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ATUAÇÃO DO

PSICÓLOGO
NO CAPS
Em situações
de violência
Luta Antimanicomial
Os loucos foram associado a desordem,
ociosidade, torna-se sinônimo de demência,
insensatez e irresponsabilidade.
Modelo asilar: Loucura e periculoridade.

”A loucura não é um fato de


natureza, mas da civilização’’
Michel Foucault( 1926-84)
1990
Por uma
sociedade
Hopital sem
Colônia de manicômios

Barbacenas Lei Federal do Brasil


O projeto politico
da reforma
10216 de 2001
1900- denúncias de 1970-’s Reforma
Psiquiatrica Brasileira Sanitária e
violências, maus
Psiquiátrica, com
tratos e terapias
Movimento dos Politica Nacional
abusivas, no Brasil e
Trabalhadores em da Saúde Mental
no mundo
Saúde Mental (MTSM) (PNSM)

1987- II
1940- Movimento PORTARIA Nº 3.088
Conferência
internacional da
Nacional MTSM. Rede de
1852- Brasil Reforma Psiquiátrica
Em Bauru é Atenção
1°Hospital Psquitrico Psicossocial
criado o NASP-
Dom Pedro II
Núcleo de
CAPS, Atenção Básica,
Atenção
Urgência e
Psicossocial
2° Guerra Mundial
Emergência, SRT e
David Unidades de
Capistrano Acolhimento
1940 no Brasil
Movimentos importantes de transformação da assitência e
desospitalização psiqutrica
Centro Psiquitrico Nacional Engenho de Dentro

Nise da Silveira (1905-1999) Dona Ivone Lara(1921-2018)


Centro de Atenção Psicossocial (CAPS)
Atendimento psicossocial e multiprofissional a pessoas com
sofrimento mental grave e persistente, incluindo os decorrentes
do uso de álcool e outras drogas
CAPS I: São serviços para cidades de pequeno porte, que devem dar
cobertura, durante o dia, para toda clientela com transtorno mentais
severos ( adultos, crianças e adolescentes, e pessoas com problemas devido
ao uso de álcool e outras drogas)
CAPS II: São serviços para as cidades de médio porte, que atendem, durante
o dia, clientela adulta.
CAPS III: São serviços 24h, geralmente disponíveis em grandes cidades, que
atendem clientela adulta.
CAPS IJ: São serviços para crianças e adolescentes, em cidades de médio
porte, que funcionam durante o dia.
CAPS AD: São serviços para pessoas com problemas pelo uso de álcool ou
outras, geralmente disponíveis em cidades de médio porte. Funcionam
durante o dia.
NECROPOLÍTICA
necropolítica
necropolítica

A necropolítica, conceito introduzido por Achille


Mbembe em "Necropolitics" (2003), destaca como o
poder estatal determina quais vidas merecem proteção
ou sacrifício, abordando o controle sobre a morte. Em
saúde mental, essa teoria revela como alguns são
marginalizados, refletindo a realidade brasileira nos
Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)

Sônia Barros, em "O projeto ético-político da Reforma


Psiquiátrica brasileira e a prática do psicólogo" (2015),
enfatiza a importância da Reforma Psiquiátrica para
um cuidado humanizado em saúde mental.
Pedro Gabriel Godinho Delgado, em
"Os sentidos do sofrimento psíquico:
dimensões da medicalização do
social" (2014), discute a
medicalização do sofrimento
psíquico e seu controle sobre
pacientes, silenciando vozes A medicalização está
dissidentes. Maria Lúcia Teixeira
ligada à lógica
Garcia Desviat, em "Medicalização
necropolítica,
Social" (2007), explora a
moldando vidas para
medicalização como controle social,
atender a padrões
regulando comportamentos
estabelecidos.
desviantes da norma.
VIOLÊNCIA, GÊNERO, sexualidade, preconceito

A interseção entre necropolítica, violência e preconceito racial, de gênero, de


identidade e de orientação sexual cria um cenário complexo nos CAPS, onde os
usuários enfrentam múltiplas formas de violência.

A discriminação racial, de gênero, de identidade e de orientação sexual


ampliam a vulnerabilidade dos usuários a violências institucionais e
sistêmicas.

No Brasil, o sistema de saúde mental enfrenta desafios, como a falta de


recursos e estigmatização, que afetam especialmente os grupos
marginalizados.

Isso resulta na perpetuação de um ciclo de violência e exclusão, destacando a


necessidade urgente de reformular os sistemas de saúde mental, valorizando
a dignidade humana.
O QUE É
VIOLêNCIA?
projeto Construindo Pontes
É uma pesquisa internacional que busca investigar o impacto de conflitos
armados e violência urbana sobre a saúde mental e o bem-estar dos 140 mil
moradores das 16 favelas que formam o conjunto da Maré.
O QUE É
VIOLêNCIA?

“Uso de força física ou poder, em


ameaça ou na prática, contra si
próprio, outra pessoa ou contra
um grupo ou comunidade que
resulte ou possa resultar em
sofrimento, morte, dano
psicológico, desenvolvimento
prejudicado ou privação social e
material” - OMS, 2006
tipologia da violência
violência
como um fenômeno social

HABITUS e seu caráter simbólico; :


A violência representa
determinada resposta a um
modus operandi
inconscientemente incorporado MANIFESTAÇÃO de padrões
por sujeitos de uma cultura ou aprendidos ou naturalizados
grupo social, sendo como fruto de de uma classe de respostas
exigências culturais - Bourdieu à situações
(2011) estressoras/aversivas -
Minayo (1994)
[...]um ato violento é,
em suma, sintoma de um
mal-estar maior
mINAYO, 2005
“Na área da saúde, a identificação dos tipos de violência e
sua natureza apontam para a possibilidade de
planejamento de ações de prevenção e implementação de
linhas de cuidados que visem ao atendimento integral ao
sujeito” - GUSMÃO et al, 2018
Código de Ética da/o Psicóloga/o
As/os profissionais não podem ser omissas/os ou coniventes diante de violência e outras
violações de direitos humanos. Destacamos aqui os princípios fundamentais e o art. 2º, alínea “a”,
do Código de Ética:
Princípios Fundamentais:
O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na promoção da liberdade, da dignidade, da
igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos valores que embasam a Declaração
Universal dos Direitos Humanos.
I. O psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas e das
coletividades e contribuirá para a eliminação de quaisquer formas de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
III. O psicólogo atuará com responsabilidade social, analisando crítica e historicamente a
realidade política, econômica, social e cultural.
(...)
Art. 2º - Ao psicólogo é vedado:
Praticar ou ser conivente com quaisquer atos que caracterizem negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade ou opressão.
“otelli- “é necessário contrapor-se ao mandato social que nos torna operadores da exclusão e
da violência, fomentadores da intimização da vida
Referências Técnicas para Atuação de
Psicólogas(os) no CAPS
Poucos são os campos do conhecimento e atuação na saúde que se apresentam
tão complexos, plurais, intersetoriais e com tanta transversalidade de saberes.

Profissionais Usuário

Clinica Ampliada
Sociedade Familiares

Perceber riscos e vulnerabilidades, potências e fragilidades


para além da doença e do espaço físico do cuidado

Acolhimento
PTS- Projeto Terapetuco
singular
Apoio matricial
Acompanhamento continuo
Atividades grupais
Atenção a situações de crise

Desafios clínicos-institucionais
Caso H.
H., homem cisgênero, 26 anos, apresenta transtorno psicótico e é assistido pelo CAPS AD
III há três anos, devido ao abuso de álcool e cocaína. Atualmente H. é contemplado pela
estratégia de redução de danos e há nove meses apresenta progressos em relação ao
autocuidado e autonomia, porém apresenta comportamentos violentos com frequência.
Na adolescência passou a ter pensamentos persecutórios, e segundo a mãe, tornou-se
uma “pessoa agressiva” dentro de casa, os demais familiares o consideram “nervoso
demais” e os colegas da vizinhança afastaram-se por medo de seus comportamentos
instáveis. H. trabalha esporadicamente como panfleteiro, mora em bairro próxima ao
CAPS, com a mãe, o padrasto, um irmão e uma irmã. A família não compreende seu
sofrimento psíquico e muitas vezes contribuem para a piora em sua saúde mental, com
exclusão e maus-tratos. Aos 22 anos, a igreja que a mãe frequenta o convida para
participar de um grupo para “libertação das drogas”, no qual H. é incentivado a cessar o
consumo das substâncias que vinha usando desde os 15 anos e entra em crise de
abstinência; nesse momento a mãe decide procurar ajuda no ambulatório na Faculdade de
Medicina, no qual H. passa a fazer uso de psicofármacos; posteriormente foi encaminhado
para o CAPS, com relutância da mãe, para receber acompanhamento multiprofissional
contínuo. Neste momento H. realiza atividades a fim de melhorar o seu quadro psíquico,
ampliar a capacidade de autocuidado e socialização. Os profissionais do CAPS têm tentado
envolver sua família no tratamento, tendo em vista que a mesma apresenta padrões que
potencializam o agravo de seu quadro psíquico, devido à falta de conhecimento em relação
ao transtorno mental e ao tratamento.
o caps e o qubra-cabeça

No universo acolhedor do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), a


comparação com um quebra-cabeças ganha vida, destacando a importância
do trabalho em equipe. Imagine cada profissional como uma peça única desse
quebra-cabeças, trazendo consigo não apenas habilidades, mas também
experiências e sensibilidades únicas. Como nas relações humanas, a
ausência de uma peça afeta a harmonia do todo, assim como a falta de
colaboração entre os membros da equipe do CAPS pode resultar em um
cuidado desarticulado para os usuários. No entanto, quando esses
profissionais se unem e se combinam, criam uma sinfonia de cuidado
completo e adaptado, gerando resultados notáveis nas atividades e, mais
importante, promovendo o bem-estar abrangente dos usuários, que sentem
o calor de uma assistência coesa e dedicada.
A abordagem colaborativa reforça a proteção dos indivíduos,
proporcionando cuidado integrado e atento às necessidades emocionais e
sociais. Ao unir diferentes especialidades, a equipe do CAPS oferece um
ambiente de apoio que ajuda a prevenir a violência, promovendo a
recuperação e o bem-estar dos usuários de maneira holística. A colaboração
também fortalece a detecção precoce de sinais de abuso, possibilitando
intervenções adequadas e a construção de um espaço seguro e
emponderador para os usuários.
Indicações de filmes
Nise: O Bicho de Garota O seu jeito
Coração da Sete interrompida de andar,
Loucura, ,1999 2014
Cabeças,
2015 2004

Estamira, Ouvidores Carandiru: Em Nome


2005 de Vozes, O filme, da Razão,
2017 2003 1979
Referências

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<https://doi.org/10.1590/S1413-81232006000200007>; Acesso em 27/08/2023.
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Dimenstein, Magda. A Psicologia no Campo da Sáude Mental, 2014. ed.UFBA.
Ferreira, Paula Santos Os significados atribuídos pelos profissionais de saúde mental aos atos violentos e agressivos manifestados por
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