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Art. 1º Omissis
I - plebiscito;
II - referendo;
Ainda, por ser de direito, pode ser pensado como “Estado ou forma de
organização político-estadual cuja atividade é determinada e limitada
pelo direito.” (Canotilho, 1999, p. 11). Como síntese do apresentado
acima, o mestre Canotilho, aprofunda a visão de Estado de Direito ao
afirma que este deve ser de fato Estado Constitucional de
Direito Democrático e Social Ambientalmente
Sustentada(Canotilho, 1999, p. 21).
7 DEMOCRACIA
Visando uma melhor elucidação do termo, necessária uma breve fragmentação do instituto, para se
examinar, assim, o que seja, o Estado de Direito e o Estado Democrático.
No entanto, mister ressaltar, tal definição fragmentada, por si só, não é o bastante para conceituar o
que seja o Estado Democrático de Direito, que exige um novo e terceiro conceito, incorporando um
“componente revolucionário de transformação do status quo” (DA SILVA, 2002, P. 119).
Igualmente, não se vislumbra nesse trabalho a possibilidade de que um Estado que não seja de Direito
possa vir a ser Democrático. E ainda, entende-se que a democracia não é um valor que se garante
através da normatização de direitos e deveres perante o Estado, exigindo também, ainda mais, a
concretização dos direitos humanos, como mais adiante se verá.
Originariamente, o Estado de Direito era uma definição de Estados liberais, cujas características mais
marcantes se perfazem na submissão de todos à lei e cuja elaboração era de competência do
Legislativo, formado por representantes do povo, na separação de poderes, que dividisse de maneira
independente e harmônica o Legislativo, Executivo e Judiciário, garantindo, assim, a imparcialidade e
justeza na elaboração e aplicação das normas e na garantia dos direitos humanos e fundamentais.
Tais exigências, que remontam à origem dessa forma de Estado, ainda consistem a base principal do
Estado Democrático de Direito, configurando, assim, uma grande conquista da civilização liberal (DA
SILVA, 2002, p. 113).
“A lei é efetivamente o ato de maior realce na vida política. Ato de decisão política por excelência, é
por meio dela, enquanto emanada da atuação da vontade popular, que o poder estatal propicia ao viver
social modos predeterminados de conduta, de maneira que os membros da sociedade saibam, de
antemão, como guiar-se na realização de seus interesses” (DA SILVA, 2002, p. 121).
Mas, não é qualquer lei que torna democrático o Estado de Direito, e sim normas que visem a
concretização da igualdade e da justiça, “não pela sua generalização, mas pela busca da igualização das
condições dos socialmente desiguais” (DA SILVA, 2002, p. 121).
Portanto, não é equívoco dizer-se que no Estado de Direito, a lei é um valor basilar a ser considerado e
respeitado, mas que, por ser democrático, o Estado deverá efetivar as normas e preceitos normativos
que respaldem valores tais que concretizem a igualdade e a justiça, principalmente (DA SILVA, 2002, p.
121).
O Estado Democrático é, assim, aquele no qual há a soberania popular, é dizer, aquele que exige a
participação efetiva e positiva do povo na res publica, mas que não se encerra na simples formação de
instituições representativas ou na democracia representativa, mas que impõe, isto sim, a participação
da população nas decisões importantes do Estado.
É, em outras palavras, o Estado que, em contraponto ao Estado Liberal, todos têm direito igualitário à
participação, atuação esta que a própria Carta Fundamental deve exigir e reclamar dos cidadãos.
Por isso invoca-se, não raras vezes, o Estado Social de Direito, para ultrapassar aquele conceito clássico
e liberal de Estado Democrático, como sendo tão somente aquele no qual se respeita a legalidade das
normas, para estabelecer-se, entre a democracia e a igualdade, um nó górdio que não se desata ou que,
uma vez cortado, implica na inviabilidade de ambos os conceitos, Estado esse no qual a concepção mais
recente do Estado Democrático de Direito reflete exatamente um processo de efetiva incorporação de
todo o povo nos mecanismos do controle das decisões, e de sua real participação nos rendimentos da
produção (DA SILVA, 2002, p. 118).
Segundo lição de Alain Touraine, sociólogo francês estudioso da área, o conceito de democracia não se
restringiria tão só à existência de poderes separados e independentes, ou mesmo pela preexistência de
normas legais a prescrever, permitir e sancionar as condutas. Para o autor, a democracia é um conceito
muito mais amplo, que se define pela natureza dos elos entre a sociedade civil, sociedade política e
Estado (TOIRANE, 1996, p. 50). Assim, continua o autor, caso haja vasta influência de cima para baixo,
não haverá democracia, que necessita, sim, que sejam os cidadãos os atores sociais que orientam seus
representantes.
Entende-se, pois, que a democracia, para que subsista e se realize plenamente, impõe a efetivação dos
direitos fundamentais, pré-requisitos que são para uma sociedade justa e igualitária.
“A democracia existe realmente quando a distância que separa o Estado da vida privada é reconhecida e
garantida por instituições políticas e pela lei. Ela não se reduz a procedimentos porque representa um
conjunto de mediações entre a unidade do Estado e a multiplicidade dos atores sociais. É preciso que
sejam garantidos os direitos fundamentais dos indivíduos; é preciso também que estes se sintam
cidadãos e participem da construção da vida coletiva. Portanto, é preciso que estes dois mundos – o
Estado e a sociedade civil – que devem permanecer separados, fiquem também ligados um ao outro pela
representatividade dos dirigentes políticos. Essas três dimensões da democracia – respeito pelos direitos
fundamentais, cidadania e representatividade dos dirigentes – completam-se; aliás, é a sua
interdependência que constitui a democracia” (TOURAINE, 1996, p. 43).
Não se adentrará, ante a falta de espaço neste trabalho, nas diferentes formas de democracia possíveis,
consoante seja o Estado liberal, Constitucionalista ou Conflitual (como na França, por exemplo).
Mas, qualquer que seja o Estado de Direito de que se trate, todos somente terão o distintivo da
democracia, não somente pela existência de poderes independentes, mas, isto sim, pelo grau de
concretização que o Estado atribui aos direitos fundamentais, corolários que são dos direitos humanos
universais: a democracia envolve, assim, mais do que a representatividade dos dirigentes ocupantes dos
cargos políticos, o “aumento do controle do maior número de pessoas sobre sua própria existência” e o
aumento da capacidade de “reduzir a injustiça e a violência” (TOURAINE, 1996, p. 51-88).
Como já mencionado anteriormente, o Estado Social de Direito nem sempre foi capaz de assegurar a
democracia, não obstante a busca pela justiça social e a obediência aos ditames da lei.
Em epítome, o Estado Democrático de Direito é o que se propõe a realizar o bem-estar social, sob o
fundamento de uma lei justa e que assegura a participação mais ampla possível do povo, no processo
político decisório.
Ao analisar o trajeto percorrido para a internacionalização das gerações de direitos humanos, desde seu
surgimento até à atualidade, afere-se que é o mesmo caminho que se perseguiu até o alcance do Estado
Democrático de Direito, porquanto os fundamentos e do desenvolvimento histórico das gerações de
direitos e do Estado Democrático de Direito são exatamente os mesmos, e inclusive sua ascensão e
reconhecimento ocorreu no mesmo contexto histórico, constituindo, ambos, duas faces da mesma
moeda.
O Estado Democrático de Direito teve como conseqüência direta o aumento de bens e direitos
susceptíveis da tutela jurídica (princípio da legalidade) que, por sua vez, torna a atividade jurídica do
aplicador do direito mais complexa, sempre em busca da maior efetivação possível dos direitos humanos
positivados na Carta Fundamental.
Cabe ao aplicador do Direito minudenciar o caso concreto, sempre em observância aos princípios
garantidores de direitos fundamentais, executando sempre sua árdua tarefa sem ferir a ordem
instituída: O Estado Democrático de Direito.
O Estado moderno surgiu na passagem da Idade Média para a Idade Moderna. No auge da Idade Média,
concluído o processo histórico que pôs fim ao regime patriarcal e escravista típico da Idade Antiga, as
terras férteis da Europa se apresentaram fragmentadas na forma de feudos, nos quais se baseou o
regime senhorial e feudal típico da Idade Média, o feudalismo. Os feudos de base territorial constituíam
unidades econômicas, sociais e políticas dotadas de relativa autonomia. Eram governados pelos seus
donos, os senhores feudais, que mantinham entre si relações hierárquicas de nobreza (reis, duques,
marqueses, condes) e de clero (papa, bispos, abades). Esses príncipes leigos e clericais eram suseranos
e vassalos entre si com base em juramentos de lealdade, mediante os quais formavam uma pirâmide
hierárquica de poder e dignidade. Mas todos eram senhores feudais. Cada um era dono ( dominus) de
um domínio (dominium) feudal e mandava no âmbito das terras que possuía como feudo: o rei mandava
no reino, o duque mandava no ducado, o marquês, no marquesado, o conde, no condado, o papa, nas
terras papais, o bispo, no bispado, o abade, na abadia. Em suma, cada príncipe governava seu principado
por efeito de um domínio político de base territorial.
Esse domínio implicava – não só aproximadamente o que hoje se diz propriedade e posse da terra –
como realmente o poder de governo sobre os que nela habitavam. Eis aí o princípio político característico
do feudalismo: o domínio da terra implica o domínio político. O senhor feudal mandava pela lei da terra.
Em termos atuais, o direito de governo sobre a população de um território derivava do direito de domínio
das terras que o constituíam. O dono da terra, com base no direito da terra, governava o que se passava
na terra. Era um domínio político-territorial, vinculando o poder à terra. É o velho princípio, ainda hoje
resistente no mandonismo rural em terras remotas: "na minha terra, mando eu". Só que, na era medieval,
esse princípio feudal se combinava com o senhorial, que o abrandava na proporção em que os
feudatários das terras mantinham entre si relações de hierarquia, na nobreza e no clero, constituindo-se
em suseranos (acima) e vassalos (abaixo), uns dos outros, compondo-se dentro da pirâmide social, em
cuja base ficavam os camponeses e aldeões, totalmente avassalados, ao passo que no topo, como
suseranos maiores, estavam o rei e o papa. O princípio senhorial feudal alcançava também o rei e o
papa, que eram os senhores feudais mais destacados. Mas cada senhor mandava nas suas terras
feudais. Pelo que, o rei governava as terras do seu reino e o papa, as vastas terras papais (hoje
reduzidas à minúscula cidade-estado do Vaticano), e ambos estiveram em constantes lutas políticas
durante a Idade Média.
Ao final da Idade Média, o rei apoiado pela burguesia mercantil consolidou em suas mãos um poder de
governo geral sobre todos os feudos. Os príncipes medievais, quer leigos (duques, marqueses, condes),
quer clericais (arcebispos, bispos, abades etc.), vieram a ser submetidos ao poder político do rei. Antes
disso, também o rei, como todo senhor feudal, governava pela lei da terra. O dono da terra manda. O rei
mandava no seu reino. Mas, agora, já na decadência do feudalismo, o poder do rei vai além do seu reino
feudal. Reúne diversos domínios feudais (ducados, marquesados, condados, principados, etc.) em
um reino unidosob seu poder. O rei se torna o senhor dos senhores, o príncipe dos príncipes. De fato, o
único senhor: o monarca. Passa a mandar independentemente do domínio da terra e de qualquer outra
lei que o vincule politicamente, inclusive das leis com que ordena os súditos. Governa impondo sua
própria lei, sem ficar a ela submetido. É governo solutus a legibus: não relativo a alguma lei, mas
absoluto, o que significa desligado das leis. Duques, marqueses, condes, bispos, abades continuam
donos de suas terras. Mas, acima deles e sobre eles, agora o rei chefia a nação, constituída das gentes
habitantes das cidades e terras feudais de diversas regiões e províncias, agora unidas sob um monarca,
não apenas único, mas absoluto.
Se ninguém fica submetido a si mesmo, muito menos o soberano fica submetido a si próprio. Surgem,
atreladas ao absolutismo do rei, a prática e a teoria da soberania real. O rei se impõe pela sua própria
força. Força armada por apetrechos novos, sobretudo uma arma mais potente, que no fim da Idade Média
fez a diferença em favor dos reis: o canhão. Este incorporou ao domínio do rei até mesmo o mar
adjacente às suas terras, alcançado pelo poder de suas armas, até onde iam as balas dos seus
canhões: usque armorum potestas. No início da era moderna, chamou-se potestas superana esse
poder superior aos demais, que se impõe por si mesmo, pela sua própria força, absoluto, solutus a
legibus, ou seja, independente de qualquer lei racial ou feudal ou de qualquer outra lei humana. Essa
força a si bastante se impõe por si mesma, pela sua própria força, que em última análise é a força
armada. Apoiada na superioridade das armas, acima dos vínculos raciais ou feudais, definiu a sociedade
política que então surgiu. É asoberania, que define o Estado. À sociedade política por ela estabilizada,
vale dizer, à sociedade política estável sob o poder soberano de um príncipe, Maquiavel chamou Estado,
empregando nesse sentido especial (por isso, hoje grafado com inicial maiúscula) um nome comum às
situações em que as coisas estão, por exemplo, estado do tempo, estado do doente, estado disso, estado
daquilo, etc.
Dessa maneira, o Estado caracterizado pela soberania surgiu na passagem da era medieval para a
moderna. Nasceu como Estado (sociedade estabilizada pela soberania) nacional (tendo por base
geopolítica a nação) monárquico (tendo por forma de governo a monarquia) e absoluto (tendo por
regime político o absolutismo). A transição do feudal ao nacional definiu historicamente o Estado pela
soberania. Se doutrinariamente também for definido pela soberania, será forçoso reconhecer que, assim
definido, o Estado surgiu apenas no início da Idade Moderna. Não foi propriamente o Estado moderno
que então surgiu, mas o próprio Estado. Antes, não houve propriamente Estado. Na Idade Média, a
sociedade política constituiu-se de feudos definidos pelo domínio político-territorial. Na Idade Antiga, de
pólis (a civitas romana): uma cidade e suas terras, definida pela autarquia econômica e política, ou seja,
pela capacidade de auto-manter-se e auto-governar-se, tal como explicou Aristóteles no início de suas
considerações sobre a "Política". Por conseguinte, na história da civilização, a sociedade humana, depois
que se tornou sedentária, teve três bases geopolíticas sucessivamente – a pólis, o feudo, a nação –
constituídas e definidas respectivamente pela autarquia dos cidadãos, pelo domínio do senhor feudal e
pela soberania do governante. Já na história prévia à civilização, dita pré-história, a sociedade humana
se constituiu de tribos, comunidades raciais errantes, não sedentárias, sem apropriação da terra e,
portanto, sem base geopolítica fixa. Eram sociedades fixadas não pelo solo, mas definidas e
caracterizadas pelaconsagüinidade, sendo orientadas pelo conselho dos mais velhos e regidas por
um rei, que não era absoluto, mas escolhido ou aceito segundo uma lei natural, a saber: por sua maior
sabedoria, vivência, experiência de vida.
O Estado de base nacional, que surgiu na Idade Moderna, perdura até os dias de hoje. Contudo, a partir
dele, com base nele, mas em superação dele, ao longo da Idade Contemporânea se desenvolveu uma
progressiva relativização da soberania, que está culminando presentemente na constituição
da Comunidadeou União supranacional, na Europa, cuja força cultural ainda é a locomotiva da
civilização ocidental. Assim como os feudos se globalizaram em estados nacionais, agora na evolução
européia o processo de união continua pela globalização dos estados nacionais em comunidade
supranacional. Esse processo se desenvolve tendo origem e base na formação de um mercado comum,
antes suprafeudal e agora supranacional, mas, partindo desse fundamento econômico, tem por seqüência
e conseqüência a constituição de nova sociedade política por coligação e relativização, antes dos
domínios feudais e agora das soberanias nacionais.
O processo de relativização da soberania principiou na Inglaterra, no fim do século 17, com a Revolução
Gloriosa, que destronou Jaime II e entronizou Guilherme e Maria, mas submetidos a um regime político
em que se firmou de um lado, para conter o governante, a divisão do seu poder político entre o rei, as
casas parlamentares e os juízes, ao mesmo tempo que se confirmou do outro lado, para garantir o
governado, um rol escrito dos seus direitos. A Inglaterra é uma ilha física e geograficamente, mas também
política e institucionalmente. Suas condições peculiares ensejam, pela contínua evolução, o ajustamento
dos usos e costumes políticos às exigências do momento histórico com tanta acomodação e presteza,
que geram instituições políticas eficientes e pioneiras, as quais passam como modelo para a Europa
continental e, mais amplamente, para o mundo ocidental. Foi assim que um século depois a relativização
da soberania eclodiu no continente europeu e na América do Norte, pela racionalização e radicalização da
divisão em separação de poderes e do rol em declaração de direitos e, enfim, pela inserção de ambas
na constituição escrita, no processo histórico da Revolução Francesa e da Revolução de Independência
dos Estados Unidos (que ficou conhecida, simplesmente, como Revolução Americana).
Não falta quem diga que a constituição passou a ser escrita em um código superior, formal e rígido, para
organizar mais racionalmente o Estado. Porém, o valor diretivo – o vetor axiológico – que motivou e guiou
a escrita da constituição não foi organizar o Estado, mas garantir a liberdade individual. A liberdade foi,
então, concebida como absoluta prerrogativa do indivíduo, só limitável mediante uma lei igual para todos
em função do interesse comum. Assim capaz de se opor ao Estado absoluto, a liberdade individual foi o
valor fundante de um novo tipo de Estado que – por substituir e impor o império da lei ao império do rei,
submetendo todos os indivíduos ao Direito – foi chamado Estado de Direito, o qual – tendo por
conteúdo, neste seu primeiro momento histórico, um regime político derivado da ideologia do liberalismo –
se chamou Estado Liberal de Direito.
A constituição escrita com separação de poderes e declaração de direitos seria o necessário e o bastante
para debelar o arbítrio do poder e garantir a liberdade do indivíduo. Mas essa crença logo se revelou uma
ilusão do idealismo revolucionário da primeira hora liberal. Não tardou a verificação de que a lei – embora
feita pelos agentes do poder legislativo em nome do povo em função do interesse comum – não raro feria
a Constituição e, por conseqüência, agredia os direitos que significavam liberdades. Daí, a necessidade
histórica de – para garantir a liberdade individual contra o arbítrio político mediante a Constituição escrita
– garantir a própria Constituição mediante o controle da inconstitucionalidade das leis. Eis como, à
necessidade histórica de garantir a liberdade pela Constituição, sobreveio a necessidade histórica de
garantir a Constituição pela constitucionalidade.
A possibilidade de agressão da lei à Constituição já havia sido tratada por Alexander Hamilton no número
78 de O Federalista, coleção de artigos em favor da aceitação da proposta de união federal pelos
Estados que se uniam. Aí – igualando a Constituição ao interesse do povo e a lei inconstitucional ao mero
interesse dos agentes do povo – ele concluiu que a interpretação das leis é uma província própria e
peculiar das cortes e que uma constituição é, de fato, e deve ser considerada pelos juízes uma lei
fundamental e que, portanto, cabe a estes verificar o significado dela, assim como o significado de
qualquer ato particular procedente da corporação legislativa, de tal modo que, se suceder que exista uma
discordância irreconciliável entre ambos, aquele que tiver validade e obrigatoriedade superiores deve,
certamente, ser preferido; ou, em outras palavras, a Constituição deve ser preferida à lei: a intenção do
povo, à intenção dos seus agentes. Foi assim que irrompeu para resolver o caso Marbury versus
Madison, na prática do constitucionalismo norte-americano, o controle de constitucionalidade das leis:
como meio para o fim de garantir a constituição para garantir a intenção do povo, então centrada na
preocupação maior daquele momento histórico: a garantia da liberdade.
Eis como a soberania sofreu a sua primeira relativização na medida em que o Estado se libertou do
absolutismo e o Estado Liberal de Direito se constituiu por escrito, exceto na Inglaterra, onde nasceu
dos usos e costumes constitucionais. Esse processo de relativização da soberania prosseguiu no curso
da evolução do estado liberal para o Estado Social de Direito, cuja plenitude jurídica é o Estado
Democrático de Direito, a ser alcançado com a terceira geração de direitos, os direitos de
solidariedade, que surgem e urgem no rumo de um estado de direito pleno, em que os direitos humanos
sejam direitos de todos baseados emdeveres de todos e não apenas do Estado.
A Constituição brasileira de 1988, em seu artigo inaugural, afirma que a República Federativa do Brasil
constitui-se em Estado Democrático de Direito. Mas, embora tenha sido escrita pelo Constituinte com
o verbo no indicativo presente, essa afirmação não é uma realidade presente. É um desejo do povo
brasileiro, que ainda está por ser satisfeito. A verdade é que, no mundo dos fatos jurídicos, no processo
da história do Direito, o Estado Democrático de Direito somente se realizará no Brasil, como em qualquer
país, quando – não só os direitos políticos – mas todos os direitos fundamentais, inclusive os políticos,
estiverem convertidos em direitos humanos difusos, integrais, recíprocos, solidários: verdadeiros direitos
de todos que, por serem apoiados nos deveres de todos que lhes sejam correspondentes, possam
assim, quanto à titularidade, sujeitar todos os indivíduos da espécie humana e, quanto ao objeto,
apreender todos os valores da dignidade humana.
A dignidade humana é a versão axiológica da natureza humana. É a valorização das condições em que o
ser humano nasce e se desenvolve no seu processo histórico-social. Aí, por que os valores da dignidade
humana são realmente os valores fundantes da espécie humana. São constantes axiológicas que
fundam a humanidade no processo histórico, valorizando as diferenças específicas que a definem,
alçando a um plano superior de consideração as condições fundamentais da sua existência e realçando
nesse plano as notas básicas da sua essência. Existência e essência humanas, que por enquanto ainda
estão adstritas à Terra, mas brevemente irão além dela, até aonde possamos chegar.
Entre 1787 e 1788, a imprensa de Nova York publicou oitenta e cinco artigos escritos por Alexander
Hamilton, James Madison e John Jay, assinando os três com o mesmo pseudônimo, Publius, e
defendendo a ratificação pelos Estados do projeto de constituição federal elaborado em Filadélfia.
Conhecidos como Papéis Federalistas, esses artigos hoje estão reunidos em um livro, sob o título de O
Federalista, do qual existe edição em português. Cf. HAMILTON, Alexander; MADISON, James; JAY,
John. The Federalist. Chicago, Londres, Toronto: William Benton, Publisher, Encyclopaedia Britannica,
Inc., 1952. p. 231. (Traduzi.) Cf. BARROS, Sérgio Resende de. Direitos humanos: paradoxo da
civilização, pág. 326. Tese defendida e aprovada no concurso para obtenção do título de livre-docente na
Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), em 2001. Em fevereiro de 2002, com o
mesmo título, estará nas livrarias o livro relativo a essa tese. Por ora, o seu texto pode ser consultado na
Biblioteca da Faculdade de Direito da USP
FRASES DO ALEMÃO MAX WEBER
Tabula rasa é uma expressão latina que significa literalmente "tábua raspada", e tem o
sentido de "folha de papel em branco". A palavratabula, neste caso, refere-se às tábuas
cobertas com fina camada de cera, usadas na antiga Roma, para escrever, fazendo-se
incisões sobre a cera com uma espécie de estilete. As incisões podiam ser apagadas, de
modo que se pudesse escrever de novo sobre a tabula rasa, isto é, sobre a tábua raspada
ou apagada. Como metáfora, o conceito de tabula rasa foi utilizado por Aristóteles (em
oposição aPlatão) e difundido principalmente por Alexandre de Afrodísias, para indicar
uma condição em que a consciência é desprovida de qualquer conhecimento inato - tal
como uma folha em branco, a ser preenchida.[1]
O argumento da tabula rasa foi usado pelo filósofo inglês John Locke (1632-1704),
considerado como o protagonista do empirismo. Locke detalhou a tese da tabula rasa em
seu livro, Ensaio acerca do Entendimento Humano (1690). Para ele, todas as pessoas
nascem sem conhecimento algum (i.e. a mente é, inicialmente, como uma "folha em
branco"), e todo o processo do conhecer, do saber e do agir é aprendido através
da experiência. A partir do século XVII, o argumento da tabula rasa foi importante não
apenas do ponto de vista dafilosofia do conhecimento, ao contestar
o inatismo de Descartes, mas também do ponto de vista da filosofia política, ao defender
que, não havendo ideias inatas, todos os homens nascem iguais. Forneceu assim a base
da crítica ao absolutismo e da contestação do poder como um direito divino ou como
atributo inato.[3]
A teoria da tabula rasa também fundamenta uma outra corrente da filosofia e
da psicologia, o behaviorismo clássico. O behaviorismo atual, que é o behaviorismo
radical, não se baseia na tabula rasa.
O renomado filósofo francês Rousseau, divulgou uma frase que vai totalmente
contra o conceito bíblico, mas consegue ser exata e totalmente verídica. Ele
diz: ''O homem nasce bom por natureza. É a sociedade que o corrompe''. E
esse discurso consegue ser totalmente atual, mostrando como a sociedade
destrói nossos caráteres e sonhos em prol dos objetivos da elite.
O que significa a frase Os fins justificam os meios: