Você está na página 1de 82

Aula 20

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular)


Direito Administrativo - Prof. Rodolfo
Penna

Autor:
Rodolfo Breciani Penna

19 de Fevereiro de 2022

85416800020 - Felipe Alegransi


Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

Sumário
Considerações Iniciais .................................................................................................................................................................. 3

Direito à Saúde ............................................................................................................................................................................... 3

1 - Introdução ................................................................................................................................................. 3

2 - O conteúdo mínimo do Direito à Saúde .................................................................................................... 4

3 - O Sistema Único de Saúde (SUS) ............................................................................................................... 7

3.1 - Considerações iniciais ............................................................................................................................................... 7

3.2 - A “Lei do SUS” – Lei 8.080/90 ................................................................................................................................... 9

4 - Lei 8.142/1990 ........................................................................................................................................ 19

5 - Lei complementar 141/2012 ................................................................................................................... 21

6 - A efetivação e a judicialização das políticas públicas de saúde. Jurisprudência acerca do Direito à


Saúde ............................................................................................................................................................ 21

6.1 - Medicamentos ........................................................................................................................................................ 21

6.2 - Formas de efetivação das políticas públicas de saúde pelo Poder Judiciário ........................................................ 29

6.3 - Outras decisões importantes.................................................................................................................................. 31

7 - Atuação do Poder Público diante da Pandemia decorrente da Covid-19 – Lei nº 13.979/2020 e Regime
Jurídico na Pandemia. .................................................................................................................................. 35

7.1 - Não é possível exigir que Estados-membros e Municípios se vinculem a autorizações e decisões de órgãos
federais para tomar atitudes de combate à pandemia .................................................................................................. 38

7.2 - Além da União, os Estados/DF e Municípios também podem adotar medidas de combate ao coronavírus
considerando que a proteção da saúde é de competência comum; o Presidente pode definir as atividades essenciais,
mas preservando a autonomia dos entes ...................................................................................................................... 40

7.3 - Covid-19 e povos indígenas .................................................................................................................................... 41

7.4 - Divulgação integral dos dados da Covid-19 pelo Ministério da Saúde................................................................... 42

7.5 - Vacinação compulsória ........................................................................................................................................... 43

7.6 - Ilegitimidade de recusa dos pais à vacinação compulsória do filho menor ........................................................... 44

7.7 - Plano para enfrentamento da Covid-19 nas comunidades quilombolas ............................................................... 44

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna
www.estrategiaconcursos.com.br

85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

7.8 - Estados, DF e Municípios podem importar vacinas? .............................................................................................. 45

8 - A assistência social na ordem constitucional brasileira. Lei orgânica da assistência social - LOAS (Lei nº
8.742/93). Da tipificação nacional dos serviços socioassistenciais (Resolução do Conselho Nacional de
Assistência Social nº 109/09). ...................................................................................................................... 46

8.1 - A assistência social e a lei orgânica da assistência social (LOAS – lei 8.742/93) .................................................... 46

8.2 - Benefício de prestação continuada (BPC) .............................................................................................................. 49

8.3 - Da tipificação nacional dos serviços socioassistenciais (Resolução do Conselho Nacional de Assistência Social nº
109/09). .......................................................................................................................................................................... 52

Questões Comentadas .............................................................................................................................................................. 53

Magistratura ................................................................................................................................................................... 53

Promotor ........................................................................................................................................................................ 55

Defensor ......................................................................................................................................................................... 60

Procurador ...................................................................................................................................................................... 63

Outros ............................................................................................................................................................................. 69

Lista de Questões ....................................................................................................................................................................... 74

Magistratura ................................................................................................................................................................... 74

Promotor ........................................................................................................................................................................ 75

Defensor ......................................................................................................................................................................... 76

Procurador ...................................................................................................................................................................... 77

Outros ............................................................................................................................................................................. 78

Gabarito......................................................................................................................................................................................... 80

Magistratura ................................................................................................................................................................... 80

Promotor ........................................................................................................................................................................ 80

Defensor ......................................................................................................................................................................... 80

Procurador ...................................................................................................................................................................... 80

Outros ............................................................................................................................................................................. 80

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 2
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

DIREITO À SAÚDE. LEGISLAÇÃO DO SUS.


JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE. POLÍTICAS DE SAÚDE
DURANTE A COVID-19. A ASSISTÊNCIA SOCIAL.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Prezado aluno, na aula de hoje estudaremos o Direito à Saúde no que se relaciona ao Direito
Administrativo, bem como a assistência social.

Vamos à nossa aula.

Qualquer dúvida, críticas ou sugestões, podem me contactar nos canais a seguir:

E-mail: prof.rodolfopenna@gmail.com
Instagram: https://www.instagram.com/rodolfobpenna

DIREITO À SAÚDE

1 - INTRODUÇÃO
O direito à saúde é um Direito Social previsto no art. 6º e especificado nos arts. 196 a 200, todos da
Constituição Federal, além de ser mencionado em diversos outros dispositivos constitucionais, e possui
como finalidade proporcionar bem-estar físico, mental e social aos indivíduos e à coletividade.

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o


transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância,
a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

Trata-se de um direito de todos e dever do Estado. Como Direito Social, exige uma prestação do Estado,
que deve implementar políticas públicas e criar condições objetivas visando à sua efetivação e
universalização.

É importante notar que, anteriormente à Constituição Federal de 1988, o Direito à saúde não
era reconhecido a todos. Somente os contribuintes da previdência social é que podiam ser
atendidos pelos serviços de saúde prestados pelo Poder Público. Após a Constituição Cidadã

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 3
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

é que este direito é reconhecido a todos indistintamente, independentemente de


contribuição.

Todos os ensinamentos relativos a direitos fundamentais e direitos sociais são dados no Direito
Constitucional. Neste capítulo, buscaremos trazer o assunto para o Direito Administrativo, analisando a
organização do Estado nacional para prestação do Direito à Saúde, a formulação das políticas públicas,
a atuação e o controle exercido pelo Poder Judiciário e as principais decisões dos Tribunais Superiores
acerca do tema, tendo sempre em vista aquilo que é cobrado em relação ao tema em Direito
Administrativo.

E é importante adiantar que o tema é bastante tormentoso, ensejando diversas controvérsias perante o
STJ e o STF, seja em relação à competência dos Entes Federados para a prestação do Direito, seja para
ponderar os interesses em conflitos: de um lado, o direito fundamental e indisponível à saúde, de outro,
a escassez de recursos estatais, a organização de políticas públicas para a prestação do Direito de forma
coletiva e universal e não meramente individual, dentre outros argumentos do Estado.

O tema será tratado adiante.

2 - O CONTEÚDO MÍNIMO DO DIREITO À SAÚDE


Os direitos sociais garantem um verdadeiro direito subjetivo aos indivíduos, que podem exigir do
estado uma prestação, uma obrigação positiva, que o satisfaça, objetivando garantir o mínimo
existencial.

Cuidando-se de direito fundamental, fica o Poder Judiciário autorizado a intervir na prestação do direito,
inclusive determinando a implementação de políticas públicas.

A dificuldade se encontra em definir o conteúdo mínimo do Direito à Saúde e a parcela desse direito que
integra o mínimo existencial.

Definir o mínimo existencial é de extrema importância no âmbito dos Direito Sociais, haja vista a
jurisprudência pacífica do STF no sentido de que a reserva do possível não se opõe à necessidade
de se garantir condições mínimas de existência e de dignidade:

E M E N T A: RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO (LEI Nº 12.322/2010) –


MANUTENÇÃO DE REDE DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE –
DEVER ESTATAL RESULTANTE DE NORMA CONSTITUCIONAL – CONFIGURAÇÃO, NO CASO,
DE TÍPICA HIPÓTESE DE OMISSÃO INCONSTITUCIONAL IMPUTÁVEL AO MUNICÍPIO –
DESRESPEITO À CONSTITUIÇÃO PROVOCADO POR INÉRCIA ESTATAL (RTJ 183/818-819)
– COMPORTAMENTO QUE TRANSGRIDE A AUTORIDADE DA LEI FUNDAMENTAL DA
REPÚBLICA (RTJ 185/794-796) – A questão da reserva do possível: reconhecimento de
sua inaplicabilidade, sempre que a invocação dessa cláusula puder comprometer o
núcleo básico que qualifica o mínimo existencial (RTJ 200/191-197) – O papel do Poder
Judiciário na implementação de políticas públicas instituídas pela constituição e não
efetivadas pelo poder público – A fórmula da reserva do possível na perspectiva da teoria
dos custos dos direitos: impossibilidade de sua invocação para legitimar o injusto

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 4
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

inadimplemento de deveres estatais de prestação constitucionalmente impostos ao poder


público – A teoria da “restrição das restrições” (ou da “limitação das limitações”) – caráter
cogente e vinculante das normas constitucionais, inclusive daquelas de conteúdo
programático, que veiculam diretrizes de políticas públicas, especialmente na área da saúde
(CF, arts. 6º, 196 e 197) – a questão das “escolhas trágicas” – A colmatação de omissões
inconstitucionais como necessidade institucional fundada em comportamento afirmativo
dos juízes e tribunais e de que resulta uma positiva criação jurisprudencial do direito –
Controle jurisdicional de legitimidade da omissão do poder público: atividade de fiscalização
judicial que se justifica pela necessidade de observância de certos parâmetros
constitucionais (proibição de retrocesso social, proteção ao mínimo existencial, vedação da
proteção insuficiente e proibição de excesso) – doutrina – precedentes do supremo tribunal
federal em tema de implementação de políticas públicas delineadas na constituição da
república (rtj 174/687 – RTJ 175/1212-1213 – RTJ 199/1219-1220) – existência, no caso
em exame, de relevante interesse social – Recurso de agravo improvido.
(ARE 745745 AgR, Relator(a): CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 02/12/2014,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-250 DIVULG 18-12-2014 PUBLIC 19-12-2014)

No mesmo sentido, decisão mais recente:

(...) O Estado brasileiro, agindo com absoluta indiferença em relação à gravidade da questão
penitenciária, tem permitido, em razão de sua própria inércia, que se transgrida o direito
básico do sentenciado de receber tratamento penitenciário justo e adequado, vale dizer,
tratamento que não implique exposição do condenado (ou do preso provisório) a meios
cruéis, lesivos ou moralmente degradantes (CF, art. 5º, incisos XLVII, “e”, e XLIX), fazendo-se
respeitar, desse modo, um dos mais expressivos fundamentos que dão suporte ao Estado
Democrático de Direito: a dignidade da pessoa humana (CF, art. 1º, III). – Constitui
verdadeiro paradoxo reconhecer-se, de um lado, o “direito à saída da cela por 2 (duas) horas
diárias para banho de sol” (LEP, art. 52, IV), em favor de quem se acha submetido, por razões
de “subversão da ordem ou disciplina internas” no âmbito penitenciário, ao rigorosíssimo
regime disciplinar diferenciado (RDD) instituído pela Lei nº 10.792/2003, e negar, de outro,
o exercício de igual prerrogativa de ordem jurídica a quem se acha recolhido a pavilhões
destinados à execução de medidas disciplinares ordinárias (“Pavilhão Disciplinar”) e à
proteção de detentos ameaçados (“Pavilhão de Seguro”), tal como ora denunciado, com apoio
em consistentes alegações, pela douta Defensoria Pública do Estado de São Paulo. – A
cláusula da reserva do possível é ordinariamente invocável naquelas hipóteses em que se
impõe ao Poder Público o exercício de verdadeiras “escolhas trágicas”, em contexto
revelador de situação de antagonismo entre direitos básicos e insuficiências estatais
financeiras. A decisão governamental, presente essa relação dilemática, há de conferir
precedência à intangibilidade do “mínimo existencial”, em ordem a atribuir real efetividade
aos direitos positivados na própria Lei Fundamental da República e aos valores consagrados
nas diversas convenções internacionais de direitos humanos. A cláusula da reserva do
possível, por isso mesmo, é inoponível à concretização do “mínimo existencial”, em
face da preponderância dos valores e direitos que nele encontram seu fundamento
legitimador.
(HC 172136, Relator(a): CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 10/10/2020,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-283 DIVULG 30-11-2020 PUBLIC 01-12-2020)

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 5
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

Além disso, é importante para definir quais demandas individuais serão atendidas. É evidente que uma
pretensão individual extremamente dispendiosa e não essencial à vida e à dignidade, que tenha o
potencial de afetar o sistema e impedir outras prestações mais essenciais aos demais cidadãos, não deve
ser atendida.

Isto porque a maioria das pessoas de menor renda não tem sequer o conhecimento necessário para
buscar a defensoria pública para ter as suas pretensões atingidas, de forma que o acesso efetivo ao
judiciário no nosso país, infelizmente, ainda é extremamente precário. Essas pessoas são atendidas
exclusivamente pelo SUS.

Conceder uma pretensão individual não essencial por meio de decisão judicial a uma pessoa que possui
acesso ao judiciário poderia, portanto, prejudicar o sistema e impedir o atendimento de necessidades
mais básicas de pessoas carentes.

Por este motivo é tão difícil a definição do conteúdo mínimo do Direito à Saúde e do mínimo existencial.

Por outro lado, não se admite que o Poder Público gaste boa parcela do orçamento com publicidade e
propaganda, por exemplo, e se negue a fornecer tratamentos ou medicamentos básicos e essenciais aos
administrados. Nesta hipótese, não é possível acatar eventual alegação de reserva do possível, uma vez
que os recursos do Estado devem ser direcionados, prioritariamente, para o atendimento dos direitos
fundamentais.

É por esse motivo que a jurisprudência vem se consolidando no sentido de que o


argumento da reserva do possível não deve ser acatado quando alegado de forma
abstrata, devendo ser demonstrado de forma concreta por meio de documentos e
provas apresentadas pelo interessado que a escassez de recursos é absoluta, que há um
verdadeiro obstáculo intransponível para atendimento da pretensão, e não uma mera
dificuldade ou má alocação orçamentária.

De toda forma, certo é que, se o Poder Público previu o estabelecimento de políticas públicas, seja nas
leis orçamentárias, seja nos demais documentos de planejamento administrativo que, conforme já
estudado, é obrigatório, o Poder Judiciário poderá intervir para obrigar o cumprimento da referida
política pública:

(...) 2. A controvérsia objeto destes autos – possibilidade, ou não, de o Poder Judiciário


determinar ao Poder Executivo a adoção de providências administrativas visando a
melhoria da qualidade da prestação do serviço de saúde por hospital da rede pública
– foi submetida à apreciação do Pleno do Supremo Tribunal Federal na SL 47-AgR, Relator o
Ministro Gilmar Mendes, DJ de 30.4.10. 3. Naquele julgamento, esta Corte, ponderando os
princípios do “mínimo existencial” e da “reserva do possível”, decidiu que, em se
tratando de direito à saúde, a intervenção judicial é possível em hipóteses como a dos
autos, nas quais o Poder Judiciário não está inovando na ordem jurídica, mas apenas
determinando que o Poder Executivo cumpra políticas públicas previamente
estabelecidas. 4. Agravo regimental a que se nega provimento.
(RE 642536 AgR, Relator(a): LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 05/02/2013, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-038 DIVULG 26-02-2013 PUBLIC 27-02-2013)

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 6
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

No mesmo sentido:

Agravo regimental em recurso extraordinário com agravo. 2. Direito Constitucional. Direito


à moradia e aluguel social. Chuvas. Residência interditada pela Defesa Civil. 3. Termo de
compromisso. Solidariedade dos entes federativos, podendo a obrigação ser demandada de
qualquer deles. Súmula 287. 4. Princípio da legalidade. Lei municipal nº 2.425/2007. Súmula
636. 5. Teoria da reserva do possível e separação dos poderes. Inaplicabilidade.
Injusto inadimplemento de deveres constitucionais imputáveis ao estado.
Cumprimento de políticas públicas previamente estabelecidas pelo Poder Executivo.
6. Agravo regimental a que se nega provimento.
(ARE 855762 AgR, Relator(a): GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 19/05/2015,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-102 DIVULG 29-05-2015 PUBLIC 01-06-2015)

3 - O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS)

3.1 - Considerações iniciais

O direito à saúde, previsto especialmente nos arts. 6º e 196 a 200 da CF, como direito de todos e dever
do Estado, exige ações e serviços prestados pelo Poder Público, de forma a promover a sua efetivação,
concretização e universalização.

Neste molde, a Constituição Federal traça os princípios para a instituição do Sistema Único de
Saúde, especialmente os seguintes:

a) Princípio da universalidade: decorre do art. 196, CF, estabelecendo que o Poder Público deve
empreender os seus esforços a fornecer o Direito a Saúde a todos, de forma que o acesso ao
sistema seja possibilitado àqueles que residem em todo o território nacional, sem qualquer tipo
de discriminação;
b) Princípio da integralidade (art. 198, II, CF): estabelece o atendimento integral, abrangendo o
fornecimento de medicamentos, realização de procedimentos terapêuticos e cirúrgicos, de forma
a proporcionar a integral recuperação da saúde dos administrados;
c) Princípio da equidade: estabelece a obrigação de acesso igualitário ao SUS, ordenado pela
atenção primária e fundado na avaliação da gravidade do risco individual e coletivo e no critério
cronológico (art. 11, Decreto 7.508/11).

Além disso, o art. 198 da CF estabelece diretrizes para a instituição e organização do SUS:

Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e
hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes
diretrizes:

I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo;

II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo


dos serviços assistenciais;

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 7
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

III - participação da comunidade.

Direção única em
cada esfera de
Regionalizada
Descentralização governo

Atendimento integral
SUS – Rede (integralidade) Prioridade para
atividades
preventivas, sem
Participação da prejuízo dos
Hierarquizada comunidade serviços
assistenciais

Repare que as ações do SUS devem atender as pessoas por meio de ações preventivas e
curativas, sendo que a prioridade são as ações preventivas.

Os objetivos da tutela à saúde são encontrados no próprio art. 196:

Redução do risco de doenças e outros


agravos
Objetivos

Acesso universal e igualitário

Por sua vez, as competências do SUS estão dispostas no art. 200 da Carta Magna:

Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei:

I - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a


saúde e participar da produção de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos,
hemoderivados e outros insumos;

II - executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do


trabalhador;

III - ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde;

IV - participar da formulação da política e da execução das ações de saneamento básico;

V - incrementar, em sua área de atuação, o desenvolvimento científico e tecnológico e a


inovação;

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 8
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

VI - fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o controle de seu teor nutricional,


bem como bebidas e águas para consumo humano;

VII - participar do controle e fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização de


substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos;

VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.

Para dar densificação normativa aos dispositivos constitucionais, foi editada a lei 8.080/90, a lei do SUS,
regulamentada pelo Decreto 7.508/2011. Além disso, como a lei do SUS teve diversos dispositivos
vetados, foi complementada pela lei 8.142/90.

A Lei Maior ainda estabelece que o SUS será financiado com recursos da seguridade social, da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes (art. 198, §1º), determinando a
aplicação de recursos mínimos, anualmente, em ações e serviços públicos de saúde (§§ 2º e 3º).

Art. 45. Os serviços de saúde dos hospitais universitários e de ensino integram-se ao Sistema
Único de Saúde (SUS), mediante convênio, preservada a sua autonomia administrativa, em
relação ao patrimônio, aos recursos humanos e financeiros, ensino, pesquisa e extensão nos
limites conferidos pelas instituições a que estejam vinculados.

3.2 - A “Lei do SUS” – Lei 8.080/90

3.2.1 - Introdução

A lei do SUS regula as ações e os serviços de saúde em todo território nacional, conforme dispõe o seu
art. 1º, definindo ainda a sua execução isolada ou em conjunto, em caráter permanente ou eventual, por
pessoas naturais ou jurídicas de direito público ou privado.

Vale destacar que, ao estabelecer a sua incidência sobre todas as ações e serviços de saúde
no âmbito nacional, verifica-se que a lei 8.080/90 não se limita ao SUS, nem ao setor público.
Por esta razão deixamos “lei do SUS” entre aspas no título, sendo mais correto falar em lei
orgânica da saúde.

Os principais temas tratados na referida lei são os seguintes:

a) Diretrizes fundamentais do direito à Saúde;


b) Organização, Direção e Gestão;
c) Competências e Atribuições;
d) Política Assistencial à Saúde de Populações Específicas;
e) Estrutura de Governança do SUS;
f) Política de Recursos Humanos;
g) Serviços Privados de Assistência à Saúde.

Ponto importante definido pela lei é o papel do Município como principal executor das
ações de Saúde.

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 9
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

Além disso, dispõe o art. 2º, §2º que o dever do Estado não exclui o das pessoas, da família, das empresas
e da sociedade.

O art. 4º, por sua vez, conceitua o SUS como:

Art. 4º O conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições públicas
federais, estaduais e municipais, da Administração direta e indireta e das fundações
mantidas pelo Poder Público, constitui o Sistema Único de Saúde (SUS).

Pontuou-se ainda que a iniciativa privada pode participar do SUS em caráter


complementar (§2º).

3.2.2 - Objetivos e atribuições

Art. 5º São objetivos do Sistema Único de Saúde SUS:

I - a identificação e divulgação dos fatores condicionantes e determinantes da saúde;

II - a formulação de política de saúde destinada a promover, nos campos econômico e social,


a observância do disposto no § 1º do art. 2º desta lei;

III - a assistência às pessoas por intermédio de ações de promoção, proteção e recuperação


da saúde, com a realização integrada das ações assistenciais e das atividades preventivas.

O art. 6º estabelece as atribuições do SUS, dentro do que já determinava o art. 200, da CF.

Dentre as atribuições que devem ser lidas pelo aluno, destaca-se a vigilância sanitária, conceituada
como um conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos
problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação
de serviços de interesse da saúde, abrangendo:

I - o controle de bens de consumo que, direta ou indiretamente, se relacionem com a saúde,


compreendidas todas as etapas e processos, da produção ao consumo; e

II - o controle da prestação de serviços que se relacionam direta ou indiretamente com a


saúde.

3.2.3 - Princípios e diretrizes

Além dos princípios e diretrizes traçados na Constituição Federal e já estudados, a lei do SUS ainda
estabelece um conjunto de princípios a serem observados, conforme art. 7º:

I - universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência;

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 10
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

II - integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações


e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em
todos os níveis de complexidade do sistema;

III - preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral;

IV - igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie;

V - direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde;

VI - divulgação de informações quanto ao potencial dos serviços de saúde e a sua utilização


pelo usuário;

VII - utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, a alocação de


recursos e a orientação programática;

VIII - participação da comunidade;

IX - descentralização político-administrativa, com direção única em cada esfera de


governo:

a) ênfase na descentralização dos serviços para os municípios;

b) regionalização e hierarquização da rede de serviços de saúde;

X - integração em nível executivo das ações de saúde, meio ambiente e saneamento


básico;

XI - conjugação dos recursos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos da União, dos


Estados, do Distrito Federal e dos Municípios na prestação de serviços de assistência à saúde
da população;

XII - capacidade de resolução dos serviços em todos os níveis de assistência; e

XIII - organização dos serviços públicos de modo a evitar duplicidade de meios para fins
idênticos.

XIV – organização de atendimento público específico e especializado para mulheres e


vítimas de violência doméstica em geral, que garanta, entre outros, atendimento,
acompanhamento psicológico e cirurgias plásticas reparadoras, em conformidade com a Lei
nº 12.845, de 1º de agosto de 2013.

3.2.4 - Organização, direção e gestão

Conforme visto, a organização do SUS deverá ser descentralizada e hierarquizada em níveis de


complexidade crescente, admitindo-se a participação complementar da iniciativa privada. Por sua vez,
a direção se dá:

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 11
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

União

• Ministério da Saúde

Estados e DF

• Secretaria da saúde ou órgão equivalente

Municípios

• Secretaria da saúde ou órgão equivalente

Na gestão municipal, a lei prevê ainda importantes instrumentos para facilitar a prestação da saúde,
tendo em vista o seu papel de principal executor das políticas de saúde:

a) Os Municípios podem constituir consórcios para desenvolver ações em conjunto,


permanecendo, neste caso, o princípio da direção única. Os referidos consórcios podem ser
constituídos na forma da lei 11.107/2005 (art. 10, caput e §1º);
b) Os municípios podem se organizar em distritos (art. 10, §2º).

Por outro lado, determina-se a criação de diversas comissões no âmbito do SUS, a saber:

ATUAÇÃO FINALIDADE
Articular políticas e programas de interesse para a saúde, cuja
execução envolva áreas não compreendidas no âmbito do SUS:
I - alimentação e nutrição;
Comissões
II - saneamento e meio ambiente;
intersetoriais Âmbito nacional
III - vigilância sanitária e farmacoepidemiologia;
(art. 12)
IV - recursos humanos;
V - ciência e tecnologia; e
VI - saúde do trabalhador.
Entre os serviços
Comissões de saúde e as Propor prioridades, métodos e estratégias para a formação e
Permanentes instituições de educação continuada dos recursos humanos do SUS, assim como
de integração ensino em relação à pesquisa e à cooperação técnica entre essas
(art. 14) profissional e instituições.
superior
Foros de I - decidir sobre os aspectos operacionais, financeiros e
Comissões negociação e administrativos da gestão compartilhada do SUS;
Intergestores pactuação entre II - definir diretrizes, de âmbito nacional, regional e
Bipartite e gestores, quanto intermunicipal, a respeito da organização das redes de ações e
Tripartite aos aspectos serviços de saúde; e
(art. 14-A) operacionais do III - fixar diretrizes sobre as regiões de saúde, distrito sanitário,
SUS integração de territórios, referência e contrarreferência e demais

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 12
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

aspectos vinculados à integração das ações e serviços de saúde


entre os entes federados.

Art. 14-B. O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional


de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) são reconhecidos como entidades
representativas dos entes estaduais e municipais para tratar de matérias referentes à saúde
e declarados de utilidade pública e de relevante função social, na forma do regulamento.

§ 2º Os Conselhos de Secretarias Municipais de Saúde (Cosems) são reconhecidos como


entidades que representam os entes municipais, no âmbito estadual, para tratar de matérias
referentes à saúde, desde que vinculados institucionalmente ao Conasems, na forma que
dispuserem seus estatutos.

3.2.5 - Competências e atribuições

A partir do art. 15, a lei do sus estabelece as competências e atribuições dos Governos federal, estadual
e municipal, definindo atribuições comuns e discriminando responsabilidades específicas de cada Ente.

O art. 15 trata das competências comuns dos Entes federados:

I - definição das instâncias e mecanismos de controle, avaliação e de fiscalização das ações e


serviços de saúde;

II - administração dos recursos orçamentários e financeiros destinados, em cada ano, à


saúde;

III - acompanhamento, avaliação e divulgação do nível de saúde da população e das


condições ambientais;

IV - organização e coordenação do sistema de informação de saúde;

V - elaboração de normas técnicas e estabelecimento de padrões de qualidade e parâmetros


de custos que caracterizam a assistência à saúde;

VI - elaboração de normas técnicas e estabelecimento de padrões de qualidade para


promoção da saúde do trabalhador;

VII - participação de formulação da política e da execução das ações de saneamento básico e


colaboração na proteção e recuperação do meio ambiente;

VIII - elaboração e atualização periódica do plano de saúde;

IX - participação na formulação e na execução da política de formação e desenvolvimento de


recursos humanos para a saúde;

X - elaboração da proposta orçamentária do Sistema Único de Saúde (SUS), de conformidade


com o plano de saúde;

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 13
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

XI - elaboração de normas para regular as atividades de serviços privados de saúde, tendo


em vista a sua relevância pública;

XII - realização de operações externas de natureza financeira de interesse da saúde,


autorizadas pelo Senado Federal;

XIII - para atendimento de necessidades coletivas, urgentes e transitórias, decorrentes de


situações de perigo iminente, de calamidade pública ou de irrupção de epidemias, a
autoridade competente da esfera administrativa correspondente poderá requisitar bens e
serviços, tanto de pessoas naturais como de jurídicas, sendo-lhes assegurada justa
indenização;

XIV - implementar o Sistema Nacional de Sangue, Componentes e Derivados;

XV - propor a celebração de convênios, acordos e protocolos internacionais relativos à saúde,


==1c7550==

saneamento e meio ambiente;

XVI - elaborar normas técnico-científicas de promoção, proteção e recuperação da saúde;

XVII - promover articulação com os órgãos de fiscalização do exercício profissional e outras


entidades representativas da sociedade civil para a definição e controle dos padrões éticos
para pesquisa, ações e serviços de saúde;

XVIII - promover a articulação da política e dos planos de saúde;

XIX - realizar pesquisas e estudos na área de saúde;

XX - definir as instâncias e mecanismos de controle e fiscalização inerentes ao poder de


polícia sanitária;

XXI - fomentar, coordenar e executar programas e projetos estratégicos e de atendimento


emergencial.

O art. 16 dispõe acerca da responsabilidade da direção nacional do SUS, isto é, estabelece as


competências da direção do sistema no âmbito da União. O art. 17 estabelece as responsabilidades
estaduais e o art. 18 as responsabilidades municipais, para os quais remetemos o aluno de forma a evitar
a reprodução integral da lei. Por fim, ao Distrito Federal competem as atribuições dos Estados e dos
Municípios (art. 19).

Vale destacar, conforma já ressaltado, que a lei reforçou o papel do Município como
principal executor das ações de Saúde.

Esta constatação é extraída, por exemplo, do art. 18, I, que define como atribuição do município
“planejar, organizar, controlar e avaliar as ações e os serviços de saúde e gerir e executar os serviços
públicos de saúde”. Além disso, cabe aos Municípios:

IV - executar serviços:

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 14
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

a) de vigilância epidemiológica;

b) vigilância sanitária;

c) de alimentação e nutrição;

d) de saneamento básico; e

e) de saúde do trabalhador;

Por sua vez, o art. 17, incisos I e III estabelecem a atribuição dos Estados para:

I - promover a descentralização para os Municípios dos serviços e das ações de saúde;

III - prestar apoio técnico e financeiro aos Municípios e executar supletivamente ações e
serviços de saúde;

À União são reservadas atribuições principalmente de coordenação, normatização e formulação de


políticas públicas na área da saúde, bem como de financiamento. Veja o que dispõe o art. 16, XV:

XV - promover a descentralização para as Unidades Federadas e para os Municípios, dos


serviços e ações de saúde, respectivamente, de abrangência estadual e municipal;

O parágrafo único do art. 16 deixa clara a excepcionalidade da execução direta das ações de saúde pela
União:

Parágrafo único. A União poderá executar ações de vigilância epidemiológica e sanitária em


circunstâncias especiais, como na ocorrência de agravos inusitados à saúde, que possam
escapar do controle da direção estadual do Sistema Único de Saúde (SUS) ou que
representem risco de disseminação nacional.

O termo “como na ocorrência de agravos inusitados à saúde (...)” evidencia o caráter exemplificativo
dessa expressão, de forma que a União poderá assumir a execução direta de ações de vigilância
epidemiológica e sanitária em circunstâncias especiais diversas das citadas.

3.2.6 - Dos subsistemas

A lei orgânica do SUS foi alterada algumas vezes para incluir os seguintes pontos:

a) Subsistema de atenção à saúde indígena (arts. 19-A a 19-H);


b) Subsistema de atendimento e internação domiciliar (art. 19-I);
c) Subsistema de acompanhamento durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato (Art.
19-J);
d) Da assistência terapêutica e da incorporação de tecnologia em saúde.

Acerca desses dispositivos, basta a leitura da legislação.

3.2.7 - Serviços privados de assistência à saúde

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 15
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

Os serviços privados de assistência à saúde são caracterizados pela atuação, por iniciativa própria:

Profissionais liberais, legalmente habilitados.


Promoção

Proteção
Pessoas jurídicas de direito privado
Recuperação

Art. 21. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada.

As empresas e o capital estrangeiro podem participar dos serviços de saúde, direta ou indiretamente,
nos seguintes casos (art. 23)

I - doações de organismos internacionais vinculados à Organização das Nações Unidas, de


entidades de cooperação técnica e de financiamento e empréstimos;

II - pessoas jurídicas destinadas a instalar, operacionalizar ou explorar:

a) hospital geral, inclusive filantrópico, hospital especializado, policlínica, clínica geral e


clínica especializada; e

b) ações e pesquisas de planejamento familiar;

III - serviços de saúde mantidos, sem finalidade lucrativa, por empresas, para atendimento
de seus empregados e dependentes, sem qualquer ônus para a seguridade social; e

IV - demais casos previstos em legislação específica.

Além disso, garante-se a participação complementar da iniciativa privada nas ações do


SUS quando as disponibilidades públicas forem insuficientes, de forma a garantir cobertura
assistencial à população (art. 24).

A participação ocorre por meio de contrato ou convênio, dando-se preferência para as entidades
filantrópicas e as sem finalidade lucrativa (art. 24, parágrafo único e art. 25).

Os serviços contratados submeter-se-ão às normas técnicas e administrativas e aos princípios e


diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), mantido o equilíbrio econômico e financeiro do contrato.

Aos proprietários, administradores e dirigentes de entidades ou serviços contratados é vedado exercer


cargo de chefia ou função de confiança no Sistema Único de Saúde (SUS).

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 16
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

Art. 43. A gratuidade das ações e serviços de saúde fica preservada nos serviços públicos
contratados, ressalvando-se as cláusulas dos contratos ou convênios estabelecidos com as
entidades privadas.

Art. 46. O Sistema Único de Saúde (SUS), estabelecerá mecanismos de incentivos à


participação do setor privado no investimento em ciência e tecnologia e estimulará a
transferência de tecnologia das universidades e institutos de pesquisa aos serviços de saúde
nos Estados, Distrito Federal e Municípios, e às empresas nacionais.

3.2.8 - Política Nacional de Atenção Integral à Pessoas Privadas de Liberdade (PNAISP)

De acordo com o Ministério da Saúde:

A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no


Sistema Prisional (PNAISP) foi instituída por meio da Portaria Interministerial nº 1, de 2 de
janeiro de 2014, que disciplina os objetivos, as diretrizes, bem como as responsabilidades do
Ministério da Saúde, do Ministério da Justiça e Segurança Pública, dos estados e do Distrito
Federal, representados pelas Secretarias de Saúde, de Justiça ou congêneres e dos
municípios.

O principal objetivo é fazer com que as pessoas privadas de liberdade no sistema prisional tenham
acesso ao cuidado integral pelo SUS, devendo tais serviços serem ponto de atenção da Rede de Atenção
à Saúde (RAS) do SUS.

Art. 3º A PNAISP será regida pelos seguintes princípios:

I - respeito aos direitos humanos e à justiça social;

II - integralidade da atenção à saúde da população privada de liberdade no conjunto de ações


de promoção, proteção, prevenção, assistência, recuperação e vigilância em saúde,
executadas nos diferentes níveis de atenção;

III - equidade, em virtude de reconhecer as diferenças e singularidades dos sujeitos de


direitos;

IV - promoção de iniciativas de ambiência humanizada e saudável com vistas à garantia da


proteção dos direitos dessas pessoas;

V - corresponsabilidade interfederativa quanto à organização dos serviços segundo a


complexidade das ações desenvolvidas, assegurada por meio da Rede Atenção à Saúde no
território; e

VI - valorização de mecanismos de participação popular e controle social nos processos de


formulação e gestão de políticas para atenção à saúde das pessoas privadas de liberdade.

Quanto aos beneficiários da PNAISP, tem-se o seguinte:

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 17
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

a) Pessoas que se encontram sob custódia do Estado inseridas no sistema prisional ou em


cumprimento de medida de segurança;
b) Os trabalhadores em serviços penais, os familiares e demais pessoas que se relacionam com as
pessoas privadas de liberdade serão envolvidos em ações de promoção da saúde e de prevenção
de agravos no âmbito da PNAISP.

As pessoas custodiadas nos regimes semiaberto e aberto serão preferencialmente assistidas


nos serviços da rede de atenção à saúde.
As pessoas submetidas à medida de segurança, na modalidade tratamento ambulatorial,
serão assistidas nos serviços da rede de atenção à saúde.

As ações serão ofertadas por equipes interdisciplinares, definidas da seguinte forma, conforme extraído
do site do Ministério da Saúde:

• Equipe de Atenção Primária Prisional Tipo I (eAPP-I) – formada por 5 profissionais, sendo
as mesmas categorias profissionais da Estratégia Saúde da Família (enfermeiro, médico, técnico
ou auxiliar de enfermagem, cirurgião-dentista e técnico ou auxiliar de saúde bucal), com carga
horária de seis horas semanais.
• Equipe de Atenção Primária Prisional Tipo I com Saúde Mental (eAPP-I com Saúde
Mental) - formada por oito profissionais: cinco profissionais das mesmas categorias
profissionais da Estratégia Saúde da Família, somados a um psiquiatra ou um médico com
experiência em Saúde Mental e dois profissionais escolhidos entre as seguintes categorias:
terapeuta ocupacional, fisioterapeuta, psicólogo, assistente social, farmacêutico ou enfermeiro.
Esta modalidade de equipe cumprirá carga horária de seis horas semanais.
• Equipe de Atenção Primária Prisional Tipo II (eAPP-II) – formada por oito profissionais:
cinco profissionais das mesmas categorias profissionais da Estratégia Saúde da Família, somados
a um psicólogo, um assistente social e um profissional escolhido entre as seguintes categorias:
terapeuta ocupacional, psicólogo, fisioterapeuta, nutricionista, farmacêutico, assistente social ou
enfermeiro. Esta modalidade de equipe cumprirá carga horária de 20 horas semanais.
• Equipe de Atenção Primária Prisional Tipo II com Saúde Mental (eAPP-II com Saúde
Mental) – formada por 11 profissionais: cinco profissionais das mesmas categorias profissionais
da Estratégia Saúde da Família, somados a um psiquiatra ou um médico com experiência em
Saúde Mental, um psicólogo, um assistente social e três profissionais escolhidos entre as
seguintes categorias: terapeuta ocupacional, psicólogo, fisioterapeuta, nutricionista,
farmacêutico, assistente social ou enfermeiro. Esta modalidade de equipe cumprirá a carga
horária de 20 horas semanais.
• Equipe de Atenção Primária Prisional Tipo III (eAPP-III) – formada por 11 profissionais:
cinco profissionais das mesmas categorias profissionais da Estratégia Saúde da Família, somados
a um psiquiatra ou um médico com experiência em Saúde Mental, um psicólogo, um assistente
social e três profissionais escolhidos entre as seguintes categorias: terapeuta ocupacional,
psicólogo, fisioterapeuta, nutricionista, farmacêutico, assistente social ou enfermeiro. Esta
modalidade de equipe cumprirá a carga horária de 30 horas semanais.

Art. 20. As pessoas privadas de liberdade poderão trabalhar nos serviços de saúde
implantados dentro das unidades prisionais, nos programas de educação e promoção da
saúde e nos programas de apoio aos serviços de saúde.

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 18
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

A adesão municipal à PNAISP será facultativa, devendo observar os seguintes critérios:

I - adesão estadual à PNAISP;

II - existência de população privada de liberdade em seu território;

III - assinatura do Termo de Adesão Municipal, conforme modelo constante no anexo II a esta
Portaria;

IV - elaboração de Plano de Ação Municipal para Atenção à Saúde da Pessoa Privada de


Liberdade, de acordo com o modelo constante no anexo III; e

V - encaminhamento da respectiva documentação ao Ministério da Saúde para aprovação.

Quanto aos demais pontos, sugerimos a leitura da Portaria Interministerial nº 1, de 2 de janeiro de 2014.

4 - LEI 8.142/1990
A lei n. 8.142/90 dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS)
e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde.

A participação social no SUS é uma das diretrizes das ações e serviços públicos de saúde, prevista no art.
198, III, CF), além de ser tratada como um princípio do SUS no art. 7º da lei 8.080/90.

Neste sentido, cada esfera de governo deverá contar com as seguintes instâncias colegiadas:

a) Conferência de saúde;
b) Conselho de saúde.

A Conferência de Saúde reunir-se-á a cada quatro anos com a representação dos vários
segmentos sociais, para avaliar a situação de saúde e propor as diretrizes para a formulação
da política de saúde nos níveis correspondentes, convocada pelo Poder Executivo ou,
extraordinariamente, por esta ou pelo Conselho de Saúde.

§ 2° O Conselho de Saúde, em caráter permanente e deliberativo, órgão colegiado


composto por representantes do governo, prestadores de serviço, profissionais de saúde e
usuários, atua na formulação de estratégias e no controle da execução da política de saúde
na instância correspondente, inclusive nos aspectos econômicos e financeiros, cujas decisões
serão homologadas pelo chefe do poder legalmente constituído em cada esfera do governo.

O Conselho Nacional de Secretários de Saúde – CONASS e o Conselho Nacional de Secretários


Municipais de Saúde – CONASEMS terão representação no Conselho Nacional de Saúde.

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 19
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

Tanto os conselhos quanto as conferências possuem, em sua composição:


representantes do governo, dos usuários, dos trabalhadores de saúde e dos
prestadores de serviços, escolhidos por votação dos órgãos que fazem parte.

Os conselhos não executam atividades no âmbito da saúde. Sua atribuição é controlar


a execução.

A representação dos usuários nos Conselhos de Saúde e Conferência de Saúde será́ paritária
em relação ao conjunto dos demais segmentos.

A lei ainda estabelece normas acerca dos recursos destinados à saúde. Neste sentido, estabeleceu que
os recursos do Fundo Nacional de Saúde (FNS) sejam alocados como:

I - despesas de custeio e de capital do Ministério da Saúde, seus órgãos e entidades, da


administração direta e indireta;

II - investimentos previstos em lei orçamentária, de iniciativa do Poder Legislativo e


aprovados pelo Congresso Nacional;

III - investimentos previstos no Plano Qüinqüenal do Ministério da Saúde;

IV - cobertura das ações e serviços de saúde a serem implementados pelos Municípios,


Estados e Distrito Federal.

Parágrafo único. Os recursos referidos no inciso IV deste artigo destinar-se-ão a


investimentos na rede de serviços, à cobertura assistencial ambulatorial e hospitalar e às
demais ações de saúde.

Os recursos da cobertura das ações e serviços de saúde a serem implementados pelos Municípios,
Estados e Distrito Federal serão repassados de forma regular e automática para os Municípios, Estados
e Distrito Federal, de acordo com os critérios previsto na lei 8.080/90, sendo destinado, ao menos, 70%
(setenta por cento) aos Municípios.

Art. 4° Para receberem os recursos, de que trata o art. 3° desta lei, os Municípios, os Estados
e o Distrito Federal deverão contar com:

I - Fundo de Saúde;

II - Conselho de Saúde, com composição paritária de acordo com o Decreto n° 99.438, de 7


de agosto de 1990;

III - plano de saúde;

IV - relatórios de gestão que permitam o controle de que trata o § 4° do art. 33 da Lei n°


8.080, de 19 de setembro de 1990;

V - contrapartida de recursos para a saúde no respectivo orçamento;

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 20
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

VI - Comissão de elaboração do Plano de Carreira, Cargos e Salários (PCCS), previsto o prazo


de dois anos para sua implantação.

5 - LEI COMPLEMENTAR 141/2012


A LC n. 141/12 regulamenta o § 3º do art. 198 da Constituição Federal para dispor sobre os valores
mínimos a serem aplicados anualmente pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios em ações e
serviços públicos de saúde; estabelece os critérios de rateio dos recursos de transferências para a saúde
e as normas de fiscalização, avaliação e controle das despesas com saúde nas 3 (três) esferas de governo.

Entendemos que, caso haja exigência desta norma, será da letra fria da lei, bastando ao aluno a leitura
atenta da legislação. Desta forma, para evitar a repetição, indicamos a leitura da LC 141/12.

6 - A EFETIVAÇÃO E A JUDICIALIZAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS


DE SAÚDE. JURISPRUDÊNCIA ACERCA DO DIREITO À SAÚDE

6.1 - Medicamentos

De início, é importante lembrar que os arts. 6º e 196 da CF estabelecem o Direito à saúde como um dever
do Estado, cabendo a este a promoção de medidas positivas para garantir a sua efetivação. Além disso,
a lei 8.080/90 estabelece que:

Art. 6º. Estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema Único de Saúde (SUS):

I - a execução de ações:

d) de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica;

Logo, compete ao Poder Público, por meio do SUS, proporcionar total assistência aos indivíduos de
forma a garantir-lhes a saúde, seja por meio da assistência farmacêutica, fornecendo medicamentos
básicos para a população, seja por meio da assistência terapêutica, fornecendo órteses, próteses,
cadeiras de rodas etc., além dos procedimentos cirúrgicos necessários.

Neste molde, o Ministério da Saúde formula listagem geral de medicamentos essenciais a serem
fornecidos gratuitamente à população – o RENAME (Relação Nacional de Medicamentos Essenciais) –
com fundamento em elementos técnico-científicos.

De acordo com o art. 25 do Decreto 7.508/2011:

Art. 25. A Relação Nacional de Medicamentos Essenciais - RENAME compreende a seleção e


a padronização de medicamentos indicados para atendimento de doenças ou de agravos no
âmbito do SUS.

À Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde – CONITEC, criada pelo
Decreto 7.646/2011, compete propor a atualização do RENAME (art. 4º, II).

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 21
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

A consolidação e publicação das atualizações da RENAME competem ao Ministério da


Saúde, o que ocorrerá a cada 2 (dois) anos (art. 26, parágrafo único, Decreto
7.508/2011).

Art. 27. O Estado, o Distrito Federal e o Município poderão adotar relações específicas e
complementares de medicamentos, em consonância com a RENAME, respeitadas as
responsabilidades dos entes pelo financiamento de medicamentos, de acordo com o
pactuado nas Comissões Intergestores.

Ponto de fundamental importância é definido no art. 29 do referido decreto: A RENAME e a


relação específica complementar estadual, distrital ou municipal de medicamentos
somente poderão conter produtos com registro na Agência Nacional de Vigilância
Sanitária - ANVISA.

O decreto 7.508/2011 ainda buscou estabelecer diretrizes/requisitos para fornecimento dos fármacos
pelo Poder Público. De acordo com o art. 28, para que haja acesso aos medicamentos, há necessidade de
observância dos seguintes requisitos, de forma cumulativa:

a) estar o usuário assistido por ações e serviços de saúde do SUS;


b) ter o medicamento sido prescrito por profissional de saúde, no exercício regular de suas
funções no SUS;
c) estar a prescrição em conformidade com a RENAME e os Protocolos Clínicos e Diretrizes
Terapêuticas ou com a relação específica complementar estadual, distrital ou municipal de
medicamentos; e
d) ter a dispensação ocorrido em unidades indicadas pela direção do SUS.

A intenção do decreto é, claramente, excluir da dispensação de medicamentos do SUS aqueles que estão
assistidos por planos ou seguros de saúde ou por médicos privados, além de excluir da responsabilidade
do Poder Público o fornecimento de fármacos fora da lista da RENAME ou da relação específica
complementar dos demais Entes Federados.

Ocorre que há muita discussão acerca da legalidade desses requisitos, sendo que, na prática, o Poder
Judiciário, em geral, tem dado decisões desconsiderando esses requisitos em favor do dever legal e
constitucional de promover a saúde.

O art. 28 ainda dispõe:

§ 1º Os entes federativos poderão ampliar o acesso do usuário à assistência farmacêutica,


desde que questões de saúde pública o justifiquem.

§ 2º O Ministério da Saúde poderá estabelecer regras diferenciadas de acesso a


medicamentos de caráter especializado.

6.1.1 - Requisitos para a concessão judicial de medicamentos não previstos nas listas do SUS

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 22
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

Conforme estudamos, o Poder Público estabelece uma lista de medicamentos essenciais, com
fundamento técnico-científico, que serão fornecidos pelo SUS à população, desde que esses fármacos
tenham sido aprovados pela ANVISA.

No entanto, a norma que prevê tais disposições possui natureza infralegal, sendo válida a discussão
acerca da sua legalidade, isto é, se poderia restringir o que a lei não restringiu, bem como se atende aos
preceitos constitucionais que estabelecem o Direito à Saúde.

Neste sentido, o STJ proferiu decisão estabelecendo taxativamente requisitos cumulativos para o
fornecimento de medicação não contida nas listas do SUS:

Jurisprudência do STJ
A tese fixada no julgamento repetitivo passa a ser: A concessão dos medicamentos não
incorporados em atos normativos do SUS exige a presença cumulativa dos seguintes
requisitos: i) Comprovação, por meio de laudo médico fundamentado e circunstanciado
expedido por médico que assiste o paciente, da imprescindibilidade ou necessidade do
medicamento, assim como da ineficácia, para o tratamento da moléstia, dos
fármacos fornecidos pelo SUS; ii) incapacidade financeira de arcar com o custo do
medicamento prescrito; iii) existência de registro do medicamento na ANVISA,
observados os usos autorizados pela agência.

(EDcl no REsp 1657156/RJ, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA SEÇÃO,


julgado em 12/09/2018, DJe 21/09/2018)

Restou definido ainda que: “não cabe ao STJ definir os elementos constantes do laudo médico a ser
apresentado pela parte autora. Incumbe ao julgador nas instâncias ordinárias, no caso concreto,
verificar se as informações constantes do laudo médico são suficientes à formação de seu
convencimento. 3. Da mesma forma, cabe ao julgador avaliar, a partir dos elementos de prova juntados
pelas partes, a alegada ineficácia do medicamento fornecido pelo SUS decidindo se, com a utilização do
medicamento pedido, poderá haver ou não uma melhoria na resposta terapêutica que justifique a
concessão do medicamento”.

Outro ponto é que o laudo médico apresentado pela parte não vincula o julgador, isto é, cabe
ao juiz avaliar o laudo e verificar se as informações constantes nele são suficientes para a
formação de seu convencimento quanto à imprescindibilidade do medicamento.

Por fim, a Corte Superior modulou os efeitos da decisão, de forma que os requisitos elencados sejam
exigidos de forma cumulativa somente quanto aos processos distribuídos a partir da data da publicação
do acórdão embargado, ou seja, 04/05/2018.

6.1.2 - Medicamentos não aprovados pela ANVISA

Conforme visto, nos EDcl no REsp 1657156/RJ restaram definidos os requisitos para fornecimento de
medicamentos não previstos nas listas do SUS, dentre eles a exigência de registro do medicamento na
ANVISA. No entanto, a exigência de registro foi excepcionada em decisão pelo STF, que definiu a
possibilidade de o Poder Judiciário, em caráter excepcional, determinar que o Poder Público forneça
medicamento não registrado na ANVISA quando preenchidos os requisitos definidos pela Corte.

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 23
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

Vale destacar, no entanto, que em nenhuma hipótese poderá o Poder Judiciário


determinar o fornecimento de medicamentos experimentais, sem comprovação
científica de eficácia e segurança, ainda em fase de pesquisas e testes.

No entanto, no caso dos medicamentos com eficácia e segurança comprovadas e testes concluídos,
mas ainda sem registro na ANVISA, o fornecimento por decisão judicial será hipótese absolutamente
excepcional, apenas quando houver mora irrazoável da ANVISA em apreciar o pedido de registro,
devendo o interessado, ainda neste caso, comprovar os seguintes requisitos cumulativos:

a) A existência de pedido de registro do medicamento no Brasil (salvo no caso de medicamentos


órfãos para doenças raras e ultrarraras);
b) A existência de registro do medicamento pleiteado em renomadas agências de regulação no
exterior (e.g., EUA, União Europeia e Japão); e
c) A inexistência de substituto terapêutico registrado na ANVISA.

Assim, temos o seguinte:

Experimentais Não pode ser


(fase de testes ou fornecido por
pesquisas) decisão judicial

Mora irrazoável da
ANVISA em apreciar
Medicamentos o pedido de registro
não registrados
na ANVISA
Pedido de registro
no Brasil (salvo
medicamentos
Pode ser órfãos para doenças
Eficácia e
fornecido por raras e ultrarraras);
segurança
decisão judicial
comprovadas e
nos seguintes
testes concluídos Registro em
casos
renomadas agências
de regulação no
exterior

Inexistência de
substituto
registrado na
ANVISA.

Jurisprudência do STF

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 24
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

1. O Estado não pode ser obrigado a fornecer medicamentos experimentais. 2. A ausência


de registro na ANVISA impede, como regra geral, o fornecimento de medicamento por
decisão judicial. 3. É possível, excepcionalmente, a concessão judicial de medicamento
sem registro sanitário, em caso de mora irrazoável da ANVISA em apreciar o pedido de
registro (prazo superior ao previsto na Lei nº 13.411/2016), quando preenchidos três
requisitos: (i) a existência de pedido de registro do medicamento no Brasil (salvo no caso
de medicamentos órfãos para doenças raras e ultrarraras); (ii) a existência de registro do
medicamento em renomadas agências de regulação no exterior; e (iii) a inexistência de
substituto terapêutico com registro no Brasil. 4. As ações que demandem fornecimento de
medicamentos sem registro na Anvisa deverão necessariamente ser propostas em face da
União”.

(RE 657718, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: ROBERTO BARROSO,


Tribunal Pleno, julgado em 22/05/2019, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL
- MÉRITO DJe-267 DIVULG 06-11-2020 PUBLIC 09-11-2020)

Por fim, definiu o STF que as ações que demandem o fornecimento de medicamentos não
registrados pela ANVISA devem ser propostas em face da União:

Jurisprudência do STF
3. As ações que demandem fornecimento de medicamentos sem registro na ANVISA
deverão necessariamente ser propostas em face da União. Precedente específico: RE
657.718, Rel. Min. Alexandre de Moraes. 4. Embargos de declaração desprovidos.

(RE 855178 ED, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Relator(a) p/ Acórdão: Min. EDSON FACHIN,
Tribunal Pleno, julgado em 23/05/2019, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-090 DIVULG 15-
04-2020 PUBLIC 16-04-2020)

6.1.3 – Medicamento sem registro na ANVISA, porém, com autorização de importação pela
autarquia

O STF estabeleceu ainda uma hipótese excepcional em que, ainda que o medicamento não possua
registro na ANVISA, deverá ser fornecido pelo Poder Público quando, preenchidos os requisitos da
decisão do STJ no EDcl no REsp 1657156/RJ, exceto o registro prévio, a autarquia de vigilância sanitária
já tiver autorizado a importação do fármaco:

Constatada a incapacidade financeira do paciente, o Estado deve fornecer medicamento que,


apesar de não possuir registro sanitário, tem a importação autorizada pela Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (Anvisa). Para tanto, devem ser comprovadas a imprescindibilidade
do tratamento e a impossibilidade de substituição por outro similar constante das listas
oficiais de dispensação e dos protocolos de intervenção terapêutica do Sistema Único de
Saúde (SUS). (RE 1165959/SP, relator Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min.
Alexandre de Moraes – Informativo 1022 do STF).

A decisão se assemelha bastante ao precedente do STJ, haja vista que apenas flexibilizou o terceiro
requisito, qual seja, o registro na ANVISA, aceitando apenas uma simples autorização da agência
reguladora.

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 25
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

“O processo, de autoria do Estado de São Paulo, chegou ao Supremo após o Tribunal de Justiça estadual
(TJ-SP) confirmar decisão de primeira instância e determinar o fornecimento de medicamento à base
de canabidiol para um paciente menor de idade que sofre de encefalopatia crônica por citomegalovírus
congênito e de epilepsia intratável, com quadro de crises graves e frequentes.”

Assim, essa decisão se aproxima da decisão do STJ, apenas flexibilizando o requisito de registro na
ANVISA, quando a agência reguladora já tiver autorizado a importação do medicamento.

6.1.4 - Legitimidade do MP para ajuizar ação pedindo o fornecimento de medicamento

Ponto relevante é a possibilidade de o Ministério Público propor ação judicial para pleitear o
fornecimento de medicamento de forma individual.

A questão é facilmente resolvida pela própria Constituição Federal, haja vista que atribuiu ao parquet a
competência para a defesa de direitos individuais indisponíveis:

LEGITIMIDADE – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – FORNECIMENTO DE REMÉDIOS – MINISTÉRIO


PÚBLICO – O Ministério Público possui legitimidade para ajuizar ação civil pública com
objetivo de compelir entes federados a entregarem medicamentos a portadores de certa
doença.

(RE 605533, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 15/08/2018,


ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-028 DIVULG 11-02-2020
PUBLIC 12-02-2020)

4. Com efeito, a disciplina do direito à saúde encontra na jurisprudência pátria a


correspondência com o próprio direito à vida, de forma que a característica da
indisponibilidade do direito já decorreria dessa premissa firmada.
5. Assim, inexiste violação dos dispositivos dos arts. 1º, V, e 21 da Lei n. 7.347/1985, bem
como do art. 6º do CPC/1973, uma vez que a atuação do Ministério Público, em demandas
de saúde, assim como nas relativas à dignidade da pessoa humana, tem assento na
indisponibilidade do direito individual, com fundamento no art. 1º da Lei n. 8.625/1993 (Lei
Orgânica Nacional do Ministério Público).
6. Tese jurídica firmada: O Ministério Público é parte legítima para pleitear tratamento
médico ou entrega de medicamentos nas demandas de saúde propostas contra os
entes federativos, mesmo quando se tratar de feitos contendo beneficiários
individualizados, porque se refere a direitos individuais indisponíveis, na forma do
art. 1º da Lei n. 8.625/1993 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público).
(...)
(REsp 1682836/SP, Rel. Ministro OG FERNANDES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em
25/04/2018, DJe 30/04/2018)

Na propositura de ações coletivas para que o Ente Público forneça medicamentos, a legitimidade do
Ministério Público é indiscutível, haja vista a sua atribuição para tutelar os interesses sociais, difusos e
coletivos:

CF:

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 26
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do


Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses
sociais e individuais indisponíveis.

6.1.5 - Judiciário pode obrigar administração pública a manter quantidade mínima de


medicamento em estoque

Outro caso relevante, este especificamente envolvendo o Estado do Rio de Janeiro, diz respeito à
obrigatoriedade ou não da Administração Pública de manter determinado medicamento em estoque,
bem como a possibilidade de o Poder Judiciário obrigar o Estado a promover tal política pública.

Importa ressaltar que, no caso concreto, o Estado não se negou a fornecer medicamento de alto custo
para os portadores da chamada “doença de Gaucher”, negando-se apenas a manter o remédio em
estoque pelo prazo de dois meses. Trata-se do fármaco CEREZYME – único medicamento eficaz contra
a doença – de custo elevado, produzido por um fabricante dos EUA e importado pela Secretaria de
Estado de Saúde.

No caso, de acordo com o STF, o Poder Judiciário poderia impor ao Executivo a manutenção
de tal medicamento em estoque, não havendo ofensa à separação dos poderes, haja vista que
a negativa de promover tal medida configura omissão inconstitucional, devendo tal
inconstitucionalidade ser reconhecida e remediada pelo Poder Judiciário.

Neste sentido, reconheceu que “Não tendo a Administração adquirido o medicamento em tempo hábil
a dar continuidade ao tratamento dos pacientes, atuou de forma ilegítima, violando o direito à saúde
daqueles pacientes, o que autoriza a ingerência do Poder Judiciário. Inexistência de afronta à
independência de poderes”.

(...) O exame pelo Poder Judiciário de ato administrativo tido por ilegal ou abusivo não
viola o princípio da separação dos poderes. Precedentes. V – O Poder Público não pode se
mostrar indiferente ao problema da saúde da população, sob pena de incidir, ainda que
por censurável omissão, em grave comportamento inconstitucional. Precedentes. VI –
Recurso extraordinário a que se nega provimento.

(RE 429903, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira Turma, julgado em


25/06/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-156 DIVULG 13-08-2014 PUBLIC 14-08-2014)

Assim, estabeleceu o seguinte:

Os atos da Administração Pública que importem em gastos estão sujeitos à reserva do


possível, consoante a previsão legal orçamentária. Por outro lado, a interrupção do
tratamento de saúde aos portadores do Mal de Gaucher importa em violação da
própria dignidade da pessoa humana. Princípios em conflito cuja solução é dada à luz
da ponderação de interesses, permeada pelo princípio da razoabilidade, no sentido de
determinar que Administração Pública mantenha sempre em estoque quantidade do
medicamento suficiente para garantir 02 meses de tratamento aos que necessitem.

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 27
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

6.1.6 - Chamamento ao processo e fornecimento de medicamento

Quanto a este tema, a discussão já se encontra definida, reconhecendo-se a obrigação solidária dos Entes
Federados no que diz respeito à promoção da saúde, de modo que cabe ao autor da ação escolher se a
propõe contra um, contra alguns ou contra todos os Entes Federados competentes, não havendo
obrigatoriedade de o juiz acatar eventual chamamento público da União ao processo.

Controvérsia submetida ao rito do art. 543-C do CPC 1. O chamamento ao processo da União


com base no art. 77, III, do CPC, nas demandas propostas contra os demais entes federativos
responsáveis para o fornecimento de medicamentos ou prestação de serviços de saúde, não
é impositivo, mostrando-se inadequado opor obstáculo inútil à garantia fundamental do
cidadão à saúde.
(...)
2. A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal entende que "o recebimento de
medicamentos pelo Estado é direito fundamental, podendo o requerente pleiteá-los de
qualquer um dos entes federativos, desde que demonstrada sua necessidade e a
impossibilidade de custeá-los com recursos próprios", e "o ente federativo deve se pautar no
espírito de solidariedade para conferir efetividade ao direito garantido pela Constituição, e
não criar entraves jurídicos para postergar a devida prestação jurisdicional", razão por que
"o chamamento ao processo da União pelo Estado de Santa Catarina revela-se medida
meramente protelatória que não traz nenhuma utilidade ao processo, além de atrasar
a resolução do feito, revelando-se meio inconstitucional para evitar o acesso aos
remédios necessários para o restabelecimento da saúde da recorrida" (RE 607.381
AgR, Relator Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, DJ 17.6.2011). Caso concreto 3. Na hipótese
dos autos, o acórdão recorrido negou o chamamento ao processo da União, o que está em
sintonia com o entendimento aqui fixado.
(REsp 1203244/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em
09/04/2014, DJe 17/06/2014)

6.1.7 - Medicamentos de alto custo

Outra relevante discussão que chegou ao STF, esta ainda pendente de conclusão, diz respeito à
possibilidade de o Poder Judiciário obrigar o Poder Executivo a fornecer medicamentos de alto custo,
especialmente aqueles com capacidade de abalar o sistema de saúde e que atraem como contraponto a
reserva do possível.

Após a decisão a respeito do fornecimento de medicamentos não registrados pela ANVISA (RE 657718
– tema 500 da repercussão geral), o STF novamente iniciou julgamento sobre o Direito à Saúde, desta
vez sobre o fornecimento de fármacos de alto custo a portador de doença grave que não possui
condições financeiras para adquiri-lo (tema 6 da repercussão geral).

Neste sentido, a Corte Suprema, por maioria de votos, manteve o entendimento de que a obrigação do
Estado de fornecer medicamentos não registrados na Anvisa é exceção. Todavia, ficou assentado que a
Corte iria definir requisitos para o fornecimento desses medicamentos, o que foi adiado para nova
sessão.

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 28
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

Em resumo, os Ministros divergiram quanto aos requisitos para determinação de fornecimento de


medicamentos de alto custo, de forma que, até o momento, o julgamento não foi finalizado.

6.2 - Formas de efetivação das políticas públicas de saúde pelo Poder Judiciário

➢ Responsabilidade solidária dos entes federados – Litisconsórcio passivo –


Direcionamento do cumprimento da tutela pela autoridade judicial

O primeiro ponto de importante consideração, e que é muito explorado em concursos públicos, é a


obrigação solidária entre os Entes Federados no que diz respeito às prestações na área da saúde. Como
estudado, os indivíduos possuem um direito às prestações de saúde, sendo que o “devedor” desta
relação jurídica é o Poder Público.

Além disso, a competência para cuidar da saúde pública é comum entre os Entes Federados (art. 23, II,
CF), de forma que União, Estados, Distrito Federal e Municípios são responsáveis pelas prestações de
saúde no país.

Por mais que a lei 8.080/90 tenha definido a distribuição de competências e atribuições no que diz
respeito às políticas de saúde – e isto unicamente para evitar prestação em duplicidade e conferir
racionalidade às políticas públicas neste setor social –, é certo que estas disposições legais não atenuam
a responsabilidade de qualquer desses entes de fornecimento desde o mais simples fármaco ao mais
complexo tratamento terapêutico.

Por este motivo, é jurisprudência pacífica dos Tribunais Superiores que o indivíduo pode escolher
contra qual Ente Federado proporá a ação judicial de obrigação de fazer na área da saúde, podendo
pleitear individualmente em face da União, do seu Estado ou de seu Município ou propor a ação em
litisconsórcio passivo em face de todos ou alguns destes:

1. É da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal que o tratamento médico adequado


aos necessitados se insere no rol dos deveres do Estado, porquanto responsabilidade
solidária dos entes federados. O polo passivo pode ser composto por qualquer um
deles, isoladamente, ou conjuntamente. (...) 3. As ações que demandem fornecimento
de medicamentos sem registro na ANVISA deverão necessariamente ser propostas em
face da União. Precedente específico: RE 657.718, Rel. Min. Alexandre de Moraes. 4.
Embargos de declaração desprovidos.

(RE 855178 ED, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Relator(a) p/ Acórdão: Min. EDSON FACHIN,
Tribunal Pleno, julgado em 23/05/2019, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-090 DIVULG 15-
04-2020 PUBLIC 16-04-2020)

Por fim, definiu a Corte que, “a fim de otimizar a compensação entre os entes federados,
compete à autoridade judicial, diante dos critérios constitucionais de descentralização e
hierarquização, direcionar, caso a caso, o cumprimento conforme as regras de repartição de
competências e determinar o ressarcimento a quem suportou o ônus financeiro.”

➢ Bloqueio de verbas públicas para atendimento de demandas da saúde

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 29
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

Um dos principais entendimentos das Cortes Superiores acerca da efetivação do Direito à Saúde
estabelece a possibilidade de bloqueio de verbas públicas para garantir o fornecimento de
medicamentos e, de forma analógica, para atender a demandas de saúde.

A decisão toca em um ponto que sempre foi um “tabu” no direito brasileiro, haja vista a vedação a que
Poder Judiciário determine bloqueio ou penhora de verbas ou bens públicos para satisfação de tutelas
judiciais, uma vez que, para tanto, deve-se valer o regime de precatório (art. 100, CF).

Além disso, há o atributo de impenhorabilidade dos bens públicos, o que, evidentemente, se aplica às
verbas estatais constantes das suas contas bancárias.

No entanto, em uma ponderação de valores entre tais “dogmas” do direito Administrativo e o direito à
saúde, a dignidade humana e, em último estágio, o direito à vida, o STJ deu prevalência a estes últimos,
estabelecendo a possiblidade de bloqueio de verbas públicas quando o Poder Executivo vem se
recusando a cumprir decisão judicial que determine prestação na área da saúde:

1. Tratando-se de fornecimento de medicamentos, cabe ao Juiz adotar medidas eficazes à


efetivação de suas decisões, podendo, se necessário, determinar até mesmo, o sequestro
de valores do devedor (bloqueio), segundo o seu prudente arbítrio, e sempre com
adequada fundamentação.

(REsp 1069810/RS, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA SEÇÃO,
julgado em 23/10/2013, DJe 06/11/2013)

➢ É possível a imposição de astreintes contra a Fazenda Pública para fornecimento de


medicamento

Além do bloqueio de verbas, definiu-se também a possibilidade de imposição de astreintes (multa


diária) em face da Fazenda Pública para obrigá-la a fornecer a prestação determinada pelo Poder
Judiciário:

3. A particularidade de impor obrigação de fazer ou de não fazer à Fazenda Pública não


ostenta a propriedade de mitigar, em caso de descumprimento, a sanção de pagar multa
diária, conforme prescreve o § 5º do art. 461 do CPC/1973. E, em se tratando do direito à
saúde, com maior razão deve ser aplicado, em desfavor do ente público devedor, o
preceito cominatório, sob pena de ser subvertida garantia fundamental. Em outras
palavras, é o direito-meio que assegura o bem maior: a vida.

4. À luz do § 5º do art. 461 do CPC/1973, a recalcitrância do devedor permite ao juiz que,


diante do caso concreto, adote qualquer medida que se revele necessária à satisfação do
bem da vida almejado pelo jurisdicionado. Trata-se do "poder geral de efetivação",
concedido ao juiz para dotar de efetividade as suas decisões.

5. A eventual exorbitância na fixação do valor das astreintes aciona mecanismo de


proteção ao devedor: como a cominação de multa para o cumprimento de obrigação de
fazer ou de não fazer tão somente constitui método de coerção, obviamente não faz coisa
julgada material, e pode, a requerimento da parte ou ex officio pelo magistrado, ser

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 30
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

reduzida ou até mesmo suprimida, nesta última hipótese, caso a sua imposição não se
mostrar mais necessária.

(REsp 1474665/RS, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em


26/04/2017, DJe 22/06/2017)

➢ Fornecimento de medicamentos por meio de MS - impossibilidade

Quanto ao assunto, baste a leitura da didática decisão do STJ:

2. O Supremo Tribunal Federal, após realização de audiência pública sobre a matéria, no


julgamento da SL N. 47/PE, ponderou que o reconhecimento do direito a determinados
medicamentos deve ser analisado caso a caso, conforme as peculiaridades fático-
probatórias, ressaltando que, "em geral, deverá ser privilegiado o tratamento fornecido pelo
SUS em detrimento de opção diversa escolhida pelo paciente, sempre que não for
comprovada a ineficácia ou a impropriedade da política de saúde existente".
3. Laudo médico particular não é indicativo de direito líquido e certo. Se não submetido
ao crivo do contraditório, é apenas mais um elemento de prova, que pode ser ratificado, ou
infirmado, por outras provas a serem produzidas no processo instrutório, dilação probatória
incabível no mandado de segurança.
4. Nesse contexto, a impetrante deve procurar as vias ordinárias para o reconhecimento de
seu alegado direito, já que o laudo médico que apresenta, atestado por profissional
particular, sem o crivo do contraditório, não evidencia direito líquido e certo para o fim de
impetração do mandado de segurança.

5. A alegativa da impetrante - de que o pedido ao SUS para que forneça seringas, lancetas
e fitas reagentes impõe um longo processo burocrático incompatível com a gravidade da
doença - demanda dilação probatória não admitida no rito do mandado de segurança, já
que a autoridade coatora afirmou que fornece gratuitamente esses utensílios, mediante
simples requerimento no posto credenciado.

(RMS 30.746/MG, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em


27/11/2012, DJe 06/12/2012)

6.3 - Outras decisões importantes

6.3.1 - Constitucionalidade do ressarcimento ao SUS previsto no art. 32 da Lei 9.656/98

A lei 9.656/98, que dispõe sobre os planos e seguros privados de saúde, estabeleceu, em seu art. 32, a
obrigatoriedade de ressarcimento ao SUS dos serviços por este realizados em consumidores e
dependentes dos referidos planos e seguros:

Art. 32. Serão ressarcidos pelas operadoras dos produtos de que tratam o inciso I e o § 1º do
art. 1º desta Lei, de acordo com normas a serem definidas pela ANS, os serviços de
atendimento à saúde previstos nos respectivos contratos, prestados a seus consumidores e
respectivos dependentes, em instituições públicas ou privadas, conveniadas ou contratadas,

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 31
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

integrantes do Sistema Único de Saúde - SUS. (Redação dada pela Medida Provisória nº
2.177-44, de 2001)

O ressarcimento deverá ser realizado pela operadora dos produtos tratados pela lei, com base em regra
de valoração aprovada e divulgada pela ANS, mediante crédito ao Fundo Nacional de Saúde – FNS, até o
15º (décimo quinto) dia da data de recebimento da notificação de cobrança feita pela ANS.

De acordo com o STF, a cobrança disciplinada no art. 32 da Lei 9.656/98 ostenta natureza
jurídica indenizatória ex lege (receita originária), sendo inaplicáveis as disposições
constitucionais concernentes às limitações estatais ao poder de tributar, entre elas a
necessidade de edição de lei complementar.

As operadoras de planos e seguros de saúde sustentavam que a participação das operadoras privadas
de plano de saúde é de caráter suplementar, dado que o dever primário de assegurar o acesso à saúde
é atribuído pela Constituição aos entes políticos que compõem a organização federativa brasileira.

Além disso, argumentavam que o ressarcimento interferiria na livre iniciativa assegurada pelo art. 199,
CF, bem como que a instituição de nova fonte de custeio para a seguridade social só poderia ocorrer por
lei complementar (art. 195, §4º, CF):

Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada.

§1º. As instituições privadas poderão participar de forma complementar do sistema único


de saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou convênio, tendo
preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos.

Defende, por fim, que há enriquecimento indevido do ente público em detrimento do patrimônio do
particular, pois, se o poder público se utiliza da tabela SUS para pagar a iniciativa privada, a mesma
tabela deve ser usada para ressarcir os atendimentos realizados no SUS.

Por outro lado, o Min. Relator Gilmar Mendes reconheceu que “Caso se admita a impossibilidade desse
ressarcimento, indiretamente estar-se-á financiando com recursos públicos as empresas privadas, as
quais certamente calculam suas receitas como forma de compensar financeiramente os custos dos
serviços contratados, criando situação de lucro certo (...)”. Invocou, neste ponto, o art. 199, §2º:

§ 2º É vedada a destinação de recursos públicos para auxílios ou subvenções às instituições


privadas com fins lucrativos.

Afirmou que não se trata de nova fonte de custeio da seguridade social, mas de crédito de natureza
indenizatória, ou seja, crédito não tributário (ressarcimento), de caráter originário.

Outro ponto relevante do voto foi a determinação da irrelevância da data em que o contrato
entre o indivíduo e a operadora para fins de incidência ou não do dever de ressarcir, sendo
relevante, na verdade, a data do fato que enseja o dever de ressarcir, isto é, o serviço prestado
pelo SUS. Se anterior à entrada em vigor da nova disposição legislativa que instituiu o

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 32
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

ressarcimento ex lege (04/06/1998), não haverá ressarcimento, se posterior, deve a


operadora ressarcir o Poder Público.

Outro ponto relevante da decisão diz respeito ao valor cobrado das operadoras de planos e seguros de
saúde por serviços prestados a seus consumidores ou segurados pelo SUS. Isto porque o SUS ressarce a
iniciativa privada por um preço tabelado mais baixo, quando o serviço é prestado por entidades
conveniadas. No entanto, quando o serviço é prestado pelo SUS a indivíduos vinculados a planos ou
serviços de saúde, é cobrado um valor duas ou três vezes maior.

Essa questão foi definida na lei e questionada no processo:

Art. 32, § 8º Os valores a serem ressarcidos não serão inferiores aos praticados pelo SUS e
nem superiores aos praticados pelas operadoras de produtos de que tratam o inciso I e o §
1º do art. 1º desta Lei.

Entretanto, o STF julgou válida a cobrança das operadoras em valor superior aos praticados pelo SUS.

De acordo com o relator:

Os planos de saúde ofertados pelas operadoras possuem seus cálculos atuariais próprios
consideração de todas as variáveis: risco do processo de subscrição; risco de precificação;
risco de desenho do produto; risco de sinistro/eventos; risco do ambiente econômico; risco
de retenção líquida; risco de comportamento do cliente – assimetria de informações; e risco
das provisões.

Ademais, ante à previsão de valor máximo de ressarcimento (os valores praticados pelas operadoras),
não haverá superação das forças contratuais já calculadas e assumidas entre essas e os cidadãos-
usuários.

Por outro lado, garante-se a participação em contraditório e ampla defesa das operadoras de planos e
seguros de saúde no procedimento para apuração de formação do título executivo em razão do
ressarcimento.

1. O Estado, sem se desincumbir de seu ônus constitucional, possibilitou que empresas


privadas, sob sua regulamentação, fiscalização e controle (ANS), prestassem a assistência
à saúde de forma paralela, no intuito de compartilhar os custos e os riscos a fim de
otimizar o mandamento constitucional. 2. A cobrança disciplinada no art. 32 da Lei
9.656/98 ostenta natureza jurídica indenizatória ex lege (receita originária), sendo
inaplicáveis as disposições constitucionais concernentes às limitações estatais ao poder
de tributar, entre elas a necessidade de edição de lei complementar. 3. Observada a
cobertura contratual entre os cidadãos-usuários e as operadoras de planos de saúde, além
dos limites mínimo (praticado pelo SUS) e máximo (valores de mercado pagos pelas
operadoras de planos de saúde), tal ressarcimento é compatível com a permissão
constitucional contida no art. 199 da Carta Maior. 4. A possibilidade de as operadoras de
planos de saúde ofertarem impugnação (e recurso, atualmente), em prazo razoável e antes
da cobrança administrativa e da inscrição em dívida ativa, sendo-lhes permitido suscitar

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 33
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

matérias administrativas ou técnicas de defesa, cumpre o mandamento constitucional do


inciso LV do art. 5º da Constituição Federal. 5. O ressarcimento previsto na norma do art.
32 da Lei 9.656/98 é aplicável aos procedimentos médicos, hospitalares ou ambulatoriais
custeados pelo SUS posteriores a 4.6.1998, desde que assegurado o exercício do
contraditório e da ampla defesa, no âmbito administrativo, em todos os interstícios
amparados por sucessivas reedições de medidas provisórias.

(RE 597064, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 07/02/2018,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-095 DIVULG 15-05-2018 PUBLIC 16-05-2018)

6.3.2 - Diferença de classes no SUS é inconstitucional

O STF se deparou com relevante discussão acerca do SUS e os princípios constitucionais a ele aplicados.
No caso, o CREMERS interpôs recurso extraordinário pugnando a reforma da decisão de segundo grau
que havia reconhecido a constitucionalidade de lei estadual que vedava distinção de classes no SUS,
impedindo que os pacientes do SUS que pagassem a diferença pudessem ser acomodados em condições
superiores.

A lógica do recorrente funcionava da seguinte maneira: o SUS paga os custos do tratamento dos
indivíduos quando realizados por entidades privadas conveniadas. Assim, nessas entidades privadas,
caso o paciente tivesse interesse, poderia pagar a diferença entre o valor repassado pelo SUS e o preço
da acomodação superior para que pudesse gozar de atenção diferenciada.

No entanto, o STF julgou constitucional a norma estadual que vedou este tipo de prática, reconhecendo
a inconstitucionalidade de tratamento diferenciado no SUS.

Direito Constitucional e Administrativo. Ação civil pública. Acesso de paciente à internação


pelo sistema único de saúde (SUS) com a possibilidade de melhoria do tipo de acomodação
recebida e de atendimento por médico de sua confiança mediante o pagamento da diferença
entre os valores correspondentes. Inconstitucionalidade. Validade de portaria que exige
triagem prévia para a internação pelo sistema público de saúde. Alcance da norma do art.
196 da Constituição Federal. Recurso extraordinário a que se nega provimento.

1. É constitucional a regra que veda, no âmbito do Sistema Único de Saúde, a internação


em acomodações superiores, bem como o atendimento diferenciado por médico do
próprio Sistema Único de Saúde (SUS) ou por conveniado, mediante o pagamento da
diferença dos valores correspondentes.

2. O procedimento da “diferença de classes”, tal qual o atendimento médico


diferenciado, quando praticados no âmbito da rede pública, não apenas subverte a
lógica que rege o sistema de seguridade social brasileiro, como também afronta o
acesso equânime e universal às ações e serviços para promoção, proteção e
recuperação da saúde, violando, ainda, os princípios da igualdade e da dignidade
da pessoa humana. Inteligência dos arts. 1º, inciso III; 5º, inciso I; e 196 da Constituição
Federal.

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 34
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

3. Não fere o direito à saúde, tampouco a autonomia profissional do médico, o normativo


que veda, no âmbito do SUS, a assistência diferenciada mediante pagamento ou que impõe
a necessidade de triagem dos pacientes em postos de saúde previamente à internação.

(RE 581488, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 03/12/2015,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-065 DIVULG 07-04-2016
PUBLIC 08-04-2016)

6.3.3 – Requisição Judicial de serviços de saúde e ressarcimento

O ressarcimento de serviços de saúde prestados por unidade privada em favor de paciente do Sistema
Único de Saúde, em cumprimento de ordem judicial, deve utilizar como critério o mesmo que é adotado
para o ressarcimento do Sistema Único de Saúde por serviços prestados a beneficiários de planos de
saúde.” RE 666094/DF, relator Min. Roberto Barroso, julgamento em 30.9.2021.

A tabela da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) deve servir de parâmetro para o pagamento
dos serviços de saúde prestados por hospital particular, em cumprimento de ordem judicial, em favor
de paciente do SUS.

A tomada forçada de serviço de unidade privada de saúde se revela uma espécie de requisição
judicial, ordenada pelo Estado-Juiz, em razão de falha concreta da política de saúde e da existência
de perigo iminente à saúde do paciente. A imposição de uma obrigação de fazer restritiva de atividade
privada resulta no dever de indenizar o proprietário.

Nesse aspecto, a Lei 9.656/1998 (Lei dos Planos de Saúde) e a Lei 9.961/2000 atribuem à ANS o encargo
de fixar valores de referência para o ressarcimento do SUS por serviços prestados em favor de
beneficiários de planos de saúde (2) e esse é um critério razoável para compensar o ente privado.

7 - ATUAÇÃO DO PODER PÚBLICO DIANTE DA PANDEMIA


DECORRENTE DA COVID-19 – LEI Nº 13.979/2020 E REGIME
JURÍDICO NA PANDEMIA.
O ordenamento pátrio possui inúmeras leis vigentes que já autorizam a tomada de medidas pelo Poder
Público em situações de excepcionalidade em virtude de crises epidemiológicas, como no caso do art.
6º, §2º, lei 8.080/90 e dos arts. 7º, I, 11, e 13 da lei 6.259/75.

Veja, como exemplo, o que dispõe a lei 6.259/75:

Art. 12. Em decorrência dos resultados, parciais ou finais, das investigações, dos inquéritos
ou levantamentos epidemiológicos de que tratam o artigo 11 e seu parágrafo único, a
autoridade sanitária fica obrigada a adotar, prontamente, as medidas indicadas para
o controle da doença, no que concerne a indivíduos, grupos populacionais e ambiente.

Art. 13. As pessoas físicas e as entidades públicas ou privadas, abrangidas pelas


medidas referidas no artigo 12, ficam sujeitas ao controle determinado pela
autoridade sanitária.

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 35
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

O descumprimento das determinações realizadas pelas autoridades poderá configurar infração


sanitária, na forma da tipificação contida na lei 6.437/77 (art. 10, VII e XXIV) e na legislação penal (arts.
268 e 269).

Apesar do já estabelecido no ordenamento nacional, a União editou uma nova lei prevendo medidas
para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do
coronavírus responsável pelo surto de 2019: a lei 13.979/2020.

Em primeiro lugar, a lei delegou a ato do Ministro de Estado da Saúde a competência para
dispor acerca da duração da “situação de emergência” de saúde pública (art. 1º, §2º),
sujeitando o referido prazo ao limite do prazo estabelecido pela OMS (§1º).

O art. 3º estabelece um rol taxativo de medidas que podem ser adotadas pelas autoridades, no âmbito
de suas competências:

I - isolamento;

II - quarentena;

III - determinação de realização compulsória de:

a) exames médicos;

b) testes laboratoriais;

c) coleta de amostras clínicas;

d) vacinação e outras medidas profiláticas; ou

e) tratamentos médicos específicos;

III-A – uso obrigatório de máscaras de proteção individual; (Incluído pela Lei nº 14.019, de
2020)

IV - estudo ou investigação epidemiológica;

V - exumação, necropsia, cremação e manejo de cadáver;

VI – restrição excepcional e temporária, por rodovias, portos ou aeroportos, de: (Redação


dada pela Lei nº 14.035, de 2020)

a) entrada e saída do País; e (Incluído pela Lei nº 14.035, de 2020)

b) locomoção interestadual e intermunicipal; (Incluído pela Lei nº 14.035, de 2020)

VII - requisição de bens e serviços de pessoas naturais e jurídicas, hipótese em que será
garantido o pagamento posterior de indenização justa; e

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 36
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

VIII – autorização excepcional e temporária para a importação e distribuição de quaisquer


materiais, medicamentos, equipamentos e insumos da área de saúde sujeitos à vigilância
sanitária sem registro na Anvisa considerados essenciais para auxiliar no combate à
pandemia do coronavírus, desde que: (Redação dada pela Lei nº 14.006, de 2020)

a) registrados por pelo menos 1 (uma) das seguintes autoridades sanitárias estrangeiras e
autorizados à distribuição comercial em seus respectivos países: (Redação dada pela Lei nº
14.006, de 2020)

1. Food and Drug Administration (FDA); (Incluído pela Lei nº 14.006, de 2020)

2. European Medicines Agency (EMA); (Incluído pela Lei nº 14.006, de 2020)

3. Pharmaceuticals and Medical Devices Agency (PMDA); (Incluído pela Lei nº 14.006, de
2020)

4. National Medical Products Administration (NMPA); (Incluído pela Lei nº 14.006, de 2020)

As medidas previstas neste artigo somente poderão ser determinadas com base em evidências
científicas e em análises sobre as informações estratégicas em saúde e deverão ser limitadas no tempo
e no espaço ao mínimo indispensável à promoção e à preservação da saúde pública.

A possibilidade de adoção das medidas não é absoluta, devendo observar os requisitos e limites
estabelecidos pela própria lei e resguardar os direitos e liberdades individuais. Neste ponto, estabelece
a lei que:

§ 9º A adoção das medidas previstas neste artigo deverá resguardar o abastecimento de


produtos e o exercício e o funcionamento de serviços públicos e de atividades essenciais,
assim definidos em decreto da respectiva autoridade federativa.

§ 11. É vedada a restrição à ação de trabalhadores que possa afetar o funcionamento de


serviços públicos e de atividades essenciais, definidos conforme previsto no § 9º deste
artigo, e as cargas de qualquer espécie que possam acarretar desabastecimento de gêneros
necessários à população.

O uso de máscaras, por sua vez, é medida adotada diretamente pela lei no art. 3º-A:

Art. 3º-A. É obrigatório manter boca e nariz cobertos por máscara de proteção
individual, conforme a legislação sanitária e na forma de regulamentação estabelecida pelo
Poder Executivo federal, para circulação em espaços públicos e privados acessíveis ao
público, em vias públicas e em transportes públicos coletivos, bem como em:

I – veículos de transporte remunerado privado individual de passageiros por aplicativo ou


por meio de táxis;

II – ônibus, aeronaves ou embarcações de uso coletivo fretados;

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 37
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

III - estabelecimentos comerciais e industriais, templos religiosos, estabelecimentos de


ensino e demais locais fechados em que haja reunião de pessoas.

O descumprimento da determinação acarreta a aplicação de multa a ser definida e regulamentada por


cada Ente Federado, não sendo exigível a cobrança da referida multa em face das populações
vulneráveis economicamente.

Outras disposições importantes da lei, bastando a leitura pelos alunos:

Art. 3º-B. Os estabelecimentos em funcionamento durante a pandemia da Covid-19 são


obrigados a fornecer gratuitamente a seus funcionários e colaboradores máscaras de
proteção individual, ainda que de fabricação artesanal, sem prejuízo de outros equipamentos
de proteção individual estabelecidos pelas normas de segurança e saúde do trabalho.

Art. 3º-E. É garantido o atendimento preferencial em estabelecimentos de saúde aos


profissionais de saúde e aos profissionais da segurança pública, integrantes dos órgãos
previstos no art. 144 da Constituição Federal, diagnosticados com a Covid-19, respeitados os
protocolos nacionais de atendimento médico.

Art. 3º-F. É obrigatório o uso de máscaras de proteção individual nos estabelecimentos


prisionais e nos estabelecimentos de cumprimento de medidas socioeducativas, observado
o disposto no caput do art. 3º-B desta Lei.

Art. 3º-G. As concessionárias e empresas de transporte público deverão atuar em


colaboração com o poder público na fiscalização do cumprimento das normas de utilização
obrigatória de máscaras de proteção individual, podendo inclusive vedar, nos terminais e
meios de transporte por elas operados, a entrada de passageiros em desacordo com as
normas estabelecidas pelo respectivo poder concedente.

O art. 3º-J estabelece ainda proteção ampliada para os profissionais essenciais ao controle de doenças e
à manutenção da ordem pública, elencando, em seu §1º, quais são esses profissionais.

Do art. 4º ao art. 4º-K, a lei estabelece normas acerca das licitações e contratos durante a pandemia, o
que já foi estudado durante nosso curso.

Além dessas questões, muitas outras foram surgindo sem que houvesse norma legislativa específica
sobre o tema, o que é natural diante de uma situação totalmente inédita e imprevisível. Isto porque o
legislador não possui condições de prever todas as situações que podem surgir no convívio social.

Por este motivo, o Supremo Tribunal Federal foi instado a se manifestar em diversas situações acerca
do enfrentamento da Covid-19, as quais passaremos a tratar.

7.1 - Não é possível exigir que Estados-membros e Municípios se vinculem a autorizações e


decisões de órgãos federais para tomar atitudes de combate à pandemia

O STF concedeu parcialmente medida cautelar para:

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 38
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

a) suspender parcialmente, sem redução de texto, o disposto no art. 3º, VI, “b”, e §§ 6º e 7º,
II, da Lei nº 13.979/2020, a fim de excluir estados e municípios da necessidade de
autorização ou de observância ao ente federal; e
b) conferir interpretação conforme aos referidos dispositivos no sentido de que as medidas
neles previstas devem ser precedidas de recomendação técnica e fundamentada,
devendo ainda ser resguardada a locomoção dos produtos e serviços essenciais definidos
por decreto da respectiva autoridade federativa, sempre respeitadas as definições no âmbito
da competência constitucional de cada ente federativo.
STF. Plenário. ADI 6343 MC-Ref/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre
de Moraes, julgado em 6/5/2020 (Info 976).

O caso tratava acerca de decretos de Estados e Municípios que restringiram a entrada e saída de pessoas
de seus territórios para tentar conter o avanço da Covid-19, como, por exemplo, foi o caso do Decreto
46.980/2020 do Governo do Estado do Rio de Janeiro.

Em razão destas situações, o Governo Federal editou a MP 920/2020 (posteriormente convertida na lei
14.025/2020), que alterou a lei 13.979/2020, e passou a prever que a restrição à locomoção estadual e
intermunicipal por rodovias, portos e aeroportos somente poderia ser estabelecida por ato do Poder
Executivo Federal:

§ 6º Ato conjunto dos Ministros de Estado da Saúde, da Justiça e Segurança Pública e da


Infraestrutura disporá sobre as medidas previstas no inciso VI do caput deste artigo,
observado o disposto no inciso I do § 6º-B deste artigo.

§ 6º-B. As medidas previstas no inciso VI do caput deste artigo deverão ser precedidas de
recomendação técnica e fundamentada:

I – da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em relação à entrada e saída do País


e à locomoção interestadual; ou

II – do respectivo órgão estadual de vigilância sanitária, em relação à locomoção


intermunicipal.

Além disso, o art. 3º, §7º, II, da referida lei passou a estabelecer, após a nova redação, que a medida de
restrição de liberdade de locomoção somente poderia ser adotada pelos gestores locais de saúde, desde
que autorizados pelo Ministério da Saúde.

No julgamento da medida cautelar, o Ministro Marco Aurélio, deferindo a medida, entendeu que os
Prefeitos e Governadores podem adotar medidas de combate ao coronavírus considerando que são
providências relacionadas com a proteção da saúde, matéria que é de competência comum da União,
dos Estados, do DF e dos Municípios, na forma do art. 23, II, da CF/88:

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:

(...)

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 39
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de


deficiência;

Submetida ao plenário, a medida cautelar foi referendada, conforme trecho indicado no início deste
tópico.

De acordo com o STF, embora a União tenha o papel primordial de coordenação entre os entes
federados, não deve ter o monopólio de regulamentar todas as medidas que devem ser tomadas para o
combate à pandemia. A autonomia dos demais Entes Federados deve ser respeitada. É impossível
que o poder central conheça todas as particularidades regionais.

No entanto, o STF afirmou expressamente que Estados e Municípios não podem fechar
fronteiras, pois sairiam de suas competências constitucionais.

7.2 - Além da União, os Estados/DF e Municípios também podem adotar medidas de


combate ao coronavírus considerando que a proteção da saúde é de competência comum;
o Presidente pode definir as atividades essenciais, mas preservando a autonomia dos entes

Medida cautelar parcialmente concedida para dar interpretação conforme à Constituição ao


§ 9º do art. 3º da Lei 13.979, a fim de explicitar que, preservada a atribuição de cada esfera
de governo, nos termos do inciso I do artigo 198 da Constituição, o Presidente da República
poderá dispor, mediante decreto, sobre os serviços públicos e atividades essenciais.
(ADI 6341 MC-Ref, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: EDSON FACHIN,
Tribunal Pleno, julgado em 15/04/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-271 DIVULG 12-11-
2020 PUBLIC 13-11-2020)

No caso, foi ajuizada ação direta de inconstitucionalidade contra a MP 926/2020.

O Min. Marco Aurélio foi sorteado relator da ação e, no dia 24/03/2020, proferiu decisão afirmando o
seguinte:

As providências adotadas pelo Governo Federal “não afastam atos a serem praticados por
Estado, o Distrito Federal e Município considerada a competência concorrente na forma do
artigo 23, inciso II, da Lei Maior.”

Assim, o Relator entendeu que os Prefeitos e Governadores podem adotar medidas de combate ao
coronavírus considerando que são providências relacionadas com a proteção da saúde, matéria que é
de competência comum da União, dos Estados, do DF e dos Municípios, na forma do art. 23, II, da CF/88:

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:

(...)

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 40
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de


deficiência;

A Corte Suprema apresentou diversos argumentos para chegar a esta conclusão:

a) O pior erro na formulação das políticas públicas é a omissão, sobretudo para as ações essenciais
exigidas pelo art. 23 da Constituição Federal. É grave que, sob o manto da competência exclusiva
ou privativa, premiem-se as inações do governo federal, impedindo que Estados e Municípios, no
âmbito de suas respectivas competências, implementem as políticas públicas essenciais. O
Estado garantidor dos direitos fundamentais não é apenas a União, mas também os Estados e os
Municípios.
b) A diretriz constitucional da hierarquização, constante do caput do art. 198 não significou
hierarquização entre os entes federados, mas comando único, dentro de cada um deles.
c) É preciso ler as normas que integram a Lei 13.979, de 2020, como decorrendo da competência
própria da União para legislar sobre vigilância epidemiológica, nos termos da Lei Geral do SUS,
Lei 8.080, de 1990. O exercício da competência da União em nenhum momento diminuiu a
competência própria dos demais entes da federação na realização de serviços da saúde, nem
poderia, afinal, a diretriz constitucional é a de municipalizar esses serviços.
d) O direito à saúde é garantido por meio da obrigação dos Estados Partes de adotar medidas
necessárias para prevenir e tratar as doenças epidêmicas e os entes públicos devem aderir às
diretrizes da Organização Mundial da Saúde, não apenas por serem elas obrigatórias nos termos
do Artigo 22 da Constituição da Organização Mundial da Saúde (Decreto 26.042, de 17 de
dezembro de 1948), mas sobretudo porque contam com a expertise necessária para dar plena
eficácia ao direito à saúde.
e) Como a finalidade da atuação dos entes federativos é comum, a solução de conflitos sobre o
exercício da competência deve pautar-se pela melhor realização do direito à saúde, amparada
em evidências científicas e nas recomendações da Organização Mundial da Saúde.

7.3 - Covid-19 e povos indígenas

O STF também foi instado a se manifestar quanto às políticas de saúde relativas aos indígenas no que
diz respeito ao enfrentamento da Covid-19. A ADPF 709 foi proposta com o objetivo de suprir falhas e
omissões do Poder Público no combate à referida pandemia entre os povos indígenas, que possuem um
alto risco de contágio e, até mesmo, de extermínio de etnias.

Neste sentido, a Corte Suprema argumentou que “Os Povos Indígenas são especialmente
vulneráveis a doenças infectocontagiosas, para as quais apresentam baixa imunidade e taxa
de mortalidade superior à média nacional. Há indícios de expansão acelerada do contágio da
COVID-19 entre seus membros e alegação de insuficiência das ações promovidas pela União
para sua contenção.”

As pretensões da ação incluíam a criação de barreiras sanitárias, a instalação de sala de situação, a


retirada de invasores das terras indígenas, o acesso de todos os indígenas ao Subsistema Indígena de
Saúde e a elaboração de plano para enfrentamento e monitoramento da Covid-19.

Ao final, em sede de medida cautelar, determinou-se o seguinte quanto aos povos indígenas em
isolamento e de contato recente:

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 41
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

a) Criação de barreiras sanitárias, conforme plano a ser apresentado pela União, ouvidos os
membros da Sala de Situação, no prazo de 10 dias, contados da ciência desta decisão;
b) Instalação da Sala de Situação, como previsto em norma vigente, para gestão de ações de combate
à pandemia quanto aos povos indígenas em isolamento e de contato recente, com participação
de representantes das comunidades indígenas, da Procuradoria-Geral da República e da
Defensoria Pública da União, observados os prazos e especificações detalhados na decisão.

Já quanto aos povos indígenas em geral, determinou-se:

a) Medida emergencial de contenção e isolamento dos invasores em relação às comunidades


indígenas ou providência alternativa apta a evitar o contato, uma vez que a retirada dos
invasores é uma medida imperativa e imprescindível, porém não relacionada especificamente à
Covid-19;
b) Determinação de que os serviços do Subsistema Indígena de Saúde sejam acessíveis a todos os
indígenas aldeados, independentemente de suas terras estarem ou não homologadas. Quanto
aos não aldeados, por ora, a utilização do Subsistema de Saúde Indígena se dará somente na falta
de disponibilidade do SUS geral;
c) Determinação de elaboração e monitoramento de um Plano de Enfrentamento da Covid-19 para
os Povos Indígenas Brasileiros, de comum acordo, pela União e pelo Conselho Nacional de
Direitos Humanos, com a participação das comunidades indígenas, observados os prazos e
condições especificados na decisão.

(ADPF 709 MC-Ref, Relator(a): ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em


05/08/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-244 DIVULG 06-10-2020 PUBLIC 07-10-2020)

7.4 - Divulgação integral dos dados da Covid-19 pelo Ministério da Saúde

Tema de grande relevância para a Administração Pública ainda que em período de normalidade, mas
especialmente em tempos excepcionais, diz respeito à publicidade e transparência das informações de
interesse público. Desta forma, decidiu o STF:

A redução da transparência dos dados referentes à pandemia de Covid-19 representa


violação a preceitos fundamentais da Constituição Federal, nomeadamente o acesso à
informação, os princípios da publicidade e transparência da Administração Pública e
o direito à saúde. STF. Plenário. ADPF 690 MC-Ref/DF, ADPF 691 MC-Ref/DF e ADPF 692
MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 20/11/2020 (Info 1000).

As referidas ações foram propostas diante da restrição da publicidade de dados relativos à Covid-19
pelo Governo Federal, haja vista que vinha atrasando a divulgação diária das referidas informações, bem
como alterou o formato do Balanço Diário da Covid-19, omitindo dados, tais como o total de casos
confirmados, casos recuperados e de óbitos, dentre outros.

De acordo com a Corte, referida restrição viola a publicidade, implicando em verdadeiro retrocesso.
Além disso, o acesso às informações é garantia instrumental do princípio democrático, além de
viabilizar a elaboração de políticas públicas para combate à pandemia.

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 42
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

Além disso, a Administração Pública somente pode restringir a divulgação de informações em casos
excepcionais, quando houver risco à segurança nacional ou da coletividade ou no caso de proteção à
intimidade e à vida privada.

7.5 - Vacinação compulsória

Avançando no combate à pandemia mundial e com o desenvolvimento das vacinas, novas questões
precisaram ser apreciadas pelo STF.

Neste sentido, a Corte foi instada a decidir acerca da constitucionalidade do art. 3º, III, “d”, da lei
13.979/2020, que estabelece a possibilidade de determinação de realização compulsória de vacinação
e outras medidas profiláticas. Já o §4º do mesmo artigo estabelece a possibilidade de responsabilização
daqueles que descumprirem as medidas determinadas com base no referido artigo.

Art. 3º Para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional de


que trata esta Lei, as autoridades poderão adotar, no âmbito de suas competências, entre
outras, as seguintes medidas:

III - determinação de realização compulsória de:

d) vacinação e outras medidas profiláticas;

§ 4º As pessoas deverão sujeitar-se ao cumprimento das medidas previstas neste artigo, e o


descumprimento delas acarretará responsabilização, nos termos previstos em lei.

O primeiro ponto que foi estabelecido pela Corte Suprema foi a distinção entre vacinação compulsória
e vacinação forçada. A primeira é constitucional, podendo o Poder Público estabelecer sanções para
aqueles que se recusarem a tomarem a vacina, haja vista se tratar de questão de saúde pública. Já a
vacinação forçada seria inconstitucional por violação às liberdades individuais.

Assim, é possível determinar a vacinação compulsória, estipulando penalidades administrativas em


razão da recusa, mas o Poder Público não pode conduzir as pessoas à força para se vacinar.

Entendeu a Corte que a imposição de vacinação compulsória não viola a liberdade de consciência e de
crença prevista no art. 5º, VI e VIII, da CF. Ressaltou que outras leis já previam a vacinação compulsória,
como é o caso da lei 6.259/75, regulamentada pelo Decreto 78.231/76.

Assim, é legítima a compulsoriedade da vacina, estipulando-se sanções indiretas para aqueles que
descumprirem a norma legal. Essas sanções devem observar os requisitos e limites da própria lei (art.
3º, §2º), bem como os critérios da razoabilidade e proporcionalidade, tais como a restrição ao exercício
de certas atividades ou à frequência de determinados lugares, impossibilidade de investidura em cargo
público, desde que previstas em lei, ou dela decorrentes.

Essas medidas devem cumprir, ainda, os seguintes requisitos:

a) Ter como base evidências científicas e análises estratégicas pertinentes;


b) Vir acompanhadas de ampla informação sobre a eficácia, segurança e contraindicações dos
imunizantes;

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 43
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

c) Respeitar a dignidade humana e os direitos fundamentais das pessoas; e


d) Atender aos critérios de razoabilidade e proporcionalidade.

Além disso, todos os Entes Federados podem prever sanções indiretas para aqueles que se recusarem a
tomar a vacina, haja vista a competência comum no que diz respeito ao serviço de saúde, respeitadas as
esferas de competências.

7.6 - Ilegitimidade de recusa dos pais à vacinação compulsória do filho menor

No mesmo sentido, o STF entendeu ilegítima a recusa dos pais à vacinação compulsória dos filhos
menores. De acordo com a Corte:

É constitucional a obrigatoriedade de imunização por meio de vacina que, registrada em


órgão de vigilância sanitária, (i) tenha sido incluída no Programa Nacional de Imunizações
ou (ii) tenha sua aplicação obrigatória determinada em lei ou (iii) seja objeto de
determinação da União, estado, Distrito Federal ou município, com base em consenso
médico-científico. Em tais casos, não se caracteriza violação à liberdade de consciência
e de convicção filosófica dos pais ou responsáveis, nem tampouco ao poder familiar.
STF. Plenário. ARE 1267879/SP, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 16 e 17/12/2020
(Repercussão Geral – Tema 1103) (Info 1003).

Mais uma vez reforçou que a compulsoriedade da vacinação não compromete a liberdade de crença e
de consciência. Há que se ponderar a referida liberdade individual com direitos fundamentais de
terceiros e de toda a coletividade, de maneira que a decisão do indivíduo não produz efeitos apenas na
sua esfera individual, mas afeta outras pessoas que não compartilham das mesmas ideias.

Além disso, em situações excepcionais, o Estado pode proteger as pessoas mesmo contra a sua própria
vontade, como no caso da determinação do uso de cinto de segurança.

Por fim, o poder familiar não autoriza os pais a colocarem a saúde e a vida de seus filhos em risco sob o
argumento de convicção filosófica.

7.7 - Plano para enfrentamento da Covid-19 nas comunidades quilombolas

Na ADPF 742, o STF determinou que a União elaborasse plano de combate à Covid-19 para a população
quilombola, no prazo de 30 dias, com a participação de representantes da Coordenação Nacional de
Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas – Conaq, com providências e protocolos
sanitários para assegurar a eficácia da vacinação na fase prioritária.

O colegiado também deferiu pedido formulado na ADPF de suspensão dos processos judiciais,
notadamente as ações possessórias, reivindicatórias de propriedade, imissões na posse, anulatórias de
processos administrativos de titulação e recursos vinculados a essas ações, sem prejuízo dos direitos
territoriais das comunidades quilombolas, até o término da pandemia.

STF. Plenário. ADPF 742/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Edson Fachin,
julgado em 24/2/2021 (Info 1006).

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 44
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

https://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=461129&ori=1

7.8 - Estados, DF e Municípios podem importar vacinas?

De acordo com o STF:

Os Estados, Distrito Federal e Municípios:


a) No caso de descumprimento do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação
contra a Covid-19, recentemente tornado público pela União, ou na hipótese de que
este não proveja cobertura imunológica tempestiva e suficiente contra a doença,
poderão dispensar às respectivas populações as vacinas das quais disponham,
previamente aprovadas pela Anvisa, ou
b) Se esta agência governamental não expedir a autorização competente, no prazo de
72 horas, poderão importar e distribuir vacinas registradas por pelo menos uma
das autoridades sanitárias estrangeiras e liberadas para distribuição comercial nos
respectivos países, conforme o art. 3°, VIII, a, e § 7°-A, da Lei 13.979/2020, ou, ainda,
quaisquer outras que vierem a ser aprovadas, em caráter emergencial, nos termos da
Resolução DC/ANVISA 444, de 10/12/2020.
(ACO 3451 MC-Ref, Relator(a): RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em
24/02/2021, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-045 DIVULG 09-03-2021 PUBLIC 10-03-2021)

Pelo seu caráter extremamente pedagógico, optamos por reproduzir os fundamentos da decisão do STF
na integra, em forma de texto:

A Constituição Federal prevê, ao lado do direito subjetivo público à saúde, a obrigação de o


Estado dar-lhe efetiva concreção, por meio de “políticas sociais e econômicas que visem à
redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e
serviços para a sua promoção, proteção e recuperação” (art. 196).
Esse dever abrange todos os entes federados, inclusive as comunas, os quais, na seara da
saúde, exercem uma competência administrativa comum, nos termos do art. 23, II, do Texto
Constitucional.
O federalismo cooperativo, adotado entre nós, exige que a União e as unidades
federadas se apoiem mutuamente no enfrentamento da grave crise sanitária e econômica
decorrente da pandemia desencadeada pelo novo coronavírus.
Embora o ideal, em se tratando de uma moléstia que atinge o País por inteiro, seja a inclusão
de todas as vacinas seguras e eficazes no PNI, de maneira a imunizar uniforme e
tempestivamente toda a população, o certo é que, nos diversos precedentes relativos à
pandemia causada pela Covid-19, o Supremo Tribunal Federal tem ressaltado a
possibilidade de atuação conjunta das autoridades estaduais e locais para o
enfrentamento dessa emergência de saúde pública, em particular para suprir lacunas
ou omissões do governo central.
O Plenário do STF já assentou que a competência específica da União para legislar
sobre vigilância epidemiológica, da qual resultou a Lei 13.979/2020, não inibe a
competência dos demais entes da federação no tocante à prestação de serviços da
saúde (ADI 6.341-MC-Ref/DF, redator para o acórdão Ministro Edson Fachin).

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 45
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

A Constituição outorgou a todos os integrantes da Federação a competência comum de


cuidar da saúde, compreendida nela a adoção de quaisquer medidas que se mostrem
necessárias para salvar vidas e garantir a higidez física das pessoas ameaçadas ou
acometidas pela nova moléstia, incluindo-se nisso a disponibilização, por parte dos governos
estaduais, distrital e municipais, de imunizantes diversos daqueles ofertados pela União,
desde que aprovados pela Anvisa, caso aqueles se mostrem insuficientes ou sejam ofertados
a destempo.

8 - A ASSISTÊNCIA SOCIAL NA ORDEM CONSTITUCIONAL


BRASILEIRA. LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL - LOAS (LEI Nº
8.742/93). DA TIPIFICAÇÃO NACIONAL DOS SERVIÇOS
SOCIOASSISTENCIAIS (RESOLUÇÃO DO CONSELHO NACIONAL DE
ASSISTÊNCIA SOCIAL Nº 109/09).
De início, importa ressaltar que a intenção do tratamento do presente assunto em Direito
Administrativo é demonstrar aquilo que se relaciona com a Administração Pública, sua organização
para promoção da assistência social, bem como a utilização de suas prerrogativas e cumprimento de
seus deveres na efetivação de tal direito.

8.1 - A assistência social e a lei orgânica da assistência social (LOAS – lei 8.742/93)

A assistência social, ao lado a saúde e da previdência social, é um dos direitos que integram as políticas
de seguridade social.

CF:

Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos
Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à
previdência e à assistência social.

Neste molde, aplicam-se todos os objetivos da seguridade social:

I - universalidade da cobertura e do atendimento;

II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais;

III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços;

IV - irredutibilidade do valor dos benefícios;

V - eqüidade na forma de participação no custeio;

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 46
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

VI - diversidade da base de financiamento, identificando-se, em rubricas contábeis


específicas para cada área, as receitas e as despesas vinculadas a ações de saúde, previdência
e assistência social, preservado o caráter contributivo da previdência social;

VII - caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão


quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do
Governo nos órgãos colegiados

Os artigos 203 e 204 da Lei Maior tratam especificamente da assistência social, definindo objetivos
específicos:

I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;

II - o amparo às crianças e adolescentes carentes;

III - a promoção da integração ao mercado de trabalho;

IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua


integração à vida comunitária;

V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de


deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria
manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.

Dentre estes, o que é mais cobrado em provas e mais estudado neste tópico é a garantia de um salário
mínimo de benefício mensal às pessoas indicadas (inciso V), que consiste no benefício de prestação
continuada (BPC), estudado a seguir.

A assistência social é política de enfrentamento à pobreza, de forma a promover uma vida digna para as
pessoas que dela necessitam, garantindo um mínimo existencial e social.

A lei 8.742/93, por sua vez, dispõe acerca da organização da assistência social, conforme as diretrizes
previstas nos dispositivos constitucionais, sendo conhecida como lei orgânica da assistência social
(LOAS).

Art. 1º A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade


Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto
integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às
necessidades básicas.

Destaque importante é o caráter não contributivo da assistência social, que deve ser prestada a quem
dela necessitar, independentemente de contraprestação ou qualquer outra forma de contribuição do
beneficiado, ao contrário da previdência social, cujo caráter contributivo é uma de suas principais
características, não se concedendo benefícios previdenciários a quem não tenha vertido contribuições
ao sistema.

PREVIDÊNCIA SOCIAL ASSISTÊNCIA SOCIAL


Caráter contributivo Caráter gratuito – Não contributivo

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 47
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

➢ Principais pontos da lei

Consideram-se entidades e organizações de assistência social aquelas sem fins lucrativos que, isolada
ou cumulativamente, prestam atendimento e assessoramento aos beneficiários abrangidos por esta Lei,
bem como as que atuam na defesa e garantia de direitos.

Para ser reconhecida como entidade integrante da rede socioassistencial, a entidade deverá cumprir os
seguintes requisitos:

a) seja sem fins lucrativos;


b) preste, isolada ou cumulativamente, atendimento e assessoramento aos beneficiários;
c) atue na defesa e garantia de direitos;
d) inscrever-se em Conselho Municipal ou do Distrito Federal, conforme o caso;
e) integrar o sistema de cadastro de entidades.

Art. 9º O funcionamento das entidades e organizações de assistência social depende de


prévia inscrição no respectivo Conselho Municipal de Assistência Social, ou no Conselho de
Assistência Social do Distrito Federal, conforme o caso.

Os princípios e diretrizes se encontram nos arts. 4º e 5º, os quais devem ser lidos pelos alunos para
evitar repetições no material.

Quanto à organização e à gestão das ações na área da assistência social, a lei passa a dispor a partir do
art. 6º, que estabelece os objetivos.

A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios podem celebrar convênios com as entidades e
organizações da assistência social.

Art. 11. As ações das três esferas de governo na área de assistência social realizam-se de
forma articulada, cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera federal e a coordenação
e execução dos programas, em suas respectivas esferas, aos Estados, ao Distrito Federal e
aos Municípios.

Do art. 12 ao 15 se encontram as competências específicas da União, dos Estados e dos Municípios, as


quais também devem ser lidas na referida lei.

Além disso, estabeleceu-se o seguinte:

Art. 17. Fica instituído o Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), órgão superior de
deliberação colegiada, vinculado à estrutura do órgão da Administração Pública Federal
responsável pela coordenação da Política Nacional de Assistência Social, cujos membros,
nomeados pelo Presidente da República, têm mandato de 2 (dois) anos, permitida uma única
recondução por igual período.

O CNAS é composto por 18 (dezoito) membros e respectivos suplentes, cujos nomes são indicados ao
órgão da Administração Pública Federal responsável pela coordenação da Política Nacional de
Assistência Social, de acordo com os critérios seguintes:

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 48
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

I - 9 (nove) representantes governamentais, incluindo 1 (um) representante dos Estados e 1


(um) dos Municípios;

II - 9 (nove) representantes da sociedade civil, dentre representantes dos usuários ou de


organizações de usuários, das entidades e organizações de assistência social e dos
trabalhadores do setor, escolhidos em foro próprio sob fiscalização do Ministério Público
Federal.

O art. 18 dispõe acerca das competências do CNAS.

8.2 - Benefício de prestação continuada (BPC)

O conceito de benefício de prestação continuada é dado pela própria lei:

Art. 20. O benefício de prestação continuada é a garantia de um salário-mínimo mensal à


pessoa com deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que
comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida
por sua família.

§ 2º Para efeito de concessão do benefício de prestação continuada, considera-se pessoa


com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental,
intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua
participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.

§ 10. Considera-se impedimento de longo prazo, para os fins do § 2º deste artigo, aquele que
produza efeitos pelo prazo mínimo de 2 (dois) anos.

Desta forma, o BPC é devido ao brasileiro, nato ou naturalizado, e às pessoas de nacionalidade


portuguesa, que comprovem residência no Brasil e o atendimento aos requisitos:

a) Pessoa com deficiência ou idoso com 65 anos ou mais;


b) Não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família.

FAMÍLIA INCAPAZ DE PROVER A MANUTENÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA OU DO IDOSO (ART. 20, §3º)

Renda mensal bruta familiar dividida pelo número de seus integrantes seja
inferior a 1/4 do salário mínimo.

OBS: Incorporando a jurisprudência sobre o tema, a lei, no § 11, do art. 20, da Lei nº 8.742/93 (LOAS),
estabeleceu que, para concessão do Benefício de Prestação Continuada, poderão ser utilizados
outros elementos probatórios da condição de miserabilidade do grupo familiar e da situação
de vulnerabilidade, conforme regulamento.

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 49
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

A família é composta pelo requerente, o cônjuge ou companheiro, os pais e, na ausência de


um deles, a madrasta ou o padrasto, os irmãos solteiros, os filhos e enteados solteiros e os
menores tutelados, desde que vivam sob o mesmo teto.

Além disso, não são computados para fins do cálculo da renda familiar per capta nem considerados para
prejudicar a concessão do BPC:

a) O acolhimento em instituições de longa permanência não prejudica o direito do idoso ou da


pessoa com deficiência (§5º);
b) Os rendimentos decorrentes de estágio supervisionado e de aprendizagem (§9º);
c) O benefício de prestação continuada ou o benefício previdenciário no valor de até 1 (um) salário-
mínimo concedido a idoso acima de 65 (sessenta e cinco) anos de idade ou pessoa com
deficiência não será computado, para fins de concessão do benefício de prestação continuada a
outro idoso ou pessoa com deficiência da mesma família (§14).

Outro requisito estabelecido pela lei é a inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) e no Cadastro
Único para Programa Sociais do Governo Federal – Cadastro Único.

O benefício de prestação continuada será devido a mais de um membro da mesma família


enquanto atendidos os requisitos exigidos nesta Lei.

Idoso – 65 anos Até ¼ do salário mínimo


por pessoa
BPC Não possuam meios de
prover a própria
Pessoa com manutenção nem de tê-
deficiência – Grupo familiar em
la provida por sua
Incapacidade de condição de
família.
longo prazo miserabilidade ou
(mínimo 2 anos) vulnerabilidade,
comprovados por outros
elementos probatório.

§ 4º O benefício de que trata este artigo não pode ser acumulado pelo beneficiário com
qualquer outro no âmbito da seguridade social ou de outro regime, salvo os da assistência
médica e da pensão especial de natureza indenizatória.

A Medida provisória 871 de 18/01/19 trouxe previsão de que o requerimento, a concessão e a revisão
do benefício ficam condicionados à autorização do requerente para acesso aos seus dados bancários.

Na análise do requerimento do benefício, o INSS confrontará as informações do CadÚnico, referentes à


renda, com outros cadastros ou bases de dados de órgãos da administração pública disponíveis,
prevalecendo as informações que indiquem maior renda se comparadas àquelas declaradas no
CadÚnico.

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 50
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

➢ Entes responsáveis pelo benefício de prestação continuada

Compete ao Ministério da Cidadania a implementação, a coordenação-geral, a regulação, o


financiamento, o monitoramento e a avaliação da prestação do benefício, sem prejuízo das
iniciativas compartilhadas com Estados, Distrito Federal e Municípios, em consonância com as
diretrizes do SUAS e da descentralização político-administrativa.

No entanto, a operacionalização do BPC, incluindo o recebimento dos requerimentos, a


concessão, manutenção, revisão, suspensão ou cessão do benefício, compete ao INSS
(Instituto Nacional do Seguro Social).

§ 6º A concessão do benefício ficará sujeita à avaliação da deficiência e do grau de


impedimento de que trata o § 2º, composta por avaliação médica e avaliação social realizadas
por médicos peritos e por assistentes sociais do Instituto Nacional de Seguro Social – INSS.

§ 7º Na hipótese de não existirem serviços no município de residência do beneficiário, fica


assegurado, na forma prevista em regulamento, o seu encaminhamento ao município mais
próximo que contar com tal estrutura.

Embora o BPC seja um benefício assistencial e não previdenciário, o responsável


por sua operacionalização é o INSS.

➢ O BPC em tempos de Covid-19

A lei 13.982/2020 inseriu o art. 20-A e seus parágrafos na LOAS para realizar diversas modificações
temporárias no BPC, de forma a atender às pessoas em situação de pobreza em tempos de pandemia.

Neste sentido, estipulou que o critério de aferição da renda familiar mensal per capita
previsto no inciso I do § 3º do art. 20 poderá ser ampliado para até 1/2 (meio) salário-
mínimo, que deverá ocorrer na forma de escalas graduais, definidas em regulamento, de
acordo com os fatores definidos na lei.

➢ Revisão, suspensão, cessação e cancelamento do BPC

Art. 21. O benefício de prestação continuada deve ser revisto a cada 2 (dois) anos para
avaliação da continuidade das condições que lhe deram origem.

a) Cessação: quando superadas as condições para a sua concessão ou pela morte do beneficiário;
b) Suspensão: quando a pessoa com deficiência exercer atividade remunerada, inclusive na
condição de microempreendedor individual, exceto se contratado na condição de aprendiz
(limitada a cumulação a 2 anos).
c) Cancelamento: quando houver irregularidade na concessão ou utilização.

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 51
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

No caso da suspensão, extinta a relação trabalhista ou a atividade empreendedora de que trata o caput
deste artigo e, quando for o caso, encerrado o prazo de pagamento do seguro-desemprego e não tendo
o beneficiário adquirido direito a qualquer benefício previdenciário, poderá ser requerida a
continuidade do pagamento do benefício suspenso, sem necessidade de realização de perícia médica ou
reavaliação da deficiência e do grau de incapacidade para esse fim, respeitado o período de revisão
previsto no caput do art. 21.

§ 3º O desenvolvimento das capacidades cognitivas, motoras ou educacionais e a realização


de atividades não remuneradas de habilitação e reabilitação, entre outras, não constituem
motivo de suspensão ou cessação do benefício da pessoa com deficiência.

8.3 - Da tipificação nacional dos serviços socioassistenciais (Resolução do Conselho


Nacional de Assistência Social nº 109/09).

RESOLVE:

Art. 1º. Aprovar a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, conforme anexos,


organizados por níveis de complexidade do SUAS: Proteção Social Básica e Proteção Social
Especial de Média e Alta Complexidade, de acordo com a disposição abaixo:

I - Serviços de Proteção Social Básica:

a) Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF);

b) Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos;

c) Serviço de Proteção Social Básica no domicílio para pessoas com deficiência e idosas.

II - Serviços de Proteção Social Especial de Média Complexidade:

a) Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI);

b) Serviço Especializado em Abordagem Social;

c) Serviço de Proteção Social a Adolescentes em Cumprimento de Medida Socioeducativa de


Liberdade Assistida (LA), e de Prestação de Serviços à Comunidade (PSC);

d) Serviço de Proteção Social Especial para Pessoas com Deficiência, Idosas e suas Famílias;

e) Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua.

III - Serviços de Proteção Social Especial de Alta Complexidade:

a) Serviço de Acolhimento Institucional, nas seguintes modalidades: - abrigo institucional; -


Casa-Lar; - Casa de Passagem; - Residência Inclusiva.

b) Serviço de Acolhimento em República;

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 52
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

c) Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora;

d) Serviço de Proteção em Situações de Calamidades Públicas e de Emergências.

QUESTÕES COMENTADAS
Magistratura

1. (TRF-2º REGIÃO / TRF-2º REGIÃO – Juiz Federal Substituto / 2018) No que se refere ao
direito à saúde na ordem constitucional brasileira, assinale a alternativa correta:
a) A existência de atribuição própria para cada ente federativo em normas infraconstitucionais não elide
a responsabilidade solidária imposta constitucionalmente a todos eles.
b) O Sistema Único de Saúde é gerido pelo princípio da descentralização e a obrigação de fornecer e
custear medicamentos ordinários é de incumbência exclusiva dos Estados e Municípios.
c) As ações e serviços de saúde são integrantes de uma rede regionalizada e descentralizada que compõe
o Sistema Único de Saúde. Nesse sistema cada ente público assume sua responsabilidade constitucional
de forma autônoma e exclusiva.
d) O art. 200, da Constituição Federal, estabeleceu as competências do Sistema Único de Saúde e é
regulamentado nas Leis ns. 8.080/90 e 8.142/90 que descentralizam o sistema e a prestação dos
serviços de saúde. Assim, compete à União apenas a formulação de diretrizes políticas e planejamento
do setor de saúde.
e) Não é cabível a judicialização de demandas envolvendo internações e tratamentos médicos no âmbito
do SUS, por se tratarem de questões no âmbito de discricionariedade técnica do gestor público, não
passível de controle judicial.

Comentários

A alternativa A está correta e é o gabarito da questão. O Supremo Tribunal Federal (STF) reafirmou
jurisprudência sobre a responsabilidade solidária dos entes federados no dever de prestar
assistência à saúde, de modo que cabe ao autor da ação escolher se a propõe contra um, contra
alguns ou contra todos os Entes Federados competentes, não havendo obrigatoriedade de o juiz
acatar eventual chamamento público da União ao processo.

A decisão foi tomada na análise do Recurso Extraordinário (RE) 855178, de relatoria do ministro Luiz
Fux, que teve repercussão geral reconhecida, por meio do Plenário Virtual [...] Em recurso de apelação,
o Tribunal Regional Federal (TRF) da 5ª Região entendeu que o dever de prestar assistência à saúde
é compartilhado entre a União, os estados-membros e os municípios, e que a distribuição de

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 53
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

atribuições entre os entes federativos por normas infraconstitucionais não elide a


responsabilidade solidária imposta constitucionalmente. É contra essa decisão que o presente RE
foi interposto pela União, alegando violação aos artigos 2º e 198, da Constituição Federal. Argumentava,
em síntese, sua ilegitimidade para figurar no polo passivo da demanda, alegando que o SUS é guiado
pelo princípio da descentralização e que a obrigação de fornecer e custear os medicamentos seria de
incumbência exclusiva dos órgãos locais (STF, 2015).

A alternativa B está incorreta. O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) fixou tese de repercussão
geral sobre a matéria constitucional contida no Recurso Extraordinário (RE) 855178 no sentido de que
há responsabilidade solidária de entes federados para o fornecimento de medicamentos e
tratamentos de saúde (STF, 2019). Nesse sentido, vide o Recurso Extraordinário (RE) 855178.

A alternativa C está incorreta. Em verdade, as ações e serviços de saúde são integrantes de uma rede
regionalizada e descentralizada que compõe o Sistema Único de Saúde. Nesse sistema, cada ente
público assume sua responsabilidade constitucional de forma autônoma solidária.

A alternativa D está incorreta. O art. 200, da CF, estabeleceu as competências do SUS e é regulamentado
nas Leis ns. 8.080/90 e 8.142/90 que descentralizam o sistema e a prestação dos serviços de saúde.
Assim, compete aos entes federados, em seu respectivo âmbito administrativo (art. 15 da Lei n.
8.080/90), a formulação de diretrizes políticas e planejamento do setor de saúde.

A alternativa E está incorreta. Conforme o STF,

É firme o entendimento deste Tribunal de que o Poder Judiciário pode, sem que fique
configurada violação ao princípio da separação dos Poderes, determinar a
implementação de políticas públicas nas questões relativas ao direito constitucional
à saúde. (...) STF. 1ª Turma. ARE 947.823 AgR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
28/6/2016.

2. (ADAPTADA / CESPE / TJ-CE – Juiz Substituto / 2018) Julgue o item:


O polo passivo de ações que versem sobre responsabilidade nos tratamentos médicos pode ser ocupado
por qualquer dos entes federados.

Comentários

A alternativa está CORRETA.

O Supremo Tribunal Federal (STF) reafirmou jurisprudência sobre a responsabilidade solidária dos
entes federados no dever de prestar assistência à saúde, de modo que cabe ao autor da ação
escolher se a propõe contra um, contra alguns ou contra todos os Entes Federados competentes,
não havendo obrigatoriedade de o juiz acatar eventual chamamento público da União ao processo.

A decisão foi tomada na análise do Recurso Extraordinário (RE) 855178, de relatoria do ministro Luiz
Fux, que teve repercussão geral reconhecida, por meio do Plenário Virtual [...] Em recurso de apelação,
o Tribunal Regional Federal (TRF) da 5ª Região entendeu que o dever de prestar assistência à saúde
é compartilhado entre a União, os estados-membros e os municípios, e que a distribuição de
atribuições entre os entes federativos por normas infraconstitucionais não elide a
responsabilidade solidária imposta constitucionalmente. É contra essa decisão que o presente RE

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 54
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

foi interposto pela União, alegando violação aos artigos 2º e 198, da Constituição Federal. Argumentava,
em síntese, sua ilegitimidade para figurar no polo passivo da demanda, alegando que o SUS é guiado
pelo princípio da descentralização e que a obrigação de fornecer e custear os medicamentos seria de
incumbência exclusiva dos órgãos locais (STF, 2015).

Promotor

3. (MPE-SP / MPE-SP – Promotor de Justiça Substituto / 2019) Considerando o entendimento


consolidado do Supremo Tribunal Federal, assinale a alternativa INCORRETA.
a) A ausência de registro na Anvisa não impede o fornecimento de medicamento por decisão judicial.
b) Os entes da Federação, em decorrência da competência comum, são solidariamente responsáveis nas
demandas prestacionais na área da saúde, e diante dos critérios constitucionais de descentralização e
hierarquização, compete à autoridade judicial direcionar o cumprimento conforme as regras de
repartição de competências e determinar o ressarcimento a quem suportou o ônus financeiro.
c) O Estado não pode ser obrigado a fornecer medicamentos experimentais.
d) É possível, excepcionalmente, a concessão judicial de medicamento sem registro sanitário, em caso
de mora irrazoável da Anvisa em apreciar o pedido (prazo superior ao previsto na Lei no 13.411/2016),
quando preenchidos três requisitos: I – a existência de pedido de registro do medicamento no Brasil,
salvo no caso de medicamentos órfãos para doenças raras e ultrarraras; II – a existência de registro do
medicamento em renomadas agências de regulação no exterior; III – a inexistência de substituto
terapêutico com registro no Brasil.
e) As ações que demandem o fornecimento de medicamentos sem registro na Anvisa deverão ser
necessariamente propostas em face da União.

Comentários

A alternativa A está incorreta e é o gabarito da questão.

2. A ausência de registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) impede,


como regra geral, o fornecimento de medicamento por decisão judicial.

STF. Plenário. RE 657718/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto
Barroso, julgado em 22/5/2019 (repercussão geral) (Info 941).

ATENÇÃO: reputamos esta assertiva correta, já que existe exceção a regra, conforme bem demonstrado
na letra D, permitindo entendermos que a ausência de registro não impede o fornecimento de
medicamento, se preenchidos os requisitos exigidos pela Corte Suprema. Contudo, inegável tratar-se da
alternativa menos correta (já que o enunciado pede a afirmação incorreta).

A alternativa B está correta. A discussão quanto a responsabilidade no fornecimento de medicamentos


já se encontra definida, reconhecendo-se a obrigação solidária dos Entes Federados no que diz
respeito à promoção da saúde, de modo que cabe ao autor da ação escolher se a propõe contra
um, contra alguns ou contra todos os Entes Federados competentes, não havendo obrigatoriedade
de o juiz acatar eventual chamamento público da União ao processo.

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 55
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

Controvérsia submetida ao rito do art. 543-C do CPC 1. O chamamento ao processo da União


com base no art. 77, III, do CPC, nas demandas propostas contra os demais entes federativos
responsáveis para o fornecimento de medicamentos ou prestação de serviços de saúde, não
é impositivo, mostrando-se inadequado opor obstáculo inútil à garantia fundamental do
cidadão à saúde.

(...)

2. A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal entende que "o recebimento de


medicamentos pelo Estado é direito fundamental, podendo o requerente pleiteá-los de
qualquer um dos entes federativos, desde que demonstrada sua necessidade e a
impossibilidade de custeá-los com recursos próprios", e "o ente federativo deve se pautar no
espírito de solidariedade para conferir efetividade ao direito garantido pela Constituição, e
não criar entraves jurídicos para postergar a devida prestação jurisdicional", razão por que
"o chamamento ao processo da União pelo Estado de Santa Catarina revela-se medida
meramente protelatória que não traz nenhuma utilidade ao processo, além de atrasar
a resolução do feito, revelando-se meio inconstitucional para evitar o acesso aos
remédios necessários para o restabelecimento da saúde da recorrida" (RE 607.381
AgR, Relator Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, DJ 17.6.2011). Caso concreto 3. Na hipótese
dos autos, o acórdão recorrido negou o chamamento ao processo da União, o que está em
sintonia com o entendimento aqui fixado.

(REsp 1203244/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em


09/04/2014, DJe 17/06/2014)

A alternativa C está correta.

1. O Estado não pode ser obrigado a fornecer medicamentos experimentais.

(RE 657718, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: ROBERTO BARROSO,


Tribunal Pleno, julgado em 22/05/2019, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL -
MÉRITO DJe-267 DIVULG 06-11-2020 PUBLIC 09-11-2020)

A alternativa D está correta. No caso dos medicamentos com eficácia e segurança comprovadas e
testes concluídos, mas ainda sem registro na ANVISA, o fornecimento por decisão judicial será
hipótese absolutamente excepcional, apenas quando houver mora irrazoável da ANVISA em apreciar
o pedido de registro, devendo o interessado, ainda neste caso, comprovar os seguintes requisitos
cumulativos:

d) A existência de pedido de registro do medicamento no Brasil (salvo no caso de medicamentos


órfãos para doenças raras e ultrarraras);
e) A existência de registro do medicamento pleiteado em renomadas agências de regulação no
exterior (e.g., EUA, União Europeia e Japão); e
f) A inexistência de substituto terapêutico registrado na ANVISA.

Assim, temos o seguinte:

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 56
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

Experimentais (fase Não pode ser


de testes ou fornecido por decisão
pesquisas) judicial

Mora irrazoável da
ANVISA em apreciar
Medicamentos não o pedido de registro
registrados na
ANVISA
Pedido de registro
no Brasil (salvo
medicamentos
órfãos para doenças
Eficácia e segurança Pode ser fornecido raras e ultrarraras)
comprovadas e por decisão judicial
testes concluídos nos seguintes casos
Registro em
renomadas agências
de regulação no
exterior

Inexistência de
substituto
registrado na
ANVISA.

A alternativa E está correta.

4. As ações que demandem fornecimento de medicamentos sem registro na ANVISA


deverão necessariamente ser propostas em face da União. Precedente específico: RE
657.718, Rel. Min. Alexandre de Moraes. 4. Embargos de declaração desprovidos.

(RE 855178 ED, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Relator(a) p/ Acórdão: Min. EDSON FACHIN,
Tribunal Pleno, julgado em 23/05/2019, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-090 DIVULG 15-04-
2020 PUBLIC 16-04-2020)

4. (ADAPTADA / MPE-SP / MPE-SP – Promotor de Justiça Substituto / 2019) Julgue o item:

É constitucional a regra que veda, no âmbito do SUS, a internação em acomodações superiores, bem
como o atendimento diferenciado por médico do próprio SUS, ou por médico conveniado, mediante o
pagamento da diferença dos valores correspondentes.

Comentários

A alternativa está CORRETA.

1. É constitucional a regra que veda, no âmbito do Sistema Único de Saúde, a


internação em acomodações superiores, bem como o atendimento diferenciado por
médico do próprio Sistema Único de Saúde (SUS) ou por conveniado, mediante o
pagamento da diferença dos valores correspondentes.

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 57
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

2. O procedimento da “diferença de classes”, tal qual o atendimento médico


diferenciado, quando praticados no âmbito da rede pública, não apenas subverte a
lógica que rege o sistema de seguridade social brasileiro, como também afronta o
acesso equânime e universal às ações e serviços para promoção, proteção e
recuperação da saúde, violando, ainda, os princípios da igualdade e da dignidade da
pessoa humana. Inteligência dos arts. 1º, inciso III; 5º, inciso I; e 196 da Constituição
Federal.

3. Não fere o direito à saúde, tampouco a autonomia profissional do médico, o normativo que
veda, no âmbito do SUS, a assistência diferenciada mediante pagamento ou que impõe a
necessidade de triagem dos pacientes em postos de saúde previamente à internação.

(RE 581488, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 03/12/2015,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-065 DIVULG 07-04-2016
PUBLIC 08-04-2016)

5. (ADAPTADA / MPE-SP / MPE-SP – Promotor de Justiça Substituto / 2019) Julgue o item:


O direito à saúde, consequência do direito à vida, constitui direito fundamental, direito individual
indisponível, que legitima o Ministério Público para a propositura de ação em defesa desse direito por
meio da ação civil pública, que lhe permite invocar a tutela jurisdicional do Estado com o objetivo de
fazer com que os Poderes Públicos respeitem, em favor da coletividade, os serviços de relevância
pública.

Comentários

A alternativa está CORRETA.

4. Com efeito, a disciplina do direito à saúde encontra na jurisprudência pátria a


correspondência com o próprio direito à vida, de forma que a característica da
indisponibilidade do direito já decorreria dessa premissa firmada.

5. Assim, inexiste violação dos dispositivos dos arts. 1º, V, e 21 da Lei n. 7.347/1985, bem
como do art. 6º do CPC/1973, uma vez que a atuação do Ministério Público, em demandas
de saúde, assim como nas relativas à dignidade da pessoa humana, tem assento na
indisponibilidade do direito individual, com fundamento no art. 1º da Lei n. 8.625/1993
(Lei Orgânica Nacional do Ministério Público).

6. Tese jurídica firmada: O Ministério Público é parte legítima para pleitear tratamento
médico ou entrega de medicamentos nas demandas de saúde propostas contra os
entes federativos, mesmo quando se tratar de feitos contendo beneficiários
individualizados, porque se refere a direitos individuais indisponíveis, na forma do art.
1º da Lei n. 8.625/1993 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público).

(...)

(REsp 1682836/SP, Rel. Ministro OG FERNANDES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em


25/04/2018, DJe 30/04/2018)

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 58
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

LEGITIMIDADE – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – FORNECIMENTO DE REMÉDIOS – MINISTÉRIO


PÚBLICO – O Ministério Público possui legitimidade para ajuizar ação civil pública com
objetivo de compelir entes federados a entregarem medicamentos a portadores de
certa doença.

(RE 605533, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 15/08/2018,


ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-028 DIVULG 11-02-2020
PUBLIC 12-02-2020)

6. (ADAPTADA / FMP CONCURSOS / MPE-RO – Promotor de Justiça Substituto / 2017) No que


se refere à judicialização da saúde, assinale a alternativa CORRETA.
É cabível o deferimento pelo Poder Judiciário de medicamentos experimentais sem eficácia
comprovada.

Comentários

A alternativa está ERRADA.

Medicamentos experimentais são aqueles sem comprovação científica de eficácia e segurança, e ainda
em fase de pesquisas e testes. Um conhecido exemplo de medicamento experimental é a
fosfoetanolamina sintética (a chamada “pílula do câncer”).

O STF afirmou que não há nenhuma hipótese em que o Poder Judiciário possa obrigar o
Poder Executivo a fornecê-los: O Estado não pode ser obrigado a fornecer medicamentos
experimentais. STF. Plenário. RE 657718/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.
Roberto Barroso, julgado em 22/5/2019 (repercussão geral) (Info 941).

Nesse caso, a administração da substância representa riscos graves, diretos e imediatos à saúde dos
pacientes. Não apenas porque, ao final dos testes, pode-se concluir que a substância é tóxica e produz
graves efeitos colaterais, mas também porque se pode verificar que o tratamento com o fármaco é
ineficaz, o que pode representar a piora do quadro do paciente e possivelmente a diminuição das
possibilidades de cura e melhoria da doença.

A Lei nº 8.080/90 proíbe o fornecimento de medicamentos experimentais no âmbito do SUS:

Art. 19-T. São vedados, em todas as esferas de gestão do SUS:

I - o pagamento, o ressarcimento ou o reembolso de medicamento, produto e procedimento


clínico ou cirúrgico experimental, ou de uso não autorizado pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária - ANVISA;

II - a dispensação, o pagamento, o ressarcimento ou o reembolso de medicamento e produto,


nacional ou importado, sem registro na Anvisa.

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 59
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

Defensor

7. (FCC / DPE-AM – Defensor / 2018) O Subsistema de Atenção à Saúde do Indígena,


componente do Sistema Único de Saúde (SUS), conforme a Lei nº 8.080/1990,
a) prevê que Estados e Municípios que possuem região de população indígena serão responsáveis pelo
custeio do Subsistema, atuando a União de forma complementar no custeio e execução das ações.
b) promoverá a articulação do SUS com os órgãos responsáveis pela política indígena no País.
c) terá como base os Distritos Sanitários Especiais Indígenas.
d) compreenderá a atenção primária e secundária, não compondo o acesso à atenção terciária da
população indígena.
e) não abrange política de atendimento coletivo à população indígena.

Comentários

A alternativa A está incorreta. Nos termos da Lei nº 8.080/1990,

Art. 19-C. Caberá à União, com seus recursos próprios, financiar o Subsistema de Atenção à
Saúde Indígena.

Art. 19-E. Os Estados, Municípios, outras instituições governamentais e não-


governamentais poderão atuar complementarmente no custeio e execução das ações.

A alternativa B está incorreta. É o SUS quem promoverá a articulação do Subsistema e não o contrário.

Lei nº 8.080/1990, Art. 19-D. O SUS promoverá a articulação do Subsistema instituído


por esta Lei com os órgãos responsáveis pela Política Indígena do País.

A alternativa C está correta e é o gabarito da questão.

Lei nº 8.080/1990, Art. 19-G, § 1o O Subsistema de que trata o caput deste artigo terá como
base os Distritos Sanitários Especiais Indígenas.

A alternativa D está incorreta.

Lei nº 8.080/1990, Art. 19-G, § 3o As populações indígenas devem ter acesso ao SUS, em
âmbito local, regional e de centros especializados, de acordo com suas
necessidades, compreendendo a atenção primária, secundária e terciária à saúde.

A alternativa E está incorreta.

Lei nº 8.080/1990, Art. 19-A. As ações e serviços de saúde voltados para o atendimento das
populações indígenas, em todo o território nacional, coletiva ou individualmente,
obedecerão ao disposto nesta Lei.

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 60
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

8. (FCC / DPE-MA – Defensor / 2018) De acordo com o que dispõe a Lei de Organização do
Sistema Único de Saúde, Lei n° 8.080/1990, quando for necessária a atuação complementar das
entidades privadas, em razão de insuficiência de recursos do SUS,
a) A atuação se dará por meio de encampação do serviço da atividade particular, mediante prévia
notificação a entidade privada, respeitando sempre a justa remuneração pelo serviço encampado.
b) Os critérios de remuneração dos serviços em atuação complementar serão delimitados por legislação
específica.
c) A garantia da qualidade do serviço prestada pelo particular deverá ser objeto de observância pela
entidade privada, dispensadas, contudo, de observância das demais normas de direito público.
d) Quando os diretores, administradores ou gestores das entidades privadas estiverem exercendo
mandatos eletivos ou cargos de confiança no Sistema Único de Saúde, a forma de efetivação da atuação
complementar se dará por convênio ou contrato administrativo.
e) As entidades filantrópicas e sem fins lucrativos têm preferência para realizar a atividade
complementar dentro do Sistema Único de Saúde.

Comentários

A alternativa A está incorreta.

Lei 8.080/1990: Art. 24, Parágrafo único. A participação complementar dos serviços
privados será formalizada mediante contrato ou convênio, observadas, a respeito, as
normas de direito público.

A alternativa B está incorreta.

Lei 8.080/1990: Art. 26. Os critérios e valores para a remuneração de serviços e os


parâmetros de cobertura assistencial serão estabelecidos pela direção nacional do
Sistema Único de Saúde (SUS), aprovados no Conselho Nacional de Saúde.

A alternativa C está incorreta.

Lei 8.080/1990: Art. 24, Parágrafo único. A participação complementar dos serviços
privados será formalizada mediante contrato ou convênio, observadas, a respeito, as
normas de direito público.

A alternativa D está incorreta.

Lei 8.080/1990: Art. 26, § 4° Aos proprietários, administradores e dirigentes de entidades


ou serviços contratados é vedado exercer cargo de chefia ou função de confiança no
Sistema Único de Saúde (SUS).

A alternativa E está correta e é o gabarito da questão.

CF: Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada.

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 61
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

§ 1º - As instituições privadas poderão participar de forma complementar do sistema único


de saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou convênio, tendo
preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos.

Lei 8.080/1990: Art. 25. Na hipótese do artigo anterior, as entidades filantrópicas e as sem
fins lucrativos terão preferência para participar do Sistema Único de Saúde (SUS).

9. (CESPE / DPU – Defensor Público Federal / 2017) Lúcio foi internado em um hospital da
rede privada para submeter-se a tratamento médico eletivo a ser realizado pelo SUS. Na unidade
hospitalar onde ele foi internado, os quartos individuais superiores são reservados a pacientes
particulares, e àqueles que desfrutam do atendimento gratuito são disponibilizados quartos
coletivos de nível básico.

Com o intuito de utilizar um quarto individual, por ser mais confortável, Lúcio se prontificou a
pagar o valor da diferença entre as modalidades dos quartos, o que foi recusado pelo hospital,
que informou ser vedado o uso das acomodações superiores por pacientes atendidos pelo SUS,
mesmo mediante pagamento complementar.

Considerando essa situação hipotética, julgue o seguinte item com base na posição majoritária e atual
do STF.
A vedação à internação de Lúcio em acomodações superiores mediante o pagamento da diferença é
constitucional: o atendimento pelo SUS é orientado, entre outros critérios, pela isonomia.

Comentários

A alternativa está CORRETA.

Com base no entendimento constitucional de que o acesso ao SUS é universal e igualitário, o STF
decidiu que é vedado internação de indivíduo em acomodações superiores, bem como ser
atendido por médico de sua preferência, mesmo que não haja gastos para o Estado. Esta
denominada "diferença de classes" concede privilégios incompatíveis com os princípios da
universalidade e da isonomia que permeiam o sistema único de saúde.

RE 581488/2015: “É constitucional a regra que veda, no âmbito do SUS, a internação


em acomodações superiores, bem como o atendimento diferenciado por médico do
próprio SUS ou por médico conveniado, mediante o pagamento da diferença dos
valores correspondentes".

10. (ADAPTADA / CESPE / DPU – Defensor Público Federal / 2017) Julgue o item:
É vedado às instituições privadas com fins lucrativos participarem do SUS, as quais não podem, ainda,
oferecer quartos com custos diferentes para pacientes sujeitos ao mesmo procedimento médico.

Comentários

A alternativa está ERRADA.

A questão possui duas informações:

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 62
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

A primeira parte - "É vedado às instituições privadas com fins lucrativos participarem do SUS" está
incorreta. A CF determina a preferência pelas entidades sem fins lucrativos, mas não proíbe a
participação daquelas com fins lucrativos; ambas podem participar do SUS de forma
complementar:

Art. 199, § 1º As instituições privadas poderão participar de forma complementar do


sistema único de saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou
convênio, tendo preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos.

A segunda parte: "as quais não podem, ainda, oferecer quartos com custos diferentes para pacientes
sujeitos ao mesmo procedimento médico" está correta. O STF decidiu, no RE 581488, ser vedado o
oferecimento de acomodações superiores a paciente tratados pelo SUS, mesmo que não haja
ônus para o Estado, em respeito aos princípios da universalidade e igualdade que regem o
sistema único de saúde.

Procurador

11. (VUNESP / Prefeitura de Francisco Morato – Procurador / 2019) A respeito dos serviços
privados de assistência à saúde, nos termos da lei n° 8.080/90, assinale a alternativa correta.
a) Os serviços privados de assistência à saúde caracterizam-se pela atuação exclusiva, somente por
iniciativa própria, no uso de suas atribuições e dentro das regras de universalização da saúde, de
profissionais liberais, independentemente de estarem legalmente habilitados, e de pessoas jurídicas de
direito privado ou público, na promoção, proteção e recuperação da saúde.
b) Exigem autorização expressa do poder público, que deverá conceder tal serviço por meio de
licitações, por se tratar de dever exclusivo do Estado promover serviços dessa natureza.
c) É permitida a participação direta ou indireta de empresas ou de capitais estrangeiros na assistência
à saúde, salvo por meio de doações de organismos internacionais vinculados à Organização das Nações
Unidas, de entidades de cooperação técnica e de financiamento e empréstimo.
d) Em qualquer caso é obrigatória a autorização do órgão de direção nacional do Sistema Único de Saúde
(SUS), submetendo-se a seu controle as atividades que forem desenvolvidas e os instrumentos que
forem firmados.
e) Serão observados os princípios éticos e as normas expedidas pelo órgão de direção do Sistema Único
de Saúde (SUS) quanto às condições para seu funcionamento.

Comentários

A alternativa A está incorreta. A lei 8.080/1990 exige que os profissionais sejam legalmente
habilitados.

Art. 20. Os serviços privados de assistência à saúde caracterizam-se pela atuação, por
iniciativa própria, de profissionais liberais, legalmente habilitados, e de pessoas jurídicas
de direito privado na promoção, proteção e recuperação da saúde.

A alternativa B está incorreta. A norma não prevê exigência de autorização expressa, nem licitação.

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 63
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

Lei 8.080/1990: Art. 21. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada.

CF/88: Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada.

§ 1º - As instituições privadas poderão participar de forma complementar do sistema único


de saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou convênio,
tendo preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos.

A alternativa C está incorreta. A norma admite a participação de empresas ou de capital estrangeiro na


assistência à saúde através de doações de organismos internacionais vinculados a ONU, de entidades de
cooperação técnica e de financiamento e empréstimos.

Art. 23. É permitida a participação direta ou indireta, inclusive controle, de empresas ou de


capital estrangeiro na assistência à saúde nos seguintes casos:

I - doações de organismos internacionais vinculados à Organização das Nações Unidas,


de entidades de cooperação técnica e de financiamento e empréstimos;

A alternativa D está incorreta. A alternativa corresponde ao antigo artigo 23, §1º, da Lei 8.080/90, que
foi revogado pela Lei 13.097/15.

A alternativa E está correta e é o gabarito da questão. Nos termos do art. 22 da Lei 8.080/1990,

Art. 22. Na prestação de serviços privados de assistência à saúde, serão observados os


princípios éticos e as normas expedidas pelo órgão de direção do Sistema Único de Saúde
(SUS) quanto às condições para seu funcionamento.

12. (VUNESP / Câmara de Serrana – Procurador Jurídico / 2019) Sobre o que prevê a Lei nº
8.080/90 acerca do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena, assinale a alternativa correta.
a) Caberá a União, Estados e Municípios, de forma solidária, financiar o Subsistema de Atenção à Saúde
Indígena.
b) O Subsistema de Atenção à Saúde Indígena deverá ser, como o SUS, descentralizado, hierarquizado e
sem regionalização.
c) O SUS servirá de retaguarda e referência ao Subsistema de Atenção à Saúde Indígena, devendo, para
isso, ocorrer adaptações na estrutura e organização do SUS nas regiões onde residem as populações
indígenas, para propiciar essa integração e o atendimento necessário em todos os níveis, sem
discriminações.
d) As populações indígenas devem ter acesso garantido ao SUS, em âmbito local, regional e de centros
especializados, de acordo com suas necessidades, compreendendo apenas a atenção primária e
secundária à saúde.
e) As ações e serviços de saúde voltados para o atendimento das populações indígenas, em todo o
território nacional, tutelados pela lei em referência, atendem apenas as necessidades coletivas desta
população.

Comentários

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 64
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

A alternativa A está incorreta.

Art. 19-C. Caberá à União, com seus recursos próprios, financiar o Subsistema de
Atenção à Saúde Indígena.

Art. 19-E. Os Estados, Municípios, outras instituições governamentais e não-governamentais


poderão atuar complementarmente no custeio e execução das ações.

A alternativa B está incorreta.

Art. 19-G. O Subsistema de Atenção à Saúde Indígena deverá ser, como o SUS,
descentralizado, hierarquizado e regionalizado.

A alternativa C está correta e é o gabarito da questão.

Art. 19-G, § 2 O SUS servirá de retaguarda e referência ao Subsistema de Atenção à Saúde


Indígena, devendo, para isso, ocorrer adaptações na estrutura e organização do SUS nas
regiões onde residem as populações indígenas, para propiciar essa integração e o
atendimento necessário em todos os níveis, sem discriminações.

A alternativa D está incorreta.

Art. 19-G, § 3 o As populações indígenas devem ter acesso garantido ao SUS, em âmbito local,
regional e de centros especializados, de acordo com suas necessidades, compreendendo a
atenção primária, secundária e terciária à saúde.

A alternativa E está incorreta.

Art. 19-A. As ações e serviços de saúde voltados para o atendimento das populações
indígenas, em todo o território nacional, coletiva ou individualmente, obedecerão ao
disposto nesta Lei.

13. (VUNESP / Câmara de Orlândia – Procurador Jurídico / 2018) Conforme dispõe a Lei
Federal n° 8.080/90, à direção municipal do Sistema de Saúde (SUS), dentre outras atribuições,
compete
a) formular, avaliar e apoiar políticas de alimentação e nutrição.
b) coordenar e participar na execução das ações de vigilância epidemiológica.
c) formular normas de controle de qualidade para produtos de consumo humano.
d) controlar e fiscalizar os procedimentos dos serviços privados de saúde.
e) acompanhar, controlar e avaliar as redes hierarquizadas do Sistema Único de Saúde.

Comentários

A alternativa A está incorreta.

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 65
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

Art. 16. A direção nacional do Sistema Único da Saúde (SUS) compete:

I - formular, avaliar e apoiar políticas de alimentação e nutrição;

A alternativa B está incorreta.

Art. 16. A direção nacional do Sistema Único da Saúde (SUS) compete:

VI - coordenar e participar na execução das ações de vigilância epidemiológica;

A alternativa C está incorreta.

Art. 17. À direção estadual do Sistema Único de Saúde (SUS) compete:

XII - formular normas e estabelecer padrões, em caráter suplementar, de procedimentos de


controle de qualidade para produtos e substâncias de consumo humano;

A alternativa D está correta e é o gabarito da questão.

Art. 18. À direção municipal do Sistema de Saúde (SUS) compete:

XI - controlar e fiscalizar os procedimentos dos serviços privados de saúde;

A alternativa E está incorreta.

Art. 17. À direção estadual do Sistema Único de Saúde (SUS) compete:

II - acompanhar, controlar e avaliar as redes hierarquizadas do Sistema Único de Saúde


(SUS);

14. (VUNESP / Câmara de Sumaré – Procurador Jurídico / 2017) A assistência à saúde


a) é livre à iniciativa privada.
b) exclui a participação direta de capital estrangeiro.
c) impõe que hospitais gerais sejam mantidos por ente público.
d) obriga a internação domiciliar quando houver exigência médica.
e) permite a destinação de subvenções e auxílios a instituições prestadoras de serviços de saúde com
finalidade lucrativa.

Comentários

A alternativa A está correta e é o gabarito da questão.

Lei 8.080/1990: Art. 21. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada.

CF/88: Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada.

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 66
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

A alternativa B está incorreta. A Constituição Federal veda a participação de capital estrangeiro na


assistência à saúde, permitindo exceções previstas em lei (art. 199, §3º).

A Lei 8080/90 prevê estas exceções:

Art. 23. É permitida a participação direta ou indireta, inclusive controle, de empresas ou de


capital estrangeiro na assistência à saúde nos seguintes casos:

I - doações de organismos internacionais vinculados à Organização das Nações Unidas, de


entidades de cooperação técnica e de financiamento e empréstimos;

II - pessoas jurídicas destinadas a instalar, operacionalizar ou explorar:

a) hospital geral, inclusive filantrópico, hospital especializado, policlínica, clínica geral e


clínica especializada; e

b) ações e pesquisas de planejamento familiar;

III - serviços de saúde mantidos, sem finalidade lucrativa, por empresas, para atendimento
de seus empregados e dependentes, sem qualquer ônus para a seguridade social; e

IV - demais casos previstos em legislação específica.

A alternativa C está incorreta. É possível a participação de empresas ou de capital estrangeiro em


hospital geral, é uma das exceções que a CF permite que seja feita por lei. Vide artigo transcrito acima.

A alternativa D está incorreta. Não basta a indicação médica, é necessária expressa concordância do
paciente e de sua família.

Art. 19-I. São estabelecidos, no âmbito do Sistema Único de Saúde, o atendimento domiciliar
e a internação domiciliar.

§3º O atendimento e a internação domiciliares só poderão ser realizados por indicação


médica, com expressa concordância do paciente e de sua família.

A alternativa E está incorreta.

Art. 38. Não será permitida a destinação de subvenções e auxílios a instituições prestadoras
de serviços de saúde com finalidade lucrativa.

15. (COPEVE-UFAL / Prefeitura de Porto Calvo-AL – Procurador Jurídico / 2019) De acordo


com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, a ação judicial, visando ao fornecimento de
medicamento essencial à vida de paciente necessitado, poderá ser ajuizada contra
a) o Estado apenas, visto que a hipótese é de responsabilidade privativa.
b) a União apenas, visto que a hipótese é de responsabilidade exclusiva.
c) a União, o Estado ou o Município, visto que a hipótese é de responsabilidade solidária.

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 67
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

d) o Estado ou a União apenas, visto que a hipótese é de responsabilidade concorrente.


e) o Estado ou o Município apenas, visto que a hipótese é de responsabilidade concorrente.

Comentários

A alternativa C está correta e é o gabarito da questão. A discussão quanto a responsabilidade no


fornecimento de medicamentos já se encontra definida, reconhecendo-se a obrigação solidária dos
Entes Federados no que diz respeito à promoção da saúde, de modo que cabe ao autor da ação
escolher se a propõe contra um, contra alguns ou contra todos os Entes Federados competentes,
não havendo obrigatoriedade de o juiz acatar eventual chamamento público da União ao processo.

Controvérsia submetida ao rito do art. 543-C do CPC 1. O chamamento ao processo da União


com base no art. 77, III, do CPC, nas demandas propostas contra os demais entes federativos
responsáveis para o fornecimento de medicamentos ou prestação de serviços de saúde, não
é impositivo, mostrando-se inadequado opor obstáculo inútil à garantia fundamental do
cidadão à saúde.

(...)

2. A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal entende que "o recebimento de


medicamentos pelo Estado é direito fundamental, podendo o requerente pleiteá-los de
qualquer um dos entes federativos, desde que demonstrada sua necessidade e a
impossibilidade de custeá-los com recursos próprios", e "o ente federativo deve se pautar no
espírito de solidariedade para conferir efetividade ao direito garantido pela Constituição, e
não criar entraves jurídicos para postergar a devida prestação jurisdicional", razão por que
"o chamamento ao processo da União pelo Estado de Santa Catarina revela-se medida
meramente protelatória que não traz nenhuma utilidade ao processo, além de atrasar
a resolução do feito, revelando-se meio inconstitucional para evitar o acesso aos
remédios necessários para o restabelecimento da saúde da recorrida" (RE 607.381
AgR, Relator Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, DJ 17.6.2011). Caso concreto 3. Na hipótese
dos autos, o acórdão recorrido negou o chamamento ao processo da União, o que está em
sintonia com o entendimento aqui fixado.

(REsp 1203244/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em


09/04/2014, DJe 17/06/2014)

As alternativas A, B, D e E estão incorretas, conforme demonstrado na letra C, acima.

16. (CESPE / Prefeitura de Fortaleza-CE / Procurador Municipal / 2017) Acerca de assuntos


relacionados à disciplina da saúde e da educação na CF, julgue o item que se segue.
A rede privada de saúde pode integrar o Sistema Único de Saúde, de forma complementar, por meio de
contrato administrativo ou convênio.

Comentários

A alternativa está CORRETA.

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 68
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada.

§ 1º - As instituições privadas poderão participar de forma complementar do sistema


único de saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou
convênio, tendo preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos.

Outros

17. (INÉDITA) No que se refere a Política Nacional de Atenção Integral à Pessoas Privadas de
Liberdade (PNAISP), assinale a alternativa correta:
a) Os trabalhadores em serviços penais, os familiares e demais pessoas que se relacionam com as
pessoas privadas de liberdade não serão envolvidas em ações de promoção da saúde e de prevenção de
agravos no âmbito da PNAISP.
b) A adesão municipal à PNAISP é obrigatória.
c) As pessoas privadas de liberdade são proibidas de trabalhar nos serviços de saúde implantados
dentro das unidades prisionais, nos programas de educação e promoção da saúde e nos programas de
apoio aos serviços de saúde.
d) É objetivo geral da PNAISP fomentar e fortalecer a participação e o controle social.
e) É considerado objetivo específico da PNAISP a qualificação e humanização da atenção à saúde no
sistema prisional por meio de ações conjuntas das áreas da saúde e da justiça.

Comentários

A alternativa A está incorreta. Nos termos da Portaria Interministerial n. 1 de 2014 (arts. 7º e 8º),
enquadram-se como beneficiários da PNAISP:

c) Pessoas que se encontram sob custódia do Estado inseridas no sistema prisional ou em


cumprimento de medida de segurança;
d) Os trabalhadores em serviços penais, os familiares e demais pessoas que se relacionam
com as pessoas privadas de liberdade serão envolvidos em ações de promoção da saúde
e de prevenção de agravos no âmbito da PNAISP.

A alternativa B está incorreta.

Art. 14. A adesão municipal à PNAISP será facultativa, devendo observar os seguintes
critérios:

I - adesão estadual à PNAISP;

II - existência de população privada de liberdade em seu território;

III - assinatura do Termo de Adesão Municipal, conforme modelo constante no anexo II a esta
Portaria;

IV - elaboração de Plano de Ação Municipal para Atenção à Saúde da Pessoa Privada de


Liberdade, de acordo com o modelo constante no anexo III; e

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 69
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

V - encaminhamento da respectiva documentação ao Ministério da Saúde para aprovação.

A alternativa C está incorreta.

Art. 20. As pessoas privadas de liberdade poderão trabalhar nos serviços de saúde
implantados dentro das unidades prisionais, nos programas de educação e promoção da
saúde e nos programas de apoio aos serviços de saúde.

§ 1º A decisão de trabalhar nos programas de educação e promoção da saúde do SUS e


nos programas de apoio aos serviços de saúde será da pessoa sob custódia, com anuência
e supervisão do serviço de saúde no sistema prisional.

A alternativa D está incorreta. Como objetivo geral, a Portaria prevê:

Art. 5º É objetivo geral da PNAISP garantir o acesso das pessoas privadas de liberdade
no sistema prisional ao cuidado integral no SUS.

Fomentar e fortalecer a participação e o controle social são objetivos específicos (art. 6º, V).

A alternativa E está correta e é o gabarito da questão.

Art. 6º São objetivos específicos da PNAISP:

I - promover o acesso das pessoas privadas de liberdade à Rede de Atenção à Saúde, visando
ao cuidado integral;

II - garantir a autonomia dos profissionais de saúde para a realização do cuidado integral das
pessoas privadas de liberdade;

III - qualificar e humanizar a atenção à saúde no sistema prisional por meio de ações
conjuntas das áreas da saúde e da justiça;

IV - promover as relações intersetoriais com as políticas de direitos humanos, afirmativas e


sociais básicas, bem como com as da Justiça Criminal; e

V - fomentar e fortalecer a participação e o controle social.

18. (INÉDITA) Sobre a Relação Nacional de Medicamentos Essenciais – RENAME, prevista no


Decreto n. 7.508/2011, assinale a alternativa correta:
a) O Ministério da Saúde é o órgão competente para dispor sobre a RENAME, que a cada 03 anos
consolidará e publicará as competentes atualizações.
b) A RENAME e as eventuais relações específicas complementares dos demais entes federativos,
somente poderão conter produtos registrados na ANVISA.
c) É vedado aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios adotar relações específicas e
complementares de medicamentos, ainda que em consonância com a RENAME.

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 70
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

d) O acesso universal e igualitário à assistência farmacêutica pressupõe, alternativamente, estar o


usuário assistido por ações e serviços de saúde do SUS; ter o medicamento sido prescrito por
profissional de saúde, no exercício regular de suas funções no SUS; estar a prescrição em conformidade
com a RENAME e os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas ou com a relação específica
complementar estadual, distrital ou municipal de medicamentos; e ter a dispensação ocorrido em
unidades indicadas pela direção do SUS.
e) Não cabe ao Ministério da Saúde estabelecer regras diferenciadas de acesso a medicamentos de
caráter especializado.

Comentários

A alternativa A está incorreta.

Art. 26. O Ministério da Saúde é o órgão competente para dispor sobre a RENAME e os
Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas em âmbito nacional, observadas as diretrizes
pactuadas pela CIT.

Parágrafo único. A cada dois anos, o Ministério da Saúde consolidará e publicará as


atualizações da RENAME, do respectivo FTN e dos Protocolos Clínicos e Diretrizes
Terapêuticas.

A alternativa B está correta e é o gabarito da questão.

Art. 29. A RENAME e a relação específica complementar estadual, distrital ou municipal de


medicamentos somente poderão conter produtos com registro na Agência Nacional de
Vigilância Sanitária - ANVISA.

A alternativa C está incorreta.

Art. 27. O Estado, o Distrito Federal e o Município poderão adotar relações específicas
e complementares de medicamentos, em consonância com a RENAME, respeitadas as
responsabilidades dos entes pelo financiamento de medicamentos, de acordo com o
pactuado nas Comissões Intergestores.

A alternativa D está incorreta.

Art. 28. O acesso universal e igualitário à assistência farmacêutica pressupõe,


cumulativamente:

I - estar o usuário assistido por ações e serviços de saúde do SUS;

II - ter o medicamento sido prescrito por profissional de saúde, no exercício regular de suas
funções no SUS;

III - estar a prescrição em conformidade com a RENAME e os Protocolos Clínicos e Diretrizes


Terapêuticas ou com a relação específica complementar estadual, distrital ou municipal de
medicamentos; e

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 71
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

IV - ter a dispensação ocorrido em unidades indicadas pela direção do SUS.

§ 1º Os entes federativos poderão ampliar o acesso do usuário à assistência farmacêutica,


desde que questões de saúde pública o justifiquem.

§ 2º O Ministério da Saúde poderá estabelecer regras diferenciadas de acesso a


medicamentos de caráter especializado.

A alternativa E está incorreta.

Art. 28, § 2º O Ministério da Saúde poderá estabelecer regras diferenciadas de acesso


a medicamentos de caráter especializado.

19. (INÉDITA) Julgue o item abaixo de acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal:
Viola à separação dos poderes, decisão judicial que obriga o Poder Executivo a manter medicamento em
estoque.

Comentários

A alternativa está ERRADA. De acordo com o STF, o Poder Judiciário pode impor ao Executivo a
manutenção de medicamento em estoque, não havendo ofensa à separação dos poderes, haja
vista que a negativa de promover tal medida configura omissão inconstitucional, devendo tal
inconstitucionalidade ser reconhecida e remediada pelo Poder Judiciário.

Neste sentido, reconheceu que “Não tendo a Administração adquirido o medicamento em tempo hábil
a dar continuidade ao tratamento dos pacientes, atuou de forma ilegítima, violando o direito à saúde
daqueles pacientes, o que autoriza a ingerência do Poder Judiciário. Inexistência de afronta à
independência de poderes”.

(...) O exame pelo Poder Judiciário de ato administrativo tido por ilegal ou abusivo não viola
o princípio da separação dos poderes. Precedentes. V – O Poder Público não pode se mostrar
indiferente ao problema da saúde da população, sob pena de incidir, ainda que por
censurável omissão, em grave comportamento inconstitucional. Precedentes. VI – Recurso
extraordinário a que se nega provimento.

(RE 429903, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira Turma, julgado em


25/06/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-156 DIVULG 13-08-2014 PUBLIC 14-08-2014)

Assim, estabeleceu o seguinte:

Os atos da Administração Pública que importem em gastos estão sujeitos à reserva do


possível, consoante a previsão legal orçamentária. Por outro lado, a interrupção do
tratamento de saúde aos portadores do Mal de Gaucher importa em violação da
própria dignidade da pessoa humana. Princípios em conflito cuja solução é dada à luz da
ponderação de interesses, permeada pelo princípio da razoabilidade, no sentido de

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 72
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

determinar que Administração Pública mantenha sempre em estoque quantidade do


medicamento suficiente para garantir 02 meses de tratamento aos que necessitem.

20. (INÉDITA) Considerando o entendimento consolidado do Superior Tribunal de Justiça,


julgue o item abaixo:
Mostra-se inadmissível, tendo em vista o atributo de impenhorabilidade dos bens públicos, o sequestro
de verbas públicas para efetivação do direito à saúde.

Comentários

A alternativa está ERRADA. Em uma ponderação de valores entre a impenhorabilidade dos bens
públicos, o direito à saúde, a dignidade humana e, em último estágio, o direito à vida, o STJ deu
prevalência a estes últimos, estabelecendo a possiblidade de bloqueio de verbas públicas quando o
Poder Executivo vem se recusando a cumprir decisão judicial que determine prestação na área da saúde:

1. Tratando-se de fornecimento de medicamentos, cabe ao Juiz adotar medidas eficazes à


efetivação de suas decisões, podendo, se necessário, determinar até mesmo, o sequestro
de valores do devedor (bloqueio), segundo o seu prudente arbítrio, e sempre com
adequada fundamentação.

(REsp 1069810/RS, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA SEÇÃO,
julgado em 23/10/2013, DJe 06/11/2013)

21. (INÉDITA) Nos termos da recente decisão do Superior Tribunal de Justiça sobre o
fornecimento de medicamentos pelo poder público, julgue o item abaixo:
É possível a impetração de Mandado de Segurança, com pedido de multa diária, em caso de
descumprimento da obrigação de fazer, a fim de constranger a Fazenda Pública a fornecer determinado
medicamento.

Comentários

A alternativa está ERRADA.

A jurisprudência do STJ é pacífica quanto a possibilidade de imposição de astreintes contra a Fazenda


Pública para o fornecimento de medicamento.

3. A particularidade de impor obrigação de fazer ou de não fazer à Fazenda Pública não


ostenta a propriedade de mitigar, em caso de descumprimento, a sanção de pagar multa
diária, conforme prescreve o § 5º do art. 461 do CPC/1973. E, em se tratando do direito à
saúde, com maior razão deve ser aplicado, em desfavor do ente público devedor, o preceito
cominatório, sob pena de ser subvertida garantia fundamental. Em outras palavras, é o
direito-meio que assegura o bem maior: a vida.

4. À luz do § 5º do art. 461 do CPC/1973, a recalcitrância do devedor permite ao juiz que,


diante do caso concreto, adote qualquer medida que se revele necessária à satisfação do bem
da vida almejado pelo jurisdicionado. Trata-se do "poder geral de efetivação", concedido ao
juiz para dotar de efetividade as suas decisões.

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 73
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

5. A eventual exorbitância na fixação do valor das astreintes aciona mecanismo de proteção


ao devedor: como a cominação de multa para o cumprimento de obrigação de fazer ou de
não fazer tão somente constitui método de coerção, obviamente não faz coisa julgada
material, e pode, a requerimento da parte ou ex officio pelo magistrado, ser reduzida ou até
mesmo suprimida, nesta última hipótese, caso a sua imposição não se mostrar mais
necessária.

(REsp 1474665/RS, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em


26/04/2017, DJe 22/06/2017)

Contudo, mostra-se incabível a impetração de mandado de segurança para tal pleito. Vejamos:

2. O Supremo Tribunal Federal, após realização de audiência pública sobre a matéria, no


julgamento da SL N. 47/PE, ponderou que o reconhecimento do direito a determinados
medicamentos deve ser analisado caso a caso, conforme as peculiaridades fático-
probatórias, ressaltando que, "em geral, deverá ser privilegiado o tratamento fornecido pelo
SUS em detrimento de opção diversa escolhida pelo paciente, sempre que não for
comprovada a ineficácia ou a impropriedade da política de saúde existente".

3. Laudo médico particular não é indicativo de direito líquido e certo. Se não submetido
ao crivo do contraditório, é apenas mais um elemento de prova, que pode ser ratificado, ou
infirmado, por outras provas a serem produzidas no processo instrutório, dilação probatória
incabível no mandado de segurança.

4. Nesse contexto, a impetrante deve procurar as vias ordinárias para o reconhecimento de


seu alegado direito, já que o laudo médico que apresenta, atestado por profissional
particular, sem o crivo do contraditório, não evidencia direito líquido e certo para o fim de
impetração do mandado de segurança.

5. A alegativa da impetrante - de que o pedido ao SUS para que forneça seringas, lancetas e
fitas reagentes impõe um longo processo burocrático incompatível com a gravidade da
doença - demanda dilação probatória não admitida no rito do mandado de segurança,
já que a autoridade coatora afirmou que fornece gratuitamente esses utensílios, mediante
simples requerimento no posto credenciado.

(RMS 30.746/MG, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 27/11/2012,
DJe 06/12/2012)

LISTA DE QUESTÕES
Magistratura

1. (TRF-2º REGIÃO / TRF-2º REGIÃO – Juiz Federal Substituto / 2018) No que se refere ao
direito à saúde na ordem constitucional brasileira, assinale a alternativa correta:

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 74
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

a) A existência de atribuição própria para cada ente federativo em normas infraconstitucionais não elide
a responsabilidade solidária imposta constitucionalmente a todos eles.
b) O Sistema Único de Saúde é gerido pelo princípio da descentralização e a obrigação de fornecer e
custear medicamentos ordinários é de incumbência exclusiva dos Estados e Municípios.
c) As ações e serviços de saúde são integrantes de uma rede regionalizada e descentralizada que compõe
o Sistema Único de Saúde. Nesse sistema cada ente público assume sua responsabilidade constitucional
de forma autônoma e exclusiva.
d) O art. 200, da Constituição Federal, estabeleceu as competências do Sistema Único de Saúde e é
regulamentado nas Leis ns. 8.080/90 e 8.142/90 que descentralizam o sistema e a prestação dos
serviços de saúde. Assim, compete à União apenas a formulação de diretrizes políticas e planejamento
do setor de saúde.
e) Não é cabível a judicialização de demandas envolvendo internações e tratamentos médicos no âmbito
do SUS, por se tratarem de questões no âmbito de discricionariedade técnica do gestor público, não
passível de controle judicial.
2. (ADAPTADA / CESPE / TJ-CE – Juiz Substituto / 2018) Julgue o item:
O polo passivo de ações que versem sobre responsabilidade nos tratamentos médicos pode ser ocupado
por qualquer dos entes federados.

Promotor

3. (MPE-SP / MPE-SP – Promotor de Justiça Substituto / 2019) Considerando o entendimento


consolidado do Supremo Tribunal Federal, assinale a alternativa INCORRETA.
a) A ausência de registro na Anvisa não impede o fornecimento de medicamento por decisão judicial.
b) Os entes da Federação, em decorrência da competência comum, são solidariamente responsáveis nas
demandas prestacionais na área da saúde, e diante dos critérios constitucionais de descentralização e
hierarquização, compete à autoridade judicial direcionar o cumprimento conforme as regras de
repartição de competências e determinar o ressarcimento a quem suportou o ônus financeiro.
c) O Estado não pode ser obrigado a fornecer medicamentos experimentais.
d) É possível, excepcionalmente, a concessão judicial de medicamento sem registro sanitário, em caso
de mora irrazoável da Anvisa em apreciar o pedido (prazo superior ao previsto na Lei no 13.411/2016),
quando preenchidos três requisitos: I – a existência de pedido de registro do medicamento no Brasil,
salvo no caso de medicamentos órfãos para doenças raras e ultrarraras; II – a existência de registro do
medicamento em renomadas agências de regulação no exterior; III – a inexistência de substituto
terapêutico com registro no Brasil.
e) As ações que demandem o fornecimento de medicamentos sem registro na Anvisa deverão ser
necessariamente propostas em face da União.
4. (ADAPTADA / MPE-SP / MPE-SP – Promotor de Justiça Substituto / 2019) Julgue o item:

É constitucional a regra que veda, no âmbito do SUS, a internação em acomodações superiores, bem
como o atendimento diferenciado por médico do próprio SUS, ou por médico conveniado, mediante o
pagamento da diferença dos valores correspondentes.

5. (ADAPTADA / MPE-SP / MPE-SP – Promotor de Justiça Substituto / 2019) Julgue o item:

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 75
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

O direito à saúde, consequência do direito à vida, constitui direito fundamental, direito individual
indisponível, que legitima o Ministério Público para a propositura de ação em defesa desse direito por
meio da ação civil pública, que lhe permite invocar a tutela jurisdicional do Estado com o objetivo de
fazer com que os Poderes Públicos respeitem, em favor da coletividade, os serviços de relevância
pública.
6. (ADAPTADA / FMP CONCURSOS / MPE-RO – Promotor de Justiça Substituto / 2017) No que
se refere à judicialização da saúde, assinale a alternativa CORRETA.
É cabível o deferimento pelo Poder Judiciário de medicamentos experimentais sem eficácia
comprovada.

Defensor

7. (FCC / DPE-AM – Defensor / 2018) O Subsistema de Atenção à Saúde do Indígena,


componente do Sistema Único de Saúde (SUS), conforme a Lei nº 8.080/1990,
a) prevê que Estados e Municípios que possuem região de população indígena serão responsáveis pelo
custeio do Subsistema, atuando a União de forma complementar no custeio e execução das ações.
b) promoverá a articulação do SUS com os órgãos responsáveis pela política indígena no País.
c) terá como base os Distritos Sanitários Especiais Indígenas.
d) compreenderá a atenção primária e secundária, não compondo o acesso à atenção terciária da
população indígena.
e) não abrange política de atendimento coletivo à população indígena.
8. (FCC / DPE-MA – Defensor / 2018) De acordo com o que dispõe a Lei de Organização do
Sistema Único de Saúde, Lei n° 8.080/1990, quando for necessária a atuação complementar das
entidades privadas, em razão de insuficiência de recursos do SUS,
a) A atuação se dará por meio de encampação do serviço da atividade particular, mediante prévia
notificação a entidade privada, respeitando sempre a justa remuneração pelo serviço encampado.
b) Os critérios de remuneração dos serviços em atuação complementar serão delimitados por legislação
específica.
c) A garantia da qualidade do serviço prestada pelo particular deverá ser objeto de observância pela
entidade privada, dispensadas, contudo, de observância das demais normas de direito público.
d) Quando os diretores, administradores ou gestores das entidades privadas estiverem exercendo
mandatos eletivos ou cargos de confiança no Sistema Único de Saúde, a forma de efetivação da atuação
complementar se dará por convênio ou contrato administrativo.
e) As entidades filantrópicas e sem fins lucrativos têm preferência para realizar a atividade
complementar dentro do Sistema Único de Saúde.
9. (CESPE / DPU – Defensor Público Federal / 2017) Lúcio foi internado em um hospital da
rede privada para submeter-se a tratamento médico eletivo a ser realizado pelo SUS. Na unidade
hospitalar onde ele foi internado, os quartos individuais superiores são reservados a pacientes
particulares, e àqueles que desfrutam do atendimento gratuito são disponibilizados quartos
coletivos de nível básico.

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 76
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

Com o intuito de utilizar um quarto individual, por ser mais confortável, Lúcio se prontificou a
pagar o valor da diferença entre as modalidades dos quartos, o que foi recusado pelo hospital,
que informou ser vedado o uso das acomodações superiores por pacientes atendidos pelo SUS,
mesmo mediante pagamento complementar.

Considerando essa situação hipotética, julgue o seguinte item com base na posição majoritária e atual
do STF.
A vedação à internação de Lúcio em acomodações superiores mediante o pagamento da diferença é
constitucional: o atendimento pelo SUS é orientado, entre outros critérios, pela isonomia.
10. (ADAPTADA / CESPE / DPU – Defensor Público Federal / 2017) Julgue o item:
É vedado às instituições privadas com fins lucrativos participarem do SUS, as quais não podem, ainda,
oferecer quartos com custos diferentes para pacientes sujeitos ao mesmo procedimento médico.

Procurador

11. (VUNESP / Prefeitura de Francisco Morato – Procurador / 2019) A respeito dos serviços
privados de assistência à saúde, nos termos da lei n° 8.080/90, assinale a alternativa correta.
a) Os serviços privados de assistência à saúde caracterizam-se pela atuação exclusiva, somente por
iniciativa própria, no uso de suas atribuições e dentro das regras de universalização da saúde, de
profissionais liberais, independentemente de estarem legalmente habilitados, e de pessoas jurídicas de
direito privado ou público, na promoção, proteção e recuperação da saúde.
b) Exigem autorização expressa do poder público, que deverá conceder tal serviço por meio de
licitações, por se tratar de dever exclusivo do Estado promover serviços dessa natureza.
c) É permitida a participação direta ou indireta de empresas ou de capitais estrangeiros na assistência
à saúde, salvo por meio de doações de organismos internacionais vinculados à Organização das Nações
Unidas, de entidades de cooperação técnica e de financiamento e empréstimo.
d) Em qualquer caso é obrigatória a autorização do órgão de direção nacional do Sistema Único de Saúde
(SUS), submetendo-se a seu controle as atividades que forem desenvolvidas e os instrumentos que
forem firmados.
e) Serão observados os princípios éticos e as normas expedidas pelo órgão de direção do Sistema Único
de Saúde (SUS) quanto às condições para seu funcionamento.
12. (VUNESP / Câmara de Serrana – Procurador Jurídico / 2019) Sobre o que prevê a Lei nº
8.080/90 acerca do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena, assinale a alternativa correta.
a) Caberá a União, Estados e Municípios, de forma solidária, financiar o Subsistema de Atenção à Saúde
Indígena.
b) O Subsistema de Atenção à Saúde Indígena deverá ser, como o SUS, descentralizado, hierarquizado e
sem regionalização.
c) O SUS servirá de retaguarda e referência ao Subsistema de Atenção à Saúde Indígena, devendo, para
isso, ocorrer adaptações na estrutura e organização do SUS nas regiões onde residem as populações
indígenas, para propiciar essa integração e o atendimento necessário em todos os níveis, sem
discriminações.

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 77
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

d) As populações indígenas devem ter acesso garantido ao SUS, em âmbito local, regional e de centros
especializados, de acordo com suas necessidades, compreendendo apenas a atenção primária e
secundária à saúde.
e) As ações e serviços de saúde voltados para o atendimento das populações indígenas, em todo o
território nacional, tutelados pela lei em referência, atendem apenas as necessidades coletivas desta
população.
13. (VUNESP / Câmara de Orlândia – Procurador Jurídico / 2018) Conforme dispõe a Lei
Federal n° 8.080/90, à direção municipal do Sistema de Saúde (SUS), dentre outras atribuições,
compete
a) formular, avaliar e apoiar políticas de alimentação e nutrição.
b) coordenar e participar na execução das ações de vigilância epidemiológica.
c) formular normas de controle de qualidade para produtos de consumo humano.
d) controlar e fiscalizar os procedimentos dos serviços privados de saúde.
e) acompanhar, controlar e avaliar as redes hierarquizadas do Sistema Único de Saúde.
14. (VUNESP / Câmara de Sumaré – Procurador Jurídico / 2017) A assistência à saúde
a) é livre à iniciativa privada.
b) exclui a participação direta de capital estrangeiro.
c) impõe que hospitais gerais sejam mantidos por ente público.
d) obriga a internação domiciliar quando houver exigência médica.
e) permite a destinação de subvenções e auxílios a instituições prestadoras de serviços de saúde com
finalidade lucrativa.
15. (COPEVE-UFAL / Prefeitura de Porto Calvo-AL – Procurador Jurídico / 2019) De acordo
com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, a ação judicial, visando ao fornecimento de
medicamento essencial à vida de paciente necessitado, poderá ser ajuizada contra
a) o Estado apenas, visto que a hipótese é de responsabilidade privativa.
b) a União apenas, visto que a hipótese é de responsabilidade exclusiva.
c) a União, o Estado ou o Município, visto que a hipótese é de responsabilidade solidária.
d) o Estado ou a União apenas, visto que a hipótese é de responsabilidade concorrente.
e) o Estado ou o Município apenas, visto que a hipótese é de responsabilidade concorrente.
16. (CESPE / Prefeitura de Fortaleza-CE / Procurador Municipal / 2017) Acerca de assuntos
relacionados à disciplina da saúde e da educação na CF, julgue o item que se segue.
A rede privada de saúde pode integrar o Sistema Único de Saúde, de forma complementar, por meio de
contrato administrativo ou convênio.

Outros

17. (INÉDITA) No que se refere a Política Nacional de Atenção Integral à Pessoas Privadas de
Liberdade (PNAISP), assinale a alternativa correta:

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 78
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

a) Os trabalhadores em serviços penais, os familiares e demais pessoas que se relacionam com as


pessoas privadas de liberdade não serão envolvidas em ações de promoção da saúde e de prevenção de
agravos no âmbito da PNAISP.
b) A adesão municipal à PNAISP é obrigatória.
c) As pessoas privadas de liberdade são proibidas de trabalhar nos serviços de saúde implantados
dentro das unidades prisionais, nos programas de educação e promoção da saúde e nos programas de
apoio aos serviços de saúde.
d) É objetivo geral da PNAISP fomentar e fortalecer a participação e o controle social.
e) É considerado objetivo específico da PNAISP a qualificação e humanização da atenção à saúde no
sistema prisional por meio de ações conjuntas das áreas da saúde e da justiça.
18. (INÉDITA) Sobre a Relação Nacional de Medicamentos Essenciais – RENAME, prevista no
Decreto n. 7.508/2011, assinale a alternativa correta:
a) O Ministério da Saúde é o órgão competente para dispor sobre a RENAME, que a cada 03 anos
consolidará e publicará as competentes atualizações.
b) A RENAME e as eventuais relações específicas complementares dos demais entes federativos,
somente poderão conter produtos registrados na ANVISA.
c) É vedado aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios adotar relações específicas e
complementares de medicamentos, ainda que em consonância com a RENAME.
d) O acesso universal e igualitário à assistência farmacêutica pressupõe, alternativamente, estar o
usuário assistido por ações e serviços de saúde do SUS; ter o medicamento sido prescrito por
profissional de saúde, no exercício regular de suas funções no SUS; estar a prescrição em conformidade
com a RENAME e os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas ou com a relação específica
complementar estadual, distrital ou municipal de medicamentos; e ter a dispensação ocorrido em
unidades indicadas pela direção do SUS.
e) Não cabe ao Ministério da Saúde estabelecer regras diferenciadas de acesso a medicamentos de
caráter especializado.
19. (INÉDITA) Julgue o item abaixo de acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal:
Viola à separação dos poderes, decisão judicial que obriga o Poder Executivo a manter medicamento em
estoque.
20. (INÉDITA) Considerando o entendimento consolidado do Superior Tribunal de Justiça,
julgue o item abaixo:
Mostra-se inadmissível, tendo em vista o atributo de impenhorabilidade dos bens públicos, o sequestro
de verbas públicas para efetivação do direito à saúde.
21. (INÉDITA) Nos termos da recente decisão do Superior Tribunal de Justiça sobre o
fornecimento de medicamentos pelo poder público, julgue o item abaixo:
É possível a impetração de Mandado de Segurança, com pedido de multa diária, em caso de
descumprimento da obrigação de fazer, a fim de constranger a Fazenda Pública a fornecer determinado
medicamento.

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 79
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi
Rodolfo Breciani Penna
Aula 20

GABARITO
Magistratura

1. A
2. CORRETA

Promotor

3. A
4. CORRETA
5. CORRETA
6. INCORRETA

Defensor

7. C
8. E
9. CORRETA
10. INCORRETA

Procurador

11. E
12. C
13. D
14. A
15. C
16. CORRETA

Outros

17. E
18. B
19. INCORRETA
20. INCORRETA
21. INCORRETA

Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Direito Administrativo - Prof. Rodolfo Penna 80
www.estrategiaconcursos.com.br 80
85416800020
1865040
- Felipe Alegransi

Você também pode gostar