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Saúde Mental na Atenção Psicossocial

Módulo 4:
Saúde Mental do Adulto

Populações Específicas e
Determinismo Social em Saúde Mental
Claudia R C Sousa

Saúde Mental na Atenção Psicossocial


Módulo 4: Saúde Mental do Adulto
Reforma Sanitária e
Determinismo Social em Saúde
• América Latina – décadas de 1960-70 – inquietação com as questões sociais que
determinam a saúde das populações
• Conceito importante na história do Movimento Sanitário Brasileiro – anos 70 e 80 –
crise em decorrência da exclusão de segmentos sociais que não acessavam a saúde
pública
• Conceito de determinação social da saúde defendido pela Medicina Preventiva e por
movimentos sociais – Reforma Sanitária Brasileira – luta por melhores condições de
vida e de saúde no Brasil.
• Crítica à “neutralidade” da ciência biomédica que se baseia nas leis gerais dos
organismos e nega ao sujeito sua humanidade

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Módulo 4: Saúde Mental do Adulto
Luta Antimanicomial e Reforma Psiquiátrica
• Pinel - determinação social dos distúrbios mentais: a alienação mental tinha
origem em causas morais - o desenvolvimento do ‘processo civilizatório’ teria
responsabilidade na origem dos distúrbios mentais
• Paradoxo do hospital de alienados – resposta ao lugar social da loucura com a
pessoa continuando a ser vista como um objeto
• Experiências “fugiam” ao manicômio – anos 50/60 – psiquiatria social britânica,
“política de setor” francesa e comunidades terapêuticas – manutenção da
hierarquia médico/paciente, senhor/escravo

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Módulo 4: Saúde Mental do Adulto
Luta Antimanicomial e Reforma Psiquiátrica
• Psiquiatria Democrática Italiana– 1961/1973 – Gorizia e Triste - Franco
Basaglia (sem esquecer de Fanon para Basaglia)
⚬ ‘duplo’ da doença mental – o que não é próprio da condição de estar doente, mas de
estar institucionalizado, violentado, sem liberdade
⚬ destruição do hospital psiquiátrico, criação de rede de serviços abertos
⚬ OMS – modelo de assistência à saúde a se expandir em outros países
⚬ Brasil – anos 70/80 – Reforma Sanitária e Reforma Psiquiátrica – crítica ao modelo
manicomial/hospitais psiquiátricos – experiências de desinstitucionalização
influenciadas pela experiência italiana

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Módulo 4: Saúde Mental do Adulto
Luta Anticolonial, Luta Antimanicomial e
Reforma Psiquiátrica
• Fanon – crítica à psiquiatria positivista
⚬ propõe uma abordagem psicoterápica institucional que envolvesse a
comunidade
⚬ propõe reconexão dos “pacientes psiquiátricos” com seu passado cultural
⚬ propõe envolvimento dos “pacientes enclausurados” – engajamento em
movimentos emancipatórios
⚬ violência racial e colonial, opressão e discriminação – traumas e distúrbios
mentais

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Módulo 4: Saúde Mental do Adulto
Luta Antimanicomial, Reforma Psiquiátrica e Determinismo
Social em Saúde Mental
• Determinismo social – conceito oriundo da Ciências Sociais – modelo
conceitual de saúde que não corresponde aos modelos biomédico, processual,
sistêmico e místico-religioso
• OMS – DSS são determinantes estruturais e condições da vida cotidiana
responsáveis pela maior parte das iniquidades em saúde entre os países e
dentro dos países – caráter político-econômico
• Quais determinantes sociais influenciam e/ou fazem parte do processo saúde-
doença, especialmente em Saúde Mental?

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Módulo 4: Saúde Mental do Adulto
Determinismo Social em Saúde no Brasil

Entrevista com Pesquisador e Prof. Alberto Pellegrini, da Escola


Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca
- Fiocruz

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Módulo 4: Saúde Mental do Adulto
Determinismo Social em Saúde no Brasil
• Os Determinantes Sociais de Saúde (DSS) em saúde pública, fazem
referência a um conjunto de acontecimentos, fatos, situações e
comportamentos da vida econômica, social, ambiental, política,
governamental, cultural e subjetiva, os quais se repetem ao longo do
tempo e são capazes de afetar positiva ou negativamente a saúde de
indivíduos, segmentos sociais, coletividades, populações e territórios,
independentemente de suas vontades e compreensões.

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Módulo 4: Saúde Mental do Adulto
Determinismo Social em Saúde no Brasil
• o conhecimento sobre a determinação social do processo saúde-doença
precisa ser transformado em ação de melhoria da situação de
saúde nas populações
⚬ diminuir as iniquidades sociais,
⚬ diminuir a exposição a fatores de risco,
⚬ diminuir a vulnerabilidade biológica e social de alguns
grupos,
⚬ diminuir os danos ou consequências dos agentes
determinantes.

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Módulo 4: Saúde Mental do Adulto
Crítica ao Determinismo Social

• Minayo (2021) aponta alguns argumentos a serem analisados


ao abordamos o conceito de Determinismo Social:
⚬ conceito positivista,
⚬ acritico à autogestão,
⚬ acrítico à diferenciação,
⚬ acrítico à autonomia,
⚬ acrítico à complexidade da era pós-moderna.
Racismo no Brasil

• Racismo histórico – negros escravizados (e povos originários) têm sua humanidade retirada pelo
branco (invasor europeu e posteriormente nas colônias)
• Racismo científico – fenótipo associado à degenerescência moral e intelectual, eugenia e
branqueamento (políticas públicas de encarceramento, genocídio, inacessibilidade)
• Racismo estrutural - integra a organização econômica e política da sociedade, naturalizado, comum
à sociedade – discriminação
• Racismo institucional – reprodução dos padrões de racismo nas/dentro das instituições também
naturalizados – práticas de dominação social
• Branquitude

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Módulo 4: Saúde Mental do Adulto
Racismo no Brasil

• Os serviços de saúde mental brasileiros se estruturam a partir da eugenia e do


racismo – apesar da Reforma Psiquiátrica
• Racismo à brasileira – silenciamento e invisibilidade
• DSSs – possibilidade de estudos que promovam práticas de prevenção e
redução do impacto do racismo na saúde mental

Sendo o racismo estrutural,


ele se configura como um DSS?
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Módulo 4: Saúde Mental do Adulto
Constituição Federal de 1988

• Novos marcos civilizatórios para reconstrução política, econômica e social


• País em processo de redemocratização
• Enfrentamento de desafios para construção e implantação de ações
governamentais mais abrangentes, justas e equitativas para a população
brasileira

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Módulo 4: Saúde Mental do Adulto
Constituição Federal de 1988

• Artigo 6º - Direito à saúde é um direito social assegurado pelo


Estado Brasileiro através de políticas públicas sociais e econômicas
que garantam o direito à vida e à dignidade humana em um
processo de constante construção do acesso universal e
igualitário às ações e serviços para promoção, proteção e
recuperação da saúde

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Módulo 4: Saúde Mental do Adulto
Constituição Federal de 1988
• Artigo 196º - A saúde é direito de todos e dever do Estado
• Artigo 197º - Poder Público responsável pela regulamentação,
fiscalização e controle das ações e serviços de saúde
• Artigo 198º - SUS: ações e serviços públicos de saúde integram uma
rede regionalizada e hierarquizada
• Artigo 199º - A assistência à saúde é livre à iniciativa privada
• Artigo 200º - Atribuições do SUS

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Módulo 4: Saúde Mental do Adulto
Políticas Públicas de Saúde

• O direito constitucional à saúde é um compromisso do Estado com a


garantia da qualidade de vida, preconizando a organização estatal de
forma intersetorial para ofertar procedimentos que venham atender de
forma ampla e integral às necessidades de bem-estar físico, emocional e
social da população brasileira

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Módulo 4: Saúde Mental do Adulto
Políticas Públicas de Saúde

• A análise da constituição da população brasileira, suas características que


englobam não somente o conhecimento de dados
demográficos e epidemiológicos, mas também o conhecimento e
reconhecimento de sua formação histórica é essencial para construção e
implantação de políticas condizentes com a realidade das necessidades de
saúde.

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Módulo 4: Saúde Mental do Adulto
Políticas Públicas precisam ser Intersetoriais
• SUS – Sistema Único de Saúde
⚬ PNSMD, PNSIPN, PNSILGBT etc
• LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social
⚬ SUAS – Sistema Único de Assistência Social
• SNE – Sistema Nacional de Educação
⚬ PNE – Plano Nacional de Educação
• SUSP – Sistema Único de Segurança Pública e Defesa Social
⚬ PNSP – Plano Nacional de Segurança Pública e Defesa Social
• SISAN – Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional

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Módulo 4: Saúde Mental do Adulto
Referências bibliográficas
AMARANTE, P. Loucos pela Vida: a trajetória da Reforma Psiquiátrica no Brasil. , 2ª edição, Rio de Janeiro: Fiocruz,
1995.
AMARANTE, P. Saúde Mental e Atenção Psicossocial. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2007.
ARBEX, D. Holocausto Brasileiro. Genocídio: 60 mil mortos no maior hospício do Brasil. 1ªed, Rio de Janeiro: Intrínseca,
2019.
CEBALLOS, A. G. C. Modelos conceituais de saúde, determinação social do processo saúde e doença, promoção da saúde /
Albanita Gomes da Costa Ceballos. – Recife, 2015.
David, E.C.; VICENTIN, M.C.G.. Nem crioulo doido nem negra maluca: por um aquilombamento da Reforma Psiquiátrica
Brasileira. Saúde em Debate [online]. 2020, v. 44, spe 3 [Acessado 20 Maio 2022] , pp. 264-277. Disponível em:
<https://doi.org/10.1590/0103-11042020E322>. Epub 13 Ago 2021. ISSN 2358-2898. https://doi.org/10.1590/0103-
11042020E322.
GARBOIS, J.A. Para crítica ao campo dos determinantes sociais da saúde. 2014. 105 f. Orientador: Francis Sodré.
Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) – Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências da Saúde.

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Módulo 4: Saúde Mental do Adulto
Referências bibliográficas
GONZALEZ, V.V. A trajetória da Comissão Nacional sobre determinantes sociais da saúde. Rio de Janeiro; s.n; 2014. 97 p.
tab, graf. Tese em Português | ENSP, FIOCRUZ.
LEAL, Fabíola X. A reforma psiquiátrica brasileira e a questão étnico racial. Argumentum, Vitória, v. 10, n. 3, p. 35-45,
set./dez. 2018. Disponível em: https://periodicos.ufes.br/argumentum/article/view/21837/15674. Acesso em: 10 set. 2020.
PASSOS, R.G; MOREIRA, T.D.F. Reforma psiquiátrica brasileira e questão racial: contribuições marxianas para a luta
antimanicomial. Revista Ser Social, Brasília, v. 19, n. 41, p. 336-354, jul./dez., 2017. Disponível em:
https://periodicos.unb.br/index.php/SER_Social/article/view/14943 Acesso realizado em 26/11/2021.
Passos RG. “Holocausto ou Navio Negreiro?”: inquietações para a Reforma Psiquiátrica brasileira. Argum. [internet], 2018
[acesso em 2022 abril 05]; 10(3):10-22. Disponível em:
http://periodicos.ufes.br/argumentum/article/view/21483.NOGUEIRA, R.P. Determinação Social da Saúde e Reforma
Sanitária. Rio de Janeiro: Cebes, 2010.

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Módulo 4: Saúde Mental do Adulto
Referências bibliográficas
SERAPIONI, Mauro. Franco Basaglia: biografia de um revolucionário. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de
Janeiroo, v.26, n.4, out.-dez. 2019, p.1169-1187.
SILVA, Maria Lúcia. Racismo e os efeitos na saúde mental. I Seminário Saúde da População Negra. 2004.

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Módulo 4: Saúde Mental do Adulto
Ponciá Vicêncio deitou na cama imunda ao lado do homem e de barriga pra cima ficou com o olhar
encontrando o nada. Veio-lhe a imagem de porcos no chiqueiro que comem e dormem para serem
sacrificados um dia. Seria isto vida, meu Deus? Os dias passavam, estava cansada, fraca para viver, mas
coragem para morrer também não tinha ainda. O homem gostava de dizer que ela era pancada da ideia.
Seria? Seria! Às vezes, se sentia, mesmo, como se a sua cabeça fosse um grande vazio, repleto de nada e
de nada. Quando Ponciá Vicêncio resolveu sair do povoado em que nascera, a decisão chegou forte e
repentina. Estava cansada de tudo ali. De trabalhar o barro com a mãe, de ir e vir às terras dos brancos
de mãos vazias. De ver a terra dos negros coberta de plantações, cuidadas pelas mulheres e crianças,
pois os homens gastavam a vida trabalhando nas terras dos senhores, e, depois, a maior parte das
colheitas serem entregues aos coronéis. Cansada da luta insana, sem glória, a que todos se entregavam
para amanhecer cada dia mais pobres, enquanto alguns conseguiam enriquecer a todos os dias. Ela
acreditava que poderia traçar outros caminhos, inventar uma nova vida. E, avançando sobre o futuro,
Ponciá partiu no trem do outro dia, pois tão cedo a máquina não voltaria ao povoado. Nem tempo de se
despedir do irmão teve. E agora, ali deitada de olhos arregalados, penetrados no nada, perguntava se
valera a pena ter deixado a sua terra. O que acontecera com os sonhos tão certos de uma vida melhor?
Não eram somente sonhos, eram certezas! Certezas que haviam sido esvaziadas no momento em que
perdera o contato com os seus. E agora feito morta-viva, vivia (EVARISTO, Ponciá Vicêncio, 2017b, p.
17-18).

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