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Autor:
Rodolfo Breciani Penna
19 de Fevereiro de 2022
Sumário
Considerações Iniciais .................................................................................................................................................................. 3
1 - Introdução ................................................................................................................................................. 3
6.2 - Formas de efetivação das políticas públicas de saúde pelo Poder Judiciário ........................................................ 29
7 - Atuação do Poder Público diante da Pandemia decorrente da Covid-19 – Lei nº 13.979/2020 e Regime
Jurídico na Pandemia. .................................................................................................................................. 35
7.1 - Não é possível exigir que Estados-membros e Municípios se vinculem a autorizações e decisões de órgãos
federais para tomar atitudes de combate à pandemia .................................................................................................. 38
7.2 - Além da União, os Estados/DF e Municípios também podem adotar medidas de combate ao coronavírus
considerando que a proteção da saúde é de competência comum; o Presidente pode definir as atividades essenciais,
mas preservando a autonomia dos entes ...................................................................................................................... 40
7.6 - Ilegitimidade de recusa dos pais à vacinação compulsória do filho menor ........................................................... 44
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8 - A assistência social na ordem constitucional brasileira. Lei orgânica da assistência social - LOAS (Lei nº
8.742/93). Da tipificação nacional dos serviços socioassistenciais (Resolução do Conselho Nacional de
Assistência Social nº 109/09). ...................................................................................................................... 46
8.1 - A assistência social e a lei orgânica da assistência social (LOAS – lei 8.742/93) .................................................... 46
8.3 - Da tipificação nacional dos serviços socioassistenciais (Resolução do Conselho Nacional de Assistência Social nº
109/09). .......................................................................................................................................................................... 52
Magistratura ................................................................................................................................................................... 53
Promotor ........................................................................................................................................................................ 55
Defensor ......................................................................................................................................................................... 60
Procurador ...................................................................................................................................................................... 63
Outros ............................................................................................................................................................................. 69
Magistratura ................................................................................................................................................................... 74
Promotor ........................................................................................................................................................................ 75
Defensor ......................................................................................................................................................................... 76
Procurador ...................................................................................................................................................................... 77
Outros ............................................................................................................................................................................. 78
Gabarito......................................................................................................................................................................................... 80
Magistratura ................................................................................................................................................................... 80
Promotor ........................................................................................................................................................................ 80
Defensor ......................................................................................................................................................................... 80
Procurador ...................................................................................................................................................................... 80
Outros ............................................................................................................................................................................. 80
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DIREITO À SAÚDE
1 - INTRODUÇÃO
O direito à saúde é um Direito Social previsto no art. 6º e especificado nos arts. 196 a 200, todos da
Constituição Federal, além de ser mencionado em diversos outros dispositivos constitucionais, e possui
como finalidade proporcionar bem-estar físico, mental e social aos indivíduos e à coletividade.
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
Trata-se de um direito de todos e dever do Estado. Como Direito Social, exige uma prestação do Estado,
que deve implementar políticas públicas e criar condições objetivas visando à sua efetivação e
universalização.
É importante notar que, anteriormente à Constituição Federal de 1988, o Direito à saúde não
era reconhecido a todos. Somente os contribuintes da previdência social é que podiam ser
atendidos pelos serviços de saúde prestados pelo Poder Público. Após a Constituição Cidadã
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Todos os ensinamentos relativos a direitos fundamentais e direitos sociais são dados no Direito
Constitucional. Neste capítulo, buscaremos trazer o assunto para o Direito Administrativo, analisando a
organização do Estado nacional para prestação do Direito à Saúde, a formulação das políticas públicas,
a atuação e o controle exercido pelo Poder Judiciário e as principais decisões dos Tribunais Superiores
acerca do tema, tendo sempre em vista aquilo que é cobrado em relação ao tema em Direito
Administrativo.
E é importante adiantar que o tema é bastante tormentoso, ensejando diversas controvérsias perante o
STJ e o STF, seja em relação à competência dos Entes Federados para a prestação do Direito, seja para
ponderar os interesses em conflitos: de um lado, o direito fundamental e indisponível à saúde, de outro,
a escassez de recursos estatais, a organização de políticas públicas para a prestação do Direito de forma
coletiva e universal e não meramente individual, dentre outros argumentos do Estado.
Cuidando-se de direito fundamental, fica o Poder Judiciário autorizado a intervir na prestação do direito,
inclusive determinando a implementação de políticas públicas.
A dificuldade se encontra em definir o conteúdo mínimo do Direito à Saúde e a parcela desse direito que
integra o mínimo existencial.
Definir o mínimo existencial é de extrema importância no âmbito dos Direito Sociais, haja vista a
jurisprudência pacífica do STF no sentido de que a reserva do possível não se opõe à necessidade
de se garantir condições mínimas de existência e de dignidade:
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(...) O Estado brasileiro, agindo com absoluta indiferença em relação à gravidade da questão
penitenciária, tem permitido, em razão de sua própria inércia, que se transgrida o direito
básico do sentenciado de receber tratamento penitenciário justo e adequado, vale dizer,
tratamento que não implique exposição do condenado (ou do preso provisório) a meios
cruéis, lesivos ou moralmente degradantes (CF, art. 5º, incisos XLVII, “e”, e XLIX), fazendo-se
respeitar, desse modo, um dos mais expressivos fundamentos que dão suporte ao Estado
Democrático de Direito: a dignidade da pessoa humana (CF, art. 1º, III). – Constitui
verdadeiro paradoxo reconhecer-se, de um lado, o “direito à saída da cela por 2 (duas) horas
diárias para banho de sol” (LEP, art. 52, IV), em favor de quem se acha submetido, por razões
de “subversão da ordem ou disciplina internas” no âmbito penitenciário, ao rigorosíssimo
regime disciplinar diferenciado (RDD) instituído pela Lei nº 10.792/2003, e negar, de outro,
o exercício de igual prerrogativa de ordem jurídica a quem se acha recolhido a pavilhões
destinados à execução de medidas disciplinares ordinárias (“Pavilhão Disciplinar”) e à
proteção de detentos ameaçados (“Pavilhão de Seguro”), tal como ora denunciado, com apoio
em consistentes alegações, pela douta Defensoria Pública do Estado de São Paulo. – A
cláusula da reserva do possível é ordinariamente invocável naquelas hipóteses em que se
impõe ao Poder Público o exercício de verdadeiras “escolhas trágicas”, em contexto
revelador de situação de antagonismo entre direitos básicos e insuficiências estatais
financeiras. A decisão governamental, presente essa relação dilemática, há de conferir
precedência à intangibilidade do “mínimo existencial”, em ordem a atribuir real efetividade
aos direitos positivados na própria Lei Fundamental da República e aos valores consagrados
nas diversas convenções internacionais de direitos humanos. A cláusula da reserva do
possível, por isso mesmo, é inoponível à concretização do “mínimo existencial”, em
face da preponderância dos valores e direitos que nele encontram seu fundamento
legitimador.
(HC 172136, Relator(a): CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 10/10/2020,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-283 DIVULG 30-11-2020 PUBLIC 01-12-2020)
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Além disso, é importante para definir quais demandas individuais serão atendidas. É evidente que uma
pretensão individual extremamente dispendiosa e não essencial à vida e à dignidade, que tenha o
potencial de afetar o sistema e impedir outras prestações mais essenciais aos demais cidadãos, não deve
ser atendida.
Isto porque a maioria das pessoas de menor renda não tem sequer o conhecimento necessário para
buscar a defensoria pública para ter as suas pretensões atingidas, de forma que o acesso efetivo ao
judiciário no nosso país, infelizmente, ainda é extremamente precário. Essas pessoas são atendidas
exclusivamente pelo SUS.
Conceder uma pretensão individual não essencial por meio de decisão judicial a uma pessoa que possui
acesso ao judiciário poderia, portanto, prejudicar o sistema e impedir o atendimento de necessidades
mais básicas de pessoas carentes.
Por este motivo é tão difícil a definição do conteúdo mínimo do Direito à Saúde e do mínimo existencial.
Por outro lado, não se admite que o Poder Público gaste boa parcela do orçamento com publicidade e
propaganda, por exemplo, e se negue a fornecer tratamentos ou medicamentos básicos e essenciais aos
administrados. Nesta hipótese, não é possível acatar eventual alegação de reserva do possível, uma vez
que os recursos do Estado devem ser direcionados, prioritariamente, para o atendimento dos direitos
fundamentais.
De toda forma, certo é que, se o Poder Público previu o estabelecimento de políticas públicas, seja nas
leis orçamentárias, seja nos demais documentos de planejamento administrativo que, conforme já
estudado, é obrigatório, o Poder Judiciário poderá intervir para obrigar o cumprimento da referida
política pública:
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No mesmo sentido:
O direito à saúde, previsto especialmente nos arts. 6º e 196 a 200 da CF, como direito de todos e dever
do Estado, exige ações e serviços prestados pelo Poder Público, de forma a promover a sua efetivação,
concretização e universalização.
Neste molde, a Constituição Federal traça os princípios para a instituição do Sistema Único de
Saúde, especialmente os seguintes:
a) Princípio da universalidade: decorre do art. 196, CF, estabelecendo que o Poder Público deve
empreender os seus esforços a fornecer o Direito a Saúde a todos, de forma que o acesso ao
sistema seja possibilitado àqueles que residem em todo o território nacional, sem qualquer tipo
de discriminação;
b) Princípio da integralidade (art. 198, II, CF): estabelece o atendimento integral, abrangendo o
fornecimento de medicamentos, realização de procedimentos terapêuticos e cirúrgicos, de forma
a proporcionar a integral recuperação da saúde dos administrados;
c) Princípio da equidade: estabelece a obrigação de acesso igualitário ao SUS, ordenado pela
atenção primária e fundado na avaliação da gravidade do risco individual e coletivo e no critério
cronológico (art. 11, Decreto 7.508/11).
Além disso, o art. 198 da CF estabelece diretrizes para a instituição e organização do SUS:
Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e
hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes
diretrizes:
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Direção única em
cada esfera de
Regionalizada
Descentralização governo
Atendimento integral
SUS – Rede (integralidade) Prioridade para
atividades
preventivas, sem
Participação da prejuízo dos
Hierarquizada comunidade serviços
assistenciais
Repare que as ações do SUS devem atender as pessoas por meio de ações preventivas e
curativas, sendo que a prioridade são as ações preventivas.
Por sua vez, as competências do SUS estão dispostas no art. 200 da Carta Magna:
Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei:
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Para dar densificação normativa aos dispositivos constitucionais, foi editada a lei 8.080/90, a lei do SUS,
regulamentada pelo Decreto 7.508/2011. Além disso, como a lei do SUS teve diversos dispositivos
vetados, foi complementada pela lei 8.142/90.
A Lei Maior ainda estabelece que o SUS será financiado com recursos da seguridade social, da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes (art. 198, §1º), determinando a
aplicação de recursos mínimos, anualmente, em ações e serviços públicos de saúde (§§ 2º e 3º).
Art. 45. Os serviços de saúde dos hospitais universitários e de ensino integram-se ao Sistema
Único de Saúde (SUS), mediante convênio, preservada a sua autonomia administrativa, em
relação ao patrimônio, aos recursos humanos e financeiros, ensino, pesquisa e extensão nos
limites conferidos pelas instituições a que estejam vinculados.
3.2.1 - Introdução
A lei do SUS regula as ações e os serviços de saúde em todo território nacional, conforme dispõe o seu
art. 1º, definindo ainda a sua execução isolada ou em conjunto, em caráter permanente ou eventual, por
pessoas naturais ou jurídicas de direito público ou privado.
Vale destacar que, ao estabelecer a sua incidência sobre todas as ações e serviços de saúde
no âmbito nacional, verifica-se que a lei 8.080/90 não se limita ao SUS, nem ao setor público.
Por esta razão deixamos “lei do SUS” entre aspas no título, sendo mais correto falar em lei
orgânica da saúde.
Ponto importante definido pela lei é o papel do Município como principal executor das
ações de Saúde.
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Além disso, dispõe o art. 2º, §2º que o dever do Estado não exclui o das pessoas, da família, das empresas
e da sociedade.
Art. 4º O conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições públicas
federais, estaduais e municipais, da Administração direta e indireta e das fundações
mantidas pelo Poder Público, constitui o Sistema Único de Saúde (SUS).
O art. 6º estabelece as atribuições do SUS, dentro do que já determinava o art. 200, da CF.
Dentre as atribuições que devem ser lidas pelo aluno, destaca-se a vigilância sanitária, conceituada
como um conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos
problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação
de serviços de interesse da saúde, abrangendo:
Além dos princípios e diretrizes traçados na Constituição Federal e já estudados, a lei do SUS ainda
estabelece um conjunto de princípios a serem observados, conforme art. 7º:
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III - preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral;
XIII - organização dos serviços públicos de modo a evitar duplicidade de meios para fins
idênticos.
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União
• Ministério da Saúde
Estados e DF
Municípios
Na gestão municipal, a lei prevê ainda importantes instrumentos para facilitar a prestação da saúde,
tendo em vista o seu papel de principal executor das políticas de saúde:
Por outro lado, determina-se a criação de diversas comissões no âmbito do SUS, a saber:
ATUAÇÃO FINALIDADE
Articular políticas e programas de interesse para a saúde, cuja
execução envolva áreas não compreendidas no âmbito do SUS:
I - alimentação e nutrição;
Comissões
II - saneamento e meio ambiente;
intersetoriais Âmbito nacional
III - vigilância sanitária e farmacoepidemiologia;
(art. 12)
IV - recursos humanos;
V - ciência e tecnologia; e
VI - saúde do trabalhador.
Entre os serviços
Comissões de saúde e as Propor prioridades, métodos e estratégias para a formação e
Permanentes instituições de educação continuada dos recursos humanos do SUS, assim como
de integração ensino em relação à pesquisa e à cooperação técnica entre essas
(art. 14) profissional e instituições.
superior
Foros de I - decidir sobre os aspectos operacionais, financeiros e
Comissões negociação e administrativos da gestão compartilhada do SUS;
Intergestores pactuação entre II - definir diretrizes, de âmbito nacional, regional e
Bipartite e gestores, quanto intermunicipal, a respeito da organização das redes de ações e
Tripartite aos aspectos serviços de saúde; e
(art. 14-A) operacionais do III - fixar diretrizes sobre as regiões de saúde, distrito sanitário,
SUS integração de territórios, referência e contrarreferência e demais
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A partir do art. 15, a lei do sus estabelece as competências e atribuições dos Governos federal, estadual
e municipal, definindo atribuições comuns e discriminando responsabilidades específicas de cada Ente.
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Vale destacar, conforma já ressaltado, que a lei reforçou o papel do Município como
principal executor das ações de Saúde.
Esta constatação é extraída, por exemplo, do art. 18, I, que define como atribuição do município
“planejar, organizar, controlar e avaliar as ações e os serviços de saúde e gerir e executar os serviços
públicos de saúde”. Além disso, cabe aos Municípios:
IV - executar serviços:
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a) de vigilância epidemiológica;
b) vigilância sanitária;
c) de alimentação e nutrição;
d) de saneamento básico; e
e) de saúde do trabalhador;
Por sua vez, o art. 17, incisos I e III estabelecem a atribuição dos Estados para:
III - prestar apoio técnico e financeiro aos Municípios e executar supletivamente ações e
serviços de saúde;
O parágrafo único do art. 16 deixa clara a excepcionalidade da execução direta das ações de saúde pela
União:
O termo “como na ocorrência de agravos inusitados à saúde (...)” evidencia o caráter exemplificativo
dessa expressão, de forma que a União poderá assumir a execução direta de ações de vigilância
epidemiológica e sanitária em circunstâncias especiais diversas das citadas.
A lei orgânica do SUS foi alterada algumas vezes para incluir os seguintes pontos:
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Os serviços privados de assistência à saúde são caracterizados pela atuação, por iniciativa própria:
Proteção
Pessoas jurídicas de direito privado
Recuperação
As empresas e o capital estrangeiro podem participar dos serviços de saúde, direta ou indiretamente,
nos seguintes casos (art. 23)
III - serviços de saúde mantidos, sem finalidade lucrativa, por empresas, para atendimento
de seus empregados e dependentes, sem qualquer ônus para a seguridade social; e
A participação ocorre por meio de contrato ou convênio, dando-se preferência para as entidades
filantrópicas e as sem finalidade lucrativa (art. 24, parágrafo único e art. 25).
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Art. 43. A gratuidade das ações e serviços de saúde fica preservada nos serviços públicos
contratados, ressalvando-se as cláusulas dos contratos ou convênios estabelecidos com as
entidades privadas.
O principal objetivo é fazer com que as pessoas privadas de liberdade no sistema prisional tenham
acesso ao cuidado integral pelo SUS, devendo tais serviços serem ponto de atenção da Rede de Atenção
à Saúde (RAS) do SUS.
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As ações serão ofertadas por equipes interdisciplinares, definidas da seguinte forma, conforme extraído
do site do Ministério da Saúde:
• Equipe de Atenção Primária Prisional Tipo I (eAPP-I) – formada por 5 profissionais, sendo
as mesmas categorias profissionais da Estratégia Saúde da Família (enfermeiro, médico, técnico
ou auxiliar de enfermagem, cirurgião-dentista e técnico ou auxiliar de saúde bucal), com carga
horária de seis horas semanais.
• Equipe de Atenção Primária Prisional Tipo I com Saúde Mental (eAPP-I com Saúde
Mental) - formada por oito profissionais: cinco profissionais das mesmas categorias
profissionais da Estratégia Saúde da Família, somados a um psiquiatra ou um médico com
experiência em Saúde Mental e dois profissionais escolhidos entre as seguintes categorias:
terapeuta ocupacional, fisioterapeuta, psicólogo, assistente social, farmacêutico ou enfermeiro.
Esta modalidade de equipe cumprirá carga horária de seis horas semanais.
• Equipe de Atenção Primária Prisional Tipo II (eAPP-II) – formada por oito profissionais:
cinco profissionais das mesmas categorias profissionais da Estratégia Saúde da Família, somados
a um psicólogo, um assistente social e um profissional escolhido entre as seguintes categorias:
terapeuta ocupacional, psicólogo, fisioterapeuta, nutricionista, farmacêutico, assistente social ou
enfermeiro. Esta modalidade de equipe cumprirá carga horária de 20 horas semanais.
• Equipe de Atenção Primária Prisional Tipo II com Saúde Mental (eAPP-II com Saúde
Mental) – formada por 11 profissionais: cinco profissionais das mesmas categorias profissionais
da Estratégia Saúde da Família, somados a um psiquiatra ou um médico com experiência em
Saúde Mental, um psicólogo, um assistente social e três profissionais escolhidos entre as
seguintes categorias: terapeuta ocupacional, psicólogo, fisioterapeuta, nutricionista,
farmacêutico, assistente social ou enfermeiro. Esta modalidade de equipe cumprirá a carga
horária de 20 horas semanais.
• Equipe de Atenção Primária Prisional Tipo III (eAPP-III) – formada por 11 profissionais:
cinco profissionais das mesmas categorias profissionais da Estratégia Saúde da Família, somados
a um psiquiatra ou um médico com experiência em Saúde Mental, um psicólogo, um assistente
social e três profissionais escolhidos entre as seguintes categorias: terapeuta ocupacional,
psicólogo, fisioterapeuta, nutricionista, farmacêutico, assistente social ou enfermeiro. Esta
modalidade de equipe cumprirá a carga horária de 30 horas semanais.
Art. 20. As pessoas privadas de liberdade poderão trabalhar nos serviços de saúde
implantados dentro das unidades prisionais, nos programas de educação e promoção da
saúde e nos programas de apoio aos serviços de saúde.
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III - assinatura do Termo de Adesão Municipal, conforme modelo constante no anexo II a esta
Portaria;
Quanto aos demais pontos, sugerimos a leitura da Portaria Interministerial nº 1, de 2 de janeiro de 2014.
4 - LEI 8.142/1990
A lei n. 8.142/90 dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS)
e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde.
A participação social no SUS é uma das diretrizes das ações e serviços públicos de saúde, prevista no art.
198, III, CF), além de ser tratada como um princípio do SUS no art. 7º da lei 8.080/90.
Neste sentido, cada esfera de governo deverá contar com as seguintes instâncias colegiadas:
a) Conferência de saúde;
b) Conselho de saúde.
A Conferência de Saúde reunir-se-á a cada quatro anos com a representação dos vários
segmentos sociais, para avaliar a situação de saúde e propor as diretrizes para a formulação
da política de saúde nos níveis correspondentes, convocada pelo Poder Executivo ou,
extraordinariamente, por esta ou pelo Conselho de Saúde.
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A representação dos usuários nos Conselhos de Saúde e Conferência de Saúde será́ paritária
em relação ao conjunto dos demais segmentos.
A lei ainda estabelece normas acerca dos recursos destinados à saúde. Neste sentido, estabeleceu que
os recursos do Fundo Nacional de Saúde (FNS) sejam alocados como:
Os recursos da cobertura das ações e serviços de saúde a serem implementados pelos Municípios,
Estados e Distrito Federal serão repassados de forma regular e automática para os Municípios, Estados
e Distrito Federal, de acordo com os critérios previsto na lei 8.080/90, sendo destinado, ao menos, 70%
(setenta por cento) aos Municípios.
Art. 4° Para receberem os recursos, de que trata o art. 3° desta lei, os Municípios, os Estados
e o Distrito Federal deverão contar com:
I - Fundo de Saúde;
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Entendemos que, caso haja exigência desta norma, será da letra fria da lei, bastando ao aluno a leitura
atenta da legislação. Desta forma, para evitar a repetição, indicamos a leitura da LC 141/12.
6.1 - Medicamentos
De início, é importante lembrar que os arts. 6º e 196 da CF estabelecem o Direito à saúde como um dever
do Estado, cabendo a este a promoção de medidas positivas para garantir a sua efetivação. Além disso,
a lei 8.080/90 estabelece que:
Art. 6º. Estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema Único de Saúde (SUS):
I - a execução de ações:
Logo, compete ao Poder Público, por meio do SUS, proporcionar total assistência aos indivíduos de
forma a garantir-lhes a saúde, seja por meio da assistência farmacêutica, fornecendo medicamentos
básicos para a população, seja por meio da assistência terapêutica, fornecendo órteses, próteses,
cadeiras de rodas etc., além dos procedimentos cirúrgicos necessários.
Neste molde, o Ministério da Saúde formula listagem geral de medicamentos essenciais a serem
fornecidos gratuitamente à população – o RENAME (Relação Nacional de Medicamentos Essenciais) –
com fundamento em elementos técnico-científicos.
À Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde – CONITEC, criada pelo
Decreto 7.646/2011, compete propor a atualização do RENAME (art. 4º, II).
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Art. 27. O Estado, o Distrito Federal e o Município poderão adotar relações específicas e
complementares de medicamentos, em consonância com a RENAME, respeitadas as
responsabilidades dos entes pelo financiamento de medicamentos, de acordo com o
pactuado nas Comissões Intergestores.
O decreto 7.508/2011 ainda buscou estabelecer diretrizes/requisitos para fornecimento dos fármacos
pelo Poder Público. De acordo com o art. 28, para que haja acesso aos medicamentos, há necessidade de
observância dos seguintes requisitos, de forma cumulativa:
A intenção do decreto é, claramente, excluir da dispensação de medicamentos do SUS aqueles que estão
assistidos por planos ou seguros de saúde ou por médicos privados, além de excluir da responsabilidade
do Poder Público o fornecimento de fármacos fora da lista da RENAME ou da relação específica
complementar dos demais Entes Federados.
Ocorre que há muita discussão acerca da legalidade desses requisitos, sendo que, na prática, o Poder
Judiciário, em geral, tem dado decisões desconsiderando esses requisitos em favor do dever legal e
constitucional de promover a saúde.
6.1.1 - Requisitos para a concessão judicial de medicamentos não previstos nas listas do SUS
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Conforme estudamos, o Poder Público estabelece uma lista de medicamentos essenciais, com
fundamento técnico-científico, que serão fornecidos pelo SUS à população, desde que esses fármacos
tenham sido aprovados pela ANVISA.
No entanto, a norma que prevê tais disposições possui natureza infralegal, sendo válida a discussão
acerca da sua legalidade, isto é, se poderia restringir o que a lei não restringiu, bem como se atende aos
preceitos constitucionais que estabelecem o Direito à Saúde.
Neste sentido, o STJ proferiu decisão estabelecendo taxativamente requisitos cumulativos para o
fornecimento de medicação não contida nas listas do SUS:
Jurisprudência do STJ
A tese fixada no julgamento repetitivo passa a ser: A concessão dos medicamentos não
incorporados em atos normativos do SUS exige a presença cumulativa dos seguintes
requisitos: i) Comprovação, por meio de laudo médico fundamentado e circunstanciado
expedido por médico que assiste o paciente, da imprescindibilidade ou necessidade do
medicamento, assim como da ineficácia, para o tratamento da moléstia, dos
fármacos fornecidos pelo SUS; ii) incapacidade financeira de arcar com o custo do
medicamento prescrito; iii) existência de registro do medicamento na ANVISA,
observados os usos autorizados pela agência.
Restou definido ainda que: “não cabe ao STJ definir os elementos constantes do laudo médico a ser
apresentado pela parte autora. Incumbe ao julgador nas instâncias ordinárias, no caso concreto,
verificar se as informações constantes do laudo médico são suficientes à formação de seu
convencimento. 3. Da mesma forma, cabe ao julgador avaliar, a partir dos elementos de prova juntados
pelas partes, a alegada ineficácia do medicamento fornecido pelo SUS decidindo se, com a utilização do
medicamento pedido, poderá haver ou não uma melhoria na resposta terapêutica que justifique a
concessão do medicamento”.
Outro ponto é que o laudo médico apresentado pela parte não vincula o julgador, isto é, cabe
ao juiz avaliar o laudo e verificar se as informações constantes nele são suficientes para a
formação de seu convencimento quanto à imprescindibilidade do medicamento.
Por fim, a Corte Superior modulou os efeitos da decisão, de forma que os requisitos elencados sejam
exigidos de forma cumulativa somente quanto aos processos distribuídos a partir da data da publicação
do acórdão embargado, ou seja, 04/05/2018.
Conforme visto, nos EDcl no REsp 1657156/RJ restaram definidos os requisitos para fornecimento de
medicamentos não previstos nas listas do SUS, dentre eles a exigência de registro do medicamento na
ANVISA. No entanto, a exigência de registro foi excepcionada em decisão pelo STF, que definiu a
possibilidade de o Poder Judiciário, em caráter excepcional, determinar que o Poder Público forneça
medicamento não registrado na ANVISA quando preenchidos os requisitos definidos pela Corte.
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No entanto, no caso dos medicamentos com eficácia e segurança comprovadas e testes concluídos,
mas ainda sem registro na ANVISA, o fornecimento por decisão judicial será hipótese absolutamente
excepcional, apenas quando houver mora irrazoável da ANVISA em apreciar o pedido de registro,
devendo o interessado, ainda neste caso, comprovar os seguintes requisitos cumulativos:
Mora irrazoável da
ANVISA em apreciar
Medicamentos o pedido de registro
não registrados
na ANVISA
Pedido de registro
no Brasil (salvo
medicamentos
Pode ser órfãos para doenças
Eficácia e
fornecido por raras e ultrarraras);
segurança
decisão judicial
comprovadas e
nos seguintes
testes concluídos Registro em
casos
renomadas agências
de regulação no
exterior
Inexistência de
substituto
registrado na
ANVISA.
Jurisprudência do STF
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Por fim, definiu o STF que as ações que demandem o fornecimento de medicamentos não
registrados pela ANVISA devem ser propostas em face da União:
Jurisprudência do STF
3. As ações que demandem fornecimento de medicamentos sem registro na ANVISA
deverão necessariamente ser propostas em face da União. Precedente específico: RE
657.718, Rel. Min. Alexandre de Moraes. 4. Embargos de declaração desprovidos.
(RE 855178 ED, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Relator(a) p/ Acórdão: Min. EDSON FACHIN,
Tribunal Pleno, julgado em 23/05/2019, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-090 DIVULG 15-
04-2020 PUBLIC 16-04-2020)
6.1.3 – Medicamento sem registro na ANVISA, porém, com autorização de importação pela
autarquia
O STF estabeleceu ainda uma hipótese excepcional em que, ainda que o medicamento não possua
registro na ANVISA, deverá ser fornecido pelo Poder Público quando, preenchidos os requisitos da
decisão do STJ no EDcl no REsp 1657156/RJ, exceto o registro prévio, a autarquia de vigilância sanitária
já tiver autorizado a importação do fármaco:
A decisão se assemelha bastante ao precedente do STJ, haja vista que apenas flexibilizou o terceiro
requisito, qual seja, o registro na ANVISA, aceitando apenas uma simples autorização da agência
reguladora.
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“O processo, de autoria do Estado de São Paulo, chegou ao Supremo após o Tribunal de Justiça estadual
(TJ-SP) confirmar decisão de primeira instância e determinar o fornecimento de medicamento à base
de canabidiol para um paciente menor de idade que sofre de encefalopatia crônica por citomegalovírus
congênito e de epilepsia intratável, com quadro de crises graves e frequentes.”
Assim, essa decisão se aproxima da decisão do STJ, apenas flexibilizando o requisito de registro na
ANVISA, quando a agência reguladora já tiver autorizado a importação do medicamento.
Ponto relevante é a possibilidade de o Ministério Público propor ação judicial para pleitear o
fornecimento de medicamento de forma individual.
A questão é facilmente resolvida pela própria Constituição Federal, haja vista que atribuiu ao parquet a
competência para a defesa de direitos individuais indisponíveis:
Na propositura de ações coletivas para que o Ente Público forneça medicamentos, a legitimidade do
Ministério Público é indiscutível, haja vista a sua atribuição para tutelar os interesses sociais, difusos e
coletivos:
CF:
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Outro caso relevante, este especificamente envolvendo o Estado do Rio de Janeiro, diz respeito à
obrigatoriedade ou não da Administração Pública de manter determinado medicamento em estoque,
bem como a possibilidade de o Poder Judiciário obrigar o Estado a promover tal política pública.
Importa ressaltar que, no caso concreto, o Estado não se negou a fornecer medicamento de alto custo
para os portadores da chamada “doença de Gaucher”, negando-se apenas a manter o remédio em
estoque pelo prazo de dois meses. Trata-se do fármaco CEREZYME – único medicamento eficaz contra
a doença – de custo elevado, produzido por um fabricante dos EUA e importado pela Secretaria de
Estado de Saúde.
No caso, de acordo com o STF, o Poder Judiciário poderia impor ao Executivo a manutenção
de tal medicamento em estoque, não havendo ofensa à separação dos poderes, haja vista que
a negativa de promover tal medida configura omissão inconstitucional, devendo tal
inconstitucionalidade ser reconhecida e remediada pelo Poder Judiciário.
Neste sentido, reconheceu que “Não tendo a Administração adquirido o medicamento em tempo hábil
a dar continuidade ao tratamento dos pacientes, atuou de forma ilegítima, violando o direito à saúde
daqueles pacientes, o que autoriza a ingerência do Poder Judiciário. Inexistência de afronta à
independência de poderes”.
(...) O exame pelo Poder Judiciário de ato administrativo tido por ilegal ou abusivo não
viola o princípio da separação dos poderes. Precedentes. V – O Poder Público não pode se
mostrar indiferente ao problema da saúde da população, sob pena de incidir, ainda que
por censurável omissão, em grave comportamento inconstitucional. Precedentes. VI –
Recurso extraordinário a que se nega provimento.
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Quanto a este tema, a discussão já se encontra definida, reconhecendo-se a obrigação solidária dos Entes
Federados no que diz respeito à promoção da saúde, de modo que cabe ao autor da ação escolher se a
propõe contra um, contra alguns ou contra todos os Entes Federados competentes, não havendo
obrigatoriedade de o juiz acatar eventual chamamento público da União ao processo.
Outra relevante discussão que chegou ao STF, esta ainda pendente de conclusão, diz respeito à
possibilidade de o Poder Judiciário obrigar o Poder Executivo a fornecer medicamentos de alto custo,
especialmente aqueles com capacidade de abalar o sistema de saúde e que atraem como contraponto a
reserva do possível.
Após a decisão a respeito do fornecimento de medicamentos não registrados pela ANVISA (RE 657718
– tema 500 da repercussão geral), o STF novamente iniciou julgamento sobre o Direito à Saúde, desta
vez sobre o fornecimento de fármacos de alto custo a portador de doença grave que não possui
condições financeiras para adquiri-lo (tema 6 da repercussão geral).
Neste sentido, a Corte Suprema, por maioria de votos, manteve o entendimento de que a obrigação do
Estado de fornecer medicamentos não registrados na Anvisa é exceção. Todavia, ficou assentado que a
Corte iria definir requisitos para o fornecimento desses medicamentos, o que foi adiado para nova
sessão.
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6.2 - Formas de efetivação das políticas públicas de saúde pelo Poder Judiciário
Além disso, a competência para cuidar da saúde pública é comum entre os Entes Federados (art. 23, II,
CF), de forma que União, Estados, Distrito Federal e Municípios são responsáveis pelas prestações de
saúde no país.
Por mais que a lei 8.080/90 tenha definido a distribuição de competências e atribuições no que diz
respeito às políticas de saúde – e isto unicamente para evitar prestação em duplicidade e conferir
racionalidade às políticas públicas neste setor social –, é certo que estas disposições legais não atenuam
a responsabilidade de qualquer desses entes de fornecimento desde o mais simples fármaco ao mais
complexo tratamento terapêutico.
Por este motivo, é jurisprudência pacífica dos Tribunais Superiores que o indivíduo pode escolher
contra qual Ente Federado proporá a ação judicial de obrigação de fazer na área da saúde, podendo
pleitear individualmente em face da União, do seu Estado ou de seu Município ou propor a ação em
litisconsórcio passivo em face de todos ou alguns destes:
(RE 855178 ED, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Relator(a) p/ Acórdão: Min. EDSON FACHIN,
Tribunal Pleno, julgado em 23/05/2019, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-090 DIVULG 15-
04-2020 PUBLIC 16-04-2020)
Por fim, definiu a Corte que, “a fim de otimizar a compensação entre os entes federados,
compete à autoridade judicial, diante dos critérios constitucionais de descentralização e
hierarquização, direcionar, caso a caso, o cumprimento conforme as regras de repartição de
competências e determinar o ressarcimento a quem suportou o ônus financeiro.”
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Um dos principais entendimentos das Cortes Superiores acerca da efetivação do Direito à Saúde
estabelece a possibilidade de bloqueio de verbas públicas para garantir o fornecimento de
medicamentos e, de forma analógica, para atender a demandas de saúde.
A decisão toca em um ponto que sempre foi um “tabu” no direito brasileiro, haja vista a vedação a que
Poder Judiciário determine bloqueio ou penhora de verbas ou bens públicos para satisfação de tutelas
judiciais, uma vez que, para tanto, deve-se valer o regime de precatório (art. 100, CF).
Além disso, há o atributo de impenhorabilidade dos bens públicos, o que, evidentemente, se aplica às
verbas estatais constantes das suas contas bancárias.
No entanto, em uma ponderação de valores entre tais “dogmas” do direito Administrativo e o direito à
saúde, a dignidade humana e, em último estágio, o direito à vida, o STJ deu prevalência a estes últimos,
estabelecendo a possiblidade de bloqueio de verbas públicas quando o Poder Executivo vem se
recusando a cumprir decisão judicial que determine prestação na área da saúde:
(REsp 1069810/RS, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA SEÇÃO,
julgado em 23/10/2013, DJe 06/11/2013)
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reduzida ou até mesmo suprimida, nesta última hipótese, caso a sua imposição não se
mostrar mais necessária.
5. A alegativa da impetrante - de que o pedido ao SUS para que forneça seringas, lancetas
e fitas reagentes impõe um longo processo burocrático incompatível com a gravidade da
doença - demanda dilação probatória não admitida no rito do mandado de segurança, já
que a autoridade coatora afirmou que fornece gratuitamente esses utensílios, mediante
simples requerimento no posto credenciado.
A lei 9.656/98, que dispõe sobre os planos e seguros privados de saúde, estabeleceu, em seu art. 32, a
obrigatoriedade de ressarcimento ao SUS dos serviços por este realizados em consumidores e
dependentes dos referidos planos e seguros:
Art. 32. Serão ressarcidos pelas operadoras dos produtos de que tratam o inciso I e o § 1º do
art. 1º desta Lei, de acordo com normas a serem definidas pela ANS, os serviços de
atendimento à saúde previstos nos respectivos contratos, prestados a seus consumidores e
respectivos dependentes, em instituições públicas ou privadas, conveniadas ou contratadas,
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integrantes do Sistema Único de Saúde - SUS. (Redação dada pela Medida Provisória nº
2.177-44, de 2001)
O ressarcimento deverá ser realizado pela operadora dos produtos tratados pela lei, com base em regra
de valoração aprovada e divulgada pela ANS, mediante crédito ao Fundo Nacional de Saúde – FNS, até o
15º (décimo quinto) dia da data de recebimento da notificação de cobrança feita pela ANS.
De acordo com o STF, a cobrança disciplinada no art. 32 da Lei 9.656/98 ostenta natureza
jurídica indenizatória ex lege (receita originária), sendo inaplicáveis as disposições
constitucionais concernentes às limitações estatais ao poder de tributar, entre elas a
necessidade de edição de lei complementar.
As operadoras de planos e seguros de saúde sustentavam que a participação das operadoras privadas
de plano de saúde é de caráter suplementar, dado que o dever primário de assegurar o acesso à saúde
é atribuído pela Constituição aos entes políticos que compõem a organização federativa brasileira.
Além disso, argumentavam que o ressarcimento interferiria na livre iniciativa assegurada pelo art. 199,
CF, bem como que a instituição de nova fonte de custeio para a seguridade social só poderia ocorrer por
lei complementar (art. 195, §4º, CF):
Defende, por fim, que há enriquecimento indevido do ente público em detrimento do patrimônio do
particular, pois, se o poder público se utiliza da tabela SUS para pagar a iniciativa privada, a mesma
tabela deve ser usada para ressarcir os atendimentos realizados no SUS.
Por outro lado, o Min. Relator Gilmar Mendes reconheceu que “Caso se admita a impossibilidade desse
ressarcimento, indiretamente estar-se-á financiando com recursos públicos as empresas privadas, as
quais certamente calculam suas receitas como forma de compensar financeiramente os custos dos
serviços contratados, criando situação de lucro certo (...)”. Invocou, neste ponto, o art. 199, §2º:
Afirmou que não se trata de nova fonte de custeio da seguridade social, mas de crédito de natureza
indenizatória, ou seja, crédito não tributário (ressarcimento), de caráter originário.
Outro ponto relevante do voto foi a determinação da irrelevância da data em que o contrato
entre o indivíduo e a operadora para fins de incidência ou não do dever de ressarcir, sendo
relevante, na verdade, a data do fato que enseja o dever de ressarcir, isto é, o serviço prestado
pelo SUS. Se anterior à entrada em vigor da nova disposição legislativa que instituiu o
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Outro ponto relevante da decisão diz respeito ao valor cobrado das operadoras de planos e seguros de
saúde por serviços prestados a seus consumidores ou segurados pelo SUS. Isto porque o SUS ressarce a
iniciativa privada por um preço tabelado mais baixo, quando o serviço é prestado por entidades
conveniadas. No entanto, quando o serviço é prestado pelo SUS a indivíduos vinculados a planos ou
serviços de saúde, é cobrado um valor duas ou três vezes maior.
Art. 32, § 8º Os valores a serem ressarcidos não serão inferiores aos praticados pelo SUS e
nem superiores aos praticados pelas operadoras de produtos de que tratam o inciso I e o §
1º do art. 1º desta Lei.
Entretanto, o STF julgou válida a cobrança das operadoras em valor superior aos praticados pelo SUS.
Os planos de saúde ofertados pelas operadoras possuem seus cálculos atuariais próprios
consideração de todas as variáveis: risco do processo de subscrição; risco de precificação;
risco de desenho do produto; risco de sinistro/eventos; risco do ambiente econômico; risco
de retenção líquida; risco de comportamento do cliente – assimetria de informações; e risco
das provisões.
Ademais, ante à previsão de valor máximo de ressarcimento (os valores praticados pelas operadoras),
não haverá superação das forças contratuais já calculadas e assumidas entre essas e os cidadãos-
usuários.
Por outro lado, garante-se a participação em contraditório e ampla defesa das operadoras de planos e
seguros de saúde no procedimento para apuração de formação do título executivo em razão do
ressarcimento.
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(RE 597064, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 07/02/2018,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-095 DIVULG 15-05-2018 PUBLIC 16-05-2018)
O STF se deparou com relevante discussão acerca do SUS e os princípios constitucionais a ele aplicados.
No caso, o CREMERS interpôs recurso extraordinário pugnando a reforma da decisão de segundo grau
que havia reconhecido a constitucionalidade de lei estadual que vedava distinção de classes no SUS,
impedindo que os pacientes do SUS que pagassem a diferença pudessem ser acomodados em condições
superiores.
A lógica do recorrente funcionava da seguinte maneira: o SUS paga os custos do tratamento dos
indivíduos quando realizados por entidades privadas conveniadas. Assim, nessas entidades privadas,
caso o paciente tivesse interesse, poderia pagar a diferença entre o valor repassado pelo SUS e o preço
da acomodação superior para que pudesse gozar de atenção diferenciada.
No entanto, o STF julgou constitucional a norma estadual que vedou este tipo de prática, reconhecendo
a inconstitucionalidade de tratamento diferenciado no SUS.
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(RE 581488, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 03/12/2015,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-065 DIVULG 07-04-2016
PUBLIC 08-04-2016)
O ressarcimento de serviços de saúde prestados por unidade privada em favor de paciente do Sistema
Único de Saúde, em cumprimento de ordem judicial, deve utilizar como critério o mesmo que é adotado
para o ressarcimento do Sistema Único de Saúde por serviços prestados a beneficiários de planos de
saúde.” RE 666094/DF, relator Min. Roberto Barroso, julgamento em 30.9.2021.
A tabela da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) deve servir de parâmetro para o pagamento
dos serviços de saúde prestados por hospital particular, em cumprimento de ordem judicial, em favor
de paciente do SUS.
A tomada forçada de serviço de unidade privada de saúde se revela uma espécie de requisição
judicial, ordenada pelo Estado-Juiz, em razão de falha concreta da política de saúde e da existência
de perigo iminente à saúde do paciente. A imposição de uma obrigação de fazer restritiva de atividade
privada resulta no dever de indenizar o proprietário.
Nesse aspecto, a Lei 9.656/1998 (Lei dos Planos de Saúde) e a Lei 9.961/2000 atribuem à ANS o encargo
de fixar valores de referência para o ressarcimento do SUS por serviços prestados em favor de
beneficiários de planos de saúde (2) e esse é um critério razoável para compensar o ente privado.
Art. 12. Em decorrência dos resultados, parciais ou finais, das investigações, dos inquéritos
ou levantamentos epidemiológicos de que tratam o artigo 11 e seu parágrafo único, a
autoridade sanitária fica obrigada a adotar, prontamente, as medidas indicadas para
o controle da doença, no que concerne a indivíduos, grupos populacionais e ambiente.
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Apesar do já estabelecido no ordenamento nacional, a União editou uma nova lei prevendo medidas
para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do
coronavírus responsável pelo surto de 2019: a lei 13.979/2020.
Em primeiro lugar, a lei delegou a ato do Ministro de Estado da Saúde a competência para
dispor acerca da duração da “situação de emergência” de saúde pública (art. 1º, §2º),
sujeitando o referido prazo ao limite do prazo estabelecido pela OMS (§1º).
O art. 3º estabelece um rol taxativo de medidas que podem ser adotadas pelas autoridades, no âmbito
de suas competências:
I - isolamento;
II - quarentena;
a) exames médicos;
b) testes laboratoriais;
III-A – uso obrigatório de máscaras de proteção individual; (Incluído pela Lei nº 14.019, de
2020)
VII - requisição de bens e serviços de pessoas naturais e jurídicas, hipótese em que será
garantido o pagamento posterior de indenização justa; e
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a) registrados por pelo menos 1 (uma) das seguintes autoridades sanitárias estrangeiras e
autorizados à distribuição comercial em seus respectivos países: (Redação dada pela Lei nº
14.006, de 2020)
1. Food and Drug Administration (FDA); (Incluído pela Lei nº 14.006, de 2020)
3. Pharmaceuticals and Medical Devices Agency (PMDA); (Incluído pela Lei nº 14.006, de
2020)
4. National Medical Products Administration (NMPA); (Incluído pela Lei nº 14.006, de 2020)
As medidas previstas neste artigo somente poderão ser determinadas com base em evidências
científicas e em análises sobre as informações estratégicas em saúde e deverão ser limitadas no tempo
e no espaço ao mínimo indispensável à promoção e à preservação da saúde pública.
A possibilidade de adoção das medidas não é absoluta, devendo observar os requisitos e limites
estabelecidos pela própria lei e resguardar os direitos e liberdades individuais. Neste ponto, estabelece
a lei que:
O uso de máscaras, por sua vez, é medida adotada diretamente pela lei no art. 3º-A:
Art. 3º-A. É obrigatório manter boca e nariz cobertos por máscara de proteção
individual, conforme a legislação sanitária e na forma de regulamentação estabelecida pelo
Poder Executivo federal, para circulação em espaços públicos e privados acessíveis ao
público, em vias públicas e em transportes públicos coletivos, bem como em:
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O art. 3º-J estabelece ainda proteção ampliada para os profissionais essenciais ao controle de doenças e
à manutenção da ordem pública, elencando, em seu §1º, quais são esses profissionais.
Do art. 4º ao art. 4º-K, a lei estabelece normas acerca das licitações e contratos durante a pandemia, o
que já foi estudado durante nosso curso.
Além dessas questões, muitas outras foram surgindo sem que houvesse norma legislativa específica
sobre o tema, o que é natural diante de uma situação totalmente inédita e imprevisível. Isto porque o
legislador não possui condições de prever todas as situações que podem surgir no convívio social.
Por este motivo, o Supremo Tribunal Federal foi instado a se manifestar em diversas situações acerca
do enfrentamento da Covid-19, as quais passaremos a tratar.
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a) suspender parcialmente, sem redução de texto, o disposto no art. 3º, VI, “b”, e §§ 6º e 7º,
II, da Lei nº 13.979/2020, a fim de excluir estados e municípios da necessidade de
autorização ou de observância ao ente federal; e
b) conferir interpretação conforme aos referidos dispositivos no sentido de que as medidas
neles previstas devem ser precedidas de recomendação técnica e fundamentada,
devendo ainda ser resguardada a locomoção dos produtos e serviços essenciais definidos
por decreto da respectiva autoridade federativa, sempre respeitadas as definições no âmbito
da competência constitucional de cada ente federativo.
STF. Plenário. ADI 6343 MC-Ref/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre
de Moraes, julgado em 6/5/2020 (Info 976).
O caso tratava acerca de decretos de Estados e Municípios que restringiram a entrada e saída de pessoas
de seus territórios para tentar conter o avanço da Covid-19, como, por exemplo, foi o caso do Decreto
46.980/2020 do Governo do Estado do Rio de Janeiro.
Em razão destas situações, o Governo Federal editou a MP 920/2020 (posteriormente convertida na lei
14.025/2020), que alterou a lei 13.979/2020, e passou a prever que a restrição à locomoção estadual e
intermunicipal por rodovias, portos e aeroportos somente poderia ser estabelecida por ato do Poder
Executivo Federal:
§ 6º-B. As medidas previstas no inciso VI do caput deste artigo deverão ser precedidas de
recomendação técnica e fundamentada:
Além disso, o art. 3º, §7º, II, da referida lei passou a estabelecer, após a nova redação, que a medida de
restrição de liberdade de locomoção somente poderia ser adotada pelos gestores locais de saúde, desde
que autorizados pelo Ministério da Saúde.
No julgamento da medida cautelar, o Ministro Marco Aurélio, deferindo a medida, entendeu que os
Prefeitos e Governadores podem adotar medidas de combate ao coronavírus considerando que são
providências relacionadas com a proteção da saúde, matéria que é de competência comum da União,
dos Estados, do DF e dos Municípios, na forma do art. 23, II, da CF/88:
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
(...)
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Submetida ao plenário, a medida cautelar foi referendada, conforme trecho indicado no início deste
tópico.
De acordo com o STF, embora a União tenha o papel primordial de coordenação entre os entes
federados, não deve ter o monopólio de regulamentar todas as medidas que devem ser tomadas para o
combate à pandemia. A autonomia dos demais Entes Federados deve ser respeitada. É impossível
que o poder central conheça todas as particularidades regionais.
No entanto, o STF afirmou expressamente que Estados e Municípios não podem fechar
fronteiras, pois sairiam de suas competências constitucionais.
O Min. Marco Aurélio foi sorteado relator da ação e, no dia 24/03/2020, proferiu decisão afirmando o
seguinte:
As providências adotadas pelo Governo Federal “não afastam atos a serem praticados por
Estado, o Distrito Federal e Município considerada a competência concorrente na forma do
artigo 23, inciso II, da Lei Maior.”
Assim, o Relator entendeu que os Prefeitos e Governadores podem adotar medidas de combate ao
coronavírus considerando que são providências relacionadas com a proteção da saúde, matéria que é
de competência comum da União, dos Estados, do DF e dos Municípios, na forma do art. 23, II, da CF/88:
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
(...)
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a) O pior erro na formulação das políticas públicas é a omissão, sobretudo para as ações essenciais
exigidas pelo art. 23 da Constituição Federal. É grave que, sob o manto da competência exclusiva
ou privativa, premiem-se as inações do governo federal, impedindo que Estados e Municípios, no
âmbito de suas respectivas competências, implementem as políticas públicas essenciais. O
Estado garantidor dos direitos fundamentais não é apenas a União, mas também os Estados e os
Municípios.
b) A diretriz constitucional da hierarquização, constante do caput do art. 198 não significou
hierarquização entre os entes federados, mas comando único, dentro de cada um deles.
c) É preciso ler as normas que integram a Lei 13.979, de 2020, como decorrendo da competência
própria da União para legislar sobre vigilância epidemiológica, nos termos da Lei Geral do SUS,
Lei 8.080, de 1990. O exercício da competência da União em nenhum momento diminuiu a
competência própria dos demais entes da federação na realização de serviços da saúde, nem
poderia, afinal, a diretriz constitucional é a de municipalizar esses serviços.
d) O direito à saúde é garantido por meio da obrigação dos Estados Partes de adotar medidas
necessárias para prevenir e tratar as doenças epidêmicas e os entes públicos devem aderir às
diretrizes da Organização Mundial da Saúde, não apenas por serem elas obrigatórias nos termos
do Artigo 22 da Constituição da Organização Mundial da Saúde (Decreto 26.042, de 17 de
dezembro de 1948), mas sobretudo porque contam com a expertise necessária para dar plena
eficácia ao direito à saúde.
e) Como a finalidade da atuação dos entes federativos é comum, a solução de conflitos sobre o
exercício da competência deve pautar-se pela melhor realização do direito à saúde, amparada
em evidências científicas e nas recomendações da Organização Mundial da Saúde.
O STF também foi instado a se manifestar quanto às políticas de saúde relativas aos indígenas no que
diz respeito ao enfrentamento da Covid-19. A ADPF 709 foi proposta com o objetivo de suprir falhas e
omissões do Poder Público no combate à referida pandemia entre os povos indígenas, que possuem um
alto risco de contágio e, até mesmo, de extermínio de etnias.
Neste sentido, a Corte Suprema argumentou que “Os Povos Indígenas são especialmente
vulneráveis a doenças infectocontagiosas, para as quais apresentam baixa imunidade e taxa
de mortalidade superior à média nacional. Há indícios de expansão acelerada do contágio da
COVID-19 entre seus membros e alegação de insuficiência das ações promovidas pela União
para sua contenção.”
Ao final, em sede de medida cautelar, determinou-se o seguinte quanto aos povos indígenas em
isolamento e de contato recente:
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a) Criação de barreiras sanitárias, conforme plano a ser apresentado pela União, ouvidos os
membros da Sala de Situação, no prazo de 10 dias, contados da ciência desta decisão;
b) Instalação da Sala de Situação, como previsto em norma vigente, para gestão de ações de combate
à pandemia quanto aos povos indígenas em isolamento e de contato recente, com participação
de representantes das comunidades indígenas, da Procuradoria-Geral da República e da
Defensoria Pública da União, observados os prazos e especificações detalhados na decisão.
Tema de grande relevância para a Administração Pública ainda que em período de normalidade, mas
especialmente em tempos excepcionais, diz respeito à publicidade e transparência das informações de
interesse público. Desta forma, decidiu o STF:
As referidas ações foram propostas diante da restrição da publicidade de dados relativos à Covid-19
pelo Governo Federal, haja vista que vinha atrasando a divulgação diária das referidas informações, bem
como alterou o formato do Balanço Diário da Covid-19, omitindo dados, tais como o total de casos
confirmados, casos recuperados e de óbitos, dentre outros.
De acordo com a Corte, referida restrição viola a publicidade, implicando em verdadeiro retrocesso.
Além disso, o acesso às informações é garantia instrumental do princípio democrático, além de
viabilizar a elaboração de políticas públicas para combate à pandemia.
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Além disso, a Administração Pública somente pode restringir a divulgação de informações em casos
excepcionais, quando houver risco à segurança nacional ou da coletividade ou no caso de proteção à
intimidade e à vida privada.
Avançando no combate à pandemia mundial e com o desenvolvimento das vacinas, novas questões
precisaram ser apreciadas pelo STF.
Neste sentido, a Corte foi instada a decidir acerca da constitucionalidade do art. 3º, III, “d”, da lei
13.979/2020, que estabelece a possibilidade de determinação de realização compulsória de vacinação
e outras medidas profiláticas. Já o §4º do mesmo artigo estabelece a possibilidade de responsabilização
daqueles que descumprirem as medidas determinadas com base no referido artigo.
O primeiro ponto que foi estabelecido pela Corte Suprema foi a distinção entre vacinação compulsória
e vacinação forçada. A primeira é constitucional, podendo o Poder Público estabelecer sanções para
aqueles que se recusarem a tomarem a vacina, haja vista se tratar de questão de saúde pública. Já a
vacinação forçada seria inconstitucional por violação às liberdades individuais.
Entendeu a Corte que a imposição de vacinação compulsória não viola a liberdade de consciência e de
crença prevista no art. 5º, VI e VIII, da CF. Ressaltou que outras leis já previam a vacinação compulsória,
como é o caso da lei 6.259/75, regulamentada pelo Decreto 78.231/76.
Assim, é legítima a compulsoriedade da vacina, estipulando-se sanções indiretas para aqueles que
descumprirem a norma legal. Essas sanções devem observar os requisitos e limites da própria lei (art.
3º, §2º), bem como os critérios da razoabilidade e proporcionalidade, tais como a restrição ao exercício
de certas atividades ou à frequência de determinados lugares, impossibilidade de investidura em cargo
público, desde que previstas em lei, ou dela decorrentes.
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Além disso, todos os Entes Federados podem prever sanções indiretas para aqueles que se recusarem a
tomar a vacina, haja vista a competência comum no que diz respeito ao serviço de saúde, respeitadas as
esferas de competências.
No mesmo sentido, o STF entendeu ilegítima a recusa dos pais à vacinação compulsória dos filhos
menores. De acordo com a Corte:
Mais uma vez reforçou que a compulsoriedade da vacinação não compromete a liberdade de crença e
de consciência. Há que se ponderar a referida liberdade individual com direitos fundamentais de
terceiros e de toda a coletividade, de maneira que a decisão do indivíduo não produz efeitos apenas na
sua esfera individual, mas afeta outras pessoas que não compartilham das mesmas ideias.
Além disso, em situações excepcionais, o Estado pode proteger as pessoas mesmo contra a sua própria
vontade, como no caso da determinação do uso de cinto de segurança.
Por fim, o poder familiar não autoriza os pais a colocarem a saúde e a vida de seus filhos em risco sob o
argumento de convicção filosófica.
Na ADPF 742, o STF determinou que a União elaborasse plano de combate à Covid-19 para a população
quilombola, no prazo de 30 dias, com a participação de representantes da Coordenação Nacional de
Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas – Conaq, com providências e protocolos
sanitários para assegurar a eficácia da vacinação na fase prioritária.
O colegiado também deferiu pedido formulado na ADPF de suspensão dos processos judiciais,
notadamente as ações possessórias, reivindicatórias de propriedade, imissões na posse, anulatórias de
processos administrativos de titulação e recursos vinculados a essas ações, sem prejuízo dos direitos
territoriais das comunidades quilombolas, até o término da pandemia.
STF. Plenário. ADPF 742/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Edson Fachin,
julgado em 24/2/2021 (Info 1006).
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https://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=461129&ori=1
Pelo seu caráter extremamente pedagógico, optamos por reproduzir os fundamentos da decisão do STF
na integra, em forma de texto:
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8.1 - A assistência social e a lei orgânica da assistência social (LOAS – lei 8.742/93)
A assistência social, ao lado a saúde e da previdência social, é um dos direitos que integram as políticas
de seguridade social.
CF:
Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos
Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à
previdência e à assistência social.
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Os artigos 203 e 204 da Lei Maior tratam especificamente da assistência social, definindo objetivos
específicos:
Dentre estes, o que é mais cobrado em provas e mais estudado neste tópico é a garantia de um salário
mínimo de benefício mensal às pessoas indicadas (inciso V), que consiste no benefício de prestação
continuada (BPC), estudado a seguir.
A assistência social é política de enfrentamento à pobreza, de forma a promover uma vida digna para as
pessoas que dela necessitam, garantindo um mínimo existencial e social.
A lei 8.742/93, por sua vez, dispõe acerca da organização da assistência social, conforme as diretrizes
previstas nos dispositivos constitucionais, sendo conhecida como lei orgânica da assistência social
(LOAS).
Destaque importante é o caráter não contributivo da assistência social, que deve ser prestada a quem
dela necessitar, independentemente de contraprestação ou qualquer outra forma de contribuição do
beneficiado, ao contrário da previdência social, cujo caráter contributivo é uma de suas principais
características, não se concedendo benefícios previdenciários a quem não tenha vertido contribuições
ao sistema.
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Consideram-se entidades e organizações de assistência social aquelas sem fins lucrativos que, isolada
ou cumulativamente, prestam atendimento e assessoramento aos beneficiários abrangidos por esta Lei,
bem como as que atuam na defesa e garantia de direitos.
Para ser reconhecida como entidade integrante da rede socioassistencial, a entidade deverá cumprir os
seguintes requisitos:
Os princípios e diretrizes se encontram nos arts. 4º e 5º, os quais devem ser lidos pelos alunos para
evitar repetições no material.
Quanto à organização e à gestão das ações na área da assistência social, a lei passa a dispor a partir do
art. 6º, que estabelece os objetivos.
A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios podem celebrar convênios com as entidades e
organizações da assistência social.
Art. 11. As ações das três esferas de governo na área de assistência social realizam-se de
forma articulada, cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera federal e a coordenação
e execução dos programas, em suas respectivas esferas, aos Estados, ao Distrito Federal e
aos Municípios.
Art. 17. Fica instituído o Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), órgão superior de
deliberação colegiada, vinculado à estrutura do órgão da Administração Pública Federal
responsável pela coordenação da Política Nacional de Assistência Social, cujos membros,
nomeados pelo Presidente da República, têm mandato de 2 (dois) anos, permitida uma única
recondução por igual período.
O CNAS é composto por 18 (dezoito) membros e respectivos suplentes, cujos nomes são indicados ao
órgão da Administração Pública Federal responsável pela coordenação da Política Nacional de
Assistência Social, de acordo com os critérios seguintes:
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§ 10. Considera-se impedimento de longo prazo, para os fins do § 2º deste artigo, aquele que
produza efeitos pelo prazo mínimo de 2 (dois) anos.
FAMÍLIA INCAPAZ DE PROVER A MANUTENÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA OU DO IDOSO (ART. 20, §3º)
Renda mensal bruta familiar dividida pelo número de seus integrantes seja
inferior a 1/4 do salário mínimo.
OBS: Incorporando a jurisprudência sobre o tema, a lei, no § 11, do art. 20, da Lei nº 8.742/93 (LOAS),
estabeleceu que, para concessão do Benefício de Prestação Continuada, poderão ser utilizados
outros elementos probatórios da condição de miserabilidade do grupo familiar e da situação
de vulnerabilidade, conforme regulamento.
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Além disso, não são computados para fins do cálculo da renda familiar per capta nem considerados para
prejudicar a concessão do BPC:
Outro requisito estabelecido pela lei é a inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) e no Cadastro
Único para Programa Sociais do Governo Federal – Cadastro Único.
§ 4º O benefício de que trata este artigo não pode ser acumulado pelo beneficiário com
qualquer outro no âmbito da seguridade social ou de outro regime, salvo os da assistência
médica e da pensão especial de natureza indenizatória.
A Medida provisória 871 de 18/01/19 trouxe previsão de que o requerimento, a concessão e a revisão
do benefício ficam condicionados à autorização do requerente para acesso aos seus dados bancários.
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A lei 13.982/2020 inseriu o art. 20-A e seus parágrafos na LOAS para realizar diversas modificações
temporárias no BPC, de forma a atender às pessoas em situação de pobreza em tempos de pandemia.
Neste sentido, estipulou que o critério de aferição da renda familiar mensal per capita
previsto no inciso I do § 3º do art. 20 poderá ser ampliado para até 1/2 (meio) salário-
mínimo, que deverá ocorrer na forma de escalas graduais, definidas em regulamento, de
acordo com os fatores definidos na lei.
Art. 21. O benefício de prestação continuada deve ser revisto a cada 2 (dois) anos para
avaliação da continuidade das condições que lhe deram origem.
a) Cessação: quando superadas as condições para a sua concessão ou pela morte do beneficiário;
b) Suspensão: quando a pessoa com deficiência exercer atividade remunerada, inclusive na
condição de microempreendedor individual, exceto se contratado na condição de aprendiz
(limitada a cumulação a 2 anos).
c) Cancelamento: quando houver irregularidade na concessão ou utilização.
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No caso da suspensão, extinta a relação trabalhista ou a atividade empreendedora de que trata o caput
deste artigo e, quando for o caso, encerrado o prazo de pagamento do seguro-desemprego e não tendo
o beneficiário adquirido direito a qualquer benefício previdenciário, poderá ser requerida a
continuidade do pagamento do benefício suspenso, sem necessidade de realização de perícia médica ou
reavaliação da deficiência e do grau de incapacidade para esse fim, respeitado o período de revisão
previsto no caput do art. 21.
RESOLVE:
c) Serviço de Proteção Social Básica no domicílio para pessoas com deficiência e idosas.
d) Serviço de Proteção Social Especial para Pessoas com Deficiência, Idosas e suas Famílias;
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QUESTÕES COMENTADAS
Magistratura
1. (TRF-2º REGIÃO / TRF-2º REGIÃO – Juiz Federal Substituto / 2018) No que se refere ao
direito à saúde na ordem constitucional brasileira, assinale a alternativa correta:
a) A existência de atribuição própria para cada ente federativo em normas infraconstitucionais não elide
a responsabilidade solidária imposta constitucionalmente a todos eles.
b) O Sistema Único de Saúde é gerido pelo princípio da descentralização e a obrigação de fornecer e
custear medicamentos ordinários é de incumbência exclusiva dos Estados e Municípios.
c) As ações e serviços de saúde são integrantes de uma rede regionalizada e descentralizada que compõe
o Sistema Único de Saúde. Nesse sistema cada ente público assume sua responsabilidade constitucional
de forma autônoma e exclusiva.
d) O art. 200, da Constituição Federal, estabeleceu as competências do Sistema Único de Saúde e é
regulamentado nas Leis ns. 8.080/90 e 8.142/90 que descentralizam o sistema e a prestação dos
serviços de saúde. Assim, compete à União apenas a formulação de diretrizes políticas e planejamento
do setor de saúde.
e) Não é cabível a judicialização de demandas envolvendo internações e tratamentos médicos no âmbito
do SUS, por se tratarem de questões no âmbito de discricionariedade técnica do gestor público, não
passível de controle judicial.
Comentários
A alternativa A está correta e é o gabarito da questão. O Supremo Tribunal Federal (STF) reafirmou
jurisprudência sobre a responsabilidade solidária dos entes federados no dever de prestar
assistência à saúde, de modo que cabe ao autor da ação escolher se a propõe contra um, contra
alguns ou contra todos os Entes Federados competentes, não havendo obrigatoriedade de o juiz
acatar eventual chamamento público da União ao processo.
A decisão foi tomada na análise do Recurso Extraordinário (RE) 855178, de relatoria do ministro Luiz
Fux, que teve repercussão geral reconhecida, por meio do Plenário Virtual [...] Em recurso de apelação,
o Tribunal Regional Federal (TRF) da 5ª Região entendeu que o dever de prestar assistência à saúde
é compartilhado entre a União, os estados-membros e os municípios, e que a distribuição de
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A alternativa B está incorreta. O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) fixou tese de repercussão
geral sobre a matéria constitucional contida no Recurso Extraordinário (RE) 855178 no sentido de que
há responsabilidade solidária de entes federados para o fornecimento de medicamentos e
tratamentos de saúde (STF, 2019). Nesse sentido, vide o Recurso Extraordinário (RE) 855178.
A alternativa C está incorreta. Em verdade, as ações e serviços de saúde são integrantes de uma rede
regionalizada e descentralizada que compõe o Sistema Único de Saúde. Nesse sistema, cada ente
público assume sua responsabilidade constitucional de forma autônoma solidária.
A alternativa D está incorreta. O art. 200, da CF, estabeleceu as competências do SUS e é regulamentado
nas Leis ns. 8.080/90 e 8.142/90 que descentralizam o sistema e a prestação dos serviços de saúde.
Assim, compete aos entes federados, em seu respectivo âmbito administrativo (art. 15 da Lei n.
8.080/90), a formulação de diretrizes políticas e planejamento do setor de saúde.
É firme o entendimento deste Tribunal de que o Poder Judiciário pode, sem que fique
configurada violação ao princípio da separação dos Poderes, determinar a
implementação de políticas públicas nas questões relativas ao direito constitucional
à saúde. (...) STF. 1ª Turma. ARE 947.823 AgR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
28/6/2016.
Comentários
O Supremo Tribunal Federal (STF) reafirmou jurisprudência sobre a responsabilidade solidária dos
entes federados no dever de prestar assistência à saúde, de modo que cabe ao autor da ação
escolher se a propõe contra um, contra alguns ou contra todos os Entes Federados competentes,
não havendo obrigatoriedade de o juiz acatar eventual chamamento público da União ao processo.
A decisão foi tomada na análise do Recurso Extraordinário (RE) 855178, de relatoria do ministro Luiz
Fux, que teve repercussão geral reconhecida, por meio do Plenário Virtual [...] Em recurso de apelação,
o Tribunal Regional Federal (TRF) da 5ª Região entendeu que o dever de prestar assistência à saúde
é compartilhado entre a União, os estados-membros e os municípios, e que a distribuição de
atribuições entre os entes federativos por normas infraconstitucionais não elide a
responsabilidade solidária imposta constitucionalmente. É contra essa decisão que o presente RE
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foi interposto pela União, alegando violação aos artigos 2º e 198, da Constituição Federal. Argumentava,
em síntese, sua ilegitimidade para figurar no polo passivo da demanda, alegando que o SUS é guiado
pelo princípio da descentralização e que a obrigação de fornecer e custear os medicamentos seria de
incumbência exclusiva dos órgãos locais (STF, 2015).
Promotor
Comentários
STF. Plenário. RE 657718/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto
Barroso, julgado em 22/5/2019 (repercussão geral) (Info 941).
ATENÇÃO: reputamos esta assertiva correta, já que existe exceção a regra, conforme bem demonstrado
na letra D, permitindo entendermos que a ausência de registro não impede o fornecimento de
medicamento, se preenchidos os requisitos exigidos pela Corte Suprema. Contudo, inegável tratar-se da
alternativa menos correta (já que o enunciado pede a afirmação incorreta).
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(...)
A alternativa D está correta. No caso dos medicamentos com eficácia e segurança comprovadas e
testes concluídos, mas ainda sem registro na ANVISA, o fornecimento por decisão judicial será
hipótese absolutamente excepcional, apenas quando houver mora irrazoável da ANVISA em apreciar
o pedido de registro, devendo o interessado, ainda neste caso, comprovar os seguintes requisitos
cumulativos:
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Mora irrazoável da
ANVISA em apreciar
Medicamentos não o pedido de registro
registrados na
ANVISA
Pedido de registro
no Brasil (salvo
medicamentos
órfãos para doenças
Eficácia e segurança Pode ser fornecido raras e ultrarraras)
comprovadas e por decisão judicial
testes concluídos nos seguintes casos
Registro em
renomadas agências
de regulação no
exterior
Inexistência de
substituto
registrado na
ANVISA.
(RE 855178 ED, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Relator(a) p/ Acórdão: Min. EDSON FACHIN,
Tribunal Pleno, julgado em 23/05/2019, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-090 DIVULG 15-04-
2020 PUBLIC 16-04-2020)
É constitucional a regra que veda, no âmbito do SUS, a internação em acomodações superiores, bem
como o atendimento diferenciado por médico do próprio SUS, ou por médico conveniado, mediante o
pagamento da diferença dos valores correspondentes.
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3. Não fere o direito à saúde, tampouco a autonomia profissional do médico, o normativo que
veda, no âmbito do SUS, a assistência diferenciada mediante pagamento ou que impõe a
necessidade de triagem dos pacientes em postos de saúde previamente à internação.
(RE 581488, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 03/12/2015,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-065 DIVULG 07-04-2016
PUBLIC 08-04-2016)
Comentários
5. Assim, inexiste violação dos dispositivos dos arts. 1º, V, e 21 da Lei n. 7.347/1985, bem
como do art. 6º do CPC/1973, uma vez que a atuação do Ministério Público, em demandas
de saúde, assim como nas relativas à dignidade da pessoa humana, tem assento na
indisponibilidade do direito individual, com fundamento no art. 1º da Lei n. 8.625/1993
(Lei Orgânica Nacional do Ministério Público).
6. Tese jurídica firmada: O Ministério Público é parte legítima para pleitear tratamento
médico ou entrega de medicamentos nas demandas de saúde propostas contra os
entes federativos, mesmo quando se tratar de feitos contendo beneficiários
individualizados, porque se refere a direitos individuais indisponíveis, na forma do art.
1º da Lei n. 8.625/1993 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público).
(...)
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Comentários
Medicamentos experimentais são aqueles sem comprovação científica de eficácia e segurança, e ainda
em fase de pesquisas e testes. Um conhecido exemplo de medicamento experimental é a
fosfoetanolamina sintética (a chamada “pílula do câncer”).
O STF afirmou que não há nenhuma hipótese em que o Poder Judiciário possa obrigar o
Poder Executivo a fornecê-los: O Estado não pode ser obrigado a fornecer medicamentos
experimentais. STF. Plenário. RE 657718/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.
Roberto Barroso, julgado em 22/5/2019 (repercussão geral) (Info 941).
Nesse caso, a administração da substância representa riscos graves, diretos e imediatos à saúde dos
pacientes. Não apenas porque, ao final dos testes, pode-se concluir que a substância é tóxica e produz
graves efeitos colaterais, mas também porque se pode verificar que o tratamento com o fármaco é
ineficaz, o que pode representar a piora do quadro do paciente e possivelmente a diminuição das
possibilidades de cura e melhoria da doença.
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Defensor
Comentários
Art. 19-C. Caberá à União, com seus recursos próprios, financiar o Subsistema de Atenção à
Saúde Indígena.
A alternativa B está incorreta. É o SUS quem promoverá a articulação do Subsistema e não o contrário.
Lei nº 8.080/1990, Art. 19-G, § 1o O Subsistema de que trata o caput deste artigo terá como
base os Distritos Sanitários Especiais Indígenas.
Lei nº 8.080/1990, Art. 19-G, § 3o As populações indígenas devem ter acesso ao SUS, em
âmbito local, regional e de centros especializados, de acordo com suas
necessidades, compreendendo a atenção primária, secundária e terciária à saúde.
Lei nº 8.080/1990, Art. 19-A. As ações e serviços de saúde voltados para o atendimento das
populações indígenas, em todo o território nacional, coletiva ou individualmente,
obedecerão ao disposto nesta Lei.
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8. (FCC / DPE-MA – Defensor / 2018) De acordo com o que dispõe a Lei de Organização do
Sistema Único de Saúde, Lei n° 8.080/1990, quando for necessária a atuação complementar das
entidades privadas, em razão de insuficiência de recursos do SUS,
a) A atuação se dará por meio de encampação do serviço da atividade particular, mediante prévia
notificação a entidade privada, respeitando sempre a justa remuneração pelo serviço encampado.
b) Os critérios de remuneração dos serviços em atuação complementar serão delimitados por legislação
específica.
c) A garantia da qualidade do serviço prestada pelo particular deverá ser objeto de observância pela
entidade privada, dispensadas, contudo, de observância das demais normas de direito público.
d) Quando os diretores, administradores ou gestores das entidades privadas estiverem exercendo
mandatos eletivos ou cargos de confiança no Sistema Único de Saúde, a forma de efetivação da atuação
complementar se dará por convênio ou contrato administrativo.
e) As entidades filantrópicas e sem fins lucrativos têm preferência para realizar a atividade
complementar dentro do Sistema Único de Saúde.
Comentários
Lei 8.080/1990: Art. 24, Parágrafo único. A participação complementar dos serviços
privados será formalizada mediante contrato ou convênio, observadas, a respeito, as
normas de direito público.
Lei 8.080/1990: Art. 24, Parágrafo único. A participação complementar dos serviços
privados será formalizada mediante contrato ou convênio, observadas, a respeito, as
normas de direito público.
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Lei 8.080/1990: Art. 25. Na hipótese do artigo anterior, as entidades filantrópicas e as sem
fins lucrativos terão preferência para participar do Sistema Único de Saúde (SUS).
9. (CESPE / DPU – Defensor Público Federal / 2017) Lúcio foi internado em um hospital da
rede privada para submeter-se a tratamento médico eletivo a ser realizado pelo SUS. Na unidade
hospitalar onde ele foi internado, os quartos individuais superiores são reservados a pacientes
particulares, e àqueles que desfrutam do atendimento gratuito são disponibilizados quartos
coletivos de nível básico.
Com o intuito de utilizar um quarto individual, por ser mais confortável, Lúcio se prontificou a
pagar o valor da diferença entre as modalidades dos quartos, o que foi recusado pelo hospital,
que informou ser vedado o uso das acomodações superiores por pacientes atendidos pelo SUS,
mesmo mediante pagamento complementar.
Considerando essa situação hipotética, julgue o seguinte item com base na posição majoritária e atual
do STF.
A vedação à internação de Lúcio em acomodações superiores mediante o pagamento da diferença é
constitucional: o atendimento pelo SUS é orientado, entre outros critérios, pela isonomia.
Comentários
Com base no entendimento constitucional de que o acesso ao SUS é universal e igualitário, o STF
decidiu que é vedado internação de indivíduo em acomodações superiores, bem como ser
atendido por médico de sua preferência, mesmo que não haja gastos para o Estado. Esta
denominada "diferença de classes" concede privilégios incompatíveis com os princípios da
universalidade e da isonomia que permeiam o sistema único de saúde.
10. (ADAPTADA / CESPE / DPU – Defensor Público Federal / 2017) Julgue o item:
É vedado às instituições privadas com fins lucrativos participarem do SUS, as quais não podem, ainda,
oferecer quartos com custos diferentes para pacientes sujeitos ao mesmo procedimento médico.
Comentários
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A primeira parte - "É vedado às instituições privadas com fins lucrativos participarem do SUS" está
incorreta. A CF determina a preferência pelas entidades sem fins lucrativos, mas não proíbe a
participação daquelas com fins lucrativos; ambas podem participar do SUS de forma
complementar:
A segunda parte: "as quais não podem, ainda, oferecer quartos com custos diferentes para pacientes
sujeitos ao mesmo procedimento médico" está correta. O STF decidiu, no RE 581488, ser vedado o
oferecimento de acomodações superiores a paciente tratados pelo SUS, mesmo que não haja
ônus para o Estado, em respeito aos princípios da universalidade e igualdade que regem o
sistema único de saúde.
Procurador
11. (VUNESP / Prefeitura de Francisco Morato – Procurador / 2019) A respeito dos serviços
privados de assistência à saúde, nos termos da lei n° 8.080/90, assinale a alternativa correta.
a) Os serviços privados de assistência à saúde caracterizam-se pela atuação exclusiva, somente por
iniciativa própria, no uso de suas atribuições e dentro das regras de universalização da saúde, de
profissionais liberais, independentemente de estarem legalmente habilitados, e de pessoas jurídicas de
direito privado ou público, na promoção, proteção e recuperação da saúde.
b) Exigem autorização expressa do poder público, que deverá conceder tal serviço por meio de
licitações, por se tratar de dever exclusivo do Estado promover serviços dessa natureza.
c) É permitida a participação direta ou indireta de empresas ou de capitais estrangeiros na assistência
à saúde, salvo por meio de doações de organismos internacionais vinculados à Organização das Nações
Unidas, de entidades de cooperação técnica e de financiamento e empréstimo.
d) Em qualquer caso é obrigatória a autorização do órgão de direção nacional do Sistema Único de Saúde
(SUS), submetendo-se a seu controle as atividades que forem desenvolvidas e os instrumentos que
forem firmados.
e) Serão observados os princípios éticos e as normas expedidas pelo órgão de direção do Sistema Único
de Saúde (SUS) quanto às condições para seu funcionamento.
Comentários
A alternativa A está incorreta. A lei 8.080/1990 exige que os profissionais sejam legalmente
habilitados.
Art. 20. Os serviços privados de assistência à saúde caracterizam-se pela atuação, por
iniciativa própria, de profissionais liberais, legalmente habilitados, e de pessoas jurídicas
de direito privado na promoção, proteção e recuperação da saúde.
A alternativa B está incorreta. A norma não prevê exigência de autorização expressa, nem licitação.
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A alternativa D está incorreta. A alternativa corresponde ao antigo artigo 23, §1º, da Lei 8.080/90, que
foi revogado pela Lei 13.097/15.
A alternativa E está correta e é o gabarito da questão. Nos termos do art. 22 da Lei 8.080/1990,
12. (VUNESP / Câmara de Serrana – Procurador Jurídico / 2019) Sobre o que prevê a Lei nº
8.080/90 acerca do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena, assinale a alternativa correta.
a) Caberá a União, Estados e Municípios, de forma solidária, financiar o Subsistema de Atenção à Saúde
Indígena.
b) O Subsistema de Atenção à Saúde Indígena deverá ser, como o SUS, descentralizado, hierarquizado e
sem regionalização.
c) O SUS servirá de retaguarda e referência ao Subsistema de Atenção à Saúde Indígena, devendo, para
isso, ocorrer adaptações na estrutura e organização do SUS nas regiões onde residem as populações
indígenas, para propiciar essa integração e o atendimento necessário em todos os níveis, sem
discriminações.
d) As populações indígenas devem ter acesso garantido ao SUS, em âmbito local, regional e de centros
especializados, de acordo com suas necessidades, compreendendo apenas a atenção primária e
secundária à saúde.
e) As ações e serviços de saúde voltados para o atendimento das populações indígenas, em todo o
território nacional, tutelados pela lei em referência, atendem apenas as necessidades coletivas desta
população.
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Art. 19-C. Caberá à União, com seus recursos próprios, financiar o Subsistema de
Atenção à Saúde Indígena.
Art. 19-G. O Subsistema de Atenção à Saúde Indígena deverá ser, como o SUS,
descentralizado, hierarquizado e regionalizado.
Art. 19-G, § 3 o As populações indígenas devem ter acesso garantido ao SUS, em âmbito local,
regional e de centros especializados, de acordo com suas necessidades, compreendendo a
atenção primária, secundária e terciária à saúde.
Art. 19-A. As ações e serviços de saúde voltados para o atendimento das populações
indígenas, em todo o território nacional, coletiva ou individualmente, obedecerão ao
disposto nesta Lei.
13. (VUNESP / Câmara de Orlândia – Procurador Jurídico / 2018) Conforme dispõe a Lei
Federal n° 8.080/90, à direção municipal do Sistema de Saúde (SUS), dentre outras atribuições,
compete
a) formular, avaliar e apoiar políticas de alimentação e nutrição.
b) coordenar e participar na execução das ações de vigilância epidemiológica.
c) formular normas de controle de qualidade para produtos de consumo humano.
d) controlar e fiscalizar os procedimentos dos serviços privados de saúde.
e) acompanhar, controlar e avaliar as redes hierarquizadas do Sistema Único de Saúde.
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III - serviços de saúde mantidos, sem finalidade lucrativa, por empresas, para atendimento
de seus empregados e dependentes, sem qualquer ônus para a seguridade social; e
A alternativa D está incorreta. Não basta a indicação médica, é necessária expressa concordância do
paciente e de sua família.
Art. 19-I. São estabelecidos, no âmbito do Sistema Único de Saúde, o atendimento domiciliar
e a internação domiciliar.
Art. 38. Não será permitida a destinação de subvenções e auxílios a instituições prestadoras
de serviços de saúde com finalidade lucrativa.
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(...)
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Outros
17. (INÉDITA) No que se refere a Política Nacional de Atenção Integral à Pessoas Privadas de
Liberdade (PNAISP), assinale a alternativa correta:
a) Os trabalhadores em serviços penais, os familiares e demais pessoas que se relacionam com as
pessoas privadas de liberdade não serão envolvidas em ações de promoção da saúde e de prevenção de
agravos no âmbito da PNAISP.
b) A adesão municipal à PNAISP é obrigatória.
c) As pessoas privadas de liberdade são proibidas de trabalhar nos serviços de saúde implantados
dentro das unidades prisionais, nos programas de educação e promoção da saúde e nos programas de
apoio aos serviços de saúde.
d) É objetivo geral da PNAISP fomentar e fortalecer a participação e o controle social.
e) É considerado objetivo específico da PNAISP a qualificação e humanização da atenção à saúde no
sistema prisional por meio de ações conjuntas das áreas da saúde e da justiça.
Comentários
A alternativa A está incorreta. Nos termos da Portaria Interministerial n. 1 de 2014 (arts. 7º e 8º),
enquadram-se como beneficiários da PNAISP:
Art. 14. A adesão municipal à PNAISP será facultativa, devendo observar os seguintes
critérios:
III - assinatura do Termo de Adesão Municipal, conforme modelo constante no anexo II a esta
Portaria;
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Art. 20. As pessoas privadas de liberdade poderão trabalhar nos serviços de saúde
implantados dentro das unidades prisionais, nos programas de educação e promoção da
saúde e nos programas de apoio aos serviços de saúde.
Art. 5º É objetivo geral da PNAISP garantir o acesso das pessoas privadas de liberdade
no sistema prisional ao cuidado integral no SUS.
Fomentar e fortalecer a participação e o controle social são objetivos específicos (art. 6º, V).
I - promover o acesso das pessoas privadas de liberdade à Rede de Atenção à Saúde, visando
ao cuidado integral;
II - garantir a autonomia dos profissionais de saúde para a realização do cuidado integral das
pessoas privadas de liberdade;
III - qualificar e humanizar a atenção à saúde no sistema prisional por meio de ações
conjuntas das áreas da saúde e da justiça;
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Comentários
Art. 26. O Ministério da Saúde é o órgão competente para dispor sobre a RENAME e os
Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas em âmbito nacional, observadas as diretrizes
pactuadas pela CIT.
Art. 27. O Estado, o Distrito Federal e o Município poderão adotar relações específicas
e complementares de medicamentos, em consonância com a RENAME, respeitadas as
responsabilidades dos entes pelo financiamento de medicamentos, de acordo com o
pactuado nas Comissões Intergestores.
II - ter o medicamento sido prescrito por profissional de saúde, no exercício regular de suas
funções no SUS;
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19. (INÉDITA) Julgue o item abaixo de acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal:
Viola à separação dos poderes, decisão judicial que obriga o Poder Executivo a manter medicamento em
estoque.
Comentários
A alternativa está ERRADA. De acordo com o STF, o Poder Judiciário pode impor ao Executivo a
manutenção de medicamento em estoque, não havendo ofensa à separação dos poderes, haja
vista que a negativa de promover tal medida configura omissão inconstitucional, devendo tal
inconstitucionalidade ser reconhecida e remediada pelo Poder Judiciário.
Neste sentido, reconheceu que “Não tendo a Administração adquirido o medicamento em tempo hábil
a dar continuidade ao tratamento dos pacientes, atuou de forma ilegítima, violando o direito à saúde
daqueles pacientes, o que autoriza a ingerência do Poder Judiciário. Inexistência de afronta à
independência de poderes”.
(...) O exame pelo Poder Judiciário de ato administrativo tido por ilegal ou abusivo não viola
o princípio da separação dos poderes. Precedentes. V – O Poder Público não pode se mostrar
indiferente ao problema da saúde da população, sob pena de incidir, ainda que por
censurável omissão, em grave comportamento inconstitucional. Precedentes. VI – Recurso
extraordinário a que se nega provimento.
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Comentários
A alternativa está ERRADA. Em uma ponderação de valores entre a impenhorabilidade dos bens
públicos, o direito à saúde, a dignidade humana e, em último estágio, o direito à vida, o STJ deu
prevalência a estes últimos, estabelecendo a possiblidade de bloqueio de verbas públicas quando o
Poder Executivo vem se recusando a cumprir decisão judicial que determine prestação na área da saúde:
(REsp 1069810/RS, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA SEÇÃO,
julgado em 23/10/2013, DJe 06/11/2013)
21. (INÉDITA) Nos termos da recente decisão do Superior Tribunal de Justiça sobre o
fornecimento de medicamentos pelo poder público, julgue o item abaixo:
É possível a impetração de Mandado de Segurança, com pedido de multa diária, em caso de
descumprimento da obrigação de fazer, a fim de constranger a Fazenda Pública a fornecer determinado
medicamento.
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Contudo, mostra-se incabível a impetração de mandado de segurança para tal pleito. Vejamos:
3. Laudo médico particular não é indicativo de direito líquido e certo. Se não submetido
ao crivo do contraditório, é apenas mais um elemento de prova, que pode ser ratificado, ou
infirmado, por outras provas a serem produzidas no processo instrutório, dilação probatória
incabível no mandado de segurança.
5. A alegativa da impetrante - de que o pedido ao SUS para que forneça seringas, lancetas e
fitas reagentes impõe um longo processo burocrático incompatível com a gravidade da
doença - demanda dilação probatória não admitida no rito do mandado de segurança,
já que a autoridade coatora afirmou que fornece gratuitamente esses utensílios, mediante
simples requerimento no posto credenciado.
(RMS 30.746/MG, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 27/11/2012,
DJe 06/12/2012)
LISTA DE QUESTÕES
Magistratura
1. (TRF-2º REGIÃO / TRF-2º REGIÃO – Juiz Federal Substituto / 2018) No que se refere ao
direito à saúde na ordem constitucional brasileira, assinale a alternativa correta:
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a) A existência de atribuição própria para cada ente federativo em normas infraconstitucionais não elide
a responsabilidade solidária imposta constitucionalmente a todos eles.
b) O Sistema Único de Saúde é gerido pelo princípio da descentralização e a obrigação de fornecer e
custear medicamentos ordinários é de incumbência exclusiva dos Estados e Municípios.
c) As ações e serviços de saúde são integrantes de uma rede regionalizada e descentralizada que compõe
o Sistema Único de Saúde. Nesse sistema cada ente público assume sua responsabilidade constitucional
de forma autônoma e exclusiva.
d) O art. 200, da Constituição Federal, estabeleceu as competências do Sistema Único de Saúde e é
regulamentado nas Leis ns. 8.080/90 e 8.142/90 que descentralizam o sistema e a prestação dos
serviços de saúde. Assim, compete à União apenas a formulação de diretrizes políticas e planejamento
do setor de saúde.
e) Não é cabível a judicialização de demandas envolvendo internações e tratamentos médicos no âmbito
do SUS, por se tratarem de questões no âmbito de discricionariedade técnica do gestor público, não
passível de controle judicial.
2. (ADAPTADA / CESPE / TJ-CE – Juiz Substituto / 2018) Julgue o item:
O polo passivo de ações que versem sobre responsabilidade nos tratamentos médicos pode ser ocupado
por qualquer dos entes federados.
Promotor
É constitucional a regra que veda, no âmbito do SUS, a internação em acomodações superiores, bem
como o atendimento diferenciado por médico do próprio SUS, ou por médico conveniado, mediante o
pagamento da diferença dos valores correspondentes.
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O direito à saúde, consequência do direito à vida, constitui direito fundamental, direito individual
indisponível, que legitima o Ministério Público para a propositura de ação em defesa desse direito por
meio da ação civil pública, que lhe permite invocar a tutela jurisdicional do Estado com o objetivo de
fazer com que os Poderes Públicos respeitem, em favor da coletividade, os serviços de relevância
pública.
6. (ADAPTADA / FMP CONCURSOS / MPE-RO – Promotor de Justiça Substituto / 2017) No que
se refere à judicialização da saúde, assinale a alternativa CORRETA.
É cabível o deferimento pelo Poder Judiciário de medicamentos experimentais sem eficácia
comprovada.
Defensor
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Com o intuito de utilizar um quarto individual, por ser mais confortável, Lúcio se prontificou a
pagar o valor da diferença entre as modalidades dos quartos, o que foi recusado pelo hospital,
que informou ser vedado o uso das acomodações superiores por pacientes atendidos pelo SUS,
mesmo mediante pagamento complementar.
Considerando essa situação hipotética, julgue o seguinte item com base na posição majoritária e atual
do STF.
A vedação à internação de Lúcio em acomodações superiores mediante o pagamento da diferença é
constitucional: o atendimento pelo SUS é orientado, entre outros critérios, pela isonomia.
10. (ADAPTADA / CESPE / DPU – Defensor Público Federal / 2017) Julgue o item:
É vedado às instituições privadas com fins lucrativos participarem do SUS, as quais não podem, ainda,
oferecer quartos com custos diferentes para pacientes sujeitos ao mesmo procedimento médico.
Procurador
11. (VUNESP / Prefeitura de Francisco Morato – Procurador / 2019) A respeito dos serviços
privados de assistência à saúde, nos termos da lei n° 8.080/90, assinale a alternativa correta.
a) Os serviços privados de assistência à saúde caracterizam-se pela atuação exclusiva, somente por
iniciativa própria, no uso de suas atribuições e dentro das regras de universalização da saúde, de
profissionais liberais, independentemente de estarem legalmente habilitados, e de pessoas jurídicas de
direito privado ou público, na promoção, proteção e recuperação da saúde.
b) Exigem autorização expressa do poder público, que deverá conceder tal serviço por meio de
licitações, por se tratar de dever exclusivo do Estado promover serviços dessa natureza.
c) É permitida a participação direta ou indireta de empresas ou de capitais estrangeiros na assistência
à saúde, salvo por meio de doações de organismos internacionais vinculados à Organização das Nações
Unidas, de entidades de cooperação técnica e de financiamento e empréstimo.
d) Em qualquer caso é obrigatória a autorização do órgão de direção nacional do Sistema Único de Saúde
(SUS), submetendo-se a seu controle as atividades que forem desenvolvidas e os instrumentos que
forem firmados.
e) Serão observados os princípios éticos e as normas expedidas pelo órgão de direção do Sistema Único
de Saúde (SUS) quanto às condições para seu funcionamento.
12. (VUNESP / Câmara de Serrana – Procurador Jurídico / 2019) Sobre o que prevê a Lei nº
8.080/90 acerca do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena, assinale a alternativa correta.
a) Caberá a União, Estados e Municípios, de forma solidária, financiar o Subsistema de Atenção à Saúde
Indígena.
b) O Subsistema de Atenção à Saúde Indígena deverá ser, como o SUS, descentralizado, hierarquizado e
sem regionalização.
c) O SUS servirá de retaguarda e referência ao Subsistema de Atenção à Saúde Indígena, devendo, para
isso, ocorrer adaptações na estrutura e organização do SUS nas regiões onde residem as populações
indígenas, para propiciar essa integração e o atendimento necessário em todos os níveis, sem
discriminações.
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d) As populações indígenas devem ter acesso garantido ao SUS, em âmbito local, regional e de centros
especializados, de acordo com suas necessidades, compreendendo apenas a atenção primária e
secundária à saúde.
e) As ações e serviços de saúde voltados para o atendimento das populações indígenas, em todo o
território nacional, tutelados pela lei em referência, atendem apenas as necessidades coletivas desta
população.
13. (VUNESP / Câmara de Orlândia – Procurador Jurídico / 2018) Conforme dispõe a Lei
Federal n° 8.080/90, à direção municipal do Sistema de Saúde (SUS), dentre outras atribuições,
compete
a) formular, avaliar e apoiar políticas de alimentação e nutrição.
b) coordenar e participar na execução das ações de vigilância epidemiológica.
c) formular normas de controle de qualidade para produtos de consumo humano.
d) controlar e fiscalizar os procedimentos dos serviços privados de saúde.
e) acompanhar, controlar e avaliar as redes hierarquizadas do Sistema Único de Saúde.
14. (VUNESP / Câmara de Sumaré – Procurador Jurídico / 2017) A assistência à saúde
a) é livre à iniciativa privada.
b) exclui a participação direta de capital estrangeiro.
c) impõe que hospitais gerais sejam mantidos por ente público.
d) obriga a internação domiciliar quando houver exigência médica.
e) permite a destinação de subvenções e auxílios a instituições prestadoras de serviços de saúde com
finalidade lucrativa.
15. (COPEVE-UFAL / Prefeitura de Porto Calvo-AL – Procurador Jurídico / 2019) De acordo
com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, a ação judicial, visando ao fornecimento de
medicamento essencial à vida de paciente necessitado, poderá ser ajuizada contra
a) o Estado apenas, visto que a hipótese é de responsabilidade privativa.
b) a União apenas, visto que a hipótese é de responsabilidade exclusiva.
c) a União, o Estado ou o Município, visto que a hipótese é de responsabilidade solidária.
d) o Estado ou a União apenas, visto que a hipótese é de responsabilidade concorrente.
e) o Estado ou o Município apenas, visto que a hipótese é de responsabilidade concorrente.
16. (CESPE / Prefeitura de Fortaleza-CE / Procurador Municipal / 2017) Acerca de assuntos
relacionados à disciplina da saúde e da educação na CF, julgue o item que se segue.
A rede privada de saúde pode integrar o Sistema Único de Saúde, de forma complementar, por meio de
contrato administrativo ou convênio.
Outros
17. (INÉDITA) No que se refere a Política Nacional de Atenção Integral à Pessoas Privadas de
Liberdade (PNAISP), assinale a alternativa correta:
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Aula 20
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1865040
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Rodolfo Breciani Penna
Aula 20
GABARITO
Magistratura
1. A
2. CORRETA
Promotor
3. A
4. CORRETA
5. CORRETA
6. INCORRETA
Defensor
7. C
8. E
9. CORRETA
10. INCORRETA
Procurador
11. E
12. C
13. D
14. A
15. C
16. CORRETA
Outros
17. E
18. B
19. INCORRETA
20. INCORRETA
21. INCORRETA
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