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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA


CURSO TERAPIA OCUPACIONAL

RESENHA CRÍTICA DO FILME “E SEU NOME É JONAS” EM ARTICULAÇÃO COM O


REFERENCIAL TEÓRICO ESTUDADO NO COMPONENTE MEDD57 - DEFICIÊNCIA E
SOCIEDADE

LAÍSA DE JESUS LUCIANO

SALVADOR, OUTUBRO 2023


UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA
CURSO TERAPIA OCUPACIONAL

RESENHA CRÍTICA DO FILME “E SEU NOME É JONAS” EM ARTICULAÇÃO COM O


REFERENCIAL TEÓRICO ESTUDADO NO COMPONENTE MEDD57 - DEFICIÊNCIA E
SOCIEDADE

LAÍSA DE JESUS LUCIANO

Resenha submetida às professoras Cibele


Nascimento e Janine Soub para avaliação parcial
no componente Deficiência e Sociedade

SALVADOR, OUTUBRO 2023


E Seu Nome é Jonas. Direção: Rich EUA, 1979.ard Michaels. EUA,1979. 1 DVD
(100 min)
O presente trabalho visa refletir acerca do filme “E seu nome é Jonas”, lançado nos
EUA no ano de 1979. A obra relata a história de um menino chamado Jonas que é surdo, mas
foi diagnosticado, erroneamente, ainda enquanto criança como deficiente intelectual. Após
permanecer por um período em um hospital para crianças com DI e perceberem o engano no
diagnóstico, Jonas retorna para casa e o filme retrata os percalços vividos por Jonas após a sua
volta.
O longa-metragem é baseado em uma história real e é a realidade vivida por muitos
surdos.
Assim, os sujeitos surdos pela defasagem auditiva enfrentam dificuldades para entrar
em contato com a língua do grupo social no qual estão inseridos (Góes, 1996). Desse
modo, no caso de crianças surdas, o atraso de linguagem pode trazer consequências
emocionais, sociais e cognitivas, mesmo que realizem aprendizado tardio de uma
língua. (Lacerda, 2006, p. 165)

O processo de diagnóstico da surdez na infância é em muitos casos tardio, devido a


topografia da deficiência auditiva nessa idade se assemelhar a topografia de pessoas com DI
leve. Dessa maneira, devido a falta de acessibilidade, compreensão e entendimento sobre a
surdez em seu contexto social, Jonas era privado de estímulos adequados e por isso não
atendia a comandos verbais simples e apresentava dificuldades de comunicação o que fizera
com que ele fosse diagnosticado errado pelos médicos.
Dessa forma, ao acompanhar os desafios enfrentados pelo garoto, o telespectador
passa a entender pouco a pouco a dor que ele possui por não ser compreendido e nem sempre
conseguir compreender o meio em que convive. Em diversos momentos o seu pai perde a
paciência, mas, em contrapartida, a mãe busca incessantemente entender Jonas e suas
intenções comunicativas. Ela tenta ensinar palavras a Jonas, busca ajuda profissional para
Jonas utilizar aparelho auditivo e também o leva a um local com aulas e terapias que
estimulam a oralidade em crianças surdas.
Entretanto, quando introduz e reflete mais detalhadamente acerca desse ambiente, o
filme traz que o local onde Jonas estava fazendo terapia objetivava apenas integrar as pessoas
surdas na comunidade ouvinte mascarando a surdez dessas pessoas. Além de proibir o uso da
Linguagem de Sinais e incentivar o uso de aparelhos auditivos ainda que traga desconfortos,
as crianças também eram expostas a um método extremamente regrado de ensino da
oralidade. E esse paradigma, que se baseava no esforço pessoal e individual da pessoa com
deficiência para se inserir na sociedade, não considera adequadamente as barreiras sociais,
físicas e atitudinais que dificultam a participação plena de todos.
É nessa linha contextual que passou a se sustentar no Brasil um modelo educacional
de integração dos portadores de necessidades especiais, no qual se defendia a
inserção desses alunos no âmbito educacional, firmando a ideia de que ele deveria se
adaptar ao meio e não o meio a ele. Alves e Barbosa (2007) salientam que o
tratamento que se dava a esses alunos buscava adaptá-los e normalizá-los,
negligenciando toda singularidade existente. Era necessário analisar a criança e
verificar se a mesma conseguiria se adaptar ao meio. É um modelo que trabalha o
indivíduo, buscando moldá-lo ao meio social. (Araujo, 2013, p. 17)

Atualmente, os estudos e políticas apontam que tais condutas não constituem o


modelo ideal de intervenção para as pessoas surdas, mas naquela época ainda havia
discussões acerca do modelo de ensino ideal. Contudo, apesar de termos alcançado grandes
avanços em políticas públicas, leis e disseminação de informações sobre a causa, a realidade
mostrada no filme na década de 70 ainda é pertinente nos dias atuais, pois a comunidade surda
continua a enfrentar barreiras como as relatadas na obra.
Após conhecer pessoas da comunidade surda, a mãe de Jonas é apresentada a um
mundo completamente novo. Logo, ela decidiu proporcionar a Jonas o contato com a
Linguagem de Sinais e a vida de Jonas tem um grande avanço em todas as áreas como, a
exemplo, a área social, a área de lazer e dos estudos. E o garoto desempenha suas atividades
de forma excelente, motivada e feliz quando as barreiras existentes no início de sua vida são
retiradas.
O relato mostrado no filme reafirma a ideia de que a deficiência não está na pessoa, a
deficiência está na sociedade e no meio em que esse indivíduo pode estar inserido. Pois,
quando o ambiente foi alterado, ou seja, quando as barreiras deficientes foram removidas,
Jonas pôde acessar o mundo à sua maneira sem grandes limitações. Vivemos em uma
sociedade deficiente, mas obras como essas nos ajudam a combater esses pensamentos
limitantes e promover um mundo mais acessível para além da acessibilidade arquitetônica,
mas promover uma acessibilidade atitudinal que é tão importante e necessária quanto às
demais formas de inclusão.
O momento final do filme demarca o seu ano de produção, pois Jonas passa a estudar
em uma escola para surdos, essa conduta difere do modelo de inclusão atual. Entretanto,
integrantes da comunidade surda não estão em comum acordo quanto a qual modelo os inclui
melhor.
Comunidades organizadas em torno da defesa de segmentos populacionais
marcadamente desrespeitados, como os surdos, têm afirmado com convicção a
impossibilidade de escolarização conjunta. Alguns dos argumentos: direito a uma
língua integralmente acessível por meio da experiência visual e utilizável enquanto
real instrumento de comunicação/diálogo, busca pela experiência subjetiva e coletiva
da perda auditiva enquanto um traço diferencial e não demeritório, necessidade de
construção e fortalecimento da identidade, entre outros. (Angelucci, 2010, p. 38)
Esse ponto urge o início de discussões na esfera da educação e política, pois ouvir o
que a comunidade tem a dizer é extremamente importante para a construção da política.
A evolução da inclusão de pessoas com deficiência no sistema educacional brasileiro é
marcada por diversas iniciativas e políticas adotadas ao longo dos anos. Entretanto, a mera
existência de leis e políticas não garante uma inclusão efetiva. É fundamental que haja
esforços contínuos para garantir que essas leis sejam implementadas e que as barreiras à
inclusão sejam superadas. Outrossim, de acordo com Soares, Cardoso e Gallo (2019, p. 22) a
escola precisa ser receptiva, livre de barreiras atitudinais e arquitetônicas. Essa é uma
consideração fundamental, pois a atitude da comunidade escolar desempenha um papel
crucial na promoção da inclusão e a inclusão verdadeira requer um compromisso contínuo de
todos os envolvidos no processo educacional. Dessa maneira, o papel do terapeuta
ocupacional na orientação é crucial.

Considerações finais

O filme aborda temas como a importância da comunicação e do apoio familiar na vida


de uma pessoa surda, assim como as barreiras sociais e educacionais que ainda existem
atualmente. Uma das principais mensagens transmitidas pelo filme é a necessidade de
compreensão e respeito pela diversidade. Através da história de Jonas, é possível refletir sobre
a importância e o impacto de oferecer oportunidades igualitárias para todas as pessoas,
independentemente de qualquer condição. O filme nos mostra como a falta de conhecimento e
sensibilidade pode afetar profundamente a vida de uma pessoa surda, restringindo suas
oportunidades de desenvolvimento e participação na sociedade.
Outro aspecto destacado pelo filme é a importância da Linguagem de Sinais como
uma forma legítima de comunicação para os surdos. Ao mostrar as tentativas da mãe de Jonas
em ensiná-lo palavras e levá-lo a terapias que estimulam a oralidade, o filme evidencia as
limitações desse enfoque unidimensional. A valorização da Linguagem de Sinais é
fundamental para promover a inclusão e garantir que os surdos possam se expressar
plenamente.
O filme traz, de maneira clara e objetiva os impactos de privar uma pessoa de
estímulos adequados e respeitosos para o seu desenvolvimento, o que traz ainda mais
relevância para a obra, pois ocasiona reflexões importantes para a promoção da mudança de
um mundo mais inclusivo. O filme propõe e cumpre com maestria o papel de conscientização
sobre os desafios e percalços enfrentados por muitas pessoas surdas, além de apresentar a
importância da linguagem de sinais na construção do sentimento de identidade e
pertencimento, e também fomentar discussões sobre o modelo de inclusão educacional
vigente.

Referências

ANGELUCCI, Carla Biancha; LUZ, Renato Dente. Contribuições da escola para a (de)
formação dos sujeitos surdos. Psicologia Escolar e Educacional, v. 14, p. 35-44, 2010.
Disponível em: https://www.scielo.br/j/pee/a/Dzf54DpHG5gD3XyJZyh58Sf/. Acesso em: 10
de Novembro de 2023

ARAUJO, Carla Ravena Soares. Os desafios da inclusão do Portador de Necessidades


Especiais Auditivas em escolas do ensino regular no Brasil: uma revisão da literatura.
Monografia). Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cachoeira, BH, Brasil, p. 1-
37, 2013. Disponível em:
https://www.ufrb.edu.br/gestaopublica/images/imagens/Politicas_publicas_e_democracia/
RAVENA_Desafios_da_inclus%C3%A3o_de_nec_espec_auditivas.pdf. Acesso em: 10 de
Novembro de 2023

LACERDA, Cristina Broglia Feitosa de. A inclusão escolar de alunos surdos: o que dizem
alunos, professores e intérpretes sobre esta experiência. Cadernos cedes, v. 26, p. 163-184,
2006. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ccedes/a/KWGSm9HbzsYT537RWBNBcFc/?
format=html. Acesso em: 10 de Novembro de 2023.

AVELAR, T. A. S.; ALMEIDA, F. C.; GALLO, G.C. RESSIGNIFICANDO O PAPEL DA


TERAPIA OCUPACIONAL NA EDUCAÇÃO: da educação especial à inclusiva. In:
NEPOMUCENO, R.; et. al. Terapia Ocupacional em Educação Inclusiva: contextos de
atuação da Terapia Ocupacional na escola. Chapecó - SC: Inclusão Eficiente, 2019, p. 19 -
30. Acesso em: 10 de Novembro de 2023.

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