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Edição Especial | Agosto de 2020

Educação na
Prof. Erik Ferreira Nunes

Licenciado em História pela

Diversidade de Gênero:
UNIASSELVI e graduando em
Geografia pela Universidade
Cidade de São Paulo

A Importância da (UNICID).

Representatividade Prof.ª Dr.ª Adriana

na Aceitação de Si
Aparecida Furlan

Doutorado em Geografia

e do Outro
(Física) pela Universidade
­de São Paulo – USP.
E-mail: adriana.furlan@
cruzeirodosul.edu.br
Resumo
Este trabalho abordará a importância da representatividade de gê-
nero nas escolas. Focado nas diversas masculinidades e feminilidades,
perpassa pelas identidades e expressões do espectro de gênero não-
-binário, debate o que é gênero, identidade e representatividade, e uma
educação crítica que permita a construção do respeito a si e ao outro.
Palavras-Chave: Identidade de Gênero; Educação; Representati-
vidade; Currículo Oculto; Cultura Hegemônica.

Abstract
This work will address the importance of gender representation
in schools. Focused on the different masculinities and femininities, it
goes through the identities and expressions of the non-binary gender
spectrum, debates what is gender, identity and representativeness,
and a critical education that allows the construction of respect for
oneself and the other.
Keywords: Gender Identity; Education; Representativeness; Hidden
Curriculum; Hegemonic Culture.

Introdução
A escola é um dos maiores espaços de convivência presentes em
nossa sociedade. É na fase escolar, considerando primariamente a
respectiva faixa etária, que o indivíduo constitui-se como cidadão e
agente social.
O espaço escolar é peça-chave para a aprendizagem do convívio
interpessoal. Nele, são constituídas bases - e cicatrizes - que carre-
garemos por toda vida, cada uma delas dificilmente encontrando
meios de ser ressignificada em tempos posteriores.
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Por sua relevância na vida social, é impres- estrutura idiomática importante que gera, sim,
cindível que a escola propague de forma sau- uma importante representatividade às pessoas
dável a convivência com as diferenças. Nossa não-binárias; todavia, esta pesquisa visa muito
sociedade tem demonstrado cada vez mais um mais atingir os setores sociais que pouco ou nada
leque imenso de modos de vida, perpassando conhecem sobre identidade de gênero e espectro
cultura, sexualidade, afetividade, expressão e não-binário. Mesmo que venha a ser relevante
identidade de gênero. E cabe à escola ensinar a para grupos e indivíduos não-binários, o foco
compreensão e o respeito a essas diversidades, primordial é desfazer a toxicidade do senso co-
de forma a permitir que cada pessoa possa mum e permitir que o debate da aceitação das
desempenhar suas formas de expressão sem diferenças chegue mais longe. Por tanto, é preciso
riscos à sua integridade física e psicológica. que seja acessível muito mais a quem desconhe-
ce os conceitos em torno da não-binaridade de
Desta forma, esta pesquisa visa entender a
gênero do que a quem os conhece.
diversidade de gênero, principalmente o espectro
não-binário, nos espaços de vivência e convivên-
cia, assim como a importância do ensino à diver- Representatividade
sidade e da representatividade das diferenças
de Gênero na Educação
nas escolas. Também busca pensar as estruturas
educacionais de modo a compreender essa di- Dentre os espaços de formação do indivíduo,
versidade, principalmente de gênero, dentro dos o ambiente escolar por vezes rivaliza com o fa-
currículos educacionais e de todos os espaços miliar. É na escola que o indivíduo tem contato
escolares de ensino-aprendizagem. com outros que não sejam sua família, com ou-
tras crenças, outras culturas, outras percepções
Este trabalho está dividido em dois momentos.
de mundo. Mesmo na mais tenra idade, essas
O primeiro apresenta um levantamento biblio-
diferenças se sobressaem nas relações inter-
gráfico sobre os quatro conceitos basilares para
pessoais, gerando afinidades ou afastamentos.
a compreensão do tema: educação, identidade,
representatividade e gênero. Num segundo mo- Além de formarem o indivíduo como parte da
mento, se debaterá sobre as identidades de gê- sociedade, a escola e a família – mas, principal-
nero não-binárias, a forma com que a educação mente, a escola para este estudo - formam-no
vê e trabalha com a diversidade de gênero e, por como sujeito ou coisificam socialmente. Permitem
fim, a importância da representatividade sobre que ele seja livre ou prendem-no dentro de di-
uma educação libertadora e fomentadora da versas camadas de expectativas, normatizações
transitividade crítica. e papéis sociais.

Questões de representatividade têm apre- O indivíduo pode sair da escola - ou ir além


sentado, atualmente, crescimento nos campos da própria família - como agente social e de
sociais. Como tema recente, ainda encontra-se transformação social ou como multiplicador
poucas produções acadêmicas, principalmente do senso comum e do status quo. Desde suas
na perspectiva da não-binaridade de gênero. escolhas profissionais até a (não) aceitação de
Portanto, usaremos algumas pesquisas sobre sua forma de expressar-se, tudo passa pela
representatividade negra para embasar nosso formação escolar.
pensamento, adaptando-as para as questões
Por isso é tão importante que o indivíduo
pertinentes ao gênero.
tenha liberdade para perceber-se como sujeito
Optou-se, aqui, por não utilizar linguagens e entender seu lugar no mundo. Essa liberdade
neutras. Por mais que sejam difundidos nos perpassa pela aceitação de quem ele é pelo
­espaços de representatividade, alguns padrões meio em que se insere, sem riscos de qualquer
de “neutralização” do idioma escrito e falado, esse forma de violência, e pela percepção de que ele
debate não urge no presente trabalho. É uma não é único e, consequentemente, “anormal”.

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Essa visão sobre o que é “ser normal” está vin- O entrevistado C é professor da rede públi-
culada com a percepção de que há iguais a si, de ca municipal de ensino básico e desempenha
que não se é sozinho. Por isso, a representativi- funções de assessoria pedagógica a escolas de
dade vem a ser tão importante no meio escolar ensino fundamental na Secretaria de Educação
e sua discussão passa a ser tão relevante. do município em que vive. É um homem cisgênero
homossexual. Estudou em escolas do estado do
Rio Grande do Sul entre os anos de 1985 e 1997.
A Estrutura Escolar Frente às
Concepções de Gênero
A Concepção Social de Gênero­
A instituição escolar molda os alunos de Dentro da Escola
acordo com preceitos sociais que julga como
corretos. Essas concepções se dão de acordo As entrevistas relatam a existência de um
com a sociedade em que a escola está inserida padrão de comportamento social para os ho-
e são oficializadas através da documentação mens e outro para as mulheres. Falam sobre a
pedagógica que esta produz. Desta forma, o relação de poder entre masculino e feminino;
ambiente educacional gera em seus alunos e sobre a relação de poder entre os próprios
diversos impactos, positivos ou negativos. gêneros, onde a postura e o desempenho dos
papéis sociais são comparados, sobressain-
Para entender o impacto escolar referente
do-se aquele indivíduo que apresenta menos
às suas identidades sociais, buscou-se a per-
desvios do padrão socialmente imposto.
cepção de ex-discentes que hoje trabalham com
alguma forma de educação. Visou-se enten- A entrevistada A ressalta que as masculi-
der o papel, positivo ou negativo, da escola na nidades e feminilidades são diversas e que há
formação de suas identidades e, consequen- padrões de masculinidade e de feminilidade de
temente, nas rela­ções sociais. acordo com o contexto social em que se inserem.
Ainda assim, de acordo com o meio cultural, há
Esta pesquisa se deu a partir de entrevistas
com indivíduos cuja identidade de gênero foge do um padrão de gênero e uma relação de poder
padrão social e que hoje trabalham com moda- entre o masculino e feminino.
lidades de ensino. A perguntas foram divididas Em concordância, o entrevistado C aponta o
entre como eram as escolas em que estudaram, gênero como construção social e que a escola
como eram suas vidas como discentes e como é uma microestrutura da sociedade em que
são suas vidas profissionais. se insere. Logo, reproduz tudo que a sociedade
A entrevistada A é mestra, doutoranda, pro- produz em termos de comportamentos e rela-
fessora de pós-graduação e pesquisadora de ções sociais. Os papéis sociais são produzidos
gênero social e literatura. É pessoa transfeminina, na cultura e pela cultura, restando à escola a
mas ainda questiona-se sobre se sua identidade reprodução daquilo que a sociedade reafirma
é como mulher trans ou como travesti. Estudou ao longo do tempo.
grande parte da educação básica no estado Essa ideia é reforçada ao longo das entre-
do Rio de Janeiro, concluindo o ensino médio vistas. Nas falas dos entrevistados, as escolas
no estado de Minas Gerais, entre os anos de aparecem entendendo apenas uma única visão
1996 e 2005. de masculinidade e uma única percepção de
A entrevistada B é graduada na área de feminilidade, socioculturalmente estabelecido
música e trabalha com ensino de música e pre- de acordo com o local em que se insere e com as
paração de atores para teatro. É uma pessoa concepções nacionais de gênero. Essas estrutu-
de identidade não-binária, principalmente, e ras, por sua vez, demonstram permanência com
transfeminina. Estudou em escolas do estado o passar dos anos, visto que os entrevistados
de São Paulo, entre os anos 2000 e 2014. estudaram em períodos distintos.

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A entrevistada B aponta que a escola era uma “judaísmo ultraortodoxo”. Toda essa estrutura
das principais fontes que reforçava a masculinida- física e metodológica permitia pouca interação
de tóxica para os homens e feminilidade frágil para entre meninos e meninas.
as mulheres. A entrevistada A ressalta que qualquer
“B” relembra também que, por conta da
pessoa que desviasse desse padrão, mesmo quem
­estrutura religiosa da escola, os meninos tinham
possivelmente fosse transgênero, era colocada
algumas vantagens. Um exemplo citado é que
como dentro da perspectiva da homossexualidade.
podiam chegar atrasados sob a desculpa de
O entrevistado C relembra que até mesmo a que estavam na reza da manhã; outro exemplo
apropriação já citada dos espaços da escola, é que as brigas entre meninos eram relevadas,
por parte dos alunos, era uma reprodução au- enquanto as das meninas eram tratadas com
tomática dos papéis de gênero. Nessa estrutura, rigor e seriedade.
criavam-se as relações de poder dentro do
Desta forma, as posturas de gênero espera-
mesmo gênero: ressaltavam-se os meninos que
das pelas escolas eram de virilidade e brutali-
se destacavam nos esportes e/ou que tinham
dade por parte dos meninos e de delicadeza e
relacionamentos com várias meninas (“fama
resguardo por parte das meninas. Segundo o
de pegador”, segundo o entrevistado); e entre
entrevistado C, isso era visível entre os próprios
as meninas, adquiriam certo status aquelas
alunos, através do uso dos espaços da escola
que se relacionavam com meninos mais velhos.
por eles. Explica que essa apropriação se dava
Culturalmente entre os alunos, formava-se
pela produção clássica de que a masculinidade
assim aqueles que eram “mais meninos” que os
é forte, viril e habilidosa, já a feminilidade dar-
outros ou “mais meninas” que as outras.
-se-ia na intelectualidade e calmaria, sem que
Formalmente, as divisões estruturais nas es- se exercite demais.
colas eram referentes a filas e banheiros. Havia
Na experiência escolar da entrevistada A, quem
também divisão nas aulas de Educação Física,
fugisse dessas expectativas era repreendido, hu-
bem como em outras atividades esportivas.
milhado e castigado para “aprender” que sua
O entrevistado C comenta que a escola por si postura era incorreta e que deveria agir de acordo
só é generificada e tem marcadores de gêneros com o gênero que lhe fora designado. Reforça que
por todos os espaços. Aborda a predominância havia desde “piadas” dos professores até exposi-
masculinas na apropriação dos espaços espor- ção desse aluno por parte da direção. Comenta
tivos, enquanto às meninas restavam espaços que o bullying e a violência verbal eram muito
como a pracinha, a biblioteca e brincadeiras naturalizados pelas instituições, que só agiam
como pular corda. em caso de violência física. Cita que uma menina
Trata também das atividades feitas pela es- poderia ser suspensa se fizesse bagunça tal qual
cola, como as competições entre meninos e me- os meninos, pois era uma atitude esperada deles.
ninas. Segundo “C”, nas gincanas escolares havia A entrevistada B revela que a escola não li-
o desfile da “Garota Gincana”, um concurso de dava com questões de bullying e violência entre
beleza que concedia pontos às equipes das ven- alunos, inclusive tolerava e considerava comum
cedoras, o que o entrevistado julga como absurdo a violência física entre os meninos. Fala também
que ocorresse dentro do espaço escolar. que as meninas que fugiam do comportamento
A entrevistada B relata que, por ter estudado padrão eram vistas como delinquentes, enquanto
em escolas judaicas, as atividades religiosas, os meninos eram taxados de “viadinhos”. Segundo
tais quais as aulas de política, também eram “B”, essa ruptura com o comportamento espera-
separadas por gênero. Também comenta so- do fazia com que os professores tivessem uma
bre o “chapeuzinho”, segundo ela, que apenas relação diferente­com esses alunos. Todavia, era
os meninos podiam usar, de acordo com os o costume da instituição ignorar essas posturas
preceitos do judaísmo professado por essas fora do padrão, dado que eram raras, não to-
instituições; o que a entrevistada chamou de mando nenhum posicionamento.

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Por sua vez, o entrevistado C comenta que tam grandes avanços nos debates de gênero
existem medidas corretivas de pedagogia de e sexualidade, bem como a entrada de profis-
gênero, na qual a instituição e os professores sionais LGBT e novas abordagens acadêmicas
buscam práticas curriculares para educar nas escolas, como promessas de mudança.
meninos de uma forma e meninas de outra.
O entrevistado C demonstra otimismo ao fa-
A negação e correção ou a concordância fren-
lar que, como trabalha na Secretaria de Edu-
te às ações do educando, ou mesmo piadas e
cação, conhece muitas escolas progressistas,
ameaças de colocá-lo junto ao gênero oposto, que trazem a temática dentro do projeto políti-
são formas de reforçar ao discente as posturas co-pedagógico, trabalhando-a e debatendo-a
entendidas como corretas. ativamente com os alunos. Porém, admite que a
O entrevistado C também relembra que o maioria das instituições ainda reproduz o modelo
SOE era usado como mediador de situações de hegemônico dos padrões enraizados de gênero.
violência, aplicando sempre medidas corretivas A entrevistada A reconhece que teve sua femi-
comumente relacionadas a pedagogias de gêne- nilidade muito castrada. Diz que ouviu algumas
ro. Não havia um debate ou uma ação preventiva “piadas” esporádicas, mas que por ser a pessoa
quanto ao bullying, apenas reações que visavam mais nova das turmas em que estudou, era pro-
abafar o caso e acalmar os ânimos; a instituição tegida e não sofreu outras violências frente a
escolar só viria a agir frente à violência física, questões de gênero no período de escola.
ignorando os motivos reais do conflito.
A entrevistada B comenta que essa estru-
Quanto a expectativas de desempenho dife- tura escolar influenciou seu comportamento
renciadas nas disciplinas escolares, relatou-se durante esse período. O entrevistado C relata
cobrança maior sobre os meninos quanto às que, por sua masculinidade fugir do padrão,
atividades físicas, enquanto a cobrança sobre o entrevistado comenta que sofria violência
as meninas se dava em disciplinas que exigiam verbal continuamente na escola.
menos do corpo. A entrevistada B comenta
A entrevistada A diz que foi compreender
também que os meninos eram mais cobrados
na graduação a forma como se sentia, onde
nas aulas de religião, dado que o judaísmo
conheceu pessoas trans, iniciando seu processo
­“ultraortodoxo” tem protagonismo masculino.
de autodescoberta. A entrevistada B comen-
Segundo a experiência do entrevistado C, ta que iniciou sua desconstrução de diversos
havia expectativa de bons desempenhos dos preceitos sociais, inclusive de questões socio-
meninos na área da tecnologia. Já as expec- políticas que lhe eram pertinentes por viver em
tativas sobre as meninas se davam quanto ao uma sociedade culturalmente religiosa (como
esforço, à dedicação, ao cuidado, ao capricho, o conflito em Israel e Palestina), a partir dos
à organização e ao silêncio. intercâmbios que fez. O entrevistado C, por sua
Em todas as entrevistas, foi relatado que vez, diz que encontrou representatividade ao
nenhuma escola trabalhou qualquer questão integrar o grupo de dança, na faculdade, onde
de gênero. Mesmo as questões de feminismo e encontrou muitos homens homossexuais e teve
outros debates comumente presentes na dis- liberdade total para expressar-se através de
ciplina de Sociologia. seu corpo.

Desta forma, a representatividade de gênero é


A Representatividade vista como um ponto importante, tanto vinda do
corpo docente quanto entre o corpo discente. Em
de Gênero na Escola
todas as entrevistas é citado que a representati-
As pessoas entrevistadas concordam que vidade é a chave para o autorreconhecimento e,
a escola é um ambiente castrador quanto a consequentemente, para a autoestima. Ao mesmo
identidades de gênero variantes. Todavia, apon- tempo, torna o ambiente escolar mais agradável

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e aconchegante, pois ajuda a combater o bullying, serve de representatividade para os alunos


quebrando os tabus sobre as questões de gênero. LGBT. Ela comenta que os alunos fizeram, in-
clusive, abaixo-assinado solicitando que ela
Na ausência dessa representatividade, a
entrevistada A relata que passou por sensa- desse aula na graduação, que acredita que os
ção de deslocamento social e demora no re- alunos sentem falta de alguém que tenha uma
conhecimento da própria identidade, muitas identidade de gênero variante do padrão e que
vezes por não ser vista ou entendida como uma percebe que os alunos ficam felizes em tê-la em
possibilidade. A entrevistada B, por sua vez, diz sala. Desta forma, foi possível inferir, durante
que sofreu muita violência física e psicológica a entrevista, que a entrevistada A, por servir
de colegas e que, portanto, reproduzia essa de representatividade para alunos e alunas
postura violenta e todo padrão social, dado LGBT, serve de representatividade para diver-
que era o único que conhecia. sas masculinidades e diversas feminilidades.

O entrevistado C relembra que se sentia des- Segundo a entrevistada B, não apenas ela,
locado e sozinho, principalmente no tocante mas toda a escola de teatro permite uma re-
à sexualidade. Retoma que estudou em uma presentatividade de gênero. Comenta também
época em que a AIDS era uma polêmica forte, que sempre inicia diálogos ou é procurada por
com o filme Filadélfia, onde a personagem do pessoas com dúvidas ou interesse nos assuntos
ator Tom Hanks contrai HIV, morrendo em um pertinentes a gênero e sexualidade.
ano, e com a face do cantor Cazuza, já em fase O entrevistado C diz que sua caminhada
terminal, estampada nas capas de revistas bra- como professor é pautada por intervenções
sileiras. A representação da homossexualidade pedagógicas frente a situações de preconceito,
na época era a doença e, por falta de repre- principalmente de homofobia. Relata que sua
sentatividade, “C” tinha “pânico moral”, segundo
boa relação com os alunos faz com que estes
ele, ao imaginar descobrindo-se homossexual.
aproximem-se dele e acabem se policiando
Essa abertura pedagógica do ambiente es- para não o ofender de alguma forma.
colar para os profissionais LGBT vem a per-
Também comenta que é comumente procu-
mitir que essa necessária representatividade
rado por alunos e alunas homossexuais como
se faça presente. Mesmo que ainda incipiente,
ouvinte de suas angústias ou dúvidas; que a
esses profissionais se fazem presentes de forma
presença dele como professor permite que es-
franca e aberta, abraçando a diversidade que
ses alunos verbalizem seus sentimentos. Por
seus alunos representam.
sua masculinidade cisgênero fora do padrão,
A entrevistada A, ao falar sobre sua atuação durante a entrevista, foi possível inferir que “C”
como educadora, inclusive enquanto bolsista também serve de representatividade para os
do PIBID (Programa Institucional de Bolsas de alunos e as alunas cisgênero que apresentam,
Iniciação à Docência) junto a turmas norma- respectivamente, masculinidade e feminilidade
listas, aponta que é imprescindível pontuar o fora dos padrões.
ensino-aprendizagem no diálogo e na valori-
zação da diversidade, permitindo que os alu-
nos tenham liberdade e possam se reconhecer
Observações Sobre Uma
melhor. Aponta que suas falas e seus diálogos Educação Libertadora
sobre as questões de gênero não como tema de Sobre suas percepções para uma educação
uma aula, mas de forma transversal, visando mais libertadora e menos castradora de forma
apontar aos seus alunos que há muitas questões geral, todas as entrevistas apontaram para a
além das estruturas hegemônicas.
diversidade cultural. Segundo a entrevistada
Assim, a entrevistada A acredita que sua B, é necessário que o ambiente considere válido
presença como professora da pós-graduação todo tipo de autoconhecimento.

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O entrevistado C comenta que essa educa- de poder, desde o nível macro - como discursos
ção se dá através do diálogo, do processo de es- instalados em todos os setores sociais - até o
cuta e de troca, entre professor, aluno e todos os micro - como as situações isoladas em sala de
membros da comunidade escolar, incluindo os aula. Assim, a escola tem forte influência, através
órgãos democráticos, como o conselho escolar de suas práticas, na forma como as pessoas se
e o grêmio estudantil. Aponta que é necessária percebem e agem.
uma horizontalidade, nunca uma verticalidade,
A família é o primeiro setor social em que
entre professor e aluno, permitindo que todas
­alguém se insere e, por vezes, é o mais importante.
as vozes sejam ouvidas e que as ações dentro
Nele são reformados diversos conceitos desde
da escola sejam pensadas democraticamente.
a infância, principalmente sobre sexualidade
A entrevistada A fala sobre a necessidade e gênero. Para Jakimiu (2011, p. 3.553), a família
de a educação ser pensada para todos, logo, “Educa o menino para exibir seu sexo, gostar dele,
fugindo dos estereótipos de gênero e a partir ostentá-lo orgulhosamente (...). Já com relação à
do entendimento de gênero como construção menina, dá-se o contrário; obriga-se a esconder
social que pode ser modificada. Aponta tam- seu sexo (...) a não ter uma relação afetiva com
bém para a necessidade da compreensão do sua identidade sexual”.
gênero como uma estrutura que vai além do
binarismo e que há muito mais identidades de
Os reforços de utilização de determinadas
gênero que apenas duas; que a binaridade faz cores (azul para meninos, rosa para meni-
parte do gênero, mas que o gênero não pode nas), as regulações nos modos de ser e es-
partir dela. Cita também a importância de dis- tar, os brinquedos que são dados às crian-
cursos sociais e culturais, não apenas falado, ças e outros exemplos (...), serão exercícios
como também escrito, que permitam ao dis- do poder (re)construtores das normas de
cente viver, perceber e se contactar com suas gênero. São técnicas para a conformação
diversas formas sociais. dos corpos – do modo de cortar o cabelo
ao modo de ser e estar no mundo – para
Constitui-se, assim, o pensamento em co- que se concretize a continuidade entre
mum de que é necessária uma reestruturação sexo, gênero e futuramente desejo. (REIS,
das relações sociais dentro da escola para que 2017, p. 171)
a educação não seja um agente castrador dos
alunos. Para que a instituição de ensino seja um Essas concepções aparecem em todas as
agente transformador que permita aos alunos ­estruturas sociais. Conforme Souza e Costa (2017,
a livre formação de sua identidade social e p. 8), “A sociedade impôs uma divisão binária entre
adequada construção de seu conhecimento, os gêneros, na qual há espaço somente para o
é necessária uma estrutura representativa
masculino e o feminino. Isso se reflete em vários
da diversidade social, constituída de forma
setores da sociedade, como produtos, serviços,
plenamente democrática.
alimentação, dentre outros”.

A escola é outro espaço micro de vivência


Educação Hoje e a dessas identidades de acordo com o que será
Diversidade de Gênero aceito ou não em espaço macro, com os ensina-
mentos escolares formando ideais identitárias.
A identidade é uma performance de algo ina- “É dentro da instituição escolar que a cultura
cabado, formando-se a partir das experiências dominante é legitimada, ao mesmo tempo em
individuais. Ela estrutura-se de acordo com a
que as outras são excluídas” (BRIGHENTE e
leitura que o indivíduo tem de si em relação ao
MESQUIDA, 2016, p. 174), pois ela é “(...) um espaço
mundo em torno e aos seus símbolos mutáveis.
de (re)produção das estruturas sociais, onde
Desta forma, para Pinho e Reis (2016), a identi- existem barreiras que impedem a expressão
dade apresenta ligação com as relações sociais das diferenças, ou seja, deve-se agir de maneira

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‘normal’ para pertencer ao contexto escolar” e mulheres foi negado, seja pelos colonizado-
(REIS e GOULARTH, 2017, p. 90). res, pelos jesuítas (os primeiros educadores
brasileiros), seja pela família ou pela escola”
É importante ressaltar como as construções
(BRIGHENTE e MESQUIDA, 2016, p. 158). Toda
de práticas escolares moldam comportamentos
essa estrutura que visa objetificar sujeitos e
em diversos níveis da identidade e do modo de
moldar corpos, quando na escola, é chamada
agir das pessoas. Tais quais as atividades em
de “ensino bancário” por Paulo Freire.
grupo têm por intuito ensinar discentes a tra-
balhar e conviver em grupo, também o espaço Para Brighente e Mesquida (2016), a partir
escolar ensina a prática do silêncio e modos de Paulo Freire e Michel Foucault, a pedagogia
de sentar-se. de negação e moldagem do corpo é possível ao
poder disciplinar do ensino bancário baseado
Ribeiro (2012) cita o Plano Nacional de Edu-
na vigilância e na punição. A reprodução do
cação, sob a Lei 10.172/2001, que foi conservador
saber e os métodos avaliativos suprimem a
ao tratar das temáticas de gênero e orientação
corporeidade e anulam as emoções, padroni-
sexual, mesmo tendo surgido em uma época de
zando e massificando homens e mulheres para
fortes debates sobre as necessidades de supera-
manutenção do sistema.
ção às desigualdades de gênero. Segundo Ribeiro
(2012), à luz de Guacira Lopes Louro, as políticas
curriculares são alvo dos setores conservadores Por conseguinte, essa visão de mundo que
nega e interdita homens e mulheres aca-
por seu interesse de regular e orientar os indiví-
ba sendo reproduzida e legitimada pela
duos dentro dos padrões que consideram morais.
escola. Educadores e educadoras, quan-
Para Brighente e Mesquida (2016), a entra- do negam seus educandos como sujeitos,
da de uma pedagogia libertadora tende a ser “fabricam” objetos para constituir a mas-
rechaçada pela cultura hegemônica pois toda sa homogênea e padronizada do modo
de produção capitalista, para produzir e
a libertação do corpo tende a ser vista como
reproduzir as regras e a cultura imposta
subversão, pois, ao conscientizarem-se, os in-
pelos dominantes, mantendo o status quo.
divíduos podem questionar o que lhe é imposto (BRIGHENTE e MESQUIDA, 2016, p. 159)
e fazer suas próprias escolhas. Essa postura li-
bertadora é rechaçada pela prática do ensino­
bancário, na qual a punição irá escolarizar os Nessa estrutura, o professor “deposita” conhe-
corpos e obrigá-los a ceder, atingindo não apenas cimento no “banco”, que é o aluno, ensinando-o
os alunos, mas domesticando também os corpos a reproduzir sem questionar e disciplinando-o a
dos professores. “O professor deveria ensinar seu não descumprir regras e submeter-se a hierar-
educando a perguntar, ou melhor, possibilitar e quias verticais e autoritárias. Nela:
oferecer esse espaço para seu corpo irrequieto,
mas, na verdade, nem ele foi educado para isso” (...) há uma interdição do corpo do edu-
(BRIGHENTE e MESQUIDA, 2016, p. 173). cando que se inicia pela proibição da pa-
lavra e se estende ao seu comportamen-
Devemos considerar que diversas constru- to, às suas emoções e ao seu modo de
ções sociais constituíram relações históricas ser no mundo. A prática pedagógica de
em que “(...) a escravidão alijou os afrodescen- educadores e educadoras está perme-
dentes da participação cidadã, os não heteros- ada pela docilização do corpo dos edu-
sexuais foram discriminados como portadores candos, portanto, dos futuros educado-
res. (BRIGHENTE e MESQUIDA, 2016, p. 173)
de transtorno mental legitimados pelo saber
médico, e a negação da competência intelec-
tual (...) fez com que as mulheres ficassem sem Esse corpo interditado e negado que Freire
registro na história” (ARAÚJO, 2014, p. 22). “Ao cita, segundo Brighente e Mesquida (2016), vem
longo da história do Brasil, o corpo de homens a ser denominado por Foucault como “corpos

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dóceis” e, mais especificamente no contexto Butler, a escola é responsável, através de práticas


educacional, por Louro como “corpos escola- reguladoras, por reforçar o currículo cultural
rizados”. O corpo escolarizado é aquele que: hegemônico, buscando legitimar o binário ide-
al das identidades de gênero imposto por esse
é capaz de ficar sentado por muitas horas currículo. Isto ocorre em práticas simples, como
e tem, provavelmente, a habilidade para na divisão em fileiras distintas para os meninos
expressar gestos ou comportamentos in- e para as meninas.
dicativos de interesse e de atenção, mes-
Essas práticas reguladoras constituem-se
mo que falsos. Um corpo disciplinado pela
em um currículo oculto repleto de exigências so-
escola é treinado no silêncio e num deter-
ciais que moldam os corpos e ignoram vivências
minado modelo de fala; concebe e usa o
tempo e o espaço de uma forma particu- além da escola. Mas também o currículo formal
lar. Mãos, olhos e ouvidos estão adestra- nega diversas existências, dado que “A disse-
dos para tarefas intelectuais, mas possi- minação de uma verdade única do discurso da
velmente desatentos ou desajeitados para Ciência favoreceu a eleição do homem branco,
outras tantas. (LOURO, 2000, p. 14) heterossexual, escolarizado e capitalista como o
protótipo da humanidade” (ARAUJO, 2014, p. 20),
Da mesma forma, o silêncio também é opres- pois “(...) a Ciência está intimamente ligada com
sivo, pois “(...) a proibição da pergunta expressa a formulação e execução de políticas sociais
uma proibição maior, reprimindo o indivíduo que vão regular e reger as instituições, como a
de expressar-se nas suas relações no mundo escola” (REIS e GOULARTH, 2017, p. 97).
e com o mundo” (BRIGHENTE e MESQUIDA, Em outras palavras, o gênero foi construído
2016, ­p. 173). Nesse silenciamento, “Em relação historicamente através da arte e da cultura
às sexualidades, é costume tratar com desa- erudita ocidental, que embasam o conheci-
provação aqueles e aquelas que não fazem mento científico das disciplinas escolares e
a presumível lógica da correspondência en- reforçam a subalternidade e a marginalização
tre o sexo – gênero – desejo e prática sexual” de quem foge do ideal estipulado. Portanto,
(ARAÚJO, 2014, p. 23). Não é à toa que o silêncio observemos que:
é parte importante do ensino bancário.

Esse corpo escolarizado, repleto de carac- A Ciência criou afirmações, especificações


terísticas de seu adestramento para a esco- comportamentais, por meio de um vocabu-
lário especializado, consensual para com
la, será testado fora dela; situação em que o
os seus pares, capaz de produzir exclusões,
ambiente escolar se molda como espaço de
tomando muitas vezes como parâmetro
reforço ou repreensão dos símbolos e signos um modelo universal. A incessante produ-
incorporados. “Assim, as posturas corporais ção discursiva sobre alguns essencialis-
aprendidas e assumidas na escola poderão mos alimentou o sistema com produções
ser potencializadas ou rejeitadas pela ação do determinísticas. Essas formas de controle
currículo cultural aliado às outras instituições, cotidiano dos corpos humanos podem li-
como a família e a religião” (REIS, 2017, p. 170). mitar suas ações, proibir certas formas de
amar, sistematizar horários, definir lugares
É importante considerar que, conforme Reis de estar, possibilidades de trabalhar, enfim,
(2017), os investimentos sobre os corpos são ins- essas formas de controle vão subsidiar o
táveis, variando de acordo com as diferenças direito de algumas pessoas legislarem so-
socioculturais, as crenças e/ou as ideologias que bre a vida de outras pessoas, inclusive seus
sonhos e projetos. (ARAÚJO, 2014, p. 22)
envolvem a escola. A construção dos corpos den-
tro da escola ocorre de forma única, complexa
e inacabada. Ainda assim, segundo Pinho e Reis Esse modelo educacional pode ser denomi-
(2016), a partir da filósofa estadunidense Judith nado como “educação binária”. Segundo Souza

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Edição Especial | Agosto de 2020

e Costa (2017), essa estrutura trata distinta- desse ideário dá-se por vias de conhecimento
mente os sexos anatômicos masculino e femini- alternativo, enquanto a identificação nasce de
no, considerando apenas atributos de caráter comparações com as vivências de outras pessoas.
biológico e partindo do pressuposto de que o
Essa troca de saberes e experiências pessoais
corpo define competências, comportamentos
que permite a auto(re)descoberta só acontece
e atributos. Os alunos são induzidos a determi-
graças às possibilidades da internet. Há diversos
nados comportamentos e privados de algumas blogs, sites e páginas de redes sociais que abor-
atividades, inibindo habilidades mais amplas e dam, exploram, explicam e divulgam, permitindo
limitando desejos e aspirações futuros. acesso a uma educação informal e não formal
Todas essas ações, mesmo as menores e cor- sobre o tema.
riqueiras, nos currículos formal e oculto acabam A internet possibilita a representatividade
reforçando uma ideia de que só há duas formas que o ambiente escolar - e a sociedade como
de identificar-se como indivíduo. Torna-se mais um todo - busca tolher, promovendo, assim,
difícil, então, explicar a quem cresce com essa uma ação de suma importância para a consti-
concepção binária de identidade, pois: tuição da identidade individual. Segundo Pinho
e Reis (2016), a não representatividade pode
Estando também a linguagem resumida a tornar o sujeito nulo, sem entender-se com suas
uma significação binária em torno da ma- particularidades ou perceber-se como ser so-
triz de gênero, também ela assume formas cial. A ausência de representatividade torna a
binárias de expressão – seja nas constru- pessoa um não sujeito, deslocado do mundo,
ções sociais em torno da linguagem cor-
inexistente, invisível, sem espaço ou lugar: logo,
poral, seja na construção da língua portu-
sem identificação nem identidade.
guesa que prevê adjetivos e substantivos
femininos ou masculinos. Assim, como Dada a existência de espaços informais e não
utilizar uma estrutura da matriz biná- formais inclusivos, cabe aos espaços formais
ria para explicar a não-binaridade? Fal- de ensino optarem por posturas menos exclu-
tam palavras. Sem contar a dificuldade
sivas. A escola é responsável pela construção
de construir palavras para não-binários
de sujeitos, onde a ação pedagógica produz
dentro de um sistema binário. Poderia di-
efeitos e deixa marcas nos indivíduos.
zer que falta sistema. Essas complicações
se agravam ao ponto de se banalizar a Para Bortolini (2014, p. 132), “A forma como
não-binaridade por não se compreender a ação educativa é pensada e, mais ainda, a
quaisquer termos próprios, questionando forma como se concretiza na sala de aula - e
mesmo a existência dessas identidades de
em tantos outros espaços da escola - pode
gênero. (REIS e PINHO, 2016, p. 21)
provocar transformações ou (re)produzir uma
série de exclusões ou desigualdades”. Assim,
Por outro lado, o mesmo poder “deformador” segundo Jakimiu (2011), tal qual ela é capaz de
que adestra corpos em padrões de costume reproduzir desigualdades de gênero, devem
pode tornar-se um poder “reformador”, per- ser locais onde estereótipos são eliminados,
mitindo diálogos e representatividade. Essa oferecendo a alunos e alunas as mesmas opor-
matriz social que não contempla, e por vezes tunidades e sem influências de preconceitos.
violenta, quem foge do padrão heteronorma-
Segundo Brighente e Mesquida (2016, p. 172),
tivo e binário só pode ser rompida com diálogo
para Freire, “(...) as gerações passadas lutavam
e representatividade.
por uma libertação mais social, e as atuais são
Para os autores lidos, enquanto o ambiente mais corporais. Isto é, o jovem hoje busca uma
escolar molda o indivíduo dentro de uma matriz libertação que seja permeada pelo prazer, pelo
binária, a (re)descoberta de si fica a cargo das amor, o que só é possível com o corpo”. Assim,
experiências vividas fora dele. A desconstrução saber o mundo só é possível de forma apaixo-

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Pluri Discente | Práticas Científicas

nada enquanto a amorosidade é necessária que é impossível desempenhar bem qualquer


na prática pedagógica, propiciando diálogo função social sem que se viva bem sua sexu-
em que professores e alunos relacionam-se alidade. Ele expõe, inclusive, que é preciso que
horizontal e não verticalmente. o indivíduo assuma o que é; desta forma, sua
fala serve também para as questões de gênero.
Para Brighente e Mesquida (2016), sob as
ideias de Paulo Freire, somente em uma peda- Na época, a transexualidade ainda era tida
gogia libertadora o indivíduo não tem seu corpo como doença pela OMS, e a homossexualidade­
negado ou interditado. É a partir do diálogo que há dois anos havia deixado de sê-lo: não é difícil
a escola deixa de lado o corpo escolarizado e prever que questões sobre gêneros não-binários
permite a formação de um corpo consciente, não fossem levantadas. Mas, tal qual a supressão
onde o educador está com seus alunos e per- da sexualidade, a imposição (ou autoimposição)
mite a eles ler o mundo de acordo com suas de um gênero também provoca debilidades ao
realidades sem negar-lhes - e unindo ao mundo se assumir suas funções sociais.
dos alunos - os conhecimentos acadêmicos e
Assim, é preciso romper com a normativi-
científicos das disciplinas escolares. É preciso
dade que cala e nega existências para permitir
que os alunos sejam livres para falar e expor
que o indivíduo constitua-se socialmente pleno
suas curiosidades e indagações.
durante seu tempo escolar. Porém, essa ruptura
não se dá através de imposições de identidades
(...) a transitividade crítica é possível com ou expressões de gênero aos alunos, dado que é
uma educação dialógica, que interprete os
preciso liberdade para que essa representação
problemas e tenha uma responsabilidade
seja construída.
social e política, e que coloque de lado os
preconceitos ao analisar os problemas. Isso
não acontece numa educação que nega o Nesse processo de conscientização do
corpo do outro, incitando-o a uma posição corpo negado, é importante assegurar
de mutismo. (BRIGHENTE e MESQUIDA, 2016, que o revolucionário ou o educador pro-
p. 167, grifo do autor) gressista não irá conscientizar o indivíduo
ou o educando-massa. Não irá depositar
nos corpos deles uma suposta “conscien-
A transitividade crítica, por sua vez:
tização”, pois assim estaria reproduzindo
o mecanismo da educação bancária, na
(...) se faz conhecida pela sua capacidade de qual aquele que detém o poder/saber pre-
perceber a causalidade dos fatos. Às vezes enche o corpo vazio dos que nada sabem.
é chamada simplesmente de consciência (BRIGHENTE e MESQUIDA, 2016, p. 168)
crítica e se caracteriza pela profundidade
na interpretação dos problemas.
Para Jakimiu (2011), somente através de uma
(...)
educação emancipatória é possível permitir
A consciência transitiva crítica é fruto de
uma superação dos preconceitos de gênero e
uma educação dialogal e ativa que ofereça
ao homem a possibilidade de tornar-se res- dos mitos da superioridade racional mascu-
ponsável no seu agir pessoal, social e políti- lina. “A ação educativa, além de permitir que
co. (OLIVEIRA e CARVALHO, 2007, p. 223) os sujeitos construam conhecimentos e com-
petências, também influencia o modo como
as pessoas que dela participam se entendem,
Em uma entrevista1 em 1992, Paulo Freire, en-
entendem as outras e o mundo, repercutindo
trevistado por Cortella e Venceslau, vem a dizer
na maneira como vão ser e agir nesse mundo”
1 CORTELLA, M. S.; VENCESLAU, P. T. O idealizador da Pe- (BORTOLINI, 2014, p. 131-132).
dagogia do oprimido relata passagens de sua ­infância
e juventude. Revista Teoria e Debate, ed. 17, 1992. Dispo- Segundo Araújo (2014, p. 25), essa educação
nível em: <https://bit.ly/2Zdbl4D>. Acesso em: 22 jun. 2019. crítica perpassará pelos professores que podem

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Edição Especial | Agosto de 2020

“(...) aproveitar as inúmeras situações que surgem sidade, perpetuando a ideia conservadora
no cotidiano escolar para lidar com as questões de gênero vinculada apenas a aspectos
biológicos. (REIS e GOULARTH, 2017, p. 90)
de gênero e de sexualidade, para buscar a pro-
blematização da heteronormatividade, inde-
pendentemente da disciplina em que lecionam”. Não apenas por aceitação de si e do outro,
mas também:

A Importância da
No que tange ao Direito da Criança e do
Representatividade para Adolescente, tem relevância de ser estu-
a Educação Libertadora dada uma vez que se busca apresentar um
meio para que sejam minimizadas as desi-
A identificação com os gêneros apresentados gualdades entre sexos, ainda tão presen-
socialmente como “comuns” nem sempre ocor- tes através de uma nova visão dos gêneros
re plenamente. Muitos indivíduos apresentam pela educação. (SOUZA e COSTA, 2017, p. 9)
expressões de gênero que destoam do padrão
social, trazendo em seus gostos e gestos símbolos Abordar a aceitação de gênero nas escolas
e objetos distantes do seu gênero ou considera- através da representatividade é demonstrar
dos pertencentes ao gênero oposto. Há diversas a existência dessas realidades sociais. É nor-
masculinidades e feminilidades acessíveis aos malizar, tornar palpável, tangível. É garantir
indivíduos sem que eles deixem de considerar-se a formação do indivíduo com a concepção de
cisgênero2, assim como há diversas expressões igualdade entre as pessoas, independentemente
de gênero para as diversas identidades. da forma com que se identificam ou expressam.
É importante levarmos sempre em conta que: A igualdade é um princípio constitucional
que, segundo Souza e Costa (2017), legitima
Existem inúmeras classificações que abran­ as garantias provindas a partir do Direito da
gem as formas de gênero de cada um, Criança e do Adolescente. Há o reconhecimento
que não são incorporadas pelo sistema jurídico de que todas as crianças e adolescentes
que rege atualmente a educação. A edu­ têm os mesmos direitos independentemente de
cação binária, ou seja, que se baseia sua etnia, sexo, religião ou cultura. Porém, essa
apenas no binômio de gênero masculino- igualdade ainda é quimérica principalmente no
-feminino acaba por excluir aqueles que
que toca questões de gênero.
não se encaixam em um ou outro gênero.
(SOUZA e COSTA, 2017, p. 3) Assim, consideremos que:

Desta forma, é imprescindível compreender A implementação dos direitos humanos,


principalmente no tocante a igualdade
a importância da representatividade das diver-
no aspecto material direcionada a infân-
sas expressões e identidades nas instituições
cia, pressupõe análise de todos os influxos
sociais, como a própria escola. Assim: que cercam a formação da subjetividade
infantil, partindo-se da premissa que o
(...) o tema faz-se necessário nas salas de direito não deve ser aplicado de maneira
aula uma vez que cotidianamente é possível isolada, desconsiderando-se a interdisci-
se deparar com indivíduos nas suas mais plinaridade que a proteção da infância e
variadas identidades que se tornam “invisi- seus direitos requer. Nesse sentido, a abor-
bilizados” por currículos, professoras, pro- dagem de gênero surge como categoria
fessores e disciplinas que ocultam a diver- analítica eficaz tanto para que se reve-
le discriminações de gênero quanto para
2 Pessoa cisgênera é aquela que identifica seu gênero que enfrente e impeça a perpetuação de
de acordo com seu sexo anatômico, conforme Bicalho situações pautadas no gênero que violam
et al. (2014). direitos. (SOUZA e COSTA, 2017, p. 11-12)

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Pluri Discente | Práticas Científicas

Dado que a escola é um dos principais espaços suas características que fujam desse padrão e é
de formação do indivíduo, dá-se aí sua impor- representado dentro desse escopo delimitante.
tante constituição identitária dos indivíduos e
O que foge do esperado, bem como o ques-
a importância de que seu ambiente permita a
tionamento dessa estrutura, é atacado por ser
representatividade de gênero, tal qual a repre-
entendido como ilegítimo. Mas o rechaço e o
sentatividade étnico-racial, cultural, sexual e silenciamento não são vistos como preconceito,
religiosa. O ambiente escolar tem sua importân- pois entende-se que o protagonismo - lugar
cia para esse processo social ampliada, tendo hegemonicamente do opressor - dado ao opri-
em vista que ele é um dos principais meios por mido seria privilégio, enquanto a igualdade é a
onde os conhecimentos científicos e acadêmicos estratificação dos espaços sociais.
são transmitidos aos indivíduos. Desta forma,
Essa negação do preconceito transfere a
é importante considerar que “As disputas pela
culpa para as vítimas e não é incomum que o
execução de novas políticas sociais, raciais e
opressor sinta-se ofendido por ser questionado
sexuais, deixam evidente que verdades sobre os
ou ter questionada sua superioridade. A luta
corpos e prazeres são (re)criadas no meio cientí-
do oprimido pelo direito a existir vira a busca
fico e, a cada mudança de perspectiva, poderão
por privilégios e não é incomum ouvir que esse
potencializar ou remodelar pontos de vistas da
desejo de viver com dignidade é o verdadeiro
sociedade” (REIS e GOULARTH, 2017, p. 97).
ato de preconceito do indivíduo oprimido contra
O currículo oculto das escolas - que pode si mesmo, pois estaria se vitimizando. Assim:
libertar ou castrar um corpo, tornando o indi-
víduo crítico ou não - é uma reprodução ins-
Cria-se a ideia de que o racismo está na
titucionalizada do currículo cultural. Este, por mente do próprio negro e que este se utili-
sua vez, é um dos principais perpetuadores da za dessa construção discursiva do ­racismo
cultura hegemônica e influencia diretamente para obter privilégios. Pratica-se o racismo
na socialização e na forma com que o indivíduo a partir da própria negação do racismo. Esta
percebe-se socialmente; sendo a mídia sua concepção, aliás, perpassa outras formas
principal divulgadora, dado que é a principal de preconceito, que não somente a racial.
O preconceito, e sua negação como forma
forma de acesso à cultura, representando uma
de escondê-lo, está ligado, também, à uma
forma intensa de exposição do senso comum
negação do outro, o que é inerente a qual-
a partir da indústria cultural. quer forma de discriminação. (VENANCIO
É importante levarmos em conta que a pro- e FARBIARZ, 2017, p. 66)
dução cultural é um dos principais fatores no
fornecimento de recursos para a constituição Todavia, essa instituição cultural pode causar
das identidades. Segundo Venancio e Farbiarz desconforto em quem não se vê no lugar e no
(2017), à luz de Stuart Hall, a tendência domi- estereótipo apresentado, provocando reflexão
nante é buscar a homogeneização cultural a quanto à forma com que a cultura hegemônica
partir do seu ponto de vista, produzindo rea- retrata as culturas periféricas. É nesse ínterim
lidades sociais que definem lugares e espaços que a representatividade passa a ser uma neces-
hegemonicamente predefinidos. sidade, quando o indivíduo marginalizado passa
Para Guimaraes e Sena (2016), a partir de a buscar seu lugar de fala e seu espaço social.
Stuart Hall, a representatividade se dá con- Quando a representatividade causar estra-
forme a produção do significado a partir da nhamento em quem não questiona a cultura
linguagem. Assim, estabelecido esse discurso, dominante, a educação vem como ferramenta
o oprimido, sob a expectativa de que se veja a do combate ao preconceito, conforme Venancio
partir do olhar hegemônico, passa a ser social- e Farbiarz (2016), a partir do antropólogo brasi-
mente incluído a partir da desconsideração de leiro-congolês Kabengele Munanga. A negação

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Edição Especial | Agosto de 2020

da representatividade gera diversos discursos diversos conhecimentos, indo além das disci-
de ódio, tornando urgente a discussão sobre o plinas escolares.
tema principalmente pela educação.
Esses debates não são apenas conhecimen-
“Tanto na cultura quanto na educação, se tos e saberes teóricos, mas a formação da cri-
encontram muitas das possibilidades de de- ticidade individual e do coletivo social em que
bate sobre os temas. Afinal, esses são alguns se insere. Eles precisam surgir e ser pautados
dos principais ambientes em que se constroem pelos debates sociais, indo além dos professores
identidades e se formam opiniões” (VENANCIO que, como qualquer outro indivíduo, possuem
e FARBIARZ, 2017, p. 64). A escola, então, quando seus valores morais construídos dentro e fora
lugar seguro, permite que o indivíduo expres- da escola. De difícil desconstrução ou recons-
se-se, abrindo portas para a cultura margi- trução, esses valores - sob riscos preconcei-
nalizada, construindo sua identidade e uma tuosos e alinhados com o senso comum - não
representatividade correta. Será permitido, podem interferir no diálogo com as diferenças.
assim, sob as ideias de Paulo Freire, que opri- Sendo assim:
midos e opressores libertem-se em conjunto.

A escola, então, é o espaço eleito socialmente Ao considerar que estamos tratando a


questão de gênero numa perspectiva
para a formação de saberes, percepções e his-
transversal e interdisciplinar e fruto de
tórias de vida, mesmo quando mergulhada na
uma adequação curricular, é preciso evi-
cultura hegemônica. Assim, “A obrigatoriedade denciar a importância da formação do
em passar pela Educação Básica e os mecanis- professor que se propuser a trabalhar a
mos legais para que essa se cumpra indicam uma temática, a fim de que suas abordagens
expectativa social depositada na instituição – e, sejam livres de moralismos e feitas de
logo, em suas regras, valores e percepções” (REIS forma séria e responsável, contribuindo
e GOULARTH, 2017, p. 92). para a desconstrução de preconceitos
pautados no senso comum.
Como já abordado, o currículo é um espaço (...)
de relação de poder, onde escolhas ideológi-
Quando a escola posiciona-se como de-
cas - geralmente da cultura hegemônica - são tentora do saber e reprodutora das es-
feitas para influenciar a formação do aluno, truturas sociais, romper com o precon-
sendo a sistematização das propostas institu- ceito de gênero, com a visão sexista de
cionais para os indivíduos e, consequentemente, mundo e propor uma educação liberta-
a sociedade. “Portanto, o Projeto Pedagógico dora, torna-se um desafio ainda maior.
e o Currículo da Escola devem ser objetos de (REIS e GOULARTH, 2017, p. 94)

ampla discussão para que suas propostas se


aproximem sempre mais do currículo real que É evidente que é mais “fácil” a representa-
se efetiva no interior da escola e de cada sala tividade de gêneros binários, sejam estes re-
de aula” (REIS e GOULARTH, 2017, p. 94), abrin- presentantes indivíduos cisgêneros ou trans.
do espaço para a comunidade escolar pensar Isso porque o gênero fica evidente através de
sobre as questões pertinentes à sua realidade sua materialização pelo corpo por meio da
e considerar questões da vida prática e da expressão de gênero e do nome social usado.
realidade social, como as questões de gênero. São “apenas” dois gêneros, os dois extremos
da polarização. Um homem é um homem, seja
Esse debate deve partir, não apenas dos
ele cis ou trans; uma mulher é uma mulher, seja
professores e a partir dos debates acadêmicos,
ela cis ou trans.
mas da vivência dos alunos e da comunidade
escolar. As questões de gênero - tais quais as Mas no que toca os gêneros não-binários, há
relações étnico-raciais, a diversidade cultural diversas identidades mais ou menos próximas
e religiosa e outros tópicos sociais - perpassam do feminino, do masculino ou da neutralidade.

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Pluri Discente | Práticas Científicas

Da mesma forma, as expressões de gênero po- Através dessa educação agênero, além de
dem deixar confuso um interlocutor que busca não limitar as identidades binárias através de
encaixar o indivíduo em padrões sociais biná- “atividades de menino” e “atividades de menina”,
rios. Ainda que com a mesma identidade, dois inseriria os alunos que se identificam de forma
indivíduos podem apresentar expressões de não-binária justamente pela ausência de classi-
gênero muito distintas. Isto torna mais com- ficações, separações e expectativas vinculadas
plicado que a representatividade direta, que ao sexo anatômico. A construção de um ambien-
se dê a partir de indivíduos de cada gênero te acolhedor e menos desigual seria facilitada,
(identidade + expressão) dentro do corpo do- permitindo que os alunos, independentemente
cente de uma escola. de seus corpos e identidades, sintam-se parte
daquele coletivo social. A ausência da “padro-
Desta forma, recorre-se a uma representati-
nização de gênero” no currículo oculto das es-
vidade por aceitação e permissão. Um ambiente
colas, abrindo espaço para uma perspectiva
escolar que abrace profissionais trans e não-
que escolarize e negue menos os corpos e as
-binários, que não castre alunos em padrões e
vivências, seria uma importante contribuição
expectativas sociais nem os limite em atividades
para a inclusão (e aceitação) social da não-bi-
físicas, artísticas e intelectuais, já torna-se um
naridade de gênero e, consequentemente, para
local seguro para que os indivíduos possam
a diminuição da desigualdade entre gêneros
explorar suas identidades.
binários e entre sexualidades.
Uma instituição que aceite as diversas fe-
minilidades e masculinidades, sem questioná-
Nesse sentido, a escola deverá buscar as
-las ou classificar os indivíduos como mais ou transformações necessárias para que já
menos cis (ou trans) torna-se um espaço de nas “séries iniciais” as crianças não se-
representatividade para as diversas expres- jam preparadas para agirem como ins-
sões de gênero. A autoidentificação expressa trumentos de violência, porque histori-
de professores e outros profissionais da escola camente a escola tem sido produtora de
como não-binários também permite que alunos racismos, sexismos e de homofobia, mas
esse espaço privilegiado do saber pode
não-binários - mesmo identificando-se com
ser também revolucionário nesse sentido.
outros gêneros - percebam-se e reconheçam-se
(ARAÚJO, 2014, p. 28).
nesses profissionais no que toca o afastamento
do padrão binário.
Por mais que, durante a construção do currí-
Assim, para que haja uma real igualdade
culo formal e (re)produção do currículo oculto,
entre gêneros, sem desmerecimento de alguma
a escola tente impor determinado projeto, o
identidade ou expressão, Souza e Costa (2017)
currículo real sempre acaba influenciado pelas
sugerem que se discuta a possibilidade de uma
vivências dos alunos e pela comunidade escolar
escola sem classificação, padrão ou separação
de forma geral. As mídias surgem em conver-
por gênero: uma educação agênero. Segundo
sas paralelas sobre novelas, séries e afins; as
esses autores:
redes sociais fazem-se mais presentes através
de memes e opiniões formadas, inclusive, por
Agênero é a ausência total de gênero ou a youtubers; a realidade dos alunos surge em atos
falta de algum tipo de gênero que se en- de insubordinação, comentários, dúvidas e até
quadre o indivíduo. Trata-se de um con-
dificuldades ou facilidades em determinados
ceito extremamente atual, uma vez que o
conteúdos. Desta forma:
mercado tem citado com frequência ao
se referir a produtos que não possuam
um gênero específico, ou seja, são ade- Adotar um método dialógico, onde o pro-
quados para todos os indivíduos. (SOUZA fessor se permite conhecer a realidade dos
e COSTA, 2017, p. 14) educandos, respeita a heterogeneidade

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Edição Especial | Agosto de 2020

do corpo de alunos e rompe com a pura identidade de gênero é o de buscar na antro-


transmissão do conhecimento, é uma pos- pologia (mesmo que não seja diretamente uma
sibilidade de construção de novos conhe- disciplina escolar) a apresentação de outras
cimentos e desnaturalização de aspectos
realidades sociais, com outras relações, valores
socialmente construídos, avançando no
e costumes; complementando conceitos socio-
trabalho de despertar a consciência crí-
tica, da forma como os estudantes leem o
antropológicos com biológicos e vice-versa, de
mundo. (REIS e GOULARTH, 2017, p. 94) forma a demonstrar que certas percepções
científicas são mais discursos sociais, culturais
e ideológicos do que dados naturais. A biologia
Da mesma forma que a escola deve reconhe-
não deixaria de ser uma ciência material, mas a
cer os saberes sociais e culturais dos alunos,
metodologia permite que estude e reconheça os
precisa ter a responsabilidade de contrapor
corpos sem patologizar as diferenças entre eles.
os erros do senso comum. Ou seja, não pode
valer-se de fala alguma para a manutenção de Para além, é possível dizer que a própria
preconceitos quaisquer, da mesma forma que perspectiva interdisciplinar é uma forma de
“(...) a ciência não deve, em caso algum, servir representatividade. Os alunos, convidados
de embasamento para preconceitos, sendo a participar de atividades diversas e com
função também de cientistas (...) o combate à ­conhecimentos distintos, percebem-se como
desinformação e à má utilização do discurso mais capazes de aprender. Suas facilidades
acadêmico” (REIS e GOULARTH, 2017, p. 99). afloram a partir das habilidades que já possuem
e das disciplinas com as quais possuem maior
É imprescindível que, para uma representa- afinidade, permitindo a construção de novos
tividade plena, haja debate sobre determina- saberes que seriam de acesso difícil a partir
dos assuntos dentro do ambiente educacional. de outras metodologias. Isso permite que os
­Esses espaços de discussão servem para rom- alunos sintam-se parte integrante do processo.
per preconceitos sobre as culturas periféricas e
os indivíduos marginalizados, tal qual construir Outra sugestão, que não nega a primeira,
nos alunos uma identidade social concreta, que é a de trazer para a escola as discussões que
lhes permita reconhecimento de si e do outro têm tomado as mídias e redes sociais. Dentro
de forma crítica. desse tema, podemos citar:

Porém, a escola não pode vender a falsa ideia


(...) o caminhar dos movimentos sociais em
de que suas disciplinas, sozinhas, apresentam
suas conquistas, as mudanças na expres-
todas as respostas. Muitos objetos de estudo são são da arte, a valorização e projeção de
amplos e complexos demais para as disciplinas pessoas reconhecidamente fora da nor-
científicas, muito mais o são para as escolares. ma, a autoidentificação de pessoas da
mídia, a maior visibilidade de discussões
Tais quais os diversos outros temas amplos,
sobre banheiros separados por sexo, os
as questões de identidades sociais, como as de
nomes sociais, o casamento civil e a ado-
gênero - bem como étnico-raciais, sexuais etc. -, ção de crianças por casais do mesmo
não se resumem a uma matéria, perpassando sexo, entre outras coisas que certamente
por diversos pontos de vista que convergem para surgirão. (ARAÚJO, 2014, p. 26)
um entendimento amplo. Situação que torna
a interdisciplinaridade importante e essencial,
Para tal, é preciso aceitar que essas pautas
pois diminui deficiências e limitações da forma-
tornam-se cada vez mais acessíveis e têm ins-
ção docente e do currículo formal, pois amplia
tigado, positiva ou negativamente, os alunos, e
a visão sobre o assunto trabalhado para além
que diversos alunos percebem-se nesses deba-
dos recortes impostos pela divisão por disciplina.
tes, vendo-se representados nos temas. Assim,
Um exemplo de interdisciplinaridade ofere- é função da escola esclarecer essas diversas
cido por Reis e Goularth (2017) para o debate da proposições, pois:

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Pluri Discente | Práticas Científicas

Sob esta ótica, considera-se também que trans. Mas pode ser sentida mesmo quando o
o professor deve estabelecer o diálogo indivíduo já entende-se e vive sua identidade e
dos conteúdos escolares com a realida- expressão de gênero, sempre que a sociedade
de do aluno, apresentando os diferentes
as nega e invalida.
pontos de vistas e teóricos, a partir do
conhecimento prévio dos alunos, no que Mulheres trans podem sofrer disforia
se refere às questões de gênero e sexu- sempre que forem tratadas no masculino ou
alidade. O professor cumpre aqui o papel chamadas de homem, vice-versa com homens
de mediador dos conhecimentos prévios trans. O mesmo vale para indivíduos de
dos alunos e o conhecimento sociológico.
gênero não-binário, quando têm negados seus
(REIS e GOULARTH, 2017, p. 95).
gostos, gestos, desejos e identidade por não
serem “coisa de homem” ou “coisa de mulher”.
Nisso insere-se não apenas uma postura Um indivíduo não-binário que foi designado
passiva dos alunos, recebendo informações já homem no nascimento pode sofrer disforia ao
preparadas pelos professores, mas também ser impedido ou humilhado por usar batom, ou
ativa, na qual os discentes passam a construir por ter sua expressão de gênero confundida
uma pesquisa sobre os temas. A pesquisa é uma com uma s ­ exualidade que não é a dele.
ferramenta metodológica competente para
A disforia provocada por violência social é
a exploração da “(...) relação dos alunos com
muito comum nas escolas, inclusive por conta
o meio em que vivem, sendo um instrumento
das posturas dos professores. Há a imposi-
útil para o desenvolvimento da compreensão
ção de que o “menino” deve ser desleixado e
e explicação dos fenômenos sociais” (REIS e
barulhento, enquanto a “menina” precisa ser
GOULARTH, 2017, p. 95).
caprichosa e aplicada; a imposição disso ­sobre
As formas didáticas e metodológicas de indivíduos não cis pode gerar disforias que ve-
abordar o tema dentro do ensino escolar são nham a provocar outros transtornos, como
uma parte importante para que os alunos sin- depressão e ansiedade, por criar ou agravar
tam-se representados e possam, então, cons- disforias de gênero no indivíduo.
tituir, experienciar e viver suas identidades. Desta forma, a representatividade dentro vem
A criação de um ambiente seguro a partir da avaliar a disforia provocada “de fora para den-
educação é fundamental, não apenas para que tro”. Se o indivíduo é capaz de ver-se em alguém
o indivíduo se encontre, mas também para que ou sentir-se pertencente a um espaço, é mais fácil
ele não sofra disforia. que desenvolva sua identidade compreendendo
De forma geral, disforia é uma angústia, o que sente e experiencia. Da mesma forma, o
­algumas vezes crônica, que pode levar a trans- bullying é suprimido conforme o preconceito se
torno de ansiedade, depressão etc. Segundo a desfaz pela percepção adequada do outro.
Sociedade Brasileira de Pediatria (2017, p. 2-3),
a disforia de gênero é “(...) um desconforto ou
Considerações Finais
sofrimento causados pela incongruência entre
o gênero atribuído ao nascimento e o gênero A representatividade, como visto, é essencial
experimentado pelo indivíduo”, é a expressão para a desconstrução de preconceitos e de
de infelicidade ou descontentamento com o uma sociedade segregadora, que marginaliza
gênero designado no nascimento. indivíduos fora do padrão. É por meio dela que
culturas periféricas ganham espaço e que in-
Esse sofrimento pode ser acarretado pela
divíduos, antes silenciados, ganham voz.
não aceitação do indivíduo pelo seu corpo,
quando este não condiz com seu gênero; como, Na escola, a representatividade atua como
por exemplo, a ausência de seios em uma mu- formadora de identidade tal qual desenvol-
lher trans ou a presença deles em um homem ve a criticidade, permitindo que o indivíduo se

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Edição Especial | Agosto de 2020

entenda e se perceba como pessoa. É propor- concreto, com base no respeito a si e ao outro,
cionadora de momentos de construção do re- fomentando um pensamento crítico sobre a
conhecimento de seu lugar no mundo. estrutura social e cultural. Enfim, a escola como
Um espaço escolar saudável e integrador um espaço representativo para as identida-
para todos seus alunos e para seus profissio- des e expressões de gênero vai ao encontro
nais, é um importante agente transformador dos principais pensamentos e debates sobre a
do status quo. A desconstrução dos preconcei- função do ensino e para um processo de ensi-
tos desde a fase escolar é um processo mais no-aprendizagem de qualidade.

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Pluri Discente | Práticas Científicas

Anexo h. A escola tomava alguma postura, con-


versava com os responsáveis dos alunos
Entrevista com posturas não condizentes com o
gênero? Como eram essas conversas?
Entrevista dividida em três momentos: Sobre
Por que ocorriam?
as escolas; Sobre suas experiências como aluno;
Sobre suas práticas como educador. 3. Sobre sua vida como aluno:

1. Você percebe como existente uma única a. O que você entende por representativi-
masculinidade e uma única feminilidade dade de gênero? Considera importante?
na sociedade? Que existe um padrão social
b. Havia representatividade de gênero na
para a masculinidade e para a feminilidade?
escola? Você sentia-se representado?
2. Sobre as escolas em que você estudou:
c. Onde, em que espaços, você encontrou
a. O que a escola entendia por gênero? representatividade?

b. A escola fazia divisões dos alunos por d. Você considera não ter o gênero (iden-
gênero, em questões de estrutura? tidade ou expressão) condizente com
Quais? Por quê? (Exemplo: banheiros, aquele designado a você no nascimento?
filas, separação dentro da sala etc.)
e. Você sofreu bullying (ouviu piadas ou
c. A escola fazia outras atividades que sofreu qualquer tipo de violência direta)
separam os alunos por gênero? Ou tinha na escola por conta disso?
expectativas de desempenho diferentes
f. Como foi viver a época escolar? Você
entre os gêneros em alguma atividade?
sentia-se deslocado de alguma forma?
d. O que a escola entendia como postura Sentia-se de alguma forma represen-
de cada gênero? Quais eram essas pos- tado em alguém?
turas? Por que elas ocorriam? (Exemplo:
g. Você acredita que se houvesse uma pes-
Os meninos são mais bagunceiros e as
soa de gênero (identidade ou expres-
meninas são mais calmas, os meninos são
são) não condizente com o socialmente
mais desleixados e as meninas são mais
designado trabalhando na escola teria
organizadas e outras situações a fim).
facilitado a fase escolar para você?
e. Como a escola reagia quando um aluno
h. Você entende que a educação atual é cas-
demonstrava uma postura ou um com-
tradora e limitadora, impondo uma per-
portamento não condizente com seu
cepção única de gênero sobre os alunos?
gênero? (Exemplo: menino organizado
ou menina desleixada, menino delicado 4. Sobre seu posicionamento como educador:
e emotivo ou menina ríspida, menino de
a. Você trabalha com que forma de edu-
unha pintada/maquiagem ou menina de
cação? Escola formal, ensino básico ou
cabelo muito curto etc.).
outro tipo de instituição?
f. Quando um aluno praticava bullying
b. Como você vê sua trajetória e o que faz
(algum tipo de piada ou mesmo uma
para que outras crianças não passem
agressão física) contra um aluno com
pelo que você passou?
postura não condizente com o gênero,
como a escola agia? Por quê? c. Você acredita que sua presença serve
como representatividade para os alunos
g. A escola fazia algum trabalho anti-bullying
que atende?
com os alunos? Como este se dava? Eram
tratadas as questões de comportamento d. Como você entende uma educação
não condizente com o gênero? ­libertadora e sem gênero?

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Edição Especial | Agosto de 2020

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