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ANÁLISE DO DOCUMENTÁRIO O HOLOCAUSTO BRASILEIRO

Ingresson Oliveira de Jesus

I. INTRODUÇÃO

O presente texto busca apresentar uma análise crítica sobre o documentário


O Holocausto brasileiro. Desse modo, através da apreciação crítica do
documentário, bem como o estudo dos referenciais teóricos, o texto irá construir um
panorama crítico-reflexivo a fim de pontuar os principais eventos apresentados no
filme.

II. ANÁLISE DO DOCUMENTÁRIO


O documentário nacional intitulado por O holocausto brasileiro foi lançado
em 6 de outubro de 2016 por Armando Mendez e Daniela Arbex, ambos diretores. O
referido trabalho é uma adaptação do livro lançado em 2013 por Daniela Arbex que
retrata os crimes cometidos contra os pacientes da Colônia de Barbacena, hospital
psiquiátrico de Barbacena – MG. O documentário segue com entrevistas de ex-
funcionários da instituição, que detalham como os pacientes eram tratados. Como
também, segue com entrevista aos pacientes que conseguiram sobreviver após o
internamento no referido hospital.
Tudo tem início em 12 de outubro de 1903, data em que foi fundado o
hospital psiquiátrico em Minas Gerais, na cidade de Barbacena. Apelidado como a
“Cidade dos Loucos”, a instituição médica tornou-se conhecida pelo tratamento cruel
e desumano que era conferido aos seus pacientes.
Análogo ao campo de concentração de Auschwitz, símbolo do Holocausto
orquestrado pelo nazismo ao longo da Segunda Guerra Mundial, o hospital
acomodava um grande número de pacientes que chegavam a vagões de carga,
apelidados como “trem de doido”. Conforme é narrado no documentário, muitos dos
pacientes enviados para o hospital não tinham patologias. Logo, os pacientes eram
encaminhados por motivos diversos onde se encontravam homossexuais,

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prostitutas, moradores de rua, opositores políticos, andarilhos, alcoólatras, entre
outros.
Importante destacar que qualquer pessoa que não se enquadrasse ao padrão
comportamental convencional da época era simplesmente diagnosticada como
portador de alguma doença mental. Destarte, poucos eram os pacientes que de fato
possuíam algum tipo de patologia. Em vista disso podemos tomar como reflexão a
análise feita pelo sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917), o referido autor
trouxe importantes contribuições para o campo da Sociologia e uma delas foi a
maneira de investigar os fenômenos sociais delimitando o seu próprio objeto: os
fatos sociais. Para Durkheim os fatos sociais é todo fenômeno constituído de vida
própria, é externo aos membros da sociedade e possuí a capacidade de conduzir as
ações sociais, isto é, a conduta dos indivíduos. Desse modo o sociólogo atribuiu
uma consciência coletiva da sociedade onde a mesma sistematiza suas
convenções.
Diante disso, na concepção durkheimiana, podemos apontar a coerção social
como a repressão da sociedade sobre aqueles indivíduos que não conseguem ou
rejeitam as convenções sociais pré-estabelecidas. Destarte temos a concepção do
teórico para investigar o caso das vítimas da Colônia de Barbacena, na qual eram
internadas muitas vezes por não se adequarem ao que era considerado “normal” na
época, logo deveriam agir de acordo com a coletividade.
O documentário também destaca o lucro financeiro da administração do
hospital com a venda clandestina de corpos para as instituições de ensino e
pesquisa do Brasil. Sobre esse fato tomemos a reflexão do filósofo alemão Karl
Marx (1818-1883), um dos maiores críticos do sistema capitalista. O referido teórico
analisava a sociedade através de um ponto de vista histórico e econômico. Destarte,
esse método de análise foi denominado de materialismo histórico.
Se de um lado Marx apontava a exploração da força de trabalho da burguesia
para com a classe proletária, no documentário é apresentado o lucro em que a
administração do hospital ganhava sobre o sofrimento daqueles que possuíam
apenas o corpo como objeto de valor para o capital. Sendo que um dos principais
objetivos da instituição era obter lucro com a comercialização dos corpos sem que
os familiares tivessem autorizado.
Outro teórico que foi muito importante para as Ciências Sociais foi o
sociólogo alemão Max Weber (1864-1920). O referido pensador idealizou a teoria da

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Ação social que investigava os fenômenos sociais através da apreensão
interpretativa do sentido da ação. Logo, tomando a perspectiva weberiana para
análise do documentário é possível compreender quais foram as motivações que
levaram os funcionários e a administração do hospital a agir de forma cruel. Muitos
profissionais despreparados para a função, pouco comprometimento com o trabalho
e foco apenas financeiro, menosprezando a saúde e a vida.

III. CONCLUSÃO

Além do que foi mencionado, o documentário apresenta como era o dia a dia
dessas pessoas que viviam no hospital. As cenas que fazem parte do documentário
apresentam crianças mal cuidadas, desnutridas, pessoas aglomeradas em um
ambiente sujo, degradante e sem qualquer tipo de estrutura.
Com uma grande taxa de mortalidade, os pacientes eram constantemente
torturados das mais diversas formas, o que incluía choques elétricos, banho através
de máquinas de alta pressão, privação alimentar, exposição ao frio, castigos físicos
e privação do sono. Através desse tratamento degradante muitos internos
acabavam morrendo. Outro fator existente era o internamento de crianças onde as
mesmas também sofriam pelo tratamento desumano fornecido pela instituição.
Conforme é exposto no documentário, muitas pessoas foram subjugadas
como loucas e perderam sua liberdade por motivos banais, crianças adoeceram por
não terem uma alimentação adequada, falta de medicamentos e cuidados básicos.
Tais revelações tornam o documentário impactante pela tamanha crueldade. O
telespectador mais sensível inevitavelmente sentirá um “nó na garganta”, pois o
documentário registra um acontecimento estarrecedor que ainda é de pouco
conhecimento das pessoas.
Em vista disso, o trabalho de Armando Mendz e Daniela Arbex tem grande
relevância para a sociedade, pois denuncia um dos maiores genocídios da história
do nosso país. Cabe ainda pensarmos quantas “Colônias de Barbacena” ainda
existem pelo nosso país. Ao contrário do que muitos pensam, é comum
encontrarmos casos de crimes ocorridos dentro de instituições prisionais do sistema
carcerário, clínicas de internação de dependentes químicos, os orfanatos e os
estabelecimentos que abrigam os idosos desamparados.

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Por esse motivo, o documentário se torna necessário para que as pessoas
tomem conhecimento dos fatos ocorridos e assim sejam capazes de refletir e agir
como sujeitos ativos na luta contra os crimes institucionais do nosso país.

REFERÊNCIAS

QUINTANEIRO, Tânia. Um toque de clássicos-Marx| Durkheim| Weber. Editora


UFMG, 2003.

HOLOCAUSTO BRASILEIRO - 60 Mil Mortes No Maior Hospício do Brasil. 2019.1


vídeo (1h30min49s). Publicado pelo canal Luc Anderssen. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=b6uoiYDfDEI>. Acesso em: 10 julho 2023.

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