Você está na página 1de 2

Casos práticos: aplicaçã o da lei no tempo

Caso 46 ✓

a) Estamos perante um caso de direito transitório especial, que ocorre quando o


legislador insere na pró pria lei nova critérios que determinam a sua aplicaçã o no tempo
ou que regulam as situaçõ es transitó rias. Uma vez que o legislador estipula um regime
especial ou uma regulamentaçã o pró pria, a sua modalidade é material (i.e., prende-se
com o facto da lei definir diretamente um regime específico na sua estatuiçã o para as
situaçõ es transitó rias na sua previsã o). Neste sentido, Antó nio poderá fazer obras ao
imó vel arrendado, independentemente de autorizaçã o do senhorio, desde que tal seja
necessá rio devido a imperiosas razõ es de segurança. 

b) Neste caso concreto, estamos também perante direito transitório especial, contudo, é
de modalidade formal (i.e., que constitui normas de regulaçã o indireta porque remetem
para a LA ou para a LN), uma vez que a lei nova contém uma disposiçã o em que indica que
o regime constante da LA vai resolver o problema de sucessã o e aplicaçã o da lei no tempo.
Logo, tendo o artigo 3º essa redaçã o (e havendo norma especial, nã o sendo necessá rio
aplicar o artigo 12º CC), Antó nio pode fazer todas as obras que entenda necessá rias no
imó vel arrendado.
c) Em primeiro lugar, o problema material que está em causa é determinar se o inquilino
tem direito a fazer obras no imó vel arrendado e em que condiçõ es.
Aplica-se a 1ª parte ou a 2ª parte do artigo 12º nº2 (que concretiza o 12º nº1 1ªparte)?
- a LN determina que quem celebra o contrato de arrendamento passa a ter na sua esfera
jurídica aquele direito. Significa que estamos a regular os efeitos produzidos pela
celebraçã o do contrato, e neste sentido, estamos no â mbito da 1ª parte. Logo, a lei que se
aplica é a LA, e portanto o inquilino tem o direito a fazer obras.
Critério do abstraindo dos factos que lhe deram origem (artigo 12º nº2 2ª parte): dizemos
que uma norma regula uma situaçã o nã o abstraindo dos factos que lhe deram origem,
quando a norma determina quais sã o os factos constitutivos, modificativos ou extintivos
de uma situaçã o jurídica. Em todos os outros casos em que uma norma regula a SJ sem ser
a dizer que factos é que sã o CME, regula diretamente o conteú do dessa situaçã o, ou seja,
regula abstraindo dos factos que lhe deram origem.

Caso 48 ✓

Uma vez que a lei nova vem dispor sobre condições de validade formal dos
contratos de compra e venda de automó veis, com base no artigo 12º nº2 1ª parte CC, só se
a aplica a LN a factos ou atos que tenham ocorrido apó s a sua entrada em vigor, estando
subjacente uma ideia de nã o retroatividade. Neste sentido, a lei visa apenas os factos
novos, sendo que os antigos mantêm a configuraçã o que resulta da lei antiga; – portanto,
não são válidos os contratos de compra e venda de automóveis celebrados antes da
entrada em vigor do Decreto-Lei nº y/2010, por escrito particular assinado pelo vendedor,
uma vez que a Lei nº x/2009 determinava a nulidade das vendas que nã o obedecessem à
forma de escritura pú blica. 
Caso 51
a) A norma da LN estabelece o valor má ximo de juros (i.e., limita a autonomia privada
das partes, excluindo a possibilidade destas instituírem obrigaçõ es de juros com uma
taxa superior a 20%). Dito isto, qualifica-se esta norma no sentido em que regula
condiçõ es de validade substancial, e portanto, à partida aplicar-se-á o artigo 12º nº2 1ª
parte CC - logo, o contrato é abrangido pela LA
b) Declarando a LN que seria aplicá vel aos contratos em curso, logo, estabelecendo a sua
retroatividade, mas nã o definindo o grau da mesma, atendendo ao artigo 12º nº1 2ª parte
CC, assume-se entã o um grau de retroatividade ordinária. Assim, a lei só é aplicá vel a
factos que ocorram apó s a data da sua entrada em vigor, ficando ressalvados os factos
anteriores a essa data, e portanto, como o contrato celebrado entre Gustavo e Hugo foi
celebrado antes da entrada em vigor da LN, nã o poderia exigir a restituiçã o do valor
excedente de juros já pagos (até porque colocaria em causa a autonomia privada e aquilo
que tinha sido previamente estabelecido entre as partes). ✓

Caso 52 ✓

Nos termos do artigo 12º nº2 1ª parte CC, quando a lei nova dispuser ou regular o
conteú do das relaçõ es jurídicas, determinando que a verificaçã o de determinados factos
provoca uma alteraçã o no seu conteú do, só se aplica a LN a factos ou atos que tenham
ocorrido apó s a sua entrada em vigor. Deste modo, tendo a Lei nº b/2005 estabelecido
uma nova taxa de juro (considerada um facto modificativo), ao contrato de mú tuo
celebrado entre Asdrú bal e Bernardo a 5 de junho de 2004 deve ser aplicada a taxa de
5% (aplicando-se a LA), uma vez que nada foi estabelecido entre partes e o contrato foi
celebrado antes da entrada em vigor da LN.
Ou seja, existe uma modificaçã o da taxa supletiva - logo, temos um problema de
sucessã o de normas supletivas. A teoria maioritá ria diz que, quando as partes decidem
celebrar um contrato fazem-no ao abrigo de determinado ordenamento jurídico, logo o
contrato nã o é afetado pelas normas supletivas "novas" porque as outras já estavam
integradas no contrato. Portanto, aplica-se apenas a lei em vigor no momento da
realizaçã o do contrato (LN apenas se aplica aos contratos apó s a sua entrada em vigor).

Você também pode gostar