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ATUALIZAÇÃO

Jean Nunes
@professorjeannunes

Organizadores: Leonardo Garcia e Roberval Rocha

DELEGADO DE
POLÍCIA CIVIL
E FEDERAL
2021

Disciplina: DIREITO ADMINISTRATIVO

; Novo Regime das Licitações e Contratos


Administrativos
ATUALIZAÇÃO  |  Preparando para Concursos - Questões Discursivas Comentadas - Delegado Polícia Civil e Federal
(2021) • Jean Nunes

; NOTA DE ATUALIZAÇÃO

O Novo Regime das Licitações e Contratos Administrativos traz pro-


fundos impactos nas relações entre o Público e o Privado.

Para todas as mais diversas situações em que são necessárias a aqui-


sição de um produto, a prestação de um serviço ou, ainda, a construção
de uma obra, por qualquer ente da Administração Pública, torna-se in-
dispensável o conhecimento das disposições da Lei de n. 14.133/2021.

Por conseguinte, vigoram, dessa forma, dois regimes: o regime novo,


instituído pela lei 14.133/2021, e o regime antigo, cujas bases se ali-
cerçam nas seguintes leis: antiga lei geral de licitações (8.666/93), a lei
do pregão (10.520/2002) e a lei que instituiu o regime diferenciado de
licitações (12.462/2011).

1. VIGÊNCIA DA LEI
Primeiramente, é necessário distinguir “vigência da lei” e “vigor da
lei”. Enquanto a primeira se refere à existência jurídica da norma, o vigor
da lei é a aptidão dela para produzir efeitos. Dessa forma, uma norma
pode perder sua vigência e, ainda assim, continuar a reger as relações
jurídicas que foram constituídas quando ela estava vigente, até que a si-
tuação jurídica consolidada se extinga ou pelo tempo decorrido ou pelo
cumprimento de seu objeto.

A nova lei de licitações entrou em vigor na data da sua publicação,


ou seja, no dia 01 de abril de 2021, consoante ao seu artigo 194, sem que
tenha havido, portanto, vacatio legis. Assim, qualquer ente público que
queira realizar o procedimento de licitação ou contratos pode utilizar a
nova lei (14.133/21).

Diante disso, é necessário compreender os impactos gerados pela


NLL à legislação existente e aos contratos em curso.

2. CONSEQUÊNCIAS DA NOVA LEI EM FACE DO ANTIGO REGIME


DE LICITAÇÃO
Em razão do imediato vigor da lei ora em questão, as consequências
do novo regime jurídico alcançam duas dimensões: campo normativo e

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campo da prática (contratações em curso ou em vias de efetivação). No


primeiro caso, a entrada em vigor da nova legislação impacta o direi-
to penal e o direito administrativo. Na seara criminal, os efeitos foram,
igualmente, imediatos, ou seja, todas as normas penais existentes do re-
gime anterior foram automaticamente revogadas.
Consoante disposto no artigo 193 da nova lei de licitações:
Art. 193. Revogam-se:
I - os arts. 89 a 108 da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, na
data de publicação desta Lei;

Por conseguinte, deixa de existir a previsão penal que estava expres-


sa na lei 8.666/93 e sua continuidade normativa passa a estar prevista no
Código Penal, no capítulo II - B, que versa sobre os crimes e licitações em
contratos administrativos.
No campo do direito administrativo, as mudanças ocorrem de forma
peculiar, por isso, é importante observar o artigo 193, inciso II da Nova
Lei de Licitações e Contratos Administrativos, o qual estabelece que a
revogação das leis anteriores - a lei geral de licitações (8.666/93), a lei
do pregão (10.520/2002) e a lei que instituiu o regime diferenciado de
licitações (12.462/2011) - ocorrerá em dois anos:
Art. 193. Revogam-se:
II - a Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, a Lei nº 10.520, de
17 de julho de 2002, e os arts. 1º a 47-A da Lei nº 12.462, de 4
de agosto de 2011, após decorridos 2 (dois) anos da publicação
oficial desta Lei.

A referência aos dispositivos 1 a 47-A da lei 12.462/2011 tem sua


razão de ser. É que apenas esse trecho da lei se refere às licitações e aos
contratos.
Essas três leis permanecerão em vigor por dois anos, contados des-
de a publicação do novo regime jurídico, caracterizando um regime con-
corrente, pois a Administração Pública poderá aplicar tanto o novo quan-
to o antigo regime, mas jamais poderá aplicar os dois simultaneamente.
Portanto, o edital deverá prever, de modo expresso, qual desses regimes
jurídicos únicos será utilizado para o processo de licitação ou ato para a
contratação direta.
É importante destacar que o artigo 183 da NLL, acerca dos prazos,
dispõe:

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Art. 183. Os prazos previstos nesta Lei serão contados com exclu-
são do dia do começo e inclusão do dia do vencimento e obser-
varão as seguintes disposições:
II - os prazos expressos em meses ou anos serão computados de
data a data;

Destarte, esse prazo será contado até o dia 02 de abril de 2021, sen-
do esta a data de validade das três normas que caracterizam o antigo
regime. A partir do dia 03 de abril de 2021, estará em vigor um único
regime jurídico de licitações e contratos, que é a lei 14.133/2021.
Atenção: durante o período de vigência dos dois regimes concorren-
tes, não poderá nenhum ente aplicar as quatro leis, de forma combinada,
bem como utilizar uma modalidade de licitação do novo regime e o crité-
rio de julgamento do regime anterior, sendo, portanto, um impacto que a
nova lei gera no campo normativo das leis existentes.

3. CONTRATOS EM CURSO
Em relação aos contratos em curso, existem três possíveis situações:

CONTRATOS
CONTRATOS NOVAS
NÃO
ASSINADOS CONTRATAÇÕES
ASSINADOS

Contratos já assinados, ao tempo da edição da nova lei, continuarão


regidos pelas normas sob cuja vigência foram criados, tendo em vista
que é uma espécie de ato jurídico perfeito e não sofrerá consequências
com a nova lei.
Nos casos em que o contrato ainda não foi assinado e a licitação já
se encontra deflagrada ou em processo de contratação direta, a lei não
definiu, expressamente, qual regime adotar. Porém, parece mais razoável
a manifestação da administração pública sobre o procedimento que será
observado; se será contemplada a nova lei ou a antiga lei, levando-se em
consideração a vigência das duas, reforçando, portanto, a ideia de que
ao realizar uma nova contratação, será legítimo e possível adotar um dos
regimes em questão.
Nessa linha de raciocínio, é possível pensar que se o contrato foi ce-
lebrado próximo do dia 03 de abril de 2.023 (data em que haverá somente

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a vigência da nova lei de licitações e contratos), a lei antiga continuará


produzindo efeitos para esse contrato até que ele perca seu objeto pela
sua conclusão ou dissolução administrativa ou judicial.

Conforme estabelece o artigo 191 da Nova Lei de Licitações e Con-


tratos Administrativos:
Art. 191. Até o decurso do prazo de que trata o inciso II do ca-
put do art. 193, a Administração poderá optar por licitar ou con-
tratar diretamente de acordo com esta Lei ou de acordo com as
leis citadas no referido inciso, e a opção escolhida deverá ser in-
dicada expressamente no edital ou no aviso ou instrumento de
contratação direta, vedada a aplicação combinada desta Lei com
as citadas no referido inciso.
Parágrafo único. Na hipótese do caput deste artigo, se a Adminis-
tração optar por licitar de acordo com as leis citadas no inciso II
do caput do art. 193 desta Lei, o contrato respectivo será regido
pelas regras nelas previstas durante toda a sua vigência.

A NLL (Lei de nº 14.133, de 1º de abril de 2021), possui natureza


jurídica de lei de caráter nacional. Trata-se, pois, de lei geral de licitações
e contratos administrativos, nos termos estabelecidos pelo art. 22, XXVII
da CF. Logo, ela é aplicada à Administração Pública direta, autárquica e
fundacional, inclusive às fundações públicas pessoas jurídicas de direito
privado, da União, dos Estados, Distrito Federal e Municípios. Além des-
ses órgãos e entidades, ela é a norma de regência nas contratações rea-
lizadas por entidades controladas, direta ou indiretamente, pelo Poder
Público e por fundos especiais (art. 1º, I e II da NLL).

4. LICITAÇÕES INTERNACIONAIS
Há duas situações que não se confundem e que possuem regramen-
to distinto na NLL (Lei n. 14.133/21). A primeira consiste na possibili-
dade de aplicação da NLL (Lei n. 14.133/21) às licitações internacionais
promovidas por órgãos e entidades da Administração Pública situados
no Brasil. A essas licitações se aplicam, normalmente, as normas da nova
lei. Na situação adversa em que a licitação é promovida por repartições
localizadas no exterior, a exemplo de embaixadas, são aplicadas as nor-
mas locais, mas com a observância dos princípios gerais da licitação es-
tabelecidos pela NLL (Lei n. 14.133/21, art. 1º, §2º).

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5. DESTINATÁRIOS DA NOVA LEI DE LICITAÇÕES


Por disposição expressa, a NLL (Lei n. 14.133/21) afasta de sua in-
cidência as licitações promovidas por empresas públicas e sociedades
de economia mista, sejam elas exploradoras de atividades econômicas
ou mesmo prestadoras de serviços públicos. É que, neste caso, regerá as
licitações dessas entidades o Estatuto das Empresas Estatais (Lei de n.
13.303/2016). Mas, atenção, as normas criminais previstas na NLL são
aplicadas também às licitações promovidas por empresas públicas e so-
ciedades de economia mista. Assim, a aplicação da NLL (Lei n. 14.133/21)
às licitações promovidas por empresas estatais ocorre em relação à ma-
téria penal. Nada impede, porém, a aplicação analógica de suas disposi-
ções, especialmente diante de alguma lacuna normativa prevista na Lei
de n. 13.303/2016, já que essa norma faz referência à aplicação subsi-
diária da Lei de n. 8.666/1993, em seu art. 55 (art. 189 da NLL). Em se tra-
tando do pregão, porém, promovido por empresas estatais, será possível
a aplicação do regime da Lei de n. 10.520/2002 (enquanto essa norma
estiver em vigor) e o novo regime instituído pela Lei de n. 14.133/2021.

6. CONCURSOS PÚBLICOS
O conhecimento da nova lei aqui tratada é fundamental, também,
para os futuros concursos públicos que explorarão, de forma mais in-
tensa, nas próximas provas, a Nova Lei de Licitações - NLL - e Contratos
Administrativos, embora ainda seja possível cobrar nos concursos públi-
cos o regime jurídico anterior. Há, porém, forte tendência das bancas, em
geral, de cobrar o texto da nova lei. Muito importante consultar o edital.

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