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CENTRO UNIVERSITÁRIO FRASSINETTI DO RECIFE - UniFAFIRE

CURSO DE PSICOLOGIA - VI PERÍODO - NOITE

PSIQUIATRIA CLÍNICA E DINÂMICA

DOCENTE:

Joseany Alves Oliveira

DISCENTES:

Beatriz Vilar de Lucena Fernandes

João Vítor Lucena da Silva

Maria Rosângela dos Santos

Martha Adriana Santos de Brito

Michele Karine Pereira da Silva

ATIVIDADE:

Estudo de Caso

RECIFE, 2023
UNIDADE ACADÊMICA 1 – ESTUDO DE CASO

Identificação: Jorge Sales da Silva Idade: 35 anos Sexo: masculino


Profissão: Bancário -funcionário público federal
Nível socioeconômico: médio

Motivos do encaminhamento:
Encaminhado pelo psiquiatra para diagnóstico diferencial, o qual deu, por telefone, as seguintes
informações sobre o caso: O sujeito, que sempre apresentou uma vida muito regrada, com bom
relacionamento familiar, embora com poucos amigos, teve uma reação de culpa muito intensa em
razão do falecimento do pai há 1 ano e 5 meses. Durante o último ano, passou a se envolver com
rituais de religião afro-brasileira dentre outras. Em seguida, sob a influência de uma mãe-de-santo,
começou a “encomendar trabalhos” e, para pagá-los, fez um desfalque de quantia considerável no
banco em que trabalhava. Ao ser descoberto é decidido o seu afastamento do banco, apresentou
sintomas depressivos, inclusive com tentativa de suicídio, sendo internado em hospital psiquiátrico.
O psicodiagnóstico, além de ter como objetivo, realizar diagnóstico diferencial, também
instruir um processo administrativo que havia sido instaurado contra o paciente, com a observação
de que somente o acompanhamento do caso permitiria confirmar as hipóteses levantadas, o que
acabou ocorrendo, meses depois conforme depoimento do psiquiatra responsável.

PRIMEIRA ENTREVISTA:
Jorge vem acompanhado pelo irmão, Aldemir, que não informa muitos dados sobre a história
pregressa de Jorge, por ter saído de casa cedo. Contudo, no que tange ao seu comportamento,
Aldemir, traz que após a morte do genitor observou piora em seus sintomas depressivos(sic).
Jorge, é casado, tem duas filhas, com nível de escolaridade referente ao terceiro grau incompleto do
curso de ciências contábeis. Reside em uma pequena cidade do interior de Pernambuco. Seu padrão
de vida é considerado muito satisfatório, dadas as condições socioeconômicas do lugar.
Segundo o irmão, teve uma vida aparentemente normal, até aproximadamente 14 ou 15 anos atrás,
quando apresentou comportamento impulsivo e imprevisível. Tinha passado no vestibular,
frequentava o curso superior sem problemas, quando foi aprovado na seleção para um banco. Então,
abandonou a universidade, voltou para o interior, onde nascera, casando-se pouco depois. Já o
paciente não descreve o ato como impulsivo, dizendo que desejava ser bancário, tanto que se
submetia à seleção pela terceira vez. Por outro lado, comenta que sua esposa diz que ele sempre foi
muito dependente, e que a decisão de voltar para o interior e casar foi “a única atitude que tomou
em sua vida sem consultar alguém” (sic).
Contudo, em sua opinião, continuou “muito apegado” à família, ao ponto de ela sempre lhe afirmar
que tinha de “cortar o cordão umbilical” (sic). Daí por diante, a sua vida é descrita como super
metódica e regrada, tido como funcionário exemplar e como pessoa honesta e responsável. Não
obstante, a natureza de suas funções no banco não exigia muita independência e nunca recomeçou
os estudos, embora sempre desse apoio à esposa para fazê-lo. Relacionava-se bem com a família,
mas tinha poucos amigos. Se convidado para festas, só ia com a família, “não se desgrudando da
esposa” (sic).
Veste-se informalmente , chegou à sessão com 30min de antecedência. No momento apresenta fala
monótona, uma certa lentidão no pensamento, mas traz um sorriso, que mantém, tanto quando
responde a questões de cultura geral como também quando relata fatos estressantes, como o
falecimento do seu pai. Pode-se dizer que não apresenta uma modulação afetiva nítida. Mostra-se
muito constrito. Passa uma impressão de ingenuidade e de ser menos inteligente do que realmente
é. Sua linguagem é pobre e, eventualmente, troca termos comuns, como:”dependente “ por
“independente” e vice-versa.

SEGUNDA ENTREVISTA:
Jorge vem acompanhado da irmã mais velha, Sara, e da esposa Domitila. Ambas parecem
muito ansiosas, retratando certa timidez e dificuldade para prestar informações logo no início da
entrevista, mas aos poucos se mostraram relaxadas e menos resistentes.
Sara, traz informações sobre a história de Jorge desde o seu nascimento. Conta que Jorge foi um
menino que se considerava feliz até os 4 anos, época em que se suspeita que ele havia sido abusado
por um primo adolescente (16 anos). Após esse fato, sua infância mudou bastante, passou a ser um
menino mais quieto e isolado. Tinha o costume de brincar com insetos mortos, os quais gostava de
enterrar. Após um tempo, adotou um comportamento muito rígido de querer tudo arrumado, os
sapatos eram separados pela cor, as roupas e os livros também. Quando criança ajudava seu pai no
trabalho, a quem gostava muito de fazer perguntas. Era muito curioso e estudioso. Era chamado de
“CDF” pelos colegas e outros garotos da escola, fato que odiava. Até uma certa idade, mais ou menos
7 anos, urinava na calça, o que fazia-o sentir-se inferior ao seu irmão. Quando pré-adolescente, tinha
problemas de relacionamento com as pessoas e quando se sentia deprimido queria ficar sozinho e
parado, sem fazer coisa alguma. Quando se sentia assim com os amigos, só escutava. Irritava-se
quando estes lhe perguntavam a razão daquele estado; ele dizia que estava cansado, que estava com
dor de cabeça, ou algo parecido. Às vezes, fazia gestos e sentia coisas estranhas: tremedeira,
inquietude, sentimento de caos e vazio, batia em sua própria cabeça ou plantava bananeira e perdia
a noção do passado e só tinha consciência do presente. Sentia-se muito inseguro e superficial, mas,
com a maturidade ficou bem, um rapaz tranquilo e inteligente.
Com a morte súbita do pai, há dois anos, começou a apresentar problemas. Jorge relata: “... ele ficou
doente. Fiz tudo o que mandaram. Ficou bom. Foi um enfarto... Estavam fazendo um check-up geral.
Teve outro enfarto e, daí, veio a morrer. Eu me senti culpado pela morte dele... Poderia ter levado a
um centro maior, mas não havia recomendação médica... Como faleceu e eu era o único filho, vieram
os irmãos e, daí, veio esse sentimento... Mas enfarto não se pode prever... Depois da morte, me senti
culpado... Dias, semanas, sem dormir... Tomei medicamentos... Não houve o sentimento de perda
pela morte, mas o sentimento de culpa, que eu carreguei... Mas o sentimento nunca passou...” Mais
adiante: “Passei meses para tirar da ideia. Não fiz nenhum tratamento com psiquiatra, nada...
Nervoso, o dia inteiro... Na relação afetiva, deixei a mulher e as crianças de lado... Levei semanas sem
fazer a barba, cortar o cabelo, querendo, parece, jogar alguma culpa... Que os outros percebessem
alguma coisa... Demorou meses... Ia rezar, ia no cemitério todos os dias. Conversava e saía mais
calmo... Chegando em casa, revertia tudo...” (sic). A esposa descreveu o sogro como uma pessoa fria,
sem amigos, mas que procurava muito esse filho, com quem se parecia, mas com quem “só
conversava sobre coisas banais” (sic). Com o falecimento do pai, Jorge “se fechou, entrou em crise”
(sic). Quando conversavam, o assunto era só o pai e sua culpa. Quando chegava em casa, deitava-se
em posição fetal, coberto com acolchoados, muito deprimido: “estava numa concha” (sic). Tinha
insônia e tomava comprimidos. Emagreceu bastante e, depois, começou a engordar. Tornou-se muito
parecido com o pai, falando, agindo como ele. Achou que também tinha problemas cardíacos.
Consultou muitos médicos e fez muitos exames. Deixou de ter amigos e usava desculpas para não
sair, exceto ao cemitério. Gradualmente, começou a falar mais com a esposa e filhos, mas não como
antes do falecimento do pai. Principiou a se preocupar exageradamente com sua mãe, especialmente
quanto à sua saúde, querendo que sua filha mais velha morasse com ela.
Instado pela esposa a procurar um psicólogo ou psiquiatra, não o fez. Ao invés disso, passou a
procurar pessoas que, usando búzios, cartas etc., pudessem lhe dizer “como seu pai estava, e se
encontrava bem onde estava” (sic), buscando avidamente anúncios a respeito. Construíram outra
casa. Depois, resolveram comprar um apartamento na praia. Ao mesmo tempo, passou a se envolver,
ativa, intensa e cada vez mais frequentemente, com atividades ritualísticas de religião afro-brasileira,
começando a ficar muito dependente de uma mãe-de-santo. Quanto à sua vida com a família, “não
participava, procurava não conversar, evitava as pessoas e, até com a esposa, era muito fechado.
Chegava em casa, não conversava, ia para o quarto, ficava sozinho... Amigos, nem falar...”, e, também,
mostrava-se “desinteressado pelas coisas da casa” (sic). Queria trocar de carro, falava em comprar
outro apartamento, um sítio. Parecia não dar valor ao dinheiro. O que as filhas queriam, dava.
Presenteava exageradamente, em quantidade e preço. Mas “só ficava fazendo contas”. Parecia
“alegre, mas insatisfeito” (sic). Demonstrou uma atitude de subserviência à mãe-de-santo, passando
a consultá-la cada vez mais (anotando tudo o que dizia), procurando ter contatos telefônicos diários
com ela, mesmo que estivesse em outro estado, para saber como estavam os negócios e a vida da
família. Frequentemente, queria que a esposa fizesse tais contatos, ficando numa extensão para
escutar. Uma vez que está se negou, chegou a ajoelhar-se à sua frente, pedindo para fazê-lo.
Começou, segundo a esposa, a ficar inseguro. No início, a preocupação era com o pai; em seguida,
com sua saúde e, depois, com os filhos e a esposa. Então, surgiram “avisos” de que alguém, no
banco, o estava prejudicando. Cada vez que havia ameaça de perigos, por revelação dos búzios ou de
outra forma, “encomendava trabalhos” à mãe-de-santo, que eram remunerados acima do exigido,
afirmando “que valiam mais” e “não admitia que ninguém falasse mal dela” (sic).
A situação chegou ao máximo quando a mãe-de-santo lhe disse que sua mãe corria risco de vida.
Foram contratados novos “trabalhos”, cada vez mais absurdos e dispendiosos. Na época, a esposa
estava viajando, e, segundo ela, a mãe-de-santo “sentiu nele uma pessoa fácil de manipular” (sic).
Sobre esse período, o paciente relata que, de início, estava convicto de que poderia se comunicar
com o pai. Depois, passou a temer perigos iminentes para si e para sua família, dos quais poderia se
livrar por meio de “trabalhos”: “Na ânsia de me livrar, comecei a tirar dinheiro do banco... Entrei e
não tinha como sair... Foi se avolumando mais... Diziam que davam proteção... Fiquei independente...
dependente daquelas pessoas...” (sic). Sentiu-se, então, “desligado do sentimento de culpa” (sic).
Desde a época em que começou a frequentar terreiros e até pouco antes de sua hospitalização,
relata o que poderiam ter sido ilusões ou alucinações visuais . Começou a, eventualmente, enxergar
um vulto, ao acordar. Depois, passou a vê-lo em outros momentos e situações, chegando a achar que
o vulto passou a segui-lo na rua. Também há a história de ilusões auditivas: “Já ouvi vozes... já ouvi
alguma coisa... Eu sentia a sensação de que estava falando... Não sei, talvez fosse um aviso de que
algo ia acontecer... Não houve um fato concreto...” (sic). Fala também de odores peculiares, no
serviço (alucinações olfativas?). Além disso, acha que “foi induzido a procurar o centro espírita e a
fazer coisas que me mandavam” (sic). Por outro lado, refere situações em que, “quando alguém me
olhava forte, ficava meio paralisado, meio tonto e perdia a noção da memória, por momentos”, e
outras em que, “por segundos, me dava uma tonteira e perdia a noção” (sic). Também achava que,
realmente, havia pessoas no banco querendo prejudicá-lo. O desfalque foi descoberto no banco, e,
segundo ele, “pediu um tempo”, porque não conseguia falar. Procurou a esposa em seu trabalho. Ao
chegar lá, as pessoas “sentiram que ele estava diferente”. Disse a ela: “Descobriram tudo, no banco, e
eu estou na rua”. “Tudo o quê?” – perguntou ela, uma vez que ele sempre lhe dizia que os
pagamentos eram feitos com dinheiro da poupança, empréstimos etc. Foram para casa, porque ele
queria telefonar para a mãe-de-santo, e, em seguida, foram procurá-la na cidade onde se encontrava.
No caminho, “estava completamente baratinado... Começou a falar sozinho...” Várias vezes, “tentou
jogar o carro para fora da estrada, na serra” (sic). As crianças gritavam, e ela passou a viajar
segurando o freio de mão. Queria assumir a direção do veículo, mas ele não permitia. Ela disse-lhe,
então: “Se quiser tomar uma atitude, tome, mas não quando as crianças estiverem no carro” (sic).
Conseguiram chegar à cidade, onde permaneceram uma semana, em que manteve contatos com a
mãe-de-santo, que não se mostrou tão solícita. Confessou à esposa que “seria melhor ter deixado a
mãe morrer e não tocar no dinheiro” (sic). Só queria dormir. Em vez de um comprimido, tomava
quatro ou cinco. Deitava-se na cama, em dia de calor, com dois acolchoados. Ficava “em posição
fetal, ao desamparo” (sic). Dormia sem trocar de roupa e não cuidava de sua higiene. Se não estava
deitado, caminhava de um lado para outro, sem conversar. Nesse período, escreveu bilhetes suicidas,
dirigidos à esposa. Segundo o paciente, “estava bem maluco, não acreditava na gravidade do
problema”. Não se alimentava e não conseguia dormir: “Queria só dormir... Queria pegar o carro e
me jogar num barranco... Peguei até um revólver, mas as pessoas da família não deixaram” (sic).
Conforme o irmão, “fez uma confissão de dívida, para o banco, que foi patética” (sic). Foi então que o
irmão mais velho o levou a um centro maior e o internou num hospital psiquiátrico, onde
permaneceu 28 dias. Ao sair, suspensa a medicação, para que realizasse os testes psicológicos, voltou
a ter insônia, vagando à noite pela cidade. Na casa do irmão, onde ficou durante esse período,
mostrava-se calado, alimentava-se mal e escreveu duas cartas, sem falar em suicídio, mas com teor
idêntico às anteriores. Chorava muito. Com a visita da mãe e de sua filha, passou a se mostrar
preocupado com o futuro da família. Não obstante, a esposa, que o visitou 10 dias depois, afirmou
que, embora fale no assunto, não sabe “até que ponto sofre com isso. Está mais estranho, mais
distante... Não é a mesma coisa... (?) Ele não sabe da gravidade do fato... Às vezes, dá a impressão de
que não está nem aí... (?) Está aéreo, alheio, não está normal, não colocou os pés no chão” (sic).

QUESTÕES

1 - Identificação + HDA (História da Doença Atual)

Jorge, casado, pai de duas filhas, bancário, apresentava uma vida regrada e bom relacionamento
familiar, mas experimentou intensa culpa após a morte do pai há 1 ano e 5 meses. Nos últimos
meses, ele se envolveu com rituais de religião afro-brasileira e começou a solicitar serviços
espirituais, resultando no desfalque de uma quantia considerável no banco em que trabalhava. Após
ser descoberto, foi afastado do emprego (no qual será instaurado um processo administrativo), e
desenvolveu sintomas depressivos, incluindo uma tentativa de suicídio, levando-o a ser internado em
um hospital psiquiátrico.
Jorge teve um comportamento impulsivo e imprevisível, segundo seu irmão, quando, há cerca de 14
ou 15 anos atrás, abandonou a universidade após ser aprovado em uma seleção para um banco. Ele
se casou e voltou para o interior, onde nasceu, contudo Jorge afirma que a decisão não foi impulsiva,
mas sim algo que há muito desejava. Sua esposa diz que ele sempre foi dependente e que essa foi a
única decisão que tomou sem consultar alguém. Desde então, a vida de Jorge tem sido muito
metódica e regrada. Ele é considerado um funcionário exemplar e uma pessoa honesta e
responsável. No entanto, seu trabalho no banco não requer muita independência e ele nunca
retomou seus estudos, apesar de apoiar sua esposa nessa área. Jorge é muito apegado à família e
tem poucos amigos. Ele só vai a festas se for com a família e é descrito como dependente da esposa.
Existe um aspecto muito importante trazido pela irmã, no qual relata que sua infância mudou após
suspeitas de abuso sexual por parte de um primo adolescente. A partir desse momento, Jorge se
tornou mais isolado e desenvolveu comportamentos rígidos, como organizar objetos por cores. Ele
também tinha dificuldades de relacionamento e tendia a ficar deprimido, preferindo ficar sozinho e
em silêncio. Em alguns momentos, experimentava gestos e sensações estranhas, como tremores e
sentimentos de caos. Apesar disso, com o tempo, Jorge se tornou mais tranquilo e inteligente.

2 - Identificar quais funções mentais foram alteradas. Podemos identificar a personalidade ou


sintomas pré-mórbidos? Fatores predisponentes e desencadeantes?

Ao analisarmos o caso de Jorge percebemos que várias funções mentais dele foram alteradas, tais
como cognição, pois tem apresentando dificuldade de raciocínio, atenção e problemas de
concentração, inclusive apresenta dificuldades em lembrar de informações e de tomar decisões, o
ato de pensar de Jorge progride lentamente, de forma lenta e dificultosa, bem como sua linguagem
além de ser descrita como “pobre”, podemos ver em suas falas uma troca de termos comuns;
emoções também foram afetadas, já que identificamos mudança no humor, como depressão e
ansiedade; de comportamento já que ele está isolando-se socialmente, bem com apresenta
dificuldade de realizar atividades cotidianas, tais como cuidar de sua higiene pessoal e afazeres
domésticos com, atos compulsivos que ficam evidentes no relato da construção da casa, compra do
apartamento e na sequência, querer comprar outro apartamento, trocar de carro, comprar um sítio.

Como também, no ato de presentear exageradamente, como se não desse importância para o
dinheiro; percepção quando relata que “foi induzido a procurar o centro espírita e a fazer coisas que
me mandavam”, observamos alucinações visuais quando viu vulto que o acompanhava (ao acordar,
como na rua, seguindo-o), alucinações auditivas quando menciona escutar vozes de sons
inexplicáveis, associando-as a um “possível aviso de eventos futuros”, bem como alucinações
olfativas já que relatou sentir odores peculiares, especialmente no ambiente de trabalho, além de
relatar delírios como achar que podia comunicar-se com seu pai através de rituais religiosos, ou
quando começou a temer perigos iminentes e que tais riscos poderiam ser evitados pagando fortuna
nesses rituais; percebemos ainda no caso de Jorge alteração da consciência, já que apresenta
sonolência excessiva, episódios de confusão mental perder a noção do passado e só ter consciência
do presente; e orientação, pois teve episódios relatados por sua esposa de que começou a parecer e
agir como o pai perdendo noção de quem realmente era.

Jorge apresentou uma série de sintomas pré-mórbidos, tais como: delírios, alucinações visuais,
auditivas e olfativas, descontrole financeiro, despersonalização e paranoia, que somados a sua
personalidade de timidez excessiva, isolamento social, mudanças no padrão de sono e humor,
dificuldades no ambiente do trabalho (incluindo um processo administrativo que pode leva-lo a
prisão), problemas interpessoais, dependência emocional, perda do pai e possível abuso sexual em
sua infância contribuíram para um quadro clínico complexo que culminou em um comportamento
autodestrutivo e uma internação hospitalar.
Jorge apresenta sintomas depressivos, insônia, isolamento social e uma extrema sensação de
culpa. Podemos identificar sintomas pré-mórbidos em seu caso, que remontam à infância, quando,
por volta dos 4 anos, ele sofreu abuso por parte de um primo mais velho. Após esse evento
traumático, Jorge começou a se isolar. Esse relato indica a presença de fatores predisponentes, que
envolvem a interação entre a vulnerabilidade constitucional e as primeiras experiências vividas na
primeira e segunda infância (0-6 anos) (Meyer, 1951; Rahe, 1990).

Esses fatores predisponentes tornam o indivíduo mais suscetível a diferentes situações ao longo
da vida, podendo incluir eventos como a morte de um dos pais, abuso sexual, violência ou
negligência física ou emocional, entre outros. Como resultado, Jorge desenvolveu comportamentos
incomuns, como brincar com insetos mortos e ser excessivamente metódico em suas atividades.

Durante a adolescência, Jorge experimentou sintomas emocionais, dificuldades nos


relacionamentos, sintomas depressivos e momentos de irritabilidade. Atualmente, seus sintomas
agravam-se devido à perda de seu pai, com quem tinha uma forte ligação. Essa deterioração está
associada aos fatores precipitantes, também conhecidos como eventos de vida, que são eventos
estressantes e/ou traumáticos que ocorrem próximo ao desencadeamento do transtorno mental,
como no caso de Jorge, que está relacionado à morte do pai.

É relevante destacar a importância da resiliência no campo da psicopatologia, pois essa


capacidade de lidar com os fatores precipitantes desempenha um papel fundamental no processo de
saúde e doença. No caso de Jorge, sua fragilidade emocional e intenso sentimento de culpa tornam
evidente a necessidade de apoio de profissionais de saúde, que podem ajudá-lo a desenvolver a
resiliência como uma alternativa valiosa em seu tratamento, auxiliando-o a reconstruir sua psicologia
diante das adversidades.

3 - Levantamento de hipóteses diagnósticas.

Essas alterações nas funções mentais podem ser sintomas de várias condições de saúde mental,
como transtornos psicóticos, que incluem delírios no caso de Jorge falsas e irracionais crenças, como
as perseguições no trabalho, alucinações a exemplo de quando citou que um vulto estava
seguindo-o, pensamento desorganizado como relatos de desconexão com a realidade que ele
apresentava, depressão já que Jorge apresentou vários episódios de tristeza, como deitar em posição
fetal, alterações de sono e problemas com aumento e diminuição de peso, ainda observamos
transtorno de ansiedade, como a preocupação excessiva como futuro da família e de sua mãe, além
de frequentes episódios de esquecimento. É importante ressaltar que o diagnóstico não é definitivo,
pois existem condições específicas de cada indivíduo e no caso do Jorge foram feitas apenas duas
entrevistas. O diagnóstico preciso e o tratamento adequado são fundamentais para ajudá-lo a lidar
melhor com os sintomas e melhorar a qualidade de vida do Jorge através de terapia e medicação
para que ele possa lidar melhor com esse período bem truculento que está enfrentando.

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