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Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer
o resultado de cem batalhas. Se você conhece a si mesmo, mas não
conhece o inimigo, para cada vitória conquistada, você também sofrerá
uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo,
sucumbirá em todas as batalhas.
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Posso sentir o cheiro da morte no ar. Seu aroma pungente é espesso
e intenso em minhas narinas enquanto ando pelo armazém.
Cada passo pelo terreno carmesim me lembra de tudo que perdi e
por que estou aqui agora.
Meu pai morreu.
A minha mãe morreu.
Porra, até meu irmão morreu.
A guerra para manter o controle de minha família sobre a Costa
Leste foi longa, sangrenta e repleta de baixas.
Mas no final, eu venci.
Sempre venço.
Sei que esse adiamento da violência não vai durar muito. Outro
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sei que algo está errado. A coisa sobre ele é que ele não trabalha apenas
para mim. Ele é como um irmão, e é por isso que já estou no limite com
o olhar fixo e frio que ele dá.
— Nada de bom. – ele afirma, e o humor habitual que ele só se
permite mostrar para mim se foi.
Eu me inclino para frente na minha cadeira. — Prossiga.
— Ele está se mudando para Chicago.
— O que diabos isso significa? – eu respiro fundo, tentando me
acalmar, mas nenhuma quantidade de oxigênio vai consertar isso. Eu
deveria ter matado aquele filho da puta quando tive a chance. Talvez não
seja tarde demais.
— Ele está de olho em todos os políticos corruptos. Ele tem a
atenção do governador. Podemos ter vencido em Boston, mas ele tem a
atenção dos irlandeses.
— Porra.
— O que você acha que isso significa para nós?
— Significa que ele ainda não terminou.
— O que você quer fazer?
Eu me inclino para trás em minha cadeira, com um sorriso amargo
em meus lábios.
— Precisamos eliminá-lo antes que ele tenha sucesso.
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Apesar de tudo que pensei, perdi Chicago.
Isso foi o suficiente para fazer meu ego e sede de sangue girarem.
Mas isso não era tudo. Há rumores de que Salvatore está fazendo outra
jogada pela Costa Leste.
É aqui que para.
A Costa Leste é minha.
Não dou a mínima para quem ele pensa que é. Não vou deixar que
ele tire isso de mim.
A porta do meu escritório se abre. O som de mocassins italianos
batendo no mármore ecoa pela sala.
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Não preciso olhar para cima para saber que é Lorenzo e, pela
maneira como ele entra, não é bom.
— E agora? – eu levanto minha cabeça dos papéis que estou
olhando e vejo sua cara fechada. No ano que passou, ele cresceu muito e
não é mais o bastardo despreocupado de antes.
Lorenzo passa as mãos pelo rosto, soltando um longo suspiro de
sofrimento. — Não vou mentir para você, é ruim.
— É muito grave?
— Temos de nos mexer, mau. Enquanto estávamos focados em
manter laços com os irlandeses, Salvatore estava focado em nosso
próprio quintal.
Meus dedos ficam brancos quando agarro minha mesa cromada,
prestes a incliná-la completamente. — Não fale em enigmas, Lorenzo.
Desembucha.
— Governador Marino.
Há uma quietude na sala com suas palavras, seguidas de silêncio.
Meu punho bate na mesa, interrompendo a pesada tensão persistente
no ar. Lorenzo não dá um pulo para trás, mas estremece, ciente de como
estamos fodidos completo e impiedosamente.
Frank Marino, governador de Nova Jersey, sempre foi uma pedra no
sapato para mim. Desde que ele rejeitou minha proposta de acesso ao
porto e eu tive que passar por cima dele e trabalhar com o governador de
Nova York, não nos demos bem. Isso, somado ao fato de eu saber de
seus negócios anteriores com meu falecido tio, não deixa nenhum amor
perdido entre nós. Mas saber que meu primo tem algo a ver com ele é
ainda pior.
— Fale.
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Lorenzo balança a cabeça, e sei que o que ele está prestes a me dizer
vai ser ruim. Há uma tensão em seus ombros, que muitas vezes não está
presente. Ninguém mais notaria, mas para mim, Lorenzo é um livro
aberto. O mesmo vale para ele sobre mim. Torna tudo muito mais fácil
em certas situações que podemos falar sem palavras.
— O governador Marino está conversando com Salvatore. Se o que
ouvi é verdade, e sempre é, Marino está dando a ele acesso ao porto.
— Porra.
— Sim. – ele concorda.
Aponto minha mão para a cadeira. — Sente-se. Mas antes disso,
pegue o uísque. Temos muito o que discutir.
Lorenzo vai até a mesinha lateral, estendendo a mão para pegar a
garrafa. Uma vez na mão, ele pega dois copos.
— Devo me incomodar em pegar gelo?
— A porra dos copos é o suficiente. – eu uso o restante da minha
força de vontade para não cuspir no chão.
Normalmente, eu beberia uísque com gelo, mas agora só preciso de
um gole e não me importo se descer com um pouco de cianeto.
Quando nossos copos são servidos, ele se senta e, como eu, sei que
ele precisa. A guerra pode fazer parte do meu negócio, mas isso não
significa que apareço para lutar de bom grado.
Mas a batalha é um mal necessário. Para vencer, é preciso ser cruel.
— Então, Salvatore tem acesso aos portos e não há nada que
possamos fazer a respeito. – lamenta Lorenzo.
— Não necessariamente. – eu falo pelos dentes.
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Quanto mais perto ele estiver, mais rápido vou ver se ele é uma
cobra como Salvatore.
Sem mais nada a dizer, Lorenzo sai do meu escritório.
Pego meu telefone e disco um número que não ligo há muito tempo.
— Olá, Matteo. Fiquei imaginando quanto tempo levaria.
— Corta essa.
— Se você não quer que eu fale, por que está ligando, primo?
— Você sabe exatamente por quê.
— Por que tão sério. – ele fala como o Coringa, com alegria em sua
voz. — Talvez precise transar. É isso? Livre-se de todo esse estresse
reprimido. Você precisa de mim para ajudá-lo a encontrar alguém? –
Meus dentes rangem com suas palavras, sabendo muito bem o que ele
quer dizer. — Francesca está um pouco velha agora, mas aposto que ela
ainda pode usar seu...
— Cale a boca. – eu berro, e ele ri ao telefone.
— Atingi um ponto sensível?
— Você não quer ser melhor que seu pai sádico? Você já não teve
guerra o bastante? Recue agora, e eu vou deixar você viver.
— Sem chance. Eu quero o que é meu... – ele faz uma pausa. — E
estou preparado para fazer o que for preciso para obtê-lo.
— Percebe que esta é uma declaração de guerra. – digo baixinho.
Suavemente. Não há como voltar disso. Francamente, não quero que
haja.
— Acho que sim.
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para ele.
E eu não tenho escolha...
Talvez um dia.
A porta do meu apartamento se abre. Não preciso levantar os olhos
do meu computador para saber quem é.
Obviamente é a Julia.
Ela é a única pessoa - bem, além dos meus pais - que tem a chave.
— Ei, querida. – Eu a ouço dizer enquanto o som de seus pés no
chão ecoa pelo espaço enquanto ela se aproxima de mim no sofá.
— Oi. – eu levanto meu olhar da tela. — Não pensei que você
estaria aqui tão cedo.
— Humm, você deveria ter me esperado mais cedo. – ela revira os
olhos, me fazendo rir. — Nós vamos sair, lembra? É hora do pré-jogo.
— Pré-jogo. Sério, Jules, o que eu sou, ainda na faculdade?
— Por mais uma semana, você é. Calma. Você não está pronta para
o mundo real. Ouvi dizer que há trabalho, impostos e todo tipo de
besteira por aí. Por favor, me diga que ainda vem comigo esta noite e
que não se esqueceu. – ela suspira alto, sendo seu eu completamente
dramático.
Eu a encaro por um momento. Quando ela ri, ela me lembra muito
de sua mãe. Elas têm o mesmo cabelo castanho claro e olhos azuis, mas
é o jeito que ela sorri. É o mesmo sorriso da Ana quando brincava com a
gente. Quando ela movia as estatuetas pela velha casa de bonecas
comigo.
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Já faz algum tempo que sei que meu pai vai tentar me casar com
quem ele acha que vai beneficiá-lo.
Um futuro do qual não quero fazer parte.
— Quando você volta para casa? – Julia pergunta enquanto caminha
para a cozinha anexa à minha sala e abre a geladeira. Um minuto depois,
com Coca Diet na mão, ela se senta no sofá ao meu lado.
— Espero que nunca. – murmuro baixinho.
— Sim, porque papai Marino nunca aceitará isso.
— Uma garota pode sonhar. – eu deixei escapar um suspiro
melancólico.
— Isso não é um sonho, querida. Isso é uma fantasia. O inferno
congelará antes que Marino a perca de vista. Estou surpresa que você
não tenha sido convocada antes. Ele não está ansioso para casar você?
— Ele está. – Há um nó de ansiedade em minha voz, e está
crescendo incrivelmente grande agora.
— E quem é o sortudo pretendente? – ela ri. Isso se tornou um jogo.
Vou jantar com minha família, meu pai tenta arranjar um casamento
para mim, e então me encontro com Julia e conto a ela todos os detalhes
horríveis.
— Não faço a mínima ideia. Mas não estou ansiosa para essa luta.
Preciso pensar em um plano. Toda vez que eles fazem isso, temo que
seja o momento em que finalmente me obriguem.
— Você tem dinheiro suficiente guardado para se libertar por conta
própria?
— Não. – admito. E aquele nó de ansiedade? Fica maior,
dificultando a respiração.
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Eu odeio o homem.
O sentimento é mútuo, tenho certeza.
Não há nenhum amor entre nós.
Como se manifestado por um poder superior, meu celular toca na
mesa. Eu sei que é ele antes mesmo de verificar quem está ligando.
Além de Julia, ninguém me liga.
Nem mesmo minha mãe.
Ela é a esposa obediente. O acessório perfeito do político.
Pena que ela é uma mãe horrível. Mesmo horrível é um eufemismo
para o que ela é.
Pego meu celular e olho para baixo. Como eu suspeitava, na tela
está uma mensagem do querido velho pai.
com a espuma, então desligo e abro a cortina para pegar minha toalha.
Quando termino de secar minha pele, não posso deixar de me olhar
no espelho embaçado.
Eu me inclino sobre a bancada do banheiro até estar perto o
suficiente para tocar meu reflexo. Pareço exausta, cansada e, acima de
tudo, como se eu tivesse visto demais. Embora meu rosto seja o que os
outros possam interpretar como perfeito, aos vinte e dois anos, para
mim, é tudo menos isso. Muito peso emocional está sobre meus ombros.
Olhos que sempre parecem assombrados pelos fantasmas do meu
passado.
Será que algum dia me sentirei jovem e despreocupada novamente?
Você arranjará uma solução, Viviana.
Tudo ficará bem. Devo dizer isso a mim mesma, mesmo que não
seja verdade.
Estou quase terminando a faculdade. Vou arrumar um emprego.
Sim. É isso. Assim que conseguir um emprego, estará acabado. Eu
não vou mais precisar dele.
Eu me endireito, fico mais alta, sabendo que não vou deixá-lo
vencer.
Eventualmente, eu serei a vencedora.
Merda.
Perdi uma hora.
Entrando na sala, encontro Julia desmaiada no sofá. Sua boca está
aberta, e juro que ela provavelmente está babando no meu travesseiro.
— Acorde, preguiçosa. – digo enquanto me sento no sofá oposto.
— Que horas são? – ela murmura, levantando a mão e esfregando as
pálpebras semicerradas.
— Onze.
— E você me acorda. Caramba, Viv é muito presunçosa? –
Independentemente de suas palavras, sei que ela não está com raiva de
mim. Esta é apenas a Julia. Excessivamente dramática ao extremo. Ela
tem um coração aberto e permite que você saiba tudo sobre isso
também. É por isso que nos damos tão bem. Ela não é apenas a família
que nunca tive, mas é o completo oposto de mim. Ela me pressiona para
tentar aproveitar a vida. Mesmo que isso seja difícil para mim. Se não
fosse por ela, eu nunca teria nenhum vislumbre de paz. — Se você vai
me acordar, pelo menos vai me alimentar?
— Claro. – eu respondo em tom de zombaria. — Que tipo de animal
você acha que eu sou?
— Ok. Eu vou acordar. – ela se senta e parece péssima. Linda, mas
péssima mesmo assim. — O que estamos comendo?
— O que você quer?
— Algo terrivelmente gorduroso. Bacon, ovo e queijo em um bagel.
Pego meu celular e começo a percorrer o aplicativo de entrega de
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decente.
Nunca foi às peças da minha faculdade. Também não compareceu a
uma noite de programa curricular. Sempre muito ocupada socializando.
Se misturando com alguém importante, e provavelmente bêbada.
Felizmente, Ana, pelo tempo que esteve na minha vida, esteve lá
para mim.
Se ao menos ela estivesse aqui agora. Ela seguraria minha mão e me
daria força. Mas como ela não está, endireito meus próprios ombros e
finjo que está sussurrando em meu ouvido. "Platão disse: 'Coragem é
saber o que não temer.' Você não tem motivos para temer seu pai. Ele é
apenas um homem."
Na época, eu não sabia quem era Platão, mas confiei que ela estava
certa. Tentei ser corajosa e não ter medo dele, e ainda estou tentando.
Com sua voz ainda em meu ouvido.
Sigo em direção ao escritório de meu pai e encontro a porta aberta.
Claro que está.
Ele está esperando por mim, bebendo seu uísque e pronto para
atacar. Você pode ver isso em seus olhos e em sua postura. Ele exala
perigo em quantidades que deveriam ser ilegais, e o nó de ansiedade na
minha garganta está de volta.
— Entre, Viviana.
Sua voz me pega de surpresa. Estou à espreita e não pensei que ele
soubesse que eu estava aqui.
Mas eu não deveria estar surpresa.
Meu pai vê tudo.
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Sabe tudo.
Entro hesitantemente, dando passos pequenos e medidos.
— Depressa, Viviana. Não tenho a noite toda e tenho algo que
preciso falar com você.
Meu estômago está pesado, cheio de pavor.
Posso sentir o suor começar a escorrer na parte de trás do meu
cabelo, meu coração batendo forte no meu peito enquanto cruzo o
espaço e me sento na cadeira oposta de onde ele está sentado em sua
mesa. Seus olhos escuros e raivosos me encaram enquanto seus lábios se
estreitam em um sorriso de deboche.
— Sobre o que você tinha para falar comigo? – pergunto, tentando
desesperadamente soar forte e confiante.
— Sua formatura.
Meus ouvidos começam a zumbir, tornando difícil ouvir. Eu respiro
fundo.
Não demonstre medo.
Não dê a ele a satisfação de ver você se contorcer.
Enquanto meu pulso se regula, ele fala.
— Espero que agora que você terminou, você cumpra seu dever por
sua família.
— Dever?
— Sim, Viviana. Seu dever. Sua mãe e eu temos sido indulgentes
com você por muito tempo.
— Afinal, o que isso quer dizer?
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O que acabei de ler não faz sentido. Como isso pode ser? Se isso é
verdade... Confusão e desespero como nunca senti antes pulsam dentro
de mim.
— Isto é verdade?
— Sim.
— Você...
— Silêncio. – ele berra. — Você não vai me questionar. Você não
vai questionar o que eu fiz. Me entendeu... você entrará na linha. – A
ameaça paira pesadamente no ar. — E lembre-se que o que aconteceu
com Ana é sua culpa. O que acontece com os filhos dela a partir deste
momento... – É minha culpa. Ele não diz isso, mas não há necessidade.
A vida deles está em minhas mãos e não tenho certeza do que isso
significa para nenhum de nós.
Minha resposta fica presa na minha garganta, rouca, carregada,
tornando impossível falar.
Não farei o que ele diz, mas não posso permitir que ele saiba. Mas
primeiro preciso descobrir se ele está mentindo para mim de novo.
Meu pai é um monstro. Se ele achar que estou indo contra ele, vai
retaliar.
Preciso esperar meu tempo e descobrir um plano.
Tem que haver alguma maneira de sair dessa confusão.
Só tenho que descobrir como.
Agora, sentada à mesa na sala de jantar formal, tento o meu melhor
para sair daqui ilesa. Se não houver conversa no jantar, eu estaria
satisfeita.
Não há nada a dizer, então tento manter minha cabeça baixa o
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tempo todo.
Infelizmente, minha mãe não concorda com meu sentimento porque,
quando olho para a mesa, empurrando minha salada pelo prato, ela diz
meu nome.
— Viviana. Quando você vai voltar para a casa?
Minha cabeça levanta. — O que? Ninguém disse nada sobre eu
voltar. – digo para o meu pai. — Por que não posso ficar no meu
apartamento?
— Isso não seria apropriado. – ela responde. Meu pai me dá um
olhar penetrante. Um que diz claramente que não vou incomodar meus
pais com isso.
— Com você terminando a faculdade, espero você de volta em casa.
— Ainda tenho a formatura... – eu tento argumentar, desesperada.
Todos os dias são necessários para descobrir uma maneira de sair dessa
confusão.
— Então espero você em casa em uma semana, mocinha. Não posso
permitir que as pessoas falem.
E aí está. Ela não se importa comigo. Ela só se preocupa com sua
reputação. Agora que terminei meus estudos, morar sozinha na cidade
seria um escândalo para seus amigos religiosos.
Espera-se que eu seja uma noiva virginal. Tarde demais para isso,
mas pelo menos se eles me tiverem sob o teto, eles acham que podem
manter as fofocas em segredo. É engraçado como sabem pouco sobre
mim. Eu não sou de fazer um espetáculo de mim mesma. Já tenho muito
a perder para arriscar.
Com um suspiro, eu aceno. — Semana que vem, então.
Uma hora muito longa depois, estou de volta ao carro, chegando ao
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meu apartamento.
Não tenho certeza do que vou fazer.
Minhas opções são limitadas.
Como sempre, meu pai decidiu. Se eu não fizer o que ele quer, mais
do que apenas eu sofrerei.
Já fiz muitas pessoas sofrerem.
Eu não posso fazer isso de novo.
Com a cabeça baixa e o coração pesado, eu saio do carro.
Normalmente, eu falaria com Julia sobre meus problemas com meu pai,
mas, como isso diz respeito a ela, não posso sobrecarregá-la. Mesmo que
ela não saiba a verdade - que ele está usando o futuro dela para pairar
sobre minha cabeça - se eu contasse a ela, ela ainda me diria para dizer
ao meu pai para ir se foder. Jules não é de receber ordens. Ela segue seu
próprio ritmo. Acho que crescer sem pais, com parentes que não
conhece, te fortalece. Porque ela é forte. Ela é obstinada, o tipo de garota
que toma uma decisão precipitada, independentemente das
consequências.
Não, não posso contar a ela. Isso não é uma opção.
Afasto-me dos meus pensamentos e tiro as chaves do meu
apartamento da minha bolsa.
Coloco-a na fechadura, viro a chave e abro a porta.
O apartamento está escuro como breu.
Eu não tinha deixado a luz acesa?
Os pelinhos do meu pescoço se arrepiam.
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— Por que você está no meu apartamento? – Sua voz falha,
revelando o medo que ela está tentando esconder. Ela se mantém alta,
mas não há dúvidas sobre a maneira como ela soa. E se isso não
bastasse, seus olhos continuam voltados para a porta. Ela está nervosa,
mas tenta esconder. Isso me faz querer brincar com ela. Mas também
estou ciente de que ela é filha de um político corrupto, quando não está
desmaiando completamente de choque. Outra mulher teria chorado e
desmaiado há muito tempo.
Inclino-me para frente na cadeira em que estou sentado e coloco a
arma que estou segurando no joelho.
— Aproxime-se. Eu não vou morder.
Ela faz o oposto do que digo e, em vez disso, dá um passo para trás,
avançando em direção à fuga.
Isso não fará nenhum bem a ela. Mesmo que ela consiga entrar no
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do seu pai.
— Bem, então você está perdendo seu tempo. Não sei nada sobre o
trabalho dele e, verdade seja dita, ele provavelmente não lhe daria nada
por mim.
— Você pensa tão pouco da sua importância?
— Eu não tenho importância. – ela levanta o queixo e posso dizer
que acredita no que diz. Infelizmente, ela não é uma narradora confiável
em sua própria história.
— Você não quer saber por que estou aqui? – eu não posso deixar
de sorrir. Porra, ela é linda. E porra, será divertido brincar com ela.
— Honestamente, não.
A resposta dela me faz rir, apesar de normalmente não rir. Há algo
sobre ela. — Resposta interessante. Mas independentemente do que
você queira, eu vou te contar.
Ela não fala. Em vez disso, começa a morder o lábio novamente.
Esta deve ser a palavra dela. Ela está nervosa. Guardo essas informações
em minha mente.
— Seu pai quer que você se case com Salvatore Amante.
Ela para de morder enquanto sua boca se abre.
— Como...
Levanto minha mão para silenciá-la. — Como posso saber disso?
Como eu disse antes, eu sei tudo.
É claro que a choquei novamente, mas ela logo aprenderá que não é
sempre que alguma coisa passa despercebida. Meu primo é a exceção.
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Mesmo de onde estou sentado do outro lado da sala, ainda posso ver
como o queixo dela treme. — O... o que quer de mim? – ela gagueja.
— Você não vai se casar com ele. – digo categoricamente. E quero
dizer isso. Ela não vai.
Ela estreita os olhos e depois balança a cabeça. — Eu não acho que
você entende. Meu pai...
— É aquele que não tem importância nesta história. Entendo mais
do que você jamais imaginará, Viviana.
— Eu não tenho escolha. – ela sussurra mais para si mesma do que
para mim, mas eu ainda respondo.
— Sim, você tem. – Minha voz é forte e não deixa espaço para
objeções. Em vez disso, ela me observa, tentando entender por que estou
aqui conversando com ela.
— Por que você se importa?
Esta é a parte em que posso sorrir. Bem, mais como um sorriso
malicioso. Esta é a parte em que conto a ela o futuro que ela ainda não
descobriu. O papel dela neste jogo de xadrez entre meu primo e eu. —
Eu me importo porque você vai se casar comigo.
Espero que ela faça alguma loucura e me chame de louco ou grite
comigo, mas em vez disso, ela estreita os olhos e me dá um olhar que
não consigo entender.
— Porque eu faria isso?
— Acho que você entendeu mal. Não estou lhe dando escolha.
Estou dizendo a você. Você vai casar comigo.
— E quem é você?
Minha boca se abre em um grande sorriso. — Estou feliz que você
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— E você não é?
— Eu sou, mas um tipo diferente dele. Eu cuidarei do seu pai. Este
será um casamento apenas no papel. Você não terá que se preocupar
comigo. Você terá sua vida e eu terei a minha...
Minhas palavras são claras. Este é um meio para um fim e nada
mais.
Ela volta a morder o lábio. Quero pegar com a minha mão e agarrá-
lo. Isso é uma distração pra caralho.
— O que você quer dele?
— O controle. Vingança. Seu pai pensou que poderia ir para a cama
com meu inimigo. Ele aprenderá muito rápido que não há como ir contra
mim. Meu primo também aprenderá. Se você é a moeda de troca dele,
vou tirar isso dele.
— Eu sou o peão.
— Sim.
— Pelo menos você é honesto.
— Isso é uma coisa que você aprenderá sobre mim. Eu não minto.
— Então... você quer se casar comigo?
— Não, Viviana. Eu não quero. Mas este é o caminho que estou
tomando. Não tenha falsas ilusões. Nunca vou te amar. Nunca vou
gostar de você. Mas se você fizer isso, se me ajudar, eu cuidarei de você.
Ela fica quieta novamente.
Viviana Marino fica linda quando está pensativa. Seus grandes
olhos castanhos profundamente pensativos.
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— Quando?
— O mais rápido possível. – respondo.
Estou surpreso com a rapidez com que ela toma uma decisão. Eu
esperava ter que ameaçá-la ou atormentá-la com seu segredo. Mas em
vez disso, ela endireita as costas e se levanta.
— OK.
Está feito.
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Não é preciso ser um cientista espacial para saber que estou ferrada.
Duas propostas em uma noite...
Nenhuma delas é bem-vinda.
Minhas chances de escapar ilesa são mínimas neste momento.
Opção número um: seguir os desejos do meu pai. Mais uma vez.
Opção número dois: ir para a cama com o inimigo... Literalmente e
figurativamente.
Meu coração começa a acelerar. Ele disse que seria apenas no papel.
Mas o que isso realmente significa? Eu realmente não sei.
O ditado “melhor o diabo que você conhece” ecoa na minha cabeça,
mas por mais que seja o caso na maioria das circunstâncias, na minha é
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o oposto.
Qualquer coisa é melhor do que fazer o que meu pai deseja.
O homem me odeia.
Durante toda a minha vida, ele fez de tudo para me machucar.
Por que isso seria diferente?
Posso não conhecer Matteo, mas conheço meu pai.
Se eu me permitir ser sua vítima novamente, ele nunca tirará suas
garras de mim. Se eu me casar com Salvatore como ele exige, nunca
sairei de seu controle.
Mas a opção de dizer não a Matteo também está fora do meu
alcance.
Isso é realmente verdade? Sempre há outro caminho.
Eu sou uma bola de pingue-pongue.
Movendo de um lado para o outro.
Melhor ainda, minha vida é uma partida de tênis...
Eventualmente, alguém entenderia, mas não importa quem seja, sou
eu quem será atingida pela raquete.
Se eu tivesse escolha, eu escaparia.
Pensar nas minhas opções não é algo que eu queira fazer porque
parece que estou presa em areia movediça tentando me libertar, mas não
consigo.
Não, isso é diferente porque posso escolher. Independentemente do
que Matteo ou meu pai insistam, a bola está do meu lado.
Posso sorrir e fingir que estou me apaziguando com esse homem,
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eu deixaria.
Não é uma boa combinação nesta situação.
Pode parecer um retrocesso, mas desejá-lo tornará isso mais
desafiador.
Não tenho a falsa ilusão de que não importa o que ele diga sobre ter
vidas separadas, terei que estar com ele. Em algum momento, os
negócios de sua família ditarão a necessidade de ele ter um herdeiro para
dar continuidade ao seu legado. Não seria uma tarefa árdua, mas...
Balanço minha cabeça e levanto meu olhar para encontrar seu olhar.
Posso me casar com esse estranho. Posso usá-lo para promover meu
objetivo.
Fazer meu pai pagar por tudo que ele fez comigo ao longo dos anos.
Ainda serei o peão na guerra deles. Mas o que ambos não sabem é
que não tenho mais intenção de ser isso.
— Tenho condições. – Ando mais para dentro da sala até ficar ao
lado da outra cadeira.
— Ah, claro que tem, Princesa. – ele parece estar se divertindo
muito, como se estivesse conversando com uma criança. Não parece
engraçado, mas à luz do que estamos falando, ele não está me levando a
sério. Estou dividida entre me irritar e fazer o que posso para proteger
minha vida.
Ele é tão insensível que não vê como tudo isso me machuca, e se o
faz, então ele é um monstro tão grande quanto meu pai e simplesmente
não se importa.
O pensamento deixa minha pele arrepiada. Estou abandonando uma
gaiola e rastejando de bom grado para outra.
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— Espero que você seja fiel. Espero que você eventualmente tenha
meus filhos, mas nunca amarei você.
— E você? Você será fiel?
Ele me encara com um olhar que deixa óbvio que ele me acha uma
idiota. Claro que ele não será. Conheço homens como ele. Homens
como meu pai. Eles são todos farinha do mesmo saco.
Meus dentes rangem. Há muitas palavras não tão agradáveis que
pesam na minha língua. Em vez de gritar, respiro longo e fundo e depois
solto o ar pela boca. Faz pouco para me acalmar. Recuso-me a casar com
um porco traidor. — Não. – Minha cabeça balança de um lado para o
outro. — Não vou me casar com você e ser fiel a menos que você
concorde ser também. Isso não seria justo.
— A vida não é justa.
— Você não pode esperar que eu seja uma coisa e então não seguir
as mesmas regras...
— Mais uma vez, acho que não entendeu o que está acontecendo
aqui. Não existe uma democracia. Você não tem direito a opinar. Você
vai casar comigo. Independentemente da sua crença de que você tem
uma palavra a dizer sobre isso, você não tem.
— Não. – digo novamente, e agora minha voz está mais aguda. Mas
ele não parece nem um pouco influenciado. Em vez disso, parece que ele
está se divertindo às minhas custas. — Você é um babaca.
— Se eu fosse um babaca, deixaria você com meu primo. Você sabe
a diferença entre meu primo e eu? – Fico quieta, não querendo ouvir o
que ele tem a dizer. — A diferença é... Não vou tocar em você a menos
que você peça. Eu vou cuidar de você. Quando nos casarmos, se você
me fizer feliz, eu também a farei feliz. Mas ele... digamos apenas que ele
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vai usar e abusar de você, e depois que conseguir tudo o que quer de seu
pai, ele vai ficar cansado de você. – ele faz uma pausa por um momento.
— Você provavelmente acabará morta ou pior.
Ele não diz mais nada.
— Eu lhe dei tempo para tentar tomar a decisão certa, mas como
você obviamente não pode e não quer vir de boa vontade, estou
decidindo isso por você. – ele fica de pé. — Vamos.
— O que? Vamos?
— Sim. Temos que preparar as coisas.
— Preparar o que? – Pareço uma idiota. Eu sei disso, mas não
consigo entender o que está acontecendo.
— Nós vamos nos casar.
Meus olhos se arregalam. — Agora? Tipo, esta noite?
Parece que minha cabeça está girando, como se eu estivesse em um
carrossel e tivesse acabado de sair. O mundo está fora de foco. Ele está
falando, mas não consigo entender suas palavras por causa do zumbido
em meus ouvidos. Balanço a cabeça, afastando a confusão.
— Não, Viviana. Não vamos nos casar hoje. – Sua voz é baixa e
condescendente. Quero tirar meu salto pontiagudo e jogá-lo nele, mas
alguma coisa, e não apenas a arma ainda apontada para mim, me faz
pensar que é uma má ideia.
— Quando nos casaremos? – Minha voz falha.
— Vamos nos casar ainda esta semana.
A respiração que eu não sabia que estava prendendo escapa dos
meus lábios em um suspiro audível.
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— Sério?
— Sim. – A resposta de uma palavra de Matteo me faz cravar as
unhas na parte carnuda da palma da mão. É da minha vida que estamos
falando. Eu mereço mais do que isso.
— O que você está me dizendo é que, segundo meu pai e seu primo,
estou sendo negociada para atracar um barco? Meus dentes rangem.
Um grande suspiro sai de sua boca, e posso dizer que já terminou
esta conversa. Ele parece entediado comigo. O sentimento é mútuo. Eu
quero que ele vá embora também.
— Não se trata de um barco.
— Então o que mais pode ser? Por que mais você precisa de acesso
ao porto? Por que outro motivo meu pai está tentando me penhorar para
ter acesso ao porto?
— Drogas.
Sua resposta direta é chocante. A maioria iria pisar em ovos em
torno dessas coisas, mas, novamente, Matteo Amante não é como a
maioria dos homens.
A sala está em silêncio. Você poderia ouvir o som de um alfinete
caindo se eu estivesse inclinada a deixá-lo cair.
O único ruído que penetra no espaço entre nós vem do outro lado da
janela, onde uma buzina ocasional pode ser ouvida. Desta vez, estou
irritada. Dou um passo à frente, me aproximando dele. Eu fico ereta,
endireitando minha coluna.
— Sério, você basicamente me disse que meu único valor para você
é poder importar drogas?
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— Não estou pronta. – digo atrás dele. Ele olha por cima do ombro,
com seus olhos verdes penetrantes.
— Faça uma mala. Exatamente o que você precisa para esta noite.
Mandarei meu pessoal vir amanhã e pegar o resto.
Antes que eu possa dizer mais alguma coisa, ele se vira, tirando o
celular do bolso para fazer uma ligação.
Vou para o meu quarto pegar um pijama e uma muda de roupa para
amanhã. Jeans e um suéter. Casual. Em seguida, vou para o banheiro e
pego o necessário para uma noite. Quando está tudo na minha mala saio
do quarto e o encontro onde o deixei.
Ainda no hall de entrada ao celular.
Ele deve me ouvir me aproximar porque desliga e se vira para mim.
Ele parece arrogante e forte enquanto olha para mim. Acima de tudo,
perigoso. Como se com um estalar de dedos ele pudesse me fazer
desaparecer. Ele provavelmente poderia. Eu deveria estar com medo,
petrificada, mas estou em choque demais para registrar o que está
acontecendo.
— Preparada? – ele pergunta.
— Essa não é a palavra que eu diria.
Ele ri. — Gosto do seu revidamento.
— Últimas palavras de alguém.
— Não se preocupe, Viviana, como minha esposa, você terá uma
vida longa e saudável, queira ou não.
Foi quando finalmente me dei conta. Atingindo meu instinto. Todo
o ar sai dos meus pulmões com a presença dele e o que isso significa
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nada.
Ele também não tenta amenizar o clima. É opressivo.
Mal consigo respirar.
A cada respiração, é como se meu peito tivesse uma faixa ao redor.
Aperta até o ponto em que não consigo respirar.
— Posso abrir a janela?
— Não.
A resposta de uma palavra ecoa pelo carro. Ele gosta muito de
respostas de uma só palavra, eu percebo.
Embora não consiga abri-la, viro-me para olhar a noite da cidade.
As ruas estão movimentadas. Mas, novamente, é Manhattan.
Mesmo às dez, as pessoas caminham. Os bares estão abertos. Os
clubes são frequentados. Observo enquanto o mar de luzes vermelhas e
amarelas passa e me perco na vista. Uma fuga que só a cidade pode
proporcionar.
É por isso que escolhi fazer faculdade na NYU.
Meu pai nunca me deixou ir longe, mas lutei para vir aqui.
É outro mundo.
E agora percebo que meus últimos anos podem ter sido a única
liberdade que conhecerei.
A cidade passa voando e me pergunto para onde estamos indo. Fico
surpresa quando o motorista dele para no que parece ser um armazém
abandonado.
Espero enquanto Matteo sai do carro quando entramos na garagem
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Espero que ele feche. Minha mente faz referência a todos os contos
de fadas, mas então percebo que não há necessidade quando nada
acontece.
Ele não precisa trancar as portas. Ele não precisa me proibir de sair.
Não tenho para onde ir e, mesmo que tivesse, não estaria segura.
Não sei se algum dia estarei segura.
Respirando fundo, tranco a porta e vou mais para dentro do quarto.
Percebi que no lado direito há outra porta, então a abro para
encontrar o banheiro. Está totalmente abastecido e me pergunto se está
abastecido para mim?
Pego uma escova e um pouco de pasta de dente e escovo os dentes
e, quando termino, lavo o rosto.
Quando volto para o quarto, finalmente percebo que quem pegou
minha mala antes já deve ter procurado por escutas, porque agora ela
está em cima da cadeira no canto.
O sangue em minhas veias gela.
A mensagem é clara... uma fechadura não me manterá segura. Não
querendo pensar nisso, tiro rapidamente a roupa e coloco o pijama.
Mal consigo manter os olhos abertos depois do dia que tive. Estou
tão cansada que vou me sentar na cama. Mas por mais que eu queira
adormecer, não sei se vou conseguir.
Um loop interminável passa em meu cérebro.
O que o amanhã trará?
A questão mais difícil e deprimente é: o que meu futuro trará?
Agora, deitada na minha cama macia, em grandes travesseiros
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Acordo cedo na manhã seguinte. O prédio está silencioso e o andar
onde moro está completamente vazio. Duvido que Viviana ainda esteja
acordada.
Assim que descer, encontrarei uma equipe de meus homens que
ainda não dormiu.
Com a escalada da guerra com meu primo, passamos mais tempo do
que gostaria no armazém.
Uma equipe completa está sempre em guarda.
Sei que ele não sabe sobre esse local, então não é como se ele fosse
lançar um ataque, mas ainda assim, gosto de estar preparado.
Não me preocupo em esperar o elevador hoje. Sem Viviana, não
vale a pena pegar. Em vez disso, vou para as escadas, imaginando que
será mais rápido.
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— Roberto! – grito do outro lado da sala. Ele se vira para olhar para
mim. Roberto resolverá tudo, então ele é exatamente quem preciso para
tomar conta disso. — Ok, me diga o que precisamos fazer para a bola
rolar. Mal posso esperar para ver a expressão no rosto do idiota quando
ele perceber que tirei sua única moeda de troca.
— Um dia.
— Então preciso que você envie alguém para prepará-la. Amanhã
vou me casar com ela. Faça isso, Giana.
Giana é minha prima. Ela é filha da irmã do meu pai.
Com isso resolvido, levanto-me da mesa e saio da sala. Preciso
malhar antes de começar meu dia. Isso mantém minha cabeça no lugar e
me ajuda a resolver minhas frustrações. Ser eu não é fácil e esta é minha
única saída.
Um carregamento de drogas chegará no final desta semana e preciso
ter certeza de que tudo está preparado. Não posso permitir que um dos
meus caminhões seja interceptado novamente.
Há muita pressão em mim por causa do meu primo. Antes de ele
entrar em guerra comigo, tentando roubar meu negócio, não precisava
me preocupar com os portos. Nem precisei me preocupar com a
possibilidade de perder uma remessa. Agora tudo que faço é lidar com
os restos de seus ataques. Não quero ficar na defesa. Preciso atacar
primeiro e atacar forte no ataque.
Espero que, ao me casar com ela, eu o mantenha distraído enquanto
ele tenta encontrar outra pessoa.
Em vez de ir para o meu quarto, vou para a academia de última
geração que tenho neste andar.
Luka já está lá, esperando para treinar comigo.
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— Nesse caso, vou parar. – Com isso, ela corre pelo corredor, não
me permitindo dizer mais nada. Isso me faz rir enquanto observo ela
entrar no quarto. Assim que ela estiver fora de vista, vou para o meu.
Tirando minhas roupas molhadas, ligo o chuveiro.
Quinze minutos depois, desço para o segundo andar.
Meus homens não estão aqui. Ninguém está. Começo a comer,
esperando que Viviana venha.
Mas ela não vem. Jogando meu guardanapo no chão, subo as
escadas. Meu punho bate na porta dela.
Poderia abri-la, mas isso certamente começaria da maneira errada.
Então, em vez disso, estou agindo como um lunático enlouquecido.
A porta se abre.
Ela fica na minha frente. Olhos arregalados. Com uma mistura de
medo e teimosia olhando para mim.
— Sim.
— Eu disse que o café da manhã estava sendo servido. – digo,
irritado com a forma como ela me ignorou.
— Eu não estou com fome.
— Não era uma escolha.
— Bem, então você deveria ter começado com isso. "Bom dia,
Viviana. Sua presença é obrigatória na mesa do café da manhã.”
— Viviana. Você vai descer. Agora! Temos coisas para discutir.
— Caramba. OK. Você não precisa ser um tirano.
— Bem, parece que sim. Vendo que você escolheu não me ouvir.
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Ele me deixou.
Olho para a cadeira vazia onde Matteo estava sentado.
Antes que eu possa pensar nisso, a porta se abre e uma mulher que
nunca vi antes entra. Ela não fala, apenas coloca um prato de comida na
minha frente.
— Obrigada. – digo, mas ela ainda não responde.
Encolho os ombros enquanto meu estômago ronca.
Que sorte minha, a primeira mulher, caramba, a primeira pessoa que
vi desde que cheguei aqui que não é um dos assassinos de Matteo, e ela
ainda não me dá atenção.
Acho que vou comer em silêncio.
A fome não esteve em minha mente recentemente. Eu não estava
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— Bem, já que não tenho escolha, podemos acabar logo com isso. –
eu me movo para ficar de pé, mas antes de fazer isso, paro. — Posso te
perguntar uma coisa?
— Claro.
— Você acha que Matteo me deixaria convidar alguém?
— Não sei. – ela morde o lábio inferior, insegura. — Deus sabe
como a mente dele funciona. Posso perguntar, no entanto.
Pela primeira vez desde que todo esse desastre começou, sorrio.
— Obrigada.
Giana faz milagres. Ela não apenas encontrou um vestido para mim,
mas também sapatos. Aparentemente, a única coisa que não conseguiu
foi convencer Matteo a me deixar convidar Julia. Sei que minha família
não estará lá, mas não me importo com isso. Tudo que me importa é ter
minha amiga ao meu lado.
Lágrimas enchem meus olhos.
Sabia que era um tiro no escuro, mas ainda assim, eu esperava.
Sonhava. Mas isso me serve bem.
Giana me prometeu o local para amanhã. Mas, aparentemente,
Matteo também pisou nisso.
Por mais que eu tente descobrir, não chego a lugar nenhum.
Giana diz que ele provavelmente tem medo que eu avise minha
família.
Eu não faria isso.
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lugar e olhando para este homem. Ele deve sentir meu medo porque seus
lábios se curvam em um maldito sorriso. Aquele que deveria vir com um
maldito aviso de advertência. Aquele que secretamente me faz tremer de
medo. Olhe por muito tempo e você será transportada para o inferno.
Ele não faz isso com frequência.
Normalmente, há um franzido em seu rosto, mas esse olhar é mais
assustador do que o normal.
Este o faz parecer sinistro.
Uma pessoa normal o veria e pensaria que ele está sorrindo para
mim. Eu nem o conheço, mas sou uma boa juíza de caráter.
Não.
Ele não está sorrindo.
Ele está tramando e tenho um mau pressentimento sobre isso.
Nós nos encaramos um pouco antes de eu continuar a andar.
É como num daqueles filmes onde tudo para. É assim que me sinto
quando vou até ele. Como se o mundo tivesse parado, e fôssemos só nós
dois, e meu futuro estivesse em suas mãos grandes e frias.
Ele está diante de um padre. O tempo para então como se alguém
colocasse a mão no ponteiro dos segundos e conseguisse. Parece que
estou paralisada.
Um segundo muito longo se passa. Depois outro e outro. Meu peito
sobe e desce enquanto me esforço para não desmaiar.
Os sons começam a aparecer e desaparecer. Sei o que o padre está
dizendo, mas não consigo ouvir as palavras. É como se minha mente
soubesse que estou me amarrando a esse homem malvado e meu coração
se recusasse a ouvir isso.
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Eu tenho que dizer isso dela...
Ela é maravilhosa. Ainda mais agora que ela é minha esposa. Ela é
uma bugiganga novinha em folha para exibir na minha lareira.
Minha propriedade.
O desejo de reivindicá-la pulsa em minhas veias.
Faço exatamente isso. Eu a puxo para mim, pressiono minha boca
sobre a dela e respiro de seus pulmões.
Ela cede com isso.
Dócil em meus braços enquanto eu a manipulo para que ela ceda.
Suas pequenas mãos estão no meu peito, segurando-me para salvar
sua vida. Eu me permito ceder por alguns momentos.
Até ouvir minha família me aplaudindo.
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— Nós vamos.
— Eu... eu... – Seu rosto é de um branco fantasmagórico.
— Você pensou que eu lhe daria mais tempo? – eu repreendo,
brincando com ela. Desde que descobri que ela pode dar o melhor que
consegue, gosto de nossas brincadeiras. Gosto de provocar reações nela.
É divertido brincar com ela. Um novo brinquedo brilhante na minha
coleção de coisas bonitas.
— Eu só... não podemos esperar alguns dias? – ela grita.
Viro-me na cadeira para encará-la. Seus lindos lábios exuberantes
estão tremendo. Eu deveria me sentir mal por ela...
Eu não me sinto.
Sim, ela ficou presa no fogo cruzado de uma guerra que ela não
pediu, mas o navio partiu. Não adianta tratá-la com luvas de pelica. Ela
está ligada a mim agora.
A vida não será fácil para ela.
Quanto mais rápido ela descobrir, melhor.
— Não. Iremos amanhã.
Volto-me para Lorenzo, ignorando-a.
Giana decide entrar pela porta naquele exato momento, o que é bom
porque vai mantê-la distraída.
— Qual é o plano? – Lorenzo me pergunta.
— Eu vou aparecer.
— Sem aviso prévio?
Levanto meu copo, tomo um gole e respondo. — Não há melhor
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falando comigo. Parece que ela e minha prima formaram algum tipo de
vínculo.
Vou permitir isso por enquanto.
Contanto que minha prima não tente interferir.
— A que horas iremos? – Ouço Viviana me perguntar.
Eu não olho para ela. — Sete.
— Na hora do jantar?
— Sim, quero pegá-los desprevenidos.
Não sei por que divulgo essa peça do quebra-cabeça, mas ela
balança a cabeça.
— Então você vai querer fazer isso um pouco mais cedo. Meu pai
mima minha mãe com uma "refeição em família". – ela diz entre aspas.
— Isso antes de ele sair de casa, às oito.
— São seis. – digo.
Ela se volta para Giana e eu me viro para Lorenzo.
— Iremos às 4h30. – Minha voz está baixa para garantir que ela não
possa me ouvir.
— Algum motivo? – ele pergunta.
— Precaução.
— Precaução? Você não confia nela?
— Nem um pouco.
Pelo canto do olho, continuo olhando para ela. Embora eu a tenha
obrigado a fazer isso, ela veio de boa vontade, então você nunca pode
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Caminhamos juntos, de mãos dadas. É surreal estar aqui com ele. É
ainda mais estressante o quanto minha vida mudou. Como não sei como
lidar com isso, o que só se poderia chamar de castelo, permito que ele
me guie. Na minha vida, sempre morei em casas lindas. A mansão do
governador foi a minha mais recente. Mesmo que não tenha sido por
muito tempo, morei lá por um breve período. Mas aquela mansão não
tem nada a ver com a casa de Matteo.
Estar aqui é como estar em um palácio.
Ok, talvez não tão grande, mas ainda assim, esta não é uma casa de
tamanho normal para alguém.
É estranho andar com ele, estranho ter um sorriso falso estampado
no rosto. Quero abandonar a falsa pretensão, mas não tenho certeza de
quem sabe a verdade aqui e não posso correr o risco de criar mais
inimigos.
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espero pelo ridículo, algo para o qual, depois de viver com meu pai a
maior parte da minha vida, estou preparada.
Nada sai de sua boca, apesar de eu esperar que ele dissesse mais.
Em vez disso, ele me ignora completamente, olhando para trás na
direção oposta, e volta a andar, deixando-me ali parada no corredor
como uma idiota.
Observo enquanto sua sombra desaparece, e só então a respiração
que estou prendendo escapa.
Essa foi por pouco. Muito pouco.
Então outro sentimento me atinge. Um que eu realmente não quero
ver... desapontamento.
Não é que eu quisesse estar com ele esta noite, mas ele nem queria
estar comigo. Por alguma razão, mesmo sabendo que sou seu peão, uma
parte de mim gostou da ideia de que talvez um homem tão perigoso e
sexy como Matteo me quisesse...
Pare.
Não comece.
Você teve sorte esta noite, e se continuar aqui esperando, sua sorte
pode acabar.
Não querendo dar-lhe tempo para mudar de ideia, corro para o
quarto, acendo a luz, fecho e tranco rapidamente a porta.
Não são permitidos convidados indesejados.
Agora sozinha e segura, deixei-me admirar o quarto.
É lindo.
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Não tenho certeza de como me sinto sobre esse fato. Por um lado,
foi atencioso, mas por outro...
Ele sabia que você estava vindo muito antes de você perceber. O
pensamento faz arrepios percorrerem minha espinha. Odeio não ter
controle sobre minha vida e parece que também nunca conseguirei ter
controle.
A água quente enche de vapor o banheiro. Estendo minha mão e me
certifico de que não está muito quente. Por mais que eu queira sair deste
inferno, não quero me ferver viva para atingir meu objetivo.
Entro no chuveiro apesar da temperatura, e o calor faz bem à minha
pele. Deixo a água me enxaguar. Dissipando a névoa do sono. No meio
do caminho, percebo que não sei o que me espera hoje.
Meu pai costuma ser previsível, mas neste caso, para todos os
efeitos, estamos emboscando-o. Este fato fará dele um canhão solto. Não
posso confiar em como ele agiu no passado para avaliar como reagirá
esta noite.
Meus nervos começam a ferver.
Isso pode ser ruim.
Estou brincando com fogo... e sei pelo passado como é ruim se
queimar.
Corro para terminar, desligo a água, pego uma toalha grande e
macia e saio.
A condensação e o vapor tornam impossível ver. Com a toalha
agora enrolada em mim, ando. Não vou muito longe antes de esbarrar
em uma parede.
— Cuidado agora, Viviana. – Sua voz rouca de barítono parece estar
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me despindo.
Assustada, tento dar um passo para trás, mas o chão está
escorregadio e perco o equilíbrio.
Sua mão se projeta e me estabiliza.
— O que você está fazendo aqui? – resmungo enquanto olho para
ele. A névoa do vapor está começando a desaparecer. Seus nítidos olhos
verdes estão visíveis e olhando para mim.
Fico nervosa com a maneira como ele olha para mim, e quando ele
dá aquele maldito sorriso, meus joelhos tremem.
Sei que deveria me mover, mas não posso deixar de olhar para este
homem.
Hoje, como ontem, ele parece zangado. Mesmo com o sorriso, ele
não alcança seus olhos cor de musgo.
Ele me encara como se quisesse me despir, como se quisesse puxar
a toalha para baixo e fazer o que quer comigo. No entanto, quando olho
em seus olhos, quando o observo, tudo que vejo é ódio.
Sou a mim que ele odeia? A ideia de mim? Ou meu pai?
Não importa. Ele não responderia se eu perguntasse. O que importa
agora é fingir que estamos jogando. Sempre fui uma boa atriz.
— Bom dia, querido marido. – digo, com o sarcasmo presente em
minhas palavras. Pinga como xarope de bordo em uma panqueca. Tão
irresistível, mas nenhum deles é muito bom para você.
— Esposa. – ele responde, deixando as mãos permanecerem na
minha pele por muito mais tempo do que o necessário. Olho para onde
ele me agarra. — Princesa...
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Meus dentes rangem com aquele maldito apelido que odeio, e pelo
jeito que olha para mim, ele sabe que eu também o desprezo. — Você se
importa? – pergunto a ele, estreitando os olhos no local onde seu toque
me queima. Fazendo pequenos arrepios subirem pela superfície.
— De jeito nenhum. – ele responde com uma voz casual e
preguiçosa, como se não tivesse nenhum lugar melhor para estar e
gostasse de me deixar louca. Espero que ele me solte logo, mas ele não o
faz. Em vez disso, ele se agarra a mim.
Isso vai ser um problema.
Finalmente, eu o empurro e cruzo os braços na frente do peito. —
Por que você está no meu banheiro?
— Bem... – ele levanta a sobrancelha. — Tecnicamente, é o meu
banheiro.
Se ele vai jogar essa carta, eu também posso. — Ah, já que agora
somos marido e mulher, o que é seu é meu... então é meu.
— O mesmo poderia ser dito sobre seus pertences.
Ele me tem lá, mas na verdade não. — Não tenho nada de valor. –
respondo.
— Não. Isso não é verdade...
— Ah, eu esqueci. Eu sou o peão.
— Isso você é, e não se esqueça disso. Agora se vista. Esteja pronta
em trinta minutos. – ele ordena como se não estivesse flertando comigo
um segundo antes. Este homem me dá uma chicotada como se estivesse
sendo pago para isso e está almejando o funcionário do mês.
— Onde estamos indo?
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A primeira coisa que tenho que fazer é me encontrar com meus
homens. Há uma remessa chegando esta noite. Não é uma remessa
grande, mas é necessária. Armas extras. Munição extra. Talvez eu não
consiga acompanhá-los. Tudo depende de como será esta noite.
Encontro meu homem na sala de vigilância. Todas as telas estão ligadas
no monitor. Ao contrário do meu armazém na cidade, hectares de terra
cercam esta propriedade.
Ninguém vai entrar a menos que eu queira.
— Qual é a previsão de chegada no barco?
— Cristian disse que o barco deveria estar atracando perto de um.
— A que horas você vai encontrar seus sogros? – Lorenzo sorri. Ele
está muito entretido com meu casamento.
Dou-lhe um olhar, o tipo de olhar que diz vá se foder. Ele levanta as
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York. Se ele achar que ainda tem uma entrada, isso pode funcionar para
expulsá-lo.
Cruzo os braços e penso no que ele diz enquanto começo a andar.
De um lado para o outro. De um lado para o outro.
Ele pode estar no caminho certo.
Pode ser uma boa ideia usá-la como uma espécie de isca. Mas pela
aparência dela esta manhã no banheiro, não tenho 100% de certeza de
que ela ajudaria de boa vontade.
Posso pedir a ela ou posso contar a ela. Não descobri exatamente o
que o pai dela estava a atormentando, mas posso e então poderei usar
isso como um meio de obter a cooperação dela. Posso até fazer parecer
que está trabalhando com o pai. Que ela está trabalhando para me
derrubar e, ao fazer isso, talvez possa descobrir a localização do meu
primo.
— É uma bela ideia. – eu aceno com a cabeça.
— Você vai contar a ela?
— Ainda não tenho certeza. Vou ver o que acontece esta noite.
Precisamos descobrir sobre o passado dela. Descubra o que aconteceu e
por que a família dela está pagando uma quantia substancial de dinheiro
à ex-babá.
— Vou tratar disso imediatamente. Entrarei em contato com Jaxson
Price novamente. Se alguém puder descobrir, será ele.
— Ofereça-lhe o dobro para agilizar o pedido.
— Tem certeza de que é uma boa ideia? Ele não esperará isso
sempre?
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— Não dou a mínima para o que ele espera. Ele é o melhor e quero
a informação agora. Não tenho problema em pagar se valer a pena.
Essa é a razão pela qual estou no comando. Não dou dinheiro a
ninguém. Pago o que vale alguma coisa e, nessa equação, também aloco
tempo. Quanto vale o seu tempo. Meu tempo não tem preço, mas isso é
uma história totalmente diferente.
— Há mais alguma coisa que você precisa? – Lorenzo se levanta,
pronto para sair. Ele olha em volta, ansioso para começar a trabalhar.
— Não. Faça com que a maioria dos homens fique aqui.
— Não vamos voltar para a cidade?
Balanço minha cabeça. — Vou manter uma equipe lá também. Mas
acho que com a remessa será mais fácil transportá-lo daqui.
Ele pega o celular e começa a digitar, enviando uma mensagem. —
Mais alguma coisa que eu precise contar aos homens?
— Não. Estamos todos prontos. Vou para a academia e depois me
preparo. Se precisar de alguma coisa, estarei trabalhando. Quando Giana
e o estilista chegarem, mostre-lhes o quarto de Viviana.
— Acha que é uma boa ideia deixá-las passar tanto tempo juntas?
— É isso ou deixá-la conversar com as amigas.
— Verdade.
Passo por ele e saio para o corredor. Dou alguns passos antes de
olhar por cima do ombro. — Até sabermos com o que estamos lidando,
ela não deve falar com ninguém fora da família.
— Acho que é um bom plano. Como você acha que ela vai reagir?
— Eu realmente não dou a mínima.
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Horas depois, estou vestido e pronto para ir. Vou até o quarto de
Viviana. Dessa vez eu bato.
Não preciso, mas como preciso dela em seu melhor, não quero
deixá-la esgotada. Meus dedos batem na porta uma, duas vezes e, na
terceira batida, ouço seus passos.
— Quem é?
Pergunta tola. Como se eu fosse deixar alguém chegar perto do
quarto da minha esposa sem minha permissão, como se eles fossem
tentar.
— O maldito papa.
— Desculpe, parei de acreditar em Deus quando um mafioso me
forçou a casar.
— Você sempre seria forçada a se casar com um mafioso. Portanto,
não aja como se esse casamento estivesse saindo do nada.
Surpreendentemente, isso a faz abrir a porta. Espero que ela dê um
pequeno empurrão, mas ela deve perceber que não tem escolha.
Lá está ela.
Seu cabelo está penteado e ela tem uma leve camada de maquiagem
no rosto. Ela está usando um vestido preto com pequenos botões de rosa
e botas que vão acima do joelho.
Minha esposa – não importa quantas vezes eu me refira a ela dessa
forma, sempre parece um pouco estranho. Mas ela é assim, minha
esposa. Ela é uma mulher linda, e se ela fosse qualquer outra pessoa, eu
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Seu dedo está batendo em um padrão em sua coxa que ela nem
percebe que está fazendo. Eu me pergunto por que ela está nervosa?
Obviamente por dizer aos pais que ela é casada. Ela está nervosa que seu
pai tente alguma coisa? Ela deve saber que está segura comigo. Mas
sério, por que ela saberia disso? Não dei a ela nenhuma razão para se
sentir assim.
— Pare de bater. Tudo ficará bem.
— E como você sabe disso? – ela responde enquanto olha pela
janela.
— Porque sempre fica. – Espero que ela se vire para mim, mas ela
se recusa a ceder. É irritante falar de costas para ela.
— Fácil para você dizer. – ela murmura baixinho para a janela.
— Está comigo agora, Viviana. – eu afirmo a título de explicação.
— Isso deveria me fazer sentir melhor?
— Sim.
— E por que isto?
— Porque ele nunca iria foder com você.
— Ele não fodeu com você tentando negociar um acordo com seu
primo...?
Ela é muito inteligente para seu próprio bem.
— Sim. E veja o que aconteceu? Eu me casei com você. Seu pai
sabe. Independentemente de sua aliança com Salvatore, não deve foder
comigo. Nossa guerra nos precede. Seu pai, se for inteligente... e eu
imagino que seja, não quer ser pego no fogo cruzado. A última vez que
houve uma guerra como esta, os danos colaterais foram pesados. Seu pai
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pode perguntar ao senador de Boston qual foi o preço que ele teve que
pagar por ir contra mim. Ah, espere, ele não pode. Não há como falar
com ele onde ele está agora... – Minhas palavras pesam no espaço entre
nós. Você teria que estar vivendo debaixo de uma rocha para não ter
ouvido falar da morte prematura do senador.
Ela finalmente se afasta da janela e olha para mim.
— Então, qual é o plano agora?
— Não se preocupe com o plano. Você está aqui apenas para sentar
e ficar bonita.
Ela solta uma risada. — Uau, muito sexista.
— Não é sexista quando é a verdade. Casei com você para provar
um ponto. Casei com você porque você me beneficiou estrategicamente.
É isso. Nada mais. O único ponto que você precisa enfatizar agora é
ficar sentada lá.
— E se eu não fizer isso.
Eu me inclino em direção a ela, com meus braços estendidos para
prendê-la contra a janela. Nossos rostos estão tão próximos que posso
sentir sua respiração fazendo cócegas em meus lábios enquanto ela
exala. Sua mandíbula treme, mas são os lábios que me atingem; a
maneira como ela lambe e morde com muita delicadeza. Se ela fosse
qualquer outra pessoa, eu a agarraria e transaria com ela neste carro.
— Não confunda minha gentileza com fraqueza, Viviana. Eu não
machuquei você... mas eu posso.
Minhas palavras pairam no ar como a ameaça que representam.
Eu mantive distância.
Eu não exigi nada dela.
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eu gosto. Não que isso importe. Independentemente disso, vou falar com
o governador esta noite, mas assim, pelo menos, ela não tentará me
impedir.
— Olá, Senhora Marino. – Ando até ela e pego sua mão, beijando as
juntas dos dedos, e ela ri como uma colegial. — Eu sou Matteo. – É
como tirar doce de um bebê.
— Venha, vamos encontrar seu pai. – ela diz para a filha, que revira
os olhos para a mãe pelas costas.
Juntos, atravessamos o hall de entrada e seguimos por um corredor.
Ao fundo, ouço um homem ao telefone. É o governador Marino.
Não consigo ouvir as palavras, mas é ele.
— Não. Absolutamente não. – Ouço quando sua esposa abre a
porta. Ele desliga o celular abruptamente. Assim que ele desliga o
celular, ela entra na sala.
— Estou no meio de alguma coisa. – ele grita para ela. Quando
Viviana o ouve gritar com a mãe, seu corpo enrijece.
— Eu sinto muito. Mas Viviana está aqui e trouxe um amigo. – ela
sussurra, com a voz fraca e cheia de medo.
Senhora Marino entra mais na sala para que Viviana e eu possamos
entrar.
Ele ainda não pode me ver, mas posso vê-lo franzindo a testa para a
filha.
— Qual o significado disso? – A voz dele é quase um grito, fazendo
os ombros de Viviana caírem para frente.
Observo-a e sua mãe, ambas agora olhando para baixo, derrotadas.
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Cheque. Mate.
— Como você pôde? – ele sussurra para Viviana. Com veneno puro
escorrendo de sua boca. Não tenho dúvidas de que, se eu fosse qualquer
outro homem, ele tentaria nos matar por desafiá-lo.
— Facilmente. – eu provoco novamente, com o lábio levantado e
tudo.
Seu rosto fica com um vermelho anormal. Ele me lembra de uma
chaleira que está prestes a explodir.
— Você conseguirá anular este casamento.
— Você não dá ordens aqui, Governador. Viviana é minha agora.
Sua mão voa para baixo, atingindo sua mesa.
— Você sabe o que fez, sua idiota?
Afasto-me de Viviana e vou até onde o governador está atrás de sua
mesa.
Antes que ele possa se mover, tiro a arma das costas e aponto
diretamente para sua cabeça. — Nunca fale assim com minha esposa.
Você entendeu? Eu vir aqui com a Viviana é uma cortesia. Você não vai
se dirigir a ela. Você não terá nada a ver com ela, a menos que eu assim
o considere. – digo isso mais para a esposa dele do que para ele. Algo
me diz que o governador ficaria mais do que feliz em não falar com a
filha. Especialmente depois disso. Abaixo minha arma e dou a ele um
olhar penetrante.
Ele não fala a princípio, parecendo não saber o que dizer.
Sua mão alcança o copo em sua mesa. Está cheio até a metade com
gelo derretido e uísque. Ele o leva à boca antes de tomar.
Todos ficamos em silêncio enquanto ele bebe antes de colocar o
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Isto é mau.
Não. Muito mau. Desastroso.
Ter que ficar sozinha com meu pai é basicamente a definição do
inferno.
Eu me sinto pequena.
Como se eu fosse um inseto minúsculo no chão e meu pai pudesse
me esmagar com a bota.
Não percebi o quanto confiava na força de Matteo até que ele saiu
da sala.
No momento em que ele fez isso, porém, eu percebi.
Ficou frio na sala quando seu braço se afastou de mim.
Agora, parece que há um frio ártico. Um que começa com o olhar
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— Sim, pai, eu pensei. E espero que você possa ver que não me
deixou outra escolha. Você queria que eu me casasse com um homem
que eu não amava.
— Mesmo assim você fez isso.
— Mas nos meus termos.
Ele levanta uma sobrancelha para a minha mentira. Mas em vez de
me encolher, fico mais orgulhosa.
— Sim, acredite ou não, foi nos meus termos.
Ele estreita os olhos. — E o que dizer da sua amiga?
— Você não fará nada. Ainda sou tão importante para você. Ainda
posso trazer o que você precisa. Sou casada com Matteo Amante.
Eu me odiei por dizer isso, mas por Julia, eu faria meu marido dar
ao meu pai o que ele queria.
— Então você vai me ajudar...?
— O que você quer dizer?
— Derrube o Matteo. Você está por dentro agora. Veja o que você
fez. Ajude-me a acabar com ele.
— O que? Não, não foi isso que eu disse. Eu quis dizer que posso
convencê-lo a ajudar você.
— Essa merda nunca vai me ajudar. Este é o único caminho. Você
precisa usar sua posição e encontrar a fraqueza dele. Eu preciso acabar
com ele.
— Eu não vou fazer isso.
A bile sobe pela minha garganta porque, por mais que diga que não
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vou ajudá-lo, ele me obrigará. Eu não tenho escolha. Achei que poderia
virar isso de alguma forma a meu favor, mas o risco de vítimas é muito
alto. Meu coração bate forte enquanto espero que ele desista da ameaça
que sei que está por vir.
— Você irá. Você sabe o que há a perder se me contrariar.
E aí está.
Mordo meu lábio inferior e ouço suas palavras. Não digo mais nada.
Em vez disso, eu aceno. Balançando a cabeça ao mesmo tempo.
Eu odeio esse homem.
Odeio tudo o que ele representa.
Minha única saída é esperar que Matteo me ajude.
A questão é que não tenho certeza se ele o fará.
— E assim que eu o destruir, você se casará com Salvatore. Esse é o
preço que você tem que pagar pela sua desobediência.
— Você acha que ele ainda me quer?
— Sim.
— Terminamos aqui?
Preciso sair daqui. O ar está ficando cada vez mais estável a cada
minuto.
Mal consigo respirar.
— Sim.
Sem esperar que ele diga outra palavra, viro-me e vou em direção à
porta. Quando abro a porta, vejo Matteo esperando na parede oposta.
Suas costas estão apoiadas nela e seu pé está levantado e descansando.
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Evito minha esposa no dia seguinte. Não por qualquer outro motivo,
a não ser até descobrir o que aconteceu naquele escritório, não tenho
motivos para falar com ela.
Tenho certeza de que Marino pediu que ela me traísse. Sabendo
como ele funciona, o que o move, é quase impensável pensar que não
tentaria tirar vantagem da situação.
Quero saber o que ela disse.
Se ela disser sim, posso dar-lhe informações falsas.
Se ela dissesse não...
Bem, cruzarei essa ponte quando chegarmos lá.
O plano será mais fácil se ela disser sim. Então poderei seduzir
minha esposa sem sentimentos e dá-la de comer aos tubarões.
Depois de conseguir o que quero, posso mostrar a ela o que significa
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ser desleal. Não gosto de matar uma mulher, mas farei o que for preciso
para manter meu reino. Não tenho certeza do que ela está fazendo. Sei
que Giana veio visitá-la e dependendo do que eu ouvir, darei melhores
instruções para Giana sobre como lidar com Viviana.
Encontro meus homens onde eu sempre os encontro na sala de
vigilância.
É o lugar favorito deles para estar.
É o que há de mais moderno e, se você não estiver observando os
monitores, é basicamente uma caverna humana.
— Ok, o que você tem para mim?
— Eu tenho o áudio. – ele sorri.
— Está claro?
— Como a porra de uma neve fresca caída. Nós pegamos os dois.
— Ótimo.
Reviravolta na história: O que Viviana não sabia ontem à noite era
que eu a grampeei.
Não só não fiquei preocupado com o fato de Marino fazer alguma
coisa comigo, já que tenho um homem em sua casa, mas também tive o
benefício de ouvir a conversa deles.
Foi um belo presente que eu não esperava. Às vezes, coisas boas
acontecem a pessoas más. Nesse caso, espionar minha esposa e o pai
dela é uma coisa boa.
— Fale comigo. Você ouviu?
— Ainda não. Até agora, a única pessoa que ouviu foi Eddie, mas
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como não falamos com ele, ele não nos contou o que foi dito.
Isso faz sentido.
Eddie era meu homem infiltrado.
Ele é mais novo no grupo, então se adapta facilmente. Ele é
inestimável. Ele me dá a visão que preciso sobre o que acontece a portas
fechadas. Nada acontece dentro da mansão do governador sem que eu
ouça de Eddie. Isso inclui, mas não se limita, ao casamento iminente de
Viviana Marino com meu querido primo, Salvatore Amante.
Não falamos com ele com frequência, a menos que algo grande
esteja acontecendo.
— O que você está esperando? Ligue isso.
Na sala de vigilância temos um sistema de som de última geração,
então assim que meus homens ativaram a escuta que eu havia plantado
em Viviana, a sala ficou em silêncio para ouvir.
A voz irritada de seu pai ecoa pelo espaço. A dela parece mais
suave, mas ela está se segurando. Ouvi-la tão forte me fez sorrir para
mim mesmo.
Eles continuam conversando e ele faz exatamente o que eu esperava
que fizesse. Ele pede que ela seja sua espiã. A resposta dela não é tão
óbvia na gravação. Ela argumenta, se opõe, até diz não, mas é a falta de
palavras no final que me faz arquear as sobrancelhas.
Quando a gravação termina e desliga, meus homens olham para
mim.
— Ela concordou? – Lorenzo pergunta.
— Com certeza parecia que sim. – eu respondo. Sem olhos na sala,
não posso ter cem por cento de certeza, mas as evidências do áudio
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quero saber.
— Entendi. Isto vai ser divertido. – Luka ri.
— Quero que ela pense que estou caindo em seu estratagema, e
então... – eu bato a mão na mesa. Com o som alto e ecoando nas
paredes.
Eu me levanto da minha cadeira.
— Agora que isso está resolvido, tenho que ir.
— Para onde...?
— Seduzir minha esposa. – eu deixo para trás uma gargalhada
enquanto saio da sala. Seduzir minha esposa não é algo que planejei.
Mas que melhor maneira de destruir o pai do que usar o plano dele e
virá-lo contra ele?
O pai dela quer que ela use sua proximidade para me destruir.
Vou usar a minha com ela.
Vou fazê-la se apaixonar por mim.
Fazê-la acreditar que eu me importo.
E então eu lhe darei a informação, não apenas para matar o pai dela,
mas também para pegar meu primo.
Quando isso acabar, decidirei o destino dela.
Sigo pelo corredor e paro em meu escritório. Quando entro, abro a
gaveta de cima da minha mesa para pegar o celular de Viviana e o iPad
para entregar à equipe para alteração. Depois disso, poderei ouvir e ver
todas as comunicações que ela fizer.
Este será meu primeiro passo.
Uma espécie de oferta de paz. Ela simplesmente não sabe por quê.
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se arregalam.
— Minhas coisas. – A maneira como suas sobrancelhas se arqueiam
em especulação me dá vontade de rir. Ela não confia em mim de jeito
nenhum. Com razão, mas ainda assim, é bastante engraçado. Ela usa
suas emoções na manga. Algo que será útil no futuro.
— Você se saiu bem com seu pai. – digo, chocando-a ainda mais.
Seus olhos escuros estão arregalados, mas sua mandíbula ainda está
tensa. Ela está esperando que eu diga mais. Para emitir algum tipo de
ordem, declaração, ameaça.
— E esta é a minha recompensa?
Encolho os ombros com a sugestão dela, tentando não revelar nada.
— Se você gostaria de ver dessa forma.
— De que outra forma posso ver isso?
— Uma oferta de paz. Eu tenho sido um idiota.
— Você acha?
— Você provou sua lealdade outro dia e quero compensar você. –
Seus olhos se estreitam. Claramente, ela não acredita em mim.
Coloco seus objetos na mesa ao lado dela. Sua mão se estende e
pega o celular, mas ainda assim, seus movimentos são mais lentos que o
normal. Ela está esperando o inevitável.
— E eu tenho permissão para usá-lo?
— Por que outro motivo eu daria a você? – eu guio.
— Para usar um rastreador GPS para ver para onde estou indo. – ela
sorri para mim, com um sorriso encantador, um sorriso que quero tirar
de seu rosto e beijá-la ao mesmo tempo.
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É por isso que agora tenho uma esposa. Exceto que, neste caso, não
há aliança a ser feita. Se fosse um encontro, eu conversaria com ela
sobre o que ela queria da vida, o que ela desejava e o que ela gostava. Eu
fingiria que me importo. Então é exatamente isso que farei.
— Nós realmente não nos conhecemos. – eu começo.
— Bem, nós nos casamos depois de basicamente um segundo. Isso
não é um bom presságio para conhecer alguém.
Seu atrevimento está lá. Presente em cada piada sarcástica que sai
de sua boca. Eu gosto da provocação.
— É verdade, mas gostaria de mudar isso.
Suas sobrancelhas arqueiam. — Você gostaria? Por quê?
— Por que quero conhecer minha esposa? – pergunto, para mostrar
a ela que a ideia não é tão absurda.
— Sim, é exatamente isso que quero saber.
Inclinando-me para frente na cadeira, coloco os antebraços sobre a
mesa. — Acredite ou não, não entrei neste casamento sem pensar no que
isso significava. Não tenho planos de me divorciar de você. No meu
mundo isso não acontece. Se quisermos ficar juntos, se eventualmente
você for a mãe dos meus filhos, gostaria de conhecê-la. Sei que não
comecei assim, mas quero agora...
— E tudo isso mudou por causa do meu pai? – Seus traços
delicados são naturais, mas sua voz é mais baixa, tentando determinar se
estou dizendo a verdade ou lhe contando uma história.
Esta última é a resposta, mas vou vendê-la como um caixeiro
viajante que vende óleo de cobra como uma cura milagrosa.
— Sim. Ver você com ele me fez perceber que não há amor entre
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vocês, e por causa disso, pela maneira como ele tratou você, quero
protegê-la.
Por um momento, me pergunto se fui muito forte e ela perceberá
minhas mentiras, mas o franzido em sua mandíbula suaviza.
— Tudo bem. – ela responde.
— Ótimo. Vamos começar com você me contando um pouco sobre
você.
Seus olhos se arregalam com a minha declaração. — Essa é uma
resposta longa. – ela ri. — Vamos restringir. O que exatamente quer
saber?
— Pelo que percebi, parece que você estudou na NYU. O que você
estava estudando?
— Você já sabe disso. – ela revira os olhos. Ela está certa, mas
ainda quero ouvir. — Estou estudando, ou quero dizer, estudei Literatura
Inglesa.
— Daí a leitura?
— Sim, daí a leitura.
— Sabe, eu tenho uma biblioteca.
— Por que isso não me surpreende?
— E você acabou de se formar? – pergunto. Recostando-me na
cadeira, levantando os cotovelos da mesa.
— Acabei, na verdade. Porém, com tudo o que aconteceu, eu não
voltei.
— O que isso significa?
— Honestamente? Absolutamente nada. Ainda tenho um diploma.
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Faça-a acreditar.
— Eu... – ela gagueja. — Adoro ler, como você sabe. Sempre quis
fazer algo nessa área. Talvez ser uma agente literária ou editora. Abrir
uma livraria também seria incrível. – Sua voz sai fantástica, como se
estivesse perdida em um sonho. — Sempre quis encontrar o próximo
grande livro para me perder.
— Então faça.
— Você, você me deixaria trabalhar?
— Acredite ou não, Viviana, você não é uma prisioneira aqui. No
momento, pode ser difícil para você começar um emprego, visto que há
algumas complicações.
— Seu primo?
— Sim. Mas não deverá demorar tanto. Depois.
É mentira. Se ela fizer o que acho que ela fará, não há trabalho onde
a vou colocar.
— Posso começar a procurar agora? – ela parece tão esperançosa.
Se eu ceder a ela, isso pode ajudá-la a acreditar mais.
— Vou considerar isso, dependendo da ameaça, mas você teria que
contratar um guarda-costas.
— OK. – ela balança a cabeça enquanto sorri.
Seus lábios abrem em seu rosto.
Eu nunca a vi sorrir assim antes.
É realmente o sorriso mais lindo que já vi. É o tipo de sorriso que
pode iniciar guerras.
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Já aconteceu.
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Uma semana se passou. Os dias se misturaram nesta casa. O
destaque é jantar com Matteo todas as noites, por mais estranho que
pareça.
É surreal.
Mesmo agora, enquanto o sol da manhã entra pelas janelas altas,
parece que estou perdida em um sonho.
Meus olhos se abrem e, por um momento, quase esqueço onde
estou.
Quase.
Mas quando o quarto entra em foco, lindamente decorado e o oposto
do meu apartamento, lembro-me de tudo, e a realidade desaba sobre
mim.
Isto não é um sonho.
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Pulo da cama, com meus pés batendo no chão frio enquanto corro
até o closet para me vestir, mas primeiro tenho que fazer xixi e escovar
os dentes. Quando me olho no espelho, minha boca se abre. Eu pareço
ridícula.
Não há como salvar meu cabelo ou rosto agora.
Tenho marcas de travesseiro e na cabeceira da cama. Parece que
acabei de fazer sexo. Como não o fiz, não é uma boa aparência para
mim.
Rapidamente, escovo os dentes e passo a escova no cabelo. Como
ainda preciso tomar banho, visto um roupão e vou até a porta. Ao
destrancá-la, eu abro e coloco minha cabeça para fora.
— Ei, eu só preciso entrar no chuveiro bem rápido.
Seus olhos verdes me encaram e, como sempre, parece que há
muitas palavras escondidas atrás deles. — Gostaria de levar você para a
cidade hoje.
Devo parecer chocada porque ele sorri para mim, com um sorriso
torto que faz meu coração parar, mesmo que apenas por um segundo.
Um maldito sorriso para um maldito homem que não consigo ler e
que me dá sinais confusos todos os dias.
Tento dizer para parar, mas é um músculo traidor e não me escuta.
Sim, ele é atraente e sim, ele é meu marido, mas não posso
confundir essas duas coisas.
Não consigo captar sentimentos.
Não quando há tantas variáveis desconhecidas.
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você.
Suas palavras me surpreendem. Quando ele disse que iríamos para a
cidade, presumi que ficaríamos na outra casa dele.
— Podemos comer?
— Me desculpe, esqueci que não comeu nada esta manhã. Você
deve estar morrendo de fome.
Suas sobrancelhas se juntam. Ele está claramente chateado por não
ter me levado em consideração.
— Realmente não é grande coisa. Na faculdade, eu nunca comia. –
Isso o faz estreitar os olhos para mim.
— Sério?
— Sim, você nunca passou a noite estudando e esqueceu de comer?
– pergunto-lhe.
Ele olha para mim como se eu fosse louca, com os olhos verdes
arregalados.
— Não.
— Você fez...? – eu paro, sem saber como abordar esse assunto. —
Você foi a faculdade?
Ele ri. — Claro que fiz faculdade, Viviana.
— Ah, acabei de imaginar...
— A Faculdade da Vida.
Eu paro. Olho para ele. Ele solta uma gargalhada que faz meu peito
ficar confuso.
— Yale. – ele diz. — Você imaginou, já que comando a máfia, que
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sou um idiota.
Ótimo, Viviana. Simplesmente ótimo. Aqui está ele, me oferecendo
um ramo de oliveira de paz para melhorar nossa coexistência, e eu o
insultei a torto e a direito.
— Isso foi presunçoso da minha parte.
— Não, querida, foi natural da sua parte. Não estou com raiva. E a
verdade é que está tudo bem. A maioria dos homens da minha família
não ia à faculdade, inclusive meu pai. Mas ele insistiu que o mundo
estava mudando e que eu precisava ser bem versado na vida e nos livros
para me adaptar à mudança. Adapte-se ou morra, ele costumava dizer.
— Ele parece um homem inteligente.
— Ele era.
— Era?
— Sim, ele e minha mãe faleceram há alguns anos.
— Sinto muito. – Mordo meu lábio inferior. Quero fazer tantas
perguntas a ele, mas não consigo encontrar as palavras na minha boca.
Fico surpresa quando ele sorri para mim. Não é um sorriso grande
ou contagiante, mas ainda faz meu coração bater um pouco mais rápido.
— Não há problema em me perguntar o que aconteceu com eles.
— Não quero bisbilhotar.
— Você é minha esposa agora. Não é bisbilhotar.
Respiro fundo e dou-lhe um sorriso tenso. — Como eles morreram?
— Eles foram mortos.
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Eu não esperava me abrir daquele jeito.
Simplesmente aconteceu.
Por alguma razão, é fácil conversar com ela, e esse fato não me
agrada. É como se ela tivesse lançado um feitiço e eu não tivesse outra
escolha a não ser obedecer.
Isso é horrível.
Horrível pra caralho.
Mas por outro lado, ela está em minhas mãos.
Literal e figurativamente. Olho para onde nossos dedos estão agora
entrelaçados.
Eu estaria mentindo se não admitisse para mim mesmo que sentar à
frente dela nesta mesa é reconfortante.
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Seus olhos são gentis. Eles olham para mim como se ela quisesse
me salvar.
É realmente uma pena, porque se ela não tivesse concordado em
trabalhar com o pai pelas minhas costas, eu poderia me ver apaixonado
por ela.
Não faz diferença, no entanto. O que está feito está feito.
— E você? Tem algum restaurante onde seus pais já te levaram?
— Você quer dizer além de me fazer ficar em casa com a babá?
Assim que as palavras escapam de sua boca, seus ombros se
contraem.
A babá.
A família que seu pai ainda paga hoje, anos depois.
O que aconteceu com ela?
Por que eles estão pagando para ela?
Essa é mais uma coisa que preciso descobrir. Isso pode ser algo que
posso usar contra o governador.
Talvez quando ficar mais confortável, ela se abra. Ou talvez agora
que seu celular está grampeado, quando ela ligar para o pai para falar
sobre sua missão, ela mencionará isso.
Porra, isso tornará minha vida muito mais fácil.
— Depois que terminarmos de almoçar, o que quer fazer? –
pergunto, mudando de assunto.
O olhar assombrado em seus olhos desaparece.
— Posso escolher?
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Decido não levá-la para patinar no gelo, mas não vou contar a ela
agora. Em vez disso, decidi contar a ela que temos outros planos. Que
deveríamos passar o dia fazendo outras coisas, e que patinar no gelo será
a última.
Estou mentindo.
Normalmente, não minto.
Mas visto que ela concordou em me trair com o pai dela, não há mal
nenhum.
Levo-nos até a Quinta Avenida. Viviana enquanto crescia, não lhe
faltava nada, então espero que olhe as lojas, mas ela nem olha. É muito
revigorante que ela não pareça se importar muito.
Em outra vida, eu poderia me ver aproveitando meu tempo com ela.
Em outra vida, ela seria a esposa perfeita.
Mas esta vida não é nossa.
Caminhamos pela Quinta Avenida até chegarmos à New York City
Library.
É com isso que ela fica animada. Não as lojas de grife. Não, Viviana
se entusiasma com a biblioteca.
Se eu tivesse uma biblioteca maior em minha casa. A minha é
pequena e descuidada. Tenho alguns livros para as crianças que vêm e
são membros da minha família. Nada maluco, mas mesmo assim darei
acesso a ela depois que voltarmos da cidade.
Isso lhe dará algo para fazer.
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Além disso, pode ser a minha maneira de fazer com que ela confie
mais em mim.
Tenho certeza de que ler os contos de fadas que ela adora a deixará
mais aberta a sugestões.
Lembro-me do livro que a encontrei lendo no meu antigo quarto e
tenho que me conter para não rir. Quando ela mencionou que eu era a
Fera da história, ela não poderia estar mais longe da verdade.
Se isso fosse um conto de fadas, eu não seria a Fera.
Embora eu tenha algumas qualidades redimíveis, nenhuma delas é
voltada para ela. Na verdade, sou Gaston.
O vilão.
E neste conto de fadas não há heróis.
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Estou oficialmente me divertindo muito, o que não é algo que eu
teria pensado que diria hoje. Certamente não é algo que pensei que diria
há uma semana. Ou duas, aliás. Tudo isso é território desconhecido. Me
sentindo bem-vinda, interessante e como se eu fosse importante. Ao
entrarmos na New York City Library, meus sentidos ficam acelerados. O
cheiro que permeia o ar: livros antigos. É o paraíso.
É bom tê-lo aqui. Embora normalmente quando venho aqui, tenho
Julia comigo.
Ela sabe o quanto eu amo a biblioteca. Ela é a única pessoa que sabe
o quanto adoro me perder em uma história.
Ela e eu somos ligadas nisso.
Nenhuma de nós teve a infância que merecíamos.
A culpa dela, no entanto, não foi dela…
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Foi minha.
Não. Não vou por aí.
Eu sempre ficava sentada na minha casa na árvore e desejava poder
escapar para o meu próprio mundo.
Agora, quero passar esse sonho para outras crianças. Sobrevivi
perdendo-me nos clássicos, mas quanto incrível seria se eu pudesse
encontrar uma fantasia fantástica e trazê-la ao mundo para que outros
possam desfrutar.
Esse sonho desapareceu há muito tempo.
Quando meu pai me disse tão explicitamente que meu único lugar
era ao lado de meu futuro marido como um adereço.
Estou feliz por ter o sonho novamente. Mesmo que isso nunca
aconteça, fico feliz em apenas sonhar.
Não importa o que aconteça com meu pai ou o que ele me obrigue a
fazer, isso vai acontecer.
Fico surpresa quando passamos uma hora na biblioteca. Presumi
que entraríamos e, depois de cinco minutos, Matteo ficaria entediado e
quereria ir embora. Mas em vez disso, ele me deixou olhar em volta,
sentar e ler.
Outra coisa que me surpreendeu foi que presumi que ele mexeria no
celular o tempo todo. Obviamente não falou ao celular, mas esperava
que ele mandasse uma mensagem. Em vez disso, ele passou o tempo
todo me observando.
No início, foi um pouco enervante. Então, apesar do que pensei,
descobri que gostei. Gostei do jeito que ele me observou. Seus olhos
verdes, geralmente frios e distantes, tinham uma aparência diferente.
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Desta vez suas pupilas eram grandes. Elas estavam dilatadas enquanto
ele me observava.
Mas foi a maneira como ele observou. Ele me observou como um
predador. Ele me observou como se quisesse pular sobre a mesa, me
jogar no chão e fazer o que queria comigo. Eu gostaria de fingir que não
tive nenhuma reação a isso. Mas conforme leio cada palavra, tudo que
vejo acima do livro é ele acompanhando meus movimentos, pronto para
atacar.
— Você está pronto para ir? – pergunto.
— Não se sinta pressionada por mim. Estou me divertindo.
— Tudo o que você tem feito é olhar para mim.
— Ponto importante. É por isso que estou me divertindo.
— Bem, estou pronta.
— Ainda temos muito tempo antes de irmos ao Rockefeller Center.
Há algo que você deseja fazer de antemão?
— Eu estava me perguntando... – eu mordo meu lábio inferior.
— Você pode falar comigo. O que você estava pensando, Viviana?
— Queria saber se poderia ver minha amiga Julia.
— A mesma Julia que você queria convidar para o casamento?
— Exatamente a mesma.
Ele reflete sobre minhas palavras, sem revelar o que pensa que vai
fazer. Eu me pergunto se ele dirá sim. Ou talvez ele diga não. Talvez
toda essa última semana em que foi legal tenha sido apenas uma ilusão
em minha mente. Sento e espero ele responder. Fecho a capa do livro
que estava lendo e olho para ele.
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fará.
— Para onde devo dizer a ela que estamos indo?
Ele tagarela um endereço e, por algum motivo, tenho certeza de que,
assim como a pizzaria que visitamos, o proprietário será alguém que ele
conhece. Eu estou bem com isso. Cada vez que ele me apresenta a
alguém, descubro um pouco mais sobre meu misterioso marido.
Meu desejo por conhecimento é abrangente. Eu quero coletar
informações como alguém faria antes de um teste. Envio uma mensagem
de texto para Julia, dizendo onde estaremos, quando estaremos lá e
perguntando se ela se juntará a nós. Meu celular vibra em minhas mãos.
— Ela vai?
— Sim. Você diz que ela é da família. Diga a ela uma versão da
verdade. Ela sabe que sua vida não é exatamente comum.
— E o que exatamente é isso?
— Que seu pai queria casar você com um homem horrível e eu fui
seu salvador. – O lado direito de seu lábio se curva em um sorriso
malicioso.
— Você se acha engraçado?
— Ninguém nunca me acusou de ser isso. Mas sim, acho que sou.
Dou uma risadinha. — Acredite no que quiser. Agora vamos indo.
A caminhada até a cafeteria leva cerca de dez minutos. Não é longe
e, como o tempo não está muito frio, é agradável. Tal como suspeitava, é
uma cafeteria pequena e acolhedora. Pela palavra italiana no banner,
tenho a sensação de que, quando entrarmos, Matteo conhecerá o dono.
Quando o sino toca, estou quase imediatamente correta. Matteo nem
precisa dar um passo para dentro antes que um homem, que parece ser
um pouco mais velho que Matteo, se aproxime de nós. Novamente, eles
falam um com o outro em italiano. E novamente, amaldiçoo o fato de
nunca ter aprendido. Ele me apresenta como sua esposa. Dessa vez,
quando faz isso, parece que enxames de borboletas começam a mover na
minha barriga.
Minhas bochechas ficam quentes e tenho certeza de que estou
corando, o que é estúpido, porque não deveria me sentir assim. Não faz
muito tempo que eu o odiava e, em questão de uma semana, ele
basicamente transformou meu corpo em um traidor.
Feitas as apresentações, nos sentamos à mesa.
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Eu a observo enquanto ela espera sua amiga chegar. Seu rosto está
mais sério que o normal. Há um pequeno vinco que se forma entre suas
sobrancelhas, como se ela estivesse pensando muito em como iria contar
à amiga que se casou.
Depois, há a maneira como ela morde o lábio.
Eu estou acostumado a vê-la fazer esse movimento quando está
nervosa, mas agora, enquanto ela morde a pele carnuda, sei que ela
realmente se importa com o que a amiga pensa.
Quando o sino da porta finalmente toca e uma garota que parece ter
a idade de Viviana entra, ela pula da cadeira e corre para ela.
Ambas parecem igualmente animadas em se ver.
Como se já tivessem se passado anos e não semanas.
Parece que foi ontem que esperei no apartamento de Viviana ela
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chegar, mas ver essas duas juntas me faz entender que já faz muito mais
tempo do que parecia.
Depois de alguns segundos, elas se separam.
É quando a amiga dela finalmente me nota. Ela estreita os olhos
enquanto me levanto e me aproximo. Ela nem precisa falar para eu saber
que está me acusando silenciosamente.
Voltando-se para Viviana, ela lhe dá um olhar penetrante.
— Quem é ele? – ela diz entre os dentes. Nem mesmo fingindo não
estar chateada.
— Sobre isso... Que tal se sentar? Tenho que conversar com você.
— O que está acontecendo? Viviana, em toda a minha vida que te
conheço, você nunca apareceu aleatoriamente com um cara. Você mal
namorou. E aqui está você, desaparecida por quase duas semanas, então
você o traz aqui. Diga-me o que está acontecendo agora.
Por alguma razão, eu me encontro indo ao lado de Viviana e me
aproximo dela. Eu não a toco externamente, mas minha mão toca a mão
dela, com nossos dedos fazendo contato. Ela endireita as costas como se
meu toque lhe desse força.
— Por favor, sente-se, Julia, vou explicar tudo. Eu juro.
— Parece que vai ser uma longa história. – diz ela, antes de ir até a
cadeira e se sentar. Nós dois também ocupamos os lugares em que
estávamos antes, mas puxo minha cadeira um pouco mais perto da dela,
deixando claro que estamos juntos.
— Lembra daquela noite em que fui para a casa do meu pai?
— A última vez que conversamos? – A amargura em sua voz é
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Por alguma razão, essa ideia parece errada. Mas me recuso a deixar
que isso me impeça. Em vez disso, prossigo com o plano.
Uso a fraqueza dela a meu favor.
— Onde estamos indo? Eu não quero patinar no gelo.
Ótimo. Graças a Deus, porque por mais que eu queira atraí-la,
patinar no gelo não é algo que eu queira fazer.
Se isso não tivesse acontecido, eu já estava tentando formular um
plano para sair dessa situação. Dessa forma, ela acha que decidiu.
O que funciona melhor para mim.
Eu a levo para fora e então começamos a caminhar pela cidade.
Desta vez a caminhada é mais longa e o ar fica mais frio. Ela aperta
o casaco com mais força contra o peito.
— Você quer pegar um táxi?
— Não. Estou bem. Um pouco frio, mas não tão ruim.
Tiro meu casaco e coloco-o sobre os ombros dela. Ela é tão pequena
que está enorme sobre ela.
Viviana para de andar.
Ela vira o corpo, virando até ficar de frente para mim. Seus olhos
estão arregalados. Ela se parece com uma garotinha experimentando as
roupas do pai. Ela é tão pequena assim. Acho que nunca percebi a
diferença de tamanho.
— Qual é sua altura? – pergunto, e ela olha para mim como se eu
fosse louco. Minha pergunta a pega completamente desprevenida.
— Um metro e cinquenta e oito. Mais ou menos. Por quê? – No
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namoradas.
Desta vez é diferente porque as emoções dela não influenciam meu
plano maior. É óbvio que ela está chateada. Mas não sei como lidar com
essa merda.
Nunca precisei.
Isso é um relacionamento, e eu não faço relacionamentos. Um fato
irônico, visto que agora estou casado.
Agora que o ar ao nosso redor está mais leve, eu a puxo para mais
perto de mim e a abraço.
— O que você está fazendo? – ela pergunta, confusa.
— Achei que você estava com frio. – digo como minha desculpa
completamente idiota.
— Oh. OK.
— São apenas mais alguns minutos, de qualquer maneira.
— Para onde vamos agora? Não posso comer outro pedaço de
comida. Ou beber mais alguma coisa.
— Não se preocupe. Não há mais comida. Bem, pelo menos não há
mais comida até o jantar.
O destino está bem à nossa frente.
— Vamos ao parque?
— Mais ou menos.
— O que você quer dizer com isso?
— Bem, antes você mencionou que seus pais nunca deixaram você
patinar no gelo ou fazer qualquer uma das coisas divertidas que os
turistas fazem na cidade. Uma das coisas que minha mãe costumava
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fazer comigo quando eu era pequeno era me tirar da escola, não contar
ao meu pai e me levar para a cidade. Ela então me levava para um
passeio de carruagem.
— É isso que estamos fazendo?
— Acredito que sim, Princesa.
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Princesa.
E pela primeira vez, me sinto como uma. Este não é um apelido para
zombar ou me menosprezar.
Ainda estou chocada com a ideia dele. Um passeio de carruagem.
Se você tivesse me perguntado se eu achava que meu marido tinha
algum osso romântico no corpo, a resposta teria sido não.
Mas a cada segundo que passo com ele, começo a pensar que talvez
ele tenha, afinal.
Juntos, com o braço dele em volta de mim, seguimos para a fila dos
cavalos.
Ele se afasta de mim enquanto fala com o motorista. Depois que
eles acertam a tarifa, ele agarra minha mão e me ajuda a levantar.
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Seria inebriante.
Uma tosse me tira da névoa e vejo Matteo ainda olhando para mim,
e seus olhos estão fixos em meus lábios.
Enquanto eu fantasiava com ele, ele se aproximou. Agora estávamos
perto o suficiente para que um pequeno solavanco da carruagem nos
fizesse nos beijar.
Passamos por um buraco. Por favor.
Não posso acreditar o quanto eu quero isso. Quanto o quero.
Não é só porque ele é bonito.
Inferno, ele é lindo de morrer. Mas também é pela maneira como ele
me tratou hoje. Tudo o que ele fez.
Era como se ele estivesse cuidando de mim.
Ninguém nunca cuidou de mim.
Isso não é verdade.
Ana cuidou.
Ela cuidou de mim.
Veja como isso acabou.
— Você está bem? – Sua voz interrompe meus pensamentos.
Eu pisco, me endireitando.
É quando sua mão se estende e seus dedos quentes seguram meu
queixo.
É isso.
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Sei que não devo discutir. Em vez disso, espero que ele mude de
ideia. Minha mão se levanta, afastando o resto do sono.
Parece que fui atingida por uma marreta de tanto cansaço que estou.
É por isso que tirar uma soneca nunca é uma boa ideia para mim.
Fico sempre irritada depois.
Agora obviamente não é exceção.
Julia costumava dizer que eu acordava como um demônio na
faculdade.
Jules...
Preciso ligar para ela.
Faça isso direito.
Se eu pudesse explicar as circunstâncias, ela entenderia que eu não
tinha escolha.
É difícil, no entanto. Como você explica que se casou com o chefão
da máfia da Costa Leste e ele está em guerra para manter o título?
Você não explica.
Não, a menos que você queira colocar um alvo nas suas costas.
Quando a porta se abre, saio e caminho em direção à entrada
principal da casa. Já está aberta, uma das muitas pessoas que trabalham
para o meu marido está ali me deixando passar. Não me preocupo com
gentilezas, nem me preocupo em tirar o casaco e, neste caso, também o
casaco do Matteo. Em vez disso, fui direto para o meu quarto.
Uma vez lá dentro, vou direto para o banheiro, tirando uma peça de
roupa a cada passo que dou. É necessário um banho, para tirar a sujeira
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Uma maldita remessa.
Perdemos um carregamento inteiro.
Um dos meus caminhões foi confiscado a caminho do norte do
estado de Nova York.
Então agora estou no carro com Lorenzo tentando descobrir quem
diabos a levou.
Não é preciso ser um cientista espacial para perceber que foi
Salvatore. No entanto, como Salvatore descobriu isso é um problema
totalmente diferente. Um: estou sendo vigiado. Dois: há um espião.
Nenhuma das opções é boa.
A única coisa boa neste momento é que não é uma das remessas que
vieram do armazém. Este era um carregamento de mercadorias
armazenado por algumas semanas e nós só conseguimos transportá-lo
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hoje.
Isso significa que o pequeno grupo de pessoas que conhece a fábrica
de brinquedos é excelente.
Estou inclinado para o fato de que provavelmente estou sendo
vigiado.
Claro, que não é inédito que possa haver um espião, mas todos os
meus homens estão comigo há anos e, antes de serem meus homens, eles
ou alguém da família deles estava com meu pai.
Sabendo que estamos comprometidos, escolho encontrar meus
homens no antigo armazém. Poderia ser uma armadilha, mas estou
disposto a arriscar em vez de levar alguém para meu outro local.
— Tenha cuidado. – grito para Lorenzo enquanto nós andamos em
zigue-zague pelo trânsito para chegar aonde precisamos ir.
— Não estamos sendo seguidos.
— Pode ser que seja esse o caso, mas há uma boa chance de eles
saberem que estamos chegando. Há uma chance ainda maior de que eles
já estejam lá.
— Acha que estamos caindo em uma emboscada? – Suas
sobrancelhas franzem.
— Tenho cem por cento de certeza de que estamos caindo em uma
emboscada. – confirmo.
— Se for esse o caso, por que você está dizendo aos homens para
irem até lá?
— Porque neste caso, posso ditar o resultado. Chame os homens.
Quero que saibam que podem esperar qualquer coisa. Temos máscaras
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no carro?
— Temos.
— Todos devem usar máscara. Vamos dedetizar o lugar antes que
alguém entre. Se alguém estiver lá, vamos dar uma surra nele. Se não,
bem, então nos faltará um na equipe, mas pelo menos sabemos.
— OK. Eu farei a ligação.
Terminada a conversa, viro-me para olhar pela janela. O céu está
cinza agora e o sol se esconde atrás de uma nuvem. Parece que uma
tempestade chegará em breve. Quanto diferente o céu está agora em
relação a antes.
Hoje foi um bom dia. Então algum idiota teve que estragar tudo para
mim.
Viviana estava finalmente começando a baixar a guarda.
Então tudo foi arruinado.
Isso poderia atrapalhar meu plano de seduzir minha esposa.
Eu poderia ter lidado melhor com isso. Não só perdi milhões, mas
também preciso descobrir se foi meu primo ou outra pessoa.
Já é ruim o suficiente travar uma guerra.
Mas ter que lutar em duas frentes...
Isso nunca funciona bem.
Veja Napoleão, por exemplo, ele já passava por momentos difíceis
antes do inverno russo acabar com ele.
Demora mais quarenta minutos antes de estarmos prontos. Metade
dos homens parou atrás. O outro do lado.
Estou indo pela frente.
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Um barulho vindo de fora do meu quarto me fez acordar assustada.
Que horas são?
É quando percebo que minha porta está entreaberta.
Por que não está fechada? Era para estar fechada.
Estou prestes a sair da cama quando percebo uma sensação de frio
percorrendo meu peito. É quando olho para baixo e vejo que não estou
usando nada.
Tirei minhas roupas e adormeci.
Agora o arrepio que me ataca não vem do meu corpo nu, mas do
fato de alguém ter entrado recentemente no meu quarto e me visto
assim.
Eu pulo da cama e pego meu roupão, amarrando-o bem antes de sair
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pela porta.
Nenhuma luz está acesa na casa, mas, independentemente disso,
continuo andando em direção às escadas. Talvez Matteo esteja em casa?
Talvez ele tenha vindo me ver? Desculpar-se.
Não tenho certeza de onde fica o quarto dele, mas me lembro
vagamente de Giana dizer que era na outra ala da casa.
Quando chego às escadas, decido não descer. Em vez disso, sigo em
direção ao andar que me levará ao outro lado da casa.
Este lado também está escuro.
Estou surpresa.
Sei que a casa tem mais seguranças do que uma prisão, mas não há
ninguém aqui.
Está estranhamente quieto. Fantasmagórico, até.
É assim que começa um filme de terror...
A garota burra caminha no escuro para a morte. Parece muito
apropriado agora. Mas quando meu cérebro começa a pensar em como
posso morrer esta noite, vejo isso. No ponto mais distante do corredor,
uma luz está acesa.
É para lá que irei.
Indo até a porta, bato uma vez, mas quando ninguém atende, espio
lá dentro.
A curiosidade matou o gato e tudo mais.
Não há ninguém na suíte grande, mas no canto outra luz está acesa e
parece que há água caindo.
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Percebo então que estive tão envolvido com minha esposa e seu pai
que não fui ao jogo de pôquer de Cyrus por um longo tempo.
Mudando velhos hábitos. Isso não fica bem para você, Matteo.
Cyrus Reed pode ser meu banqueiro, mas ele também possui um
dos mais exclusivos jogos de pôquer de apostas altas da Costa Leste. O
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Eu: Ocupado.
Cyrus: Traga sua bunda ocupada aqui. Tenho negócios para
discutir.
Minha cabeça balança, sabendo muito bem que Cyrus não vai parar
até que eu concorde. Ele é um idiota, mas confio nele, e fora os meus
homens, isso é uma coisa rara.
Viro-me para Lorenzo e aceno com a cabeça.
— Estamos indo embora. Prepare o helicóptero.
Sua sobrancelha direita se levanta. — Para onde vamos, chefe?
— Pare de me chamar de chefe, Lorenzo. Ninguém está por perto.
— Tudo bem, idiota. Para onde?
Eu rio disso, sorrindo para meu primo. — Cyrus. – Não há razão
para explicar. Lorenzo sabe tudo sobre o que acontece na propriedade de
Cyrus em Connecticut.
Trinta minutos depois, o helicóptero pousa no vasto terreno do
complexo de sua propriedade.
Assim que as hélices param de girar, saímos e saímos para a noite
fria de inverno, seguindo direto para a entrada lateral que nos levará à
sala onde jogaremos cartas.
Aceno para o segurança parado do lado de fora e ele abre a porta.
Vir aqui costumava ser uma ocorrência semanal, mas minhas vindas
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Seu rosto fica cada vez mais vermelho até parecer um tomate cereja.
— Apenas saia.
Interessante.
Eu me pergunto o que a fez agir assim.
— Tudo bem. Mas espero você no jantar esta noite. – eu me viro e
vou direto para a sala de vigilância da casa. Tony está ali na frente dos
monitores.
— Ei, chefe. – ele diz quando entro na sala.
— Preciso que você obtenha todos os registros telefônicos dos
últimos dias. Além disso, a vigilância dos últimos dias.
— Estamos procurando alguma coisa em particular?
— Veja duas noites atrás. A noite do armazém.
Essa foi a última vez que falei com ela e, segundo Francesca, que
foi limpar seu quarto, ela não saiu mais desde então. Ela também fez
suas refeições lá.
Ele começa a repassar a filmagem, repassando tudo o que aconteceu
no vídeo naquela noite. No corredor você pode me ver entrando no meu
quarto. Eu fechei a porta. Sei o que estava fazendo naquela noite.
O vídeo muda para o próximo movimento. Na verdade, está fora do
quarto de Viviana. Está escuro no corredor e a hora corresponde a
quando cheguei em casa. Ela caminha pela casa e, surpreendentemente,
agora está no vídeo batendo na minha porta. Não me lembro disso, o que
significa claramente que estava no banho. A próxima coisa no vídeo é
peculiar. Viviana entra. Não há nada por cerca de trinta segundos, e
então Viviana é vista novamente caminhando pelos corredores até voltar
para seu quarto.
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Esta é a última vez que ela saiu. Interessante, ela veio ao meu quarto
e depois se escondeu.
De repente, tudo fica claro. Minha pequena esposa é uma espiã e,
além disso, ela tem vergonha de me olhar nos olhos.
Um sorriso abre em meu rosto. Se ela gosta de assistir, eu deixo.
Começo a imaginar como seria se ela estivesse no quarto. Mal posso
esperar para assistir a filmagem no quarto dela. Embora tenha sido uma
grande violação de privacidade, instalar aquela câmera ali agora parece a
melhor ideia que já tive em muito tempo. Estou prestes a expulsar todo
mundo para assistir agora, mas Tony interrompe meus pensamentos.
— Eu encontrei algo.
— O que é?
— Recebeu uma ligação no celular dela.
— E? – eu odeio que meu pulso acelere com isso.
— Tem menos de um minuto de duração. – Seus dedos continuam
digitando no monitor. — O número está registrado em nome do
Governador Marino.
— Obtenha o som do celular dela.
— Isso pode levar alguns minutos.
— Bem, eu tenho certeza que não vou a lugar nenhum agora, não é?
Primeiro você me vê nu, depois fala com seu pai.
O que você está fazendo, pequena esposa?
Ando pela sala enquanto espero. Leva apenas cerca de dez minutos
para que Tony reproduza o áudio da chamada telefônica dela.
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merda. Todo mundo sabe que quando alguém está apaixonado, fica
complacente.
— Você quer que ela pense que você a ama...
— É a única maneira de funcionar.
— E depois?
Meu lábio se inclina para cima.
— Então, eu a arruíno.
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Tenho medo de ir jantar.
Medo de vê-lo.
Medo de vê-lo.
Como posso olhar nos olhos dele depois do que vi?
Esta manhã, quando ele invadiu meu quarto, pensei que morreria de
vergonha. Não morri, mas cheguei perto.
Agora estou no meu banheiro. Vestida com uma legging preta e
uma blusa de ombros largos. Não tenho certeza se estou muito casual ou
se estou vestida demais.
Devo presumir que eu estou certa. Matteo sempre parece bem
arrumado. Eu simplesmente me sinto um idiota ao descer, não ter saído
do quarto há dois dias, e usar esta blusa, especialmente porque está
nevando lá fora.
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poderia me desculpar. Poderia mentir para você e dizer que isso nunca
aconteceria novamente, mas esse não é o tipo de homem que sou. Vai
acontecer de novo, provavelmente mais do que você gostaria, mas foi
isso que você aceitou quando decidiu se casar comigo.
— Decidi? Como se eu tivesse escolha. – eu ranjo os dentes.
— Sempre há escolhas, Viviana. Não importa quais serão as
consequências, sempre há outras opções. – Suas palavras parecem
pesadas, como se ele pudesse ver a escuridão da minha alma, mas ele
está errado. Às vezes, não temos escolhas. Às vezes, temos que fazer
coisas das quais não nos orgulhamos, e tenho certeza que Matteo, mais
do que outros, sabe disso.
— Você nunca fez algo só porque precisava?
— Tudo o que fiz foi porque escolhi. Cada negócio. Cada morte.
As palavras que ele fala me deixam sem palavras. Elas fazem minha
língua parecer pesada. Fazem meu coração acelerar. Ele está falando
abertamente sobre seu trabalho, admitindo que ele mata. Sei que isso
deveria me deixar com medo, mas por algum motivo, acontece o oposto.
Não sinto medo.
Pela primeira vez em muito tempo, sinto que poderia haver outra
maneira.
Meu marido pode ser a solução para todos os meus problemas.
Mas ele me ajudaria?
Ele já fez isso.
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Isso me faz sorrir. Eu não estava errada sobre minha avaliação dele.
Raramente estou sobre pessoas. Isso vem com o território de crescer em
um ambiente perigoso.
— Agora, isso faz muito mais sentido.
Ele se inclina para frente na cadeira, com os dedos tamborilando na
superfície da mesa.
— Por que não me vê como o tipo de pessoa que consegue relaxar?
Mesmo agora, enquanto faz essa pergunta, ele não está relaxando.
Caso em questão: a bateria.
— Não acho que você conseguiria relaxar se sua vida dependesse
disso. – respondo.
— Quase sinto que isso é um desafio.
— Aceite como quiser, mas você perderia. – Ele ri do meu
comentário e acho que vai aceitar quando, de repente, as luzes da sala
começarem a piscar.
— Estamos perdendo a eletricidade?
— Provavelmente. Os ventos estão muito fortes e esta é uma casa
antiga.
E então, como se fosse uma deixa, ela se apaga.
— Merda. – Matteo diz enquanto se levanta.
— Você não tem um gerador?
A sala ao nosso redor está escura como breu. Não há luzes acesas
em nenhum lugar da grande propriedade.
— Tenho. Mas só tem energia suficiente para iluminar certas partes
deste lugar.
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Sinto sua mão antes de vê-la. Ele pega a minha, me puxando para
cima e mais perto dele.
Mal consigo ver nada. Está tão escuro na sala. As janelas gigantes
permitem a entrada de muito pouca luz da lua e, fora isso, nada.
Posso ver o reflexo em seus olhos. Eles parecem mais escuros sob
esta luz, me lembrando da primeira vez que o vi me observando.
Um arrepio percorre minha espinha.
— Frio?
— Não. – respondo enquanto me puxa para o seu lado, envolvendo
as mãos em volta da minha cintura.
Ele nos leva para fora da sala. Não há dúvida de que se eu estivesse
sozinha nesses corredores escuros, cairia de cabeça no chão. Apesar do
luar entrar pelas janelas, não há visibilidade.
Posso ouvir os galhos quebrando na estrutura da casa. A tempestade
está uma loucura e não consigo imaginá-la passando tão cedo.
Enquanto ele me puxa, quase me sinto como uma boneca de pano.
A única diferença é que, na verdade, não odeio isso. Eu me sinto mais
segura assim.
Entramos em uma sala e ele me leva para dentro, depois me solta.
Não tenho certeza do que está fazendo, mas então ele tira um isqueiro do
bolso e acende uma vela. Estamos em uma sala que provavelmente é
considerada seu covil ou, por se tratar de uma propriedade, talvez uma
sala de estar.
— Sente-se. Vou acender mais algumas e depois acender a lareira.
— Não. – Minha voz sai muito forte e Matteo para o que está
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mais frequência.
— OK. Você primeiro. Pergunte à vontade.
Eu me recosto no sofá e tento pensar em alguma coisa. — Qual é a
sua cor favorita?
— Essa é a grande pergunta que você tem?
Encolho os ombros.
— Preto.
— Isso não é realmente uma cor. Mais como a ausência de luz.
— Por isso, por que eu gosto disso. – Sua voz soa como mel quente
enquanto ele fala. Quero espalhar tudo e lamber.
De onde diabos isso veio?
Caramba.
Isso é loucura.
— Sua vez.
— O que você queria ser quando era criança? Sei que agora você
quer ser agente ou editora ou algo relacionado a livros, mas e quando
você era criança?
Fico surpresa quando percebo que ele se lembra do que eu disse a
ele. É como se ele tivesse guardado tudo, e esse pensamento aquece meu
coração.
— Eu queria ser veterinária.
— Você teve animais de estimação na infância?
— Não.
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irônico.
Não ouço as objeções gritando dentro de mim. Em vez disso, me
aproximo até que nossas pernas se toquem. Pego uma mão, segurando-a,
e então a levanto até minha boca, dando um beijo em seu dedo.
— O que... o que aconteceu? – eu gaguejo, com medo de perguntar,
com medo da resposta e, acima de tudo, com medo do que isso
significará se ele me contar.
— Não foi exatamente o que aconteceu, mas o que eu vi.
— Você pode falar comigo, Matteo.
Seus olhos se estreitam levemente, mas depois voltam ao normal,
ainda duros com as emoções que travam dentro dele.
— Eu não deveria ir para o porão... – ele começa. — Meu pai
sempre me disse para não ir ao porão. Sabe, cresci nesta casa. Mesmo
quando meu tio estava no comando. O quarto em que você fica era o
meu quarto. O quarto em que cresci.
Meu peito parece apertado sob suas palavras. Ele me deu seu quarto
de infância. Por que ele faria isso?
— Eu não conseguia dormir, então fui para a cozinha. A porta do
porão estava lá. Pensei ter visto uma luz... – Sua voz parece diminuir e
tenho medo do que ele dirá.
— Você não precisa me contar.
Mas ele não escuta meu apelo. Em vez disso, ele continua, e mesmo
que queira impedi-lo porque não quero ouvir o pesadelo que ele viveu,
permito isso dele.
— Desci as escadas... Houve sons. Sons horríveis. Choros e
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lamentos. Continuei andando até chegar nos fundos e foi então que os vi.
— Quem?
— As garotas.
Uma lágrima escorre pelo meu rosto. Não consigo ouvir mais. Mais
lágrimas caem.
— Por que você está chorando? – ele pergunta.
— Porque você era apenas uma criança. Você não precisava ver
isso.
Ele estende a mão e enxuga uma lágrima que deve ter caído no meu
nariz.
— O que você fez? – pergunto.
— Contei ao meu pai. Esse foi o dia em que, por um minuto, eu não
quis ser meu pai, e então foi também o dia que eu quis.
— Não entendo.
— Quando contei a ele o que vi, o odiei. Pensei que ele sabia. Achei
que era ele quem as mantinha como animais, mas sua raiva era palpável.
Veneno puro escorreu dele. Ele não sabia. Ele me disse para esperar,
mas o segui. Eu o segui enquanto ele cruzava o andar e invadia o quarto
de seu irmão. Vi o que seu irmão estava fazendo e com quem ele estava
fazendo isso. Ela era tão jovem, apenas alguns anos mais velha que eu.
Ela não queria... – ele balança a cabeça, preso em uma lembrança
horrível. Eu entendo muito bem como é isso. — Meu pai sacou a arma e
atirou na cabeça dele. Então, uma por uma, ele libertou as garotas.
Algumas delas não tinham para onde ir, então ele as empregou.
— Elas trabalharam aqui para o seu pai depois de tudo?
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— Ele as salvou.
— Elas trabalham para você?
— Algumas. – ele respira fundo. — Ele, sozinho, impediu todo o
tráfico que estava ligado à nossa família. Na verdade, é algo em que
também ajudei. Foi assim que me tornei amigo de Cyrus.
— Cyrus?
— Ele estava no casamento. Você provavelmente não se lembra
dele.
Tento pensar no passado, mas o dia e a noite são confusos. — Não
me lembro de muita coisa.
— Tudo bem.
Ele sorri para mim, um pequeno sorriso, um sorriso suave.
— É por isso que quer ser como seu pai? Ele é um herói para você.
— Ele era, e sim, não tenho nenhuma falsa ilusão de que ele não
fazia coisas ilegais, mas seu argumento era que as pessoas compravam
drogas de qualquer maneira, mas pelo menos com ele no comando, ele
poderia garantir que nunca fosse longe demais.
Minha sobrancelha arqueia. — O assassinato não é muito longe?
— Nunca matamos inocentes.
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Sinto-me esgotado depois do que acabei de dizer. Normalmente não
falo sobre essas coisas. Mantenho meu passado onde pertence, enterrado
no quintal com todas as minhas emoções e alguns ossos. Mas há algo
sobre Viviana.
Ela é como meu próprio tipo de criptonita. Meu próprio soro da
verdade. Não importa o quanto eu tente, ela encontra uma maneira de se
aproximar e se instalar na minha vida. Estou tão fodido que nem preciso
de lubrificante.
Ela está me fazendo sentir todos os tipos de coisas malucas. Ela está
me fazendo lembrar ainda mais. Não é bom. Sei que ela faz parte do
plano, mas cada segundo que a conheço... Não, não consigo pensar
nisso.
Salvatore está lá fora. Salvatore quer seu lugar. E ela é o meio de
conseguir isso.
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Não importa o quanto ela pisque os cílios para mim, ela também
mentiu para mim, e isso não pode ficar impune.
Não importa agora. Esse é um plano de longo prazo. No momento,
só há uma coisa em que preciso me concentrar e, pelo jeito que ela olha
para mim, sei que funcionou.
Permitir-me abrir daquele jeito e contar tudo a ela foi um risco
calculado, mas um risco que valia a pena correr. Ela agora pensa que
confio nela.
A sala está em silêncio novamente, o ar pesado com o meu passado.
Nossos rostos estão próximos. Tão próximos que posso sentir o jeito
que ela exala.
Seus olhos ainda estão brilhando com lágrimas não caídas. Levanto
minha mão novamente e desta vez seguro seu queixo.
Inclinando a cabeça para cima.
Ela me observa atentamente, com o peito arfando enquanto passo o
polegar por sua pele. Deslizando-o até os lábios. E quando ela abre a
boca ao expirar, tomo isso como um convite e diminuo a distância.
Minha boca a encontra. Enquanto minha língua procura entrar, ela
geme em minha boca.
Meus braços a puxam com mais força para mim e então a agarro
perto.
Do nada, suas mãos pressionam meu peito.
— Pare. – ela se afasta. — Não posso fazer isso.
Olho para ela, confuso, sem realmente entender o que aconteceu.
Pensei ter lido a situação. Achei que ela me queria. Levanto minha mão,
tentando me afastar dela, mas ela me agarra pelo pulso. — Pare. – ela
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diz novamente.
— É isso que estou fazendo.
— Isso não foi o que eu quis dizer...
— Você quer fazer isso? – Pode estar escuro aqui, mas ainda posso
ver que suas bochechas estão vermelhas.
— Sim. Sim, Matteo. Quero você, mas não posso fazer isso sem
falar com você primeiro.
Falar comigo sobre o quê? Já somos casados. Isso não faz sentido.
— Preciso te contar uma coisa primeiro.
Estreito os olhos confuso.
— OK.
— Você tem que prometer me escutar e ouvir tudo o que digo antes
de fazer qualquer coisa.
Agora estou realmente confuso. Eu aceno com a cabeça.
— Matteo... – ela começa, mas então balança a cabeça, respirando
fundo. — Dizer isso é muito mais difícil do que pensei que seria.
— Apenas continue com isso. Acho que funciona melhor.
— Meu pai quer que eu seja sua espiã. – E embora eu já saiba disso,
ainda estou chocado por ela ter dito isso.
— Quando fomos à casa dele, lembra como ele me pediu para ficar
no escritório sozinha com ele para conversar?
Claro que sim. Eu a grampeei, mas não digo nada disso. Em vez
disso, apenas aceno novamente.
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— Aqui ou no quarto? – ele pergunta. — Escolha rápido ou escolho
por você. – O jeito que ele fala é rouco. Com o desejo atado em cada
palavra.
Mas o olhar em seus olhos me desarma.
Quando contei a verdade, pensei que ele me expulsaria, mas isso...
Ele olha para mim como se eu tivesse lhe dado o presente mais
precioso. Ele olha para mim como se eu fosse tudo, como se precisasse
me consumir.
É primitivo e acende uma brasa dentro de mim, me fazendo querer
permitir que ele faça isso.
Com a necessidade percorrendo meu corpo, respondo sua pergunta
estendendo meus braços e puxando-o para mim novamente.
— Aqui. – digo contra seus lábios.
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— Eu vou...
— Não, não vai. – ele caminha até mim, mais como um
perseguidor, e então, antes que eu possa perguntar o que ele quer dizer,
ele me levanta em seus braços como se fosse uma noiva.
Suspiro com o movimento. — O que você está fazendo?
— Algo que eu deveria ter feito no dia em que nos casamos.
Ele começa a caminhar em direção à porta e então estamos no
corredor, caminhando em direção às escadas.
— E o que é?
— Levar você além da soleira.
Fico chocada quando ele se dirige às escadas e começa a subir.
Ele me carrega como se eu fosse um saco de penas e, para ele,
provavelmente sou. Assim que chegamos ao topo da escada, ele segue
em direção ao seu quarto.
Não digo nada. Finjo que nunca estive aqui antes. Ele sabe que sim,
e eu sei que sim, mas pelo menos assim posso manter intacta um pouco
da minha dignidade.
Quando ele abre a porta, acho que vai me deixar na cama, mas, em
vez disso, ele nos leva até o banheiro. Meu olhar encontra o chuveiro. O
banho indescritível que antes limpava o sangue. Agora, hoje, o mármore
está imaculado.
Ele ainda está me segurando em seus braços quando abre a torneira
e então me coloca de pé. Estou um pouco atordoada com tudo, mas fico
ainda mais surpresa quando ele levanta minha camisa acima da minha
cabeça, tira meu sutiã e depois se abaixa na minha frente para tirar
minha calça.
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Fodi minha esposa duas vezes e agora que experimentei, temo que
nunca me fartarei.
Foda-se a criptonita, a mulher é puro crack, do tipo que eu gostaria
de colocar as mãos e distribuir para dominar o mundo.
Mesmo agora que acabamos de terminar a segunda rodada no
chuveiro, vê-la envolvida em meu roupão fez meu pau entrar em ação.
Para baixo, garoto.
Não é como se ela fosse a lugar nenhum.
Não mais, pelo menos.
O momento em que ela me confessou foi como se um interruptor de
luz tivesse sido ligado.
Esse tempo todo estive lutando contra minha atração por ela. Sim,
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claro, eu queria fazer sexo com ela, mas não me permitia pensar nisso.
Foi principalmente uma forma de fazê-la cair nos meus planos. Foi
quase como se eu pensasse em sexo com ela com precisão, mas depois
ela me contou tudo.
Agora que sei, tudo vai mudar.
Todos os planos mudarão.
Não posso usá-la.
Amanhã, precisarei falar com meus homens. Precisaremos debater o
que isso significa. Esta noite, não farei tal coisa. Esta noite, vou deitar ao
lado desta mulher e provavelmente continuarei a fazer o que quero com
ela.
Ela parece ser tão insaciável quanto eu. Inocente, mas insaciável.
O que, na minha opinião, é a combinação perfeita.
— Vamos, vamos para a cama.
— Você... – ela para de falar, e tem um rostinho lindo. Levanto a
sobrancelha e espero que ela continue, embora saiba o que vai dizer. Ela
é como um livro aberto, o que é surpreendente porque eu não sabia que
ela me contaria sobre o pai, mas talvez ela tenha mudado de ideia, e é
por isso. Ela fez parecer que era mais do que isso, mas estou cansado
demais para pensar nisso.
— Quer que eu durma aqui? – Em todas as semanas que a conheço,
nunca vi seus olhos ficarem tão arregalados.
— Viviana. Como minha esposa, este é o seu quarto agora.
Seus olhos percorrem pelo espaço à sua frente. Então ela balança a
cabeça.
— E o quarto em que eu estava hospedada?
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um terceiro próximo.
Lorenzo digita algo em seu celular, que imagino ser uma mensagem
para Roberto, porque em três minutos a porta se abre e Roberto entra.
Ele se senta em seu lugar habitual.
— Estávamos errados sobre Viviana.
— O que você quer dizer? Nós a ouvimos. – diz Roberto.
— Sim, nós a ouvimos dizer o que ela tinha que dizer. Mas ontem à
noite ela me contou tudo.
— E acha que ela foi sincera? – Desta vez é Lorenzo quem fala.
— Ela não poderia ter mentido para mim. Não apenas porque
consigo ler as pessoas, mas também... você deveria tê-la visto. Ela
estava assustada. Ela sabia que eu iria matá-la. Ela pensou que eu faria
isso.
— O que você fez? – ele pergunta.
— Bem, eu transei com ela, é claro.
Ambos os meus homens começaram a rir.
— Claro que você transou. E como foi? – Lorenzo volta ao modo
amigo, com o subchefe estrito desaparecendo diante dos meus olhos.
— Eu não vou falar sobre foder minha esposa. A questão é que ela
não estava mentindo.
Os dois homens olham para mim em busca de detalhes, mas não
vou agradá-los com isso. O que faço com minha esposa é problema meu.
A ideia de eles saberem mais não me agrada.
— O que fazemos agora? – Roberto diz, invadindo a sala.
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— OK.
Passamos a maior parte do dia conhecendo o corpo um do outro. Sei
que fizemos isso ontem à noite, mas ontem as luzes estavam apagadas.
Hoje, elas não estão.
O que significa que há muito mais para explorar. Para um homem
que tocou cada centímetro do meu corpo, é como se nunca tivesse feito
isso comigo antes.
Ele saboreia cada minuto.
É como se não se cansasse de mim, mas tudo bem, porque eu
também não me cansava dele.
É engraçado, acho que nunca me senti tão confortável com ninguém
em toda a minha vida. Obviamente, não estou incluindo Julia no
sentimento, já que não fiz sexo com ela, mas, surpreendentemente, estou
à vontade com Matteo.
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Não é só por me sentir segura com ele. Não é só por ele tocar meu
corpo como um instrumento que ele adora. É o fato de que mesmo com
as nossas diferenças, mesmo com a maneira como cheguei aqui, sinto
que ele me escuta quando falo.
Nenhum homem que conheci no passado realmente me ouviu. Quer
dizer, é bastante óbvio que tenho problemas com o papai e, no passado,
sempre escolhi um bad boy por causa dos ditos "problemas com o
papai." – mas isso parece diferente.
Não sou ignorante. Eu não sou idiota. Sei que ele é diferente de
qualquer outro homem no mundo. Sei o que ele faz para viver. Inferno,
sei que ele não é um bom homem. Mas é como se, neste exato momento
em que dá beijos na minha espinha, e mal consigo compreender o que
estou pensando, eu sei que ele é um bom homem para mim. E não é isso
que importa? Como me sinto quando estou com ele.
Ele beija uma trilha e então para logo acima do meu ombro.
— Está com fome? – ele pergunta, pairando sobre meu corpo.
— Isso depende do que você está oferecendo. – brinco.
— Estou falando de comida, Viviana. – Não importa quantas vezes
ele diga meu nome. Sempre traz uma nova onda de borboletas para voar
na minha barriga.
— Nesse caso, depende do que você sabe cozinhar. Porque acho que
deveria te contar isso agora... – eu faço uma careta. — Eu não cozinho.
Tipo, de jeito nenhum. Não consigo nem fazer um sanduíche de
manteiga de amendoim e geleia.
Matteo solta uma risada barulhenta.
— Bem, então é seu dia de sorte. Porque não só sei cozinhar, mas
posso muito bem fazer os melhores sanduíches de todos os tempos, e
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— Boa ideia.
Depois de vestir meu roupão, descemos para a cozinha.
Não estou acostumada com o silêncio da casa. Normalmente,
alguém está andando por aí ou pelo menos Francesca está na cozinha. E
embora saiba que a equipe de segurança está aqui, é como se fôssemos
as únicas pessoas no mundo, e neste exato momento somos.
Passam-se apenas alguns minutos antes de ouvir o som de panelas e
frigideiras. Tinindo e batendo juntos.
— O que você está começando primeiro?
Ele se vira para olhar por cima do ombro. Ao contrário de mim, que
está de roupão, Matteo, depois de nossa brincadeira matinal, optou por
não usar camiseta e agora está vestindo apenas uma infame calça de
moletom cinza.
O tipo de calça de moletom que todas as mulheres consideram que
deveria ser ilegal por causa do quanto gostosos alguns homens ficam
com elas. Provavelmente nenhuma dessas mulheres viu Matteo de calça
de moletom cinza, e espero que nunca o façam, porque isso é mais do
que ilegal.
Na verdade, ele é como o céu caído na terra. De costas, posso ver
seus músculos enquanto ele trabalha com os braços flexionados, mas é
quando se vira que eu literalmente não consigo coletar o suficiente da
baba que sai da minha boca. O maldito V está presente.
De dar água na boca, tentador e tudo o que sempre imaginei que
seria.
— Tenho que começar com o molho primeiro.
— Você consegue?
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mulheres aqui. Quer dizer, espero que não haja mulheres neste
momento, já que ele está comigo, mas nunca perguntei isso a ele. Merda,
aqui estou eu fazendo sexo incrível com o meu marido, mas nunca
conversamos.
— O que está errado? – ele pergunta, e vejo que ele está olhando
para mim de onde está no fogão.
— Quer dizer, eu sei que somos casados e tudo, mas nunca
conversamos nada.
— Que tipo de coisas você queria conversar?
— Não usamos proteção.
— Primeiro, acredito que se você não estivesse bem, você não
deixaria. Segundo, não usarei proteção quando foder com você. Você é
diferente. Você é minha esposa e, como eu disse quando nos casamos,
eventualmente precisaremos ter filhos.
— Tomei a injeção...
— Ah.
É quase como se ele estivesse desapontado.
— A questão é que nós dois estamos bem. Não vou foder você com
camisinha.
— Você não pode dormir com mais ninguém.
— Viviana. Não olhei para outra mulher desde que me casei com
você.
Minha boca abre e fecha. O que ele diz é verdade? Quero que ele se
vire para ver se está dizendo a verdade, mas então me lembro do que ele
me disse uma vez. Ele não vai mentir. Se for esse o caso, e acredito que
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preciso dele.
Enquanto ele me penetra e sai de dentro de mim, sua língua imita
seu padrão me fodendo ao mesmo tempo.
Isso começa a construir.
Com o sentimento dentro de mim crescendo.
Seus movimentos se tornam mais erráticos.
A força de seus quadris é mais punitiva.
Ele pulsa dentro de mim e então eu gozo. Nós dois caímos em um
abismo louco que só podemos encontrar nos braços um do outro.
A cabeça de Matteo está apoiada em meu pescoço enquanto nós
dois tentamos recuperar o fôlego. Depois de alguns minutos, nós
recuperamos.
Então ele se levanta e caminha até a pia para pegar uma toalha. Ele
molha com água morna e depois volta para me limpar.
Esse é um gesto doce que não esperaria dele. Mas eu gosto. Assim
que estou limpa, coloco meu roupão de novo, amarro-o na cintura e peço
licença para ir ao banheiro. Depois de fazer minhas necessidades, olho
para meu reflexo no espelho. Minhas bochechas estão rosadas e meu
cabelo uma bagunça. Parece que acabei de fazer sexo na bancada da
cozinha.
Não posso deixar de rir. Quem imaginaria que eu seria essa garota?
Volto para a cozinha e vejo que embora ele fosse esperar para preparar a
lasanha, começou a esquentar o macarrão.
— Você nunca me disse onde aprendeu isso.
— Minha mãe me ensinou um pouco, mas sério, o meu pai me
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ensinou tudo. Ele me disse que o caminho para o coração da minha mãe
foi através do estômago.
— Isso é fofo. – eu provoco.
— Não é exatamente o que eu queria, mas tudo bem.
— Então você ia me dizer por que às vezes gosta de cozinhar?
Ele interrompe seus movimentos, e posso dizer, mesmo observando
os músculos de suas costas, que ele fica tenso. Então ele se vira e olha
para mim. Seus olhos são suaves. Mais suaves do que pensei que seriam.
Com a cor como musgo depois da chuva.
— Quando cozinho, penso neles. Penso na minha família. Passando
tempo juntos...
Ele deixa por isso mesmo. Não estou dizendo mais nada. Mas posso
ler nas entrelinhas, ou talvez em meu coração, espero que sejam essas as
linhas. Mas na minha cabeça, a resposta dele é a seguinte: agora sou sua
família. E é por isso que ele quer cozinhar para mim.
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Não sei por que digo isso a ela. Não sei por que me abro com ela. É
louco. Estou a deixando entrar quando provavelmente não deveria. A
verdade é que ela provou seu valor para mim. Ela provou sua lealdade,
mas ainda assim preciso manter um pouco de distância.
Transar com ela na bancada da cozinha não foi exatamente como
planejei minha noite, mas tenho que admitir que gostei muito.
Agora voltei a cozinhar e ela está sentada bebendo vinho e se
divertindo. Acho que ela também está gostando da vista, porque toda
vez que me viro, a pego me olhando boquiaberta. É um tanto quanto
atraente.
Ainda bem que Lorenzo e Roberto não estão em lugar nenhum
porque gritariam que desisti do meu distintivo de homem. Não desisti, é
claro. Quando chegar a hora e eu precisar ser o executor, o chefe e o
assassino, eu o farei.
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homem iria querer proteger sua filha. Mas ele é um monstro como meu
primo, como o pai do meu primo. Não sou um bom homem, mas nunca
faria o que ele estava tentando fazer com ela. Não para meu próprio
sangue.
Precisando mudar de assunto porque tenho medo de explodir,
levanto minha bebida e tomo um gole. Quando termino, coloco-a de
volta na mesa e olho para Viviana.
— Qual seu filme favorito?
— Sério, essa é sua próxima pergunta?
— Se eu perguntar qualquer outra coisa, qualquer coisa relacionada
ao seu pai, vou explodir. Eu me recuso que esse pedaço de merda
estrague a nossa noite.
— Férias em Roma.
— Mesmo que não seja um final feliz? – pergunto.
— Nem todas as histórias têm finais felizes.
— Você está muito certa.
— Estou surpreso que você tenha visto isso.
Por alguma razão, essa garota me faz dizer coisas que não digo a
ninguém, mas aqui estou, abrindo a boca.
— Eu assisti com meus pais enquanto crescia.
— Sério?
— Eu não mentiria para você.
Não sobre isso, de qualquer maneira.
— Conte-me como isso aconteceu.
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A família.
— Isso é apenas em filmes. Você é minha esposa. Esta agora é sua
família. Não posso prometer que posso lhe contar muita coisa, mas
posso tentar.
— Você acha que vai sair?
— Não tenho certeza. Acho que existe um equívoco de que tudo o
que fazemos é vender drogas e matar pessoas. Também ajudamos
pessoas. Ajudamos as empresas a prosperar. Protegemos as pessoas de
quem gostamos. Tenho certeza de que um dia sairemos do tráfico de
drogas, mas o resto...
Ela balança a cabeça como se entendesse, e uma parte de mim pensa
que sim.
Embora tudo isso seja novo para ela, não é como se ela tivesse
vivido uma vida de ignorância. Homens como o pai dela são a razão pela
qual homens como eu estão nos negócios. Malditos políticos corruptos.
E enquanto eles estiverem por perto, provavelmente estarei por perto
também. Soltei um longo suspiro. Esta noite está ficando mais intensa
do que eu esperava.
— Vou verificar a lasanha. – eu me levanto da cadeira e vou até o
forno. Está pronta, então retiro e coloco no fogão. Viviana está ao meu
lado agora. Ela pega dois pratos e talheres e espera que eu nos sirva.
Não é sempre que estamos sozinhos em casa, e eu posso fazer isso.
Na verdade, não me lembro de ter feito isso. Bem, não desde que meus
pais morreram. Essa foi outra coisa que fizemos, mas isso não conto
para Viviana. Algumas coisas são melhores guardadas para si.
Algumas coisas deixam você fraco.
Nunca posso mostrar fraqueza.
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Abri uma exceção para Viviana não só porque ela é minha esposa,
mas porque preciso que me deixe entrar. Talvez eu não a mate no final.
Desde que ela me mostrou sua lealdade, ela pode permanecer intocada,
ilesa, segura e protegida, mas isso não muda o fato de que ainda preciso
dela.
Dessa forma, porém, ela saberá no que está se metendo e, para que
concorde com meu plano, preciso me humanizar com ela. Pode parecer
frio e calculado, mas é a única maneira de conseguir o que quero.
Talvez ela concordasse prontamente, sem qualquer provocação. Mas
desta forma é mais fácil. Se ela me considera mais suave do que sou, se
ela sente uma lealdade por mim que não sente pelo pai, ela deveria estar
mais apta a fazer o que for necessário para destruí-lo.
Isso pode me fazer parecer uma cobra insensível, mas no meu
mundo existem dois tipos. Há um rato no campo e há uma serpente que
o come.
Essa é a única maneira.
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Jantamos em um silêncio sociável. A comida é tão boa que não me
importo com o silêncio, mesmo que signifique que meus pensamentos
sejam altos e claros e às vezes opressores. A verdade é que, por mais
tempo que passamos juntos recentemente, ainda é estranho. Somos
pouco mais que estranhos, mas agora estamos casados, somos íntimos e
estamos nos conhecendo. Estamos fazendo tudo ao contrário.
Quando dou minha última mordida, coloco o garfo na mesa.
— Essa foi a coisa mais deliciosa que já provei.
Matteo coloca os talheres no prato e depois vira a cabeça para olhar
para mim. Ele parece feliz com minha avaliação. Não é um grande
sorriso que aparece em seu rosto, mas é sincero. É engraçado. Não o
conheço há muito tempo, mas agora posso reconhecer seus gestos. Seus
sorrisos diferentes. Sua linguagem corporal. Eu o tenho observado e
analisado, e ele tem pequenos tiques. Não acho que ele percebe. De vez
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— Estou bem. – digo como uma criança petulante que pensou que
iria tomar sorvete, mas acabou de ser informada de que a sorveteria
estava fechada.
— Não está. Mas sei de algo que vai fazer você se sentir melhor.
Arqueio minha sobrancelha em questão, e ele responde inclinando-
se e passando a língua em minha pele sensível.
Sim.
Isso vai funcionar muito bem.
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Os próximos dias passam em êxtase.
Nós não fazemos muito. Fazemos caminhadas na neve, preparamos
muitas refeições e nos entregamos aos corpos um do outro no que deve
ser cada cômodo da casa.
Foi a semana mais perfeita.
Eu realmente nunca pensei que Matteo pudesse ser tão carinhoso,
nem pensei que ele estaria disposto a passar tanto tempo comigo.
Infelizmente, porém, nosso tempo sozinhos chegou ao fim.
Lorenzo, Roberto e alguns de seus outros homens retornarão dentro
de uma hora. Matteo está lá embaixo, no porão, malhando, e eu estou em
nosso quarto tomando banho e me preparando para o dia.
Odeio que isso tenha que acabar, mas sei que é necessário.
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— Não. – eu admito.
— Então por que se preocupar?
— Ela significa muito para mim. Ela é minha família.
Ele me observa por um momento antes de balançar a cabeça.
— Ligue para ela, então. Se ela responder, se ela disser sim, pedirei
a Luka que providencie isso.
— Posso ir para a cidade?
— Eu preferiria que ela viesse aqui. Onde sei que você está segura.
— OK. Obrigada. – eu me inclino na ponta dos pés e beijo seus
lábios. Depois que ele vai embora, pego meu celular de onde o coloquei
há alguns dias.
Não usei meu celular na semana passada.
Não querendo que nada a destrua.
Verifico se tenho alguma chamada perdida.
Não há nada.
Nem mesmo uma mensagem de texto.
É uma sensação preocupante saber que ninguém sente sua falta.
Pelo menos eu tenho Matteo.
Meus pensamentos me chocam.
Como isso aconteceu tão rápido?
Como é que, em apenas algumas semanas, este homem se enterrou
dentro de mim?
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Foi então que me dei conta de que nem tenho o número do celular
do meu marido.
Encontro Luka no escritório que conheço das minhas “escapadas de
hospedagem”.
— Olá, Luka. Minha amiga Julia precisa que alguém vá buscar ela.
— Tratarei disso, Sra. Amante.
Ouvi-lo me chamar pelo sobrenome de casada ainda soa estranho
aos meus ouvidos.
Parece estranho para mim, mas parece certo.
Depois de terminar isso, vou para a cozinha para tomar um café e
tomar café da manhã.
Encontro Francesca lá dentro. Ela paralisa ao ouvir meus passos.
— Ah, Senhora. Não sabia que você já estava acordada. Por favor,
aceite minhas desculpas. Se você for para a sala de jantar...
— Não há necessidade de pôr a mesa e torná-la formal. Posso comer
aqui.
Como passei tanto tempo nesta cozinha com o Matteo, seria
estranho estar na sala de jantar formal.
Ela parece confusa e abalada com a minha decisão.
— Senhor...
— Está bem. Eu não quero colocar você em apuros. Só não queria
ficar sozinha. – admito.
Ela me dá um pequeno sorriso e acena com a cabeça. — Ok, vou
preparar aqui mesmo.
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Ela se move pela cozinha e pega tudo que preciso, depois sai para
pegar meu café. — O que você gostaria de comer?
— Tudo o que for fácil. Além disso, tenho uma amiga chegando em
breve.
— Vou me certificar de fazer um bom almoço para dois.
Poucos minutos depois, ela me traz uma tigela de pudim de Chia
com frutas frescas e coco. Está perfeito.
— Muito obrigada... – Ela vai se virar, mas não quero que ela vá
embora ainda. — Francesca.
Ela olha para mim. — Matteo disse que você está com ele há anos.
– Seus olhos se arregalam um pouco e percebo meu erro imediatamente.
Ela tem medo que eu saiba sobre seu passado. — Só queria saber sobre
Matteo.
— Não posso falar dele. – Sua resposta é firme.
— Não. Você me entende mal. Ele fez muito por mim na semana
passada e quero fazer algo de bom por ele. Imaginei se alguém sabe do
que ele gosta.
— Não tenho certeza se posso ajudar. – Eu aceno e olho para baixo.
— Mas vou pensar sobre isso.
— Obrigada.
Francesca então sai da cozinha e fico sozinha.
O mesmo resultado de comer na sala de jantar, mas aqui guardo
ótimas lembranças. Memórias que me fazem corar, mas ainda assim me
fazem companhia.
Eu quero fazer algo de bom para ele. Esperançosamente, ela poderá
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É bom vê-la. Não percebi o quanto sentia falta de Julia até que ela
estava na minha frente novamente. Envolvo meus braços em volta do
pescoço dela; ela solta uma risadinha.
Assim que paramos de nos abraçar, ela finalmente se afasta, e é aí
que ela olha em volta.
— É aqui que você está morando?
— Sim. Esta é a casa de Matteo e acho que agora é minha.
O hall de entrada ao nosso redor fica em silêncio. Como uma pausa
significativa, enquanto espero que ela diga mais alguma coisa, mas
quando ela não diz, decido falar.
— Vamos, vamos para a sala. Podemos conversar lá, e você pode
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pouco maluco.
Inferno, para mim parece loucura e tenho todas as informações.
Para ela, ela tem tão pouco disso.
Você poderia contar a ela.
A voz muda e insistente na minha cabeça me interrompe, exigindo
que eu dê voz a ela.
Mas não posso.
Essa foi a estipulação.
Nunca contar a Julia.
Nunca contar a Jonathan.
O dinheiro iria parar.
Fiz tudo o que podia para cuidar da família, tudo para chegar tão
perto de encontrar uma saída.
— Diga-me o que você tem feito? – pergunto, tentando mudar a
conversa de Matteo e eu.
Pela maneira como ela sorri, parece que ela está bem com essa
transição.
— Eu conheci um cara.
— Ah. – eu me animei, feliz pela distração, e por ela. — Ele tem um
nome?
— Não. Vou ser tão suspeita quanto você. Ele é maravilhoso. Sexy.
Ele tem cabelos castanhos, olhos verdes. Ele tem essa arrogância.
— Ok, onde você conheceu o homem misterioso?
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— Em um clube.
— Acha que pode ficar sério?
— Talvez. Nunca se sabe. Talvez ele me leve para uma grande
mansão como esta um dia. – ela ri.
Ouvir sua risada me faz rir também.
— Além do homem gostoso com quem você está transando... como
vai você?
— Quem disse alguma coisa sobre sexo. – Seus lábios se erguem e
sei que ela está brincando comigo. — Claro, que estamos fodendo.
Gosto de vê-la sorrir. Deus sabe que ela passou por uma situação
difícil. Ela merece isso.
Tudo isso.
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Aterrissamos em Albany um pouco depois da uma da tarde.
Esta será uma viagem rápida.
Um almoço tardio com o governador de Nova York em sua mansão.
Nos livros, possuo muitas empresas. Sou um empresário respeitável
que possui propriedades à beira-mar em todos os lugares, então não é
incomum que eu me encontre com ele.
Mas, extraoficialmente, foi ele quem originalmente me avisou de
Marino.
Por mais que Marino tenha tentado fazer negócios comigo no
passado, nunca precisei fazer isso com o governador Thomas. Consigo
realizar a maior parte do que preciso.
Mas meu afastamento do idiota de Jersey acabou me custando caro.
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Olho para o meu celular. Ela achava que era um antigo namorado?
A ideia de alguém falando com ela faz com que minhas mãos se
fechem em punhos cerrados.
Não vou compartilhar minha esposa com ninguém.
posso dizer é que você está no radar de todos. Governador Marino, está
mesmo atrás de você. Você não pode usar nenhuma das rotas originais.
— Disso eu sei.
— Meu melhor conselho é também não armazenar nada no novo.
Levanto minha sobrancelha.
— Marino tem conversado individualmente com todos na Capitania
dos Portos. Ele também tem participado de reuniões com os estivadores,
a Guarda Costeira, etc.
— Homem ocupado.
— Ele está determinado a destruir você.
— E está envolvido com meu primo. – digo.
— Não podemos permitir que isso aconteça, Matteo.
— Eu concordo. Em ambos os assuntos, na verdade.
Ele sabe tão bem quanto eu que, se isso acontecer, ninguém estará
seguro.
Salvatore não ficará feliz em lidar apenas com drogas e golpes.
Ele só tem uma coisa com a qual quer lidar...
Uma empresa de tráfico de bilhões de dólares foi deixada em aberto
quando Cyrus Reed se envolveu e fechou tudo.
Ninguém quer que os italianos ocupem o vazio deixado pelos
russos.
— Meu conselho, se você decidir levar, é trazer e transportar
imediatamente. Coloque-o em algum lugar que ninguém pensaria... até
que esteja pronto para transporte novamente. Eu não quero saber de
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nada. Não quero que meu nome seja mencionado. Eu não gosto...
— Essa parte do negócio está sendo eliminada gradualmente.
Infelizmente, até que meu primo esteja fora de cena, não posso arriscar
que meus homens fiquem com raiva.
— Aja rápido. Fora do radar. Farei o que puder para tirar Marino do
seu pé.
Levanto-me da cadeira e aperto sua mão.
— Obrigado.
— Você não pode perder, Matteo.
— Eu não vou.
Perder não é uma opção. Vou queimar tudo, queimar tudo se for
preciso, antes de deixar um homem sádico como Salvatore liderar.
Agora de volta ao avião, enfrento Lorenzo e Roberto.
Eles estão sentados bem na minha frente.
— Ele quer que movamos a carga assim que ela chegar ao porto.
Ele não acha que as docas sejam seguras. O governador Marino está
furioso desde que me casei com Viviana. O homem fará tudo o que
estiver ao seu alcance para corrigir o mal que pensa que lhe cometemos.
O governador Thomas acredita que o melhor plano é um local obscuro,
com espaço de armazenamento suficiente, mas não óbvio.
Cada um de nós fica quieto. Encontrar um local próximo que
ninguém pense é a parte difícil.
— E o restaurante da família de Marco?
— Você quer armazenar nossas drogas em um restaurante? Planeja
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quarto e minha antiga cama. Meu rosto fica quente e tenho certeza de
que estou vermelha como uma beterraba.
— Na verdade, tenho algo que preciso fazer. – digo enquanto corro
para sair da sala com a pouca dignidade que me resta.
Boa jogada, Matteo. Boa jogada.
Depois do meu encontro embaraçoso, fui para a academia e malhei.
Depois li um pouco de um livro, mas agora não há nada para fazer
enquanto fico sentada na sala como uma garota patética e espero.
A verdade é que já é hora de ganhar dinheiro. Tenho dívidas que
precisarei pagar em breve.
Estou sentada na cadeira, lendo, quando ouço passos. Não levanto
os olhos até que eles estejam bem na minha frente. Eu estico o pescoço
para ver quem é, mas pela maneira como minha pele se arrepia,
hiperconsciente de sua presença, sei que é ele.
Nossos olhares se cruzam e seus olhos estão mais escuros que o
normal.
Nenhum de nós diz nada.
Incapaz de aguentar mais, fico de pé e me movo até que meu peito o
toque, e então juro que subo nele como um macaco subindo em uma
árvore.
Meus braços envolvem seu pescoço e minhas pernas envolvem sua
cintura.
Nossos lábios colidem em seguida, e sua boca é o paraíso.
Eu poderia beijá-lo para sempre.
Esse pensamento deveria me assustar, e na verdade assusta um
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se move para o meu pescoço. Sua língua desce pela minha garganta e
pela minha clavícula até chegar à cavidade do meu pescoço.
Ele então se inclina e abre minha camisa. Os botões abrem o tecido
com um som de estalo.
— A porta...
— Não me importo se eles virem. Deixe-os me ver adorando você.
Estou prestes a protestar, mas então sua boca e língua me calaram.
Não me restam objeções.
Algum tempo depois, e depois de dois orgasmos, estou exausta.
Ainda entrelaçados nos braços um do outro, respiro fundo e
satisfatoriamente antes de falar.
— Você teve uma boa viagem? – pergunto.
Ele se move para tirar o peso do meu corpo antes de se sentar, me
deixando ainda nua no sofá da sua sala. — Fiz o que precisava fazer.
— O que?
— Eu estava com o governador de Nova York.
— Isso era sobre meu pai?
— Era.
Vou me sentar e vestir minha blusa, embora seja difícil fazer isso
com metade dos botões faltando.
— Há alguma coisa que você precisa me dizer?
Sua cabeça se inclina para baixo e depois para cima enquanto ele
balança a cabeça.
— Não agora. Estou trabalhando em algumas coisas...
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Marco se senta na minha frente e balança a cabeça enquanto falo,
mas não diz nada.
Não consigo imaginar que ele me dirá não, mas poderia. Destaco
todos os detalhes, sendo totalmente sincero sobre tudo. Ele precisa
conhecer todos os riscos envolvidos, mas também precisa conhecer as
recompensas.
Se ele me abrir a sala da Lei Seca para guardar as drogas, pagarei a
ele uma boa comissão. Sua lealdade também não será esquecida.
Se ele for pego e algo acontecer com ele, sua família sempre estará
protegida por mim.
Quando termino de falar, faço sinal para ele falar.
— Sim.
— Há alguma pergunta? – pergunto, já que isso é muito para
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absorver.
— Confio em você, chefe.
— Prometo a você, se alguma coisa...
— Eu sei. – ele diz com um sorriso. Levanto e aperto sua mão.
Marco está comigo há muito tempo. Antes de mim, ele estava com meu
pai. Ele está fora da maior parte do negócio ultimamente, mas pelo que
Lorenzo me contou, sua família tem lutado sem o dinheiro extra que
trabalhar mais para mim teria trazido.
Feito isso, deixo meus homens e vou em busca de Viviana. Depois
de procurar por todos os cômodos do andar principal, encontro-a em
nosso quarto.
A palavra “nosso” vem tão naturalmente que faz meus pés pararem.
Você está ficando muito confortável, Matteo.
Ela está no canto, sentada em frente a uma penteadeira que meus
empregados colocaram no quarto para ela. Ela está passando batom.
— Oi. – ela diz para mim. Ela não se vira. Em vez disso, ela fala
comigo através do espelho.
Aproximo-me até ficar atrás dela e então me inclino e dou um beijo
em sua testa. — Você está pronta para ir jantar?
— Ir? Estamos saindo?
Esta noite decidi nos levar ao restaurante do Marco para conhecer o
espaço.
Com Viviana a tira colo, partimos. Desta vez, para ficar fora do
radar, saímos pelos fundos.
Vejo que Viviana está confusa. Ela está espiando pela janela do
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banco de trás. Seu corpo inteiro não está virado, apenas seu rosto, mas
quando saímos pelo portão secreto dos fundos, ela olha em minha
direção.
— É a nossa saída secreta.
— Posso ver isso, mas por que precisamos sair por aqui? – Às vezes
esqueço que Viviana não é como nenhuma outra mulher que já conheci.
Ela é bem versada na vida pública. E embora ela provavelmente entenda
que deve sair pela porta dos fundos por causa do pai, posso entender por
que ela parece preocupada.
— Aconteceu alguma coisa que eu não sei?
Debato se devo contar a verdade a ela agora ou se devo esperar até
outra hora. Opto por esperar. Uma pequena parte de mim ainda se
pergunta se posso confiar nela.
— Não. Nada aconteceu. Mas não podemos estar muito seguros.
Meu primo tem estado quieto, mas eu não duvidaria que ele tivesse
alguém vigiando os portões. Normalmente, eu não me importaria, mas
como tenho você comigo, prefiro ser mais cuidadoso.
Viviana deve gostar da minha resposta porque ela vira o corpo
totalmente em minha direção, desafivela o cinto de segurança e se
aproxima. Agora sentada no banco do meio, ela reajusta o cinto e deita a
cabeça no meu ombro.
— Então, vamos jantar? – ela pergunta.
— Vamos.
— Para onde estamos indo?
Posso contar a ela ou não, mas por alguma razão, brincar com ela
não tem mérito. Talvez seja porque eu sei que ela é um cachorro com
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lá para nos receber. Ele nos leva até uma mesa ao lado da grande janela
saliente com vista para a água.
Há algumas velas já acesas. A mesa está posta e parece que eu já
tinha planejado isso. Vou ter que juntar algum dinheiro extra para
agradecê-lo.
— Marco, esta é minha esposa, Viviana. Viviana, este é Marco.
Eu os apresento. Marco estende a mão e pega a mão pequena de
Viviana. Ele dá um beijo no topo da mão dela. Se ele não fosse tão
velho, velho o suficiente para ter a idade do meu pai, eu provavelmente
lhe daria um soco por tocar na minha esposa, mas posso dizer que não
há desejo nisso, apenas respeito.
— É um prazer conhecê-la, Viviana. – Seu forte sotaque italiano
arrasta o nome dela em sua língua como pérolas.
Ela sorri calorosamente para ele. — O prazer é todo meu.
Nós nos sentamos, com nossas cadeiras sentadas uma ao lado da
outra. Assim que não estamos mais de pé, coloco a mão na perna dela.
Ela está olhando pela janela, apreciando a vista.
— Este lugar é perfeito.
— Bem, é o mínimo que posso fazer por deixar você tanto sozinha
em casa.
— Sobre isso... – ela parece... diferente. Há um tom severo em sua
voz.
— Sobre o que?
— Estou entediada. – ela faz beicinho. — Sem você lá para me
distrair, preciso de algo para fazer.
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— OK.
— OK?
— Sim. Não acho que conseguir um emprego na cidade agora seja
tão viável, mas talvez possamos encontrar algo que te faça feliz por
enquanto.
— Qual? – Sua testa franze.
— Você pode ajudar Giana.
— Ajudá-la com o quê?
— A família administra muitas operações diferentes.
— Eu não acho...
— Não esse tipo de operação. Nada com essa parte dos negócios.
Uma das coisas em que Giana trabalha é o nosso trabalho de caridade.
— Você faz caridade?
— Claro, eu faço caridade. Que tipo de homem você pensa que eu
sou? Esqueça isso, não responda.
Viviana estende o braço por cima da mesa e segura minha mão.
— Acho que você é um bom homem. Acho que para a maioria das
pessoas você finge ser diferente, mas eu vejo você. Você não é o vilão
que a maioria das pessoas diz que você é.
— Embora aprecie o sentimento, sou exatamente o monstro que
dizem que sou.
Sua cabeça se inclina para o lado como se estivesse avaliando o que
eu disse, mas em vez de parecer chocada ou assustada, ela olha para
mim com olhar de adoração. Olhar que me faz pensar que posso contar
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tudo a ela. Mostrar tudo a ela. Conversar com ela sobre tudo.
— O que é? – ela pergunta, e parece que consegue me ler mais do
que eu imaginava. — Há algo que você não está dizendo.
— Preciso de sua ajuda.
— OK.
— Você ainda não sabe o que estou pedindo.
— Eu não ligo. A resposta ainda está é sim.
— Preciso de sua ajuda para destruir seu pai.
Pronto, eu disse isso. O desafio foi lançado, então agora vamos ver
como ela responde.
— Tudo o que você precisar, Matteo. – ela se inclina para frente,
colocando seus lábios nos meus. — Sou sua.
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Fico surpresa com suas palavras, mas acima de tudo, estou chocada
com a disposição que me ofereço para ajudá-lo.
Ele nem me disse o que isso implica, mas eu nem me importo.
Eu estou dentro.
Farei qualquer coisa por Matteo.
O pensamento é revelador para mim.
Não tenho certeza de quando isso aconteceu, mas em algum
momento nos últimos dois meses comecei a sentir uma conexão com ele.
Uma lealdade a ele que nunca senti por mais ninguém. Claro, sinto
lealdade a Julia, mas isso é diferente. Isso parece diferente.
Não estou pronta para dizer uma palavra sobre como é isso. Ainda
estou com muito medo de admitir que o que está acontecendo aqui é
mais do que jamais pensei que seria, e estou muito preocupada que algo
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dê errado.
— Tem certeza? Porque assim que você concordar, vou começar a
lhe contar coisas que provavelmente não deveria, e se algum dia você
for contra mim...
Levanto minha mão, sabendo muito bem que há uma ameaça vindo
em seguida. Eu nunca iria contra ele. Ele não precisa me dizer que vai
me matar porque, independentemente disso, mesmo que essa seja a
consequência, eu não faria isso.
— Eu não vou.
— Sei que você não vai, e é por isso que estou lhe contando isso.
— Você acha que deveríamos esperar até chegarmos em casa?
— Não há muitos detalhes. Quando tivermos mais detalhes,
falaremos sobre isso em casa. Por enquanto, quero que você fale com
seu pai. Quero que o faça pensar que está concordando com o plano
dele. Quero que você o alimente com informações falsas.
Seu plano não é tão diferente do meu plano original. Originalmente,
eu esperava usar Matteo como meio de destruir meu pai, e agora ele está
me oferecendo o mesmo.
Eu me inclino para mais perto dele.
— Quando concordei em me casar com você... – digo. — Esperava
que você pudesse me ajudar com meu problema.
— E que problema é esse, em si?
— Assim como você, meu problema é meu pai.
À menção do meu pai, a mandíbula de Matteo contrai. — Estou
ouvindo.
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— O que aconteceu?
— Ele devolveu o cachorrinho ao abrigo para cães.
— Isso é horrível.
— Foi, mas fiquei feliz porque o cachorrinho não se machucou.
Mais tarde, descobri que minha babá, Ana, soube do ocorrido e pediu a
uma amiga dela que adotasse o cachorrinho. Ana costumava me trazer
fotos.
Outra lágrima cai, mas não foi pelo cachorro. Esta é por Ana.
— Olhe para mim. Eu sou um desastre. Aqui está você, me trazendo
a este restaurante incrível, e estou estragando tudo. Rápido, me diga
alguma coisa, qualquer coisa, para que eu esqueça o passado.
— Este lugar costumava ser usado durante a Lei Seca para
armazenar bebidas contrabandeadas. – diz ele, gesticulando ao redor do
restaurante. O andar debaixo é uma antiga adega.
Inclino-me para frente na cadeira, com os cotovelos apoiados na
mesa. — Isto é tão legal.
— Não é?
— Eu adoraria ver isso.
— Depois do jantar.
Concordo com a cabeça, animada com a perspectiva de ver algo
assim.
Nós não pedimos. Em vez disso, Marco nos diz que nos trará todos
os pratos especiais da casa. E como os outros lugares que visitamos,
Matteo nunca precisa pagar.
Quando a comida termina, Matteo se levanta e segura minha mão.
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Não tenho certeza de qual foi a abordagem do meu pai. Por que ele
contratou os dois filhos de Ana. É quase como se fosse outra coisa me
atormentando. Outra maneira de me controlar.
Teria funcionado também. Especialmente se eu nunca tivesse
conhecido Matteo.
Mas quando lhe contar tudo, quando lhe disser tudo, cada detalhe
sórdido, ele me ajudará a traçar um plano.
Eu sei que ele vai.
Não há outra saída para eles ou para mim, a menos que ele faça isso.
— Por favor, não faça nada precipitado. Sei que parece o emprego
dos sonhos, mas trabalhar para meu pai nunca é uma boa ideia.
— Alguns de nós não podem se dar ao luxo de mais nada.
— Eu... eu...
— Se as contas forem pagas...
— Não se preocupe com isso. As contas serão pagas.
— E como você saberia? Você não está mais lá para saber.
— Julia. – Cruzo o espaço e sento no mesmo sofá que ela. Eu agarro
a mão dela. — Prometo, não vou deixar nada de ruim acontecer.
Ela me encara, mas seu olhar, embora em mim, parece vago, como
se ela não me visse. Como se ela nem estivesse lá.
Demora um segundo, mas, eventualmente, ela balança a cabeça e
consegue se recuperar.
Ela se levanta do sofá e aponta para a porta.
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Caímos numa rotina.
Uma bastante agradável nisso.
Trabalho durante o dia e à noite me dedico à minha esposa.
Duas vezes por semana vamos ao restaurante do Marco.
Gosto de ir para ter certeza de que tudo está em ordem para o envio.
Quando chegamos, eles desfazem as malas e, quando saímos, está
pronto.
Essa noite.
— Você realmente ama o restaurante do Marco. – ela diz enquanto
abotoa a blusa e depois se senta em frente à penteadeira para se maquiar.
Eu aceno com a cabeça, mas pelo seu reflexo no espelho, posso ver
um vinco em sua testa.
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O tempo para enquanto ouço o cano girar e então o gatilho é
puxado.
Nada.
Apenas um clique.
Eu estou viva.
Mesmo que apenas por pouco. Meus soluços vêm mais rápido
agora. Com as lágrimas escorrendo pelo meu rosto.
O que acontece agora? Ele puxará o gatilho novamente? Não é esse
o jogo?
Meu corpo treme.
Quando ele puxou o gatilho, eu tinha certeza de que morreria. Em
vez disso, meu corpo caiu no chão porque minhas pernas não conseguem
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mais me sustentar.
— Por favor...
— Pare de falar. – ele murmura entre os dentes. Ele dá um passo
para o lado, me deixando deitada no cascalho.
— Coloque-a no carro. – ele ordena a seus homens.
— Não. Você tem que acreditar em mim.
Ele se aproxima. A ponta do seu sapato preto brilhante está
perigosamente perto do meu rosto. — Tem vontade de morrer? – ele diz.
Então ele está recuando. Nunca vi ódio antes como ele me odeia.
— Por favor. – sussurro em meio aos soluços, mas é tarde demais.
Ele não está mais olhando para mim. Ele está voltando para casa. Mãos
ásperas agarram meus braços e, antes que eu possa contestar, sou
levantada.
Então as portas se abrem e sou jogada no banco de trás do carro. Eu
me movo para sair, mas sou impedida.
— Fique feliz por não estar no porta-malas. Na verdade, fique feliz
por não estar morta. – Eu não falo, mas aceno. Eu deveria estar morta.
Para todos os efeitos, foi isso que Matteo disse que faria comigo.
Ele acha que sou uma traidora. Eu não sou. Fomos tolos em não
tomar precauções. É óbvio que eles nos seguiram.
— Devíamos simplesmente matá-la. – diz um de seus homens a
Roberto.
— O chefe disse para levá-la de volta. – Levá-la de volta? Voltar
para onde? Parece que um atiçador em brasa está sendo enfiado em meu
peito, onde deveria estar meu coração. No entanto, meu coração já
estava partido antes de saber que estava sendo deixada na casa do meu
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Meu pai não descansará até que eu sofra pela minha insolência.
Boa jogada, marido.
Esfrego a pele molhada e não quero mais desmoronar. Já é ruim o
suficiente eu estar aqui. Não vou deixar essas pessoas me verem
desmoronar.
Abaixo da minha calça, tenho certeza de que minhas pernas estão
arranhadas por cair no chão.
A cada passo que dou, minhas pernas protestam, mas coloco um
sorriso grande e falso.
Não lhes mostre dor.
Meu sorriso é contundente o suficiente para cortar vidro.
O carro derrapa, levantando cascalho. O ar estava denso com o
cheiro de borracha queimada.
Fico ereta e orgulhosa. Endireitando os ombros, caminho com
determinação até a porta gigante de mogno.
A porta se abre e meu pai está parado na soleira. Ele parece
satisfeito consigo mesmo.
— Isso não demorou muito. Vejo que ele já está entediado com
você. – Eu me recuso a deixá-lo me ver sofrer, então dou um sorriso
falso.
— Tivemos uma briga e, como desisti do meu apartamento, decidi
vir para cá. Não há nada para se gabar. Tenho certeza de que tudo
voltará ao normal amanhã.
Eu minto. Não há como desmoronar na frente dele.
— Eu duvido disso. Mas acredite no que quiser. Eu teria preferido
que você o mantivesse sob controle um pouco mais, mas tenho certeza
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— Por que a deixou ir? – Sua voz diminui. Ele está me fazendo uma
pergunta que não quero responder.
Ele está me perguntando se eu me apaixonei por minha esposa.
Em vez de responder, estendo a mão sobre a mesa e pego a garrafa
de vidro que está ali. Ao lado estão copos vazios.
— Quer beber comigo? – Quando ele balança a cabeça, sirvo uma
bebida para nós dois. Deslizo a dele para ele, levanto a minha e tomo um
gole.
— Não estou apaixonado por Viviana. – respondo, mas não posso
negar que há uma sensação estranha dentro de mim. Parece que estou
vazio. É um sentimento que nunca senti antes, nem mesmo quando meus
pais morreram. Mas não digo isso a ele. Em vez disso, bebo outro gole.
Desta vez, quando a coloco sobre a mesa, com o líquido caindo no vidro.
— Matá-la teria sido muito fácil e não teria ajudado a nossa causa. –
digo finalmente.
— Então, você tem um motivo para mantê-la viva? – ele pergunta.
— O celular dela ainda está grampeado. A bolsa dela ainda está
grampeada.
— Você planeja usá-la.
— Parece justo.
— E então, se ela não for útil. E se o pai dela não cair na armadilha?
— Bem, então talvez tenhamos sorte e ela acabe nas mãos de
Salvatore, afinal.
— E você ficará bem sabendo o que ele provavelmente fará com
ela?
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selado.
No dia seguinte, encontro-me na minha sala de vigilância, curioso
para ver o que a noite reservou para minha querida esposa.
— Algum telefonema? Alguma coisa importante?
— Não. Nada.
— E a escuta na bolsa, qual era o áudio? – Meus homens olham
para mim, mas não falam.
— Diga-me.
— Ela estava chorando. Ela se manteve firme enquanto seu pai a
repreendia, mas quando ficou em silêncio, ela chorou. Provavelmente
depois que ele a deixou sozinha.
Ouvir que ela chorou deveria me fazer sentir melhor, mas não faz.
Não sabemos por que ela chorou. Talvez porque o pai dela mais
uma vez a tenha sob seu controle, o que é a verdade. Sempre soubemos
que ele tinha. Nós simplesmente não sabíamos a coisa interessante que
ela iria me contar na noite em que decidiu me trair. Volto-me para
Lorenzo.
— Você precisa descobrir agora qual é o segredo dela.
— Você não acha que nossos recursos serão melhor atendidos se
encontrarmos seu primo?
Ele está certo, está, mas preciso saber de qualquer maneira. Uma
pequena parte de mim pensa que foi por isso que ela decidiu me trair. O
que quer que seu pai esteja escondendo sobre ela é a chave.
— Faça as duas coisas. – digo, e então me viro e saio furioso da
sala.
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embora.
Tenho certeza de que está planejando a anulação do meu casamento
agora. Tenho certeza de que os advogados dele já estão aqui redigindo
os papéis. Tenho certeza de que Salvatore está esperando por mim.
Salvatore, um homem que até Matteo diz que eu deveria temer.
Como meu pai pode se vender para esse homem? Levanto da cama
e vou até a cômoda, onde joguei minha bolsa, pego o meu celular e
começo a procurar para ver se tenho alguma ligação perdida.
Não que eu achasse que Matteo iria me ligar, mas ainda assim
verifico, espero, sonho e então, como esperado, fico decepcionada. Não,
essa não é uma palavra forte o suficiente.
Estou arrasada.
Um suspiro trêmulo e audível escapa da minha boca enquanto vou
para o banheiro anexo ao meu quarto.
O que está olhando para mim é assustador.
Meu cabelo escuro, normalmente liso, está ondulado por causa da
umidade das lágrimas. Meus olhos, como eu suspeitava, estão vermelhos
e inchados. Meu nariz parece inchado e sei que meu lábio está seco e
coberto de sangue no local onde me mordi.
Viro-me e ligo a água do chuveiro, então, quando o vapor se espalha
ao meu redor, tiro a roupa. Ainda estou com as mesmas roupas que usei
ontem. Uma vez nua, entro sob a água escaldante. Minha pele queima,
mas a dor é bem-vinda. Tudo machuca minha pele, mas me faz bem.
Nunca deveria ter me apaixonado por ele. Eu nunca deveria ter
confiado nele com meu coração, porque agora ele o arrasou. Parte de
mim quer resolver isso, bolar um plano, mas outra parte, uma parte
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Tento ligar para ele novamente, mas desta vez minha ligação não é
completada. Estou realmente sozinha. Sem a ajuda de Matteo, não tenho
escolha. Eu tenho que enfrentar isso sozinha.
Arrumo meu cabelo e tiro uma roupa velha do closet, depois pego
minha bolsa. Quem sabe se estamos indo para algum lugar. Talvez eu
mesmo tenha a oportunidade de matá-lo, mas duvido muito.
Desço as escadas e encontro meu pai em seu escritório. No canto da
sala está Salvatore Amante. Seus olhos estão focados em mim, focados
intensamente. Ele cruza a distância. Devorando o espaço, como um
carnívoro faminto numa pradaria de ovelhas.
— Deixe-nos. – ele diz ao meu pai, e fico imediatamente assustada.
Dou um passo para trás. Minhas costas batem na porta agora fechada.
Ele se aproxima. Seu grande corpo está pairando sobre mim. Olho ao
redor da sala, procurando uma maneira de escapar. Eu poderia usar a
porta atrás de mim. Mas do jeito que seus braços me bloqueiam, não
tenho certeza se conseguirei.
— Entendo por que meu primo roubou você de mim.
Ele se inclina, com seu rosto muito próximo do meu. Posso sentir
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sua respiração contra minha bochecha. Eu me movo para virar, mas sua
mão levanta e agarra meu queixo.
— Solte-me. – digo.
— Não. Eu não acho que vou. Seu sorriso sarcástico faz um arrepio
percorrer minha espinha. Ele parece assustador e, pela primeira vez,
estou com medo de verdade.
Nunca tive tanto medo de Matteo.
Seu aperto em minha mandíbula é forte, mas diminui enquanto
desliza pelo meu pescoço.
— Pelo que ouvi, meu primo gostava muito de você. Posso ver o
motivo. – diz ele enquanto continua a trilhar seu toque pela curva do
meu pescoço.
— Por favor, não me toque.
Ele lambe os lábios e o medo dentro de mim se multiplica. Meu pai
realmente deixará que ele faça isso comigo? Vai deixá-lo me machucar?
Como se estivesse lendo minha mente, ele sorri, mas me solta.
— Que pena. Prometi ao seu pai que não tocaria em você, não até
matar meu primo e me casar com você. Aparentemente, ele não acredita
na minha palavra de que irei ajudá-lo.
— Você iria?
Ele sorri novamente, com as palavras que ele não diz tão claras
quanto o dia... não.
— Por que eu? Por que sou importante para este acordo?
— Além do óbvio, o acordo com seu pai para o controle total de
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A guerra paira no ar.
Todos os meus homens e eu ficaremos no complexo da cidade. Faz
mais sentido. Salvatore não sabe de sua existência. No entanto, não tem
sido tão fácil fazer remessas.
O que não é bom para os negócios.
Eles atacaram todos os antigos armazéns que mantive. Os originais
que datam da época do meu pai. Felizmente, não encontraram aquele
que usamos atualmente.
Mas ainda precisamos fazer entregas.
Meus homens estão ansiosos. Porra, neste momento, eu também
estou.
Não houve nenhuma palavra sobre nenhuma escuta em Viviana. É
como se ela fosse um fantasma.
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Ela não tentou me ligar novamente. Não que a ligação dela seria
atendida se ela tentasse, mas ainda assim. Ela nem tenta ligar para a
amiga. Quanto a escuta em sua bolsa, ela não foi a lugar nenhum. Até o
rastreador GPS mostra que ela não saiu da mansão durante todo o tempo
que esteve lá.
O celular toca na sala de vigilância. Roberto atende a ligação. Eu o
ouço falando, mas não consigo entender muito. Então ele desliga.
— Estávamos certos.
— Sobre?
— Marino está seguindo seu plano original. – esclarece.
Eu arqueio minha sobrancelha.
— Salvatore esteve na casa há alguns dias.
Meu punho bate na mesa. — Por que só estou sabendo disso agora?
Mas você sabia. Ela disse a você. Ela avisou que ele estaria lá.
— Eddie não conseguiu nos avisar.
— E Viviana? – Minha boca seca quando digo o nome dela. — Ela
está... – eu me interrompo. O que quero dizer: ok, ferida, morta? Porra.
Eu nem sei como me sinto sobre todas as opções.
— Eddie disse que Salvatore ficou sozinho com ela. – Meu punho
se fecha. — Mas não demorou muito e ele não ouviu nada.
Isso não me faz sentir bem, de qualquer maneira. Quem sabe o que
aconteceu atrás de uma porta fechada?
— Ela estava carregando sua bolsa? – pergunto, e Tony se vira para
mim.
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Felizmente, não tive desentendimentos recentes com Salvatore.
Ele não esteve aqui. A presença dele, apenas uma lembrança agora,
como uma miragem que desaparece e você gostaria de nunca ter visto.
Isso o lembra de quanto perto você esteve de escapar de um destino pior
que a morte, mas assim que você foi salvo, nada disso era real.
Eu estava perto de provar a liberdade.
Se eu tivesse feito algo a respeito antes. Confiei em Matteo antes.
Mas, infelizmente, não fiz e agora estou presa aqui, ganhando tempo.
A porta do meu quarto se abre e dou um pulo para trás, esperando
ver Salvatore. Não é ele, e fico surpresa ao ver esse homem parado no
meu quarto. Ele nunca esteve perto de mim. Ele nunca falou comigo.
— O que você quer? – murmuro.
— Vou tirar você daqui. – ele estreita os olhos.
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— Eu não entendo.
Seus olhos são escuros e ilegíveis. Por que ele está me ajudando?
— Falei com Matteo. Ele quer que eu tire você daqui. Meu coração
começa a bater no meu peito. Ele finalmente acredita em mim.
— OK.
— Precisa de alguma coisa? – ele pergunta.
Olho ao redor do quarto, procurando por qualquer coisa que eu
queira levar. Pego minha bolsa e jogo meu celular nela.
— Algo mais?
— Não. – eu balanço minha cabeça.
— OK, vamos lá. Temos que sair pelos fundos, para que ninguém
nos veja.
— Por que está me ajudando? – pergunto novamente, sem entender.
— Estou trabalhando para Matteo. – ele esclarece. Estreito os olhos,
mas ter um espião dentro de casa é algo que Matteo faria. Juntos,
pegamos a escada dos fundos e descemos por um corredor longo e
estreito.
Eventualmente, leva à cozinha. Está completamente vazia e me
pergunto se foi planejado ou apenas um golpe de sorte. Ele abre a porta
dos fundos e para logo em frente a um SUV preto.
— Você precisará se abaixar enquanto passamos pela segurança.
Aceno com a cabeça, vou para o banco de trás e rastejo pelo chão
até ficar quase enfiada o mais próximo possível sob o assento da frente.
Ainda bem que sou baixa, ou esse plano nunca teria funcionado.
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Então vejo o carro parar, enquanto nosso carro desacelera quase até
parar.
É ele.
Assim paro de se mover. Abro a porta do carro antes mesmo que ele
pise no freio. Quando estou do lado de fora, bem na frente do capô do
outro carro, ouço duas portas se abrindo.
Uma vem atrás de mim. A outra veio na frente do meu carro.
Matteo sai. Ele está perto, mas não o bastante. Seus olhos
encontram os meus, mas sinto como se tivesse levado um soco. O olhar
que ele me dá é o mesmo da última vez que o vi.
Ainda ódio.
Ainda dói.
Ainda com seu desejo de me ver morta.
E então eu sei a verdade.
Ele não está aqui para me salvar. Ele está aqui para me matar.
Eu me viro rapidamente, olhando para os olhos escuros que estão
estreitados. Implorando para que ele me salve. Para me levar de volta.
— Obrigado, Eddie, por me ajudar a recuperá-la. – Matteo ri atrás
de mim.
Sombrio e ameaçador. Eu deveria estar com medo. Eu deveria me
virar e implorar pela minha vida, mas não posso. Então algo mais me
atinge e fico paralisada no lugar ao ouvir o nome que ele disse.
Eddie...
Olho para os olhos escuros, escuros como antes, ainda ameaçadores.
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Tudo acontece rápido. Primeiro, vejo minha esposa correndo em
minha direção.
Algo muda nela. A mudança foi impressionante.
Um olhar de compreensão surgiu em suas feições e então ela pulou
na minha frente.
O som do gatilho, de uma arma disparando e de uma bala cruzando
pelo ar ecoa em meus ouvidos.
Eu me preparo para o impacto.
Mas isso nunca acontece.
É quando eu a sinto. Não posso fazer nada além de observar. Ela
está ali, bem na minha frente, e então ela não está.
À distância, posso ver meus homens correndo em direção a Eddie.
Sua arma ainda está em sua mão, apontada para mim.
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— E... eu não sei. – respondo, com a minha voz baixa, meu tom
embargado.
Tudo dentro de mim se quebra quando vejo a mulher que amo no
chão.
Lorenzo se move sobre ela, inclinando-se.
Não consigo encontrar forças para verificar.
Normalmente forte, ela roubou minha força.
Quando ela se moveu na minha frente, tudo mudou.
— Ela está viva.
Como um botão pressionado em meu coração, suas palavras me
trazem de volta à vida.
— Precisamos sair daqui. Precisamos da ajuda dela.
— Vou ligar para o médico.
Ele não precisa esclarecer. Temos instalações de última geração no
complexo. Ela estará mais segura e confortável no hospital que tenho.
Meu médico e a equipe que ele trará com ele garantirão que ela esteja
bem.
— Precisamos movê-la. – diz ele. — Com cuidado. – Juntos,
Lorenzo e eu pegamos Viviana e a colocamos na traseira do SUV. Entro
com ela, segurando sua cabeça. Ela está inconsciente. Pressiono meu
dedo em seu pescoço, certificando-me de que ela está viva.
Por enquanto, ela está. Mas a cada segundo que passa, o batimento
cardíaco dela fica cada vez mais suave. O bom é que o complexo fica a
menos de dois quilômetros de distância. É uma das razões pelas quais
escolhemos este local. Parece que uma eternidade passa enquanto
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percorremos a distância.
Cada segundo passa cada vez mais.
Não consigo parar de vê-la pulando. Não consigo parar de ouvi-la
gritar. Esse tempo todo pensei que fosse ela, quando, na verdade, era eu.
Meu homem era o traidor. A confiança que depositei no meu homem é a
razão pela qual Viviana está deitada em meus braços, sangrando.
Deveria ser eu.
Eu deveria ser o único a atirar.
Nunca vou me perdoar se ela morrer. Sei disso com toda minha
vida.
E depois disso, vou queimar tudo para deter meu primo, para deter
Marino.
Para buscar vingança.
Não apenas pelo que fizeram comigo, mas por causa dela.
Eu deveria ter confiado nela, mas não confiei.
Passarei o resto da minha vida tentando provar a ela que a amo.
Tentando ser um homem melhor para ela.
Dou um beijo em seus lábios.
Sua cabeça está apoiada em meu colo. Ela não se move, mas por
enquanto ainda está viva.
Meu dedo ainda sente o pulso que a mantém respirando. Mesmo que
seja leve, está lá.
Logo estamos parando nos portões e então estamos na entrada da
garagem.
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machucar novamente.
— Você me machucou. – sussurro. — Você ia me matar. –
Lágrimas escorrem pelo meu rosto. — Por que estou aqui?
Ele estende a mão e pega minha mão. — Você está aqui porque me
salvou. Você está aqui porque estava certa. Você está aqui porque eu te
amo. – Devo parecer atordoada porque ele leva minha mão à boca. —
Eu amo. Eu te amo. Demorei muito para perceber, mas você é tudo para
mim, Viviana.
— Mas você queria me matar.
— Eu realmente não fiz isso. Pensei que poderia. Mas quando puxei
o gatilho, percebi que te amava. Eu estava com muito medo de admitir
os sentimentos que tinha. Com muito medo de me permitir isso, mas
quando vi você caída no chão, percebi que faria qualquer coisa para
protegê-la.
O quarto fica em silêncio. Sua confissão pairava no ar. Minha
própria declaração pesa muito na minha língua, mas não tenho certeza se
posso contar a ele. Se posso confiar nele com meu coração novamente.
— Não precisa dizer isso de novo. Eu te ouvi. Eu fui um idiota, mas
isso não significa que não a ame. Isso não significa que suas palavras
não estejam gravadas para sempre em meu coração. – Às vezes esqueço
que Matteo pode ver através de mim. Ele vê tudo. A única vez que ele
ficou cego foi porque pensou que eu o traí.
Posso perdoá-lo?
Posso nos dar outra chance?
Depois do que ele fez comigo e me fez passar. Posso superar isso?
Devo superar isso?
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— O que você quer dizer? Ele trabalhou para mim. Ele era meu
informante.
Meus olhos se arregalam e eu agarro sua mão. — Matteo. Ele não é
assim. Ele nunca foi seu homem. Ele é do meu pai.
— O que?
— O nome dele nem é Eddie. O homem que me trouxe até você, o
nome dele... é Jonathan. Ele é irmão de Julia.
— Esse tempo todo, porra. – Sua mão levanta e puxa a raiz do
cabelo. — Como não vi isso? Até investiguei a família de Ana, mas não,
nunca o conheci. Ele passou pelas minhas verificações de segurança.
— Quando ele começou a trabalhar para meu pai, sua aparência
mudou drasticamente. Achei que fosse por causa do novo emprego, mas
agora vejo que foi para mudar a aparência dele para te enganar. Meu pai
realmente pensou em tudo. Mas o que não entendo é por que tentar
matar você? Por que ele faria algo assim pelo meu pai? A menos que
meu pai lhe contou a verdade. A menos que ele o esteja chantageando
também.
— Chantageando? Verdade? O que você não está me contando?
Já adiei isso por tempo suficiente. É hora de contar tudo a ele.
— Quando eu era criança, tive uma babá. Ela começou a trabalhar
para meus pais quando eu era pequena. Ela morava em nossa casa.
Naquela época morávamos em uma grande propriedade parecida com
esta. Pertenceu à família da minha mãe. Minha mãe tinha o dinheiro.
Cresci com Jonathan e Julia. Eles eram a coisa mais próxima que eu
tinha de irmãos. Quando eu tinha dez anos, tive uma ideia maluca.
Queria trazer um bolo de aniversário para Ana. Eu não tinha bolo, então
peguei um dos meus cupcakes e coloquei uma vela nele. Ana não estava
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no quarto quando fui. Procurei por ela e foi então que vi a luz da
brinquedoteca acesa. Ouvi a voz dela porque ela estava conversando
com alguém. Deixei o cupcake ali em uma mesa ao lado da
brinquedoteca. Foi um acidente. Havia papéis sobre a mesa, tudo pegou
fogo. Não sei como, mas a Ana ficou presa no quarto, a porta estava
trancada. Não me lembro de nada. Não me lembro como isso aconteceu.
Minhas lágrimas caem mais rápido agora. Minhas palavras são um
soluço. — Tudo o que sei é que, quando ela se foi, meu pai me disse que
eu havia matado Ana. Eu não entendi então. Meu pai me disse que eu
seria mandada para a prisão. Pior que isso, sua família não teria nada.
Aos dez anos não percebi, mas fiz um pacto com o diabo. Ele concordou
em sempre cuidar da família dela, pagar as contas, e tudo que eu
precisava fazer era manter a boca fechada sobre a minha parte. Eu não
sabia então que o plano era me atormentar. Para sempre. E eu não sabia
a pior parte... – eu soluço mais alto.
— O que ele está te ameaçando?
— Primeiro, o segredo. Ele me disse que eu iria para a cadeia. Eu
seria levada para longe de minha casa. Quando fiquei mais velha,
percebi que ele mentiu, que não podiam me levar embora por causa
disso... Foi quando ele ameaçou parar de pagar Julia e Jonathan. Veja,
eu sabia que eles eram pobres. Meu pai pediu a um detetive particular
que tirasse fotos deles. Eles só foram mantidos juntos por causa do
dinheiro que meu pai deu aos seus novos tutores. Ele foi capaz de me
ameaçar com isso. Mostrando-me imagens, fazendo-me curvar-me à sua
vontade. Quando eles finalmente se formaram no ensino médio, pensei
que poderia sair, mas me enganei de novo. Eles não tinham dinheiro
para pagar a faculdade, então eu sempre fazia o que ele pedia, e o pior
era o que descobri...
Com a cabeça baixa, sussurro o resto do meu segredo. Tudo isso.
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Assim que Viviana adormece, dou um beijo em sua bochecha e digo
à enfermeira que voltarei.
Não gosto de deixá-la aqui sozinha, mas sei que ela ficará bem.
Quando estou lá embaixo, entro na sala onde estamos mantendo o
bastardo que agora conheço como Jonathan.
Abrindo a porta, entro.
Ele está amarrado à cadeira desde que chegou.
Ele ainda está completamente vestido, mas o sangue encharca a
camisa.
Tenho certeza de que meus homens já cuidaram de seu ferimento à
bala, mas ainda pode ser divertido brincar com o ferimento se ele não
responder às minhas perguntas.
— Jonathan.
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precisasse de água.
Vou para o lado do quarto e faço exatamente isso, enchendo um
copo e levando para ela.
— Aqui. Beba isso.
Coloco um canudo no copo e inclino para que ela possa tomar um
gole. Quando ela termina, coloco-o de volta na mesa e me sento ao lado
dela na cadeira.
— Você pode ficar comigo?
— Eu já estava planejando ficar aqui com você a noite toda.
— Você pode sentar aqui, quero dizer. – ela dá um tapinha na cama
ao lado dela.
— Não acho que seja uma boa ideia.
— Por favor.
Não posso dizer não a esta mulher. Agora não. Nunca.
Inclino levemente a cabeça para ela e depois me deito na cama ao
lado dela.
— Você tem sorte de este não ser um hospital de verdade.
— Nunca caberíamos naquelas camas.
Ela está certa. Esta cama é de tamanho grande, o que, embora seja
apertada, é pelo menos viável.
— Durma. – eu dou um beijo em sua têmpora.
— O que aconteceu com Jonathan?
— Não se preocupe com ele agora. Você precisa descansar.
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Preso.
Pelo que sei, ele está sendo torturado.
A questão é que eu deveria odiá-lo. Ele atirou em mim, mas algo me
diz que há mais nesta história.
Muito mais.
Ao meu lado, Matteo se mexe e então move seu corpo até pairar
sobre o meu. Ele toma cuidado para não apoiar seu peso sobre mim,
embora, por um pouco de dor, valesse a pena. Estou em casa há dias e,
além de um pequeno beijo nos lábios, ele não me tocou.
— Nem pense nisso. – diz ele, com sua voz matinal áspera e rouca.
— Pensar sobre o quê? – A minha é tímida.
— Você sabe o que. Você ainda está se curando. – ele me repreende
como se eu tivesse acabado de ser chamada à sala do diretor.
— Tudo bem, mas você não é divertido. – eu faço beicinho e ele me
cala com outro maldito beijo.
Ele ri contra meus lábios, e o som é celestial. Também me lembra
que não podemos viver nesta bolha por muito tempo.
Temos que lidar primeiro com a bagunça no porão.
— Estou pronta. – eu deixo escapar, e o olhar confuso em seus
olhos é fofo.
É engraçado o quanto ele mudou ao longo desta semana. Já vi
vislumbres deste homem antes, doce e carinhoso, mas agora que ele
admitiu que me ama, é muito mais.
— Pronta para... – ele para. — Sexo? Achei que tinha acabado de
dizer não.
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Você é a razão pela qual ela está morta. Seu pai nos contou tudo. Todos
os dias, durante doze anos, você me traiu. Você olhou nos meus olhos e
me traiu. Você é desprezível e eu gostaria de saber antes. Porque então
eu nunca teria me permitido amar você.
Cada emoção que pensei que sentiria com esta revelação está
completamente errada. A dor que sinto por machucá-la se transformou
na raiva e no ódio que sinto por meu pai agora.
No final, ele os usou.
Ele usou minha amiga em uma conspiração complicada para matar
meu marido e se vingar de mim por ter ido contra ele.
— Ele mentiu para você.
— Corta essa, Viviana. Por que outro motivo você estaria à sua
disposição? É porque matou minha mãe e ele estava encobrindo seu
segredo.
— Porque sua mãe não está morta.
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— O... o que você quer dizer? – Julia gagueja, com a voz fraca e os
lábios pálidos e os dentes batendo.
— Ela está viva. Ele está mentindo há anos.
— Mas então, como você sabe? – Jonathan deixa escapar atrás de
mim e eu me viro para encará-lo.
— Meu pai me contou. Ele me ameaçou e me mostrou os papéis
para provar isso.
— Quanto tempo? Há quanto tempo você sabia que minha mãe
estava viva e não me contou?
— Não muito. Eu descobri por acaso. Não acho que ele planejou me
contar. Mas quando eu disse a ele que não me casaria com Salvatore, ele
contou. Foi quando as coisas pioraram. Muito. Meu pai... não tive
escolha a não ser concordar com seus termos. Se eu o ajudasse em sua
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cela. — Não há razão para mentir. Eu estava. Agora que sei a verdade,
obviamente me sinto um merda, mas mesmo assim é a verdade.
Tudo parece tão confuso que minhas pernas começam a tremer
embaixo de mim.
Matteo me pega nos braços e, antes que eu perceba, Roberto está
puxando uma cadeira para eu sentar.
— Você está bem? – Matteo agora está na mesma altura que eu.
Olhando para mim como se estivesse com medo de que eu morresse.
— Estou bem. – eu estendo minha mão e toco sua mandíbula. —
Solte o Jonathan. – Minhas palavras chocam até a mim, mas na verdade,
agora que a verdade foi revelada, não tenho medo dele. Se alguém
deveria ter medo, é meu pai.
— Você está louca? – eu o encaro. — Viviana, não posso deixá-lo
ir.
Olho por cima do ombro de Matteo, olhando diretamente para
Jonathan agora. — Ele pode deixar você ir? Você vai nos matar?
Jonathan parece cansado – não apenas fisicamente, mas também
mentalmente.
— Eu não vou machucar nenhum de vocês.
— Não. – A voz de Matteo é mais alta do que eu esperava. — Ele
machucou você.
— Olhe para isso da perspectiva dele. Ele pensou que matei a mãe
dele. O que você faria se tivesse a chance de matar a pessoa que matou a
sua?
A mão de Matteo envolve meu braço e me puxa para longe de
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todos.
— Isso não me impede de querer matá-lo por machucar você.
— Eu sei.
— Não, você não sabe! – Sua raiva não ferve mais na superfície.
Agora, é um inferno violento, que não tenho certeza de como apagar. —
Pensei que tinha perdido você. Pensei que você tivesse morrido. Você é
tudo para mim. Você é minha vida. Você me ouve? Você é minha vida.
Levanto minha mão e toco sua mandíbula. Sua mandíbula rígida que
acho que vai quebrar ao meio. — Tudo bem. Estou bem.
Sua cabeça está baixa. — Você poderia ter morrido, e foi por minha
causa. Eu não protegi você.
— Eu te perdoo, Matteo. Agora é hora de você se perdoar. Eu te
amo. Você não pode manter isso dentro de você. – Pegando sua mão, eu
nos levo de volta para ficar na frente da cela.
— Eu não posso deixá-lo ir. Não consigo superar o fato de ele ter
tentado tirar você de mim.
— Mas eu posso. Eu o perdoo. Faça isso por mim. Confie em mim.
Por favor...
Matteo solta um longo suspiro e depois acena com a cabeça para
Roberto. Ele claramente parece tão chocado quanto Matteo por eu pedir
isso a eles.
— Se você olhar para minha esposa, ou mesmo para mim, não me
importo com o que ela diga, você está morto.
— Nunca foi contra você. – diz Jonathan.
— Com certeza foi assim quando você apontou uma arma para
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minha cabeça.
— Marino disse que tinha mais informações sobre minha mãe. Ele
prometeu que se eu cuidasse do problema, ele me contaria.
Um suspiro audível escapa da minha boca. — Ele estava
chantageando você também. Acha que ele iria lhe dizer que ela estava
viva?
— Neste momento, não. Acho que ele estava usando Julia e eu para
fazer o trabalho sujo. Uma vez que Matteo estivesse fora de cena, não
tenho dúvidas de que ele não teria feito isso.
— Eu não sei. – murmuro baixinho.
— O que você não sabe? – Matteo me pergunta.
Levanto-me da cadeira e caminho até a cela de Jonathan. Suas
correntes caem no chão, com o som metálico do metal ecoando no
concreto.
— Por que passar por todo esse trabalho para lhe contar alguma
coisa? – pergunto a Jonathan. — Quando ele te contou sobre sua mãe?
— Depois que você se casou com Matteo.
— E antes disso, por que você trabalhava para ele?
— Ele me abordou sobre o trabalho. Eu ia me mudar e ele me disse
para ficar. No início, pensei nas vantagens. Então ele me abordou para
trabalhar disfarçado com Matteo, para me vender como alguém em
quem ele pudesse confiar. Ele me contou muita coisa, mas como sempre
me apoiou, achei que devia isso a ele. – Seus punhos cerram ao seu lado.
— Tantas coisas não batem.
— Não, elas não querem.
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Cada peça do quebra-cabeça começa a se encaixar. Tantas variáveis
para as quais estávamos todos cegos.
Agora que sei o papel que meu primo teve em toda essa confusão,
não estou surpreso. Ele usou informações falsas que Marino deu aos
gêmeos e depois adoçou o acordo para que fizessem o que ele queria.
Quase funcionou também.
Se Viviana não tivesse se colocado na frente de uma bala por minha
causa, estaríamos todos mortos. Depois, pensar nas inúmeras mulheres
que teriam sido feridas.
Puxo minha esposa para mim e a abraço. Intrigada com meu
movimento, ela olha para mim. — Por que disso?
— Por me salvar.
Não estou falando apenas da bala desta vez.
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— Sempre.
Depois de dar um beijo em sua boca, eu me afasto.
— Vamos. – eu me viro para Lorenzo. — Faça Price invadir as
instalações. Não quero que nos vejam.
— Entendi, chefe.
A partir daí, tudo se move bastante rápido.
Chegamos do complexo ao nosso destino em menos de uma hora.
Instruídos por Jaxson Price através de um fone de ouvido, nós
conseguimos evitar a segurança usando uma porta dos fundos e um
código de segurança que ele hackeou.
Vou precisar dar um aumento para esse garoto, isso ou convencê-lo
a trabalhar só comigo.
Uma vez lá dentro, nós somos conduzidos pelos corredores.
Caminhamos como se nós pertencêssemos aqui, mesmo que não
pertençamos.
Ninguém nos impede.
Uma parte de mim se pergunta se isso é muito fácil ou uma
armadilha, mas então me dou conta. Marino provavelmente pensa que a
filha está morta. Ele provavelmente pensa que estou morto.
Ou ele pensa que Jonathan está, e como sou temperamental, nunca
conseguimos chegar ao fundo da questão.
Ao abrirmos a porta do quarto, Julia cai no chão. Ali, no canto, está
uma mulher que se parece com ela. Exceto que em vez de cabelo loiro, é
grisalho e oleoso. Seus olhos estão opacos e sem vida.
Há uma grande marca de queimadura em seu rosto, deixando-a
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desfigurada.
Olho melhor e vejo que os seus braços também estão gravemente
queimados. O fogo era verdade.
Agora, tudo o que aconteceu depois disso ainda é um mistério.
— Mãe. – Julia corre até ela. Ao meu lado, Viviana soluça baixinho.
Eu apoio meus braços em volta dela, deixando-a chorar em meu peito.
— Ela está viva. Eu sei que ele me contou... mas ele não me deixou
vê-la.
Ana, a mãe dos gêmeos, parece fortemente sedada.
Ela não olha para os filhos, mas começa a falar.
Suas palavras não fazem sentido.
Apenas as repete indefinidamente.
Não tenho certeza se é por causa da medicação ou se é por causa do
acidente que aconteceu há muito tempo, mas é óbvio que a mulher que
conhecem e amam já se foi há muito tempo. Se ela algum dia voltará é a
questão.
— O que vocês estão fazendo aqui? – A enfermeira grita para nós,
mas quando vê Julia no chão ao lado da mãe chorando, ela entende.
— Ela é minha mãe. – diz Jonathan, vindo de trás para caminhar até
sua irmã. Ele coloca a mão nela.
— Ela não pode receber visitas.
— Por favor, ela é minha mãe. – Julia chora. — Não me faça ir.
— Ele não a deixa receber visitas. Vocês não podem estar aqui. Se
ele descobrir... – Seu rosto está pálido e ela não precisa nos dizer de
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Primeiro passo, destruir meu pai. Passo dois, lide com Salvatore.
Nessa ordem.
Não tenho certeza de como encontraremos a casa de bonecas, mas
temos que tentar. Mesmo que isso signifique morrer.
Viro-me para Jonathan.
— Você tem que me levar de volta.
Ele inclina a cabeça e me olha como se achasse que sou maluca.
— E como exatamente você pensa que eu farei isso?
— Diga ao meu pai que escapei. Diga que eu levei um tiro. Diga
qualquer coisa, mas o convença. Eu preciso ir naquela casa.
— Você honestamente acha que sua mãe ainda a tem?
— Você não entende. Claro, que ela tem. Aquela casa de bonecas
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— Acha que ele comprou isso? – Roberto pergunta quando
entramos no carro.
— Esperemos. Deixei a porra da minha esposa naquela casa. – digo,
não muito feliz com isso.
— Ela vai ficar bem.
— É melhor que ela fique, porque se eu perdê-la...
— Você não vai.
Este plano não é ideal. Tenho o pendrive, e Jonathan e Julia querem
saber o que há nele.
Eles terão que esperar, no entanto. Marino saberia se eu os levasse
conosco. E como Viviana está machucada, preciso que ela tenha Julia
com ela.
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que não seja o ideal, farei isso agora. Porque a cada momento que passa
há mais chances de Marino fazer algo drástico, e não posso mais arriscar
deixar Viviana aqui.
A primeira pessoa que vejo é Jonathan. Sua irmã está logo atrás
dele.
— O que havia no pendrive?
Respiro fundo e entrego-lhe as cópias impressas. Ele começa a
vasculhá-las. Posso ver como suas pupilas se dilatam enquanto ele lê as
palavras. A maneira como seu punho se fecha de vez em quando.
Vejo quando ele se depara com isso.
Quando a veia em sua testa parece que vai explodir.
No momento em que ele percebe quem ele realmente é. Como a
presença dele realmente atinge tudo. Julia é a próxima a analisar o
motivo pelo qual sua mãe está trancada no purgatório de sua mente.
Os soluços não podem ser enganados.
A maneira como ela cai no chão...
Não é todo dia que você descobre uma verdade como essa.
Não é todo dia que descobre que é filho ilegítimo de um monstro.
Demorei um pouco para compreender o que Ana havia salvado.
Pelas evidências colhidas, Marino e Ana tiveram um caso. Ela era
amante dele quando engravidou e foi decidido que ela não podia contar.
Sonhos políticos e tudo mais. Não tenho certeza se ele a ameaçou ou
se ela ficou sem amor...
Só Ana pode contar essa história, mas o que sei é que em algum
momento ela descobriu um segredo sobre seu amante, sobre o pai de
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seus filhos.
O segredo é tão grande que não tenho certeza se Viviana alguma
vez teve alguma coisa a ver com o incêndio.
Nos documentos estão todas as provas de que precisaremos para
manter Marino atrás das grades pelo resto da vida, e se meu primo
descobrisse, Marino estaria morto.
Ali, documentados, estavam todos os crimes.
Todas as mulheres.
De alguma forma, Marino conseguiu provas incriminatórias sobre a
operação de tráfico humano do pai de Salvatore. Havia fotos das garotas
tiradas e dos homens que as compraram. Todos os registros de anos de
abuso foram salvos.
Ele queria manter o chefe da máfia no bolso. Mas com os arquivos
que recebeu, ele se esqueceu de removê-los. Aqueles que comprovaram
seu conhecimento e a sua participação na operação. Aparentemente ele
era um cliente muito fiel.
— Puta merda. – diz Jules, enquanto ela finalmente se recompõe.
— Porra. – A voz de Jonathan interrompe em seguida. — Ele é
nosso pai. – ele sussurra. — Nosso maldito pai.
— Precisamos contar primeiro a Viviana. Onde ela está? –
pergunto.
— Eu vou buscá-la. – Julia sai, subindo as escadas.
— O que você está fazendo aqui, Amante? Achei que tinha deixado
minha posição perfeitamente clara. Quando não respondi, não quis o seu
acordo.
— O acordo está fora de questão, de qualquer maneira. O único
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— Meu primo ama você. E ele virá atrás de você. Quando ele fizer
isso, estarei aqui para matá-lo. E depois, se você me causar problemas...
– ele deixa a ameaça pairar no ar. — Vou ligar para ele em breve. Há
alguma coisa que você quer que eu diga a ele para você? – Seus lábios
se curvam em um sorriso malicioso.
— Vá se foder.
Seu sorriso amplia e ele parece totalmente sinistro sob essa luz.
— Com uma boca dessas, espero que o Matteo não venha. Vou
ganhar muito dinheiro com você. Irônico com quem é seu pai.
Minha confusão deve estar estampada em meu rosto. — Ah, você
não sabe? Você nunca se perguntou por que fiz negócios com ele? Por
que eu sabia que ele não seria contra minhas ideias de expansão?
Isso me atinge no estômago e o ar sai dos meus pulmões com sua
declaração.
Eu sempre soube que meu pai era mau, mas isso...
Lágrimas enchem meus olhos, mas me recuso a deixá-las cair.
Não posso mostrar a ele minha tristeza ou meu medo. Ele irá
consumi-lo como uma súcubo reza pelos fracos.
— Que lindo, você não sabia.
Fico paralisada no lugar com suas palavras enquanto minha mente
gira freneticamente.
Com as peças estranhas que não conhecia de um quebra-cabeça se
encaixando.
Meu corpo está virado, não sendo mais capaz de olhar para ele.
Não posso.
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aceno com a cabeça e depois me viro para Roberto. — Fique com eles.
Quando estamos sozinhos, ele cruza os braços na altura do peito. —
Vai trabalhar com eles? – Eu aceno. — Isso fará você parecer fraco.
— Não é fraco admitir que precisa de ajuda. Eles são nossa entrada.
Nossa única entrada, e antes que fale sobre o passado, eu entendo. Eu
não os culpo. Eu teria feito a mesma coisa para descobrir sobre meus
pais.
Com isso, abrimos a porta, com armas em punho. Mas assim que o
fazemos, Salvatore se move rápido demais. Sua arma agora está
apontada para a cabeça de Julia.
— Solte a garota. – eu resmungo.
— E perder minha própria ferramenta de barganha?
— Ela não é uma ferramenta, seu merda. – Jonathan se aproxima,
com a arma em punho.
Salvatore olha para todos nós. Há mais de nós do que ele, então não
há como ele sair dessa vivo. No entanto, ele não parece nem um pouco
irritado.
É quase como se ele soubesse algo que nós não sabemos. Então eu
ouço e sei que é porque ele ouve.
Carros parando bruscamente, portas batendo, botas pesadas
avançando em nossa direção. É uma porra de uma emboscada.
Seu lábio se inclina para cima e então ele ri. — No momento em
que você chegou a casa do Marino, sabia que você viria. Julia aparecer
sozinha foi a cereja do bolo.
— Você nos deixou matar seus homens lá fora?
— Baixas de guerra.
O filho da puta maluco permitiu que seus homens servissem de isca
para que entrássemos aqui, praticamente nos encurralando.
— Espalhem-se. Protejam as garotas! – grito, mas com Salvatore
mantendo Julia como refém, isso será mais difícil.
Leva um momento para perceber o que está acontecendo, mas
então, como um relâmpago, Julia joga a cabeça para trás e, ao mesmo
tempo, Jonathan ataca.
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O inferno desabou.
É um pandemônio completo.
Salvatore levanta sua arma e atira. Jonathan cai no chão. Ele nem
deu dois passos antes de ser atingido.
Porém, foi tempo suficiente para a irmã dele escapar e correr até
Viviana e tempo suficiente para eu perder o foco e quase ser nocauteado
pelo meu primo. Felizmente, eu me endireito quando ele vem em minha
direção, e apenas minha arma cai no chão.
Ao meu redor, uma guerra está sendo travada. Armas disparam.
Os meus homens estão a proteger-se e a disparar de volta.
Pelo canto do olho, enquanto estou de pé, posso ver Julia virando a
cama para dar proteção a ela e a Viviana acorrentada contra os tiros.
— Eu deveria ter matado você também. – ele dá o primeiro soco. Eu
bloqueio e golpeio de volta.
— Também?
Um sorriso maligno e olhos escuros me dizem todas as respostas
que preciso saber. Ele ri sozinho, claramente se divertindo. — Sério,
você realmente não sabe?
— Você matou meus pais.
— Claro que sim. Seu pai matou meu pai. Ele tirou meu legado. Ele
roubou meu trono e você se colocou nele. Você nunca pertenceu a esse
lugar. Ele sempre foi meu. Deixei você esquentá-lo por alguns anos, mas
vou retirá-lo.
— Uma ova que vai, porra.
Mesmo sem minha arma, vou matá-lo.
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Bang.
O som ecoa no ar.
Estrondoso.
Bem na cabeça.
Matei meu primo.
Eu vinguei meus pais.
Acima de tudo, salvei o amor da minha vida.
Com seu corpo agora no chão, deitado em uma poça de sangue, eu
me levanto para poder ir até Viviana.
Seus homens estão todos subjugados, alguns mortos. Julia está
pegando as chaves de um dos corpos e movendo para libertar minha
esposa.
Estou cansado, muito cansado, mas então a vejo correndo e, apesar
dos ferimentos em recuperação, ela está correndo em minha direção.
Envolvendo os braços em volta do meu pescoço e me beijando como se
tivesse certeza de que eu havia morrido.
Foi por pouco.
Mas no final, vencemos.
— Eu te amo. Nunca mais faça isso.
— Não posso dizer nunca.
E essa é a verdade honesta. Não posso. Não no meu ramo.
Posso desistir?
Eu poderia sair?
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Ela olha para mim como se eu fosse sua salvação, não sua maldição,
e eu sei naquele momento que posso.
Por esta mulher, posso desistir de tudo.
Talvez não hoje.
Ou amanhã.
Mas logo.
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Faz apenas três meses que tudo aconteceu. As coisas estavam uma
loucura no início. Prenderam meu pai. Foi um caso aberto e resolvido. A
prova que Ana coletou de seu envolvimento com a rede de tráfico
humano do tio de Matteo era substancial. Ele não sairá da prisão tão
cedo. Não falo com minha mãe desde que Salvatore me levou, e não
pretendo fazer isso. Pela última vez que ouvi, ela deixou o país e está
morando com a família que temos na Sicília, longe de qualquer
escândalo relacionado ao meu pai.
Matteo e eu estabelecemos uma rotina confortável, por mais
confortável que seja quando você é casado com a máfia.
Passamos as primeiras semanas garantindo que Ana recebesse o
melhor atendimento disponível. Agora que ela está em um bom lugar,
um lugar seguro, estou pensando no que quero fazer do resto da minha
vida.
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Por mais que adore dias ociosos com meu marido, preciso trabalhar.
Julia costuma pensar comigo e temos ótimas ideias, mas nada de
concreto ainda.
Ouço os passos antes de vê-lo.
Virando-me por cima do ombro, sorrio para ele enquanto ele entra
na sala.
— Ele já está treinado para ir ao banheiro no lugar certo? – ele
pergunta, olhando para o meu colo. Aconchegando-se contra mim está o
cachorrinho resgatado que adotamos no mês passado. Não temos certeza
de qual raça ele é, mas se eu tivesse que adivinhar, diria que ele é uma
mistura de cavalier e poodle. Matteo afirma que precisávamos de um
cachorro grande e assustador, mas quando vi Bruce, sabia que ele era
para mim.
Segundo o abrigo, alguém deixou Bruce na beira da estrada.
No momento em que ouvi a história, senti uma conexão instantânea.
Não que eu tenha ficado na beira da estrada, mas sabia o que era não ser
desejado pela família.
Desde então, tenho passado quase todas as horas do dia com o
pequeno pacote de pelos. Matteo, no entanto, demorou a se animar, não
apreciando o fato de Bruce não gostar de fazer xixi lá fora. Em vez
disso, ele prefere fazer xixi nos móveis e no carpete... e bem, em
qualquer lugar que deixe meu marido louco.
— Ele está melhorando. – respondo.
— Então, ele ainda está cagando em todo lugar?
— Ele não está cagando em todo lugar. – murmuro baixinho.
Sua sobrancelha direita se levanta, me desafiando.
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Ele estende a mão para mim e eu olho para ele sem expressão. Eu
sei que meu medo é estúpido. Não me permiti nem acender uma vela ou
fogo desde então. Mesmo quando perdemos a energia há tantos meses e
Matteo as acendeu, não consegui controlar a forma como meu coração
disparou.
— É estúpido. Não sei por que não posso.
Ele me agarra e me puxa para cima, com Bruce saindo de cima de
mim e se encolhendo como uma bola, nos observando de onde ele agora
descansa enquanto Matteo me puxa em direção à lareira. Ao lado estão
toras.
— Vamos começar colocando duas toras de madeira na grelha. – ele
se move para pegá-los, fazendo o trabalho para mim. Estou aliviada com
isso, mas algo me diz que ele vai me fazer acendê-lo. Depois de colocar
as toras na mesa, ele pega alguns pedaços de jornal que estão sobre a
mesa, prontos para esse exato momento. Ele amassa. Quando está
pronto, ele se vira para mim. — Você está pronta para acender as toras?
— Não.
— Você consegue fazer isso. Você enfrentou meu primo, levou um
tiro por mim, pode acender a lareira. – Sua voz não deixa espaço para
objeções.
Olho para o fósforo e para o papel agora enfiado na madeira.
Pegando o fósforo na mão, fico olhando para ele. Como pode algo
tão pequeno ser tão assustador?
É aí que me dou conta de que, às vezes, Ana me dizia citações
diferentes.
O que ela disse sobre o medo?
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— Está feito.
— O que foi feito?
— Eu abdiquei. Lorenzo está assumindo meu lugar.
Sua boca está aberta. — O que... tem certeza de que está bem com
isso?
— Eu estou. Não vou parar de trabalhar. Eu administrarei as partes
licitas dos negócios. Isso é o que meu pai sempre quis também. Ele
simplesmente nunca teve a oportunidade por causa de seu irmão. Mas
agora que Salvatore está morto, posso viver o seu sonho.
Viviana pula de onde está sentada no meu colo.
— Estou tão feliz por você. – ela solta um suspiro de alívio e agora
tenho certeza de que tomei a decisão certa.
Todos os dias que a deixei nos últimos meses, pude ver o medo em
seus olhos. Agora acabou.
— Tenho mais uma surpresa.
— Outro? Ops. – ela grita. — Eu adoro surpresas!
Levanto-me do sofá e estendo a mão para ela pegar.
Agora, juntos, saímos da biblioteca. Eu a levo até o hall de entrada.
É lá que Julia e Jonathan estão esperando com a surpresa.
Quando ela vira o corredor, um suspiro sai de sua boca.
Foi um longo caminho, um longo ano, mas todo o trabalho duro
valeu a pena.
— Ana... – Um soluço escapa de seus lábios e lágrimas escorrem
por seu rosto.
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