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AULAS DE

HISTÓRIA DAS IDEIAS POLÍTICAS

20 de Fevereiro de 2024

 Bibliografia:
o VIDEIRA, Susana Antas, Liberalismo e Questão Social, Lisboa, AAFDL, 2016
o NUNES, FILIPE AREDE, Introdução à História das Ideias Políticas, AAFDL, Lisboa,
2021;
o ALMEIDA, Isabel Banond de, História das Ideias Políticas, Cascais: Principia,
2014;
o TOUCHARD, Jean (dir.), História das Ideias Políticas, Mem-Martins, Europa-
América, 2001 (4 vols.);
 Notas:
o História das ideias políticas/pensamento político – Freitas do amaral – grande
parte dos textos foram consultados na biblioteca de Martim de Albuquerque –
ler com cautela no que toca às conclusões – aconselhado devido à clareza.
o Oral de Melhoria – Trazer tópico estudado/aprofundado pelos alunos
individualmente;

O que é uma ideia? Estado, soberania, constituição escrita, liberdade, formas de governação,
etc. – ideia políticas.

22 de Fevereiro de 2024

Na definição de Martim de Albuquerque, uma “ideia” é uma “representação simplificada da


realidade”, sendo exemplos as ideias políticas de “Estado”, “soberania”, “liberdade”,
“constituição escrita”, “formas de governação”, etc.

O Direito e a Política são conceitos dependentes um do outro na medida em que se


influenciam mutuamente:

 A existência de Direito e a inexistência da Política resultam em anarquia;


 A existência Política e a inexistência de Direito resultam em totalitarismo.

O pendor especulativo dos gregos deu origem à emergência do pensamento político de


matriz ocidental, ou seja, este nasceu na Grécia Antiga, sendo que a Grécia meditou sobre o
mundo dos homens ainda antes de nos oferecer meditação acerca da ordem da natureza, isto
é, ocuparam-se primeiro da polis e, só depois, da physis.

A ideia de Estado é uma ideia moderna, tendo nascido no primeiro quartel do séc.XVI, sendo
que hoje é entendido enquanto um “povo organizado politicamente a viver num território”.

No entanto, antecedente à ideia de Estado está a ideia de polis, que consiste, efetivamente,
no “mundo dos homens”. A polis era uma cidade fortificada, de pequena dimensão, composta
por dois elementos geográficos: onde habitam aqueles que integram a polis e os campos onde
são desenvolvidas as atividades pecuárias ou agrícolas.

A polis é, portanto, uma unidade política autossubsistente que permite ao Homem o seu
máximo desenvolvimento e máxima realização, ou seja, é a unidade de ordem que nos permite
a salvaguarda e a satisfação plena de todos os nossos fins.
A polis tem de ser autárquica e independente (autónoma e eleutéria):

 Autárquica
o A autarquia é uma característica essencial da polis, sendo esta superior a
qualquer comunidade/corpo intermédio que possa existir no seu seio;
 Independente
o Esta característica divide-se em duas outras características:
 Autonomia: A polis é independe a nível interno – face a corpos
intermédios que existem no seu seio;
 Eleutéria: A polis é independente a nível externo – face a outras polis,
não estando sujeita a qualquer intervenção de corpo que com ela está
em relação de paridade
 Este conceito de autonomia aproxima-se do conceito de
Rosseau de soberania.

Por outro lado, a polis não tem necessidade de conciliar o Estado com a Igreja, na medida em
que a polis é, simultaneamente, Estado e Igreja, ocupando-se, nesse sentido, da dimensão
espiritual e da dimensão não espiritual das convivências dos seus habitantes. Entenda-se que a
necessidade desta conciliação surge apenas na Idade Média.

A polis também é regida por um conjunto de normas tutelares, essenciais e características da


polis e que a distinguem das demais, sendo que este corpo normativo se designa nomos. A
ideia de nomos surge na base da ideia, própria do Liberalismo (séc.XIX) de Constituição
(conjunto de normas fundamentais de um Estado).

A justiça também, neste tempo, era entendida como a repressão das


violações/ofensas/crimes, sendo que este conceito também integrará uma vertente política e
jurídica no futuro.

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O Estado é um conceito moderno, no entanto, isso não significa que este conceito não possua
precedentes.

Aristóteles

ENQUADRAR O PENSAMENTO NO SEU TEMPO E OS AUTORES NAS SUAS CIRCUNSTÂNCIAS

PLATÃO

Platão morre em 347 a.C.

Platão era descendente de Sólon, um dos fundadores da democracia ateniense, um aristocrata


e estava destinado a governar a cidade. No entanto, ao conhecer Sócrates e o seu contacto
com ele muda o destino da sua vida. Platão desilude-se com a sua Atenas, apercebendo-se que
ela é essencialmente uma teatrocracia. O que ocupa os governadores

Platão olha com favor para outro modelo grego: Esparta. Desiludido, Platão dedica-se ao
ensino e em 337 a.C. ele funda a Academia: centro universitário do ocidente e que
permanecerá em funcionamento durante um milénio.
529 – Data da primeira edição do Códex.

Em 529, Justiniano extingue este centro universitário: Academia Platónica.

É nesta Academia que Platão desenvolve o seu pensamento. Conservamos os diálogos


produzidos/devotados para o público, em geral e não os diálogos que ele produziu para os seus
estudantes.

“A República” / ”O político”/ “As leis” – Obra platónicas

De entre ideias platónicas encontra-se a ideia, decorrente da sua deceção com a


governação ateniense, de que, entre a Política (políticos, em geral) e o Conhecimento não há
uma contradição insanável, devendo existir uma ligação umbilical, isto é, os nossos
governadores devem ser os mais sábios. Há uma ligação entre o conhecimento e saber e
aquela que deve ser a condução dos destinos coletivos – isto, para Platão, é totalmente
inelutável.

Tendo como exemplo o deputado brasileiro Tiririca, muitas vezes, afastamo-nos da


mensagem platónica e o nosso voto não recai efetivamente sobre a pessoa que achamos mais
adequadas, afastando-nos do arquétipo clássico de governante. -forma de protesto.

Platão cria um modelo político:

Na sua República, quando teoriza o seu modelo político, fá-lo em termos ideais: Platão olhou
para a realidade como sendo uma pálida amostra daquilo que ele entendia ser o
arquétipo/ideia – verdadeira realidade.

A sua República não é realizável: nenhum de nós consegue captar totalmente a ideia, na
medida em que estamos limitados pelos nossos sentidos. Nesse sentido, podemos chegar a
uma aproximação da plena realidade/da ideia, subordinando os nossos sentidos às exigências
da razão.

Somos todos prisioneiros, sentados numa caverna escura em que sentimos a presença dos
outros, mas não são apreendidos pelos nossos sentidos (não os conseguimos ver nem lhes
podemos tocar – agrilhoados). Estamos virados para a parede.

Na caverna há fogueira e é possível ver as sombras uns dos outros refletivas na parede – é a
nossa realidade. O que a generalidade das pessoas vai fazer é permanecer agrilhoado na
caverna – realidade que conhecemos e nos é confortável.

No entanto, em virtude das suas capacidade racionais, alguns libertar-se-ão das grilhetas que
os aprisionam na caverna – a partir daí o caminho torna-se inelutável: alevantar-se e olhar à
volta, descobrindo outra realidade totalmente insuspeita: a abertura da caverna que os
transporta para a luz – subordinando as exigências dos nossos sentidos (é muito mais seguro
permanecer na caverna, na medida em que não se sabe o que encontraremos lá fora).

De acordo com Platão a nossa alma tem 3 partes: racional, irascível e concuspiente.

Parte racional

Parte irascível – negligenciar o perigo


Parte concupiscente – parte sensorial

O prisioneiro sacrifica a sua parte conscuspiente em prol da sua parte racional: ele sai da
caverna e é iluminado por um mundo novo, sendo que não consegue ver nitidamente tudo
aquilo que o rodeia – à medida a que os olhos, através de esforço, conseguem habituar-se
àquilo que os rodeiam. O prisioneiro consegue ver tudo menos o SOL: ideia suprema de bem
no mundo inteligível.

Devemos tentar aproximar-nos desta ideia inatingível através

Serão as virtudes que nos permitem tanto quanto possível atingir a ideia de bem que nos é
inalcançável _ pata o homem se aperfeiçoar ele necessita de praticar a virtude - hábito bom
orientado para a ação.

As virtudes mais relevantes são:

 Prudência: capacidade de discernir o devido do indevido, o certo do errado, o justo do


injusto, … - virtude característica e essencial dos governantes;
 Fortaleza (ou coragem): negligenciar o perigo, atuando sempre de acordo com as
exigências da razão;
 Temperança (ou moderação): fazermo-nos reger pela razão, subordinando às
exigências da mesma a volatilidade dos sentidos.
o A razão, por regra, postula sempre os mesmos comportamentos, ao passo que
os sentidos nem sempre postulam as mesmas condutas – são voláteis.
 Justiça: Cada um de nós fazer na polis aquilo que deve fazer e não mais: os guardas
asseguram a defesa da cidade, os artífices garantem o sistema da cidade e os
governantes governam a cidade.

 Os governantes são aqueles que conseguem, de forma mais plena, praticar as virtudes,
enquanto governa.

Platão lega-nos, portanto, a ligação entre Política e Ética (governativa) e a ligação entre Política
e Conhecimento – a política alia-se ao saber e à virtude.

Chega-se ao poder através da educação

A experiência possui grande relevância (gerontocracia – na medida em que os mais sábios são
os mais velhos) – Sofiocracia.

Esquema rígido, planificado, de Educação, desde a mais tenra idade – Platão considera que a
educação é comum a homens e mulheres. A educação atinfe as mais bariadas dimensões:
parte física e intelectual – os jovens, homens e mulheres, são instruídos na educação.

Conceção organicista – Antecipando estas ideias, Platão diz que tal como nos temos 3
tendência na nossa alma., também a sociedade pode ser vista como um “organismo em ponto
grande”.
A polis de Platão é de castas – mas abertas e não hereditárias – ascendem pelo mérito próprio
e duração;

Cada um denos tem estas 3 tendências, o que significa que na nossa alma temos
simbolicamente associados 3 metais: ouro, prata e bronze – a educação permite descobrir
aqueles que têm de forma mais evidente o bronze. Há pessoas que têm mais tendência para a
compuscidade: Comerciantes, artífices – alimentaram a cidade.

Aqueles que têm mais prata – prosseguem a educação – desenvolvendo o ouro - seguindo a
prudência – futuros governante.

Guardas -Tendência para negligenciar o perigo – Alma coberta em prata. Será abolida a ideia de
propriedade privada e família – porque, perante o perigo, ao terem algo que é “meu”, as
pessoas tendem a salvaguardar aquilo que é “meu”, em detrimento daquilo que é de “todos”. –

Platão - subordina os interesses individuais aos interesses gerais/ faz prevalecer o todo
relativamente à parte – a sociedade tem prevalência em detrimento do indivíduo.

 Defesa do infanticídio – crianças que nascem em condições insatisfatórias, de forma a


manter o equilíbrio da polis;
 Podem encontrar-se no pensamento platónico antecedentes das experiências
totalitárias e totalizantes recentes.

Há uma sucessão cíclica de formas de governação. Esta sucessão é, também, racional ou ideal.
Sendo para ele a Sofiocracia a mais adequada, sendo que esta tem tendência a configurar-se
em Timocracia (os guardas vão se assenhorear do governo da cidade), depois uma plutocracia.
A população não aceita o sistema e os artífices assumem o poder – Democracia sem lei ou freio
– terreno propicio para o aparecimento de um demagogo (Demagogia), em situação de tirania,
até formamos até à normalidade e regenerar-se através de uma sofiocracia.

TEORIA DOS METAIS – PLATÃO -Há classes estratificadas, à qual se ascende pelo mérito –
Justiça é cada um de nós fazer o que deve fazer na polis.

CÍCERO

Pode-se falar de Cícero atendendo à ideia de “Constituição mista”, de “Cidadania” e de


“Virtudes”.

CÍCERO E A IDEIA DE CONSTITUIÇÃO MISTA ROMANA

Cícero é um republicano, um originário da cidade de Aquino, pequena, e que emigra para


Roma no auge da expansão romana. A república representa, para os romanos, e para Cícero,
grande engenharia política contra a tirania.

Roma surge não apenas como um regime, mas também uma ideia, valor e instituição. A ideia
fundamental da república é evitar o rex, isto é, a tirania da monarquia, decorrente da
concentração de todos os poderes e faculdades nas mãos de uma só pessoa.
Essa simbologia em torno da monarquia como algo mau é muito própria na história romana
visto que a monarquia vai terminar com uma corrente de acontecimentos negativos: a revolta,
assassinato e violação. O fim da monarquia é marcado pelos efeitos da tirania, sendo esta
simbologia política presente na República, criada para impedir a tirania.

A república será criada de forma que esta concentração seja evitada, daí a existência do
seus órgãos: os comitia, o Senado e as magistraturas.

As magistraturas são, em regra, colegiais, na medida em que há sempre mais de um


magistrado: por exemplo, os cônsules, sendo que a censor é o único que foge a esta regra. Por
outro lado, as magistraturas também são temporárias, estão sujeitos a mandatos, na medida
em que, embora o poder seja mútuo, é necessário existir uma rotatividade. Este modelo é
pensado e desenvolvido com uma ideia subjacente: evitar a concentração de poderes. Cada
magistratura tem o seu conjunto específico de poderes: aqui temos uma génese da ideia de
que a teoria política lida, especificamente e especialmente, com o problema do controlo do
poder. Ou seja, é para tal fim que serve uma teoria política: estabelecer formas e mecanismos
para controlar o poder e estabelecer instituições eficazes para evitá-lo.

Existe um receio da brutalidade humana, na medida em que tudo o que há de mau na


pessoa humana vem à superfície com a tirania. Esta brutalidade generaliza-se, na medida em
que a génese de todas as teorias políticas é um “não podemos” retornar a isto, sendo isto a
tirania. A república tem esta característica muito vincada na sua estrutura e modo de pensar. E
Cícero encara esta ideia de república de forma muito pessoal – Cícero é um convicto da
república – é um republicano dado e isso influencia outros aspetos da sua vida.

Cícero redigiu as suas obras principais (como “O Tratado da república”) no decorrer de


encontros com os seus amigos e conhecidos, que eram pessoas conhecedoras e sabedoras –
ele redige as suas obras através da discussão, ouvindo o que as outras pessoas têm a dizer
relativamente às suas propostas. Cícero é, portanto, republicano tanto no seu modo de ser
como de agir.

A república representa valores e virtudes. No Livro I dos “Deveres”, Cícero fixa que o
principal valor da República é a honestidade, que se desenrola em 4 virtudes principais:
sabedoria, justiça, coragem e temperança. Estas quatro virtudes são fixadas por Salomão, no
Eclesiastes, sendo que em vez de “sabedoria” menciona a “prudência”. São estas as quatro
virtudes consideradas cardeais no desenvolvimento doutrinal do cristianismo – nesta altura
ainda não existia o “cristianismo”, mas já existia doutrina e tradição hebraica – não se sabe de
Cícero a conhecia ou não.

Estas quatro virtudes definem aqueles que devem governar a cidade, isto é, quem governa é
aquele que é sábio, temperante (sabe dominar e controlar as suas paixões), justo e corajoso.

Todas as virtudes a que Cícero se dirige são adquiridas pela prática, não sendo inatas.
Nenhuma das virtudes é, portanto, de nascimento – não são joias adquiridas da natureza e,
quanto melhor e mais sólidas forem as instituições de uma República, mais estes exemplos
arrastarão os demais. Por exemplo, aquele que defende a sua cidade, mesmo nas condições
mais adversas, sendo amplamente corajoso, tende a arrastar os demais pelo exemplo. Assim
também ocorre com o sábio, o temperante e o justo.

O livro em questão é escrito por Cícero para Marco Túlio, seu filho, que foi a Atenas, como
Cícero também foi, para se educar. Cícero escreve este livro para Marco saber quais são as
virtudes e como este as deve desenvolver. Uma das frases mais reprovadas é “Eu não consigo”,
na medida em que, sabendo os nossos defeitos, podemos avançar de forma a desenvolver as
nossas virtudes. Ou seja, ser desta ou daquela maneira não significa que devemos ser desta ou
daquela forma – há sempre um ideal a ser atingido, sendo o primeiro passo reconhecer os
nossos defeitos de forma a podermos desenvolver as nossas virtudes, não sendo este ideal,
pelo contrário, uma desculpa para a conformidade.

A constituição mista encontrara-se estudada no “Tratado da república”, conjugando a


sabedoria grega e um elemento romano, que falta aos gregos, que é o pragmatismo
(característica muito própria dos romanos). Não é simplesmente enamorar-se das ideias, mas
também fazer alguma coisa com essas ideias – colocá-las em operação. A partir do elemento
grego deve construir-se uma estrutura institucional que possa permitir o desenvolvimento
destas virtudes, e, ao invés de despertar o que há de pior em cada um de nós, como a tirania o
faz, despertar o que há de melhor: sendo aquelas 4 características que formam o homem
honesto.

Os gregos apenas teorizam essa ideia, mas Cícero quer criar uma instituição que ajude as
pessoas a atingir esta ideias. A república deve ser formada por todos os corpos políticos que
estejam representados na cidade. Isto é, se os plebeus estão na cidade então deve haver uma
representação dos plebeus na cidade e se, por outro lado, há patrícios na cidade então deve
haver uma representação política dos mesmos. Estes grupos não devem possuir poder uns
sobre os outros, sendo que devem cooperar.

A lex rogata, lei própria da República romana, possui cinco passos para a sua aprovação,
sendo que estes passos espelham muito bem a ideia de constituição mista segundo Cícero:
nenhum dos poderes consegue fazer uma lex rogata sozinho. Este é um mecanismo de
controlo, distribuição e cooperação de poderes, sendo esta uma ideia fundamental presente na
ideia de república.

Outra ideia fundamental é que a melhor estrutura do Estado é aquela segundo a qual
tenhamos os três regimes políticos imaginados por Aristóteles: monarquia, república/politeia e
a aristocracia combinados.

Cada um destes regimes tem, segundo a própria perceção de Aristóteles, vantagens e


desvantagens. Cícero pensa, portanto, que ao combinar as vantagens de um podemos
compensar as desvantagens de outro, ou seja, que é possível pensar numa constituição para a
cidade que combine o que há de melhor em cada um desse regimes.

É nesta ideia de constituição mista que se funda a república romana:

 A monarquia é representada pelos cônsules, que tendo imperium se assemelham ao


rex, no entanto, há controlo entre eles na medida em que há mais do que um cônsule;
o No entanto, deixá-los sozinhos é perigoso na medida em que a monarquia tem
tendência a cair em tirania– dessa forma também temos a república;
 A república está entranhada nas magistraturas – é o populus que elege estes
magistrados que ocupam o seu cargo por mandato,
o É este espirito da república: cargos eletivos, colegiais e plurais;
 A aristocracia (governo baseado na honra, sendo que aqueles que possuam mais,
assumem deveres em relação a todos os outros) é representada pelo Senado, que
representa os patres dos quais descendem os maiores e mais honrados romanos, que
deve proteger os valores da república e da moral romana.
o O Senado é tão importante na opinião de Cícero que quando começa a decair,
também decai a república romana. Quando os militares se opõe ao Senado,
verifica-se uma depravação e corrupção do Senado, acabando com a
constituição mista e dando origem ao Principado – como se verifica com Júlio
César que, autodenominando-se ditador, desafia as ordens do Senado.

 Não é possível, de forma plena, traduzir politeia por democracia - para Aristóteles a
democracia é uma depravação de república, na medida em que é o “governo das massas”,
dando origem a que os governantes façam o que as massas querem, sendo reféns da mesma.
Entende-se que as massas não são melhores do que o tirano na medida em que esta gosta do
“linchamento”.

05/03/2024

ARISTÓTELES

Ao contrário de Platão, Aristóteles não é grego mas sim meteco, tendo nascido em Estagira,
na Macedónia. Ele é filho do médico do Rei da Macedónia pelo que há de ter uma educação
cuidada. Aos 17 anos vai viver para Atenas, onde encontra um modelo político que o cativa.
Sendo estrangeiro consegue olhar para as virtudes do modelo político ateniense com uma
abstração que só um estrangeiro consegue. Aristóteles vai defender a república, mas
precisamente a democracia.

Durante longos anos, é estudante e, posteriormente, professor, na Academia Platónica,


onde permanece cerca de 20 anos. Há uma tradição de estudo antiga, sobretudo no âmbito da
história das ideias, de forma a saber se não haveria uma animosidade entre Platão e Aristóteles
– é um facto que a critica de Aristóteles ao seu mestre é severa, sendo que por vezes, tanto na
forma como no conteúdo, é injusta, mas será que tal é fundada numa animosidade? Se assim
fosse, Platão não teria acolhido Aristóteles na sua academia. Verifica-se que há uma liberdade
extraordinária ao nível do pensamento – daí o distanciamento entre as ideias platónicas e
aristotélicas.

Em virtude desta liberdade, Aristóteles deixa a Academia e funda o seu próprio centro
universitário, o “Liceu”, onde se dedica ao ensino. De facto, conhecemos grande parte dos seus
diálogos e obras, que devotou ao seu público no contexto de sala de aula. Entre estas obras
encontram-se “Política” e “Ética A Nicómaco”.

Aristóteles procura olhar para a realidade e procurar interpretar aquilo que o circunda, em
termos factuais, com os pés bem assentes no chão, isto é, olha para a realidade política que o
circunda e interpreta-a, pelo que o seu modelo de pensar apolítico aproxima-se do realismo.

Aristóteles diz-nos que o todo tem prioridade lógica, racional, não história nem factual sobre
as partes: se o todo (isto é, a polis/Estado) não estiver bem moldado não permite a cada um de
nós atingir aquilo que é o nosso desígnio – cumprir, em liberdade, a grande quantidade de fins
a que somos convocados. Verifica-se que, por sua vez, o animal cumpre os fins de forma fatal e
determinística porque é irracional. Aristóteles é, portanto, finalístico/teleológico.

Todos nós nos propomos a fins – no entanto, a natureza não é justa, na medida em que nos
propomos a fins cada vez mais exigentes.
A conceção de felicidade de Aristóteles não nem egoística, nem hedonística, na medida em
que busca a contemplação, isto é, o repouso de um espírito satisfeito: o homem atinge todos
os seus fins até ao fim último, que é a felicidade.

A conceção hedonística de felicidade não permite o que Aristóteles associa ao fim último do
Homem. O nosso espírito repousa satisfeito quando estamos com os nossos amigos, quando
ouvimos música, ou quando atingimos com sucesso os desígnios a que nos propusemos – mas
isso só ocorre no momento, porque depois tendemos a propor-nos a outros fins.

Somos seres livres e o que melhor potenciará/garantirá a nossa liberdade? Subordinar-me a


leis gerais e abstratas, iguais para todos aqueles que preencham o seu âmbito de aplicação? Ou
subordinar-me às decisões de um governante, por mais sábio que seja?

Aristóteles defende o Governo de Leis, e não o Governo de Homens, enquanto melhor forma
de salvaguardar a liberdade.

Se as virtudes são indispensáveis para o exercício das nossas atividades e prossecução dos
nossos fins, a “Justiça” ´pode ser vista como a síntese de todas as virtudes e, nesse sentido,
falamos em Justiça Universal.

A Justiça não surge enquanto ideia, na medida em que a ideia não surge como arquétipo
daquilo que existe num mundo de captação sensível. Aristóteles é realista, sendo que para ele
a ideia não está separada da matéria, mas sim dentro da matéria, sendo ela que caracteriza e
individualiza o seu. Os dois mundos deixam de existir e passam a fundir-se – a forma incorpora-
se na matéria e caracteriza-se enquanto individuais.

A Justiça Particular (e não enquanto síntese de virtudes) é ainda uma virtude que, praticada,
nos permite atingir a felicidade.

 Proporção aritmética
o Também chamada de Justiça Comutativa;
o Falamos, neste caso, em igualdade absoluta: a prestação e contraprestação
têm de ser equivalentes;
 Proporção geométrica
o Também chamada de Justiça Distributiva;
o Neste caso as partes não estão em pé de igualdade;
o A Justiça tem uma fórmula: trate-se o que é igual de forma igual e o que é
diferente de forma diferente, na medida do que é diferente.

No que toca à teorização da polis, Aristóteles entende que o Homem é um animal político,
porque antes é um animal social. Este autor entende que um homem que não tenha aptidão
social ou é um bruto ou um Deus - nascemos integrados numa família, visto que, neste
contexto, a satisfação das nossas necessidades depende da atuação de outros. Cada um de nós
está integrado em unidades cada vez mais complexas, e com fins mais complexos e que visam a
satisfação de necessidades mais complexas, até à polis, que deve integrar todas essas
sociedades.

Por sua vez, a polis é autárquica, independente, sendo aquela que nos permite atingir o fim
última: a felicidade. Dessa forma, Estado não deve intervir no funcionamento dos corpos
intermédios. Somos orientados a fins, visto que somos livres, pelo que tendemos a corpos
intermédios que nos permitem a satisfação desses fins - a polis integra todos esses corpos
intermédios sem os dissolver. A força e sustento da sociedade politicamente organizada /polis
assenta nas classes médias.
Aristóteles concebe o poder político como , na medida em que o homem é um animal social
e político. O fim do poder é, para Aristóteles, a felicidade.

A História das Ideias são as formas de governação não são uma conquista indeclinável. O
pensamento político diz-nos que a forma do poder pode mudar teoricamente e, também,
realisticamente.

De acordo com Aristóteles, consoante o fim seja preenchido, tem-se as formas puras de
governação, mas também é possível que essas formas degenerem e, nesse sentido, fala-se em
formas impuras de governação:

 Se o governo é exercido por um só em prol do bem geral – monarquia;


o pode degenerar para a tiraria;
 Se o governo é de várias mas segue um fim coletivo – aristocracia;
o pode degenerar para uma oligarquia;
 Se o governo é exercício por todos ou muitos, seguindo o fim último –
democracia/politeia;
o pode degenerar para uma democracia sem lei ou freio.

Estas formas tendem a suceder-se de forma cíclica; estamos no plano real não das ideias.

Quando um Estado se forma, há tendência a constituir-se enquanto monarquia – na medida


em que o momento fundacional de um Estado costuma resultar de um ato de conflito,
identificando-se o monarca com o chefe militar. A monarquia pode ser suplantada através de,
por exemplo, um golpe palaciano, que leva vários ao poder. É, portanto, realisticamente
possível que muitas vezes à monarquia se suceda à aristocracia, isto é, quando os mais fortes
assumem o poder, depondo o governante. A aristocracia, por sua vez, tem tendência a
degenerar e, nesse sentido, passa-se para uma oligarquia. O povo não aceita ser governado
pelos mais fortes ou ricos que seguem os seus próprios interesses e, por conseguinte, revolta-
se e assume o poder. Cai-se assim, na democracia, que também corre o risco de se degenerar e
perder a lei e o freio, desorganizando-se. Este é o terreno propicio para o aparecimento de um
demagogo, que ascende ao poder, caindo na forma degenerada de monarquia: tirania.

Aristóteles atribui grande importância às classes médias. Dessa forma, critica amplamente a
desconsideração de Platão face à família. Por outro lado, Aristóteles afirma que o
homem/varão é superior às mulheres, ao contrário daquilo que Platão defende, isto é, a
igualdade entre homens e mulheres. Por outro lado, Aristóteles admitia que a relação entre
senhores e escravos era natural, isto é, a escravidão era natural.

PENSAMENTO DO IDADE MEDIEVAL

A Idade Média começa com a queda do Império Romano do Ocidente, no séc.V, e prolonga-
se até à queda do Império Romano do Oriente, no séc. XV. A Idade Média é vista como um
período de trevas; esta afirmação é glosada e persiste, tendo conformado as nossas ideias. No
entanto, do ponto de vista do pensamento político, esta ideia é vastamente rica: confere um
conjunto de ideias que fundaram o pensamento político. A Idade Média lega-nos ideias
políticas sem as quais os nossos sistemas não poderiam existir.

Uma ideia amplamente associada à Idade Média é a ideia de que o Homem é pessoa. A
“persona” era uma máscara teatral. Posteriormente, a pessoa é o Homem completo, o
individuo (do indiviso, isto é, aquilo que não se pode dividir), que possui, em si, um valor.
Atualmente fixa-se a iminente dignidade da pessoa humana: o Homem não pode ser
degradado à condição de objeto pelos outros Homens.

Para chegar ao pensamento atual, deve-se atender ao contributo cristão medieval. O


pensamento político ocidental tem raízes no pensamento cristão. De acordo com La Cambra, se
calhar nós somos, em alguns casos, não cristãos ou ex-cristãos, mas o que não somos é
acristãos. É impossível afirmar neutralidade. O pensamento política da idade média gravita
com imenso peso.

A ideia de Humanidade aponta a uma ideia de comum filiação. Do ponto de vista do


pensamento político, todos somos filhos de um mesmo Deus, pelo que todos somos irmãos –
isto aponta para uma ideia de comunidade.

A ideia de filiação divina fixa ainda uma ideia de limitação e incapacidade do poder. O
Homem sozinho nada pode e o Homem que exerce a governação pode ainda menos visto que
é o vigário de Deus. Apoiado pelo seu Deus o Homem consegue superar-se, transporta em
todos nós um valor: é pessoa. O santo medieval tem uma certa iluminação, porque apoiado no
seu Deus ultrapassa os seus erros.

A ideia de que nós, para este período histórico, temos associados não apenas um poder ou
uma finalidade que esse poder deve assegurar. Temos associado a satisfação das nossas
necessidades mais complexas e a fim extraterreno. Agora esses poderes vão ser separados em
ideias distintas que se tentam conciliar.

Outra ideia A necessidade de conciliar o tempo temporal que está no Governante e o tempo
espiritual que está no Papa. Há a necessidade de assegurar a coexistência e conciliação entre
dois poderes e duas finalidades.

Uma das afirmações mais glosadas da Idade Média é a de que todo o poder está em Deus,
isto é, Deus é a origem do poder, que passa a ser exercido por Homens – via de limitação para
o poder: o poder tem limites.

Outra ideia, também suplantada pelas ideias de Platão, o Direito estará também ele num
plano que transcende os Homens. Falar-se-á em Lei Eterna e Lei Natural. Quando o Governante
cria direito tem de obedecer a um padrão normativo que lhe é superior.

IDEIA SUBJACENTE – Ideia de limitação do poder

SANTO AGOSTINHO
Santo Agostinho foi um autor Medievo, isto é, do início da Idade Medieval. Embora tenha
morrido durante a Antiguidade, ele é materialmente um pensador medievo. Aristóteles não
tem uma influência direta neste período, sendo, efetivamente, Platão quem influencia a Idade
Média.

Santo Agostinho nasce no Norte de África e, enquanto criança, sofre uma tensão
problemática: é filho de pai pagão e de mãe cristã. Isto marca Agostinho, que, na sua
juventude, era bastante rebelde, mas depois conhece Santo Ambrósio. Converte-se ao
Cristianismo, contribuindo com o seu tempo ao combate da heresias e pensamento ortodoxo.
Tem uma obra chamada “Confissões” e “Cidade de Deus”. O pensamento deriva do Homem e
das suas circunstâncias.
Quando Agostinho morre, os vândalos cercam a sua cidade, sendo bispo. Ele percebe que o
Império Romano ascendeu graças às suas virtudes e caiu graças aos seus vícios. Trata-se de um
mundo caótico e desordenado, aquele que é visto por Santo Agostinho. Isso dá-lhe um
pensamento mais pessimista. Apesar de não predizer o fim do mundo e da humanidade, ele
observa um mundo de caos, o que determina o seu pensamento.

Quando olhamos para a Idade Média o poder está sujeito a limites, ao mesmo tempo que
tem associada uma finalidade exterior ao poder. Santo Agostinho tinha uma conceção
pessimista acerca da natureza humana, o que condicionava a sua perspetiva acerca do poder.

A finalidade era a segurança/ordem/paz num tempo em que o autor sente a desordem, o


caos e angústia da mudança, que tem efeitos que, ao tempo, dificilmente se previa a sua
amplitude. Efetivamente, o período de Santo Agostinho é um período de grande convulsão,
instabilidade e insegurança, tendo como momentos marcantes a queda do Império Romano,
no entanto, ele confia nos pequenos estados que mantêm a relação e confiança sem intenção
de dominação.

A conceção do Homem e do átomo vai alterar as perspetivas da sociedade e como


visualizamos o mundo, mais concretamente o parâmetro da segurança.

Na opinião de Agostinho surge um binómio: A Cidade de Deus e a cidade dos Homens ou


diabólica. Coloca-se a questão do Estado e a Igreja (comunidade dos fiéis). Desta forma,
entende-se que a Cidade de Deus é constituída por quem professa a fé, ao passo que a Cidade
dos Homens (ou Diabólica) é constituída por quem não professa a fé.

Contudo, Santo Agostinho afirma que nem sempre a divisão é tão reta como é pensada: há
pessoas que professam a fé mas não de forma verdadeira. Santo Agostinho entende que estas
pessoas pertencem à cidade diabólica, só pertencendo à cidade de Deus aqueles que praticam
a fé verdadeira e plena.

A conceção da origem do poder de Santo Agostinho é algo que permanece até hoje na nossa
sociedade: o pecado. Efetivamente, Santo Agostinho entende que o poder tem uma origem
pecaminosa: o poder está na origem da queda. A poder está, portanto, na queda e no pecado.
O homem nasceu para ser bom e nenhum deve exercer o poder sobre outro igual. É
necessário colocar o Homem dentro dos seus limites - somos seres imperfeitos e pecadores,
sendo o poder essencialmente força. O fim do poder é garantir a segurança dentro da força do
homem, sendo que essa segurança e esse poder está em Deus.

O Direito é um instrumento do qual o poder se serve para assegurar a segurança e a sua


própria preservação. Nesse sentido, Santos Agostinho teoriza a tripartição:

 Lei Eterna: razão e vontade de Deus, que governa tudo;


 Lei Natural: inscrição de Deus no coração dos homens através das sagradas escrituras;
 Lei Humana: é uma lei que deve ser repudiada.

Deus é o fundamento único do direito e a lei eterna é a sua razão. No séc.XX já não se fala
em direito natural, mas também neste século retorna-se à ideia original de direito natural, mas
com outras nomenclaturas – direitos fundamentais e liberdades.

O direito é instrumento de poder que está configurado com os homens. Se o poder


ultrapassar os seus limites, mais concretamente os limites de segurança, o que acontece é a
entrada na questão da resistência ao poder. A resistência encontra grandes gradações, sendo
que existe duas modalidades:
 Resistência Passiva: É encontrada, em semelhança a textos antigos, no art.21.º da
Constituição – não devemos exercer a lei humana, devemos exercer o direito à
resistência.
 Resistência ativa: A sua manifestação, no Direito, como sua última forma, é a
revolução. A última forma, na monarquia, era o tiranicídio.
o A lei injusta deve ser repudiada como um dever, mas deve haver uma aceitação
benigna da sanção aplicada. Santo Agostinho não admite qualquer forma de
resistência ativa.

Apesar de não dizer que o poder religioso é superior que o poder político, há uma grande
convenção que o Papa é superior que o chefe do poder político, falando-se, nesse sentido, em
Agostianismo Político.

A Idade Média entra num período de retração do pensamento com Gregório, Teodósio, etc…,
que são alguns autores importantes desse tempo.

SÃO TOMÁS DE AQUINO

O mundo do séc.XIII é marcado pela emergência dos Estados nacionais, sendo que Portugal,
por exemplo, emerge como reino independente no séc.XII. Começam a surgir comunidades
independentes e unidas na Rexpublica Romana. Trata-se, portanto, de um mundo organizado,
pelo que a conceção do poder de Aquino será diferente da de Agostinho.

A “Patrística” é criada por Santo Agostinho, tendo na sua base influências platónica e
escolástica. A escolástica é o método de ensino das escolas medievais que tudo explica à luz da
fé.

Por sua vez, São Tomás de Aquino é dominicano, tendo sido um grande intelectual. São
Tomás de Aquino foi professor em Paris e foi considerado um patrono das escolas canónicas.
Foi logo no séc.XVI cognominado o Doutro Angélico ou o Anjo das Escolas. A sua produção
literária é extraordinária e inversamente proporcional ao seu tempo de vida. Tenha-se o
exemplo de “A Suma Teleológica”.

Também ele aceita a nota de que o poder político está limitado e que este se traduz, não
essencialmente nem exclusivamente, na capacidade do governante de fazer leis. Nesse
sentido, ele distingue quatro tipos de lei, que surgem numa hierarquia:

LEI ETERNA

LEI NATURAL E LEI DIVINA

LEI HUMANA
A lei humana está num patamar inferior. Neste período a função mais importante é
administrar a justiça. Entenda-se que Portugal nasce como Reino no séc.XII, e neste século não
havia muitas leis – a função régia mais importante não era a de legislar – o rei era entendido
como alguém que garante o governo do Reino e administra a Justiça, além de assegurar a
justiça e ocupar-se de outras tantas funções. Mesmo quando legisla, não sendo a função
primordial, está condicionado pela Lei Natural e Lei Divina que está subordinada à Lei Eterna.
A Lei Divina foi expressamente revelada para que o Homem possa governar as suas
condutas, estando reveladas nas sagradas escrituras. A Lei Natural exige intelecto e razão,
tendo sido, desde o direito romano, discutido se seria algo dos homens ou dos animais. A Lei
Natural consiste na participação da lei eterna na criatura racional que lhe permite descobrir (e
não criar) preceitos que são justos por natureza e que servem de limite à lei humana.

São Tomás de Aquino é um autor racionalista, pelo que a Lei Eterna é a razão de Deus. A
Razão de Deus é a Razão de Deus ordenadora e governadora de todas as coisas e o
fundamento último do jurídico.

Segundo São Tomás de Aquino temos três tendências que Deus incutiu em nós: conservar o
próprio ser, proteger a espécie e viver em sociedade.

O Direito Natural é um corpo limitado de princípios, composto por princípios primários,


princípios secundários e princípios terciários. Entende-se que os princípios primários derivam
das tendências, princípios secundários derivam dos primários e os princípios terciários derivam
dos secundários. Os princípios secundários são variáveis no tempo e no espaço. A partir dos
preceitos secundários já temos lei humana.

A lei natural funciona como padrão de validade do direito humano positivo e, por
conseguinte, serve de limitação do poder.

Transforma a fé numa ciência, as ideias aristotélicas adaptadas à escolástica.

São Tomás de Aquino distingue dois poderes em função das suas finalidades e titulares:

 Poder temporal: Vem de Deus para a comunidade, isto é, para o povo, que pode:
o Exercê-lo por si mesmo e, nesse sentido, possuímos uma democracia;
o Exercê-lo através de uma assembleia de poucos/grupo limitado de pessoas e,
nesse sentido, possuímos uma aristocracia;
o Exercê-lo através de um só e, nesse sentido, possuímos uma monarquia –
forma preferida por São Tomás de Aquino;
 A forma do poder deriva das suas origens;
 Fala-se, no entanto, numa monarquia limitada, isto é, temperada por
elementos democráticos e aristocráticos – contribuiria para uma maior
sustentabilidade da monarquia;
 Por exemplo: Portugal constitui-se sob o signo da monarquia,
no entanto, o Rei não governava sozinho, tendo auxiliares:
cúria (régia), um órgão de aconselhamento do Rei, que é
composta estritamente por membros do alto clero e da alta
nobreza;
 Quando chegamos ao séc.XIII, numa reunião alargada da cúria
régia, em que se discutia uma crise financeira, acontece que
surgem junto do rei, pedindo para serem ouvidos, elementos
do povo - o rei suspende a sua assembleia alargada e ouve os
homens bons da assembleia, posteriormente convocando
outra assembleia alargada em que convoca o clero, a nobreza
e também o povo – passa-se da Cúria Régia para as Cortes –
trata-se de uma monarquia temperada pela Aristocracia e pela
Democracia – MODELO DEFENDIDO POR STA – Monarquia
mista – monarquia sustentada por elementos democráticos e
aristocráticos – daí a ausência de monarcas absolutos na Idade
Média;
o O seu fim é o bem comum: é necessários satisfazer necessidades básicas, mas
também necessidades mais complexas de natureza cultural, educacional,
moral, ética, etc. – só assim este bem se cumpre;
o Em abstrato o poder está em Deus, mas é exercido pelos Homens porque há
um medianeiro, isto é, o Papa, ao qual Deus outorga o seu poder, este fica com
uma parcela desse poder para si e delega outra parte ao Rei - quem delega
pode sempre avocar.
 O rei recebe, em abstrato, o poder de Deus e, em concreto, da
Comunidade.
 Poder espiritual: num tempo marcada pela luta dos dois lados, Império ou Papado,
este poder vem de Deus e está no Papa;
o Não há poder que não venha de Deus, no entanto, os poderes não se explicam
na mesma linha;
o O poder espiritual é exercido pelo Papa visto que Deus lhe outorga o poder
diretamente;
o O seu fim é o fim último do Homem – a bem-aventurança.

O poder político tem por objetivo a salvaguarda do bem comum. O poder político é natural,
traduzindo-se em dois poderes, os poderes temporal e espiritual, que têm origem em Deus.

Se se tratam de poderes diferentes com fins e titulares diferentes entender-se-ia que estes
poderes atuariam independentemente, no entanto STA admite uma meia visa. Existe um poder
superior face ao outro: o poder espiritual. Se o poder temporal ofender o poder espiritual, o
Papa pode intervir no poder temporal impedindo/repelindo a atuação ofensiva – tratava-se,
figurativamente, de um ato de legítima defesa. Quem pode exercer essa fiscalização sobre o
poder temporal é o poder espiritual, seu superior: quando se verificar um atentado, isto é, um
ato que coloque em causa a bem-aventurança. No entanto, entende-se que, normalmente, as
esferas jurídicas do Papa e do Rei não se intersetariam.

Hierocracia e correntes anti-hierocráticos – Eu, no meu reino, sou imperador. - Portugal


negou qualquer subordinação ao Sacro Império Romano Germânico. Nas correntes anti-
hierocráticas as esferas jurídicas do Papa e da Comunidade não se tocam – em circunstância
alguma um titular pode exercer o seu poder na esfera jurídica do outro titular.

Se o poder tem como fim o bem comum e deve ser exercido de acordo com essa finalidade
isso aponta para limites para a sua atuação. Associar uma finalidade externa do poder
significado limitação do poder, mas também, para o governante, uma limitação essencial. A
política traz associada uma ética: a finalidade do Governante é, para STA, salvaguardar o bem,
comum – se não o conseguir fazer deve afastar-se ou ser afastado do poder. Quando os limites
são transpostos

Se a natureza do poder é limitada então o que acontece se o governante exercer o poder


fora dos seus limites? Podem ser distinguidos dois tipos de tirania (se a forma de governo for
amonárquica):
 Tirania pelo título: Quando alguém ascende ao poder fora das regras constitucionais –
alguém senta-se na cadeira do poder sem ter direito a ela, depois de usurpar o poder –
Ascensão desvirtuada ao poder;
 Tirania pelo exercício: Quando alguém cumpre as regras constitucionais e se
salvaguardam as regras de sucessão régia e ascensão ao poder, mas desvirtua-se no
exercício do poder – Exercício desvirtuado do poder.

Por outro lado, as formas de resistência dependem das formas de governo:

 Forma Democrática: Pode-se ter resistência passiva à lei injusta, mas também
resistência ativa;
 Forma Monárquica: Pode ter-se o tiranicídio – morte ao tirano, tal como ocorre no
caso da monarquia romano.

STA admite a resistência passiva, isto é, está legitimada, se a lei for materialmente injusta. No
entanto, STA, ao olhar ao seu tempo, ao preferir uma monarquia temperada e se confrontar
com um tirano – se o povo está na origem imediata do poder político e este se desvirtua.

Será possível, em último estádio, matar o governante de forma a pôr fim a esta situação de
tirania? À medida que a tirania se torna mais gravosa e a forma de a colmatar é eliminando o
governante, STA vai revelar hesitação. STA trabalha o tiranício em dois textos: bem haja os
assassinos de César, sendo que desta afirmação tomista se pode depreender de que este
apoiaria o tiranício, sendo que noutro texto este fala da resistência olhando para outro
momento, os tiranos de Siracusa, trata a questão do tiranicídio (ultimo estádio da resistência
ativa quando estamos num forma de governo monárquica) – melhor fora suportar o tirano
porque morto esse pode vir um outro ainda pior.

STA é um autor arrumado, sendo fácil interpretar as suas ideias, revela hesitação face à
questão: posso, enquanto comunidade, matar o tirano como forma de suprimir a tirania? A
resposta é diversa: se por um lado admite esta possibilidade, por outro recusa-a.

Não há, no entanto, contradição do pensamento tomista: São Tomás de Aquino está a dizer-nos
(ensino da neoescolástica) é que estamos perante dois tipos de tiranos. Júlio César, fora
ditador, uma posição própria da constituição material da rexpublica romana, Júlio César
transforma-se, autocraticamente, em ditador permanente, pelo que é um tirano usurpador e
por título. Já os tiranos de Siracusa e o Dionísio são tiranos pelo exercício pelo que chegaram
ao poder em conformidade com as regras constitucionais, mas que se desvirtuaram no
exercício do governo, isto é, não protegeram o bem comum. Desta forma, São Tomás de
Aquino admite o tiranicídio quanto ao tirano pelo título, mas não quanto ao título pelo
exercício (na medida em que, pela prudência, pode vir um pior e estão a seguir-se a normas
constitucionais quanto à chegada ao poder).

S.Tomás de Aquino foi muito relevante no fim da Meia-Idade. Habitualmente considera-se que
existe uma grande rutura entre a Idade Média e a Idade Moderna. A Idade Moderna é um
período de radical modificação, sendo que, no entanto, existe sempre uma ideia de
continuidade com a Idade Média.

Depois de STA, os seus contraditores, que se baseiam, no entanto, nas suas ideias, criam um
conjunto de ideias que dão origem à queda do método de ensino das escolas medievais.
Surge nos fins do Idade Média o naturalismo político, o voluntarismo, o nominalismo e o
contingentismo moral. Estas ideias trazem em si, no entanto, o gérmene da destruição da Idade
Média. Nomes que marcaram o séc.XIV meditam sobre as ideias tomistas e, ao contrariá-las,
destroem este princípio de que tudo era explicado à luz da fé.

NATURALISMO POLÍTICO: Poder espiritual e temporal, que se fundam diretamente em Deus.


O poder espiritual vem de Deus para o papa que o exerce, o poder temporal vem de Deus para
a comunidade que pode ser exercícido por ela ou não. O que revindicar é, no entanto, a
separação estrita entre poder espiritual e poder temporal: um não tem superioridade face ao
outro, sendo poderes diferentes, como funções e titulares diferentes, que não se devem cruzar.
Se existir tentativa de intervenção do poder espititual então é este que está a agrir e o Rei pode
defender-se em legitima defesa.

NOMINALISMO: Toda a realidade é individual – a forma vive dentro da matéria, e, portanto, os


universais não são passíveis de conhecimento. Deus não é passível de conhecimento,
pertencendo ao domínio da fé, retirando-se o mesmo do domínio da ciência. A captação dos
nossos sentidos é falaciosa. A captação sensorial é, no entanto, o primeiro estádio do
conhecimento – não sendo possível ver Deus, não é possível conhecer Deus. Os universais são
nomes dados por questões de facilidade linguística. Toda a realidade é individual, sendo que o
individuo vai desempenhar uma centralidade.

VOLUNTARISMO: STA era racionalista sendo que quando procura precisar o conceito de Deus,
dirá que este é a razão ordenadora e governadora de todas as coisas. Agora ocorre uma
valorização da vontade – o voluntarismo franciscano, nomeadamente, diria que Deus é a
vontade, na medida em que sendo racional (a razão vincula-nos), não pode ser omnipotente,
omnipresente e omnisciente. A vontade liberta-nos, a razão limita-nos. Deus é vontade e

Se entender que o Direito tem de assumir um conteúdo racional, então assume-se uma
conceção de direito natural - JUSNATURALISMO

Se entender que o Direito é o produto de uma vontade, do legislador – pode ter qualquer
conteúdo – POSITIVISMO.

Estamos mais próximos, atualmente, das conceções positivistas – o Direito é o que está
positivo.

IMPORTÂNCIA DADA À VONTADE, QUE É MAIS LIBERTÁRIA, FACE À RAZÃO

CONTIGENTISMO: Se o Direito é produto de uma vontade, toda a realidade é contingente –


aquilo que é bem é porque Deus assim fixou. O adultério e o roubo são condutas proibidas,
porque Deus assim fixou, sendo que se assim não fosse, estas condutas poderiam ser
prescritivas ou permissivas. As ideias de bem e mal são contingentes- Toda a moralidade é
contingente, sendo o resultado de uma vontade de Deus.

O QUE É ETICAMENTE REPROVÁVEL SÓ O É PORQUE A VONTADE ASSIM DETERMINA


Humanismo, Idade Moderna e Renascimento, sobre esta época do pensamento tudo de
discute, sendo que há, no entanto, ideias fundamentais deste período:

 Autonomização do poder político face ao poder religioso/espiritual: a política vai


revindicar paulatinamente maior autonomia;
 Centralização e revindicação do poder;
 Imergência da forma protestantes, que vai separar a Europa em duas partes: católicos
e protestantes.

AULA DE 02/04/2024

Humanismo e Renascimento

O Humanismo apela ao conceito de Homem: o fulcro da nossa atenção desloca-se para o


Homem. Há a afirmação e centralização do poder: afirmam-se as monarquias (p.e., os Tudors
em Inglaterra) e as nacionalidades (sendo que Portugal é uma exceção, na medida em que
primeiro emergiu a nação e, só depois, o Estado – consciência nacional portuguesa). Também
os Descobrimentos auxiliaram a centralização do poder, tendo potenciado um comércio em
larga escala, que foi também regido pelo Estado, não podendo mais estar apenas ao cargo dos
comerciantes – capitalismo e mercantismo.

“O Príncipe” de Maquiavel é um texto escrito entre 1513/1514, mas é apenas publicado em


1531. Trata-se de uma obra que ele oferece a Lourenço de Médicis, sendo que este homem
escreveu outras obras, não sendo, no entanto, um professor, académico, etc. Também é de
apontar a obra “Discursos” sobre os primeiros 10 livros de Tito Lício. Em “O Príncipe” é tratada
a monarquia e em “Discursos” é tratada a república.

Maquiavel é patriota e acalenta o desígnio de uma Itália unificada. No seu tempo, Itália não
resiste às investidas de potências estrangeiras, desde alemãs a suíças e francesas. Este desígnio
de país só pode ser atingido através de um principado forte, daí os conselhos que faz a Lorenzo
de Médicis, o Magnífico. Maquiavel não é um académico, investigador ou professor, sendo que
as suas obras são de folgo: oferece a sua leitura das coisas antigas e a sua experiência das
coisas recentes. A experiência associada á história é o que tem a oferecer.

A academia era uma verdadeira academia nesta altura, sendo que Maquiavel não pertence a
este círculo – quando publica “O Príncipe” é imediatamente refutada, sendo colocado no Edito
enquanto texto proibido, sendo que não devia ser lido.

Justus Lipsius –

“O Príncipe” é defendido por Mussolini como um manual para estadistas, e, por Russel, um
manual para “gangsters”. Esta obra foi, portanto, objeto de várias interpretações e de várias
questões face à sua moralidade.

Maquiavel foi o primeiro autor a utilizar, em sentido próprio, o Estado: a partir deste
momento pode-se utilizar a palavra Estado o conceito em sentido próprio e deve-se a
Maquiavel esse facto, sendo, portanto, pioneiro. Os romanos falavam em civitas, os gregos em
polis, a Idade Média legou-nos a Coroa com este sentido, por fim, Maquiavel legou-nos o
Estado.

Por outro lado, também é pioneiro na medida em que não estabelece nenhuma limitação
ética ao governante, algo que não se verifica no passado, na medida em que a tradição ficava
que os governantes estavam sujeitos a limites éticos, como o Direito Natural. Este autor tolera
a imoralidade e, por vezes, aconselha a prática de atos imorais.
Maquiavel refere poucas vezes a religião, sendo que, quando a refere, é devido à sua utilidade
prática, na medida em que facilita a adesão à determinação que o poder político quer impor.

Maquiavel tem uma preocupação: a conquista do poder e a manutenção deste uma vez
conquistado. Fala-se, portanto, em tacticismo político: o governante é bem-sucedido sem ele,
não tendo o poder, conquista o poder e, por outro lado, o governante é bem-sucedido se,
tendo o poder, mantém o poder. A política tem apenas este fim: conquista e manutenção do
poder – política associada à governação. A esta ideia os críticos de Maquiavel chamarão “razão
de Estado”, acusando-o de ter criado uma falsa razão de estado. Maquiavel tem as suas ideias
aliadas a este conceito.

Que formas pode o poder político assumir? Maquiável é inovador, fixando que o poder
político pode assumir duas formas: Principado e República.

Governo exercido por um só.

Já a República pode ser de dois tipos:

Poder exercido por um grupo: Esparta

Poder exercido por todos (ou muitos): Roma

Este autor não faz juízos morais, pelo que não existe uma forma que seja preferível, sendo que
essa característica deriva da situação concreto. Para ele, numa situação regra a república é
preferível ao principado, porque pode suceder que a sucessão régia seja hereditária e não
eletiva, pelo que os filhos degenerem dos seus pais.

Virtue – fortaleza do líder, aquele que conhecemos como tal e que possui todas as
características que incitam à nossa adesão. No entanto, os filhos podem degenerar face aos
pais, pelo que podem não ter as características própria dos líderes (virtue) sendo que este
sentirá ódio face a si próprio e sentirá esse ódio emanar do povo, o que dará espaço ao medo.

Numa situação de normalidade pode suceder que a república seja preferível ao principado,
mas não por esta ser melhor ou pior face à outra forma.

Se se pretender fundar um novo Estado será preferível o Principado à República: é mais fácil ao
governante estar de acordo consigo mesmo do que agregar consensos com os demais. Se eu
quiser refundar um Estado, então também o Principado é preferível.

Situação de profunda instabilidade que justifique a existência de um ditador,


constitucionalmente fixado, que, durante um período de 6 meses em que estariam suspensas
as instituições, agiria no sentido de repor a normalidade e, por fim, agir-se-ia no sentido de
repor a normalidade constitucional.

Se aquilo que se pretende é manter um Estado forte, coeso e unido dentro das suas fonteiras
então é preferível uma República aristocrática, tal como se verificou em Esparta e em Veneza
no tempo de Maquiavel.

Se aquilo que se pretende é empreender numa expansão do território é necessário um exército


forte, que necessita uma base popular forte, pelo que, neste caso, a república democrática será
preferível.

Maquiavel não apela a leis anteriores, funcionando como limite do poder político.
Maquiavel não é um autor imoral, ele não prega a imoralidade – ele é pragmático: tudo o que
for necessário para conquistar e manter o poder é aconselhado por Maquiavel. Ele distingue o
plano da amoralidade política.

Ele extrai normas ou regras da política, tenha-se o exemplo de “Quando o governante tem que
praticar atos que são inconvenientes e impopulares, logo no início da governação, sendo que
não é o governante quem dá a cara mas sim outro” – o choque será frontal e haverá tempo
para o governante recuperar a sua popularidade. A instabilidade do primeiro momento cai
perante a confiança que surgirá num segundo momento.

AULA DE 04/04/2024

Contexto de viragem do séc.XV e XVI

Aqui existem alguns dos elementos centrais da caracterização daquilo que viremos a chamar
Modernidade, isto é, aquilo que conhecemos como Modernidade tem como marco a viragem
entre estes dois séculos. Não só de um ponto de vista cronológico, mas também a nível do
surgimento, no caso do pensamento político, de alguns conceitos que estarão na sua melhor
formulação neste período: Estado, soberania e comunidade internacional.

Basta observar o contexto atual e o conjunto de problemas, debates e questões fraturantes


que se ecolocam para a sociedade contemporânea, sendo que todas elas partem do
pensamento e debate político, por disputas em torno do que entendemos enquanto Estado, o
que ele dever, questões relativas a transnacionalismos, pannacionalismos, qual é o território do
Estado, qual é a zona de influência de um país, questão relativamente ao que torna um Estado
forte…. Se existe ou não uma comunidade internacional e qual é o seu papel? … Quando se
coloca a realidade da EU, a discussão de base é sempre: qual é o tamanho e capacidade dos
Estados? Esta capacidade é a soberania: o que pode, e não pode, o Estado fazer? Está sujeito a
algum outro órgão supraestatal?

Neste período existem alguns fenómenos que nos ajudam a entender por que razão estes
conceitos sejam relevantes: nascimento de pessoas particularmente relevantes.

Começamos a ver, neste momento, imensas instabilidades em um modelo dinâmico de


ordenação política que vigora naquela altura: república cristã, a cristandade. Esta virada do séc.
15 para 16 é marcada pelas reformas protestantes, imediatamente segue-se um conjunto de
guerra religiosas que só terão o seu fim em XXX. É um período lkongo de reordenação dos
países europeus e que vão necessitar de armas mas também substrato teórico. O que aparece
depois do fim do império romano oriental e da res publica – o que se estabelece dentro desse
território europeu sãoos Estados “virados para dentro” e não sujeitos a ordens supranacionais
como a Igreja. Dá se a quedra da unidade religiosa e, em grande medida, a quedra da unidade
política do território europeu.

Uma mudança que se estabelece nesta viragem diz respeito a um elemento central, em toprnp
do qual estas inteligências irão orbitar: recuperação dos padrões de pensamento e do estudo
dos gregos e dos romanos, seja pelo redescoberta do latim antigo e da revalorização de textos
culturais que tinham sido colocados durante alguns séculos à margem, como o teatro, a poesia
romana e grega, como a revalorização do mundo grego em função da disseminação do estudo
da língua grega no espaço territorial europeu. A língua grega tinha progressivamente perdido
espaço e influência nos países europeus, sendo preservada como uma língua de estudo em
constantinipla mas não nos países euripeus. Ela é integrada como um elemento de inteligência
superior, através do Humanismo.

O humanismo está em função deste fenómeno. A reintrodução do grego no âmbito cultural


europeu não é um acontecimento que acrescente ao acervo linguístico europeu, sendo que o
acesso à língua grega, que até ai estava fechado, permite o acesso a um mundo totalmente
diferente e novo: o acesso ao grego permite o acesso à poesia, filosofia, teatro e cultura grega.
Estes elementos da cultura grega que entraram na Res Publica Romano foram apenas aqueles
que foram cristianiszados através de São Tomás de Aquino e Santo Ambrósio, por exemplo – o
acesso à culura grega pagã QUE NÃO TENHA ligação aos elementos cultruais do cristianismo
estava à parte. O acesso que se tinha a estes elementos ocorria através do neolatinísmo e não
do grego.

O humanismo vai valorizar o acesso direto aos textos gregos através da língua grega e com isso
dá-se a fundação de inúmeras áreas de conhecimento e, a partir daí, dá-se um influxo da
valorização da revisão dos textos antigos, inclusivamente de tradução de livros como a Bíblia.
Dá-se um questionamento da pureza dos textos antigos, na tentativa de livrar os textos de
interpretações posteriores, más traduções, traduções enviesadas, … este purismo tem uma
bandeira política: refazer o caminho desta cultura e colocá-lo sob um prisma racional,
reintroduzido enquanto parâmetro de beleza e superioridade cultural, ao invés de estar ao
serviço de alguma coisa.

Os Humanistas estabelecem-se em várias universidades europeias, embora nem sempre


enquanto académicos. Paris e Cambridge serão grandes polos em torno dos quais os
humanistas se multiplicarão. O humanismo, no caso da PI, não se implantará da mesma forma
– através da contrarreforma dos jesuítas e dos dominicanos. Francisco de Vitória – Escola de
Salamanca. Inácio de XX. -Estudaram em Paris e são profundamente influenciados pelo
humanismo.

Como conceituar o humanismo cristão? O humanismo cristão é um movimento de reforma


cultural com profundo impacto no pensamento político e que questiona o fundamento
teológico e a cultura clerical como única base do pensamento. Ou seja, o humanismo pretende
reintroduzir uma medida propriamente humana no pensamento.

O humanismo não é um movimento de rutura com a Igreja, não é, nem foi a sua pretensão,
de modo algum, mas sim é um movimento que põe em causa a Igreja como única fonte de
cultura e de produção de um pensamento válido.

Erasmo de Roterdão

É um autor muito representativo deste período por ser um desses intelectuais humanistas
modelo – ele é quase um padrão do intelectual humanista. Nasce em 1466 e falece em 1536 –
o período de vida deste autor é exatamente aquele em que acontece a reforma, a
contrarreforma, aparecerão personagens que convivam com Erasmo que são extremamente
impactantes pelo seu pensamento (como Maquiavel, por exemplo, sendo que a obra de
Erasmo é de oposição à obra de Maquiavel - a educação do príncipe cristão é uma refutação de
o príncipe; Thomas More; Lorenzo Valla – humanista mais influente do pensamento italiano do
período e um dos grandes revolucionários deste estudo da cultura grega antiga) – há uma rede
bastante relevante de autores e obra neste período.
É o intelectual que se vai confrontar com o ideal do humanismo: fala várias línguas, passou por
grande parte do mundo europeu em várias universidades distintas (estudou em Paris, em
Turim, em Inglaterra, na Bélgica, …), pensamento a partir de uma visão global das coisas e que
não se forma hiperespecializado de uma única matéria – ele vê o mundo diante de si. Erasmo
vai circular pelas melhores universidades europeias, travando conhecimento com imensas
pessoas. Já não se trata do monge, isolado no seu mosteiro, cercado de livros, mas isolado face
ao mundo exterior – ultrapassagem desse modelo, cultura de introspeção – Erasmo representa
o contacto com o exterior, extraindo o que há de melhor nos vários pontos de produção de
cultura nos vários pontos do mundo europeu.

“A Educação do Príncipe Cristão”

É um livre em oposição ao livro maquiavélico que tem o mesmo propósito: livro da natureza
specula principes (modelo literário que consiste em conselhos para os príncipes, reis, isto é,
para queles que governam - manual do bom governo – o que devem fazer aqueles que têm
sobre a sua responsabilidade o governo dos reinos – qual é objetivo do Estado? ).

Para Maquiavel o Estado tem de sobreviver e para tal tem de ser forte e, nesse sentido, para o
Estado ser forte, os outros estados têm de ser fracos. Para Erasmo, o príncipe é aquele que se
tornará Carlos V em Aragão e depois o Imperador do Sacro Império Germânico. É um livro que
se divide em cerca de 10 capítulos que tem como principais bases de orientação:

 É coloca a questão de qual o tamanho ideal do Estado? Questão política relevantes que
estará na base da definição que ao longo dos séculos será trabalhada: qual o regime
político mais adequado para um Estado atendendo ao tamanho desse estado? Como
governar Estados grandes? Temos um país imenso a nível território, como governá-lo?.
Um Estado grande é governável?
o Quando Portugal pensa na forma de governo do Império Ultramarino, do
ponto de vista da extensão territorial, mas também da distância face a esses
territórios. É algo que se suscita no âmbito da constituição norte-americana
(estados federados são estados de grande dimensão territorial, que seriam
ingovernáveis, supostamente – atente-se ao modelo federativo brasileiro -,
através de um poder centralizado), não sendo um debate teórico, mas sim
prático.
o Para Erasmo o tamanho do Estado deve ser médio.
 Cobrança dos impostos: deve um príncipe cobrar impostos? Não se trata apenas de
alguma proposição de reforma tributária: o que está presente nesta pergunta diz
respeito a que tipo de serviços o Estado pode prestar, sendo que até então a cobrança
de impostos pelo Estado destinava-se à única finalidade de fazer a guerra, sendo que
durante o tempo de paz o Estado não cobraria impostos.
o Para Erasmo o ideal seria o Estado não cobrar impostos em tempo de paz, mas
deverá fazê-lo se puderem oferecer uma contraprestação aos impostos.
o Carácter contraprestacional dos impostos: começa a nascer neste período do
humanismo cristão uma ideia que se desenvolve e está na base dos estados
atuais – os estados podem cobrar impostos se oferecerem serviços aos seus
súbditos, nomeadamente, os atuais serviços nacionais de saúde. Até então o
serviço e assistência social é prestado pela igreja até ao humanismo cristão.
Começa a nascer a partir do humanismo cristão a ideia de que o Estado deva
incorporar estes serviços - as esmolas seriam tributos pagos para o Estado de
forma a ele próprio prestar serviços dessa natureza. Em vários estados
europeus, nestes anos, começam a aparecer leis que instituem tributos e
formas de registo dos mendigos, e o acesso destas pessoas a subsídios e
serviços de saúde – ideia de receita mínima, sendo que já não dependeria de
esmolas, que possuem um caráter voluntário, mas sim de uma cobrança. Dá-se
o início de um pensamento sobre Estado de Bem Estar Social – a assistência
deixa de estar dependente de uma atividade voluntária como a caridade e a
esmola, sendo, na verdade, um ato de política pública – esta é uma ideia
revolucionário (até então cabia fundamentalmente ao Estado a cobrança dos
impostos para a feitura de guerra, sendo que noutros momentos o Estado não
cobraria impostos aos súbditos). – Nascimento da ideia de direito social/
Estado de bem-estar social (algo tem de ocorrer para levar os povos a entender
que o Estado tem um dever e os súbditos têm um direito) – O que deve, ou
não, um Estado fazer.

Papa Adriano VI – apoiante de Erasmo e tutor de Carlos V


Erasmo não rompe com as influências cristãs, apoiando, no entanto, certos aspetos da
reforma protestante.

09/04/2023

“Utopia”

Este género literário é muito relevante na política, sendo que a utopia, enquanto forma de
pensar a política, está fortemente associada a Thomas Moore, grande amigo de Martinho
Lutero.

Neste tempo, os círculos intelectuais estão muito próximos: Erasmo era um cidadão do
mundo e a sua pátria era o universo. Thomas é um inglês com um percurso notável:
extraordinário advogado, foi speaker (presidente do parlamento britânico) e chegou a
chanceler. Foi um homem de grandes convicções e não apoiou o divórcio do rei: oposição a
essa ideia. O rei funda a Igreja Anglicana e Thomas é crítico dessa ideia, tornando-se cativo na
Torre de Londres por não aceitar a lei da separação face à Igreja Católica que fundou a Igreja
Anglicana.

Cartas que o antigo chanceler envia a próximos – filha Margaret, em que se percebe que se
aceitasse a Lei poderia viver desafogado, sendo que, ainda assim, Thomas nega a lei e, mais
tarde, morre decapitado – político tornado santo – Tower of London –

Thomas não se eximiu à liberdade de pensar, optando sempre pelo caminho difícil. A sua
fama universal é granjeada por ter legado à posteridade a sua obra

A Utopia é publicada após a morte do autor e, de facto, esta obra em publicada em latim, e
Thomas, enquanto chanceler, pregava que as missas deveriam ser ditas nas línguas nativas,
como inglês em Inglaterra, em francês em França, …. em alternativa ao latim, de forma a que
todas as pessoas, nomeadamente os não letrados, pudessem aceder ao pensamento e
mensagem.

O autor sabe quem quer atingir com a sua obra – as elites, que são muito próximas. O público-
alvo não são as massa, mas sim a elite cultural e a elite política, daí falar, na sua obra, na língua
erudita – o latim.
Esta obra divide-se em duas partes: caracterização da Distopia, é escrita pelo autor
posteriormente à primeira parte, Utopia. O ator principal é Rafael, navegador português,
proveniente da criação do autor, que descobre uma ilha: a Ilha da Utopia. Esta ilha é admirável
e sabiamente organizada. A Ilha da Utopia é a Ilha de Lugar Nenhum: através da absoluta e
radical diferença concita à crítica acérrima da realidade em presença. Não se trata de uma ideia
– é um lugar inexistente.

Este autor foi dos primeiros a compreender aquilo que todos compreenderão no séc.XVIII: a
revolução industrial principia, dois séculos antes, nos campos. Para os gados possam alimentar
as emergentes indústrias de lacticínios é necessário a detenção das terras em sistema de
monopólio e oligopólio, o que determina que os grandes produtores tenham que adquirir
muitas vezes expulsando os pequenos camponeses. Sem alternativas nos campos, os
camponeses ou se tornam mendigos ou se dirigem à cidade para alimentar, com a sua mão de
obra, a emergente fábrica.

A partir daqui desenvolvem-se, na primeira parte da obra, outras críticas à Inglaterra deste
tempo:

 o sistema penitenciário - A sociedade que não oferece mecanismos de subsistência


acaba por levar a
 integração social .
 Fosso entre os mais ricos e os mais pobres

Quando chegamos à 2.ª parte da obra, por oposição, surge a caracterização da Ilha admirável:
em espelho encontra-se a caracterização da Inglaterra do seu tempo.

 É habitada por cidadãos de pleno direito, pelo que se discute se possui magistrados ou
representados, eleitos nas cidades, ou se possui um Rei;
 Quando olham para esta Ilha vê-se uma Inglaterra em espelho – a sua capital é dividida
por um rio, está envolta num nevoeiro, … - ensinou os ingleses a se doutrinarem – não
se tratava de uma ideia tentada ou de um modelo histórico mas sim de uma crítica ao
modelo inglês atual.

Nesta Ilha da Utopia verifica-se:

 Muito rígida planificação: modelo inspirador dos modelos autoritários, totalitários ou


totalizantes - o tempo de descanso ao número de horas que devotam ao sono, ao
trabalho, ao tipo de indumentário que utilizavam – nesta ilha, sabiamente organizada,
todo o modelo de funcionamento está rigidamente planificado – falta de liberdade;
 Governo de Homens e Não de Leis
 Abolição extrema da propriedade privada - as próprias causas são DETIDAS EM
CONJUNTO E, AO FIMD E CERTO TEMPO, são abandonadas e ocupados por outras
famílias (cujo número de elementos é igual para todas, sendo também as casas iguais,
sendo mantidas pelos seus habitantes de forma rigorosa)
 Os metais preciosos, como o ouro e prata, não têm qualquer valor, sendo utilizados
para fazer brinquedos para crianças – maior valor tem o ferro;
 Defesa da família tradicional – em certas circunstâncias, este autor admitiu o divórcio,
mas é muito rígido com a admissão do adultério;
 Há poucos crimes e, por conseguinte, as penas não são severas – exceto para o
adultério, em que a pena é a morte.
O que aglutina os socialismos é a crítica à propriedade – Este autor pode ser influência desta
corrente.

A Utopia é a ilha de lugar nenhum é, por conseguinte, não é um modelo historicamente


pensado ou realizável. Inspiradores para espectros políticos particularmente distintos.

Sem prejuízo da rígida planificação, da defesa da família e da abolição da propriedade privada,


é extremo humanismo – humanização do pensamento do autor.

Este autor caracteriza o sistema do autor (Ilha da Utopia – 4 hospitais de Maurota,


reproduzidos nas cidades menores):

 Preocupação com os atuais cuidados paliativos;


 Eutanásia – via admissível e possível.

Utopia portuguesa = Os Lusíadas – episódio da Ilha dos Amores – género literário em política.

Entre este núcleo, vai elevar-se uma conceção que vai dividir a Europa em dois blocos: católicos
e protestantes, que vai potenciar as guerras religiosas.

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