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Comunicação Clínica

Abordagem da Espiritualidade

Alex F. de Oliveira
A criação de Adão – Psiquiatra, Ms em Filosofia,
Michelangelo, 1511 Prof. do curso de medicina da UFV
Plano da atividade
1. Porque abordar espiritualidade/religiosidade?
2. Barreiras para a abordagem;
3. Definição;
4. Quando, como e o que fazer;
5. Riscos e o que não fazer;
6. Como fazer o treinamento;
1. Porque abordar?
• No Brasil 92% da população referiu ter uma religião, 83%
consideraram religião muito importante para sua vida:
• Nos EUA cerca de 80% dos médicos de família são religiosos; entre
os brasileiros, a maioria dos médicos se consideram também
religiosos;
• 80% dos médicos acham importante considerar a orientação
espiritual de seus pacientes, mas apesar disso, menos de 10% dos
médicos diz colher uma história espiritual
• Práticas religiosas predispõem a comportamentos para a saúde:
escolha e aceitação de tratamentos, comportamentos de risco
• A maioria dos pacientes, principalmente enfrentando doenças
graves, gostaria que o médico abordasse e levasse em conta
suas necessidades espirituais
1. Porque abordar?
• 3000 estudos mostrando impacto da E/R na saúde das
pessoas:
– Maioria das vezes o impacto é positivo sobre qualidade de
vida e mortalidade;
– Mortalidade 6% maior quando a pessoa está em conflito
religioso...
– Coping relisioso é maior preditor que frequência a cultos
• Diretrizes da World Psychiatry Association (2016):
– Abordagem da E/R é competência básica do prof de saúde
mental e deve fazer parte dos currículos;
2. Barreiras para a abordagem
• Maioria dos médicos é religiosa, considera o assunto
importante, mas encontra barreiras para abordagem:
– Medo de extrapolar o papel profissional;
– Medo de ofender;
– Falta de conhecimento;
– Falta de tempo;
– Falta de treinamento;
• https://www.youtube.com/watch?v=fGzLT3I67RI
3. Definições
• “Espiritualidade é uma busca pessoal para entender
questões relacionadas ao fim da vida, ao seu sentido,
sobre as relações com o sagrado ou transcendente que,
pode ou não, levar ao desenvolvimento de práticas
religiosas ou formações de comunidades religiosas”
(Koening)
• “Ideia de propósito, conexão com o mundo, com os
outros, com a natureza, consigo mesmo e com o
sagrado” (Puchalski)
3. Definições
• Religiosidade representa a crença e a prática dos
fundamentos propostos por uma religião. Refere-se à afiliação
a uma instituição (comunidade religiosa) à prática pessoal
(oração, meditação etc);
• Coping religioso e espiritual é o emprego dos recursos
religiosos para a superação de situações difíceis. Pode ser
funcional ou disfuncional e é importante avaliar isso;
• existem diferentes formas de espiritualidade/sentidos da
vida:
https://www.youtube.com/watch?v=RVWwGak3nQY
(a partir de 1:19:06)
4. Quando, como e o que fazer
A) Princípios:
– Abordagem deve independer da E/R do profissional: é
centrada no paciente;
– O relacionamento positivo ou negativo do profissional com
sua E/R tende a afetar a atitude do profissional em acolher
E/R do paciente;
– Como em tudo, o profissional deve detectar, mas trabalhar
dentro de suas limitações de possibilidade;
– Conduta:
• encoraja o funcional, encaminha necessidades complexas;
• Nível mais avançado: trabalha coping negativo;
4. Quando, como e o que fazer
A) Princípios:
• 4 itens básicos a serem questionados, independente da
formulação exata (História espiritual - Koenig, 2005):
– O paciente usa a religião ou a espiritualidade para ajudá-lo a
lidar com a doença ou é uma fonte de estresse? (R/E ou fonte de
significado/suporte aos momentos de crise)
– O paciente é membro de uma comunidade de apoio espiritual?
– O paciente tem alguma preocupação quanto a
problemas espirituais?
– O paciente tem alguma crença espiritual que possa influenciar
o tratamento médico?
4. Quando, como e o que fazer
B) Quando abordar:
• Não há consenso exceto nas situações de:
– Admissão hospitalar;
– Programas de dor crônica;
– Cuidados paliativos;
• A abordagem em situações extremas pode levar ao
sentimento de medo no indivíduo;
• Nossa opinião pessoal é que a consulta centrada na pessoa dá
essa possibilidade de entender se o tópico é importante
(SIFE), assim como o acompanhamento longitudinal;
4. Quando, como e o que fazer
C) Como abordar:
– Colher a história espiritual: pode ser livre;
– Mnemônicos facilitadores:
• FICA;
• HOPE;
4. Quando, como e o que fazer
Questionário FICA
• F (Fé): Você se considera religioso ou espiritualizado? Se não:
o que te dá significado na vida?
• I (Importância ou influência): Que importância a fé ou crenças
religiosas tem em sua vida? Como ela afeta as decisões mé-
dicas ou o seu tratamento?
• C (Comunidade): Você faz parte de alguma comunidade
religiosa ou espiritual ou algum grupo lhe dá apoio?
• A (Ação no tratamento): Como você gostaria que o seu
médico considerasse a questão da religiosidade/
espiritualidade no seu tratamento?
4. Quando, como e o que fazer
Questionário HOPE
• H (Hope - Fontes de Esperança, significância ou suporte):
Quais são as suas fontes de esperança, força, conforto e paz?
Ao que você se apega em tempos difíceis?
• O (Organização religiosa): Você faz parte de uma comunidade
religiosa ou espiritual? Ela o ajuda? Como?
• P (Espiritualidade pessoal e prática): Quais aspectos de sua
espiritualidade ou crenças pessoais (independente da sua
religião organizada) mais impactam na sua vida?
• E (Efeitos no tratamento): Há alguma prática ou restrição que
eu deveria saber sobre seu tratamento médico? Como
médico, há algo que eu possa fazer para ajudar você a acessar
os recursos que geralmente o apoiam?
4. Quando, como e o que fazer
C) Como abordar:
– Exemplo de história espiritual breve (Puchalski):
4. Quando, como e o que fazer
D) Como conduzir:
5. O que fazer e o que não fazer
• DO (Faça):
– Legitime o tema;
– Detecte e encaminhe a necessidade conforme a
complexidade;
– Pode orar com o paciente se: 1) for desejo de ambos e
uma iniciativa do paciente e 2) o médico partilhar do
background religioso do paciente;
– Estimular/apoiar coping religioso funcional
– Habilidade avançada: facilitar reflexão e reformulação no
coping religioso disfuncional;
5. O que fazer e o que não fazer
• DON’T (NÃO Faça):
– Forçar conversa sobre o tema;
– Prescrever uma prática específica ou sugerir valores do
médico;
– Deslegitimar/desafiar os valores da pessoa;
– Pressionar o paciente a uma “coerência religiosa”, por
exemplo, apontando incompatibilidades de
comportamento e crença, cobrando justificação da crença
dele ou aumentando sua culpa por não observância a
princípios religiosos;
6. Treinamentos Possíveis
• Treinamentos de comunicação clínica;
• Métodos:
– Compreensão conceitual;
– Trabalho reflexivo sobre a vivência/conflitos do
profissional quanto a E/R;
– Simulação/PBI;
– Supervisão

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