Você está na página 1de 17

CENTRO UNIVERSITÁRIO DE RIO PRETO

- UNIRP

PSICOLOGIA

DIEGO HENRIQUE RAMOS DA SILVA – RA 20220149


JÚLIA ALMEIDA BONJOUR – RA 20220915
KAMILLA MIRANDA DE CARVALHO – RA 20220167
LINCOLN HENRIQUE DOS REIS SPOSO – RA 20222478
VÂNIA DE CASTRO PIRES – RA 20220144

SABINA SPIELREIN

SÃO JOSÉ DO RIO PRETO


2023
DIEGO HENRIQUE RAMOS DA SILVA – RA 20220149
JÚLIA ALMEIDA BONJOUR – RA 20220915
LINCOLN HENRIQUE DOS REIS SPOSO – RA 20222478
KAMILLA MIRANDA DE CARVALHO – RA 20220167
VÂNIA DE CASTRO PIRES – RA 20220144

SABINA SPIELREIN

Trabalho apresentado para a disciplina de


Psicodinâmica III, do Curso de Psicologia,
do Centro Universitário de Rio Preto –
UNIRP, como requisito de trabalho
semestral.

Orientadora: Profa. Mônica Soares

SÃO JOSÉ DO RIO PRETO

2023

2
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..........................................................................................................
04

1 BIOGRAFIA............................................................................................................
05

2 SABINA E A PSICANÁLISE...................................................................................
07
2.1. Seu legado.........................................................................................................
12
2.2. A escola............................................................................................................. 14

3 CURIOSIDADES ....................................................................................................
14

4 CONCLUSÃO.........................................................................................................
15

REFERÊNCIAS......................................................................................................... 16

3
INTRODUÇÃO
O objetivo desse trabalho é o de apresentar Sabina Spielrein. Sim, apresentar.
Sabina foi esquecida por muito tempo e deve, por merecimento, se fazer presente
na história.

Sabina foi uma mulher única para sua época. Teve uma infância e adolescência
turbulenta e isso a tornou uma jovem “histérica”. Foi paciente de Jung e estreitou
laços com Freud. Foi influência de grandes nomes como Piaget, Luria e Vygotsky,
mas, por viver em uma época onde se valia o patriarcado, não foi citada como
merecia.

Se casou, teve duas filhas e continuou seu trabalho na psicanálise. Sempre em


busca do melhor, do possível, para a época. Mudou-se muito e, por fim, voltou à sua
cidade natal, Rostov, onde foi assassinada pelo partido nazista.

Sabina teve uma vida que, para muitos, nos dias de hoje, foi insustentável. Passou
necessidade financeira por quase toda a vida, mas mesmo assim, lutou da maneira
que podia para que isso não afetasse a si mesma e sua família, seus estudos e
contribuições para a área médica e psicanalítica.

4
1 BIOGRAFIA
Sabina Nikolayevna Spielrein nasceu em Rostov-on-Don, Rússia, em 7 de novembro
de 1885. De origem judaica, Sabina pertencia a uma das famílias mais abastadas da
região. Era a primeira dos cinco filhos do casal. Seu pai, Nikolai, era um respeitado
homem de negócios no ramo de nutrição animal. Estudou ciências agrícolas em
Berlim, falava diversas línguas e possuía um amplo interesse nas mais diversas
áreas, como política, filosofia, música e cultura alemã.

Nikolai era um homem psiquicamente desequilibrado e sofria de depressão. Por


muitas vezes permanecia em sua casa, por dias, se recusando a comer. Em
algumas ocasiões, tentou o suicídio.

Sua mãe, Eva, formou-se como a primeira mulher dentista da Rússia. Atuou na
profissão até 1903, quando passou a dedicar-se exclusivamente aos cuidados da
casa, dos filhos e marido. Era uma mulher muito dedicada, mas também bastante
controladora e tinha o hábito de comprar em excesso, motivo de brigas entre o
casal.

Sabina teve problemas de saúde na infância sofrendo de recorrentes dores de


garganta, estômago e infecções. Segundo Launer (2014), Sabina tinha o hábito de
masturbar-se após apanhar ou mesmo quando era ameaçada de tal ato. Outro
hábito em sua infância era o de se automutilar e/ou sentir prazer quando via pessoas
serem machucadas. Mas, por outra lado, e de maneira bastante confusa, em muitas
vezes, quando alguém apanhava, ela se revoltava. Nikolai costumava bater nas
nádegas nuas de seus filhos para depois pedir que beijassem sua mão. Sua
depressão era usada como uma “desculpa” para que os filhos se comportassem
bem. Sabina teve seu primeiro colapso aos dez anos de idade.

5
Apesar das constantes surras, Sabina e seus irmãos tiveram alto grau de instrução.
Todos falavam russo, alemão, inglês e francês. Sabina tinha aulas de piano e canto,
além de ler a Bíblia em hebreu antigo. Era considerada uma menina religiosa,
precoce, inteligente, e acima da média, apesar da rígida e violenta criação. Seu pai
fazia questão que todos os filhos, sem exceção, tivessem uma excelente educação,
com os melhores professores.

Aos 13 anos, por conta da morte da avó materna, perdeu a crença em Deus,
mantendo sua devoção em um “espírito guardião”. Nessa época, passou a
interessar-se por ciências e acreditava que tinha uma vocação que chamou de
“chamado superior”.

Em seu diário, Sabina escreveu sobre sua relação com o espírito guardião contando
o quanto foi difícil separar-se de Deus aos 13 anos, em decorrência da morte da avó
materna e que, por isso, pelo vazio que sentia, conservou em si “o espírito protetor”.
(SPIELREIN, 1910, In: CAROTENUTO, 1980, p.23)

Outra perda significativa na vida de Sabina foi a morte prematura de sua irmã,
Emília, aos seis anos de idade em decorrência de febre tifoide. Sabina, nesse
momento, tinha 16 anos. Ela escreve em seu diário sobre como vivenciou a morte
de Emília: “Eu me afastei completamente das outras pessoas; quando eu estava na
sexta série, depois da morte da minha pequena irmã, minha doença começou. Eu
me refugiei no isolamento”. (SPIELREIN, 1910, In: CAROTENUTO,1982, p.24)

Na adolescência, o estado emocional de Sabina piorou drasticamente. Como os


tratamentos mentais na Rússia, nessa época, eram em clausuras, sua mãe, Eva,
considerou enviá-la para a Europa onde os métodos terapêuticos eram mais
humanizados.

Inicialmente, os pais de Sabina a enviaram para Varsóvia, Polônia, aos cuidados do


tio paterno, Adolf. Porém, um se apaixonou pelo outro. Com isso, Eva retirou a filha
do país e a enviou para Zurique, Suíça. Em 1904, Sabina foi internada e
diagnosticada como histérica por Carl Gustav Jung.

Permaneceu no hospital por 11 meses, de 1904 a 1905. Durante sua internação,


apaixonou-se por Jung. Relatos da época apontam que se tornaram amantes nesse
período. Jung era casado e sua esposa, Emma, tinha conhecimento dos seus casos

6
extraconjugais com suas pacientes. Segundo Launer (2014), biógrafo de Sabina, o
amor entre ela e Jung era desigual. Sabina mantinha um sentimento quase
incondicional, já Jung, não sentia o mesmo. Não se sabe ao certo quando,
exatamente, o romance começou, mas estima-se que foi quando Sabina ainda
estava em tratamento, no hospital.

Durante o período de internação, de acordo com Richebächer (2012), o


comportamento de Sabina passou por três fases: a primeira fase foi caracterizada
pela desobediência. Sabina quebrava as regras e normas do hospital; no segundo
momento, o sintoma mais presente foi o comportamento sadomasoquista
(comportamentos esse que mantinha em relação aos castigos do pai na infância) e a
terceira fase foi caracterizada por uma fase mais adulta e erótica-sexual.

Sabina, desde criança, possuía grande interesse por ciência e desejava cursar
medicina. No hospital, foi incentivada a estimular esse interesse onde pode assistir
palestras médicas na Universidade de Zurique.

Em 1904, foi aprovada no curso de medicina. Foi o próprio diretor do hospital,


Bleuler, seu incentivador, que recomendou sua matrícula na universidade.

Segundo Launer (2014), Bleuler foi, de fato, o maior responsável pela melhoria do
estado mental de Sabina durante seu tempo no hospital. Jung, sem dúvida, também
teve seu papel. A ele, ela confidenciou seus segredos mais profundos, mas foi o
diretor do hospital que estabeleceu como se daria seu tratamento. Para Eugen
Bleuler, o tratamento deveria ser baseado em tratar os pacientes com paciência,
calma e boa vontade, criando um ambiente acolhedor.

Sabina se formou em medicina, tornou-se psicanalista e seguiu sua vida produzindo


trabalhos científicos principalmente na área do desenvolvimento infantil.

2 SABINA E A PSICANÁLISE
Sabina foi pioneira em diversas áreas - desenvolvimento infantil, linguística e
psicanálise. Segundo Launer (2014), seu primeiro trabalho cientifico foi uma tese de
medicina (1911) que falava sobre esquizofrenia (relato de um atendimento de uma
paciente). Nessa tese, Sabina apresentou a primeira descrição detalhada da
esquizofrenia através do ponto de vista psicanalítico. Esse estudo foi pioneiro em

7
evidenciar a importância do diálogo no tratamento desse transtorno mental. Até
1911, somente Jung e Bleuler haviam produzido escritos sobre a esquizofrenia.

Quando o trabalho de Sabina foi publicado, vários psiquiatras de renome


contribuíram para uma discussão de como a psicanálise poderia trazer uma nova
visão de como auxiliar no tratamento de doenças psíquicas.

Em 1912, Sabina esteve por um período em Viena a convite de Sigmund Freud.


Com isso, tornou-se a segunda mulher a integrar a Sociedade Psicanalítica de
Viena. Seu texto mais expressivo apresentado nas reuniões, “A destruição como
origem do devir”, foi publicado em 1912. Nesse trabalho, Sabina desperta a relação
entre duas forças psíquicas opostas, o instinto de autopreservação do indivíduo e o
instinto de preservação das espécies ou do coletivo. Nesse mesmo texto, Sabina
cria o conceito de pulsão de morte do qual Freud iria, mais tarde, utilizar em seu
texto “Além do princípio do prazer” (1920). Freud reconheceu ser Sabina a criadora
desse conceito, mas divergia dela em alguns pontos.

Não se sabe ao certo determinar qual a real participação de Sabina na constituição


dos conceitos teóricos de Jung e Freud. Os que podemos vincular sua participação
são: o conceito de “complexos emocionais” em Carl Jung, o conceito de “pulsão de
morte” (sua criação) em Freud e “transferência e contratransferência” em ambos.
Como se tornaram muito próximos ao longo dos anos, é difícil afirmar a real
participação e contribuição de Sabina. Infelizmente, ela não recebeu seu devido
mérito, nem na criação e desenvolvimento da Psicanálise e nem na formação dos
conceitos dos nobres e renomados colegas.

No decorrer dos anos, em um primeiro momento, Jung e Freud começaram a


divergir sobre conceitos e teorias da psicanálise, mas após um tempo, passou a ser
pessoal. Freud acreditava que Jung seria a futuro da psicanálise, o “príncipe
herdeiro” por não ser judeu, como a maioria dos psicanalistas. Esse fator poderia
trazer prestígio e segurança que Freud tanto almejava para a psicanálise. Jung se
interessava pelo ocultismo, mas Freud, acreditava em uma psicanálise científica e
isso fez com que os dois amigos rompessem, definitivamente, sua amizade. Sabina
tentou reconciliar os dois, mas não obteve sucesso.

8
De qualquer forma, para a psicanálise, a troca intelectual entre os três médicos foi
extremamente importante. Freud citou os trabalhos de Sabina somente duas vezes
em seus escritos, já Jung, a mencionou diversas vezes no decorrer de suas obras.
Causa estranhamento o fato ambos terem negligenciado a contribuição de Sabina.
Cromberg (2014) acredita que Freud pode ter visto Sabina como discípula de Jung.
Outra hipótese, por ser mulher ou de ter sido uma paciente psiquiátrica no passado.

Após anos sob supervisão de Freud e Jung, Sabina partiu para Berlim em busca de
melhores condições de trabalho e, desta vez, supervisionada por Karl Abraham
(1877-1925).

Antes de se mudar para Berlim, no dia 14 de junho de 1912, Sabina se casou com o
médico russo, Dr. Pavel Scheftel. O casal se conheceu em 1911, em Munique,
durante uma palestra sobre psicanálise.

Sabina permaneceu em Berlim de 1912 a 1914. Esse período foi marcado por
acontecimentos importantes tanto na vida pessoal quanto profissional. Acredita-se
que o casamento teria sido de certa forma arranjado. Sabina mencionou o marido
apenas uma vez em seu diário, no dia 11 de julho de 1912, em decorrência de um
sonho que tivera após a noite de núpcias, “um sonho após uma noite tumultuada”
(SPIELREIN, 1912, In: CAROTENUTO, p. 43).

Já em Berlim, em 1913, nasce sua primeira filha, Irma Renata Scheftel.

Sabina e seu marido escolheram se mudar para Berlim a procura de novas


oportunidades. A cidade estava se abrindo para uma nova política liberal,
privilegiando questões sociais e as pessoas às margens da sociedade. Mas antes de
se estabelecer profissionalmente em Berlim, Sabina realizou cursos na Associação
de Docentes de Berlim e após esse período, frequentou a Sociedade Psicanalítica
de Berlim onde contribuiu com artigos curtos para os periódicos. O então presidente
e fundador da Sociedade de Berlim era o psicanalista Karl Abraham, um dos
discípulos mais fiéis de Freud.

Um dos artigos de Sabina, intitulado “Contribuições para o conhecimento da psique


infantil” (1912b), foi a primeiro artigo psicanalítico escrito sobre fantasias infantis.
Sabina utilizou, nesse estudo, três casos diferentes. Um deles é baseado em sua

9
própria experiência quando criança. Sua intenção era apresentar a relação entre
medo e sexualidade.

Em 1914, Pavel foi convocado para servir como médico no fronte de guerra. Com
isso, Sabina e sua filha Renata vagou pela Europa em busca de oportunidades
profissionais e para fugir da fome que assolava todo o continente.

Entre 1915 e 1920, residindo em Lausana, na Suíça, Sabina publicou sete artigos
para a revista Internationale Zeitschrift für Psychoanalyse. Nota-se, nessas
publicações o interesse da Sabina pelas áreas da psicologia infantil. Alguns dos
textos remete a observação sistematizada do comportamento de sua filha, Renata
(três dos sete artigos). No artigo “Sobre o problema da origem e do desenvolvimento
da linguagem” (1920), Sabina reflete sobre a origem e o desenvolvimento da
linguagem na criança autista. Esses trabalhos a tornaram pioneira na área.

Com o final da primeira guerra mundial, que findou em 1918, Sabina enfrentou
muitas dificuldades financeiras. Seus pais, por um tempo, enviaram dinheiro, mas as
movimentações financeiras ficaram comprometidas e tornaram impossível o envio
de dinheiro da Rússia para a Suíça. Para se sustentar e sua filha Renata, que
necessitava de internações constantes, Sabina abandonou os atendimentos
psicanalíticos e trabalhou como médica em um asilo para cegos e, posteriormente,
médica cirurgiã.

Em 1920, Sabina e Renata se mudaram para Genebra. A década de 1920 foi um


período extremamente produtivo para Sabina. Alcançou certa maturidade intelectual
e estabeleceu conexões com grandes teóricos psicanalistas, principalmente na área
do desenvolvimento infantil. Foi um dos períodos em que Sabina mais contribuiu
para o desenvolvimento e crescimento da psicanálise no que diz respeito a
psicologia infantil.

Ainda em 1920, Sabina foi trabalhar no Instituto Jean Jacques Rousseau que tinha
como objetivo articular o treinamento de professores com pedagogia experimental e
pesquisa em desenvolvimento infantil e linguística. Um de seus colegas no Instituto
foi o psicólogo Jean Piaget (1896-1980) que recebeu de Sabina grande influência na
área já que suas obras eram, na grande maioria, relacionadas ao desenvolvimento
infantil. Piaget possuía como base metodológica a observação atenta das atividades

10
infantis de seus filhos assim como Sabina, que também fez uma observação
analítica dos primeiros anos de vida de sua filha Renata.

Como pesquisava sobre desenvolvimento infantil, Sabina acabou se interessando


por linguística. O artigo “A origem das palavras mama e papa” (1922b), faz
referência a esse momento em sua vida.

Sabina, nesse seu período de grande importância, proferiu diversas palestras. Em


sua grande maioria, sobre a infância e adolescência. Ficou em Genebra até 1923,
quando retornou à União Soviética aos 38 anos de idade. Por razões financeiras,
profissionais e pessoais, retornou ao seu país de origem e estabeleceu-se em
Moscou. Durante os anos pós-guerra, Pavel permaneceu na Rússia; mantiveram
contato através de cartas.

Com as crises geradas pelo pós-guerra, milhares de pessoas morreram e muitas


crianças ficaram órfãs, necessitando da criação de orfanatos. Nesse período, havia
projetos de desenvolvimento de um novo regime e a psicanálise e outras disciplinas
atendiam as demandas ideológicas científicas aceitas pela União Soviética. Entre os
anos 1922 e 1932, a psicanálise se caracterizou como instituição; surgiram grupos,
organizações e popularização da literatura psicanalítica.

É necessária salientar que durante o regime de Lenin (1870-1924) a psicanálise teve


uma boa aceitação. Entretanto, após sua morte em 1922, e ascensão de Stalin
(1878-1953) ao poder, a psicanálise passou a ser vista como uma “ciência
burguesa” sendo, então, banida da União Soviética.

Por volta de 1923, Sabina foi pioneira no campo da pedologia, que na tradução
literal para a língua russa, significa “ciência da criança”. Tanto Luria como Vygotsky
desenvolveram teorias baseados em suas ideias. Nesse período, o foco de trabalho
de Sabina era a compreensão psicológica entre o pensamento e a linguagem das
crianças. Já Vygotsky, focou na concepção do desenvolvimento cultural e linguagem
das crianças. Sabina foi uma forte e importante fonte teórica para Piaget e Vygotsky,
entre outros tantos.

Foi um período de muito trabalho, mas Sabina continuava a enfrentar terríveis crises
financeiras. Trabalhou na Sociedade Psicanalítica Russa, no Instituto Estatal de
Psicanálise, fez parte da presidência da Associação Psicanalítica Russa e por fim,

11
decidiu retornar a sua cidade natal, Rostov em 1924. Chegando lá, reatou seu
relacionamento com o marido, Pavel. Em 1926, Sabina teve sua segunda filha, Eva.
O relacionamento se manteve até 1937, quando Pavel faleceu em decorrência de
um ataque cardíaco.

Entre 1926 e 1930, Sabina trabalhou como pedóloga no ambulatório escolar e em


uma policlínica psiquiátrica onde atuou com crianças e criou várias técnicas de
tratamento. Escreveu muitos textos, sendo um deles “Desenhos infantis com os
olhos abertos e fechados”.

Por volta de 1936, a pedologia foi banida da União Soviética por Stalin. A pedologia
era compreendida, pelo partido comunista, como “pseudociência burguesa”.

Sabina passou a trabalhar meio período e sua filha, Renata, atuava como
enfermeira. O salário mal dava para o básico. Como forma de subsistência,
eventualmente, Renata e Eva tocavam instrumentos.

Nesse período, os russos viviam com medo constante. Stalin perseguiu, exilou e
matou os considerados dissidentes. O palácio onde residia a família de Sabina foi
confiscado pelo partido comunista e transformado em moradia coletiva (LAUNER,
2014).

Os anos 1937 e 1938 foram os mais trágicos na vida de Sabina. Os três irmãos mais
novos foram executados pelos russos, acusados de serem inimigos do estado. Além
disso, seu marido e seu pai faleceram.

Com o surgimento da Segunda Guerra Mundial, que durou entre os anos 1939 e
1945, a situação da população dos países europeus ficou ainda mais complicada.
Na Alemanha, havia o partido nazista liderado por Adolf Hitler (1889-1945) que tinha
por objetivo conquistar alguns países da Europa. Renata morava em Moscou e ouviu
sobre a ameaça de invasão dos alemães. Viajou até Rostov e permaneceu ao lado
da mãe e da irmã.

No dia 27 de novembro de 1942, todos os judeus, incluindo Sabina e suas duas


filhas foram levados para uma região afastada da cidade e executados com fuzis.

12
Sabina teve oportunidade de fuga por diversas vezes, mas não acreditava que os
alemães fossem capazes de tal atrocidade e assim, permaneceu em Rostov até sua
morte. Sabina foi morta aos 57 anos de idade, Renta aos 39 e Eva, 26.

2.1. Seu legado


Sabina escreveu em seu diário, em 1905, que quando morresse, queria que em seu
túmulo fosse plantado uma árvore de carvalho. Infelizmente, seu desejo não pode
ser realizado. No entanto, no local onde possivelmente ocorreu seu assassinato,
alguém (não mencionado) plantou a árvore muitos anos depois.

Último desejo. Após minha morte, somente permitirei que minha cabeça
seja dissecada, se não for muito terrível de olhá-la. Nenhuma pessoa jovem
estará presente na dissecação. Somente o estudante mais interessado
poderá observar. Eu deixo meu crânio para nossa escola. Este deve ser
colocado em um recipiente de vidro e decorado com flores eternas. No
recipiente de vidro deve ser gravado (em russo): ‘Permita a jovem vida tocar
na entrada do túmulo e deixe a indiferente natureza brilhar com eterno
esplendor’. Meu cérebro, eu dou a você. Coloque-o em um belo vaso
similarmente decorado e nele deve estar escrito as mesmas palavras. Meu
corpo será cremado. Mas ninguém estará presente. Divida minhas cinzas
em três partes. Coloque uma das partes em uma urna e envie-a para casa.
Espalhe a segunda parte sob o chão de nosso maior campo. Plante uma
árvore de carvalho e escreva: ‘Eu também fui um ser humano e meu nome
era Sabina Spielrein’. Meu irmão dirá a você o que será feito com a terceira
parte. (Spielrein, 1905, In: Wharton, 2001, p.97)

Assim como aconteceu com muitas mulheres da ciência na história, Sabina teve
uma vida marcada por exclusões, rupturas, mas também inclusões e recomeços.
Era, de certa forma, uma mulher subversiva, a frente da sua época. Suas crises na
infância e adolescência não a tornaram submissa e “entregue”, ao contrário, a
impulsionou a um novo florescer, a um renascimento.

Foi rotulada como mulher histérica e assim como tantas outras da época, não
aceitou e foi além. Sabina tornou-se médica, psicanalista e rompeu com a estrutura
machista e patriarcal de seu tempo.

Sabina foi esquecida. Uma maneira de remediar essa invisibilidade, é recuperar


suas contribuições para a história da psicanálise, da psicologia e da psiquiatria.

O legado de Sabina fica claro para todos aqueles que se interessam e pesquisam
sua vida e obra. De acordo com Launer (2014, p. 246), seu legado perpassa áreas.
Podemos citar o conceito de “instinto de morte” que Freud utilizou em seu texto
13
“Além do princípio do prazer” (1920); sua tese de doutorado sobre o diálogo no
tratamento de pacientes diagnosticados com esquizofrenia, o primeiro a ser escrito
sobre o tema; seu trabalho de conclusão no curso de medicina que foi o primeiro
trabalho de doutorado aceito com a abordagem psicanalítica e publicado em um
jornal psicanalítico; no artigo “Contribuições para o conhecimento da psique infantil”
(1912), Sabina escreveu sobre as fantasia infantis em relação à gravidez e ao
nascimento, sendo a primeira a abordar o assunto; o artigo “A sogra” (1913) foi o
primeiro a abordar essa relação nora-sogra e interações familiares; pioneira na
pesquisa observacional de como a criança conversa; pioneira ao articular linguística,
psicanálise e desenvolvimento infantil; primeira pessoa a utilizar brincadeiras com
crianças, entre outras tantas e importantes contribuições.

2.2. A escola
Em 1923, em sua cidade natal, Sabina foi convidada a dirigir a clínica psicanalítica
para crianças, uma inédita experiência do jardim de infância psicanalítico, conhecido
como Lar Experimental para Crianças, Casa Branca ou Berçário Branco – nomes
dados à instituição por que as paredes e os móveis serem todos brancos).

O projeto educativo da Casa Branca, pela ótica psicanalítica, levava em conta o


fenômeno transferencial no relacionamento entre as crianças e os educadores
tentando, assim, instaurar uma relação baseada na confiança e afetividade e não na
autoridade.

Nessa escola não cabia maus-tratos e punições corporais, que era o que acontecia
na educação tradicional. As crianças eram autorizadas a satisfazer sua curiosidade
sexual onde os educadores não reprimiam a masturbação. Além disso, instauravam
nas crianças as relações igualitárias.

Cerca de trinta crianças filhas de dirigentes e funcionários do Partido Comunista


foram acolhidas na escola a fim de serem educadas segundo princípios marxistas e
psicanalíticos.

A Casa Branca encerrou suas atividades em 1924, sob condições obscuras.

14
3 CURIOSIDADES
Os diários e cartas de Sabina foram descobertos em Genebra na década de 1980,
mas o que sabemos sobre sua história vem de um livro publicado em 1994. Esse
livro trouxe seu relacionando com Carl Jung para o conhecimento público. Esse fato,
por muitas vezes, desmerece a importância de Sabina na história da psicanálise e
psiquiatria. A tratam como “a amante de Jung” ou sua paciente histérica que se
tornou médica e não como a mulher que foi médica e psicanalista, “apesar” de tudo.

Filmes sobre Sabina Spielrein:

- Um método perigoso (2011)

- Jornada da alma (2003)

- My name was Sabina Spielrein (2002)

4 CONCLUSÃO
Sabina deixou seu grande talento, pioneirismo e luta para a posteridade. Sua luta foi
totalmente pacífica. Não “carregou” um único inimigo por toda sua vida e não
levantou uma bandeira ideológica.

Infelizmente, pouco representada na história da psicanálise, psiquiatria e psicologia,


Sabina deixou como herança sua energia, força e brilhantismo intelectual. Não tinha
medo de se envolver em qualquer questão que fosse. Era uma mulher com grande
energia emocional e intelectual e se entregava, de fato, ao que acreditava. Sabina
foi uma mulher apaixonada pela vida, pelas pessoas, pela psicanálise e pelo
conhecimento. Apesar de todas agruras que sofreu durante a vida, possuía uma
inesgotável capacidade de recuperação. Sabina Spielrein foi a primeira psicanalista
importante da história e até bem pouco tempo, completamente esquecida.

Uma maneira de remediar essa invisibilidade, é recuperar suas contribuições para a


história da psicanálise, da psicologia e da psiquiatria. Seu valor para a história vai
além de seus feitos. Contar sua história é uma maneira de fortalecer e reacender a
vida e contribuição de todas as mulheres, não somente as psicanalistas, que foram
marginalizadas pela historiografia tradicional da ciência.

O que mais marca o trabalho de Sabina, além do pioneirismo, foi o de mostrar como
as mulheres puderam contribuir nas áreas científicas, mas que foram esquecidas.

15
O nome de Sabina vem aos poucos recebendo seu tão importante e merecido
mérito, mas ainda há muito o que resgatar. Não somente ela, mas todas as
“Sabinas, Annas, Margaretes, Karens”. Mulheres que foram excluídas, silenciadas e
apagadas da história.

REFERÊNCIAS
CAROTENUTO, A. A Secret Symmetry: Sabina Spielrein between Jung and
Freud. New York: Pantheon Books, 1982.
CHINALLI, Myriam. A história da médica russa pioneira no estudo da psique
infantil. Brasil Educação, 8 de ago. de 2016. Disponível em:
https://revistaeducacao.com.br/2016/08/08/historia-da-medica-russa-pioneira-no-
estudo-da-psique-infantil/
CROMBERG, Renata Udler. O amor que ousa dizer o seu nome. Sabina
Spielrein: Pioneira da psicanálise. São Paulo, 2008. Tese (Doutorado em
Psicologia). Instituto de Psicologia. Universidade de São Paulo.
FALCÃO, Sabrina. Quem é Sabrina Spielrein? 15 de abr. de 2018. Disponível em:
https://sabrina-falcao.medium.com/quem-%C3%A9-sabina-spielrein-23ab0988bb9
LAUNER, J. Sex versus Survival: The life and Ideas of Sabina Spielrein. New
York: The Overlook Press, 2014.
RICHEBÄCHER, S. Sabina Spielrein: De Jung a Freud. RJ: Ed. Civilização
Brasileira, 2012.
ROCHA, Luana Fonseca da Silva. Sabina Spielrein (1885-1942): uma análise
história de sua vida e obra no contexto das mulheres na psicanálise.
Dissertação (Mestrado em PPG em Ensino, Filosofia e História das Ciências) –
Universidade Federal da Bahia. Salvador-Bahia, 2018.
SOUSA, Mariana. Sabina Spielrein e o conceito de Berçário Branco. Colégio
Web, 14 de mai. de 2014. Disponível em:
https://www.colegioweb.com.br/curiosidades/sabina-spielrein-e-o-conceito-de-
bercario-branco.html

16
17

Você também pode gostar