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AFETOS E DESAFETOS:

EXPERIÊNCIAS E
SAÚDE MENTAL DE
UNIVERSITÁRIAS
Carine Campos, Larissa Christine e Vitória Santos
INTRODUÇÃO
Ana Suy nos diz que“ser recebido na vida com amor é uma
1
questão de vida ou morte para o ser humano”, tal como
Winnicott acreditava que a vinculação entre mãe e bebê era uma
das formas de afetos mais constituintes do ser humano (Lejarraga,
2008; Suy, 2022).

2 Inicialmente, no século XIX, o modelo de amor apresentava uma forma


patriarcal, heteronormativa e obrigatoriamente monogâmica como
uma forma de controlar corpos e suas possibilidades de afetividade.
A partir disso, influenciado por lutas feministas, raciais e de gênero,
passa-se a questionar e considerar novas formas de amar (Lins, 2017; “Mulheres têm se esforçado em guiar homens para o amor
porque o pensamento patriarcal sanciona esse trabalho ainda
Passos, Puccinelli & Rosa, 2019; Perez & Palma, 2018).
que o sabote, ensinando os homens a recusarem tais
orientações. Cria-se um arranjo generificado no qual os
3 "Apesar das diversas definições de amor, pensar em afetos é homens dispõem de mais chances de ter suas necessidades
lembrar de uma diversidade de formas de expressão que emocionais atendidas, enquanto as mulheres se mantêm em
privação.” (hooks, 2021 pág. 161)
permeiam meios familiares, românticos e/ou sexuais, relações
de amizade, consigo mesma e relações com animais, dentre
outros.

4 Discutir sobre formas de afetividade saudáveis que não


necessariamente fossem românticas e idealizadas;
INTRODUÇÃO
1 Feminilidades e imperativos do 'ser mulher': Pensar sobre a
mulher e as representações do corpo feminino significa
compreender o que se convencionou designar como sendo
imperativo de seu sexo: seja bela, seja mãe e seja feminina.
Imperativo porque possibilita pouca contestação; é quase uma
norma que desenha um jeito natural de ser e de comportar
(Goellner, 1999)

2 Saúde mental de universitárias: feminilidade, rotina, perfeccionismo,


autoexigência e sobrecarga em mulheres;

3 Vínculos e troca de afetos podem colaborar para o bem-estar dos


jovens a partir da criação de uma rede de suporte emocional fora da
família, por meio do apoio em casos de dificuldade e do
compartilhamento de expectativas, interesses, problemas e
experiências (Santos, Oliveira & Dias, 2015).
INTRODUÇÃO
1 O objetivo geral: realizar grupos operativos com mulheres
estudantes da área da saúde da Universidade Federal do Triângulo
Mineiro (UFTM) que tem como tarefa pensar sobre os
atravessamentos dos afetos e desafetos em suas experiências e
saúde mental.

2
Os objetivos específicos:
oferecer um espaço seguro para promoção de saúde de
universitárias;
investigar e discutir como os afetos e desafetos atravessam as
relações familiares, de amizades, relacionamentos amorosos,
meio acadêmico na vida das mulheres, etc.
como o ser mulher está implicado no se relacionar, e como isso
afeta ou não a saúde mental das mulheres.
MÉTODO
Local: Universidade Federal do Triângulo Mineiro

Grupo operativo com até 15 universitárias maiores de 18 anos (composto por


mulheres)

Cursos da saúde: biomedicina, ciências biológicas, educação física,


enfermagem, fisioterapia, medicina, nutrição, psicologia, serviço social e
terapia ocupacional.

Realizado de forma online através da plataforma google meet


MÉTODO
Divulgação por meio de grupos de WhatsApp,
Instagram e e-mail das secretariais dos cursos

Foram realizados 6 encontros com duração de 60 minutos (2 primeiros foi


aberto)

3 coordenadoras (cada uma coordenou 2 encontros)

A compreensão teórica do trabalho foi a de grupos operativos do teórico


Pichón-Rivière.
PARTICIPANTES
Cursos que das participantes: enfermagem, nutrição,
terapia ocupacional e serviço social

Média de idade: 21 anos

Início, meio e final da graduação (1°, 2°, 5° e 8° período)

11 participaram de pelo menos 1 encontro (5 participaram de no mínimo 3


encontros)
RECURSOS UTILIZADOS
1 2 3

QUAIS SÃO OS
O QUE É/SIGNIFICA AFETOS E
AFETO E DESAFETO DESAFETOS QUE TWEET
PARA VOCÊ? ATRAVESSAM O SER
MULHER?
RECURSOS UTILIZADOS
4 5 6

O QUE ELAS
GOSTARIAM DE COMO OS AFETOS E
PENSANDO SOBRE
LEVAR PARA DESAFETOS
MIM E SOBRE O
CONVERSAR? ATRAVESSAM A
GRUPO E O POEMA
(RECURSO DAS SEXUALIDADE?
PALAVRAS)
RECURSOS UTILIZADOS
3 4
RECURSOS UTILIZADOS 6
RECURSOS UTILIZADOS 6

EU NÃO SOU VOCÊ, VOCÊ NÃO É EU E você se encontrou e se viu, enquanto olhava pra mim?
Eu não sou você Eu não sou você
Você não é eu Você não é eu.
Mas sei muito de mim Mas foi vivendo minha solidão que conversei
Vivendo com você. Com você, e você conversou comigo na sua solidão
E você, sabe muito de você vivendo comigo? Ou fugiu dela, de mim e de você?
Eu não sou você Eu não sou você
Você não é eu. Você não é eu
Mas encontrei comigo e me vi Mas sou mais eu, quando consigo
Enquanto olhava pra você Lhe ver, porque você me reflete
Na sua, minha, insegurança No que eu ainda sou
Na sua, minha, desconfiança No que já sou e
Na sua, minha, competição No que quero vir a ser…
Na sua, minha, birra infantil Eu não sou você
Na sua, minha, omissão Você não é eu
Na sua, minha, firmeza Mas somos um grupo, enquanto
Na sua, minha, impaciência Somos capazes de, diferenciadamente,
Na sua, minha, prepotência Eu ser eu, vivendo com você e
Na sua, minha, fragilidade doce Você ser você, vivendo comigo.
Na sua, minha, mudez aterrorizada Madalena Freire
RESULTADOS E DISCUSSÃO
1º Encontro:
Fizemos a divulgação nas redes sociais e inicialmente
tínhamos 19 pessoas no grupo do whatsapp
Apareceram 7 pessoas
Colocávamos música para recepcionar as mulheres e
esperávamos até 10 minutos antes de começar.
Nos apresentamos, falando nome, idade, curso e uma
curiosidade nossa
Apresentamos o contrato e fizemos um acordo sobre a
duração do grupo
RESULTADOS E DISCUSSÃO
1º Encontro:
Falamos sobre afetos e desafetos. Muitas experiências
giraram em torno da vida delas em Uberaba e adaptação
(muitas estão no começo do curso)
Afeto na escolha do curso
Desafetos no trabalho
RESULTADOS E
DISCUSSÃO
1º Encontro

1 Conversamos sobre o que é afeto e desafeto

2 Experiências sobre morar em Uberaba, adaptação

3 Afeto na escolha do curso

4 Desafetos no trabalho
RESULTADOS E
DISCUSSÃO
2º Encontro

1 Apareceram 6 participantes, sendo 2 do encontro


anterior e 4 novas.

2 Levantamos a questão sobre como elas gostariam de


ser chamadas no geral, meninas ou mulheres

3 Conversamos sobre os afetos e desafetos sobre ser


mulher

4 Encontro muito difícil emocionalmente

5
O tema proposto não foi muito seguido, girou em
torno das vivências de ser universitária e estar longe
de casa
RESULTADOS E
DISCUSSÃO
3º Encontro

1 Apareceram 6 participantes, sendo uma nova


configuração

2 Levamos o tweet e a discussão girou em torno o ser


guerreira

3 Houve algumas discordâncias em cima do recurso que


levamos

4 Foi falado bastante sobre as cobranças sociais em


cima da mulher (carreira, casamento, filhos)

5 Falamos sobre os autocuidado, quais são os afetos


dela consigo mesmas?
RESULTADOS E
DISCUSSÃO
4º Encontro

1 Apareceu 2 participantes

2 Encontro destinado a falar sobre o que elas queriam

3 Nenhuma das participantes ligou a câmera, uma


estava falando somente pelo chat

4
Conversa dificil de ser conduzida, ficava silêncio a
maior parte do tempo
RESULTADOS E
DISCUSSÃO
5º Encontro

1 Apareceu 2 participantes (outras)

2 Conversamos sobre sexualidade

3 Ambas de câmera ligada, foi um encontro leve e com


bastante conteúdo, nao precisamos se colocar muito,
pois o grupo fluía.

4 Ao final elas disseram que gostaram bastante


RESULTADOS E
DISCUSSÃO
6º Encontro

1 Apareceram 4 participantes

2 Encontro destinado a aplicação do instrumento

3 Depois que todas responderam, nós lemos as


respostas e discutimos sobre elas

Apareceram diversos comentários positivos sobre o


4
propósito do grupo, mas alguns não tão positivos em
relação a sua configuração de pessoas em alguns
deles
RESULTADOS E
DISCUSSÃO
6º Encontro

1 Gênero foi assumido como o dispositivo social que


institui a noção de feminilidade.

2 As feminilidades só se materializam na interação. Suas


expressões posicionam quem as aciona na sua relação
com o mundo. Feminilidades se produzem,
reproduzem e se transformam, trazendo sentidos e
significados singulares para cada pessoa na sua
corporeidade e modo de subjetivação.
(Vilela, 2016)
3 Contratransferência
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nossos objetivos foram alcançados em partes, devido a quantidade de pessoas em cada
encontro e também por conta na instabilidade das pessoas que apareceriam, sempre era uma
configuração nova.
Alguns encontros não foi trabalhado aquilo que havíamos planejado, então no momento o
encontro foi tomando outros rumos
Apesar disso, conseguimos no mínimo possível conversar com as estudantes sobre o que
estava sendo apresentado por elas.
De nossas limitações, tivemos que o encontro era online, por isso muitas vezes é inevitável que
as pessoas não façam outras tarefas durante o grupo
Mesmo assim, conseguimos promover um espaço seguro, pois conversamos sobre
determinados assuntos e apareciam alguns tópicos bem pessoais que elas se sentiam bem
em compartilhar.
Recebíamos alguns elogios durante os próprios encontros, o que foi muito bom para nós.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O grupo era visto como um espaço para que elas pudessem promover autocuidado, uma
momento de reflexão durante a rotina apertada da faculdade.
Uma crítica que fazemos é em relação a coordenação, pois mesmo que saia do planejado, o
grupo acontece do jeito que ele tem que acontecer, pois as participantes querem falar sobre
aquele tema.
Arriscar sobre os temas que serão propostos e ver como o grupo reagirá em relação a isso.
REFERÊNCIAS
Freire, M. Eu não sou você, você não é eu. Pensador. https://www.pensador.com/frase/NDY2Nzgz/

Goellner, S. V. (1999). Imperativos do ser mulher. Motriz. Journal of Physical Education. UNESP, 40-42.

Hooks, b. (2021). Tudo Sobre o Amor: Novas Perspectivas. Editora: Elefante.

Lins, R. N.. (2017). Novas Formas de Amar: (1º edição). Planeta.

Pichon-Rivière, E. (2012). O processo grupal (8.ed.). São Paulo: Martins Fontes. (Original publicado em 1983)

Santeiro, T. V., Fernandes, B. S., & Fernandes, W. S. (Orgs.) (2021). Clínica de grupos de inspiração psicanalítica: Teoria,
prática e pesquisa. Londrina: Clínica Psicológica da Universidade Estadual de Londrina. Disponível em:
http://bit.ly/clingrupos
Pichon-Rivière, E. (2012). O processo grupal (8.ed.). São Paulo: Martins Fontes. (Original publicado em 1983)

REFERÊNCIAS
Santeiro, T. V., Tavares-Arantes, B., Soares-Siqueira, A., Carvalho, C. R., Jerônimo-Neiva, L. C., Campos-Santos. C., Ferreira-
dos-Santos, V. A., Thomazella-Bertolini, A. J. (2021) Reflexões teórico-técnicas sobre processo grupal on-line desenvolvido
em contexto pandêmico. Brazilian Journal of Pshychoterapy., 23(3), 177-194. Disponível em:
https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio-1355030

Santos, A. S., Oliveira, C. T., & Dias, A. C. G. (2015). Características das relações dos universitários e seus pares:
implicações na adaptação acadêmica. Psicologia: teoria e prática, 17(1), 150-163.Disponível em:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-36872015000100013&lng=pt&tlng=pt.

Suy, A. (2022). A gente mira no amor e acerta na solidão. Editora: Paidós.

Villela, W. V.. (2016). Feminilidades: corpos e sexualidades em debate. Ciência & Saúde Coletiva, 21(Ciênc.
saúde coletiva, 2016 21(2)), 647–648. https://doi.org/10.1590/1413-81232015212.07222015

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