Você está na página 1de 12

 meio ambiente

Oficina de produção de sabão


com óleo usado de cozinha:
conscientização ambiental
no interior de Goiás
Soap Production Workshop With Used Cooking Oil:
Environmental Education In The Countryside Of Goiás

Cleberson Souza da Silva


clebersonssilva@hotmail.com

Lauana de Souza Barbosa


lauanasb@gmail.com

Nathalie Alcantara Ferreira


nathaliealfe@gmail.com

Camilla Rodrigues Borges


camilla.borges@ifg.edu.br

Diego Arantes Teixeira Pires


diego.pires@ifg.edu.br

Resumo
O sabão, comumente conhecido como um produto de limpeza, utilizado juntamente com a água para a re-
moção de impurezas, pode ser preparado facilmente em casa, utilizando óleo usado de cozinha juntamente
com soda cáustica. O óleo usado de cozinha, quando descartado de forma errada, pode causar sérios danos
ambientais, o que torna a sua utilização na fabricação de sabão um grande aliado ambiental. Com o intuito de
promover uma conscientização ambiental no interior de Goiás e também de propor atividades experimentais
contextualizadas para o ensino da Química no Ensino Médio, foram realizadas, como exposto neste trabalho,
oficinas para a fabricação de sabão com alunos de Ensino Médio. Procedeu-se também a elaboração de carti-
lhas contendo informações sobre os danos ambientais que o descarte incorreto de óleo usado pode causar, além
de receitas para se produzir sabão em casa. Tanto as oficinas quanto a cartilha possibilitaram uma conscien-
tização ambiental em alunos de escolas públicas e também em moradores locais da cidade de Luziânia/GO,
além de ensinar como produzir sabão utilizando óleo usado de cozinha. As oficinas mostraram-se ainda viá-
veis como atividades experimentais contextualizadas para o ensino médio, abordando conceitos de Química,
como: polaridade, forças intermoleculares e reações químicas.
Palavras-Chave: sabão; óleo usado de cozinha; educação ambiental; experimentação.
Oficina de produção de sabão com óleo usado de
Revista Tecnia | v. 1 | n. 1 | 2016 cozinha: conscientização ambiental no interior
de Goiás

Introducão concepções, previamente elaboradas de


forma empírica, para ideias de cunho
A utilização da experimentação no
científico (SILVA, 2010).
ensino de Ciências, consequentemente
Além disso, para o desenvolvimen-
no ensino de Química, é um assunto am-
to de atividades experimentais que
plamente discutido devido aos grandes
propiciem, de fato, um enriquecimen-
benefícios que pode trazer ao processo
to ao aluno, é preciso que o professor
de ensino-aprendizado para o aluno. É
também entenda que possui um papel
notório que não é de hoje que autores
singular e fundamental, não apenas o
e documentos curriculares norteadores,
de transmitir conhecimento e conteúdo
como os Parâmetros Curriculares Nacio-
aos seus alunos, mas “o de ser mediador
nais (PCN) (BRASIL, 2000) e Orientações
que faz intervenções indispensáveis aos
Curriculares Nacionais (OCN) (BRASIL,
processos de ensinar-aprender ciências
2006), vêm salientando e enfatizando
que promovem o conhecimento e as
a importância da utilização da experi-
potencialidades humanas” (SILVA e ZA-
mentação no ensino, que deveria ser
NON, 2000, p. 121). Ou seja, o profes-
uma prática cotidiana tanto no ensino
sor deve ajudar o estudante a conhecer,
de Química como no ensino de Ciências.
a ampliar e a remodelar seus conceitos
As atividades experimentais, quando
e concepções a partir de discussões e
realizadas de maneira correta, podem questionamentos, de debates e diálo-
trazer inúmeros benefícios para o Ensi- gos. As atividades experimentais, por
no, indo muito além de uma mera com- si só, não irão enriquecer o aprendizado
provação da teoria na prática. A introdu- do aluno sem uma mediação adequada
ção ou a revisão de um assunto quando por parte do professor.
trabalhadas de uma forma experimental Além disso, as atividades experi-
e investigativa facilitam a construção do mentais podem ser abordadas de forma
conhecimento (SILVA, 2010). Com isso, contextualizada, fazendo uma ligação
nesse tipo de experimentação, a reflexão entre o cotidiano do aluno e o conhe-
torna-se mais importante do que a prá- cimento científico. Um exemplo de ati-
tica, conseguindo minimizar a fragmen- vidade experimental contextualizada
tação da teoria. Um experimento pode pode ser a produção de sabão a partir
valorizar as concepções e explicações do óleo usado de cozinha, pois tanto o
elaboradas pelos estudantes, partindo sabão quanto o óleo estão presentes na
daí para a introdução do conhecimento maioria das casas dos brasileiros.
científico, por meio do diálogo e do de- O sabão é comumente conheci-
bate, em que os alunos modificam suas do como um produto de limpeza,

120
CLEBERSON SOUZA DA SILVA
ET AL. Revista Tecnia | v. 1 | n. 1 | 2016

utilizado juntamente com a água para hidrólise básica, produzindo glicerol e


a remoção de impurezas (FERNANDES, os sais de ácidos graxos, ou seja, sabão
2015). Quimicamente, o sabão é definido (BALDASSO, 2010; WILDNER, 2012).
como um tensoativo (substância que pos- Essa reação de hidrólise básica ocorre
sui em sua estrutura uma parte hidrofó- quando são aquecidos os ésteres (óleos
bica e uma parte hidrofílica), constituído ou gorduras) na presença de uma base
de sais de ácido graxo (BRASIL, 2015). (como a soda cáustica – NaOH) e é cha-
Os sabões são produzidos a partir de mada de reação de saponificação (Figu-
óleos e gorduras, que podem ser de ori- ra 1). Na Figura 1, são apresentados
gem animal ou vegetal (ALBERICI, 2004; triésteres de ácido graxo (óleos e gordu-
BALDASSO, 2010; WILDNER, 2012). Es- ras) que reagem com o hidróxido de só-
tes óleos e gorduras são chamados de dio (soda cáustica) para produzir os
ésteres e podem sofrer reações de sais de ácidos graxos (sabão) e glicerol.

Figura 1
Esquema da
reação de
saponificação
para a
produção
de sabão.
R1, R2 e R3
são cadeias
carbônicas
diferentes,
que podem
variar de
acordo com o
tipo de óleo.

As bases mais utilizadas na fabri- Os sabões são utilizados para remo-


cação do sabão podem ser o hidróxido ver certas impurezas que a água, por
de sódio (NaOH), como visto na Figu- si só, não consegue retirar, tais como
ra 1, ou o hidróxido de potássio (KOH). restos de óleo e gorduras, por exemplo.
Quando se utiliza NaOH, é produzido Isso é observado porque as moléculas
um sabão mais consistente, mais duro. de água são polares e as de óleo e/ou
Quando se utiliza KOH, é produzido gorduras são apolares, não interagin-
um sabão “mole”, chamado de sabão do, portanto, entre si (BELO, 2014). Por
potássico (SHREVE, 1980). esse motivo, não é possível remover

121
Oficina de produção de sabão com óleo usado de
Revista Tecnia | v. 1 | n. 1 | 2016 cozinha: conscientização ambiental no interior
de Goiás

Figura 2
Exemplo de uma
possível estrutura
de uma molécula
de sabão. Em azul
está representada
a parte apolar
Essa interação ocorre a partir da for- Essa produção caseira do sabão é (hidrofóbica), capaz
de interagir com
mação de micelas, que são as partículas muito importante, já que por meio dela
óleos e gorduras.
de óleo envolvidas por moléculas de sa- é possível reutilizar óleos que normal- Em vermelho está
apresentada a parte
bão (Figura 3), em que a parte apolar do mente são descartados indevidamente polar (hidrofílica),
sabão interage com o óleo e a parte po- na rede de esgoto, em que, se não fo- capaz de interagir
com água.
lar interage com as moléculas de água. rem tratados adequadamente, podem
O sabão age como um emulsificante
Figura 3
devido à sua propriedade de fazer com Representação
da atuação
que o óleo se disperse na água por meio do sabão
de micelas (PERUZZO, 2003). formando
micelas. A
Atualmente, os sabões são produzi- parte apolar
dos em grandes quantidades nas indús- do sabão (em
rosa) interage
trias, na forma de sabão em barra, em com o óleo e
a parte polar
pó, líquido, entre outros. Não obstante, (em verde)
de acordo com Peruzzo (2003), o sa- interage com
as moléculas de
bão é produzido desde o início da Era água, formando
Cristã, apesar de que, naquela época, as micelas.

os antigos não tinham conhecimento causar inúmeros danos ao ambiente


do processo em nível molecular. (WILDNER, 2012; BELO, 2014).
Devido a sua fácil preparação, os Segundo Bortoluzzi (2011), estes
sabões podem ser, e são até hoje, pro- óleos, ao serem liberados na rede de
duzidos artesanalmente em casa, uti- esgoto, podem acumular-se e ficar reti-
lizando restos de óleos de frituras, por dos nas encanações da rede de esgoto,
exemplo, e hidróxido de sódio (NaOH), o que pode atrair várias doenças. Além
que é comumente chamado de soda disso, segundo a autora, os óleos e as
cáustica (encontrado facilmente em gorduras retidos na encanação dificul-
supermercados e em lojas de materiais tam a passagem de água, levando a en-
para construção). Estes sabões artesa- tupimentos e mau funcionamento das
nais geralmente são produzidos para redes, podendo transbordar nas ruas e
uso caseiro, atuando como agente de até mesmo ocasionar o retorno do es-
limpeza doméstica. goto para as casas. Para reverter essa

122
CLEBERSON SOUZA DA SILVA
ET AL. Revista Tecnia | v. 1 | n. 1 | 2016

situação, é necessária a aplicação de utilizada para o abastecimento de re-


produtos químicos poluentes, desti- sidências e, quando tratada, até para o
nados ao desentupimento dessas en- consumo humano. De acordo com a le-
canações, aumentando a poluição de gislação federal, mais especificamente
mananciais hídricos. na resolução n. 430 do Conselho Nacio-
Quando resíduos a base de óleo che- nal do Meio Ambiente (CONAMA) em
gam às estações de tratamento, eles seu artigo 16, o limite para lançamento
devem ser tratados de forma eficiente de óleos vegetais na natureza é de até
para que a água possa ser despejada 50 mg/L (CONAMA, 2011). A partir des-
novamente em rios e lagos, porém nem se número, é possível estimar que um
sempre se observa esse tratamento cor- litro de óleo de cozinha pode contami-
reto, o que pode causar sérias poluições nar mais de 25.000 litros de água.
dos mananciais hídricos por óleos. Atualmente, observa-se, no Brasil,
Pensando em uma situação ideal, em um sério problema de abastecimento
que as cidades possuam redes de esgoto de água, e a contaminação de manan-
e estações de tratamento, o óleo des- ciais hídricos por óleos usados pode
cartado indevidamente já pode causar piorar ainda mais esta situação (BELO,
todas essas consequências. Já quando 2014). Desta forma, reaproveitar óleos
não existem redes de esgoto e estações de fritura para a fabricação de sabão é
de tratamento, estes resíduos poluem a uma excelente alternativa para o des-
água diretamente, pois são descartados carte desse resíduo, ajudando, assim, a
sem nenhum tipo de tratamento prévio. reduzir os impactos ambientais que tal
O aparecimento deste óleo nos ma- substância pode causar.
nanciais hídricos cria uma barreira na O trabalho aqui exposto teve como
superfície da água, visto que o óleo é objetivo ensinar alunos do Ensino Mé-
menos denso que a água. Assim, ele di- dio integrado ao ensino Técnico, por
ficulta a oxigenação da água e a passa- meio de oficinas, a produzir sabão uti-
gem de luz, podendo causar a morte de lizando óleo usado de cozinha e aler-
várias espécies aquáticas (BORTOLUZZI, tá-los sobre o problema ambiental do
2011). Além disso, a água contamina- descarte indevido deste óleo nas redes
da pelo óleo torna-se imprópria para o de esgoto. Esteve entre os objetivos
consumo humano. também a produção de uma cartilha
Uma pequena porção de óleo pode de orientação sobre os malefícios que o
contaminar um volume considerável de descarte de óleo de cozinha em rios e la-
água, quantidade esta que poderia ser gos pode causar e ensinando a qualquer

123
Oficina de produção de sabão com óleo usado de
Revista Tecnia | v. 1 | n. 1 | 2016 cozinha: conscientização ambiental no interior
de Goiás

pessoa como utilizar tal óleo para fazer alunos os malefícios que o óleo usado
sabão para ser usado no dia a dia. Obje- de cozinha pode causar ao ambiente,
tivou-se, ainda, utilizar essas oficinais quais são os reagentes envolvidos na
para a fabricação de sabão como aulas produção nos procedimentos e, por
experimentais contextualizadas para o fim, explicou-se como o sabão limpa.
ensino médio. Em continuidade, os alunos foram di-
vididos em duplas para que cada dupla
produzisse seu próprio sabão utilizan-
Materiais e métodos do óleo usado de cozinha. Cada etapa
Foram realizadas três oficinas para da produção foi explicada aos alunos
a fabricação de sabão com alunos do de forma interativa, sempre havendo
curso técnico em Química de uma ins- espaço para dúvidas e curiosidades.
tituição pública federal de ensino, o Notou-se um grande entusiasmo dos
IFG/Câmpus Luziânia. Quarenta e oito alunos ao longo das oficinas, com gran-
alunos participaram das oficinas, de de participação e interação.
forma voluntária, no período extraclas- Para a produção de sabão utilizan-
se. Tal atividade foi realizada no labora- do o óleo usado de cozinha, utilizou-
tório de Química Geral da instituição, e -se: 1 kg de óleo usado (1.000,0 g);
todos os alunos utilizaram os devidos 150,0 
mL de água; 135,0 g de soda
equipamentos de proteção individual. cáustica (NaOH); 25,0 mL de álcool
A oficina foi iniciada com a entrega (etanol); e 30,0 mL de óleo essencial
de um questionário, para verificar o co- ou amaciante de roupas (opcional). Es-
nhecimento prévio dos alunos sobre o quentou-se a água até 40°C e acrescen-
processo de fabricação de sabão a partir tou-se lentamente o NaOH (a ordem é
de óleo usado de cozinha. As questões importante, pois se a água quente fosse
propostas foram: “1) Quais reagentes colocada sobre o NaOH, poderia ocor-
poderiam ser usados para a produção rer um acidente). A solução foi mis-
de sabão utilizando óleo usado de cozi- turada mecanicamente até completa
nha?”; “2) Quais procedimentos devem dissolução. Em seguida, o óleo usado
ser realizados para executar tal produ- foi passado em um filtro de papel para
ção?”; “3) Explique o motivo pelo qual a retirada de eventuais impurezas e foi
o sabão limpa.”; e “4) Alguém da sua adicionado lentamente à solução de
família fabrica ou já fabricou sabão?”. NaOH. Misturou-se por 20 minutos a
Em seguida, iniciou-se a parte práti- solução. Adicionou-se, por fim, o álcool
ca da oficina, quando foi explicado aos e o óleo essencial (opcional, utilizado

124
CLEBERSON SOUZA DA SILVA
ET AL. Revista Tecnia | v. 1 | n. 1 | 2016

apenas para proporcionar um odor que 52,1% dos alunos nunca tinha fa-
mais agradável). Despejou-se a mistu- bricado ou presenciado o processo de
ra em um recipiente, do tipo assadeira, fabricação de sabão. Além disso, no-
deixando-a em repouso por dois dias. tou-se que 54,2% dos participantes
Retirou-se o sabão do recipiente, ar- não soube indicar quais reagentes po-
mazenando-o por 20 dias antes do uso deriam ser utilizados ao longo desse
(etapa de cura para garantir a completa processo, enquanto que 45,8% deles
reação da soda cáustica). indicou corretamente quais seriam os
Após o término da parte prática da reagentes. Entretanto, apenas 25% dos
oficina, aplicou-se um segundo ques- alunos soube explicar o procedimento
tionário aos alunos com as seguintes para a produção do sabão e 75% dos
perguntas: “1) Você já tinha visualizado discentes explicou o processo de forma
ou acompanhado algum processo de fa- errada ou não o explicou.
bricação de sabão antes dessa oficina?” Foi possível observar que o processo
e “2) Após a realização desta prática, de fabricação de sabão utilizando óleo
você fabricaria sabão para o seu uso ou usado de cozinha ainda não é muito di-
para comercialização?”. fundido entre os alunos do Ensino Mé-
Por meio do que foi vivenciado nas dio. Apesar de ser um processo simples,
oficinas e também pelas respostas dos muitos não souberam explicar quais os
questionários, elaborou-se uma car- reagentes utilizados nem o procedi-
tilha informativa contendo: os ma- mento correto para a fabricação (vale
lefícios ao meio ambiente que o óleo lembrar que o conteúdo de Química
usado de cozinha pode causar, receitas Orgânica é visto no Ensino Médio ape-
de como produzir sabão com os óleos nas no terceiro ano). A fabricação de sa-
usados, explicações sobre este proces- bão partindo de óleo usado pode ser de
so de produção e sobre como o sabão grande interesse ambiental, evitando o
consegue limpar. Tais cartilhas foram descarte indevido dessa gordura, o qual
distribuídas em dez escolas estaduais pode ocasionar sérios danos de conta-
na cidade de Luziânia, no interior do minação em mananciais hídricos (BAL-
estado de Goiás. DASSO, 2010; WILDNER, 2012). Além
disso, pode-se obter uma vantagem fi-
nanceira, visto que esse sabão pode ser
Resultados e discussão utilizado em casa (o que torna dispen-
A partir dos questionários aplicados sável a aquisição de sabão em merca-
antes e depois das oficinas, observou-se dos) ou mesmo para a comercialização,

125
Oficina de produção de sabão com óleo usado de
Revista Tecnia | v. 1 | n. 1 | 2016 cozinha: conscientização ambiental no interior
de Goiás

visto que os produtos para a fabrica- Se os recursos naturais oferecidos pelo


ção são de baixo custo. Uma ampla di- planeta (como a água) forem destruí-
vulgação deste processo de fabricação dos pelo homem, não haverá mais con-
entre os jovens pode gerar uma cons- dições habitáveis em nosso meio. En-
cientização ambiental e também uma tretanto, procedimentos simples, como
economia financeira. oficinas para a fabricação de sabão, po-
Apesar de a maioria dos alunos não dem ser alternativas viáveis para uma
saber indicar os reagentes no processo conscientização dos jovens.
e nem explicar a metodologia de fabri- Levando em consideração tais pon-
cação, 81,2% deles indicou conhecer tos, realizou-se a confecção de carti-
familiares que produziam sabão, en- lhas, explicando: o que é o sabão; os
quanto que 18,8% afirmou que não ter problemas ambientais que o descarte
conhecimento de familiares envolvidos errado de óleo usado de cozinha pode
nesse processo. Nota-se um grande causar; e também os procedimentos
percentual de familiares atuando na fa- para a fabricação de sabão — conforme
bricação de sabão utilizando óleo usado as Figuras 4 e 5. Tais cartilhas foram
de cozinha, o que pode ser de extrema amplamente distribuídas em dez esco-
importância ambiental para a região. las estaduais, na cidade de Luziânia/
Famílias da região conseguem com isso Goiás.
agregar valor a um produto que não te- Com a distribuição dessas cartilhas,
ria mais utilidade, e, pior, que causaria espera-se conscientizar a comunidade
sérios danos ambientais com contami- do problema que o óleo usado pode
nações hídricas se fosse descartado de causar se for mal descartado. Como
maneira incorreta. uma alternativa, é apresentada uma
Observou-se ainda que, após as ofi- receita para a fabricação de sabão uti-
cinas, 83,3% dos alunos afirmou que lizando tais óleos. Almeja-se, com isso,
tinha interesse em começar a produ- que mais pessoas na região comecem a
zir sabão, enquanto que 16,7% relatou produzir sabão e que, por consequên-
que, mesmo após a oficina, não teria cia, o descarte irregular de óleos usados
interesse nesse processo de fabrica- diminua.
ção. A oficina foi capaz de despertar Além disso, espera-se uma maior di-
o interesse da maioria dos alunos vulgação da receita. Observou-se que
pelo processo de reutilização de óleo diversas pessoas na região possuem re-
usado, proporcionando a estes alu- ceitas caseiras (e diferentes) para esse
nos uma conscientização ambiental. processo. Para tal fabricação, utiliza-se

126
CLEBERSON SOUZA DA SILVA
ET AL. Revista Tecnia | v. 1 | n. 1 | 2016

Figuras 4 e 5 hidróxido de sódio, também


Cartilha
sobre chamado de soda cáustica
produção (NaOH), que é uma base ex-
de sabão
com óleo tremamente forte e corrosi-
usado de
cozinha. Tal
va. Excesso de soda cáustica
cartilha foi na receita pode gerar sérios
distribuída
em escolas prejuízos à saúde, devido ao
estaduais da
poder corrosivo desse pro-
região.
duto, que pode causar quei-
maduras e desidratação na
pele. Pode causar ainda pro-
blemas ambientais (dada a
basicidade desse composto)
e também problemas du-
rante o processo de lavagem
de roupas (já que a ação cor-
rosiva pode danificar teci-
dos). Com isso, uma receita
com a quantidade correta
de NaOH pode ser de suma
importância, e a cartilha
distribuída pôde auxiliar
também nessa informação.
Tanto as oficinas quanto
a cartilha podem ser ferra-
mentas importantes para a
disseminação da educação
ambiental pelo estado de
Goiás. Vale lembrar que os
PCNs (Parâmetros Curri-
culares Nacionais) e PCN+
(Orientações Educacionais
Complementares aos Parâ-
metros Curriculares Nacio-
nais) sugerem abordagem

127
Oficina de produção de sabão com óleo usado de
Revista Tecnia | v. 1 | n. 1 | 2016 cozinha: conscientização ambiental no interior
de Goiás

de educação ambiental ao longo do cur- Tanto o óleo de cozinha quanto o sabão


rículo do Ensino Médio (BRASIL, 2000; são materiais presentes no cotidiano do
BRASIL, 2002), orientação não seguida aluno, o que pode trazer um maior inte-
de forma plena na maioria das escolas resse para a realização de tais oficinais.
estaduais. Desta forma, estas oficinas Além disso, tal atividade experimen-
e cartilhas podem ser uma alternativa tal permitiu abordar conteúdos e con-
para uma melhoria da educação am- ceitos de Química, a saber: a polaridade,
biental na educação goiana. as forças intermoleculares e as reações
Além disso, tanto PCN como PCN+ químicas, tornando a construção desses
recomendam a utilização da experi- conceitos mais interessante e dinâmica.
mentação nas aulas de Química, para As atividades experimentais devem es-
valorizar a integração da teoria e da tar vinculadas a algum conhecimento
prática. Entretanto, atividades experi- científico, além de possibilitar que tal
mentais não são realizadas na maioria conhecimento científico seja refletido
das escolas de ensino médio, fato que em conhecimento cotidiano para o alu-
pode prejudicar o ensino da Química. no, fato observado nas oficinais.
Diversas alegações são utilizadas para a
ausência de aulas práticas, tais como a
falta de laboratórios, a falta de reagen- Conclusão
tes, a falta de técnicos nos laboratórios, Tanto as oficinas quanto a cartilha
a falta de tempo, dentro outros. possibilitaram o ensinamento e um
Com isso, oficinas para a fabricação maior interesse pela produção de sa-
de sabão utilizando óleo usado de cozi- bão utilizando óleo usado de cozinha
nha podem ser uma alternativa como na comunidade de Luziânia. Notou-se
atividade experimental para o ensino que, tanto ao longo das oficinas quanto
médio. Tal prática envolve soda cáusti- na divulgação das cartilhas, houve uma
ca, de baixo custo e fácil aquisição, além ampla curiosidade por esse processo de
de óleo usado de cozinha, que pode ser produção, mostrando o grande interes-
solicitado, sem custo, aos alunos ou à se da comunidade pelo assunto. Tam-
cantina da escola ou a algum restauran- bém foi possível uma ampla divulgação
te da comunidade. das questões ambientais que envolvem
As oficinas para a produção de sabão o descarte errôneo do óleo usado, fato
mostraram ser uma excelente alterna- que não é informado pelas escolas de
tiva de atividade experimental contex- Ensino Médio da região. O descarte ir-
tualizada para alunos de ensino médio. regular destes óleos pode causar sérios

128
CLEBERSON SOUZA DA SILVA
ET AL. Revista Tecnia | v. 1 | n. 1 | 2016

danos aos recursos hídricos, que estão contextualizada para alunos do ensi-
escassos atualmente, e a produção de no médio, permitindo a abordagem de
sabão com estes óleos pode ser uma al- conceitos como polaridade, forças in-
ternativa para sanar esta problemática. termoleculares e reações químicas.
Questões ambientais devem ser trata-
das de forma séria nas escolas para for- Agradecimentos
mar alunos conscientes e responsáveis Instituto Federal de Educação, Ciên-
com o meio ambiente que nos rodeia. cia e Tecnologia de Goiás (IFG) e Coor-
Além disso, as oficinas mostraram-se denação de Aperfeiçoamento de Pesso-
viáveis como atividade experimental al de Nível Superior (CAPES).

Referências
ALBERICI, R.M.; PONTES, F.F.F. Reciclagem de BRASIL. Orientações curriculares para o ensino mé-
óleo comestível usado através da fabricação de dio. Brasília: MEC, 2000. Disponível em: <http://
sabão. Engenharia Ambiental: Pesquisa e Tecno- portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/book_volu-
logia, Espírito Santo do Pinhal: UNIPINHAL, v. 1, me_02_internet.pdf>. Acesso em mar. 2016.
n. 1, p. 73–76, 2004.
BRASIL, R.M. et. al . Oficina de fabricação de sabão
BALDASSO, E.; PARADELA, A.L.; HUSSAR, G.J. Re- a partir do óleo de cozinha. In: SIMPÓSIO DE ENSI-
aproveitamento do óleo de fritura na fabricação NO, PESQUISA E EXTENSÃO, 16., 2012, Santa Ma-
de sabão. Engenharia ambiental: Pesquisa e Tecno- ria. Anais…, Santa Maria, 2012, p. 1–7. Disponível
logia, Espírito Santo do Pinhal: UNIPINHAL, v. 7, em: <http://www.unifra.br/eventos/sepe2012/
n. 1, p. 216–228, 2010. Trabalhos/6173.pdf>. Acesso em 23 mar. 2016.
BELO, E.J.V. et. al. Reutilização de óleo vegetal CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente).
para a fabricação de sabão sólido e líquido, na Resolução n. 430, de 17 de março de 2005. Dispõe
Escola Estadual Professora Maria Belém no mu- sobre as condições e padrões de lançamento de
nicípio de Barreirinha, Amazonas. In: PROGRAMA efluentes, complementa e altera a Resolução n. 357,
CIÊNCIA NA ESCOLA. Anais…, Manaus: INPA, v. 2 de 17 de março de 2005, do Conselho Nacional do
n. 1, p. 22–29, 2014. Meio Ambiente – CONAMA. Diário Oficial da União,
BORTOLUZZI, O.R.S. A poluição dos subsolos e Brasília, DF, 16 mai. 2011. n. 92, p. 89. Disponível
águas pelos resíduos de óleo de cozinha. 2011. 36 f. em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/legia-
Monografia (Graduação em Ciência Biológica) – bre.cfm?codlegi=646>. Acesso em abr. 2016.
Departamento de Ciências Biológicas, Universi-
FERNANDES, A.F.O.; OLIVEIRA, D.R.M.; OLI-
dade Estadual de Goiás, Formosa, 2011.
VEIRA, M.H.G.; BEZERRA, W.V.O.; FERNANDES,
BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais para o P.R.N. Reaproveitamento do óleo de cozinha para
ensino médio. Brasília: MEC, 2000. Disponível em: a fabricação de sabão: uma ação sustentável e
<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/ social. In: CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA,
ciencian.pdf> Acesso em: 14 mar. 2016. 2015, Natal. Anais… Natal: IFRN, 2015. p. 9–17.

129
Oficina de produção de sabão com óleo usado de
Revista Tecnia | v. 1 | n. 1 | 2016 cozinha: conscientização ambiental no interior
de Goiás

PERUZZO, F.M.; CANTO, E.L. Química na abor- SILVA, R.R.; MACHADO, P.F.L. TUNES, E. Experimen-
dagem do cotidiano. 7. ed. São Paulo: Editora tar sem medo de errar. 1. ed. Ijuí: Editora Unijuí, 2010.
Moderna, 2003. WILDNER, L.B.A.; HILIG, C. Reciclagem de óleo
comestível e fabricação de sabão como instru-
SHREVE, R.N.; BRINK-JUNIOR, J.A. Indústrias de mentos de educação ambiental. Revista Eletrônica
processos químicos. 1. ed. Rio de Janeiro: Guana- em Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental, v. 5,
bara Dois S.A., 1980. p. 813–824, 2012.

Abstract
Soaps are commonly known as cleaning agents when they are combined with water to remove impurities. The-
se soaps can easily be prepared at home, through the utilization of used cooking oil with sodium hydroxide. If
incorrectly disposed, the used cooking oil can cause serious environmental damages. Therefore, the production
of soap through used oil can be a major environmental ally. In order to promote environmental awareness in
the countryside of Goiás, a Brazilian state, and also to propose experimental and contextualized activities to
Chemistry teaching in secondary schools, workshops of soap production were offered to students within the
project exposed in this paper. Some booklets were also produced through the project. They conveyed informa-
tion about the environmental damage that the incorrect disposal of used oil can cause, as well as information
about homemade soap production profits. Both the workshop and the booklet enabled public school students
and residents of Luziânia/Goiás (BR) to raise their environmental awareness. In addition, these resources
enabled the students and the local community to produce soap using used cooking oil. Furthermore, the wor-
kshops made it feasible to promote contextualized experimental activities for secondary schools, addressing
Chemistry concepts such as polarity, intermolecular forces, and chemical reactions.
Keywords: Soap, Used Cooking Oil, Environmental education, Experiment.

130

Você também pode gostar