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emoções.
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"O caminho que eu escolhi é o do amor. Não importam
as dores, as angústias, nem as decepções que vou ter que encarar.
Escolhi ser verdadeira. No meu caminho, o abraço é apertado, o
aperto de mão é sincero. Por isso, não estranhe a minha maneira
de sorrir e de te desejar tanto bem. Eu sou aquela pessoa que
acredita no bem, que vive no bem e que anseia o bem. É assim que
eu enxergo a vida e é assim que eu acredito que vale a pena
viver." (Clarice Lispector)
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Catalogação.
Produção gráfica:
Jeferson Luis Zaremski
Impressão:
Inov9 – Gráfica e Editora – Santa Maria – RS
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Sumário.
Prefácio.............................................................................................05
Parte I
Parte II
Bibliografia......................................................................................164
Prefácio.
Parte I
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A sua revolta aumenta quando percebe que existem
pessoas vivendo felizes, mas ao voltar para si mesmo, percebe a
solidão. Incapaz de enxergar a vida de maneira diferente acredita
que a existência é um mar de sofrimento. Seus pensamentos
acompanham a sensação de raiva e ódio experimentada por todo
tipo de sofrimento. Este seu “eu” está magoado pela falta de
prazer, é como se esta sensação de alegria e bem estar não fizesse
parte da vida, por isto, está sempre tensa, preocupada e
desesperada.
Esta situação é vivenciada pelas crianças ainda quando
estão aprendendo a experimentar o poder das emoções na vida, e
sem dúvida, aquelas emoções possuem vida própria e podem afetar
e trazer sérias consequências. Esta percepção da criança sobre as
faltas e a convivência com a frustração norteiam seu
relacionamento com o mundo e sua subjetividade. Deverá aprender
a conviver com as perdas e ganhos na existência, sua evolução
psicológica de privação, dependência, prazer, autonomia, são
condições para desenvolver o processo de humanização.
As necessidades afetivas e orgânicas quando são
satisfeitas pelos pais, desencadeiam um forte desejo de amor e
carinho, então quando a criança experimenta a sensação da
privação e de amor, duas realidades acontecem. O cuidado e
proteção favorecem à compreensão do valor do amor, a privação,
perda, frustração, desencadeia uma forte reação de ódio, pois se
sente sozinha e isolada daquelas pessoas que ama. Este conflito
acaba em dor e sofrimento, desejo e amor, uma vivência emocional
incontrolável, emoções desagradáveis aparecem de raiva, ódio,
ciúme, inveja, ainda não tem consciência sobre as reações
emocionais, é um mistério em sua vida.
Toda criança precisa de segurança emocional, sua ênfase
na busca de elogios e afeto tem como objetivo reforçar a imagem
positiva, e assim estar preparado para enfrentar as frustrações.
Todos possuem a necessidade de segurança e proteção para fazer
frente às privações e perdas, com estas vivências todos iniciam o
desafio na existência, procurando sempre o amor e afeto, e
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tentando fugir do encontro com as frustrações e perdas.
Inconscientemente querem preservar a saúde psíquica, buscar os
prazeres para humanizar as emoções e não recair no erro de viver a
pulsão de morte.
As reminiscências do passado arcaico do homem trazem à
tona os aspectos mais primitivos, seria desnecessário fazer
considerações a este respeito. Todo momento recebemos notícias
das atrocidades e barbáries, elas rondam o humano como um
fantasma. Esta parte inconsciente da mente localizado no sistema
límbico é o local onde toda a produção pulsional e emocional
acontece. As experiências dos antepassados ainda residem nas
memórias, somente uma parcela mínima de energia consegue
tornar-se consciente.
Emoções como o ódio, amor, medo são inconscientes, por
isto mesmo a psicanálise humanista está interessada em conhecer
com mais profundidade as motivações ainda desconhecidas pelo
homem cibernético e tecnológico. O ódio, a agressão, a inveja, o
ciúme, a vaidade, o orgulho, são experiências verdadeiras, sua
origem encontra-se nas profundezas das memórias ancestrais,
muitas vezes temos dificuldade de identificar emoções e pulsões
presentes nas vivências dos antepassados.
Mas independente disto todo ser humano precisa
conhecer-se para superar-se diante das adversidades e aprender a
lidar com as emoções, esta condição abre a possibilidade de
sobreviver psicologicamente e, além disso, retirar da existência
todos os prazeres que fazem justiça ao seu esforço e dedicação.
Mesmo as emoções negativas com todos os prejuízos podem ser
transformadas e utilizadas conscientemente a favor de uma vida
mais digna e verdadeira.
Toda a existência caminha nesta direção pelo menos
racionalmente, existe o desejo de segurança e necessidade de
amor, mas para realizar precisa desenvolver a sua capacidade de
relacionamento, saber viver eticamente, e colocar a inteligência em
equilíbrio harmonioso com a inteligência vital do organismo. As
psicopatologias surgem quando a energia da vida é deturpada e
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reprimida, assim inicia-se o grande conflito, às vezes impossível de
resolver entre a biofilia e a necrofilia.
Os medos inconscientes das ameaças de destruição são
deslocados por intermédio da projeção, quando estes medos dos
fantasmas começam a ser identificados como algo real, então o
próximo passo é o desfecho de uma reação emocional de agressão,
como uma maneira de fazer a catarse, desta forma descarrega toda
esta energia agressiva no suposto fantasma. O seu fantasma é
perigoso e mau, assim está convencido da necessidade de perseguir
e agredir o suposto inimigo.
Esta agressividade pode ser o ódio, a emoção na maioria
das vezes é incontrolável, a energia emocional consegue sufocar e
dominar a forma de pensar. A asfixia, ou falta de ar, é proveniente
da emoção reprimida, a tensão nervosa que aparece no corpo.
O adulto é portador de rigidez de caráter, ao observar uma
criança podemos enxergar a espontaneidade, a alegria e seu sorriso.
A alegria é uma emoção, e pode ser presenciadas nas piadas,
brincadeiras, na expressão dos gestos da criança não existe a
vergonha, medo, o corpo é leve e nele está a presença de um
estado de excitação. As sensações das crianças baseiam-se na
presença do seu corpo em relação com o ambiente, esta satisfação
de estar com os adultos depende do prazer e da alegria. Esta sua
experiência pode ser prazerosa ou desprazerosa, podemos perceber
quando a criança está feliz, pois nos encantamos com o seu sorriso.
O choro é a antítese da alegria, a fome, a sede, o sono, as
necessidades fisiológicas, podem alertar sobre o desprazer quando
esta pulsão não está sendo satisfeita.
O princípio do prazer tem como função garantir a
satisfação e os desejos da criança, quando a satisfação é adiada ou
postergada inicia-se um surto de raiva e agressão, seu objetivo é
satisfazer-se no prazer e evitar qualquer forma de dor. Às vezes o
adulto não está presente ou não consegue decifrar a mensagem do
seu choro, então neste momento surge a frustração, esta
experiência entre o prazer e a realidade dá início ao processo da
formação da consciência.
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Mas junto com as pulsões básicas, a criança percebe o
cuidado, o amor, o carinho, a ternura, o afago da sua mãe, neste
instante toma consciência da importância do afeto. A sobrevivência
emocional e pulsional precisam do cuidado da mãe, inicia-se então
um processo de formação de sua identidade, do seu “eu” e a
“realidade” do outro. Este aprendizado de postergar a satisfação da
pulsão é o início da humanização, este novo aprendizado deve ser
aprimorado com o tempo e depois possa humanizar a pulsão da
fome.
Estas duas instâncias do seu processo de humanização, as
experiências externas e internas podem ser decisivas e importantes
para o posterior desenvolvimento de suas emoções. E neste
momento surge a criatividade através da imaginação. A realidade
psíquica da criança entre a demarcação da realidade e fantasia, a
passagem entre o prazer imediato e as frustrações da realidade. O
cuidado do adulto deve proporcionar um ambiente acolhedor, além
de atender estas pulsões, deve estimular a criança para resolver as
frustrações e satisfações da convivência social e familiar.
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a maneira de como sentiu, e de como a emoção reage daquele
modo.
Muitas destas emoções permanecem em estado latente
no inconsciente com suas incógnitas, por isto se torna muito difícil
conhecer as defesas e resistências presentes naquela reação
emocional. Ninguém pode negar sua existência, constatamos sua
influência sobre a vida, esta energia emocional influi no modo de
perceber a realidade, chegando inclusive em alguns casos, distorcer
ou modificar a compreensão de um acontecimento.
Como a realidade existencial é diversificada e complexa se
torna problemática a solução das atuações inconscientes. Mas o
método psicanalítico propõe a interpretação, confrontação e
esclarecimento da influência das emoções sobre a vida do paciente,
se levantarmos a hipótese de que as emoções possuem consciência
e muitas delas permanecem latentes para buscar uma solução ao
seu conflito, precisamos de outra metodologia para tornar isto
possível.
O problema da neurose são as exigências postuladas pela
cultura, sociedade e religião, pulsões adestradas e condicionadas às
normas e regras de determinadas crenças. Para conhecermos a
intenção de uma emoção, temos que analisar a sua influência sobre
a vida de uma pessoa. Os preconceitos, as crenças limitantes, os
medos, as fobias, o pânico, formas disfarçadas da emoção para
impedir a expressão da potencialidade da pessoa.
A psique humana possui um espírito e por ingenuidade e
preguiça se adapta às condições de improdutividade, justamente
por falta de consciência muitos acabam passando pela existência
sem realmente terem existido, porque cumprir tarefas, obrigações,
não recria condições para desenvolver o potencial criativo existente
em cada pessoa. A evolução da consciência necessita sair da
condição alienante, porque a inteligência emocional precisa saber
resolver os conflitos pessoais, através dela se abre a possibilidade
do aprendizado.
As dificuldades, os empecilhos, os problemas, as perdas,
as decepções, os traumas são o confronto final para a solução da
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existência. Ao refletir no sofrimento, existe a chance de encontrar
soluções funcionais para aquele problema. A neurose apresenta-se
em forma de uma incógnita, a reflexão, a análise, a tomada de
consciência e as novas interpretações sobre sua condição de vida,
podem ajudá-lo a viver de maneira diferente.
Porque não existe uma perfeita coincidência entre os
problemas neuróticos e a maneira de viver, esta dicotomia
fragmenta o ser humano, a mesma divisão desencadeia um estado
psicótico ou mesmo esquizofrênico. Cada pessoa deve assumir-se
na existência e não fugir do confronto, de nada adianta narcotizar a
consciência e muito menos procurar nas compensações e
compulsões uma repetição para reforçar a destruição do potencial
psíquico.
A psicanálise possui algumas alternativas para ajudar a
pessoa a sair desta situação, entre as quais podemos citar a
importância do autoconhecimento e o conhecimento sobre o
mundo das emoções. O conhecimento de si mesmo possibilita uma
autonomia sobre as reações emocionais, esta relação entre a
realidade existencial e o surgimento das mágoas, ressentimentos,
revoltas, medos, denotam o sentido de viver na existência.
As pulsões e emoções possuem uma inteligência, este
conteúdo é a matriz do espírito humano, esta mesma energia
transcende as categorias do espaço e do tempo. A função da
inteligência da vida segue às leis genéticas das pulsões e emoções
primitivas do sistema límbico. A renovação da vida acontece pelo
nascimento de novas consciências que ampliam o desejo da
natureza humana, ambas as realidades, organismo e pulsão estão
intrinsecamente relacionados entre si, mas cada uma incorpora uma
forma de vida.
Esta autonomia é muito particular de cada ser na
natureza, existe indiscutivelmente uma harmonia funcional para
preservar e manter a integridade da vida. Esta pulsão de auto
preservação participa em conjunto da sustentabilidade pessoal e
ecológica para conseguir a sobrevivência. Este potencial está
relacionado aos recursos da inteligência emocional e pulsional de
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cada ser humano. A natureza utiliza todos os recursos para
desenvolver todos os potenciais da inteligência organísmica de um
ser.
Este potencial de inteligência emocional e cognitiva
propicia as condições para efetuar um movimento natural para
buscar a saúde psíquica. O conhecimento do organismo humano
obedece aos mesmos princípios de outras espécies, porém cada
uma tem um objetivo a ser realizado e isto não é diferente para os
seres humanos. As ciências da saúde conseguiram através do
desenvolvimento de novas tecnologias, oferecer novas drogas no
combate de vírus e doenças. O homem vem utilizando sua
capacidade de pesquisa para desenvolver novos medicamentos para
erradicar as epidemias e doença fatal da saúde pública.
Ninguém pode negar a eficiência da medicina atual. Mas
queremos compreender a dinâmica por detrás da doença crônica.
Quais os fatores que interferem ou influenciam para que a
disfunção de algum órgão ou sistema do organismo aconteça sem a
mínima percepção da pessoa? A psicanálise como ciência estuda as
leis do funcionamento inconsciente e precisa conhecer este espírito
que possui uma intenção. A medicina tem seu foco na doença, no
órgão necrosado, na disfunção orgânica, nas doenças crônicas,
porém a psicanálise procura desvendar os segredos escondidos no
íntimo de cada emoção e sua relação direta com o sintoma
psicossomático.
A psicanálise procura esclarecer e mostrar a importância
desta outra realidade emocional. As escolhas, as decisões nem
sempre são conscientes, todas as ações obedecem aos desejos das
emoções e pulsões, estas exigências práticas da natureza precisam
ser nomeadas e compreendidas. A ciência psicanalítica procura
dialogar com as imagens embutidas em cada símbolo, cada energia
psíquica representa o investimento de energia emocional para
realizar um desejo inconsciente.
A teoria psicanalítica precisa de um método capaz de
decifrar as incógnitas presentes no íntimo de cada emoção, pois a
emoção possui também uma inteligência cognitiva, seria necessário
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uma visão multidimensional da energia psíquica para formular uma
nova compreensão sobre a realidade do mundo das fantasias. Cada
imagem que aparece na fantasia traz uma mensagem a ser
decifrada pelo psicanalista, as relações do discurso e as imagens
podem nos ajudar a conhecer a emoção.
Estas e outras realidades podem nos ajudar a formular
algumas hipóteses, mesmo provisória sobre a origem de algum tipo
de problema pessoal. Cada problema solucionado é oriundo de um
método específico, por isto mesmo é difícil aceitar um único
método para todos os tipos de problemas emocionais e existências.
Neste sentido a psicanálise deve começar a pensar como ciência a
solução dos problemas, distante das exigências convencionadas
pelas ciências positivas. São metodologias totalmente diferentes
para compreender as ações de um organismo inteligente do
controle e manipulação dos objetos materiais.
Assim a psicanálise eleva-se à condição de uma
metodologia qualitativa e quantitativa, é uma tarefa difícil de ser
realizada e se contrapõe às exigências das ditas ciências positivistas,
aceitas atualmente pelas convenções científicas. O trabalho clínico
do psicanalista procura entender a linguagem metafórica e
simbólica da energia emocional inconsciente. Ninguém pode
antecipar-se e enquadrar um sintoma dentro de uma nosologia
esquemática de doenças mentais.
Pelo respeito ético ao paciente o psicanalista não deve
deixar-se contagiar pela elaboração de diagnósticos imprecisos e
duvidosos, é preciso paciência, estudo, tempo, análise, para
descobrir em conjunto com o paciente o seu diagnóstico. Este
esforço para compreender o sintoma deve ser de ambos, paciente e
analista, porque estão interessados em solucionar aquele tipo de
dificuldade emocional. Por isto mesmo é importante estar
preparado para interpretar as regressões e resistências que possam
impedir a solução daquele tipo de problema emocional ou
existencial.
A consciência do analista sobre as alienações e ideologias
que obstruem a percepção mais fidedigna da realidade, pode ajudar
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com o tempo a necessidade de buscar uma nova noção de suas
recordações e de sua relação com o sintoma, podem enfim ajudar
na compreensão da atividade emocional invisível aos olhos, mas
presente naquele sintoma no organismo. Este é o início do
conhecimento da etiologia do sintoma, porque quando a
consciência começa a conhecer, inicia-se ao mesmo tempo a
descoberta da intenção da energia psíquica, e com isto temos a
condição de continuar na repetição, ou mudar a direção da energia.
A energia psíquica está inserida dentro deste espaço e
tempo, as intenções das pulsões e emoções revelam os desejos
inconscientes da natureza humana. Quando a atenção do analista se
volta para descobrir o movimento da energia emocional, acaba
descobrindo os diversos fatores que estruturam e protegem aquele
tipo de patologia psíquica. Toda ação sofre uma reação, existe uma
negação da realidade, mas os fatos são uma realidade, porque
ninguém pode negar o sofrimento estampado no rosto e no
processo de falência orgânica e existencial.
A energia psíquica tem seus desejos, a sua realização e
satisfação é uma exigência, a outra é como lidar com as frustrações,
ninguém pode ir além daquelas descobertas que realizou consigo
mesmo, mas somente uma nova consciência pode restabelecer a
sintonia e o equilíbrio destas pulsões no organismo. Este novo
nascimento significa elevar-se acima das pulsões básicas, e procurar
sua realização nas gratificações superiores que dignificam a
humanidade de cada ser humano.
Este processo de troca de informações simbólicas da
energia emocional em cadeia confirma um processo de
comunicação inconsciente de todos os sistemas do organismo.
Compreender e desvendar este processo de informação é o grande
esforço do psicanalista, demonstrar para compreender estas
intrincadas ramificações das emoções e pulsões. Mesmo assim não
temos como determinar a eficácia de uma interpretação ou de uma
tomada de consciência.
Todas as ciências procuram ir o mais longe possível na
compreensão dos fenômenos, ambas procuram desvendar os
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mistérios escondidos no íntimo da matéria orgânica e inorgânica.
Tudo quanto aparece na natureza humana tem como objetivo
ensinar algo, são os diversos pontos de vista que levam à
formulação de conceitos. Mas nenhuma ciência pode advogar para
si o direito do conhecimento da verdade absoluta dos fenômenos
da realidade psíquica.
Ao considerarmos a ordem natural de cada espécie no
ecossistema da natureza, começamos a perceber uma rede
diversificada e complexa das várias funções ocupadas por cada um
neste universo da energia psíquica. Nem sempre as racionalizações
são verídicas e explicam com certeza absoluta as reações dos
fenômenos naturais. Porque aonde alguém defende a inexistência
de fenômenos visíveis, existe outra realidade invisível à percepção
humana, outras realidades desconhecidas pela racionalidade
humana.
A inteligência cognitiva consegue admirar e explicar
determinada ordem da natureza, outra função é compreender a
direção da energia psíquica. Todo fenômeno é amplamente
complexo na medida em que conhece com mais profundidade as
informações desta energia. Mas toda a complexidade da energia
cumpre com um desígnio positivo na existência. Quando um
psicanalista começa a interessar-se pelo conhecimento científico do
mundo inconsciente, necessariamente deve penetrar a cada
momento nas camadas mais profundas das emoções e pulsões.
Esta inspiração para decifrar a linguagem das produções
inconscientes precisa dominar a escuta, que transcende as palavras
e denunciam um tipo de queixa. Na expressão de sua fala, o
paciente revive estados emocionais do presente ou do passado. É
preciso acompanhar a cada sessão de análise o movimento sutil da
energia emocional, descobrir a sua intenção e realizar um desejo.
Por isto mesmo a atenção deve estar voltada para acompanhar o
devaneio das fantasias, observando os símbolos, sons, discursos
impregnados de um novo significado.
Para conseguir compreender o desejo inconsciente de
alguma emoção não é preciso retirar ou acrescentar algo ao
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discurso, basta somente analisar o sentido indireto das palavras e
frases a fim de compreender o sentido do símbolo. Os sonhos
podem ser analisados a partir da interpretação dos deslocamentos e
transferências projetivas de uma imagem em forma de símbolo.
Esta história de personagens retrata um tema e procura trazer à
consciência emoções e conflitos recalcados, esta diferença entre
realidade e fantasia é fundamental para diagnosticar a realidade
psíquica.
Estas relações entre os personagens, as emoções, pulsões,
e desejos reprimidos podem esclarecer o conflito inconsciente, e
podemos constatar a ligação invisível das palavras, às imagens, das
imagens aos símbolos, dos símbolos às emoções, das emoções à
existência, e enfim, o conhecimento da pulsão obstruída pela
repressão da energia. O psicanalista quando realiza a interpretação
do contexto das metáforas consegue esclarecer a direção da energia
psíquica.
Quanto mais correta a interpretação do fenômeno
imagógico, mais condições o paciente terá para entender a
extensão da problemática existencial. Estes desafios às vezes
complicam e prejudicam a saúde psíquica, sua deficiência aponta no
sentido de não querer enfrentar as demandas. Por outro lado, a
tendência é o aumento progressivo do problema, sua torna-se
complicada porque sua forma de pensar é obtusa e rígida.
Sua problemática deve estar relacionada a outras áreas da
existência, uma dificuldade nunca aparece sozinha, vem sempre
acompanhada de outros aspectos relacionados à deficiência em não
querer mudar. Simbolicamente existe uma energia invisível que
torna possível aquele problema, estas partes entre si explicam a
dificuldade de ficar preso à neurose compulsiva.
Estas simbologias podem dispersar a atenção do analista,
porque para ter uma interpretação correta, precisa fazer uma
relação entre os diversos significados dos símbolos. O movimento
da energia deve ser sempre no rumo da ascensão e não no
decréscimo, é preciso compreender a inversão da energia que
começa a ser utilizada contra a própria vida do paciente.
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Existe uma diferença entre o conteúdo dos símbolos e as
imagens que aparecem disfarçadas nos seus personagens, esta
semântica de palavras, mostra o esforço da produção inconsciente
para ajudá-lo na realização dos objetivos. Mas em todos os casos,
sempre aparece fenômenos difíceis de decifrar e entender, na
combinação de ações criadas com o objetivo de utilizar a emoção ou
pulsão de uma forma invertida, isto causa uma interrupção do ciclo
vital da energia psíquica.
A inteligência cognitiva procura entender as manifestações
inconscientes do mundo imagógico, mas é possível antecipar a
direção da energia maligna, esta ação da pulsão destrutiva e
agressiva obedece ao desejo de uma emoção de ódio. A força
psíquica precisa do conhecimento da atuação energética para
descrever a intenção da pulsão latente. A manifestação desta
emoção reprimida aparece em forma de sintomas ou doença
crônica, para convencer qualquer cético sobre a inteligência
emocional é preciso liberar ou encaminhar a energia na direção da
produtividade.
Começamos a compreender uma doença pelo histórico
existencial, este investimento da energia intrusa e destrutiva nos
remete a apreciar nas categorias do espaço e tempo de nossa
historia atual. Aquelas emoções que são visíveis e possíveis de
observação pela percepção do movimento sutil de uma energia,
definem as consequências nefastas de uma neurose maligna. Todos
sabem do resultado das doenças destrutivas no organismo humano,
e qualquer um conclui que sua ação é provocar dor e sofrimento,
mas antes devemos também de nos perguntar: Qual é a finalidade
deste tipo de investimento do inconsciente naquele órgão
especifico do organismo?
Nenhuma doença encontra-se fora da experiência de vida
de um sujeito, nem sempre as racionalizações e explicações médicas
conseguem dar conta da experiência do encontro com a dor e
depois com a completa falência dos órgãos do organismo. Nenhuma
experiência pode ser substituída por outra, mas pode ser entendida
e ressignificada com outro sentido, mesmo assim, somos
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impotentes e nosso método é imperfeito para finalizar um
diagnóstico preciso sobre o quadro de uma doença.
Por mais rigor conceitual que alguém possa explicar a
origem de uma doença, nunca poderá extirpar de vez este tipo de
vírus mutante da natureza humana. Qualquer pessoa realiza suas
experiências e projeta um tipo de existência, estes objetivos no
decorrer do tempo precisam ser modificados, deixados de lado,
aperfeiçoados, são desejos que acabam em frustração, outras, em
plena realização.
Não existe um único método perfeito para a realização dos
desejos humanos, são inúmeras formas e escolhas ineficientes para
alguns e totalmente úteis para outros. Quando alguém procura
copiar ou se comparar com outras pessoas, esquece de criar e
torna-se uma espécie de robô programado. Cada ser humano
aprende a resolver seus problemas pessoais, os sábios descobriram
o caminho do estudo transdisciplinar e tornaram-se autodidatas,
não por conveniência, mas por necessidade pessoal.
A inteligência da vida busca uma ascensão, mas sempre ao
lado da qualidade das relações, tudo isto torna-se possível quando
existe uma disposição interna para investir naquela direção, além
disso, é preciso persistência, perseverança, dinamismo, criatividade,
para compensar o esforço. A grandeza da energia psíquica está na
disposição de sua força psíquica para realizar seus sonhos.
As identificações projetivas dificultam a convivência num
ambiente de conquistas e produtividade, sempre que isto acontece
podemos considerar a existência de uma emoção, ou mais
precisamente, de um complexo de inferioridade que retira a força
da energia emocional e coloca em seu lugar o sofrimento neurótico.
Os problemas são ao mesmo tempo, o incômodo e a solução para a
realização, se os problemas não existissem, não haveria evolução do
pensamento e muito menos das emoções.
Estamos sempre querendo mais, somos muito exigentes
conosco mesmos, o ser humano é por natureza insatisfeito, porque
a sociedade oferece muitas opções, e cada pessoa precisa fazer
estas escolhas para investir sua energia psíquica. Cada atividade
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intelectual e emocional precisa de uma quantidade de energia
emocional, porque todas as conquistas externas são simplesmente
o resultado de uma ação antes pensada e refletida.
A inteligência organísmica aprende também através dos
códigos e crenças de uma determinada cultura, muito do
conhecimento dos fenômenos da natureza são passados de geração
após geração, são deduções, descobertas que os antepassados
transmitiram, as complexidades da existência e estratégias de
solução. Não é preciso sofrer novamente, ao contar com aquele tipo
de conhecimento, consegue realizar seus objetivos sem sofrer as
intempéries do tempo dos seus antepassados.
O homem aprende a fazer suas descobertas pessoais, isto
de certa forma facilita a vida, e às vezes o conhecimento é decisivo
para salva-la. Cada pessoa possui suas crenças, são estes conteúdos
passados pela cultura que ajudaram a formar uma representação da
realidade. Ninguém pode viver isoladamente ou negar os usufrutos
das descobertas científicas, queiramos ou não, ninguém consegue
viver longe das tecnologias e do tipo de alimentação. Somos
engolidos pela mídia, e muitos dos venenos dos vegetais e frutas
acabam sendo consumidos indiretamente pelo nosso estômago.
Alguns têm consciência desta negligencia e estão
procurando uma nova forma de viver, existem pessoas preocupadas
pelo distanciamento cada vez maior da natureza. Muitos começam
a entender a loucura da selva de pedra, o individualismo, o
egocentrismo, a acumulação de capital, o consumismo, o
narcisismo, a dependência dos psicotrópicos. Nem vamos falar do
problema da virtualidade, dos sites de relacionamentos, das redes
de comunicação sociais, quando faço este alerta pretendo dizer que
a saúde psíquica e orgânica depende muito do tipo de ambiente
que o organismo se comunica.
Quando alguns tomam consciência desta realidade
começam a afastar-se das grandes cidades e aproximar-se da
convivência com a natureza, ao sair desta situação de “stress” o
organismo consegue voltar ao encontro de sua essência. Quando o
organismo começa a reclamar com pressão alta, dores de
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estômago, insônia, dores de cabeça, dores nas pernas, nas costas,
podemos constatar um ser humano carente de algumas emoções,
suprimidas e esquecidas pela correria, e decisões que sempre
privilegiam o mundo do trabalho.
Mas podemos entender a inteligência humana também
sobre estes aspectos, aquele ser humano que caminha na existência
a procura de evolução pessoal, de descobrir suas próprias verdades,
de prudência e simplicidade diante dos fenômenos que não podem
ser completamente esclarecidos. O psicanalista se move diante
desta energia interessada em praticar uma ação. Às vezes,
absolutamente necessária, e em outras absolutamente
desnecessárias. As crises existem porque as pulsões nos convencem
dos desejos contrários da nossa racionalidade.
Aquilo que aparece na vida do psicanalista como esforço é
em si mesmo investimento de energia, ao passo que do ponto de
vista da inteligência racional existe certo pragmatismo, exigências
descabidas que ofendem e agridem a inteligência da vida. Não
temos como fazer previsões certeiras sobre o nosso futuro, às vezes
temos que conviver com a angústia, a ansiedade, o desespero, que
podem retirar o valor da esperança.
Nem tudo pode ser explicado pela razão e muito menos
pela simples aplicação de uma lei moral, na análise de uma atitude
não pode julgar precipitadamente aquele ser humano. Mesmo o
psicopata, o delinqüente é fruto da barbárie escondida e exorcizada
pelos rituais e esportes violentos, aceitos socialmente e vinculados
pela mídia, como uma solução pejorativa ao problema da expressão
da agressão humana.
São estes modelos que remontam a idéias delirantes e
paranoides sobre a prática de um tipo de prazer, estas pulsões
podem ser utilizadas para o bem ou para o mal, são os modelos que
foram internalizados e obedecem ao princípio de um desejo alocado
no princípio do prazer. Prazer que pode remontar as origens dos
instintos mais primitivos do homem, esta euforia compulsiva em
destruir a vida não pode ser aplacada simplesmente pelo
desenvolvimento de uma racionalidade.
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Às vezes, um determinado conhecimento pode tornar-se a
base do desenvolvimento das perversões e das estratégias de
dominação, esta psicopatologia mostra que nem sempre a
inteligência criativa e o poder, podem dominar a pulsão destrutiva,
este aspecto genocida do prazer de matar, retrata uma satisfação
primitiva do homem que regrediu às origens ancestrais. O desejo de
procurar no prazer, a destruição do outro, é o caminho mais curto
para a loucura esquizofrênica.
Porque um ser humano não depende somente da
capacidade intelectual, às vezes este é o seu mal, o conhecimento
acentua o grau de patologia. Por isto mesmo que os psicopatas
passam despercebidos na nossa convivência, são pessoas cultas,
letradas, cheias de etiquetas e bom gosto, mas nos surpreende, o
modo como atrai suas vítimas para envolver nos seus planos
megalomaníacos e fantasiosos, pessoas ingênuas e de bem.
Existe sim, um altíssimo nível de inteligência racional nas
ações dos psicopatas, suas racionalizações são metódicas e
calculadas para buscar o prazer em cima do sofrimento alheio. Esta
prática sádica não segue nenhum princípio ético e tampouco moral,
seu olhar hipnotizador, suas palavras dóceis, seu cabedal cultural
consegue convencer qualquer pessoa a seguir suas ideias delirantes
e persecutórias em relação a uma determinada pessoa.
Todo seu pensamento é vigiado e controlado pelo desejo
insaciável de satisfazer-se através da destruição do outro, primeiro
utiliza astúcia para agradar e mostrar a vaidade intelectual,
esperteza, conhecimento, e dominá-lo emocionalmente para
colocá-lo a serviço de sua patologia. Esta sedução esconde os traços
esquizofrênicos e psicóticos dos seus delírios de realização na
destruição.
O predador anuncia sua chegada e utiliza todo arsenal de
palavras e olhares com o desejo de agradar e fazer algo de bom pela
sua vítima, porque a presa também se encontra carente e precisa
deste afeto, o tom de suas palavras cheias de amor e carinho. Mas
não percebe que depois deve pagar sobre a escolta de sua
dominação psicológica. O encanto de seus olhos, o conhecimento
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profundo de sua vida, a descoberta dos pontos fracos, tornam a
vítima uma presa fácil para a satisfação do seu prazer sádico.
Uma inteligência dominada pela pulsão destrutiva, seu
prazer consiste em mostrar a capacidade de dominação, existe uma
satisfação no domínio e acompanhar os traços de medo e ansiedade
da vítima. O sadismo é sempre necrófilo, todo investimento de
energia psíquica está à disposição da compulsão desenfreada que
não tem medidas para a sua satisfação, são inesgotáveis os métodos
e experiências de dominação para chegar ao estado de satisfação
necrófila. Assim vive de acordo com personalidades que ajudam a
enganar e confundir as vítimas.
As emoções de alegria, felicidade, pertencem ao legado
destrutivo, sua vida permanece envolvida pelas atrocidades
deixadas através de sua desumanidade. A morte é o caminho da
satisfação, como conseguiu matar o amor, a compaixão, a bondade,
é uma incógnita, quando nos aproximamos de uma pessoa com esta
patologia, percebemos alguém desprovido de qualquer valor
humano. O conhecimento na mão de um psicopata é um perigo,
porque envaidecido de sua coragem doentia, pode levar à morte
milhões de pessoas, porque sua satisfação pela destruição é infinita.
Mas o contraditório sempre aparece e nas entrelinhas
realiza a denúncia, podemos achar estranho, mas a culpa e o desejo
de reparação dos danos podem facilitar as provas para dominar a
compulsão. Esta patologia acaba dominando a consciência, sua
debilidade aparece nas contradições, seu psiquismo encontra-se
comprometido, não tem mais forças para agir de modo diferente. O
preço do sadismo é viver escondido e na solidão, porque tem
consciência que a sua pulsão destrutiva não é aceita socialmente.
Não existe nenhuma condição de evoluir sua consciência,
pois a energia emocional está comprometida na defesa da
patologia. Vive o sadismo necrófilo e perde a liberdade de viver,
preso nas correntes da sua esquizofrenia, suas ações tendem a ser
cada vez mais nefastas e malignas. Mas em algum momento tudo
isto acaba, cedo ou tarde a mentira e a perversão são descobertas e
colocadas a público.
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O psicopata acredita ser uma espécie de Deus, como
realiza uma destruição após a outra, acha que nunca vai ser
descoberto, sente-se um ser onipotente, sua experiência na prática
do mal confere a sua pessoa o poder de destruir vidas e famílias.
Mas atrás do seu rastro de destruição deixa provas e indícios para
ser descoberto, o próprio inconsciente não permite uma vida que
transgrida e mate voluntariamente outras pessoas por puro prazer.
Esta aprendizagem é baseada nas observações que a
psicopatia aplica nos seus princípios de dominação das vítimas, são
as consequências de uma inteligência utilizada para destruir. A
nossa conclusão é assombrosa sobre o poder de ação da pulsão
destrutiva sobre a vida de uma pessoa, esta emoção animalesca e
agressiva segue os passos de uma lógica que articula na consciência
humana o poder de destruir. O grande problema para o psicopata é
sobreviver sem ser descoberto, e a duração desta patologia cria as
dificuldades da continuidade da crueldade.
Há na essência desta mente perturbada um substrato de
buscar no prazer sádico a satisfação dos desejos. Mas ao mesmo
tempo podemos notar a força de uma pulsão sobre a condução de
atitudes personificadas sobre a inteligência do mal. Ninguém pode
entender um psicopata pensando como um religioso, muitos sequer
querem pensar sobre este assunto, outros pedem às divindades que
nunca aconteça algo consigo mesmo.
Um psicopata possui uma consciência autômata que segue
o desejo de uma compulsão desenfreada e como um animal
enraivecido, não existe medida para a ferocidade, a prática
desumana. Este tipo de pessoa possui uma consciência para
obedecer ordens, como um cão que obedece ao dono. Não pensa
sobre as consequências de sua atitude, como um robô programado,
parte para a violência e sente-se altamente gratificado por estar
cumprindo ordens, a favor de um determinado estado de direito ou
de uma ideologia institucional.
A barbárie e a selvageria aparecem quando é liberado por
outro superior que dá as ordens para poder matar. Mas há uma
grande diferença entre aqueles que legislam as leis, e aqueles que
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são obrigados a cumpri-la. As leis funcionam como uma arma nas
mãos de um psicopata, pois este é o momento oportuno para a
violação dos diretos humanos.
Em certa medida, todas as ações interferem de maneira
geral numa multidão de fatores que podem cooperar ou impedir a
paz e a convivência dos cidadãos de uma determinada sociedade.
Nenhuma pessoa sobrevive socialmente sozinho, no meio social e
na convivência dos grupos existe a chance de preencher as faltas e
exigências protagonizadas pelas necessidades inconscientes. O ser
humano é um pequeno microcosmo que relaciona-se com a
dimensão macrocósmica, esta relação estabelece sobre as leis dos
fenômenos naturais e das funções das pulsões e emoções.
As emoções possuem o poder de alterar a fisiologia do
organismo através dos hormônios, a produção desta reação é fruto
das contingências e desafios que a existência apresenta todos os
dias ao ser humano. Para voltar ao estado natural, determinadas
emoções precisam de um tempo para sair daquele estado alterado
de consciência. Qualquer um pode verificar a existência de um tipo
de emoção, quando a pessoa altera a tonalidade de voz, enrijeci a
musculatura, o rosto muda de fisionomia, enfim estas alterações
físicas confirmam a presença de uma emoção.
O conhecimento do processo de atuação inconsciente
destas emoções é um fator decisivo para controlar ou conscientizar-
se de uma ação que pode prejudicar a vida afetiva, familiar ou
mesmo profissional. Porque muitas pessoas não gostam de escutar
certas verdades sobre a atuação emocional? É importante observar
que nos maiores conflitos sempre encontra-se alguma emoção de
raiva, ódio, inveja, ciúme.
A grandeza do caráter de uma pessoa se define a partir do
controle das emoções, porque quando alguém está dominado por
um ataque emocional, ofende, agride, humilha, menospreza,
principalmente aquelas pessoas que convivem no seu dia a dia e
estão muito próximas. Quem vive num estado de inconsciência não
possui a liberdade de saber lidar com a expressão das emoções e
pulsões. Todo tipo de fracasso, falência, infelicidade, esta pautado
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sobre reações impensadas e violentas, elas acabam prejudicando e
afastando do seu relacionamento pessoas importantes para a
felicidade.
Ninguém vive sozinho e muito menos para si mesmo, seria
a primazia do narcisismo alguém dizer que basta ao seu “self”.
Todos possuem a liberdade de investir num tipo de vida, porém
todos têm consciência sobre as consequências destas emoções
sobre a vida. É evidente que a simplificação da racionalização não
resolve ou modifica a atuação inconsciente destas emoções.
Qual seria o limite de ação de uma emoção? Podemos
observar a ação ilimitada das emoções neste conflito de proteger a
estrutura mórbida ou saudável da intenção da pulsão. A emoção
poderia comunicar à consciência que existe um estado limítrofe
entre as pulsões e a existência? Porque quando a doença ou o
sintoma aparece no organismo humano torna transparente uma
mensagem, existe um limite para viver de maneira equivocada. Os
tipos de sintomas psicossomáticos estão relacionados com o tipo de
demanda das pulsões.
Quando a emoção entra em ação precisa de alguma
experiência ou recordação para trazer à consciência aquelas cenas
que terão força sobre a atuação dos órgãos do organismo.
Interessante observar que existe na emoção, a mesma intensidade
de reação guardada na memória, independente do tempo e espaço
ocupados no inconsciente.
A reação emocional retrata exatamente a mesma vivência
de um passado longínquo que tornou presente, para o inconsciente
não existe esta categoria de demarcação do espaço cronológico,
pois a energia emocional permanece inalterada e consegue retratar
situações, conflitos, traumas, com cenas que retratam com
fidedignidade aquelas imagens guardadas na memória.
Esta história de cenas imagísticas possui um conteúdo
latente e que pode interferir no processo de formação de ideias, a
respeito do amor, sexualidade, casamento, afetividade, etc. Esta
emoção consegue transportar este passado para a vida presente,
possuindo uma duração ilimitada. Esta mesma emoção retrata uma
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verdade sobre o medo de viver o amor, porque sua experiência
defende a ideia sobre a possibilidade de viver novamente a dor do
abandono, da negligencia, pois a intenção da emoção é fugir do
encontro com o outro.
Isto não é uma simples coincidência, as dificuldades
psíquicas e nas relações, traduzem as experiências de sofrimento
emocional nos sintomas e queixas vividos na existência. A emoção
obedece ao princípio da defesa, seu desejo é não realizar uma
segunda experiência de frustração, esta verdade coincide com
aquelas imagens e cenas do passado. O corpo zela pelo controle e
afastamento de qualquer intimidade, esta defesa atende à emoção
do medo presente na maneira de encarar o mundo dos afetos.
Quando alguém fecha os olhos e imagina uma cena do
passado que tenha relação direta com a dificuldade atual, consegue
trazer alguns temas interessantes de vivência. A neurose de hoje
precisa das verdades vividas naquelas cenas do passado. Na fantasia
a pessoa está sempre esperançosa de viver um grande amor, seu
discurso retrata com minúcias este desejo, no entanto não percebe
que a vida está sendo consumida pela paralisação causada pelo
medo.
As emoções conseguem situar a pessoa numa vivência
cronológica, mais conhecida na psicanálise como fixação, ao
regredir começa a pertencer a este tempo. Depois podemos
constatar que alguém pode ter passado pela existência, sem ter
pelo menos consciência das realidades subjetivas que moldaram o
resultado de sua vida.
Esta realidade é muito presente na vida das pessoas e atua
independente da vontade, a repercussão de um estilo de vida
aparece nos sintomas psicossomáticos e existenciais. O tempo
sempre tem importância na vida de qualquer pessoa, e a qualquer
tempo alguém pode mudar a direção de seus objetivos, a liberdade
de querer mudar ou de não medir esforços para viver um novo
tempo, talvez seja a maior grandeza do ser humano.
A realidade emocional do passado pode transportada pela
mente ao presente, aquela vivência de ontem é como se estivesse
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vivenciando hoje, existem as dúvidas, os preconceitos, a
racionalização de conviver com a ideia que as atitudes do presente
são muito parecidas com a do passado. É difícil para alguém viver
numa regressão, sua realidade emocional permaneceu inalterada e
vive a vida de hoje como se fosse a do passado.
Para comprovar esta realidade existencial basta somente
analisar a maneira de agir, pensar e sentir daquela cena do passado,
porque a forma de viver é sempre a mesma. Mas porque acontece
este tipo de coincidência? Como disse: Alguns tipos de emoções
vivenciadas no presente coincidem com aquelas do passado. Este
processo de identificação na maneira de viver as emoções segue os
exemplos das pessoas que tiveram influência na formação do seu
caráter. O modo de viver as emoções é muito idêntico.
A realidade emocional dos pais aparece de qualquer
maneira na vida atual, esta mesma emoção deveria sofrer um
processo de atualização e transformação e não repetir por culpa e
medo o mesmo modo de emocionar-se. Quando alguém transfere
esta realidade emocional do passado sem alteração acaba repetindo
inconscientemente, e legitimando as crenças e maneira de viver dos
seus antepassados.
Esta decisão pode trazer implicações, por exemplo,
aquelas emoções pertencem ao passado de seus pais e não fruto de
sua experiência, esta energia emocional pode começar a atrapalhar
e confundir seu modo de expressar as emoções. Esta realidade
emocional acaba aparecendo nos sintomas, algum órgão se
encarregará de fazer a denúncia desta intrusão alheia, com o
objetivo de alertar a consciência sobre o perigo de viver uma vida
artificial, pois pode começar a viver outro “self” e não seu
verdadeiro eu.
A grandeza do legado humano são as diferenças e não as
repetições, porque as iniciativas a longo prazo podem desenvolver
outras qualidades emocionais talvez mais eficientes e importantes
que aquelas internalizada como uma verdade absoluta. Sem dúvida
são as qualidades das emoções que viabilizam a segurança
emocional, a autonomia, a iniciativa, a superação, o pior dos erros é
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persistir de maneira obsessiva na repetição emocional de algum
tipo de comportamento destrutivo.
A originalidade do caráter de uma pessoa está atrelada à
transparência, um caminho de aprendizados que proporciona
segurança e determinação para enfrentar os dilemas existenciais. A
transparência da verdade interior, a aceitação incondicional de seu
mundo emocional, a alegria de poder ser alguém autêntico e
verdadeiro, previne alguém de não recair no erro de repetir o
passado emocional dos antepassados.
Qualquer pessoa quando começa a fazer análise de sua
existência, procura nas defesas a explicação possível para defender
a “repetição” como se fosse algum tipo de valor. Esta defesa é
compreensível na medida em que passou toda a vida procurando
imitar e ser igual a uma pessoa. Mas ninguém pode negar que
temos diferenças e uma identidade, aos olhos de qualquer pessoa a
vida está correta, pois em algum momento as atitudes e a maneira
de pensar são tão iguais que parece uma síndrome simbiótica.
A natureza humana consegue conviver com a repetição ou
a evolução, na identificação projetiva sempre existe a condição de
começar a copiar e negar a identidade. Qual seria o limite ideal de
tal identificação? Tudo parece exato e correto, mas quando
começam as dificuldades e o sofrimento na vida de alguém, inicia-se
um processo de crise e de buscas para explicar os motivos das
doenças. Sem consciência não consegue perceber que a natureza
exige uma postura diferente na existência, estamos falando da
autenticidade, originalidade, criatividade, e a solução é sair da
condição simbiótica.
O movimento das emoções mostra se a vida contempla
nas suas ações a saúde ou vive entorno da doença. As atitudes
baseadas nas escolhas saudáveis e eficientes levam à pessoa ao
estado de segurança emocional. A neurose possui uma
atemporalidade que se mantém ao longo do tempo, consegue
impor seus desejos e às vezes comprometer a vida de uma pessoa.
A emoção é uma realidade psíquica, portanto possui um
espírito de inteligência, conseguindo tornar uma imagem em
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realidade, o pensamento ajuda na execução desta ordem. A emoção
se apóia nas reminiscências e com a ajuda da inteligência cognitiva
torna-se possível a realização dos sonhos. Isto é algo maravilhoso
porque esta causalidade psíquica recria em realidade as imagens, e
torna possível a visibilidade das emoções num conjunto de obras.
Este efeito visível das emoções aparece nas esculturas, na
música, na arquitetura, na literatura, nos inventos, nas barbáries,
esta conjuntura de realizações possibilita a convivência de enorme
diversidade de fatos tangíveis, aos poucos outras emoções podem
melhorar ou transformar-se por completo. Ao entrar em contato
com o mundo das emoções sobre as causas e efeitos destas
realidades, percebemos uma totalidade que representa o efeito de
alguma parte que está sendo objeto de desejo.
Quando o analista inicia um diálogo com as emoções não
tem nenhuma dúvida que está interagindo com uma energia
semovente capaz de aparecer sobre diversas formas e sentidos. Ao
conhecer uma imagem existe um aprendizado de ambas as partes,
esta interação resolve muitas dúvidas e esclarece definitivamente
este intricado modo de complicar a existência.
Quando admitimos esta hipótese, passamos a admirar o
desejo destas imagens em querer solucionar também suas
demandas, é claro que a complexidade não desaparece, mas esta é
uma realidade positiva, pois a emoção aparece e está disposta a
modificar a sua ação. A realidade emocional sofre mudanças porque
entende e compreende o sentido de mudar a sua ação, quando isto
acontece se abre uma possibilidade imensa de sair de uma situação
de perda existencial.
As dificuldades podem complicar qualquer projeto de vida,
existe a necessidade de entender a totalidade do bloqueio e os
fatores emocionais ligados entre si para sustentar uma ação
compulsiva ou aditiva. A produtividade da existência pode sofrer as
interrupções ou uma paralisação parcial, mas a inteligência
organísmica começa a destacar nos sonhos e fantasias aqueles
sentimentos e pulsões bloqueados, a intenção da pulsão é levar a
funcionalidade existencial através da harmonia.
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As emoções também são capazes de reconhecer as
complicações, mas o que é mais admirável e às vezes é motivo de
espanto e descrença, é a recriação incessante de novas formas de
emoção, esta renovação emocional ajuda a consciência a avançar
nas descobertas na existência. Porque mesmo o maior de todos os
problemas tem solução, a questão central é saber o quanto de
consciência alguém tem sobre o que está acontecendo consigo
mesmo.
Avançar no mundo das emoções é saber que esta energia
inteligente carrega a força da pulsão e a sabedoria do mundo das
emoções, esta potencialidade pode nos assustar quando o
organismo começa a reagir a favor da saúde, introduzindo um novo
modo de pensar e ser na existência. A energia é mais sábia que
possamos imaginar, é parte da sua constituição, a criatividade,
porque toda novidade ou descoberta renova o colorido da
existência.
Quanto mais consciência sobre o movimento da energia
emocional mais liberdade poderemos ter para criar novas condições
de vida, porque a paralisia é fruto da acomodação, da distração, do
atrofiamento da mente. Ao perder o poder de criar inicia-se um
processo de racionalização, onde a mente explica tudo, mas não
resolve nada. Este ato criador das emoções transcende os
determinismos, somente os bloqueios podem interromper a
continuidade da evolução emocional.
É difícil explicar esta tendência negativa sobre o mundo
das emoções, porque muitas delas em algum momento da vida são
importantes. A emoção possui uma realidade objetiva, mas o seu
conteúdo é subjetivo, esta inteligência organísmica presente nas
emoções e pulsões não é obra do acaso.
Como poderia o homem compreender todas estas
variáveis em sua vida e entender o processo de mensuração na sua
realidade existencial? Acredito que seja uma tarefa impossível de
realizar e muito distante da capacidade racional do homem na
modernidade. Mas como podemos perceber existe uma ordem na
antimatéria, em meio a desordem aleatória da materialidade.
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Da mesma forma a consciência humana aos poucos vai
imprimindo uma ordem na desordem, e aos poucos pelo
conhecimento das emoções poderá aproximar-se da realidade
subjetiva. Na essência das emoções existe uma convivência
harmoniosa entre a liberdade e a necessidade. Isto poder ser
constatado pelo movimento de cada emoção no organismo humano
existe um caminho a ser percorrido de acordo com as necessidades.
As emoções fabricadas e artificiais são produtos das
convenções, uma educação rígida consegue tirar à espontaneidade
e liberdade de ação, depois deste controle a emoção começa a viver
um estado de rigidez e frivolidade, é a artificialidade fabricada pelas
convenções sociais e culturais. As tradições têm razões para
reprimir ou domesticá-las, sempre houve este medo da liberdade de
poder emocionar-se e sentir.
A intenção da natureza, não aceita as normas e regras que
impedem a circularidade da energia, mesmo assim existe a
dependência das necessidades primárias, como fome, sede, sexo,
estas pulsões pressionam o organismo no sentido de serem
atendidas. A razão é uma convenção conceitual da realidade
humana, a lógica é uma operação para decifrar os enigmas da
natureza.
A natureza não pensou sobre a existência desta
possibilidade, não está preocupada com o poder dos bens materiais,
ou do grau de inteligência racional de uma pessoa, também não
tem interesse em saber o saldo bancário, ou quais cartões de
crédito possui, este desejo é da condição humana. Mas a natureza
não está preocupada com o poder aquisitivo, e sim com a realização
e satisfação das necessidades primárias e superiores da vida
humana.
São interesses diferentes, enquanto a racionalidade
humana valoriza o ter, a natureza está interessada em levar o
humano a ser. A força da pulsão é buscar o progresso da consciência
humana, a questão das vaidades é uma invenção. O sucesso da
natureza consiste em não ceder e tampouco modificar a sua
trajetória, a genética nos mostra com clareza este desejo. O
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movimento constitutivo das emoções e pulsões segue as leis
subjetivas da realização e satisfação.
Busca o prazer e foge da dor, se existe o processo inverso,
esta causalidade é produto da inversão humana. A natureza nos
leva ao encontro de nós mesmos, os sintomas, as doenças, as
decepções, as traições, o abandono, o desespero, a solidão, são
experiências que reforçam a necessidade de resgatar e viver alguma
dimensão esquecida das pulsões. A natureza possui leis diferentes
da lógica racional humana, por isto mesmo existe o confronto entre
razão e emoção, é uma luta desigual e improdutiva, pois a
arrogância, a vaidade, o orgulho, do homem oprime e nega a
inteligência da vida.
Todos nós sabemos o preço que se paga para manter-se
na ignorância emocional, às vezes a morte se aproxima a passos
largos, outros ficam quase toda uma vida entorno do sofrimento e
da dor. Então, a consciência humana pode expandir além dos
horizontes racionais e adentrar no mundo inteligente das emoções
e pulsões. Mas para efetuar tão nobre tarefa é preciso de outra
classe de valores e crenças, é preciso resgatar este novo modo de
pensar, onde a razão caminha ao lado das emoções.
Esta nova iniciativa retira da arrogância e prepotência
intelectual o poder sobre a direção da existência, este divisão entre
corpo e mente remonta há trezentos anos, quando Descarte
privilegiou e destacou como capacidade suprema da vida a razão.
Este tipo de teoria dividiu e fragmentou as ciências, por isto mesmo
o homem é estudado em especialidades.
Quando existe uma harmonia entre razão e emoção, estas
duas qualidades humanas podem estar a serviço da saúde psíquica,
somente desta maneira os conflitos tendem a desaparecer e surge
em seu lugar à criatividade e produtividade, indício de sabedoria
existencial. A existência pode ser exitosa, se as pessoas forem
capazes de defender a integração harmônica das necessidades
inconscientes e os desejos da razão.
A psicanálise como ciência inicia um novo caminho para
demonstrar em novo alfabeto, são os códigos, sinais e símbolos da
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produção inconsciente que precisam ser aprendidos e decifrados.
Quem conseguir alcançar tão nobre tarefa poderá realizar
verdadeiros milagres na vida, este tipo de vida cura as mazelas do
passado e as interferências da cultura. Temos que caminhar na
compreensão da linguagem metafórica da natureza humana, para
podermos explicar com mais segurança as relações das pulsões e
emoções com a existência.
Como saber os motivos de uma pessoa que escolheu um
modo de vida destrutivo? A pessoa sabe disto, mas mesmo assim
continua no processo de destruição, talvez esta seja a grande tarefa
da ciência psicanalítica, compreender as linguagens simbólicas
presentes nesta imagogia inconsciente. Pois temos a absoluta
certeza, a natureza possui e coloca a disposição de qualquer pessoa
os recursos para realizar a evolução da consciência.
Talvez possamos explicar o movimento das emoções pela
única hipótese possível, que existe uma intenção na pulsão que
impele por si mesmo a realização de um desejo. Quando este
processo é impedido de seguir, surge automaticamente o sintoma, a
dor, o sofrimento, como uma energia que se volta de maneira
agressiva contra o organismo.
São muitas as variáveis que podemos enumerar que fazem
parte deste esquecimento, da negligência, do abandono, de
algumas pulsões básicas e fundamentais para o projeto da natureza
humana. A inteligência emocional e cognitiva possui os recursos de
resolver estas dificuldades para no final de tudo triunfar sobre si
mesmo.
As leis da natureza humana criam o sentido e valor para
dar colorido às emoções, enquanto as pulsões nomeiam os desejos
a serem realizados e satisfeitos. Mesmo com a destruição de
inúmeras civilizações e todas as catástrofes experimentadas pela
humanidade, o homem continua buscando suas respostas para
resolver o problema do amor, do sexo, do poder, do prazer, da
violência.
A energia emocional pode ser observada nos diversos
comportamentos, e muitas utilizam justamente as emoções para
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manipular, enganar, iludir, independente da maneira como cada
instituição utiliza o poder das emoções, em algum momento esta
triste realidade vem a tona. Sei como é difícil pensar desta forma
sobre as emoções e pulsões, minhas considerações não são
definitivas e tampouco tenho a pretensão de torná-la uma verdade,
mas talvez elas possam explicar o motivo de tanta infelicidade e
sofrimento no ser humano.
Porque em todas as vivências emocionais sempre teremos
algo de positivo, sabemos que vamos encontrar-nos com os nossos
medos, culpas, e dúvidas, pois estas ansiedades e angústias nos
levam a pensar e agir de maneira diferente. Esta mesma ordem
inversa que recria a dificuldade, ajuda a progredir no entendimento
do funcionamento inconsciente das emoções. Ordem e desordem
acompanham a existência, estas emoções e pulsões procuram no
equilíbrio das ações a sobrevivência do organismo.
Porque tanto sofrimento e dor na humanidade? Isto nos
leva a pensar sobre o papel que cada ser humano desempenha na
sua vida, mesmo com as dificuldades sempre vai ter ao seu lado, a
força de vontade, o estado de ânimo, para dar conta dos
empecilhos que atormentam e nutrem a desesperança. Ninguém
pode questionar o valor do autoconhecimento como um caminho
interessante para elaborar e compreender sua maneira de pensar,
agir e emocionar-se.
A psicanálise inicia seu processo no questionamento de
algumas crenças que não são funcionais para a vida, porque o
problema principal é saber, quais os motivos que levou esta pessoa
a escolher este tipo de vida. Porque não podemos descartar o
desejo de alguém viver um prazer na dor e sofrimento. Temos que
entender as motivações inconscientes que levam esta pessoa a
optar pelo martírio, talvez exista uma crença que a dor e a pobreza
sejam um valor.
Parece que existe uma quantidade de teorias psicanalíticas
tentando explicar a ausência deste desejo de prazer saudável.
Podemos tranquilamente conceber o poder destas ideias fixas que
ofendem e agridem a inteligência da vida. Quem cria esta desordem
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na existência não é a natureza das pulsões, e sim a forma
equivocada de interpretar os eventos da existência. A beleza da vida
é defendida pela natureza quando a individualidade, a identidade
de cada ser favorece a diversidade, graças às diferenças na forma de
pensar, ser e agir ou de emocionar, não temos outra escolha a não
ser seguir o caminho mais seguro da natureza.
Podemos analisar e refletir sobre a condição humana
baseada na escuta analítica sobre as queixas, dúvidas, dificuldades
de toda ordem que aparecem como uma motivação para atravessar
o mundo de angústia com destreza, paciência e perseverança. Esta
tarefa não pode ser delegada para ninguém, mesmo com a
complacência da dependência, da chantagem, da simbiose, estas
pulsões precisam chegar ao seu destino, esta travessia deve ser
realizada pela pessoa e mais ninguém.
Os conteúdos inconscientes de uma emoção destrutiva,
procura determinar nas defesas e pensamentos racionais, uma vida
impregnada de ilusão e fantasia. Nossa visão atual da psicanálise é
provisória, não podemos absolutizar o conhecimento. As teorias
existem com uma única finalidade, enquanto forem úteis devem
ajudar a sobrevivência do homem no planeta. Mas quando passam
a ser um obstáculo, de teoria à doutrina, ou dogma, então podemos
dizer que está na hora de efetuar uma nova mudança sobre este
campo de atuação.
As neuroses funcionam do mesmo modo, esta relutância
em defender e afastar-se da mudança, torna efetiva a ação
destrutiva. Como existe a dificuldade de admitir que necessita de
ajuda, passa pela vida explicando, justificando, escondendo os
segredos e pactos familiares. Muitas vezes a realidade emocional
mostra de uma maneira, mas a interpretação sempre é do gosto de
quem olha aquela situação.
Existe um desejo de viver bem, mas na prática vive mal,
algo está distorcendo a compreensão do real. A percepção humana
é carregada de emoção, podemos verificar isto na expressão das
palavras, nas queixas, nos discursos. As emoções conseguem mudar
a percepção desta vivência, pois a atenção se acha fixada naquela
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idéia, e busca nas defesas ajuda para manter-se inflexível diante
daquela situação existencial.
Seria muito fácil se existisse a condição de admitir que
existem outras realidades, ou de que minha percepção está
equivocada, então passo a enxergar diferente a realidade. Mas esta
tomada de consciência necessita de outro, são estes diversos modos
de pensar o real que às vezes nos trazem muita confusão. Temos
que levar em consideração a condição do limite no modo de pensar,
a lógica racional não consegue explicar ou entender determinadas
reações emocionais.
A percepção consegue recriar na mente esta falsa
representação de um problema fictício e irreal. As defesas
neuróticas conseguem com a ajuda da fantasia, recriar uma
realidade impregnada de prazer. O prazer existe, a mente acredita
que vive o melhor modo de gozar a vida, mas, no entanto, em
algum nível de consciência, percebe que existe um medo de viver
aquela emoção. As neuroses realizam um papel importante na vida,
tornarem-se mediadoras entre a pulsão e a emoção do perigo, da
transgressão, do proibido.
O absurdo para a compreensão humana é entender que
existe esta transposição da pulsão para a negação do prazer
verdadeiro, e compensa na fantasia um modo de afastar-se do
contato com alguma emoção dolorosa. Não existem dois tipos de
pulsão atuando ao mesmo tempo, o que pode existir é uma
distorção da energia pulsional para atender os desejos de uma
emoção.
A existência da neurose possui uma significação prática,
com objetivos claros e precisos em relação à saúde orgânica e
psíquica. Muitas pessoas se decepcionam porque as atitudes ou a
maneira de pensar ou viver não se enquadram dentro de suas
expectativas. Mas quando existe uma reclamação sobre alguém,
podemos ter certeza de que existe um desejo inconsciente, que
talvez aquela pessoa pudesse realizar. Quando a pessoa não lhe
chama a atenção, sua presença passa despercebida.
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Quando existe o desejo dos pais e mães ou mesmo
professores, em introduzi-lo no mundo do trabalho ou do estudo,
muitos são resistentes. O motivo para os adultos é importante, mas
os adolescentes não têm consciência sobre o valor desta escolha,
por isto mesmo descartam e abandonam este tipo de investimento
pessoal. Porém muitos deles nos surpreendem com decisões que
priorizam a arte, a música, o esporte, e devido a sua dedicação,
disciplina e seriedade, consegue alcançar o tal sonhado sucesso na
vida.
Às vezes sobre um forte impacto emocional dizemos e
afirmamos inverdades que magoam e deixam a pessoa muito triste.
Esta realidade dos relacionamentos traduz-se em conflitos,
principalmente quando carente de atenção e afeto, procura nos
defeitos e dificuldades alheias a catarse para mostrar ao outro o
quanto é bom, demonstra com uma lógica de causar inveja que está
sendo vítima de perseguição e injustiça.
As emoções convivem com esta ordem na desordem,
enquanto o amor é a causa da reclamação, a mágoa e a tristeza
aparecem como um descontentamento em relação aos desejos que
não foram atendidos. Estas emoções são vivenciadas
alternadamente, esta vivencia circula como energia, se as emoções
não conseguem encontrar um caminho para sua expressão,
começam a surgir então os sintomas.
O grande problema é a indiferença na relação, mas a
ausência das emoções é momentânea, as brigas, os boicotes, as
reclamações são confirmadas quando as emoções surgem na
consciência. Mas quando existe o diálogo e o entendimento sobre a
maneira como cada um interpretou a realidade dos
acontecimentos, então pode perceber a existência de uma nova
ordem emocional de paz, alegria, felicidade, amor.
Estou convencido que não existe maneira de viver fora
desta realidade das emoções, quando as relações são produtivas e
respeitosas, as pessoas daquele ambiente vibram e mostram no
olhar um grau de satisfação, a situação inversa também é
verdadeira. Muitas emoções acabam se confundindo na expressão
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de reações, a primeira condição é distinguir com clareza a emoção
que vamos tratar.
É muito comum a confusão, esta situação tende a ampliar
as dificuldades do problema do relacionamento, por isto é
importante tomar consciência da origem daquela emoção. Muitas
das relações dependem do tipo de interpretação, julgamento,
condenação, que é realizado sobre o outro. Fazemos críticas,
porque não aceitamos determinados tipos de conduta, o
desencontro na forma de pensar levar as pessoas a ampliar a zona
de conflito.
A única maneira de resolver os conflitos emocionais é
através da escuta, da compreensão, do entendimento, estas e
outras situações podem amenizar ou mesmo resolver algum tipo de
mágoa ou ressentimento. Depois, teremos que viabilizar um acordo
mútuo de como será pautada a relação, somente esta atitude pode
renovar o espírito machucado e ferido pelas palavras duras e cruéis
ditas num momento de raiva e ódio.
As pessoas podem resolver as demandas do seu
relacionamento, basta saber o quanto alguém está disposto a
expressar as emoções, pois uma das dificuldades mais comuns na
nossa cultura é negar, reprimir, esconder as emoções para não
passar uma imagem de pessoa frágil e débil. Quando não existe um
espaço para mudar as crenças limitantes, cada um carregará sobre
seus ombros as mágoas, ódios, revoltas, raiva por toda vida.
O natural seria que as pessoas do relacionamento
buscassem um caminho para tornar possível a expressão das
emoções, esta condição consegue retirar do ambiente a tensão,
competição, falsidade, mentiras, que deixam as pessoas cansadas e
improdutivas. Esta busca deve ser recíproca, as pessoas devem
estar dispostas a caminhar nesta direção, com liberdade de poder
expressar esta escuta e aos poucos, tornam-se uma relação leve e
produtiva.
Estas experiências dos confrontos e conflitos devem ter
um espaço em conjunto com um profissional para resolver as
emoções de raiva, ódio, inveja, ciúme. Aos poucos possui a
47
tendência, mesmo diante das crises, de superar-se no sentido de
entender a maneira de viver, pensar, ser e emocionar do seu colega
de trabalho ou do seu companheiro.
Este desejo de mudança deve estar presente nas pessoas
que buscam este tipo de qualidade no relacionamento, porque,
além disso, a prática da escuta consegue levar a todos a se
comprometer com a solução dos problemas do casal, da família, ou
da instituição, em vez de ficar procurando bodes expiatórios para
justificar e esconder sua dificuldade de diálogo.
O conflito de idéias, emoções, objetivos, é absolutamente
natural e óbvio, cada um pretende defender seu território, ou
buscar a realização dos desejos mesmo de maneira proibida. Para
resolver esta questão deveríamos propor uma nova ordem de
relacionamento, onde a sinceridade, a verdade, a autenticidade,
fosse o fio condutor desta comunicação.
A pior das realidades são as emoções endurecidas pela
raiva e ódio, esta realidade consegue afastar as pessoas e levá-las à
um embate de violência, nas palavras de Freud seria quando o amor
se torna ódio. Portanto em alguns momentos as emoções podem
ser úteis e em outros totalmente prejudiciais, fica difícil defini-las,
sua liberdade e autonomia recria em nós uma experiência de
extremo amor ou de ódio.
A emoção convive com a consciência neste projeto
criador, sua finalidade transcende à finalidade material ou orgânica,
às vezes estamos tentando pensar em algo, quando na verdade as
emoções foram pensadas antes. Por isto, as emoções estão
integradas numa totalidade maior que transcende a simples função
orgânica ou psíquica. A natureza por usar suas cores e o seu
perfume, um acontecimento, e indiretamente nos fazer chorar de
alegria, sua manifestação é muito abrangente. Esta energia
emocional é sempre vital e procura o caminho da evolução.
As emoções possuem o desejo de querer o melhor e o
pior, e demonstram que não aceitam muito a inércia e a repetição.
Duas são as categorias da neurose maligna, estas forças conseguem
impedir a evolução da consciência de qualquer pessoa. Estas
48
variáveis são primas irmãs, estão unidas no seu objetivo. Quando
convivemos com os fenômenos de mutilação do potencial humano,
nos sentimos assombrados pela força de sua destruição.
Quando um músico consegue transportar suas emoções
para uma canção, podemos sentir as vibrações de algum gênio que
nos enche de admiração por sua irreverência e originalidade. Na
natureza das emoções podemos acompanhar a espontaneidade do
seu movimento e a imprevisibilidade dos seus rumos, mas
encontramos na nossa experiência diária a manifestação
inconsciente.
As estruturas neuróticas, psicóticas e esquizofrênicas
sempre repetem a mesma finalidade, retirar do paciente a condição
de gerir a própria vida. Estes problemas de ordem psicológica se
repetem quase sempre do mesmo modo, e as histórias são
conhecidas. A estrutura das psicoses e delírios pertence a complexa
soma de sentimentos e emoções amplamente diversificados.
No grupo dos humanos temos a diversidade na maneira de
viver as emoções, mas a natureza como podemos observar na nossa
prática diária, apresenta o mesmo desejo, e desempenha com
primorosa a sua finalidade pulsional.
49
1.2- Conheça a emoção da alegria.
58
experiência pulsional da realização, sem esta condição o prazer se
torna fugaz e sem sentido.
O prazer intenso de realizar a construção de uma casa, de
escrever um livro, de encontrar a pessoa amada, são manifestações
do que podemos chamar de alegria. Não existe uma regra ou um
método capaz de atender com eficiência as demandas destes
desejos, por isto mesmo é importante saber que cada pessoa deve
descobrir por si mesmo os meios criativos para satisfazer suas
necessidades biológicas e existenciais. Na essência da alegria
encontra-se a satisfação da mãe quando recebe o bebe no seu colo.
A realização desta pulsão necessita da emoção, as aliterações
fisiológicas do organismo demonstram este estado latente do
desejo de ser feliz, de realizar-se plenamente na existência.
Toda pessoa criativa precisa de liberdade para transformar
a pulsão biológica em realidade existencial, esta passagem necessita
de um investimento de tempo, de inteligência, de criatividade, de
segurança emocional para experimentar a satisfação. A criatividade
precisa sobreviver às críticas, perseguições, esta experiência torna
possível uma aproximação com a pulsão de vida, um caminho que
abre as portas do sucesso, da realização e muita alegria. A questão
principal não são os problemas que cada um carrega consigo, mas a
capacidade de colocar as suas pulsões para transcender suas
limitações.
Uma pessoa pode aproximar-se desta condição de vida, e
com muita inteligência conseguir distanciar-se das neuroses e
psicopatias, esta superação pode ser concretizada em vários níveis
da existência. O problema do bloqueio da pulsão é uma herança da
nossa cultura, porque ao reprimir e não dar vazão a esta energia da
vida, surge em seu lugar a violência e agressão. Este ação
pedagógica é tendenciosa e perversa, pois este método impede a
satisfação e realização das pulsões.
A satisfação da pulsão sádica é uma revolta contra todas
as formas de opressão social. A dificuldade acontece quando
alguém aprende a satisfazer-se através do sofrimento do outro. O
perverso aprende através do sorriso irônico e falso a satisfazer-se
59
com o fracasso e a dor. Às vezes no seu silencio, sorri escondido,
pois estava torcendo pela derrota, esta pulsão de morte é um
impulso irresistível para alegrar-se com a dor alheia. Este é um tipo
de alegria alcançado com ajuda da perversão e psicopatias, este riso
é resultado da transgressão doentia.
Alguém pode sorrir sozinho, mas a alegria verdadeira
encontra sentido no grupo, esta pulsão consegue fazer a pessoa
chorar de alegria, a emoção é permitida porque socialmente é
aceita, mas quando um desejo volta-se contra a moral recaímos na
transgressão do proibido, e sentindo-se culpado para atender esta
pulsão, volta seu pensamento para a fantasia, e nesta compulsão
encontra-se de frente com a tristeza. A formação de uma emoção
precisa das imagens da realidade, esta estética do desejo instiga o
sujeito a procurar o prazer, o real está investido destes significados,
entre este estado pulsional e a satisfação e realização.
Quando o recalque da pulsão de vida acontece na vida de
alguém podemos perceber a formação dos sintomas
psicossomáticos, o sintoma é a expressão do sofrimento. Na dor e
na tristeza não existe a alegria, ela é uma forma de sublimar para
outros estilos de vida aquela frustração que fomenta o medo e a
tristeza. A tristeza oprime e desencadeia na existência um olhar
pessimista, mas a inteligência da vida tem seus métodos criativos
para mostrar a consciência um caminho criativo, onde pode ser
experimentado o humor, o sorriso, seja na vida privada ou em
público.
As ameaças, as críticas, as perseguições, não possuem
todo o poder quando alguém encontra-se seguro da realização de
seus desejos. O inseguro ao contrário muda de opinião ao sabor da
pressão do grupo. A vinte e seis anos atrás podíamos enxergar uma
realidade de tristeza na nossa sociedade, estou comentando sobre a
perversão do regime militar. Aqueles que estavam no poder
possuíam uma alegria de matar a vida de uma pessoa, outros,
possuíam uma alegria sádica, pois conseguiam através da tortura
mudar as ideias dos subversivos.
60
Além disso, a pulsão de morte podia ser constatada pela
expressão do desejo de matar e perseguir, e quando conseguiam
prender, ou descobrir um grupo de esquerda, estampavam um
sorriso de alegria, e aqueles que conseguiam tal proeza eram
agraciados com uma medalha de honra ao mérito. O poder nas
mãos de pessoas doentes pode trazer a morte e a destruição. Este
estado de bem aventurança e alegria precisa da realização destas
pulsões, caso contrário, convive-se com a desgraça do sadismo e
sorriso sarcástico.
As psicopatias das megalomanias destes líderes
esquizofrênicos nos mostram o perigo da morte da pulsão de vida, e
nestas ações podemos acompanhar o dilema da sobrevivência entre
os momentos de alegria e de tristeza. Às vezes é difícil de entender
como uma pessoa pode alegrar-se com a destruição do outro ser
humano, mas o masoquista sorri de alegria mesmo estando sendo
agredido e violentado. Esta anomalia é um enigma na psicanálise,
pois como pode alguém ter alegria e satisfação através do
sofrimento e da dor?
Estamos refletindo sobre esta pulsão de vida, emoção
capaz de estimular ou propiciar um estado de alegria e satisfação.
Estar realizado fomenta a paz de espírito, este estado de lucidez e
saúde pode ser colocado a favor da realização existencial. A
onisciência, a onipotência, o narcisismo, fomentam a esclerose, a
megalomania, a esquizofrenia, envolvidos pela fantasia, pensam
que são Deuses. No seu estado doentio acredita que pode ocupar
este lugar, nesta euforia faz da vida uma brincadeira infantil,
perdido nas alucinações e delírios pode aglutinar milhões de
pessoas para o caminho da morte.
Este estado de ânimo é a mola propulsora da motivação
para alcançar a satisfação das pulsões. A energia psíquica pode
tornar a vida mais saudável, o equívoco acontece quando existe
uma exigência descabida, além daquilo que a pulsão pode dar. Ao
ignorar este estado pulsional, as situações adversas podem
propiciar os atos sintomáticos. Mas a vida é assim mesmo,
precisamos deste estado de ânimo para perseguir no desejo de
61
viver este estado de alegria e realização. Viver e não ter a vergonha
de ser feliz, já dizia o grande cantor Gonzaguinha.
67
para alcançar seus objetivos, e parece-me que com o amor não é
diferente.
A teoria e a prática na arte de viver o amor exige
dedicação, empenho, prioridade, nada pode ser mais importante
que esta experiência de amor. Infelizmente na nossa sociedade as
escolhas preferenciais estão relacionadas à profissão, sucesso,
dinheiro, bens materiais. Esquecem-se do seu amor, no final de sua
trajetória de vida possui carro, apartamento, casa na praia,
dinheiro, conhecimento, profissão, e infelizmente perdeu o seu
grande amor, ou desfez-se de sua família.
O amor maduro respeita a individualidade e a
integralidade, sua autonomia e liberdade encontram-se garantidas
pela confiança recíproca, este amor consegue diminuir ou fazer
desaparecer completamente todo tipo de insegurança e medo,
consegue unir, esta união devolve a capacidade de voltar a acreditar
no seu semelhante. Isto significa um aumento gradativo da
autoestima, consegue valorizar-se, cuidar-se, estas atitudes
aproximam os desejos de ambos.
Muitos estão dominados pelo masoquismo, acostumara-se
a viver entorno do sofrimento, e não acreditam de nenhuma
maneira na alegria e no amor. Mas a pessoa dotada deste potencial
de orientação produtiva é criativa, dinâmica, corajosa, este estado
de potência realça a beleza interior. Talvez esta segurança
emocional garanta sua saúde orgânica e psíquica, este estado de
paz, de satisfação, é próprio de quem ama, não para si mesmo
como se fosse um narcisista, mas para compartilhar este estado de
amorosidade.
Talvez este seja o maior poder e sua maior riqueza, porque
este estado emocional eleva o ser a uma experiência única de
exaltação e vitalidade. A pessoa encontra-se cheia de vida, seu
sorriso é seu cartão de visita, suas mãos tornam-se preciosas,
porque quando toca em alguém produz alegria e bem estar. Ao
saber doar recebe também este afeto, seu amor não baseia-se nas
trocas de migalhas de afeto, é um ato cheio de vida, porque esta
relação consegue propor para ambos elevação do seu ser.
68
Esta dialética do amor consiste na necessidade de sentir-
se amado, sua tese manifesta-se no desejo, a reciprocidade e a
experiência de viver o amor confirma o valor de sua humanidade.
Mesmo nos momentos de crise e dificuldades, consegue utilizar sua
sabedoria para aprender com as emoções de ciúme, inveja, raiva,
porque ambas acompanham qualquer ser humano, esta antítese
ensina o valor da aprendizagem na relação a dois, a síntese de tudo
isto é o resultado de sua maturidade, compaixão, paciência,
perseverança, perdão. A tranquilidade de saber esperar pelo
desenvolvimento das potencialidades, do cuidado de não esmorecer
e jamais desistir de viver esta experiência maravilhosa o amor, para
que isto aconteça é preciso transcender a presença das neuroses.
A riqueza de um ser humano está na sua capacidade de
amar, este é uma nova relação entre o ter e o ser, todas as pessoas
devem ter seus bens materiais, dinheiro, profissão, mas jamais
podem esquecer-se de sua maior riqueza, seu único bem encontra-
se na sua saúde, porque doente ninguém pode usufruir daquilo que
adquiriu. Uma pessoa pode possuir muita riqueza material, mas sua
ignorância escraviza e domina o seu tempo, empobrece as suas
relações, na condição do amor é um indigente, carente, que a noite
precisa adormecer sua consciência com drogas licitas e ilícitas.
O dinheiro deve estar a serviço da felicidade e sua família,
o acúmulo obsessivo de bens é uma compulsão que termina sempre
na privação. Existe nas pessoas generosas e conscientes de seu
papel social uma preocupação em colaborar nos projetos da
comunidade, está interessado na saúde e felicidade das outras
pessoas, não é um narcisista que pensa somente em si mesmo. Esta
é uma forma de amor, este amor fraterno se estende a todo ser
humano.
Muitas pessoas conseguiram ser altamente generosas e
altruístas, sua alteridade é levar e lutar pela dignidade e justiça
social. Quando falamos de ajuda, nos referimos em colaborar para o
desenvolvimento das potencialidades de alguém que está
precisando. Porque podemos partilhar a alegria, conhecimento,
solidariedade, formas de mostrar nosso interesse por outro ser
69
humano. Ao conseguir retirá-lo daquela situação de tristeza e
desânimo, estamos ajudando alguém a expressar e manifestar o
potencial humano que se encontrava vivo dentro dele.
O amor é este potencial de viver intensamente a
segurança emocional, impotentes são todos aqueles que não
conseguem viver a dimensão do amor em suas vidas. A cada relação
humana renasce a esperança de saber conviver com os desejos da
inteligência organísmica, os desejos do homem estão
comprometidos pelo pensamento, suas raízes confrontam e às
vezes agridem a intenção da natureza.
O real sentido de nossas vidas deve basear-se neste desejo
de compromisso de dar o melhor de nós mesmos, as nossas
atitudes devem estar orientadas para produzir compreensão,
compaixão, entendimento, se isto de fato acontece, então podemos
dizer em alto e bom tom, esta pessoa esta vivendo com ética o seu
amor. Porque ao existir a contradição, do discurso que defende e
exige o amor, mas na realidade esta distante dele, porque na sua
pratica é falso e mentiroso.
A convivência com as pessoas amadas exige ética,
renuncia, bondade e um desejo imenso de abrir espaço para o
desenvolvimento das potencialidades do parceiro. Se todo esforço
de uma relação termina em brigas e desentendimento, podemos
dizer que ambos experimentam o ódio, a competição, a raiva,
emoções destrutivas a serviço da necrofilia. O caráter de orientação
produtiva possui a capacidade de recriar ambiente onde a
expressão do amor torna-se uma verdade.
Uma pessoa apta para amar deve em primeiro lugar estar
pronta para viver a autonomia e não ser dependente, sair da
condição simbiótica e narcisista, parar de sugar e explorar as
pessoas, deixar de se queixar e vender uma imagem de vítima da
situação. Para viver o amor é preciso resolver estas questões
anteriores, possuir uma condição de confiar em si mesmo, ser
criativo e espontâneo, disposto a lutar para realizar o seu sonho.
Porque quem não tem estes valores dificilmente
conseguirá acreditar e apostar na superação de outra pessoa. Existe
70
algumas qualidades básicas que são exigidas pelo amor, cuidar e
preocupar-se pela felicidade, ser responsável e maduro o suficiente
para viver em comunhão, viver intensamente a ética, assim
desenvolverá sua capacidade de amar. A experiência do amor como
motivação para viver.
Este é dos principais objetivos do ser humano, procurar de
todas as maneiras a segurança emocional de prazer, e afastar-se ou
negar qualquer experiência de sofrimento. Esta dor da humilhação,
do abandono, da negligência, é um processo do qual chamamos de
ferida narcísica. Muitas emoções como estas são insuportáveis e
dolorosas, e por isto mesmo existe a necessidade de fazer a catarse,
uma estratégia de ver-se livre delas é projetar esta frustração em
uma pessoa, quando a catarse não resolve procura nas drogas lícitas
ou ilícitas a narcotização da dor.
A desumanização inicia-se por este processo destrutivo,
inconsciente destas emoções, desconhece a energia emocional que
aparece para gerar medo, culpa e sofrimento. Muitos tentam
reprimir ou fazer de conta que não existem, e outros procuram
projetar a culpa nas pessoas do seu convívio. Quando alguém
consegue tomar consciência das forças destrutivas, reconhece que
estas emoções não são energias estranhas e invasoras, e tampouco
foram produzidas por alguma pessoa. Este “auxiliar mágico” é usado
para amenizar ou explicar este fenômeno da agressão, contra si
mesmo ou direcionado a alguma pessoa.
Para uma criança seu estado de prazer e desprazer tem
suas raízes na humanidade que experimenta este vínculo de
confiança e segurança com seus pais, isto lhe dá a certeza da
existência do amor. A autoestima forma-se pelas impressões que os
adultos deixaram sobre a sua pessoa, esta imagem pode ser boa ou
má, acaba refletindo sobre a sua vida pessoal. A projeção das
emoções dos pais sobre a subjetividade desta criança, será sua
marca por toda a sua vida, e disto depende a sua felicidade.
A evolução da consciência depende deste esforço de
superar as pulsões primitivas e saber lidar com as emoções
negativas, procurando humanizar e viver aqueles valores éticos que
71
fundamentam a pulsão da vida. A projeção transferencial são
emoções desagradáveis e podemos constatar esta projeção nas
relações, quando alguém sempre afirma que a culpa é sempre do
outro e nunca sua.
O que os outros fazem e dizem é contraditório e
destrutivo, ao passo que suas ideias e atitudes são nobres,
verdadeiras e justas, tudo isto graças a fantasia, no seu discurso
defende-se e projeta a sombra sobre uma pobre vítima.
Inconscientemente existe um medo desta pulsão destrutiva que
atua dentro e fora de si mesmo, ao procurar a morte, mostra o nível
intenso de destrutividade que alguém é capaz de fazer consigo
mesmo e com a pessoa que diz que ama.
Nos últimos trezentos anos presenciaram-se guerras e
atrocidades que a brutalidade e selvageria humana trouxeram à
tona, esta pulsão destrutiva não pode ser mais contestada, a pulsão
de morte pode ser encontrada dentro do organismo ou nas ações
destrutivas externas. Os povos mais primitivos consideram a morte
uma entidade demoníaca e tem como objetivo retirar a vida, quem
protege contra estas forças do mal é Deus, considerado o mentor
responsável pela energia vital, e para muitos a morte física é
somente uma passagem, pois todos esperam imortalidade espiritual
da alma.
Existem muitos perigos que ameaçam a sobrevivência do
“self” emocional, a única defesa é projetar no externo, nos rituais,
nos mitos, como uma tentativa de apaziguar o medo da destruição,
projetado em algum animal ou entidade simbólica para realizar a
sua catarse agressiva, depois de efetuado todo processo de
enfrentamento e destruição do mal. A pessoa consegue sentir-se
gratificada e segura por ter conseguido agredir e violentar o seu
inimigo.
Esta realidade agressiva é uma emoção que transforma-se
em ódio, muitas vezes incontrolável, os sintomas aparecem como
uma fúria no organismo, muitos encontram-se a ponto de estourar,
seu coração parece sair pela boca, e se não conseguir uma maneira
72
de realizar a catarse, provavelmente vai enlouquecer de fúria, no
seu desejo ardente de destruir e matar o inimigo.
Quando esta emoção está sem controle vislumbramos um
ataque emocional, é como se sua mente estivesse fora de domínio,
sem condições de pensar, ou de mudar esta forma de agir, acaba
finalmente cometendo o inevitável, destruir a vida de alguém.
A relação com os outros e com a natureza deve ser uma
extensão do modo como nos relacionamos conosco mesmos, este
desejo de viver bem e com harmonia transcende o simples
raciocínio, porque se alguém diz que ama e não é capaz de dar
amor, ou de criar ambiente de paz, percebemos que não existe uma
coerência entre o seu modo de viver e amar. Porque sem perceber
quando somos capazes de distribuir amor, indiretamente estamos
semeando uma energia que deverá transformar-se em amor, e
nesta interação começa a receber amor.
Se alguém não vive a dimensão do amor, seu potencial
está sendo reduzido a uma coisa, objeto. O ser humano deve
aprender a dar e receber amor, ser capaz de aceitar que é digno de
viver a plenitude sempre com ética e respeito. As neuroses e
compulsões estão sempre atuantes no sentido de nos afastar do
amor, felizmente a análise pode alertar e levar o paciente a tomar
consciência do estado de inconsciência, motivando a estar alerta e
jamais deixar de plantar as sementes de amor.
Todos têm consciência que esta potência do amor precisa
de condições para o desenvolvimento, cada ser humano aprende do
seu modo a dar e receber amor, este tipo de vida está interessada
em fazer o bem e desejar o melhor para o semelhante. Para
conquistar este objetivo de tornar-se uma pessoa produtiva na
existência é preciso superar a ignorância emocional, ser capaz de
criar as condições de autonomia e individuação.
Ninguém consegue amar alguém quando ainda encontra-
se num estado de dependência, egoísmo, exploração. Enquanto
estiver sobre o jugo de mentir, enganar, explorar, permanece ainda
numa condição de inferioridade. A felicidade e o amor precisam de
determinadas qualidades, caso contrário não conseguirá alcançar
73
seus objetivos. Por isto mesmo é necessário a confiança, coragem,
criatividade, determinação, simplicidade e um desejo enorme de
realizar os seus sonhos.
Sem estas qualidades superiores, seu desejo encontra-se
amparado nas suas divagações fantasiosas de enganar, mentir,
explorar, a pessoa amada. Sem dúvida esta atitude destrói qualquer
manifestação de amor, esta inferioridade traduz-se numa
consciência de parasita, pois acredita que os outros devem ajudá-lo,
ou melhor, resolver seus problemas. Este tipo de dependência
emocional ou econômica é prejudicial a viver a experiência
verdadeira de amor.
Amar alguém significa proporcionar as condições de
desenvolver suas potencialidades e qualidades, e não inferiorizá-los
dando dinheiro ou bens materiais, que indiretamente reforçará a
sua inferioridade, e com certeza esta frustração se voltará contra a
própria pessoa que ajudou a permanecer na neurose de
dependência. Dar atenção, orientação, e mostrar as qualidades que
se encontram adormecidas pelas suas neuroses e uma atitude de
amor, certas orientações de caráter produtivo devem estar
presentes as qualidades de ética, responsabilidade, conhecimento,
ternura e comprometimento.
Quem vive o amor está interessado em tornar-se melhor e
mais ético, isto significa, superar todos os bloqueios de suas
neuroses, sem autoestima, cuidado de si, investimento de cultura,
se torna muito difícil alcançar estes objetivos na vida. Além disso,
deve estar interessado no crescimento e desenvolvimento da
felicidade e realização da pessoa que ama. Quem ama, sabe que
deve cuidar e zelar pela felicidade da pessoa, esta é sua
responsabilidade, ambos estão interessados neste desejo
verdadeiro de ajudar a realizar os sonhos da pessoa que ama e de si
mesmo.
Toda esta decisão deve ser livre, não pode ser algo
imposto, obrigado, coagido, e nunca desejar dominar, inferiorizar,
tornar o outro um objeto, uma coisa, uma posse, para o deleite de
suas neuroses. Estas atitudes produzem mágoa, ressentimento,
74
tristeza, raiva, ódio, etc. Quando existe amor numa relação, o medo,
a submissão não existe, esta percepção exige um olhar de
compaixão e amorosidade.
O amor está presente numa relação quando existe o
desejo de que o parceiro desenvolva suas potencialidades, se torne
maduro, tenha inteligência, possua autonomia, e consiga
desenvolver as qualidades pessoais. Quando existe dominação e
exploração, manipulação, chantagem, e violência psicológica,
estamos diante do amor egoísta que pensa em si mesmo, este e o
protótipo da pessoa narcisista.
Se alguém ama uma pessoa está sempre torcendo pelo
seu sucesso, e sabe respeitar seus gostos e individualidades,
ninguém pode ser um objeto, uma coisa, para ser usado pela outra
pessoa. Primeiro a pessoa deve fazer a experiência consigo mesma,
conquistar a autonomia, ser criativo, inteligente, sensível e tornar-
se agradável, sem estas qualidades fica muito difícil de cobrar ou
exigir que os outros mudem. O respeito e admiração das pessoas
são conquistas pelo exemplo e não pela imposição, este gesto
enriquece a formação de um caráter interessado no
desenvolvimento das qualidades éticas e emocionais.
Estas qualidades como, responsabilidade, bondade, ética,
compaixão, solidariedade, autonomia, criatividade, vontade, não
encontra-se num shopping e muito menos na aquisição de bens
materiais. Estas duas atitudes devem estar em harmonia, ninguém
pode ser escravo do dinheiro, o consumismo pode ser o
deslocamento de suas carências de amor e afeto. Uma pessoa
centrada e consciente desta atitude verdadeira, precisa dar-se conta
de suas limitações. Saber superar suas neuroses e aceitar com
paciência e tranquilidade os momentos de dificuldade de seu
companheiro.
A pessoa com saúde é capaz de viver intensamente a vida
com prazer e alegria, consegue amar tudo aquilo que realiza,
desenvolveu a capacidade de tornar-se criativo e dinâmico, sendo
capaz de estar aberto e flexível para aprender a amar e trabalhar
suas emoções para receber o amor. A maturidade exige esta
75
capacidade de renunciar ao narcisismo, não está interessado na
futilidade e superficialidade, sente-se muito confortável, pois sabe
que possui todas as qualidades e capacidades para realizar os seus
sonhos.
Freud afirma que o amor deve ser sublimado, que esta
necessidade nasce através do instinto sexual, e não entendeu que a
pulsão sexual existe com a finalidade de aproximar as pessoas com
a finalidade de conhecer-se, e se quiserem fazer uma experiência de
amor. A natureza é sabia, desenvolveu na sua genética a beleza
estética do homem e da mulher com a intenção de atraí-los
mutuamente, e indiretamente deu de presente a experiência do
orgasmo como um reconhecimento pelo compromisso de
oportunizar a continuidade da vida, com o nascimento dos filhos.
Freud equivocou-se quando afirmou que a sexualidade é
simplesmente uma reação fisiológica para alcançar a satisfação, esta
maneira de interpretar o sexo advém de sua formação médica,
oriunda da fundamentação do materialismo fisiológico e
organicista. Existe diferença entre o genital e a sexualidade, a
pessoa humana não e um feixe de nervos interligados ao sistema
nervoso central, com a intenção de fazer as descargas do desejo
sexual. A única finalidade da sexualidade seria livrar-se da pulsão, e
a única maneira é masturbar-se, ou encontrar um objeto (pessoa)
para eliminar esta tensão desconfortável.
Freud foi muito infeliz ao afirmar que a mulher possui
inveja do pênis masculino, e que o clitóris é apenas um pênis
atrofiado, esta castração rendeu ao patriarcado a defesa do poder
do pênis. É uma bela racionalização sobre a sexualidade feminina,
esta maneira de interpretar a sexualidade humana, desenvolveu
crenças que em vez de complementar distanciaram e fortaleceram
o machismo.
76
Parte II
77
Este conflito inconsciente mostra estes dois estados
emocionais, por um lado o desespero de possuir os valores, e sem
pensar age por impulso querendo de todas as formas o amor e o
cuidado do outro. Desesperado e carente parte para a agressão
verbal e cerceamento da liberdade, esta mesma paixão ciumenta
torna-se patologia quando o medo torna-se uma obsessão.
Interessante que o ciumento acredita na fantasia, pois o único
modo de proteger o seu amor é através da vigilância e controle.
Este é o dilema do ciumento, num momento confia até
demais e num outro desconfia completamente. Acredito que o
ciúme não aparece sozinho para produzir este ataque emocional,
geralmente, a raiva, a mágoa, o medo, ódio, vergonha, estão
indiretamente ligados a expressão deste desafeto. O ciumento
gostaria de ser o outro, pois sente ciúme de perder seu amor e
admiração, frustrado sente-se injustiçado porque roubaram o seu
amor. A emoção da inveja é querer ter o outro, o ciúme aparece às
vezes confundindo-se com a inveja.
As pulsões são complexas, desde as básicas, como sede,
fome, sexo e sono e as outras emoções aparecem com certa
intensidade e qualidade nas suas manifestações. A continuidade ou
passagem de uma emoção de raiva para ódio depende da vivência
daquela experiência, somente depois da interpretação do fato em si
é que desencadeia um tipo específico de emoção. O ciúme se
caracteriza pela perda de algo, torna-se neurótico quando é
investido de fantasia e não da realidade.
Ninguém gosta de perder, mas inconsciente sabe que
existe esta possibilidade, e na diversidade desta emoção cada um
possui a originalidade e criatividade para dar vida os vários tipos de
ciúmes. O ciúme tem haver com o afeto, esta carência sempre
acompanha o desejo de ser amado, este movimento da energia
psíquica traça uma diretriz para um tipo de reação emocional.
Mesmo a emoção enfrenta suas dificuldades para satisfazer os seus
desejos, talvez porque o outro não queira corresponder ou esteja
impossibilitado de fazê-lo.
78
Depois da frustração pode desencadear uma série de
atitudes para viver entorno do ciúme, pois tem medo das rejeições
do amor, quando o desejo não é completo na sua idealização,
aparece no lugar a raiva e o ódio. O outro pode desencadear uma
emoção de aversão, inibição, timidez, porque não teve o prazer de
realizar seu desejo de reconhecimento e valorização. Vejam bem,
esta manifestação de várias emoções torna as relações humanas
ainda mais complexas, o grande desafio é como atender as
demandas inconscientes das emoções.
Toda emoção pretende passar uma mensagem sobre algo
que está acontecendo consigo mesmo, ou com alguém muito
especial, esta alteração fisiológica do corpo humano, da expressão
da face do rosto, da musculatura das mãos, da sudorese, da
palpitação do coração, da voz embargada, mostra a tentativa de
comunicar algo que está acontecendo na sua vida afetiva ou
existencial. Os gritos, as brigas, os choros, o olhar de fúria,
cobranças, as dúvidas, demonstrações do estado alterado de
indignação. Em alguns casos utiliza a chantagem emocional para
fazer o seu objeto de amor sofrer, utiliza a inteligência para fazer o
outro sentir-se culpado, com obrigação, com medo, com ameaças,
tudo isto para dominar e impor esta partilha de sofrimento.
O ciúme pode tomar proporções incontroláveis, inicia-se
com as estratégias de dominação psicológica e depois começam as
investidas de violência moral, psicológica, física. Então, está
instalado o conflito pela disputa de quem manda mais, quando
alguém sente-se prejudicado nas suas reivindicações dos afetos
procura descontar com a repressão e criticas ao seu mundo de
prazeres. É um ciclo interminável de cobranças e xingamentos de
toda ordem, depois do ataque emocional do ciumento, vem o
momento de pedir desculpas e declarar o seu amor.
Na fantasia acredita estar resolvendo o problema de
insegurança, estas ações estão relacionadas a solução de uma
dificuldade. O medo do abandono, a dor da solidão, a humilhação,
são experiências que mobilizam vários tipos de emoções. Muitas
das emoções podem ser interpretadas pelos gestos e expressão dos
79
olhos, da boca e das mãos. Esta leitura não verbal pode identificar o
tipo de emoção que está sendo elaborada.
Esta linguagem não verbal tem como finalidade comunicar
algum tipo de sentimento ou emoção. As emoções também podem
ser aprendidas num grupo social, as imagens das expressões
simbólicas das emoções são universais, elas são importantes porque
podem predizer através da raiva a sensação desagradável da fome.
As emoções podem ser utilizadas para expressar amor, gratidão,
apreço, ternura, carinho, ou aversão, inveja, desprezo, rispidez,
frieza, mas todas obedecem a um ritual simbólico.
As emoções representam na sua essência uma dialética, o
desejo do prazer pode ser entendido como a tese do organismo, os
meios utilizados como símbolos, gestos, e seduções, seria a antítese
necessária para alcançar o objeto de prazer, e a síntese elabora a
frustração ou a satisfação da emoção. A dialética é esta
circularidade infinita das emoções e relação com a existência, as
contradições fazem também parte do ciclo neurótico de qualquer
patologia, a neurose vive uma emoção na contramão da existência.
São estas simbologias inscritas no corpo humano que
podem ser traduzidas como uma emoção, por exemplo, quando as
tribos indígenas utilizam tintas e símbolos da natureza para
representar na dança uma emoção de raiva e ódio, ou de gratidão e
submissão à natureza. O ciúme neste caso poderia ser uma emoção
ligada à sobrevivência psíquica, inconsciente de seu desejo da
maternidade poderia mostrar as qualidades para vincular-se num
compromisso mais efetivo. O casamento seria um ambiente para
educar e ter filhos e ninguém gostaria de perder alguém para
assumir a tarefa sozinha.
O ciúme masculino é mais violento em relação à
procriação, pois poderia estar criando um filho que não seria seu,
pois um filho sem a sua genética poderia ser considerado como um
bastardo. Quando se perde um amor, indiretamente coloca-se em
risco a sobrevivência dos filhos, o ciúme aparece sempre quando
alguém sente-se ameaçado com algum tipo de perda, seja
econômica, sexual, afetiva, amorosa. O ciúme pode desencadear
80
uma série de atividades no cérebro, estes hormônios produzidos
pelo hipotálamo desencadeiam uma ação de controle e dominação
sobre o outro.
A emoção é uma potência de vida, de todas as maneiras
seremos atingidos por estes tipos de afetos, neste sentido o
“Phatos” pode tomar uma dimensão de patologia ou ao contrário,
“Eros” desencadeia um apaixonamento amoroso pelo valor deste
amor. As emoções do medo e da compaixão estão muito próximas
do ciúme, por um lado temos medo de perder o nosso grande amor
e ao mesmo tempo nos sentimos muitos próximos de quem está
sofrendo pela perda de um amor.
Se comprazer pelo sofrimento do outro nos aproxima de
nossa humanidade, se observamos bem o sofrimento e a dor tem
sua origem nas emoções, existe alguém precisando e outro não
quer dar, esta vivência provoca emoções, elas podem aparecer num
conjunto de provocações ao outro para despertar também o ciúme.
Enquanto a paixão procura estar disponível, o afeto precisa atender
o desejo, por isto o prazer está muito próximo dos afetos.
Para entender os afetos é preciso saber as relações e os
vínculos aos quais estão ligados, existem imagens que podem
despertar idéias de prazer, outras de desprazer. Todos os seres
humanos procuram o bem estar, alegria, realização, satisfação, este
tipo de prazer é mais existencial do que fisiológico ou sexual,
portanto estes ganhos conseguem encontrar um sentido de vida.
Quando a expressão da afetividade vive intensamente a raiva, ódio,
medo, rancor, mágoa, ressentimento, provoca na vida um estado de
desânimo, apatia, e em conseqüência disto um desprazer, por isto
mesmo, desencadeia o processo de autodestruição através da
depressão.
Todas as emoções estão nas recordações e lembranças do
passado, estas experiências estão ancoradas nos diversos tipos de
afetos, é importante observar as imagens, pois são os mensageiros
químicos das emoções. Quando alguém está afetado por uma
emoção, geralmente desencadeia uma atitude de solução ou de
negação da existência. Inconscientemente procura o prazer e foge
81
da dor, mas pode acontecer o contrário, alguém pode encontrar na
dor a sua fonte de prazer, que é o caso do masoquista.
Quando o ser humano deixa de usar o seu potencial dos
afetos, os sintomas começam a dar sinais de alerta, a energia
psíquica pode estar sendo compensada para outro tipo de prazer,
esta lacuna pode ser preenchida com o sintoma psicossomático,
como por exemplo, dor de cabeça, musculares, de estômago, ou
projetando nas pessoas raiva, ciúme, inveja, ódio. Os afetos seguem
uma diversidade de funções, cada um deles pode estar presente
numa determinada experiência.
Quando um afeto toma proporções significativas acontece
algo inevitável, mais conhecido como ataque emocional. Cada
estado emocional pode sofrer uma metamorfose de acordo com a
situação que está vivendo naquele momento, por exemplo, a
ansiedade é um tipo de afeto que pode paralisar a vida de uma
pessoa, pois esta emoção do medo é um grande potencial para
esconder atrás dos sintomas. Porém existem afetos com a intenção
de reprimir, esconder, ou negar a existência de uma emoção, pois
esta vivencia emocional desperta o medo, deste momento em
diante a ansiedade toma conta da existência.
Tudo acontece de maneira inconsciente, ninguém pensa
sobre estas atitudes, pois tudo é feito para justamente não pensar.
Rolo May comenta sobre a pessoa esquizóide, aqueles que
perderam a sensibilidade, a ternura, o calor humano, a compaixão,
a alteridade, desenvolveram defesas capazes de não se deixar
afetar. Os afetos agora encontram-se reprimidos, jogados nas
profundezas do inconsciente, frios, distantes, calculistas,
racionalistas, encontram-se livres das emoções.
Precisa resolver seu dilema existencial sem os afetos, na
solidão, sozinho, procura satisfação nas drogas lícitas e ilícitas,
procurando anestesiar seu estado de depressão sempre
acompanhado de apatia e desânimo. Explico esta dimensão dos
afetos porque o ciúme está composto de uma diversidade de
interpretações. Como já frisei anteriormente, a depressão é um
estado de impotência, a autopunição surge como solução para os
82
seus fracassos no amor, a perda da autoestima sustenta o complexo
de inferioridade, desamparado e sozinho vende a alma e o corpo
para qualquer um, estas e outras situações existenciais mostram
como os fatos da existência podem afetar as relações.
É importante perceber a diminuição ou a falta de energia
para buscar solução para a vida. Qualquer pessoa diante das
dificuldades tem duas opções, enfrentar a situação ou fugir dela
escondendo-se atrás de doenças e fracassos sucessivos. O medo é
uma emoção importante neste contexto da ansiedade, a
experiência da crítica, da perseguição, da humilhação, do abandono,
da rejeição, da desqualificação, internaliza uma idéia muito pobre
sobre suas reais capacidades.
Mas esta falsa percepção de si mesmo esta baseada nas
experiências do passado, e quando surge a oportunidade de
enfrentá-las, foge. A alteração fisiológica de uma emoção pode
modificar a expressão facial, os músculos, faz-se uma leitura do que
se passa no organismo. Nas imagens encontramos as dificuldades
que geram este transtorno psicofisiológico, inicia-se quando a
queixa esta acompanhada da raiva, neste instante começou a
identificar o modo de como interpretou aquela situação em
especial.
O ciúme é uma das emoções mais interessantes, pois
podemos verificar na expressão do rosto a sua presença, a reação
depende da interpretação, não do que a outra pessoa está fazendo,
mas a relação estabelecida com o desejo. A percepção depende
destes símbolos, no seu conteúdo encontra-se a carência, a emoção
representa o símbolo deste desejo. Quando existe um
relacionamento, sempre existe o elemento surpresa, o inesperado,
o estado de tensão, a ansiedade, a espera por algo que deveria
acontecer.
Esta curiosidade do ser humano em saber se aquela
pessoa gosta ou não de si, a percepção, inclui-se o olhar, o cheiro, o
olfato, o ouvido, o tato, procuram de todas as maneiras entender e
compreender os símbolos, a mensagem possui um conteúdo,
inconscientemente, ao interpretar e dar um significado para aquela
83
atitude realiza a compreensão. Cada ser humano realiza a tarefa
para compreender a subjetividade do outro, em decorrência do
significado que atribui a terceiros, sofre também um impacto sobre
os seus desejos, por isto o nome de ciúme.
O ciúme nem sempre caminha sozinho pelos canais de
comunicação dos neurotransmissores, este potencial do cérebro em
defender-se do amor, inclui a agressividade, o medo da perda,
enfim, outras emoções estão de mãos dadas com o ciúme, pois a
tendência inata é proteger aquilo que considera seu, esta é uma
reação inconsciente, naquele momento não pensa nas
consequências dos seus atos, daquilo que está falando, do
julgamento, da condenação, esta reação agressiva, às vezes é
violenta, produz na relação mágoa e ressentimento.
Estas emoções básicas, como medo, raiva, agressão,
atuam no inconsciente como uma produção interdisciplinar na
execução de um ato de agressão física. No instante da reação
emocional perde o controle da razão, são maneiras antiquadas e
inconsequentes de resolver as suas crises de ciúme, muitos falam
em justiça, outros que é bom passar pela experiência. Sempre existe
um fato, uma desconfiança, uma traição, fundamentada na
realidade ou na fantasia.
O neurótico é aquele que além de não confiar em si
mesmo, pela sua insegurança, projeta nas relações este tipo de
emoção, dependendo do caso evolui para uma espécie de delírio
paranóico, sua obsessão pode levá-lo a vigiar, controlar, colher
provas, para mostrar que está sendo enganado. Esta falta de
segurança emocional é a base de todas as emoções desagregadoras,
incompatíveis, incongruentes, contraditórias do ser humano.
A simbologia da linguagem não verbal pode ser
interpretada como se a pessoa amada desejasse outra pessoa, esta
conclusão deve-se ao olhar, a forma como conversava, somente o
fato desta aproximação produz na pessoa uma reação de ciúme,
entenda-se que antes de aparecer esta reação, esteve presente a
raiva, o medo, e a vontade de agredir. E surgem depois desta
emoção uma série de fantasias que tem haver com a autoestima. O
84
que a outra tem que eu não tenho? Por que está mais feliz e
contente na presença dela do que na minha? Qual é mesmo o seu
desejo por mim?
Quando não existe segurança emocional, inicia-se o
processo de dúvidas e os devaneios perseguem com a ajuda da
fantasia. O que eu não tenho que o outro tem, para despertar tanto
interesse? Na verdade gostaria de estar no lugar desta outra
pessoa, para receber este olhar de admiração e alegria e bem estar.
Entre ele e seu inimigo traiçoeiro que deseja roubar o seu amor,
existe este outro, chamado neurose benigna.
A emoção do ciúme é assimilada nos relacionamentos
sociais, o interesse de quem tem ciúme é garantir a permanência do
seu amor. Esta mesma insegurança para controlar e vigiar impede
uma aproximação afetiva na relação. O ciumento está sempre
criticando, julgando, desconfiado de sua emoção projeta sobre o
outro uma apreciação equivocada. Esta falta de segurança
emocional consegue desestabilizá-lo, quando recebe afeto, elogio,
reconhecimento acredita que está sendo enganado, caso o parceiro
ou alguém importante da relação não diga nada, existem motivos
suficientes para desencadear uma avalanche de ciúme.
O ciumento está sempre avaliando se o outro é simpático
ou antipático, como são inseguros, procura nas suas atitudes de
vitimização um espaço para culpar o outro pela infelicidade. No seu
discurso são as pessoas injustiçadas e vitimizadas pela exploração e
manipulação. Nos relacionamentos não conseguem controlar a
desconfiança e insegurança, esta emoção prejudica seu senso de
humanidade porque não consegue ser paciente, prudente e
bondoso, o medo sempre é um fantasma que persegue a seu vida,
pois está sempre desconfiado de que o parceiro possa abandoná-la.
Inconscientemente não é digno de viver o amor, estes
conflitos mostram a lógica inversa do desejo racional, este
sofrimento é fruto da punição, sente-se culpado porque percebe o
sofrimento psíquico das pessoas do seu convívio pessoal. Quando
enfim é abandonado porque ninguém suporta tamanha
desconfiança, sente-se ofendido e com raiva, e não consegue
85
perceber que este interesse em proteger o seu amor é fruto de sua
insegurança. O ciumento corre atrás de reconhecimento e
valorização, existe uma dependência emocional, no fundo é refém
da neurose.
Para entender o ciúme, devemos nos perguntar: Qual é a
causa desta emoção? Uma das hipóteses pode estar vinculada a
alguma experiência de abandono e rejeição, ao viver esta emoção,
procura compensar a inferioridade para reaver o seu narcisismo. O
outro passa a ser uma propriedade, o ciumento quer ser o dono de
alguém, e exige sinceridade e ética. Estes valores devem estar
atrelado ao controle, porque a outra pessoa é uma posse, portanto
é um objeto exclusivo de desejo. O ciumento é um narcisista
disfarçado de amor, pois em nome do “amor” procura controlar,
vigiar e punir qualquer atitude que não esteja dentro de seu mundo
de valores.
Como tem no outro uma “posse” não pretende dividir com
ninguém, este egoísmo parte de uma ideia de que alguém deve
viver em função de sua pessoa. A emoção é uma vivência que nos
coloca diante de uma realidade, a interpretação da necessidade de
afeto e amor pode nos dar a ideia da obsessão em controlar e exigir
o absoluto controle sobre a vida de alguém. A simbiose de uma
relação, é quando ambos pensam que bastam a si mesmos, não
precisam do afeto e da presença de ninguém, cheios de amor
podem dispensar outros tipos de afetos.
Geralmente o conflito acontece quando este alguém não
concorda com esta vivência de controle e vigilância, sente-se
sufocado, e não consegue aceitar este vinculo de desconfiança.
Cada um realiza sua interpretação sobre as suas relações, são estas
demandas afetivas carregadas de amor ou agressividade que podem
atrair ou afastar amigos e colegas de trabalho. O ambiente familiar,
de uma relação a dois, de um grupo de trabalho, depende muito do
quanto alguém é ambiente para si mesmo, esta percepção sobre o
seu mundo emocional pode ser a estrutura de sua alteridade ou de
frustração.
86
Como uma pessoa consegue viver suas necessidades
emocionais? Talvez pela sua experiência, nos vínculos sociais de
uma cultura que prioriza, enaltece, valoriza ou despreza, critica e
nega a expressão do afeto e amor. Esta emoção do medo pode
prejudicar a formação de sua autoimagem e estima, mas a origem
deste medo de perder o amor de alguém está vinculada a estima e
valorização de sua pessoa. O ciúme é uma emoção complexa, difícil
de ser compreendida pela lógica da razão, em muitos casos as
defesas da racionalização e negação pode esconder e mascarar a
presença do ciúme.
O ciúme doentio pode comprometer a vivência dos afetos
e dificultar ou impedir a experiência do amor, a repressão esconde
o medo de amar, esta emoção confunde-se com outras, gera
confusão, e temos dificuldade de apreciá-la com nitidez e verdade
quando se torna visível. Qualquer pessoa pode perceber a
existência desta emoção, sua complexidade depende dos prejuízos
e dificuldades que alguém enfrenta nos relacionamentos. É difícil
perceber, reconhecer, e tratar desta difícil questão, pois ofende e
agride o seu orgulho e vaidade, próprio de um narcisista.
Os ciúmes variam de acordo com a intensidade e a
complexidade dos medos, insegurança, ansiedade, angústia,
nervosismo, são alguns dos sintomas presentes nesta emoção. Ela
consegue alterar, desestabilizar o sistema fisiológico do organismo,
sua finalidade, mostra a consciência que deve olhar sobre uma
atitude disfuncional. As emoções sempre trazem consigo algum tipo
de experiência, suas crenças estão associadas às aprendizagens, o
conteúdo é na mesma proporção à reação diante de uma
frustração.
Toda emoção tem um conteúdo, estes desejos são
diferentes e buscam a gratificação. Os afetos estão ligados aos
conteúdos destas emoções, esta vivência retrata um olhar sobre a
relação. As queixas, os conflitos, denunciam a existência de uma
neurose, este mesmo conflito simboliza a descrição do
contraditório, esta falta de amor e afeto pode elevar o nível de sua
autodestruição. A existência é o melhor lugar para viver ou projetar
87
as emoções, quem não consegue fazer isto, esta matando aos
poucos a sua natureza humana.
Nas relações surgem as emoções, e quando falamos da
natureza das emoções nos retratamos a este mundo de vivências,
combinados com a maneira de pensar. Muitos tentam explicar as
emoções com a ajuda da razão, mas existem desejos, traumas,
bloqueios que podem distorcer a nitidez daquela emoção. O desejo
da emoção, a intensidade de sua reação, a pureza, a verdade, estão
entrelaçadas neste mundo vivido. É através das emoções que
podemos perceber o investimento de nossa energia psíquica, a
qualidade de vida depende da inteligência emocional que conseguiu
incluir-nos neste ambiente de vida ou de morte. A satisfação, a
realização, a valorização, pode despertar uma emoção de alegria, o
inverso traz a tristeza, são os ambientes que podem traduzir para a
realidade o mundo das emoções, intenção, qualidade, energia, são
símbolos que podem nos mostrar o tipo de emoção que acontece
naquele ambiente.
Ninguém é culpado de nada e ao mesmo tempo sente-se
culpado de tudo, este estado de inconsciência nos remonta a
inocência de uma criança carente, um ser desprovido de carinho e
afeto, porque mesmo as crianças vivenciam a inveja, o ciúme, a
raiva, o ódio, os seus olhos são capazes de mostrar o tipo de
emoção presente na sua vida. Por isto não pode haver ciúme sem
antes viver a inveja, este querer ocupar o lugar do outro, ou
fantasiar a presença deste sujeito para satisfazer suas carências. O
ciúme as vezes traz consigo uma carga de agressividade, isto indica
a dimensão de sua inveja, estas emoções podem denunciar a
dificuldade da criança de simbolizar ou compartilhar os seus afetos.
Não foi o seu amigo que lhe roubou o seu grande amor, ou
da traição que sofreu pelo abandono dos pais, nesta falta de amor
gratuito e incondicional, nasce o desejo de competir, a raiva tem
sua origem na carência, supressa é perceber a intensidade da raiva
e ódio que a falta de amor pode gerar. O ciúme nasce quando o
inesperado acontece, ou porque as expectativas são frustradas. A
frustração reacende o desejo de ódio e vingança, seu combate é
88
violento porque acredita ser o único a viver este amor. Vamos
analisar com mais profundidade aos olhos da psicanálise humanista
as verdadeiras causas deste tipo de ciúme.
O ciúme como havíamos comentado anteriormente é o
medo da perda, sua ansiedade é a suspeita de estar sendo traída,
esta sensação de mal estar, reforça a tristeza, o complexo de
inferioridade aparece com mais intensidade, e inicia-se o ciclo de
autocrítica, desmerecimento, culpas. Este tipo de situação amplia
seu estado de solidão e isolamento, desconfiado e com medo
afasta-se de todas as pessoas de seu convívio, e no final entra em
pânico por medo de viver sozinho, sem ninguém.
Mas antes de surgir este tipo de emoção, aparece o
complexo de inferioridade, seu desejo direciona-se para ter, possuir
algum talento, valor, qualidade de seu oponente ou inimigo. Está
magoada e procura aliviar seu ressentimento com algum tipo de
compensação, pode ser o álcool, as drogas, ou consumo exagerado
de compras desnecessárias. Depois com endividamento, a
depressão, a falência econômica e afetiva, vive entorno da culpa e
cada vez mais procura novas atitudes para se punir. Enfim este vazio
existencial de sentir-se inútil e improdutivo são os motivos que
levam uma pessoa frustrada, a escolher pelo processo de destruição
pessoal.
Com a autoestima em baixa, o autoconceito muito pobre
de si mesmo, e uma imagem desqualificada, inicia-se um processo
de alterações no seu modo de perceber a si mesmo. Ao perder o
sentido de viver, não consegue concentrar-se e muito menos
colocar sua atenção num projeto de vida. Desprotegida é uma presa
vulnerável para a ocupação de vários tipos de fantasmas, sente-se
inútil e bate o desespero, porque acredita não existir mais saída
para a sua existência.
A etiologia do ciúme antecede a existência da inveja e das
frustrações, esta relação entre emoções nos mostra a complexa
relação transdisciplinar da energia psíquica. Quando o ciúme
aparece na vida de uma pessoa? Sem dúvida nenhuma o início de
sua aparição acontece na infância, portanto este egoísmo pertence
89
ao estado narcísico da criança. Narciso jamais deveria contemplar a
sua imagem, era um belo jovem, sempre fugiu do amor. Este seu
grande amor não foi correspondido, cheia de dor e frustração morre
de tédio e tristeza. Assim este grande amor não foi contemplado no
seu desejo, mas um dia narciso sem saber aproxima-se do lago onde
o seu grande amor morreu afogado de mágoa e tristeza.
Quando Narciso enxerga sua imagem na água, apaixona-se
e enlouce, morre preso à própria imagem. O ciúme nos mostra esta
duas condições, o amor que Narciso nega ao seu objeto de desejo e
a prisão emocional a sua imagem. Inconsciente de seus desejos de
amor, não consegue entender o seu conflito. A imagem é
personificada pelo medo de amar, devido as suas exigências
obsessivas acredita que basta a si mesmo. Esta historia não tem
nada haver com sexo e sim com desejo de amar.
O mito de narciso retrata a dificuldade de viver o amor,
como imagem enxerga em si mesmo a perfeição, em decorrência
disto projeta nas suas relações as carências e necessidades de toda
ordem. A imagem narcísica e onipotente situa-se nesta onisciência
de querer tornar o outro igual a si mesmo. Para completar este ciclo
de dominação, pretende acabar com a autonomia, liberdade e
criatividade. Não pode ser estranho ou diferente ao seu controle,
imerso nesta imagem de beleza, impõe a qualquer custo a
realização de seus desejos.
O mito mostra além deste narcisismo a relevância de estar
sendo traído por esta imagem, nem sempre retrata aquilo que é,
cego para enxergar a sua essência acredita na elaboração de seu
encanto, sua consciência adverte sobre o perigo de querer bastar-se
a si mesmo, não consegue escutar a voz que surge do seu íntimo.
Envaidecido e alienado pela ideologia da perfeição, seduzido e
envolvido pela interpretação equivocada de sua fantasia, vive neste
estado de transe, sugestionado por esta imagem permanece fiel a
sua imagem narcísica.
A outra questão é: Qual seria o motivo desta moça
apaixonar-se por um narcisista? O narcisista vende uma imagem de
coragem, ousadia, determinação, segurança, felicidade, inteligência,
90
com isto consegue seduzir a sua vítima. Como amava a si mesmo e
não precisava do amor de ninguém, bastava a presença de sua
pessoa. Agora nos perguntamos: Qual é a relação de tudo isso com
a inveja? Duas realidades de interpretação, a primeira tem relação
com a negação da alegria e felicidade, a segunda seria de possuir,
ter as qualidades, capacidades que o outro tem.
Alguém pode invejar as qualidades de outra pessoa,
porém pode ter a grandeza de aprender, esta inveja motiva a
evolução pessoal, num sentido desperta o desejo de ser melhor e
mais humano. A inveja maldosa é acompanhada de perversão e
psicopatias no sentido de destruir este potencial, pois acredita que
esta pessoa não é merecedora deste sucesso, portanto na fantasia
está roubando algo precioso que é somente seu. A psicopatia do
narcisista pode chegar a viver esta dimensão invejosa, pois coloca-
se como o centro de tudo, pois reconhece-se como merecedor
deste potencial e não o outro.
Quando está eufórico, acredita que sua imagem de
perfeição, é própria de alguém muito especial, alguma divindade,
este lugar muito especial deve ser ocupado somente por algumas
pessoas merecedoras, e acredita com convicção que uma delas é a
sua pessoa. Quando alguém começa a fazer sombra para o seu
narcisismo, começa a utilizar a sua segunda arma, a violência e
agressividade. Este seu recurso é negação do desenvolvimento, o
repúdio da solidariedade, e por isto mesmo que no final do mito de
narciso, acaba morrendo, porque sem consciência foi atraído pela
sua imagem.
Esta é a grande surpresa, morre afogado pelo
endeusamento de sua onipotência, a inveja possui estes dois
atributos, violência psicológica, física, e o aprisionamento de uma
paixão louca pela própria imagem. Esta é uma história de amor e
acaba em morte por causa do narcisismo. Toda criança está
envolvida pela avaliação dos seus pais, este seu ego se envaidece
diante de tantos elogios, os únicos a perturbar esta imagem
idealizada de si mesmo são seus amigos, colegas e pessoas mais
próximas, e por isto mesmo, surge o conflito e a insegurança.
91
A imagem ideal permanece intocável, mas o conflito com o
social leva a pensar sobre as fraquezas, ao encontrar-se diante da
imagem desvalorizada, reconhece-se como uma pessoa limitada. A
consciência participa deste diálogo quando recebe ajuda do
superego, mas a existência conseguiu que esta história viesse a
público. Este símbolo reproduz a imagem social de uma cultura
envolvida pela emoção de inveja. Na esquizofrenia aparece também
o amor narcísico por determinadas imagens, esta relação de
reciprocidade e amorosidade pode causar algum tipo de ciúme.
A imagem deslocava para a emoção o significado deste
símbolo, possuir, tomar posse, dominar, subjugar, pressionar pela
submissão. Além de querer tomar posse de alguém, também deseja
viver este amor, a inveja muitas vezes nutre o ciúme de uma pessoa
narcísica. O processo de internalização deste narcisismo não
depende da vontade, ao viver a emoção de inveja ou ciúme
envolve-se na trama da instabilidade, vulnerabilidade, fragilidade
emocional. Quando consegue reconhecer esta realidade é possível
buscar outras formas de preencher seu vazio existencial.
A contradição internaliza, cria estas imagens, e depois se
faz de vítima e nega veemente sua relação simbiótica. Estas defesas
narcísicas escondem a insegurança, não consegue ou não quer
enxergar a imagem real, prefere viver em comunhão com aquelas
que sustentam o narcisismo. Aos poucos a existência encaminha
confrontos e desafios capazes de levá-los ao reconhecimento deste
“falso-self”, ao descobrir seu estado de insignificância, ainda
persistem na crença de superioridade e onipotência.
Ao tomar consciência das emoções, é capaz de enxergar
em si mesmo a sua humanidade, porque todas as complexas e
inusitadas emoções são capazes de perpetuar a insegurança, outras,
medo e aversão, amor e ódio, alegria e felicidade, levando o ser
humano a viver em comunhão fraterna nas relações. Estas emoções
pertencem ao mundo das relações sociais, das instituições e nas
sociedades, mas o ciúme pode comprometer relações maduras e
prazerosas.
92
O superego representa a cultura dominante, crenças
baseadas na religiosidade, nos costumes, quase ninguém está
consciente desta realidade, porque o ciumento generaliza todas as
relações baseadas nos conflitos. Na prática está atento a cada gesto
de seus inimigos, pois todo lugar é um espaço para viver o drama
dos ciúmes. Pois qualquer situação é o bastante para desencadear
uma cena de ciúmes, aquelas pessoas possuem alegria, saúde,
dinheiro, sucesso, tudo aquilo que precisa ser conquistado.
Este ciúme doentio é transferido de uma pessoa para
outra, estas carências produzem a fantasia, em alguns casos a
patologia se torna grave. Esta imagem distorcida de si mesmo pode
estar vinculada a um lugar especial na vida de alguém. Qualidades,
inteligência, comunicação, amizades, podem estar sendo deslocadas
e vivenciadas como uma emoção ciumenta. Querer o potencial de
alguém, é apropriar-se de sua condição produtiva, às vezes isto
torna-se insuportável, conviver com o ciúme, a inveja, a ingratidão,
o desmerecimento, a perseguição, a destruição, tem como
finalidade fazer desaparecer esta imagem, este estereótipo é
representante do desejo frustrado.
Simbolicamente o ciúme procura viver a emoção de
alguém, sua insegurança é capaz de convencer de que está sendo
explorado, enganado, traído, e com certeza perdendo a pessoa
amada. O ciumento precisa preencher o vazio da carência afetiva, e
na fantasia, rouba, ou procura ter as qualidades e capacidades que
alguém possui. Encontra-se em perda terrível, a mente está focada
na imagem de um sujeito que pode dar tudo para acabar com a falta
de amor.
O narcisismo esconde a naturalidade de perder o amor de
alguém, reprime e nega a decepção, age com naturalidade, mas
sabe que inveja persegue o seu desejo de posse. A carência de
amor é encoberta pelo narcisismo, o amor é esta essência
insubstituível, necessária, urgente na vida de cada ser humano.
Todos devem fazer este percurso pela existência, consciente ou
inconsciente procuram esta grande descoberta, viver o verdadeiro
amor.
93
O amor é a lucidez do espírito, esta emoção é o remédio
que conduz à saúde, esta energia mantém o fogo da esperança
acesso, usar com inteligência esta sabedoria a favor da qualidade de
vida. O ciúme mostra alguém debilitado pela falta de amor, existe a
dificuldade de viver a relação de alteridade, respeito, intimidade,
porque o ciúme traz à tona o sofrimento. Inclusive a cultura pode
cooperar com este tipo de dor, quando convence suas vítimas a
viverem de falsas crenças. A qualidade de potencialidades do ser
humano funciona como o disparador do ciúme, esta provocação aos
sentidos funciona como uma transformação na orientação do
desejo de amar.
Muitos afirmam que é necessário o ciúme para que exista
o amor, isto é o mesmo que afirmar a importância da febre para
mostrar a existência de uma inflamação no organismo da pessoa. O
amor fraterno encontra-se na relação entre pais e filhos, a
experiência em família proporciona a experiência de amar e de ser
amado. Todos precisam saber que são amados, reconhecer-se nesta
condição é conhecer o amor. Existem ambientes que não
proporcionam a segurança emocional, a ternura, a valorização, o
afeto, estas cicatrizes encontram-se arraigadas nas profundezas do
inconsciente, o recalque aconteceu como uma nova chance para
refazer a ideia do amor.
O amor pode ampliar-se ou desaparecer completamente,
esta situação pode ser explicada quando alguém tem vergonha de
receber afeto e carinho, quem recebe enxerga como uma emoção
que empobrece sua virilidade, portanto deve afastar-se e negar
estes beijos e abraços. Outro tipo de amor dos adultos em relação
as crianças depende das condições e dos pactos para receber este
elogio. Este amor impõe certas exigências, como atitude, respeito,
fazer as tarefas da escola, alimentação, na verdade o adulto gostaria
de receber este amor da criança.
Muitas vezes as crianças escolhem pessoas para receber o
afeto, elogio, reconhecimento e valorização pelas suas descobertas.
Crianças podem deixar os pais felizes ou infelizes, e sem dúvida todo
o processo de formação do caráter vai depender da aprovação dos
94
educadores. Quando encontra-se diante de um desafio pode
recorrer ao adulto para receber as orientações de como resolver
aquele problema. Mas os pais sabem que não podem dar tudo de
graça, devem estimular a procura, a autonomia, a coragem, a
persistência, a perseverança, qualidades indispensáveis para o seu
sucesso na vida.
A criança sabe que sua felicidade é a realização de seus
pais, e todas conseguem retribuir em ações aquela confiança, nem
sempre a vida é um mar de rosas, existem espinhos, fracassos,
decepções, traições, sofrimentos, rejeições, mas a segurança
emocional consegue suportar e devolver com astúcia e inteligência
uma resposta a altura do conflito. O risco de não dar certo acontece
quando alguém sente-se inseguro, com medo, ansioso, estas e
outras experiências fazem parte do conteúdo emocional das
crianças. Mas a vida ensina novas aprendizagens, estas vivências
podem ser mais bem avaliadas, desenvolvidas, por outras de melhor
solução para a vida. Mas tudo isto depende do grau de autonomia
para gerir a própria existência, dependência é sinônimo de
simbiose, atrelar-se aos pactos para resolver a vida dos outros e não
a sua.
Existe o amor universal a todos os seres humanos, este
amor transcende o amor erótico ou de estar vinculado a uma
pessoa, mesmo assim, este tipo de amor procura a valorização e
reconhecimento, para prová-lo é preciso desenvolver todo o seu
potencial humano. Os valores sociais e culturais colocam a doação
deste amor a uma retribuição da sociedade, para conquistar o
respeito, a admiração, é necessário mostrar efetivamente na
prática.
Existe a diferença entre o desejo sexual e o amor, às vezes
confundem-se ao longo da convivência, mas o amor deve ser
colocado à prova do desejo de estar com o outro, de participar de
sua vida, enfim um amor seguro de si pode dispensar o desejo
sexual. Além de ser grandes amigos são capazes de conviver com as
limitações e dificuldades emocionais, o amor ensina a aceitação
95
incondicional, aceitar-se e viver em paz com o real e não com o
ideal.
Com desejo ou sem desejo, o amor pode acontecer e
descansar nos braços de alguém, inversamente, existe o desejo,
mas o amor não existe, então devemos estar preparados para o
encontro com a angústia, depressão, insônia, desespero. Se
pararmos para pensar este desejo é a causa do ciúme, ambição,
dominação, são os pilares do ciúme doentio. A condição mais
importante nas relações humanas é a capacidade de refazer novas
amizades, pactos, alianças, enfim conquistar a confiança e o
respeito das pessoas com quem convivemos.
Todos podem superar qualquer adversidade, a capacidade
de voltar a viver o amor mesmo depois de experimentar o ódio e a
fúria. O ciúme é capaz de envolver-se com outros tipos de
sentimentos, na essência desta energia psíquica encontra-se a
carência afetiva, de reconhecimento e valorização. O ciúme aparece
nas relações humanas, entre o professor e aluno, o chefe e seu
subordinado, o pai e seu filho, estas e outras formas de ciúme
podem ampliar ou impedir a continuidade do enlace afetivo.
A confiança pode recuperar uma antiga relação, quando se
trata de pais e filhos existe a experiência verdadeira de amor e
doação. Este vínculo termina quando não somos confiáveis, ao
perder a confiança no outro, afastamo-nos do seu amor. O ciúme
muitas vezes é a causa do rompimento, esta teoria pode ser
confirmada pelo psicanalista Alfred Adler, ele demonstra a posição
de cada irmão na estrutura hierárquica da família e o processo de
competição e ciúme pelo afeto dos pais.
Todos devem ter uma noção sobre o significado da perda
de afeto. Quando atenção e carinho não existem mais, mostra a
existência de uma compulsão à repetição de fatos do passado
reeditados sobre um novo enfoque. Para tornar-se autônomo e
independente exige o afastamento gradativo da dependência dos
pais, conseguir livrar-se do incesto, cortar o cordão umbilical, o
desmame, enfim, várias experiências de perdas que levam ao
desenvolvimento de outros potenciais.
96
Às vezes a criança sente ciúme da mãe, a mãe tem ciúme
de sua relação com o pai, o pai da criança com a sogra, são várias as
formas de viver o ciúme. Indiretamente o amor está presente em
meio a este ciúme. Estas emoções são produtos da evolução
humana, a cultura nos ensina como lidar com estas situações
ambivalentes. Todas as emoções possuem um valor, para entendê-
las é preciso simplicidade e reconhecer que não somos o único
objeto de amor daquelas pessoas que admiramos e amamos.
Esta flexibilidade de saber dividir e reconhecer que o outro
também tem direito de partilhar deste amor é uma condição básica
de humanidade. O ciúme proporciona a disputa, competição, pela
atenção, amor, carinho de alguém, indiretamente está lidando com
o desejo de ser amado pelo outro, esta relação transpessoal nos
eleva à condição de humanidade, quando somos capazes de
reconhecer e valorizar o desejo de amar. Independente das
experiências de afeto e amor da infância, cada pessoa pode
ressignificar as suas emoções do futuro, com o sincero desejo de
não repetir por compulsão experiências de sofrimento e dor.
O amor entre pais e filhos é diferente dos amantes, o
ciúme também possui sua essência, a ausência deste afeto é muito
comum nas relações, como a presença da desconfiança, justamente
porque todo começo tem um fim, são estes pactos que fomentam a
continuidade ou a ruptura de uma relação. A afirmação desta
relação depende dos valores e vivências da ética, capaz de manter
acessa a chama do amor. Todos querem saber qual é o segredo de
viver o amor por tanto tempo juntos? O amor é uma emoção,
precisa de uma conquista diária, como não existe perfeição,
devemos sustentar a relação como se fosse o último dia de sua
existência.
Ao aceitarmos as limitações, estamos prestando um ato de
amor, todas as cobranças e exigências fomentam a mágoa e o
afastamento gradativo do amor. O ciúme além de reivindicar a
necessidade de amor, também deve elaborar as perdas, esta
humanidade pertence a todos, muitos entendem que é possível
numa relação, existir a intimidade sem implicar num compromisso.
97
Mas quando o ciúme aparece, indica que alguém está querendo
firmar uma relação com compromisso. O ciúme pode nos dizer que
também gostamos daquela pessoa, todos procuram a lealdade, a
sinceridade, a segurança.
O problema dos amantes, aquela pessoa que existe na
vida do casal, a traição pode ser real, fantasiosa, ficção. Nesta
situação o “amante” pode ser admirado e respeitado, ou ser motivo
de vergonha e ódio. Quando inicia uma nova relação iniciam os
dramas, precisam conviver com a nova sogra, genros, amigos,
cunhados, etc. Esta nova ocasião exige a convivência com outros
fantasmas, ilusões, para tentar refazer e reconstruir o passado de
maneira diferente.
O ciúme pode ser a ponte do “iceberg”, o rompimento de
um caso amoroso pode ser uma destas tentativas de solucionar o
problema. O desejo nem sempre pode preencher todas as faltas
imaginativas, e muitas vezes não é fácil escutar as queixas e
reclamações. Este tipo de ciúme não impede de dialogar ou
compartilhar, existe uma capacidade de ambos superarem as
experiências do passado e não prejudicar a formação emocional de
seus filhos.
O ciúme como emoção não pode ser patológico, aqueles
que não conseguem vivê-lo é um problema, esta inibição dos afetos
pode ser considerado o “phatos”. O ciúme encontra um lugar na
patologia quando não consegue viver a dimensão do amor, a
necessidade pode desencadear traços obsessivos e compulsivos
para forçar a convivência numa relação. O ciúme normal é um
indicativo que existe uma apreciação pelo seu amor, esta emoção
leva ao reconhecimento e valorização, pode despertar o desejo de
generosidade, ternura, compreensão, paciência, como um traço
importante de sua humanidade.
É importante saber quando o ciúme é patológico. Existem
estas duas condições, experiência em si mesmo ou conviver com o
ciúme da outra pessoa. Todos sabem que existe um nível de
convivência com atitudes ciumentas, o problema é o exagero,
quando alguém começa a delirar, fantasiar, inventar, então está
98
diante de uma neurose. O ciúme é este exagero projetado no seu
luto, a perda quando não é aceita pode evoluir para uma
alucinação.
Podemos explicar esta projeção quando a pessoa não
confia em si mesmo, é desconfiado, este temor da infidelidade são
os desejos vividos pela própria pessoa. Quem possui esta emoção
de ciúme costuma negá-la, nunca vai admitir que é ciumento, mas a
repressão desta emoção aparece nos delírios e fantasias de traição.
São conhecidíssimos os casos de maridos infiéis que investigam,
desconfiam, vigiam, controlam a companheira. Ou daquele pai que
na sua juventude aprontou, conquistou, namorou, uma centena de
garotas e agora se torna uma pessoa compulsiva no controle dos
telefonemas e saídas de sua filha adolescente. Estas projeções são
oriundas de uma vida afetiva e sexual mal resolvida, em alguns
casos podem chegar à violência e agressão física.
Tudo aquilo que pensa sobre a outra pessoa, vive em seu
íntimo, este estado de alucinação são os prejuízos de uma mente
doentia, de uma certeza absoluta sobre a traição, seu discurso
sempre aponta provas concretas e um amante fabricado pela sua
mente. Neste estado de alteração da percepção da realidade o
ciumento começa suas investidas de punir o traidor e aos poucos
começa a ser indiferente, distante, frio e calado.
A alucinação traz consigo uma história de abuso
emocional, físico e sexual, esta raiva tende a ser projetada como
forma de punir o agressor. A vítima acaba sendo as pessoas que
vivem mais próximas. Existem algumas estratégias de punição ao
seu traidor, humilhação, pressão, medo, obrigação, culpa, com o
desejo de obter a sua confirmação. O ciúme doentio utiliza o
recurso da perseguição, vivendo momentos de amor e outros de
ódio, esta desintegração tem sua origem no ódio que tem contra si
mesmo, por encontrar-se impedido de amar.
Os sentimentos de culpa sempre exigem punição, o
ciumento é sempre vítima das traições, nas queixas diz que é
azarado, não tem sorte, é explorado, enganado, este sofrimento
esconde o desejo de punição. No discurso nunca se esquece de
99
acusar, comparar e julgar aqueles que estão traindo a sua confiança,
e depois afirma com toda convicção que está sendo vítima de uma
grande conspiração, por isto mesmo não consegue confiar em
ninguém. A neurose benigna apresenta-se como um ciúme
projetado entorna da raiva e do ódio.
O ciúme é uma emoção que retrata as qualidades estéticas
ou de valores de caráter que alguém gostaria de ter e não possui. A
teoria na psicanálise humanista do ciúme procura entender e
compreender a origem e, além disso, a interpretação daquela cena
que sintetiza a compreensão daquela traição. A etiologia do ciúme
envolve o medo de saber sobre as traições, e desenvolver uma
estratégia para assegurar a sua verdade sobre a desconfiança, tudo
com o desejo de controlar as ideias obsessivas desta emoção. O
ciumento sempre está pensando através de uma fantasia, este
medo de perder, sustenta o seu medo de amar, está fugindo de
uma futura decepção, algo impossível de controlar.
Este estado de tensão e tristeza pode levá-lo ao
esgotamento de suas forças psíquicas, na fantasia recria a realidade
com detalhes da traição, este consumo de energia psíquica aumenta
com o tempo e seu fantasma tende a afundá-lo numa esquizofrenia.
Esta estranha emoção esgota a paciência, o ambiente é cheio de
desconfiança, a pessoa vive a insuficiência de seu potencial, ao não
conseguir lidar com o desejo de amar, procura na compulsão
doentia controle e vigilância de seu objeto de amor, infelizmente é
trágico o fim desta história, troca-se de companheiro, mas o
problema permanece sempre o mesmo.
100
2.2- Compreender a manifestação da raiva.
105
A reflexão ajuda qualquer pessoa a conviver e diferenciar
uma emoção da outra. A diferença entre o sentimento e a emoção
aparece quando existe uma sensação de mal-estar, indignação e
indiferença, enquanto a vivência da frustração amplia sua
intensidade até uma reação violenta. A repressão das emoções
pode tornar-se inerte e pode ser deslocada para algum tipo de
sintoma psicossomático.
O cérebro possui a capacidade de reconhecer e identificar
o tipo de emoção ou um simples sentimento, este desempenho da
energia psíquica vem acompanhado de um tipo de confrontação,
esclarecimento e interpretação daquela vivência específica. Diante
das correntes teóricas atuais, a comportamentalista defende a
presença do estímulo, resposta e reforço. O cognitivismo defende a
ideia de que uma crença, a Gestalt defende a presença da
totalidade de um sistema e a soma de todas as partes. A psicanalise
humanista acredita que no inconsciente existem estas forças
positivas, conhecidas como emoções, entende-se uma potencia de
energia psíquica a serviço da evolução da consciência.
Na teoria psicanalítica a energia emocional precisa de um
caminho para ser liberada, esta expressão da energia emocional
esta a serviço da integração sistemática, o nível de consciência
sobre o movimento da energia psíquica pode realçar ou esconder
algum tipo de emoção. Esta complexa relação das emoções com as
reações fisiológicas, com sensações agradáveis ou desagradáveis,
podem liberar substâncias químicas indispensáveis para o bem estar
e o controle do humor.
Ainda podemos comentar sobre as emoções inatas e as
aprendidas, e no pensamento da psicanálise humanista, estas
emoções estão envolvidas pela interferência da cultura, educação,
momento histórico e político. As emoções são uma energia
semovente que tem como objetivo alcançar objetivos ou satisfazer-
se, estas duas realidades da práxis dialética entre a sua tese,
antítese e síntese nos mostram o caráter transformador da emoção.
A raiva é uma das emoções que junto com a agressão
podem desencadear um surto de violência. O medo, coragem,
106
tristeza, alegria, estão presentes no sistema límbico primitivo do
homem. Dependendo do conflito, a raiva pode transformar-se em
fúria e agressão física, esta atitude violenta começa com o ódio e
termina numa agressão. A raiva aparece quando alguém
experimenta a frustração, ou sente-se injustiçada, perseguida,
caluniada. Os motivos são os mais diversos que podem desencadear
este estado de irracionalidade e ferocidade animal.
A raiva pode encontrar-se recalcada por uma experiência
de abandono ou rejeição, aquelas imagens estão impregnadas de
emoção, mas como se sente culpado, ou inferiorizado, reprime e
esconde a raiva daquela pessoa que ama. Esta pessoa não tem
consciência desta emoção que traz à consciência num estado de
alteração fisiológica, quando encontra-se na presença desta pessoa.
Mas a imagem daquela pessoa do seu relacionamento faz com que
a memória reacenda na sua consciência a sensação de mal estar e
medo.
Mesmo assim, a raiva é uma emoção importante porque é
uma forma de defesa contra as formas de injustiça. Qualquer
pessoa diante de um conflito de relacionamento, precisa tomar uma
decisão, enfrentar ou bater em retirada, neste caso mesmo contra
sua vontade precisa reprimir a raiva. As experiências nos mostram
que o controle é saudável, dependendo do ambiente e as pessoas
que provocam este estado emocional de raiva, esta vivência pode
tornar-se com o tempo um trauma.
O que podemos perceber é que a raiva está muito próxima
da agressividade, talvez se regulássemos a expressão ou não destas
pulsões a violência poderia diminuir no meio social. Por isto não
temos como descrever um tipo de raiva, este estado de indignação
e revolta aparece quando a vítima experimenta a violência
psicológica, física, ou sexual. Cada pessoa retrata no discurso uma
história cheia de simbolismo, como existem outras emoções muito
parecidas, como no caso, o medo, a alegria, a tristeza. Agora o
controle da raiva depende daquele momento de violência, agressão,
que alguém está sofrendo, e neste caso quando a pessoa encontra-
107
se em desvantagem diante de seu oponente, precisa reprimir a raiva
para garantir a sobrevivência.
Podemos dizer que alguém conseguiu sobreviver a um
ataque inesperado de um ladrão, porém diante de uma arma,
qualquer pessoa fica paralisada, o desespero, o medo, a
vulnerabilidade, são experiências mais fortes daquele momento.
Porque se trata de sobreviver e qualquer um se submete as ordens
do bandido para sair com vida. Estas situações limite permitem ao
predador ofender, agredir, menosprezar, desqualificar, roubar a sua
vítima, e a mesma, sentindo ódio, raiva, vergonha, se sujeita a ouvir
tudo passivamente e não reagir, para garantir a sobrevivência.
Os efeitos traumáticos desta experiência são notáveis e
somente depois de algum tempo aparece o choro, os socos e
pontapés na parede, como um meio de expressar a raiva. Quem
sofreu este tipo de violência suporta as sequelas pelo resto da vida,
estas marcas são a expressão da desumanidade, que em muitos
casos torna-se destrutiva, um prazer sádico em agredir e alegrar-se
com o sofrimento do outro.
Hoje, mais do que nunca torna-se fundamental saber
expressar a raiva, todos têm interesse em saber como lidar com
estas emoções, no sentido de prevenir-se ou saber controlar-se
quando a provocação aparece. A etimologia da palavra raiva é
muito parecida com a cólera, fúria, rancor, ressentimento, vingança.
A formação do caráter de uma pessoa carrega este estigma de ser
uma pessoa raivosa, vingativa, rancorosa, esta interpretação social
está ancorada no tipo de cultura que a pessoa está envolvida.
A raiva pode ser encontra na expressão da face dos
mamíferos, quando a raiva é reconhecida por um dos seus
oponentes, restam somente duas alternativas, enfrentar ou fugir
daquele confronto. Mas a expressão de raiva no rosto é uma
linguagem não verbal, é um sinal, uma simbologia conhecida e de
fácil reconhecimento. Além disso, a postura do corpo é importante
como uma preparação para receber o ataque do inimigo; muitos
utilizam o tom de voz, grunhidos, gemidos, sons, para amedrontar e
aquele que pretende enfrentá-lo.
108
As emoções estão em comunicação com toda a
complexidade do sistema nervoso central, para reconhecer estas
reações de raiva e agressão podemos observar através do
mapeamento de imagens por ressonância magnética funcional, mas
a intensidade e a interpretação do conteúdo simbólico das imagens
estão muito além da compreensão da neurociência. Cada situação
existencial aciona determinados centros do cérebro para examinar
aquela emoção, mas todos têm consciência de que toda e qualquer
vivência emocional é transformada em imagens e ficam registradas
no cérebro.
O cérebro reptiliano está localizado no sistema límbico,
este talvez seja o centro das emoções mais primitivas e arcaicas da
história de evolução humana. Todos os centros que estão
diretamente relacionados com as memórias de curto, médio e longo
prazo, como o hipotálamo, amigdala, cerebelo, hipocampo,
hipófise, interagem na regulação e no processo da energia
emocional porque estão diretamente ligados à estrutura
neurofisiológica.
O organismo necessita dos hormônios para disparar uma
reação fisiológica sobre diversos sistemas, seu objetivo é preparar a
pessoa para avaliar e dar uma resposta aquela situação que está
vivenciando. As emoções participam desta reação porque estão em
contato com os pensamentos e a satisfação dos desejos do
organismo, estes hormônios proporcionam um estado de prazer e
bem estar, de forma indireta e inconsciente o sistema endócrino
pode ajudar a aumentar a pressão sanguínea, equilibrar a
homeostase, disparar as batidas do coração, e toda esta
complexidade depende de como a pessoa interage com as vivências
sociais e culturais.
Todas as emoções estão indiretamente ligadas por vários
tipos de experiências, a amigada tem a função de reconhecer o tipo
de emoção específica, quando identifica a raiva por estar numa
situação de frustração ou de agressão, surge ao mesmo tempo a
emoção do medo, esta decisão surge para proteger e fazer com que
a pessoa tome uma decisão. Estas duas emoções quase sempre
109
encontram-se juntas, enquanto a emoção do medo indica o desejo
de abandonar e fugir, a raiva procura com a sua linguagem intimidar
e colocar medo no oponente.
A raiva e o medo são duas emoções que estão sempre
juntas naquelas situações que precisam de uma solução de
enfrentamento ou de fuga. Da mesma forma a ambivalência tão
comentada por Freud em relação ao amor e ódio, aparece aqui esta
metamorfose capaz de mudar instantaneamente de uma emoção à
outra. O sexo é muito mais uma pulsão do que emoção, este desejo
obedece às leis fisiológicas.
A agressão é considera muito mais uma pulsão arcaica e
primitiva de violência, bastante diferente de uma emoção, quando
alguém está agredindo ou defendendo-se de um ato de agressão,
vive naquele momento a pulsão do instinto de sobrevivência, por
isto mesmo está muito próxima da pulsão. Agora sem dúvida que
dependendo da situação de uma vivência em relação à sexualidade,
pode estar presente uma atitude de raiva que desencadeia uma
agressão violenta cheia de sadismo.
Numa experiência emocional em relação a um drama
existencial, pode encontrar-se presente naquele momento paixão,
amor, ódio, raiva e violência. Numa reação fisiológica do prazer
sexual pode encontrar-se uma força incontrolável de ser violenta,
esta prática sádica destrutiva pode estar no plano da fantasia, ou
vivenciada como delírio. Este é o tema do Prazer na Dor. Quando
este desejo não é realizado ou satisfeito, por diversas razões, surge
então o ato compulsivo de raiva e aos poucos se transforma em
ódio.
Numa relação sexual saudável existe a satisfação plena
através do orgasmo, e necessariamente não precisa de agressão e
violência transferida para o seu objeto de prazer, quando existe esta
fantasia podemos identificar algum tipo de raiva que precisa de uma
vítima para saciar a sede de vingança. A raiva então é transferida
para um gozo sádico, onde a agressão e a violência fazem parte do
“phatos”. Este tipo de desejo sádico possui a intenção de fazer o
outro sofrer, causar dor e humilhar o dito “amor”.
110
Quais as emoções que uma determinada cultura permite
expressar? Ao homem se espera força, coragem, determinação,
enquanto as mulheres devem ser submissas, dóceis e emotivas.
Constatamos que não existe algo inato e pré-determinado ou
mesmo hereditário, os modos de expressão dos sentimentos e
emoções dependem muito do que é permitido sentir emocionar-se.
A cultura e a educação ensinam os homens a serem machistas e as
mulheres submissas, por exemplo, não é permitido a uma mulher,
força, coragem, expressar raiva e ódio, pois todas as pessoas de sua
convivência tendem a criticá-la, porque esta é uma atitude
masculina e não feminina.
Esta atitude feminina e abominada e rejeitada nas
sociedades ditas patriarcais, ou seja, o lugar para a mulher
expressar as emoções está pré-determinado, seu espaço para fazer
a catarse é no ambiente familiar, enquanto ao homem é no mundo
dos negócios e no campo da política. Assim cada um tenta elaborar
este tipo de educação, que permite a uns a repressão, e a outros a
expressão. Indiretamente existe um forte interesse deste tipo de
cultura em manter no campo social, o medo nas mulheres, pois se
desobedecerem as regras podem sofrer injustiças e perseguições,
calúnias, difamações, enfim é um jogo de interesses da casta
masculina.
Nossa cultura impõe este tipo de dominação ao mundo
feminino, e no decorrer de nossa história, podemos vislumbrar um
mar de dor e sofrimento, expresso pelas lágrimas, mas esta emoção
não é de tristeza e depressão, e sim de raiva e ódio pelo espaço que
lhe é negado. Muitas destas mulheres quando não conseguem se
adaptar a este mundo patriarcal, recorrem como válvula de escape
aos sintomas histéricos e doenças psicossomáticas.
Estas suas lágrimas expressam a insatisfação desta sua
emoção raivosa e sentindo injustiçada, acaba sofrendo dores no
corpo, então não temos nenhuma dúvida sobre a força da cultura e
educação sobre as normas, regras, doutrinas, dogmas, relacionados
à expressão das emoções. Esta emoção interessa ao estudo da
psicanálise porque na sociedade cibernética e autômata a raiva é
111
uma experiência diária, e muitos encontram-se inconscientes dos
efeitos no organismo, ou quando expressada de maneira
equivocada pode trazer sérios prejuízos aos relacionamentos.
A violência que assistimos através dos meios de
comunicação, como rádio, TV e na imprensa escrita, enfatiza o
homicídio, o assalto, as mortes por latrocínio, mas esquecem de
averiguar a vida deste sujeito, suas condições de sobrevivência, a
educação, moradia, emprego, valores éticos, e impõe ao aparato
repressor da sociedade, um controle sobre a manifestação da raiva
e ódio sendo transferidos para os cidadãos que não tem a mínima
chance de defesa, a policia faz o que pode, contorna as brigas
familiares, ameniza as discussões no trânsito, sem saber o que fazer
atende os crimes hediondos.
Mas não há a mínima consciência que por detrás destas
atitudes encontram-se emoções de raiva que estavam adormecidas,
e agora projetaram-se em forma de violência e agressão, esta
situação pode ser constatada quando entra em cena o ciúme,
inveja, ganância, poder, etc. Na educação os jovens saem da escola
com uma enorme carga de frustração e raiva, constatamos os
enfrentamentos violentos contra os professores, as ameaças com
facas, armas.
Infelizmente acompanhamos os efeitos destas emoções
transferidas para pessoas inocentes, foram vários os momentos de
aflição e desespero, quando um ex-aluno entra numa escola e mata
nove jovens e deixa sequelas em mais dez. Como a educação pode
produzir tamanha fúria na vida destes alunos? Não podemos fazer
de conta que não existem situações na sala de aula de humilhação,
desprezo, rejeição, desqualificação, perseguição, este tipo de
experiência produz a raiva, depois desta prática dentro do ambiente
escolar.
Alguns acreditam que devem fazer seu acerto de conta, as
armas servem para este propósito, matar pessoas inocentes, sem
chance de defesa, tudo para resolver aquela mágoa, ressentimento,
ou raiva que estava latente e agora acaba de ser manifesta. Os
educadores devem procurar as causas deste tipo de violência, este
112
tipo de situação deve ser contemplada com uma ampla discussão
sobre as origens deste tipo de crime violento. Todos deveriam saber
que a raiva é um produto social e cultural. E as atitudes dos alunos
são reflexos de uma sociedade que não cuida dos jovens,
abandonados a mercê da sorte.
No meu livro a “Pulsão de morte” procuro descrever
porque esta emoção pode tornar-se destrutiva, ninguém pode
desmerecer o fenômeno das “emoções” dentro do contexto escolar,
hoje mais do que nunca acompanhamos o desvirtuamento e o
deslocamento desta energia emocional para uma finalidade de
morte e destruição. Estes alunos perdem o senso de realidade, não
conseguem ou não sabem lidar com as emoções, e todos sabem os
prejuízos quando alguém encontra-se sobre um forte impacto
emocional.
A emoção da raiva pode ser utilizada de várias maneiras,
dependendo da situação, a pessoa que está envolvida no conflito,
pode tirar vantagem desta situação, porque a mobilização de outra
emoção como a coragem e a compaixão, pode oferecer o tempo
necessário para avaliar o conflito, e depois da tempestade ou do
surto emocional, na mais absoluta calma e prudência, saber usar
desta ternura para lidar com a raiva dos outros. Para chegar neste
nível de consciência, precisa de um longo caminho de estudo, de
análise, de consciência, e, sobretudo de humanidade para fazer
frente às emoções destrutivas.
Existem diversos tipos de raiva, contra os baixos salários,
raiva contra o governo, raiva contra os colegas, raiva contra a
família, raiva contra o marido, raiva dirigida aos filhos por serem
desobedientes, enfim todo este estado de frustração é uma
realidade, porém a emoção de raiva precisa ser deslocada
concretamente contra uma pessoa ou instituição. Quando realiza
seu desejo de fazer a catarse da raiva, sente-se mais aliviado,
acredita que está fazendo justiça, e outros esperam que Deus
realize no seu lugar esta manifestação.
Ninguém pode negar que esta catarse emocional diminui o
medo e minimiza a frustração, mas não resolve as questões
113
profundas da existência. Às vezes uma pessoa não tem nada a ver
com o problema, acaba indiretamente pagando o preço, ou sendo
alvo da projeção da raiva do colega. Imagine uma pessoa que
encontra-se neste estado de inconsciência, realizando estes tipos de
atitudes, também sofre perseguições, preconceitos, e violências de
toda ordem. Este é um caminho equivocado, a solução para resolver
as questões do mundo das emoções passa necessariamente pela
tomada de consciência sobre o movimento da energia emocional na
existência.
A psicanálise como ciência deveria começar a estudar os
modos e as estratégias de como a raiva poderia tornar-se algo
produtivo e saudável na vida das pessoas. A sensação de sentir-se
com raiva é o mesmo que estar sendo agredido, ninguém pode
tornar-se um masoquista, ou um monge budista, mas sabemos da
importância desta emoção para a sobrevivência psíquica e
principalmente para relacionar-se socialmente.
O ser humano não tem saída diante das emoções. Ou
aprende a elaborar e expressar seu descontentamento ou reprime e
somatiza no corpo este seu estado de sofrimento e dor. Existem
algumas atividades socialmente aceitas para expressar a raiva ou
algum tipo de agressividade, como por exemplo, judô, futebol, e
outros tipos de esportes que podem ser um meio de fazer a catarse
emocional.
O grande desafio da psicanálise foi entender este processo
da “repressão das emoções”, porque o fato de colocá-la no
esquecimento, ou fazer de conta que não está sentindo raiva, não
impede as alterações fisiológicas no organismo, como a sensação de
sudorese nas mãos, o ritmo acelerado do coração. Em alguns casos,
dependendo da intensidade da raiva pode desencadear um estado
de insônia, porque durante o dia procura pensar, refletir, sobre tudo
aquilo que sentiu e não conseguiu falar.
Como falamos anteriormente na nossa cultura as
mulheres devem aprender a reprimir as emoções, aparece
geralmente nos sonhos uma preocupação em resolver este tipo de
emoção, durante a análise é possível falar e compreender a
114
manifestação daquele tipo de sintoma, cada pessoa defende-se
como pode de um tipo de agressão verbal ou física.
A reação a uma provocação é inevitável, diante daquela
experiência podemos observar o nível de controle emocional
daquela pessoa, quando alguém não consegue reagir às
provocações, e não sabe defender-se das agressões, significa que a
insegurança tomou conta da vida desta pessoa. A patologia pode
estar escondida sobre esta atitude masoquista e submissa, o medo
da figura de autoridade impede de manifestar seu estado de
indignação e revolta.
Os casos patológicos em relação a agressividade estão
relacionados às piadinhas, ironias, onde o grupo se diverte a custa
da reação de raiva daquele membro, este tipo de atitude reforça no
grupo o poder sádico de alegrar-se com o sofrimento do mais fraco.
Este é um tipo de violência emocional muito velada, mas presente
nas relações sociais, e justamente escolhem aquele com menos
poder de reação, este é o famoso bode expiatório, o bobo da corte,
esta sim é uma violência comum que produz muita raiva naquela
pessoa incapaz de defender-se.
Sem falar nos apelidos e nas brincadeiras de violência
física, para desqualificar e humilhar o colega. Nestes grupos inicia-se
um aprendizado sádico de cultivar este tipo de prazer no sofrimento
alheio. Sem nenhum tipo de culpa, acham que é normal agredir e
desqualificar esta pessoa sem nenhuma condição de defesa.
Desenvolve um potencial para agredir sem motivo, sente-se com
poder e vantagem sobre aquela pobre vítima.
Neste caso, vimos a importância de saber defender-se das
agressões dos grupos, a raiva se torna benéfica quando impõe
respeito aos seus direitos, principalmente quando aprende a lidar
com pessoas brutas e doentes. Nenhum dos pais pode culpar ou
criticar um filho, quando este fez o seu dever, diante das
provocações, teve que dar uma resposta à altura ao seu oponente.
Por isto é muito importante acompanhar o estado emocional dos
seus filhos, somatizações, a solidão, a falta de amigos, não querer ir
a escola, etc.
115
Quem vive com raiva desperdiça suas energias,
normalmente acabam num estado de esgotamento físico e
emocional, portanto é fundamental saber canalizar esta emoção
para um fim mais produtivo, ninguém tem o direito de ficar se
autoflagelando entorno de uma emoção. Uma pessoa que sabe
direcionar e controlar esta emoção, pode utilizá-la numa
competição leal e produtiva. Esta talvez seja a resposta mais
inteligente diante de qualquer tipo de provocação. As instituições
deveriam proporcionar dinâmicas de grupo, ou mesmo terapias
como um espaço para expressar e elaborar a emoção de raiva.
Quando existem pessoas que não conseguem controlar a
raiva, saem esbravejando violência, pode estar sobre um
desequilíbrio, este tipo de caráter violento pode desencadear uma
problemática de rejeição social. A emoção da raiva pode tornar-se a
origem de uma patologia agressiva e ao mesmo tempo, pode ser a
fonte de defesa e sobrevivência psíquica. A emoção pode ser
identificada como destrutiva quando estiver aliada a uma pratica de
violência e morte.
Não sei até que ponto os conselhos, punições, castigos,
podem realmente diminuir ou aumentar a raiva, o controle desta
emoção sempre foi um problema para os pais, educadores e
empregadores. Quando existe a falta de controle, sabemos o preço
do ataque emocional. Volto a enfatizar a importância de ações
pedagógicas e educativas, no sentido de favorecer a expressão
desta emoção, onde a pessoa encontre uma atividade, esporte, para
tornar esta energia uma fonte de estímulo para vencer na vida.
É preciso interpretar a emoção da raiva, por exemplo,
quando uma criança encontra-se insatisfeita, descontente, violenta,
pode interpretar como uma linguagem de que suas necessidades
básicas não estão sendo satisfeitas. Um adulto, ou mesmo uma
criança, podem manifestar a sua raiva, e isto é plenamente
compreensível, quando alguém está com sono, fome de afeto,
amor, de sexo, e alimentação. Poderíamos ainda pensar num
método pedagógico capaz de ensinar adultos ou crianças a lidar
com os enfrentamentos e discordâncias sobre algum fato específico.
116
Se alguém consegue realmente postergar a sua reação de
raiva, estamos diante da solução plausível, porque agora pode usar
a sua razão para entender o que está acontecendo com o outro,
esta é a grande sabedoria, não anotar no seu caderno todas as
agressões, porque indiretamente você pode estar comprando uma
briga que não é sua. Nem sempre o que o outro diz sobre um
ataque emocional de raiva possui uma verdade sobre a sua pessoa,
então é indispensável o controle emocional isto significa paciência,
tranquilidade, equilíbrio, para lidar com as situações estressantes.
As crianças devem ser educadas a expressar suas
emoções, saber ouvir sem julgar e condenar é um ato de amor para
com o ser humano, às vezes o adulto sempre compra esta briga e
assume para si mesmo este processo de culpa e punição. Nestes
casos impulsivos e de violência contra as crianças é necessário uma
ajuda de um psicanalista. As escolas e outras instituições deveriam
trabalhar as emoções da raiva em conjunto com as crianças.
Para finalizar esta reflexão sobre a emoção da raiva,
gostaria de explicitar que a psicanálise humanista tem um interesse
muito em particular em descrever a estrutura vital da emoção.
Quando a emoção da raiva se manifesta, pode tornar-se um
incômodo, sem consciência, mostra o lado mais primitivo e arcaico
do humano, por isto mesmo, precisa de consciência para saber
como lidar com esta “potência”.
A “potentia” é uma força que pode tornar-se a motivação
de uma revolução, ou aquela energia que dispara em direção aos
propósitos mais elevados da existência humana, que são difíceis e
precisam ser descobertos e conquistados. Muitos homens que
mudaram a historia da humanidade, em algum momento da vida
experimentaram humilhação, fome, miséria, injustiça, perseguição,
frustração. Pois esta mesma situação, tornou-se o motor de sua
motivação para procurá-la.
Muitos destes grandes homens souberam lidar com
extrema maestria e inteligência com as emoções, principalmente da
raiva, souberam no seu silêncio procurar os meios mais adequados
para responder a altura aquela provocação existencial. E assim,
117
compreender que não adianta a explosão raivosa, a perseguição do
inimigo, sua inteligência conseguiu entender que esta mesma raiva,
merecia uma resposta em forma de solução aos questionamentos.
Desta forma a raiva acabava sendo utilizada a favor da
transformação de dogmas, da ciência, de teorias, assim esta
emoção contribuiu para humanizar e tornar a vida dos homens
menos sofrida e mais saudável.
2.3 –Por que ficamos tristes?
121
Esta estratégia de eliminar qualquer vivência emocional é
o medo de ser humano, como não sabe lidar com as emoções, toma
uma decisão drástica, radicaliza e bloqueia toda e qualquer forma
de emoção em sua vida, eis o caminho da psicose, as
psicopatologias também seguem esta receita. Porque as pessoas
têm tanto medo de expressar as emoções? Viver as emoções é tão
ruim assim? Ao mesmo tempo todos defendem a importância de
lidar com as emoções no mundo dos negócios, nas relações afetivas,
com os amigos, ou na direção de um empreendimento, de certa
forma isto nos entristece, quando sabemos que a educação nas
universidades não valoriza e tampouco priorizam as emoções.
Quando alguém sente-se incapaz de sentir as emoções e
acredita na sua superioridade consegue esconder ou reprimir as
emoções, advém do conceito da superioridade da razão sobre as
emoções, e principalmente em ter o controle absoluto, de não
envolver-se em qualquer situação de conflito emocional. Será que
em alguns momentos esta pessoa possa vir a sentir algum tipo de
emoção por outro ser humano? No entanto quando acompanhamos
a vida dos psicopatas, estão sempre sozinhos, não conseguem amar
ninguém e tampouco deixar-se amar.
Encontrar-se nesta situação existencial é extremamente
triste, mas é bem capaz de não admitir seu estado de tristeza, pois
quem não consegue senti-la ou percebê-la no organismo ou em sua
vida, este tipo de emoção não existe. Alguém encontra-se frustrado
e sente raiva, perde uma pessoa querida e fica muito triste,
consegue passar num concurso e está repleto de alegria, e com
muito medo de enfrentar decisões. Qualquer pessoa que
experimenta uma relação proximal com as emoções negativas ou
destrutivas pode desencadear uma paralisação geral de sua vida,
justamente porque encontra-se muito triste.
Às vezes fica muito difícil discernir a intensidade deste tipo
de emoção na existência, se apenas moderada e leve, aguda ou
crônica. Alguém que vive desta forma negando a expressão de suas
emoções vai ter sérios problemas de relacionamento, sem esta
condição perde o sentido de humanidade. E sem dúvida vai ser
122
afetado por uma enorme tristeza. Quanto maior a repressão, na
mesma proporção será o ataque emocional, esta sempre foi a
doutrina filosófica do racionalismo pragmático do século XVIII, e de
certa forma este paradigma encontra-se fortemente amparado pela
racionalidade intelectual dos teóricos e cientistas.
A emoção é uma energia psíquica determinada a realizar
uma atitude, esta mesma energia é interpretada pela consciência
como sendo uma imagem, e nesta personagem encontra-se um
afeto, as emoções como raiva, medo, alegria, tristeza são
transformadas em energia emocional porque de certa forma estão
sendo afetadas pela existência real, ou por alguma sensação
interna. A emoção é dependente destes afetos, às vezes nos
colocamos em extrema dificuldade para entender a configuração da
tristeza.
Como entender a pressão que um afeto exerce sobre a
vida de uma pessoa? Esta interpretação pode ser caracterizada
como um movimento de energia que pode ser traduzida pela
consciência num determinado tipo de emoção. O valor do
autoconhecimento encontra-se baseado na capacidade de saber
observar, confrontar, esclarecer para si mesmo, sobre o
investimento desta energia emocional na sua vida.
O afeto está presente na consciência, de alguma forma
todas as emoções estão sendo afetadas e conseguem também
afetar as reações neurofisiológicas e glandulares. Os afetos
contribuem para forçar as emoções a procurar a satisfação do
desejo, por isto mesmo, a razão não consegue com as suas
racionalizações impedir a expressão autentica e verdadeira das
emoções. Elas representam para o organismo uma identidade que
representa a verdadeira humanidade do homem.
Uma emoção consegue seu objetivo convencer-nos a viver
na tristeza, portanto existe um medo de expressá-la, porque não
existe mentira ou inverdade, seu conteúdo mostra a verdade,
ninguém pode dominar ou controlar a emoção com uma finalidade
racional. O afeto consegue retratar uma intensidade de carga
emocional, esta vivência depende do ambiente cultural e social,
123
agora as fantasias, imaginações, podem estar vinculadas a um afeto,
mas estas imagens simbólicas traduzem o significado do afeto, mas
nunca será o afeto em si mesmo.
As fantasias podem distorcer o conteúdo de um afeto, mas
jamais podem tomar o seu lugar, quando nomeamos uma emoção
precisamos saber os afetos que estão implicados nesta vivência, às
vezes podemos nos equivocar sobre a interpretação de uma
emoção que elaboramos em função de um afeto. Este é o sentido
interpretativo da percepção a aquele evento específico, mas
podemos nomear a emoção, porque entendemos que aquela
pessoa foi afetada daquela forma e não de outra.
Por isto mesmo que graças ao afeto foi possível a
nomeação da emoção, por exemplo, na tristeza está subtendida que
existe algum tipo de perda, sendo assim aquela pessoa foi afetada,
esta falta contribui para desencadear aquele tipo de experiência
emocional. A tristeza carrega consigo este estereotipo de perda,
nomeia a emoção como algo negativo e improdutivo, pois esta
pessoa encontra-se em falta, aquela necessidade não foi atendida,
por isto mesmo podemos entender que a tristeza está sendo
afetada por aquele tipo de ausência.
A emoção da tristeza evidencia através dos afetos, o
distanciamento, a ruptura, a falta, a separação. Na verdade os
afetos precisam da interpretação para dar o nome à emoção, uma
pessoa pode criticar, colocar defeitos, menosprezar alguém que fez
parte de sua vida afetiva, mas este mesmo afeto, esconde a raiva
por não conseguir o seu objeto de desejo, depois de um tempo,
volta cheia de amor ao seu antigo caso de amor. Toda raiva e
tristeza escondida, um amor ferido que precisava ser reconhecido e
valorizado.
Blaise Pascal dizia: O coração tem razões que a razão
desconhece. Esta transformação da raiva em amor é que nos chama
atenção, aquela imensa tristeza sofreu a metamorfose da alegria,
estão emoções estão envolvidas pela imagem negativa que nutriu
do companheiro, suas críticas estavam voltadas para a raiva,
frustrada e ferida no seu orgulho, permitiu a vivência do amor, na
124
verdade era tudo o que ela queria não ser mais afetada pela falta de
carinho e atenção do seu objeto de amor.
Neste exemplo podemos constatar a expressão de várias
emoções dentro de um mesmo contexto existencial, os afetos estão
ligados às emoções, precisamos entender que um afeto pode
desencadear vários tipos de emoções ao mesmo tempo. O afeto é o
representante da experiência existencial, esta vivência afetiva está
encarregada de representar aquela emoção. A função do afeto é
ajudar a consciência a interpretar e elaborar aquela emoção,
identificar com fidedignidade é um dos objetivos dos afetos, e
depois é possível viver no organismo e identificar aquela emoção.
Tudo isto acontece sem a pessoa ter a mínima consciência,
os tipos de afetos e a configuração daquela emoção, podem ser
compreendidas por alguém que percebe e está consciente sobre o
movimento desta energia no organismo. A essência de um afeto são
os tipos de pensamentos e sua interpretação sobre um tipo de
vivência, esta reflexão dialética, pressupõe um diálogo com esta
energia emocional que também possui consciência.
Todas as emoções estão sendo afetadas pelas exigências e
provocações da existência, e ao mesmo tempo sofrem a
interferência dos hormônios lançados na corrente sanguínea, como
por exemplo, a adrenalina. Cada pessoa estrutura de forma original
e diferente o modo de lidar com os afetos, quando o organismo
sente-se afetado por um problema existencial, acaba favorecendo o
surgimento de um determinado tipo de emoção.
Um afeto específico pode desencadear ao mesmo tempo a
formação de duas ou três emoções, mas o potencial da
transformação é uma realidade que ninguém pode negar. Neste
espaço de tempo onde o afeto transforma-se em emoção,
conseguimos entender e interpretar as experiências diretamente
ligadas aquele tipo de sofrimento.
A tristeza melancólica ainda continua presa ao passado,
não conseguiu fazer o luto, estas experiências estão sendo trazidas
à tona para realçar aquele tom de infelicidade. Tanto os afetos
125
como as emoções podem ser interpretados à luz da simbologia,
inclusive é necessário simbolizar para poder emocionar-se.
O único modo de nomear ou mesmo simbolizar é por
intermédio da consciência, saber o que nos afeta, nos permite
também entender outras manifestações de emoções, das quais
ainda não tínhamos consciência. Mesmo angustiado não consegue
ser indiferente ou descrente das incertezas e inseguranças. Quando
existem dois colegas de trabalho que pensam diferente, possuem
uma visão de mundo totalmente antagônicas, gostam ou defendem
uma teoria que confrontam ou mesmo desqualifica a outra,
estamos diante de uma emoção de raiva, mas ao saber que perdeu
aquele amigo, surge a tristeza.
Existe um tipo de tristeza amparada na identificação da
dor alheia, mesmo sem conhecer aquela pessoa, sente um desejo
incrível de viver aquela tristeza, na ilusão viver esta emoção é o
mesmo que amá-lo, ou manter um vínculo profundo sobre este
sofrimento. Este estado de tristeza não possui uma base concreta e
real, este processo de identificação segue o desejo de comunhão
plena daquela emoção.
A tristeza é uma emoção que traduz-se num símbolo a ser
decifrado, esta energia é capaz de criar vínculos profundos, e deste
potencial de libertação ou aprisionamento que começamos a
compartilhar na convivência. Às vezes a tristeza aparece na vida de
uma pessoa por livre e espontânea vontade, mesmo que seja
inconsciente e não tenha nenhum motivo ou vivência concreta
podemos afirmar que simbolicamente é possível viver esta tristeza.
Sempre que existe algum tipo de separação, existirá algum
tipo de perda. É bastante normal as pessoas começarem a conviver
com estes fantasmas, uma pessoa que produziu amor ou
sofrimento, em ambos os casos, esta imagem permanece atual,
mesmo longe a lembrança consegue assombrar a vítima. Nem
sempre a perda significa uma separação, as emoções que estão
impregnadas de perdas, independente de ser real ou virtual naquela
subjetividade existe uma afetividade, e quando surge a emoção
pode haver alterações fisiológicas no organismo.
126
Estas mesmas emoções remetem a pessoa a interpretar
sobre este fenômeno da tristeza, quando nomeia sua vivência
entorno de uma perda, indiretamente entra em contato com esta
realidade simbólica que produz alterações em si mesmo e nos
outros. Como as pessoas encontram-se numa relação afetiva, as
emoções conseguem contagiar, animar, motivar e mesmo
aproximá-las. Todos aprenderam a interpretar os signos, sinais e
reações da fisiologia corporal como um modo de identificar as
emoções. Com a ajuda da percepção é possível saber através do
olhar, do movimento da cabeça, da expressão do rosto, da postura
do corpo, a compreensão daquela emoção.
Simbolicamente as famílias, instituições, tornam possível
uma ligação afetiva, a transformação desta vivência em emoção
determina e regula a qualidade daquela relação de amizade. A
emoção da alegria e tristeza estão relacionadas ao problema de
transtorno de humor, diagnosticados como bipolares. Gostaria de
explicar esta mudança de humor sobre a perspectiva da psicanálise
humanista, existem situações antagônicas e impossíveis de alcançar.
Quando alguém afirma que pretende se casar e viver
depois numa só alma, este desejo é o caminho da loucura. Onde
encontra o espaço para a autonomia, a individuação, a liberdade?
Por outro lado, existem aqueles ermitões, que defendem uma vida
solitária, isolada e afastada de todos, procuram de todas as
maneiras afastarem-se e desligar-se de qualquer vínculo afetivo.
Outros escondem sua insegurança sedando sua consciência com
doutrinas de seitas que exigem sua obediência absoluta.
Da mesma maneira é encontrar o equilíbrio na existência
para viver a euforia e depois enfrentar a tristeza. Porém ninguém
pode viver sem o outro, é através das relações que surgem os afetos
e inicia-se o surgimento de uma emoção. Alegria e Tristeza, duas
emoções que acompanham os afetos e seus efeitos sobre a
existência de alguém, quando existe funcionalidade, inteligência,
estado de ânimo, as conquistas acontecem, neste instante surge a
alegria, a emoção está sendo afetada pela criatividade.
127
A Tristeza aparece quando o efeito de uma neurose
confunde, atrapalha a realização de um sonho, neste instante a
pessoa está sendo afetada por uma frustração, num primeiro
momento surge a raiva, e procura buscar os culpados, depois vem a
tristeza, ao entrar em contato com a perda, vive a nostalgia, a
saudade daquilo que não vingou.
Estas emoções produzem um estado alterado na nossa
consciência, como estar feliz, contente, realizado, este encontro do
afeto com a existência passa por este encontro humano, nesta
relação acontece o inesperado de encontrar-se com uma
oportunidade única em sua vida, alguns nomeiam este diálogo
como amor, sorte, destino, uma grande chance que a vida colocou
no caminho, para viver com alegria e não com tristeza.
A tristeza é uma emoção que vem de encontro com um
destino de perda, de frustração, de desespero, de infelicidade,
porque sempre que aproxima-se do outro, acontece algo que
perturba, complica, distancia, por isto mesmo, a pessoa envolvida
nesta emoção acredita que realizaram um trabalho de macumba, ou
que tem algum tipo de encosto, ou alguém está com inveja dela,
sentindo-se infeliz e muito triste, sente o desânimo, a apatia.
A tristeza é uma emoção negativa, porque seus afetos
estão carregados de histórias muito decepcionantes,
inconscientemente está sempre boicotando ou negando algo
fundamental na sua vida. O desânimo, a apatia, o desgosto, a
desilusão, são os seus pilares, e quando não existe solução para
aquele problema, inicia-se o processo de esgotamento de todas as
forças psíquicas e físicas, aparece então o cansaço, o pessimismo, o
abandono de si mesmo, e por último a depressão crônica.
Podemos descrever esta emoção como uma espécie de
luto, uma cobrança obsessiva e compulsiva por querer viver a
alegria, preocupado, atormentado, sofre pela dor da perda. Sem
forças para saciar a sua sede, ou de caminhar até a fonte, perde o
sentido de existir, insatisfeito consigo mesmo, inicia-se um processo
de autodestruição pessoal, por não estar conseguindo viver este
estado de satisfação e alegria.
128
Ao interpretar a existência destas emoções em nossas
vidas, podemos fazer uma leitura sobre a sua finalidade. Quando
aparece uma emoção negativa, como a tristeza, ciúme, a inveja,
percebeu que o organismo pede algo que esta faltando, porém para
quem vive esta emoção não consegue decifrar ou compreender de
que necessidade está falando. Para alguém saber cuidar-se é preciso
desenvolver um amor próprio, melhorar seu autoconceito, sua
autoestima, neste momento não existe nenhum impedimento para
procurar o melhor que a vida tem a oferecer.
A inteligência organísmica percebe o cuidado, pois todas
as necessidades estão sendo atendidas, a reclamação surge quando
existe negligência, repressão, incongruência, do ponto de vista da
energia psíquica não existe uma ideia fixa para fazer uma defesa,
mas a necessidade de realizar os seus desejos, estes prazeres são o
alimento da energia psíquica. Se isto é verdade, o inconsciente
procura despertar nosso interesse para explorar com mais
sabedoria o potencial destas pulsões e emoções.
Ao mesmo tempo todos aprendem na escola da vida a
estar vinculados aos afetos dos outros, e com os anos, amadurecem
e conseguem suportar, elaborar, interpretar, e procurar novos
significados para seus lutos particulares. Quando a emoção do amor
desaparece e não acontece na vida da pessoa, surge então a
primeira experiência concreta de viver num estado de tristeza. Ficar
triste não é o fim da sua vida, talvez seja uma oportunidade de
reencontrar-se consigo mesmo, enquanto curte a solidão.
Mas a inteligência organísmica utiliza-se das pulsões e
emoções, e quando surge a vontade de viver (pulsão de vida) por
obra da energia psíquica, renasce a esperança, mesmo no luto
existe alguém para atribuir um novo sentido na existência. A pulsão
de vida indica e pede para voltar a alegrar-se e deixar a tristeza de
lado. Este outro pode ser um amigo, o seu analista, o seu amor, não
sabemos ao certo o que acontece nesta magia, mas todos ficam
extasiados diante de sua recuperação.
Um amigo, uma mãe, um pai, pode nos fazer descobrir na
tristeza que estamos vivendo, o quanto nos amam, esta experiência
129
reacende o desejo de viver, esta nova simbolização nos leva a
compreender o valor e a importância das pessoas na nossa vida.
Algumas mais, outras menos, mas todas possuem um significado
muito especial em nossas vidas, e vamos saber disso somente
quando as perdemos.
A existência nos apresenta muitas exigências, e as
questões dos afetos são decisivos para responder a altura das
provocações, as frustrações, o abandono, a falta de amor, a pobreza
material, nos leva a reclamar do destino ou da existência, a
negligência nos deixa neste estado de sofrimento e tristeza. Como
não existem muitas opções diante dos dilemas que a vida nos
coloca, temos de enfrentar ou fugir dos nossos problemas. Então,
iniciamos um processo de superação das perdas, na elaboração dos
lutos aprendemos por outros caminhos, através de outras pessoas,
um método capaz de alcançar os nossos objetivos.
Neste caso, a tristeza serviu como uma emoção que nos
levou a experimentar a autonomia, liberdade, coragem e
determinação, para não procurar nas drogas lícitas e ilícitas a
solução mágica da narcotização da consciência. Negar a tristeza e
sedá-la com um ansiolítico é uma das alternativas, porém devemos
pensar sobre os efeitos secundários a longo prazo na vida desta
pessoa. Sem elaborar os motivos inconscientes da existência destas
emoções, ou de tentar negar ou esconder de si mesmo e dos
outros, procura neste caminho a dependência das drogas e não sua
emancipação sobre estas emoções.
A humanidade no homem acaba sendo reconhecida
quando vive em harmonia com as emoções e pulsões. Todo ser
humano desde a mais tenra infância precisa dos cuidados e da
educação das emoções para tornar potente a sua capacidade de
amar. Esta potência pode ser desenvolvida pela expressão dos
afetos e na vivência das emoções, por isto mesmo, a tristeza retira
da existência o desejo de querer viver, porque quando experimenta
a falta, torna-se dependente e acredita que este amor é algo
impossível.
130
Todos possuem consciência das possibilidades de
realização, e do valor das emoções como um motor que nos conduz
a uma percepção de nossa condição humana. A emoção da tristeza
encontra-se em desvantagem, mas ao mesmo tempo abre as portas
de nossa percepção, e todas as experiências diminuem a ansiedade
e angústia para resolver as carências. Todos passam por várias
experiências afetivas, muitas pessoas estiveram ou estão nos
afetando, e fazendo nos sentir emocionados. Mas sempre fica uma
lembrança afetiva de alguém que marcou a nossa vida, esta
necessidade de sabermos que existem pessoas boas e capazes de
nos amar, nos leva a acreditar que nós possuímos também esta
capacidade.
As pessoas participam direta ou indiretamente na
elaboração e solução de nossas carências afetivas. Quando alguém
está tomado pela depressão crônica, acredita que não existe mais
solução para a vida, seu estado de desespero, de degradação, de
inutilidade é enorme, e decide pelo suicídio. O inconsciente sabe
também criar as condições de um acidente de carro, desenvolver
um câncer, existe tantas formas de matar o corpo físico, porque o
espírito encontra-se morto há muito tempo.
Quando a vida começa a não dar certo, algumas pessoas
desenvolvem uma síndrome hipocondríaca, como não sabem
conquistar o afeto e carinho, amor, atenção, reconhecimento,
valorização, utilizando o seu potencial criativo, desviam esta energia
para convertê-la em sintomas psicossomáticos. Isto nos convence
de que a pessoa desistiu de si mesmo, e entregou-se
completamente a esta enorme tristeza, e todos sabem que não
existe a mínima esperança de voltar a viver com saúde.
Na existência existem três modos de aprender a realizar as
suas conquistas, este processo precisa num primeiro momento da
confiança, do crédito, do cuidado, do investimento, onde o
autoconceito, a autoimagem é positiva, cheia de confiança e
coragem. Num segundo momento deve existir um processo
gradativo de autonomia, a pessoa precisa deste espaço para
enxergar com os próprios olhos o que é capaz. Esta autoconfiança
131
pode lhe proporcionar a coragem e ousadia para ir de encontro aos
novos empreendimentos.
A terceira e última condição inicia-se com o processo de
fazer suas próprias experiências, precisa neste momento de uma
condição emocional para saber lidar com os erros e acertos, precisa
sair da dependência dos outros e voltar a ter autonomia. Estas
conquistas reafirmam o poder e sua capacidade de solução dos
problemas, este seu dinamismo aliado a criatividade reverte-se em
emoções de alegria e felicidade.
A tristeza apresenta três situações diante das frustrações e
perdas, na elaboração deste luto de indignação e insatisfação e por
último, como interpretação do significado desta experiência
pessoal. Quando existe uma expectativa em relação à outra pessoa,
corre o sério risco de decepcionar-se ou realizar-se. Tristeza e
alegria estão muito próximas uma da outra, cada pessoa interpreta
de acordo com a sua realidade emocional aquele acontecimento.
Qualquer pessoa está num processo de evolução, a todo
instante aprende e descobre dentro de si mesmo novas
potencialidades, este processo de descoberta é constante, a relação
interpessoal precisa dos conteúdos do intrapessoal e somente
depois consegue interagir no transpessoal. Esta é sua imagem, uma
identidade que recebeu e mereceu amor e carinho e compreensão,
por outro lado, conseguiu devolver ao outro, estes afetos para
tornar a relação mais humana.
Esta subjetividade está atravessada pela sua história de
vida, este diálogo necessita de uma vivência “apodítica” ao colocar
entre parênteses a necessidade de “amor” consegue aprofundar no
conhecimento dos valores éticos desta fenomenologia chamada
“emoção”, porque são as necessidades e os desejos que trazem à
consciência o valor e a importância deste afeto, para viver com
alegria e não com tristeza pela falta de amor.
Aos poucos este amor consegue sair de uma condição de
idealização para tornar-se real, as trocas de parceiros evidenciam o
conhecimento da natureza humana e suas limitações. Parece-me
que a tristeza precisa de alguém desamparado, sozinho, isolado,
132
insatisfeito, decepcionado, para instalar-se de vez a emoção da
tristeza. Será mesmo que tenho o potencial de atender os desejos
do meu amor, mas se não conseguir satisfazer, posso recair em
culpa, estaria sendo injusto com o amor, simplesmente pela minha
incapacidade e deficiência em não atender a contento os desejos do
amor.
As pessoas podem ser a salvação ou também o desastre,
entre a “potência” e a “impotência” começo a perceber algo muito
estranho, conviver com a incerteza e aprender a viver com as
probabilidades de viver alegre ou triste. Sabe que não conseguirá
sobreviver sem a presença deste amor na sua vida, está esperando
aquela prova concreta de amor que possa confortá-la e abrir as
portas da esperança de talvez não frustrar-se e ficar triste.
Podemos continuar nossa reflexão sobre as consequências
destas emoções na vida de qualquer pessoa, mas existe a
consciência de que o amor que recebo do outro é o alimento de
minha alma. Por isto somos limitados, e precisamos desta relação
saudável para aprender a viver com dignidade e respeito esta
condição do amor. Quando alguém faz a experiência do abandono,
da traição, surge instantaneamente o ódio, o ciúme e a inveja.
Temos que aprender a cativar o outro, fazê-lo admirar
nossas qualidades, esta conquista é contínua, temos o potencial de
nos tornar ainda melhores do que somos. Nosso desejo, a ilusão, a
ficção, a fantasia, fazem parte da distorção da realidade, projetamos
e criticamos no outro tudo aquilo que talvez nos falta ou nos
incomode.
A linguagem não verbal aparece de forma simbólica nas
expressões do corpo, podemos imaginar uma pessoa que perdeu o
emprego, e todos os amigos tentam confortá-la. Mas o seu rosto, os
olhos, o sorriso, mostram outra linguagem, enquanto todos
estavam compartilhando desta perda, a vítima sentia-se aliviada
porque não aguentava mais a pressão no trabalho. Esta
interpretação nos remete a aceitar que existe um desejo não aceito
socialmente, por isto mesmo é mais confortável dizer que foi
mandado embora.
133
A psicanalise humanista poderia compreender aquilo que
não foi falado, mas dito indiretamente pela expressão do rosto, a
contradição entre o fato e a linguagem simbólica desta alegria
enquanto deveria estar chorando. Desta constatação podemos
formular várias hipóteses sobre aquele desejo escondido e não dito,
talvez a sua esposa e amigos não aceitem o abandono daquele
emprego.
O simbólico nesta situação retrata um momento de
tristeza para quem acompanhou a notícia de sua demissão, e aquela
alegria interna que não pode ser demonstrada. Nem sempre nos
comunicamos através de palavras, mas ao mesmo tempo aqueles
afetos recebidos de forma negativa, fizeram com que tomasse a
decisão de pedir demissão e não o contrário. Assim os amigos
participam desta formação inconsciente como uma defesa para ser
aceito e não criticado.
Quando podemos diagnosticar ou perceber que alguém
encontra-se em depressão? Porque existe uma diferença entre
tristeza e depressão, o primeiro sintoma depressivo é a perda da
capacidade de sentir prazer, o seu olhar sobre a realidade é
cinzento, escuro. A tristeza pode ser um momento passageiro e
convida a pessoa a buscar a alegria, na depressão a pessoa não
consegue sair daquele estado de melancolia.
A depressão tem os seguintes sintomas: abatimento físico
e emocional, ideias suicidas, desânimo e apatia, falhas de memória,
não tem interesse em alimentar-se, trabalhar ou estudar, e
dificuldade de dormir. Neste estado a depressão não permite a
vivência de qualquer emoção, nem mesmo a tristeza, existe uma
anulação, como nega os afetos esta dominado pelo desânimo.
E o único modo de sair da depressão é procurar ajuda de
um profissional para tornar-se responsável pela realização de seus
desejos. O ser humano tem condições de enfrentar este estado de
desistência, e procurar aos poucos os afetos que contribuem para
voltar a confiar e acreditar em si mesmo. Por isto mesmo a analise
pode elaborar estas culpas, medos, obsessões e compulsões que
134
podem contribuir para esvair a energia psíquica em desânimo e
apatia.
138
E quando surgiu neste grupo o tema do poder, do ciúme,
da inveja, do desejo sexual, da raiva, do ódio, do homicídio, iniciou-
se uma reflexão muito seria sobre a questão dos valores éticos da
vida em sociedade. A vida em grupo retirou o homem daquele
paraíso e trouxe à tona a ambição, a disputa de poder e a
perversidade. Mas será mesmo que a culpa por toda esta tragédia
na humanidade deve ser atribuída a Adão e Eva? Seriam eles os
responsáveis pelo mau exemplo? Foi aquele ato da desobediência, a
transgressão que provocou todo este problema de convivência
social?
O paradoxo do paraíso e do inferno aconteceu pelo desejo
de desobedecer, talvez por isto as pessoas sejam submissas e
obedientes, a Bíblia mostra que Deus não gosta das pessoas
transgressoras e desobedientes. A questão se refere ao problema
de conhecer o bem e o mal, esta transgressão custou ao homem
viver em pescado eternamente. Mas quem cutucou a onça com vara
curta foi o próprio Deus, quando tirou Adão e Eva do sono
profundo, aguçou a curiosidade e assim perderam a inocência, pois
naquele momento existia uma harmonia na relação entre o homem
e a mulher, com Deus e com a natureza.
Houve então a ruptura desta ligação profunda, a harmonia
deu lugar a uma subjetividade que se distanciou pela culpa e medo
da natureza. Por não poder estar nesta relação íntima com a
natureza, com a mulher e distante de Deus. Este trauma criou uma
ruptura que impediu a transparência da verdade na relação com o
outro.
Agora possui o poder de estabelecer uma comunicação
com o lado maligno da existência, experimentar o proibido, realizar
ações que contrariam os desejos de Deus, portanto existe a
necessidade de mentir, aparentar, esconder seus segredos, fazer
pactos, e na vivência desta intimidade precisa fazer parte das suas
neuroses. O ser humano começa a viver sobre a superficialidade,
distancia-se da autenticidade e assume-se como alguém disposto a
tudo, inclusive a negociar a própria alma, sem limites seu prazer é
139
viver na ostentação, junto com o poder, e para isto está disposto
inclusive a matar.
A figura simbólica de Deus representa o Pai, este
patriarcado ao longo da história mostrou a força para fazer valer as
suas regras, a luta pelo poder sempre esteve em pauta no mundo
dos homens. Por isto se diz, Deus pai, mas não podemos esquecer
que na transgressão houve uma grande perda, a confiança do Pai, e
assim, Deus começou a ser representado na terra pelos xamãs,
feiticeiros, sacerdotes, e alguns Reis que se diziam representantes
do poder de Deus na terra, desta forma se configurou uma política
de alguns seres escolhidos, ou divinos, que eram a voz de Deus (Pai)
aqui na terra. Ninguém sabe ao certo o critério de seleção destas
pessoas, mas alguns insistem em dizer que era uma aparição, uma
comunicação, como aquela que existiu com Moisés, quando Deus
ditou os dez mandamentos, seu único serviço foi transcrevê-lo
numa pedra.
Esta interiorização do medo e da culpa diante de Deus
foram os primeiros conteúdos da formação do superego, estes
valores morais eram transmitidos pelas religiões, utilizam-se as
imagens, mitos, histórias, milagres, simbologias, com a intenção de
educar a criança dentro da doutrina e regras daquele sistema
religioso. Com a idade de três a seis anos, aprendiam a hierarquia
do poder transcendental e colocavam medo naqueles que
desobedeciam as leis divinas.
As leis divinas eram recheadas de poder e milagres,
salvação e punição, todos os personagens simbólicos
representavam a voz de Deus, ou seu pensamento, por isto, tinham
força e poder, todos aqueles que seguiam aquela orientação eram
abençoados e recebiam proteção e cuidado de Deus. Esta
autonomia agora não pertencia mais aos homens, mas ao poder
divino, representado na terra por estes homens que falavam,
ensinavam e faziam milagres, tudo entorno do panteísmo, porque
tudo era obra e graça de Deus.
As leis, regras, regiam e controlavam os pensamentos e
atitudes porque tudo era observado e vigiado por Deus, depois
140
introduziu o ritual para cultuar, adorar, respeitar e colaborar com a
evangelização, muitos abandonavam tudo para pregar a palavra de
Deus, e dedicavam toda uma vida para depois receber na vida
eterna os benefícios de tal dedicação. Retornava então a promessa
do paraíso perdido, mas isto somente era possível depois da morte.
Então, todos reverenciavam, obedeciam, eram tementes à figura de
autoridade, pois acreditavam no seu poder.
Neste processo de formação do superego social e
religioso, iniciou-se com a experiência da culpa, do medo, da
vergonha. Estas regras simbólicas tinham o poder de fazer qualquer
pessoa sentir-se envergonhadas diante de Deus por estar em
pecado. Esta dominação da consciência surgia na infância e depois
se estendia pela vida afora, mas alguns descobriram que o milagre
da vida depende unicamente do seu esforço e dedicação,
começaram a viver o inferno aqui na terra, e novamente
questionaram e conseguiram sair deste estado de alienação.
Mas a culpa persistia, sentia-se que estava traindo Deus, o
superego não era flexível, fazia com que sentissem vergonha por
esta atitude traidora de abandonar o Pai. Ninguém tinha percebido,
mas esta luta interna mostrava um conflito, ao debaterem-se com
estas crenças, muitos retornavam como um bom filho a casa do pai,
pois não suportavam a cobrança do superego castrador e punidor.
Este processo de internalização da figura de autoridade depende do
poder transcendental que não pode ser visto ou tocado, mas que
encontra-se em todo lugar para vigiar e punir os desobedientes.
Os representantes do poder divino, diziam ter esta
incumbência, de controlar, julgar e punir os transgressores das
normas e leis divinas. Para alguém experimentar a vergonha é
preciso do julgamento, da condenação, este espelho consegue algo
misterioso, fazer através da imagem distorcida a identidade. Este
espelho retrata uma imagem distorcida pela humilhação,
condenação, pela falsa moral, esta realidade transforma o “eu”
numa falsa identidade.
Este distanciamento entre o homem e Deus, aconteceu
graças a sedução da serpente, este ato de desobediência recriou na
141
vida a existência da emoção da vergonha. Como podemos perceber
as emoções começaram a ter importância na vida dos homens a
partir da Idade Media, e teve seu reconhecimento na modernidade.
Este processo civilizatório cultural passou por uma educação que
privilegiava a inteligência cognitiva, e deste momento em diante
Descartes consegue separar a emoção da razão.
No teatro, na música, na arte, nos romances, no cinema,
podemos vislumbrar a expressão de vários tipos de emoções, e
apareceram as incongruências entre o que se pensa e o que se
sente, esta atitude surge nos espaços públicos e privados, todas as
exigências da moral religiosa ou civil afeta diretamente as relações
do amor, sexualidade, vida em família, trabalho, e inicia-se o
aparecimento da emoção da vergonha. A vergonha aparece como
uma emoção, primeiro quando alguém consegue penetrar na vida
íntima, esta invasão expõe os segredos e os pontos fracos.
Neste momento surge o superego com o desejo de punir,
sentir-se envergonhado diante de uma imagem distorcida
internalizada a respeito de si mesmo, vivenciar algum momento
onde alguém possa sentir-se envergonhado em colocar a sua
intimidade em público. A vergonha sempre está ao lado da solidão,
depois segue os ditames da culpa e por fim precisa de um ato de
ternura, de bondade e compaixão.
Agora surge uma temática complexa e polêmica, voltamos
então ao paraíso de Adão e Eva. Dizem que Deus criou Adão e
depois pegou uma costela e nasceu a Eva, pois sentiu a necessidade
de uma companheira para a criatura. Naquele estado de pureza não
existia o desejo sexual, mas depois que comeu o fruto do pecado,
no caso a maçã, Adão descobriu o prazer e decidiu desfrutá-lo ao
máximo, o conhecimento do bem e do mal da árvore resultou neste
desejo insaciável.
Além da proibição de Deus para que não comessem o
fruto daquela árvore do jardim do Éden, também determinou um
castigo por desobedecerem a sua ordem, e assim a vida do homem
daquele momento seria finita, ou seja, um dia iria morrer. A
serpente seria o diabo, o satanás, este emblema simbólico da
142
serpente conseguiu seduzir e envolver a Eva, depois disto, a mulher
sentia-se insegura, com medo, e desejosa de mais prazer.
O pecado de Eva relacionava a tentação de conversar com
a serpente, naquele momento perdeu a vergonha e deixou de lado
a sua pureza, a virgindade, a ingenuidade e começou a despertar a
sua curiosidade para descobrir outros segredos ainda não revelados.
Num primeiro momento Eva vivia num estado de pureza divina, pois
não estava interessada em descobrir ou transgredir, não existia a
curiosidade, depois da desobediência e a transgressão das normas e
regras divinas, despertou seu interesse em conhecer, e talvez
experimentar aquilo que nunca vivenciou. O poder das emoções
sobre a sua vida.
Quando a criança desperta sua curiosidade, insiste em
conhecer, este desejo de descobrir é a fonte do conhecimento.
Depois que entendeu e compreendeu o fenômeno, surge dentro de
si um prazer enorme em se apropriar daquele conhecimento. E
quando percebe que não tem o poder de conhecer tudo, e,
portanto, em algumas ocasiões deverá admitir que não sabe, nasce
a vergonha.
Alguns adultos questionam sobre algum tipo de
conhecimento, e quando a criança diz que não sabe ou responde
errado, as pessoas começam a sorrir, debochar, no rosto inicia-se
uma transformação. O problema da mentira inicia-se com a
aprendizagem com os adultos, por exemplo, o pai não gosta de um
amigo, e comenta com a sua filha que esta pessoa é muito chata,
quando a criança atende ao telefone diz automaticamente ao pai
que quem está ao telefone é aquele cara chato. O pai por sua vez
repreende a criança.
A “sedução” e a “vergonha” encontram-se relacionadas
com a proibição, existe de fato um desejo de violação de fazer a
experiência proibida, pois a proibição desperta a fantasia, estas
imagens seduzem e envolvem a pessoa a procurar uma justificativa
para desvelar e descobrir aquela proibição. Depois de descobrir
sente-se envergonhado e até culpado por transgredir uma norma
proibida.
143
Mesmo sabendo que estava transgredindo uma proibição,
percebeu que seu desejo de saber e conhecer era muito mais forte.
Esta foi sua escolha, consciente ou inconsciente de seus atos, agiu
com ampla liberdade para aproximar-se do ato proibido. Depois de
transgredir e conhecer, abriu os olhos para outra realidade, e assim
conhece as duas realidades, o bem e o mal, enfim, foi este desejo
que impulsionou o ser humano a conhecer o desconhecido.
A etimologia da palavra “sedução” significa desviar, sair do
caminho, este desejo tenta convencer o outro a seguir ou praticar
algo que ainda desconhece ou tem medo. O modo como seduz
depende da conversa, o olhar, e acima de tudo, convencê-lo das
vantagens que pode tirar desta experiência. A ingenuidade, a
pureza, ainda não descobriu o desejo de conhecer, de transgredir e
praticar o proibido.
Todos querem saber, alguns fingem, negam, racionalizam,
escondem o verdadeiro desejo, estão desligados daquele tema,
fazem de tudo para passar despercebidos, sabem que estão sendo
seduzidos, mas fingem não estar vendo ou percebendo. A vergonha
em admitir o desejo de conhecer, e por isto mesmo, aumenta o
desejo de quem instaura no outro a curiosidade de transgredir.
Para fazer uma declaração de amor existe a vergonha, é
muito comum a mensagem chegar ao objeto de desejo por um
terceiro. Existe muita vergonha de expressar as emoções, e suportar
a possibilidade de “não” ser correspondido. Suportar a frustração
de não estar sendo desejado é enormemente decepcionante, pois
pode surgir neste instante uma grande vergonha por saber que
outra pessoa conhece os seus desejos.
Nem sempre a sedução funciona, às vezes é preciso
mentir, distorcer e inventar uma história que possa convencer a si
mesmo e aos outros sobre o desejo de quem não o deseja. Os olhos
podem perceber o desejo de alguém, os detalhes de sua reação
podem indicar uma apreciação e valorização, ou a indiferença pode
significar o desinteresse. A vergonha depende de uma interpretação
sobre algum tipo de vivência, e muitas vezes aquela emoção que foi
forjada por uma análise equivocada sobre a reação de outra pessoa.
144
A neurose é uma experiência sustentada por imagens de
um passado que traduz-se num tipo de emoção. Mas esta emoção
criada pelo olhar interpretativo nem sempre corresponde a
verdade. A vergonha de aproximar-se e falar sobre as emoções
podem desencadear uma negação, racionalização, para poder
conter o medo, e não querer saber sobre o desejo do outro. Mesmo
a emoção do amor pode estar sustentada na fantasia, este recurso é
um meio de sobrevivência psíquica, imaginar e fantasiar a existência
de alguém que poderia lhe amar.
A esperança de ser desejado e amado transparece nestas
ações de querer imaginar e possuir alguém que aprecie suas
qualidades. Às vezes não é possível transgredir, porque o medo
inibe sua ação, a culpa consegue paralisar o desejo. A vergonha
pode tornar-se um obstáculo quando impede a realização de um
desejo, porque consegue impedir a vivência de uma intimidade, e
torna-se ofensiva quando viola os direitos do outro, toda e qualquer
invasão ao espaço do outro sem permissão é uma violência.
Quando estas situações aparecem, podem ser
interpretadas de diversos modos, uma falsa ingenuidade de fazer de
conta que não sabe, e ao mesmo tempo seduz e envolve pelos
recursos e queixas, consegue com a ajuda do ganho secundário
atrair a atenção e envolvê-lo no drama pessoal. Por isto mesmo, as
relações sadias e verdadeiras estão se tornando cada vez mais
difíceis, primeiro porque existe a dúvida da traição, e segundo
sempre vai existir o desejo de estar tentado ocupar o lugar do
outro.
O proibido é uma tentação incentivada pelo desejo de
posse, de gozo, de satisfação, de poder, de realização, e assim
começa a viver escondido o prazer do pecado, e outros mesmo
sabendo do ato, decidem quebrar a regra e viver em pecado de
prazer e satisfação, mesmo quando a consciência diz não, neste
caso a pulsão é mais forte e consegue enganar e viver de maneira
proibitiva aquele tipo de prazer. A culpa encarrega-se de produzir
um sintoma, às vezes o prazer é tamanho que a punição não
consegue paralisar o desejo.
145
Porque depois de experimentar o proibido, o gosto do
pecado, conhece e desfruta daquela relação de prazer e satisfação,
sente-se gratificado mesmo sentindo-se envergonhado e culpado. A
vergonha aparece no ato sintomático da tensão, ansiedade,
angústia e a culpa na falta de respiração, dor muscular, etc. Depois
de viver aquele momento de prazer, sente-se envergonhado e
culpado por estar traindo a confiança de alguém.
O quadro piora quando existe uma autoridade que exige
explicações para este tipo de pecado, cobra insistentemente os
motivos de burlar a sua confiança. E assim procuram punir este tipo
de desobediência, porque usurparam e traíram o pacto, agora
devem da mesma maneira sofrer e pagar por este ato de
transgressão. Quando uma autoridade está revestida de poder,
nenhuma explicação é plausível e convincente, seu desejo de
reparação é fazer com que pague o preço da insubordinação.
Aquele tipo de prazer que deveria ser natural passa a ser
proibitivo e vigiado com a intenção de punir, os atos de
desobediência. A ansiedade é despertada pelo medo de ser
descoberto, este segredo corresponde a violação, a transgressão,
por isto mesmo deve conviver com o sentimento de culpa e
vergonha, sente que precisa ser punido, necessita de uma sentença
que possa castigá-lo por este ato de desobediência.
Agora precisa conviver com esta emoção, necessita de
alguma maneira fazer as pazes com o seu superego, precisa atenuar
a pressão sofrida pelas autoridades internalizadas. Deste momento
em diante qualquer acontecimento que possa produzir dor e
sofrimento se torna natural, entende que precisava ser castigado,
de estar sendo punido, agora compreendeu qual é o seu destino,
com medo e vergonha dos seus pais, entende como uma atitude
justa viver este tipo de vida para reparar a transgressão.
Desde a infância o ser humano vem acumulando culpa e
medo, sua vergonha é não poder viver feliz e realizar seus sonhos.
Envergonhado por conhecer o proibido a emoção ensina que
precisamos sair do estado de ingenuidade e alienação. A emoção da
vergonha indica que existe uma liberdade, e em cada decisão ou
146
escolha precisa ser responsável e assumir por completo sua
experiência.
A transgressão pode levar alguém a descobrir outras
formas de prazer, ao conhecer esta realidade desconhecida, torna-
se uma vítima, porque nem sempre o prazer é funcional a vida,
deste modo insere-se numa difícil tarefa de compreender,
interpretar e descobrir-se nos emaranhados desta neurose. O
desejo de conhecer implica em conhecer algo proibido, sua
intimidade toma uma proporção de tornar-se um segredo.
Quando alguém preserva na vida um segredo, podemos
saber que existe um pacto com um terceiro, a transgressão precisa
de outra pessoa, esconde porque não tem certeza de que será
compreendido. Estas três emoções: culpa, vergonha e aversão
acompanham o homem deste a pré-história, as emoções
geralmente possuem a função primária de despertar o desejo em si
mesmo. A implicação secundária desta emoção é servir como um
meio de despertar o desejo no outro, consegue retirá-lo da
ingenuidade.
Num outro sentido a emoção numa determinada cultura
pode servir para coibir e neutralizar um comportamento, e em
outros momentos para valorizá-la e praticá-la. A emoção da
vergonha tem uma utilidade muito grande se olharmos sobre esta
ótica, qualquer pessoa ficaria envergonhada se soubesse que
roubou, mentiu, enganou, traiu. De certa forma inibe um
comportamento que não é aceito socialmente, e deste modo pode
ajudá-lo a não realizar este tipo de atitude.
A vergonha cumpre um papel social, esta emoção pode ser
analisada sobre três aspectos: a) Aquela pessoa que não percebeu a
presença do proibido e vive de maneira ingênua e pura. b) Alguém
capaz de viver de maneira antiética e perdeu a vergonha. c) Quando
o superego é castrador, encontra-se inibido e envergonhado,
experimente a vergonha em todas as suas atitudes, torna-se um
fardo, um peso difícil de ser carregado.
A pessoa que perdeu a vergonha, não tem mais limites
para as suas praticas invasivas, independente de ser vivido no
147
espaço público ou privado. Alienada e dependente da imagem de
outra pessoa através da sedução das palavras, da expressão do
corpo, do tipo de olhar, estes sinais despertam no inconsciente
aquele tipo de imagem, necessita de vida para exteriorizar-se por
isto precisa da emoção.
A vergonha é uma emoção que aliena, porque consegue
fazer com que alguém sinta-se culpado, julgado e condenado, esta
forma de punição advém do medo do castigo social. Por isto quem
comete algum ato ilícito está sempre ansioso, angustiado, porque
tem medo sobre o que os outros irão dizer. Com o medo de serem
perseguidos e execrados socialmente, vivem numa espécie de
paranoia.
A alienação repercute quando perde a sensibilidade, os
valores, as virtudes, e desta maneira vive o drama da ideologia e
não consegue pensar ou reconhecer-se de outro modo. Ninguém
gosta de ser punidos, todos procuram o reconhecimento,
valorização e aprovação, imersas neste tipo de pensamento, não
percebem que deslocaram para o social aquilo que deveria estar
sendo avaliado pela sua consciência. É como se sua vida
pertencesse aos outros.
A vergonha sempre está acompanhada da solidão e
isolamento, a culpa se encarrega de excluí-lo da convivência com as
outras pessoas, pois na fantasia acredita que não consegue
preencher ou alcançar as expectativas que os outros têm em
relação a si mesmo. Ele mesmo é a causa de sua exclusão social,
deste modo encontra-se alienado por sua maneira de pensar, e não
procura ascender e aproximar-se daquele grupo social, ao contrário,
procura descobrir outros grupos que aceitam a sua maneira de
pensar, é claro de acordo com as suas ideologias.
148
2.5 - A contradição da emoção do medo.
150
E isto não é tudo, além do mais existem as decepções, as
traições, as mentiras, os enganos, as perdas, estas experiências
podem estruturar as neuroses, são emoções estruturadas na raiva
ou no medo, depois são utilizadas para generalizar e interpretar de
maneira equivocada outras vivências. O medo acompanha os seres
humanos de geração após geração, este tipo de vida pode
comprometer e debilitar as ações de alguém na existência. Esta
pessoa pode desenvolver muito medo, e tornar-se muito insegura
para enfrentar os dilemas1 que a vida colocou no seu caminho.
O medo está muito próximo do ciúme e da inveja, pois
enquanto o ciumento não gostaria de perder alguém que ama, o
invejoso pretende possuir a qualquer custo os benefícios de alguém.
O medo aparece com muita frequência quando alguém tem que
tomar uma decisão, enfrentar aquela situação ou fingir que não está
vendo, e arrumar falsas desculpas para não resolver aquele dilema
existencial. A emoção do medo conduz a pessoa a viver em
sofrimento, mas jamais enfrentar aquela situação complexa no seu
relacionamento.
A emoção do medo é diferente dos afetos, estas
sensações de mal estar e insegurança produzem o que conhecemos
como sentimento, estar angustiado ou ansioso. A ansiedade tem
sua origem nos medos ilusórios, e a angústia na incerteza do futuro.
Este estado emocional depende destes sentimentos, porque a
angustia remete a uma experiência de desespero, desamparo,
enquanto a ansiedade torna a pessoa insegura e paralisada.
Estas emoções têm sua origem na cultura e na convivência
do seu meio social, esta é a tese do “inconsciente social” de Erich
Fromm e do “inconsciente cultural” de Karen Horney, e na verdade
somos obrigados a concordar porque a emoção do medo tem sua
origem nas categorias que a existência apresenta a cada ser
1
Gostaria de citar o meu livro: O dilema do ser humano na existência,
publicado no ano de autoria do Prof. Dr. Salézio P. Pereira. Ed. ITPOH;
2007.
151
humano. Como em tudo na existência qualquer tipo de iniciativa ou
projeto de vida contempla inconscientemente as expectativas e os
resultados, como também o fracasso retrata a tristeza e a decepção.
Todo ser humano deve necessariamente desenvolver o
seu “potencial”, os seus sonhos são os estímulos imaginativos que
instigam a mente a pensar e desenvolver estratégias e métodos
capazes de realizar seu objetivo. Esta criatividade pode ser uma
qualidade capaz de diminuir ou fazer desaparecer completamente
os medos imaginários. O medo de que seja alguém incapaz,
improdutivo, fracassado, este conceito de si mesmo pode bloquear
toda e qualquer iniciativa para resolver os seus problemas.
Qualquer tipo de desejo na existência pode encontrar-se
de frente com os seus medos, o medo de que não consiga realizar
os seus sonhos produz um estado de angústia e ansiedade enorme,
em alguns casos pode desencadear um “stress” por tentar várias
vezes e não conseguir o seu objetivo. O estado de ansiedade é
enorme, não consegue perceber que todas as tentativas obedecem
sempre o mesmo método equivocado de antes, este roteiro passa
despercebido.
Toda mudança produz ansiedade, quer dizer medo de não
conseguir viver ou dar conta daquele desafio. Às vezes a vergonha,
o nervosismo toma conta da pessoa, justamente porque não está
acostumado a viver esta nova experiência, muitos não sabem lidar
com situações de sucesso e alegria, sentem-se culpados, acreditam
que não são dignos de viver esta emoção de prazer e satisfação, e
quando experimentam em desobediência ao superego, procuram
de algum modo uma situação específica para punir-se, ao fracassar,
experimenta o sofrimento e a dor, neste instante conseguiu fazer as
pazes com o superego.
Outros entram num estado de pânico, porque não sabem
como lidar com as emoções destrutivas, envolvidos pela compulsão
são reféns das adições. As fobias estão sempre acompanhadas de
uma fantasia amedrontadora, estas imagens convencem a pessoa
de que o pior vai acontecer, este estado emocional consegue alterar
todo o funcionamento fisiológico e orgânico do organismo.
152
O pessimismo, a apatia, o desânimo tem algo com a
emoção do medo, este estado emocional sempre espera pelo pior,
e muitas vezes não é isto o que acontece, infelizmente sofreu em
vão por antecipação, sua ansiedade impediu de deixar os
acontecimentos tomarem seu próprio rumo. Estas emoções são
vividas sobre a imaginação de que estão por perder alguém, ou que
serão demitidas do seu emprego, estas situações apesar de serem
fantasiosas, vivem como se fossem verdadeiras.
A saúde psíquica depende de como a pessoa interpreta as
emoções, ser capaz de entrar em contato com este tipo de
realidade emocional é importante para a sobrevivência psíquica.
Saber reconhecer as emoções verdadeiras daquelas que produzem
a dor e sofrimento é condição básica para alguém alcançar a
felicidade. Quando alguém admite a existência de uma emoção
reconhecemos o valor da humanidade, esta inteligência organísmica
é capaz de ajudá-lo a reconhecer e interpretar com determinação o
seu lugar na existência.
O medo como a depressão é contagiante, este estado de
intoxicação emocional aproxima todos aqueles que estão
vulneráveis a viver este estilo de vida de sofrimento e dor. Os
sintomas podem aproximar ou afastar a convivência com
determinadas pessoas, às vezes o que une e faz com que as pessoas
continuem juntas é a doença, a neurose.
Além disso, as pessoas aprendem a viver entorno da dor e
sofrimento e aos poucos começam a usufruir deste prazer na dor.
Esta experiência pode ser totalmente ao contrário, outros
aprendem a viver no amor e na alegria, é o que chamamos de
felicidade, um estado extremamente prazeroso de satisfação e
realização. Mas existe o medo de viver neste estado, mesmo que a
existência ofereça as condições propícias para viver esta
experiência, sua negação é tamanha que colocará todo o seu
potencial para afastar-se das emoções produtivas de amor e alegria.
Mas a existência nos cobra uma decisão, não temos saída,
devemos fazer uma opção, inconsciente desta escolha direciona-se
para o mundo do sofrimento. A psicanálise pretende ajudar as
153
pessoas a sair deste estado de inconsciência e alienação, todo o
esforço é neste sentido, ajudá-lo a sair deste estado de medo e
aversão ao sucesso. Quando o medo tornou-se fobia, entendemos
que o sintoma existencial de paralisia tomou conta da pessoa.
A análise humanista procura sair desta condição de medo
e assumir-se com coragem de ser, Paul Tillich, este teólogo
humanista existencialista foi o grande mestre de Rollo May, porque
na falta da coragem toma conta o medo, esta emoção diminui ou
impede a pessoa de tomar decisões, o medo não é apenas uma
energia figurativa, mas operante, sua práxis determina a repressão
do potencial de vida, sua ação empobrece o ser humano no
processo de aprendizagem.
O medo consegue impedir a realização dos desejos,
quando alguém não realiza seus sonhos, vive em frustração e pode
estar comprometendo a existência. Infeliz e frustrada torna-se uma
presa fácil para as neuroses, e aos poucos começa a adoecer, ao
perder esta motivação de realizar os seus desejos, perde o que
existe de mais sagrado na existência, a coragem de ser.
A morte deste potencial de vida elimina qualquer chance
de viver a biofilia, porque neste estado emocional sua energia
psíquica começa a viver e procurar experiências, que aproximem-se
da sua condição de morte. Por isto que não basta somente viver, é
preciso saber viver, porque a vida é uma expressão da arte,
precisamos da inteligência cognitiva para nos aproximar da
inteligência organísmica.
A opção de viver na neurose é uma forma de vida
empobrecida, vive o prazer de maneira distorcida, além de
prejudicar outras pessoas da relação. Por detrás de uma neurose
existe uma sensação de medo, esta emoção está atrelada à
compulsão, esta mesma fixação norteia o prazer primitivo, junto
aparece a inferioridade, autoestima baixa, autoconceito muito
pobre de si mesmo, são os alicerces da atitude destrutiva.
Para tomar consciência desta emoção precisa fazer um
longo caminho de reflexão e compreensão inteligente, razão e
emoção sempre andam de mãos dadas, não existe separação, e
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caso isto venha acontecer, surge então os psicopatas, as psicoses, as
esquizofrenias. A existência sempre nos mostra estas duas
alternativas, avançar rumo a evolução da consciência ou retroceder
aos comportamentos primitivos e arcaicos.
A todo o momento vivemos diversas mortes, temos medo
das doenças, dos vírus, da pobreza, da falta de dinheiro, enfim,
caminhamos neste mar tortuoso de faltas, estas necessidades
biológicas e afetivas precisam ser gratificadas, mas nem sempre
conseguimos alcançar o lugar de nobreza na existência. Infelizmente
todo o esforço, dedicação, empenho, investimento, podem
desaparecer por uma única decisão equivocada. Ninguém está
imune ao fracasso e as perdas, temos que aprender a viver neste
mundo de perdas e ganhos.
A todo o momento estamos nascendo para novas
experiências, deveríamos estar abertos a aprender, mas a apatia, o
desanimo, a acomodação, o pessimismo, nos convencem do
contrario, acredita que viver assim é o máximo que podia propor
para si mesmo. Nem sempre ganhamos, às vezes temos que
conviver com as perdas, mas este não é o final da história, é
somente o início da superação, de aprendizagem, para conseguir
dar continuidade aos projetos com mais eficiência e determinação.
Existe o medo da morte, das potencialidades, da coragem,
ousadia, determinação, criatividade, a doença psíquica consegue
extinguir da vida da pessoa estas qualidades, em seu lugar prospera,
o medo, as falsas desculpas, inseguranças, rigidez e teimosia,
quando alguém esta sobre este estado doentio de vida fica muito
mais propenso a contrair o vírus da autodestruição.
Ao matar as defesas do sistema imunológico, torna o ser
vulnerável para contrair novas doenças, inconscientemente
pretende cessar todas as estratégias de defesa, isto significa uma
desistência da vida, procura na doença a morte. Ao perder esta
condição de amor à vida, a pulsão de morte aparece com todo o seu
potencial destrutivo, racionalmente diz que pretende viver e quer
viver, mas as suas atitudes emotivas e sua iniciativa na existência
nos mostram o contrário.
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Quando alguém perde a esperança de viver, compromete
o sentido de sua existência. Todos devem ter superados alguns
medos, mas esta mesma luta consegue tornar nossa vida
interessante, estamos diariamente sobrevivendo as intempéries da
nossa natureza. Apesar de tudo conseguimos nos manter vivos e
lutar sem trégua pela existência, os obstáculos da sociedade e
outros problemas para resolver.
Este é o nosso grande desafio, saber utilizar as emoções
para nos tornar mais humano, mas também sentir-se fortalecido
para realizar os sonhos. Esta luta é interminável e através de nossa
cooperação ajudar as outras gerações a viver de maneira mais digna
e feliz. Este é o novo nascimento de um ser que está voltado para a
transformação pessoal, mesmo diante dos desafios encontra-se
plenamente decidido a buscar sempre o melhor para a sua vida.
De onde surgem tantos medos? Muitos afirmam que a
emoção do medo está escondida nos recônditos de nossa
hereditariedade. Seu modo de ação é inconsciente, ou seja, a
consciência sabe da existência do medo quando ele aparece na
relação com o meio social e cultural. O processo de formação da
emoção segue as diretrizes da internalização dos desejos e
interesses de uma determinada cultura.
Cada pessoa pode vivenciar com uma forte intensidade
uma experiência emocional e, no entanto para outros passa
completamente despercebida. Quando uma emoção sofre o
processo de apreciação, se torna obvio a expressão do particular
para a generalização. A emoção do medo pode ser observada pela
alteração dos batimentos cardíacos, enrijecimento dos músculos,
sudorese na palma das mãos, descarga de hormônios (adrenalina)
contra um estado de estresse.
A emoção do medo possui uma neurofisiologia que pode
ser identificada por sistemas de neuroimagem funcional, este
processo de leitura das reações emocionais no cérebro permite
identificar em determinadas áreas do cérebro como o tálamo,
amigdala, hipófise, a presença de um estudo mais aprofundado das
influências das emoções na vida das pessoas.
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Hoje todos sabem que as emoções produzem os
hormônios, esta reação neuroquímica dos neurotransmissores na
fabricação da serotonina, dopamina, depende muito da reação
emocional, são as vivências que podem aumentar ou diminuir a
presença destes agentes químicos nos centros de lançamento de
hormônios.
O medo em última instância precisa da elaboração de uma
imagem, esta imagem pode personificar-se num estereotipo de
medo, aversão e nojo. Muitos desenvolvem uma proeza em criar
situações de medo, no cinema, no teatro, na arte, conseguimos
olhar estas imagens que traduzem a expressão do medo, chegando
às vezes num estado de pânico, aquelas cenas imagísticas são
sedutoras e seu encanto eleva ainda mais a sensação de medo e
insegurança.
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2.6 – Por que uma pessoa torna-se invejosa?
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Bibliografia.
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