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FÓRUM REGIONAL DE EDUCAÇÃO INFANTIL: a formação de gestores

Flavia Cristina Oliveira Murbach de Barros


flaviacro@ig.com.br
Doutoranda em Educação (UNESP – Marília) –
Pesquisadora Capes e Gestora do Fórum Paulista de Educação Infantil.

Renata Aparecida Dezo Singulani


resingulani@gmail.com
Doutoranda em Educação (UNESP – Marília)
Gestora do Fórum Paulista de Educação Infantil.

Suely Amaral Mello


suepedro@terra.com.br
Professora do programa de pós-graduação da UNESP Marília

Palavras-chave: Fórum regional de educação infantil, formação de gestores e


teoria histórico-cultural.

Introdução e objetivos
A Educação Infantil vem conquistando maior reconhecimento e espaço no
âmbito educacional brasileiro, sendo reconhecida como uma etapa
fundamental, na educação das crianças de zero a cinco anos. Entendemos que
o pertencimento das creches às Secretarias da Educação e a inclusão do
atendimento de zero a três anos à educação básica, demonstram o processo
de avanço vivenciado pela Educação Infantil. Além do fator legal, há também a
contribuição dos pesquisadores que estão cada vez mais interessados em
descobrir como as crianças pequenas e pequenininhas aprendem e se
desenvolvem. Nesse sentido, entendemos que a compreensão pelos
professores do processo de desenvolvimento das crianças de zero a cinco
anos torna-se essencial para a realização de uma prática que possibilite o
desenvolvimento humano das crianças e que seja capaz de resignificar o papel
da escola da infância. Assim, na tentativa de oferecer aos professores
subsídios teóricos, que fundamentem suas práticas pedagógicas e suas
reflexões, demos início ao trabalho de formação continuada dos professores
gestores do Fórum Regional de Educação Infantil pertencentes aos municípios
de Assis, Ourinhos, Santa Cruz do Rio Pardo e Pompéia. A formação teve
como objetivo estudar o desenvolvimento infantil, de 0 a 5 anos, as Políticas
Publicas sob o enfoque histórico-cultural e abordar as suas implicações para as
práticas pedagógicas. Desta forma, o trabalho de formação foi desenvolvido
durante os anos de 2011 e 2012 tendo proposta de continuidade para 2013.

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Metodologia

A metodologia utilizada para o alcance dos objetivos concentrou-se em:


reuniões bimestrais durante o ano de 2011 e 2012 como momento de trocas de
experiências sobre os problemas enfrentados por cada município, discussões
sobre as Políticas Publicas atuais para a Educação Infantil e sobre as praticas
pedagógicas atuais. Todas as discussões foram pautadas por leituras
embasadas na teoria-historico-cultural. No ano de 2012, como atividade do
processo de formação, foi realizado o “I circuito itinerante de atividades
pedagógicas: Sou capaz, tenho voz e vez”, organizado pelos gestores
regionais em seus respectivos municípios. A exposição, de caráter itinerante,
foi composta pelo agrupamento das atividades (engajadas pelo alicerce teórico
referente) feitas pelas crianças da Educação Infantil pertencentes a estes
municípios. Estas atividades além de contribuir com a formação pratica dos
gestores objetivou também divulgar o fórum na região e de compor-se como
atividade do tripé que o alicerça: Políticas Publicas, Pesquisa e Praticas
Pedagógicas.

Discussão e considerações finais

O trabalho de formação foi fundamentado na teoria histórico-cultural, que


compreende o homem como um sujeito que desenvolve suas qualidades
humanas ao se relacionar socialmente. Vigotski (1983) e seus colaboradores
se referem ao desenvolvimento humano como um processo histórico e cultural,
onde o sujeito ao se relacionar com as pessoas e a cultura, criada
historicamente pela humanidade, se apropria das qualidades humanas nela
presentes, e assim, se desenvolve. Portanto, para Vigotski (1983), as
qualidades humanas não são dadas ao homem biologicamente, ou de forma
espontânea, mas é resultado das suas experiências de vida e educação. A
criança desde que nasce se relaciona com as pessoas e com os objetos
culturais existentes ao seu redor e, por meio dessa relação vai aprendendo
sobre as coisas e, conforme aprende se desenvolve. Assim, quanto mais
possibilitamos às crianças, na escola da infância, ampliarem seu contato com a
cultura, mais condições estaremos oferecendo para seu desenvolvimento
humano. Nesse caso entendemos que suas experiências serão enriquecidas
quando oferecermos a elas vários objetos para que possam fazer
comparações, empilhar, jogar, morder, colocar dentro e fora, rolar, amassar e
perceber suas cores, sons, formatos e texturas. Nesse contexto, o contato com
a cultura mais elaborada, ou seja, a forma ideal e final de toda a produção
humana (Vigotski, 2011), também é importante, pois, criará nas crianças novos
interesses e novas necessidades. (FARIAS E MELLO, 2010). Portanto, para a
teoria histórico-cultural o processo de humanização ocorre por meio da

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educação e das experiências vivenciadas pela criança, na qual elas sejam
colocadas como sujeitos da atividade. Leontiev (1978) considera que para a
criança se apropriar das qualidades humanas presentes nos objetos culturais é
fundamental que ela seja considerada um sujeito ativo do seu processo de
aprendizagem e desenvolvimento. Outro fator que contribui para a qualidade do
trabalho educativo na escola da infância é quando o educador tem
conhecimento das especificidades do desenvolvimento infantil. Conforme
Mukhina (1996, p.12), para garantir êxito nas práticas pedagógicas com as
crianças pequenas “[...] é preciso antes de mais nada conhecer as leis do
desenvolvimento psíquico da criança, suas particularidades emocionais e
intelectuais, suas preferências e interesses.” Para Leontiev (2001), em cada
estágio do desenvolvimento das crianças há algumas atividades – chamadas
guias ou principais – que mais contribuem para o seu desenvolvimento.
Segundo Mukhina (1996) são: no primeiro ano a comunicação emocional com
o adulto; na primeira infância a atividade com os objetos e na idade pré-escolar
o jogo – brincadeira de papéis. Para as crianças de até um ano, a relação
adulto/criança, considerada guia nesse período, é o que mais contribui para o
seu desenvolvimento, pois a criança depende do adulto para satisfazer todas
as suas necessidades, tanto biológicas quanto sociais. Sendo assim, a relação
emocional que a criança estabelece com o adulto é fundamental para seu
processo de desenvolvimento. Na primeira infância (crianças de
aproximadamente de 1 a 3 anos) surge a atividade-guia instrumental - objetal,
período em que as crianças exploram os objetos para que haja a “[...]
assimilação dos procedimentos elaborados socialmente de ação”. (FACCI,
2004, p.68). Mais uma vez o papel do adulto torna-se fundamental para
disponibilizar e auxiliar a criança pequena no manuseio e exploração de tais
objetos. Com essa atividade de manipulação dos objetos a criança realiza
experiências diversas e desenvolve a percepção, a atenção, a memória e o
pensamento. Com o aparecimento da linguagem inicia-se a formação da
consciência e ocorre um salto qualitativo no desenvolvimento humano.
Segundo Vygotski (1993, p. 116), “(...) o pensamento da criança evolui em
função do domínio dos meios sociais do pensamento, quer dizer, em função da
linguagem”. A próxima atividade-guia surgida no período pré-escolar é o jogo e
a brincadeira de papéis. Segundo FACCI (2004, p. 69): Utilizando-se dessas
atividades, a criança apossa-se do mundo concreto dos objetos humanos, por
meio da reprodução das ações realizadas pelos adultos com esses objetos. As
brincadeiras das crianças não são instintivas e o que determina seu conteúdo é
a percepção que a criança tem do mundo dos objetos humanos. A criança
opera com os objetos que são utilizados pelos adultos e, dessa forma, toma
consciência deles e das ações humanas realizadas com eles. O jogo e a
brincadeira são atividades que proporcionam as crianças o desenvolvimento da
imaginação, memória, atenção, a partilha, relações sociais e a própria
reprodução das ações dos adultos, tornando-se atividade essencial para que

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abarquem o mundo a sua volta. A compreensão pelos professores sobre as
atividades-guia do desenvolvimento infantil é fundamental para que guiem o
trabalho pedagógico, respeitando as necessidade e singularidades infantis.
Na escola da infância, o educador que será responsável por apresentar o
mundo às crianças e introduzi-las no universo cultural da humanidade, além de
estabelecer uma comunicação que as façam sentir-se seguras e acolhidas.
Compreendemos que a prática pedagógica vai além das atividades
escolarizadas ou da rotina da escola, é um ato político que pode contribuir para
a formação de cidadãos críticos e autônomos diante da realidade que o cerca.
Para isso, devemos romper com a visão de homem estratificada, que por muito
tempo influenciou no desenvolvimento de praticas pedagógicas precarizadas.
É necessária a compreensão de que o homem é um ser histórico-cultural e
que suas experiências iniciam logo após seu nascimento e serão decisivas
para seu desenvolvimento humano. Nesse sentido, as necessidades e
singularidades infantis devem ser consideradas como fundamentais para o
desenrolar de uma pratica pedagógica humanizadora. Considerando o Fórum
Regional de Educação Infantil como espaço de discussão, de proposições e de
controle social das políticas públicas para a infância e organizado pelo tripé
Políticas Publicas, pesquisas e práticas pedagógicas, deu-se como relevante
formar gestores que pudessem proliferar em suas regiões um trabalho
significativo, embasado em discussões sólidas que compreenda o
desenvolvimento humano como um processo sócio-historico e cultural.
Acreditamos que nesta linha de raciocínio podemos garantir que os direitos das
crianças sejam respeitados, considerando que uma educação infantil de
qualidade seja um deles.

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