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Caroline Vitória de Santi – 148750 – Noturno – Profº Marcio Hollosi

Resenha

Filme: E seu nome é Jonas. Direção: Richard Michaels. Local: ORION PICTURES
CORPORATION, 1979.

O filme ‘e seu nome é Jonas’ dirigido por Richard Benjamin e lançado em 1979
nos EUA conta a história de Jonas, um garoto surdo que recebeu o diagnóstico errado de
retardo mental e por isso, concomitante aos preconceitos e desinformações acerca das
necessidades de comunicação do surdo, acaba sendo privado da língua de sinais durante
muito tempo.

Um dos primeiros pontos retratados no filme é como um diagnóstico errado pode


atrasar o desenvolvimento de uma criança em vários níveis e levar a uma vida de
frustações. Jonas passa um pouco mais de três anos em um hospital psiquiátrico com o
diagnóstico de deficiência intelectual, até o reconhecimento da surdez por parte dos
médicos. Com esta revelação seus pais decidem adotar novas abordagens e procurar
soluções para aquilo que era tratado como um problema por eles e pela sociedade.

Apesar da intenção, a falta de informação os levou à caminhos diversos até


encontrarem métodos eficazes para estabelecer uma comunicação com Jonas e dele com
o mundo. Na primeira tentativa foram imergidos em ideias preconceituosas a respeito da
língua de sinais, destratada como uma língua legítima, e proibidos de usar qualquer sinal.
Ali era sugerido que concentrassem esforços no desenvolvimento das habilidades de
leitura labial de Jonas. Entretanto, nem todos se adaptam bem a este método, como foi o
caso do protagonista.

É interessante perceber como a família e a comunidade lida com a surdez de Jonas.


Seu pai frequentemente se frusta com a dificuldade de seu filho de entender e praticar as
normas de convivência de sua casa. Além de se sentir com vergonha de o expor para o
mundo. Até mesmo falas agressivas são proferidas contra o menino, como ‘retardado’,
‘come como um animal’, ‘não deveria ter saído do hospital psiquiátrico’, etc. Fica claro
aqui a falta de compreensão sobre o assunto e os erros na escolha de termos sobre a
condição. Como Audrei Gesser aponta em seu livro, o deslocamento conceitual é preciso
e urgente, o termo ‘deficiente’ está incorreto, surdo é o mais adequado. Por fim, seu pai
decide abandonar a família, deixando seus dois filhos com a mãe.
Mas acima disso, é claro o desconforto e a confusão de Jonas que procura ser
compreendido e não consegue. A situação acaba desencadeando uma série de emoções e
sentimentos no garoto, como a raiva, ressentimento, frustação e até um isolamento social,
mostrando ser uma experiência profundamente desafiadora e isoladora quando não se tem
apoio familiar e da sociedade. Além disso, por muito tempo ele é colocado como um
problema, enquanto enxergar a surdez desta maneira está ligado à visão clínica e
patológica. Todo esse processo de tentar oralizar o surdo é extremamente desconfortável,
podendo desencadear questões de autoestima e ansiedade, e tem o único propósito de
tornar a comunicação mais acessível para aqueles que ouvem.

O desespero de sua mãe em não conseguir compreender o filho também é


evidente, ela se sente culpada em vários momentos pela situação, ainda mais após o
abandono de seu marido e a morte de seu pai, o melhor amigo de Jonas. Mas no meio de
tudo isso ela percebe a falha no método de oralidade que estava sendo ensinado ao filho,
decide encarar os preconceitos e tentar pela aprendizagem da língua de sinais. Este
momento é o marco da reviravolta na vida do garoto, que finalmente poderá se comunicar
com o mundo.

A esperança ressurge quando a mãe se depara com uma família de surdos se


comunicando por sinais. Por mais que não entenda o diálogo ela percebe que todos estão
alegres e bem comunicativos, desmitificando a ideia apresentada para ela pela diretora da
clínica de que o ‘mundo é dos ouvintes’. Com o incentivo deles e de um grupo de surdos
Jonas começa a aprender a língua de sinais – neste caso, a ASL, pois ela não é universal
- e se mostra muito empolgado com a janela de oportunidades que está abrindo em sua
frente. Se expressar efetivamente e socializar são acontecimentos que a língua
proporcionou a Jonas, visto que o surdo não precisa ser oralizado para se integrar na
sociedade ouvinte.

Neste momento quase final, é apresentada uma ideia importante no filme, que
Audrei também traz em seu texto, a de que o surdo tem identidade e cultura próprias. O
surdo possui traços culturais que influenciam sua perspectiva, percepção e interação com
a sociedade. Além disso, há o surdo oralizado, o surdo preto, surdo cego, etc, como mostra
na cena do clube dos surdos, e não uma singularidade. O filme encerra de maneira
emocionante, com o garoto finalmente feliz, com acesso à educação e participação social.
Portanto, apesar de ser um filme do século passado, algumas questões
apresentadas continuam sendo contemporâneas. No Brasil, a Língua de Sinais só teve sua
legitimação em 2002, com a Lei n. 10.436, que colocou a LIBRAS como primeira língua
dos surdos e a Língua Portuguesa como segunda. De fato, existem muitas rupturas com o
passado. A Lei, o direito à assistência de intérpretes nas faculdades, a inclusão da Libras
em alguns currículos, etc. Mas também tem continuidades, há muitos desafios a serem
encarados para que se garanta a real igualdade de oportunidades e o pleno reconhecimento
dos direitos dos surdos, não somente no Brasil, mas em todo o mundo. Há, ainda, muitas
barreiras culturais e atitudinais que dificultam a prática daquilo que já é garantido por lei,
incluindo preconceitos e estereótipos. É preciso romper com o passado discriminatório e
caminhar cada vez mais em direção à igualdade.

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