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Carmo, Z. & Pollo, V. O CAPSi Dom Adriano Hipólito: uma instituição atravessada pela psicanálise?
Zélia Carmo2
Vera Pollo3
Resumo
O presente artigo visa a indagar até que ponto um Centro de Atenção Psicossocial _CAPS_ pode funcionar como uma instituição atravessada
pela psicanálise. Depois de um breve histórico sobre a origem dos CAPS e sua relação com a reforma psiquiátrica brasileira, as autoras
descrevem o funcionamento do CAPSi Dom Adriano Hipólito e o atendimento de um adolescente encaminhado por um hospital municipal.
Em seguida, abordam o conceito de “desejo do analista”, sua diferença em relação ao Wunsh freudiano e ao puro desejo de morte de
Antígona e suas características de desejo advertido, impuro, vazio de objetos e produtor de diferença entre o significante e o significado. Por
fim, mencionam a importância da “douta ignorância” para a prática analítica e retornam à relação entre a psicanálise e a atenção psicossocial,
para sustentar que o discurso do analista não é necessariamente antinômico à ideologia dos CAPS.
Abstract
This article aims to inquire up to which point a CAPS (Psychosocial Attention Center) may operate as an institution crossed by
psychoanalysis. After a brief historical on the origins of the "CAPS" and its relation with the Brazilian psychiatric reform, the authors
describe the operation of the CAPSi Dom Adriano Hipólito as well as the treatment of a teenager forwarded by a municipal hospital. In the
sequence, they approach the concept of "analyst's wish", the differences between it, the freudian Wunsch and the pure death wish in
Antigone, including its characteristics of adverted, impure, empty of objects wish, producer of difference between the significant and the
significance. Finally, the authors mention the importance of the "learned ignorance" for the analytical practice and they return to the
relationship between psychoanalysis and psychosocial attention to argue that the analyst's discourse is not necessarily antinomian to the
ideology of the CAPS.
1
Centro de Atenção Psicossocial à infância a juventude.
2
Psicanalista. Mestre em Psicanálise, Saúde e Sociedade (UVA, 2008); professora de Pós Graduação da Universidade Gama Filho do curso
de Educação Especial; Membro da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano/RJ; participante da pesquisa “A Clínica do
Sujeito” (UERJ). Endereço eletrônico: zcarmo@attglobal.net.
3
Psicanalista. Doutora em psicologia (PUC-RJ, 1997); professora do Mestrado em Psicanálise, Saúde e Sociedade (UVA) e da
Especialização em Psicologia Clínica (PUC-RJ); AME da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano; psicóloga do Núcleo de
Estudos da Saúde do Adolescente (HUPE-UERJ). Autora de “Mulheres histéricas” (Contra Capa, 2003).
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controlado. Depois desse dia, João ficou tratamento. Na segunda-feira, quando chegou ao
completamente isolado, até mesmo na escola. CAPSi, João estava chorando e jogando-se ao chão.
Vários profissionais acorreram, provocando uma
O discurso do pai deixa ver, de imediato, uma cena que nos pareceria equivalente a uma espécie
série de preconceitos relativos à homossexualidade de grande “embrulho” de pessoas. Então, a
e ao uso de drogas, assim como a projeção nos coordenadora pediu que todos se afastassem e que
outros – o amigo, a família da mãe - de um apenas a psicóloga ficasse com ele, para que João
sentimento de culpa, provavelmente em grande pudesse tomar a palavra. Naquele momento, nos
parte inconsciente, com vistas à lembrávamos da observação de Ana Cristina
desresponsabilização subjetiva. Figueiredo (1977) em seu livro “Vastas confusões e
Quando chegamos à enfermaria da Unidade atendimentos imperfeitos”, segundo a qual, apesar
Mista, sentimo-nos diante de uma cena de horror: dos atendimentos serem imperfeitos e confusos, é
João Paulo estava amarrado à cama, falava possível exercer a função de psicanalista na
arrastado, dizia que queria ir embora, queria lutar instituição.
jiu-jitsu, fazia alguns gestos de luta, em seguida Inicialmente, João não queria falar, sentar ou
permanecia letárgico. Conversamos separadamente outra coisa qualquer, queria apenas ficar
com os pais, os quais se mostravam bastante perambulando, aparentemente sem destino, no
desnorteados. “Nós apenas queremos que ele fique espaço do CAPSi. Estava angustiado e dizia querer
melhor. Ele não era assim!” disse a mãe. O pai de ir embora. Porém, ao escutar seu nome próprio em
João revela que ele e a mulher são separados, mas tom claro e enfático - “João! Vamos conversar!”- o
vivem na mesma casa. Declara: adolescente parou e olhou na direção daquela que o
pronunciara. A intimação ao comparecimento do
Temos liberdade de viver o que queremos. Os nossos sujeito, para além do indivíduo ou da pessoa,
filhos sabem disto e nunca houve nenhum problema. surpreendeu-o.
Nós nunca nos agredimos fisicamente. O problema
neste momento é que estou desempregado. Nosso
Ao não acolhermos a demanda de que o
filho menor está triste com tudo isto. João começou deixássemos partir, orientávamo-nos também pelo
a ficar desagradável em casa e Tiago começou a se comentário de Freud em Linhas de progresso na
queixar de que ele estava muito chato, implicante e terapia psicanalítica, Freud (1919 [1918], 1976:
batendo nele. Ele começou a ficar estranho depois 205), ressaltando que “cruel como possa parecer,
de tomar a injeção e de sair com aquele cara. Temos devemos cuidar para que o sofrimento do paciente,
certeza disto! em um grau de um modo ou de outro efetivo, não
acabe prematuramente”. Neste texto, ele comenta
Dois fatos também chamaram a nossa atenção igualmente que há situações em que o analista deve
do ponto de vista fenomenológico. Primeiramente, saber combinar a influência analítica com a
o fato de que João e o pai são igualmente obesos. A educativa, agindo como uma espécie de consciência
família parecia dividir-se em dois pequenos grupos: crítica que advém de fora, o que, talvez,
de um lado, a mãe e o filho mais novo, descritos pudéssemos traduzir na linguagem lacaniana como
como pessoas que se interessam, respectivamente, uma situação em que o analista precisaria fazer
pelo trabalho e pelo estudo; de outro, o pai e João, semblante de S1 para o sujeito, isto é, de
este, desempregado, aquele, fora da escola. Porém, significante do ideal do eu em sua vertente
surpreendeu-nos ainda mais a aparente falta de imperativa, desprovida de duplo sentido e,
censura com que o pai relatou que, quando consequentemente, de ambiguidade.
necessário, uma tia materna, não médica, dera a Ao ser conduzido até a sala do médico, João
João a mesma medicação controlada da avó. Isto voltou a se jogar violentamente ao chão. Diante
porque João ameaçara fugir de casa, afirmando que disto, lhe dissemos: “Eu não vou te segurar, assim
“havia pessoas querendo matá-lo”. Diz o pai: “ela você vai se machucar. Você é bem maior que eu. Eu
deu para ele a mesma medicação que a minha não consigo te segurar e não sei o que você quer. O
sogra toma. Ele estava como ela, totalmente que você quer?”. João respondeu: “Eu quero ir
descontrolado”. embora! Não quero ficar aqui!” Indagamos: “Por
Apesar da aposta da “mini-equipe de que você quer ir embora? Você só poderá sair
sobreaviso” de que o adolescente ficaria melhor em daqui se você se organizar. Está bem?”. Então João
casa, isto não impediu que ficássemos inseguros levantou-se, depois se sentou aparentemente
com a orientação terapêutica de que João voltasse apaziguado.
ao CAPSi somente na segunda-feira pela manhã, Diremos que, naquele momento, a palavra teve
após a correção da medicação por parte do médico efeito de contenção.
e a ênfase na necessária inclusão dos pais no
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Pelo efeito de fala, o sujeito se realiza sempre no assumir a responsabilidade de atendimento à vida
Outro [...] O efeito de linguagem está o tempo todo psíquica dos indivíduos e dos profissionais; e de
misturado com o fato, que é o fundo da experiência auxiliar na organização do funcionamento
analítica, de que o sujeito só é sujeito por ser institucional, de modo a viabilizar a modificação do
assujeitamento ao campo do Outro...”. (Lacan, 1985 funcionamento interno do cliente. (Altoé, 2005, p.
[1964], p. 178) 80)
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encontrado -, por isso se diz que o desejo faz É um texto que participa dos primórdios da
barreira ao gozo. O gozo pode ser letal, ele não é elaboração da moral da felicidade, a qual, segundo
necessariamente antinômico à inércia, a demanda e Lacan, ainda é a nossa moral. Pois a demanda que é
o desejo o são, pois feita cotidianamente aos analistas não é outra senão
demanda de felicidade, o que prova que
É na medida em que a demanda está para além e compartilhamos dessa moral.
para aquém de si mesma, que, ao se articular com o O texto da tragédia de Antígona ilustra
significante, ela demanda sempre outra coisa, que, magistralmente o limite tênue que, a um só tempo,
em toda satisfação da necessidade, ela exige outra separa e conjuga o desejo e a morte. Antígona é
coisa, que a satisfação formulada se estende e se
enquadra nessa hiância, que o desejo se forma como
uma jovem que desafia as leis da cidade, ciente de
o que suporta essa metonímia, ou seja, o que quer que seu ato a conduz diretamente à morte. Nos
dizer a demanda para além do que ela formula. E é termos de Lacan, ela é também a tragédia da paixão
por isso que a questão da realização do desejo se e da fidelidade ao desejo que se tornou visível, isto
formula necessariamente numa perspectiva de Juízo é, que se deu a ver. Conhecemos alguns detalhes de
final. (Lacan, 1988 [1960], p. 353) sua história. Após a morte de Édipo e de Jocasta,
seus dois filhos homens, Eteocle e Polinices, se
No texto intitulado A direção do tratamento e assassinaram mutuamente. Creonte, o governante,
os princípios de seu poder, Lacan ainda não não autoriza o sepultamento de um deles, Polinices,
emprega a expressão “desejo do analista”, mas que é considerado traidor das leis do país. Porém
observa que “o paciente não é o único com Antígona considera que todo ser humano tem
dificuldades a entrar com sua quota” na análise, direito à sepultura, porque esta é a continuação do
pois o analista também paga caro: com sua pessoa, nome próprio. Em suas palavras,
suas palavras e seu “juízo mais íntimo” (Lacan,
1998[1958], p. 593). Ele empresta sua pessoa aos Não se trata de acabar com quem é homem como se
fenômenos transferenciais em que é confundido faz com um cão. Não se pode acabar com seus restos
com as figuras imaginárias e reais da história de esquecendo que o registro do ser daquele que pôde
cada analisante; ele tem o dever de interpretar, mas ser situado por um nome deve ser preservado pelo
“essa interpretação, quando ele a faz, é recebida ato dos funerais. (apud Lacan, 1988 [1960], p. 337-
8)
como proveniente da pessoa que a transferência lhe
imputa ser.” (Idem, ibid., p. 597) E onde fica seu
desejo? Na implicação do que ele tem de mais Mas isso não é tudo. Antígona argumenta que,
íntimo, já que não teria outro recurso “para intervir uma vez que seus pais já estão mortos, ela jamais
numa ação que vai ao cerne do ser (Kern unseres poderia ter outro irmão. Ela talvez nem lutasse
Wesens, escreveu Freud): seria ele o único a ficar tanto para enterrar um marido ou um filho, uma vez
fora do jogo?” (Idem, ibid., p. 593) que ela ainda poderia ter outro marido ou outro
filho. Mas são as frases em que Antígona já se
reconhece morta, embora estando viva, que levam
Uma investigação sobre a ética
Lacan a situá-la no espaço “entre-duas-mortes.” Por
um lado, o coro – ou seja, as pessoas que se
Em 1959, Lacan se põe a investigar a ética da emocionam – denunciam sua inflexibilidade, mas
psicanálise em continuidade ao seminário do ano também sua beleza, por outro, sua lamentação só
anterior cujo tema era o desejo e sua interpretação. começa quando Creonte decreta que seu castigo
Novas perguntas são levantadas. O que orienta a consistirá em ser enterrada viva, pois “há muito
ação do analista? Até que ponto ele deve ou não tempo que ela nos dissera que já estava no reino dos
recusar-se a satisfazer a demanda do analisante? mortos, mas desta vez a coisa é consagrada no fato.
Em O Seminário, livro 7: a ética da psicanálise Seu suplício vai consistir em ser trancada, suspensa,
(1959-60), antes de lançar o termo “desejo do na zona entre a vida e a morte” (Idem, ibid., p. 339).
analista”, Lacan faz uma longa e minuciosa análise O coro enaltece o brilho de Antígona, a beleza
da tragédia Antígona7, de Sófocles. Ele a considera de seu porte enquanto caminha em direção à tumba
referência indispensável à pesquisa sobre o que o onde será encerrada. Todavia este brilho produz um
homem quer e aquilo contra o qual ele se defende. efeito de cegueira, de obscurecimento. Lacan
considera que este efeito de beleza representa a
última barreira antes do encontro do sujeito com a
desejo é a causa do desejo, e esse objeto causa do desejo é o castração. Trata-se da beleza que resulta da relação
objeto da pulsão – quer dizer, o objeto em torno do qual gira a
pulsão” (1964/1985, p. 229). do herói com o limite, pois o efeito do belo no
7
Terceira peça da trilogia que começa com Édipo rei e desejo só acontece quando o raio do desejo foi
prossegue com Édipo em Colono.
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demasiado longe, tão longe que se deu a refração do O desejo do analista será caracterizado também
raio. A personagem trágica de Antígona se situa por Lacan (1964) como desejo de obter a maior
para- além do registro dos bens e da ética diferença possível entre o significante e o
aristotélica da temperança, do meio-termo e da significado, ou seja, entre o que se ouve e o que se
virtude. Ela quer ir além do limite que a vida lê. Três anos depois, na famosa Proposição de 9 de
humana não poderia transpor por muito tempo, outubro de 1967 sobre o psicanalista da escola, ele
além da Até, isto é, do mais atroz. Ir além do limite será situado na passagem de analisando a analista.
é entrar na zona em que há a possibilidade de Em outras palavras, situado no assim chamado
transformação do humano no inhumano. Por isso, “passe” que corresponde a uma importante
Lacan chega a se perguntar se Antígona não estaria mudança discursiva: do discurso histérico da
perpetuando o desejo incestuoso de seus pais. Então impotência ao discurso do analista, em que não há
responde: lugar para grandes idealizações. É o passe de
analisante a analista, o qual pressupõe que, desde o
Antígona leva até o limite a efetivação do que se início da análise, o desejo do analista estava
pode chamar de desejo puro, o puro e simples desejo presente na linha do horizonte.
de morte como tal. Esse desejo, ela o encarna [...] O Como vimos, Lacan (1958) nos adverte bem
desejo da mãe, o texto faz alusão a ele, é a origem de
tudo. O desejo da mãe é, ao mesmo tempo, o desejo
cedo de que tomar a psicanálise como uma prática
fundador de toda a estrutura [...] é um desejo que visa à “reeducação emocional do paciente” é
criminoso”. ( Idem, ibid., p. 342) desvirtuar a virulência da descoberta freudiana. Só
se ocupa a posição de psicanalista via o desejo do
Ao fim de sua leitura, Lacan conclui que a analista cuja ética não é a mesma do pedagogo.
imagem trágica de Antígona está latente em cada Outra questão crucial é de onde parte a resistência
um de nós, é parte de nossa moral, nós, que em um processo de análise. Ela não vem do
vivemos em um momento histórico cuja expressão analisante, mas do próprio analista, pois é a este
política assim se formula: “Não poderia haver que compete o dever de oferecer um lugar vazio de
satisfação de ninguém sem a satisfação de todos” objetos em seu próprio desejo. O analista não pode
(Idem, ibid., p. 351). No serviço dos bens, desejar que seu analisante escolha esta ou aquela
prossegue Lacan, o limite que nos detém é o profissão, que faça este ou aquele curso, esta ou
primum vivere, isto é, o temor da morte. No serviço aquela opção sexual e assim por diante. Porém,
do belo - neste para-além da dialética hegeliana do deve propiciar o surgimento de um saber que antes
senhor e do escravo – a experiência do desejo se faz estava apenas no inconsciente do analisando, pois o
sempre por meio de algum ultrapassamento do inconsciente é um saber que “não se sabe”, no
limite. É por isso, então, que o analista deve ter um duplo sentido da expressão: um saber não sabido,
desejo advertido. O analista não é parceiro do amor, um saber cujo “se” corresponde ao sujeito
ele não tem amor para dar, mas deve ter desejo, indeterminado.
desde que não seja um desejo impossível. É necessário ainda que o desejo do analista o
situe na via da “douta ignorância”, expressão que
Lacan extrai de Nicolau de Cusa e que se aproxima
O que caracteriza o desejo do analista claramente da recomendação freudiana segundo a
qual é preciso que cada caso seja tomado como se
Alguns anos depois, Lacan volta à mesma fosse sempre o primeiro, caso contrário, o analista
questão, para lembrar mais uma vez que o desejo do não teria como “encaminhá-lo pelas vias de acesso
analista não é um desejo puro, localizando-o no ao saber (simbólicas), que será sempre perpassado
momento da análise em que “pode surgir a pelo não-saber (real).” (Rinaldi, 1992:20) A nosso
significação de um amor sem limites” (1998 [1964], ver, as duas condições propostas por Lacan para
p. 248). Assertiva bastante curiosa, à qual Lacan que haja uma prática analítica – independe de onde
ainda acrescenta que se trata de um amor fora dos esteja o praticante - são justamente o desejo do
limites da lei, o que entendemos como fora da lei analista e a douta ignorância. Elas decorrem, é
edipiana, correspondendo à proposta de que a claro, da análise do analista, da qual se espera a
análise possa sempre ir além do pai, ou seja, além introdução do sujeito na ordem do desejo, ou seja,
do Édipo e de todas as suas conseqüências uma “conversão ética radical.” (Lacan, 1965)
subjetivas, isto é: as inibições sexuais, os desejos
incestuosos, o repúdio à feminilidade em homens e
mulheres e a culpa pela assunção subjetiva de um
crime primordial.
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