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ENTREVISTA REALIZADA EM 27/04/2019

1. Identificação:
F. N. S. S., sexo feminino, 31 anos, reside em Luziânia-GO, onde nasceu e foi
criada. Mora com o marido e os quatro filhos de 14, 11, 8 e 5 anos. Possui ensino
médio incompleto. Sua atividade de lazer é jogar video game com o marido,
passear na casa dos parentes, do pai e levar os filhos no parquinho. Trabalhou,
esporadicamente, como doméstica, com marido vigiando bancas dos
ambulantes na rodoviária de Brasília e vendeu, na rua, bombons que ela fazia.
Há 7 anos não trabalha fora de casa. É evangélica e vai à igreja duas vezes por
semana.

2. Motivo da Internação:
“Estava ouvindo vozes, vendo vultos. Ficava nervosa, chorando e pegava a
faca pra se cortar”. (palavras do esposo da paciente).

3. H.D.A:
Aos 26 anos, quando sua filha caçula estava com 7 meses de vida, a paciente
começou a ficar triste, agitada, nervosa, agressiva e quebrava os objetos da
casa, Ouvia vozes, como se fossem um sussurro no ouvido e via vultos. Sentia
raiva da voz que a insultava, chamando-a de fracassada e falava para ela pegar
uma faca, um pedaço de pau para cortar a si mesma e acabar com o seu
sofrimento. A voz também lhe falava para quebrar os objetos da casa. Quando
isso acontecia, ela entrava em choque, começava a chorar e pegava a faca para
se cortar ou quebrava as cadeiras, batia nas portas, atirava os objetos. Descreve
o vulto como um bicho peludo, velho, preto que passa rapidamente por trás e as
vezes na frente dela, só passa e não faz nada. Quando isso acontece, ela sente
frio e medo. Nessa época, começou a fazer tratamento psiquiátrico e interrompeu
a amamentação em função da medicação. Ela deixou de cuidar das suas tarefas
com os filhos e da casa e passou a dormir a maior parte do tempo. Sentia-se
triste e sozinha. Quando acordava, sentia-se nervosa e irritada e quebrava as
coisas em casa. Ela também saia de casa para brigar, ameaçava as pessoas
com pedaço de pau. Em uma ocasião, após ter quebrado os objetos da casa, ela
foi, com seus filhos, para uma campanha de oração da igreja que frequentava.
Passou na casa do pastor e falou que ele já estava atrasado. A filha do pastor
não gostou da forma como ela falou com ele e foi tirar satisfação. A paciente
ficou com raiva e agitada e agiu de forma violenta com a filha e a esposa do
pastor. Alguns membros da igreja que estavam presentes amarraram a paciente
e a agrediram fisicamente. Seu pai chegou, a desamarrou e levou-a para casa.
Em 2014, foi internada por 48 dias, em um hospital em Anápolis. Após esse
período, recebeu alta. Melhorou, mas não se recuperou plenamente. Quando
estava bem, voltava a rotina de cuidados com os filhos, marido, com a casa.
Mantinha bom relacionamento com os irmãos e ajudou o pai no processo de
aposentadoria, buscando informações e documentação necessária. Nos dois
anos seguintes, entre os 27 e 28 anos, ela alternou períodos de três a quatro
meses de melhora com períodos em que voltava a ficar nervosa, violenta,
agitada e com dificuldades de lidar com suas atividades diárias. Manteve o
tratamento psiquiátrico com retornos periódicos e ajustes de medicação. Em
2016, voltou a chorar, frequentemente, a ficar irritada e agressiva verbalmente,
a ouvir vozes, a pegar faca para se cortar e a ver vultos. Sentia-se culpada por
não conseguir cuidar de casa e dos filhos, como gostaria. Foi internada em
Luziânia por 10 dias. Melhorou, mas sem recuperação plena. Tinha um
semblante preocupado, “caído”, desanimada e dormia demais. Ela mantinha sua
rotina, mas se preocupava por não dar conta dos seus afazeres como antes.
Entre os 29 e 30 anos alternou breves períodos de melhora, nos quais
desenvolvia suas atividades com a casa, filhos, marido, com períodos em que
ficava agitada, nervosa e agressiva. Ela manteve o tratamento psiquiátrico e
acompanhamento psicológico regularmente. Passou a reunir os irmãos, em sua
casa, duas vezes por mês, aos domingos, para almoços em família, nos quais
todos colaboram. Em novembro de 2018, estava agitada e nervosa e tomou 10
comprimidos da sua medicação com uma lata de cerveja. Passou muito mal e
foi para o hospital fazer lavagem estomacal. Há três meses atrás, o seu marido
dividiu as tarefas de casa entre os filhos mais velhos, para que eles ajudem a
mãe na organização da casa que permanece fazendo o almoço para a família.
Cerca de 2 meses atrás, ficou muito apreensiva com sua mãe que estava se
comportando de forma agressiva, nervosa, chorando e com a fala desconexa.
Além disso, uma sobrinha, com dois meses de nascimento, filha da sua irmã
mais próxima, teve pneumonia e foi internada. Esses fatos, deixaram-na tensa e
preocupada. Acentuaram as crises de choro, a irritabilidade, os vultos e as vozes,
retomando com o comportamento de pegar a faca para se cortar e acabar com
o sofrimento. Há 15 dias atrás, o marido saiu para trabalhar e ela foi ao CAPS,
com o pai para pedir ajuda ao psiquiatra que a acompanhou porque não estava
aguentando mais, queria fazer tratamento para a voz sumir. Segundo a paciente,
ele mudou a medicação e marcou retorno para uma nova avaliação. Há treze
dias atrás, no dia 15 de abril, após o retorno ao médico, como o quadro não havia
melhorado, definiu-se pela internação, com a concordância da paciente, que veio
para Goiânia e foi internada na PAX nesse mesmo dia.

4. Curva Vital:
É a terceira filha de sete irmãos, sendo a primeira mulher. Proveniente de uma
gestação normal, sem intercorrências. Nasceu a termo, de parto normal. Do
ponto de vista neuropsicomotor sustentou a cabeça, sentou, engatinhou, andou
e falou na época certa. Na infância, até os 8 anos convivia com os pais, irmãos,
primos, vizinhos da mesma idade e tios. Era uma criança extrovertida,
comunicativa, amorosa e que se dava bem com as pessoas. Ela ingressou na
escola com 06 anos, era estudiosa, tirava notas boas e não tinha dificuldade em
aprender. Quando tinha 7 anos, sua mãe saiu de casa e entregou os quatro filhos
a um orfanato, em Taguatinga. A mãe não contou o paradeiro das crianças ao
pai e disse que “queria viver a vida”. Fabiana e os irmãos permaneceram 1 ano
no orfanato até que o pai conseguiu encontrá-los e retirá-los do local. Os pais de
Fabiana reataram e tiveram mais três filhos. A mãe deixava os filhos sozinhos
em casa, por meses, e o pai trabalhava e só vinha a noite para casa. O conselho
tutelar recebeu uma denúncia e levou os 7 filhos para um orfanato em Luziânia,
onde a paciente permaneceu até os 13 anos. Ela era agitada e comunicativa,
mas tinha poucos amigos. Cuidava dos irmãos, sentia-se responsável por eles e
gostava de tudo na hora certa e os corrigia quando necessário. Foi uma criança
que assumiu responsabilidades de adulta precocemente. Não gostava de morar
no orfanato e entrava em muita briga para defender os irmãos. Ela gostava de
brincadeiras “de menino”: jogar futebol e biloca e também gostava de cantar e
de ler. Nesse período, ela e os irmãos passavam os finais de semana em casa,
com o pai que entrou na justiça e conseguiu a guarda dos filhos, novamente. Aos
13 anos, voltou a morar com o pai com quem passou a ter dificuldades de
relacionamento. Ela queria ir para festas, sair, dançar, namorar e o pai era rígido
com as regras. Aos 14 anos fugiu de casa e foi morar com uma amiga, na
fazenda dos pais dela. Gostava muito de lá e ajudava nas tarefas, como tirar leite
da vaca. Depois de seis meses que havia fugido, o pai descobriu onde estava
porque colocou uma foto sua na televisão, procurando pela filha. Ela voltou para
a casa do pai, mas os conflitos continuaram. Entre os 15 e 16 anos, ela ia para
a escola, cuidava dos irmãos e aos finais de semana saia de casa, muitas vezes
escondida, para as festas. Aos 16 anos, fugiu novamente de casa porque queria
sua independência, morar sozinha e começou a trabalhar de babá. Foi morar
com uma amiga e não deu certo porque ela vendeu todos pertences da paciente
e sumiu. Em seguida, conheceu um rapaz de quem engravidou do seu primeiro
filho. Ele a abandonou ao saber da gravidez e ela voltou a morar com o pai. Ela
estudou até o 1° ano. Nessa ocasião, estava grávida e um colega a chamou de
“miss furinho”. Ela ficou com raiva e quebrou uma cadeira na cabeça dele.
Depois do nascimento do filho, não quis mais voltar para a escola. Quando seu
primeiro filho estava com 1 ano e 7 meses e ela com 18 anos, conheceu seu
atual marido. Nessa época, ela trabalhava como doméstica. Com um mês de
namoro, foram morar juntos. O marido acolheu seu primeiro filho como se fosse
dele. Há 11 anos atrás, ela trabalhou com o marido vigiando as bancas dos
ambulantes na rodoviária de Brasília. Logo em seguida, aos 20 anos, teve sua
segunda filha. Ela ficava em casa cuidando das crianças e o marido provia a
casa. Há 8 anos, logo após o nascimento do terceiro filho, o marido ficou
desempregado e ela começou a fazer bombons para vender na rua e ajudar nas
despesas, até ele conseguir uma nova colocação. Eles decidiram que era melhor
ela ficar em casa cuidando das crianças. Sua relação com o marido é muito boa,
com amor, carinho e afeto, assim como a relação com seus filhos. A paciente
teve dois abortos entre o terceiro e a quarta filha. Em sua última gravidez, aos
25 anos, houve diversas intercorrências, fazendo com que ficasse internada por
algumas vezes por anemia, infecção urinária, perda de líquido amniótico, com 7
meses de gestação. Ela ficou triste e com medo de perder a criança. A criança
nasceu saudável, aos 9 meses e ela a amamentou até os 7 meses de vida.

5. Constelação
Familiar
Mãe e uma tia materna com histórico de doença mental, com comportamentos
agressivos verbalmente e fisicamente. Fazem tratamento psiquiátrico e tomam
medicação. Não souberam dizer o diagnóstico. (informação concedida pelo pai
e marido).

6. Exame Psíquico

7. Exame Físico:
Não tivemos acesso

8. Exames Complementares:
Não tivemos acesso

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