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IESF – INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR FRANCISCANO

Direito Administrativo II - Professora Valdênya Dantas

Ementa: Licitações

LEI GERAL DE LICITAÇÕES E CONTRATOS


Lei 14.133/2021
A nova lei de licitações, além de incorporar as inovações
tecnológicas e as inovações decorrentes do desenvolvimento natural
das contratações públicas, também reuniu, em um único diploma
legislativo, institutos já previstos nas leis do pregão e do lei do regime
diferenciado de contratações – RDC. Veio para substituir as leis 8.666/93,
10.520/2002 e 12.462/2011.
Também houve incorporação de institutos relevantes previstos
na lei 11.079/2004 (lei das parcerias público privadas), nas normas acerca
das concessões de serviços públicos em geral (lei 8.987/95) e nas
disposições acerca das licitações promovidas pelas empresas estatais,
previstas na lei 13.303/2016.
Há ainda a positivação de entendimentos do Tribunal de
Contas da União (TCU) que vinham sendo aplicados no universo das
contratações públicas no país. Além dessas incorporações, também é
possível destacar inovações reais, como, por exemplo, a nova
modalidade de licitação denominada diálogo competitivo, inspirada
no Direito europeu.

1. Conceito
Licitação é o procedimento administrativo, utilizado pela
Administração Pública e pelas demais pessoas indicadas pela lei, por
meio do qual é selecionada a “proposta apta a gerar o resultado de
contratação mais vantajoso para a Administração Pública”, mediante
critérios que garantam a isonomia e a competição entre os
interessados, para a celebração de um contrato ou obtenção do melhor
trabalho técnico, artístico ou científico.
Perceba que a seleção que se faz é da proposta apta a gerar o
resultado de contratação mais vantajoso para a Administração Pública
(diferentemente do que se preconiza na lei 8.666/93, que busca a
proposta mais vantajosa) e não da proposta de menor preço. Nem
sempre a proposta de menor custo será a mais apta a gerar o
resultado de contratação mais vantajoso.
O procedimento administrativo da licitação é obrigatório,
ressalvadas as hipóteses de contratação direta previstas na lei, ao
contrário da celebração do contrato com o licitante vencedor, cuja
decisão é discricionária da Administração. O vencedor da licitação
possui apenas expectativa de direito. O dever de realizar licitação para
a contratação de obras e serviços, compras e alienações decorre
diretamente da Constituição Federal:
Art. 37 (...)
XXI - ressalvados os casos especificados na
legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão
contratados mediante processo de licitação pública que
assegure igualdade de condições a todos os
concorrentes, com cláusulas que estabeleçam
obrigações de pagamento, mantidas as condições
efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente
permitirá as exigências de qualificação técnica e
econômica indispensáveis à garantia do cumprimento
das obrigações.
O fundamento desta exigência está nos imperativos da isonomia,
impessoalidade, moralidade e indisponibilidade do interesse
público, que informam a atuação da Administração, obrigando-a a
realizar um processo público para seleção imparcial da melhor
proposta, garantindo iguais condições a todos que queiram concorrer
para a celebração do contrato.
O Poder Público não pode escolher livremente um fornecedor,
como fazem as empresas privadas.

2. Vigência, revogações e regime de transição da lei 14.133/2021


Em primeiro lugar, a nova lei de licitações e contratos entrou em
vigor na data de sua publicação, ou seja, dia 01/04/2021, data a partir da
qual os administradores já podem adotar as disposições da referida lei
para as contratações públicas.
Neste sentido, não há vacatio legis da nova lei, o art. 194 deixa
evidente que a lei entra em vigor na data de sua publicação:

Art. 194. Esta Lei entra em vigor na data de sua


publicação.
Art. 193. Revogam-se:
I – os artigos 89 a 108 da Lei nº 8.666, de 21 de junho
de 1993, na data de publicação desta Lei;
II – a Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, a Lei nº
10.520, de 17 de julho de 2002, e os artigos 1º a 47-A da Lei
nº 12.462, de 4 de agosto de 2011, após decorridos 2
(dois) anos da publicação oficial desta Lei.

O que é terminantemente vedado é a conjugação dos dois


regimes, fazendo uma seleção dos dispositivos que o administrador
entende mais vantajoso em cada lei e realizando licitações e
contratações públicos por uma combinação dos dois regimes. Neste
caso, seria o mesmo que o administrador legislar, pois estaria criando
um terceiro regime jurídico, o que é comumente denominado de
tertium genus (ou terceiro gênero).
Desta forma, durante o período indicado, a Administração
Pública terá três opções:
a) Utilizar apenas o novo regime;
b) Utilizar apenas o antigo regime;
c) Alternar entre os regimes, utilizando o regime antigo ou o
regime novo a depender da conveniência e oportunidade do
administrador.
Não há, portanto, uma obrigatoriedade de que, uma vez adotada
a nova lei, se abandone de vez o regime antigo. A Administração pode
adotar paulatinamente o novo regime, sem renunciar ao anterior, na
medida em que for se sentindo mais preparada para aplicação da nova
lei.
De toda forma, é imprescindível que o edital de licitação deixe
claro qual o regime será utilizado no procedimento licitatório e regerá
o contrato a ser celebrado. Isto porque, uma vez realizada a opção pelo
regime licitatório anterior, o contrato também será regido pelas regras
do regime anterior durante toda a sua vigência, ainda que passados os
dois anos para a revogação da lei 8.666/93:
Art. 191 Até o decurso do prazo de que trata o inciso
II do caput do art. 193, a Administração poderá optar por
licitar de acordo com esta Lei ou de acordo com as leis
citadas no referido inciso, e a opção escolhida deverá
ser indicada expressamente no edital ou no aviso ou
instrumento de contratação direta, vedada a aplicação
combinada desta Lei com as citadas no
referido inciso.
Parágrafo único. Na hipótese do caput deste
artigo, se a Administração optar por licitar de acordo
com as leis citadas no inciso II do caput do art. 193
desta Lei, o contrato respectivo será regido pelas
regras nelas previstas durante toda a sua vigência.
Vale destacar ainda que a nova lei não revoga a lei 13.303/2016.
Esta lei permanece vigente e regulamentando as licitações realizadas e
os contratos celebrados pelas empresas estatais.

3. Regras especiais para Municípios com até 20.000 (vinte mil)


habitantes na lei 14.133/2021
O art. 176 da nova lei de licitações estabelece ainda um regime de
transição para os Municípios que possuam até 20.000 habitantes.
Art. 176. Os Municípios com até 20.000 (vinte mil)
habitantes terão o prazo de 6 (seis) anos, contado da data
de publicação desta Lei, para cumprimento:
I – dos requisitos estabelecidos no art. 7º e no caput do
art. 8º desta Lei;
II – da obrigatoriedade de realização da licitação sob a
forma eletrônica a que se refere o § 2º do art. 17 desta Lei;
III – das regras relativas à divulgação em sítio eletrônico
oficial.
Parágrafo único. Enquanto não adotarem o PNCP, os
Municípios a que se refere o caput deste artigo deverão:
I – publicar, em diário oficial, as informações que esta Lei
exige que sejam divulgadas em sítio eletrônico oficial,
admitida a publicação de extrato;
II – disponibilizar a versão física dos documentos em suas
repartições, vedada a cobrança de qualquer valor, salvo o
referente ao fornecimento de edital ou de cópia de
documento, que não será superior ao custo de sua
reprodução gráfica.
Embora estejam dispensados das exigências citadas no art. 176, é
salutar que os referidos Municípios, caso possuam possibilidades,
realizem licitação por meio eletrônico e, principalmente, divulguem
informações em sítio eletrônico oficial, em medida que atende ao
princípio da publicidade.

4. Âmbito de aplicação da nova lei


De acordo com o art. 1º, a lei nº 14.133/2021 se aplica aos seguintes
órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios:
a) Administração Pública direta;
b) Autarquias;
c) Fundações;
d) Fundos especiais;
e) Entidades controladas direta ou indiretamente pela
Administração Pública.
Trata-se de lei nacional e, como tal, aplica-se a todos os Entes da
Federação. Conforme já estudado, a União detém a competência
privativa para legislar sobre normas gerais de licitações e contratos (art.
22, XXVII).
Desse modo, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios podem
apenas legislar sobre normas específicas relativamente aos seus
procedimentos licitatórios, desde que não contrarie as normas gerais
editadas pela União.
Com a lei 13.303/2016, as licitações e contratos das estatais
passaram a ser regidas por esta lei. No entanto, não houve alteração da
lei 8.666/93, que continuou prevendo a sua aplicabilidade às empresas
públicas e sociedades de economia mista, muito embora já houvesse
lei nova e específica sobre o tema.
A nova lei de licitações resolveu esse problema, prevendo
expressamente que não abrange as empresas estatais, exceto no que
diz respeito às disposições penais (art. 178).

5. Competência legislativa e fontes normativas

➢ Competência legislativa
A União detém a competência privativa para legislar sobre
normas gerais de licitações e contratos (art. 22, XXVII).
Desse modo, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios podem
legislar sobre normas específicas relativamente aos seus
procedimentos licitatórios, desde que não contrarie as normas gerais
editadas pela União.

➢ Principais fontes normativas:


a) Lei 8.666/93: normas gerais sobre licitações e contratos;
b) Lei 10.520:2002: dispõe sobre o pregão;
c) Lei 12.462/2011: institui o regime diferenciado de contratação;
d) Lei 13.303/2016: regime jurídico das empresas estatais.
e) Lei 14.133/2021: normas gerais sobre licitações e contratos (nova
lei de licitações).

6. Objetivos da licitação
O art. 11 da nova lei de licitações estabelece os objetivos do
processo licitatório, quais sejam:
I – assegurar a seleção da proposta apta a gerar o
resultado de contratação mais vantajoso para a
Administração Pública, inclusive no que se refere ao
ciclo de vida do objeto;
II – assegurar tratamento isonômico entre os
licitantes, bem como a justa competição;
III – evitar contratações com sobrepreço ou com
preços manifestamente inexequíveis e
superfaturamento na execução dos contratos;
IV – incentivar a inovação e o desenvolvimento
nacional sustentável
Importante observação diz respeito ao inciso I. Enquanto a lei
8.666/93 estabelecia como objetivo a obtenção de proposta mais
vantajosa para a Administração Pública, a nova lei de licitações alterou
o termo utilizado, estabelecendo como objetivo a obtenção de
proposta apta a gerar o resultado de contratação mais vantajoso.

Outro ponto importante é a diferenciação entre sobrepreço e


superfaturamento. Em ambos os casos a lei trata de condutas que se
pretende evitar e reprimir. No entanto, o superfaturamento é conduta
mais grave que o sobrepreço.
O sobrepreço é a cobrança de valores acima do preço de mercado
pelo licitante, envolvendo falha no processo de contratação, enquanto
o superfaturamento é a cobrança de preço por objeto não fornecido ou
não executado, mal fornecido ou mal executado ou fornecido ou
executado em quantidades inferiores à acordada, envolvendo despesas
irregulares na execução do contrato.
Além disso, acrescenta-se, como objetivo da licitação, incentivar
a inovação e o desenvolvimento nacional sustentável e mantém-se a
isonomia e a competitividade, que decorrem diretamente de princípios
administrativos.

PRINCÍPIOS ORIENTADORES DA LICITAÇÃO

O art. 5º da nova lei de licitações ampliou o rol de princípios


especificamente relacionados aos procedimentos licitatórios e aos
contratos. São 22 princípios escolhidos pelo legislador, além de fazer
menção às disposições da LINDB.
Assim, o administrador deve observar os princípios da legalidade,
da impessoalidade, da moralidade, da publicidade, da eficiência, do
interesse público, da probidade administrativa, da igualdade, do
planejamento, da transparência, da eficácia, da segregação de funções,
da motivação, da vinculação ao edital, do julgamento objetivo, da
segurança jurídica, da razoabilidade, da competitividade, da
proporcionalidade, da celeridade, da economicidade e do
desenvolvimento nacional sustentável.

1. Princípios Gerais
Por ter natureza de procedimento administrativo, a licitação está
submetida à incidência de todos os princípios gerais do Direito
Administrativo, merecendo destaque:
a) LEGALIDADE – os participantes da licitação têm direito público
subjetivo á fiel observância do procedimento estabelecido em lei,
podendo qualquer cidadão acompanhar seu desenvolvimento.
Assim a licitação é um procedimento plenamente formal e
vinculado.
b) IMPESSOALIDADE – obriga a Administração licitante a conduzir
com objetividade e imparcialidade o procedimento, a partir das
normas editalícias, impedindo privilégios e desfavorecimentos
indevidos em relação aos licitantes;
c) MORALIDADE – impõe à comissão de licitação e aps licitantes a
obrigação de obedecer aos padrões éticos, de probidade,
lealdade, decoro e boa-fé;
d) PUBLICIDADE – todos os atos que compõem o procedimento
licitatório devem ser públicos. O princípio da publicidade se
desdobra, ainda, na obrigatoriedade de audiência pública,
presencial ou a distância, na forma eletrônica, sobre licitação que
pretenda realizar, com disponibilização prévia de informações
pertinentes, inclusive de estudo técnico preliminar e elementos
do edital de licitação, e com possibilidade de manifestação de
todos os interessados, conforme artigo 21 da lei 14.133/2021.
e) EFICIENCIA - exige que a atividade administrativa, na licitação,
seja exercida com presteza, perfeição e rendimento funcional; O
objetivo da licitação é a escolha da proposta mais vantajosa, seja
melhor preço, melhor técnica ou técnica e preço. A técnica deve
estar descrita como um dos critérios de seleção no edital, levando
em consideração a boa gestão dos recursos públicos. Busca dos
melhores resultados práticos (produtividade), por meio da
melhor atuação possível, de forma célere e com redução dos
desperdícios (economicidade).

2. Princípios específicos da licitação


a) Princípio da igualdade - Guarda relação com o princípio da
isonomia porque também pretende oferecer aos licitantes
igualdade de direitos, Assegura que a administração não faça
discriminação entre os participantes de um certame, por
exemplo, criando cláusulas no edital que favoreçam algumas
empresas em detrimento de outras. É vedado também
estabelecer tratamento diferenciado de natureza comercial,
legal, trabalhista, previdenciária ou qualquer outra, entre
empresas brasileiras e estrangeiras, inclusive no que se refere a
moeda, modalidade e local de pagamentos, mesmo quando
envolvidos financiamentos de agências internacionais;
Art. 9º É vedado ao agente público designado para atuar
na área de licitações e contratos, ressalvados os casos
previstos em lei:

II – estabelecer tratamento diferenciado de natureza


comercial, legal, trabalhista, previdenciária ou qualquer
outra entre empresas brasileiras e estrangeiras, inclusive
no que se refere a moeda, modalidade e local de
pagamento, mesmo quando envolvido financiamento
de agência internacional;
b) Princípio da competitividade: a busca pela melhor proposta é
uma das finalidades da licitação. Por isso, não podem ser
adotadas medidas que comprometam decisivamente o caráter
competitivo do certame. Assim, as exigências de qualificação
técnica e econômica devem se restringir ao estritamente
indispensável para garantia de licitação transparente e
competitiva.
c) Princípio da vinculação ao instrumento convocatório: a
Administração Pública e os participantes do certame, além de
cumprirem as regras legais, não podem desatender às normas e
condições presentes no instrumento convocatório. Daí falar-se
que o edital é a lei da licitação;
d) Princípio do julgamento objetivo: o edital deve apontar
claramente o critério de julgamento a ser adotado para
determinar o licitante vencedor. Assim, a análise de documentos
e a avaliação das propostas devem se pautar por critérios
objetivos predefinidos no instrumento convocatório, e não com
base em elementos subjetivos. Segundo a doutrina, entretanto, a
objetividade não é absoluta, na medida em que especialmente a
verificação da qualificação técnica sempre envolve certo juízo
subjetivo;
e) Princípio da indistinção: são vedadas preferências quanto à
naturalidade, à sede e ao domicílio dos licitantes;
f) Princípios da transparencia: embora se relacione com a
publicidade, não se confunde com esta, vedando os arranjos
secretos, bem como determinando não apenas a publicação de
atos oficiais e fornecimento de informações quando solicitadas
pelos interessados, mas também a divulgação de toda e qualquer
informação de interesse público independentemente de
provocação, no que se denomina de transparência ativa.
g) Princípio da probidade e moralidade: Trata-se da necessidade
de atuação ética, honesta, proba e pautada na boa-fé. O
comportamento com base na moralidade é exigido não apenas
da Administração Pública, mas também dos administrados
participantes da licitação. Em virtude desta exigência, existem
diversas leis que preveem sanções aos agentes, públicos e
privados, e às pessoas jurídicas que atuam de forma ímproba no
procedimento licitatório. Podemos citar, por exemplo, a lei de
improbidade administrativa (lei 8.429/92) e a lei anticorrupção (lei
12.846/2013).

h) Princípio do Planejamento: consiste na determinação de que a


Administração Pública conduzirá a sua atuação e organizará a
sua estrutura com vistas a promover o desenvolvimento
econômico-social do País e a segurança nacional, além dos
objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil (art. 3º,
CF). Determina-se a elaboração, a atualização, o
acompanhamento e a fiscalização de planos de Governo, previsão
de receitas e despesas por meio do orçamento público, bem
como, outros instrumentos de organização e planejamento. No
âmbito das contratações públicas, não se relaciona apenas ao
procedimento licitatório, mas à contratação como um todo,
devendo o Poder Público manter uma organização quanto a esta
matéria, passando pela previsão das contratações nas leis
orçamentárias, pela fase interna ou preparatória da licitação, até
o seu encerramento.

i) Princípio da segregação de funções: determina que as diversas


fases do procedimento licitatório sejam conduzidas por agentes
públicos diferentes, de forma que não fique a cargo de apenas
uma gente público ou de um pequeno grupo de agentes
públicos todos os atos relacionados à licitação.

Art. 7º (...)

§ 1º A autoridade referida no caput deste artigo deverá


observar o princípio da segregação de funções, vedada a
designação do mesmo agente público para atuação
simultânea em funções mais suscetíveis a riscos, de
modo a reduzir a possibilidade de ocultação de erros e de
ocorrência de fraudes na respectiva contratação.

j) Princípio da vinculação ao edital (instrumento convocatório):


O edital é conhecido como a “lei interna da licitação”, pois vincula
tanto os licitantes quanto a Administração Pública que o expediu.
Neste sentido, a Administração não pode descumprir as normas
e condições do edital, ao qual se acha estritamente vinculada.

k) Princípio do julgamento objetivo: As propostas na licitação


devem ser julgadas conforme os critérios pré-estabelecidos no
edital não cabendo qualquer discricionariedade na apreciação
das propostas pelo administrado. Vale destacar que a doutrina
admite que o julgamento absolutamente objetivo somente
ocorre quando o critério da licitação é o “menor preço” ou nas
alienações de “maior lance ou oferta”. Os critérios de “melhor
técnica” ou “técnica e preço” exigem uma parcela de valoração
subjetiva no julgamento das propostas. Todavia, ainda que se
admita essa “dose” de valoração subjetiva nos casos citados, os
critérios de julgamento devem estar previamente estabelecidos
no instrumento convocatório.
l) Princípio do Formalismo: é um princípio implícito relacionado às
licitações públicas. Consiste em exigência necessária para
garantir o controle do procedimento, uma vez que,
invariavelmente, acarretará dispêndio de recursos públicos,
podendo ser encontrado por todo o texto da nova lei:
Art. 12. No processo licitatório, observar-se-á o seguinte:

I – os documentos serão produzidos por escrito, com data


e local de sua realização e assinatura dos responsáveis;

Entretanto, a aplicação do princípio não implica na exigência de


excesso de formalismo, tendo em vista que o procedimento administrativo
formal não é um fim em si mesmo, é, na verdade, um instrumento que serve
a uma finalidade, qual seja, a celebração do contrato pretendido. Assim, a
legislação tem flexibilizado algumas formalidades para garantir o interesse
público.

Art. 12 (...)

III – o desatendimento de exigências meramente formais


que não comprometam a aferição da qualificação do
licitante ou a compreensão do conteúdo de sua proposta
não importará seu afastamento da licitação ou a
invalidação do processo;

IV – a prova de autenticidade de cópia de documento


público ou particular poderá ser feita perante agente da
Administração, mediante apresentação de original ou de
declaração de autenticidade por advogado, sob sua
responsabilidade pessoal;

V – o reconhecimento de firma somente será exigido


quando houver dúvida de autenticidade, salvo imposição
legal;

VI – os atos serão preferencialmente digitais, de forma a


permitir que sejam produzidos, comunicados,
armazenados e validados por meio eletrônico;

§ 2º É permitida a identificação e assinatura digital por


pessoa física ou jurídica em meio eletrônico, mediante
certificado digital emitido em âmbito da Infraestrutura
de Chaves Públicas Brasileira (ICP–Brasil).
OBJETOS DA LICITAÇÃO
O objeto da licitação corresponde ao conteúdo do futuro contrato
a ser celebrado pela administração pública com o licitante vencedor do
certame. Segundo a classificação dada por José dos Santos Carvalho
Filho(2017), o objeto da licitação se dividiria em dois, quais sejam:
a) Objeto imediato: que seria a seleção da proposta que melhor
atenda os objetivos e interesses da administração;
b) Objeto mediato: obtenção de obras, serviços, realizar compras,
alienação, locação ou prestação de serviço público, a ser
produzido por certo particular por meio de uma contratação
formal.
Vejamos o que fala a CF/88:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência e, também, ao seguinte:

XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as


obras, serviços, compras e alienações serão contratados
mediante processo de licitação pública que assegure
igualdade de condições a todos os concorrentes, com
cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento,
mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos
da lei, o qual somente permitirá as exigências de
qualificação técnica e econômica indispensáveis à
garantia do cumprimento das obrigações.

Nesse contexto, em relação aos objetos da contratação, o artigo


2º da Lei 14.133/2021, dispõe:
Art. 2º Esta Lei aplica-se a:

I - alienação e concessão de direito real de uso de bens;

II - compra, inclusive por encomenda;

III - locação;

IV - concessão e permissão de uso de bens públicos;

V - prestação de serviços, inclusive os técnico-


profissionais especializados;

VI - obras e serviços de arquitetura e engenharia;

VII - contratações de tecnologia da informação e de


comunicação.
CONTRATAÇÃO DIRETA
Ocorre quando não terá licitação, de modo que vai direto para o
contrato. De acordo com a Constituição, no artigo 37, XXI, a regra é fazer
licitação, salvo nos casos expressos na Lei, em que se pode não ter
licitação.
1. Dispensa
a. Dispensada: é ato vinculado, porque não vai ter licitação.
Por exemplo, a alienação de imóveis entre entes públicos.
b. Dispensável (art. 75): é ato discricionário e, por isso, é
dispensável, de modo que vai ficar a critério do gestor. Por
exemplo, em compras e serviços de até R$ 50.000,00, é
dispensável. Então, se o órgão tem uma compra para fazer
de até R$ 50.000,00, pode optar por fazer a licitação ou
pode dispensar, fundamentando a dispensa.
2. Inexigibilidade (art. 74)
É inviável a competição. A diferença da dispensa para inexigibilidade é
que na dispensa poderia ter licitação, a competição e a licitação seriam
viáveis, mas não vão acontecer. No entanto, na inexigibilidade é inviável
a competição. Por exemplo, no caso de um fornecedor exclusivo, em
que se vai direto para o contrato sem fazer licitação.
Casos de Inexigibilidade:
• Fornecedor exclusivo;
• Setor artístico;
• Serviços técnicos-especializados;
• Credenciamento;
• Compra e locação de imóvel.
Tudo o que não for caso de inexigibilidade, é caso de dispensa. Por
exemplo: guerra ou grave perturbação da ordem.

MODALIDADE DE LICITAÇÕES

Vamos conhecer e analisar as Modalidades de licitação, de acordo


com o artigo 28 da lei de Licitações
✓ Antes:
• Concorrência
• Tomada de preços
• Convite
• Concurso
• Leilão
• Pregão (lei n. 10.520/02)
• RDC (lei n. 12.462/11): criada para licitações da copa do mundo e para as
olimpíadas do RJ em 2016

✓ Com a lei n. 14.133/21, passou a ser dividido da seguinte forma:


1. Concorrência
2. Concurso
3. Leilão
4. Pregão: passa a integrar a lei 14.133.
5. Diálogo competitivo: a lei 12.462 foi quase integralmente
revogada.
A tomada de preços e convite não existem mais, foram
revogadas. Na Tomada de preços participavam interessados
previamente cadastrados, e o valor era abaixo da modalidade
concorrência. Esse cadastro prévio acelerava o procedimento.
O convite era criticado, em razão da possibilidade de fraudes.
As modalidades mais praticadas eram concorrência e pregão.
1. Pregão:
É a Aquisição de bens e serviços considerados comuns. Essa
modalidade é obrigatória nos casos de bens e serviços comuns (têm
padrões de qualidade e desempenho definidos objetivamente pelo
edital da licitação.
Não têm complexidade; são bens e serviços padronizáveis, que
permitem descrição das características básicas e identificação do
produto.
Por exemplo, aparelhos de ar-condicionado, notebook, carro comum.
Se o bem demandar muitas especificações, será necessário a
adoção da modalidade “concorrência”.
Pode ser adotada para serviços comuns de engenharia, tais como
serviços de pintura, colocação de janela etc. Porém, cabe para “obras de
engenharia”. Obra deve ser licitada por concorrência.

o Critérios: menor preço ou maior desconto


o Procedimento: comum, art. 17
o Serve para compra de mobílias, carros, contratação de
serviços como jardinagem, secretária etc.
o Quem realiza o pregão é o pregoeiro. Não há a figura do
“agente de contratação” nessa modalidade.

2. Concorrência:
Esta modalidade é utilizada para aquisição de bens e serviços especiais,
que não é comum, para obras e serviços comuns e especiais de
engenharia (o serviço comum de engenharia pode ser feito pelo
pregão, mas a obra ou serviço especial de engenharia deve observar a
modalidade concorrência).
o Critério de julgamento: todos os critérios podem ser
utilizados (menor preço, melhor técnica, técnica e preço,
maior desconto etc).
o • Procedimento: comum
o • Agente de contratação: pessoa que toma as decisões, que
impulsiona o procedimento. É auxiliado por equipe de
apoio.
o • Contratação de bem e serviço especial: pode ocorrer a
substituição do agente de contratação por uma comissão
de 3 membros.
3. Concurso:
Utilizado para escolher um trabalho técnico, cientifico ou artístico. Pode
ser mediante pagamento de prêmio ou remuneração.
Por exemplo: revitalização de um monumento
o Critério: por melhor técnica ou melhor conteúdo
artístico;
o Procedimento especial: a fase preparatória é mais
simples, os trabalhos são apresentados, não tem fase de
habilitação;
o Comissão especial é quem irá julgar

4. Leilão:
É utilizada esta modalidade para alienação de imóveis, o que é uma
novidade. Isso porque, via de regra, era feita na modalidade de
concorrência e, somente em alguns casos especiais, que se fazia pela
modalidade leilão.
Também é feito para a venda de bens móveis inservíveis ou que foram
legalmente apreendidos. Os bens apreendidos pela Receita Federal,
por exemplo, são vendidos mediante a modalidade leilão.
o O critério: é o maior lance.
o O procedimento é especial, porque não vai ter fase de
habilitação, isto é, tem a fase preparatória, o edital, a
apresentação de lances, o julgamento, o recurso e a
homologação.
o O agente público que vai fazer é o leiloeiro oficial ou
servidor designado. Então, se no órgão tem alguém que
tem habilidade, como um curso de leiloeiro, será
designado para aquela função ou, se não tiver, contrata-
se um leiloeiro oficial.

Art. 31.
§ 1º Se optar pela realização de leilão por intermédio
de leiloeiro oficial, a Administração deverá
selecioná-lo mediante credenciamento ou
licitação na modalidade pregão e adotar o critério
de julgamento de maior desconto para as
comissões a serem cobradas, utilizados como
parâmetro máximo os percentuais definidos na lei
que regula a referida profissão e observados os
valores dos bens a serem leiloados.
Existe uma lei que regulamenta a profissão de leiloeiro que já traz as
comissões que irão ganhar. Assim, vai ganhar quando for julgar, sendo
a modalidade pregão, o leiloeiro que der o maior desconto sobre os
preços que já estão na lei do leiloeiro.
Quando for um caso em que não terá que escolher só um ou não
vai ter limite, isto é, se for contratar todo o leiloeiro que aparecer, faz-se
um credenciamento, porque credenciamento é um procedimento
auxiliar para quando se quer contratar todo mundo que aparece, pois
não tem limite. Por exemplo, como é feito pela Polícia Rodoviária
Federal que tem, em várias partes do Brasil, carros, motos, bicicletas,
animais e outros bens apreendidos nas rodovias.

5. Dialogo Competitivo:
XLII – diálogo competitivo: modalidade de licitação
para contratação de obras, serviços e compras em
que a Administração Pública realiza diálogos com
licitantes previamente selecionados mediante
critérios objetivos, com o intuito de desenvolver uma
ou mais alternativas capazes de atender às suas
necessidades, devendo os licitantes apresentar
proposta final após o encerramento dos diálogos;
o Critério de julgamento: fixados em edital.
o Procedimento: especial;
o Agentes públicos: comissão de contratação composta
de pelo menos 3 servidores efetivos ou empregados
públicos pertencentes aos quadros permanentes da
Administração.
A Administração tem que se aproximar cada dia mais do licitante
para conversar e para encontrar uma solução. Então, quando tem uma
certa demanda que não sabe como resolver internamente, ouve-se a
iniciativa privada, porque a Administração Pública é limitada, isto é,
procura-se uma solução no mercado, o qual vai trazer várias soluções.
Art. 32. A modalidade diálogo competitivo é restrita
a contratações em que a Administração:
I – vise a contratar objeto que envolva as seguintes
condições:
a) inovação tecnológica ou técnica;
b) impossibilidade de o órgão ou entidade ter sua
necessidade satisfeita sem a adaptação de soluções
disponíveis no mercado; e
c) impossibilidade de as especificações técnicas
serem definidas com precisão suficiente pela
Administração;
II – verifique a necessidade de definir e identificar os
meios e as alternativas que possam satisfazer suas
necessidades, com destaque para os seguintes
aspectos:
a) a solução técnica mais adequada;
b) os requisitos técnicos aptos a concretizar a
solução já definida;
c) a estrutura jurídica ou financeira do contrato;
O procedimento:

o Objeto: obras, serviços e compras;


o Administração procura uma solução;
o Critério de julgamento:
✓ Fixados na fase competitiva;
✓ Comissão - composta de pelo menos 3 (três)
servidores efetivos ou empregados públicos
pertencentes aos quadros permanentes da
Administração, admitida a contratação de
profissionais para assessoramento técnico da
comissão.

PROCEDIMENTOS ESPECIAIS
Art. 28.
§ 1º. Além das modalidades referidas no caput deste
artigo, a Administração pode servir-se dos
procedimentos auxiliares previstos no art. 78 desta
Lei.
§ 2º É vedada a criação de outras modalidades de
licitação ou, ainda, a combinação daquelas referidas
no caput deste artigo.
Procedimento auxiliar não é o mesmo que “modalidade de
licitação”. São institutos distintos, de maneira que é importante
diferenciá-los.

Art. 78. São procedimentos auxiliares das licitações e


das contratações regidas por esta Lei:
I – credenciamento;

Nesta, são credenciados vários interessados, e essa lista,


posteriormente, permitirá a contratação por inexigibilidade.
É um procedimento que auxilia as contratações.
II – pré-qualificação;
III – procedimento de manifestação de interesse
(PMI);
IV – sistema de registro de preços (SRP);
No SRP, a licitação é feita, com todas as etapas, mas o objetivo é
confecção de ata com registro dos melhores preços para futuras
contratações.
V – registro cadastral (RC)
O Registro cadastral (RC) é um cadastramento prévio de licitante
ou de bens, com objetivo de agilização da fase de qualificação.
§ 1º Os procedimentos auxiliares de que trata o caput
deste artigo obedecerão a critérios claros e objetivos
definidos em regulamento.
Somente Lei pode criar nova modalidade de licitação. Veda-se a
criação e combinação das modalidades pelos órgãos contratantes.
➢ Etapas da licitação:
I. Na fase preparatória, a administração traz todos os artefatos, o documento de
formalização de demanda, o estudo técnico preliminar, a minuta do edital etc.
II. Publica-se o edital
III. As empresas apresentam propostas e lances (quando for pregão)
IV. Primeiro julga, depois habilita
V. Fase recursal única
VI. Homologação e encerramento

Obs.: excepcionalmente, é possível habilitar e, depois, julgar

➢ Tabela resumo do artigo 28

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