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DOS SONHOS
ITPH 12013
T Interpretação dos sonhos: Ana de Lima Camargo...&
outros [ et. al ]. – Santa Maria: Ed. ITPOH, 2013 – 492p. 21
cm
Produção gráfica:
Jeferson Luis Zaremski
Impressão:
Inov9 – Gráfica e Editora – Santa Maria – RS
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APRESENTAÇÃO
3
Entre os diversos tipos de sonhos, podemos
inclusive classificá-los conforme o seu conteúdo, como
exemplo, os sonhos existenciais, fisiológicos, os ligados
à realização de desejos, os religiosos ou místicos, os
sonhos eróticos, os de angustia, premonitórios ou ainda
os sonhos ligados à resolução de problemas.
Quando analisamos a linguagem dos sonhos
durante o processo analítico estamos aumentando
consideravelmente o nível de compreensão psíquica,
uma vez que ganhamos em autoconhecimento e com
isto um aumento da nossa maturidade emocional.
Porém é importante ressaltar que este trabalho
deve ser construído a partir do vínculo terapêutico pois
os sonhos, assim como todos os símbolos contam com
uma linguagem universal e outra linguagem totalmente
individual, o que cai por terra a utilização de dicionários
ou manuais de interpretações que possuem a forte
tendência a generalizar alguns símbolos. Cada sonho diz
respeito exclusivo àquele que sonha. Contando com o
auxílio do analista, é possível aprofundar conteúdos
importantes a serem revelados e que estão disponíveis
para virem à tona no curso da análise pessoal.
Profa. Dra. Carla Cristine Mello Froner
4
SE APAGA?
5
ORGANIZADORES
AUTORES
Prefácio................................................................................... 11
Dr. Salézio Plácido Pereira
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7.A importância da teoria humanista existencial psicanalítica e
a linguagem corporal dos sonhos...........................................297
Maria Izabel Burin Cocco
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PREFÁCIO
11
Estes futuros analistas deram o melhor de si mesmo e
realizaram este projeto graças a força de vontade e
determinação de pessoas que estão comprometidas com a
qualidade da formação profissional na psicanalise. Não
obstante esta obra teve o cuidado para tornar-se um texto
didático seguindo uma metodologia de fácil compreensão para
o publico que não tem acesso a este tipo de conhecimento.
Estes artigos se basearam em escritores psicanalistas que
procuraram determinar e esclarecer o método de interpretação
dos sonhos. Este livro serve de subsidio para os futuros
analistas ou de pessoas interessadas em conhecer os conceitos e
métodos utilizados na psicanalise para interpretar os sonhos.
Os títulos seguiram os desejos de seus autores, por isto mesmo
comtempla na essência deste escrito, uma originalidade e
criatividade que enaltece ainda mais esta pesquisa sobre a
interpretação dos sonhos.
Gostaria que este livro publicado pelo Instituto de
Psicanálise Humanista tivesse uma menção especial de
agradecimento a estes analistas em formação que não mediram
esforço e dedicação para que este sonho fosse realizado. Sem
duvida esta contribuição teórica destes futuros analistas ajudará
e muito o aperfeiçoamento da utilização da teoria e técnica
utilizados na clinica analítica humanista sobre como interpretar
os sonhos.
Este foi um sonho realizado em conjunto de tornar
acessível este método da interpretação dos sonhos, organizados
em artigos para facilitar de forma legível e simples este método
fundamental da clinica psicanalítica. Quero enfatizar que todos
voluntariamente não se esquivaram deste importante projeto,
indiretamente todos ajudarão com a riqueza deste material de
pesquisa a esclarecer com mais profundidade como interpretar
os símbolos e imagens através dos sonhos.
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1. GENERALIDADES
2. CONCEITOS BÁSICOS
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quais os registros eletroencefalográficos se
aproximam dos que caracterizam o estado
de vigília; o sonho é equivalente, em nível
psicológico, ao chamado sono rápido,
produzindo-se em concomitância com os
movimentos oculares observados durante o
sono. Representa, ainda, um encadeamento
tematizado de imagens visuais expressivo
de pressões motivacionais em atuação no
sujeito. (HEBB, p. 10588, verbete
“sonho”).
20
existência apresenta ao ser humano.
(PEREIRA, 2007-a, contracapa).
21
Nesse terreno e sob a ótica de nossos enfoques, no
concernente aos estados depressivos, capazes de dar origem à
hipersônia, a avaliação psicanalítica
22
Já na passagem do sono à vigília, podem ocorrer
processos particularmente tumultuados, como o da cataplexia,
onde ocorre algo como uma paralisia completa, a pessoa
desperta, recobra a consciência, mas não consegue realizar
nenhum movimento; outra situação singular que pode ocorrer é
quando o sujeito, ao acordar, não consegue situar-se
adequadamente no tempo e nem no espaço.
Há também singularidades nos processos de conciliar o
sono e o de acordar:
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3. PESQUISAS HISTÓRICAS
24
A propósito: se entendermos saúde como um estado de
bem estar físico, mental e social, implicando isso em estar o
indivíduo bem consigo mesmo, com o outro e com o meio onde
vive, mas também sabendo aceitar limitações, sofrimentos e
fracassos, estaremos muito próximos de também definirmos o
que seja felicidade, a eterna busca do homem na vida.
Associada essa realidade com a herança
ontofilogenética que faz do homem um incansável pesquisador,
que traz nas profundezas do inconsciente, reinos misteriosos.
Podemos verificar que o ser humano, desejoso de saúde e de
felicidade, pode encontrar nos sonhos, devidamente
interpretados, “um guia que auxilie a vencer dificuldades,
mesmo quando abandonadas por serem julgadas
intransponíveis”. (idem, ibidem).
Era uma crença do homem primitivo a de que sua alma
se destacava do corpo durante o sonho; a convicção da
realidade do que se experimenta no sonho era tão forte, que
nossos antepassados acreditavam nos sonhos mais até do que
na própria percepção: se, por exemplo, um índio americano
viesse a sonhar ser dono da terra de alguém, isso era tão
definitivo que o dono do imóvel, confrontado com tal sonho,
era capaz de pura e simplesmente fazer a entrega do bem, não
apenas aceitando, mas confirmando o material do sonho.
Eram crenças muito sólidas; se um indivíduo viesse a
ser acusado, em sonho alheio, da prática de ato ilícito, era certo
que acataria a responsabilidade pelo que outrem sonhara. Era
admitida a culpa e recebido o castigo sem maior contestação.
Entre esse período primitivo e o chamado clássico, pode
ser denominado médio aquele período como o do sonho do
faraó com as sete vacas gordas sendo devoradas por sete vacas
magras, o que foi interpretado por José como o anúncio de sete
anos de fartura seguidos por sete anos de fome. Como
prevenção foram construídos celeiros e armazenado trigo
durante os anos de fartura, e José foi alçado a posição de
25
grande relevo no país, era uma etapa em que os sonhos eram
considerados proféticos e premonitórios.
Já nos tempos clássicos, os sonhos eram o meio pelo
qual os deuses transmitiam suas mensagens aos homens; assim,
na Odisséia, quando Tróia estava sendo atacada pela peste,
Aquiles sugeriu que se procurasse uma orientação por meio dos
sonhos, porque esses viriam de Zeus.
Nos tempos modernos, muitas são as teorias, algumas
meramente populares, outras bizarras, outras realmente
científicas – embora estas, ente si, apresentem divergências
interpretativas.
Iniciemos pelas chamadas teorias populares.
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Ora, hoje sabemos, os sonhos revelam o trabalho de
nosso subconsciente, de modo que intuitiva ou
inconscientemente, poderíamos afirmar, há mesmo alguma
possível previsibilidade numa provável capacidade
premonitória em nossas atividades oníricas, como por exemplo,
antecipando atitudes desonestas de pessoa reputada idônea,
mas a respeito de quem tenhamos, inconscientemente e por
intuição, um suposto de inidoneidade. O sonho, assim, poderá
dar-nos a compreensão do caráter alheio, sinalizando uma
percepção inconsciente de coisas que depois acabem sendo
confirmadas e se concretizem.
De modo análogo, os sonhos podem também adquirir
natureza profética em relação a nós mesmos; figurativamente,
uma pessoa próspera e autossuficiente chega a um estado de
falência econômica, e relata ter sonhado com a hipótese antes
da derrocada, atribuindo isso a fantasias irrealizáveis, e então
não dando importância ao conteúdo sonhado.
Pode-se admitir o caráter admonitório do sonho, onde
seu inconsciente a estaria alertando sobre fraquezas pessoais
capazes de levá-la ao insucesso, como uma desmedida e
intuitivamente sem fundamento e com excessiva confiança em
suas próprias potencialidades no enfrentamento e gestão de
crises; o sonho, produto de seu trabalho subconsciente,
revelava sua verdadeira natureza, onde a confiança excessiva
seria defesa contra o sentido de inferioridade e a busca de
compensações afinal excessivas.
O sonho, em tal hipótese, seria premonitório como uma
advertência no sentido psíquico, mas não objetivo, ao sinalizar
o desastre.
29
3.5 Sonhos criativos
31
3.6 Os filósofos, os primeiros psicólogos, os analistas
32
4. SONHOS E REALIZAÇÃO DE DESEJOS
35
indivíduo que sonhou, o incidente estaria
lembrando algo pessoal e de certa
importância. (HADFIELD, 1959, p. 29).
36
4.2 Adler: o impulso de dominar
38
Outra forma adotada pelos arquétipos é a da “persona”,
problema comum e causa frequente de neurose, que surge
constantemente nos sonhos e traduz o conflito entre o
verdadeiro “eu” a as máscaras que muitas vezes somos
obrigados a colocar como disfarce de nossa verdadeira
personalidade, para convivermos em nosso meio social. Assim
tentamos ocultar o medo, a indiferença, o ódio ou o desprezo.
Arquétipos bastante significativos são a “anima” – que
nos sonhos do homem aparece em forma feminina, e o
“animus” – que nos sonhos da mulher é representado como
homem.
Todo ser humano tem características masculinas e
femininas, tanto física quanto fisiologicamente. Homens
podem ter o rosto liso, delicado; mulheres podem ter buço, ser
masculinizadas e mandonas.
No indivíduo onde predominam as características do
“macho”, a ”fêmea” tende a ser suprimida no nível da
consciência, e vem aparecer nos sonhos representada pela
“anima”, como arquétipo; do mesmo modo na mulher cujas
características masculinas rudimentares sejam suprimidas
(também no nível da consciência), o “macho” então latente se
expressa pelo arquétipo do “animus”.
Como arquétipos, para Jung a “anima” e o “animus”
são a personificação das funções inferiores, que ligam o “ser”
ao inconsciente coletivo como um todo.
Segundo o psiquismo junguiano, essas funções quando
suprimidas acarretam que a personalidade fique incompleta,
pois as características femininas ou “anima”, no homem,
seriam necessárias ao complemento de sua personalidade,
enquanto o elemento masculino ou “animus” seria igualmente
necessário ao completo desenvolvimento na mulher.
Quando presentes nos sonhos estarão representando a
necessidade de complementos para o cumprimento de nossa
finalidade na vida.
39
Assim, enquanto para Freud o sonho da mulher com um
homem (e vice versa) refere-se apenas a desejos sexuais, para
Jung, indo além, sinaliza a representação, por arquétipo, de
uma parte não desenvolvida de nossa personalidade, parte
necessária ao cumprimento de nossa finalidade na vida,
consistindo esse material um valioso elemento do sonho, por
nos trazer um conhecimento indispensável a nossa realização
pessoal.
Todos nós, pela potencialidade do inconsciente
coletivo, trazemos uma carga do que se poderia chamar uma
“sabedoria antiga”, que pode agir como guia nas questões da
vida, indo além do popular “bom senso”. Pode aparecer isso
nos sonhos mediante o arquétipo do velho sábio, do patriarca,
do pai, indicando aí a presença de uma intuição que pode ser
superior à razão, como orientadora de nossos atos.
Profundamente enraizados no inconsciente coletivo, são
arquétipos que não encontram forma adequada para serem
expressados na linguagem da razão, e que por isso podem
adquirir formas nas histórias de fadas, nos mitos e nos sonhos.
Podem encontrar expressão também na música e nas artes.
Os sonhos nos revelam forças primitivas que jazem no
inconsciente, forças que precisam de manifestação para que
cumpram sua função e se integrem a nossa personalidade.
Pela representação e através dos arquétipos, exprimem
o que se acha reprimido e sufocado em nossa vida, deixando
claros nossos desejos, carências e necessidades.
Para Jung, os sonhos têm um significado teleológico,
apontando para onde nos conduz o espírito de nosso
inconsciente, mostrando o caminho a percorrer.
Os sonhos, portanto, merecem ser interpretados:
40
desenvolvimento da pessoa [...] Jung
entende que os sonhos possuem uma
função compensatória, em que se
equilibram as funções conscientes e
inconscientes [...] os sonhos acontecem a
partir de uma mitologia personalizada,
onde o sonho é o teatro, enquanto o
sonhador é o ator, a cena, o diretor, o autor
e o público que assiste. Essa mitologia
personalizada acontece porque o nosso
inconsciente estaria sempre produzindo
símbolos, mesmo sem a percepção de nossa
consciência [...] Jung considerava os
sonhos como sendo a auto-representação
espontânea e simbólica da situação atual do
inconsciente, além disso, os sonhos
também revelariam as nossas aspirações
mais profundas. (KEPPE, pp. 2006, 34-35).
43
4.5 A teoria da Psicanálise Humanista
44
raciocinar, tornando-se então o homem capaz de desempenhar
um papel ativo em seu próprio destino.
Nesse contexto – aqui sintetizado para a compreensão
orgânica deste sistema teórico – “Fromm acreditava nas
reminiscências dos arquétipos dos antepassados, porque esta
experiência do passado ontogenético confirma o processo
humanista” (PEREIRA, 2009, p. 173) e, no que se refere ao
entendimento dos sonhos, “os símbolos da luz e da escuridão
tem uma intenção de mostrar os descaminhos da energia
emocional, apontar os desconfortos, as tensões nervosas, os
sintomas”. (ibidem, p. 179).
Portanto, em se tratando de Psicanálise Humanista, a
compreensão deve ser a de que:
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A função dos sonhos é reproduzir
experiências não solucionadas na vida,
trabalhando para solucionar tais problemas
[...] ela se baseia em outras, populares e
científicas, mas dá aos sonhos um
significado biológico mais importante que
o das demais.
48
Retornando ao olhar da psicanálise humanista, acerca
das emoções e dos sonhos:
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6. PESADELOS
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desenvolvimento de angústia e medo, pela concomitante
atuação das pulsões de autoconservação, que Freud também
chamava pulsões do ego ou interesses do ego, porque “antes de
qualquer outra coisa, atingem exclusiva e diretamente a
sobrevivência do ego”. (ZIMERMAN, 2009, p. 44). E visam
fundamentalmente assegurar a vida, - e que foram por Freud
englobadas com as pulsões sexuais - sob o nome comum de
pulsão de vida.
Havendo então uma evidente dualidade entre a
demanda do desejo e o processo de angústia desencadeado pela
percepção de que a satisfação do desejo ofenderia interesses do
ego, estaria sendo configurada situação eficaz para criar
sensações conflituosas irresolvidas, capazes de suscitar a
ocorrência de pesadelos.
Aspecto inerente ao fisiologismo é que o sono tem
como origem e característica a satisfação de trazer um estado
de repouso a nosso organismo como um todo, isto é, os
indivíduos dormem para ter um alento em face aos problemas
do estado de vigília, numa espécie de fuga do estresse sofrido
enquanto despertos e em atividade, ao passo que nos pesadelos
as pessoas acordam exatamente para fugir aos problemas não
resolvidos no período de sono e aos terrores enfrentados
durante o intentado descanso.
Ernest Jones, referido por Hadfield, sustenta nos
pesadelos a ocorrência de
51
Há traços diferenciais bem marcantes entre um sonho
comum e um pesadelo ou outro sonho angustiante:
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Em tais casos, a figura monstruosa, assustadora,
consiste ela mesma a projeção e a imagem dos próprios
sentimentos represados; são impressões tão fortes que delas
também ocorrem perturbações fisiológicas, palpitações,
paralisia etc., consistindo forças espontâneas, ativas e potentes,
capaz de dominar a pessoa fazendo-a sentir medo. Indivíduo
sem fase infantil não tem sobre elas o mesmo domínio de que é
capaz um adulto e por isso, em crianças, ocorre que tais
sensações são capazes de surgir então como forças
esmagadoras, por vezes destruidoras.
Constituem experiências desagradáveis rejeitadas e
consideradas importunas, e, pela recusa do ser em acolhê-las
como suas, acabam reprimidas, consideradas externas,
separadas do ‘self’.
Uma última categoria é a dos pesadelos que objetivam a
sensação de distúrbios orgânicos e emoções, que parecem vir
da projeção de sensações orgânicas, envolvendo energias
organísmicas direcionadas a produzir mecanismos repressores
de paixões e impulsos – até mesmo autodestrutivos ou
masoquistas – podendo abranger sensações de erro, angústia e
culpas.
São tais pesadelos, considerados ligados de modo muito
prático com a vida do dia a dia, tendo afinidades com a geração
de neuroses ao reproduzirem experiências diárias, mas com
emoções mais vivas e mais intensas que as da vivência real
reproduzida, muitas vezes até exagerando na veemência das
emoções revolvidas, o que se explicaria pelo fato de ficarem
temporariamente inativas nossas inibições durante o sono,
situação que pode transformar temores diurnos em terrores
noturnos.
57
6.2 Sonhos, pesadelos e neuroses
60
nossos atos na existência, motivações que muitas vezes se
escondem soterradas por traumas e repressões, tudo encoberto
por neuroses cujas defesas é preciso desbravar e vencer,
trabalhando os sintomas.
61
entendê-la, e não o de interpretá-la, como
seria o caso de um código secreto
elaborado artificialmente. Creio ser essa
compreensão importante para toda pessoa
que queira pôr-se em contato consigo
mesma, e não exclusivamente para o
psicoterapeuta que deseje curar distúrbios
mentais. (FROMM, 1966, p. 7).
63
identificação, clarificação e solução de problemas. São
considerados bastante úteis pelos psicanalistas.
Ideia sem fundamento na prática psicoterápica, contudo,
seria a de que um sonho ou pesadelo possa ser interpretado de
maneira exaustiva, isto é, completa e precisa, sem margem a
nenhuma elasticidade ou variação, sem nenhuma variante de
explicação.
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Sempre segundo a teoria freudiana (sonhos como
expressão de desejos), em havendo, a sobre determinação por
sua feita pode proporcionar a sobre-interpretação:
66
A fantasia precisa das duas instâncias, a
emoção e a reflexão, ambas tem a mesma
origem, precisam distorcer a realidade para
viver aquela instância de prazer. Quem
possui dificuldade de encontrar a satisfação
na prática do cotidiano, busca na
compensação um meio de remediar sua
necessidade. Toda e qualquer atitude tem
como finalidade realizar algum tipo de
desejo, independente de ser consciente ou
inconsciente, e quando o bloqueio é
insuperável, procura na fantasia o
substituto daquilo que não é possível viver
na realidade. (ibidem, p. 61).
67
contribuindo como instrumento educativo direcionado a uma
vivência mais saudável, prazerosa, amorosa e produtiva na
direção de encontrar a felicidade.
Buscando o ensinamento da experiência na clínica da
terapia analítica, podemos nesse campo encontrar registros
bastante didáticos, como por exemplo:
7. CONCLUSÕES
70
Tudo isso, concluímos, é conexo com a temática
relacionada ao estudo dos sonhos, porque foi exatamente com o
nascimento da ciência da Psicanálise que também o tema
relativo aos estudos sobre os sonhos e sua interpretação por
igual saiu do terreno da indagação ou mera especulação e da
observação empírica, e do misticismo, para afinal adquirir os
reconhecidos contornos de uma metodologia sabidamente
capaz de – agora com foros de apurada técnica e arte primorosa
– desvelar o sentido oculto e o significado de nossas
divagações oníricas, constituindo valioso instrumento para a
compreensão dos enigmas e dos fenômenos do homem.
Pelo valor que sempre lhes foi reconhecido, mesmo em
sua evolução ao longo dos períodos de obscuridade,
despertando tantas indagações e variantes interpretativas como
as anotadas ao longo deste trabalho é que os sonhos,
desafiando a capacidade humana de entendimento, afinal
convergiram para o âmbito da verdadeira cientificidade,
caminhando, com a evolução enfim experimentada pela
Psicanálise, na direção – mesmo – de consolidar a teoria e
integrar os métodos da atuação analítica de que, pode-se dizer
com segurança, a interpretação dos sonhos é um capítulo
paradigmático.
Perante todos esses fundamentos em que veio assentado
o presente ensaio, podemos concluir que na área das expressões
oníricas e sua interpretação (hoje de base científica) – como de
resto em todas as demais esferas do conhecimento – o homem
da atualidade já não pensa como seu ancestral da antiguidade,
motivado como historicamente foi sendo ao longo dos séculos
a evoluir de modo permanente, muitas vezes até mesmo
confrontando e superando crenças, tabus, leis e regras de índole
social ou moral, instigando os estudiosos e pesquisadores à
busca e ao desbravamento do saber em suas mais variadas
modalidades, em moldes segundo os quais o ser humano – no
exercício de seus potenciais e criatividade – persiga objetivos,
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e obtenha suprir seus anseios de exercer em toda plenitude as
condições de sua humanidade.
Por idênticas razões, podemos também concluir pela
essencialidade da psicoterapia analítica como ferramenta para o
efetivo encontro do homem com seus reais objetivos perante
realidades existenciais, para que enfim consiga romper as
barreiras de seus traumas, de suas frustrações e repressões,
identificando sintomas e então podendo utilizar o
autoconhecimento para com ele vivenciar a realidade do amor e
da integração com o outro, atendendo a suas necessidades
básicas e tornando concreto e efetivo o encontro da felicidade,
a verdadeira meta do ser humano na existência.
Ciência que guarda em si tamanha significação para a
qualidade da vida humana, transcendendo para muito além dos
aspectos ligados ao corpo físico ou atinentes a questões
orgânicas, detendo-se ao revés no aprimoramento cognitivo do
ser, no trabalho de suas emoções em busca de atingir sempre
maior produtividade e aprimoramento de potencialidades, a
Psicanálise em verdade, acima de continuar ocupando espaço e
reconhecimento no âmbito da saúde pública, haverá de ainda
apossar-se de merecido relevo e elevado destaque na esfera das
ciências ligadas à educação e à cultura, no seio de uma
sociedade cada vez mais competitiva, afastada dos padrões da
natureza e de conseguinte, cada vez mais estigmatizada pelas
angústias e pelas neuroses.
O método propositivo à realização deste ensaio prevê a
inserção dele num mais amplo conjunto de estudos
desenvolvidos sobre a mesma temática dos sonhos, prendendo-
se este a uma introdução apenas, realizada tanto quanto
possível com desejável abrangência, mas sem perder de vista a
economia no desenvolvimento da matéria, como afinal foi o
objetivo aqui visado.
72
BIBLIOGRAFIA
74
YALOM, IRVIN D. Os Desafios da Terapia. Tradução Vera
de Paula Assis, 1a. ed. Rio de Janeiro: Ediouro Publicações S.
A., 2006.
75
COMO INTERPRETAR OS SONHOS
Suzana Pienis.
76
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Com a convicção que este tema seja de grande
relevância, visto que muitos pacientes não compreendem seus
sonhos, pretendo com esse artigo esclarecer um pouco mais as
questões de como interpretar um sonho.
Por intermédio de pesquisa bibliográfica qualitativa
utilizarei vários autores, entre eles Sigmund Freud, Fromm e
Jung, dentre outros; sendo que considero a importante
contribuição para o presente tema em pesquisa, trago estes
autores para fazer uma comparação de suas ideias e teorias, e
para o leitor ter conhecimento sobre as contribuições deixadas
por estes ícones da psicanálise no trato com o trabalho de
interpretação dos sonhos.
Trabalharei neste artigo questões como os conceitos, os
procedimentos, símbolos que cada paciente trás em seus
sonhos, bem como fantasias, emoções, técnicas utilizadas para
uma boa interpretação, elaboração secundária e manifesta, os
deslocamentos, as condensações, entre outros, visto que
considero de inteira relevância para saber interpretar os sonhos.
O sonho seria uma manifestação do nosso inconsciente,
através dos sonhos é possível revivermos fatos que tenham
ocorrido durante o nosso cotidiano, ou algo que desejamos
conscientemente. Através dos sonhos é possível trabalharmos
com as nossas emoções sentimentos e fantasias.
80
ocorrer a repressão não importa a idade, pois a repressão pode
ocorrer na infância, adolescência ou vida adulta e através do
sonho a repressão se manifesta de forma inconsciente. Através
da observação de alguns mecanismos de defesa é possível
trabalharmos os sonhos.
O deslocamento é um dos mecanismos de defesa, este
mecanismo se dá através do processo psíquico onde
deslocamos algo que almejamos muito, talvez através de um
exemplo fique mais claro o entendimento.
Exemplo: Um empregado se estressa no trabalho com o
seu colega, ao chegar a sua casa desconta o seu estresse e a sua
raiva na sua família, este é um exemplo de um mecanismo de
defesa. Sobre o deslocamento comenta FEIST (2008, p. 36):
81
um dos modos essenciais do
funcionamento dos processos
inconscientes. Uma representação única
representada por si só várias cadeias
associativas, em cuja interseção ela se
encontra. Do ponto de vista econômico, é
então investida das energias que, ligadas a
estas diferentes cadeias, se adicionam nela.
[...] Vemos operar a condensação no
sistema e, de um modo geral, nas diversas
formações do inconsciente. Foi no sonho
que melhor se evidenciou. Traduz-se no
sonho pelo fato de o relato manifesto,
comparado com o conteúdo latente, ser
lacônico: constitui uma tradução resumida.
83
imagem no sonho, essas ideias podem se apresentar nos sonhos
orientando assim o deslocamento.
Pereira, (2012, p. 74) em seu livro Interpretação dos
sonhos diz que: “A condensação é uma colcha de retalhos que
procura naquele símbolo passar a imagem fidedigna de
confusões e alterações para esconder o medo ou a vergonha de
falar.”
Pereira compara a condensação como uma colcha de
retalhos, realmente no processo de condensação é possível
esconder fatos, conteúdos latentes nos sonhos, sejam conteúdos
em forma de emoções, como medo, ódio, raiva, tristeza,
felicidade entre tantas outras. Entendo que neste processo é
possível observar que através do sonho o paciente dá várias
características para uma mesma pessoa.
O Deslocamento nos sonhos se dá através de censuras,
no qual é capaz de substituir os conteúdos latentes de um
sonho. Nos sonhos o deslocamento ocorre de forma simples,
mas é necessário que tenhamos uma noção básica para assim
poder interpretar um sonho, um conteúdo latente.
Vou tentar exemplificar melhor como pode ocorrer um
deslocamento em um sonho. Durante um sonho o sonhador
pode sonhar que está brigando com algum colega de serviço,
mas na verdade o sonhador pode estar com algum problema em
casa com sua família, talvez o esposo, e com isso desloca o
desentendimento com o esposo para com seu colega.
Todos estes processos acontecem no inconsciente dos
pacientes, muitas vezes os mesmos não sabem que
inconscientemente pensamos, cabe ao analista explicar a
diferença entre consciência e inconsciente para que assim o
paciente possa compreender como se dá este processo na mente
humana.
84
3. A INTENÇÃO DAS EMOCÕES NOS SONHOS
85
Além de sonharmos quando estamos dormindo também
sonhamos acordados, e quando isso acontece o sonhador sonha
em realizar algo bom, que lhe faz bem, ao contrario do sonho
em que estamos dormindo, pois inconscientemente o sonho nos
mostra a realidade muitas vezes deformada e angustiante, cada
emoção é diferente para cada indivíduo, pois cada um tem um
sentimento e uma realidade.
86
sonhador em contato com o seu emocional que muitas vezes
sofreu bloqueios.
87
4. A REPRESENTAÇÃO DOS SÍMBOLOS NOS
SONHOS
88
com relação a nos no mundo dos objetos. A
linguagem simbólica é uma língua onde o
mundo exterior é um símbolo do mundo
interior, um símbolo de nossas almas e de
nossas mentes. (1966, p. 20).
89
Cada símbolo tem seu significado, e sua emoção para
cada ser humano, o símbolo não é igual para todos, tudo
depende do contexto em que se encontra o símbolo e o estado
que se encontra a pessoa que está interpretando o mesmo.
Não poderia deixar de mencionar que o símbolo assim
como o sonho é diferente para cada indivíduo, poderia assim
exemplificar: Se duas pessoas tiveram o mesmo sonho, não
quer dizer que a interpretação, o significado seja a mesmo,
porque cada ser é único.
Para compreender melhor algumas questões
relacionadas aos símbolos farei um relato de um sonho descrito
por Jung (p. 66):
90
dificuldades, obstáculos em nossas vidas, e que a doença seria
este obstáculo que estaria lhe impedindo de atravessar o valo.
Como já mencionado anteriormente cada sonho é
diferente, mesmo que os símbolos sejam os mesmos, tudo
depende do estado de cada sonhador. Jung no exemplo acima
mostrou que um mesmo sonho, mas os sonhadores eram um
jovem e um velho ambos com idade, personalidade, desejos,
sentimentos e emoções diferentes, por isso a forma com que
cada um vai interpretar o sonho será de maneira original e
específica, levando em conta todas as suas angústias, medos,
enfim a interpretação do sonho vai depender do estado em que
se encontra o paciente.
Neste sonho procuro exemplificar os significados
latentes das imagens e alegorias, através da análise e
interpretação destes símbolos podemos compreender os desejos
latentes destas simbologias voltadas para ajudar o sonhador a
sair desta situação incômoda e prejudicial a sua vida.
Neste sonho talvez eu possa exemplificar símbolos que
se encontram no mesmo, sendo assim fica mais fácil uma
compreensão; cavalo, campo, valado cheio de água, cair na
água, jovem, velho, médicos, enfermeira são exemplos de
símbolos, imagens que podemos encontrar neste sonho.
O processo primário (id) ele é inconsciente, e busca
satisfazer os seus desejos, no sonho citado há um exemplo de
processo primário, seria o medo de vencer os obstáculos. O
processo primário ocorre através do processo de deslocamento,
das condensações e das emoções.
E para que o processo primário sobreviva torna-se
necessário o desenvolvimento do processo secundário o (ego),
este processo já é consciente, e se dá através do princípio da
realidade.
Para Laplanche (2001 p. 371) o processo primário e
processo secundário, os dois modos de funcionamento do
91
aparelho psíquico, tais como foram definidos por Freud.
Podemos distingui-los radicalmente:
92
combinar-se e assim formar-se em uma só imagem, sendo que
esta imagem pode estar investida de afetos e emoções. E,
Rachel Lemes Michel, Greice confirma esta afirmativa em seu
artigo publicado em 2012, “a condensação seria a combinação
de dois ou mais acontecimentos. (p. 152).
Além de todos estes processos, no sonho é possível
encontrarmos os deslocamentos afetivos, em um sonho, é
possível que ocorra este deslocamento talvez descolando seus
afetos seja de amor, ódio ou raiva para uma imagem ou
símbolo presente no sonho, este símbolo e esta imagem pode
ser de uma pessoa, objetos ou acontecimentos.
Na psicanálise humanista o método de interpretação é
dialético:
Explico:
Qual era o problema em tese deste jovem? Atravessar o
valo.
Quais as confusões e inseguranças que não deixavam
com que assumisse sua verdadeira identidade de pessoa capaz?
Que potencialidades estavam sendo recalcadas ou
reprimidas?
Quais as emoções que aparecem no sonho que precisam
de uma interpretação? O medo, a insegurança.
Qual é a pulsão que está sendo bloqueada pela sua
neurose? Medo, timidez.
Na psicanálise humanista todo sonho tem um propósito
de ajudar a pessoa a superar-se e tornar-se produtivo, mesmo
que os símbolos e imagens sejam negativos ou denotem um
aspecto assustador da personalidade do sonhador.
Na psicanálise humanista o analista não faz o uso de
dicionário dos símbolos, ele usa da associação livre com o seu
paciente, assim perguntando que significado o paciente dá para
os símbolos trazidos em seus sonhos.
De acordo com Pereira,
93
Ninguém poderá conseguir interpretar um
sonho a partir de um livro de autoajuda ou
de um manual explicativo de um
dicionário, esta aprendizagem deve
acontecer durante o seu tratamento, porque
um sonho interpretado fora de um contexto
social, cultural e histórico não faz nenhum
sentido. (2012, p. 18).
95
momento desagradável que se encontra associado à imagem,
digo dessa imagem que retorna através do sonho.
Penso que a melhor maneira de trabalhar essa imagem
reprimida seja através da análise, pois assim é possível
entender e compreender a mesma, só assim descobrir as
motivações inconscientes desta repressão, e o que essa imagem
deseja transmitir, seja de forma consciente ou inconsciente.
Segundo Pereira (2007, p. 10) “no cérebro, as imagens
são reais estão localizadas em alguma memória e simplesmente
precisam da imaginação, da fantasia ou do sonho para se
manifestarem”.
Todas as nossas imagens são reais, no entanto só
precisamos que elas venham à mente através dos sonhos, das
fantasias e ou imaginação. Muitas imagens ficam esquecidas
em nossa mente, por isso quando sonhamos aparece uma
grande demanda que precisa ser trabalhada em análise, além
dos sonhos a imagem se dá através das fantasias e da nossa
imaginação.
A nossa imagem ela é representada por signos, sinais,
cada imagem representada em nossa memória tem um
significado, e este significado pode e é real, pois muitas vezes
são representados por ansiedades, medos entre outras em
nossos sonhos.
Pereira exemplifica, (2007, p. 60) “o sonho, por
exemplo, busca imagens de contextos ambientais e históricos
para comunicar-se com o sujeito e sua relação com os objetos
de desejos. Toda imagem é um símbolo a ser decifrado”.
A pessoa que faz análise sabe da importância que um
sonho tem para cada indivíduo, no sonho a imagem se
comunica com o sonhador, esses desejos são reais e cada
imagem tem um significado para cada pessoa, e sendo assim
ele deve ser decifrando com a ajuda de seu analista.
A imagem é um conteúdo de energia psíquica que
procura comunicar-se com o consciente através de uma
96
linguagem metafórica e simbólica. Através das imagens é
possível traduzir um valor simbólico, e assim utilizar o seu
potencial na sua existência.
Os símbolos podem representar realidades diferentes.
Sendo assim cada imagem tem a finalidade de mostrar, ajudar
o nosso organismo a ser mais saudável e realizado frente a
estas questões. Porque conforme Pereira (2007, p. 13) “a
imagem é uma totalidade de signos e sinais”.
Penso que uma imagem é tudo o que vemos, pode ser
um objeto, ou algo que necessite de auxílio, de aparatos, pode
ser através de representações, de pessoas, quadro e ou
fotografias, e estas imagens estão presentes nos sonhos, mas
além das imagens podemos encontrar os símbolos que também
podem ser visuais, e ocorrem através de objetos pessoas ou
acontecimentos.
97
Realmente imaginação e símbolos ambos precisam um
do outro para assim dar sentido aos símbolos presentes nos
sonhos, mesmo que seja inconscientes todos possuem a sua
função.
98
6. O DEVANEIO DAS FANTASIAS
A fantasia é o reino intermediário que se
inseriu entre a vida, segundo o princípio de
prazer e a vida segundo o princípio de
realidade.
Sigmund Freud.
100
Quem diria que uma música teria algo a ver com a
nossa fantasia inconsciente, conscientemente seria só uma
música, aquela que gostamos e/ou está em alta nas rádios e ou
televisões. Por isso quando estamos em análise é mais provável
que junto com o analista possamos estar descobrindo nossas
fantasias inconscientes e ou até mesmo consciente.
Pois também conscientemente fantasiamos, só que
percebemos quando é uma fantasia consciente, pois, logo
percebemos a realidade, a interpretação dessa fantasia, e
quando é inconsciente não percebemos que estamos
fantasiando, levamos tempo para entender o porquê dessa
fantasia, e talvez só percebemos com a ajuda de um
profissional como o psicanalista.
A fantasia seria uma satisfação de um desejo, talvez de
um desejo reprimido, e que na realidade não pode ser satisfeito.
Um exemplo de uma fantasia talvez fosse à do Complexo de
Édipo, no qual um filho homem cria que está tendo um
relacionamento, com a mãe, ou a filha com um relacionamento
com o seu pai. É normal encontrarmos este tipo de fantasia nos
consultórios analíticos, este tipo de fantasia às vezes é bem
difícil de trabalhar, pois às vezes o paciente não admite ter
criado esta fantasia inconscientemente.
Nos sonhos também é possível observarmos as
resistências, transferência erótica, afetivas, de ódio, entre
outras, sendo assim estes desejos poderiam estar impedindo de
tornar a sessão analítica mais sincera e verdadeira, por isto o
analista pode interpretar a fantasia para entender e
compreender melhor este processo de emoções latentes que
podem estar por detrás de uma resistência ou de desculpas e
justificativas falsas e irracionais.
A Resistência se manifesta nos sonhos de forma
inconsciente, através dos atos falhos, esquecimentos de
compromissos entre outros. E, Rachel Lemes Michel, Greice
(2012, p. 152) confirma em seu artigo o que escrevi
101
anteriormente. “As resistências se manifestam através dos
sonhos de formas variadas: pelo esquecimento do conteúdo
sonhado, pelos sonhos que evidenciam fuga da análise como
não comparecendo as sessões, mudando de analista”.
Já a transferência é uma projeção, na qual o paciente
projeta em seu analista algo que almeja muito. A transferência
pode acontecer de paciente para analista, quando o analista
possui um “nó cego”, ou seja, algo não resolvido em si próprio,
então pode haver a contratransferência para o paciente, cabe a
analista saber identificar quando ele está contratransferindo
algo para o seu paciente e assim levar para o seu analista e seu
supervisor e trabalhar o conteúdo. Também cabe ao analista
identificar quando seu paciente está transferindo algo para ele,
e assim colocar para o mesmo esta questão.
Tanto os homens quanto as mulheres manifestam
sonhos eróticos, sonhos de amor, ódio, raiva, felicidade, entre
outros, e assim transfere para seu analista estas questões mal
resolvidas, talvez reprimidas na infância, mas que retornam
com o passar dos anos e nas análises.
O analista deve estar atento para identificar quando
estas fantasias ocorrem com o seu paciente e consigo mesmo, e
assim interpretá-las e trabalhar em análise.
Talvez estivesse sendo precipitada de mais, mas penso
que a transferência tanto erótica, quanto afetiva, seja algo
verdadeiro da nossa realidade inconsciente, desejos reprimidos
talvez.
102
7. O SIGNFICADO DOS SONHOS E DOS
PESADELOS NA TERAPIA ANALÍTICA
103
Quem interpreta o sonho é o paciente e seu analista, o
analista faz intervenções para que seu paciente relacione com o
seu sonho, e assim consciente ou inconscientemente possa vir a
interpretá-lo com o auxílio de um analista. O analista irá
incentivar seu paciente a refletir, pensar, pesquisar o que este
sonho pode ter a ver com a sua vida, mesmo que seja e é
inconscientemente, visto que quando sonhamos não
conseguimos fazer uma interpretação porque conscientemente
este sonho não tem nada a ver com a nossa realidade, mas se o
sonho for bem interpretado por alguém especializado como o
psicanalista, ele tem a ver com a nossa vida atual.
Assim como o paciente sonha o analista também sonha,
só que o analista não pode é sonhar com o paciente, mas como
em sonho não se manda, se ele sonhar, devemos urgentemente
procurar o analista e trabalhar este sonho.
Na psicanálise também usamos da associação livre,
assim como Freud também podemos utilizar a técnica de dizer
ou escrever a primeira coisa que vem em mente, digo isto, pois
o analista na maioria das vezes não usa o mesmo método para a
interpretação de seus pacientes, pois cada paciente é diferente.
Depois que o paciente conta o seu sonho, o analista pode pegar
um símbolo, uma imagem do sonho e perguntar o que significa
para seu paciente, assim o paciente pode trabalhar com o seu
inconsciente e aos poucos interpretar o seu sonho.
Na psicanálise humanista é possível interpretarmos os
sonhos das seguintes formas:
Primeiramente o analista escuta atentamente o seu
paciente contar o seu sonho, logo em seguida inicia com as
seguintes intervenções com seu paciente:
Qual é o tema do sonho?
Com a intenção de fazer com que o paciente identifique
quais são os símbolos, as imagens que aparecem no sonho.
Ao realizar a associação livre sobre estas imagens
podemos trazer conteúdos latentes que possam explicar algum
104
tipo de sintoma ou doença, cabe ao analista juntamente com o
seu paciente identificar o conteúdo latente e interpretá-lo
mesmo que seja inconscientemente. Qual é o sentido oculto,
aquilo que os símbolos e imagens escondem da consciência do
sonhador.
A elaboração primária aponta as pulsões mais
primitivas e arcaicas da pessoa, é preciso saber identificar com
clareza onde esta energia aparece nos símbolos e assim
interpretá-las.
Os símbolos estão carregados de sentidos e significado
para esclarecer uma emoção que pode ser medo, culpa, ódio,
raiva, angústia, ansiedade. Cabe ao paciente juntamente com o
analista descobrir o significado, as emoções presentes no seu
sonho.
Toda esta interpretação deve levar em conta alguns
aspectos, pois muitas vezes através da associação livre dos
sonhos é possível fazer com que o paciente possa perceber
quais são os seus potenciais, o que está sendo reprimindo, ou o
que está sendo bloqueado. Quais emoções estão interferindo na
sua qualidade de vida, porque se tornou apático e desanimado.
Através da interpretação dos sonhos é possível conhecer
cada vez mais o paciente, pois ele nos remete a compreender
mais sobre os temas geradores dos sonhos, e com isso podemos
identificar se é um paciente explorador, mercantilista, erótico
ou que se coloca como vítima.
O pesadelo também é um tipo de sonho, mas não muito
bom, pois quando temos este tipo de sonho nos acordamos
assustados, com medo, angustiados.
105
corresponde, na linguagem psicanalítica,
aos sonhos de angústia, popularmente
machados de “pesadelo”). (ZIMERMAN,
apud FREUD, 1999, p. 177).
106
Que todos nos sonhamos não é novidade, que o sonho é
único para cada ser humano. Para cada pessoa que sonha a
forma de interpretar é diferente, por exemplo, se duas pessoas
sonharem com um animal, este sonho pode ter um significado
para um e outro para a outra pessoa, digo isso, porque cada
pessoa é única, suas angústias, medos, alegrias, emoções,
sentimentos, não importa a idade, a classe social, ou raça, a
maneira de interpretar um sonho é deferente para cada pessoa.
É possível também ouvirmos pessoas que sonham e no
outro dia não se lembram, assim como também encontramos
aqueles que se recordam do sonho e ficam curiosos para fazer a
sua interpretação, se a pessoa faz analise, com certeza o
analista já lhe terá informado sobre a possibilidade de levar
para a análise seus sonhos, a analista irá instigar seu paciente a
interpretar o sonho que tanto lhe aflige.
Para quem não consegue lembrar-se de seu sonho no
dia seguinte pode tentar fazer a sua anotação logo em seguida
que sonhou, mas como fazer essa anotação? Muitos podem
considerar estranho este método, mas se tentar com calma, sem
se despertar muito do seu sono.
Para começar a pessoa deve deixar já a sua disposição
ao lado da cama seu caderninho de anotações, logo que
despertar do sonho, sem muitos movimentos bruscos, ascender
a luminária, pegar a caneta e anotar palavras-chave, ou se
preferir o sonho todo, no outro dia se esquecer do sonho é só
pegar a anotação em mão e trabalhar o sonho com seu analista.
Ao ler o “livro dos sonhos” de autoria de Júlia e Derek Parker,
considerei de importante contribuição a forma com que a
autora adotou, para que o indivíduo que não se lembra do seu
sonho no dia seguinte pode adotar para assim trabalhar o
mesmo.
107
bloco de anotações e deixá-lo perto da
cama. Providencie também uma lanterna
para não precisar ascender à luz (lembre-se
de que muito movimento pode estimular o
esquecimento do sonho antes que você
consiga escrever qualquer coisa). Não tente
escrever o sonho todo- algumas palavras
são suficientes para garantir o esboço
principal. (PARKER, 1996, p. 28).
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
108
Em seguida escrevi sobre as emoções, pois elas estão
presentes em todos os seres humanos, e ouso dizer que são elas
na verdade que comandam nossa vida. Pesquisei também os
símbolos e imagens presentes em cada emoção, bem como a
representação dos símbolos, sua interpretação, para assim
compreender os símbolos, imagens, e a linguagem simbólica.
Logo a seguir tratei de pesquisar sobre os significados
das imagens, também abordei questões como as imagens, a
repressão, os símbolos, mitos e contos, fantasias, resistências
transferências eróticas, afetivas; além deste também sobre o
significado dos sonhos na terapia, como interpretar os sonhos
na psicanálise humanista e os pesadelos o qual citei um sonho.
Ao escrever este trabalho de conclusão me deparei a
refletir sobre a importância que tem em um analista estar bem
preparado para assim interpretar um sonho, pois, não é nada
fácil, exige muita leitura e estudos. O analista deve ser um
eterno estudante, deve estar sempre lendo, pesquisando,
participando de jornadas, congressos entre outras.
Por isso torna-se fundamental que o psicanalista
entenda a formação dos sonhos seus mecanismos bem como a
sua interpretação.
BIBLIOGRAFIA
111
OS DIVERSOS MODOS DE INTERPRETAR OS
SONHOS
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
112
Na antiguidade clássica acreditava-se que
os deuses se comunicavam com os homens
durante os sonhos e que até anunciavam o
futuro por meio deles. Os antigos egípcios
chegavam a catalogar os sonhos, a fim de
fazer prognósticos sobre todas as esferas da
vida particular e social. Sonhos proféticos
são mencionados em numerosos textos
antigos do Oriente Médio e da Ásia,
inclusive na bíblia. (Enciclopédia Barsa, p.
357).
113
aparecem no córtex visual que é o responsável pelo
processamento das imagens.
116
Isto porque segundo Freud apud Barsa (2002) a
finalidade dos sonhos é realização de desejos que estão
reprimidos no inconsciente, sendo estes impedidos de chegar à
consciência por uma censura interior. Assim sendo, o conteúdo
do sonho pode se manifestar de duas formas. Na forma de
conteúdo manifesto, de forma clara direta exatamente
conforme desejo explícito, isto é o modo como o sonhador se
recorda do sonho, como ele é.
E o conteúdo latente, sendo este o verdadeiro motivo
do sonho, visto que, o sonho é um sintoma que se manifesta do
inconsciente, considerando que, o inconsciente é composto de
energia que está constantemente tentando realizar seus
desejos, ou seja, aliviar a tensão, no entanto, no sonho latente,
esta energia se apresenta no processo primário. “Caracterizado
por uma descarga difusa, aleatória e incontrolada de excitação,
pressiona no sentido de descarga imediata e não tolera o menor
atraso”. (ALTMAN, 1971. p.180).
Quer dizer que se apresenta tal como foi reprimido,
ou seja, no modo como ficou registrado no inconsciente,
porém, mesmo que durante o sono a censura estando mais
relaxada estando mais relaxada, ela continua atuando. “A
censura, que é a expressão da ação repressora do ego ao serviço
do superego”. (TALLAFERRO, 1965, p.130, original em
espanhol, tradução feita pela escritora). Esta vai impedir que
algumas imagens se manifestem, especialmente aquelas que
possam trazer muita angústia para o sonhador, no entanto , para
poderem passar pela censura, é necessário camuflar, distorcer o
modo como vão se apresentar, isso é o que o referido autor
denomina de deformação do sonho ou deformação do conteúdo
latente. Que vai dar os disfarces, moldar o sonho da forma
como vamos recordar.
Segundo (Freud, 1996, p.131) “interpretar” um sonho
implica atribuir a ele um “sentido” – isto é, substituí-lo por
117
algo que se ajuste a cadeia de nossos atos mentais como um
elo adotado de validade e importância iguais ao restante.
Para tanto segundo a abordagem Freudiana, para
interpretar um sonho é preciso levar em consideração alguns
mecanismos de defesa presentes atuando como resistência,
evitando dessa forma que a pessoa tome conhecimento do
conteúdo latente, é importante observar estes mecanismos, pois
todas as abordagens psicanalíticas estão de comum acordo
quanto a estes. Isto porque, estes são mecanismos da teoria
estrutural de Freud.
De acordo com Tallaferro (1965) um dos mecanismos
presente na deformação do sonho é a dramatização ou
concretização segundo o autor citado, não há como representar
um pensamento abstrato, como amor, carinho, afeto, vida,
morte, ódio, ciúme, saudade. Para tanto é necessário que este
tenha uma imagem concreta, para representá-los, a forma como
aparece, mesmo que pareça incoerente, está de algum modo
relacionado com o pensamento, Tallaferro exemplifica,
considerando a própria vida, pelo processo de dramatização a
pessoa vai aparecer no conteúdo manifesto folheando a revista
Life.
Outro fator que também relevante para interpretar um
sonho é a condensação.
118
Devido a este processo, o sonho tal como recordamos é
muito mais curto que o sonho latente, segundo (FROMM,
1976, p. 59). “Ele deixa de fora muitos elementos do sonho
latente, combina fragmentos de vários elementos, e condensa-
os no sonho manifesto”. A formação de uma imagem composta
de uma pessoa que combina com características de duas ou
mais pessoas, ou animais, em uma única como coloca Altman,
(1971) que no sonho a criação dessas figuras compósitas é
semelhante à criação da sereia, do centauro, da esfinge na
mitologia.
Entretanto, no sonho podem estar condensados, pessoas
na forma de imagens, como também palavras como nome de
pessoas, onde aparece um determinado nome, ele pode estar se
referindo as iniciais dos nomes de duas outras pessoas.
Podemos exemplificar a condensação, com a imagem
relacionada a uma figura repressora, especialmente se existiu
algum conflito com autoridade masculina, pode no sonho
manifesto se apresentar uma pessoa com os olhos iguais aos do
pai, o cabelo do professor, a roupa do chefe.
121
Um elemento latente do sonho é
substituído por algo mais remoto, como
uma alusão. Verifica-se, também, uma
transferência de acentuação ou ênfase, de
algum elemento que é importante para
outro de menos importância.
(MULLAHY, 1965, p.107).
122
Por esta razão, é natural num sonho aparecer situações
que ocorreram com determinada pessoa acontecer com outra,
muitas vezes pessoas que já morreram, ter um sentimento
afetivo por quem nunca vimos, seres inanimados falando. Pode
também ocorrer como coloca Tallaferro, (1965) que uma
imagem que desloca uma determinada emoção, seja substituída
tal emoção por outra oposta, o qual se chama projeção, nesta
situação, temos a imagem e pode ficar confuso, pois que no
conteúdo latente pode sentir desejo de agredir outra pessoa, no
sonho manifesto a pessoa vai recordar do sonho como sendo a
outra pessoa que quer lhe agredir.
Destaca também Tallaferro (1965) A representação
pelo nimio, esta se conceitua pela observação nos detalhes, isto
porque é através dos detalhes mais simples que o conteúdo se
manifesta, desse modo, exemplificando seguindo uma
abordagem humanista, se o sonho representa o desejo de
comprar a casa, no sonho aparece somente a chave da casa.
Outra forma de disfarce do sonho é, o denominado
inversão cronológica que de acordo com Tallaferro (1965, p.
133, original em espanhol, tradução da escritora) “quando isso
acontece o conteúdo manifesto representa como imagem do
sonho, a imagem imediata, posterior à que forma o conteúdo
latente”. O referido mecanismo consiste em que a cena, de
acordo como a recordamos, está sendo representada ao seu
inverso, usando como exemplo do mesmo autor, alguém está
sentado com sua namorada de repente se levanta e sai
caminhando com ela. No conteúdo latente seria um casal
andando no parque procurando um lugar onde os dois possam
sentar-se para beijar-se.
Outro disfarce que Tallaferro (1965) destaca é o que ele
apresenta como representação pelo oposto, em seu aspecto
semelhante ao anterior, entretanto diferencia-se quanto à
natureza, pois este inverte o sentimento, ou seja, uma pessoa
que tenha no conteúdo latente uma emoção de extrema revolta
123
e indignação, no sonho ela aparece totalmente calma, outro
exemplo é ter um intenso desejo de amor por uma pessoa e no
seu sonho sentir ódio e desprezo por ela.
Destacamos mais uma forma de disfarce apresentado
pelo autor já mencionado. É a representação simbólica, esta é
apontada por ele como uma forma diferenciada de
deslocamento, posto que, em diferentes sonhos sempre aparece
uma imagem da qual a pessoa se recorda, e esta imagem está
presente nos diversos sonhos, ela está simbolicamente
representando um elemento do conteúdo latente. Tallaferro
(1965 p. 134, original em espanhol, tradução da escritora) [...]
“É dizer que por representação simbólica, deve ser entendido
que um objeto ou um ato não aparecem no conteúdo manifesto
como tal, senão representados mediante o símbolo.”
Entretanto, para a psicanálise para que tal imagem seja
considerada como símbolo, é necessário que o simbolizado
esteja reprimido. Para Pereira (2012) os traumas criam muitos
disfarces para impossibilitar o reconhecimento das vivências
ou mesmo das fantasias indesejadas. Sendo os símbolos
denominados por Freud os elementos mudos dos sonhos.
Isto porque, mesmo que a pessoa não tenha consciência
da força que a motiva a tomar certas decisões, que muitas
vezes pode ser prejudicial para a pessoa. E o que está
simbolizado se manifesta em forma de imagens.
124
Por esta razão, a função da representação simbólica é
transformar em imagens visuais uma ideia, um pensamento ou
um sentimento, dar uma expressão, comparando com a pintura
de um quadro, que tem uma comunicação e uma expressão
silenciosa.
Assim como uma imagem representada num quadro
evoca emoções diferentes em diferentes pessoas, do mesmo
modo a imagem onírica terá um significado diferente em cada
pessoa. Que para Altman (1971) interpretar um símbolo sem
levar em consideração suas circunstâncias, bem como um
conhecimento de que significado tenha para a pessoa, pode
parecer interessante intelectualmente, no entanto, não tem
validade nenhuma para efeito de análise individual.
Entretanto, mesmo o sonho tendo passado por todos os
disfarces e representação simbólica, poderá ainda não estar a
contento da censura do superego, para tanto tem um último
trabalho realizado com o sonho o qual foi denominado
Elaboração secundária ou Revisão secundária.
134
psiquê, portanto, representam um numero
imenso de variações arquetípicas
essenciais. (JUNG, 1964, p. 92).
135
uma classificação dos sonhos e seus
símbolos (JUNG, 1964, p. 52).
139
freudiano leva sim ao inconsciente, mas é preciso estar atento a
tudo que ocorre em seu entorno, pois é perigoso se perder.
141
sentidos sem qualquer constrangimento
durante o sono. (HORNEY, 1978, p.131).
143
5. A INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS NA TEORIA
HUMANISTA REPRESENTADA POR ERICH
FROMM E POR SALÉZIO PLÁCIDO PEREIRA.
144
Se por instinto se entende uma necessidade
ou uma urgência fisiologicamente
determinada, como a fome, a sede, o sexo,
então não haverá lugar para discutir essa
noção, uma vez que, evidentemente, o
homem possui tais necessidades biológicas.
Contudo a forma de expressão e satisfação
dessas necessidades é culturalmente
determinada. (MULLAHY, 1965, pp. 266-
269).
145
sonho revela em que situação se encontra a pessoa, se passiva
ou se ativa.
Sendo assim o modo como é interpretado o sonho nesta
teoria leva em conta a teoria estrutural de Freud, bem como as
demais teorias, especialmente os mecanismos de disfarce dos
sonhos da teoria freudiana, não nega nem reprime a
sexualidade, porém que não apenas a sexualidade seja motivo
de emoções reprimidas, mas que sendo o ser humano um ser
biopsicosocial, podem haver muitas outras formas de repressão
e de bloqueios, que podem se manifestar nos sonhos.
Para o psiquiatra J. Allan Hobson citado na revista
superinteressante (2010), podemos aprender sobre as emoções
que nos guiam na vida real, se prestarmos atenção nos sonhos,
tentar compreender as metáforas, especialmente observar quais
elementos da vida da pessoa estão por detrás delas, coloca
também que esta é uma tarefa profunda, que nenhum
dicionário dos sonhos poderá ajudar, pois ela é muito pessoal.
As metáforas são as simbologias presentes nos sonhos,
como já vimos, algumas devido ao seu conteúdo precisam de
disfarce, no entanto outras têm livre passagem, mesmo assim
todas elas de alguma forma têm um significado especial para
quem sonha.
149
pessoa vai descobrir qual é a motivação inconsciente que está
atuando.
151
Fromm (1976) ai a ligação entre símbolo e a experiência
simbolizada é inteiramente acidental.
Como já foi colocado, não há como interpretar um
sonho sem saber sobre a vida de quem sonhou, isto porque, é
necessário que as associações sejam feitas pela própria pessoa,
pois só ela sabe o que sente, e nem sempre o sonhador sozinho
consegue interpretar um sonho, isso acontece porque, ainda que
a pessoa consiga decifrar os símbolos, o inconsciente apresenta
muitas defesas, que sem auxílio do terapeuta é difícil decifrar.
É naquele ponto onde embola, onde enrosca, onde a
pessoa não associa, muitas vezes acaba por desistir e pensa,
“isso nada tem a ver comigo”. É ai que entra o analista, que vai
ajudar a pessoa a fazer as associações, por este motivo que se
recomenda a pessoa que está em análise anotar o sonho tão
logo que sonhou.
Vamos pegar como exemplo um sonho analisado no
próprio livro de Fromm (1976):
Um advogado, com vinte e oito anos de idade, acorda e
lembra-se do sonho seguinte, que depois comunica ao analista.
“Vi a mim mesmo cavalgando um cavalo branco,
passando em revista uma grande massa de soldados. Todos eles
me aplaudiam entusiasticamente”.
A primeira pergunta que o analista faz é:
A- Que emoção você sentiu?
P-Nada – Responde o homem, sonho é tolice. Você
sabe que não gosto de guerra e de exército, que jamais desejei
ser um general – E mais não, também não quero ser centro de
atenções, sendo espiado por milhares de soldados. Você sabe
pelo que lhe contei de meus problemas profissionais, que é
difícil para mim a simples defesa de um caso no tribunal com
todos me olhando.
A- Sim, tudo isso é bem verdade; mas não tira o fato do
sonho ser seu, do seu enredo ter sido escrito por você e nele
você se atribui um papel.
152
Que associações você faz do conteúdo do sonho?
Concentre-se na imagem do sonho, você o cavalo branco e os
soldados aplaudindo - Diga-me o que vem a mente ao ver este
quadro?
P- Engraçado, agora vejo uma gravura de que eu
gostava muito quando tinha meus 14 para 15 anos. Era um
retrato de Napoleão, sim, ele mesmo, em um corcel branco,
passando em frente das tropas. E muito parecido com o que vi
nos sonhos, exceto que no retrato os soldados não aplaudiam.
A - Esta recordação é interessante, fale mais sobre a
gravura e de seu interesse por Napoleão.
P- Posso contar-lhe muita coisa, mas acho um tanto
constrangedor... Sim, quando eu tinha 14 ou 15 anos era
bastante tímido. Não muito bom em esportes e era um tanto e
não me entronava muito bem com os outros meninos. Ó sim,
lembro-me agora de um incidente daquela época de que me
esquecera completamente. Gostava muito de um dos garotos e
queria tornar-me amigo dele. Nem havíamos sequer
conversado um com o outro, mas eu esperava que ele também
gostasse de mim e nos conhecêssemos melhor. Um dia - eu
precisei de muita coragem para isso – Me aproximei dele e
perguntei se ele não gostaria de ir à minha casa, pois eu tinha
um microscópio e poderia mostrar-lhe muitas coisas
interessantes. Ele me encarou por um instante e depois, de
repente, pôs-se a rir sem parar. “Seu marica, porque não
convida uma das amiguinhas de sua irmã?” Dei as costas,
sufocado pelas lágrimas. Foi nessa época que li vorazmente a
respeito de Napoleão: Colecionei retratos dele, e entregue a
devaneios de me tornar igual a ele, um general famoso,
admirado pelo mundo inteiro. Ele também não era baixinho?
Ele também não fora um rapaz tímido como eu? Por que não
poderia ser igual a ele? Passava muitas horas em devaneios;
nunca exatamente sobre os meios de conseguir esse fim, mas
sempre o resultado. Eu era Napoleão admirado e invejado, e
153
magnânimo, pronto a perdoar meus detratores. Quando fui para
a faculdade, já havia superado minha adoração pelo herói e
meus devaneios sobre Napoleão. De fato, há muitos anos não
pensava nesse período e por certo não falei dele a ninguém.
Mesmo agora, sinto-me constrangido.
A- “Você” se esqueceu disso, mas o outro você, aquele
que determina muitas de suas ações e sentimento, bem
escondidos de sua consciência durante o dia, ainda está ansiado
por ser famoso, admirado, poderoso. Esse outro você falou no
sonho da noite passada. Conte-me os acontecimentos de ontem
que tenham sido de importância para você.
P-Nada demais; foi um dia como outro qualquer... Fui
ao escritório, trabalhei reunindo material jurídico para uma
súmula de razões, fui para casa e jantei, fui a um cinema e daí
para a cama. Só isso.
A - Isso não me parece explicar porque à noite você
andou num cavalo branco. Diga-me mais alguma coisa sobre o
que se passou no escritório.
P - Ah, agora me lembro... Mas isso nada apode ter a
ver com o sonho... Quando fui falar para o chefe – o sócio mais
importante da firma - para que eu reunisse o material jurídico,
ele descobriu um engano meu. Ele me olhou com um ar de
crítica e comentou: “Estou realmente surpreso – pensei que
você pudesse fazer melhor isso.” No momento fiquei bastante
chocado – e passou-me pela cabeça a ideia de ele não me
admitir como sócio da firma mais tarde, como eu esperava que
o fizesse. Porém, disse para mim mesmo que isso era bobagem,
pois qualquer pessoa pode se enganar, e apenas ele estava
irritado, e isso não prejudicaria meu futuro.
A - Como você estava se sentindo nesta ocasião? Estava
nervoso ou um pouco deprimido?
P - Não absolutamente. Pelo contrário, estava apenas
cansado e com sono. Foi difícil continuar trabalhando fiquei
contente na hora de sair do escritório.
154
A- A última coisa mais importante do sair foi ir ao
cinema. Diga-me qual foi o filme?
P- Sim, foi Juarez, de que gostei muito. Com efeito,
chorei bastante.
A- Em que ponto?
P- Primeiro na descrição da pobreza e sofrimento de
Juarez, e depois quando ele se tornou vencedor. Não me
recordo de outro filme que mais tenha me comovido tanto
assim...
A- Ai você deitou, adormeceu e viu-se no cavalo
branco, aplaudido pelos soldados.
Compreendendo o sonho, quando menino você se sentia
tímido, desajeitado e rejeitado. Sabemos de nosso trabalho
anterior, que isso tem a ver com seu pai, que se orgulhava tanto
do sucesso dele, mas era incapaz de tornar-se seu íntimo e
demonstrar afeto por você e dar estímulos. O incidente
ocorrido hoje, a rejeição pelo menino valentão foi a última
gota. Sua autoestima já havia sido danificada, e esse episódio
acrescentou mais um elemento que reafirma que nunca poderá
se tornar igual ao pai, nunca chegaria a ser alguém e que
sempre seria rejeitado pelas pessoas a quem admirasse. Neste
caso você foi para o mundo da fantasia onde realizava as coisas
as de que se sentia incapaz na vida real. Ali naquele mundo
você era Napoleão, o grande herói admirado por todos e
principalmente por você mesmo. Enquanto pudesse conservar
estas fantasias você estava protegido contras as dores
provocadas pelo sentimento de inferioridade, quando você
entrou em contato com a realidade você foi para a faculdade. Já
era menos dependente de seu pai, sentia alguma satisfação nos
estudos, julgava-se apto para ter um novo e melhor começo.
Além do mais, você sentia vergonha de seus devaneios infantis,
de modo que os pôs de lado, você sentiu estar a caminho de um
homem de verdade... Porém, como vimos essa nova confiança
foi um tanto ilusória. Você se sentia aterrorizado, antes dos
155
exames achava que nenhuma moça fosse se interessar por você,
caso houvesse qualquer outro rapaz disponível sempre receava
as críticas do chefe. Isso traz-nos ao dia do sonho. Aconteceu
algo que você tentara evitar a critica do chefe; você começou a
sentir a velha sensação se desajustamento, mas a pôs de lado;
sentiu-se cansado ao invés de angustiado e triste. Então viu um
filme que tocou nos seus antigos devaneios, o herói se tornou o
salvador admirado de uma nação após ter sido desprezado.
Você o visualizou tal como fizera na adolescência, como o
herói, admirado e aplaudido. Não percebe que você não
renunciou deveras ao antigo processo de ir para o mundo da
fantasia de glória, que não queimou as pontes que o levavam de
volta àquele país da fantasia, mas trata de voltar para lá sempre
que a realidade se mostra decepcionante e ameaçadora? Você
não vê que esse fato, no entanto, ajuda a criar exatamente o
perigo que você tanto receia, o de ser infantil e não um adulto,
de não ser levado a sério por gente crescida, e por você mesmo.
Concluímos assim que este sonho é rico em sua
simbologia. Observamos, primeiramente por meio desta
simbologia o processo de disfarce realizado por este sonho,
como o deslocamento, em que várias imagens foram
deslocadas para formar o cenário, como os cavalos, soldados.
O processo de condensação, por meio do qual juntou várias
imagens carregadas de significados estavam juntas num mesmo
quadro. Outro elemento presente é a representação pelo nímio,
por meio desta foi representada o herói Napoleão e todo seu
exército e suas influências apenas por um homem a cavalo e os
soldados. Também presente, temos a elaboração secundária
que teve a função de moldar, revisar o sonho para que se
apresentasse no sonho manifesto.
Este sonho tem em seu conteúdo latente a realização de
um desejo que o sonhador traz desde a infância de ser aceito,
de receber afeto, como foi negado isso a ele já desde criança,
na fantasia desenvolveu um desejo irracional de ter fama e
156
sucesso, e assim ser aceito pelas outras pessoas e por si
próprio. Visto que as energias que nas imagens contidas não
desaparecem embora que a pessoa tenha esquecido. “A imagem
é uma energia com poderes de ação, após muito tempo na vida
desta pessoa, independente da situação econômica, status,
inteligência, cultura, ideologia religiosa ou situação política e
familiar. (PEREIRA, 2007, p. 30).
O que também é importante observar neste sonho, ao
interpretá-lo, são as atividades do dia anterior ao sonho, isto
porque os fatos ocorridos no dia são uma espécie de gatilho
para trazer os anelos e ele relacionados. De acordo com
postulações de Pereira (2012), todos os sentimentos de
angústia, as emoções vividas, bem como as preocupações do
dia anterior, ficam registradas na memória, e são estas que
acionam o cérebro para começar a sonhar, assim sendo, elas se
manifestam em forma de imagens.
Em razão disso que, para decifrar o sonho, deve haver
um comprometimento com a saúde psíquica de quem sonha.
Por este motivo, o psicanalista que vai fazer a interpretação do
sonho precisa estar ciente que os símbolos presentes estão
retratando as vivências desta pessoa, seja em âmbito pessoa,
familiar, social, político e econômico.
É importante para o psicanalista ao interpretar o sonho
de uma pessoa, que a simbologia, as fantasias, bem como as
imagens presentes, também estão intrinsecamente relacionados
com a sua orientação de caráter, pois que, para Fromm (1983)
para uma pessoa de orientação receptiva, ela acredita que toda
a força de bem e do mal se encontra fora dela, existe nestas
pessoas uma necessidade de receber afeto, carinho, com isso,
tornam-se pessoas fáceis de seduzir, de manipular, pois se
tornam dependentes da opinião e da compaixão das outras
pessoas.
157
O analista humanista pode interpretar os
sonhos prestando atenção ao processo de
formação de caráter, estas imagens podem
sinalizar algo, que tenha a ver sobre seus
desejos mais significativos, suas
prioridades, e o modo como se relaciona
consigo mesmo e com a sociedade.
(PEREIRA, 2012, p.116).
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
159
Na primeira parte o artigo discorre sobre as mudanças
fisiológicas que ocorrem enquanto a pessoa dorme, que se faz
necessário para que as imagens do conteúdo latente, que são
nossos desejos e anseios, bem como os medos e traumas, nossa
necessidade humana de evoluir tanto social como
espiritualmente, que em condições de vigília permanecem
bloqueados, possam passar pela barreira e passar para uma
parte do cérebro onde possamos visualizar e recordar
posteriormente.
Acompanhamos também de modo sucinto as técnicas
utilizadas desde a antiguidade na tentativa de decifrar o sonho,
e que devido a importância que o sonho tem, trouxeram muitas
inquietações, curiosidade pela forma misteriosa como se
apresentam.
Entretanto só foi possível desvendar os mistérios dos
sonhos a partir dos estudos de Freud, por volta de 1 900,
proporcionando um avanço significativo na evolução da
humanidade. Foi a partir dos seus estudos que foi possível
tomar conhecimento das estruturas psíquicas, dos mecanismos
de defesa bem como os mecanismos de disfarce dos sonhos,
bem como da importância de utilizar os sonhos como
instrumento na clínica.
Porém, sua técnica de interpretação dos sonhos seguia
de acordo com o embasamento de sua teoria, fundamentada
pela energia da libido sexual, que em todo conteúdo reprimido
havia um desejo sexual proibido, o qual não foi dada uma
vazão adequada como a sublimação, e que este se manifesta em
forma de símbolos nos sonhos, e que estes símbolos se
originam de um conteúdo que esteja obrigatoriamente
reprimido.
Por conseguinte, o conteúdo sendo impedido pela
censura de passar para o consciente, é “deformado ou
trabalhado” para ter vazão, porém toda a simbologia presente
nesta teoria tem cunho sexual, e está sempre relacionada com
160
questões ligadas a sexualidade, mesmo que a sexualidade tenha
muita importância, existem outras necessidades no ser humano
de igual importância, dos quais não obtinham respostas.
Foi assim que surgiram novas teorias derivadas desta,
que considerando o homem não apenas como um ser
biopsicológico, mas um ser espiritual que tem alma, que traz
reminiscência dos seus antepassados e se encontra num
processo de evolução.
Considerando estas necessidades humanas, na teoria
junguiana, o modo como é interpretado os sonhos tem sua
práxis enfocando os símbolos de que forma está sendo
aproveitada a energia humana disponível para evoluir, ou se
esta por não ter meios saudáveis para evoluir, se volta contra a
própria pessoa .
Para interpretar os sonhos esta abordagem considera os
símbolos como os arquétipos, anima, animus, a sombra, sendo
que estes estão registrados no inconsciente coletivo, ou seja, já
trazemos desde o nascimento as memórias e valores dos
antepassados, sendo assim, é preciso ver o modo como estes se
apresentam, o que eles estão significando naquele momento, se
é o eu verdadeiro, leia-se self que trás os anseios, ou se é a
persona, ou seja, a máscara usada para fugir da realidade.
Conclui-se, portanto, que para esta orientação analítica,
os sonhos são manifestações de energia espiritual, cujo
objetivo é o equilíbrio das forças conscientes e inconscientes. E
o objetivo da simbologia é revelar o que Jung chama
complexos emocionais que são os núcleos afetivos que se
ligam.
Posteriormente foi contemplada a teoria culturalista de
Karen Horney, observou-se que para esta teoria, os símbolos
são variados, visto que, para esta orientação psicanalítica deve-
se levar em conta a cultura da pessoa que sonha, o que para ela
é permitido e o que é proibido, bem como quais são suas
dificuldades e anseios. Essas observações são necessárias, pois
161
que para a autora citada, a neurose tem origem em múltiplos
fatores, bem como as condições de vida da pessoa, e os
conflitos resultam das condições e do meio onde a pessoa vive.
Fundamentado nessa teoria para interpretar o sonho,
observa-se os elementos que se manifestam, usando a
associação livre a pessoa vai relacionando os anelos a ela
ligados chegando no núcleo neurótico.
Sendo que, a neurose é uma perturbação psíquica
causada por medos e incertezas, que pode não ter fundamento
real, também se origina devido a discordância entre a
capacidade da pessoa e o modo como ela aproveita.
Por este motivo, os sonhos servem como instrumento
clínico, para conhecer estas estruturas neuróticas, bem como o
que elas estão comunicando através dos sonhos.
A última parte do trabalho que destaca a clínica
humanista, apontando a mudança real na práxis clínica
derivada da Freudiana, especialmente no modo de interpretar
os sonhos, bem como a utilidade do sonho como meio para
auxiliar no autoconhecimento. Haja vista que cada ser humano
é singular e não importa a fachada que se apresenta, todo ser
humano, independente de condições financeiras, status social,
profissão, ninguém está imune de ter desenvolvido algum
conflito durante sua existência.
A clínica humanista tem esta singularidade, de auxiliar
o ser humano a se encontrar, em todas as suas relações, sejam
pessoais, interpessoais ou profissionais, bem como a saúde
física e psíquica. “Um sonho é a elucidação dos confrontos
possíveis entre a fantasia e a realidade.” (PEREIRA, 2009,
p.176).
Destacando também o quanto se faz importante estar
atento a da orientação de caráter que se desenvolveu na pessoa,
especialmente na clínica, para o analista interpretar os símbolos
presentes nos sonhos.
162
Em suma, para compreender o significado do sonho, se
faz necessário conhecer sua verdadeira simbologia, estar
interado dos fatores que agem no seu íntimo, caso contrário, a
interpretação pode significar apenas suposições. O processo
analítico tem essa finalidade, de levar o ser humano a tomar
conhecimento de seu ser, e ter a compreensão adequada dos
símbolos presentes nos sonhos e auxiliar na terapia.
BIBLIOGRAFIA
163
e do inglês sob direção geral Jayme Salomão. Rio de Janeiro.
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consulta em 10/07/2012
165
OS SONHOS: ALIADOS NO PROCESSO DE
EVOLUÇÃO DA CONSCIÊNCIA
166
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
169
seria seu poder. Entre a tribo dos Mapuche os sonhos eram
vistos como viagens da alma.
Tribos de índios da Califórnia também acreditavam
nos espíritos guardiões que apareciam nos sonhos e conferiam
poderes ao sonhador como habilidade, força, coragem, sorte no
amor.
Muito comum na cultura africana e todo Mediterrâneo
o fato de quando uma pessoa que sonhou despertasse
indisposta com comportamento agressivo e negativo,
provavelmente tivesse sido possuída por algum demônio
durante o sono, a terapia então, consistia em expulsar ou
exorcizar o mal.
Para algumas tribos os sonhos eram mensagens do
grande Deus, para outras, desejos da alma. Na história papiros
Egípcios datados de 2 000 a. C. já continham instruções de
como a pessoa poderia obter mensagens através dos sonhos.
Também foram encontrados fragmentos de argila dos povos
babilônicos e assírios, de 3 000 a. C. que continham
interpretações de sonhos. Na Índia o sagrado Veda escrito entre
1 500 e 1 000 a. C. continha informações de como interpretar
os símbolos dos sonhos.
Na Idade Média acentuavam-se as ideias teológicas e
filosóficas, o sonho era considerado como uma etapa
intermediária entre o mundano e o revelador, com visões
divinas, um diálogo com Deus e com a Sabedoria. No
Renascimento o fenômeno onírico continuava tendo caráter
profético, contudo o pensamento era que o sonho revelava os
desejos e ambições dos homens. No Romantismo o sonho
passou a ser literário, algo propício aos devaneios e à
sensibilidade poética, revelando os pensamentos e sentimentos
do homem.
Dependendo da cultura e da crença de cada povo, os
sonhos podem ser considerados como experiências vividas por
nossos espíritos fora do corpo físico, ou inspirações proféticas
170
e divinas, a representação de nossos desejos e paixões, uma
porta de entrada também para os espíritos maléficos. Os povos
primitivos acreditavam que os sonhos traziam revelações
divinas ou demoníacas, esta era uma maneira de se obter uma
significação do sonho, atribuindo a este um caráter de
adivinhação. Já os antigos monarcas tinham os seus
oniromantes, intérpretes de sonhos, pessoas destinadas a fazer
este trabalho em especial.
No passado era cultural entre os povos interpretar os
sonhos, por serem eles considerados expressões do espírito do
sonhador. Em diversas tradições culturais e religiosas o sonho
aparece revestido de poderes premonitórios ou até mesmo de
uma expansão da consciência. As visões oníricas eram tomadas
como o contato do homem com a dimensão desconhecida da
existência.
Porém com o passar do tempo, com a dicotomia razão
e a emoção, por não ser o sonho considerado uma realidade que
se podia conquistar, foram considerados como fatos ilusórios,
uma invenção da mente. Afinal, é mais cômodo afirmar que os
sonhos são imagens sem sentido do que admitir a limitação do
entendimento humano. O homem passou a viver em meio ao
barulho, distraindo seus sentidos, seu foco, sua atenção com
máquinas, televisores, rádio, sons, músicas, imagens
constantes, esqueceu de escutar-se, isto o levou a um
embotamento espiritual.
Segundo Krippner o século XIX foi um processo de
transição, onde antes os sonhos eram vistos sob a ótica dos
períodos clássicos e bíblico para a transição interpretativa e
investigativa do século XX. Segundo o autor:
171
século XIX, eram vistos como mensagens
interpessoais de uma pessoa a outra, ou
como epifenômenos extrapessoais de
processos fisiológicos destituídos de
significado profundo. Os teóricos do século
XX acrescentaram-lhes aspectos de
mensagens da pessoa para o self –
dimensão intrapessoal. (1990, p. 170).
172
2. A NATUREZA DOS SONHOS: O SENTIDO E O
SIGNIFICADO DOS SÍMBOLOS E DAS IMAGENS
2.1. Os símbolos
2.2. As imagens
180
comunicar a mensagem inconsciente. Para na verdade, através
deste processo conhecer aspectos da personalidade, que por
algum motivo a pessoa ainda não tinha lançado um olhar mais
apurado sobre elas.
Pode-se afirmar que as imagens são mensageiras do
mundo dos sentimentos e emoções. E conhecê-las, ouvi-las,
pensá-las, interpretá-las, pode ser “uma tomada de consciência
do filme realizado por cada ser humano no decorrer de sua
existência.” (PEREIRA, 2007, p. 07). Porque ainda para
Pereira “é através do mundo imaginário que a energia traz ao
paciente imagens que precisam ser compreendidas e
interpretadas; e o profissional mais qualificado para esta função
é o psicanalista.” (p. 07).
Certamente deve-se levar em consideração a
dificuldade de se compreender os sonhos, porque o
inconsciente é atemporal e muitas imagens acumuladas criam
um cenário aparentemente contraditório e até mesmo ridículo,
visto que “as imagens do inconsciente não se apresentam,
habitualmente de maneira clara e o sonhador é obrigado a
decifrar o significado de uma sucessão de contrastes e
paradoxos”. (JUNG, 1964, p. 116). E este material, esta riqueza
de imagens produzidas nos sonhos, constituem-se na expressão
do mundo psíquico.
A linguagem dos sonhos é carregada de um
simbolismo tamanho, que seria um desperdício negligenciar
este conteúdo. Esta maneira de ver os sonhos como a expressão
do inconsciente é muito rica, e vêm de encontro ao trabalho
psicanalítico, pois assim os pacientes podem usar como meio
para manifestarem os problemas que os afligem e o analista
poderá investigar estas simbolizações.
Padrões de pensamento geram padrões de
comportamento, e estes denunciam a imagem que a pessoa tem
do mundo e de si mesma. Quando o ser humano tem atitudes e
pensamentos que impedem a realização dos seus objetivos na
181
vida, é porque ainda não percebeu o filmezinho que
inconscientemente se repete inúmeras vezes, não tomou
consciência dos seus pensamentos, sentimentos e emoções.
Apenas repete um padrão de comportamento muito bem
acompanhado de ideias fixas, experiências passadas, ciclos de
autossabotagem, crenças limitantes, valores arcaicos, medos
infundados, que podem muito bem manifestar-se através das
imagens.
Cabe pontuar novamente a necessidade de se
investigar a imagem que a pessoa tem de si mesma, pois se for
um conceito e uma imagem muito pobre e negativa, a
consequência pode ser um processo de autodestruição, derrota,
perda, fracasso, inconscientemente ela acaba negando a
felicidade. Este masoquismo pessoal foi criado ao longo de
uma história de vida, imagens carregadas de emoções que
foram internalizadas e fazem parte da estrutura de caráter da
pessoa. Dessa forma acaba tendo dificuldades em estabelecer
vínculos com pessoas saudáveis e estabelecer relacionamentos.
184
Significativos por conter conteúdos compreensíveis,
mensagens importantes, chaves de acesso para aspectos
importantes do ser humano quando se sabe como abrir, e agora
mais uma vez retoma-se a importância de dominar os segredos
da linguagem simbólica. São importantes porque não contêm
coisas banais, somente muitas vezes estes conteúdos oníricos
estão escondidos por trás de uma banalidade, algo trivial que
funciona como uma fachada.
Os sonhos são imagens repletas de intencionalidade, o
sonhador é o produtor, o roteirista, o autor e ator principal
deste filme, desta sucessão de imagens repletas de desejos e
que denunciam repressões e neuroses, bem como a expressão
dos desejos mais íntimos e a dificuldade para realizá-los. Erich
Fromm deixa claro sua opinião sobre os acontecimentos
enquanto acontece o sonho “na existência adormecida, não há
‘como se’: a pessoa está presente.” (1973, p. 33). A análise do
sonho se dará na junção das partes, de todas estas imagens, a
fim de que se possa dar sentido a esta história. Para Fromm
“qualquer que seja o papel que desempenhamos no sonho,
porém nós mesmos somos o autor, o sonho é nosso, nós
inventamos o enredo”. (1973, p. 14).
No decorrer do processo histórico o ser humano está
sempre tão preocupado com afazeres e problemas que ele
mesmo criou, e não tem mais tempo para prestar atenção em si
mesmo e nas manifestações das imagens ocorridas durante o
sono, todos sonham, mas compreendê-los, entendê-los
dificilmente isto ocorre. Dessa forma os sonhos passam a ser
considerados meros devaneios noturnos, uma sucessão de
imagens, um filmezinho, uma história sem sentido. Ou uma
frase muito bem empregada por Erich Fromm e título de uma
de suas obras, o sonho transformou-se em uma “Linguagem
Esquecida”.
Erich Fromm afirma que o sonho “é o único idioma
universal jamais criado pela raça humana, o mesmo para todas
185
as criaturas e para todo o curso da história. É uma língua com
gramática e sintaxe próprias”. (p. 16). Isto porque os sonhos
têm uma linguagem simbólica, e esta língua expressa os
sentimentos e as experiências mais íntimas das pessoas, eles
seguem “uma linguagem cuja lógica difere da linguagem
convencional que falamos de dia, uma lógica em que as
categorias dominantes não são o espaço e o tempo, mas sim a
intensidade e a associação.” (1973, p. 16).
Erich Fromm (1973) coloca que entender a linguagem
dos sonhos é uma arte, e que esta arte assim como muitas
outras, requer prática, talento, conhecimento e muita paciência.
É necessário compreender onde há uma ligação entre o passado
e o presente, o caráter da pessoa e o fato real formando assim
um todo e levando aos motivos, aos conteúdos que a pessoa
que sonhou precisa tomar ciência.
Sendo o inconsciente atemporal e também amoral, os
conteúdos oníricos estão repletos de emoções e sentimentos
sem a censura, representando o “eu” verdadeiro. Não
obedecendo à lógica do tempo, do espaço e da censura, “em
nossos sonhos somos os criadores de um mundo em que o
tempo e o espaço, que restringem todas as atividades de nosso
corpo, não possuem poder algum”. (FROMM, 1973, p. 14).
Erich Fromm inclui no estudo da simbologia a
antropologia, a biologia dentre outras ciências que podiam
colaborar consideravelmente na elucidação das simbologias.
Sendo ele um estudioso da sociedade, da história, da política e
economia, não poderia relegar estes seus conhecimentos em
sua teoria sobre a interpretação dos sonhos. Um psicanalista
que traz uma proposta voltada às relações sociais por entender
que o inconsciente não é apenas o recalcado e doloroso, mas
também é uma fonte de potencialidade, criatividade,
dinamismo e originalidade.
Sendo Fromm um grande psicanalista humanista sua
visão é pensar o homem em sua totalidade, como um ser
186
inserido em um contexto cultural, social, histórico e político.
Este ser humano possui seus valores, seus costumes, crenças,
desejos; precisa trabalhar, sobreviver, procurar seu espaço para
resolver suas demandas de afeto e reconhecimento. Precisa
atentar-se às questões familiares, econômicas, sexuais,
profissionais, além de ter que manter equilíbrio e destaque na
sociedade. Então os conteúdos oníricos não estão
desvinculados de toda esta realidade.
O psicanalista humanista irá analisar qual o dilema do
seu paciente e examinar as conexões com todos os conteúdos
citados anteriormente, a fim de encontrar o caminho para fazer
cessar o sintoma, a dor, o sofrimento. Os sonhos são de grande
valia nas sessões de terapia psicanalítica por retratarem
questões íntimas do que se passa com os pacientes. Um
trabalho realmente desafiador, porque quando um sonho é rico
em conteúdos e é bem esclarecido e interpretado e o paciente
consegue elaborar, certamente esta pessoa poderá alterar
significativamente algum tipo de comportamento.
Fromm ousou sair da interpretação voltada para a
libido sexual e atribuir à sua análise questões sociais,
históricas, culturais, políticas e econômicas. O homem é a
soma de todas as suas experiências, leva consigo uma
ancestralidade dos que o precederam, seus antepassados são
passado e presente nele mesmo, e toda esta realidade social
colocada por Fromm faz parte do processo de formação do
inconsciente. Porque muitas “verdades” são passadas de
geração para geração até serem incorporadas pela cultura e
sobreviverem no tempo.
Identificar a estrutura de caráter do paciente e qual sua
neurose é fundamental porque estes conteúdos podem
manifestar-se nas imagens e símbolos, cada dificuldade,
preocupação cria um cenário. Cada sonho possui uma temática
que retrata o drama vivido pela pessoa que sonha, o analista
procura interpretar juntamente com o paciente estes conteúdos
187
para se conquistar saúde psíquica e orgânica. Para Fromm os
sonhos retratam o drama existencial, social, político,
econômico, religioso, cultural, contemplam o integral do ser
humano; e trazem consigo as memórias da ancestralidade.
A psicanálise humanista de Erich Fromm compreende o
homem no seu meio social, este ser necessita compreender sua
relação com o mundo, com os outros, com a natureza e consigo
mesmo. E neste meio é um ser de ação, e através das relações
familiares e sociais e também através de suas ações, tende a
evoluir em inteligência, humanizando-se e superando-se, pois o
ser evolui em todos os aspectos, ou seja, físico, social, cultural,
econômico.
Fromm discorre sobre os diversos tipos de caráter com
orientação receptiva, exploradora, acumulativa e mercantil.
Conclui que o caráter das pessoas é comumente a mistura de
todas ou de algumas das orientações por ele descritas, em que
uma é dominante.
Na orientação receptiva a pessoa acredita que todo o
necessário, seja amor, conhecimento, prazer, algo material, está
fora de si. Sua orientação é receber e não produzir. São
dependentes e quando sozinhos sentem-se perdidos, porque se
acham incapazes de fazer alguma coisa sem auxílio.
O caráter explorador não espera receber as coisas dos
outros, mas tomá-las por meio da força ou da astúcia. No amor,
nas atitudes intelectuais bem como na aquisição de coisas
materiais, tendem a apossar-se e a roubar. Costumam usar e
explorar, além de fazer comentários sarcásticos, agindo com
hostilidade e manipulação, nestas pessoas encontra-se
desconfiança, cinismo, inveja e ciúme.
As pessoas com orientação de caráter acumulativa, a
sua segurança baseia-se na acumulação, possuem avareza e são
possessivos, sentimentalistas e saudosistas, metódicos e
pontuais. Seus valores são ordem e segurança, por isto sentem-
se ameaçados pelo exterior.
188
Na orientação mercantil cada pessoa possui um valor,
como uma mercadoria, uma espécie de mercado de
personalidades, o sucesso depende em grande parte de quão
bem a pessoa sabe vender-se no mercado, sem preocupar-se
com a felicidade. Atribui grande importância ao que os outros
pensam a seu respeito.
Na interpretação dos sonhos Fromm utiliza estas áreas
do conhecimento, porque pensava a simbologia dentro de uma
visão completa e ampla. E este homem que sonha possui uma
orientação de caráter que pode ser revelada na análise dos
sonhos, e é importante o analista conhecer o caráter
predominante do seu paciente para conseguir êxito no trabalho
analítico. Um determinado símbolo pode representar um
aspecto do seu caráter, porque para Fromm a formação do
caráter é própria das relações com a cultura, a educação e a
sociedade, e resultado da ancestralidade do homem.
Quando não está ocupado com o mundo exterior, o
indivíduo através dos sonhos recebe cartas com informações
destinadas ao próprio sonhador, ou seja, àquele que sonha,
porém será inútil esta comunicação se não se interpretar a
linguagem utilizada pela psique, mas ao entendê-la, entra-se
em contato com as camadas mais profundas de si mesmo. Para
Fromm esta linguagem simbólica é sensorial “é uma língua
onde o mundo exterior é um símbolo do mundo interior, um
símbolo de nossas almas e de nossas mentes”. (1973, p. 20).
Quando desperto o homem é um ser ativo, racional,
sempre pronto para o ataque ou a defesa, para manipular a
realidade. Acordado vê como dever maior a sobrevivência,
como dar conta das demandas colocadas pela existência em sua
vida, ele tem um desafio dominar o meio. Porém quando
adormecido há outra existência, em meio a tantas cenas e
imagens, muitas vezes ele é o chefe ou o empregado, pode ser
o herói e também o vilão, pode viver uma história de amor ou
189
de terror, medo e pânico, pode ver a luz e a escuridão, viver o
bem e o mal.
Tudo acontece porque agora não é a lógica que
governa como quando está acordado, então pode estar em
diferentes lugares num único sonho, ver pessoas que não via há
muito tempo, atravessar uma parede, flutuar, estar embaixo
d’água e não afogar-se. Para Fromm (1973) durante o sonho, o
homem parece dar vazão às recordações e experiências que
durante o dia nem sequer lembra.
Erich Fromm além de ter feito estudos e pesquisas
acerca dos sonhos acrescenta conhecimento com os mitos e
contos de fadas, para ele “o mito, como o sonho, apresenta uma
estória desenrolando-se no tempo e no espaço, estória essa que
exprime, em linguagem simbólica, ideias religiosas e
filosóficas, experiências da alma.” (1973, p. 144). Em seu livro
A linguagem esquecida, Fromm faz uma análise do Mito de
Édipo, O mito da criação, Chapeuzinho Vermelho, O ritual
sabático e o processo de Kafka.
Influenciado pela psicanálise humanista de Erich
Fromm, Dr. Salézio Plácido Pereira psicanalista da atualidade,
tem dedicado sua vida juntamente com sua esposa Carla
Cristine Mello Froner, dando continuidade ao processo de
formação de novos psicanalistas humanistas através do ITPH
Instituto de Psicanálise Humanista, localizado em Santa Maria
– Rio Grande do Sul. O próximo capítulo contém ideias
expressas em dois livros do Dr. Salézio: “O significado
inconsciente das imagens” e “A interpretação dos sonhos.”
190
4. PSICANÁLISE CONTEMPORÂNEA: UM
ESTUDO DOS SONHOS SOB A ÓTICA DO
PSICANALISTA HUMANISTA DR. SALÉZIO PLÁCIDO
PEREIRA
191
Pereira também faz colocações sobre os sonhos
enquanto a pessoa está desperta, para ele não há diferença entre
os sonhos que acontecem enquanto se está dormindo e sonhos
enquanto se está acordado, um é símbolo e reflexo do outro,
durante o sono os símbolos dos sonhos são significados da
existência, é uma maneira do inconsciente tentar resolver e
realizar os sonhos que se tem na vida diurna. Por isso para
realizar os sonhos eles devem partir de um desejo profundo, a
pessoa tem que estar convicta e ter certeza que realizando seu
sonho será mais feliz, terá mais prazer na existência. O sonho
precisa de investimento e ter um fundamento, porque o sonho
que não dá mais alegria, saúde, satisfação não se concretiza, a
própria pessoa inconsciente acaba criando boicotes para que o
sonho não se realize.
Assim como Erich Fromm e Alfred Adler, Dr. Salézio
Plácido Pereira destaca o aspecto positivo do simbolismo
expresso nos sonhos, pois nestes, estão contidos também
valores, potencialidades e capacidades, uma leitura de como o
homem interpreta sua realidade existencial. E se cada um
encontra-se em seus sonhos, e estes manifestam aspectos
relevantes do que sonha, e cada sonho está ligado à
determinada pulsão, cabe ressaltar a necessidade de se manter a
originalidade do sonho porque não existe um sonho igual ao
outro, e o mesmo símbolo pode ter uma significação muito
distinta de uma pessoa para outra. A interpretação dos símbolos
tem a ver com a história de vida do paciente, tem relação com o
que ele necessita resolver na existência, por isso para cada um
o resultado desta interpretação é único, para cada um é de um
jeito.
Os sonhos além de buscar realizar um desejo, também
têm a pretensão de alcançar um objetivo, sendo então, a
interpretação do sonho tem grande importância, pois pode
beneficiar o paciente. Pereira, assim como Medarde Boss e
Biswanguer, concorda que as imagens e os símbolos estão
192
intrinsecamente relacionados à existência, são alternativas para
a resolução de dilemas existenciais. As pessoas que se dispõem
a analisar seus sonhos têm um ganho adicional de energia,
potencialidade e criatividade.
Psicanalistas renomados como Freud, Fromm, Jung,
dentre outros, sempre trabalharam com a interpretação dos
sonhos de modo responsável, baseado na relação do paciente
com a sua história de vida. Pereira coloca que a interpretação
dos sonhos deva seguir pelo caminho da ciência e não do
esoterismo e do misticismo. Estar livre das verdades pré-
estabelecidas e das crenças dogmáticas, porque a finalidade de
se trabalhar com os sonhos não é a alienação, mas a
autodescoberta de si mesmo. É utilizar os sonhos como
transcendência para realizar os seus sonhos, enquanto projetos
pessoais. Os sonhos são aliados no processo de evolução da
consciência.
Nas sessões de análise muitos conteúdos encobertos
pelas defesas apresentadas pelos pacientes podem aparecer
num sonho. Sendo assim, os sonhos permitem que emoções e
pulsões até então bloqueadas sejam liberadas, dando vazão
para que esta energia criativa circule livremente. Quanto maior
o conhecimento do homem sobre suas emoções e pulsões
maiores serão as perspectivas de realização pessoal, a coragem
e a ousadia para conhecer-se em profundidade tornando-se
transformação.
Ao passar por processos de superação dos seus limites,
por uma transformação, sabendo lidar com as frustrações, o
paciente consegue viver de modo mais saudável, viver o amor
e a felicidade. O sonho não deixa de ser uma oportunidade que
a pessoa tem de poder dialogar com o inconsciente, de
descobrir aspectos de seu caráter ainda desconhecidos, entrar
em contato com o mundo das emoções do amor, do ódio, da
culpa, da inveja.
193
Estas imagens possuem um poder de atuação
inconsciente e podem causar sintomas psicossomáticos e
dilemas existenciais. A psicanálise foca seu estudo para
descobrir os mistérios do inconsciente pessoal e coletivo e
percebe que este estudo perpassa por um processo de
aculturação que o homem vivencia ao longo do tempo. Nestes
símbolos encontra-se um misto de tradições, valores, crenças,
religiões e mitos.
Os sonhos possuem imagens que são metáforas, estas
imagens, símbolos e emoções podem revelar experiências
traumáticas, bem como realizadoras. Possuem um potencial de
comunicação, dialogam sobre temáticas marcantes na vida da
pessoa. A energia psíquica transforma-se em símbolos a fim de
levar ao consciente informações pessoais, driblando assim o
superego, por isso esta transformação revela o que há de mais
íntimo e verdadeiro no homem, por não passarem pelo crivo da
moralidade que censura, do medo, da culpa e da vergonha.
O psicanalista fará com que o enredo da história
contida nos sonhos tenha sentido na existência, poderá
identificar qual a emoção está obstruindo o fluxo da vida, a
evolução e a saúde. Interpretar os sonhos é conhecer a própria
subjetividade, estar atento às manifestações da psique, entender
o que se passa consigo mesmo, tornar-se mais sensível e
compreensivo, superar medos e viver em equilíbrio com a
inteligência organísmica, esta sabedoria da vida interessada na
evolução da espécie, autodescobrir o potencial adormecido,
bem como reconhecer processos autodestrutivos.
No sonho pode aparecer um enredo de símbolos e
personagens para mostrar a matriz da neurose, portanto a
importância de se estar consciente das emoções, evitando
assim, atitudes de falência destrutivas. Experiências de vida
ainda não elaboradas podem manifestar-se nos momentos de
sono.
194
Os fenômenos psíquicos estão presentes nas cenas
imagísticas, elas trazem uma realidade subjetiva que foge à
compreensão racional. Os símbolos e imagens também
demonstram o lado positivo do ser humano, as emoções de
amor, alegria, harmonia, solidariedade. Aspectos funcionais
que corroboram para os excelentes resultados na terapia
psicanalítica, para a expansão da consciência e da criatividade.
Neste diálogo com as pulsões através dos sonhos podem surgir
as respostas aos questionamentos da pessoa quando desperta.
A existência é feita de imagens e símbolos que
perfazem uma mensagem teatral, onde os atores representam as
máscaras do produtor deste texto. Os si bolos e as imagens
passam pela censura do superego, por isso sofrem
deformações, transformam-se em linguagem simbólica,
metaforicamente o símbolo é um pacote de presente
embrulhado e lá dentro tem um significado. Porém o sonho
deixa de ser um mistério na medida em que é interpretado. A
interpretação de um sonho é uma linguagem metafórica que
conversa com os símbolos e imagens.
A psicanálise humanista concebe que o inconsciente é
um manancial de potência, criatividade, produtividade e
autenticidade. Segundo Pereira a qualidade das imagens
interfere no funcionamento do organismo, e mesmo diante do
caos e da desordem das imagens existe a possibilidade de se
organizar, dar lógica e sentido à vida.
Há muito tempo os sonhos são utilizados na resolução
de problemas pessoais, profissionais e familiares. Os símbolos
e as imagens nos sonhos denunciam onde a energia psíquica
encontra-se bloqueada. Para Pereira a energia psíquica seria a
representação simbólica da inteligência organísmica, a
inteligência da vida interessada na evolução das espécies, ela
procura integrar e defender a saúde psíquica e orgânica, cabo
ao homem saber interpretar. E os conteúdos antes inconscientes
quando integrados à consciência, conseguiriam desenvolver
195
alteridade e maturidade psíquica. Porque o autor defende que o
objetivo dos sonhos é elevar o nível de consciência do
paciente, tornando-se assim um ser melhor.
197
“novas” informações nos ajudarão a
resolver o problema se estivermos
desejando mudar nossa atitude ou nosso
ponto de vista. Isso nem sempre é fácil,
pois requer coragem em face da resistência
e da persistência diante da frustração. (p.
95).
199
discernimento para fazer a conexão entre os seus estudos e os
sonhos que lhes ocorriam.
Os sonhos podem ajudar a solucionar problemas e
auxiliar no despertar da consciência, pode-se dizer que o sonho
é um caminho que o cérebro encontrou para externar os
conteúdos necessários à evolução da pessoa. Na terapia
analítica humanista o paciente terá a oportunidade de poder
esclarecer, confrontar, interpretar e elaborar os conteúdos
oníricos. Nesta alteridade e amorosidade, com proteção e
segurança, consegue força, coragem e ousadia para fazer frente
aos medos e inibições, às neuroses que insistem em destruir a
vida.
O importante do trabalho com os sonhos é que as
pessoas têm a oportunidade de conhecer-se, aprender a fazer
diferente, criar condições, encontrar recursos na existência para
suas dificuldades. É o seu momento de poder incorporar novas
aprendizagens e ver a realidade de modo diferente, ter
perspectiva de futuro, acreditar na possibilidade de viver com
qualidade de vida, bem estar e alegria; para prevenir e
promover a saúde psíquica é necessário conhecimento de si
mesmo.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
201
aliadas à práxis viabilizam alegria e satisfação, autorrealização,
valorização social e segurança emocional.
Muitos profissionais não acreditam no trabalho com os
sonhos, porém o profissional humilde, aberto e flexível em
algum momento pode rever seus paradigmas teóricos, suas
formas de intervenção, tratamento e prognóstico. O psicanalista
só conduzirá o paciente até onde ele próprio conseguiu ir.
Foi relevante e fundamental o estudo dos sonhos, pois
enquanto futura psicanalista poderei aplicar estas técnicas na
clínica. O estudo dos símbolos e das imagens trouxe-me
conhecimento, esclarecimento mais profundo do
funcionamento da psique. Preferi abordar o aspecto positivo do
trabalho com os sonhos porque realmente é isto que colhemos
na análise: benefícios.
Já muito comentado pelos filósofos e ganhando caráter
científico com Freud, o estudo dos sonhos ganhou destaque em
muitos trabalhos realizados por renomados psicanalistas.
Reservei um capítulo à visão psicanalítica humanista de Erich
Fromm que além de escrever sobre os sonhos realizou estudos
acerca dos mitos e contos de fadas. Reservei ainda um capítulo
a um psicanalista da atualidade, Dr. Salézio Plácido Pereira no
qual tenho grande estima, apreço e admiração por sua
dedicação e contribuição à psicanálise, além de muita gratidão.
O trabalho analítico realmente é encantador, porque o
psicanalista trabalha com a dinâmica inconsciente, o não dito, o
próprio analista faz o feedback da existência com o paciente,
ele se encontra no outro, se reconhece e também encontra força
e coragem para enfrentar suas limitações e dificuldades, e
realizar seus sonhos.
O estudo sobre os sonhos me levou ao conhecimento
da psique, do mundo imagógico e da linguagem simbólica, e
por incrível que pareça levou-me a um grande conhecimento da
realidade, por isso ao finalizar meu estudo escolhi o título Os
sonhos: aliados no processo de evolução da consciência. É
202
como mergulhar no imaginário, no mundo simbólico e
imagógico, a fim de retornar à realidade que está estreitamente
vinculada à fantasia, misturando o real e o imaginário, para
conseguir aliar, estreitar laços entre um e outro, caminhar
metaforicamente por esta corda bamba e ganhar equilíbrio para
caminhar na existência.
BIBLIOGRAFIA
203
_____________________. A Complexidade do Inconsciente
na Psicanálise Humanista. Santa Maria: ITPOH, 2008.
http://www.betocolombo.com.br/artigos/ver/faz-me-casto-mas-
nao-ainda-351
204
A IMPORTÂNCIA DOS SONHOS NA PSICANÁLISE
HUMANISTA
205
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
208
enrijecimento mítico para optar por uma trajetória que nos
forneça maior discernimento com transparência.
Portanto, o sonho pode ser comparado a um prisma que
revela nossas emoções reprimidas, registradas no inconsciente,
formatando imagens e símbolos. As imagens nos sonhos
representam mistérios.
Através dos sonhos decifrados analiticamente, analista e
analisando conseguem compreender os conflitos psíquicos
inconscientes e conscientizam-se de quanto é importante saber
interpretar os sonhos. Para uma melhor compreensão reflexiva,
o presente artigo aborda o tema: “A Importância do Sonho na
Psicanálise Humanista”.
209
Afirma convictamente que muitos dos desejos
expressos em nossos sonhos são de natureza sexual. Na época
em que Freud viveu, imperava a expressão da sexualidade
excessivamente restrita, motivo pelo qual levou Freud a pensar
que a força de uma repressão tão exacerbada fosse capaz de
desencadear graves transtornos psicológicos nas pessoas. Para
Freud, embora o sonhador não tenha consciência do significado
de seus sonhos, estes cumprem sua missão, já que foi
devidamente expressa emoção representada nesse sonho,
mesmo que fosse deslocado.
Freud enfatiza que o inconsciente contém tudo o que é
herdado que está presente no nascimento, que é determinado
pela natureza – acima de tudo, portanto, os instintos. Esclarece
que no inconsciente os desejos expressados nos sonhos
permanecem rigidamente ocultos, encobertos, porém a voz do
inconsciente pode vir à tona, quando os sonhos forem
trabalhados com o auxílio das análises, no decorrer das
interpretações dos mesmos, nas sessões de Psicanálise.
O sonho é um dos instrumentos que a psicanálise utiliza
para tornar consciente o inconsciente, a interpretação, no caso
dos sonhos, instiga o analista ao exame do conteúdo manifesto
a fim de navegar ao conteúdo latente, compreendendo-se, que
um sonho, assim como um sintoma, deve ser interpretado pela
análise especificamente cada um dos fragmentos de seu
significado.
O conteúdo manifesto aparenta uma máscara que
disfarça falsamente o conteúdo latente. O conteúdo manifesto
trata-se do relato cênico do sonho, enquanto que o conteúdo
latente significa o histórico de desejos e pensamentos
inconscientes ocultos, que estão escondidos, acorrentados pelo
inconsciente. O conteúdo latente contém escondido, vendadas
as realizações dos desejos.
210
A tese básica da psicanálise humanista nos
sonhos é que esta humanidade de valores,
virtudes, moralidade, aparece nos traços de
caráter de cada personagem nos sonhos. A
natureza humana precisa encontrar um
caminho para realizar-se e evoluir, por isto,
é preciso identificar no contexto histórico e
cultural dos sonhos os conflitos que
dividem e oprimem o potencial de
criatividade e originalidade de cada pessoa.
(PEREIRA, 2012, p. 100).
211
Através das análises pessoais consecutivas,
permanentes, faz com que o analisando consiga gradativamente
descobrir-se, então nesse estado de descoberta, uma nova
reestruturação psíquica é elaborada e assim, instaura-se
harmonioso processo de equilíbrio emocional, o paciente opta,
permitindo-se a viver em harmonia, com alegria, saúde e plena
felicidade. Por conta desse fator, ocorre a descoberta e nasce a
superação.
A Psicanálise preserva a importância do estudo dos
sonhos como uma ponte com um portal livre e iluminado, que
pode auxiliar no despertar do potencial da pessoa para
autoconhecer-se, transformar-se psiquicamente com
harmonioso equilíbrio e se tornar um novo ser superado com
plena felicidade.
212
integrar, harmonizar fatores da energia
psíquica.
215
O interesse em desvelar e conhecer os
fenômenos do inconsciente precisa ser
analisado em suas partes, e assim pode
interpretar com sua limitada percepção, as
emoções, pensamentos, intuições de tudo
que aprendeu e esqueceu nos diversos
níveis de atuação da energia inconsciente.
(PEREIRA, 2012, p. 82).
216
ressignificação das imagens, dos símbolos, a fim de tornar
consciente, descobrir a latência das mesmas e dar um novo
significado. Esta reação faz com que, a rede neuronal, isto é, as
ramificações (dentritos dos neurônios), conectadas entre si e
lubrificadas de energia positiva, dilatem-se, ampliando a
consciência do paciente. Assim quanto mais consciência, maior
é a capacidade para transformar-se e superar-se na existência
cotidiana.
A conexão inconsciente entre o corpo humano e os
sonhos repara a história do universo dos humanos. Os sonhos
são a voz, o discurso do que acontece com o corpo. Sendo que
as emoções afetivas e as pulsões são o núcleo de mensagem,
tanto no rumo de revelar sua etiologia, como também o trajeto
da restauração da moléstia. Essa mensagem inconsciente busca
exibir onde estão os pontos fracos, as potencialidades olvidadas
e entorpecidas pelo tempo da existência vivida.
219
5. A IMPORTÂNCIA DO SONHO PARA O
PACIENTE
A espécie humana e algumas espécies de animais
sonham. Existem pessoas que se acordadas durante o sono
“fases do sono, período do sonho no qual ocorre o movimento
ocular muito rápido, onde os olhos cerrados movimentam-se
aceleradamente para cima e para baixo, é o estágio REM”,
(“Rapid Eyes Movements”), trata-se do momento em que
acontece a maior quantidade do sonho, reclamam de jamais
sonhar, mas recordam-se de seus sonhos, existem as que
afirmam que não sonham, porém há pessoas que sonham, mas
são incapazes de lembrar-se de seus sonhos. (Vocabulário
Contemporâneo de Psicanálise, p. 394).
Interessante é compreender que sempre sonhamos ou no
estado de sono ou em estado de vigília. Sonhamos quando
dormimos, no período do sono e quando estamos acordados, no
estado de vigília diurna.
O sonho do paciente é uma espécie de energia
inconsciente que através do cenário de imagens e símbolos
relatados, é capaz de revelar e facilitar para o analista a
exploração dos conteúdos, seus significados, propiciando a
descoberta da tradução latente que será interpretada ao
analisando.
O mais importante na Psicanálise Humanista é que na
associação livre, permite ao paciente desvendar seus sonhos
através da verbalização oral, de desenhos, mapas, de hipnose e
da grafia em diários, que facilita a leitura e interpretação
analítica do conteúdo do sonho do paciente.
A associação livre possibilita total abertura e liberdade
ao analisando para que o mesmo sinta-se a vontade,
descontraído, manifeste sua autenticidade, verbalize seu
vocabulário natural, gesticule, expresse sua própria postura,
libere suas emoções sobre a forma de catarse, pois não há
censura.
220
Para tal, o sonho interpretado pelo analista ao
analisando é de expressiva importância para o paciente, pois
serve de fonte vertente de informações essenciais referentes à
saúde psíquica, orgânica, econômica, inclusive a afetiva.
Para o paciente a interpretação do sonho é muito
importante, após ser refletida gradativamente pode desenvolver
uma nova conscientização, levando à nova elaboração
organizada da personalidade, despertando o paciente para o
desenvolvimento evolutivo de novas soluções de criatividades
para resolver as incessantes neuroses e deficiências de ordem
pessoal, com equilibrada estrutura emocional.
Surgem no paciente, infinitos questionamentos após
refletir a respeito do mundo de suas emoções e pulsões, que
atribui significado espelhando claramente esta realidade de
energia psíquica descoberta, que tem expressiva relação total e
direta com a vida do sonhador.
No universo dos estudiosos analistas, muitos
consideram e afirmam que ao interpretar os sonhos, alguns
sonhos nem sempre são de relevante importância, porém
constatam que todo sonho tem um significado. Não existe
sonho sem significado. Afirmam, quando os sonhos são
facilmente esquecidos, é porque os fatos e pensamentos são
muito insignificantes no real cotidiano, por tal fator, não são
lembrados.
Contudo, é possível que nos sonhos outros
acontecimentos emocionais permaneçam durante longos anos,
trancafiados, impregnados na memória do paciente, então são
considerados mais importantes para o paciente.
221
da escravidão conceitual e teórica, levá-la a
desenvolver suas potencialidades e
criatividade e não manipulá-la com mitos e
falsas esperanças. (FROMM apud
PEREIRA, 2011, p. 2).
222
abandonando as sessões, opta pela mudança de analista,
desistência total.
Na interpretação analítica dos conteúdos dos sonhos do
paciente são reveladas manifestações realizáveis dos desejos
não concretizados na existência real. Muitas das cenas no
sonho, o paciente realiza no sonho desejos heróicos, que não
aconteceram na realidade de sua existência.
Nessa interpretação as imagens, o cenário de
simbologia apresentados no sonho são interpretados
significativamente com a finalidade de colaborar para resolver
os problemas frustrantes, dilemas conflitantes, emoções que
foram reprimidas, as quais não foram superadas pelo paciente
na sua vida real.
Ao conhecer os significados interpretados de seus
sonhos, com o auxílio do analista, o analisando reflete, toma
consciência, inspira-se, reagindo, opta para lançar-se ou não
nas forças da natureza, abraçando ou a Pulsão de Vida (Eros)
ou a Pulsão de Morte (Tanathos).
Ao optar pela pulsão de vida (Eros), recorre e absorve
energias positivas para desenvolver a coragem, o desafio, a
perseverança, a determinação, a criatividade, a originalidade,
descobre as potencialidades ocultas até então adormecidas no
interior de sua alma. Importante é que o paciente aprenda como
relacionar-se com seus sonhos.
224
6. A IMPORTÂNCIA DOS SONHOS PARA O
PSICANALISTA HUMANISTA
O analista entende que o complexo de inferioridade é
um dos componentes lubrificante da neurose, é uma resistência
que gera no paciente o medo de assumir o novo, de sair da
condição do paradigma antigo, que é mais cômodo e mudar
para um novo estilo de vida.
225
No interior do “setting” analítico, o analista transporta o
analisando sonhador a mergulhar, a conectar-se com os
símbolos e mitos de seus sonhos, consegue descobrir nas
emoções que escondem a verdade de alguma atitude
disfuncional, uma nova relação legítima, com autenticidade,
determinando um novo tipo de convivência entra a consciência
e suas respectivas emoções. Importante é saber que o sonho
funciona como um termômetro mediador entre a consciência
racional e a inteligência da vida das pessoas.
No paciente ocorrem sensações que provavelmente
estejam relacionadas com algum fato que aconteceu
recentemente, pode ser uma influência remota que pode causar
um afastamento dos pensamentos, levando a um
questionamento saber o porquê a sensação não o deixa
totalmente em plena paz.
Convém que o analista humanista para realizar uma
interpretação devidamente adequada, necessite concentrar-se,
perceber o relato das emoções vivenciadas no sonho do
paciente. É fundamental e necessário que o analista
compreenda como é representado no aparelho psíquico, e como
se articula o combate conflitante entre o Id e o Superego do
paciente.
O Id representa a realização dos desejos. O superego
representa por sua vez a censura, o proibido e os julgamentos.
Relevante é o Ego, representa as resistências. O Ego não
permite que o conteúdo censurado, chegue até a consciência,
assim garante que o conteúdo não seja prejudicial para o
paciente.
Por conta desse fator, o sonho sofre alterações,
consequências dos mecanismos de defesa, do deslocamento e
da condensação. Convém esclarecer que no mecanismo de
defesa: condensação é constituída pela combinação de dois ou
inúmeros acontecimentos simultaneamente.
226
Porém o deslocamento caracteriza-se pela mudança de
determinado fato para outro local, defesa esta que atua como
forma de ativar consciência para descentralizar e amenizar o
efeito da frustração traumática. Esta defesa funciona como
apoio sustentável ao ego para elaboração do conteúdo
solidamente recalcado.
É de suma importância que ao analisar um sonho do
paciente, o resultado seja de alertar ou de instigar ou até
mesmo, o de levar o paciente a refletir com mais profundidade
a respeito da situação existencial, a qual o sonho em si, se
refere. É essencial que o paciente reconheça e compreenda os
símbolos presentes nos sonhos desvendados e também aprenda
a interpretá-los.
O analista deve estar suficientemente preparado para
deparar-se com a interpretação de conteúdos dos sonhos, pois
sua função é a associação ao relato da história de vida do
paciente. Cabe ao analista o papel de acolher o paciente, com
afeto, amor humanista, escutar e interpretar os sonhos e revelar
para o paciente o significado destas divergentes contradições,
buscando detectar a identificação dos limites e alcance deste
desejo.
Para uma boa compreensão do tema, é importante que se
tenha em mente ensinamentos básicos que nos conduzam,
como a afirmação de que “na psicanálise avaliaremos a
interpretação simbólica sobre os devaneios da sugestão pela
emoção, enxerga-se o que não existe, as imagens são
invisíveis”. (PEREIRA, 2011 a, p. 7).
É indispensável que o profissional analista descubra no
sonho, por onde se esvai a energia do paciente, quando está
sonhando, quando está relatando seus sonhos ao analista e
quando inicia o processo de elaboração da compreensão da
interpretação analítica do sonho, no momento que toma
consciência dos significados das origens de suas neuroses
reveladas nos sonhos.
227
É preciso compreender que na totalidade da espécie
humana, cada pessoa, desde o momento de sua concepção, ao
nascer e no decorrer de sua existência, é subjetivamente apta a
não ser atendida em alguma exigência a priori, de natureza
emocionalmente afetiva, que afeta registros, falhas na
estruturação psíquica, causando traumas, neuroses. Vários tipos
de transtornos psicopatológicos, que não analisados
clinicamente, tendem a comprometer a saúde da pessoa para
abraçar a deterioração total da vida.
Na existência real, muitas vezes certas questões de
natureza material, afetiva ou até mesmo certos objetivos que
almejamos concretizar, nem sempre são resolvidos. Mas nos
sonhos estes desejos são retratados, realizados. Esta realidade é
uma crise, um surto que contempla as crenças, os desejos não
resolvidos, não satisfeitos na vida real.
As insatisfações, frustrações dos desejos afetivos,
materiais que produzem emoções negativas, que causam um
imenso desgaste de energia psíquica, que se esvai afetando em
conexão com o desgaste da energia vital de cada célula que
compõem todo o organismo. Este desgaste de energia propicia
alterações descontrolando o compasso na função normal dos
órgãos, provocando a adição de doenças crônicas.
Portanto, o sonho representa a realidade psíquica,
afetiva, existencial do paciente, a qual é revelada para o
analista. Para que o analista conheça o paciente é só analisar e
interpretar o mundo vivido no sonho do paciente. O sonho
pode demonstrar evidências das potencialidades existenciais do
paciente, das quais deseja e não foram resolvidas na realidade,
mas com o auxílio do analista pode ser interpretado
analiticamente.
O sonho pode denunciar a existência das neuroses e
colocar imagens latentes, que sendo interpretadas, leva o
paciente a compreender-se, a bancar-se na existência. O
analista pode fazer a leitura e interpretar o sonho através do
228
cenário panorâmico das imagens do sonho desenhadas pelo
paciente.
No relato do sonho, cada símbolo ou imagens
produzidas são estampados sentidos e significados que
remetem a comunicação de uma linguagem que focaliza onde a
energia está bloqueada. Para tal, os símbolos e mitos assumem
o comprometimento de elevar à consciência, como objetivo de
desenvolver toda a potencialidade que jaz disponível de
qualquer pessoa, porém sabe-se que muitas pessoas não
utilizam, porque ignoram ou não acreditam na sua eficiência.
O relato do sonho é muito importante para o
psicanalista, porque mostra que a mente do paciente está
tentando elaborar algo, possivelmente relacionado ao trabalho
analítico. O profissional analista deve estar especificamente
familiarizado ao se deparar com a diversidade de símbolos nos
sonhos dos pacientes, deve dominar bem o manejo desse
enfoque.
A importância dos sonhos é fundamental tanto para o
analista como para o analisando no processo analítico,
contribui muito para o acesso ao inconsciente do paciente, pois
proporciona apoio, instigando ao paciente, conforme a
instância, utilizar métodos de registrar, gravar os relatos dos
sonhos, tornando assim mais prático para recordar facetas dos
sonhos, logo ao despertar.
O analista desvenda e descobre a etiologia da neurose
através da análise interpretativa dos sonhos. É possível também
descobrir o potencial criativo adormecido sob dois modos:
trazendo à consciência as potencialidades, as psicopatologias,
neuroses, psicoses, psicopatias. É necessário formular um
diagnóstico relacionado com os temas dos vários sonhos e após
fazer a avaliação do estado mental do paciente.
A ciência comprova que a espécie humana tem a
capacidade de controlar e até programar seus sonhos, sendo
capazes de elaborar desejos de sonhos criativos, através de
229
novas técnicas de relaxamento, com eficaz controle mental,
sendo competências capazes de contribuir na evolução das
potencialidades criativas, através da conexão entre consciente e
inconsciente do paciente.
7. A IMPORTÂNCIA DOS SONHOS À
PSICANÁLISE HUMANISTA
230
Conforme, Marc André R. Keppe, na sua obra Curso de
Psicanálise, dedicadamente nos remete um capítulo referente
aos “sonhos”, onde Freud reporta – se assim:
233
pela resistência. O analista deve concentradamente entender o
conteúdo de uma imagem.
Através da linguagem simbólica das imagens, os sonhos
transmitem muitas mensagens, sendo que é basicamente com o
auxílio da psicanálise humanista que possibilita uma visão de
aprender, compreender e decifrar interpretações com muita
profundidade.
Em cada relato histórico pessoal, encontram-se os
significados da linguagem latente. O significado da linguagem
simbólica das imagens dos sonhos para cada paciente pode ser
divergente.
Cada pessoa sonha com imagens semelhantes, porém os
significados da linguagem dessas imagens são diferentes. Cada
uma tem sua história existencial real e os sonhos diferentes,
portanto os significados da linguagem são diferentes
individualmente, para cada pessoa.
Para cada símbolo relatado no sonho existem diversos
significados. Convém que, o analista seja coerente em
compreender cada símbolo, jamais use a rigidez sobre
determinada imagem fornecida pelo paciente.
Por esta razão, é que o método científico que caracteriza
a Psicanálise humanista, estabelecido na teoria de Erich
Fromm, admite um flexível e aceitável sistema mesclado entre
as diversas de Freud e de Jung para interpretar os sonhos dos
pacientes.
Fromm não rejeita a importante investigação das causas
dos conflitos internos e os fatos passados que os motivaram,
também não nega a atenção cabível para o exame do material
onírico de acordo com sua finalidade e função à evolução do
paciente que deseja curar-se, libertar-se das neuroses
destrutivas.
A Psicanálise humanista é o caminho da superação. No
momento em que a pessoa toma consciência sobre o seu estado
234
emocional, torna-se possível constatar com clareza a percepção
de seus transtornos afetivos de personalidade.
Certas pessoas espontaneamente sentem-se com plena
abertura em expor comentários sobre suas próprias atitudes do
antes e do após o iniciar suas análises, superações emocionais
positivas, observadas por elas mesmas.
Por esse motivo é importante que, o analista humanista
torne bem transparente para o seu paciente a direção da energia
e mostre todas as benéficas qualidades e brilhantes talentos que
estão bloqueados, amarrados pelas neuroses destrutivas. Nesse
momento o paciente tomando consciência dessa negação vital,
percebe que os conteúdos simbólicos do inconsciente estão
transbordantes de potencialidades, de talentos, de criatividades
imensas para solucionar os traumas.
236
O paciente é levado a mergulhar, a navegar no oceano
de sentimentos emocionais, convertendo, isto é, transformando
sob forma de linguagem e mais o que adiciona no seu corpo,
toda a elaboração desse processo faz com que o paciente tome
consciência da origem das caracterizadas e múltiplas
patologias, sem manifestar notório diagnóstico.
Na psicanálise humanista convêm elucidar que, os
sonhos focalizam trajetórias complexas, reveladoras de nossa
vida. Para tanto, descobrir os respectivos significados auxilia a
desfrutar da potencialidade exacerbada que existe no interior de
nossa alma, que muitas vezes é ignorado pelo domínio do
inconsciente, que bloqueia, trava a autoconfiança, imobilizado
pela inconsciência. Os conteúdos inconscientes são capazes de
vir à tona por intermédio dos sonhos e dos símbolos.
Nas sessões da psicanálise humanista, o paciente após
uma experiência de análise dos sonhos, está propenso e pode
ser levado a manifestar uma fantástica transformação em sua
vida real. Por isso, constata-se que os sonhos não são meras
imagens sem sentido, tem sentido sim, pois representam
memórias de nossos antecessores, que no cenário do sonho,
tomam a forma de imagem corporal, transcendendo o nosso
estado diurno de nossa existência.
Todo corpo comunica por meio da linguagem
sintomática ou através de crises frustrantes existenciais todo
tipo de dores e insatisfações, sendo que a totalidade das
experiências tende a inserir-se e circular no interior de cada
uma das células do corpo do analisando.
É necessário que esta codificação seja decifrada para
após, conscientizada e incorporada numa significativa
totalidade, possibilite entender com clareza os significados
latentes dos diversos sintomas ao analisar esses sonhos.
Os sonhos são analisados na psicanálise humanista com
o objetivo de descrever um diagnóstico centrado nas
experiências de acontecimentos que ocorreram na vida real do
237
analisando. Lowen e Reich destacam-se, pois ambos optaram,
nesta forma de trabalhar profissionalmente com os sonhos.
Na sábia explanação psicanalítica humanista de Erich
Fromm, o sonho é interpretado, tendo um olhar que segue a
trilhada experiência da vivência do analisando que relata o
sonho, afirma que é muito importante sempre observar que, por
detrás do sintoma psicossomático há um corpo acorrentado em
sofrimento.
Através da psicanálise humanista, a interpretação dos
sonhos, leva o paciente a ter um novo olhar, relacionados à
natureza humana e aos fatos emocionais vivenciados no
decorrer da infância, pode contribuir ao entendimento de onde
provém a origem da total falta de humanismo.
238
da inteligência organísmica. O fato de a
pessoa sonhar em si é terapêutico, porque
ela acaba conseguindo regular, equilibrar,
integrar, harmonizar aspectos da energia
psíquica. (PEREIRA, 2012, p. 36).
239
latente. O aqui e o agora se tornam
manifestos por meio das interpretações dos
símbolos, fantasias, imagens, sonhos,
mecanismos de defesa, produtos deste
inconsciente. (PEREIRA, 2008, p. 173).
240
clínica como uma luneta de longo alcance que focaliza um
norte de progresso, de superação ao paciente para que o mesmo
liberte-se do foco das neuroses e transtornos psíquicos.
A superação na vida psíquica, a felicidade na existência
é dignificante para pessoas que assumem um propósito de
comprometimento, do desejo de ser feliz, da fidelidade,
autenticidade, buscando sempre a verdade, tornando-se
humanista com a própria existência, através da Psicanálise
Humanista de Erich Fromm.
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
242
BIBLIOGRAFIA
______________________. A Complexidade do
Inconsciente na Psicanálise Humanista. 1º ed. Santa Maria:
ITPOH, 2008.
244
OS PASSOS DE UMA ENTREVISTA EM RELAÇÃO
AOS SONHOS
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
245
Os sonhos vêm fascinando o homem desde os tempos
primórdios. Trata-se de um assunto inesgotável onde a
curiosidade e os desafios são exaustivamente debatidos, e
estudiosos do assunto se lançam neste universo que admite
verdadeiras viagens para a imaginação dos leigos e formulação
de novas teorias para o mundo científico.
Foi Sigmund Freud quem, pela primeira vez deu caráter
científico aos sonhos através da publicação de sua obra A
Interpretação dos Sonhos (1900), onde descreveu com
minúcias a importância e utilização dos sonhos no processo
analítico como instrumento revelador da personalidade
humana. Sigmund Freud e Carl Gustav Jung com seus estudos
dedicados aos sonhos trouxeram a contribuição que propiciou a
melhor compreensão do assunto.
Dr. Salézio Plácido Pereira coloca como premissa que
“cada sonho deve ser interpretado na sua originalidade, não
existe um sonho igual ao outro”. (PEREIRA, 2012, p. 14), mas
como detectar e compreender estes conteúdos nem sempre
explícitos, conduzindo uma entrevista em proveito do sonhador
na clínica analítica? O sonho alerta, mas cabe ao entrevistador
a utilização dos meios para trazer estes conteúdos à consciência
do sonhador para os quais métodos, estratégias, passos e
sugestões de perguntas aqui explanadas possam auxiliar este
esclarecimento.
246
2. LEITURA DOS SONHOS ATRAVÉS DOS
TEMPOS
249
que o inconsciente lançava mão no sentido de trazer à
consciência aqueles conteúdos de nosso self reprimidos,
rejeitados ou não suficientemente considerados. Na análise dos
sonhos seu interesse focava o sonho em sua totalidade e todas
as suas partes no conjunto da composição dramática do
sonhador. Suas associações se concentravam nas imagens e
emoções do sonho, e desestimulando as associações que se
afastassem do conteúdo do sonho.
Medard Boss em sua concepção desconsidera a historia
de vida, as associações e sua relação com a vida atual do
sonhador. Para ele, o sonho não é um conteúdo simbólico. Dois
passos definem sua abordagem fenomenológica:
250
compreensão indispensável para uma melhor ciência da própria
personalidade.
254
3.4. Método de concentração nas emoções
255
Certamente serão parte da experiência de
vida do sonhador e talvez valha a pena
explorá-los. Mas se não forem realmente
parte do sonho, o desviarão do objetivo de
sua interpretação. (DELANEY, 2010,
p.143).
256
WILL: Eu me senti revigorado e realmente
limpo.
G: E como se sentiu quando viu o “homem
armado”?
W: Apavorado
G: Como era ele?
W: Era um latino, como um traficante que
eu conheço.
G: Em sua vida atual, de algum modo você
se sente revigorado e realmente limpo, mas
ameaçado por alguém ou algo que poderia
explodir sua cabeça como um traficante
latino?
W: Ah, sim! Esse é um sonho sobre eu me
livrar das drogas, e me sentir muito bem e
revigorado por isso. O homem armado é
como aquela parte de mim mesmo que está
sempre à espreita, pronta para me levar de
volta àquele mundo mortal de vício. Esse é
outro daqueles sonhos com avisos que me
ajudaram a ficar longe das drogas nos
últimos cinco anos. Eu os tenho e eles
afastam a tentação de mim. Isso não teve
nada a ver com o episódio que eu lembrei
no palco. Tem a ver com a minha vida
atual. (DELANEY, 2010, p.144).
257
3.5. Método de projeção pessoal
258
projetivas. O sonhador é incentivado a só
aceitar as interpretações que achar
convincentes, e nunca é conduzido em uma
determinada direção. (DELANEY, 2010,
p.147).
259
extraído da experiência real. (BOSS, 1979,
p. 48).
Sou dos que acreditam que a entrevista inicial funciona como uma
espécie de trailler de um filme, que posteriormente será exibido na
íntegra; isto é, ela permite observar, de forma extremamente
condensada, o essencial da biografia emocional do paciente e daquilo
que vai se desenrolar no campo analítico.
(ZIMERMAN, 2004, p. 60).
260
A título de ilustração trago a colocação de William C.
Dement, pesquisador do sono e sonhos e diz que sonhar
permite que cada um, e todos de nós, sejamos
loucos, silenciosamente e com segurança, cada noite de nossas
vidas.
Ao sonhar, estamos entramos em contato com nossas
realidades inconscientes que incluem símbolos, lendas, mitos,
desejos inconfessáveis que nos levam a pensar nos sonhos
como mecanismos de defesa e adaptação, cujo estado de
loucura se faz necessário para nossa preservação nos estados de
consciência. Assim, fica a pergunta: Como na clínica conduzir
a entrevista com foco nos sonhos e como desvendar este
mundo tão enigmático sem que isto manifeste uma ameaça
explícita ao sonhador?
Partilho do pensamento de Delaney (2010) que a
interpretação dos sonhos em análise pode ser uma tarefa
gratificante e compensadora capaz de abrir novas descobertas,
alegrias, insights, sem que haja a necessidade de transformar
esta tarefa “em uma doutrinação baseada em um guru
psicológico. Em vez disso, pode dar-lhe toda a satisfação de
aprender uma nova linguagem que abre novos mundos”.
(p.151)
Delaney explana o objetivo de ter desenvolvido o
Método de Entrevista a Respeito dos Sonhos:
261
escola de pensamentos diferentes.
(DELANEY, 2010, p.151).
262
4.1. Os passos de uma entrevista em relação aos
sonhos
Preparação da Entrevista:
CENÁRIOS:
PESSOAS:
267
Seguindo sugestões de perguntas formuladas por
Delaney (2010, pp. 185-188):
1. “Quem é ___________?”
Devem-se evitar perguntas como “o que fulano
significa para você?”, pois tal procedimento pode levar a uma
evasão do real significado do sonho, vez que interrompe seu
processo pessoal de identificação de sua metáfora, bem como
pode trazer uma interpretação imediata inexata.
2. “Como é _____________ na sua vida quando
desperto (ou em geral)?”
Normalmente esta é uma pergunta que esperta o
sonhador a explanar o que pensa e sente em relação ao Fulano,
mas pode desencadear associações imediatas e prematuras. O
objetivo é descobrir quais os reais sentimentos do sonhador em
relação a Fulano para conectá-lo a imagem de Fulano.
Delaney (2010, p. 186) enfatiza que “o entrevistador
deve procurar manter-se o mais próximo da imagem do sonho
original para evitar associações que tragam material
irrelevante”.
Pois, mesmo que nos detenhamos na interpretação de
“específico sonho”, e procuremos manter o foco em sua
originalidade, se a explanação trouxer associações que levem a
outros pontos investigativos, não podemos ignorar este
conteúdo. O entrevistador precisa ter a habilidade de discernir
as oportunidades que surgem e que possam ser utilizadas em
prol do sonhador.
3. “Como é _________ em seu sonho? E O que
_________está fazendo no sonho?”
Esta pergunta pode levar o entrevistador a descobrir
aspectos do Fulano destacados em uma determinada cena do
sonho. Se a pessoa que aparece é de relação próxima pode-se
abreviar a exposição pedindo que o sonhador fale sobre a parte
da pessoa semelhante a parte retratada no sonho. E, se for
alguém que o sonhador não conhece pode-se perguntar: Que
268
tipo de pessoa você imagina que Fulano poderia ser, baseado
em sua aparência e modo de agir no sonho?
Também é interessante solicitar três adjetivos que
delineariam o que Fulano faz e tem sua história ou aparência
no sonho.
4. “Então _________ é (reafirme a descrição),
certo?”
5. “_________, que você descreve como
(recapitule a descrição), o faz lembrar-se de alguma
coisa em sua vida?”
Quando o entrevistador recapitula a descrição usando os
mesmos adjetivos nomeados pelo sonhador, oferece a
possibilidade para que relacione a imagem a alguma parte de si
mesmo ou de alguém, ou algo em sua vida. Mesmo que o
entrevistador tenha feito a conexão com características de
Fulano no sonhador ou de alguém que lhe é próximo, é
importante a paciência para que ele proceda a associação
sozinho. Prescinde aqui também a habilidade do entrevistador
caso detecte que o sonhador descreveu alguém que não gosta
para contornar as resistências que poderão surgir.
ANIMAIS:
269
1. Como é o animal? Finja que nunca o vi
2. Como você descreveria a personalidade de um
__________?
3. O que um _________está fazendo em seu
sonho?
4. Então esse animal é (reafirme a descrição
obtida), certo?
5. Há alguém em sua vida ou uma parte de si
mesmo que é como um ______,
6. Como assim?
Teste a conexão.
OBJETOS:
270
É importante a definição e descrição do objeto num
contexto geral. O objetivo é a compreensão das funções do
referido objeto, sem a necessidade de exatidão científica.
2. Como é o _________ em seu sonho?
Com a formulação desta pergunta, o entrevistador está
saindo de um campo amplo e geral, partindo para uma
investigação mais específica, oportunizando ao sonhador
associações que talvez mereçam ser mais exploradas. Se, no
sonho a descrição apresentada for diferente do objeto
conhecido, a pergunta deve ser direcionada para esclarecer
estas diferenças, como perguntando de que forma (objeto do
sonho) seria ou funcionaria diferente de um (objeto) normal.
Motive o sonhador a revelar seus sentimentos com
relação ao objeto no sentido geral e ao objeto sonhado.
3. Então o _________ em seu sonho é (reafirme a
descrição), certo?
4. O _________em seu sonho, que você descreve
como (recapitule a descrição), o faz lembrar-se de
alguma coisa em sua vida?
O procedimento nesta entrevista é o mesmo de quando
são realizadas associações entre pessoas nos sonhos e na vida
desperta, onde é importante que se esclareça e confirme a
conexão.
SENTIMENTOS:
AÇÕES/TRAMAS:
276
que não é uma tarefa tão simples como parece à primeira vista.
E, mesmo seguindo as sugestões de perguntas, o entrevistador,
por vezes pode se deparar com respostas não elucidativas
fornecidas pelo sonhador que apresenta fortes resistências. Para
melhor facilitar a condução destes casos, Delaney (2010)
sugere estratégias que utilizadas e compatibilizadas com as
perguntas da carta de sugestões pode ser de grande valia.
279
5.6. Sexta Estratégia: Reafirmação
6. ILUSTRAÇÕES CLÍNICAS
280
Eu tirei o esmalte vermelho das unhas dos pés e das mãos, e
depois coloquei um esmalte branco perolado. Sorrindo, mostrei
minhas mãos e pés ao meu marido, esperando satisfação e
aprovação. [...] Gayle: eu venho de outro planeta. Porque as
mulheres usam esmaltes nas unhas?
Renata: Para ficarem mais sensuais e atraírem o sexo oposto.
G: Qual a diferença entre usar esmalte vermelho e branco
perolado?
R: Ah, o vermelho é uma cor muito sensual e o branco não. O
branco é a cor da pureza e o vermelho, a da paixão. [...]
O sonho me mostra renunciando a minha paixão para
conquistar a aprovação e o amor do meu marido. Eu desisti de
um recém-descoberto interesse na sexualidade, que precipitou
nossa separação. Meu marido e eu não temos uma energia
sexual nos unindo. Agora estou usando esse horrível branco
que ficaria melhor com o uniforme antiquado de uma
enfermeira. Realmente sufoquei minha paixão sexual e estou
tentando ser boa e doce. Acho que levei isso longe demais.
O sonho de Renata retrata claramente a ação dos
conflitos internos não aceitos pelo consciente. Se o
entrevistador trouxer o sonhador, através deste processo de
maturação passo a passo, com calma e paciência, propiciará
não só a interpretação do sonho, como a conscientização ao
sonhador das negações com que está por vezes se punindo.
O sonho auxiliou Renata a verificar que suas tentativas
e esforços para salvar o relacionamento estavam tirando o
sabor de sua vida pela necessidade de um comportamento que
agradasse e tivesse a aprovação do marido. A cor vermelha
retratada nas unhas é o que podemos chamar do “verdadeiro
desejo”, oculto e latente, manifestado através do sonho. Renata,
mais tarde divorciou-se e casou com outra pessoa para quem
usava um esmalte muito vermelho.
281
Dentro das diversas variações que o elemento “cenário”
pode originar, exemplifico aqui um sonho para uma
compreensão mais facilitada.
282
5. Há alguém na sua vida ou uma parte de si
mesmo que identifique semelhança com a pessoa da
dona da casa ou com o ocorrido no sonho?
6. Em sua vida atual existe alguma situação que se
assemelhe ao que ocorreu no sonho ou que ocorre
quando você age ou se sente como se sentiu no sonho?
7. Há alguma situação em sua vida atual
semelhante às coisas que ocorreram na época em que
viveu naquela casa?
8. Descreva as principais pessoas do sonho,
atitudes e emoções que surgiram durante o sonho e
pergunte-se em que situação da vida atual você
reviveria essas lembranças?
9. Você identifica padrões de comportamento
aprendidos na infância e que estão repetidos em sua
vida atual?
283
6.3. O sonho de Cláudia:
285
E: Então, a tua tia era uma pessoa muito organizada,
metódica, aquelas pessoas que trazem tudo rigorosamente
controlado: cada peça, cada utensílio tinha lugar marcado e
ela não permitia mudanças na casa, certo? (reafirmação da
descrição).
C: sim. Ela era exatamente assim.
E: Há na sua vida atual alguma situação que lembre ou repita
o sonho?
C: Agora você trazendo esta pergunta me vem à cabeça que em
qualquer comemoração ou atividade que eu me sinta
responsável pelo desenvolvimento fico aflita, sempre pensando
que não sairá como desejo.
E: Na sua vida atual, você identifica na sua personalidade
alguma semelhança no seu modo de pensar ou agir ou de
alguém de suas relações que lembre sua tia?
C: Sim. Sou uma pessoa extremamente exigente comigo, com
minha família e com meu trabalho.
E: Agora se pergunte em que situação da vida atual você de
certa forma revive o sonho?
C: No sonho, eu sabia que minha tia já tinha morrido e a
princípio fiquei surpresa com a atitude dela que considerei no
momento, como descaso comigo. Depois me senti aliviada e
feliz por minha tia estar indo se divertir e pela casa não estar
como normalmente estaria. Foi como se eu pudesse finalmente
relaxar.
(Observe que Claudia está elaborando o sonho por etapas,
externa o sentimento que sentiu no sonho, mas ainda não
consegue relacioná-los com a vida atual).
E: Em que este sonho reflete os comportamentos aprendidos
quando criança e estão se reproduzindo em sua vida atual?
C: Minha preocupação é tão acentuada que quando tenho
algum projeto, chego a cancelar passeios ou compromissos de
menor importância para me dedicar integralmente a ele.
286
Agora estou relacionando minhas atitudes com a minha tia:
surpresas, situações de imprevisto sempre me deixam muito
angustiada. E, nos últimos tempos parece que meu senso crítico
e minhas exigências em relação a minha família estão deixando
todos desestabilizados, inclusive eu.
E: E, trazendo o que sentia quando estava na casa de sua tia
para a sua vida atual, você se sente bem tomando as atitudes
dela como modelo? E como acha que os seus se sentem
convivendo com você?
C: está na hora de mudar...
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
293
também se faz através da interpretação dos sonhos se
soubermos utilizá-los de maneira eficaz.
Assim, quando trago sugestões a serem utilizadas na
sessão analítica, não trago um manual preconcebido para ser
usado sem contestações, trago a possibilidade de enriquecer
este universo que acontece dentro da sessão analítica com
orientações para uma entrevista bem sucedida que, se usadas
com habilidade, coerência e flexibilidade, poderão oportunizar
ao paciente, instrumentos que o motivem a romper as barreiras
desconhecidas.
Muitas vezes nos condicionamos a situações por
desconhecermos nossas potencialidades, nossas habilidades, do
quanto somos capazes. Decifrar os enigmas de nossas
mensagens mais profundas, nossa essência, nossas emoções,
nossos sonhos, pode ser o resgate de quem realmente somos.
BIBLIOGRAFIA
Sites pesquisados:
http://www.brasilmedicina.com.br/noticias/_check_printnot.asp
?Area=3&Cod=40 pesquisa em 16.09.2012
296
A IMPORTÂNCIA DA TEORIA HUMANISTA
EXISTENCIAL PSICANALÍTICA E A LINGUAGEM
CORPORAL DOS SONHOS
297
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
302
Erich Fromm fazia grande crítica à psicanálise
Freudiana, principalmente quando Freud se referia à concepção
de homem como uma ideologia, dizendo que o mesmo produto
de certos desejos, pulsões, impulsos, instintos, interesses e
necessidades e que encontravam expressões nas
racionalizações.
A psicanálise hoje deve dar-se conta de que o homem
em sua totalidade é constituído de fatores que influenciam
direta ou indiretamente suas atitudes e comportamentos
conscientes ou inconscientes.
306
4. A NATUREZA SIMBÓLICA DOS SONHOS NA
PSICANÁLISE
308
5. A IMAGEM QUE ESTÁ NOS SONHOS NUTRE
OS SENTIMENTOS E EMOÇÕES QUE DEPOIS SERÃO
SOMATIZADOS
309
hereditárias o que já existe e foi criado pelo ambiente social,
pela educação familiar e pela escola.
312
se como o lugar de contradições inibidoras para o poder
mental, afetivo, social e sexual de sua idade.
316
podem ainda ter sonhos que tendem para a violência e a
destruição. Aparecem imagens de edifícios desmoronando.
Geralmente mulheres que sofrem abusos sexuais ou
estupros sonham com o seu molestador, as imagens envolvem
danos graves ao corpo da sonhadora, o tema mais comum é de
estar sendo atacada e resultar na sua morte.
8. SONHOS ERÓTICOS
9. XAMÃS TRIBAIS
10. PESADELOS
324
se leva em conta a repressão, a um anseio
obscuro e evidentemente sexual, que
encontrara expressão apropriada no
conteúdo visual do sonho. (GALVIN e
HARTMANN, apud KRIPPNER, 1998, p.
215).
325
horas de sono, e vem acompanhado de suores, um grito ou
pedido de socorro, movimentos corporais, e a pessoa acorda
aterrorizada. Em crianças pode desencadear o sonambulismo.
No pesadelo ou ataque de angústia do sono é um sonho
assustador, a sua manifestação se dá nas três últimas horas do
sono, não apresenta movimentos bruscos, nem sonambulismo,
os membros superiores e inferiores e o tronco ficam
paralisados temporariamente.
328
O analista Junguiano interpreta o sonho de seu paciente
em quatro níveis, o contextual, pessoal, transpessoal e a
totalidade. Na contextualização dos símbolos e imagens, as
motivações inconscientes acrescentam diferentes “personas” e
suas “sombras”, e ai descobre a complexidade de interesses e
desejos que estão nesta rede e que obedecem ao princípio do
prazer, da realização e da satisfação.
No nível pessoal é quando todo o estado de euforia e
também de felicidade, ambas propagam-se para o coletivo. Em
essência possui uma linda energia e sua sensualidade faz com
que “anima” e animus”, motivem uma reação visceral e afetiva
àquelas relações que realmente encontram-se com a
totalidade de seu ser.
No nível transpessoal nada passa despercebido, a
consciência procura com mais profundidade conhecer os
fenômenos psíquicos que estão interagindo com o todo. O
Nível da totalidade nos surpreende porque essa pequena parte
que o sonho representa na existência está interrelacionado com
a totalidade da experiência.
A Escola de Psicanálise de Erich Fromm, procura
interpretar os sonhos com a ajuda da filosofia e de outras
ciências humanas, uma forma interdisciplinar para decifrar e
traduzir a realidade do inconsciente, Fromm estudava as
questões, históricas, sociais, culturais, econômico e político.
Parece ser a única escola de psicanálise que apresenta nova
proposta de interpretação dos sonhos e que está sustentada nas
relações sociais e políticas do homem moderno.
A Teoria Humanista estuda o ser humano na sua
totalidade, incluindo-o no contexto social, cultural, político e
econômico, seu simbolismo inconsciente é fruto de uma
sociedade que interfere na formação do caráter deste homem
que está envolto por um emaranhado de costumes, tradições,
mitos, desejos, consumo, que acaba direcionando ações e
329
crenças doentias e agressivas que acabam afetando seu
organismo.
Para este ser humano é imprescindível trabalhar e
sobreviver tanto fisicamente quanto emocionalmente, mas
muitas vezes sem que ele perceba se deixa corromper por suas
compulsões e interesses pessoais e egoístas, tornando-o um
homem egocêntrico e narcisista, com alto índice de stress para
se manter nesta sociedade capitalista e individualista.
Analisar os sonhos na psicanálise humanista é levar o
paciente a uma grande transformação, os sonhos são as
memórias de nossos ancestrais que estão presentes além do
estado diurno. Esta ligação inconsciente entre corpo e sonhos
remonta a história da humanidade.
Podemos através de uma nova experiência reviver o
conteúdo do sonho, pela criatividade e inovação das figuras
simbólicas, através da compreensão dos desejos destas
emoções, canalizar para a realização de seus objetivos.
O Cérebro encontrou através dos sonhos um caminho
para trazer a consciência às soluções dos bloqueios emocionais.
Porém os sonhos não resolvem o problema do sonhador, e sim
alertam para novos erros no futuro e respeitam a decisão do
sonhador, mesmo sendo contra a sua evolução e humanização.
O sonho está interessado e comprometido com o
desenvolvimento das potencialidades do ser humano, não tem
compromisso com sua cultura, moral, status, ideologia, ele sabe
avaliar corretamente os desejos da racionalidade humana e
sabe o que é saudável e imprescindível para o desenvolvimento
de sua humanidade.
O sonho possui uma sinceridade, coerência e defende a
vida e sua evolução, não interessa se os desejos pessoais, da
razão ou da natureza se chocam, ele busca a saúde e a
realização dos potenciais que estão na linguagem simbólica.
Quando a incoerência da consciência em conflito começa a se
repetir numa atitude destrutiva, as imagens latentes
330
transformam-se num estado de pânico para assustar e despertar
o sonhador deste estado de destruição e alienação. O sonhador
precisa de um psicanalista para ajudá-lo a dar sentido na
existência e saber que estes significados fazem parte da energia
da psique.
As pessoas que estão conscientes de suas emoções
podem evitar ações que as levem ao fracasso ou a falência, as
emoções manifestam-se em forma de raiva e ódio, com
personagens que não conseguimos resolver durante o sonho. A
psicanálise humanista mostra que nos sonhos é que está a
humanidade dos valores, virtudes, moralidade e que aparece
nos traços de caráter do sonhador.
Como os sonhos estão interessados na evolução
humana, trazem em seus símbolos as ideias de superação, do
potencial, da imaginação, da criatividade, do planejamento e, é
através desta riqueza de informações que estão nas emoções e
pulsões que desperta para viver com saúde e alegria.
Muitos sonhos trazem nas imagens os conflitos afetivos,
emocionais, econômicos pulsionais e mostram através de seus
personagens as ações erradas que podem ser a causa desses
sofrimentos, isolamento e impotência. O ser humano que está
insatisfeito, improdutivo torna-se insuportável porque esta
infelicidade o contagia e o deixa dependente de suas neuroses.
O sonho é uma inteligência que nos mostra a direção da
autonomia, do trabalho produtivo e do amor.
332
violência e abandono, e ainda culpam os outros pela sua
infelicidade.
Erich Fromm chamava atenção para alguns pontos ao se
interpretar um sonho. O analista deve perceber as necessidades
existenciais que estão nos significados ocultos das imagens. Os
símbolos denunciam ações que impedem a evolução da
consciência humana. O desejo dos sonhos é evitar a alienação
que pode adormecer e neutralizar ações que ainda estão
inconscientes, mas que levariam à solução dos problemas
existenciais.
Os sonhos mostram que para desenvolver saúde e
felicidade é preciso conhecer-se profundamente e cuidar de seu
“espírito”. É preciso encontrar nestes símbolos os meios para
reconciliar-se consigo mesmo, buscar a sabedoria para
encontrar sentido em sua existência, mas primeiro é preciso
perdoar-se pelos seus equívocos, superar suas limitações, ser
verdadeiro, autentico e capaz de amar.
Quando na existência uma pessoa relaciona-se de forma
submissa, autoritária ou amorosa, em seus sonhos podem
aparecer símbolos que despertem o interesse nesta pessoa de
resolver sua dificuldade pessoal de relacionar-se consigo
mesmo, com os outros e com a sociedade. Muitos mesmo
percebendo este traço de seu caráter preferem permanecer
escondidos por detrás de uma seita, organizações, optam por
não responsabilizar-se pelas suas atitudes e submetem-se a um
poder autoritário.
Este é mais um exemplo de relacionamento sádico-
masoquista, onde a pessoa abre mão de sua autonomia e a
liberdade do ser, submetendo-se ao vínculo simbiótico com a
outra pessoa autoritária. Pode pensar que viver assim é
vantagem, não está percebendo que a gratificação na dor acaba
com sua potencialidade, autonomia e coragem. É um caminho
equivocado porque nunca pode satisfazer por completo sua
333
necessidade de amor, afeto, carinho, pode despertar a violência,
agressividade, frustração que é o resultado da falta de amor.
Quem vive neste estado de submissão torna-se inseguro,
com raiva de si mesmo, sente a necessidade de violentar-se,
procura no caminho da autodestruição a forma que acha mais
fácil, o suicídio. Para casos assim o antídoto é o amor, uma
emoção que oportuniza a experiência da comunhão, parceria,
intimidade, é possível viver com autonomia, liberdade e
integridade.
O analista humanista pode através da interpretação dos
sonhos, identificar e interpretar personagens que aparecem nos
símbolos como sendo os tipos de caráter do sonhador. Caráter
receptivo está sempre disposto a receber, ele é a vítima por isso
não oferece nada em troca, tornam-se cada vez mais
dependentes de outros, sentem-se perdidos quando sós, porque
se acham incapazes de fazer qualquer coisa sem auxílio.
335
sua ação desenvolve em si um vazio na existencial, raiva contra
si mesmo por não possuir uma identidade própria.
O analista deve procurar nos símbolos uma atividade
produtiva, inconsciente, e que esteja querendo tornar-se mais
humana e saudável. Ao sair deste senso comum a pessoa
consegue fazer do seu trabalho, um lugar de prazer, alegria,
realização, será capaz de viver com liberdade, conhecimento.
Os sonhos trazem esta possibilidade de que o amor pode ser
conquistado.
BIBLIOGRAFIA
338
A INTERPRETAÇÃO NA PSICANÁLISE HUMANISTA
DOS SÍMBOLOS E MITOS NOS SONHOS
Flávio Rodrigues
339
leitura como desterritorializada, de exposição, de consumo e de
capital.
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
342
Neste sentido, a Psicanálise Humanista - a partir de
Erich Fromm - tem procurado compreender, que inconsciente é
aquilo que não está percebido pela consciência. Ou seja, toda a
vida de vigília estaria envolvida por imagens, sensações e
sentidos, que não podem no momento tornar-se consciente.
Desta forma, se objetiva, buscar respostas na leitura dos
símbolos e dos mitos. Interpretar as imagens produzidas por
sensações inconscientes (oníricas) presentes na vigília
causadora de sublimações, como também de psicopatologias.
Seja na interpretação das fantasias, das artes plásticas, dos
contos de fadas, sejam nas obsessões maníacas, nos traços
persecutórios, nos casos de ansiedade e como também nos
casos de compulsões.
A variação de composições entre sensações e imagens,
experiências e reações são os pressupostos psicanalíticos, que
dão vazão a vida psíquica e ao entendimento clínico de um
evento. O que se pode perceber é que nos casos de sublimação
torna-se arte, e nos casos de supervalorização fixa o sujeito em
um quadro patológico. Levando a desreflexão das
composições, deformações e imagens presente na psique.
Como dito anteriormente, não devemos esquecer que o
inconsciente, para Erich Fromm (1960), não é o lugar da falta
de impulso ou de sentimento, mas sim a ausência desta
percepção. Isso indica que a parte consciente da psique está
percebendo o caráter funcional e pragmático dos
acontecimentos. O pré-consciente está processando todos os
estímulos experienciais. O inconsciente sendo a todo o
momento invadido por sensações e distorções, internas e
externas, que movimentam a vida psíquica.
O caráter ficcional é que entendemos nossas abstrações
como realidade concreta, o que para Fromm, não passam de
criações ilusórias e representações. O que temos em nossa
mente consciente seriam resquícios de nossas reminiscências
343
individuais, culturais, sociais e filo/ontogenética, já que
teríamos papéis específicos a cumprir em nossa sociedade.
Os efeitos destas ficções são visto na sociedade atual, e
vários autores explicam tais acontecimentos fenomenológicos.
Porém, ainda cabe uma leitura das atualizações, entre o que se
vive e o que se sente, ou seja, o inconsciente. O movimento
interno das sensações variadas sentidas no corpo, não
compreendidas pelo consciente, atualizadas na reversão em
símbolos e mitos. A psicanálise dos mitos e dos símbolos pode
ajudar na interpretação dos sonhos, e nas variadas gerações
fantasmáticas oriunda destas ficções. Tendo como objetivo
compreender as atualizações dos símbolos e mitos, com isso,
trazer o enfoque da Psicanálise Humanista sobre as diversas
formas símbolos e mitos individuais e coletivos da nossa
sociedade compreendida nesta leitura como desterritorializada,
de exposição, de consumo e de capital.
1
Linguagem é um sistema mais complexo e variável, mais que a
representação de sons, o que Jung entende por linguagem poderíamos fazer
a leitura de língua (ou sistemas idiomáticos de sons a fim de comunicar
algo), para maior compreensão.
355
farfalhar e sussurrar do vento, as vozes dos
animais, etc., e finalmente, os que resultam
da combinação de percepção e reação
afetiva. (JUNG, 1995, p. 10).
356
trará consigo uma complexa rede de significação e o conjunto
desta rede de significação depende das experiências
vivenciadas, que poderão retornar deformadas.
O esquecimento neste caso seria a preservação e a
deformação, sendo estas, formas suportáveis de assimilação e
de experiência. Este esquecimento proposital seria a conjunção
do evento traumático, ou a denúncia do reprimido, que de
algum modo permanece preso no conteúdo destas relações de
representação. Espécie de proteção, que impede a
materialização de qualquer conteúdo, que por ventura, possa
escapar, na composição das imagens, emoções, afetos,
experiências, e assim gerando algum conflito.
357
Ao nos aproximarmos de nossas pulsões
arquetípicas, percebemos o poder humano
em sua forma original. Esta forma de
pulsão original depende da formação
arquetípica, como também, dos estímulos
que as equilibram internamente. Estes
conteúdos imagéticos estão imanados por
forças pulsionais, sociais e historicamente
significados, através das experiências
pessoais e coletivas. (RODRIGUES, 2010,
p. 131).
358
desconforto da fome e da cessação de desconforto internamente
identificado é de origem estrutural simbólica.
Esta estrutura poderá ser identificada como sendo, fonte
de processos psíquicos, que dão origem a muitos significados
simbólicos na vida adulta.
359
A evolução da mente reptiliana, não foi por simples
evolução do externo para o interno ou do interno para o
externo, mas uma complexa articulação entre estes. Não foi
também, uma escolha entre os mais adaptáveis, ou como o
senso comum consegue compreender, (o mais forte e mais
adaptado sobrevive. Se isso fosse verdade, o que seria do ser
humano?). Antes das disciplinas filosóficas, científicas,
linguísticas, etc. As habilidades de autopreservação,
reconhecimento e alteridade tiveram que se desenvolver. As
capacidades de aprimoramento das técnicas tiveram que sofrer
uma evolução. O desenvolvimento das técnicas de agricultura e
pastoreio, da caça e da pesca, com a finalidade de proteção do
bando, armazenagem de comida e a fixação dos animais
humanos a nichos específicos, foram alternativas encontradas
para a sobrevivência ao mundo hostil.
A capacidade simbólica não é algo inato pura e
simplesmente, mas sim um desenvolvimento, com base sólida
na reformulação da capacidade de simbolização das variadas
técnicas, das construções teóricas, das evoluções e da
capacidade superior de pensamentos. É a partir destas
características, que foi possível conduzir sons sem significado,
para as formas complexas de comunicação.
A radicação, o sedentarismo possibilitou inúmeras
vantagens, que seriam a preservação e a continuidade. Destas
habilidades superiores, derivou a linguagem e as línguas dando
nome ao mundo das coisas. As relações entre objetos tornaram-
se conexões internas, formando as organizações psíquicas. Sem
a experiência não existiria a linguagem, sem a articulação da
linguagem não existiria pensamento. Para tornar mais eficaz a
comunicação foi necessário a criação de signos com a função
de fixar e orientar o pensamento a algo concreto.
Porém, somente isso não foi suficiente para o
desenvolvimento da psique, ao perder o caráter nômade, outras
problematizações foram incorporadas. A insegurança do
360
mundo externo foi introjetada à psique, com o passar do tempo
transformada. As necessidades básicas foram dando lugar às
necessidades mais evoluídas, a falta e os desejos não
elaborados tornaram-se arquétipos que sustentam ainda hoje a
psique.
Necessitou transformar a falta do seio materno, em algo
que o transcendesse. Este processo teve como fonte os próprios
sentidos afetados pelos objetos.
361
característica filogenética. (RODRIGUES,
2010, p. 133).
364
Me refiero al concepto según el cual la
libertad caracteriza la existencia humana
como tal, y al hecho de que, además, su
significado varía de acuerdo con el grado
de autoconciencia (awareness) del hombre
y su concepción de sí mismo como ser
separado e independiente(FROMM, 1941,
p. 49).
366
das coisas sobre as quais se dirigem essas
operações”. (GOLDGRUB, 1995, p. 85).
368
função futuro e passado não significa nada. O jogo simbólico
não é mais que a dança do acasalamento bem definida.
369
plenamente realizada e vivida. (JUNG,
1964, p. 162).
372
Agora em fim, percebia, que quem o acompanhava
todas as vezes ao beber água, não era uma entidade separada,
ou uma entidade das águas, era sim um reflexo, um eu virtual.
O desvelamento de tal imagem virtual, que nele habitava até
esse momento, foi a descoberta do outro real e concreto,
também, a descoberta do si-mesmo que o influenciou.
Desta evolução reflexiva é que foi percebendo a
natureza como sendo algo externo ao animal-simbólico. As
construções puderam estruturar-se, desenvolvendo a percepção
aprendida, superando permanentemente as funções meramente
fisiológicas. Ao construir-se como símbolo, o animal-humano
passa a transformar o real da natureza em produções,
produzindo assim, a história, a tradição e a cultura.
Ao refinar a percepção do externo, pode iniciar a
individuação do interno. A sociedade construída deste primeiro
momento evoluiu para uma sociedade complexa, percebendo-
se como totalidade desprendida da natureza, que para
sobreviver a modifica e modificando-a, modifica-se ao mesmo
tempo.
373
sensação formadora de imagem, ou seja, uma percepção do
externo com base em mecanismos internos.
Na neurose obsessiva, observamos que as imagens estão
influenciadas por uma base pulsional, que permanecem e
persistem, pulsionando os movimentos repetitivos e
compulsivos da psique. Este processo tem nas ficções, ou
criações imaginárias, a base da libidinização recalcada ou
reprimida, que fomentam a ação repetitiva.
De acordo com Laplanche e Pontalis,
374
de muitos modos: Poderíamos esperar
assim – se esta hipótese for verdadeira –
que, em fases mais antigas do
desenvolvimento da humanidade, esta
transformação não era um sintoma
patológico e sim um processo frequente e
normal. Seria interessante, por isso, saber
se sinais deste fenômeno se conservaram
na história. (JUNG, 1995, p. 132).
375
Em todos os casos o que se percebe é que a criação de
um mito pessoal é caracterizada para melhor compreender a
própria situação. As histórias são possivelmente percebidas na
realidade o que dão maior força para a criação simbólica. O
mito de Narciso, explica a ideia de perdermo-nos em nós
mesmos, e com isso constituirmos uma característica estrutural,
imersa em uma possível psicose.
Ao tratarmos de um mito pessoal podemos por
insistência e repetição, consolidar o mito como um ente, que se
apodera de nossa totalidade humana. O Ego sucumbido torna-
se refém das leituras internas do mito pessoal, ao
mergulharmos em nosso Narciso, ao sermos imersos em nossa
dor, as representações de beleza e feiura são baseadas neste
mito. Mito esse que sofre pela desventura, que necessita ser
resgatado, mas que ao estar intensamente ligado ao seu reflexo
não consegue ver o outro.
Podemos relacionar as depressões nestes casos em que
o externo é tão forte que o aparelho psíquico sofre uma
clivagem, fundindo-se ao mito. Narciso não morre pela
imagem morre pela imersão. Enquanto a imagem fantástica
ainda está presente, permite que Narciso sobreviva. Porém, ao
mergulhar no vazio de seu inconsciente, morre engolido pela
imagem virtual, sufocando pela ingestão de si-mesmo.
378
Narciso, vivendo a inconsciência de suas existências, em que
sucumbiram pela predeterminação de um oráculo.
Como um bebê que nada conhece, sai em busca de uma
alternativa a sua predeterminação, porém no meio do caminho
encontra com o Rei Laio e seus guardas, e num ataque de fúria
acaba matando a todos. E a jornada continua, ao ler o enigma
da esfinge, completa seu destino de matar o pai e esposar a
mãe, “o desafortunado pai é a primeira intrusão radical de outra
ordem de realidade na beatitude dessa reafirmação terrena da
excelência da situação no interior do útero; assim sendo, o pai é
vivenciado primariamente como um inimigo”. (CAMPBEL,
1997, p. 07).
Lendo o mito e encaixando-o diretamente no
desenvolvimento psíquico, num primeiro momento temos a
certeza que se trata de criação forçada. O porém é que
inicialmente como no preâmbulo, não há nada além, que a
inscrição inicial dos primeiros afetos. Esta inscrição está
envolta de ambivalência, e ainda sem significado. Existindo
tanto a dor e o desconforto, quanto o alívio e a saciedade. A
simbiose não é apenas uma construção, mas uma evidência, o
amor, uma construção simbólica, ainda não é uma realidade
psíquica. O que existe, entre mãe e filho, é a troca saudável de
afeto mútuo, assim como a mãe afeta psiquicamente o bebê,
também é afeta psiquicamente.
381
secundários, y esta elaboraciona ora
manifesta, ora enmascarada racionalizada
se encuentra muy cerca de uma verdadeira
antropologia histórica. (BARTHES apud
ZECCHETTO, 2008, p. 114).
383
[...] o consumo moderno é ser uma atitude
ou, para colocar mais corretamente, um
traço de caráter. Não importa o que se
consome; pode ser alimento, bebida, TV,
livros, cigarros, pintura, música ou sexo. O
mundo, na sua opulência, é transformado
em um objeto de consumo. No ato de
consumir, sugasse passiva e ferozmente o
objeto de seu consumo, embora, ao mesmo
tempo, esteja sendo sugado por ele. Os
objetos de consumo perdem suas
qualidades concretas porque não são
procurados pelas faculdades humanas
específicas e reais, mas, por um esforço
poderoso: a voracidade de ter e de usar.
(FROMM, 1992 p.111).
384
Desse reprimido é retirado o impulso que faz no
presente a atualização da sensação perdida no tempo-espaço,
que não pode ser compreendida, pulsão geradora de novas
regressões. A repetição se torna uma espiral que faz com que o
sujeito permanentemente reviva as sensações e experiências
inconscientemente.
386
status que acende, pelas marcas que usa, pela tecnologia que
vende, pela exuberância que transmite, pelas revistas que
aparecem ou programas da mídia em geral que participa. O
herói atual, não busca evoluir, mas busca o símbolo da vitória,
mais que isto, pretende ostentar os símbolos, mesmo que custe
a própria vida ou a condição humana, que é a mediania.
Neste percurso da extrema pobreza à extrema
opulência, os deslocamentos são inúmeros. Não podendo, desta
forma, constituir um Senso de Identidade e a Necessidade de
Enraizamento. Já que a diáspora não se trata em tempos atuais
apenas de deslocamentos territoriais, denotando um sentido
mais amplo e abrangente aos meios de difusão de comunicação
e informação. Sem uma produção do afeto desejante, não pode
constituir uma identidade fixa e tende a ter uma identidade
virtual, possível em muitos locais. Por sua vez, sem ser objeto
de desejo, ou constituído por afeto virtual, não pode enraizar-se
profundamente, vivendo a virtualidade dos territórios em que
se inscreve.
Os movimentos territoriais, desta forma, já não podem
ser percebidos como entrada e saída dos viajantes, mas pela
movimentação dos conteúdos virtuais. A produção do
inconsciente social não é mais apenas local, e os limites
territoriais não são mais um problema. O herói atual é
convertido em consumo, que neste momento, tende a ser uma
produção enraizada na produção do virtual, o que alimenta uma
cadeia industrial de larga escala.
Sendo assim, a tecnologia e o consumo retroalimentam-
se sistematicamente, com o desenvolvimento tecnológico,
maior variedade de consumo e a superação momentânea do
consumo, pelo consumo do mais atual. Porém, o fato de ser um
sistema retroalimentar, não quer dizer, que seja
necessariamente consciente, mas tornasse quando o uso é
comum e apresenta resultados fiduciários. O herói neste jogo
necessita também superar seu feito homérico por outro, para
387
que possa continuar com seus ganhos secundários (afeto e
desejo). Mesmo que isso faça do herói atual uma marca, um
símbolo, vazio de sentido, já que está em busca do símbolo
social que é o dinheiro, um fim sem objeto, mas com um
símbolo. O regressivo desta ideia é que não compreende que a
sua existência é um fim si-mesmo, ou a busca da liberdade,
produtividade e da integração e não a busca inconsciente pelo
afeto e o desejo.
O herói atual, receptáculo vazio, tornasse líder, líder
este que se torna um ícone, uma imagem fundida em si-mesmo.
Seu feito maior foi a notoriedade, esta notoriedade, trouxe o
lucro do ganho secundário, mas que entendida pelo seu objeto
que é o dinheiro. O pensamento médio se identifica e projeta
suas expectativas neste ser imortal, e, este último acaba por se
pensar assim. Com isso, a busca pelo líder explica a
transferência que é produzida pela identificação. Se num
primeiro momento transfiro conteúdos, que pode conter uma
composição com base nas imagos, materna ou paterna. Num
segundo momento me identifico pela humanidade que
apresenta tal figura. O aspecto humano de identificação é que
todos nós temos nossas jornadas e que nelas somos o centro da
história.
389
monoparental, em que haverá de qualquer forma, aquele que
ocupe o papel do terceiro da relação.
390
a dia, porém, torna-se mais independente:
aprende a andar, a falar, a explorar o
mundo por si; a relação com a mãe perde
algo de sua significação vital e, em lugar
disso, a relação com o pai torna-se cada vez
mais importante. (FROMM, 1995, p. 55).
391
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
a) E por falar em sonhos... Um pequeno conto
para concluir.
396
BIBLIOGRAFIA
397
____________. A Descoberta do Inconsciente Social. São
Paulo: Manole, 1992.
399
A INFLUÊNCIA DA HISTÓRIA E DA CULTURA EM
RELAÇÃO AOS SONHOS
400
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
401
sempre tiveram nos assuntos envolvidos por nosso tema
central, a estrutura dos sonhos e de sua interpretação ao longo
dos séculos.
Assim, ao lado disso e bem ilustrado por isso, desde a
antiguidade mais remota foi sendo dado realce ao que pode ser
chamado o cultivo do espírito, o aperfeiçoamento espiritual
baseado no conhecimento da natureza humana, processo
cultural que teve por aliado o conhecimento dos fatos do
passado (a história como ciência), fundado nas experiências
pretéritas não apenas para a mera compreensão do presente,
segundo a definição clássica, mas também como ferramenta
utilizada no aprimoramento das vivências quer no plano
individual, quer no âmbito comunitário, posto foi decisão do
ser humano viver em sociedade, em grupos.
Impelido por seus eternos dilemas existenciais, o
homem, cuja existência “é talvez o fato mais profundo e
misterioso que vivenciamos durante a vida” (PEREIRA, 2007-
a, p. 5, prefácio de Jorge G. Garzarelli), evoluiu ao longo dos
tempos, sempre em luta na busca da felicidade,
403
a necessidade de unir-se a outros seres
vivos, relacionar-se com eles, é uma
necessidade imperativa da qual depende a
saúde mental do homem. Essa necessidade
está por trás de todos os fenômenos que
constituem toda a gama de relações
humanas íntimas, de todas as paixões
chamadas ‘amor’. (FROMM, 1955, p. 38).
Para o ser humano dotado de razão viver consiste em
uma realização de fins, em uma constante procura de valores,
valores perante os quais é preciso fazer uma opção quase que
diária, uma escolha entre pólos que muitas vezes se
contrapõem, que aparentemente são opostos entre si:
404
mesmo sem ter uma exata percepção de que possa haver algo
determinante, e que o condiciona em seus atos, ainda que, face
às ambiguidades e contradições da existência haja, mesmo
inconscientemente, a noção de que o fardo mais pesado muitas
vezes reflete a imagem da mais intensa realização vital, quanto
mais pesado o fardo, mais próxima da terra está nossa vida, e
mais ela é real e verdadeira, mais humana, mais proximamente
nos conduz à realização de nossa meta, que é vivenciar o amor
e encontrar a felicidade.
Nesse processo, na busca da realização de seus fins
diante da existência, é que o homem produz a “cultura”,
alterando aquilo que lhe é “dado” pela natureza, ao mesmo
tempo em que se altera a si próprio, em processo no qual, por
ciclos ou estágios, evoluiu a chamada “civilização”,
prendendo-se a evolução cultural a uma adequação dos meios
aos fins, sem perder de vista considerações de ordem
axiológica (teoria de valores) e teleológica (teoria dos fins).
A sociedade em que vivemos é também uma realidade
cultural, não um mero fato natural. A convivência do homem
consigo mesmo e com seus semelhantes é algo que se modifica
através do espaço e do tempo, sofrendo variada ordem de
influências, e sendo alterada de lugar para lugar e de época
para época.
Nessa ambiência, como dado antropológico, os sonhos
também estão sujeitos à variação de influências (tanto no
tempo como no espaço), e sua interpretação está vinculada ao
entendimento de uma linguagem simbólica segundo as mesmas
oscilações que acompanham o homem em sua história
evolutiva, sem que se perca de vista que “a linguagem
simbólica é uma língua por direito próprio – de fato, a única
língua universal jamais criada pela raça humana”. (FROMM,
1966, p. 7).
Sob a perspectiva dessa evolução experimentada pela
humanidade, a história, como ciência que registra e interpreta
405
as ações do ser humano ao longo dos tempos, registra em
seus assentamentos as modificações ocorridas em cada
momento ao longo do processo evolutivo, apontando, em cada
uma das etapas, as influências que se foram verificando na
temática dos sonhos e de sua interpretação, presentes desde
tempos imemoriais na imaginação e na fantasia do homem,
fazendo-se necessário fazer uma breve resenha da obra de
Fromm (1996, pp. 83/86).
A história da interpretação dos sonhos principia por
tentativas para entender o significado dos sonhos, não como
fenômeno psicológico, porém como experiências concretas da
alma separada do corpo ou como vozes de espírito ou
fantasmas. Outra modalidade da crença dos acontecimentos dos
sonhos serem reais é a ideia de que os espíritos de pessoas
mortas aparecem em nossos sonhos para nos exortarem,
avisarem ou darem outras espécies de mensagens. Outro
conceito do significado dos sonhos, próximo do também
encontrado entre as grandes culturas do Oriente, é esposado por
outros povos primitivos.
Segundo ele, o sonho é interpretado numa determinada
estrutura de referência religiosa e moral. A primitiva
interpretação oriental dos sonhos também não se baseava em
uma teoria psicológica dos sonhos, mas na suposição do sonho
ser uma mensagem enviada aos homens por potências divinas.
A narrativa bíblica conta que o sonho era encarado como uma
visão mostrada por Deus ao homem. Os sonhos eram
imaginados possuindo outro gênero de função profética,
particularmente na interpretação de sonhos pelos hindus e
gregos: a de diagnosticar doenças. Símbolos prefixados eram
empregados para denotar certos sintomas somáticos.
Desta rápida resenha, já se extrai uma breve
compreensão a respeito das dinâmicas sociais e suas variáveis,
que de acordo com os condicionamentos de cada povo em um
determinado momento histórico e, consoante cada etapa da
406
evolução cultural, tiveram profunda influência no tema dos
sonhos e de sua interpretação, assim ligeira e resumidamente
comentados, desde as épocas mais regressivas da história
universal.
Os sonhos, na verdade, foram vistos como via de acesso
a outros mundos desde os tempos da antiguidade.
O sonho revela a verdade atrás da qual se
encontra o pensamento. Desde a
antiguidade, o gênero sempre desfrutou do
indiscutível prestígio da adivinhação,
quando o vaticínio sobre a boa ou má
ventura podia ser lido nas vísceras ou no
voo das aves. Uma técnica de decifração
que criava e derrubava reinos; de César a
Macbeth e sua lady, ninguém estava salvo
de sua influência. (KAFKA, 2003,
[prefácio de Luis Gusmán], pp. 7/9).
407
Os sonhos através das épocas, juntamente
com suas interpretações têm sido
registrados em muros de cavernas e em
tabuletas de pedra, sendo fácil imaginar,
assim, que pessoas que sonhavam
comparavam suas notas sobre os
acontecimentos que se seguiam aos sonhos.
Desse modo algum hirsuto morador das
cavernas, de mente científica, deve ter
começado a estudar os presságios,
profecias e advertências contidas nos
sonhos; e desde então eles passaram a fazer
parte do próprio tecido da vida,
participando da arte, da literatura, da
religião, e igualmente da ciência. [...] Os
antigos assírios, babilônios, egípcios e
outros muito fizeram para disseminar o
folclore dos sonhos de seu tempo e séculos
depois quando Artemidorus compilou sua
crítica onírica sobre o assunto, ele se
revelou tão popular que mil e seiscentos
anos mais tarde, sua primeira tradução
inglesa havia completado no ano de 1800,
trinta e duas impressões. (ROBINSON e
CORBETTE, 1974, pp. 8/9).
408
A interpretação de sonhos desvela,
sobretudo, os conteúdos mentais
reprimidos ou excluídos da consciência
pelas atividades de defesa do ego e justifica
inquestionavelmente sua posição dentro da
psicanálise, já que a parte do id cujo acesso
à consciência foi impedido é exatamente a
que se encontra envolvida na origem das
neuroses. Portanto, o interesse de Freud
pelos sonhos teve origem no fato de
constituírem eles processos normais, com
os quais todos estão familiarizados, mas
que exemplificam processos atuantes na
formação dos sintomas neuróticos.
(FREUD, 2011, nota de capa por Jayme
Salomão).
409
autores influenciaram Freud na sua
construção da teoria dos sonhos.
Artemidoro de Daldis, citado
anteriormente, faz uma extensa
interpretação simbólica do sonho de
Clitemnestra, baseado na peça de Ésquilo,
As Coéforas. Em seu sonho a rainha dá à
luz uma serpente que lhe morde o seio ao
nascer. Giuseppe Tartini, encantado com a
música que o diabo lhe toca em sonho, cria
uma de suas obras mais conhecidas, mas
mesmo assim sente-se extremamente
frustrado com o que lhe escapa no sonho.
Arthur Schnitzler, em seu Breve Romance
de Sonho, cria na personagem de Albertine
um sonho extenso e elaborado que aos
olhos de Fridolin revela quem realmente
era a sua mulher. Todo o romance se passa
como se os personagens estivessem
mergulhados em uma atmosfera onírica. Os
sonhos do próprio Freud, assim como os
sonhos de suas pacientes, também foram
cruciais para o enriquecimento e a
descoberta da teoria psicanalítica.
(GONTIJO, 2006).
411
2. A LINGUAGEM SIMBÓLICA
413
O que é um símbolo? Costuma-se definir
símbolo como ’algo que representa outra
coisa’. Esta definição parece um tanto
decepcionante. Torna-se mais interessante,
entretanto, caso nos interessemos pelos
símbolos que são expressões sensoriais da
visão, audição, olfato e tato como
representando ‘outra coisa’ que é uma
experiência anterior, um sentimento ou
pensamento. Um símbolo desta espécie é
algo exterior a nós mesmos; o que ele
simboliza é algo dentro de nós. A
linguagem simbólica é aquela por meio da
qual exprimimos experiências anteriores
como se fossem experiências sensoriais,
como se fosse algo que estivéssemos
fazendo ou que fosse feito com relação a
nós no mundo dos objetos. A linguagem
simbólica é uma língua onde o mundo
exterior é um símbolo do mundo interior,
um símbolo de nossas almas e de nossas
mentes. (idem, ibidem).
414
caminho de uma tomada de consciência autêntica e sincera,
sempre tendo atenção para que “o sonho é uma alucinação
traduzida em símbolo, os símbolos nos quais trabalha o analista
sempre tem a ver com a sua missão de recuperar o paciente”.
(PEREIRA, 2009, p. 173).
415
mesma dos sintomas gerados pelos conflitos desencadeados
por essa energia.
De crucial importância a existência de harmonia no
âmbito do campo analítico, uma verdadeira interação e empatia
entre analista e analisando, para que seja produtivo e trabalho
analítico-interpretativo.
417
Era então uma crença tão arraigada, que esses nossos
antepassados confiavam tanto na fantasia onírica quanto na
própria percepção real e consciente.
Progredindo pelos tempos clássicos, quando a
convicção era a de que os sonhos eram o meio pelo qual os
deuses transmitiam suas mensagens aos homens, a história nos
revela que o tema evoluiu já em tempos mais modernos para
teorias ditas populares, algumas até bizarras, até chegar, em
épocas bem recentes, às teorias científicas, inauguradas pelos
estudos e experimentos do Pai da Psicanálise, Sigmund Freud,
e pelos cientistas e pesquisadores que o seguiram e sucederam.
Freud, após abandonar o método hipnótico, passou a
desenvolver sua investigação psicanalítica também a respeito
do mundo dos sonhos, evoluindo daí até solicitar que seus
pacientes falassem de forma livre sobre tudo e sobre todos os
pensamentos que lhes viessem à mente inclusive com relação
aos sonhos, criando o método da associação livre, ainda
atualmente um sustentáculo da ciência da Psicanálise.
Freud, que atribuía fundo sexual à maioria dos símbolos
e das imagens encontradas nos sonhos, afirmava que a
realização de nossos desejos era a real finalidade dos sonhos,
que teriam ainda um conteúdo manifesto (ou aparente)
disfarçando um conteúdo latente (parte oculta), e que neste
latente é que estaria a realização do desejo. Destacou, ainda,
nos sonhos, a ocorrência de recordações da infância e
mensagens de nosso corpo.
Segundo a teoria freudiana, acontece ainda o processo
de condensação, o qual consiste no fato de vários conteúdos
poderem estar resumidos numa só imagem; além do processo
do deslocamento, quando um conteúdo do sonho é substituído
por outro, o que ocorre pela repressão a desejos ou
características de nossa personalidade que não queremos
admitir, repressão pela qual através do sonho esses conteúdos
reveladores são trocados por outros mais disfarçados.
418
Para Freud, que dedicou um interesse especial pela
interpretação, na verdade o sonho chegou a ser considerado “a
via régia de acesso ao inconsciente”. (ZIMERMAN, 2009, p.
213). Tendo a interpretação surgido em seus trabalhos em
forma ainda embrionária, para adquirir e manter, “até a
atualidade, a condição de estar no centro da doutrina e da
técnica psicanalítica” (idem, p. 221), mesmo que se reconheça
a realidade de que também “existem inúmeras outras vias que
conduzem ao inconsciente”. (ZIMERMAN, 2008, p. 422).
Discípulo de Freud e mais tarde seu dissidente, Carl
Gustav Jung, psiquiatra suíço que estudou e trabalhou com a
psicanálise, desenvolveu o método chamado Psicologia
Analítica, desenvolvendo sua própria teoria a respeito dos
sonhos e de sua interpretação.
Divergindo de Freud, Jung não aceitava que os sonhos
significassem apenas satisfação dos desejos, e também
discordava da ênfase dada à sexualidade, encontrando outras
motivações, como ainda acreditava que não sonhamos apenas
durante o sono, sendo “mais do que provável que sonhemos de
modo contínuo, mas a consciência produz tal barulho que não
conseguimos escutar”. (KEPPE, 2006, p. 33).
Sustentando que nos sonhos pode ser encontrada uma
mitologia personalizada, introduzindo o modelo dos arquétipos
“valores, aspirações e metas que representam um atavismo de
nossos ancestrais”. (ZIMERMAN, 2009, p. 38).
419
que conteria as experiências comuns a toda
humanidade. Os sonhos viriam, então,
tanto do inconsciente individual como do
inconsciente coletivo e poderiam servir ao
propósito de individuação da pessoa. Este
propósito de individuação seria, segundo
Jung, o desenvolvimento da pessoa
enquanto unidade indivisível,
harmonizando o consciente com o
inconsciente. Entender os sonhos e integrá-
los na vida seria, portanto, uma
oportunidade de se conseguir um
crescimento individual mais completo.
(KEPPE, 2006, pp. 33/34).
421
Já em sede da Psicanálise Humanista Erich Fromm,
entre outros valores do ser humano que se procura trazer à
consciência pelo autoconhecimento, reside aquele que pode ser
designado como a potencialidade do ser, termo que expressa
“força de criatividade, de dinamismo, de ousadia, de coragem,
de determinação, de confiança” (PEREIRA, 2007, p. 202),
valores muitas vezes presos a núcleos neuróticos ou
emocionais que impedem sua manifestação.
No que se refere aos sonhos, instrumento valioso para a
identificação desses núcleos neuróticos ou emocionais, “a
interpretação dos significados latentes do seu funcionamento
inconsciente deve ser autêntica e sincera” (PEREIRA, 2009, p.
173), atendendo-se ao conteúdo simbólico onde se encontra a
mensagem que procuramos decifrar.
Quando se trabalha na linha humanista, é preciso ter em
consideração o que é fundamental:
422
Num resumo do método interpretativo de base
científica, o tema pode ser sintetizado em termos segundo os
quais,
423
Evoluímos culturalmente, aqui, desde a Psicologia
Analítica de Jung, para o método que se pode chamar
Psicologia Analítica Social, onde se trabalha “buscando uma
integração dos fatores socioeconômicos com a explicação das
neuroses”. (ZIMERMAN, 2009, p. 160).
Nesta linha, o suposto é o de que “a imagem vista no
sonho é um símbolo de algo que você sentiu” (FROMM, 1966,
p. 18), isto é, num sonho os impulsos mentais ocultos estão
simbolizados e desafiam a inteligência do intérprete.
Esse processo todo de ampliação dos horizontes
culturais ao longo da história da humanidade tem raízes que
remontam aos primeiros filósofos, como Platão, que em seus
aforismos já sustentava que “a imagem tem composições de
sensações, deve ter alguma função cognitiva e um sustentáculo
de esperança”. (PEREIRA, 2007-b, p. 10). Enquanto
Aristóteles “defendia a ideia de que a imagem é um ato, é a
persistência de muitos movimentos, que acompanham uma
sensação, consistindo na passagem de um ato a uma potência,
através da capacidade imaginativa”. (idem, p. 11).
4. HOMEM NA PRÉ-HISTÓRIA
425
período evolutivo, o homem adquiriu consciência de si próprio
e o uso da razão, para então apartar-se à mãe natureza.
Com o recorte, uma indagação: Esse hominídeo, então,
sonhava?
Apenas como curiosidade acadêmica:
427
5. AS CIVILIZAÇÕES ANTIGAS
428
Por volta do século IV a. C., Hipócrates, o pai da
medicina, escreveu um livro chamado “Tratado Sobre os
Sonhos”, afirmando que alguns sonhos são de inspiração
divina, enquanto outros seriam resultados do corpo físico.
Acreditava que dos sonhos poderiam ser extraídas pistas sobre
as condições físicas das pessoas, sustentando que sonhar com a
cor preta simbolizaria doença, sonhar com vôo significaria
perturbação mental. Dizia também que os sonhos teriam o
efeito de revelar uma doença antes de sua manifestação.
Mas foi já na Era Cristã (século II d. C.), em Éfeso, que
surgiu na civilização romana o mais importante intérprete dos
sonhos antes de Freud, que foi o sábio chamado Artemidoro
Daldiano, que “escreveu tratado em cinco volumes chamado
“A Interpretação dos Sonhos”, classificando os sonhos em
cinco tipos diferentes: 1) os Simbólicos; 2) os Proféticos; 3) os
de Fantasia; 4) os de Pesadelo e 5) os de Visão Diurna”.
(KEPPE, 2006, p. 30).
Entendia que os sonhos, suas imagens e símbolos,
precisavam ser interpretados conforme o sonhador e o contexto
do momento; percebeu que determinado símbolo poderia ter
um significado diferente para cada pessoa, por isso considerava
que os costumes e dados da vida de cada sonhador eram
fundamentais para cada interpretação.
Para ele, o mesmo símbolo ou o mesmo animal teriam
significados diferentes no sonho de uma pessoa jovem ou no de
uma pessoa idosa; símbolos iguais teriam interpretações
diversas em momentos diferentes da vida.
Para Daldiano, “há cinco tipos de sonhos com
diferentes qualidades: o primeiro é um Sonho; o segundo uma
Visão; o terceiro um Oráculo; o quarto uma Fantasia ou vã
Imaginação; o quinto uma Aparição”. (FROMM, 1966, p. 93).
O naturalismo de Aristóteles e a retórica de Cícero não
impediram a interpretação profética dos sonhos.
429
A popularidade desta abordagem foi
coroada pelos cinco volumes do erudito
grego Artemidoro Daldiano no século II.
Esses volumes examinaram exaustivamente
as interpretações dos sonhos no mundo
clássico em combinação com as próprias
interpretações de Artemidoro de mais de
3.000 sonhos. Embora fornecesse índices
prototípicos de determinados sonhos e seus
significados, Artemidoro enfatizou o sonho
individual e o contexto de seu tempo. Esses
volumes foram republicados em 1518 sob o
título de Onirocrítica e publicados em
inglês em 1606. (KRIPPNER, 1990, p.
169).
430
escravo ou livre; se é casado ou solteiro, governante ou
dominado, se é forasteiro ou está na sua pátria. “uma gama
infindável de situações humanas é contemplada na sua arte de
decodificar símbolos oníricos, levando em consideração a
subjetividade do sonhante”. (MENEZES, 2012, pp. 187/209).
Poderia ser não somente útil, mas necessário a quem
sonhou e ao intérprete levar em conta quem é o sonhador, sua
profissão, seu nascimento, sua fortuna e idade, por exemplo, a
partir daí examinando o sonho e seu conteúdo. Artemidoro dá
exemplos de como um mesmo símbolo pode ser diferentemente
interpretado conforme varia o perfil social daquele que sonha,
revelando extrema acuidade e pertinácia.
São conceitos pertinentes com aqueles hoje adotados
pela ciência da Psicanálise, onde se tem como verdade que o
sonho é um dos mensageiros do inconsciente, um processo
organísmico próprio a excitar e colocar em movimento a
psique.
É a esse propósito, famosa a interpretação sobre o
sonho de Alexandre da Macedônia, quando se preparava para
fazer um cerco à cidade de Tiro e sonhou que viu no seu
escudo um sátiro dançando, sonho que foi interpretado com um
prognóstico de sucesso na conquista da cidade.
Tal interpretação, atenta à força da materialidade da
ambiência e à situação subjetiva do rei prestes a entrar em
combate, além de mostrar o alcance da Onirocrítica antiga
também estampa um exemplo de sonho como realização de
desejo.
434
Ainda e na mesma direção da linha de pesquisa e
investigações:
436
diretamente vinculada ao Complexo de
Édipo. (ibidem e p. 404).
437
500 a 1 000 a. C., contém interpretações
específicas de imagens de sonhos. Davam-
se interpretações diferentes aos sonhos
tidos em diferentes períodos da noite, e
levava-se em consideração o temperamento
do sonhador antes de se proceder à
interpretação. No entender dos primeiros
filósofos da Índia, eram quatro os estados
da “alma”: vigília, sono sem sonhos, sonho
e unidade mística. (KRIPPNER, 1990, p.
164).
438
Marfim eram “verdadeiros” ao contrário
dos “falsos” que passavam pelos portões de
Chifre. Os sonhos verídicos eram muitas
vezes associados pelos gregos a um sentido
de clareza. Em compensação, os sonhos
confusos ou desconjuntados passavam
pelos Portões de Chifre – o reino dos
mortais e não o das divindades – e não
eram dignos de confiança. O
reconhecimento dos sonhos verídicos
dependia das faculdades especiais: pureza
da alma, segunda visão e outras avenidas
do discernimento. Entretanto sonhos que
continham mensagens, como os que
encontramos na Mesopotâmia e na Grécia
antigas, dependiam principalmente da
posição social do sonhador; somente os
xamãs, os chefes, os profetas e os membros
da realeza e do clero podiam obter
comunicação direta vinda das divindades.
Os humanos comuns não conseguiam obter
esses emblemas do poder político e
religioso. (KRIPPNER, 1990, p. 188).
6. A CIVILIZAÇÃO GRECO-ROMANA
440
Serápis era o deus egípcio dos sonhos e havia dúzias de
serapins – os templos dos sonhos – espalhados por todo o
território. Nesses templos é que era amplamente praticada a
incubação, que era aquela tentativa deliberada de induzir
sonhos curativos enquanto se dormia nesses templos, havendo
até mesmo sonhadores substitutos a um serapim, com a
finalidade de incubar um sonho para alguém que não podia
fazer a viagem onírica desejada. “Dava-se especial atenção aos
sonhos dos personagens reais; um sonho de Tutmósis IV foi
gravado numa estela (pilar de pedra) diante da Esfinge”.
(KRIPPNER, 1990, p. 164).
O declínio egípcio aconteceu após a morte do faraó
Ramsés II, quando a disputa de poder entre os nobres
enfraqueceu o império, que acabou invadido pelos assírios, de
quem logo se libertaram para cair nas malhas dos persas, a
partir de quando os dominadores estrangeiros se revezaram no
domínio sobre o Egito; depois dos persas vieram os gregos,
com Alexandre da Macedônia, e depois os romanos, com Júlio
César e os invasores árabes.
Nossos estudos psicanalíticos de hoje têm muito a ver
com os gregos antigos, com seus mitos e com seu panteão
politeísta, composto por deuses e semideuses, cultura da qual,
muitas metáforas foram sendo aproveitadas.
Entre esses mitos, o oráculo de Delfos, uma fenda na
rocha de onde subia um vapor que transmitia mensagens dos
deuses, cifrada e composta por símbolos, como a linguagem
dos sonhos, cabendo então a uma sacerdotisa a exclusividade
da interpretação.
Dessa cultura, a obra mais célebre entre as tragédias
gregas é o Édipo Rei, de Sófocles, historiando a vida de Édipo,
filho de Laio e Jocasta, reis de Tebas; logo que o menino
nasceu, o deus Apolo predisse que um dia, quando adulto, o
filho mataria o próprio pai e que viria a casar com a mãe.
441
Laio, querendo livrar-se do cumprimento da profecia,
abandonou a criança numa montanha, de onde o menino foi
salvo por um humilde pastor, cresceu e foi educado sem saber
que era filho de pais adotivos; mais tarde, em duelo, abateu
Laio (desconhecendo que se tratava de seu próprio pai) e, após
decifrar o enigma da Esfinge e se tornar o herói salvador de
Tebas, livrando-a daquele flagelo, veio a casar-se com a rainha
viúva Jocasta (ignorando que se tratava de sua própria mãe),
cumprindo assim a profecia.
Após peripécias, quando a fome e a peste se abateram
sobre Tebas, e depois de Tirésias (cego capaz de enxergar o
passado e o futuro) ter anunciado que o culpado pela desgraça
coletiva era o matador do rei Laio, o infeliz Édipo finalmente
tomou consciência de suas verdadeiras origens, da profecia e
do cumprimento do vaticínio.
Jocasta suicidou-se e Édipo, desesperado com a
revelação, arrancou seus próprios olhos e, cego e amaldiçoado
partiu de Tebas para morrer bem longe de lá.
Dessa tragédia, Freud, inspirado no mito que trata da
relação de triunfo do filho sobre o pai, formulou o complexo de
Édipo, elaborando ainda suas teorias sobre o incesto como um
verdadeiro tabu o qual desde sempre foi execrado pela
humanidade, sendo responsável por culpas, medos e
autopunição, como a do filho que no mito mata o pai e logo
fura seus olhos e fica cego, imolando-se pelo peso da culpa.
Consta que o próprio Friedrich Nietzsche teria afirmado
que enquanto outros povos antigos legaram santos à
humanidade, os gregos teriam nos dado verdadeiros sábios,
como são Sócrates, Platão e Aristóteles, entre tantos outros.
No curso da história, alterações nas visões de mundo
influenciaram nossas culturas, especialmente a ocidental,
quadro onde as perspectivas sobre os sonhos refletem essas
mudanças.
442
Sintomaticamente, para os gregos, a fórmula canônica
de alguém contar que teve um sonho é: "Eu vi um sonho."
Aliás, sonhos e visões noturnas são praticamente sinônimos em
todas as línguas.
Aristóteles e Cícero viveram e escreveram sobre sonhos
a um intervalo aproximado de 300 anos um do outro (cerca de
340 a. C. e 40 d. C.), espaço de tempo onde subsistiu uma ideia
difusa a respeito dos sonhos.
443
do corpo e pelos cinco sentidos, seus poderes de percepção,
pensamento e apreensão são mais dignos de confiança.
Extremamente significativo é que para os gregos os
sonhos chegaram a ser considerados uma dádiva de Prometeu,
o deus civilizador e humanizador, titã afeiçoado aos homens.
Na versão esquiliana da lenda de Prometeu, o titã doa aos
homens não apenas o fogo roubado dos deuses (e com o fogo,
tesouro sem preço, a civilização e a técnica), mas também as
formas das artes divinatórias, a esperança e os sonhos. Dá
mesmo o que pensar o fato de esses dois dons (o fogo e os
sonhos), sejam absolutamente fundamentais para o ser humano,
e nos tenham sido legados exatamente pelo deus civilizador,
Prometeu, que nos mesmos mitos também teria dado aos
homens a esperança.
Apesar de os sonhos no mundo grego, como vimos com
Prometeu, estarem profundamente ligados às artes divinatórias,
havia a percepção de que muitas vezes eles de nada valiam em
termos de eficácia oracular.
Assim parece que se pode observar desde a formulação
presente na Ilíada, de Homero, segundo a qual os sonhos
provem de Deus, até a Orestíade, de Ésquilo, quando a rainha
Clitemnestra se refere depreciativamente aos sonhos como
quimeras de uma mente adormecida, figurando isso como um
bom exemplo do mecanismo de negação, em sendo ela a
personagem que mais sonha e cujos sonhos se realizam na
própria tragédia onde são versados.
A condição feminina na Grécia antiga variou bastante,
dependendo da época, da cidade-estado e da classe social. Na
Odisséia, de Homero, aparecem mulheres nobres que falavam e
agiam com bastante independência, como por exemplo,
Penélope, esposa de Ulisses.
De diálogo entre Penélope e Ulisses, a propósito de
conteúdo de sonho:
444
Senhora replicou o agudo Ulisses, ninguém
certamente pode dar outro sentido a este
sonho; a senhora aprendeu do próprio
Ulisses a traduzi-lo em fatos. Os
pretendentes claro estão condenados todos
eles. Nenhum sairá com vida.- Os sonhos
senhor, disse a prudente Penélope, são
coisas sem nexo, confusas e nem tudo o
que vemos neles se realiza. Pois existem
dois portais por onde essas visões
substanciais devem passar para chegar até
nós: um deles é de chifre, o outro de
marfim. Os sonhos que nos chegam pelo
portal de marfim nos iludem com
promessas vazias e jamais cumpridas,
enquanto so que saem no portal de chifre
brunindo informam a quem sonha sobre os
atos que realmente acontecerão. (INGLIS,
1987, p. 9).
445
O Zeus grego era o Júpiter romano, a divindade maior;
Afrodite virou Vênus,a deusa do amor e da beleza; Ares virou
Marte, o senhor da guerra; Hermes virou Mercurio, o senhor do
comércio; Hades virou Plutão, o deus do mundo interior;
Poseidon virou Netuno, o rei dos mares; Dionisio virou Baco, o
deus do vinho e das festas; Hefesto virou Vulcano, o deus do
fogo; Artemis virou Diana, a deusa dos animais selvagens e da
caça; Atena virou Mineva, a senhora da sabedoria e das artes;
Hera virou Juno, a rainha dos deuses (representada pelo pavão,
sua ave favorita); Cronios tornou-se Saturno, o senhor do
tempo; Demeter virou Ceres, a deusa da fertilidade; Apolo,
uma das principais divindades da mitologia greco-romana, teve
em ambas as civilizações o mesmo nome.
Roma, inicialmente, era uma aldeia no centro da Itália,
até que por volta do século V a. C. os romanos iniciaram a
conquista de toda a Península Itálica, o que foi apenas o
começo da construção de um grande império.
O exército romano foi se tornando fundamental para
definir quem tinha prestígio em Roma, tornado o estado
belicoso e conquistador que se expandiu até a ruína.
Grandioso e imponente, o Império Romano tinha suas
contradições. Foi mergulhando em crises cada vez maiores, até
que finalmente sucumbiu diante do poderio militar e do avanço
dos povos bárbaros (século V d. C.).
Em 79 d. C., o vulcão Vesúvio entrou em erupção e
suas cinzas quentíssimas cobriram essa cidade romana,
matando seus habitantes. Os destroços foram descobertos em
escavações que já no século XVIII desenterraram o que restou
das ruínas, sendo significativa a esse propósito a reflexão de
Freud a partir de um baixo relevo, a Gradiva, de Jensen.
Freud, que atribuía à arte a qualidade de ser uma
espécie de testemunha do inconsciente, encontrou analogia
entre o soterramento de Pompéia e a posterior escavação, com
os eventos mentais decorrentes do soterramento pelos
446
processos de recalque, e a verdadeira escavação inerente ao
processo de análise.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
447
A força da imaginação e consequentemente também a
linguagem, são esforços neurológicos que impulsionaram a
civilização e aprimoraram o homem, desde a barbárie até os
tempos atuais.
A cultura, como processo dinâmico e evolutivo, recebeu
através dos séculos e milênios o impulso dos desejos,
começando a história do espírito desde a sensibilização humana
para a realidade da dor, da angústia do medo e da culpa, dos
traumas e das repressões, numa realidade histórica da qual
ficam evidenciadas as agruras que ao longo dos tempos afligiu
o homem, e da ânsia em entender – desde que adquiriu razão e
consciência – o dilema existencial frente ao qual nos
debatemos, sobrevivendo apesar de toda a carga de carências
básicas que nos são inatas.
Nesse longo percurso enfrentado pelas civilizações, os
dados históricos e culturais compulsados dão o testemunho da
enorme importância que tem a compreensão dos processos
oníricos como via de acesso ao inconsciente, para também
permitir a decifração de nossas neuroses em busca da melhoria
de nossa qualidade de vida, através do pleno equilíbrio
assegurado pela integridade da saúde mental dos indivíduos,
única forma de superar nossos fracassos, medos, culpas e
incertezas, facilitando a vivência do amor e do encontro com o
outro, para que enfim seja também encontrada a felicidade,
meta de todo ser humano nesta vivência terrestre.
Os mesmos dados históricos e culturais afirmam a
relevância da psicanálise, que também evoluiu, assim como os
métodos de entendimento e interpretação dos sonhos, desde
aquelas fases empíricas impregnadas pelo misticismo, até o
momento atual, em que está assentada em bases culturais
capazes até mesmo de lhe assegurar que figure no rol das
ciências humanas.
448
BIBLIOGRAFIA
450
_______________________. A Teoria e a Prática Clínica de
Freud a Fromm. Santa Maria: ITPOH, 2009.
451
AS PRINCIPAIS TEORIAS EM RELAÇÃO À
INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
455
2. AS IDEIAS FREUDIANAS SOBRE A
INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS
458
Entende-se por deslocamento, a condição do psiquismo
ter o poder de transferir de uma situação representativa para
outra ideia latente, ou seja, uma transferência de uma
experiência vivida para outra pessoa ou objeto. Como era o
caso do pequeno Hans que tinha um relacionamento difícil com
seu pai, transferia para o medo de cavalos.
Na condensação ocorre o seguinte processo, aquelas
imagens são produtos da realidade vivida do paciente, este
conteúdo tem um significado que pode explicar porque existe
aquele tipo de medo, inibição, repressão. Este paciente pode
esconder de si mesmo algum tipo de desejo reprimido, que tem
a ver com o superego, condena, persegue, vigia e controla seus
próprios desejos.
A condensação aparece nas memórias do cérebro
através de vários tipos de recordações que fazem-se presentes
naquele tipo de enxergar a sua vida pessoal, muitos passam
pela vida representando e escondendo-se sobre falsas
justificativas e desculpas, enfim deslocam para uma atividade
de trabalho ou outra forma de compensar esta sua inferioridade.
A condensação é um mecanismo inconsciente unindo vários
efeitos de várias representações. Freud dizia a respeito dos
sonhos que “a tese que os sonhos dão prosseguimento às
ocupações e interesses da vida de vigília, foi inteiramente
confirmada pela descoberta dos pensamentos oníricos ocultos”.
(Freud, 1900: 615).
O sonhar estava intrinsecamente ligado a uma cadeia de
desejos que ultrapassavam os limites do ego e superego, aos
quais os homens não conseguiam dominá-los naquele processo
inconsciente dos pensamentos oníricos ocultos do ser humano.
459
inútil para o fim intelectual imediato em
vista, o resultado pode ser que essa cadeia
de pensamentos prossiga, inobservada pela
consciência, até o início do sonho. (Freud,
1900: 620).
3. A ABORDAGEM JUNGUIANA NA
INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS
463
Para os junguianos o sonho não é uma
espécie de criptograma padronizado que
pode ser decifrado através de um glossário
para a tradução de símbolos. É, sim, uma
expressão integral, importante e pessoal de
inconsciente particular de cada um e tão
“real” quanto qualquer outro fenômeno
vinculado ao indivíduo. O inconsciente
individual de quem sonha está em
comunicação apenas com o sonhador e
seleciona símbolos para seu propósito, com
um sentido que lhe diz respeito e a
ninguém mais. Assim a interpretação dos
sonhos, por um analista ou pela própria
pessoa que sonha, é para o psicólogo
junguiano uma tarefa inteiramente pessoal
e particular que não pode, em hipótese
alguma, ser executada empiricamente.
(1964, p. 12).
464
Já a interpretação freudiana é que os conteúdos do
inconsciente se reduziam às tendências infantis reprimidas,
devido a incompatibilidade de seu caráter. A repressão é um
processo que se inicia na primeira fase da infância sob uma
influência moral do inconsciente. E o inconsciente possui
muito além do que se imagina, possui todo um vasto material
psíquico que vai muito longe do que é consciente. Tal processo
é contínuo, e este inconsciente é revelado através de sonhos,
que são considerados por Freud como conteúdos reprimidos.
Na opinião de Erich Fromm:
465
Jung em suas teorias defendia que todas as coisas
podem ser vistas como opostos, masculino/feminino, bom/mau,
ele entendia que o ego seria o senso de nós mesmos, aquilo que
nós não queremos conhecer, o lado obscuro, a sombra, vendo
então que o sonho seria o meio de comunicação com o nosso
inconsciente, desde então as imagens oníricas revelariam algo
sobre o próprio ser, portanto para Jung o sonho orientaria o
homem a desenvolver o seu próprio desenvolvimento pessoal.
Ele utilizava o método para interpretação dos sonhos,
era depositar confiança na interpretação de quem sonhava, pois
para ele todos possuíam capacidades e ferramentas para
interpretá-los. Pra Jung não havia uma única interpretação, ela
seria pessoal e cabia ao paciente interpretá-la.
467
psique que reagem mais rapidamente aos
estímulos ou perturbações externas). É por
isso que a livre associação pode levar de
um sonho qualquer aos pensamentos mais
críticos. (JUNG, 1964, p. 28).
470
Para Freud, os sonhos são traduções de nossos desejos e
da realização destes. Eles se apresentam com um sentido
manifesto, mecanismo de que se vale o superego, que oculta o
seu significado, o importante são os conteúdos latentes para a
compreensão da nossa psique e dos nossos anseios. Isto porque
os sonhos revestem-se de símbolos, histórias surreais, que
acabam mascarando os reais desejos da pessoa que sonha. Para
o psicanalista os sonhos na verdade são mais uma das vias de
acesso ao inconsciente, oferecidas ao homem para que ele
tenha a possibilidade de conhecer sua própria alma.
Na interpretação de sonhos o manejo do conteúdo
onírico deve submeter-se às técnicas que orientam a direção do
tratamento, através da técnica psicanalítica. O analista deve
estar cônscio do que está fazendo, confiante em sua
compreensão do simbolismo onírico, e prestar atentamente às
associações do paciente.
Quando vamos estudar as teorias da interpretação dos
sonhos aplicadas à terapia psicanalítica na clínica infantil, nos
faz recordar do pequeno Hans (1908), que fora de suma
importância para Freud, que muito o ajudou sobre a teoria do
desenvolvimento da sexualidade infantil. E ficou como modelo
para trabalhos analítico com as crianças.
Freud estava completamente envolvido no interesse de
aprofundar uma noção mais complexa da realidade psíquica,
por isto nos seus primeiros inscritos, ele argumentava que
haviam traumas históricos na gênese das neuroses, e que esta
realidade seria uma construção fantasmática. E na interpretação
dos sonhos Freud reconhece que nas fantasias e desejos, havia
uma realidade própria e não havia nada com a realidade
material.
Valendo ressaltar que os sonhos envolvem símbolos e
Zimmerman conceitua muito bem tal posição:
471
Símbolo, é pois, a unidade perdida e
referida, podendo esta junção de duas
metades ser entendida, se usarmos um
referencial lacaniano como equivalente
jubiloso encontro de uma criança com sua
imagem no espelho. Referencia Kleiniano é
fundamental a passagem exitosa pela
posição depressiva para a aquisição da
capacidade de simbolizar. (ZIMERMAN,
2009, pp. 387-388).
476
conteúdo traduz a realidade social e
cultural. (PEREIRA, 2012, p. 86)
478
Freud procurava encontrar bases fisiológicas e orgânicas para
as suas teorias.
Apesar de postular algumas concepções freudianas
Fromm valorizava com maior ênfase os valores sociais, o ser
humano tinha seus anseios, seus sonhos, a vontade de vencer,
de ser visto como ser valorizado em sua existência. E
interpretava seus sonhos como uma forma de busca de um bem
para a sua existência, e não apenas a sua sede instintiva sexual.
Isto fazia de Erich Fromm um analista que trabalhava o
paciente não apenas num ângulo sexual, porém em sua
totalidade, com isto trazendo uma Psicanálise transdisciplinar.
Erich Fromm comenta:
479
Na psicanálise humanista, segundo as teorias de
Fromm, buscava a potencialidade do ser, termo usado por Dr.
Salézio “força de criatividade, de dinamismo, de ousadia e de
coragem” (Pereira, 2007 a, p. 202), valores presos a muitos
conflitos neuróticos que impedem as suas manifestações.
Enfim, as ideias de Erich Fromm são fundamentais,
pois limitava a psicanálise Freudiana e suas ideias eram
renovadoras, pois compreendia o universo humano e seu
psiquismo numa visão social e cultural, e a psicanálise tomou
rumos diferentes da tradicional freudiana, o paciente bio-
psiquico-sócio cultural.
481
somatizações, da alienação, acomodação e vitimização, da
destruição.
Quando o paciente consegue interagir com os símbolos
dos sonhos adquire a capacidade de fazer a sua própria
interpretação atribuindo sentido e significado ao conteúdo de
seus sonhos, dessa maneira descobrindo-se e compreendendo a
necessidade de ter que evoluir e tornar-se cada vez mais
produtivo. O objetivo do sonho é tornar o sonhador mais
consciente dos seus desejos, medos, proibições, qualidades,
porque a cada sonho elaborado o paciente está oxigenação e
compreendendo o seu mundo imagógico armazenado nas
memórias.
O psicanalista auxilia o paciente com sua experiência,
para juntos fazerem a leitura da linguagem simbólica
inconsciente, e assim auxiliar o sonhador nas suas dificuldades,
para isso o analista precisa saber interpretar os símbolos e
imagens.
A interpretação dos sonhos envolve um amplo
conhecimento da subjetividade, pois procura-se entender e
compreender os desejos das pulsões e emoções. Ao tornar-se
mais consciente o paciente consequentemente torna-se mais
sensível e compreensivo aos apelos da psique, aprende a ouvir
suas linguagens, metáforas, caminhos para entender o que
acontece consigo mesmo, superando seus medos, enfrentando o
desconhecido e caminhando na existência de braços dados com
vida, a felicidade e as realizações.
Nas palavras de Fromm:
482
conhecimento e das metas que Le deve
escolher em seus esforços para ser feliz.
(FROMM, 1973, p. 118).
6. UM SÉCULO DA TEORIA DA
INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS
486
Ele imagina que, como no sintoma
neurótico ou Jô ato falho, o sonho dá
manifestação a anseios inconscientes de
que nós não nos permitimos tomar
conhecimento e assim mantemos fora da
conscientização quando estamos no pleno
comando de nossos pensamentos. Essas
idéias e sentimentos reprimidos adquirem
vida e manifestam-se durante o sono, e
damos-lhe o nome de sonhos. (FROMM,
1973, p. 47).
487
através dos sonhos, é motivo de muitas discussões acadêmicas
na seara psicanalítica.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
488
abordagens psicanalíticas mudaram, uns defendiam que os
conteúdos eram imagens do inconsciente, outros abordavam o
homem como um ser bio-psíquico-social, outros criticando as
abordagens pansexualistas do pai da psicanálise, porém de uma
forma salutar e consciente era considerada percebível que as
ideias freudianas não seriam em seu âmago irreais.
Ao anunciar ao meio psicanalítico que existia um
inconsciente, Freud enfrentava algo superior que se entendia
como o racionalismo ocidental, estudando os chistes, sonhos,
libidos, mecanismos de defesas, ele provou que o ser humano
era dominado por forças alheias que escapam das suas forças
conscientes.
O objetivo da psicanálise é o estudo das emoções
concentradas no inconsciente dos pacientes, que revelam algo
que só através da escuta analítica, pela livre associação que
poderemos trabalhar os conteúdos originados de traumas e
sofrimentos psíquicos que levam os pacientes a adoecerem
emocionalmente.
Ao descobrir sobre esta teoria da interpretação dos
sonhos, Freud desvendou um dos maiores desafios que um
analista podia decifrar, a válvula de escapes do maquinário do
inconsciente, o escape da “caixa preta” existente no ser
humano que extravasa, como um mecanismo de autoajuda ao
ser humano, para descobrir como resolver seus traumas
existenciais, interagir com as suas competências até então não
conhecidas, a solução para alguns de seus sofrimentos que os
perturbam e que quando não são trabalhados se desdobram em
neuroses, e até doenças psicossomáticas, levando o homem a
ser infeliz, e que através da psicanálise o ser humano possa
descobrir suas potencialidades e consiga viver melhor e feliz a
sua existência.
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BIBLIOGRAFIA