Você está na página 1de 94

PSICOLOGIA

E SAÚDE
Jean Claudio dos Santos Parra
CRP: 06/173038
Quem sou eu?
● Jean Claudio dos Santos Parra;
● Psicólogo formado desde 2019;
● Especialista em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade (2021);
● Pós-graduando em Psicologia Social (2022-Atualmente);
● Atuo como Psicólogo na Unidade Básica de Saúde (UBS 3) em Andradina/SP;
● Docente no curso de Psicologia da AEMS (2022-Atualmente);
● Possuo experiência profissional como Psicólogo na Política Municipal de
Assistência Social de Andradina/SP.
Como irão funcionar nossas aulas?
Segunda - 18h50 às 21h45 (tolerância de 10 minutos)

● A lista de presença deve ser assinada até as 21h30;


● Quaisquer informações, dúvidas ou justificativas devem ser
encaminhadas ao(a) monitor(a) da sala;
● Email para contato: 31689@aems.edu.br

P1 - Avaliação dissertativa (10,0)


P2 - Avaliação objetiva (3,0) + Trabalho (2,0) + Avaliação Institucional (5,0)
EMENTA (ESTRUTURADA)
História das Políticas de Saúde no Brasil;
Conceituação de endemias, epidemias e indicadores de saúde;
Sistema Único de Saúde (SUS) e as redes de atenção em saúde;
Panorama da situação de saúde no Brasil;
Atenção primária em saúde: aspectos históricos e conceituais;
Política Nacional de Atenção Básica e a Estratégia Saúde da Família;
Saúde mental e Atenção Básica;

Formação e inserção profissional do psicólogo na Saúde Pública.


Psicólogo na Atenção Básica: promoção, prevenção, tratamento e reabilitação em saúde;
Rede de Atenção Psicossocial (RAPS);
Práticas Integrativas e Complementares
Saúde Ambiental, Saúde do Trabalhador, Saúde das populações vulneráveis, Saúde Indígena;
Comunicação, Participação, Violência e Saúde;
Aspectos éticos da atuação e da pesquisa em saúde.
DEFINIÇÃO DE SAÚDE E SAÚDE MENTAL
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde como “um
estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas
a ausência de doença”.

Ainda de acordo com essa organização, saúde mental é um estado


de bem-estar no qual o indivíduo é capaz de usar suas próprias
habilidades, recuperar-se do estresse rotineiro, ser produtivo e
contribuir com a sua comunidade.
PSICOLOGIA DA SAÚDE
A psicologia da saúde é a aplicação dos conhecimentos e técnicas psicológicas à
saúde, às doenças e aos cuidados de saúde, visando a promoção e manutenção
da saúde e a prevenção da doença, identificação das causas e origens das doenças
assim como diagnóstico de problemas relacionados à saúde.

A finalidade principal da Psicologia da Saúde é compreender como é possível


contribuir para a melhoria do bem-estar dos indivíduos e das comunidades.

Em resumo, a psicologia da saúde estuda o comportamento no contexto da saúde


e da doença, buscando compreender o papel das variáveis psicológicas sobre a
manutenção da saúde, o desenvolvimento de doenças e comportamentos
associados a doença.
HISTÓRIA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO BRASIL
A evolução histórica das políticas públicas de saúde está
relacionada diretamente a evolução político-social e econômica
da sociedade brasileira, não sendo possível dissociá-los.

As ações de saúde propostas pelo governo sempre procuram


incorporar os problemas de saúde que atingem grupos sociais
importantes de regiões socioeconômicas igualmente
importantes dentro da estrutura social vigente.
SAÚDE NA COLÔNIA E NO IMPÉRIO
SAÚDE NA COLÔNIA E NO IMPÉRIO
● A atenção à saúde limitava-se aos próprios recursos da Terra
(plantas, ervas) e, aqueles que, por conhecimentos empíricos
(curandeiros), desenvolviam as suas habilidades na arte de curar.

● A partir de 1828, as responsabilidades de saúde pública foram


atribuídas às municipalidades.

● Até 1850, as atividades de saúde pública estavam limitadas a


delegação das atribuições sanitárias às juntas municipais e o
controle de navios e saúde dos portos.
REGIME DE GOVERNO UNITÁRIO E CENTRALIZADOR
● Não era o conjunto de problemas de saúde da população que demandava
ações de saúde, e sim aqueles que estavam diretamente ligados ao
interesse econômico.

● Nesse contexto, emerge o modelo assistencial sanitarista/campanhista,


considerado o primeiro modelo de atenção no Brasil, com ações voltadas
para grupos específicos e ações pontuais.

● O foco da atenção do Estado foi o ataque às doenças transmissíveis, em


especial as epidêmicas, capazes de dizimar um grande número de vidas e
comprometer a ordem econômica do país.
CONTEXTUALIZANDO O PERÍODO
● Início da república - 1889 à 1930 (República Velha)

● Abolição da escravidão em 1888;

● País governado pelas oligarquias (São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais);

● Cafeicultura como principal setor da economia;

● Favorecimento da industrialização, comércio e imigração;


● Predomínio das doenças transmissíveis, grandes
epidemias e doenças pestilenciais, fruto da
imigração, migração, formação de aglomerados e
das precárias condições de saneamento básico,
tendo como principais problemas de saúde: febre
amarela, sífilis, tuberculose, endemias rurais e varíola.

● Rodrigues Alves
(Presidente da República, 1902)

○ O programa de governo tinha como metas a


melhoria do porto, a reforma e o
embelezamento da cidade do Rio de Janeiro,
então capital da república e principal porta de
entrada do país, e o combate às epidemias.
MODELO SANITARISTA/CAMPANHISTA
● Antes de prosseguir, é importante ressaltar a definição de modelos assistenciais.
Assim, eles podem ser compreendidos como a forma como a assistência a
saúde é organizada.

● Oswaldo Cruz, nomeado para a direção geral da saúde pública em 1903, se


propôs a erradicar a epidemia de febre amarela na cidade do Rio de Janeiro,
dentro de uma perspectiva militar, tendo como instrumentos preferenciais de
ação o uso da força e da autoridade.

● A erradicação da febre amarela fortaleceu o modelo sanitarista/campanhista


(voltado para o atendimento das necessidades da população por meio de
campanhas, programas e vigilância) e o tornou hegemônico como sugestão de
intervenção na área da saúde coletiva.
● Oswaldo Cruz organizou a diretoria geral de saúde pública e incorporou os
seguintes elementos como ações:

● O registro demográfico, possibilitando conhecer a composição e os fatos


vitais de importância da população;
● A introdução do laboratório como auxiliar do diagnóstico etiológico
(descrição da causa);
● A fabricação organizada de produtos profiláticos (que previnem uma
doença) para uso em massa.

● A divulgação da legislação que regulamentava a obrigatoriedade da vacina


em 9 de novembro de 1904 (Lei nº 1.261/1904) foi o estopim da revolta.
O NASCIMENTO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL
● Nesse período, o Estado chama a si a responsabilidade pelo combate
aos males que travavam o desenvolvimento do setor agroexportador
(economia cafeeira);

● Com a promulgação da Lei Eloy Chaves em 24 de Janeiro de 1923, vemos


proliferar as Caixas de Aposentadoria e Pensões (CAPS), vinculadas a
grandes empresas e que destinavam-se a fornecer serviços de
assistência médica e de seguridade social aos trabalhadores e seus
dependentes, em troca de contribuições mensais efetuadas pelos
empregados e empregadores, sendo fiscalizada pelo Conselho de
Trabalho e posteriormente pelo Ministério do Trabalho.
● A Lei Eloy Chaves deu estabilidade aos ferroviários com dez ou mais
anos de serviço com a determinação que cada empresa ferroviária
do país criasse um fundo de aposentadoria e pensão, uma CAP,
sendo apontada como o marco inicial da Previdência Social no país,
onde o Estado assume a responsabilidade frente a saúde dos
trabalhadores, mesmo não participando do financiamento.

● O caráter fragmentário e corporativo da previdência social, ao vincular


a prestação de serviços médicos e assistenciais à contribuição
trabalhista regulamentada, excluía boa parte da população dos
benefícios do sistema, além disso, a oferta não se estendia a grande
parte das zonas rurais do país.
Era Vargas (1930-1964)
● Governo dividido em três períodos:
○ Governo provisório, Governo Constitucional e Estado Novo.

○ Em 1933, as antigas CAPs são substituídas pelos Institutos de Aposentadoria e


Pensões (IAP). Os trabalhadores eram organizados por categoria profissional
(marítimos, comerciários e bancários) e não por empresa; e os institutos adotavam um
modelo tripartite, com contribuição dos trabalhadores, patrões e união.

○ Em 1937 é promulgada nova constituição que reforça o centralismo e a autoridade


presidencial, concedendo ao governo poderes praticamente ilimitados, recebendo
o apelido de “polaca”, por ter sido inspirada no modelo semifascista polonês.

○ Nesse período são promulgadas as leis trabalhistas e, ao mesmo tempo, cria-se a


estrutura sindical do Estado.
● A numerosa população mais pobre, fora do mercado formal de trabalho, portanto
excluída do sistema de previdência, continuou a “contar apenas com serviços para
indigentes proporcionados pelas prefeituras, governos estaduais e entidades
filantrópicas, com nítido caráter assistencialista, endereçados aos indivíduos
destituídos de qualquer direito.

● Surgimento do Ministério da Educação e Saúde Pública (MESP) em 1930, passando a ser


Ministério da Educação e Saúde em 1937, responsável por tudo que dissesse respeito
à saúde da população e que não se encontrava na área da medicina previdenciária,
desenvolvida no Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio.

● Foi criado dentro do MES, o Serviço Especial de Saúde Pública (SESP) em 1942, com
atuação voltada para a cobertura de áreas não abrangidas pelos serviços tradicionais,
destacando-se na formação de técnicos e especialistas em saúde pública e no
fortalecimento de um modelo de prestação de serviços.
REDEMOCRATIZAÇÃO (1945-1964)
● Período marcado pelas eleições diretas;

● Criação do Ministério da Saúde em 1953;

● Técnicas adequadas de outros países x realidade nacional;

● Origem dos futuros convênios das empresas com médicos;

● Investimento na assistência médica hospitalar.


GOVERNO MILITAR / AUTORITARISMO (1964-1985)
● Golpe de Estado em 1964 (Revolução de 1964);

● Empobrecimento populacional;

● Epidemias de poliomielite e meningite;

● Redução das verbas destinadas à saúde pública;

● O Ministério da Saúde privilegiava a saúde como


elemento individual e não como um fenômeno coletivo;

● Os Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAPs) são


unificados com a criação do Instituto Nacional de
Previdência Social (INPS) em 1966.
● No âmbito do sistema público de saúde, nesse período o Brasil tinha um
sistema dividido entre a medicina previdenciária e a saúde pública. A
medicina previdenciária estava voltada para a saúde individual de
trabalhadores formais nas áreas urbanas, administrada por
institutos de pensão. A saúde pública, sob o Ministério da Saúde,
focava em áreas rurais e populações mais pobres, priorizando
medidas preventivas.

● Durante esse período, as políticas de saúde dos governos militares


buscaram promover a expansão do setor privado. Isso foi feito
aumentando a compra de serviços privados pela previdência e
oferecendo incentivos fiscais às empresas para contratar médicos de
companhias privadas ou cooperativas de saúde para seus funcionários.
● Ao mesmo tempo, houve esforços para expandir a assistência médica
previdenciária para os desfavorecidos, como incorporar acidentes de
trabalho, estender a proteção previdenciária para trabalhadores rurais,
empregadas domésticas e autônomos.

● No que diz respeito à saúde pública, o período foi caracterizado por uma crise
de recursos e enfraquecimento do Ministério da Saúde. Houve uma
diminuição na parcela do orçamento da União destinada à saúde,
enquanto os ministérios dos Transportes e as forças armadas recebiam
mais recursos.

● Apesar do crescimento econômico do país, muitos problemas persistiam para


a maioria da população, incluindo desigualdade de renda, perda do poder
de compra do salário-mínimo, aumento de preços e crise nos serviços
públicos de transporte e saúde, devido a um modelo econômico que
favorecia a concentração de riqueza.
O Instituto Nacional de Previdência Social (INPS)
● A criação do INPS em 1966 eliminou a gestão tripartite (União, empregadores e empregado)
dos Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs), o que resultou em menos participação dos
beneficiários nas decisões. Contudo, o INPS possibilitou a inclusão dos trabalhadores
rurais, empregados domésticos e trabalhadores autônomos;

● Demanda social por consultas médicas e medicina como sinônimo de cura;

● A complexidade deste sistema levou a criação do Instituto Nacional de Assistência Social


(INAMPS) em 1977;

● O INPS enfrenta uma grave crise financeira e ainda na década de 1970 ocorre nova tentativa de
racionalização da previdência, sendo criado o Sistema Nacional de Previdência Social (SINPAS);

● Em 1975 é promulgada a lei que instituiu o Sistema Nacional de Saúde.


Linha do Tempo resumida
1923 - Lei Eloy Chaves e proliferação das Caixas de Aposentadoria e Pensões (CAPs)
1930 - Ministério da Educação e Saúde Pública (MESP);
1933 - CAPs substituídas por Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAP)
1937 - Constituição “polaca” / Ministério da Educação e Saúde (MES)
1942 - Serviço Especial de Saúde Pública (SESP) (dentro do MES)
1953 - Ministério da Saúde;
1966 - Instituto Nacional de Previdência Social (INPS)
1970 - Sistema Nacional de Previdência Social (SINPAS);
1975 - Sistema Nacional de Saúde;
1977 - Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS);
MODELO MÉDICO PRIVATISTA/CURATIVO
● O modelo médico privatista/curativo
tem como foco a doença e o doente,
não atuando sobre as necessidades
reais da população;

● Grandes hospitais são criados para


atendimento daqueles que contribuíam,
fortalecendo o caráter excludente das
ações e serviços de saúde e ratificando
o perfil contributivo.
COMEÇA-SE A FALAR DE ATENÇÃO BÁSICA
● A Conferência de Alma-ata, em 1978, foi a primeira que trouxe para
discussão a atenção primária.

“II - A chocante desigualdade existente no estado de saúde dos povos,


particularmente entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento, assim
como dentro dos países, é política, social e economicamente inaceitável e
constitui por isso objeto da preocupação comum de todos os países.”

● Por ter priorizado a medicina curativa, o modelo proposto foi incapaz de


solucionar os principais problemas de saúde coletiva, como as endemias,
epidemias e indicadores de saúde.
EPIDEMIOLOGIA
● Ciência que estuda o processo saúde-doença em coletividade humana, analisando a
distribuição e os fatores determinantes das enfermidades, danos à saúde e eventos
associados à saúde coletiva, propondo medidas específicas de prevenção, controle e
erradicação de doenças e fornecendo indicadores que sirvam de suporte ao planejamento,
à administração e à avaliação das ações de saúde.

● Endemia: É uma infecção que atinge uma população de uma região geográfica específica;

● Epidemia: É a manifestação coletiva de uma doença que rapidamente se espalha, por


contágio direto ou indireto, até atingir um grande número de pessoas em um determinado
território e que depois se extingue após um período.
PRINCIPAIS INDICADORES DE SAÚDE
● Mortalidade / sobrevivência;

● Morbidade / Gravidade / Incapacidade;

● Nutrição / Crescimento e Desenvolvimento;

● Aspectos demográficos;

● Condições socioeconômicas;

● Saúde ambiental;

● Serviços de saúde.
RESUMINDO A REFORMA SANITÁRIA
● A reforma sanitária no Brasil buscou transformar profundamente o
sistema de saúde do país, com o objetivo de garantir acesso
universal, equitativo e de qualidade aos serviços de saúde para toda
a população.

● Esse movimento emergiu em um contexto de repressão política


durante o regime militar e de desigualdades marcantes no acesso
aos serviços de saúde. Inspirada em ideias internacionais de saúde
pública e em movimentos sociais como a luta por direitos humanos e
democracia, a reforma sanitária almejava superar o modelo
fragmentado e hierarquizado de assistência médica e estabelecer
um sistema de saúde mais abrangente, integral e participativo.
● Um dos resultados mais significativos desse movimento foi a criação do
Sistema Único de Saúde (SUS), estabelecido pela Constituição Federal de 1988.

● O SUS é um sistema de saúde público, universal e gratuito, que tem como


princípios a equidade, integralidade e participação social. Ele busca oferecer
serviços de prevenção, promoção e assistência à saúde para toda a população,
independente de sua renda.

● A reforma sanitária também enfatizou a necessidade de descentralização das


ações de saúde, levando o atendimento mais próximo das comunidades, e a
promoção da saúde como um esforço coletivo que vai além da assistência
médica.
DOCUMENTÁRIO: Políticas de Saúde no Brasil: Um século de luta pelo direito à saúde
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=gZXezQG8ku4>.
REFORMA PSIQUIÁTRICA
CONTEXTUALIZANDO A REFORMA PSIQUIÁTRICA
● A reforma psiquiátrica tem início com o surgimento de críticas nas décadas de 1960 e 1970 ao
tratamento asilar predominante, o qual consistia em condições desumanas e de isolamento
enfrentados pelos pacientes em hospitais psiquiátricos, além de questionamentos sobre a
eficácia terapêutica e o impacto negativo na qualidade de vida dos pacientes.

● Em 1961, Franco Basaglia assumiu a direção do Hospital Psiquiátrico de Gorizia, Itália. Basaglia
se tornou uma figura central na busca por mudanças significativas na abordagem à saúde
mental. Ele Iniciou um movimento para reavaliar e reformar as práticas psiquiátricas.

● Basaglia introduziu o conceito de Comunidades Terapêuticas como alternativa às instituições


asilares, com enfoque na criação de ambientes terapêuticos onde pacientes participam
ativamente, e com ênfase na reintegração social, buscando diminuir o estigma associado às
doenças mentais.
● As ideias de Basaglia inspiraram movimentos semelhantes em todo o
mundo. Vários países começaram a questionar e reformar suas
abordagens tradicionais em saúde mental.

● A Reforma Psiquiátrica visava a desinstitucionalização, diminuindo a


dependência de hospitais psiquiátricos, com ênfase na transferência
do cuidado para comunidades e ambientes menos restritivos.

● O movimento buscava reintegrar pacientes à sociedade, eliminando


barreiras sociais e representava uma luta contra o estigma em relação a
doenças mentais, promovendo aceitação e compreensão.
Contextualizando a Reforma Psiquiátrica no Brasil
● A confecção do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais (DSM) se serviu da dimensão sanitarista que sempre esteve
subsidiada pela epidemiologia e pela Medicina Social, encontrando,
assim, um lugar dentro das políticas de saúde pública. Tendo em vista
que o Estado considera necessária a intervenção da Medicina no
social, no cotidiano, principalmente quando a clínica passa a ser regida
por parâmetros normatizados, o DSM acabou sendo bem recebido por
se fazer um instrumento para o Estado.
Contextualizando a Reforma Psiquiátrica no Brasil
● Não é sem razão que muitos governos, inclusive no Brasil,
adotaram como modelo de tratamento, em muitos hospitais
e ambulatórios, as prescrições dadas pelos Manuais de
Diagnósticos, como a classificação diagnóstica e o uso de
medicação correspondente; as fichas de prontuários são a
prova disso, tendo em vista que exigem a sigla do transtorno
que se supõem ser os mais adequados ao paciente.
● Em 1852 foi o surgimento da instituição psiquiátrica
brasileira. O hospital Dom Pedro II, inaugurado pelo
próprio imperador, destinado aos doentes de todo
o território nacional, tinha uma capacidade para
somente 350 doentes e, no momento de sua abertura,
já contava com 144 internos.

● Realidade vs. Ficção

○ Livro: “O Alienista” de Machado de Assis (1882)

○ “Como fosse grande arabista, achou no Corão


que Maomé declara veneráveis os doidos, pela
consideração de que Alá lhes tira o juízo para que
não pequem.” (ASSIS, 1882, p. 3).
● A missão dos médicos desse período era 'limpar' a cidade do
Rio de Janeiro do risco de infecção gerada pela falta de
saneamento e planejamento urbanos e da massa de
desempregados e indigentes que habitavam as ruas.

● Por meio de Juliano Moreira, criaram-se os hospitais colônia,


promovendo o uso do trabalho agrícola como instrumento
de tratamento global dos doentes mentais. Como tal projeto
não vingou, os hospitais agrícolas acabaram aderindo a sua
verdadeira função, isto é, a exclusão dos doentes mentais em
locais geograficamente distantes.
A QUESTÃO MANICOMIAL NA ERA VARGAS
● O modelo manicomial sempre foi a mola mestra das Políticas Públicas de
Saúde Mental no Brasil. Com o governo militar na década de 1960, o que
se testemunhou foi a criação de clínicas e hospitais privados
subsidiados pelo estado, movidos pelos favorecimentos políticos e o
enriquecimento de seus proprietários, às custas das diárias pagas
pelo estado por cada paciente internado.

● Em contraposição, durante os anos 1970, o movimento que resultou nas


'Comunidades Terapêuticas' instaladas em alguns hospitais
psiquiátricos, passou a apostar na possibilidade de efetivamente
sustentar um trabalho terapêutico em função das propostas que vinham
das reformas realizadas em outros países e dos investimentos pessoais
de alguns psiquiatras.
O INÍCIO DAS MUDANÇAS NESTE CENÁRIO
● A partir do projeto de lei, conhecido como projeto Paulo Delgado,
apresentado à Câmara Federal, em 1989, iniciou-se, em nível nacional,
um movimento crescente de reformulação das Políticas Públicas
de Saúde Mental, que abriu as portas dos hospitais psiquiátricos tanto
para a entrada de pesquisadores e técnicos de diversas áreas
quanto para a saída de pacientes que, muitas vezes,
encontravam-se internados há décadas.
A PRINCIPAL REIVINDICAÇÃO DA REFORMA
● Promover o resgate dos direitos de cidadãos dos usuários, quase que
perdido devido às internações forçadas no passado, tornou-se a principal
reivindicação da Reforma Psiquiátrica, pois o movimento entende
cidadania como a tentativa de garantir, por meio de meios legais e
oficiais, e da apresentação de projetos e aprovação de leis, os direitos
civis e sociais dos portadores de sofrimento psíquico.

● Além disso, é necessária a implantação de serviços e/ou modificações


dos serviços já existentes para que a cidadania possa ser uma
conquista diária.
DOCUMENTÁRIO: Holocausto Brasileiro FILME: Bicho de Sete Cabeças
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=jIentTu8nc4>. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=F6Yky54edpo>.
RESUMO ATÉ O MOMENTO:
● A reforma sanitária no Brasil buscou transformar profundamente o
sistema de saúde do país, com o objetivo de garantir acesso universal,
equitativo e de qualidade aos serviços de saúde para toda a
população.

● A Reforma Psiquiátrica visava a desinstitucionalização, diminuindo a


dependência de hospitais psiquiátricos, com ênfase na transferência do
cuidado para comunidades e ambientes menos restritivos.

● Além disso, a reforma psiquiátrica no Brasil tinha como principal


reivindicação promover o resgate dos direitos de cidadãos dos
usuários, quase que perdido devido às internações forçadas no passado.
A GESTAÇÃO E O NASCIMENTO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS)
● Em 1983 foi criado a AIS (Ações Integradas em Saúde), consideradas as
primeiras ações descentralizadas no Brasil, além de um marco inicial da
Atenção Primária no país.

● A descentralização em saúde é a transferência de poder, recursos e


decisões das autoridades centrais para níveis locais ou regionais,
visando melhorar o acesso, eficiência e adaptação dos serviços de saúde às
necessidades das comunidades.

● Por exemplo, se a cidade tem um aumento de casos de uma doença


específica, as autoridades locais podem direcionar mais recursos e
esforços para tratar essa doença em particular, em vez de depender
das decisões do governo central, que pode estar longe e menos
consciente das situações locais.
● Essas AIS visavam um novo modelo assistencial que incorporava o
setor público, procurando integrar ações curativas-preventivas e
educativas ao mesmo tempo.

● Já em 1986, foi realizada a VIII Conferência Nacional de Saúde em 1986,


considerada um marco na formulação de propostas de mudança no
setor da saúde, consolidadas na reforma sanitária.

● É válido lembrar que as pautas do movimento da Reforma


Sanitária Brasileira (RSB) reivindicavam melhorias na atenção à
saúde e a efetivação desta como um direito social.
● O movimento “Diretas já” em 1985 e a eleição de Tancredo Neves marcaram o fim
do regime militar.

● Nesse período houve a criação dos Conselhos dos Secretários de Saúde estaduais
(CONASS) e municipais (CONASEMS).

● A função do CONASS é promover a troca de experiências, discutir políticas de


saúde, propor ações conjuntas e colaborar na formulação de políticas públicas
relacionadas à saúde em nível estadual.

● Já a do CONASEMS é representar os interesses das prefeituras e dos


municípios no âmbito da saúde, trabalhando para fortalecer a gestão municipal
da saúde, promovendo a troca de experiências entre os municípios e defendendo
as demandas e necessidades específicas das cidades na área da saúde.

● Ocorre em 1987 a implementação do Sistema Unificado e Descentralizado de


Saúde (SUDS).
AS PRIMEIRAS CONTRAÇÕES DO SUS
● A Constituição Federal de 1988, no capítulo VIII da Ordem Social e na
seção II referente à saúde, define no artigo 196 que: “A saúde é direito
de todos e dever do Estado, garantindo mediante políticas sociais e
econômicas que visem a redução do risco de doenças e de outros
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para
sua promoção, proteção e recuperação.”

● É definido pelo artigo 198 do seguinte modo: “As ações e serviços


públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada,
e constituem um sistema único, organizado de acordo com as
seguintes diretrizes: Descentralização (União: Ministério da Saúde /
Estados: Secretarias de Saúde); Atendimento Integral (Ações Preventivas) e
Participação da Comunidade.
FINALMENTE O NASCIMENTO DO SUS
● O Sistema Único de Saúde (SUS), regulamentado pelas leis nº 8.080 e nº
8.142 de 1990, insere-se no contexto das políticas públicas de seguridade
social, que abrangem, além da saúde, a previdência e a assistência social; ou
seja, não é uma estrutura que atua isolada na promoção dos direitos básicos de
cidadania.

● A Lei nº 8.080, de 19 de Setembro de 1990, regula as ações e serviços de saúde,


executados isolada ou conjuntamente, em caráter permanente ou eventual, por
pessoas naturais ou jurídicas de direito público ou privado, constituindo o SUS
como o conjunto de ações e serviços prestados por órgãos e instituições
públicas federais, estaduais e municipais da administração direta e
indireta e das fundações mantidas pelo poder público.
OBJETIVOS DO SUS
● A identificação e divulgação dos fatores
condicionantes e determinantes de saúde;

● A formulação de política de saúde destinada a


sua promoção nos campos econômico e social;

● A assistência às pessoas por intermédio de ações


de promoção, proteção e recuperação de saúde,
com a realização integrada das ações
assistenciais e das atividades preventivas.
● O processo de constituição do SUS é resultante de um conjunto de
embates políticos e ideológicos, travados por diferentes atores
sociais ao longo dos anos;

● O SUS é uma nova formulação política e organizacional para o


reordenamento dos serviços e ações de saúde estabelecida pela
constituição de 1988.

● A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre


outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio
ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer
e o acesso a bens e serviços essenciais: os níveis de saúde da
população expressam a organização social e econômica do país.
PRINCÍPIOS DOUTRINÁRIOS
● Universalidade: É a garantia de atenção à saúde
por parte do sistema, a todo e qualquer cidadão;

● Equidade: Todo cidadão é igual perante o SUS e


será atendido conforme suas necessidades até o
limite do que o sistema pode oferecer para todos;

● Integralidade: Oferta integral de serviços de


saúde, compreendendo o ser humano como um
ser integral.
PRINCÍPIOS
NÍVEIS DE ATENÇÃO À SAÚDE
Portaria nº 2.436, de 21 de setembro de 2017.
Art. 1º Esta Portaria aprova a Política Nacional de Atenção Básica - PNAB, com vistas à revisão da
regulamentação de implantação e operacionalização vigentes, no âmbito do Sistema Único de Saúde -
SUS, estabelecendo-se as diretrizes para a organização do componente Atenção Básica, na Rede de
Atenção à Saúde - RAS.

Parágrafo único. A Política Nacional de Atenção Básica considera os termos Atenção Básica - AB e
Atenção Primária à Saúde - APS, nas atuais concepções, como termos equivalentes, de forma a
associar a ambas os princípios e as diretrizes definidas neste documento.

Art. 2º A Atenção Básica é o conjunto de ações de saúde individuais, familiares e coletivas que
envolvem promoção, prevenção, proteção, diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução de
danos, cuidados paliativos e vigilância em saúde, desenvolvida por meio de práticas de cuidado
integrado e gestão qualificada, realizada com equipe multiprofissional e dirigida à população
em território definido, sobre as quais as equipes assumem responsabilidade sanitária.
§ 1º A Atenção Básica será a principal porta de entrada e centro de comunicação da
RAS, coordenadora do cuidado e ordenadora das ações e serviços disponibilizados na rede.

§ 2º A Atenção Básica será ofertada integralmente e gratuitamente a todas as pessoas,


de acordo com suas necessidades e demandas do território, considerando os
determinantes e condicionantes de saúde.

§ 3º É proibida qualquer exclusão baseada em idade, gênero, raça/cor, etnia, crença,


nacionalidade, orientação sexual, identidade de gênero, estado de saúde, condição
socioeconômica, escolaridade, limitação física, intelectual, funcional e outras.

§ 4º Para o cumprimento do previsto no § 3º, serão adotadas estratégias que


permitam minimizar desigualdades/iniquidades, de modo a evitar exclusão social de
grupos que possam vir a sofrer estigmatização ou discriminação, de maneira que impacte
na autonomia e na situação de saúde.
VIGILÂNCIA EM SAÚDE
Art. 5º A integração entre a Vigilância em Saúde e Atenção Básica é
condição essencial para o alcance de resultados que atendam às
necessidades de saúde da população, na ótica da integralidade da
atenção à saúde e visa estabelecer processos de trabalho que considerem
os determinantes, os riscos e danos à saúde, na perspectiva da intra e
intersetorialidade.

● Vigilância em Saúde: além de ser o modelo assistencial preconizado


pelo Ministério da Saúde, é um modo de agir e operacionalizar as
ações e serviços de saúde de modo que, o sistema esteja sempre
“atento” a mudanças no processo saúde-doença, principalmente nos
determinantes e condicionantes.
Art. 6º Todos os estabelecimentos de saúde que prestem ações e serviços de
Atenção Básica, no âmbito do SUS, de acordo com esta portaria serão
denominados Unidade Básica de Saúde - UBS.

Parágrafo único. Todas as UBS são consideradas potenciais espaços de


educação, formação de recursos humanos, pesquisa, ensino em serviço,
inovação e avaliação tecnológica para a RAS.

● A resolução 588/18 descreve a Política Nacional de Vigilância em Saúde.


Cronograma detalhado - 1º Bimestre
07/08/2023 - Introdução à disciplina / Discussão sobre saúde e saúde mental.

14/08/2023 - Introdução a história das políticas públicas de saúde no Brasil.

21/08/2023 - Reforma sanitária e reforma psiquiátrica no Brasil.

28/08/2023 - Sistema Único de Saúde (SUS)

04/09/2023 - Níveis de atenção à saúde

11/09/2023 - Ação “Setembro Amarelo”

18/09/2023 - Avaliação P1.


BEM-VINDOS AO 2º BIMESTRE!
Cronograma detalhado - 2º Bimestre
25/09/2023 - Tópicos essenciais em saúde (morbidade, incidência,
prevalência, mortalidade)

02/10/2023 - Psicologia da saúde e níveis de prevenção à saúde.

09/10/2023 - Principais Redes de Atenção à Saúde no Brasil

16/10/2023 - Formação e inserção profissional do psicólogo na Saúde Pública.

23/10/2023 - Psicólogo na Atenção Básica: promoção, prevenção, tratamento


e reabilitação em saúde.
RELEMBRANDO
“A Psicologia da Saúde é a área da Psicologia que estuda o comportamento
humano no contexto da saúde e da doença, buscando compreender o
papel das variáveis psicológicas sobre a manutenção da saúde, o
desenvolvimento de doenças e comportamentos associados à doença. A
atuação do psicólogo da saúde pode ser centrada na promoção da saúde e
prevenção de doença, nos serviços clínicos a indivíduos saudáveis ou
doentes e em pesquisa e ensino. A maioria dos profissionais atua em
hospitais, clínicas e departamentos acadêmicos de faculdades e
universidades” (ALMEIDA, MALAGRIS, 2011, Grifo Nosso).
A origem e evolução da Psicologia da Saúde como uma disciplina começou em 1970
com a formação de um grupo de trabalho na American Psychological Association (APA)
e, posteriormente, em 1978, a divisão 38, chamada Health Psychology, foi criada para
atender à crescente demanda por prática e pesquisa nessa área.

Os principais objetivos dessa divisão incluem avançar no estudo da Psicologia


no contexto da saúde e da doença, através da pesquisa, bem como promover a
integração de informações biomédicas com o conhecimento psicológico.

Isso significa que a Psicologia da Saúde busca entender como fatores


psicológicos influenciam a saúde e a doença, e como esses aspectos podem ser
combinados com informações médicas para melhorar o bem-estar das pessoas.
Inicialmente, a maioria dos psicólogos da saúde trabalhava em ambientes como hospitais,
clínicas e departamentos acadêmicos de instituições de ensino superior. Nesses locais,
eles desempenham um papel crucial ao oferecer assistência direta e indireta aos pacientes.

Na atuação clínica, esses psicólogos podem fornecer apoio psicológico a pacientes que
estão enfrentando dificuldades de adaptação às condições de doença. Por exemplo,
eles podem trabalhar para reduzir os sentimentos de depressão em pacientes
hospitalizados ou ensinar métodos psicológicos para ajudar os pacientes a lidar com
problemas de saúde, como controlar a dor crônica.

Em resumo, os psicólogos da saúde desempenham um papel multifacetado, ajudando os


pacientes a lidar com os aspectos psicológicos das condições de saúde, promovendo o
bem-estar emocional e fornecendo estratégias para o manejo de problemas de saúde.
Conforme a área amadurece, suas funções continuam a se expandir e se adaptar às
necessidades dos pacientes e do sistema de saúde.
A Psicologia da Saúde abrange mais do que apenas a dimensão física e
biológica do ser humano, incorporando também a dimensão psicológica. Seu foco
está na reintegração da individualidade do paciente, abrangendo suas emoções,
crenças e valores dentro do contexto cultural em que se encontra. Isso capacita a
Psicologia da Saúde a definir seu papel na área da saúde, contribuir de forma
teórica e criar modelos de intervenção adaptados às necessidades de saúde
das populações atendidas. Em essência, ela busca compreender e cuidar do ser
humano como um todo, considerando tanto os aspectos psicológicos quanto os
culturais em sua abordagem (BRUSCATO, CONDES, 2020).
Quando um psicólogo presta atendimento em serviços de saúde, ele se
insere em uma equipe multiprofissional. Suas intervenções são realizadas
em harmonia com seus colegas de equipe, levando em consideração a
importância do trabalho conjunto, a colaboração interdisciplinar, as
discussões diagnósticas, os encaminhamentos pertinentes, bem como as
capacidades e limitações de cada intervenção. O objetivo é alcançar o
melhor resultado possível no cuidado ao paciente. Essa abordagem se
baseia na ideia de que a visão abrangente do paciente não se resume
apenas à soma das práticas individuais, mas sim na integração delas por
meio da construção coletiva de um conhecimento mais amplo e próprio
da equipe (BRUSCATO, CONDES, 2020).
A prática profissional dos psicólogos está integrada ao Sistema Único de
Saúde (SUS). Na atenção primária, que se caracteriza por ser uma forma
generalista de atendimento, os serviços psicológicos se concentram em
casos de menor complexidade, que não exigem diagnóstico de alta
tecnologia. A atenção primária funciona como a porta de entrada no
sistema de saúde, priorizando o acesso inicial, a continuidade do cuidado,
uma abordagem abrangente e a coordenação dentro do sistema. Além
disso, enfatiza a importância da saúde familiar, orientação comunitária e
respeito à diversidade cultural (BRUSCATO, CONDES, 2020).
“O psicólogo da saúde que atua nas Unidades Básicas de Saúde (UBS),
tem como função central promover a educação em saúde. Isso implica
fornecer conhecimento e informações à comunidade e às famílias,
além de auxiliar os pacientes a compreenderem seus tratamentos e a
acompanharem os procedimentos médicos necessários.

Independentemente se o atendimento é individual ou em grupo, o


objetivo principal é capacitar as pessoas e as comunidades a terem
maior autonomia em relação à sua própria saúde e ao enfrentamento
de doenças. Além disso, busca-se criar oportunidades para que a
comunidade possa se unir e cooperar na resolução de problemas de saúde,
promovendo uma abordagem solidária e coletiva para as questões de saúde
que surgem” (SANTOS et al, 2020).
“A atuação do psicólogo na UBS está voltada para o exercício da clínica
individual e grupal, tendo como principais recursos o “acolhimento” e a
“escuta terapêutica”. Desta forma, as atividades específicas dos psicólogos na
UBS são identificar, fazer entrevistas, triagem, palestras de prevenção e
orientação, realizar grupos, atuar no planejamento familiar e fazer
psicoterapia individual e grupal.

Neste contexto, o acolhimento se coloca na porta de entrada do


serviço como uma prática que, para além de considerar o sujeito que
procura o serviço, com suas condições de vida, requer também a postura
inclusiva, com relação a outros tipos de sofrimento que possam ser
relativos a processos de marginalização, exclusão ou violências” (SANTOS
et al, 2020).
O psicólogo deve buscar promover e contribuir com a saúde de algumas formas, tais como:

• Incluindo outros profissionais da saúde, no desenvolvimento de práticas referentes aos


problemas como DST/HIV/AIDS;
• Identificando os problemas que requerem atenção prioritária na comunidade;
• Executando atividades a partir de temas significativos para o mundo do adolescente
e do perfil socioeconômico e epidemiológico do público-alvo;
• Realizando grupos com adolescentes ou idosos, de acordo com as demandas
recebidas; reuniões e ações com escolas, com assuntos atuais das comunidades (visando
prevenção).

Nesta perspectiva, o (a) psicólogo (a) da saúde precisa ser um profissional que tenha um
olhar social, tanto em suas práticas, quanto em sua formação, para que assim, suas
contribuições sejam produtivas. A atuação do (a) psicólogo (a) na UBS tem o intuito de
oferecer uma importante contribuição na compreensão contextualizada e integral dos
indivíduos, familiares e de toda a comunidade atendida (SANTOS et al, 2020).
Os atendimentos mais especializados ocorrem em ambulatórios,
enfermarias e outras instalações médicas, podendo incluir triagem,
psicodiagnóstico, terapia individual ou em grupo, entre outros. Os
psicólogos podem desempenhar papéis permanentes como membros da
equipe de saúde (Sistema de Ligação) ou fornecer consultoria sob
demanda. Eles mantêm registros padronizados para avaliação e
acompanhamento, exercendo funções clínicas, sociais, institucionais e
educacionais, atendendo não apenas aos pacientes, mas também a
familiares, cuidadores e profissionais de saúde. Suas decisões de
atendimento são baseadas em evidências científicas e nas necessidades
identificadas na população atendida (BRUSCATO, CONDES, 2020).
E a Psicologia Hospitalar?
A Psicologia Hospitalar visa aplicar os conhecimentos da Psicologia a situações
específicas relacionadas aos processos de doença, internação e
tratamento em ambientes hospitalares, e se concentra nas complexas e
delicadas interações que ocorrem nesse contexto, especialmente na
relação entre o paciente doente, sua família e a equipe de saúde. Isso
implica lidar com questões emocionais, psicológicas e sociais associadas à
doença, hospitalização e tratamento.
NOVA REALIDADE SOCIAL
● Na nova realidade social proposta pela Reforma Psiquiátrica, não apenas
a saúde pública e a estruturação dos serviços são modificadas,
alterações na relação entre a pessoa com transtorno mental e a
sociedade também são suscitadas.

● Desse modo, a Reforma Psiquiátrica se consolida como um processo


social complexo que apresenta como principais objetivos o fim do
isolamento, a desinstitucionalização, a inserção das pessoas com
sofrimento psíquico na sociedade, a criação de serviços e centros de
atendimento em substituição aos manicômios.
● Cabe notar que a promoção da intersetorialidade, da
interdisciplinaridade, desinstitucionalização, promoção de
espaços de acolhimento e convivência em grupo e inclusão
social são alguns dos princípios da Reforma Psiquiátrica e se
colocam como elementos fundamentais e norteadores da
Política Nacional de Saúde Mental.

● No Brasil, a assistência em saúde mental consolida um modelo de


atenção aberto e de base comunitária, apoiada na lei 10.216/01,
também conhecida como Lei da Reforma Psiquiátrica, a qual dispõe
sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de
transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em
saúde mental, instituiu um novo modelo de tratamento aos
transtornos mentais no país.
● A partir da implementação da Política Nacional de Saúde Mental ocorreu
um processo de transformação no modelo de assistência estruturação de
uma rede de serviços substitutivos assume valor estratégico, com
relevância para os Centros de Atenção Psicossocial – CAPS - que se
destacam por estimular a integração familiar e social, apoiando os
usuários com iniciativas de busca da autonomia
Principais redes de atenção à saúde no Brasil
● Atenção à saúde materna e infantil;

● Atenção às urgências e emergências;

● Atenção à saúde das pessoas com doenças crônicas;

● Rede de cuidados à pessoa com deficiência;

● Rede de Atenção Psicossocial (RAPS).


Rede de Atenção à saúde materna e infantil (RAMI)
O principal objetivo é assegurar à mulher o direito ao planejamento familiar
e à atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério e, às
crianças, o direito ao nascimento seguro e ao crescimento e
desenvolvimento saudáveis.

Um aspecto importante no qual a Rami se propõe a atuar é a atenção


ambulatorial especializada para mulheres com risco de agravos e morte
durante o período gestacional.
Rede de atenção às urgências e emergências
● Objetivo: Reordenar a atenção à saúde em situações de urgência e
emergência de forma coordenada entre os diferentes pontos de atenção
que a compõe, de forma a melhor organizar a assistência, definindo
fluxos e as referências adequadas.

● É constituída pela Promoção, Prevenção e Vigilância em Saúde; Atenção


Básica; SAMU 192; Sala de Estabilização; Força Nacional do SUS; UPA 24h;
Unidades Hospitalares e Atenção Domiciliar.

● Sua complexidade se dá pela necessidade do atendimento 24 horas


às diferentes condições de saúde: agudas ou crônicas agudizadas;
sendo elas de natureza clínica, cirúrgica, traumatológica entre outras.
Rede de atenção à saúde das pessoas com doenças crônicas
Objetivos gerais:

● Realizar a atenção integral à saúde das pessoas com doenças crônicas, em


todos os pontos de atenção, através da realização de ações e serviços de
promoção e proteção da saúde, prevenção de agravos, diagnóstico,
tratamento, reabilitação, redução de danos e manutenção da saúde;

● Fomentar a mudança no modelo de atenção à saúde, por meio da qualificação


da atenção integral às pessoas com doenças crônicas e da ampliação das
estratégias para promoção da saúde da população e para prevenção do
desenvolvimento das doenças crônicas e suas complicações.
Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência
Objetivos Gerais:

● Ampliar o acesso e qualificar o atendimento às pessoas com deficiência


temporária ou permanente; progressiva, regressiva ou estável; intermitente ou
contínua no SUS;

● Promover a vinculação das pessoas com deficiência auditiva, física, intelectual,


estomia e com múltiplas deficiências e suas famílias aos pontos de atenção;

● Garantir a articulação e a integração dos pontos de atenção das redes de saúde


no território, qualificando o cuidado por meio do acolhimento e classificação de
risco.
ATENÇÃO DOMICILIAR
● A atenção domiciliar proporciona ao paciente um cuidado ligado diretamente aos aspectos referentes à
estrutura familiar, à infraestrutura do domicílio e à estrutura oferecida pelos serviços para esse tipo de
assistência. Dessa forma, evita-se hospitalizações desnecessárias e diminui o risco de infecções. Além
disso, melhora a gestão dos leitos hospitalares e o uso dos recursos, bem como diminui a superlotação de
serviços de urgência e emergência.

● Tipos de atendimento domiciliar

● Atenção básica - Pacientes que possuam problemas de saúde controlados e com dificuldade ou
impossibilidade física de locomoção até uma unidade básica de saúde. Também está disponível a pessoas
que necessitam de cuidados de menor intensidade, incluídos os de recuperação nutricional, de menor
frequência de visitas, com menor necessidade de recursos de saúde e dentro da capacidade de
atendimento de todos os tipos de equipes que compõem a atenção básica.

● Melhor em Casa – Pacientes que possuam problemas de saúde e dificuldade ou impossibilidade física de
locomoção até uma Unidade Básica de Saúde e que necessitem de maior frequência de cuidado, recursos
de saúde e acompanhamento contínuos. A indicação para o atendimento domiciliar pode vir de diferentes
serviços da rede de atenção.
Rede de Atenção Psicossocial (RAPS)
● Tem como objetivo articular ações e serviços de saúde em diferentes
níveis de complexidade.

● Centros de Atenção Psicossocial (CAPS);


● Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT);
● Centros de Convivência e Cultura;
● Unidades de Acolhimento (UAs);
● Leitos de Atenção Integral (em hospitais gerais e CAPS III).
Centro de Atenção Psicossocial (CAPS)
● CAPSi - É um serviço público de saúde que atende crianças e adolescentes que
apresentam intenso sofrimento psíquico decorrente de transtornos mentais
graves e persistentes (até os 17 anos, 11 meses e 29 dias) ou sofrimento psíquico
decorrente do uso de substâncias psicoativas (até 15 anos, 11 meses e 29 dias).

● CAPS I - É um serviço público de saúde para pessoas de todas as idades e que


apresentem sofrimento psíquico intenso decorrente de transtornos mentais
graves e persistentes ou do uso de álcool e outras drogas.

● CAPS II - É um serviço público de saúde que atende pessoas a partir de 18 anos que
apresentam intenso sofrimento psíquico decorrente de transtornos mentais graves e
persistentes.

● CAPS III - É um serviço público de saúde que atende pessoas a partir de 18 anos que
apresentem sofrimento psíquico intenso decorrente de transtornos mentais graves e
persistentes. Funciona 24 horas por dia, incluindo finais de semana e feriados.
● CAPS AD - Atende pessoas maiores de 16 anos que apresentam sofrimento
mental grave e persistente decorrente do uso nocivo e dependência de álcool e
outras drogas.

● CAPS AD II: Álcool e Drogas - É um serviço público de saúde que atende


pessoas a partir dos 16 anos que apresentam sofrimento psíquico intenso
decorrente do uso de álcool e outras drogas. Funciona de segunda a sexta-feira
em horário comercial (municípios ou regiões com população superior a 70.000
(setenta mil) habitantes.).

● CAPS AD III: Álcool e Drogas - Atende pessoas maiores de 16 anos que


apresentam sofrimento mental grave e persistente decorrente do uso nocivo e
dependência de álcool e outras drogas. Proporciona serviços de atenção
contínua, com funcionamento vinte e quatro horas, incluindo feriados e
finais de semana, e acolhimento noturno (municípios ou regiões com
população acima de 150.000 (cento e cinquenta mil) habitantes).
Fluxo de Atendimento na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS)
● Identificação da Demanda: O processo começa quando um indivíduo, família, escola, unidade de saúde ou outros profissionais
identificam uma demanda de saúde mental.

-> Acolhimento na Atenção Básica (Unidades Básicas de Saúde - UBS) (Caso leve ou moderado):

● O paciente procura a UBS.


● É realizado o acolhimento, triagem e avaliação inicial.
● Atendimento psicológico e/ou psiquiátrico básico é oferecido.

○ Caso necessário, o paciente é encaminhado para o CAPS.

-> Atendimento no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS - I, II, III) (Caso grave ou persistente):

● O CAPS recebe encaminhamentos da UBS.


● Avaliação detalhada é realizada.
● Tratamento ambulatorial intensivo, incluindo atendimento médico, psicológico, terapia ocupacional e grupos terapêuticos.
● Reabilitação psicossocial é promovida.

○ O paciente pode ser encaminhado para hospital geral em casos de crise aguda.
Atendimento em Hospital Geral (Casos de crise aguda):

- O hospital geral recebe pacientes em situações de risco iminente.


- Realiza internações de curto prazo para estabilização.
- Avaliação médica e psiquiátrica é realizada.
- Após a estabilização, o paciente é encaminhado para serviços especializados.

Atendimento no Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD) (Casos de dependência
química e abuso de substâncias):

- O CAPS AD oferece tratamento multidisciplinar.


- Isso inclui desintoxicação, acompanhamento médico, psicoterapia e grupos de apoio.

Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT):


- Para pessoas com transtornos mentais graves e crônicos que necessitam de moradia supervisionada.
- Fornecem moradia segura, acompanhamento psicossocial e apoio na reintegração social.

A ideia é que haja a oferta de atividades terapêuticas, culturais e de integração social para pessoas em
recuperação. O objetivo final é que o paciente seja reintegrado à comunidade e à vida social e profissional.
FEEDBACK DA AÇÃO “SETEMBRO AMARELO”
● Insatisfação com o curso;

● Insatisfação com docente(s);

● Cansaço / Estresse;

● Preconceito / Discriminação.
SATISFAÇÃO E BEM-ESTAR
A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE),
organização internacional busca abordar a questão de como medir o
bem-estar das pessoas e o progresso das sociedades a partir de 11
dimensões (comunidade, educação, meio ambiente, participação civil, saúde,
moradia, renda, trabalho, satisfação com a vida, segurança, balanço entre
trabalho e qualidade de vida)

A pesquisa da OCDE com dados até o ano de 2018, verificou em relação à


satisfação com a vida que as diferenças entre sexo foram insignificantes,
entretanto pessoas com menos de 30 anos e pessoas com nível
educacional mais alto apresentaram maior satisfação com a vida.
Determinantes do bem-estar subjetivo foram identificados e divididos em 7
categorias:

● Dados sociodemográficos básicos (sexo, idade, raça/etnia);

● Status socioeconômico (renda, educação, emprego, estrutura familiar,


status de imigração);

● Saúde e funcionamento (saúde geral ou autorreferida, doenças,


incapacidades mentais e físicas,obesidade, privação de sono, atividade
física);

● Personalidade (traços de personalidade como autoeficácia, otimismo e


autoestima);
● Apoio social (número de contatos,qualidade dos contatos; amigos; família,
satisfaçãocom a família, satisfação social, discriminação);

● Religião e cultura (conceituação do bem-estar subjetivo,formulação de


padrões de comparação,religiosidade,visitas a casas de culto);

● Geografia e infraestrutura (nível de desagregação do local de moradia e


acesso a infraestrutura).
O QUE VAI CAIR NA P2 E PROVÃO?
● Conceituação de “Psicologia da Saúde”;

● Conceituação de “Psicologia Hospitalar”;

● Atuação do Psicólogo na Atenção Primária à Saúde;

● Princípios doutrinários e organizativos do SUS;

● Principais redes de atenção à saúde no Brasil;

● Fatores determinantes e condicionantes de saúde.


Bibliografia
ALMEIDA, R. A.; MALAGRIS, L. E. N. A prática da psicologia da saúde. Rev. SBPH, Rio de Janeiro , v. 14, n. 2, p.
183-202, dez. 2011.
AMARANTE, P. Saúde mental e atenção psicossocial. 3 ed. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz. 2007.
ANDRADE, M. T. M. Entre avanços e recuos: a história da reforma psiquiátrica. 2023. 44 f. Monografia
(Especialista em Serviço Social e Gestão de Políticas Públicas) - Universidade Federal de Campina Grande,
Centro de Ciências Jurídicas e Sociais, 2023.
BORGES, J.; COLETTO, Y. C. Legislação do SUS: Comentada e Esquematizada. 3ª ed. Ribeirão Preto: Sanar. 2020.
BRUSCATO, W. L.; CONDES, R. P. Caracterização do Atendimento Psicológico na Saúde. Psicologia: Teoria e
Pesquisa, v. 36, p. e3642, 2020.
COUTO, R.; ALBERTI, S. Breve história da Reforma Psiquiátrica para uma melhor compreensão da questão atual.
Saúde em Debate, Rio de Janeiro, v. 32, n. 78/79/80, p. 49-59, 2008.
PAIVA, L. E. M. et al. Desinstitucionalização de saberes e práticas: da reforma psiquiátrica aos serviços em saúde
mental. Pretextos-Revista da Graduação em Psicologia da PUC Minas, v. 6, n. 12, p. 177-192, 2021.
SANTOS, D.B; GOMES, M.H.P; SILVEIRA, B.B. O papel do (a) Psicólogo (a) na Unidade Básica de Saúde sob uma
Perspectiva da Psicologia da Saúde. Revista Mosaico, v.11, n.1, p. 88-92, 2020.

Você também pode gostar