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Sumario

1. Consciente, Inconsciente e pré consciente 3


Consciente 3
Pré Consciente 3
Inconsciente 3
Mecanismos de Defesa 4
Mascaras 4
Fantasias 4
Métodos para sondar o inconsciente 4
2. Pulsões de vida e de morte 5
Pulsão de vida 5
Pulsão de morte 5
3. Id, Ego e SuperEgo 7
Id 7
Ego (Eu) 7
Superego 8
4. Fases psicossexuais 10
Fase Oral 10
Fase Anal 10
Fase Fálica 11
Complexo de Castração 11
Complexo de Édipo 12
Fase de Latência 12
Fase Genital 13
Fixação 13
5. Psicose, Neurose e Perversão: Estruturas Psicanalíticas 14
Psicose 15
Neurose 17
Histéricas 18
Caso Anna O 18
Perversão 19
Fetichismo 19
5. Transferência 21
Analista/Paciente 21

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O tratamento pela transferência 22
Professor/Aluno 23
6. Caso Dora 25
História familiar 26
Sintomas 27
Primeiro sonho 27
Interpretação do primeiro sonho 27
Segundo sonho 28
Interpretação do segundo sonho 28
A histeria de Dora explicada por Freud 29
7. Narcisismo 31
Autoerotismo 31
Narcisismo primário 31
Narcisismo secundário 31
8. Psicologia das massas 32
Três características das massas 32
Sugestão e libido 33
Identificação 34
Líder e identificação 34
9. O Mal Estar na Civilização 35

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1. Consciente, Inconsciente e pré consciente

Freud criou um aparelho psíquico para indicar a localização de certos processos


do estado psíquico.

Consciente

Tudo aquilo que estamos conscientes no momento, armazena tudo o que podemos
perceber e acessar de forma intencional. Funciona de acordo com as regras sociais,
então é por meio dele que se dá a nossa relação com o mundo externo.

Pré Consciente

Conteúdos que podem facilmente chegar ao consciente, mas que lá não


permanecem, informações sobre as quais não pensamos constantemente, mas que
são necessárias.

Ex: Nosso endereço, telefone, etc.

Esse nível fica entre o consciente e o inconsciente, filtrando as informações que


passam de um nível para o outro, mas apesar disso esse nível pertence ao
inconsciente.

Inconsciente

Todo o conteúdo mental que não se encontra disponível ao indivíduo.

Tudo está guardado desde as memorias da mais terna infância até certos
sentimentos e medos, nunca esquecemos de nada, apenas não temos acesso.

Também é nesse nível em que se encontra as chamadas pulsões de vida e de


morte, que seriam aqueles elementos intrínsecos a todo ser humano, como o impulso
sexual ou o impulso destrutivo.

É no inconsciente que se encontra todos os desejos reprimidos que são


aprisionados.

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Mecanismos de Defesa

Para lidar com o desejo que nos faz sofrer existem certos mecanismos de defesa

→ Repreensão: Joga o desejo penoso para o inconsciente


→ Recalque: Impede o desejo de voltar para o consciente
→ Sintomas: Desejos disfarçados que se mascaram para poder passar
pelo recalque

Mascaras

Disfarces dos desejos, eles se “reorganizam” e se modificam para poder passar o


recalque na forma de sonhos ou sintomas

Fantasias

Amor infantil que foi reprimido por culpa ou vergonha e na vida adulta volta
distorcido e a pessoa relata que foi abusada quando criança.

Métodos para sondar o inconsciente

→ Associação livre: Encoraja o paciente a falar tudo o que vem à mente.


→ Sonhos: O paciente fala do seu sonho manifesto, mas o que o analista estará procurando são
os pensamentos oníricos latentes, que é o significado profundo por traz da máscara de sonho.
→ Lapso/Ato falho: Erros cometidos na fala ou escrita, substituição de palavra, a pessoa fala o
que realmente veio em mente, mas não pode dizer por causa das regras sociais.
→ Hipnose: É o conjunto de técnicas que permitem provocar um estado de hipnose num sujeito
com finalidades terapêuticas.

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2. Pulsões de vida e de morte

É uma necessidade psíquica e orgânica, que nos dirigem a um determinado fim.


Todos temos pulsão, que estão em conflito permanente e não resolvido. A maior parte
dos nossos pensamentos e ações e resultado de uma combinação das pulsões de
vida e de morte.

Pulsão de vida

É toda a demanda interna que nos leva a buscar o prazer, a criar, a realizar
projetos (Mantenedoras da vida).

A fonte de energia dessa pulsão é a libido (desejo, designa a manifestação da


pulsão sexual na vida psíquica e, por extensão a sexualidade humana em geral e a
infantil em particular.), sendo essa a energia empregada na manutenção da vida.

Sempre que nos dedicamos a construir algo ou a levar adiante um projeto,


estamos empregando uma parte da nossa libido nesse projeto, e enquanto estivermos
envolvidos com a atividade, aquela quantidade especifica de libido empregada torna-
se indisponível para outros objetivos. Mas é possível distribuir níveis diferentes de
libido para diferentes objetivos, mas quanto mais interesse um determinado projeto
desperta em você isso significa que maiores níveis de energia estão sendo investidos
naquele projeto.

Quando a pessoa está de luto, ela perde o interesse nas outras atividades,
tendo perdido níveis de libido dessas atividades e uma concentração extrema de
libido na pessoa que foi perdida.

Pulsão de morte

É a demanda que nos conduz a busca do isolamento, da estagnação e a atos


de destruição e morte (incitadoras da morte)

Também tem uma fonte de energia especifica, mas não tem um nome próprio.

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Toda pulsão tem uma fonte, finalidade, pressão e objeto:

→ Pressão – fator motor, quantidade de força ou a medida de exigência de


trabalho que ela representa.
→ Finalidade: é sempre satisfação e envolve uma satisfação parcial.
→ Objeto: é a coisa através do qual o instinto pode obter sua finalidade,
pode ser uma parte do próprio corpo. Pode ser modificado quantas vezes se faça
necessário no decorrer das vicissitudes que ocorrem à pulsão.
→ Fonte: processo somático que ocorre num órgão ou parte do corpo, e
cujo estímulo é representado na vida mental pela pulsão.

Exemplo: Sede

→ Fonte: Necessidade de líquidos para hidratar o corpo


→ Finalidade: Reduzir essa necessidade até que o organismo esteja
satisfeito
→ Pressão: Quantidade de energia que uma pessoa emprega para
satisfazer a sede (depende da necessidade ou urgência da sede)
→ objeto: Tudo o que a pessoa faz para satisfazer a sede (levantar-se, ir a
geladeira, escolher o líquido e bebê-lo)

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3. Id, Ego e SuperEgo

Freud propôs uma nova estrutura da personalidade: A psique, que tem como objetivo preservar e
recuperar um certo nível de equilíbrio interno que assim permite minimizar o desprazer e maximizar
o prazer, está estrutura é composta por três elementos básicos, Id, Ego e Superego.

Id

Obedece ao princípio do prazer, segundo o qual todo o desejo deve ser


imediatamente satisfeito. Faz de tudo para evitar a dor e aumentar o prazer.

É a estrutura original da personalidade, constituído pelos impulsos primitivas, já


nascemos com o ID, está na nossa biologia.

É primitivo, caótico, desorganizado e totalmente inconsciente, ou seja, não tem


contato com a realidade, por isso é imutável, não se altera ao longo do tempo, não
amadurece com as experiências do indivíduo, amoral.

Não segue lógica, têm desejos controversos, desconsidera os limites, não se


importa com o que é adequado ou justo procurando a auto satisfação de forma
egoísta.

Cheio de energia, é o reservatório das pulsões básicas de vida e morte, motiva


nossos pensamentos, sentimentos, nossas ações no mundo.

Ego (Eu)

Princípio da realidade

Se desenvolve a partir do ID a medida em que o bebê vai tomando consciência de


sua própria identidade, quando aprende a se diferenciar do mundo ao seu redor, que
não forma uma unidade com o mundo.

O ego é lógico e racional, Como ele é o único em contato com o mundo externo
(realidade), ele é o tomador de decisões.

Tem como objetivo atender e aplacar as exigências do Id, tenta evitar o desprazer
e se esforça pelo prazer, preservando a saúde, segurança e sanidade da psique,

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controlando as exigências e avaliando, como, quando, e se elas vão ser atendidas,
levando em consideração as limitações impostas pela realidade.

“O ego não é senhor em sua própria casa”, na verdade essa estrutura tenta dar
conta de vários senhores, além de suas próprias funções ele tem que levar em conta
as demandas do ID pelo prazer, o autoritarismo do superego, além de “respeitar” as
restrições da realidade, não tem energia própria, ele é alimentado pelo ID.

Utiliza de mecanismos de defesa, como a repreensão, para se proteger

Parcialmente inconsciente, consciente e pré consciente, ou seja, faz parte dos 3


níveis da consciência

Muitas vezes o ID consegue sobrepor o ego e o leva onde quer. Freud considera
Ego uma estrutura fraca. O propósito da psicanálise é de fortalecer o ego (Eu) para
que ele se torne mais independente do autoritarismo do superego e não ceda ao ID,
tendo à capacidade de percepção apurada, lhe dando o melhor com as exigências
que recaem sobre ele.

No auge da saúde mental o ego pode subjugar o Id quase completamente

Também é o ego que administra as primeiras necessidades de convívio social,


aprendemos a adiar a obtenção de prazer e lidar de forma inteligente e racional com
o mundo exterior. Até aqui a criança ainda não desenvolveu o superego, isso
acontece quando a criança se identifica com os pais e acolhe seus valores e ideais

Superego

É o reservatório os valores Morais e dos ideais das pessoas, também é juiz das
ações do ego.

Surge a partir do ego, mas ao contrário dele não tem contato com a realidade,
sendo assim, suas exigências que perfeição são excessivas, não realistas.

É nessa estrutura que reside os códigos de conduta segundo convívio social, as


inibições e ideais, proibindo o limitando certos pensamentos e atitudes, utilizando dois
subsistemas.

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→ Consciência: resultado de experiências das quais fomos punidos por
comportamentos impróprios, então é a instância que nos dirá o que não devemos
fazer.
→ Ego Ideal: se desenvolve das experiências das quais fomos
recompensados por condutas adequadas, nos dirá o que devemos fazer.

O superego de uma criança se desenvolve de acordo com o modelo de valores e


tradições dê seus criadores, ao qual a criança se adapta por medo e perder o amor e
aprovação deles. É passado de geração pra geração.

O Superego gera sentimento de orgulho e amor próprio por bons comportamentos,


assim como pode gerar sentimento de culpa e inferioridade por conduta inadequada.
Observa o ego bem de perto, julgando as suas ações e intenções, às vezes sendo
severo e inflexível em busca da perfeição, não considera as impossibilidades do ego.

Além de observar para poder comparar examinando os desejos, julga sempre se


comparando com os outros, somos carrascos de nós mesmos. A culpa surge quando
o ego age ou tem intenção de agir fora dos padrões morais de superego, já a
inferioridade surge quando não conseguimos atingir os padrões do ego ideal.

Pode exigir que eu ego reprima os impulsos sexuais e agressivos já que ele mesmo
não pode.

Em alguns indivíduos o superego não se desenvolve, o que a carreta na pessoa


não tendo nenhum freio moral, já em outras o superego domina a personalidade por
causa dos fortes sentimento de culpa e inferioridade, ou então o ego e superego
podem se alterar no controle da personalidade resultando em flutuações de humor
extremas, e ciclos alterados de auto confiança e auto depreciação.

Um indivíduo saudável psicologicamente pode integrar os dois (ID e superego)


nenhum ego forte em que não é subjugado e pode funcionar de forma harmônica,
com o mínimo de conflitos.

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4. Fases psicossexuais

Freud sempre acreditou que a sexualidade estava diretamente envolvida nos adoecimentos
histéricos. Posteriormente, se viu frente à constatação de que as crianças não são assexuadas e que
esta sexualidade infantil tem um papel decisivo na construção da personalidade do sujeito.

Na medida em que a criança amadurece vai desejar coisas diferentes, e encontrando formas de
gratificar estes desejos.

No processo de escolha objetal infantil, é muito comum que a criança acabe por eleger um dos
genitores como seu primeiro objeto de amor.

É somente quando a organização sexual se completa, no período da puberdade, que se reconhece


uma polaridade sexual

Fase Oral

Do nascimento até +/- 2 anos


A fase que dá início à organização sexual infantil é a fase oral. A zona erógena
nessa fase (onde fica as necessidades da criança e suas satisfações) é a boca. A
boca propicia a ele o conhecimento do mundo à sua volta e o seio da mãe é o primeiro
objeto da pulsão sexual. Posteriormente, esse objeto será abandonado, pois a mãe
não está inteiramente à disposição, o que faz com que o bebê substitua a atividade
de sucção do seio materno pela sucção de uma parte do seu próprio corpo.

Fase Anal

Entre 2 e 4 anos

Esta fase está impregnada de significações ligadas à expulsão e retenção dos


objetos e valor simbólico dos excrementos.

A criança aprende a controlar os esfíncteres e a bexiga, a pulsão de dominação da


musculatura do corpo se faz valer a partir do ato aprender/ soltar nas fezes, o que cria
uma espécie de conflito, por um lado eliminar as fezes é prazeroso, mas é socialmente
esperado que você aguente para fazer isso no lugar adequado, este é um dos
primeiros conflitos entre o indivíduo e as exigências da vida social.

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Acriança pode controlar a evacuação vai receber elogios, e as vezes pode evacuar
onde não deve para chamar a atenção. o valor simbólico que as fezes adquirem é tal
que a criança as “entrega de presente” para o seu cuidador.

Fase Fálica

Freud pontuou a existência de uma fase que já poderia ser denominada de genital.
No entanto, pelo fato de haver, por parte da criança, o reconhecimento apenas da
genitália masculina, tal fase foi denominada de fase fálica.

Trata-se, portanto, de uma primazia do falo. A primazia do falo diz respeito a uma
representação que se constitui com base na presença/ausência do pênis.

Nela, há uma suposição do menino de que todos, assim como ele, possuem pênis,
considerado uma preciosa parte anatômica, um apêndice visível e muito valorizado,
mas ao se darem conta de que as meninas não o têm os meninos experimento o
chamado complexo de castração.

Complexo de Castração

Sentimento inconsciente de ameaça experimentado pela criança quando ela


constata a diferença anatômica entre os sexos. Ele tem duas representações
psíquicas. Por um lado, o reconhecimento, que implica a superação da renegação da
diferença anatômica entre os sexos. Por outro, como consequência desta
constatação, a ameaça de castração.

Já a menina em primeiro instante assim que o clitóris é um pênis, mas então


percebe que é muito pequeno para ser um falo, então acredita que foi castrada,
depois descobre que a mãe também não tem um pênis e a culpa por isso.

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Complexo de Édipo

A criança tem ciúmes da atenção que os pais dão um para o outro, então o menino
começa a ver o pai como rival pelo amor da mãe.

O menino então fantasia matar o pai e casar-se com a mãe, ele acredita que seu
pai também o vê como um rival e que poderá ser castrado pelo pai ficando inofensivo.
ao mesmo tempo o menino ainda quero amo e atenção do pai enxerga mãe como
uma rival.

Com o perigo de ser castrado o menino recalca esse amor pela mãe e abandona
esse desejo, então evolui para a se identificar com o pai, escolhendo um novo objeto
de desejo.

Já para a menina é um pouco diferente, ela também deseja mãe, mas acredita que
perdeu o pênis por culpa dela, então desenvolve uma inveja do pênis, seu objeto de
amor passa a ser o pai. a menina fantasia tiveram um filho com o próprio país isso
compensará seu órgão castrado.

De qualquer forma a partir dos 5 anos os relacionamentos com os pais costumam


ser resolvido, a criança então se volta para os relacionamentos escolares, com
amigos e professores.

Fase de Latência

5 aos 12 anos

período no qual eu desejos sexuais não resolvidas na fase anterior são reprimidos
pelo superego.

a sexualidade não avança nessa fase, na verdade os anseios sexuais perdem o


vigor e são temporariamente abandonados.

O ego desenvolve a moralidade e as atitudes de vergonha e repulsa.

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Fase Genital

A libido retorna aos órgãos genitais, nesse período os indivíduos já estão cientes
de suas diferenças sexuais é buscam formas de satisfazer suas necessidades
eróticas. O desejo sexual torna-se adulto.

Sentimentos edipianos que não tenham sido resolvidos na fase fálica podem
retornar na fase genital e assombrar a vida de alguns, sendo responsável por parte
das turbulências vividas nesta etapa da vida.

❖ Segundo Freud, aqueles que conseguirem progredir pelas diferentes


fases do desenvolvimento resolvendo os diferentes conflitos de forma satisfatória
se tornaram adultos psicologicamente saudáveis.

Fixação

Ocorre quando a pessoa não consegue avançar normalmente de uma fase para
outra permanecendo muito envolvida em formas de gratificação mais simples

→ Fixação na fase oral


- Fumar
- Comer
- Mascar chiclete
- Fofocar
→ Fixação na fase anal
- Obcecados por parcimônia
- Obstinação
- Obcecados por limpeza e organização
→ Fixação na fase fálica
- Dificuldades eu formação do superego (regras sociais)
- Promiscuidade sexual
- Dificuldades na identificação do papel sexual e na sexualidade

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5. Psicose, Neurose e Perversão: Estruturas Psicanalíticas

A Psicanálise afirma a existência de três estruturas clínicas: a neurose; a psicose


e a perversão. A neurose, de longe a mais comum, atua no sujeito através do
recalque. A psicose, com o mecanismo da forclusão, reconstrói uma realidade
delirante ou alucinatória. Já a perversão, mantida através da denegação ou
desmentido faz com que o sujeito, ao mesmo tempo, aceite e negue a realidade,
com uma fixação na sexualidade infantil.

O que desencadeia uma neurose ou a psicose é a frustração – a não realização


dos desejos infantis indomados.

Foraclusão ou Forclusão: Conceito forjado por Jacques Lacan para desig-nar um


mecanismo específico da psicose, através do qual se produz a rejeição de um
significante fundamental para fora do universo simbólico do sujeito. Não é integrado
no inconsci-ente, como no recalque, e retorna sob forma alucinatória no real do
sujeito.

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Psicose

Na psicose a realidade é recusada, o ego se deixa dominar pelo Id ao mesmo


tempo em que se separa da realidade, ou seja, a relação entre o ego e a percepção
do mundo exterior é perturbada. A psicose procura substituir a realidade.
Totalmente separado da realidade

“O ego cria autocraticamente para si um novo mundo, exterior e interior ao


mesmo tempo; há dois fatos que não deixam nenhuma dúvida: esse novo mundo é
construído seguindo os desejos do Id, e o motivo dessa ruptura com o mundo
exterior é que a realidade se opôs ao desejo de uma forma grave, vista como
intolerável.”

A entrada na psicose se dá em dois momentos:

- O ego se separa da realidade por meio da negação.

- Cria uma nova realidade, um delírio, uma alucinação

O fragmento da realidade é negado e reconstruído

A psicose é uma estrutura da personalidade que prejudica a percepção e o


pensamento da pessoa, afetando sua capacidade de julgamento, o psicótico não
reconhece as regras ou mesmo que as reconheça se sente indiferente a elas, nem
respeita as normas estabelecidas. Por ser isento de culpa ou ansiedade, é possível
que seja capaz de distinguir o certo do errado, mas por se colocar sempre em
primeiro lugar e não possuir capacidade empática, tende a seguir o que considera
bom para si, independentemente de "certo ou errado" dentro da sociedade em que
está inserido.

Alguns especialistas ressaltam que é uma das estruturas de personalidade mais


perigosas, porque os psicóticos são capazes de ações extremas sem mostrar
qualquer remordimento. Quando o indivíduo é muito inteligente, todo esse potencial
é utilizado para manipular, controlar e para submeter aqueles que estão a seu redor

Encontramos aqui três subdivisões: paranoia, autismo e esquizofrenia.

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O psicótico encontraria fora de si tudo que exclui de dentro. Nesse sentido, ele
incluiria para fora os elementos que poderiam ser internos. O problema para o
psicótico está sempre no outro, no externo, mas nunca em si.

Na Paranoia, ou, Transtorno de Personalidade Paranoide, trata-se do outro que o


persegue. O sujeito sente-se perseguido, vigiado e até mesmo atacado pelo outro.
No Autismo, trata-se do outro que quase não existe. Isola-se do outro e foge da
convivência e comunicação com o outro. Já na esquizofrenia, o outro pode aparecer
de inúmeras formas. O outro é um estranho, um monstro ou qualquer outra coisa. No
caso da esquizofrenia, o que fica mais evidente é a dissociação psíquica.

Outra característica da Psicose é que, diferente do que acontece com indivíduos


com outras estruturas mentais, a própria pessoa acaba revelando, ainda que de forma
distorcida, os seus sintomas e distúrbios.

ALGUNS SINTOMAS DA PSICOSE


Os sintomas podem variar de acordo com o paciente, mas, no geral, são
sintomas voltados a mudanças no comportamento do indivíduo, alguns são:

1. Alterações de humor
2. Confusão nos pensamentos
3. Alucinações
4. Mudanças repentinas nos sentimentos

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Neurose

A neurose é uma estrutura da personalidade que está intimamente ligada à


angústia. Na neurose a realidade é aceita, não está totalmente separado, só não
quer saber nada sobre ela, o Ego mantém sua fidelidade em face do mundo exterior
e procura amordaçar o Id. O ego entra em conflito com o Id porque recusa uma
moção pulsional indesejável, da qual se protege reprimindo-a no inconsciente e o
reprimido reaparece em forma de sintoma substituto que o representa.

Há uma perda da realidade em um primeiro momento, seguida da formação do


sintoma, mas é o fragmento da realidade que produz a repressão. Um fragmento
significativo da realidade é evitado em forma de fuga

O neurótico utiliza o mundo fantasioso como a criança que brinca e dá um sentido


simbólico. Ele consegue estabelecer a diferença entre realidade e fantasia ao
contrário do psicótico que delira ou alucina.

Já a Neurose, por sua vez, divide-se em histeria e neurose obsessiva. Seu


mecanismo de defesa é o recalque ou repressão.

Então, enquanto o psicótico encontra sempre fora de si o problema, e acaba por


revelar seus distúrbios, ainda que de forma distorcida, o neurótico age da forma
oposta.

O conteúdo problemático é mantido em segredo. E não só para os outros, mas


para o próprio indivíduo que sente. O neurótico guarda dentro de si o problema
externo. É disso que se trata o recalque ou repressão.

Portanto, para que alguns conteúdos fiquem recalcados ou reprimidos, a neurose


provoca no indivíduo uma cisão da psique. Tudo o que é doloroso é recaldado e
permanece obscuro, causando sofrimentos que o indivíduo mal pode identificar –
apenas sentir. Por não poder identificá-los a pessoa passa a reclamar de outras
coisas, de sintomas que sente (e não da causa).

Na Neurose Obsessiva o indivíduo permanece também dando voltas em torno dos


mesmos problemas. Nesse caso, no entanto, existe uma forte tendência em organizar
tudo ao seu redor. Essa necessidade de organização externa seria um mecanismo
para evitar pensar nos problemas reais recalcados em seu interior.

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Histéricas

No caso da histeria, o indivíduo permanece dando voltas em torno de um mesmo


problema insolúvel. É como se a pessoa nunca conseguisse encontrar a verdadeira
causa de sua frustração, por isso as constantes reclamações. É possível identifica
ainda uma busca constante por um objeto ou uma relação idealizada, na qual o
indivíduo deposita aquela frustração recalcada. Isso, logicamente, leva a mais
frustrações.

Caso Anna O

Anna O. era uma jovem austríaca de 21 anos de uma família rica. Ela era uma
garota particularmente inteligente e culta. No entanto, começou a apresentar sintomas
extravagantes, diferentes. Ela entrou em uma espécie de “transe” que ela chamava
de “nuvens”. Sofria de alucinações em que via cobras e crânios. Ficava muda. Ficava
paralisada. Não podia beber líquidos (Viu o cachorro beber em um copo). Às vezes,
esquecia sua língua materna, o alemão, e só podia falar em inglês ou francês.

Breuer começou a tratá-la quando teve uma tosse persistente que a deixou
cansada. Ela também teve paralisia em seu rosto, em um braço e em uma perna. Seu
pai sofria de um abscesso tuberculoso e era ela quem cuidara dele durante a doença.
No entanto, ela mesma começou a ficar doente.

Breuer focou o tratamento usando a escuta como sua principal ferramenta. Ele
incentivou Anna O. a falar e dizer o que quer que viesse à mente. Os sintomas
melhoraram e as bases do que seria a associação livre ou o método de associação
livre apareceram.

Anna O chamou tal método de “cura pela palavra”. Breuer, por sua vez, chamou
esse procedimento de “método catártico”.

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Perversão

Nos Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade (FREUD, 1905), as perversões


parecem ser o resultado de uma regressão e de uma fixação a uma certa fase do
desenvolvimento libidinal, caracterizado pela prevalência das pulsões parciais
específicas. Baseada na evidência fenomenológica, essa hipótese sobre a natureza
da perversão não responde à questão aberta sobre a especificidade de sua
estrutura, especialmente à luz do caráter universal ‘normalmente perverso’ da
própria pulsão parcial. Ao atualizar, na realidade, os modos de satisfação idênticos
àqueles manifestados na sequência dos estágios e fantasias psicossexuais dos
neuróticos, a perversão permanece como o ‘reverso’ da normalidade e da neurose.

É nas teorias que Freud expandiu nos anos 20 que emerge uma possível
resposta a essa questão.

A perversão é uma estrutura de personalidade na que a busca pelo prazer é


constante. A pessoa sabe que existem normas, são capazes de reconhecê-las, mas
tendem a transgredi-las.

Dois aspectos fundamentais permitiram uma nova abordagem da estrutura da


perversão: em primeiro lugar o estudo da organização genital infantil; em segundo, a
descoberta do mecanismo psíquico que fundamenta a constituição do fetichismo.

O mecanismo de defesa específico da perversão é a denegação. Ele poder ser


compreendido através do fetichismo.

Fetichismo

Ao recusar a percepção da realidade intolerável, aqui a defesa é o fetichismo, o


sujeito nega a percepção da castração na mulher e o fetiche substitui o pênis
faltante.

Freud coloca que muitos indivíduos que faziam análise com ele apresentavam
fetiches como algo que os traria apenas prazer, algo até mesmo louvável. Esses
indivíduos nunca o procuravam para falar desse fetichismo, ele aprecia apenas como

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uma descoberta subsidiária. Assim se dá a denegação: a recusa em reconhecer um
fato, um problema, um sintoma, uma dor.

É a negação e o reconhecimento dessa falta.

O objeto fetiche – pé, sapato, lingerie feminina é um substituto do pênis – “o


fetiche é o substituto do falo da mulher (a mãe) em que o menino acreditava e ao
qual não quer renunciar.”

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5. Transferência

Para a psicanálise é o processo pelo qual os desejos inconscientes se


atualizam sobre determinados objetos no quadro de um certo tipo de relação
estabelecida com eles e, eminentemente, no quadro da relação analítica. É uma
neurose universal, praticamente impossível escapar da transferência ela faz parte do
nosso cotidiano.

Freud afirma que partes dos acontecimentos que se desenrolam ao longo do


dia são transferidos para os sonhos e retrabalhadas pelo inconsciente, muitas das
imagens e situações experimentadas em sonhos são simplesmente frutos da
transferência, ou seja, o inconsciente aquela parte submersa da sua mente transfere
para essas imagens e situações as alegrias, tristezas e angústias vivenciadas ao
longo do dia.

Analista/Paciente

Freud também percebeu que assim como o inconsciente transfere os restos


das experiências diurnas para os sonhos, ele também faz outro tipo de transferência,
o inconsciente dos pacientes transfere sentimentos vividos dos relacionamentos
passados para o analista. Então a partir de um momento os pacientes começam a
depositar sentimentos que eles tinham por seus pais, amigos e outras pessoas do
passado, em um processo totalmente inconsciente, para o analista.

“(...) o doente consagra ao médico uma série de sentimentos afetuosos. Mesclados


muitas vezes de hostilidade, não justificados em relações reais e que, pelas suas
particularidades, devem provir de antigas fantasias tornadas inconscientes.” (FREUD,
1997, p.56)

Então quando ele percebe que aquelas emoções e aquelas experiências não
pertencem àquele momento atual, mas sim o momento passado, ele dá esse nome
de transferência porque a própria palavra já traz o significado, transportar o passado
para o presente, das figuras do passado para figura atual.

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O tratamento pela transferência

Nós temos a tendência de repetir relacionamentos passados, temos padrões


de relacionamento pela vida, então Freud se deu conta que isso poderia ser um
instrumento para tratamento dessas nossas particulares neuroses que são
verdadeiras novelas, ciúmes, invejam, ódio, amor, paixão, traição.

Então o analista utiliza esse fenômeno da transferência para através dele


interpretar as fantasias e conflitos do inconsciente, o analista vai desfazendo esses
nós que amarram o presente ao passado e perturbam tantos relacionamentos, por
exemplo aquela pessoa que briga com todos os chefes dos seus empregos, aquela
outra que fica esperando a admiração de todo mundo, as relações com genitores,
com companheiros, com os sócios, com os chefes, tornando-se assim mais reais e
menos projeções do passado.

Freud fala do temor de a psicanálise causar danos quando puxa para a


superfície da consciência as memórias/desejos recalcados para o inconsciente.

Ele compara a técnica à do cirurgião, bem como acentua que a destruição do


caráter civilizado pelos impulsos instintivos não procede de modo algum, pelo
contrário.

“(...) o poder mental e somático de um desejo, desde que se baldou a


respectiva repressão, se manifesta com muito mais força quando inconsciente do que
quando consciente; indo para a consciência só se pode enfraquecer. O desejo
inconsciente escapa a qualquer influência, é independente das tendências contrárias
(...)” (FREUD, 1997, p. 58)

O que acontece com os desejos inconscientes libertados pela psicanálise?

- Anulados pela ação mental, bem conduzidas, dos melhores sentimentos contrários

- Dominar o que é hostil

- Impulsos inconscientes passam a ter utilização conveniente que deveria ter sido
encontrados antes

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- Sublimação – a energia dos desejos infantis não se anula, mas ao contrário
permanece utilizável, substituindo-se o alvo de algumas tendências por outro mais
elevado, quiçá não mais de ordem sexual, de permutar por outro mais distante e de
maior valor social.

Professor/Aluno

Não é só o analista que se torna objeto de transferência, repetidamente


atualizamos os depositários dos nossos antigos afetos e padrões de relacionamento,
um desses depositários é a figura do professor.

Aulas que para algum são excepcionais e para outros um tedio se dá pelo fato
de que esse professor provavelmente é objeto da transferência dos antigos afetos do
aluno que ama a aula dele, por isso ele parecia tão incrível para alguns.

O processo de transferência é inconsciente, ou seja, nós não sabemos em


detalhes como ele opera, mas em geral a transferência tem facilidade em ocorrer em
ambientes nos quais o diálogo é uma constante, como na sala de aula, por exemplo,
quando o estudante tem a possibilidade de falar e se posicionar livremente com os
seus professores é mais fácil que esses professores se tornem depositórios dos
antigos afetos de seus alunos, ou seja, os estudantes vão querer reviver com esses
mestres as relações que tiveram com outras figuras de afeto.

A transferência pode ser um bom estimulante para a aprendizagem na medida


em que os professores são percebidos como reedições de outras figuras de afeto,
como os pais, ele se torna um espaço de investimento para o estudante, ou seja,
estudar passa a ser uma forma de investir nesse vínculo, o estudante quer o
reconhecimento dos professores e percebe que estudar é uma forma de garanti-lo.

Quando os professores se tornam um espaço de investimento para os seus


alunos é importante que esses mestres tenham em mente que os afetos que seus
estudantes investe neles são elementos que habitam o inconsciente desses
estudantes, logo tudo que esses professores ensinam não é recebido pela classe de
forma inteiramente objetiva e sim a partir desse lugar especial que os mestres ocupam
no inconsciente de seus alunos, isso quer dizer que o peso da palavra desses

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professores se reveste de uma autoridade que o inconsciente de seus estudantes lhe
atribui. Por isso é importante que os professores saibam planejar a influência que tem
sobre seus alunos para que eles também possam seguir suas próprias trajetórias
intelectuais.

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6. Caso Dora

Freud diz que duas circunstâncias vieram em seu auxílio em relação a esse caso:
primeiro, a duração do tratamento não ultrapassou três meses, e segundo, os
esclarecimentos do caso se agruparam em torno de dois sonhos, um relatado no meio
do tratamento e outro no fim cujo enunciado foi registrado imediatamente após a
sessão, assim proporcionando um ponto de apoio seguro para a teia de
interpretações e lembranças deles decorrente.

Ao trabalhar os dois sonhos de Dora, diz que o sonho é um dos caminhos pelos
quais o material psíquico pode acessar a consciência, já que em virtude da oposição
criada por seu conteúdo, foi bloqueado da consciência, recalcado, e assim se tornou
patogênico. O sonho é um dos desvios por onde se pode fugir ao recalcamento, um
dos principais recursos do que se conhece como modo indireto de representação no
psíquico.

Os pacientes podem dar ao médico muitas informações coerentes sobre este ou


aquele período de suas vidas, mas logo se segue outro período em relação ao qual
suas comunicações escasseiam, deixando lacunas e enigmas; e em outras ocasiões
fica-se diante de novos períodos de total obscuridade, não iluminados por uma única
informação que tenha serventia. As ligações, inclusive as aparentes, são em sua
maioria desconexas, e a sequência dos diferentes acontecimentos é incerta. Durante
o próprio relato, os pacientes corrigem repetidamente um pormenor ou uma data,
talvez para retornar, depois de muita hesitação, a sua versão inicial. A incapacidade
dos doentes de desfazerem uma exposição ordenada de sua biografia no que ela
coincide com a história de sua doença não é característica apenas da neurose, mas
tem também grande importância teórica.

Deve-se prestar tanta atenção às circunstâncias puramente humanas e sociais dos


enfermos quanto aos dados somáticos e aos sintomas patológicos. Acima de tudo,
nosso interesse se dirigirá para as circunstâncias familiares do paciente, não apenas
com o objetivo de investigar a hereditariedade, mas também em função de outros
vínculos.

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História familiar

O círculo familiar de nossa paciente de dezoito anos incluía, além dela própria,
seus pais e um irmão um ano e meio mais velho que ela. O pai era a pessoa
dominante desse círculo, tanto por sua inteligência e seus traços de caráter como
pelas circunstâncias de sua vida, que forneceram o suporte sobre o qual se erigiu a
história infantil e patológica da paciente, ele também diz que sua mãe era uma “mulher
inculta tola”, que tinha “psicose de dona de casa”, sendo obcecada com a limpeza.
Na época em que aceitei a jovem em tratamento, seu pai já beirava os cinquenta anos
e era um homem de atividade e talento bastante incomuns, um grande industrial com
situação econômica muito cômoda. A filha era muito carinhosamente apegada ao pai.

O pai de Dora contraiu tuberculose quando ela tinha seis anos e, portanto, a família
se mudou para o país onde eles formaram uma amizade íntima com Sr. e Sra. K.

Sra. K, como o pai de Dora, era infeliz no casamento e os dois embarcaram em um


caso extraconjugal. Freud nos diz que Sra. K, de forma semelhante ao pai de Dora,
passara a contar com Dora como uma confidente e conselheira em conexão com
“todas as suas dificuldades conjugais”.

Sabemos também que o pai de Dora sofreu um descolamento de retina quando


Dora tinha 10 anos, sendo tratado em uma sala escura, e que dois anos mais tarde
ele experimentou sintomas da “paralisia e transtorno mental leve”. Freud também nos
informa que Sra. K cuidou do pai de Dora através destas várias doenças,
aparentemente em um ponto evitando que ele cometesse suicídio. Enquanto isso, Sr.
K estava gastando uma quantidade crescente de tempo com Dora. De fato, enquanto
Sra. K estava cuidando de pai de Dora, Dora estava com Sr. K cuidando de dois filhos
pequenos do casal, “quase se tornando uma mãe para eles.”

O estudo de caso revela que Sr. K começa a seduzir Dora desde tenra idade e que
ele persistiu neste esforço, presenteando-a com flores e presentes valiosos à medida
que crescia. Além disso, ele forçou um beijo nela quando ela tinha 14 anos, e tentou
fazer sexo com ela cerca de três anos mais tarde. Dora contou à mãe sobre o último
incidente. Sr. K negou a acusação de Dora e, com o apoio de Sra. K, acusando Dora,
por sua vez, de ser excessivamente interessada em “assuntos sexuais” e de ser toda
a cena “imaginária”. O pai de Dora foi conivente com os K, dizendo a Dora que suas

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sugestões foram uma fantasia lasciva. Seguindo essas negações, Dora escreveu uma
nota de suicídio oferecendo a seus pais uma despedida e dizendo que ela “não
poderia mais suportar a sua vida”.

Dora começou a fazer análise com 18 anos e foi descrita por Freud como sendo
uma “mulher madura de julgamento independente”. Ele aceitou que sua história
“correspondia aos fatos em todos os aspectos”. Ele também concordou com a visão
de Dora que seu pai tinha a entregado para Sr. K, usando-a como moeda em seu
escambo sexual com o último para que sua ligação com Sra. K pudesse continuar
sem ser perturbada. Freud também era da opinião de que o comportamento sedutor
do Sr. K em direção à Dora tinha causado o “pré-requisito do trauma psíquico para a
produção de uma desordem histérica”.

Sintomas

- Aos 12 anos teve enxaqueca e tosse nervosa


- perda total da voz
- corrimento vaginal

Primeiro sonho

“Uma casa estava em chamas. Papai estava ao lado da minha cama e me acordou.
Vesti-me rapidamente. Mamãe ainda queria salvar sua caixa de joias, mas papai
disse: – Não quero que eu e meus dois filhos nos queimemos por causa da sua caixa
de joias. Descemos a escada às pressas e, logo que me vi do lado de fora, acordei.”

Interpretação do primeiro sonho

A fumaça do sonho que remete ao cigarro: informou que, na tarde seguinte ao


passeio no lago, recostou em um sofá e, ao acordar, viu o Sr. K. tal como no sonho,
parado frente a ela. O fato a levou a pedir à Sra. K. uma chave, que sumiu no dia
seguinte ao que a recebeu. Também falou que o Sr. K. já a havia presenteado com

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uma caixa de joias. Quanto ao termo, reconheceu que “caixa de jóias” é uma
expressão utilizada para referir-se ao genital feminino.

Na sessão seguinte, Dora relatou o que esquecera de contar: todas as vezes,


depois de acordar, sentia cheiro de fumaça. Assim, Freud inseriu que o beijo outrora
roubado, lembrança da qual ela se protegia por meio do asco, cheiraria a fumo.
Considerando a transferência, poderia ter ocorrido que o mesmo se repetiria em um
contato com o analista.

“Se eu reunir ao final de todos os sinais que tornaram provável uma transferência
sobre mim, dado que também sou fumante, chego a pensar que um dia, durante a
sessão, sem dúvida ela pode ter desejado que eu a beijasse.”

Segundo sonho

“Eu estava passeando por uma cidade que não conhecia, vendo ruas e praças que
me eram estranhas. Cheguei então a uma casa onde eu morava, fui até meu quarto
e ali encontrei uma carta de mamãe. Dizia que, como eu saíra de casa sem o
conhecimento de meus pais, ela não quisera escrever-me que papai estava doente.
‘Agora ele morreu e, se quiser, você pode vir.’ Fui então para a estação [Bahnhof] e
perguntei umas cem vezes: ‘Onde fica a estação?’ Recebia sempre a resposta: ‘Cinco
minutos.’ Vi depois à minha frente um bosque espesso no qual penetrei, e ali fiz a
pergunta a um homem que encontrei. Disse-me: ‘Mais duas horas e meia.’ Pediu-me
que o deixasse acompanhar-me. Recusei e fui sozinha. Vi a estação à minha frente
e não conseguia alcançá-la. Aí me veio o sentimento habitual de angústia de quando,
nos sonhos, não se consegue ir adiante. Depois, eu estava em casa; nesse meio
tempo, tinha de ter viajado, mas nada sei sobre isso. Dirigi-me à portaria e perguntei
ao porteiro por nossa casa. A criada abriu para mim e respondeu: ‘A mamãe e os
outros já estão no cemitério [Friedhof]”

Interpretação do segundo sonho

O reconhecimento das fontes do cenário consistiu em fotos da Alemanha, presente


de um pretendente que lá ocupou um posto. Ademais, na noite da véspera, em meio

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a uma reunião doméstica, o pai requereu que fosse buscar o conhaque, logo, Dora
pediu à mãe a chave do bufê, mas ela estava absorta na conversa e não lhe deu
resposta alguma até que o gritou. “Onde está a chave?” a Freud pareceu ser o
equivalente masculino da pergunta “Onde está a caixa?”. Portanto, seriam demandas
pelos órgãos genitais. Ademais, no mesmo evento, um convidado fizera um brinde ao
pai de Dora, expressando a esperança de que por muito tempo ainda ele gozasse da
saúde. Nisso, reparando a expressão que toldou o rosto cansado do pai, ela
compreendeu os pensamentos mórbidos que ele sufocava. Assim, foi cara a atenção
ao conteúdo da carta no sonho: o pai estava morto e ela saíra de casa por seu próprio
arbítrio. A partir do escrito, o analista relembrou o que a paciente elaborara para que
os pais encontrassem, cuja interpretação da motivação consistiu em vontade de
assustar o pai que ele se afastasse da Sra. K., ou ao menos, ser vingado.

A interlocução, então, passou a ser conduzida de volta à cena do lago, seguida de


mais um pedido de descrição minuciosa. Eis que o Sr. K. fizera uma introdução que
Dora, mal compreendendo do que se tratava, deu-lhe uma bofetada no rosto e se
afastou às pressas. As palavras que ele usara foram “sabe, não tenho nada com
minha mulher”. Naquele momento, para não tornar a encontrá-lo, ela quisera voltar
para L contornando o lago a pé, e perguntou a um homem com quem cruzou a que
distância ficava. Ante a resposta “duas horas e meia”, desistiu dessa intenção e voltou
em busca do barco, que partiu logo depois. Então, assumiu que o bosque do sonho
era muito parecido com o na orla do lago no qual se desenrolara a cena. Justamente
um bosque denso é o que ela vira na véspera, num quadro de exposição
secessionista. Ao fundo da pintura, viam-se ninfas. Nesse ponto, Freud apresentou
mais uma hipótese: Bahnhof [“estação”; literalmente, “pátio de ferrovia”] e Friedhof
[“cemitério”; literalmente, “pátio de paz”], lembraram uma palavra de similar formação,
“Vorhof” [“vestíbulo”; literalmente, “pátio anterior”], termo anatômico para designar
uma região específica da genitália feminina. Com o acréscimo de “ninfas” – vocábulo
que denomina os pequenos lábios da vulva – fecha-se a interpretação de que o sonho
consistia em uma fantasia de defloração.

A histeria de Dora explicada por Freud

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As premissas teóricas do trabalho de Freud com Dora defendem que os sintomas
histéricos são a expressão de um desejo proibido – que os sintomas histéricos surgem
tanto como um compromisso entre dois impulsos afetivos e instintivos opostos: um
desejo e uma defesa contra o desejo, ou por causa de sentimentos ambivalentes de
amor e ódio. Além disso, Freud sustentou que os sintomas histéricos representavam
um retorno à satisfação sexual primária, isto é, à masturbação. Para Freud, tal
atividade indicara que a sublimação estava incompleta e que os resíduos reprimidos
de fantasias masturbatórias uma vez conscientes tinham retornado sob a forma de
psicopatologia.

Pode ser visto então que, embora Freud parecia estar plenamente consciente do
significado da história de família e circunstâncias pessoais de Dora, seu quadro
teórico levou-o a se concentrar no conflito neurótico intrapsíquico. Assim, a raiz do
problema para Freud era as fantasias inconscientes infantis e impulsos sexuais para
com o pai de Dora. Ele concluiu que esses desejos reprimidos e instintivos haviam
retornado e que Dora estava se defendendo contra o conhecimento de que ela amava
e desejava seu pai, Sr. K e tinha anseios homossexuais em relação à Sr. K. Freud
chegou a sugerir a Dora que sua masturbação infantil foi a razão por que ela tinha
caído doente, e ele interpretou a tosse histérica como representando seu desejo de
ter relações sexuais com seu pai. Para Freud, cura de Dora era dependente de sua
consciência e aceitação de suas fantasias e impulsos sexuais e agressivos infantis.
Uma vez que estas amnésias da infância se tornassem conscientes, elas poderiam
ser sujeitas a controle racional, realista.

Freud nos diz que a recusa de Dora para aceitar suas interpretações era “uma
indicação da força de seu amor e desejo sexual reprimido por seu pai”. Além disso,
seguindo a resistência de Dora, Freud descreveu-a como sendo “incapaz de
julgamento imparcial”, e sugeriu a ela que “não” significava “sim”. Freud argumentou
que parte da razão pela qual Dora terminou o tratamento abruptamente era porque
ela tinha se tornado perturbada e excitada por pensamentos de querer ser beijada por
ele.

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7. Narcisismo

A palavra “narcisismo” foi utilizada pela primeira vez na área da psicanálise pelo
alemão Paul Nacke em 1899. Em seu estudo sobre perversões sexuais, ele fez uso
desse termo para nomear o estado de amor de uma pessoa por si mesmo.

Já para Freud, o narcisismo é uma fase do desenvolvimento das pessoas. É um


estágio em que se verifica a passagem do autoerotismo, ou seja, do prazer que é
concentrado no próprio corpo, para eleição de outro ser como objeto de amor. Essa
transição é importante porque o indivíduo adquire a habilidade de conviver com aquilo
que é diferente.

Autoerotismo
A criança ao nascer encontra-se em um estado de indiferenciação entre ela e o
mundo. Todos os objetos, inclusive sua mãe, fazem parte de si própria. Este estágio
de Autoerotismo dura poucas semanas pois logo o bebe começa a perceber, através
de seu desconforto interno (fome, frio, calor, intensidade luminosa, ruídos abruptos),
que estes estímulos insuportáveis são resolvidos por algo alguém que lhe socorre.

Narcisismo primário

A criança toma a si mesma como objeto de amor e como centro do mundo, antes
de se dirigir a objetos exteriores. A representação de si tem como base a criança
imaginária, amada incondicionalmente pelos pais.

Narcisismo secundário
Há a capacidade de amar por elas mesmas pessoas percebidas como separadas
e diferentes de si, o indivíduo ama a si mesmo como retorno por amar outro e por fim
no desenvolvimento normal estabelece o fundamento da autoestima e coexiste com
o amor de objeto.

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8. Psicologia das massas

Na introdução do texto “Psicologia de Grupo e Análise do Ego” (1921) Freud


apresenta uma proposta para compreender o indivíduo como indissociável do grupo,
destaca o suposto contraste entre a psicologia individual e a psicologia social e
assevera a impossibilidade de uma separação entre estes campos. De acordo com o
texto de Freud, o entrelaçamento da psicologia individual e social decorre: Da ideia
que o homem não pode ser considerado apenas isoladamente, mas pertencente à
uma raça, nação, instituição, o que fatalmente vai interferir e afetar a maneira de
entender e tratar sua psique. A massa é impulsiva, volúvel e excitável, guiada quase
que exclusivamente pelo inconsciente, é influenciável, crédula e acrítica, o improvável
não existe para ela. Os impulsos podem ser nobres ou cruéis, heroicos ou covardes.

Na psicologia social ou das massas se abstrai das relações do indivíduo com pais,
irmãos, objeto de amor, professor, médico, etc, isolando como objeto de investigação
a influência que um grande número de pessoas exerce sobre o indivíduo, às quais
está ligado de algum modo ou podem lhe ser estranhas.

o ser individual é tomado como membro de uma tribo, povo, casta, instituição ou
parte de uma aglomeração que se organiza como massa em determinado momento
para um certo fim, ocorrendo: Manifestação do instinto social

Quando se transforma em massa, os indivíduos se tornam possuidores de uma


alma coletiva, agindo, pensando e sentindo de modo diferente do que o faria
isoladamente.

A massa é provisória. Composta por elementos heterogêneos que se soldam


temporariamente. Aquisições próprias dos indivíduos desvanecem, desaparecendo
sua particularidade, produzindo um caráter mediano nos indivíduos. Mas mostram
também características novas, em algumas circunstâncias as massas podem ter uma
moralidade mais elevada que a dos indivíduos, produzindo o fenômeno do
entusiasmo, que torna possível as mais grandiosas realizações

Três características das massas

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1. Indivíduo adquire um sentimento de poder invencível que lhe permite
ceder a instintos que isolado manteria sob controle., porque a massa é anônima e
irresponsável, desaparece o senso de responsabilidade que retém os indivíduos
2. Contágio mental – sentimento e ato é contagioso a ponto de o indivíduo
sacrificar o interesse pessoal ao interesse coletivo.
3. Determina nos indivíduos das massas características especiais às
vezes contrárias às do indivíduo isolado. Sugestionabilidade e hipnose. Não é
mais ele mesmo e sim um autômato.

A principal motivação de Freud para o estudo da ética e consciência moral foi a


clínica, sua finalidade era compreender a relação entre a consciência moral e a
etiologia das neuroses. Para ele tais sentimentos emergem do convívio humano para
preservação e sobrevivência da espécie.

A ética e a consciência moral não são naturais ao homem, mas desenvolvidos pela
necessidade de domínio das forças da natureza e agressividade humana.

Sugestão e libido

Para Freud a sugestão não é suficiente para explicar o fenômeno de massa, então
ele recorre ao conceito de libido:

“(...) expressão proveniente da teoria da afetividade. Assim denominamos a


energia, tomada como grandeza quantitativa – embora atualmente não mensurável –
desses instintos relacionados com tudo que pode ser abrangido pela palavra amor.”
(Freud 1921-2011, p. 43)

Eros de Platão é Libido da psicanálise, é o liebe, amor.

Na psicanálise esses instintos amorosos são chamados de instintos sexuais. As


relações de amor ou laços de sentimento constituem também a essência da alma
coletiva. A massa se mantém unida graças a algum poder, ao poder de Eros.

Se o indivíduo abandona sua peculiaridade na massa e permite que os outros o


sugestionem, que ele o faz porque existe nele uma necessidade de estar de acordo
e não em oposição a eles, talvez, então, por amor a eles.” (Freud, 1921-2011, p. 45)

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Identificação

Mais primordial forma de ligação afetiva a um objeto. Por via regressiva se torna
substituto para uma ligação objetal libidinosa – introjeção do objeto no EU

Pode surgir a qualquer nova percepção de algo incomum com uma pessoa que
não é objeto dos instintos sexuais. Quanto maior esse algo incomum, mais bem-
sucedida é a identificação parcial –início de uma nova ligação.

Líder e identificação

Ligação recíproca dos indivíduos na massa é da natureza dessa identificação – por


meio de algo afetivo em comum – o líder

Empatia – compreender aquilo que em outras pessoas é alheio ao nosso Eu. Ideal
do EU – instância que se separa do resto do eu e entra em conflito com ele. Herdeira
do narcisismo original. A distância entre o eu ideal e o eu real varia de pessoa para
pessoa.

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9. O Mal Estar na Civilização

Em “O Mal-Estar na Civilização” (1930) Freud afirma que as restrições à liberdade


impostas pela civilização trazem consequências para a economia psíquica, pois
dependendo da via utilizada para contenção dos impulsos agressivos do homem, o
resultado pode ser seu sofrimento.

Parte da agressividade contida volta-se para o próprio eu do sujeito, formando o


superego. É impossível para o ser humano seguir à risca o programa do princípio do
prazer e a sublimação seria um destino possível para tais impulsos. O homem criou
a civilização como uma forma de proteção em relação a diversas fontes de sofrimento.
Contudo, o grande paradoxo é que tal artifício não o livrou do padecimento psíquico,
pois para viver em sociedade o homem precisa abrir mão de certas satisfações
pulsionais e também há uma agressividade inerente ao homem que o torna hostil em
relação aos outros homens

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