~ do músculo popliteu. Atrás, encontra-se cober- liano. As artérias geniculares inferiores, uma me-
ra, de cima para baixo, pelo semimembranoso, fás- dial e uma lateral, com origem a nível da inter-
eia profunda do escavado popliteu e músculos gas- linha articular, que se distribuem respectivamen-
trocnémios. Ao longo do seu trajeto, é acompa- te na face ântero-medial e ântero-lateral da arti-
nhada pela veia poplítea e porção inicial do nervo culação do joelho. As artérias surais, uma medial
tibial (ciático popliteu interno) que se situam su- e uma lateral que se dirigem para o gastrocné-
cessivamente por fora e atrás da artéria. mio correspondente, originando numerosos ra-
Tem como principais ramos colaterais as artérias mos terminais.
geniculares superiores, a artéria genicular média,
a artéria genicular inferior e as artérias surais (Fig. Rede anastomótica peri-rotuliana ou peri-
3.63). genicular
319
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
Artéria dorsal do pé
320
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: ARTÉRIAS E VEIAS
A metatársica dorsal do primeiro espaço divide- um trajeto de 3 ou 4 cm, bifurcando-se nas arté-
-se na extremidade anterior do primeiro espaço rias tibial posterior e peroneal (Fig. 3.65). Relacio-
interdigital, num ramo medial, que dá os colate- na-se, à frente, com o tibial posterior e, atrás, com
rais dorsais medial e lateral do 1.0 dedo, e num o solhar, do qual se encontra separado pelo tronco
ramo lateral que dá o colateral dorsal medial do venoso tfuio-peroneal e nervo tibial.
2.º dedo. Origina também uma perfurante ante- Importa assinalar dois ramos colaterais a arté-
rior que se anastomosa com a interóssea plantar ria recorrente tibial medial, que se ramifica so-
do 1.º espaço. bre o côndilo medial (tuberosidade interna) da
tfuia, anastomosando-se com a genicular fnfero-
Tronco tibio-peroneal -medial da poplftea, a artéria nutritiva da tfuia,
que irriga a tfuia e músculos vizinhos.
O tronco tfbio-peroneal é o ramo de bifurcação
posterior da artéria politeia. Tem origem no anel Artéria peroneal
do solhar, desce verticalmente, e termina depois de
A artéria peroneal é o ramo de bifurcação lateral
do tronco tfuio-peroneal. Da sua origem, atrás do
tibial posterior, insinua-se entre este músculo e o
flexor próprio do 1.0 dedo, e atinge a face posterior
do ligamento interósseo, seguindo-o até à sua ex-
tremidade inferior. Encontra-se coberta por fibras
do flexor próprio do 1.0 dedo em grande parte do
seu trajeto. Atrás da artéria e destas fibras, encon-
tra-se a fáscia profunda da perna e o solhar.
9
6 Tem como ramos colaterais numerosos ramos
musculares, a artéria nutritiva do peróneo e um
ramo anastomótico transversal (ramo comunican-
8
te peroneal) que se anastomosa, acima dos maléo-
los, com um ramo análogo proveniente da artéria
tibial posterior.
Junto à extremidade inferior do ligamento in-
terósseo, divide-se em dois ramos terminais: arté-
10
ria peroneal anterior, que atravessa a extremidade
inferior do ligamento interósseo, anastomosando-
-se sobre a face anterior da articulação tibiotársi-
ca com a maleolar lateral, e a artéria peroneal pos-
terior, de maior calibre, que desce atrás do maléolo
lateral até à face lateral do calcâneo onde se anas-
tomosa com a peroneal anterior, maleolar lateral,
társica lateral e a plantar lateral.
321
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
7 8
10
térias plantar medial e plantar lateral (Fig.3.67). cada sobre o quadrado plantar (acessório do lon-
O nervo tibial encontra-se geralmente póstero- go flexor) e recoberta sucessivamente pelos mús-
-lateralmente à artéria. Na região maleolar, locali- culos abdutor do 1.0 dedo e curto flexor dos de-
za-se atrás da bainha tendinosa do flexor comum dos. Qyando chega ao nível da extremidade pos-
dos dedos e à frente da bainha do flexor próprio do terior do 5.0 metatársico, penetra sob os tendões
1.0 dedo, que contém também o nervo tibial. do flexor comum e dirige-se para dentro e para a
Tem como principais ramos colaterais ramos frente. Neste segundo segmento, chamado "porção
musculares, a artéria peroneal circunflexa, que se transversal ou arcada plantar", a artéria passa sob a
anastomosa com um ramo análogo peroneal, o base dos metatársicos e sobre a extremidade poste-
ramo comunicante tibial, que se anastomosa com rior dos músculos interósseos, encontrando-se co-
um ramo comunicante da artéria peroneal, ramos berta pelo flexor comum e pelo adutor oblíquo do
maleolares mediais, que se distribuem pela região 1.0 dedo. A artéria plantar lateral termina na ex-
maleolar medial; pode por vezes existir uma ar- tremidade posterior do primeiro espaço interósseo
téria maleolar póstero-medial de maior calibre, a anastomosando-se com a pediosa.
artéria do canal társico, que se anastomosa com a A porção oblíqua da artéria plantar lateral dá ra-
artéria do seio társico e contribui para a irrigação mos aos músculos que lhe são contíguos, ossos e
do tálus, e ramos calcaneanos para o calcâneo e articulações.
partes moles da respectiva região póstero-medial. Os principais ramos colaterais nascem da arcada
plantar, as perfurantes posteriores, a colateral dor-
Artéria plantar lateral sal lateral do 5. 0 dedo, as metatársicas plantares do
2.0 , 3.0 e 4.0 espaços e a metatársica do 1.0 espaço.
A artéria plantar lateral é mais volumosa que a As artérias perfurantes posteriores, atravessam de
medial e parece ser o prolongamento da tibial pos- baixo para cima a extremidade posterior dos espa-
terior. ços interósseos e anastomosam-se com as interós-
Da sua origem, a artéria plantar lateral dirige-se seas dorsais. As metatársicas plantares dos 2.0 , 3.0
para a frente e para fora até à parte média do bor- e 4.0 espaços anastomosam-se na extremidade an-
do lateral do pé. Nesta primeira parte do seu traje- terior do espaço interósseo com a metatársica dor-
to, denominada "porção oblíqua", encontra-se apli- sal correspondente, pelos ramos perfurantes an-
322
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: ARTÉRIAS E VEIAS
- .,.-,~,y~ - - - 11
10
teriores, dividindo-se -depois em dois . ramos que VEIAS TRIBUTÁRIAS DA ILÍACA INTERNA
se tornam na ~olateral plantar lateral do dedo que
está por dentro e artéria plantar medial do dedo A veia glútea superior forma-se junto ao bordo su-
que está por fora. A metatársica do 1.0 espaço dá perior da incisura isquiática maior, resultando da
um ramo medial, a colateral plantar medial do 1.0 anastomose das veias satélites dos ramos da artéria
dedo, e um ramo lateral, que se divide em colateral glútea superior. Forma um plexo que envolve a ar-
plantar lateral do 1.0 dedo e colateral plantar me- téria e o nervo glúteo superior.
dial do 2.0 dedo. A veia glútea inferior é um volumoso tronco ve-
noso que acompanha a artéria. A veia pudenda in-
Artéria plantar medial terna surge na região glútea quando contorna a es-
pinha ciática, no trajeto da pequena para a incisu-
A artéria plantar medial dirige-se para o primeiro ra isquiática maior. Encontra-se, tal como a arté-
dedo. Encontra-se recoberta pelo abdutor do pri- ria, por fora do nervo. A veia obturadora resulta
meiro dedo, cruza a face inferior do tendão do lon- da anastomose das veias satélites dos ramos da ar-
go flexor comum, alonga-se junto ao bordo medial téria, localizando-se no canal infra-púbico junta-
do tendão do longo flexor próprio e termina for- mente com a artéria por dentro do nervo.
mando a colateral medial do 1.0 dedo. Por vezes,
dá um ramo lateral que passa sobre os tendões fle- VEIAS TRIBUTÁRIAS DA ILÍACA EXTERNA
xores e se anastomosa com as metatársicas do 1.0
e 2.0 espaço. As veias tributárias da ilíaca externa distinguem-
-se em veias profundas e veias superficiais, confor-
me a sua posição relativamente à fáscia superficial.
DRENAGEM VENOSA DO MEMBRO As veias do sistema superficial comunicam com as
INFERIOR do sistema profundo através de ramos que atraves-
sam a fáscia denominando-se, por isso, veias per-
As veias do membro inferior podem ser divididas furantes. As veias comunicantes são aquelas que
em dois grupos: as veias tributárias da ilíaca inter- anastomosam veias pertencentes ao mesmo com-
na e as veias do membro inferior propriamente di- partimento (superficial ou profundo).
tas, tributárias da ilíaca externa.
323
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
Veias superficiais
324
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: ARTÉRIAS E VEIAS
325
MANUAL D E ANATOMIA HUMANA
plítea, descrevendo uma curva de concavidade in- 4. Relativamente à flebologia (veias) indique a
ferior designada "crossa da pequena veia safena". frase certa:
A pequena veia safena recebe ramos da região a. A veia basílica origina-se na umeral.
plantar lateral e faces posterior e lateral da per- b. O "M" venoso do sangradouro localiza-se
na e tem anastomoses com as veias plantares late- no punho juntamente com as veias cefáli-
rais e peroneais. ca e basílica.
O sistema da pequena veia safena encontra-se fre- c. A veia subclávia localiza-se atrás da arté-
quentemente em comunicação com o sistema da ria subclávia.
safena interna através da veia de Giacomini. Esta d. A veia safena interna após passar na face
veia tem origem na pequena veia safena ao nível posterior da perna termina na região po-
do escavado popliteu, e termina na grande safe- plítea.
na, na face medial da coxa, a uma altura variável. e. Existem inúmeras anastomoses perfuran-
tes entre os sistemas superficial e profundo
do membro inferior.
PERGUNTAS TIPO
i,r-1> ig-c 1:J-r '.Q-1
1. Não é ramo da artéria cubital: :s,nsods;,~
a. O ramo carpiano dorsal.
b. O ramo carpiano palmar.
c. A artéria interóssea comum.
d. O ramo palmar superficial. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
e. O ramo palmar profundo.
Rouviere, H.; Delmas A.Anatomía H umana
2. Sobre as artérias dos membros, qual das se- Descriptiva, topogrrifica y foncional,.11." Edition.
guintes afirmações é falsa? Elsevier, 2005.
a. A artéria poplítea origina-se na femoral. Standring, S. Gray's Anatomy-1he anatomical
b. A artéria radial origina-se na umeral. basis ofclinicalpractice. 41th Edition. Churchill-
c. A artéria plantar lateral origina-se da ti- Livingstone Elsevier, 2016.
bial anterior.
d. A artéria dorsal do pé situa-se no 1.0 espa- Testut, L.; Latarjet, A. Tratado de anatomía
ço interósseo. humana. 9.• edição Salvat Editores, S.A., 1999.
e. A artéria umeral (braquial) fornece um Van D e Graaf, KM.; Fox, SI. Concepts ofHuman
importante colateral nutritivo para o ho- Anatomy & Physiology. 5th edition. WCB/
mónimo. McGraw-Hill, 1999.
326
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: LINFÁTICOS
327
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
328
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: LINFÁTICOS
coço. Drenam para os gânglios laterais pro- nha média entre os ventres anteriores dos dois
fundos do pescoço, em particular para a ca- músculos digástricos. Recebe linfáticos do
deia do nervo espinhal. menta, do lábio inferior, da gengiva inferior,
Grupo mastoideu: é formado por 1 a 4 gân- do pavimento bucal e da língua. Drena para a
glios relacionados com o processo mastoi- cadeia jugular interna e para os gânglios sub-
de do temporal. Coleta linfáticos do pavi- mandibulares de ambos os lados.
lhão auricular, do meato acústico externo e
da porção temporal do couro cabeludo. Dre- Os gânglios sublinguais são inconstantes e relacio-
na para os gânglios posteriores da cadeia ju- nam-se com a base da língua.
gular interna. Os retrofaríngeos podem ser medianos (localiza-
Grupo parotídeo: é formado por 2 princi- dos na parte superior do espaço retrofaríngeo) e
pais subgrupos, nomeadamente os superfi- laterais (situados por fora das asas da faringe e à
ciais e os profundos; dentro dos profundos, frente das massas laterais do atlas). Somente exis-
temos os pré-auriculares, os infra-auriculares tem nos níveis axiais supra-hioideus. Recebem
e os intraglandulares. A parótida tem encap- linfa das fossas nasais, do ouvido médio e da mu-
sulamento tardio no desenvolvimento em- cosa da nasofaringe e da orofaringe e drenam para
brionário e como tal engloba aquelas estru- a cadeia jugular interna.
turas linfáticas, sendo uma "estação" ganglio- O grupo ganglionar cervical anterior compreen-
nar de drenagem de várias estruturas da ca- de gânglios localizados em volta da veia jugular
beça e pescoço, muito importante de consi- anterior (grupo cervical anterior superficial; gân-
derar na prática clínica, como por exemplo glios jugulares anteriores) e gânglios mais profun-
em situações tu.morais malignas. Recebe ca- dos ou justa-viscerais (grupo cervical anterior pro-
nais linfáticos das regiões temporal e frontal fundo). Estes são constituídos pelos grupos pré-ti-
do couro cabeludo, das pálpebras, da raiz da roideu (à frente da glândula tiroide), pré-traqueal
pirâmide nasal, dos ouvidos externo e médio, (à frente da traqueia), infra-hioideus (que incluem
da própria parótida e ainda da mucosa das os pré-laríngeos), pré-faríngeo (anterior à faringe)
fossas nasais. Drena maioritariamente para e paratraqueal (relacionado com os nervos larín-
os gânglios da cadeia jugular interna. geos recorrentes). Estes grupos de gânglios linfá-
Grupo submandibular: é constituído por 3 ticos recebem a linfa das regiões adjacentes, sobre-
a 6 gânglios profundos localizados junto ao tudo de territórios viscerais do pescoço, nomeada-
bordo inferior e face medial da mandíbula e mente da glândula tiroide, da laringe, da traqueia,
relacionados com a glândula submandibular. da faringe e do esófago; e drenam para a cadeia ju-
Divide-se nos subgrupos pré-glandular, pré- gular interna.
-vascular (à frente da veia facial) e retroglan- Os gânglios cervicais laterais dividem-se em su-
dular. Coleta linfáticos da pirâmide nasal, da perficiais e profundos. Os primeiros sào em nú-
região geniana, dos gânglios genianos, do lá- mero de 2 a 4 e estão agrupados na cadeia jugular
bio superior, das gengivas, do pavimento bu- externa, em volta da veia homónima. Os gânglios
cal e da parte medial das pálpebras. Drena cervicais laterais profundos podem ser agrupados
também para a cadeia jugular interna. em três cadeias clássicas importantes: a cadeia ju-
Grupo geniano ou facial: é composto por gular interna, a cadeia do nervo acessório ou espi-
gânglios localizados no sulco nasogeniano em nhal e a cadeia cervical transversa (formando, no
relação com os vasos faciais. Podem por ve- seu conjunto, o clássico "triângulo de Rouviere").
zes ser individualizados gânglios bucinadores, A cadeia jugular interna é formada por um con-
nasolabiais, malares e mandibulares. Recebe junto numeroso de gânglios satélites desta veia e
linfáticos da pirâmide nasal e região geniana e localizados principalmente junto às suas faces an-
drena para os gânglios submandibulares. terior e lateral. Esta cadeia drena a linfa dos gân-
Grupo submentoniano: é constituído geral- glios do colar peri-cervical, das cadeias sublingual
mente por 2 ou 3 gânglios que se situam nali- e retrofaríngea, dos gânglios cervicais anteriores e
329
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
também das cadeias cervical transversa e espinhal. gânglio de Virchow (que, caso aumentado na pal-
É, assim, o grande confluente linfático da cabe- pação, constitui o chamado "sinal de Troisier").
ça e do pescoço. Na sua parte inferior origina-se Esta via recebe linfa da cadeia do nervo espinhal,
o tronco jugular que vai terminar à esquerda na de linfáticos da região ântero-lateral do pescoço e
crossa do dueto torácico e à direita vai unir-se aos de alguns vasos do membro superior e da região
troncos subclávio e broncomediastínico direitos, mamária. Termina na cadeia jugular interna.
formando o dueto linfático direito ou então ter-
minar diretamente no confluente venoso jugulo- NOTA DE ANATOMIA CLÍNICA
-subclávio direito.
Esta sistematização dos linfáticos da cabeça e do
pescoço, na prática clínica e sobretudo se atender-
mos a referências de interesse cirúrgico, pode ser
um pouco diferente; em níveis ganglionares (con-
cretamente sete, em numeração romana: I a VII;
por vezes subsistematizados), também a saber:
6
• Nível IA: submentonianos (supra-hioideus
mediais ao ventre anterior do digástrico);
• Nível IB: submaxilares (supra-hioideus la-
terais ao ventre anterior do digástrico e an-
teriormente ao limite posterior da glândula
submaxilar, adiante do eixo carotídeo);
5
• Nível IIA: jugulares internos superiores (su-
pra-hioideus recobertos pelo músculo ester-
nocleidomastoideu e mais anteriores, inclui
o jugulodigástrico, habitualmente o domi-
nante);
• Nível IIB: jugulares internos superiores (re-
cobertos pelo músculo esternocleidomastoi-
11 8
deu mas mais posteriores, em relação com a
Fig. 3.71: Drenagem linfática da cabeça e pescoço.
veia jugular interna):
1. Gânglios occipitais 2. Gânglios mastoideus 3. Gânglios parotideos • Nível III: jugulares internos médios (infra-
superficiais 4. Gânglios submandibulares 5. Gânglios submentonianos
6. Gânglios faciais 7. Cadeia jugular anterior 8. Cadeia cervical
-hioideus acima dos de nível IV);
transversa 9. Cadeia do nervo acessório 1O. Cadeia jugular interna • Nível IV: jugulares internos inferiores (abai-
(gânglios cervicais laterais profundos superiores) 11. Gânglios supra-
xo do bordo inferior da cartilagem cricoide da
claviculares 12. Gânglio jugulo-digástrico
laringe ou do tendão intermédio do músculo
A cadeia espinhal é constituída por cerca de 10 omohioideu, inclui o gânglio de Virchow que
gânglios satélites do ramo lateral do nervo aces- também pode ser descrito com a cadeia cer-
sório (XI par craniano), penetrando com ele sob o vical transversa e o escavado supraclavicular);
musculo trapézio. Recolhe linfáticos provenientes • Nível VA: espinhais superiores (atrás do mús-
de alguns gânglios occipitais e mastoideus, bem culo trapézio no triângulo cervical posterior,
como da porção póstero-lateral do couro cabelu- e acima do bordo inferior da cartilagem cri-
do. Os linfáticos eferentes desta cadeia terminam coide da laringe ou do tendão intermédio do
na cadeia cervical transversa. músculo omohioideu);
A cadeia cervical transversa é formada por gân- • Nível VB: espinhais inferiores (atrás do mús-
glios dispostos transversalmente seguindo os vasos culo trapézio no triângulo cervical posterior,
cervicais transversos. O seu gânglio mais interno, mas abaixo do bordo inferior da cartilagem
já quase na fossa supraclavicular e na porção mais cricoide da laringe ou do tendão intermédio
inferior da cadeia jugular interna, é conhecido por do músculo omohioideu);
330
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: LINFÁTICOS
•
••• e
EI
IV Cervicais transversos
IV
·----VI Ili
Fig. 3.72A: Gânglios da cabeça e pescoço. Fig. 3.72B: Gânglios da cabeça e pescoço.
1. Nível IA (subment onianos) 2. Nível 18 (submaxilares) 3. Níveis IIA, 1. Nível 1(submentonianos e submaxilares) 3. Níveis li, Ili e IV ijugulares
11B, Ili e IV ijugulares internos) 4. Níveis VA e VB (espinhais) 5. Nível V1 internos) 4. N íveis VA e VB (espinhais) 5. Nível V1 (viscerais) 6. Nível
(viscerais) 6. Nível VII (mediastínicos ântero-superiores) VII (mediastínicos ãntero-superiores) 7. cadeias jugular interna +
espinhal + cervical transversa • triângulo de Rouviàre
331
M ANUAL DE ANATOMIA HUMANA
D lil
Fig. 3.73: Drenagem linfática do membro superior.
A: Vista anterior B: Vista posterior
1. Gânglios axilares 2. Gânglios supratrocleares 3. Região medial do antebraço 4. Região medial do braço 5. Região lateral
lar, coletam a linfa dos segmentos regionais e • Grupo posterior ou subescapular: localiza-se
drenam para o grupo posterior da axila. contra a omoplata, junto aos vasos escapula-
res posteriores e recebe a linfa da parte infe-
As vias linfáticas profundas do membro supe- rior da nuca, da parede posterior do dorso e
rior acompanham os vasos profundos, atingindo da região escapular.
predominantemente o grupo lateral ou braquial • Grupo anterior ou peitoral: situa-se perto do
dos gânglios axilares. Contudo, no seu trajeto, in- bordo inferior do peitoral menor, em redor
tercalam-se alguns gânglios linfáticos profundos dos vasos torácicos laterais. Drenam a por-
do antebraço e braço. ção peitoral e ântero-lateral supra-umbilical
Os gânglios axilares assumem grande importân- do tronco, assim como a mama. Os seus efe-
cia clínica pela frequência da metastização linfá- rentes drenam para o grupo central e parcial-
tica do cancro da mama. Localizam-se no tecido mente para o grupo apical.
adiposo da axila, são em número de 15 a 30 e é • Grupo central: encontra-se disperso pela
neles que se concentra a linfa do membro supe- gordura da fossa axilar, recebe aferentes de to-
rior, da região escapular e de parte da parede to- dos os grupos anteriores e drena para os gân-
rácica. Dividem-se em 5 grupos consoante a sua glios apicais.
localização: • Grupo apical: é posterior à porção superior
• Grupo lateral, umeral ou braquial: situa-se do peitoral menor e estende-se até ao ápex
junto da face medial da veia axilar e ao nível da fossa axilar, medialmente à veia axilar. Os
da emergência da veia escapular inferior e re- seus únicos aferentes diretos são aqueles que
cebe a maioria da linfa do membro superior. acompanham a veia cefálica, assim como al-
332
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRJO: LINFÁTICOS
guns que drenam a porção periférica supe- Scarpa), sobre aJascia cribiformis, e sistematizados
rior da mama. Recebe aferentes dos restan- classicamente por uma linha vertical e outra hori-
tes grupos ganglionares axilares. O s seus efe- zontal que se cruzam ao nível da crossa da gran-
rentes unem-se num tronco linfático subclá- de veia safena e os dividem em quatro quadrantes.
vio (tronco braquial), que drena de formava- Os quadrantes inferiores recebem a linfa superfi-
riável para o sistema venoso: à direita pode cial do membro inferior; o quadrante súpero-me-
contribuir para a formação do dueto linfá- dial recebe os linfáticos superficiais dos órgãos ge-
tico direito; à esquerda termina geralmente nitais externos, períneo, ânus, parte medial da re-
na crossa do dueto torácico. Alguns eferentes gião glútea e da porção medial da parede abdomi-
dos gânglios apicais podem drenar para os nal inferior. Para o quadrante súpero-lateral drena
gânglios cervicais profundos inferiores (su- a linfa da parte lateral da região glútea e parede ab-
pra-claviculares). dominal inferior.
Os vasos eferentes dos gânglios inguinais superfi-
Alguns gânglios deltopeitorais (também conheci- ciais dirigem-se, atravessando a fascia cribifarmis,
dos por gânglios infi-a-claviculares) surgem poste- para os gânglios inguinais profundos e ilíacos ex-
riormente à veia cefálica, no sulco entre o peitoral ternos.
maior e o deltoide, inferiormente à clavícula. Os O sistema linfático profundo do membro in-
seus eferentes atravessam a fáscia clavipeitoral até ferior é constituído por coletores que são satéli-
aos gânglios axilares apicais. Alguns podem passar tes dos vasos sanguíneos, tomando o seu nome.
anteriormente à clavícula até aos gânglios cervi- A via principal é constituída por vasos pediosos,
cais profundos inferiores (supra-claviculares). Po- tibiais anteriores, tibiais posteriores e fibulares
dem também existir gânglios interpeitorais (Rot- (peroneais), os quais terminam nos gânglios tibial
ter; Grossmann), situados entre os músculos pei- anterior e popliteus. D aqui seguem, acompanhan-
torais maior e menor. do os vasos femorais superficiais, para os gânglios
inguinais profundos, e daí para a cavidade pélvica.
H á ainda a considerar a via que acompanha a ar-
MEMBRO INFERIOR téria obturadora, e que termina no grupo ilíaco ex-
terno, e as vias que seguem as artérias glútea e is-
A drenagem linfática do membro inferior é cons- quiática e que drenam para os gânglios hipogástri-
tituída por uma rede superficial e outra profun- cos (ou ilíacos internos).
da, conforme a sua situação supra ou infi-afascial O s gânglios profundos dividem-se em três grupos:
(Fig. 3.74). • Grupo tibial anterior: constituído em geral
No que diz respeito ao sistema superficial, os va- apenas por um gânglio que se localiza à frente
sos reúnem-se em troncos coletores que resultam da porção superior do ligamento interósseo,
da confluência dos capilares linfáticos. Os tron- junto à passagem da artéria tibial anterior, e
cos coletores mediais seguem o trajeto da grande recebe os linfáticos profundos tibiais anterio-
veia safena e os troncos coletores laterais dirigem- res drenando para os gânglios popliteus.
-se para cima e para dentro, cruzando a face ante- • Grupo popliteu: formado por 3 a 6 gânglios
rior da perna e da coxa e terminando nos troncos que se agregam em 3 subgrupos (anterior,
coletores mediais. Os troncos coletores posteriores médio e posterior). Os gânglios popliteus re-
da perna seguem o trajeto da pequena veia safena, cebem os eferentes do gânglio tibial anterior,
atingindo o gânglio justasafeno (safeno externo), e os linfáticos tibiais posteriores e fibulares (pe-
os da face posterior da coxa e da região glútea dre- roneais) bem como os troncos coletores su-
nam para os gânglios inguinais superficiais. perficiais posteriores que seguem a pequena
Os gânglios linfáticos superficiais do membro in- veia safena. Têm como eferentes os gânglios
ferior localizam-se na região inguinal constituin- popliteus e as vias que acompanham os vasos
do o grupo ganglionar inguinal superficial. São 8 femorais superficiais, terminando nos gân-
a 12 gânglios situados no triângulo femoral (de glios inguinais profundos.
333
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
Grupo inguinal profundo: constituído por 2 A localização dos grupos ganglionares na cavi-
ou 3 gânglios situados por dentro da veia fe- dade pélvica acompanha os principais pedículos
moral e dos quais o mais superior é denomi- vasculares. Há a considerar quatro cadeias gan-
nado "gânglio de Cloquet". Encontra-se no glionares:
compartimento linfático do espaço retro-in- • Cadeia ilíaca externa: é composta por cer-
guinal, designado por "canal femoral (canal ca de 10 gânglios que rodeiam os vasos ilía-
crural; infunclfbulo crural de Richet)"; con- cos externos recebendo os vasos provenien-
cretamente no anel femoral, que correspon- tes dos gânglios inguinais profundos e assim
de ao orillcio superior do canal femoral. Este do membro inferior, do qual recebem ainda a
grupo linfático recebe, para além da drena- cadeia que acompanha os vasos obturadores.
gem dos linfáticos profundos do membro in- A esta cadeia chegam também vasos linfáti-
ferior, a linfa da glande ou do clítoris e a pro- cos provenientes da bexiga, da uretra, do úte-
veniente do grupo inguinal superficial. Os ro e da próstata, bem como da parte inferior
seus vasos eferentes dirigem-se para os gân- da vertente medial da parede abdominal atra-
glios ilíacos externos. vés das vias linfáticas que acompanham os va-
D lil
Fig. 3.74: Drenagem linfática do membro inferior.
A: Vista anterior B: Vista posterior
1. Troncos colectores mediais 2. Troncos colectores laterais 3. Gânglios inguinais superficiais 4. Grupo justa safeno 5. Veia safena interna 6. Veia
safena externa 7. Troncos posteriores da perna
334
p
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: LINFÁTICOS
sos epigástricos inferiores. Os eferentes da ca- feriores e circunflexos ilíacos profundos, respec-
deia ilíaca externa drenam para os gânglios da tivamente. Os gânglios da cadeia umbilical têm
cadeia ilíaca primitiva. uma localização adjacente à vertente medial do
• Cadeia hipogástrica ou ilíaca interna: é for- umbigo. Todas estas cadeias drenam linfa da ver-
mada por 4 a 8 gânglios que se situam em tente medial da parede abdominal ântero-late-
volta da ramificação dos vasos ilíacos inter- ral e os seus vasos eferentes dirigem-se às cadeias
nos. Recebem vasos linfáticos provenientes ilíacas externa e comum bem como às cadeias
das vísceras da cavidade pélvica e também da justafrénicas torácicas.
região glútea através das cadeias que acompa- Os gânglios do grupo lombar (lombo-aórtico)
nham os vasos glúteos e isquiáticos. Os seus são em número de 40 a 50 e encontram-se dis-
vasos eferentes dirigem-se para a cadeia ilía- postos em volta da aorta abdominal e da veia cava
ca primitiva. inferior. São agrupados em gânglios lombares es-
• Cadeia ilíaca comum: localizada em redor querdos (que incluem os aórticos laterais, pré-
dos vasos com o mesmo nome, desde a bifur- -aórticos e retro-aórticos), os lombares intermé-
cação da aorta até ao início das artérias ilíacas dios e os lombares direitos (que incluem os cávi-
externa e interna. Coleta a linfa provenien- cos laterais, pré-cávicos e retro-cávicos). Assim,
te da cadeia ilíaca externa (e assim dos mem- podemos afirmar que os lombares esquerdos são
bros inferiores), da cadeia ilíaca interna (e as- aqueles que se encontram em redor da aorta; os
sim da cavidade pélvica), e ainda alguns va- lombares direitos são aqueles que se encontram
sos linfáticos que vêm diretamente da prósta- em redor da veia cava inferior; os lombares in-
ta, do útero, da vagina e da uretra. A sua dre- termédios são aqueles que se encontram entre os
nagem faz-se na direção dos vasos lombares dois grandes vasos, também podendo ser desig-
(lombo-aórticos). nados por "inter- aorto-cávicos".
• Cadeia pré-sagrada: os gânglios que for- Aos gânglios lombares (lombo-aórticos) chega a
mam esta cadeia situam-se sobre a face an- linfa vinda das cadeias ilíacas primitivas e pré-sa-
terior do sacro, lateralmente em relação ao grada, a linfa parietal do abdómen, parte da dre-
recto. Recebem vasos linfáticos da parede nagem linfática do testículo, ovário, útero, rim,
posterior da cavidade pélvica e do recto e glândula supra-renal, bem como parte da linfa
drenam para os gânglios ilíacos primitivos e visceral do andar supra-mesocólico do abdómen.
lombo-aórticos. Este conjunto ganglionar constitui um impor-
tante núcleo linfático que concentra a linfa da
metade inferior do corpo. Destes gânglios resul-
ABDÓMEN tam os troncos eferentes lombares direito e es-
querdo que, unindo-se ao tronco intestinal que
Na sistematização do sistema linfático do abdó- concentra a linfa visceral do abdómen, formam o
men consideram-se vias e grupos ganglionares dueto torácico, o qual constitui uma via rápida de
parietais (localizados junto às paredes da cavida- transporte da linfa para o sistema venoso no con-
de), e viscerais (em relação com as vísceras nela fluente jugulo-subclávio esquerdo.
contidas) (Fig. 3.75). A drenagem linfática visceral do abdómen inclui
O sistema ganglionar parietal do abdómen com- vias e grupos ganglionares em relação com os res-
porta as estruturas relacionadas com a parede petivos vasos sanguíneos pelo que a nomenclatu-
ântero-lateral, nomeadamente as cadeias epigás- ra segue, de um modo geral, a dos principais va-
trica inferior, umbilical e circunflexa ilíaca, e as sos.
relacionadas com a parede posterior que consti- Consideram-se neste sistema seis cadeias princi-
tuem o grande confluente linfático formado pe- pais: cadeia do tronco celíaco, da artéria gástrica
los gânglios lombares (lombo-aórticos). As ca- esquerda, da artéria esplénica, da artéria hepática,
deias epigástrica inferior e circunflexa ilíaca si- da artéria mesentérica superior e da artéria me-
tuam-se em relação com os vasos epigástricos in- sentérica inferior. Claro está que existirão outras
335
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
336
►
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: LINFÁTICOS
337
MANUAL DE ANATOMIA H UMANA
338
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: LINFÁTICOS
tica pode atingir os gânglios supra-clavicula- Ambos os lobos possuem uma cápsula fibrosa, a
res através das cadeias torácica interna e me- partir da qual se destacam septos que penetram
diastínica anterior. até à junção cortico-medular e separam parcial-
, Via trans-diafragmática de Kuttner: segue mente os lóbulos, que são irregulares.
os numerosos vasos linfáticos perfurantes do O timo é irrigado por ramos das artérias torácica
diafragma e que fazem comunicar vias abdo- interna e tiroideia inferior.
minais com vias torácicas, constituindo um As veias do timo drenam para a veia braquioce-
mecanismo de importante difusão linfática. fálica esquerda, veia torácica interna e veias tiroi-
• Via para-umbilical: formada por coletores deias inferiores.
que seguem o ligamento redondo ou a apo- O timo não possui vasos linfáticos aferentes, os
nevrose umbilico- prévesical, atingindo gân- linfáticos eferentes têm origem na medula do
glios justa-frénicos torácicos. timo e na junção corrico-medular, através de es-
paços perivasculares, junto às artérias e veias do
órgão.
TIMO O timo é inervado pela cadeia simpática late-
m -vertebral, através do gânglio cervico-toráci-
O timo é um dos dois órgãos linfoides primários, co (gânglio estrelado) e através da ansa subclá-
sendo o outro a medula óssea. via do vago.
É responsável pela formação dos linfocitos T e faz O timo deriva embriologicamente de várias es-
ainda parte do eixo neuroendócrino. truturas, sobretudo da 3.• bolsa faríngea bilate-
O aspeto macroscópico do timo varia muito com ralmente, de células mesenquimatosas, de célu-
a idade. É o órgão linfático mais desenvolvido no las linfoides e de tecido vascular.
período pré-natal, involui desde o nascimento até Ao corte apresenta um córtex exterior, denso e
a puberdade. É maior no recém-nascido e diminui celular, contendo essencialmente linfocitos T
gradualmente até aos quinze anos de idade, no en- ou timocitos, e uma medula interior, com menos
tanto mantém atividade até à velhice. O timo de células linfoides.
uma criança é um órgão proeminente na porção
anterior do mediastino superior, enquanto o timo
de um adulto de idade avançada mal pode ser re-
conhecido, devidas às alterações atróficas.
É um órgão lobulado e consistência mole, que
apresenta uma coloração cinzenta-rosada, medin-
do aproximadamente 5 cm de comprimento (altu-
ra), 4 cm de largura e 6 mm de espessura.
É composto por dois lobos alongados, direito e
esquerdo, unidos na linha média por um istmo
de tecido conjuntivo que se destaca da cápsula
de cada um dos lobos (Fig. 3.78). A maior par-
te do volume do timo localiza-se no mediastino
superior e anterior. A extremidade inferior pode
alcançar a quarta cartilagem costal. Em cima al-
cança com frequência o pescoço, chegando mes-
mo a alcançar o polo inferior dos lobos da glân-
dula tiroideia. Esta extensão cervical é explicada
pela origem embrionária do timo. A sua forma é
condicionada pelos órgãos adjacentes. No tórax
localiza-se atrás do manúbrio esternal. Existe por Fig. 3.78: Timo.
vezes tecido tímico ectópico ao nível do pescoço. 1. Troncos venosos braquiocefálicos 2. Timo 3. Pulmões 4. Coração
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
340
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: LINFÁTICOS
341
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
rizontal (ligamento gastro-frénico); o ligamento veia esplénica que atinge a face posterior do Pân-
espleno-cólico, que é inconstante e liga a mar- creas, trajecto no qual recebe a veia mesentérica
gem inferior do baço ao ângulo esquerdo do có- inferior, para ao nível da face posterior do colo do
lon (Fig. 3.82). A contribuir também para o nor- pâncreas se anastomosar com a veia mesentérica
mal posicionamento do baço, existe o ligamento superior e formar o tronco da veia porta. Esta veia
freno-cólico esquerdo (sustentaculum lienis), que recebe como colaterais os vasos gástricos curtos e a
suporte a extremidade inferior do baço. veia gastro-omental esquerda.
A drenagem linfática é feita através dos gânglios
do bilo esplénico, cujos troncos seguem a cadeia
5 esplénica para drenar nos gânglios celíacos.
Os nervos do baço provêm do plexo solar, nomea-
damente dos gânglios semi-lunares, seguindo 0
trajecto das artérias para atingir o baço.
342
f MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO: LINFÁTICOS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
343
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
344
MANUTENÇÃO I SISTEMA CIRCULATÓRIO:ANATOMIA CLÍNICA E IMAGIOLÓGICA
345
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
346
p
4. SISTEMA RESPIRATÓRIO
O sistema respiratório é constituído pelas vias res- tém 95% de água. A filtração do ar resulta da pre-
piratórias e pelos pulmões. sença do muco, com as suas propriedades adesivas
As vias respiratórias compreendem o nariz, as fos- e da mudança do fluxo aéreo de laminar a turbi-
sas nasais, a faringe, a laringe, a traqueia e os brôn- lhonar, devido às características anatómicas da pa-
quios. O nariz, as fossas nasais, a faringe e a la- rede externa das fossas nasais, aumentando desta
ringe constituem as vias respiratórias superiores, a forma a superficie de contacto. A regulação do dé-
traqueia e os brônquios as vias respiratórias infe- bito aéreo nasal depende do sistema nervoso au-
riores. tónomo, segundo uma alternância de congestão
dos plexos cavernosos, que são plexos venosos si-
tuados na lâmina própria que originam a turges-
VIAS AÉREAS SUPERIORES cência da mucosa, em oposição de fase em cada
fossa nasal, mantendo a resistência total próxima
de um valor constante. Este ciclo nasal, definido
NARIZ E FOSSAS NASAIS desde 1895 por Kayser, identifica-se em 80% dos
adultos saudáveis e tem uma duração de 3 a 4 ho-
O nariz é um órgão ímpar que forma a primeira ras, pensando-se ter beneficias para a respiração e
porção do sistema respiratório. Está localizado em para o olfacto.
posição mediana no terço médio da face. É cons- Embriologicamente, o nariz forma-se a partir de
tituído pela pirâmide nasal, que se continua atrás diversos processos mesenquimatosos à volta da
com as fossas nasais. Comunica anteriormente boca primitiva ou stomodeum. Entre esses proces-
com o exterior através das narinas. As fossas na- sos insinua-se um espessamento ectodérmico - o
sais comunicam posteriormente com a nasofarin- placódio olfactivo - que formará o epitélio olfac-
ge através das choanas; estão rodeadas por expan- tivo.
sões arejadas, na espessura dos ossos adjacentes ao A pirâmide nasal (Fig. 4.1) é uma estrutura fibro-
nariz, os seios perinasais. -óssea-cartilagínea com um revestimento exte-
Entre as funções desempenhadas pelas fossas na- rior, com músculos e pele, e um revestimento inte-
sais incluem-se a olfactiva e a respiratória. A fun-
ção olfactiva, enquanto sensorial, promove o reco-
nhecimento de partículas pelo epitélio e a activa-
ção de um estímulo eléctrico correspondente para
o sistema nervoso central. Na função respiratória
as fossas nasais conseguem aquecer, filtrar, humi-
dificar e regular o débito do ar inspirado. A respi-
ração nasal prepara, desta forma, o ar para que a
via aérea inferior cumpra eficazmente a sua fun-
ção. O ar ambiente deve ser, em geral, filtrado, hu-
midificado e aquecido para chegar aos pulmões.
O aquecimento do ar resulta de uma transferên-
cia de calor das anastomoses directas presentes
no córion profundo que estão permanentemente
a 37.°C. A humidificação do ar faz-se por con-
vecção e difusão molecular, uma vez que o ar en- Figura 4.1: Cartilagens nasais.
1. Ossos próprios do nariz 2. Cartilagem alar maior 3. Cartilagem alar
tra em contacto directo com o muco, o qual con- menor 4. Cartilagem nasal lateral
347
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
rior de mucosa e pele circunscrita à região do nariz dois últimos inconstantes, e os respectivos mea-
onde se encontram pelos volumosos, as vibrissas. tos (Fig. 4.3).
O esqueleto cartilagíneo inclui a porção anterior
do septo na linha média, as cartilagens triangula-
4
res (nasais laterais) dispostas lateralmente e abaixo
destas, as cartilagens alares.
da maxila, e pela lâmina horizontal dos ossos pala- Figura 4.4: Parede lateral das fossas nasais.
1. Seio frontal 2. Seio esfenoidal 3. Palato duro 4. Lâmina horizontal do
tinos no quarto posterior. A parede superior é for- etmóide 5. Concha nasal superior 6. Concha nasal média 7. Concha
mada de frente para trás pelos ossos nasais, espi- nasalinferior 8. Vestíbulo nasal 9. Choana 10. Bula etmoidal 11. Goteira
uncibular
nha nasal do osso frontal, lâmina horizontal do et-
móide e corpo do esfenóide.
A parede lateral de cada fossa nasal integra seis No meato inferior abre-se o orifício (ou ostium)
ossos: maxila, esfenóide, palatino, unguis ou la- do canal lacrimonasal. No meato médio encon-
crimal, concha (ou cometo) nasal inferior e et- tram-se os orifícios de drenagem do seio maxilar,
móide. Topograficamente identificam-se três a seio frontal, e das células etmoidais anteriores e no
cinco conchas ou cornetos nasais (inferior, mé- meato superior drenam as células etmoidais poste-
dio, superior, de Santorini e de Zuckerkandl), os riores. No meato médio descrevemos ainda o hia-
348
MANUTENÇÃO I SISTEMA RESPIRATÓRIO
to sernilunar, limitado adiante pela apófise unci- tam 300 a 400 destas evaginações que aum en-
forrne, e atrás pela saliência da bula etmoidal e go- tam significativamente a superficie de trocas.
teira uncibular. O orifício do seio esfenoidal situa- As células caliciformes são cilíndricas, produto-
-se no recesso etmoide-esfenoidal, medial ao cor- ras de glicoproteínas, que acumulam em grânulos
neto nasal superior. de secreção. As células basais, de forma prismá-
A vascularização arterial das fossas nasais pro- tica triangular, são uma população de reserva ca-
vém do sistema da carótida externa, através de ra- paz de originar todas as categorias celulares, atrás
mos da artéria maxilar, como a artéria a esfenopa- nomeadas. É possível ainda identificar o epité-
latina ou a palatina maior (descendente) que irri- lio do canal excretor das glândulas serosas, muco-
gam a maior parte das conchas e meatos e do sis- sas ou seromucosas. O epitélio está separado do
tema da carótida interna através de ramos da arté- córion por uma fina membrana basal. No tecido
ria oftálmica, como são as artérias etrnoidais, que por baixo da mucosa, o córion, encontram célu-
irrigam a porção superior das fossas nasais. Estes las residentes (macrófagos, fibroblastos, mastóci-
dois sistemas arteriais apresentam múltiplas áreas tos) e células móveis capazes de o infiltrar de for-
de anastomose em cada fossa nasal e entre estas. ma transitória, como os linfócitos e os leucócitos
Na porção cartilagínea do septo nasal (área de Li- polimorfonucleares, e ainda focos de linfócitos e
ttle), formam o plexo de Kisselbach, para o qual de plasmócitos correspondentes ao RALT (R es-
também contribuem ramos da artéria labial supe- piratory Associated Lymphoid Tissue). A este nível
rior que irrigam o vestfbulo das fossas nasais, que identificam-se três sistemas vasculares com dife-
é a principal sede de hemorragias nasais (epista- rentes funções. Um circuito de troca representa-
xes) anteriores. do pela microcirculação subepitelial e periglan-
A drenagem venosa é assegurada pela veia es- dular constituído por capilares fenestrados com
fenopalatina e pelas veias etmoidais e a drena- esfincter pré-capilar, que permitem rápidas e vo-
gem linfática faz-se anteriormente para os gân- lumosas transudações de líquido, um circuito de
glios submandibulares e posteriormente para os capacitância representado pelos plexos caverno-
gânglios laterofaríngeos, retrofaríngeos e cervi- sos, que desempenham um papel no ciclo na-
cais profundos. sal, e um circuito de resistência representado pe-
A inervação sensitiva das fossas nasais é feita pelo las anastomoses arteriovenosas directas do córion
nervo trigémeo; a inervação sensorial é feita pelo profundo.
nervo olfactivo; a inervação vegetativa é prove-
niente da cadeia simpática cervical e de fibras pa-
rassimpáticas dos nervos facial e glossofaríngeo. FARINGE
Classicamente, identificam-se dois tipos de epi-
télio nas fossas nasais: o olfactivo e o respirató- A faringe é um órgão comum aos Sistemas Respi-
rio. A mucosa olfactiva ocupa 2 a 3 cm2 na pare- ratório e Digestivo, pelo que a sua descrição ana-
de superior das fossas nasais insinuando-se para tómica é feita com o primeiro (ver descrição da
o septo e para o cometo superior e é constituída Faringe no Sistema Digestivo).
por um epitélio prismático pseudostratificado ci-
liado, com três tipos de células (receptoras neu-
rossensoriais, de sustentação e basais). A muco- LARINGE
sa respiratória tem um epitélio com células cilia-
das, células com microvilosidades, células calici- A laringe é um órgão ímpar que estabelece a con-
formes e células basais. Cada célula ciliada con- tinuidade da via aérea entre a faringe e a traqueia.
tém 150 a 200 cílios com cerca de 6 a 8 micra Tem também uma função esfincteriana e de fona-
de comprimento e 0,3 de diâmetro. Cada cílio ção. A sua origem embriológica está no III, IV, V
apresenta os característicos nove pares de micro- e VI arcos branquiais. É maior e mais baixa no ho-
túbulos periféricos e um par central, unidos en- mem do que na mulher.
tre si. As células com microvilosidades, apresen- A laringe é um órgão móvel, que se eleva durante a
349
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
deglutição, o que é facilmente visível porque é um é irregular e tem uma saliência junto ao tubércu-
órgão muito superficial no pescoço. Relaciona-se lo inferior da crista oblíqua. A este nível insere-se
posteriormente e póstero-lateralmente com a fa- a membrana ou ligamento cricotiroideu, tambérn
ringe (hipofaringe). À frente relaciona-se na parte denominado "ligamento conóide". O bordo poste-
inferior com o pólo superior dos lobos da glându- rior é vertical e rectilíneo.
la tiroideia. Mais lateralmente, ao longo da sua al- Cartilagem cricóide: Forma um anel completo,
tura, encontra-se o feixe vasculo-nervoso do pes- que se une inferiormente com a traqueia e que se
coço de cada lado. articula com a cartilagem tiróide e com as duas
Divide-se em três andares sobrepostos, o que faci- cartilagens aritnóides. Identificam-se duas por-
lita a sistematização da patologia e das abordagens ções: Uma anterior estreita denominada "arco cri-
cirúrgicas da laringe: coideu" e outra posterior, de maiores dimensões,
• Andar supraglótico ou vesttbulo da laringe: denominada "placa cricoideia". O arco cricoideu
Estende-se desde o bordo livre da epiglote aumenta de espessura de frente para trás, apresen-
até ao plano horizontal sobre o bordo supe- tando na linha média o tubérculo cricoideu e late-
rior das cordas vocais. ralmente as facetas articulares tiroideias. No bor-
• Andar glótico: Compreende o espaço entre o do superior insere-se a membrana cricotiroideia e
bordo superior e o bordo inferior das cordas no bordo inferior surgem três tubérculos que de
vocais (cerca de 10 a 12 mm). Neste andar unem ao primeiro anel traqueal. Na placa cricoi-
descrevem-se as cordas vocais e as comissuras deia identificam-se duas facetas articulares para
anterior e posterior entre elas. as cartilagens aritnóides, situadas no bordo supe-
• Andar subglótico: Está limitado superior- rior, próximo da união com o arco cricoideu e que
mente pelo bordo inferior das cordas vocais olham para a fora, para cima e um pouco para a
e inferiormente pelo bordo inferior da carti- frente.
lagem cricóide. Cartilagem epiglote: Localiza-se na porção ânte-
ro-superior da laringe, atrás da base da língua, do
A laringe tem um esqueleto cartilagíneo com as osso hióide e da cartilagem tiróide, à qual se une
respectivas articulações (Fig. 4.5A a E), ligamen- inferiormente pelo ligamento tiro-epiglótico. É
tos, membranas e músculos. muitas vezes comparada a uma raquete, tem uma
Cartilagem tiróide: É formada por duas lâminas forma ovalada que se estreita inferiormente, com
quadriláteras que se fundem incompletamente na concavidade posterior. Durante a deglutição, bas-
linha média, formando uma proeminência vulgar- cula sobre o vestJ.bulo laríngeo. A sua superfície é
mente denominada como a "Maçã de Adão" e de- perfurada por diversos orifícios cribiformes para a
senham um ângulo diedro aberto para trás. Este passagem de vasos sanguíneos e linfáticos. A face
é de 80-90° no homem e de 110-120° na mu- anterior é extra-laríngea na metade superior, e for-
lher. No terço superior, porque a fusão é incom- ma a parede posterior da loca hio-tiro-epiglótica,
pleta, forma-se a incisura tiroideia em forma de na metade inferior. A face posterior é lisa e está re-
"V". Posteriormente estas lâminas quadriláteras vestida por mucosa.
projectam-se superior e inferiormente, forman- Cartilagens aritnóides: Em número de duas, têm
do os cornos superiores e inferiores. A face ante- uma forma de pirâmide triangular de base infe-
rior desta cartilagem é lisa, com excepção de uma rior e estão dispostas sobre a cartilagem cricói-
proeminência romba, próxima do bordo posterior, de. A face medial é plana e lisa, a face posterior
que se orienta para baixo e para a frente, limitada é côncava e dá inserção ao músculo interaritnoi-
por dois tubérculos (superior e inferior), denomi- deu e a face ântero-lateral, que se relaciona com a
nada "crista oblíqua". Nesta, inserem-se os múscu- corda vocal, dá inserção ao músculo tiroaritnoideu.
los tirohioideu, esternotiroideu e o constritor infe- A base articula-se com a cartilagem cricóide e
rior da faringe. A face posterior é lisa e plana. No apresenta a apófise vocal no ângulo anterior, onde
bordo superior insere-se a membrana tirohioideia se insere a corda vocal e a apófise muscular no ân-
que liga a laringe ao osso hióide. O bordo inferior gulo póstero-externo.
350
MANUTENÇAO I SISTEMA RESPIRATÓRIO
Figura 4.5A: Esqueleto da laringe, vista anterior. Figura 4.5B: Esqueleto da laringe, vista posterior.
1. Osso híóide 2. Membrana tiro-hióideia 3. Cartilagem tiróide 1. Epiglote 2. Processos maiores do hióide 3. Placa cricoide
4. Cartilagem cricoide 5. Membrana crico-tiróide 6. Anéis traqueais 4. Cartilagem aritnóide 5. Cartilagem comiculada
7. Epiglote 8. incisura tiroideia
2
4
6 9
Figura 4.50: Esqueleto da laringe, vista lateral. Fig. 4.SE: Esqueleto da laringe, vista interior.
1. Lâmina quadrilátera da cartilagem tiróide 2. Como superior da 1. Epiglote 2. Ligament o hio-epiglótko 3. Membrana tiro-hioideia
cartilagem tiroide 3. Como inferior da cartilagem tiróide 4. Membrana 4. Cartilagem tiróide 5. Ligamento tiro-epiglótico 6. Cartilagem
tiro-hióideia 5. ligamento tiro-hioideu lateral 6. Cartilagem cricoide aritonóide 7. Ligamento tiro-aritoideu inferior (ligamento vocal)
7. Membrana crico-tiroideia 8. Membrana crico-tiróide 9. Cartilagem cricoide
351
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
352
MANUTENÇÃO I SISTEMA RESPIRATÓRIO
9
4
6
3
Figura 4. 7A: Configuração Interior da laringe, corte frontal. Figura 4.7C: Configuração Interior da laringe, corte sagital.
1. Cartilagem tiróide 2. Cartilagem aicoide 3. Membrana tiro- hioideia 1. Corpo do hi6ide 2. Membrana tiro-hióide 3. Cartilagem t ir6ide
4. Epiglote 5. Músculo vocal 6. Músculo tiro•aritnoideu lateral 4. Cartilagem cricoide 5. Epiglote 6. Ligame nto vocal 7. Entrada do
7. Ventrículo laríngeo 8. Vestíbulo laríngeo 9. Tubérculo da laringe ventrículo laríngeo 8. Vestíbulo laríngeo 9. Andar infra--glotico
353
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
354
MANUTENÇÃO I SISTEMA RESPIRATÓRIO
355
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
10
PULMÕES
Fig. 4.9: Anatomia da Árvore Traqueobrônquica.
1. Cartilagem cricoide 2. Traqueia 3. Brônquio principal direito
4. Brônquio principal esquerdo 5. Bifurcação traqueal 6. Brônquio A origem embrionária dos pulmões inicia-se com
lobar superior direito 7. Brônquio lobar médio direito 8. Brônquio
lobar inferior direito 9. Brônquio lobar superior esquerdo 10. Brônquio
o crescimento dorsal de um divertículo respirató-
lobar inferk>r esquerdo 11. Brônquio culminai 12. Brônquio lingular rio, de cada lado do esófago até emergir nas pare-
des mediais dos canais pericárdio-peritoneais. Do
ponto de vista histológico podem-se considerar ·
divide-se num brônquio segmentar lateral e ou- quatro estadios:
tro medial que servem as respectivas áreas do lobo E stadio pseudoglandular: Decorre entre as 7 e as
pulmonar médio. O brônquio lobar inferior cor- 17 semanas de gestação e inclui o desenvolvimen-
responde à continuação do brônquio principal di- to das vias aéreas inferiores e o aparecimento das
reito, após a origem do lobar médio. Origina, por estruturas acinares. A nível próximal encontra-se
sua vez, um brônquio segmentar apical (de Nel- um epitélio colunar e distalmente por um epité-
son) que se dirige para trás, um segmentar medial lio cubóide.
que serve uma região abaixo do hilo pulmonar e Estadio canalicular: Entre as 17 e as 26 semanas
termina dividindo-se no brônquio segmentar an- verificam-se ramificações, em cujas pontas dimi-
terior basal, no lateral basal e no posterior basal. nui o mesênquima e alargam-se os espaços aéreos.
O brônquio principal esquerdo cruza anterior- Este fenómeno é acompanhado pelo crescimento
mente o esófago, o canal torácico e a aorta descen- da rede capilar ao nível dos espaços aéreos distais.
dente e entra no hilo, ao nível da 6.ª vértebra to- As células colunares começam a diferenciar-se em
rácica. Divide-se no brônquio lobar superior e in- pneumocitos tipo I e as cubóides em pneumoci-
ferior. O brônquio lobar superior origina uma di- tos tipo II, que formarão mais tarde o revestimen-
visão superior ou culminal, na qual se distinguem to pavimentoso simples que corresponde a mais de
um brônquio segmentar apical e um apico-poste- 90% da área alveolar.
rior, este último que se divide num ramo apical e E stadio sacular: Desde a 24.ª semana até ao nas-
noutro posterior. A divisão inferior ou lingular ori- cimento surgem sáculos finos terminais que se
356
MANUTENÇÃO I SISTEMA RESPIRATÓRIO
transformarão nos duetos alveolares. Sobre estes, a ferior) separados por duas cisuras. A maior é oblí-
rede capilar ficará intimamente acoplada. Duran- qua para baixo e para a frente (cisura oblíqua) e
te esta fase verifica-se a deposição de elastina sob a pequena ou horiwntal estende-se obliquamente
0 epitélio, o que é determinante para a futura for-
para baixo, desde a porção média da grande cisura
mação dos alvéolos e há uma maturação da produ- até ao bordo anterior do pulmão.
ção de surfactante. O pulmão esquerdo apresenta dois lobos (supe-
Estadio alveolar: Durante este período que se es- rior e inferior), separados por uma cisura que cru-
tende entre as 28 semanas de vida intrauterina e za a face costal de cima para baixo e de trás para
os 8 anos de idade, há uma fusão de redes capila- a frente.
res adjacentes e uma expansão dos espaços aéreos, Cada um dos lobos pode ser dividido em segmen-
até à completa formação dos alvéolos pulmonares. tos, segundo a ramificação dos brônquios, forman-
Os dois pulmões (esquerdo e direito) têm uma do-se assim unidades, estrutural e funcionalmen-
forma sernicónica (Fig 4.10A e B), estão localiza- te independentes que se denominam segmentos
dos na caixa torácica, livremente em cada cavida- broncopulmonares:
de pleural, separados pelo mediastino. O direito é • Pulmão direito: lobo superior: apical (1), pos-
maior e pesa mais do que o esquerdo. No homem terior (2), anterior (3); lobo médio: lateral (4),
o direito pesa cerca de 700g e o esquerdo 600g. Na medial (5); lobo inferior: superior ou apical
mulher o peso do direito é de cerca de 550g e o es- (6), medial basal (7), anterior basal (8), lateral
querdo é de 450g. A capacidade dos pulmões após basal (9), posterior basal (10).
uma inspiração forçada é de 5000 cm3 e após uma • Pulmão esquerdo: lobo superior: ápico-pos-
inspiração normal é de 3500 cm3. O volume resi- terior (1-2), anterior (3), lingular superior (4),
dual que permanece nos pulmões após uma expi- lingular inferior (5) (os dois segmentos lin-
ração forçada é de cerca de 500 cm3. gulares têm muitas vezes origem num tron-
M acroscopicamente, podemos identificar no pul- co sectorial comum, a língula); lobo inferior:
mão o vértice, uma base, três bordos e duas faces. superior ou apical (6), ântero-medial basal ou
O vértice é arredondado e projecta-se cerca de 2,5 paracardíaco (7-8), lateral basal (9), posterior
cm acima do bordo superior da clavícula. A base é basal (10).
semilunar e côncava e está em contacto com a su-
perficie superior do diafragma. A concavidade da Nos hilos pulmonares (Fig. 4.llA e B), identifi-
base é mais marcada à direita do que à esquerda. O cam-se diversas estruturas que entram ou saem
bordo inferior é fino e circunscreve a base do pul- do pulmão e que constituem o pedículo pulmo-
mão. Apresenta um segmento medial que separa nar. Estas incluem o brônquio principal, a artéria
a base da superficie medial e um segmento lateral pulmonar, duas veias pulmonares, vasos brônqui-
que separa a base da superficie costal e que se in- cos, o plexo autonómico pulmonar, vasos linfáti-
troduz no seio costodiafragmático. O bordo ante- cos, gânglios linfáticos broncopulmonares e teci-
rior separa, à frente, a face costal da mediastínica, do conjuntivo, envolvido pela pleura. As estrutu-
sendo marcada à esquerda por uma incisura car- ras principais do pedículo pulmonar têm posição
díaca em relação com o vértice do coração. O bor- relativa diferente à esquerda e à direita: à direita o
do posterior separa as duas faces posteriormente. A brônquio principal está atrás da artéria pulmonar e
face costal é convexa e adquire a forma da parede as veias pulmonares estão em posição ântero-infe-
torácica. A face medial apresenta uma porção ver- rior; à esquerda, a artéria pulmonar está acima do
tebral, que é posterior e que está em contacto com brônquio principal e as veias estão por baixo.
as vértebras dorsais e com os discos intervertebrais A vascularização pulmonar inclui duas vias fun-
e uma porção mediastínica que é anterior e profun- cionalmente distintas: Os vasos pulmonares, en-
damente côncava devido à relação com o coração, volvidos no transporte de sangue, que será oxi-
sendo mais pronunciada à esquerda. Os pulmões genado nos pulmões e os vasos brônquicos, pro-
dividem-se em lobos que estão separados por cisu- venientes da circulação sistémica e que propor-
ras. O direito tem três lobos (superior, médio e in- cionam o fornecimento de sangue oxigenado
357
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
358
MANUTENÇÃO J SISTEMA RESPIRATÓRIO
4
4
2
2
5
Figura 4.11A: Hilo Pulmonar Direito. Figura 4.11 B: Hilo Pulmonar Esquerdo.
1. Fissura oblíqua 2. Fissura horizontal 3. Brônquio principal direito 1. Fissura oblíqua 2. Brônquio principal esquerdo 3. Artéria pulmonar
4. Artéria pulmonar direita 5. Veia pulmonar direita superior 6. Veia esquerda 4. Veia pulmonar esquerda superior 5. Veia pulmonar
pulmonar direita inferior 7. Ligamento pulmonar 8. Impressão cardíaca esquerda inferior 6. Ligamento pulmonar 7. Impressão cardíaca
9. Sulco da veia cava superior 10. Sulco da veia braquiocefálica direita 8. lmpressãotímica 9. Sulco da veia braquiocefálica esquerda 10. Sulco
11. lmpressão tímica 12. Sulco traqueal 13. Sulco esofágico 14. Sulco traqueal 11. Sulco aórtico 12. Sulco esofágico
da veia ázigos
359
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
360
MANUTENÇÃO I SISTEMA RESPIRATÓRIO
Grande parte do exame será ocupado pelos campos 3. A propósito da árvore traqueo-brônquica,
uJrnonares que têm uma transparência característica, qual das frases seguintes é verdadeira:
~o-avessados por estruturas lineares ramificadas cor- a. A bifurcação da traqueia dá-se ao nível da
respandentes aos brônquios e respectivos vasos, mais 8. ª vértebra torácica.
densos nas zonas dos hilos pulmonares. Inferiormente b. O brônquio principal direito é mais estrei-
encontramos as cúpulas diafragmáticas limitadas, la- to e horizontal que o direito.
rerahnente, pelos seios costo-frénicos e, mediaimente, c. O lobo superior do pulmão direito tem 4
pelos seios cardiofrénicos. A ausência de seios costo- sementos.
frénicos livres e a perda de definição do contorno dos d. O lobo médio do pulmão direito tem um
mesmos pode ocorrer por exemplo em derrames pleu- segmento superior e um inferior.
rais. Por regra, a cúpula diafragmática direita é mais e. No hilo pulmonar esquerdo a artéria pul-
alta e mais nítida, pela relação com o figado, e por bai- monar está acima do brônquio principal.
xo da cúpula diafragmática esquerda encontramos a
câmara de ar do estômago, uma hipertransparência re- !3:-f !:)-C:: !Q-1
sultante da acumulação de ar no fundo gástrico, pela :s•1sodso~
realização do exame em ortostatismo.
A silhueta cardíaca e grandes vasos distinguem-se me-
lhor nas margens pelo contraste de densidade com o
parênquima pulmonar. Na margem direita, de cima REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
para baixo, identificamos a veia cava superior, o átrio
direito e a veia cava inferior. Na margem esquerda, Guerrier, B.; Barazer, M.Anatomie descriptive,
também de cima para baixo, identificamos o arco aór- endoscopique et radiologique du larynx. Editions
tico, a janela aorto-pulmonar, a artéria pulmonar, a au- Techniques, Encycl. Méd. Chir. (Paris - France),
rícula esquerda (apêndice auricular na nómina antiga) Oto- Rhino-Laryngologie, 20-630-Al0, 1992.
e o ventrículo esquerdo. Lund, VJ.Anatomy ofthe nose andparanasal
É importante lembrar que as partes moles se proje- sinuses, ln Rerr AJ (Ed) Scott-Brown's
tam na imagem, como por exemplo os contornos ma- Otolaryngology, 6 th edition, Butterworth-
mários. Heinemann, UK, 1997.
361
5. SISTEMA DIGESTIVO
11
BOCA
363
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
tfbulo da boca, e para dentro das mesmas a cavida- rior ou mucosa, um bordo livre e duas extremi-
de bucal propriamente dita. dades.
Estas duas porções comunicam entres si através A face anterior olha para diante no lábio superior,
dos intersticios existentes entre os dentes, e através e para baixo e para a frente no lábio inferior. No lá-
do espaço retro-dentário ou retromolar. Na boca bio superior encontra-se o sulco mediano, o phil-
descrevem-se seis paredes: anterior - compreende trum, que desce desde o septo ao bordo livre do lá-
os lábios e a fenda bucal, que permite a comuni- bio, terminando pelo tubérculo do lábio superior.
cação com o exterior; laterais - formadas pela re- No lábio inferior encontramos na região mediana
gião geniana; inferior - formada pelo pavimento a fosseta mediana. Este, encontra- se ainda separa-
da boca onde se situa a língua; superior - cons- do do mento pelo sulco mentolabial. A face pos-
tituída pela abóbada palatina; póstero-superior - terior está relacionada com a face anterior das ar-
compreende o véu do palatino e um orificio irre- cadas dentárias e respectiva gengiva. O bordo ade-
gular que faz comunicar com a orofaringe - ist- rente marca o limite periférico dos lábios, e é mar-
mo das fauces. cado posteriormente pelas asas do nariz e sulco
geniolabial. Pelo lado da cavidade bucal apresen-
ta o sulco gengivolabial, que se interrompe pela in-
serção dos freios labiais mediano e laterais.
O bordo livre marca o limite entre a pele e a mu-
cosa. Esta zona de transição denomina-se de "ver-
melhão", sendo característico da espécie humana.
Os dois lábios unem-se lateralmente para formar
as comissuras labiais.
Vascularização e Inervação
364
MANUTENÇÃO I SISTEMA DIGESTIVO
PAREDE LATERAIS - REGIÃO GENIANA pelas pregas glosso-epiglóticas que limitam duas
depressões as valéculas, com o véu do palatino, e
aredes laterais estendem-se desde o rebordo com a faringe através dos músculos constritores
::ior da órbita até ao bordo inferior da man- superiores da faringe.
dJbula, ern ~tura, ~ em largu~a _desde o músculo O ápex relaciona-se com as superflcies dentárias
'ter até a corrussura dos lab1os. dos incisivos inferiores directamente.
rnasse
Estão separadas do nariz e dos lábios por um sulco
obliquo, que se denomina sulco nasogeniano em
cirna e sulco labiogeniano e nasolabial em baixo. 5
6
Excedem assim a maioria da cavidade bucal, ocu-
ando a maior parte da face, correspondendo su-
~essivamente à região malar, massetérica e geniana
2
propriamente dita.
4
Vascularização e Inervação
365
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
366
MANUTENÇÃO I SISTEMA DIGESTIVO
367
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
368
MANUTENÇÃO I SISTEMA DIGESTIVO
Glândulas menores, são as palatinas, labiais, ju- 15-30 canais excretores, sendo o canal sublingual
ais e linguais. São centenas difusamente disper- o mais volumoso. A vascularização arterial é feita
g ela mucosa destas regiões. pela artéria sublingual. A drenagem venosa é fei-
sas P
Glândulas ·
maiores, - g1'andulas pares, di spostas
sao ta pelas veias profunda da língua. A drenagem lin-
à volta da cavidade bucal, comunicando para o seu fática é feita para os gânglios submandibulares e
interior através de canais excretores. São a paróti- cadeia jugular interna. A inervação é provenien-
da, submaxilar ou submandibular e sublingual. te do gânglio submandibular e da corda do tímpa-
A glândula parótida é a mais volumosa (Fig. 5.6). no, por intermédio do nervo sub-lingual, ramo do
Sirua-se atrás do ramo ascendente da mandíbu- nervo lingual.
la, por baixo do canal auditivo externo, adiante
das apófises mastoideia e estiloideia. Podemos
4
dividi-la em dois lobos, um superficial e um pro-
fundo, pelo atravessamento do nervo facial, que
não a inerva. O seu canal excretor é o canal pa-
rotídeo ou de Sténon. Tem o seu trajecto na re-
gião geniana, situando-se o seu orifício de aber-
tura na região dos molares superiores. A paróti-
da é vascularizada pelos ramos parotídeos da ar-
téria carótida externa e artéria auricular posterior.
A drenagem venosa é feita para a cadeia jugu-
lar externa. A glândula parótida recebe inerva-
ção sensitiva pelo nervo aurícula-temporal ramo
do trigémeo, a inervação parassimpática estimu-
la a produção de saliva e provém do glossofarín-
geo que faz chegar as suas fibras ao gânglio ótico
pelo nervo petroso menor e à parótida pelo ner- 3
vo aurículo-temporal. Recebe ainda inervação do
plexo carotídeo externo. Fig. 5.6: Glândulas Salivares.
1. Glândulas Sublinguais 2. Glândulas Parotídeas 3. G lândulas
A glândula submandibular situa-se na posição la- Submandibulares 4. Canal de Stenon 5. üngua
teral da região supra- hioideia e ocupa a depres-
são entre a face interna da mandíbula e os mús-
culos supra-hioideus, por um lado, e a base da lín- FARINGE
gua e faringe por outro (Fig. 5.6). No interior des-
te espaço, a glândula relaciona-se com a veia facial, A faringe é um canal musculomembranoso, locali-
com gânglios linfáticos submandibulares e com a zada atrás da cavidade nasal, da boca e da laringe.
artéria facial. Estende-se desde a base do crânio até à cartilagem
O canal excretor desta glândula é o canal de cricoideia da laringe, adiante, e ao nível da sexta
W harton, que se abre no pavimento da boca, de vertebra cervical, atrás. A faringe tem como estru-
cada lado do freio da língua. A vascularização ar- turas adjacentes, em cima, o corpo do esfenóide e
terial é feita pela artéria facial bem como a drena- a apófise basilar do occipital, continuando-se infe-
gem venosa é feita pela veia facial. A drenagem riormente com o esófago (Fig.5.7).
linfática é feita para os gânglios submandibulares. Posteriormente relaciona-se com a fáscia pré-ver-
A inervação é proveniente do gânglio sublingual e tebral e, lateralmente, relaciona-se com a apófise
da corda do tímpano, por intermédio do nervo su- estiloide e com as estruturas do ramalhete de Rio-
blingual, ramo do nervo lingual. land. Existem 7 aberturas faríngeas que permitem
As glândulas sublinguais situam-se no pavimen- a comunicação com outras estruturas: duas fossas
to da boca, sendo, de entre as major, as glându- nasais, duas caixas timpânicas, boca, laringe e esó-
las de menor dimensão. Estas apresentam cerca de fago.
369
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
370
MANUTENÇÃO J SISTEMA DIGESTIVO
A orofaringe continua-se posteriormente?- cavi- São músculos planos e finos, encurvados de tal
dade bucal, através do istmo das fauces. E limi- maneira que unidos com os do lado oposto, for-
tada superiormente pelo palato mole, lateralmen- mam um canal muscular côncavo para a frente, se-
te pelos arcos palatinos e, inferiormente, pela por- parado da mucosa pela submucosa ou aponevro-
ção superior da língua. Posteriormente ao bordo se intrafaríngea.
posterior da língua, podemos encontrar três pregas Os músculos constritores são três: superior, mé-
glosso-epiglóticas, duas laterais e uma mediana. dio e inferior.
Entre as mesmas encontramos as valéculas glos- • O músculo constritor superior tem origem na
so-epiglóticas. Na base da língua podemos encon- parte inferior do bordo posterior e asa inter-
trar ainda um conjunto de tecido linfóide ao ní- na da apófise pterigóide (feixe pterigoideu),
vel da sua submucosa, que corresponde à amígda- do ligamento pterigomaxilar que o separa do
la lingual. Nas paredes laterais da orofaringe, en- bucinador (feixe pterigomaxilar) e da extre-
tre os arcos palatinos, podemos encontrar as amíg- midade posterior da linha milohioideia (feixe
dalas palatinas. Estas são a maior estrutura linfói- milohioideu). As fibras inferiores do múscu-
de da orofaringe, constituídas por tecido linfóide lo unem-se num feixe denominado "múscu-
envolto numa cápsula fibrosa. Apresentam na sua lo faringoglosso", que se prolonga para a fren-
superfície um conjunto de depressões, as criptas te sobre o bordo lateral da língua. As fibras
amigdalinas. A sua vascularização é feita pela arté- do constritor superior dirigem-se num trajec-
ria amigdalina, ramo da artéria facial e a sua dre- to curvilíneo para trás e para dentro; as supe-
nagem venosa efectuada para a veia facial.Já a sua riores adoptam uma direcção um pouco mais
drenagem linfática é efectuada para os gânglios transversal; as inferiores são um pouco obli-
cervicais superficiais e gânglios submandibulares. quas para baixo. Todas as fibras terminam en-
As amígdalas palatinas, juntamente com as lin- trecruzando-se na linha média. Com efeito, a
guais, faríngeas (adenóides) e tubáricas constituem maioria das vezes, as fibras mais elevadas in-
o anel de Waldeyer. clinam-se para cima perto da linha média e
unem-se com as do lado oposto, formando
LARINGO-FAR/NGE uma lingueta ascendente que se fixa ao tubér-
culo faríngeo.
A laringo-faringe é a porção mais inferior da fa- • O músculo constritor médio insere-se à fren-
ringe, terminando inferiormente ao nível da tran- te por meio de duas cabeças diferentes. Uma
sição com o esófago. Esta é delimitada anterior- com origem no bordo posterior do pequeno
mente pelo osso hióide e porção superior da car- corno do osso hióide; a outra na face supe-
tilagem tiroideia da laringe. Lateralmente é limi- rior do grande corno do hióide, por dentro do
tada pelo prolongamento lateral da cartilagem ti- hioglosso. O constritor médio recobre par-
roideia da laringe, superiormente pela cartilagem cialmente o constritor superior.
epiglótica e, inferiormente e posteriormente, pe- • O músculo constritor inferior - insere-se por
las cartilagens aritenóides e pela porção posterior um feixe tiroideu, na face externa da cartila-
da cartilagem cricóide. Na sua globalidade esta en- gem tiróide, por trás da linha obliqua da car-
contra-se recoberta pela mucosa faríngea em toda tilagem e sobre esta linha, por um feixe cri-
a sua extensão. cotiroideu, num arco fibroso côncavo para a
frente que une o bordo inferior da cartilagem
MÚSCULOS DA LARINGE tiróide com o bordo inferior da cartilagem
cricóide e por um feixe cricoideu, no bordo
O s músculos da faringe dividem-se em dois gru- inferior da cartilagem cricóide, na união do
pos: músculos constritores e músculos elevadores. arco e da placa cricoideia.
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
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MANUTENÇÃO I SISTEMA DIGESTIVO
ARTÉRIAS DO ESÓFAGO
373
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
-se, levando à formação de varizes esofágicas. A s Na sua projecção na parede abdominal ante .
rior
varizes esofágicas podem ser observadas em exa- ocupa uma grande parte do epigastro e quase tod
me endoscópico, visto localizarem-se superficial- o hipocôndrio esquerdo. A sua posição encontr ~
mente a nível da lâmina própria. -se mantida pela continuidade com o esófago e. a
in-
testino delgado, bem como pelas formações peri-
LINFATICOS DO ESÓFAGO toneais que o ligam aos outros órgãos da caVida-
de abdominal.
O esófago possui uma rica rede linfática submuco- Tem a forma de um ''J", mais verticalizado quan-
sa cuja circulação é bidireccional, o que pode jus- do vazio, e uma capacidade média de 1300cc. O
tificar o aparecimento de metástases paradoxais. segmento terminal do esófago faz uma angulação
O s linfáticos extramurais são unidireccionais. No marcada com o fundo gástrico - incisura cardíac
L
esófago drenam para os gânglios cervicais profun- A transição gastroesofágica dá-se o nome de cár-
dos, quer directamente, quer através dos gânglios dia. No estômago, podemos considerar uma por-
para-traqueais. Os linfáticos do esófago torácico ção vertical e uma porção horizontal, separadas
drenam para os gânglios mediastínicos posterio- pela incisura angular. Na porção vertical descre-
res. Os da porção abdominal do esófago drenam vemos duas porções - o fundo e o corpo do estô-
para os gânglios linfáticos gástricos esquerdos. Al- mago (Fig. 5.10)
guns vasos linfáticos esofágicos podem drenar di- Na porção horizontal encontramos a porção pi-
rectamente para o canal torácico. lórica, que é composta pelo antro, na transição da
porção vertical para a horizontal, e pelo canal pi-
INERVAÇÃO lórico ou piloro.
Os dois bordos do estômago designam-se por cur-
A porção superior do esófago é inervada por ra- vaturas - grande e pequena. A grande curvatura,
mos do nervo laríngeo recorrente, e por fibras sim - ou esquerda, relaciona-se com o cólon transver-
páticas pós-ganglionares que alcançam o esófago, so, e tem cerca de cinco vezes o tamanho da pe-
percorrendo as artérias tiroideias inferiores. A por- quena. Inicia-se na incisura cardíaca, dirigindo-se
ção inferior do esófago é inervada pelo plexo eso- inicialmente para cima, para formar a convexida-
fágico, uma rede de fibras do sistema nervoso au- de do fundo, e para depois descer até à junção com
tónomo constituída por fibras simpáticas e paras- o duodeno. A pequena curvatura, ou direita, que
simpáticas. As fibras motoras são fornecidas pelo se estende desde o cárdia ao piloro, ocupa pratica-
nervo vago, que fornece ainda fibras secreto-mo- mente toda a extensão do plano sagital e relacio-
toras para as glândulas da mucosa esofágica. A na-se com o tronco celíaco e o lobo caudado do li-
inervação do esófago é feita ainda por fibras vis- gado, encontrando-se adiante do pilar direito do
cerais aferentes, responsáveis pela transmissão da diafragma. A pequena curvatura termina em bai-
dor, que caminham pelas fibras simpáticas dos pri- xo na incisura angular. O estômago apresenta duas
meiros quatro segmentos da medula espinhal. Es- faces - anterior e posterior. A face anterior, pode
tes segmentos recebem também fibras aferentes ser dividida em porção subtorácica, que se relacio-
do coração, explicando o porquê de ser por vezes na com o diafragma, e corresponde às 5.•-8.ª cos-
dificil a distinção entre as dores de causa esofági- telas esquerdas, sendo identificado pelo timpanis-
ca e cardíaca. mo à percussão (espaço de Traube) e porção abdo-
minal que se relaciona com o figado acima e à di-
reita e abaixo e à esquerda com a parede abdominal
ESTÔMAGO anterior (triângulo de Labbé). Por seu lado, a face
posterior relaciona-se com cavidade posterior dos
O estômago é uma porção dilatada do tubo diges- epíploones, e através desta, em cima, com o dia-
tivo que tem, entre outras, a função de armazenar fragma. Nesta zona o estômago está unido por te-
e digerir os alimentos, resultando na transforma- cido fibroso a este músculo, formando o ligamen-
ção do bolo alimentar em quimo. to suspensor. Para baixo, ainda através da cavidade
374
MANUTENÇÃO \ SISTEMA DIGESTIVO
osterior dos epíploones, o estômago relaciona-se gamento gastrocólico. Os últimos três formam o
~orn O pilar esquerdo do diafragma, com a cápsula grande epíploon.
suprarrenal esquerda e rim esquerdo e com o corpo
e cauda do pâncreas. Mais inferiormente esta face CONSTITUIÇÃO ANATÓMICA
relaciona-se com o mesocólon transverso e cólon
transverso, e através do ligamento gastrospléni- O estômago é constituído por quatro túnicas so-
co com o baço. A face posterior do estômago en- brepostas, de fora para dentro a túnica serosa,
contra-se quase toda recoberta por peritoneu, com constituída pelo peritoneu, a túnica muscular que
excepção de uma pequena parte, perto do cárdia. compreende três tipos de fibras musculares, longi-
O orifício superior do estômago corresponde ao tudinais, circulares e oblíquas, a túnica submuco-
cárdia, situando-se a nível da 11.ª vértebra toráci- sa constituída por tecido conjuntivo rico em vasos,
ca, 10 cm posterior à parede abdominal anterior e glândulas e nervos e a túnica mucosa que apresen-
a 40 cm dos dentes incisivos. Interiormente a tran- ta inúmeras pregas e glândulas gástricas, que pro-
sição corresponde à mudança de um epitélio estra- duzem o suco gástrico. As pregas gástricas são ftm-
tificado pavimentoso para um epitélio simples ci- cionalmente importantes a nível da junção esofá-
líndrico, marcada por uma linha em ziguezague, a gico-gástrica onde conjuntamente com a incisura
linha "Z". O orifício inferior ou duodenal corres- cardíaca e a contração tónica das fibras musculares
ponde ao piloro, e é atravessado pelo plano trans- lisas, formam um aparelho funcional que evita o
pilórico ao nível de 1:1, por regra 1 cm para adi- refluxo gastroesofágico, que poderá, em caso de re-
reita da linha média. E um anel muscular, formado corrência induzir uma substituição do epitélio pa-
pelas fibras circulares da camada muscular. vimentoso do esófago por um epitélio colunar, que
O estômago une-se ao fígado ao nível da pequena toma o nome de esófago de Barret.
curvatura pelo epíploon gastro- hepático, que for-
ma conjuntamente com o ligamento hépato-duo- ARTÉRIAS DO ESTÔMAGO
denal, o pequeno epíploon, e ao nível da gran-
de curvatura, o diafragma pelo ligamento gastro- O estômago é irrigado através de um circuito arte-
-frénico, ao hilo esplénico pelo ligamento gastro- rial resultante da união de vários ramos provenien-
-esplénico e abaixo ao cólon transverso pelo li- tes directamente do tronco celíaco e/ou ramos das
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Figura 5.10a: Estômago, configuração e vascularização arterial. Figura 5.10b: Estômago, drenagem venosa.
1. Estômago 2. Fundo gástrico 3. Curvatura maior 4. Curvatura 1. Estômago 2. Fundo gástrico 3. Curvatura maior 4. Curvatura menor
menor 5. lncisura angular 6. Cardia 7. Piloro 8. Baço 9. Fígado 5. lncisura angular 6. Cardia 7. Plloro 8. Baço 9. Fígado 10. Veia
10. Veia Cava Inferior 11. Pâncreas Cava Inferior 11. Pâncreas
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
suas artérias. Assim, o círculo arterial da pequena tra à direita dos dois primeiros territórios, dividin-
curvatura resulta da união da artéria gástrica es- do-se em duas zonas secundárias: uma superior e
querda (ramo do tronco celíaco) com a artéria gás- uma inferior. A zona superior, ou pilórica, encon-
trica direita (ramo da hepática comum). Por sua tra-se à direita do território da cadeia gástrica es-
vez, o círculo arterial da grande curvatura é cons- querda e estende-se da pequena curvatura ao pi-
tituído pela anastomose da artéria gastroepiploica loro. A zona inferior ou gastroepiploica é tributá-
esquerda (ramo da artéria esplénica) com a artéria ria da cadeia ganglionar gastroepiploica e do gru-
gastroepiploica direita (ramo da artéria duodenal). po infra-pilórico.
Para além destes arcos ou círculos arteriais, desti-
nados às paredes do estômago, o fundo gástrico re- INERVAÇÃO DO ESTÔMAGO
cebe ramos independentes - artérias gástricas cur-
tas. E stas, existentes em número variável, são ra- A inervação do estômago é feita a partir do ner-
mos de divisão da artéria esplénica junto ao hilo vo vago e do plexo celíaco. O tronco vaga! ante-
do baço, caminhando depois junto ao ligamento rior é derivado principalmente do nervo vago es-
gastroesplénico até alcançarem o fundo gástrico. querdo, entra no abdómen como um único ramo
localizando-se à frente do esófago. Dirige-se par;
VEIAS DO ESTÔMAGO a pequena curvatura do estômago, onde emite ra-
mos hepáticos e duodenais, continuando depois ao
A drenagem venosa é feita maioritariamente para longo da pequena curvatura, onde dá origem aos
a veia porta através de veias satélites das artérias ramos gástricos anteriores.
previamente descritas. O tronco vagal posterior é o maior, derivando
principalmente do nervo vago direito. Entra no
LINFÁTICOS DO ESTÔMAGO abdómen atrás do esófago e fornece ramos para a
face posterior do estômago. Emite um ramo para
Os linfáticos do estômago convergem para as duas o plexo celíaco e para o plexo mesentérico supe-
curvaturas e para o fundo, encontrando-se dividi- rior, com distribuição ao intestino e ao pâncreas.
dos em três territórios linfáticos: 1 - território da A inervação simpática do estômago comporta um
cadeira ganglionar da artéria gástrica esquerda; 2 - número significativo de fibras transmissoras da
território da cadeia ganglionar da artéria esplénica; dor, enquanto as fibras vagais são secreto-motoras
3 - território da cadeia ganglionar da artéria hepá- para as glândulas gástricas e motoras para a parede
tica. D este modo, podemos afirmar que os linfá- muscular do estômago. O esfíncter pilórico recebe
ticos do estômago seguem o trajecto das artérias. fibras motoras do simpático e inibitórias do vago.
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MANUTENÇÃO I SISTEMA DIGESTIVO
377
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
mesocólon relaciona-se com as ansas do jejuno-í- a esquerda da quarta à segunda lombar. A face
leo. Por vezes, os vasos eólicos superiores direitos anterior de D4 é infra-mesocólica e correspon-
podem cruzar a face anterior do duodeno infra- de à primeira ansa jejunal, face posterior do estô-
mesocólico. A face posterior de D2 está fixada aos mago e cavidade posterior dos epíploones. A face
planos posteriores pela faixa de Treitz da primei- posterior de D4 relaciona-se com a aorta, vasos
ra à quarta lombar. Relaciona-se com a veia cava renais, espermáticos ou útero-ováricos esquer-
inferior, com o pedículo renal direito, porção in- dos que o separam do diafragma e do músculo
terna da face anterior do rim direito, o bacinete e psoas. O bordo interno corresponde à parte su-
ureter direito, a artéria testicular ou útero-ovári- perior da raiz do mesentério, o bordo externo ao
ca direita que cruzam a face anterior da veia cava arco vascular de Treitz formado pelo cruzamen-
inferior ao nível da terceira lombar. to da veia mesentérica inferior e da artéria cóli-
D3 ou segmento pré-cava-aórtico é cruzado na ca superior esquerda. O ângulo duodeno-jejunal
face anterior pelos vasos mesentéricos superiores situa-se no flanco esquerdo ao nível da segunda
e gânglios linfáticos e nervos contidos na raiz do lombar, abaixo da raiz do mesocólon transverso.
mesentério e mesocólon ascendente. Contacta com o bordo inferior do pâncreas, cor-
A face posterior de D3 está fixada aos planos pos- respondendo posteriormente à porção lombares-
teriores, cobrindo da direita para a esquerda aveia querda do diafragma constituindo um dos pon-
cava inferior, a aorta e a origem da artéria mesen- tos mais fixos do intestino delgado suspenso pelo
térica superior, o plexo inter-mesentérico, a parte músculo de Treitz (o qual se insere no pilar es-
inferior da raiz dos nervos esplâncnicos pélvicos querdo do diafragma e no vértice do ângulo duo-
e elementos superiores da cadeia mesentérica in- deno-jejunal e metade superior da face posterior
ferior. A face superior de D3 relaciona-se com o de D4. O peritoneu que reveste a região terminal
gancho do pâncreas e é cruzada pela veia mesen- do órgão forma fossetas que constituem divertí-
térica superior. A face inferior de D3 correspon- culos da grande cavidade peritoneal, das quais a
de às ansas do intestino delgado. D4 ou duode- mais constante é a fosseta duodenal inferior si-
no para-aórtico esquerdo, segue o flanco esquer- tuada à esquerda da porção inicial de D4.
do da coluna lombar e aorta e sobe da direita para
378
MANUTENÇÃO I SISTEMA DIGESTIVO
Figura 5.13: Vascularização arterial do bloco duodeno pancreático. Figura 5.14: Drenagem Venosa do bloco duodeno-pancreático.
1. Vesícula biliar 2. Tronco celíaco 3. Artéria hepática comum 4. Artéria 1. Tronco esplenomesaraico 2. Veia esplénica 3. Veia mesentérica
esplénica 5. Bloco duodeno-pancreático 6. Canal colédoco inferior 4. Veia mesentérica superior 5. Veia porta
VEIAS PÂNCREAS
São satélites das artérias. Os ramos vindos das fa- O pâncreas é uma glândula de secreção mista (in-
ces anterior e posterior do órgão lançam o sangue terna e externa). É um órgão alongado transver-
em duas arcadas duodeno-pancreáticas: a anterior salmente, aplanado da frente para trás. A porção
e a posterior que drenam o sangue na veia mesen- direita, mais volumosa e intimamente relaciona-
térica superior separadamente ou por intermédio da com o duodeno é a cabeça. Apresenta uma go-
de um tronco comum (Fig. 5.14). teira no bordo superior onde repousa o duodeno.
O bordo inferior apresenta uma lingueta livre: o
LINFÁTICOS gancho do pâncreas anteriormente ao qual passam
os vasos (artéria e veia) mesentéricos superiores.
Nascem de redes intraparietais e lançam a linfa O colo é uma região mais estreita entre a cabeça
nos gânglios duodeno-pancreáticos anteriores, ca- e o corpo do pâncreas. O corpo é mais alongado
deias sub-pilóricas, gastroduodenal e da mesenté- da direita para a esquerda. A meio do bordo supe-
rica superior. Os posteriores (atrás da cabeça do rior do corpo localiza-se o tubérculo pancreático
pâncreas) drenam para gânglios à direita da me- esquerdo. A cauda é afilada e recurva para a fren-
sentérica superior. Os linfáticos de D4 e ângulo te relacionando-se intimamente com o epíploon
duodeno-jejunal drenam para um gânglio inferior pancreático- esplénico, pelo que se considera uma
ao corpo do pâncreas. Os de D1 drenam para gân- estrutura livre na cavidade peritoneal.
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MANUAL DE ANATOMIA H UMANA
O pâncreas mede cerca de 12 a 22 cm e pesa cerca formam o tronco da veia porta a uma altura variá-
de 80 gramas no adulto. A cabeça e o corpo estão vel (Fig. 5.14).
fixos aos planos posteriores da cavidade abdomi-
nal. A cabeça está intimamente unida ao duode- Outras relações
no pela proximidade e vasos do tronco celíaco e da
artéria mesentérica superior. Só a cauda está mó- As relações do pâncreas com estruturas que não
vel no epíploon pancreático-esplénico. O pâncreas pertencem à loca duodeno-pancreática são ante-
situa-se ao nível das primeiras vértebras lombares. riores, posteriores, superiores, inferiores, laterais
A secreção externa do pâncreas (enzimas que par- direitas e esquerdas (Fig. 5.11). As relações an-
ticipam do processo digestivo) é lançada no duo- teriores são supra ou infra-mesocólicas separadas
deno pelos canais pancreáticos: o canal de Wir- pela inserção do mesocólon transverso que cruza
sung ou principal e o acessório ou de Santori- a parte inferior da cabeça e colo e segue o bor-
ni. O canal de Wirsung segue o eixo do órgão da do inferior do pâncreas. A região infra-mesocóli-
cauda até à cabeça terminando em D2 na grande ca é recoberta anteriormente pelo mesocólon as-
carúncula recoberto por uma prega mucosa com cendente com o pedículo cólico superior direito.
um freio na parte inferior. A terminação é conjun- A região supra-mesocólica relaciona-se com o es-
ta com o colédoco formando uma pequena dilata- tômago e Dl. Posteriormente o pâncreas relacio-
ção - a ampola de Vater, a qual se abre na grande na-se na linha média com a aorta. Superiormen-
carúncula. O canal de Santorini drena a face an- te ao pâncreas está a origem do tronco celíaco e
terior da cabeça e é mais pequeno; abre-se em D2 gânglios semi- lunares e a origem da mesentéri-
numa pequena carúncula entre a grande carúncu- ca superior ao nível da primeira lombar. Abaixo
la e o joelho superior do duodeno (Fig. 5.12A). da origem da artéria mesentérica superior, a aorta
é cruzada pela veia renal esquerda. À direita da li-
Relações do pâncreas na loca duodeno- nha média o pâncreas relaciona-se com a fáscia de
-pancreatica Treitz correspondendo através dela à veia cava in-
ferior e terminação das veias renais, artérias tes-
A cabeça do pâncreas relaciona-se intimamente ticulares ou útero-ováricas e veias homónimas.
com as três primeiras porções do duodeno, (Fig. À esquerda da linha média o pâncreas está fixo aos
5.11).Junto ao pedículo hepático, a via biliar prin- planos posteriores pela fáscia de Toldt, através da
cipal torna-se posterior ao pâncreas descendo até qual se relaciona com o pilar esquerdo do diafrag-
à papila principal em D2. O tronco celíaco e a ar- ma, com o pedículo renal esquerdo, rim esquerdo
téria mesentérica superior são posteriores à cabe- e suprarrenal esquerda. A cauda do pâncreas é li-
ça do pâncreas. A artéria esplénica, ramo do tron- vre e está contida entre dois folhetos do perito-
co celíaco segue o bordo superior do órgão com neu, que seguem até ao hilo do baço constituindo
um trajecto sinuoso até à cauda, onde penetra no o epíploon pancreático-esplénico.
epíploon pancreático-esplénico até ao baço. Ao
longo do trajecto dá ramos que irrigam o pân- ARTÉRIAS
creas. A artéria hepática direita, inconstante, nas-
ce da mesentérica superior e cruza a face poste- O pâncreas é ricamente vascularizado, sendo ir-
rior da cabeça do pâncreas entrando no pedícu- rigado pelos ramos nascidos do tronco celíaco e
lo hepático externamente ao tronco da veia porta. artéria mesentérica superior (Fig. 5.13). Destes
Posteriormente ao pâncreas estão as raízes de ori- troncos nascem 2 arcadas: uma anterior e inferior
gem do tronco porta: a veia esplénica que vem do e outra posterior e inferior. A anterior e inferior é
pólo do baço, cruza o bordo superior da cauda do formada pela anastomose da artéria pancreático-
pâncreas e caminha inferiormente à artéria. A veia -duodenal anterior e superior, ramo da gastroduo-
mesentérica inferior, que é posterior ao pâncreas e denal e uma pancreático-duodenal anterior e in-
se anastomosa com a esplénica formando o tron- ferior que vem dum tronco comum com a pan-
co esplenomesaraico e a veia mesentérica superior, creático-duodenal posterior e inferior e da primei-
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MANUTENÇÃO J SISTEMA DIGESTIVO
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Encontramos o ligamento falciforme, que o une demo fígado ao diafragma.O ligamento triangu-
à parede abdominal anterior. É formado por dois lar direito é largo e espesso, e a sua base relacio-
folhetos, entre os quais estão as veias frénicas, va- na-se com a veia cava inferior. A sua extremidade
sos linfáticos, feixes nervosos do plexo diafragmá- afila-se e une o fígado na parede posterior do ab-
tico, e ao nível do seu bordo inferior o ligamento dómen. Inferiormente este ligamento estende-se
redondo do fígado. Estas veias constituem anas- ao rim formando o ligamento hepato-renal. Para
tomoses porto-cava. A inserção parieto-diafrag- dentro, o folheto inferior do ligamento triangular
mática começa na face profunda do umbigo, se- recobre o processo caudado e, adiante da veia cava
gue mediana e verticalmente para a cúpula dia- inferior, forma a extremidade superior do foramen
fragmática, para se juntar à extremidade posterior epiplóico (hiato de Winslow). O ligamento trian-
do bordo hepático. Em cima, os dois folhetos re- gular esquerdo liga o bordo posterior do lobo es-
flectem-se para a direita e para a esquerda com o querdo e o segmento horizontal do sulco do canal
peritoneu que reveste a face inferior do diafragma. de Arantius à parede posterior. É menos espesso e
O bordo inferior,já referido, apresenta o ligamen- mais afilado do que o ligamento triangular direito.
to redondo do fígado, resultante da atrofia da veia Por baixo, o fígado encontra-se unido ao esófago
umbilical, que vai do umbigo ao sulco umbilical, abdominal estômago e porção superior do duode-
na face inferior do fígado. É arqueado e a sua con- no pelo pequeno epíploon. Na sua inserção hepá-
cavidade olha para baixo, para trás e para a direita. tica, os dois folhetos estão inseridos nos dois lá-
O ligamento falciforme separa a grande cavidade bios do hilo hepático e continuam-se com o peri-
diafragmática em duas locas, as locas hepato-dia- toneu que envolve o próprio fígado e ainda nos lá-
fragmáticas direita e esquerda. bios da goteira do canal qe Arantius. O pequeno
O ligamento coronário, que resulta das reflexões epíploon estende-se da pequena curvatura gástrica
póstero superiores, direita e esquerda, do ligamen- e do duodeno ao fígado, e forma a parede anterior
to falciforme estende-se desde a face posterior do do vesubulo da cavidade posterior dos epíploones.
fígado até ao diafragma, sendo relativamente cur- No bordo livre, sobe o pedículo hepático inferior.
to. Apresenta dois prolongamentos, os ligamentos Prolonga-se, por vezes, para fora por uma fina lâ-
triangulares direito e esquerdo, que também pren- mina estendida do colo da vesícula ao duodeno e
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MANUTENÇÃO j SISTEMA DIGESTIVO
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
os plexos nervosos que acompanham a artéria e O fígado e a vesícula biliar, alojada na fossa d
as vias biliares. Esta morfologia não correspon- vesícula biliar repousam sobre as vísceras supra~
de à distribuição destes elementos vásculo-bilia- -mesocólicas, na cavidade peritoneal. O lobo di-
res no interior do fígado. Nos dois lábios do hilo reito está assim em relação com o ângulo hepá-
inserem-se as lâminas ou folheto anterior e pos- tico do cólon, com o segmento supra-mesocó-
terior do pequeno epíploon. lico do duodeno e, mais atrás, com a parte su-
A existência destes sulcos, determina nesta face do perior do rim direito, recoberta pelo peritoneu.
fígado, quatro lobos: O lobo quadrado repousa sobre o pequeno
• Lobo direito - corresponde a toda a região epíploon e o antro do estômago. O lobo esquer-
da face visceral do fígado que está à direita do molda-se sobre a face anterior do estômago.
da fossa da vesícula biliar. Apresenta impres- O espaço entre o fígado e estas vísceras designa-
sões devidas às relações dos órgãos com que -se loca infra-hepática.
este lobo se relaciona, encontrando-se sepa- A face posterior está aplicada contra a parede ab-
radas por duas cristas. São a impressão cólica, dominal posterior, e apresenta dois sulcos verti-
adiante, a impressão renal, atrás e para dentro, cais, o direito e o esquerdo. O direito é largo e
e a impressão suprarrenal, entre as duas. corresponde à face anterior da veia cava inferior
• Lobo esquerdo - corresponde a toda a região correspondendo, em baixo, ao processo caudado'.
da face inferior que está à esquerda do sulco Da parte superior deste sulco, emergem do fíga-
da veia umbilical. Devido à sua relação com do as veias hepáticas, em número de duas ou três,
o estômago, encontramos a impressão gás- que terminam na veia cava inferior. Em toda a
trica; à direita desta impressão, i.e., por fora extensão do sulco, existem ramos hepáticos mais
da extremidade esquerda do sulco transverso pequenos que terminam igualmente na veia cava
e adiante da inserção do pequeno epíploon inferior. O sulco esquerdo é mais estreito e con-
descrevemos o tubérculo epiploico do fígado. tém o resquício fibroso do canal de Arantius. Ao
• Lobo quadrado ou eminência porta anterior nível do bordo póstero-superior, dirige-se para a
- corresponde à porção da região média do direita e junta-se ao sulco da veia cava inferior
fígado situada adiante do sulco transverso e constituindo no feto uma anastomose porto-ca-
limitada lateralmente pelos sulcos ântero- va. A face posterior é, na sua maioria, retrope-
-posteriores direito e esquerdo. Relaciona-se ritoneal. À direita recobre a glândula suprarre-
com a porção direita, pré-pancreática, do có- nal direita e o pólo superior do rim. Relaciona-
lon transverso e, mais atrás com o bulbo duo- -se com a extremidade posterior do fundo-de-sa-
denal e primeira porção do duodeno, e com a co costo- diafragmático, que tem início à altura
região pilórica. do disco intervertebral entre D12 e Ll e cruza a
• Lobo caudado (de Spiegel ou eminência por- 12.ª costela a 6 cm da linha média e a ll_a cos-
ta posterior - corresponde à porção retro- tela a 11 cm da linha média. Também à direita o
-hilar da região média do fígado, relaciona- fígado corresponde directamente à parede pos-
-se com a entrada e com o vestfüulo da cavi- terior, sem interposição do peritoneu, através da
dade posterior dos epiplons e, por intermédio área nua. A face posterior do lobo caudado cor-
desta, com o plexo celíaco. Na porção ante- responde ao divertículo superior do vestíbulo da
rior deste lobo, descrevemos um tubérculo ar- cavidade posterior dos epíploones; e a sua extre-
redondado, o tubérculo papilar, que constitui midade inferior situa-se atrás do hilo hepático e
o lábio posterior do sulco transverso, relacio- está, portanto, oculta pelo pequeno epíploon. Ao
nando-se com o ramo esquerdo da veia por- contrário do que ocorre à direita a face posterior
ta. À direita deste tubérculo, a separar a fos- do lobo esquerdo está unida à parede posterior
sa da vesícula biliar da goteira da veia cava, te- pelo ligamento triangular esquerdo. Este crµza a
mos o prolongamento caudado ou tubércu- face anterior do esófago, sendo por isso neces-
lo caudado. sário seccionar o ligamento triangular esquerdo
para expor a região cárdioesofágica.
384
MANUTENÇÃO I SISTEMA DIGESTIVO
Entre os dois sulcos encontra-:_se o lobo caudado, noso, limita em cima a goteira esofágica e confun-
Jiso, recoberto por peritoneu. A esquerda do sul- de-se com o bordo póstero-inferior na face poste-
co do canal de Arantius, encontra-se a face poste- rior do lobo esquerdo.
rior do lobo esquerdo, que se estreita, apresentan- A extremidade direita é volumosa, ocupa o hipo-
do a inserção do ligamento triangular esquerdo, e côndrio direito e continua-se sem linha de separa-
uma goteira vertical qu~ corresponde ao esófago, ção com a face convexa. Dá inserção ao ligamento
a impressão esofágica. A direita do sulco da veia triangular direito.
cava inferior, encontramos a inserção do ligamen- A extremidade esquerda é delgada e aplanada, es-
to triangular direito e a parte superior das impres- tende-se sobre o fundo do estômago, está fixa ao
sões renal e suprarrenal. diafragma pelo ligamento triangular esquerdo.
O bordo anterior é delgado e cortante, com forma O fígado possui cápsula fibrosa (de Glisson) for-
de bisei, classicamente identificado por uma linha mada por duas partes, uma que recobre a superfí-
recta que se estende da extremidade da 10.ª costela cie exterior do órgão e outra que ocupa o hilo he-
direita à 8.ª cartilagem costal esquerda. Apresen- pático e se prolonga para o interior acompanhan-
ta duas incisuras que correspondem à extremida- do as ramificações do pedículo hepático. Esta cáp-
de anterior dos dois sulcos longitudinais descritos sula possui um conjunto de espessamentos, a pla-
na face inferior, visceral, do fígado. Uma das inci- ca hilar que pode ser separada do parênquima sem
suras, próxima da linha média, a incisura do liga- hemorragia, a placa vesicular, que deve ser conser-
mento redondo, dá passagem à veia umbilical e à vada pela hemorragia importante que a sua lesão
porção correspondente do ligamento redondo do provoca, a placa umbilical que forma o fundo da
fígado. A outra incisura, situada à direita, é ocu- goteira umbilical, e a placa arantiana forma o fun-
pada pelo fundo, arredondado, da vesícula biliar. do do sulco de Arantius.
À direita apresenta o ângulo anterior direito cuja
continuidade se dirige para cima e para trás, para Vascularização e Inervação do Fígado
se juntar ao bordo póstero-inferior, formando o
ângulo posterior e direito. O fígado é um órgão ricamente vascularizado. Po-
O bordo posterior é espesso à direita da veia cava demos distinguir duas classes de vasos sanguíneos:
inferior e é marcado pela impressão da glândula os vasos aferentes (artéria hepática, veia porta e
suprarrenal direita. À esquerda da veia cava e da veia umbilical), que formam o pedículo inferior e
coluna vertebral, está representado pelo tubércu- os vasos eferentes, as veias hepáticas, que formam
lo papilar do lobo caudado e pelo prolongamen- o pedículo superior.
to caudado. No interior do fígado estes elementos ramificam-
O bordo póstero-inferior é arredondado e relacio- -se de forma idêntica o que permite distinguir
na-se com o corpo da 11.ªvértebra torácica,obser- segmentos, os lóbulos hepáticos, bem determina-
vando-se uma concavidade moldada a esta porção dos e irrigados por pedículos perfeitamente iden-
da coluna vertebral. Corresponde à parte inferior tificáveis. Estes estão separados pelas cisuras he-
do sulco da veia cava inferior e ao processo cauda- páticas.
do, sendo formado atrás do hilo hepático pela ex- A artéria hepática própria, que se continua da he-
tremidade inferior do lobo caudado que apresen- pática comum, ramo do tronco celíaco, depois de
ta duas pequenas saliências uma direita, o tubér- caminhar no pequeno epíploon, adiante da veia
culo caudado, e outra esquerda, o tubérculo papi- porta e à esquerda do canal hépato-colédoco, al-
lar. Para a direita encontramos o sulco do canal de cança o hilo hepático. O fígado pode ainda rece-
Arantius, a extremidade inferior da goteira esofá- ber à direita irrigação de um ramo da mesentérica
gica e, finalmente, o bordo posterior do lobo es- superior e à esquerda da gástrica esquerda.
querdo. O bordo póstero-superior da direita para A veia porta, que recebe o sangue venoso do tubo
a esquerda corresponde ao lobo direito forma o li- digestivo abdominal, resulta da união da veia es-
mite superior do sulco da veia cava inferior, corres- plénica com a veia mesentérica superior e ao nível
ponde ao segmento horiwntal do ligamento ve- do hilo do fígado divide-se em dois ramos, um di-
385
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
reito e um esquerdo, que se distribuem numa rede O pedículo eferente, que conduz o sangue veno-
vascular até aos sinusoides hepáticos. As veias he- so com origem no figado à veia cava inferior com-
páticas, que recebem o sangue venoso de um sis- preende quatro grupos de veias hepáticas. As veias
tema de capilares venosos com origem nas sinu- dorsais, vêm do lobo caudado e drenam directa-
soides, conduzem o sangue do figado para a veia mente para a veia cava inferior; isolam um sector
cava inferior. A isto se chama um sistema porta. supra-hepático dorsal sobreposto ao sector dorsal
O ramo esquerdo da veia porta irriga o figado es- portal. O restante figado é drenado por três veias
querdo, nomeadamente os lobos esquerdo e qua- hepáticas, esquerda, média e direita, a partir de três
drado, a metade esquerda do leito da vesícula bi- sectores supra-hepáticos, esquerdo, médio e direi-
liar e o parênquima suprahilar esquerdo O figado to, separados pelas cisuras supra-hepáticas. O sec-
direito, é irrigado pelo ramo direito da veia porta. tor supra-hepático esquerdo corresponde ao lobo
A separação entre o figado direito e o fígado es- esquerdo e a cisura supra-hepática esquerda segue
querdo é identificada pelo fundo do leito vesicular, o sulco umbilical e o sulco do canal de Arantius.
na cisura principal, que atravessa o hilo hepático à O sector supra-hepático médio forma a parte mé-
altura da bifurcação portal e termina na porção es- dia do fígado e inclui a vesícula biliar. A veia su-
querda da veia cava inferior. pra-hepática média desenvolve-se na cisura portal
O lobo caudado situado atrás do tronco da veia principal. O sector supra-hepático direito corres-
porta forma o sector dorsal, que corresponde ao ponde ao território dividido pela veia supra-hepá-
segmento I, sendo independente dos restantes. tica direita e separado do restante por uma cisura
O ramo esquerdo da veia porta dirige-se trans- supra-hepática direita.
versalmente para a esquerda e divide-se na extre- Estes segmentos e respectivas cisuras tem impor-
midade esquerda do hilo hepático. Um pequeno tância clínico-cirúrgica e é importante recordar
ramo esquerdo irriga a parte posterior do lobo es- que são independentes da morfologia exterior do
querdo, que se denomina sector lateral esquerdo, fígado.
correspondendo ao segmento II. Um outro ramo Os linfáticos do figado dividem-se em superficiais
dirige-se para diante na goteira umbilical até ao e profundos. Os linfáticos superficiais da porção
recesso umbilical e distribui-se pelo sector para- anterior da face superior destinam-se aos gânglios
mediano esquerdo, que corresponde ao resto do do pedículo hepático, e gânglios justa-pericárdi-
figado esquerdo. Esse sector é formado por dois cos através de colectores transdiafragmáticos e da
segmentos: um esquerdo, o segmento III, corres- via para-cávica. À esquerda, nesta face, dirigem-se
pondendo à parte anterior do lobo esquerdo, e um para os gânglios látero-aórticos, e cadeia gástrica
direito, correspondendo ao lobo quadrado, à me- esquerda. Os linfáticos superficiais da face inferior
tade esquerda da fosseta da vesícula biliar e ao pa- dirigem-se aos gânglios do pedículo hepático. Os
rênquima situado acima da parte esquerda do hilo linfáticos profundos acompanham a veia porta até
hepático, que constitui o segmento IV. O ramo di- ao pedículo hepático. Na face posterior, os colecto-
reito da veia porta divide-se num pedículo direito, res superficiais drenam pelos ligamentos triangu-
que se continua para trás para irrigar a face pos- lar direito e falciforme atingindo os gânglios jus-
terior do órgão. Assim, no sector lateral direito os ta-esofágicos e justa-frénicos direitos. Os colecto-
ramos anteriores correspondem ao segmento VI, res profundos podem acompanhar as veias supra-
ao qual pertencem em regra o ângulo anterior e -hepáticas, os gânglios justa-frénicos torácicos di-
direito do fígado, e os elementos posteriores dis- reitos, ou descer na direcção do pedículo hepático
tribuem-se pelo segmento VII, que ocupa a face e terminando em gânglios das artérias hepática e
posterior do lobo direito. O pedículo paramedia- gástrica esquerda.
no direito dirige-se para cima e para trás, para o A inervação é realizada pelo plexo hepático que
bordo póstero-superior e distribui-se pelo sector contém fibras simpáticas e parassimpáticas. Pode-
paramediano direito e compreende, um segmen- mos distinguir uma parte anterior que rodeia a ar-
to anterior, o V, e um segmento posterior e supe- téria hepática. Os seus feixes provêm dos gânglios
rior, o VIII. semilunares direito e esquerdo e dos ramos hepá-
386
MANUTENÇÃO I SISTEMA DIGESTIVO
Constituição anatómica
387
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
mar-se canal colédoco. Este desce no bordo livre Assim, a vesícula biliar é um reservatório membra-
do pequeno epíploon à frente da parte direita do noso anexo à via biliar principal. Situa-se na face
tronco porta; afastando-se no pé do pedículo, daí visceral do fígado, na fossa da vesícula biliar (cís-
a existência de um triângulo porta-colédoco. A ar- tica). Tem a forma de uma pêra, de grande extre-
téria hepática sobe sobre o flanco esquerdo da veia midade anterior, com o maior eixo dirigido obli-
porta e divide-se num ramo direito e num ramo quamente para cima e para trás, com aproximada-
esquerdo, ao nível da parte inicial da via biliar mente 10 cm de comprimento. Podemos distin-
principal. O pedículo hepático assim constituído guir na vesícula, um fundo, um colo e um corpo.
relaciona-se atrás com o foramen epiploico (hiato O fundo corresponde à incisura cística. Relacio-
de Winslow), do qual forma o limite anterior, se- na-se com a parede abdominal anterior imedia-
parado por ele da veia cava inferior, atrás. Na por- tamente por baixo do rebordo costal, ao nível da
ção inferior do pedículo hepático, a via biliar prin- extremidade anterior da 10.ª cartilagem costal.
cipal relaciona-se com a 1.ª porção do duodeno, O corpo apresenta uma face superior e uma face
o que explica a possibilidade de fístulas colédoco- inferior. O colo ocupa a parte superior do bordo
-duodenais por úlceras duodenais. livre do pequeno epíploon. Corresponde, em cima,
Depois, situa-se atrás da cabeça do pâncreas até à ao vértice da fossa da vesícula biliar e, em baixo, à
face interna da 2.ª porção do duodeno, descreven- porção superior do duodeno. Na sua constituição
do, por regra, uma curvatura côncava para a fren- anatómica descrevemos 4 camadas, a mais exte-
te e para a direita. Na parte inferior, se torna mui- rior, de peritoneu, somente na face inferior.
tas vezes num canal, encontrando-se muitas ve- O canal cístico mede, em média, 4 cm e forma
zes totalmente recoberta de tecido pancreático, por com o colo um ângulo agudo aberto atrás. Diri-
esta razão a patologia pancreática comprimem- na ge-se obliquamente para baixo, para a esquerda e
com grande frequência, determinando icterícia por para trás, abordando a via biliar principal pela di-
obstrução. A via biliar principal mede entre 8 a 10 reita até à sua terminação, geralmente um pou-
cm, e o seu diâmetro é de aproximadamente 5 mm, co acima do duodeno. O canal cístico pode apre-
apresentando um estreitamento ao nível da im- sentar no seu início uma válvula mucosa espiral,
plantação duodenal, cujo calibre é de 2 a 3 mm. O de Heister; e é liso na sua porção distal. O canal
canal colédoco, normalmente termina, juntamente cístico relaciona-se, por dentro, com o canal he-
com o canal pancreático principal, numa dilatação, pático comum, podendo ser separados por dis-
denominada "ampola hepatopancreática de Vater," secção, que afasta estes órgãos, pondo em evi-
na união das faces posterior e interna, a 3 ou 4 cm dência o triângulo da "colecistectomia" de Calot,
do piloro, na porção descendente do duodeno. Esta cujo bordo esquerdo oblíquo para baixo é forma-
implantação apresenta uma anatomia variável, p.e., do pelo canal cístico, o bordo direito pelo canal
o colédoco e o canal pancreático podem terminar hepático comum, e o bordo superior pelo fígado.
separadamente no duodeno. Na área deste triângulo, encontram-se normal-
Na ampola hepatopancreática encontra-se um es- mente os vasos císticos.
fíncter, que regula a saída de bílis, o esfíncter da
ampola de Oddi. Tem 5 a 6 mm de altura e o seu
bordo inferior está em contacto com a muscular JEJUNO-ÍLEON
da mucosa duodenal. O seu bordo superior conti-
nuasse com os esfíncteres próprios do colédoco e O jejuno e o íleo formam a parte móvel do intes-
do canal de Wirsung. tino delgado que se estende do ângulo duodeno-
É importante referir na constituição anatómica a -jejunal à junção ileocólica, do flanco esquerdo à
ausência de uma submucosa. fossa ilíaca direita, sendo muito difícil precisar os
Se a pressão não for suficiente, a bílis, produzida limites destas duas porções (Fig. 5.17). O calibre
no fígado, reflui e aloja-se na vesícula biliar, per- destas regiões do intestino delgado vai diminuin-
correndo retrogradamente a via biliar extra-hepá- do progressivamente após o duodeno até à jun-
tica acessória. ção ileocólica (2 a 3 cm no ângulo duodeno-jeju-
388
MANUTENÇÃO I SISTEMA DIGESTIVO
CONSTITUIÇÃO DA PAREDE
Localização
389
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
390
MANUTENÇÃO I SISTEMA DIGESTIVO
VEIAS
LINFÁTICOS 2
391
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
CÓLON ASCENDENTE
392
MANUTENÇÃO I SISTEMA DIGESTIVO
393
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
sua extensão, a metade direita do cólon transver- rigindo-se o descendente verticalmente para baixo
so é móvel na cavidade abdominal, sendo a parte nesta zona, num exame radiológico visto de face
fixa a que é aderente atrás e recobre o como direi- uma imagem opaca pode corresponder ao trans-
to da cavidade posterior dos epíploones. A porção verso, ao ângulo esplénico ou ao descendente.
móvel está ligada ao estômago pelo ligamento gas- O ângulo esquerdo é mais externo que o direito- 0
trocólico. A metade esquerda do cólon transverso direito é anterior ao rim direito e o esquerdo é ex-
também é móvel em grande parte da sua extensão terno ao rim esquerdo e mais superior.
e é ascendente para cima e para a esquerda até ao
ângulo esplénico. Tem três fitas cólicas- uma an- CÓLON ESQUERDO
terior e duas posteriores, uma inferior e outra su-
perior, correspondendo a última à inserção do me- O cólon esquerdo tem 3 características que o di-
socólon transverso. Este insere-se nos planos pos- ferenciam do cólon direito: o diâmetro, que é mais
teriores e recai sobre as primeiras ansas do delga- estreito, é constituído por duas ansas móveis- a
do- a sua raiz é obliqua para cima e para a esquer- metade esquerda do cólon transverso e o cólon
da dividindo o abdómen em dois andares: um su- sigmóide separados por um segmento fixo à pare-
pra e outro infra- mesocólico. O mesocólon tem de posterior- o cólon descendente.
um bordo anterior que se insere no cólon e um Este estende-se do ângulo esplénico à crista ilía-
bordo posterior ou raiz que começa no bordo in- ca esquerda correspondendo atrás à região lombar
terno de D2, cruza a cabeça do pâncreas, segue o (o cólon descendente propriamente dito) e o có-
bordo inferior do corpo do pâncreas, passa acima lon ilíaco, que corresponde à porção anterior sobre
do ângulo duodeno-jejunal, cruza a face anterior a fossa ilíaca esquerda (da crista ilíaca ao estreito
do rim esquerdo a meio da altura do rim e inse- superior). O cólon lombar é posterior, descenden-
re-se no plano parietal posterior constituído nessa te, externo, desce quase verticalmente entre o rim
região pelo diafragma. A cauda do pâncreas toma- e a parede abdominal lateral, descrevendo uma li-
-se intraperitoneal, unida pelo epíploon pancreáti- geira curva de concavidade interna. O cólon ilía-
co-esplénico ao baço, separando-se da raiz do me- co atravessa a fossa ilíaca esquerda descendo obli-
socólon. A face superior do mesocólon forma o quamente para baixo, para dentro e para a frente,
pavimento da cavidade posterior dos epíploones e existindo cólones curtos, quase rectilíneos que se-
a face inferior contacta com as primeiras ansas je- guem na região súpero-interna da fossa ilíaca pró-
junais. O ligamento gastro- cólico destaca-se da ximo da articulação sacroilíaca, os cólones de com-
grande curvatura gástrica e do bordo inferior de primento médio passa a região média da fossa 4 ou
D1. Fixa-se inferiormente no bordo anterior do 5 cm acima da arcada crural, os cólones mais com-
cólon transverso contribuindo para formar a pa- pridos relacionam-se com o ângulo formado pela
rede anterior da cavidade posterior dos epíploo- parede da fossa ilíaca e a parede abdominal ante-
nes. O grande epíploon insere-se no bordo ante- rior. O segmento lomboilíaco do cólon está fixo ao
rior do transverso. plano posterior pela face posterior.
O ângulo esplénico situa-se profundamente na re- Na parede do cólon entre a mucosa e a submuco-
gião tóraco-abdorninal, externamente e posterior- sa existe a muscularis mucosae. A mucosa e a sub-
mente ao corpo gástrico e inferiormente ao baço. mucosa do apêndice têm numerosos folículos lin-
Corresponde à face interna da nona costela e à li- foides cuja inflamação está na origem da apendici-
nha média axilar. Este é um ângulo muito agudo, te aguda. Exteriormente à submucosa estão as ca-
orienta-se num plano ântero-posterior e está fixo madas musculares, a interior de fibras circulares e
pelo ligamento freno- cólico esquerdo. Por ser um a exterior de fibras longitudinais, seguindo-se a se-
ângulo muito fechado pode constituir um obstá- rosa. A configuração exterior é semelhante às res-
culo relativo à passagem das fezes e dos gases. Di- tantes porções do cólon, com 3 fitas longitudinais
394
MANUTENÇÃO I SISTEMA DIGESTIVO
ue pregueiam o cólon formando bosseladuras se- tando colado aos planos posteriores pela fáscia de
qaradas por sulcos transversais. Adjacente às bos- Toldt. Mais internamente relaciona-se com o ure-
; e1aduras existem apêndices epiploicos constituí- ter direito e, externamente a ele com os vasos tes-
dos por tecido adiposo. Interiormente as bossela- ticulares e útero- ováricos. O ângulo hepático re-
duras correspondem a ampolas separadas por cris- laciona-se posteriormente com a metade inferior
tas ou pregas semilunares, correspondendo as cris- do rim direito. A parte direita do transverso rela-
tas aos sulcos da face exterior. Na região de tran- ciona-se com o rim, com o bloco duodeno-pan-
sição entre o íleo e o cólon existe uma válvula - a creático, cruzando a segunda porção do duodeno.
válvula ileocólica, ileocecal ou de Bauhin forma- O mesocólon transverso começa no bordo esquer-
da pela invaginação parcial do íleo no cólon, sen- do do duodeno, sendo que a sua raiz cruza a ca-
do que cada uma das suas valvas é constituída pelo beça do pâncreas, e segue depois o bordo inferior
colarnento das camadas parietais do íleo e do có- do corpo do pâncreas. Externamente, o cólon re-
lon. É uma válvula bastante potente. Na região de laciona-se com as partes moles do flanco e gotei-
implantação do apêndice existe uma válvula, a vál- ra parieto-cólica direita. Internamente relaciona-
vula de Gerlach. -se com os órgãos da grande cavidade peritoneal
mais próximos, como as ansas do delgado. Entre o
Relações anatómicas cólon e o mesentério está a loca mesentérico-có-
lica direita. O cólon transverso relaciona-se supe-
O cego e o cólon ascendente estão em relação di- riormente com o ligamento gastro- cólico e, atra-
recta com a parede abdominal anterior, não haven- vés dele, com a grande curvatura gástrica. Neste
do geralmente interposição das ansas do intestino ligamento caminham os vasos gastro- epiploicos
delgado, ao contrário do cólon ascendente. A pro- esquerdos e direitos e continua-se anteriormente
jecção do apêndice na parede abdominal anterior ao cólon com o grande epíploon. Superiormente o
habitualmente localiza-se no limite entre o terço cólon e o mesocólon formam o pavimento da ca-
externo e os dois terços internos de uma linha que vidade posterior dos epíploones. Inferiormente, no
une a espinha ilíaca ântero-superior direita ao um- andar inframesocólico, o cólon transverso relacio-
bigo- o ponto de Mac Burney. O ângulo hepá- na.se com as ansas do jejuno-íleo.
tico é mais profundo, tornando-se o cólon trans-
verso progressivamente mais superficial. A grelha ARTÉRIAS
costal recobre o ângulo hepático, que se relacio-
na com a décima primeira costela indirectamen- As artérias provêm da mesentérica superior
te e mais directamente com a apófise transversa (Fig.5 .24): a artéria cólica superior direita que se
de Ll, com a face inferior do figado, na qual mar- dirige para a parte fixa do cólon transverso direito,
ca uma impressão anterior à do rim e lateral exter- a artéria do cólon transverso, localizada à esquerda
na e anterior à do duodeno. Relaciona-se directa- da anterior destinando-se à metade direita do có-
mente com a vesícula biliar e com a porção direita lon transverso, a do cólon ascendente, para o cólon
do grande epíploon. O cego e o cólon ascenden- homónimo e a íleo-ceco-colo-apendicular ou cóli-
te relacionam-se com a parede posterior: na região ca inferior direita para o íleo, cego e apêndice. To-
superior ou torácica corresponde à décima primei- dos estes ramos se anastomosam junto à superfi-
ra e décima segunda costelas das quais está sepa- cie do cólon formando a chamada "arcada bordan-
rado pelo diafragma e pelo rim, na região média te", da qual podem secundariamente partir outras
ou lombar relaciona-se com o músculo quadrado arcadas. Junto à superficie do cólon nascem des-
lombar e na região inferior relaciona-se com as es- ta arcada ou das secundárias, quando existem, va-
truturas da fossa ilíaca interna, formada pela es- sos rectos longos ou curtos perpendiculares à pa-
cavação da asa do ilíaco atapetada pelo músculo rede do intestino. A arcada de Riolan corresponde
ilíaco recoberto pela fáscia ilíaca. O cólon ascen- à anastomose entre o ramo esquerdo da artéria có-
dente ocupa a parte superior da fossa ilíaca, a fos- lica superior direita e o ramo homólogo da artéria
sa lombar e corresponde à face anterior do rim, es- cólica superior esquerda.
395
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
Figura 5.24: Vascularização arterial do cólon. Rgura 5.25: Drenagem venosa do cólon.
1. Arcada marginal 2. Artéria mesentérica inferior 3. Artéria cólica 1. Veia mesentérica superior 2. Mesentério 3. Mesocólon transverso
média 4. Artéria cólica esquerda 5. Artérias sigmóideias
396
MANUTENÇÃO I SISTEMA DIGESTIVO
rnina na pele da região perineal por um orifício: o próstata no homem e com o útero e vagina na mu-
ânus. As suas dimensões são variáveis uma vez que lher. E stas relações são feitas por meio de uma bai-
constitui um órgão reservatório de fezes de pare- nha fibrosserosa que envolve o recto.
des muito extensíveis. O recto está anteriormente à concavidade sacro-
Superiormente o recto começa no local onde o coccígea S4, S5 e face anterior do cóccix). Esse
cubo digestivo cruza o corpo de S3. Interiormente plano ósseo é prolongado lateralmente e superior-
esse limite corresponde à zona em que o calibre do mente pelos músculos piramidais e inferiormen-
recto sofre um estreitamento e corresponde à zona te pelos ligamentos sacros-ciáticos cobertos pelo
da primeira válvula de Houston. O limite inferior músculo ísquio- coccígeo. Entre o plano do recto e
corresponde à zona de união da pele perineal com o cóccix interpõem-se vários órgãos: na linha mé-
a mucosa rectal denominada "linha circular ano- dia a artéria sagrada média, a glândula de Luschka
rectal" (Fig. 5.26). na extremidade inferior da artéria sagrada média,
O recto atravessa duas regiões: a pequena bacia e o último gânglio simpático sagrado, de cada lado
0 períneo. Na pequena bacia ocupa a parte mais da terminação da artéria sagrada média. Lateral-
posterior posteriormente ao aparelho genito-uri- mente as artérias sagradas médias, o 4° e 5° nervos
nário anteriormente à coluna sacrococcígea. No sagra dos, a cadeia simpática sagrada. A face pos-
períneo, sai da cavidade pélvica limitada inferior- terior do recto não tem relações com o peritoneu.
mente pelo diafragma dos levantadores do ânus O peritoneu cobre as faces lateral, anterior e um
e franqueia o hiato entre estes dois músculos pouco da posterior do recto formando um meso
abrindo-se na pele perineal. As relações são dife- que une o recto à parede posterior- o mesorecto.
rentes nas duas porções: pélvica e perineal. O peritoneu só cobre cerca do terço superior das
faces laterais do recto, após o que se reflecte sobre
a parede lateral pélvica formando o fundo de saco
latero rectal ou recesso pararectal de Waldeyer. N a
face anterior do recto o peritoneu só cobre a me-
tade superior da ampola, após o que se reflecte so-
bre as vísceras pré- rectais constituindo o fundo
de saco recto- uterino ou de Douglas na mulher e
recto- vesical no homem.
Com a porção peritoneal, a ampola rectal está se-
parada da parede da escavação pélvica pelo reces-
so pararectal de Waldeyer, o qual aloja à esquer-
da uma porção do cólon pélvico e por vezes na
mulher, também o ovário e o pavilhão da trompa.
Qyando a ampola está distendida contacta com a
parede pélvica no local da fosseta ovárica de W al-
deyer (no vértice entre os vasos ilíacos internos
e externos). D ebaixo do peritoneu pélvico cami-
Figura 5.26: Configuração do recto. nham verticalmente o ureter e os vasos hipogástri-
1. Colunas de Morgani 2, 3 e 4. Válvulas Houston superior, média e
inferior 5. C~on sigmóide 6 . Músculo elevador do ânus 7. Esfíncter
cos e horizontalmente os vasos e nervo obturado-
externo do ânus 8. Esfíncter interno do ânus res, os vasos uterinos e umbilicais.
Com a porção extra-peritoneal, a ampola rectal
relaciona-se com o tecido celular pélvico relacio-
RECTO PÉLVICO - AMPOLA RECTAL nando-se posteriormente com a loca nervosa hi-
pogástrica. Qyando distendida, a ampola aproxi-
Situa-se na região posterior da escavação pélvi- ma-se da parede pélvica aproximando-se da gran-
ca, relaciona-se atrás e lateralmente com as pare- de chanfradura ciática, por onde saem da cavidade
des desta escavação, anteriormente com a bexiga e pélvica o músculo piramidal, os vasos e nervos glú-
397
MANUAL D E ANATOMIA HUMANA
teos superiormente ao músculo, os vasos puden- O recto está rodeado por uma bainha fibrosa na
dos internos, isquiáticos e o grande ciático infe- região subperitoneal denominada "bainha rectal"
riormente ao músculo. comum ao homem e à mulher, na qual se des:
A semelhança da face lateral, a face anterior tem crevem algumas diferenciações. Posteriormente:
uma porção peritoneal e outra extra- peritoneal, constitui a aponevrose pré-sagrada, que corres-
sendo a maioria das relações diferentes nos dois ponde à aponevrose posterior da aponevrose pél-
sexos. vica, cobre o sacro, o cóccix, os músculos pirami-
No homem, a porção peritoneal relaciona-se com dais e os isquiococcígeos e está fortemente ade-
a face posterior da bexiga (Fig. 5.27A). O perito- rente aos buracos sagrados anteriores, mas pou-
neu que recobre os dois órgãos forma o fundo-de- co aderente ao recto. Anteriormente: constitui a
-saco vesicorrectal. A porção subperitoneal, na li- aponevrose de Denonvilliers, que desce do recto
nha média a ampola corresponde ao fundo-de-sa- para a região posterior da próstata, abaixo das ve-
co vesicorrectal e à próstata. O recto forma uma sículas seminais, formando um septo bem defini-
espécie de promontório abaixo da próstata que é do. Lateralmente: constitui-se a loca látero-rec-
facilmente acessível ao toque rectal. Lateralmente tal, limitada pela aponevrose sacro-recto-genito-
localizam-se as vesículas seminais, os canais defe- -púbica, que se implanta nos órgãos respectivos
rentes e os ureteres. e na face posterior da sínfise púbica. Forma uma
Na mulher, a porção peritoneal corresponde à loca que a aponevrose de Denonvilliers divide em
face posterior do útero e ao fundo-de-saco de duas partes: o compartimento vesical anterior e o
Douglas (Fig. 5.27B). As túnicas rectal e vagi- rectal posterior.
nal estão unidas formando o septo recto-vaginal.
Os ureteres, os vasos uterinos e seus ramos vagi- RECTO PERINEAL - CANAL ANAL
nais situam-se lateralmente. Na porção subperi-
toneal, na linha média a ampola corresponde ao É a porção terminal do recto. Constitui uma por-
fundo de saco de Douglas, que está acessível ao ção muito curta, com 2 a 3 cm, que serve como
toque rectal. canal evacuador da ampola rectal. Situa-se por
Figura 5.27a: Relações do Recto (Homem). Figura 5.27b: Relações do Recto (Mulher).
1. Recto Pélvico 2. Coluna sagrada 3. Bexiga 4. Canais deferentes 1. Recto Pélvico 2. Coluna sagrada 3. Bexiga 4. Útero 5. Vagina
5. Próstata 6. Vesícula seminal 7. Fundo-de-saco vesicorrectal 6. Fundo-de-saco vesico-uterino 7. Fundo-de-saco recto-uterino
398
MANUTENÇÃO I SISTEMA DIGESTIVO
baiXº da cavidade pélvica, na espessura do pavi- do-valvulares que não cumprem a função das vál-
rnento pélvico perineal. Está unida à ponta do vulas de regular o transito intestinal, tem dimen-
cóccix pela rafe ano-coccígea. Atravessa o perí- sões e número variável (habitualmente há uma su-
neo, primeiro o diafragma dos levantadores do perior, uma média e uma inferior)- são as válvulas
ânus que estão separados por um orifício médio, rectais de Houston. São constituídas por mucosa e
ocupando o recto, a região posterior deste orifí- submucosa. Descrevem- se ainda válvulas semilu-
cio, constituindo o órgão central do períneo pos- nares (pequenas pregas na porção mais inferior do
terior. Relaciona-se com os feixes externos dos recto de concavidade superior em forma de ninho
levantadores do ânus, que cruzam a face late- de pomba em número de cinco a treze formando
ral do recto fixando-se no bordo ântero-lateral uma linha denominada de "ano-rectal" onde ter-
do cóccix, cruzando-se algumas fibras com as do mina o recto e começa o ânus. As colunas de Mor-
lado oposto. A contracção destes feixes muscula- gagni são pregas longitudinais de mucosa e entre
res encerra o orifício onde está o recto asseguran- as extremidades laterais de duas válvulas semilu-
do a sua oclusão voluntária. Esta mesma contrac- nares contíguas. Entre elas existem sulcos. A rec-
ção, quan do executada no final da defecação, aju- toscopia é um exame que permite a observação in
da a completar a expulsão do bolo fecal. vivo do interior do recto.
O recto relaciona-se com fibras dos feixes inte-
riores dos levantadores do ânus. São fibras mus- Constituição anatómica
culares que têm um trajecto de fora para dentro
e que se misturam nas camadas musculares do O recto é composto por quatro túnicas sobrepos-
recto e terminam na pele. Algumas fibras unem- tas que são de fora para dentro: a serosa, a muscu-
-se com as do lado oposto anteriormente ao rec- lar a qual se subdivide numa cama superficial de fi-
to constituindo o levantador próprio do ânus que bras longitudinais e numa cama profunda de fibras
retrai e abre o ânus. Lateral e posteriormente re- circulares. As fibras circulares têm a particularida-
laciona-se com as fossas ísquio-rectais direita e de de constituir, por baixo da ampola rectal, um
esquerda, as quais formam como que uma fer- anel muscular denominado de "esfíncter interno
radura em torno do recto perineal. O esfíncter do ânus" que termina nas margens do ânus pou-
estriado do ânus localiza-se na parte inferior da co abaixo da zona de transição ano-rectal. Abaixo
parede interna. No homem, a parede anterior do da camada muscular existe uma submucosa e in-
canal anal relaciona-se com a uretra membrano- teriormente a mucosa. A mucosa diferencia- se da
sa, o bulbo uretral, as glândulas de Cooper e ar- restante mucosa do intestino por ter válvulas se-
teríolas. Na mulher, a parede anterior do canal milunares, colunas de Morgagni, maior desenvol-
anal relaciona-se com a parede vaginal posterior, vimento das glândulas tubulosas, por aderir menos
à qual está fortemente fixo constituindo o septo a camada muscular, e pelo grande desenvolvimen-
recto-vaginal. Superiormente separa-se dela di- to do sistema venoso.
rigindo-se para trás formando-se entre os dois
órgãos um espaço triangular: o espaço recto-va- ARTÉRIAS
ginal homólogo do espaço recto-uretral do ho-
mem. Este espaço está ocupado por formações A vascularização arterial e assegurada por três pa -
fibrosas perineais, pelo esfíncter externo do ânus, res de artérias: as rectais (hemorroidárias) superio-
pelo músculo transverso e constritos da vagina e res, as médias e as inferiores (Fig. 5.28).
tecido célulo-adiposo. As artérias rectais superiores são as artérias res-
ponsáveis pela maior parte da irrigação arterial do
Configuração interior do reeto recto. São ramos das artérias mesentéricas inferio-
res que penetram na raiz lombo-sagrada do meso-
O recto tem pregas longitudinais formadas por cólon pélvico logo na sua origem. Cruza os vasos
mucosa as quais desaparecem com a sua disten- ilíacos esquerdos e terminam ao nível de S3. Habi-
são. Descrevem-se ainda pregas transversais pseu- tualmente bifurcam-se na face posterior da ampo-
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MANUAL DE ANATOMIA H UMANA
VEIAS
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MANUTENÇÃO I SISTEMA DIGESTIVO
UNFATICOS
NERVOS
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
ÂNUS
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MANUTENÇÃO I SISTEMA DIGESTIVO
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Figura 5.33: Peritoneu posterior. Figura 5.34: Corte de perfil (epíploones, mesos e retroperitoneu).
1. Veia Cava Inferior 2. Aorta abdominal 3. Vasos ilíacos comuns 4. 1. Vértebra lombar 2. Sínfise púbica 3. Aorta abdominal 4. Pâncreas
Vasos ilíacos externos 5. Rim direito 6. Rim esquerdo 7. Duodeno 8. 5. Porção horizontal do duodeno 6. Artéria mesentéric.a superior
Pâncreas 9. Vasos mesentéricos superiores 10. Área de acolamento 7. Fígado 8. Estômago 9. Jejuno-,1eo 10. Omento gastr~epático
do cólon ascendente 11. Área de acolamento do cólon descendente 11 . Mesentério
12. Raiz do mesocólon sigmóide 13. Ligamento coronário do fígado
403
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
rias. Consideram-se três tipos de pregas perito- manho do bordo parietal para o bordo intesti-
neais principais: mesos, ligamentos e epíploones. nal, e que, a uma saliência duma face corresponde
O meso é uma prega peritoneal, que vai do peri- uma depressão na face oposta. Forma-se a par-
toneu parietal a um órgão e que entre os folhetos tir do peritoneu parietal, que se afasta da pare-
contém o pedículo vásculo-nervoso desse órgão. de posterior, para envolver o jejuno-íleo e os seus
O epíploon ou omento é uma prega peritoneal que pedículos como se fosse uma manga e regressa
fica em ponte entre órgãos e também pode con- novamente, e origina os dois folhetos que consti-
ter pedículos. tuem o mesentério. Contém na sua espessura os
O ligamento é uma prega peritoneal que fica entre vasos mesentéricos superiores (Fig.5. 35).
o peritoneu parietal e um órgão ou entre dois ór- Mesocólon transverso tem forma de meia lua
gãos, mas não contém pedículos vásculo-nervosos (Fig.5.36), tem um bordo anterior ou cólico e
na sua espessura. um bordo posterior ou parietal ou raiz e duas fa-
ces: superior e inferior e duas extremidades: di-
PREGAS PERITONEAi$ PRINCIPAIS reita e esquerda. O mesocólon transverso resul-
ta do peritoneu parietal posterior que se afasta
Mesentério ou meso do jejuno-íleo, tem uma da parede posterior para revestir o colón trans-
configuração em leque, podendo-se considerar verso e seus pedículos, e volta novamente à pare-
um bordo parietal ou raiz em forma de S itáli- de posterior, continuando a revesti-la formando
co, relativamente curto, com cerca de 15 cm de o meso com seus dois folhetos, neste caso supe-
extensão, que vai do ângulo de Treitz ao cego e rior e inferior. O mesocólon transverso contém os
como o bordo intestinal tem cerca 4 a 6 metros e pedículos para o cólon transverso, sendo os mais
acompanha as curvaturas do intestino delgado, o importantes os vasos eólicos médios e a arcada
mesentério apresenta-se como que um leque ou de Rioland. Separa o andar supra-mesocólico do
harmónio. O mesentério tem duas faces: a supe- andar infra- mesocólico.
rior e direita e a inferior e esquerda, que apresen- Mesossigmoide ou pélvico, tem um bordo pos-
tam saliências e depressões, que aumentam de ta- terior ou parietal em forma de V invertido, com
9
2
404
MANUTENÇÃO I SISTEMA DIGESTIVO
EPÍPLOONES OU OMENTOS
405
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
hilo do baço, e nele encontram-se os vasos curtos As fossetas cecais: fosseta ileocecal superior, foss
do estômago. ta ileocecal inferior, fosseta retroceca. são recesse-
Epíploon espleno-pancreático - prega peritoneal limitados pelas pregas peritoneais do cego comºs
que liga o baço à cauda do pâncreas e contém o prega cecal vascular que limita a fosseta cecal 8 ~~
pedículo do baço (vasos e nervos esplénicos). perior, prega ileocecal, limita a fosseta cecal inc
•1J.e-
rior e pregas cecais parietocólicas que dilimitam a
LIGAMENTOS fosseta retrocecal.
A fosseta intersigmoideia ou recesso sigmóide
Ligamento falciforme ou suspensor do fígado tem fica no ápex do "V" do bordo parietal do mesos-
uma forma triangular com duas faces: direita e es- sigmoide.
querda e três bordos: anterior, póstero-inferior
corresponde ao ligamento redondo e o hepático, Vascularização do peritoneu e inervação
que vai da chanfradura do ligamento redondo ao
ligamento coronário. O ligamento coronário cor- O folheto parietal recebe a sua irrigação dos va-
responde a reflexão peritoneal a nível da periferia sos da parede e drena o sangue venoso e linfa
da face posterior do fígado. Os ligamentos trian- para as veias e linfáticos da parede; a inervação,
gulares: direito e esquerdo; são os prolongamentos é também fornecida pelos nervos da parede, que
laterais do ligamento coronário. é assim, uma inervação somática. A irrigação do
O ligamento freno-espleno-cólico, liga o diafrag- folheto visceral, provém das artérias dos órgãos
ma ao baço e ao ângulo esplénico do colon e a drenagem venosa e linfática dirige-se para as
O ligamento hépato-vesico-duodeno- cólico, liga a veias e linfáticos dos órgãos. A inervação provém
vesícula e fígado ao duodeno e ao ângulo hepáti- do sistema nervoso autónomo, tal como a dos ór-
co do colon. gãos: a inervação simpática vem das cadeias pa-
Os ligamentos útero-sagrados ligam o colo do ra-vertebrais, através dos nervos esplâncnicos e a
útero ao sacro. Os ligamentos cardinais do útero, parassimpática vem dos vagos e do plexo pélvico,
ligam o colo do útero às paredes pélvicas laterais. directamente ou por intermédio dos plexos res-
pectivos. Qyando um processo inflamatório atin-
PREGAS PERITONEAi$ SECUNDÁRIAS ge o peritoneu visceral, origina uma dor visce-
ral, que tem uma localização pouco precisa; essa
As pregas secundárias, surgem quando o perito- dor torna-se de tipo somática, mais localizada e
neu passa por estruturas salientes na cavidade ab- abrupta, quando atinge o folheto parietal, porque
dominal e originam as chamadas "foices perito- neste caso são estimulados os nervos da parede
neais." Temos como exemplo: a foice da artéria abdominal.
gástrica esquerda, foice da artéria hepática, foice
do úraco, foice da artéria epigástrica, foice da veia COMPARTIMENTAÇÃO DA CAVIDADE ABDO-
umbilical e outras, como as duodenais e cecais, que MINAL
limitam regiões, como as fossetas ou recessos da
cavidade peritoneal. As pregas podem criar fosse- A cavidade abdominal divide-se em cavidade pe-
tas, que podem ser locais de herniação interior. ritoneal e espaços extra-peritoneais. Destes o mais
importante é o espaço retroperitoneal onde se en-
FOSSETAS OU RECESSO$ contram órgãos muito importantes, os chamados
"órgãos retroperitoneais".
As fossetas duodenais: fosseta duodenal superior, O espaço retroperitoneal, corresponde à região
fosseta inferior, paraduodenal, fosseta retroduode- mais posterior da cavidade abdominal, limitado
nal, fosseta duodenojejunal e fosseta mesenterico- adiante pelo peritoneu parietal posterior e atrás
parietal são limitadas por várias pregas peritoneais, pela fáscia parietal da parede posterior do abdó-
que se encontram a nível da quarta porção do duo- men, cujos limites laterais são os bordos laterais
deno e junção duodenojejunal. dos músculos quadrados lombares. O espaço re-
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MANUTENÇÃO I SISTEMA DIGESTIVO
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
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Figura 5.41a: Cavidade pélvicas -fundos de sacos na mulher. Figura 5.41b: Cavidade pélvicas - fundos de sacos na mulher {vista
1. Sínfise púbica 2. Sacro 3. Diafragma urogenital 4 . Bexiga 5. Uretra posterior).
6. Útero 7. Vagina 8. Recto pélvico 9. Esfíncter externo do ânus 10. 1. Útero 2. Trompa uterina 3. Ovário 4. Ligamento próprio do ovário
Septo recto-vaginal 11. Espaço pré--vesical (Retzius) 12. Fundo de 5. Ligamento suspensor do ovário 6. Ligamento redondo do útero
saco vesico-uterino 13. Fundo-de-saco recteruterino (Douglas) 7. Recto pélvico 8. Ureter pélvico 9. Promontório 1O. Ligament os
útero-sagrados 11. Fundo-de-saco recto-uterino (Douglas) 12. Fosseta
pré-ovárica 13. Fosseta paravesicais 14. Cólon sigmoide
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MANUT ENÇÃO I SISTEMA DIGESTIVO
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:sm odso~
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MANUAL DE ANAT OMIA HUMANA
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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6. SISTEMA URINÁRIO
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
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MANUTENÇÃO I SIST EMA URINÁRIO
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'--- - - -- 14 _ _ __ __J
'--- - - -- - - 13 - - - - -- --'
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a artéria aorta mais próxima do rim esquerdo e a Relativamente às relações do segmento superior,
veia cava inferior mais próxima do direito. Por ou- uma parte da sua extremidade superior encon-
tro lado, a face anterior dos rins relaciona-se com tra-se coberta pela glândula supra-renal esquer-
numerosas estruturas contidas na cavidade abdo- da, por intermédio da lâmina inter-suprarreno-re-
minal, algumas por intermédio do peritoneu, ou- nal; a restante porção superior relaciona-se com a
tras directamente. face posterior do estômago, do qual está separa-
No que diz respeito ao rim direito, uma parte do do pela bolsa omental, e, mais lateralmente, com o
polo superior relaciona-se com a glândula supra- baço; a zona abaixo contacta directamente com a
-renal direita por intermédio da lâmina inter-su- extremidade esquerda do corpo e com a cauda do
prarreno-renal; uma parte da porção alta da face pâncreas, adiante do hilo, também retroperitoneal.
anterior está virada para o figado, do qual está se- O segmento médio relaciona-se com a porção es-
parada pelo peritoneu; medialmente está em con- querda do cólon transverso, com o ângulo cólico
tacto com a segunda porção do duodeno, que é re- esquerdo e início do cólon descendente, ao nível
troperitoneal, e com a cabeça do pâncreas na pe- do bordo lateral do rim. O segmento inferior do
quena zona situada entre a glândula supra-renal e rim, abaixo do cólon transverso e do ângulo cóli-
a segunda porção do duodeno; a extremidade in- co esquerdo encontra-se relacionado com o intes-
ferior, está em contacto com o ângulo cólico direi- tino delgado.
to, sem interposição do peritoneu; o espaço com- Cada um dos rins relaciona-se ainda com a pel-
preendido entre a face inferior do fígado, lateral- ve renal (bacinete) e ureter correspondentes, ao ní-
mente, a segunda porção do duodeno, medialmen- vel da porção inferior do bordo medial e da extre-
te, a glândula supra-renal direita, superiormente, e midade inferior do rim, estabelecendo-se a ligação
o ângulo cólico direito, inferiormente, adere inti- através do ligamento uretero-renal de Navarro.
mamente ao folheto parietal do peritoneu. Posteriormente, o rim direito relaciona-se com a
A face anterior do rim esquerdo pode ser subdivi- 12.ª costela, enquanto que o rim esquerdo se re-
dida, sob o ponto de vista das suas relações, em três laciona com as 11.ª e 12.a costelas. A face poste-
segmentos: um superior ou supra-cólico, um médio rior, quer do rim direito quer do esquerdo, está em
ou cólico, e um inferior ou infra-cólico (Fig. 6.3b). contacto com o diafragma e repousa sobre a pare-
413
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
11
11
de abdominal posterior, relacionando-se, de den- guns casos atravessar a linha média para se fim-
tro para fora, com o músculo psoas maior, o mús- dir com o do lado oposto; posteriormente, o folhe-
culo quadrado lombar e o transverso do abdómen to retro-renal atapeta o músculo quadrado lombar
(Fig. 6.3b). e o músculo psoas maior, inserindo-se depois na
O rim é revestido por uma cápsula fibrosa, de te- porção ântero-lateral dos corpos vertebrais; supe-
cido conjuntivo denso, que adere fortemente à su- riormente, os folhetos anterior e posterior da fás-
perficie renal (Fig. 6.5), ajudando a manter o for- cia envolvem as glândulas supra-renais, acima das
mato do órgão servindo de barreira de protecção quais se fundem e se ligam ao diafragma e abai-
contra traumatismos e infecções. Esta cápsula é xo das quais formam a lâmina inter-suprarreno-
contínua com a túnica externa do ureter e inva- -renal que separa os rins das glândulas supra-re-
gina para o interior do rim, ao nível do hilo, onde nais (Fig. 6.4); inferiormente, os dois folhetos da
se continua com a túnica conjuntiva dos cálices e fáscia englobam os ureteres, terminando a loca re-
da pelve renal. nal na fossa hipogástrica. Exteriormente à fáscia
Exteriormente à cápsula fibrosa encontra-se uma renal ainda há uma camada de gordura, designada
camada de gordura, que constitui a cápsula adipo- de "tecido adiposo para-renal de Gerota", ou cáp-
sa (Fig. 6.4). Esta cápsula adiposa peri-renal pro- sula de Gerota (Fig. 6.4).
tege o rim, ajuda a mantê-lo no seu lugar dentro O rim é mantido na sua posição por diversos
da cavidade abdominal e serve como depósito de meios de fixação (Fig. 6.4). A extremidade supe-
energia, desempenhando um papel muito impor- rior da loca renal adere solidamente à face inferior
tante na manutenção da temperatura corporal no do diafragma, através dos seus folhetos anterior
recém-nascido. pré-renal e posterior retro-renal que se unem aci-
Mais exteriormente, encontra-se a fáscia renal, ma da glândula supra-renal. Na extremidade infe-
uma lâmina fina de tecido conjuntivo denso e ir- rior, os dois folhetos da loca renal aproximam-se e
regular, dependente do folheto parietal do perito- mantêm-se unidos por pequenas aderências sobre
neu, que forma a loca renal. Ao nível do bordo ex- as quais repousa o rim. O tecido adiposo da cáp-
terno do rim, esta fáscia desdobra-se em dois fo- sula adiposa peri-renal é especialmente desenvol-
lhetos, um anterior pré-renal e outro posterior re- vido na porção inferior do rim, formando uma es-
tro-renal, ou fáscia de Zuckerkandl (Fig. 6.4); me- pécie de almofada que mantém o rim na sua po-
dialmente, o folheto anterior passa adiante do sição. Outros meios de fixação advêm do perito-
hilo e continua-se pelo tecido conjuntivo associa- neu parietal, sobre o qual as vísceras abdominais
do aos elementos do pedículo renal, podendo nal- exercem pressão, e do pedículo vascular, formado
414
MANUTENÇÃO I SISTEMA URINÁRIO
la artéria e veia renais, apesar de se crer que te- nal". O hilo corresponde ao local de entrada e/ou
~arn urn papel p~u_co importante na manutenção saída de vasos sanguíneos, linfáticos, nervos e do
d riJ11 na sua pos1çao. bacinete. No conjunto, estas estruturas formam o
; esar deste conjunto de estruturas responsáveis pedículo renal, encontrando-se a veia renal numa
~a sua fixação, o rim pode descair da sua posição, posição anterior à artéria renal que, por sua vez, é
pe <lição designada de "ptose renal ou nefropto- anterior à pelve renal.
con
" por exemplo em situações de perda extrema de
se ,
eso como acontece na anorexia nervosa. Como
~esultado desta situação, o ureter pode dobrar ou
torcer, obstruindo o fluxo da urina e causando dor,
odendo também ser afectados os vasos renais.
ielativamente à sua configuração exterior, o rim
ap-resenta uma face anterior convexa, que se en-
contra recoberta pelo peritoneu, e uma face pos- 12
4
8 6
415
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
separadas por extensões de tecido cortical que for- bos (Fig. 6.6), formados por uma pirâmide renal
mam as chamadas "colunas renais (ou de Bertin)". medular, com a zona cortical adjacente. Esta con~
A base de cada pirâmide está virada para o cor- figuração em lobos é muito bem visível no feto
tex renal e o seu vértice, chamado de "papila re- (Fig. 6.1) mas vai desaparecendo com a idade.
nal", aponta para o hilo do rim. Cada uma des- O seio renal é uma cavidade com uma profundi-
sas papilas apresenta 20 a 40 orifícios com 1 a 2 dade média de cerca de 3 cm, cuja abertura corres-
mm de diâmetro, os orifícios papilares (poros uri- ponde ao hilo e as paredes são constituídas pelo
nários), que no seu conjunto formam a área cri- parênquima renal. No seio renal encontram-se
biforme. Nesta zona abrem-se grandes canais ex- umas estruturas em forma de cálice que envolvem
cretores, chamados de "tubos de Bellini ou papi- a papila renal, designadas de "cálices menores", em
lares", que transportam a urina formada. Os ca- número idêntico ao número de pirâmides. Estes
nais excretores contribuem para o aparecimen- por sua vez convergem para os cálices maiores, que
to de bandas claras, observadas no corpo da pi- existem em número de dois a quatro por rim. Dos
râmide, que alternam com bandas escuras ou vas- cálices maiores, a urina drena para a pelve renal,
culares, correspondentes à vasa recta, que no con- que deixa o rim ao nível do hilo.
junto originam o aspecto estriado da zona medu- Os rins têm que ser muito vascularizados para 0
lar do rim. A substância cortical é composta por desempenho da sua função de remoção de impu-
duas partes: o labirinto, formado pelos nefrónios, rezas do sangue e de regulação do seu volume e
e os raios medulares (ou pirâmides de Ferrein). Os composição iónica. De facto, os rins recebem 21%
raios medulares estendem-se da porção periférica do débito cardíaco apesar de só pesarem 0,4% do
do cortex até às pirâmides renais, com um trajec- peso corporal, sendo o fluxo sanguíneo renal de
to rectilineo perpendicular à cápsula, em número aproximadamente 1200 ml por minuto, passando
de cerca de 500 por cada pirâmide. Cada raio me- a totalidade do sangue de um indivíduo pelos rins
dular é formado por um tubo colector, que reco- cerca de 15 vezes por hora.
lhe o líquido produzido pelos nefrónios adjacen- O sangue provém de ramos viscerais da artéria
tes e o conduz para a pirâmide renal. O conjun- aorta abdominal, as artérias renais, direita e es-
to de um raio medular e do cortex renal adjacen- querda (Fig. 6.7), que desempenham um papel
te, labiríntico, delimitado por artérias interlobula- nutritivo e funcional.
res, forma o lóbulo renal, que constitui uma en- Estas artérias originam-se imediatamente abaixo
tidade cortical. Os lóbulos fazem parte de estru- da mesentérica superior, ao nível de Ll -L2. A ar-
turas maiores, cortico-medulares, que são os lo- téria renal esquerda tem a sua origem ligeiramen-
......... , ....
416
MANUTENÇÃO I SISTEMA URINÁRIO
te acima da origem da artéria renal direita e um As arteríolas eferentes dividem-se para formar
crajecto horizontal, perpendicular à aorta. A arté- uma rede de capilares, chamados "capilares peri-
ria renal direita é mais longa do que a esquerda e tubulares", que circundam as porções tubulares do
passa posteriormente à veia cava inferior seguindo nefrónio, no cortex. De algumas arteríolas eferen-
urn crajecto oblíquo. tes partem longos capilares, em forma de alça, cha-
o sangue deixa o rim por meio das veias renais, es- mados "vasa recta", que suprem as partes tubulares
querda e direita, que saem pelo hilo renal em di- do nefrónio, na medula renal, que recebe apenas
recção à veia cava inferior, em posição anterior às 1-2% do fluxo sanguíneo renal.
artérias renais. A veia renal esquerda é mais longa Os capilares peritubulares reúnem-se para formar
e horizontal do que a direita e passa anteriormente as vénulas estelares que se unem às veias interlo-
à aorta abdominal e posteriormente à mesentérica bulares, que também recebem sangue proveniente
superior, podendo sofrer compressão em casos de da vasa recta. A s veias interlobulares drenam para
aneurisma de alguma destas artérias. A veia renal as veias arqueadas, que por sua vez drenam para as
direita é curta e dirige-se medialmente para cima veias interlobares e, finalmente, para as veias seg-
em direcção à veia cava inferior, à qual se junta, ra- mentares hilares, num trajecto satélite do das arté-
ramente ao mesmo nível que a homóloga direita. rias homónimas. Ao nível do seio do rim, o plano
Ao chegar ao rim, a artéria renal ramifica-se for- venoso anterior ou pré-piélico e o posterior ou re-
mando duas arborizações, uma anterior ou pré- tro-piélico confluem para a veia renal.
-piélica e uma posterior ou retro-piélica, situadas A forma como as artérias renais se dividem de-
adiante e posteriormente ao sistema pelvi-caliceal, termina diferentes segmentos renais, correspon-
respectivamente, sendo os ramos da arborização dentes a territórios vasculares independentes, sem
anterior os mais numerosos. Estes ramos dividem- anastomoses, de tal forma que a oclusão ou lesão
-se em artérias segmentares, que se ramificam nas num deles leva à isquémia e necrose do tecido cor-
artérias interlobares. As artérias interlobares en- respondente. Embora exista variabilidade no nú-
tram no parênquima, passando ao longo das colu- mero de segmentos, é comum considerar-se a
nas renais, entre as pirâmides, em direcção à jun- existência de cinco: superior, ântero-superior, ân-
ção cortico-medular. Na base das pirâmides renais, tero-inferior, inferior e posterior (Fig. 6.8).
as artérias interlobares fazem um ângulo de 90º Os segmentos encontram-se separados por planos
seguindo um trajecto entre a medula e o cortex, avasculares, as cissuras intersegmentares. Ao con-
paralelo à cápsula, constituindo as artérias arquea- trário das artérias, as veias intra-renais não apre-
das. Estas dão origem a uma série de ramos que
entram no córtex renal, com um trajecto perpen-
dicular à cápsula, que são as artérias interlobulares,
situadas entre os raios medulares (Fig. 6.7). Estas,
por sua vez, vão emitir uma série de ramos em ân-
gulo recto que constituem as arteríolas aferentes.
Cada arteríola aferente divide-se numa rede capi- , ,,"", '
2
lar enovelada chamada de "glomérulo", contido no I '
corpúsculo renal que constitui a primeira porção I
do nefrónio. Os capilares glomerulares reúnem-se ..,I
para formar a arteríola eferente, que drena o san- 3 1 5
\
gue dos glomérulos. Assim, os capilares glomeru- \ ,.
lares são únicos porque ficam entre duas arteríolas, J.,,,'
constituindo um sistema porta arterial. A vasodi-
latação e vasoconstrição coordenadas das arterío-
las aferentes e eferentes regulam o fluxo sanguíneo
renal, desempenhando um papel fundamental na Fig. 6.8: Segmentos renais.
filtração do sangue. A Vista anterior B. Vista posterior 1. Superior 2. Ântero-superior
3. Ântero--inferior 4. Inferior 5. Posterior
417
M ANUAL DE ANATOMIA HUMANA
sentam um modelo segmentar, existindo anasto- O plexo nervoso renal tem origem nos gânglio
moses livres entre os seus ramos. aórtico-renais, constituintes do plexo celíaco, i·un-s
O sistema de drenagem linfática renal é abundan- tamente com os gânglios celíacos e os glânglios
te e permite retornar ao sangue as proteínas reab- mesentéricos superiores, que recebem os nervos
sorvidas no rim. Estima-se que o volume de linfa esplâncnicos (Fig. 6.2). Os gânglios aórtico-renais
drenada a partir do rim seja de aproximadamen- em número de dois, situam-se anteriormente à co~
te 0,5 ml/minuto, valor próximo do volume uri- luna vertebral, interpostos entre o tronco simpá-
nário. A drenagem linfática faz-se, quer a partir da tico e o rim, ao nível da origem das artérias re-
cápsula renal e dos tecidos peri-renais, por linfáti- nais. O plexo nervoso renal consiste numa rede de
cos superficiais, quer a partir do parênquima renal, nervos dispostos em torno das artérias renais, que
por linfáticos profundos. Os vasos linfáticos su- entram no rim pelo hilo e que seguem os ramos
perficiais terminam nos gânglios linfáticos abdo- das artérias renais. Consistem sobretudo em fibras
mino-aórticos localizados entre a origem das arté- pós-ganglionares simpáticas que inervam os vários
rias renais e da artéria mesentérica inferior. Os va- componentes do nefrónio, para além das arterío-
sos linfáticos profundos originam-se no parênqui- las aferentes e eferentes, controlando o fluxo san-
ma e dirigem-se para o seio renal, acompanhan- guíneo no glomérulo, regulando a taxa de filtra-
do os vasos sanguíneos ao longo do seu percur- ção e de formação da urina, bem como a pressão
so, confluindo para troncos linfáticos que saem do sanguínea. A sensibilidade dolorosa é transmitida
rim pelo hilo. Estes, organizam-se em três grupos: por fibras aferentes, através dos nervos esplâncni-
os vasos linfáticos anteriores, médios e posteriores, cos. A inervação parassimpática resulta do nervo
consoante se localizam anteriormente, entre, ou vago, através de um dos ramos do plexo celíaco,
posteriormente aos vasos renais, respectivamente. cuja função no rim não é conhecida.
Os vasos linfáticos profundos terminam nos gân- As unidades morfo-funcionais do rim são os ne-
glios linfáticos abdomino-aórticos situados ao ní- frónios. Estes são estruturas microscópicas em nú-
vel do pedículo renal (Fig. 6.9). mero de 1 a 2 milhões por rim. Nos nefrónios dá-
O rim é inervado pelo plexo nervoso renal, que -se a filtração do sangue, bem como a reabsorção
inclui tanto inervação simpática como parassim- de substâncias úteis ao organismo e a excreção de
pática. substâncias desnecessárias, de que resulta a forma-
ção de 1 a 2 L de urina por dia.
2
Cada nefrónio (Fig. 6.10) é constituído por duas
partes com origens embriológicas distintas: o cor-
púsculo renal, onde ocorre a filtração do sangue, e
o túbulo renal, ao longo do qual ocorrem os pro-
cessos de reabsorção e de secreção.
O corpúsculo renal (ou de Malpighi) apresenta
uma forma esférica, com 0,2 a 0,3 mm de diâ-
metro, e é formado pelo glomérulo de Malpighi
e pela cápsula de Bowman que o reveste. A par-
te tubular do nefrónio é longa, com cerca de 3 cm
de comprimento, e nela distinguem-se três por-
ções: o túbulo contornado proximal, a ansa de
H enle e o túbulo contornado distal, que apresen-
tam características particulares, de acordo com o
seu papel.
O corpúsculo renal e ambos os túbulos contorna-
dos situam-se no cortex, enquanto que a ansa de
Fig. 6.9: Linfáticos do rim.
Henle se estende até à medula, faz uma volta em
1. Veia cava inferior 2. Artéria aorta 3. Glândula suprarrenal 4. Rim U, e retorna à região cortical do rim. Os túbulos
5. Veia renal 6. Gânglios linfáticos abdomino•aórticos
418
MANUTENÇÃO I SISTEMA URJNÁRIO
419
MANUAL DE ANAT OMIA HUMANA
maiores. Distinguem-se com frequência três cáli- vendo alterações da composição da urina ao lo
ces maiores, um superior, um médio e um inferior. n-
go destas vias.
A pelve renal tem a forma de um funil membra- O ureter é um longo canal par e simétrico que se
noso com uma base supero-lateral, formado pela estende da pelve renal até à bexiga, posteriormente
união dos grandes cálices, e um vértice infero-me- ao peritoneu parietal posterior, sendo por isso urn
dial, que se vai continuar com a porção inicial do órgão retroperitoneal, tal como o rim.
ureter (Fig. 6.6). É achatado no sentido ãntero- O ureter apresenta uma coloração branco-rosada e
-posterior e tem, em média, 2 a 3 cm de altura e 2 uma consistência semelhante à de uma veia exan-
cm de largura. gue, mas de parede mais espessa, o que permite a
Cerca de metade da pelve renal encontra-se no in- sua identificação por palpação.
terior do seio do rim, envolvido pelo tecido adipo- O ureter mede cerca de 30 cm de comprimento,
so, enquanto que a outra metade é extra-renal e si- sendo maior no homem do que na mulher e o di-
tua-se na parte posterior do pedículo renal. A pri- reito um pouco mais curto que o esquerdo como
meira corresponde à parte intra-sinusal da pelve resultado do abaixamento do rim corresponden-
renal e a segunda à parte extra-sinusal. te (Fig. 6.11).
Relaciona-se, anteriormente, com a artéria e veia É um tubo estreito, de parede espessa, achatado da
pré-piélicas; através do folheto anterior da fás- frente para trás quando vazio. O diâmetro do ure-
cia renal, relaciona-se com a segunda porção do ter é bastante homogéneo ao longo do seu com-
duodeno, à direita, e com a face posterior da cau- primento, ainda que existam zonas onde se encon-
da do pâncreas, com o ângulo duodeno-jejunal, o
músculo de Treitz e o segmento inicial do jejuno,
à esquerda (Fig. 6.3). Posteriormente, relaciona-
-se com a artéria e veia retro-piélicas e, por inter-
médio da fáscia retro-renal, com o músculo psoas
maior.
As vias excretoras do rim apresentam essencial-
mente a mesma estrutura básica, caracterizada
por um revestimento epitelial assente numa lâ-
mina própria de tecido conjuntivo e uma parede
muscular responsável pelos movimentos peristálti-
cos que promovem a condução da urina. Externa-
mente encontra-se um revestimento com uma ca-
mada de tecido conjuntivo, contínua com a cápsu-
la fibrosa do rim e com os órgãos adjacentes, que
constitui a túnica adventícia.
3
VIAS URINÁRIAS 6
420
MANUTENÇÃO I SISTEMA URINÁRIO
tre diminuido, variando entre os 3 e os 5 mm. Tem trajecto oblíquo, para baixo e para dentro. Ao lon-
sido descrito um primeiro estreitamento próximo go deste percurso, os ureteres aproximam-se um
da sua origem - o aperto do colo do ureter. Qyan- do outro, de tal forma que a distância que os sepa-
do este cruza os vasos ilíacos, à entrada da cavida- ra diminui de 7-8 cm na sua origem para cerca de
de pélvica, encontra-se uma segunda constrição - 5 cm na sua união com a bexiga.
0 aperto ilíaco - e ao atravessar a parede da bexiga Ao longo do seu trajecto entre a pelve renal e a be-
encontra-se a terceira constrição, correspondendo xiga, os ureteres percorrem a cavidade abdominal
ao aperto vesical (Fig. 6.11). E stas constrições re- e entram na pélvica, considerando-se a existência
vestem-se de importância clínica, dada a dificul- de 4 segmentos: lombar, ilíaco, pélvico e intramu-
dade na passagem de cálculos renais através dos ral, de acordo com as regiões que atravessa suces-
pontos de menor calibre das vias urinárias. sivamente. O ureter apresenta relações diferentes
O ureter está situado numa espécie de bainha, que à esquerda e à direita, tal como os rins (Fig. 6.3),
delimita a loca ureteral, mais larga na extremida- e entre os sexos masculino e feminino (Fig. 6.12).
de superior do que na inferior. A loca ureteral é O segmento lombar tem início na junção da pel-
formada por uma bainha fibrosa, periférica, e mais ve renal com o ureter, ao nível de L2 e localiza-
medialmente por uma bainha de tecido conjunti- -se posteriormente ao peritoneu parietal. Relacio-
vo vascularizado e contendo tecido adiposo, con- na-se, atrás, com a fáscia ilíaca, com os músculos
tínuo com o da cápsula adiposa peri-renal. A bai- psoas maior e psoas menor, e com o vértice das
nha fibrosa resulta do prolongamento para bai- apófises transversas das últimas três ou quatro vér-
xo do folheto anterior pré-renal e do folheto pos- tebras lombares. Relaciona-se também, posterior-
terior retro-renal da fáscia renal, havendo conti- mente, com o nervo genito-crural, que o cruza de
nuidade entre a loca renal e a loca ureteral ao ní- cima para baixo e de dentro para fora, o que deter-
vel do hilo do rim. Ao nível do pólo inferior do mina as dores que irradiam aos testículos ou gran-
rim os dois folhetos da fáscia renal encontram- se des lábios nas cólicas renais. Relaciona-se, adian-
unidos ao ureter por intermédio de feixes fibrosos, te, com a artéria e veias renais e, mediaimente, com
que constituem o ligamento uretero- renal de Na- os grandes vasos, encontrando-se o ureter direito
varro; em baixo, a loca ureteral abre-se no tecido mais próximo da veia cava inferior e o esquerdo
célulo-adiposo perivesical. Em toda a extensão, a da aorta. Lateralmente, o ureter relaciona-se com
loca ureteral está unida, adiante, ao peritoneu pa- parte sub-bilar do bordo medial do rim corres-
rietal posterior. O ureter encontra-se também fixo, pondente, ao qual está ligado pelo ligamento ure-
superiormente, pela sua continuidade com a pel- tero-renal de Navarro. O ureter direito relaciona-
ve renal e pelos pediculos vasculo-nervosos ure- -se, adiante, com a parte descendente do duode-
téricos superiores. Inferiormente, encontra-se fixo no, com a fáscia de Treitz e com o mesocólon as-
pela sua continuidade com a bexiga e pelos pedi- cendente, e, lateralmente, com o cólon ascenden-
culos vasculo-nervosos uretéricos inferiores. Ape- te. Já o ureter esquerdo relaciona-se, medialmen-
sar destes meios de fixação, o ureter apresenta al- te, com a 4.• porção do duodeno, adiante, com o
guma mobilidade, podendo ser facilmente deslo- mesocólon descendente e lateralmente com o có-
cado em manobras cirúrgicas. lon descendente.
Em virtude do seu trajecto, o ureter descreve várias O segmento ilíaco é a w na de passagem em direc-
curvaturas, tanto no plano frontal como no sagital. ção à escavação pélvica, em que o ureter cruza os
Na sua porção inicial, os ureteres apresentam um vasos ilíacos. O cruzamento dos vasos ilíacos cor-
trajecto aproximadamente vertical, apoiados sobre responde ao ponto em que o ureter mais se apro-
a parede abdominal posterior. Ao nível do estrei- xima da parede abdominal anterior, designado de
to superior da bacia cruzam os vasos ilíacos e pe- "ponto ureteral", situado na união do terço exter-
netram na bacia, aplicados sobre a parede pélvica. no com o terço médio da linha que passa entre as
Um pouco acima da espinha isquiática, inflectem espinhas ilíacas ântero-superiores. Geralmente, e
para a frente e para baixo aproximando-se da be- devido à posição mais baixa do rim direito, o ure-
xiga. Na sua união com a bexiga, apresentam um ter direito passa adiante da artéria ilíaca externa
421
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
11
6
9
Fig. 6.12A: Localização e relações do ureter, bexiga e uretra: Corte Fig. 6.1 2B: Localização e relações do ureter, bexiga e uretra: Corte
sagital no sexo masculino. sagital no sexo feminino.
1. Peritoneu 2. Fundo de saco vesico-rectal (Douglas) 3. Recto 1. Ovário 2. Trompa de Falópio 3. Recto 4. Vagina 5. Orifício
4. Vesícula seminal 5. Orifício interno da uretra 6. Uretra prostática externo da uretra 6. Uretra perineal 7. Esfíncter externo da uretra
7. Uretra membranosa 8. Glândula bulbo-uretral (Cowper) 9. Orif ício 8. Uretra pélvica 9. Púbis 10. O rifício interno da uretra 11. Bexiga
externo da uretra 10. Uretra esponjosa (peniana) 11 . Próstata 12. Peritoneu 13. Útero ·
12. Esfíncterexterno da uretra 13. Púbis 14. Bexiga
direita, cerca de 1,5 cm abaixo da sua origem, en- dirige-se para diante e para dentro, em direcção à
quanto o ureter esquerdo passa à frente da artéria bexiga, caminhando na maior parte do trajecto no
ilíaca comum esquerda, cerca de 1,5 cm acima da tecido célulo-adiposo perivesical. Esta porção está
sua bifurcação. No entanto, podem ocorrer varia- compreendida entre o peritoneu, superiormente, e
ções em função da altura a que ocorre a bifurca- o pavimento pélvico, inferiormente. No homem,
ção na artéria ilíaca comum. Adiante, o ureter di- situa-se entre a face posterior da bexiga e a face
reito é cruzado pelo mesentério e o ureter esquer- ântero-lateral do recto, cruza o canal deferente e
do está coberto pelo peritoneu parietal posterior penetra na bexiga próximo do fundo da vesícula
e pelo mesocólon sigmóide. Lateralmente, o ure- seminal. Na mulher, atravessa a base do ligamento
ter direito relaciona-se com o cego e com o apên- largo do útero, passa lateralmente ao colo uterino,
dice cecal, e respectivos mesos, e o ureter esquerdo em íntima relação com a artéria uterina, alcança a
com a porção ilíaca do cólon descendente e com o face anterior da vagina e, após um trajecto de cerca
cólon sigmóide e respectivo meso. Posteriormente, de 1 cm, penetra na parede da bexiga.
os ureteres relacionam- se com as articulações sa- O segmento intravesical corresponde à parte do
cro-ilíacas e com as asas do sacro. ureter que penetra na bexiga, pela sua porção pos-
O segmento pélvico encontra-se na escavação pél- terior e inferior, distando cerca de 5 cm um do
vica, no interior do tecido célulo-adiposo subperi- outro. Este segmento apresenta um curto trajec-
toneal. Dirige-se para baixo e depois para diante to através da parede da bexiga, com 1-1,5 cm de
e para baixo, correspondendo, respectivamente, à comprimento. Neste trajecto, o ureter dirige-se
porção descendente e à porção transversal. A por- para a frente, para baixo e para dentro e termina
ção descendente estende-se até à altura da espinha abrindo-se nos ângulos laterais do trígono vesical
isquiática, ao longo da parede lateral da escavação (de Lieutaud), por meio dos orifícios ou meatos
pélvica, aderente ao peritoneu parietal e com uma uretéricos, elípticos, que se encontram separados
íntima relação com os vasos hipogástricos. Apre- um do outro cerca de 2-3 cm. Embora não exista
senta relações diferentes no homem e na mulher. uma válvula anatómica na abertura de cada ureter
Na mulher, relaciona-se à frente com o ovário e na bexiga, há uma prega na camada mucosa que se
com o pavilhão da trompa. A porção transversal comprime pelo conteúdo da bexiga, funcionando
422
MANUTENÇÃO I SISTEMA URINÁRIO
c~: 0
urna válvula fisiológica, a válvula do ureter,
impede o fluxo retrógrado da urina. As rela-
q_ s do segmento intramural do ureter são seme-
çoe
músculo-membranoso, ímpar e mediano, caracte-
rizado por uma grande capacidade de distensão.
A bexiga apresenta variações na forma e dimen-
]hantes nos dois sexos. sões que dependem da quantidade de urina que
O ureter apresenta a mesma estrutura básica das contém, do sexo e da idade.
vias excretoras do rim, com uma túnica mucosa, Vazia, tem a forma de um prisma triangular, acha-
rofundamente, seguida duma túnica muscular e, tado de cima para baixo. Na bexiga vazia a super-
mais superfio·a1mente, uma turuca
p , . advent1c1a.
,· fície interior encontra-se disposta em pregas irre-
A nínica mucosa é constituída por epitélio de gulares, enquanto que quando distendida a parede
transição, resistente ao contacto com a urina, as- torna-se mais delgada e lisa e assume uma forma
sente numa lâmina própria de tecido conjuntivo. ovóide, globosa (Fig. 6.13).
É uma camada fina que se continua pela mucosa As dimensões da bexiga são de cerca de 5 a 8 cm
vesical, dando lugar à formação da válvula do ure- no sentido ântero-posterior e de 7 a 9 cm trans-
ter. A túnica muscular é formada por tecido mus- versalmente, consoante se encontra vazia ou dis-
cular liso, responsável pela condução da urina até tendida, respectivamente. Na mulher a bexiga é
à bexiga. A túnica adventícia é formada por tecido sensivelmente mais larga do que no homem e no
conjuntivo contínuo com o da cápsula fibrosa do recém-nascido é alongada de cima para baixo.
rim, superiormente, e com o tecido conjuntivo que A capacidade anatómica da bexiga é variável, po-
envolve a bexiga, inferiormente. dendo ir até 2-3 litros no adulto vivo, se a reple-
O ureter é irrigado por ramos ureterais com dife- ção se produzir lentamente. No entanto, a capaci-
rentes origens: a parte alta recebe ramos da artéria dade fisiológica, que corresponde à quantidade de
renal; a parte média, das artérias testicular ou ová- urina na bexiga que torna consciente a necessida-
rica, da artéria ilíaca comum e mesmo da aorta ab- de de urinar, é inferior, variando entre os 150 e os
dominal; a parte inferior recebe ramos da artéria 500 mi, com o valor médio de 300 mi.
vesical, e do canal deferente no homem e da arté- No adulto, a bexiga encontra-se completamen-
ria uterina na mulher. te situada na cavidade pélvica quando vazia, pro-
A drenagem venosa é feita por tributários das jectando- se para o abdomen quando distendi-
veias ilíacas internas, das veias ováricas ou testicu- da, podendo mesmo chegar a atingir o umbigo
lares, e das veias renais. (Fig. 6.13). No recém-nascido a bexiga encontra-
A linfa do ureter é recolhida pelos gânglios linfá- -se na cavidade abdominal, sobrepondo-se sem-
ticos abdomino-aórticos, ilíacos comuns, hipogás- pre à sínfise púbica, devido à estreiteza da pél-
tricos e ilíacos externos. vis. À medida que avança a idade, a bexiga afi.m-
A inervação acompanha as artérias e provém dos da-se na cavidade pélvica ao mesmo tempo que
plexos renal, aórtico-abdominal e hipogástrico su- se alonga o úraco, um cordão fibro-muscular re-
perior e inferior. As fibras eferentes viscerais in- sultante da contracção e obliteração do alantóide
cluem inervação simpática e parassimpática. As fi- durante o desenvolvimento embrionário que liga
bras aferentes viscerais dirigem-se para a região a bexiga ao umbigo.
Tll a L2 da medula espinhal, pelo que a dor do A bexiga localiza-se posteriormente ao púbis e à
ureter, em geral relacionada com a sua distensão, é sínfise púbica, inferiormente ao peritoneu e aci-
referida para áreas cutâneas supridas pelos nervos ma do pavimento pélvico. Situa-se anteriormen-
espinhais de Tl 1 a L2. te às vesículas seminais e ao recto e superiormente
à próstata, no homem, e à frente da vagina e abai-
xo do útero, na mulher. A localização da bexiga na
BEXIGA mulher é mais baixa e anterior do que no homem,
estando mais próxima do pavimento pélvico, de-
A bexiga é uma víscera oca onde se acumula a uri- vido à inexistência da próstata, à pressão exercida
na produzida pelos rins e transportada pelos ure- pelo útero e à configuração da grande bacia femi-
teres, nos intervalos entre as micções. É um órgão nina (Fig. 6.12).
423
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
424
MANUTENÇÃO I SISTEMA URINÁRIO
00
homem e na mulher. No homem, relaciona-se, A face póstero-inferior está unida ao pavimento
à frente e em baixo, com a próstata e, atrás, com as pélvico pela próstata e pela uretra membranosa,
"esículas serninais, as ampolas dos canais deferen- no homem, e pela uretra pélvica, na mulher. Este
tes e com os ureteres que se insinuam entre a pare- meio de fixação assume grande importância, pois
de da bexiga e as vesículas serninais. Na mulher, o uma insuficiência no pavimento pélvico, nas mul-
terço superior encontra-se relacionado com o colo típaras, pode originar hérnias da bexiga.
do útero e a restante extensão com a vagina. A bexiga, examinada pela sua face interior, apre-
Os bordos laterais da bexiga são ladeados pelas ar- senta uma mucosa lisa e rosada no jovem e um as-
térias umbilicais. O peritoneu, que reveste a face pecto alveolar ou com saliências entrecruzadas no
superior, reflecte-se ao longo destes bordos sobre adulto, devido a hipertrofia das fibras musculares.
a parede lateral da pélvis, continuando-se na mu- Com a idade os fascículos musculares desenvol-
lher, mais atrás, com o folheto anterior dos liga- vem-se cada vez mais, originando a bexiga em co-
mentos largos. O bordo posterior faz uma pre- lunas no idoso.
ga transversal que constitui o rebordo anterior do A superfície interior da bexiga apresenta várias
fundo de saco vesico-rectal, no homem, e vesico- wnas: o trígono, o colo, o corpo e o fundo (Fig.
-uterino, na mulher. Esta prega transversal prolon- 6.14).
ga-se pelas pregas uretero-vesicais, que contêm a Na face póstero-inferior ou base da bexiga en-
porção vesical dos ureteres, bem demarcadas no contra-se uma pequena área triangular, de apa-
homem. O vértice, anterior, situa-se acima da sín- rência lisa, que funciona como um funil que con-
fise púbica e continua-se pelo úraco. duz a urina para a uretra quando a bexiga se con-
Qyando a bexiga enche, toda a sua parede se dis- trai. Esta zona é chamada de "trígono vesical (de
tende, modificando-se as respectivas relações. Lieutaud)", correspondendo os seus vértices aos
Contudo, a parede superior distende-se mais ra- dois orifícios uretéricos, póstero-laterais, e ao orí-
pidamente do que a parede ântero-inferior e a be- ficio uretra!, ântero-inferior. A base deste trígo-
xiga dilata-se sobretudo para cima e para trás, de- no apresenta uma prega que se estende dum ori-
saparecendo os bordos laterais. O fundo de saco fício uretérico ao outro, a prega interuretérica, que
anterior pré-vesical torna-se tanto mais profundo mede 2 a 3 cm de comprimento. Os orifícios ure-
quanto maior for a dilatação da bexiga e o ponto téricos têm forma elíptica, com cerca de 4 mm no
de implantação do úraco torna-se superior à sín-
fise púbica.
9
A bexiga é mantida na sua posição graças à sua
continuidade com os ureteres e com a uretra, ao
pavimento pélvico e a pregas do peritoneu que a
ligam aos ossos púbicos e aos órgãos vizinhos.
A face superior e os bordos laterais são revestidos
pelo peritoneu que liga a bexiga, adiante, à parede
abdominal anterior e, lateralmente, às paredes la-
terais da bacia, e fixa a bexiga ao recto, no homem,
e ao útero, na mulher. O vértice encontra-se ligado
ao umbigo, na linha mediana, pelo úraco ou cor-
dão umbilical mediano. Lateralmente encontram-
-se dois cordões fibrosos, que representam as por-
ções atrofiadas das artérias umbilicais do feto que
se fundem com o úraco próximo do umbigo.
A face ântero-inferior encontra-se ligada, ao ní-
Fig. 6.14: Configuração interior e constituição da bexiga: Bexiga
vel do colo da bexiga, à parte póstero-inferior dos
feminina em corte frontal.
ossos púbicos e da sínfise púbica pelos ligamentos 1. Peritoneu (serosa) 2. Camada adventícia 3. Camada muscular 4.
pubo-vesicais. Camada mucosa 5. Colo 6. Trígono vesical (Lieutauc:f) 7. Orifícios de
abertura dos uréteres 8. Prega interuretérica 9. Fundo
425
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
seu maior eixo, que se encontra dirigido obliqua- gião do trígono, as fibras musculares que se esten-
mente para baixo e para dentro. dem entre os orificios uretéricos originam a prega
O colo vesical é a porção mais inferior da bexiga e a interuretérica. Em torno da abertura da uretra, no
porção mais fixa. O colo vesical corresponde ao ori- colo da bexiga, a camada muscular apresenta carac-
ficio uretral, que se encontra a uma distância de 2-3 terísticas distintas das do músculo detrusor: as fi-
cm dos orificios uretéricos, para baixo e para dian- bras circulares apresentam um espessamento, con-
te. O orificio uretral tem uma forma circular nojo- tribuindo para a formação do esfincter liso da ure-
vem e apresenta-se como uma fenda transversal no tra, também referido como esfincter liso do colo da
adulto. Pode apresentar uma elevação arredondada bexiga, esfincter interno da uretra ou músculo es-
na parte posterior, designada de "úvula vesical". fincter vesical. Este esfincter, de controlo involun-
O corpo é a porção da face póstero-inferior da tário, assegura a oclusão do orificio uretral da bexi-
bexiga situada para trás da prega interuretérica. ga, permitindo que a urina se acumule na bexiga e
O fundo vesical representa a restante porção (su- impedindo que haja passagem do líquido espermá-
perior) da superficie interior da bexiga. tico para a bexiga aquando da ejaculação.
A bexiga é caracterizada pela variabilidade na es- Mais lateralmente, as paredes da bexiga estão re-
pessura da sua parede, da ordem dos 8 a 15 mm vestidas, na face superior, por uma túnica serosa
quando vazia e dos 3 a 4 mm quando cheia. Es- de origem peritoneal e, nas restantes porções, por
truturalmente, é formada por três túnicas que, de uma adventícia de tecido conjuntivo que estabele-
dentro para fora, são: a túnica mucosa, a túni- ce a ligação aos órgãos vizinhos.
ca muscular e a túnica serosa ou adventícia (Fig. A vascularização da bexiga é feita por artérias vesi-
6.14). cais com origem na artéria hipogástrica e por veias
A túnica mucosa apresenta uma coloração rosada que terminam na veia hipogástrica, directa ou in-
no vivo e branco-amarelada no cadáver. É formada directamente.
por um epitélio de transição apoiado numa lâmina As artérias vesicais superiores, ramos da parte per-
própria de tecido coajuntivo, podendo ser consi- meável da artéria umbilical, em número de duas
derada a existência de uma submucosa. A mucosa ou três, irrigam a face superior da bexiga. As arté-
forma pregas ou rugas que desaparecem à medida rias vesicais inferiores, ramos da artéria hipogás-
que a bexiga enche, com excepção da zona do trí- trica, irrigam a face póstero-inferior da bexiga. As
gono em que se mantém sempre lisa. Na zona de artérias vesicais anteriores, com origem na artéria
abertura dos ureteres as pregas da mucosa actuam bulbar, ramo da pudenda interna, irrigam a face
como válvulas que impedem o refluxo da urina em ântero-inferior da bexiga. Contribuem ainda para
direcção aos rins à medida que a bexiga se enche a vascularização da bexiga ramos vesicais das arté-
de urina. rias rectal média, prostática e vesículo-deferencial
A túnica muscular, formada por uma espessa ca- no homem, e das artérias uterina e vaginal na mu-
mada de fibras musculares lisas, forma o múscu- lher. As diferentes artérias anastomosam-se entre
lo detrusor que tem como função expulsar a urina si constituindo a rede anastomótica perivesical que
acumulada na bexiga aquando da micção. As fibras origina vasos que atravessam a túnica muscular e
musculares estão organizadas em três camadas: vão formar a rede submucosa.
mais profundamente, as fibras encontram-se dis- As veias da bexiga encontram-se dispostas em três
postas longitudinalmente, ao longo do eixo vertical redes, de acordo com as camadas da parede vesical:
da bexiga; segue-se uma camada intermédia, em a rede venosa mucosa, que conflui para a rede ve-
que as fibras se encontram dispostas circularmen- nosa muscular e desta para a rede venosa superfi-
te; mais superficialmente, encontra-se uma nova cial perivesical. Esta rede venosa é constituída por
camada de fibras dispostas longitudinalmente. Da veias anastomosadas, que originam o plexo veno-
camada longitudinal superficial, acima e adiante so vesical e as veias vesicais anteriores. O plexo ve-
do orificio uretral, destacam-se dois fascículos que noso vesical drena as faces laterais da bexiga e ori-
constituem os ligamentos pubo-vesicais que esta- gina veias vesicais, que drenam para a veia hipo-
belecem a ligação ao púbis e à sínfise púbica. Na re- gástrica. As veias vesicais anteriores drenam a par-
426
MANUTENÇÃO I SISTEMA URINÁRIO
anterior da bexiga e confluem para o plexo ve- nervosos involuntários e voluntários para determi-
teoso prostánco
. (Santonru. ·) no h ornem ou pen-u-
. nadas estruturas musculares da bexiga e da uretra.
;etral (Santorini) na mulher, que termina na veia A urina que chega à bexiga continuamente pelos
udenda interna. A drenagem da parte posterior é ureteres é aí mantida devido à existência do esfínc-
~arnbém feita para os plexos venosos seminais no ter interno (músculo liso) e do esfínceter externo
homem e está relacionada com o plexo venoso va- (músculo estriado), que se encontram contraí-
ginal na mulher. dos, assegurando a continência urinária. Qyando
Os vasos linfáticos na parede da bexiga formam a bexiga se começa a encher de urina, os recepto-
redes: a rede mucosa, mais profunda, a rede mus- res nervosos de estiramento que se encontram na
cular ao nível da camada muscular, e a rede peri- sua parede enviam estímulos pelas vias aferentes
visceral, na camada mais superficial. A linfa da face sensitivas, através dos nervos esplâncnicos pélvi-
ântero-inferior da bexiga é conduzida pelos vasos cos, para o centro de micção na região sagrada da
linfáticos anteriores em direcção aos gânglios lin- medula (Fig. 6.15).
fáticos pré-vesicais, que a enviam para os gânglios Do centro de micção medular partem impulsos
linfáticos ilíacos externos. A linfa das porções su- nervosos até aos centros da micção encefálicos,
perior e laterais da bexiga é conduzida pelos va- subcorticais e corticais, que tornam consciente a
sos linfáticos superiores e laterais em direcção aos necessidade de eliminar a urina. À medida que a
gânglios linfáticos látero-vesicais, que a enviam bexiga enche mais e o volume de urina atinge cerca
para os gânglios linfáticos ilíacos externos e hipo- de 400 ml, a pressão intravesical aumenta e os re-
gástricos. A linfa da face póstero-inferior da bexi- flexos de micção tornam-se cada vez mais poten-
ga é conduzida pelos vasos linfáticos posteriores e tes, o que torna a necessidade de urinar mais ur-
inferiores, que a enviam para os gânglios linfáticos gente. Para resistir à micção, a inervação simpáti-
do promontório. ca estimula a contracção do músculo liso do esfínc-
A bexiga é inervada por um conjunto de nervos
que constituem o plexo vesical, que contém fibras
vegetativas simpáticas e parassimpáticas, tanto
motoras (eferentes), como sensitivas (aferentes). A
inervação simpática tem origem no plexo hipogás-
trico superior, ramo eferente do plexo aórtico-ab-
dominal, e promove a retenção da urina na bexiga.
As fibras simpáticas estimulam a contracção das
fibras musculares do esfíncter liso da uretra, asse-
gurando a retenção da urina na bexiga e impedin-
do a entrada de sémen na bexiga durante a ejacu-
lação, e inibem a contracção do músculo detrusor
da bexiga, causando o relaxamento da parede mus-
cular da bexiga e a retenção de urina no órgão. A
inervação parassimpática tem origem no 2.0 , 3.0 e
4.0 nervos sagrados que chegam à parede vesical e
é determinante da miccção. As fibras parassimpá- 4
427
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
URETRA
até ao seu termo.
A uretra é a parte terminal do sistema urinário O percurso da uretra não é rectilíneo, apresen-
através da qual a urina armazenada na bexiga é eli- tando duas curvaturas relacionadas com o púbis,
minada para o exterior. É um tubo que vai do ós- uma posterior e outra anterior, que lhe conferem
tio interno da uretra até ao orifício uretral externo, a forma de S itálico. Inicialmente, tem um trajec-
abrindo-se para o exterior do corpo na região do to aproximadamente vertical, ao longo da espessu-
períneo. Na mulher, é um canal curto que faz parte ra da próstata. Abaixo da sínfise púbica, curva para
unicamente do sistema urinário. No homem, é um diante e para cima até entrar no corpo esponjo-
canal longo que, para além da função urinária, faz so do pénis; à frente da sínfise púbica, curva para
também parte do sistema reprodutor, dando pas- baixo e para trás e desce verticalmente. A curvatu-
sagem ao sémen durante a ejaculação. A morfolo- ra proximal, ou posterior, é constante e fixa, e o seu
gia, trajecto e funções são tão diferentes em am- ângulo designa-se de ângulo infrapúbico. A cur-
bos os sexos, que se estuda separadamente a uretra vatura distal, ou anterior, desaparece no pénis em
masculina e a feminina. erecção. O seu ângulo, que corresponde à inserção
inferior do ligamento suspensor do pénis, é desig-
URETRA MASCULINA nado de "ângulo pré-púbico".
Em função das estruturas que atravessa, distin-
No homem, a uretra estende-se do colo da bexiga guem-se três porções na uretra masculina: a uretra
até ao meato urinário, situado na extremidade dis- prostática, a uretra membranosa e a uretra espon-
tal do pénis (Fig. 6.16). josa ou peninana.
No seu trajecto, a uretra percorre a próstata, da Em Urologia, é frequente dividir a uretra em duas
base ao vértice. D e seguida, atravessa o diafragma partes: a uretra posterior, que compreende as por-
urogenital, abandonando a cavidade pélvica, e fi- ções prostática e membranosa, e a uretra anterior,
nalmente o corpo esponjoso do pénis, que a rodeia que corresponde à uretra esponjosa.
428
MANUTENÇÃO I SIST EMA URINÁRIO
Em função da relação com a aponevrose perineal tre o bulbo e a fossa navicular, ou aperto da ure-
édia, a uretra pode também ser dividida em duas tra esponjosa ou peniana, com cerca de 8 mm; e o
i:rções: uretra. intr~pél~ca ou su_perior e ~retra orifício externo da uretra, ou meato urinário, que
~apélvica ou mfenor, situadas acuna e abaixo da é a parte mais estreita e menos extensível da ure-
onevrose perineal média, respectivamente. tra, com cerca de 7 mm.
Á uretra pode também ser dividida em uretra fixa As relações da uretra variam ao longo das suas di-
e uretra móvel, tendo em consideração a sua mo- versas porções.
bilidade. A uretra fixa encontra-se no interior da Na sua origem, a uretra relaciona-se com a prós-
róstata e na espessura da aponevrose perineal tata, que atravessa. A uretra encontra-se mais pró-
pmédia, correspondendo a' uretra prostatlca
, . e a' ure- ximo da face anterior da glândula, superiormente,
tra membranosa. A uretra móvel encontra-se no e aproxima-se da face posterior da glândula, infe-
corpo esponjoso do pénis, correspondendo à ure- riormente. A uretra prostática relaciona-se com o
tra peniana. utrículo prostático, um canal vestigial que se abre
Qyando o pénis está flácido, a uretra prostática na sua porção mediana e posterior, e com os canais
mede 2 a 3 cm, a uretra membranosa 1 a 2 = e ejaculadores, pares, que se abrem na uretra pros-
a uretra esponjosa 12 a 13 cm, num comprimen- tática lateralmente ao utrículo prostático. Por in-
to total de 15 a 18 cm. Este comprimento aumen- termédio da loca prostática, a uretra relaciona-se,
ta 2-3 cm no idoso, devido à estase do sangue ve- adiante, com a sínfise púbica e com o plexo venoso
noso resultante da menor contractilidade do teci- de Santorini; atrás, com a aponevrose prostato-pe-
do muscular. ritoneal (de Denonvilliers), que a separa do recto;
No intervalo entre as micções, a parede da uretra lateralmente, com os ligamentos pubo-vesicais e o
encontra-se contraída e o seu interior fica reduzi- músculo levantador do ânus.
do a uma fenda. Ao nível do colo vesical a fenda A parte membranosa da uretra tem início um pou-
é circular, na uretra prostática é horizontal acima co acima do folheto superior da aponevrose peri-
do veru montanum, tornando-se curva e côncava neal média e termina ao nível do folheto inferior
para trás ao longo do veru montanum, que projec- da aponevrose perineal média, relacionando-se
ta para a frente a parede posterior do canal; na par- com esta aponevrose ao longo de todo o seu tra-
te anterior do corpo esponjoso tem a forma de um jecto. A uretra membranosa relaciona-se, adiante e
T invertido e ao nível do meato urinário tem uma em cima, com a sínfise púbica e com o plexo veno-
disposição vertical. so de Santorini; adiante e em baixo, com as arté-
O calibre da uretra distendida no decurso de uma rias pudendas internas; atrás, com o recto, e, late-
micção não é homogéneo ao longo de todo o seu ralmente, com as glândulas bulbo-uretrais (ou de
comprimento, apresentando umas zonas mais di- Cowper), que se encontram embebidas na espes-
latadas e outras mais estreitas. As zonas mais di- sura do músculo estriado. Fibras musculares es-
latadas, em número de três, correspondem: à por- queléticas do diafragma pélvico dispõem-se circu-
ção prostática ou dilatação da uretra prostática, larmente em torno da uretra, formando o esfínc-
com cerca de 1,5 cm, que constitui a porção mais ter estriado da uretra ou esfíncter externo da ure-
larga da uretra; ao segmento bulbar da porção es- tra, de controlo voluntário.
ponjosa, ou dilatação do fundo de saco bulbar, A uretra esponjosa situa-se na porção anterior do
com cerca de 1,2 cm; e à fossa navicular, ou dila- períneo, no interior do corpo esponjoso do pénis.
tação da fossa navicular, com cerca de 1,2 cm, si- Encontra-se completamente envolvida pelo teci-
tuada na glande do pénis, próximo do orifkio ex- do eréctil do corpo esponjoso do pénis e relacio-
terno da uretra. As zonas mais estreitas, em nú- na-se, em cima, com os dois corpos cavernosos, e,
mero de quatro, são: o orifício uretra! interno ou em baixo, com os invólucros do pénis. Na sua parte
aperto do colo vesical, situado ao nível do colo da proximal abrem-se os canais excretores das glân-
bexiga, com cerca de 1 cm; a porção membrano- dulas bulbo-uretrais.
sa da uretra (istmo da uretra), ou aperto da ure- A configuração interior da uretra apresenta carac-
tra membranosa, com cerca de 1 cm; a porção en- terísticas comuns às diferentes porções e caracte-
429
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
rísticas que são específicas de cada porção. distalmente, com a mucosa da glande. Apresen-
A uretra prostática apresenta alguns detalhes sig- ta as glândulas mucosas de Littré ao nível da ure-
nificativos. A mucosa da parede posterior apresen- tra membranosa e peniana. A mucosa é ricamen-
ta uma saliência mediana, alongada verticalmen- te vascularizada, particularmente ao nível do cor-
te, com 10 a 15 mm de comprimento e cerca de 3 po esponjoso do pénis, onde por vezes se conside-
mm de altura, denominada de "veru montanum" ou ra a existência duma túnica vascular. A este nível,
"colículo seminal" (Fig. 6.16). O colículo seminal o tecido conjuntivo é muito rico em fibras elás-
prolonga-se para cima, originando pregas desig- ticas, circunscrevendo numerosas cavidades veno-
nadas de "freios do colículo seminal", e para bai- sas, anastomosadas, que constituem o tecido eréc-
xo, pela crista uretral, em direcção à porção mem- til do pénis.
branosa da uretra. Na parte mais saliente do colí- A túnica muscular é formada por fibras muscula-
culo seminal abrem-se três orifícios: o utrículo res lisas dispostas em dois planos, um mais pro-
prostático, mediano, e os canais ejaculadores, late- fundo e um mais superficial. No plano mais pro-
rais. O utrículo prostático é uma pequena cavida- fundo, as fibras estão dispostas longitudinalmen-
de em fundo de saco, alongada, com cerca de 1 cm te, na continuação das fibras musculares lisas lon-
de comprimento, situada na espessura da prósta- gitudinais da bexiga. Esta camada é mais desen-
ta. De cada lado desembocam os canais ejaculado- volvida na uretra prostática, sendo mais reduzi-
res, pertencentes ao sistema reprodutor masculi- da na uretra membranosa e indistinta na uretra
no que converge com o urinário ao nível da uretra peniana, em que a mucosa está rodeada directa-
prostática. Lateralmente ao colículo seminal, exis- mente pelo tecido eréctil. O plano mais super-
tem umas depressões verticais, as goteiras laterais ficial é constituído por fibras dispostas circular-
do veru montanum, onde se abrem numerosos ori- mente, contínuas com as fibras circulares da be-
fícios dos canais prostáticos. xiga. Esta camada apresenta um espessamento na
A uretra membranosa apresenta pregas longi- porção inicial da uretra, que dá origem ao esfínc-
tudinais, que desaparecem com a sua distensão, ter liso da uretra ou do colo da bexiga. As fibras
e possui glândulas produtoras de muco que lu- musculares lisas estão envolvidas por fibras mus-
brifica a uretra, as glândulas uretrais ou de Lit- culares estriadas que formam o esfíncter estriado
tré, que se abrem por orifícios localizados nas la- da uretra. Estas fibras estendem-se desde o colo
cunas uretrais. da bexiga até à aponevrose perineal média, distri-
A parte esponjosa da uretra apresenta igualmen- buindo-se ao longo da uretra prostática e da ure-
te pregas longitudinais e numerosas glândulas de tra membranosa. As fibras esqueléticas revestem
Littré. Estas glândulas lançam as suas secreções a uretra prostática anterior e ântero-lateralmen-
em depressões tubulares da mucosa, designadas de te, formando um hemi-anel de concavidade pos-
"lacunas de Morgagni". Na parte inferior da ure- terior, distribuídas num plano perpendicular ao
tra esponjosa, de cada lado da linha mediana, na da aponevrose perineal média. Apenas ao nível
porção anterior do fundo de saco do bulbo, en- da uretra membranosa, as fibras esqueléticas for-
contram-se as aberturas dos canais excretores das mam um anel completo.
glândulas bulbo-uretrais (de Cowper). A cerca de A vascularização da uretra prostática é semelhan-
1-2 cm do meato urinário, a mucosa da parede te à da próstata. A uretra prostática é irrigada por
dorsal da uretra apresenta uma prega que constitui ramos da artéria prostática, provenientes da arté-
a válvula da fossa navicular ou válvula de Guérin. ria hipogástrica. A uretra membranosa recebera-
A parede da uretra é formada por uma túnica mu- mos da artéria do bulbo do pénis e da vesical ante-
cosa, mais profunda, e uma túnica muscular, mais rior, ramos da pudenda interna. A uretra esponjo-
superficial. sa é irrigada pelas artérias do bulbo do pénis, bul-
A túnica mucosa reveste a uretra em toda a sua ex- bo-uretra! e dorsal do pénis, ramos da artéria pu-
tensão. Existe continuidade da mucosa da uretra denda interna.
com a da bexiga, com a do utrículo prostático e dos Em função da porção da uretra, o retorno venoso
canais ejaculadores ao nível do veru montanum, e, é efectuado por veias que terminam na veia dor-
430
MANUTEN ÇÃO I SIST EMA URINÁRIO
sal profunda do pénis ou no plexo venoso prostá- do-se separada desta na sua porção superior e uni-
tico (Santorini), tributários da veia pudenda in- da na porção inferior por uma fina camada de te-
cido conjuntivo contendo fibras musculares lisas
terna.
A linfa proveniente da uretra prostática e da ure- que constitui o septo uretra-vaginal. Lateralmen-
tra rnernbranosa é recolhida, maioritariamente, te, relaciona-se com o plexo venoso de Santorini,
elos gânglios linfáticos hipogástricos e externos. com o músculo levantador do ânus, com a apone-
~ procedente da porção esponjosa drena para os vrose perineal média e com a raíz dos corpos ca-
gânglios linfáticos inguinais e ilíacos externos. vemosas do clítoris.
A uretra masculina é inervada por ramos do plexo A uretra perineal atravessa o diafragma urogeni-
hipogástrico, por intermédio do plexo prostático, tal, adiante da vagina, com a qual se continua are-
por nervos provenientes do nervo pudendo inter- lacionar por intermédio do septo uretra-vaginal.
no, designadamente o ramo bulbo-uretral do ner- Abaixo da aponevrose perineal média, a uretra pe-
vo perineal, e pelo nervo dorsal do pénis. rineal relaciona-se, de cada lado, com os corpos ca-
vernosos do clítoris e com a parte anterior do bul-
bo. Desemboca na vulva pelo orifício inferior da
URETRA FEMININA uretra, cerca de 2 cm atrás do clítoris, e adiante do
orifício vaginal.
A uretra feminina é mais curta do que a masculina, A uretra feminina encontra-se fixa por meio de li-
estendendo-se do colo da bexiga à vulva. O orifi- gações à vagina e ao períneo, que constitui o prin-
cio uretral exterior situa-se entre os pequenos lá- cipal meio de fixação.
bios, posteriormente ao clítoris e anteriormente ao Tal como a uretra masculina, a superficie interior
orificio vaginal. da uretra feminina apresenta também pregas lon-
Na mulher, a uretra encontra- se direccionada obli- gitudinais que desaparecem com a distensão do
quamente para baixo e para a frente, quase verti- canal. Apresenta uma prega mais evidente, de lo-
calmente, posteriormente à sínfise púbica, adiante calização mediana e posterior, designada de "cris-
da vagina e paralelamente a ela (Fig. 6.12). ta uretral". A superfície interior da uretra apresen-
A uretra feminina tem o aspecto dum canal, com ta numerosas depressões em fundo de saco, análo-
3-4 cm de comprimento e 7-8 mm de diâmetro. gas às lacunas de Morgagni da uretra masculina.
Distinguem-se um corpo e duas extremidades, re- A parede da uretra feminina é constituída, tal
presentadas por um orificio superior e um orifi- como no homem, por uma túnica mucosa e uma
cio inferior que correspondem ao colo vesical e túnica muscular. A túnica muscular é igualmen-
ao meato urinário, respectivamente. Sendo a ure- te constituída por tecido muscular liso disposto
tra irregularmente cilíndrica, apresenta duas zonas em dois planos, um mais profundo de fibras lon-
mais estreitas: o aperto superior, situado ao nível gitudinais contínuas com as da bexiga, e um mais
do colo da bexiga, e o aperto inferior, ao nível do superficial, de fibras circulares, também contínuo
meato urinário. com as fibras circulares da bexiga. Este último
Tal como no homem, a uretra feminina atraves- apresenta um espessamento em torno da porção
sa a aponevrose perineal média, que a divide em inicial da uretra, que forma o esfíncter liso da ure-
duas porções: uma superior, a uretra pélvica, e uma tra. Lateralmente às fibras musculares lisas circula-
inferior, a uretra perineal, correspondentes à ure- res, encontram-se fibras de tecido muscular estria-
tra prostática e membranosa do homem. A porção do. Tal como no homem, estas fibras estendem-se
pélvica, situada na escavação pélvica, é a mais ex- desde o colo da bexiga, orientadas perpendicular-
tensa; a porção perineal, situada fora da cavidade mente ao períneo, e formam o esfíncter estriado da
pélvica, é a mais curta. uretra ou esfíncter externo da uretra.
A uretra pélvica relaciona-se, adiante, com a sín- A parede da uretra contém na sua espessura as
fise púbica, com o plexo venoso peri-uretral (San- glândulas para-uretrais, ou glândulas de Skene,
torini) e com os ligamentos pubo-vesicais. Poste- produtoras de muco. Estas glândulas situam-se de
riormente, relaciona-se com a vagina, encontran- cada lado da uretra, na sua porção distal, e os seus
431
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
canais excretores abrem-se para o exterior de cada ção do rim na síntese da vitamina D sofre também
lado do orificio uretral externo. uma redução, o que contribui para a deficiência em
A porção pélvica é irrigada por ramos das artérias Ca2• , osteoporose e fracturas ósseas.
vesical inferior e vaginal, ramos da artéria hipo- Com o envelhecimento, podem ocorrer problemas
gástrica, e da artéria vesical anterior, ramo da ar- relacionados com a micção, tanto no sexo mascu-
téria pudenda interna; a porção perineal é irriga- lino como no feminino. Efectivamente, cerca de
da pelas artérias uretral e bulbar, ramos da artéria 80% dos homens com mais de 80 anos sofre de
pudenda interna. hiperplasia benigna da próstata, um crescimento
As veias uretrais drenam para o plexo venoso peri- da próstata que comprime a uretra, o que dificul-
-uretral (Santorini), para as veias do bulbo do ves- ta o esvaziamento da bexiga. Por outro lado, a re-
tfbulo, que originam a veia pudenda interna, e para tenção da urina na bexiga pode causar um aumen-
o plexo vaginal, que termina directamente na veia to da pressão nos rins, comprometendo o funcio-
hipogástrica. namento dos nefrónios, e levar ao aparecimento de
Os vasos linfáticos dirigem-se para os gânglios infecções urinárias. Nas mulheres idosas, sobretu-
linfáticos hipogástricos e externos. A porção dis- do nas multíparas, é frequente a incontinência uri-
tal drena também para os gânglios linfáticos in- nária, resultante do enfraquecimento da muscula-
guinais superficiais. tura pélvica e dos esfl:ncteres uretrais. Com o enve-
A uretra feminina é inervada por ramos do plexo lhecimento, o controlo do sistema nervoso central
hipogástrico e do nervo pudendo. sobre a bexiga pode também deteriorar-se causan-
do a síndrome da bexiga hiperactiva. Esta situa-
432
MANUTENÇÃO I SISTEMA URINÁRIO
433
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
12.ª semana de gestação os dois ureteres abrem-se plos destas anomalias são a divisão do broto ure-
na bexiga, a uretra drena a urina produzida para térico, que causa a duplicação do ureter, completa
o líquido amniótico e o alantóide fica reduzido a ou incompleta, e a não ascenção do rim da sua po-
uma estrutura de suporte, o úraco. sição na pélvis embrionária para a cavidade abdo-
Podem surgir anomalias no desenvolvimento do minal, que leva a ectopia renal.
sistema urinário, levando a alterações que podem
ser insignificantes, não originando sintomatolo-
gia, ou severas, incompatíveis com a vida. Exem-
434
MANUTENÇÃO I SISTEMA URJNÃRIO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
435
7. SISTEMA GENITAL MASCULINO
7
10 9
439
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
to escrotal, que une o testículo à face profunda das destes que se dá a espermatogénese. Na extre .
bolsas. dade dos lóbulos os canais seminíferos conto _rni.
fC1d
O testículo é envolvido por 3 túnicas: a vaginal, se- convergem de modo a formar entre 20 a 30 tubOs
rosa que forma a face profunda das bolsas escrotais designados "canais seminíferos rectos", que co os
(descrita abaixo), a albugínea e a vascular. A "albu- tituem as primeiras estruturas das vias esperrn ~'.-
gínea", assim designada pelo seu tom branco azu- cas (Fig. 7.3). ati-
lado, é uma camada fibrosa e espessa, formada por
fibras entrelaçadas em todas as direcções. Na re-
gião média do bordo posterior a albugínea emite VIAS ESPERMÁTICAS
um septo incompleto que penetra na espessura do
testículo e que se designa por mediastino testicu- Designa-se por vias espermáticas o conjunto d
lar (Corpo de Highmore) (Fig. 7.3). estruturas que o espermatozóide formado nos e e
a-
Dos bordos laterais deste septo partem cordões fi- nais seminíferos atravessa no seu trajecto até à Ure-
brosos que, juntamente com cordões semelhantes tra. Estas estruturas incluem: canais seminíferos
que provêm da face profunda da albugínea, man- rectos, rede testicular, canais eferentes, epidídirno
têm a estrutura do testículo ao mesmo tempo que canal deferente, vesículas (ou glândulas) seminaj;
delimitam espaços designados "lóbulos" (Fig. 7.3). e canais ejaculadores.
A túnica vascular é formada por plexos vasculares Os canais seminíferos rectos são, como o nome in-
rodeados por um tecido areolar que reveste a face dica, pequenos tubos rectilíneos, cada um drenan-
profunda da albugínea. do vários canais seminíferos contorcidos (Fig. 7.3).
Cada testículo pode conter entre 250 e 400 lóbu- Partem dos lóbulos e dirigem-se à região do me-
los. Estes têm uma forma cónica, com base na pe- diastino testicular, onde se vão anastomosar entre
riferia do órgão e o vértice dirigido para o medias- si para formar a rede testicular, também designa-
tino testicular (Fig. 7.3). Cada um contém 1 a 3 da "rete testis" ou "rede de Haller" (Fig. 7.3). Jun-
túbulos seminíferos contorcidos, sendo ao nível to ao bordo posterior do testículo a rede testicular
organiza-se em 15 a 20 pequenos canais eferentes
que atravessam a albugínea e se dirigem à cabeça
7 do epidídimo (Fig. 7.3).
6
O epidídimo é constituído por um longo canal
com cerca de 5 a 7 metros, que se inicia anterior-
mente como colector dos canais eferentes e se vai
prolongar posteriormente pelo canal deferente
(Fig. 7.3). Para ocupar a sua posição sobre o bordo
posterior do testículo encontra-se enrolado sobre
si mesmo de forma a constituir um órgão de for-
10
ma alongada com um comprimento de cerca de 5
cm. Nele se distinguem 3 porções: cabeça, corpo e
cauda (Fig. 7.3).
A cabeça é a região mais volumosa, localizada an-
terior e superiormente, e relaciona-se directamen-
te com o polo superior do testículo, sendo na face
inferior da mesma que penetram os canais eferen-
tes (Fig. 7.3). Na sua extermidade anterior apre-
9
4 senta um vestígio embrionário do canal de W ol-
Fig. 7.3: Configuração interior do testículo e vias espermáticas. ff (dueto mesonéfrico), designado "hidátide pedi-
1. Túnica albuginea 2. Tubos seminíferos contorcidos 3. Mediastino
culada (de Morgagni)". Posteriormente prolonga-
testicular (Corpo de Highmore) 4. Canais seminíferos rectos
5. Rede testicular 6. Canais eferentes 7. Cabeça do epidídimo -se pelo corpo, porção que se estende ao longo do
8. Corpo do epidídimo 9. Cauda do epidídimo 1O. Canal deferente bordo posterior do testículo, e que se separa des-
11. Lóbulo
440
REPRODUÇÃO I SISTEMA GENITAL MASCULINO
r urna invaginação da vaginal que se inter- a face anterior do cordão e com o ramo genital
ce_P~ntre os dois órgãos, constituindo o seio do do genito-femoral, que tem um trajecto posterior.
Pº.edídirno (Fig. 7.2). O corpo do epidídimo vai- Aquando da emergência através do anel inguinal
epi treitando para se prolongar pela cauda, uma profundo atinge a 4.ª porção, designada "pélvica".
-se es . Nesta altura os vários constituintes do cordão es-
-- afunilada que se contmua pelo canal defe-
regiao permático separam-se e o canal deferente vai se-
te (Fig. 7.3).
ren
Ocasionalmente d.1stmgue-se
. um canalículo es- guir o seu trajecto aplicado sobre a fossa ilíaca até
·t que parte da região da cauda do epidídimo à escavação pélvica. Neste percurso vai cruzar os
trel O
u da transição entre epidídimo e canal deferen- vasos epigástricos descrevendo uma curva de con-
0 que se prolonga superiormente na direcção do cavidade inferior e passa anteriormente aos vasos
te,e
cordão espermático terminando num fundo cego, ilíacos externos para depois descer até à cavida-
e que se designa canal aberrante ou de Haller. de pélvica.
O canal deferente é um longo canal que vai atra-
vessar várias regiões anatómicas até ao seu término
9
na vesícula seminal junto à face posterior da bexi-
ga. De acordo co~ ~s relações que est~belece nes-
te trajecto, nele distinguem-se 4 porçoes: escrotal, 8
441
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
Nesta altura o seu calibre aumenta significativa- posteriormente com a face anterior do recto, ante-
mente, formando a ampola do canal deferente riormente com a bexiga e medialmente com a arn,
(Fig. 7.5). Na sua porção mais superior estão apli- pola do canal deferente (Fig. 7.5). O seu bordo la-
cados contra a parede vesical pelo peritoneu mas teral relaciona-se com as veias dos plexos semina]
na região inferior estão encerrados na espessu- vesical e prostático. '
ra de uma lâmina célulo-fibrosa designada "septo Da união entre o canal deferente e a vesícula se-
recto-vesical (de Denonvilliers)" (Fig. 7.1). Pos- minal parte, de cada lado, um pequeno canal de-
teriormente relacionam-se com o recto, anterior- nominado "ejaculador" que atravessa a estrutura da
mente com a bexiga, lateralmente com as vesícu- próstata até à face posterior da uretra, onde se abre
las seminais e medialmente com o canal do lado ao nível do colículo seminal (veru montanum), de
oposto (Fig. 7.1 e Fig. 7.5). cada lado do utrículo prostático - Fig. 7.6 e Fig.
6.16 do sistema urinário.
VESÍCULAS SEMINAIS
442
REPRODUÇÃO I SISTEMA GENITAL MASCULINO
dos testículos quando se dá a sua migração, A túnica ou membrana vaginal é a camada mais
[rente
_ pela qual vão ter vanas, . camadas, t al como a profunda e constitui uma serosa derivada do peri-
razao .
de da qual denvam toneu. Qiando o testículo empurra a parede abdo-
pa_re. guem-se assim, nas bolsas escrotais, da su- minal obrigando-a a evaginar para formar as bol-
p1s(1!1 . . )
cie para a profundidade (Fig. 7.2 : sas, o peritoneu parietal vai descer na forma de um
perfí.
• Pele escrotal; duplo folheto à frente do testículo, acabando por
Fáscia superficial (dartos); rodear também o seu bordo anterior e a sua parte
• Fáscia espermática externa; posterior. Entre a parede abdominal e as bolsas es-
Túnica muscular ou cremaster; crotais o peritoneu alonga-se através do canal in-
• Fáscia espermática interna; guinal, constituindo a este nível o canal peritoneo-
• Túnica vaginal (folhetos parietal e visceral). -vaginal que, com o crescimento vai encerrar e fi-
brosar, dando origem no adulto ao vestígio do pro-
A pele, que ao nível das bolsas escrotais toma cesso vaginal (ligamento de Cloquet) - Fig. 7.4.
0
nome de escroto, é a única camada comum a A vaginal, como serosa que é, vai apresentar dois
ambas as bolsas, send? pigmentada e preguea- folhetos. O parietal encontra-se em relação com
da rransversalmente. E revestida na profundi- a face profunda das bolsas e o visceral vai reves-
dade pelo dartos, uma camada formada por fi- tir de forma íntima o testículo, o epidídimo e a
bras elásticas e musculares, que se dispõem trans- emergência do cordão. A linha de reflexão entre os
versalmente, de modo que a sua contracção con- dois folhetos vai cruzar anteriormente a face ante-
fere urn aspecto pregueado ao escroto. Ao chegar rior do cordão um pouco acima da cabeça do epi-
à linha média o dartos divide-se em duas lâmi- dídimo. Desde esse ponto vai prolongar-se lateral
nas, urna superficial, que se continua pela bolsa do e inferiormente para atingir a face medial do tes-
lado oposto e uma profunda que vai ascender ver- tículo a qual percorre até ao bordo posterior, altura
ticalmente entre os dois testículos até à face infe- em que vai descer para contornar inferiormente o
rior do pénis, formando um septo mediano a sepa- ligamento escrotal. A partir do polo posterior vai
rar as duas bolsas. A partir do dartos existem ca- tomar uma direcção anterior e superior atraves-
madas individualizadas para cada uma das bolsas. sando a face lateral do testículo até ao epidídimo,
A fáscia espermática externa continua ao nível das onde se prolonga ao longo do flanco súpero-lateral
bolsas o revestimento superficial do músculo oblí- deste órgão, até à face anterior da emergência do
quo externo. A túnica muscular é constituída por cordão. Na cabeça e cauda do epidídimo, a vagi-
um músculo, o cremáster, cuja função é a elevação nal passa directamente da face lateral do testículo
do testículo. Este deriva de fibras do músculo oblí- ao epidídimo. No entanto, na região do corpo des-
quo interno que são arrastadas pelo testículo à sua te órgão, a vaginal forma um fundo de saco - seio
passagem e é formado por dois feixes, um lateral do epidídimo - que se interpõe entre os dois ór-
e um medial. O feixe lateral vai prolongar o bor- gãos até ao bordo medial do epidídimo (Fig. 7.2).
do inferior do músculo oblíquo interno, dirigindo- O testículo é irrigado pela artéria testicular. Esta
-se ao longo do bordo lateral do canal inguinal até artéria é ramo da aorta abdominal, tendo a sua
à face lateral do testículo onde as suas fibras vão origem logo abaixo das artérias renais. Após o seu
divergir para se inserirem na face anterior da fás- trajecto abdominal e pélvico vai percorrer o cordão
cia espermática externa. O feixe medial, menos de- espermático. Ao chegar ao epidídimo divide-se
senvolvido, termina na mesma camada, ao nível da num ramo epididimário que se prolonga ao longo
face medial do cordão espermático, antes de atin- do corpo e da cauda deste órgão, acabando por se
gir o testículo. A fáscia espermática interna deri- anastomosar com a artéria deferencial, ramo da ar-
va de fibras da fáscia transversalis. Tem origem no téria vesico-deferencial, e num ramo testicular que
anel inguinal profundo e desde aí vai percorrer o cruza a face medial do epidídimo até atingir o bor-
canal inguinal contendo a esse nível o cordão es- do posterior do testículo onde penetra a albugínea
permático, prolongando-se em direcção às bolsas para o irrigar. O epidídimo é irrigado pela artéria
onde contém o testículo e o epidídimo. testicular e pela deferencial, que também irriga o
443
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
canal deferente, ao qual acompanha no seu trajec- A sua forma varia consoante esteja em estado d
to. As ampolas dos canais deferentes, vesículas se- flacidez ou de erecção. Qyando flácido tem for e
minais e canais ejaculadores são irrigados por ra- de um cilin. dro que pende anteriormente
. às b111a
0-1
mos das artérias vesico-deferencial, prostática, ve- sas escrotais ( Fig. 7.1). Qyando em erecção O •
sical inferior e rectal média. A artéria funicular é . d 1 1 - fi
rus aumenta e vo ume e e eva-se a rente do ab- Pe-
um ramo da epigástrica que desce ao longo do cor- dómen.
dão espermático e se anastomosa com as artérias Tem duas extremidades, uma posterior ou raj
testicular e deferencial. É responsável pela irriga- pela qual se insere no púbis, e uma anterior z,
, Vo-
ção arterial das camadas mais profundas das bolsas lumosa, a glande. Esta tem uma forma Cónica
escrotais; as camadas superficiais recebem ramos cuja base, denominada "coroa'', é talhada em bi~
das pudendas externas, da femoral e da pudenda sel à custa da face inferior, separando-se do cor-
interna (ramos escrotais posteriores). po do pénis pelo sulco balano-prepucial (Fig. 7.7).
A drenagem venosa do testículo e da região ante- Na extremidade da glande observa-se o meato Uri-
rior do epidídimo faz-se para o plexo venoso es- nário (Fig. 7.7).
permático anterior (Fig. 7.4); a da região poste- Na sua extremidade posterior ou raiz, os consti-
rior do epidídimo faz-se para o plexo venoso pos- tuintes do pénis vão prolongar-se para lá da sín-
terior (Fig. 7.4). O sangue venoso do canal defe- fise púbica, em direcção ao períneo. O pénis vaj
rente é drenado em parte para os plexos venosos inserir-se na sínfise púbica através do ligamento
do cordão espermático e para o vesical, prostáti- suspensor do pénis e lateralmente nos ramos ís-
co e seminal, que também drenam as vesículas se- quio-púbicos através dos corpos cavernosos (Fig.
minais e os canais ejaculadores. O sangue venoso 7.1 e 7.7).
das camadas superficiais das bolsas escrotais é dre- O pénis é formado por dois corpos erécteis, late-
nado pela veia pudenda externa para a veia safena rais, os corpos cavernosos e um mediano, o cor-
magna e pela veia pudenda interna para a veia hi- po esponjoso, que termina por uma dilatação ante-
pogástrica; as camadas profundas drenam para os rior, a glande (Fig. 7.7). Estas estruturas mantêm-
plexos do cordão. -se unidas por membranas organizadas em quatro
A drenagem linfática do testículo faz-se directa- camadas (Fig. 7.7).
mente para os gânglios lombares e aórticos, en- Os órgãos erécteis são formados por capilares mo-
quanto que a do canal deferente e das vesículas se- dificados que constituem uma rede de espaços
minais se dirige aos gânglios ilíacos externos e ilía- areolares que comunicam entre si e que estão con-
cos internos. As bolsas drenam para os gânglios tidos por um invólucro fibroso e elástico, a albugí-
ilíacos internos. nea. Qyando o sangue preenche estas estruturas
O testículo e o epidídimo são inervados por ra- cria uma pressão que se traduz pela erecção.
mos do plexo celíaco por via do plexo testicular e Os corpos cavernosos são dois cilindros, ligeira-
do plexo hipogástrico. O s plexos vesical e deferen- mente aplanados transversalmente, que se inserem
cial são responsáveis pela inervação de canais de- posteriormente nos 2/3 anteriores da face inferior
ferentes, vesículas serninais e canais ejaculadores. dos ramos ísquio-púbicos (Fig. 7.7). Esta inserção
As bolsas são inervadas pelos ramos do nervo pe- faz-se através da sua face lateral, estando a infe-
rineal superficial, ramo do nervo pudendo inter- rior e a medial recobertas pelo músculo ísquio-ca-
no. O cremaster é inervado pelo ramo perineal do vernoso. Desde esta inserção prolongam-se ante-
nervo pequeno ciático e pelos ramos genitais dos riormente e ao passar inferiormente à sínfise púbi-
nervos íleo-inguinal e genito-femoral. ca, vão manter-se unidos ao longo da linha média,
de forma que determinam duas goteiras, uma su-
perior que se relaciona com a veia dorsal profun-
PÉNIS da do pénis e uma goteira inferior, mais ampla, em
relação com o corpo esponjoso e uretra (Fig. 7.8).
É o órgão de cópula e órgão terminal do sistema Anteriormente os corpos cavernosos estreitam e
urinário masculino. inserem-se na base da glande (Fig. 7.7).
444
REPRODUÇÃO I SISTEMA GENITAL MASCULINO
11
6 5
separa-se da face posterior da uretra membranosa
pelos músculos esfíncter estriado da uretra e trans-
verso profundo. Na espessura destes músculos, a
9 cada lado da face superior do bulbo, distinguem-
-se duas pequenas estruturas glandulares arredon-
dadas denominadas "glândulas bulbo-uretrais (de
Cowper)" - Fig. 7.5 e 7.6. De cada uma destas
glândulas parte um canal excretor que vai penetrar
no bulbo num trajecto oblíquo para a frente e para
dentro para ir drenar ao nível da uretra (Fig. 7.6).
O pénis é revestido por 4 camadas: pele, fáscia su-
10 perficial (dartos), camada celular e fáscia profunda.
A pele ao nível do pénis é muito móvel e na sua
face inferior apresenta um septo mediano que pro-
2
longa o das bolsas. O dartos reveste a face profun-
Fig. 7.8: Corte transversal do pénis.
1. Corpo esponjoso 2. Uretra peniana 3. Corpo cavernoso 4. Artéria da da pele e é uma continuação da camada ho-
dorsal do pénis 5. Veia dorsal profunda do pénis 6. Veia dorsal mónima das bolsas. A semelhança desta possui fi-
superficial do pénis 7. Artéria cavernosa 8. Fáscia peniana profunda
(Buck) 9. Fáscia peniana superficial (Dartos) 10. Pele bras musculares que, na sua maioria, se dispõem
circularmente. Para além de conter vasos e nervos
O corpo esponjoso é mais curto e mais volumoso a camada celular tem por função conferir mobili-
que os corpos cavernosos. Envolve a uretra ante- dade à pele. A fáscia profunda denomina-se fáscia
rior e localiza-se na goteira inferior formada pelos do pénis e recobre directamente os corpos erécteis
corpos cavernosos. A sua extremidade posterior é bem como os vasos e nervos profundos do pénis;
volumosa e designa-se bulbo (Fig. 7.7). Este está posteriormente prolonga-se pela fáscia superficial
recoberto pelo músculo bulbo-esponjoso e pela do períneo e pelo ligamento suspensor do pénis,
fáscia superficial do períneo. A sua face superior inferiormente pela fáscia espermática externa das
445
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
bolsas e anteriormente confunde-se com a albugí- A inervação sensitiva provém do ramo genital d
0
nea dos corpos erécteis. nervo genito-femoral e do nervo dorsal do Péni
A pele do pénis, acompanhada pelo dartos e pela A inervação vegetativa provém do plexo hipog· s.
as-
camada celular vai emitir um prolongamento à trico, por via dos nervos cavernosos.
volta da glande, que se denomina prepúcio (Fig.
7.7). A fáscia do pénis, que termina na base da
coroa, não participa na formação desta estrutura. PRÓSTATA
O prepúcio pode ter dimensões muito variáveis,
podendo cobrir ou não a glande. A abertura do É a mais importante glândula anexa ao sistema
prepúcio deve ser tal que permita o deslizar sobre genital masculino, não só pelo seu papel na secre-
a glande, mas por vezes é mais estreita, alteração a ção do fluido prostático, mas pela extraordinária
que se chama fimose e que pode necessitar de cor- relevância que assumem as suas patologias na ac-
recção cirúrgica através de um procedimento sim- tividade clínica.
ples - a circuncisão. O prepúcio está unido à face Em termos anatómicos a próstata tem uma forma
inferior da glande por uma prega cutânea que é de pirâmide quadrangular, pelo que nela se distin-
designada "freio" (Fig. 7. 7). A cada lado desta pre- guem 4 faces, uma base, superior, e um ápice, in-
ga observam-se na face inferior da glande dois sul- ferior. Está localizada inferiormente à bexiga, su-
cos que têm origem no sulco balano-prepucial e se periormente ao períneo, anteriormente ao recto e
prolongam até ao meato urinário. posteriormente à sínfise púbica (Fig. 7.1). Contém
O pénis é irrigado por artérias superficiais, que de- na sua espessura várias estruturas, nomeadamente
rivam da pudenda externa e perineal superficial e a porção prostática da uretra, o esfincter liso e por-
por artérias profundas, ramos da pudenda interna. ção superior do esfincter estriado da uretra (mús-
Neste último grupo incluem-se as artérias caver- culo esfíncter externo), o utrículo prostático e os
nosas (Fig. 7.8), que se prolongam ao longo destes canais ejaculadores (Fig. 7.6). É rodeada por uma
órgãos dando origem a numerosas "artérias helici- série de estruturas que no seu conjunto formam
nas", assim designadas devido ao seu trajecto em uma cápsula que encerra a loca prostática.
espiral, as artérias bulbo-uretrais, que irrigam o A face anterior, ligeiramente convexa, está reco-
bulbo e restante corpo esponjoso, e as artérias dor- berta na sua região inferior pela porção mais supe-
sais do pénis (Fig. 7.8), que irrigam os corpos ca- rior do esfincter estriado da uretra, que ao nível do
vernosos e terminam formando um círculo arterial ápice da próstata, a envolve em toda a sua circun-
na base da glande. ferência. Anteriormente a este músculo, a próstata
A drenagem venosa do pénis faz-se por duas veias: relaciona-se com a expansão pré-prostática do li-
a veia dorsal superficial e a veia dorsal profunda do gamento transverso do períneo, com a região an-
pénis (Fig. 7.8). O sangue das camadas superficiais terior do plexo venoso prostático (de Santorini),
é drenado para a veia dorsal superficial que é tribu- com os ligamentos pubo-vesicais e, finalmente,
tária da veia safena magna. A veia dorsal profunda com a sínfise púbica.
resulta da união de dois plexos localizados no sul- A face posterior é convexa e apresenta um sulco
co balano-prepucial e prolonga-se pela goteira da vertical na sua zona média que a divide em dois
face dorsal do pénis entre as artérias homónimas, lobos laterais. Relaciona-se com a face anterior
indo terminar no plexo prostático (Santorini). Este do recto, da qual se separa pelo septo recto-vesical
localiza-se ao longo das faces laterais e anterior da (Fig. 7.1). Esta relação posterior é extremamen-
próstata e é da sua região anterior que se originam, te importante pois permite a palpação da prósta-
de cada lado, as veias pudendas internas. ta através do recto com o toque rectal. Este ges-
A drenagem linfática superficial faz-se para o gru- to simples pode ser por isso de grande importân-
po súpero-medial dos gânglios inguinais superfi- cia.diagnóstica.
ciais. A linfa das regiões profundas segue colec- As faces (ínfero) laterais estão inclinad~s ântero-
tores satélites da veia dorsal profunda e é drenada -inferiormente e estão recobertas por uma lâmi-
para os gânglios inguinais profundos e superficiais. na de tecido celulo-fibroso designada "fáscia late-
446
REPRODUÇÃO ! SISTEMA GENITAL MASCULINO
447
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
co interno; um pedículo posterior que drena para Ao nível testicular, vai ocorrer uma infiltração ad·
os gânglios sagrados laterais e do promontório e posa, com atrofia e hipoplasia dos túbulos sem· '.'
um pedículo inferior que segue o trajecto da arté- feros, que_ adquir~m um tom amarelado. Estas~:
ria pudenda interna para drenar num gânglio ilía- terações mfluenc1am algumas características d
0
co interno. esperma, como o volume, o número, a mobilidad
Os nervos derivam do plexo hipogástrico. a morfologia e a fecundidade dos espermatoz -~•
Ot-
des, embora haja variações inter-individuais s·
tg-
DESENVOLVIMENTO E EVOLUÇÃO COM nificativas.
O ENVELHECIMENTO No pénis, a percentagem de células musculares li-
sas e fibras elásticas nos corpos cavernosos diminUj
O desenvolvimento dos órgãos reprodutores ini- causando alteração do tamanho e funcionarnent~
cia-se num estadio inicial do embrião, em estrei- do órgão, com redução da sua extensibilidade e da
ta ligação com o desenvolvimento do sistema uri- elasticidade da túnica albugínea. Por outro lado, a
nário. Inicialmente é impossível distinguir entre as aterosclerose das artérias peruanas (associada mui-
gónadas masculinas e as femininas. No embrião tas vezes a factores de risco comuns no idoso como
masculino, o cromossoma Y estimula o desenvol- a hipertensão arterial e a diabetes mellitus) pode
vimento dos cordões sexuais primitivos para for- acabar por resultar em disfunção eréctil.
mar os cordões testiculares, que darão origem às
estruturas dos testículos. Entre os cordões testicu-
lares estão as células de Leydig, que na 8ª semana
iniciam a produção de testosterona que impulsio- a
na a diferenciação dos genitais internos e externos.
Com o desenvolvimento fetal, os testículos, ini- 2
448
8. SISTEMA GENITAL FEMININO E MAMA
12
11
Fig. 8.1: Sistema genital feminino in situ.
1. Ligamento próprio do ovário (útero-ovárico) 2. Ligamento largo do útero 3. Ligamento redondo 4. Bexiga 5. Útero (fundo) 6. Trompa uterina
7. Vasos ilíacos externos 8. Ovário 9. Ligamento suspensor do ovário (contendo os vasos ováricos) 10. Ligamentos útero-sagrados 11. Recto
12. Cólon sigmóide
449
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
9
Fig. 8.2: Útero, trompas e ovário (configuração exterior e interior).
1. Trompa (infundíbulo) 2. Ligamento suspensor do ovário 3. Trompa (ampola) 4. Trompa (istmo) 5. Útero (corpo) 6. Mesossalpinge
7. Ligamento largo do útero 8. Ligamento útero-sagrado 9. Ureter 10. Ligamento útero-ovárico 11. Ovário 12. Útero (istmo) 13. Interior
da cavidade uterina 14. Miométrlo 15. Trompa (porção intra-uterina/intersticial) 16. Trompa (istmo) 17. Fímbrias do infundíbulo 18. Folículo
de Graaf 19. Corpo albicans 20. Corpo amarelo (lúteo) 21. Vasos uterinos 22. Endométrio 23. Vagina 24. Orifício externo do colo uterino
25. Canal cervical
450
REPRODUÇÃO I SISTEMA GENITAL FEMININO
451
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
ramos homólogos da artéria uterina, para formar As veias ováricas aferentes contornam as arteríolas
as arcadas arteriais infra-ováricas e infra-tubárias, ováricas (Fig. 8.4).
das quais nascem as arteríolas ováricas e tubári- Os plexos infra-tubário e infra-ovárico drenam
cas (Fig. 8.4). essencialmente, para as veias ováricas e acessoria:
A artéria uterina dá, sob o istmo tubário, a artéria mente para os plexos uterinas. As veias ováricas
do fundo uterino e os ramos tubários médios. Ela unem-se para formar a veia ovárica direita que se
termina nas artérias ovárica média e tubária mé- abre na veia cava inferior, e a veia ovárica esquerda
dia, que se anastomosam com as suas homólogas que drena para a veia renal esquerda.
laterais para formar as arcadas infra-ovárica e in- Tanto o ovário como a trompa drenam para plexos
fra-tubária (Fig. 8.4). linfáticos localizados no respectivo meso. Estes es-
Da arcada infra-ovárica nascem 10 a 12 arterío- tão anastomosados aos plexos linfáticos para-ute-
las de 1.• ordem. Cada arteríola de l_a ordem dá rinas. Na mulher em idade reprodutiva a drena-
2 a 3 arteríolas de 2. ª ordem, que por sua vez dão gem linfática é feita, essencialmente, para os gân-
origem a arteríolas de 3.ª ordem, que formam a glios pélvicos e lombares. Após a menopausa, a
rede perifolicular. Os ramos tubários médios, em drenagem é feita principalmente para os gânglios
número de 3 ou 4, vascularizam essencialmente lombares.
a porção uterina. Da arcada infra-tubária nascem Os nervos provêm, essencialmente, do plexo ová-
as arteríolas ístmicas, as arteríolas ampulares e as rico que deriva do gânglio aorto-renal e do plexo
arteríolas infundibulares. Da rede arteriolar sub- intermesentérico. Acessoriamente a inervação dos
-serosa, rica e sinuosa, derivam as redes serosa e anexos provém dos nervos laterais do útero, ramos
muscular. A riqueza vascular da trompa permite do plexo hipogástrico inferior.
a maioria das intervenções sem risco de isquemia
(perfusão sanguínea insuficiente).
A trompa uterina drena o seu sangue venoso para ÚTERO
o plexo venoso infra-tubário, localizado no me-
sossalpinge. O ovário drena o seu sangue venoso O útero é um órgão muscular oco, destinado a
para o plexo infra-ovárico, situado no mesovário. conter o embrião em desenvolvimento e no parto
rc::vfi)
~~-º ---, [I]
-,
->'
1
o
2
6
/
f)
Fig. 8.5: Estrutura das camadas e posições do útero.
1. Ligamento próprio do ovário 2. Ligamento redondo 3. Ligamento útero-sagrado 4. Ligamento cardinal do útero 5. Graus de retroV"ersão
6. Posição normal (anteversão e anteflexão) A. Retroflexão (normal a tracejado) B. Anteflexão (normal a tracejado)
452
REPRODUÇÃO I SISTEMA GENITAL FEMININO
tern urn papel crucial na expulsão do feto. É firme A camada mucosa ou endométrio sofre variações
e elástico à palpação. Localiza-se na parte média e óclicas na sua espessura ao longo do ciclo mens-
central da cavidade pélvica (Fig. 8.1). trual (ver adiante; Fig. 8.12).
O útero é piriforme com forma de pêra inverti- Esta apresenta-se estratificada em:
da. A zona central ou istmo, mais estreita, sepa- • Epitélio de superfície simples e cúbico na fase
ra O corpo uterino (superior) do colo (inferior) - folicular do ciclo menstrual, transformando-
Fig. 8.2. O ângulo formado anteriormente entre o -se em epitélio cilíndrico na fase lútea;
corpo uterino e a vagina é de 90.0 , sendo esta po- • Glândulas uterinas, tubulares, rectas na fase
sição designada de "ânteroversão". O corpo e colo folicular, e espiraladas na fase lútea;
forrnam anteriormente um ângulo de 100-120. 0 , • Uma lâmina própria, que inclui uma cama-
sendo esta posição designada de "anteflexão" (Fig. da funcional compacta, uma camada funcio-
s.5). M ais raramente, o útero apresenta uma incli- nal esponjosa e uma camada basal. Apenas a
nação posterior (retroversão e/ou retroflexão). última persiste inalterada ao longo de todo o
O corpo uterino é cónico, achatado da frente para ciclo menstrual, enquanto as outras duas so-
trás. Apresenta duas faces, uma anterior e uma frem transformações ao longo do ciclo sob in-
posterior, três bordos (superior e laterais - direi- fluência hormonal;
to e esquerdo), uma base convexa ou fundo ute- • Artérias basais, que dão à camada funcional as
rino, e três ângulos (dois laterais ou cornos ute- arteríolas espiraladas.
rinos, que se continuam com as trompas uteri-
nas e que anteriormente dão inserção aos liga- A camada exterior é formada por uma camada
mentos redondos e posteriormente aos ligamen- serosa ou perimétrio e por uma camada adventí-
tos próprios do ovário, e um inferior, que corres- cia ou fáscia uterina. O perimétrio é constituído
ponde ao istmo). por peritoneu seroso que recobre o fundo uteri-
O colo do útero é cilíndrico e dá inserção, à sua no e as faces anterior e posterior do corpo. A fás-
volta, à vagina, que o divide em supra-vaginal e cia uterina é constituída por tecido conjuntivo e
intra-vaginal. A porção supra-vaginal continua-se recobre as zonas uterinas que não são revestidas
com o istmo e o corpo uterino. A porção intra- por peritoneu.
-vaginal é visível à observação com espéculo va- O peritoneu uterino é muito aderente ao corpo
ginal e acessível ao toque com o dedo do observa- uterino à medida que se aproxima do fundo. So-
dor. Apresenta na parte central o orifkio externo bre a face anterior, a linha de aderência do peri-
do colo. Este dá acesso ao canal cervical. O orifício toneu, marcada por um ligeiro sulco, está loca-
externo do colo é punctiforme na mulher nulípara lizada ao nível do istmo uterino. Na face poste-
e largo e irregular na multípara. rior esta linha vai mais inferiormente, abaixo do
Relativamente à configuração interior, a cavidade istmo uterino. Anteriormente, o peritoneu ute-
uterina compreende a cavidade corporal e o ca- rino continua-se com peritoneu vesical ao nível
nal cervical. do fundo de saco vesico-uterino (Fig. 8.6). Poste-
A cavidade corporal é triangular e virtual, os seus riormente, o peritoneu desce sobre a face poste-
ângulos súpero-laterais continuam-se com os ós- rior do fornix vaginal, para formar o fundo saco
tios uterinos das trompas. Constitui a câmara para recto-vaginal (Fig. 8.6).
o desenvolvimento do feto. A camada muscular ou miométrio é constituída
O canal cervical é uma cavidade real, fusiforme, por fibras do músculo liso, que se agrupam em
repleta de muco cervical e constituído por múlti- feixes, separados por tecido conjuntivo. O fundo
plas pregas. A extremidade superior confunde-se uterino é predominantemente muscular e o colo
com istmo uterino e abre-se na cavidade uterina é, sobretudo, constituído por tecido conjuntivo.
pelo orifício interno do colo. Relativamente às relações do útero, estas podem
A parede uterina é composta por uma camada ex- ser divididas de acordo com as suas porções.
terior (serosa e adventícia), uma camada muscular O corpo uterino relaciona-se anteriormente com
e uma camada mucosa (Fig. 8.2). a face superior da bexiga e posteriormente com
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
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ansas intestinais e o cólon sigmoide (Fig. 8.1 e origem no corno uterino, à frente da trompa
Fig. 8.6). de Falópio e dirige-se para baixo e para fora,
O fundo uterino relaciona-se com ansas intesti- atravessando o canal inguinal para terminal
nais. no grande lábio (vulva);
Dos bordos laterais partem os ligamentos largos • Ligamento largo: é formado pelo prolonga-
(Fig. 8.2) e junto a eles caminham os vasos ute- mento do peritoneu que recobre as faces ute-
rinos (Fig. 8.4). rinas e estende-se desde o bordo lateral do
A face anterior da porção supra-vaginal do colo útero até à parede lateral da cavidade pélvica.
está localizada sob o fundo de saco vesico-uterino • Ligamento vesico-uterino: estende-se do colo
(Fig. 8.6). A face posterior é recoberta por perito- do útero à base da bexiga, acima do ureter re-
neu e dá inserção aos ligamentos útero-sagrados. trovesical;
Os bordos laterais localizam-se acima do ureter. • Ligamento utero-sagrado: insere-se sobre o
Contêm as artérias, veias e vasos linfáticos uterinos. colo e o fornix vaginal posterior e termina
A artéria uterina ao cruzar o ureter forma uma próximo das vértebras sagradas S2 a S4;
ansa. • Ligamentos paracervicais: estendem-se da
O fornix vaginal isola a parte vaginal do colo do parte lateral do colo uterino, abaixo do para-
espaço sub-peritoneal pélvico. A porção poste- métrio, à parede lateral da cavidade pélvica.
rior do fornix vaginal, recoberta pelo peritoneu
nos 20 mm superiores, relaciona-se com o fundo A vascularização arterial do útero é feita pelas ar-
de saco posterior ou recto-vaginal (de Douglas). térias uterinas e artérias vaginais (Fig. 8.4).
Dá inserção aos ligamentos útero-sagrados. Os A artéria uterina nasce da artéria hipogástrica.
bordos laterais do fornix vaginal correspondem Esta atinge o útero junto ao colo após cruzar o
ao paracervix e onde caminham os vasos cervi- ureter, tendo um trajecto ascendente sinuoso jun-
co-vaginais. to ao bordo lateral do útero.
O útero é mantido in situ por vários ligamentos, Ao rúvel do corno uterino a artéria uterina incli-
pares e simétricos (Figs. 8.1, 8.2 e 8.5) - meios de na-se lateralmente e passa sob o ligamento redon-
fixação. De cada lado existem: do e a trompa para se dividir em 2 ramos, tubário
• Ligamento redondo: pode ser posto em evi- e ovárico médios, que se anastomosam com os ho-
dência pela tracção do fundo uterino. Tem mólogos laterais.
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REPRODUÇÃO I SISTEMA GENITAL FEMININO
Ao longo do seu trajecto vai emitindo vários ra- • Plexo vaginal, muito desenvolvido, recebe as
rnos colaterais: veias do colo uterino, da vagina e da base da
• Ramos vesico-vaginais (5 a 6) nascem antes bexiga. Drena para as veias vaginais, localiza-
do cruzamento com o ureter. Acompanham o das no paracervix.
ureter terminal em direção à base da bexiga e
do fornix vaginal; A drenagem linfática do útero pode ser dividida
Ramo uretérico ou ureterino, inconstante, entre o corpo e o colo. O corpo drena para os gân-
nasce no ponto de cruzamento; glios lombo-aórticas (látero e pré-aórticas) próxi-
Artéria cervico-vaginal, volumosa, nasce após mos da raiz da artéria mesentérica inferior, para os
o cruzamento do ureter e divide-se em 2 ra- gânglios ilíacos externos e para os gânglios ingui-
mos, anterior e posterior, que vascularizam o nais superficiais (através de colectores que acom-
colo, o fornix vaginal anterior, a base e o colo panham o ligamento redondo). O colo drena para
da bexiga. O ramo anterior dá um ramo para os gânglios ilíacos externos e por vezes também
o ligamento vesico-uterino; para os hipogástricos.
, Ramos cervicais (5 a 6), cada ramo bifurca- O útero é inervado pelo plexo uterino, que tem
-se para se dirigir para as faces anterior e pos- origem no plexo hipogástrico.
terior do colo. O primeiro ramo cervical é o
mais volumoso, vasculariza também a vagina
através da artéria ázigos posterior da vagina; VAGINA
• Ramos somáticos (8 a 10) nascem aos pares, a
partir de um tronco comum que se bifurcara- A vagina é um canal que se estende do colo ute-
pidamente nesses dois ramos, cada um se di- rino à vulva (F ig. 8.7). Tem uma direção oblíqua
rige para cada face do corpo do útero; para baixo e para a frente. Localiza-se na parte in-
• Artéria do ligamento redondo nasce perto da ferior da cavidade pélvica, abaixo do útero, atrás
saída do ligamento redondo do útero e, como da bexiga e à frente do recto. Em repouso, as pare-
o próprio nome indica, vasculariza-o; des anterior e posterior da vagina estão justapos-
• Artéria de fundo uterino, volumosa, vascu- tas, afastando-se durante o acto sexual. Mede 7 a 9
lariza o fundo uterino e a parte uterina da cm de comprimento.
trompa. É uma artéria importante porque o
fundo uterino é a zona preferencial de inser- 2
ção da placenta.
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
A vagina relaciona-se anteriormente com a bexi- • Artéria rectal média que dá alguns ramos Para
ga e com a porção terminal dos ureteres, em cima, a parede vaginal posterior.
e com a uretra, em baixo (Fig. 8.6).
A face posterior da vagina é recoberta em cima Todos estes ramos anastomosam-se com ramos
pelo peritoneu do fundo de saco de Douglas. contralaterais. Atrás, estas anastomoses formam
Abaixo do peritoneu, a vagina relaciona-se com o muitas vezes uma artéria única mediana, a artéri;
recto, estando separada deste por uma camada de ázigos da vagina, que se estende de cima para bai-
tecido conjuntivo - septo recto-vaginal. xo na parede posterior da vagina.
Nos bordos laterais distinguem-se 2 partes, uma As veias formam de cada lado da vagina o plexo
superior ou intra-pélvica, outra inferior ou perineal. venoso vaginal, que se anastomosa em cima com
A parte intra-pélvica constitui os dois terços supe- o plexo uterino, à frente com o plexo vesical, atrás
riores da vagina e contém múltiplas ramificações com o plexo rectal e em baixo com a veia pudenda
arteriais e venosas vaginais. A parte superior do interna, através das veias vulvares. A drenagem ve-
bordo lateral da vagina relaciona-se, igualmente, nosa vaginal é feita para a veia hipogástrica.
com o ureter. Os linfáticos vaginais acompanham a artéria ute-
A parte perineal relaciona-se (de cima para baixo) rina e a artéria vaginal.
com: as fáscias internas do músculo levantador do Os nervos provêm do plexo hipogástrico, como os
ânus; a aponevrose média e o músculo transverso uterinos.
profundo do períneo; o músculo constritor da vul-
va; o bulbo da vagina e a glândula vulvar (de Bar-
tholin). VULVA
A extremidade superior da vagina insere-se à volta
do colo, formando uma cúpula e um fundo de saco A vulva, órgão genital externo feminino, está lo-
circular (Fig. 8.7). calizada na parte anterior do períneo, entre a face
A vagina abre-se no fundo do vesti.bulo (Fig. 8.7). medial da extremidade superior das coxas (Fig.
Este orificio é diminuído, na mulher virgem, por 8.8). Compreende o monte púbico, os grandes e
uma prega mucosa, o hímen (Fig. 8.8). Com o pri- pequenos lábios, o vesti.bulo, os corpos erécteis e as
meiro coito, o hímen rompe e forma pregas cica- glândulas vulvares.
triciais - as carúnculas hirnenais. O monte do púbis (de vénus) é uma saliência ar-
A vagina apresenta na sua superficie interior múl- redondada, triangular, localizada anteriormente à
tiplas pregas transversais, que são espessamentos sínfise púbica e limitado lateralmente pelas pregas
da mucosa (Fig. 8.7). Longitudinalmente distin- inguinais (Fig. 8.8). É recoberto por pêlos e com-
guem-se nas paredes anterior e posterior, sulcos posto, essencialmente, por uma camada adiposa
medianos na parte inferior, que se designam co- que se continua com tecido celular subcutâneo ab-
lunas da vagina. dominal e dos grandes lábios. As fibras terminais
A parede vaginal é constituída por 3 camadas: dos ligamentos redondos do útero "perdem-se" no
• Camada superficial, conjuntiva; monte do púbis em direcção aos grandes lábios.
• Camada média, muscular, formada por fibras Os grandes lábios limitam a fenda vulvar. São duas
longitudinais lateralmente e circulares mais grandes pregas cutâneas, alongadas de frente para
medialmente; trás (Fig. 8.8).
• Camada profunda, mucosa. A face lateral, de coloração mais escura e pilosa,
está limitada lateralmente pelo sulco genito-fe-
Relativamente à vascularização arterial, encon- moral. A face medial é rosada, lisa e húmida. As
tram-se de cada lado da vagina: extremidades reúnem-se para formar à frente a co-
• Ramos vaginais da artéria uterina e da artéria missura anterior, e atrás a comissura posterior.
cervico-vaginal; Os grandes lábios são formados por um revesti-
• Artéria vaginal propriamente dita, na parte mento cutâneo preenchido por fibras musculares
média da vagina; lisas e por tecido adiposo. É um órgão semi-eréc-
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til, reforçado por fibras elásticas que o ligam à fás- ra o hímen dos pequenos lábios. O hímen é uma
cia crivada, ao prepúcio do clítoris e ao centro ten- prega mucosa transversal e incompleta cuja face
dinoso do períneo. vulvar é lisa e a face vaginal irregular. A sua resis-
Os pequenos lábios são duas pregas que limitam o tência e a sua forma são muito variáveis.
vestiôulo, localizadas mediaimente em relação aos O clítoris (Fig. 8.8) é um órgão eréctil, formado
grandes lábios (Fig. 8.8). Estas pregas são de apa- por 2 corpos erécteis pares - os corpos cavernosos
rência mucosas e tendem a atrofiar após a meno- - e pelos bulbos vestibulares. Compreende 3 par-
pausa. As extremidades anteriores dividem-se em tes: os pilares, o corpo e a glande. O corpo do clí-
2 pregas secundárias: uma prega anterior que passa toris dirige-se para cima, à frente da sínfise púbica,
acima do corpo do clítoris para formar o prepúcio; depois inflecte (cotovelo do clítoris) para se diri-
e uma prega posterior que se fixa na face inferior gir para baixo. Mantém-se solidamente na sua po-
do clítoris para formar o freio. As extremidades sição, ao nível do seu cotovelo, pelo ligamento sus-
posteriores reúnem-se para formar o freio vulvar. pensor do clítoris. Este provém da linha branca e
Os pequenos lábios são formados por um revesti- da sínfise púbica, dividindo-se para contornar la-
mento cutâneo, sem gordura subcutânea, com uma teralmente e em baixo o corpo do clítoris. O liga-
lâmina fibro-elástica rica em vasos. mento suspensor do clítoris dá extensões laterais
O sulco interlabial localiza-se entre o grande lábio ao nível do óstio uretra! - ligamento pubo-uretral.
e o pequeno lábio do mesmo lado e corresponde à O corpo é recoberto pelo prepúcio do clítoris.
anteriormente ao pilar do clítoris. A glande do clítoris é livre. Constitui a _porção ter-
O vestfüulo vulvar surge como prolongamento da minal, cónica, arredondada do corpo. E constituí-
fenda vulvar, constituindo um espaço virtual pro- da por tecido eréctil esponjoso que provém dos
fundo. Apresenta o orifício uretra! externo locali- bulbos vestibulares.
zado acima da carina uretra! da vagina que termi- Os pilares do clítoris formam a parte posterior
na a coluna vaginal anterior. É rodeado de cada dos corpos cavernosos e inserem-se sobre a par-
lado pelos orifícios das glândulas para-uretrais (de te média da face medial dos ramos isquio-púbicos.
Skene). Unem-se sob a sínfise púbica para formar o corpo
O vesti.bulo vaginal está separado da vagina pelo do clítoris. Um septo incompleto mediano marca
orifício vaginal, ou intróito. Este é fechado pelo esta união. Os pilares do clítoris são recobertos pe-
hímen na mulher virgem. O sulco vestibular sepa- los músculos isquio-cavernosos (Fig. 8.7).
457
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
A fáscia clitoriana é uma camada fibro-elástica, lo- por ramos da artéria femoral e, acessoriamen-
calizada sob a pele que recobre o clítoris. te, por um ramo terminal da artéria obturado-
Os bulbos vestibulares são dois órgãos erécteis ra e pela artéria funicular;
ovóides, anexos à vulva, localizados de cada lado • Território posterior, que está sob a dependên-
dos orifícios uretra! e vaginal. Estes órgãos estão cia da artéria pudenda interna da qual provêm
fixos à fáscia inferior do diafragma urogenital. As as artérias dorsal e profunda do clítoris, ure-
suas extremidades posteriores estão em contacto tra!, bulbar e ramos para as glândulas vestibu-
com as glândulas vestibulares maiores. As extre- lares maiores.
midades anteriores unem-se para formar a comis-
sura bulbar e apresentam uma expansão de teci- A drenagem venosa do monte do púbis, do prepú-
do eréctil para a glândula do clítoris. A comissu- cio e da parte anterior dos lábios é feita pelas veias
ra bulbar está ligada ao corpo do clítoris por ple- pudendas para a grande veia safena.
xos venosos intermediários que unem a circulação A drenagem do clítoris, dos bulbos vestibulares e
venosa dos corpos erécteis. As faces inferiores dos da parte posterior dos lábios é feita pelas veias pu-
bulbos vestibulares estão cobertas pelos músculos dendas internas.
bulbo-esponjosos (Fig. 8.7). As anastomoses entre as veias vulvares e os plexos
As glândulas vulvares são numerosas e atrofiam pélvicos são numerosas.
rapidamente após a menopausa: A vulva é recoberta por uma rica rede de linfáticos
• Glândulas vestibulares menores: são glândulas cujos gânglios linfáticos principais são os inguinais
sebáceas e sudoríparas espalhadas pela super- superficiais súpero-medianos e inferiores. Os últi-
fície dos grandes lábios e ocasionalmente so- mos estão anastomosados com os gânglios ingui-
bre a superfície externa dos pequenos lábios; nais superficiais súpero-laterais. Drenam para os
• Glândulas para-uretrais: correspondem às gânglios inguinais profundos localizados sob a fás-
duas glândulas uretrais mais volumosas. Os cia crivada e no canal femoral, e para os gânglios
seus canais excretores abrem-se de cada lado ilíacos externos.
do orifício externo da uretra; A drenagem hipogástrica é acessória, excepto para
• G lândulas vestibulares maiores ou glându- o clítoris, que raramente é afetado nas invasões
las de Bartholin (Fig. 8.8): projetam-se na neoplásicas.
metade posterior dos lábios. A sua face me- O nervo somático principal da vulva é o nervo pu-
dial corresponde à parede vulvar. A face late- dendo que inerva os 2 terços posteriores dos gran-
ral está adjacente ao bulbo vestibular e ao te- des lábios, os pequenos lábios, o bulbo e o clítoris.
cido bulbo-esponjoso. O seu bordo superior Os ramos genitais dos nervos ílio-hipogástrico,
está em relação com a fáscia inferior do dia- ílio-inguinal e genito-femoral inervam o monte
fragma urogenital. O canal excretor dirige-se do púbis e o terço anterior dos grandes lábios.
para a frente e para a zona média, e abre-se no O nervo cutâneo posterior da coxa participa na
sulco vestibular. Qyando estão dilatadas são inervação da parte média dos grandes lábios.
facilmente palpáveis. Por vezes ocorrem pro- Os nervos vegetativos provêm dos plexos hipogás-
cessos infecciosos nestas glândulas - bartoli- tricos inferiores.
nites - que originam uma turnefacção visível,
habitualmente com sinais inflamatórios asso-
ciados (aumento da temperatura local, rubor
e dor à palpação).
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REPRODUÇÃO I SISTEMA GENITAL FEMININO
459
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
adiposo - espaço retro-mamário, o qual assegura a fero, o qual apresenta perto do seu ostium papilar
mobilidade da mama. uma dilatação - o seio lactífero (Fig. 8.9). '
Os meios de fixação da mama são constituídos A vascularização da mama é particularmente rica
pela pele mamária e pelos ligamentos suspenso- A aréola é o centro vascular, ponto para onde con~
res da mama. vergem os ramos arteriais e de onde partem os efe-
Os ligamentos suspensores são constituídos por rentes venosos e linfáticos (Fig. 8.10).
numerosos septos que se unem para formar as As artérias provêm de múltiplas origens e estão li-
fáscias pré-mamária e retro-mamária. Estes sep- gadas entre elas por numerosas anastomoses:
tos fibrosos, mais densos nas partes superior e • Artérias mamárias laterais: derivam da ar-
posterior da glândula, dividindo-a em lobos (Fig. téria axilar e são destinados à metade lateral
8.9). A fáscia pré-mamária está unida à epiderme da mama. Os ramos torácicos da artéria to-
por tractos fibrosos. A relação da pele com os li- raco-acromial participam na vascularização
gamentos suspensores explica a retracção cutânea do quadrante súpero-lateral da mama. A ar-
nas neoplasias da mama. téria torácica lateral, volumosa, nasce atrás do
Na mulher mais velha, os ligamentos suspenso- músculo pequeno peitoral e desce no proces-
res também involuem e são invadidos por tecido so axilar da mama.
adiposo que os dissociam, perdendo a sua funcio- • Artérias mamárias mediais: nascem da arté-
nalidade. Este facto, associado à perda de elas- ria torácica interna. Atravessam os 2.0 , 3.0 e
ticidade da pele levam à ptose da mama (mama 4.0 espaços intercostais para se dirigirem para
descaída). a face medial da glândula. O ramo mais volu-
A glândula mamária é uma glândula tubulo-al- moso atravessa o 2.0 espaço intercostal e vas-
veolar rodeada por tecido conjuntivo adiposo. culariza um pouco mais da metade superior
Está dividida em lobos por septos conjuntivos - da mama.
os ligamentos suspensores da mama. Cada lobo • Artérias mamárias posteriores: provêm das
subdivide-se em lóbulos e drena para dueto lactí- artérias intercostais anteriores (da 2.ª à 6.ª).
Eles estão na origem do plexo retromamário.
• Artérias mamárias inferiores: estes ramos
provêm dos ramos perfurantes laterais das 2.a,
3
3.ª e 4.a intercostais posteriores e são desti-
nados ao quadrante ínfero-lateral da mama.
460
REPRODUÇÃO I SISTEMA GENITAL FEMlNINO
e veia ázigos acessória à esquerda. (Esta é uma A porção mais inferior da vagina irá formar-se a
via de metastização pulmonar, óssea e prova- partir do seio urogenital.
velmente ovárica). As gónadas originam-se a partir das cristas geni-
tais, que, por sua vez, se originam a partir do me-
O conhecimento do trajeto das veias é muito im- sênquima. As células gerrninativas primordiais
portante pois representa a via rápida das metásta- aparecem entre as células da endoderme da pare-
ses por via hematogénea. de do saco vitelino e migram até às cristas geni-
A drenagem linfática da mama é centrífuga para os tais. Antes e durante a chegada das células germi-
gânglios axilares e para-esternais. Dos gânglios axi- nativas às cristas genitais, o epitélio da crista geni-
lares partem colectores que terminam nos gânglios tal prolifera, acabando por formar cordões sexuais
supraclaviculares. Assim se compreende a impor- primitivos, constituindo-se assim as gónadas in-
tância de incluir na palpação mamária o escavado diferenciadas. Se as células somáticas dos cordões
axilar e os espaços infra e supraclaviculares (possí- sexuais têm cromossomas XX as gónadas vão de-
veis focos de metastização de neoplasias da mama). senvolver-se em ovários.
A invervação somática da mama provém essen- A vulva tem origem em várias formações que se
cialmente do 3.0 , 4.0 , 5.0 e 6.0 nervos intercostais. desenvolvem em torno da cloaca, nomeadamen-
Os seus ramos cutâneos laterais inervam a parte te, o tubérculo genital, as pregas uretrais e as eleva-
lateral da mama. Emergem de entre as digitações ções genitais (Fig. 8.11). O tubérculo genital alon-
do músculo dentado anterior, sobre a linha axilar ga-se ligeiramente o forma o clítoris, as pregas
anterior. Os seus ramos cutâneos anteriores atra- uretrais formam os pequenos lábios e as elevações
vessam o músculo grande peitoral e são destinados genitais vão formar os grandes lábios.
à parte mediana da mama.
Os nervos vegetativos provêm dos plexos das arté- MAMA
rias torácicas interna e lateral.
A mama tem origem na ectoderme, excepto o es-
troma e os vasos, que derivam do mesênquima. No
DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA decurso da 4. ª semana aparece um espessamento
GENITAL FEMININO E MAMA epidérmico - a crista mamária. Na 5.• semana dá-
-se o desaparecimento da porção caudal da crista e
SISTEMA GENITAL FEMININO a porção cefálica reduz-se a uma prega epitelial -
tubérculo mamário primário.
Os sistemas genital e urinário estão intimamente Na 10.• semana cada tubérculo mamário primá-
ligados, quer anatomicamente quer embriologica- rio apresenta à superfície, uma pequena depres-
mente. Ambos derivam da endoderme e mesoder- são correspondente à fosseta mamária esboçando
me primitivas e desenvolvem-se a partir da crista a futura aréola mamária. Em profundidade, a pla-
mesodérmica (mesoderme intermediária), ao lon- ca germinativa prolifera no tecido conjuntivo sub-
go da parede posterior/ dorsal do embrião. jacente, sob a forma de cordões epiteliais, que se
Inicialmente existem 2 pares de duetos genitais - ramificam, alongam e entrecruzam para constituir
mesonéfricos (ou de Wolff) e paramesonéfricos os canais galactóforos.
(ou de Muller) - Fig. 8.11. Ao 8.0 mês os canais galactóforos continuam o seu
Grande parte do sistema genital feminino vai ter crescimento, alcançando o tecido subcutâneo que
origem nos duetos paramesonéfricos, que inicial- é dissociado em dois planos, um superficial ou pré-
mente estão separados por um septo, mas que, -mamário, e um profundo ou retro-mamário.
posteriormente, se fundem na sua extremidade in-
ferior (caudal) para formar o útero e a porção su-
perior da vagina e que se mantêm separados na sua
extremidade superior (cefálica) para dar origem às
trompas uterinas (Fig. 8.11).
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Rouviêre, H.; Delmas, A. Anatomie humaine,
descriptive, topographique etfonctionelle. Tome 2.
lSéme édition. Masson, 2002.
***
466
INTRODUÇÃO
O corpo humano mantém a homeostase - o equilí- os nervos, em cujas terminações se libertam outras
brio jnteractivo com o meio ambiente - através da substâncias químicas, de actuação rápida, os neuro-
sua adaptação permanente. Isto é conseguido por- transmissores. O sistema endócrino tem, por isso, a
ue dispõe de informações que provêm continua- seu cargo a regulação de processos que se repercu-
!ente do exterior e do interior - estímulos sensi- tem essencialmente a longo prazo tais como o cres-
tivos - que são percebidas, interpretadas, coorde- cimento e a reprodução, enquanto o sistema nervo-
nadas e integradas, e às quais é dada resposta atra- so dirige sobretudo procedimentos de curto prazo,
vés da actuação de músculos e de glândulas. Estes por vezes simples e imediatos como os actos refle-
constituem os órgãos efectores; aqueles, os que re- xos à temperatura e à dor, outras vezes mais com-
cebem os estímulos, são os orgãos receptores. En- plexos como as sensações e os movimentos, os pen-
tre uns e outros o comando da resposta cabe ao sis- samentos e as emoções. Além disso, o sistema en-
tema nervoso e ao sistema endócrino. Ambos com dócrino é constituído por orgãos afastados uns dos
um funcionamento integrado sob o controlo do outros que interagem por via hormonal; ao invés, o
sistema nervoso central (Fig. Dl). O sistema en- sistema nervoso consiste numa complexa rede de
dócrino actua pela libertação de substâncias quími- circuitos neuronais contiguos que se estende por
cas nos líquidos orgânicos, as hormonas, que têm todo o organismo,já que as fibras nervosas se con-
um modo de acção lento. O sistema nervoso fun- tinuam entre os diferentes orgãos do mesmo. São,
ciona pela transmissão rápida de impulsos através como se vê, entidades distintas e díspares, embora
das células nervosas - os neurónios - e dos seus interrelacionadas e complementares. São por isso
prolongamentos - as fibras nervosas - que formam objecto de estudo separado em capítulos seguidos.
10
469
9. SISTEMA ENDÓCRINO
471
MANUAL D E ANATOMIA HUMANA
472
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA END ÓCRIN O
Fig. 9.3: Ressonância magnética nuclear (cortes coronais e sagitais) de uma hipófise normal (a esquerda) e macroadenoma da hipófise (a direita) (seta)
que invade o seio esfenoidal e os seios cavernosos bilateralmente, mantendo a permeabilidade das carótidas internas.
A hipófise pode ser dividida em duas porções com ro-hipófise forma-se por evaginação desdendente
origem embriológica distinta - a adeno-hipófise, do diencéfalo correspondendo assim a uma exten-
que tem origem na bolsa de Rathke (uma evagi- são do hipotálamo (Fig. 9.4).
nação ectodérmica) e a neuro-hipófise, que se ori- Em termos funcionais o lobo posterior da hipófi-
gina a partir duma extensão do diencéfalo. A pri- se não produz qualquer hormona, limitando-se a
meira corresponde à porção mais anterior (Fig. ser o local anatómico no qual as hormonas produ-
9.4), podendo ser subdividida em: parte distal, zidas no hipotálamo (nos núcleos supra mencio-
mais anterior; parte intermédia, na interface en- nados) são libertadas para a circulação sistémica,
tre a adeno-hipófise e a neuro-hipófise, correspon- nomeadamente a hormona anti-diurética (ADH ),
dendo a um vestígio da bolsa Rathke; e parte tu- também designada de "vasopressina" (produzida
beral, que corresponde a uma expansão superior da maioritariamente pelo núcleo supra-óptico), e a
adeno-hipófise para a porção anterior da haste hi- oxitocina (produzida maioritariamente pelo nú-
pofisária (Fig. 9.4). cleo para-ventricular). Traumatismos crãnio-en-
A neuro-hipófise é constituída pelo lobo poste- cefálicos, nomeadamente os que cursam com mo-
rior da glândula (ou parte nervosa), pela eminên- vimentos de aceleração/desaceleração, podem cau-
cia mediana e pela haste infundibular (que contém sar uma secção ou lesão da haste hipofisária e con-
os prolongamentos axonais dos neurónios cujos sequentemente impedirem a libertação de ADH
corpos celulares formam os núcleos supra-ópti- para a circulação sanguínea causando uma patolo-
co e para-ventricular do hipotálamo). Esta última gia conhecida por diabetes insípida central, carac-
é envolvida pela parte tuberal da adeno-hipófise, terizada por aumento da sede (polidipsia) e do dé-
formando o conjunto a haste hipofisária. A neu- bito urinário (poliúria).
473
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
HIPOTÁLAMO HIPÓFISE]
i
GnRH
GHRH
2
CRH
Fig. 9.4: Divisão da hipófise.
1. lnfundibulo 2. Lobo posterior 3. Lobo anterior 3.1. Parte tuberal TRH
3.2. Parte intermédia 3.3. Parte distal
PRF
A adeno-hipófise é um verdadeiro órgão endó-
crino uma vez que a sua função primordial é de
Esquema 9.1: Regulação da função hipofisária pelas hormonas hipo•
produção e secreção de hormonas sob influên- talâmicas.
cia dos factores hipotalâmicos. A adeno-hipófi- Salienta-se que secreção da prolactina é maioritariamente regulada por
inibição dopaminérgica.
se produz:
• Hormona adrenocorticotrófica (ACTH) que
estimula sobretudo a secreção de corticos- A hipófise é irrigada pelas artérias hipofisárias su-
teróides e androgénios pela supra-renal; perior e inferior, ambas ramos colaterais da arté-
• Hormona tiro-estimulante (TSH), responsá- ria carótida interna. As artérias hipofisárias supe-
vel pelo estímulo da secreção de hormonas ti- riores, direita e esquerda, anastomosam-se entre si
roideias; formando um arco arterial em torno da haste hi-
• Hormonas gonadotróficas (LH - hormona pofisária que irriga o hipotálamo basal e o infun-
luteínizante - e FSH - hormona folículo-es- dfüulo. A artéria hipofisária inferior, por sua vez,
timulante), responsáveis pela regulação da se- divide-se em ramos medial e lateral que se anas-
creção de esteróides sexuais pelas gónadas; tomosam com ramos homónimos do lado oposto
• Prolactina (PRL), hormona responsável pela formando um circuito arterial que contorna a por-
iniciação do processo de lactação; ção posterior da hipófise, irrigando-a (Fig. 9.5).
• Hormona do crescimento (GH). As arcadas arteriais formadas pelas artérias hipofi-
sárias, superior e inferior, anastomosam-se entre si
A adeno-hipófise é estimulada por factores hipo- através da artéria da trabécula (Fig. 9.5) que cru-
talâmicos libertados no sistema porta-hipofisário za a porção superior da adeno-hipófise, no entan-
(ver adiante) por neurónios tubero-hipofisários to, nenhuma destas artérias dá origem directa a ra-
que segregam nesse plexo venoso junto da emi- mos arteriais para a adeno-hipófise. Em vez dera-
nência mediana vários factores, nomeadamente mos directos, estas artérias dão origem a uma rede
CRH (que estimula a secreção de ACTH), TRH de capilares fenestrados e deficitários em barrei-
(que estimula a secreção de TSH e, de forma me- ra hemato-encefálica, que terminam em sinusói-
nos significativa, de prolactina), GnRH (que es- des e que se agrupam em veias portais hipofisárias
timula a secreção de gonadotrofinas), PRF (fac- (Fig. 9.5). Existem dois grupos de veias portais:
tores de libertação da prolactina), GHRH (que as veias portais hipofisárias longas, que drenam a
estimula a secreção de hormona do crescimen- eminência mediana e o infundfüulo superior, e as
474
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA ENDÓCRINO
475
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
6
13
12
10
Fig. 9.6: Tiróide e suas relações anatómicas: A. Vista anterior B. Vista posterior.
1. Lobo lateral 2. Istmo 3. Lobo piramidal 4. Cartilagem tiróide da laringe 5. Cartilagem cricóide da laringe 6. Artéria tiroideia superior 7. Veia
tiroideia superior 8. Veia tiroideia média 9. Veia tiroideia inferior 1O. Veia jugular interna 11. Tronco braquio-cefálico venoso esquerdo 12. Artéria
tiroideia inferior 13. Pedículo vasculo-nervoso do pescoço 14. Paratiróide 15. Esófago 16. Nervos laríngeos recorrentes (esquerdo e direito)
As relações anatómicas da glândula com o nervo deia superior, ramo colateral descendente da ar-
laríngeo recorrente e com as glândulas paratiróides téria carótida externa, e pela artéria tiroideia infe-
são as que apresentam maior relevância na clínica rior, ramo do tronco tiro-cervical da artéria sub-
cirúrgica da tiróide, uma vez que, dada a sua proxi- clávia. Ocasionalmente, a tiróide recebe um ramo
midade anatómica, são particularmente propensas suplementar, inconstante, a artéria tiroideia média
a lesões acidentais durante a remoção total ou par- com origem na crossa da aorta ou no tronco bra-
cial da glândula (tiroidectomia). quiocefálico. A drenagem venosa da tiróide é rea-
O termo médico "bócio", refere-se a qualquer au- lizada através das veias tiroideia superior e média,
mento das dimensões da glândula tiróide, sendo que terminam na veia jugular interna e ainda pela
uma das causas mais frequentes de tumefacção veia tiroideia inferior, que termina no tronco veno-
cervical anterior. Do conhecimento das relações so braquiocefálico (Fig. 9.6).
anatómicas da glândula facilmente se depreen- A drenagem linfática da tiróide termina em pri-
de que as consequências mecânicas da existência meiro lugar nos gânglios linfáticos do comparti-
de um bócio de grandes dimensões possam ser a mento central do pescoço, gânglios do mediastino
compressão das vias aérea e digestiva ou das es- superior e gânglios látero-cervicais. Os gânglios
truturas vasculares na sua proximidade (Fig. 9.7). linfáticos do compartimento central do pescoço
O parênquima da tiróide é formado por folículos localizam-se entre os planos delimitados pelo osso
tiroideus e células parafoliculares, sendo as célu- hioide superiormente, chanfradura supra-ester-
las foliculares responsáveis pela secreção de tiroxi- nal inferiormente e artérias carótidas lateralmen-
na (T4) e triiodotironina (T3) e as células parafo- te, estando subdivididos em 3 subgrupos: pré-la-
liculares responsáveis pela secreção de calcitonina. ringeos, para-laríngeos e para-traqueais. Os gân-
A glândula tiróide é irrigada pela artéria tiroi- glios mediastínicos superiores localizam-se entre
476
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA ENDÓCRINO
PARATIRÓIDES
477
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
478
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA ENDÓCRINO
PERGUNTAS TIPO
479
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
***
480
10. SISTEMA NERVOSO
Sistema Sistema
Nerv050 Nervoso
Centrai Periférico
1 1 1
1 1
1 l 1 1
Simpática Parassimpática
481
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
ção. Este último engloba os nervos cranianos, liga- ção e à conservação dos recursos do organismo e
dos ao encéfalo através de orifícios na base do crâ- tem uma influência oposta no coração e na pres-
nio e os nervos raquidianos, ligados à medula es- são arterial, relaxa os esfincteres e estimula a peris-
pinhal através dos buracos intervertebrais. O siste- tálise. Independentemente da divisão a que per-
ma nervoso visceral, que tem ligações quer ao en- tençam, os nervos que-transportam as informações
céfalo, quer à medula espinhal, é também chama- da periferia para o sistema nervoso central, isto é,
do "sistema nervoso vegetativo" por manter o ftm- no sentido centrípeto, são aferentes e têm o nome
cionamento interno do corpo "como o de um ve- de nervos sensitivos. Os nervos que veiculam as
getal" sem necessidade de vida de relação ou de informações no sentido contrário, centrífugo, são
consciência; designa-se sistema nervoso autóno- eferentes e chamam-se nervos motores, embora de
mo o sector eferente do sistema nervoso vegeta- facto possam ser motores ou secretórios. Os ner-
tivo, por poder assegurar muitas das funções dos vos que transmitem informações nos dois senti-
vasos e órgãos sem a actuação do sistema nervo- dos, sensitivo e motor, são nervos mistos.
so central. No entanto, o sistema nervoso vegeta- O sistema nervoso é constituído por células nervo-
tivo é responsável pela transmissão de algumas in- sas, ou neurónios, que são as unidades funcionais
formações sensitivas conscientes importantes, tais do sistema nervoso, e por células de suporte de-
como a dor visceral, a vontade de urinar ou defecar. signadas genericamente "neuróglia", "nevróglia" ou
Inerva os sistemas cardiovascular, respiratório, di- simplesmente "glia" (que significa cola) (Fig.10.2).
gestivo, urinário e genital, bem como as glândulas A quantidade destas depende do local, mas são 10
e os músculos lisos cutâneos. Dentro do sistema a 50 vezes mais numerosas que os neurónios. Há
nervoso vegetativo importa distinguir ainda duas mais de 100 mil milhões de neurónios no sistema
subdivisões principais, que são em parte antagó- nervoso humano. Os neurónios são células mui-
nicas, em parte complementares, e de cujo equi- to especializadas, morfológica e fisiologicamente:
hbrio resulta o normal funcionamento visceral: o do ponto de vista funcional têm duas propriedades
simpático, responsável, entre outras coisas, pelas muito importantes, a excitabilidade a estímulos e a
reacções típicas de situações de tensão, tais como condutibilidade de impulsos; do ponto de vista es-
a aceleração do coração, a elevação de pressão ar- trutural têm como característica principal possuí-
terial e a contracção dos esfincteres; e o parassim- rem, além do corpo celular propriamente dito, ou
pático, cujos efeitos estão associados à recupera- soma, um número variável de prolongamentos, ou
482
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO
euritoS - uns aferentes, os dendritos, até 200 por las satélites que a envolvem. Na espessura do sis-
né}ula, e um único eferente, o axónio. Os prolonga- tema nervoso central, as fibras nervosas juntam-
e entos celulares muito longos dos neurónios, axó- -se em formações compactas, os feixes nervosos e
:os ou dendritos, constituem as fibras nervosas. os fascículos nervosos. É a grande quantidade de
As fibras nervosas formadas por axónios são mui- mielina que confere ao conjunto destes no encéfa-
tas vezes envolvidas por uma bainha de lipopro- lo o aspecto de substância branca. Em contrapar-
teína, a mielina, de espessura variável que as iso- tida, as zonas de substância cinzenta encefálica -
la e protege, facilitando a condução dos impulsos cortex cerebral e córtex cerebeloso, núcleos ner-
nervosos; são as fibras mielínicas, que têm uma ve- vosos - correspondem a uma maior densidade de
locidade de condução de 3 a 120 m/seg., enquan- corpos celulares de neurónios. No sistema nervoso
to que as desprovidas de bainha mielínica, as fi- periférico os agrupamentos de neurónios dão ori-
bras arnielínicas, o fazem mais lentamente, entre gem aos gânglios nervosos; as fibras, por seu lado,
0,6 a 2,3m/seg. A bainha de mielina é produzi- agregam-se em conjuntos envolvidos por mem-
da por células gliais satélites da fibra nervosa e en- branas de tecido conjuntivo, e constituem os ner-
rola-se em espiral à volta dela, formando cama- vos (Fig. 10.3). A membrana conjuntiva que re-
das concêntricas ao longo de sucessivos segmen- veste cada fibra chama-se endoneuro ou endoner-
tos longitudinais da fibra (Fig. 10.2); geralmente vo, a que reveste feixes de fibras perineuro ou pe-
cada célula satélite forma a bainha de rnielina de rinervo e a que envolve o nervo chama-se epineu-
uma única fibra nervosa no sistema nervoso cen- ro ou epinervo. Os nervos estão por vezes interli-
tral, enquanto nos nervos fornece bainhas de rnie- gados em redes complexas onde fazem intercâm-
lina a várias fibras nervosas. Aqueles segmentos da
fibra nervosa estão separados uns dos outros por
entalhes transversais da bainha de mielina , os nós
ou estrangulamentos anulares (também conheci-
dos como nódulos de Ranvier) que, ao longo do
comprimento da fibra, separam as múltiplas célu-
2\
~
2
3 ----
4
s -- -
10
11
12
Fig. 10.3: Nervo raquidiano.
2 Is]
1. Raiz dorsal 2. Gânglio da raiz dorsal 3. Raiz ventral 4. Radicelos
5.Nervo 6.Vasosdonervo 7.FasácuJonervoso 8.Epinervo 9.Perinervo
10. Endonervo 11. Mielina 12. Fibra nervosamielínica 13. Fibra nervosa Fig. 10.4: Neurónios
amielínica. A. Multipolar B. Bipolar C. Unipolar 1. Dendrites 2. Axónio
483
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
bio de fibras, os plexos nervosos. As fibras dos ner- Os neurónios comunicam entre si por zonas de
vos periféricos classificam-se, conforme o seu ca- contacto denominadas "sinapses", onde o impulso
libre e a velocidade de condução nervosa, em 3 ti- nervoso é transmitido através de mediadores qUí-
pos: A (5 a 120m/seg.) subdivididas em a, ~' y, 8; micos, os neurotransmissores, ou mais raramente
B (3-15m/seg.) e C (0,6-2,3m/seg.). por simples transmissão eléctrica. Consoante a sua
Os neurónios classificam-se, do ponto de vis- topografia, existem sinapses axono-dendríticas
ta morfológico conforme o número de prolon- as mais frequentes, axono-somáticas e axono-a~
gamentos que exibem em unipolares, bipolares e xonais (Fig. 10.5). O número de sinapses de cada
multipolares (Fig. 10.4). Do ponto de vista fim- neurónio é variável: entre muito poucas a mais de
cional, os neurónios e as fibras nervosas classifi- 200000. Por sua vez, o número de neurotransmis-
cam-se, tal como os nervos que integram, em afe- sores diferentes já identificados ultrapassa 50, in-
rentes ou sensitivos e eferentes ou motores. Mas cluindo monoaminas (acetilcolina, norepinefrina
existe ainda um outro tipo de fibras e de neuró- dopamina, serotonina), aminoácidos (ácido gama~
nios, os de associação (ou interneurónios, no caso -aminobutírico, glicina, ácido glutâmico) e nume-
dos últimos), próprios do sistema nervoso central, rosos neuropéptidos.
nomeadamente no que respeita a funções nervo- A nevróglia, responsável pelo suporte, nutrição e
sas complexas tais como a linguagem, a memória protecção do tecido nervoso, inclui diferentes ti-
ou o comportamento. As fibras nervosas aferentes pos de células. No sistema nervoso central, as mais
e eferentes dividem-se ainda em somáticas e vis- numerosas e maiores (macróglia) são os astrocitos,
cerais, em função dos sectores a que pertencem; células estreladas que estão interpostas entre os ca-
umas e outras subdivididas num contingente ge- pilares e os neurónios e que são fundamentais para
ral e em fibras especiais. Estas fibras nervosas es- o metabolismo destes; os oligodendrocitos são cé-
peciais são as responsáveis por funções muito par- lulas alongadas e menos ramificadas, que produ-
ticulares, como é o caso das fibras sensitivas que zem a bainha de mielina das fibras nervosas; as cé-
enervam os orgãos sensoriais (olfacto, visão, audi- lulas da microglia - microgliocitos -, mais peque-
ção, equilibrio, paladar) e das motoras que ener- nas, participam nos mecanismos de defesa do sis-
vam os músculos da fala. tema nervoso; as células ependimárias - ependi-
mocitos - revestem as cavidades interiores do sis-
tema nervoso central e segregam o líquido cefalor-
/- 5◄
raquidiano ou líquor nos plexos coroideus. Os as-
trocitos e as células ependimárias constituem, no
2 - - 4 ~ -.......
• ~ -
seu conjunto, a barreira hematoencefálica através
da qual se dão as trocas bioquímicas entre o san-
gue, por um lado, e o tecido nervoso e o líquor por
4 outro (neste último caso também se designa bar-
reira hemato-liquórica). No sistema nervoso pe-
riférico a nevróglia é representada essenciamen-
te pelos neurolemocitos ou células de Schwann
(a baínha de meilina das fibras nervosas periféri-
cas também se designa neurolema), células achata-
das, análogas aos oligodendrocitos que, como eles,
produzem a bainha de mielina das fibras nervosas,
484
CONTROLO E lNTEGRAÇÃO [ SISTEMA NERVOSO
m 6
Fig. 10.6A: Embriologia do Sistema Nervoso - Desenvolvimento aos 20 Fig. 10.6B - Vesículas cerebrais primitivas.
(A), 21 (B) e 24 (C) dias de gestação. 1. Prosencéfalo 2. telencéfalo 3. Diencéfalo 4. Vesículas ópticas
1. Placa neural 2. Goteira neural 3. Pregas neurais 4. Pregas neurais 5. Mesencéfalo 6. Rombencéfalo.
fundidas 5. Ectoderme 6. Crista neural 7. Tubo neural
to, formando inicialmente a goteira neural e de- quadrigémia atrás, constituindo o andar superior
pois o tubo neural, cujas extremidades encerram do tronco cerebral; o rombencéfalo (ou encéfalo
durante a 4.ª semana. Do tubo neural deriva todo posterior) dá origem à protuberância (metencé-
o sistema nervoso central. A partir da 4.ª semana, falo) e ao bulbo (mielencéfalo) à frente (respec-
a extremidade cefálica do tubo neural dilata-se, tivamente os andares médio e inferior do tronco
dando lugar ao aparecimento da vesícula ence- cerebral) e ao cerebelo atrás. No interior de cada
fálica primitiva. Esta vesícula subdivide-se em uma destas formações desenvolvem-se as corres-
seguida, originando três outras que se desig- pondentes cavidades encefálicas: os ventrículos
nam de frente para trás prosencéfalo, mesencé- laterais (hemisféricos) no telencéfalo, o 3.0 ven-
falo e rombencéfalo. Mais tarde, estas desenvol- trículo no diencéfalo e o 4.0 ventrículo no rom-
vem-se de tal forma que o prosencéfalo (ou en- bencéfalo (o termo rombencéfalo tem origem na
céfalo anterior) dá origem bilateralmente ao te- forma romboide do 4.0 ventrículo). O 3.0 e 4. 0
lencéfalo, de onde deriva a maior parte dos he- ventrículos são unidos por um canal, o aquedu-
misférios cerebrais e, na zona central, ao dien- to do cérebro ou de Sylvius, situado na espessura
céfalo de onde deriva o tálamo e outras forma- do mesencéfalo. Por outro lado, entre o tubo neu-
ções cerebrais profundas; o mesencéfalo (ou en- ral e a parede dorsal do embrião surge uma outra
céfalo intermédio) permanece uno e transforma- formação derivada da placa neural, a crista neu-
-se nos pedúnculos cerebrais à frente e na lâmina ral, de onde vai desenvolver-se o sistema nervo-
485
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
cQ
e em certas zonas do encéfalo dilata-se, forman-
do cisternas (o espaço subdural é o espaço virtual
de aderência da aracnoide à duramater, que só se
torna real em condições patológicas). A menin-
ge mais interior é a piamater, ou apenas pia, urna
membrana fina que envolve toda a superfície do
2
sistema nervoso central e os vasos respectivos.
O conjunto da aracnoide e da piamater também
se designa leptomeninge e a duramater, paqui-
meninge (Fig. 10.8A e B).
O crescimento do sistema nervoso é exponencial
durante a vida fetal, mas não está ainda completo
3
486
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO
ando do nascimento. O encéfalo, por exem- dundância e plasticidade dos circuitos nervosos.
a~:, pesa cerca de 0,2 g de peso no início, 350 g O envelhecimento do sistema nervoso é também
P uando do nascimento e 1500 g no adulto, va- assintomático durante um longo e variável pe-
::r que já tem habitualmente desde a puberda- ríodo de tempo: além da perda celular difícil de
de. E esse desenvolvimento não atinge todas as quantificar com exactidão, o peso global do encé-
estruturas nervosas com igual ritmo. A mielini- falo, por exemplo, baixa de cerca de 1500 g aos 30
zação, que começa entre as 16.ª e a 20.ª semanas anos para 1400 g aos 50 e 1300 g após os 60 anos;
de gestação, só termina no sistema nervoso peri- isto ocorre por um processo lento de diminuição
férico ao fim do 1.0 ano de vida e no cortex cere- de espessura do parenquima encefálico e um au-
bral e no corpo caloso (principal meio de união mento do volume dos ventrículos e dos sulcos do
entre os hemisférios cerebrais) pelos 10 anos de cérebro, que se designa atrofia cerebral. Mas o
idade. Os sulcos cerebrais começam a notar-se no envelhecimento do encéfalo não é sinónimo de
4.º mês de gestação, mas não estão ainda intei- disfunção do sistema nervoso, como acontece na
ramente formados no nascimento, apesar de as demência, pois tais disfunções são consequência
assimetrias entre os hemisférios cerebrais come- de mecanismos patológicos e não da senescência
çarem a evidenciar-se pelas 28-29 semanas. No normal. Há pessoas muito idosas sem qualquer
conjunto, a velocidade de crescimento e amadu- sinal de demência. A senilidade do sistema ner-
recimento do sistema nervoso é continuamente voso tem mais que ver com alterações microscó-
decrescente. Por outro lado, o sistema nervoso é picas e fisiológicas do que com deformações ana-
praticamente desprovido de capacidade de rege- tómicas macroscópicas (Fig. 10.9).
neração, pelo que as perdas celulares do mesmo,
constantes e inaparentes, são geralmente irre-
versíveis; são muitas vezes compensadas pela re-
Fig. 10.9: Imagens de Ressonância Magnética cranioencefálica (ponderação T1, cortes axiais).
1. Cérebro adulto normal 2. Cérebro com atrofia.
487
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
•••
488
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: MEDULA ESPINHAL
2 --
Fig. 10.1.1: Medula espinhal no canal vertebral, vista posterior e Nervos
raquidianos:
1. Medula espinhal 2. Cauda equina 3. Plexo cervical 4. Plexo braquial
5. Ne rvos intercostais 6. Plexo lombar 7. Plexo sagrado
4
CONFIGURAÇÃO EXTERIOR
489
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
490
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: MEDULA ESPINHAL
do nervo acessório (XI nervo craniano), que O como lateral é responsável por funções vegetati-
controla os músculos estemo-cleido-mastoi- vas, é constituído pela coluna intermediolateral de
deu e trapézio; neurónios, que dá origem a fibras simpáticas (D1
• O grupo lateral, localizado nos segmentos a L2/ L3) e parassimpáticas (S2 a S4).
cervicais e lombo-sagrados, controla os mús- A substância branca da medula espinhal, compos-
culos dos membros. ta por feixes de fibras nervosas, distribui-se por
cordões: os cordões anteriores ou ventrais, situados
As células do como dorsal organizam-se a toda a entre a fissura mediana ventral e os sulcos vente-
altura da medula nos seguintes grupos, que se dis- rolaterais, os cordões laterais, situados entre os sul-
põem sucessivamente em direcção dorso-ventral: cos ventrolaterais e dorsolaterais de cada lado, e os
, O marginal ou dorsomarginal; cordões posteriores ou dorsais, entre o sulco me-
, O apical, de aspecto translúcido, a substância diano dorsal e os sulcos dorsolaterais. Nos cordões
gelatinosa; esta, tal como o núcleo marginal, da substância branca da medula encontramos fei-
recebe das fibras periféricas os estímulos ter- xes longos ascendentes, descendentes e feixes cur-
mo- álgicos; recebe também de níveis superio- tos intersegmentares (Fig.10.1.4).
res do sistema nervoso central, os respectivos Os feixes ascendentes transportam informação re-
feixes moduladores; colhida à periferia que se dirige a níveis superio-
• O núcleo próprio, mais profundo e de maio- res; trata-se, portanto, de feixes de fibras sensiti-
res dimensões, diz respeito à sensibilidade vas. Os mais importantes são o feixe grácil e o fei-
táctil, protopática e discriminativa, e à vibra- xe cuneiforme, da sensibilidade postural e vibrató-
tória; ria, proprioceptiva e táctil discriminativa, que ocu-
• Na base encontra-se, por dentro o núcleo pam, respectivamente, a parte medial e lateral do
dorsal ou coluna de Clarke, de C8 a L2/L3, cordão dorsal da medula, separados pelo sulco in-
associado à propriocepção; por fora, junto ao termediodorsal. O s feixes espinocerebelosos dor-
como lateral, o núcleo aferente visceral (D1 a sal e ventral localizam-se superficialmente no cor-
L3) relacionado com a sensibilidade visceral. dão lateral e, por baixo destes encontra-se o fei-
xe espinotalâmico lateral da sensibilidade termo-
-álgica. O feixe espinotalâmico. ventral da sensi-
bilidade táctil superficial, situa-se na zona profun-
da do cordão ventral junto ao como ventral. Ou-
tros feixes ascendentes, como o feixe espinorreti-
cular, o feixe espinolivar e o feixe espinotectal si-
tuam-se na zona de transição dos cordões laterais
para os cordões ventrais.
Os feixes longos descendentes conduzem impul-
9
sos dos centros nervosos superiores para a perife-
ria e são motores. Fazem parte das vias da motrici-
dade e classificam-se em piramidais ou da motri-
cidade voluntária e extra-piramidais. O s primei-
ros são os feixes corticospinhais ventral e lateral
também designados respectivamente, "feixes pira-
6 midais directo" e "feixe piramidal cruzado". Este é
Fig. 10.1.4: Constituição da substância bra nca da Medula espinhal (a mais volumoso e resulta do cruzamento da maio-
azul feixes sensitivos, a vermelho feixes motores, a verde feixes de ria das fibras piramidais ao nível da parte caudal
associação).
1. Fasciculo grácil 2. Fascículo cuneiforme 3. Feixe espinocerebeloso das pirâmides bulbares. O feixe cruzado ocupa a
dorsal 4 . Feixe espinocerebeloso ventral 5. Feixe espinotalâmico zona mais profunda do cordão lateral, enquanto
lateral 6 . Feixe espinotalâmico ventral 7. Feixe corticospinal ventral
(direto) 8. Feixes tectospinal, vestibulospinal e reticulospinal ventral o feixe directo segue na porção medial do cordão
9. Feixes reticulospinal lateral e rubrospinal 10. Feixe corticospinal ventral da medula e cruza para o outro lado a cada
lateral (cruzado).
491
MANUAL DE ANAT OMIA HUMANA
nível em que terminam as suas fibras. Os restan- A nível cervical superior, os nervos tomam urna
tes feixes descendentes fazem parte das vias ex- direcção praticamente horizontal no trajecto en-
tra-piramidais, da motricidade involuntária. In- tre a medul:J. e os buracos intervertebrais corres-
cluem, entre outros, o feixe rubro-espinhal, o fei- pondentes. A medida que o desfasamento entre 08
xe vestíbulo-espinhal e o feixe tecto-espinhal, que segmentos medulares e os seus equivalentes verte-
se distribuem pelos cordões ventral (estes) e lateral brais se acentua, adquirem cada vez maior inclina-
(aquele) da medula. ção, terminando na dispersão observada ao nível
Os feixes intersegmentares localizam-se nas por- da cauda equina.
ções mais profundas de todos os cordões medula- Cada nervo raquidiano é formado pela reunião
res e estabelecem ligações entre vários níveis ana- de duas raizes com origem nos cornos de subs-
tómicos. Permitem uma maior integração funcio- tância cinzenta da medula do mesmo lado. As
nal e a harmonização da actividade dos diferentes raizes anteriores ou ventrais, motoras, têm maio-
níveis da medula, de que são exemplo os reflexos res dimensões e determinam ao longo da sua li-
inter-segmentares. nha de emergência um sulco pronunciado, o sul-
co ventrolateral. As raízes posteriores ou dorsais,
NERVOS RAOUIDIANOS sensitivas, são menores e dividem-se em grupos
de feixes - radículas - individualizadas em cada
segmento e determinam um sulco discreto na
medula, o sulco dorsolateral. As raízes sensitivas
têm, no seu trajecto, um gânglio que contém os
corpos dos neurónios respectivos, o gânglio ra-
quidiano ou espinhal. Na porção superior da me-
dula cervical, a emergência das raizes dos primei-
ros nervos raquidianos sobrepõe-se à do XI ner-
vo craniano; o nervo acessório.
As raízes sensitivas e motoras dos nervos raqui-
dianos juntam-se, ainda dentro do canal vertebral,
formando o nervo raquidiano propriamente dito.
Este dirige-se para o buraco intervertebral envol-
vido por uma bainha meníngea. É neste ponto que
os nervos, por se encontrarem fixamente ancora-
dos, estão mais sujeitos a compressão de diversas
etiologias.
Fig. 10.1.5: Secção da Medula espinhal no canal raquidiano. À saída do buraco intervertebral o nervo raqui-
1. Duramater raquidiana 2. Medula espinhal 3. Nervo raquidiano 4. Raiz
anterior 5. Raiz posterior 6. Gânglioda raiz posterior 7. Ramo posterior diano emite um pequeno ramo meníngeo, recor-
do nervo raquidiano 8. Ramos comunicantes 9. Gânglio simpático. rente, também chamado "nervo sinuvertebral".
Em seguida, tem ramos anastomóticos para o sis-
Os nervos raquidianos ou espinhais têm origem tema nervoso simpático, os ramos comunicantes.
ao longo de toda a medula espinhal e fazem parte Divide-se finalmente num ramo dorsal destinado
do sistema nervoso periférico (Fig. 10.1.5). Exis- aos músculos e tegumentos paravertebrais, e num
tem no total 31 pares distribuídos pelos vários ramo ventral. Este último é o mais importante na
sectores: 8 cervicais, 12 dorsais, 5 lombares, 5 sa- inervação dos membros e das vísceras e forma, por
grados e um coccígeo. Os primeiros sete tomam anastomoses em ansa com ramos próximos, plexos
o nome da vértebra subjacente. Segue-se o oita- nervosos - cervical, braquial, lombar, sagrado, sa-
vo nervo cervical ou C8, abaixo do qual todos são crococcígeo.
designados segundo a vértebra suprajacente (por
exemplo D3 é o nervo que emerge imediatamente
abaixo da 3.ª vértebra dorsal).
492
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: MEDULA ESPINHAL
A rnedula espinhal encontra-se envolvida pe- A irrigação arterial da medula faz-se pelas arté-
las meninges raquidianas (Fig. 10.1.6), tal como rias espinhais anterior e posteriores (Fig.10.1.7A
rodo o sistema nervoso central. A mais interna, e B). A artéria espinhal anterior, a mais importan-
a piarnater, rodeia directamente a superfície me- te, resulta da junção de ramos descendentes an-
dular, contornando todo o seu relevo. Contém na teriores das artérias vertebrais ao nível bulbo-me-
sua espessura os ramos resultantes da divisão dos dular. No seu trajecto, percorre a fissura media-
vasos sanguíneos medulares. Por fora está a arac- na ventral em toda a sua extensão. As artérias es-
noide, encontrando-se entre elas líquido céfalo- pinhais posteriores, uma de cada lado da medula,
-raquidiano. acompanham os sulcos dorsolaterais de ambos os
lados. No conjunto, os ramos da artéria espinhal
anterior irrigam os dois terços ântero-laterais da
medula espinhal, e as artérias espinhais posterio-
res, o terço posterior de cada lado.
Outro aporte arterial da medula são as artérias ra-
diculares, ramos de artérias extra-raquidianas, as
artérias vertebrais no pescoço e a aorta no tórax e
no abdómen. Acedem ao canal medular pelos bu-
racos intervertebrais, acompanhando os nervos ra-
quidianos, e dividem-se num ramo anterior e num
posterior, acompanhando as respectivas raizes. As
artérias radiculares são geralmente pequenas, mas,
3 podem adquirir grande importância e serem res-
4 ponsáveis por até dois terços da irrigação da me-
dula. É o que se passa com a artéria radicular mag-
na de Adamkievicz, de origem torácica inferior ou
Fig. 10.1.6: Sector da Medula espinhal envolvido pelas meninges.
1. Duramater 2. Aracnoide 3. Piamater a revestir a medula 4. Ligamento
lombar superior, inconstante, unilateral e mais fre-
dentado quente à esquerda. Na região cervical as artérias
radiculares são ramos das artérias vertebrais.
Neste espaço subaracnoideu espinhal encontra- A vascularização arterial da medula tem assim, em
-se o ligamento dentado, uma membrana arac- quase toda a sua extensão, contribuições múltiplas
noideia vertical alongada, em posição vertico- e complementares, de que resulta uma boa vica-
-transversal de cada lado, cujo bordo medial, rec- riação recíproca quando necessária. A zona me-
tilíneo, se insere na piamater numa linha contí- so-dorsal é a de maior pobreza arterial e, por isso,
nua ao longo dos cordões laterais da medula, en- com irrigação mais susceptível.
tre as raizes ventral e dorsal de cada nervo, e o Qi,ianto à drenagem venosa, esta é efectuada por
bordo lateral, denteado, insere-se na aracnoi- veias espinhais (Fig. 10.1.7C) que constituem
de que está colada à duramater nos espaços que uma rede na piamater, onde se podem distinguir
intercalam a emergência de cada nervo, acima e uma veia espinhal anterior e uma veia espinhal
abaixo. A duramater, reveste a medula e os nervos posterior, ambas medianas, e ainda duas menores
raquidianos envolvendo sempre as duas raizes em laterais de cada lado, ao longo dos sulcos colate-
conjunto e inserindo-se no periósteo da porção rais respectivos. As veias deste conjunto drenam
lateral do buraco intervertebral. O seu ponto de para um plexo venoso epidural, que é desprovido
inserção cranial é o buraco occipital e o caudal de válvulas situado no tecido adiposo epidural ra-
corresponde ao fio terminal. quidiano. Este, por sua vez, drena superiormente
para os seios venosos intracranianos e, por outro
lado, continua-se através das veias intervertebrais
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
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CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: MEDULA ESPINHAL
tos, ferimentos por balas ou por arma branca, ou serva-se perda segmentar (nalguns neurótomos
um tumor em expansão. Sucintamente, caracteri- contíguos) da sensibilidade termo-álgica, a cha-
za-se por: mada hipostesia "suspensa", muitas vezes bilate-
• Paralisia motora do lado da lesão (homolate- ral. Em consequência, os indivíduos afectados so-
ral) no segmento atingido, geralmente espás- frem frequentemente queimaduras de que não se
tica quando crónica, por lesão dos neurónios apercebem inicialmente, dada a ausência das sen-
contidos nos cornos ventrais da medula e res- sações de calor e dor.À medida que as lesões se ex-
pectivos feixes; pandem, outros feixes e neurónios são afectados e
• Perda de sensibilidade (hipostesia) táctil dis- o quadro altera-se, passando a incluir também sin-
criminativa, vibratória e proprioceptiva, ho- tomas motores, sobretudo segmentares, por lesão
molateral abaixo do nível da lesão, por des- dos cornos ventrais da medula.
truição dos feixes ascendentes no cordão dor- Uma vez que existem várias vias de irrigação ar-
sal da medula do lado afectado; terial medular, podemos encontrar quadros clíni-
• Perda contralateral de sensibilidade termo- cos medulares distintos consoante os vários tipos
-álgica abaixo do nível da lesão, por destrui- de lesão vascular da medula espinhal. Por exemplo,
ção do feixe espino-talâmico cruzado do lado um aneurisma dissecante (dilatação anormal por
da lesão. dissecção da parede) da aorta, ou uma cirurgia da
aorta, podem lesar as artérias intercostais e lomba-
A lesão completa da medula provoca a paralisia res e, entre elas, a origem da artéria radicular mag-
total - plegia - abaixo da lesão: paraplegia se atin- na de Adamkievicz, provocando um acidente vas-
gir os membros inferiores; tetraplegia se atingir os cular medular e, assim, uma paraplegia ou parapa-
membros superiores e inferiores; a paralisia parcial résia, com hipostesia variável.
denomina-se parésia. Os territórios de drenagem dos vários grupos ve-
Outro exemplo de lesão medular é a siringomie- nosos em redor da medula tornam, por outro lado,
lia, uma entidade patológica que cursa muita vezes fácil o acesso de células patológicas que se encon-
com malformação congénita do canal ependimá- tram livres na grande circulação, nomeadamente
rio e formação de cavitações intramedulares, so- tumorais e o estabelecimento de metástases tumo-
bretudo a nível cervical. Provoca a lesão dos feixes rais (lesões tumorais secundárias) vertebrais, me-
espino-talãmicos ventrais, no ponto em que cru- níngeas ou mesmo medulares; estas lesões podem
zam de uma metade para a outra da medula, ao originar afecções da medula espinhal.
passar na comissura cinzenta. Clinicamente ob-
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
~a-1:~a-2:~a-1
:se~sodso11
496
í RONCO CEREBRAL do, sendo o diâmetro transversal um pouco maior
que o ântero-posterior (Fig.10.1.9 e 10.1.10).
O tronco cerebral ou tronco do encéfalo é a par- O tronco cerebral é constituído por feixes e fascí-
te
do encéfalo situada, entre o cérebro, o cerebelo culos nervosos - substância branca - que ocupam
e a medula espinhal. E formado pelo mesencéfa- a maior parte do seu volume e se dispõem sobretu-
Jo ou istmo do encéfalo em cima, que compreen- do à superfl:cie, e por núcleos nervosos - substân-
de os pedúnculos cerebrais e a lâmina quadrigémia, cia cinzenta - situados no seu interior. Uma par-
pela protuberância ou ponte (de Varólio) a meio te dos núcleos do tronco cerebral, os que respeitam
e pelo bulbo raquidiano em baixo. O tronco cere- aos nervos cranianos, são responsáveis pela iner-
bral encontra-se, com o cerebelo, na fossa craniana vação segmentar da cabeça e do pescoço e corres-
posterior, espaço intracraniano limitado em baixo pondem a núcleos congéneres existentes na me-
pelo andar posterior da base do crânio e em cima dula espinhal. Outras formações, núcleos e feixes,
pela tenda do cerebelo, a membrana meníngea que têm carácter suprassegmentar porque asseguram
0 separa dos lobos occipitais do cérebro. Em rigor,
funções de integração de múltiplos segmentos so-
as extremidades cranial e caudal do tronco cerebral máticos; são os núcleos e feixes próprios do tron-
ultrapassam os limites da fossa craniana posterior, co cerebral.
pois o mesencéfalo chega um pouco acima do bu- No tronco cerebral encontram-se também algu-
raco formado pelo bordo livre da tenda do cerebelo mas cavidades encefálicas: o 4.0 ventrículo, entre
com a base do crânio - incisura da tenda (ou bu- a protuberância, o bulbo e o cerebelo; o aquedu-
raco oval de Paccioni) - e a parte inferior do bulbo to cerebral ou aqueduto de Silvius na espessura do
desce abaixo do buraco occipital, continuando-se mesencéfalo, que põe em comunicação os ventrí-
com a medula espinhal ao nível do arco anterior do culos cerebrais com o 4.0 ventrículo.
atlas. Globalmente, o tronco cerebral tem a forma Do pon to de vista topográfico descrevem-se, na
de um tronco alongado de cone, com a base menor protuberância e no mesencéfalo, dois sectores di-
inferior e o eixo em direcção cranio-caudal, incli- ferentes: o mais anterior, ou ventral, é o pé; o que
nado para trás e para baixo; é ligeiramente achata- está situado por detrás deste, junto do 4.0 ventrí-
a
Rg. 10.1.9: Tronco cerebral e cerebelo.
A: imagem sagita! de ressonância magnética em ponderação t1
8: desenho anatómico correspondente
1. Pedúnculo cerebral 2. Aqueduto cerebral (sylvius) 3. Coliculo superior 4. Lâmina quadrigémia 5. Coliculo inferior 6. Protuberância 7. 4.0
ventrículo 8. Plexo coroideu 9. Bulbo 1O. Buraco mediano (magendie) 11 . Decussação das pirâmides 12. Vérmis superior (A. üngula B. Lóbulo
central C. Culmen O. Declive E. Folium) 13. Véu medular superior 14. Véu medular inferior 15. Vérmis inferior (A. Tuber B. Pirâmide C. Úvula
D. Nódulo)
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CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL:TRONCO CEREBRAL
ulo ou do aqueduto cerebral é o tegmento ou ca- oposto. Estes são os feixes da motricidade volun-
c . no mesencéfalo, a parte que está situada para tária do pescoço, do tronco e dos membros que
Jote, vêm do cortex cerebral para a medula espinhal,
detrás do aqueduto cerebral, constituído pela lâ-
.na quadrigémia, é o tecto. por esta razão também chamados feixes corticos-
: descrição do tronco cerebral veremos primeiro pinhais, através dos quais cada hemisfério cerebral
configuração exterior das suas diferentes porções comanda os movimentos do hemicorpo contrala-
a . . teral. Por fora das pirâmides encontram-se os sul-
e depois a intenor, no conJunto.
cos ventrolaterais do bulbo onde nascem as raizes
do nervo hipoglosso, XII nervo craniano, respon-
CONFIGURAÇÃO EXTERIOR sável pela motricidade da língua; mais abaixo, na
(F/G.10.1.9, 10.1.10) mesma direcção mas já na medula, nascem as raí-
zes motoras dos nervos raquidianos cervicais.
BULBO RAOUIDIANO As faces laterais do bulbo são na sua maior par-
te lisas e estão entre os sulcos ventrolaterais e os
o bulbo raquidiano, ou simplesmente bulbo, tam- dorsolaterais. Nestes últimos nascem, de cima
bém chamado "medula ablongata" pelos autores de para baixo, as raizes dos IX, X e XI nervos crania-
língua inglesa porque se encontra na continuida- nos, respectivamente nervo glossofaríngeo, ner-
de da medula espinhal prolongando e alargando vo pneumogástrico ou vago e nervo acessório de
os seus contornos no sentido cranial, tem a forma Willis (este tem, além disso, uma raiz inferior, es-
de tronco de pirâmide de eixo quase vertical, cuja pinhal). Na parte ântero-superior das faces laterais
base maior, superior, o liga à protuberância. Esta do bulbo, à frente destes três nervos, existe de cada
ligação, menos nítida atrás, é bem marcada à fren- lado uma saliência ovoide com cerca de 1,5 cm de
te e dos lados onde existe um sulco transversal que altura e 0,5 cm de largura, com forma de azeito-
os distingue, o sulco bulboprotuberancial. As di- na, por isso chamada oliva bulhar; é um dos nú-
mensões aproximadas do bulbo são 3 cm de com- cleos próprios do bulbo. Por cima da oliva, no sul-
primento (cranio-caudal) e, ao longo deste, 2 a 1 co bulbo-protuberancial, nasce o nervo facial (VII
cm de largura e 1,5 a 1 cm de espessura (ventro- nervo craniano) numa pequena depressão, a fosse-
-dorsal) consoante o local considerado. ta supraolivar. No mesmo sulco, em posição me-
O bulbo está na sua maior parte coberto atrás pelo dial relativamente àquele nervo nasce o VI - ner-
cerebelo. A frente assenta na parte inferior da go- vo abdutor ou oculomotor externo - e em posição
teira basilar do occipital, onde habitualmente con- lateral nasce o VIII - nervo auditivo, estatoacústi-
vergem as artérias vertebrais na artéria basilar e daí co ou vestibulococlear.
estende-se para baixo e atravessa o buraco occipi- A face dorsal do bulbo na sua metade inferior é se-
tal. Na sua descrição exterior consideram-se qua- melhante à da medula cervical, embora seja mais
tro faces - ventral, dorsal e laterais - além das duas larga; apresenta os cordões dorsais subdivididos
bases. A face ventral, limitada pelos sulcos ventro- pelo sulco intermédiodorsal num fascículo medial,
laterais que continuam os sulcos homónimos fascículo grácil ou de Goll, e num lateral, fascí-
da medula cervical, é ocupada por dois cor- culo cuneiforme ou de Burdach. Na metade su-
dões de substância branca salientes de um e ou- perior, os cordões dorsais separam-se progressiva-
tro lado do sulco mediano anterior que se desig- mente um do outro, constituindo os pedúnculos
na fissura mediana ventral, as pirâmides bulhares. cerebelosos inferiores ou caudais que ligam o bul-
Na parte inferior destas, definindo o limite caudal bo ao cerebelo, também designados, nas suas por-
do bulbo, vários pequenos feixes entrecruzam-se ções inferiores "corpos restiformes". Entre aqueles
obliquamente na linha média; é o aspecto, à super- pedúnculos aparece uma área membranosa triân-
fície, da entrecruzamento ou decussação das pirâ- gular de base superior que cobre a parte inferior
mides, onde a parte principal (cerca de dois ter- , bulhar, do 4.0 ventrículo. Esta área é constituí-
ços) dos feixes que as constituem - por isso desig- da apenas por uma camada superficial de epité-
nados "feixes piramidais" - se cruzam para o lado lio ependimário - a membrana tectória - revestida
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
por uma dupla camada de piamater - a tela coroi- los do cerebelo. A protuberância tem, corno d·
deia do 4.0 ventrículo - e apresenta habitualmen- mensões, 2 a 2,2 cm de comprimento (cranio-ca~:
te três orifícios que dão saída à cavidade do ven- dal) 2 a 3 cm de espessura ventro-dorsal e cerca de
trículo: um orifício principal mediano na sua por- 4 cm de largura.
ção inferior - o buraco de Magendie - e dois orifí- A protuberância tem os seus limites superior e in-
cios nos seus ângulos laterais- os buracos de Lus- ferior bem marcados por sulcos que a separam res-
chka. Entre as duas camadas de tela coroideia ca- pectivamente dos pedúnculos cerebrais - o sulco
minham vasos sanguíneos que irrigam os plexos pontopeduncular - e do bulbo raquidiano - o su],
coroideus do 4.0 ventrículo aí situados. Ao longo co bulboprotuberancial.
dos bordos laterais da membrana tectória, junto D escrevem-se habitualmente na protuberân-
aos pedúnculos cerebelosos inferiores, entre a pia cia uma face ventral, convexa, sem clara demar-
mater e o epitêlio ependirnário existe de cada lado cação com as faces laterais, que se prolongam pe-
uma franja de substância branca, a lígula ou ténia los pedúnculos cerebelosos médios; a emergência
do 4.°ventrículo. A membrana que constitui o tec- do nervo trigémio (V nervo craniano) marca de
to da porção bulhar do 4.0 ventrículo, contém no cada lado a transição entre aquelas faces. A face
seu limite superior uma fina lâmina de tecido ner- anterior relaciona-se com a parte superior da go-
voso junto à inserção no vermis cerebeloso, o véu teira basilar; entre as duas encontra-se a artéria
medular inferior ou válvula de Tarin. O pavimen- basilar habitualmente numa goteira mediana pou-
to da porção bulhar do 4.°ventrículo é constituído co marcada nesta face. Cada face lateral relacio-
pelas formações resultantes do alargamento da pa- na-se com a face posterior do rochedo do mes-
rede anterior do canal ependimário, que da medu- mo lado. A face dorsal da protuberância é cons-
la se continua para o bulbo: de um e de outro lado tituída por uma superfície quase plana, triangular
do sulco longitudinal mediano distinguem-se três de base inferior, situada entre os pedúnculos ce-
pequenas áreas triângulares que convergem na sua rebelosos: é o triângulo superior (maior) ou pro-
extermidade inferior, chamadas respectivamente tuberancial do pavimento do 4.0 ventrículo. Nes-
trígono do nervo hipoglosso ou asa branca interna ta zona, entre os pedúnculos cerebelosos médios,
ou medial, fosseta inferior (por ser um pouco de- mais laterais, interpõem-se em posição medial e
primida) ou asa cinzenta, e trígono do nervo vago convergindo obliquamente para cima até à lâmi-
ou asa branca externa ou lateral. Lateralmente ao na quadrigémia, os pedúnculos cerebelosos supe-
trígono do nervo vago há uma área estreita até riores ou "brachium conjuntivum", que constituem
ao limite inferior do ventrículo, a área postrema. de cada lado os limites do triângulo protuberancial
Dada a semelhança desta configuração com a de do 4.0 ventrículo. O tecto desta parte do 4.0 ven-
uma pena de escrever, é também conhecido como trículo é completado na linha média, entre aque-
calamus scriptorius. O bico inferior do ventrícu- les pedúnculos, por uma lâmina de tecido nervo-
lo chama-se obex ou obice (Fig.10.1.9 e 10.1.10). so que se estende dos tubérculos quadrigémios ao
cerebelo, chamada véu medular superior ou válvu-
PROTUBERÂNCIA la de Vieussens. No pavimento protuberancial do
4.0 ventrículo observa-se, além do sulco mediano,
A protuberância anular ou ponte tem forma gros- que continua para cima o correspondente do bul-
seiramente cilíndrica disposta quase verticalmen- bo, de um lado e de outro deste uma zona salien-
te, mais espessa a meio do que nas bases, e é acha- te, a eminência medial do 4.0 ventrículo, delimita-
tada atrás onde forma a parte superior do pavi- da lateralmente por um sulco pouco nítido, o sul-
mento do 4.0 ventrículo. O seu nome vem do as- co limitante; a eminência medial alarga-se na par-
pecto estriado transversal que lhe é dado pelas fi- te inferior, de forma arredondada, o colículo fa-
bras que se dirigem para o cerebelo atravessando cial ou eminência teres. Lateralmente ao sulco li-
a linha média; essas fibras constituem, de cada mitante encontra-se a área vestibular e, um pou-
lado, o pedúnculo cerebeloso médio (ou "bra- co mais superior e lateral, uma pequena depres-
chium pontis"), o mais volumoso dos pedúncu- são, a fosseta superior do 4.0 ventrículo sob a qual
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CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL:TRONCO CEREBRAL
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Fig. 10.1.11: Configuração interior do Tronco Cerebral: Núcleos dos Nervos Cranianos (a azul núcleos sensitivos, a vermelho núcleos motores).
A. Vista de perfil
B. Vist a posterior:
1. Nervo Oculomotor 2. Núcleo mesencefálico do trigémio 3. Nervo trigémio 4. Núcleo sensitivo do trigémio 5. Núcleo motor do trigémio
6. Nervo facial 7. Nervo vestibulococlear 8. Nervo abdutor 9. Nervo glossofaríngeo 10. Nervo Hipoglosso 11. Nervo vago 12. Nervo
acessório 13. Oliva bulbar 14. Núcleo espinhal do Trigémio 15. Núcleo oculomotor acessório (Edinger•Westphal) 16. Núcleo oculomotor principal
17. Núcleo troclear 18. Nervo troclear 19. Núcleo abdutor 20. Joelho do nervo facial 21. Núcleo facial 22. Núcleos vestibulares 23. Núcleos
cocleares 24. Núcleos salivatórios superior e inferior 25. Núcleo do feixe solitário 26. Núcleo dorsal do vago 27. Núcleo do hipoglosso
28. Núcleo ambíguo 29. Núcleo espinal do nervo acessório 30. Colículo superior 31. Corpo geniculado lateral 32. Núcleo grácil
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CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL:TRONCO CEREBRAL
503
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
bras descendentes dos feixes de motricidade cionada com o fascículo longitudinal dors
voluntária, que fazem parte dos circuitos cor- o núcleo interpeduncular (relacionado co ai),
111
ticopontocerebelosos da coordenação motora; ·
sistema ' 08 0
lím bº1co) e os ch amados nucle
0
• Nos pedúnculos cerebrais: os núcleos rubros, lomotores acessórios (núcleo interesticial~-
0
núcleos globosos situados na profundidade fascículo longitudinal medial, núcleo de C
do tegmento do mesencéfalo acima do cruza- jal, núcleo de Darkschewitsch, e o núcleo ~-
mento dos pedúnculos cerebelosos superiores, comissura posterior} implicados sobretudª
0
que estão integrados nas vias motoras extra- nos movimentos oculares verticais;
piramidais de controlo do tonus muscular, a • O locus ceruleus ou zona cerulea, núcleo do
substância negra ("locus niger" de Soemme- tegmento pontomesencefálico ligado à subs,
ring), de origem diencefálica, outro elemento tância reticular, constituído em grande par,
fundamental das vias extrapiramidais, núcleo te por células hiperpimentadas, é um impor-
laminar hiperpirnentado em posição ventral tante centro noradrenágico do tronco cerebra]
relativamente ao núcleo rubro, entre este e os que intervem, entre outras funções, na regu,
feixes motores situados à frente (a substância lação do sono e de respiração, e tal como a
negra separa aqui o pé, ou "cruz cerebri", do substância negra, está envolvida na doença de
tegmento dos pedúnculos cerebrais); a área Parkinson.
tegmental ventral, junto ao limite medial da
substância negra, origem de projecções dopa- A substância reticular, ou formação reticular do
minérgicas para o prosencéfalo basal; tronco cerebral é constituída por áreas celulares
• No tecto do mesencéfalo: os núcleos tectais, e feixes de fibras dispostas difusamente entre os
i.e., dos colículos inferiores (vias acústicas) e núcleos descritos acima, com ligações aos núcleos
superiores (vias ópticas); próprios e aos dos nervos cranianos, bem como a
• No restante mesencéfalo: os chamados pe- outros pontos do neuroeixo, com significado fiin-
quenos núcleos mesencefálicos: os núcleos cional complexo: controlo motor, sensitivo e vis-
pretectais (reflexos pupilares e da acomoda- ceral, regulação da consciência. Compreende vá-
ção), a substância cinzenta periaquedutal (en- rias zonas dispostas longitudinalmente ao longo
volvida no controlo analgésico central e rela- do tronco:
504
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL:TRONCO CEREBRAL
Substância reticular mediana que inclui os orbicular das pálpebras, frontal, supraci-
núcleos da rafe nos pedúnculos cerebrais jun- liar) têm inervação bilateral, enquanto daí
to à linha média e, mais dorsalmente, a subs- para baixo as fibras (para o restante terri-
tância cinzenta periaquedutal que tem afe- tório do nervo facial e os nervos cranianos
rências sensitivas e projecções ascendentes mais distais) são sobretudo cruzadas.
para o hipotálamo e o cortex cerebral, funda- b. Feixes extrapiramidais (Fig.10.l.13B) do
mentais para a regulação da dor, do sono e da tronco cerebral: feixes corticopontoce-
vigilia; rebelosos, que descem de múltiplas áreas
• Substância reticular central, de cada lado do do cortex cerebral para os núcleos pônti-
tronco, particularmente evidente nos níveis cos, feixe tectospinhal, feixe rubrospinhal,
bulhar superior (núcleo reticular gigantocelu- feixe vestibulospinhal, e feixe reticulospi-
lar), importante no controlo do tono muscu- nhal.
lar através de feixes descendentes tais como os
reticulospinhais, e pontomesencefálico); 2. Feixes ascendentes (Fig.10.l.13C):
• Substância reticular lateral_do bulbo, com li- a. Feixe bulbotalâmico da sensibilidade cons-
gações ao cerebelo e aos núcleos vegetativos ciente (táctil epicrítica e proprioceptiva),
do tronco cerebral. que se cruza na parte inferior do bulbo na
chamada decussação sensitiva ou pirifor-
Os feixes que constituem a substância branca do me, imediatamente acima da decussação
tronco cerebral (Fig.10.1.13) dividem-se em des- das pirâmides, depois forma de cada lado o
cendentes ou motores, ascendentes ou sensitivos lemnisco mediano, a que se juntam os fei-
(e sensoriais) e feixes de associação próprios do xes cruzados da sensibilidade somática dos
tronco cerebral. nervos cranianos e sobe ao longo do tronco
1. Feixes decendentes: cerebral até ao tálamo;
a. Feixes da motricidade voluntária também b. Feixe espinotalâmico lateral (da sensibi-
conhecidos genericamente como via pira- lidade termoálgica) e feixe espinotalâmi-
midal, (Fig.10.l.13A): Os feixes de mo- co ventral (da sensibilidade tactil protopá-
tricidade voluntária incluem o feixe corti- tica) ou extralemniscais, que se dirigem se-
cospinhal, ou piramidal propriamente dito, paradamente para o tálamo;
que ocupa a parte central do pé do pedún- c. Lemnisco lateral, for mado pelas fi-
culo cerebral, depois dispersa-se em toda a bras sensitivas que, dos núcleos coclea-
extenção do pé da protuberância, para vol- res homo e contralaterais, ascendem até
tar a agrupar-se na pirâmide bulbar, que ao colículo inferior e ao corpo genicula-
lhe dá o nome e que cruza a linha média do medial;
no limite inferior do bulbo constituindo d. Feixes espinocerebelosos: feixe espinoce-
a entrecruzamento ou decussação das pi- rebeloso dorsal ou directo (de Flechsig),
râmides; inclui também o feixe genicula- que vai para o cerebelo através do pedún-
do (assim chamado por passar no joelho culo cerebeloso inferior acompanhado do
da cápsula interna do cérebro) ou cortico- feixe cuneocerebeloso que vai do núcleo
nuclear, que se origina no cortex cerebral, cuneiforme acessório ao cerebelo e do fei-
passa pela parte medial do pé do pedún- xe trigeminocerebeloso, e feixe espinoce-
culo cerebral e, a partir daí, distribui-se rebeloso ventral ou cruzado (de Gowers)
aos núcleos dos nervos cranianos, cruzan- que sobe até ao mesencéfalo e volta a cru-
do sucessivamente a linha média à medida zar-se no entrecruzamento dos pedúncu-
que desce no tronco cerebral. Note-se que los cerebelosos superiores (W emeK.ing),
as fibras motoras que inervam os nervos por onde entra no cerebelo (nota: os fei-
cranianos mais proximais até à parte su- xes espinocerebelosos transportam infor-
perior do núcleo do nervo facial (músculos mações para o cerebelo provenientes so-
505
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
Fig. 10.1.13A: Feixes principais do Tronco Cerebral (vias descendentes Fig. 10.1.138: Feixes principais do Tronco Cerebral (vias descendentes
da motricidade voluntária). da motricidade involuntária (extrapiramidais).
1. Feixe corticospinal (piramidal) 2. Feixe cortico-nuclear (geniculado) 1. Via cortico-ponto-cerebelosa 2. Feixes tectospinal 3. Feixe rubros-
3. Feixe piramidal direto 4. Feixe piramidal cruzado 5. Via Aberrante pina1 4. Feixe reticulospinal 5. Feixe vestibulospinal.
de Déjérine
Fig. 10.1.13C: Feixes principais do Tronco Cerebral (vias ascendentes Fig. 10.1.130: Feixes principais do Tronco Cerebral (vias de associação}.
da sensibilidade). 1. Fascículo longitudinal posterior ou dorsal 2. Feixe central da calote
1. Lemnisco mediano 2. Feixe espinotalâmico lateral 3. Lemnisco 3. Fascículo longitudinal de associação internuclear.
lateral 4. Feixes espinocerebelosos direto e cruzado 5. Feixe reticulo-
•cerebeloso 6. Feixe dentato-rubro-talâmico.
506
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL:TRONCO CEREBRAL
10 11 12 10
15
5
a 2 19
Fig. 10.1 .1 4: Configuração interior do Tronco Cerebral em cortes axiais (esquemático): Bulbo de baixo para cima.
A. Nível bulbar inferior B. Nível abaixo das olivas
1. Suko mediano posterior 2. Sulco mediano anterior 3. Canal ependimário 4. Feixe corticospinal cruzado 5. Feixe corticospinal direto 6.
Entrecruzamento (decussação) das pirâmides 7. Feixe espinocerebeloso dorsal 8. Feixe espinocerebeloso ventral 9. Feixe espinotalâmico
lateral 10. Feixe gracil 11. Núcleo gracil 12- Feixe cuneiforme 13. Núdeo cuneiforme 14. Núcleo espinhal do trigémio 15. Nervo acessório
16. Oliva e Núdeo olivar (inferior) 17. Nervo hipoglosso 18. Núdeo hipoglosso 19. Decussação do lemnisco mediano
13 16 8 7 16
7
19
21
9
12
4 21
12
20
11
22 11
4
a 24
EI 24
Fig. 10. 1.14: Configuração interior do Tronco Cerebral em cortes axiais (esquemático): Bulbo de baixo para cima.
C. Nível olivar inferior O. Nível olivar superior
1. Feixe corticospinal direto 2. Feixe espinocerebeloso ventral 3. Feixe espinotalâmico lateral 4. Núdeo espinhal do trigémio 5. Oliva e Núdeo
olivar (inferior) 6. Nervo hipoglosso 7. Núcleo hipoglosso 8. 4.º ventrículo 9. Núcleo dorsal do vago 10. N úcleo do feixe solitário 11. Núcleo
ambíguo 12. Formação reticular 13. Fasóculo longitudinal medial 14. Feixe tectospinal 15. Lemnisco mediano 16. Véu medular inferior 17.
Núcleo vestibular medial 18. Núcleo vestibular inferior 19. Núcleo coclear posterior 20. Núcleo codear anterior 21. Pedúnculo cerebeloso inferior
22. Nervo vago 23. Núcleo vestibular lateral 24. Núcleos Arqueados
507
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
D 12
Fig. 10.1.14: Configuração interior do Tronco Cerebral em cortes axiais (esquemático): E. Prot uberância.
1. 4. º ventrículo 2. Formação reticular 3. Fascículo longitudinal medial 4. Lemnisco mediano 5. Véu medular superior 6. Corpo trapezóide 7.
Pedúnculo cerebeloso superior 8. Núcleo motor do trigémio 9. Núcleo sensitivo principal do trigémio 10. Núcleos pônticos 11. Pedúnculo
cerebeloso médio 12. Feixes corticospinais e corticonudeares 13. Nervo trigémio 14. Fibras transversas pônticas
12
4
18
[
[ 8
9
3
13
21
14
18
Ili 19
22 3
10 2
11 20
16 17
D m
Fig. 10.1.14: Configuração interior do Tronco Cerebral em cortes axiais (esquemático):
F. Mesencéfalo no nível colicular inferior G. Mesencéfalo no nível colicular superior
1. Formação reticular 2. Fascículo longrtudinal medial 3. Lemnisco mediano 4. Nervo troclear 5. Colículo inferior 6. Aqueduto do cérebro (Sylvius)
7. Núcleo mesencefálico do trigémio 8. Lemnisco lateral 9. Núcleo troclear 10. Substância negra 11. Fossa interpeduncular 12. Coliculo superior
13. Substância cinzenta periaqueductal 14. Núcleo oculomotor 15. Nucleo rubro 16. Decussação dos feixes rubrospinais 17. Nervo oculomotor
18. Lemnisco Trigeminai 19. lemnisco Espinhal 20. Decussação dos pedúnculos cerebelosos superiores 21 . Fibras Temporo-pô nticas 22. Fibras
Cortico-espinhais e cortico-nucleares 23. Fibras Fronto-pônticas
1- Tecto, li - Tegmento, Ili -Crus Cerebri
508
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: TRONCO CEREBRAL
dos estes feixes da substância branca do tron- pando espaço, por exemplo tumores da fossa cra-
A co bral há ainda a acrescentar os que consti- niana posterior, que podem fazer pressão sobre o
cere
Co os pedúnculos cerebelosos superiores que se tronco cerebral. E sta pressão, quando exercida no
ruefTlcruzam na linha média ocupando a zona cen- sentido descendente pode levar, em casos graves, à
cral do ceg~ento mesencef:~•=
encre auco ao ruve , 1 dos colí- compressão do bulbo e da parte inferior do cere-
cul0 5 infenores. belo (amigdalas cerebelosas) contra o buraco oc-
nfiguração interior do tronco cerebral, após a cipital - encravamento das amigdalas - e provo-
j\ C0 , . "-' . 'f:cilrn
ição sistematica 1e1ta acuna, e, mais a en- car cefaleias, rigidez cervical, paralisia dos últimos
d~cr . -
ercebida da forma integrada pela observaçao nervos cranianos e mesmo paragem cardiorrespi-
reP " d . ,
de cortes axiais o mesmo, isto e, perpen c ares diul ratória. Esta condição pode ser agravada por uma
eu eixo, em níveis seleccionados que apresen- punção lombar que baixe subitamente a pressão
ao S ,
ta!Tl aspectos característicos. E o que pode ver-se no canal raquidiano. Pode, por outro lado, sur-
na (Fig. 10.1.14), em que se mostram cortes em gir sem qualquer tumor na doença de Arnold-
uatro diferentes níveis do bulbo, um nível da pro- -Chiari, uma anomalia congénita em que o bulbo
!berância, e em dois níveis do mesencéfalo (coli- e o cerebelo estão "descaídos" (herniados) para bai-
cular inferior e superior). xo do buraco occipital.
Algumas das doenças que mais frequentemente
provocam lesões do tronco cerebral são lesões vas-
culares - acidentes vasculares do tronco cerebral.
Destas, as que apresentam manifestações clínicas
O Feixe espinotalâmico é uma das principais for- mais típicas são as que correspondem à destruição
mações do tronco cerebral envolvidas na transmis- (necrose) de um território arterial preciso, por obs-
são dos estímulos dolorosos ao cérebro. Pode ser, trução de uma das artérias cerebelosas ou do tron-
por isso, alvo de intervenção cirúrgica electiva nal- co cerebral (ver vascularização do encéfalo), dando
gumas situações clínicas da dor crónica resisten- origem a um conjunto de sintomas característico
te aos fármacos analgésicos. Tendo em conta a to- ou síndrome. Entre tais síndromes do tronco cere-
pografia deste feixe, dois diferentes locais têm sido bral, vale a pena destacar as seguintes:
eleitos para a sua interrupção (tractotomia espino- • Síndrome bulhar paramediana, por lesão par-
talârnica): a nível bulbar, onde segue junto com o cial da artéria vertebral: há lesão da pirâmide,
feixe espinorreticular (aí a tractotomia atinge ha- do lemnisco mediano e do nervo hipoglos-
bitualmente ambos os feixes); ou a nível mesen- so, com as resultantes paralisia da língua do
cefálico onde se encontra mais isolado e superfi- mesmo lado e paralisia e hipostesia da meta-
cial, embora aí a sua interrupção origine frequen- de oposta do corpo (paralisia e hipostesia al-
temente perturbações de sensibilidade, designadas ternas);
"disestesias". • Síndrome bulhar lateral ou de Wallemberg,
Outro aspecto da regulação da dor com implica- por lesão de artéria cerebelosa pósteroinfe-
ções clínicas no tronco cerebral: a neuroestimula- rior: há lesão do pedúnculo cerebeloso infe-
ção da substância cinzenta periaquedutal mesen- rior, do feixe espinotalârnico lateral, do núcleo
cefálica desencadeia a libertação de mediadores sensitivo do trigémio (parcial) e do núcleo
químicos endógenos com efeito analgésico simi- ambíguo; daí resulta descoordenação motora
lar à morfina, as endorfinas, o que permite tratar (ataxia) do hemicorpo homolateral, hiposte-
certos tipos de dor através da estimulação daquela sia do hemicorpo contralateral (alterna) e da
formação nervosa. hemiface homolateral, alterações da degluti-
A doença de Parkinson, caracterizada por tremor, ção e da fonação;
rigidez e bradicinésia, está relacionada com a de- • Síndrome caudal da protuberância ou de
pleção das células pigmentadas da substância ne- Foville, por lesão de ramos paramedianos da
gra e do locus ceruleus. artéria basilar: há lesão do feixe piramidal e
H á lesões intracranianas que se desenvolvem ocu- dos nervos abdutor e facial, com as conse-
509
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
510
CEREBELO ordens motoras voluntárias, usa a informação sen-
sitiva e a das ordens motoras para regular o equi-
Cerebelo significa literalmente "pequeno cére- 1.tbrio, o tónus muscular e o controlo postural, e
bro", e de facto este órgão apresenta várias analo- ainda a coordenar automaticamente o movimento
gias quer morfológicas quer funcionais com o cé- voluntário. Na verdade, no seu domínio automáti-
rebro. O cerebelo é a parte do encéfalo responsá- co não consciente, o cerebelo representa um "pe-
vel pelo controlo automático (não consciente) do queno telencéfalo".
equilJbrio e do movimento.
O cerebelo ocupa a maior parte da fossa crania-
na posterior, por baixo dos hemisférios cerebrais, CONFIGURAÇÃO EXTERIOR
dos quais está separado pela tenda do cerebelo. (FIGS. 10.1.15 E 10.1.9)
Cobre a maior parte da face dosal do tronco ce-
rebral, onde está ancorado por três pares de fei- O cerebelo tem uma forma globosa e achatada bi-
xes chamados pedúnculos cerebelosos. No adulto, lateralmente de cima para baixo em cunha, onde
pesa cerca de 10% do cérebro, ou seja, aproxima- se descrevem três faces: uma superior, aplanada e
damente 150 g. coberta pela tenda do cerebelo; outra inferior, con-
Do ponto de vista morfológico é constituído por vexa, que se relaciona com as fossas cerebelosas do
dois hemisférios cerebelosos separados por uma osso occipital; e uma face anterior que constitui a
porção mediana o vérmis ou verme cerebeloso. porção média do tecto do 4.0 ventrículo.
Como o cérebro, apresenta também um manto A face superior do cerebelo tem a forma de uma
exterior de substância cinzenta denominado "cór- borboleta de asas abertas; na região mediana en-
tex cerebeloso" e núcleos cinzentos centrais incluí- contra-se o "vérmis ou verme superior", assim de-
dos na substância branca que forma, por sua vez, signado por ter forma oblonga e superficie fina-
uma massa contínua de hemisfério para hemisfé- mente estriada transversalmente. A face supe-
rio através do vermis. rior do vermis continua-se de um lado e de ou-
Funcionalmente, o cerebelo é também um órgão tro com a face superior dos hemisférios cerebelo-
de controlo que atua a título supra-segmentar. Re- sos, não sendo nesta face muito nítida a distinção
cebe aferências sensitivas de quase todos os tipos entre ambos. No conjunto a face superior do ce-
de receptores e, apesar de não estar envolvido na rebelo torna-se progressivamente mais horizontal
percepção sensitiva consciente nem na emissão de para cada lado da linha média até ao bordo circun-
B A
B
c
c
4 G
6
3 H
D 6
D c
5
E E F
c 1A B c D1
F 2
Ili
Fig. 10.1.15: Cerebelo, lobos e lóbulos cerebelosos: a verde o lobo anterior, a lilás o lobo posterior, a vermelho o lobo flóculo-nodular.
A vista superior B. vista inferior
1. Vermis superior ( A. Língula B. Lóbulo central C. Culmen D. Dedive E. Folium) 2. Vermis inferior (A. Nódulo B. Úvula C. Pirâmide
D. Tuber) 3. FlóaJlo 4. Véu medular superior 5. Véu medular inferior 6. Hemisférios cerebelosos {A. Lóbulo quadrangular B. Fissura primária
C. Fissura horizo,..ntal D. Lóbulo simplex E. Lóbulo semilunar superior F. Lóbulo semilunar inferior G. Amígdala H. Lóbulo digástrico) 7. Pedúnculos
cerebelosos (A Superiores B. Médios C. Inferiores)
511
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
ferencial do cerebelo, como o telhado de um pago- bordos laterais, ao longo de cada pedúnculo cere-
de. Este bordo delimita a face superior do cerebe- beloso inferior forma a lígula e no vértice inferior
lo e apresenta duas incisuras medianas: uma ante- forma a parede posterior do obex. A membrana
rior, larga e pouco profunda e outra posterior, mais tetória é envolvido por pia-mater, que se invagina
profunda e estreita que se relaciona com a foice do para o 4.0 ventrículo num orifício mediano, o bu-
cerebelo, uma formação meníngea. raco de Magendie. O véu medular inferior conti-
Na face inferior, encontra-se uma depressão me- nua-se de cada lado até um pequeno setor do he-
diana, profunda e ântero-posterior em continui- misfério cerebeloso, situado por baixo do pedún-
dade com a incisura posterior, denominada "va- culo cerebeloso médio, que se denomina flócu-
lécula do cerebelo (Reil)", cujo fundo é formado lo ou lóbulo pneumogástrico; esse prolongamen-
pelo vérmis ou verme inferior. Ao contrário do que to designa-se pedúnculo do flóculo. Ainda na face
acontece na face superior, o vérmis encontra-se inferior do cerebelo, de cada lado da porção ante-
aqui bem demarcado dos hemisférios cerebelosos, rior do vérmis, encontra-se uma zona individuli-
que têm aspecto mais globoso; o vermis inferior zada (lóbulo) do hemisfério cerebeloso chamada
tem aspeto fusiforme, apresentado uma zona di- amígdala ou tonsila cerebelosa.
latada a meio, a pirâmide do vermis (Malacarne). Tomando como pontos de referência a divisão en-
A face anterior ou ventral olha para baixo e para tre o vérmis e os hemisférios e a existência de sul-
a frente. Escavado nesta face encontra-se o diver- cos orientados transversalmente no vérmis e cur-
tículo cerebeloso do 4.0 ventrículo ou fastígio, pe- vos para a frente nos hemisférios, é possível siste-
quena fenda transversal situada entre o vermis su- matizar a superfície so cerebelo em lobos e lóbulos.
perior e inferior. De cada lado da linha média, for- Assim, na superfície do cerebelo identificam-se
mando os limites laterais do fastígio, observa-se três sulcos principais: o sulco ou fissura primária
uma massa de substância branca que representa o visível sobretudo na face superior, o sulco ou fis-
ponto de convergência dos pedúnculos cerebelo- sura dorsolateral mais nítido na porção lateral da
sos: os superiores que se dirigem para os pedúncu- face inferior e junto ao bordo circunferencial o sul-
los cerebrais, os inferiores, ascendentes, provenien- co ou fissura horizontal ou circunferencial de Vicq
tes do bulbo e os médios, transversais, com origem d' Azyr, disposta de tal forma que um plano trans-
na protuberância. versal que a contenha separa de forma grosseira
O espaço triangular de vértice superior que é de- o cerebelo em duas metades, uma superior e ou-
limitado pelos pedúnculos cerebelosos superiores, tra inferior.
está preenchido pelo véu medular superior, uma Estes acidentes anatómicos permitem isolar três
lâmina de substância branca triangular de vérti- grandes lobos cerebelosos: o lobo anterior, que
ce superior, a Válvula de Vieussens, que se esten- constitui a maior parte da porção anterior do cere-
de da extremidade anterior do vermis superior até belo, localizado adiante da fissura primária; o lobo
à lâmina quadrigémia, acima, O véu medular su- posterior, localizado entre a fissura primária e a fis-
perior forma a parte mediana da vertente superior sura dorsolateral, correspondente à maior área do
do teto do 4.0 ventrículo encefálico. A vertente in- córtex cerebeloso e o lobo floculonodular em posi-
ferior do teto do 4.0 ventrículo é constituída por ção ventral inferior situado adiante da fissura dor-
uma outra lâmina triangular, de vértice inferior, solateral. A fissura horizontal não separa lobos do
que se estende entre os pedúnculos cerebelosos in- cerebelo.
feriores, a membrana tectória. Essa lâmina, de ori- Considerando a divisão de cada um dos lobos
gem ependimária, tem uma constituição heterogé- por sulcos de menor importância em lóbulos, o
nea, apresentando substância branca atrófica nal- lobo anterior compreende no vérmis (da frente
gumas áreas: na parte superior constitui o véu me- para trás) a língula, o lóbulo central e o cúlrnen;
dular inferior ou válvula de Tarin, pequena prega nos hemisférios a língula não tem parte corres-
transversal de tecido nervoso que limita na zona pondente mas o lóbulo central apresenta de cada
mediana o fastígio e, lateralmente, os orificios la- lado uma asa e o cúlmen continua-se pelo lóbu-
terais do 4.°Ventrículo, os buracos de Luschka; nos lo quadrangular anterior. Por sua vez, o lobo pos-
512
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: C EREBELO
513
MANUAL DE ANATOMIA H UMANA
514
CONTROLO E INTEGRAÇÃO J SISTEMA NERVOSO CENTRAL: CEREBELO
O cerebelo tem como principais funções a manu- Para que o cerebelo exerça as suas funções de for-
tenção do equihbrio, a regulação do tonus muscu- ma adequada necessita receber informações sen-
lar e controlo postural, e a coordenação do movi- sitivas de todo o corpo, através da medula espinal
·mento voluntário, Para-isso, recebe aferências res- e do aparelho vestibular e informação respeitan-
pectivamente, vestibulares, espinhais e do córtex te aos movimentos voluntários projetados, prove-
cerebral. Por outro lado, diferentes áreas do córtex nientes do córtex cerebral. Existem múltiplas vias
cerebeloso estão relacionadas, não só com os nú- aferentes provenientes dessas três estruturas, cuja
cleos cinzentos centrais do cerebelo, mas também maioria é encaminhada para o cerebelo através dos
com as aferências acima referidas; há assim um se- pedúnculos cerebelosos médio e inferior e vão di-
tor distinto para cada um desses tipos de aferên- retamente ao córtex cerebeloso.
cias, o que permite outra sistematização funcio- As informações respeitantes à posição e desloca-
nal: o lobo floculonodular e parte da úvula rece- ção da cabeça no espaço, com um papel crucial na
bem aferências vestibulares, sendo esta área cere- manutenção do equilibrio, têm orgem no aparelho
belosa denominada "vestibulocerebelo"; o lobo an- vestibular e terminam no vestibulocerebelo. As in-
terior, sobretudo a zona vermiana e paravermiana, formações somatosensitivas originárias dos meca-
excluindo o nódulo e a úvula, recebem aferências noreceptores da pele, músculos e articulações via-
espinhais, sendo essa zona chamada espinoéerebe- jam até ao cerebelo através de feixes existentes na
lo; a maior parte do lobo posterior, corresponden- medula, terminando nas zonas vermiana e para-
te à zona lateral dos hemisférios cerebelosos rece- vermiana, ou seja no espinocerebeloso. O cérebro-
be aferências do córtex cerebral (com sinapses pré- cerebelo, com um papel fundamental na coorde-
vias nos núcleos pônticos) e é por isso denomina- nação do movimento voluntário, recebe do córtex
da "cérebrocerebelo". cerebral informações respeitantes aos movimentos
projetados ou em execução.
Por outro lado, de modo a poder exercer a sua in-
SISTEMATIZAÇÃO DE ACORDO COM A fluência, o cerebelo apresenta eferências para es-
FILOGENIA sas estruturas. Com algumas excepções, o primei-
ro neurónio das vias eferentes faz sinapse nos nú-
Filogeneticamente o cerebelo pode ser dividido cleos cinzentos centrais do cerebelo de acordo
em três setores que correspondem, de forma gros- com a sistematização acima referida. O segundo
seira, às três áreas individualizadas na secção an- neurónio dessas vias parte dos núcleos cinzentos
terior. Assim, o arqueocerebelo que como o nome centrais para fora do cerebelo. O terceiro neuró-
indica é a porção filogeneticamente mais antiga, nio eferente, exceptuando no caso das vias que se
515
MANUAL DE ANATOMIA H UMANA
Fig. 10.1.1SA: Vias cerebelosas (vestibulocerebelo) Fig. 10.1.18B: Vias cerebelosas (espinocerebelo).
1. Núcleo fastigial 2. Núcleos vestibulares 3. Nervo vestibular 4. Feixes 1. Núcleo rubro 2. Núcleos globoso e emboliforme (e 1/3 medial
vestibulospinal e reticulospinal núcleo dentado) 3. Feixe espinocerebeloso dorsal 4. Feixe espinoce-
rebeloso ventral 5. Feixe rubrospinal
516
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: CEREBELO
ral através do pedúnculo cerebeloso inferior, for- ro neurónio (efector) origina-se no núcleo rubro,
rnando o feixe vestfbulocerebeloso. Contudo, al- cruza novamente a linha média formando o feixe
gumas fibras vestibulares atingem diretamente o rubroespinal que termina fazendo sinapse com os
córtex cerebeloso. neurónios motores do corno anterior da medula e
dos núcleos dos nervos oculomotores.
Via eferente O s axónios provenientes da zona vermiana (ex-
Algumas fibras provenientes do lobo floculonodu- ceptuando o nódulo e a úvula) articulam-se pri-
lar deixam o cerebelo terminando diretamente nos meiro com parte do núcleo fastigial; desse nú-
núcleos vestibulares. Contudo, a maioria das fibras cleo emerge um segundo neurónio que viaja pelos
originárias no vestJ.bulocerebelo apresenta um pri- pedúnculos cerebelosos inferiores acabando por
meiro neurónio que termina no núcleo fastigial e fazer sinapse com a formação reticular. Desta es-
um segundo neurónio fastigiovestibular que via- trutura emerge um terceiro neurónio que influen-
ja pelo pedúnculo cerebeloso inferior. Dos núcleos cia a atividade motora da medula através do feixe
vestibulares parte um terceiro neurónio efector que reticuloespinal.
faz sinapse nos neurónios do corno anterior da me-
dula através dos feixes vestibuloespinhal direto e Cerebrocerebelo (Neocerebelo)
feixe vestibuloespinhal cruzado. Esta via exerce um Fig. 10.1.1BC
efeito facilitador do tonus muscular homolateral.
Via aferente
Espinocerebelo (Paleocerebelo) O córtex cerebral possui múltiplas áreas que for-
Fig. 10.1.18B necem aferências ao cerebelo. Contudo, predomi-
nam as contribuições da área situadas na vizinhan-
Via aferente ça do sulco central, nomeadamente do córtex mo-
A informação somatosensitiva proveniente de re- tor primário, pré-motor e do córtex somatosensiti-
ceptores da pele, músculos e articulações termina vo e áreas adjacentes do lobo parietal. Dessas áreas
no córtex cerebeloso nas wnas vermiana e paraver- emerge um primeiro neurónio que termina fa-
miana, ou seja, essencialmente no espinocerebelo. zendo sinapse nos núcleos pônticos homolaterais.
A maior parte das fibras atinge o córtex cerebelo- O segundo neurónio origina-se nesses núcleos
so diretamente através dos feixes espinocerebeloso protuberanciais e, após cruzar a linha média, via-
direto ou dorsal (Flechsig), espinocerebeloso cru- ja pelos pedúnculos cerebelosos médios terminan-
zado ou ventral (Gowers) e cuneocerebeloso que do no córtex cerebeloso. Esses dois neurónios for-
transmitem informação referente ao tronco e aos mam a via corticopontocerebelosa. Tendo em con-
membros. O feixe trigéminocerebeloso transmite ta que a nível de cada um dos pedúnculos cere-
o mesmo tipo de informação referente à cabeça. brais existem aproximadamente 21 milhões de fi-
Algumas fibras transportadoras deste tipo de in- bras e que dessas um milhão continua para cada
formação atingem o cerebelo indiretamente, por pirâmide bulhar, algumas dirigem- se para a for-
via da formação reticular, através do feixe reticu- mação reticular e núcleos motores dos nervos cra-
locerebeloso que viaja pelo pedúnculo cerebeloso nianos mas a esmagadora maioria termina nos nú-
inferior. cleos pônticos, podemos facilmente compreender
a grande importância desta via quando compara-
Via eferente da, por exemplo, com a via piramidal.
Os axónios provenientes do córtex cerebeloso da
zona paravermiana fazem sinapse nos núcleos Via eferente
emboliforme, globoso e parte medial do denta- E sta via tem origem no córtex cerebeloso da zona
do, desses núcleos parte um segundo neurónio que lateral dos hemisférios. Um primeiro neurónio,
emerge do cerebelo pelo pedúnculo cerebeloso su- com origem no córtex, termina no núcleo den-
perior, cruza a linha média e atinge o núcleo ru- tado. A partir desse núcleo neocerebeloso ori-
bro contralateral (feixe dentato-rúbrico). O tercei- gina-se um segundo que toma a via do pedún-
517
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
culo cerebeloso superior, cruza a linha média e, nhais). Dessa forma é capaz de corrigir os movi-
com interrupção parcial no núcleo rubro (feixe mentos que se desviem do curso pretendido. Esta
dentato-rúbrico), termina no tálamo, mais espe- hipótese postula também que o cerebelo é capaz
cificamente no núcleo ventro-lateral contralate- de modificar programas motores centrais de for-
ral formando o feixe dentato-rubro-talâmico. Fi- ma que movimentos subsequentes atinjam o seu
nalmente, um terceiro neurónio com origem no objetivo com menos erros. Então, o cerebelo pos-
tálamo termina no córtex cerebral motor e pré- sui também um papel crucial na aprendizagem
-motor. de tarefas motoras, o que já foi demonstrado ex-
perimentalmente.
O utras Vias Cerebelosas Dado o papel coordenador do movimento, lesões
do cerebelo não causam paralisia mas sim des-
Existem algumas conexões cerebelosas que não coordenação do movimento voluntário, pertur-
se enquadram na sistematização usada possuin- bação do equilfbrio e diminuição do tonus mus-
do, contudo, valor funcional. Uma das mais im- cular.
portantes corresponde às aferências provenientes Como já foi referido, o arqueocerebelo ou vestí-
do complexo dos núcleos olivares do bulbo. As- bulocerebelo é fundamental para a manutenção
sim, fibras originárias nesses núcleos formam os do equiHbrio axial do corpo. Logo, lesões sele-
feixes olivocerebelosos que cruzam a linha média, tivas dessa região produzem perturbações na lo-
tomam a via dos pedúnculos cerebelosos inferiores comoção e equilfbrio, tornando a marcha instá-
e distribuem-se de forma difusa por todo o córtex vel com quedas frequentes. Nestes casos, o tonus
cerebeloso. A informação transmitida por essas fi- muscular não está alterado de forma significativa
bras é muito variada e reflete as conexões dos nú- e não existem alterações assinérgicas dos mem-
cleos olivares com várias estruturas do neuroeixo bros. Este síndrome arqueocerebeloso ocorre so-
como a medula espinhal, o núcleo rubro, o córtex bretudo em crianças com tumores do vérmis.
cerebral e mesmo o córtex cerebeloso. Este exten- O espinocerebelo ou paleocerebelo tem um pa-
so padrão de conexões explica a observação expe- pel fundamental no controlo do tonus muscular
rimental de que a destruição seletiva dos núcleos e da postura. Lesões desta área são caracteriza-
olivares provoca efeitos similares à destruição da das por hipotonia, ou seja, diminuição do tonus
metade contralateral do cerebelo. muscular, homolateral. Contudo, não existe nos
Estudos de natureza variada mostraram também humanos um síndrome paleocerebeloso isolado
que o cerebelo recebe aferências do aparelho vi- surgindo a hipotonia associada a outras pertur-
sual e auditivo, embora não estejam ainda total- bações cerebelosas.
mente esclarecidas as vias anatómicas através das Finalmente, o cérebrocerebelo ou neocerebelo é
quais isso ocorre. fundamental na coordenação do movimento vo-
luntário e lesões a esse nível dão orgiem a vários
tipos de descoordenação motora, nomeadamen-
te: tremor de intenção, isto é, tremor que surge
aquando da realização de movimentos voluntá-
O cerebelo coordena o movimento voluntário rios, dismetria, ou seja, incapacidade de colocar
ajustando o débito dos sistemas motores descen- um membro num ponto preciso do espaço e dis-
dentes provenientes do córtex cerebral. O mode- diadococinésia caracterizada pela incapacidade
lo funcional mais evocado é o que propõe o ce- de efetuar movimentos rápidos e alternados.
rebelo como um comparador. Segundo esta hi- Como, cada metade do cerebelo comanda a me-
pótese, o cerebelo compara o movimento preten- tade do mesmo lado do corpo, lesões unilaterais
dido, ordenado pelos centros corticais cerebrais provocam perturbações homolaterais.
(aos quais tem acesso pela via corticopontocere-
belosa), com o movimento realmente efetuado
(do qual recebe informação pelas aferências espi-
518
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: CEREBELO
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
519
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
520
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: CÉREBRO
3
D
6
m
Fig. 10.1 .20: Hemisférios Cerebrais - faces e lobos.
A. Face Lateral B. Face Medial C. Face Inferior D. Face Lateral na profundidade do Rego de Sylvius
1. Lobo Frontal 2. Lobo Parietal 3. Lobo Temporal 4. Lobo Occipital 5. Lobo do Corpo Caloso 6. Lobo da Ínsula
diante, separa os hemisferios cerebrais e a fissura e 4,5 mm, sendo a espessura média de 2,5 mm.
cerebral longitudinal, que se situam externamen- Para além da divisão morfológica, o córtex cere-
te, do mesencéfalo e diencéfalo, que se situam in- bral pode ser dividido de forma funcional, indivi-
ternamente. No que respeita aos regos e sulcos se- dualizando-se as varias áreas de acordo com a sua
rão descritos posteriormente quando da aborda- especificidade. Em 1909 Korbinian Brodmann di-
gem dos vários lobos e circunvoluções. vidiu o córtex em 52 áreas, tendo como critério a
Os lobos de cada hemisfério cerebral denominam- sua citoarquitectura, ou seja, as suas caracteristicas
-se de acordo com o osso craniano adjacente, po- histológicas. Presentemente, embora a classifica-
dendo assim descrever-se o lobo frontal, o lobo ção funcional seja mais importante, a terminologia
parietal, o lobo parietal e o lobo occipital. Descre- de Brodmann continua a ser utilizada.
vem-se ainda o lobo da ínsula e o lobo do corpo
caloso cuja denominação escapa à regra anterior 1. 1. 1 LOBO FRONTAL
(Fig.10.1.20).
Configuração exterior
521
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
misférios, a nível do ângulo externo do espaço per- do terço médio com o terço posterior do hemisfé-
furado anterior, dirigindo-se depois para a face ex- rio. No seu trajecto ao longo da face externa este
terna, contornando o seu bordo inferior; na face sulco apresenta dois prolongamentos, um ante-
externa dirige-se para cima e para trás, até à união rior, horizontal, e outro posterior, vertical. Trata-
B
10
14 25 24
38
lil 30
34 33 32
Fig. 10.1.21: Face Lateral (A) e Medial (B) dos Hemisférios Cerebrais - Principais Sulcos e Circunvoluções.
1. Sulco Central (Rolando) 2. Sulco Lateral (Sylvius), 3. Suco Parieto-Occipital 4. Sulco Calcarino S. Sulco Caloso-Marginal 6. Circunvolução
pré<entral ou frontal ascendente 7. Sulco Pré-central 8. Circunvolução Frontal Superior ou 1.• cicunvolução frontal 9. Sulco Frontal Superior
10. Circunvolução Frontal M édia ou 2.• Circunvolução Frontal 11 . Circunvolução Frontal Inferior 12. Pars Orbitalis 13. Pars triangularis 14. Pars
Opercularis 15. Circunvolução Pós Centra ou Parietal Ascendente 16. Sulco Pós-Central 17. Lóbulo Parietal Superior 18. Sulco lntraparietal
19. Lóbulo Parietal Inferior 20. Circunvolução Supra.marginal 21. Circuncolução Angular 22. Circunvolução Temporal Superior 23. Sulco
Temporal Superior 24. Circunvolução Temporal Média 25. Suko Temporal Inferior 26. Circunvolução Temporal Inferior 27. Lóbulo Paracentral
28. PréCuneus 29. Cuneus 30. Area Subcalosa 31. Uncus 32. Sulco Rinal 33. Circunvolução Parahipocâmpica 34. Sulco Colateral 35. Lóbulo
Lingual 36. L6bulo Fusiforme 37. Corpo Caloso 38. Circunvolução do Cíngulo ou Cingular
522
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: CÉREBRO
-se de um sulco profundo; se afastarmos cada uma circunvolução, situada junto ao sulco lateral, de-
das suas vertentes encontramos, na profundidade, signa-se por pars opercularis.
o lobo da ínsula. A primeira circunvolução frontal compreende um
O sulco central inicia-se um pouco para trás do segmento superior, localizado na porção superior
meio da fenda interhemisferica, dirige-se para do lobo frontal, e um segmento inferior ou orbi-
baixo e para diante, na face externa dos hemis- tário, locaizado na porção orbitária da face infe-
férios, terminando-se um pouco acima do sulco rior. O segmento superior é limitado internamen-
lateral. te pelo sulco caloso-marginal e externamente pelo
O sulco caloso-marginal situa-se na face inter- sulco frontal superior.
na dos hemisférios tendo inicio adiante, abaixo A segunda circunvolução frontal compreende tam-
do joelho do corpo caloso, e continuando-se até bém dois segmentos, um localizado na face externa
perto da sua extremidade posterior, altura em que e outro localizado na porção orbitária da face infe-
se inflecte para cima e termina no bordo superior rior. O segmento externo é limitado superiormen-
do hemisfério. te pelo sulco frontal superior e inferiormente pelo
Relativamente à forma, o lobo frontal compreen- sulco frontal inferior. O segmento inferior ou orbi-
de toda a porção do hemisfério situada para dian- tário é limitado internamente pelo sulco orbitário
te destes três sulcos, tendo portanto a forma de interno e externamente pelo sulco orbitário exter-
uma pirâmide triangular, de vértice arrendondado, no; estes dois sulcos formam conjuntamente uma
também designado de "polo frontal". estrutura designada por "sulco em H".
As circunvoluções que constituem o lobo frontal A terceira circunvolução frontal é, tal como as an-
são em número de quatro: circunvolução frontal teriores, também constituída por dois segmentos.
ascendente ou gyrus pré-central, primeira circun- O segmento lateral é limitado superiormente pelo
volução frontal ou gyrus frontal superior, segun- sulco frontal inferior, e inferiormente pelo sulco
da circunvolução frontal ou gyrus frontal médio e lateral; a este nível, a circunvolução é dividida pe-
terceira circunvolução frontal ou gyrus frontal in- los dois prolongamentos para cima do sulco late-
ferior. ral em pars orbitalis (à frente), pars triangularis e
A circunvolução frontal ascendente situa-se pars opercularis (atrás). O segmento inferor, orbi-
adiante do sulco central, sendo limitada anterior- tário, é limitado internamente pelo sulco orbitá-
mente pelo sulco pré-central e posteriormente rio externo e externamente pelo bordo inferior dos
pelo sulco central. A porção mais inferior desta hemisférios.
2 2
10
17 15
13 14 16 17
B Ili
Fig. 10.1.22: Córtex Cerebral -Áreas Funcionais: Face Lateral (A) e Medial (B).
1. Área Motora Primária 2. Área Motora Secundária 3. Área Motora Suplementar 4. Campo Ocular Frontal 5. Área de Broca 6 . Córtex Pré-Frontal
7. Área Somatoestésica Primária 8. Área Somatoestésica Secundária 9. Área Somatoestésica de Associação 1O. Córtex Major de Associação 11.
Área Gustativa 12. Área Auditiva Primária 13. Área Auditiva Secundária 14. Área de Wernicke 15. Área Olfactiva Primária e Secundária 16. Area
Visual Primária 17. Área Visual Secundária
523
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
Áreas funcionais
dente.
Esta área subdivide-se numa região anterior, a área A área motora secundária (área 6 de Brodmann)
motora primária e numa região posterior, a área ocupa os segmentos posteriores da primeira, se-
motora secundária. gunda e terceira circunvoluções frontais; é respon-
A área motora primária (ou área 4 de Brodmann) sável pelo armazenamento de programas de ac-
ocupa a totalidade da circunvolução frontal ascen- tividade motora, reunidos em resultado de expe-
dente e o segmento anterior do lóbulo para-cen- riencias anteriores, e como tal, programa a activi-
tral; é responsável pela origem dos movimentos dade da área motora primária. As lesões isoladas
voluntários do lado contralateral, pelo que a sua desta área conduzem a uma maior dificuldade na
lesão condiciona uma perda da capacidade de exe- realização de movimentos precisos e determinam
cutar estes movimentos - hemiparésia contrala- maior espasticidade, afectando rninoritariamente
teral - os movimentos iniciados pela área moto- a força muscular; este facto decorre das suas cone-
ra esquerda são executados pelo hernicorpo direi- xões com o sistema extra-piramidal.
to. Nesta área as várias zonas musculares responsá- A área motora suplementar (área 24 de Brod-
veis pelos movimentos estão representadas de for- mann) situa-se na face interna da circunvolução
ma invertida; assim temos, de baixo para cima, a frontal superior, tendo uma função semelhante à
face, seguida do membro superior, do tronco e, já da área motora secundária.
a nível da face interna dos hemisférios, o membro A área ou campo ocular frontal (área 8 de Brod-
inferior. Esta representação é caricatural, i.e., evi- mann), estende-se desde a porção corresponden-
dencia uma caricatura da figura humana na medi- te à face na circunvolução frontal ascendente até
da em que a extensão das áreas corticais responsá- à circunvolução frontal média; tem por função o
veis p9r determinado movimento é proporcional controlo voluntário do movimento conjugado dos
à especificidade desse movimento e não à massa olhos para o lado oposto, pelo que uma lesão des-
muscular a movimentar; para além de contralate- trutiva desta área condiciona uma impossibilida-
ral e caricatural, esta representação é ainda inver- de de mover conjugadamente os olhos na direcção
tida - as zonas mais superiores do corpo estão re- oposta e, como tal, um desvio conjugado dos olhos
presentadas na porção mais inferior da circunvolu- para o lado lesado.
ção, decorrendo que à representação motora desta A área de Broca (correspondente às áreas de Brod-
área se atribua a designação de homúnculo motor, mann 44 e 45) localiza-se na circunvolução fron-
contralateral e invertido (Fig.10.1.23A). tal inferior, entre os dois prolongamentos do sul-
524
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: CÉREBRO
colateral, ocupando a pars triangularis e opercula- tal ascendente, primeira circunvolução parietal ou
ris; é responsável pela programação da actividade circunvolução parietal superior, e segunda circun-
motora relacionada com a expressão da linguagem, volução parietal ou circunvolução parietal inferior.
pelo que a sua lesão no hemisfério dominante re- A circunvolução parietal ascendente situa-se atrás
sulta numa afasia de expressão, afasia não fluen- do sulco central, sendo limitada anteriormen-
te ou de Broca, i.e., os doentes conseguem com- te pelo sulco central e posteriormente pelo sulco
preender a linguagem falada ou escrita, mas têm pós-rolandico.
dificuldade na expressão adequada falada ou escri- A primeira circunvolução parietal compreende um
ta (nos casos mais comuns produzem apenas pou- segmento na face externa e um segmento na face
cas palavras com dificuldade ou escrevem de modo interna; na face externa é posterior à circunvolução
telegráfico). parietal ascendente e superior ao segmento hori-
o córtex pré-frontal é extenso, ocupando quase zontal do sulco interparietal; na face interna cor-
¼ da superficie do córtex cerebral e situando-se responde ao lobulo quadrilátero.
adiante da área pré- motora (áreas 9-12, 46 e 47 de A segunda circunvolução parietal situa-se abaixo
Brodmann). As suas conexões são particularmen- do segmento horizontal do sulco interparietal; é
te complexas, recebendo fibras de todas as áreas de formada por dois segmentos contíguos: a circun-
associação cortical, do sistema límbico e do tála- volução supra-marginal e a circunvolução angular.
mo. Esta área está envolvida na escolha das estra-
tégias comportamentais mais adequadas à situa- Áreas funcionais
ção fisca e social do individuo, na manutenção da
atenção e no controlo do comportamento emocio- No lobo parietal podem descrever-se cinco áreas
nal. Da sua lesão resultam despreocupação relati- funcionais:
vamente à dor/situação fisica, alterações do com- • Área somatoestésica primária;
portamento social, desatenção, perda da iniciativa • Área somatoestésica secundária;
e sentido crítico, entre outras. • Área somatoestésica de associação;
• Córtex de associação major;
1.1.2 LOBO PARIETAL • Área gustativa primária.
525
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
N
A área gustativa (área 43 de Brodmann) localiza-
-se na porção mais inferior da circunvolução pa-
rietal ascendente, adjacente à porção da área so-
matoestésica correspondente à lingua e também
próxima da insula; recebe a sensação do gosto do
Fig. 10.1.23B: Homúnculo Sensitivo. lado contralateral, pelo que a lesão desta área con-
diciona uma diminuição do gosto (hipogeusia) do
dos experimentais demonstram que alguns neuró- lado contralateral da lingua.
nios respondem particularmente a estímulos tac-
teis transitórios, não parecendo existir resposta 1. 1.3 LOBO TEMPORAL
para estímulos mantidos.
A área somatoestésica de associação (áreas 5 e 7 Configuração exterior
de Brodmann) situa-se na face externa e interna
da circunvolução parietal superior. Conecta-se ex- O lobo temporal apresenta como limite superior
tensamente com outras áreas sensoriais do córtex, o sulco lateral, como limite posterior o sulco per-
sendo responsável pela interpretação ou reconhe- pendicular externo e como limite interno a fissura
cimento (estereognosia) das características tacteis cerebral transversa.
de um determinado objecto, comparando-as com As circunvoluções que constituem o lobo temporal
o conceito do objecto existente, o que permite a são em número de cinco: a primeira, segunda e ter-
sua identificação; assim, possibilita o reconheci- ceira localizam-se na face externa dos hemisférios;
mento de um objecto colocado na palma da mão a quarta e a quinta circunvoluções localizam-se na
apenas pela analise das suas caracteristicas tácteis, face inferior - dá-se o nome de lóbulo fusiforme
sem o auxilio da visão - à perda desta capacidade à junção da quarta circunvolução temporal com a
designamos por aestereognosia. quarta circunvolução occipital e de lóbulo lingual à
O córtex de associação major, também designado junção da quinta temporal com a quinta occipital.
de "área de associação terciária (áreas 39 e 40 de
Brodmann)" ocupa os gyrus angular e supra-mar- Areas funcionais
ginal, na segunda circunvolução parietal. Situa- se
pois entre as áreas secundárias auditiva, visual e so- No lobo temporal podem descrever-se cinco áreas
matoestésica, funcionando como centro que inte- funcionais:
gra as informações recebidas destas várias áreas. • Área auditiva primária;
Esta área é importante para a percepção espacial, • Área auditiva secundária;
permitindo determinar as relações entre os objec- • Área de Wernicke;
tos no espaço extrapessoal e para a , da imagem das • Área olfactiva primária;
partes constituintes do proprio corpo; da sua lesão • Área olfactiva secundária.
pode resultar desorientação espacial generalizada e
526
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: CÉREBRO
A área auditiva primária (áreas 41 e 42 de Brod- capacidade olfactiva (hipósmia); a lesão irritativa,
rnann) corresponde às circunvoluções temporais relacionada com a presença de uma lesão epilep-
transversas de Heschl, uma pequena zona loca- tica focal, determina alucinações olfactivas (cri-
lizada no lábio inferior do sulco lateral, na parte ses uncinadas) nas quais os doentes subitamente
média-posterior da circunvolução temporal su- se queixam de cheiros, habitualmente desagradá-
perior. Recebe fibras de projecção provenientes veis, que na realidade não existem.
do corpo geniculado interno, o qual por sua vez A área olfactiva secundária (área 28 de Brod-
recebe fibras provenientes de ambos os orgãos de mann) encontra-se adjacente à área olfactiva pri-
Corri, embora predominantemente do lado con- mária e à semelhança das outras áreas de associa-
tralateral; deste facto decorre que uma lesão uni- ção, tem por função o reconhecimento/interpre-
lateral desta área resulte numa perda de audição tação dos odores, com base em esperiências an-
(hipoacúsia) bilateral, embora mais marcada no teriores; a sua lesão destrutiva condiona uma ag-
lado contralateral, e que uma lesão bilateral re- nosia olfactiva.
sulte numa surdez completa.
A área auditiva secundária ou de associação (área 1. 1.4 LOBO OCCIPITAL
22 de Brodrnann) localiza-se em torno da an-
terior, e tem por função a interpretação (gno- Configuração exterior
sia) dos sons recebidos na área primária, compa-
rando-os com experiencias anteriores. Uma lesão O lobo occipital apresenta corno limites anteriores
desta área conduz a uma agnosia acústica, isto é, o sulco perpendicular externo (na face externa) e o
o doente consegue ouvir, apercebendo-se das ca- sulco perpendicular interno (na face interna). Tem
racterísticas do som, mas não consegue reconhe- a forma de uma pirâmide triangular com vértice
ce-lo. posterior, o polo occipital.
A área de Wernicke (áreas 22 e 39 de Brodmann) No lobo occipital podem descrever-se seis circun-
localiza-se no hemisfério dominante e com- voluções: a primeira, segunda e terceira localizam-
preende uma região extensa que inclui a parte -se na face lateral dos hemisférios; a quarta e a
posterior (plano temporal) da primeira circunvo- quinta localizam-se na face inferior, unindo-se às
lução temporal (área 22) e a junção temporo-pa- homóninas circunvoluções temporais; a sexta lo-
rieto-occipital, incluindo a circunvolução angular caliza-se na face medial e denomina-se cuneos.
(área 39). Esta área associa-se à área de Broca por
meio de um feixe de fibras designado por "feixe Áreas funcionais
arqueado"; recebe fibras provenientes do cortex
visual e do córtex auditivo, estando implicada na No lobo occipital podem descrever-se três áreas
compreensão da linguagem falada e escrita e na funcionais:
capacidade de ler uma frase, percebe-la e repeti- • Área visual primária;
-la; a sua lesão condiciona uma afasia de recepção • Área visual secundária;
ou afasia fluente, i.e., os doentes conseguem fa- • Campo ocular occipital.
lar fluentemente, embora o seu discurso seja des-
provido de senso/conteúdo, mas não conseguem A área visual primária (áreas 17 de Brodmann) lo-
compreender a linguagem falada ou escrita. caliza-se nas paredes do sulco calcarino (situado na
A área olfactiva primária localiza-se no polo face interna dos hemisférios, e que separa de for-
temporal, ocupando a porção anterior do un- ma particularmente marcada a quinta da sexta cir-
cus e da circunvolução para-hipocampica (áreas cunvolução occipital); estende-se também em tor-
pré-piriforme e peri-amigdalina); apresenta co- no do polo occipital, na face externa dos hemisfé-
nexões importantes com áreas corticais adjacen- rios. Recebe, através de fibras provenientes do cor-
tes que fazem parte do sistema límbico. Tem por po geniculado externo informação proveniente da
função a recepção das sensações olfactivas. A le- metade homolateral da retina, a qual fornece in-
são destrutiva desta área determina uma perda da formação sobre a metade contralateral do campo
527
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
de visão; por outro lado, o campo visual inferior vés das vias do tacto discriminativo) e com fun-
projecta-se na parede superior do sulco calcari- ções linguísticas.
no e o campo visual superior na sua parede infe-
rior. A área central da retina, ou mácula lútea, que 1.1.6. LOBO DO CORPO CALOSO OU
corresponde à área de maior acuidade visual, tem C/NGULAR
uma representação cortical desproporcionalmen-
te grande face às suas dimesões na retina; esta O lobo do corpo caloso é constituído por uma
área projecta-se na porção posterior da área vi- única circunvolução, a circunvolução do corpo ca-
sual primária, ao passo que as regiões mais peri- loso ou cingular. Este lobo é limitado superior-
féricas da retina, se projectam na porção anterior mente pelo sulco caloso-marginal e inferiormente
desta mesma área. pelo sulco peri-caloso, continua-se posteriormente
Uma lesão destrutiva da área visual primária con- com a circunvolução hipocâmpica, constituindo a
diona uma perda de visão no campo visual con- circunvolução límbica. Esta estrutura faz parte in-
tralateral, i.e., uma hemianópsia homónima con- tegrante do sistema límbico e será abordada deta-
tralateral. lhamente num capítulo específico.
A área visual secundária ou de associação (áreas
18 e 19 de Brodmann) localiza-se na periferia da
área visual primária; é responsável pela interpre- PERGUNTAS TIPO
tação (gnosia) das imagens recebidos na área pri-
mária, comparando-os com experiencias anterio- 1. Relativamente à dominância cerebral, assina-
res. Uma lesão desta área conduz a uma agnosia le a alínea correcta:
visual, isto é, o doente consegue ver, aperceben- a. Na maioria dos adultos a linguagem e a
do-se das características da imagem, mas não re- preferência manual são controladas pelo
conhece o que vê. hemisfério direito.
A área ou campo ocular occipital situa-se na área b. Na maioria dos adultos a linguagem e a
visual secundária, sendo responsável pelo movi- preferência manual são controladas pelo
mento conjugado dos olhos para o lado contra- hemisfério esquerdo.
lateral, tal como sucedia relativamente ao cam- c. A idade a partir da qual se estabelece a do-
po ocular frontal, mas ao contrário desta, a de- minância cerebral não tem qualquer im-
terminação do movimento ocular é reflexa, invo- portância clínica.
luntária, estando dependente de um estimulo vi- d. Se uma lesão cerebral ocorrer na infância,
sual contínuo. antes de que uma criança tenha aprendi-
do a falar, é possível o desenvolvimento da
1.1.5. LOBO DA INSULA linguagem no hemisfério contralateral, in-
tacto.
O lobo da insula situa-se na profundidade do sul- e. B e D estão correctas.
co lateral, tornando-se evidente se afastarmos os
seus lábios superior e inferior; tem uma forma 2. Relativamente ao córtex pré-frontal, assinale
triangular de base superior e vértice anterior e in- a alínea correcta:
ferior, separando-se dos lobos contíguos pelo sul- a. Localiza-se anteriormente em relação à
co circunferencial de Reil. Apresenta cinco circun- área pré-motora, ocupando as áreas 44 e
voluções, individualizadas por quatro sulcos: 3 an- 45 de Brodmann.
teriores, menores; 2 posteriores, mais volumosas. b. Localiza-se posteriormente em relação à
Os aspectos funcionais da insula são ainda pouco área pré-motora, ocupando as áreas 9-12,
conhecidos,julgando que o cortex insular anterior 46 e 47 de Brodmann.
esteja relacionado com o olfacto e o gosto, e que c. A sua lesão unilateral, direita ou esquerda,
o córtex insular posterior esteja relacionado com a nível da convexidade, condiciona altera-
funções somato-sensoriais (nomeadamente atra- ção da capacidade de julgamento, distrac-
528
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: CÉREBRO
529
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
Fig. 10.1.24: Secção do cérebro a nível do corpo caloso: Centro Oval. Fig. 10.1.25: Núcleos opto..estriados e cápsula interna.
1. Córtex Cerebral 2. Centro Semi-Oval 3. Corpo Caloso 1. Núcleo caudado 2. Tálamo 3. Fibras verticais da cápsula interna
4. Núdeo lenticular
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CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: SUBSTÂNCIA BRANCA DO CÉREBRO
2
3
~ .;:;;l~7'-- - - - - 4
11
A cápsula interna situa-se entre o núcleo lenticu- -corticais e córtico-talârnicos, que conectam o nú-
lar por fora e o núcleo caudado e tálamo por den- cleo dorso-mediano do tálamo ao córtex pré-fron-
tro. É constituída pelos seguintes segmentos: an- tal e o núcleo anterior do tálamo ao córtex do cín-
terior, joelho, posterior, retrolenticular e sublenti- gulo e feixes caudado-lenticulares.
cular. Em corte axial, tem a forma de um V aber- O joelho da cápsula interna contém o "feixe geni-
to para fora em que o vértice corresponde ao joe- culado", assim designado por atravessar a cápsula
lho. O joelho marca a transição entre o braço an- ao nível do joelho, é também denominado de "fei-
terior e o braço posterior da cápsula interna. xe córtico-nuclear" e destina-se aos núcleos moto-
O braço anterior mede aproximadamente 2 cm em res dos nervos cranianos.
comprimento e situa-se entre a face ântero-inter- No braço posterior da cápsula interna passam as
na do núcleo lenticular e a cabeça do núcleo cau- principais vias da motricidade e da sensibilidade.
dado. O braço posterior mede aproximadamen- Assim enumeram-se: o feixe piramidal, ou feixe
te 3-4 cm de comprimento e situa-se entre a face córtico-espinhal, que se destina aos cornos an-
póstero-interna do núcleo lenticular e a face exter-
na do tálamo. O segmento retro-lenticular situa-se 2
posteriormente ao núcleo lenticular, dispondo-se
externamente ao como occipital dos ventrículos 4
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
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9
8 L___j FIBRAS DE ASSOCIAÇÃO INTRA-HEMIS-
14 FÉRICAS
Fig. 10.1.28: Cápsula interna.
1. Feixe córtico-nudear 2. Feixe córtico-espinhal 3. Fibras córtico-talâ-
micas 4. Fibras tálamo-corticais 5. Radiações auditivas 6. Radiações As fibras de associação intra-hemisféricas trans-
ópticas de Gratiolet 7. Fibras córtico-rubricas 8. Corpo geniculado mitem impulsos entre diferentes áreas corticais
externo do tálamo 9. Corpo geniculado interno do tálamo 10. Braço
Anterior da Cápsula Interna 11. Joelho da Cápsula Interna 12. Braço de um mesmo hemisfério cerebral, coordenando
Posterior da Cápsula Interna 13. Segmento Sublenticular da Cápsula a sua actividade.
Interna 14. Segmento Retrolenticular da Cápsula Interna
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CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: SUBSTÂNCIA BRANCA DO CÉREBRO
Existem fibras de associação curtas, também de- por vezes na cápsula extrema. Relaciona-se com a
signadas "fibras em U (de Meynert)" ou "fibras parede externa dos cornos temporal e occipital dos
arqueadas", que unem circunvoluções adjacentes, ventrículos laterais. No lobo occipital está separa-
e fibras de associação longas que unem áreas cor- do do corno occipital pelas radiações ópticas e pelo
ticais de lobos diferentes. tapete (ver adiante). A lesão do feixe longitudinal
Podem-se descrever cinco feixes bem individuali- inferior pode causar agnosia, prosopagnosia e pre-
zados de fibras de associação longas (Fig.10.1.30). judicar a memória visual de curto prazo.
O feixe fronto-occipital une o lobo frontal aos lo-
bos temporal e occipital. Localiza-se na profundi-
dade do cérebro em relação com o bordo externo
do núcleo caudado, descrevendo uma curva aber-
ta para baixo e para diante. Passa por fora da cáp-
sula interna e relaciona-se também com as paredes
súpero-externas dos cornos temporais e occipitais
dos ventrículos laterais. O sector inferior deste fei-
xe também se designa feixe fronto-occipital infe-
rior e liga áreas da linguagem frontais e temporais.
O feixe unciforme ou uncinado une o pólo fron-
tal ao pólo temporal, atravessando o fundo do rego
de Sylvius.
4 O feixe do cíngulo ou cingular (cingulum) é um
Fig. 10.1.30: Fibras de associação longas intra-hemisféricas. feixe que une várias regiões corticais do lobo lím-
1. Feixe do Cíngulo 2. Feixe Longitudinal Superior 3. Feixe Longitudi- bico, dispondo-se desde a circunvolução do cín-
nal Inferior 4. Feixe Unciforme
gulo (supra-calosa) até à circunvolução para-hipo-
câmpica (5.ª circunvolução temporal).
O feixe longitudinal superior é constituído por fei- No encéfalo, para além destes feixes de associa-
xes bi-direccionais que se dispõem externamente ção que ligam áreas corticais, existem feixes de as-
ao Cento Oval e unem os lobos frontal ao occipi- sociação telencéfalo-diencefálicos ou telencéfalo-
tal, emitindo também fibras para os lobos parietal -mesencefálicos. A seguir serão enumerados al-
e temporal. Algumas fibras partem do lobo fron- guns destes feixes, que serão descritos novamen-
tal até regiões corticais adjacentes à porção poste- te noutros capítulos.
rior do rego de Sylvius e daí irradiam para o lobo
occipital. Outras fibras do lobo frontal passam ao
3
lado e inferiormente ao putámen e irradiam para
as porções anteriores do lobo temporal.
O feixe arqueado (Fig. 10.1.31) pode considerar-
-se integrado no feixe longitudinal superior. As fi-
bras partem da circunvolução temporal superior e
circunvolução supramarginal contornam a extre-
midade posterior do rego de Sylvius e terminam
no córtex pré- motor ventral e córtex pré-frontal.
Este feixe liga a área de Wernicke à área de Broca.
Uma lesão nesta via causa uma afasia de condução,
em que a compreensão e a articulação do discurso
estão preservadas, mas os pacientes têm dificulda-
de em repetir um discurso.
O feixe longitudinal inferior une o pólo temporal
ao lobo occipital, situando-se na cápsula externa e Fig.10.1.31: Feixe arqueado.
1. Feixe Arqueado 2. Área de Wernicke 3. Área de Broca
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
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CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: SUBSTÂNCIA BRANCA DO CÉREBRO
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
4
Fig. 10.1.37: Trígono Cerebral.
10 1.Corposmamilares 2. FibrasdeAssociaçãolntra-hemisféricas 3. Corpos
Amigdalinos 4. Saltério
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coNTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: SUBSTÂNClA BRANCA DO CÉREBRO
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Rg. 10.1.38: Corte transversal do cérebro, observando-se o trígono Fig. 10.1 .39: Comissuras diencefálicas.
cerebral. 1. Comissura inter-retiniana 2. Comissura de Gudden 3. Comissura
1. Joelho do corpo caloso 2. Cabeça do núdeo caudado 3. Septo Lú- intertuberiana 4. Comissura interestriada 5. Comissura subtalâmica
cido 4. Corpo do trigono 5. Saltério 6. Pilares posteriores do trígono 6. Comissura Branca Posterior 7. Comissura interhabenular
7. Espfénio do corpo caloso 8. Como occipital dos ventrículos laterais
9. Encruzilhdada dos ventrículos laterais 10. Fímbria 11 . Hipocampo
12. Corno temporal dos ventrículos laterais.
ta e uma camada de substância branca, mais exter- contribuindo para o reflexo fotomotor consensual.
na, revestida pelo epêndima dos ventrículos late- A Comissura habenular (Fig. 10.1.39) está situa-
rais. O septo lúcido recebe fibras do feixe prosen- da no bordo posterior da membrana tectória do
cefálico medial participando em circuitos de re- III ventrículo. Interpõe-se entre duas eminências
compensa e na modulação do humor. E m mode- triangulares, os trígonos da habénula, onde se si-
los animais, lesões do septo lúcido estão associadas tuam os núcleos habenulares, estabelecendo liga-
a estados de raiva. ção entre os mesmos.
As comissuras diencefálicas unem estruturas com A Comissura interestriada (de Meynert) contem
origem embrionária proveniente da vesícula dien- fibras que atravessam o subtálamo e ligam os dois
cefálica (Fig.10.1.39). globos pálidos, emitindo também fibras para a
A Comissura branca posterior (Fig. 10.1.35) mar- substância inominada.
ca a transição entre o mesencéfalo e o diencéfalo, A Comissura subtalâmica (de Farei) liga núcleos
situando-se abaixo da epífise e acima do orifício da região subtalâmica, em especial o núcleo sub-
superior do aqueduto cerebral (de Sylvius). É atra- talâmico (ou núcleo de Luys).
vessada por fibras que unem os pulvinares, os cor- A Comissura intertuberiana localiza-se na porção
pos geniculados externos, os tubérculos quadrigé- inferior do infundíbulo do hipotálamo, atravessa o
meos superiores, os núcleos motores dos III e IV pavimento do III ventrículo, ligando núcleos hi-
nervos cranianos e também os locus niger e os nú- potalâmicos.
cleos rubros. Contem também fibras que conec- A Comissura inter-retiniana atravessa a porção
tam o núcleo pré-tectal com o núcleo de Wedin- anterior do quiasma óptico e liga as duas retinas,
ger-Westphall contralateral do III nervo craniano, estabelecendo conexões vegetativas.
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MANUAL DE ANATOM1A HUMANA
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CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: SUBSTÃNCIA BRANCA DO CÉREBRO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CONTROLO E INTEGRAÇÃO j SISTEMA NERVOSO CENTRAL: NÚCLEOS CINZENTOS CENTRAIS
Conexões
Núcleos Funções
Sectores
Aferentes Eferentes
Núcleo mediano
Formação reticular D esconhecido D esconhecido
(CIT)
- Feixe mamilotalâmico,
Tónus emocional,
Giro do cingulo, mecanismos da
Anterior Núcleo anterior giro do cingulo,
hipotálamo memória recente (pelo
hipotálamo
circuito de Papez)
Ventral póstero- Vias trigeminais, via Área somatoestésica Constituinte das vias
medial gustativa primária sensitivas
Lateral
(ventral)
Ventral póstero- L emnisco espinhal e Área somatoestésica Constituinte das vias
lateral interno primária sensitivas
Dorsal lateral
Lateral Função de integração.
(dorsal) Dorsal lateral Modulam funções de
Córtex cerebral, outros núcleos talârnicos
Posterior linguagem ou visuo-
espaciais corticais
Pulvinar
Tubérculo quadrigémeo
inferior, lemnisco Radiações auditivas para
Gânglio geniculado
lateral (de ambos os giro transverso de H eshl Integra a via auditiva
Posterior medial
ouvidos, principalmente no lobo temporal
contralateral
Tabela 10.1.1: Sectores, núcleos, cone)(ões aferentes, conexões eferentes e funções do tálamo.
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
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Fig. 10.1.46A: Núcleos do Tálamo, vista superior. Fig. 10.1.46B: Núcleos do Tálamo, corte coronal.
Vermelho: Núcleos Laterais Amarelo: Núcleos Anteriores Azul: Núcleos Vermelho: Núcleos Laterais Amarelo: Núcleos Anteriores Azul:Nú~
Mediais cleos Mediais
1. Núcleo Anterior 2. Lâmina Medular Interna 3. Núcleo Ventral 1. Lâmina Medular Interna 2. Núcleos lntralaminares 3. Núcleo Dorsal
Anterior 4. Núcleo Ventral Lateral 5. Núcleo Dorsal Lateral 6. Núcleo Lateral Posterior 4. Lâmina Medular Ex.terna 5. Núcleo Reticular
Ventral Póstero Medial 7. Núcleo Ventral Póstero Lateral 8. Corpo 6. Núcleo Vent ral Póstero Lateral 7. Núcleo Ventral Póstero Medial
Geniculado Lateral 9. Corpo Geniculado Medial 10. Pulvinar 11. Nú- 8. Núcleo Centromediano 9. Grupo Medial 10. Núcleos Medianos
cleo Dorsal Lateral Posterior 12. Núcleo Dorso-Medial 13. Aderência 11. Núcleo Dorso Medial
lntertalâmica com Núcleos Medianos
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CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: NÚCLEOS CINZENTOS CENTRAIS
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Fig. 10.1.48: Núcleo Caudado, esquema tridimensional. Fig. 10.1.49: Núcleo Caudado, esquema em plano axial.
1. Cabeça do Núcleo Caudado 2. Corpo do Núcleo Caudado 1. Corpo Caloso ijoelho} 2. Corno Frontal do Ventrículo Lateral
3. Ventrículo Lateral 4. Cauda do Núcleo Caudado 5. Quarto Ventrí- 3. Cabeça do Núcleo Caudado 4. Núcleo Lenticular 5. Claustrum
culo 6. Cerebelo. ou Antemuro 6. Tálamo 7. Cauda do Núcleo Caudado 8. Corno
Posterior ou Occipital do Ventrículo Lateral 9. Corpo Caloso (Debrum
ou Esplénio) 10. Terceiro Ventrículo 11. Braço Posterior da Cápsula
Interna 12. Joelho da Cápsula Interna 13. Buraco Interventricular ou
de Monro 14. Septo Pelúcido.
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CONTROLO E INT EGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: NÚCLEOS CINZENTOS CENTRAIS
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
:a-z :a-i
:S<lsodso11
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HIPOTÁLAMO, EPITÁLAMO E ÓRGÃOS cidência - o tuber cinéreo- A parte mais ventral do
NEUROENDÓCRINOS tuber cinéreo é a eminência mediana. Esta conti-
nua-se com a haste infundibular que por sua vez
é contínua com o lobo posterior da hipófise. Em
INTRODUÇÃO secções coronais o hipotálamo é limitado lateral-
mente atrás pelo subtálamo, à frente e medialmen-
O J-Iipotálamo constitui a parte inferior do dien- te pelo III ventrículo (Fig.10.1.52).
céfalo. É formado de cada lado por um conjun-
to de núcleos com grande importância na regula-
ão de múltiplos aparelhos e sistemas. Apesar de DIVISÕES E NÚCLEOS DO HIPOTÁLAMO
~er apenas cerca de 4g e constituir cerca de 0,3- (FIG.10. 1.52, 10. 1.53)
0 5% do volume total do cérebro, é uma das zonas
~ais importantes do sistema nervoso pois consti- O Hipotálamo é atravessado de cada lado pelo
tui a sede de controlo central das funções vegetati- pilar anterior do trígono que se dirige de cima
vas, do sistema endócrino, através das suas relações para baixo e da frente para trás terminando no
com a hipófise, dos ritmos circundiários e perten- respectivo corpo mamilar. Relativamente ao pi-
ce ao sistema límbico. lar anterior do trígono é possível dividir o Hi-
Dispõe-se ao longo das paredes laterais do III potálamo numa área medial pobre em fibras de
ventrículo, abaixo do sulco hipotalâmico (Monro), mielinicas, onde predominam núcleos de subs-
que o sep~a do tálamo, situado acima e atrás (Fig. tância cinzenta, e numa área lateral onde predo-
10.1.51). E limitado à frente pela comissura ante- minam as fibras mielinizadas de direcção longi-
rior, lâmina terminal e quiasma óptico; posterior- tudinal do feixe prosencefálico medial que liga a
mente pela fossa interpeduncular. Na sua superfl:- área septal, o hipotálamo e o tegmento do me-
cie ventral, caudalmente ao quiasma óptico, o hi- sencéfalo. O Hipotálamo medial pode ainda ser
potálamo estreita-se formando uma pequena pro- dividido em Hipotálamo supraóptico ou supra-
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
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B
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36
32
3 5 -- - --
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H
Fig. 10.1.52: Hipotálamo: cortes coronais de anterior (A) para posterior (C).
A: 1. Buraco de Monro 2. Colunas ou Pilares do Trígono/Fórnix 3. Ansa Lenticular 4. Núcleo Paraventricular 5. Área Hipotalâmica Lateral
6. Área Hipotalâmica anterior 7. Núcleos Periventriculares 8. Quiasma Óptico 9. Núcleo Supra-Óptico 10. Terceiro Ventrículo
B: 11. Feixe Mamilo-Talâmico 12. Terceiro Ventrículo 13. NúcleoCaudado 14. Tálamo 15. Braço Posterior da Cápsula Interna 16. Putamen 17. Globo
Pálido 18. Via Óptica 19. Núcleo Supra-Óptico 20. Área Hipotalâmica Lateral 21. Núcleos Tuberais 22. Núcleos Arqueados 23. Núcleos
Periventriculares 24. Núcleo Ventre-Medial 25. Núcleo Dorso-Medial 26. Área Hipotalâmica Dorsal
C: 27. Tálamo 28. Terceiro Ventrículo 29. Campos de Forel 30. Putamen 31. Globo Pálido 32. Hipocampo 33. Feixe Mamilo-Talâmico 34. Área
Hipotalâmica Posterior 35. Núcleos Mamilares 36. Decussação Supra-Mamilar 37. Área Hipotalâmica Lateral 38. Núcleo Subtalâmico
quiasmático (anterior), tuberal (médio) e mami- telencéfalo) que se estendem da comissura anterior
lar (posterior). até ao quiasma, imediatamente atrás da lâmina ter-
minal. A zona pré-óptica recebe muitas fibras que
HIPOTÁLAMO MEDIAL transportam neuromediadores como a angiotensi-
na II, péptidos indutores do sono e encefalinas/en-
O Hipotálamo supraóptico compreende a parte si- dorfinas. Contém os núcleos pré-óptico medial e
tuada acima do quiasma óptico até ao sulco hipo- lateral e atrás os núcleos pré-ópticos periventricu-
talâmico. Inclui a zona pré-óptica com os núcleos lares. No núcleo pré-óptico medial produz-se hor-
pré-ópticos (que derivam embriologicamente do mona libertadora de gonadotrofinas (GRH) que
550
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: HIPOTÁLAMO
551
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
A cápsula medial é constituida pelo feixe mami- sidade ao núcleo supraquiasmático, que desempe-
lotalâmico (Vicq d'Azyr) e pelo feixe mamiloteg- nha um papel importante na regulação dos ritmos
mental (Gudden), fibras eferentes do hipotálamo circundiários.
para o núcleo anterior do tálamo e tegmento do
mesencéfalo, respectivamente. A cápsula lateral é 4. Hipocampohipotalâmica
constituída pelo pilar anterior do fórnix, aferente Têm origem nas células piramidais do hipo-
proveniente do hipocampo. No seu contorno exis- campo e subículo e chegam aos corpos mamila-
tem núcleos satélites como o núcleo pré-mami- res através do trígono ou fórnix. Ao nível da co-
lar, núcleo intercalado e os núcleos supramamila- missura anterior algumas fibras destacam-se e li-
res. Nesta zona a área hipotalâmica lateral encon- gam-se à zona préoptica e tuberal.
tra-se reduzida e surge uma nova massa de células,
o núcleo posterior. Esta é a principal fonte de fi- 5. Amigdalohipotalâmicas
bras descendentes para o tronco cerebral. Com origem no complexo amigdalino, estas fi-
bras seguem um trajecto arciforme ao longo do
núcleo caudado formando a Estria terminal. Es-
CONEXÕES DO HIPOTÁLAMO tas fibras terminam na região préoptica e ventro-
medial do hipotálamo. Existe outra via, amigda-
O Hipotálamo, apesar de anatomicamente peque- lofugal, cujas fibras passam inferiormente ao nú-
no, tem muitas conexões com outras áreas do Sis- cleo lenticular e terminam no hipotálamo lateral.
tema Nervoso, reflectindo o seu papel na integra-
ção endócrina, autonómica e somática. A maior 6. Corticohipotalâmicas
parte dessas vias funciona nos dois sentidos; umas Qie têm origem no lobo frontal e passam di-
formam feixes bem definidos, outras são de difí- rectamente ou através do tálamo, via fibras tála-
cil individualização. As conexões aferentes e efe- mohipotalâmicas (com origem no núcleo dorso-
rentes são numerosas e complexas, as mais impor- medial do tálamo) ao hipotálamo. As que têm
tantes são: origem no córtex orbitofrontal terminam no hi-
potálamo posterior e as que têm origem no cór-
CONEXÕES AFERENTES DO HIPOTÁLAMO tex préfrontal medial terminam no hipotálamo
(FIG.10. 1.54) anterior e tuberal.
552
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: HIPOTÁLAMO
arte superior do mesencéfalo (substância cin- mina nos núcleos da calote mesencefálica e nas cé-
3 Pta periaqueductal) ao hipotálamo medial. lulas da formação reticular.
zen
_pedúnculo Mamilar Inferior 3. Fibras descendentes
10
feixe de fibras que une os núcleos dorsais e ven- Para o tronco cerebral e medula espinhal, com ori-
·s do tegmento do mesencéfalo aos corpos
tf31
gem no hipotálamo (núcleo paraventricular, zo-
rnamilares. nas hipotalâmica lateral e posterior); estas fibras
chegam directamente ou via formação reticular à
11- fibras Pálidohipotalâmicas e Cerebelohipo- porção craniosagrada e toracolombar do Sistema
calãmicas que têm origem no núcleo lenticular Nervoso Parassimpático e Simpático respectiva-
e núcleos cerebelosos e terminam no hipo tála- mente.
rno ventromedial e lateral/posterior respectiva-
rnente. 4. O Fórnix, Feixe Prosencefálico Medial, Feixe
Longitudinal Dorsal, Estria Terminal e feixes que
14 unem o hipotálamo ao tálamo, cerebelo e córtex
pré-frontal são vias que funcionam nos dois senti-
3 dos (aferentes e eferentes).
553
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
VIA HIPOTÁlAMOHIPOFISÁRIA 11
(FIG.10.1.55)
VIA TUBEROINFUNDIBUlAR
(FIG. 1O. 1.56)
554
CONTRO LO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: HIPOTÁLAMO
---
crc:scirnento (GHRH) cartilagens epi.fisárias
-Somatostat:1na
Tabela 10.1.2: As hormonas hipotalâmicas estimuladoras e inibidoras da libertação hormonal no lobo anterior da hipófise
555
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
556
CONTROLO E INTEGRAÇÃO [ SISTEMA NERVOSO CENTRAL: HIPOTÁLAMO
2
CONSIDERAÇÕES ANATOMO-CLÍNICAS
tidade de urina;
• Alterações do sono como insónias ou perío- 14
dos de sono diurnos;
• Alterações emocionais como ataques de rai- 6
va, episódios maníacos ou depressivos, riso in-
controlável e inexplicável, etc.
8
557
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
MELATONINA
4 2
3
rior do III ventrículo. Na transição da lâmina qua- produzida pela pineal, denominada "me!atonina".
drigémea para a epífise encontra-se a comissura Durante o dia as fibras simpáticas têm pouca ac-
posterior, uma das principais comissuras dience- tividade e a quantidade de melatonina na pineal e
fálicas, que constitui o pedúnculo inferior da epí- circulação são muitos baixos. À noite a inervação
fise e marca o limite entre o diencéfalo e o me- simpática é activada e os níveis de melatonina cir-
sencéfalo. Nos vertebrados inferiores, por exemplo culante aumentam cerca de dez vezes. A síntese de
nos peixes, anfibios e alguns répteis, a epífise é um melatonina obedece assim a um ritmo circadiário
órgão fotosensível que recebe os estímulos lumi- com pico durante a noite e que depende da activi-
nosos através da pele ou crânio, regista as altera- dade rítmica do núcleo supra-quiasmático do hi-
ções de luminosidade e influencia deste modo va- potálamo. Admite-se também que no homem a
riações de pigmentação cutânea ou mudanças no epífise e a melatonina tenham uma acção inibitó-
comportamento do animal. Nos vertebrados su- ria na maturação dos órgãos sexuais até à puber-
periores e no homem as células diferenciam-se em dade exercendo uma actividade antigonadotrófica.
pinealocitos agrupados em lóbulos separados por A Habénula (Fig. 10.1.59), formação nervosa si-
septos de tecido conjuntivo, passando assim a ser tuada entre a glândula pineal e a parte posterior
um órgão parenquimatoso e secretor. A Epífise do da face medial do tálamo, constitui o pedúnculo
adulto pode conter calcificações que aparecem nos superior da epífise. C om a forma de um peque-
exames de imagem. É uma glândula muito vas- no triângulo prolonga-se para a frente ao longo do
cularizada e os capilares possuem fenestrações ao tálamo até ao hipotálamo anterior formando uma
contrário dos demais capilares do cérebro - ausên- estria, a estria habenular, estria medular ou ténia
cia de barreira hemato-encefálica. do tálamo, sobre a qual se insere a tela coroideia
A inervação da pineal (Fig. 10.1.58) faz-se por fi- do III ventrículo. Constitui um sistema de rela-
bras simpáticas pós-ganglionares provenientes do ção que transmite informação proveniente do ol-
gânglio cervical superior que entram no crânio facto aos núcleos eferentes (motores e salivares) do
pelo plexo carotídeo e terminam em relação com tronco cerebral explicando em parte a influência
os pinealócitos e os vasos, depois de sinapsarem no do olfacto na alimentação; Vias aferentes chegam
núcleo supraquiasmático do hipotálamo anterior. à habénula por intermédio da estria habenular ou
Embora alguns aspectos da fisiologia da glându- medular do tálamo que contém fibras que provêm
la permaneçam desconhecidos a descoberta mais da área septal, paraolfactiva, tubérculo olfactivo e
importante nesta área foi feita em 1958 por Ler- área pré-óptica; recebe também fibras do núcleo
ner e colaboradores quando isolaram a hormona amigdalino através da estria terminal que se jun-
558
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: HIPOTÁLAMO
PERGUNTAS TIPO
10 9 8 7
1. Relativamente ao Hipotálamo assinale a afir-
Fig. 10.1.59: Epitálamo: Conexões da Habénula.
Estria Terminal 2. Estria Habenular ou Medular 3. Habénula mação correcta:
!· Glândula Pineal ou Epífise 5. Feixe Habénulo-Tectal 6. Feixe a. A área pré óptica está localizada entre a
H.abénulo-Tegmental 7. Núcleo Dorsal da Calo~e 8. Feixe Habélu-
o-Peduncular ou Retroreflexo de Meynert 9. Nucleo lnterpeduncular comissura branca anterior e o quiasma
~O. Corpo Amigdalina ou Amígdala 11. Hipófise 12. Quiasma Óptico óptico.
3. Região do Tubérculo Olfactivo e Paraolfactiva 14. Região Pré--Óp-
1
tica 15. Região Septal
b. Dispõe-se nas paredes laterais do III ven-
trículo, abaixo e à frente do tálamo.
ta à estria medular. As vias eferentes dirigem-se c. O seu limite lateral é constituído pela
ao mesencéfalo pelos feixes habénulo-tectal, ha- cápsula branca interna.
bénulo-tegmental e habénulo-peduncular ou feixe d. Todas estão correctas.
retroreflexo (Meynert) que ligam a habénula aos e. A e B estão correctas.
tubérculos quadrigémeos anteriores, núcleo dor-
sal da calote e ao núcleo interpeduncular respecti- 2. No que diz respeito às conexões mais impor-
vamente. Ao nível da calote mesencefálica verifi- tantes do hipotálamo assinale a afirmação
ca-se uma conexão com o feixe longitudinal dor- correcta:
sal (Schütz) que transporta informação olfactiva a. O feixe mamilo-tegmental tem origem
aos núcleos motores dos músculos da mastigação nos corpos mamilares e termina no bulbo.
e deglutição e aos núcleos salivares. b. As hormonas ocitocina e vasopressina
A Comissura Branca Posterior é constituída por chegam à adenohipófise via sistema por-
fibras de origem muito variada e parcialmente ta hipofisário.
desconhecidas. Entre elas destacam-se as fibras c. O feixe de Vicq d'Azyr une os corpos ma-
que, da área pré-tectal de um lado, cruzam para o milares aos núcleos anteriores do tálamo.
núcleo de Edinger-Westphal, do lado oposto, in- d. As fibras amigdalohipotalâmicas consti-
tervindo no reflexo consensual da visão. Nela cru- tuem o principal output do Sistema Lím-
zam também para o lado fibras habénulo-tectais e bico.
fibras vestibulares. Dos diversos núcleos pré-tec- e. As fibras hipocampohipotalâmicas che-
tais que emitem fibras para a comissura posterior gam aos corpos mamilares via estria ter-
destacam-se os núcleos intersticial de Cajal e o minal.
núcleo de D arkschewitsch.
3. Relativamente ao Sistema Neuroendócrino
CONSIDERAÇÕES ANÁTOMO-CLÍNICAS assinale a afirmação falsa:
a. A Hipófise funciona sob controlo dos
Tal como nos animais atribui-se à Epífise, no ho- centros hipotalárnicos.
mem, uma função antigonadotrófica pois em caso b. A Neurohipófise constitui um prolonga-
de destruição da Epífise na criança pré-puberda- mento do pavimento do Diencéfalo.
559
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
• ••
560
SISTEMA LÍMBICO do processadas neste complexo sistema uma sé-
rie de funções vitais do sistema nervoso central.
O sistema límbico localiza-se bilateralmente ao Com efeito, uma das principais funções do "siste-
tálamo e apresenta contribuições complexas de di- ma límbico" parece ser o processamento das emo-
versas estruturas do encéfalo, nomeadamente, te- ções (e do comportamento emocional) e a inte-
lencéfalo, diencéfalo e mesencéfalo. O termo "lím- gração de todas as informações sensitivas no que
bico" deriva do latim "limbus", que significa lim- se designa genericamente como "sentimentos"2 •
bo, borda ou margem. Esta designação foi origi- Esta função parece estar intimamente relaciona-
nalmente utilizada por Thomas Willis no século da com a formação de memórias, outra função crí-
XVII para identificar uma área cortical de fron- tica do sistema límbico. Comprovando a mencio-
teira que se localiza em torno do tronco cerebral. nada heterogeneidade fi.mcional do sistema límbi-
Paul Broca, no século XIX, considerou que "o co, localizam-se nesta região importantes funções
grande lobo límbico"1 era uma estrutura presente relacionadas com o olfacto, a orientação no espaço,
nos cérebros de vários mamíferos essencialmente a organização temporal do comportamento, várias
envolvida no processamento de informações olfa- modalidades de aprendizagem e a motivação; to-
tivas, apesar de poder estar associado a outras fim- das estas atividades estão dependentes, em maior
ções. Efetivamente, ao contrário da face lateral do ou menor grau, de estruturas neuronais consti-
córtex cerebral, cujo desenvolvimento é muito re- tuintes do sistema límbico. Este sistema é ainda
cente em termos evolutivos, as estruturas límbicas capaz de influenciar a atividade do sistema endó-
localizadas na face medial de ambos os hemisfé- crino e do sistema nervoso autónomo.
rios surgem com espantosa similitude em cérebros
de muitos mamíferos.
Foi durante a primeira metade do século XX que,
graças ao trabalho de ChristifieldJakob,James Pa-
pez, Paul Yakovlev e Paul Maclean, o conceito de
sistema límbico, também considerado como "cére-
bro visceral", foi sendo sucessivamente estruturado
e ampliado com base em critérios morfofuncio-
nais. Os primeiros modelos relativos ao seu fun-
cionamento foram também propostos nessa épo- 2
1 Na versão original, em francês, o autor referiu-se a "!e grande iobe 2 "Sentimentos" designa, neste contexto, o conjunto de emoções,
/imbique". afetos e humor.
561
MANUAL D E ANATOMIA HUMANA
12
11
3 4
12
11
9 10
10
9
Fig. 10.1.61: Hipocampo e suas relações com as estruturas vizinhas.
1. Corpo do Núcleo Caudado 2. Corpo do Ventrículo Lateral 3. Estria Terminal 4. Fórnix 5. Corno Frontal do Ventrículo Lateral 6. Cabeça
do Núcleo Caudado 7. Circunvolução Denteada 8. Amígdala 9. Hipocampo 10. Corno Temporal do Ventrículo Lateral 11 . Cauda do Núcleo
Caudado 12. Átrio do Ventrículo Lateral
562
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: SISTEMA LÍMBICO
563
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
13
2. AM(GDALA
564
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: SISTEMA LÍMBICO
da em termos evolutivos, estando presente em to- co. Apesar de parecer uma generalização exage-
dos os vertebrados. Estruturalmente, é composta rada, esta inclusão é plenamente justificada pelo
por neurónios de tamanho médio, principalmen- facto de os corpos mamilares se situarem na parte
te GABAérgicos, e agrupados em grupos medial, mais posterior do hipotálamo. Estes núcleos rece-
lateral e posterior. A principal aferência das áreas bem uma projeção importante do hipocampo, via
septais são fibras glutamatérgicas, com origem fímbria/fórnix, e projetam para o núcleo anterior
no hipocampo, via fímbria/fórnix. O septo pos- do tálamo, desempenhando um papel essencial em
terior tem poucas interconexões com as restantes circuitos de memória.
áreas, projetando quase em exclusivo para habénu-
la, uma estrutura, tal como o accumbens, envolvi-
da na motivação. Pelo contrário, o septo lateral e o 6. CIRCUNVOLUÇÃO DO CÍNGULO
septo medial (que inclui o núcleo septal medial e
o núcleo da banda diagonal) estão profundamen- A circunvolução do cíngulo, córtex do cíngulo ou
te relacionados. Além das aferências hipocampais, cíngulo é urna região cerebral localizada medial-
o septo lateral recebe aferências vasopressinérgicas mente ao córtex cerebral e superiomente ao cor-
da amígdala ex.tendida (incluindo do núcleo basal po caloso. É parte integrante do sistema límbi-
da estria terminal), sujeitas a importante dimorfis- co e pode ser dividido em duas regiões principais:
mo sexual, e terminais peptidérgicos e monoami- uma porção anterior-dorsal (áreas 24, 32 e 33 de
nérgicos do hipotálamo, para onde também envia Brodmann), que constitui a maioria da substân-
projeções. A principal eferência do septo lateral é cia branca desta circunvolução, sendo que estas fi-
o septo medial, sendo aquele a principal aferência bras adoptam a forma do aspecto superior do cor-
deste. O septo medial contém, além de neurónios po caloso; e uma porção posterior-ventral (áreas
GABAérgicos, células colinérgicas, que projetam, 23, 31 e 29 de Brodmann), que corre na circun-
tal como as primeiras, para o hipocampo, desem- volução parahipocampal, circunvolução do cíngu-
penhando um papel crucial no funcionamento da- lo retroesplenial e pré-cunha posterior. Ao nível
quela estrutura. Estas projeções fecham um cir- do cíngulo temos aferências talâmicas e neocor-
cuito cortico-subcortical, determinante nos pro- ticais, havendo posterior projecção de fibras para
cessos de memorização, que podemos esquemati- o córtex entorrinal, entre outras áreas cerebrais.
zar como: hipocampo > projeções glutamatérgicas Sendo parte integrante do sistema límbico, a cir-
> septo lateral > projeções GABAérgicas > sep- cunvolução do cíngulo contribui para o processa-
to medial > projeções colinérgicas/GABAérgicas mento das emoções e na formação das memórias
> hipocampo. e aprendizagem. A porção anterior parece desem-
penhar também um papel crítico na sinalização de
erros comportamentais e monitorização de confli-
5. HIPOTÁLAMO tos, enquanto a porção posterior integra a rede de
modo repouso ("default mode network'').
O hipotálamo é uma região muito complexa, si-
tuada na linha média inferior e anteriormente ao
tálamo, no pavimento do terceiro ventrículo. Os 7. CIRCUITO DE PAPEZ
seus inúmeros núcleos desempenham um pa-
pel crucial na regulação do metabolismo, da fun- A primeira descrição de um circuito integran-
ção cardiovascular e do ciclo-sono vigília, regulan- do as estruturas do complexo sistema límbico foi
do os principais eixos endócrinos e o sistema ner- feita por James Papez em 1937, a partir do es-
voso autónomo, entre muitas outras funções. Ten- tudo de doentes com lesões do hipocampo e do
do em conta as suas inúmeras conexões com áreas córtex do cíngulo que apresentavam perturbações
chave do sistema límbico, como o septo e a amíg- emocionais (Fig. 10.1.60). A partir de CAl, a in-
dala, alguns autores também incluem o hipotála- formação atinge o subículo, passando depois, via
mo como um dos constituintes do sistema límbi- fímbria e fórnix, para os corpos mamilares. Aqui
565
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
tem origem o feixe mamilotalâmico, que termina punha Papez, o hipocampo é o local de
nos núcleos anteriores do tálamo. Uma das prin- , . d a 1"nfiormaçao
sarnento cnt1co - espacial eProces
d ·
cipais eferências destes núcleos é a circunvolução ganização da memória declarativa de longoe ºr-
do cíngulo, a partir da qual a informação chega à zo (Fig. 10.1.64). Pra.
área parahipocampal e desta ao córtex entorrinal,
de onde atinge o corno de Amon, fechando o cir-
cuito. De uma forma simplista, este circuito se- 8, ASPECTOS ÇLÍNICOS DA ANATOMIA.
ria o seguinte: DO SISTEMA LIMBICO
1. Córtex entorrinal;
2. Circunvolução denteada; As alterações nos circuitos cerebrais que envol-
3. CA3; vem o sistema límbico parecem contribuir de fi
Or-
4. CAl; ma decisiva para o surgimento de uma série de
5. Subículo; patologias do neurodesenvolvimento, psiquiátri-
6. Corpos mamilares; cas e neurodegenerativas. Por exemplo, alterações
7. Núcleos anteriores do tálamo; de circuitos límbicos que envolvem o hipocarnpo/
8. Córtex do cíngulo; córtex entorinal parecem explicar parte dos défices
9. Circunvolução parahipocampal; de memória existentes em doentes diagnosticados
10. Córtex entorrinal. com a Doença de Alzheimer. Por outro lado, da-
nos em neurónios e tratos nervosos de componen-
De acordo com o postulado inicial de Papez, este tes deste sistema ajudam a explicar alguns casos de
circuito seria essencialmente responsável pelo epilepsia do lobo temporal medial ou dos síndro-
processamento dos comportamentos emocionais. mes de Wernicke- Korsakoff ou Kluver-Bucy.
No entanto, hoje sabemos que a rede de intera- O contínuo desenvolvimento de técnicas labo-
ções dentro do sistema límbico é muito mais vas- ratoriais que permitem o estudo de circuitos ce-
ta e complexa, desempenhando o sistema límbico rebrais em contexto fisiológico e doença; bem
no seu todo funções muito mais variadas e com- como, o desenvolvimento de técnicas mais avan-
plexas do que foi inicialmente postulado. A títu- çadas de imagem cerebral ajudarão no futuro a
lo de exemplo, a amígdala, que não está incluída elucidar com maior detalhe a organização estru-
na descrição original do circuito de Papez, pare- tural e funcional extremamente complexa do sis-
ce ser o principal centro coordenador da respos- tema límbico.
ta emocional e, inclusivamente, da memória das
emoções; por outro lado, ao contrário do que su-
566
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: SISTEMA LÍMBICO
567
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
VENTRÍCULOS E LÍOUOR
VENTRÍCULOS ENCEFÁLICOS
568
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: VENTRíCULOS E LÍQUOR
12 15 9
11
. ) e corpo do núcleo caudado (face superior). Interna 5. Núcleo Lenticular 6. Nervo Óptico 7. Lobo Temporal
8. Sulco Lateral ou de Sylvius 9. Lobo Frontal.
teralmente o tecto une-se directamente ao pa-
ento. A parede medial só existe na parte ante-
r do ventrículo pois é formada pelo septo lúcido O corno posterior ou occipital, que se desenvolve
se estreita progressivamente para trás. A pia- no lobo occipital, tem as suas paredes formadas,
ter reveste a parede superior do III ventrículo em quase toda a sua extensão, por fibras do cor-
de trás, entre o trígono e o corpo caloso por po caloso. A parede súpero-lateral é constituída
e o epitálamo por baixo, e forma com os seus pelo tapete do corpo caloso em cima e pelas ra-
o plexo coroideu do III ventrículo; de cada diações ópticas em baixo. A parede ínferomedial
penetra entre o trígono e o tálamo, evaginan- apresenta duas saliências arredondadas: a supe-
o epêndima, e formando os plexos coroideus rior, designada por "bulbo", determinada por fei-
Ventrículos laterais. xes do corpo caloso que constituem com as cor-
aço virtual, em fenda, situado entre o trí- respondentes do lado oposto o forceps major (em
e O tálamo, do buraco interventricular para direcção ao lobo occipital); a inferior, determina-
569
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
da pelo rego calcarino, denomina-se calcar avis te do sistema límbico desempenhando fun _
ou esporão (Morand) (Fig. 10.1.69). !acionadas com a emoção e memória. É e Çoes ~
do por substância cinzenta sendo a sua f:ºnsti~
. ular revesti.da por substanaa
t.tc . . branca _ ace v....
.,,.
0
resultante dos axónios das células do hipoalveo,
3
Estes axónios reunem-se na face medial fo/3.ll}Po.
uma fita saliente, a fimbria, que se continu:ando
teriormente com os pilares posteriores do ~Os-
no. No interior da hélice do hipocampo etrigo-
.
tra-se a circunvo 1uçao
- dentead( a ou tufada)ncon.
(Fig.
10.1.67 e 10.1.70).
5
4
6
570
CONTROLO E INTEGRAÇÃO \ SISTEMA NERVOSO CENTRAL: VENTRÍCULOS E LÍQUOR
. otálamo à frente e em baixo. Estas duas últimas ra superior ou ânus do Aqueduto Cerebral (Fig.
hlP ruras estão separadas pelo sulco hipotalâmico 10.1.71).
':nro) que se estende desde o Aqueduto Cere- Na parede superior ou tecto temos a membrana
( ai até ao buraco interventricular. O limite mais tectória, uma fina lâmina epitelial ependimária
br rior desta parede é a fita ou ténia do tálamo que se fixa lateralmente às habénulas e que é co-
supe berta pelo folheto inferior de uma invaginação de
(habénula) •
A arede anterior corresponde, de cima para bai- pia-máter, situada sob o trígono, a tela coroideia
Paos pilares anteriores do trígono, à comissu- superior. A tela coroideia superior, projecta-se para
JCO,branca anterior (no ângulo de afastamento dos cada lado da linha média invaginando o epêndima
railares) e à lâmina supra-óptica ou terminal que, do ventrículo e formando os plexos coroideus do
~nindo-se ao quiasma óptico, forma o recesso su- III ventrículo. Na tela coroideia superior,junto aos
plexos coroideus estão as veias cerebrais internas
rraóptico.
A parede posterior é formada pelo epitálamo, aci- e as artéias coroideias póstero-mediais. Os plexos
rna do sulco hipotalâmico. O elemento principal coroideus continuam-se através dos buracos inter-
desta parede é a glândula pineal ou epífise que ventriculares, com os plexos dos ventrículos late-
se prende anteriormente a dois feixes transversos rais. Superiormente o tecto relaciona-se com o trí-
de fibras que cruzam a linha média- a comissu- gono e corpo caloso.
ra habenular em cima e a comissura branca pos- Na parede inferior ou pavimento pode descrever-
terior em baixo. Entre estas encontra-se o recesso -se, de trás para diante, entre os pedúnculos cere-
pineal. De cada lado do epitálamo sai a fita ou té- brais o espaço ou substância perfurada posterior,
nia do tálamo, ou habénula ou estria medular em os corpos ou mamilares, o tuber cinéreo (que in-
direcção à parte mais alta da parede lateral, con- clui o infundfbulo ou haste pituitária) e o quias-
tinuando-se até ao buraco interventricular. Nes- ma óptico.
ta fita insere-se a tela coroideia do III ventrículo.
Logo abaixo da comissura posterior está a abertu-
24
2
23
6
22
. . ._ .~- u~~~~r-------
+-_.,__,,,,..-\---- - - -- - -9
ª
Tr+-+4---- -- - -- -- 10
11
17
16
15
13
571
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
572
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: VENTRÍCULOS E LÍQUOR
culos cerebelosos inferiores constituindo as lígu- ,que envolve, e o transporte de diversas substâncias
las. O vértice continua-se com o canal ependimá- metabólicas. O volume total de líquor é usualmen-
rio, sendo perfurado por um orifício (Magendie) te de cerca de 130 mi. A composição do LCR in-
que comunica com o espaço sub-aracnoideu si- clui àgua, sais inorgânicos em quantidades seme-
tuado entre o bulbo e o cerebelo, a cisterna mag- lhantes às do plasma sanguíneo, glicose (glicorrá-
na. Na tela coroideia inferior (formada por invagi- quia) de cerca de metade da do sangue e proteí-
nação de pia-máter) encontram-se os plexos co- nas em quantidade muito menor, apresenta O a
roideus do IV ventrículo que apresentam a forma 4 leucócitos por mm3 e uma pressão de 60 a 150
de um T, ocupando a zona central e estendendo- mmH20, (obtida na região lombar, em decúbito
-se depois lateralmente para os recessos laterais da lateral). A mudança das suas características citoló-
cavidade ventricular. Estes comunicam com o es- gicas, físicas e químicas permite identificar muitas
paço sub-aracnoideu do ângulo ponto-cerebeloso patologias de SNC, tais como infecções e hemor-
através dos orifícios laterais (Luschka). ragias, o que é possível através de punção lombar,
sub-occipital ou ventricular.
14
LÍQUIDO CÉFALO-RAOUIDIANO
OULÍOUOR
573
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
los. Uma pequena parte forma-se a partir do epên- Os principais locais de absorção de líquor _
dima das paredes ventriculares e dos vasos das lep- 1os1"dades aracno1"de1as
. que "rormam as granuJ.
sao Vi
_•
tomeninges. Em todas essas zonas ocorre um pro- aracnoideias. E stas projectam-se nos seios açacs
, .al Veno.
cesso de secreção activa do LCR por parte do sos d a dura-mater, especi mente no seio lon .
epêndima, envolvendo o transporte activo de Na+ dinal superior, determinando assim um fluxgitu.
e Cl-, acompanhado de água para manter o equi- líquor predominantemente de baixo para ~ de
cnna
hbrio osmótico. Nestas zonas o LCR está separado do sangue ·
ape-
A principal produção de líquor ocorre nos ven- nas pela aracnóide com uma camada celular rn .
trículos laterais. Daqui o fluido passa para o III to fina, e pelo endotélio do seio venoso, ocorren~-
0
ventrículo, pelos buracos interventriculares , des- a reabsorção do líquor quando a pressão deste C)(-
te ao IV ventrículo pelo Aqueduto cerebral e des- cede a do sangue no seio. Como a produção de lí-
te ventrículo, através dos orifícios mediano e late- quor nos plexos coroideus é constante, a velocida-
rais, para o espaço sub-aracnoideu e cisternas en- de da sua reabsorção é determinante na sua pres-
cefálicas. O LCR desloca-se depois desde a face são de circulação.
inferior do encéfalo para faces laterais dos hemis-
férios, até à proximidade do seio longitudinal su-
perior onde vai ser maioritariamente reabsorvido
. . .,M&ii•MdMit•riil
para a circulação sanguínea ao nível de granula-
ções aracnoideias (Paccioni) (Fig. 10.1.75). Uma A análise da compos1çao do LCR em doen-
parte dirige-se também caudalmente, envolven- tes com patologia neurológica pode fornecer in-
do a medula; desta parte, algum LCR não volta a formações muito importantes quanto à natureza
subir, uma vez que existem pequenas granulações e diagnóstico da doença, sobretudo em casos de
aracnoideias ao nível da dura máter que acompnha doença infecciosa (meningite, encefalite), doenças
a emergência dos nervos espinhais. No conjunto a auto-imunes (Esclerose Múltipla, Guillan- Barré),
circulação do LCR é facilitada pelas pulsações ar- patologia tumoral ou hemorrágica.
teriais transmitidas ao sistema venoso, pelos cílios A ventriculomegália consiste no aumento di-
das células ependimárias e pelos movimentos da mensional dos ventrículos cerebrais e está ge-
coluna vertebral. ralmente associada a uma das seguintes condi-
ções: excesso de produção de LCR, como ocor-
2 re por exemplo em tumores dos plexos coroideus;
14 3 atrofia do encéfalo com alargamento compensa-
dor dos ventrículos - hidrocefalia ex-vácuo, como
acontece na Doença de Alzheimer; obstrução na
13 circulação ou absorção do líquor, nas denomina-
4
das "hidrocefalias obstrutivas"; e noutras situa-
ções onde ocorre alterações do desenvolvimen-
to do manto cerebral.
6
A hidrocefalia (Fig. 10.1.76B) consiste num au-
mento da quantidade de líquor nos ventrículos en-
cefálicos, com ou sem aumento na pressão do lí-
quor. Consoante exista ou não obstrução à cir-
12
8 culação de LCR designam-se, respectivamente, as
11
/
10 9
hidrocefalias como obstrutivas não comunicantes
e obstrutivas comunicantes. (&ando se instala hi-
Fig. 10.1.75: Meninges e reabsorção do líquor para o sistema venoso drocefalia antes do encerramento das suturas do
nas granulações aracnoideias (vista frontal). crânio, pode originar-se uma dilatação encefáli-
1. Veia Emissária 2. Pele 3. Calote Craniana 4. Duramater 5. Espaço
subdural 6. Aracnóide 7. Espaço Subaracnoideu 8. Artéria 9. Piamater ca global, que se designa megaencefalia. (&ando
10. Parênquima Cerebral 11. Foice do Cérebro 12. Seio Longitudinal a hidrocefalia ocorre no adulto, com as suturas en-
Superior 13. Veia 14. Granulação ou Vilosidade Aracnóideia
574
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: VENTRÍCULOS E LÍQUOR
575
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
• ••
576
MENINGES geo, os quais estão justapostos, excepto em algu-
mas zonas, onde formam os seios venosos intra-
O Sistema Nervoso Central (SNC) está envol- cranianos.
·do por três membranas de origem mesodérmi- O folheto externo da Duramater craniana (ou en-
~ _ as M eninges. Estas têm como principal fun- dosteal) cobre a face interna dos ossos crânio e
c, 0 ern conjunto com o crânio e o líquor, a protec- comporta-se como o seu periósteo. Adere intima-
ça '
- dos centros nervosos. Estas membranas são, de mente a estes em toda a sua extensão, sobretudo ao
çao
fora (mais superficial) para dentro: a Duramater, a nível das suturas, e sendo mais aderente aos ossos
Afacnoideia e a Piamater (Fig. 10.1.77). Em ter- da base que aos da abóbada; desta forma, não exis-
rnos embrionários, a Aracnoideia e a Piamater de- te espaço epidural no crânio. No entanto, a Dura-
rivam de um mesmo folheto, tendo uma designa- mater é facilmente descolável na zona fronto-pa-
ão comum - a Leptomeninge ou meninge fina; rieto-temporal da abóbada craniana, o chamado
çor sua vez, a Duramater deriva de outro folheto espaço descolável de Gerard-Marchant. Ao nível
~rnbrionário, e recebe a designação de Paquime- do buraco occipital este folheto contorna a mar-
ninge ou meninge espessa. gem do foramen, continuando-se com o periósteo
externo, logo não existe folheto externo na Dura-
mater raquidiana.
O folheto interno ou meníngeo constitui a Du-
ramater propriamente dita (Fig. 10.1.78). É uma
membrana densa e fibrosa que se continua com
a Duramater raquidiana ao nível do buraco occi-
pital. Em algumas áreas deste folheto, destacam-
-se septos para o interior da cavidade craniana que
a dividem em compartimentos comunicantes, os
quais alojam as sub-divisões do encéfalo e limitam
os seus movimentos aquando da aceleração ou de-
saceleração da cabeça. Entre os dois hemisférios
cerebrais existe a foice do cérebro que é um septo
vertical mediano, que ocupa a fenda inter-hemis-
férica. Anteriormente, este septo fixa-se à apófise
crista galli e à crista frontal interna; atrás, bifurca-
10 9
- se continuando-se de cada lado pela tenda do ce-
Fig. 10.1.77: Meninges: Organização Geral.
1. Escalpe 2 . Periósteo 3. Calote Craniana 4. Duramater (folheto
rebelo, onde se encontra o seio recto; o bordo su-
períostal e folheto meníngeo) 5. Aracnóide 6. Espaço Subaracnoideu perior é convexo e insere-se ao longo da linha mé-
7. Piamater 8. Substância Branca 9. Córtex Cerebral 10. Foice do
Cérebro 11. Seio Longitudinal Superior 12. Vilosidades ou Granula-
dia da abóbada craniana, desde a apófise crista gal-
ções Aracnóideias. li até à protuberância occipital interna, sendo per-
corrido pelo seio longitudinal superior. A foice do
cérebro tem, ainda, um bordo Ântero-inferior li-
DURAMATER vre, que é percorrido pelo seio longitudinal infe-
rior. A tenda do cerebelo é outra prega de Dura-
A Duramater é a meninge mais superficial. É uma mater e consiste num septo horizontal que reco-
membrana espessa e resistente, constituída por te- bre a face superior do cerebelo, sob a face inferior
cido conjuntivo, rico em fibras de colagénio. Con- dos lobos occipitais do cérebro. A tenda do cere-
tém no seu interior o SNC (encéfalo e medu- belo forma a cobertura da fossa craniana poste-
la espinhal), sendo apenas perfurada nos locais de rior, dividindo a cavidade craniana em dois com-
emergência dos nervos cranianos e raquidianos. A partimentos: um superior, supra- tentorial ou ce-
Duramater craniana é formada por dois folhetos: rebral, outro inferior, infra-tentorial ou cerebelo-
um externo ou endosteal, outro interno ou menín- so, que contém também o tronco cerebral. O bor-
577
MANUAL DE ANATOMlA HUMANA
16
11 10
Fig. 10.1.78A: Seios Venosos e Duramater da Abóbada Craniana. Fig. 10.1.78B: Seios Venosos e Duramater da Base do Crânio.
1. Seio Longitudinal Superior 2. Foice do Cérebro 3. Seio Longitudinal 1. Foice do Cérebro (seccionada) 2. Seio Esfenoparietal 3, Veia C
Inferior 4. Veia Cerebral Interna 5. Veia Cerebral Magna ou de Galeno rebral Média _Superficial 4. S~io lnter~ve~noso_ 5. Artéria Men ~
6. Veia Basal (RosenthaO 7. Seio Recto 8. Seio Sigmóide 9. Tenda Média 6. Seio Petroso Supenor 7. Se10 S,gmó1de 8. Seio Lateral
do Cerebelo 10. Seio Lateral ou Transverso 11. Foice do Cerebelo Transverso 9. Seio Recto 10. Seio Longitudinal Superior 11, Foice:
12. Seio Occipital 13. Confluente dos Seios, Tórcula ou Lagar de Cérebro (seccionada) 12. Tenda do Cerebelo 13. Seio Petroso Inferior
Herófilo 14. Granulações Aranóideias. 14. Plexo Venoso Basilar 15. Seio Cavernoso 16. Veia Oftálmica Superior
do posterior é fixo e estende-se desde uma apófise uma prega de Duramater que forma uma cavida-
clinoideia posterior à apófise clinoideia posterior de - o cavum de Meckel.
contralateral, horinzontalmente, ao longo da pa- A Duramater raquidiana encontra-se separada do
rede craniana posterior, inserindo-se no bordo su- contorno interior do canal raquidiano por um es-
perior dos rochedos e nas goteiras do seio lateral e paç.o - Espaço Epidural - que está preenchido por
protuberância occipital interna. Este bordo poste- tecido adiposo e plexos venosos epidurais. Termi-
rior é percorrido pela parte posterior dos seios la- na em fundo de saco ao nível de S2. A Durama-
terais e, à frente, pelos seios petrosos superiores. ter espinhal embainha as raízes dorsais e ventrais e
A foice do cerebelo é um pequeno septo vertical também o gânglio posterior e porção proximal dos
mediano, fixo à protuberância occipital interna e nervos raquidianos, onde se continua com o epi-
à face inferior da tenda do cerebelo, na sua porção vervo, ao nível do buraco de conjugação.
posterior. E stende-se para baixo entre os dois he- A Duramater é muito vascularizada, particular-
misférios cerebelosos até perto do buraco occipi- mente o folheto externo. A principal artéria que
tal. Na sua margem fixa é percorrido pelo seio oc- irriga a Duramater craniana é a artéria meníngea
cipital posterior. média, ramo da artéria maxilar interna. Ao contrá-
Existem ainda formações de Duramater que iso- rio das outras meninges, a Duramater é ricamen-
lam certas estruturas do resto da cavidade crania: te inervada, recebendo ramos sensitivos do trigé-
a tenda ou diafragma da sela turca que é uma pe- mio, do vago, dos três primeiros nervos cervicais e
quena lâmina horinzontal que forma o tecto da ramos do tronco simpático. Desta forma, a sensi-
sela turca. Tem um orillcio central para dar pas- bilidade intra-craniana está, sobretudo, localizada
sagem à haste hipofisária; a tenda do bulbo olfac- na duramater, sendo esta a responsável pela maio-
tivo é uma pequena prega localizada de cada lado ria das cefaleias.
da linha média, por cima do bulbo olfactivo, en-
tre a apófise crista galli e o bordo lateral das gotei- SEIOS VENOSOS
ras etmoidais; ao nível da face anterior do rochedo
está localizado o gânglio semilunar ou gânglio de Os seios venosos são canais venosos situados entre
Gasser do V nervo craniano. Este está coberto por os dois folhetos da Duramater, dispondo-se prin-
578
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: MENINGES
cipalmente ao longo das inserções das pregas da c. Cisterna superior ou da veia de Gale-
purarnater. Os seios venosos têm paredes finas, no localizada atrás do mesencéfalo, en-
mas rígidas, revestidas de endotélio e desprovidas tre o cerebelo e o debrum do corpo calo-
de camada muscular. São canais venosos avalvula- so. O conjunto desta cisterna, da cisterna
res. Para além da drenagem do sangue venoso do do corpo caloso e das restantes flumina,
encéfalo, os seios venosos recebem também o li- que para ele drenam, denomina-se cister-
quido cefalo-raquidiano absorvido a partir do es- na ambiens.
paço sub-aracnoideu (ver vascularização venosa do
encéfalo). No compartimento cerebeloso:
a. Cisterna cerebelosa superior situada entre
a tenda do cerebelo e o vermix superior;
ARACNÔIDE b. Cisterna cerebelo-medular ou magna ocu-
pa o espaço entre a face inferior do cere-
Por dentro da Duramater está a Aracnóide ou belo e a face dorsal do bulbo. Esta cister-
Aracnoideia, que a reveste e que lhe está justapos- na continua-se caudalmente com o espaço
ta, sem lhe aderir. Entre elas existe um espaço, nor- sub-aracnoideu medular e comunica com
malmente virtual, o espaço subdural, que pode ser o IV ventrículo, através do buraco de Ma-
preenchido em situações patológicas, por exemplo gendie. É a cisterna maior e mais impor-
hemorragias ou infecções. A Aracnoideia é tam- tante, podendo ser utilizada para obten-
bém constituída por dois folhetos: sob o folheto _ ção de liquor através de punções sub-oc-
externo, continuo, encostado à Duramater, existe cipitais;
um outro descontinuo, cujas células se inserem na c. Cisterna ponto-cerebelosa localizada no
Piamater que reveste a superficie do parênquima ângulo ponto-cerebeloso;
nervoso. Entre estes dois folhetos existe um espa- d. Cisterna pôntica ou basilar localizada à
ço aracnoideu, onde circula o liquor, chamado Es- frente da protuberância.
paço Subaracnoideu.
O espaço subaracnoideu apresenta numerosas di-
10
latações, zonas em que o parênquima cerebral se
afasta mais da dura-aracnoide, nomeadamente
junto dos sulcos ou fendas da superficie encefálica.
As dilatações mais amplas denominam-se de cis-
ternas. Fora das dilatações, os dois folhetos arac-
noideus encontram-se unidos em pontes, que lhes
confere uma textura trabecular, por onde passam
os vasos sanguíneos.
4
CISTERNAS ARACNOIDE/AS
(FIG. 10. 1.79)
5
As mais importantes cisternas aracnoideias são:
a. Cisterna quiasmática ou opto-quiasmática
situada à frente do quiasma óptico, entre o
quiasma e o bico do corpo caioso, comuni- Fig. 10.1.79: Cisternas Aracnóideias. Líquor representado a azul.
ca com a Cisterna da fossa lateral do cére- 1. Aqueducto Cerebral ou de Sylvius 2. Cisterna Superior ou da Veia
de Galeno 3. Cisterna Cerebelosa Superior 4. Quarto Ventrículo
bro, a qual corresponde à depressão forma- 5. Cisterna Cerebelo-medular ou Magna 6. Espaço Aubaracnoideu
da pelo sulco lateral do cérebro (Sylvius); perimedular 7. Cisterna Pôntica 8. Cisterna lnterpeduncular ou Basal
9. Cisterna Quiasmática 10. Terceiro Ventrículo
b. Cisterna interpeduncular situada entre os
pedúnculos cerebrais;
579
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
13
A Piamater acompanha os vasos que penetram no
4
tecido nervoso, formando a parede externa dos es-
paços peri-vasculares. Estes acompanham os vasos
mais calibrosos numa pequena distancia, ao lon-
6
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11
/
10 9
PIAMATER
(FIG. 10.1.81, 10.1.82)
580
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: MENINGES
go do seu percurso dentro do tecido cerebral, ter- ral, resultando num hematoma extradural ou epi-
JTlinando por fusão da Piamater com a adventí- dural. À medida que o hematoma expande, o en-
cia do vaso. A Piamater estende- se também so- céfalo vai sendo comprimido e o doente, que pode
bre os nervos cranianos e funde-se com os respec- ter um intervalo livre consciente e sem sintomas,
tivos epinervos. tem uma deterioração do estado de consciência e
A Piamater raquidiana forma, de cada lado e a pode entrar em coma. Esta situação é uma emer-
toda a altura da medula espinhal, uma prega lon- gência e requer drenagem neurocirúrgica imedia-
gitudinal, revestida por Aracnoideia, cujo bordo ta. Em Tomografia Computorizada (TC) o hema-
lateral se estende até à face interna da Duramater, toma epidural tem a morfologia de uma lente bi-
tendo indentações arciformes por onde passam as convexa e é limitado pelas suturas cranianas, dada
raízes de cada nervo raquidiano, que convergem a forte inserção da duramater nestas suturas (Fig.
para o respectivo buraco intervertebral. Estas pre- 10.1.83 e 10.1.84).
gas, que dividem incompletamente os espaços lá- Pode também ocorrer laceração das veias que pas-
tero-medulares numa parte anterior e outra poste- sam em ponte no espaço subdural, resultando num
rior, denominam-se ligamentos dentados da me- hematoma subdural agudo ou sub-agudo/crónico.
dula espinhal. Esta situação é mais frequente nos idosos, que ge-
ralmente estão medicados com antiagregantes pla-
ANATOMIA FUNCIONAL E CLÍNICA quetários ou anticoagulantes e pode ter uma insta-
lação insidiosa, com sintomas neurológicos que se
Meningite desenvolvem em semanas ou meses após o trauma,
que pode ser minor. Mais uma vez a cirurgia pode
A meninigite consiste numa inflamação das me- ser necessária. Em TC esta colecção tem a morfo-
ninges que envolvem o encéfalo ou a medula espi- logia de uma meia-lua, ou em crescente, pode ul-
nhal. Pode resultar de uma infecção por vírus, bac- trapassar as suturas cranianas mas geralmente não
térias ou fungos. Pode também ocorrer no contex- cruza a linha média (Fig. 10.1.85).
to de algumas neoplasias (meningite carcinomato- A hemorragia pós-traumática pode também ocor-
sa) ou de uma reacção química a produtos de con- rer no espaço sub- aracnoideu, com distribuição
traste injectados durante procedimentos neurorra- nos sulcos corticais e/ou cisternas da base, sen-
diológicos. Manifesta-se por cefaleias, febre, foto- do por vezes difícil de distinguir das hemorra-
fob ia, vómitos, rigidez do pescoço. As meningites gias sub-aracnoideias espontâneas, por ruptura de
virais ou químicas são habitualmente auto-limita- aneurisma cerebral.
das e não exigem tratamento. As de origem bac-
teriana ou füngicas são mais graves e se não trata-
das podem resultar em lesões de nervos cranianos,
aumento da pressão inracraniana, lesões encefáli-
cas e morte.
Traumatismo Crânioencefálico
581
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
Fig. 10.1.84: Hematoma Epidural Parietal à esquerda: Tomografia Computorizada em Janela de Parênquima Cerebral e em Janela Óssea
1. Sutura Coronal 2. Fractura Parietal 3. Sutura lambdóide 4. Hematoma Epicraniano 5. Sangue no Espaço Epidural (Hematoma) em forma de
lente biconvexa 6. Ventrículo Lateral direito parcialmente colapsado 7. Desvio da linha média para a direita por efeito de massa
.PERGUNTAS TIPO
582
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: MENINGES
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
** *
583
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
VIAS DA SENSIBILIDADE
584
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: VIAS DA SENSIBILIDADE
4 5
~ 11
10
J
J
~
9
8 7 6
. . _87: Diferentes tipos de recetores periféricos que originam as vias aferentes exteroceptivas.
10 1
FigR:ecetor no Folículo Piloso 2. Recetor Nocicetivo ao calor 3 . Recetor Nocicetivo ao frio 4. Complexo de Axon-Merkel 5. Corpúsculo
:~ Meissner 6. Corpúsculo de Ruffini 7. Corpúsculo de Vater Pacini 8. Terminação nervosa livre 9. Tecido Subcutâneo 10. Derme 11. Epiderme
As fibras da via neoespinhotalâmica sinapsam pre- das regiões do córtex cerebral nomeadamente a
dominantemente na lâmina I e os axónios cruzam área somatoestésica, o cíngulo, o sistema límbico
a linha média e seguem pelo feixe espinhotalâmico e a ínsula.
lateral nos cordões laterais da medula. Inicialmen- Esta via é responsável pela transmissão da dor
te chegam à medula as fibras sagradas que se loca- pouco localizada e lenta e, pelas suas conexões
lizam numa região mais externa do feixe em com- com os feixes espinhoreticulares, com a sensação
paração com as fibras cervicais que se encontram de dor crónica.
numa região mais interna (Fig. 10.1.89). Associada a esta via encontram-se ainda as fibras
As fibras seguem pelo feixe espinhotalâmico la- que constituem a via espinhotectal cujo segundo
teral até ao bulbo raquidiano onde se juntam ao neurónio ascende na porção mais anterior do feixe
feixe espinhotalâmico anterior e ao feixe espinho- espinhotalâmico lateral e sinapsa nos colículos su-
tectal para formarem o lemnisco espinhal. Conti- periores. Apesar de apresentar projecção bilateral
nuam-se pelo tegmento da protuberância e me- a maioria dos segundos neurónios desta via cruza
sencéfalo até sinapsarem com o terceiro neuró- a linha média ao entrar na medula. É responsável
nio no núcleo ventral pósterolateral do tálamo. pelo transporte das informações aferentes para os
Os axónios do terceiro neurónio formam as radia- reflexos espinhovisuais.
ções talâmicas que acendem pelo braço posterior A via espinhoreticular cursa juntamente com as
da cápsula interna, internamente à via piramidal duas previamente descritas mas o seu segundo
e projectam-se na área somatoestésica primária. neurónio (maioritariamente homolateral as com
A via neoespinhotalâmica é responsável pela con- algumas projecções bilaterais) sinapsa na forma-
dução da dor bem localizada, rápida e aguda. ção reticular do bulbo raquidiano, protuberância
As fibras da via paleoespinhotalâmica sinapsam e mesencéfalo e na substância cinzenta periaque-
predominantemente na lâmina II (mas também ductal. Esta via está associada com a regulação do
IV e V ). Daí dirigem-se aos cordões laterais da nível de consciência e de dor crónica.
medula homo e contralaterais e ascendem no fei- A via arqueoespinhotalâmica é uma via multissi-
xe espinhotalâmico lateral juntamente com a via náptica cujos primeiros neurónios sinapsam na lâ-
neoespinhotalâmica. Durante o seu trajecto está mina II de Rexed e posteriormente nas lâminas
em relação com os feixes espinhoreticulares esta- IV a VII e que ascende nos fascículos próprios da
belecendo também conexções com a formação re- medula, junto à substância cinzenta central. No
ticular. Finalmente sinapsam com núcleos intra- mesencéfalo as fibras desta via sinapsam com os
laminares do tálamo onde está o corpo do tercei- neurónios da substância cinzenta periaqueductal e
ro neurónio. Daí as fibras projectam-se em varia- da formação reticular mesencefálica e daí emitem
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
11
10
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CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: VIAS DA SENSIBILIDADE
bem definidos que são o feixe de Goll ou gracil- 1. Corpo Celular do 1.º neurónio 2. Axónios Colaterais Descendentes
3. Fibras Sagradas 4. Fibras Lombares 5. Fibras Torácicas 6. Fibras
lis mais interno e posterior e o feixe de Burdach Cervicais (C8) 7. Fibras Cervicais (C1) 8. Feixe Cuneiforme ou de
ou cuneatus mais externo e anterior. O primei- Burdach 9. Feixe Grácil ou de Goll
587
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
Fig. 10.1.93: Diferentes tipos de receptores periféricos que originam as vias aferentes proprioceptivas.
1. Neurónio Motor Gama 2. Neurónio Motor Alfa 3. Aferente la 4. Fuso Neuromuscular 5. Fibras Musculares lntrafusais 6. Órgão tendinoso
de Golgi
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CONTROLO E INTEGRAÇÃO J SISTEMA NERVOSO CENTRAL: VIAS DA SENSIBILIDADE
féricos e centrais dos neurónios pseudounipolares tram no cerebelo dirigindo-se para o córtex do pa-
dos gânglios das raízes posteriores dos nervos es- leocerebelo, mais precisamente para as células gra-
jr!hais. Ao entrarem no corno posterior da medu- nulares.
ia as fibras fazem sinapse com o segundo neuró- O feixe cuneocerebeloso, de forma semelhante
nio na coluna de Clarke ( nucelus dorsalis) localiza- ao descrito acima tem origem nos receptores pe-
da na lâmina VII de Rexed. Uma vez que este nú- riféricos nos fusos neuromusculares e órgão ten-
cleo de neurónios só existe no corno posterior da dinoso de Golgi. As informações são transporta-
medula entre os níveis medulares de C8 e L3 as fi- das pelo primeiro neurónio sensitivo e ao entrar na
bras lombares baixas e sagradas ascendem na me- medula espinhal o prolongamento central do pri-
dula pelo cordão posterior juntamente com o fei- meiro neurónio junta-se ao feixe de Burdach (ou
xe de Goll (ou gracillis) até ao nível medular de L3 cuneatus) e ascende no cordão posterior ipsilateral.
para depois fazerem sinapse com o segundo neu- No bulbo raquidiano este sinapsa com o segundo
rónio na coluna de Clarke. neurónio no núcleo cuneatus acessório ou núcleo
Daí os ax:ónios do segundo neurónio dirigem-se de Von Monakow. Daí o ax:ónio do segundo neu-
para os cordões laterais da medula ipsilaterais para rónio penetra no pedúnculo cerebeloso inferior e
formar os feixes espinhocerebelosos posteriores. termina no córtex cerebeloso (Fig. 10.1.95).
Aqui as fibras estão dispostas mediante uma orga-
nização somatotrópica sendo que as fibras sagra-
das são mais posteriores e as torácicas mais ante-
riores. Uma vez que a coluna de Clarke só se ini-
cia em C8 este feixe não transporta fibras prove-
nientes dos segmentos cervicais superiores (Fig.
10.1.94).
Ao chegar ao bulbo raquidiano as fibras dirigem- 14
-se para o pedúnculo cerebeloso inferior e pene-
8 9
10 9
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
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CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: VIAS DA SENSIBILIDADE
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
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CONTROLO E INTEGRAÇÃO J SISTEMA NERVOSO CENTRAL: VIAS DA SENSIBILIDADE
***
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
2. VIAS PIRAMIDAIS
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CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: VJAS DA MOTRICIDADE
origem cortical, as fibras atravessam o centro oval posteriormente as destinadas aos membros infe-
convergindo para o joelho e braço posterior da riores. Após atravessar o diencéfalo, o feixe atra-
cápsula interna, segundo uma disposição rotacio- vessa os 3/5 médios dos pés dos pedúnculos cere-
nal de 90.0 , de tal forma que as fibras oriundas da brais, segundo a mesma disposição rotacional. Nos
orção inferior da circunvolução se tornam ante- pés dos pedúnculos cerebrais as fibras com desti-
p
riores º dasda porçao
e as onun - supenor· da ·crrcun- no aos membros superiores estão situadas inter-
volução se tornam posteriores. O trajecto específi- namente e as que se destinam aos membros in-
co de cada feixe será descrito em seguida. feriores localizam-se externamente. Ao atraves-
O neurónio inferior ou periférico é comum às vias sar a protuberância as fibras do feixe córtice-es-
motoras piramidais e extra-piramidais, designan- pinhal são dispersas pelas fibras ponto-cerebelo-
do-se via final comum de Sherrington. sas. No bulbo as fibras voltam a reunir-se de for-
ma compacta atravessando as pirâmides do bul-
bo, daí a designação de feixe piramidal. No limi-
te inferior do bulbo cerca de 80% das fibras cru-
zam para o lado oposto, formando a chamada de-
cussação das pirâmides. As fibras que cruzam dis-
põem-se ao longo dos cordões laterais da medu-
la espinhal, formando o feixe córtice-espinhal la-
'
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
-------------------------
Fig. 10.1.98: Homúnculo motor e origem das vias piramidais.
1
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
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CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: VIAS DAMOTRJCIDADE
597
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
a linha média, descem ao longo da protuberân- e lombares inferiores da medula espinhal. 1'e
cia, bulbo alcançando os cordões laterais da me- como função facilitar a acção dos músculos ext lll
dula espinhal e sinapsam com neurónios intermé- sores e inibir os músculos flexores, contribuj:;-
0
dios no grupo ântero-externo dos cornos anterio- para a manutenção do equili'brio a partir das .
res da medula espinhal. Assim exercem influência formações que provém do ouvido interno e do li).
a.r-
sobre a motricidade voluntária dos músculos dis- queocerebelo. A sua função é fazer ajustes no gr
tais dos membros, produzindo potenciais excita- de contração dos músculos, permitindo que s ~u
tórias nos neurónios motores alfa que inervam os mantl·do o equilííbno
· mesmo apos' alterações súbi-
eia
musculos flexores e potenciais inibitórias nos neu- tas do corpo no espaço.
rónios motores alfa que inervam musculos exten- O Feixe Retículo-espinhal (Fig. 10.1.104) telll
sores antigravidicos. As suas principais aferências origem na formação reticular e subdivide-se elll
são do córtex frontal e do cerebelo. A sua principal dois feixes: o medial (pôntico) e o lateral (bulbar).
função é o controlo do tónus dos grupos de mús- A formação reticular dispõe-se ao longo de toda
culos flexores. a extensão cranio-caudal do tronco cerebral. Da
O Feixe VestJbulo-espinhal (Fig. 10.1.103) origi- sua porção protuberância! partem fibras que cru-
na-se essencialmente no núcleo vestibular externo. zam a linha média e descem ao longo do cordão
Dele partem fibras que descem ao longo do cor- anterior. Da porção bulhar partem fibras direc-
dão anterior ipsilateral e sinapsam no grupo ânte- tas e fibras cruzadas que descem ao longo do cor-
ro-interno dos cornos anteriores da medula. Tem dão lateral. As fibras sinapsam ao nível do gru-
uma influência maior sobre os segmentos cervicais po ântero-interno dos cornos anteriores da me-
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CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: VIAS DA MOTRICIDADE
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4
Fig. 10.1.108: Reflexo osteotendinoso. A percussão do tendão estira os fusos neuromusculares, levando a um reflexo monossinático que culmina
na contração muscular.
1. Medula Espinhal 2. Fibras sensitivas 3. Percussão do tendão 4. Músculo 5. Fibras Motoras
bal e paralisia flácida. A paralisia flácida caracte- nios gama. Assim manifesta-se uma paralisia es-
riza-se por diminuição/perda da força muscular pástica, que se caracteriza por diminuição/perda
acompanhada de diminuição/abolição do tónus da força muscular acompanhada de aumento do
muscular e de todos os reflexos, devido à ausência tónus muscular e dos reflexos.
da influência das vias descendentes sobre os refle- Raramente as vias descendentes do sistema pira-
xos medulares. Com a resolução da fase aguda, se- midal ou extrapiramidal são lesadas isoladamen-
manas depois, os reflexos medulares recuperam e te. Logo, quando ocorre lesão do neurónio cen-
ocorre um aumento acentuado do tónus muscular tral, surgem sinais resultantes da lesão de ambas as
e dos reflexos, devido à hiperactividade dos neuró- vias, simultâneamente. De seguida serão descritos
601
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
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CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: VIAS DA MOTRICIDADE
/
,og. 10.1.110: Reflexo cutâneo abdominal.
membros superiores e os extensores e adu-
tores dos membros inferiores. À mobiliza-
ção passiva ocorre uma resistência crescen-
te, sendo esta caracteristica mais eviden-
te quando o movimento é rápido e o mem-
bro tem tedência a voltar à sua posição ini-
no caso de oclusão da artéria cerebral anterior. Ao cial. Por vezes esta resistência crescente cede
nível da coroa radiada, as fibras têm uma disposi- repentinamente (sinal da navalha de mola).
ção dispersa, pelo que os défices motores resultan- Este reflexo é mediado pelos orgãos neuro-
tes de lesão a este nível são pouco significativos. tendinosos presentes nos tendões, cujas cáp-
A partir da cápsula interna, em virtude das fibras sulas possuem inervação sensitiva, e que ao
se encontrarem mais compactas, as lesões tradu- detectarem aumento da tensão muscular en-
zem-se como uma hemiparésia de todo o hemi- viam impulsos que inibem o neurónio alfa,
corpo contralateral. Estas lesões habitualmente com subsequente diminuição súbita do tó-
acompanham-se de perda sensitiva com um terri- nus;
tório topográfico sobreponível. • Hiperrefl.exia, caracterizada pela resposta au-
Ao nível do tronco cerebral as lesões da via pi- mentada dos reflexos oateotendinosos.
ramidal podem-se acompanhar do compromisso
dos núcleos motores dos pares cranianos, consti- Os feixes piramidais e extrapirarnidais são afec-
tuindo os chamados síndromes alternos. Um sín- tados numa extensão variável. As vias piramidais
drome alterno manifestam-se pela combinação de tendem a aumentar o tónus muscular enquanto as
hemiparésia contalateral e paralisia ipsilateral dos extrapiramidais tendem a diminui-lo. O balanço
nervos cranianos, fazendo-se também acompa- de ambos os efeitos provoca graus variáveis de tó-
nhar por perda sensitiva contalateral por atingi- nus muscular.
mento dos lemniscos medial e espinhal.
Nas lesões medulares, há que ter em conta a dis- Lesão do neurónio motor inferior
posição laminada das fibras do feixe córtico-espi-
nhal, em que as fibras destinadas aos segmentos A lesão do neurónio inferior determina uma para-
cervicais estão dispostas mais internamente se- lisia flácida, pois acompanha-se de hipotonia e hi-
guindo-se as fibras torácicas, lombares e sagradas. porreflexia, por interrupção da via eferente do refle-
Logo,lesões que determinem compressão extrín- xo monossináptico medular. O corre também atro-
seca da medula espinhal, como hérnias ou me- fia muscular, por perda do efeito trófico do neuró-
ningiomas da duramáter espinhal, atingem pri- nio sobre o músculo e nos casos em que há um pro-
meiro as fibras sagradas, com compromisso pro- cesso de destruição lento, fasciculações musculares.
gressivo das fibras lombares, torácicas e cervicais. O s sinais extrapiramidais decorrem da lesão dos
Por seu turno, lesões da porção peri-ependimá- neurónios envolvidos nos circuitos extrapirarni-
ria como os ependimomas, a siringomielia ou a dais. H abitualmente a força muscular está manti-
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
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CONTROLO E lNTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: VIAS DAMOTRJCIDADE
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
605
MANUAL DE ANATOMIA H UMANA
V1
Fig. 10.1.111: Artéria carótida interna. Fig. 10.1.112: Artéria vertebral (segmentos).
1. Artéria carótida comum 2. Bifurcação carotídea cervical 3. Artéria Vl. Segmento extraósseo V2. Segmento transversário V 3. Segmento
carótida interna extraespinhal V4. Segmento intradural
606
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: VASCULARIZAÇÃO ENCEFÁLICA
tem um trajecto ascendente na goteira basilar terior da carótida interna, que se dirige para
Jar_cliVUS occ1p1to-es1eno1
do - . r · a' firente d o
"dal e termma trás entrando na extremidade anterior da par-
esencéfalo e atrás da lâmina quadrilátera do es- te lateral da fissura coroideia (fenda cerebral
renóide, bifur~ando-se nas duas artérias cerebrais de Bichat), que dá ramos ascendentes para a
posteriores (F1g.10.1.113). fita óptica e para a capsular branca interna, e
que termina no plexo coroideu lateral do cor-
3
6 no esfenoidal do ventrículo lateral.
607
MANUAL DE ANATOMIA H UMANA
para a face inferior do hemisfério cerebelo- auditivo interno e irriga os VII e VIII nerv
so correspondente. No seu trajecto dá a ar- .
craruanos, b em como o ouvi"do mterno·
. os
téria espinhal posterior que desce pelo sulco • A artéria cerebelosa superior, que se' or" .
1g1-
colateral posterior homolateral da medula es- na logo abaixo da bifurcação da artéria b
a-
pinhal, dá artérias posteriores para o bulbo e silar e que contorna o mesencéfalo e se d·l S,
artérias perfurantes para os núcleos centrais tribui sobre a face superior do cerebelo. Irfi-
.
do cerebelo. É assim responsável pela irriga- ga o mesencéfalo (pedúnculos cerebrais e lâ-
ção do bulbo, do plexo coroideu do IV ven- mina quadrigémea), a parte superior do he-
trículo, dos núcleos centrais do cerebelo, do misfério cerebeloso respectivo e o vérmis su-
vérmis inferior, da face inferior dos hemisfé- perior. As artérias cerebelosa superior e ce-
rios cerebelosos e da parte posterior da me- rebral posterior, ao nascerem da basilar, for-
dula cervical. mam de cada lado uma "pinça" por onde pas-
sa o III nervo craniano logo após a sua emer-
gência do mesencéfalo.
4
4
A artéria basilar dá os seguintes ramos colaterais Fig. 10.1.1 16: Artérias cerebelosas.
1. Artérias vertebrais 2. Artéria basilar 3. Artérias cerebelosas pós-
(Fig.10.1.113 e 10.1.115): tero-inferiores 4. Artérias cerebelosas ântero-inferiores 5. Artérias
• Ramos perfurantes para a protuberância e cerebelosas superiores
pedúnculos cerebrais;
• A artéria cerebelosa ântero-inferior ("AICA" Na base do cérebro, à volta da haste hipofisária e
na literatura anglo-saxónica), que contorna a à frente do mesencéfalo, os ramos das artérias ca-
protuberância em direcção ao ângulo ponto- rótidas internas e basilar vão-se anastomosar num
-cerebeloso e irriga a protuberância e a por- poügono arterial, o poügono arterial de Willis.
ção lateral do cerebelo. Dá ainda origem à ar- Este conjunto de anastomoses permite igualar a
téria auditiva interna que entra pelo conducto pressão arterial nas artérias distais que irrigam o
608
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: VASCULARIZAÇÃO ENCEFÁLICA
encéfalo, e tentar compensar a falta de fluxo san- uma comunicante anterior bem desenvolvida.
guíneo na eventualidade da oclusão de alguma ar- Há também grande variabilidade na importância
téria proximal ao referido polígono arterial (vica- da artéria comunicante posterior, que pode ser a
riação arterial). principal responsável pela irrigação do território
j\ssim, o polígono arterial de Willis é constituído da artéria cerebral posterior quando o seu seg-
da seguinte forma (Fig.10.1.117): mento inicial (da bifurcação da artéria basilar à
• As duas artérias cerebrais anteriores anasto- anastomose com a artéria comunicante posterior)
mosam-se junto à linha média, sobre o quias- é hipoplásico.
ma óptico e à frente da lâmina supraótica, O cérebro é irrigado pelas 3 artérias cerebrais -
pela artéria comunicante anterior; anterior, média (ou sílvica) e posterior - e ain-
• As duas artérias carótidas internas anasto- da pela artéria coroideia anterior já descrita (Fig.
mosam-se com as artérias cerebrais posterio- 10.1.118).
res através das artérias comunicantes poste- As artérias cerebrais incluem ramos corticais que
riores, uma de cada lado, conforme descrito irrigam o córtex cerebral e a substância branca
anteriormente, encerrando assim o polígono- subjacente, e ramos centrais que nascem exclusi-
de W illis. vamente dos seus segmentos proximais e irrigam
os núcleos centrais do cérebro (optostriados), os
núcleos da base do cérebro (hipotalâmicos e sub-
talâmicos) e as regiões de substância branca adja-
centes (incluindo a cápsula branca interna).
A artéria cerebral anterior nasce da bifurcação da
carótida interna,junto à substância perfurada an-
terior. Daqui dirige-se para dentro e para a fren-
te sobre o nervo óptico, até se anastomosar sobre
o quiasma óptico com a artéria contralateral pela
artéria comunicante anterior; é o segmento proxi-
mal também conhecido como Al. Dirige-se de-
4
pois para a frente e para cima, entrando na fissura
inter-hemisférica e contornando o joelho do cor-
po caloso (segmento A2), após o que se bifurca em
artéria caloso-marginal que corre na fissura com
o mesmo nome, e artéria pericalosa que segue no
fundo da fissura inter-hemisférica sobre o corpo
caloso até à região parietal interna. Origina os se-
guintes ramos colaterais:
• Artérias centrais que perfuram a parte an-
Fig.10.1.117: Polígono arterial de Willis. terior da substância perfurada anterior e ir-
1. Artéria carótida interna 2. Artéria cerebral anterior 3. Artéria
comunicante anterior 4. Artéria comunicante posterior 5. Artéria rigam a porção anterior dos núcleos lenti-
cerebral posterior cular e caudado e da cápsula branca interna,
bem como a região hipotalârnica, supra-ópti-
A anatomia do polígono arterial de Willis é mui- ca e pilares anteriores do trígono; há uma ar-
to variável, principalmente no que respeita ao téria especialmente importante, a artéria re-
segmento inicial da artéria cerebral anterior (da corrente de Heubner, que nasce da artéria ce-
bifurcação da carótida interna à comunicante an- rebral anterior junto à comunicante anterior,
terior). E m alguns casos este segmento é hipo- tem um trajecto recorrente para fora e se jun-
plásico (pouco desenvolvido) de um dos lados, ta aos ramos perfurantes da artéria cerebral
sendo ambas as cerebrais anteriores distais nu- média, irrigando parte do braço anterior da
tridas só pela artéria do lado oposto através de cápsula interna;
609
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
Fig. 10. 1.118: Territórios de irrigação das artérias cerebrais (A. Corticais B. Tronco Cerebral e Cerebelo C. Região Profund a Núcleo-Capsular).
(A} Verde - Artéria Cerebral Anterior Rosa - Artéria Cerebral Média Roxo - Artéria Cerebral Posterior
o
Ili
(B) Roxo - Artérias Pônticas Perfurantes Verde - Artéria Cerebelosa (C) Rosa - Artérias Lentícula-estriadas Mediais Laranja - Artérias
Superior Amarelo - Artéria Cerebelosa Antero-Inferior Rosa - Artéria Lentículo-estriadas laterais Roxo - Artéria Coroideia Anterior Verde
Cerebelosa Póstero-lnferior Azul - Artérias Pefurantes Bulbares - Artérias Perfurantes da Artéria Cerebral Posterior (Segmento P1)
610
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: VASCULARIZAÇÃO ENCEFÁLICA
• _Artéria fronto-orbitária interna, para a parte A artéria cerebral posterior nasce da bifurcação
interna da face orbitária do lobo frontal; da artéria basilar à frente dos pedúnculos cere-
• j\rtéria fronto-polar, para a região ântero-in- brais. Tem inicialmente um trajecto para fora até à
terna do lobo frontal; emergência da artéria comunicante posterior (seg-
• j\rtérias frontais e parietais, que irrigam a mento inicial ou Pl), depois segue para trás, con-
parte superior da face interna do hemisfério tornando os pedúnculos cerebrais (segmento P2),
cerebral até ao lóbulo quadrilátero, e a porção sendo paralela à artéria cerebelosa superior que
superior da face externa do hemisfério cere- lhe é inferior. Continua depois pela face inter-
bral (1.ª circunvolução frontal, parte superior na do lobo temporal e, mais atrás, no lobo occipi-
das circunvoluções frontal e parietal ascen- tal, bifurca-se num ramo superior - artéria parie-
dentes e 1.ª circunvolução parietal); este ter- to-occipital - e num ramo inferior - artéria cal-
ritório inclui assim as áreas corticais motora e carina, que termina na fissura calcarina. Irriga as-
somatoestésica primárias relativas ao membro sim as áreas corticais visuais. Tem os seguintes ra-
inferior contralateral. mos colaterais:
• Artérias perfurantes centrais - tálamo-per-
A artéria cerebral média, ou artéria sílvica, é o furantes - para o tálamo, que nascem do seu
rarno externo da bifurcação da carótida interna. segmento inicial antes da anastomose com a
Dirige-se para fora, entrando no rego de Sylvius, artéria comunicante posterior;
que vai percorrer de dentro para fora até que se bi- • Artéria comunicante posterior;
furca (ou menos frequentemente se trifurca). Nes- • Artérias temporais internas;
te segmento inicial, horizontal (segmento esfenoi- • Artéria coroideia póstero-lateral para o plexo
dal ou Ml), dá várias artérias perfurantes centrais coroideu do corno temporal e glomus do ven-
(externas e internas) que perfuram a substância trículo lateral;
perfurada anterior e irrigam os núcleos centrais do • Artéria coroideia póstero-medial para o ple-
cérebro e a cápsula branca interna. Dá ainda ori- xo coroideu lateral do corno frontal do ven-
gem a uma artéria temporal anterior. Os ramos da trículo lateral e para o plexo coroideu media-
bifurcação mudam então de direcção dirigindo-se no do III ventrículo (entra pela extremidade
para cima sobre o lobo da ínsula (segmento insu- posterior da fissura cerebral transversa - por-
lar ou M2). Aqui mudam novamente de direcção, ção mediana da fenda de Bichat), correndo
desta vez dirigindo-se para fora até à superfície do depois de trás para a frente sobre o III ventrí-
misfério cerebral (segmento opercular), para se culo e sob o corpo do trígono;
· carem e distribuírem na face externa do he- • Artéria pericalosa posterior que contorna
"sfério. Assim, as áreas corticais motora e soma- · posteriormente o debrum do corpo caloso;
estésica primárias (com excepção das regiões re- • Ramos corticais para a face interna da porção
tivas ao membro inferior), bem como as áreas posterior do lobo parietal e para o lobo occi-
rticais da linguagem (Broca e Wernicke) no he- pital, que nascem das artérias parieto-occipi-
. fério esquerdo, são irrigadas por esta artéria. tal e calcarina, já descritas.
, s a bifurcação, a artéria cerebral média dá os
tes ramos:
Artéria fronto-orbitária externa, para a parte VEIAS
externa da face orbitária do lobo frontal;
Ramos frontais; As veias do encéfalo não têm camada muscu-
Artérias pré-central, central (rolândica) e lar e são avalvulares. Emergem do tecido nervo-
pós-central· so e caminham no espaço subaracnoideu drenan-
Ramos par{etais, dos quais a artéria angular é do para os seios venosos intracranianos mais pró-
considerada ramo terminal· ximos. Contrariamente às artérias, que habitual-
Ramos temporais externos'. mente seguem o fundo das fissuras e sulcos cere-
brais, as veias corticais situam-se superficialmen-
611
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
te na face profunda da aracnóide que cobre cada • A veia anastomótica inferior de Labbé é
sulco. . cort1c
veia . ai temporai posterior,
. que se d·urna
.
A drenagem venosa do cérebro organiza-se num ge de cima para baixo e da frente para tr· ltl-
sistema superficial e num sistema profundo. . . as até
termmar no se10 lateral, anastomosando
O sistema venoso superficial pode sistematizar-se . .d d , este
se10 e a extrem1 a e postero-superior da v .
da seguinte forma (Fig.10.1.119): 'di fi ·at E'
cerebrai me a super a . particular"' e1a
..,en-
• Veias cerebrais superiores, que drenam a te importante à esquerda drenando O Córt
parte superior das faces externa e interna de temporal posterior (incluindo a área cortic~
cada hemisfério para os seios sagital supe- da linguagem de Wernicke);
rior e inferior; • A veia anastomótica superior de Trolard é
• Veia cerebral média superficial, que corre ao uma veia cortical que anastomosa a extremi-
longo da superfície da fissura de Sylvius ter- dade póstero-superior da veia cerebral média
minando no seio cavernoso e drenando o cór- superficial e o seio transverso superior, cor-
tex adjacente; rendo assim verticalmente na região frontal
• Veia cerebral média profunda,...que corre so- posterior da face externa do hemisfério ce-
bre o lobo da ínsula (no fundo da fissura de rebral.
Sylvius) terminando ao anastomosar-se com
a veia cerebral anterior junto à substância 3 8
perfurada anterior para formar a veia basal de
Rosenthal;
• Veias cerebrais inferiores, que drenam as faces
inferior e interna dos lobos temporal e occi-
~ital para os seios lateral e recto;
• A frente, a face inferior dos lobos frontais
drena para a veia cerebral anterior, satélite da
artéria com o mesmo nome, que contorna de
trás para a frente e de cima para baixo o joe-
lho do corpo caloso e termina junto à subs-
tância perfurada anterior ao anastomosar-se
com a veia cerebral média profunda, forman-
do a veia basal de Rosenthal;
• A veia basal de Rosenthal_forma-se assim
junto à substância perfurada anterior pela
11 10
anastomose das veias cerebral anterior, cere-
bral média profunda e de veias estriadas que Fig. 10.1.119: Drenagem venosa encefálica.
1. Veia basal de Rosenthal 2. Veia de Labbé 3. Veia de Trolard 4. Veia
emergem da substância perfurada anterior. tálamo•estriada 5. Veia cerebral interna 6. Veia cerebral magna
Esta veia contorna o pedúnculo cerebral ho- de Galeno 7. Seio longitudinal superior 8. Seio longitudinal inferior
9. Seio recto 10. Seio transverso 11. Seiosigmóide 12. Seio cavernoso
molateral da frente para trás ao longo da fis-
sura coroideia (porção lateral da fenda cere-
bral de Bichat), por baixo da fita óptica e da O sistema venoso profundo é constituído pelas
artéria coroideia anterior, juntamente com a (Fig.10.1.119):
artéria cerebral posterior e o IV nervo crania- • As veias cerebrais internas (pequenas veias de
no; recebe no seu trajecto veias da substância Galeno) formam-se junto ao buraco de Mon-
perfurada posterior que drenam a porção pós- ro pela anastomose das seguintes 3 veias:
tero-inferior do tálamo; e termina por debai- Veia tálamo-estriada, que corre de trás
xo do debrum do corpo caloso, lateralmente à para a frente no sulco tálamo-estriado
glândula pineal, ao anastomosar-se com a veia até ao buraco de Monro e drena ambos
cerebral magna de Galeno; os tálamos e a cápsula branca interna;
612
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: VASCULARIZAÇÃO ENCEFÁLICA
• Veia do septo lúcido, que drena o septo veias jugulares internas, que também recebem
lúcido, a porção anterior do corpo caloso sangue venoso dos seios petrosos inferiores e
e a cabeça do núcleo caudado; do plexo venoso do clivus;
• Veia coroideia, que drena o plexo coroi- • Seios cavernosos, são compartimentos veno-
deu do ventrículo lateral. sos complexos, multisseptados, de ambos os
lados da sela turca. Recebem as veias oftálmi-
As veias cerebrais internas correm da frente para cas superior e inferior e comunicam entre si
trás de cada lado da linha média na tela coroideia pelos seios intercavernosos.
sobre o tecto do III ventrículo (fissura cerebral
transversa ou porção mediana da fenda cerebral de
Bichat), anastomosando-se com a do lado oposto
sob o debrurn do corpo caloso para formar a veia
cerebral magna de Galeno: O encéfalo está dependente de um fluxo perma-
• A veia cerebral magna de Galeno (ou ampola nente de sangue para manter a oxigenação ade-
de G aleno) recebe as duas veias cerebrais in- quada ao seu normal funcionamento. Esse fluxo
ternas e as duas veias basais de Rosenthal, e constante (cerca de 50 a 60ml/100g/min) é man-
termina na extremidade anterior do seio rec- tido, independentemente das variações da pres-
to, sobre a glândula pineal, conjuntamente são arterial, por um mecanismo de autorregu-
com o seio transverso inferior. lação em que as artérias de pequeno calibre va-
riam o seu diâmetro (resistência vascular cere-
bral) de forma inversa à variação da pressão arte-
SEIOS VENOSOS DURAIS rial média, dentro de valores tensionais fisiológi-
cos (pressão arterial média de 50 a 150 mmHg).
As veias acima descritas drenam o sangue venoso Assim, apesar da pressão arterial média variar,
intracraniano para um conjunto de seios venosos a variação concomitante da resistência vascu-
durais, que passamos a descrever (Fig.10.1.119): lar cerebral permite manter o fluxo constante.
Seio longitudinal superior, na linha média, Se a tensão arterial ultrapassa os valores máxi-
que se origina perto da apófise crista galli e mos, as artérias aumentam de diâmetro pelo efei-
que se estende posteriormente até à confluên- to mecânico da hipertensão, aumentando anor-
cia venosa posterior com os seios recto e late- malmente o fluxo e podendo levar a uma situa-
rais, entre a tábua interna da calote craniana e ção clínica grave denominada "encefalopatia hi-
os folhetos da dura-máter; pertensiva". Se a tensão arterial cai abaixo do li-
Seio longitudinal inferior, inconstante, percorre mi te mínimo, a dilatação compensatória das ar-
a margem livre da foice cerebral, juntando-se à térias já não é suficiente, pelo que o fluxo san-
grande veia de Galeno para formar o seio recto. guíneo cerebral diminui. Qyando este fluxo cai
Seio recto, percorre a confluência da dura- abaixo de 25ml/100g/min, a actividade cortical
-máter da foice cerebral com a dura- máter da diminui causando perda de consciência. Abai-
tenda do cerebelo. Dirige-se posteriormente xo de 15ml/100g/min desaparece qualquer ac-
para se unir ao seio longitudinal superior, for- tividade eléctrica cortical. Com valores inferio-
mando a tórcula ( = confluente venoso poste- res a 10ml/100g/min iniciam-se alterações celu-
rior= Lagar de Herófilo); lares graves que levarão à morte celular irreversí-
Seios laterais, originam-se na tórcula e diri- vel se o fluxo não for restabelecido rapidamente.
gem-se lateralmente ao longo do bordo ade- É o que se passa quando, por exemplo, há para-
rente da tenda do cerebelo; gem cardíaca. Qyando há oclusão de uma artéria
Seios sigmóides, constituem a continuação cerebral o fenómeno é semelhante só que a nível
dos seios laterais, quando estes se inflectem regional, com necrose celular por isquémia (falta
para baixo, posteriormente aos rochedos. Na de irrigação) da região encefálica que essa artéria
base do crânio continuam-se com o golfo das nutria - é o acidente vascular cerebral (AVC) is-
613
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
quémico. As artérias encefálicas são artérias ter- quentemente no núcleo lenticular, na cápsu-
minais, isto é, não têm mais anastomoses entre si la branca interna, no tálamo óptico, na protube-
a jusante do polígono de Willis. Esta particula- rância anular e no cerebelo. As hemorragias su-
ridade anatómica é importante na compreensão baracnoideias são causadas, mais frequentemen-
deste fenómeno da isquémia cerebral. As prin- te, pela rotura de aneurismas das artérias cere-
cipais causas de AVC's isquémicos são: a oclu- brais; isto é, dilatações, geralmente em forma de
são de artérias (carótida interna, vertebral ou ar- saco, que nascem das bifurcações arteriais (p.ex.,
térias intracranianas) por placas de aterosclero- bifurcação da artéria basilar ou da artéria cere-
se que se formam na sua parede; e as embolias à bral média), onde o fluxo sanguíneo incide di-
distância por trombos que se originam no cora- rectamente na parede arterial, principalmente
ção ou na carótida interna junto a uma placa ate- nos segmentos arteriais que constituem o polí-
rosclerótica. Ao libertarem-se, esses trombos na- gono de Willis. A parede dos aneurismas é mais
vegam pela circulação cerebral até ocluirem uma frágil que a de uma artéria normal, pelo que têm
artéria e causarem um AVC. tendência a romper para o espaço subaracnoideu.
Conhecendo os territórios de irrigação das prin- A terapêutica destas lesões é muitas vezes cirúr-
cipais artérias cerebrais e as funções das várias
áreas do cérebro, podemos reconhecer síndromes
que resultam da oclusão de cada uma dessas ar-
térias:
Artéria cerebral anterior: hemiparésia e he-
mihipostesia contralaterais de predomínio no
membro inferior;
Artéria cerebral média: herniparésia e he-
mihipostesia contralaterais de predomínio na
face e membro superior e afasia (defeito na
linguagem) se no hemisfério esquerdo;
Artéria cerebral posterior: hernianópsia ho-
mónima contralateral (por lesão das radia-
ções ópticas e da área visual cortical primá-
ria) e por vezes hemihipostesia contralateral
por lesão do tálamo;
Artéria coroideia anterior: herniplegia e he-
mihipostesia contralateral (por lesão da cáp-
sula branca interna) e hemianópsia homóni-
ma contralateral (por lesão da fita óptica).
614
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO CENTRAL: VASCULARIZAÇÃO ENCEFÁLICA
PERGUNTAS TIPO
ia-z i'.)- i
:s,isodso<l
615
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
VI
VIII
IX
XII XI X
Fig. 10.2.1: Nervos cranianos (esquema geral).
1. Olfativo li. Optico 111. Oculomotor IV. Troclear V. Trigémio VI. Abdutor VII. Facial VIII. Vestibulococlear IX. Glossofaríngeo X. Vago
XI. Acessório X II. Hipoglosso.
616
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO: NERVOS CRANIANOS
14
15
11
/ 3 4 6 8 9 10
617
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
mam as radiações ópticas e dirigem-se para o cór- elevação da pálpebra superior, os movimentos do
tex visual primário, situado de cada lado do sul- globo ocular para cima ou para baixo e para den-
co calcarino na face medial do lobo occipital. É o tro, a constrição pupilar (miose) e a acomodação
nervo responsável pela visão (ver Sistema Visual). do cristalino (ver Sistema Visual).
8 7 6
4
9 10 11 12 13 4
618
CONTROLO E I NTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO: NERVOS CRANIANOS
13 14
11
Fig. 10.2.SA: Nervo Trigémio (V).
~: ~~rvo trigémtO 2. Nervo oftálmico 3. Nervo maxilar 4 . Nervo mandibular 5. Nervo supraorbitário 6. Gânglio ciliar 7. Nervo lnfraor-
rtano 8. Gânglio esfenopalatino 9. Gânglio ótico 10. Gânglio submandibular 11. Nervo lingual 12. Nervo dentário inferior 13. Nervo
mentoniano 14. Nervo auriculotemporal.
619
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
ao núcleo ventral póstero-medial do tálamo, onde deo, ao troclear e ao oculomotor, ramos colaterais
termina. Daqui, as fibras dos neurónios seguintes meníngeas, entre os quais o nervo meníngeo re-
atravessam a cápsula interna e dirigem-se ao cór- corrente (de Arnold) e ramos para o gânglio ciliar,
tex cerebral da circunvolução pós-central (parie- gânglio vegetativo que lhe está adjacente por de-
tal ascendente). trás de globo ocular.
O nervo nasal, mais medial, entra na órbita atra-
Origem aparente, trajeto e ramos vés da parte medial da fissura orbitária superior e
passa dentro do anel tendinoso comum dos mús-
O trigémio emerge do tronco cerebral ao nível da culos oculomotores (anel de Zinn). Acompanha,
face ântero-lateral da protuberância na transição então, o trajecto da artéria oftálmica ao longo do
para os pedunculos cerebelosos médios. Há uma bordo inferior do músculo oblíquo superior. Ao
raiz sensitiva do trigémio, maior e uma raiz moto- longo deste trajecto, emite um ramo para o gân-
ra do trigémio, menor e medial. glio oftálmico, os nervos ciliares longos para o glo-
No seu trajecto, na fossa craniana posterior o ner- bo ocular e o ramo esfeno-etmoidal (para as célu-
vo orienta-se para a frente e para fora, dirigindo-se las etrnoidais superiores e seio esfenoidal). Os ra-
para a face ântero-superior do rochedo. Aí locali- mos terminais são, o nasal medial e o nasal lateral.
za-se o gânglio trigemina! de Gasser, que se en- O primeiro acompanha a artéria etmoidal ante-
contra no cavum de Meckel, estrutura resultante rior até às fossas nasais e o septo nasal. O ner-
de um desdobramento da duramáter. O s três ra- vo nasal lateral inerva a pele da base e do lóbu-
mos do trigémio originam-se no bordo ântero-la- lo do nariz.
teral deste gânglio e são, de cima para baixo e de O nervo frontal atravessa a parte larga da fenda
dentro para fora, o oftálmico, o maxilar e o man- esfenoidal, embora lateralmente ao anel de Zinn.
dibular. Dirige-se anteriormente entre o elevador da pál-
O nervo oftálmico (Vl), exclusivamente sensitivo, pebra superior e o tecto da órbita, dividindo-se em
tem origem na parte ântero-medial do gânglio de ramos frontal medial e lateral (nervo supra-orbi-
Gasser. Dirige-se para a frente e para cima, na es- tário). Ambos se distribuem aos tegumentos da
pessura do seio cavernoso, inferiormente aos ner- fronte, pálpebra superior e base do nariz.
vos troclear e oculomotor. Ainda no seio caverno- O nervo lacrimal atravessa a parte lateral da fissu-
so, divide-se nos seus ramos terminais, os nervos ra orbitária superior. Dirige-se para a frente e para
nasal, frontal e lacrimal. O oftálmico fornece no fora e vai inervar a glândula lacrimal e a parte late-
seu trajecto feixes anastomóticos ao plexo carotí- ral da pálpebra superior.
620
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO: NERVOS CRANIANOS
ervo maxilar (V2) é também exclusivamente língua à frente do V lingual; adjacente a este ner-
O :jtivo. Parte do gânglio de Gasser, lateralmen- vo encontra-se os gânglios nervosos submandibu-
sen oftálrn1co, . d'mge-se
. para a firente, atravessa lar e sublingual (ver Sistema Nervoso Vegetativo).
re ao
buraco grande redondo e o transfundo da fossa
0
, •go-rnaxilar onde está ligado ao gânglio pteri- NERVO ABDUCENTE - VI NERVO
prefl
-palatino (Meckel). Chega assim ao canal infra-
!;rbitário, passando a chamar-se nervo infra-orbi- O nervo abducente (Fig.10.2.4) é um nervo mo-
, • e percorre-o até sair no buraco com o mes- tor que tem por origem real o núcleo abdutor si-
rarJ0 ' ,,... , . 1 . d .
0
norne. ~em var1os ramos co aterais, os quais tuado no pavimento protuberancial do quarto
rn rirneiro é o ramo meníngeo médio; o ramo or- ventrículo, sob o colículo facial. As suas fibras di-
op
bitário destina-se aos tegumentos malares e da re- rigem-se para a frente e emergem no sulco bul-
gião tempor~; o ramo esfeno-~alatino vai inervar boprotuberancial. Atravessa o seio cavernoso, la-
a parte inferior das fossas nasais; os ramos alveo- teral e inferior à artéria carótida interna, abaixo
lares posteriores, médios e anteriores destinam-se e medial relativamente aos nervos oculomotor
aos dentes e gengivas do maxilar superior. Os ra- e troclear, e entra na órbita pela fissura orbitá-
rnos terminais do nervo infra-orbitário conferem ria superior indo enervar o músculo recto lateral.
sensibilidade à pálpebra inferior, lábio superior e É responsável pelo desvio lateral do globo ocular
asa do nariz. (ver Sistema Visual).
o nervo mandibular (V3), sensitivo-motor, é o
mais lateral ao deixar o gânglio de Gasser. As fi- NERVO FACIAL - VII NERVO
bras sensitivas juntam-se ao ramo motor logo que
emergem do gânglio de Gasser. O nervo passa no O nervo facial(Fig.10.2.6) é motoresensitivo,con-
buraco oval, abaixo do qual se encontra ligado a tendo também um componente parassimpático.
um outro gânglio vegetativo, o gânglio ótico (Ar- É responsável pela inerveção motora dos mús-
nold) e divide-se em dois troncos terminais. O seu culos da mímica e, através da corda do tímpa-
único colateral é um ramo meníngeo recorrente. no, transporta informação sensorial do paladar.
O tronco anterior dá origem a três ramos: o ner- Por fim, tem também um componente vegetati-
vo temporo-bucal destinado ao músculo pteri- vo parassimpático, responsável pela secrecção la-
goideu lateral, à parte anterior do músculo tem- crimal, nasal e salivar das glândulas submaxilar e
poral, à mucosa jugal (face medial da bochecha) sublingual.
e pele correspondente; o nervo temporal profun-
do médio inerva a parte média do músculo tem- Origem real, núcleos e vias
poral; por fim, o nervo temporo-masseterino que
termina no masséter e na parte posterior do mús- O nervo facial tem origem em três núcleos: motor
culo temporal. principal, sensitivo e parassimpático.
O tronco posterior tem quatro ramos: o primeiro O núcleo motor principal do facial situa-se na
é o tronco comum dos nervos do pterigoideu me- parte inferior da protuberância, no seio da subs-
dial, do peristafilino lateral (tensor do véu palati- tância reticular. A porção superior do núcleo, que
no) e do músculo tensor do tímpano, que são ra- inerva os músculos da parte superior da face, re-
mos motores para os músculos do mesmo nome; o cebe aferências de ambos os hemisférios cerebrais
nervo aurículo-temporal confere sensibilidade aos (circunvolução frontal ascendente). A porção infe-
tegumentos da parte lateral da cabeça, articulação rior do núcleo, que inerva os músculos da parte in-
têmporo-mandibular, conduto auditivo externo, ferior da face, é comandada apenas pelo hemisfé-
membrana do tímpano e parte do pavilhão da ore- rio contra-lateral.
lha; o nervo dentário inferior enerva os dentes do O núcleo sensitivo do facial é a parte superior do
maxilar inferior. O último ramo, o nervo lingual, núcleo do feixe solitário e localiza-se lateralmente
recebe como anastomose o nervo corda do tím- ao núcleo motor. No gânglio geniculado, situado
pano, ramo do facial, e distribui-se à mucosa da no rochedo entre a primeira e a segunda porções
621
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
12
do seu trajecto no aqueduto de Falópio, estão as dutor. Ao rodeá-lo determinam a eminência teres
células que recolhem as sensações relativas ao pa- ou colículo facial no pavimento do IV ventrículo.
ladar e ao componente sensitivo do facial. Os seus A raiz sensitiva do facial é formada pelo chamado
axónios fazem sinapse no núcleo sensitivo, cujas "nervo intermédio de Wrisberg". As fibras deste
fibras eferentes se dirigem para o cortex gustativo nervo são os axónios das células do gânglio geni-
do hemisfério oposto. Para tal, cruzam a linha mé- culado, que terminam no núcleo do feixe solitário
dia, fazem sinapse no núcleo ventral póstero-me- na protuberância, e fibras parassimpáticas.
dial do tálamo e seguem pela coroa radiária até à Ambas as raízes emergem, anteriormente, a nível
porção inferior da circunvolução pós-central (pa- do sulco bulbo-protuberancial, situando-se o ner-
rietal ascendente). vo intermédio de Wrisberg entre a raiz motora e
Os núcleos parassimpáticos do facial localizam- o oitavo nervo. Atravessam o ângulo ponto-cere-
-se posteriormente ao núcleo motor principal. Do beloso à frente do nervo vesnbulo-coclear e en-
conjunto fazem parte o núcleo salivar superior e tram em conjunto no canal auditivo interno. O fa-
o núcleo lacrimal. O núcleo salivar superior rece- cial percorre as três porções do aqueduto do facial
be aferências do hipotálamo e das vias do pala- ou de Falópio, que contornam o ouvido interno
dar (através no núcleo do feixe solitário). O nú- e médio, para terminar no buraco estilo-mastoi-
cleo lacrimal recebe feixes do hipotálamo, relativos deu. Em seguida dirige-se anteriormente, passan-
às respostas emocionais, e do núcleo sensitivo do do por fora da apófise estiloideia, e atravessa a pa-
trigémio, responsáveis pela resposta à irritação da rótida - relação muito importante em termos pa-
córnea com lacrimejo reflexo. tológicos e cirúrgicos.
O nervo facial emite ramos colaterais intra-petro-
O rigem aparente, trajeto e ramos sos, extra-petrosos (abaixo do buraco estilo-mas-
toideu) e ramos terminais. Os ramos colaterais
O componente motor e o sensitivo do facial têm intra-petrosos são seis e emergem no trajecto do
raízes distintas. As fibras motoras do facial dei- nervo dentro do aqueduto de Falópio: o nervo pe-
xam o respectivo núcleo e dirigem-se para den- troso maior superficial, que recebe o nervo petro-
tro e para trás, contornando o núcleo do nervo ah- so maior profundo (ramo do Glossofaríngeo) for-
622
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO: NERVOS CRANIANOS
Jllando o nervo petroso maior e ainda um ramo sando pelo pedúnculo cerebeloso inferior, e des-
anastomótico do plexo simpático peri-carotídeo cendentes, que formam o feixe vestíbulo-espinhal.
tornando-se no nervo vidiano, aferente do gân- Outras fibras dirigem-se a outros núcleos de ner-
glio esfeno-palatino no transfundo da fossa pté- vos cranianos situados no tronco cerebral. Outras
rigo-maxilar; o petroso menor superficial anasto- ainda ascendem para o córtex telencefálico, através
1110sa-se com petroso menor profundo ( também de sinapses no tálamo. Desta forma a informação
ramo do glossofaríngeo) formando o nervo pe- do ouvido interno é integrada e processada com o
troso menor e dirige-se ao gânglio ótico; o nervo tónus muscular, a visão e movimentos oculares e a
do músculo do estribo ou estapédico enerva o res- orientação no espaço.
pectivo músculo; o nervo corda do tímpano atra-
vessa a caixa do tímpano, adjacente à face medial 10 9 13
da membrana do tímpano e anastomosa-se com o
14
nervo lingual; e um ramo sensitivo do canal audi-
tivo interno e um ramo anastomótico da fossa ju-
gular com o nervo vago.
Os ramos colaterais extra-petrosos são: o ramo
anastomótico do glossofaríngeo, o auricular pos-
terior (destinado aos músculos auriculares e occi-
pital), os ramos dos músculos estilo-hioideu e do 15
ventre posterior do diagástrico e o ramo língua!
(que se anastomosa com o glossofaríngeo na base
da língua).
Os ramos terminais do facial surgem na proximi- 7 8
dade da veia jugular externa: o ramo temporo-fa- Fig. 10.2.7: Nervo vestibulococlear (VIII).
cial destina-se aos músculos da mímica do crânio e 1. Nervo vestibulococlear 2. Nervo vestibular 3. Nervo codear 4. Raiz
dos nervos facial e intermediário (Wrisberg) 5. Gânglio espiral {Corti}
da face, acima do orifício bucal; o ramo cervico-fa- 6. Gânglio vestibular 7. Núcleos vestibulares 8. Núcleos cocleares
cial anastomosa- se com o ramo auricular do ple- 9. Gânglio geniculado 1O. Nervo grande petroso 11. Sáculo 12. Ca-
nal semicircular posterior 13. Utrículo 14. Canal semicircular superior
xo cervical e enerva os músculos da mímica abaixo 15. Canal semicircular lateral.
do orifício bucal, bem como o músculo cutâneo do
pescoço ou platisma.
A parte coclear recebe impulsos do orgão de
NERVO VESTIBULOCOCLEAR - VIII NERVO Corti, na cóclea, sensível a estímulos sonoros. As
células receptoras constituem o gânglio espiral
O nervo vestibulococlear é um nervo sensorial, do caracol (Corti) e dirigem-se para o conduto
constituído por duas partes distintas, uma vesti- auditivo interno. A partir daí acompanham as fi-
bular e uma coclear, que recebem informação do bras da parte vestibular em todo o seu trajecto e
ouvido interno (Fig. 10.2.7). constituem a raiz coclear. Na protuberância diri-
A parte vestibular recebe impulsos do utrículo e gem-se aos núcleos cocleares, situados na super-
do sáculo do ouvido interno, relativos ao posicio- fície do pedúnculo cerebeloso inferior. As fibras
namento da cabeça, e dos canais serni-circulares eferentes destes núcleos constituem o lemnisco
do ouvido interno, relativos ao movimento da ca- espinhal de um lado e outro, que se dirigem ao
beça. As células receptoras situam-se no gânglio corpo geniculado medial e daí partem fibras para
vestibular (Scarpa) situado no fundo do conduto o córtex auditivo, formando as radiações acústi-
auditivo interno e as suas fibras eferentes consti- cas. O córtex auditivo localiza-se na circunvolu-
tuem a raiz vestibular do nervo, que entra no tron- ção temporal superior. Nesta estão representadas
co cerebral no sulco bulbo-protuberancial. Diri- as fibras e a organização do orgão de Corti (ver
gem-se aos núcleos vestibulares onde fazem si- Sistema Auditivo).
napse. Deles partem fibras para o cerebelo, pas-
623
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
624
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO PERJFÉRICO: NERVOS CRANIANOS
aior e menor. Outros ramos colaterais são os ca- volução parietal ascendente. A informação relati-
rTl
rotídeos (para o • e corpo carot1'deos,Juntamen-
se10 . va à sensibilidade somática (faringe, laringe, pavi-
te com o vago), os ramos faríngeos (enervando o lhão auricular e canal auditivo externo) é conduzi-
território homónimo, com o décimo nervo crania- da por neurónios do gânglio superior do vago que
no), os nervos dos músculos estilo-faríngeo e esti- terminam no núcleo espinhal do nervo trigémio.
[o-glosso, e, por fim, os ramos tonsilares (da mu-
cosa amigdalina).
Os ramos terminais na base da língua, sensiti-
vos, destinam-se à mucosa lingual posterior ao
V lingual.
625
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
ângulo posterior formado pela carótida e pela ju- sentérico superior e inferior. O vago esquerdo di
gular interna, no feixe vásculo-nervoso do pescoço. tribui-se à face anterior do estômago e ao fí s-
,. gad0
No tórax o vago assume relações diferentes con- por var10s ramos.
soante o lado. À direita cruza a face lateral da caró-
tida primitiva e passa entre a artéria subclávia atrás NERVO ACESSÓRIO OU ESPINHAL - XI
e o confluente venoso jugulo-subclávio à frente. NERVO CRANIANO
Aproxima-se, em seguida, do bordo direito da tra-
queia e desce medialmente à crossa da veia ázigos, O XI nervo craniano (Fig. 10.2.10) é exclusiva-
por trás do brônquio direito, acompanhando de- mente um nervo motor, sendo responsável pela
pois o esófago, primeiro lateral, mais abaixo poste- inervação do esterno-cleido-mastoideu e do tra-
riormente. Do lado esquerdo, desce directamente pézio. Pela sua anastomose com o vago, é tarnbérn
ao longo da carótida primitiva e cruza a face ânte- responsável pela enervação motora da faringe e la-
ro-lateral da porção horizontal da crossa da aorta. ringe e palato mole.
Passa então posteriormente ao pedículo pulmonar
esquerdo e anteriormente à aorta torácica. Inicial- Origem real, núcleos e vias
mente lateral ao esófago, torna-se anterior distal-
mente. Ambos os vagos entram na cavidade ab- O nervo espinhal ou acessório é formado pela reu-
dominal pelo orifício esofágico do diafragma. Por nião de duas raízes, a craniana e a espinhal.
fim, no abdómen, o seu trajecto será também dife- A raiz craniana do espinhal parte do núcleo ambí-
rente à direita e à esquerda, condicionando a res- guo, responde a aferências do córtex motor de am-
pectiva distribuição. bos os hemisférios. Anastomosa-se com o vago e
O vago fornece três tipos de ramos: cervicais, torá- enerva a musculatura do palato mole, laringe e fa-
cicos e abdominais. Os ramos cervicais são o ramo ringe.
merúngeo, o anastomótico da fossa jugular (para A raiz espinhal do nervo acessório parte do nú-
o facial), ramos faríngeos (aferentes do plexo fa- cleo espinhal, localizado nos primeiros cinco seg-
ríngeo), cardíacos cervicais ou superiores (para o mentos da coluna cinzenta anterior da medula es-
plexo cardíaco anterior), o nervo laríngeo superior pinhal. Também esta porção recebe fibras corticais
(para a mucosa laríngea e músculo crico-tiroideu), bilaterais. Controla o esterno-cleido-mastoideu e
e, por último, ramos carotídeos (aferentes do ple- o trapézio.
xo carotídeo).
Os ramos torácicos incluem o nervo laríngeo re- 8 2
corrente (responsável pela inervação de todos os
músculos laríngeos à excepção do crico-tiroideu),
ramos cardíacos inferiores (para o plexo cardía-
co posterior), pulmonares (plexos anterior e pos-
terior) e esofágicos (que formam os plexos res-
pectivos). O nervo recorrente direito, inicialmen-
te anterior à artéria subclávia, contorna-a por bai-
xo e ascende no ângulo diedro entre a traqueia e o
esófago até atingir a laringe. O recorrente esquer-
do contorna, de fora para dentro e da frente para
trás, a porção horizontal da crossa da aorta, depois
ascende até à laringe de forma análoga ao nervo
contra-lateral.
Por fim, os ramos abdominais são, à direita, ramos
gástricos posteriores e um ramo para o gânglio se- Fig. 10.2.10: Nervos acessório (XI) e hipoglosso (XII).
1. Nervo acessório 2. Raiz craniana do XI 3. Raiz espinal do XI 4. Ramo
mi-lunar direito, formando a ansa memorável de espinhal do XI S. Músculo trapézio 6. Músculo esternodeidomastoideu
Wrisberg, e ramos terminais aos plexos solar, me- 7. Ansa cervical 8. Nervo hipoglosso 9. Osso hióide 10. Músculos
suprahioideus e da língua 11. Músculos infrahioideuis.
626
CONTROLO E INTEGRAÇÃO [ SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO: NERVOS CRANIANOS
627
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
lando o reflexo córneo (adiante) e avaliando a for- de Falópio, o que provoca disfunção tempo ..
rana
ça e simetria dos músculos mastigadores. Uma si- da função do nervo. A causa é desconhecida
tuação clínica típica deste nervo é a nevralgia do 'em-
bora, por vezes, o quadro possa ser desencadead
0
trigémio: dor paroxística que dura segundos, repe- pela exposição ao frio.
titiva a estímulos sensitivos do nervo (estimulação
superficial da pele, mastigação), por vezes muito Reflexo córneo
intensa (choque eléctrico) frequentemente devida
à compressão vascular da raiz sensitiva do nervo na O reflexo córneo consiste em estimular a sensibili-
fossa craniana posterior. dade córnea e desencadear o pestanejo. Testa a in-
tegridade dos nervos trigérnio e facial.
Território funcional do ne,vo facial A estimulação sensitiva da córnea (por sopro ou
contacto com algodão) gera impulsos aferentes ao
O nervo facial é responsável pelo controlo mo- núcleo sensitivo do trigémio, através do seu ramo
tor dos músculos da mímica facial, músculo do es- oftlálrnico. Novo impulso segue, então, pelo fei-
tribo, ventre posterior do digástrico e estilo-hioi- xe longitudinal mediano de cada lado, ligando os
deu. O seu componente vegetativo parassimpáti- núcleos de ambos os nervos. O facial desencadeia
co regula as glândulas salivares sub-linguais e sub- então, a acção motora de pestanejar, estimuland;
-mandibulares através do núcleo salivar superior, e os músculos orbiculares das pálpebras.
as glândulas lacrimais, as glândulas mucosas nasais
e palatinas pelo núcleo lacrimal. O núcleo sensi- Território funcional do ne,vo glossofarín-
tivo recebe a sensação do paladar nos dois terços geo
anteriores da língua e a sensibilidade do canal au-
ditivo externo. O nono nervo craniano é um nervo sensitivo ao
Clinicamente o facial é testado pela observação nível da mucosa da caixa do tímpano, da trompa
das comissuras palpebrais e labiais e das chama- de Eustáquio, da naso e oro-faringe. É sensorial no
das "rugas de expressão", tanto nos movimentos que respeita ao paladar atrás do V lingual.
espontâneos (mímica facial), como ao pedir ao Partilha com o facial, o vago, o acessório e o hipo-
doente que encerre as pálpebras, enrugue a fronte, glosso a motricidade buco-faríngea.
assobie e abra a boca. O reflexo córneo (pestanejo As suas componentes vegetativa e homeostática
na sequência da estimulação táctil da córnea) tes- incluem a secreção parotídea e as funções baro e
ta o funcionamento dos nervos facial e trigémio e quimio-receptoras, relacionadas, respectivamente,
da ligação entre eles. com o seio e o corpo carotídeos.
A função motora do nervo facial pode ser lesa- Clinicamente as lesões isoladas do glossofaríngeo
da a nível cortical, nos núcleos motores do facial são raras. Uma delas é a nevralgia do glossofarín-
no tronco cerebral e no trajecto do nervo intra e/ geo, dor paroxística análoga à do trigémio mas no
ou extra-craniano. Semiologicamente, há a dis- territóio do glossofaríngeo, por exemplo na porção
tinguir dois tipos de paralisia. Por um lado, a cen- lateral da faringe.
tral, em que a lesão unilateral do córtex ou da via
respectiva desencadeia défice motor limitado ao Território funcional do ne,vo vago
andar inferior da herniface oposta. Ocorre desvio
cornissural labial contra-lateral à lesão, mas o in- O décimo nervo craniano tem um território sen-
divíduo ergue as sobrancelhas de forma simétri- sitivo que se estende à pele retro-auricular, do pa-
ca e faz o encerramento palpebral. As lesões no vilhão e de parte do canal auditivo externo, bem
núcleo e trajecto do nervo determinam uma pa- como à mucosa laríngea e faríngea. Em termos
ralisia dita periférica, que abrange todos os anda- sensoriais é responsável pelo gosto da base da lín-
res da hemiface do lado da lesão. A paralisia de gua e epiglote.
Bell é um exemplo deste último tipo, consistin- Em termos motores, é o nervo da fala, já que
do em lesão inflamatória do nervo no aqueduto inerva os músculos da laringe. Partilha com o IX
628
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO: NERVOS CRANIANOS
629
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
•••
630
tJERVOS RAOUIDIANOS E PLEXOS ciclo músculo- esquelético) e posterior (sensiti-
va/aferente, constituída por fibras nervosas cen-
capítulo procura fornecer um guia seguro de trípetas condutoras de impulsos nervoso das di-
f:~tenração na abordagem dos nervos raquidia- ferentes modalidades sensitivas para a medula es-
orie A.o invés de uma posição anatómica descriti- pinhal, com uma dilatação posterior onde se lo-
pos- austiva, proporciona
. uma abordagem estrutu- caliza o corpo neuronal - o gânglio da raiz poste-
-ª
r:ida
do seu esquema d . . -
e s1stemat1zaçao. rior). No seu conjunto, encontram-se estrutura-
dos em 31 pares de raízes classificados de acordo
com a sua exterioração da coluna vertebral em:
1NTRODUÇÃO 8 nervos cervicais, 12 nervos torácicos, 5 nervos
lombares, 5 nervos sagrados e 1 nervo coccígeo
Os nervos raquidianos ou espinhais são estru- (Fig. 10.2.11).
as mistas constituídas por axónios, células de As raízes anterior e posterior unem-se no interior
~hwann e tecido conjuntivo que se originam na do canal vertebral e saem do canal vertebral atra-
edula espinhal por duas raízes: anterior (moto- vés do buraco de conjugação respectivo sob a for-
~eferente, constituída por fibras nervosas cen- ma de um nervo misto (informação motora e sen-
trífugas condutoras de impulsos nervosos ao te- sitiva). Tendo em conta o crescimento vertebro-
--
□--
8=
- ---
1
0,2.11: Estruturação global dos nervos raquidianos.
os Cervicais 2. Nervos Torácicos 3. Nervos Lombares 4. Nervos Sagrados 5. Ramos Ventrais do Plexo Cervical (C1-CS) 6 . Ramos Ventrais
Xo Braquial (CS-T1) 7. Neivos lntercostais (T1-T12) 8. Ramos Ventrais do Plexo Lombar (L1-L4) 9. Ramos Ventrais do Plexo Sagrado (L4-S4)
os Ventrais do Plexo Coccígeo (S5-Co1).
631
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
-medular desproporcional (vertebral > medular - • Ansa do Áxis - segundo e terceiro nervos
. . Cer,
cone medular normalmente situado entre Ll-L3) vmus;
as raízes são progressivamente mais longas e oblí- • Terceira Ansa Cervical - terceiro e q
quas no sentido crânio-caudal, constituindo dis- nervos cervicais. Uarto
talmente a cauda equina em associação com o
filum terminal. Do conjunto destas estruturas emergem três ti
.. Pos
Os nervos raquidianos dividem-se num grande de ramos nervosos: superfic1ais ou sensitivos, pro,
ramo anterior e num ramo posterior após a sua fundos ou motores e anastomóticos (Fig. l 0.2_ 13)_
exteriorização do canal vertebral. Os ramos pos-
teriores contornam as estruturas articulares late-
rais da coluna vertebral e dirige-se posteriormen-
te para inervar os músculos e tegumentos poste-
riores. Os ramos anteriores unem-se em estruturas
funcionais - os plexos cervical, braquial, lombar,
sagrado e coccígeo - através de múltiplas anasto-
moses, para inervar os músculos e os tegumentos
da parede ântero-lateral do corpo, os músculos e
tegumentos dos membros (Fig. 10.2.12).
9 3 2
10 8 4 9
632
CONTROLO E INTEGRAÇÃO J SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO: NERVOS RAQUIDIANOS E PLEXOS
05
Profundos ou Motores: 2
Ramos descententes:
Nervo descendente interno (C2, C3)
[Ansa do hipogloso];
• Nervo frénico (C2, C3, C4).
• Ramos internos:
, Nervo do longo da cabeça [Ansa do
Atlas];
, Nervo do longo do pescoço [Ansa do
Áxis].
Ramos Anastomóticos:
Tronco Simpático: tebral (músculo longo do pescoço), e à farínge e
• 1.0 - 4. 0 Nervo Cervicais para o Gânglio porção mais superior da laringe, e póstero-inter-
Simpático Superior; namente à baínha visceral cervical que contém a
• 4.0 Nervo Cervical para o Gânglio Sim- artéria carótida interna, a veia jugular interna e o
pático Médio. nervo pneumogástrico.
633
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
11
10
18
D
20
Ili
634
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO: NERVOS RAQUIDIANOS E PLEXOS
a posteriormente ao vértice do coração. Para (anastomose das divisões anteriores dos troncos
~ da inervação sensitiva e motora já mencio- primários superior e médio), ântero-interno ou
d s O nervo fireruco
,JeJ11 , · emite
· am· da ramos abd0- medial (divisão anterior do tronco primário infe-
11ª :~ para o plexo celíaco e glândula supra-re- rior) e posterior (anastomose das divisões poste-
riu;(apenas o nervo frénico direito). Por vezes é riores dos três troncos primários).
~ dividualizável o nervo frénico acessório, eu após Os ramos do Plexo Braquial dividem-se em ra-
ill ua origem no nervo subclávio (plexo braquial) mos colaterais, ramos terminais e ramos anasto-
~e-se ao nervo frénic~ prin~pal na base do pes- móticos (Fig.10.2.16).
ou à entrada do torax (Fig. 10.2.15).
coço
Ramos Colaterais:
• Anteriores:
• Nervo do Grande peitoral;
PLEXO BRAQUIAL Nervo do Pequeno peitoral;
• Nervo do Subclávio.
oEFINIÇÃO E CONSTITUIÇÃO
• Posteriores:
O Plexo Braquial apresenta três níveis organiza- • Nervo supra-escapular;
cionais: ramos anteriores dos nervos raquidianos • Nervo superior do infra-escapular;
_ramos anteriores dos últimos 4 nervos cervicais • Nervo inferior do infra-escapular;
(C5-C8) e primeiro nervo torácico e suas anas- • Nervo do grande dorsal ou tóraco-dor-
romoses, troncos primários - superior (C5 e C6), sal;
médio (C7) e inferior (C8 e Tl) - e troncos se- • Nervo do grande dentado ou serrado an-
cundários ou cordões - ântero-externo ou lateral terior;
21
1 9 -- -- -
18 16 15 14
635
.....
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
Ramos Terminais:
• Anteriores:
• Nervo músculo-cutâneo ou cutâneo late-
ral do antebraço (Tronco secundário ân-
tero-externo I cordão lateral);
• Nervo mediano (Tronco secundário ân-
tero-externo I cordão lateral);
• Nervo cubital ou ulnar (Tronco secundá-
rio ântero-interno I cordão medial);
• Nervo braquial cutâneo interno ou cutâ-
neo medial do braço (Tronco secundário
ântero-interno);
• Nervo acessório do braquial cutâneo in-
terno ou cutâneo medial do antebraço
(Tronco secundário ântero-interno).
• Posteriores:
• Nervo axilar ou circunflexo (Tronco se-
cundário posterior);
• Nervo radial (Tronco secundário poste-
rior).
Ramos Anastomóticos:
• Plexo Cervical (através do ramo anterior do
4. 0 Nervo Cervical);
• Gânglio Cervical Inferior ou Gânglio Estre-
lado (através do Nervo Vertebral e de ramos
anastomóticos provenientes dos 6.0 , 7. 0 e 8. 0
Nervos Cervicais e do 1.0 Nervo Torácico);
• 2. 0 Nervo Cervical (Ramo anastomótico de
Hyrtl).
RElAÇÔES
(FIG. 10.2.17)
636
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO: NERVOS RAQUIDIANOS E PLEXOS
plexo cervical e cruzado externamente pelo mús- quial - nervo perfurante de Casserius - colocan-
culo-omo-hioideu, pela artéria cervical transversa do-se entre este e o músculo bicípite braquial, di-
superficial e pela artéria escapular superior ou su- rigindo-se para a goteira bicipital externa (tendão
pra-escapular. do bicípite braquial internamente e do longo supi-
nador ou braquiorradial externamente), perfuran-
RAMOS do o plano aponevrótico e originando os seus ra-
mos terminais sensitivos cutâneos: anterior - por-
Ramos Colaterais ção ântero-externa do antebraço e eminência te-
nar - e posterior - porção póstero-extema do an-
Os ramos colaterais destinam-se à inervação mo- tebraço. No que respeita os seus ramos colaterais
tora da musculatura da espádua e da axila, dividin- estes são de três categorias distintas: sensitivos -
do-se nos grupos anterior e posterior (Fig.10.2.16 nervo diafisário umeral, vasomotores - múltiplos
e 10.2.17). nervos vasculares - e motores - grupo anterior do
O grupo anterior é constituído por três ramos: braço (músculos córneo-braquial, braquial anterior
nervos dos músculos grande peitoral (tronco ân- e bicípite braquial (Fig.10.2.18A e B).
tero-externo), pequeno peitoral (tronco ântero-
-interno) e subclávio (tronco ântero-externo). Nervo Mediano
É assim responsável pela rotação interna domem- O nervo mediano é formado por duas raízes: la-
bro superior e contribui para o momento da ins- teral, proveniente do tronco secundário ântero-
piração. -extemo (fibras provenientes de C6 e C7), e me-
O grupo posterior é constituído pelos nervos res- dial, proveniente do tronco secundário ântero-
ponsáveis pela inervação dos grupos posterior e -intemo (fibras provenientes de C8 e Dl). Ori-
interno da espádua (nervos supra-escapular, supe- gina-se na axila, onde se localiza externamente
rior do infra-escapular, inferior do infra-escapular, à artéria axilar (anteriormente ao rnusculo sub-
do grande dorsal (tóraco-dorsal), do grande den- -escapular), dirigindo-se verticalmente para bai-
tado (serreado anterior), do grande redondo (re- xo na face interna do braço onde se localiza no
dondo maior), do angular (elevador da escápula) feixe vásculo-nervoso - canal braquial (onde cru-
e do rombóide. É responsável pela rotação exter- za de fora para dentro a artéria umeral), defini-
na, adução e contribui para o momento da inspi- do pelo revestimento aponevrótico do múscu-
ração igualmente. lo córaco-braquial e do músculo bicípete bra-
Todos estes ramos têm uma relação íntima com a quial, anteriormente, pelo revestimento do mús-
artéria subclávia, que se encontra entre os troncos culo braquial, posteriormente, e pela aponevro-
secundários anteriores e anteriormente ao tronco se braquial, internamente. Atravessa depois a go-
secundário posterior e a veia subclávia que se en- teira bicipital interna, colocando-se entre os dois
contra anteriormente aos ramos colaterais na sua feixes do músculo pronador redondo e cruza an-
origem. terior a artéria cubital profundamente à arcada
formada pela junção do feixe úmero-cubital e do
feixe radial do músculo flexor comum superficial
Ramos Terminais dos dedos. No antebraço, caminha na profundi-
dade do músculo flexor comum profundo dos de-
Nervo Músculo-Cutâneo/Cutâneo lateral do dos, acompanhado pela artéria satélite do nervo
Antebraço mediano, afastando-se do referido músculo no
Este nervo origina- se no tronco secundário ânte- seu terço inferior. Penetra no canal cárpico an-
ro-externo (fibras provenientes do 5.0 e 6.0 nervos teriormente ao tendão do 2.0 dedo do músculo
cervicais), alcançando a porção interna do múscu- flexor comum superficial dos dedos, ao longo do
lo córneo-braquial depois de cruzar externamente bordo externo do tendão do 3.0 dedo do múscu-
a artéria axilar e internamente o bordo interno do lo referido, e entre as duas bainhas serosas digito-
músculo subclávio. Perfura o músculo córaco-bra- -cárpicas, originado o seus ramos terminais.
637
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
Ili
Fig. 10.2.18: Nervo Músculo-Cutâneo ou cutâneo lateral do antebraço.
Territórios de Inervação Motora {A) e Sensitiva (8)
1. Nervo Músculo Cutâneo 2. Músculo Córacobraquial 3. Músculo Bicípite Braquial 4. Músculo Braquial Anterior 5. Ramos terminais motores
6. Ramo terminal sensitivo 7. Plexo Braquial
638
CONTROLO E INTEGRAÇÃO J SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO: NERVOS RAQUIDIANOS E PLEXOS
Ili
e-
cs
lo
ia
II
e-
10,
)"
~- 15 16 17 19
· • Este canal é formado pelo ligamento anular Origina os seguintes ramos na região do coto-
terior do carpo, posteriormente, pelo osso pisi- velo e antebraço: ramos articulares (normalmen-
e, internamente, e por expansões do múscu- te em número de dois, para a face posterior da
cubital anterior e do ligamento anular dorsal do articulação do cotovelo), ramos musculares (mu-
0 , anteriormente.
culo cubital anterior e dois feixes mais internos
que respeita os seus ramos colaterais, o ner- do músculo flexor comum profundo dos dedos),
cubital não origina ramos colaterais no braço. ramo vascular (artéria cubital, porção média do
639
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
antebraço) e ramo sensitivo cutâneo dorsal da Nervo Braquial Cutâneo Interno ou N erv C
O Ut'
mão (inervação sensitiva da metade interna dor- neo Medial do Braço a-
sal da mão. Este nervo, constituído por fibras prove .
Após atravessar o Canal de Guyon, divide-se nos d os 8.º nervo cerv1c. al e 1.o nervo torácico nientes
• .
O
seus dois ramos terminais: ramo superficial (pre- -se acima o nervo cub'ital e i'nfienormente
· d · ' ao
ngina-
dominantemente sensitivo, responsável pela iner- vo acessono, . d o braqw.al.mterno ou nervo cut·ner-
vação dos tegumentos cutâneos da região hipote- dial d . d aneo
me o antebraço a parar o tronco ântero-·
nar e dos 5.0 dedo e metade interna do 4.0 dedo) terno do plexo braquial. Dirige-se anterior tn-
e ramo profundo (predominantemente motor res- , . d . mente
apos a sua ongem, esce mternamente ao ne
ponsável pela inervação de todos os músculos in- cub it e antenormente a veia · ar até se torrvo
. al . , . axil
trínsecos da mão com excepção dos 1.0 e 2.0 lum- superficial no terço médio do braço, onde per~:
bricais, oponente, curto abdutor e curto flexor do a aponevrose pelo mesmo orifício que a veia b ,
as1-
polegar, inervados pelo nervo mediano. lica ou umeral interna.
Este nervo anastomosa-se com o nervo braquial Origina ramos colaterais na região da axila e •
m-
cutâneo interno ou nervo cutâneo medial do bra- terna do braço com função sensitiva para os te-
ço, mediano (anastomoses supra-descritas) e radial gumentos dessa região, e dois ramos terminais de
(Fig. 10.2.20). origem superior ao epicôndilo medial: ramo an-
terior (externamente à veia basílica, originando
640
►
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO: NERVOS RAQIDDIANOS E PLEXOS
15
dois ou três ramos terminais que cruzam ante-
rior e posteriormente a veia basílica mediana iner-
vando os tegumentos do antebraço até ao carpo) e 13
um ramo posterior (posteriormente ao epicôndi-
lo medial, inervando sensitivamente os tegumen-
tos da região póstero-interna do antebraço). (Fig.
10.2.16)
641
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
dial do tricípete ou colateral cubital (axila), nervo sor radial do carpo (considerado por alguns u
do músculo vasto interno e do músculo ancóneo ramo colateral do nervo radial) antes de se col:
(goteira radial), nervo da cabeça lateral do tricípe- car entre os dois planos musculares da loca pos-
te (goteira radial), ramo cutâneo externo (ou ner- terior do antebraço. Aqui origina ramos posterio-
vo cutâneo posterior do antebraço, nervo do mús- res para os músculos do plano superficial (múscu-
culo braquial anterior (inconstante - goteira bici- lo extensor comum dos dedos, músculo extensor
pital externa), nervo do músculo longo supinador próprio do 5. 0 dedo (ou mínimo) e músculo ex-
(goteira bicipital externa) e nervo do músculo lon- tensor cubital do carpo) e ramos anteriores para
go extensor radial do carpo (antebraço). Estes são os quatro músculos do plano profundo (múscu-
responsáveis pela inervação sensitiva e motora da lo longo abdutor do 1.0 dedo, músculo curto ex-
área ou músculo homólogo. tensor do 1. 0 dedo, músculo longo extensor do
Termina segundo dois ramos terminais: um ramo 1. 0 dedo e músculo extensor próprio do 2. 0 dedo
anterior de função sensitiva e um ramo posterior (indicador)). Após originar estes ramos colate-
de função motora. O ramo anterior desce na pro- rais, termina sobre a forma de um nervo termi-
fundidade do músculo longo supinador, atraves- nal sensitivo - nervo interósseo posterior (ori-
sando-o no terço posterior do antebraço distri- gem posterior ao ligamento interósseo do braço)
buindo-se sobre a forma de três ramos terminais - para a face posterior das articulações do punho
(externo, médio e interno) sobre a face posterior e do carpo.
da mão. O ramo posterior (ou profundo) origina O nervo radial anastomosa-se com o nervo bra-
um ramo colateral para o músculo curto exten- quial cutâneo interno (através dos seus ramos
642
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO: NERVOS RAQUIDIANOS E PLEXOS
cutâneos interno e externo), com o nervo múscu- ramo perfurante cutâneo anterior reponsável pela
lo-cutâneo (através do ramo cutâneo externo e do inervação cutânea dessa região (Fig.10.2.23).
ramo superficial); com o nervo do músculo palmar Ao longo do seu trajeto emite dois tipos de ramos
cutâneo do nervo mediano (através do filete te- colaterais: ramos musculares (inervam os múscu-
nar), e com o nervo cubital na face dorsal da mão los infra-costal, o músculo supra-costal e os mús-
(Fig. 10.2.22). culos intercostais correspondentes) e ramos sensi-
tivos (ramo perfurante lateral, origina-se no ângu-
lo posterior da costela, inervando os tegumentos
NERVOS INTERCOSTA/5 da região suprajacente).
Após consideradas estas características gerais, al-
Após a sua origem nos buracos de conjugação guns destes nervos apresentam características pró-
(invertebrais), os nervos torácicos dividem-se em prias que vale a pena individualizar:
dois ramos: o ramo anterior - nervo intercostal • 1.0 nervo intercostal - praticamente todo
- e o nervo posterior (discutido inferiormente). ele faz parte do plexo braquial e não emite o
O nervo intercostal vai dirigir-se para o espaço ramo colateral sensitivo;
intercostal ( triangular de base superior) em ín- • 2. 0 nervo intercostal - volumosa anastomose
tima relação com a fáscia endotorácica, no ter- com o nervo cutâneo medial do antebraço -
ço médio deste espaço, aproximando-se progres- anastomose de Hirtyl;
sivamente da goteira infra-costal da costela su- • Os 4 primeiros nervos intercostais dão ra-
prajacente, entre os músculos intercostais externo mos colaterais motores para o músculo gran-
e interno e depois entre este último e o múscu- de dentado;
lo intercostal médio (íntimo). Na goteira, o nervo • Do 3.0 ao 6.0 nervos intercostais, todos origi-
é o elemento mais inferior (de baixo para cima, nam dois ramos terminais: sensitivo Gá des-
as estruturas do feixe vásculo-nervoso são nervo, crito) e motor para o músculo transverso do
artéria e veia). Este nervo termina segundo um tórax;
• Os últimos 5 nervos intercostais originam fi-
letes nervosos para o diafragma e músculos
2
largos do abdómen assim como são parcial-
3 mente responsáveis pela inervação sensitiva
da região central do abdómen;
• Estes nervos são divididos por alguns auto-
res em nervos intercostais típicos (T2 a T6),
tóraco-abdominais (T7-T12) e nervo subcos-
tal (T12).
PLEXO LOMBAR
DEFINIÇÃO E CONSTITUIÇÃO
643
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
Ramos Anastomóticos
2
RELAÇÕES
644
í CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO: NERVOS RAQ.UIDIANOS E PLEXOS
gico, caracterizam-se por ter dois ramos termi- zes este nervo está ausente, sendo substituído na
nais: um ramo cutâneo e um ramo genital. No maior parte dos casos pelo nervo musculo-cutâ-
que respeita a sua função, estes nervos são res- neo externo, que é um ramo proveniente do ner-
ponsáveis pela motricidade da parede abdominal vo crural.
e pela inervação sensitiva da parede abdominal,
bolsas ou grandes lábios, região glútea e porção Nervo Génito-Femoral (Génito-Crural)
súpero-interna da coxa. Este nervo tem uma direcção oblíqua de cima para
baixo, na profundidade do músculo psoas, cruzan-
Nervo Cutâneo lateral da coxa do posteriormente o ureter e os vasos testicula-
Este nervo tem uma direcção oblíqua de cima para res, num desdobramento da fáscia ilíaca, e exter-
baixo, na profundidade da musculatura abdomi- namente às artérias ilíaca comum e externa. Tem
nal, saindo da cavidade abdominal na incisura ino- dois ramos sensitivos terminais: femoral (triângu-
minada ou homóloga do bordo anterior do osso lo de Scarpa) e genital.
ilíaco, inferiormente ao Ligamento Inguinal ou de
Poupart e internamente ao músculo sartório, num Nervo Obturador
desdobramento da aponevrose do músculo psoas Após uma origem posterior e interna ao músculo
ilíaco. Ele tem dois ramos terminais: ramo glúteo psoas, dirige-se para diante e para baixo posterior-
(inervação sensitiva dos tegumentos da região glú- mente aos vasos ilíacos comuns e externamente ao
tea e face posterior da coxa) e ramo femoral (tegu- tronco lombo-sagrado cruzando a articulação sa-
mentos da região ântero-externa da coxa). Por ve- cro-ilíaca ipsilateral; coloca-se externamente ao
ureter e aos órgãos do aparelho reprodutor, apli-
cado ao estreito superior da bacia superiormente
à artéria e á veia obturadoras. Este feixe vásculo-
-nervoso sofre uma rotação de cima para baixo e
para fora para se sair da cavidade pévica pelo canal
infrapúbico. Aqui origina os seus ramos colaterais
13
- nervo do músculo obturador externo e ramos ar-
ticulares para a articulação da coxa e sínfise púbica
12 - e os seus ramos terminais: ramo anterior (divi-
de-se posteriormente nos nervos do médio adutor,
pequeno adutor e grácil (recto medial)) e ramos
4
posterior (divide-se posteriormente em ramos ar-
ticulares, ramos para o músculo obturador exter-
5
no e ramos para o músculo grande adutor). Sob
o ponto de vista funcional é responsável pela mo-
6
tricidade dos músculos internos da coxa (médio
adutor, pequeno adutor, porção externa do gran-
de adutor, grácil, obturador externo, parte do pec-
tíneo) e da sensibilidade das articulações do joe-
lho e coxo femoral e pele da face medial do joelho
9
(Fig.10.2.26 A e B).
645
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
Ili
Fig. 10.2.26: Nervo obturador-trajeto (A) e território sensitivo (8).
1. L1, 12, 13, 14 2. Tronco lombo•sagrado 3. Sacro 4. Ramo anterior do nervo obturador 5. Músculo grande adutor 6. Músculo g rácil 7. Ramo
cutâneo do nervo femoral 8. Canal adutor 9. Ramo para a articulação do joelho 10. Músculo longo adutor 11. Músculo curto adutor 12. Músculo
obturador externo 13. Femur 14. Nervo obturador (L2,3,4) 15. Nervo femoral 16. Nervo cutâneo lateral da coxa 17. Nervo genitofemoral 18.
Nervo ilioinguinal 19. Nervo iliohipogástrico.
tando a sua origem como individualização de um sensitiva das faces anterior e interna da coxa) e o
ramo colateral de um destes nervos. nervo musculo-cutâneo interno (inervação moto-
ra dos músculos pectíneo e médio-adutor e sensi-
Nervo Femoral ou Crural tiva da face interna da coxa) - e plano profundo -
Após a sua origem, este nervo coloca-se na gotei- nervo do quadricípite (divisão em ramos motores
ra compreendida entre os músculos psoas e ilía- responsáveis pela inervação motora das 4 porções
co numa direcção para diante e para baixo. Na ar- constantes e do inconstante músculo subquadric-
cada femoral, localiza-se inferiormente à fita ílio- cipital) e nervo safeno interno (inervação sensiti-
-púbica de Thompson e externamente à artéria e va das faces anterior e interna do joelho e da perna
veia femorais, das quais está separado pela fita ílio- (Fig. 10.2.27A e B).
-pectínea. No seu trajeto na bacia emite os seguin-
tes ramos colaterais: ramos para o músculo ilíaco,
para o músculo psoas, para a artéria femoral (ner- PLEXO SAGRADO
vo de Schwalbe) e o nervo fémoro-cutâneo ân-
tero-externo (inconstante, anastomosa-se com o DEFINIÇÃO E CONSTITUIÇÃO
nervo fémoro-cutâneo). Após passar a arcada fe-
moral, emite os seus ramos terminais segundo dois O plexo sagrado é formado pela união do tronco
planos: plano superficial - nervo musculo-cutâneo lombo-sagrado (ramo anastomótico proveniente
externo (inervação motora do músculo sartorio e do plexo lombar - ramo anterior da 4.ª raiz lom-
646
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO: NERVOS RAQUIDIANOS E PLEXOS
--il
16
14
13
12
I· :
2
15
11
4 3
IEI Ili
Fig. 10.2.27: Nervo femoral - trajeto (A) e território sensitivo (8).
1. D12, L1, L2, L3, L4 2. Tronco lombo~sagrado 3. Músculo pectíneo 4. Ramos cutâneos anteriores do nervo femoral 5. Articulação joelho
6. Nervo safeno 7. Ramos cutâneos crurais mediais do nervo safeno 8. Nervo infrapatelar do nervo safeno 9. Músculo articular do joelho
10. Músculo quadricípede 11. Músculo sartório 12. Ramo articular do nervo femoral 13. Músculo psoas maior 14. Músculo ilíaco 15. Nervo
obturador 16. Nervo femoral (L2,3,4) 17. Nervo cutâneo lateral da coxa (L2,3).
bar - com a 5.ª raiz lombar) com os ramos an- (face anterior do plexo, tronco lombo-sagra-
teriores dos três primeiros nervos sagrados (Fig. do);
10.2.28A). • Nervo do músculo gémeo pélvico inferior e
do músculo quadrado femoral (face anterior
Ramos Colaterais do plexo, tronco lombo-sagrado);
• Nervo pequeno ciático ou nervo cutâneo
• Nervo do músculo obturador interno (face posterior da coxa ou cutâneo femoral (face
posterior do plexo, tronco lombo-sagrado e posterior do plexo, tronco lombo-sagrado e
ramo anterior do 1.0 nervo sagrado); ramos anteriores dos 2 primeiros nervos sa-
• Nervo do músculo piramidal ou piriforme grados);
(face posterior do plexo, ramo anterior do 2.0 Nervo glúteo inferior (face posterior do ple-
nervo sagrado); xo), por vezes ramo do nervo pequeno ciático.
• Nervo do glúteo superior (face posterior do
plexo, tronco lombo-sagrado e ramo anterior Ramo Terminal
do 2.0 nervo sagrado);
• Nervo do músculo gémeo pélvico superior • Nervo Grande Ciático (ou isquiático);
647
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
648
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO: NERVOS RAQUIDIANOS E PLEXOS
15
13 4
li 14 12 11 10 9 8 7
18
38
21
37
36 22
35
23
24
34
27
25
33
Ili 31 30
Fig. 10.2.28: Plexo sagrado.
A Constituição: Amarelo - divisão anterior Lilás - divisão posterior
1•Troncos lombosagrados 2. Ramos cinzentos comunicantes 3. Nervos esplâna,icos pélvicos 4. Nervo coccigeo 5. Nervo anococdgeo 6. Ramo
perineal do 4.º nervo sagrado 7. Nervo para os músculos levantador do ânus e coccígeo 8. Nervo pudendo 9. Nervo cutâneo perfurante 10.
Nervo cutâneo posterior da coxa ou pequeno ciático 11. Nervo para os músculos obturador interno e gémeo superior 12. Ne rvo para os músculos
quadricipede e gémeo superior 13. Nervo peroneal comum {parte do ciático) 14. Nervo tibial (parte do ciático) 15. Nervo para o músculo plriforme
16. Nervo glúteo inferior 17. Neva glúteo superior.
8. Relações
1~- Crista ilíaca 19. Músculo médio glúteo 20. Músculo pequeno glúteo 21. Músculo tensor da fásda lata 22. Músculo piriforme 23. Músculo
~emeo superior 24. Músculo obturador interno 25. Músculo gémeo inferior 26. Músculo quadrado femoral 27. Nervo para os múscuk>s gémeo
inferior e quadrado femoral 28. Nervo ciático 29. Nervo cutâneo posterior da coxa 30. Músculo Bicípite 31. Músculo semitendinoso 32. Ramos
~erineais 33. Nervos glúteos inferiores 34. Nervos dorsal do pénis (ou do clitóris), nervo perineal e nervos escrotais (labiais) 35. Nervo rectal infe~
nor 36. Nervo pudendo 37. Nervos para os músculos gémeo superior e obterador interno 38. Nervo glúteo inferior 39. Músculo grande glúteo
649
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
Ramos Colaterais
Fig. 10.2.29: Trajecto do nervo grande ciático.
1. Grande incisura ciática 2. Nervo grande ciático 3. Músrulos Semiten• • Nervos Viscerais (dirigem-se direta ou indi-
dinoso e semimembranoso 4. Bicípite crural ou femoral 5. Escavado
poplit eu 6. Nervo fibular comum (ciático popliteu externo} 7. Nervo rectamente via plexo hipogástrico para reto,
tibial (ciático popl~eu interno) bexiga, vagina e pénis);
• Nervo do Músculo elevador do ânus (ramos
PLEXO PUDENDO anteriores do 3.0 e 4.0 nervos sagrados);
• Nervo do Músculo ísquio-coccígeo (ramo
DEFINIÇÃO E CONSTITUIÇÃO anterior do 4.0 nervo sagrado);
• Nervo H emorroidal ou anal (ou nervo rectal
O Plexo Pudendo é formado pela anastomose es- inferior ou anal inferior) - (ramo anterior do
tabelecida entre o ramo anterior do 4.0 nervosa- 4.0 nervo sagrado);
grado com os ramos anastomóticos provenientes • Nervo perfurante cutâneo - (ramos anteriores
do plexo sagrado (2.0 e 3.0 ramos sagrados ante- do 3.0 e 4.0 nervos sagrados).
riores). Todos os ramos do plexo pudendo, desti-
650
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO: NERVOS RAQU1DIANOS E PLEXOS
RELAÇÕES
RAMOS
Nervo Pudendo
Este nervo é constituído por fibras provenien-
tes dos ramos anteriores dos segundo, terceiro e
quarto nervos sagrados. Após a sua origem, diri-
gíe-se ínfero-externarnente para a grande chan-
fradura ciática, aplicando-se sobre a espinha ciá-
tico e o ligamento ciático, dirigindo-se para a
fossa ísquio-retal, onde caminha num desdobra-
mento da bainha obturadora aplicado à face in-
terna do ramo isquiático do osso ilíaco - Canal
de Alcock. Aqui origina dois ramos terminais:
nervo perineal - inervação musculo-cutânea do
Ftg. 10.2.31: Nervo ciático popliteu interno ou tibial. períneo - e o nervo dorsal do pénis ou clitóris -
1. Nervo tibial 2. Nervo peroneal comum 3. Músculo gastrocnémio inervação sensitiva. Este é o principal nervo sen-
4. Músculo poplineu 5. Músculo solhar ou solear 6. Músculo flexor
comum dos dedos 7. Músculo tibial posterior 8. Músculo flexor sitivo dos orgãos genitais externos.
próprio do 1.0 dedo 9. Ramos terminais do plantar externo e interno
651
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
3 2 4
652
r CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO PER1FÉRICO: NERVOS RAQ_UIDIANOS E PLEXOS
10
/ 4
6
ral, motor, para os músculos sacro-lombar e lon- tre dermátomos estão muito bem definidas mas,
go dorsal, e outro medial, misto, para os múscu- na verdade, existe uma sobreposição na inerva-
los próprios da coluna vertebral e tegumentos ad- ção entre dermátomos adjacentes. A Fig. 10.2.34
jacentes. mostra à direita a distribuição/território cutâneo
dos nervos espinhais (dermátomos), que é dife-
Ramos Sacro-Coccígeos rente do território sensitivo dos nervos periféricos,
Estes proporcionam um número de filetes nervo- descritos anteriormente nos plexos (Fig. 10.2.34).
sos em número variável, originando-se nos bura- O mapa dos dermátomos pode ser utilizado para
cos sagrados posteriores, que proporcionam iner- identificar a presença de alterações ou compres-
vação motora e sensitiva para os músculos e tegu- sões na medula espinhal.
mentos adjacentes. O músculo esquelético também recebe uma iner-
vação segmentar. O grupo de músculos esquelé-
DERMÁTOMOS E MIÓTOMOS ticos inervados por um nervo espinhal em parti-
cular é denominado "miótomo". A maioria dos
A união das raízes dorsal e ventral formam o ner- músculos é inervada por mais que um nervo es-
vo espinhal e posteriormente as suas fibras nervo- pinhal. Os músculos pertencentes a um miótomo
sas são distribuídas aos respetivos territórios (Fig. estão geralmente relacionados funcionalmente e
10.2.12). A área de pele que é inervada por fibras são responsáveis por um deter minado padrão de
de uma única raíz dorsal, e portanto por um seg- movimento. Assim uma lesão num segmento da
mento medular, é denominada de "dermátomo". medula ou raíz ventral motora poderá determi-
Se houver uma lesão/compressão de uma raíz dor- nar perda de força em determinados grupos mus-
sal (ex: hérnia discal) pode ocorrer alteração da culares, mas para existir paralisia completa, vários
sensibilidade na área correspondente. Cada der- segmentos adjacentes da medula têm que estar
mátomo é nomeado de acordo com o nervo espi- lesados. O contributo de nervos espinhais para
nhal que o inerva. Nos esquemas, as fronteiras en- alguns movimentos importantes, que podem ser
653
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
b
d
e
p
Fig. 10.2.34: Distribuição cutânea dos nervos espinhais.
Dermátomos, na metade direita do modelo, e território sensitivo dos nervos periféricos, na metade esquerda
A Nervo axilar ou circunflexo b. Nervo cutâneo medial do braço ou braquial cutâneo interno e. Nervo radial (ramo inferior lateral) d. Nervo
musculo-cutâneo ou cutâneo lateral do antebraço e. nervo cutâneo lateral do antebraço ou acessório do braquial cutâneo interno f. nervo radial
g. nervo mediano h. nervo cubital ou ulnar i. nervo cutâneo lateral da coxa ou femurocutãneo j. nervo ilioinguinal ou pequeno abdomino-genital
k. nervo crural ou femoral 1. nervo obturador m. nervo cutâneo peroneal ou sural lateral n. nervo safeno (ramo do nervo femoral) o. nervo
musculo•cutâneo ou peroneal superficial p. nervo peroneal profundo ou tibial anterior q. nervo cutâneo posterior da coxa ou pequeno ciático
r. nervo cutâneo medial da coxa s. nervo safeno lateral ou sural (ramo do nervo tibial)
PERGUNTAS TIPO
654
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO: NERVOS RAQ_UIDIANOS E PLEXOS
655
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
656
CONTROLO E I NTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO AUTÓNOMO
ca e respiratória, a pressão arterial, a saciedade, tir de uma víscera lesada, estes podem ser erro-
a fome e a sede em núcleos próprios. Para além neamente interpretados como tendo origem no
da manutenção da homeostase, por estar intima- dermátomo a partir do qual esse segmento rece-
mente conectado ao sistema límbico está envol- be também a informação. Por exemplo, a dor do
vido na génese das manifestações viscerais da via enfarte agudo do miocárdio é muitas vezes per-
psíquica. cebida como uma dor referida ao membro supe-
rior esquerdo.
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
tivo. O sistema nervoso entérico contem fibras e Devido a esta localização central dos seus cor
. . , . Pos
gânglios que lhe são próprios na parede das vísce- celulares, o sistema nervoso s1mpat1co é també
ras ocas do tubo digestivo, intimamente conecta- · d 1
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Fig. 10.3.4: Sistema nervoso vegetativo (esquema).
1. Vasos intracranianos 2. Gânglio Ciliar 3. Globo Ocular 4. Gânglio Pterigopalatino 5. Glândulas Lacrimais 6. Gânglio óptico 7. Glândulas Pa-
r6tidas 8. Gânglio submandibular 9. Glândulas Submandibular e sublingual 1O. Vasos sanguíneos faciais 11 . Laringe 12. Traqueia 13. Brônquios
14. Plexo Pulmonar 15. Plexo cardíaco 16. Coração 17. Gânglio Celíaco 18. Estômago 19. Gânglio aorticorrenal 20. Fígado e Vias biliares
21. Pâncreas 22. Gânglio mesentérico superior 23. Glândulas supra-renais 24. Rins 25. Gânglio Mesentérico Inferior 26. Intestino Delgado, colon
ascendente e transverso 27. Plexo hipogástrico superior 28. Cólon descendente, sigmóide e recto 29. Plexo hipogástrico inferior 30. Bexiga
31. Próstata 32. Genitais externos 33. Nervos esplâncnicos sagrados 34. Nervos esplâncnicos pélvicos 35. Nervos hipogástricos 36. Plexo
intermesentérico 37. Nervos esplâncnicos lombares 38. Grande nervo esplâncnico, pequeno nervo esplâncnico e nervo esplâncnico inferior
39. Músculo erector liso do pêlo 40. Vasos sanguíneos periféricos 41. Glândula sudorípara 42. Nervo pneumogástrico 43. Bulbo raquidiano 44-.
Nervo Glossofaríngeo 45. Nervo facial 46. Nervo oculomotor
Vermelho contínuo: Fibras simpáticas pré-ganglionares Vermelho tracejado: Fibras simpáticas pós-ganglionares Cinzento contínuo: Fibras paras-
simpáticas pré-ganglionares Cinzento tracejado: Fibras parassimpáticas pós-ganglionares
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
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CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO AUTÓNOMO
Dez a onze gânglios simpáticos torácicos. • Qyatro a cinco gânglios simpáticos lomba-
O segmento torácico das cadeias gangliona- res e sagrados: O segmento lombar dá segui-
res simpáticas láterovertebrais está em con- mento ao torácico, bilateralmente. Situa-se
tinuação com os gânglios cervicais e esten- profundamente no abdómen no espaço retro-
de-se desde o primeiro ao décimo segundo peritoneal de cada lado dos corpos vertebrais
nível intercostal, na goteira costovertebral. lombares, à frente das inserções dos múscu-
A informação pressinática destes gânglios los Psoas. O segmento sagrado representa a
provém dos ramos comunicantes brancos do porção terminal das cadeias simpáticas láte-
nível medular correspondente. Contudo, por rovertebrais. Os seus gânglios localizam-se
existir fusão de alguns gânglios, o número de sobre a face anterior do sacro, um pouco me-
gânglios simpáticos na região torácica é geral- diais aos buracos sagrados anteriores. Esten-
mente inferior ao número de nervos raquidia- dem-se desde o bordo anterior da asa do sa-
nos torácicos (Fig.10.3.7). cro até as primeiras vértebras coccígeas, onde
terminam. Tal como acontece na região cer-
vical também os níveis medulares inferiores a
L2 não possuem ramos comunicantes bran-
cos. Deste modo todas as fibras pressináti-
cas para os gânglios lombares corresponden-
tes aos níveis medulares de L3 até LS e de Sl
2 até S4 entram na cadeia ganglionar simpática
através dos ramos comunicantes brancos pro-
venientes dos dois nervos raquidianos lomba-
res superiores (Ll e L2). Daqui percorrem a
cadeia láterovertebral, inferiormente, até aos
respectivos gânglios lombares e sagrados (Fig.
4
10.3.8 e 10.3.9).
• Um gânglio simpático coccígeo: o segmento
coccígeo têm apenas um gânglio ímpar, deno-
minado "gânglio coccígeo" que se localiza na
face anterior do cóccis, sobre a linha média e
no qual terminam e se unem as cadeias gan-
6
glionares simpáticas dos dois lados.
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Fig. 10.3.8: Sistema Nervoso Autónomo Abdominal Fig. 10.3.9: Sistema Nervoso Aut6nomo Pélvico (feminino)
1. Cadeia simpática látero-vertebral 2. Plexo sup<a-renal 3. Gânglio 1. Cadeia simpática látero-vertebral 2. Nervo hipogástrico direito
aorto-renal 4. Plexo Renal 5. Gânglio mesentérico inferior 6. Nervos 3. Cadeia simpática sagrada 4. Nervos esplâncnicos pélvicos 5. Plexo
esplâncnicos lombares 7. Plexo uretérico 8. Plexo testicular 9. Plexo rectal 6. Plexo útero-vaginal 7 . Plexo vesical 8. Plexo hípogástrico in.
sagrado 1O. Porção sagrada da cadeia simpática 11. Nervos hipogástri- ferior 9. Nervo hipogástrico esquerdo 10. Plexo hipogástrico superior
cos para o Plexo hipogástrico inferior 12. ptexo hipogástrico 13. Plexo 11. Nervos esplânaiicos lombares
Rectal 14. Plexo ilíaco 15. Plexo mesentérico inferior 16. Plexo
intermesentérico 17. Gânglio mesentérico superior 18. Gânglio e
plexo celíaco 19. Ramos anterior e posterior do pneumogástrico.
sas posganglionares que terminam nos gân- dos seus ramos principais. Existem múltiplos
glios cervicais, lombares inferiores, sagrados e gânglios prevertebrais sendo os de maior di-
coccígeos. mensão dois gânglios celíacos ou semilunares
3. Estabelecer sinapse apenas nos gânglios pre- (direito e esquerdo), situados na origem do
vertebrais; estes neurónios preganglionares tronco celíaco, imediatamente abaixo do dia-
atravessam o gânglio sem estabelecer sinapse. fragma. Têm a forma de crescente com con-
É o que ocorre com a maioria das fibras cuja cavidade superior; dois gânglios aorto-renais
origem se situa entre D5 e L2. Estas fibras que se localizam na origem das artérias renais;
simpáticas preganglionares saem do gânglio um ou dois gânglios mesentéricos superiores
da cadeia simpática láterovertebral por ner- e um ou dois gânglios mesentéricos inferio-
vos viscerais denominados "nervos esplâc- res próximos da origem das artérias do mes-
nicos" que viajam independentemente para mo nome. Todos estes gânglios estão interli-
gânglios simpáticos periféricos que se locali- gados, formando plexos nervosos que se dis-
zam nas cavidades abdominal e pélvica (gân- põem no trajecto das principais artérias e que
glios prevertebrais). Estes gânglios periféri- têm o nome das artérias que acompanham.
cos dispõem-se anteriormente à coluna ver- No seu conjunto formam um plexo de maio-
tebral, ao longo da artéria aorta abdominal e res dimensões denominado "plexo solhar".
662
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO AUTÓNOMO
É nestes gânglios que se estabelecem sinap- cos que existem apenas nos segmentos dorsal
se com as fibras posganglionares. Os axónios e lombar superior. Desta forma a nível cervi-
posganglionares acompanham aquelas arté- cal, o gânglio cervical superior comunica com
rias e distribuem-se no seu território de vas- os nervos raquidianos dos segmentos de Cl
cularização. É desta forma que são enervados a C4, o gânglio cervical médio, inconstante,
vísceras abdominais e pélvicas. esta ligado aos nervos raquidianos dos seg-
4. Entrar no gânglio da cadeia simpática láte- mentos CS e C6 e o gânglio cervical inferior
rovertebral sem estabelecer sinapse, dirigin- geralmente estabelece ligação com os nervos
do-se pelos nervos viscerais até gânglios pre- raquidianos C7 e C8.
vertebrais onde, mais uma vez, não estabele- 2. Deixar o gânglio paravertebral de forma in-
cem sinapse e terminar na medula da glân- dependente para o respectivo órgão alvo. Este
dula supra-renal, verdadeiro órgão simpático, é o caso da enervação simpática das vísceras
onde estabelecem sinapse com células nervo- torácicas. Para isso, dirigem-se ao seu órgão
sas especializadas que têm a função de neu- alvo acompanhando o trajecto de uma artéria.
rónio posganglionares simpáticos. Estes ner- É o que acontece com os neurónios posgan-
vos partem dos segmentos DlO a Ll da me- glionares cujo corpo celular se situa nos gân-
dula espinhal. glios prevertebrais e que enervam as vísceras
abdominais e pélvicas.
NEURÓNIOS POSGANGLIONARES - ORIGEM
TRAJECTO E DESTINO DISTRIBUIÇÃO DO SISTEMA NERVOSO
SIMPÁTICO CERVICAL
Os corpos celulares dos neurónios posgangliona- (FIG. 10.3.6)
res situam-se nos gânglios paravertebrais e prever-
tebrais. O sistema nervoso simpático cervical é responsá-
Os neurónios posganglionares simpáticos são vel pela enervação dos vasos sanguíneos periféri-
multipolares permitindo uma grande dispersão de cos e das glândulas sudoríparas dos músculos pi-
impulsos a partir de uma mesma fibra. Tal expli- loerectores da cabeça e do pescoço.
ca a razão do sistema nervoso simpático ser activa- Do gânglio cervical superior destaca-se o nervo
do como uma unidade e dos seus órgãos alvos se- carotídeo interno e ramos carotídeos externos para
rem activados simultaneamente dado uma respos- a constituição dos plexos carotídeos ou pericarotí-
ta multiorgânica. deos; o nervo jugular (Arnold) que se divide junto
Para atingirem os órgãos alvo os axónios posgan- ao buraco jugular num ramo destinado ao gânglio
glionares podem percorrer um dos seguintes tra- jugular do pneumogástrico e outro ao gânglio su-
jectos: perior (Andersch) do nervo glossofaríngeo: ramos
1. Sair dos gânglios da cadeia simpática láte- faríngeos, laríngeos, esofágicos e tiroideus; e o ner-
rovertebral através de ramos comunican- vo cardíaco cervical inferior.
tes cinzentos e juntar-se ao nervo raquidiano Do gânglio cervical médio partem o nervo car-
do mesmo nível. Estas fibras posgangliona- díaco cervical médio, nervos tiroideus, ramos vas-
res distribuem-se no território de enervação culares para as artérias carótidas primitiva e tiroi-
do nervo raquidiano respectivo no dermáto- deia inferior, um ramo interganglionar que o une
mo correspondente cefálico, cervical, do tron- ao gânglio cervical inferior e que constitui a ansa
co ou dos membros. Nestes territórios os ór- subclávia.
gãos alvo são as glândulas sudoriparas, o mús- O gânglio cervical inferior fornece ramos vascu-
culo liso da parede dos vasos sanguíneos ou lares destinados à artéria subclávia e seus ramos
os músculos erectores dos pelos. Cada nervo e às artérias tiroideia inferior e mamária interna;
raquidiano recebe pelo menos um ramo co- o nervo cardíaco cervical inferior e o nervo verte-
municante cinzento ao contrário do que se bral (que acompanha a artéria do mesmo nome) e
verifica com os ramos comunicantes bran- se continua pelo tronco basilar e seus ramos. O sis-
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CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO AUTÓNOMO
mica e funcionalmente dos sistemas simpático e voso vegetativo - simpático e parassimpático. Nal-
parassimpático, denominada "sistema nervoso en- guns casos os sistemas nervosos simpático e pa-
rérico". Esta parte do sistema nervoso autónomo rassimpático antagonizam-se, nomeadamente nas
localiza-se nas diferentes camadas da parede das glândulas salivares, no coração, nos brônquios e
vísceras ocas do sistema digestivo e é formada por nas vísceras abdominais e pélvicas (ver abaixo).
uma rede intercomunicante de mais de cem mi- Noutros casos a dupla enervação é complementar.
lhões de neurónios sensitivos, motores e de inter- É o que se verifica durante a actividade sexual em
neurónios. que ambos os sistemas estão ativos: a ereção deve-
Estes neurónios estão organizados em redes cons- -se a vasodilatação induzida por fibras parassim-
tiruídas por fibras nervosas e gânglios terminais, páticas, enquanto a ejaculação se deve a estimula-
formando plexos nervosos (Fig. 10.3.5): ção pelo sistema nervoso simpático; a micção, em
1. Plexo mientérico (Auerbach) - é o de maior que o parassimpático é responsável pela contrac-
dimensão e situa-se entre as camadas muscu- ção do esfíncter vesical e o relaxamento da mus-
lares, ciliar e longitudinal da parede do apare- culatura parietal da bexiga e o simpático provoca
lho gastrointestinal, controlando a sua moti- o oposto; o tubo digestivo, em que o parassimpá-
lidade e a libertação de secreções digestivas. tico é responsável pela contração de músculos es-
2. Plexo submucoso (Meissner) - de menor di- fincterianos, a relaxação da musculatura longitudi-
mensão localiza-se na submucosa regulando nal e a produção de secreções, ao passo que o sim-
o fluxo sanguíneo gastrointestinal e contro- pático tem acção contrária.
lando a função das células epiteliais e a moti- Como referido anteriormente o sistema nervo-
lidade da camada muscular da mucosa. so parassimpático não dispõe de ramos comuni-
3. Diversos plexos de menores dimensões dis- cantes cinzentos que interligam os gânglios visce-
persos nas diferentes camadas das paredes dos rais com os nervos raquidianos e assim, as glându-
órgãos que enervam e que se denominam de las sudoriparas, os músculos piloeretores e os vasos
acordo com a sua localização (exemplo: ple- sanguíneos mais periféricos não têm dupla ener-
xo subseroso). vação. Também a medula da glândula supra-renal
não recebe enervação dupla porque apenas é ener-
Para além da sua individualidade anatómica o vada pelo sistema nervoso simpático.
sistema nervoso entérico é caracterizado por um Por outro lado tal como existem estruturas uni-
grande número de neurotransmissores: ciclina, camente enervadas por fibras simpáticas, existem
norepinefrina, epinefrina, serotonina e doparnina outras que recebem exclusivamente enervação pa-
e outros neuropeptidos cotransmissores tais como rassimpática, como as glândulas parótidas, glându-
o péptido intestinal vasoactivo e o oxido nítrico. las lacrimais e glândulas nasofaríngeas.
O sistema nervoso entérico têm ainda a particu-
laridade de conter glia que suporta os neurónios DIFERENÇAS FISIOLÓGICAS ENTRE O
e não células de Schwann como as restantes fibras SISTEMA NERVOSO SIMPÁTICO E O
do sistema nervoso vegetativo. O sistema nervo- PARASS/MPÁT/CO
so entérico, tal como o cérebro, pode estar espe-
cialmente envolvido na doença de Parkinson e na O sistema nervoso simpático provoca nos órgãos
doença de Alzheimer, contribuindo estas carac- que enerva um efeito adaptativo a situações de
terísticas para a sua denominação como "segun- stress, induzindo uma resposta de fight or filght:
do cérebro". aumento do estado de alerta e da capacidade de
reação, aumento da disponibilidade energética, di-
INTERRELAÇÕES ENTRE OS SISTEMAS latação da pupila, aumento da frequência cardíaca
NERVOSO SIMPÁTICO E PARASSIMPÁTICO e respiratória, dilatação das vias aéreas, interrup-
ção da função intestinal, constrição das arteríolas
A maior parte dos órgãos internos recebe uma du- da pele, dilatação dos vasos do músculo esqueléti-
pla enervação pelas duas divisões do sistema ner- co. Por seu lado o sistema nervoso parassimpático
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MANUAL DE ANATOMIA H UMANA
Simpático Parassimpático
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CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMA NERVOSO AUTÓNOMO
nário. Os recetores beta são particularmente sen- parassimpática e a região hipotalâmica poste-
síveis a epinefrina. Encontram-se no coração, nos rior controla a função simpática.
brônquios, nos vasos sanguíneos, no músculo liso • Formação reticular - localizada no tronco ce-
gastroinstestinal, do útero, da bexiga e nos hepato- lular cerebral controla a actividade cardíaca
citos. Existem ainda variantes moleculares dos re- vasomotora e respiratória, ajustando os refle-
cetores alfa e beta, que foram denominadas "rece- xos viscerais sob o controlo do hipotálamo.
tores alfa-1, alfa-2, alfa-3, beta-1, beta-2 e beta-3".
Os recetores colinérgicos existem sobre duas for- Estes centros estão, por sua vez, submetidos ao
mas: os "recetores colinérgicos muscarinicos" (as- controlo superior exercido pelo córtex cerebral.
siro denominados porque também são estimula- Não existem áreas definidas de representação de
dos pela muscarina) e que se encontram na super- funções vegetativas no córtex cerebral, como acon-
fície dos órgãos efetores, e os recetores colinérgi- tece com as funções somáticas.
cos nicotínicos (que também são estimulados pela • Sistema límbico - controla as respostas visce-
nicotina) e que existem nas sinapses entre os neu- rais das emoções.
rónios preganglionares e posganglionares do siste-
ma nervoso autónomo (Fig. 10.3.11).
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Fig, 10.3.1 1: Neurotransmissores do Sistema Nervoso Autónomo.
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MANUAL D E ANATOMIA HUMANA
PERGUNTAS TIPO
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CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMAS NEUROSSENSORIAIS
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Fig. 10.4.1: Desenvolvimento embrionário do globo ocular.
A. Dia 24 B. Dia 28 C. Dia 32 D. Dia 33 E. 5 meses
1. Vesículas ópticas 2. Ectoderme superficial 3. Telencéfalo 4. Diencéfalo 5. Medula espinhal 6. Taça óptica 7. Placa lenticular 8. P&diculo óptico
9, Vesícula lenticular 10. Retina pigmentar (epitélio pigmentado da retina) 11. Retina neurossensorial 12. Vítreo 13. Mesenquima 14. Esclera
15. Coróide 16. Cristalino 17. Retina 18. Córnea 19. Palpebra
671
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
O vítreo desenvolve-se a partir de uma secreção de mática ou infecciosa (por exemplo: sinusite co
consistência gelatinosa que se acumula no espaço ponto de partida para uma celulite orbitária). lllo
entre a vesícula lenticular e a taça óptica e tem ori- O volume da órbita no adulto é de aproximad
a-
gem na mesoderme. mente 30 rnl e o globo ocular ocupa cerca de 1/S
É também o tecido mesênquimatoso, com origem do espaço orbitário. O restante espaço é preen-
na mesoderme, que acaba por envolver, completar chido por gordura, músculos extraoculares, tecido
e encerrar a taça óptica e se diferencia na corói- conjuntivo, vasos, nervos e glândula lacrimal.
de e na esclera, nos músculos extra-oculares, bem O vértice orbitário é o ponto de entrada dos va-
como noutras estruturas anexas da órbita. A cór- sos e nervos da órbita e o local de origem de todos
nea tem uma origem embrionária mista - desen- os músculos extraoculares com excepção do mús-
volve-se a partir do mesênquima lateral e da ecto- culo pequeno oblíquo. Na fenda orbitária superior
derme superficial. (entre a pequena e a grande asa do esfenóide) pas-
sa a maioria das estruturas neuro-vasculares: veia
ÓRBITA E ESTRUTURAS ANEXAS oftálmica superior, ramos da divisão oftálmica do
trigémio (Vl) - lacrimal, frontal e nasociliar, e os
A órbita apresenta a forma de uma pirâmide qua- pares cranianos motor ocular comurn(III), troclear
drangular, de base anterior e vértice posterior, sen- (IV) e motor ocular externo (VI). Na fenda orbi-
do constituída por quatro paredes - superior (ou tária inferior passam a veia oftálmica inferior e ra-
tecto), inferior (ou pavimento), interna (ou me-
dial) e externa (ou lateral). Sete ossos fazem par-
7 6 15
te da sua constituição anatómica: frontal, esfenói-
de, zigomático, maxilar superior, lacrimal, etmóide
e palatino (Fig. 10.4.2).
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7 6 10 5 4
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CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMAS NEUROSSENSORIAIS
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Fig. 10.4.5: Músculos extra-oculares: vista lateral e vista anterior (olho direito).
1. Músculo recto superior 2. Músculo recto externo 3. Músculo recto inferior 4. Músculo oblíquo inferior 5. Músculo oblíquo superior 6. Tróclea
7. Músculo recto interno
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
674
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMAS NEUROSSENSORIAIS
Fig. 10.4.8: Celulite orbitária direita (pós-septal) em tomografia compu- Fig. 10.4.9: Anatomia do aparelho lacrimal.
torizada: Corte axial. 1. Glândula lacrimal principal: porção orbitária 2. G lândula lacrimal
principal: porção palpebral 3. Ponto e canalículo lacrimal superior
4. Ponto e canalículo lacrimal inferior 5. Carúncula 6. Canal lacrimal
teo. Adere de forma laxa ao osso subjacente, ex- comum 7. Saco lacrimal 8. Canal lacrimo-nasal 9. Meato inferior da
cavidade nasal
cepto no rebordo orbitário, nas suturas e nas mar~
gens dos buracos e fendas onde adere firmemente
(Fig.10.4.7). O septo orbitário é um folheto de te- bita, divide-se em duas porções - porção orbitá-
cido conjuntivo denso circular que se estende des- ria e porção palpebral. Cerca de 12 duetos drenam
de a periórbita do rebordo orbitário até aos tarsos a secreção glandular (componente aquoso da lá-
superior e inferior das respectivas pálpebras. Apre- grima) para a superfície conjuntival. A lágrima é
senta uma importante função de barreira permi- posteriormente colectada na carúncula conjunti-
tindo a retenção da gordura orbitária e prevenin- val (prega conjuntival rosada localizada ao nível
do a extensão de infecções superficiais à cavidade da comissura interna) e drenada através dos pon-
orbitária (ex: conversão de celulite pré em pós sep- tos lacrimais superior e inferior para os respectivos
tal) (Fig.10.4.7 e 10.4.8). canalículos lacrimais (superior e inferior). Daqui
A gordura orbitária confere uma superfície para o continua pelo canal lacrimal comum até ao saco
livre_movimento do globo ocular, amortecimento lacrimal. Este localiza-se na parede interna da ór-
das estruturas intraorbitárias e protecção aos va- bita entre as cristas lacrimal anterior e posterior.
sos e nervos que atravessam a órbita (Fig.10.4.7). O circuito lacrimal continua pelo canal lacrimo-
Outras estruturas acessórias com localização in- -nasal para terminar no meato inferior da cavida-
tra- ou peri-orbitária participam na protecção do de nasal (Fig. 10.4.9). A função da lágrima é de
globo ocular ou auxiliam na função do olho. limpeza, lubrificação, nutrição e oxigenação da su-
O aparelho lacrimal é constituído pela glându- perfície ocular, apresentando também uma acção
la lacrimal principal e por um conjunto de canais bactericida.
responsáveis pela drenagem da lágrima desde a su- A conjuntiva é uma membrana mucosa transpa-
perfície ocular até à cavidade nasal (Fig. 10.4.9). rente, ricamente inervada e vascularizada, que re-
Glândulas lacrimais acessórias (glândulas de Wol- cobre a superfície interna das pálpebras (conjun-
fring e Krause), glândulas sebáceas da pálpebra e tiva tarsal) e a superfície anterior do globo ocu-
células caliciformes da conjuntiva participam tam- lar com excepção da córnea (conjuntiva bulhar).
bém na produção da lágrima e componentes do Uma das suas principais funções é a produção do
filme lacrimal (Fig.10.4.10). componente mucoso da lágrima, a cargo das célu-
A glândula lacrimal, localizada na fossa lacrimal las caliciformes que fazem parte da sua constitui-
do osso frontal, no canto súpero-externo da ór- ção (Fig. 10.4.10).
675
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
4
As pálpebras são membranas musculo-cutâneas
constituídas por pele, tecido celular subcutâneo,
músculo orbicular das pálpebras, tarso (ou prato
tarsal) e conjuntiva tarsal. O tarso corresponde a
uma densa placa de tecido conjuntivo que contri-
bui para a função de estrutura e suporte das pál-
pebras. No seu interior contém 20 a 25 glândulas Fig. 10.4.11 : Anatomia de superfície e anexos periorbitários.
1. Fenda palpebral 2. Comissura interna 3. Comissura externa 4. Cílios
sebáceas - glândulas de meibomius - que abrem 5. Supracílios
através de poros na margem palpebral e são res-
ponsáveis pela produção do componente lipídico
do filme lacrimal, importante para garantir a qua- ANATOMIA DO GLOBO OCULAR
lidade visual e para prevenir a evaporação da lágri-
ma (Fig.10.4.10). O olho apresenta uma forma esférica com aproxi-
O músculo orbicular das pálpebras apresenta três madamente 23-24 mm de diâmetro ântero-poste-
porções: pré-tarsal, pré-septal e orbitária, as duas rior e é constituído por 3 túnicas ou camadas, que
primeiras envolvidas no pestanejo involuntário e formam a parede do globo ocular, e por um con-
a última no encerramento palpebral voluntário. junto de meios ópticos, transparentes, que permi-
A inervação do músculo orbicular das pálpebras tem a entrada de luz e respectiva focagem na reti-
é assegurada pelo nervo facial - VII par craniano. na (Fig. 10.4.12).
As principais funções das pálpebras são assim o
suporte e a protecção do globo ocular. O encer-
ramento periódico das pálpebras contribui para a
676
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMAS NEUROSSENSORIAIS
3
rúN/CAS
677
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
3
gem a diferentes distâncias. Através da estimuJ.
ção pela via parassimpática o músculo ciliar e a-
on-
trai e devido à disposição circular das suas fibras
zónula relaxa permitindo o aumento do diâme; a
ântero-posterior do cristalino, aumentando O se:
poder refractivo e permitindo a focagem ao per-
to. O inverso ocorre quando o músculo ciliar rela-
xa (Fig.10.4.15).
O músculo ciliar e os músculos dilatador e esfínc-
ter da pupila constituem os músculos intra-ocula-
res, em contraste com os músculos extra-oculares
que se encontram fora do globo ocular.
A coróide ou coroideia corresponde ao segmen-
to posterior da úvea, posicionando-se entre a es-
clera e a retina. É uma estrutura ricamente vascu-
larizada, cuja rede vascular tem origem nas artérias
4 ciliares curtas posteriores (ramos da artéria oftál-
Fig. 10.4.14: Regulação do diâmetro pupilar.
mica), e densamente pigmentada devido à presen-
1. Músculo dilatador da pupila (fibras radiárias) 2. Esfincter da pupila (fi- ça de melanócitos. A principal função é a nutrição
bras circulares) 3. Contração doesfincter da pupila- miose 4. Contração
do dilatador da pupila - midríase 5. Pupila
vascular da metade externa da retina, bem como
absorção de luz que entra no globo ocular e ter-
O humor aquoso é produzido pelo epitélio secre- morregulação (Fig.10.4.12).
tor dos processos ciliares que se dispõem de for- A túnica interna - retina - tapetiza internamente
ma radiária em 360 graus. Estes têm também uma o segmento posterior do globo ocular, localizan-
função estrutural conferindo suporte ao cristalino do-se entre a coróide e o vítreo e estendendo-se
através dos ligamentos suspensores do cristalino, desde o rebordo da cabeça do nervo óptico (local
ou zónula de Zinn (Fig. 10.4.13 e 10.4.15). de reunião e saída das fibras nervosas que o conti-
O músculo ciliar é responsável pelo fenómeno de tuem) até à ora serrata. A vascularização da meta-
acomodação do cristalino - capacidade de foca- de interna da retina é da responsabilidade dos va-
6
4
i
3
678
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMAS NEUROSSENSORJAIS
679
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
torno e de intensidade luminosa. Na retina é bem ções patológicas (por ex: trauma cirúrgico fí .
evidente o fenómeno de convergência neuronal - ' s1co
ou químico) em que ocorre perda endoteliaI d .
vários fotorreceptores convergem numa célula bi- do à ausência de capacidade replicativa desr'a ev'.-
polar, e por sua vez, várias células bipolares con- s Ce-
lulas, ocorre descompensação da córnea por d
vergem numa única célula ganglionar, de tal for- es-
regulação do seu grau de hidratação condicion
an-
ma que temos cerca de 130 milhões de bastonetes do edema com consequente perda da transpar·
en-
e 6,5 milhões de cones, e "apenas" 1,2 milhões de cia da córnea.
fibras nervosas constituem o nervo óptico. A córnea é uma estrutura ricamente inervada _re-
cebe inervação sensitiva a partir da divisão oftál-
MEIOS ÔPTICOS - SISTEMA DIÓPTRICO mica do trigémio (V par) através dos nervos lon-
gos ciliares. Em caso de trauma, com perda da su-
Os meios ópticos do globo ocular consistem no perficie epitelial, a exposição das terminações ner-
conjunto de meios transparentes que permitem a vosas resulta em dor intensa (ex: úlcera córnea).
entrada dos estímulos luminosos bem como ares- O humor aquoso, produzido pelos processos ci-
pectiva refracção e focagem na retina. Incluem a liares, circula no segmento anterior do globo ocu-
córnea, o humor aquoso, o cristalino e o corpo ví- lar e é importante para a nutrição das estruturas
treo e no conjunto formam o sistema dióptrico. avasculares (córnea e cristalino), remoção de me-
A córnea é o principal componente refractivo do tabolitos e regulação da pressão intraocular. A sua
olho, apresentando aproximadamente 42 diop- drenagem ocorre ao nível do ângulo irido-cor-
trias. A disposição organizada dos feixes de fi- neano através da malha trabecular para o canal
bras de colagénio que a constituem, a avasculari- de Schlemm e a partir daí para as veias vorticosas
zação e a ausência de bainha de mielina nas ter- (veias colectoras da circulação coroideia). Uma al-
minações nervosas são fundamentais para garan- teração ao nível da produção ou da drenagem do
tir a sua transparência. É constituída por cinco ca- humor aquoso conduz a alterações da tonicida-
madas principais - no sentido ântero-posterior: de ocular com potenciais consequências nefastas
epitélio pavimentoso estratificado, membrana de para o globo ocular (Fig.10.4.19 e 10.4.20). (Ex: o
Bowman, estroma, membrana de Descemet e en- glaucoma, principal causa de cegueira irreversível
dotélio (Fig. 10.4.18). no mundo, tem como principal etiologia o aumen-
O estroma constitui mais de 90% da espessura da to da pressão intraocular. A compressão da cama-
córnea e é formado por feixes de fibras de colagé- da de fibras nervosas das células ganglionares ao
nio, fibras elásticas e queratócitos. nível da cabeça do nervo óptico condiciona per-
O endotélio participa no metabolismo da cór- da destas fibras com consequente aumento da es-
nea, sendo responsável pela manutenção do grau cavação do disco óptico, o que clinicamente se re-
de hidratação adequado do estroma. Em condi- percute como perda progressiva de campo visual).
5
Fig. 10.4.18: Camadas da córnea.
1. Epiélio pavimentoso estratificado 2. Membrana de Bowman 3. Estroma 4 .Membrana de Descemet 5. Endotélio
680
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMAS NEUROSSENSORIAIS
VIA ÔPTICA
681
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
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Fig 10.4.228: Defeitos de campo visual associados a lesões da via
óptica.
A. Defeitos de campo visual no O lho Esquerdo B. Defeitos de campo
visual no Olho Direito
1. Nevrrte retrobulbar direita com cegueira circunferencial 2. Lesão
no nervo óptico direito com cegueira no olho direito 3. Hemianópsia
6 nasal direita por lesão das fibras laterais direitas do quiasma óptico
4. Hemianópsia bitemporal por lesão completa do quiasma óptico
5, 6 e 7. Hemianópsia homónima esquerda (hemianópsia temporal no
Fig. 10.4.22A: Representação da via visual.
OE e hemianópsia nasal no 0D - campo visual esquerdo) por lesão
1. Campo visual do olho esquerdo 2. Campo visual do olho direito
da fita óptica direita (5), das radiações ópticas (6) ou do córtex visual
3. Nervo óptico 4. Quiasma óptico 5. Corpo geniculado externo do
direito (7).
tálamo 6. Radiações ópticas 7. Córtex visual primário
682
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMAS NEUROSSENSORIAIS
B
E 3. Relativamente à constituição anatómica do
globo ocular é falso que:
a. A esclera corresponde à camada mais ex-
terna e tem como principal função a ma-
nutenção da forma e a protecção do glo-
bo ocular.
b. A úvea, camada intermédia do globo ocu-
lar, é constituída por três porções: íris, cor-
po ciliar e coroideia.
c. Os músculos intra-oculares: músculo ci-
liar, dilatador da íris e esfincter da íris,
são constituídos por fibras musculares li-
sas e são controlados pelo sistema nervo-
so autónomo, sendo que o músculo ciliar
Fig. 10.4.23: Camadas celulares do corpo geniculado externo do tálamo e o dilatador da pupila têm uma inerva-
A. Camadas magnocelulares B. Camadas parvocelulares C. Hilum
D. Corno lateral E. Corno medial
ção simpática e o músculo esfincter da pu-
1-6. Camada de células pila apresenta um controlo parassimpático.
d. A coroideia é uma estrutura ricamente
PERGUNTAS TIPO vascularizada e densamente pigmentada.
Uma das principais funções é a nutrição
1. A fenda orbitária superior dá passagem a to- vascular da metade externa da retina.
dos, excepto: e. A retina corresponde à túnica mais inter-
a. Nervo motor ocular comum (III par). na do globo ocular. É constituída por 10
b. Nervo troclear (IV par). camadas sendo que os três principais tipos
c. Ramos da divisão oftálmica do trigémio. de células são: os fotorreceptores - cones
d. Veia oftálmica superior. e bastonetes (responsáveis pelo fenómeno
e. Veia oftálmica inferior. de fototransdução), as células bipolares e
as células ganglionares.
2. Relativamente à órbita é falso que:
a. Sete ossos participam na sua constituição 4. Relativamente aos meios ópticos que parti-
anatómica. cipam na constituição do globo ocular, é fal-
b. Todos os músculos extraoculares têm ori- so que:
gem comum no vértice orbitário num anel a. Permitem a passagem da luz e respectiva
fibroso designado por "anel de Zinn". refracção e focagem dos estímulos lumi-
c. A periórbita é uma membrana densa de nosos na retina.
tecido conectivo que recobre a cavidade b. A córnea apresenta 5 camadas principais
orbitária correspondendo a uma continui- na sua constituição: epitélio, membrana de
dade do periósteo. Bowman, estroma, membrana de Desce-
d. O septo orbitário é um folheto de teci- met e endotélio.
do conjuntivo denso circular que se esten- c. O humor aquoso, produzido pelo múscu-
de desde o rebordo orbitário até aos tar- lo ciliar, preenche o segmento anterior do
sos superior e inferior das pálpebras e tem globo ocular e apresenta como principais
uma importante função na delimitação de funções a nutrição e remoção dos meta-
espaços anatómicos. bolitos das estruturas avasculares (córnea
e. A gordura orbitária tem uma função de e cristalino) e a regulação da pressão in-
preenchimento bem como de amorteci- traocular.
mento e protecção das estruturas intraor- d. O cristalino tem uma forma biconvexa e
bitárias. através da sua função de acomodação per-
683
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
•••
684
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMAS NEUROSSENSORIAJS
4
SISTEMA AUDITIVO E VESTIBULAR 6
INTRODUÇÃO
EMBRIOLOGIA
685
MANUAL DE ANATOMIA H UMANA
~ a
Ili
6 11 6
13
7
8
9
14
16
O desenvolvimento do ouvido médio deriva do re- blasto (camada germinativa derivado do blastocis-
cesso tubo-timpânico e do mesênquima do 1.0 e 2º to). A aurícula provém de seis tubérculos, os colí-
arcos branquiais. culos auriculares, que se dispõem em volta da pri-
Do 1.0 saco faríngeo desenvolve-se um divertículo meira fenda ectobranquial (futuro MAE). (Fig.
cuja parte distal se dilata e entra em contacto 10.4.26 e 10.4.27)
com o 1º sulco branquial, envolvendo o esboço da
cadeia ossicular. O recesso forma a cavidade tim-
pânica, o antro mastoideu e a trompa auditiva. OUVIDO EXTERNO
A sua junção com o 1º sulco branquial consti-
tui a primeira membrana branquial. Do primeiro O ouvido externo é constituído pela aurícula e
arco branquial têm origem a bigorna, o martelo, pelo meato acústico externo (MAE). A aurícula
e o músculo tensor do tímpano, derivando do se- tem um papel importante na captação da onda so-
gundo arco branquial o estribo e o músculo esta- nora e na sua orientação para o MAE. Por sua vez
pédio (do martelo). o MAE forma uma mini-câmara de ressonância
A partir da primeira fenda branquial ectoblástica que vai aumentar a pressão daquela onda sonora.
desenvolve-se no meato acústico externo (MAE) A aurícula é uma lâmina cartilagínea, com nume-
ou canal auditivo externo por invaginação do epi- rosas pregas, recoberta por pele. Tem uma confi-
686
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMAS NEUROSSENSORIAIS
1--. 1
~
Labirinto Vestibular
------.
[ Ectoderme Otocisto
1-----.. ______. Ouvido Interno
Labirinto Coclear
Endoderme
(primeiro recesso braquial)
--. Trompa de Eustáquio ---. 1Ouvido Médio 1
Sistema
dos arcos
branquiais
Ectoderme
1 Ouvido Externo 1
(primeira goteira braquial)
guração oval e a sua extremidade inferior é cons- senta neste revestimento pêlos na porção exter-
tituída, unicamente, por tecido adiposo (lóbulo). na, glândulas sebáceas e ceruminosas, responsá-
A aurícula situa- se atrás da articulação têmporo- veis pela secreção de cerúmen, transportado atra-
-mandibular e à frente da mastóide e está inserida, vés de movimentos dos tegumentos cutâneos
pela parte média do seu terço anterior, na parede e respectivos apêndices na direcção do MAE.
lateral da cabeça e forma com ela um ângulo aber- O MAE não é rectilíneo, descrevendo uma curva
to para trás de cerca de 30º. de concavidade anterior e inferior. Por esta razão
Na face lateral a aurícula apresenta, na sua por- para se visualizar a membrana timpânica é neces-
ção central, uma escavação, a concha, onde de- sário exercer uma tracção na aurícula, para trás e
semboca o MAE. Por trás da concha encontra- para cima, por forma a desaparecerem as curva-
-se uma saliência, a ante-hélice, que se bifurca, em turas. No decurso desta observação (otoscopia) é
cima, delimitando em cima a fosseta triangular e desencadeado, por vezes, o reflexo da tosse devi-
póstero-superiormente a fossa escafóide. À frente do à inervação da parede posterior do MAE pelo
da concha aparece o tragus e em baixo o anti-tra- ramo auricular do vago (Fig. 10.4.24).
gus, separados pelo nó inter-trágico. No contor-
no póstero-superior da aurícula encontra-se a hé-
lice cuja extremidade anterior ou raiz está locali-
zada por cima da concha, estando a extremidade
posterior ou cauda em continuidade com o lóbu-
lo (Fig. 10.4.28). 3
687
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
OUVIDO MÉDIO
É uma cavidade óssea com a forma de um para- sa por dois ligamentos timpano-maleolares (ante-
lelipípedo e que compreende três andares (Fig. rior e posterior) que unem as extremidades do sul-
10.4.29 e 10.4.31): co timpânico ao processo lateral do martelo. Nes-
• Superior, epitímpano ou ático, que contém a ta saliência tem origem o cabo do martelo (incrus-
cabeça do martelo e o corpo da bigorna. tado no tímpano), oblíquo para baixo e para trás,
Médio, mesotímpano ou atrium, que corres- que termina no centro da membrana timpânica
ponde laeralmente ao tímpano. que é uma zona deprimida (umbigo). A pars tensa
• Inferior, hipotímpano, em relação com o gol- que corresponde a 9/10 da membrana timpãnica é
fo da veia jugular interna. oblíqua para baixo, para fora e para a frente sen-
do constituída por três camadas: externa (cutânea),
Na cavidade timpânica descrevem-se 6 paredes: intermédia (fibrosa) e interna (mucosa). A camada
fibrosa que dá a rigidez à membrana do tímpano
1. Parede lateral ou timpânica possui fibras radiais externas e circulares internas
e na periferia torna-se mais espessa, inserindo-se
A membrana do tímpano separa o MAE da cavi- no sulco timpânico, como já foi descrito anterior-
dade timpânica. A sua inclinação em relação à pa- mente. Por sua vez a parsjlaccida é formada apenas
rede inferior do MAE varia com a idade, sendo por duas camadas, não apresentando a camada fi-
de 30º no recém-nascido e de 50º no adulto. Tem brosa. A sua textura laxa explica, nos disfunciona-
uma forma circular, com 1 cm de diâmetro, e inse- mentos tubares, a sua tendência para se invaginar
re-se, em quase toda a sua extensão, no sulco tim- para dentro da cavidade timpânica o que está na
pânico (ranhura do MAE). Apenas na sua porção origem de algumas otites colesteatomatosas.
superior a sua inserção é feita, directamente, na es- À otoscopia, o tímpano apresenta, em baixo e à
cama do temporal. Neste local a inserção é mais frente, um reflexo luminoso, triangular, cujo vérti-
laxa, sendo o tímpano menos tenso e mais frágil: ce se encontra no umbigo e se denomina cone lu-
é a parsjlaccida que corresponde a 1/10 da super- minoso que desaparece na fase inicial de uma oti-
ficie do tímpano e que está separada da pars ten- te. (Fig. 10.4.30)
688
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMAS NEUROSSENSORIAIS
13
10
6 7
2. Parede medial ou labiríntica Fig. 10.4.31: Visão esquemática da Caixa do Tímpano (vista da parede
medial a partir da parede externa).
1. Nervo Facial 2. Corda do tímpano 3. Pirâmide 4. Janela oval 5.
Esta parede é constituída por dois andares, cuja se- Adítus ad antrum 6 . Proeminência do canal semicircular lateral 7
. Proeminência do aqueduto do facial 8. Promontório 9. Tegmen
paração é feita à frente pelo canal do músculo ten- timpani 10. Músculo tensor do tímpano 11 . Trompa de Eustáquio 12.
sor do tímpano e atrás pelo canal do nervo facial Nervo pequeno petroso 13. Plexo simpático pericarotídeo 14. Nervo
timpânico (Jacobson).
(Fig. 10.4.29 e 10.4.31).
No andar superior {recessus epitimpânico) observa-
-se a saliência do canal semicircular lateral. O an- 4. Parede posterior ou mastóideia
dar inferior ou atrium é dominado pelo promon-
tório que corresponde à base da cóclea e é percor- Apresenta, de cima para baixo, as seguintes estru-
rido por sulcos do plexo timpânico (inervação sen- turas :
sitiva da cavidade timpânica). Por trás do promon- Aditus ad antrum que faz a comunicação da
tório observam-se duas janelas: em cima, a jane- cavidade timpânica com o antro mastóideu.
la vestibular ou oval e, em baixo, a janela coclear Fossa incudis onde se aloja o ramo horizon-
ou redonda que está encerrada por um membrana tal (curto) da bigorna.
elástica (tímpano secundário). Entre as duas jane- Eminência piramidal que é uma saliência
las encontra-se o seio timpânico. onde se insere o tendão do músculo estapé-
dico e é o local da abertura do canalículo pos-
3. Parede anterior ou carotídea terior da corda do tímpano.
689
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
CADEIA OSSICULAR
4 6
690
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMAS NEUROSSENSORIAIS
O músculo tensor do tímpano insere-se no pro- da cartilaginosa e uma camada externa óssea reco-
cesso cocleariforme e, em seguida, o tendão forma berta pelo periósteo. A base está encastrada na ja-
ângulo recto até à face interna do cabo do martelo nela vestibular e o ligamento anular une os bordos
(Fig. 10.4.36). Este músculo tem como função fa- da base do estribo ao contorno da janela vestibular
cilitar a penetração da platina do estribo na jane- (Fig. 10.4.32, 10.4.33 e 10.4.34).
la vestibular,levando a um aumento da pressão in- O músculo do estribo insere-se na eminência pi-
tralabiríntica (função limitada no tempo). É iner- ramidal e na face posterior da cabeça do estribo.
vado por um ramo do nervo mandibular, ramo ter- Tem urna acção antagonista em relação ao múscu-
minal do nervo trigémio (V par craniano). lo tensor do tímpano. A tracção posterior do estri-
A bigorna ou incus apresenta um corpo e dois ra- bo provoca diminuição da pressão intralabiríntica,
mos (horizontal e vertical). O corpo articula-se à uma vez que impede a penetração da platina do
frente com a cabeça do martelo e o ramo hori- estribo na janela vestibular. Há, pois, um aumento
zontal é curto e espesso e assenta na fossa incudis. da rigidez da cadeia ossicular e resistência («impe-
O ramo vertical é mais delgado e longo e termina dância») à transmissão do som (Fig.10.4.36). Este
pelo processus lenticular a qual se articula com o es- músculo protege, assim, o ouvido interno dos sons
tribo (Fig. 10.4.32, 10.4.33 e 10.4.34). intensos e é inervado por um ramo do nervo facial.
O aparelho ligamentar da bigorna é compos- O músculo estapédico é posto em contracção por
to pelo ligameto superior que vai do corpo da bi- um reflexo acústico-facial (estapédico). Um som
gorna à parede tegmental e o ligamento poste- intenso, transmitido pelo ouvido médio ao ouvi-
rior entre o ramo horizontal e a fossa incudis (Fig. do interno, dá origem a um influxo nervoso que
10.4.35). ao nível do tronco cerebral vai, por um mecanismo
O estribo é constituído por uma cabeça articular, reflexo, levar a uma estimulação do nervo facial e
dois ramos e uma base. A cabeça apresenta uma assim à contracção do músculo do estribo e, isto,
superfície que se articula com a bigorna e dá inser- nos dois ouvidos. Assim, o nervos trigémio e facial
ção ao tendão do músculo do estribo no seu bor- tem acções antagónicas na transmissão do estímu-
do posterior. O ramo posterior é mais longo que o lo auditivo ao ouvido interno: o primeiro tem uma
anterior e a base (platina do_estribo) tem uma for- acção facilitadora enquanto o segundo tem uma
ma oval e é constituída por urna camada profun- acção opositora.
Fig. 10.4.35: Complexo ligamentar do ouvido médio. Fig. 10.4.36: Complexo muscular do ouvido médio.
1. Ligamento anterior do martelo 2. Ligamento lateral do martelo 1. Músculo tensor do tímpano 2. Músculo do estribo
3. Ligamento superior do martelo 4. Ligamento posterior da bigorna
5. Músculo do estribo 6. Ligamento anular do estribo
691
MANUAL DE ANATOMIA H UMANA
2
B Ili
Fig. 10.4.37: Anatomia e relações da trompa de eustáquio.
1. Nasofaringe/rinofaringe 2. Trompa de Eustáquio 3 . Caixa do tímpano 4. Músculo levantador do véu do palato 5. Músculo tensor do véu do
palato 6. Ostio timpánico 7. Ostio faringeo
692
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMAS NEUROSSENSORIAIS
6 9 8
2 7
OUVIDO INTERNO 4 15 12 10 13 14 11
693
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
4 5
3. A parede superior apresenta à frente a extre-
midade ampular do canal anterior e atrás o
canal comum aos dois canais verticais (ante-
rior e posterior);
4. A parede posterior apresenta a extremida-
de não ampular do canal lateral, em cima e
o orificio da extremidade do canal posterior,
em baixo;
5. A parede inferior prolonga-se pela lâmina es-
piral da cóclea;
6. A parede anterior está relacionada com o ca-
nal do nervo facial em cima, e a rampa vesti-
bular da cóclea, em baixo.
6 4 3 8 7 LABIRINTO MEMBRANOSO
Fig. 10.4.40: Anatomia do interior do ouvido ósseo.
1. Fosseta oval ou ovóide 2. Fosseta redonda ou hemisfé- Tem origem ectodérmica e começa a desenvol-
rica 3. Orifício de abertura do aqueduto coclear 4. Janela
redonda 5. Fossa coclear 6. Orifício do aqueduto do vestíbulo ver-se pelo 21 º dia, estando concluído o seu de-
7. Rampa vestibular 8. Rampa timpânica 9. Abertura comum dos senvolvimento ao fim de 70 dias. As cavidades de
orifícios não-ampulares dos canais semicirculares anterior e posterior
694
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMAS NEUROSSENSORIAIS
695
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
696
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMAS NEUROSSENSORIAIS
Sendo a microcirculação do labirinto do tipo ter- nores), o máximo da amplitude vibratória situa-
rninal (ausência de anastomose ou de circulação -se no apex da cóclea e no caso dos sons agudos
colateral), compreende-se que uma lesão obstruti- (comprimentos de onda menores e frequências
va se traduzirá por uma isquémia parcial ou total maiores) a vibração interessa a base. A vibração da
no território a jusante. membrana basilar induz um movimento das cé-
lulas sensoriais que interagem por meio de con-
tacto com a membrana tectória ocorrendo assim
FISIOLOGIA DA AUDIÇÃO uma estimulação dos cílios que transformam uma
energia mecânica em energia nervosa (transduc-
Os sons recolhidos pela aurícula e orientados para ção) (Fig.10.4.46).
meato acústico externo vão provocar a vibração As células do órgão espiral1 (não são neurónios
0
da membrana do tímpano. Esta vibração vai ser mas fazem sinapse, na sua base, com fibras nervo-
transmitida ao líquido perilinfático do ouvido in- sas), são excitadas pela onda sonora são as células
terno pela cadeia ossicular. Graças à diferença de ciliadas internas - CCI - (3.500 células, cada célula
superficie entre o tímpano e a platina do estribo tem 50 a 60 estereocilios) cuja selectividade senso-
(20/1), a cadeia ossicular amplifica as vibrações so- rial é devida à acção das células ciliadas externas -
noras o que vai permitir passar de um meio aéreo CCE - (20.000 células e cada célula tem cerca de
para um meio liquido sem haver perda da intensi- 100 estereocilios). As CCI transformam a men-
dade do som o que aconteceria se não existe aque- sagem mecânica em mensagem electro-química
la amplificação. (nervosa): são células transductoras (Fig. 10.4.44).
Ao nível do ouvido interno as vibrações provocam As CCE têm como função ajustar a resposta da
0 movimento do líquido perilinfático e isto só é
cóclea às diferentes frequências e permitir ás CCI
possível devido a dois factos: a comunicação entre funcionar com mais precisão.
a rampa vestibular e a rampa timpânica e a exis-
tência da janela coclear cuja membrana sofre as REGULAÇÃO DA TRANSMISSÃO DO SOM
mesmas oscilações da platina do estribo, mas em
sentido inverso. O movimento do líquido perilin- Como evitar um traumatismo sonoro no ouvi-
fático produz a vibração da membrana basilar cuja do interno? Qyando o som é muito forte há uma
propagação se faz de maneira diferente consoan- contracção síncrona dos dois músculos do ouvido
te a frequência dos sons: nos sons graves (compri- médio. Isto provoca uma rigidez da cadeia ossicu-
mentos de onda mais elevados e frequências me- lar que não transmite mais as vibrações, seguindo
estas a via aérea directa que tem rendimento tanto
mais fraco quanto mais bloqueada estiver a janela
vestibular o que vai prejudicar por em movimento
o líquido perilinfático.
Uma lesão parcial ou completa do nervo facial leva
a uma paralisia do músculo do estribo. Esta lesão
desorganiza o sistema regulador e traduz-se por
urna hiperacúsia.
A trompa auditiva permite a drenagem das secre-
ções da mucosa da cavidade timpânica e assegura a
igualdade de pressão de um lado e doutro do tím-
pano, evitando deste modo tudo o que possa pre-
judicar a sua vibração.
697
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
tr
dos objectos que nos rodeiam);
• Receptores propriocetivos (permitem a per-
cepção da mudança de posição relativa dos
diferentes segmentos do corpo).
6 5 8
Fig. 10.4.46: Diagrama representativa da fisiologia da cóclea. Os centros do equilfürio recebem informações
1. Janela oval 2. Janela redonda 3. Membrana tectória 4. Apex
5. Membrana basal 6. Alta frequência 7. Média frequência 8. Baixa provenientes de três tipos de aferências periféricas:
frequência vestibulares, visuais e cinestésicas. Baseados nes-
tas informações os centros enviam influxos ner-
FISIOLOGIA DO EQUILÍBRIO vosos eferentes (envia aos músculos as ordens de
contracção e relaxamento) necessários à manuten-
Toda a função vestibular é baseada em dois factos ção do equilibrio.
que se associam: A função do labirinto posterior é o de informar
1. Movimento dos líquidos labirínticos; o sistema nervoso central (SNC) sobre as acele-
2. Igualdade desses movimentos nos dois vestí- rações, lineares e angulares, às quais os receptores
bulos (direito e esquerdo). vestibulares são sensíveis. Algumas fibras vestibu-
lares projectam-se directamente no cerebelo sem
Assim, a excitação do vestíbulo provoca o movi- fazerem sinapse no tronco cerebral, mas a maioria
mento dos líquidos labirínticos que banham as cé- terminam nos núcleos vestibulares que estão no
lulas sensoriais. Estas são células ciliadas (tácteis) pavimento do I V ventrículo. Daqui projectam-se
transformam a energia mecânica numa diferença para (Fig. 10.4.47):
de potencial (influxo nervoso) a qual é conduzi- Núcleos dos nervos óculo-motores pelo fei-
da pelo nervo vestibular e suas ramificações (cone- xe longitudinal posterior cujas fibras assegu-
xões). Esta realidade explica igualmente, o princí- ram a estabilização do olhar. Permite fixar o
pio que rege a exploração vestibular. Os dois vestí- olhar num ponto do espaço enquanto a ca-
bulos devem ser igualmente excitados (ao mesmo beça se vai movendo. É a via responsável pelo
tempo ou em provas sucessivas) para depois se po- nistagmo.
der verificar uma eventual desigualdade. • Células radiculares dos cornos anteriores da
No recém-nascido, o órgão vestibular apresenta já espinhal medula pelo feixe vestíbulo-espi-
a configuração que terá no adulto. Este facto assu- nhal. Adaptam a postura das extremidades às
me uma importância fulcral uma vez que atenden- alterações do equilibrio sendo as fibras res-
do à forma como são estimuladas as células senso- ponsáveis pelos desvios segmentares.
riais, a manter-se o crescimento do órgão com a • Núcleo do vago para o controlo das funções
idade, a deslocação permanente dos líquidos labi- neurovegetativas.
rínticos provocaria um estado de vertigem que só • Cerebelo pelas fibras vest.ibulo-cerebelosas
seria suprimido quando o crescimento terminasse. que asseguram a coordenação motora.
A vertigem é uma sensação que surge sempre que • Tálamo e córtex cerebral pelas fibras vestí-
estão perturbados os mecanismos responsáveis bulo-talârnicas e vestíbulo-corticais respon-
pela manutenção do equilibrio e orientação es- sáveis pela percepção consciente dos movi-
pacial. D efine-se equilibrio como o estado de um mentos. De alguns núcleos do tálamo par-
corpo em que as forças sobre ele aplicadas se con- tem fibras que se projectam em duas áreas
trabalançam e anulam, resultado da contracção corticais - uma, no tecto do sulco late-
controlada de numerosos grupos musculares. ral e a outra na parte inferior do sulco cen-
698
CONTROLO E INT EGRAÇÃO I SISTEMAS NEUROSSENSORIAJS
tral. Estas áreas do córtex permitem-nos to- O ouvido é um dos elementos responsáveis pelo
mar consciência dos movimentos do corpo e estabelecimento e pela manutenção do equihbrio
orientação no espaço. do corpo, juntamente com a visão, a sensibilida-
de proprioceptiva (que nos permite dizer, com os
Os núcleos vestibulares recebem, igualmente, as olhos fechados, se um braço está levantado ou flec-
fibras originárias nos receptores visuais e cines- tido) e o cerebelo. Este último em função dos da-
tésicos, em particular dos receptores dos múscu- dos fornecidos pelos três outros sistemas vai agir,
los da nuca. Estas informações são integradas nos de modo inconsciente, sobre o tónus muscular que
núcleos vestibulares, partindo daí um sinal ner- assegura a manutenção da postura, permitindo o
voso dirigido aos músculos oculares, ou à espi- equihbrio do corpo e coordena os movimentos
nhal medula onde se produz uma contracção re- das diferentes partes do corpo em função da sua
flexa, dos músculos do pescoço, do tronco e dos posição. Qyando se caminha age-se de uma for-
membros. ma consciente e voluntária, mas a realização des-
Na vertigem há um conflito entre as informações te acto põe em jogo um grande número de múscu-
sensoriais transmitidas ao SNC pelos diferentes los cuja coordenação (inconsciente) é responsável
receptores implicados no equilíbrio. Trata-se so- pelo equihbrio durante a deslocação.
bretudo de conflitos entre o aparelho vestibular di-
reito e esquerdo. CORRELAÇÕES CLÍNICAS
A vertigem é um sintoma específico de lesão do
aparelho vestibular (labirinto posterior, nervo ves- • A maioria dos neurinomas do VIII par cra-
tibular, núcleos vestibulares e conexões eferentes), niano originam -se no nervo vestibular supe-
sendo o papel deste aparelho, no equilíbrio, aces- rior.
sório uma vez que a sua destruição pode ser com- • O tegmen da caixa do tímpano tem soluções
pensada pela visão e a pela sensibilidade profunda de continuidade em 10-15% dos casos, sen-
em poucas semanas (compensação central). do origem de fístulas de líquor espontâneas
manifestadas por rinorráquia, através da co-
municação da caixa do tímpano com as fos-
sas nasais através da trompa de Eustáquio.
• A maior horizontalização da Trompa de
Eustáquio na idade pediátrica é parcialmen-
te responsável pela maior frequência de dis-
função desta porção do ouvido, associada à
hipertrofia das tonsilas.
• A Malformação de Mondini é uma alteração
da formação da cóclea caracterizada por uma
volta e meia em vez das duas voltas e meia,
sendo mantida a volta basal associando-se a
dilatação quística distal. Clinicamente, ca-
racteriza-se por um deficit auditivo neuro-
sensorial.
• As malformações da aurícula encontram-
-se frequentemente associadas a malforma-
ções renais por fazerem parte do comple-
2
xo semiológico de síndromes malformativos
3 4
complexos.
Fig, 10.4.47: Vias aferentes do equilíbrio.
1. Nervo vestibular 2. Núcleos vestibulares 3. Feixe Espinovestibular,
4. Feixe vestíbuloespinhal 5. Núcleo do VI nervo craniano 6. Núcleo
do IV nervo craniano 7. Núcleo do Ili nervo craniano 8. Núcleos
póstero.ventrais do tálamo 9. Área vestibular cortical 1O. Cerebelo
699
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
700
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMAS NEUROSSENSORIAlS
701
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
18 2 3 4
contralateral, da área olfactiva lateral e da fita dia-
gonal de Broca.
Vias eferentes do bulbo olfactivo: a via eferente
consiste na fita olfactiva. Esta projecta-se no bul-
bo olfactivo contralateral, e, pelas suas estrias ol-
factivas, nos três cortices olfactivos: lateral (córtex
piriforme e entorrinal, e área amigdalina), media-
no/intermédio (substância perfurada anterior) e
5 medial (área septal).
FITA OLFACTIVA
12 11 10 9 8
702
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMAS NEUROSSENSORIAIS
703
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
estimulam as células receptoras presentes nas pa- pos: filiformes, ftmgiformes e circunvaladas ou ca-
pilas gustativas. Este estímulo é transmitido aos liciformes. Os botões/corpúsculos gustativos qUe
prolongamentos periféricos dos neurónios senso- recobrem as papilas são constituídos por três ti-
riais de primeira ordem da via gustativa (que per- pos celulares:
tencem aos nervos cranianos facial, glossofaríngeo Células receptoras gustativas: são células
e pneumogástrico). Estes sinapsam com os neuró- neuroepiteliais, cuja superfície apical apre-
nios de segunda ordem ao nível do núcleo do feixe senta microvilosidades, que se abrem nos
solitário. Os neurónios de segunda ordem cruzam poros gustativos das papilas. Estes poros têm
a linha média e ascendem até ao núcleo ventral contacto directo com a saliva, onde se en-
póstero-medial do tálamo, onde sinapsam com os contram as moléculas gustativas. A porção
neurónios de terceira ordem que vão, finalmente, basal destas células contacta com os prolon-
dirigir-se à área cortical gustativa primária. gamentos periféricos das fibras nervosas da
Um conceito fundamental é o de que as sensações via gustativa. A ssim, a estimulação de urna
gustativas não são exclusivamente formadas pelos célula do neuroepitélio provoca um poten-
estímulos ao nível dos corpúsculos gustativos, mas cial receptor, que é transmitido pela sua por-
são um conjunto complexo de estímulos gustati- ção basal, às fibras nervosas, desencadeando
vos, olfactivos, térmicos e de textura do alimento. nestas um potencial de acção, que propaga 0
estímulo gustativo.
Células basais: encontram-se na porção basal
4 2
das papilas e diferenciam-se em células recep-
toras, substituindo estas últimas, cuja serni-vi-
da é curta (cerca de 10 dias).
Células de suporte: têm como função o su-
porte das células receptoras, assim como a se-
creção de substâncias que recobrem as micro-
vilosidades das células receptoras.
As papilas gustativas são protusões da mucosa lin- Os neurónios que comunicam com a extremidade
gual recobertas por botões/corpúsculos gustati- basal das células receptoras gustativas podem ter
vos. Estas estruturas encontram-se também ao ní- origem em três diferentes nervos cranianos: facial,
vel do véu do paladar, epiglote e faringe. Anato- glossofaríngeo e pneumogástrico.
micamente as papilas podem dividir-se em três ti-
704
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMAS NEUROSSENSORIAIS
24 23 22 21 20
705
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
Transmite a informação sensorial do terço poste- O córtex gustativo primário, ou área 43 de Brod-
rior da língua, através dos seus ramos terminais. mann, localiza-se no opérculo parietal, na por-
Os corpos destes neurónios encontram-se ao ní- ção inferior da circunvolução parietal ascenden-
vel do gânglio de Ehrenritter ou gânglio petroso. te, junto à área do córtex somatostésico primário
da língua e faringe.
Nervo pneumogástrico A porção anterior da ínsula recebe também im-
pulsos da via gustativa, integrando-os com os es-
É responsável pelo sentido do gosto ao nível da tímulos olfactivos. No córtex orbitofrontal ocor-
orofaringe e epiglote. Os corpos destes neurónios re também integração dos estímulos gustativos
sensitivos encontram-se no gânglio plexiforme ou com os olfactivos, e ainda com informações pro-
gânglio inferior do vago. venientes de outras áreas corticais, relativas às de-
mais vias sensoriais e a emoções, memórias e mo-
NÚCLEO DO FEIXE SOLITÁRIO tivação.
706
CONTROLO E INTEGRAÇÃO I SISTEMAS NEUROSSENSORIAIS
Finalmente, se considerarmos para além da lín- b. A área cortical da via do gosto localiza-se
gua, as restantes estruturas responsáveis pelo sen- na vertente superior da circunvolução pós-
tido do gosto, nomeadamente a epiglote e a oro- -central.
faringe, a inervação sensorial destas é feita pelo c. A via gustativa denomina-se também de
pneumogástrico. lemniscus lateral.
d. As fibras da via do gosto são transportadas
Patologia da via gustativa por 3 nervos cranianos: facial, glossofarín-
geo e grande hipoglosso.
A ageusia (ausência de paladar), a hipogeusia (di- e. Na via gustativa o primeiro neurónio faz
minuição do paladar) e a disgeusia (distorção do sinapse com o segundo no núcleo do trac-
paladar) são sintomas frequentes e podem ter to solitário.
múltiplas causas. São causas fisiológicas de hipo-
geusia, por exemplo, o envelhecimento e a gra- 3. A anósmia é o defeito neurológico que con-
videz. siste na perda completa de olfato. Conside-
A patologia do sistema nervoso, como as lesões re as seguintes afirmações e escolha a afirma-
dos nervos cranianos facial, glossofaríngeo ou ção errada:
pneumogástrico, ou ainda a esclerose em placas, a. A anósmia pode ser provocada por tumo-
podem levar a diminuição unilateral do gosto. res da base anterior do crânio.
As alterações da mucosa bucal e lingual, como b. Qµando existe anósmia, a pessoa consegue
· aquelas provocadas.por xerostomia, radioterapia, detetar se os alimentos são doces ou sal-
ou tabagismo, também levam a alterações do pa- gados.
ladar. c. Os tumores da região entorrinal esquerda
Fármacos como os antihipertensores, certos anti- podem provocar anósmia.
bióticos, o lítio e o metotrexato também estão as- d. Uma lesão de ambos os tratos olfativos
sociados a hipogeusia, assim como vários distúr- pode provocar anósmia.
bios sistémicos, como a deficiência de zinco, a in- e. A anósmia é um sinal presente em algu-
suficiência renal grave e a diabetes. mas formas de demência de Alzheimer.
707
11. CABEÇA
Terminado o período embrionário, no final da 8.ª praorbitárias; lateralmente as linhas temporais su-
semana de fertilização, o ser em formação apre- periores; posteriormente as linhas nucais superio-
senta já a forma humana, em que a cabeça assu- res e a protuberância occipital externa (exterior).
me uma dimensão relativa preponderante (cerca A configuração exterior apresenta como princi-
de metade da dimensão total) e em que a face re- pais acidentes anatómicos: a glabela, situada na re-
presenta aproximadamente ¼ da dimensão da ca- gião mediana anterior, logo acima da depressão do
beça, relação essa que se altera até à vida adulta em nasion; ânterolateralmente as arcadas supracilia-
que a relação craniofacial é de 1/1. res recobertas pelas sobrancelhas; as bossas fron-
A Anatomia Topográfica da Cabeça integra o an- tais, bilateralmente situadas na escama do frontal;
dar superior, o crânio (neurocrânio) e o andar in- a que se seguem de ambos os lados as bossas pa-
ferior ou face (viscerocrânio). rietais e posteriormente a protuberância occipital
O Crânio abrange as seguintes regiões topográ- externa (exterior).
ficas: D a superfície para o interior, esta região é consti-
• Região occipitofrontal; tuída por pele, tecido subcutâneo, plano musculo-
• Região temporal; -fascial, camada de tecido celular laxo, periósteo,
• Região auricular; esqueleto ósseo, meninges e hemisférios cerebrais
• Região mastoideia. (Fig. 11.1).
71 1
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
troclear e pelos ramos superficiais da artéria e veia A região temporal localiza-se na face lateral do
supratrocleares internas), lateral (contendo o pe- crânio, atrás da região orbitária e superiormente às
dículo temporal composto pelos ramos terminais regiões masseterina e parotidea. O seu limite ante-
da artéria temporal superficial, ramos da veia tem- rior é o processo zigomático e o bordo póstero-su-
poral e do nervo aurículo-temporal; e o pedículo perior do osso zigomático. Inferiormente é limita-
mastoideu, constituído pelo ramo posterior da ar- do pela arcada zigomática (Fig. 11.2).
téria auricular posterior e ramificações terminais
do ramo mastoideu do plexo cervical superficial) e
posterior (composto dos ramos terminais lateral e
medial da artéria occipital e veias correspondentes,
nervo grande occipital e ramo cutâneo da ramifi-
cação posterior do terceiro nervo cervical.
Os vasos linfáticos distribuem-se também na ca-
mada subcutânea profunda, nas regiões frontal,
parietal e occipital; drenam para os gânglios pa-
rotideos (região frontal), gânglios mastoideus (re-
gião parietal) e laterais profundos do pescoço (re-
gião parietal e região occipital).
O músculo occipitofrontal, localiza-se subjacente
à camada subcutânea e possui uma membrana fi-
brosa intermédia denominada "gálea". A este ní- Fig. 11 .2: Vista da região temporal.
vel verifica-se uma íntima relação entre a pele, o 1. Artéria temporal superficial 2. Fáscia temporal superficial 3. Fáscia
temporal profunda {Lâmina superficial) 4. Fáscia temporal profunda
panículo adiposo e o músculo occipitofrontal, for- (Lâmina profunda) 5. Músculo temporal
mando-se como que uma camada única que cons-
titui o couro cabeludo. A camada de tecido adipo- Do exterior para o interior, encontramos pele e te-
so situada interiormente ao couro cabeludo, per- cido subcutâneo, vasos e nervos superficiais; gálea
mite o seu deslizamento sobre o periósteo da cal- e músculos auriculares, fáscia temporal, músculo
vária e é atravessada por vasos que ao mesmo se temporal, esqueleto ósseo da fossa temporal; me-
destinam. O periósteo é a camada que se segue in- ninges e hemisférios cerebrais. A pele tem as ca-
teriormente, sendo delgada e pouco aderente ex- racterísticas do couro cabeludo, na porção superior,
cepto nas suturas e no foramen parietal. Imedia- recoberta por cabelo, sendo lisa e macia inferior-
tamente para dentro podemos encontrar o esque- mente e anteriormente, onde deslisa sobre a gálea
leto ósseo, constituído pelo frontal, porção supe- subjacente. Nesta camada de tecido subcutâneo,
rior dos parietais e a escama do occipital. Podemos profunda encontram-se os vasos temporais super-
identificar as suturas coronal, sagital e lambdoide, ficiais (artéria e veia temporal superficial). A veia
as arcadas supraciliares, as bossas frontais, as bos- temporal superficial desce atrás da artéria e ante-
sas parietais e os foramens parietais (atravessados riormente ao nervo aurículo temporal. Os linfáti-
por veias emissárias). Anteriormente, na espessu- cos são tributários dos gânglios parotideos. Ain-
ra do osso frontal existem cavidades pneumatiza- da nesta região podemos encontrar os ramos tem-
das, denominadas "seios frontais". Interiormen- porais e palpebrais do nervo facial que inervam os
te seguem-se as meninges e nomeadamente a du- músculos auriculares, ventre anterior (frontal) do
ra-máter, que contém o seio sagital superior, que músculo occipitofrontal, corrugador da sobrance-
recebe veias meníngeas e lagos sanguíneos e se- lha, o procerus e o orbicular da pálpebra. Poste-
guidamente a aracnoide (no espaço subaracnoideu riormente, destacam-se da gálea os músculos auri-
correm as veias cerebrais) e a pia-máter. A par- culares, anterior e superior e separado por uma ca-
te mais interior do segmento occipito-frontal re- mada de tecido conjuntivo laxo existe subjacente a
laciona-se com a fissura inter-hemisférica e o seg- fáscia temporal. Esta divide-se em baixo em duas
mento lateral superior1dos hemisférios cerebrais. expansões laminares que se inserem nas duas mar-
712
ANATOMIA DAS REGIÕES I CABEÇA
gens do bordo superior da arcada zigomática, sen- emissária mastoideia; linfáticos que drenam para
do o espaço que as separa preenchido por gordura os gânglios mastoideus e sub-esterno-mastoideus
e por vezes atravessada pela artéria temporal pro- e ainda nervos sensitivos (oriundos dos ramos au-
funda média. O espaço que separa a fáscia tempo- ricular e mastoideu do plexo cervical superficial) e
ral do esqueleto ósseo denomina-se loca tempo- motores (do ramo auricular posterior do nervo fa-
ral, preenchida parcialmente pelo músculo tempo- cial que integra os nervos auricular posterior e oc-
ral e que inferiormente comunica com as regiões cipital). Interiormente ficam os planos músculo-
masseterina, geniana e fossa infra-temporal. Jun- -facial (de que fazem parte os tendões de inserção
to ao periósteo e na espessura do músculo tempo- dos músculos esterno-cleido. -mastoideu, esplénio
ral passam as artérias e veias temporais profundas do pescoço e o longo da cabeça, recobertos pela
anteriores e posteriores e os nervos temporais pro- fáscia do esterno-cleido.-mastoideu) e um periós-
fundos, anterior, médio e posterior. Segue-se inte- teo muito aderente.
riormente o esqueleto ósseo delgado, denominado O segmento superior da face e nomeadamente as
"fossa temporal", que contém as fissuras de união regiões nasal e orbitária são descritas com os ór-
da face lateral do frontal, parte inferior do parie- gãos dos sentidos adstritos às mesmas (Olfacto e
tal, porção escamosa do temporal e a parte tempo- Visão).
ral da grande asa do esfenoide, unidos num ponto A região oral, contém a cavidade oral a que se tem
denominado "ptérion''. As meninges são as estru- acesso através de um orificio denominado "orifi-
turas imediatamente subjacentes e em que a du- cio oral" ou "stomium" (delimitado pelos lábios su-
ra-máter é pouco aderente à parede óssea e con- perior e inferior), é dividida pela arcada dentária
tém na sua espessura os ramos terminais da artéria num segmento que se situa na periferia, o vestí-
meníngea média e veias satélites, dando o típico bulo oral e uma cavidade situada interiormente, a
aspecto de "folha de figueira". A região temporal cavidade bucal propriamente dita. Nesta sobres-
relaciona-se interiormente com a face lateral dos sai uma volumosa massa muscular, a língua. Tem
hemisférios cerebrais, onde se encontram grande como limites superior o palato (duro anteriormen-
parte dos centros motores e sensoriais (cissura de te e mole posteriormente), a base do nariz; lateral-
Rolando e a porção lateral da cissura de Sylvius). mente o sulco mentolabial e naso-labio-geniano,
A região auricular é apresentada na abordagem do e inferiormente o pavimento bucal. O lábio supe-
órgão vesnbulo-coclear. rior apresenta uma depressão mediana denomina-
A região mastoideia, que como o próprio nome da "filtro" e que termina inferiormente num tubér-
indica se situa na parte lateral do crânio na por- culo labial. Ambos os lábios apresentam uma face
ção mastoideia do osso temporal, que inclui, bem anterior de revestimento cutâneo e uma posterior
como as partes moles suprajacentes. Tem como li- de revestimento mucoso separados por um bordo
mite superior a linha temporal inferior, anterior- livre, que delimita anteriormente o vermelhão dos
mente uma linha vertical que passa pelo limite lábios. A face mucosa dos lábios continua-se com
posterior do meato acústico externo e posterior- a gengiva aderente e na região mediana anterior de
mente o bordo posterior do processo mastoideu. É ambos os lábios continua-se por uma prega, o freio
uma região recoberta por pele espessa, lisa e, com labial, que se insere na região interincisiva.
excepção da porção posterior em que é recober- O revestimento cutâneo é espesso e aderente aos
ta por cabelos. Por debaixo da pele existe tecido músculos subjacentes, sendo dotado de uma rede
celular subcutâneo com características idênticas à linfática abundante, que drena predominante-
da região occipitofrontal, a que se se segue uma mente para os gânglios linfáticos submandibula-
gálea que se dispersa na crista supra-mastoideia e res e também para os submentonianos (parte me-
na fáscia dos músculos que se inserem na face pos- diana do lábio inferior) e parotídeos (lábio supe-
terior da mastóide. Nesta camada de tecido celular rior). Os músculos desta região, inervados porra-
subcutâneo podemos encontrar a artéria auricular mos do nervo facial, podem ser dilatadores (eleva-
posterior, que se bifurca num ramo anterior e ou- dor do ângulo bucal, abaixador do lábio inferior, os
tro posterior; veias auriculares posteriores e a veia elevadores superficial e profundo da asa do nariz e
713
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
do lábio superior, o pequeno zigomático, o grande (cutânea) e uma face interior (mucosa). A face ex-
zigomático, o risorius, o abaixador do ângulo bucal terior tem uma depressão central, mais evidente
e o platisma).e constritores (orbicular dos lábios e nos indivíduos magros, apresentando imediata-
compressor dos lábios). Subjacente à camada mus- mente por cima uma saliência vulgarmente deno-
cular, existem pequenas glândulas salivares labiais minada "maçã do rosto". A pele regional é espes-
e as artérias coronárias (ramos da artéria facial). sa e móvel, tendo subjacente tecido celuloadiposo
O revestimento interior mucoso, de coloração ró- cuja espessura diminui de trás para diante e os lin-
sea deixa transparecer um aspecto mamilona- fáticos são tributários dos gânglios linfáticos sub-
do causado pelas glândulas salivares subjacentes e mandibulares, submentonianos e parotídeos infe-
possui uma rede linfática distinta da rede cutânea, riores. Existem dois planos musculares nesta re-
que drena para os gânglios linfáticos submandi- gião: o plano superficial, descontínuo, de múscu-
bulares, sub-mentonianos parotídeos e infra-auri- los achatados e convergentes para a comissura la-
culares. bial (de cima para baixo, o elevador superficial da
A região mentoniana (mentual) situa-se como o asa do nariz e do lábio, o pequeno zigomático, o
próprio nome indica, na saliência do mento, ten- grande zigomático, o risórius, os feixes posteriores
do como limites laterais uma linha perpendicu- do platisma, e o músculo occipitofrontal), de vasos
lar que passa nas comissuras labiais, superiormen- (ramificações da artéria transversa da face, facial,
te a base do lábio inferior e inferiormente o bordo mentoniana) e de ramos do nervo facial; o plano
cutâneo inferior do contorno do mento (gnation). profundo que é composto, de cima para baixo, pelo
O contorno geral da região faz procidência (con- músculo elevador do lábio superior e da asa do na-
vexo), apresentando em alguns casos uma depres- riz, elevador do ângulo da boca, o bucinador e os
são mediana denominada "fosseta mentoniana". feixes laterais do abaixador do lábio inferior. La-
A pele nesta região é espessa e aderente e a rede teralmente à fáscia que recobre o bucinador existe
linfática regional drena para os gânglios submen- o corpo adiposo geniano, o qual é contornado an-
tonianos e submandibulares. A camada subcutâ- teriormente pelo canal parotídeo, o qual atravessa
nea de tecido celluloadiposo é muito reduzida e é o músculo bucinador, 1 cm adiante do bordo an-
atravessada por fibras musculares aderentes à pele, terior do masséter, acedendo ao orifício emergen-
constituída pelos músculos mentonianos (men- te na mucosa ao nível da face oclusal, entre o 1.0 e
tual) situado medialmente, abaixador do lábio in- o 2.0 molares permanentes. Os vasos regionais são
ferior e do ângulo da boca (situado ínfero-lateral- a artéria facial (sinuosa e com um trajecto oblíquo
mente). Segue-se interiormente o periósteo, sobre para cima e para diante, desde a sua entrada ao ní-
o qual se movem os tecidos moles que o recobrem, vel do ângulo ântero-inferior do músculo massé-
que tem subjacente a porção óssea mediana ante- ter e até ao sulco naso-geniano (de onde atinge o
rior e procidente do corpo mandibular, denomina- ângulo medial da órbita), a veia facial (que cami-
da "protuberância mentoniana" tendo nos limites nha por fora da artéria facial), os linfáticos (que
laterais os orifício mentonianos direito e esquer- seguem o trajecto dos outros vasos regionais, po-
do, que dão passagem aos vasos e nervos mento- dendo encontrar ocasionalmente gânglios bucais e
nianos. É inconstante a existência de uma bolsa si- submentonianos) e nervos (ramos do facial, o ner-
novial nesta região, entre as partes moles e o pe- vo infra-orbitário, o ramo bucal do nervo tempo-
riósteo. robucal e o nervo mentoniano). Do plano profun-
A região geniana_integra lateralmente a face, sen- do fazem parte: superiormente a face lateral do
do limitada superiormente pela margem (bordo) osso zigomático e o processo piramidal do osso
orbitária inferior, inferiormente pelo bordo infe- malar, numa porção intermédia a mucosa oral e
rior da mandibula, anteriormente pelo sulco naso- inferiormente a face lateral do corpo mandibular.
geniano, medialmente pela comissura labial ipsila- Também nesta região a mucosa inflete e continua-
teral e segundo uma linha vertical passando pela -se pela gengiva aderente. A drenagem linfática da
mesma e ainda lateralmente pelo bordo anterior mucosa regional é tributária dos gânglios linfáti-
do masséter. Esta região possui uma face exterior cos submandibulares.
714
ANATOMIA DAS REGIÕES I CABEÇA
715
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
co e anteriormente pelo osso zigomático. A fos- palatina) e para o palato mole pelas artérias, pala-
sa infra-temporal prolonga-se posteriormente até tina ascendente (ramo da artéria facial) e palati-
ao processo pterigoide, pela fossa ptérigo-palatina, na descendente (ramo da artéria maxilar). Os lin-
que lateralmente se abre na fissura ptérigo-maxi- fáticos drenam para os gânglios jugulares internos
lar, que superiormente e posteriormente se rela- e ocasionalmente para os gânglios submandibula-
ciona com a saliência da extremidade inferior da res e retrofaríngeos laterais. A inervação sensitiva é
crista infra-temporal, denominada "tubérculo es- feita pelos nervos palatinos (anterior, médio e pos-
fenoidal". A fossa infra-temporal é preenchida pe- terior) e a motora depende do vago, com excep-
los músculos pterigoideus, vasos maxilares (artéria ção do nervo do músculo tensor do véu do pala-
e veia maxilar) e nervos (maxilar e mandibular), dar (ramo do nervo mandibular). O revestimento
repartidos nas duas locas de separação determina- mucoso da face superior é feito anteriormente por
das pela fáscia pterigoideia. mucosa nasal que posteriormente dá lugar à mu-
A região palatina, é a separação ósseo-membra- cosa faríngea (a nível do palato mole).
nosa entre as cavidades, oral e nasal. Tem um limi- A região tonsilar (amigdalina), está situada na
te periférico anterior e lateral do palato duro, de- orofaringe, posteriormente à cavidade oral, rela-
terminado pela arcada dentária superior, a que se ciona-se mediaimente com a região infra-tempo-
segue em toda a extensão posterior o palato mole, ral e espaço infra-temporal látero-faríngeo, e dela
que termina num bordo livre posterior que tem na faz parte a loca tonsilar (amigdalina), cavida-
região mediana uma saliência cónica de base ante- de localizada ínfero-lateralmente relativamente
rior e vértice póstero-inferior, a úvula e expansões ao palato mole e que contém a tonsila (amígda-
laterais que constituem os pilares do palato mole. la) palatina, disposta verticalmente, entre os pi-
A região palatina é dotada de uma rafe mediana lares anterior e posterior. Tem uma forma trian-
delimitada anteriormente por uma saliência, o tu- gular de base inferior. Anteriormente é limitada
bérculo palatino, situada no limite anterior, próxi- pelo arco palato-glosso (formado pelos múscu-
mo do orifkio do canal incisivo; ao longo da rafe los glosso-estafilino e palato-glosso) que limita
saem de ambos os lados, as pregas palatinas trans- o istmo das fauces; posteriormente tem como li-
versas e no limite posterior fica a úvula. O reves- mite o arco palato-faríngeo (formado pelo mús-
timento da face inferior da região palatina é fei- culo faringo-estafilino e palato-faríngeo), que li-
to pela mucosa oral, tem subjacente uma camada mita o istmo naso-faríngeo; lateralmente é limi-
submucosa e glandular (glândulas salivares palati- tada pelo músculo amígdalo-glosso, aponevrose
nas) que é percorrida por ramos principais da ar- faríngea (fáscia faringo-basilar) e constritor su-
téria palatina descendente e do nervo palatino an- perior da faringe. A base é constituída pelo ca-
terior. Segue-se interiormente a camada ósteo- fi- nal naso-faríngeo e pela parede lateral da orofa-
brosa do palato duro (onde se encontram, na linha ringe, sendo o vértice o ponto de união dos arcos
média anterior o faramen incisivo, lateralmente o do véu. O s principais vasos que irrigam a tonsi-
orifício do canal grande palatino principal e pós- la são as artérias tonsilares, faríngea ascendente,
tero-lateralmente o orificio do canal grande pala- faríngea descendente, dorsal da língua e peque-
tino e os canais palatinos acessórios) e a fáscia pa- nos ramos de artérias meníngeas. Os vasos lin-
latina (lâmina fibrosa) que tem subjacente a ca- fáticos drenam para os nódulos linfáticos das re-
mada muscular do palato mole, constituída por giões, occipital, parotídea, submandibular, sub-
três planos musculares sobrepostos: 1.0 plano (fei- mental e jugulo-carotídea.
xes principais do músculo palato-faríngeo, directa- A região retro-faríngea_é o espaço celular que
mente inseridos na fáscia palatina), 2.0 plano (dos existe entre a faringe (anteriormente) e a coluna
músculos elevadores do véu do paladar) e um 3.0 vertebral (posteriormente). Tem como limite su-
plano (de músculos da úvula). A vascularização da perior a porção basilar do osso occipital, inferior-
região palatina faz-se para o palato duro por ramos mente em continuidade com o espaço retrovisce-
da artéria maxilar (artéria alveolar superior, ante- ral (atrás da porção cervical da faringe e do esófa-
rior, média e posterior, grande palatina e pequena go) de comunicação com o mediastino posterior.
716
ANATOMIA DAS REGIÕES I CABEÇA
Neste espaço passam ramificações da artéria farín- anterior fica contido entre uma parede anterior e
gea ascendente e veias tributárias do plexo venoso outra posterior de relação parotídea, lateralmente
perifaríngeo. Existem nesta região os gânglios lin- pelo músculo pterigoideu medial e sua fáscia, su-
fáticos retro-faríngeos laterais (dois) e retro-farín- periormente pela fáscia interpterigoideia, medial-
geos medianos (inconstantes). mente pela parede lateral da faringe, sendo o limi-
A região maxilo-faríngea, ocupa o espaço látero- te inferior o do espaço maxilo-faríngeo. Tem como
-faríngeo cefálico, tendo medialmente a parede la- conteúdo tecido célulo-adiposo, o músculo estilo-
teral da faringe e a separação sagital do seu pro- -glosso, vasos (artéria palatina ascendente e arté-
longamento; lateralmente limitado pelo ramo as- ria faríngea ascendente, ladeada por veias satélites)
cendente da mancl.fbula, pelo músculo masséter, e nervos (nervo glossofaríngeo, nervo do músculo
lâmina superficial da fáscia cervical, e pelo mús- tensor do véu do paladar e nervo do músculo pte-
culo esterno-cleido-mastoideu; medialmente pe- rigoideu medial e em alguns casos o ramo lingual
los pterigoideus e fáscia interpterigoideia; poste- do nervo facial). O espaço retroestiloideu é limita-
riormente pela lâmina pré-vertebral; a extremida- do anteriormente pelo diafragma estiloideu, pos-
de superior relaciona-se com a porção petro-tim- teriormente pela fáscia pré-vertebral pelos múscu-
pânica do osso temporal; a extremidade inferior é los pré-vertebrais e pelos músculos escalenos, late-
referenciada no plano horizontal tangente ao bor- ralmente pelo músculo esterno-cleido-mastoideu
do mandibular inferior. O espaço maxilo-faríngeo e o folheto profundo da sua baínha, superiormente
é subdividido (num espaço anterior pré-estiloideu base do crânio, continuando-se inferiormente com
e um espaço posterior retro-estiloideu), por um a região esterno-cleido-mastoideia, abaixo do bor-
diafragma osteo-musculo-facial, que vai da porção do inferior da mandíbula. É atravessado pelas ar-
anterior da apófise mastóide ao forâmen magno, térias, carótida interna e externa, pela artéria occi-
passando pela parte petrosa do temporal, processo pital, artéria faríngea ascendente (que se termina
estiloide, integrando os músculos estiloideus (esti- em cima na artéria meníngea posterior) pela veia
lo-hioideu, estilo-glosso,e estilo-faríngeo), o ven- jugular interna, pelos nervos glossofaríngeo, linfá-
tre posterior do digástrico, a fáscia muscular, os li- ticos tributários dos gânglios linfáticos sub-digás-
gamentos estiloideus (estilo-hioideu e estilo-man- tricos, vago, acessório, nervo hipoglosso e gânglio
dibular) e feixes fibrosos de reforço. A emergên- cervical superior do simpático. (de que se destaca
cia dos músculos e ligamentos estiloideus a partir o nervo cardíaco cervical cranial)._
do processo estiloide, forma o bouquet de Riolan. A região do pavimento bucal (Fig. 11.5), é a área
O espaço pré-estiloideu é composto pelo espa- que encerra inferiormente a cavidade oral, sen-
ço parotídeo (situado na loca parotídea, que con-
tém a glândula parótida) e pelo espaço subparo-
tídeo anterior. A loca parotídea abraça anterior-
mente o bordo posterior do masséter, lateralmen-
te relaciona-se com a fáscia cervical superficial e os
tegumentos, posteriormente fica o diafragma esti-
loideu, superiormente relaciona-se com a articula-
ção temporomandibular e o meato acústico exter-
no e inferiormente fica a separação inter-maxilo-
-parotídea. A glândula parótida é atravessada pela
artéria carótida externa e pela parte inicial dos seus
ramos terminais, pela veia jugular externa e seus
ramos de origem, pela veia retromandibular, pe-
4 2 8
las vias linfáticas tributárias dos gânglios parotí-
deos, pelo nervo facial e nervo aurículo-temporal e Fig. 11.5: Corte esquemático frontal do pavimento oral.
1. Massa muscular linguar 2. Músculo geni-hioideu 3. Músculo
pelas ramificações terminais do ramo auricular do milo-hioideu 4. Músculo digástrico (ventre anterior) 5. Corpo da
plexo cervical superficial. O espaço sub-parotídeo mandíbula 6. Glândula sublingual 7. Dueto submandibular (Wharton)
8. Artéria sublingual 9. Nervo hipoglosso (XII par)
717
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
do composta por partes moles, delimitadas peri- e delimitado medialmente pela raiz lingual, late-
fericamente pelo corpo mandibular e posterior- ralmente pela mand.tbula, superiormente pela mu-
mente pelo osso lúóide. É dividida pelo múscu- cosa do sulco alvéolo-lingual e inferiormente pelo
lo milolúoideu, num andar superior que se subdi- músculo milo-lúoideu.
vide numa área mediana saliente (região lingual) Contém a glândula sublingual, o prolongamento
e lateralmente em duas áreas deprimidas (regiões anterior da glândula submandibular, o canal sub-
sub-linguais), e num andar inferior (região supra- mandibular, os nervos lingual e lúpoglosso e os va-
- lúoideia). sos sublinguais (artéria lingual acompanhada de
A região lingual tem como limite posterior a raiz veias satélites, artéria sublingual, a veia acompa-
da língua limitada inferiormente pela fixação à nhante (comitans) do nervo lúpoglosso, troncos
mandíbula através do músculo geni-glosso, ao linfáticos marginais da língua e colectores linfáti-
osso lúóide pelo músculo lúo-glosso, longitudinal cos da glândula sublingual). A região supra-hioi-
inferior e feixes laterais do músculo longitudinal deia situa-se inferiormente às regiões lingual e su-
superior; ao processo estilóide e ao ângulo man- blingual, de que é separada pelos músculos mi-
dibular pelo músculo estiloglosso e ao palato mole lolúoideus e ocupa todo o espaço circunscrito pela
pelo músculo palato-glosso. É atravessada verti- manchbula e situado entre esta e o osso lúóide.
calmente pelo septo lingual, ladeada de duas mas- É constituído do exterior para o interior pela pele,
sas musculares constituídas pelos músculos geni- panículo adiposo e tecido celular lameloso conten-
-glosso, longitudinal inferior, lúo-glosso, estilo- do pequenas artérias, veias tributárias da veia ju-
glosso, palato-glosso, amígdalo-glosso e faringo- gular anterior e ramificações do ramo transverso
-glosso. A irrigação faz-se p ela artéria lingual, re- do plexo cervical superficial e uma ramificação do
coberta pelo músculo lúo-glosso, dando próximo nervo facial destinada ao músculo platisma. Rara-
do ventre posterior do digástrico a artéria dorsal mente podem encontrar-se um ou dois gânglios
da língua. Existem linfáticos marginais e gânglios linfáticos.A região supra-lúoideia (Fig.11.7), sub-
linfáticos intercalares. A região sublingual (Fig. divide-se nos trígonos, submental e dois subman-
11.6), é o espaço configurado pela loca sublingual dibulares.
Fig. 11.6: Vista da região sublingual. Fig. 11.7: Vista da região supra-hioideia.
1. Músculo milo-hioideu 2. Músculo geni-hioideu 3. Glândula sub+ 1. Músculo platisma 2. Músculo digástrico (ventre anterior) 3. Glându-
mandibular 4. Artéria facial 5. Veia facial 6. Nervo lingual 7. Nervo la submandibular 4. Vasos faciais 5. Lâmina superficial (revestimento)
hipoglosso (XII par) 8. Glângula sublingual 9. Artéria sublingual da fáscia cervical profunda
718
ANATOMIA DAS REGIÕES I CABEÇA
719
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
a. Da região occipital.
b. Da região supra-clavicular.
c. Da região jugulo-carotídea.
d. Da região parotídea.
e. Da região submandibular.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
•••
720
12. PESCOÇO
721
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
preendido entre as suas inserções esternal e clavi- zonas de passagem para os elementos neuro-vas-
cular toma o nome de fossa supraclavicular menor, culares, habitualmente em pregas e desdobramen-
constituindo uma importante referencia anatómi- tos fásciais.
ca para a punção da veia jugular interna. Os planos de clivagem formados pelos vários fo-
Percorrendo quase verticalmente a superfície do lhetos constituem ainda importantes vias de con-
esterno-cleido-mastoideu, podemos identificar a tenção e de disseminação de fluidos, gases, tumo-
veia jugular externa, particularmente visível no in- res e infeções cervico-faciais.
divíduo em decúbito ou durante a membrana de
Valsalva (expiração contra resistência).
Posteriormente ao esterno-cleido-mastoideu
identificamos uma área regularmente côncava, de
forma triangular, cuja base é inferior e corresponde
à clavícula. O vértice, superior, corresponde ao ân-
gulo de união dos músculos esterno-cleido-mas-
toideu e trapézio. Pode ainda identificar-se a sa-
liência provocada pelo músculo omohioideu, no
seu trajeto entre a escápula e o hioide, que divi-
de o escavado em duas pequenas áreas triângula-
res, uma superior e uma inferior. E sta última toma
o nome de fossa supraclavicular menor e consti-
tui o local ideal para palpação da artéria subclávia.
Para finalizar, observam-se na região posterior do
pescoço, sobre a linha media, uma depressão ver- 8 11
10
tical determinada pela saliência, de cada lado, dos
Fig. 12.1 . Fáscias cervicais: corte axial.
músculos trapézio e semiespinhoso da cabeça. 1. Fáscia cervical superficial 2. Fáscia cervical profunda (lâmina de
Identifica-se ainda, inferiormente, a saliência pro- revestimento) 3. Fáscia cervical profunda Oãmina pré-traqueal -folheto
muscular) 4. Fáscia cervical profunda (lâmina pré-traqueal - folheto
vocada pela apófise espinhosa de C7 e ocasional- visceral) 5. Fáscia cervical profunda (lâmina pré-vertebral) 6. Bainha
mente de C6. carotídea 7. Traqueia 8- Esófago 9. Fáscia buco-faríngea 10. Fáscia
alar 11. Espaço retro-faríngeo
722
ANATOMIA DAS REGIÕES I PESCOÇO
tórax, onde envia uma expansão aponevrótica que conteúdo deste revestimento fáscial, isto é, o pe-
0
une ao pericárdio fibroso. dículo vásculo-nervoso do pescoço.
Este folheto apresenta um componente muscu- De entre os planos de clivagem criados pelos fo-
lar, que envolve os músculos infra-hioideus, e um lhetos da fáscia profunda, existem três particular-
componente visceral, que envolve a faringe e larin- mente envolvidos na disseminação de infeções da
ge, superiormente, o esófago e traqueia, inferior- face e pescoço ao mediastino.
mente, a tiroide e paratiroides anteriormente. O maior e mais importante destes é o espaço re-
O folheto pré-vertebral forma uma manga tubu- tro-faríngeo. Constituí um espaço virtual limi-
lar que envolve a coluna cervical e músculos pe- tado, posteriormente, pelo folheto pré-vertebral
rivertebrais. Superiormente insere-se na base do e, anteriormente, pelo folheto pré-traqueal e fás-
crânio. Inferiormente continua-se pela fáscia en- cia bucofaríngea que reveste a face posterior da
dotorácica e possuí uma importante expansão axi- faringe e do esófago. É encerrado superiormen-
lar, que envolve a artéria axilar e plexo braquial, te pela base do crânio, lateralmente pela bainha
constituindo a bainha axilar. carotídea e inferiormente comunica diretamente
com o mediastino posterior.
A fáscia alar é uma membrana fina que subdivi-
de o espaço retro-faríngeo numa porção anterior
correspondente ao espaço retro-faríngeo propria-
mente dito, e numa porção posterior denominada
de "danger space", que se estende pelo mediasti-
no posterior até ao nível do diafragma.
O terceiro espaço fáscial é o espaço pré-tra-
queal, localizado entre o folheto de revestimen-
to e a porção visceral do folheto pré-traqueal, an-
teriormente à traqueia e glândula tiroideia, co-
municando com a porção anterior do mediasti-
no superior.
11 10 9 6
723
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
13 6 11
724
ANATOMIA DAS REGIÕES I PESCOÇO
725
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
vosas profundas como o nervo acessono, ramos bordo posterior do trapézio constitui o limite pos-
terminais do plexo cervical, ramos do pneumogás- terior e o terço médio da clavícula o limite inferior
trico, o frénico, recorrente·laríngeo, a ansa cervical deste triângulo.
(formada pela anastomose do ramo descendente Nos planos superficiais desta região destacam-se
do nervo hipoglosso com o ramo descendente do a porção inferior da veia jugular externa, que se
plexo cervical, anteriormente à veia jugular inter- torna profunda ao perfurar o folheto de revesti-
na), tronco simpático cervical e seu ramo cardía- mento, originando com frequência um pequeno
co superior. espessamento aponevrótico que toma o nome de
prega falciforme de Dittel. Distinguem-se ainda
os nervos supra-claviculares, ramos cutâneos ter-
minais no plexo cervical.
O sistema muscular desta região inclui os múscu-
los omo-hioideu, esplénio da cabeça, levantador
da escápula e os escalenos.
Encontra-se subdividido em dois espaços pelo
ventre inferior do músculo omo-hioideu: um
triângulo superior, occipital e um triângulo infe-
rior, supra-clavicular.•
O triângulo occipital deve o seu nome ao facto de
a artéria occipital surgir no seu ângulo superior.
O nervo acessório (XI nervo craniano) constituí o
mais importante elemento nervoso que atravessa
o triângulo. Identificam-se ainda alguns elemen-
tos do plexo cervical, nomeadamente as raizes do
6 9 nervo frénico e ansa cervical, e gânglios linfáticos.
Fig. 12.5: Região esterno-cleido•mastoideia
1. Músculo milo-hioideu 2. Músculo digástrico 3. Músculo estilo-hioideu
4. Músculo omo-hioideu 5. Músculo esterno-hioideu 6. Músculo ester-
no-t iroideu 7. Músculo tiro-hioideu 8. Laringe 9 . Traqueia 10. Istmo
glângula tiróide 11. Músculos escalenos 12. Músculo esterno-cleio-
-mastoideu 13. Músculo trapézio 14. Veia jugular interna 15. Artéria
carótida primitiva 16. Vasos tiroideus superiores 17. Veia jugular
externa
726
ANATOMIA DAS REGIÕES I PESCOÇO
727
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
1. Olial dos seguintes elementos fásciais envolve Rouviere, H.; Delmas, A.Anatomie Humaine.
os músculos esterno-cleido-mastoideu e tra- Descriptive, topographique etfanctionelle. Tome 1.
pézio? Téte et Cou. lSéme édition. 2002.
a. Fáscia cervical superficial. Snell, RS. Clinical anatomy by regions. 9th ed.
b. Folheto de revestimento da fáscia cervical Philadelphia. Lippincott Williams & Wilkins,
profunda. 2012.
c. Folheto pré- traqueal da fáscia cervical
profunda.
d. Folheto prevertebral da fáscia cervical pro- ***
funda.
e. Bainha carotídea.
728
13. TÓRAX
729
MANUAL DE ANAT OMIA HUMANA
o interstício que separa o músculo intercos- a pleura parietal por intermédio da fáscia
tal externo do músculo intercostal interno;
, . N 1 .
torac1ca. este p ano, antenormente ao m t
endo.
, , . , .. -rans.
3. Camada Muscular Média: constituída pelo verso d o torax, a artena torac1ca interna d
m. intercostal interno; posteriormente às cartilagens costais e aos eeScc
4. Camada Celular Intermuscular Média: ca- ços intercostais e externamente ao bordo I spa.
aterai
mada celular que contém o pedículo vasculo- do esterno.
-nervoso intercostal;
5. Camada Muscular Interna: constituída pelos FEIXE VÁSCULO-NERVOSO OU PEDÍCULO
m. intercostal íntimo e subcostal; INTERCOSTAL
6. Aponevrose torácica: estreitamente unida à (FIG. 13.2)
fáscia (aponevrose) endotorácica, que é uma
dependência do tecido subpleural. Este pedículo é formado pelos vasos e nervos in-
tercostais, que percorrem os intersticios que sepa-
ram os músculos entre si.
Segundo Carriére, o espaço intercostal pode-se di-
vidir em 4 segmentos:
• Segmento látero-vertebral - entre a coluna
vertebral e o ângulo das costelas;
• Segmento póstero-lateral - desde o prece-
dente até à linha axilar média;
• Segmento médio - entre o bordo posterior do
músculo intercostal interno e o bordo ante-
rior do músculo intercostal íntimo;
• Segmento anterior - desde o precedente até
ao esterno.
730
ANATOMIA DAS REGIÕES I TÓRAX
2
7
3
6
Fig. 13.2: Corte vertical de um espaço intercostal. Fig. 13.3: Divisão do mediastino (vista lateral).
1. Goteira infra-costal 2. Pedículo intercostal 3. Músculo intercostal 1. Ângulo esternal 2. Vértebra D4 3. Vértebra D5 4. Mediastino
externo 4. Músculo intercostal interno 5. Músculo intercostal íntimo superior 5. Mediastino anterior 6. Mediastino médio 7. Mediastino
posterior
731
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
Fig. 13.4. Cavidade torácica: vista anterior. Fig. 13.5. Cavidade torácica: corte sagital ao nivel da crossa da veia ázigos
1. Recesso costo•mediastínico anterior 2. Pulmão 3. Pleura 4. Pedículo 1. Pericárdio 2. Nervo frénico 3. Veia Cava Superior 4. Veia ázigos
torácico interno 5. Manúbrio esternal 6. Timo 7. Pericárdio 5. Traqueia 6. Esófago 7 . Brônquio principal direito 8. Veias pulmo.
nares direitas 9. Artéria pulmonar direita
terna da 6.ª cartilagem costal direita até ao ponto Posteriormente ao timo e superiormente ao cora-
donde o seio costo-mediastinico anterior esquer- ção, encontram-se os grandes troncos vasculares
do cruza o limite inferior da área cardiaca9. arteriais e venosos: um primeiro plano venoso é
Dado que os vasos torácicos internos estão a me- constituído pelos troncos venosos braquicefálicos
nos de 1 cm externamente ao bordo lateral do es- e pela veia cava superior (Fig. 13.6). O tronco ve-
terno, o lugar de eleição para a pericardiocente- noso braquiocefálico esquerdo e as veias tiroideias
se por via intercostal encontra-se na extremidade inferiores, estão situados no plano da aponevrose
interna do 5. 0 EIC esquerdo, em contacto com o tiro-pericárdica que as envolve.
esterno. Um segundo plano arterial está localizado pos-
O nervo frénico direito desce verticalmente, pas- teriormente ao plano venoso, constituído pelos
sa imediatamente em sentido anterior ao pedícu- troncos do pedículo arterial do coração, a aorta
lo pulmonar direito e depois sobre a face externa e o tronco pulmonar, e pelo tronco arterial bra-
da veia cava inferior, da qual está sempre separada quio-cefálico e a artéria carótida comum esquerda.
pela bainha pericárdica da veia (Fig. 13.5) e pelo A artéria subclávia esquerda e o canal torácico, que
ligamento frenopericárdico direito. O nervo fréni- ascende lateralmente à traqueia e esófago, são pos-
co esquerdo passa aproximadamente 2 cm ante- teriores, assim como a porção terminal da crossa
riormente ao pedículo pulmonar esquerdo e alcan- da aorta.
ça o diafragma uns 2 cm posteriormente ao apex Importa não esquecer a relação que o nervo larín-
do coração; na proximidade imediata dos nervos geo recorrente direito estabelece com a face infe-
frénicos localizam- se os gânglios linfáticos dia- rior da artéria subclávia, descendo externamen-
fragmáticos superiores. te e depois posteriormente ao tronco arterial bra-
quiocefálico até alcançar a face lateral direita da
9 Este ponto localiza-se, geralmente, na sexta cartilagem costaJ, a traqueia. O nervo laríngeo recorrente esquerdo
1,5 cm mais ou menos externamente a uma linha vertical tangente
contorna a crossa da aorta e passa pelo ângulo de
ao bordo lateral esquerdo do esterno.
732
ANATOMIA DAS REGIÕES I TÓRAX
733
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
Trata-se de um ângulo diedro agudo, subjacente Designa-se por topografia tóraco-pleural a rei _
ao fundo- de-saco pleural vertebro-diafragmático, ção que a parede torácica apresenta com 0 5 li ~
lll1-
aberto superiormente entre o diafragma anterior- tes da pleura:
mente e a coluna vertebral posteriormente.
Num corte transversal, apresenta o aspecto de uma Cúpula pleural
meia-lua cuja concavidade se molda à proeminên-
cia do corpo da 12.ª vértebra torácica. É limita- A cúpula pleural apresenta as mesmas relações que
do anteriormente pela face posterior dos pilares o vértice do pulmão.
do diafragma. Posteriormente pela face anterior
dos corpos vertebrais de T12 e Ll. Lateralmente, Seio costo-mediastínico anterior
este espaço termina numa linha curva convencio-
nal, oblíqua de superior para inferior e de poste- À direita, o seio apresenta relações semelhantes às
rior para a anterior, que se estende desde a face la- do bordo anterior do pulmão direito; à esquerda,
teral do corpo da 12.ª vértebra torácica até à inser- projecta-se quase sobre a mesma linha que o bor-
ção dos pilares do diafragma. Inferiormente, o es- do anterior do pulmão, desde o vértice até à 4.•
paço inframediastínico está fechado pela inserção cartilagem costal. Inferiormente a esta cartilagem,
vertebral dos pilares do diafragma sobre os corpos o pulmão esquerdo distancia-se do seio costome-
vertebrais de Ll e L2. diastínico. Cruza o 5.0 EIC 1 ou 2 cm externa-
No espaço inframediastínico encontram-se a aor- mente ao esterno, e deixa a descoberto o pericár-
ta, o tronco simpático e os nervos esplâncnicos. dio ao nível da extremidadé interna deste espaço;
O canal torácico é geralmente posterior ao bordo alcança a cartilagem costal a aproximadamente 2
direito da aorta. cm do bordo lateral do esterno (Fig.13.4).
As duas raizes de origem das veias ázigos e he-
miázigos fundem-se no espaço inframediastínico Seio costo-diafragmático ou costo-frénico
posterior.
Tem início na extremidade inferior do seio costo-
PROJECÇÃO PARIETAL DAS VÍSCERAS TORA- -mediastínico anterior, ou seja, ao nível da extre-
CICAS midade interna da 6.ª cartilagem costal direita e,
sobre esta cartilagem, a 2 cm do bordo lateral do
O coração, por intermédio do pericárdio, e as esterno, à esquerda. Desde este ponto, o seio cos-
pleuras apresentam projecções sobre as paredes to-diafragmático dirige-se ínfero-posteriormente
torácicas. e cruza a 10.ª costela ao nível da linha médio- axi-
A região da parede torácica anterior que está re- lar e a 11.ª costela a aproximadamente 10 cm da li-
lacionada com o coração - área cardíaca10 - apre- nha mediana. De seguida, o seio costo-diafragmá-
senta uma forma quadrilátera cujos quatro ângu- tico dirige-se primeiramente em sentido interno e
los ocupam os seguintes pontos: só depois súpero-internamente, terminando ao ní-
1. Os dois ângulos superiores estão situados la- vel de um ponto da coluna vertebral compreendi-
teralmente ao esterno, na porção média do do entre o bordo inferior da 12.ª costela superior-
segundo EIC e a 1 cm do bordo lateral do mente e do bordo superior ou a porção média da
esterno; primeira vértebra lombar inferiormente. Na maior
2. O ângulo inferior direito corresponde à ex- parte da região pleural subpulmonar, a pleura cos-
tremidade esternal do sexto EIC direito; tal une-se estreitamente à pleura diafragmática no
3. Finalmente, o ângulo inferior esquerdo loca- decurso da respiração, constituindo a wna muda
liza-se no 5.0 EIC esquerdo, a 8 cm da linha da pleura11•
mediana.
734
ANATOMIA DAS REGIÕES I TÓRAX
735
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
•••
736
14. ABDÓMEN
Plano superficial
737
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
provêm de dois ramos da artéria femoral: da epi- dómen se encontram à frente dos rectos abdollli-
gástrica superficial e da circunflexa ilíaca superfi- nais. Atrás vamos apenas encontrar a foscia trans-
cial. As artérias da porção posterior vêm das arté- versalis. Esta, na sua porção inferior, separa-se dos
rias lombares, ramos da aorta abdominal. rectos abdominais e forma juntamente com estes
As veias têm um trajecto análogo ao das artérias e com a sínfise púbica um espaço virtual - espa-
e desembocam: inferiormente, na veia grande sa- ço suprapúbico.
fena (tributária da veia femoral que por sua vez se Dentro da bainha dos rectos, na sua porção infe-
continua com a ilíaca externa); superiormente na rior, e anteriormente a estes, encontramos os mús-
torácica interna (que drena para a veia subclávia) e culos piramidais do abdómen.
na torácica lateral pela veia toracoepigástrica (veia Os três músculos largos estão separados uns dos
axilar); posteriormente nas veias lombares, subcos- outros por finas lâminas de tecido celuloadiposo.
tais e intercostais (veia cava inferior e sistema ázi- A porção mais lateral da bainha dos rectos cha-
gos); e em torno do umbigo nas veias paraumbili- ma-se linha semilunar (de Spiegel). Trata-se de
cais que acompanham o ligamento teres do figa- uma linha curva tendinosa, lateral aos rectos ab-
do (sistema porta). dominais, que se insere acima na cartilagem
Os linfáticos desta camada constituem dois gru- da 9.ª costela, e em baixo no tubérculo púbico.
pos: supraumbilicais e infraumbilicais. Os su- É formada pelas aponevroses dos três músculos
praumbilicais drenam nos gânglios axilares. Os in- largos do abdómen, e pode ser sede de hérnias por
fraumbilicais nos inguinais superficiais. ser uma região de relativa debilidade, não tendo
Neste plano encontramos também os ramos per- tecido muscular na sua composição.
furantes laterais e anteriores dos 8. 0 , 9.0 , 10.0 e 11.0 Também a linha branca não possui tecido muscu-
últimos nervos intercostais. Encontra-se igual- lar; hérnias da linha branca são relativamente fre-
mente o ramo anterior do nervo subcostal, já que quentes, essencialmente na região epigástrica.
o seu ramo perfurante lateral desce até à região Neste plano, encontramos três artérias principais:
glútea. a epigástrica superior, a epigástrica inferior e a cir-
cunflexa ilíaca profunda.
Plano profundo ou músculo-aponevrótico A epigástrica superior, ramo terminal da torácica
interna, está inicialmente por detrás dos músculos;
Os três músculos largos do abdómen são, da su- penetra superiormente na bainha dos rectos e logo
perfície para a profundidade, o oblíquo externo, o se introduz na espessura do músculo, a meia dis-
oblíquo interno e o transverso. Terminam ante- tância entre o umbigo e o apêndice xifóide. Anas-
riormente por bainhas aponevróticas que vão for- tomosa-se com a epigástrica inferior.
mar a bainha dos rectos abdominais e constituem A epigástrica inferior, ramo da ilíaca externa, si-
a linha branca quando se cruzam na linha média. tua-se inicialmente por detrás da fascia transver-
A camada muscular ântero-lateral está recoberta salis e do ligamento interfoveolar (ligamento de
por uma fina fáscia de revestimento transparen- Hesselbach, ver abaixo), e, a 5 cm acima do pú-
te que adere ao oblíquo externo. Em profundida- bis chega ao bordo externo do recto abdominal,
de, também encontramos uma fina fáscia de reves- mais ou menos ao mesmo nível do ramo anterior
timento, a atapetar o músculo transverso - a fas- do nervo subcostal. Penetra na bainha dos rectos
cia transversalis. abaixo da linha arqueada e introduz-se no mús-
A bainha dos rectos nos seus dois terços superiores culo a nível do umbigo. Na espessura do músculo
é constituída: à frente pela aponevrose do oblíquo anastomosa-se com a epigástrica superior e com
externo e pelo folheto superficial da aponevrose ramos das artérias lombares e intercostais.
do oblíquo interno; posteriormente, pelo folheto A circunflexa ilíaca profunda, ramo da ilíaca ex-
profundo da aponevrose do oblíquo interno, pela terna, tem origem junto à epigástrica inferior, mas
aponevrose do transverso e pela f ascia transversa- caminha em direcção à espinha ilíaca ântero-su-
lis. No seu terço inferior, abaixo da linha arqueada, perior, posteriormente à fascia transversalis e an-
todas as aponevroses dos músculos largos do ab- teriormente à fita iliopúbica. Ao chegar à espi-
738
ANATOMIA DAS REGIÕES J ABDÓMEN
PERITONEU
739
MANUAL DE ANATOMIA H UMANA
média e a fossa inguinal lateral. A fossa suprave- das; a fáscia extraperitoneal e o peritoneu. E ntre
sical encontra-se entre o úraco e a artéria umbili- anel umbilical e a fáscia extraperitoneal encontra~
cal; a fossa inguinal média encontra-se entre a ar- -se muitas vezes um reforço da bainha dos rectos
téria umbilical e a epigástrica inferior; a fossa in- que constitui um mecanismo importante contra a
guinal lateral encontra-se lateralmente à epigás- formação de hérnias: a fáscia umbilical (Richet).
trica inferior, correspondendo ao orifício profun-
do do canal inguinal. REGIÃO INGUINAL
Entre as duas pregas umbilicais, inferiormente, OU INGU/NO-ABDOMINAL
entre a foscia transversalis e a fáscia extraperito-
neal, existe uma fáscia umbilicoprevesical, consti- Os limites da região inguinal são: superiormente
tuída por tecido fibroadiposo. O espaço prevesical uma linha imaginária que passa pela espinha ilíac;
(espaço de Retzius) encontra-se entre esta fáscia e ântero-superior; por dentro, por uma linha vertical
afascia transversalis. que coincide com o bordo lateral do recto abdomi-
nal; inferiormente, por uma linha imaginária que
UMBIGO une a espinha ilíaca ântero-superior ao tubérculo
púbico. Em superfície, esta região está separada da
O umbigo encontra-se um pouco por baixo do região femoral pela prega inguinal e pelo ligamen-
meio da cavidade abdominal, a nível da 4.• vér- to inguinal. Em profundidade há apenas um úni-
tebra lombar, na linha média. É formado, na sua co espaço frágil que se estende desde o bordo infe-
porção central, por uma saliência mamilar, rodea- rior do músculo transverso até ao ramo horizontal
da por um sulco umbilical, que por sua vez está ro- do púbis e crista pectínea.
deado por um bordo cutâneo. A cicatriz umbilical Aqui observamos que, se traçarmos uma linha rec-
encontra-se no centro da saliência mamilar. ta entre a espinha ilíaca ântero-superior e o umbi-
Do plano superficial para o profundo encontra-se: go, observamos que, para dentro e para baixo des-
a pele, fortemente aderente; um anel umbilical, fi- ta linha, entre esta, a prega inguinal e o bordo la-
broso, que não corresponde senão ao úraco, às ar- teral dos rectos, se encontra uma área adelgaçada,
térias umbilicais e às veias paraumbilicais oblitera- correspondendo a uma depressão ampla e pouco
profunda, que corresponde à porção tendinosa do
músculo oblíquo externo.
Plano superficial
Plano músculo-aponevrótico
Fig. 14.4. Fossa supra-vesical.
1. Úraco 2. Vasos epigástricos inferiores 3. Fossa inguinal lateral
4. Fossa inguinal medial 5. Fossa inguinal supra-vesical 6. Artéria Em seguida, encontramos a aponevrose de reves-
umbilical 7. Artéria ilíaca externa 8. Veia ilíaca externa 9. Nervo
timento do músculo oblíquo externo (ver acima),
femoral 1O. Músculo ilíaco
740
ANATOMIA DAS REGIÕES I ABDÓMEN
741
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
ga ao ligamento inguinal entre os vasos epigástri- Hesselbach) e pelos vasos epigástricos inferiore
S.
cos e o bordo medial do orifício profundo doca- Este orifício profundo corresponde à fossa ingui-
nal inguinal. nal lateral. O orifício profundo, bem como a pare-
Assim, a parede posterior é constituída, de dentro de posterior, estão atapetados pela fáscia extrape-
para fora: pelo ligamento inguinal reflectido (pilar ritoneal e pelo peritoneu.
posterior); pelo "tendão conjunto" e/ou foice in-
guinal; pelaJascia transversalis; pelo ligamento in- CONTEÚDO DO CANAL INGUINAL
terfoveolar. Aqui, profundamente àfascia transver-
salis podemos encontrar os vasos epigástricos infe- Na mulher, este é ocupado pelo ligamento redon-
riores, que são um marcador anatómico importan- do, homólogo do gubernáculo testicular do ho-
te, uma vez que as hérnias inguinais directas apa- mem. Para além disso, contém os ramos genitais
recem mediais a estes, ao passo que as indirectas do ilio-hipogástrico, ilioinguinal e genitofemoral.
lhes são laterais. No homem está ocupado pelo cordão espermático
que está recoberto por um prolongamento daJas~
Bordo superior eia transversalis, que se toma na fáscia espermática
interna. Dentro desta encontramos: o canal defe-
O bordo superior é constituído pelos músculos rente; a artéria testicular (ramo da aorta abdomi-
oblíquo interno e transverso, e na sua porção mais nal) e a artéria deferencial (ramo da ilíaca interna);
medial, também pelo oblíquo externo. dois plexos venosos pampiniformes, anterior (tri-
butário das veias testiculares) e posterior {tributá-
Bordo inferior rio das veias epigástricas inferiores), nervos e lin-
fáticos. A artéria cremastérica {ramo da epigástrica
Neste local vamos encontrar um reforço da fascia inferior) encontra-se por trás desta fáscia. Os ra-
transversalis chamado "fita iliopúbica" (cinta ilio- mos genitais dos nervos ilio-hipogástrico e ilioin-
púbica de Thompson). Esta estende-se desde a es- guinal descem à frente do cordão e o ramo genital
pinha ilíaca ântero-superior até ao tubérculo púbi- do genitofemoral por detrás.
co e é paralela ao ligamento inguinal, encontran- O músculo cremáster envolve a fáscia espermá-
do-se num plano mais profundo que este. tica interna. Tem origem no oblíquo interno, e a
Sendo assim, o bordo inferior é constituído, da su- sua porção lateral parte do bordo inferior deste
perfície para a profundidade pelas fibras de inser- músculo, enquanto que a sua porção medial tem
ção do oblíquo externo; pelo ligamento inguinal; e
pela fita iliopúbica.
Orifício superficial
Orifício profundo
742
ANATOMIA DAS REGIÕES I ABDÓMEN
PAREDE POSTERIOR
É constituído por pele, panículo adiposo, fáscia su- Os limites desta região são: em cima, o bordo in-
perficial e tecido celular subcutâneo. ferior da 12.• costela: em baixo, a crista ilíaca; por
dentro, os corpos vertebrais; por fora, o bordo late-
Plano músculo-aponevrótico ral do quadrado lombar.
743
...
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
744
ANATOMIA DAS REGIÕES I ABDÓMEN
745
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
Existe um espaço inter-hepatofrénico na região do o lobo caudado. À direita deste está o sulco da veia
hipocôndrio direito, que é delimitado: cava inferior e à esquerda observamos a fissura do
• Em cima pelo diafragma; ligamento venoso, que é contínua com a inserção
• À frente pela parede abdominal anterior; do pequeno omento (epíploon). Este sulco encon-
• Por dentro pelo ligamento falciforme; tra-se sensivelmente à frente do pilar direito do
diafragma. À sua esquerda encontra-se o esófago,
Por trás pela face superior do fígado, bordo hepáti- que deixa uma impressão esofágica à esquerda do
co, face inferior, face superior do mesocólon trans- ligamento venoso (v. Espaço Retroperitoneal).
verso e face anterior do rim direito. O hilo hepático está entre a extremidade poste-
Este espaço é contínuo com a goteira láterocólica rior da fossa cística e a extremidade posterior da
direita (delimita os abcessos subfrénicos direitos). fissura do ligamento redondo (teres). Tem urna
Na face posterior também não há peritoneu, pelo orientação transversal, e delimita com a fossa cís-
que o fígado adere à parede posterior e aos pilares tica e a fissura do ligamento redondo o lobo qua-
do diafragma por intermédio do ligamento coro- drado, que corresponde ao segmento IV. E ste re-
nário, que se continua lateral e mediaimente pe- cobre o antro, o piloro e a 1.ª porção do duodeno.
los ligamentos triangulares; no limite medial desta Do hilo hepático (porta hepatis) parte o pequeno
região encontra-se a veia cava inferior, englobada omento (epíploon), que podemos dividir em liga-
pelo ligamento coronário e imprimindo um sulco mento hepatoduodenal e ligamento hepatogástri-
correspondente na face posterior do órgão (v. Es- co. Atinge a pequena curvatura gástrica, o piloro e
paço Retroperitoneal). a 1.ª porção do duodeno.
Esta região é delimitada acima pelo diafragma e Posteriormente ao pequeno omento (epíploon),
abaixo pelo mesocólon transverso. Não possui li- encontramos a bursa omentalis ou cavidade poste-
mites laterais e à frente não se encontra protegi- rior dos epíploons (Fig.14.11). Os seus limites são
da por tecido ósseo, correspondendo à porção su- definidos pelas seguintes estruturas:
perior do músculo recto abdominal. Atrás relacio- Por cima, a reflexão do peritoneu sobre o pe-
na-se com a coluna vertebral e com os pilares do ritoneu visceral do estômago e ainda o lobo
diafragma. caudado do fígado;
Superiormente, encontramos o fígado, cujo limi- • Por baixo, pela união dos dois folhetos do
te inferior da projecção neste espaço correspon- grande omento (epíploon);
de a urna linha que une a extremidade anterior da • Anteriormente, o pequeno omento (epíploon),
10.• costela direita à extremidade anterior do 7.0 a face posterior do estômago e ainda o folheto
espaço intercostal esquerdo. Além disso, podere- anterior do grande omento (epíploon);
mos observar que tanto a porção mais medial do • Posteriormente, o corpo e a cauda do pân-
lobo direito como a maior parte do lobo esquerdo creas, o rim e a suprarrenal esquerdos, e o dia-
se vão encontrar aqui, estando separadas, em cima, fragma; acima do colo do pâncreas encontra-
pelo ligamento falciforme e em baixo pelo liga- mos a emergência do tronco celíaco; retoma-
mento teres. O fígado atravessa assim o epigastro remos esta parede adiante;
colocando-se acima da pequena curvatura gástrica • À esquerda com o baço e o seu hilo;
e do pequeno omento (epíploon). Por cima, o lobo • À direita, comunica livremente com a gran-
esquerdo é um pouco côncavo para baixo devido à de cavidade peritoneal por intermédio de um
impressão cardíaca que o coloca em relação com o vesnbulo cuja entrada se designa por hiato de
coração por intermédio do diafragma. Winslow (foramen bursa omentalis) .
Pela sua face posterior, o fígado relaciona-se com a • O hiato de Winslow ou foramen bursa omen-
artéria aorta abdominal que está em contacto com talis é delimitado:
746
ANATOMIA DAS REGIÕ ES I ABDÓMEN
6 4
• Atrás pela veia cava inferior. Aqui podemos
encontrar a artéria hepática logo após a sua
10
emergência do tronco celíaco descrevendo
uma curvatura de concavidade superior, tor-
nando-se inferior ao orifício. Mais acima e à
esquerda encontramos a emergência da arté-
ria gástrica esquerda.
• Acima pelo processo caudado; este limite
prolonga-se até ao ligamento coronário do fi-
gado;
• Abaixo pela l.ª porção do duodeno, ou mais 2
concretamente, pela reflexão do peritoneu nas
suas paredes superior e posterior, e pelo arco, 11 12
acima descrito, da artéria hepática; Fig. 14.11. Cavidade peritoneal e cavidade posterior dos epíploons.
1. Aorta abdominal 2. Veia Cava Inferior 3. Rim direito 4. Foramen
• À frente pelo hilo hepático, contido no liga- bursae omentalis 5. Pedículo hepático 6. Ligamento falciforme
mento hepatogástrico do pequeno omento 7. Omento menor 8. Bolsa ementai 9. Estômago 1O. Omento
gastro-esplénico 11. Ligamento lieno-renal 12. Baço
(epíploon).
Esta porção do hilo hepático, intraomental, está creas; atrás da aorta, encontramos a cisterna chyli
aqui constituída pela porção inferior do canal he- onde drenam os linfáticos desta região (para-aór-
pático e pela porção superior do canal colédoco, ticos, paracavos e intercavoaóorticos). A cisterna
pelo que se entende que é aqui que desemboca o quilífera (de Pequet) é inconstante (30% dos indi-
canal cístico. Posteriormente e à esquerda deste víduos) e representa a porção inicial do canal to-
encontramos a artéria hepática e os seus ramos rácico.
gastroduodenal, cística e hepática própria. Final-
mente, a porção mais posterior é ocupada pela
veia porta. HIPOCÔNDR/0 ESQUERDO
PAREDE POSTERIOR DA BURSA OMENT,4L/S Esta região é limitada: por cima, pelo diafragma,
OU CAVIDADE POSTERIOR DOS EPÍPLOONS por fora e pela frente, pela parede torácica; por
dentro continua-se com o epigastro; por baixo
O fundo da região epigástrica é constituído pela pelo cólon transverso e pelo seu meso. Projecta-se
porção superior mediana do espaço retroperito- um pouco mais abaixo do que o hipocôndrio direi-
neal; este está formado pela metade inferior da to. Os órgãos abdominais que encontramos no hi-
11.ª vértebra torácica, pela 12.a vértebra torácica e pocôndrio esquerdo são o estômago, o baço, a cau-
pela 1.•lombar.Lateralmente a estas encontramos da do pâncreas e parte do lobo esquerdo do fígado.
os pilares do diafragma e mais lateralmente ambos As porções do estômago que se encontram neste
os músculos psoas. Entre os pilares do diafragma local são o fundo e a porção vertical do corpo. Es-
está a artéria aorta que imediatamente origina as tas porções projectam-se na face anterior da pare-
artérias frénicas inferiores, o tronco celíaco e as ar- de torácica, entre os 5.0 e 9.0 espaços intercostais
térias suprarrenais médias, quando presentes. - o espaço de Traube, identificável com facilida-
Lateralmente ao tronco celíaco está o plexo ce- de em radiografias do tórax - "bolha de ar gástri-
líaco. Os gânglios celíacos recebem inervação do ca" (Fig. 14.12).
vago posterior, dos esplâncnicos torácicos e vão Entre o fundo gástrico e o diafragma insinua-se
continuar-se abaixo com os gânglios mesentéricos parte do lobo esquerdo do fígado. Para baixo, a
superiores e com os aórtico-renais. porção horizontal do estômago continua-se pela
À frente da 1.0 vértebra lombar nasce a mesenté- porção horizontal que já entra no epigastro.
rica superior, que passa por trás do colo do pân- O fundo gástrico adere ao centro frénico e ao pilar
747
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
748
ANATOMIA DAS REGIÕES I ABDÓMEN
Abaixo do mesocólon sigmóide, ou das ansas do plénico, está na sua porção inicial recoberto pelo
delgado caso este seja pouco volumoso, encontra- cólon transverso, e assenta sobre o psoas e o qua-
-se a escavação pélvica. No hipogastro pode pro- drado lombar, por intermédio de uma fáscia seme-
jectar-se a bexiga caso tenha replecção suficien- lhante à do lado oposto (fáscia de Toldt). Atrás do
te (200-300 ml); no recém nascido a bexiga tem cólon transverso encontram-se, de cima para bai-
urna projecção abdominal mais importante que no xo: a face anterior da extremidade inferior do rim
adulto, sendo quase totalmente intra-abdominal. esquerdo, os nervos ílio-hipogástrico e ilioingui-
Esta projecção vai diminuindo com a idade, acom- nal, o nervo cutâneo femoral lateral, os vasos lom-
panhando a obliteração da porção superior deste bares, e o nervo femoral.
órgão. Mais abaixo, o cólon descendente continua-se
com o cólon sigmóide, que está suspenso pelo seu
FIANCO E FOSSA ILÍACA DIREITOS meso. A raiz do mesocólon sigmóide tem origem
um pouco por fora dos vasos ilíacos comuns es-
Os órgãos que ocupam esta região são o cego, o querdos, cruza-os da esquerda para a direita, pas-
cólon ascendente e o rim direito. O cego e o cólon sa à frente dos vasos genitais e do ureter esquerdos,
ascendente são mais volumosos que o cólon es- e atinge o promontório. Contém na sua espessura
querdo e consequentemente têm uma grande pro- as artérias sigmoideias, ramos da mesentérica in-
jecção na parede abdominal. ferior, e as veias correspondentes. O mesossigmói-
As suas faces posteriores estão aderentes à pare- de separa a grande cavidade abdominal da escava-
de abdominal posterior por intermédio do seu pe- ção pélvica (v. Peritoneu)
ritoneu visceral posterior que se liga ao peritoneu
parietal desta região (fáscia de Toldt). O cego re-
pousa sobre a fáscia ilíaca (no ângulo formado en- ESPAÇO RETROPERITONEAL
tre o psoas e o ilíaco) e nesta região encontramos
os nervos cutâneo femoral lateral (por fora) e o gé- O espaço retroperitoneal é o espaço anatómico lo-
nito-femoral (por dentro) em cima, e o nervo fe- calizado na cavidade abdominal, atrás do perito-
moral em baixo. O apêndice também se vai encon- neu. Os órgãos aí contidos estão recobertos por
trar aqui, em posição retrocecal, em cerca de 60% peritoneu na sua face anterior. Como órgãos pri-
dos indivíduos. mariamente retroperitoneais destacamos:
O cólon ascendente projecta-se na parede abdo- • Glândulas suprarrenais ou adrenais;
minal posterior entre o psoas e o quadrado lom- • Rins;
bar. Por trás deste estão os vasos lombares, os ner- • Ureteres;
vos ilioinguinal e ílio-hipogástrico, e acima pro- • Bexiga;
jecta-se sobre a face anterior da extremidade infe- • Aorta;
rior do rim direito. • Veia cava inferior;
Por dentro do cólon ascendente vamos encontrar • Porção terminal do esófago;
os vasos genitais e o ureter esquerdos que estão re- • Recto extraperitoneal;
cobertos pelo peritoneu parietal desta região.
Como órgãos secundariamente retroperitoneais,
FLANCO E FOSSA ILÍACA ESQUERDOS isto é, inicialmente intraperitoneais mas que du-
rante o desenvolvimento embriológico perderam
Aqui encontra-se o cólon descendente e o sig- progressivamente o seu meso, destacamos:
móide. Já referimos que devido ao menor volu- • Pâncreas (excepto pela sua cauda que está si-
me ocupado pelo cólon descendente em relação tuada no ligamento lienorrenal, como vimos
ao ascendente, as ansas do jejunoíleo vão tender acima);
para este lado e projectar-se na parede abdomi- Duodeno, porções DII a DIV;
nal anterior. • Cólon ascendente e cólon descendente.
O cólon descendente, que continua o ângulo es-
749
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
10
A bexiga e o recto serão considerados quando nos revele como um hematoma retroperitoneal com
referirmos à escavação pélvica. extensão essencialmente caudal.
O espaço retroperitoneal não tem fronteiras bem
definidas. Contudo, vamos dividi-lo em 3 porções,
consoante a sua relação com a fáscia renal (de Ge- ESPAÇO PARARRENAL ANTERIOR
rota): espaço perirrenal, espaço pararrenal anterior
e espaço pararrenal posterior. Este espaço está delimitado anteriormente pelo
peritoneu parietal posterior e posteriormente pelo
folheto anterior da fáscia renal. As estruturas si-
ESPAÇO PERIRRENAL tuadas neste espaço são:
• Cabeça e corpo do pâncreas;
Este espaço contém as estruturas localizadas entre • Aorta;
o folheto anterior da fáscia renal (fáscia de Toldt) e • Veia cava inferior
o folheto posterior (fáscia de Zuckerkandl); é deli- • DII aDIV;
mitado por cima, por fora e por dentro pela união • Cólon ascendente e descendente.
destas fáscias. Para baixo as duas fáscias não estão
unidas. Os órgãos contidos neste espaço são as su- Na realidade, este é um espaço potencial; a inclu-
prarrenais, os rins e os ureteres, bem como os seus são neste espaço do duodeno, do pâncreas e do có-
vasos, envolvidos na gordura perirrenal. O folheto lon ascendente e descendente deriva de estudos
posterior continua-se para baixo e funde-se com radiológicos sobre a difusão do líquido ascítico na
a fascia transversalis. O folheto anterior envolve o cavidade abdominal.
ureter numa bainha até à sua entrada na bexiga. As fáscias de fusão destas vísceras com a fáscia re-
Esta configuração em forma de "saco invertido" da nal são na realidade o verdadeiro espaço parrarre-
fáscia renal permite que uma hemorragia renal se nal anterior, uma vez que em termos embriológi-
750
ANATOMIA DAS REGIÕES I ABDÓMEN
coso duodeno, o pâncreas e o cólon são órgãos in- lombar. A face anterior do rim direito relaciona-se,
traperitoneais. por intermédio do folheto anterior da fáscia renal,
com as seguintes estruturas: na sua porção supe-
rior com o fígado; abaixo com a raiz do mesocó-
ESPAÇO PARARRENAL POSTERIOR lon transverso e cólon transverso; ainda mais abai-
xo com o ângulo hepático do cólon; por dentro
Está delimitado anteriormente pelo folheto pos- com a 2. ª porção do duodeno. A sua face poste-
terior da fáscia renal e posteriormente pela fas- rior está em relação com as seguintes estruturas, de
cia transversalis. No seu interior contém apenas a cima para baixo: diafragma e 12.• costela; músculo
gordura pararrenal. Como já referimos acima, es- psoas, quadrado lombar e aponevrose do transver-
tas fáscias fundem-se num local extremamente in- so do abdómen, de dentro para fora. Por dentro, o
constante, ao nível do psoas e do quadrado lombar, rim direito relaciona-se com a suprarrenal corres-
acima da escavação pélvica. pondente e com a veia cava inferior.
O rim esquerdo projecta-se desde a união da 12.ª
vértebra torácica com a l.• lombar até à união en-
TOPOGRAFIA DOS ÓRGÃOS tre a 2.ª e 3.ª lombares. A sua face anterior entra
RETROPER/TONEAIS em contacto com 5 órgãos, de cima para baixo: o
baço, em cima e por fora; o estômago, na sua por-
Consideraremos as suprarrenais, os rins e os urete- ção superior; o pâncreas, na sua porção média; o
res; o duodeno, o pâncreas, o cólon, a aorta e a veia jejuno, junto ao pólo inferior; e o ângulo esplénico
cava inferior já foram considerados acima; a bexi- do cólon e cólon descendente, na sua porção mais
ga e o recto serão considerados na pélvis. inferior e lateral. As relações posteriores do rim es-
querdo incluem, de cima para baixo e de dentro
SUPRARRENAIS para fora: diafragma e 11.ª e 12.ª costelas; músculo
psoas, quadrado lombar e aponevrose do transver-
As suprarrenais recobrem a porção ântero-supe- so do abdómen. Por dentro, o rim esquerdo rela-
rior de ambos os rins. Encontram- se envolvidas ciona-se com a suprarrenal correspondente e com
pela fáscia renal e separadas do rim por uma del- a artéria aorta.
gada fáscia suprarrenorenal. A suprarrenal direi-
ta tem uma forma triangular; a sua face anterior URETERES
está encostada ao fígado; medialmente, encontra-
-se ligada à veia cava inferior por intermédio da Os ureteres têm entre 28 a 34 cm de comprimen-
veia suprarrenal; posteriormente, está em contacto to. Estão situados entre os dois folhetos da fás-
com o diafragma e inferiormente com o rim cor- cia renal; o folheto anterior está intimamente liga-
respondente, muitas vezes por cima da artéria e do ao peritoneu. Cada um dos ureteres atravessa a
veia renais. A porção medial da suprarrenal direita porção medial do músculo psoas, em linha com os
é muitas vezes retrocava. processos transversos das vértebras lombares. Pas-
A suprarrenal esquerda é mais arredondada. Está sa à frente do nervo genitofemoral. Na porção mé-
em contacto com o estômago pela sua face ante- dia do ureter atravessam-se os vasos genitais, de
rior; com o diafragma e o pólo superior do rim dentro para fora, por diante.
posteriormente; com o baço lateralmente; e com o O ureter direito, antes de entrar na pélvis, passa
pâncreas e os vasos esplénicos inferiormente. por trás da raiz do mesentério; o ureter esquer-
do passa por trás da raiz do mesocólon sigmói-
RINS de. Ambos os ureteres chegam à escavação pélvi-
ca a nível da bifurcação dos vasos ilíacos comuns.
O rim direito tem uma localização mais inferior
em relação ao contralateral, projectando-se entre
o corpo da 12.ª vértebra torácica e a 3.ª vértebra
751
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS
752
15. PERÍNEO
753
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
fise púbica identifica-se a veia dorsal profunda do • No plano superficial vamos encontrar, de
pénis ou do clítoris. cima para baixo:
• Gracilis;
Plano pré-vesical • Adutor magno.
Plano superficial
REGIÃO SACRO-COCCÍGEA
Aqui encontramos, da superfície para a profundi-
dade: pele, panículo adiposo, fáscia superficial e te- O limite superior desta região corresponde a uma
cido celular subcutâneo. linha horizontal que passa pela união entre a 5.•
Este plano é vascularizado por ramos da artéria vértebra lumbar e o sacro. O inferior é a ponta do
pudenda externa superficial (ramo da artéria fe- cóccix. Lateralmente, pelos limites laterais do sa-
moral); a drenagem venosa faz-se pela veia do cro e do cóccix. Em profundidade estende-se até
mesmo nome que drena na grande safena. É iner- ao espaço retrorrectal. Esta região é formada, na
vada por filetes do ramo femoral do genitofemoral sua metade inferior, pela porção superior da pre-
e pelo ilioinguinal. ga inter-nadegueira.
Abaixo do plano anterior encontramos uma apo- É constituído por pele e tecido celular subcutâneo.
nevrose muito resistente, que se insere acima no A pele está unida ao plano músculo-aponevróti-
ramo isquiopúbico. co por uma série de trabéculas fibrosas que cons-
Os músculos que se encontram na região podem tituem o aparelho suspensor da prega inter-nade-
dividir-se em 3 planos: gueira de Morestin. Apresenta também pequenos
vasos e nervos superficiais.
754
ANATOMIA DAS REGIÕES I PERÍNEO
plano músculo-aponevrótico
Plano ósseo
O pénis e o escroto com o seu conteúdo encon- Este plano é revestido pela fáscia de investida ou
tram- se na extremidade anterior desta região. de Gallaudet. Por cima desta fáscia e abaixo da
D escreveremos 4 planos: um superficial e três membrana perineal estão as raízes dos corpos ca-
músculo-aponevróticos: um superficial, um médio vernosos, a porção perineal do corpo esponjoso e
e um profundo. os músculos bulboesponjoso e isquiocavernosos.
O corpo perineal é uma estrutura localizada no Neste plano encontra-se o ramo bulbar do ner-
centro do períneo, atravessando todos os planos, vo pudendo, que inerva os músculos mencionados.
e servindo de inserção para todos os músculos do Também podemos encontrar neste plano o mús-
períneo, à excepção dos isquiocavernosos. culo transverso superficial do períneo, inconstante.
Por baixo da pele encontra-se um tecido celuloa- Este plano corresponde ao chamado "diafrag-
diposo, a fáscia superficial do períneo (de Colles) ma urogenital". É constituído pela membrana
755
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
PER(NEO ANTERIOR FEMININO Estes planos são semelhantes aos do homem, ex-
cepto pela divisão em duas metades condicionada
Consideramos os mesmos planos que considerá- pelo vesu.bulo vulvar.
mos para o masculino.
PER(NEO POSTERIOR
Plano superficial
O períneo posterior é semelhante nos dois sexos.
Este plano está ocupado pelas diversas porções da Podemos descrever um plano superficial e dois
vulva. Está constituída da mesma forma que o do planos musculares, um superficial e um profundo.
homem, excepto por esta particularidade.
Plano superficial
Plano músculo-aponevrótico superficial
A pele, que é fina e móvel na região glútea, torna-
Este plano é igualmente revestido pela fáscia de -se mais delgada à medida que nos aproximamos
investida ou de Gallaudet. Por cima desta fáscia e do ânus; a 1 cm da margem anal torna-se mais fina
abaixo da membrana perineal estão as raízes dos e pigmentada. O orifício anal encontra-se imedia-
corpos cavernosos do clítoris, os dois bulbos ves- tamente atrás da linha bi-isquiática.
tibulares, os músculos bulboesponjosos e isquio- O tecido celular subcutâneo praticamente desa-
cavernosos e a túnica muscular da vagina (múscu- parece quando nos aproximamos da margem anal
756
ANATOMIA DAS REGIÕES I PERÍNEO
757
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
músculos das paredes e do pavimento pélvico: o Denonvilliers); esta fáscia define o comparti-
obturador interno, o coccígeo, o elevador do ânus, mento médio da escavação pélvica;
o piriforme e porções do esfíncter externo da ure- • Um posterior, o ligamento lateral do recto
tra; quando falamos, por exemplo, em aponevrose que contém na sua espessura a artéria rect~
do obturador interno estamos a referirmos à fás- média e os plexos nervosos desta região.
cia pélvica parietal; é contínua com a fáscia trans-
versalis; ESPAÇOS PÉLVICOS NO HOMEM
No local em que a aponevrose do obturador in-
terno contacta com a ap onevrose do elevador do São espaços potenciais que se encontram entre as
ânus, encontramos um espessamento fibroso cha- paredes pélvicas e as vísceras (Fig. 15.4):
mado "arco tendíneo do elevador do ânus"; Entre o púbis e a bexiga encontra-se o espa-
A fáscia pélvica visceral recobre as vísceras pélvi- ço prevesical (de Retzius). Este é constituí-
cas e forma uma camada adventícia. Nos pontos do essencialmente por tecido adiposo, e está
de contacto com a fáscia pélvica parietal, onde os em continuidade com os espaços paravesicais,
órgãos pélvicos se "afundam", esta torna- se mais que se estendem a partir deste lateralmente
consistente, formando urna reflexão das duas fás- à bexiga.
cias a que damos o nome de arco tendíneo da fás- O espaço pelvirrectal (superior) está delimi-
cia pélvica; tado: acima pelo peritoneu; por baixo pelo
O arco tendíneo da fáscia pélvica, no homem, for- elevador do ânus; por dentro o recto; e por
ma à frente os ligamentos puboprostáticos ante- fora a parede pélvica. Este é dividido em
riores, que ligam o púbis ao ápex prostático; e os dois pela passagem do ligamento lateral do
ligamentos puboprostáticos laterais, que ligam a recto;
próstata ao elevador do ânus; termina ao nível da • O espaço retrorrectal ou pressagrado, entre o
espinha isquiática. recto (à frente) e o sacro (atrás).
Atrás, a reflexão da fáscia pélvica parietal com a
fáscia pélvica visceral, forma os ligamentos sacro-
genitais (uterossagrados na mulher), que partem
do sacro, contornam o recto e inserem-se lateral-
mente na próstata.
758
ANATOMIA DAS REGIÕES I PERÍNEO
759
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
À semelhança do que acontece no homem, tam- Fig. 15.5. Espaços pélvicos: corte sagital (mulher).
bém na mulher o peritoneu se reflecte à frente da 1. Sacro 2. Mesosigmóide 3. Cólon sigmóide 4. Canal anal 5. Recto
bexiga e forma a fossa supravesical (Fig. 15.5). Re- 6. Vagina 7. Colo uterino 8. Corpo do útero 9. Bexiga 10, Sínfise
púbica 11. Fundo-de-saco vesico-uterino 12. Fundo-de-saco recto-
cobre a bexiga, a face anterior do útero, o fundo e -vaginal
a face posterior; entre a bexiga e o útero vai for-
mar o fundo-de-saco vesicouterino. Atrás recobre PARAMÉTR/0S
a face anterior do recto; forma entre este e o úte-
ro o fundo-de-saco rectovaginal (de Douglas). Re- No interior dos ligamentos largos estão situadas as
cobre também os vasos pélvicos, os ureteres (pre- seguintes estruturas:
gas uretéricas) e os ligamentos uterossagrados, for- Tubas uterinas, na porção mais superior do li-
mando as pregas rectouterinas. gamento largo, que a reveste;
Lateralmente ao útero encontra-se o ligamento Ligamentos redondos, que se dirigem para a
largo, que não é mais do que duas pregas de pe- frente na direcção do canal inguinal, termi-
ritoneu "levantadas" pelas tubas uterinas; unem os nando a nível do monte púbico e dos gran-
bordos laterais do útero à parede lateral da esca- des lábios;
vação pélvica. Os dois folhetos do ligamento lar- Ligamentos uteroováricos ou ligamentos
go, o anterior e o posterior, contêm na sua espes- próprios do ovário;
sura os paramétrios. O ligamento largo divide-se Artérias uterinas, tubáricas e ováricas, assim
em três porções: o mesométrio, o mesossalpinge e como as veias correspondentes;
o mesoovário. Nervos;
O mesométrio é a porção mais larga, lateral ao Resquícios embrionários do canal mesoné-
útero, o mesossalpinge é o meso da tuba uterina frico: epoóforo (órgão de Rosenmüller) e pa-
no cimo do qual esta se encontra, e contém no seu raoóforo (de Johnson); estes situam-se no
interior os ramos tubáricos das artérias ovárica e mesossalpinge.
uterina; o mesoovário une o ovário ao folheto pos-
terior do ligamento largo. FASCIA PÉLVICA
Os ligamentos largos dividem a escavação pélvica
em cavum preuterino e cavum retrouterino. As considerações que dispusemos acima referen-
tes ao comportamento da fáscia pélvica no ho-
mem também se aplicam à mulher; contudo, apre-
sentam algumas diferenças.
760
ANATOMIA DAS REGIÕES I PERÍNEO
O arco tendíneo da fáscia pélvica, na mulher, par- • O espaço pelvirrectal (superior) está delimita-
te desde o arco púbico e termina atrás na espinha do: acima pelo peritoneu; por baixo pelo ele-
isquiática. Os seguintes ligamentos são reforços vador do ânus; por dentro o recto; e por fora a
deste: parede pélvica; continua-se à frente pelo pa-
• Os ligamentos pubovesicais anteriores, que li- ramétrio e é dividido em dois pela passagem
gam o púbis à bexiga e à uretra; do ligamento lateral do recto;
• Os ligamentos pubovesicais laterais, que li- • O espaço retrorrectal ou pressagrado, entre o
gam a bexiga e a uretra ao elevador do ânus; recto (à frente) e o sacro (atrás).
• Os ligamentos laterais da vagina (lateral atta-
chments); que partem das faces anterior, pos- COMPARTIMENTOS PÉLVICOS NA MULHER
terior e laterais desta até se inserirem no ele-
vador do ânus; Como referimos acima, há três compartimentos
• Os ligamentos cardinais (ligamentos transver- pélvicos na mulher: vesicouretral, uterovaginal e
sos de Mackenrodt), que contêm na sua espes- rectal.
sura os vasos uterinas e que se estendem des-
de a parede pélvica (elevador do ânus) até ao Compartimento anterior
colo uterino; estes ligamentos estão em con-
tinuidade com o mesométrio, superiormente. Este compartimento é semelhante ao do homem,
com as seguintes diferenças:
Atrás, a reflexão da fáscia pélvica parietal com a • A face superior da bexiga relaciona-se não só
fáscia pélvica visceral forma os ligamentos uteros- com as ansas intestinais, como também com
sagrados, que partem do sacro, contornam o recto a face anterior do útero, do qual está separado
e inserem-se lateralmente no útero, em continui- pelo fundo-de-saco vesicouterino;
dade com o tecido parametrial. • A face posterior da bexiga está em relação
A bainha da hipogástrica na mulher também se com a vagina, contacta com o peritoneu por
divide em 3 ligamentos: intermédio do fundo-de-saco vesicouterino;
• Um anterior, o ligamento lateral da bexiga; • As faces laterais da bexiga entram em rela-
contém na sua espessura as artérias vesicais ção com o ligamento redondo, aquando da re-
superiores (ramos das umbilicais) e as veias plecção vesical;
correspondentes; • O colo vesical relaciona-se directamente com
• Um médio, que corresponde aos ligamentos a uretra feminina;
cardinais, contendo na sua espessura os vasos
uterinos (v. acima); A uretra feminina apresenta 2 porções, consoante
• Um posterior, o ligamento lateral do recto, a sua localização relativa ao diafragma urogenital:
que contém na sua espessura a artéria rectal uma porção pélvica (acima do diafragma urogeni-
média e os plexos nervosos desta região. tal) e uretra perineal (porção que atravessa o dia-
fragma urogenital). A uretra pélvica está relacio-
ESPAÇOS PÉLVICOS nada em toda a sua extensão com o músculo es-
fl:ncter externo da uretra, que a envolve. Relacio-
Os espaços potenciais na mulher apresentam as na-se:
seguintes características. • À frente com a sínfise púbica e com os liga-
• Entre o púbis e a bexiga encontra-se o espa- mentos pubovesicais anteriores;
ço prevesical (de Retzius), à semelhança do • Atrás com a vagina, da qual está separada por
que acontece com o homem; este é constituí- um septo uretrovaginal;
do essencialmente por tecido adiposo, e está • Lateralmente e na sua porção pélvica: com
em continuidade com os espaços paravesicais, o plexo venoso perivesical e com as fibras do
que se estendem a partir deste lateralmente elevador do ânus, ao qual está unida através
à bexiga. dos ligamentos pubovesicais laterais; na sua
761
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
A vagina tem duas porções, consoante a sua loca- 3. Qial dos seguintes ligamentos não é reforço
lização em relação ao diafragma urogenital. Uma da fáscia pélvica?
porção pélvica (acima) e uma porção perineal. Re- a. Ligamento cardinal.
laciona-se: b. Ligamentos pubovesicais laterais.
• A frente com a base da bexiga e com a uretra, c. Arco tendíneo do elevador do ânus.
da qual está separada pelo septo uretrovaginal; d. Ligamentos uterossagrados.
• Atrás com o recto, por intermédio da fáscia e. Ligamentos, cardinal, pubovesicais late-
peritóneo-perineal; rais e uterossagrados.
• Lateralmente com a artéria vaginal, com o
plexo hipogástrico inferior, com o plexo ve- 1:)- S lg-z 1:)-{
noso perivesical, com o elevador do ânus e :S'BlJ;;)J S'&l SOÓS:>'M
Contém o recto. As relações do recto na mulher Rouviere, H.; Delmas, A.Anatomie Humaine
são semelhantes às do homem com a excepção de Descriptive, Topographique et Fonctionnelle.
que à frente e na sua porção superior o recto está lSéme édition. Masson, 2002.
em contacto com o peritoneu (fundo-de-saco rec- Testut, L.;Jacob, O.Anatomía Topográfica. 8.3
tovaginal) e por intermédio deste com o útero, as ed. Vol. 2. 1982, Barcelona: Salvat editores, s.a.
ansas do delgado e a sigmóide; na sua porção infe- 3-328.
rior com o colo do útero e a vagina, por intermé-
dio da fáscia peritóneo-perineal.
762
ANATOMIA DAS REGIÕES I PERÍNEO
***
763
16. MEMBRO SUPERIOR
765
MANUAL DE ANATOMIA H UMANA
Sob o ponto de vista do conteúdo, nesta região lo- pra-espinhoso (envoltos nas respecivasfias, · . )
1a1s e
calizam-se a artéria axilar, a veia axilar, vasos linfá- os vasos e nervos supraclaviculares. Na fossa ·nfr
i a-
ticos, nódulos linfáticos axilares e o plexo braquial. -espinhosa, da superncie para a profundidade
,en-
Estas estruturas estão envoltas nafascia axilar, con- contram-se umafascia muscular, o músculo delt,.
01-
tinuação da fascia cervical. de e um plano muscular profundo (músculos in-
fra-espinhoso, teres menor, teres maior e Iatíssimo
REGIÃO ESCAPULAR dorsal). A s estruturas vasculares aqui patentes têm
localização profunda, sendo as artérias ramos das
Os tecidos localizados posteriormente à omoplata artérias axilar e subclávia; o nervo supra-escapu-
correspondem à região escapular, sendo os limites lar acompanha a artéria espinhal dorsal e inver-
desta região os três bordos da omoplata. va os músculos supra-espinhoso e infra-espinhoso.
REGIÃO DELTOIDEIA
766
ANATOMIA DAS REGIÕES I MEMBRO SUPERIOR
Fascia braquial.
Planos profundos - constituído pelo múscu- Região anterior do cotovelo (sangradouro)
lo tríceps braquial e dois pedículos vásculo-
-nervosos. O pedículo vásculo-nervoso su- Podemos dividir esta região em três projecções
perior é constituído pela artéria profunda do triangulares, sendo uma central de vértice infe-
braço e pelo nervo radial, e o inferior é cons- rior que corresponde ao músculo bíceps braquial,
tituído pela artéria colateral cubital superior e uma medial de vértice superior que correpsonde
pelo nervo cubital. aos músculos epicondilianos mediais, e outra la-
teral que corresponde aos músculos supinadores e
REGIÃO DO COTOVELO extensores radiais do carpo.
Da superfície para a profundidade:
Esta região corresponde à articulação do cotove- • Planos superficiais - pele, panículo adiposo,
lo e está limitada por duas linhas circulares dois fascia superjicialis, tecido celular sub-cutâneo.
dedos acima e dois dedos abaixo da linha de fle- É nesta região que encontramos as anasto-
xão anterior do cotovelo. Lateralmente encontra- moses venosas que formam classicamente o
-se limitada pelas linhas que passam nos epicôndi- "M"venoso: a veia mediana divide-se em dois
los lateral e medial. Compreende duas regiões: an- ramos (veia mediana cefálica e veia mediana
terior e posterior. basílica) que se anastomosam com a veia cefá-
lica (lateralmente) e com a veia basílica (me-
767
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
REGIÃO DO ANTEBRAÇO
768
ANATOMIA DAS REGIÕES I MEMBRO SUPERIOR
769
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
770
ANATOMIA DAS REGIÕES I MEMBRO SUPERIOR
21 3 20 19 18
são central e a eminência hipotenar. A anatomia dedos e pelos músculos lumbricais; fas-
de superfície da face palmar dos dedos é determi- cia profunda;
nada pela flexão dos dedos e das falanges. • Loca palmar tenar - músculo curto ab-
Da superfície para a profundidade: dutor do primeiro dedo; músculo opo-
Planos superficiais - pele e tecido celular sub- nente do primeiro dedo e os feixes su-
cutâneo onde se encontram o ramo palmar do perficiais do músculo curto flexor do pri-
nervo mediano, o ramo tenar do nervo radial meiro dedo; feixes profundos do múscu-
e os filetes terminais do nervo musculo-cutâ- lo curto flexor do primeiro dedo; múscu-
no, alguns filetes do nervo cubital (ulnar) e os lo adutor do primeiro dedo;
nervos colaterais para os dedos que são acom- • Loca palmar hipotenar - músculos ab-
panhados por artérias colaterais; dutor do quinto dedo e curto flexor do
Fascia supercifical palmar - lâmina fibrosa quinto dedo; músculo oponente do quin-
que se divide numa região central e duas la- to dedo; artéria cubital (ulnar) transver-
terais. A região central une-se à fascia pro- sa e o ramo profundo do nervo cubital;
funda por quatro expansões para os tendões • Loca interóssea - plano fáscial constituí-
flexores e três expansões para os músculos do pela fascia profunda; plano vásculo-
lumbricais os vasos e os nervos digitais. As -nervoso constituído pela arcada palmar
regiões laterais cobrem as eminências tenar profunda e pelas ramificações do ramo
e hipotenar. Abaixo da fáscia profunda es- profundo do nervo cubital (ulnar); pla-
tão os músculos interósseos. Assim, determi- no muscular constituído pelos músculos
nam-se 4 locas: interósseos.
• Loca palmar média - plano vásculo-ner-
voso superifical com a arcada plamar su- Região dorsal da mão
perficil e os ramos digitais dos nervos
mediano e cubital (ulnar); plano muscu- Diz respeito à região localizada atrás das articula-
lo-tendinoso com os tendões dos mús- ções da mão e dos espaços intermetacárpicos, ten-
culos flexores superficial e profundo dos do como limites laterais os bordos laterais da mão.
771
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
-
-
Fig. 16.6A. Região palmar: plano superficial Fig. 16.6B. Região palmar: detalhe da fãscia superficial palmar,
1. Tendão do palmar longo 2. Ligamento palmar do carpo 3. Prolon- 1. Eminência hipotenar 2. Fasciculos transversos 3. Ligamentos me-
gamento do retináculo extensor 4. Ramo palmar do nervo mediano 5. tacárpicos transversos superficiais 4. Aponevrose palmar 5. Pedículo
Ramo palmar do nervo cubital 6. Artéria cubital 7. Ramo superficial digital palmar
do nervo cubital 8. Músculo palmar curto 9. Aponevrose palmar 10.
Eminência tenar
772
ANATOMIA DAS REGIÕES I MEMBRO SUPERIOR
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
•••
773
17. MEMBRO INFERIOR
Os membros inferiores, em número de dois, des- Esta região é limitada superiormente pela liga-
tacam-se de cada lado da bacia dirigindo-se verti- mento inguinal; lateralmente por uma linha ver-
calmente para baixo, seguindo um trajeto parale- tical que se estende desde a espinha ilíaca ânte-
lo entre si, entrando finalmente em contacto com ro-superior; mediaimente por uma linha que se
o solo através de um segmento anatómico de base estende do púbis até ao limite inferior da região;
alargada, denominado "região plantar". As suas e inferiormente pelo limite superior da coxa. De
dimensões são variáveis, dependendo da altura do modo a sistematizar a descrição anatómica divi-
indivíduo, no entanto, são classicamente descritos dimos esta região em dois triângulos: um lateral
como apresentando uma média de 86 cm no gé- e um medial.
nero masculino e 80 no género feminino. O diâ-
metro transversal dos membros inferiores atinge o Triângulo Lateral - no qual encontramos des-
seu maior valor ao nível do grande trocânter ( tro- de a superfície para profundidade cinco planos
cânter maior), diminuindo progressivamente até à anatómicos: 1) pele; 2) fascia superjicialis; 3) te-
região do joelho, voltando a aumentar ligeiramen- cido celular subcutâneo; 4) aponevrose propria-
te no segmento da perna, voltando a diminuir até mente dita; 5) plano muscular (inclui os múscu-
um mínimo na região do colo do membro inferior los tensor daJascia lata lateralmente, sartório me-
(transição entre perna e pé). diaimente, recto anterior recoberto superiormen-
Do ponto de vista prático os membros inferiores te pelo tensor em conjunto com o sartório, vas-
constituem os principais agentes da sustentação, to lateral e vasto intermédio recobertos pelo rec-
estabilidade e locomoção do corpo humano. Para to anterior (Fig. 17.1).
fins descritivos consideramos em cada membro
inferior seis segmentos: 1) anca; 2) coxa; 3) joe- Triângulo Medial ou Femoral de Scarpa - no
lho; 4) perna; 5) tornozelo; e 6) pé. qual identificamos seis planos anatómicos desde
a superflcie para a profundidade: 1) pele; 2) paní-
culo adiposo; 3) fascia superjicialis-, 4) tecido celu-
ANATOMIA TOPOGRÁFICA DA ANCA lar subcutâneo; 5) fascia lata (faz parte da bainha
aponevrótica que cobre toda a região, apresen-
A anca, segmento homólogo da espádua no mem- tando um folheto profundo e um folheto super-
bro superior, encontra-se localizada na raiz do ficial); 6) plano subaponevrótico (que compreen-
membro inferior, ou seja, no ponto de união do de os músculos, vasos e nervos profundos da re-
membro inferior à região do tronco. Encontra-se gião (Fig.17.2).
limitada superiormente pela crista ilíaca (poste-
riormente) e ligamento inguinal (anteriormente); O folheto superficial da f ascia lata é perfurado por
póstero-inferiormente pelo sulco glúteo; e ântero- numerosos oriflcios através dos quais passam ar-
-inferiormente por uma linha que se estende des- térias e nervos que vão da profundidade para a
de a extremidade lateral do sulco glúteo e o pon- superfície, os vasos linfáticos eferentes dos gân-
to de cruzamento entre o músculo sartório e lon- glios linfáticos superficiais e a veia safena medial.
go adutor. No segmento da anca serão conside- A maior parte destes oriflcios ocupa uma zona
radas três regiões: 1) região ínguino-crural; 2) re- particular, de textura reticulada denominada "Jas-
gião glútea; 3) região obturadora ou ísquio-púbica. cia cribiformis".
775
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
Fig. 17.1: Plano muscular do triângulo lateral região ínguino-aural. Fig. 17.2: Plano muscular, vasos e nervos constituintes do triângulo
1. Ligamento inguinal 2. Músculo grácil 3. Músculo pectíneo medial região ínguino-crural.
4. Músculo ilio-psoas 5. Músculo adutor longo 6. Músculo sartorius 1. Ligamento inguinal 2. Músculo grácil 3. Músculo pectíneo 4. Músculo
7. Músculo tensor da fáscia lata 8. Músculo recto femoral (quadríceps adutor longo 5. Músculo sartorius 6. Músculo recto femoral
femoral) 9. Músculo vasto medial (quadríceps femoral) 10. Músculo (quadríceps femoral) 7. Músculo vasto medial (quadríceps femo-
lateral (quadríceps femoral) 11. Rótula (patela) ral) 8. Músculo lateral (quadrkeps femoral) 9. Músculo adutor
magno 10. Nervo femoral 11. Artéria femoral 12. Veia femoral
13. Nervo safeno 14. Ramo safeno da artéria genicular descendente
15. Artéria circunflexa ilíaca superficial 16. Artéria epigástrica superfi-
cial 17. Artéria pudenda externa superior 18. Artéria pudenda externa
inferior
776
ANATOMIA DAS REGIÕES I MEMBRO INFERIOR
2
Os vasos e nervos profundos abordam a região
4
glútea formando 2 pediculos vasculo-nervosos:
15 um superior (constituído pela artéria glútea supe-
rior, veias colaterais e nervo glúteo superior); e ou-
tro inferior (constituído pela artéria glútea infe-
6
rior, artéria pudenda interna, veias satélites, ner-
REGIÃO GLÚTEA
17
777
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
778
ANATOMIA DAS REGIÕES I MEMBRO INFERIOR
11
13
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3
4
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12
25 26 9
10
779
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
ciático (nervo cutâneo femoral posterior) e o pri- magno por uma camada de tecido celulo-adiposo
meiro plano muscular (Fig. 17.8). onde caminham os vasos profundos da região e 0
Cl. Primeiro plano muscular - constituído pelos grande nervo ciático.
músculos semitendinoso mediaimente e pela lon-
ga porção do bíceps crural lateralmente. NOÇÕES DE ANATOMIA CLÍNICA
C2. Segundo plano muscular - constituído pelos
músculos semimembranoso e a curta porção do Na região da coxa, as patologias mais frequente-
bíceps crural. mente diagnosticadas relacionam-se com lesões
O semimembranoso, o bíceps crural e a lâmina desportivas como as roturas e distensões muscu-
aponevrótica intermuscular (que une as bainhas lares. No entanto, e em situações mais raras é pos-
destes dois músculos) estão separados do adutor sível encontrar lesões neoformativas como as de-
monstradas nas figuras 17.10 e 17.11.
12
11
Fig. 17.9: Anatomia topográfica da coxa com cortes por secções. ANATOMIA TOPOGRÁFICA DA REGIÃO
1. Músculo glúteo máximo 2. Músculo semitendinoso 3. Músculo
bíceps femoral 4. Músculo semimembranoso 5. Músculo adutor ANTERIOR DO JOELHO
magno 6. Músculo grácil 7. Músculo sartório 8. Gastrocnemius
9. Artéria popliteia 10. Veia popliteia 11. Nervo tibial 12. Músculo
glúteo mínimo 13. Músculo piriforme 14. Músculo gémeo superior
O joelho é limitado superiormente por uma li-
15. Músculo obturador interno 16. Músculo quadrado femoral nha circular desenhada acima do nível da rótula;
17. Músculo popliteu
780
ANATOMIA DAS REGIÕES I MEMBRO INFERIOR
781
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
Fig. 17.13: Anatomia de superfície da região anterior do joelho. ANATOMIA TOPOGRÁFICA DA PERNA
1. Fémur 2. Músculo articular 3. Músculo vasto medial 4. Músculo
vasto lateral 5. Músculo vasto intermédio 6. Tendão quadricipital
7. Tracto ilio-tibial 8. Epicôndilo femoral medial 9 - Epicôndllo fe- A perna está compreendida entre o joelho, supe-
moral lateral 10. Tuberosidade tibial anterior 11. Cabeça peroneal riormente, e o colo do pé, inferiormente. Ela é li-
12. Ligamento rotuliano 13. Ligamento colateral tibial 14. Ligamento
colateral peroneal 15. Retináculo rotuliano medial 16. Retináculo
mitada por duas linhas circulares: uma, superior,
rotuliano lateral 17. Tendão do bíceps femoral 18. Pata anserina descrita abaixo da tuberosidade anterior da tibia; a
(tendão do sartóirio, grácil, semitendinoso)
782
ANATOMIA DAS REGIÕES J MEMBRO INFERIOR
22
É constituída pelos tecidos moles localizados an-
teriormente ao esqueleto da perna, do ligamento
interósseo e da membrana intermuscular lateral.
Da superfície para a profundidade é possível dis- 23
tinguir nesta região: Fig. 17.15: Corte axial da perna revelando a anatomia topográfica da
A. Planos Superficiais (Fig. 17.15) - onde é possí- região.
1. Tíbia 2. Peróneo (fíbula) 3. Membrana interóssea 4. Veia safena
vel distinguir desde a superfície para a profundida- interna 5. Artéria tibial anterior 6. Nervo peroneal profundo 7. Veia
de os seguintes planos: 1) pele; 2) paniculo adipo- safena externa 8. Pedículo peroneal 9. Nervo tibial 10. Artéria tibial
posterior 11. Septo intermuscular anterior 12. Septo intermuscular
so subdérmico; 3) fascia superftcialis; 4) tecido ce-
posterior 13. Septo intermuscular transverso 14. Músculo tibial anterior
lular subcutâneo - contém pequenos vasos e ner- 15. Músculo extensor longo do 1 .º dedo 16. Músculo extensor longo
comum dos dedos 17. Músculo peroneal longo 18. Músculo peroneal
vos da região.
curto 19 - Músculo tibial posterior 20. Músculo flexor longo do 1.º
B. Aponevrose propriamente dita - Na sua face dedo 21. Músculo flexor longo comum dos dedos 22. Músculo solha,
profunda inserem-se os músculos subjacentes: ti- 23. Músculo gastrocnemius medial 24. Músculo gastrocnemius lateral
783
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
11
10
ANATOMIA TOPOGRÁFICA DO
Fig. 17.17: Plano subaponevrótico da região anterior do tornozelo.
TORNOZELO 0
1. Retinácu1o extensor 2. Músculo extensor curto do 1. dedo 3. Mús~
culo 1.0 interósseo dorsal do pé 4. Tendão do tibial anterior 5. Tendão
do extensor longo do 1.0 dedo 6. Tendões do extensor longo comum
Dá-se o nome de tornozelo ao segmento domem-
dos dedos 7. Músculo extensor curto comum dos dedos 8. Bainha
bro inferior que corresponde aos maléolos e à ar- sinovial dos tendões do extensor longo comum dos dedos 9. Bainha
sinovial do t endão do tibial anterior 10. Bainha sinovial do tendão do
ticulação tibiotársica. Encontra-se limitado su-
peroneal curto 11. Bainha sinovial do tendão do peroneal longo
784
ANATOMIA DAS REGIÕES I MEMBRO INFERIOR
região não se distingue panículo adiposo, fáscia ou leto do tornozelo. Os seus limites correspondem
tecido celular subcutâneos distintos. aos descritos para a região anterior. Neste região
B. Aponevrose propriamente dita - continua-se distinguem-se da superfície para a profundidade:
com a das regiões vizinhas. A. Planos superficiais - onde a pele apresenta as
C. Plano subaponevrótico (Fig. 17.17) - contém mesmas características que a da região anterior
os tendões dos músculos da região ( tibial anterior, B. Aponevrose superficial - continua-se com a
extensor próprio do primeiro dedo, extensor co- aponevrose da perna superiormente e, inferior-
mum dos dedos, peroneal anterior) circundados mente, com a aponevrose plantar.
por bainhas fibrosas e serosas, vasos e nervos. C. Primeiro plano músculo-tendinoso (Fig.
17.18) - compreende o tendão de Aquiles e ten-
REGIÃO POSTERIOR DO TORNOZELO dão do plantar delgado medianamente, e tendões
dos peroneais laterais lateralmente.
Esta região é constituída pelos tecidos moles lo- D. Panículo celulo-adiposo
calizados posteriormente às articulações e esque- E. Aponevrose profunda - dá continuidade à apo-
nevrose profunda da perna.
785
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
786
ANATOMIA DAS REGIÕES I MEMBRO INFERIOR
PERGUNTAS TIPO
787
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
788
F. ANATOMIA DE SUPERFÍCIE
Fig. 18.1 A: Cabeça vista de frente, com delimitação do contorno ósseo Fig. 18.1 B: Perfil direito da cabeça, com delimitação do esqueleto
e das arcadas dentárias. ósseo e das arcadas dentárias.
791
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
Fig. 18.2A e B: Regiões topográficas da superfície da face, vistas respectivamente de frente e de perfil.
1. Frontal 2. Supra-ciliar 3. Orbitária 4. lnfra.-orbitária 5. Nasal 6. Zigomática 7. Facial propriamente dita 8. Temporal 9. Bucal 10. Mentoniana
tanelas, sendo uma de localização anterior e outra ocular, vêem-se duas outras pregas cutâneo-muco-
posterior. Existem outras fontanelas de menores sas móveis, as pálpebras.
dimensões, referidas no capítulo de ossos do crânio. A porção superficialmente visível do segmento an-
A face pode ser dividida, de modo didático, em terior do globo ocular abrange uma área periféri-
dez regiões topográficas (3), apresentadas nas Fi- ca de coloração esbranquiçada, a esclerótica e uma
guras 18.2A e 18.2B. zona central transparente, denominada "córnea".
A Figura 18.3 ilustra os principais acidentes ana- E sta permite ver por trás uma estrutura contráctil,
tómicos da face. a íris, que adquire colorações diferentes consoan-
A fronte é a zona lisa e procidente, que tem subja- te a pigmentação tegumentar de cada indivíduo.
cente o osso frontal. N esta região observa-se uma As pálpebras unem-se, formando os ângulos pal-
depressão mediana, denominada "sulco da glabe- pebrais, lateral e medial. No ângulo medial exis-
la", que separa duas pregas músculo-cutâneas de te uma zona de confluência lacunar da fina pelícu-
abundante distribuição pilosa, de disposição trans- la de secreção lacrimal, o filme lacrimal. Neste lo-
versal e arciforme, com concavidade inferior, as so- cal observa-se uma saliência (a carúncula lacrimal)
brancelhas. onde se localiza de cada lado o orifício de emer-
Inferiormente, o sulco da glabela termina na raiz gência exterior do canal lácrimo-nasal.
nasal (radix nasi). Trata-se da projecção à superfí- Ambas as pálpebras têm um bordo aderente e um
cie, da zona de união entre as suturas fronto-na- bordo livre em que se inserem os cílios.
sal e inter-nasal, também designada por "nasion''. Em cada pálpebra, imediatamente a seguir ao bor-
Na união do terço medial com o terço médio do do livre e seguindo a mesma orientação deste,
rebordo da arcada orbitária superior, palpa-se a pode ver-se respectivamente os sulcos palpebrais
depressão correspondente à chanfradura supra- superior e inferior.
-orbitária, onde passam os vasos e nervos com o N a pálpebra inferior, para baixo do sulco palpe-
mesmo nome. bral inferior e com disposição concêntrica obser-
Por cima e paralelamente às sobrancelhas, obser- va-se uma área deprimida, que corresponde ao sul-
va-se a projecção cutânea da arcada supra-ciliar. co pálpebro-malar.
Por baixo e envolvendo a porção anterior do globo O foramen infra-orbitário, por onde passa o ner-
792
ANATOMIA DE SUPERFÍCIE
30
Fig. 18.3: Desenho de face caracterizada, com os aspectos anatómicos relevantes observados à superfície.
1. Sulco da glabela 2. Sobrancelhas 3. Raiz nasal 4. Pálpebras, superior e inferior 5. Esderótica 6. Íris 7. Carúncula lacrimal 8. Cílios 9. Sulco
palpebral superior 10. Sulco palpebral inferior 11. Sulco pálpebra-malar 12. Nariz 13. Dorso nasal 14. Ápex nasal 15. Narinas 16. Asas
do nariz 17. Filtro 18. Sulco naso-labial 19. Pavilhão auricular 20. Concha 21. Tragus 22. Anti-tragus 23. Hélix 24. Antihélix 25. Fosseta
navicular 26. Lóbulo da orelha 27. Limbo cutâneo oral 28. Vermelhão dos lábios 29. Tubérculo labial 30. Comissura 31. Sulco menta-labial
32. Mento
vo com o mesmo nome, palpa-se geralmente a 1 doloroso à palpação, quando haja desequilfürio na
centímetro abaixo do bordo inferior da órbita, na função mastigatória ou ranger de dentes (bruxis-
mesma direção que a chanfradura supra-orbitária. mo), entre outras razões.
Na linha média, inferiormente à raiz nasal, sobres- Caminhando no sentido descendente, na linha
sai uma proeminência de forma triangular, de base média, existe urna goteira que corresponde ao fil-
posterior e vértice ântero-inferior, corresponden- tro ou sulco médio sub-nasal (4), que se dirige para
te ao nariz. O bordo ântero-superior é designado baixo e para diante, terminando em forma de V na
por "dorso nasal". O vértice do nariz, como é ob- porção mediana do lábio superior.
jecto de designação comum, corresponde ao ápex A partir da asa do nariz, de cada lado forma-se
nasal. De cada lado do bordo inferior, ligeiramen- um sulco de bordos estreitos e por vezes vincados,
te côncavo no sentido ântero-posterior, correspon- o sulco naso-labial, que se orienta no seu trajecto,
dente ao bordo inferior do septo nasal, podem ver- para baixo, para diante e para fora, terminando de
-se os dois orifícios anteriores das narinas, limita- cada lado para fora e ao mesmo nível da comissu-
dos lateralmente por duas paredes cutâneo-muco- ra labial homolateral.
sas dispostas de forma alar, as asas do nariz. A região temporal inclui áreas comuns ao crânio e
Os músculos responsáveis pela expressão facial, à face e neste caso são mais valorizadas na descri-
dilatadores e constritores, palpam-se em volta das ção superficial do perfil. Assim, abrange urna por-
órbitas, narinas e boca. O músculo frontal confim- ção localizada superiormente ao pavilhão auricular
de-se, à superfície com a aponevrose occipital, e e correspondendo à projecção na superficie, com
o platisma com o tecido sub-cutâneo do pesco- uma disposição arciforme de bordo convexo supe-
ço. O masséter é um músculo condicionante da fi- rior, dos tegumentos inseridos não apenas na es-
sionomia da face palpando-se, do bordo inferior cama do temporal, mas em toda a fossa temporal,
da arcada zigomática, para baixo e para trás, até sendo em grande parte recoberta por tecido pilo-
à face lateral do ângulo mandibular. Apresenta-se so. É limitada em cima pela linha curva temporal
aumentado de volume (hipertrofiado) e por vezes superior, adiante pela apófise orbitária lateral e o
793
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
bordo posterior do osso zigomático e abaixo pela ver aberta, um ori.ficio de acesso à cavidade oral
arcada zigomática. Na linha temporal palpa-se a chamado "stomium". O!iando coaptados, formam a
fáscia do músculo temporal, que se localiza infe- chamada "rima bucal".
riormente. Por baixo existe uma formação laminar Os lábios são duas pregas músculo-membranosas
pregueada em diferentes sentidos, de forma ovalar móveis e possuem duas faces, uma anterior cutâ-
e grossa extremidade superior, que é denominado nea e uma posterior mucosa. Tem dois bordos,
"pavilhão auricular". Esta formação tem duas faces sendo um aderente e outro livre e revestido para
e um bordo circunferencial. Na face lateral situa-se trás do limite cutâneo (o limbo cutâneo oral), por
uma escavação profunda, a concha, que se localiza uma mucosa que deixa transparecer uma colo-
atrás do ori.ficio do canal auditivo externo. A con- ração avermelhada na raça caucasiana e por este
cha tem na sua porção ãntero-inferior uma zona facto se designa por "vermelhão dos lábios". Em
retraída, a chanfradura. Em volta destas estruturas populações de outras raças, esta mucosa é reves-
há quatro saliências: uma situada imediatamente à tida por maior ou menor intensidade de pigmen-
frente do ori.ficio do canal auditivo externo, o tra- tação melânica. Na linha média do lábio superior,
gus; uma outra que se localiza em posição oposta e observa-se uma procidência mamilonar designa-
situa-se no limite posterior da concha, o anti-tra- da por "tubérculo labial", delimitado lateralmen-
gus; uma terceira mais periférica e que se consti- te por duas depressões. No lábio inferior há uma
tui em forma de crista circundante e limítrofe do depressão mediana e duas saliências que se ajus-
pavilhão, o hélix; por último uma quarta saliên- tam às estruturas do contorno superficial, de for-
cia semi-circular de concavidade anterior, situada ma inversa, situadas no lábio superior. Lateral-
à frente e concêntrica ao hélix, denominada "an- mente os lábios unem-se nos ângulos, cujos con-
tihélix". Em cima da concha e à frente da porção tornos se designam por comissuras. O lábio su-
superior do antihélix situa-se uma fosseta chama- perior é, em regra, menor e menos móvel que o
da "fosseta navicular". A parte do pavilhão auricu- inferior.
lar situada inferiormente ao tragus e à chanfradu- Na linha média, por baixo do lábio inferior, for-
ra da concha, é constituída por uma prega cutânea ma-se um sulco transversal, o sulco mento-labial
com um bordo periférico livre e semi-circular, que que como o nome indica o separa de uma proemi-
é chamado "lóbulo da orelha". A face medial re- nência mediana designada por "mento". Este sulco
produz no sentido inverso as formas das estruturas acentua-se gradualmente com a idade (5).
anatómicas observadas na face lateral e tem uma O acesso à cavidade oral faz-se, como já anterior-
porção anterior aderente, e outra posterior livre. mente foi dito, pelo stomium. Esta cavidade di-
O bordo circunferencial integra em cima e atrás o vide-se em duas porções pelas arcadas dentárias,
hélix, em baixo o bordo livre do lóbulo e anterior- sendo a porção externa designada por "vestíbulo
mente o tragus. A articulação têmporo-mandibu- bucal" e a interna por cavidade oral ou bucal pro-
lar (ATM) situa-se no segmento póstero-inferior priamente dita. O vesttbulo é um espaço virtual
da arcada zigomática. Na região do pré-tragus pal- que só se consegue ver se os lábios forem traciona-
pa-se, especialmente quando a boca esteja aberta, dos. Comunica-se com a cavidade bucal propria-
o côndilo mandibular. mente dita, pelos espaços interdentários e através
A projecção cutânea da região parotídea localiza- de uma abertura que em regra se localiza entre o
-se atrás do ramo ascendente da mandíbula, an- molar situado mais distalmente e o ramo ascen-
teriormente à apófise mastoideia, e inferiormen- dente da manchbula (espaço retro-dentário). Ain-
te à arcada zigomática e ao canal auditivo externo. da no vesttbulo bucal, pode visualizar-se na pare-
Pode palpar-se entre o bordo posterior do múscu- de interna da região geniana (vulgo "bochecha"),
lo masséter e o bordo anterior do esterno-cleido- ao nível do segundo molar superior, o orifício de
-mastoideu. emergência do canal parotídeo (de Sténon).
Por baixo do filtro localiza-se uma fenda trans- A cavidade bucal propriamente dita, de forma
versal, cujos lábios, superior e inferior quando se- aproximadamente cúbica, é delimitada por seis pa-
parados, delimitam especialmente se a boca esti- redes, sendo a anterior formada pelos lábios, duas
794
ANATOMIA DE SUPERFÍCIE
laterais constituídas pelas regiões genianas, a pa- a um centímetro, respectivamente acima e abai-
rede superior formada pelo palato duro, a inferior xo das correspondentes papilas inter-incisivas. Na
pelo pavimento oral e a parede posterior constituí- área que circunscreve os dentes existe a porção de
da pelo palato mole (Fig.18.4). mucosa livre da gengiva. Há uma outra parte de
As faces internas das paredes circundantes da ca- coloração mais clara, designada por "gengiva ade-
rente". A junção muco-gengival é a linha de sepa-
ração entre a mucosa alveolar e a gengiva aderente.
As paredes laterais, genianas, têm uma porção
central livre, sendo limitadas em cima e em bai-
xo pelos sulcos gengivo-genianos, posteriormente
pela rafe ptérigo-mandibular e anteriormente ten-
do continuidade com a face posterior dos lábios.
São revestidas por mucosa na porção endobucal,
que pode apresentar uma linha de espessamento
irregular com perda de brilho, adquirindo uma to-
nalidade esbranquiçada e baça coincidente com a
linha de oclusão dentária, denominada "linha de
leucoedema". A sua tonicidade é determinada pelo
principal músculo subjacente, o bucinador. No li-
mite posterior forma-se uma dobra na união das
extremidades distais dos processos alveolares su-
periores e inferiores, bilateralmente, onde se loca-
lizam duas áreas triangulares situadas posterior-
mente aos últimos molares, os trígonos retro-mo-
lares. Estes por sua vez têm por cima uma eleva-
ção, a rafe ptérigo-mandibular. É importante a re-
ferência em anatomia clínica da presença entre os
Fig. 18.4: Vista de superfície da cavidade bucal. músculos masséter e o bucinador, do corpo adipo-
so ou bolsa adiposa de Bichat (5).
vidade oral são revestidas por mucosa, que tem ca- A parede superior, consistente à palpação, revesti-
racterísticas distintas nas diversas áreas considera- da por uma mucosa de cor rosa-pálido, rica na par-
das. te posterior em glândulas salivares minor (glân-
Na parede anterior, constituída pelos lábios, a mu- dulas palatinas), firmemente aderente ao periósteo
cosa que reveste a porção endobucal, é habitual- da apófise palatina da maxila, designada por "pala-
mente lisa e avermelhada, podendo em alguns ca- to durd'. Tem a forma de ferradura, delimitada ân-
sos apresentar granulações esbranquiçadas (de tero-lateralmente pela apófise alveolar da maxila.
Fordyce). O bordo aderente dos lábios, na sua por- Na linha média, atrás dos incisivos centrais supe-
ção intra-oral, relaciona-se com a gengiva for- riores, há uma saliência mucosa fusiforme, a papila
mando o sulco gengivo-labial. A mucosa que re- incisiva, que recobre o faramen incisivo. A partir da
veste a face interna dos lábios forma pregas, de- papila incisiva forma-se uma zona procidente, de
vido à presença de feixes de tecido fibroso de lo- bordos estreitos, em forma de crista de orientação
calização subjacente, que se dirigem para as arca- no sentido ântero-posterior, denominada "rafe pa-
das dentárias, formando estruturas denominadas latinà', que se estende em toda a extensão do pa-
"freios", que podem ter importância na concepção lato duro. Do terço anterior da rafe, partem cristas
e funcionalidade das. próteses totais (5). De entre irregulares, que cruzam o palato duro e se dirigem
os freios labiais, destacam-se pela presença cons- lateralmente, formando as rugas ou pregas palati-
tante, os denominados "freios labiais superior e in- nas transversas.
ferior" que se inserem na linha média vestibular, A parede posterior é formada pelo véu palatino
795
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
também chamado "palato mole", de natureza mús- saliências chamadas "papilas linguais", que podem
culo-membranosa, móvel e contráctil, de localiza- ser filiformes, fungiformes, circunvaladas e foliá-
ção mediana. Eleva-se durante a deglutição, sepa- ceas. As papilas filiformes são cónicas, muito nu-
rando a cavidade oral da naso-faringe; em estado merosas e esbranquiçadas, localizadas nos dois ter-
de repouso desce e entra em contacto com o dorso ços anteriores até à ponta da língua, dando o as-
da língua. Tem uma forma quadrilátera, com duas pecto piloso e sendo as únicas papilas que por não
faces e quatro margens. A superfície é constituí- possuírem receptores gustativos, não têm papel na
da pela face bucal, côncava e lisa, mostrando na li- gustação (4). As papilas fungiformes são puncti-
nha média, a rafe fibrosa de continuidade do pala- formes e avermelhadas, sendo em número menor
to duro. Também com este se confunde a margem que as anteriores e ficando mais distanciadas entre
anterior. As margens laterais unem-se à parte in- si. As papilas circunvaladas, delimitam anterior-
ferior das apófises pterigoideias e às paredes late- mente o sulco terminal e apresentam uma papila
rais da faringe. Finalmente a margem inferior tem central que contém o botão gustativo, circundado
na porção mediana, um prolongamento cilíndri- por uma margem saliente ou vai/um; entre ambos
co-cónico, de dimensões variáveis, importante na situa-se um sulco onde abrem os canais de dre-
fonação e deglutição, chamado "úvula''. Da base da nagem de glândulas serosas. As papilas foliáceas,
úvula, constituindo o limite posterior, saem quatro são pequenas, formando pregas e sulcos, dispõem-
pregas mucosas, arciformes, sendo duas anteriores -se paralelamente à porção posterior da margem
e outras duas posteriores, denominados "pilares do da língua. A raiz da língua faz com o dorso um
véu palatino" (palato-glosso e palato-faríngeo, res- ângulo recto e nessa localização a mucosa forma
pectivamente). O arco anterior perde-se na mar- um aspecto marnilonado, formando folículos que
gem lateral da base da língua e o posterior termi- no seu conjunto formam a denominada "amígda-
na na parede lateral da faringe e entre ambos existe la lingual". A união da raiz da língua com o pala-
de cada lado uma depressão pronunciada, de for- to faz-se pelo arco palato-glosso e com a epiglo-
ma triangular, chamada "fossa amigdalina'' em que te pela prega glosso-epiglótica, de localização me-
se aloja um órgão linfóide, a amígdala palatina. diana. De cada lado desta prega existem depres-
A úvula, os pilares e a base da língua circunscre- sões de profundidade variável, que são as valécu-
vem uma abertura denominada "istmo das fauces". las epiglóticas, limitadas lateralmente pelas pre-
Na parede inferior, destaca-se um órgão de for- gas glosso-epiglóticas laterais. Na região sublin-
ma cónica, localizado na linha média, de vértice gual o revestimento é feito por uma mucosa fina,
anterior, grande eixo orientado no sentido ânte- que permite visualizar a estrutura venosa subja-
ro-posterior, muscular e móvel, de coloração ro- cente (veia lingual profunda). Observa-se um sul-
sada, a língua. A restante porção constitui a região co mediano mais profundo e largo que o encon-
sublingual, por se localizar abaixo da face ventral trado no dorso lingual. Do vértice da língua, parte
do referido órgão. A língua tem uma zona de in- em direcção posterior, inserindo-se na linha mé-
serção, de base alargada, denominada "raiz", e uma dia da face ventral do órgão e fixando-se no pa-
outra porção que se projecta na cavidade oral, com vimento, uma prega da mucosa, que condiciona a
revestimento mucoso, o corpo. Dele fazem par- amplitude dos movimentos da língua, denomina-
te o dorso da língua, localizado superiormente e a da "freio lingual". Qyando curto, determina uma
face ventral, inferiormente situada. No dorso ob- anquiloglossia, causadora de dificuldades fonéti-
servam-se dois segmentos, sendo um anterior, oral cas e até de deglutição, obrigando a uma frenec-
e outro de localização posterior ou faríngea, sepa- tomia (secção com alongamento terapêutico). La-
rados por uma zona deprimida, em forma de V teralmente ao sulco mediano podem ver-se zonas
aberto anteriormente, denominada "sulco termi- que fazem procidência, determinada pelos múscu-
nal". No segmento anterior, há também um sulco los geni-glossos. Entre as saliências musculares e
mediano da língua, que vai do ápice do órgão, até as margens laterais da língua, existem depressões
ao foramen cego. A mucosa que recobre esta face designadas por "canais laterais da língua". Ainda
é espessa e rugosa, devido à presença de pequenas de cada lado no pavimento oral, há a emergência
796
r ANATOMIA DE SUPERFÍCIE
directa de vários duetos da glândula sublingual. Os cundantes (mesial, distal, vestibular e palatina ou
bordos da língua são livres e arredondados, rela- lingual) e constituem particularidades, a existên-
cionando-se com as arcadas dentárias. O vértice, cia de uma face oclusal com quatro cúspides nos
ápice ou ponta da língua, é dividido pelo sulco me- molares e apenas uma cúspide nos caninos, obser-
diano, na zona de confluência dos sulcos que per- vando-se um bordo próprio dos incisivos denomi-
correm o dorso e a face inferior da língua. De cada nado "bordo incisal". O arco dentário nesta den-
lado, a mucosa do pavimento, a meia distância en- tição tem um comprimento menor que na den-
tre a língua e face interna do corpo da mandibula, tição permanente e é descontínuo, apresentando
faz procidência tubular, de trajecto irregular, rela- normalmente espaços. São característicos os que
cionado com a porção horizontal do canal da glân- se observam entre os incisivos laterais superiores
dula submandibular (de Wharton), cuja emergên- e os caninos decíduos e também entre os caninos
cia se verifica de cada lado da extremidade ante- decíduos e os primeiros molares decíduos mandi-
rior da inserção do freio no pavimento, em saliên- bulares. São designados "espaços primata" e cons-
cias chamadas "carúnculas sublinguais", local que tituem elementos de avaliação prognóstica favo-
também dá saída ao dueto maior da glândula su- rável a uma disposição harmónica dos dentes em
blingual. Na extremidade anterior do freio pode ambas as arcadas, por se prever a existência futu-
observar-se de cada lado uma prega recortada ir- ra de espaço suficiente para a adequada colocação
regularmente, denominadas "pregas fimbriadas ou dos dentes permanentes. A implantação dos den-
franjeadas". tes decíduos é perpendicular ao rebordo dos ma-
A região gengivo-dentária é composta pelas estru- xilares, tanto na arcada superior como na inferior,
turas homónimas e participa na separação do ves- determinando, quando em oclusão, um plano ho-
nbulo bucal, da cavidade oral propriamente dita. rizontal. Os dentes permanentes são em número
A gengiva resulta da transformação sofrida pela de trinta e dois, distribuindo-se em quatro grupos
mucosa gengival que circunda os dentes, forman- (8 incisivos; 4 caninos; 8 pré-molares e 12 mola-
do a gengiva aderente. Em continuidade, chega li- res). Constituem um arco contínuo, tendo os mo-
vre ao colo dos dentes e chama-se gengiva margi- lares posteriores, uma ligeira inclinação axial para
nal, que aí inflecte procurando a sua inserção. For- distal e vestibular na maxila e para mesial e lin-
ma as papilas interdentárias, de forma triangular, gual na mandíbula. O plano de relação entre as fa-
localizadas entre os dentes. A separar a gengiva ces oclusais, cúspides e bordos incisais dos den-
marginal do colo dentário existe um espaço ane- tes de ambas as arcadas quando em contacto, de-
lar, que em condição saudável é virtual, entre 0,1 nomina-se plano oclusal, que na dentição perma-
mm a 1 mm, o sulco gengival, que contém o líqui- nente forma uma curva de concavidade ântero-su-
do sulcular ou crevicular. perior denominada "curva de Spee", resultante das
Os dentes dispõem-se em forma de arcos, maxi- inclinações axiais dos dentes de ambas as arcadas.
lar e mandibular, formando as arcadas dentárias. A coroa dos dentes incisivos tem quatro faces (ves-
A sua superficie exterior é dura, podendo identifi- tibular, palatina ou lingual, mesial ou distal) e um
car-se uma porção emergente de cor branca, cor- bordo incisal, translúcido. A forma da coroa dos
respondendo à coroa clínica, recoberta de esmalte. dentes incisivos é semelhante em ambas as den-
Esta porção une-se a uma outra contida no alvéolo tições, variando apenas nas proporções e na maior
dentário, revestida de material amorfo e de textura translucidez aparente nos incisivos permanentes. A
irregular, o cimento, através de uma área mais es- configuração coronária dos caninos decíduos dife-
treita denominada "colo''. Os dentes têm tamanhos re da dos permanentes, não só nas dimensões que
variáveis de acordo com características individuais são inferiores, mas também pela maior inclinação
e também o sexo, sendo em regra menores no gé- das vertentes, que determinam uma cúspide mais
nero feminino. A dentição decídua é composta aguda. Os molares decíduos têm uma forma cubói-
por três grupos de dentes (8 incisivos; 4 caninos; de característica que associada a uma coloração
8 molares), prefazendo um total de vinte dentes. mais clara, permite uma identificação fácil na ge-
A coroa de qualquer dente possui quatro faces cir- neralidade das situações. Os pré-molares são den-
797
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
tes permanentes bicúspides que se localizam atrás em regra palpáveis, apesar da localização profunda
dos caninos. Para além das cúspides, alguns dentes da coluna vertebral (6).
possuem pequenas proeminências designadas "tu- A superfície do pescoço é recoberta pela fáscia
bérculos supranumerários", que complementam as cervical superficial, localizada imediatamente sob
estruturas anatómicas normais. Na superficie co- a derme, constituída por tecido conjuntivo. Esta
ronária notam-se interrupções, denominadas por fáscia desdobra-se para envolver o músculo pla-
"sulcos", que podem separar cúspides, tendo ori- tisma. A superficie cervical é caracteristicamen-
gem em depressões oclusais chamadas "fossas" e te dividida pelo músculo esterno-cleido-mastoi-
continuando-se muitas vezes pelas faces livres. deu e pelo feixe vásculo-nervoso do pescoço em
A relação oclusal entre os dentes molares de am- dois espaços, que embora de forma piramidal, se
bas as arcadas, faz-se entre uma cúspide e uma fos- denominam trígonos, sendo um anterior e ou-
sa, sendo que com maior frequência a cúspide me- tro posterior. Cada um deles subdivide-se: o an-
sio-vestibular do primeiro molar permanente su- terior pelo ventre posterior do músculo digástri-
perior relaciona-se com a fossa do correspondente co e pelo ventre superior do músculo omo-hioi-
inferior e com o sulco vestibular marginal, desig- deu, nos trígonos submentoniano, submandibu-
nando-se por oclusão dentária de Classe I de An- lar, carotideo e muscular; o posterior tem como
gle. Qyando se possa verificar uma discrepância de limites, o bordo posterior do músculo esterno-
pelo menos meio dente na relação inter-dentária, -cleido-mastoideu, o bordo superior da clavícu-
caso seja posterior existe uma Classe II e quando la, e o bordo anterior do músculo trapézio, divi-
for no sentido anterior observa-se a presença de dindo-se em dois trígonos menores, pelo ventre
uma Classe III. Na relação molar de dentes de- inferior do músculo omo-hioideu, denominados,
cíduos utiliza-se a classificação de Baume e exis- "trígono occipital" em cima e "trígono orno-cla-
te uma Classe I se o plano das faces distais dos se- vicular" em baixo.
gundos molares permanentes estiver em continui- Entre o bordo inferior da mand.tbula e os ventres
dade. Caso o plano distal do segundo molar de- anterior e posterior do músculo digástrico, situa-
cídua inferior faça um degrau mesial, verifica-se -se de cada lado a glândula submaxilar e imediata-
uma Classe III; se fizer um degrau distal observa- mente por cima, a artéria facial.
-se uma Classe II de Baume. Na linha média da face anterior do pescoço, ob-
serva-se uma reentrância que forma um ângu-
lo com o mento, onde se palpa uma estrutura ós-
PESCOÇO sea arciforme e corniculada, o osso hióide. Infe-
riormente ao osso hióide, pode ver-se a 1 a 2 cen-
O pescoço é uma região situada inferiormente à tímetros, uma zona que faz procidência, denomi-
face. (Fig. 18.SA e 18.SB). As suas estruturas são nada "proeminência laríngea da cartilagem tiroi-
Fig. 1O.SA e B: Regiões topográficas da superfície do pescoço, vistas respectivamente de frente e de perfil.
Trígono anterior: 1. Submentoniano 2. Submandibular 3. Carotídeo 4. Muscular
Trígono posterior. 5. Occipital 6. Omo-davicular
798
ANATOMIA DE SUPERFÍCIE
Fig. 18.6A: Pescoço visto de frente, com órgãos, músculos e estruturas vasculares.
1. Feixe esternal do músculo esterno-cleido-mastoideu 2. Feixe clavicular do músculo esterno-cleido-mastoideu 3. Ventre inferior do músculo
omo-hioideu 4. Bordo anterior do músculo trapézio 5. Osso hióide 6. Cartilagem tiroideia 7. Lobo esquerdo da tiróide 8. Anel da traqueia
9. Artéria carótida comum 10. Veia jugular interna
Fig. 18.68: Vista ântero-lateral direita do pescoço, com órgãos vasos e nervos.
1. Osso hióide 2. Cartilagem tiroideia 3 . Lobo direito da t iróide 4. Bordo anterior do músculo trapézio 5. Crossa da aorta 6. Artéria carótida
primitiva direita 7 . Artéria subclávia direita 8. Veia jugular interna 9. Veia subclávia d ireita 1O. Veia jugular externa 11 . Nervo pneumogástrico
12. Ansa do recorrente laríngeo 13. N ervo acessório (11.º par craniano) 14. Plexo braquial
deia'', mais saliente nos indivíduos do sexo mas- trás destes vasos, o vago. Este feixe vásculo-ner-
culino. Os lobos da tiróide projectam-se na face voso é coberto pelo esterno-cleido-mastoideu du-
anterior do pescoço de cada lado da laringe, con- rante grande parte do seu percurso. A carótida co-
fluindo no istmo inferiormente ao primeiro anel mum pode palpar-se junto ao bordo interno do
da traqueia. Seguem-se os aneis da traqueia, que esterno-cleido-mastoideu, pressionando-a de en-
constituem elementos de referência fundamentais contro às apófises transversas das vértebras cervi-
da base do pescoço. Mais para baixo vê-se uma de- cais. Divide-se ao nível do osso hióide nos seus ra-
pressão supra-esternal (Fig. 18.6A). mos, a carótida interna e a carótida externa.
Externamente à traqueia e à laringe passam a ar- No trígono cervical posterior são referências im -
téria carótida comum, a veia jugular interna e por portantes a veia jugular externa, a artéria subclá-
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
via e a artéria occipital, o nervo acessório e o plexo res e consequentemente da distância inter-pupilar,
cervical e também a porção supra-clavicular dos de que resulta um hipertelorismo. Este fenómeno
troncos do plexo braquial (Fig. 18.6B). é muitas vezes acompanhado da projecção ante-
A face posterior do pescoço (Fig. 18.7), estende- rior ou proptose dos globos oculares, que pode le-
-se desde a linha curva occipital superior à base var a que as pálpebras não recubram totalmente os
do pescoço, sendo o trapézio o músculo mais su- olhos, e por tal não confiram a protecção desejá-
perficial desta região. É também designada por vel, podendo ocorrer ulcerações da córnea, deno-
"nuca" e apresenta estruturas profundas que se minadas "úlceras por lagoftalrnia". O despiste pre-
projectam e são palpadas à superfície, de que é coce do abaulamento craniano em lactentes, com
exemplo o vértice da apófise transversa do atlas, dilatação das fontanelas, pode prevenir complica-
situado 1 centímetro inferiormente e à frente da ções resultantes de bloqueio na drenagem do lí-
apófise mastoideia. A apófise espinhosa da 7.ª quor encefálico e atrofia do parênquima cerebral,
vértebra cervical, é proeminente e também facil- que ocorre em casos de hidrocefalia. A fontane-
mente identificável. la anterior é um local de eleição para cateterização
venosa em casos de dificuldade de canalização ve-
nosa periférica em lactentes. A observação da su-
perfície da cavidade oral logo à nascença, permi-
te a detecção de malformações como as fendas la-
biais e ou palatinas, que podem colocar problemas,
desde os de sobrevida (respiratórios e alimentares),
e também mais tarde fonéticos, estéticos e de inte-
gração social, cuja intervenção faseada multidisci-
plinar importa equacionar (Fig. 18.8).
A superficie do crânio e da face, nomeadamente Fig. 18.8: Fenda labial, não corrigida.
o seu contorno, reflectem o padrão de desenvol-
vimento, podendo ter uma forma alongada (doli- Os traumatismos faciais são hoje cada vez mais
cocéfala), arredondada (braquicéfala), ou uma for- frequentes, devido ao aumento da mobilidade das
ma intermédia (mesocéfala). Há influência de fac- populações e resultam em grande número de si-
tores genéticos e do meio, determinantes ou con- tuações, em deformidades do contorno superficial,
dicionantes do desenvolvimento. Nas craniosinos- seja pelo afundamento determinado por uma frac-
toses, a fusão precoce das suturas pode determinar tura da calote craniana ou pelas assimetrias obser-
deformidade da calote craniana com procidência vadas nas fracturas dos ossos da face (Fig. 18.9).
das zonas de união. Em alguns casos pode haver Nas fracturas do terço inferior da face e no caso
afastamento das cavidades orbitárias, determinan- particular das fracturas da mandtbula, são fre-
do o aumento da distância entre os globos ocula- quentes os desvios resultantes da acção dos mús-
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ANATOMIA D E SUPERFÍCIE
ABDÓMEN
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r=
ANATOMIA DE SUPERFÍCIE
ia-e ig-c: g -1
:sinsodso~
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Fig. 18.15: Cíngulo do membro superior, região braquial anterior e região cubrtal anterior.
1. Clavícula 2. Processo coracóide da escápula 3. Úmero 4. Epicôndilo medial 5. Epicôndilo lateral 6. Rádio 7. Ulna 8. Bicípete braquial
9. Braquial 10. Aponevrose bicipital
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ANATOMIA DE SUPERFÍCIE
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MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
Notam-se as veias superficiais. A veia mediana an- REGIÕES POSTERIORES DO BRAÇO E CUBI-
tebraquial divide- se nas veias intermédia cefálica, TAL POSTERIOR
(que ao unir-se à veia cefálica acessória constitui
a veia cefálica) e intermédia basílica, que se une à O músculo tricípete braquial forma o relevo da re-
veia intermédia antebraquial, formando a veia ba- gião posterior do braço (Fig. 18.17). Nota-se ain-
sílica. da o pequeno relevo do músculo ancóneo.
Na região posterior do cotovelo são visíveis o ole-
crânio da ulna e o epicôndilo medial, sendo o epi-
côndilo lateral apenas palpável.
Qyando a articulação do cotovelo está em exten-
são as 3 saliências ósseas estão na mesma linha reta.
Qyando em flexão, formam um triângulo no qual
o olecrânio é o vértice inferior. O bordo posterior
da ulna é sub-cutâneo em toda a sua extensão.
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ANATOMIA DE SUPERFÍCIE
Destacam-se os tendões dos músculos bráquio-ra- Na base do quinto dedo situa-se a eminência hi-
dial, flexor radial do carpo, palmar longo e flexor potenar, formada pelos músculos do 5.0 dedo: ab-
ulnar do carpo. dutor, flexor curto e oponente.
A artéria radial é facilmente palpável sobre a ex- Entre ambas situa-se a fossa da palma da mão.
tremidade inferior do rádio, por fora do flexor ra- A pele desta região não tem pelos. Na palma,
dial do carpo. apresenta pregas de flexão, as "linhas da mão",
que têm grandes variações individuais e no mes-
NOÇÕES DE ANATOMIA CLÍNICA mo indivíduo podem apresentar assimetrias en-
tre a mão direita e a esquerda. A pele dos dedos
Este é o local que habitualmente se escolhe para, apresenta o sulco digito-palmar na base dos de-
durante o exame físico do doente, avaliar o pulso: dos e sulcos ao nível das articulações interfalân-
frequência, caraterísticas. gicas.
O nervo mediano passa sob o músculo palmar A disposição das papilas da derme tem na pele
longo, estando, assim, protegido pelo músculo na que reveste a polpa dos dedos uma distribuição
eventualidade de feridas incisas na região anterior particular, formando padrões caraterísticos e in-
do punho. [1] dividualizados, os quais permitem identificar o
A artéria e o nervo ulnares passam lateralmente indivíduo: as impressões digitais.
em relação ao tendão do músculo flexor ulnar do
carpo, mas, como são parcialmente cobertas pelos FACES POSTERIORES DO PUNHO E DA MÃO
músculos da eminência hipotenar, não são facil-
mente palpáveis. Além dos processos estilóides da ulna e do rádio,
O retináculo dos flexores é uma banda fibrosa re- notam-se os processos estilóides dos 2.0 e 5.0 me-
tangular situada entre o pisiforme e o hâmulo (pro- tacarpais.
cesso em forma de gancho) do osso hamato, me- Os tendões do extensor comum dos dedos são
dialmente, e o escafóide e o trapézio, lateralmente. mantidos junto à face posterior do rádio por uma
Os tendões dos flexores comuns profundo e su- bainha fibrosa, o retináculo dos extensores, que se
perficial dos dedos, o tendão do longo flexor do estende desde a face lateral da extremidade distal
polegar e o nervo mediano passam no túnel cárpi- do rádio até ao bordo medial do carpo.
co formado entre o retináculo e o carpo. O tendão do extensor próprio do 5.0 dedo passa
por fora do tendão do extensor comum para aque-
NOÇÕES DE ANATOMIA CLÍNICA le dedo.
O tendão do extensor próprio do indicador pas-
Um aumento de pressão no canal cárpico pode sa internamente em relação ao tendão do extensor
causar compressão do nervo mediano, produzindo comum para o 1.0 dedo.
dor e parestesias na parte lateral da mão, consti- A tabaqueira anatómica é uma depressão situada
tuindo o síndrome do túnel cárpico. Uma das cau- na região lateral do punho, que se acentua ao fazer
sas é o uso do teclado com os punhos em exten- a extensão do polegar. Situa-se entre os tendões
são; o punho deve estar numa posição intermédia abdutor longo e extensor curto do polegar e o ten-
ou em ligeira flexão, numa postura descrita como dão do extensor longo do polegar.
"mão de pianista". No fundo da tabaqueira anatómica passam os ten-
Na região palmar da mão notamos os relevos ós- dões dos músculos extensor radial curto do carpo
seos do tubérculo do escafóide, pisiforme, tubér- e extensor radial longo do carpo, a artéria radial, o
culo do trapézio, hâmulo do hamato e cabeças dos nervo radial e a veia basílica.
metacarpais. As veias superficiais são muito aparentes.
A massa muscular situada na base do polegar é a A pele que reveste a face dorsal da mão tem pe-
eminência tenar. É constituída pelas massas mus- los e é móvel em relação aos planos mais profun-
culares dos músculos do polegar: abdutor curto, dos. As unhas estão ligadas à pele circundante pela
flexor curto, oponente e adutor. cutícula (eponíquio).
811
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
PERGUNTAS TIPO
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ANATOMIA DE SUPERFÍCIE
MEMBRO INFERIOR
ANCA
Consideramos na anca três regiões: região anterior
ou inguino-femural, que será descrita em conjun-
to com a região anterior da coxa e à qual já foi fei-
ta referência na região abdominal; região posterior,
ou glútea; região medial, ou obturadora, que não é
superficial. [4]
REGIÃO GLÚTEA 5
813
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
identificar o reto femoral, o vasto lateral, o vasto dos superiores do losango poplíteo. Os dois lados
medial, o tendão do músculo quadricípete e o li- inferiores do losango são constituídos pelas por-
gamento da patela (Fig. 18.19). ções lateral e medial do músculo gastrocnémio
A patela, os côndilos do fémur e a extremidade su- que se inserem nos côndilos do fémur e conver-
perior da tíbia - destacando-se a tuberosidade da gem para o tendão de Aquiles (Fig. 18.20).
tíbia3, o tendão do quadricípete e o tendão pate-
lar - são responsáveis pela morfologia da região
genicular anterior. O trato ilio-tibial ou de Mais-
siat, que resulta da fusão na face lateral da coxa das 3
fáscias lata e glútea e se insere na cabeça da fibu-
la, tem um prolongamento anterior. Este, oblíquo
para baixo e para dentro, envia algumas fibras para 2
a parte lateral da patela e outras para a aponevro-
se femoral da zona justa-patelar medial. O múscu-
lo tensor da fáscia lata e o ligamento ilio-tibial tra-
çam na face lateral da coxa uma linha vertical, en-
tre a espinha ilíaca ântero-superior e a cabeça da
fibula, que separa a massa do quadrícipete do mús-
culo bicípete femoral.
Os vasos femorais passam num hiato do múscu-
lo adutor magno situado junto ao fémur e cerca de
10cm acima do joelho, passando a denominar-se
vasos poplíteos.
Na região posterior da coxa vemos, na zona me- Fig. 18.20: Região posterior de coxa: ossos e músculos.
1. Ísquio 2. Fémur 3. Trocânter maior 4. Côndilo medial 5. Côn-
dial, o relevo da veia safena magna.
dilo lateral 6. Glúteo médio 7. Glúteo máximo 8. Bicípete femoral
A massa muscular de região posterior da coxa é 9. Semitendinoso 10. Semimembranoso 11. Grácil
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ANATOMIA DE SUPERFÍCIE
Lateralmente à nbia situam-se os músculos do sal. Na parte lateral, vemos os relevos da cabeça
grupo anterior da perna (Fig. 18.21). A partir do do tálus, do processo maior do calcâneo e da tu-
maléolo medial e de dentro para fora, o tendão do berosidade do quinto metatarsal.
tibial anterior é o primeiro que encontramos no Os tendões dos músculos, tibial anterior, extensor
tornozelo; é também o mais volumoso. Seguem-se longo do hálux e extensor longo dos dedos esten-
os tendões dos músculos extensor do hálux, exten- dem-se pela face dorsal do pé e são bem visíveis
sor comum dos dedos e fibular terceiro. na dorsifl.exão do pé.
815
MANUAL DE ANATOMIA HUMANA
PERGUNTAS TIPO
Fig. 18.22: Face posterior da perna: ossos e músculos.
1. Tíbia 2. Fíbula 3. Tálus 4. Calcâneo 5. Gastrocnémio: porção
medial 6. Gastrocnémio: porção lateral 7. Solhar 8. Tendão do
1. Escolha a resposta correta. Consideremos a
calcâneo ou de Aquiles região glútea dividida em 4 quadrantes. Uma
injeção intramuscular deve ser aplicada:
NOÇÕES DE ANATOMIA CLÍNICA a. No quadrante súpero-externo.
b. No quadrante súpero-interno.
O nervo tibial posterior e a artéria tibial poste- c. No quadrante ínfero-externo.
rior, que é lateral em relação ao nervo, passam por d. No quadrante ínfero-interno.
trás do maléolo medial, onde o pulso da artéria é e. Em qualquer um dos quadrantes.
palpável.
2. Escolha a resposta correta. Sob o ligamento
REGIÃO PLANTAR DO PÉ inguinal passa o nervo femoral e os vasos ilía-
cos que passam a denominar-se femorais. De
Na região plantar do pé notamos as saliências ós- lateral para medial a ordem é:
seas do maléolo medial da tfbia, da tuberosidade a. Nervo, artéria, veia.
do calcâneo, do sustentáculo do tálus, da tubero- b. Artéria, veia, nervo.
sidade do navicular e das tuberosidades dos 1.0 e c. Veia, nervo, artéria.
5.0 metatarsais. d. Nervo, veia, artéria.
O plano muscular mais superficial é formado pe- e. Veia, artéria, nervo.
los músculos abdutor do hálux, flexor curto dos
dedos, flexor curto do 5. 0 dedo e abdutor do 5.0 3. Escolha a resposta correta. Na face anterior
dedo. da perna a artéria tibial anterior passa entre
A planta do pé não é plana, podendo ser compa- os tendões dos músculos:
rada a uma abóbada formada, no sentido longitu- a. Tibial anterior e extensor longo dos dedos.
dinal ou ântero-posterior, por uma sucessão de ar- b. Extensor longo dos dedos e fibular terceiro.
cadas em que a medial tem um raio de curvatura c. Fibular terceiro e extensor do hálux.
menor que a lateral. A arcada medial é composta d. Extensor do hálux e extensor longo dos
pelos ossos, calcâneo, tálus, navicular, cuneiformes, dedos.
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ANATOMIA DE SUPERFÍCIE
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LISTA DE ACRÓNIMOS E ABREVIATURAS DE INSTITUIÇÕES
EM/UMinho
Escola de Medicina - Universidade do Minho
FBAUL
Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa
FCM/UNL
Faculdade Ciências Médicas - Universidade Nova de Lisboa
FFUL
Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa
FMUC
Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra
FMUL
Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa
FMUP
Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
FCV/UMa
Faculdade de Ciências da Vida - Universidade da Madeira
ICBAS/UP
Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar - Universidade do Porto
IUEM
Instituto Universitário Egaz Moniz