Você está na página 1de 2

RECORTE DE CASO CLÍNICO 04 – SUPERVISÃO

Informações iniciais: Paciente P. 12 anos, sexo masculino, mora com o pai, a irmã, o cunhado e dois
sobrinhos bebê, cursa o 7º ano em escola particular, católico praticante com a família, faz aula de
inglês, futebol, karatê e de reforço escolar. Tem poucos amigos na escola, e interage principalmente
com adultos e primos menores que ele. A aparência do paciente é de bem cuidado, certo excesso
de peso, muito educado, atencioso e gentil. Nos atendimentos mantém regularidade, pontualidade e
ótimo vínculo com a terapeuta. Sua voz é calma, comunica-se muito bem e demonstra sempre estar
bem-humorado.

Caso clínico – Paciente P.


Apontamentos sobre a irmã do paciente
A procura pelo atendimento foi por meio da indicação de amigas da irmã e a partir do
encaminhamento da pediatra e endocrinologista, com a queixa principal de enurese noturna, após
várias avaliações clínicas. A irmã relatou que a enurese começou logo após o falecimento de sua
mãe (1 ano e 4 meses do início do tratamento). Relatou que sua mãe engravidou dele com 38 anos
e quando ela (irmã) já estava com 17, e foi uma surpresa para a família. Disse ter sido uma gravidez
de risco devido a hipertensão da mãe, levando a um parto prematuro. Comentou que o menino trouxe
muita alegria para toda a família, e que inclusive ela, exercia um cuidado muito maternal com o irmão
acreditando ser devido a diferença de idade, e que o apaixonamento provocado pela situação de ter
uma criança em casa depois de tanto tempo e as melhoras na condição financeira da família,
favoreceram muitos mimos e maus costumes ao menino. Contou que mesmo depois de se casar e
sair de casa, continuou muito próxima do irmão, e que esse frequentava sua casa constantemente.
Disse que o menino dormia num período na cama junto com os pais e depois o pai passou a dormir
no quarto do menino e o menino junto com a mãe no quarto dela, justificando que a mãe por estar
no climatério sentia necessidade de usar o ar condicionado, contudo, o marido não gostava.
Contou que no dia da morte da mãe (49 anos) o menino (11 anos) estava dormindo em sua casa
(casa da irmã) e na madrugada recebeu uma ligação do pai dizendo que sua mãe havia passado
mal. Ao chegar na casa dos pais com o irmão, sua mãe estava sendo socorrida, contudo, já havia
falecido devido um
infarto fulminante. Tal fato desencadeou forte mobilização na família toda, que é extensa e mantém
muito contato entre si. Devido a agressividade da noticia inesperada, justificando que o único
problema de sua mãe era a hipertensão muito bem tratada e assistida.
Segundo seu relato a mãe era muito querida por muitas pessoas e pela comunidade religiosa, por
exercer muitas atividades com os amigos e família. Disse que havia descoberto sua gravidez havia
pouco tempo, que toda a família se alegrava muito com isso, pois foi conquistada após 4 anos de
casamento e tratamento de fertilização, e em decorrência desses acontecimentos se sentiu muito
mal, e ao ter atendimento médico, veio a descobrir que seriam gêmeos.
Apontamentos sobre o paciente
Nos atendimentos com o paciente ficou percebido que o aumento da enurese aconteceu com a
chegada dos sobrinhos, contudo, ele só trouxe em sessão sobre esse assunto depois de 4 sessões,
sendo observado certa frustração, culpa e embaraço e afastamento de atividades sociais que
demandam dormir fora de casa, entretanto, com percepção do acolhimento familiar.
Ele tem boa interação com a família, fazem muitas atividades juntos, gosta de cuidar e brincar com
os sobrinhos e continua dormindo no quarto dos pais com o pai justificando não haver outro espaço
na casa para ele.
Ao relatar como foi a morte de sua mãe, contou que percebeu que não deveria ter dormido naquela
noite na casa da irmã, que se estivesse junto da mãe, ele teria notado que ela não estava bem e
poderia ter pedido ajuda a tempo.
Nos jogos e brincadeiras, mesmo muito educado, ele gosta de assumir o controle, ele que embaralha
e distribui as cartas, ele sempre se posiciona para ser figuras de autoridade, investigador, o banco,
e apresenta as regras do jogo, e não se abala com derrotas.
Em atividades com o baralho das emoções, ele preenche descrevendo suas emoções durante a
semana somente apontando como tranquilo, feliz e cansado, com exceção de certa vez ter descrito
como ansioso na véspera de começar as aulas e amedrontado em outra situação.
Ao discorrer em situações em que se sente amedrontado, o paciente relatou ficar nervoso quando a
irmã sai de casa, principalmente a noite, mesmo acompanhada, pois pensa que pode acontecer
alguma coisa ruim com ela ou eles, sentindo dor de barriga e só conseguindo adormecer quando
todos estão em casa.
Ele costuma receber alguns primos e amigos em sua casa, e muita poucas vezes frequenta a casa
de amigos e primos, por não se sentir a vontade.
Relata que sente menos saudades da mãe, que se percebe sempre feliz e que as coisas
desagradáveis o afeta muito pouco, pois se sente mal, mas que isso passa logo e ele volta a estar
bem.
Com suas notas e tarefas escolares, demonstra ser competitivo, se desafia a ir melhor e se supera
o tempo todo e não abre mão das aulas de reforço com a professora particular mesmo indo bem na
escola.
Após aproximadamente 8 sessões, reduziu muito a frequência da enurese, acontecendo 3 ou 4 vezes
por semana, e em dado momento começou a acontecer em torno de 2 vezes na semana, coincidindo
com a mudança de rotina do pai, que passou a acordar e sair para trabalhar 4 horas da manhã.
Ele e a família no decorrer do processo, adotaram várias estratégias para tentar controlar a enurese
como não tomando água após as 20 horas, indo ao banheiro antes de dormir, mapeando o horário
do xixi, colocando despertador para acordá-lo antes de molhar a cama, o pai acordando-o de
madrugada...
Nas brincadeiras e jogos foi apontada sua necessidade de controle, se segurança, e na hipótese de
ele estar controlando o próprio pai por meio do xixi, umas vez que, na tentativa de evita-lo o pai tem
que acordar e ele também, podendo evitar que o acontecido com sua mãe não ocorra também com
o pai.
Percebeu-se seu medo de perder, e os prejuízos que o sentir medo na ausência de seus entes
queridos lhe tem prejudicado.
Na atualidade ele tem ficado cada vez mais tempo sem fazer xixi na cama, chegando até a ficar 20
dias, no entanto, quando isso acontece, coincide com a véspera do atendimento.

Você também pode gostar