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ASPECTOS PSICOEMOCIONAIS DO TRABALHO EM ENFERMAGEM

Camaçari – Ba
2022
KARLA IZABELLE SANTOS NASCIMENTO

MANICÔMIO E O QUE MUDOU

Atividade apresentada para


conhecimento e obtenção de
nota, para o curso de Técnico de
Enfermagem, avaliado pelo
professor(a): Nailú Bonfim.
Camaçari – Ba
2022

MANICÔMIO E O QUE MUDOU?


Rio de Janeiro, 1944. Quando soube que um dos internos do Hospital Pedro II
estava encarcerado havia mais de dois dias numa cela, a médica mandara
trancafiar. “Ele só precisa ser tratado como um ser humano!”, argumentou Nise. A
cena faz parte do filme Nise – O Coração da Loucura (2015) e sintetiza o papel da
mulher que mudou o tratamento psiquiátrico no Brasil.
Mais do que se rebelar contra os maus-tratos a pacientes, Nise transformou o setor
de terapia ocupacional da unidade num ateliê de pintura e modelagem, interagiu
com esquizofrênicos por meio das artes plásticas e encorajou os psicóticos a
conviver com cães e gatos, aos quais chamava de “coterapeutas”. “Nise da Silveira
sempre atuou da forma mais íntegra, humana e social possível, sendo um exemplo
para nós, psiquiatras”, diz o médico Antônio Geraldo da Silva, diretor da Associação
Brasileira de Psiquiatria (ABP).
Quando chegou ao antigo Centro Psiquiátrico Nacional, Nise encontrou um
ambiente, para dizer o mínimo, desumano. Seus pavilhões, superlotados,
lembravam os de uma penitenciária. Na maioria das vezes, os portadores de
doenças mentais viviam confinados em hospitais psiquiátricos como o de Juqueri,
em São Paulo, isolados de tudo e de todos, até a morte. Muitos eram submetidos à
camisa de força e a técnicas violentas como a lobotomia e o eletrochoque.
Estima-se que, só no Hospital Colônia de Barbacena, em Minas Gerais, mais de 60
mil internos, entre dependentes químicos, ativistas políticos e até mães solteiras,
tenham morrido, vítimas de negligência, isolamento social e tortura. “Os manicômios
não foram construídos com o objetivo de tratar, mas, sim, de excluir aqueles que não
se encaixavam no que se pensava ser um cidadão normal”, analisa o psiquiatra
Marco Aurélio Soares Jorge, doutor em saúde pública pela Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz).
Esses “depósitos de gente”, como os próprios médicos se referiam a tais
instituições, foram quase todos desativados no Brasil. Ainda existem 161 espalhados
pelo país. O Pedro II, onde Nise trabalhou de 1946 a 1974 quando foi aposentada
compulsoriamente, aos 69 anos, cedeu espaço ao Museu de Imagens do
Inconsciente.
Mas não foram só as instituições que mudaram. Os critérios para diagnosticar um
transtorno também sofreram uma evolução gradual. Um exemplo clássico é o
homossexualismo. Só em 1990 ele foi excluído da lista de distúrbios mentais.
A mudança na definição dos transtornos psiquiátricos

“Em linhas gerais, podemos dizer que tudo aquilo que foge dos padrões mais
aceitos dentro de uma sociedade é considerado loucura”, explica a médica Maria
Tavares Cavalcanti, diretora do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do
Rio de Janeiro. “Não há uma separação nítida entre o que é normal e o que é
patológico. O que há são normas que mudam de acordo com a cultura.”
Quanto ao personagem do início deste texto, aquele descrito como “um psicótico
com alto grau de agressividade”, seu nome é Lúcio Noeman (1913-1992) e algumas
de suas obras estão expostas entre as mais de 360 mil que fazem parte do museu
fundado por Nise em 1952.
“A loucura era até agora uma ilha perdida no oceano da razão”, escreveu Machado
de Assis (1839-1908) em O Alienista. “Começo a suspeitar que é um continente.” O
que diria o Bruxo do Cosme Velho se soubesse que, 136 anos depois da publicação
de seu conto, os transtornos psiquiátricos passaram a atingir 23 milhões de
brasileiros, quase o dobro do número de habitantes da cidade de São Paulo?
Sem diagnóstico precoce e terapia adequada, portadores de doenças mentais estão
sujeitos a mazelas que vão de incapacidade social anão tratados ou tratados
incorretamente”, aponta Silva. “Quanto mais tempo o indivíduo demora a receber
atendimento, mais complexo se torna o quadro e mais difícil a recuperação.”
Desde 2001, quando foi aprovada a Lei Antimanicomial no Brasil, hospitais
psiquiátricos estão sendo substituídos por Centros de Atenção Psicossocial (CAPs).
Em vez de serem internados por tempo indeterminado e de permanecerem isolados,
os pacientes recebem atendimento humanizado em regime diário e com equipes
multidisciplinares formadas por médicos, enfermeiros e psicólogos, entre outros
profissionais. Os casos mais graves são encaminhados para hospitais com
atendimento psiquiátrico.
Pioneiro, o CAP Itapeva, no interior paulista, surgiu em 1986 e, hoje, atende cerca
de 500 pessoas, entre egressos de hospitais psiquiátricos, pacientes indicados por
médicos e outros que procuram a instituição por conta própria. Lá, têm direito a três
refeições, corte de cabelo, atividades recreativas e oficinas de geração de renda,
como costura, marcenaria e informática.
Quando o paciente não tem onde morar, pode ficar nas residências terapêuticas. Ao
todo, são 489 em todo o país. “Quando comparados aos hospitais psiquiátricos, os
CAPs custam menos e funcionam mais”, avalia o psiquiatra Rodrigo Leite,
coordenador dos Ambulatórios do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de
São Paulo. “Se a procura é baixa, atribuo ao fato de que muitas pessoas custam a
aceitar que precisam de ajuda, temem sofrer preconceito ou desconhecem a
existência do serviço.”
Felizmente, o número de CAPs saltou de 516 em 2004 para 2 462 em 2017.
Enquanto isso, o de leitos de hospitais psiquiátricos caiu de 51 393 em 2002 para 25
009 em 2015. Mesmo assim, ponderam os especialistas, isso não basta. Outras
medidas são necessárias, como uma política de prevenção ao uso de álcool e
drogas e a ampliação do número de residências terapêuticas. “Todas as ações
devem ser pensadas com um único objetivo: oferecer o que há de melhor para o
paciente psiquiátrico”, enfatiza o diretor da ABP.
Que as lições de Nise da Silveira se juntem aos avanços terapêuticos para continuar
mudando essa história.

Marcos da psiquiatria no país

1831: José Martins da Cruz Jobim (1802-1878), pioneiro na psiquiatria, publica o


primeiro escrito sobre doenças mentais no Brasil.
1852: É inaugurado o Hospício de Pedro II, o “Palácio dos Loucos”, na Praia
Vermelha, Rio de Janeiro. É o primeiro do gênero por aqui.
1881: Um decreto do governo cria a cadeira de Doenças Nervosas e Mentais nas
Faculdades de Medicina da Bahia e do Rio de Janeiro.
1907: Criada, na capital fluminense, a Sociedade Brasileira de Psiquiatria,
Neurologia e Medicina Legal.
1921: Inaugurado o famigerado Manicômio Judiciário, órgão que se encarrega dos
doentes mentais que cometem delitos.
1987: Realizada a primeira Conferência Nacional de Saúde Mental, em que se
lança o lema “Por uma Sociedade Sem Manicômios”.
1992: O Ministério da Saúde regulamenta os Centros de Atenção Psicossocial
(CAPs). Internação? Só em casos extremos e sob ordem médica.
2001: Sancionada a lei que trata dos direitos dos pacientes com transtorno mental e
defende a gradativa desativação dos manicômios.
2008: Criação dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família, que recomendam a
inclusão de profissionais de saúde mental na Atenção Básica.
2015: A história da psiquiatra Nise da Silveira ganha as telas do cinema,
popularizando seu trabalho de humanização com os pacientes.

O que mudou nos tratamentos psiquiátricos Remédios Antes:

Os primeiros medicamentos começaram a ser desenvolvidos só na década de


1950. Tinham muitos efeitos colaterais. Tinham muitos efeitos colaterais. Depois:
Nas últimas quatro décadas houve uma avalanche de fármacos para depressão,
bipolaridade, esquizofrenia…

Eletroconvulsoterapia

Antes: O antigo eletrochoque era empregado de maneira indiscriminada (e sem


anestesia) em pacientes considerados agressivos.
Depois: A técnica atual, feita com todo cuidado, é usada só em casos mais graves
de depressão e restrita ao ambiente de pesquisa.

Cirurgia

Antes: A lobotomia era uma técnica altamente invasiva que cortava as conexões
entre os lobos frontais e demais regiões do cérebro.
Depois: Abolida em 1955, foi substituída por remédios e psicoterapia. Devido aos
riscos, não é mais reconhecida pelos médicos.
Psicoterapia
Antes: O tratamento parecia mais uma lição de moral. Os pacientes tinham de
seguir rígidas normas, sob pena de punição.
Depois: É uma ferramenta de autoconhecimento. Há várias modalidades, sempre
indicadas para o controle dos transtornos.

Fontes:
https://saude.abril.com.br/mente-saudavel/saude-mental-a-evolucao-dos-
tratamentos-psiquiatricos-no-brasil/#:~:text=2001%3A%20Sancionada%20a
%20lei%20que,sa%C3%BAde%20mental%20na%20Aten%C3%A7%C3%A3o
%20B%C3%A1sica.

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