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A violência na educação:

a alienação das mentes.

Editora – ITPH – 11/2011


O homem não é nada além daquilo que a educação faz dele.
(Immanuel Kant)

A educação é um processo social, é desenvolvimento.


Não é a preparação para a vida, é a própria vida.
(Derek Bok)

Se você acha que educação é cara, experimente a ignorância.


(John Dewey)

“A cada dia que vivo, mais me convenço que o desperdício da


vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do
sofrimento, perdemos também a felicidade.”
(Carlos Drummond de Andrade)

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P - Pereira, Salézio Plácido - A violência na
educação: a alienação das mentes.
/ Salézio Plácido Pereira - Santa Maria: Ed.
ITPOH, 2011 - 137 p; 20cm. ISBN
1. A neurose 2. A saúde
I. Título.
CDU

Ficha catalográfica elaborada por:


Maristela Eckhardt
CRB-10/737

Produção Gráfica:
Jeferson Luis Zaremski

Revisão Ortográfica:
Andréa Alves Borgert

Impressão:
Gráfica PP | Santa Maria - RS

Editora: Instituto de Psicanálise Humanista


Rua dos Miosótis, 225 | Bairro: Patronato
CEP: 90.800-020 | Santa Maria - RS.

Fone: (55) 3222.3238


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saleziop@gmail.com

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Sumário_______________________________________________04

Introdução.........................................................................................05

1.0 A neurose como expressão da opressão.....................................08

1.1 A importância da psicanálise na aprendizagem escolar.............17

1.2 A situação concreta do sofrimento na educação........................40

1.3 A inversão da pulsão: destruir o prazer de aprender..................48

1.4 A realidade psíquica e emocional dos educadores......................60

1.5 O conceito de neurose na educação; uma reflexão


crítica sobre os prejuízos na aprendizagem......................................71

2.0 A saúde não surge por acaso.......................................................75

2.1 A educação como agente de superação e humanização.............87

2.2 A pedagogia da livre expressão do ser.......................................108

2.3 Conteúdo programático na busca de um projeto em comum...119

2.4 A relação do “EU” subjetivo do aluno


com os conflitos sociais....................................................................127

Bibliografia...................................................................................138

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Introdução.

A psicanálise é uma ciência comprometida com a saúde


psíquica, não exclui a alienação, pensa sobre a educação. O professor
possui uma pedagogia, um método e, procura compreender o cognitivo
sobre as motivações inconscientes do ato de aprender. As crenças,
virtudes e valores do aluno reforçam a importância do seu caráter, esta
prática sobre a aprendizagem inclui o desejo de aprender.
A pedagogia está inserida dentro de um contexto político,
econômico, social e cultural, sem dúvida as influências e interesses
externos podem levar à dominação das consciências. Depois de
internalizada uma imagem pobre de si mesmo a neurose começa seu
processo de opressão sobre a vida, infelizmente o abuso emocional
está presente nas atitudes pedagógicas do professor. Toda vez que
desqualificamos, humilhamos, abandonamos, reprimimos, estamos
compactuando com os interesses de uma sociedade insana e violenta.
A educação deve ser um lugar para viver a plenitude do prazer
de aprender, a forma de opressão emocional começa quando o aluno
sente-se negligenciado no seu processo de aprendizagem. O educador
deve começar a pensar sobre o potencial do seu aluno, acreditar que o
seu mundo de experiências pode enriquecer ainda mais os seus
conteúdos.
O papel do professor é ajudá-lo a libertar-se das prisões de
seus medos, confiante nas palavras do seu educador, consegue seguir
as orientações de seu mestre. Um mestre que liberta e não reprime ou
desqualifica quem precisa de afeto e apoio. O professor deve criar um
clima em sala de aula capaz de resgatar o desejo de aprender no aluno,
e levá-lo a tomar consciência sobre o seu papel na sociedade.
O professor pode fazer de seu ato pedagógico uma iniciativa
para desenvolver o potencial intelectual e emocional do aprendiz.
Jamais poderemos concordar com a prática do medo, das omissões, da
humilhação, da indiferença, da contextualização, enfim uma prática
que enxerga o aluno como uma coisa, um objeto, uma educação sem
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vida, ele necessita de um lugar onde possa aprender a ser livre e
responsável.
A sala de aula aparece neste contexto como um lugar que
propicia as condições de pensar sobre, e descobrir a possibilidade de
conquistar e realizar os seus sonhos. O educador deve ter consciência
das dificuldades deste aluno, porque ele está envolvido numa
subcultura, na qual não valoriza a oportunidade e igualdade de direitos.
Esta alienação do aluno é muito parecida com a do professor, ambos
estão sendo convencidos de não comprometerem-se com a educação.
Este livro é para aqueles professores que querem transformar-
se e viver com dignidade o grande desafio da superação. Aqueles que
pensam diferente e acreditam que este projeto é um delírio, fruto da
imaginação, podem sentir-se livre para pensar diferente. Esta leitura
leva o professor a uma reflexão e uma tomada de consciência sobre o
estado de inconsciência, mais conhecido como alienação.
Ninguém é ingênuo, todos sabem da trama política e dos
interesses obscuros que pairam sobre a educação. A situação é
complexa e muito difícil, porém, não é impossível pensarmos num
método diferente para educar os trabalhadores e marginais. O
educador deve em primeiro lugar aprender a escutar o sofrimento e a
dor desta opressão neurótica.
Mas como escutar a dor do aluno, quando o educador também
precisa desta escuta? Eis o dilema na educação, por isto mesmo, este
livro pretende refletir sobre o tema do sofrimento emocional, e em
consequência disto, a repercussão dos sintomas psicossomáticos e
depressivos na vida do educador. O professor não deve perder a
esperança de lutar pela sua libertação, por isto mesmo, a psicanálise
humanista pretende oferecer seu aporte teórico no sentido de
entender este desejo inconsciente do sofrimento psíquico na
educação.
Talvez seja muita pretensão de minha parte, diríamos um
sonho, mas quando todos possuímos consciência sobre os prejuízos de
nossa maneira de pensar e agir, temos condições de recriar um novo
método de relacionar-nos com a desmotivação, a indiferença e
autoagressão. O educador possui a liberdade de pensar diferente, de
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realizar-se e viver com saúde em meio à turbulência emocional na
educação.
Este livro é um convite para aqueles que desejam para si e seus
alunos uma educação diferente e com qualidade, não tenho a
pretensão de afirmar a verdade, ao contrário, como educadores
estamos envolvidos neste processo de descoberta pessoal e
profissional. A psicanálise pode estar a serviço de uma importante
ciência que é a educação, levar a educação à deitar-se no divã, e sobre
esta reflexão, começarmos a descobrir aquelas neuroses que oprimem
e dificultam a realização.
Desejo uma boa leitura, que este livro possa ser uma fonte
inspiradora traduzida em ações concretas na educação, e também na
vida dos educadores. Que esta experiência pedagógica possa ser
compartilhada num diálogo acolhedor e respeitoso, buscando no
interior de cada professor o desejo de superação.
Que estes momentos de dúvidas, confusões, incertezas,
descobertas, alegrias, frustrações, possam alimentar o nosso pensar
num diálogo aberto e flexível sobre novos caminhos para melhorar ou
solucionar os conflitos da educação. Os professores trazem no seu
íntimo o desejo humanista de ampliar a sua consciência, redescobrindo
com ela e através dos seus “insights”, uma educação capaz de auxiliar
na invenção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Com esta nova consciência podemos contribuir de forma
criativa para uma história de vida cheia de realizações e conquistas.
Esta alfabetização emocional é fundamental para com autonomia e
consciência reescrevermos uma nova história. Finalizando gostaria de
dizer que esta foi uma iniciativa de mostrar a importância da
psicanálise humanista como uma ciência importante para ajudar a
compreender a crise que assola a educação.

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1.0 - A neurose como expressão da opressão.

Como aprender a lidar com a neurose? A psicanálise é uma


ciência comprometida com a saúde psíquica, pensa a doença sob o
enfoque da alienação e de como entender este tipo de aprendizagem.
Porque a doença é um fantasma que ronda as escolas? A existência do
professor precisa de uma compreensão pedagógica sobre as
motivações inconscientes que oprimem e bloqueiam a livre expressão
de seu potencial emocional e intelectual.
Esta praticidade da existência exige de cada educador uma
inteligência capaz de entender e compreender as neuroses que
impedem a sua realização e felicidade. Sem esta consciência, o
professor corre o risco de viver de uma maneira alienada e superficial,
dominado pelo medo e impedido de manifestar seu potencial, perde a
liberdade de ser mais. Muitas vezes o fazer pedagógico aliena e
massifica a consciência deste educador, fragilizado e entristecido é
uma presa fácil para a manipulação das ideologias do estado e outras
instituições.
A neurose benigna ou maligna não pode servir de ajuda à
libertação do educador, porque ao encontrar-se dominado pela ação
do seu superego, perde a condição de pensar com consciência. O
educador muitas vezes é vítima de muitos interesses, de grupos,
classes ou instituições e partidos políticos, quando isto acontece na
educação, o método pedagógico também encontra-se viciado e
comprometido na sua ação. O educador precisa libertar-se destas
amarras neuróticas do medo de ser feliz, de ter saúde, sucesso,
felicidade, realização e satisfação no fazer pedagógico.
O método na análise é ajudar o educador a libertar-se destas
amarras que prendem nesta estrutura de dominação e medo. Numa
sociedade onde o educador não é valorizado, podemos chegar à
conclusão de que existem ganhos políticos e econômicos em manter o
educador alienado. E nos perguntamos: Por que os educadores não

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conseguem se unir para lutar por um salário justo e por uma melhora
nas condições de trabalho de sua profissão?
A psicanálise como teoria procura ajudar este educador a
buscar a sua liberdade, isto significa utilizar todo seu potencial de
inteligência intelectual e emocional. O método analítico possibilita ao
educador encontrar seu próprio método de libertação das amarras que
aprisionam seu ser em dor e doença. O professor consegue com a
ajuda do analista ou numa terapia de grupo analítico, sair desta
condição opressiva de exploração, resgatando sua autoestima,
elevando seu autoconceito e modificando sua imagem pessoal.
A educação é um ato de criação, esta pedagogia deve estar
alicerçada no autoconhecimento do seu mundo emocional e na
disfuncionalidade de suas crenças limitantes. Por isto mesmo não
usamos os subterfúgios do misticismo, do esoterismo, ou de qualquer
outra forma de alienação, pois estes artifícios ampliam ainda mais o
estado de submissão, de sofrimento e infelicidade.
O educador somente encontrará o caminho da sua liberdade
quando for capaz de responsabilizar-se e procurar sem medo, os
investimentos de cultura e inteligência para sair da condição de perda
na existência. Deve resgatar dentro do seu espírito, a confiança e
autonomia para sair desta condição de apatia e alienação, porque
quando descobrir seu potencial, não precisará mais das desculpas e
queixas para chamar atenção e mendigar falsos afetos dos seus
superiores.
Ao assumir-se como agente de sua própria história não
admitirá qualquer forma de dominação e alienação ao seu fazer
pedagógico. É preciso sair desta subcultura de esperar, e começar a
realizar, os educadores podem nascer com esta nova consciência, e
com seu conhecimento e força dos colegas, podem sim fazer a
diferença. Porque todo o fazer pedagógico vai exigir uma reflexão
sobre a sua prática educacional, este novo modo de pensar pode aos
poucos elaborar um novo método na educação.
Para exercer esta liberdade é preciso perder os medos, caso
contrário, acaba sendo o bode expiatório das instituições. Ninguém
ganha com a prática pedagógica da exploração e dominação, os
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políticos e burocratas da educação são os únicos que ganham com este
estado de torpor e massificação. O educador com mais consciência
consegue sair da condição de perda, para começar a ganhar alegria,
dinheiro, felicidade, saúde na existência. Porque o ato pedagógico deve
estar alicerçado na realização e satisfação, caso não exista esta
condição, no seu lugar existirá a tristeza e frustração.
Os métodos de ensino atuais possuem a tendência de matar o
prazer de aprender, a sala de aula deveria ser um espaço para a livre
expressão de ideias e ações, além de viver em liberdade com
responsabilidade. O aluno possui todas as qualidades e condições de
superar-se, mesmo diante das opressões de uma sociedade desigual e
excludente. O ato de pensar com inteligência ainda é a única saída
segura para resolver os dilemas existenciais. O ato de fazer justiça deve
partir de sua própria iniciativa, não pode ficar na espera das avaliações
e das promessas dos políticos, deve conscientizar-se que esta busca
deve ser assumida neste momento.
É uma revolução interna e pessoal, esta pedagogia baseia-se no
princípio da superação, da motivação, da confiança, da criatividade, de
toda inteligência para realizar seus sonhos. Ao tomar consciência de
sua condição humana, precisa realizar este desejo de justiça e
dignidade, mesmo diante das contradições sociais e educacionais é
capaz de buscar dentro de si mesmo, as forças necessárias para sair da
condição de submissão e aceitação incondicional da pobreza cultural,
econômica e intelectual.
É preciso provocar dentro de si mesmo este desejo de
superação, com esforço, dedicação, e muito empenho, será capaz de
fazer destes obstáculos, o exercício intelectual para o desenvolvimento
de suas potencialidades. Mas para alcançar esta condição na existência
é preciso estar ciente de quatro exigências. Primeiro: Conhecer-se com
profundidade nas dinâmicas inconscientes e suas projeções sobre o
fazer pedagógico. Segundo: Esta segurança emocional é capaz de
trazer-lhe confiança e responsabilidade na sua ética profissional.
Terceiro: Desenvolver um projeto de vida que contempla a realização
dos seus desejos, além disso, viabilize a vivência do amor e da
felicidade. Quarto: Desenvolver disciplina para optar pela sua
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qualidade de vida, porque, antes de salvar os outros é preciso salvar a
si mesmo. Um cego não guia outro cego.
O método de análise deve levar em consideração a totalidade
do estado de alienação do educador, são vários os motivos deste
estado de sofrimento emocional. O ecletismo na elaboração e
interpretação de sua vitimização é plenamente pertinente, porque a
eficiência do método analítico é tornar consciente esta atitude
inconsciente.
Este estado de inconsciência é a origem do desgosto e falta de
prazer em educar, ao realizar esta prática, estamos na verdade,
vivendo o humanismo na psicanálise e libertando o educador das
trevas da ignorância emocional.
Um mínimo de consciência pode ser a motivação necessária
para desencadear as mudanças, talvez seja o ponto de partida para um
investimento no cuidado de sua pessoa. O educador ao fazer sua
análise, ou estudar psicanálise, inicia seu processo de alfabetização
emocional. Suas ações são sementes, e no futuro propiciarão a colheita
destes frutos, de uma pessoa com iniciativa, aberta para encarar novos
desafios.
A psicanálise está atenta ao discurso da queixa do professor,
mas devemos entender este tipo de manifestação como parte de sua
cultura de falência e da falta de consciência crítica sobre a sua
alienação. É necessário retirar as contradições e incongruências de suas
escolhas e decisões pessoais. Com esta catarse podemos ajudá-lo a
entender se quiser, a nomear o seu estado de desmotivação e mal
estar. Mas esta mesma fala terapêutica consegue levá-lo a procurar
dentro de si as forças necessárias para buscar um espaço para a
realização de seu potencial de educador.
Com esta nova compreensão do seu fazer pedagógico existe a
possibilidade da mudança, saindo do paradigma antigo e antiquado,
para aquela realidade de transformação. O analista trabalha dentro
desta limitação, e aos poucos espera o surgimento de uma nova
consciência. As palavras e frases utilizadas no seu fazer pedagógico
agora podem ser utilizadas para falar de sua existência, dos seus

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dramas, de suas perdas, dos desamores, das frustrações e dos seus
desencantos.
A criatividade precisa ser alicerçada na experiência do ato
pedagógico, no universo do educando é possível a comunicação, os
alunos também trazem consigo realidades que precisa ser
compreendida e ressignificada. Estas realidades emocionais podem ser
traduzidas num espaço para elaborar a sua dor, seu
descontentamento, sua raiva, sua frustração.
A indiferença e omissão do educador distanciam o aluno do
seu compromisso em aprender. Enquanto o professor encontra-se
distante e ausente nas suas dificuldades, o aluno também afasta-se da
aprendizagem, sem esforço e dedicação não consegue aprender.
Esta experiência vivida do educando e do educador precisa de
um espaço para uma elaboração, porque com este novo olhar, o aluno
percebe com a sua ajuda, um modo diferente de interpretar a sua
realidade emocional ou as suas dificuldades de aprendizagem. Ao
entender a sua desmotivação ou frustração diante do ato de aprender,
reconstitui-se um novo olhar sobre o real motivo de não querer
aprender.
A escola precisa desta abertura, o aluno começa a refletir
sobre o seu estado de apatia, desânimo e descomprometimento, e ao
mesmo tempo, pensa em conjunto com o grupo de professores uma
saída para todo este desprazer na educação. Talvez esta reflexão sobre
suas atitudes e formas de aprender, possa esclarecer e ajudá-lo a sair
desta condição de não querer aprender. Conscientemente gostaria de
aprender, e inconscientemente suas atitudes para com as atividades
escolares e leituras dizem o contrário, mostra o quanto não gosta de
estudar. A razão diz algo, mas as emoções não confirmam e fazem
justamente ao contrário.
Esta reflexão crítica sobre sua ação na escola pode ajudar
este grupo de alunos a buscar um novo modo de interpretar e elaborar
a sua agressão. As resistências para aprender aos poucos vão
diminuindo, a violência e raiva contra os professores começam a
desaparecer, podemos chamar de uma nova consciência, sair da

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prática disfuncional e tentar resolver os impasses pedagógicos de outra
maneira.
A escola deve estar preparada para escutar o desânimo e
apatia não só do aluno, mas também do educador. Talvez ambos
possam entender este novo apelo da educação, porque quando existe
um ambiente de respeito e consideração, as portas se abrem para
buscar em conjunto as soluções para os problemas educacionais.
Mesmo as notas baixas e o fraco desempenho, ou o descontentamento
e desmotivação, convidam a pensar sobre as motivações conscientes
ou inconscientes destas atitudes não funcionais à existência como um
todo.
Quando o sistema pedagógico da escola permite este novo
olhar sobre a condição de vida do educador, com certeza o estado de
confiança e alegria poderá despertar uma motivação para recriar um
novo tipo de cultura pedagógica. Aos poucos percebem que vivem o
mesmo drama humano, e inconscientemente estão buscando os
mesmos objetivos, separados e isolados, a tarefa torna-se mais difícil e
angustiante, porque é muito complicado trabalhar sem adesão sincera
numa equipe.
Esta mesma realidade emocional pode ser a motivação para
iniciar um processo de superação de problemas em comum, e também
dos objetivos muito parecidos, neste ambiente de terapia de grupo de
educadores na escola é possível aprender a dialogar e não discutir
problemas. Porque o objetivo é a união, e não a imposição de ideias e
conselhos, que em vez de aproximar os educadores, fazem o contrário,
distancia ainda mais.
A terapia de grupo analítico propicia uma comunicação em
níveis mais profundos, promove no grupo o aprendizado do diálogo e
as trocas de experiências, assim em conjunto, começam a pensar num
novo modo de existir, e em consequência disto, surge uma nova
maneira de educar. Sabem lidar com as situações complexas da escola
que absorviam a sua energia psíquica, os incômodos, as desconfianças,
as agressões, as violências, e todas as formas de opressão, agora
podem ser compreendidas e interpretadas à luz da psicanálise.

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Na terapia de grupo ninguém ensina, mas ambos aprendem
em conjunto, esta solidariedade humaniza as relações, o coordenador
pode ser um educador com formação em psicanálise, ele tem como
função conduzir o trabalho analítico com suas intervenções e
interpretações. O analista na escola pode ajudar o grupo a superar as
suas dificuldades pessoais e pedagógicas, fazendo algum tipo de
intervenção quando for absolutamente necessária.
A consciência sobre as suas motivações inconscientes propicia
um novo aprendizado sobre a existência, ao descobrir-se envolve-se
numa nova tarefa pedagógica, capaz de entender seus conflitos e
depois estender os alunos. Ao descobrir as raízes de seu
comportamento destrutivo abre-se a possibilidade de voltar ao seu
estado natural de saúde e alegria. Ao aprender o valor de suas
emoções com energia capaz de promover seu bem estar, consegue
visualizar também as agonias e tristezas nas atitudes dos seus alunos.
Este mundo emocional dos educadores retrata os medos e
inseguranças pertencentes as suas ansiedades e angústias da sociedade
atual. Mas é na compreensão das emoções que o educador se
redescobre em comunhão com o grupo, meios para sair da condição
alienante e massificadora de seu modo de existir e educar. Este é um
lugar de reencontrar-se consigo mesmo, com os outros, e também
refletir sobre o seu papel de educador na sociedade.
Este processo de terapia analítica de grupo na escola pode
desencadear uma reação dos prós e contras na prática educacional.
Primeiro porque existem aqueles que não querem mudar, pois vivem
alienados e massificados na sua condição de vida, com medo de ser
perseguido, preferem continuar no seu estado de acomodação, e os
outros que estão sofrendo, acostumaram-se a viver doentes. Ambos
precisam urgentemente de uma terapia para ajudá-los nesta difícil
tarefa de superação das dificuldades.
Ninguém pode fugir de seus problemas pessoais deixando-os
fora da sala de aula, é uma bela ilusão, uma saída fácil afirmar que os
problemas pessoais não interferem no ato pedagógico. O professor é
humano e, portanto, também sofre as agonias dos contratempos da
vida, é preciso ajudá-lo a desafiar e enfrentar as neuroses. Ao aprender
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a interpretar os nódulos malignos de sua depressão ou de seu stress,
começa um processo de elaboração dos seus segredos, esta nova
compreensão de suas atitudes, interfere de forma positiva no seu fazer
pedagógico. Qualidade de vida tem haver com a qualidade na
educação.
Ao compreender os fatos e acontecimentos geradores de
situações do desencanto com a educação, surge num horizonte
próximo, a conscientização dos verdadeiros problemas que impedem a
excelência da aprendizagem. Num primeiro momento o grupo de
professores precisa confiar um no outro, o resgate da ética e da
sinceridade é fundamental para a aceitação das diferenças na forma de
pensar e ser, de cada membro do grupo analítico.
Aos poucos começam a tomar consciência das influências
educacionais e culturais, sociais, econômicas e políticas que fazem
parte desta estrutura mórbida chamada sociedade. Descobrem que
somente a racionalidade ou o domínio de sua área de conhecimento,
não consegue dar conta de outras demandas importantes para a sua
saúde psíquica. Somente a cultura intelectual não resolve todos os
impasses da educação.
Começa a dar-se conta de que é o protagonista responsável
por esta situação caótica na sua vida, procura entender como isto
aconteceu, e mais, saber que tudo isto é expressão de sua
subjetividade emocional e pulsional. Ao seguir o método analítico,
consegue modificar suas crenças e seu modo de pensar, ser e agir, e
neste momento redescobre o valor de conhecer-se, esta nova condição
de vida, pertence ao mundo da saúde emocional.
Deste modo renasce um desejo de mudança e com isto a
vontade de realizar novos sonhos, não sente prazer na acomodação,
não participa da superficialidade, não sente gozo na dor, integrado e
harmônico nas suas ações, está motivado a continuar a aprender, este
novo modo de fazer educação reacende no seu íntimo, uma chama de
esperança para sonhar com um novo tipo de educação. Este educador
renasce das cinzas da velha escola e ressurge no seu modo de pensar a
alegria de viver com prazer, o conhecimento é algo mais para libertá-lo

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das amarras da falsa ilusão, ou das fantasias que o distanciam de sua
realidade pessoal e familiar.
Quando começa a tornar-se produtivo, podemos considerar o
aporte significativo da saúde emocional do seu grupo de trabalho
analítico. Está disposto a não cair mais nas malhas de suas neuroses, da
estagnação e da acomodação, não precisa fugir de si mesmo, buscando
nos psicotrópicos um sedativo para a consciência, como se fosse
possível fugir dos seus conflitos pessoais e educacionais. Está disposto
a lançar-se em busca de novas experiências, considera importante
fazer uma revolução na sua história pessoal.
Não basta ficar julgando, condenando ou criticando, mas
questionar e desenvolver novos projetos que tornem possível a
transformação daquela realidade educacional. Não é um mero
repetidor e cumpridor de tarefas, mas faz deste tempo uma
experiência única e original para lançar-se em novas descobertas. A
esta prática podemos chama-la de criatividade.
O corpo docente torna-se testemunha de um educador que
faz a diferença, não é alguém que passa pela educação simplesmente,
mas contribui significativamente para mudar aquela realidade dos
alunos e de seus colegas. O método analítico, desperta a força criativa
e coloca em ação a sua autonomia e defende com ênfase a sua
liberdade. A análise não se restringe somente a elaborar a repressão
sexual, mas acima de tudo libertar e colocar em ação todo seu
potencial humano, a favor de si mesmo e de sua comunidade escolar.

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1.1 - A importância da psicanálise na aprendizagem escolar.

Sabemos da complexidade para tratar desta questão da


educação e sua relação com a psicanálise, é preciso aprofundar
algumas questões para entender melhor o problema da apatia, do
desânimo no fazer pedagógico. Faz-se necessário entender esta
“práxis” dialética entre a dimensão subjetiva, e na subjetividade
descobrir os motivos da falta de comprometimento nas mudanças que
a educação precisa e necessita com urgência.
A realidade da educação no Brasil não é das melhores,
portanto é necessária uma análise crítica sobre o fazer pedagógico,
pois o problema da educação diz respeito a toda sociedade. A
psicanálise tem como objetivo conscientizar sobre o valor e a
importância do professor em nossa sociedade, mas também provocar
um interesse para saber mais de si mesmo. Justamente para sair do
estado de alienação.
Talvez esta seja uma das causas de tanto sofrimento na vida
do educador, o seu total desconhecimento de sua realidade emocional,
este estado de inconsciência, a sua baixa autoestima, o conceito muito
pobre de si mesmo, pode ajudar a piorar o seu trabalho. O
desconhecimento deste estado de desânimo e apatia e em alguns
casos, de depressão ou somatização, causa um prejuízo ainda maior na
aprendizagem dos alunos.
Quando se instala este tipo de doença na vida do educador,
todos sabem a trágica situação das licenças e atestados por não
conseguir suportar o “stress”, a “angústia”, “ansiedade” e “desespero”
diante de tanto problemas pessoais e na sala de aula. Mas estes
problemas começam a ter solução quando consegue restabelecer sua
saúde psíquica, para tal empreendimento na educação é preciso
questionar, e ao buscar novas respostas, encontra a necessidade de
formular novas perguntas, este ciclo dialético propicia a renovação do
seu fazer pedagógico.
A questão de sua humanização diz respeito à preocupação da
psicanálise humanista, apesar de todos saberem dos conflitos, medos,
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e dificuldades de relacionamento que contribuem para a desunião da
classe. A repetência dos alunos, o baixo aproveitamento, o abandono
da escola, o comprometimento da saúde dos educadores, os baixos
salários, a desvalorização, a falta de condições tecnológicas e estrutural
nos lança num grande desafio, e talvez torne-se a questão principal da
educação em nosso país.
Quando constatamos esta realidade devemos reconhecer a
existência de um processo de desumanização, que atinge diretamente
a comunidade escolar e a vida das famílias. Mas devemos ter coragem
para lançarmos um olhar crítico sobre esta realidade, e procurar no
diálogo sincero, novos caminhos de luta e conhecimento para elevar a
educação ao seu espaço merecido. Se conseguirmos aceitar este
desafio de elevar a qualidade de vida dos educadores, o rendimento da
aprendizagem na escola é questão de tempo. Podemos aceitar a
vivência de um humanismo comprometido com a dignidade da vida das
pessoas.
Temos alguns entraves para alcançar este objetivo, a apatia, a
alienação, o desencanto, o desânimo, o pessimismo, as doenças, o
abandono dos sonhos, impedem a continuidade desta busca. Então
começamos a conviver com este estado de desumanização ao lado da
humanização, esta dupla realidade nos mostra a nossa limitação, e a
necessidade de continuarmos numa busca ininterrupta de novos
métodos, ações e estratégias de motivação na educação.
A educação tem uma vocação muito particular, transformar
mentes de crianças, dos jovens, em cérebros autônomos e
responsáveis, ensinar o processo de superação, de coragem e ousadia
para enfrentar as injustiças sociais, a fome e a miséria. O ambiente
escolar é um lugar para aprender a superar estas discrepâncias,
resgatar no aluno o desejo de aprender e também de ser alguém, e
acima de tudo, lutar sem tréguas pelo seu espaço numa sociedade
individualista e excludente.
A pior violência é quando o aluno começa a desistir de si
mesmo, desconfiado e desanimado repete o discurso de seus mestres,
inconsciente de sua ação, identifica-se com um modelo de líder que
vive sem alegria e satisfação. Somente um novo tipo de pedagogia,
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alicerçada na confiança e no amor, pode resgatar na formação do
caráter deste aluno, o desejo sincero de ser alguém na sociedade.
O aluno deve estar consciente de seu estado de pobreza de
valores éticos, de iniciativa, de criatividade, de ousadia, de coragem, de
iniciativa, qualidades estas indispensáveis para poder aprender e
disputar no seio da sociedade um lugar ao sol. A primeira pobreza a ser
combatida é dos valores éticos, para depois dar-se conta da pobreza
material.
A desumanização também está presente na vida do aluno,
quando encontra-se abandonado à própria sorte. Sentindo-se
injustiçado e marginalizado possui um desejo de viver a justiça, e
incluir-se numa cidadania que lhe foi negada. A desumanização não
encontra-se somente nos alunos, ou na vida de um professor, se
estende a todas aquelas pessoas excluídas de uma oportunidade de
estudo e trabalho numa sociedade violenta e individualista.
Ainda estamos muito longe de viver a humanização, mas
muitas pessoas provaram que é possível sair da condição de não ser,
para ser mais. Quando falta uma educação de qualidade, estamos
comprometendo no futuro a vida de nossas crianças e jovens, esta é a
primeira atitude desumana das autoridades públicas que privilegiam o
acesso a uma camada da população, em detrimento de outras, que
jamais terão a oportunidade de frequentar os bancos escolares.
O objetivo da psicanálise humanista é pelo combate a toda
iniciativa de desumanização, por isto mesmo, precisamos educar
emocionalmente as pessoas a viver com dignidade, com saúde,
ensinar-lhes a utilizar sua inteligência emocional à favor de sua
existência. O significado da teoria psicanalítica nesta corrente teórica é
lutar contra as formas de alienação que agridem e violentam o
potencial de tornar os homens livres.
Mesmo aqueles professores que vivem na dor e no
sofrimento, podem a qualquer instante mudar seu estilo de vida,
porque o fato de viver nesta condição mostra o seu estado de
inconsciência, e do completo domínio das neuroses sobre o seu modo
de pensar, emocionar-se e viver. Muitos vivem estes tormentos de dor,
justamente porque sofreram as intempéries de uma educação
19
opressora e desumanizante, o educador também é vítima desta
situação cultural, social, política e econômica.
Mesmo diante de todas estas dificuldades os educadores
estão dispostos a não se tornarem vítimas de suas próprias neuroses.
São as raivas, medos, ódios, contra todas as violências e abusos
sofridos, que reprimiram e bloquearam a livre expressão de seu
potencial para amar e educar. Em algum nível o educador tem
consciência deste passado que atormenta e alucina a sua existência,
não existe saída para esta dicotomia, a educação precisa deitar-se
sobre o divã, pois está doente e improdutiva.
O educador enfrenta na sua situação e não encontra um
espaço para desenvolver o seu potencial intelectual, aos poucos
desmorona numa saraivada de queixas, indiferente e doente, caminha
a passos largos à completa imobilidade. A análise é um espaço para o
educador recuperar a sua humanidade perdida, sentindo-se
comprometido com o cuidado de si mesmo. Começa um processo de
compreender as origens de seu fracasso e elabora seu estado de
desânimo, apatia, aos poucos sente a necessidade de perdoar-se, e
mais, ajudar também os outros colegas que se encontram a mercê de
suas neuroses destrutivas, a encontrar um novo sentido para a sua
existência.
Os movimentos das greves dos sindicatos encontram-se
desgastados, mesmo com o aumento dos salários que são irrisórios,
não conseguem retirar do seu convívio diário o infortúnio de conviver
com uma autoagressão. Os dirigentes sindicais deveriam pensar na
qualidade de vida do educador, e não somente no aumento salarial,
mas num projeto audacioso que contemple um espaço para elaborar
este desgaste do magistério. Os dirigentes devem saber ouvir as
reivindicações de seus colegas e principalmente a sua saúde orgânica e
psíquica.
Quando o professor começa a questionar também a função e
finalidade do sindicato, abre um precedente para participar com algum
projeto de prevenção e promoção da saúde psíquica do educador. A
vida destes educadores deve estar acima das políticas partidárias, dos

20
interesses dos burocratas do estado, das leis e regras das secretarias de
educação.
Os educadores devem conscientizar-se sobre o dever do
estado em oferecer uma escola com qualidade e dignidade para os
alunos, ao mesmo tempo aproximar-se numa relação de respeito e
consideração para com a comunidade. A renovação das ideias de
ensino, dos métodos, das pedagogias é uma necessidade, isto será
possível com diálogo e menos rigidez.
A realidade da educação deve estar isenta de ideologia, do
discurso totalitário que infantiliza e idiotiza, viciado no desejo de
mandar e defender seus interesses partidários. Isto não é política e sim
politicagem, que não é muito diferente dos interesses do governo que
negocia para manter seus ganhos no poder.
Os movimentos sociais devem buscar nas propostas um
comprometimento efetivo na defesa dos interesses da classe
trabalhadora e não somente quando lhe é conveniente. Este processo
de libertação pessoal pode acontecer com a ajuda dos sindicatos,
movimentos sociais e organizações não governamentais, mas é preciso
prestar atenção sobre a intenção destes líderes, caso exista interesses
pessoais e não da categoria, deveriam ser questionados e impedidos de
liderar em nome de sua classe trabalhadora.
A maturidade e a experiência mostram que é possível alguém
por vontade própria buscar tudo aquilo que lhe é de direito, porque o
poder de decisão, a realização de seus projetos, depende única e
exclusivamente do seu esforço e iniciativa pessoal. Quando alguém
consegue mostrar o grau de sua inteligência e criatividade, sempre
desperta nos olhares dos invejosos e ciumentos, um interesse para
boicotar e impedir a sua realização.
Mas a fortaleza, a esperança, robustece o espírito, confiante
nos seus projetos não desiste diante das ameaças e perseguições. Tem
na alma a grandeza, a generosidade, a compaixão e sabedoria para
lidar com a falsidade. Os parasitas vivem sobre o esforço e
produtividade de alguém, a preguiça é o único caminho conhecido para
viver a duplicidade de personalidade e jamais buscar sua autenticidade.

21
Não estão interessados na saúde e no bem estar dos colegas.
No oportunismo, na exploração da ingenuidade, encontram a fonte de
subsistência pessoal. O neurótico explorador é aquele que vive
sugando as ideias e as energias do outro. O grupo de docentes sabe
discernir esta falsa caridade, imbuídos no desejo sincero de mudança,
estendem suas mãos num gesto de solidariedade e comprometimento.
O estado emocional dos educadores é de medo, insegurança,
sentimento de inferioridade, pessimismo, e num gesto de gratidão
reconhecem na sua união a força para vencer todos os desafios. A
inteligência começa a ser utilizada com mais eficiência na
transformação das crenças e no estado de alienação e consumismo. Ao
ensinar, aprendem com humildade a difícil tarefa de reconciliar-se
consigo mesmo, com seus colegas, e juntos, buscarem soluções para
tornar a vida mais autentica e menos superficial.
Esta talvez seja a verdadeira experiência de humanização na
educação, porque estão buscando dignidade, unidos num mesmo
objetivo. Uma vivência que testemunha a condição de que vale a pena
lutar pelo seu espaço na educação. Sem esquecer as injustiças,
conseguem transcender as dependências das instituições e pessoas,
buscam juntos com a comunidade os recursos e condições para prover
a sobrevivência de seus projetos.
Quem mais que os professores para saber da triste realidade
de sua prática educacional? E sem dúvida, eles mesmos estão
conscientes da necessidade de mudança. Mas esta transformação não
acontece por acaso ou por um milagre de Deus, mas pela organização e
planejamento de suas lideranças. Por uma consciência capaz de
entender o valor deste engajamento, este é o primeiro ato de amor,
para com seus alunos, pais e comunidade escolar.
O que pretendo mostrar nesta reflexão sobre a educação é o
valor da teoria psicanalítica humanista para ajudar na recuperação da
saúde emocional dos educadores, e tornar a aprendizagem no
ambiente escolar mais eficiente. Esta nova consciência consegue
desinstalar-se do processo alienante e massificador. Uma pedagogia
que seja capaz de cuidar da saúde dos educadores e de todo o corpo

22
docente, engajado neste grande projeto de transformação da mente
dos seus alunos.
O grande problema é quando a educação oprime e aliena
seus colegas, este autoritarismo é ainda resquício de uma opressão
totalitária, da conivência dos vinte anos de regime militar. No seu
duplo discurso pretende contentar a gregos e troianos, esta
inautenticidade distancia e torna o corpo docente incrédulo às
mudanças que se fazem necessária.
Enquanto os líderes persistirem dentro desta perversão
pedagógica não existe qualquer chance para a mudança, estes cargos
de liderança devem estar nas mãos de pessoas sinceras e
comprometidas para fazer desaparecer qualquer iniciativa de
desumanização.
Quem melhor que o neurótico para entender o seu
sofrimento? Resta saber se existe o desejo sincero de sair da condição
opressora da neurose maligna, pois seu efeito é devastador, tem medo
de amar, medo de ser alguém, medo de lançar-se em busca de seus
objetivos, medo de ser bem sucedido, medo de ficar doente, etc.
Quem seria a pessoa mais interessada em sair desta zona de
conforto e alienação? Esta situação existencial é plena de ansiedade,
angústia e desespero. A cura exige um novo estado de consciência, esta
condição não surge por acaso, mas por uma decisão pessoal, plena de
disciplina, estudo, análise pessoal, investimento de tempo, priorizando
assim este estado de espírito. Renovado nesta esperança e com esta
nova consciência, inicia-se um novo modo de compreender a
existência, a primeira delas é a opressão que suas crenças limitantes
conseguem fazer com a saúde.
Este processo de conscientização não acontece por acaso ou
como afirmou Fromm, através de um “auxiliar mágico”, o milagre que
tanto busca é o conhecimento de si mesmo, tomar consciência de que
esta liberdade pode fazer a diferença na vida. Esta mesma neurose
propicia uma condição para pensar a existência, o sofrimento, a dor, as
queixas, a depressão, as doenças crônicas, os sintomas
psicossomáticos. Precisam da recuperação de sua autoestima, de seu
autoconceito, de sua autoimagem, estas três condições podem ser
23
decisivas para renovar a esperança de amor no processo de
transformação.
Porque a experiência de viver o desamor na vida profissional
e pessoal mostra um ato de violência e negligência contra si mesmo.
Estes ganhos secundários, as fantasias, as falsas gratificações, os
conceitos equivocados, interpretações erradas sobre a realidade,
podem estar protegendo uma atitude autoritária e agressiva contra sua
pessoa. O tratamento psicanalítico na psicanálise humanista procura
libertar o ser humano das amarras, da prisão, da opressão, sem
liberdade e sob o domínio da pulsão destrutiva inicia-se o processo de
sua atuo destruição pessoal.
A psicanálise humanista busca o senso de justiça, não algo
externo a sua pessoa, mas na análise destas injustiças cometidas contra
si mesmo, procura no processo de conscientização a recuperação da
humanidade perdida. O analista procura fazer-se entender, o
sofrimento precisa do espaço de reflexão para compreender a
manifestação inconsciente das neuroses, elas oprimem e obstruem o
potencial de vida.
O analista está ciente de que precisa contar com a decisão
pessoal do analisando para sair da condição de alienação pessoal, esta
decisão é o primeiro passo para o processo de compreensão e
libertação da estrutura neurótica que consome e desperdiça sua
energia psíquica.
Este é o grande problema da análise, fazer com que o
paciente entenda, pois o maior prejudicado nesta história é ele mesmo,
sua neurose é um câncer e consome aos poucos toda sua vitalidade.
Esta mesma emoção quando distorcida de sua real função torna-se um
parasita, sua incongruência, inautêntica, é fator limitante de sua
personalidade.
A pedagogia e a psicanálise possuem objetivos bastante
parecidos, pois querem ensinar o processo de reaprender e reavaliar as
atitudes disfuncionais, estas podem ser o motivo principal do bloqueio
na aprendizagem. Aprendizagem de novos valores, de conhecimento,
de iniciativa, de abertura a novas experiências, de escolhas mais sadias.

24
Quando conseguir libertar-se do processo opressivo da
neurose, então podemos dizer que indiretamente encontra-se diante
de uma nova pedagogia existencial, aquela arte capaz de ensinar
atitudes funcionais à saúde psíquica.
Enquanto a educação estiver sobre o domínio desta forma de
pensar opressora e autoritária, estará fomentando o medo e a inibição,
este distanciamento não contribui para a vivência afetiva na relação
professor aluno. A pedagogia precisa da psicanálise e ambas se
complementam neste processo didático e metodológico, pois é preciso
resgatar no íntimo do aprendiz, o desejo de sair também da condição
de desprazer e apatia.
Enquanto não decidem sobre o que fazer com o seu método
de educador, a educação acontece de maneira distante e ausente das
verdadeiras necessidades dos alunos, incompreendidos e cheios de
raiva partem para o enfrentamento. Suas estratégias são utilizadas
para boicotar a sua aprendizagem, infelizmente vive-se um confronto
que acaba terminando em violência e indiferença. Por isto, torna-se
quase impossível fazer com que a escola seja um ambiente agradável,
onde o aprender a reaprender torna-se algo importante e essencial à
vida dos alunos.
Os educadores devem saber que o vínculo afetivo é
fundamental para o empenho e dedicação do seu aluno na
aprendizagem. Enquanto os alunos sentirem-se distantes e
descomprometidos com a sua educação, estaremos malhando em ferro
frio, ou dando socos em pontas de faca. Os educadores devem parar e
pensar, começar primeiro pela sua didática, falar de motivação, de
estudo, de satisfação, quando o próprio discurso afirma uma conduta
contrária a este tipo de educação.
O educador não é culpado desta forma de pensar, e
tampouco os alunos, didaticamente esta é uma prática internalizada
depois de muitos anos de magistério, por isto mesmo podemos
constatar que todo este esforço, resulta muitas vezes na repetência, na
violência, no silêncio, na evasão escolar, pois este resultado mostra o
fracasso deste tipo de educação. Não gostaria de apontar culpados, ou

25
procurar falsas desculpas para responsabilizar alguém por este
processo alienante e massificante.
Gostaria de fazer uma análise mais profunda e crítica sobre a
real situação da educação, às vezes estamos com raiva e ódio, e esta
mesma indignação e frustração começam a violentar o corpo, os
sintomas psicossomáticos, as depressões, a apatia, o desânimo, frutos
da culpa inconsciente que procura um lugar para punir-se.
Ao tomar consciência desta triste realidade, procura sair
desta opressão, percebe o desanimo, o desinteresse e a indiferença no
seu fazer pedagógico. Este tipo de prática educativa reforça ainda mais
o medo do futuro. Confuso e impossibilitado, não consegue dar uma
resposta a esta situação de violência, então procura nos psicotrópicos
uma saída fácil para anestesiar seu desgosto. Esta atitude não resolve
os seus problemas e tampouco a realidade dos alunos, ambos estão
sendo oprimidos pelas contradições vivenciadas no meio social e
cultural.
O educador e o aluno vivem este processo de desumanização,
mas existe algo importante nesta experiência, ambos podem tomar
consciência deste processo de desumanização, para reverter esta
situação é necessário democratizar nossas relações e socializar as
frustrações, ambas as atitudes devem ser autenticas e sinceras. É
preciso abandonar o modelo distante e autoritário, responsabilizar-se e
assumir-se no processo de ampliação de conhecimento e consciência.
Este é o primeiro passo, tomar consciência, pois todo
processo precisa de reflexão e de uma nova postura pedagógica para
alcançar os resultados desejados. De nada adianta continuar na mesma
prática porque os resultados serão sempre os mesmos, esta é a
dinâmica da estrutura neurótica, interpretar os fenômenos do mesmo
modo e sempre repetir compulsivamente o mesmo método sobre a
realidade do aprendiz. Eis a compulsão à repetição.
A psicanálise pode fazer com que o educador consiga
descobrir seu estado de alienação, condicionado procura repetir e
exigir dos alunos uma prática distante de sua realidade. Na análise ou
na terapia de grupo ambos podem chegar a uma consciência de que

26
não devem persistir por um caminho infrutífero. Ou entender que esta
prática é disfuncional para a vida de ambos.
Quando alguém experimenta este conflito de sua dura
realidade educacional percebe a dor através dos sintomas, porque
racionalmente está disposto a lutar por uma educação de qualidade,
mas quando precisa escolher uma nova postura não tem a coragem
necessária. Outra realidade é mudar os condicionamentos dos alunos,
de receber tudo pronto, de copiar a matéria e depois reproduzir nas
provas, então os educadores desanimam e voltam ao método antigo e
antiquado.
A neurose maligna é uma crença sobre uma verdade
absoluta, esta situação emocional influencia na forma de pensar o
processo ensino aprendizagem. Na verdade esta incongruência é por si
mesma a essência do conflito emocional, mas com consciência
começam a perder o medo da mudança, deixam a submissão de lado, e
sua reação é de coragem, neste instante estamos observando a
recuperação do estado de humanidade.
Quando o educador oferece a nota de presente sem
exigência, entende que o aluno não é capaz de conquistá-la, mas ao
fazer esta caridade não tem consciência que tira a oportunidade de
aprender. A conquista fácil do não aprender, mais tarde será cruel, pois
ineficiente e despreparado, começa a viver em estado de sofrimento e
talvez de frustração, de não conseguir se afirmar profissionalmente. Se
o estudante soubesse do prejuízo de receber as coisas prontas,
daquelas notas ganhas sem esforço e dedicação, com certeza não as
aceitaria. Esta é uma falsa solução para a aprendizagem.
É um engano, pois o ambiente escolar deve ser de
aprendizagem, caso contrário, ambos estão fazendo de conta de que
existe alguma forma de conhecimento, quando na verdade não existe
proveito, prazer, ou sentido, perde-se o sentido de realizar aquele
investimento. A única forma de manter o padrão de comportamento é
através da imposição e obrigação. Pois começamos a pensar que este
tipo de educação atende a este tipo de prática pedagógica. Que
interesses invisíveis passam diante de nossos olhos e não conseguimos
enxergar.
27
Quando existe consciência o educador sabe do seu
compromisso ético e da responsabilidade do valor do conhecimento.
Sabe do seu compromisso de transformar este ser apático e
desanimado em alguém comprometido com a sua realização. A
formação do caráter de um novo homem inclui consciência crítica, que
saiba fazer história na dialética da sua existência, as conquistas são de
sua competência pessoal. Está comprometido politicamente com a
melhoria da qualidade de vida de seus colegas, alunos e pessoas da
comunidade.
Esta ética reacende no íntimo do educador uma verdade
capaz de sustentar sua responsabilidade de saber ousar, e ainda mais,
recuperar a sua dignidade e importância perdida. Não compactua com
as ideologias e interesses obscuros, como as promessas dos políticos e
cargos de comissão, sabe que não deve usufruir do dinheiro suado de
milhões de trabalhadores para fazer o jogo dos políticos interessados
na sua próxima reeleição.
Sabe que o dinheiro público deve ser muito bem aplicado,
principalmente na formação dos educadores, e numa escola com todos
os recursos materiais e tecnológicos, para viabilizar uma pedagogia
capaz de mudar a consciência de uma pessoa honesto e sincera para
com o seu fazer pedagógico. De que adianta ocupar um cargo público
sabendo que este dinheiro é fruto da miséria e da ignorância de
milhões de brasileiros?
Na terapia de grupo analítica ou mesmo na sua análise, o
educador pode compreender a importância de sair da condição de
perda e assumir-se numa nova postura diante do ato educativo. Como
afirmei anteriormente o educador, e mesmo o aluno, em algum nível
experimentam esta apatia, resultado da prática alienante e sem
sentido, sabemos e temos consciência da extrema dificuldade de viver
numa sociedade contraditória e injusta. Mas esta tomada de
consciência não convive com o ministério da educação que oprime e
impõe regras, normas e leis que defendem um modelo de alienação na
educação.
Este mesmo ministério esta representado aqui pelos
dirigentes da educação, num ato sádico, exploram, massificam e
28
alienam, utilizando da força repressiva das policiais, das leis, obrigando
milhões de educadores a serem servis a um modelo de educação
atrelado ao controle do ministério da educação. O educador sabe do
poder destas forças, inclusive o judiciário que não faz outra coisa do
que proteger e fazer cumprir as leis do executivo e legislativo, e
defender a qualquer custo a permanência do estado de injustiça e
falência que encontra-se a educação.
Às vezes nos vemos com as mãos atadas, mas neste
momento é preciso coragem para utilizar a inteligência a favor de uma
educação que sirva aos interesses de nossa sociedade, e não ao
controle das mentes. Infelizmente a grande maioria dos educadores
não está ciente do seu fazer pedagógico, pois inconsciente de seus
atos, seguem as diretrizes das normas e regulamentos de um estado
autoritário, injusto e explorador.
Os recursos públicos sempre serão aplicados naquelas escolas
ou nos municípios que seguem aquela legislação, leis e regulamentos,
são situações muito difíceis, por um lado sabe que deveria agir de
forma diferente, mas por outro lado tem medo da perseguição ou de
uma possível demissão. A ascensão desta nova consciência não é uma
tarefa muito fácil, não vamos ser ingênuos, é preciso de uma decisão
silenciosa, mas atuante em sua vida, para viver esta nova experiência
de liberdade democrática.
A psicanálise pode ajudar e muito, não é uma tarefa
impossível e pessimista de como Freud enxergava a educação. Porque
mesmo no início da psicanálise, Alfred Adler em conjunto com o
ministério da educação da Áustria, começou um trabalho psicanalítico
com os educadores de toda a rede de ensino. Freud para criticar o
desafeto de seu amigo, por ter sido um dos dissidentes, optou por
desmerecer e criticar a educação. Por isto sempre afirmou que a
educação é uma tarefa impossível.
Esta nova consciência que buscamos na vida do educador não
compactua com um modelo reprodutor de conhecimento, não
podemos aceitar a indiferença, a doença, a desmotivação, a repetição,
a desvalorização, ser como um vírus que começa a devastar e matar o
gérmen da vocação de ensinar. Esta nova proposta não inclui a
29
indiferença, o individualismo, a competição desleal, a valorização de
uma classe, mas uma afinidade com a solidariedade, a compaixão, a
socialização do conhecimento, a distribuição justa de renda.
A psicanálise humanista não está interessada em seguir este
modelo descomprometido com a doença e a exploração do homem
pelo homem, aceitando a condição alienante sem oportunizar uma
nova visão sobre si mesmo. Oprimido pela neurose de caráter, não
consegue sair desta prática pedagógica, ao começar a enxergar de
maneira diferente é capaz de sustentar um novo modo de viver, com
felicidade e autenticidade. Saindo do individualismo e contribuindo no
grupo, numa procura por uma saída mais digna e honrosa para a
educação como um todo.
Muitos advogam que gostariam de implementar esta
revolução na educação, mas quando chegam ao poder, demonstraram
interesse somente nos salários bem pagos pelo estado, e desta forma
usam as mesmas leis para impor e explorar os seus próprios colegas.
Pelo que conheço são raros os educadores que conseguiram ser
autênticos com este novo tipo de política na educação.
Quando isto acontece, podemos afirmar que os focos
neuróticos de sua prática autoritária estavam mascarados por detrás
de um discurso classista. Estas pessoas sabem representar muito bem
seu papel, e depois seguir adiante com o mesmo modelo de gestão na
educação.
Quando um educador possui consciência não encontra-se à
venda, e sua posição ética não pode ser comprada com um cargo ou
uma gratificação. O poder corrompe com certeza, o dinheiro e suas
compensações podem ser os agentes da corrupção pessoal, estamos
vendo isto a todo momento na educação e no âmbito político. O que
resta a nossa juventude? Como estes jovens conseguem aceitar esta
condição de injustiça sem nenhum tipo de contestação? O que a escola
está fazendo com a consciência desta juventude? Procure a resposta
no silencio, na indiferença, no abandono, na violência dos alunos.
Qualquer revolução é importante, a mais difícil é a revolução
pessoal, de mentalidade, de crenças, de ideologias, de
fundamentalismos, de ambições, de interesses que utilizam o poder
30
para sustentar o mesmo modelo didático e pedagógico. Estou
comentando sobre a escola pública, pois na escola privada todos
sabem qual é o seu objetivo. Se não sabem pensem um pouco sobre o
seu poder econômico.
Sobre estas velhas crenças, ideologias sectárias e
fundamentalistas consideradas revolucionárias por muitos,
anteriormente os regimes dos proletariados foram manipulados e
induzidos em nome da liberdade e humanização, a matar milhões de
pessoas, podemos citar o regime nazista de Hitler e Stalin. Estes
querem fazer a revolução com interesses próprios, esta falsa
consciência dos líderes enfatiza cada vez mais a descrença naqueles
que administram os recursos públicos.
Em nome da democracia se tornam corruptos, e mesmo os
esquerdistas depois de chegarem ao poder, começam a despertar os
antigos desejos de poder e ambição. Inconsciente desta ação, o próprio
tempo encarrega-se de tirar-lhe a máscara. O medo de viver no
desemprego e longe do capital econômico induz seu desejo a
compactuar, ou mesmo seguir, as diretrizes daqueles que usurpavam e
exploravam os miseráveis. Agora em nome da governabilidade ou
mesmo da administração pública esquecem os compromissos éticos e
políticos.
A questão é como um líder pode sentir-se livre para não ser
coagido ou mesmo seduzido a tornar-se um corrupto? Esta mesma
liberdade democrática conseguida com tanto sofrimento, agora
começa a ruir da mesma forma que as práticas anteriores. É um duplo
discurso de encontrar-se no poder, usufruir das riquezas econômicas, e
depois conviver e defender os direitos dos marginalizados e dos pobres
de consciência e espírito.
A educação sem saber, e num completo estado de
inconsciência, reproduz o estado de alienação e falta de senso crítico, o
aprendiz é um mero receptor dos conteúdos programáticos da escola,
alienado e ausente de si mesmo. Segue aquelas orientações dos seus
educadores de tornar-se submisso, aceitar, concordar e não
questionar, e muito menos refletir sobre a condição de pobreza
econômica e cultural.
31
O superego social cumpre desta forma a proteção dos
interesses, manter de qualquer maneira estes desejos adormecidos e
controlados pela ação do castigo, culpa e medo. O poder desta
dominação opressora retira a liberdade de ser e pensar, no lugar deste
medo é preciso à coragem, mas às vezes o domínio é fatal e muitos
carregam pelo resto de suas vidas esta dominação. Sem poder decidir e
fazer suas escolhas, perdem a liberdade e autonomia, sem estas
qualidades começam a viver na incongruência e na hipocrisia.
Este processo de tomada de consciência passa por uma
decisão pessoal de assumir-se nesta responsabilidade de realização
pessoal, porque sempre age em função dos outros ou de alguma
instituição, e inconsciente desta decisão, deixa de viver a sua liberdade.
A independência, a lucidez, a autonomia, é uma conquista diária,
ancorada no seu desejo de superação das neuroses e dificuldades
pessoais. A neurose retira a condição de ser livre para amar e ter
saúde, a alegria, o estado de ânimo, a disposição, necessita da
realização dos seus sonhos, somente desta maneira pode experimentar
a liberdade.
A alienação acontece quando em nome da pretensa
“liberdade” os homens impõem a violência e a guerra. Toda neurose
encontra-se em guerra com o desejo de viver o amor, pois no seu lugar
existe a raiva, o ódio, a ganância e a exploração. É no equilíbrio e na
integração das suas emoções e pulsões que a vida começa a expressar
o diálogo, o respeito e buscar sempre a verdade.
Quem procura viver a ética e a saúde psíquica precisa desta
integração, necessita elaborar as neuroses e conflitos emocionais que
são a base da limitação pessoal. Isto implica na elaboração,
confrontação, esclarecimento e interpretação das formas de pensar e
emocionar-se que é a antítese do quadro patológico. A terapia analítica
busca este novo tipo de consciência, capaz de sair da condição
destrutiva para a excelência de suas realizações, a satisfação de utilizar
o seu potencial transforma a energia psíquica em saúde e paz.
Na dinâmica do inconsciente existe a condição de não
conseguir viver a liberdade, e nas mentes dos obsessivos compulsivos o
medo sem medida do processo de autodestruição ou na destruição das
32
pessoas amadas. Quando o paciente encontra uma saída para seu
estado de sofrimento, realiza a experiência da superação, este
aprendizado acontece no meio da dor, neste instante começa a
reerguer-se, utilizando suas forças para fazer frente à opressão da
neurose.
A neurose benigna ou maligna consegue destruir toda forma
de humanização, perdido nas suas ações inconscientes reage de forma
submissa ao domínio da doença. As emoções ancoradas nas vivências,
estabelecem o domínio da interpretação sobre a realidade, esta
fantasia do poder ilimitado das alucinações e delírios, encarrega-se de
agregar ainda mais poder à megalomania. O querer ser mais que todos,
a busca compulsiva pelo poder a qualquer preço, o desejo de ser
admirado e desejado pelos marginalizados, e despossuídos de nossa
sociedade, a ideia obsessiva de tornar-se um messias ou um Deus.
A neurose tira a espontaneidade, a criatividade, e torna as
pessoas alienadas e adaptadas ao seu contexto social e cultural. Com
medo de viver em liberdade optam pela saída fácil de sedar a
consciência, pois uma consciência adormecida pelo consumo
exagerado e dependente dos psicotrópicos permanece numa outra
realidade, um mundo desprovido de qualquer tipo de ameaça, pois
vive sobre o amparo das drogas lícitas e ilícitas.
Mesmo o traficante encontra-se sobre o domínio da
exploração da doença e infelicidade para poder sobreviver, um
vampiro que sobrevive graças ao sangue humano. Aqui incluímos
também os laboratórios e indústrias farmacêuticas, vivem e se mantém
sobre a exploração da doença. Somente uma nova consciência torna
possível dar-se conta de que esta sendo usado e manipulado, sair da
condição alienante é a primeira condição de cura, pois livre das drogas
consegue utilizar o seu potencial emocional e cognitivo para realizar os
seus desejos.
Existe um enorme medo de ser, pois o ser saudável convive
com o sucesso, o bem estar, a saúde, a felicidade, a alegria, com a
realização sente medo da incompreensão, da perseguição, da inveja,
do ciúme e das agressões. Por medo de viver neste estado preferem
voltar ao estado anterior, pois acaba prevalecendo o complexo de
33
inferioridade. Inconsciente prefere a doença antes da saúde, atrelado
ao ganho fácil de afeto entorno da doença, esquece do compromisso
com a autonomia e a criatividade. Prefere a condição submissa e bem
adaptada a obediência do que o desafio da existência.
A esta situação podemos chamar de conflito neurótico
existencial, a incongruência, a falta de clareza sobre si mesmo, enaltece
ainda mais o estado de angústia, porque esta situação existencial não é
esclarecedora sobre o seu sofrimento. Vive uma dupla realidade,
gostaria de ser melhor, mas o medo e a insegurança são maiores que o
desejo, nesta condição emocional faz a opção da adaptação social.
Somente uma análise profunda pode desmistificar esta dicotomia,
conscientizando este estado de inconsciência e fracasso pessoal.
A neurose sobrevive e domina graças ao conflito e a falta de
certeza, ainda mais quando a vida não é funcional e agregadora de
vitórias, não entende, mas sabe que caminha na contramão da
existência, e de acordo com a sua energia emocional pode continuar
num modo de vida rotineiro e sem atrativos, ou procura com todas as
forças, sair do estado de alienação. Não existe saída para a doença, ou
compactua e segue a rotina prescrita pelos medicamentos, ou procura
a gênese deste estado de dor e agressão para libertar-se.
Ao analisar seu processo de atuação inconsciente percebe o
estado de ilusão, o falso discurso, a desculpa esfarrapada, as
racionalizações de suas justificativas, gostaria de ser diferente, mas
esta dominada pelas suas compulsões. A castração sofrida pela
intervenção do superego é devastadora, porque retira o direito de ser
livre e viver, distante das amarras ideológicas opressoras, mascara uma
falsa crendice da realidade educacional.
Este é o dilema existencial dos neuróticos anônimos, a
psicanálise pode emprestar sua teoria e método para agregar
compreensão ao pedagógico, no sentido de ajudar a resolver seu
conflito na educação. O psicanalista é um parteiro, na análise renasce
um novo ser, ao conseguir resolver as incongruências, experimenta a
concretude da paz, da realização e satisfação pessoal, pois encontra-se
longe das contradições, deixa de explorar e manipular, consegue impor
respeito a si mesmo.
34
A integração das pulsões e emoções no organismo e na
existência consegue dar ao paciente a condição de viver uma vida mais
plena de sentido. A intenção da análise é sair da dicotomia existencial
entre o sadismo e masoquismo, porque nenhuma das práticas é
favorável ao engrandecimento do caráter. O analista possui o desejo de
ver no homem a compreensão da realidade pessoal e existencial.
Aprende pela educação das emoções, o caminho para lidar com estes
desejos nefastos e perturbadores da consciência.
O renascimento deste novo educador é a condição para
acabar com todas as formas de sofrimento, sair da situação alienante, é
o mesmo que experimentar, saúde, paz, alegria e felicidade. Alguém
capaz de ser congruente e integro nas suas ações, talvez seja o único
estado que não permite a traição e o engano, e são tão caras para
aquelas pessoas que confiam e depois precisam conviver com o
engano.
Não basta apenas fantasias ou acreditar nas belas palavras do
discurso, elas não dão conta da demanda emocional, é preciso muito
mais que isto. É necessário fazer uma escolha competente, pois esta
opção é saudável e torna a vida das pessoas do seu convívio um
ambiente de amorosidade, sustentado pela verdade e não pela
mentira. O paciente precisa entender que as neuroses são bloqueios e
impedem a livre expressão do potencial criativo.
A neurose consegue levar a pessoa a isolar-se, e na solidão
viver a amargura de seu sofrimento, este impasse deve ser superado,
sair da condição de medo para a coragem de ser. A neurose não é o
fator determinante da infelicidade, é apenas algo que limita e impede a
saúde psíquica. Consciente da situação emocional e existencial, possui
todas as condições para fazer frente aos sintomas, esta experiência é
apenas uma provocação para desencadear o processo de superação.
É preciso simplicidade e reconhecer o poder de dominação da
neurose necrófila, para depois conseguir transpor a condição de um
“self falso” para o caminho da autenticidade. Enquanto o paciente
encontrar-se vinculado com a simbiose e os processos de dependência
e dominação continua alienado. Aos poucos começa a convencer-se da

35
necessidade de buscar as forças necessárias para viver distante da
opressão.
A análise para ser produtiva e alcançar resultados, deve
apresentar transformações na vida e também no ambiente de trabalho
ou familiar, são estas as prerrogativas que nos mostra a existência de
uma conquista da liberdade de ser e pensar. A cura definitiva passa
pela tomada de consciência, não basta ter consciência da neurose e
dos prejuízos, saber disto tudo e continuar na mesma situação é o
continuísmo da ação predadora da neurose, com as racionalizações e
os pedidos de perdão e reparação.
A cura na psicanálise não está atrelada a simples tomada de
consciência, mas numa transformação efetiva da vida, não basta
culpar-se, ou viver se punindo por um estilo de vida conformista e
alienante. A pessoa deve estar imbuída da certeza pessoal, e buscar no
grupo a compreensão e o afeto de que necessita para fazer frente aos
seus dilemas pessoais. A verdadeira humanização passa por esta
vivência solidária na cooperação e na ajuda fraterna entre os membros
do grupo analítico.
Para sair desta condição de submissão e perda na existência,
é preciso uma decisão pessoal por competência própria, alcançar os
ganhos oferecidos pela vivência a cada ser humano. O autoconceito
anima a pessoa a desenvolver um amor próprio, saindo de uma
condição de exploração, dominação e violência, para uma vivência de
cooperação, ajuda mútua e respeito por cada ser humano.
Esta é uma “práxis” humanista, este compromisso ético está
muito acima dos falsos discursos sentimentalistas, na verdade é preciso
a vivência do amor verdadeiro, independente da situação. A sua prática
pedagógica passa a ser verdadeira e comprometida com esta tomada
de consciência, não consegue mais conviver com um ambiente de
exclusão e dominação. Esta concretude nos mostra outra face das
relações de poder na escola, é uma proposta alicerçada na expressão
do verdadeiro amor.
Muitos neuróticos vivem entorno de seus mitos, esta
realidade fantasiosa somente alimenta uma condição alienante, pois
distante da reflexão pessoal acaba vivendo neste estado de
36
inconsciência, por isto seu trabalho, seu corpo, pode ser vendido,
negociado e explorado, sempre com o seu consentimento. É assumir-se
como escravo de suas dependências, enraizado neste processo
destrutivo desenvolve todos os meios para concretizar na vida um alto
grau de infelicidade e superficialidade.
O tratamento da psicanálise humanista busca elevar a
dignidade humana e fazer desaparecer qualquer forma de
desumanização, não podemos pensar em alcançar objetivos na vida
sem antes repensar a subjetividade. Quando negamos o mundo das
emoções, estamos tornando o ser humano uma coisa, uma máquina,
um objeto. Esta dialética reaparece com o compromisso efetivo de
transformação pessoal, este mundo vivido, as crenças, as ideias,
precisam de uma reflexão dialógica para tornar-se de fato uma
subjetividade concreta e de valor na existência.
A realidade social e cultural está imersa numa dimensão
política e histórica, negar a importância das emoções e pulsões
inconscientes no devir histórico do homem é torná-lo uma coisa. A
transformação da realidade pessoal influencia e interfere com certeza
sobre o meio em que vive. Qualquer pessoa que começa a
responsabilizar-se pelo seu processo histórico e social, consegue
convencer pela práxis a sua capacidade, mas não podemos negar a
dimensão inconsciente das falsas crenças e dicotomias, elas podem
comprometer o objetivo na existência.
Não podemos negar a existência de uma sociedade omissa
quanto à saúde pública, em especial a prevenção, é preciso uma
atitude pessoal para transformar esta triste realidade numa situação
mais digna e justa para todos os cidadãos. Esta triste realidade social é
uma dimensão difícil de aceitar, por isto mesmo é preciso estar
consciente da existência desta situação degradante da saúde pública
em nosso país.
Esta dependência do serviço público é um dos graves
empecilhos, pois quando precisa sabe de antemão que sua vida corre
perigo, principalmente pela falta de atendimento e de remédios. Neste
sentido esta triste realidade da saúde mental em nosso país é péssima,
e infelizmente milhões de pessoas estão dependentes deste sistema
37
injusto e ineficiente. Por isto mesmo é preciso uma decisão e um
planejamento que contemple ações efetivas, para não cair nas malhas
aprisionantes de um serviço público descomprometido com a vida dos
cidadãos.
Este estado de consciência crítica sobre a realidade torna
possível desinstalar-se da acomodação. Esta mesma consciência
reflexiva, propõe uma dialógica para poder confrontar as ideias rígidas
que defendem, uma prática fanática e doentia. Não podemos entender
a realidade externa sendo diferente dos códigos e símbolos
internalizados no inconsciente. Esta reflexão positivista e racionalista
nega a realidade subjetiva, ou pretende defender a impregnação da
razão pura e simples sobre a essência do ser subjetivo.
Toda realidade transformada precisou antes ser sonhada,
estas imagens estão imersas de conteúdos contraditórios, portanto
quando se trata de sobrevivência, sempre vai haver jogos de
interesses, é uma disputa e ao mesmo tempo uma conquista. Qualquer
ação de comprometimento sobre a transformação da realidade de
alguém em prol de sua saúde é sempre uma ação benéfica e saudável.
A tomada de consciência é uma apropriação de um saber
antes plenamente desconhecido, depois torna-se uma consciência
plena de sentido, com o desejo de mudança, nesta apreciação, ambas
as realidades precisam conviver com a contradição. A dicotomia e os
jogos de interesses sempre existirão, independente de quem estiver no
poder.
A neurose sempre mostra na realidade, a contradição e a
incongruência, se o processo de reflexão constitui num diálogo
libertador, não há como negar o seu valor subjetivo para efetivar
qualquer tipo de transformação interna ou externa.
O analista observa a “racionalização” e a utilização dos
mecanismos de defesa que protegem a estrutura emocional da
destruição e exploração, esta subjetividade encontra-se ancorada na
ética e na possibilidade de poder pensar livremente, inclusive a
condição de não querer a transformação. Caso exista uma atitude
arbitrária estaríamos violentando a liberdade de ir e vir deste cidadão.
Distorcer a realidade dos fatos não é o subjetivismo, é a neurose
38
revestida de verdades enganadoras e mentirosas sobre a realidade da
sua condição psíquica.
A falsidade de reconhecimento de uma determinada
realidade acontece quando estes não dialogam. Infectado pela
ideologia vive a alienação, procura sempre enxergar o problema nos
outros. O medo surge como antítese de seu modo de pensar, eis a
dicotomia que fomenta um subjetivismo irreal e ficcional, distante da
autenticidade. O criticismo tem pouca serventia, uma crítica é sempre
bem vinda, quando acompanhada de alguma solução, porque é muito
fácil atirar pedras na vidraça dos outros.
Existe uma dimensão inconsciente coletiva que conduz as
pessoas ao continuísmo da pobreza material e intelectual. Às vezes a
realidade precisa do “conhecimento” de uma educação comprometida
com a liberdade de pensar, e ao mesmo tempo no despertar do
potencial da criatividade, para dar conta dos desafios de uma
sociedade que oprime e explora os mais dependentes.

39
1.2 - A situação concreta de sofrimento na educação.

Quando uma pessoa consegue ser autentica e verdadeira


dentro de suas possibilidades, podemos conviver com uma nova
consciência. Uma consciência com condições de conseguir viver com
dignidade e segurança, se antes não conseguia um salário digno,
moradia, alimentação, conhecimento, saúde, família, amigos, agora
percebe esta nova condição, capaz de experimentar e usufruir as
conquistas, frutos de sua produtividade.
O resgate da dignidade lhe autoriza a lutar na existência por
tudo aquilo de bom que ela tem para oferecer, sair da situação
costumeira de aceitar a realidade como ela é, inconformado busca
através de seus recursos emocionais e intelectuais, a superação de
toda adversidade. Antes de exigir que o outro reconheça, é preciso
utilizar sua inteligência para conquistar a admiração e a valorização da
sua pessoa, diante da família e da sociedade.
A perversão insere-se num mundo de enganos, de mentiras,
de manipulação, de exploração, nesta situação de violência psicológica,
os abusos físicos e emocionais acontecem a todo instante, este tipo de
existência solidifica a desumanidade. A neurose necessita de uma
solução, seu paradigma teórico são as palavras e conceitos ditos sobre
sua pessoa, sua percepção copia através dos olhos os exemplos de
atitudes grotescas e violentas, nesta relação subjetiva, a objetividade
instala-se como um desejo sádico de dominação.
A violência é um processo de aprendizagem passado de
geração após geração, entre os diversos tipos de violência a mais
prejudicial são os atos de humilhação e exploração das dependências
afetivas e econômicas. Identificados com esta filosofia de vida,
começam a perceber estas atitudes sádicas e violentas como uma
identificação ao opressor. A conquista da realização dos desejos não
acontece pela via do amor e do diálogo, mas através da manipulação,
chantagem e repressão.
O outro se torna posse, e como se sente dono do outro, acha-
se no direito de oprimir e impor o modelo autoritário de exploração
emocional e econômica. Com este tipo de relação sado-masoquista é
40
impossível à vivência da ética e do amor pleno. O desejo necrófilo de
Fromm baseia-se no acúmulo de poder para dominar as pessoas e
coisas materiais. Rodeado de poder a compulsão não tem medida,
sempre precisa mais domínio, de dinheiro, de terras, de mercadoria, de
tecnologia, etc.
A compulsão desenfreada pelo desejo do poder se intensifica
ainda mais numa sociedade que valoriza a posse e os bens materiais.
Desenvolvem uma fantasia de que é possível comprar tudo com os
lucros e dividendos, amor, sexo, amizade, prestígio. O seu deus é o
dinheiro e o caminho da salvação são os bens materiais, esta é sua
religião, sua crença de felicidade e realização acontece através da
manipulação e exploração das pessoas.
A pior violência é contra si mesmo, sua obsessão pelo lucro e
no desejo de sempre levar vantagem em tudo, não tem confiança em
ninguém, procura controlar os desejos e pensamentos das pessoas do
seu convívio pessoal e familiar. Ter e poder são os sinônimos de
realização, tudo mais é mera especulação. Desenvolvem um senso
narcisista, estão muito preocupados com o seu bem estar, mesmo que
isto seja necessário passar por cima dos outros.
Torna-se uma pessoa insensível e sem escrúpulos, por isto a
máscara de um bom sujeito não consegue ser sustentada, na fantasia
as pessoas são objetos, coisas que podem ser exploradas e dominadas,
desenvolve um pensamento chamado “egoísmo sadio”, consiste em
defender a ideia de que somente ele tem direito por competência a ser
feliz. Esta é uma humanização baseada nos princípios do ter e do
narcisismo predatório.
Não possui nenhum remorso do sofrimento das pessoas do
seu meio social, pois está convicta de que é um direito inalienável,
explorar e dominar as consciências e sugar o sangue de suas vítimas.
Aqueles miseráveis são vistos como preguiçosos e vadios, não querem
nada com nada, além disso, precisam ser vigiados e controlados com
prêmios para poderem produzir ainda mais.
Este é o aspecto desumanizante, transformar o outro num
objeto de exploração para alcançar seu objetivo, é preciso torná-lo
dependente e submisso às suas ordens, por isto o ambiente torna-se
41
dor e sofrimento. Estas experiências da raiva e ódio são adquiridas
ainda quando crianças, tratadas como uma “coisa” seu corpo
acostumou-se a ser usado e explorado, seja de forma afetiva ou
economicamente.
Esta triste realidade da criança é cheia de inverdade e
promiscuidade, os adultos insensíveis e egoístas pensam somente na
sua sobrevivência. Olham para as crianças como se fossem objetos
para ganhar dinheiro, prestígio ou posição social, se aproxima, elogia,
cuida, com uma segunda intenção, tirar algum proveito desta
inocência, da ingenuidade, desta falta de consciência. Esta perversão
prostitui o que existe de mais sagrado na humanização de um ser
humano, a falta de respeito e amor pela existência.
Existem duas situações neste sadismo, o primeiro é o desejo
de usá-las em proveito próprio, este é um falso amor, não existe nada
de humanismo, mas de perversão e manipulação. O olhar destas
crianças para este ambiente necrófilo de morte da vida é de muito
medo e insegurança, sua única condição é procurar de todas as formas
sobreviver a esta pressão, para assumir-se nesta condição de violência
instaurada pelo agressor. A outra saída é ceder e seguir os mesmos
passos de seu mestre, digo, mestre porque este tipo de vida também
insere valores e contradições na formação do caráter da criança.
A pulsão de morte busca ascensão no domínio de sua presa,
ao regredir aos recônditos da ancestralidade primitiva e arcaica sente
um prazer enorme na prática deste canibalismo destrutivo. A criança é
usada e manipulada para um determinado fim, mas impotente e
inconsciente deste desejo sádico de exploração é envolvida por este
ambiente, e aos poucos é convencida a colaborar na imitação de uma
violência preocupada em buscar outras vítimas para o continuísmo
desta desumanidade.
Em alguns casos, somente a morte ou o suicídio é o único
caminho encontrado para sair deste tormento, o poder do adulto na
dominação instaurou uma prática de vida que encaminha ambos para a
morte e destruição. A criança começa então a conviver com este mar
de sofrimento e dor, são aquelas emoções reprimidas e negadas na sua
expressão, que encontram-se latentes para um dia se manifestar.
42
Ao mesmo tempo em que guarda rancor do opressor,
procura nas suas ações alguma vítima para fazer justiça ao seu ódio,
nas sutilezas do inconsciente persiste no mesmo modo de ação do
opressor. A mágoa, o ressentimento, a dor de ser explorado é a
motivação necessária para buscar também suas vítimas, de alguma
maneira precisa fazer a catarse da dor emocional. Esta é a essência das
psicopatias ou a necrofilia de um serial killer, a sede de morte e
vingança é a reclamação de um amor negado.
Este legado da opressão remonta as identificações das
experiências de abuso e violência sofridas na infância, na adolescência
ou mesmo na juventude. A única saída para poder sobreviver nestes
ambientes necrófilos é a fuga, mas ao fugir dos agressores leva consigo
o ódio e raiva. Esta é sua prisão, acredita estar livre para praticar a
justiça, mas esta prestes a cometer os mesmos atos de violência e
barbárie que sofreu.
O agressor permanece latente na sua subjetividade, o ódio, a
vingança, o rancor, o silêncio da dor, conduzem-no a procurar de todos
os modos na existência uma vítima para realizar e satisfazer também
seu desejo de vingança. Esta é uma liberdade vivida fora das grades de
uma prisão, mas encontra-se preso pelas imagens e vivências
emocionais das experiências do passado.
O corpo mostra o quanto está tenso e nervoso, seu
investimento de tempo e conhecimento possui uma direção, canalizar
os esforços para resolver a sensação de injustiça, por isto mesmo
acredita que é possível fazer justiça com as próprias mãos, novamente
recai nas redes da ignorância emocional, pois sem saber torna-se
cúmplice do agressor, ao dar vazão a este desejo sádico, resolve a sua
dor, provocando mais dor, entende que está solucionando o seu ódio.
Preso nas armadilhas do prazer, aquilo que era somente um
desejo latente de reparação da raiva, torna-se agora uma compulsão
desenfreada para buscar o prazer sádico de agredir e violentar, fazer
sofrer as suas vítimas e seu objetivo principal. A sua defesa racional
baseia-se no princípio da justiça, mas não percebe que o continuísmo
desta prática de “olho por olho e dente por dente” reproduz uma
atitude sádica e destrutiva.
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Inconscientemente existe uma identificação com o seu
agressor, pois a vivência da negligência, do abandono, da humilhação,
da violência física ou psicológica, é o resquício do que sobrou para
humanizar-se como homem. Na falta desta condição, a antítese
recomenda a síntese, esta é sua tese, a dialogicidade entre estas
emoções e a pulsão de morte. A tese da emoção do ódio é buscar a
reparação deste dano sofrido.
Com o mesmo método realiza a mesma ação, na prática a
aplicação do método consegue experimentar o mesmo gozo e
sensação de prazer do agressor. Esta mistura de prazer e desprazer
procura uma nova antítese, todo seu empenho é resolver o ódio, por
isto mesmo as suas práticas de dominação e exploração são ainda mais
sofisticadas.
A síntese norteia-se por viver em função e no domínio de sua
pulsão destrutiva, seu anseio é diminuir a fúria e ódio, mas a cada ação,
aprende novas formas de realizar a catarse emocional, desenvolve um
prazer sádico em possuir e dominar as suas vítimas. A liberdade é uma
inversão proposta pela emoção do ódio, convencê-lo desta sua
pseudoliberdade, estar livre significa prestar contas e reparar de forma
trágica a mágoa e sofrimento.
A sua prisão emocional é o atrelamento as imagens latentes
do seu passado, esta recordação protege e instiga a fúria e a violência.
Ao fazer justiça com as próprias mãos, consegue ampliar e
experimentar um prazer na destruição. Ao matar ou revidar, coloca em
ação toda sua inteligência para promover a continuidade da dor
experimentada pelas suas vítimas, esta atitude não mata somente a
autonomia e a liberdade, mas a sensibilidade, o amor próprio, o
respeito e o amor ao próximo.
Ao comprometer sua humanização, reacende no íntimo de
seu desejo um caminho de força e inteligência investida na solução do
ódio latente. Talvez tenha alguma experiência de amor e compreensão,
no silêncio aceita esta condição, mas não sabe valorizar a expressão,
seu corpo está tomado por outra emoção, a rigidez, o olhar, as mãos,
os pensamentos, estão voltados e conectados com a pulsão de morte.
Percebe a vida, compreende a bondade, mas na sua escala de valor,
44
este é simplesmente um sinal de fraqueza humana, porque a fortaleza
está na coragem de matar e destruir sem piedade.
Para compreender a relação entre opressor e oprimido é
importante ler nas manifestações inconscientes este silêncio, torturado
pela opressão das emoções. Estas emoções alimentam a descarga da
pulsão de morte ou de vida, neste caso podemos constatar alguém em
busca de um lugar ao sol, suas raízes, seus vínculos, pessoas amadas,
são os motivos que ligam sua pessoa a humanidade.
A desconfiança e o medo do sofrimento oprimem o desejo
latente de amar, sozinho e solitário a sobrevivência encontra-se
comprometida, ninguém nega a sua inteligência. Mas o desejo de
relacionar-se e aprender os segredos do afeto, segue a orientação
destrutiva, de uma compulsão que se alimenta cada vez mais da força
do seu ódio. Ao dar vazão aos desejos que foram oprimidos pela
educação, distorce sua real finalidade. Eis o resultado violência física e
psíquica.
O estado latente e inconsciente desta experiência de ódio e
raiva acentua cada vez mais a vivência da destruição, tudo está voltado
para um objetivo, realizar num curto espaço de tempo a catarse e a
solução do incômodo, das cobranças e ameaças sofridas pelo superego.
As oportunidades na existência surgem para reavaliar a aprendizagem
do ódio. A opressão impele uma força monstruosa sobre uma
potencialidade negada como pulsão de vida.
A força da pulsão surge na antítese desta tese do ódio, aos
poucos consegue ressignificar na sua existência uma barbárie, pois
todo legado de das “humanistas” é utilizado para cumprir com a
justiça. Assume para si a dor dos outros, identificado e possuído por
uma emoção é capaz de levá-lo ao descontrole, ou a um ataque
emocional. Independente do nível cultural ou da classe social, dos
recursos materiais, esta pulsão desenha e planeja as ações com
extrema habilidade com a intenção de realizar seu desejo.
Esta situação existencial não se caracteriza como
subjetivismo, mas na sua contradição, vivencia uma duplicidade, esta
dicotomia de encontrar-se separado e integrado da sua humanidade.
Sua existência pertence a esta desumanidade, os fatos e
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acontecimentos estão representados pelas emoções, e vividos na
prática pela sua pulsão de morte. Todas as necessidades afetivas,
sexuais, posição social, encontram-se ancoradas naquelas experiências
do seu passado, estas emoções são invisíveis aos olhos de quem
convive com esta dor, não consegue perceber o tom e a tonalidade da
gravidade de seu comportamento.
Na bagagem dispõe deste conteúdo emocional, perdido e
confuso é obediente e servil as exigências sociais e de relacionamento,
porém todo esforço e dedicação obedecem às leis da pulsão, que
espera o momento de manifestar-se e mostrar todo o seu poder de
opressão. Esta talvez seja a origem do impedimento da vivência plena
do amor.
Mas na verdade vive o amor à morte, a destruição, seu desejo
compulsivo obedece a intenção da emoção, esta energia psíquica
procura realizar aquilo que encontra-se determinado. Viver desta
forma é dispor de sua energia para realizar este tipo de prazer,
inconsciente desta sua atuação é oprimido pela sua neurose insensível.
O monstro aparece sem avisar, mostra as suas garras,
naquele momento não enxergamos um ser humano, mas a
manifestação do primitivo e arcaico, da barbárie do animal, revestido
de uma roupagem humana. A pulsão destrutiva surge sempre de
alguma frustração ou experiência que remonta o passado, envolvido
nesta trama das emoções, recorre sempre à pulsão de morte para viver
em função da violência e no sofrimento do outro, este é o seu modo de
ter prazer.
Seu desejo esta comprometido em fazer a paz, com a falta de
amor, negligenciado, abandono e roubado na sua humanidade, não
aprendeu a conviver com a frustração, ou a rejeição, são estes os
motivos de seu envolvimento com o pacto inconsciente da violência. A
necessidade de amar, de ser cuidado, de conviver com pessoas, é uma
realidade de sua dicotomia, que procura amenizar ou fugir de sua
contradição neurótica através de sua autoagressão.
Imerso no conflito delirante, sua imaginação procura saber os
motivos da solidão, do desejo frenético pela dificuldade de dar afeto,
distante e recolhido no silêncio, tenta uma resposta com os seus
46
fantasmas, esta dor o deixa inquieto, tira a sua paz, torna-o indiferente
e distante da humanidade. Sua confiança está comprometida pela
exposição desta ferida.
Esta dualidade consome suas energias, e todo seu
conhecimento é utilizado para contornar e esconder as verdadeiras
razões desta sua máscara. Sua prática sádica e destrutiva deixa nas
entrelinhas as provas para denunciar a rebeldia, como sua ação surge
num momento de ataque emocional, nem sempre é fácil de controlar
os desejos da compulsão. A sociedade por outro lado, precisa
compreender os motivos de tal barbárie, inicia-se uma provocação
para bater de frente com os aparatos repressivos da justiça.
Agora tem a dupla missão de também enganar e ludibriar as
perseguições do superego social, que também exige uma punição,
ambos clamam por justiça, nas suas deduções procuram a reparação
da injustiça. Cada qual defende seus interesses, procuram argumentos
capazes de convencer sobre a crueldade e a maldade daquele que é a
causa do seu sofrimento. Ao sentir-se perseguido pensa sobre o valor
das mortes, destrutividade representada pelo alto grau de crueldade e
ódio.
Alguém sempre é vítima desta revolta, o outro é somente o
motivo para surgir as emoções que provocam o desejo de morte e
destruição. Esta necrofilia está infectada pelos vírus da psicopatia, no
seu mundo doentio acredita piamente na solução de seu desejo. As
solidificações de um estado necrófilo dependem de sucessivas
repetições, e um aperfeiçoamento refinado de uma inteligência voltada
para a destruição de si mesmo e do outro.
É um gosto e uma devoção total no desenvolvimento de
estratégias de dominação, e em outros casos de práticas de tortura
psicológica e física, é infinito o caminho para envolver-se nesta catarse
eufórica de projetar seu ódio doentio contra tudo e todos. Sua
felicidade consiste do gozo do engano, na sua persistência contínua,
usa as pobres vítimas, não consegue viver fora desta dinâmica, seu
desejo é antes de tudo inflamar seu ego com as falsas demonstrações
de esperteza e dominação.

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1.3 - A inversão da pulsão: Destruir o Prazer de Aprender.

Seu prazer tem como objetivo, fazer com que suas vítimas
comecem também a participar deste genocídio da violência e da
morte. Pelo direito inalienável de fazer justiça, porque sente-se
injustiçado e oprimido, pois o preço pago pela inexistência do amor e
do afeto é alto demais. Se ainda não bastasse começa a provocar os
outros com atos animalescos e arcaicos, para demonstrar a sua revolta
e indignação.
O problema são as vítimas inocentes, o ser humano deixa de
ser pessoa para tornar-se uma coisa, um objeto. Sem sensibilidade
defende o direito de tirar a vida dos outros como uma forma de
reparação, por terem-lhe tirado o direito de amar e viver em paz, este
é preço a ser pago. Esta natureza da pulsão agregada ao sadismo
desenvolve vários caminhos para dominar e alienar a sua vítima. São
estratégias muito bem pensadas, e no seu silêncio as armadilhas da
sedução estão sendo ampliadas e aplicadas, umas após a outra, sem a
mínima consciência da vítima.
Depois não existe nenhuma maneira de esconder ou tentar
fugir da pulsão predadora, quando encontra-se preso neste tipo de
armadilha, quanto mais tenta sair da situação, mais as suas forças
acabam sucumbindo, e aos poucos adormece nos braços do inimigo.
Quando as emoções e sentimentos se misturam a este tipo de pulsão
sádica e violenta, observamos uma pessoa perdida, confusa, com medo
e acuada, na sua tensão recorre sempre à solidão e ao isolamento.
As emoções podem ajudar no humano a compreender o seu
modo de olhar a realidade, este caminho de atitudes presta obediência
às experiências da raiva, ódio, mágoas, ressentimentos, solidão,
carências. Esta subjetividade retrata o seu mundo real, uma maneira de
viver segundo estes aprendizados, sem o amor e afeto daqueles
cuidadores, estrutura-se uma falta, apreende do significado aquilo que
o ambiente ensinou. Personifica-se um estilo muito particular de
agredir e buscar a sobrevivência emocional.

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As emoções são o retrato da humanidade, e das diversas
experiências que o tornaram humano, esta mesma essência da energia
escoa amor ou ódio, violência ou paz, morte ou vida, sadismo ou
masoquismo, esta dicotomia chama-se de pulsão. Todos possuem na
sua bagagem genética estas duas realidades da natureza humana, e
neste ambiente cultural, social, histórico, político e econômico o
homem aprende a humanizar-se. Estamos comentando sobre este
processo de saber conviver ou mesmo aprender a sublimar aquelas
pulsões violentas, e permitir a vazão da pulsão do amor.
E nesta infância as imagens e símbolos do afeto e amor são
como os guardiões das pulsões, nesta inocência e no olhar de gratidão
e bondade da criança, podemos observar os primeiros traços de uma
pulsão do amor, bondade, comunhão, fraternidade. Esta vivência de
interação mostra o respeito, o cuidado, a sensibilidade das crianças que
vivem um momento muito especial de pulsão de amor.
Os gestos de imagens simbólicas retratam no significado o
real, em outras palavras a subjetividade desta energia simbólica
personifica-se naquelas imagens, lembranças de um passado
atemporal, memórias de uma mente capaz de reter a humanidade
perdida. Mas a existência nos mostra o inesperado, as tempestades
emocionais, os traumas, experiências assustadoras que impregnam as
pessoas com medo. O único modo de proteger-se de algo
desconhecido e prejudicial é fugir para bem longe e proteger-se, numa
doença ou na depressão.
O lugar mais seguro é sempre os braços ou o colo das pessoas
amadas, neste momento da infância temos a nítida certeza da
presença da pulsão de vida, pois constatamos que nos gestos daquela
criança não existe um desejo de destruir, ao contrário, há presença do
desejo de cuidar e amar. Mas como fazer frente à barbárie das guerras,
da violência urbana, a miséria e a fome? O que dizer do desemprego,
da ignorância, das ameaças?
Somos vulneráveis aos sistemas de poder político e
econômico, as formas de educação e das culturas que influenciam na
formação do caráter. A pulsão destrutiva é um mostro adormecido,
mas quando provocado surge com toda violência e ferocidade. O ser
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humano de algum modo sabe disso, talvez o homem tenha pensado
nos aparatos repressivos e prisões, como forma de amedrontar e
prender atrás das grades esta crueldade da barbárie humana que gosta
e tem prazer em matar e destruir.
Os vínculos na família são o ambiente propício para despertá-
lo das pulsões, isto confirma a presença das pessoas significativas neste
processo de formação do caráter. Os pais são a demonstração mais
convincente da pulsão do amor, podemos observar esta pulsão quando
um pai cuida do filho, quando uma mãe protege e ensina os valores
éticos. A criança é despertada na sua sensibilidade a gostar de fazer o
bem e amar os outros, este gesto de afabilidade, carinho, ternura,
mostra o calor humano de uma mãe que ama seu filho.
Os seres humanos ficam apreensivos e inseguros quando este
monstro da pulsão destrutiva ameaça a vida daquelas pessoas, pois o
amor inspira cuidado e compromisso, além de muita doação, esta é
uma experiência verdadeira da pulsão do amor. O amor não é uma
explicação verbal, mas uma experiência concreta do calor humano.
Quando a brutalidade, a insensatez, a falta de escrúpulos, a atrocidade
aproxima-se de nossa frágil humanidade, experimentamos a limitação
para fazer frente à monstruosidade de meios desenvolvidos pelo
homem para matar e destruir.
As pulsões destrutivas precisam ser alimentadas pelas
ideologias, tais como: racismo, inimizadas, traições, rebeldias, heresias,
e outros nomes que justificam a carnificina das guerras e da violência
institucionalizada. Em nome da defesa da pátria, da ordem social, da
proteção da propriedade privada, a pulsão toma força e torna-se um
predador mortal, sem nenhuma culpa e dominados pela ideologia
militar ou política saem à caça de suas vítimas.
Uma luta feroz entre a presa e o predador, em nome do
estabelecimento da ordem se autoriza a morte, a tortura, a destruição,
porque nos encontramos em tempo de guerra. Este talvez seja o
momento onde podemos acompanhar as atrocidades da barbárie, do
arcaico, do primitivismo, e do prazer pelo simples gosto de matar. O
homem é o único animal que mata por prazer, diferente dos animais
que matam para matar a fome.
50
No seu estado de inconsciência estão convictos de fazer valer
a morte e em nenhum momento a vida. Não existe qualquer tipo de
dúvida sobre o que vão fazer, até porque estão cumprindo ordens e
nunca lhes foi permitido questionar ou perguntar os motivos de tais
procedimentos, todos foram condicionados a obedecer sem
questionar. Assim colocamos os adereços na pulsão de morte, uma
mente sem consciência programada para matar, seres marchando a
caminho da carnificina humana.
O poder é um gozo que propicia a satisfação sádica de ter o
domínio e o controle da vida dos outros, após a dominação de um
povo, ou de uma cultura, lhes é autorizado a prática sádica de impor
sofrimento e dor aos dominados. Alguns conseguem sobreviver porque
aceitam as regras e as condições do opressor, e desta forma, precisam
negar a sua natureza humana, e também realizar práticas que são
abomináveis à raça humana.
No domínio e com a institucionalização do poder, sentem-se
autorizados a humilhar e explorar as pobres vítimas de seu sadismo.
Desta forma a ideologia impõe as condições para deixar que continue
vivo, por exemplo, seguir as diretrizes do sadismo. A educação ao
fazer-se opressora, transforma o ato pedagógico naqueles que são
oprimidos. Os educadores precisam tomar consciência sobre estas
neuroses, psicopatias, fobias, medos, desânimo, apatia, pois eles
bloqueiam a expressão da potencialidade da aprendizagem.
O poder público, as secretarias de educação, direção, e outras
formas de liderança devem solidarizar-se com este tipo de sofrimento,
propondo ações concretas de projetos de formação continuada,
atendimento analítico, terapia analítica de grupo, grupos de estudo
sobre os tipos de dor e sofrimento psíquico, estas realidades
emocionais interferem e podem prejudicar a qualidade do ensino. E
não só isto, os educadores devem sair desta condição alienante de ficar
esperando, sem nenhum tipo de esforço e organização, o que seria
uma fantasia. Na união os colegas podem encontrar as forças para
conquistarem a implementação destas ações.
Se realmente desejam a saúde psíquica no âmbito escolar,
não somente para o corpo docente, mas para os alunos também,
51
alunos e professores devem sair deste quadro de desânimo e apatia. O
pessimismo, as queixas, a tristeza, a raiva, a falta de motivação,
prejudicam a ambos nos resultados da aprendizagem. Este é um dos
problemas mais graves da escola, fazer com que os educadores
conscientizem-se de que a baixa qualidade da educação prejudica a
ambos, toda a comunidade sai perdendo com este tipo de alienação.
Sem dúvida um bom salário é fundamental para a carreira
docente, um plano de saúde, mas estamos comentando sobre a
questão da promoção e prevenção da saúde psíquica dos educadores.
Porque a neurose é a essência de uma crença limitante, que impede o
desenvolvimento do potencial criativo, portanto qualquer pessoa sobre
o domínio de uma neurose benigna ou maligna, sofre as consequências
de um esgotamento físico e psíquico.
Estes conflitos inconscientes distorcem a verdade sobre si
mesmo, este estado de inconsciência desencadeia toda uma série de
atitudes destrutivas em relação ao seu ato pedagógico e na sua vida. A
única maneira de sair deste sofrimento depressivo e apático é entrar
em contato com estas emoções e dialogar, porque ao tomar
consciência sobre o estado de alienação social e cultural, consegue
reerguer-se.
Por isto mesmo somente através da dialética conseguimos
tomar consciência do estado de acomodação, sair da condição da
queixa e vítima e assumir-se na existência com responsabilidade.
Reclamar ou criticar o sistema educacional sem um planejamento
pessoal e do seu corpo docente é um desgaste de energia e uma
grande perda de tempo. A reflexão analítica consegue levar o educador
a reencontra-se consigo mesmo, quando consegue elevar sua
autoestima, valorizar e resgatar o seu potencial de educar.
Esta dialogicidade interpõe-se entre os condicionamentos dos
medos, e o resgate da capacidade de organização dos pensamentos.
Somente o ativismo político, a vigilância e controle dos educadores,
não conseguem elevar a condição da autonomia e liberdade do ato
educativo que tanto merecem. A terapia de grupo analítica ou a análise
pessoal são caminhos de autodescoberta de potencialidades

52
adormecidas pela opressão das neuroses representadas pelos medos e
ansiedades.
A única maneira de libertar-se das forças opressivas é
tomando consciência do prejuízo e dos bloqueios que indiretamente
influenciam a vida de cada educador. O educador deve estar
convencido e decidido a sair desta condição de autodestruição para
rejuvenescer em alegria e satisfação. Consciente das emoções e
pulsões pode livremente tomar decisões mais produtivas na vida, pois
sai de uma condição de espera, e procura forças para realizar seus
objetivos.
Neste momento o educador enfraquece a ação nefasta das
neuroses, retoma com segurança e satisfação tudo aquilo que lhe é de
direito, a prática da justiça e da busca ininterrupta pela qualidade de
vida, e em consequência disto a valorização da educação. Uma ação
depende da outra, ou seja, a subjetividade encontra-se voltada para a
realização dos sonhos, levanta-se e com os olhos no futuro, caminha na
direção da realização dos sonhos, esta consciência realiza uma
metamorfose no modo de viver, e indiretamente as mudanças
acontecem no fazer pedagógico. Esta subjetividade está
comprometida de fato e sem nenhum tipo de hipocrisia e mentira, os
alunos sentem a nova atmosfera de satisfação e realização pessoal do
educador.
Neste ambiente humanizado, onde os educadores
encontram-se unidos e compreensivos sobre a realidade educacional,
podem direcionar seus pensamentos para uma reflexão comprometida
com a educação de qualidade. Falar ou viver a educação é resgatar a
autenticidade, o educador precisa de liberdade para estar seguro na
sua prática pedagógica. Esta dimensão pedagógica e metodológica da
educação precisa de embasamento teórico e muito estudo.
Este tipo de educação tão sonhada e desejada somente vai
acontecer quando os educadores começarem a revolução pessoal, e
no coletivo buscam forças e pressionam o poder público para
desenvolver ações no sentido de atender as suas exigências. É uma
prática coerente e verdadeira, os princípios desta transformação estão

53
baseados no comprometimento do educador com uma educação
voltada para o desenvolvimento da potencialidade dos alunos.
Consciente do seu papel na educação, sua ação de amor é
transformada em mudança, antes de qualquer proposta, a vida do
educador precisa encontrar a paz e o compromisso com a sua
felicidade. O ato de defesa do organismo aparece nos sintomas
existenciais e psicossomáticos, esta opressão do desprazer na
educação aparece na insatisfação, estas duas formas de agressão
incluem-se no ato pedagógico, por um lado o corpo sofre com uma
carga horária de sessenta horas de trabalho, inconsciente de sua ação e
na mesma intensidade o organismo vive esta agressão.
Esta atitude de resgate do prazer em educar, somente torna-
se possível através de uma nova consciência, pois esta dor, mágoa,
ressentimento transforma-se em sintoma no organismo. Este
sofrimento precisa de uma resposta, não é possível continuar a educar
com dores no corpo, este mal estar psicossomático impede o educador
de viver com saúde e ser feliz. Acredito que necessitamos de uma
revolução urgente na educação, sem o prazer e a satisfação a
aprendizagem encontra-se prejudicada e em alguns casos
comprometida.
A doença e as neuroses impedem a qualidade de vida do
educador, é um direito do educador lutar contra toda forma de
alienação e exploração de força de trabalho. O seu compromisso em
educar com amorosidade e ternura fica prejudicado, então nos
perguntamos: O que fazer de fato para resolver esta situação? Deveria
existir um espaço na escola para tratar a saúde do professor, e uma
organização capaz de exigir das autoridades públicas um salário digno
para a categoria.
Não temos como exigir qualidade na educação sem um
salário justo e digno, por outro lado é preciso ajudar o educador a sair
da condição alienante e descomprometida. O estado aqui
representado pela mãe protetora, não pode abandonar os filhos a
mercê da sorte, por isto mesmo a sociedade deve também cobrar do
poder público, ações concretas para a melhoria da educação.

54
Sem estas condições, o educador, salvo raras exceções,
continuará lamentando-se neste mar de lamúrias e queixas
intermináveis, precisamos acabar com este desconforto, o ambiente na
escola deve ser de entusiasmo, motivação, cooperação e
produtividade. O educador deve buscar e jamais desistir do direito
alienável de ser realizado e feliz na prática educativa, infelizmente o
poder político e suas ações desastrosas oprimem e retiram da escola
esta condição, e depois como uma mãe perversa critica e culpa os
professores pelo mal resultado na aprendizagem.
Não existe nenhum tipo de humanidade, porque o lado
humano é explorado e idiotizado, encontra-se a serviço da ideologia de
uma classe política descomprometida com a educação. Resta-nos
somente uma alternativa, união, compromisso, fiscalização, para
cobrar e exigir mudanças rápidas e eficazes na educação. Os órgãos
educativos utilizam ameaças, violência, vigilância, autoritarismo, com a
finalidade de retirar a capacidade de organização e luta de alguns
líderes, aqueles que ainda possuem consciência sobre a necessidade de
organizar-se e sair da condição de sofrimento e dor.
Os educadores devem unir-se e saber que o único modo de
sair desta condição é através da reivindicação dos seus direitos. Porque
quando a escola não oferece as condições mínimas para educar,
podemos entender que existe um descompromisso com a educação.
Este é um tipo de violência que consegue deixar qualquer pessoa
estressada e depressiva, este tipo de ambiente retira todo e qualquer
desejo de educar, com estas ações o poder político por vias indiretas
consegue seu objetivo. Que não aconteça a aprendizagem.
Por isto mesmo, os educadores precisam tomar consciência
sobre o que está acontecendo na escola, e das interferências políticas
destas ações governamentais que acabam prejudicando e
comprometendo os objetivos a serem alcançados na educação.
Ninguém pode fazer no seu lugar, aquilo que é de competência de cada
um, a primeira decisão é estar consciente e querer sair da condição de
sofrimento. Com o tempo corre o risco de acostumar-se e achar que
esta situação de tristeza e doença é normal.

55
Esta libertação precisa da autorização interna, e em conjunto
com outros colegas procurar este caminho de libertação. A inteligência
emocional aliada à cognitiva pode favorecer ao professor uma
integração entre o ato pedagógico e a qualidade de sua existência. A
contradição é transferir esta indignação aos alunos e pais, esta seria a
maior das injustiças, pois para superar este momento difícil na
educação os educadores precisam da comunidade escolar. As famílias
devem sofrer também um processo de conscientização, sobre a
importância de sua presença na escola e de estar ao lado das lutas dos
educadores.
Que esta nova proposta na educação, inclua uma
aprendizagem capaz de proporcionar ao educando prazer em estudar,
este aluno seria capaz de entender a importância e o valor do
conhecimento, para ajudar na melhoria de uma sociedade mais justa e
igualitária. Este aluno poderia comprometer-se também nesta grande
missão, melhorar ainda mais a qualidade da educação de sua escola.
Então, poderemos aceitar a ideia de que é possível, professores, alunos
e pais estarem unidos em torno de um mesmo objetivo, resgatar a
capacidade de proporcionar prazer em ler, estudar e aprender.
O professor não pode continuar se diminuindo e achar-se
culpado do baixo rendimento na escola, ou seja, qualquer ação de
opressão aos alunos, como expulsão, autoritarismo, ameaças, podemos
considerar como uma identificação com o agressor. Por repetição,
segue os mesmos métodos que o aparato educacional conseguiu
internalizar na sua vida pessoal. Quando o educador se der conta deste
compromisso pessoal e não delegar ao poder político, poderemos nos
alegrar, porque neste momento está nascendo um novo tipo de
educação.
Agora conhece a sua força e sem medo de encarar a
realidade, encontra na união a força capaz de transformar em
realidade os seus desejos. Esta mudança precisa de uma consciência
capaz de viver em saúde, do resgate da autoestima, de começar a
valorizar-se na sua profissão. Tudo parece ser um sonho, ou mera
divagação, mas não é, todos os educadores sabem de suas

56
dificuldades, mas isto não nos impede de pensar numa educação que
atenda aos anseios e desejos da comunidade escolar.
Ao reconhecer-se como alguém de valor, começa a acreditar
na transformação de sua maneira de pensar, ser e agir. A superação
dos medos acontece no enfrentamento deste tipo de realidade, a falta
de coragem, o desânimo, o pessimismo, a tristeza, a depressão, são
emoções que tolhem e impedem a transformação da educação.
Mesmo estando inseridos neste lugar é preciso lutar para sair desta
condição de queixa e buscar alternativas de solução.
Estes medos são as armas destrutivas, porque conseguem
terminar com qualquer tipo de iniciativa, medo de ser perseguido,
medo de ser transferido, medo de ser demitido, medo de não ser
aceito, enfim estas emoções provocam a estagnação, a rotina, mas esta
mesma prática pedagógica volta-se contra o educador. Descontente e
insatisfeito torna-se inseguro nas suas práticas educativas, este tipo de
ambiente educativo foi criado por alguém, esta pedagogia não caiu do
céu, e não é obra do acaso.
A educação deixa de cumprir com o seu objetivo quando não
existe um compromisso com a qualidade da aprendizagem, porque na
falta do conhecimento, deixamos estes alunos a mercê das ideologias,
sem consciência crítica e vulnerável pela falta de conhecimento, é uma
presa fácil para as facilidades da sociedade moderna. Sem objetivos e
descrentes tornam-se pessoas insatisfeitas dentro da escola, e
emocionalmente inseguras para enfrentar a triste realidade de nossa
sociedade.
Devemos pensar sobre a formação deste novo tipo de
homem, começamos a elaborar um novo método de aprendizagem que
não inclua a humilhação, a violência e os abusos de autoridade. O ato
educativo deve ser de respeito, de tolerância, de eficiência, para
entender a apatia, o desânimo, a falta de iniciativa e curiosidade no
sentido de aprender.
É preciso criar um ambiente onde o conhecimento seja útil e
importante na vida do aluno, ninguém deve ser coagido a aprender
algo inútil, esta obrigação é uma violência, sendo assim esta
metodologia segue as diretrizes do autoritarismo, resquício dos mais
57
de vinte anos do regime de recessão. Sem voz e vez, o silêncio da cópia
em conjunto com a aceitação incondicional desta atitude, torna os
alunos pessoas dóceis e bem adaptadas, que não incomodam e muito
menos perguntam, jamais ousam questionar e obedientes fingem que
gostam daquilo que não conseguem aprender.
Um educador que tem como diretriz esta prática pedagógica
não pode ser chamado de professor, pois ao implementar este
método, proíbe e impede a aprendizagem, comete um ato de violência
contra si mesmo, inconsciente de sua ação não percebe que está
impedindo alguém de aprender a gostar de estudar. Temos que nos
afastar do controle burocrático, o excesso de normas, regras, leis, que
tem o poder de retirar a criatividade e a iniciativa, esta rigidez afasta o
aluno de qualquer condição de curiosidade em aprender.
Trata-se de condicionar pelo ato burocrático uma obediência
irrestrita que retira o desejo de educar, neste tipo de ambiente
tornamos as pessoas domesticadas. Infelizmente a educação ajuda a
desumanizar e torna as pessoas insensíveis, consumidos pelo medo
recaem no individualismo, sozinhos e isolados permanecem numa
escola onde não existe a mudança. Para podermos pensar num novo
tipo de escola deveremos recuperar a capacidade de amar a nós
mesmos. Quem não tem capacidade de se cuidar, como pode amar e
cuidar do seu aluno?
A autenticidade de um educador depende de sua posição
clara e objetiva, de experiências criativas e originais para pensar à
educação. A solução da educação não está na mudança de cargo, ou
nas gratificações recebidas para modificar sua maneira de pensar. A
estrutura institucional convence os líderes a trocarem de lugar e
voltarem a sua antiga prática educativa.
Como conviver com as duras realidades do ambiente
educacional e estabelecer os limites para os agentes da educação?
Este sempre será o grande dilema dos líderes na educação, consciente
ou inconsciente acabam utilizando recursos repressores para dominar
e coibir qualquer tipo de manifestação que contrarie os objetivos do
estado. É uma democracia de mão única, sempre favorecida pelo poder

58
político, jurídico e legal que impõe a lei e a força para manter a ordem
de uma ideologia falida.
Os professores acuados diante de tamanha violência acabam
por retroceder, impotentes não possuem o poder de fogo das armas
bélicas e das baionetas empunhadas pela força militar. Diante das
ameaças retrocedem e aceitam cabisbaixos as suas minguadas
conquistas. A educação nutre e alimenta o desenvolvimento das
inteligências, esta grande massa pensante é capaz de fomentar a
iniciativa de novas formas de desenvolvimento tecnológico e cultural. A
educação surge como a força capaz de produzir riquezas, onde todos
os cidadãos possam sentir-se livres para buscar as soluções para a sua
sobrevivência.

59
1.4 - A realidade psíquica e emocional dos educadores.

Ninguém pode negar que muitas transformações vêm


acontecendo na educação, pois também convivemos com excelentes
educadores, pessoas comprometidas que deram sua vida em prol da
educação, passaram-se os anos e sua contribuição ajudou numa
revolução em prol de um novo tipo de homem pensante. Sabiam da
necessidade de viver com saúde, compreenderam a importância deste
seu estado emocional de alegria. Na realização dos seus desejos, na
convivência com a família e filhos, na participação na comunidade.
Reconhecem as dificuldades e problemas na educação, jamais
se intimidou ou fugiu deste enfrentamento, esta atitude convalida o
seu discurso, pois existe uma coerência entre a sua prática educacional
e seu estilo de vida. Somente este testemunho poderá afirmar-se numa
nova visão de mundo, ambos, professores e alunos estão voltados para
este processo de reflexão e transformação da realidade. Nesta reflexão
sentem-se dignos deste novo momento, pois a experiência mostra que
é capaz de viver e realizar a sua prática educacional com satisfação e
segurança.
Agora neste novo momento começam a enxergar a realidade
sem culpar-se, ao conseguir pagar suas contas, vestir-se bem,
alimentar-se, estudar e qualificar-se, experimenta uma nova liberdade.
Esta frustração de não poder viajar, de comprar bons livros, fazer
análise, mostra um enorme abuso do poder político. Sonhamos com
este tipo de qualidade de vida, numa educação comprometida em
devolver aos alunos e a comunidade em geral a esperança, a alegria e a
felicidade.
Com esta consciência conseguem incluir a todos neste
processo de humanidade, entendem que os alunos não são objetos,
mas pessoas com um desejo imenso de trabalhar, amar e sobreviver
aos desafios do capitalismo selvagem. Reconhecem as incertezas e os
medos inconscientes dos desvalidos e marginalizados da sociedade
excludente e perversa. Esta humanização precisa da ternura, do afeto,
da solidariedade e do compromisso ético com a libertação integral das
neuroses e dificuldades de toda ordem.
60
Os educadores precisam resolver suas neuroses, me refiro
àqueles que admitem na sua existência o fracasso e a derrota, porque
quanto mais se conhecem maiores serão as chances de entender e
compreender a dor e o sofrimento de si mesmo e dos colegas. Este
novo estilo de vida recria as condições para viver e usufruir da
liberdade de ser. A pior das violências é estar insatisfeito e inseguro
com o fazer pedagógico, uma violência instaurada contra si mesmo e
transferida para os alunos, a falta de consciência é a causa da alienação
social e cultural.
Ao analisar esta situação existencial reconhecemos nesta
atuação inconsciente um processo de auto destruição pessoal, estas
mesmas crenças sustentam este envolvimento de desprezo e punição
pela falta de solução dos problemas pessoais. A neurose benigna aos
poucos começa a espalhar-se como um vírus na escola.
O clima de desânimo e apatia entre os educadores afirma-se
mostrando a sua impotência para realizar as mudanças, sem condição
de segurança emocional, e insatisfeito na profissão, os conflitos
tendem a aumentar e a dividir a classe, existem os representantes da
burocracia estatal, e os outros que lutam desesperadamente por um
lugar na escola para sobreviver psicologicamente.
Quando as pessoas não se entendem, a divisão e os conflitos
de opiniões aparecem em forma de violência e perseguição. Não
podemos deixar que esta falta de consciência, de união, consiga
proliferar a neurose necrófila, enquanto perdem o controle da
situação, tornam-se presas fáceis para serem usados pelo poder
institucional. Sem forças, voltam ao estado anterior de competição e
desunião, inconscientes das atitudes não percebem que estão sendo
usados como massa de manobra para fins eleitoreiros.
Muitas vezes os burocratas do estado se frustram, e
desiludidos com sua condição de professor acabam também
adoecendo. Nesta ânsia de resolver os problemas particulares vendem
sua alma e ideias por um cargo a serviço do poder institucional. Está
num beco sem saída, pois tem sua família e precisa pagar as contas,
entende que sem este dinheiro não conseguirá sobreviver. Por isto

61
mesmo não vai medir as consequências dos seus atos, de perseguir os
colegas e de prejudicar se for necessário.
Seduzido pelo poder atira-se nesta busca desenfreada de
cargos e salários, seu compromisso não está atrelado a sua classe
profissional, mas no aumento de seu ganho econômico, desta vez
assume por completo a proposta do capitalismo excludente e
explorador. Existir para esta classe de professores é alcançar seus
salários e não interessa os prejuízos ou as consequências das suas
escolhas. Não param para refletir sobre a sua decisão, inconscientes de
sua atitude, não percebem a prática egoísta e narcisista, e confundem-
se com os representantes da burocracia estatal e do controle do poder
sobre as mentes dos colegas.
O seu ato pedagógico é autoritário e falso, esta
incongruência, mostra a falta de humanização. E muitos usam da
política para não sair mais do poder, entende como humanização o seu
bem estar, e todo colega que questiona este tipo de prática na
educação é tido como desobediente e problemático. A neurose serve
para aqueles que não seguem as regras da burocracia estatal.
Inconsciente de sua atitude acaba prejudicando a execução de toda
uma transformação na educação.
O egoísmo narcisista impede a transformação de si mesmo e
da realidade educacional, pois a condição de ser mais, depende de ter
mais, sem este desafio é impossível sonhar com alguma mudança na
educação. A coragem de ser é condição para avançar em busca de
conquistas, porém devem estar preparados para lidar com as invejas,
ciúmes e trapaças. Os burocratas da educação têm que vigiar e punir os
educadores que pensam com autonomia, e perseveram no desejo de
viver com mais dignidade.
A psicanálise humanista acredita que a liberdade de
expressão e a autonomia levam à humanização, qualquer forma de
pressão, cobrança, manipulação, tem como única finalidade encaixotar
a mente dos educadores dentro de uma política de obediência e
submissão. Interessante, são os educadores que sedentos de poder
utilizam este espaço para tornarem-se sádicos e destruir todo e
qualquer projeto que motive a transformação.
62
Existe este tipo de prazer nas lideranças dos burocratas,
sentem-se realizados quando conseguem tornar servis e idiotizar toda
uma classe de educadores, estão imbuídos deste propósito, tornar
possível a repetição e retirar da pedagogia qualquer intento de
criatividade. Quando o educador sente medo, e cala-se diante do
perverso, aceita incondicionalmente este ranço autoritário, o traço
sádico é ainda resquício de uma educação tradicional, e
descomprometida com a classe dos trabalhadores em educação.
Ao transformar o educador num operário de mão de obra
barata, não levam em consideração seu curso superior, ou o
investimento nos estudos na sua área de conhecimento. Pode existir
atualmente certo exagero nas minhas observações, mas ainda penso
que são fidedignas à realidade. O sádico precisa do poder para sentir-se
superior, seu único amor está no compromisso de tornar o colega
submisso às suas ordens.
Este desejo sádico de dominação mata qualquer iniciativa de
transformação, por isto mesmo entendemos o marasmo e a repetição
sem inovação na educação. Todo o ensino de formação de professores
também carrega esta ideologia, as universidades estão comprometidas
com o ministério da educação, e seguem a risca as ordens impostas
pelo aparato repressor. Com todo este poder em cima dos educadores
a transformação é quase inexistente, o objetivo é matar a curiosidade e
estagnar a educação dentro dos padrões estabelecidos pelos órgãos
governamentais.
É desta anarquia que devemos refletir e nas lutas dos
professores por melhores condições de ensino e salário. Talvez um dia
os educadores possam conscientizar-se de sua grandeza, e todos
possamos tornar realidade este sonho. Nenhum programa político
contempla nas suas ações o combate ao analfabetismo de trinta e seis
milhões de brasileiros. Queremos alertar toda a classe de
trabalhadores na educação para este flagelo social, porque a violência
e a exclusão passam pela repetência e má qualidade na educação.
O educador não pode ser um mero expectador na aceitação
incondicional desta alienação, porque na convivência com os alunos
percebe também o sofrimento e a luta pela sua sobrevivência, a escola
63
deveria ser um ambiente para pensar sobre este estado de marasmo e
apatia. Nesta apatia o aluno reflete aquilo que a escola conseguiu
internalizar nas mentes, esta displicência em relação à aprendizagem. A
falta de compromisso e interesse em estudar está relacionada ao
desprazer que sente ao encarar os estudos.
Este traço melancólico e irresponsável do aluno em relação
aos estudos não está atrelado a condição de ser brasileiro, mas ao
estilo de educação autoritária que retirou a liberdade de pensar e ser
na sala de aula. Esta cultura do quadro negro, da cópia dos conteúdos,
idiotizou os alunos, a decoreba, e outras formas sutis de provar ao
aluno que ele não sabe, segue as diretrizes e regras dos burocratas da
educação.
O problema da educação consiste nesta situação de
alienação, enquanto perdurar o continuísmo deste tipo de pedagogia
estaremos sendo coniventes com o modelo autoritário de cima para
baixo. Algumas pessoas procuram explicar que esta situação é vontade
de Deus, procuram trazer para a educação práticas místicas e
esotéricas, com o objetivo de convencer os educadores do valor do seu
sofrimento. Pois tamanha devoção na educação pode depois da morte
ser recompensada com a vida eterna.
O educador quando está em análise percebe que precisa sair
da alienação, digo dependência, ao resgatar a autoestima consegue
confiar na sua inteligência, o resgate da humanidade precisa de um
ambiente acolhedor para que não aconteça a regressão ao estado
anterior de apatia e desânimo. Existe a tendência de retornar ao
estado anterior, a neurose consegue convencer a sua vítima, graças a
estratégia de oferecer o sofrimento e a dor como uma forma de prazer
masoquista.
Quando o educador encontra-se alienado, a neurose
permanece na artificialidade, aprendeu a esconder muito bem os
medos, a representação deste “falso self” mostra a falsidade de suas
ideias, esta mesma máscara representa a perversão e a incongruência.
Quando os professores eram alunos ouviram dos mestres que não
sabiam nada, não tinham capacidade para realizar mudanças, que não

64
podiam fazer nada diante da realidade social e política, deveriam
aceitar a realidade como ela se apresentava.
Convencidos por esta pedagogia acreditavam realmente na
incapacidade de realizar qualquer tipo de mudança, sabem utilizar o
discurso de vítima para fugir do confronto com a dura realidade de si
mesmo e da educação. Por fim estão convencidos de que realmente
são improdutivos e culpados por toda esta ineficiência. Aprenderam a
ouvir a voz das autoridades, dos doutores, porque na sua apreciação da
realidade encontra-se a verdade. As convenções e as leis devem ser
seguidas a risca, e ninguém deve desaprovar ou questionar este tipo de
verdade.
Inconscientes da ação nefasta continuam a afastar cada vez
mais os alunos do desejo de aprender, este é o problema da
incongruência, ao falar, defendem os alunos e a escola, mas na ação
pedagógica reprimem qualquer manifestação de autonomia e
questionamento. O mesmo acontece quando os estigmas sobre os
educadores são propagados pelos meios de comunicação, tais como:
descompromissados, preguiçosos, falta de preparação científica, e
outros tantos estereótipos.
Sem confiança, segurança emocional e satisfação, jamais
vamos conviver com educadores que procuram a transformação. Ao
sentir-se inferior compreende que não deve lutar pelos seus direitos,
passa então, a aceitar sua condição de submissão, quanto menos
consciência sobre seu estado de inconsciência mais dominação e
depressão. Esta passividade é própria de quem encontra-se numa
situação de vulnerabilidade, por isto é muito comum a falta de
motivação para qualquer atitude de mudança.
Erich Fromm foi um dos psicanalistas humanistas que
comentou sobre o estado de alienação, porque na falta de satisfação e
segurança emocional decidem por destruir-se no mais completo
abandono. Para lutar e enfrentar os desafios da existência é preciso
confiança, autodeterminação, coragem, criatividade, dinamismo,
qualidades fundamentais na vida de qualquer educador, pois na falta
destas qualidades, observamos a tristeza, desânimo e pessimismo.

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Esta descoberta não acontece somente pela reflexão
intelectual, mas emocional, este novo aprendizado do diálogo,
pressupõe maturidade e segurança para acolher os diferentes tipos de
opiniões e de visão de mundo. Um diálogo que procure a paz, a
comunhão, a solidariedade, e não confundir com discussão de ideias e
brigas bilaterais. O educador deve estar preparado emocionalmente
para absorver toda frustração e desencanto, e aproximar os colegas
para comungarem num novo projeto de educação.
Este método dialógico pressupõe a igualdade nas relações,
ninguém é superior, ninguém tem a verdade, esta reflexão sobre a
educação acontece a partir da experiência de vida. Ao admitir sua
humanidade, tem a nítida pretensão de ser mais, e jamais admitir a
hipótese de ser massa de manobra. Este ambiente de diálogo deve ser
acompanhado de uma prática pedagógica, em conjunto são capazes de
aprender com as experiências, todos compreendem que esta prática
precisa de uma reflexão.
Sua dependência tem haver com os medos, as crenças
alienantes, consegue enxergar a realidade educacional de um modo
diferente, agora reconhece seu potencial e capacidade de organização,
entende que a violência é apenas a descarga de sua frustração, alguns
trabalhadores na educação podem até procurar uma saída nas drogas
lícitas e ilícitas, uma estratégia inteligente para abafar e reprimir as
emoções de tristeza e culpa.
O diálogo verdadeiro não pode estar condicionado a uma
verborréia de um líder, esta reflexão deve ser descoberta em conjunto,
no respeito e na aceitação do tempo de cada um. Quando o grupo
percebe que é possível a transformação, partindo de suas vidas, esta
práxis passa a ser rotina. Neste ambiente de diálogo ambos conseguem
identificar as mudanças na vida dos colegas. Este mudança não é algo
externo à realidade, acontece de fato na experiência do grupo.
O líder do grupo deve seguir os princípios do ambiente
humanizante, acreditar sempre na transformação do colega, a
paciência deve estar acompanhada da conscientização, qualquer
interferência na fala deve estar acompanhada de respeito e
consideração. O líder deve estar desprovido de verdades prontas, estas
66
descobertas devem ser feitas pelo grupo, este método propicia a
autonomia e a vivência da liberdade de pensar, ser e agir. Antes de
pregar a transformação para os outros deve vivenciá-la primeiro na
atividade pedagógica.
A relação com os colegas deve ser de igualdade, esta ação de
superioridade afasta e isola os colegas da vivência da confiança no
grupo. Quando um dos colegas manifestar desejo de ser manipulado é
preciso imediatamente conscientizá-lo de tal objetivo, o ambiente do
grupo deve proporcionar uma cooperação e não competição. A
reflexão dialógica desperta o potencial de autonomia na forma de ser e
pensar.
Este processo de individuação acontece de maneira vivencial,
à experiência prova a eficiência do método dialógico, porque esta ação
pedagógica propicia a vivência dos valores éticos da humanização, a
liberdade de pensar e ser são condição essencial para retornar a saúde
psíquica. Cada membro do grupo sabe apreciar a comunhão de ideias,
mas tem consciência de que precisa ter suas próprias, ou seja, não
pode ser refém das ideias dos outros. O grupo deve ter esta sanidade
vital, pois saúde emocional tem haver com a confiança, o aprendizado,
o respeito, a ética, e a solidariedade, toda esta vivência resgata o
legado das “humanistas”, um espaço capaz de gerar conhecimento de
si mesmo.
A neurose maligna insiste em proliferar a divisão, a
desconfiança e a falsidade, esta mesma pessoa é refém deste estado
emocional, o grupo deve estar preparado para acolher também a
incongruência e a limitação humana. Nem sempre os diálogos serão
agradáveis, pois em algum momento a pessoa precisa se olhar no
espelho e ver realmente quem é. O grupo pode acolher este tipo de
neurose, e ao mesmo tempo ser o suporte desta pessoa para fazer a
difícil travessia deste estado de incongruência.
Todos do grupo de alguma maneira comungam seu estado de
alienação, a ação inconsciente desta pessoa pode trazer um grande
aprendizado a todos, desta maneira estudam as estratégias de
dominação e manipulação dos burocratas da educação. Neste
ambiente todos retiram a máscara, sem medo mostram a sua nudez, a
67
confiança plena na ética dos valores humanos. Esta é a única maneira
de viver o humanismo.
Tudo isto pode acontecer dentro da educação. Com esta
intenção precisamos acreditar na capacidade do educador, o único
caminho é do diálogo reflexivo sobre a prática pedagógica. Se existir
uma tendência de tornar a terapia de grupo analítica um lugar para
recados, podemos voltar a antiga condição burocrática. Toda a terapia
deve ser conduzida com a finalidade de libertar o educador destas
falsas crenças, precisamos retirá-lo desta condição cultural.
A pior experiência é a dependência emocional da instituição,
existe um grande medo de tornar-se independente, a superação deste
medo passa por uma conquista pessoal, ninguém pode fazer uma
doação ou vendê-la aos colegas, este é um processo de conscientização
onde todos conseguem viver a saúde emocional. Precisamos de um
tempo de confiança, amorosidade, ternura, compaixão de uns pelos
outros, este comprometimento restabelece o valor das relações
humanas, e muito em especial o legado das “humanitas”.
O caminho deste processo de superação não pode ser
realizado através de um belo discurso, mas sim pela vivência autentica
das emoções das pessoas envolvidas no processo grupal. Para que
aconteça a verdadeira revolução, as pessoas precisam antes de uma
revolução na maneira de ser, pensar e agir, para depois ser congruente
e sincero nas propostas e ações. As mentes não são um depósito de
conteúdos, mas uma reflexão capaz de tomar consciência sobre a
realidade e a de seus colegas.
Quando existe a dúvida, a confusão, a perversão, jamais
existirá união, este ambiente de grupo analítico deve proporcionar uma
vivência da ética sustentada na sinceridade, este espaço torna possível
a adesão a este novo projeto de vida. A liderança do psicanalista deve
estar pautada por estes princípios, porque seu compromisso é com a
vivência ética de superação, e no seu acordo com a saúde psíquica.
Muitos talvez se utilizem das falsas mentiras, e do
preconceito para vender uma imagem negativa da psicanálise, não
esqueçam que os mesmos métodos utilizados para manipular e alienar
também podem ser utilizados contra as ações desta liderança de
68
grupo. O que não pode acontecer é o grupo servir aos interesses de
manter os educadores submissos, alienados e servis à exploração e
manipulação do aparato burocrático do poder estatal da escola.
Os educadores devem assumir-se nesta busca pela
humanização, mas para que este objetivo possa ser alcançado é
importante a sua participação, alguém deve alertá-lo da
responsabilidade sobre a sua qualidade de vida. Esta consciência não
busca somente aumento de salário, mas sabedoria, coragem,
criatividade, para poder realizar seus sonhos. E um deles é deixar de
ser escravo das ideias dos outros, porque neste caso precisa matar a
sua autenticidade, a sua autonomia, abdicar da liberdade de pensar,
sendo assim este educador escolhe matar o potencial de vida.
Toda pessoa infeliz e insatisfeita propaga ações destrutivas, é
preciso recuperar a capacidade de satisfação e realização dos sonhos,
esta decisão reacende o desejo de amar a vida em toda sua expressão.
Temos que resgatar os valores humanos, porque sem autoestima
assume a condição de coitado e miserável, para sair desta condição de
desumanização é preciso conquistar a dignidade de pessoa humana.
Esta é uma das exigências, sair de um discurso pessimista e derrotista
para uma condição de confiança e esperança de suas conquistas.
O processo de conquista desta condição humana passa por
reconhecer sua alienação, consciente desta destruição, pode dirigir
forças psíquicas para a plena recuperação. Não existe outro caminho
senão a vivência em grupo do resgate da autoestima, da valorização, da
sensibilidade, da amorosidade, para sair do modelo de educação
autoritária e manipuladora de mentes e pessoas. Esta nova relação de
diálogo, respeito e ética é o caminho mais seguro para a mudança.
Quem possui consciência deixa de ser sádico e não consegue
buscar seu prazer na destruição dos colegas, pois o método analítico de
terapia de grupo interpreta a dinâmica inconsciente dos desejos
latentes. É próprio de cada um defender as suas verdades, mas estas
interpretações podem estar equivocadas, e depois de um tempo
entendem que se trata de uma grande mentira, esta decisão de
descobrir a verdade é um ato de coragem.

69
Ao mesmo tempo a saúde emocional recusa-se a continuar
num caminho de perda e destruição, quem procura a terapia de grupo
analítica é porque não tem bem claro o sentido de sua existência, e por
outro lado sua vida encontra-se nas mãos dos outros, quando perde a
autonomia, pode tornar-se submisso e sofrer todos os tipos de abusos.
E na sua essência a consciência precisa deste método para encontrar-
se consigo mesma.
O psicanalista deve estar comprometido com os objetivos do
grupo, educador e psicanalistas devem estar unidos num único
objetivo, de conhecer-se em profundidade, porque ambos na sua
humanidade podem descobrir uma nova realidade, possuem a
capacidade de transformar-se, desta forma a presença dos educadores
na terapia de grupo analítica propicia a reconquista do amor pela
educação.

70
1.5 - O conceito de neurose na educação, uma reflexão crítica sobre
seus prejuízos na aprendizagem.

Ao refletir sobre a relação professor-aluno neste ambiente de


aprendizagem do jardim de infância, ensino fundamental, médio e na
universidade, constatamos uma relação distante e desigual. Quando os
conteúdos são despejados nas mente dos alunos inicia-se a morte da
criatividade, pois o professor disserta sobre a verdade dos conteúdos e
os alunos copiam silenciosamente sem questionar ou interessar-se
sobre sua copia.
Este tipo de método de cima para baixo não contempla a
participação do aluno na descoberta do conhecimento, e só existe uma
única saída para poder passar nesta disciplina, decorar, repetir os
conteúdos na prova, e depois comemorar porque conseguiu livrar-se
daquela disciplina. Como podemos falar de educação quando não
existe entusiasmo, força de vontade, interesse, participação, quando
todos encontram-se bem comportados, quietos, escutando a voz
repetitiva do professor. Ainda mais quando os conteúdos são estranhos
e não refletem nada da realidade existencial dos alunos.
Esta talvez seja a maior preocupação de todos os educadores,
tornar o ambiente da sala de aula algo atrativo e importante à vida.
Não podemos concordar com uma educação fria, distante, preocupada
em deixar os cadernos cheios de conteúdos, ainda mais quando esta
cópia não possui nenhuma relação com a vida. O desinteresse, a
desatenção, as conversas paralelas, são o primeiro indício de
desmotivação.
A relação do professor com os alunos torna-se fria e distante,
e para conseguir manter o domínio sobre a turma utiliza do poder
autoritário, além disso, fazem parte do domínio de classe, as ameaças
de baixar a nota, repetir o ano, reprovar, etc. Esta talvez seja a prática
pedagógica mais alienante, ambos estão na sala de aula, mas
escondem o desejo de não estar, existe sim um desprazer em escutar
palavras repetitivas, cheias de cobrança, por isto mesmo, todos
encontram-se ansiosos para ir embora.

71
A educação não acontece, pois não existe transformação e
sim cópia e repetição, em nome do medo e do poder, o silêncio acaba
por ser a tópica destes ambientes educativos. Esta prática pedagógica
aliena porque ajuda o aluno a não gostar da escola, entediado e
revoltado começa as represálias, tais como: não copiar a matéria, ficar
conversando, faltar às aulas, enfim ninguém sai ganhando com este
tipo de enfrentamento, todos perdem, pois a educação procura
alcançar a aprendizagem, e no final consegue a evasão escolar e a
repetência.
O bom aluno é aquele que sabe repetir de memória as
fórmulas e conceitos teóricos, seus cérebros servem de espaço para
esta enormidade de informação sem sentido e nexo, mas como todos
devem saber, obrigam-se a memorizar e repetir as mesmas fórmulas e
palavras nas provas. Todos estão preocupados em memorizar os
conceitos e fórmulas sem relação nenhuma com as dificuldades
pessoais, tais como: fome, miséria, desemprego, problemas familiares,
drogas, sexo, revolta e indignação.
Ainda bem que ainda conseguem expressar estas emoções,
justamente porque não veem sentido naqueles conteúdos em relação
às dificuldades pessoais. Desta forma o educador cumpre com o papel
de impor e obrigar a todos a interessar-se por conteúdos desconexos
da realidade, pressionados a memorizar sem questionar e depois
reproduzi-los sem modificação, torna-se um cérebro mecanizado
aprendendo a reproduzir sem entender o que está sendo escrito. Este é
o problema da memorização.
Esta concepção na educação torna estes alunos dóceis,
submissos, bem treinados para obedecer, sem entusiasmo pela
aprendizagem mostram-se apáticos, indiferentes e silenciosos, estão
condicionados a reproduzir as exigências do professor. Infelizmente
este homem vive e bebe desta fonte, passivo e sem iniciativa, salvo
raras exceções, transferem para a existência o modelo de
aprendizagem de medo, no silêncio é obrigado a burlar a ordem
estabelecida para poder ser diferente.
Como a escola pode exigir dos alunos criatividade,
dinamismo, autonomia, iniciativa, curiosidade, alegria, determinação?
72
Seu método distancia-se dos alunos, impõe um modelo autoritário,
distante, com um amontoado de informações, que talvez o próprio
professor se questione sobre a sua utilidade. Mas como ninguém
pensa, pois qualquer um que ouse questionar ou criticar pode ser
tachado de problemático, revoltado, além disso, existe a punição de ser
suspenso ou expulso.
Então, muitos fazem uma opção pela evasão escolar, porque
ninguém pode desenvolver suas qualidades num espaço onde não
existe liberdade para ser, esta prática pedagógica talvez seja resquício
do modelo autoritário do regime militar. A pedagogia da escola é
ensinar a ser obediente, não pensar, mas obedecer ordens, acreditar
em tudo sem questionar, uma espécie de robô programado, tal qual
um soldado. A escola deveria ser um ambiente da novidade, da
liberdade de expressar questionamentos e de ser ele mesmo.
Um modelo de educação pragmático, os burocratas estão
preocupados com a quantidade de informação depositada no cérebro,
não existe uma preocupação efetiva em relação à formação do caráter,
da sua capacidade de comunicação, de liderança, da arte, da música,
estas habilidades não podem ser levadas em consideração no
momento da avaliação, e assim depois de um ano de estudo todos
concordam em reprovar um aluno, e fazê-lo repetir porque não
conseguiu um ponto para alcançar a média em matemática.
Minha reflexão baseia-se neste tipo de injustiça, vítimas de
um modelo de educação que super valoriza a memorização e despreza
os valores e qualidades humanas, todos são unânimes em defender
este modelo pedagógico centrado na decoreba, porque devem
prepará-los para enfrentar o vestibular. Mais uma vez a sociedade na
sua hipocrisia, eleva aqueles que conseguiram reproduzir os
conteúdos, chama de ignorantes aqueles que não conseguiram
memorizar e decorar fórmulas e conteúdos para passar no vestibular.
O ministério da educação com suar normas, leis, decretos, os
burocratas do ensino, impõe ao sistema educacional um modelo de
cima para baixo, e todos estão felizes e contentes, pois nos discursos
falam de transformação, e na prática a educação encontra-se a beira da
morte. Neste modelo de educação encontramos os que detêm o
73
conhecimento, e os que aprendem porque não sabem, e desta forma é
sempre o outro o ignorante.
Os educadores acreditam que os alunos não sabem nada, e
neste distanciamento não existe aproximação e empatia entre
educador e educando.

74
Parte II

2.0 - A saúde não surge por acaso, precisa


de um ambiente de afeto e amor.

A saúde não seria um problema para ninguém, a


sobrevivência depende da educação, educar-se para viver com
liberdade e autonomia, encontrar novos caminhos de diálogo e
compreensão na relação professor aluno. A saúde não poderia existir
sem este processo de inteligência cognitiva e emocional. É através da
consciência crítica que o professor consegue motivação para realizar
sonhos. E neste processo de alteridade entre ambos, nasce uma
relação de reciprocidade e ajuda, a alteridade é fruto de uma nova
visão na educação.
A psicanálise serve de caminho para o professor conhecer os
desejos dos alunos, esta saúde na educação precisa da aproximação de
interesse, sem o prazer de ler e aprender ambos vivem a frustração.
Neste ambiente de curiosidade o conhecimento não tem a função de
imposição como obrigação, que precisa da autoridade do professor,
esta relação de respeito é conquistada pela sabedoria, os conteúdos
servem para cativar e envolver o aluno nesta busca.
Nesta nova pedagogia o professor investe na compreensão e
interpretação do inconsciente do aluno, o investimento desta teoria
psicanalítica reacende o desejo de aprender não por uma imposição da
autoridade, mas por uma consciência que sabe o valor do
conhecimento. Professor e aluno estão neste processo de busca e
superação de dificuldades, existe uma aproximação e não um
distanciamento, a relação a dois converte-se numa admiração, de
exemplo, não pelos gritos, ameaças, castigos, mas numa dialética de
empolgação de sentir-se pessoa no ambiente de aprendizagem.
O professor não impõe conteúdos como uma obrigação, o
distanciamento é fruto do medo do comprometimento, conteúdo
desvinculado da realidade é o mesmo que assistir a um filme de terror.
A psicanálise tem muito haver com a educação, e o ato de educar não é
uma tarefa impossível, a impossibilidade surge quando alguém não
75
aprendeu a desenvolver o método dialético de respeito, consideração
pelas ideias, experiências, vivências dos alunos. A aprendizagem deve
nascer do prazer, o aluno deve estar envolvido no desejo de conhecer,
este processo depende muito de sua busca, por isto mesmo é uma
atitude livre e autônoma para viver a educação.
Neste diálogo os olhos do educador demonstram sua
verdade, não é um ser passivo, submisso, infeliz e frustrado, mas
alguém que vibra e consegue mostrar o valor da superação, porque
mesmo estando numa situação difícil consegue tirar vantagem de suas
dificuldades. Nesta abertura, não existe medo da nota, da reprovação,
de questionar, de ser ele mesmo, ambos não precisam representar um
papel social, onde alguém sabe tudo e o outro copia a matéria porque
não sabe nada.
Neste ambiente relacional, existe um interesse de realização,
estão conscientes dos problemas, mas fazem do seu dilema a
motivação para buscar a solução através do conhecimento. O aluno
não é aquela pessoa passiva, submissa, descomprometida, que
domesticado pelos condicionamentos encontra-se na sala de aula
somente de corpo e não com espírito. O ato de aprender não é uma
mera representação do faz de conta, ninguém está interessado em
contentar ninguém, não é simplesmente uma representação teatral.
Agora ambos sabem do compromisso ético, se unem e
buscam soluções para salvar a própria pele. Educar é dialogar sobre as
verdades, mas o professor precisa passar para os alunos a importância
e o valor do conhecimento, porque caso contrário, os conteúdos
tornam-se um peso, uma obrigação, tanto para quem ensina, como
para quem aprende. A realidade de pobreza material, econômica,
afetiva, são as motivações principais do processo de busca, o meio
social e político é o motivador da aprendizagem.
A prática pedagógica é uma ação de proximidade e não de
distanciamento, ninguém deseja afastar-se da escola, todos encontram
um sentido para valorizar a educação, e descobrirem em grupo a
importância de confiar em si mesmo, de enfrentar os dilemas e não
esperar alguém para tomar decisões de sua competência. Aprende o
gosto de ler, descobre o valor do conhecimento, percebe em si mesmo
76
o crescimento intelectual. Este ato de amor e não de ódio é o que
norteia a ação de uma educação eficiente.
O professor não é uma pessoa desvinculada dos problemas
sociais e emocionais dos alunos, encontra-se envolvido no processo de
superação, o conhecimento deve ser utilizado na vida diária, estes
conteúdos desvinculados da realidade do aluno não ajudam em nada a
qualidade de vida. Então a primeira atitude do professor é mostrar o
valor e importância da teoria, para isto é preciso conhecimento na área
de atuação. Sem envolver o aluno na busca de aprender por conta
própria, resta somente a imposição e a obrigação.
O método de aprendizagem não consiste no modelo arcaico
de Skiner, condicionar o aluno a ser obediente à sirene dos horários, à
autoridade do professor, aprender a copiar e não questionar, colocar-
se no lugar de aluno, estar submisso às ordens e verdades de quem
ensina. Este método que estimula a submissão e não a autonomia,
retira a liberdade de ser autêntico e verdadeiro. Porque neste método
ninguém está interessado na cidadania, e sim no armazenamento de
conteúdos repassados à memória, e por isto precisa do silêncio e da
obediência.
Um modelo de educação baseado nos princípios do estímulo
e resposta, com a complementação do reforço, neste ato pedagógico o
método é o seguinte: todo o conhecimento deve ser decorado e
armazenado nas gavetas das memórias para depois serem
reproduzidos nas provas do vestibular, para isto é preciso reproduzir os
conceitos e fórmulas das disciplinas para tirar boas notas, desta forma
o aluno contenta os pais e educadores, e recebem como reforço uma
vaga na universidade, e depois um diploma registrado no ministério da
educação.
Então pergunto: Quem gostaria de ser tratado como um
cérebro armazenador de conteúdo? Será mesmo este o objetivo da
educação? Que tipo de prazer alguém pode ter em aprender a decorar
conceitos e fórmulas para reproduzir nas provas? Por que nossa
sociedade aceita este tipo de educação? De onde surge esta
passividade? Por que ninguém questiona este tipo de aprendizagem?

77
Quem poderia viver neste modelo de repetição e memorização,
compreender, copiar e reproduzir para passar de ano ou no vestibular?
São muitos os questionamentos que nos levam a entender
porque o aluno não gosta da escola, ou quais seriam os motivos de tal
evasão, talvez estes cidadãos encontraram outro lugar onde pudessem
aproveitar melhor o tempo. Desculpe, mas ficar numa sala de aula
copiando matéria para depois reproduzir na prova, como condição
básica para passar na disciplina, e depois receber o tão almejado
diploma é extremamente cansativo. Quem poderia ter desejo para
aprender num ambiente viciado pela estagnação e repetição?
O professor procura ser eficiente porque demonstra
excelente memória, todo conteúdo depois de anos de prática
encontra-se armazenado na mais perfeita ordem. Os alunos por sua vez
devem ser passivos e aprendem a memorizar os conteúdos, seu
cérebro é um depósito de conhecimento que deve ser usado para
responder as questões da prova. De acordo com a nota que recebe, a
educação deduz se é burro ou inteligente. Inteligência na educação
tem haver com decoreba e reprodução.
Algo está errado e não alcançamos nossos objetivos, porque
os alunos fazem bagunça, conversam entre eles sobre a namorada ou
futebol, fingem que estão atentos e quando o professor vira-se para o
quadro, inicia-se a famosa conversa paralela. O que está acontecendo
na educação? Quem é o mais insano? Aquele que impõe este modelo,
os aqueles que boicotam e lutam para não tornarem-se idiotas e
imbecis? A educação tornou-se um lugar de violência. Perguntamo-nos:
Existe maior violência do que sentir-se obrigado a estar num lugar onde
não encontra sentido e significado e muito menos prazer?
Se vamos falar de violência este tipo de abuso pode ser
caracterizado como um ato de enfrentamento, de disputa de poder, de
punição, de humilhação, de repetência, de notas baixas, de não ter
aproveitamento, de não participar nas aulas, de não entregar os
trabalhos, de não fazer as leituras, enfim todos os “nãos” simbolizam o
boicote a este tipo de educação autoritária e distante da realidade do
aluno. Quando não existe interesse, desculpe, mas existe interesse em
não fazer parte deste tipo de método de aprendizagem, esta atitude é
78
um repúdio pela falta de sentido desta educação que não atende aos
desejos dos alunos e talvez também dos professores.
Os professores às vezes encontram-se desolados,
entristecidos, raivosos pela violência que sofrem das más condições de
trabalho, da falta de material didático, dos recursos tecnológicos, dos
baixos salários, da carga horária excessiva, da falta de atualização na
sua área de conhecimento, enfim, são várias as violências psicológicas
e emocionais que sofrem, porque também estão obrigados a despejar
o conteúdo aos alunos independente se aprovam ou não este método
pedagógico.
Todos devem seguir esta determinação rigorosa, aqueles
conteúdos devem ser repassados dentro daquela carga horária,
estressados, cansados, fazem o que podem para sobreviver num
ambiente onde a maioria adoece. Ainda bem que o estado tem um
“ótimo” plano de saúde. Porque sabem que o organismo não suporta
esta violência, o único modo de continuar na sobrevida é com ajuda de
medicamentos. A violência de um lugar que encontra-se viciado pela
imposição autoritária do medo e da punição.
Como pode haver conhecimento quando ambos encontram-
se distantes do prazer em aprender? Podemos memorizar conteúdos,
mas esta aprendizagem deve ser precedida de satisfação e realização,
neste caso a educação começa a fazer sentido e significado na vida das
pessoas. Professor e aluno são vítimas deste processo
institucionalizado, uma vez que o ato de educar está acompanhado de
vigilância e controle. Onde não existe liberdade para aprender, como
pode acontecer este ato de responsabilidade com a produção de
conhecimento?
Uma vez que o conhecimento deveria ser a prioridade da vida
de ambos, infelizmente encontra-se distante porque não encontrou
sentido neste tipo de educação. O professor é participe desta prática,
ambos não gostam de ler e aprender, sua participação é por
convocação, pois se tivesse a liberdade de decidir não participaria, ou
seja, quanto menos estiver presente na escola melhor para ambos. O
problema da obrigação é uma violência contra a vivência do prazer,
não desejar é estar distante do ato de aprender.
79
Quando os problemas começam a tomar conta da vida dos
alunos e professores, nos perguntamos: Para que serve uma educação
que não nos ajuda em nada? Que liberdade é esta quando o professor
está sendo vigiado e controlado pelo seu supervisor? Quando o seu
colega diretor impõe e não dialoga, seu desespero é tamanho que
vende sua dignidade por um cargo de confiança. Ninguém confia em
ninguém, todos encontram-se encurralados nesta prisão ideológica, os
grupos se unem e fazem o mínimo na esperança de que o tempo passe
depressa e depois possam aproveitar com a aposentadoria.
Para onde caminha a educação? Quando alguém não é dono
do seu fazer pedagógico o que podemos esperar dele? Bom, se é assim,
toda esta condição problemática da educação surgiu do acaso, ou é
uma ação pensada para dominar e tornar ambos obedientes a estas
instituições de comando? Quem está consciente deste processo de
dominação e desprazer? Quem ganha com isto? Por que temos medo
de gente que pensa? De onde surge tanta passividade e submissão? A
miséria dos salários, os baixos índices de aprovação, a presença do
analfabetismo. Como uma sociedade de ditos intelectuais e escritores
acompanham calados este flagelo social?
Estamos falando de violência, esta é a pior das violências,
quando um método pedagógico consegue fazer com que as pessoas
aprendam a não gostar de aprender. O desprazer pela escola, porque
quando existe um feriado ou falta um professor os alunos fazem festa.
Porque ninguém gosta da sala de aula? Esta violência aparece quando
milhões de pessoas não aprenderam a colar e por isto não conseguiram
passar naquela disciplina. Uma violência que ensina a burlar o sistema,
“quem não cola, não sai da escola”. Quem ganha com isto? Por que
muitos alunos saem da escola e não sabem o que fazer com a própria
vida?
E depois esta mesma sociedade condena os alunos que
fumam um baseado, que cheiram cola, craque, cocaína, ingerem álcool.
Porque estes jovens procuram adormecer sua consciência. Esta
anestesia vulgar consegue realmente fazer desaparecer este desgosto
pela sua vida? Qual é o lugar das drogas na escola? Não é onde puxam
o baseado, mas o silêncio dos educadores em ajudá-los nesta difícil
80
tarefa de viver. Qual é a alegria, que tipo de satisfação, realização ou
prazer o ambiente escolar oferece? Se não existe este prazer na
família, na sociedade e tampouco na escola, pode encontrar facilmente
o estado de bem estar e satisfação no consumo de drogas.
Quando a vida é uma droga, qual é o problema de envolver-
se com os psicotrópicos? Drogas lícitas e ilícitas, aquela que tem receita
e está controlada, a outra droga é sem controle e não paga impostos. A
polícia reprime e prende, ameaça, vigia e pune, a justiça toma suas
decisões construindo mais presídios e exigem dos governantes um
maior efetivo de policias para proteger o cidadão. Estamos todos
perplexos quando a diretora não sabe o que fazer com os traficantes
de droga, pois estão aliciando os alunos para vender craque no pátio
do colégio.
Pobres, sem emprego, encontram no traficante uma renda a
mais para comprar o caderno, o tênis, a roupa, esta é a miséria
institucionalizada, exige-se que os alunos sejam obedientes e aceitam o
estado de miséria econômica e educacional, sem desobedecer as leis
da sociedade. A droga é uma química e produz um estado de extremo
prazer e satisfação, todos nós sabemos que é uma ilusão, porém não
podemos esquecer que quando não consegue por competência obter
prazer na existência, talvez faça uma opção pelo caminho da ilusão e
fantasia.
Deste modo, estamos problematizando as questões sociais
que encontram-se dentro da escola, talvez a escola pudesse ser um
ambiente de prazer e não de desprazer, de debate destas questões da
droga de vida, da droga química, enfim começar abrir espaço para sair
da violência da acomodação, onde todos estão procurando um culpado
e onde ninguém é culpado do caos social. A droga propicia um único
caminho, a destruição. O que a escola oferece além da decoreba? A
droga de saber que não sabe nada, que é burro, que não serve para
nada. Qual é a pior das drogas, a química ou a sua vida?
Este ato truculento e autoritário de uma elite na educação
que representa no estado, o lugar do suposto saber, da alienação e
massificação, salvo raras exceções. Na medida em que o professor
apresenta aos alunos um espaço para o debate destas questões sociais
81
e das angústias e medos que perturbam o estado de concentração,
diríamos que este método abre as portas para uma educação que inclui
no seu discurso pedagógico, um ato de respeito e consideração pelo
sofrimento e dor dos alunos.
Esta prática educativa reacende no ambiente escolar um
grande debate contra toda forma de violência institucionalizada, esta
situação da não aprendizagem ou do desgosto de estar na escola, são
questões cruciais para a educação caminhar no sentido da verdade e
não do faz de conta. Assim, o professor abre espaço para aproximar-se
da realidade dos alunos, contextualizando e cativando cada um deles
nesta tarefa de fazê-los entender que são os protagonistas da sua
aprendizagem.
A educação deve contribuir para transformar, a repetição
mecânica de conceitos e fórmulas reforça o desprazer, por isto é
importante professor e aluno pensarem juntos seus problemas,
procurando na reflexão dos temas o desvelamento das contradições da
sociedade. A primeira condição é estar disposto a aprender juntos, e a
segunda é a tomada de consciência sobre o processo de alienação. Esta
nova percepção da realidade educacional favorece para sair da
condição superficial de viver.
Os problemas não são o entrave para realizar seus sonhos, o
bloqueio da inteligência criativa pode sim prejudicar e impedir a sua
realização. Porque esta experiência do aluno no meio familiar e
cultural, e os desafios que a existência impõe, são os obstáculos que
devem ser superados. A existência precisa da educação neste sentido
de alertar, refletir, criar, os meios para desenvolver o potencial criativo
na busca de soluções para os problemas. Este desafio não deve inibir
ou podar a iniciativa de procurar com os recursos de sua inteligência
cognitiva e emocional, meios para encontrar uma saída para este
labirinto de dificuldades.
Quando a existência coloca estes tipos de problemas, realiza
ao mesmo tempo um convite a dar uma resposta a altura deste
desafio. O debate reflexivo compreende as diversas redes de fatores
que interferem e bloqueiam a solução. A inibição e o silêncio reforçam
ainda mais o estado de insatisfação, frustração e desencanto para com
82
a educação. A educação deve levar o aluno a compreender o sentido e
significado destes desafios na vida escolar, e aos poucos começa a
descobrir seu próprio método de resolver os problemas.
Esta reflexão desenvolve a capacidade de pensar, e de
aprender a resolver problemas sem nenhum tipo de dependência.
Descobre o sentido de existir, e cada problema é um novo desafio para
aprender novas soluções, este é o compromisso com a vida, não fugir
dos desafios, mas enfrentá-los com coragem e determinação. Esta
liberdade de resolver os desafios aumenta a autoestima, amplia o
conceito pessoal e além do mais, mostra uma imagem de segurança e
determinação em tudo que realiza.
Este aluno não está dominado e com medo, ao contrário
sente-se com coragem e determinação para não cair no conformismo
das fáceis soluções, assume sua vida com seriedade e bondade. Neste
tipo de educação a criança ou o jovem sente-se estimulado a
desenvolver seu potencial criativo, começa a ver o mundo como um
lugar de oportunidades para desenvolver o potencial de inteligência.
Porque com medo e assustado começa a fugir dos compromissos, as
falsas desculpas e justificativas escondem a negação de sua
potencialidade, e com receio das críticas, esconde-se na solidão,
isolado, nega sua presença na sociedade.
A educação é um lugar de reflexão e de autenticidade, ao
lançar-se sobre estes caminhos descobre-se como alguém que
consegue contribuir e melhorar a sua vida e a dos outros. Sua
abstração intelectual não é vazia, aprende pelo diálogo a importância
de respeitar os diferentes tipos de ideias, e acima de tudo consegue
forças para lutar pelo espaço de dignidade numa sociedade injusta e
contraditória. Sua relação de verdade consigo mesmo, enaltece e
amplia a compreensão sobre si mesmo e a realidade social e cultural.
Consciente sobre seu papel na sociedade, descobre a
importância do conhecimento como uma porta capaz de mostrar os
diferentes modos de interpretar e resolver os dilemas pessoais. Os
problemas são instigados pela existência para ampliar o nível de
consciência sobre o mundo vivido. São as descobertas, as superações
em grupo, sozinho sustenta a confiança em si mesmo, esta capacidade
83
de pensar o problema e procurar a solução, não existe timidez e
inibição para aprender, e sim desafios para educar-se com liberdade e
autonomia.
A educação deve ser um ambiente de tomada de consciência
sobre a realidade emocional e cognitiva, consegue com isto um sentido
de viver na comunidade escolar, não precisa se destruir e tampouco
procurar soluções mágicas e alienantes para os problemas. A
consciência de saber a diferença entre estar alienado, é uma crítica
capaz de afastar desta malha de aprisionamento cultural. O aluno
encontra-se no mundo com consciência e não inconsciente de seu
papel como cidadão, não há existência sem problemas, os obstáculos
aparecem para desenvolver o potencial criativo.
Saber disto não basta, é preciso aprender o método de
solução, esta é a garantia de sobrevivência emocional e cognitiva. O
aluno superficial aprende a mentir e enganar, junta-se a grupos com a
finalidade de explorar, este tipo de aprendizagem reforça o mundo de
fantasia, seu “eu superficial” o induz a um caminho de psicopatologia e
perversão. Aprende a fazer-se de vítima e procurar a solução dos
problemas fazendo-se de coitado, encontra na pobreza cultural e
emocional o caminho seguro para viver pedindo afeto, dinheiro,
oportunidade, amor, etc.
Por outro lado, a superficialidade e negação do potencial
humano, leva a educação a pensar um método capaz de tirá-lo deste
sonho adormecido. Ao negar seu potencial de humanidade impede o
desenvolvimento da inteligência, quando não participa com motivação
da aprendizagem, indiretamente constitui-se numa pessoa inútil. Como
a educação poderia ajudar o aluno a ampliar seu campo de percepção
sobre a realidade pessoal? A consciência sobre sua “condição humana”
propõe um novo olhar da realidade, a revolta é o caminho de violentar-
se ou projetar a agressão em inocentes que não tem nenhum tipo de
culpa sobre seu estado de frustração.
Não sabem lidar com a violência emocional de rejeição,
abandono, humilhação, justamente porque não são reconhecidos e
valorizados pela sociedade. Quando sente-se uma coisa e não pessoa,
preferem se destacar mesmo como bandido ou marginal, de alguma
84
maneira é destacado nas ocorrências policiais ou nas manchetes dos
jornais. Inocentes e desprovidos de senso crítico, são presas fáceis para
o mundo do crime.
A educação deve projetar-se à frente dos acontecimentos, e
desenvolver em sala de aula com os alunos os novos projetos de vida.
Começa a perceber que a sua realização depende muito do esforço e
dedicação pessoal, pois se dá conta das implicações de suas decisões
no futuro. Agora consciente dos fatores que contribuem para
problematizar a vida, pode decidir por um caminho diferente, assume a
direção para conduzi-la com seus erros e acertos. Estes “insights”
recriam a condição de tornar-se mais humano, para tornar-se objeto de
admiração pelo seu conhecimento de si mesmo e dos outros.
Enquanto no modelo antigo de educação autoritária era
passivo e submisso, neste novo método procura com insistência as
respostas para os questionamentos. Como aluno procura seguir a
orientação correta dos ensinamentos do professor, não aceita mais a
condição do “esperar”, agora não aguarda que alguém resolva seus
problemas, possui consciência e compreensão de que é o agente desta
transformação pessoal e social. E todos os desafios ensinam como
sobreviver numa sociedade capitalista e contraditória.
A tendência é de que professor e aluno comecem a colher os
frutos desta nova maneira de interpretar e viver a verdade na relação,
confere a ambos a experiência da confiança em si mesmo. Descobrem
suas potencialidades pensando e tomando ações produtivas sobre a
realidade, sabem que sem esforço e dedicação não vão chegar a lugar
nenhum, pois ninguém pode fazer no seu lugar aquilo que é de sua
responsabilidade e competência. Percebe que nesta relação consigo
mesmo, com os outros e a sociedade o caminho para colher aquilo que
plantou.
De fato descobriu que não pode resolver seus problemas sem
aprender a dialogar, esta capacidade de comunicação, de escuta, de
respeito, de paciência, de humanidade, pode levá-lo a entender a
correspondência de uma ética pessoal. Mesmo diante das contradições
age com prudência e coragem, não desiste, e seus valores são frutos de
sua maneira de enxergar a educação. Mais uma vez precisa dos valores
85
para fazer sua opção, o mundo das ilusões e fantasias, e o outro real e
concreto.
A educação da decoreba não ensina nada, simplesmente
condiciona a mente a repetir conceitos como uma máquina
programada para seguir esta determinação. Neste tipo de educação os
problemas emocionais, familiares e sociais não interessam à escola.
Pois acreditam que sua função é depositar conhecimento nas
memórias do cérebro para depois reproduzi-los nas provas. Portanto
não levam em consideração os fatores emocionais e influências sociais
no processo de aprendizagem. Fingem não ver esta realidade oculta e
hipócrita de uma sociedade que exclui e marginaliza os mais pobres e
com dificuldades.
Do mesmo modo o aluno fica com vergonha de dialogar sobre
sua condição, e não percebe que está sendo vítima desta relação com a
educação. Quando começa a entender seu papel no processo de
conquista da cidadania, compromete-se na sua libertação. O diálogo
com o professor é fundamental para que o aluno possa ajudá-lo a sair
do processo de alienação. Este espaço de escuta do outro, abre várias
possibilidades de humanização, encontra no olhar do professor uma
esperança para vencer as dificuldades.
Não consegue mais aceitar a condição de dependência
assistencial das instituições, porque sua submissão a esta condição é a
aceitação incondicional de que é pobre, burro, e não tem capacidade
de lutar pelo seu espaço. Toda dependência de receber sem produzir
inibe sua criatividade, nega os desejos mais íntimos de sua natureza, ao
reprimir seu potencial deixa de humanizar as relações. A criatividade e
a reflexão são o caminho para alterar a comunicação com o seu mundo
vivido, esta mudança na maneira de pensar parte de uma reflexão
capaz de levar à transformação pessoal.

86
2.1 - A educação como agente de superação e humanização.

A educação que atrofia mentes não serve para desenvolver as


potencialidades do ser humano, pois os alunos não querem somente
fixar os conteúdos programáticos nas memórias. Antes de tudo,
precisam de uma formação que comtemple o compromisso de
proporcionar saúde psíquica e realização pessoal. Os alunos estão num
processo de mudança e de aprendizagem com as transformações da
globalização e das tecnologias virtuais. As limitações são as mais
diversas, no entanto sabemos do compromisso de evoluir sempre e
mais na excelência de sua humanidade.
Por isto existe a educação, é uma instituição capaz de
viabilizar este sonho, esta realização, todos os professores encontram-
se nesta busca de felicidade e saúde, alunos e professores possuem
interesses muito parecidos. Mas o aluno precisa superar sua
inferioridade, sua autoestima baixa, sua condição econômica
desfavorável, para buscar forças e superar todas estas adversidades. A
escola é um lugar que se reconstrói constantemente, que pensa
métodos e soluções, esta é a aprendizagem do futuro, agora se a
educação não oferece estas condições ou não está preparada para esta
nova realidade, então precisa urgentemente de renovação.
Deste modo a memorização de conteúdos não atende às
necessidades dos alunos na atualidade, com o processo de globalização
cultural, com o avanço indiscutível das tecnologias de informação, com
a mídia se comunicando em tempo real, vivemos um novo momento
na história da humanidade. Esta fixação pela acumulação de conteúdos
na memória é coisa do passado, este tipo de aprendizagem não
acrescenta valores e tampouco solução para os problemas da
atualidade.
O imobilismo, a fixação na tradição, nas crenças antigas, nos
métodos ultrapassados, defende a permanência da reprodução da
insensatez. Diante da complexidade de situações que o aluno e o
professor enfrentam neste momento histórico, se faz necessária uma
revolução pessoal de cada agente da educação. A repetição de um
método por um longo tempo na escola segue as diretrizes do
87
condicionamento de Skiner, infelizmente acabam atrofiando as
mentes, para repetir como um papagaio tudo aquilo que foi
condicionado como verdade.
Programados para repetir, não sabem pensar, perdem a força
da renovação, no fim de tudo são alunos acomodados e aceitam a
realidade como lhes foi imposta. São como os ratos de laboratório,
aprenderam a obedecer e fazer sempre as mesmas, sempre da mesma
maneira, tudo igual, sem nenhum tipo de mudança. Quando a
educação perde o sentido da renovação, do desafio de pensar novas
alternativas para os problemas, a tendência é petrificar-se nos falsos
discursos do passado. E em nome da tradição e dos compromissos com
ciclano e fulano não deixam a mudança acontecer.
Acorrentados por forças reacionárias e ultrapassadas, a
educação permanece sem transformação, muitos perderam a
esperança, por isto encontram-se com depressão ou engolindo pílulas
para anestesiar sua frustração. Enquanto os adultos procuram nos
psicotrópicos a anestesia da consciência para acalmar ou remediar a
dor, os jovens fumam seu baseado no fundo da escola para fugir desta
realidade triste e entediante. Tanto o professor como os alunos são
pessoas motivadas para aprender a novidade e transformar a
realidade. Os seus sonhos são o potencial para a motivação da
transformação, querem o melhor para as suas vidas, este objetivo não
pode ser frustrado.
A educação não pode ser lugar de atraso e imobilidade, da
repetição sem graça de conteúdos distantes da realidade social e
política. Os alunos e professores desejam caminhar no sentido da
saúde e felicidade, este tipo de pedagogia da morte, atrofia mentes e
corações, e consegue fazer com que ambos não gostem e tampouco
lutem pela transformação. É uma pulsão destrutiva, pois recria o
estado macabro e triste. Ninguém pode ficar preso ao passado, mas
aproximar-se de pessoas de coragem para avançar rumo à mudança,
porque se alguém vive sem mudar é o mesmo que viver sem
emocionar-se, é um tipo de existência seca e fria. Todos devem estar
envolvidos neste processo de enfrentamento, seja política, econômica,
histórica ou social.
88
O corpo docente em conjunto com seus alunos deve ousar e
unir-se em busca da utopia. Ninguém pode fazer esta transformação no
seu lugar, o único meio de realizar este sonho na educação e nas vidas
é desinstalar-se da acomodação, que tem muito haver com a alienação,
todos sofrem neste processo de condicionamento, sair desta maneira
de ver o mundo, não é uma tarefa fácil, pois os cérebros pararam de
pensar, não sabem pensar, e sem reflexão é impossível a mudança.
O professor um dia foi aluno, passou seus longos anos atrás
de um banco escolar, e por muito tempo aprendeu a não discordar dos
mestres, porque quando fazia uma crítica sofria ameaças e muitos
reprovaram nas disciplinas, outros colegas intrigados com esta história
da obediência incondicional da verdade da universidade, abandonaram
o curso superior. Por isto mesmo, todos aprenderam uma grande lição,
ficar em silêncio e nunca discordar das verdades impostas pelos seus
mestres, foi a saída que encontraram para terminar os seus estudos.
Sem refletir, sem questionar, sem críticas, tornaram-se bons
ouvintes, até que um dia acostumaram-se ao silêncio, e sem perceber
aceitaram este tipo de condicionamento. Não se davam conta, mais a
universidade estava trabalhando seu estado de inconsciência, para
depois servir no continuísmo de uma sociedade injusta e decadente. O
lema “Educar para não pensar” era o resultado de educadores e alunos
sem autonomia, venderam sua liberdade por medo de serem
perseguidos ou transferidos, acabaram aceitando e justificando a
pedagogia da morte.
A partir deste modelo o professor sofreu também com este
tipo de condicionamento, aprendeu a ser obediente e jamais
questionar algum tipo de autoridade. Seus olhos voltavam-se para
escrever sem erros, a lisura da escrita mostrava o seu cuidado e
carinho pelas frases e cópias, mas qual era mesmo a finalidade de
todos estes conteúdos e diversas disciplinas? Seria disciplinar a mente
para obedecer, e submissa à ordem do professor seguir as ideologias
das autoridades e a sociedade.
Todo professor ainda continua aluno, nunca conseguimos
entender como a pedagogia destrutiva conseguiu fazer com que
deixassem de gostar de ler e estudar, até porque as matérias deveriam
89
estar memorizadas, para depois serem reproduzidas nas provas. Quem
ousava inovar aquele tipo de conceito ou colocar suas próprias ideias
era automaticamente reprovado.
Porque a pedagogia não fazia as pessoas pensarem e refletir
sobre aqueles conceitos, mas reproduzir idêntico ao que estava escrito
no caderno. Por isto se tornou muito comum aos alunos colar para tirar
boas e excelentes notas, bastava somente copiar conceitos e fórmulas.
Por longos anos e depois de um farto condicionamento, todos
aprenderam que para sair da escola era preciso obedecer sem
questionar.
A recompensa era o título de professor, com o diploma na
mão estavam prontos para dar continuidade ao processo, que não só
aprenderam, mas também vivenciaram este tipo de condicionamento,
tudo isto em nome do ministério da educação. Ainda hoje, antes de
fazer qualquer curso, perguntam se é reconhecido pelo MEC, ninguém
está interessado pela qualidade daquela proposta, mas se existem o
aval do poder instituído ou do órgão gestor da educação alienante e
massificante.
Esta imobilidade na educação encontra-se à disposição da
neurose, pois esta emoção bloqueia e impede a liberdade de ser e
pensar. E como não existe neurose sem emoção, sem vivência, a
ineficiência parte da situação de paralisia existencial. Quando surgem
os desafios ou os problemas de física, matemáticas, química, não
sabem resolver, porque não possuem a fórmula da reflexão, e
tampouco sabem como resolver os problemas financeiros, afetivos e
amorosos.
Resta uma única esperança, aprender a resolver problemas
fora da escola, ou seja, na escola da vida, esta nova experiência realça a
importância da participação para conquistar os objetivos. Aprendem
que todo processo de superação de suas neuroses passa pela coragem
de ser, a neurose do medo é a protagonista do conformismo, pois se
apega a falsas desculpas para fazer sempre as coisas, sempre da
mesma maneira. Este tipo de repetição, leva ao cansaço e esgotamento
da energia física e psíquica, por isto mesmo, é muito comum a
somatização e depressão.
90
Enquanto a educação encontra-se distante do mundo das
emoções continuamos na mesma situação, não é por acaso, que o
desânimo e a apatia tomaram conta. O que propomos é lançar este
novo desafio, para podermos sair do vínculo de morte da
aprendizagem. Todos sabem que não existe uma solução mágica ou
ingênua para este tipo de crise educacional. Quando os agentes da
educação começam a ter consciência, saem do estado de ingenuidade
e percebem a triste realidade da alienação.
Talvez esta seja a pior das violências, quando sutilmente
conseguem retirar o desejo de aprender e colocam no seu lugar, a raiva
e ódio. Esta proibição de aprender impede a realização dos sonhos.
Ninguém gosta quando alguém questiona e quer saber os motivos da
obediência. A verdadeira educação encontra-se muito além dos
conteúdos sistematizados, seria um erro dos professores e alunos
acreditarem que as titulações seriam a solução para a autonomia e
felicidade na existência.
A verdadeira revolução inicia-se aqui e agora, e começa a
partir da análise das crenças de uma educação autoritária e tradicional,
portanto este estado de embriaguez é fruto do descompasso entre a
realidade subjetiva do aluno, e a voz estridente e sufocante de um
professor esgotado para fazer valer a sua autoridade. Os alunos
continuam surdos e mudos, seu único meio de enfrentar tamanha
imposição é contestando com conversas, esta desatenção refere-se
àquele tipo de conteúdo que acrescenta tão pouco à vida.
Esta superação acontece no enfrentamento de todos os
desafios, a aprendizagem desenvolve a criatividade e maturidade
absolutamente necessárias para ancorar coragem e ousadia, para dar
uma resposta eficiente aos problemas pessoais ou de relacionamentos.
A realidade do ambiente escolar precisa ser transformada, e depois
daquelas soluções encontradas, surgirão novos desafios a serem
superados.
O mais importante é o nível de consciência que o professor
tem em relação a si mesmo, e dos conflitos neuróticos que possam
estar bloqueando e impedindo de realizar-se como pessoa humana.
Pois cada desafio superado, mais aprendizagem e acúmulo de
91
experiência para solucionar os problemas no futuro. Ninguém pode
esquivar-se de realizar a própria história.
O narcisista vive em função de si mesmo, por isto sofre a
consequência da onipotência, do isolamento e da onisciência. Esta
decisão egocêntrica implica numa postura de separação e
distanciamento, como o homem é um animal social precisa relacionar-
se para conseguir viver a sua dimensão afetiva e amorosa. É natural
dos professores a busca de qualificação e excelência na sua prática
educativa, o grande confronto é esclarecer para si mesmo seu papel
diante da educação e da existência.
Estes desafios da educação são ao mesmo tempo a motivação
para lançar-se em busca de novas soluções, o educador precisa do
apoio dos colegas para a efetivação das mudanças, historicamente
todos fomos alvos do medo. Este medo consegue paralisar toda e
qualquer iniciativa de mudança, por isto não basta somente a força de
vontade, mas antes de tudo, tomar consciência sobre as crenças
limitantes.
A alienação consegue afastar o professor do seu potencial de
organização, e com medo de assumir-se, prefere seguir as decisões dos
outros, na fantasia não seria responsável pelo caos que hoje atinge a
educação. Esta adaptação condiciona a produtividade, enquanto
homem pensa na sobrevivência, seu trabalho está voltado para as
condições mínimas, como alimentação, moradia, família, filhos.
Mas o professor precisa voltar-se para a produção intelectual,
utilizando seu potencial de inteligência emocional e cognitiva para
superar as adversidades e frustrações do fazer pedagógico, em resumo
se não possui esta consciência corre o risco de acomodar-se numa
rotina enfadonha, repetitiva, sem vida e resultados. Esta síndrome da
abstinência, da falta de interação segue os mesmos princípios da
compulsão à repetição. O seu produto é resultado do processo de
aprendizagem, esta marca segue os princípios do seu método, esta
inquietude é original e pertence ao seu mundo vivido.
A diferença entre o professor com consciência e de outro que
não a possui, acontece através do resultado de seu ensino, porque esta
relação professor-aluno está muito além de princípios ideológicos, as
92
atitudes estão inseridas dentro de um contexto cultural e social, e
dependendo desta realidade pode acontecer uma nova abertura, para
refletir e dialogar sobre as limitações ou dificuldades que possam estar
existindo na realização daqueles objetivos, ou na maneira de aprender
a superar as dificuldades na vida.
O papel da educação constitui-se numa atividade de superar
os limites, deve haver uma motivação para ir além daquilo que foi
conquistado. Com este desejo, sua práxis modifica a realidade
existencial e consegue influenciar de maneira positiva a cultura. Esta
realização concreta é pura evidência, esta é a maior prova da eficiência
transformadora da educação. Estas conquistas dependem da
capacidade de criação, de inovação, de conhecimento. Todas as
categorias conseguem transformar a realidade pessoal, e em
decorrência da mudança, acontece a novidade, a originalidade.
Toda transformação implica numa nova visão de mundo, de
sociedade e de vida, aprende a viver de maneira saudável no meio
social, torna-se uma pessoa produtiva, além de conseguir os bens
materiais, consegue humanizar-se com sensibilidade, solidarizando-se
com a comunidade. O seu caráter pertence a este mundo cultural, de
conceitos, ideias, com objetivo de transformar-se, transformando a
realidade educacional, neste momento consegue realizar a sua história
de vida, uma história de valor, numa práxis de realizações.
Cada educador segue nesta nobre tarefa de enobrecer o ato
de ensinar, e na práxis pedagógica consegue a transformação
comprometida com a melhoria da qualidade de aprendizagem e de
vida dos alunos. O professor, bem como o aluno, possuem o potencial
de recriar e modificar qualquer tipo de realidade, e neste tempo do
passado, presente e futuro, surge as conquistas, sua mente está aberta
e flexível às mudanças. O tempo e o espaço inserem-se no contexto de
vida do professor, este lugar de transformação é o agente inovador da
história de cada um. As conquistas estão atreladas ao seu cabedal
cultural.
Cada situação social e histórica exige uma estratégia de ação,
estas reflexões podem ajudar a encontrar o seu lugar neste contexto da
educação. O professor e seus alunos estão lançados neste mundo de
93
desafios, a existência exige a evolução da consciência. Mesmo as
dúvidas, incertezas, dificuldades, antagonismos, as contradições da
sociedade atual, tornam-se a motivação para fazer a diferença. Todas
as superações podem colaborar em tornar o homem mais humanizado,
isto inclui esperança, sonhar com uma sociedade mais justa e
igualitária.
Os professores conseguem aprender a conviver com as
adversidades da educação, suas hipocrisias, as mentiras, e ao mesmo
tempo, procuram assumir a nobre tarefa de viver com ética. Todos os
acontecimentos estão entrelaçados por desejos e interesses dos
homens que procuram através da educação a manipulação das mentes.
Mas os agentes da educação conseguem sair da alienação, porque são
capazes de interpretar as motivações inconscientes deste desejo
necrófilo de atrofiar as mentes humanas.
Somente a solidariedade, a cooperação, o estudo, a mútua
ajuda, podem fazer a diferença nesta nova concepção de educação.
Todos devem possuir o desejo de entender as contradições presentes
no íntimo da educação, e buscar sem cessar a harmonia e equilíbrio tão
necessários para estabelecer um clima de aceitação, conversação,
diálogo, perdão, compaixão. Valores indispensáveis para romper com
toda forma de autoritarismo, sectarismos e irracionalismos.
O ambiente entre os professores deve ser de confiança,
alteridade, aceitação incondicional das imperfeições, são capazes de
conviver com as diferentes opiniões e ideologias. O confronto é
inevitável, porque alguns buscam a mudança e transformação e outros
preferem a rotina, a obediência irrestrita ao poder institucional. A
alienação segue as regras do complexo de inferioridade, da submissão
e dos seus medos.
Por isto mesmo, o professor deve ser alguém disposto a
refletir e defender suas ideias, com a grande possibilidade de modificá-
las, esta flexibilidade faz parte da saúde psíquica. A rigidez e a
imposição são atitudes de alguém que ainda não aprendeu a dialogar e
aceitar outras formas de pensar.
Não existe uma verdade absoluta, uma única certeza, este
processo surge de uma busca constante. Este aprendizado caracteriza-
94
se pela ação dinâmica da transformação. Estar envolvido nesta saúde
significa estudar, produzir seus textos e dar o exemplo da sua
qualificação profissional.
A educação vive um momento muito difícil, mas este
pessimismo pode ser a justificativa para não pensar na mudança. O
professor e seus alunos devem estar atentos para refletir com
consciência sobre os problemas que estão interferindo na
aprendizagem. Esta verdade nua e crua mostra o quanto ambos estão
alienados, esta consciência da liberdade de expressão, é muito
diferente do autoritarismo e dos jogos de interesse do poder
constituído.
A visão crítica tem o compromisso de libertar os agentes da
educação da realidade invisível, mais conhecida como “alienação”, em
algum momento é preciso desmascarar as estratégias de dominação da
mente perversa de nossos políticos. Pois a grande tarefa da educação é
libertar o homem de todas as formas de opressão e levá-lo a
desenvolver suas potencialidades.
Não existe nenhuma maneira de fugir desta responsabilidade
social de, contribuir para a formação humana dentro de um paradigma
transdisciplinar, todos os problemas pessoais ou educacionais
pertencem a esta esfera de comprometimento das ações de superação.
Onde todos aprendem na comunhão das experiências, esta democracia
enaltece o valor do compromisso ético de cada cidadão pela luta de
uma educação com qualidade. Para isto é preciso uma consciência
capaz de fazer a leitura da realidade educacional e social ou mesmo
política.
As queixas, a vitimização, escondem a neurose do medo, uma
fobia que defende a omissão, aceitam livremente este tipo de vida,
sofrem a dor da exploração, e ainda assim buscam explicações no
mundo esotérico ou espiritual para explicar seu estado de apatia e
desânimo.
Todos estão muito bem adaptados e condicionados a viver
dentro do determinismo ideológico religioso ou politico. Não estão
interessados em descobrir as verdadeiras causas do sofrimento e
desprazer para com a educação, muitos trazem para si a culpa,
95
precisam se autopunir, e castigar-se pelos infortúnios de uma educação
que atrofia as mentes.
Desanimado, sem esperança, sozinho e isolado, não tem
alternativa, curtir os seus sintomas, o educador não consegue sair da
armadilha, preso nesta situação, começa a adoecer e sem consciência é
uma presa fácil para viver alienado. Como não possuem o desejo de
pensar, seguem a orientação do sistema pedagógico do sistema atual,
e inconscientemente acabam servindo de bode expiatório ao poder
institucional da educação que oprime e massifica as mentes humanas.
Mas a psicanálise surge como uma teoria que explica a
alienação e propõe o tratamento psíquico desta doença horrível,
conhecida como alienação, acomodação, adaptação, e no momento
que toma consciência é capaz de sair da condição de servidão
intelectual, de uma percepção fechada, e consegue visualizar um
mundo diferente na educação, este novo momento em sua vida pode
ser caracterizado pela consciência de ser mais. Esta coragem envaidece
a alma e fortalece o espírito, despertam o prazer de ser mais humano,
e conseguem viver o potencial da biofilia.
Quando o professor inicia a sua análise pessoal redescobre
dentro de si, aqueles medos e inibições que tornaram a sua vida um
tormento. Confiante é capaz de superar os sintomas psicossomáticos.
Sintomas de todos os tipos e faltas, falta de dinheiro, de amor, de
afeto, de esperança, de coragem, de motivação. Consciente precisa sair
do estado de “stress” e “depressão”, confiante caminha na direção da
superação das dificuldades. A situação de desprazer começa a não ser
mais uma ameaça à sobrevivência psicológica, aos poucos, consegue
utilizar o potencial de inteligência cognitiva e emocional a favor da sua
qualidade de vida.
Esta forma de terapia analítica pode ser individual ou de
grupo. Os problemas podem ser elaborados com ajuda de um
psicanalista. Não qualquer psicanalista, mas um psicanalista que tenha
experiência na educação, conhecedor dos processos de alienação e
doença, consegue ajudar os colegas a conscientizar-se dos medos e
ataques histéricos. Esta ação terapêutica liberta a todos, e ambos

96
assumem esta tarefa histórica, fazer a diferença, e propor as mudanças
necessárias.
Os problemas são oriundos da falta de percepção sobre o que
está acontecendo em suas vidas, inconscientes do processo de falência
existencial, sofrem no corpo as dores da angústia e ansiedade. Neste
caso a terapia de grupo analítica tem como objetivo, a compreensão da
história de vida no processo de alienação, ao compreender e tomar
consciência sobre sua situação educacional e existencial, incluindo
todas as formas de exploração econômica, profissional, pode descobrir
as verdadeiras causas do seu sofrimento.
A grande vantagem da terapia de grupo analítica é a
possibilidade de pensar a sua atuação de professor sobre uma análise
crítica da atuação profissional. Quando entra em contato com a
emoção da raiva, da mágoa, do ódio, inicia-se o processo de tomada de
consciência, sobre aquelas experiências que indiretamente fomentam a
alienação.
Esta análise da vida educacional pode tornar a sua vida mais
produtiva, é claro que é uma atitude de conhecer-se e esclarecer-se,
depende de um esforço muito particular. Porque quando iniciamos o
processo de tomada de consciência, entendemos as estruturas
neuróticas que fomentam o medo, as vivências partem sempre de uma
educação familiar ou escolar que fomentou a ignorância emocional.
Por isto mesmo, é preciso muita dedicação, empenho, e coragem para
sair da situação de perda e voltar a ganhar saúde e felicidade na
existência.
A consciência é capaz de iluminar e desvendar aquelas partes
mais produtivas do ser, descobre que todas as experiências na
educação provém do processo de massificação e alienação, em cada
vivência percebe o núcleo de uma emoção que fomenta a dor. Ao
analisar a experiência, vislumbra o surgimento de uma consciência
capaz de enxergar além daqueles horizontes estreitos e limitantes de
uma maneira de interpretar a realidade educacional.
Esta nova visão da educação surge através da compreensão
do processo de conscientização e superação nas diversas fases do
aprendizado. Em todas as experiências, aprende a resolver os
97
problemas econômico, familiar, afetivo, relacionamento, educativo,
surge como um caminho de maturidade e aprendizado para
desenvolver a criatividade. Voltar a confiar em si mesmo é o maior
desafio, depois de vários meses e anos de análise de grupo, todos os
professores desenvolvem uma nova percepção sobre a sua realidade
psíquica.
E nesta descoberta pessoal, assumem a responsabilidade de
viver com alegria e prazer, tomam consciência que esta sua realidade
pode ser ressignificada, e estes conteúdos inconscientes podem ser
integrados e aceitos dentro de sua condição humana. A repressão, a
repressão das emoções não resolve a grande frustração para com a
educação. Cada diálogo é realizado num ambiente de ética, confiança
e muito respeito pelos conteúdos de sua história de vida.
Cada encontro pode elaborar, confrontar, esclarecer e
interpretar com a ajuda de um analista, aqueles problemas que causam
medo, aversão, desconfiança, tristeza e raiva. Neste ambiente existem
muitos temas para serem pensados a partir da visão de cada professor.
Esta escuta analítica consegue fazer com que o professor tome
consciência, sobre o papel social e histórico no modo de fazer a
educação acontecer no meio cultural.
Na medida em que compreende as motivações inconscientes
de seu comportamento, torna-se capaz de encontrar outras formas de
resolver os problemas. Muitos de seus sofrimentos são inconscientes,
ao escutar a palavra não verbalizada dos colegas, consegue identificar e
descobrir as neuroses que envolvem o seu ser num mundo de
sofrimento e dor. Esta sua busca na verdade é sua salvação, salvar-se
do sofrimento, da agonia, da frustração, do desespero, e iniciar um
novo caminho de conquistas.
O paradoxo entre o concreto e o abstrato, a dor e o prazer, a
alegria e tristeza, fazem parte da análise de um resultado de vida que
teve como base uma forma de pensar equivocada, esta mesma revisão
é necessária para poder lançar-se na busca de novos desafios. Ao
pensar sobre a vida, pensa sobre a educação, e neste processo de
investigação, descobre os motivos do desencanto. Em cada problema

98
resolvido, descobre dentro de si mesmo o seu potencial, esta energia
vital é capaz de transformar-se em pensamento, reflexão e ação.
Estas novas descobertas sobre si mesmo conseguem
desencadear uma nova forma de pensar a existência, a reflexão
acontece sobre os fatos concretos do seu dia a dia, conseguindo
enxergar a realidade de um modo diferente. Precisa elaborar as perdas
e lançar-se neste novo momento histórico, aprende a cuidar de si
mesmo, é capaz de entender a existência numa totalidade, a interação
das partes ao todo, exemplifica a dinâmica da contextualização, do ato
imprescindível de conhecer a essência do organismo, relacionado à
existência.
A capacidade da mente humana de voltar ao passado e
retornar ao presente com condições de projetar-se no futuro, implica
no reconhecimento da importância da integração das emoções, e neste
processo dialético sabe relacionar-se com as suas verdades. Encontra
outras ideologias e teorias, todas pretendem elaborar alguma
conclusão sobre este processo de avaliação, e todos descobrem outras
verdades que estavam escondidas.
Cada descoberta acentua o valor da reflexão sobre a ação de
sua própria vida, este desejo de superação está na essência dos genes,
a natureza conduz ao processo de confronto e esclarecimento sobre as
verdades, estes fenômenos podem serem desveladas à luz do
conhecimento humano. Todos têm um medo muito grande de viver em
liberdade, racionalmente procuram nas defesas a negação da
responsabilidade.
Esta situação da educação é complexa e de difícil solução,
porém cada problema precisa trazer à tona os pactos e os medos
inconscientes que escondem a realidade concreta das emoções da vida
de um professor. Ninguém gosta de ver os seus pontos fracos, e muitos
negam a sua frustração, esta situação incômoda é negada com a ajuda
da racionalização. Todos concordam em deixar de lado os temas que
provocam angústia, ansiedade, e fazem de conta de que tudo está
muito bem.
Muitos ficam irritados e com raiva quando estes temas são
trazidos à consciência, o conhecer é algo amedrontador,
99
principalmente quando precisa entrar num mundo onde os segredos
podem abalar a sua imagem. Não gostaria de saber e muito menos tem
interesse de reconhecer este estado de alienação, o conformismo
defende seu interesse em não saber.
Realmente diante de uma situação existencial complicada,
muitos optaram pelo caminho da fantasia, aos poucos não reconhecem
mais a sua humanidade, a crise existencial pode desencadear uma
“cisão”, seria a única saída para enfrentar as duras lidas da sua rotina
diária. Esta divisão coloca a pessoa numa condição de viver outro “eu”,
esta nova “persona” tem a incumbência de fazer frente ao estado de
frustração.
Esta identidade está dividida, foi à única maneira encontrada
para lidar com este ambiente, este é apenas um dos recursos capazes
de fugir desta triste realidade. A carga estressante de trabalho é uma
realidade desprazerosa, pois se encontra diante do desespero, como
não enxerga nenhum tipo de saída, faz sua opção pela criação de falso
“self”, este desafio da saúde psíquica é uma resposta que precisamos
dar a esta educação que produz medo e atrofia as mentes.
A causa desta cisão não é somente a educação, mas um
conjunto de fatores da existência, como infância, juventude,
casamento, família, desafetos, traumas, perdas, e uma infinidade de
questões relegadas e esquecidas, sua condição emocional reprimida
volta-se contra a própria pessoa. Esta neurose de caráter segue a
defesa da rigidez, da teimosia, do orgulho, da vaidade, da falsidade, da
mentira, este engano é produzido por quem vive uma realidade
ilusória.
Este tema da saúde psíquica nos coloca numa perspectiva de
alegria e realização, não temos como produzir conhecimento e
aprendizagem enquanto existe tristeza e depressão. Os laudos e os
pedidos de licença aumentam a cada dia, realmente não existe outro
caminho a não ser recorrer à doença para sair da sala de aula.
Precisamos de um programa de prevenção de saúde emocional capaz
de ajudar o professor a sair desta triste condição de somatização.
As reações emocionais têm muito haver como cada um pensa
a vida, suas crenças religiosas, políticas e educacionais podem levá-lo a
100
interpretar a realidade social de uma forma pessimista. Mas a realidade
na educação também favorece algumas experiências, transformações
capazes de proporcionar saúde e bem estar. Não pode diante de uma
enormidade de problemas desistir dos seus sonhos, deve procurar na
mútua ajuda, projetos e iniciativas a fim de fazer a diferença.
Desenvolver o prazer de pensar diferente, colocar todo o
potencial emocional e cognitivo, para fazer frente aos grandes temas
geradores de sofrimento e dor na educação. Estar comprometido e
envolvido no estudo destes temas, e talvez o maior desafio é sair desta
condição de silêncio. Escutar sem falar, a omissão como alternativa
para não se incomodar, deixar as coisas como estão, esta triste
situação aumenta o estado de angústia e insatisfação, esta bela
representação teatral das reuniões amplia ainda mais o desgosto pela
sua perda de tempo.
Ninguém pode conseguir algo sozinho, qualquer iniciativa
deve envolver todos os colegas nos problemas da realidade de sua
escola, por isto mesmo, não temos como copiar um projeto de outra
escola, cada escola precisa pensar sua solução, e neste intercâmbio de
informações, o grupo começa a fazer uma experiência democrática da
escuta. Quando o grupo começa a refletir e disser o que pensa,
estamos nos confrontando e saindo do estado de alienação.
Na psicanálise humanista o método de trabalho é a vida, este
estado de inconsciência pode nos mostrar onde está o núcleo da
desmotivação. Quando os professores conseguirem assumir-se e forem
autênticos para defenderem seus desejos e interesses, também
podem incluir a sua comunidade. Esta nova postura depende da nova
consciência sobre a realidade educacional, onde todos estão
comprometidos em conhecer-se e solidarizar-se com aqueles que agem
por impulso irracional.
Somos afetados pela educação, desde o nível mais inferior ao
superior, muitos não têm esta consciência, por desconhecer suas
neuroses, acabam sacrificando a própria vida. Não conseguem
perceber que estão sendo dominados pela apatia e desânimo, não
estão interessados em resolver os problemas. Além de viver uma
educação que provoca acomodação, não pretendem rever a educação
101
de suas emoções, isto nos leva a crer que estamos diante de uma
consciência muito ingênua, que atribui seus sintomas a algum tipo de
espírito, tratam a doença como se fosse culpa dos demônios e do
satanás.
As neuroses, as doenças, as somatizações, a infelicidade, são
realidade da vida dos professores, a causa destes tormentos estão
relacionados com a interferência dos problemas existenciais, sociais,
políticos e educacionais. Uma perda, uma frustração, pode
desencadear uma tristeza, esta emoção pode ser a causa da depressão.
O que provoca todos os sintomas está enraizado na sua vida concreta e
real. Do ponto de vista da psicanálise é importante levar à consciência
a origem da estrutura da neurose que desencadeia a mudança de
percepção da realidade pessoal.
O mais importante de tudo é ajuda-lo a realizar os sonhos,
interpretando as suas escolhas, fazendo-o enxergar os pontos cegos,
esta transformação acontece no seu mundo emocional. A realidade
educacional sempre teve problemas, mas a maneira de interpretá-las
modifica a sua realidade, principalmente quando existe uma
agressividade no sentido de resolver estas pendências.
É preciso especificar os seus objetivos, sonhos, para poder
dar um novo sentido à vida, as emoções não podem ser como uma
pedra, mas vida plena, a serviço da saúde psíquica. Existe uma
condição, é preciso antes de tudo entender, perceber, o valor deste
seu sonho e permitir que as realizações aconteçam. Por isto mesmo,
não existe espaço para a rigidez de ideias, a repressão, a negação do
potencial humano passa por este tipo de reflexão, todas as
transformações podem colaborar para uma consciência capaz de
ampliar a compreensão dos métodos na educação.
Este desejo de compreender e pesquisar as origens do estado
de alienação, depende das crenças e ideologias dos líderes, o grande
problema é quando as neuroses começam a modificar e esconder a
verdade. Esta adulteração encontra sentido no desvio de temas
centrais, como salário, condições de trabalho, biblioteca, formação,
qualidade de vida, ambiente na sala de aula, e outras realidades que
são os culpados deste péssimo resultado.
102
Os conteúdos programáticos devem contemplar o processo
de descoberta, a curiosidade de aprender, deve estar presente na
física, química, geografia, história, literatura, matemática, química, etc.
Estas ciências falam da realidade do mundo vivido, todo conhecimento
deve estar relacionado com a vida da pessoa, esta relação é importante
porque insere o aluno no processo de autodescoberta das ciências.
Entende que os fenômenos da natureza não estão distantes de sua vida
pessoal, toda realidade fenomenológica participa da realização deste
grande projeto da natureza, a continuidade da vida sobre o planeta.
Cada professor na sua disciplina pode usar da
transdisciplinariedade como recurso para entender a complexidade da
natureza dos cosmos e da natureza humana. O humano prescinde da
necessidade da sensibilidade, do respeito, da interação, o aluno não é
um objeto, uma coisa, não é uma massa cinzenta pensante. O homem
não é razão, possui dentro de si emoções que podem despertá-lo para
buscar o conhecimento. Descobrir-se na educação é necessário ao ato
de aprender.
A educação verdadeira procura na ética um lugar para uma
consciência crítica da realidade, não segue os determinismos das
verdades estabelecidas, sua visão não é estreita, mas consegue
encontrar em cada fenômeno a totalidade da existência. Todos os
temas estão interligados para acrescentar valor na aprendizagem da
sua vida.
O conhecimento não pode ser desenvolvido como algo
estanque e frio, a sensibilidade, a amabilidade, a simpatia, são
qualidades afetivas importantes na vida de qualquer educador. É
preciso um ambiente de comunicação, de valorização da participação,
e mesmo os equívocos podem ser um espaço para libertar-se da
timidez, do medo e do silêncio. Esta troca de informações entre os
alunos enriquece o debate sobre aquela ciência específica,
despertando um interesse de pesquisa por parte do aprendiz.
Tenho comigo que a educação deve fomentar este desejo
pela descoberta, não podemos matar a curiosidade, a criatividade, pois
é o motor das invenções. Tanto o professor como o aluno encontra-se
envolvidos no processo de pesquisa, entendem a importância da
103
ciência na vida, esta contextualização é capaz de despertar o desejo de
aprender. Um aluno com desejo não tem medo de aprender, não nega
suas dificuldades, mas aos poucos começa a amar a ciência, pois este
conhecimento foi capaz de ampliar a qualidade de vida.
Um professor rígido, frio, calculista, distante, consegue
encher os cadernos de conteúdos, mas não consegue despertar o
desejo de superar o conhecimento do mestre. Toda forma de pensar
está ligada aos problemas que afetam a qualidade de vida dos seres
humanos. Ou seja, um conhecimento que proporciona vida e saúde,
precisa ser de todos, caso contrário é difícil uma pessoa defender e
este tipo de prevenção. Ninguém pode viver a saúde no lugar do outro,
esta escolha pela qualidade de vida implica uma decisão que inclua a
todos.
A saúde é uma conquista pessoal, isto inclui responsabilidade
por si mesmo, caso exista a vitimização, seria importante tomar
consciência sobre este ganho secundário de viver na doença e na
miséria. A tomada de consciência é decisiva para propor uma solução
para este pensamento mágico, este tipo de fracasso consegue chamar
a atenção de muitas pessoas, inclusive envolvê-las na sua doença. Mas
o preço pago é muito alto, para mendigar uma migalha de afeto,
recebe por investir energia, tempo e dinheiro, tudo para justificar e
defender seu estado doentio.
A análise consegue fazer com que a pessoa reflita sobre sua
condição de perda, este auxiliar mágico é enganoso e improdutivo. Isto
inclui investimento de tempo e energia para sair do processo de
falência orgânica e emocional. Superar suas contradições não é algo
mágico, mas pautado em ações concretas, tampouco se resume nas
divagações de ideias, mas em torná-las produtivas e transformá-las em
alegria e realização. Esta experiência encontra o prazer, a gratificação,
para enxergar a existência como um lugar de conquistas. Esta talvez
seja a grande proeza da energia inconsciente, tornar possível a vivência
do prazer das pulsões.
Todos os professores estão inseridos neste contexto de
superação, a realidade de hoje pode ser transformada, isto exige
mudança na forma de pensar, ser e agir. Os problemas deixam de ser
104
empecilhos e tornam-se desafios para desenvolver ainda mais a
habilidade em resolver dificuldades. Durante sua existência deixa a sua
marca, pois tem a grandeza de refletir sobre as neuroses e situações de
sofrimento. Não espera que alguém venha retirá-lo da falência
existencial, não se queixa como se fosse um inválido, toma a iniciativa
de enfrentar a situação problema para encontrar uma saída viável aos
seus problemas pessoais.
A análise proporciona uma tomada de consciência sobre o
funcionamento inconsciente das neuroses, mas também exige uma
tomada de decisão em relação à condição masoquista. Porque depois
de acostumar-se a viver o prazer na dor, se torna muito difícil reverter
este processo, viver o prazer através da alegria e realização pessoal.
Deve aprender a assumir um compromisso com a felicidade e não
delegar este trabalho para uma religião, este compromisso é seu e de
mais ninguém, deve ser autêntico e assumir com responsabilidade o
seu modo de viver.
Ao pensar na terapia de grupo analítico sobre a sua dor,
consegue entender os caminhos tortuosos e enganosos da sedução das
fantasias megalomaníacas, este conhecer-se leva a outros tipos de
descobertas pessoais no grupo de trabalho analítico, consegue
entender que este seu estado de penúria e vitimização, é fruto das
influências sociais, culturais, econômicas, políticas que tornam a
existência um martírio. Igualmente alguns acreditam que este tipo de
sofrimento é uma dádiva, pois existe para sofrer, como se fosse uma
espécie de missão.
A análise vai exigir com o tempo uma decisão, não dá mais
para continuar acomodado neste tipo de vida, perda, dor, fracasso,
doença, falta de amor, etc. O analista ao interpretar esta situação
existencial convida o paciente para sair deste tipo de neurose. Quanto
mais consciência sobre a existência, mais condições de sair da condição
de perda. Ao dar-se conta do que está fazendo consigo mesmo,
consegue entender e compreender os motivos de seu estado de
alienação.
Este aprofundamento sobre as motivações inconscientes,
pode desencadear um interesse ainda maior de saber lidar com suas
105
emoções. Estudo, disciplina, consciência, emergem para uma nova
situação existencial, este é o processo de conhecer-se para aprender a
educar. Enquanto vivia fechado no seu próprio mundo, estava
chaveando as portas de comunicação com o seu mundo vivido. Ao
começar a dialogar e escutar a linguagem não verbal do organismo,
começa um novo tipo de educação, pois assume a condição de
autodidata, não fica a espera de alguém para realizar os seus sonhos.
Estas suas neuroses podem ser o caminho de provocação, de
superação como pessoa humana, aprendeu que educação autoritária
distancia-se da comunhão e do mundo dos afetos. Por esta mesma
razão os conteúdos inconscientes precisam ser elaborados e
interpretados com a ajuda da psicanálise. O objetivo do analista
humanista é estar aberto à escuta desta forma sintomática de existir,
pois a continuidade e o sucesso da terapia de grupo analítico
dependem muito da vivência ética. Seguros e confiantes seguem no
processo de autodescoberta pessoal.
No início da análise começa a envolver-se com os dilemas
pessoais, mas esta decisão fortalece os vínculos entre os seus desejos e
a realização dos seus sonhos. Ao elaborar as emoções inicia uma busca
das verdadeiras causas do desprazer. Aprofundando reconhece a
necessidade de procurar uma saída para este tipo de vida, ao libertar-
se da prisão emocional consegue trazer à consciência os traumas que
provocam a compulsão à repetição.
Livre desta influência consegue viver com prazer todas as
emoções, suas pulsões possuem a liberdade de potencializar os ganhos
na existência. Este desejo de mudança deve nascer num clima de
diálogo, entre o analista e os membros do grupo, não existe nenhuma
forma de imposição arbitrária, todos têm vez e voz dentro desta
terapia analítica. Todos conseguem aprender a respeitar e a viver a
ética no grupo, este tipo de educação leva em consideração os anseios
e expectativas de cada professor que está sendo analisado.
Esta proposta de promoção e prevenção da saúde psíquica
segue a orientação da situação concreta, primeiro todos devem conter
a ansiedade e aprender a escutar e respeitar o tempo que cada um
precisa para tomar suas decisões. As dificuldades serão analisadas nas
106
transferências, resistências que possam estar obstruindo o caminho de
libertação do grupo. Aos poucos o grupo consegue confiar, esta atitude
propicia um ambiente verdadeiro do processo de humanização.

107
2.2 - A pedagogia da livre expressão do ser.

Ao iniciar este capítulo sobre a liberdade de expressão e


contestação na sala de aula, em continuidade ao que tratei
anteriormente, de uma educação que aliena e atrofia mentes entorno
da desconfiança e da acomodação. O desprazer ou não querer
aprender, talvez seja o problema mais grave na educação. Por isto
pretendo discutir e fazer uma reflexão sobre o valor da condição
emocional do professor para realizar esta liberdade de ser.
Quando não existe um ambiente de diálogo e liberdade de
expressão, podemos considerar uma prática autoritária que através da
pedagogia ensina a importância de calar a boca, de saber que nunca
terá razão. O professor é vítima de uma educação que ensinou a estar
distante dos alunos, com medo e prevenido, utiliza métodos da relação
sujeito – objeto. São duas mentes que produzem conhecimento, um
que conhece os conteúdos e o outro copia e faz de conta que está
aprendendo, ninguém sabe bem o que estão fazendo, mas todos se
tornaram obedientes e submissos ao silêncio.
A inexistência do diálogo é uma atitude de medo, constrange
a primazia da confiança, de aprender a respeitar o outro, de sentir-se
livre para questionar e colocar dúvidas nas descobertas da ciência. Este
seria um grande avanço para a educação, mas é algo inatingível porque
todos têm muito medo de perder o controle e domínio da sala de aula.
É preciso manter a qualquer custo a autoridade do professor, este
distanciamento nos revela aquilo que o professor gostaria de dizer,
mas não tem coragem. Encontra nas palavras violentas de agressão, ou
nas de estímulo e coragem, a força necessária para abandonar ou dar
prosseguimento aos estudos.
Este é um fenômeno na educação que deve ser levado em
consideração, a reflexão do aluno sobre a prática pedagógica do
professor e vice-versa, ambos realizam esta avaliação. Não existe
educação se ambos não estão comprometidos com um objetivo em
comum, este compromisso de superar-se diante das dificuldades passa
necessariamente pelo diálogo, um espaço capaz de fazer a escuta das
dúvidas e questionamentos dos alunos, pois o professor gostaria de ser
108
respeitado e o aluno também, nesta relação dialógica existe um
interesse em comum, querem viver em paz e saber que aquele tempo
está sendo aproveitado.
Como surpreender o aprendiz com uma metodologia capaz
de envolvê-lo e fazê-lo perceber que aqueles conteúdos são
importantes para vida? Este interesse verdadeiro pela educação pode
despertar nos alunos um maior empenho em aprender aquela
disciplina, somente a paixão por ensinar pode convencer o aluno a
aprender a gostar de estudar. Enquanto o professor estiver num
conflito com questões salariais, emocional, familiar, encontra-se
dividido e em conflito.
A transformação desta realidade social, econômica e política,
passam antes pela revolução interna na maneira de pensar e participar
do aluno e professor. Enquanto viverem neste estado de alienação,
como meros reprodutores do saber, esta realidade na educação não
sofrerão as mudanças necessárias.
O esgotamento psíquico e físico do educador e sua apatia
para educar, nos indica que algo vai muito mal à educação, todos falam
de motivação. Como motivar se existe uma ideologia da acomodação
que corrói e destrói todo tipo de iniciativa? O aluno deve estar inserido
dentro deste contexto de ações na comunidade, como grupos de
jovens, sindicatos, movimentos sociais, lideranças na escola, para
conhecer a realidade e aplicar todos os conhecimentos a favor de uma
transformação social e cultural, porque senão, nos perguntamos.
Para que serve a educação? Ninguém pode ser sacrificado
por conteúdos que não dizem nada a respeito dos interesses dos
alunos, interessante que ninguém toma providências, os políticos usam
no discurso a promessa da mudança, o secretário de educação
compromete-se a empenhar na busca de melhores soluções para a
escola, o diretor, afirma estar feliz e contente porque a comunidade
escolar vive novos momentos na educação.
Depois de algum tempo tudo volta a ser como era antes, o
discurso do engano acaba esgotando a paciência de alunos e
professores, a única saída é a greve, mas os sindicalistas também
querem permanecer no poder, e aprendem com os políticos a negociar
109
a favor dos colegas, e logo depois, cabisbaixos todos sabem o final
trágico das pretensas negociações.
Os aparatos repressores do estado são colocados a disposição
da justiça, e depois de meses de greve os educadores são tratados com
cassetetes e prisões, ameaçam a qualquer momento cortar o ponto, e
como todos sabem a greve está garantida na constituição. Onde esta a
garantia de luta por um salario digno aos trabalhadores da educação.
Os educadores estão calejados de tanta promessa, muitos
perderam a esperança de lutar por uma educação de qualidade, por
um salário digno para poder pelo menos sobreviver. O aluno
acompanha nos noticiários, nos jornais, na mídia escrita e falada o
confronto dos educadores com os representantes do estado. Com
sacrifício depois de longos meses de negociação os educadores voltam
para a sala de aula com algumas migalhas de recompensas para
continuar com o seu processo de enfiar goela abaixo os conteúdos, e
ainda mais, exigem o cumprimento da carga horária, nem que para isto
seja necessário trabalhar no período de férias. Desta forma estão
cansados e esgotados de tanta safadeza dos políticos, que dizem estar
a favor dos educadores, somente quando lhes interessa o voto nas
urnas.
A dificuldade é tamanha de mobilização que algumas escolas
paralisam suas atividades, outras permanecem com aulas, porque têm
medo de dar aulas nas férias, ou que desconte do salário os dias de
paralisação da greve. Assim, os alunos acompanham mudos, em
silêncio e como sempre os pais também calejados de tantas promessas,
preferem não participar deste tipo de apoio, sabem da realidade dos
educadores, mas preferem ficar no anonimato, com isto o movimento
começa a enfraquecer e muitos educadores retornam à sala de aula.
Os alunos agora devem submeter-se à nova grade de horários
de recuperação dos conteúdos que não foi possível ser realizado
durante a greve. Novamente a escola é um lugar de violência e
desrespeito, primeiro porque o governo se nega a dialogar e utiliza o
poder para terminar com as reinvindicações, a mídia não faz ninguém
pensar, refletir é algo que o programa do Faustão e do Gugu Liberato
não realizam. Ambos estão interessados em manter picos de audiência
110
e nos intervalos dos programas vender produtos aos consumidores. Na
verdade quem está interessado na mudança da educação em nosso
país?
Os educadores perderam a confiança de usar a educação para
mudar a realidade, porque esta forma inautêntica de existir é o início
de sua contradição, porque enquanto reclama do estado opressor, na
sala de aula oprime os alunos por falta de diálogo. É uma realidade
complicada, complexa e de difícil solução, o único caminho é o resgate
da autenticidade, da sinceridade, para poderem reforçar a sua união.
Os educadores estão cansados do silêncio, de sedar suas consciências
com psicotrópicos, e sabem que não podem confiar nas falsas
promessas dos políticos.
A existência deve estar acompanhada de um testemunho
verdadeiro sobre a forma de pensar e agir. Os educadores deveriam
saber que ninguém consegue nada sozinho, e na ajuda mútua, num
ambiente de sinceridade e honestidade que a palavra começa a ter
valor. O seu trabalho deve estar acompanhado de uma reflexão sobre
os motivos deste boicote dos alunos. A primeira experiência de
democracia deve ser realizada em sala de aula, pois esta liberdade de
pensar, refletir e posicionar-se ensina aos futuros cidadãos outro modo
de resolver os problemas sociais e da comunidade.
Mas a escola deve abrir este espaço democrático, os
professores devem estar abertos ao diálogo, onde ninguém tem a
verdade, mas ambos estão unidos na busca deste objetivo, este
ambiente de respeito e valorização da participação dos alunos
aumenta sua autoestima, aprende que tem vez e voz, e depois de tudo
sabe que deve ser grato à educação. Esta deve ser a primeira ação dos
educadores, aproximar-se dos alunos com uma atitude de respeito e
consideração, e quando os resultados da avaliação não forem
suficientes, novamente o grupo deve reunir-se para pensar na solução
do problema de aprendizagem com o professor.
Este tipo de cultura deve ser ensinado desde as séries iniciais.
Esta pedagogia da escuta e valorização do outro, traz para a educação
um maior comprometimento e responsabilidade do grupo de colegas,
que têm interesse em aprender e não fazer de conta que estão
111
escutando, quando na verdade estão com seus pensamentos distantes
da sala de aula, até porque, nem sabem mesmo o porquê de estar
naquela situação de abandono e insatisfação.
Se a escola sair deste tipo de educação autoritária, então
podemos sonhar com um ambiente muito propício para a convivência
com a liberdade de expressão. Aprender a respeitar-se no grupo para
fazer uma leitura diferente de si mesmo e da sociedade. Cada um pode
trazer temas relacionados ao seu dia a dia, porque talvez esta realidade
seja mais atraente e desafiadora do que ficar copiando os conteúdos
nos cadernos.
O educador potencializa uma relação de igualdade e respeito,
de uma vivência de proximidade e afeto, de compreensão e ética,
perde o medo de conviver com a dor e o sofrimento humano, aprende
a escutar esta revolta, se solidariza com a indignação, e todos do grupo
podem apreciar estas realidades do seu mundo vivido a partir das
visões de mundo diferenciadas. Estas vivências são valores éticos
indispensáveis para conviver em sociedade.
A escola não pode reforçar o modelo de punição, de
humilhação, de abandono, de indiferença, estamos em um novo
momento na história da globalização. Talvez os conteúdos da
psicanálise possam ajudar os educadores a resolver conflitos e
dificuldades de relacionamentos entre os colegas, e com a sua pessoa.
Não existe mais razão para fomentar o medo e a punição, esta prática
reforça ainda mais a revolta, porque a indignação não foi
compreendida.
A experiência da humanização precisa da abertura para o
diálogo, mas este ambiente de interação depende da segurança
emocional, este é um ato de respeito e amor pelo outro, pois o
fundamento do diálogo é solidariedade, comunhão, fraternidade, pois
toda forma de autoritarismo e submissão, caracteriza uma relação
sadomasoquista. É na partilha, na capacidade de escutar que a
humanização acontece, este é um olhar de reciprocidade, de
compromisso com a aprendizagem, ambos estão desejosos de viver a
liberdade com dignidade, mas neste ambiente precisa do diálogo como
o agente deste humanismo.
112
O ato de coragem de ser pressupõe um amor especial pela
dignidade, consciente de seu estado de alienação e estagnação, se
recusa a entregar-se à destruição e a doença. Professor e aluno estão
envaidecidos na luta pela aplicabilidade do seu potencial criativo, nesta
ajuda começam a retirar as correntes do medo que impõe a
dominação. A luta constante contra a emoção do medo e todas as
manipulações de crenças limitantes, tais como: ameaças, pressão,
submissão, mentiras, promessas, violência verbal, humilhação, podem
retirá-lo desta prisão emocional.
A liberdade não aceita a condição do medo, e de outras
crenças limitantes como: “você não tem capacidade, não serve para
nada”, “sempre foi assim, desde que me conheço por gente a educação
continua da mesma maneira”, “ninguém muda nada, não perca tempo
com os movimentos sociais”, “estudar é uma perda de tempo e
dinheiro, ninguém nos valoriza.” Esta forma de pensar não produz
liberdade, são emoções e pensamentos que oprimem e não deixam o
educador, e tampouco o aluno, viver com alegria, realização e prazer
na vida.
Cada vez mais nos convencemos da necessidade desta
revolução emocional, pois este prazer de viver, enraizado na biofilia,
pode acender a chama da criatividade, da busca da liberdade e a
restauração do amor pela vida. Quem não se gosta, acaba depreciando
e jogando-se na autodepreciação, sem conhecer-se, não acontece a
revolução pessoal e social. Portanto, o primeiro passo é apreciar-se e
aceitar as suas qualidades, para depois resgatar o potencial de
inovação e transformação. Humanizado pelas emoções da alegria, do
amor, da ternura, do afeto, da solidariedade, inicia-se um processo de
socialização das emoções.
O aluno precisa da humildade, escutar com educação os
desejos dos educadores, pois os problemas da aprendizagem são
responsabilidades de ambos, por isto mesmo, de nada adiante ficar
procurando culpados para a repetência e a ignorância na escola. O
diálogo pressupõe uma tarefa em comum, de não impor ideias e
projetos sem uma discussão ampla, pois estas atitudes impedem o
diálogo e ampliam a ignorância. Como podemos dialogar se no grupo
113
sou visto como incompetente? Se as pessoas do meu ambiente de
trabalho não valorizam minhas qualidades? Se não consigo cativar e
conversar com meus alunos?
Como podemos dialogar se sentimos medo? Ao não participar
das decisões na escola contribuímos para a continuidade do
autoritarismo e da opressão. Todos os que encontram-se fora deste
engajamento não participam de uma educação de qualidade, esta
liderança precisa incluir alunos, pais e professores, na tarefa de
procurar parcerias e soluções para resolver os problemas da
comunidade escolar.
Ficar bravo, magoado, irritado, descontente com o ambiente
de trabalho, não ajuda em nada os problemas da educação. Ao isolar-
se, fechar-se ao diálogo, acredita que esta resolvendo a sua frustração
e insatisfação, não participa dos projetos da comunidade escolar. São
decisões que não ajudam a transformar a educação.
Como alguém pode dialogar se não existe um ambiente de
acolhimento e sinceridade? Às vezes é um tormento participar de uma
educação que é indiferente e omissa aos problemas dos alunos e do
professor. A prepotência, a onisciência, é antítese do diálogo, sem esta
condição não existe condição para discutir novas ideias, lançar novos
projetos.
O trabalho educacional tem como finalidade ser um espaço
para aprender juntos a superar as dificuldades, não é um caminho de
mão única, é preciso admitir que o outro tem capacidade de superar e
avançar na compreensão da proposta pedagógica da escola.
Todos devem sentir-se bem, acolhidos e valorizados, mesmo
aqueles que projetam no grupo a desavença, o conflito, o pessimismo,
a inveja, o ciúme, estas e outras emoções podem ser lembradas e
elaboradas durante uma reunião, estas questões devem ser resolvidas
para não ficar um mal estar com este tipo de ambiente. Não
resolvemos o clima de desconfiança quando aceitamos a convivência
com a perversidade.
Não é trabalho de alguns, mas de todos, não é privilégio do
diretor, coordenador, supervisor, mas de alunos e professores que
possuem este interesse de aprender a ser mais humano, a buscar na
114
vivência dos valores a redenção de ser capaz de socializar seu saber e
experiência.
Acreditar nas pessoas, e compreender a sua dimensão
inconsciente, é condição básica para estabelecer o diálogo tão
necessário e fundamental na relação entre os colegas de trabalho.
Ninguém pode ser ingênuo de atirar-se a esta tarefa de gerenciar um
grupo de pessoas sem a plena qualificação, o estudo e o conhecimento
existem com esta finalidade, auxiliar o educador e também a
comunidade escolar na difícil tarefa de eficiência e qualidade na
educação.
Acreditar no ser humano é uma prerrogativa do humanismo,
mas não podemos ser ingênuos, as psicopatias e neuroses benignas
podem comprometer todo um trabalho docente. Um líder
esquizofrênico pode destruir e alimentar um ambiente de disputa,
desconfiança, competitividade desleal, autoritarismo, por isto mesmo a
saúde mental faz muito bem à educação.
Todos devem estar atentos às megalomanias, vitimizações,
hipocondrias, e todas as formas de dominação. O educador é uma
pessoa de diálogo, que possui consciência crítica sobre o envolvimento
de sua pessoa, sabe posicionar-se com ternura, mas nunca deixa de
dizer as verdades.
Sabe que o poder corrompe e endeusa pessoas
despreparadas para ocupar este cargo de liderança, mas se não fizer
nada também sairá prejudicado deste tipo de administração escolar. O
professor sabe que não pode matar dentro de si o desejo de ensinar,
estes problemas na educação são um grande desafio, responder com
ética, dignidade e paciência, este momento que exige ações e
pensamentos saudáveis. Deve estar convencido de que é possível
realizar estas transformações, mesmo que injuriado, perseguido,
maltratado, deve ser a fonte de onde possa jorrar sanidade e liberdade.
O primeiro e grande desafio é enfrentar as angústias,
ansiedades, frustrações, esta é a grande luta, deixar de ter medo das
neuroses, não pode ser escravo de falsas crenças e emoções que
alimentam a alienação. Aos poucos descobre que a saúde emocional
precisa de liberdade para ser e pensar, participar e colocar no grupo o
115
potencial de inteligência para superar as adversidades na educação. É
preciso fazer renascer este novo homem, de não ser mais escravo das
falsas emoções que só alimentam a derrota e o fracasso. Para sair da
doença precisa voltar a viver com saúde, bem estar, alegria e
felicidade.
Antes é preciso começar a dialogar, a linguagem das emoções
precisa desta comunicação com o seu mundo de esperanças e
frustrações, este desejo de superação deve ser a motivação principal
para conseguir despertar no seu interior, este mesmo desejo de
mudança pessoal e social. O homem de diálogo possui maturidade,
sabe o que quer, transforma, recria, cria, e este potencial encontra-se
adormecido no inconsciente. Este potencial não pode ser prejudicado
pelo estado de alienação social e cultural, em lugar de matar a
criatividade, a esperança, deve começar a usar a inteligência para
combater a autodestruição.
Tem consciência de que precisa mudar seu modo de vida, da
forma de pensar, de amar, de viver, isto é possível graças à esperança
na comunhão de ideias, de projetos, de alternativas viáveis para
resolver os problemas de saúde, de aprendizagem, econômicos. De
antemão, luta com toda a experiência para renascer como pessoa e
procurar a confiar em si mesmo e no grupo de trabalho, pois diante
desta pedagogia, ambos estão se libertando das amarras das falsas
promessas dos políticos. Assumem para si mesmo a responsabilidade
de não ser mais escravo, de não ficar preso às falsas promessas, que
entristecem e deprimem a todos, porque todos os objetivos são
abortados.
Acreditar em si mesmo é a condição para desinstalar-se da
acomodação, a vida não pode ser falsidade, um faz de conta, ninguém
precisa de esmolas, todos têm dignidade e capacidade de viver com
alegria e saúde. A pior consequência é ser ingênuo, acreditar que um
político, um amigo, os familiares, um colega, estão empenhados em
resolver os desafios na existência. Quando toma consciência deste ato
de manipulação, compromete-se com a qualidade de vida. Com
humildade, e confiante de suas intenções verdadeiras, está pronto para

116
o bom combate, e no diálogo, na escuta da dor humana, se solidariza
consigo mesmo e com os outros.
Este clima de confiança é a condição dialógica básica para
recriar seus sonhos, pois a pior contradição de um líder é quando se diz
democrático, mas apresenta-se autoritário, dominador, desconfiado,
elimina qualquer chance de escuta e confiança. Porque esta
contradição emocional não convence ninguém, todos estão
observando os desejos. O desejo do grupo é afastar-se desta
concepção autoritária e prepotente de líderes que pensam no seu
projeto pessoal, visando as próximas eleições.
Conhecer-se, ter maturidade, ser ético, são as bases deste
diálogo que começa a germinar pela plenitude desta humanização, a
escuta exige empatia, compreensão, ternura e uma vontade enorme de
buscar a verdade e afastar-se da mentira. Se não existem estas
condições num líder começa a conviver com a contradição, a
incongruência, a falsidade, a mentira, o descompromisso, enfim a
debilidade dos protagonistas da educação. Num ambiente de
desconfiança, falta de ética, de verdade, a aprendizagem como um
todo fica comprometida. Professor e aluno precisam deste ambiente
de verdade, de coragem, de sinceridade, de viver de acordo com a
integração entre o mundo cognitivo e o das emoções.
Se o professor que se diz democrático toma decisões sem a
participação dos alunos é uma mentira, falar de humanismo e não viver
este testemunho é uma incoerência. Muitos decidem desistir, cruzam
os braços, não fazem mais nada, e procuram matar o tempo com
atividades frívolas e sem sentido, esta é uma falsa solução para os
problemas. É preciso de ânimo, de ousadia, para continuar caminhando
em busca de soluções, e de todos os encontros e desencontros das
relações humanas, nasce um aprendizado para buscar o melhor em si
mesmo.
Esta decisão é uma escolha sensata e sabia, pois esperam um
futuro melhor para si mesmo e os outros, e nesta interação ambos
aprendem que resolver problemas em conjunto é mais fácil, e
compartilhar esta angústia diminui o sofrimento. Não estamos
sozinhos, nosso encontro é fértil, produz resultados, e na comunhão de
117
nossa história de vida conseguimos sair da prisão burocrática e
condicionante.
Todo encontro na educação deve ser um caminho para
conhecer-se e buscar a solução da incongruência, fala de algo bom, e
realiza o mal, sua prática não convence a ninguém e muito menos a si
mesmo. Esta dicotomia das emoções acaba por aparecer nos
relacionamentos, a educação das emoções deveria ser o começo de
tudo, pois não há como ser verdadeiro, ético e crítico, se vive a
mentira, falsidade, e viver em função de uma compulsão neurótica,
que a cada dia o destrói aos poucos. Reconhecer a existência das
neuroses é admitir a possibilidade de conhecê-las em profundidade,
inclusive confrontando-as num diálogo sincero e corajoso, reconhece
no seu conflito os prejuízos de seus investimentos.
Esta maneira de pensar a realidade emocional dentro da
educação, recria o ambiente para poder no seu tempo amadurecer e
conhecer-se, sabendo que a cura das feridas pode integrar o seu
mundo emocional, enquanto estiver sobre o controle da alienação
neurótica, sempre existirá o risco de destruição. O educador sabe que a
razão não pode tudo, que os atos políticos resolvem no papel aquilo
que é difícil transformar na vida das pessoas, entende que a mudança
não acontece por decretos.
Mas o professor possui a experiência, sua mente está
calejada de ver tanto sofrimento, mas também de acompanhar muitas
superações, ninguém resolve problemas se apegando ao passado. O
estado de inconsciência é fruto da alienação, toda acomodação
pretende convencer de que não vale à pena lutar pelos sonhos, e sem
saber muitos aderem a ideia de fazer de conta, matar o tempo, esperar
a aposentadoria, enfim sozinhos e isolados perdem a grande
oportunidade de humanizar as emoções.
Ninguém pensa que a certeza da felicidade encontra-se nesta
pretensa estabilidade no emprego, pois esta é uma das dimensões da
existência, não é a única e nem a mais importante, a evolução da
consciência não é um processo de adaptação, de aceitação
incondicional da pobreza de espírito e econômica, mas de buscar neste
tempo a realização dos sonhos.
118
2.3 - Conteúdo programático na busca de um projeto em comum.

A experiência da liberdade deve ser experimentada em sala


de aula, quando educador e aprendiz começam pelo respeito mútuo,
aprendem a dialogar sobre os conteúdos, e neste encontro acontece
um espaço para amadurecer a ideia sobre a importância e o valor
destes conteúdos para a existência. A grande pergunta que deverá ser
feita é esta: Afinal de contas para que serve realmente a educação?
Estes conteúdos estão a serviço da promoção humana? Quando existe
esta liberdade para pensar uma educação diferente, que inclua a
palavra e os desejos dos alunos poderemos afirmar que estamos
viabilizando um espaço democrático na escola.
Este diálogo sobre os conteúdos é a grande questão no
destino da educação, pois seria um enorme erro acreditar que aqueles
conteúdos devem ser repassados porque fazem parte daquela
disciplina, seria um enorme equívoco, nesta prática pedagógica não
existe o “diálogo”, e tampouco a valorização da presença do aluno,
infelizmente o educador está preocupado em fazer-se respeitar, e
cumprir com a quantidade de conteúdos que precisa repassar naquela
carga horária. Não existe espaço democrático na escola para discutir e
pensar este programa de conteúdos em conjunto.
Na teoria todos defendem a liberdade de expressão, na
realidade o aprendiz experimenta a imposição, esta contradição do
suportar, aguentar, silenciar, ainda é resquício de uma prática
pedagógica dos tempos da ditadura militar. O que impede a elaboração
em conjunto com os alunos sobre os conteúdos que poderiam ser
estudados durante aquele semestre ou ano letivo? Os alunos não têm
maturidade e muito menos condições de elaborar em conjunto com o
professor o conteúdo programático, no entanto esta é mais uma
desculpa para continuar na prática autoritária.
A verdadeira educação somente vai acontecer quando o
aluno participar e responsabilizar-se pelo seu aprendizado, e para
acontecer este desejo de aprender é necessário um conteúdo que
desperte interesse e que seja útil, necessário, importante, para ser
aproveitado na vida, caso contrário, ninguém está de fato
119
comprometido com a educação, a máscara precisa ser retirada do rosto
do aprendiz. A educação deveria ser um lugar para resolver problemas,
além disso, um espaço para descobrir novas alternativas de superação,
esta seria a grande revolução, onde os alunos seriam aprendizes de
verdade e não de faz de conta.
Para o educador acostumado a dialogar, sabe pela
experiência, que antes de tudo, é preciso de paciência, tranquilidade,
segurança, para escutar as críticas, a revolta, a indignação, a alegria, a
realização, a satisfação, estas realidades emocionais perpassam a
subjetividade do educador e do aluno. Estes jovens entendem o desejo
de sua volúpia, de sua falta de prudência, de imaturidade, mas ao
mesmo tempo têm a capacidade de reconhecer este espaço para
entrar em contato com as contradições, e através dela aprender
também a escutar e valorizar o conhecimento do professor. O diálogo
pressupõe uma amorosidade, uma aceitação incondicional do processo
de descoberta e inovação.
Nada é impossível aos olhos de quem acredita de fato na
formação de um caráter voltado para o comprometimento, sair deste
lugar da violência, das ameaças, da perseguição, do julgamento, da
punição, da imposição, para um ambiente de parceria e mútua
aceitação, esta é uma relação de respeito e leva em consideração os
desejos dos alunos.
A educação nunca acontece pela imposição do medo, mas
pelo respeito, consideração, valorização, e de todas as experiências do
mundo vivido destes dois agentes do processo; professor e aluno. Este
talvez seja o grande desafio, recriar as condições propícias para este
grande acontecimento, despertar o prazer de aprender, aqueles
conteúdos que impressionam e despertam na mente de quem aprende
um gosto de sempre querer mais. Um conteúdo capaz de desafiar, e
contextualizar a aprendizagem no contexto diário.
Ninguém gostaria de aprender quando não encontra sentido
naquilo que está estudando, mas se houver um espaço para o debate,
para a reflexão, utilidade e importância daquele conhecimento,
independente da disciplina, então poderemos enriquecer o
aprendizado de ambos. A relação professor aluno acontece numa
120
interação de igualdade e parceria, ambos estão imbuídos deste desejo,
compreender o lugar do homem no mundo do saber, estes desafios da
existência trazem diversos pontos de vista sobre o sentido de viver.
Estes desejos, conflitos, dúvidas, preocupações, frustrações,
são temas de alta relevância para a educação, a meu ver deveria ser
tema do conteúdo programático dos professores das ciências humanas
e sociais. O humanismo na educação não consiste em uma prática de
piedade, de miserável, este estereótipo somente reforça o estigma da
falta de condições para aprender. O humanismo verdadeiro parte da
realidade concreta dos alunos, onde há violência, fome, miséria, esta
condição existencial nos remete a pensar sobre a desvantagem deste
ser humano no mundo.
O educador deve levar o aluno a tomar consciência sobre
sua condição de alienação, e na plena condição da humanidade do
professor ajudar o aluno a desenvolver um objetivo na vida, não como
uma obrigação, mas como condição de libertação da miséria
econômica e intelectual. O professor deve tomar consciência sobre a
realidade psíquica e econômica dos seus alunos que as vezes encontra-
se muito distante da visão de mundo daquele que ensina.
Os alunos estão inseridos dentro de um contexto cultural e de
valores, estão intrinsecamente ligados ao modo de pensar de suas
comunidades, e nesta experiência das relações do seu meio social,
desenvolvem uma compreensão pedagógica na sua maneira de
interpretar o seu mundo vivido.
Existe de fato um choque entre os desejos do professor e dos
alunos, ambos estão sofrendo, pertencem à mesma classe social, no
entanto os professores são obrigados a fazer de conta que pertencem a
outra classe, imbuídos deste pensar, se distanciam e impõem um
modelo de conhecimento de cima para baixo, este conhecimento não é
compartilhado, refletido, mais imposto pela obrigação de copiar a
matéria. Preocupados com os conteúdos programáticos e sua carga
horária, despejam os conteúdos como sendo o seu desejo.
Por isto mesmo existe uma falha neste tipo de educação, os
conteúdos partem de um plano pessoal e não de uma política de
diálogo e participação. Os professores deveriam ter a coragem de
121
dialogar, escutar e refletir em conjunto o plano de ensino com os
alunos. Este seria o primeiro passo para tornar a educação útil e
necessária, porque a democracia leva em conta a escuta, juntos podem
caminhar numa direção onde ambos tenham os mesmos objetivos. Não
existe aprendizagem quando existe imposição e autoritarismo, este
respeito pelo interesse do aluno é o primeiro passo pela
experimentação de um humanismo que leva em conta a realidade de
sua comunidade escolar.
O professor sabe que a educação busca a transformação na
maneira de pensar, ser e agir, e está comprometida com a formação do
caráter do aluno, este talvez seja o maior de todos os objetivos, ensinar
o aluno a aprender a viver com sabedoria e dignidade. O valor da
educação está na experiência democrática da valorização da
aprendizagem, quando consegue sentir, viver e praticar aquilo que
aprendeu na escola. O professor e o aluno vivem uma situação de
alegria e realização, porque ambos conseguiram encontrar sentido
neste tipo de aprendizagem, e assim o sentido do aprender encontra
lógica na transformação da maneira de pensar deste cidadão.
A educação na escola não é uma doutrina, sua pedagogia é
tornar este aluno autêntico, criativo, dinâmico, onde ambos estão
engajados nesta superação, encontrar sentido na existência para
utilizar com eficiência a inteligência cognitiva e emocional. Educar não
tem nada a ver com adaptação, condicionamentos, para aprenderem a
não pensar, a ficar no silêncio, a aguentar e suportar a sala de aula
como um meio de obter o diploma. Educar não é alienar e massificar
uma mente para aprender a não pensar, mas torná-lo um líder, alguém
com coragem e determinação para enfrentar a mentira, a contradição,
a injustiça, a corrupção, esta é uma ação pedagógica comprometida
com a libertação e não com a alienação.
A escola deveria ser um lugar de projeção de novas
lideranças, pessoas comprometidas em lutar pelo conhecimento e
envolvidas na defesa da educação, mas infelizmente, não sabemos o
que acontece, porque muitos destes alunos não gostam da escola e
sentem-se violentados, abusados e agredidos na sua integridade
psíquica e emocional. Portanto, é urgente um novo modo de pensar
122
para voltarmos a um ambiente de prazer e satisfação e não de
obrigação e frustração. Esta dinâmica talvez seja a raiz da baixa
produtividade na aprendizagem.
A sala de aula deveria ser um ambiente de reflexão, de
liberdade de expressão, de afetividade, de respeito, de ajuda, de
cooperação, de aprendizagem, de superação, de busca de novos
projetos, enfim, um lugar de pensar na solução e juntos aprender a
superar e resolver conflitos. Esta seria a maior de todas as revoluções,
desenvolver novas lideranças, os alunos livres da opressão, da
violência, da imposição, do medo poderiam começar a acreditar mais
em si mesmos, começar a dizer o que pensam, desenvolver projetos
sociais, saber defender-se com o apoio do conhecimento.
Este novo líder poderia nos ajudar no futuro a mudar a
sociedade, talvez o professor entenda que o único modo de sairmos
desta situação de repetência e evasão é convencer os alunos a se
tornarem alguém na vida. Para isto é indispensável aprender a ouvir,
dialogar, escutar as queixas, e propor a partir desta realidade um
projeto em comum, buscar a solução dos problemas utilizando o
potencial de inteligência, assim os conteúdos deixariam de ser apenas
uma obrigatoriedade para tornar-se um meio de ascensão social.
Todos os professores deveriam estar conscientes dos milhões
de analfabetos em nosso país, não podemos esquecer-nos desta chaga
social, devemos estar unidos entorno deste objetivo, temos o
compromisso ético de devolver a estes alunos a dignidade perdida,
precisamos urgentemente conquistá-los, devemos falar a mesma
linguagem, e aprender na sala de aula a ternura, a compaixão, a
bondade, o perdão, a solidariedade, a valorização e superação das
dificuldades. O professor trabalha com a ideia da libertação e não da
dominação, o único modo de trazê-los para uma forma de pensar é
conscientizá-los sobre o valor do conhecimento.
A conquista dos seus desejos, de trabalho, moradia, e
ascensão social, passa inevitavelmente pela vivência de novos valores,
estes valores devem ser oferecidos pela autenticidade do mestre da
vida, os professores são os agentes do processo de conscientização,

123
este espelho poderia reacender no desejo deste aluno uma provocação
para ser mais pessoa.
A eficiência da educação encontra-se nesta nobre missão,
devolver a cada aluno a oportunidade de encontrar-se consigo mesmo,
e desenvolver todo o seu potencial criativo nas diversas disciplinas das
ciências. A escola e o corpo docente deveriam estar comprometidos a
conquistar sua mente, fazê-lo enxergar as qualidades, admitir a sua
competência, reconhecer seus direitos e deveres.
A escola deve sair do paradigma teórico da dominação e
imposição para o diálogo e cooperação, esta amorosidade e
aproximação são condição básica da vocação de ser professor. Aqueles
que pensam diferentes ou não encontram sentido no ato de educar,
deveriam fazer outra coisa na vida. Porque estar numa profissão por
medo ou obrigação, é uma violência cometida contra si mesmo. Isto
significa que talvez em outra profissão possa ser mais feliz e bem
sucedido, é um direito alienável esta liberdade de ser ético consigo
mesmo e com os alunos.
Porque a insatisfação, a raiva, a violência, a tristeza dos seus
olhos, o desânimo, a apatia, são atitudes que os alunos sentem e
observa na sua prática pedagógica, o ensino deve incluir o bem estar e
a felicidade. Seria uma incoerência falar de superação, quando
encontra-se deprimido e desanimado, como defender o valor da
educação e do conhecimento, quando esta desmotivado e pessimista.
Eis o problema da contradição.
O professor deve estar ciente de que sua principal finalidade
é ajudar o aluno a desenvolver o potencial intelectual, emocional e
humano. Muitos dos seus potenciais foram roubados pela repressão,
pois sofrerão a humilhação e todos os tipos de abuso físico e
emocional. O aluno encontra-se dominado pela inferioridade, com
medo de enfrentar a realidade é consumido pelas fantasias, foi o único
modo que encontrou para refugiar-se, isolado e sozinho está dominado
pela neurose.
O professor deve ser um revolucionário, pois sabe desta
situação emocional, e juntos podem encontrar o caminho da sua
libertação, esta talvez seja a maior de todas as conquistas que a escola
124
possa oferecer. Professor e aluno estão presos e acorrentados pelas
regras, normas, leis do aparato ideológico da educação castradora e
manipuladora. Esta nova consciência pode ser um investimento político
de oportunizar um novo tipo de educação, esta deve ser uma conquista
para retirar o aluno da situação de passividade e alienação. O professor
pode colaborar neste processo de conscientização ao resgatar o
potencial de inteligência criativa, superando todos os medos.
O professor pode ser agente de transformação social, mesmo
sabendo das suas dificuldades consegue libertar o aluno do processo
de acomodação e alienação social. Este é o problema que ambos estão
dispostos a resolver, como libertar-se das neuroses opressoras,
engajar-se nesta luta é condição prioritária, aos poucos tornam-se
fortes e corajosos, ao regatar sua autoestima, consegue sair da
condição de perda e fracasso, em outras palavras, notas baixas e
repetência.
Precisa sair da condição opressora da neurose, o empenho
deve estar alicerçado na confiança. A voz da neurose autoritária
propõe o discurso da repressão, desconfiança, esta relação entre
professor-aluno pode desencadear uma prática humanista, porque no
momento em que ambos conseguem superar-se nas suas dificuldades,
surge uma nova consciência capaz de acreditar em si mesmo.
Esta aproximação humana do professor resgata a valorização
e o afeto, esta nova motivação do valor “humano”, de sua condição de
aluno, esta relação está acima da avaliação, das notas, dos medos, das
ameaças, este novo vínculo procura refletir sobre os
condicionamentos, e de posse desta nova consciência é capaz de
conhecer com objetividade sua realidade social, econômica e política.
Consciente do estado de destruição, pode se assim desejar, fazer sua
revolução interna, isto significa procurar em seu mundo uma nova
percepção da educação e da cultura onde está inserido.
Ninguém é ingênuo em pensar que podemos realizar este
tipo de pedagogia num breve espaço de tempo, os resultados
dependem da perseverança, da confiança, da coragem, da criatividade,
para refazer esta visão de educação, de mundo, de aprendizagem. É
necessário desobediência, pensar em outras condições para realizar os
125
sonhos, diferentes daqueles impostos pelo modelo falido e arcaico de
ensinar e aprender. Esta nova visão de educar inclui uma ação política,
um compromisso com a saúde psíquica, desta forma ambos estão
colaborando com a formação humana e política de homens
comprometidos com a autenticidade e liberdade de expressão.

126
2.4 - A relação do “eu” subjetivo do aluno com os conflitos sociais:
Conteúdos programáticos e oportunidades de sobrevivência.

A passividade é própria de uma consciência alienada, porque


toda energia psíquica está depositada no pessimismo que gera a
desmotivação. Este é o grande desafio da educação, sair da condição
de dominação, e tomar esta grande decisão de não se deixar dominar
pelos medos, pelas ameaças, pelas difamações, pelas fofocas, esta luta
é a condição essencial para ter saúde. Porque o prazer de educar passa
por apreciar-se e lutar por aquilo que acredita, quando a neurose de
caráter aparece, a inibição e falsas justificativas acabam prevalecendo,
por isto mesmo, não existe transformação e mudança neste cenário da
educação.
É uma falsa esperança acreditar que os políticos consigam
viabilizar a realização dos seus sonhos, pois o compromisso da
mudança não encontra-se fora de si mesmo, mas no potencial criativo
de saber usar sua inteligência. Porque quando alguém encontra-se
alienado, não consegue ver a realidade da educação e muito menos a
sua condição de opressão. Sabe se queixar, mas não sabe de onde vem
este sofrimento, de olhos vendados procuram desesperadamente
alguém que solucione estes problemas, não consegue enxergar que a
solução está dentro de si mesmo.
Esta é a grande questão. É preciso compreensão para saber
confrontar, esclarecer e interpretar com uma visão mais ampla a
realidade de educador. E para conhecer este universo pessoal, deve
passar por uma revisão de vida, porque não conhecê-la, implica no
continuísmo de queixas e sofrimentos. Uma reflexão sobre sua
condição existencial poderia ajudá-lo a identificar as ações equivocadas
de não conseguir obter os resultados tão desejados. E quando o
educador consegue fazer esta reflexão, identifica os equívocos
cometidos num tipo de método que não resolveu o problema.
O núcleo desta ação existencial passa pela pobreza
econômica, afetiva e de valores, inserido na sociedade percebe as
contradições, vivencia a exploração, a humilhação desta política
educacional interessada em garantir a permanência deste tipo de
127
sociedade desigual e concentradora de poder e dominação. O
conteúdo deve estar contextualizado com a realidade da condição
social, desenvolver nos alunos novas aspirações, projetos e sonhos
pessoais. O professor numa atitude democrática e não autoritária deve
propor aos alunos uma reflexão sobre as contradições, e tudo aquilo
que preocupa a vida, drogas, sexualidade, emprego, moradia, salário,
etc.
A escola passa a ser um lugar para pensar a existência, deixa
de ser um espaço para matar o tempo, retoma o lugar da verdade, da
sinceridade, e mediante o desenvolvimento da inteligência cognitiva e
emocional insere-se neste contexto de transformação das mentes. Este
é o novo desafio da educação, encontrar soluções para dar uma
resposta ao egoísmo social. Todo o pensar deve estar alicerçado na sua
realidade pessoal e social, os conteúdos devem ser úteis e importantes
à vida. Seria um erro impor conteúdos que nada dizem respeito a sua
condição na existência.
Esta prática autoritária e arrogante deve ser deixada de lado,
o resgate do respeito, da dignidade de aprender e encontrar sentido,
prazer no ato de aprender. Conteúdos que não dizem nada sobre a vida
são inúteis, e não realizam a principal função da educação, encher as
mentes de esperança, de alegria, de determinação, de coragem, de
otimismo, tudo isto para fazer frente aos medos, inibições,
pessimismo, fruto de uma educação que menosprezava e trata as
mentes como se fossem depósitos de fórmulas e teorias.
A neurose cumpre com a função de reprimir e distanciar a
confiança entre os agentes do ensino, os medos persistem e
convencem o aluno de sua incompetência para gerenciar e solucionar
os problemas pessoais e familiares. O professor deve ter a consciência
crítica sobre a realidade educacional, nunca deve impor, mas pode
recriar neste ambiente educacional um lugar para dialogar sobre as
crenças limitantes, esta visão ingênua e distorcida da realidade cultural
e social.
O diálogo deve ser sobre a escuta da visão de mundo do
aluno, e que todo processo de exclusão social é fruto da inconsciência
sobre a ação na sociedade. A subjetividade é realçada pelas
128
incongruências, contradições, e processo de autodestruição.
Infelizmente esta pedagogia aliena e massifica as mentes tornando-as
submissas e dóceis para serem dominadas e exploradas. A realidade do
mundo do aluno precisa ser refletida, pensada e elaborada com a ajuda
do educador.
Quando o aluno não consegue contextualizar e enxergar a
relevância dos conteúdos, as resistências contra o ensino começam a
aparecer, diante desta situação, existem duas escolhas a serem feitas.
A primeira é abandonar a sala de aula, estamos falando de desistência,
a segunda tem haver com a adaptação, deixar de ser crítico e começar
a reproduzir nas provas e testes os conteúdos memorizados. Todos nós
conhecemos o resultado desta política pedagógica, só não entendo os
motivos da continuidade de um ensino de faz de conta.
Por isto mesmo os educadores nunca são compreendidos nas
suas exigências, os políticos dizem que não entendem ou decidiram
não entender as reivindicações, porque o discurso dos políticos está
atrelado ao programa de seu partido. Sem perceber os políticos
mostram o quanto encontram-se alienados, e inconscientes,
continuam a proliferar uma educação a favor de uma sociedade
narcisista. Tanto o discurso do educador como as exigências dos pais
seguem as diretrizes condicionantes da cultura, indiretamente o
político educa as mentes para a ignorância, sua vantagem é tirar
proveito desta situação.
Enquanto os alunos e universitários não conseguirem refletir
sobre sua condição de vida, e começar a desconfiar e criticar os
discursos alienantes dos políticos, poderemos então pensar num novo
tipo de educação. O educador sem perceber pode estar sendo
adestrado pelas falsas promessas, ou quando o educador torna-se
político seu discurso segue outra interpretação. A dialética das forças
políticas e sociais está condicionada por uma ideologia, este estado de
inconsciência não permite a análise crítica do processo de domínio
político e econômico.
Os conteúdos a serem desenvolvidos em sala de aula
deveriam ser feitos a partir de uma participação dos pais e alunos, com
isto poderia atender as necessidades reais daquela comunidade de
129
pessoas, pois ao contrário todos estariam a serviço do projeto
institucionalizado pela secretaria de educação. Esta é a grande
revolução que deve acontecer na educação, o processo de “inclusão”
das ideias, pensamentos e necessidades do cidadão, e não a simples
obediência irrestrita a um modelo anacrônico e falido. Precisamos da
mudança, e os enfrentamentos pedagógicos e políticos serão
inevitáveis.
Falar de liberdade e não escutar as queixas e dificuldades dos
alunos e dos pais é fazer de conta que existe um diálogo atrelado ao
medo, resquícios da ditadura. Toda a comunidade deve ser chamada a
realizar em conjunto este projeto pedagógico na escola, esta iniciativa
não contradiz o objetivo da educação, pois está ancorado na
valorização e participação democrática de milhões de pessoas, que
poderiam contribuir com a aproximação da escola.
Esta deve ser a razão e o sentido da educação, a finalidade
deve ser o resgate do potencial criativo e saudável das mentes
atrofiadas pelo medo e pela exclusão social. Estamos num novo
momento, incluir os pais e alunos neste projeto pedagógico
participativo é uma necessidade urgente e democrática. Deste modo,
estaríamos ensinando a partir da escola, a valorização dos pais, e acima
de tudo, o “diálogo” como ação conscientizada de todo processo de
autodestruição e violência social.
Esta é a razão pela qual o educador encontra-se diante das
situações “limites”, ambientes cheios de frustração e desespero, este
olhar de impotência, de rotina, de pouco resultado, de falta de
realização, nos remete a pensar sobre o momento político e econômico
de uma determinada sociedade. Este clima na educação retrata em
sala de aula os problemas sociais da violência que atinge milhões de
brasileiros. Este impasse na educação leva muitos educadores a
revoltarem-se, e indignados partem para luta, outros, adoecem, e
alguns pedem demissão e abandonam a profissão.
Mas no momento que esta nova percepção sobre os
descaminhos da educação se instaura, uma nova esperança surge
como uma luz no fim do túnel, muitos readquirem a confiança e unidos
buscam a superação das situações limítrofes e fortalecem-se na
130
“práxis”, aprenderam a superar e alcançar os resultados que
desejavam. Começam a pensar em outras possibilidades e ressurge do
nada o desejo de transformar, e transformando-se, torna-se “um ser
para mais”, longe de todo pessimismo utiliza a inteligência emocional
para investir com coragem e ousadia em novas alternativas nos
problemas pessoais e da escola.
Esta superação acontece no grupo de educadores que estão
dispostos a viver uma realidade diferente, todos tomaram consciência
de que estas vitórias não surgem do além, através de um presente
divino, mas de uma conquista diária e perseverante em transformar e
viver um novo momento na educação. Depois destas transformações
da realidade pessoal surgem os desafios, eles provocam o educador a
procurar uma resposta para as dicotomias da relação professor-aluno.
E assim, surgirão novos projetos, sonhos, que o corpo docente não
abre mão, independente das dificuldades e perseguições dos invejosos
e ciumentos, ao verem ameaçado o seu lugar na hierarquia da
educação.
O educador com consciência das neuroses e limites pessoais,
aprende que através das novas relações pode buscar forças e soluções
para enfrentar as provocações da educação. Esta consciência lhe dá o
poder de pensar a educação distante do isolamento e do
individualismo, percebe que o único caminho é a partilha solidária
daquele grupo de colegas. Consegue entender suas “situações limite”
quando percebe que esta sendo explorado por uma carga excessiva de
trabalho. Começa a pensar num novo modo de praticar a educação,
precisa da “saúde” psíquica e orgânica, sem esta condição, sua
condição de trabalhador encontra-se comprometida pelo “stress”
crônico.
Enquanto o educador consegue dar conta das necessidades
básicas como: moradia, alimentação, família, profissão, outras
dimensões do ser encontram-se esquecidas e negligenciadas, e buscar
na arte, música, leitura, cursos, viagens, nas dimensões superiores e
fundamentais à realização do ser humano. Então, nos perguntamos:
Qual é o limite do ser humano? O educador tem condições de estar
acima das condições de vida de um trabalhador comum? Ou consegue
131
perceber o seu estado de alienação, e por isto mesmo, aceita
incondicionalmente esta sua condição existencial?
O educador tem consciência dos fatores internos e externos
que limitam a expressão do potencial de inteligência emocional. Viver é
muito mais que estar adaptado e inserido num contexto de convivência
social. O educador precisa encontrar um caminho para realizar os
desejos, pois a frustração desencadeia uma sensação de mal estar,
desânimo, apatia, solidão, não consegue ser alguém produtivo em sala
de aula. Sua atitude pedagógica não está alicerçada em mudanças, ao
contrário, segue a rotina, repetição, para atender as necessidades de
sobrevivência.
Existe uma limitação no fazer pedagógico do educador, estes
impedimentos têm haver com as políticas públicas que remetem aos
vícios históricos conhecidos, muitas vezes numa tarefa difícil de
suportar e conviver com situações de injustiça e influência política. Mas
o educador precisa estar numa relação de confiança onde o suporte
não seja o poder público, e sim a confiança dos pais e alunos.
Por isto mesmo o educador não pode ficar fechado no seu
mundo de vitimização e lamúrias, deve resgatar a esperança e lutar
pelo seu espaço, sua dignidade, e começar a produzir conhecimento,
liderança, alegria, saúde, onde todos possam usufruir deste ambiente,
os educadores tiram proveito das conquistas, os resultados se baseiam
na satisfação dos alunos e da comunidade escolar que se solidariza e
defende todas as lutas dos educadores.
O ambiente escolar consegue mesmo sem o apoio das
autoridades públicas muitas respostas de cooperação e transformação
daquela realidade escolar. O interesse do educador é voltar-se para
satisfazer e atender as necessidades dos alunos, este seria o grande
desafio da educação, caminhar de mãos dadas para viver a atitude
libertadora, onde as famílias participam das atividades da escola.
O educador sabe que qualquer tipo de reinvindicação precisa
contar com o apoio das famílias e dos alunos, ambos estão buscando o
mesmo objetivo, utilizar o conhecimento como uma saída da situação
de indigência e pobreza econômica. Os alunos sabem e têm plena
consciência de sua classe social, estão angustiados e tristes porque
132
vivem a falta de moradia, de caderno, do lápis de cor, da cartolina, da
mochila, do tênis, do lanche, dos livros, enfim conhecem bem o
problema da pobreza material.
A escola possui um produto (conhecimento) capaz de ajudá-
los a sair da condição de pobreza, sua ação deve ser focada na
capacidade do aluno, ser capaz de transcender aos conteúdos
limitantes das matérias copiadas e ditadas para serem reproduzidas no
teste, ou uma prova de conhecimento. A formação integral do aluno
corresponde a viver na sala de aula uma pedagogia capaz de
contemplar o desenvolvimento de suas potencialidades, e talvez a mais
importante seja o fortalecimento da autoestima, da coragem e
ousadia, para com determinação e perseverança, lançar-se em busca
de seus objetivos.
O passado, presente e futuro não são categorias fixas da
realidade, as mudanças num determinado tempo histórico dependem
muito do nível de consciência do aluno sobre a existência. A sala de
aula deveria ser um ambiente de questionamentos, dúvidas,
incertezas, para despertar o interesse em buscar soluções para os
problemas, os educadores podem refletir e fazer deste problema a
recriação de uma aprendizagem pelo esforço e dedicação, tornar real a
fantasia sobre o futuro. O tempo da aprendizagem não pode ser visto
pelo aluno como algo imposto, uma obrigação, mas um espaço
importante para realizar os sonhos.
A sua história depende do esforço, da força de vontade, esta
deveria ser a dinâmica de sua história de vida, um tempo importante
para aprender a viver com dignidade, e neste espaço de interação
aproveitar bem o seu tempo. A educação também convive com os
momentos de incerteza, dúvidas, desafios, questionamentos, com a
realidade social e cultural do seu tempo.
As contrariedades da existência, quando propõe a falta,
convidam os agentes da educação a resgatar esta dialética na melhora
de qualidade de vida. Em todos os momentos da história sempre
estiveram presentes os obstáculos, medos, dúvidas, mas a os
questionamentos levaram muitos a encontrarem as soluções para os
problemas daquela época histórica.
133
Os obstáculos, desafios, provocam no educador e no aluno a
necessidade de procurar no conhecimento a solução para os bloqueios
que impedem a realização dos objetivos. Todos os problemas
enfrentados pela educação estão inseridos dentro de um contexto
social, político, econômico e cultural, esta interação de evolução da
consciência é o ponto a partir do qual os olhos se abrem para enxergar
outros tipos de realidades.
A única saída para resolver a educação é esta ligação entre
corpo docente, alunos, famílias e poder publico, e nesta relação de
respeito todos podem caminhar na mesma direção. Os problemas são
os mais variados, mas podem tornar-se a provocação na solução das
faltas, todos estão encobertos por esta nuvem de escuridão, mas aos
poucos a reflexão consegue atingir o raciocínio e as demandas do
mundo emocional. As neuroses aparecem como a pedra no sapato,
porque aquele medo, ansiedade, somatização, incomoda, cria mal
estar.
Este mal estar na educação expressa uma realidade
contraditória, enquanto no discurso todos procuram a transformação,
muitos negam a necessidade e preferem viver no estado de alienação.
Como o ser humano vive em contradição, não é de se espantar que
esta realidade também se faça presente, porque a neurose propõe o
conflito pessoal e depois propaga-se no ambiente de trabalho. Ao
mesmo tempo, há o conflito de ideias na maneira de interpretar a
realidade, o confronto exige um esclarecimento sobre as formas
equivocadas de sua visão particular de interpretar a educação.
Quando os educadores possuem consciência de que a
contradição sustenta-se sobre os conflitos neuróticos, então
percebemos o renascer de uma esperança, a mais importante de todas
as revoluções, a transformação de si mesmo. Porque na medida que é
capaz de conhecer-se e aprofundar os temas da existência, inicia um
processo de entrar em contato com as suas emoções. Consegue ver os
estragos da maneira de pensar e agir, abandona esta condição mágica
e mítica, sectária e irracional.
O ambiente na educação deve ser de abertura e
compreensão, o debate não pode esgotar-se numa única ideia, quando
134
existe esta possibilidade de transformação concreta e real, para não
esconder-se sobre uma falsa espiritualidade de uma religião. Os
educadores e alunos vivem o aqui e agora, sabem que o tema
fundamental é sobreviver numa sociedade capitalista e selvagem, por
isto mesmo, devem aprender a usar a inteligência e não procurar no
transcendental a solução para os problemas.
O bom combate nasce da nova consciência, procura numa
reflexão sincera a verdade sobre si mesmo, e um dos temas
fundamentais é o estado de inconsciência. Com uma nova visão sobre
si mesmo consegue usar sua energia psíquica a favor deste bom
combate, um combate extraído da inteligência racional e emocional,
duas condições para fazer uma crítica real e necessária à realidade
alienante. Ao descobrir que não tem o direito de postergar as
mudanças deixando-as nas mãos de Deus, mas ao contrário,
assumindo-se nesta nobre tarefa de desvelar e desmascarar a grande
missão, comprometer-se pela transformação e libertação de todos os
homens.
Em qualquer instituição existem aqueles que lutam pela
permanência da estrutura tradicional, e aqueles que exigem mudanças.
Esta é a expressão da realidade presente na educação, e existem
outros modos de boicotar ou mesmo impedir qualquer tipo de
transformação, por exemplo, as leis. Mas queiram ou não todos estão
sendo afetados pelos conflitos, todos sabem que as estruturas seguem
a determinação da obediência irrestrita da lei, mas nem sempre a lei é
justa.
Todos estão envolvidos por estes temas, e isto implica numa
tomada de decisão, sair da condição cômoda de esperar que a
transformação aconteça, ou aguardar que alguém faça no seu lugar.
Mesmo diante das limitações imposta pela perseguição, da difamação,
é possível realizar os objetivos, independente de qualquer práxis, a
própria existência necessita de evolução, a transformação faz parte
deste grande aprendizado.
Todo educador deveria caminhar no sentido de ser autêntico
e verdadeiro, fazer a sua parte numa luta histórica que deixará a sua
marca nesta grande transformação. Sua história de vida depende das
135
decisões, as escolhas podem envolvê-lo num caminho de
autodestruição ou de solução. Por isto mesmo as respostas precisam
de uma reflexão crítica sobre o processo de atuação na realidade.
A neurose consegue convencer todos aqueles que estão
envolvidos na questão da educação, o discurso é que a causa é perdida,
não existe solução, convivemos com o determinismo dos pessimistas
de plantão. Argumentam que contra o poder não existe alternativa a
não ser a obediência irrestrita as autoridades. Divididos e cheios de
dúvidas permanecem no silêncio, quietos observam os anos passarem,
e assim passam pela vida adaptando-se cada vez mais às normas e
regras da educação.
O professor condicionado por este tipo de educação
desmerece a si mesmo, diz abertamente que a única saída é ser
obediente e submisso às decisões dos burocratas da educação.
Enfraquecido, cheio de medo, culpado, permanece neste sofrimento, o
mal estar passa a tornar-se um sintoma e depois somatiza. Neste
momento sente-se sozinho e sem força, sente-se como mais um
trabalhador que cumpre suas tarefas para receber um salário que
garante a sobrevivência. Aos poucos percebe o emaranhado de
situações que lhe deixam ansioso e angustiado, a única forma de
dominar as emoções é procurando no serviço médico os psicotrópicos
para adormecer ou narcotizar a consciência.
Então, a tendência deste educador é pensar no pior e não no
melhor, encurralado neste modo de pensar começa a enxergar
ameaças e perseguições por toda parte, não consegue confiar em
ninguém, empobrecido pela sua análise da realidade, prefere o ganho
secundário, e desiste de procurar a libertação, doente e enfraquecido
pelo seu modo de interpretar a realidade, não aproveita o momento
histórico para comprometer-se com a transformação.
As queixas são inúmeras, na voz embargada pelo sofrimento,
existe um tom de insatisfação, as palavras proferem uma crítica que
não alcança nenhum resultado. Ainda não conseguiu entender que a
transformação é uma realidade viável, mesmo diante da doença, das
perseguições, dos obstáculos, precisa que alguém se contraponha a
esta situação desfavorável.
136
Este é um fato observado na educação, e as queixas são
universais, pode inclusive tornar-se um tema para estudo e
aprofundamento, com a finalidade de buscar uma solução viável para o
problema específico. Em nossa realidade atual encontramos inúmeros
obstáculos que impedem a libertação, é o medo de enfrentar a
realidade que impede de alcançarmos uma solução. Muitos
encontram-se dominados pelas figuras autoritárias do superego,
castrados e oprimidos pela culpa não conseguem sair do estado de
dominação.
Para viver este humanismo, precisamos de um espaço na
escola que consiga comtemplar a justiça e a verdade. Porque estas
formas de domínio psicológico e econômico conseguem empobrecer a
vida do educador em todos os sentidos. Este estado de desumanização
tem suas raízes no processo de alienação social, cultural, econômica e
política, e o único modo de sair deste processo de entorpecimento da
consciência, é conseguir dominar os medos e dissipar da vida a
angústia.
Estas emoções paralisam e atrofiam a mente, é preciso a
união de todo o corpo docente, este talvez seja o maior desafio,
congregar todas as forças num objetivo em comum, é a única forma de
sair fortalecido de um enfrentamento com os donos do poder. Os
políticos sabem dos problemas, mas pedem paciência, mas a opressão
de seu sofrimento tornou-se uma dor crônica que não pode esperar
mais, caso contrário, a morte é a próxima conquista.

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