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Estudo de caso qualitativo

Handout

Professora Dra. Ivete Rodrigues

Mestrado Profissional em Gestão de Negócios – Turma 7


Fundação Instituto de Administração
São Paulo, 22 de agosto de 2020

Kelly Cristina Vilaça Mazi


Maria Aparecida Lamin
Nilton Brucoli Filho

Introdução
O propósito do capítulo é esclarecer “o que é” estudo de caso qualitativo e sua utilização na área
de organizações. Ênfase no estudo de caso de orientação interpretativa.

 Pouca precisão para definir “estudo de caso”


o Termo utilizado para designar ampla categoria de estudos envolvendo métodos
quantitativos e/ou qualitativos
o Utilizado em várias áreas do conhecimento
 Metodologia de investigação
 Técnica de ensino
 Timeline
o 1910 – 1940
 Início associado com trabalhos realizados pelo Departamento de
Sociologia da Universidade de Chicago
 Sedimenta-se a ideia do estudo de caso
o Contraposição aos então denominados métodos
estatísticos
o Busca por significados atribuídos pelos sujeitos às suas
vivências e experiências pessoais
 Falta de precisão conceitual e utilizado de forma intercambiável
com as histórias de vida, entrevistas não-estruturadas e outras
modalidades de estudo centradas num pequeno número de casos
o CARACTERÍSTICAS COMUNS: natureza holística e
análise não quantitativa dos dados coletados
o 1930 – 1960
 Desaquecimento
 Pesquisas para atender demandas de órgãos governamentais
 Surveys
 Valorização de modelo positivista para construção do
conhecimento
o 1960
 Revalorização da Escola de Chicago
 Ideia-chave: coleta intensiva de dados para cada caso descrito e analisado
o 1970
 Maior uso na área de organizações
 Debate sobre generalização e validade desta modalidade de pesquisa

 Versatilidade contribui para disseminação em estudos organizacionais


o Problema com a qualidade
 Estudo “qualitativo básico ou genérico”
o Pesquisa com algumas características da metodologia qualitativa, mas não todos
requisitos para se enquadrar em estudo de caso intensivo (por meio do qual se
visa aprofundar uma unidade de análise claramente especificada)

Definição e Características

 Tipo de questão a ser respondida é o que define o estudo de caso


o Interesse no individual, no específico
o “Compreensão de um particular caso, em sua idiossincrasia, em sua
complexidade” (STAKE, 1988)
 Descrição (holística e intensiva) de um fenômeno bem delimitado
o Interesse do pesquisador mais voltado à compreensão dos processos sociais que
ocorrem em um determinado contexto do que às relações entre variáveis;
o Interesse no insight, na descoberta, na interpretação, mais do que na verificação
de hipóteses;
o Compreensão de uma situação em profundidade, enfatizando seu significado para
os vários envolvidos
 Fenômeno a ser estudado não deve ser isolado de seu contexto
o “Interpretação no contexto”
o Descoberta e revelação da complexa interação entre fatores internos e externos
do mesmo evento / fenômeno
 Merriam (1988): características do estudo de caso
o Particularista
 Centrado em uma situação ou evento particular
 Adequado para problemas práticos, decorrentes das intrincadas situações
individuais e sociais
 Foco em fenômeno particular + olhar holístico
o Heurística
 Compreensão e descoberta de novos significados para o que está sendo
estudado
 Novos significados e insights que levem a repensar o fenômeno sob
investigação
o Descritivo
 Obtenção dos dados (transcrições de entrevistas, anotações,
documentos)
 Resultados (relatórios de apresentação dos resultados)
 Descrição densa
 Utilizado para definir o tipo de narrativa esperada como produto
final
o Indutivo
 Processo de coleta e análise de dados
 Obtenção de informações a partir das percepções de atores locais
 “Suspensão” das preconcepções do pesquisador sobre o tema
 Análise dados: processo criativo e indutivo
 Pesquisador deve ser sensível ao aparecimento de pressupostos
não estabelecidos e significados ainda não articulados
 Pura indução é impossível: autores não iniciam investigação com mente
vazia
 Dirigir atenção ao exame de alguns aspectos

Tipos de Estudo de caso

 Escolha precisa estar alinhada ao problema de pesquisa


 Tipos – Merriam (1988)
o Descritivo
 Relato detalhado do fenômeno social
 Estudos essencialmente descritivos costumam ser ateóricos, não se
guiam por hipóteses (previamente estabelecidas) nem buscam formulação
de hipóteses genéricas
 Geralmente, apresentam fenômenos pouco estudados e formam base de
dados para futuros estudos
o Interpretativo
 Busca encontrar padrões e desenvolver conceitos
 Ilustrar, confirmar ou opor a suposições teóricas
 Obter grande número de informações para interpretação do fenômeno e
teorização
 Teoria de alcance mais limitado
o Avaliativo
 Preocupação é gerar dados e informações para julgar resultados e
efetividade de um programa
 Pesquisa aplicada
o Muitos estudos combinam descrição + interpretação ou descrição + avaliação
 Tipos – Stablein (2001)
o Etnocaso (ou etnografia)
 Descrição de eventos em um grupo
 Descobrir como determinada rede de significações está organizada
 Além de descrição holística e intensiva: desenvolvimento de análise e
interpretação sociocultural
o Geradores de teoria
 Descoberta de proposições teóricas generalizáveis
o Casos exemplares
 Apresentação e discussão de experiências organizacionais
 Método do caso como estratégia de ensino

Quando usar

 Depende do problema de pesquisa


o Desejo do pesquisador de explicar alguma situação a partir da prática
 Compreender os processos e interações sociais das organizações
o Responder questões sobre processos
 “Por que” e “como” as coisas acontecem
o Questões de compreensão para descrever e interpretar “o que” acontece(u) em
determinada situação
 Estudos de caso são indicados na exploração de processos e comportamentos dos quais
se tem compreensão limitada
o Possibilitam geração de hipóteses explicativas e a elaboração de teorias
o Examinar casos extremos ou pouco usuais
o Pesquisas comparativas – cross cultural

Realização de estudo de caso

 Escolha de unidade de análise


o Caso único
 Deve ser decisivo no teste de uma teoria ou um caso raro
o Casos múltiplos
 Comparações
 Procedimentos de replicação que permitem explicações teóricas mais
robustas
 Parte de análises de casos únicos em profundidade e parte para análises
comparativas
 Definindo o papel da teoria
o Teoria como uma possível “versão de mundo”
 Caráter preliminar e relativo
 Não se constitui num modelo (correto ou incorreto) da realidade
o Suposições teóricas no início do estudo:
 Versões preliminares do objeto
 Serão reformuladas e aperfeiçoadas durante a pesquisa
o Estudos geradores de teoria
 Raciocínio indutivo no desenvolvimento da pesquisa
 Há pouca ou nenhuma teoria para auxiliar o pesquisador
 O investigador deve encontrar variáveis e relações não imaginadas
 Revendo a Literatura
o Pesquisa científica: avanços de paradigma
o Conhecer literatura
 Trabalho inovador e relevante
 Comparativo de conceitos encontrados na pesquisa com os existentes na
literatura
 Similaridades: fortalecimento da validade do estudo, possibilidade
de generalização e teoria de maior nível conceitual
 Divergências: oportunidade de gerar novos conceitos e teorias
o Momento de utilização da literatura
 Anterior a qualquer trabalho
 Foco hipotético-dedutivo na realização do estudo de caso
 Após coleta de dados em campo
 Relacionar os dados previamente organizados em algum esquema
teórico ao que for encontrado na literatura
 Orientação predominantemente qualitativa para o estudo
 Coleta de dados
o Multimétodo, utiliza variadas fontes de informação
 Yin (2001): seis fontes de evidência
 Documentos
 Registros em arquivos
 Entrevistas
 Observação direta
 Observação participante
 Artefatos físicos
o Pode incorporar dados quantitativos
 Quando ocorrer, geralmente, o tratamento estatístico não é sofisticado
o As fontes apontadas por Yin (2001) podem ser reunidas em três grupos:
 Observação
 Tipos
o Não Participante
 Espectador atento
o Participante
 Pesquisador assume funções dentro do caso e
participa dos eventos estudados
 A técnica de observação frequentemente é combinada com a
entrevista
 Entrevista
 Semiestruturada
o Compreender significados que os entrevistados atribuem
às questões e situações relativas ao tema de interesse
o “Guia de Tópicos”: linha mestra para as perguntas
o Roteiro se aperfeiçoa ou é modificado ao longo da
entrevista
 Documentos
 Primários
o Produzidos por pessoas que vivenciaram diretamente o
evento
 Secundários
o Reunidos por pessoas que não estavam presentes por
ocasião da sua ocorrência
o Conhecer previamente um pouco da história, estrutura e funcionamento da
organização
o Amostra não é estatística
 Fundamental estabelecer critério para encerrar o trabalho de campo
 Saturação de dados: aquisição de informações se torna
redundante
 “Amostragem teórica”
 Casos selecionados a partir da relevância para as questões de
pesquisa
 Análise de dados
o Concomitante com a coleta de dados ou cíclica
o Processo de análise sistemático e abrangente, mas não rígido
 Análise termina quando novos dados nada mais acrescentam (processo
analítico “exaure” os dados)
o Atividade reflexiva
o Comparação
o Resultado deve ser uma síntese de nível mais elevado
o Procedimentos não são mecanicistas
o Dados devem ser segmentados
o Manipulação de dados é tarefa eclética
Rigor no estudo de caso

 Rigor passa por fidedignidade, validade e generalização


o Generalização
 Amostra não estatística
 Generalização não deveria ser o foco
 Casos deveriam ser escolhidos pela possibilidade que oferecem
de aquisição de novos aprendizados e não como representativos
de casos típicos
 Generalização naturalística
 O conhecimento profundo de um caso pode auxiliar no
entendimento de outros casos
 Necessário relatório claro e detalhado
o Validade
 Validade interna: a descrição do pesquisador representa os dados
coletados
 Pensar criticamente sobre procedimentos e análise de dados:
 Procurar outros casos para testar achados
o Hipóteses provisórias
 Dificuldade em sustentar validade com poucos exemplos ilustrativos, falta
de clareza de critérios de escolha dos casos e indisponibilidade dos dados
e informações originais para verificação
o Confiabilidade
 Consistência com que códigos e categorias são atribuídos às informações
coletadas
 Checagem por diferentes pesquisadores ou em diferentes
ocasiões
 Verificação (MAYAN, 2001)
o Revisar, confirmar, assegurar e ter certeza da qualidade dos seus achados
 Preparo do pesquisador nos procedimentos qualitativos
 Responsabilidade na condução do processo
 Coerência metodológica: congruência entre questão e método

Características de habilidade e do pesquisador

 Tolerância por ambiguidade


o Não há rigidez no método, desde o seu planejamento até a redação do relatório
final
 Sensibilidade
o Pesquisador deve ser sensível ao contexto e a todos os aspectos envolvidos
nele
o “Sensibilidade teórica” (STRAUSS e CORBIN, 1990)
 Habilidade em ver, descrever e interpretar, com profundidade analítica e
criatividade, o que está nos dados
 Ter insights, atribuir significado aos dados, distinguir o que é (ou não)
pertinente
 Comunicação
o Oral: criar ambiente de confiança com os participantes, fazer boas perguntas e
ouvir com atenção
o Escrita: registros com precisão e detalhada – registros do campo, apresentação
e análise de dados
 Isenção
o Relação de hierarquia / subordinação com os participantes
o Preconcepções
o Sentimentos
 Adaptabilidade / Flexibilidade
o Prontidão para alterar projeto original, conforme necessidade

Considerações finais

 Ampla utilização em organizações


o Atesta a relevância da modalidade de investigação
 Nem sempre se apresenta resultados que contribuem
 Procedimentos metodológicos são requeridos para elaborar um trabalho de qualidade
o Pode ser considerado flexível, mas deve seguir os procedimentos
epistemológicos
 Pode proporcionar compreensão ampla e integrada da realidade das organizações
o Espera contribuições aos problemas na prática
 Pode constituir uma rica fonte de informação para natureza prática e contribuir para
decisões

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