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CRISTIAN AZEVEDO DE CAMARGO

JOYCE APARECIDA DA COSTA CRUZ


LETÍCIA VITÓRIA MOURA BORGES
THAMIRES GABRIELLE MACENA FERREIRA

REFORMA PSIQUIÁTRICA

TRÊS LAGOAS – MS
2023
CRISTIAN AZEVEDO DE CAMARGO
JOYCE APARECIDA DA COSTA CRUZ
LETÍCIA VITÓRIA MOURA BORGES
THAMIRES GABRIELLE MACENA FERREIRA

REFORMA PSIQUIÁTRICA

Trabalho desenvolvido pelos discentes do


quarto período para a disciplina “Psicologia e
Saúde”, na graduação de Psicologia, em
AEMS – Associação de Ensino e Cultura de
Mato Grosso do Sul – Faculdade Integradas.

Docente: Jean Claudio dos Santos Parra.

TRÊS LAGOAS – MS
2023
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 01
2. NISE: O CORAÇÃO DA LOUCURA …………………………………...................... 02
3. HOLOCAUSTO BRASILEIRO ……………………………………………………… 03
4. BICHO DE SETE CABEÇAS …………………………………………………………04
5. CONCLUSÃO …………………………………………............................................... 06
REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 08
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1. INTRODUÇÃO

O trabalho tem por objetivo trazer resenhas críticas sobre as obras cinematográficas
“Nise: O Coração da Loucura”, “Bicho de Sete Cabeças” e “Holocausto Brasileiro” como
forma de abordar a relação do homem com questões de saúde mental.
Os filmes se passam no Brasil de diferentes épocas e explanam a evolução dos temas
que ganharam destaque em seus períodos, que vão desde tratamento por meio da
eletroconvulsoterapia (os famosos choques na cabeça) até a visão de que comportamentos
comuns a certas fases da vida (como a adolescência) são na verdade fruto de problemas
mentais.
Por fim, utilizando os artigos disponibilizados, traremos uma reflexão sobre a reforma
psiquiátrica, tendo em mente as referências visuais proporcionadas nos filmes, como forma de
evocar sua importância e o desenvolvimento dessa temática no Brasil.
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2. NISE O CORAÇÃO DA LOUCURA

Nise: O Coração da Loucura é baseado na história de uma brasileira, médica psiquiatra


chamada Nise da Silveira. O filme estrelado em 2015 conta como Nise revolucionou o
tratamento psiquiátrico no Brasil, especialmente aqueles com diagnósticos de esquizofrenia,
através da utilização da arte e da terapia ocupacional.
O filme nos mostra as características de mudanças que Nise vinha a desenvolver na
sua jornada como médica psiquiatra. Sua história se passa nas décadas de 1940 e 1950 pós
guerra mundial, onde o mundo passava por grandes mudanças sociais, sua história vivida
principalmente no Rio de Janeiro que em época era o grande polo do Brasil nos mostra os
pontos marcantes do tratamento psiquiátrico.
Nise ao aceitar o trabalho em um centro psiquiátrico se depara logo no início com a
realidade cruel dos cuidados com os pacientes do local, tratados como animais, Nise se via
chocada com tamanha brutalidade. Os diversos meios punitivos utilizados pelos médicos do
local incluíam:
● Eletrochoque: Uma prática comum na época onde era descarregado uma carga elétrica
forte na cabeça do paciente para que o mesmo entrasse em convulsão, resultando por
fim em danos físicos e mentais
● Contenção física: Consistia em amarrar os pacientes para que eles não causassem
problemas aos funcionários das instituições médicas.
● Terapia ocupacional forçada: Basicamente era induzir os pacientes a trabalharem de
forma árdua, como em construções e em trabalhos manuais sem nenhum propósito real
terapêutico.
Nise não acreditava na cura através da violência, enxergando a crueldade dos
tratamentos utilizados, a médica foi trocada de setor em seu trabalho e manejada para um
setor de terapia ocupacional, onde ela teria desenvolvido a empatia em seus tratamentos. Com
o passar do tempo, Nise acaba trazendo a arte para seus pacientes, usando em seus
tratamentos, meios artísticos para desenvolver a criatividade e qualidade de vida para os
internados. Os pacientes tiveram oportunidades de se expressar através da arte; música, dança
e pintura.
Um fato curioso sobre as pinturas feitas pelos pacientes de Nise, é que hoje são
expostas no "Museu de Imagens do Inconsciente", localizado no Rio de Janeiro, ganhou esse
nome por Nise acreditar que todas essas pinturas fossem expressões do inconsciente. Nise
utilizava da abordagem psicanalista em seu trabalho, uma grande entusiasta do trabalho de
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Carl Jung, onde trocou cartas contando suas experiências e insights sobre o tratamento dos
pacientes psiquiátricos.
Em resumo, "Nise: O Coração da Loucura" é um filme que apresenta uma perspectiva
valiosa sobre a psicologia e o tratamento de doenças mentais, destacando a importância da
empatia, da criatividade e do respeito pela diversidade de experiências humanas.

3. HOLOCAUSTO BRASILEIRO (BARBACENA)

O Hospital Colônia de Barbacena foi um hospital psiquiátrico, inicialmente


pertencente ao setor privado, fundado em 1903 na cidade de Barbacena, Minas Gerais. Esse
hospital é notório por ter sido palco de abusos, negligência e violações graves dos direitos
humanos, durante grande parte do século 20. A falta de investimento após sua estatização,
supervisão inadequada, políticas de saúde mental falhas e impunidade contribuíram para a
persistência de condições desumanas.
Havia uma linha de trem responsável por levar pessoas para a estação de Barbacena,
mas nunca ocorria uma viagem de volta. Esse fator fazia alusão aos campos de concentração,
dando origem ao nome de "Holocausto Brasileiro" como forma de se referir ao local, pela
forma que as pessoas eram levadas pra morrer lá.
Apesar de haver uma mensagem gravada na lateral do vagão, "LOUCOS", muitas das
pessoas que estavam nele não tinham nenhum problema na saúde física ou mental. O que nos
traz a reflexão de como o tema era abordado na época, era recorrente as vezes em que pessoas
eram levadas simplesmente por não serem adequadas ao padrão de normalidade social, por
fazerem parte de minorias sociais ou até mesmo por sua presença não ser desejada, a saúde
mental e a inclusão não eram levadas a sério, sendo apenas utilizada como ferramenta de
exclusão e abandono.
Apesar de serem tratados como inválidos e estarem em local que o objetivo seria o
tratamento psiquiátrico, os pacientes do hospital que apresentavam melhor físico eram
obrigados a trabalhar na construção civil pela prefeitura. O tratamento existente lá era feito
por pessoas que aprendiam a medicar e não por médico em si. Além disso, um dos
tratamentos mais comuns eram os choques na cabeça, aplicados inclusive naqueles que ali
estavam devido ao abandono e não por questões mentais - fazendo com que pessoas que antes
eram saudáveis desenvolvessem questões neurais. Barbacena não se limitava a adultos,
criança também eram levadas para lá e morriam, assim como adulto, de fome, frio e maus
tratos - não havia comida para todos, as pessoas dormiam empilhadas pois não haviam
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cobertas e camas suficientes (os de baixo da pilha morriam sufocados), o local era insalubre e
os que estavam ali para cuidar tratavam os pacientes com desprezo e tratamento no mínimo
violentos.
O número de internados em Barbacena era tão alto quanto as mortes que lá ocorreram.
Empilhados em carrocinhas, os corpos falecidos eram levados até o cemitério local, afastado
da cidade e dos normais - assim pensavam -, onde eram sepultados em pé, pois ocupa menos
espaço.
Depois do caso de barbacena ganhar fama pelos atentados contra os direitos humanos,
foram feitas muitas pesquisas, como resultado acharam livros de registros do hospital que
continuam informações sobre a venda, principalmente a faculdades da região, de corpos vivos
e mortos. Dos sem vida, a venda era mais simples, pois na maioria das vezes não havia
interesse daqueles que os enviaram ao local. Em relação aos vivos, eram informados aos
responsáveis legais que o indivíduo havia falecido e se não houvesse preocupação por parte
deles, os corpos vivos eram executados para venda; Mais de 1800 corpos foram vendidos.

4. BICHO DE SETE CABEÇAS

Narra a história de Neto, protagonista da trama, um adolescente com comportamentos


considerados problemáticos pela sociedade (andar de skate, pichar muros, fumar maconha) e
que tem pais conservadores que enxergam isso como rebeldia do filho. Percebe-se que a
relação pai e filho é bastante conturbada e que por esse motivo o diálogo entre eles é falho, o
que resulta em desentendimentos. Quando eles descobrem que o filho está fumando maconha,
decidem interná-lo em um manicômio para tratar, oque eles acreditavam ser, uma dependência
química. Nenhum teste sanguíneo é feito para comprovar a dependência ou qualquer outro
exame que comprove a necessidade da internação e mesmo assim ele é forçado a ficar. No
local, neto se depara com um ambiente insalubre e condições desumanas de sobrevivência.

Um dos pacientes do local alerta Neto sobre o uso de medicamentos que provocam
fome e que são utilizados para aumentar o apetite, fazendo com que eles se alimentem mais e
pareçam mais saudáveis. Em um diálogo, o médico da instituição fala sobre a verba que o
governo manda, e que se fosse preciso arranjaria mais pessoas para a instituição, citando
pessoas sem-teto, no intuito do governo não retirar o valor.

Na tentativa de fugir do local, Neto é punido e enviado várias vezes para uma espécie
de cela, lá fica sem alimento e condições de higiene básica. Além desse lugar utilizado para
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intimidar os pacientes do manicômio, eles ainda faziam “terapia de choque” e utilizavam


medicamentos sem prescrição médica correta.

Em uma visita feita pelo pai de Neto, o filho implora para voltar para a casa, a
tentativa dá certo e Neto retorna para casa. Com receio de ser enviado novamente para
reabilitação, e na tentativa de agradar a mãe, ele anda na linha por um tempo, mas sua
tentativa de se reajustar à sociedade não dura muito tempo e ele é enviado novamente para o
tratamento após um ataque de raiva.

Quando é enviado para uma nova instituição, não muito diferente da antiga, Neto se
envolve em vários desentendimentos com os funcionários do hospital, em um desses
desentendimentos ele é enviado para uma cela solitária, e ali decide colocar um fim a sua
vida. Como o ambiente era pouco ventilado, ele coloca fogo em um colchão na tentativa de
sufocar até a morte, mas um dos pacientes percebe o cheiro da fumaça saindo dali e pede
ajuda para retirar Neto, que por muito pouco sai do local com vida.

Baseado na história real de Austregésilo Carrano Bueno, que detalhou sua história em
seu livro autobiográfico Canto dos Malditos. O filme demonstra a precariedade do sistema
manicomial do Brasil por volta dos anos 70, e como nessa época a Luta Antimanicomial não
tinha tanta visibilidade, foram necessários muitos relatos como esse para o movimento tomar
força. Fica claro a relação de poder, onde as pessoas que comandam essas instituições tiram
proveito da adversidade das pessoas, e que havia uma fabricação da loucura, qualquer
situação era passível de internação desde um estresse a prostituição. Assim como Neto que
não foi diagnosticado com nenhum transtorno mental, e mesmo assim foi internado contra sua
vontade para tratar de uma suposta dependência química.

No passado houve muito descaso com as pessoas que a sociedade considerava


problemáticas, qualquer um que fugisse do modelo social ideal era enviado para receber
tratamentos como: eletrochoque, dosagens altas de medicamentos, uso da violência para
resolver situações diversas, entre outros. O filme deixa claro que algumas simples situações
que poderiam ser resolvidas com diálogo e apoio familiar, toma proporções exageradas e se
torna “bichos de sete cabeças”.
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5. CONCLUSÃO

Os longas metragens resenhados acima abordam a mesma problemática: a forma como


os pacientes de hospitais psiquiátricos tratavam seus pacientes e traz a provocativa que se
resume na seguinte questão: como a Reforma Psiquiátrica colaborou para a melhoria nas
condições desumanas sofridas pelos pacientes de hospitais psiquiátricos no Brasil? Antes de
responder a questão, é importante ressaltar que antes da Reforma Psiquiátrica os pacientes de
hospitais psiquiátricos eram tratados de forma cruel e muitas vezes eram submetidos a
condições degradantes e violentas que resultaram na piora do quadro do paciente e muitas
vezes os levavam à morte.
Em alas psiquiátricas ocorria que pessoas doentes eram tratadas como prisioneiras de
campos de concentração, como aconteceu no Hospital Colônia de Barbacena, visto que esses
pacientes eram considerados incapazes e perigosos, o que não era necessariamente verdade,
pois muitos hospitais não tinham profissionais para laudar o paciente e só o mantinham lá
devido a insistência familiar e para continuar recebendo recursos financeiros. Sobre a
insistência familiar, como evidenciado em Bicho de Sete Cabeças, os familiares muitas vezes
não sabiam como seus entes eram realmente tratados nesses hospitais e a mentira contada por
profissionais em relação ao estado de saúde mental do paciente colabora para que as famílias
acreditassem que estavam fazendo o melhor por seu ente querido.
Visto isso, a Reforma Psiquiátrica teve início no Brasil na década de 1970, com o
movimento que deu origem às 'Comunidades Terapêuticas', implantadas em alguns hospitais
psiquiátricos. Essas comunidades começaram a abraçar a ideia de conduzir eficazmente
abordagens terapêuticas, influenciadas pelas reformas implementadas em outros países e pelo
empenho pessoal de alguns psiquiatras. Em Nise: o coração da loucura, apesar de se passar
duas décadas antes da reforma adentrar o país, nota-se a influência positiva que um
profissional pode ter na vida de um paciente quando ele desempenha seu papel dentro dos
direitos humanos.
Em suma, houve três eventos políticos cruciais que impulsionam os primeiros
questionamentos do que veio a ser conhecido como a Reforma Psiquiátrica brasileira.O
primeiro deles ocorreu em agosto e setembro de 1977, com o Congresso Brasileiro de
Psiquiatria, realizado em Camboriú, Santa Catarina. O segundo marco importante foi o I
Congresso Brasileiro de Trabalhadores de Saúde Mental, que teve lugar em São Paulo, em
janeiro de 1979. Por fim, a fundação do Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental
(MTSM) em 1984 consolidou ainda mais essa transformação no cenário psiquiátrico nacional.
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A Reforma Psiquiátrica foi oficializada no Brasil em 2001 pela Lei 10.216, a qual
aborda a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais e redireciona o modelo
assistencial à saúde mental. Essa legislação estabelece a premissa fundamental de promover a
desinstitucionalização, isto é, uma substituição progressiva de hospitais psiquiátricos por
serviços comunitários de saúde mental e a defesa dos direitos humanos e a cidadania das
pessoas vivendo com transtornos mentais. Ademais, a Reforma Psiquiátrica tem sido
implementada por meio de políticas públicas e programas governamentais, como o Programa
Nacional de Avaliação dos Serviços Hospitalares (PNASH), o Programa de Volta para Casa e
o Programa De Volta para a Família.
Assim sendo, a Reforma Psiquiátrica colaborou com um papel significativo na
melhoria das condições desumanas enfrentadas pelos pacientes em hospitais psiquiátricos no
Brasil. Uma das mudanças mais notáveis foi a progressiva substituição dos hospitais
psiquiátricos por serviços comunitários de saúde mental. Esse movimento viabilizou a
desinstitucionalização dos pacientes, possibilitando sua reintegração na sociedade. Além
disso, a Reforma Psiquiátrica passou a valorizar a humanização como pilar do tratamento e
com isso trouxe uma abordagem mais acolhedora e respeitosa para com os pacientes, além de
promover a inclusão inclusão social das pessoas com transtornos mentais, atacando
diretamente o estigma e a discriminação que frequentemente as cercam.
Outro aspecto importante e colaborativo da mudança foi a valorização da participação
ativa dos pacientes e de seus familiares nos processos de tratamento. Essa abordagem
personalizada levou a um cuidado mais individualizado, moldado conforme as necessidades
únicas de cada indivíduo. Desta forma, a Reforma Psiquiátrica também incentivou o
desenvolvimento de equipes multidisciplinares de saúde mental, compostas por profissionais
de diversas áreas, como psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais e enfermeiros,
o que enriqueceu consideravelmente as abordagens de tratamento e permitiu uma visão mais
ampla e integrada da saúde mental.
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REFERÊNCIAS

BICHO de Sete Cabeças. Direção: Laís Bodanzky. [S. l.: s. n.], 2000. Disponível em:
https://youtu.be/F6Yky54edpo?si=nIgbmee51tB0Q-M2. Acesso em: 25 ago. 2023.

COUTO, Richard; ALBERTI, Sonia. Breve história da Reforma Psiquiátrica para uma melhor
compreensão da questão atual. Breve história da Reforma Psiquiátrica para uma melhor
compreensão da questão atual, [s. l.], jan/dez 2008. Disponível em:
file:///C:/Users/Usuario/Downloads/Breve%20hist%C3%B3ria%20da%20Reforma%20Psiqui
%C3%A1trica%20para%20uma%20melhor%20compreens%C3%A3o%20da%20quest%C3
%A3o%20atual%20(1).pdf. Acesso em: 27 ago. 2023.

HOLOCAUSTO Brasileiro. Direção: Armando Mendez e Daniela Arbex. [S. l.: s. n.], 2016.
Disponível em: https://youtu.be/jIentTu8nc4?si=8O4d1HD_vrQC1R_Y. Acesso em: 25 ago.
2023.

NISE: O Coração da Loucura. Direção: Roberto Berliner. [S. l.: s. n.], 2015. Disponível em:
https://youtu.be/-m4F6HA1gyE?si=rcM_gPO-76BSUeJz. Acesso em: 25 ago. 2023.

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