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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

DEPARTAMENTO DE LETRAS E ARTES


DISCIPLINA – LIBRAS T16
PROF. MARCÍLIO DE CARVALHO VASCONCELOS

Gabriel Sena e Ana Paula Galvão

Resenha dos filmes “O Milagre de Anne Sullivan” e “E Seu Nome é Jonas”

Feira de Santana, Agosto de 2019


O filme “O milagre de Anne Sullivan” conta a história de Helen Keller, que
perdeu a visão e a audição na tenra infância após uma infecção, tendo de viver apartada
da possibilidade de comunicar-se com o mundo. Desta forma, a garota inicialmente
entrava constantemente em acessos de raiva, destruindo tudo que via pela frente
indiscriminadamente. Diante da desesperança do pai quanto ao caso de Helen, em
contradição à crença e persistência de sua mãe, a família decidiu por buscar uma última
ajuda, que viria da tutora Anne Sullivan.
Desde a sua chegada a casa, o trabalho de Sullivan com Helen acaba por
desestruturar a “desordem” estabelecida: diante das falhas em conceber uma
comunicação com a garota, a família permitia que ela pudesse fazer tudo. Esta estrutura
se sustentava em um sentimento de pena por sua condição, além de uma indiferença
vinda de seu pai, que a considerava quase como se fosse um animal, impossibilitada de
aprender qualquer coisa. Entretanto, antes mesmo de Sullivan começar a efetuar sua
tutoria, é possível identificar que Helen compreende e se relaciona com o mundo da sua
maneira: identifica formas, é capaz de sentir cheiros e fazer associações, além de que
consegue muito minimamente comunicar-se através de sinalizações, fazendo um sinal
sempre que está à procura de sua mãe, que é compreendido por todos da casa. A
intenção da tutora é potencializar todas estas habilidades, que forma que ela possa não
apenas docilizar-se em favor da paz da casa – que era a demanda apresentada
principalmente por seu pai -, mas poder comunicar-se, compreender o que se passa ao
seu redor e se fazer ser compreendida.
Este grande desafio de Anne se torna maior diante da dificuldade da família em
conseguir entender que o processo do aprendizado seria difícil e, por vezes, doloroso. Já
que a mimavam constantemente, Sullivan acaba se tornando uma figura aversiva a
Helen, impossibilitando a continuação do trabalho naquelas condições. Diante disso, a
tutora faz um pedido que inicialmente se apresenta como problemático para a família,
mas acaba sendo crucial para a melhoria no desempenho da garota: que pudesse passar
um tempo sozinha com a criança, para que assim pudesse depender unicamente de
Anne, sem recorrer ao socorro familiar. Foram lhe concedidas duas semanas - pouco
tempo segundo a avaliação da tutora, mas que rendeu frutos muito importantes. Além de
desaparecer com seus acessos de raiva, a partir do ensino da datilologia da língua de
sinais, Sullivan tentava inúmeras vezes fazer com que Helen pudesse associar as
palavras às coisas, possibilitando, assim, a comunicação. Facilmente a garota consegue
aprender a reproduzir os sinais com as mãos, assim como ensinado, mas o problema
maior estava na dificuldade dela de conseguir fazer as associações entre as palavras e
seus significados relacionados a coisas do mundo. Apenas no fim do filme, Helen
consegue fazer a ligação entre pensamento e linguagem.
Já E seu nome é Jonas é um filme que mostra a jornada de uma criança surda
diante das crueldades e desafios do mundo majoritariamente ouvinte. Logo no começo
da sua vida, Jonas é internado num hospital para crianças com deficiências cognitivas
devido unicamente a sua surdez. Esse início já demonstra o nível de despreparo da
sociedade diante da demanda de uma pessoa surda.
Depois de algum tempo, a família de Jonas retira ele do hospital para que fosse
morar com eles, pai, mãe e um pequeno irmão. Mesmo em um ambiente novo e menos
hostil que o hospital os desafios que Jonas e a família enfrentam continuam grandes.
Existe uma pressão familiar para que Jonas consiga se comunicar de forma oralizada.
Assim, Jonas é colocado em um instituo de oralização para surdos, um lugar que não
aceitava de jeito algum o uso da linguagem de sinais com a justificativa de que os sinais
deixavam as crianças preguiçosas. Essa parte do filme é bem marcante, pois Jonas sofre
muito por não conseguir oralizar, ele tenta bastante, mas não consegue e por
consequência a mãe dele também sofre.
Diante das dificuldades de criar um filho surdo, a mãe se sente frustrada e o pai
simplesmente foge, deixando a família desamparada. As relações de Jonas com avô se
fortalecem nesse momento, dentro do turbilhão de acontecimentos na vida de Jonas, o
avô surge como um ponto de calmaria. A criança e o avô estão sempre brincando e
mesmo com as dificuldades conseguem se comunicar entre si. Porém, o avô morre e
deixa a criança desamparada, a única pessoa com quem Jonas sente conseguir se
comunicar morre e ele não entende direito a morte do avô.
Diante de todo esse panorama, a mãe de Jonas resolve buscar amparo e
conhecimento dentro da comunidade surda. Durante a convivência com os novos
amigos surdos, a mãe de Jonas desconstrói seu preconceito em relação a língua de sinais
e fica muito animada para tentar ensinar seu filho essa nova língua. Assim, Jonas é
apresentado a comunidade surda e passa a aprender a língua de sinais junto com outros
surdos. A partir da convivência com outros surdos, Jonas consegue se comunicar através
da língua de sinais e até mesmo oralizar em alguns comentos, conseguindo conversar
pela comunicação total.
Portanto, esse filme mostra o trajeto de uma criança surda diante dos desafios
impostos pelos ouvintes. Jonas é inicialmente afastado de propósito de uma cultura
surda e de uma possibilidade de aprendizagem por conta de preconceito e ignorância
social das pessoas em sua volta.
Tanto na história de Helen, quanto na história de Jonas, as dificuldades de
comunicação, frutos da desinformação e, em algumas situações, preconceito, tornam
difíceis à família exercer um papel na educação das crianças. O resultado é o sofrimento
da família, com tentativas sucessivas e frustradas de comunicar-se com a criança, e das
próprias protagonistas, que passam por acessos de raiva, por não conseguir expressar o
que querem.
Ainda sobre a família das personagens, nas duas histórias aparecem figuras de
pais que, diante da incompreensão da sociedade a respeito da situação dos sujeitos,
tendem a desumanizar as crianças, desesperançosos de qualquer capacidade de
comunicação vinda delas. Ambos tendem a uma desistência da responsabilidade que
tem sobre os sujeitos, acreditando que a solução seria recorrer a instituições
"especializadas": o pai de Helen, antes da chegada de Sullivan, pensa que a única
possibilidade restante seria manda-la para o sanatório; e o pai de Jonas não tinha tanta
certeza se retira-lo do hospital teria sido a melhor decisão.
Em outro sentido, ambos os filmes comprovam que mesmo privados de
possibilidades no ambiente para o desenvolvimento e estabelecimento da comunicação
efetiva, os personagens conseguem, à sua maneira, se relacionar com o mundo. Tanto
Helen, quanto Jonas desenvolvem, inclusive, sinais naturalmente: Jonas tenta
representar que deseja cachorro quente para a sua mãe a partir da sinalização; e Helen
faz um sinal com a mão sempre que está em busca de sua mãe, além de se fazer
compreendida por todos da casa quando executa este comportamento. Respeitando as
particularidades dos sujeitos e ambos os filmes mostram tentativas de otimizar a relação
dessas pessoas com o mundo à sua maneira, sem tentar impor, adapta-los à nossa
linguagem.

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