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Copyright © 2022 Julia Cristina

Revisão: Patrícia Nascimento

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e


acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora.
Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é
mera coincidência. Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da
Língua Portuguesa.

Todos os direitos reservados.

É proibido o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer


parte dessa obra, através de quaisquer meios (tangível ou
intangível) sem o consentimento escrito da autora. A violação dos
direitos autorais é crime.
SUMÁRIO
PRÓLOGO
CAPÍTULO 01
CAPÍTULO 02
CAPÍTULO 03
CAPÍTULO 04
CAPÍTULO 05
CAPÍTULO 06
CAPÍTULO 07
CAPÍTULO 08
CAPÍTULO 09
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
REDES SOCIAIS
OUTROS LIVROS
PRÓLOGO

Sendo o homem de confiança do meu pai, aquele que ele


prepara há anos para ser seu sucessor, é comum que eu tenha que
participar de reuniões como essa. Pessoalmente, gostaria de estar
cravando minha faca na garganta da maioria dos homens aqui
presentes, todavia, a diplomacia é importante até mesmo na porra
da máfia.

— Não há nada a dizer, Di Accorsi? — Romeo Fontana


pergunta ao meu pai, em tom provocativo.

Sob a mesa, levo minha mão até a arma no coldre que fica
sob meu terno, louco para essa pacificidade que fingimos manter
por anos acabe em tiros disparados nas testas uns dos outros. A
família Fontana é uma pedra em nosso sapato e somos inimigos
diretos desde que me entendo por gente. Papai sempre fala sobre
como Antonio Fontana tenta ser melhor, rasteja feito uma barata
para tentar conseguir mais poder. Com Romeo não é diferente, ele
provoca e reajo.

Se essa rivalidade se estendeu, ela se estendeu a nós. O


bastardo me odeia e retribuo, pois não fujo de uma boa briga.

Meu pai, Ludovico Di Accorsi, me encara com repreensão,


ciente da minha pouca paciência, ou a total falta dela. Olho ao redor
da sala, contemplando os homens que controlam a cidade de
Manhattan por debaixo dos panos. Aqui estão os sujeitos mais
poderosos do estado de Nova York, comandantes da Cosa Nostra,
comandados por Stefano Esposito, o Capo de toda a famiglia. Todos
conseguem ser diplomatas o bastante para levar a situação em tom
de paz por anos, mas a realidade é que cada um aqui quer ser mais
poderoso que o outro. E é nesse ponto que entra o motivo da nova
reunião atual.

Vitto Vinatti é um velho frio e calculista à beira da morte, que


tem um herdeiro viciado em cocaína, sempre dando problemas e
nos obrigando a nos reunir para ameaçar uns aos outros de morte
ocasionalmente. Entretanto, sendo o mais velho e claramente perto
do ponto de ir para o inferno, sobrou para qualquer um dos outros
infelizes cederem uma jovem solteira para se casar com Tito, o filho
viciado.

Lucio Benito tem duas filhas casadas com soldados leais e


escapou de se comprometer. No entanto, seu filho, Mariano, seria
capaz de matar os maridos das irmãs e colar suas bocetas
desvirginadas se isso o levasse a ter mais poder que Romeo e eu.

Santino Greco é meu melhor amigo e é o único Subchefe


jovem entre nós, uma vez que tomou posse no lugar de seu pai, que
infartou há dois anos. Têm uma irmã de dezessete anos e jamais a
comprometeria, visto que é como se fosse sua filha.

A cereja do bolo sobrou para os Fontana. Antonio Fontana é


podre como o meu pulmão e não está hesitando em negociar a filha
de dezenove anos.

A pergunta de Romeo dirigida ao meu pai é justamente pela


sua contrariedade à decisão do pai.

— Minha filha não está em negociação. — Papà diz


tranquilamente.

Romeo me encara, como se esperasse uma briga, mas há


algo que percebo. Ele quer descontar sua ira em qualquer um,
entretanto, sua raiva é direcionada ao pai.

— Nunca colocaríamos Maria à venda. — Sorrio


maldosamente e completo: — O poder nada mais é que
consequência. Não o busco. Se o tenho, é porque fiz por merecer.
Minha irmã jamais será moeda de troca numa negociação fodida
como esta.
É a gota d’água que Romeo precisava. Ele se aproxima
mais rápido que uma pantera poderia e agarra meu colarinho,
fazendo meu pescoço curvar contra o encosto da cadeira. Meu
sorriso se abre ainda mais e em menos de um segundo minha arma
está apontada em sua barriga.

— O que há, Romeo? Buscando a morte para não ser


obrigado a ver sua irmã se casando com um bastardo miserável? É
uma boa solução.

Ele me bateria e eu atiraria se Santino não se colocasse no


meio e o afastasse.

— Isso aqui é uma reunião séria. Até onde sei, é seu pai
que decide ainda, Romeo.

— Per favore! — Meu pai esbraveja. — Quando vão se


comportar como os adultos que são?

— Na missa do último domingo, o padre insistiu em nos


dizer para sermos eternas crianças, papà. Assim herdaremos os
reinos dos céus. — Retruco, colocando minha pistola no coldre.

O olhar do velho poderia congelar qualquer um, não a mim.


Mas me comporto, pois ele precisa mostrar poder e respeito na
frente dos malditos.
— E então? — Vitto tosse, dando fim ao caos quase
formado, atraindo a atenção novamente ao que ele pensa
interessar.

Ele faria um imenso favor se antes de morrer, matasse o


filho. Seriam dois filhos da puta a menos no mundo.

Antonio Fontana encara o filho, antes de confirmar o que


todos já sabíamos:

— Serena irá se casar com Tito. Será uma bela união. Um


casamento como esse será digno da vinda do Capo. — Um
pequeno curvar de lábio é o máximo que ele pode sorrir.

Romeo fica de pé e sai do escritório sem se importar com o


respeito. Em seu lugar, eu estaria tramando a morte do meu pai.
Aliás, o teria matado antes que a aliança fosse feita, pois a palavra
de um homem feito já é o bastante para que sua irmã seja entregue
aos Vinatti mesmo que Antonio não esteja presente.

No entanto, há um burburinho vindo do corredor que chama


a atenção de todos nós antes que a cena anterior possa virar pauta.

— Você pensa que vai aonde vestida feito uma puttana? —


Romeo esbraveja.

Fontana fica de pé e papà também. Permaneço sentado,


sabendo que nada disso é da minha conta e, honestamente, gosto
do drama prestes a se desenrolar. Um charuto seria uma boa pedida
para acompanhar a cena.

— Vocês não querem me vender? Então, irmãozinho! Estou


aqui para vocês me colocarem na vitrine. Gostou? — A voz feminina
é cínica e sensual.

— Serena. — Antonio chia.

— Olá, Papà! — Falsamente, a garota cantarola,


empurrando o irmão que está petrificado observando seu
comportamento.

Serena Fontana passa por ele e desfila pelo escritório e,


maldita diaba, ela rapidamente ganha a atenção do meu pau. A
mulher tem cabelos negros quase azulados, a pele branca, olhos
grandes e azuis como o céu em um dia ensolarado, que com o nariz
de botão e os lábios carnudos tingidos de vermelhos, lhe dão um
rosto que duela entre a pureza e devassidão. O contraste é
sombriamente excitante. Seus olhos grandes mostram a menina
assustada que ela quer esconder. Em contrapartida, a boca gostosa
e os fios de cabelos longos jogados para o lado, somados ao
vestido curto e decotado, mostrando seios fartos e pernas grossas
dão vida a uma mulher gostosa, pronta para ser curvada sobre a
mesa de Vitto e fodida por trás. Porra!

— Serena! — Romeo parece acordar de seu transe e entra,


tentando alcançá-la.
Serena, no entanto, encontra o meu olhar. Ninguém está
olhando para mim. Todos os malditos aqui dentro só tem olhos para
ela. Seus olhos arregalam ao me encarar. Seu peito sobe e desce.
Sua reação a mim é imediata e visceral. É como me sinto agora.
Pronto para jogá-la sobre meu ombro e tirá-la daqui.

Romeo a segura pelo braço e ela o estapeia.

— Me solta! Você me traiu. Você prometeu que eu não seria


entregue dessa forma ridícula! — Ela acusa, raiva e mágoa em suas
palavras.

— Nós devemos sair e deixar a família resolver isso. —


Santino diz e se levanta, começando a sair.

Lucio e Mariano o seguem. Papà se coloca de pé e me


encara, esperando que eu faça o mesmo.

— Por que vocês estão indo? Não me digam que não


gostam de exposição de virgens sem lugar de decisão? — Ela
zomba, a voz estremecendo, embargando.

Mariano retorna, sorrindo, como o infeliz que ele é e diz:

— Se você preferir ser uma não virgem sem decisão, posso


resolver para você, doçura.
— Fora, figlio di puttana! — Minha voz é controlada e fria
enquanto levanto-me e retiro o paletó.

— Cuidado, Di Accorsi. Podem pensar que você é o noivo.


— Retruca com raiva.

— E podem pensar que você é um homem morto, Benito.


Mas nesse caso, será porque minha bala chegará tão rápido à sua
testa, que seu corpo não chegará ao chão há tempo suficiente de
estarem certos.

— Isto não é assunto nosso. — Meu pai tenta alertar, mas já


estou me aproximando de Serena.

Romeo entra na frente e, pela primeira vez na vida, o encaro


com respeito. Ele fez o que pôde para sua irmã não ser entregue a
Tito, mas não tem voz de decisão ainda. Meu pai sempre me escuta
porque é um bom homem. Antonio só pensa em poder. Eu o teria
matado, mas sempre soube que Romeo é molenga demais para
extremos.

Passo por ele, que vacila com minha seriedade e olho


Serena. Ela é muito pequena perto dos meus 1,91 cm de altura.
Seus cabelos longos pedem para serem tocados, tão escuros que
parecem irreais. Os olhos azuis ficam presos nos meus.

— Escute o seu irmão e não se aproxime destes bastardos


vestida assim. — Digo a ela, mesmo que eu saiba que poderia
passar a porra do dia inteiro sentado, vendo-a com este vestido
sensual do caralho.

Jogo meu paletó sobre seu ombro e a vejo estremecer, mas


rapidamente o segura na frente, unindo os dois lados e se
protegendo.

— Você é o inimigo do meu irmão... — Serena murmura,


constatando enquanto analisa meu rosto. — O inimigo do meu
inimigo é meu amigo, você sabe.

Abaixo a cabeça e sussurro perto de seu ouvido:

— A irmã do meu inimigo, é minha inimiga, Bianca.

Suas bochechas coram. O maldito Vitto resmunga:

— Você pode ir Di Accorsi. A situação será resolvida entre a


família.

Isto arranca uma risada sarcástica de mim.

— Ora, ora. Já se sentindo parte da família, Vitto? Cuidado.


Se eu fosse a garota, preferiria me tornar inimigo da famiglia a ter
que me casar com alguém que leve seu sangue.

— Está dando ideias a ela? Ninguém foge da máfia. Ela


seria morta ou pior. — Ele encara Serena com desdém.
— Não se foge da máfia? — Viro-me em sua direção e
abaixo meu tom. — O que seu filho está fazendo vivo até hoje não é
fugir?

— Leonello, basta! — Papà repreende.

Olho Serena pela última vez, sendo consumido pelos olhos


mais expressivos que já vi na vida. Ela se agarra ao meu paletó
como se sua vida dependesse disto. Tito está tão preocupado, que
sequer está presente para proteger a noiva.

Caminho até a saída, sendo seguido pelo meu velho. Levam


minutos até sairmos do corredor, descermos a escadaria exagerada
e, finalmente, estarmos fora da casa dos Benito.

Ao entrarmos no carro, o motorista e segurança de papà


logo começa a dirigir em direção aos portões grandes da saída.

— Que porra foi aquela, Leon?

— Não se comoveu? Não pensou em Maria?

— Não. — Ele me encara como se fosse louco. — Desde


quando você tem um coração bonzinho? Quer enganar justo a mim?

— Foda-se! Serena vai ser minha.


— Eu sabia! Sabia que estava enlouquecendo. Você está
proibido de chegar perto daquela bambina!

Não rio porque não há humor nem para fingir. Encaro-o com
seriedade.

— Sou um homem feito de quase trinta anos, moro na


minha própria casa, tenho meu próprio papel na Famiglia além de
ser seu filho e herdeiro. O respeito, papà, mas não lhe dou liberdade
para me proibir de nada.

— Isto não é uma proibição de pai para filho, Leonello. Isto é


seu Subchefe falando. Você vai foder toda a paz que criamos...

— Que fingimos. Nos odiamos mutuamente.

— Vivemos em guerra com os russos, com as gangues, com


traidores... Quer mesmo estar em guerra com os nossos também?

— Não vou agir sem pensar. Não vou sequestrá-la.

— Nem pode tirar a virgindade dela. Tito irá matá-la. Pense


com a porra do cérebro e não com o pau! Está avisado.

E ele se cala.

Maldita hora que aceitei vir em seu carro.


Nesse momento minha cabeça está em Serena. Preciso
fazer algo.

Ela vai ser minha.


CAPÍTULO 01

O primeiro tapa em meu rosto vem no exato momento em


que papà tem certeza que os Di Accorsi já estão no andar térreo. A
lágrima vem imediatamente, mas às seguro, acostumada com isso
há muitos anos para lhe dar o gosto de chorar. Continuo o
encarando com altivez e raiva.

— O que deu em você? Como veio parar aqui? Está


disposta a se ridicularizar só para me envergonhar? Você é um
desapontamento, Serena!

— Sim, papà! Sou um desapontamento desde que não nasci


homem para que se o meu irmãozinho morrer, eu seja a substituta
do seu castelinho de areia. — Inclino a cabeça para o lado, fingindo
ser adorável.
Minhas mãos trêmulas estão agarradas ao paletó de
Leonello. Seu perfume masculino é amadeirado, mas há o cheiro de
cigarro e uísque também. A ilusão da proteção me traz um tipo de
conforto deturpado. O homem abalou minhas estruturas com um
simples olhar. E que olhar! Quando ficou de pé, poderia ter me
deixado de joelhos se não fosse uma situação tão fodida.

— Vitto. — Papà se volta para o anfitrião e, pelo que


entendi, meu futuro sogro. Que nojo de tudo isto! — Sinto muito por
tudo. Serena tem dezenove anos, é imatura, mas irá entender que
esta união só irá fortalecer nossas famílias.

— Jovens... — Vitto sorri e abana a mão como se não fosse


nada. — O casamento irá fazê-los amadurecer.

Encaro meu irmão, tão magoada, me sentindo traída. Ele


prometeu que isso não aconteceria, me deu falsas esperanças até o
último momento.

— Romeo, leve sua irmã para casa. Ficarei ajustando


algumas coisas com Vitto. — Papà ordena sem sequer me olhar.

É provável que só queira ficar longe de mim para não ser


vencido pelo desejo de me matar. Agora que posso beneficiá-lo com
um casamento, irá se controlar.
Romeo passa por mim e o sigo, começando a perceber que
passei dos limites. Mas o que me restava? Fazer crochê enquanto
esperava eles decidirem para qual assassino sanguinário
entregariam minha vida?

Mesmo minha atração instantânea por Leonello Di Accorsi


não nubla o meu instinto e a realidade. Ainda que ele fosse meu
noivo, estaria me rebelando. Esses homens são monstros. Meu pai
é um monstro. Que homem nesse mundo em que vivemos pode não
ser? A fama do inimigo número um do meu irmão o precede. Todos
falam em como adora matar pessoas com facadas, a sangue frio,
em como suas torturas são sangrentas e tantas outras coisas
horripilantes. É amigo de Aquiles Esposito e há muitas histórias do
que esses dois fizeram enquanto o herdeiro do Capo vivia em
Manhattan.

Nunca tinha visto Leonello pessoalmente. A rixa entre


nossas famílias sempre fez com que estivéssemos em lugares
opostos ou que papà optasse por me manter em casa mesmo nos
eventos da famiglia, pois sempre o achou volúvel. Capaz de sacar
uma arma e nos matar a qualquer momento.

Odeio ser obrigada a me casar com alguém que não amo e


sequer conheço, alguém que pode me maltratar, ser pior que
Antonio.

No entanto, a forma como Leonello me olhou, como reagi ao


seu olhar, como sua sensualidade bruta tomou conta dos meus
sentidos, faz minha mente sempre voltar para ele. Não consigo
repeli-lo dos meus pensamentos, talvez seja seu paletó, seu cheiro,
mas sinto como se o homem tivesse me drogado e a droga é ele
mesmo.

— Você não devia ter vindo aqui. Cadê seu segurança? —


Romeo me repreende ao chegarmos ao exterior da casa.

— Acha que ele me deixaria vir aqui? Ele pensa que estou
na igreja.

— Com esta roupa?

— Coloquei um vestido longo por cima. — Sorrio


falsamente. — Agora não fale mais comigo, traidor.

Ele abre a porta do carro para que eu entre e depois a


fecha. Então dá a volta e assume o volante. Meu irmão parece fora
de si. No fundo, não sinto raiva dele. Minha indignação é com toda a
situação. Com meu pai que nunca me protegeu. Romeo é diferente.
É um bom irmão, protetor, meu melhor amigo. Meu instinto de culpá-
lo é porque ele é o único que vai se importar com a minha merda.

— Ei, não estou com raiva de você. E você não é um traidor.


— Seguro sua mão sobre o volante. — Você sabe que sou a rainha
de falar besteira.
— E fazer besteira. — Bufa. — Mas não está errada desta
vez. Eu prometi. Um homem sem palavra não é nada.

— Você não é um homem sem palavra, Romeo. Só que


nosso pai é um monstro.

— Ele tem uma foto minha. Não pude obrigá-lo, Serena.

— Que foto?

Romeo fica em silêncio, dirigindo para a saída. Afasto minha


mão, já sentindo suor frio na palma. O caminho para casa parece
durar horas, mesmo que só poucos minutos. Quando estaciona em
frente aos nossos portões, tempos depois, me encara e confessa:

— Uma foto minha com Marco... Num momento íntimo.

— Porra! — Levo as mãos à boca, chocada. — Caralho!

— Pare de xingar, Serena. — Ordena, só porque pensa que


é seu papel me colocar na linha, afinal não há palavras para dizer
além das que já verbalizei.

— Olha, está tudo bem... se ele não fez nada com você...
isto que importa!

— Não. Não. Não consigo mais impor limites sobre você,


porque diz que a máfia não perdoa gays, que vou morrer. Se morrer
não protejo você, mas que porra eu estou podendo fazer agora? Vai
se casar com Tito! Aquele maldito asqueroso!

Lembro de algo que Leonello disse. Acabo externando:

— E se eu fugir?

— Ninguém foge da máfia. Se fosse uma possibilidade, eu


fugiria com você. Nós seremos caçados, não teremos sossego, não
conseguiremos emprego, não teremos dinheiro. Sequer sabemos
viver fora deste mundo.

— Eu vou me casar, não vou mais procurar problemas.

— Você encontrou um problema que não vai ser fácil de se


livrar hoje.

— Papà vai superar.

— Estou falando de Leonello.

— O que?

— Ele nunca tiraria o paletó dele para ninguém. Ele é um


filho da puta!

— Você também é. — Retruco. — Todos vocês são!


Inclusive o meu noivo.
— Maledizione! — Romeo amaldiçoa. — Não estão noivos
oficialmente. Ainda temos chance.

— Papà nunca voltaria com a palavra, tampouco abriria mão


do poder. Ele está chantageando o próprio filho! — Lembro o óbvio.

Meu irmão sempre gostou de meninos. Inclusive sua


implicância com Leonello surgiu de sua primeira paixão, que veio a
ser ele. Romeo viu o outro beijando uma menina e ficou desiludido,
sendo assim, começou a fazer da vida dele um inferno. Ele odeia
Leon com paixão e isso foi ficando de lado após ambos crescerem e
se tornarem homens mandões que sempre querem ter razão e
nunca concordam. Não sei se ainda nutre alguma paixão, mas há
três anos vive um romance escondido com um dos soldados de
papà, Marco. São muito apaixonados e é um crime nosso pai estar
usando isso para fazer meu irmão se sentir culpado por não
conseguir me proteger. Sinto-me uma idiota por ter falado besteiras
antes de saber.

A máfia não aceita homossexuais. A máfia só aceita


estupradores, assassinos, agressores, drogados...

— Vou deixá-la em casa. Tome um banho, vista algo


decente e fique em seu quarto. Não esbarre em nosso pai por hoje.
Pode me ouvir dessa vez?

— Aonde vai?
— Vou pensar em dar um jeito em tudo isso, Serena.

— Só me prometa que não vai se culpar, que não vai se


colocar em risco e vai deixar as coisas como estão. Sou crescida e
consciente de que nessa vida, tenho que me casar com quem ele
escolher. Até que demorou.

— Você só tem dezenove anos. — Ele passa a mão em meu


rosto e se inclina para beijar minha testa. — Você se casaria com
Leonello?

— Que pergunta é esta?

— Eu vi o jeito que o olhou, como se olharam...

— Sei que você é um espírito romântico e sonhador, mas o


que Leonello queria fazer comigo, e era recíproco, era foder meus
miolos.

— Serena, por Deus!

Caio na gargalhada e ele nega com a cabeça, fazendo uma


careta de pavor. Zombo:

— Aposto que você é virgem. Nem sabe o que é isso.


— Acontece que você é virgem! E não deveria saber, muito
menos falar sobre isso.

— Sou inexperiente, mas não sou ingênua. Leio muito,


assisto muitos filminhos interessantes e tenho dedos eficientes. Sei
o que senti por Leonello. Muito tesão. Só foi um baque porque
nunca senti algo tão cru por alguém específico. Eu soube que ele
era o Leonello, seu inimigo, só pelos olhos dele, só pela forma que
encarou você antes de colocar o paletó em mim. — Suspiro,
inalando seu cheiro. — Aquele homem é uma coisa, uma presença,
quase uma entidade.

— Você se casaria com ele. — Ele afirma, olhando-me de


um jeito estranho.

— Acha mesmo que eu sobreviveria a um casamento


destes? Na primeira vez que abrisse minha boca, ele me mataria.

— Ele nunca me matou.

— Não estou acreditando que está cogitando algo assim!

— Leonello é um homem mau. Mas ele não é um homem


ruim.

— Que porra isso significa?


— Só me prometa que se tiver a chance, vai se casar com
ele, não com Tito.

— Tito é tão ruim assim? Nunca ouvi boatos sobre ele.

— Porque o que ele faz não é cortar a garganta de traidores.


É pior. E não se apavore. Você não vai se casar com ele. — Sua
expressão se torna sombria. Ele murmura: — Eu juro. Este é um
juramento de homem feito.

— O que você vai fazer? Se você morrer, Romeo...

— Não vou morrer.

— Grazie... — Sussurro.

— Por não morrer? — Brinca.

— Por ser por mim. Por ser meu irmão. Por sua alma, seu
eu, não ser vencido pelo ego de mafioso. Eu amo você!

— Eu te amo, querida.

Deitada em minha cama, mexendo no celular, constato que


papà já está em casa e deu um jeito de me deixar sem internet. O
cárcere é tão real que cogitei muitas vezes fugir. Sempre explodi
com palavras e atitudes bobas — como hoje —, mas penso muito
antes de agir de fato.

Meus pensamentos me traem e me levam até o momento


que meus olhos encontraram o de um dos mafiosos mais temidos
de Manhattan. Leonello me fodeu com os olhos. E eu retribuí, sem
controle, sem fingimentos. Sua feição dura e sombria não escondeu
em nada o calor dos olhos verdes que deixaram claro que o homem
é capaz de me comer viva, em todos os sentidos.

Fui criada para servir a homens, mas Leonello Di Accorsi...


Eu me serviria dele.

Quando se colocou de pé, em toda sua imponência e altura,


senti palpitações entre minhas pernas. Sempre soube que era
imprudente, pois num ambiente cheio de assassinos, me senti
atraída e louca para ter as mãos de um deles por todo meu corpo.

Leonello é lindo e perigoso, sua aparência grita isso. Ele é


alto, com músculos tão bem construídos que chega ser o tipo
brutamontes. Os olhos verdes, boca carnuda e nariz aristocrático
tiram um pouco a rudeza do seu olhar e da cabeça com cabelos
baixos.

Não consigo esquecer a maneira como me olhou, se


aproximou e entregou-me seu terno, que está guardado com minhas
calcinhas para que papà e Romeo não ousem jogar fora.
Batidas rudes na porta me puxam do devaneio. Romeo não
bate, então sinto a ansiedade antecipada por ter que lidar com
Antonio.

— Pode entrar! — Digo, ajustando-me na cama.

Ele entra e surpreende-me por não parecer odioso e, sim,


exausto.

— Serena. — Suspira e senta na poltrona ao lado da cama.


— Eu não queria que as coisas fossem assim...

— Não entendo.

— Acha que queria perdê-la? É a única coisa que me restou


de sua mãe.

Ele era loucamente apaixonado pela minha mãe, mas ela


faleceu cinco anos atrás em uma emboscada feita para ele. Como
estava resolvendo uma situação de negócios, enviou-a para casa
com o segurança. Ambos foram mortos num acidente tentando
escapar dos carros dos russos. A situação foi tão feia, que não pude
me despedir. O caixão foi fechado. Ela faz muita falta.

— Você tem Romeo, que também é parte dela.

— Romeo nunca será um homem honrado. — Rosna, ciente


de que sei sobre a vida amorosa do meu irmão.
— Quem nunca será um homem honrado é o marido que
escolheu para mim, papà! Aliás, nem o escolheu, não é? Você foi o
único que aceitou vender a filha.

— Essa é a máfia, Serena. Precisamos desta aliança. Seus


filhos e os filhos deles me agradecerão.

— Filhos? Esse homem não vai me foder por bem e se o


fizer por mal, será uma única vez, pois vou esfaqueá-lo na primeira
oportunidade! — Alerto, sucinta.

— Cale a maldita boca! Você não foi criada para ser mal
educada desta maneira. — Levanta-se, exibindo a fúria corriqueira.

Levanto-me também, parando em sua frente. Afasto meus


longos cabelos do rosto e o encaro com seriedade.

— Estou avisando, papà! Não serei uma boneca sem vida


na mão de maldito nenhum.

Ele se aproxima e segura meu queixo entre seus dedos,


cavando a unha a ponto de me ferir. Aperto os dentes, lutando para
não mostrar que me machuca. Ele avisa:

— Se eu não a quebrei o suficiente para se tornar uma


mulher da máfia, sei que seu marido irá.
— Se quer tanto me ver quebrada, quebre você mesmo!
Certamente há uma arma ao alcance das mãos. — Sorrio,
cinicamente.

Ele me empurra na cama. Continuo sorrindo e me ajeito no


colchão enquanto o vejo se afastar. Ele para na porta e exige:

— Dê-me o terno que Di Accorsi usou para cobri-la.

— Está com Romeo. — Minto sem remorso e sem precisar


pensar uma única vez.

Então ele se vai. Derramo a primeira lágrima quando a porta


fecha.
CAPÍTULO 02

— Que porra está havendo com você? — Santino inquire,


enquanto a prostituta senta em seu colo e o fode a seco.

As melhores boates de Manhattan são da máfia. Nós


trabalhamos legalmente para esconder o negócio real. A boate da
noite é uma dos muitos estabelecimentos da minha família. Há
alguns anos meu velho passou o controle dos negócios legais para
mim como forma de controlar minha ira e me obrigar a ser
diplomático. Até certo ponto, deu certo. A minha impaciência nunca
foi domada. Sempre quis as coisas do meu jeito, todavia, a forma
como Serena Fontana não sai da porra da minha mente, tem se
mostrado surpreendente.

Santino percebe. O desgraçado é observador, mas não


precisa de muito, uma vez que não coloquei meu pau em nenhuma
boceta desde que vi a maldita mulher, há dois dias.

— Não estou a fim de lidar com pessoas. — Digo entre


dentes, o recado para ele também.

— Foda-se! — Rosna e se concentra nos peitos enormes da


prostituta.

Porque ele é um bom amigo do caralho!

Aceitando que não sou uma boa companhia e que não há


nada que me interesse nessa boate, deixo-o com sua foda da noite
e subo para o escritório no andar superior. Serena continua em
meus pensamentos e não há maneira de que eu não vá dar um jeito
para que consiga vê-la.

Ouvi meu pai, concordei com ele, até decidi que ele estava
certo, que preciso manter a minha cabeça no lugar. Nunca me
deslumbrei por mulher alguma. Por que agora, porra? Justo por ela?
Irmã do meu inimigo, filha de um homem que me causa asco, e eu
sou um monstro mafioso, poucas coisas e pessoas me causam
repulsa e, agora, noiva de um homem que eu mataria sem precisar
de esforço.

Serena maldita! Porra. Meu pau endurece só com o


pensamento de deslizar em sua boceta molhada. Sempre fui um
homem sexual, que fode sem pudor, que gosta de sujo e suado, de
levar mulheres à loucura a ponto delas me oferecerem cada pedaço
seu de bom grado. Mas a crueza do tesão que sinto por Serena, o
desejo vívido que me seguiu mesmo estando longe, isso é surreal e
irrefreável. É como se eu fosse capaz de montá-la e fodê-la em
qualquer lugar, como um animal no cio.

Domingo chega e, como planejei durante a semana, me


encaminho para a missa. Isso é algo que faço todos os domingos
religiosamente, como o bom italiano hipócrita que sou, porém, hoje
sigo para a igreja de Greenwich Village.

Estaciono meu carro ao lado da fileira de carrões na


calçada. Meus dois seguranças fazem o mesmo com o veículo que
me seguia e param em frente à entrada, observando em volta como
falcões. Afinal, essa área de Manhattan não é nossa. Saí do Upper
East Side só para ver a mulher que não sai da minha cabeça.

O bairro onde Serena vive é residencial. Conhecido pela


praça com o famoso arco do triunfo, não tem a agitação do bairro
em que moro, com tantos prédios, avenidas e comércios.

Bruno faz um gesto com a cabeça, afirmando que está tudo


bem, então saio da minha Lamborghini Aventador azul cintilante e
caminho até a igreja. Meu carro é um dos muitos luxos que me
permito abusar. E dizem que o crime não compensa. Uma porra que
não!
A missa já começou e quando passo pelo corredor entre os
bancos, todos os olhos se voltam para mim. Há algumas famílias
mafiosas e seguranças nos bancos finais, que acenam rapidamente
e os demais que são apenas curiosos. Todos voltam a atenção para
o padre.

Observo rapidamente cada pessoa presente e os olhos dela


parecem me puxar. Como eu havia investigado só Romeo e os
seguranças a acompanham às missas. Sua boca está aberta,
absorvendo minha presença. Aproximo-me e me sento no lugar
vago ao seu lado, entre Serena e uma senhora.

Seu cheiro inebria meus sentidos e seu olhar pede por tudo
que eu quero dar.

— Leonello. — Ela sussurra como se não acreditasse.

Eu gostaria de chupar seu lábio inferior rosado como


cumprimento.

— Serena.

— Que porra está fazendo? — Romeo murmura.

— Assistindo à missa de domingo. — Não o digno um olhar


ao responder.
Logo volto minha atenção ao sacerdote. Presto atenção na
missa, embora esteja consciente de cada esfregar de perna de
Serena. Como as cruza e descruza de poucos em poucos minutos,
deixa os cabelos caírem em seu rosto para que eu não perceba que
me observa e a forma que seca o suor das mãos na calça jeans.

A doce tortura leva uma hora, até que Romeo cochicha algo
no ouvido dela e me lança um olhar de alerta antes de se levantar,
levando o celular à orelha ao caminhar pelo corredor até a saída.

— O que você veio fazer aqui? — Serena me surpreende ao


ser direta.

Porra, ela foi enfrentar o pai numa reunião de mafiosos! Eu


não deveria me surpreender com nada que ela faça.

— Vim vê-la.

Serena arregala os olhos e arfa.

— Você é louco?

Exibo um meio sorriso, que a faz fechar os olhos e respirar


fundo.

Inferno! Não me seguro. Levo minha mão ao seu rosto,


apoiando a bochecha na minha palma e esfrego seu lábio inferior
com meu polegar. Ela abre os olhos, parecendo bêbada, sonolenta,
entreabre os lábios, toda entregue e alheia a tudo que não seja eu e
essa tensão que pode ser cortada com uma porra de faca. A missa
fica em segundo plano, juntamente com o sermão do padre.

— Leon...

Afasto seus cabelos para trás da orelha e inclino-me,


sussurrando:

— Eu vejo nos seus olhos o que quer fazer comigo aqui


nesse banco da igreja.

Ela não nega. Em contrapartida, lembra:

— Vou me casar.

Vai, porra. Comigo.

— Sei que vai. — Meu tom é despreocupado enquanto


observo cada traço do seu rosto.

Serena se afasta e olha meus olhos com atenção.

— Isto é algum jogo doentio seu? Para afetar meu irmão


ou...

Paro de tocá-la e afasto-me um pouco, a conversa


sussurrada continua enquanto o padre fala.
— Quando me viu naquele escritório o que sentiu? —
Inquiro, sem rodeios.

— Não posso falar na igreja. — Ela pisca.

Serena Fontana pisca para mim.

Ela não é como a maioria das filhas da máfia. Boazinhas


demais, prontas para serem boas esposas, tímidas para flertar com
um homem.

— Vai me dizer fora daqui então.

— Está exigindo, Di Accorsi? Você lembra como nos


conhecemos? Não gosto de exigências.

— Ah, Bianca... — Sorrio, deixando evidente minha


intenção. O apelido novamente escorrendo por minha boca devido a
sua pele tão branca como porcelana. — Algumas das minhas
ordens você irá implorar para obedecer.

Sua atenção é tirada de mim quando o irmão senta ao seu


lado. Ele faz uma série de reclamações cochichadas no ouvido dela,
que revira tanto os olhos que poderia gerar um sério problema.

Alguns minutos depois estamos todos saindo da igreja.


Romeo na frente de Serena e eu logo atrás. Na área externa, o
desgraçado tenta me confrontar:

— O que está querendo perseguindo minha irmã?

— A perseguição é a você, preparando uma emboscada


para cortar sua garganta de uma vez por todas.

Serena se coloca entre nós, tocando o irmão com uma mão


e meu braço com a outra. O simples toque sobre a manga da
camisa social me faz ter ideias com uma facilidade que não ocorria
nem na puberdade de merda. Suas unhas compridas tingidas de
vermelho têm um apelo e combinam com a personalidade
efervescente que conheci.

— Vocês dois são irmãos? Ah, que pergunta a minha. Claro


que são! Ambos filhos da puta. Por Deus! Deixem para se matar
longe da igreja.

Do irmão ela arranca uma careta. De mim, uma gargalhada.

— Serena, vá para o carro agora mesmo!

— Não me trate como criança, Romeo.

— Ouça seu irmão. — Intervenho, recebendo um olhar de


reprimenda da mesma.
— Vocês são iguais! E isso não é um elogio. — Retruca e
sai, mas como a pequena sem vergonha que é, segue rebolando a
bunda redonda, enquanto os cabelos balançam de um lado para o
outro.

— O que você está armando?

— Porra, aqui vão as cartas na mesa. — Retiro um cigarro


do bolso da calça social, porque lidar com Romeo sem nicotina ou
álcool no sistema é impossível. — Completo trinta anos em algumas
semanas, idade que meu pai exigiu que eu me casasse. Não há
mulher nessa máfia que me interesse. — Acendo o cigarro e guardo
o isqueiro zippo. — Aliás... não havia. — Dou uma tragada e sopro a
fumaça em seu rosto soberbo. — Vou me casar com sua irmã. Cabe
a você ser um homem decente e aceitar que sou melhor que Tito,
que ela não merece um bastardo como ele, que até como inimigo
sou leal e que enquanto marido você não precisará ter
preocupações. Convença o infeliz que chama de pai. A aliança entre
nossas famílias é mais proveitosa para vocês do que com aquele
velho à beira da morte. Ou vou usar outros meios.

— Acha que quero minha irmã com Tito? Papà não irá voltar
com a palavra dele.

Dou uma longa tragada, consciente de que ele tem razão.

— Vamos ter essa conversa novamente daqui há dois dias.


Não tome nenhuma atitude desesperada. — Alerto, ciente do
desespero que ele tenta manter para si. — Dê-me o contato de
Serena.

— Não querer Serena com Tito é uma coisa, entregá-la ao


diabo é outra.

— Melhor o diabo que você conhece... — Zombo.

— Serena não quer ser obrigada a se casar com ninguém.

— Dê-me a porra do número do celular. Ela vai casar


comigo e não será obrigada. Você cuida do velho até eu me resolver
com ela.

Romeo fecha as mãos em punhos, louco para me bater.

— Não me ataque na frente da sua irmã. Não vou querer


perder na frente da minha namorada. — Provoco, adorando vê-lo
ficando vermelho de raiva.

— Você é psicopata. — Retruca, indignado. Abstenho-me de


lhe dar uma resposta sobre isso. Minha quota de suportar Romeo
está esgotada. — Se ela quiser dar o contato, é problema de vocês.
— Se aproxima e rosna, tentando ser intimidador: — Não desonre a
minha irmã, Di Accorsi. Eu o mato sufocado com seu próprio pau.

Afasto-me, deixando-o fazer seu papel de irmão protetor e


me aproximo de quem, realmente, me interessa. Dou uma última
tragada no cigarro e o jogo no chão, logo o apagando com a sola do
sapato. Serena está encostada no sedã preto, com os braços
cruzados sob os seios, nos observando cheia de desconfiança.
Rapidamente olho a hora no relógio em meu pulso, ciente de que
meus pais e irmã estão loucos querendo saber de mim por não ter
ido à missa com eles.

— Um prêmio pelos seus pensamentos. — Digo, parando


em sua frente, propositalmente evitando que Romeo possa vê-la,
protegendo-a com o meu corpo.

— Ajude-me a fugir de casa hoje, a sair por uma noite. Esse


é o prêmio que quero.

— O que? — Não escondo a surpresa dessa vez.

Serena desencosta do carro e entra em meu espaço


pessoal.

— Eu penso o tempo todo em você me devorando, Leonello.


E em como eu aprenderia rapidinho a devorá-lo. — Ela toca meu
braço, fazendo uma leve carícia. Então sorri, maliciosa pra caralho.

— Às dez horas da noite Sandro irá levá-la até a mim. Seu


pai estará reunido com Tito e Vitto. — Acabo de dar a ela o nome do
segurança do seu pai, homem de confiança, deixando-a entender
que é um informante meu.
Se pretendo casar com Serena, agora é o momento de
saber se posso confiar nela. Se sua ira contra Antonio é picuinha de
família ou se ela poderá ser usada por ele para me foder
eventualmente.

Ela pisca, confusa e surpresa. Logo assimila tudo.

— Você tem um agente duplo na nossa casa?!

— Agente duplo é bondade sua. — Observo e reitero: —


Não confio na sua família.

— Não sei o que planeja, mas não vou perder a chance de


fugir de casa. Mas me prometa uma coisa antes.

— Não sou um homem de promessas.

— Você quem sabe! — E começa a virar-se, indo para o


carro.

Seguro-a pelo pulso e a puxo até a mim, nossos corpos se


tocando. Todo meu sangue pulsando com o simples contato. Serena
arfa e a bebo com os olhos, confuso e cheio de tesão, cada vez
mais certo que esse precipício de emoções cruas vão me levar a um
abismo profundo muito em breve.

— Diga.
— Nunca faça mal a Romeo e não deixe que nada que eu
fizer enquanto estiver com você respingue nele.

— Nunca fazer mal a Romeo?

— Sei que pode ser impossível, mas se está se


aproximando de mim, é isso. Não tenho garantias de nada com
você. Não o conheço. É inimigo da minha família e leva isso tão a
sério que mantêm um homem de confiança do meu pai em sua folha
de pagamento. Sou praticamente noiva, posso ter minha reputação
arruinada. E posso estar prestes a ser morta pelas suas mãos.

— Santo Dio... — Irrito-me. — Sobre você e eu, sua família


só estará no meio se você os colocar. — Seguro sua mão e a levo
até minha boca, deixando um beijo na palma. — Vejo você à noite.

Ela morde o lábio inferior. Minha promessa está lá, sem


palavras. E quando Serena assente com a cabeça, está se
comprometendo a não trazer sua família para nosso meio.

Serena Fontana está disposta a ser minha, porque a


rebeldia irrefreável não pode ser contida e eu sou aquele que
adorará tentar domá-la todos os dias. E, porra, espero nunca
conseguir.
CAPÍTULO 03

Passei o dia inteiro em uma encruzilhada, sem saber por


qual caminho seguir. No meu íntimo almejando ser normal,
querendo ter me interessado por Leonello em termos diferentes, que
ambos fôssemos livres da máfia, que eu pudesse transar
casualmente e depois nunca mais vê-lo ou se me envolvesse com
ele que fosse por vontade própria, e muito menos ser obrigada a
casar com Vinatti.

Leonello me deu a informação sobre Sandro ser seu


informante. Isso me causou certo medo, afinal, ele poderia ter
mandado nos matar a qualquer momento. A atitude correta seria
contar para o meu pai e irmão, fazer com que Sandro fosse punido
por traição e Leonello ter que se explicar com os subchefes. Devo
lealdade à minha família.
E ainda assim, não consegui me obrigar a dizer a Romeo
quando estivemos no carro retornando da igreja. Meu irmão não
disse uma palavra, o que me fez perceber que se deu liberdade
para seu inimigo se aproximar de mim é porque Tito é muito pior.
Perceber que a melhor alternativa é um Di Accorsi me apavora.
Porque não há mais opções, visto que papà deu sua palavra à Vitto
Vinatti.

As dez, como de costume, meu pai e irmão estão cuidando


dos negócios fora de casa. Os empregados já se recolheram e os
seguranças cuidam dos arredores da casa. Sandro bate à porta
pontualmente e saio um tanto desconfiada, mas a curiosidade e
vontade de ter mais de Leonello ganhando.

— Boa noite, senhorita! — Surpreendo-me ao abrir a porta e


me deparar com Benício, o primeiro segurança do meu pai.

— Você?

Ele não diz nada, apenas espera que eu passe. Puta merda!
Leonello deu o nome de Sandro, mas o homem nunca foi o seu
informante. Se eu tivesse o delatado, teria colocado um inocente
para ser punido. Dio Santo! Leonello é um diabo.

Saio do quarto e tranco a porta. Caminho lentamente para


que meus saltos não façam barulho. Benício sequer me encara, ser
um traidor é uma desonra. Há um burburinho vindo da copa da
mansão, que Benício explica:
— Mandei os seguranças da área externa irem fazer um
lanche para que a senhorita não fosse vista.

— É claro que sim. — Não consigo conter o tom de desdém.

Prosseguimos em silêncio até avistar um carro esportivo de


cor azul cintilante, nada discreto, se aproximando dos portões de
grade.

— Vá! E saiba que jamais a deixaria ir com Di Accorsi se ele


fosse um perigo para sua integridade.

— Difícil é confiar na sua visão de alguma coisa, não é


mesmo?

— Somos parecidos então. — Retruca, olhando-me com


perspicácia, afinal, quem está indo com o inimigo por vontade
própria?

Bem feito, Serena!

Benício libera a passagem do portão, permitindo que eu


saia. Sigo com as pernas trêmulas até o carro recém estacionado. A
porta do veículo abre para cima, como uma asa.

— Uau, você veio me buscar com um Transformers? —


Comento, observando o interior da máquina.
A porta se fecha e a mão grande toca meu rosto. Arfo,
totalmente esquecida de observar qualquer coisa, de que ele é
Leonello Di Accorsi e que estou prometida a outro homem, que meu
pai seria capaz de me matar... Dio! Quando nossos olhos se
encontram, ele passa o polegar no meu lábio inferior, esfregando-o
de um lado para o outro, como fez na igreja. É tão sensual, o seu
olhar em minha boca, a forma que o simples toque me coloca em
combustão e como essa carícia já se torna algo que meu corpo
reconhece, o toque dele.

— Leon...

— Me chame sempre assim, bianca. — Sua voz é grave e


novamente me chama de branca.

Bebo de sua imagem, a barba por fazer, os dentes brancos


com as presas sobressaindo levemente, lhe dando um charme a
mais. O cabelo curto, rente à cabeça, causa um apelo que só ele
poderia conseguir ter. A única suavidade vem da cor de seus olhos
verdes, mas nem eles entregam coisas suaves de fato. Leonello é
todo homem. Grande, forte, poderoso, imponente, lindo e gostoso.
Está usando camisa social de cetim cor de vinho, de botões, relógio
caro, calça social preta, cinto e sapatos sociais. Ombros largos,
braços e pernas fortes tem minha total atenção e ele os tem de
sobra.
— Tire-nos daqui de uma vez. — Digo, conseguindo pensar
com coerência quando ele afasta a mão do meu rosto para colocar
meu cabelo atrás da orelha.

Leonello me olha com atenção, meu rosto levemente


maquiado, o vestido vermelho sangue de tecido brilhante, curto,
bem acima do joelho, justo, modelando todo o corpo, mas
confortável. Eu quis impressionar o homem e fui bem-sucedida se
seu olhar de “quero te foder até você não conseguir andar por dois
dias” significa algo.

Leon desce a mão dos meus cabelos até meus ombros nus,
numa carícia tortuosamente sutil, seguindo pelo meu braço até
segurar minha mão e levar à sua boca.

— Você é linda, Serena. Nunca vi nada igual. — E beija


minha palma, seu cavanhaque fazendo uma leve cócega, e até isso
faz efeito entre minhas pernas.

— Eu sei. — Sorrio falsamente, o fazendo rir.

Ele cruza nossas mãos e as coloca sobre sua coxa grossa,


então começa a dirigir apenas com a mão esquerda. Até o som que
o carro faz me excita. Observo-o, concentrado, lindo e
despreocupado. Nem parece um assassino mafioso diabólico.

— Como foi seu dia? — Pergunta, surpreendendo-me.


— Leonel... Leon... — Corrijo-me sorrindo. — Eu ainda acho
que você está tentando me matar.

— E está aqui? — Arqueia a sobrancelha.

— Não estar aqui me mataria de qualquer forma.

— É curiosa. — Sorri.

Sem tirar a atenção da estrada, espalma minha mão sobre


sua coxa e a cobre com a sua.

— Muito.

— Quando entrou naquele escritório, revoltada e linda,


principalmente corajosa, você chamou minha atenção, Serena.

— E o que acontece com quem tem sua atenção? Não pode


me desonrar. — Digo a última frase com desdém, porque desonrada
já sou em pensamentos, gostaria de ser em todo o resto, mas na
máfia, seria morta.

Leonello segue em silêncio por um longo tempo, sua palma


fazendo uma leve carícia na minha mão. Quando estaciona em
frente a uma boate, me encara com seriedade e diz:

— Ninguém teve minha atenção desta maneira.


— Então seja honesto comigo. É a porra da máfia. Não
podemos fazer nada a respeito desta atração insana.

Ele sorri, malicioso e convencido.

— Essa sinceridade.

— Falando em sinceridade... Você me deixou pensar que


Sandro era seu homem na minha casa. — Acuso.

— Confiança se conquista, bambina.

— Precisa ser recíproco. Capisce? — Provoco e seu sorriso


maldoso só cresce.

— Vamos. Você tem duas horas de liberdade. — Afasta-se e


sai do carro, logo dando a volta para abrir a do meu lado.

— Essa boate é da Famiglia? — Pergunto ao sair do


veículo.

Observo os tantos prédios ao nosso redor. O bairro de


Upper East Side é uma loucura. Leon entrelaça nossos dedos como
se fôssemos um casal.

— Não. Não poderia levá-la em qualquer ambiente onde seu


pai e seu irmão logo ficariam sabendo do seu paradeiro. Mas há
homens meus em pontos estratégicos para cuidar da nossa
segurança.

— Você sempre persegue mulheres em igrejas e depois lhes


dá duas horas de liberdade? — Indago, sorrindo enquanto
caminhamos.

— Impressionada com meu esquema?

— Confesso que sim.

— Você não é uma mulher impressionável, Serena.

— E aqui estou eu cometendo esta loucura por estar


impressionada por você.

— Não é por estar impressionada.

Não, é por querer ter até meus miolos fodidos. Todavia,


guardo para mim. Pelo sorriso presunçoso aumentando, ele lê
claramente o que não externo.

Não demoramos a entrar, pois ele tem influência fora da


máfia e fica evidente pela forma como é bem recebido e bajulado
pelos seguranças. Leon nos conduz para o segundo andar e sigo
sem perder sequer um detalhe do local. Já frequentei boates com
Romeo, mas todas eram da Famiglia, cheia de mulheres seminuas,
que sei que estão ali por não terem alternativas e isso sempre me
embrulhou o estômago. Há mulheres aqui, mas estão bem vestidas,
sensuais e sofisticadas, há os homens que não agem como porcos
explicitamente como os mafiosos, que se sentem donos do mundo.

Encaro o homem ao meu lado, alto, todo poderoso e um


porco mafioso. Que situação me coloquei! Entretanto não há um
grama de arrependimento. Por mais que o deseje loucamente, estou
sentindo um pouco da liberdade que sempre almejei e me foi
arrancada desde que nasci por ser filha de um mafioso.

O ambiente é muito bonito, com tons de roxo, preto e prata.


Há muito glamour e sensualidade se complementando.

Na área VIP, Leon nos conduz para uma mesa que está
afastada das demais, como se preparado para recebê-lo. Temos a
visão completa do andar térreo, das movimentações, pessoas
dançando, bebendo, se pegando e o DJ no mesmo andar que nós,
porém, do lado oposto.

Ele puxa a cadeira para que eu sente à mesa e se senta no


lado oposto, de frente para mim. O homem me atrai em todos os
sentidos.

— O que quer beber? — Inquire, a voz alta para ser


escutada sobre a música.

— Eu beberia todo o álcool possível, mas meu pai


perceberia e me mataria. — Sorrio.
— Seu pai não vai encostar um dedo em você a partir de
agora, Serena. — Leon diz com seriedade, a expressão de raiva
tomando sua face.

— Eu honestamente preciso entender o que está


acontecendo entre a gente. — Volto a dizer, confusa.

Ele passa a língua sutilmente pelo lábio inferior, os olhos


franzidos me analisando. Então rebate:

— Você está aqui hoje para se divertir. Para ser normal.


Beba algo, vá dançar. Estarei aqui se precisar.

Sorrio, totalmente incrédula. O que esse homem está


tramando? Ele me encara, encostando-se na cadeira, cruzando os
braços e com as pernas abertas, a postura aparentemente relaxada,
mas está compenetrado, sério.

— Leon.

— Caralho, Serena, vá. Antes que eu a deite nessa mesa e


não a deixe sair até que nós dois tenhamos feito tudo o que está em
nossas mentes desde a primeira vez que nos vimos.

Minha respiração engata com a crueza das palavras e


principalmente a seriedade que vejo em seus olhos verdes. Ele seria
totalmente capaz de cumprir sua promessa. Mordo meu lábio inferior
e levanto-me, rodeando a mesa até parar entre suas pernas e
pergunto:

— Por que não faz?

Leonello sorri de lado, como um predador, de forma que faz


os pelos da minha nuca arrepiarem.

— Bambina, bambina... — Levanta-se, seu corpo se


sobressaindo contra o meu, tocando-me de maneira sutil, beirando à
tortura. Sua mão sobe lentamente do meu pulso até o ombro, onde
a embrenha entre meus cabelos e os puxa colados à nuca, fazendo-
me encará-lo. Mal sou capaz de respirar, louca para beijá-lo, ainda
que devesse correr para bem longe. — Você será minha esposa e,
aí sim, você vai montar o meu pau onde e quando bem entender.

Quase desfaleço, todavia, Leonello se afasta e volta a


sentar-se. Fico petrificada, o encarando, sentindo minha pele
queimar e o sangue bombear fortemente. Então uma garçonete se
aproxima e fala algumas coisas, que não estou em posição de
assimilar. Leon a responde e faz pedidos.

Que maldição de homem! Sua esposa?

— Que porra você está pensando? — Murmuro entre


dentes, puxando minha cadeira para perto dele quando a garçonete
se afasta. — Já há um arranjo entre meu pai e os Vinatti!
Leonello trava o maxilar, a expressão sombria quando
rosna:

— Eu não sei em quem terei que atirar, mas você será


minha esposa, Serena.

— Você é louco!

Ele ri, quase orgulhoso, e não diz nada.

— O que é isso tudo? É para afrontar minha família? Meu


irmão?

Um garçom se aproxima e coloca uma taça com um drink e


um copo com uísque sobre a mesa. Leonello vira todo o conteúdo
do seu uísque sem tirar os olhos caóticos de mim. O homem se
afasta e, com as mãos trêmulas, pego o drink e beberico um gole,
sentindo o sabor doce e o mínimo de álcool na mistura.

— Farei trinta anos em breve e logo serei Subchefe no lugar


do meu pai. Tenho evitado pensar em casamento há alguns anos,
mas quando você pisou naquele escritório com caos e coragem
emanando, eu quis domá-la e no fundo sei que jamais conseguirei.
Quero que lute comigo com a braveza que lutou lá. Todos os dias.
Eu quebraria qualquer mulher submissa e morreria de tédio por ter
que passar a vida com uma tola. Você foi minha no exato momento
que quis ser. Pode mentir para si mesma, bianca. Não é sobre
paixão à primeira vista, amor ou qualquer merda romântica. É sobre
como você é feita de um material que eu nunca conseguirei destruir,
mas vou amar tentar.

— Você é psicopata. — Retruco, me sentindo tão psicopata


quanto por comprar sua conversa insana.
CAPÍTULO 04

A mulher perfeita para ser minha esposa não pode usar um


vestido que mostra mais do que cobre. Tampouco estar dançando
toda provocante, se esfregando num poste de ferro. Todos os olhos
famintos estão em Serena enquanto sensualiza, mas os seus olhos
grandes estão em mim. No seu homem. E, porra, se para mim ela
não é a perfeição do caralho? Embora meus dedos cocem para
atirar em cada vagabundo a comendo com os olhos.

Não me importo em parecer precipitado ou, como ela disse


mais de uma vez, psicopata. Sei o que quero e não hesito para
conseguir. As coisas seriam fáceis de resolver se Serena não
estivesse envolvida num arranjo de casamento. A minha batalha
atual é convencê-la de que casar comigo é sua melhor jogada.
Tendo sua aceitação, há outras batalhas mais fáceis de serem
vencidas, pois minha faca estará em mãos.
Observando-a de cima, onde permaneço na área que
reservei para nós, bebo de sua imagem, da maneira despudorada
que dança, remexendo os quadris sensualmente, subindo as mãos
pela barriga, seios e pescoço esguio. Os cabelos escuros como a
noite são jogados de um lado para outro. Serena é dona de uma
beleza fatal. Mas sua personalidade é o que me tem fodido,
pensando incessantemente em como será domá-la com meus
dedos, boca e pau.

Ela segura os cabelos longos e os enrola até prender os fios


no topo da cabeça. Passa por vários homens sem encará-los,
mesmo que eu perceba que dizem gracinhas. Subindo as escadas,
vejo o rosto suado e o sorriso começando a surgir quando se
aproxima.

— Você não dança, gostosão?

— Não. — Sorrio. — Só observo minha mulher gostosa


dançar.

Ela bufa, mas ri. Pegando-me totalmente de surpresa,


senta-se no meu colo, as pernas de lado, até que comportada. De
toda forma, o cheiro de Serena e presença já me deixam louco, o
contato físico torna meu desejo doloroso fisicamente. Seu suor
mistura-se com o perfume doce e minha mente viaja para o
momento que ela estará suada sob mim, em como vou lambê-la e
prová-la.
— Não sou sua mulher, Leon. — Ela retruca, encarando-me
de perto, os olhos azuis fitando todo o meu rosto. — Quero ser livre
da obrigação de me casar.

— Estamos na máfia. — Arqueio a sobrancelha. — Até eu


sou obrigado a me casar.

— Há uma coisa que quero saber... — Comenta, iniciando


uma carícia em meu braço, a unha comprida subindo e descendo.
— Se tivesse me visto em outro lugar, em outra situação, ainda
assim, iria me querer?

— Você seria minha em qualquer circunstância.

— Um mafioso que acredita em destino? — Um sorriso


zombeteiro toma seu rosto.

Toco seu pescoço, que agora com os cabelos presos atrai


minha atenção. Fecho a mão em sua garganta, vendo-a arfar e se
mover involuntariamente no meu colo, então a corrijo:

— Um homem que faz o seu próprio destino.

— Eu estou gostando de estar com você e isto é uma


merda. Você tem um traidor na minha casa, é inimigo do meu irmão
toda a vida e estou prometida à Tito.
— O homem na sua casa é apenas precaução. Isso irá
assegurá-la de que estará sempre protegida comigo. Estou a um
passo à frente sempre. O seu irmão não é um inimigo, ele tem uma
paixão não correspondida por mim. Essa rivalidade foi criada por
ele, embora eu tenha dado corda porque gosto de brigas e pela
nossa família já ter fama de ser rival desde o passado. E a única
promessa que vai valer, é quando você jurar ser minha eternamente.

A boca de Serena está aberta desde que citei a paixão de


Romeo. Ela tenta sair do meu colo, engolindo em seco. Espalmo
minha mão em sua coxa, mantendo-a.

— O meu irmão não...

— Poupe sua saliva. Não minta para mim. — Alerto.

— Que diabos? — Franze a testa, chocada.

— Eu já fui um péssimo diplomata, Serena. Meu pai sempre


me ensinou que precisava de diplomacia para alcançar certos
pontos altos na vida. O primeiro passo é observar, é saber com
quem estou dividindo ou ouvindo ideias.

Os Fontana não são especiais por terem um homem de


confiança na minha folha de pagamento. Estou sempre disposto a
estar um passo à frente dos que sou obrigado a conviver. Os
inimigos que estão longe, são um problema anunciado. Os “amigos”
é que precisam de vigilância.
— Foda-se isto! Você nunca entregou o meu irmão.

— Como poderia ser da minha conta se Romeo gosta de


foder ou ser fodido?

— Sabe tudo sobre nossa família. Tentar se envolver comigo


poderia ser uma maneira de nos destruir de dentro para fora. Pode
ter juntado informações para acabar com tudo de uma vez só.

Seu raciocínio me agrada.

— Não perderia meu tempo. Inclusive, estou usando minha


diplomacia com você mais do que usei toda a vida. Não sou de usar
tantas palavras em anos como estou usando esta noite. — A
impaciência na minha voz a faz rir.

Serena toca meu rosto com suas mãos, as unhas


acariciando a barba e nuca. O toque é bem-vindo, ainda que
incomum, e atiça todo o meu corpo.

— Eu não confio em você.

— Bom. Não sou de confiança. Aprecio sua inteligência.

— Não quero me casar com Tito. — Pela primeira vez


demonstra vulnerabilidade.
— Fique sob minha proteção. Diga que se casará comigo e
cuidarei de todo o resto.

— Sem fazer mal ao meu irmão?

Sorrio, maldoso.

— Tenho carta branca para cortar a garganta do seu pai


então?

Serena bufa.

— Não faça nada com ele também.

— Uma lástima. — Zombo.

Serena me encara com seriedade ao dizer:

— Se eu sentir que irá me fazer mal, vou fugir e foder


loucamente com o primeiro homem que aparecer na minha frente.
Pode me encontrar e matar depois, mas esta posse que vejo em
seus olhos... isto irá corroê-lo.

Aperto a mão em sua garganta vendo seus olhos


arregalarem levemente e o peito subir com a inalação forte.

— Nunca mais abra esta boca do caralho para me fazer


ameaças.
Ela arqueia a sobrancelha e finca as unhas no meu pulso,
tentando afastar minha mão de seu pescoço. Não por estar
machucando, porque não estou.

— Não foi uma ameaça, Leonello. É uma promessa.

Ela estica a mão até a mesa e pega meu uísque


abandonado. Então o bebe, sem tirar os olhos dos meus,
claramente me desafiando. A tensão só cresce e o desejo de
colocá-la sobre minhas pernas e fodê-la até o desafio estar vencido
por mim aumenta.

— Vou levá-la para casa.

— O que? — Ela bate o copo na mesa, fazendo barulho.


Sorrio por dentro.

— Seu sequestro já está na hora de acabar.

— Dancei por uma hora e nem percebi.

Deixo de tocá-la e ela fica de pé, ajustando o vestido. Ainda


temos algum tempo para que ela coma algo, afinal só bebeu drink
desde que chegamos.

Descemos em poucos minutos, de mãos dadas, mas Serena


atrai minha atenção e move os lábios para ir ao banheiro.
— Nós tínhamos um banheiro só nosso lá em cima.

— Mas fiquei com vontade agora. — Justifica.

Sem paciência para discussão, a sigo e faço menção de


entrar no toalete feminino com ela, no que Serena impede.

—Sempre há mulheres lá dentro. É absurdo você entrar.

— Não vou tirar meus olhos de você.

— Leonello, por favor! Estamos numa boate com pessoas


comuns, me deixe usar o banheiro como alguém normal. — Ela bufa
e entra sem esperar por mim.

No entanto, o vislumbre de um homem lá dentro no


momento que abre a porta e passa me faz reagir. Paro no caminho,
braços cruzados e olhos em Serena. Ela me encara e suspira,
percebendo que estava correto em querer acompanhá-la, e caminha
até entrar no reservado. O sujeito sem amor a vida diz:

— Gostosa, hein? Se quiser foder no banheiro, eu saio. Mas


depois vou querer usar a putinha.

Não consigo conter o sorriso lento que cresce em meu rosto.


Olho para a parte aberta do reservado, vendo pelos pés de Serena,
que ainda está agachada. Caminho, sem fazer som, até estar de
frente para o bastardo.
— O que o leva a pensar que pode dizer algo assim para um
sujeito que não conhece, sobre uma mulher que não conhece?

O som da descarga soa e a porta abre. Logo Serena está


encarando a cena com os olhos arregalados.

Analiso todo o ambiente. Não haviam seguranças nesta


parte da boate, nem mulheres se aproximando. Sei que meus
homens estão em minha cola. Logo, vendo que Serena e eu
estamos aqui serão espertos o bastante para impedir interceptores.

— Gosta do que vê, docinho? — O infeliz não perde a


oportunidade de ficar calado.

Observo o banheiro. Levo a mão até o bolso da calça social,


retiro um lenço que sempre carrego comigo, o abro na palma da
minha mão e enquanto ele se deslumbra com Serena, prendo a mão
coberta em sua garganta. Sem impressões digitais.

Ele arfa e tenta se soltar. O primeiro ruído não pode ser


escutado graças ao som alto lá fora. Encaro Serena.

— Vá para fora. Há seguranças meus lá com certeza. Avise-


os para não deixar ninguém entrar.

— Leonello!
— Sabe, Serena, eu tento. Mas sou um péssimo diplomata.

Arrasto o infeliz até o último reservado, chuto a tampa do


vaso para que abra e encurvo o corpo do infeliz até seu pescoço
estar rente ao assento. Então puxo a tampa e imprenso sua cabeça.
Retiro a mão de seu pescoço e o sufoco entre a tampa e o assento.
Suas pernas batem, o corpo tenta forçar, mas é magro e inútil, não
consegue escapar. Em pouco tempo seu corpo perde a batalha
contra a falta de ar e ele desmaia. Puxo meu lenço e guardo
novamente no bolso. Coloco meu pé sobre o tampo do vaso e piso
forte, ouvindo o som do osso estalando e o grito de horror de
Serena.

Ótimo primeiro encontro. Deixo o corpo sem vida no mesmo


lugar e fecho a porta. Caminho até a pia, lavo as mãos e encaro a
mulher apavorada.

— Você é um monstro psicopata!

— Não temos tempo para isso agora. Vamos.

— Leonello!

Seguro sua mão e a levo até a saída, meus homens, como


eu esperava, estão conversando com duas mulheres bêbadas,
enrolando-as para que não entrassem. Elas riem, falam asneiras e
não percebem nada a volta além da paquera. Apresso-me com
Serena e não demoramos a estarmos no meu carro. Sua respiração
está descontrolada e seus olhos arregalados.

— Você não tem limites!

— Eu não preciso ter. Sou um mafioso do caralho. — Ligo o


carro e começo a dirigir, deixando-a assimilar tudo.

Ao contrário da maioria, matar me acalma. Sempre estou


calmo quando estou acabando com a vida de alguém, mas gostaria
de ter aproveitado um longo tempo decepando o infeliz assediador.

— Você matou um cara! Um jovem! Que nem é da máfia,


tinha tudo para viver. Leonello, pare de agir como se não fosse
nada.

— Você se questiona o porquê daquele desgraçado estar no


banheiro feminino, Serena? — Retruco, com a voz calma.

Ela afunda no banco, atordoada, pensativa e silenciosa.

— Ele ia abusar de mim se...

— De qualquer uma. Você odeia o nosso mundo, já percebi.


Mas entenda, bianca, a monstruosidade existe fora da máfia
também e ninguém iria cortar o pau dele fora por isso.

— Dio!
— Haviam muitos homens querendo foder você enquanto
dançava na boate. Eu arrancaria seus olhos, mas há um limite na
intenção deles e na minha reação.

— O do banheiro... como pode ter certeza?

— Não é o primeiro demônio dessa laia que vai para o


inferno pelas minhas mãos.

Há muito sobre mim que ninguém sabe. Não irei me


justificar para Serena. Fiz o que tinha que ser feito.

— Você não está nervoso... não pestaneja. Como pode?

— Cadê a mulher forte e corajosa que eu tanto admirei? —


Retruco, sem paciência.

— Você precisa entender que nunca presenciei nada tão


brutal, Leonello. Honestamente, acredito no seu julgamento, mas
presenciar aquilo... Você quebrou o pescoço dele com o tampo do
vaso!

— Juro solenemente nunca quebrar o seu pescoço. —


Brinco e ela bufa, então completo: — Se você não me irritar.

— Idiota. — Sua voz soa mais relaxada e seguimos em


silêncio por minutos.
— Vou parar para jantarmos. — Quebro o silêncio.

— Não, Leon. Meu estômago poderia embrulhar se comer


depois daquilo.

— Se faz de durona e está nesse estado sem nem ter tido


sangue na cena.

— Você é surreal.

— É bom que saiba exatamente onde está se enfiando.

— Eu preciso da minha cama. Tudo isso tem sido demais.


Não vou fazer charme e bater na tecla de não querer me casar. Sou
completamente atraída por você e respeito o fato de estar criando
um vínculo entre nós. Terei que casar, então se puder ter voz,
escolherei você. Só que foi uma avalanche de acontecimentos.
Preciso de um tempo.

Fico em silêncio, mas vou dar-lhe o que deseja, afinal agora


é o momento de tirar Tito do caminho e isso vai exigir muito de mim.
Paro antes de passarmos em frente à mansão de sua família e
envio uma mensagem para Benício, que pede cinco minutos para
tirar os seguranças da área externa. Ambos ficamos quietos,
pensativos. No tempo estimado, coloco o carro em movimento e
paro em frente à sua casa.
Serena me encara com um sorriso quase tímido.

— Eu tenho convicção de que se eu fosse abusada, ou


quase... Isso me marcaria muito.

Sorrio e pego sua mão, trazendo-a até minha boca e


deixando um beijo antes de zombar:

— Isto seria um agradecimento?

— Como seria isto? — Ela morde o lábio, pensativa. —


Obrigada, assassino do sanitário.

— Sempre ao dispor, bianca.

Serena me presenteia com um sorriso completo, os cabelos


soltando do coque dando-lhe um ar bagunçado, selvagem. Os olhos
azuis se prendem nos meus e o sorriso esvai. A tensão crescente
tomando conta do espaço pequeno no veículo. Um olhar desta
mulher me coloca duro pra caralho.

Serena abre a boca para dizer algo, mas uma batida no


vidro da janela a interrompe. Ela pula e nega com a cabeça.

— É Benício. — Tranquilizo.

— Tudo bem. Nos vemos, Leon. — Ela se inclina e beija


minha bochecha, deixando-me sentir rapidamente os lábios cheios e
macios.

Preciso limpar a bagunça na porra da boate.


CAPÍTULO 05

Mesmo após dois dias sem ver Leon, não consigo esquecer
seu rosto sereno enquanto acabava com a vida de outro homem.
Com este tempo para pensar e analisar as coisas, o fato do sujeito
estar sozinho no banheiro feminino já deveria ter acionado um alerta
na minha cabeça. Sempre estive em uma bolha de proteção.
Achava-me esperta, mas a realidade é que a vida inteira houve
pessoas cuidando do meu bem-estar. Nunca precisei pensar por
mim mesma ou ter um alerta de perigo na minha própria mente. Já
ajudei o meu irmão a sair de situações de riscos, como dirigir para
que ele pudesse atirar em gangues do banco do carona. Todavia,
Romeo sempre esteve lá para berrar instruções e manter minha
cabeça no lugar. Nunca presenciei mortes de perto.

Por mais assustada que tenha ficado com Leonello em si, os


questionamentos foram mais sobre mim mesma. Digo com
convicção que não quero me casar, que quero ser livre da máfia.
Entretanto, não saberia viver em outro mundo. Esta é a minha
realidade e parar de esperar pelo irreal é o meu começo de
aceitação. Leon admira quem sou de certa forma, gosta dos
embates. Não irá oprimir minha personalidade. Sou atraída por ele.
Sentimentos estão fora de cogitação, como ele mesmo deixou claro,
mas podemos nos respeitar e transar muito, quer dizer, e viver bem.

— O que está acontecendo? Está calada? — Romeo


observa, do outro lado da mesa.

Estamos tomando café da manhã. Papà saiu desde ontem


para resolver assuntos pendentes e não retornou. Tenho evitado
conversar com meu irmão porque estou sendo uma grande traidora.
Para não me sentir pior, escolho o silêncio.

— Eu só... Só não quero me casar com Tito.

Seu semblante retorce em preocupação. Ele bebe um gole


de café e confessa:

— Prefiro morrer a vê-la se casar com ele.

— Não diga isso.

— É a verdade.

— Ora, ótimo encontrá-los reunidos. — A voz do nosso pai


atrai nossa atenção.
Pelo seu olhar, ouviu nossa pequena conversa, visto que se
aproximou sorrateiramente, como o rato que ele é.

— O que houve? — Inquiro, ansiosa.

— Houve uma situação incomum na nossa casa há dois


dias. As câmeras de segurança ficaram mais de duas horas sem
filmar nada, na parte da noite. — Comenta, encarando-me como se
soubesse de algo. Mantenho minha expressão de paisagem. —
Estou preocupado com sua segurança, bambina. Russos atacaram
os Di Accorsi ontem.

Quase grito, preocupada com Leonello, mas consigo conter


ou isto me entregaria totalmente.

— Alguma baixa? — Romeo questiona.

— Leonello acabou com dois deles e invadiu nossa reunião


com a cabeça de um em mãos. — Papà ri, como se isso fosse muito
engraçado. — Acontece que temos receio de nossas mulheres
estarem em perigo. Decidimos juntos enviá-las para a Itália por um
tempo. A irmã de Santino, você, bambina... A mãe e filha Di Accorsi.

— Vou com Serena. — Meu irmão diz, resoluto.

— Sim, é claro! Leonello também não abriu mão de estar


perto da mãe e irmã.
Sinto meu rosto esquentar. Será possível que Leon tramou
isso? As câmeras estarem desligadas no horário que saímos
certamente foi obra sua e de Benício. Mas a aparição dos russos é,
realmente, preocupante e fora de seu controle. E Leonello não
poderia ir tão longe.

Porra. Ele matou um homem com o vaso sanitário há dois


dias e agora cortou a cabeça de outro. Quem ele pensa que é?
Blade, O Caçador de Vampiros? Ele iria longe sim, e muito.

Papà senta-se à mesa e discute os assuntos da reunião


com meu irmão, que não foi até lá já ciente de que havia algo errado
e decidiu me proteger, mesmo sem saber o que, de fato, estava
ocorrendo.

Romeo é o melhor amigo que eu poderia ter. Sinto-me uma


cadela da pior espécie escondendo tantas coisas dele.

— Arrume suas malas, Serena. Eu estarei aqui cuidando de


tudo para que possamos fazer seu noivado em breve.
Provavelmente ocorrerá em Veneza.

— Sabe o que é inacreditável? Quer me tirar do possível


perigo que são os russos, mas vai me entregar para um sádico
drogado de bom grado. Por que não ficamos aqui só esperando os
russos desgraçarem minha vida antes do Tito? Ah, ora! Isto não
acrescentará nada no seu império. — Bato meu copo vazio na mesa
e levanto-me, sentindo o ódio pelo meu próprio pai me consumindo.

— Você irá se casar, Serena. É um fato. Foi criada para isto.


Nós a protegemos demais! Está na máfia. Seu irmão e eu nos
colocamos em perigo diariamente. O seu papel nesta família é se
casar, servir para que possamos fazer boas alianças.

— Estou bem em casar. O noivo é que não está bem. O


meu próprio pai me entregar para alguém como ele é que não está
bem. — Empurro a cadeira e saio pisando duro, contendo o desejo
de jogar uma xícara em seu rosto frio.

À noite, estou deitada ouvindo Monster, de Justin Bieber e


Shawn Mendes, quando escuto um som de algo caindo na minha
varanda. Dou pause no reprodutor e saio da cama. No móvel ao
lado abro a gaveta e pego minha pistola, mesmo com as mãos
trêmulas, e me encaminho até as portas duplas. Afasto a janela e
levo um susto ao ver Leonello sentado no chão, com a mão erguida
para bater na porta. Os olhos dele brilham ao me ver armada. Corro
para guardar o revólver e abro a porta, chocada com o escalador.

— Você...?

— Acho que fodi minha coluna. Estou enferrujado.


— Estou lisonjeada. — Acabo rindo e levo a mão à boca,
impedindo o som alto. — Meu pai e Romeo estão em casa! — Corro
até a porta do quarto e giro a chave, tentando não atrair atenção. —
Saia da varanda. — Apresso Leon, que sorri e rola para o interior,
então fecho as portas duplas e a cortina. — Você é louco! —
Sussurro um grito.

Ele só ri e justifica:

— Trouxe um aparelho celular para nos comunicarmos.

Mordo meu lábio inferior, impedindo o sorriso do Coringa de


tomar conta do rosto.

Leonello fica de pé, em toda sua imponência e altura. Ele


está vestindo jaqueta preta, jeans e coturnos. Além de gostoso! Seu
olho esquerdo está roxo e há um corte na mandíbula, causando
uma falha em sua barba.

— Não acredito que se colocou em risco dessa maneira por


causa disso.

Leonello se aproxima e afasta meus cabelos para trás da


orelha. Ele se inclina e esfrega o nariz em minha bochecha,
inalando-me. Como um ser irracional, reconhecendo a fêmea pelo
cheiro. O ato primitivo faz com que eu precise apertar minhas
pernas uma na outra para conter o desejo doloroso. Meus seios
pesam na camisa larga do pijama a ponto de doer.
Inclino-me, necessitada, e enfio meu nariz em seu pescoço,
cheirando-o, inalando a essência masculina, couro, suor e cigarros.
Ele segura minha nuca, bruto, forçando-me a olhá-lo.

— A verdade é que eu sou movido pelos riscos, Serena


Fontana.

Instintivamente lambo os lábios e faço o que ele fez comigo.


Toco seu rosto e esfrego meu polegar em seu lábio inferior. Sua
língua provoca, lambendo-me, até que segura meu pulso e, sem
tirar os olhos dos meus, leva o dedo em sua boca e suga, as íris
verdes prometendo e incitando. Minha calcinha umedece e quase
gemo com o quão excitada esse homem me deixa.

— Por que você não está me beijando?

O sorriso predador surge em seu rosto. Ele acaricia meu


rosto com a mão grande e afasta os cabelos para um só ombro,
expondo meu pescoço. Leonello se inclina e beija a pele sensível,
sobre a veia pulsante, esfrega o nariz na extensão e murmura:

— Quando eu beijá-la, nós precisaremos de um dia inteiro a


sós.

Gemo, desejosa.
Ele beija meu pescoço com a boca aberta, destruindo minha
calcinha, e se afasta. Meus olhos vão diretamente para o volume em
sua calça. Volumoso. Espero que não seja enganação.

— Eu pedi o príncipe e veio o cavalo do príncipe.

Leonello acompanha meu olhar e ri, orgulhoso, como o


macho exibido que ele é. Retira o celular que havia mencionado do
bolso interno da jaqueta.

— O seu com certeza deve ter os olhos e ouvidos do seu


pai. Meu contato é o único nesse. Não poderei ir para Veneza nos
primeiros dias que vocês estarão lá. Se comunique comigo se
precisar de qualquer coisa. — Avisa e estica o braço, olhando a
hora no relógio caro em seu pulso. Leon faz uma breve carícia em
meu rosto e entrega-me o aparelho.

— Obrigada.

Sem mais palavras, ele se afasta e se agacha para retornar


para a varanda. Troca mensagens com alguém por alguns
segundos, certamente Benício, e senta no parapeito. Pisca para
mim e desce, segurando-se pelas mãos por um tempo, até que elas
somem. Homem louco!
Romeo está muito silencioso e preocupado. Isso faz dois de
nós. Levou dois dias para que conseguissem organizar tudo para
viajarmos. Santino cedeu seu jato, de forma que viemos todas
juntas. Meu irmão foi o único homem, além de dois seguranças.

A viagem foi tranquila. Todas as mulheres pareciam


preocupadas o bastante e nenhuma tentou aproximação. Ainda que
na manhã de hoje tenhamos tomado café da manhã juntas e
interagindo educadamente. Estou sentada no jardim, observando a
área externa.

A casa onde estamos está cercada de seguranças. A


construção é antiga e mal cuidada. A limpeza necessária foi um dos
motivos de não termos vindo imediatamente. Mas é muito bonita.
Lembra um castelo. Há até um chafariz exagerado.

— Oi, tudo bem? Eu sou Maria. — Ouço a voz gentil vindo


de trás de mim e viro-me para encarar a irmã de Leonello.

Já esbarramos em alguns eventos e estudamos na mesma


escola, mas nunca fomos próximas por conta da rivalidade entre
nossas famílias, embora nunca tenhamos implicado uma com a
outra também não fizemos questão de nos aproximar.

Encaro-a. Ela parece mais nova do que eu devido aos


traços delicados, mas sei que é um ano mais velha. Sua beleza é
estonteante e seus olhos cor de mel chamam muita atenção. Fora
que é completamente ligada à moda, sempre maquiada, com os
cabelos deslumbrantes e bem vestida.

— Sou Serena. — Sorrio.

— Eu sei quem você é. Todos sabem.

— Todos sabem sobre você também. — Pisco e ela sorri,


sentando-se ao meu lado.

— Estou louca de saudade de casa.

Dou de ombros.

— Para mim, só parece que mudei de prisão. — Respondo


honestamente.

Somos italianos e sequer conheço a Itália. Todas nossas


viagens para cá, papà fez o favor de me deixar trancada. Sequer
tenho amigos em Manhattan. É realmente deprimente a minha vida.
Quando me lembro da noite com Leonello, um sorriso preenche meu
rosto, pois apesar do desastre final, o homem deu-me duas horas
de liberdade. Até uma morte testemunhei. As coisas começaram
bem. A memória da invasão em meu quarto também é bem-vinda.
Ainda é surreal.

— Mamà e eu iremos passear por Veneza logo mais. Vamos


conosco! — Parece animada.
— Nunca fizemos questão de aproximação com a outra. Por
que agora? — Pergunto de uma vez.

Ela ri e arqueia a sobrancelha de um jeito que a faz parecer


muito com seu irmão.

— Você será minha cunhada.

— O que?

— Ouvi atrás da porta.

— Que porta?

— Do escritório do meu pai. Leon e ele falavam sobre isso.

— Certo, você não tem filtro. Eu gosto disto. Tudo bem.

— Então, vamos passear?

— Acredito que as ordens do meu pai são para que eu fique


trancada aqui. Sem chance.

— Pergunte ao seu irmão, ele pode tomar decisões também.


Estamos na Itália, protegidas.
— Maria! Vamos para a piscina! — A voz de Bellarmina
chega até nós.

É a irmã de Santino, a quem ele cuida como se fosse sua


filha. Ela está caminhando até nós, com os cachos ruivos e o corpo
esguio envolto de uma saída de praia. Pelo que sei ainda é menor
de idade, mas é um mulherão.

— Piscina do nada? O que aconteceu? — Maria a encara


com desconfiança.

— Meu irmão está aqui. — Bellarmina sorri, confidente.

— Você é apaixonada por Santino? — Inquiro a Maria.

— Sim. Vou me casar com ele.

— Ora, ora. Então ser obsessivo casamenteiro é de família.


— Brinco e ela ri.

— Vamos também, Serena! — Bella me chama.

Nós duas viemos sentadas juntas no jato e conversamos


bastante.

— Vou vestir um biquíni, não quero perder os últimos


momentos do Santino. Afinal, sabe que seu irmão irá matá-lo
quando sonhar com isso, não é? — Provoco e vejo o rosto de Bella
ficar pálido.

Levanto-me e deixo as duas cochichando. Caminho


calmamente pela área externa. Algo que amo aqui são as árvores.
São enormes e muito bonitas. Escuto vozes exaltadas atrás do
chafariz e percebo que há três homens discutindo acaloradamente.
Encaminho-me até lá ao reconhecer os cabelos escuros do meu
irmão.

— Nós não vamos deixá-lo ficar aqui. — Romeo rosna para


o homem loiro à sua frente.

— Acho melhor você sair, Vinatti. Será fácil esconder seu


corpo aqui na Itália. — A voz sombria e baixa de Santino ameaça.

Ele sempre me causa medo. Diferente do deboche que


acompanha a crueldade de Leon, Santino Greco é sério e frio.

Entretanto meu corpo gela por outro motivo. No momento


que assimilo que o terceiro homem é meu futuro noivo. Ele parece
sentir minha presença, pois olha na minha direção e sorri dizendo:

— O pai da minha noiva me enviou até aqui. Vocês não


podem fazer nada.

Com isto, ele dá um tapinha no ombro do meu irmão e


caminha até estar na minha frente. Seu olhar suaviza ao me
examinar e me lançar um sorriso gentil. Ele é loiro, alto e esguio,
bem vestido e tem olhos castanhos e sorriso bonito.

Este é o homem que todos falam horrores?

— Você é Serena. — Tito ergue o braço e segura minha


mão. — Desculpe não ter aparecido para conhecê-la antes. Eu
estava numa clínica de reabilitação. Decidi ser um bom homem para
minha futura esposa e estou feliz que papà escolheu você. Estou
encantado.

— Não foi seu pai que me escolheu. O meu foi o único que
não se importa o suficiente para dar a filha a você. — Sorrio
falsamente e puxo minha mão, sentindo-me incomodada.

— Deixe-a em paz. Vocês não são noivos ainda. — Para a


minha surpresa, Santino intervém e se coloca entre nós,
empurrando Tito. — Guarde sua conversinha fiada para quando
Serena for obrigada a suportar você.

Meu irmão encontra-se estupefato com a mudança de ritmo


de Tito Vinatti. Desde quando ele estava em reabilitação? A reunião
decidindo tudo foi há dias apenas. Ele se transformou tão rápido
assim?

A memória de Leonello quebrando o pescoço do possível


estuprador vem com tudo. Consigo ouvir o estalo agonizante
perfeitamente em meus ouvidos. No entanto, o lobo em pele de lobo
me atrai mais, porque não há jogos para cobrir sua maldade e sei
exatamente com quem estou lidando.

Tito está encenando e eu poderia cair nisto facilmente.


Qualquer jovem poderia. É por isto que ele é perigoso. Há animais
que matam porque sentem fome e precisam saciá-la. Há aqueles
que brincam com a presa até tê-la destruída. Tito Vinatti é o
segundo.
CAPÍTULO 06

— Se você não me disser agora mesmo o motivo de terem


saído da porra do esgoto, vou começar cortando o seu pé esquerdo.

Com os russos surgindo do quinto dos infernos, os


subchefes decidiram em consenso proteger as mulheres de nossas
famílias. Era para eu estar na Itália também, mas noites atrás meus
homens e eu fomos receber uma carga, tivemos que impedir que
metade das drogas fosse incendiada e encontramos dois ratos
mexicanos, que fizeram o trabalho podre. O outro conseguiu fugir,
no que me sobrou só um. Por esse motivo invadi o quarto de Serena
em seguida.

O idiota preso na cadeira à minha frente passou duas noites


tomando banhos frios, sendo impedido de dormir. Todavia, nem a
exaustão o fez abrir o maldito bico.
Ele permanece em silêncio. Meus homens estão lidando
com o meu pai para resolver o prejuízo que tivemos. Nossa carga
precisava estar no Brasil a essa altura e tempo é dinheiro. O atraso
nos fodeu. Há apenas esse verme e eu aqui. É uma batalha árdua
não enfiar minha faca em seu queixo e abrir sua cabeça de baixo
para cima.

Abaixo-me na sua frente e levanto sua calça jeans, exibindo


o tornozelo. Minha faca é pequena, o que causa mais sofrimento,
pois não decepa de uma só vez, apesar de afiada.

O primeiro berro soa quando o primeiro rasgo faz o sangue


descer em quantidade até o chão. Sorrio o vendo gritar e corto sua
pele, fazendo movimentos de serrar com a lâmina.

— Maldito! Pare com isso! Para, porra. — Implora aos


berros, tenta me bater, mas está bem amarrado onde me convém
que não se mova.

— Você pode abrir a boca e receber um tiro na testa. Ou


pode ser cortado pedaço por pedaço até não aguentar mais passar
por isso vivo. E notícia de última hora, tenho drogas suficientes para
mantê-lo vivo mesmo quando sobrar só seu tronco e cabeça.

— Yo... Yo...

Cravo a faca com mais brutalidade, cerrando até encontrar a


carne, então perfuro o meio. Os berros agonizantes se perdem no
galpão enorme e vazio, ecoando como música para os meus
ouvidos.

— Não fale espanhol comigo, filho da puta. Não tenho


tempo para ser intérprete. — Advirto, observando seu pé ficar
pendurado por apenas alguns nervos, no que eu resolvo
rapidamente puxando com violência.

O desgraçado berra até não suportar a dor e perder as


forças. Levanto-me com calma, limpando a lâmina na camisa social
azul claro. Pego o balde com água ao nosso lado e acordo o Belo
Adormecido.

— A hora da sua soneca será quando eu jogá-lo na cova,


infame do caralho.

— Tito Vinatti... — Ele puxa o ar, tentando soar plausível. —


Ele queria as drogas. O fogo... era só para que vocês perdessem
uma parte e... E não dessem falta do que nós roubaríamos.

— Tito Vinatti. — Penso alto, analisando se tudo isto faz


sentido. Ele poderia cheirar um caminhão de cocaína, mas aquela
quantidade é absurda até para ele. — Para que ele quer estas
drogas?

— Ele... eu não... não sei. — Sua fala é entrecortada por


gemidos de dor. Dou um tapa em seu rosto, o fazendo se orientar.
— Ele disse que os homens estariam... na Itália... eu não sou
mafioso, moço. Mas ele prometeu que foderia minha família se eu
fosse pego e contasse. — O homem derrama a primeira lágrima.
Mesmo fodido e com o pé cortado, havia berrado, mas não chorado.
— Minha filha... ela tem quinze anos e sonha em ser atriz. Eu só
queria... dar condições à minha família.

— Você é um estúpido. É melhor agora? Prestes a morrer e


sabendo que Vinatti ainda irá os matar? Filho da puta! Colocando
sua família em risco é pior do que ateando fogo na minha droga.

— Sinto muito... estava desesperado!

Analiso a situação pelos curtos dois segundos que posso


parar para pensar.

— Há mais para me dizer?

— Não, eu juro... prometo pela minha família...

— A promessa do ano. Feita pelo cara que preserva muito


sua família. Você vai para o inferno, desgraçado e a última coisa
que você vai saber é que sua família vai morrer logo em seguida por
escolha sua.

Faço o que estava almejando desde o começo, cravo a faca


em sua garganta e rasgo sua pele debaixo para cima. Ele se bate e
sangra. Seu rosto deformado. Retiro a lâmina e enfio em seu peito,
girando-a em seu coração até que não lhe resta mais vida.
Caminho até o galão com água e lavo minha faca e mãos.
Retiro meu celular do bolso do paletó, que estava apoiado em uma
cadeira velha. Vejo chamadas perdidas de Santino, de Maria e uma
única mensagem de um número desconhecido. Antes de dar-lhes
atenção, ligo para Fabrizio, um dos meus homens que enviei para
investigar a família desse merda para o caso de ele não abrir a
boca.

— Encontrei, Di Accorsi. Precisa que as leve? São três


mulheres. Mãe, esposa e filha.

— Preciso que você faça a segurança delas. Chame mais


dois homens e fique aí. Não deixe que porra nenhuma aconteça às
três.

— Certo.

— Não deixe que elas percebam. Deixe que continuem


acreditando que a vida é normal.

— Feito.

Encerro a chamada e observo o corpo sem vida na cadeira.


Jamais deixaria três mulheres inocentes pagarem pelo erro de um
maldito inconsequente.

Abro a mensagem do número desconhecido e leio:


Tito Vinatti está na mansão conosco. Está tramando
alguma coisa.

R. F.

A situação deve ser muito preocupante para Romeo, afinal,


eu era seu inimigo número um e ele está deixando claro que prefere
a irmã comigo.

— Maldito figlio di puttana. Vou decepá-lo.

O mexicano que fugiu certamente o alertou e agora ele está


próximo de Serena.

Após praguejar por um tempo e recalcular a rota, ligo para


Santino, que já atende alertando:

— Vinatti está tramando algo. Se fazendo de bom moço


para sua mulher.

— Fique de olho nele.

— O seu cunhado está fazendo esse trabalho muito bem.

— Não o deixe sozinho com Serena. Ouviu, caralho?


— Se ele fizer merda, não vou hesitar. A Itália é o lugar
perfeito para sumir com o corpo.

— É exatamente para isso que estou indo até aí.

Encerro a chamada e nem perco tempo ligando para Maria,


ciente de que seu intuito também é contar sobre Tito. A atrevida
ama ouvir conversas por trás das portas e depois questionar a
respeito no café da manhã como se não fosse nada.

Essa merda já se prolongou por tempo demais. Serena é


minha e em poucas horas não haverá um prometido do caralho para
impedir que todos saibam disto.

Praguejo ao ver o corpo do mexicano, que ainda levará meu


tempo para sumir com ele. Inferno.

Quase nove horas depois de sumir com o corpo do


mexicano, pousei em Veneza e Santino foi me buscar. Agora os
seguranças abrem os portões velhos de ferro para que entremos. É
quase madrugada, mas as luzes acesas evidenciam que estão
acordados.

— Sua mãe estava cozinhando quando saímos. A diferença


de fuso horário causou esta merda. — Santino resmunga.
— A única coisa que quero é colocar minhas mãos naquele
infeliz.

— Sabia que ele iria aprontar uma das grandes.

— E Vitto certamente moveria céus e terras para salvar o


rabo do filho.

Os seguranças me saúdam ao passarem por mim e logo


entramos na mansão. Há um par de vozes vindas de outra área, que
Santino indica ser a cozinha. Apesar da imponência da construção,
os cômodos são sem exageros.

Deixo minha mala na sala e sigo Santino até a cozinha. Meu


sangue gela ao ver Serena sentada entre seu irmão e o infeliz do
Vinatti.

Ela parece sentir minha presença, pois seu corpo endurece


e seu olhar não demora a se voltar para mim.

— Bambino! — Minha mãe surpreende-se ao me ver. —


Devia ter dito que viria! Mas chegou na hora certa. — Desirée Di
Accorsi não poupa a demonstração de afeto e logo está abraçando
minha cintura, sua cabeça batendo em meu peito.

— Mamà. — Repreendo-a baixinho, recebendo um


resmungo de descaso em troca.
Ela me encara com sabedoria e se afasta, dizendo:

— Serena, querida, pode ajudar Maria a colocar a mesa?

Serena está de pé antes mesmo que ela termine.

— Claro.

Santino como o bom amigo que é, senta-se no local onde


Serena estava. Romeo nunca pareceu tão relaxado na presença
dele. Sorrio internamente e aviso:

— Vou subir e tomar um banho rápido antes do jantar.

Retiro-me e paro no corredor, enviando uma mensagem


para Serena no aparelho que dei a ela. Ouço quando ela diz que
precisa ir ao banheiro. Dois minutos depois está passando por mim.

Seus cabelos estão presos em um rabo de cavalo comprido,


exibindo o pescoço leitoso e esguio. A calça jeans justa e regata
moldam o corpo curvilíneo. Sem artifícios no rosto, parece a menina
de dezenove anos que ela é. Jovem e gostosa pra caralho.

— Não posso olhar o celular na frente de ninguém, só você


e eu sabemos sobre ele. — Encara-me como se fosse tolo.

— Tito tentou alguma gracinha? — Minha voz sai dura até


para os meus ouvidos.
Serena cruza os braços sobre o peito e comenta:

— Ele acredita que vai me enganar se passando por bom


moço. Até agora tem sido educado e cavalheiro. Custa acreditar que
é a pessoa de quem Romeo falou tão mal.

— Está caindo no teatro do infeliz?

Serena arqueia a sobrancelha.

— Ele é meu noivo. Pensando em todas as opções, talvez


seja inteligente torcer para que ele seja bom e eu possa ter uma
vida decente.

— Nem fodendo. — Puxo-a pelo braço, trazendo seu corpo


para o meu. — Sente isto? — Indago e ela pisca, perdida, pela
forma como o desejo cru e a ira me fazem soar bruto pra caralho.
Serena arfa, daquele jeito que sempre faz quando toco seus lábios
carnudos. Puxo-a até que nossos corpos estejam colados e ela
geme ao sentir meu pau duro roçando em sua barriga. Seus olhos
azuis ficam enormes e dilatados, a respiração descompensada. O
desejo primitivo que sinto por esta mulher está me enlouquecendo.
— Isto é o que faz você ser minha. Não precisamos de acordos,
acertos, noivados forçados. Eu aposto minha vida que você está
molhada para mim, tão pronta para me ter deslizando dentro da sua
boceta quente...
Ela geme e é o meu fim. Seguro sua nuca e trago seus
lábios carnudos para minha boca. Não degusto Serena. O beijo é o
reflexo de tudo que queremos fazer um com o outro. Primitivo,
desesperado, molhado, indecente. Empurro seu corpo pequeno até
a parede, a cobrindo, mantendo-a cativa do meu desejo.

Serena morde meu lábio inferior e quando abro os olhos,


encontro-a encarando-me com os olhos bêbados de desejo e um
pequeno sorriso safado.

— Isto é o que faz de você minha. É o que fez de você


minha na porra do primeiro dia.

— Leonello, você está me tornando tão louca quanto você.


— Ela sussurra, a voz fraca, apoiando a cabeça em meu peito.
Sorrio, satisfeito e seguro sua nuca, acariciando a região sutilmente.
— Dio Santo! Que confusão.

O celular dela toca, fazendo com que ela se afaste. Ela se


escora na parede, acalmando-se e digitando no aparelho.

— É Romeo. Ele sabe que não estou no banheiro. Já


demorei demais. Vou voltar.

— Vou ao seu quarto esta noite. — Aviso.

Ela só sorri e fica na ponta dos pés para me dar um selinho.


No que aproveito para segurá-la e beijá-la novamente, agora lento e
provocante. Brinco com a língua atrevida, mordo o lábio carnudo e
seguro sua cintura, esfregando minha ereção sem remorso,
pulsando ao ouvir o gemido baixinho.

— Chega, Leonello.

— Só quando disser que é minha.

— Se nós dois formos insanos, as coisas vão ser


impossíveis. — Ela sorri. — Homem louco. Gostoso. — E sendo
impertinente como é, se afasta e dá um tapa na minha bunda antes
de correr para a cozinha.

Foda-se se é loucura. Esta maldita será minha.


CAPÍTULO 07

É cedo, é loucura e eu sei bem disto, mas quando a boca de


Leon tocou a minha, borboletas alçaram voo na minha barriga. Já
beijei alguns garotos quando estudava, foi o mínimo que consegui
fazer escondido. Embora a diferença esteja justamente em
comparar meninos a Leonello Di Accorsi. Ele é todo homem. Só o
seu olhar me faria arrancar a calcinha e deixá-lo me devorar em
cima da mesa do jantar.

— Por que veio de surpresa? — Tito pergunta a Leon.

— Não vim de surpresa, só não distribuí panfletos


informando minha vinda. — Retruca, sem demonstrar nenhuma
animosidade. — E você, por que saiu do inferno e veio para cá?
— Bom, já que estamos basicamente entre amigos. — Tito
me encara do outro lado da mesa, uma vez que Santino sentou
descaradamente no meu antigo lugar. O sorriso doce em seu rosto
poderia enganar até o diabo. Leonello fica tenso ao meu lado. —
Meu pai e Antonio Fontana conversaram e decidiram vir para cá o
mais rápido possível para formalizamos minha união com Serena.

Leon não diz nada, o olhar vazio e calculista de sempre


poderia convencer a qualquer um de que está tudo normal em sua
mente. Romeo, no entanto, não esconde o desespero.

— Papà não me disse nada. — Meu irmão murmura.

— Deve ser porque você é contra a nossa união. — Tito


retruca, a simpatia em pessoa.

— Bem, embora você pense que somos amigos,


basicamente... como disse... — Leonello comenta, girando a faca de
cortar carne entre os dedos com maestria. Seu olhar fixo em Tito ao
informar: — Não somos seus amigos do caralho e não quero saber
da sua porra de vida. Ele fica de pé e avisa: — Greco e Fontana no
escritório comigo o mais rápido possível. Uma carga minha de
cocaína foi queimada e não consegui arrancar nada do mexicano
que peguei. Preciso de homens em Manhattan que procure se há
gangues deles espalhadas planejando fazer novamente.

Observo a reação dos homens e vejo Tito relaxando na


cadeira, enquanto meu irmão não parece entender estar sendo
incluído e Santino se coloca de pé imediatamente, mesmo sem
finalizar o jantar.

— Será que não podem esperar para tratar de negócios


após a refeição? Estamos na Itália! Já é madrugada, dia de missa.
Por Deus! — Desirée reclama.

— Boa noite, mamà. — Leon ignora e sai da cozinha.

Ela suspira e Maria cochicha algo no ouvido dela, que a faz


sorrir.

Um a um os homens se vão. Tito por último, agradecendo o


jantar, desejando-nos boa noite e informando que irá se recolher.

Fico em silêncio, mal tocando a comida, um turbilhão de


emoções me consumindo e confundindo, até amedrontando.

Depois de Bella e eu retirarmos a mesa, Desirée e a filha


começam a montar uma lasanha, já preocupadas com o almoço de
amanhã, uma vez que estão sem sono. Bellarmina e eu ficamos
quietas, sentadas no balcão, observando-as.

Desirée é uma mãe que qualquer um gostaria de ter. Ela


chama a todos nós de “filho ou filha”, cozinha, abraça, beija, dá bom
dia e boa noite e pergunta se precisamos de algo. Por isso, Maria é
tão livre e Leonello sabe como tratar bem a mulher com quem
cismou que irá se casar, mesmo sendo naturalmente grosseiro e
bruto. Na sua família, há amor. Ainda que goste de ser um monstro,
ele conhece bons sentimentos e como conviver com eles.

— Atenda esse celular, Maria! — Desirée reclama ouvindo o


toque incessante.

Mal havia notado, perdida em meus pensamentos.

A filha lava as mãos rapidamente e as seca no pano de


prato. Então bufa ao ver o nome na tela.

— Papà está louco de saudade. — Ela provoca a mãe e o


sorriso no rosto de ambas confirma minha teoria de quão amorosa é
esta família.

— Deixe que o atendo. — Mariella sorri e pega o aparelho,


saindo da cozinha e deixando-nos.

— Ahhh, será pedir muito a Dio um amor como este? —


Bellarmina suspira.

A encaro, um tanto curiosa. Houve algum tempo em que


esperei por um príncipe encantado. Contudo, quando a maturidade
foi chegando, a percepção desta vida que levamos fez-me descrer
que ter um amor deste tipo fosse possível. Até brinquei com Leon
sobre esperar o príncipe e receber o cavalo, mas a verdade é que
nunca esperei qualquer um dos dois.
— Eu quero Santino. Será que é pedir muito? — Maria bufa,
impaciente. — Ele mal olha para mim.

— Talvez devesse fazer ciúmes nele. — Bella incita.

— Vocês duas... — Implico.

— Vai dizer que não tem um crush? — Bella pergunta. —


Linda desse jeito deve chover homens.

— Esqueceu que estamos no mesmo barco? Lindas e com


seguranças vigiando nossos passos até na porra do banheiro? —
Reviro os olhos.

— Ela tem razão.

Encaro ambas com atenção.

— Sendo bem honesta agora e aconselhando vocês duas,


meu pai não me deixa fazer faculdade. Sei que Maria está cursando
moda. E Santino deixa você ter o melhor quando acabar o último
ano na escola. Ambas não estão sendo obrigadas a se casar com
um desconhecido para cumprir obrigações da máfia. Aproveitem
isto. Estudem, viajem, saiam, dancem. Mesmo sob nossa bolha de
proteção, vocês são mais do que duas meninas à espera do
príncipe encantado. Não que isto seja tolice e errado. Cada um sabe
o que quer esperar da vida. Mas aproveitem no meio tempo em que
esperam e os homens de vocês não as notam.
O silêncio sepulcral enche a cozinha. Ambas me encarando
com compreensão e tristeza. Sorrio para dissipar o clima penoso,
mas sou surpreendida quando Bella me abraça de lado e Maria se
aproxima entre nossas coxas e nos abraça.

— Você tem razão. Mas tenha certeza de que um bom


casamento não é o fim.

— Diga isso para alguém que não esteja noiva de Tito


Vinatti. — Bufo e elas riem.

Maria me encara com a sobrancelha erguida, cheia de


perspicácia, mas nada diz.

Desirée retorna com um sorriso de orelha a orelha e entrega


o aparelho da filha.

— Seu pai está vindo. — Informa a filha, então me encara e


seu sorriso some ao dizer: — Sinto muito, bambina. Seu pai e o
velho Vinatti também. Esta história de noivado parece ser verídica.

— Está tudo bem. — Minto.

— Não está. Ouça, quando fui prometida ao meu marido,


quase tive um colapso de medo. Pensei até em fugir. —
Confidencia. — Achava que sua fama o precederia até em nosso lar.
Aprendi no primeiro dia que seria tudo diferente. Ludovico foi gentil e
prometeu que a partir do momento que me tornei sua família, sua
lealdade se estendia a mim e que ele confiava que eu seria leal a
ele. A base do nosso casamento sempre foi a confiança. Se
qualquer coisa soasse estranha, corria e contava para Ludo. Há
coisas da Famiglia que nunca tive interesse em saber. — Nega com
a cabeça e caminha até a pia para lavar as mãos. — Mas Ludo não
faz segredos se algo me interessar e eu questionar. Já passamos
por fases muito ruins, por traumas que poderiam ter destruído a
gente, mas quando casamos temos que ter sabedoria de entender
que há momentos de ser carregada, mas há momentos que eles
irão necessitar de nós para carregá-los.

— Aprecio saber de um casamento que deu certo, que tem


amor. A família de vocês é linda.

— Você também terá sua linda família. — Ela pisca.

Em meus pensamentos só vejo Tito desgraçando minha


vida. Papà não irá voltar atrás com sua palavra, muito menos após
chegar aqui para oficializar o noivado.

Querer Leonello dificulta tudo, ter o beijado, o sentido, foi o


suficiente para me estragar para Tito. Enoja-me imaginá-lo me
tocando e beijando como Leon fez. Aquele desgraçado afirma com
tanta convicção que sou sua, que está me convencendo. Porque
desejo ser.
No momento que entro no quarto em que estou ficando
hospedada, sinto a presença de Leonello. Encostado na janela,
fumando cigarro, sem camisa, mas com colete a prova de balas. Ele
parece uma alucinação da minha mente perturbada, uma miragem.
Seus braços musculosos em plena exibição se abrem para que eu
me aproxime.

Esgueiro-me até estar o abraçando. Leonello passa um


braço pelo meu pescoço, mais me dando uma chave do que me
abraçando, mas em seus músculos do tamanho da minha cabeça,
sinto-me bem acolhida.

— A oficialização do noivado vai acontecer.

— Não vai. — Garante, resoluto.

— Leon, eu até gosto de você, sabe... É por isso que digo,


procure uma mulher livre de problemas para se casar com você.

Ele dá uma última tragada no cigarro e o joga pela janela, no


que lhe dou um beliscão no bíceps pela falta de educação. Leon
sorri e segura meu queixo.

— Essa áurea problemática foi o que me atraiu, bianca.


— Não duvido. É louco de pedra. — Sorrio, toda derretida
em seus braços.

— Durma, bambina. Ficarei aqui protegendo seu sono.

— Acha que Tito entraria aqui para algo? — Pergunto


receosa.

— Prefiro não achar nada, Serena. Mas opto por estar


sempre um passo à frente sempre.

— Você sabe de algo que não sei? — O bocejo escapa


entre meus lábios e Leonello beija minha boca aberta sem vergonha
e lhe dou um tapa. — Por isso está assim fantasiado de Rambo? —
Brinco, apontando o colete.

— Sabe quantas vezes esta porra me livrou de estar no


inferno?

— Está certo. Eu preciso de um?

— Serei seu escudo. — Diz, em tom de flerte, fazendo-me


rir.

— Já falei que você não é o príncipe. É o cavalo do príncipe.

— Só pelo tamanho do meu pau? — Provoca, dando um


beijinho no canto da minha boca.
Esse homem!

— Preciso de um banho antes de dormir. Quer me


acompanhar? — Rebato a provocação. — Assim posso comprovar
se o volume não é enganação.

Leonello bate na minha bunda, fazendo-me gargalhar. Ele


leva a mão à minha boca, impedindo-me de rir alto.

— É uma peste. Vá tomar seu banho. Vou fumar outro


cigarro.

— Você não morreu pelas mãos dos inimigos, mas vai


morrer para o cigarro. — Reclamo.

— Preocupada com o marido. — Zomba, arrancando outra


risada de mim.

— Idiota.

Afasto-me e sigo até o banheiro. Relaxada com a presença


de Leon, com suas idiotices que dissiparam a preocupação sobre o
casamento com Tito. Pela primeira vez não sinto-me movida pelo
desejo sexual perto dele. É como se houvesse outro tipo de
conexão, talvez o início da confiança. Uma amizade? Não que tenha
deixado de desejá-lo, mas sua presença foi reconfortante agora,
como se ele já fosse alguém que considero certo na minha vida.
O que é uma piada. Depois que me casar, nem poderei
olhar na direção de Leonello.

Quando saio do banho, Leon não está mais em meu quarto,


mas ouço passos no corredor por um longo tempo antes de pegar
no sono. Envio uma mensagem, perguntando o porquê me deixou
sozinha. Ele responde mais tarde:

Leon: Ou saía do quarto ou entrava no banho com você e


íamos sair mais sujos do que limpos. Estou no corredor. Durma
segura, bambina.

Sorrio com a resposta e pego no sono com o aparelho sobre


meu peito.

Sabe a sensação de estar sendo observada? Desperto com


esta ligeira impressão e ao abrir os olhos constato que estou um
pouco certa. Leonello está adormecido na poltrona que fica
posicionada ao lado da cama. Ele a virou de forma que está de
frente para mim.

Espreguiço-me e saio da cama. Toco seu ombro com


cautela para não assustá-lo, mas quem ganha o susto sou eu. O
homem segura meu pulso, me prende em sua perna e coloca a
arma na minha cabeça em segundos.
— Jesus Cristo, Serena. Porra. — Ele desfaz a confusão no
exato momento que constata.

— Estou a ponto de ter um ataque cardíaco. — Sussurro,


jogando-me no chão, mas ele me segura, coloca a arma na cintura e
ajusta-me em seu colo.

— Cochilei cuidando da sua segurança, por isto o estado de


alerta até em sono.

Enfio a cabeça na curva de seu pescoço, inalando seu


cheiro e aproveitando alguns segundos para recuperar a calma.
Leon está muito preocupado com minha segurança sob o mesmo
teto que Tito.

— Há algo que você saiba sobre Tito que eu não sei? Por
isso veio sem que ninguém esperasse?

Leon afasta meus cabelos para trás da orelha, puxa meu


queixo para ver meu rosto e analisa minha expressão por um longo
tempo, a ponto de sua análise se tornar constrangedora.

— Tito teve a audácia de mandar dois vagabundos atearem


fogo numa carga de drogas. Peguei um deles e o outro fugiu, que
certamente foi contar para ele. No que ele reagiu vindo se enfiar
aqui. Por isso mencionei a carga no jantar e deixei que pensasse
que não sei de nada.
Arregalo os olhos com o quão longe Tito é capaz de ir.

— Você vai levá-lo ao conselho dos Subchefes?

— Bambina, o que teria mais valor? A palavra de um


mexicano qualquer ou a do filho de um Subchefe? Tito se safaria.
Vou arrancar a cabeça dele e me certificar que só há um homem
com quem você pode se casar respirando. — Ele sorri como se
falasse da previsão do tempo e esfrega o nariz no meu.

— Leon, isto pode prejudicar você. Não pode matar um


homem feito sem ordens... — Preocupo-me, pois disso sei bem,
visto que meu irmão teria matado Leonello, e vice-versa, em suas
inúmeras brigas se isso não o colocasse em posição de traidor logo
em seguida.

— Ninguém saberá. — Seus olhos verdes brilham com algo


desconhecido. Quase um desafio por estar depositando sua
confiança em mim.

Arfo, completamente dopada pela intensidade de Leonello


Di Accorsi. E não há nada de sexual no momento. É o quão ele é
intenso na vida, como homem feito.

— Não o quero em risco. — Murmuro, passando a mão por


seu colete. Ele é lindo até desse jeito. — Vitto Vinatti está vindo. Tito
só fica por aqui. Como fará algo assim sem ser descoberto? —
Encaro-o com atenção e passo o dedo entre suas sobrancelhas
grossas, desfazendo o vinco. — Posso me aproximar dele e tentar
encontrar provas, talvez ajudar e...

— Nem fodendo. — Leon rosna.

Seguro suas bochechas e, sentindo-me a vontade o


bastante, esfrego meus lábios nos dele, sussurrando:

— O grande mafioso com ciúmes da sua noiva imaginária?

Em poucos segundos, ele gira nossos corpos, colocando-me


sentada na poltrona e montando minhas pernas. Leonello segura
meu pescoço e move o quadril para frente, deixando-me sentir sua
ereção em minha barriga.

Arregalo os olhos, impressionada com o volume e com a


mudança de atmosfera. O homem é um macho alfa, viril, possessivo
e gostoso pra cacete.

— Imaginária o caralho. — Resmunga e beija minha boca,


cheio de paixão, ajustando as pernas para se mover como se
estivesse me montando.

Sua dureza estimula meu clitóris, mesmo com sua calça


social e meu short leve do pijama, a cada investida. Leonello puxa o
quadril para trás e o traz de volta, me fodendo a seco enquanto sua
língua abre passagem entre meus lábios até se entrelaçar com a
minha. Gemo, deliciada, cravando as unhas em seus ombros, onde
o colete não o protege, querendo-o com tanto fervor quanto ele
demonstra.

— Leon, eu vou... — Sussurro, minha voz soando estranha


até para os meus próprios ouvidos.

É como se fizesse anos que o desejo. Minutos de beijos e


suas investidas sobre peças de roupas me levam a borda. Ele puxa
meu lábio inferior entre seus dentes, os olhos verdes presos nos
meus. Jogo a cabeça para trás, revirando os olhos, ondulando sob
seu corpo grande e forte.

Leonello aperta meu pescoço, tirando meu ar por segundos,


e é suficiente para me fazer gozar loucamente. Sua boca na minha
cala meus gemidos até que eu desça do voo orgástico e não
aguente manter meus olhos abertos.
CAPÍTULO 08

Depois que Serena adormece em meus braços, coloco-a na


cama com cuidado e sigo até o banheiro para cuidar da ereção
fodida na minha calça. Um sorriso tolo me pega de surpresa,
surgindo em meu rosto com a constatação de que nem na
adolescência passei por algo assim. Ela será minha quando for
minha esposa e estou sofrendo a cada maldito segundo desta
espera, cedendo ao desejo primitivo e tomando o que posso.
Serena gozando é a coisa mais linda que já presenciei e agora
minhas bolas roxas são em sua homenagem.

Após conseguir acalmar-me o suficiente, porque totalmente


tem sido impossível desde que estou louco pelo pequeno furacão
adormecido, retorno para o quarto, e a observo por um tempo. Hoje
um vínculo de confiança começou a ser criado. Confiei em Serena
para falar sobre Tito e ela mostrou-se preocupada, disposta a entrar
no jogo para me ajudar a provar. Gostei da sensação que senti, da
confiança de dividir, mesmo que com um pé atrás, a testando de
certa forma.

Meu celular vibra no bolso da calça e o retiro para ver uma


mensagem de Santino, informando que os Subchefes chegaram,
exceto Lucio que não mandou nenhuma mulher de sua família para
a Itália, uma vez que as filhas casadas são responsabilidade dos
maridos e ele é viúvo há alguns anos.

Envio uma mensagem para Romeo, informando-o sobre


minha saída do quarto de sua irmã. Precisei colocar as cartas na
mesa para o sujeito e recebi seu apoio, o que mostra o desespero
para ver Serena livre do infeliz. Concordamos em manter seu quarto
sob vigilância e agora que preciso me reunir com meu pai, ele ficará
cuidando dela.

Não me surpreendo ao sair do quarto e encontrá-lo sentado


algumas portas depois, vigiando mesmo sabendo que eu estaria.

Aceno com a cabeça, respeitando-o pela forma como se


importa com Serena. Passo no quarto em que deixei minha mala,
tranco a porta e tomo banho rapidamente no banheiro acoplado.
Visto-me, o colete como uma segunda pele antes de qualquer coisa,
principalmente estando em uma casa com homens que não confio
nem se me pagarem. Preparo-me para a missa, uma vez que o dia
está amanhecendo. Coloco o meu traje social costumeiro, sapatos e
relógio. Ponho um maço de cigarros e isqueiro no bolso e minha
faca e pistola na cintura por precaução.

Ao chegar ao escritório, vejo meu velho com a expressão de


poucos amigos e Santino se servindo de vodca pura. Acendo um
cigarro e sento-me na quina da mesa.

— E então?

— Você pediu que eu buscasse notícias com meu


informante na casa dos Vinatti. — Ludovico começa nada feliz. —
Acontece que Antonio Fontana só entregou a filha porque Vitto já o
havia colocado contra a parede.

— Foda-se. — Praguejo já prevendo o que está por vir.

— Romeo e seu... bem... Vinatti tem foto de Romeo


comprovando a homossexualidade.

— É, meu amigo, precisamos matar Tito o mais rápido


possível.

— A culpa recairá sobre os Fontana. — Papà externa o que


eu havia começado a imaginar. — Para que Vitto não tente fazer
uma gracinha, Antonio precisa estar mais forte do que ele.

— Sendo meu sogro. — Completo. — A união Fontana e Di


Accorsi irá foder o velho infeliz e o filho viciado.
— Touché. — Ludo diz. — Mas preocupo-me com sua
obsessão por Serena. Este problema não precisa ser nosso.

— Não é nosso. Serena é minha. — Informo resoluto.

Santino ri e quase cospe vodca. O olho feio.

— Foi paixão à primeira vista, Ludo. — Seu tom zombeteiro


arranca um sorriso do velho.

— Eu vejo. Está em nosso sangue. — Comenta orgulhoso.


— Apaixonei-me à primeira vista por Desirée e minha menina é
apaixonada por você, Santino. E você irá se casar com ela.

Isto faz-me sorrir. Papà sempre colocou meu amigo na


parede, como se ele fosse qualquer um dos desejos de Maria os
quais ele sempre moveu céu e terra para realizar.

— Que os Di Accorsi são fodidos eu sempre soube.

O velho Ludovico e eu não negamos, apenas rimos.


Passamos mais algum tempo conversando, criando uma estratégia
para colocar minhas mãos em Tito, mas com a mansão cheia de
hóspedes se torna impossível agir. A maneira de conseguir algo
será tirando todos de casa e dando fim ao maldito bem longe da
área em que nos encontramos.
Em uma situação normal, nunca estaria hospedado com
estes filhos da puta. Serena é o único motivo de eu estar aqui.

Estando em Veneza dona Desirée não perdeu a


oportunidade de nos arrastar até a Basílica de São Marcos.
Localizada na Praça São Marcos, ao lado do Palácio Ducal, é o
templo religioso mais importante da cidade. Historicamente foi o
centro da vida religiosa veneziana.

Não os acompanhei por mais que meia hora e retornei para


a mansão, consciente de tomar uma atitude que já tardei o bastante
para tomar.

O susto de Antonio Fontana ao me ver sentado em sua


cama é impagável. Seus olhos crescem ao ponto de quase pularem
de órbita. Bebo um gole do uísque que encontrei no minibar,
esperando uma reação de homem.

Ele puxa sua arma e a aponta para mim. Coloco minha


pistola e faca sobre a cama, ao meu lado, e alerto:

— Vim em missão de paz.

— Invadiu o quarto, stronzo! — Xinga, puto.


— Não veja isso como uma afronta. — Fico de pé e aponto
sua cama. — Sente-se, beba um pouco de uísque.

— Você só pode estar brincando, Di Accorsi maldito!

Paro e arqueio a sobrancelha, impaciente. Dou a volta na


cama e caminho até a janela, de costas para ele, observando a área
externa.

— O seu futuro genro, eu tremo de dizer isto, porque é de


admirar que você tenha dado sua filha a um pedaço de merda como
Tito Vinatti. — Começo a dizer, atento aos seus passos lentos atrás
de mim, até que para no lado oposto ao que estou, sem soltar o
revólver. — Ele mandou dois vagabundos atearem fogo na nossa
carga de cocaína. Para despistar o roubo que eles fariam. Vou te
fazer duas perguntas, Fontana. Você é um homem inteligente e
sabe que também sou.

Seu rosto fica pálido e isto evidencia desespero. Seja por


acreditar que seu plano de casar sua filha para o segredo do seu
filho não ser exposto está prestes a ir pelo ralo ou por ele estar
envolvido no jogo sujo de Tito.

— Cuspa esta merda. — Ele rosna, caminhando até a cama


e colocando a pistola sobre a mesma, trêmulo ao ponto de não
conseguir disfarçar.
— Você está com ele neste plano? Roubar carga e vender
por aí?

— Está louco? Anos e anos sendo um homem feito, acredita


que me mancharia com um roubo de carga?

— Acredito que se manchou oferecendo sua filha como fez,


mas minha opinião não vem ao caso. — Dou de ombros.

— Vocês se acham superiores, não é? Seu maldito pai, sua


mãe, você...

— Não comece o surto. Está nervoso e entendo, não


contava com isto. Mas é um Subchefe respeitado, use a porra da
cabeça como sempre faz.

— Você não está aqui por bondade. O que quer?

— Justamente onde entra nossa segunda questão. Sei que


está de rabo preso com Vinatti. — Coloco o copo agora vazio sobre
o batente da janela e, calmamente, ciente de que Antonio se
contorce nesse meio tempo, retiro um cigarro do maço, o acendo e
dou uma longa tragada antes de soprar a fumaça pela janela e
continuar: — Você sabe uma maneira de ele não poder expor
Romeo? Unindo forças com quem é mais forte do que ele. — Jogo a
isca e o encaro com seriedade. — Permita que Serena seja minha
esposa.
O homem leva a mão ao peito, massageando
involuntariamente, prestes a ter um colapso. Seria um milagre se ele
caísse duro e morresse agora mesmo.

— Você quer se casar com a minha filha? — Ele ri,


desacreditado. — Isso vem desde quando?

— Desde que a vi no escritório. Serena é linda e corajosa.


Não é para alguém como Vinatti.

— E é para alguém como você? — Antonio bufa e senta-se


na poltrona ao lado do minibar, recuperando a compostura, o
mafioso assumindo e entrando para negociação.

— Não. Serena não é para ninguém, na realidade. Ela é


demais para qualquer homem. Mas eu garanto que vou tentar
chegar perto e nunca irei feri-la ou depreciá-la. — Sorrio falsamente.
— Mas isso não importa a você, não é mesmo? Você está
preocupado com o romance do seu filho ser descoberto.

— Não me tire como vilão aqui, Leonello. — Ele passa a


mão pelo rosto, parecendo perturbado. — Meus filhos... Sempre os
protegi. Do meu jeito, mas o fiz. Se todos souberem que Romeo
está envolvido com um homem, até mesmo Serena terá a imagem
manchada. A máfia é retrógrada. Não fui eu quem fiz as regras.
Além disto, Serena sofreria muito com a punição de seu irmão.
Nisto devo concordar com o sujeito. Não fizemos as regras,
mas somos obrigados a seguir. Um membro desonrado em uma
família mancha todos os outros. Uma jovem solteira ficaria mal
falada com qualquer sujeira que saísse sobre os homens feitos de
sua casa. Não que Romeo desonre algo. É um soldado honrado,
mas não são todos que pensam assim. Ele seria morto sem dó nem
piedade.

— Estou dando a você a chance de sair do buraco que se


enfiou com os Vinatti.

— Não há o que pensar. — Analisa-me e com olhar de


conhecimento questiona: — O que vai fazer com ele?

— Terei uma conversa com Vitto. Espero que ele dê um jeito


no filho. Na próxima vez, falarei diretamente com Aquiles. — Minto,
nem um pouco interessado em contar a este merda os meus planos
de dar fim a Tito.

Deixo a binga do cigarro dentro do copo na janela e saio do


quarto, satisfeito por ter resolvido esta parte. Contudo, a ira me
consome ao me deparar com Serena saindo do quarto em que o
maldito Tito está hospedado. Ela parece suada e seus cabelos
estão bagunçados.

Encarando algo no celular, caminha distraída e só me vê


quando quase tropeça em meu pé. Cruzo os braços e espero uma
explicação.
Serena ri, o que me deixa ainda mais furioso.

— Eu tentei encontrar algo no quarto dele. Não há ninguém


lá, ciumento. — Ela bate na minha bunda e passa por mim, como a
desgraçada engraçadinha que é.

— Mandei você ficar fora disso.

Ela me olha sobre o ombro e faz uma careta de falsa tristeza


ao dizer:

— Você não manda em mim, gostosão! — Sopra um beijo e


entra em seu quarto.

Mulher do caralho.

Sorrio ao ver Aquiles Esposito, meu grande amigo e futuro


Capo. Ele sorri e aperta minha mão com satisfação evidente em seu
rosto sacana, logo repete o gesto com Santino.

— Meus amigos na porra da Itália! Tenho dois homens num


galpão para serem punidos. Que tal? — Ele nos convida para o que
para ele significa diversão.
— Você pode não acreditar, mas dispenso. — Santino diz,
encarando a prostituta loira esfregando o mamilo e sorrindo para
ele. — Essa noite preciso trepar.

— Vá, meu amigo. Escolha quais quiser. — Aquiles aponta o


clube com satisfação. — Este tem as melhores putas de Veneza.

Santino chama duas delas, a loira que fez de tudo por sua
atenção e uma oriental.

— Como está sendo voltar a viver na Itália? — Pergunto,


interessado.

Aquiles esteve em Manhattan por alguns anos, como um


soldado normal, seguindo ordens de seu pai e mexendo os
pauzinhos dos negócios legais para que os ilegais prosperassem.
Aprendi muito trabalhando com ele. Tivemos a nossa quota de vida
selvagem. Ele retornou a Veneza há pouco tempo, certamente para
se tornar Capo muito em breve.

Enquanto Santino faz a proeza de se embrenhar com as


putas, Aquiles conta boa parte do que tem acontecido após seu
retorno. A maior novidade é uma mulher russa, Yeva, que o salvou
anos atrás e agora está sob sua proteção, mas isso tem causado
ataques russos, pois a mulher é filha do maldito Pakhan da Bratva.

E eu pensava que minha vida estava fodida.


O clube, realmente, é o melhor, como Aquiles salientou. E
embora esteja relaxado, bebendo, fumando e conversando com um
velho amigo, percebo a falta de interesse nas mulheres que fazem
de tudo para chamar minha atenção, principalmente tendo a estrela
em ascensão da máfia italiana ao meu lado.

Embora Santino quisesse tempo para se afundar em duas


bocetas, o trouxe do clube apenas uma hora após chegarmos. Não
podia fazer a desfeita de vir aqui e não encontrar Aquiles, todavia,
demorar me enlouqueceria, pois a segurança de Serena é minha
maior preocupação.

No momento que passo pela porta da grande sala da


mansão, o cheiro de sangue toma meus sentidos e ouço os passos
duros de Santino, de quem percebe o mesmo.

Empunho minha pistola e inalo, buscando qualquer sinal.


Um gemido masculino me leva até a cozinha. Atrás do balcão
encontro Romeo ensanguentado, segurando a barriga e gemendo
de dor.

— Que porra é esta, Romeo? — Grunho, sentindo meu


sangue gelar.

Ele arregala os olhos para me ver e tenta puxar meu braço,


mas seu rosto se contorce de dor e volta a segurar a barriga.
— Tito... Mate-o. Serena não pode se casar com ele.

Abaixo-me à sua frente, pegando meu aparelho celular e


exijo:

— O que aconteceu? — Começo a discar para a


ambulância.

— Vou procurá-lo. — Santino avisa e ouço seus passos se


afastando.

— Não ligue. Não adianta. Isto aqui... — Romeo tosse. —


Estou morrendo... Eu o subestimei. Tito... — Engasga e cospe,
sangue caindo por seu queixo e camisa clara. — Ele tentou entrar
no quarto da minha irmã, mas eu estava esperando e o peguei. O
puxei e o trouxe para cá, trocamos socos... mas não peguei arma e
ele me esfaqueou no meio da briga.

— Você é burro, Romeo? Desgraçado! Pressiona a porra


dessa barriga. Vou levá-lo para o carro e cuidar disso. Cadê nossos
pais?

— Leon...ello! — Engasga e tosse, segurando meu braço. —


Mate-o e esconda. Diga que você me matou. Os Subchefes foram a
um clube para se reunir com amigos.

— Você está louco, porra?


— O pai dele... o pai dele tem fotos minhas... — Olha-me
com intensidade, sem saber que sei desta parte, e começa a
engasgar, tossindo. Tiro o lenço da minha calça e entrego em sua
mão. Desnorteado. Serena vai ficar louca, porra. — Vitto tem fotos
comprometedoras e vai humilhar minha família se souber que o fim
do filho dele foi por minha causa.

— Você não vai morrer. Pela sua irmã... seu merdinha...

Afasto-me e sento-me contra a parede do balcão, tiro um


cigarro do bolso e o acendo. Minha cabeça nunca esteve tão fodida
como agora. Dou uma longa tragada e tento raciocinar. Esta merda
pode gerar uma guerra de proporções épicas entre os Subchefes.
Minha intenção nunca foi ir a conselho para ganhar permissão. Ia
matar Tito e sumir com ele. Ninguém, além do meu pai e meu
melhor amigo, saberia, e Serena, é claro. Agora, Romeo Fontana
está morrendo na minha frente. Depois de seu pai ter permitido que
Serena seja minha esposa.

Ela me fez prometer que não machucaria seu irmão. E


agora seu irmão não quer ter sua merda jogada no ventilador pela
honra de sua família. Até porque ele estará morto para se defender
ou defendê-los. Foda-se, porra. Que situação agonizante.

— Prometa, Leonello. Ficará entre Santino, você e eu. Não


quero causar mais problemas a minha irmã. Sequer consegui
protegê-la de ser entregue a Tito e agora quase não a protegi de ser
abusada. Se vocês não chegassem, ele poderia ir até o quarto dela
depois de tudo.

— Sua irmã te ama. Não sei como ela pode ser capaz. E ela
não está ligando para essa merda. Tito fez uma merda enorme em
Manhattan. Seu pai permitiu que Serena se case comigo. Vim até
aqui para acabar com ele, porra. Era só você ter aguentado alguns
minutos sem levar uma facada. Ou ter ficado com a porra do colete.
— Levanto a barra da minha camisa e exibo o meu colete à prova
de balas. — Não fico sem essa porra.

Romeo revira os olhos e começa a agonizar. Ouço os sons


de passos arrastados, grunhidos e então o corpo de Tito é jogado
nos meus pés. Passo minha perna por cima do seu pescoço, coloco
a mão esquerda sobre sua boca, a cobrindo e enfio o cigarro em
seu olho. Ele se bate, grita sob minha palma e queima.

— Santino, o deixe no seu porta-malas. Leve-o para um


local seguro. Eu vou demorar com ele depois que resolver aqui.

Santino não hesita, ele chuta a cabeça de Tito, o apagando,


então logo o está arrastando para fora. É nesse exato momento que
ouço a voz:

— Romeo? Onde você se enfiou?


CAPÍTULO 09

Antes de encontrar meu irmão, eu sabia que havia algo


errado.

Então quando o encontro sangrando com Leon ao seu lado,


meu mundo paralisa. As ideias correm na minha cabeça e nada faz
sentido. Afinal de contas, que porra é esta? Não consigo verbalizar,
nem mesmo quando Leonello fica de pé e segura meu rosto,
chamando-me para uma reação. Meu irmão não reage, com o rosto
pálido caído sobre o ombro, o corpo forte e robusto, jogado de
qualquer jeito contra a parede e a mão que sempre segurou a minha
para passar segurança está banhada de sangue, segurando a
barriga.

— O que...? — Tento externar, mas engulo em seco, com


medo da resposta.
Leonello se afasta, passa a mão pelos cabelos curtos e
abaixa na frente do meu irmão. Logo toca a pulsação em seu
pescoço e solta um suspiro.

Diversas situações voltam à minha mente como um filme.


Vezes em que Romeo chegou com o rosto ferido porque Leonello o
agrediu após alguma provocação. Penso em Benício, vivendo em
nossa casa, em como Leon sabe da sexualidade do meu irmão. O
fato de ter me rondado até conseguir minha confiança. Tudo isso
era um jogo para acabar com a vida do seu inimigo quando tivesse
a oportunidade?

— Você fez isso? — Inquiro, ajoelhando-me na frente de


Romeo e segurando seu rosto, sacudindo-o para que volte a si.

Mas ele mal reage, as pálpebras tremem e os lábios entre


abrem quando meu irmão murmura:

— Leonello...

— Maldito! — Lágrimas caem pelo meu rosto, mas levanto-


me e tiro o celular do bolso.

— Serena, eu não o matei. — Ouço a voz imponente atrás


de mim, mesmo tentando ser manso, ele tem este ar de não se
importar, de dar ordens.

Viro-me para encará-lo, ódio me consumindo.


— Você é doente! — Grito, tentando, com dedos trêmulos,
encontrar o contato do meu pai. — Meu pai irá matá-lo. Farei
questão de estar lá para ver a vida saindo do seu rosto fodido!

A expressão de Leonello se transforma. E eu reconheço


este olhar, é o olhar do assassino, o mesmo que ele tinha em seu
rosto quando matou o homem do banheiro. Leonello avança em
minha direção e o desdém escorre de sua boca quando segura-me
pelos cabelos da nuca e força-me a encará-lo. Debato-me, tento
chutá-lo, cuspo em seu rosto e ele só rosna:

— Acha que seu pai pode me matar? Notícia em primeira


mão, Serena. Para me ameaçar, precisa ir em frente. E se ninguém
fez até hoje, o merda do seu pai não o fará. Outra notícia. Ele deu
você para mim. Somos noivos. — Seu lábio curva brevemente e ele
coloca um beijo de boca aberta na minha boca. — Você irá se casar
comigo. O mais rápido possível, suponho, agora que a família
Fontana não tem um herdeiro.

— Você é podre! — Finco minhas unhas em seus braços


para que me solte e limpo minha boca quando se afasta. — Nunca
vai se casar comigo. Nunca! Maldito!

— Foda-se. — Leonello pragueja e alerta: — Não me


ameace. Nunca, caralho.
Ele se afasta, como se tivesse visto o diabo em sua frente e
coloca a cabeça sob a torneira da pia, deixando que a água caia em
seu rosto.

Sinto o gosto da destruição me tomar de dentro para fora.


Por mais que queira cair no chão e me debulhar em lágrimas pelo
meu irmão, controlo-me e deixo que a ira vença a batalha em meu
interior. Aproximo-me novamente de Romeo no chão, agora com os
olhos abertos, o corpo imóvel, sem vida. Abraço o meu irmão, meu
melhor amigo e único homem que me amou e foi honesto. Enquanto
o mantenho em meus braços, procuro por sua arma, que sempre
está em suas costas, no cinto. A pego e lembro-me de quando
Romeo me ensinou a atirar. Uma lágrima desce pelo meu rosto e
sinto o gosto salgado na minha boca. Um soluço escapa junto com
um grito abafado. Por que?

Controlo-me, respirando fundo, mãos trêmulas. Ao me sentir


calma o bastante, viro-me para procurar Leonello e o vejo parado
contra a pia, me encarando. Ele já antecipou o que pretendo e nem
por isso se move. De qualquer forma, não me impede de empunhar
a pistola cromada, destravar e engatilhar na direção do seu
abdômen.

Leonello recebe o baque, mas ri. Levanto-me, tremendo e


disparo outro tiro. Leon abre a camisa social escura e exibe seu
colete à prova de balas com apenas dois rasgos. Se ele dorme com
essa coisa, não era de se esperar menos num momento em que ele
decide assassinar alguém.
— Você não tem amor à vida, não é mesmo? — Ele nega
com a cabeça. Abaixa-se e pega uma das balas e a guarda no bolso
da calça social.

Devido ao som dos disparos, vozes preocupadas começam


a se aproximar.

— Você tirou tudo de mim. — Minha voz falha e, vendo a


batalha perdida, começo a virar o cano da arma para mim mesma.

A expressão de Leonello se torna feroz e ele ameaça dar


um passo até mim.

— Não faz isso. Eu não fiz...

É então que a vejo. Maria. Ela passa pela cozinha e paralisa


ao ver o corpo no chão. A garota doce e amorosa, espevitada e
livre, mesmo nas circunstâncias que vivemos. Só que agora ela só
se resume a ser irmã de Leonello, o homem que odeio, que tirou a
vida do meu irmão. E é exatamente com a alma podre, consumida
pelo desejo de vingança, que viro a arma em sua direção e puxo o
gatilho.

O silêncio é sepulcral. O único som que pode ser ouvido é o


do gatilho sendo puxado. O tiro não vem. Maria me encara,
horrorizada e Leonello surge na minha frente, jogando a arma longe.
— Serena? — Maria engasga, sem entender.

— Ele matou o meu irmão. — Digo, finalmente chorando


sem conseguir controlar.

Mais vozes se aproximam. Logo a cozinha está cheia, todos


vendo meu irmão morto. Ele era a única pessoa que eu tinha e
agora... estou sozinha. Não estaria triste em estar só se ele tivesse
fugido para viver livre do preconceito. Mas assim... com Romeo
morto... isto me devasta.

— Tito fugiu. — Escuto uma voz masculina e conhecida


dizer.

— Porra, Santino. Que porra é esta? Ele conseguiu foder


dois homens feitos acima dele numa só noite? — Leonello vocifera.

— Você está sangrando! — Maria grita.

Encaro Santino e vejo sua cabeça ensanguentada. Deixo


meu corpo ceder e sento-me no chão da cozinha, segurando minhas
coxas e apoiando a cabeça entre os joelhos. Vendo as
movimentações ao meu redor e não sendo afeto de ninguém para
ser consolada.

Só pode ser um pesadelo. Fecho os olhos e imploro. Quero


acordar. Per favore, Dio.
Sinto braços me envolverem e meu corpo ser erguido. O
cheiro de Leonello faz com que eu queira gritar e fugir, mas não há
uma gama de força em meu ser e eu sei que ele vai me matar em
breve. Há pessoas que lutam pela vida bravamente, mas não serei
uma delas.

— O que vai fazer, Leon? — A voz de Maria chega até nós


quando ele começa a subir as escadas. — Não a machuque! Ela
está ferida o bastante!

— Volte para a cama, Maria. Isso é uma ordem do caralho.

— Por favor, Leonello. — Implora.

Leonello continua subindo e parece que as subidas curtas,


os passos lentos são propositais para me espezinhar. Ele chuta uma
porta e logo meu corpo está sendo colocado na cama. Não há
violência em seus atos, no entanto, quando se inclina para encarar
meu rosto, seus olhos mostram toda selvageria não usada
fisicamente.

— Sabe o que vai acontecer agora, Serena?

— Você vai me matar.

Seu lábio inferior curva brevemente em um sorriso


convencido. Quase diabólico. Eu o odeio. Como posso ter estado
pronta para confiar neste homem? Para me entregar a ele?
— Agora você irá dormir. Ou deveria ficar acordada,
vigiando, esperando. Porque irei matá-la. Não neste momento, não
agora, talvez não este mês. Mas quando menos esperar, estarei lá
enfiando uma bala na sua cabecinha linda. — Ele segura meu
queixo, impedindo que eu desvie o olhar. — Você me ameaçou,
atirou em mim e poderia ter fodido com a minha irmã em uma só
noite. Matá-la seria acabar com seu tormento. Agora... — Esfrega o
nariz contra o meu. Engulo o anseio de cuspir em seu rosto
novamente porque me sinto sem vida, fraca. — Agora descanse e
prepare-se para se casar e foder comigo até que eu te mate.

Isto traz a ira à tona novamente.

— Seu plano de ser um diabinho na minha vida não vai


funcionar, Di Accorsi maldito. Eu mesma acabo com a minha própria
vida antes de casar com você!

— Então a alternativa é fodermos antes de você ir para o


inferno.

Espalmo minhas mãos em seu peito sobre o colete e o


empurro, sem sucesso. Nossos olhos travados em uma batalha.

— Não toque em mim.

— Um dia eu disse a você, Serena Fontana, que sou um


homem que faz o próprio destino. — Leonello murmura, a voz baixa
e ameaçadora, o polegar subindo e descendo em minha bochecha,
mas até sua carícia é um afronte, uma brutalidade, a prova de que
estou à sua mercê. — Agora te digo mais. Eu sou o dono do seu
destino.

— Me deixa em paz! Você não percebe que a morte ou


jogos psicológicos não irão foder meu juízo porque você já fodeu
tudo? Você me tirou tudo! O meu irmão... Ele...

É impossível conter o choro. Leonello se afasta, ficando de


pé e agradeço aos céus por isto.

— Chore por esta noite. Quando acordar, lembre-se que


está viva porque eu deixei.

— Vá se foder!

— Junto com você, bianca.

Batidas na porta fazem com que eu salte na cama. Minha


cabeça bate na cabeceira de madeira, pois estava sentada, evitando
que caísse no sono, o que não foi bem-sucedido. Depois de chorar
até que meus olhos mal fossem capazes de ficarem abertos, fui
vencida pelo cansaço mental.

— Entre.
Se fosse Leonello, não bateria. Surpreendo-me ao ver a
Maria abrindo a porta e entrando.
— Como você está? — Maria inquire, então nega com a
cabeça. — Está mal, eu sei. Que pergunta idiota.

— Não, Maria. Não é idiota. — Meu peito dói de vê-la tão


sem jeito e preocupada depois de ter ficado claro que eu a teria
ferido se pudesse, mesmo que isto fosse me destruir mais do que
não ter meu irmão. Porque ela é inocente e incrível, me acolheu
como sua amiga em dois dias. — Eu... — Mordo o lábio inferior,
tentando conter o nó na garganta. — Sinto muito. Sinto muito. Se
tivesse machucado você nunca me perdoaria.

— Eu sei que não. Afinal, agora sou a irmã que você vai ter
que engolir. — Ela ri e chora ao mesmo tempo. — Sinto muito que
você tenha perdido o Romeo, sei a conexão que tinham. É o mesmo
amor que tenho por Leon... — Suspira e senta-se na beirada da
cama. — Desculpe citá-lo. Ouça, quero que saiba que sei que você
estava desnorteada. Estou aqui, está bem?

— Grazie. — Arrasto-me na cama até estar próxima dela e


seguro sua mão. — Também estou aqui.

— Seu pai está lá embaixo.

— O assunto de papà é com Leonello. Nunca foi comigo. —


Comento, recordando-me das palavras de Leonello, sobre como
agora sou sua noiva e papai não teve a decência de mencionar isso
ao longo do dia.

— Sinto muito.

Olho em seus olhos claros e deixo as lágrimas voltarem com


força quando ela me abraça. Não há como entender como Maria é
capaz de me perdoar e de confiar em estar perto de mim. Minhas
dúvidas são tão plausíveis que não demora para a porta estar sendo
chutada e seu irmão entrar, explodindo:

— Saia de perto dela, Maria. Eu a proibi de vir aqui sozinha.

— Ela é minha amiga, por Deus!

— Amiga que ia atirar em você.

Acabei de perder meu irmão e nem sequer posso sofrer em


paz por isto. Levanto-me enquanto eles discutem e sigo até o
banheiro. Olhando meu reflexo no espelho, vejo uma garota perdida,
derrotada, triste e indefesa.

Lavo meu rosto e continuo encarando-me.

O único jeito de socorrer a mim mesma é acabando com a


vida de Leonello Di Accorsi. Enquanto ele planeja me infernizar pela
eternidade, como o demônio frio e calculista que ele é, eu não
perderei qualquer oportunidade de matá-lo, como a garota regida
por emoções que sou.

Havia uma parte minha prestes a se apaixonar pelo mafioso


inescrupuloso e cruel, mas que só havia mostrado coisas boas em
relação a seu interesse por mim.

E agora só consigo sentir o amargor do ódio agindo como


erva daninha, consumindo-me.
CAPÍTULO 10

Há poucas coisas que não tolero na vida. Serena conseguiu


a proeza de fazer todas.

Após deixá-la na cama, enviei dois homens para buscar


papá, Antonio e o fodido Vitto Vinatti.

No momento em que os homens entram pela porta, não


hesito em avançar no último e presenteá-lo com um gancho de
direita. O infeliz, mesmo velho e decrépito, não demora a empunhar
sua pistola. Ludovico e Fontana cuidam de me segurar.

— O seu filho viciado do caralho matou o Romeo Fontana


sob o nosso teto! Agora me diga, quem irá pagar com a vida, visto
que ele fugiu como o rato que é?
O agarre dos homens em mim afrouxa, dois braços caindo
com a notícia. O pai de Serena.

— Por todas as vezes que fomos diplomatas, Vinatti... —


Rosno, minha voz baixa e mortal, enquanto solto-me do agarre do
meu velho e caminho até o bico de sua pistola que está colado em
meu peito. — Há um Subchefe que teve o filho assassinado, outro
com a cabeça fodida e o outro vai ser leal ao seu filho. Me diga
você, que porra vai fazer?

Ele olha entre nós, mas seu olhar para em Antonio.

— Antonio e eu iremos conversar.

— O caralho. — Praguejo, agarrando-o pelo colarinho.

— Figlio. — Antonio puxa meu ombro e seu olhar miserável


é a única coisa que faz com que me afaste. — Não me importo com
as provas que você tem, Vinatti. O meu filho está morto! Como isto é
possível, porra? — O homem se descontrola e o empurra contra a
parede, socando seu nariz em seguida.

Papà intervém, entrando no meio e vociferando:

— Basta, maledizione! Tito será caçado e morto. A sentença


é justa.
— Quanto às provas que você tem contra Antonio. —
Aproximo-me, alertando: — Queime-as. Serena será minha esposa.
Uma briga com os Fontana estará me envolvendo agora.

Ele engole, encarando-me mais surpreso do que qualquer


coisa. Isto era algo que Vitto não esperava. Assentindo com a
cabeça, coloca sua arma no cós da calça e abaixa o terno.

— Avisem-me quando encontrarem meu filho.

Os momentos seguintes são mais difíceis de lidar do que os


anteriores. Honestamente, detalhar todo o ocorrido a Antonio
Fontana, ver o homem chocado é fodidamente amargo. A pior parte
é levá-lo até o corpo do seu filho e ver a luta para não desmoronar.
O deixamos sozinho por algum tempo e meu pai alerta-me de como
fui inconsequente em comprar essa briga. Foda-se. Serena é minha
e não há volta. Mesmo que seja para nos matarmos.

Mais tarde, após ter encontrado Maria no quarto de Serena,


levo algum tempo sozinho no escritório, pensando em toda situação,
analisando alguns fatos, em como agi guiado pela emoção nas
últimas horas, algo que não fazia há anos. Incomoda-me que
Serena desencadeie este lado meu e, realmente, cogito abrir mão
da obsessão que nutro por ela.
Batidas na porta tiram-me de meus devaneios. Digo para
que entrem e logo aparecem Antonio e sua filha.
— Trouxe minha filha para que possamos conversar.

Serena está sem artifício algum, com os cabelos presos em


um coque alto, vestido preto simples e longo, o rosto mais pálido do
que nunca, evidenciando os olhos inchados, sem vida. Entram e
fecham a porta. Serena senta-se no sofá perto da porta e seu pai na
cadeira à mesa, ao lado oposto de onde estou.

— Conversou com sua filha? — Pergunto, olhando-a.

— Quando será o enterro do meu irmão? — Serena


pergunta, olhando diretamente para mim.

Observo-os, constatando toda e qualquer falta de


animosidade da parte de um para com o outro. Fontana não sabe
como demonstrar sentimentos ou dá-los a filha neste momento e ela
não percebe a devastação do pai.

— Seu irmão já foi enterrado. — Antonio diz.

— O que? — Seus olhos claros crescem de tamanho e sua


boca abre em descrença.

— Figlia...

— Você não teve decisão alguma sobre a morte do seu


próprio filho? Não tem vergonha de o deixar impune e ainda
decidindo coisas sobre Romeo? — Ela se exalta.

Encosto-me na cadeira e observo. O homem a encara com


raiva explícita.

— O seu irmão deixou que tirassem fotos dele com... Fotos


que irão trazer desonra à nossa família. Não podemos fazer um
grande enterro, não podemos trazer especulações, falas negativas
que irão respingar em você.

— Desonra? Para você é uma desonra meu irmão ter


amado e ter sido amado, mas não é desonra me entregar para os
piores homens de Manhattan! A única desonra desta família é você,
papà! — A desolação é evidente em sua voz e semblante, assim
como a revolta.

— Como vocês mesmos acabam de dizer, a família de


vocês é uma desonra. — Intervenho, vendo os punhais nos olhos de
Serena se voltarem para mim. — É por isto que iremos nos casar
em poucos dias, no próximo sábado. Para que haja alguma honra
para vocês.

— Não há graça em suas idiotices neste momento, Di


Accorsi. — Antonio resmunga, passando a mão pelo rosto cansado.

Serena fica em silêncio, o que me surpreende.

— Nada a declarar?
— O que eu posso dizer, Leon? — O sorriso em seus lábios
grossos é falso e a maneira como diz meu nome é quase como se
proferisse um palavrão. — Estaremos juntos até que a morte nos
separe. — E com isto, ela fica de pé e avisa: — Me comuniquem
sobre qualquer novidade ou apenas joguem os trapos que preciso
vestir no quarto, já que não tenho direito de opinar, porque se
tivesse jamais me casaria com um desgraçado como você.

— Dio...

— Acalme-se, Antonio. Você e Serena terão a proteção da


minha família enquanto não encontrarmos Tito. Vitto é capaz de
tudo para proteger o filho, então fique esperto. Serena e eu
retornaremos casados para que não haja chances de chantagens
dele quanto ao acordo de vocês.

Fico de pé, pronto para sair, mas ele me para.

— Leonello. — Engole com dificuldade e continua: — A


Serena... ela pensa que sabe muito, mas é imatura e foi guardada
na nossa casa, nunca teve dimensão do que, de fato, é a máfia,
além do que seu drama de ser obrigada a se casar cedo ou a prisão
de ouro em que foi obrigada a viver. Quando a entregar a você, não
terei mais direito algum, mas peço agora, não machuque a minha
filha.

— Eu não faço promessas que não posso cumprir, Fontana.


Há três dias não encontro Serena pela casa. Sei que após
ter sido colocado a par de tudo o que aconteceu, Ludo a odeia e não
tem permitido que Maria e Desirée se aproximem. Santino não
proíbe Bella, mas já alertou-me sobre ela ser louca e como acabarei
morto por pensar com a cabeça do pau. De qualquer forma, percebo
os movimentos da minha mãe, fazendo com que comida chegue ao
quarto de Serena e levando revistas de noivas, como se isto fosse
animá-la para um casamento uma semana após a morte de Romeo.

Parado ao lado do bar da sala principal bebendo uísque,


ouço cochichos de minha irmã e sua melhor amiga ao descerem a
escada e se depararem comigo.

— O que está acontecendo?

Bellarmina olha para todo o cômodo, menos para mim.


Minha irmã diz de uma vez:

— Serena não está no quarto.

Rapidamente considero as opções para o sumiço. Tito não


poderia entrar aqui sem ser visto agora que há mais de vinte
homens cuidando dos perímetros na área externa. Serena poderia
tentar fugir para fazer uma cena antes do casamento.
— Ela não pode fugir.

— Não, a gente sabe que não fugiu. — Bellarmina comenta.


— Ela está na piscina.

Semicerro os olhos, tentando entender o que ela está


deixando de contar. Bebo todo o conteúdo do copo e coloco-o sobre
a mesinha do bar. Encaminho-me para o exterior da mansão e ouço
os passos atrás de mim.

— Fiquem longe. — Advirto.

— Pelo amor de Deus, Leon. — Maria resmunga.

Não dou ouvidos. Em passadas largas sigo até a área da


piscina e surpreendo-me ao ouvir risadas. A primeira coisa que vejo
é Serena deitada de barriga para baixo numa das espreguiçadeiras,
a bunda redonda sendo coberta por tiras minúsculas e o biquíni de
cima jogado no chão.

Dois seguranças estão rindo e conversando com ela, como


se pudessem, os olhos passeando pelo corpo pequeno e curvilíneo.

Aproximo-me, sem alardes, e digo baixo:

— Fora daqui.
Serena nem se move, como se já antecipasse que isto fosse
acontecer. Provavelmente era o que ela esperava. Foder minha
paciência. Os homens saem rapidamente. Não há o que me
questionar.

A desgraçada sorri para mim.

— Lembra quando prometi a você que se machucasse meu


irmão, eu fugiria e foderia o primeiro que visse pela frente? Estes
dois são a prova de que não preciso ir longe.

— Você quer ser morta antes da hora, não é, Serena? Mas


não vou comprar seu joguinho.

— Tudo bem. — Cantarola, sentando-se, sem pudor algum


ao exibir os seios para mim.

O que a cena faz comigo em questão de segundos


surpreende-me. Convivo em bordéis, vendo putas nuas, e nunca
minha reação a uma mulher foi tão rápida desde que saí da
puberdade.

Caminho até estar em sua frente. Serena arfa ao ver meu


pau duro, quase rasgando a calça. Ela se inclina para pegar a peça
no chão, desviando o olhar. Seguro seu rabo de cavalo e a forço a
voltar.

— Ações geram reações, Serena.


— Qual é minha punição, meu senhor? Seu coração
batendo já não é o bastante?

Sorrio sem nenhum resquício de humor e abaixo, deixando


nossos rostos na mesma altura. Seus mamilos intumescendo são a
prova de que meu tesão louco continua não sendo unilateral,
mesmo que seja contra sua vontade, ainda que se odeie por sentir
isso acreditando que matei seu irmão. Para mim, é simples. A
foderei o quanto quiser e puder e depois ela vai pagar por ter me
ameaçado e tentado contra a vida de Maria. Todo o carinho e
confiança que começava a nutrir por Serena foi para o inferno no
momento em que ela fez o que fez.

— Sinto falta de ter esta boca maldita na minha.

Com raiva, ela murmura:

— Sentirá para sempre.

— É mesmo? — Murmuro, rouco, vendo suas pupilas


dilatarem.

Serena cobre os seios, as mãos pequenas com as unhas


tingidas de vermelho sangue tornando tudo ainda mais difícil dentro
da minha calça.

— Você matou o meu irmão.


— Você atirou em mim duas vezes e tentou atirar na minha
irmã. — Não é um duelo de erros fodidos, pois a única errada é ela,
que é tola o bastante para não analisar a situação sem ser vencida
pela emoção.

Não sou eu quem irá guiar Serena pelo caminho da


sabedoria. Não sou a porra de um guru espiritual ou qualquer merda
do tipo. Se ela não enxergar por si mesma, nunca mais irá ouvir da
minha boca que não matei Romeo. Viveremos em pé de guerra até
que me canse e a deixe ser a boneca de vidro que seu pai a criou
para ser.

— Sua ação gerou isso, Leon.

— E as reações em cadeia não param, Serena. — Afasto-


me, sentindo minhas bolas doerem tamanho tesão, mas mantenho a
expressão fria. Retiro minha camisa e a faço vestir. Ela observa meu
colete, agora outro sem danos. — Vista esta porra. A próxima vez
que a vir de conversinha fiada, sem roupa, vou matar seus
acompanhantes na sua frente e cobri-la com o sangue deles.

— Eu te odeio! — Ela vocifera, os olhos azuis brilhando com


a emoção, ajustando a camisa no corpo.

Seguro seu queixo, fazendo seus olhos voltarem a encarar


os meus. Com um sorriso maldoso, digo:
— Eu não sinto nada por você.

Quando há dinheiro e poder envolvidos as coisas


acontecem da maneira que premeditamos. O casamento organizado
em uma semana parece mais um baile da realeza.

Evidentemente meus pais perceberam que a aliança que


formamos com os Fontana nos torna mais fortes e interessantes a
possíveis aliados, de forma que o casamento se tornou nada mais
que um ponto de encontro para mafiosos importantes de todas as
partes negociarem, principalmente diante da minha amizade com
Aquiles e a possível presença dos Esposito no “evento”.

Estar em Veneza proporcionou que a cerimônia ocorra em


uma das mais belas igrejas. O momento em que Serena entra com
seu pai pega-me de surpresa.

Acreditava estar acostumado com sua beleza, todavia agora


assemelha se a um anjo, causando um baque em meu peito que
não esperava. Os cabelos escuros estão presos em um coque largo
adornado por tranças no topo da cabeça, com o véu preso atrás
caindo por suas costas e arrastando-se atrás da cauda do vestido
de noiva adornado por pedras brilhantes, colado ao seu busto e
abrindo-se como os modelos de princesas na calda.

Minha.
A possessividade fora de controle vibra em meu âmago,
primitiva e selvagem. Nunca imaginei que desejaria tanto a uma
mulher e teria que lutar com todas as forças para manter o ódio
latente que ela obrigou-me a nutrir.

Entretanto, neste momento odiando ou não, caminhando


pelo extenso corredor entre tantos convidados que não significam
nada, Serena encara-me com olhos úmidos e não é pela emoção, é
ódio, desejo de vingar-se e luxúria sem controle, uma ligação fodida
e sem explicação que nos liga e obriga-me a vê-la como tudo o que
importa.

Minha esposa.

Minha.

Ela não se dirige a mim em momento nenhum, mesmo


ajoelhada ao meu lado, ouvindo as palavras do padre. Quando é
obrigada a dizer seus votos, é como se a tivessem esmagado dentro
de si mesma para que consiga externar tamanha blasfêmia.
Contudo, quando digo que Serena será minha até que a morte nos
separe, é a mais pura verdade, ainda que seja um de nós a acabar
com a vida do outro.

Ao trocarmos as alianças, sinto seus dedos trêmulos e sou


levado a um momento onde não há mais de duzentos convidados
nos observando. Somos minha esposa e eu, com a aliança que eu
escolhi deslizando por seu dedo.

Minha.

Quando o padre finalmente diz:

— Pode beijar a noiva.

A tensão que criamos, não desviando após a troca de


alianças, não permite que haja hesitação. Seguro sua nuca e beijo
sua boca com a calma que não tive na primeira vez que a provei.
Degusto seus lábios, sentindo todo meu corpo reagir, nos poucos
segundos que os convidados infelizes se mantêm calados. Serena
não retribui e sua relutância faz meu pau palpitar por ela.

Maledeta!

Minha.
CAPÍTULO 11

Na semana do casamento, vi Leonello apenas na piscina em


que quis tirá-lo do sério, mas eu que saí o detestando ainda mais.

Dei-me uma palestra sobre como seria necessário seduzir


Leonello para tê-lo vulnerável em algum momento. O que eu não
esperava era que fosse permanecer desejando-o com tamanha
loucura. Meu corpo o respondeu só com o estímulo visual. Obriguei-
me a lembrar quem ele é e o que fez.

A manhã de hoje foi um borrão e a festa pomposa, piorou.


Senti-me sozinha em meio a uma multidão. Até a família “real”, os
Esposito apareceram. Todos muitos sorrisos para Leonello,
demonstrando o quanto o estimam por sua amizade com Aquiles, o
futuro Capo da Cosa Nostra.
A cada segundo sentia-me mais enojada, com seu poder e
influência, com a bajulação das famílias inferiores, em como eu não
era ninguém para todos, só um bibelô que Leonello irá carregar a
partir de agora. Não mais Serena, mas sim a senhora Di Accorsi. A
esposa de um notável mafioso. Todavia, quando fui alguém, senão a
filha e irmã de mafiosos?

Agradeci aos céus ao me certificar que Leonello nos poupou


de uma lua de mel e até mesmo de nos hospedar em um hotel na
Itália.

Santino disponibilizou seu jato para voltarmos para


Manhattan junto com meu pai. Os dois passaram a viagem em
“reunião” e eu dormindo e acordando. Minha cabeça sempre a mil
por horas e o coração pequenininho, dolorido e despedaçado. A
falta de Romeo é quase possível de sentir em meus ossos. Meu
irmão sempre foi parte de mim e foi arrancado brutalmente.

Após o pouso, separamo-nos do meu pai. Ele seguiu com


seu motorista e nós estamos com dois homens de Leonello. Ambos
mantemos o silêncio, sem olhares, sem fingimentos.

Em poucos minutos chegamos a minha nova casa. Leonello


vive em Upper East Side e, como todo o bairro, sua mansão exala
modernidade. É grande, porém sem aquela sofisticação antiga como
a casa em que cresci. As janelas e portas duplas de vidro dão um
charme enorme, assim como o guarda-corpos, também de vidro,
que ladeia a varanda no andar térreo de fora a fora.
— Vá. — Leonello aponta a porta do veículo para que eu
saia. Pela primeira vez falando comigo após o “sim”.

Saio do carro sem fazer alarde, sendo seguida por um dos


seguranças, mas o sentimento amargo de saber que realmente sou
nada para ele me enerva quando vejo o veículo acelerando e
manobrando para levá-lo para longe. Ele tirou o que eu mais amava
e nada mudou em sua vida fodida. Porque é isso o que ele faz.
Destrói a todos, sem dó nem piedade.

Respiro fundo, lembrando que quanto mais longe ele estiver


melhor.

O portão de grade abre automaticamente e os outros


homens nem olham em minha direção. Caminho pela área externa,
conhecendo tudo enquanto ajeito meus pensamentos. Há um lindo
jardim, uma garagem enorme com muitos carros e motos, piscina,
academia e uma quadra de tênis. Levo meia hora, no mínimo,
conhecendo tudo. O guarda mal parece respirar, tão silencioso, que
nem seus passos são ouvidos. Uma sombra, de fato.

Então crio coragem para entrar na casa. A porta está aberta,


mas não há ninguém aparentemente. Caminho pela sala,
observando a arrumação masculina e moderna nas cores cinza,
preto e branco. Sinto-me exausta e me sento no sofá, sem
animação para mais nada.
Estou sem minha mala, sem celular e sem ideia de como as
coisas serão daqui para frente. Leonello vai me deixar aqui e
pronto? Observo a aliança grossa em meu dedo anelar esquerdo e
sinto como se fosse uma coleira. Não que vá ter o mesmo peso para
ele.

Levanto-me e começo a caminhar pelo andar térreo. Na


cozinha encontro duas mulheres cochichando alto o bastante para
que eu saiba que estão falando sobre mim. Saio e as deixo à
vontade. Afinal, mesmo esposa, a intrusa aqui sou eu. É como
sempre irei me sentir. Meu cansaço mental é tão grande que sinto
dor física. É tenebroso me sentir assim.

Retorno para a área externa, dessa vez caminhando até o


perímetro na lateral da casa, e vejo um jovem, aparentemente da
minha idade, limpando a piscina.

— Bom dia!

Seu corpo endurece ao olhar sobre minha cabeça e ele não


responde. Ótimo, é óbvio que minha sombra o intimidou. Refaço
meu caminho de volta e finalmente subo para o andar superior.
Entro no primeiro quarto e vejo que não é de Leonello. Suspiro,
tranco a porta antes que o homem se ache no direito de me seguir
até na porra do banheiro e me jogo na cama.

Assim serão meus dias? Prisioneira no que deveria ser


minha casa? Sem direito a trocar palavras com ninguém? Tudo isso
por me rebelar pela morte de alguém que amo?

Tenho a impressão que dormi por dois dias seguidos, mas


olhando a hora no relógio no móvel ao lado da cama vejo que foram
cinco horas de sono. Levanto-me e olho o closet, constatando que
está vazio e não há nada para eu vestir após o banho. Sigo até o
banheiro, me dispo e tomo um longo banho. Lavo os cabelos com
os produtos masculinos disponíveis, me depilo, hidrato a pele e
passo algum tempo só pensando na vida, analisando tudo,
lembrando-me de Romeo.

Saio, me seco e visto o roupão. Cuido dos cabelos e penteio


os fios, encarando-me no espelho, vendo a sombra de uma garota.

O pior de todos os sentimentos é a solidão. A realidade dura


de que não há ninguém por mim e para mim. Uma lágrima escapa
sem que eu nem perceba. Forço um sorriso e a afasto. Está tudo
bem. Continuo cuidando de mim mesma para tentar me sentir
melhor, mas nada adianta.

Ouço o som da maçaneta da porta e meu pulso acelera


imediatamente. Está trancada, o que leva a socos brutos virem em
seguida.

Levo a mão ao peito, tentando controlar os batimentos


desenfreados. Por que, no inferno, saber que ele está aqui me
agita? Isso não é coisa do segurança. É Leonello. Encaro-me no
espelho e não vejo mais a sombra. Meus olhos brilham e meu corpo
pulsa. A raiva que sinto é vida. A luxúria, o tesão...

E não demora para a porta estar sendo chutada contra a


parede. Continuo penteando o cabelo, tentando acalmar a
respiração, forjando uma expressão de gelo.

— Por que esta porta está ficando trancada, porra? — Ele


rosna ao me encontrar.

— Estava. Você acabou com a chance de trancá-la


novamente. — Digo, sem encará-lo.

Leonello não fica parado por muito tempo. Ele inala e se


aproxima.

— Meu cheiro. — Murmura, logo sua mão está segurando a


minha e afastando o pente. Ele puxa meus cabelos e exibe um lado
do meu pescoço, onde inala novamente, seus olhos trancados no
meu pelo reflexo do espelho. O verde das íris quase totalmente
escurecido. — Caralho, Serena.

Por que a pessoa que mais odeio no mundo é a pessoa que


causa esse rebuliço em meu corpo? É tão colossal, chega a ser
físico. Minha pele queima, meu sangue bombeia ferozmente, a
vagina lateja e os seios doem, bicos intumescendo. Dio! Fecho os
olhos com força, engolindo.
Ele sobe a mão por minha barriga e, mesmo com o roupão
cobrindo, é como se me tocasse, pois sinto a pele incendiando
como um rastro de fogo.

— Meu cheiro em você, minha aliança em seu dedo... sabe


o que falta, bianca? — Murmura, beijando meu pescoço, os olhos
semicerrados, desejosos, a mão subindo até espalmá-la em minha
garganta, enforcando levemente daquele seu jeito possessivo e
bruto. Ele empurra seu pau grande e grosso em minha bunda,
fazendo-me morder o lábio para conter um gemido. — Falta eu
comer você, falta você sangrar no meu pau.

Sinto minha boceta pingando, aperto as pernas, tentando


amenizar o desejo cru e vivo. Como é possível?

Leonello puxa meu queixo e beija minha boca. Retribuo,


febril de desejo, doente pelos sentimentos desenvolvidos por esse
homem. O vórtice de loucura, ira e tesão em que Leonello me
coloca, irá me levar à insanidade. Ele desce a mão por minha coxa,
erguendo-a e levantando a saia do roupão. Sua mão sobe pela
minha bunda e ele massageia de forma rude, abrindo as bandas e
enfiando o pênis, mesmo vestido. O desejo de Leonello é brutal
como o meu.

Fecho os olhos e posso quase sentir seu membro me


rasgando e é isto que desejo. As sensações, a certeza de estar viva.
Ou morrer de uma vez por todas. Não ser uma sombra de mim
mesma.

Com as mãos trêmulas, abro o roupão e o faço cair por


meus ombros. Leonello se afasta para que caia aos meus pés e
seus olhos me comem de forma tão voraz que quase esqueço quem
somos, só pelo desejo de ter este olhar voltado para mim sempre.

— Você é a filha da puta mais bonita de Manhattan. —


Murmura quase em desgosto. — Como pode? — Sobe a mão por
minha barriga, observando-me pelo espelho, seus olhos no meu,
conhecendo a luxúria tão presente, dominando-me por completo.
Sua mão sobe até segurar um dos meus seios. Aperta-o e
impulsiona os quadris contra minha bunda, deixando-me louca com
sua dureza. — Você me quer dentro de você, hum? — Beija minha
mandíbula e brinca com o mamilo duro de tesão. Segura meus
ombros e me coloca de frente para ele. — Diga para eu parar e
paro.

Passo a língua entre os lábios ressecados e o encaro, ciente


de que depois do que eu disser, Leonello vai me matar. Eu prefiro
ser morta a ser dependente da sua presença para sentir qualquer
sentimento, mesmo que seja ódio.

— Não vou sangrar no seu pau. — Cuspo as palavras,


mesmo que seja difícil. — O sangue é só na primeira vez. Eu já
estive com homens o bastante para saber que não há uma gota
para você.
As batidas do meu coração certamente podem ser ouvidas
diante do silêncio sepulcral. A única mudança na expressão de
Leonello é o fogo em seus olhos, a forma como o olhar de assassino
surge. Sua mandíbula endurece e ele puxa o revólver de trás da
calça. Fecho meus olhos e espero.

— Talvez seja doentio, mas é isto que sou, não é? — Ele


comenta, com a voz calma, como se falasse sobre o tempo.
Batendo com a pistola na pia, aponta: — Sobe e abra estas pernas.

Obedeço à exigência e me sento no mármore frio,


esperando tudo e nada, porque Leonello é imprevisível. Burrice a
minha de acreditar que me mataria e só.

Ele abre o cinto, desabotoa a calça social e expõe o pau


cheio de veias, longo e grosso como eu havia sentido antes. A
cabeça polpuda e rosada está molhada de líquidos pré-
ejaculatórios, as veias proeminentes brutas como ele todo. Leon se
masturba e o direciona até minha entrada.

Mesmo com uma arma apontada tocando minha coxa,


minha boceta parece pulsar querendo sugá-lo todo. Leonello se
ajusta e mete de uma só vez, arrancando um grito meu. A dor é
dilacerante, mas é mais do que eu precisava, pois o prazer que
toma meu corpo me tira da borda de solidão.
Leonello arregala os olhos, percebendo o óbvio, a
virgindade tirada brutalmente. Antes que diga algo, seguro seu rosto
e o beijo com violência. Ele continua completamente parado. Afasto-
me para encará-lo e alerto seriamente:

— De você eu não espero amor e sexo romântico, Leonello.


Me fode enquanto pode, seu desgraçado, porque vou matar você na
primeira oportunidade que tiver.

Ele empurra o revólver, jogando-o para fora da pia, fazendo


um som alto. Leon segura minha nuca, prendendo meus cabelos e
controlando minha cabeça, então me beija com uma calma
totalmente diferente ao que temos. Luto, mordendo seu lábio
inferior, tentando trazer à tona a violência, para odiá-lo ainda mais.
Afasta-se, encarando meus olhos, segura meu rosto em suas mãos
e parece dizer tantas coisas através do olhar, que soluço, ansiando-
o mais que tudo. Passando o polegar pelo meu lábio inferior,
arranca um gemido de mim ao empurrar seu pênis lentamente e
puxá-lo para fora na mesma velocidade tortuosa.

— Essa boceta gulosa é toda minha. Você é minha. Até a


morte.

— Até a sua morte.

Raiva cruza sua expressão suave, mas ele mantém o vai e


vem longo e lento, totalmente vestido diante da minha nudez,
beijando meu pescoço, brincando com meus seios, roçando sua
pélvis em meu clitóris e levando-me ao auge do prazer.

Leonello sai todo de dentro de mim e seus olhos brilham ao


ver seu pau ensanguentado, mesmo que pouco. Nesse momento o
instinto parece vencê-lo e me beija com crueza, batendo seus
dentes nos meus, puxando meu couro cabeludo, esfregando-se todo
em mim a cada arremetida. Sinto o gosto do sangue e mordo seu
lábio, ferindo-o também. Seu rosnado reverbera em todo meu corpo.
Ele se inclina e beija minha garganta, ombros, então seus olhos
fecham nos meus quando leva um seio à boca.

Aperto minhas pernas, sentindo a ardência e o desejo


duelando, o anseio de tê-lo mais, a necessidade de gozar. Tombo
minha cabeça para trás, batendo no espelho e gemo com sua boca
trabalhando no mamilo. Ele morde, lambe e suga. As mordidas na
carne me enlouquecem.

— Minha mulher gosta de dor. Eu vou te dar dor. — E morde


o mamilo, arrancando um gemido meu.

Leonello dá a mesma atenção aos dois seios e desce beijos


por minha barriga, até abrir minhas coxas e beijar meu clitóris. Ele o
beija como se beijasse minha boca, sugando-o levemente e o
estimulando com os lábios inchados. Com os dedos abre minhas
dobras e desce a boca, sem nojo, lambendo todo meu sexo. Sua
boca fica avermelhada do sangue e ele lambe os lábios, os olhos
presos nos meus. Isso é suficiente para que eu goze, gemendo e
convulsionando. Nunca um orgasmo foi tão forte antes. Seguro sua
cabeça, puxando os cabelos, sem sucesso, por serem rente à
cabeça. Ele me chupa com mais violência, mordendo os lábios
vaginais, esfregando a barba em minha carne.

Quando se afasta, beija minha boca sem pudores e não me


permitindo os ter, e volta a me penetrar, provocando-me só com a
ponta grossa, enfiando e tirando. Até que cravo minhas unhas em
seus braços, puxando-o e ele desliza todo.

— Agora eu vou encher essa boceta. Minha. — E goza,


lindo como um diabo, os olhos semicerrados, a boca entreaberta,
lábios carnudos inchados dos meus beijos, vermelhos da minha
virgindade.

Não lhe dou tempo para pensar no que fazer quando ambos
voltamos a realidade. Ele se retira e a ardência agora faz parecer
que minha vagina está pegando fogo. Sigo até o box em silêncio e
tomo banho sem olhá-lo.

Quando acabo Leonello já se foi. Estou sozinha novamente.


Não há vestígios dele além dos que deixou no meu corpo e
escorrendo entre minhas pernas.
CAPÍTULO 12

Se a foda com Serena serviu de alguma coisa, foi para foder


o meu juízo. A infeliz me deixou tão fora de mim que cogitei matá-la.
Imaginá-la com outros homens me despertou um instinto assassino
que nem mesmo traidores conseguiram trazer à tona.

Embora ela quisesse ser fodida, à minha maneira fiz amor


com ela.

Enquanto bebo meu uísque e observo a mesa do escritório


intocada, algumas lembranças retornam.

— Eu penso o tempo todo em você me devorando, Leonello.


E em como eu aprenderia rapidinho a devorá-lo. — A voz de Serena
quase pode ser escutada no ambiente, de tão vívida a memória.
Lembro-me de ter sido atraído por sua boca grande, pelo
olhar de tesão que não fazia questão de disfarçar e ímpeto
desenfreado.

Nunca me peguei com remorso antes, mas ter tirado sua


virgindade de forma rude não é algo de que me orgulho. Todavia, o
que mais me perturbou foi o fato de ter sido suave, mesmo quando
ela afrontou-me, com ameaças que me fazem querer apertar seu
pescoço. Maldita mulher que não sai dos meus pensamentos.

Deposito o copo sobre a mesa de mogno, ajusto a camisa


social amarrotada e levanto-me, logo saindo do escritório. A casa
está silenciosa, não há vida aqui, nenhuma evidência de que tenho
uma esposa. Nada mudou. Por algum motivo que não sei, esta
merda me corrói. Talvez por ter vivido poucos, porém intensos, dias
em que cogitei que Serena e eu seríamos parceiros para a vida.

Reluto em subir, ciente de que não há o que demonstrar a


ela. Nós fodemos. Fim. Embora esteja me sentindo mal com toda a
configuração, com o rumo que as coisas entre nós tomaram, Serena
jamais verá este lado meu. Ser vulnerável já me custou caro pra
caralho e nunca me colocarei nessa posição novamente.

Surpreendo-me ao vê-la descendo as escadas, usando


minha camisa social de botões verde, com um tecido de cetim. Seus
cabelos escuros estão soltos e cheios, secos naturalmente,
volumosos, deixando-a ainda mais bonita do que já é.
— Preciso das minhas roupas. — Ela diz.

— Estão no nosso quarto.

— Nós realmente vamos ter que fingir aqui dentro?

— Não há fingimentos. Você é minha esposa, vai dormir e


acordar comigo.

— Talvez você considere dormir e acordar com as putas do


bordel mais próximo. Eu não quero dormir com você.

— Serena, ouça uma coisa. — Não me movo,


permanecendo no final da escada, enquanto ela continua alguns
degraus acima. — Você é minha esposa queira ou não. Está
grandinha o suficiente para saber como agir. Não tire a porra da
minha paciência.

Não há nada demais em transar com outros antes do


casamento em minha opinião, mesmo com todo o machismo da
máfia, nunca imaginei que algo assim importaria para mim.
Observando-a agora usando minha camisa, lembrando do seu
sangue em minha boca, do gosto da sua virgindade, sinto-me
possessivo pra caralho. Serena me levou a beira da insanidade com
uma mentira, sequer pude agir com racionalidade e perceber que só
queria me provocar. Estou obcecado por uma garota impulsiva, tola
e mimada. Mas esta parte, guardo para mim.
— Posso fazer o papel de esposa, Leonello, mas odeio
você.

— Sabe o seu mal? Apreciei sua coragem, impulsividade e


até a rebeldia nas primeiras vezes que a vi. Mas agora vejo que a
imaturidade que a leva a agir assim vem de raízes egoístas. Não
enxerga o que está diante dos seus olhos porque se prende num
lugar de vítima. Para você a vida inteira foi sofrida porque o papai
protegia. Não conhece o sofrimento de verdade e pensa que tudo se
define ao que conheceu. E agora acha que tem condições de ser
minha inimiga. — Subo os degraus até estarmos face a face. Suas
íris azuis brilham de raiva e mágoa. — Não sou seu inimigo, Serena.
Mesmo tendo prometido infernizar sua vida, sou um homem feito,
futuro Subchefe, meus dias são cheios pra caralho, com inimigos de
verdade para matar, com uma parte da Famiglia para controlar, com
armas e drogas a serem despachadas. Continue olhando o mundo
só do seu pedestal de princesa. Como seu marido, aconselho você
a crescer e olhar além. Fora isto, você se tornará a boneca que eu
nunca quis ter como esposa. Um fantoche. Uma casca sem vida.
Este olhar vazio, o semblante derrotado até que tem o meu pau
dentro de você e só respira pelo ódio e tesão. Vai se tornar
dependente de mim para respirar uma emoção real. Até que a
dependência vai fazê-la fraca e covarde. Vai aceitar migalhas de
mim e de si mesma. — Seus olhos lacrimejam, mas ela segura as
lágrimas. Continuo, sem dó, porque a verdade dura e crua pode
fazê-la reagir como mulher de verdade: — Tem a chance de
aprender comigo, só observando e convivendo. Ou pode tentar,
inutilmente, me matar e seguir me ameaçando até o dia que meu
juízo estiver fodido o bastante e você é que vai sair morta porque
não vou tolerar esta porra por muito tempo.

Como a garota perdida que é, vira-se sem se dignar a me


dar uma resposta e sobe, logo sumindo pelo corredor dos quartos.
Passo a mão pelo rosto, esgotado e puto comigo mesmo, pois não
deveria ter dado uma porra de palestra. Aprendi com pancadas, não
com um tutorial de máfia do caralho. Entretanto tê-la me odiando
pela morte do irmão, enerva-me. Se não fosse essa sua ideia
deturpada, estaríamos fodendo loucamente e procriando herdeiros
felizes. E eu não deveria me importar, mas me importo e não
adianta mentir para mim mesmo. A desgraçada mexe com a minha
cabeça desde a primeira troca de olhares. Movi todos os pauzinhos
para que se tornasse minha e, agora, o maior empecilho é ela
mesma.

Eu teria matado um exército para que Serena fosse minha.


Contudo, sou incapaz de matá-la. Encontro-me contrariado e
nervoso, sem me reconhecer. A racionalidade voa pelos ares
quando se trata dela.

Ter atirado em mim gerou gatilhos fodidos. Ter tentado


contra Maria levou-me a um lugar de desespero e imponência em
que nunca mais quis estar. Naquele momento Serena conseguiu
que eu a odiasse. E nem ali eu pude feri-la, embora quisesse e
tivesse imaginado mil formas de fazê-lo.
Desço os degraus que subi e retorno para o escritório. Papà
me deu dois dias para ficar em casa por conta do casamento. A lua
de mel que um sujeito merece. Certamente...

A cidade de Manhattan é considerada uma ilha, por ser


cercada de água em todas as direções. Isso é uma das maiores
facilidades para enviarmos cargas por navios.

Santino e eu passamos pela plataforma do porto até as


docas. Ambos armados com pistolas pequenas e precisas.
Silenciosamente, caminhamos até avistarmos o capitão, Franco
Dalla Costa, que sorri com seus dentes de ouro à mostra, e aperta
nossas mãos.

— Meus garotos.

Greco e eu não temos tempo para cordialidade, portanto


indo direto ao ponto, digo:

— Tenho duas cargas de armamento que precisam chegar à


Itália o mais rápido possível.

Passando a mão pela barriga rechonchuda, Franco


concorda com a cabeça.

— Ao seu dispor, Di Accorsi. Soube que se casou.


— A fofoca chegou aqui no mar? — Santino zomba e puxa
seu maço de cigarro. Retira um e coloca na boca, continua falando
com os lábios franzidos, segurando o cigarro: — Esse foi o motivo
de virmos pessoalmente. — Guarda o maço e pega seu isqueiro
zippo, acendendo e tragando antes de soprar fumaça no rosto do
capitão. — Estamos procurando uma pessoa.

— Tito Vinatti. — Franco completa. — A fofoca não chegou


longe. Chegou a mim, pois o próprio Antonio Fontana esteve aqui,
pedindo que eu não permita o sujeito na minha embarcação caso
ele apareça.

— Então o Fontana está mexendo os pauzinhos?

— É o que ele faz de melhor. Por trás dos bastidores. —


Franco ri com desdém. — Honestamente, não sinto obrigação
nenhuma com Antonio. Neste caso, se Vinatti oferecer mais...

— O caralho. — Rosno. — Se Tito passar para o lado de cá


e eu sonhar que veio em seus navios, eu te amarro e jogo no mar.
Está me ouvindo? — Alerto, sentindo que esta merda ainda irá
feder. — Sua lealdade tem que estar em algum lugar e se não
estiver comigo, está contra mim. Ele é uma ameaça para a minha
esposa e vou matá-lo. E a quem compactuar com ele.

— Acalme-se, Di Accorsi. Minha lealdade está com você.


Antonio é escorregadio, por isto não faria pelo pedido dele. Mas
tenha juízo, estamos ladeados de embarcações, não posso ser
responsabilizado...

— Pare o chororô e não faça merda. — Santino resmunga e


vira-se de costas.

— Amanhã neste mesmo horário traremos o carregamento.

Santino e eu retornamos pelo caminho até a praia e


seguimos até o carro dele.

— Você está tenso. — Ele resmunga ao dar partida.

— O que você quer? Chupar meu pau para dissipar a


tensão? — Rosno, impaciente.

— Vá se foder, porra. Casou com o demônio e agora que


está vendo o tridente espetando seu rabo, vai enlouquecer de vez.

Ligo o rádio do carro e aumento o som no rock que começa


a tocar. Guns N’ Roses explode no auto-falante e isso dá fim a
conversa fiada, embora não silencie as vozes na minha cabeça.

Deveria ir para o clube com Santino, mas ele me deixa em


casa a meu pedido.

Faz uma semana que casei e se vi minha mulher dois


desses dias, foi muito. Serena se isolou no quarto que escolheu
para si e não tive paciência para exigir que fizesse diferente. Enviei
Maria e Bellarmina com dois seguranças para que a
acompanhassem às compras. Minha irmã mandou mensagem
naquela noite, agradecendo e informando que foram a Times
Square e se divertiram.

Entro, de imediato, estranhando o cheiro de comida que


vem da cozinha. A cozinheira costuma vir duas vezes e deixar tudo
congelado para que eu só esquente no micro-ondas, então sei que
não se trata de funcionários. Em passos silenciosos, me encaminho
até o cômodo e sem me fazer percebido, observo Serena usando
um vestido azul curto, folgado, cabelos presos em um coque alto,
pés descalços, exibindo as unhas recém pintadas de rosa como as
das mãos. Porra.

Ela pragueja ao se queimar quando pega a panela sem


cuidado. Coloca-a sobre a pia e chupa o pulso, onde feriu.

— Merda. — Resmunga e aperta algo no celular, fazendo


um pop dançante começar a tocar.

A forma como meus olhos perseguem cada ato, cada


detalhe do seu corpo deveria me preocupar. Seus olhos parecem
vivos, aquele azul radiante que ela tinha antes de Romeo morrer. Ou
quando me teve dentro dela. As memórias tornam física a dor de
desejá-la, de querer espalhá-la sobre o balcão e lambê-la até ter
seus fluidos em minha boca. Minha obsessão por Serena é algo que
me tira do eixo, acaba com a racionalidade.
— Que susto, porra! — Ela chia a me ver de relance. Leva a
mão ao peito e se acalma do pequeno susto.

— O que está fazendo?

— Um jantar. Hoje é quarta-feira. Eu sempre cozinhava com


Romeo nesse dia da semana. — Comenta. Endureço, ciente de que
se respirar diferente, ela vai se trancar por achar que matei seu
irmão. — Fazer isto é uma forma de mantê-lo vivo. Sabe o que mais
me dói? — Serena me encara nos olhos, aquele azul vivo faiscando,
quase mudando de cor. — Não ter me despedido. Estava fora de
mim quando o vi naquela situação, não pude me despedir ali, e
depois e não pude enterrá-lo.

O caroço na minha garganta torna difícil de engolir.

— Eu não estou jogando nada na sua cara. Só hoje quero


fingir que não estou sozinha, que você não é o cara que odeio. Pode
sentar e jantar comigo?

Depois de tudo, sei que não há uma trégua rolando. No


mínimo, ela planeja me envenenar ou se aproximar, ganhar
confiança e me mandar para o inferno. De qualquer forma, admiro a
tentativa de mudança de estratégia.

— Não sabia que sabe cozinhar. — Digo, aproximando-me.


— Esqueceu que fui criada para ser a esposa perfeita? —
Ela bufa, de um jeito engraçado, fazendo uma mecha de cabelo
voar para cima.

Levo minha mão ao seu rosto e afasto os fios para trás da


orelha. Seguro seu queixo e roço o polegar no lábio inferior carnudo.
Serena respira fundo, olhos arregalando, a boca entreabrindo. Seu
corpo responde tão rapidamente ao meu toque, que todo tipo de
balela sobre conexões fora do normal surgem em meus
pensamentos quanto a toco.

— Gosto de chegar e vê-la.

— Eu... — Suspira e afasta-se, voltando sua atenção para o


que estava fazendo, colocando distância entre nós. — Preparei uma
salada de radicchio ao molho mel e mostarda para acompanhar o
nhoque de mandioquinha.

— Comida italiana. — Comento, mostrando o tom de


admiração, sentando-me à mesa.

— Papà sempre exigiu comida típica italiana na nossa casa.

— O bom patriota.

Serena ri. Observo ao redor com mais atenção e vejo uma


garrafa de vinho aberta no balcão. O vinho a relaxou, isso explica
tudo.
Ela olha na mesma direção que a minha e suspira, mas não
diz nada. Em poucos minutos a mesa está posta e ela senta distante
de mim. Mas se há uma trégua aqui ou armação, estou curioso para
entender o mínimo que possa ser entendível nesta mulher.

A comida está incrível e o sabor de estar sendo alimentado


por algo feito pela minha esposa faz meu peito inflar. Não há
veneno, pois a vi finalizando o prato e ela está comendo tanto
quanto eu. A não ser que a intenção de Serena seja ir comigo para
o inferno, o que seria uma jogada infeliz, pois eu a buscaria e a faria
minha em qualquer lugar.

Após ajudá-la com a louça, subo e tomo banho. Em seguida,


desço e a vejo, sentada no sofá, mexendo no celular e bebendo
vinho. Seus olhos me seguem, observando a camiseta branca,
shorts e tênis de treino.

Não é à toa que sou um “brutamontes”. Além de artes


marciais, faço exercícios físicos todos os dias, independentemente
do horário que seja possível. Geralmente a insônia sempre me leva
para a academia. Na última semana, o desejo insano de foder a
minha esposa tem feito com que eu treine o triplo do que é comum.

Bruno treina comigo e consegue socar meu queixo duas


vezes graças a minha distração, pois sinto o olhar dela a todo o
momento, visto que não levou cinco minutos para me seguir e
bisbilhotar.
CAPÍTULO 13

As lembranças da noite anterior retornam enquanto pisco os


olhos para me adaptar à claridade e meu cérebro assimila a dor de
cabeça causada pelo vinho.

Levou alguns dias para eu me martirizar por ter me


entregado tão depravadamente à Leonello. Foi difícil engolir o fato
de que provoquei o demônio e adorei cada segundo em que ele deu
as caras. Foi amargo o gosto da traição para comigo mesma. O
homem que prometi enviar para o inferno pela morte do meu irmão,
o mesmo que prometeu acabar com minha alma em vida, me comeu
suavemente, ainda assim demarcando-me com sua posse. A
imagem da sua cabeça entre minhas pernas e aqueles lábios
rosados de sangue nunca sairão dos meus pensamentos.

Pior do que a culpa, é como suas palavras na escada tem


me perseguido. Sou uma inimiga tão merda que ele me ensinou a
recuar e parar de agir com desespero.

O jantar com Romeo não acontecia há anos. Usei a


desculpa para me aproximar de Leonello. Deixar de lado o desejo
de atacá-lo com uma faca de serra foi difícil, mas ao longo prazo
valerá à pena.

Leonello se acha superior e, de fato, é. Aprender com ele é


a maneira eficaz de fazê-lo escorregar no seu próprio tabuleiro. As
peças serão movidas por ele, da maneira que ele sempre fez e
quando acreditar que tudo está ganho, sua recompensa será uma
bala na cabeça.

Não há armas ao meu alcance nesta casa e, ao que noto,


ele sempre está de colete à prova de balas. O desgraçado já teve
sua quota de quase idas ao inferno e mantém-se preparado para
qualquer coisa.

Levanto-me da cama, observando meu quarto, agora de


cabeça fria, percebendo a tolice de não ter aceitado dormir em
“nosso quarto”, afinal teria Leonello vulnerável dormindo.

Se é que o diabo dorme.

Caminho pelo quarto e paro na janela, o vendo na área


externa fazendo gestos para o segurança que vive como minha
sombra. Leon parece rude e sério e pergunto-me o que pode estar
causando essa reação.
Sigo até o banheiro e se torna impossível não ter
lembranças de nós ao ver a bancada da pia. Paro em frente ao
espelho e encaro-me. Isso é algo que tenho feito muito nos últimos
dias, como se uma resposta fosse surgir magicamente do reflexo.

Sigo para o banho e levo um longo tempo cuidando dos


cabelos e do corpo. É sempre uma distração. Quando desço para o
café da manhã, sento-me à grande mesa sozinha mais uma vez.
Bruno, minha sombra, faz seu papel perto da porta, sempre com os
olhos atentos a tudo.

— Se quiser me acompanhar no café, é bem-vindo. — Digo.

Em resposta, Bruno só assente com a cabeça, mas não se


aproxima.

Sinto-me inútil, sem nada para fazer, com os dias totalmente


livres, como uma boneca sem vida que vive para os compromissos
do marido. Reviro os olhos e não termino a refeição, seguindo para
a área externa. Encontro o rapaz jovem que cuida da piscina.

Desta vez fico na minha, percebendo que Bruno se mantém


afastado. Sento-me numa espreguiçadeira e aproveito a brisa fresca
da manhã. Está frio em Manhattan, mas nada anormal.
Particularmente adoro o clima como está hoje. Nem frio, nem calor.
Quase uma hora depois, uma sombra se impõe sobre mim e
me surpreendo ao ver Santino.

— Seu pai quer almoçar com você. Leon está saindo do


país por uns dias. Então pediu que eu a acompanhasse no almoço.

Meu marido está saindo dos Estados Unidos e eu nem fazia


ideia.

— Não posso almoçar sozinha com o meu pai?

— Para um bom entendedor, meia palavra basta. Seu pai


não é de confiança. Ele é como uma barata. E você atirou em dois
Di Accorsi em uma só noite. Jamais será de confiança.

Seu olhar é feroz ao citar aquela noite. Sinto um embargo na


garganta sempre que lembro a atitude imperdoável que tive contra
Maria. Ela é alguém que não merece ser ferida de forma alguma.
Jamais me perdoaria se algo tivesse acontecido de fato.

— Tudo bem. — Não há o que ser dito. Santino Greco está


certo, além de que está fora do meu interesse ter qualquer contato
com meu pai depois de tudo de qualquer maneira.

Não trocamos mais palavras mesmo durante o caminho


enquanto ele dirige feito um lunático e fico no banco do carona, uma
vez que dispensou Bruno, garantindo que é o bastante para lidar
comigo.
Chegamos antes do horário de almoço, mas entramos assim
mesmo e encontramos papai à espera. Sua expressão abatida
chama minha atenção e vejo-me preocupada, mesmo que tenha
muitas mágoas.

Surpreende-me ao levantar e dar um beijo em meu rosto e


puxar a cadeira ao seu lado para que eu me sente.

— Está tudo bem? — Inquiro, curiosidade e preocupação


enchendo minha voz.

— Só quero ver minha bambina. — Ele sorri, cansado.

Santino senta do outro lado, de frente para nós. Não faz


caso ao acender um cigarro dentro do estabelecimento e expulsar a
fumaça em nossa direção.

O almoço é, no mínimo, estranho. Não há assunto entre


meu pai e eu, de forma que se torna pior com o cão de guarda
faltando pouco rosnar a cada vez que escuta nossas vozes.

Um momento específico chama minha atenção. É quando


chega uma mensagem no celular de Antonio e ele a lê sob a mesa.
Esforço-me para ver qualquer coisa, mas só consigo ler a frase “É
agora!”
Pode ser loucura, mas sinto arrepios pelo meu corpo ao
supor que este almoço pode ser tudo, menos uma reunião de um
pai saudoso com sua filha.

— Santino, estou sentindo cólica. Podemos ir? — Pergunto,


mal tendo tocado a sobremesa.

Ele analisa-me, com um palito de dente no canto da boca, e


se põe de pé sem dizer nada. Papai segura meu pulso antes que eu
possa levantar. Sinto o suor frio e o encaro sem entender.

— Fique mais um pouco. Nós mal nos vimos. Vamos passar


esta tarde em casa.

Santino o fuzila com os olhos e adverte:

— A casa de Serena é a em que ela vive no Upper East


Side. E o almoço acabou. Ela precisa de um banho quente,
descanso e chocolate.

Arregalo os olhos com a frase final e quase rio ao lembrar


que Bella é sua irmã. O homem já lidou com cólicas antes. É quase
fofo ver Santino dizendo estas coisas, principalmente pela forma
genuína e despreocupada que diz.

— Realmente não estou me sentindo bem. — Digo ao meu


pai e levanto.
Santino coloca algumas notas sobre a mesa e diz:

— Coma mais, Fontana. Fique à vontade.

No retorno para casa, encosto a cabeça na janela e fico de


olhos fechados, tentando pensar em algo que faça sentido. Aquela
mensagem continua martelando na minha cabeça, principalmente
com o nervosismo do meu pai.

O celular de Santino toca antes que cheguemos e pragueja


mil vezes em resposta ao que quer que ouça. Dirige ainda mais
rápido que na ida e estaciona no portão sem dizer nada. Não saio
do carro de imediato, esperando que diga algo, o que não ocorre.
Então pergunto:

— O que está acontecendo? O que foi este almoço e esta


ligação?

Santino bufa uma risada sem humor e diz:

— Desde quando você é digna de saber algo, Serena? É só


uma peça a ser movida quando necessário.

— Idiota. — Saio do carro, possessa de raiva, batendo a


porta com o máximo de força possível.

Rosno o caminho até o portão, ainda mais revoltada,


quando Bruno surge, mal dando tempo para que respire sozinha.
Sigo para o meu quarto, sem olhar para os lados e me
tranco pelo resto do dia. Não passa despercebido o rasgo no peito,
a solidão fodida.

Desperto, sentindo todo meu corpo se batendo após sonhar


com Romeo matando Leonello. Tudo era tão fora de contexto, mas
o olhar do meu irmão era odioso e, no sonho, eu lutava para tirar
meu marido das suas garras.

Assusto-me quando vejo Leonello sentado na poltrona ao


lado da cama. Levo a mão ao peito, apavorada, ao constatar o
sangue em seu rosto.

— Leonello. O que foi isso? Dio! — Meu corpo se move sem


que eu possa controlar.

Não há uma gama em mim que reaja querendo vê-lo ferido.


Corro até o interruptor e acendo a luz. Retorno e o observo com
cautela.

— Está fundo. — Digo, diante do seu silêncio.

Leon parece me examinar.


— Fui atacado. O mais engraçado é que não tentaram
acertar meu tronco. Só o rosto. Como se soubessem meu hábito de
usar colete como uma segunda pele.

Arregalo os olhos, chocada, mas lembrando do almoço


incomum com papai. Será que... Não. Meu pai é covarde. Ele não
teria a ousadia de tentar contra a vida de Leonello. No entanto, e se
usou o almoço para ter um álibi?

— Vamos costurar isso? — Mudo de assunto, ciente de que


a laceração precisa de sutura.

— Você costura?

— Eu sempre costurei papai e Romeo, Leon. — Bufo ao ver


sua descrença.

— Maria desmaiaria vendo esta ferida. — Ele sorri e passa a


mão por meus cabelos, afastando uma mecha para trás da orelha,
como se fosse tão normal me tocar. — Não tente qualquer gracinha,
Serena. Não me faça ter que matá-la.

Reviro os olhos.

— Alguém tinha que fazer uma ameaça aqui.

Ele se inclina e suga meu lábio inferior entre seus dentes,


olhando-me descaradamente quando lambe minha boca para
depois sussurrar:

— É o nosso charme.

Totalmente confusa, levanto-me em busca do kit primeiros


socorros no armário sob a pia do banheiro.

Depois de encontrar perco meu tempo observando Leonello


sentado, pegando o maço de cigarros e o isqueiro do bolso da
calça. Acende um cigarro, tragando e segurando a fumaça por um
tempo antes de soltá-la em direção a janela. Caminho até ele,
intimidada por sua presença em meu quarto e muito mais com o
desejo que sempre me toma quando está perto.

Com os dedos um pouco atrapalhados, abro o kit primeiros


socorros e pego tudo que é necessário para costurá-lo. Saio do
quarto e caminho até o final do corredor, encontrando um uísque
aberto no pequeno bar embutido à parede. Pego o primeiro uísque
aberto que vejo e o levo até Leon. Tão habituado à dor, só contrai o
corpo quando despejo o álcool na ferida para desinfetá-la. Ele toma
a garrafa da minha mão e bebe um longo gole antes de batê-la
contra o móvel ao lado da cama.

Deixando o cigarro finalizado no móvel, logo acende outro,


sem pausa. Começo o processo da sutura, nervosa com a tensão
sexual, com o silêncio cheio de palavras não ditas, com tanta
confusão e deturpação nas emoções que sinto por este homem.
Uma trégua. É só o que minha mente precisa.

Cantarolo baixinho uma música e me concentro no que


preciso fazer. Leonello fuma mais dois cigarros até que eu finalize e
despeje mais bebida.

— Não é uma sutura perfeita, mas não vai morrer jorrando


sangue. — Digo, sem conseguir impedir meu indicador de seguir o
caminho sobre a ferida, sabendo da marca que sempre estará em
seu rosto.

— É bom saber isso.

— Tome um banho. — Sussurro. — Vá descansar.

Leonello não diz nada por alguns poucos minutos que


parecem uma eternidade.

Ele segura meu pulso e puxa-me para o seu colo. Não sinto
que posso lidar sexualmente com Leonello novamente, pois deixou
minha mente em frangalhos. O martírio em que eu mesma me
coloquei por gostar de cada segundo deixou-me em um desastre
emocional.

Contudo, sento-me em seu colo, os olhos nos seus, a


respiração arfante, o estômago dando voltas, de forma alguma
conseguindo me afastar ou resistir ao verde de suas íris.
— Desconfio que haja dedo do seu pai no que aconteceu. —
Surpreende-me ao externar a desconfiança.

Analiso a situação pelos poucos segundos que posso. Falar


sobre o que percebi mais cedo certamente trará mais problemas ao
meu pai, mas em contrapartida, poderia ter um pouco da confiança
de Leonello.

— Achei o almoço de hoje estranho. Ele parecia nervoso. —


Omito a parte da mensagem. — Mas papai não tentaria algo contra
você. Se Vinatti não fez nada com ele, é pela força que a aliança
entre nossas famílias o faz ter. — Considero toda a situação.

— Vinatti pode o estar pressionando. Seu pai tem mais


podres do que você pode imaginar. — Leon sorri, maldoso, e seu
polegar toca meu lábio inferior, pressionando daquela forma que ele
faz e sempre me deixa louca.

Quando sua boca toma o lugar do dedo, suspiro antes de


corresponder o beijo. É suave, sem língua, só provando meus lábios
e faço o mesmo. Minhas mãos estão evidentemente trêmulas
quando as apoio em seus ombros. Meu coração erra uma batida
estúpida. Lembro de Romeo e isso faz com que me afaste.

— Você precisa descansar... o esforço pode abrir os


pontos... — Saio de seu colo, coletando os itens do kit primeiros
socorros e os guardando na maleta.
Leonello fica de pé e sai do meu quarto sem uma palavra.
Levo a mão ao peito e sento-me na poltrona, sentindo meus olhos
arderem com lágrimas que não faço ideia do porque estão aqui.
CAPÍTULO 14

Um mês e algumas semanas desde o meu casamento


passaram. As coisas mudaram um pouco de lugar desde que fiz a
sutura de Leonello. Apesar do meu desejo de ganhar sua confiança
para agir no momento certo, reconheço que passamos a conviver de
maneira pacífica, respeitando o outro e tomando refeições juntos
todos os dias, exceto quando ele some por dias sem dizer nada. No
que suponho que esteja fora do país cuidando de seus assuntos de
mafiosos.

Após acordar e cuidar da minha higiene matinal desço as


escadas e ouço a voz exaltada de Leonello:

— Não há chance no inferno dele estar se escondendo


sozinho. Ele está tendo ajuda e o óbvio é começar pela casa do seu
pai. — Fica em silêncio, ouvindo quem está do outro lado da linha
por alguns segundos, então explica: — Não quero que se mostre.
Vigie de longe. Siga o Vinatti para qualquer canto. Não se faça visto.
Ele não é tolo.

Forço meus passos a fazerem barulho para ser notada por


ele. Ao finalizar a chamada, não diz nada quando me nota. Ao que
saúdo:

— Bom dia!

Analisando-me por mais alguns segundos sem dizer nada,


não retribui a saudação, mas surpreende-me ao convidar:

— Vou almoçar com um empresário do ramo de boates. Ele


tem tentado comprar algumas boates da máfia. Provavelmente irá
levar a esposa. Venha comigo.

Concordo com a cabeça, mesmo que ele não tenha feito um


pedido, principalmente pela oportunidade de mostrá-lo que posso
ser superior a o que já mostrei ser.

— Pode esperar uns minutos para que eu vista algo melhor?

Ele assente com a cabeça e vira-se, digitando algo no


celular. Retorno para o quarto e agradeço pelo fato do segurança
não ficar me seguindo quando seu chefe está em casa. Pego minha
mala e entro no closet, com os ouvidos apurados. Abro o bolso
interno e seguro o mapa que peguei no quarto de Tito. Invadi seu
quarto na mansão quando queria ajudar Leonello e encontrei este
papel com um tipo de mapa feito à mão, com alguns pontos de
Manhattan, dois deles perto do mar, o que me levou a crer que
poderiam ser cargas que os Subchefes despacham por navios.

Não mostrei a Leonello, pois nesse mesmo dia o caos


instalou-se em minha vida e só hoje, ouvindo seu telefonema,
lembrei-me desse papel.

Dobro-o com cuidado e o coloco no mesmo lugar, mas


agora guardo a mala no closet, tentando fazê-la não chamar
atenção.

Procuro um vestido social, sem extravagância e encontro


um nude. O visto e calço saltos pretos, assim como acessórios
dourados. Prendo meus cabelos em um rabo de cavalo alto e passo
uma maquiagem básica no rosto.

Ao retornar para o andar térreo, me junto a Leonello no café


da manhã silencioso. Quando acaba, não diz nada, só se direciona
para a sala e aguarda-me próximo a porta. No exterior da casa,
oferece o braço para que eu apoie o meu e agimos como um casal
normal.

Meu segurança e o de Leon vão à frente e nos acomodamos


atrás. Enquanto seguimos, me pego observando-o mesmo sem
querer. Sua testa está franzida, seu olhar parece mortal e há um
vinco entre as sobrancelhas grossas. Percebo uma ferida no queixo,
como de um soco e imagino o que aconteceu com a pessoa que o
machucou. Não faço perguntas, mas fico totalmente surpresa ao
perceber que este almoço não ocorrerá em Manhattan. Entramos no
jato que nos aguarda e seguro a língua, mesmo vendo Leonello
esperando o contrário.

Ele fica um bom tempo distante, falando ao celular, enviando


mensagens, exaltado e estressado. Seus homens vêm e vão e
quando Bruno, minha sombra, retorna, entrega-me uma mala.
Agradeço-lhe, tremendo de receio pela consciência de que mexeu
em minhas roupas, mas aliviada por ser outra mala, não a que
guardei o mapa.

Quando o jato sobrevoa, continuo sozinha e acabo


adormecendo minutos depois. Horas mais tarde percebo que nosso
destino é a Itália e fico feliz da vida quando pousamos em Veneza.
Mesmo tantas horas de voo não me faz perder a animação de
contemplar minha terra natal. Veneza é linda. Absurdamente. Dormi
a maior parte da viagem, que é longa, então descansei bastante,
mas todos os momentos em que despertei, vi Leonello discutindo
com seus homens ou no telefone.

Após desembarcamos, havia um sedã preto à nossa espera.


Bruno o conduz.

O carro é estacionado próximo ao canal e Leonello sai,


dando a volta para se deparar comigo saindo. Ele segura minha
mão e me conduz até o deque. Alerta aos seguranças:
— Bruno fica aqui para o caso de não voltarmos em três
horas. Não somos os primeiros mafiosos com quem o sujeito
negocia.

— Certo. — O soldado concorda e retorna para o carro,


enquanto seguimos até um barco que está à nossa espera.

O segurança de Leonello conversa com o capitão e o


dispensa. Leon me ajuda a entrar no barco e sinto um friozinho de
excitação na barriga pela experiência, mesmo lutando muito para
não gostar.

Afastamos-nos da terra firme e Leonello senta-se ao meu


lado, em estado de alerta até estarmos uns bons minutos em
silêncio.

— Estamos indo à Ilha de Murano. Em poucos minutos


estaremos lá. — Explica, observando-me.

Nunca fui até lá, mesmo sendo a ilha mais próxima da


cidade, além de ser a maior ilha da Lagoa Veneziana depois de
Veneza. Sei que é conhecida pelo seu cristal e artesãos que
trabalham com vidro. Ainda que tenha nascido aqui, nunca pude
explorar a Itália como gostaria.

Encaro-o com atenção e pergunto:

— Por que está aborrecido?


Leonello estuda meu rosto rapidamente e diz entre dentes:

— Qual seria o intuito da pergunta? Bater palminhas feito


uma criança ao saber que estou fodido, como a menina mimada que
é? Ou ajudar o seu marido, agindo como a mulher que está
destinada a ser?

Suas palavras me irritam, pois sempre parece ter razão ao


me acusar. Como se o fato do meu irmão estar morto não fosse
nada, não me desse legitimidade para ser que diabos eu queira. Sei
que há um limite. Estamos na porra da máfia. Com qualquer outro
marido, poderia estar sendo espancada. Diferente das minhas
ameaças recheadas de emoção, Leonello é capaz de me matar,
como já jurou fazer se continuar o ameaçando. Não quero ser a
menina mimada, mas não vou ser a esposa que ajuda o marido. Por
agora, o último é um meio de conseguir sua confiança. Mantive-me
calada toda a longa viagem, sem questionar o fato de que ele disse
que iríamos para um almoço, mas omitiu que seria na Itália.
Fizemos algumas refeições no avião, mas acredito veementemente
que Leonello esperava um surto ao manter seus planos para si.

Apesar da nossa convivência ter se estabelecido, não


voltamos a ter conversas profundas, como na noite em que
comentou que desconfiava do meu pai.

Aproximo-me e aproveito o balanço do barco para criar


coragem e tocá-lo. Passo as unhas por sua barba e observo seu
maxilar endurecer.

— Como posso ajudá-lo?

Leon rosna e beija minha boca. Afoito, quase desesperado.


Seguro seu pescoço e retribuo na mesma medida. Meu corpo tomba
para fora do barco e grito, mas seu braço forte rodeia minha cintura,
mantendo-me inclinada. Entre a necessidade e o medo de cair. A
história da nossa vida. Fecho os olhos e jogo a cabeça para trás,
gemendo ao sentir beijos em meu pescoço. O roçar de sua barba
causa arrepio em todo o meu corpo.

Ele me puxa para si e encosta a testa na minha, abro os


olhos e o pego analisando minha expressão. Acalmo a respiração
arfante e fecho os olhos novamente, sem condições de lidar com a
intensidade que é seu olhar.

— Chegamos. — Ele murmura.

Volto a mim e ajeito o vestido e os cabelos antes de


entrelaçar nossos dedos e descer com sua ajuda. Murano não tem
terra firme, de forma que balsas e barcos ficam estacionados rentes
ao deque. Quando subimos, caminhamos com o mar à vista. Toda a
construção da ilha é feita sobre a água, o que é esplêndido e
aterrorizante ao mesmo tempo. Há inúmeras casas, comércios e
principalmente exposições de vidros feitas na “rua” mesmo, além do
museu de vidro, que só dá força às tradições italianas da arte em
vidro.
Caminhamos até entrarmos em um restaurante colorido e
aconchegante, cheirando a comida típica. Leonello avista um casal
mais velho e assume sua máscara de empresário. Há um sorriso
amistoso e nem parece que o filho da puta está há horas sem dormir
ou que está aqui após um voo de mais de dez horas.

— Como vão? Desculpem o atraso. Viemos direto de


Manhattan. Essa é minha esposa, Serena.

— Bom dia! — Cumprimento e recebo um sorriso genuíno


de ambos.

— Uma bela esposa, se me permite dizer. — O homem


segura minha mão e a beija educadamente. — Sou Francesco e
esta é minha senhora, Gabriela.

— Sou brasileira. Nós estamos aqui a passeio. Dificilmente


há lugares mais bonitos que a Itália.

— É um país lindíssimo.

Enquanto nos sentamos e percebo que o almoço não chega


porque aqui é manhã do dia seguinte, visto que a Itália está sete
horas à frente de Manhattan e somos servidos de café da manhã. O
cheiro de comida que não sai do ambiente é uma tentação, mas são
as cozinheiras já preparando as refeições.
Gabriela e eu nos damos bem de cara e a forma como seu
marido a toca o tempo todo e a inclui em suas decisões faz algo
escorregadio apertar meu peito. Há momentos que parecem se
comunicar com o olhar.

— Pode me acompanhar ao banheiro? — Gabriela inquire.


— Confesso que sinto receio de estar sozinha na ilha, por não
estarmos em terra firme, imagino desastres sem me conter. — Ela ri.

Leonello procura minha mão sobre minha coxa e a aperta


sutilmente. Não entendo o que quer dizer, mas sorrio para os
homens e sigo Gabriela.

No banheiro, sou pega de surpresa pela pergunta direta:

— Olha, nós sabemos como são os homens mafiosos. Meu


marido lida com Ezra Cattaneo e Stefano Esposito, mas já teve a
infelicidade de lidar com monstros desse meio. Algo que não
toleramos é fazer negócio com espancadores, abusadores, este
tipo... então por favor, se o seu marido for um destes, se ele fere
você, diga-me e não iremos fechar o negócio.
Lembro-me do aperto de mão de Leon. Poderia agir pela
emoção e prejudicá-lo, seria o mínimo, ele não morreria por não
vender a boate e eu não me livraria dele. Mas isto o provocaria. Isto
seria eu agindo como ele espera.

— Meu marido e eu casamos há pouco tempo. Não posso


dizer que vivemos mil amores ainda, mas estamos caminhando para
isto, pois Leon me respeita. — Sorrio o mais convincentemente
possível.

Abusador e espancador ele, realmente, não é, mesmo que


seja o diabo em pessoa.

— Fico feliz. Então vamos voltar.

— Você não vai fazer xixi?

Ela ri e sacode a mão.

— É verdade.

Gabriela só queria um momento a sós comigo.

Após o café da manhã agradável, Leonello continua


introspectivo e não dá satisfação ao nos hospedar em um hotel na
ilha. Internamente, encontro-me feliz por ficar.

— Preciso lidar com algumas situações em Veneza. Você


tem liberdade para fazer o que quiser na ilha. Meu segurança ficará
com você para proteção.

— Por que está fazendo tudo isto?

— Isto o que? — A impaciência em sua expressão é


irritante.
— Me trazendo aqui, mesmo estando aborrecido e cheio de
coisas para resolver.

— Não há nada de especial nisto, Serena. Já disse a você


que irei tratá-la como minha esposa, porque você é. A única coisa
que precisa entender é sobre lealdade. Mesmo me odiando, pode
escolher ser leal a mim. Como fez hoje, com Gabriela no banheiro.
— Alerta, aproximando-se e tocando meus braços, passando suas
mãos ásperas de cima a baixo. — A escolha é sua. As ações geram
reações.

A última frase faz uma lembrança ruim retornar, de como ele


disse o mesmo após matar o meu irmão. Engulo o amargor da
lembrança e assinto com a cabeça. A consciência de que Leonello
está dando corda para eu me enforcar assusta-me, pois sou a
pessoa que é capaz de acabar comigo mesma sozinha.
CAPÍTULO 15

O longo gole de vodca e a tragada no cigarro em nada


servem para acalmar o meu humor odioso. A áurea infernal pode
ser sentida por qualquer um que se aproxime. De fato não passa
despercebida ao meu melhor amigo.

— Você veio afogar as mágoas na Itália? Poético. —


Santino senta-se ao me encontrar no bar e tira sua pistola do coldre
na perna e a coloca sobre a mesa, distraindo-se a desmontando
para limpá-la, enquanto me analisa. Ele retira o carregador de
munição da armação. Solta o ferrolho e o cano. — Sei que as
notícias, ou falta delas, está acabando com sua sanidade, irmão,
mas precisa manter a frieza. Este é o momento de continuar sendo
o psicopata de sempre. — Aconselha, puxando a guia da mola
recuperadora e a mola em seguida.
Observo-o com a curiosidade de sempre. Pois embora
consiga me ler, eu o leio como uma folha de papel em branco. O
bastardo sempre foi uma incógnita. Santino Greco é um mafioso
letal e também amigo leal, mas sua cabeça é tão fodida a ponto de
ser um calmante desmontar armas num clube cheio de prostitutas e
bêbados. Ele torna a montá-la sob meu escrutínio.

— Tito ligou de um aparelho descartável. — Quebro o


silêncio.

— O que?

— Ele usou um aparelho descartável. Por isso vim parar


aqui. Não sairia dos Estados Unidos tão cedo, muito menos por uma
negociação simples.

— Rastrearam o aparelho aqui?

— Exato, mas o que garante que não usou a estratégia de


me trazer aqui para aproveitar as horas de vantagem? Mais de dez
horas de voo. Ele pode ter tramado me trazer aqui para ganhar
passe livre para sair do país.

— E sua racionalidade estava onde que não pensou nisto,


porra?

— Em Serena. — Passo a mão pelo rosto, frustrado. — Ele


fez ameaças a ela. — Rosno, só de lembrar a voz do maldito. —
Vou pegá-lo, Santino.

— Não duvido disto, mas sair de Manhattan mostrou


desespero. Você não devia ter feito isso.

— Aquiles dispôs seus homens pela Itália, impedindo que


Tito pudesse sair. E deixei meus homens em Manhattan sob alerta.

Greco monta a pistola novamente e a guarda no coldre em


sua calça, voltando a analisar-me.

— Não havia necessidade de ter vindo.

Além de manter minha mulher segura, não havia mesmo.


Externar isto, embora, está fora de cogitação. O olhar sagaz deixa
evidente que percebe o que não estou dizendo. Em contrapartida,
respeita minha falta de resposta.

— E você, viajou só para olhar meus belos olhos? — Mudo


de assunto.

Santino ri.

— Seu pai tinha uma informação importante, mas não podia


dizer por ligação, pois acredita que poderia estar sendo vigiado. —
Estendendo o braço, puxa a garrafa de uísque quase vazia e a
arrasta até levá-la a boca. Após um longo gole, continua: — O
informante que ficava na casa dos Vinatti foi morto. Nada foi dito
sobre traição. Ele só apareceu morto. Desconfiamos de
envenenamento. Aquele velho filho da puta não está dormindo.

— Você sente que o cheiro disto tudo é podre? Há algo que


não faz sentido.

— Seu velho pensa o mesmo. Os Vinatti nunca foram tão


espertos.

Ergo o pulso esquerdo e vejo a hora. Informo ao meu amigo:

— Serena está hospedada em um pequeno hotel em


Murano. Está na hora de retornar. Você vem?

— Vai dividir sua cama comigo? — Sorri, feito o pervertido


que é.

— Pense qualquer atrevimento com minha esposa e te parto


no meio, palhaço. — Levanto-me sob sua risada.

— Já que não me permite a diversão que um amigo de


verdade permitiria, ficarei por aqui. — Passa a mão nos cabelos
caindo na testa, observando em volta, as putas da casa quase nuas
dançando, outras fodendo com os homens para que qualquer um
veja. Santino fica de pé e caminha em direção a uma ruiva com
peitos maiores que sua cabeça.

Sorrindo, afasto-me e alerto ao barman:


— É o meu amigo ali que pagará a conta.

Greco mostra o dedo do meio sem olhar para trás. Sorrio e


sigo meu caminho.

O silêncio no quarto de hotel me pega de surpresa, pois não


há ninguém na cama, tampouco o segurança na entrada. Envio uma
mensagem para ele, a fim de saber o paradeiro de Serena e logo a
resposta chega. Está jantando. Fecho a porta e sigo até o banheiro.

Tomo um longo banho. Sinto-me esgotado e sem paciência,


principalmente para lidar com o drama que é meu casamento.
Encaro meu reflexo no espelho. A marca da recente cicatriz que
desce da maçã até a mandíbula chama minha atenção em primeiro
lugar. As lembranças do dia em que Serena fez a sutura retornam
com tudo, deixando-me ainda mais exausto psicologicamente.

Cansado, irado e, o pior, preocupado. Há tanto ódio em mim


que não dá para mensurar. O desejo de arrancar as tripas de Tito
com minhas próprias mãos faz com que segure o mármore da pia
do banheiro com tanta força que sinto a pele arder e ceder na
palma. Ouço o som da maçaneta e a porta abrindo em seguida.
Visto uma boxer e enquanto ajusto o colete enquanto Serena surge
no cômodo, observando-me.
Seus cabelos escuros estão soltos e o rosto sem artifício
algum. Um vestido branco com detalhes pretos e uma sandália
rasteira são o complemento à sua beleza. Ela prende o lábio inferior
rosado com os dentes e os olhos azuis brilham ao me encarar. Ela
coloca uma mecha do cabelo atrás da orelha e se aproxima,
murmurando:

— Há algo especial em um banheiro quando você está nele.

Serena fica na ponta dos pés, tocando meus ombros para


apoio e beija minha boca, numa tentativa de me enredar.

Seguro seus cabelos da nuca, afastando-a, mas mantendo


nossos olhares presos. Ela arfa, sua respiração pesada deixando
evidente que seja como for, Serena não é capaz de controlar o
desejo que sente por mim.

E eu, bem, foda-se, seria necessário estar morto para não


reagir a essa mulher.

— Você quer me seduzir e eu não vou cair. — Advirto,


aproximando nossos rostos e esfregando os narizes. Seus olhos
faíscam sutilmente, mas a forma como se agarra a mim, como se
dependesse disso para se manter de pé faz um sentimento
desconhecido inundar meu peito. — Só será minha se quiser ser,
sem pretextos quando se trata de me ter dentro de você, Serena.
Ela segura a respiração por segundos que mais parecem
uma eternidade, mas quando solta o ar, crava suas unhas em meu
pescoço e pula em meu colo. Seguro-a pelas coxas e movo nossos
corpos até que estejamos fora do banheiro. O beijo é faminto e
desenfreado, como a saudade que eu sinto de ter esses lábios para
mim. Aperto sua bunda, as coxas voluptuosas, puxando-a cada vez
mais para mim, como se pudéssemos nos fundir. Deito-a sobre a
cama e, sem pressa, afasto-me para retirar as sandálias.

— Eu nunca pude despi-la antes. — Comento e ela suspira


quando massageio levemente o primeiro pé livre.

Subo a carícia pelo tornozelo, observando como se remexe,


ansiosa. Algo em meu peito cresce. A posse e o contentamento de
que sou o único homem que pode tocá-la assim, que pode vê-la
com os olhos azuis delirantes de anseio e prazer.

— Presumo que nunca poderei despi-lo. — Arqueia a


sobrancelha, seu gênio real dando as caras, apontando o colete
com o queixo.

Serena não me causa medo, mas tenho provas o bastante


para saber o quanto pode ser impulsiva. Além de ter deixado claro
seu interesse em se vingar. Por mais que não a veja como inimiga,
jamais subestimaria alguém, principalmente no seu caso, que
idolatrava o irmão e acredita que o matei. Todavia, o predador que
vive em mim quer colocá-la a prova, quer que ela dê um motivo para
ser comida inteira.
Olhando em seus olhos incrédulos, começo a retirar o
colete. Tiro a pistola e os coloco sobre a mesinha ao lado da cama.
Em momento nenhum seu foco desvia do meu peito e abdômen
cheios de cicatrizes de facas, cortes feios, lacerações e rasgos,
além das marcas de balas e a tatuagem da Famiglia sobre o
coração.

— Gosta do que vê, bianca? — Rio, maldade escorrendo


por meus lábios. — O gato comeu sua língua?

Retiro a outra sandália, livrando seus pés para puxá-los logo


em seguida, trazendo-a de pernas abertas para o meu colo. Ela
enlaça minha cintura e toca meu peito. Ao mesmo tempo em que
seu olhar é curioso, assustado e até pesaroso, suas mãos tocam-
me com conhecimento, como se tocasse essas cicatrizes todos os
dias.

— Leon... — Ela sussurra, a ponta dos dedos contornando


cada relevo na pele.

Poderia ser poético, clichê até, as mãos bem cuidadas de


Serena, brancas como porcelana, tocando a pele imperfeita de um
assassino, de um homem que foi ao inferno e voltou antes de se
tornar uma besta para se proteger.

Nossa conexão visual só encerra porque eu me desvio,


angustiado com o que ela demonstra. Seguro sua nuca e beijo-a
com violência. No que ela retribui com calma e carinho. Os lábios
nunca seguindo o ritmo dos meus e as mãos mantendo as carícias
delicadas.

O que há com ela, porra? Pena?

Serena se afasta, recuperando o ar após meu assalto em


sua boca. Ela abaixa a cabeça, a cortina de cabelos cheios caindo
por seu rosto, enquanto ela desliza por minhas pernas e enfia o
rosto em meu pescoço, beijando-me, lambendo a pele sensível
sobre a veia pulsante. Sua boca desce por meus ombros e ela
segue o caminho por cada cicatriz do caralho. Meu pau nunca
esteve mais duro na vida, mas mais do que isso, meu coração
nunca bateu tão forte.

Ela guia meus ombros até que eu esteja deitado na cama.


Seu olhar nunca desvia do meu quando ela se inclina e torna a
refazer o caminho das lacerações com sua língua aveludada e com
as mãos delicadas. Mãos capazes de empunhar um revólver e atirar
em mim. Mãos que esqueceram a pistola ao lado e focaram em me
dar prazer.

Senta-se sobre minha cintura, sua bunda apertando minha


ereção dolorida, mas não a toco. Deixo-a. Serena puxa seu vestido
e o passa pelos braços e cabeça, logo se mostrando apenas de
lingerie azul claro para mim. Deitando sobre meu corpo, ela conduz
um beijo delicado em minha boca, quase apaixonado.
Nunca imaginei que ela pudesse levar tão bem o papel de
boa esposa que decidiu assumir. Não esqueço que estou
desprotegido e de como o jogo virou, pois mostrar minhas marcas
era com o intuito amedrontá-la, mostrar-lhe que o que quer que faça
nunca chegará perto do que já me infligiram. Em contrapartida,
Serena me desnorteou, fazendo-me desejar que este cuidado e
ternura sejam reais.

Eu arrancaria qualquer arma de sua mão facilmente em


qualquer tentativa inútil de me matar. E enganando-me com esse
pensamento, deixo-a continuar em seu papel, esquecendo do
veneno que escorre de sua boca a cada beijo. Jamais poderia parar
o toque dessa desgraçada.

Serena retira minha boxer e lambe o lábio ao ver meu pau


saltar duro, latejante.

— Eu mal posso acreditar que estou vendo você.

— Almejou isto, Serena? Tanto assim? — O canto do meu


lábio curva falsamente e ela desvia o olhar para os meus olhos.

— Apesar de você não abaixar a guarda, estou levando a


sério o que disse. Sem pretextos quando estivermos assim, lembra?
— Diz, parecendo honesta.

Ela segura minha ereção e masturba levemente. Sou eu


quem morde o lábio agora, para segurar um grunhido. Seu toque
não é dos mais confiantes, mas a reação que causa em meu corpo
é como se fosse uma profissional do sexo. Serena inclina a cabeça,
os cabelos cobrindo totalmente seu rosto e espalhando-se por meu
abdômen. Não vejo, mas sinto o calor de sua boca tomando meu
pau. Masturbando a base e chupando como se degustasse um prato
delicioso, ela quase me leva a gozar em sua boca. Suas unhas
compridas roçam atrás das minhas bolas e grunho, puxando seus
cabelos no topo da cabeça para poder ver seu rosto.

O sorriso sacana enquanto me engole irá ficar marcado a


ferro e fogo em minha mente. Ela me toma ao máximo e não
aguento o ímpeto de empurrar em sua garganta, com o prazer
distorcido por ver seus olhos lacrimejando. Serena encara-me e
chupa com mais força, a cada vai e vem fazendo o som de “pop”.
Meu desafio só pareceu deixá-la louca para me fazer gozar.
Observo como começa a esfregar seu corpo em minhas pernas,
cheia de tesão por me ter na sua boca. É o suficiente para que eu
puxe sua cabeça e goze. Serena, no entanto, não se afasta, de
forma que minha porra escorre por seu queixo, seios e sutiã.

— Agora, Leonello, é sua vez de me fazer gozar.


CAPÍTULO 16

Eu deveria saber que ele levaria totalmente a sério, mas mal


posso saber em qual momento o homem montou em meu corpo e
minhas costas bateram no colchão macio.

Algo aconteceu comigo ao ver as cicatrizes. Não pude


controlar os sentimentos que me inundaram. Queria acalentá-lo por
tudo o que passou, queria que me contasse quem causou cada
cicatriz, como e onde, o que aconteceu com quem as infligiu. E mais
que tudo, mesmo sabendo o monstro que ele é, o assassino cruel e
implacável, no meu coração algo gritava que Leon não merecia
nada daquilo. O mais absurdo, foi o desejo de machucar quem o
feriu.

— Pensei que não chegaria o momento de ter minha boca


em você, bambina.
— Não sou uma menina. — Sussurro, quase sem voz, ao
sentir a mordida em meu seio esquerdo sobre o sutiã. Leonello sorri
e chupa o mamilo. A fricção deliciosa da renda com a umidade de
sua boca causa uma sensação deliciosa que faz doer entre minhas
pernas. — Sou uma mulher.

— A minha mulher. — Ele rosna e repete o ato, levando uma


mão aos meus pulsos e prendendo-os sobre minha cabeça,
enquanto livra-me do sutiã com a outra.

Puxa a peça até as alças estarem presas em meus pulsos


com sua mão e se deleita com meus seios. Leonello esfrega a barba
na pele sensível, chupa, lambe e mordisca. Com a mão livre, toca
meu corpo, esfrega seu gozo em meu queixo e nos seios. Aperta-
me e testa a umidade em minha vagina através da calcinha. Ele me
penetra com o pano e tudo, fazendo-me gemer de prazer. Sinto sua
ereção pronta em minha coxa e esfrego-me nele, precisando de
alívio.

— Leonello. — Murmuro em necessidade.

Seja como for, tentar algo com a arma ao lado nunca passou
pela minha cabeça. Mais real que a vingança que quero levar
adiante, é o desejo que sinto por Leonello.

— O seu cheiro me deixa louco, Serena. — Inala feito um


animal, descendo beijos por minha barriga até seus dentes estarem
puxando a calcinha do caminho.
Assim como o sutiã, não há paciência nele para se livrar da
peça por completo, deixando-a em minhas coxas. Leon abocanha
meu sexo, beijando e sugando cada gota que derramei por querê-lo
tanto. Gemo e tento soltar minhas mãos para segurá-lo, puxá-lo,
mas ele mantém a mão firme em volta dos meus pulsos.

— Leon, por favor!

É primitiva a forma como ele me lambe e chupa meu clitóris.


Dois dedos penetram no meu canal e Leon os curva em um ponto
que me faz gritar de prazer. É quase desesperador não conseguir
controlar a intensidade da reação. Sinto meu corpo convulsionando
e em poucos segundos estou gozando loucamente. Leonello me
penetra em meio ao orgasmo, prolongando a reação do meu corpo
e calando meus gemidos desconexos com um beijo bruto.

— Era isso que você queria? Estava com saudade, bianca?


Eu também estava, porra. A primeira vez não foi suficiente, preciso
da sua boceta apertada na minha boca, em volta dos meus dedos e
pau todos os dias. — Rosna, batendo os quadris contra os meus, o
som dos corpos chocando e meus gemidos é o que escutamos em
meio a sua voz rouca: — Olhe, veja entre nossos corpos. —
Ordena, afastando-se o suficiente para retirar e meter de novo, para
que eu o veja me invadindo, seu pau grosso e longo entrando e
alargando meu canal. Minha vagina o aperta, tamanho prazer que a
cena me causa. Vê-lo me fodendo eleva o tesão. — É sua segunda
vez, mas veja como me recebe bem, veja como foi feita para me
aguentar montando você, fodendo como eu bem entender. Bianca
mia.

— Oh, Dio!

— Dio não tem nada com isso, Serena. Chame pelo nome
do seu homem, porra. — Leon grunhe, suor se formando em sua
testa e ombros enquanto estoca, os olhos focados entre nossos
corpos, vendo seu pau entrar e sair, enlouquecendo-me.

Tento tocá-lo, esquecendo as mãos presas, então passo a


ondular sob ele, encontrando suas arremetidas, batendo nossas
pélvis, deliciando-me com cada estocada bruta. Meu canal o suga,
encharcado, pulsando.

Ele puxa uma de minhas pernas e posiciona o tornozelo em


seu ombro, arreganhando-me toda. Penso que irá continuar
fodendo-me loucamente, mas Leonello começa a brincar, enfiando a
cabeça e tirando. A profundidade que a posição causa já é
totalmente sentida mesmo com ele só penetrando a ponta. A cada
arremetida lenta, ele acrescenta mais uma polegada e quando está
todo dentro de mim, posso senti-lo em meu útero.

Leon se move em um vai e vem delicioso, lento, tortuoso.


Ele toca meu clitóris, brincando com meu prazer e quando começo a
sentir os resquícios de um segundo orgasmo, Leon regride, parando
de estimular meu clitóris e de estocar, ficando parado com seu pau
todo dentro de mim.
— Eu quero gozar em você toda, fazê-la andar por onde for
com o cheiro da minha porra. — Confessa, rude, e segura meu
queixo, fazendo-me olhar a posse primitiva brilhando em sua íris
verde.

— Você é louco. — Suspiro, quase rindo.

— Sou, bianca. — Concorda, esfregando meu lábio inferior


com o polegar. Minha boceta pulsa em volta dele, fazendo-o sorrir.

Há uma troca silenciosa e sincera, além do sexo, como se


fôssemos Leon e Serena de semanas atrás, antes do meu irmão
morrer.

Lembrar de Romeo faz um rombo surgir em meu peito. Dio


Santo! Como posso me entregar dessa maneira ao homem que
matou o meu irmão?

Não posso mentir para mim mesma e acreditar que o tesão


que sinto por Leonello é parte de um plano para ganhar sua
confiança. Este desejo é quase um ser vivo dentro de mim.

Sinto a lágrima quente rolar pelo meu rosto. Leon percebe,


sua expressão fechando, seus olhos perdendo o calor. Ele faz
menção de sair de dentro de mim, retirando a mão que prende meus
pulsos. Então aproveito para segurar seus quadris e sentar-me em
suas coxas, sem desencaixar nossos sexos.
— Serena. — Sua voz baixa é um alerta, um aviso para que
eu me afaste.

Apoio as mãos em seus ombros e levo um tempo para


descobrir como encontrar um ritmo agradável nessa posição. Beijo
sua boca, mas Leon vira o rosto.

— Leonello.

— Sem pretextos, lembra? Seja lá o que pensou, a afastou,


então que fique longe de verdade, porra.

Ele segura minha cintura para se afastar. Mas o impeço,


confessando, com a voz embargada:

— Eu pensei que em qualquer circunstância fodida, o desejo


que sinto por você é colossal. Você é meu marido. É tudo o que
tenho, Leonello. Goste ou não, esse desejo está enraizado dentro
de mim e minha vida está totalmente à mercê da sua. — A forma
como isto bate em mim após as palavras saírem me pegam de
surpresa, porque é a verdade e nem eu tinha noção.

Seu olhar suaviza, mas ele me afasta mesmo assim. Deixo


meu corpo cair na cama, envergonhada com a exposição e
sentindo-me uma traidora com a memória do meu irmão. Mas a
verdade é que estou cansada de sentir que não sou nada para
ninguém quando mesmo odiando-o, Leonello tem sido tudo para
mim. Dono dos meus pensamentos, do meu corpo, da minha alma.

Antes que minhas costas cheguem ao colchão, braços fortes


me rodeiam. Pega-me em seu colo e leva-me até as portas duplas
que levam para a pequena varanda. Leon me coloca de pé, nua, de
frente para a vista da ilha. Pessoas seguem suas vidas, balsas
afastam-se, a lua tão linda sobre a ilha. Meu corpo treme em
antecipação enquanto meus seios encostam-se ao vidro frio.
Leonello fica atrás de mim. Afasta meus cabelos para um ombro,
beija minha nuca, minhas costas, beijando cada osso da coluna.
Minha testa toca o vidro, olhos fechados, sentimentos nublados
pelas sensações, por sua intensidade, pelas palavras não ditas,
pelas constatações em meus pensamentos.

Suas mãos agarram minhas nádegas e, pelo reflexo, vejo-o


ajoelhar atrás de mim. Leon abre minha bunda e mergulha sua boca
em minha boceta por trás, lambendo meu ânus no processo,
chupando-me de cima a baixo, batendo sua língua em minhas
dobras sem pena.

— Goze. — Exige, lambendo-me toda. E meu corpo parece


obedecê-lo, dominado, levando ao clímax imediatamente.

Tremo sob o assalto de sua língua, que continua bebendo


minha excitação. Até que ele apoia minhas costas em seu peito e
abraça-me pelos ombros com um braço, subindo minha perna com
a mão livre e esfregando-se em minha bunda por trás. Sorrio,
mesmo exausta, apoiando minha cabeça em seu ombro, ansiosa
para ter seu gozo em mim.

— Goze, Leonello. — Contraio ao seu redor, sugando-o e


latejando ao senti-lo pulsar, deixando-se vir.

Quando sinto seu orgasmo, fecho os olhos, satisfeita e, pela


primeira vez em um longo tempo, feliz por me deixar levar sem
remorsos ou o desejo de vingança me corroendo.

As feridas de Leon contribuíram muito para que eu olhasse


para ele, para nós, apenas. Sem pretextos, de fato.

Sou pega de surpresa quando ele desconecta nossos


corpos, mas não se afasta, pegando-me em seus braços e nos
encaminhando para o banheiro. O banho que tomamos é silencioso
e rápido, em contrapartida, significa muito diante da primeira vez em
que transamos e seguimos cada um para o seu lado após tudo.

Secamo-nos e deitamo-nos mantendo o silêncio, cada um


absorto em seus pensamentos e mantendo uma distância
considerável na cama.

Acredito que sou a primeira a ser vencida pelo cansaço,


mas há um peso a menos em meus ombros quando fecho os olhos.
Acordo ao sentir o colchão movendo-se levemente, mas
mantenho os olhos fechados ao constatar que se trata de Leonello.
Seu celular toca algumas vezes e ele atende, praguejando em
italiano e rosnando ao dizer:

— Homens que se escondem são piores que ratos. Não vou


aos bueiros procurá-lo, mas quando aparecer, será esmagado pela
sola dos meus sapatos.

Um alerta surge em minha mente com a consciência de que


toda a tensão de Leonello vem de uma pessoa específica. Começo
a sentir-me tola por não ter percebido algumas coisas desde que
Romeo morreu. Mas ele não diz muito mais e fico sem informações.
Antes que possa abrir os olhos, sinto seu cheiro próximo e ele deixa
um beijo em minha testa antes de murmurar:

— Não finja que está dormindo para bisbilhotar, Serena. Não


foi para isso que o papai a criou. — E se afasta, como o bastardo
sorrateiro que é.

Bufo e não mantenho a farsa, dizendo:

— Sinto que está tenso. Como não me diz nada, só queria


saber.

— Se fosse de confiança, não precisaria cogitar, saberia de


tudo.
Para não dar início a uma guerra de palavras que não nos
levará a nada, abstenho-me a mudar de assunto:

— Ficaremos na Itália por mais tempo?

— Não, na realidade precisamos retornar hoje. —


Responde, fechando o relógio caro no pulso esquerdo. — Irei me
encontrar com Santino agora, então pode tomar café da manhã com
calma. Antes do almoço, teremos que ir.

Sento-me na cama, sorrindo internamente ao ver seus olhos


caírem para os meus seios. Puxo a coberta, cobrindo-me, e digo:

— Se precisar de mim, eu concordo em ser leal no nosso


casamento. Não vou traí-lo.

— Mas pretende me matar. Não vamos fingir que somos


mais do que duas pessoas que pretendem foder os miolos da outra
enquanto não se matam. — Sua voz é dura, sem qualquer resquício
de paciência.

— Eu acho que isto é algo que está dizendo para você


mesmo acreditar. — Rio com deboche e ajoelho-me na cama,
deixando o lençol cair e expondo meu corpo. — Quer saber o que
penso, Leon?

— Se eu disser que não, você dirá de qualquer jeito, não é


mesmo? — A mudança em sua expressão a me ver despida é
evidente, mesmo que sua postura tente mostrar o oposto.

— Sim. Eu penso que você gosta de mim, mas não quer.


Então para não dar abertura depois da troca que tivemos ontem, vai
bancar o grosseirão. Só que não caio neste personagem.

Leonello bufa e ri sem humor. Sequer perde tempo em me


dar uma resposta e sai do quarto, deixando-me com um sorriso tolo
no rosto.

Sinto-me totalmente enredada e ao estar sozinha a guerra


em minha mente começa com força total.
CAPÍTULO 17

Serena é tola o suficiente para não perceber o que está a


um palmo do seu nariz, no entanto, tem facilidade para me ler
quando se trata do apreço que nutro por ela. O sexo pareceu muito
mais do que carnal, colocou-me de joelhos, visto que nunca
experimentei nada com tamanha carga emocional. Antes dessa
experiência, poderia atirar no primeiro idiota que dissesse que sexo
pode ser além do prazer imediato. Aquela mulher sendo minha é a
coisa mais certa deste mundo.

Embora saiba que não posso confiar em minha esposa,


todas as atitudes impensadas que tomei foram em prol de protegê-
la, de mantê-la longe das garras do fodido herdeiro Vinatti.

Há algo nesta história que ainda não consigo saber o que é,


mas fede como merda.
Apesar de ter dito a Serena que retornaria antes do almoço,
fiquei preso em uma reunião com Greco e outros Subchefes. Papà
aproveitou que estou na Itália para me enviar em seu lugar.

Seu segurança está na porta, então meus instintos ficam em


alerta quando abro a porta e deparo-me com o quarto em um
completo breu. Ontem, mesmo sendo noite e Serena não estando,
as luzes estavam acesas. O que não é o caso agora.

A impaciência corre por minhas veias ao supor que isto é


uma de suas ideias estúpidas para tentar me matar. Aperto minhas
mãos em punho, sentindo os dentes doerem com a força que mordo
o maxilar.

O vento na área externa faz a cortina escura voar e


rapidamente expõe o corpo pequeno encostado no guarda-corpos
da varanda.

Franzo a testa, confuso, e me encaminho até lá. O som do


choro se torna audível conforme chego mais perto. Penso bem
antes de abrir a porta e mostrar minha presença, mas a forma como
ela está encolhida, com a cabeça apoiada nos joelhos e os braços
segurando as pernas causa um peso no meu peito.

Aproximo-me e abro a porta, o que não faz com que ela


olhe, todavia sento-me ao seu lado e fico em silêncio. Não há nada
em mim que saiba o que fazer numa situação como esta, mas não
há chance que eu vá deixá-la sozinha.
— Por favor... — Soluça. — Me deixe sozinha.

— Nem fodendo. — Rosno, irritado, e puxo-a até que esteja


entre minhas pernas, enredada em meus braços. — Deixei você
bem quando saí daqui. Ou se tornou uma boa atriz de uma hora
para outra. Que porra aconteceu?

Ela tenta se afastar e desiste ao ver que não permitirei.


Afunda o rosto em meu pescoço e leva um longo tempo para sua
respiração se tornar calma e seu rosto parar de molhar minha
camisa.

— Estou sentindo muita falta do meu irmão. E você é a


última pessoa com quem devo dividir isso. Sinto que estou
totalmente sozinha. Todos os dias, seja aqui ou em casa, você sai,
resolve suas coisas e eu não sirvo para nada. Só fico trancada à
sua espera.

— Logo farei trinta anos e serei oficialmente Subchefe. Você


passará a conviver e ter deveres com outras esposas.

Serena bufa e se estica para olhar em meus olhos, fazendo


questão de mostrar sua insatisfação. Seus olhos azuis estão
avermelhados, assim como a ponta de seu nariz. Os cabelos estão
presos em um rabo de cavalo bagunçado e ela parece totalmente
uma menina. Esqueço-me que Serena tem apenas dezenove anos.
Na máfia, esta idade não é parâmetro de ingenuidade, mas seu pai
a criou numa redoma e na maior parte do tempo ela age como a
menina que é.

— Quero ser eu mesma, não ter que fingir com outras


esposas troféus.

— Você diz tanto sobre ter sido criada para ser a esposa
perfeita. Parece que perdeu muitas aulas, bambina. Em
contrapartida, não a prendo. Você tem um segurança para sua
própria proteção, não para impedi-la de nada. Quer sair? Saia. Mas
tenha maturidade para se colocar em seu lugar e para não agir feito
tola.

— Não quero sair sem rumo, Leon. Quero ser útil. Quero ter
a convicção de que se morrer farei falta. — Lágrimas voltam a
umedecer seus olhos, mostrando que isto realmente importa. — A
única pessoa que me amava incondicionalmente não está mais
aqui.

A menção a Romeo e a cegueira de Serena sempre me


irrita. Não por sentir a falta do irmão, mas sim o fato de que me
culpa e se fecha, planeja tolices e não percebe que tenho feito tudo
ao meu alcance para mantê-la em segurança.

— Nós, mafiosos italianos, protegemos nossas mulheres.


Quer ser independente? Não vou mentir. Isso é algo que nunca
poderá ser. Terá seguranças e estará sempre ao meu lado. Mas não
está proibida de estudar, se especializar em qualquer coisa que
goste e ter uma parte disto em sua vida. Você me tem como um
inimigo, Serena, mas já a adverti. Não sou.

Não diz nada, talvez por não querer mentir, tampouco dizer
as tolices que pensa e arruinar meu bom humor. De fato, percebo
que sempre fica pensativa. Eu poderia abrir o jogo e desvendar todo
o mistério, acabar com o pé de guerra, no entanto, não diz respeito
a mim. Diz respeito a ela, aos erros que cometeu no calor do
momento e como precisa se redimir. Não comigo, não para mim,
mas consigo mesma. Crescendo e se tornando a mulher que está
destinada a ser.

Dois carros de seguranças seguem atrás do nosso. Estou


dirigindo e Serena é a única passageira. Saímos da Ilha de Murano
após nossa conversa e antes de ir para o aeroporto, dirijo até o
cemitério onde Romeo foi enterrado.

Ela se mantém calada, absorta em seus pensamentos, sem


saber aonde estamos indo. Não tive nada a ver com o fato de
Antonio a impedir de se despedir do irmão. Ele mesmo decidiu
enterrar o filho sozinho e dar fim a tudo o mais rápido possível. Não
fiz nada a respeito por odiá-la naquele momento.

Serena parece ansiosa ao perceber nosso destino.

— O que...?
— Seu pai enterrou Romeo aqui.

Ela parece incrédula, mas salta do carro antes mesmo que


eu tenha estacionado completamente. Praguejo até sua décima
geração e desço logo atrás. Faço sinal para meus homens não nos
seguirem até o interior, apenas esperem.

— Isso é loucura, mas vou me sentir melhor de poder estar


perto, de poder encerrar...

Não digo nada. Não demoramos a encontrar o mausoléu da


família Fontana e ela corre até encontrar o túmulo recente, de seu
irmão.

Observo tudo enquanto ela chora copiosamente. Contudo,


duas coisas chamam minha atenção. O tampo do túmulo de Romeo
está mexido, fora do lugar, mas não é algo que parece ter sido feito
há tempos. Além do principal, a marca de tiro na parede à minha
esquerda, na parte de cima.

Mantenho-me calado, impaciente pra caralho. Louco para


arrastar Serena daqui e descobrir o que está acontecendo.

Após ela ter seu momento de desidratação, ambos ficamos


quietos, enquanto a levo para o exterior. Aviso ao chegarmos
próximos ao carro:
— Ouça, acabei de receber uma mensagem de Santino,
informando que preciso fazer uma última coisa aqui. Para não deixá-
la esperando, vá para Manhattan com os seguranças.

— Tudo bem. — Ela parece ainda mais distante do que


antes, provavelmente com as lembranças do irmão.

Foda-se.

Faço sinal aos meus homens, já os advertindo com o olhar.


Ela entra no carro e aguarda. Instruo dois de minha confiança e
retorno para o meu veículo até que tenham sumido de vista. Ligo
para Santino, que não atende. Então deixo uma mensagem
informando onde estou, pedindo que venha até aqui e traga um
silenciador.

Retorno para o cemitério em passos rápidos e analiso tudo


com cautela. Procuro pelos trabalhadores e chamo o primeiro
coveiro que encontro, ciente de que esses homens vivem mais aqui
do que em casa e veem além do que deveriam.

— Estou paciente. Minha esposa já me fez passar pelo


exercício hoje. Então vou perguntar antes de atirar.

— O que? — O homem arregala os olhos e dá dois passos


para trás.
— Eu quero duas informações. Você ouviu tiros aqui
recentemente? Diria ontem...

— Eu... Não...

Tiro minha arma do coldre na perna e faço como quem vai


destravar, sem de fato fazer.

— Você ouviu tiros aqui recentemente? — Repito a


pergunta.

— Não ouvi, mas soube por... por outro coveiro que ouviu
um tiro na noite anterior.

— Bom. Como eu imaginava. Vem cá. — Puxo seu ombro,


fazendo-o tropeçar em minha frente e o levo até o mausoléu. —
Aponto com a arma para o túmulo mexido e inquiro: — Isto aqui é
normal? Esta porra estar mexida, fora do lugar assim?

Ele observa, nervoso, mas surpresa cobre sua expressão.

— Não... não, senhor. Nós só limpamos. Não mexemos.

— Certo. Suspeitei isso também. — Puxo duas notas do


bolso da minha calça e dou ao sujeito. — Isto é pela colaboração.

— Grazie, senhor.
— Agora você pode sair.

O homem faz como ordenado e sai, deixando-me sozinho.


Agora preciso de Santino. Acendo um cigarro e, com o mesmo
preso no canto da boca, empurro o mármore de cima do túmulo.
Diferente do que cogitei, não é tão pesado. O problema é quebrá-lo
e deixar pistas de que estive aqui. Não devia ter dispensado o
coveiro.

Faço uma manobra para deixar o tampo parado no chão


sem desastre, o apoiando na lateral do próprio túmulo. Levanto o
caixão para medir o peso. A madeira bruta já é pesada por si só,
não há como saber se está vazio como suspeito que esteja.
Descarto o cigarro finalizado e acendo outro. Haja nicotina para lidar
com merdas como essa.

Santino aparece na entrada do mausoléu antes que eu


comece a tentar abrir a caixa enorme de madeira.

— Que porra você está fazendo?

— Descobrindo se há alguém neste caixão fodido. O túmulo


estava mexido e...

— Tiro. — Constata, esquadrinhando o local.

— Exato.
— O que está passando pela sua cabeça?

— Tito ameaçando o Fontana pelo corpo do Romeo? Não


sei.

— Fontana não saiu de Manhattan nas últimas semanas. —


Lembra, uma vez que o velho está sendo vigiado de perto.

— Sei disso. Honestamente, não há nada que faça sentido


na minha cabeça agora.

— Romeo poderia estar vivo? — Soa mais como uma


pergunta do que como afirmação.

Encaramo-nos por alguns segundos e volto a atenção para


o caixão. Greco coloca o silenciador em sua Glock 17, como o pedi
que trouxesse na mensagem, e atira nas três travas de ferro,
fazendo com que a caixa se abra imediatamente. O corpo morto
está lá, diferente do que pensei, que não haveria ninguém.

Contudo, o mafioso sem vida é Marco. O namorado de


Romeo. O fraco odor e o corpo ainda totalmente composto, exceto
pela frieza do cadáver e a falta de cor, evidenciam que a morte
ocorreu há poucos dias.

— Puta que pariu. — Murmuro, fechando o tampo de


madeira, sem saber o que pensar. — Que diabos?
— Melhor sairmos daqui. — Santino alerta, guardando a
arma e puxando o mármore do lado oposto ao meu.

Mesmo aéreo, ajudo-o e fazemos um trabalho mais rápido


do que quando fiz sozinho. Com tudo arrumado, saímos, mas
procuro o coveiro e lhe entrego um cartão com um nome e número
de celular alternativo para se comunicar comigo.

— Ligue-me se qualquer pessoa visitar este mausoléu. Se


esta conversa sair daqui, vou atrás de você e não irá gostar das
consequências. — A ameaça é muito séria, visto que tudo está fora
do meu controle e a vontade de encontrar cada resposta com minha
faca e arma está a um fio de vencer.

Ele olha entre Santino e eu e falta pouco para se benzer,


tamanho temor em seus olhos. Gagueja um “sim, senhor” e saímos
sem mais conversa.

Antes de nos separarmos, indo cada um para seu próprio


veículo, Santino alerta:

— Tito era até ontem um mafioso merda em nossa


concepção. O subestimamos. Ou ele não está sozinho. Ele pode
estar muito puto por você ter se casado com Serena ou o odeia há
muito tempo sem que soubéssemos. De qualquer maneira, fique
esperto, porque esta porra está parecendo muito séria e pessoal.
— Pessoal como Romeo me odiava? — Jogo a pergunta ao
vento.

Santino só aperta o maxilar e entra em seu carro.

Com os miolos estourando em busca de uma resposta, dirijo


até o aeroporto, louco para esfriar minha cabeça entre as pernas da
minha mulher.
CAPÍTULO 18

Após voltar para Manhattan, precisei de algumas horas de


sono para me estabilizar ao horário daqui. Então mal senti quando
um corpo grande e quente se juntou ao meu no meio da noite,
abraçando-me e enfiando o nariz entre meus cabelos. No meio do
meu devaneio sonolento só sorri e voltei a dormir.

Acordo sozinha e com o cheiro de Leonello em mim,


deixando claro que não sonhei. A sensação no meu peito durante
todo o dia foi desconhecida e incomum, mas boa, quase como paz e
nunca serei capaz de entender como posso me sentir assim com
ele.

Os últimos dias fizeram loucuras na minha mente. A viagem,


meu interesse de enredá-lo, o quão fiquei triste e tocada ao ver suas
cicatrizes, o sexo sem ambições além de tê-lo. Depois veio a
punição, como eu mesma lutava para me punir por gostar, por
esquecer Romeo em diversas situações.

— Bom dia! — Sou totalmente pega de surpresa ao


encontrar meus sogros sentados à mesa no horário que desço para
o café da manhã.

Atirei em seus filhos. Nossa relação foi fadada ao fracasso


desde então. Desirée é um doce de pessoa, mas não posso querer
que perdoe tal ato. Ludovico nem disfarça. Parece Santino, quase
rosnando para mim.

Leonello não está em casa e sinto alívio ao ver Maria


levantando-se para me dar um abraço. Sorrio e ela cochicha:

— Fique tranquila. Está tudo bem.

— Como estão? — Finjo normalidade e inquiro, sentando ao


lado da minha cunhada.

— Estamos bem, querida, e você? — Desirée soa a mesma


de sempre e é inevitável o aperto no meu coração.

— Estou bem.

O velho nada diz. Comemos conversando amenidades por


um tempo, até que ele explica o motivo da visita:
— Meu filho está muito ocupado e seu aniversário é
amanhã. — A informação me pega de surpresa, pois não sabia. —
Embora não queira, trinta anos requer uma festa, principalmente
pelo fato de que se tornará Subchefe. Leonello não pode organizar
uma comemoração. Mas esse é o papel de uma esposa. — A
reprimenda é evidente.

— Estou disponível, Sr. Di Accorsi.

— Você é da família, Serena. — Maria intervém. — O


chame de Ludovico ou sogrinho. — Ela ri, fazendo sua mãe rir
também.

Tenho certeza que meu rosto fica idêntico a um tomate. Até


acho engraçado, mas desconfio que ele possa jogar a faca de serra
em mim, então finjo serenidade.

— Como ia dizendo. Leonello é amigo dos Esposito, precisa


de uma festa a altura, pois Aquiles não deixará de vir.

— Tudo bem.

Ludovico continua falando e falando. Sinceramente, não sei


nada sobre organizar festas na prática. Mas não deve ser um bicho
de sete cabeças, não é?
À noite, tomo um longo banho e cuido do meu corpo antes
de vestir uma camisola vermelha sensual e deitar.

Nem em meus pensamentos há algo plausível sobre em que


pé Leon e eu estamos, mas muitas coisas têm corroído meus
pensamentos desde que estive no mausoléu da família Fontana.

Aceito meu próprio desejo de agir como se fôssemos um


casal normal somente hoje. Mas Leonello nunca chega e acabo
adormecendo.

Desperto, ouvindo a porta do banheiro batendo levemente.


Mal faz algum som, ainda mais ele sendo sorrateiro, entretanto a
ansiedade não me deixou ter um sono pesado.

Levanto-me e abro a porta do banheiro, encontrando-o se


despindo. Acendo a luz e meus olhos captam imediatamente o
batom no colarinho de sua camisa. Algo aperta em meu peito. Sinto
um nó na garganta, o desejo de atacá-lo quase vencendo o bom
senso.

Começo a me retirar do cômodo, mas sua mão rodeia meu


pulso no segundo seguinte.

— Me solta, porra. — Rosno, sem conseguir conter a


irritação na minha voz.
Havia optado por permanecer calada. Contudo, é muita
audácia desse desgraçado.

— O que é isso?

— Seu presente de aniversário deve ter sido de foder os


miolos, não é mesmo? Pois não consegue entender que não quero
que me toque! Vá para o seu quarto, infeliz!

— Serena, por Deus. — Leonello resmunga, puxando-me


para seu peito.

Minha bochecha toca no colete por um segundo antes que


eu me afaste tentando estapeá-lo.

— Me solta!

— Isso é ciúme?

— Ciúme de um desgraçado como você? — Rio, sem humor


algum.

— Eu estava em um clube, trabalho quase todos os dias em


um deles. Meus homens fizeram uma pequena comemoração antes
que eu viesse. Fiquei por uma hora. Algumas prostitutas tentaram
se aproximar, mas sou casado agora e embora possam ter tentado,
não conseguiram nada.
— Um homem do seu tamanho não foi capaz de evitar
ganhar um beijo? Não deve ter sido capaz de evitar muito mais
coisas, não é, Leonello?

Ele começa a rir como nunca o vi fazer antes. Fico tentada a


machucá-lo, mas seu agarre impede até que me mova. Infeliz
mentiroso.

— Então, você gosta de mim, bambina?

— Gosto da ideia de cortar seu pau.

— É mesmo? — Murmura, beijando meu pescoço.

Inalo em sua pele, buscando o perfume diferente do habitual


e não sinto nada.

— Leonello, se tiver me traído...

— Nunca poderia, bambina. A única mulher que me deixa


assim, feito um viciado, é você. — E esfrega-se em mim, mostrando
sua ereção. — Está linda, porra. — Elogia, passando suas mãos
pelo tecido leve da camisola. — Invade minha cabeça em qualquer
lugar e circunstância. O álcool e a nicotina jamais poderão aliviar
minha mente como quando estou enterrado em você.

— Desgraçado, mentiroso. — Murmuro, vencida, rendida.


— Sou um homem de honra, Serena. Nunca, nunca poderia
tocar em outra mulher tendo você. Tantas vezes eu disse que você
foi minha desde o primeiro momento.

— Leon... — Sussurro, implorando para que pare.

— Mas eu não disse que fui seu. Que sou seu. Mesmo que
seja uma menina tola, burra.

E me beija, levando tudo de mim e dando tudo. Suas


palavras aquecem meu coração e meu sangue. Meu corpo amolece,
destinado a tê-lo como condutor do prazer que queira dar. Beijo-o,
segurando seu pescoço, sentindo seu corpo duro contra o meu.
Este banheiro traz memórias da nossa primeira vez, mas ele
envolve minhas pernas em sua cintura e nos leva até o boxe.
Nossas roupas não saem, o duelo de nossas línguas nunca termina,
mesmo quando ele abre o registro do chuveiro e a água cai por
nossos corpos.

Leonello só coloca seu pau para fora da calça e encosta


minhas costas contra a parede antes de me penetrar com força.
Gemo em sua boca e ondulo em seu colo, querendo-o com tanta
gana quanto ele me quer.

Acordo com a bexiga cheia, sentindo a barriga dolorida.


Tento sair da cama, mas os braços fortes me rodeiam. Ele está nu,
todo seu corpo glorioso colado ao meu. Seguro um sorriso idiota e
forço-me para sair.

Leon resmunga e se aperta mais ao meu corpo.

— Preciso fazer xixi, Leon.

— Merda.

— Bom dia para você também. — Reclamo e afasto-me.

Cuido da minha higiene matinal e visto o roupão de cetim


que é conjunto com a camisola descartada no chão do box.
Recupero nossas roupas e as coloco dentro da pia, uma vez que
estão molhadas para serem colocadas no cesto. Saio do quarto,
tentando passar despercebida, mas o rosnado do homem me
acompanha quando passo pelo corredor.

Fujo para o andar térreo e me enfio na cozinha, preparando


um café da manhã reforçado. É a primeira vez que acordo com
Leonello e quero que se alimente decentemente antes de sumir no
mundo.

Ele desce, pegando-me totalmente desprevenida ao


aparecer apenas de cueca boxer azul. Seus braços me prendem
contra a pia e não demora a sua boca estar em meu pescoço. Não
reclamo, adorando cada segundo. Coloca-me sobre o balcão e faz a
saia do robe subir, revelando a nudez sob a peça.
— Deliciosa. — Lambe os lábios e me deixa estática ao se
inclinar e lamber minha boceta.

É imediata a contração e os líquidos escorrendo por minhas


dobras. Leonello chupa, girando a língua em meu clitóris, com os
olhos verdes ferinos presos nos meus. Seguro sua cabeça e
empurro contra ele, querendo mais. Suas mãos agarram minhas
coxas, bruto e visceral, assim como seu beijo lá embaixo.

Leon se afasta um pouco e retorna, endurecendo a língua,


abrindo minha vagina com os dedos e enfiando a língua no meu
canal, penetrando-me com um vai e vem delicioso.

— Se meus homens ouvirem estes sons que você faz, eu


irei cortar as orelhas de cada um. Seus gemidos são meus. —
Rosna, fazendo-me perceber que estou gemendo alto.

Arregalo os olhos com a onda de calor que rodeia meu


estômago, incendiando-me toda. Leon puxa meu corpo para a
beirada e, expondo meu ânus, lambe-o também, beijando sem
vergonha, fazendo meus olhos arregalarem de horror e girarem de
prazer enquanto o orifício intocado pisca.

— Este é o meu café da manhã preferido. — Murmura,


atentando-se ao meu clitóris e bebendo todo o meu prazer quando
gozo em sua boca.
Leonello fica de pé e beija minha boca, segurando minha
nuca com posse.

— Bom dia. — Saúda, com um sorriso safado.

Sorrio, como uma bêbada, e desço, tentando não cair com


as pernas bambas. Fico de joelhos rapidamente e puxo seu pau
duro para fora da cueca. Ele rosna e segura meus cabelos, olhando-
me de cima, sua expressão tomada pelo prazer.

Chupo a cabeça polpuda e lambo-o da ponta até a base.


Persigo uma veia proeminente e sugo uma bola em minha boca,
depois a outra, vendo-o tremer sob o ataque da minha língua.
Relaxo e levo-o o máximo que posso, chupando e masturbando a
base. Leon puxa meus cabelos, conduzindo o ritmo bruto que gosta.

Não tenho experiência, mas desde a primeira vez que o tive


em minha boca, senti-me acesa, cheia de tesão, sendo levada pelos
instintos e visualmente pelos vídeos que já assisti enquanto me
masturbava.

Leonello não deixa que eu termine, me puxa e beija meus


lábios, inclinando minha cabeça para trás e beijando meu pescoço.
Ele nos empurra até que estejamos próximos à mesa, então me
vira, colocando-me de bruços sobre o tampo de vidro. Sinto minha
bunda ser exposta, com o robe subindo até a cintura, e logo suas
mãos estão amassando minha carne e seu pau moendo entre as
nádegas. Ele segura minha cabeça, mantendo-me com a bochecha
apoiada e sem poder me mexer. Sinto a cabeça do seu pau
rodeando minha vagina, brincando, umedecendo.

— Eu poderia gozar só de estar assim com você.

Empurro contra ele, tentando mais contato e gemo ao sentir


a ponta inchada me invadindo.

— Então goza. Mostra para mim o quanto você é meu como


disse ontem à noite, Leon.

Seu membro se afasta e ouço seu grunhido ao mesmo


tempo em que sinto seu orgasmo quente e espesso jorrando em
minha vagina e bunda. Ele esfrega seu pau no gozo, espalhando-o
por minha pele e dobras. Mal me dá tempo para assimilar tudo e me
penetra de uma só vez, puxando meus cabelos para curvar meu
corpo como bem entende e metendo forte e rápido. Gemo, toda
excitada com a forma primitiva e visceral que se liberou, me
marcando e me tomando como bem queria logo em seguida, sem
mais delongas, sem necessidade de espera.

As batidas do seu quadril contra minha bunda são ferozes,


suas bolas batem na minha boceta e meu corpo o responde,
ondulando contra ele, buscando-o mais e mais. Leon enfia um braço
sob meu corpo, enfiando a mão dentro do robe e estimulando meus
seios túrgidos. Gemo e rebolo, deliciada.
— Minha. Toda minha. Esta boceta é minha perdição. Estes
olhos. Esta boca... — Sua voz rouca, o tom duro, me leva à loucura.

Leon se inclina, afastando meus cabelos para o ombro,


deixando minha nuca para seus dentes se fartarem. Choramingo,
gemo e me dou por completo. Ele me castiga com as arremetidas
brutas, fazendo-me lacrimejar quando me entrego a um segundo
orgasmo delicioso.

Sinto quando me enche logo em seguida e ambos ficamos


desabados sobre a mesa por longos minutos.

— Feliz aniversário — Sussurro. — Eu preparei o café da


manhã.

— Eu já comi o que precisava. — Brinca e deposita um beijo


em minha bochecha antes de se afastar. Ele arruma sua boxer e
senta-se em uma cadeira, puxando-me para o seu colo e arrumando
meu robe. — Está com meu cheiro. — Inala em meu pescoço e
enfia a mão em minha vagina, sentindo seu gozo escorrendo entre
minhas pernas. — Toda cheia de mim.

— Leonello. — Suspiro.

— É toda minha e quer me matar. Como poderá viver sem


isto depois?
Fico em silêncio, pois faz um longo tempo que não passa
esta ideia pela minha cabeça. Tudo parece diferente. É como se eu
não soubesse de nada. Só nós, assim, parece certo. Sinto em meu
âmago.

— Quero aproveitar que está em casa de manhã após tanto


tempo. É seu aniversário, toma um bom café antes de sair.

Leonello fica quieto, mas concorda com a cabeça. Levanto-


me e comento:

— Preciso de um banho.

— Nem fodendo. Vai passar o dia assim.

— E você pelos puteiros da vida. — Bufo.

Leonello sorri, satisfeito com o que considera ser ciúmes. Eu


poderia voltar a cogitar matá-lo se aparecer em casa novamente
como apareceu ontem à noite. Infeliz!
CAPÍTULO 19

Não externo, mas não há chance de que eu vá sair de casa


hoje. Não por ser meu aniversário, mas por ser um viciado nesta
mulher e, pela primeira vez, ela parecer a minha Serena do começo,
que realmente está satisfeita em me querer. Desde o ciúme da noite
anterior, a satisfação encheu meu peito. Loucura, eu sei.

Que homem quer uma mulher louca territorial para cima


dele? Nenhum mafioso que conheço. Eles fodem até os buracos
das paredes fora de suas casas, mal se importando com suas
esposas, e todas elas aceitam, afinal não há nada que possam fazer
para mudar tal coisa. Nunca soube do velho Ludovico tendo este
tipo de conduta e eu mesmo cortaria seu pau murcho se
descobrisse que traiu minha mãe. Ou talvez se crescesse vendo-o
fazer tal coisa, acharia normal. Não é o caso. Se um sujeito não é
capaz de ser leal a sua esposa, que dorme e acorda com ele, não
confio em sua lealdade para com mais ninguém.
Serena serve o café da manhã e comemos juntos, no
entanto, o que enche meus olhos é ela. O suor secando em sua
pele branquinha, o corpo satisfeito, os olhos ainda nublados pelo
prazer recebido, minha porra escorrendo entre suas pernas,
secando em sua bunda.

— Seus pais vieram aqui para o café da manhã ontem.

— Velho enxerido. — Praguejo. — Avisei que não a


importunasse.

— Não sou de cristal, Leonello. — Faz uma careta. — Estou


animada para organizar sua festa. É algo que posso ser boa, ser
útil.

Não quero uma festa para ter que lidar com bajuladores.
Uma festa pode ser o momento ideal para estourar a merda que Tito
tem tramado. Todos dispersos, muita gente junta. Fácil para ele se
misturar. No entanto, antecipando seus passos, posso ficar
preparado para recebê-lo. E os olhos azuis brilhantes a minha frente
dão a palavra final para que eu saiba que haverá a porra da
comemoração extravagante.

— Faça tudo como bem entender. Convide meus pais e


irmã, Santino, nossos seguranças e a família Esposito.
— Estes são seus convidados? — Sua expressão parece
divertida.

Penso por um segundo e digo:

— Pode convidar seu pai também.

Serena ri, jogando a cabeça para trás e expondo a garganta


que amo cheirar e beijar.

— Você sabe que tem obrigação de convidar todas as


famílias de Subchefes, não é? Mesmo os de fora de Manhattan.
Principalmente sendo amigo de Aquiles Esposito.

— Aquiles é meu amigo, odeio que isto me obrigue a lidar


com bajuladores. Mas que seja. Faça como quiser, bambina.

Acabamos nossa refeição matinal e subimos para o quarto


dela, onde a jogo na cama e a mantenho em meus braços por um
longo tempo até que pegamos no sono. Quando desperto, tomo
cuidado para não acordá-la, mas ela sente a diferença ao ter meu
corpo se afastando.

— Vai sair agora?

— Por mais que odeie isso, precisamos de um banho.


Almoce comigo hoje.
Ela parece animada com a possibilidade de me acompanhar
e corre para o banho. Mesmo querendo ir para o banheiro e atacá-
la, sigo até o meu quarto, consciente de que esta porra de estarmos
em cômodos separados tem que ter um fim imediatamente. Levo
algum tempo respondendo e-mails importantes e as informações
nos aparelhos descartáveis. Desde a descoberta de que o corpo de
Romeo Fontana não está no mausoléu, tenho seguido Antonio
diretamente. A morte de Marco permaneceu na calada. Ninguém
fala sobre, como se sua família sequer soubesse. Vinatti tem ficado
trancado em casa e Tito permanece no esgoto. Continuei sem
conseguir criar ligações para o que está acontecendo e sem pegar
nenhum escorregão dos suspeitos.

Santino é meu braço direito de sempre, ajudando-me em


tudo e seguindo-me até o inferno se preciso.

Após cuidar do que posso através dos aparelhos telefônicos,


sigo até o closet e escolho as peças de roupas para o almoço.
Retorno para o banheiro de Serena e, sorrio satisfeito, ao encontrá-
la ainda no banho.

Serena seca os longos cabelos enquanto abotoo minha


camisa. Perdemos bons minutos sob a ducha e ela precisou de
outro banho. Caminho até seu closet e escolho um dos tantos
vestidos vermelhos. Este tem o tecido de seda, de comprimento até
o meio das coxas e alças finas.
Ela arqueia a sobrancelha ao ver a peça, mas sorri e se
aproxima para vesti-lo. É necessário que eu feche o zíper em suas
costas e nossos olhos ficam presos através do reflexo do espelho.
Afasto os cabelos para um ombro e inclino-me para beijar a nuca e
os ombros. Há um decote generoso em seus seios. Serena é linda.
Eu nunca vou me acostumar.

— Quero despi-la outra vez.

Seu sorriso em resposta é lindo, mas dá um tapa em minha


mão e se afasta, indo buscar sapatos. Logo surge com saltos
vermelhos enormes com detalhes em tiras nos tornozelos, depois
coloca os acessórios e passa maquiagem, o principal sendo o
batom vermelho. Observo cada passo.

No carro é Bruno quem dirige, enquanto mantemos o


silêncio atrás, embora de alguma forma Serena sempre busque me
tocar. Sinto-a em uma atmosfera totalmente diferente de semanas
atrás e pareço um adolescente cogitando se as coisas darão certo.
Intimamente, desconfio de cada ato da mulher. Seguir pela avenida
se torna impossível, então digo ao segurança para estacionar e ir
nos encontrar no restaurante em seguida.

Os olhos de Serena se iluminam quando desço do carro e


ergo a mão para que me siga. Ela entrelaça os dedos nos meus e
caminha, observando tudo na Times Square. O bairro é uma
verdadeira zona. Famoso por si só, pois foi cenário de muitos filmes,
é conhecido pelas placas publicitárias, outdoors, personagens que
trabalham na região e atrações. Nunca foi meu lugar preferido no
mundo, mas minha esposa parece gostar. Ou talvez ela só goste de
estar fora da gaiola de ouro.

— Você sabe que pode ir aonde quiser, não sabe? Desde


que tenha seguranças para protegê-la.

— Eu sei. Já vim aqui algumas vezes desde que nos


casamos, com Bella e Maria. Mas é que ainda parece novidade.

— Esqueço que seu pai a manteve em cárcere.

Serena bufa e eu sorrio.

Conduzo-a até o restaurante que fiz reservas para nós e ela


leva algum tempo antes de perceber que o almoço é para nós dois e
sorri, quase tímida, mal parecendo a menina de boca atrevida que é.

— Achei que era um daqueles almoços com algum


empresário e sua esposa. — Comenta enquanto puxo a cadeira
para que ela sente.

Sento-me do lado oposto, encarando seu decote profundo e


sorrio:

— Estes seios são apenas para os meus olhos. Meu


presente de aniversário.
— Já disse que você é louco, não é?

— Nunca tentei parecer o contrário.

Almoçamos em um clima ameno e depois da sobremesa,


faço algo que nunca fiz, caminho pela Times Square até chegarmos
ao Central Park. A primeira coisa que Serena faz, é sentar no
gramado à margem do rio e retirar os saltos. Ela esfrega os pés na
grama e apoia os braços no chão, atrás do corpo, de forma que
pode se inclinar, com a cabeça para trás, admirando o céu. Fico
com as mãos nos bolsos da calça social, de pé, observando os
arredores, atento a qualquer possível imprevisto.

— Sente-se, Leon. Você não é meu segurança. — Reclama.

Encaro a expressão atrevida, o pequeno sorriso e o olhar


brincalhão. Sento-me ao seu lado e ela se ajusta, aproximando-se
para beijar minha mandíbula.

— Você não quer que eu enfie minha mão sob a saia deste
vestido aqui mesmo, quer?

— Será que não posso beijar o meu marido sem que ele
tenha que pensar em sexo? — A safada ronrona, esfregando o nariz
em meu rosto.
Abstenho-me a sorrir. Penso em foder esta mulher mesmo
quando não deveria e ainda assim passo horas do meu aniversário
na porra do Central Park, conversando sobre a natureza e
observando famílias felizes.

Mais tarde, ela diz que o clima está bom para um banho na
piscina. Ao chegarmos advirto aos meus homens:

— Estou em casa. Fiquem fora do caminho.

Entrelaço meus dedos com os da minha esposa e a levo


para a piscina. Esta área fica na lateral da casa, de forma que não é
exposta para todo o resto, a menos que a vigilância do perímetro
esteja sendo feita.

— Então Leonello Di Accorsi está em casa hoje? — Ela sorri


e enrola os braços em meu pescoço.

O entardecer já caiu sobre o dia, mas ela esperava que eu


fosse sair, obviamente.

— Depois do meu café da manhã, quero todas minhas


refeições em casa. — E beijo seus lábios carnudos.

Sendo quem é, a mulher não perde tempo em tirar o vestido


e pular apenas de calcinha na piscina, provocando. Seus cabelos
longos cobrem as costas enquanto ela mergulha e a bunda
empinada permanece a minha vista. Desabotoo a camisa e me livro
de cada peça, sem perdê-la de vista. Ela emerge erguendo os
braços para afastar os fios escuros do rosto e isso me deixa com
uma visão perfeita dos mamilos rosados durinhos por conta do frio.

— Não vai vir? — Inquire ao ver que sentei-me na


espreguiçadeira.

— Venha cá. — Exijo, descendo a boxer e expondo meu


pau duro. A forma como Serena arfa ao ver a cena sempre faz meu
peito doer de um jeito estranho. Seu desejo é tão desesperador, tão
cru, quanto o meu.

Serena sai da piscina e sequer se importa de estar seminua


na área externa. Ela caminha até mim e morde o lábio inferior. É
meu aniversário, porra, e o único presente que quero é a boceta da
minha mulher.

— Deixe que eu toco. — Sussurra, inclinando-se para me


tocar.

Nego com a cabeça e instruo:

— Me monte e coloque a calcinha para o lado. Quero ver


sua boceta me engolindo até o talo. — Seguro sua cintura fina,
apertando os dedos na pele branquinha. Serena geme e obedece.
Colocando uma perna para cada lado do meu corpo e apoiando as
mãos em meu peito. Ela se esfrega descaradamente no meu pau,
masturbando-se, usando a base para estimular o clitóris. — Isso,
safada gostosa. — Rosno, apertando sua bunda, passando a mão
livre por suas costas, subindo até a nuca e segurando a garganta.
— Rebola. Se dê prazer, quero o meu pau todo coberto do seu
desejo. — Firmo o meu aperto o bastante para fazer seu ar se
esvair por uns instantes. Serena revira os olhos e rebola mais.

— Porra, Leonello. Você me deixa louca. Como pode?


Fodemos de manhã e é como se eu não o tocasse há anos...

Segura a base e afasta sua calcinha o suficiente para me


levar. Ela desce lentamente pela extensão, me deixando ver sua
boceta se alargando para me aguentar, tão melada a ponto da baba
escorrer pelo meu comprimento.

— Bocetinha gulosa. Olha como me aguenta, como se


estica toda para mim. — Grunho e aperto sua bunda, puxando-a
para mim quando começa a subir e descer. Estico-me para sugar
um mamilo e brinco com os seios. A água em seus cabelos e corpo
também me molha e o jeito que ela se inclina para lamber as gotas
no meu peitoral me deixa louco. Bato em sua bunda e raspo o dente
no bico durinho do seio no momento em que ela contrai em volta do
meu pau.

Filha da puta gostosa do caralho.


Serena desce as escadas usando um vestido justo preto até
os joelhos e mangas compridas. A descrição da peça cai toda por
terra diante do decote profundo entre os seios até o umbigo. As
botas chamativas de cano longo com estampa de onça atraem
minha atenção. Seus cabelos estão presos em um rabo de cavalo
alto e o cheiro doce me alcança logo que seguro sua mão. Inclino-
me para inalar o pescoço e beijar atrás de sua orelha enfeitada por
um brinco grande.

— Sinto que seu aniversário é uma farsa. Você está fazendo


surpresas para mim. — Seu sorriso é radiante.

— Fazendo você feliz eu me faço feliz. — Brinco dando um


apertão em sua bunda. — Mas não é surpresa, é só um passeio.

— Tudo isto é com o intuito de me levar para a cama? —


Pisca, fingindo estar desacreditada.

— Para o banheiro, mesa, piscina... onde for.

Serena fica na ponta dos pés e me beija, segurando-me


pelo ombro ao sussurrar:

— Nunca precisou de esforço para isso, não é? — Saímos


de mãos dadas e, conforme instruídos, Bruno e mais dois
seguranças nos seguem, mas vão para um carro diferente. Na
garagem, Serena sorri ao ver a Lamborghini. — Quanto tempo não
via o Transformers.
— Hoje seremos só nós dois e esta beleza. — Passo a mão
no capô e ela bufa, depois assovia quando vê a porta subindo.

Serena repara tudo no interior e entro logo em seguida.


Saímos de casa e dirijo por um longo tempo, pegando a rota para o
Sul de Manhattan. Passamos por muitos bairros conhecidos até
chegarmos em Lower East Side, nosso destino.

O bairro é a parte mais baixa da ilha, além de ser onde


localizamos o maior centro financeiro do mundo, Wall Street. A rua
abriga alguns dos principais bancos e instituições do mercado
financeiro e de capitais. Entre elas, a maior bolsa de valores do
mundo: a Bolsa de Nova York. Seu encanto não passa
despercebido a Serena quando estaciono próximo ao cais onde
muitas pessoas, a maioria turistas, embarcam em passeios no rio.

Serena demonstra genuína empolgação quando o condutor


da balsa vem até nós. Contratei um passeio apenas para dois e me
admira como cada coisa “boba” na companhia de Serena dá brilho a
cidade. Coisas que sempre estiveram ao meu alcance, mas nunca
ganhou meu interesse. Fora o brilho em seus olhos e a revelação de
que nunca aproveitou além do que o domínio do seu pai permitia.
Não há nada sexual no passeio, o que, vindo de mim, é uma
novidade.

O dia de hoje foi o dia que mais fizemos sexo, em


contrapartida, é o dia em que mais conversamos. É como se Serena
nos permitisse a chance de nos conhecer. De sermos o casal que
somos. O sorriso tolo no meu rosto não deixa negar que a chave de
boceta que ganhei foi fatal. No entanto, a quem quero enganar? A
desgraçada me ganhou pelos olhos, com estas íris azuis como o
céu, que escondem um inferno capaz de enredar qualquer demônio.
Como eu.
CAPÍTULO 20

De braços dados, descemos a escadaria exagerada do


suntuoso salão de festas no hotel extravagante. Serena e eu
concordamos em fazer a festa fora de nossa casa, findando
qualquer possibilidade de Tito ter alguma cartada em longo prazo.

Minha mulher conseguiu preparar uma festa do caralho em


duas semanas. Convites foram distribuídos para mais de duzentas
pessoas, além da exuberância visível em cada canto do salão.

O vestido longo azul marinho coberto por lantejoulas, com


uma fenda alta na perna esquerda, quase expondo a virilha, e o
decote entre os seios fartos, faz com que todos os olhos surpresos
se voltem para ela.

— Nem acredito que está tudo lindo. — Comenta, orgulhosa


de si mesma, a palma da mão suando frio na minha.
— Digno de quem organizou. — Elogio, ciente do quanto ela
se esforçou, mesmo que apenas delegando e decidindo. — Este
vestido, embora, me fará dar fim a qualquer diplomacia que
Ludovico tanto insistiu que eu aprendesse a manter.

— Por favor. — Revira os olhos, rindo. — Era o único no


mesmo tom da sua gravata. — Pisca.

Serena nunca havia organizado um evento e se saiu


perfeitamente bem. Até o velho Ludovico parecia orgulhoso,
segurando sua taça com champanhe, com o queixo erguido e o
peito estufado, como um galo de briga vencedor.

A parte insuportável inicia quando nos juntamos aos


convidados. Serena é obrigada a fazer o papel de anfitriã, lidando
com as esposas fofoqueiras e as virgens desesperadas por um
casamento, e eu preciso ser o diplomata com todos os bajuladores.

— Deixe-me roubar a atenção do meu amigo por alguns


minutos? — A voz conhecida com o sotaque italiano pronunciado
faz os olhos do homem feito ao meu lado quase pularem de órbita.

Sorrio vendo os olhos de Aquiles Esposito cerrarem


brevemente. O homem é como uma estrela do rock no meio dos
jovens soldados. Este certamente é um dos seus fãs.
— Claro, senhor. Chefe. Claro. — Afasta-se, indo de costas,
sem desviar o olhar, até que esbarra em uma mulher e entorna a
bebida da taça dela.

— Que porra é esta?

— É a fama, meu amigo. — Bato em seu ombro e ele ri.

— Seu pai conversou comigo. — Sua carranca muda ao


mencionar isto. Minha expressão fecha na hora. — Está com
inimigos dando trabalho e não disse porra nenhuma por qual
motivo?

— Sou um homem feito, Esposito. Não preciso de babá.

— Eu lhe daria um soco se não fosse sua festa. —


Resmunga.

Caminhamos por entre os convidados, sendo interceptados


na maior parte do tempo, até que finalmente conseguimos chegar à
área externa. Meus olhos são capturados pelo azul do vestido de
Serena. Ela está mais a frente conversando com minha mãe e
Maria. Ambas riem por algum motivo e Serena quase entorna seu
champanhe ao se curvar um pouco por conta da risada.

— Vejo que seu casamento está sendo bom. — Aquiles


observa. Retorno a atenção para ele e não digo nada. — Bem... vou
perguntar uma única vez. Que porra tem acontecido?
— Esposito, você é referência e um grande amigo, uma das
poucas pessoas que realmente respeito nesta máfia fodida. Você
tem ordens para mim? Obedecerei. Preciso reportar qualquer
situação? Feito. Mas se estiver falando como amigo, não vou dizer
porra nenhuma.

— Foda-se, seu filho da puta. Meu pai está aqui e ele vai
apresentá-lo como novo Subchefe diante de todos. Queira ou não,
está sob a proteção dos Esposito. É bom que estes desgraçados
saibam. Se sair da linha, eu mesmo corto sua garganta. — Bate em
meu ombro e se afasta, colocando as mãos nos bolsos da calça
social, observando tudo à volta com seus olhos de falcão.

Ao voltar meu olhar para Serena, franzo a testa ao ver que


minha mãe saiu e dois moleques se aproximaram, de forma que
minha esposa e irmã estão rindo conversando com eles.

Aproximo-me, atento. O que há de tão engraçado?

— E nós simplesmente chutamos suas bundas e mostramos


quem manda sem a necessidade de armas. — O mais alto diz,
orgulhoso de sua mentira descarada.

Pairo ao lado de Serena, louco para colocá-la no ombro e


tirá-la de perto destes bastardos de aparência boa. Mas a
demonstração de afeto diante de tantos abutres está fora do
cardápio. Ela me encara, o sorriso radiante, os cabelos presos em
um coque sofisticado no topo da cabeça, evidenciando ainda mais a
beleza de seu rosto, sem os fios cobrindo qualquer parte.

— Eu estava indo procurá-lo.

— Venha. Quero apresentá-la a algumas pessoas.

Enlaçando nossos braços, afastamo-nos dos dois patetas,


que imediatamente se calaram ao me notarem.

— Houve algo? Parece irritado.

— Toda esta porra é uma perda de tempo.

Serena me olha feio e bufa, seu gênio irritadiço dando as


caras.

— Me esforcei para que toda esta porra acontecesse. Seria


bom que o mais interessado em tudo, parecesse feliz. — Imita meu
tom, de forma condescendente.

— Por isso convidou seus colegas colegiais? — Retruco.

Serena estaca no lugar por um momento, fazendo com que


eu seja obrigado a parar também. Sorri, feito a infeliz que é, e
murmura:
— Ciúmes, hein? E não, querido, eles não são meus
colegas, são filhos de mafiosos que lidam com você.

— Tão notáveis que nunca os vi.

— Muito zangadinho. Bonitinho. — Zomba.

— Não há nada “inho” em mim, Serena.

— Eu sei, Leon. — Sua voz soa sedutora e seu olhar


confirma a intenção quando se estica e sussurra: — Sei que é um
homem muito bajulado, precisa dar atenção a todos. Guarde meia
hora para mim e me deixe aproveitar de uma parte nada pequena
sua em um dos toaletes.

Porra! É quase impossível conter o desejo de estapear seu


rabo gostoso. O desejo é mandá-la ir para o banheiro e esperar por
mim sem calcinha, mas a maior parte da minha tensão é o fato de
que possa haver inimigos aqui. Em contrapartida, eles não seriam
ousados para agir com os Esposito em cena.

Continuo guiando a desgraçada que tenho como esposa e o


sorriso da senhora Alessa Esposito é radiante ao ver a
aproximação. Ela sussurra sutilmente no ouvido do marido, que se
atenta a nossa chegada assim como os filhos.

— É um prazer poder revê-la sem a correria do casamento!


— Cordialmente, abraça Serena, que sorri e retribui.
A mulher alta, experiente e exuberante tem fama de ter
movido muitos pauzinhos para a máfia começar a aceitar as
mulheres com igualdade. Na Itália, com Kiara Esposito, a caçula do
Capo, sendo tratada como igual, acredito que as coisas tenham
melhorado. No entanto, em Manhattan o machismo segue o mesmo.

— Como vai, bambino? — Stefano Esposito inquire,


analisando a mim e Serena com olhos de águia. — Seu sogro não
está por aqui. Algo errado?

— Para ser honesto, não havia dado falta. — Sorrio.

— Cuidado. Eu matei meu sogro.

— Não diga bobagens para impressionar, amore mio. —


Alessa toca seu ombro, sorrindo ao dizer: — Quem deu o tiro que
matou papà não foi você.

Os olhos de Serena quase pulam de órbita quando Stefano


sorri e concorda:

— Realmente. Minha esposa fez as honras.

Kiara e Aquiles sorriem, orgulhosos, como a família do


caralho que são. Só observo minha esposa, ciente de que isto
entrará em sua mente, afinal de contas, seu irmão já não está mais
vivo e agora seu pai pode ser um dos que terei que matar.
Após mais conversa jogada fora, perco Serena de vista
quando sou obrigado a lidar com mais bajuladores. Surpreendo-me
com a chegada de Antonio Fontana. Meu sogro parece um
fantasma, abatido, olhos fundos, a sombra de um homem.

— Desculpe pelo atraso. Estou gripado, mal me aguentando


em pé.

— Cuidado, Fontana. Às vezes as pessoas estão cheias de


planos, prontas para viverem por muito tempo, então vem uma gripe
e... — Faço o gesto idiota do dedo passando contra a garganta,
como se fosse uma faca. Ele arregala os olhos sutilmente,
recebendo o recado. — Aproveite a festa e cuidado com o que
bebe. Pode piorar o resfriado. — Dou tapinhas em seu ombro e
afasto-me, preocupado com o sumiço de Serena.

Passo por alguns dos meus seguranças e não avisto Bruno,


o que alivia o desespero. Afinal, ele está de olho nela.

Sinto o celular vibrar no bolso da calça social e suspiro ao


ver uma mensagem da desgraçada.

Estou no toalete, aguardando o meu momento de brilhar


nesta festa.

Encontro Bruno vigiando a porta e avisa-me:


— A senhora Di Accorsi não estava se sentindo bem.

Pobre homem tolo.

— Obrigado. Não deixe outra pessoa entrar.

Passo por ele e invado o banheiro feminino, encontrando os


olhos azuis brincalhões através do reflexo do espelho enorme.

— Estive de olho em você toda a festa.

— É mesmo? — Aproximo-me lentamente. — Eu acho que


você é uma safada que tem fetiche por banheiros.

A risada alta que escapa alcança os olhos de forma que


ficam pequenos. Aproveito a maneira como expõe a garganta e levo
minha mão à pele macia.

— Tenho sérios problemas quando se trata de você.

— Somos dois então. Pelo menos o tesão, nós sabemos


como resolver. — Aperto sua garganta, vendo os olhos arregalarem
e murmuro em seu ouvido: — Ajoelhe e coloque esses peitos para
fora.

E a safada nem hesita em fazê-lo, virando-se para mim e


lambendo os lábios ao ver que estou abrindo o cinto para expor o
que ela tanto quer. Enfio meu pau na sua boca pintada de vermelho
e os vestígios que o batom deixa a cada vai e vem me deixa louco.
Leva toda minha força de vontade para não segurar seus cabelos,
mas Serena me chupa com prazer evidente, gemendo, salivando e
revirando os olhos. Quando estou prestes a gozar, afasto-me e me
masturbo até o gozo escorrer por seu queixo, busto e seios. Ela
arregala os olhos, chocada. Enfio a ponta em sua boca, fazendo-a
lamber qualquer vestígio e o guardo na cueca, fechando a calça e o
cinto em seguida.

Inclino-me e esfrego a porra nos seus mamilos, ouvindo-a


gemer baixinho. Puxo-a para cima, igualando nossas alturas e beijo
sua boca carnuda.

— Você vai me pagar por gozar em mim na sua festa. Como


vou usar o vestido agora?

— Deixe minha porra secar. Deixe que sintam meu cheiro


em você. Foda-se. — Aperto sua bunda.

— É mesmo? Somos animais agora? — Seu sorriso falso


faz-me cerrar os olhos, desconfiado. — Ajoelhe-se então, estou
molhada, dolorida e pronta para marcá-lo do mesmo jeito.

Serena puxa meu colarinho, toda bruta e safada ao beijar


minha boca. Porra. Sinto sua mão me tocando sob o terno até que
toca a arma na cintura. Seus olhos brilham ao se afastar para me
encarar e arqueia a sobrancelha, como se aguardasse uma
reprimenda.
— Sorrateira.

— Ajoelhe-se. Quero sua boca em mim até que eu esteja


gozando.

Abro suas pernas, arreganhando-a para mim e fico de


joelhos. Suspendo a saia do vestido, prendendo junto as minhas
mãos em sua bunda. Ela não faz movimentos com a pistola, só a
aponta para mim. Suspeito ter sérios problemas mentais ao sentir
meu pau pulsar sob a calça enquanto a desgraçada mantém o
revólver apontado em minha direção e o olhar de exigência para ser
saciada.

Não afasto a calcinha pequena para chupá-la a primeira vez,


castigando-a com uma mordida no processo. Ela geme e empurra a
boceta no meu rosto. Faço movimentos circulares com a língua em
seu clitóris inchado e pergunto:

— Este grelinho está precisando de mim?

Serena geme e joga a cabeça para trás, segurando minha


cabeça com a mão livre e empurrando meu rosto entre suas pernas.
Sorrio com o desejo desavergonhado e puxo a calcinha com meus
dentes até metade da sua bunda, meus olhos sempre nas reações
em seu rosto, no espetáculo de mulher que a desgraçada é. Seus
seios estão para fora, gozados, o vestido extravagante todo
embolado no tronco, os cabelos perfeitamente alinhados. Uma visão
do caralho. Lambo a carne molhada sem restrições, esfregando
minha barba no processo, mordendo as dobras, passando o nariz
no grelo. Beijo sua boceta como se fosse sua boca e quando
Serena goza, preciso firmar as mãos em sua bunda para mantê-la
de pé.

Ela encosta no balcão da pia enorme e sorri, satisfeita,


deixando a arma sobre o mesmo. Surpresa me enche ao ver que
não irá tentar nenhuma gracinha com a pistola. Não que fosse um
problema.

— Venha, Leon. Tenho lenços umedecidos na bolsa. —


Murmura, puxando meu rosto e beijando meu queixo. Serena inala
em minha pele e fecha os olhos, como se apreciasse seu cheiro em
mim.

— Não vou limpar. Quero seu cheiro em mim. — Digo,


arrumando seu vestido, cobrindo os peitos, e logo colocando a
calcinha e saia no lugar. Ela sorri para mim. — O que foi?

— Deixou-me com sua arma. — Não precisa dizer mais do


que isto, os braços rodeando minha cintura parecem expressar o
quanto isto a fez bem.

Não digo nada, afinal meus instintos dizem que ela não é
um perigo. No entanto, eles andam falhos desde que essa mulher
chegou à minha vida.
CAPÍTULO 21

A festa de Leon foi há uma semana. Estive muito próxima de


Alessa Esposito e confesso que alguns toques sutis que a primeira
dama da Cosa Nostra me deu, fincaram em minha cabeça.

Depois da comemoração, meu marido se tornou Subchefe


de forma que mal o vi nos últimos dias. Leonello está totalmente
envolvido com seus deveres, principalmente porque Aquiles
permanece em Manhattan e está sempre precisando de Leon.

— Santino e eu nos beijamos. — Maria comenta tirando-me


do meu torpor.

Bellarmina grita e eu rio, chocada.

— Como foi isso? — Pergunto.


— Sabia que você estava escondendo algo desde que
retornamos de Veneza! — Bella acusa, mas sua felicidade é visível.

Analiso as duas, sempre tão normais quanto é possível ser.


Bella sonhando com o príncipe encantado e Maria com seu amor de
infância.

— Naquela noite em que Tito feriu a cabeça dele... — Maria


suspira e me lança um olhar de desculpas. — Estava um caos,
Romeo tinha falecido e tudo o mais. Senti que estava totalmente
errada em comemorar algo naquele momento.

— Você sonhou com esse homem por anos, não importa se


estiverem me enterrando, faça o favor de agarrá-lo quando tiver
oportunidade. — Brinco, mas há algo martelando em minha mente e
não é de hoje. — Diga uma coisa. Vocês sabem o que aconteceu
com Tito naquela noite?

— Não ao certo, mas foi ele quem causou toda a confusão e


fugiu. — Bella explica. — Maria saberia mais, mas Leon não tem se
encontrado com o pai dela em casa para ela ouvir atrás das portas.

— Eu sei de algumas coisas, mas é tudo muito confuso e,


para ser sincera, gostaria de vê-la bem com Leonello.

Encaro as crianças brincando à margem do rio e me perco


em pensamentos. O frio está absurdo em Manhattan, mas ainda
assim as pessoas não deixam de frequentar o Central Park. O
parque se tornou um local que sempre quis visitar. Algo tão comum
a todos que moram na cidade, mas papà sempre me prendeu ao
ponto de poder contar nos dedos quantas vezes pude vir. Não há
lugar mais bonito em Nova York, em minha opinião. Há esculturas,
cachoeiras e até um zoológico. Os pontos que mais atraem turistas
são Alice in Wonderland, que é uma estátua da Alice no País das
Maravilhas com o coelho e outros personagens do livro, e a
Strawberry Fields, uma pintura no chão em homenagem a John
Lennon.

Estou usando jeans justo, casaco preto de camurça e botas


brancas de cano longo. Os cabelos soltos ajudam a me aquecer,
mas sinto o nariz e as bochechas frios o tempo inteiro. Nossos três
seguranças transitam por perto, dando-nos privacidade, mas sem
deixar brechas para surpresas infelizes.

Um turbilhão passa na minha mente. Lembro-me de


Leonello afirmando que não matou Romeo, mas o que fez isso fixar
na minha cabeça foi meu irmão murmurando seu nome antes de
fechar os olhos.

Com a ida ao mausoléu da família, prometi a mim mesma


que deixarei o encerramento fincar em meu coração. Romeo se foi e
nada poderá mudar isso. Com a cabeça fria, comecei a enxergar
nuances daquela noite que não fui capaz de perceber no dia,
tampouco tive capacidade de notar mesmo após tudo. Tanto que me
deixei levar pelas emoções que sinto perto de Leon e me permiti
viver sem culpa, assumindo a mim mesma que nutro sentimentos
pelo mafioso e aceitando o querer absurdo que me leva a querê-lo
dia e noite. Leon e eu nos aproximamos além da cama e conhecê-lo
tem me tornado cativa dos seus braços, mas o único carcereiro é o
anseio que carrego pelo homem.

— Serena, eu não o matei.

Estive tão presa em meu drama — como Leon afirmou ser a


história da minha vida — que percebo que nunca fiquei sabendo o
que desencadeou a tragédia daquela noite. Tito está sumido, meu
irmão está morto, a família Vinatti tem fotos comprometedoras de
Romeo, papà parece uma sombra amedrontada, Leon vive no limite
caçando alguém. Tudo isso ocorreu tão rápido que só pude focar no
que mais me marcou. A morte de Romeo e meu casamento
conturbado.

Leon nunca escondeu sua crueldade. Nunca soube de


casos em que mentia. No entanto, os detalhes parecem embaçados
na minha cabeça, pois me lembro de atirar nele e depois ambos
estarmos despejando ódio.

Encaro as meninas, ambas me olhando com curiosidade.

— Leonello não matou Romeo, não é? — Inquiro, a voz


falhando com o receio de ter sido mais estúpida do que poderia ser
permitido.
Minha cunhada suspira e está prestes a responder quando é
cortada por um som de disparo. Gritos desesperados soam ao
mesmo tempo em que uma correria sem fim começa no parque.

— Para o carro. Imediatamente! — Orlando Costa,


segurança de Bella, exige, já empunhando sua pistola cromada e
olhando aos arredores para rastrear de onde veio o disparo.

Marconi Cavasin, que protege Maria, puxa minha mão e a


dela, enquanto puxo Bella. Bruno vem às minhas costas com a arma
em mãos, pronto para atirar. Ambas corremos até o carro e
entramos. Neste momento, dois homens se aproximam do veículo e
policiais aparecem, impedindo qualquer atitude dos soldados.

Pulo dos bancos de trás e aviso:

— Vou nos tirar daqui, entra logo, se ele nos seguir, atira
daqui, onde há proteção.

— Nem fodendo. — Bruno rosna.

— Sou a mulher do seu chefe. Entra nessa porra ou vai ficar


para trás! — Aviso uma última vez e Marconi não demora a sentar
no carona ao meu lado.

O motor ruge quando ligo o carro e Bruno se decide,


entrando ao lado das meninas enquanto Orlando segue para o outro
veículo, se colocando como barreira entre nós e os perseguidores.
O tiroteio cessa por conta do tempo que eles levam para ocupar seu
carro. Dirijo feito louca pelo Upper West Side, optando por dar a
volta no bairro vizinho ao meu por conta de ser mais calmo em
relação à movimentação de automóveis.

Vejo pelo retrovisor um dos bastardos colocando o corpo


para fora da janela do carro deles e se preparando para atirar. Mais
de um tiro acertam os pneus de Orlando pela forma que o carro
rodopia e ele fica para trás. Desespero-me.

— Bella e Maria, abaixem-se! — Alerto, deixando o carro


derrapar brevemente por conta da atenção dividida.

Bruno consegue atirar no pneu da frente dos perseguidores,


fazendo-os perderem a velocidade. Ele continua disparando até que
consigo chegar ao nosso bairro. A esta altura, dois carros passam,
cercando-nos. Meu coração pulsa de alívio ao ver o Transformers de
Leonello, que manobra até estar atrás do nosso veículo e o outro
carro segue adiante para encontrar os desgraçados que tentaram
nos matar e ajudar Orlando.

Em poucos minutos passo pelas avenidas e estaciono de


qualquer jeito em frente aos portões da nossa casa e pulo para trás,
abraçando as meninas.

— Vocês estão bem? — Pergunto, observando as


rachaduras no vidro traseiro. Mesmo blindado teve danos, afinal não
é indestrutível.
— Dio Santo! Poderíamos ter morrido! — Maria grita, as
mãos trêmulas tentando, falhamente, abrir a porta.

Sequer ouso tentar. Agora, sem o surto de adrenalina, não


consigo nem me mexer. Meu corpo parece em estado líquido, uma
geléia.

— Que porra foi essa? Quem eram eles? — Ouvimos


Leonello exigindo respostas aos homens.

— Nosso primeiro impulso foi livrar as meninas. Com um no


volante ficaria impossível, senhor. A senhora Di Accorsi nos tirou de
lá, permitindo que conseguíssemos atrasá-los rebatendo os tiros.
Orlando se colocou como barreira, mas ficou para trás.

Leonello abre a porta do carona e sua irmã quase cai aos


seus pés. Ele a segura e passa a mão em seu rosto, analisando-a.

— Está tudo bem. Acalme-se. — Então seus olhos parecem


ferozes ao me encarar. Ele não diz nada, mas o verde escurecendo
em suas íris diz tudo. — Venha.

Forçando a mão trêmula a ficar na altura da sua, coloco-a


sobre sua palma, que ele segura e puxa até que eu esteja em seus
braços.
— Eu nunca quis machucar a Maria. Nunca... — Sussurro,
sentindo o peso do ato de cogitar atirar contra ela amargando
minhas entranhas, sentindo um mundo de emoções me esmagando,
o desejo de pedir perdão por tudo...

Algo muda em sua expressão, ele aperta a mandíbula, mas


não diz nada a respeito.

— Você já dirigiu dessa maneira antes? — Inquire,


segurando meu rosto daquele seu jeito possessivo, os olhos fixos
em meu rosto.

— Já precisei dirigir enquanto Romeo atirava.

Como meu irmão era um homem feito, nós tínhamos hábito


de sair sem seguranças.

— Uma perseguição no nosso bairro é algo para corajosos.


Ou tolos demais. Estes filhos da puta irão pagar. Você está gelada.
— Leon toca minha bochecha, preocupado. — Preciso deixá-las em
segurança e voltar lá. Consegue manter a cabeça fria?

— Só estou em choque. Está tudo bem. — Minto, pois tudo


o que desejo agora é conversar, é colocar tudo para fora.

— Certo.
Bruno nos guia para o interior da mansão e Marconi segue
com Leonello.

Não faço ideia do que deu em mim, mas em meu


subconsciente sinto-me grata por Bella e Maria estarem bem, por ter
sido útil para algo. Não é um problema agir por impulso, há esta veia
problemática em mim, mas geralmente sempre vou em direção a
arrependimentos. Este ponto positivo, esta pequena vitória soa
como uma pequena luz ao fim do túnel.

Eu sou Serena.

Sou mais do que alguém que vive disposta a afetar uma


segunda pessoa. E principalmente, mais do que alguém que
sobrevive. Quero viver toda a confusão em que estive colocando
minha mente e que impediu qualquer progresso. Desde que me
deixei ser eu mesma e segui meus instintos e sentimentos com
Leonello, senti-me feliz novamente. Os sentimentos ruins me
cegaram.

“Não enxerga o que está diante dos seus olhos porque se


prende num lugar de vítima.”

Santo Dio! Que porra aconteceu àquela noite?

Primeiro quis me vingar de Leonello, sendo imatura e


impulsiva. Depois, deixei-me levar, colocando toda e qualquer
questão em pausa, assumindo a mim mesma que me sinto bem
com ele. Mas chegou o momento de colocar tudo em pratos limpos
e saber o que, de fato, ocorreu.

Sinto meu corpo ser erguido e luto para despertar. O cheiro


de Leonello vem misturado com nicotina e sangue. Seus braços ao
meu redor são fortes e brutos, levando-me como se não pesasse
nada.

Peguei no sono no sofá da sala enquanto esperava notícias


após as meninas irem para casa e eu tomar banho. Sequer tive
fome, tensa demais, querendo respostas.

Leonello me coloca, com cuidado, sobre a cama, mas


surpreendo-o ao segurar seu pulso. Ajusto minha visão à baixa
claridade do quarto e vejo sangue em seu rosto.

— O que aconteceu? Orlando está bem?

— Está tudo bem, bambina. Orlando está bem. Durma.

— Não, Leon. — Sento-me e acendo o abajur. Observo que


estamos em seu quarto e sinto os pelos da minha nuca arrepiarem.
A camisa branca está ensanguentada na área da costela. Fico de
joelhos e, sem tirar os olhos dos seus, abro botão por botão.
O homem está sem colete, com um corte profundo perto da
costela. Seu peitoral bruto e forte atraem minha atenção
imediatamente, mas as cicatrizes sempre fazem meu peito doer.

— Onde estava o seu colete? — Sussurro, passando a


língua pelos lábios secos.

— Com um idiota de quatorze anos que está se tornando


homem feito e foi carregado pelo pai infeliz para o tiroteio.

Não consigo controlar o pequeno sorriso. Leonello é uma


incógnita, uma inconstância fodida. O mafioso infame e cruel,
outrora o homem que tem este tipo de atitude.

Ele segue até o banheiro e, sem fechar a porta, se despe,


seus olhos presos nos meus. Sorrio com a provocação descarada
mesmo estando ferido.

Sigo até o banheiro em busca do kit primeiros socorros.

— Isso vai se tornar comum? Eu costurando você?

— Até que você consiga concluir seus planos e me rasgar


de vez.

Encaro-o sem dizer nada, sentindo-me tola por nos colocar


nessa posição em que, mesmo após semanas em que as coisas
seguiram suaves entre nós, Leon espera o pior de mim. Não poderia
esperar algo diferente de um homem feito. Quero externar meus
pensamentos e dúvidas sobre aquela noite, mas agora é momento
de cuidar do seu ferimento.

Ele vai para o banho e a forma como suas mãos brutas


passam pelo próprio corpo causam-me inveja. Safado como é,
masturba-se descaradamente sem tirar os olhos de mim. Separo os
itens necessários sobre a pia e o aguardo, apreciando cada
segundo do seu show particular.

Ficamos em silêncio enquanto faço a sutura, daquele


mesmo jeito, ele fumando incontáveis cigarros e eu, concentrada e,
ainda assim, trêmula por odiar cada ferida em seu corpo. Quando
termino e guardo tudo, evitando olhá-lo, Leon chama:

— Serena. — A voz grave, crua. Encaro-o e vejo o desejo


refletido em seu rosto.

— Quem nos perseguiu e fez isso com você? — Mudo de


assunto, precisando conversar.
Em Murano o muro construído entre nós foi destruído e o
sexo se tornou conexão, por isso ele busca agora. Dio! Gostaria de
dizer a mim mesma que estou ganhando sua confiança, que planejei
tudo para matá-lo friamente na primeira oportunidade. Mas a quem
quero enganar? O simples estar com Leonello mexe comigo desde
a primeira vez.
— Motoqueiros. Tito está com eles, o desgraçado filho da
puta.

— E o que ele tem a oferecer para esses homens fazerem o


que ele quer?

— Sabe localizações de cargas importantes. Pode estar


dizendo que vai os levar até lá.

Respiro fundo e encaro seu rosto com atenção, pensando


no mapa que encontrei no quarto em que Tito se hospedou na Itália.

— Eu... — Começo a dizer, disposta a falar sobre isto, mas


seu celular toca e parece importante, uma vez que não hesita,
pegando no bolso da calça descartada no chão e atende.

— Segure-o. Estou indo. — Sua voz é rude e certeira.


Encerra a chamada e me encara: — Preciso ir. Há uma pista de Tito.

— Por favor, não se machuque mais.

— Preocupada comigo, bianca?

— Só eu posso feri-lo. — Murmuro.

Ele bufa um sorriso e se inclina, deixando um beijo na minha


boca. Seguro seu pescoço e me perco em seus lábios. Parecendo
sentir minha aflição, segura meu rosto e beija minha testa, diferente
de qualquer outra vez.

— Espere-me sem calcinha.

— Idiota. — Bato em seu ombro e ele afasta-se rindo.


CAPÍTULO 22

Dirijo feito um louco, com apenas dois seguranças me


seguindo, uma vez que deixei Serena com os melhores a
protegendo em casa.

Passo pela área agitada da cidade, levando algum tempo


até chegar à estrada afastada que leva para o galpão que mantenho
para tortura. No momento em que viro à esquerda na última rua que
me levará ao destino final, ouço o som do motor das motos se
aproximando. Muitas motos atrás do carro dos meus homens e
outras saindo do galpão, à minha frente, impossibilitando uma saída.
Assim eles acreditam.

Sorrio, enfiando o pé no acelerador e girando o volante


bruscamente, fazendo o veículo girar e a traseira bater nas motos
mais próximas durante o feito.
— Eu posso ir ao inferno, mas alguns de vocês irão comigo,
vermes do caralho!

Não cesso os giros, fazendo com que muitos homens vão


ao chão. Todavia, dois homens saindo do galpão paralisam meus
atos totalmente.

Não que eu não esperasse uma emboscada. Afinal, Marconi


foi quem ligou informando ter capturado um dos motoqueiros. Ele
sempre foi de confiança, mas algo em sua voz o denunciou. Vim por
minha conta e risco, consciente de que poderia ser necessário
arriscar-me a ser pego para colocar minhas mãos no Tito Vinatti. O
que não esperava, embora, é o miserável ao seu lado.

Filhos da puta. Imediatamente ajusto a submetralhadora


Taurus 40 pendurada pelo cinto na horizontal em meu abdômen,
ódio mortal consumindo-me por inteiro e fazendo qualquer
racionalidade ir à merda. Escolhi essa arma justamente por supor
uma armadilha. Ela é leve, de fácil manejo e confortável para o uso.
Desço do carro empunhando-a e, sem cerimônia, disparo contra os
dois desgraçados.

O cabeça, por trás de Tito Vinatti por todo esse tempo,


consegue se safar, rolando ao chão e escondendo-se atrás de um
dos carros abandonados em frente ao galpão. No momento que os
disparos acertam Tito, fica evidente o uso de colete a prova de
balas. Tomo a decisão mais dolorosa da porra da minha vida, pois
meu sangue bombeia forte com as imagens da minha mão sobre o
maldito, o torturando por semanas. No entanto, estou encurralado
aqui e miro em sua testa, disparando várias vezes e abrindo um
rombo lindo em sua face.

O grito do comparsa é como coisa de filme e me arranca


uma gargalhada quando todas as peças se encaixam. Sou impedido
de continuar a festinha quando um dos homens me puxa por trás,
tentando me imobilizar. Trocando golpes com o sujeito de rosto
deformado, levo pouco tempo para desestabilizá-lo com um soco no
nariz e erguendo a sub para metralhar seu corpo robusto, entretanto
mais dos motoqueiros aparecem, muitos deles, e antes de ser
capturado, giro o corpo sem soltar o gatilho, mandando muitos
infelizes para o inferno.

— Desgraçado sádico! — Um deles berra ao me agarrar e


me imobilizar. O sorriso em meu rosto faz seus olhos arregalarem.

— Isto é a porra da máfia, motoqueiro. Se você tem amor à


sua vida, é melhor correr enquanto há tempo.

O idiota cede o aperto em meu pescoço. Aproveito a


distração e temor evidentes, além da nossa diferença corporal.
Abaixo-me, jogando seu corpo ao chão e o prendendo sob mim. Só
para erguer o olhar após estar livre e me deparar com Romeo
Fontana apontando sua Glock para mim.

— Voltou do inferno, vejo, cunhadinho. — Sorrio, a


respiração ofegante, o olhar atento para encontrar uma maneira de
derrubá-lo.

Romeo, conhecendo-me, dispara em minha coxa, fazendo


minha mandíbula cerrar com a dor.

— Carreguem-no para o carro. Ele nos atrasou e logo seu


pai e o Greco mandarão seus homens para cá. — Exige, abaixando-
se para me desarmar, agredindo-me com minhas próprias armas no
processo, é claro.

Minhas duas pistolas são retiradas dos coldres na coxa e


sob o terno. O aparelho celular é pisado até ser esmagado. Uma
faca no sapato e outra na cintura são jogadas no chão com
escárnio, porque ele já me viu em ação, porra. Romeo sabe o que
sou capaz de fazer usando só uma lâmina.

Acabo rindo ao ver que são necessários três sujeitos para


me carregar. Um brutamonte maior do que eu com os braços sob os
meus e dois magricelas segurando em cada perna. Mesmo com a
dor cortante com a movimentação brusca em minha coxa,
permaneço encarando-os com o sorriso sádico. Sou algemado ao
ser jogado no automóvel.

Motoqueiros desta área são ligados a roubo e arruaça. A


realidade é que estão vendo, com a morte de tantos dos seus, que
Romeo os enfiou em uma fria das grandes.
— E então, Romeo? Vai me contar essa história direito?
Confesso que estou curioso. — Importuno ao vê-lo sentar-se atrás
do volante.

— Cale a maldita boca!

Forço a gargalhada, contemplando sua total


desestabilização. O bastardo enlouqueceu e é bom que minha
esposa acredite que o irmão está morto, porque desta vez, serei eu
mesmo a me certificar de enterrá-lo na vala mais próxima.

Romeo nos tirou da cidade de Manhattan, dirigindo por um


bom tempo, permitindo-me reconhecer todo o caminho feito até o
Bronx. Ou o maldito está muito desnorteado, ou confiante. O
primeiro é o que mais me preocupa.

Sou jogado numa cabana abandonada numa estrada


afastada de tudo. O local é precário, quase caindo aos pedaços, o
que diminui muito minhas chances de ser encontrado. Perdi sangue
pra caralho e o enjoo que estou sentindo é certamente a fraqueza
dando as caras.

— Vamos lá. Esperem lá fora. — Exige aos três motoqueiros


que nos seguiram por todo o caminho e tiveram o trabalho de me
carregar até aqui.
Sentado em uma cadeira velha de madeira, com as mãos
algemadas em frente ao corpo e a perna fodida, encaro Romeo.

— Se me trouxe tão longe, quer algo. — Comento, querendo


sua atenção. Quanto mais tempo o manter enfurecido, mais fora de
si irá agir. — Suponho que vamos passar um tempo juntos.

A morte de Marco e sua ligação com Tito começam a fazer


total sentido. O idiota se apaixonou pelo viciado e agora que seu
amor está morto, ele está por um fio.

— Você tem ideia do que foi toda a porra da minha vida


ouvir que tinha que ser melhor que você e nunca conseguir?

— Não faço ideia. Papà sempre me considerou o melhor em


tudo.

O soco em meu nariz vem com tudo e eu rio, sentindo a


umidade do sangue escorrer até o lábio superior.

— Eu fui loucamente apaixonado por você, Leonello.

— Ah, porra, esta conversa? Cresça, caralho.

— Toda inimizade que tivemos foi fruto de cada coisinha que


fez com que eu crescesse num inferno. Você era o melhor herdeiro
dentre os Subchefes, o único que o pai confiava para fazer tudo.
Melhor amigo do fodido Aquiles Esposito! Ninguém reconheceu
porra nenhuma sobre mim. Meu próprio pai, mesmo odiando sua
família, sempre sorria com orgulho ao ouvir as histórias sobre como
você matava, como se livrava de emboscadas e honrava a famiglia.

— Honestamente, gosto de saber que sou um tipo de


celebridade da famiglia.

— Stronzo! — Pragueja, acertando-me outro soco. O imbecil


sabe como bater, isso nunca pude negar. — E então, enquanto eu
fazia de tudo para impedir que minha irmã tivesse que se casar com
o meu homem, você a viu uma única vez e foi suficiente para se
apaixonar. Tive que fingir que o aceitava com ela!

— Eu teria me apaixonado por Serena em qualquer


circunstância, Romeo. Você não é a princesa da minha história. —
Não canso de provocá-lo, vendo sua pele pálida, como a da irmã, se
tornar cada vez mais vermelha. — Se tudo isto é uma vingança
pessoal, para que chegar tão longe, fingindo a própria morte?

Romeo passa a mão pelo rosto, afastando os cabelos agora


compridos e senta-se no sofá velho sem forragem.

— Para fugir com Tito! — Grita transtornado.

— E por que perder o tempo vindo atrás de mim?

— Porque você nos acharia. E precisávamos de suas


cargas.
— Minha cocaína para Vinatti viver se drogando para
sempre, só assim para ele continuar fingindo suportar você.

— Você não sabe o que diz! — Descontrola-se, ficando de


pé e voando em mim de forma tão brusca, que a cadeira cai para
trás e os socos que desfere em meu rosto é com seu corpo quase
montado sobre o meu. Aproveito a posição para chutá-lo no
estômago. Romeo rola para o chão, mas quando volta a se
aproximar, sua arma está em mãos e enfia o cano na ferida em
minha coxa, afundando-a e fazendo-me ranger os dentes com a dor
latente na carne. — Você é uma porra de um empecilho na minha
vida. Sempre foi! Sua família é a destruição. E você é o maior
demônio de todos!

— Por que exigiu tanto que eu me casasse com Serena, seu


filho da puta? O fato de implorar que eu não contasse que Tito o
matou e aquela balela como motivo, faz sentido. Queria protegê-lo.
Mas e sua irmã? Onde ela entra neste seu jogo distorcido? Até
mesmo me enviou aquela mensagem, avisando sobre a chegada
dele à Itália. Tramou tudo, não foi? Participou da minha reunião com
Santino, falando da carga que foi queimada. E eu, burro, acreditava
no mínimo de honra na sua vida, mas pensava que era por amor a
Serena. E nem ela se livrou do seu jogo sujo! — Esbravejo,
forçando a pequena corrente da algema, entre meus pulsos, em seu
pescoço. O infeliz engasga e acerta-me com força, fazendo a mente
se perder na escuridão. Antes dos meus olhos fecharem, o escuto:
— Para minha irmã ser viúva e ser livre. Serena será grata
no final. Ela nunca poderia ter o meu homem. Mas no fim, ainda
conseguiu ter você!

A minha maldita sorte, é que Romeo nunca foi bom em


tortura. Seu modus operandi sempre foi usando a força bruta e ele
tem a usado contra mim, nada que não aguente, embora.

O dia amanheceu, vejo o céu azul através do pequeno


basculante de vidro trincado. Eu poderia enfrentá-lo, tentar o tudo ou
nada, mas os roncos de motores de motos não pararam a noite toda
e, com minha perna, se torna difícil dar uma de Homem de Ferro
agora.

Ele saiu do quarto, estava ao telefone, indo e vindo, agitado


e desnorteado.

Neste momento, ele retorna parecendo ter tomado banho e


com a expressão mais centrada, se é possível. Seus olhos parecem
revelar um tipo de trunfo e entendo tudo ao ver Antonio Fontana
passando pela porta estreita.

— Que porra é esta, Romeo? — O pai encara a cena com


desespero evidente. — Jesus Cristo!
— Não clame por Jesus, sogrinho. Aqui é o inferno, peça
ajuda aos demônios, porque quando eu colocar minhas mãos em
vocês, será o diabo que verá antes que a vida se esvaia dos seus
olhos. — Ameaço com a voz calma, o olhar deixando certeza de que
não blefo.

— Vamos conversar, porra! Eu não sabia dessa merda...

— Mas sabia que esse miserável estava vivo. — Acuso.

— Ele... ele é meu filho... enlouqueci quando vi que a morte


era encenação... acreditei que meu filho estava morto e isso mexeu
comigo...

— Foda-se, caralho. Foda-se. Se queria livrá-lo, não o julgo,


mas que ficasse de olho neste infeliz. Ele estava com Tito todo este
tempo. — Digo e vejo os olhos do meu sogro arregalarem,
mostrando surpresa. — O corpo do namorado dele, um dos seus
homens, Marco, está na porra do caixão. E aí, o que me diz?

— Marco precisava morrer. — Romeo revela, como se não


fosse nada. — Ele sabia que o deixei por Tito e daria com a língua
nos dentes mais cedo ou mais tarde. Assim como homem de
confiança da sua família na casa dos Vinatti. O velho Vitto também
merece ter seu fim!

— Deus do céu, que merda você andou bebendo? — O


velho Fontana inquire, parecendo ter envelhecido dez anos em
apenas cinco minutos.

— O esperma do Tito. — Zombo, vendo Romeo lutar para


se manter em calma.

Noto que está tentando parecer sereno na frente do pai,


como que para se provar melhor do que eu. Isto me faz rir.

— Do que está rindo, seu demônio?

— De você. — Digo, apenas.

— Ouça-me, Romeo. — Fontana tenta. — Há homens lá


fora, motoqueiros, certo? Isto é traição, meu filho. Prometi a você
que o manteria amparado financeiramente por toda a vida, traí a
famiglia compactuando com sua falsa morte, mas foi por querer vê-
lo finalmente ser feliz, acreditei que o sumiço de Marco se dava ao
fato de que estaria com você. Tranquilizei-me com o casamento de
Serena, ciente de que Leonello será um bom substituto para o meu
legado, assim como os netos que me der. Deixei-o ser livre. — O
homem se enfurece, olhando o filho como se tivesse enlouquecido.
— Para isto? Por que não foi viver sua maldita vida? Por que está
com o marido da sua irmã, porra? Com motoqueiros... Com Tito? Di
Accorsi e Greco mandarão um exército atrás de você. Porra, isso
não é nada. Aquiles Esposito está em Manhattan trabalhando com
Leonello...
— Exatamente, além de que Aquiles e Santino sabiam que
eu ia para o galpão e da minha desconfiança de ser uma armadilha.
— Faço uma careta, como se me preocupasse com as
consequências. — Acho que não foi informado, sogrinho, mas Tito
está morto. Sempre soube do meu dom com facas, mas a escultura
que fiz em seu rosto com a Taurus, ficará para a história. Seus
bisnetos ouvirão sobre o feito.

— Desgraçado! — Romeo perde a compostura e mostra o


insano que é, pela primeira vez, na frente do pai, pois quando
avança para me bater, o velho se intromete e acaba levando socos
em meu lugar.

Esta porra será pior do que pensei, pois ele queria mostrar a
Antonio Fontana que é melhor do que eu. Alimentou uma disputa
em sua cabeça a vida toda, além do rancor de ter sido sua primeira
paixão não correspondida. Entretanto, o que deixa sua face
inescrupulosa em evidência é o fato de ter tentado livrar a irmã de
Tito por benefício próprio e nunca por querer protegê-la. Além de ser
invejoso, mostrando-se furioso por eu ter me apaixonado pela sua
irmã.
CAPÍTULO 23

Não é anormal que Leonello não retorne à noite para casa.


Embora desde que passou a invadir minha cama todas as
madrugadas, se tornou habitual dormirmos juntos. Ao despertar de
manhã e me dar conta de que não apareceu, começo a ficar
receosa.

Faço minha higiene matinal, me visto com jeans, jaqueta de


couro e calço botas confortáveis. O frio parece mais intenso hoje.
Dirijo-me diretamente até a área externa, abordando Bruno ao
encontrá-lo:

— Meu marido não voltou para casa?

A expressão do segurança não entrega nada enquanto ele


balança a cabeça em negativa. Todavia, o exército de homens
armados pela área a perder de vista até os portões, sim. A proteção
aqui é sempre grande. Dessa maneira nunca. As armas são como
se esperassem uma guerra e a quantidade de soldados também.

Ciente de que não vou arrancar nada de nenhum deles,


retorno para casa, com as mãos trêmulas e o estômago
embrulhado. Respiro fundo e penso por uns minutos antes de pegar
meu celular no bolso e ligar para Leonello, só para ouvir a voz virtual
informando que o aparelho está desligado. Porra!

Disco para o contato de Bellarmina, que também não


atende. Inferno! Procuro entre os contatos o número de Santino só
para perceber que não o tenho. Claro, por qual motivo trocaríamos
chamadas? Certa de que há alguma merda acontecendo, insisto em
ligar para o meu sogro. Este atende.

— Serena, aguarde alguns minutos. Estamos a caminho de


sua casa.

— Envie-me o número de Santino. — Peço antes que ele


encerre a chamada.

O contato não chega. Caminho de um lado para o outro na


sala de estar pelo o que parecem horas, mas são apenas alguns
minutos para que a família de Leonello chegue. Bella está com eles
e suas expressões de falsa calma em nada ajudam.

— O que está acontecendo?


— Leonello foi levado em uma emboscada. — Ludovico é o
único a responder.

— Desde quando? — Pergunto, aflita.

— Ontem à noite.

— E só agora sua esposa fica sabendo? — Pouco me


importo se ele é meu sogro ou a porra de um mafioso. — Que porra
é esta? Quem o levou?

— Não sabemos. Motoqueiros, no entanto, não nos ligaram


para fazer uma troca ou armar uma emboscada maior.

— Tito está os liderando!

— Não. — Ludo continua. — Seu corpo estava jogado em


frente ao galpão onde Leon foi levado.

— Então... Deus. — Passo a mão pelo rosto, desnorteada,


mas decido me concentrar em agir como meu marido agiria, como
tanto quis ver que eu faria. — Já passam das nove da manhã. Há
alguma pista?

— Santino e Aquiles estão seguindo os rastros dos


motoqueiros pelas estradas, mas eles somem ao sair da estrada de
terra.
— Ligue para Santino, deixe-me falar com ele. — Peço,
pensando na única vantagem que posso vir a ter.

— Serena, estes homens passaram a noite procurando o


meu filho. Não é momento para dispersá-los.

— Ludovico, eu tenho uma vantagem aqui. Um mapa que


encontrei no quarto de Tito quando fomos obrigados a ficar
hospedados juntos em Veneza. Leon descobriu sobre ele ter
mandado mexicanos atearem fogo em uma de suas cargas e, com o
intuito de ajudá-lo, entrei às escondidas e coloquei as mãos na
única coisa que parecia ter utilidade. Nunca mostrei depois, pois
acreditei que meu irmão havia sido morto pelo meu marido. Ontem
quando ele voltou para casa, eu ia mostrar, mas a ligação impediu...

O homem me encara como se recordasse das loucuras que


cometi. Rosnando, inquire:

— E ainda acredita?

— Nada disto importa nesse momento. Leonello é meu


marido e quero encontrá-lo. Não o quero morto pelas mãos de
nenhum louco aí fora!

— Que reconfortante. — O velho zomba. — Só pelas suas.

— Dê-me o contato.
A porta é aberta por Bruno e em seguida Santino entra
acompanhado por Aquiles Esposito.

— Vejo que vieram comunicá-la. — Santino resmunga ao


ver a reunião entre Ludovico e eu, uma vez que percebo que as
demais mulheres já não estão mais no cômodo.

— Preciso falar com você. Venha comigo. — Viro-me e


caminho até as escadas, subindo de dois em dois degraus e
notando que o maldito não me segue. Olho-o por sobre o ombro e
rosno: — É para encontrarmos Leonello. Não é momento para suas
picuinhas, Greco!

Ouço a risada nada discreta do futuro Capo e, finalmente,


Santino me segue. Ao chegarmos ao meu quarto, entro no closet e
pego a mala em que guardei o mapa, o recupero e entrego ao
mafioso.

— O que é isto?

Faço a mesma revelação que fiz a Ludovico e os olhos de


Santino acendem, olhando-me e ao papel.

— Isto pode ajudar? Um destes locais é desconhecido para


você? Os pontos em Manhattan perto do mar, supus que fossem
onde as cargas ficam, mas há pontos riscados em verde no Bronx,
Veneza e...
— Não há muito da famiglia no Bronx. — Analisa.

— Então podemos descartar. — Comento.

— Não, boneca. — Encara-me com atenção. — É lá que


começamos. Teremos que ser cautelosos. Se Tito está fora do jogo,
significa que Leonello e eu estávamos certos em cogitar que havia
alguma cabeça por trás de certas situações. Tito sempre foi um
idiota.

— Você faz ideia de quem seja? — Pergunto, preocupada.

Santino analisa-me por um tempo, seus olhos escuros


sempre afiados.

— Não quero jogar sujo com você, tampouco passar por


cima das decisões de Leonello de não ter mencionado nada. Mas
também não quero fazê-la de idiota depois disto que colocou em
minhas mãos. — Indica o mapa. — Não confio em você, Serena, e
não sei qual é a sua. Não sei de que lado está.

— Há um lado para se estar? É o meu pai que está nesta


confusão? — Chio, confusa.

Santino arqueia uma sobrancelha.

— Eu não sei, mas se estiver. Qual é a sua nesta história?


— Não fui informada de estar em lado algum e estou com o
meu marido. Quanto mais tempo levarmos aqui, menos tempo
agimos em prol de encontrá-lo vivo!

— Está certa. Vou indo. Ligo para você se...

— Não, não. De forma nenhuma vai me deixar aqui! Dê-me


um colete e uma arma. Sei atirar! Sei dirigir bem e fugir se preciso.
Não me deixe de fora!

— Nem fodendo. Está louca? Leonello jamais permitiria


colocá-la em risco.

— Leon confia em você. Você cuidará de mim.

— Estou indo encontrar o meu amigo, não ser babá, Serena.


Fim.

— Ela vai. — A voz atrás de nós decreta. Viro-me e me


deparo com Aquiles. Ele não havia deixado indício algum de sua
aproximação, mas a falta de surpresa no rosto de Santino evidencia
que já o havia visto. — É a mulher dele. Sabe atirar e dirigir mesmo?

— Atira como ninguém. Atirou no Di Accorsi duas vezes. —


Greco rosna, fazendo os olhos de Aquiles crescerem de tamanho
por um mínimo instante. — O pai dela, ou pior, pode estar envolvido
nesta merda. Se ela estiver nos mandando para uma emboscada?
— Teremos que estar na emboscada para encontrar Leon.
Lá nos viramos, porra. Melhor do que o infeliz só aparecer depois de
morto e não termos feito caralho nenhum. — Intervém e me encara,
seus olhos dourados intimidando antes mesmo que qualquer
palavra saia de sua boca: — Considero as mulheres como igual,
portanto, bella, se tentar qualquer gracinha, será punida como
qualquer traidor. Estamos entendidos?

— Sim. Estamos.

Em tempos de ódio, não me importaria ser punida depois,


ou até morta, se o que me levasse a tal ponto fosse a morte do meu
marido. Agora, no entanto, só preciso encontrá-lo. Vivo. Meu
coração parece estar sendo arrancado de mim a cada instante em
que deixo meus pensamentos fugirem de controle e os piores
cenários ganham força.

— Nós havíamos voltado porque não tínhamos nenhuma


pista além de Marconi. — Santino comenta enquanto saímos do
quarto.

— Marconi? Como assim?

— Foi ele quem ligou para o Leon dizendo ter capturado um


motoqueiro. O infeliz percebeu que era uma armadilha e foi mesmo
assim. O tanto de homens mortos que Leonello deixou antes de
cair... — Ele ri. — Quem o pegou tinha uma carta na manga.
Nenhum dos seguranças de Leon sobreviveu. Ele não se deixaria
pegar facilmente, menos ainda depois de ter matado Tito.

Sinto meu peito doer por Marconi. Convivi poucas vezes,


mas acreditei que era leal. Provavelmente o colocaram contra a
parede. Mas em nosso mundo, não há justificativas, não há perdão.

— Não acredito que meu pai tenha me obrigado a casar


com Leon para depois causar uma guerra. — Externo meus
pensamentos, aflita.
— Acredite em tudo, bambina. E espere o pior, mas coloque
em sua cabecinha inocente que está indo a uma batalha e quando
entramos em cenários como estes, somos obrigados a tomar
decisões que mudam tudo. Para sempre.

O nó na minha garganta só piora após suas palavras. No


entanto, estou disposta a tudo para ter Leon de volta. Perdi tanto
tempo e agora que abri meus olhos para enxergar o que estava sob
meu nariz, meu homem não está aqui.

Na garupa da moto de Aquiles, mal vejo a paisagem passar,


agarrada em sua cintura, como se fosse voar longe caso o solte,
pois o homem pilota feito um louco.

Santino vem atrás em seu carro e mais três comboios com


homens o seguindo. Sinto como se estivesse vivendo em uma
realidade alternativa. Nunca imaginei ter crédito, realmente, para vir.
Agi na impulsividade como é de praxe. Atirar em um homem que
não teria coragem de revidar é uma coisa, ir para um tipo de guerra
com pessoas que não pensarão duas vezes antes de puxar o gatilho
é completamente diferente. Mas a ansiedade não me deixaria ficar
esperando notícias enquanto Leonello corre risco de vida. Além de
que tudo indica que há envolvimento do meu pai. Preciso ver com
meus olhos.

Lembro-me da senhora Esposito dizendo na festa de Leon,


sobre como matou seu pai após ele ter sido torturado pelo Capo.
Demonstrei horror com a informação, de forma que ela reiterou:

— O sangue não é nada, querida. O que faz as pessoas


serem leais a nós, ou que sejamos a elas, não é a fé cega de que
devemos obrigação ao laço sanguíneo, mas sim ao laço que
criamos com o coração.

Durante o caminho todas as possibilidades passam pela


minha cabeça e preparo-me mentalmente para lidar com qualquer
coisa.

Há um momento em que Aquiles diminui a velocidade e dois


comboios passam à frente. Demoramos poucos minutos para avistar
três motoqueiros aparecendo, mas diferente do que supúnhamos,
os imbecis aceleram em direção oposta a que estamos indo e se
perdem de vista.
Santino para o carro e Aquiles manobra, parando ao lado da
janela do amigo.

— Que porra foi esta? — Santino questiona, confuso, então


ri. — Será que o fodido de merda os colocou para correr?

— Já o vi fazer isso com sujeitos piores. Não duvido. — O


filho do Capo rebate. — Mas meu instinto diz que eles só
perceberam que compraram uma briga muito grande.

— Mas são motoqueiros realmente, ou só pessoas normais


em motos? — Inquiro.

— São pessoas em moto, bella. — Aquiles ri. — Mas são de


motoclub. A jaqueta com a caveira nas costas evidencia isso.

Sinto meu rosto esquentar diante da amostra de


ingenuidade, mas assinto com a cabeça.

— Vamos. Se algo está certo, é que estamos no local exato.


Grazie, Serena. — Greco encara-me com gratidão, viro o rosto,
incomodada, e não digo nada.

Deveria ser normal que esteja aqui pelo meu marido,


entretanto, coloquei-me nesta situação, não é?

Voltamos à estrada e não demoramos a avistar uma cabana


caindo aos pedaços, no local marcado pelo mapa. Não há sinal de
motoqueiros na entrada, porém, há um veículo conhecido. Meu
coração gela ao ver o sedan preto antes usado por Romeo.

— Esse... era o carro do... meu irmão. — Comento, trêmula,


tendo a certeza de que papà está envolvido nisto.

Aquiles e Santino se entreolham enquanto a muralha de


soldados se posiciona à nossa frente.

— Ouça uma coisa. — Greco começa, mas é interrompido


pelo som de disparo.

Olhamos em direção a cabana, o desespero subindo a


minha garganta ao supor o pior. Contudo, o que vejo parado à porta,
empunhando uma pistola para o alto, enquanto mantém meu marido
sendo enforcado com o outro braço, faz-me cair. São as mãos de
Santino que me seguram.

— O que...

— Era o que pretendia alertar. O túmulo do seu irmão estava


vazio. Leonello e eu cogitamos algo assim, mas não confirmamos.

— Leon sabia que...

— Não. Ele poderia ter investigado se não tivesse levado


uma chave de boceta. Mas está obcecado demais em se dar bem
com você e seu irmão estar vivo, tramando e causando problemas,
o faria ter que realmente matá-lo.

Dio Santo!

Respiro fundo, as lembranças, a dor de ter acreditado que o


meu melhor amigo, meu irmão, estava morto sufocam. Lágrimas
enchem meus olhos, o coração dói. Meu irmão está vivo!
CAPÍTULO 24

A reunião de família não poderia ficar melhor. Agora com


Antonio Fontana amarrado em uma cadeira ao lado da que eu
estava sentado, era apenas a chegada de Serena, nunca prevista
por mim, que faltava para cantarmos parabéns e nos abraçarmos
como os companheiros felizes e diplomatas que deveríamos ser.

— Por que a trouxe, porra? — Grunho uma tentativa de


gritar para me comunicar com Santino, o que resulta em uma
coronhada em minha cabeça, o mesmo ponto já acertado diversas
vezes pelo miserável.

— Cale a porra da boca!

— Romeo. — A voz chorosa de Serena atrai a atenção de


ambos.
Meu sangue ferve ao reconhecer emoção em seus olhos
bonitos, emoções fodidas direcionadas ao infeliz que compartilha o
sangue.

O ódio me consome. Eu poderia ter me livrado do Fontana


psicótico em alguns momentos da manhã, principalmente diante do
descontrole, mas por ser obcecado por essa desgraçada, retrocedi
quando ele colocou o próprio pai sob o cano da pistola em prol de
ameaçar-me. Por ela, para que não perdesse mais uma vez alguém
que ama. E agora, Serena o encara como se fosse um anjo
retornando do céu? Filha da puta.

— Serena, bambina mia... que saudade, meu amor.

— Foda-se essa merda. — Grito, o ódio dando força a


garganta seca para conseguir se fazer ouvida por todos. — Alvejem
o desgraçado, esqueçam que estou no caminho. Alvejem!

— Leonello! — A voz da infeliz para mim vem em tom de


repreensão, mal se dando o trabalho de me encarar.

— Cale a maldita boca, Serena. É o melhor que faz.

— Não a trate desta maneira! — Romeo faz mais de seu


show. — Foi assim que a tratou por esses meses? Mais um motivo
para morrer.

— Foda-se.
Ele me bate novamente e berra aos meus companheiros:

— Sairei daqui com Leonello comigo e vocês irão deixar. —


Afunda o cano da arma em minha têmpora. — Não irão me seguir.
Vou deixá-lo vivo em qualquer buraco, mas vão me deixar ir.

Aquiles passa pelo muro formado por soldados, pela


primeira vez se fazendo visto.

— Eu acho que você não está entendendo como as coisas


irão funcionar, defunto filho da puta. — Sua voz é alta para ser
ouvida a distância. — Ser feito de palhaço dentro da minha porra de
máfia causa um gosto amargo na minha garganta. Então, você vai
liberar o Di Accorsi e virá comigo para ser entregue ao seu Capo.
Ou daqui mesmo acerto sua maldita testa em menos tempo do que
você possa cogitar disparar contra o meu amigo.

— Aquiles, por favor. — Serena segura o pulso dele,


causando estranheza em todos. Ficando de costas para mim, ela o
encara e o olhar do homem endurece. — Deixe-me falar a sós com
o meu irmão. Eu imploro.

— Nem fodendo. — Aquiles sentencia.

— Esposito. — Santino chama. — Dê a eles cinco minutos.

— Não era você desconfiado da lealdade dela, porra?


— Deixe. — Grito. — Deixe-a a vir. Cinco minutos.

Aquiles não aprova, mas sendo um pedido meu, assente.


Diz algo no ouvido de Serena, provavelmente uma ameaça, e
entrega uma Glock 9mm na mão pequena.

A desgraçada caminha até nós sem me dignar um olhar,


sempre atenta a quem importa, seu irmão. Romeo me empurra para
o interior e estaca por um momento ao ver o pai jogado no chão,
como se lembrassem que a irmã poderia deixar de devotá-lo após a
cena. Como se importasse para maldita alguém além do psicopata.

— Romeo? — Chama, o fazendo sair da porta.

— Serena, precisei tomar atitudes extremas para protegê-la,


mas foi tudo por você. — Mente ao passar e deixá-la entrar.

A porta se fecha atrás de nós, rangendo até bater.

— Figlia... — Antonio tenta.

Serena o encara e a tudo em volta, seus olhos ligeiramente


assustados, mas ela volta a encarar o irmão e parece novamente
focada apenas a ele.

— Ele a obrigou a se casar com Tito. E depois com esse


demônio. — Romeo justifica. — Quando Leonello me feriu, eu
poderia ter morrido. Na verdade, morri e ganhei uma chance para
voltar.

— Onde esteve todo esse tempo? — Pergunta.

— Escondendo-me, pensando em meios de buscá-la.


Vamos fugir da máfia, como você sempre quis.

— Serena... — Antonio chama. — Filha, ele está mentindo...

A mulher não diz nada, só permanece encarando o irmão.


Ela suspira e enfia uma lâmina no meu peito ao dizer:

— Todo esse tempo eu quis acabar com o Leonello, mas fui


imprudente e mostrei. Ele se resguardou, não me deu maneiras de
fazê-lo. Se fez tudo por mim, deixe que eu acabe com a vida do
infeliz e nós daremos um jeito de sair daqui. Santino confia em mim,
você viu.

— Não vai dizer nada? — Romeo ri em meu rosto. — Não


era você quem sempre tinha uma resposta pouco tempo atrás?
Faça, Serena.

O desgraçado me empurra, liberando o agarre de seu braço


do meu pescoço, deixando meu corpo de frente para a minha
esposa. Encaro seus olhos, tentando enxergar qualquer resquício
da mulher que tive em meus braços, sob e sobre mim, ainda que
tivesse declarado que se pudesse me daria um fim. O que não fui
capaz de fazer, ela se mostra capaz. Minha obsessão, paixão, que
seja, por Serena me cegou. O preço é minha vida. Não digo uma
palavra sequer, embora.

Quando ela finalmente me encara e aponta a arma, seus


olhos mostram emoções que não reconheço. No momento em que
dispara, sinto-me zonzo, mas não é em mim que o tiro acerta.

— Caralho.

— Seu estúpido, como se deixou ser pego desta forma? —


Ela se joga em mim ao mesmo tempo em que escuto o baque do
corpo de Romeo batendo no chão de madeira e a porta a frente
sendo escancarada com um chute de Santino.

Arma em punho, com Aquiles atrás da mesma forma, ambos


paralisam ao ver a cena.

— Desgraçada, eu achei que me mandaria para o inferno.

— Você vai ter seu inferno em casa por me fazer passar por
isto. — Suas mãos agarram-me, as unhas fincando de forma até
rude, como se eu fosse sumir a qualquer momento. Serena me beija
e inalo o cheiro doce de seus cabelos, sentindo que provavelmente
morri e estou no céu.

— Está muito bonito de assistir, mas que porra o Antonio


está fazendo preso aí? Quero saber que merda aconteceu. — Greco
intervém, intrometido como sempre.

— Não há tempo para explicações agora. — Serena retruca.


— Leon está ferido. Não sei como está de pé.

— Eu sou eu, porra. — Digo, mesmo sentindo que meu


corpo vai desabar a qualquer momento.

No entanto, não é a perda de sangue, exaustão e os


ferimentos que me causam esta sensação de ter sido derrubado. É
esta mulher. Serena. Minha mulher do caralho.

Em algum momento no retorno para casa, adormeci. O kit


primeiros socorros no comboio permitiu que Serena cuidasse das
feridas superficiais em meu rosto. Seu pai foi em outro carro e não
fiz questão de dizer nada a ela, ciente de que teremos muito que
conversar sobre tudo o que não foi dito. Mas quem se importa? Mia
bianca me escolheu e embora queira surrar sua bunda por ter razão
desde o começo e ter aturado muita merda sem sentido de sua
parte, estou fraco demais para isso.

Ao chegarmos à mansão, consigo andar sozinho até o


interior, mas não há como dar muitos passos além da sala, pois os
Di Accorsi em peso surgem para saber como estou. Serena os
expulsa sutilmente, preocupada com o tiro em minha perna. A bala
alojada a apavora bastante, pois é a primeira vez que lida com essa
parte antes de suturar.

— Acho melhor chamarmos o médico da famiglia, seus


ferimentos são mais graves e não tão superficiais.

— Derrame uísque e puxe com qualquer pinça, Serena. Não


vou lidar com médico nenhum. Quero dormir.

— Mas vai tomar banho e comer antes!

Sorrio, fracamente, jogando a cabeça para trás contra o


encosto da cama e fechando os olhos. Sinto falta de suas mãos em
mim quando ela se afasta e ao abrir os olhos para ver o que está
fazendo, vejo-a acender um cigarro e tragar, tossindo feita boba em
seguida. Gargalho, vendo-a estreitar os olhos em minha direção.
Entrega-me o cigarro com raiva e joga o isqueiro sobre o móvel da
mesma maneira. Resmungando, ela entorna uísque no ferimento,
tornando-se cautelosa ao tirar a bala. Dói pra caralho e urro de dor,
assustando-a.

— Está tudo bem. — Minto descaradamente, pegando a


garrafa de uísque e bebendo uma boa quantidade. O estômago
vazio protesta, queimando e doendo. — Faça.

E ela o faz, sempre buscando meus olhos, preocupada,


cheia de emoções nas profundezas azuis.
— Como se sente? — Pergunta ao apoiar meu braço em
seu ombro e guiar-me até o boxe.

— Destruído, mas ficarei bem. E você? Matou seu ídolo,


como foi isso? — Sem perceber, soo irônico, mas nunca freei
minhas falas e não será agora que conseguirei tal feito.

— Não sei com que merda Romeo estava metido, mas sei
que não foi você quem o matou, ou que o feriu naquela noite. Como
também somando o que ouvi aqui e ali hoje, acredito que ele estava
mancomunado com Tito. Quando ele mentiu dizendo que você o
“matou”, reiterou tudo o que eu já estava sentindo.

— Agora minha curiosidade é se foi levada a escolher meu


lado pela ameaça que Aquiles fez. — Digo o que tem passado pela
minha cabeça.

— Eu poderia agredi-lo por pensar isso. — Resmunga


enquanto encosta-me contra o balcão da pia e começa a abrir os
botões da minha camisa. — Acontece, Leonello Di Accorsi, que sou
louca por você. E eu teria matado qualquer um que o machucasse
desta maneira. — Sussurra, passando a ponta do indicador sob meu
olho inchado e ferido. — Sofri pela morte dele, quase destruí a nós
dois, me destruí até não me reconhecer. Demorei a abrir meus olhos
além da dor de perdê-lo, Leon, mas meu corpo sempre reconheceu
você. — Segura minha mão e a coloca sobre seu peito, permitindo-
me sentir as batidas do seu coração. Seus olhos brilham, dizendo
muito mais do que externa.
— É bom que seja louca por mim. — Beijo sua boca, mesmo
sentindo meu lábio inferior ferido doer. Porque é assim que ela me
faz sentir. Louco.

Ela sorri, mas abaixa a cabeça ao dizer:

— O que fiz vai doer, vai me corroer e vou tentar me


autodestruir em algum momento. Mas não reconheci o meu irmão. E
por mais estranho que possa soar, até cruel, eu sofri demais, eu vivi
o luto da morte dele. Agora é como... não sei... como nada. Só me
importa que você esteja aqui.

— Eu não vou deixar você manter mágoa por aquele verme,


porra. Se o que importa sou, então foque nisto. Foque em nós. —
Seguro seu queixo, fazendo-a me encarar. — Seu irmão não estava
mancomunado com Tito, Serena. Eles estavam namorando. Seu
desespero para impedir seu casamento era porque considerava o
Vinatti dele. Sua facilidade de aceitá-la comigo, seu maior inimigo,
foi porque seria melhor do que vê-la com o namorado, mas ainda
assim sempre foi ardiloso, invejoso. Romeo teve a capacidade de
matar Marco e colocá-lo no caixão que era dele. Seu irmão era a
escória. Você está melhor agora.

— Marco? Porra... Dio Santo! — O choque em seu rosto é


evidente.
— E mesmo ciente de que se casaria comigo, estava
planejando me matar para deixá-la viúva. Tão egoísta que a exporia
a outro casamento arranjado, pois é muito jovem. Com a certeza de
não ser virgem, teria que se casar com outro viúvo, provavelmente
bem mais velho do que eu. Queria roubar minhas cargas para
satisfazer o infeliz do Tito, mesmo seu pai o tendo ajudado por amor
e prometido mantê-lo financeiramente, mesmo sendo traição contra
a famiglia.

— Papai... papai estava metido com isso? — Inquire,


horrorizada. — No dia do restaurante, eu o vi receber uma
mensagem, algo como “está na hora” ou “é agora” e logo você
sofreu um atentado.

— Seu pai tem muito que explicar a mim, mas


principalmente a Aquiles. Ele traiu a Cosa Nostra ajudando Romeo
com a morte falsa. Não sairá impune. Mas irei interceder por ele,
pois não tinha envolvimento com o resto, nem conhecimento sobre
Tito.

— Isso tudo é... apenas... demais. — Sussurra, ajudando-


me a ficar despido. Seus olhos parecem febris ao ver os ferimentos
recentes pelo meu corpo. Retira o colete e acaricia as cicatrizes
antigas no abdômen e peito. — Tive tanto medo de perdê-lo. Tudo o
que importa agora é que você deixe que eu me redima de toda
asneira que fiz. Estou tão feliz que está vivo que não me enrolei
embaixo da cama por ter matado o meu próprio irmão.
— Será feliz até o fim dos seus dias ao meu lado, bianca.
Não há tempo para sofrer pelo infeliz traidor. — Seguro seu rosto e
prometo: — A farei feliz. Na minha cama, na minha boca, nos meus
dedos, no meu pau. — Esfrego o nariz no seu, vendo-a sorrir. — Na
minha vida. Todos os dias.

— Eu sempre soube.

— O que?

— Que no fundo, você é um amor de mafioso. — Ela sorri e


fica na ponta dos pés para me beijar.

A debochada leva-me para o banho aos risos e tortura-me


com suas mãos nos lugares errados, enquanto ignora meu pau duro
alegando que não posso ter diversão nenhuma agora. Mas que
diabos? Um homem não merece ser feliz após dar um olê na morte
pela, sei lá, que vez?
CAPÍTULO 25

— Como ele está? — Ludovico inquire ao me ver descer as


escadas.

Esperava que tivessem ido para suas casas após minha


tentativa de expulsão, mas é claro que todos estão preocupados e
fui egoísta em querer Leon só para mim. Acredito que temos muito
que conversar, entretanto, vim providenciar algo para alimentá-lo.

— Leon é forte. Suba, vá vê-lo. — Digo. — É bom que o


mantenha acordado para esperar a sopa que farei.

Ludo concorda, mas não sai do lugar quando chego ao


térreo. Parecendo sem jeito, ele quebra o silêncio.

— Se você não estivesse ao lado de Leon, meu filho estaria


morto.
— Ele não estaria, teria dado um jeito. É Leonello Di
Accorsi, afinal. — Sorrio, fingindo não ser nada, mas sentindo meu
coração aquecer com o carinho que vejo nos olhos do meu sogro.

— Grazie, figlia. — Puxando minha mão, o homem deixa um


beijo terno e respeitoso antes de subir.

Sinto lágrimas queimarem em meus olhos, mas respiro


fundo e sigo meu caminho. Logo sou perseguida pelas mulheres,
loucas por cada informação possível, uma vez que os homens não
disseram nada a elas, só a Ludo. Cozinho a sopa rapidamente
enquanto informo tudo, deixando a todas atordoadas com a notícia
do ressurgimento e segunda morte de Romeo, tirando a parte que
matei o meu próprio irmão.

Evito analisar como me sinto em relação a isso, mas


precisava tomar uma atitude, e rápido. Desde que o vi, fiz questão
de focar nele, pois se olhasse Leonello, desmoronaria. Além de que
queria entender as coisas, analisá-lo era a única opção. Temi que no
meio de uma atitude imprudente, Leon levasse um tiro sem retorno
e deixou-me doente. A forma como o medo de perdê-lo me tornou
fria para mantê-lo vivo, surpreendeu-me. Meu irmão foi a pessoa
que mais amei na vida, mas isso não lhe dá o direito de jogar com
as pessoas, fingir sua morte, deixar-me sofrer, me destruir no
processo, a ponto de me tornar uma casca e ainda seria uma, se
não fosse pelo meu marido, por sua boca, seu corpo e a paixão
febril que meu corpo sempre gritou sentir, não permitindo que eu me
mantivesse afastada mesmo quando o odiei com todas as minhas
forças.

A dor e o remorso irão me corroer e digo a mim mesma que


se fui capaz de agir, de decidir, serei capaz de lidar com o que mais
viver. Sempre fui impulsiva e acho que finalmente esse aspecto da
minha personalidade tem se tornado positivo.

Aquiles e Santino aparecem na cozinha e o primeiro deles


avisa:

— Antonio Fontana quer vê-la antes de conversarmos com


ele na presença do seu marido.

Sinto arrepios de medo em meu corpo, preocupada com


meu pai.

— Levaremos o jantar, tudo bem, querida? — Minha sogra


propõe e aceno em concordância.

Coloco a sopa no prato e a entrego. Encho um copo com


suco de laranja e dou a Bella. Maria segue atrás, seu olhar curioso
dizendo como ela gostaria de ficar e escutar tudo. Após as três
sumirem de vista, Antonio entra no cômodo e senta-se em uma das
cadeiras da mesa.

— Papà, como se sente?


— Como um traidor, como um tolo. — Suspira. — Seu irmão
tomou um remédio para forjar a morte. Quando o vi naquela
cozinha, meu peito se rasgou e sangrei como só um pai pode
sangrar com a perda de um filho. — Seu olhar parece distante ao
fazer o relato. Abraço-me, como que para me proteger do que está
por vir. — Quis levá-lo sozinho comigo no carro, pois lá pude gritar e
quebrar como queria fazer na frente de todos, porém, não podia. E
então, no auge do desespero, seu irmão despertou, voltando à vida,
como num filme, deixando-me louco, mas principalmente feliz por ter
meu bambino de volta. Vi como um milagre até que me explicou,
disse não aguentar mais esconder seu amor, viver a mercê de não
ser descoberto ou ser considerado um traidor caso soubessem que
namorava um homem. Mantive a farsa de querer enterrá-lo sozinho,
como se não me importasse com a morte do meu filho e só com seu
casamento. Coloquei um caixão vazio no túmulo e mandei Romeo
para longe com identidade falsa e dinheiro, muito dinheiro.

— Eu sofri acreditando que meu irmão estava morto.


Poderia ter me matado, poderia ter sido morta pelas mãos de
Leonello se ele fosse esse tipo de homem. Poderia tê-lo matado e
pior... até Maria esteve em perigo! — Saio de mim, como se só
agora pudesse gritar tudo o que queria ter dito a Romeo, com a
consciência de que seu cúmplice foi meu próprio pai, o homem que
não se importou em momento nenhum comigo. — Entendo seu
sofrimento, pai. Mas não o conheço, não o admiro. Poderia ter me
dado atenção quando me viu sofrer, dado uma pista de que não foi
Leon que o matou pelo menos! — Explodo, aproximando-me. — E
aquele almoço, semanas depois de tudo? Onde estava nervoso,
esquisito... Quem garante que não estava tramando contra o meu
marido, que sofreu um atentado no mesmo dia?

— Nunca tentei contra Di Accorsi. Aquele dia Romeo pediu


que eu o ajudasse para que encontrasse Marco. Sabia que Leonello
iria sair do país, então precisava distrair Santino, que me vigiava de
perto há algum tempo.

Encaro Greco, esperando uma ajuda.

— Romeo o enganou ou ele está nos enganando. Marco


continuou por aqui todo aquele mês até poucos dias antes de você ir
ao cemitério. Havia rastros de coisa errada no mausoléu e Leon
retornou após você partir. Estive com ele, foi Marco que
encontramos no caixão.

— Fui um traidor, forjei a morte do meu filho. Mas meu erro


parou aí. Não sabia que ele estava com Tito ou que havia matado
Marco. Não questionei o sumiço do meu soldado justamente por
acreditar que ele tinha ido viver com meu filho.

— Então você ia acobertar a deserção de dois homens


feitos? — Aquiles inquire calmamente.

— Eu...

— Você não errou só em ter forjado a morte do seu filho,


pai. — Interrompo, magoada. — Também errou quando esqueceu
que tinha uma filha. Aliás, não tendo um pau para me dar o título de
herdeiro, nunca fui de muita importância. Só fui protegida além da
conta para que pudesse fazer uma boa aliança futuramente, como
foi o caso. Mas me surpreende que não tenha se importado em
acalmar meu sofrimento.

— Para que, Serena? Para ser cúmplice? Sou um homem


feito há anos e sei que qualquer traição volta para ser cobrada mais
cedo ou mais tarde. Pode não acreditar em mim, mas colocá-la a
par de tudo a colocaria na mesma posição que estou hoje.

Encaro-o sem saber o que dizer, pois só me vem à mente


xingamentos e explosões. Aprendi com o meu marido que isso não
leva a nada nesses momentos. E independentemente de qualquer
coisa, não quero que ele morra.

— Aquiles, por favor. — Suspiro, virando para o olhar. — Se


eu puder pedir algo a você, não o mate. Não tenho filhos e não tive
um pai que fizesse tudo por mim, mas acredito que é isto que os
pais fazem, eles protegem seus filhos, mesmo quando eles estão
errados. Foi o que ele fez com o meu irmão. Então...

— Fontana traiu a famiglia. — É o que ele diz, apenas.

Saio da cozinha, com o peito doendo e os membros


trêmulos pelo medo. Minha mente começa a entrar em conflito, as
lembranças de todas as vezes que Antonio gritou que fui criada na
máfia e deveria saber o que esperavam de mim. Papà sempre
soube o que esperavam dele e não deixou de proteger Romeo. E
sobre isto, jamais o julgaria. O que me corrói, é a omissão, são as
lembranças do quanto sofri e prejudiquei a mim mesma e ao meu
casamento.

Ao chegar à porta do quarto ouço Desirée chorando e


dizendo:

— Sinto-me tão mal por Serena. Ela não merece nada disto.

— Isto não importa. — Maria diz. — Ela tem a nós.

— Serena é uma Di Accorsi. Saberá lidar com tudo isto e


muito mais. — Ludo completa resoluto.

Sinto meus olhos encherem de lágrimas e as afugento antes


de me fazer vista.

— Leonello comeu tudo? — Inquiro e vejo seus olhos


brilharem ao encontrar os meus.

— Venha. — Bate ao seu lado na cama. — E vocês, vão


descansar. Serena irá cuidar de mim.

— Depois, garanhão. — A voz de Santino enche o cômodo.


— Aquiles quer subir para saber tudo.

— Ele precisa descansar. — Protesto.


— E eu preciso dar fim aos traidores e retornar para a Itália.
— Aquiles comenta, passando por Greco e se aproximando de mim.
Ele passa a mão em minha cabeça, bagunçando meus cabelos
como se eu fosse um moleque. Ele é tão alto quanto Leon, o que faz
com que eu realmente pareça uma criança ao seu lado. Embora
sinta conforto com o gesto, como se houvesse uma confiança entre
nós, respeito. — Não irei matar o seu pai, Serena, por você. Salvou
Leonello e matou o próprio irmão em nome da famiglia. Antonio
Fontana não é mais Subchefe e não tem um herdeiro preparado.
Leonello cuidará do que é seu até que vocês tenham herdeiros para
assumir. Minha irmã é capaz de levar o legado do meu pai se ele e
eu formos para o inferno. Então isso aqui não é sobre você ser
mulher, é sobre não estar pronta. Se estiver disposta a assumir,
aprenda com o seu marido e me procure para eu saber.

— Seu filho da puta, pare de olhar tanto nos olhos da minha


mulher. — Leonello resmunga, fazendo Aquiles e Santino rirem.

— Iremos deixá-los. — Ludo levanta-se, sorrindo.

Bella e os Di Accorsi deixam o quarto, então pergunto:

— Eu também preciso sair?

— Fique. — Leon diz.


Caminho até sentar ao seu lado e ouço todo o relato do que
aconteceu desde que ele percebeu a emboscada dos motoqueiros.
Ouvir cada loucura confessada pelo meu irmão causa-me nojo. É
como se o homem que matei não fosse o Romeo que idolatrei toda
a vida. Só o fato de tê-lo ouvido mencionar seu amor por Marco em
tantas ocasiões e agora saber que o matou a sangue frio, reitera
isso. A obsessão que sentia para ser melhor em relação à Leonello,
a raiva que escondeu ao perceber que a atenção do homem estava
em mim e vice-versa, desde o primeiro olhar, mostra um lado que
sempre guardou para si.

E é este ponto que me fere profundamente. As lembranças


de que antes do seu silêncio, Romeo fingiu que aceitava o fato de
eu ter me sentido atraída por Leonello, de forma que até jogou
algumas iscas sobre me casar com ele. Permitiu que o inimigo se
aproximasse de mim na igreja. A falsidade é o pior dos venenos.
Romeo foi falso, pode ter me amado, todavia, jogou-me aos lobos
como parte do seu jogo doentio. E todo aquele desespero para
impedir que me casasse com Tito era puramente egoísta, nunca
pelas preocupações que expunha sentir.

Talvez esteja em nosso sangue, afinal não hesitei em matá-


lo, mas por que em seus olhos, reconheci cada sentimento amargo,
pois estive lidando com eles diariamente desde que acreditei que
ele estava morto. Não reconheci Romeo. Reconheci o mal que cada
sentimento sombrio o transformou, jogando-o no fim do poço, o que
teria acontecido comigo. Não houve hesitação, naquele momento o
que mais me importava era tirar Leonello do perigo.
Porque o homem roubou meu coração de maneira que,
mesmo acreditando odiá-lo, eu o almejava a cada segundo.

Talvez minha única desculpa seja o fato de ser louca por


Leon e, naquele momento, ter sido capaz de qualquer coisa para
tirá-lo daquela situação. Talvez seja o meu carma para carregar, o
pecado que me levará para o inferno, a morte do meu irmão. Depois
de tanto infernizar o meu marido, culpando-o, o sangue de Romeo,
o meu próprio sangue, escorre em minhas mãos.

— Tenho a convicção da surpresa e do desespero que vi


nos olhos de Antonio ao me encontrar naquele lugar. E
principalmente a loucura do filho ao ver que o pai não concordava
com tudo o que ele tramou para impressioná-lo. Vocês viram os
ferimentos, o velho está fodido, apanhou também. — Leon finaliza.

— O pressionei antes de trazê-lo a Serena. Ele não fez além


do que diz ter feito. — Aquiles diz.

— Bem, se acabamos por aqui, está na hora de devolver


isso. — Santino retira um papel dobrado do bolso da calça e o
desamassa antes de oferecê-lo a mim. Sorrio ao ver que se trata do
mapa. — Além de tudo, só encontramos o local onde você estava
graças a Serena. Dê diamantes a essa mulher, meu amigo. — Diz a
Leon.
Leonello franze a testa, o rosto inchado e ferido parecendo
transtornado olhando entre o papel e eu. Sem dizer uma palavra, ele
o pega da mão de Greco antes que eu possa pegar.

Aquiles e Santino se entreolham, mas nada dizem. De


alguma maneira, é como se nuvens tempestuosas se formassem
sobre sua cabeça as vistas de todos nós. Os homens logo se
levantam.

— Vou levar Antonio e ter uma conversa definitiva com ele.


— Aquiles comunica.

— Vou com você.

Ambos saem sem uma despedida e aguardo a explosão que


parece prestes a acontecer.
CAPÍTULO 26

— Isto aqui esteve debaixo do meu nariz o tempo todo, não


é? — Seu tom soa imparcial, mas seu olhar é totalmente diferente
de tudo o que já vi. — O que mais deixei passar, Serena? A falsa
morte do seu irmão, que era ele atrás da suposta eficácia de Tito,
seu pai escondendo algo. E o mais estúpido é que eu, realmente,
deixei passar. Não é que não supunha algo podre, mas deixava de
lado para não chegar numa merda que foderia ainda mais o nosso
casamento fracassado. Vi o túmulo sem o seu irmão e fechei os
olhos até para esse assunto. E eu cogitei, Deus sabe que cogitei.

— Leon... — Suspiro, temendo a seriedade em seu rosto. —


Sei que temos muito que conversar e só não comecei pedindo
perdão porque você precisa descansar antes. Sei que fiz tudo
errado, mas quero acertar agora.
— Você fez tudo errado, no entanto, o maior erro quem
cometeu fui eu.

— O que está falando?

Leonello fica de pé e me encara com um desgosto que


nunca vi em seus olhos.

— Eu me apaixonei por você.

Meu coração salta no peito, mesmo sua expressão


demonstrando tudo, menos plenitude, é impossível não sentir
alegria com a confissão.

— Leonello! — Levanto, o perseguindo pelo corredor


quando ele sai feito um furacão, nem mesmo a perna ferida o
impedindo.

— Não me siga. Estou cansado pra caralho de todos estes


embates, de ter carregado o fardo de ver você me culpando, me
odiando por uma merda que não fiz. Estou farto de ter fechado os
olhos para tudo. Se tivesse me mostrado este maldito mapa, sabe
quantas coisas teria evitado, desgraçada?

Seguro seu braço, vendo-o olhar como se o toque o


queimasse, como se não me reconhecesse e isto me machuca.
— Leon, como você mesmo disse antes, meu erro sempre
foi ser mimada e achar que tudo tinha a ver comigo, que a minha
dor era maior que o resto. Estava com raiva, magoada e me
sentindo sozinha, mas mesmo assim não fui capaz de evitar me
envolver com você a ponto de hoje os meus instintos me guiarem a
salvá-lo a qualquer custo. — Digo honestamente. — Quero
recomeçar do jeito certo.

— Comece sumindo do meu caminho.

Suas palavras me ferem, principalmente por ver que


realmente quer ir para o mais longe possível. Saber que se
apaixonou por mim deveria ser algo que me fizesse sentir liberdade
para dizer que me sinto da mesma forma. Mas como? Leonello
parece exausto, cansado de mim. Não é tão simples dizer que
sempre o amei, nem eu mesma sei explicar quando o sentimento
amargo se tornou amor. Mas sempre esteve lá, mesmo quando
acreditava odiá-lo, o ansiava.

— Não, Leon. Você precisa ficar perto para eu me certificar


que está bem. Não deveria estar andando, está mancando, seu
rosto está ferido, a sutura que fiz na costela antes de você ser
capturado está infeccionando... Juro que o deixo ter seu tempo, nem
precisa me olhar, só deixe-me cuidar de você.

— Foda-se, Serena. Estou falando muito sério. Fique longe


de mim.
A advertência em seu olhar não me causa medo, porém,
mantenho-me imobilizada diante do seu desejo tão necessário de se
afastar. Sento-me contra a parede depois que ele desce e tento lidar
com a enxurrada de sentimentos me sufocando.

Quero que Leonello tenha seu tempo, mas é muito doloroso


não poder estar com ele depois de tudo. Lembro-me de todas as
vezes que o afastei, que ameacei. A dor lacerante por recordar da
exaustão em seu rosto faz-me respirar fundo para conter as
lágrimas.

Leon se trancou no escritório pelo resto do dia. Preparei


lanches e mandei os remédios nos horários certos através de Bruno,
mas não o incomodei.

No entanto, agora já é noite e o homem precisa de conforto,


em sua cama, ao meu lado de preferência. Então dou duas batidas
na porta e entro antes que ele negue. Meus olhos rapidamente
captam a garrafa de uísque quase vazia sobre a mesa e meu peito
dói ao vê-lo jogado sobre a cadeira, que poderia ser considerada
confortável para mim, de forma alguma para um sujeito enorme
como Leon.

Ele sequer desperta diante da minha presença, a bebida


alcoólica somada à exaustão cobrando seu preço. Pelo menos os
pratos com as refeições enviadas, estão vazios.
— Leon. — Chamo baixinho, tocando seu ombro.

Seu corpo enrijece e seus olhos vão imediatamente para a


arma sobre sua perna.

— Fora.

— Não durma aqui. Vá para o seu quarto. Juro que o deixo


em paz.

Ele grunhe uma maldição e finge que não me vê. Respiro


fundo, obrigando-me a respeitá-lo, mas ciente de que não irei
suportar a rejeição por muito tempo. Pego os pratos e copos sobre a
mesa e os levo até a cozinha. Quando retorno, seus olhos
encontram os meus quando começa a divagar:

— Quando eu completei doze anos, o irmão do meu pai foi


morto por traição e seu filho de dezesseis anos precisou morar em
nossa casa. A maioria das lacerações em meu peito... — Faz uma
pausa e bebe um longo gole de uísque. — Foi ele.

— O que? — Sinto meu sangue gelar.

Imaginei que algo muito ruim havia acontecido, suas


cicatrizes parecem antigas, mas são muitas para tê-las conseguido
em brigas. Acreditei que tivesse passado por tortura em mãos
inimigas.
— Certa vez meus pais viajaram para a Itália e nos
deixaram com babás, já éramos grandes, as putas se aproveitavam
disso para vagabundear pela mansão. Na primeira noite o encontrei
no quarto de Maria, que tinha seus quase três anos. Ela estava
dormindo e o infeliz estava prestes a sufocá-la com o próprio
travesseiro. Ao presenciar a cena, o ameacei, tentei ir até os
seguranças, mas ele me pegou e não tive chances, sendo levado ao
seu quarto, amordaçado e ganhando meus primeiros cortes.

Não consigo me manter longe, aproximando-me até estar


encostada contra o tampo da mesa, nossos joelhos se tocando, o
mínimo toque necessário para me certificar que o meu homem está
aqui, mesmo depois de tudo.

— Eu...

— Shh... — Leon me cala e gira a cadeira, encarando a


vista através da janela panorâmica. A noite é silenciosa e o céu sem
muitas estrelas. Parece como o seu humor. — Por quase um fodido
mês, Honório ameaçava matar Maria quando eu menos esperasse
se eu não fosse ao seu quarto de bom grado. Fui, nas primeiras
vezes quase desmaiava de dor, mas aos poucos fui me
acostumando, até sentia meu sangue bombear mais forte, então
comecei a observá-lo, prestar atenção onde sua arma ficava, qual
força ele usava para fazer as lacerações, se pretendia cumprir as
ameaças de me matar caso tentasse algo. Demorei três semanas
para perceber que ele era sádico, não tinha motivos contra nós, logo
agi. Naquele dia apareci usando um colete a prova de balas, um que
me engolia, pois havia roubado do meu pai. — Ri, como se
realmente achasse engraçado. — Quando Honório arrancou minha
camisa, veio a surpresa em seu rosto miserável e aí, enfiei minha
faca em seu olho esquerdo. Eu nunca tinha matado, mas juro que
senti minha boca salivar. — Faz uma pausa e mesmo não vendo
seu rosto, consigo visualizá-lo lambendo os lábios. — Ali, Serena,
matei-o, sem a ordem do meu pai, sem provar que estava certo
antes. No entanto, antes furei seus olhos, cortei seus dedos e, por
último, sua garganta. Assim ganhei meu apreço por lâminas, porque
sei quanto elas ferem, senti na minha pele.

O silêncio só é preenchido com o som do meu choro


baixinho e a respiração pesada de Leonello.

Continuando, ele sentencia:

— Você foi a única pessoa a ameaçar a mim e a Maria e


permanecer viva. Eu quis que você fosse meu destino quando a vi
pela primeira vez. No entanto, agora vejo que você veio como uma
punição. Se alguém controla este mundo, ele me fez cego para os
meus próprios instintos por você e você me fez fraco.

Suas palavras são quase definitivas e me desespero,


afastando-me da mesa e pairando em sua frente. Ajoelho-me para
melhor encará-lo e confesso:
— Leon... o que nós dois vivemos nos últimos dias, isso foi
real... eu amo você.

Leonello ri, sem humor algum, seu olhar ao me encarar é de


desprezo.

— O seu amor é uma merda. Você amava tanto o seu irmão


que o matou sem pestanejar.

Ao jogar isto na minha cara, Leonello consegue o desejado,


me calar e ferir.

Poderia tentar justificar o meu amor e o fato de ter matado


Romeo, mas até para mim tem sido difícil entender. Eu já havia
sofrido a morte de Romeo e quase me destruído no processo.
Reconheci uma ameaça ao meu marido e a eliminei. Esta parte é
até fácil. Meu irmão não era o mesmo e isto foi visível para mim.
Agora o momento que passei a amar Leon é um mistério.

Talvez tenha sido antes da nossa noite em Murano, mesmo


quando pensava odiá-lo e vi suas cicatrizes, senti a dor em minha
alma. Nunca saberei. E se nunca o convencer, o que importa é
como me sinto, porque em muito tempo, tenho certeza de cada
sentimento dentro de mim e o maior deles é o que fez este mafioso
se fixar em meu ser dia após dia.

— Tito me ligou uma vez ameaçando... prometendo fazer


coisas a você... me desesperei, não fui o homem calculista. Fugi
para a Itália, mesmo sabendo que seria inútil, só para mantê-la
segura. O maldito mapa teria evitado um inferno de coisas! — Sua
voz é dura, alta. — Seu maldito pai era um suspeito e passei os dias
brincando de perseguição invés de cravar minha faca em seu
crânio, como já fiz por menos, pelo simples instinto, como você bem
presenciou na boate meses atrás. Romeo não estava no maldito
caixão. E o que fiz? Nada. Fiquei brincando de casinha com você
enquanto ele armava. Fui até a maldita emboscada para colocar as
mãos no que considerava ser uma ameaça para você. Coloquei-me
nas mãos do seu irmão. Até o último segundo, até você atirar nele,
esperei que seria em mim. A verdade é que me deslumbrei por
você. Seja a beleza, seja meu desejo de brincar com o perigo, seja
o que for atraiu minha atenção. — A justificativa soa como um
rosnado e me olha com raiva ao continuar: — No entanto, de nada
isto serve se não a conheço, se jamais serei capaz de confiar em
você, se espero até agora uma punhalada pelas costas. Este
casamento acabou. Cansei de brincar com a minha vida, porque eu
sempre, sempre, porra, lutei para mantê-la.

Leonello sai do escritório sem olhar para trás e permaneço


no mesmo lugar, com o rosto agora apoiado contra o assento da
cadeira, sentindo-me exausta também no fim das contas, ferida,
com o peito dilacerado e lágrimas que parecem não ter fim.
CAPÍTULO 27

— Você sabe que essa faz duas semanas que deixou sua
mulher, não sabe?

Com a expressão de poucos amigos, encaro Santino e


afundo a binga do cigarro no cinzeiro, logo acendendo outro e
tragando, sem lhe dar uma resposta para sua pergunta retórica.

Batidas na porta atraem nossa atenção e meus olhos saltam


ao ver Bruno.

— Chefe, sua senhora está na boate. Acompanhada de


Maria e Bellarmina.

Sinto a cabeça doer com a novidade. Saí de casa há duas


semanas e Bruno me informou sobre cada passo de Serena,
mesmo que eu tenha dito que era para mantê-la em segurança e
não me dar notícia nenhuma. O fodido de merda é mais um dos que
pularam para o #teamSerena. Tudo o que ela fez foi ir ao Central
Park, arrastada por Maria, e visitar o pai. Segundo os relatórios
indesejados do segurança, Antonio e a filha estão se aproximando.

Recordo-me do pequeno acerto de contas que fiz com Vitto


Vinatti. Esperei que entrasse em contato e tentasse algo, mas o
maldito não o fez. Então três dias atrás o procurei. Não cravei minha
arma em sua garganta por ser um Subchefe respeitado e sem
sujeiras comprovadas. Ele garantiu que tudo o que fez, foi forçar o
casamento do filho para que Tito não continuasse sua aventura com
Romeo, pois segundo o mafioso, seu filho não era gay, só um
perdido que faria qualquer coisa por uma tira de cocaína.

Volto ao presente e lembro-me do mapa.

Depois de colocar as mãos naquele mapa, senti-me traído e,


pior, feito de tolo. Sempre me vangloriei do fato de estar um passo à
frente dos meus inimigos e fechei os olhos para o cenário que
poderia se desenrolar com Serena. Muitas coisas poderiam ter
acontecido. Mas o que mais me revolta é o tanto que me preocupei
com a maldita, para no fim das contas ela ter a solução dos
problemas e não tê-lo entregue a mim por birra, por uma vingança
infundada.

Confiar nas pessoas sempre causa desgraça. Com meu


primo Honório foi a mesma coisa. Papà confiou em colocar o
sobrinho em nossa casa. Minha irmã e eu poderíamos estar mortos.
Não morri, mas as marcas em meu peito não me deixam esquecer
que permaneço escapando do inferno dia após dia. Entretanto,
desde Serena me tornei vulnerável e, até, disperso. Estas
características me levariam à morte mais cedo ou mais tarde. E
sempre fugi, como agora, poderia me jogar do precipício de bom
grado?

O fato de saber que está na boate mexe comigo. Devido aos


ferimentos, precisei ficar fora do trabalho “pesado” e me enfiei nos
trabalhos burocráticos. É claro que Serena recebeu uma pista de
onde estou. Afinal nunca fico no mesmo lugar dias seguidos. Há
muitas empresas laranja e acaba exigindo uma rotação.

— Deixe-a. — Respondo, finalmente. Os dois homens me


encaram com surpresa. — Não vou impedi-la de viver. O que vocês
querem?

— Que você arranque este pau que está atolado no seu


rabo. — Greco resmunga e sai da cadeira em frente a minha mesa,
de onde esteve me analisando todo este tempo.

Passa por Bruno e sai do escritório.

— Deus, vocês vão acabar se matando. — Bruno comenta.


— Se precisar de algo, é só chamar.

— Certo. — Resmungo impaciente.


Quando o sujeito sai, encaro a parede tomada por
televisores que mostram cada ponto do estabelecimento. Procuro-a
por um longo tempo até a encontrar sentada no bar. É difícil não
salivar com sua visão. A desgraçada veio vestida para matar com
um dos seus vestidos indecentes que me deixam louco. Levanto-me
e caminho até o bar, me servindo de vodca. Será uma longa noite.

Qualquer chance de ler os relatórios à mesa vai para o


espaço. Meus olhos seguem Serena a todo o momento e quando a
perco de vista, fico ansioso para encontrá-la novamente.

Ela dança, remexendo os quadris de forma atraente, toda


sensual, seus olhos sempre buscando alguém e sei bem que veio
para me provocar. Há certo momento que senta no bar e bebe
incontáveis drinks. Não me cabe fazer proibições, mas me
mantenho atento, principalmente vendo cada bastardo que tenta se
aproximar. Bruno sempre surge pronto para afastá-los. Há um
momento que Santino vai até elas e levam algum tempo
conversando.

Aperto o tampo da mesa ao ver Serena encostar a cabeça


no peito dele e ficarem por um longo tempo na mesma posição. O
infeliz não a toca, todavia não se afasta. Cerro os olhos e os
punhos, então ela levanta e começa a mover os braços, parecendo
exaltada, leva a mão ao rosto de qualquer jeito como quem seca as
lágrimas.
Bruno tenta entrar na frente, mas Greco o impede e diz algo
a ela. Os dois caminham juntos em direção a... Puta merda!

Não levam três minutos para a porta ser escancarada. O


baque de vê-la faz as batidas do meu coração causarem zunidos
em meus ouvidos. O vestido de cor vinho com um decote na cintura
torcido e franzido deixa a pele da barriga à mostra. As pernas
branquinhas atraem minha atenção, fazendo-me salivar de saudade.
Sinto quase de maneira física a saudade sufocante.

— Leon! — Serena parece feliz da vida quando me vê. Os


olhos borrados de preto, a boca tingida por restos do batom
vermelho. Ela corre em minha direção e se joga em meu colo. A
desgraçada está bêbada. — Como senti sua falta. Tanto, tanto, meu
amor! Você está bem? — Segura meu rosto e analisa-me
minuciosamente, ou ela acredita que está fazendo, em sua mente
alcoolizada. — Está recuperado. Há uma cicatriz que irá ficar aqui.
Eu as odeio! Odeio essas marcas em você e o mal que o fizeram...

Como mágica sua alegria se torna um choro alto, que me


deixa ainda mais paralisado do que já estava. Mal me movi desde
que ela entrou feito um furacão.

— Serena. — Puxo seus cabelos, sentindo a saudade


sufocar ao sentir a cortina escura e sedosa em minhas mãos. Passo
a mão por seu braço, sentindo a pele arrepiar. Ela me encara com
os olhos azuis mais bonitos que já vi e suspira.
— Estou muito, muito, bêbada. Mas quando estava sóbria
também sentia isso. — Serena pega minha mão e coloca sobre seu
peito. Sua intenção pode ser que eu sinta as batidas do coração,
mas minha necessidade pela mulher faz com que eu amasse seu
seio subconscientemente. Pegando-me de surpresa, ela solta um
gemido e sorri, remexendo-se no meu colo e esbarrando
propositalmente na ereção crescente. — Eu estava falando de amor,
só que também sinto tesão. Uma saudade tão, tãããão, grande. —
Suspira e aproxima o rosto do meu, beijando a mandíbula, inalando
profundamente e enfiando o rosto em meu pescoço. Seus beijos
molhados me deixam louco. — Comprei um vibrador... foi
necessário. Não é do seu tamanho, nem tem suas veias, eu amo
como seu pau é veiudo. — Morde meu pescoço e aperta meu pau
descaradamente. Seguro sua bunda e a prendo, impedindo
qualquer movimento. Ela envolve os braços em meus ombros. —
Mas precisava de um conforto, de algo que aplacasse o tesão
desenfreado que sinto por você. Faz tanto tempo, Leon...

— Serena, você precisa dormir e...

Sou interrompido pelo som do seu ronco e a respiração


suave em minha garganta. Diaba de mulher!

Acomodo-a em meus braços e quando percebo uma hora se


passou. Segurei minha mulher sem remorso, a confusão, o aperto
da saudade, me azucrinando. Não tive coragem de chamar Bruno e
dispensá-la através dele. Também não levo a sério as palavras ditas
por meio de um torpor alcoólico, principalmente vindas de Serena,
que nunca teve o hábito de beber. Foi atropelada pelos drinks e
sequer se move ou faz menção de despertar quando saio do
escritório com ela em meus braços. O som alto fora do cômodo não
a comove, o caminho até a saída privada tampouco, minha
conversa com seu segurança também não. Entretanto, quando tento
afastar seus braços do meu pescoço para acomodá-la nos bancos
de trás do Sedan, ela desperta.

— Não vá embora de novo. Por favor. Sei que não acredita


em mim, mas como posso provar se estiver longe? — E a única
lágrima que rola por seu rosto me prende, além de não parecer tão
louca quanto antes.

— Não se humilhe. — Digo suavemente, me encurvando


para entrar no carro com ela em meus braços. — Nunca. — Afasto
os fios rebeldes do seu rosto. — Agora durma.

— Vou acordar com você ao meu lado? — Sua voz é baixa,


o olhar atento ao meu.

— Serena.

— Foda-se, Leonello! — Exalta-se, saindo do meu colo e


apontando o dedo em meu rosto. — Você cismou que se casaria
comigo, fez o inferno para conseguir. Até mesmo quando eu estava
sendo burra e imatura, você teve uma semana para decidir não se
casar. E o que fez? Casou! Fiz merda? Não vi as coisas como
eram? Foda-se bem grande para você, Leonello! Porque você me
fez me apaixonar por você! Eu aprendi com os meus erros, matei a
porra do meu irmão. Se você não enxerga isto como prova de amor,
se não vê toda conexão genuína que tivemos antes disto, então
você pode ir à merda!

Serena faz menção de sair do carro. Impeço rapidamente,


puxando seu pulso. Olhando em seus olhos irados, mordo o dedo
polegar que apontava para mim.

— Não aponte o dedo em meu rosto.

— Desgraçado! — Grita e leva o dedo à própria boca, para


aliviar a dor.

O ato inocente faz meu pau pulsar e isto só reitera o quão


fodido nosso relacionamento é. Preciso lutar contra esta luxúria
visceral para não montá-la de forma que só abrirá a boca para
gemer e pedir mais. Não importa em que pé as coisas estejam,
sempre me deixo levar pela paixão. E não é só físico. Sinto saudade
da infeliz todos os dias, do simples fato de acordar e vê-la dormindo
antes de sair, da sua boca atrevida, os olhos impressionantes, de
sentar à mesa e comer seus pratos italianos.

— Serena. — Respiro fundo e seguro seu rosto para que me


olhe com atenção. — Não quero o seu mal. Mas também não quero
o meu.
— É tão duro dizer algo assim, Leonello. — Nega com a
cabeça, tristeza enchendo suas feições. — Não sou seu mal. Não
sou. Meu amor não é uma merda. — Parece desconsolada ao trazer
à tona o que joguei em sua cara semanas atrás. — Você sabe o
quanto eu amava Romeo. Você sabe o quanto sofri. Foi tão difícil
que não vi nada além de tê-lo perdido...

— Eu sei. Aquela noite eu tinha bebido, estava cansado


psicologicamente e ferido fisicamente. Só fodeu mais a minha mente
colocar as mãos naquele mapa e lembrar que poderia ter evitado
muita merda. E não era sobre evitar o que eu passei, era evitar o
medo que tive naquelas semanas, medo de que você fosse pega e
ferida.

— Sei disto... Ia entregá-lo a você na noite em que saiu para


a emboscada. Não quis atrapalhar naquele momento, mas tinha
muito a dizer. Ali, eu já ia pedir perdão por tudo, por cismar que
matou Romeo, pelos tiros, por Maria... — Seus olhos voltam a ficar
úmidos. — Ia entregar o mapa... Tantas coisas que simplesmente
não deram certo por falta de comunicação. Mas há muito tempo eu
já não era sua inimiga, mesmo que quisesse ser. Há dias meu corpo
já te dizia o que eu não sabia dizer, Leon. E embora pense que meu
amor não é real e eu não possa explicar quando a chave virou, você
sabe que há coisas que não mentem. E nós dois juntos... Isso nunca
foi mentira.

Fico em silêncio, sem muito mais o que falar. Toda esta


situação já me desgastou bastante. E a ela também. É certo de que
falei muitas coisas que não deveria para feri-la, mas as palavras só
saem com nossa permissão e após colocá-las ao mundo, não há
volta. Então não era mentira, era como me sentia. E em certos
pontos, ainda sinto. Por isto mantenho minhas mãos para mim e a
maioria dos pensamentos. É difícil estar nesta posição, ter que
conversar, resolver. Não sei fazer esta porra. Sei pegar minha faca e
esfaquear o problema. Quando se tratava de Serena, funcionava
usando o meu pau, visto que nunca seria capaz de mandá-la para o
inferno.

— É madrugada. — Quebro o silêncio, encarando o relógio


marcando mais de três horas da madrugada. — Você bebeu muito e
não comeu nada. Precisa ir para casa descansar.

— É inútil, não é? Você realmente vai manter as coisas


como estão?

— Serena, se eu for bem sincero, você está certa em tudo o


que disse, mas não ganha o direito de determinar como reajo em
relação a tudo. Estou puto e mantenho minha palavra.

Abro a porta e saio do carro, fechando-a em seguida, agora


que as coisas desandaram de vez, não vendo a necessidade de
acompanhá-la. Bruno entra no veículo e o motor não demora a
ganhar vida. Logo eles somem de vista. Passo a mão pela cabeça,
totalmente perdido.
Evito pensar em sua explosão, gritando que se apaixonou,
que errou e aprendeu. Para mim, é mais fácil deixá-la e não lidar
com o conflito a assumir meus sentimentos e não me importar com
mais nada, além da mulher. Como fiz nos últimos meses.

A vida já foi fácil quando eu matava, vendia drogas e fodia


bocetas aleatórias. Agora, sem ação, trabalhando nas empresas,
sentindo saudade da minha mulher... esta porra é difícil pra caralho.
CAPÍTULO 28

Dois dias após minha ida à boate, recebo uma mensagem


de Leonello avisando sobre a festa de aniversário da irmã de
Aquiles em que precisaremos comparecer.

Se algo ficou comprovado é que sou um fracasso em seguir


planos. Havia planejado me aproximar e conquistá-lo dia após dia.
O que fiz? Enchi a cara e dei vexame. Chorei na barriga de Santino,
ameacei-o caso não me deixasse ir ao escritório, fui até Leon, ri,
declarei o meu amor, chorei, o apalpei, dormi, briguei... Dio Santo!
Só de lembrar sinto vergonha.

Nas duas últimas semanas fiz companhia ao meu pai.


Antonio tem sido uma sombra do homem que já foi. Perder seu filho
e a honra na famiglia o dilacerou. É até esquisito quando estamos
juntos, pois muitas vezes o silêncio incômodo prevalece. Mas fiz
seus pratos favoritos e conversei comigo mesma, tentando fazê-lo
participar. Apesar de tudo, odeio vê-lo neste estado.

Leonello é uma saudade constante e depois de vê-lo, o


sentimento só se fincou mais em meu peito.

— Bruno, tenho uma consulta médica em uma hora. —


Aviso ao segurança, que franze a testa, mas assente.

Sigo até a cozinha e tomo um reforçado café da manhã,


depois retorno ao meu quarto. Fico dez minutinhos na banheira.
Depois do banho, me seco e prendo os cabelos em um coque
bagunçado. Visto calça jeans, regata rosa e calço tênis. Não me
maquio, só passo gloss nos lábios e coloco óculos de sol.

Ao descer, encontro Bruno ao telefone parecendo nervoso.


Quando me vê, encerra a chamada e pergunta:

— Quer que eu carregue sua bolsa?

Olho a bolsa rosa na minha mão, onde só cabem meus


documentos, cartão de crédito e celular. Franzo a testa e encaro o
segurança.

— Você está bem? — Inquiro diante da loucura de querer


carregar uma bolsa tão pequena. Ele nunca fez isso antes.

— Estou. — Desvia o olhar e sai de casa.


Não o perco de vista, preocupada. Espero que ele não
esteja bêbado.

Por sorte, Bruno dirige calmamente e não demoramos a


chegar à clínica.

— Me deixe aqui. — Peço, indicando a calçada.

— É perigoso. Melhor ficar no carro até eu estacionar e


depois voltamos juntos.

Olho a distância até o estacionamento e resmungo:

— Que perigo é este, Bruno? Não há necessidade de eu dar


esta volta toda. Espero ser a boa menina que sou.

— De jeito nenhum, Serena.

Estou prestes a xingá-lo quando ouço batidas no vidro da


janela. Arregalo os olhos quando encontro Leon. Meu coração
acelera e nem penso duas vezes antes de sair do veículo.

Fico parada o encarando e o homem me analisa de cima a


baixo, como se procurasse algo errado. Aproveito o momento para
beber de sua imagem. Ele está lindo, como sempre, usando camisa
social branca, gravata vermelha e colete cinza, sem terno. A calça
social preta marca os músculos deliciosos de suas pernas saradas.
Todo ele me atrai. Meu peito dói de saudade. Mesmo vê-lo não
dissipa o sentimento. Porque é saudade de tê-lo.

— Por que não me disse nada? — Sua resposta soa mais


como uma exigência, me assustando.

— O que eu deveria dizer?

— Mesmo que estejamos brigados ou sei lá o que, porra,


você deve me contatar se precisar de algo. Não deve ficar doente
por aí. — Leonello me puxa para os seus braços e me amassa em
seus músculos.

Percebo a confusão imediatamente, mas demoro a desfazê-


la, porque não quero perder esse contato tão cedo. Inalo seu cheiro,
enfiando meu rosto em seu peitoral largo.

Inclino o pescoço para trás, podendo ver seu rosto e explico:

— Não estou doente. Só tenho consulta com o


ginecologista.

Leonello arregala os olhos e leva a mão a minha barriga


instantaneamente.

— Está grávida?
— Não, Leon. — Sorrio. — Só consulta de rotina. Tomo
anticoncepcional desde a adolescência.

— Fiquei desesperado, imaginando mil coisas. — Confessa,


sem me soltar.

Passo os braços por sua cintura e provoco:

— Acho que você gosta de mim, afinal de contas.

— Garota tola. — Ele sorri, parecendo meu Leonello de


antes. Então beija minha testa e avisa: — Tenho um compromisso
importante agora, mas a vejo à noite, certo?

Quase dou pulinhos de alegria, mas lembro que é a viagem


para a Itália por conta do aniversário da caçula dos Esposito, então
só concordo desanimada. De volta à estaca zero.

Despeço-me de Leon e entro na clínica depois de dar uma


reprimenda em Bruno por ser um projeto de fofoqueiro, nem serve
para passar a informação certa.

O carro de Leon estaciona em frente à nossa casa e sinto


borboletas voarem em meu estômago quando a porta sobe para que
eu entre. Seu cheiro logo vem de encontro a mim e faço um enorme
sacrifício para não afundar o rosto em seu pescoço. Sua barba está
aparada, diferente dessa manhã, e ele veste um conjunto de terno
elegante cinza chumbo, todo ajustado ao seu corpo robusto.
Delicioso.

Seus olhos verdes me comem e sinto meu estômago


contorcer em antecipação. Leon parece diferente. Parece ele
mesmo, comendo-me com os olhos sem vergonha. Ele puxa minha
mão e beija a palma, o simples ato causando reação imediata entre
minhas pernas.

— Boa noite, Serena.

— Boa noite, Leon. — Minha voz soa rouca até para os


meus ouvidos.

Olho em sua calça, encontrando o sinal de que também o


afeto. Ele começa a dirigir e sorrio satisfeita, encostando a cabeça
na janela.

Reviro os olhos pela centésima vez. Santino, Bruno e


Orlando são nossos companheiros de voo e estes homens não
calaram a boca um maldito minuto. Não sei como não cansam de
tantas reuniões. Estive tão esperançosa de que as coisas iam
melhorar entre Leonello e eu, que não previ algo assim. Irrita-me
que ele não sente e converse comigo, mas tenha paciência para
ouvir esses infelizes falarem de armas, drogas e puttanas o tempo
todo.

Sinto minha paciência esvaindo pouco a pouco, minuto a


minuto. Quando durmo e desperto, pela segunda vez, encontrando
os mafiosos na mesma reunião maldita, perco a cabeça de vez.
Abro minha bolsa em que trouxe coisas íntimas, como o meu
vibrador, pois o diabinho em meu ombro sussurrou que poderia ser
útil na viagem. Não esperava que fosse usar na aeronave, mas que
bom que o ouvi.

Coloco o pênis de plástico no bolso do meu sobretudo, que


tem bolsos compridos. Levanto-me e caminho até o final do
corredor. Entro no banheiro sem dignar um olhar a ninguém.

Não estou excitada, estou possessa. Então não consigo


simplesmente me despir e começar a me masturbar. Descarto a
possibilidade, mas solto a voz, gemendo falsamente com o rosto
colado à porta. O intuito de irritar Leonello a ponto de ele aprender a
dar atenção para a esposa, mesmo em uma crise.

Quando a ansiedade vence, começo a contar os minutos.


Levam dois para que Leonello bata à porta.

— Você está louca, porra?

Passo as mãos em meus cabelos, bagunçando-os


propositalmente. Belisco as bochechas e mordo os lábios, causando
veracidade à cena. Abro a porta, mas coloco só a cabeça para fora,
sorrindo.

— Pode esperar um minutinho? Já estou acabando.

Leonello enfia a mão pela brecha e segura minha garganta,


empurrando-me para abrir espaço e entrando em seguida.

— O que... — Sua voz morre ao esquadrinhar o local e


encontrar o vibrador em cima do tampo do vaso. — Que porra é
esta, Serena?

— É um vibrad...

— Dio Santo! — Leonello nem me deixa concluir, as narinas


dilatadas ao respirar feito um touro. Ele afrouxa a gravata com
desespero, como se estivesse sufocando. — Você vai me matar. —
E avança em mim, segurando minha nuca e beijando-me como se
não houvesse amanhã.

E eu que planejava brigar, colocar um pingo nos is de uma


vez por todas, perco o controle da situação e retribuo ferozmente. O
beijo tem gosto de fome, luxúria desenfreada e desespero. O que
prevalece, embora, é o sabor da saudade, do anseio. Leonello
aperta meu corpo contra o seu, apalpando-me por toda parte, sua
língua duelando com a minha, seus lábios comendo os meus. Ele
rosna em minha boca e puxa meus cabelos, expondo o pescoço
para descer os beijos pela pele febril por seu toque.
— Leon...

— Serena...

Não há mais palavras a serem ditas, pois estas dizem tanto.


Ele abre meu sobretudo e o deixa cair por meus braços, depois
afasta a alça da blusa, beijando meus ombros e o seio recém
exposto. Leonello me encara enquanto chupa o mamilo, suas mãos
explorando minha bunda e pernas. Gemo, puxando sua cabeça,
sentindo a boceta doer e pulsar.

— Preciso de você, Leon...

— Sei que precisa, safada. — Esmaga minha bunda em sua


mão e enfia os dedos dentro da calça após abri-la. — Toda
molhada. — Sussurra, me penetrando com dois dedos. Ele os curva
dentro de mim, faz um vai e vem delicioso e beija minha boca.
Gemo, inebriada. — Seus gemidos são meus, porra. — Rosna e
empurra-me contra a parede do cômodo estreito. Rodeia minha
cabeça com o braço, apoiando-o na parede, protegendo minha
bochecha de bater na mesma. Usando da posição e da reprimenda,
tapa minha boca com a mão enorme. Lambo sua palma e rebolo na
outra mão. Ele morde minha orelha. — Vai me pagar por vir aqui e
usar um pau de plástico. Essa boceta é minha. Só para o meu pau.
Quantas vezes eu disse que foi feita para me tomar? Hum?
Se pudesse responder, imploraria para que me foda logo.
No entanto, não há necessidade. Ele afasta a mão da minha vagina
e ouço o som do cinto sendo aberto. Não demora a abaixar minha
calça até o meio das coxas e me penetrar de uma só vez.

— Empina o rabo para mim. — Exige e mete sem parar,


todo bruto, me esticando toda, levando-me ao limite do prazer. Sinto
a umidade escorrendo por minhas coxas, tamanho tesão. Mordo sua
mão e as estocadas se tornam mais duras, quase punitivas. —
Assim... Minha. Minha. — Morde meu pescoço, crava os dedos na
minha coxa e rosna, arremetendo de um jeito delicioso.

Sinto meu canal contrair, o sugando, meus olhos rolam,


borboletas voam em meu estômago, o grito de prazer sendo calado
pela mão bruta tapando minha boca. Lágrimas me escapam,
tamanha plenitude, quando gozo.

Leonello afasta a mão, levando-a aos meus cabelos,


começando um carinho que combina com a mudança das
estocadas, agora lentas e profundas. Ele segura meu queixo e me
faz olhar em seus olhos. Encostando a testa na minha, sussurra:

— Você estragou tudo. Você me estragou. E não satisfeita,


seguiu estragando e fodendo o que eu achava certo e seguro. Até
eu perceber que não há graça em sobreviver em segurança.
Escolho brincar com a morte toda a minha vida, se em meu último
dia sempre tiver você.
— Leonello... — Enfio meu rosto na parede, sentindo a
emoção me consumir em forma de lágrimas.

— Shhh... — Leon estoca lentamente, como se continuasse


a dizer palavras com seu corpo. Ele puxa minha nuca e me faz olhá-
lo. — Goze para mim, amore mio. Goza no meu pau sabendo que
eu te amo, que nunca vou deixá-la ir, ouvindo que é minha para
sempre.

O aperto em meu baixo ventre é imediato, o clímax aterrador


me leva ao céu. Lágrimas de prazer me escapam. É como se tudo
estivesse em seu devido lugar porque o homem da minha vida me
ama.

— Leon... eu te amo tanto!

Encostando a testa na minha, empurra seus quadris mais


três vezes e se libera, seu gozo quente me encharcando, me
excitando novamente, porque senti saudade de senti-lo assim, de
ver seu rosto contorcido de prazer, as sobrancelhas franzidas, a
expressão crua e visceral. Mas agora acompanha o olhar
apaixonado, entregue. Ele beija minha boca com carinho.

— Quando saí de casa, foi mais por medo do que por outra
coisa. — Confessa. — Não queria amar alguém que eu achava que
me fazia fraco. Não vi o que estava sob meu nariz. Acho que
aprendi com um certo alguém. — Beija a ponta do meu nariz. —
Você não precisava provar que me amava, porque sempre senti.
Você foi minha no primeiro momento. Não importa como as coisas
se desenrolaram. Eu sou seu. E não preciso estar sempre pronto
para enfrentar a morte, porra, porque a minha mulher faz o trabalho
quando eu estiver fraco para fazê-lo.

— Eu nunca pensei que diria isso, mas, por favor, tira seu
pau de dentro de mim. Preciso te abraçar.

O homem gargalha e eu o acompanho em meio ao choro.


Ele desconecta nossos corpos e me puxa para os seus braços, o
tanto que nos apertamos diz muito sobre nossa saudade.

— Eu sinto muito por ter dito coisas para te ferir naquela


noite. Você matou Romeo, você foi sangue frio para me salvar e
isso, nunca poderei recompensar ou agradecer o bastante. O seu
amor não é uma merda. É feroz e leal.

Encosto a cabeça em seu peito e confesso:

— Papai me disse que você teve chances de enfrentar


Romeo e acabar com aquilo. Sei que pensou em mim, mesmo sem
perceber, e no que acarretaria ao nosso casamento depois que nos
acertamos. Sofri a morte do meu irmão, Leon, você viu, sentiu na
pele a minha loucura. Uma parte de mim nunca irá se perdoar pelo
que fiz. Mas outra parte, subconscientemente conectada a você,
precisou fazer o trabalho. E eu cansei de viver presa aos meus
erros, quero viver pelos acertos. O maior deles é amar você.
Ele segura meu rosto e me beija com ternura, tanta paixão e
amor em um só beijo. Abraço-o o máximo que posso, quase
fundindo nossos corpos novamente ao sentir seu membro duro
entre nós. Leon ri e comenta:

— Qual é a porra do seu problema que não pode ver um


banheiro sem ter que foder nele?

— Acho que deve ser um ritual nosso começar os


momentos mais importantes nos banheiros. — Sorrio e confesso: —
Não estava usando o vibrador, era puro fingimento. Que tanto você
se reúne com homens feitos, mas não podia sentar e conversar
sobre nossos problemas?

Leonello cerra os olhos e resmunga:

— Minhas reuniões se resumiam ao fato de que não


estamos indo a festa alguma, Serena. Meu plano era termos esta
conversa na Ilha de Murano... E todo o sexo também. Então
precisava deixar as funções de todos ajustadas. Greco veio porque
está pensando que é a porra da fada madrinha. — Aponta atrás de
mim. — Jogue esse pau ridículo no lixo. Você tem um de verdade.
— Inclina-se e sussurra em meu ouvido: — Veiudo, não é? Como
você gosta, safada.

Meu rosto esquenta com a menção a uma das safadezas


que falei na noite em que enchi a cara. Também por ter dado a
louca, gemendo no banheiro do avião enquanto o homem preparava
um final de semana especial. Leonello ri e lhe dou um tapa.

— São estas coisas que me fez passar para recuperá-lo.

— Você não tinha que recuperar nada. Estava afastado,


assimilando meus próprios medos e raiva. Mas sempre, sempre fui
seu, bambina.

— É bom mesmo. Se eu sonhar que tocou em alguma


puttana, eu o mato!

— E lá vamos nós às ameaças. — Bufa teatralmente e enfia


o rosto em meu pescoço.
EPÍLOGO

Cinco anos depois.

— Já está na hora de você sair detrás desta mesa.

Serena ergue o olhar, tirando os óculos de grau e deixando-


o sobre a mesa. Ela se levanta e meu peito enche de satisfação ao
ver a protuberância em sua barriga. Sua mão instintivamente
acaricia o monte.

— Só quero adiantar algumas coisas. Depois que ele


nascer, você vai lidar com essa bagunça sozinho por um tempo.

— O caralho que vou. Alguém vai. Eu vou estar ocupado


com minha mulher e meu filho.
O sorriso em seu rosto é lindo, sempre me nocauteando
como se os anos não tivessem passado e fosse a primeira vez. Os
olhos azuis brilham com ternura.

— É bom mesmo. — Serena se aproxima e enlaça meu


pescoço com os braços, a evidência de gravidez de oito meses nos
impedindo de colar nossos corpos. Acaricio a barriga, sentindo o
chute esticar a pele, como é de costume. — Como sempre agitado.

Há alguns anos coloquei-a a par de toda a situação das


finanças e negócios que herdou do seu pai. Dei-lhe a opção de
aprender o que a interessasse. Serena se interessou pela parte
burocrática, demonstrando uma facilidade imensa para passar horas
lidando com papeladas, que particularmente não suporto ter que
lidar. Ela mostrou tamanho interesse, além da facilidade, e se
inscreveu em vários cursos online, onde aprendeu de fato, tornando-
se, pouco a pouco, meu braço direito no que se trata desta área,
controlando as finanças, encontrando furos quando apareceram,
sendo completamente eficiente.

A esta altura, sempre é necessário vir buscá-la no escritório,


pois com a gravidez, minha esposa fica preocupada de me deixar na
mão, uma vez que planejamos ter nosso filho após Serena
confessar que queria ser mãe. Eu já vinha ouvindo piadinhas sobre
ter herdeiros, afinal homens na minha posição são como animais e
se casam para procriar e deixar um substituto, mas nunca me
importei. Queria filhos como nunca imaginei querer, meus motivos,
embora, eram por amar loucamente Serena e querer possuí-la de
todas as formas, deixando um pedaço meu dentro dela, que viria se
tornar uma extensão de nós dois nessa Terra.

Quando ela acordou um dia falando que queria um filho,


cortamos seu remédio imediatamente e em três meses seu período
atrasou. Ficamos em êxtase, nunca imaginei viver com tamanha
ansiedade pela espera de um filho e a fase mais surreal foram
esses meses em que ele não existia e esperávamos para saber se a
menstruação atrasaria.

Ao se tornar realidade, a felicidade que compartilhamos


ultrapassou qualquer emoção sentida antes. E ela deixou claro que
no primeiro ano se dedicaria totalmente a nossa criança. Para mim,
não havia espera mais agridoce. Até abandonei os cigarros para
não prejudicar a saúde do meu menino.

Os anos foram bons para nós, crescemos como pessoas.


Aprendi a me conhecer como ser humano, além do mafioso que
sempre resolveu tudo enviando os inimigos ao inferno. Não que
tenha deixado de ser esse homem. A besta cruel que vive dentro de
mim sempre encontrava meios de se banhar em sangue alheio,
principalmente porque ela também ama Serena com loucura e
quebraria o pescoço de qualquer infeliz que se colocasse em seu
caminho.

Entretanto, também apreciava passar o dia em casa,


fazendo nada além de apreciar minha mulher ou andar de mãos
dadas pelo Central Park, usando de uma normalidade que nunca
vislumbrei para a minha vida, mas aprendi a aproveitar.

Serena viu o lado ruim e também cresceu. Costurou-me


incontáveis vezes no caminho até aqui, se preparou para mais
batalhas, treinando comigo diariamente, melhorando sua pontaria
com sessões de tiro ao alvo, se tornando apta para se proteger. Não
que tenha a deixado sem seguranças, nossa realidade sempre seria
essa, mas conseguimos desbravar outros caminhos. Sempre que
precisamos, fugimos para Murano, recuperamos nossas forças e
voltamos. A ilha se tornou o nosso lugar, um tipo de refúgio.

— Enchi a banheira, a água vai esfriar. Vamos subir.

— Eu amo quando você age assim, todo preocupado.

— Sempre ajo assim com você.

Rio do bufo que ela solta. Como era de se esperar, temos


nossos atritos, somos dois cabeças duras, mas o diálogo se tornou
vital; não que impeça que alguns rosnados saiam daqui e uns gritos
venham de lá. Exaltamo-nos e fodemos, então conversamos e fica
tudo bem.

O amor que sinto por Serena não foi algo fácil de aceitar.
Para mim, era mais fácil lidar com o fato de que a queria
loucamente, mas não pensava sobre paixão ou amor. A única vez
que nos afastamos, após a morte de Romeo, fez-me ver que de
nada adiantava viver como antes, porque era fácil justamente por
não conhecê-la. Quando ela entrou em minha vida e bagunçou tudo,
os hábitos anteriores mudaram, passaram a ser sobrevivência.

E entre sobreviver vivo e viver com Serena com a chance de


morrer amanhã, sempre a escolheria. Porque viver um dia sendo
amado por Serena vale mais a pena do que mil vidas sem o seu
amor.

Massageando seu pé, vejo o momento em que tomba a


cabeça contra o encosto da banheira e solta um gemido fraco.

— O que há? — Inquiro, alarmado.

Somos muito sexuais, qualquer toque leva a estarmos


envolvidos no sexo do jeito que gostamos. Suado, sujo e cru. A
gestação não nos mudou, pelo contrário, só a fez mais faminta e
mais deliciosa aos meus olhos, com a boceta cada vez mais
apertada, os seios e bunda crescendo. A safada levou meu pau de
todas as formas desde que nos casamos, mas a gravidez superou.
Então sendo assim, conheço seus gemidos de tesão e este não foi
um deles.

— Acho... Acho que... — Ela leva a mão à barriga e faz uma


careta de dor. — Começaram as dores do parto.
— Mas como, porra? Falta um mês. — Levanto-me e pego o
robe atoalhado, saio da banheira e a ajudo, secando seu corpo e a
enrolando no robe para puxá-la, com cuidado, para o meu colo. —
Vai ficar tudo bem...

Serena solta uma risada fraca e beija meu peito molhado.

— Eu sei que vai. É só o parto. Vamos conhecê-lo. — Vejo


seus olhos brilharem ao abaixar a cabeça para encará-la. Sua calma
contrastando com meu medo. Seguro-a mais firme em meus braços
e ela geme, fazendo com que a coloque no colo e me desculpe. —
Leon, nós conversamos sobre o parto várias vezes. Estamos
preparados.

— Uma porra que estamos. Você decidiu. O corpo é seu, é


claro, mas vou matar alguém se vê-la sofrendo! — Exalto-me e
respiro fundo. Porra. Só de lembrar os vídeos de parto normal que a
desgraçada me fez assistir em prol de nos prepararmos. Pensei que
estava preparado, mas imaginá-la passando por tamanho
sofrimento... — Ouça, eu li naquele livro que as contrações duram
muito tempo até o bebê nascer e...

— Deus, eu sinto vontade de chupar seu pau toda vez que


lembro dos livros que leu. — Sorri, acariciando a barriga e fazendo
uma careta em seguida.

— Serena. — Ajoelho-me à sua frente, pelado, molhado,


sem me importar. — Há tempo de optar pela cesariana, bambina.
— Você não vai me convencer. Agora, faça como
planejamos várias vezes. Pegue as bolsas, minha e do bebê, no
closet. Confira se tudo está ok e as leve para o carro. Ligue para a
Dra. Giovanna e venha me buscar.

Assentindo com a cabeça, levanto-me e caminho até o


closet.

— Leon? — Ela chama. Encaro-a, esperando que tenha


mudado de ideia. — Mas primeiro vista roupas. — Completa,
fazendo-me voltar a mim.

Caralho, sou um mafioso, já fui dilacerado, quebrado,


furado! Que pavor é este no meu peito com um parto? Sinto-me
sufocar com pensamentos de que algo ruim pode acontecer a minha
mulher e meu bambino. Fecho os olhos com força e aperto o nariz,
buscando calma.

Visto-me e ligo para Bruno, ordenando que tire o carro da


garagem. Sequer usamos o Lamborghini nos últimos tempos, nos
adaptando ao veículo mais espaçoso com a cadeirinha já presa no
banco de trás.

Sigo as instruções de Serena, sentindo o desespero


aumentar a cada vez que a vejo fazer uma careta. Ela segura os
gemidos, mas não a perco de vista. Levo a roupa que deixou
separada para o dia do parto e a ajudo a se vestir e pentear os
cabelos.

— Traga batom, perfume, blush também...

— Serena.

— É o nascimento do meu filho. Eu quero estar linda.

— Você é linda de qualquer jeito. — Beijo sua testa e sigo


em busca dos objetos solicitados.

Saímos de casa minutos depois e Bruno dirige com cuidado


por todo o caminho enquanto sentamos atrás com a cadeirinha,
onde nosso filho estará em breve em cada passeio no automóvel.
Às vezes a pego olhando, como eu, como se pensasse o mesmo, e
o sorriso instantâneo vem ao rosto.

No hospital, quase cometo um assassinato ao ouvir a


obstetra nos dizer que se trata de um alarme falso e que Serena
provavelmente sofrerá com essas dores nos próximos dias até que,
realmente, chegue o momento. Minha mulher precisa cravar as
unhas no meu braço para que não puxe minha Glock da cintura e
atire na testa da fodida médica.

No retorno para casa, ela sequer me olha, irada.

— Vai ficar de bico até quando?


— Até você se tornar racional! — Rebate e começa a subir
as escadas. Mordo a língua para não irritá-la e me apresso para
pegá-la no colo com cuidado, subindo os degraus de dois em dois.
Deito-a sobre a cama e encaro a expressão arredia: — Como ousa
pensar em matar a médica? Ela me acompanhou a gestação toda,
cuida de mim e do nosso filho. Como você...? Não, não tenho que
perguntar. Esqueço que você é louco às vezes!

— Às vezes você esquece ou às vezes sou louco? —


Zombo e inclino-me encostando nossos narizes, provocando-a,
enquanto a lembro: — Pois fique sabendo que por você e pelo meu
filho, sou louco sempre.

Seus olhos brilham com prazer e carinho. Ela passa a mão


em meu rosto e suspira.

— Eu amo sua intensidade para tudo na vida,


principalmente no seu amor por, por nós. — Segura meu queixo e
adverte: — Mas se matar minha obstetra vou te matar.

Uma semana depois nosso filho nasce gritando feito um


guerreiro.

A chegada dele causa os sentimentos mais intensos da


minha vida. Após ter enlouquecido vendo Serena sofrer, vê-lo
grande e saudável, lindo, com o rosto inchado, olhos fechados e a
boca enorme no choro sem fim, faz meu peito doer e, porra, é de
amor.

No momento em que ele é colocado sobre o peito de


Serena, a perfeição me é apresentada e sinto os olhos arderem ao
observá-la derramar lágrimas de felicidade. Ela puxa minha mão e a
coloca sobre as costas de Luca, sobre os dois, então pousa a sua
delicada, com as unhas compridas pintadas de branco, sobre a
minha. Seco seu rosto com a mão livre e toco o meu menino,
passando o dedo levemente pelos cabelos grossos e escuros e pela
orelha tão pequena.

Quando o tiram de nós para fazer os procedimentos


necessários, meu desejo de pegá-lo nos braços e tirá-lo das mãos
desse bando de médicos traz à tona o protecionismo desmedido.

Fico dividido entre ficar com Serena ou ver cada detalhe do


que fazem ao meu filho. Seus olhos aflitos o seguem e ela aperta
minha mão.

— Vá com ele. Mas não ameace ninguém.

Fico dividido, preocupado com ela. Está exausta, foram mais


de oito horas em trabalho de parto, precisa de cuidados. Ela aperta
meu braço e me olha feio, apressando-me. Sigo os médicos e
acompanho cada procedimento.
Quando o pego no colo pela primeira vez, a sensação é de
ter o mundo nos braços. Serena nos olha com emoção, deitada na
cama do quarto privado, enquanto carrego nosso filho até ela.
Encarando a enfermeira empurrando o carrinho-berço atrás de mim,
comenta:

— Os bebês geralmente chegam ao quarto nos carrinhos,


você sabia?

— Não o meu filho.

A enfermeira sequer me dirige um olhar, mas vejo os olhos


de Serena estreitarem quando a analisa.

— Se precisar de algo, é só chamar. — A mulher diz e nem


espera uma resposta, fugindo para fora do quarto.

— Você intimidou o hospital inteiro, não é? — Minha esposa


bufa.

— Só estive atento ao meu filho.

Negando com a cabeça, ela pede:

— Me dê ele aqui.

Entrego-o com cuidado, observando o montinho de


roupinhas e mantas verdes em que ele está enrolado e a mulher
mais linda da porra do mundo o olhando com tanto amor, que é
impossível mensurar.

Dio Santo! Realmente sinto um baque ao vê-los assim. No


parto foi a mesma coisa, mas percebo que será como o sorriso e os
olhos de Serena. É o tipo de visão que um homem louco por sua
família vê antes do seu último suspiro.

— Oi, Luca. Eu sou sua mãe. — Apresenta-se, a voz baixa,


quase cantada, colocando o indicador na mão pequena. — E aquele
homem louco ali, que irá mantê-lo sob vigilância constante, mas só
porque nunca se importou ou amou algo como faz com você, é o
seu pai. — Erguendo seu olhar para o meu, sorri, volta a olhá-lo e
continua: — E ele é o amor da minha vida. O bruto mais amoroso
que já conheci. Um verdadeiro cavalão com um único chifre de
unicórnio, o tornando diferente de qualquer outro ser. Mas ele só é
desse jeito com nós dois, o que torna tudo especial. Eu amo o seu
pai e este amor é tanto, que quis ter um pedacinho dele para
sempre, e agora amo você mais do que qualquer coisa e prometo
que você será muito feliz, mas principalmente amado.

Engulo o nó na garganta, sentindo tantas coisas que é difícil


escolher palavras. Aproximo-me, segurando seu queixo e olhando
seu rosto emocionado. Beijo sua testa com carinho.

— Vocês dois são tudo.


— Eu sei. — Ela sorri e volta a encarar o pequeno, que
acaba de fazer um som manhoso. Serena fica animada ao vê-lo se
espreguiçando. Quando abre os olhos nos brinda com seus olhos
tão azuis quanto os dela. — Mais um par de olhos azuis para deixá-
lo louco.

Luca começa a chorar, forte e exigente. Serena entende que


pode ser fome e coloca o seio para fora do sutiã apropriado para
isso. O menino não tem tempo ruim, agarra o bico do mamilo com
fome e a cena é mais uma daquelas que jamais me acostumarei a
ver. É a coisa mais linda ver a minha mulher alimentando o meu
filho.

Eu sempre disse que Serena iria me matar e, por muitas


vezes, ela disse o mesmo. No entanto, ela me deu vida.

FIM.
AGRADECIMENTOS

Não poderia encerrar esse livro sem


agradecer, primeiro a Deus, pois me sustenta a cada
dia, dá saúde, coragem, força e inspiração.

Agradeço a minhas betas, que dessa vez


não acompanharam a leitura em tempo real, mas me
apoiaram a cada passo do caminho e me fizeram
retroceder e recuperar minha essência em certo
momento em que havia me perdido. Sabrina, Jenny,
Jeysa, Andreia e Cleice, obrigada por sempre!

Agradeço a Patrícia, minha amiga, que foi


beta, revisora e ainda me motivou demais enquanto
lia os capítulos. Sua animação me inspirou demais.
Obrigada por tudo. Leon e Serena não seriam os
mesmos sem você.
Agradeço às minhas leitoras que são sempre
frequentes no instagram, votando nas enquetes,
comentando os reels e posts, interagindo, cobrando
livro novo. Tudo isso é por vocês.

Desde já quero deixar o meu carinho para as


pessoas que chegarem através de Um Amor De
Mafioso. Agradeço por chegarem aqui e desejo que
fiquem por muito tempo!

Obrigada por tudo! Não deixem de me seguir


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importante para o crescimento da história e da minha
evolução como escritora.
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OUTROS LIVROS

LOUCA PAIXÃO

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"Me mostre o seu inferno. E eu queimarei


com você."
Ezra Cattaneo a encontrou em um momento
que não esperava. Depois daquele dia, nada foi o
mesmo. Ele sentiu que devia protegê-la e o fez, até
que Ana fugiu e ficou longe por sete anos. Quando
Ana e Ezra se encontram, longos anos se passaram
e ela deixou de ser uma criança. A atração que
surge entre os dois é avassaladora, mas o
protecionismo do italiano exige que ele proteja o seu
anjo até de si mesmo.
Ana não é uma mulher disposta a se
encolher no canto e chorar quando se depara com
algo ruim. Se Ana é boa em fazer algo, é lutar. E
quando ela decide que quer Ezra, ela luta por ele e
contra ele até conseguir derrubar seu oponente e
colocá-lo aos seus pés.

ARDENTE PAIXÃO

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Stefano Esposito é o futuro Capo da máfia


italiana, entretanto, há anos faz o trabalho de um,
duelando com o atual líder da Família, seu avô e
maior pesadelo. Não há muitas escolhas em sua
vida que ele fez. Nascido no sangue, criado no
sangue, nasceu como um herdeiro, viveu para
honrar o legado e só pode sair morto. Não há uma
escolha sobre quem ele se tornou, pois tudo foi uma
grande consequência do mundo em que nasceu. O
poder é sua maior ambição enquanto ainda não
descobre que há mais para almejar na vida. Há uma
escolha para Stefano, apenas uma. E ela está
chegando para arrebatar sua vida.

"A máfia não é lugar para mulher." "Seja


submissa." "Ela foi criada para ser uma esposa
exemplar." Crescer na máfia não é a vida dos
sonhos de nenhuma mulher. Alessa Bianchi viu sua
mãe sofrer nas mãos do pai, sua irmã ser trocada
por meros soldados e sua própria sorte ser entregue
ao maior monstro da Cosa Nostra. Nunca pôde ser
dona do seu destino, porém, é muito mais do que
todos são capazes de enxergar. Sem alardes,
despretensiosamente, Alessa ganha atenção de
Stefano Esposito. Esse pode ser seu fim ou o
começo. Um duelo de gigantes. O amor pode vencer
a maldade? Há uma linha tênue entre a bondade e a
maldade onde os bons podem cometer atos
duvidosos e os maus podem encontrar seu lado bom
por algo ou alguém.
O amor pode vencer a maldade? Há uma
linha tênue entre a bondade e a maldade onde os
bons podem cometer atos duvidosos e os maus
podem encontrar seu lado bom por algo ou alguém.
O amor pode vencer a maldade? Há uma linha tênue
entre a bondade e a maldade onde os bons podem
cometer atos duvidosos e os maus podem encontrar
seu lado bom por algo ou alguém.

UM PACTO COM O CEO

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Uriah Vilela é o CEO frio com passado


sombrio. Ele chegou onde está por mérito próprio.
Vindo de uma vida de dificuldades e pobreza,
conseguiu agarrar as chances que teve e vencer.
Embora, seu passado esconda dores que não
podem ser reparadas pelo dinheiro.
Beatrice Camargo é a órfã milionária, que
precisa de um marido para impedir que a empresa
deixada pelo seu avô caia em mãos erradas.

Eles se conhecem e se detestam. Se


conhecem, mas nunca enxergaram o que há por trás
das camadas em que cada um se esconde.

Esta é uma história de amor verdadeiro com


uma mocinha louca e boca suja, que fará todas as
peripécias possíveis para deixar seu “homem gelo”
derretido.

(IM)PERFEITA PAIXÃO

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“Sempre tive uma queda pelo demônio que


habita nele. Porque combina com o meu.”
Débora Vilela foi abusada na infância. O
trágico acontecimento resultou em anos de trauma, a
fazendo se esconder atrás de roupas longas, coques
e igreja. Ela nunca se descobriu. Sempre temeu os
olhares, mas em um momento de saturação, decide
que precisa sair da zona de conforto. É assim que
ela acaba indo trabalhar em uma das boates de
Diego Cattaneo.

A aproximação de Diego e Débora resulta


em uma atração imediata, que ambos fazem questão
de não dar ouvidos. Lutar contra algo tão forte,
requer muita força e nem mesmo os melhores
lutadores são capazes de resistir. Eles não resistem.
Ferem e são feridos. Queimam e são queimados. A
paixão avassaladora é um componente arriscado em
meio a traumas do passado.
Desta vez, é o mocinho que luta pela
mocinha. E Diego Cattaneo não é um homem que
desiste do que quer. Ele não quer um conto de
fadas, mas está disposto a ir ao inferno para se
redimir e fazer Débora feliz.

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