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Introdução e justificativa
O presente relato é uma contribuição à produção de conhecimento na área de
educação infantil no que diz respeito à formação e à atuação de professores
nesta faixa de escolarização nos quesitos conceituais de gênero e raça (“raça”
é o termo utilizado pelo movimento social negro, dado que etnia, inoperaliza a
variante “racismo” e sustenta o mito da democracia racial brasileira; por essa
razão, opta-se neste trabalho pelo termo “raça”).
Como professor de educação infantil já há quatro anos, tenho convivido, na
prática docente, com alguns desafios que destaco neste trabalho como
“desafios de uma prática em processo” que incorrem na realidade escolar
infantil quando o professor é um homem. Desafios que se iniciam na relação
com a gestão escolar e os pares professores do sexo feminino e se ampliam
aos pais dos educandos pequenos.
Somado à relação de gênero, a categoria raça tem despontado em minhas
observações e vivências na relação com os pares docentes, da mesma forma
que ocorrem nas relações professor-aluno e aluno-aluno na educação básica,
conforme proposições de E. Cavalleiro: são falas e gestos silenciosos,
camuflados, mas perfeitamente contextualizados e com sentido para um
afrodescendente.
Problema
A problemática instaurada neste trabalho, que originou um projeto de tese de
doutoramento é a seguinte: na observação e vivência de um professor homem
negro, que possibilidades, gênero e raça, enquanto conceitos sociológicos,
podem ser configurados à análise da necessidade (urgente) da construção de
uma sociedade antissexista, antirracista e antipreconceituosa?
Objetivo
Tenho assim o objetivo de relatar minha vivência de professor na educação
infantil e os desafios em processo de “se manter” na unidade escolar (no
sentido de adquirir a confiança dos pares e dos pais) e demonstrar o caráter
Método
Utiliza-se a História Oral (Houle, 2008) no relato da chgada ao primeiro
emprego, a primeira escola e a continuação desta vivência no magistério
destacando a “história em processo”.
Para Houle (2008):
(...) sujeito está presente, ele fala, e sabe muito bem falar
tanto de si mesmo, como da sociedade no interior da qual
vive. Talvez seja preciso lembrar (...) para além dos
números e das letras, a vida em sociedade é o objeto
primeiro e último da sociologia, e que só há sociedade a
partir do momento em que isso faz sentido. (...) o sujeito
está aí, sua palavra vale (HOULE, 2008, p.331).
Procedimento
Os dados desta pesquisa são oriundos da Atividade Final Avaliativa da
Disciplina “Aportes de Africanidades” durante o meu Mestrado na UFSCar em
2010. De posse desses, dados somado à “prática em processo” faço algumas
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Adentrando ao espaço (de poder) feminilizado: um processo continuo de
aprendizado
E foi na escolha da classe em que ia trabalhar naquele
ano que o impacto de ser negro e professor se instaurou.
Como todo recém contratado se pega o que resta. Das
inúmeras possibilidades nenhuma estava para as crianças
de 4 e 5 anos cujas atividades de docência são bem mais
pedagógicas que as das creches. Me sobravam Berçário
e Maternal. A entrevistadora não acreditando muito que
eu ficaria no cargo começou a me fazer entender que
desistir seria o melhor. - Você terá que trocar fraldas, tirar
fraldas, fazê-los dormir... Pena que não tem pré-escola,
acho que você se daria melhor... Claro que na hora aquilo
me assustou, pois imaginava que seria professor
daquelas crianças não babá. Mas resisti. - Você não terá
recesso. A creche trabalha direto, não pára. Os pais são
exigentes. - Você fará seis horas com uma hora de
descanso. A cada tentativa de me afastar da aceitação do
cargo fazia sinal com a cabeça e balbuciava alguns “hã,
hã, hã”. Afinal, disse: - Estudei pedagogia, me formei
nisso. É um bom começo. Assinei o contrato (...) (SILVA,
2010, p.8).